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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


CURSO DE FORMAÇÃO DE OFICIAIS DA PMMA

ALEFF YOURI SANTOS DE ABREU


CLEMILSON DA SILVA BARROS
CRISTIAN HENRIQUE RIBEIRO SILVA
GUILHERME SALAZAR CARDOSO
JÁREDE DE JESUS SILVA SOUZA JACINTO
RAÍRLLYSON MATOS AGUIAR

VACATIO LEGIS, ABOLITIO CRIMINIS, DESLOCAMENTO NORMATIVO TÍPICO


NO ÂMBITO DA ATIVIDADE POLICIAL MILITAR

SÃO LUÍS
2020
ALEFF YOURI SANTOS DE ABREU
CLEMILSON DA SILVA BARROS
CRISTIAN HENRIQUE RIBEIRO SILVA
GUILHERME SALAZAR CARDOSO
JÁREDE DE JESUS SILVA SOUZA JACINTO
RAÍRLLYSON MATOS AGUIAR

VACATIO LEGIS, ABOLITIO CRIMINIS, DESLOCAMENTO NORMATIVO TÍPICO


NO ÂMBITO DA ATIVIDADE POLICIAL MILITAR

Trabalho apresentado à disciplina de Direito


Penal, do Curso de Formação de Oficiais da
Polícia Militar do Maranhão, da Universidade
Estadual do Maranhão (UEMA), ministrada
pela professora Clívia Santana da Silva como
requisito para obtenção de nota referente a 1°
VC.

SÃO LUÍS
2020
1 INTRODUÇÃO
O direito é compreendido como um conjunto de normas que vislumbram
garantir a manutenção da harmonia social, prezando pelo bem estar-coletivo,
promovendo assim a justiça social. Isto significa o entendimento do Direito como um
importante instrumento regulador das relações sociais e que as transformações
naturais da evolução social, dentro de cada época, influenciam o entendimento do
Direito em diversos casos, como por exemplo, a ideia daquilo que hoje foge à norma
ou é ilegal, amanhã não pode ser mais, isso na visão do doutrinador (Duarte, 2019).
Interessando-se nisso, este trabalho trata da aplicação da Lei Penal dentro do
universo da atividade policial militar, bem como dissertar sobre os preceitos que
norteiam o exercício da vida castrense, havendo uma linha tênue entre legalidade e
ilegalidade das condutas executadas durante o serviço. Entendendo que o Código
Penal Brasileiro traz direcionamentos legais e normativos que direcionam e
condicionam as ações do policial em campo, posicionando-o de forma correta e
legalmente segura, sem ferir os regulamentos tipificados e as normas sociais, em
situações que poderiam configurar, por exemplo, em abuso de autoridade, conforme
a Lei nº 13.869, de 5 de setembro de 2019 ou atos ilegais que resultem o agente de
segurança pública responder no âmbito civil e administrativo pelo ato consumado
durante o serviço, haja vista que ele é um representante legal do Estado.
Um ponto importante a discorrer sobre o Direito Penal, é o fato de ser
entendido como o setor ou parcela do ordenamento jurídico público que tipifica as
ações ou omissões como delitivas, atribuindo a esses atos consequências jurídicas,
penas ou medidas de segurança. Desse modo, através da coação estatal, garante a
inquebrantabilidade da ordem pública. (Duarte, 2019)
Segundo a exegese do Código Penal à concepção da Constituição
Federal, têm-se os seguintes princípios basilares: a legalidade, em decorrência do
processo legal, culpabilidade, lesividade, proporcionalidade, individualização,
humanização e valor social da pena, subsidiariedade, fragmentariedade
(Dobrianskyj, 2009). Em suma, lei penal brasileira é um dispositivo de defesa do
cidadão em oposição ao poder punitivo do Estado.
Para refletir sobre essa questão, esse artigo dispõe de informações sobre
vacatio legis, legis,tempus regit actium, ultratividade da Lei Penal, lex mitior, lex
gravior, aplicação dos princípios para solucionar os conflitos de normas jurídicas no
período de vacatio legis, abolitio criminis e suas aplicabilidades.
2 VACATIO LEGIS

2.1 DEFINIÇÕES
De acordo com a ideologia de Guilherme de Souza Nucci, a vacatio legis
(também chamada período de vacância da lei) pode ser conceituada como “o
intervalo de tempo entre a publicação de uma lei e sua entrada em vigor” (Nucci,
2014). Desse modo, para esse doutrinador, tal intervalo é necessário para que a
sociedade tome conhecimento dessa nova norma jurídica e prepare-se para os
efeitos penais a ela relacionados.
Tal conceito de vacatio legis é majoritário na ciência do Direito e pode ser
comprovado ao comparamos o exposto por Nucci com os escritos de Júlio Fabrini
Mirabete (2011), o qual preceitua:
Em princípio, a lei é elaborada para viger por tempo indeterminado.
Após a promulgação, que é o ato governamental que declara a
existência da lei e ordena sua execução, é ela publicada. Ao período
decorrente entre a publicação e a data que começa sua vigência,
destinado a dar tempo ao conhecimento dela aos cidadãos, é dado o
nome de vacatio legis (Mirabete, 2001, p.43).

Comprovada a unanimidade da doutrina no tocante ao conceito de


vacância da lei, deve-se enfatizar que de acordo o Art. 1° da Lei de Introdução às
Normas do Direito Brasileiro (LINDB) tal intervalo já está pré-determinado:
Art. 1°: Salvo disposição em contrário, a lei começa a vigorar em
todo país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada
(Brasil, 1942).

Desse modo, segundo a LINDB se a norma jurídica não expõe de modo


taxativo a data de início de sua vigência o período de vacância será de 45 dias.
Entretanto, esse intervalo pode ser particularizado pela própria norma, desde que
seja exposto no texto que a compõe.
Enfatiza-se que ambos os autores expõem a importância da vacatio legis
como período de preparação e conscientização da sociedade para os efeitos que a
norma penal produzirá (sanções) a partir de sua vigência, garantindo desse modo a
segurança jurídica dos indivíduos. Tal argumento também é defendido por Vicente
(Ráo 2006 apud Jesus, 2011) o qual expõe:
Ao lapso entre a publicação e a efetiva vigência da lei dá-se o nome
de vacatio legis. Tem dupla finalidade: possibilita que a norma seja
conhecida antes de tornar-se obrigatória e, às autoridades
incumbidas de fazê-la executar e as pessoas a que se endereça, a
oportunidade de se prepararem para a sua publicação (RÁO, p. 370,
2006 apud Jesus p.112, 2011).

2.2 EXEMPLOS
Para exemplificar a doutrina a respeito da vacatio legis, pode-se citar a
Lei. n° 13.105, promulgada na data de 16 de março de 2015, a qual instituíra o Novo
Código de Processo Civil (Brasil, 2015) o qual descreve em seu Art. 1.045 que:
Art.1.045. Este Código entra em vigor após decorrido 1 (um) ano da
data de sua publicação oficial (Brasil, 2015).

Desse modo, a referida lei, instituíra o período de vacância de 365 dias a


contar da data de publicação.
Outro exemplo de vacatio legis pode ser observado no Art. 45 da Lei n
13.869 (Brasil, 2019), a qual fora sancionada na data de 05 de setembro de 2019, a
qual instituíra a Nova Lei contra o Abuso de Autoridade:
Art. 45: Esta lei entra em vigor após decorridos 120 (cento e vinte)
dias de sua publicação oficial (Brasil, 2019).

3 VACATIO LEGIS E CONFLITO DE LEIS PENAIS NO TEMPO

3.1 TEMPUS REGIT ACTUM


Para iniciar o estudo de leis penais no tempo, é necessário expor o
princípio do tempus regit actcum, o qual, de acordo com a doutrina de Mirabete
(2001), rege que a lei a ser aplicada ao fato é aquela que estava vigente:
De acordo com princípio do tempus regit actum, a lei rege, em geral,
os fatos praticados durante sua vigência. Não pode, em tese,
alcançar os fatos ocorridos em período anterior ao início de sua
vigência nem ser aplicada àqueles, ocorridos após sua revogação
(Mirabete, 2001).

Endossando tal conceito, Damásio Evangelista de Jesus (2011) em sua obra


preceitua:
Desde que a lei entra em vigor, até que cesse a sua vigência, rege
todos os fatos abrangidos pela sua destinação. Entre esses dois
limites, entrada em vigor e cessação de sua vigência, pela
revogação, situa-se a sua eficácia. Assim, não alcança os fatos
ocorridos antes ou depois dos limites extremos: não retroage nem
tem ultra-atividade. É o princípio tempus regit actum (Jesus, 2011,
p.114).

3.2 ULTRATIVIDADE DA LEI PENAL


De acordo com a doutrina de Mirabete (2001) a ultratividade da lei penal
ocorre como exceção ao princípio do tempus regit actum, ou seja, quando a norma é
aplicada fora do período de sua vigência:
Entretanto, por disposição expressa do próprio diploma legal, é
possível a ocorrência da retroatividade e da ultratividade da lei.
Denomina-se retroatividade o fenômeno pelo qual uma norma
jurídica é aplicada antes do início de sua vigência e ultratividade à
aplicação dela após sua revogação (Mirabete, 2001).

3.3 LEX MITIOR E LEX GRAVIOR


Segundo a doutrina de Damásio Evangelista de Jesus (2011), Lex Mitior é
como se denomina o advento de uma nova lei, de natureza mais branda a qual traz
benefícios em relação ao réu. Já a Lex Gravior, designa uma lei recente, a qual é
mais severa, trazendo prejuízos em relação ao acusado. Segundo o autor, tais
definições regulam a exceção ao princípio do tempus regit actum, ou seja, atuam
para determinar a ultratividade e retroatividade da lei penal. De modo que, a lex
mitior, por ser mais branda poderá retroagir, diferente da lex gravior que por ser
prejudicial ao réu, não poderá retroagir, ou seja, não terá aplicabilidade (efeitos
penais) sobre os fatos anteriores à sua vigência:
O princípio da irretroatividade vige, entretanto, somente em relação a
lei mais severa. Admite-se, no direito transitório, a aplicação
retroativa da lei mais benigna (lex mitior). Temos, assim, dois
princípios que regem os conflitos do direito inter-temporal: 1°) o da
irretroatividade da lei mais severa; 2°) o da retroatividade da lei mais
benigna (Jesus, 2011, p.114-115).

O princípio de irretroatividade da Lex gravior (lei mais gravosa) possui


previsão legal. Isso porque está positivada no Art. 5°, incisos XXXVI e VL, da
Constituição Federal, os quais especificam respectivamente “A lei não prejudicará o
direito adquirido” (Brasil, 1988) e “A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o
réu” (Brasil, 1988). Portanto, segundo Damásio Evangelista de Jesus (2011) “O
princípio da irretroatividade da lei mais gravosa, constitui um direito subjetivo de
liberdade, com fundamento no Art. 5°, XXXVI e VL da Constituição Federal”.

3.4 APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS, PARA SOLUCIONAR O CONFLITO DE


NORMAS JURÍDICAS NO PERÍODO DE VACATIO LEGIS
Percebe-se na doutrina jurídica, uma divergência, com relação aos efeitos
da lex durante seu período de vacatio. Essa divergência doutrinária é exteriorizada
em duas correntes as quais argumentam em prol ou contra os efeitos da novatio
legis durante o período de vacância.
De acordo com a obra de Rogério Sanchez Cunha (2015), a corrente
contrária a aplicação da nova lex no período vacância tem por cerne a formalidade
quanto à formação e aplicação das normas penais:

2° corrente: no período de vacatio legis a lei penal não possui


eficácia jurídica ou social, devendo imperar a lei vigente.
Fundamenta-se esta corrente no fato de que a lei no período de
vacatio legis não passa de mera expectativa da lei (Cunha, 2015).

Nesse sentido, decidiu o Superior Tribunal de Justiça:

PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. TRÁFICO ILÍCITO DE


ENTORPECENTES, ART. 392 DO CPP. AUSÊNCIA DE
INTIMIDAÇÃO PESSOAL DO RÉU. NÃO OCORRÊNCIA DE
NULIDADE. RECURSO MINISTERIAL. TEMPESTIVIDADE.
REGULARIDADE RECONHECIDAD PELA DEFESA. CAUSA DE
DIMINUIÇÃO DE PENA. ART.33 § 4° DA LEI 11.343/06.
JULGAMENTO DO RECURSO EM PERÍODO DE VACATIO LEGIS.
RETROAÇÃO PARCIAL DE ARTIGO DE ARTIGO DE LEI PENAL
MAIS BENÉFICA.IMPOSSIBILIDADE ORDEM DENEGADA. (...) 4.
Não se poderia o tribunal de origem aplicar a minoridade do art. 33,
§4, da Lei 11.343/06, de 23/08/06 uma vez que a norma não estava
em vigor quando do julgamento do recurso acusatório, que se deu
em período de vacatio legis. 5. É imprescindível indagar qual a lei
apresenta-se mais favorável ao condenado, levando-se em
consideração o reconhecimento das circunstâncias judiciais
constantes na sentença condenatória. 6. Na hipótese, eventual
aplicação da causa de diminuição prevista no § 4° do art. 33 da lei
11.343/06 deve ocorrer em sede de execução, nos termos do mesmo
inciso I do art. 66 da LEP. 7. Ordem denegada (STJ, HC
100.692/PR-PARANÁ HABEAS CORPUS-Relator: Min. Arnaldo
Esteves Lima. 15/06/2010-5ª turma).

Infere-se, dessa forma, que para essa corrente, já que em período de


vacância a nova lei não têm eficácia, não se usariam os critérios da lex gravior e lex
mitior, já que nesse período a vigência na lex ainda não iniciara.
Já a corrente favorável à aplicação de efeitos da novatio legis no período
de vacância, firma-se nos próprios valores que fundamentam a vacatio. Esse
argumento pode ser observado na obra de Cunha (2015), o qual expõe:

1° corrente: leciona que o tempus vacationes tem como fulcro


primordial a necessidade de que a lei promulgada se torne
conhecida. Não faz sentido, portanto, que aqueles que já se
inteiraram do teor da lei nova fiquem impedido de lhe prestar
obediência, desde logo, quanto a seus preceitos mais brandos,
quando, em razão da retroatividade benéfica, mais cedo ou mais
tarde isso teria que acontecer (Cunha, 2015).

Essa divergência doutrinária, pode até mesmo refletir-se ao longo da obra


de um mesmo jurista. A exemplo de Nucci (2008, apud Cunha, 2015) o qual
defendia a doutrina formalista, contrária aos efeitos da norma no período da Vacatio,
ao argumentar:
Não se compreende que uma norma tenha validade para beneficiar
réus em geral, mas não possa ser aplicada ao restante da
população, o que ocorreria se a primeira posição fosse adotada. Se
todos são iguais perante a lei, é preciso harmonizar os princípios
constitucionais a fim constitucionais a fim de não se permitir uma
interpretação excessivamente liberal afronte preceitos fundamentais
(Nucci, 2008 apud Cunha, 2015).

No entanto em sua obra mais recente Nucci (2014), refaz seu próprio
posicionamento a respeito do tema:
A última nos parecia ser a melhor orientação. Não nos soava correto
que uma norma tivesse validade para beneficiar réus em geral, mas
não pudesse ser aplicada ao restante da população. Após minuciosa
análise do tema, em particular por conta da publicação de nosso
Princípios constitucionais Penais, refizemos a nossa posição.
Sob o ponto de vista formalista, todos são iguais perante a lei e o
período de vacatio deve ser respeitado em qualquer situação,
mesmo se cuidando de lei benéfica. Sob a ótica axiológica, os
valores ligados à dignidade da pessoa humana devem prevalecer
sob os aspectos formais do sistema legislativo, voltados
primordialmente a conferir segurança à sociedade. Constituindo a
vacatio legis um período de preparação de todos para o
conhecimento do conteúdo da nova norma, por certo, volta-se à
preservação e proteção dos direitos individuais, vale dizer, não se
instituíra uma sanção mais grave ou uma nova figura delitiva sem dar
espaço à comunidade para tomar ciência disso. Mas tratando-se de
lei penal ou processual penal benéfica, inexiste prejuízo algum para a
sociedade se imediatamente posta em prática. Diante disso, pode-se
aplicá-la de imediato (Nucci, 2014).

É com base na doutrina favorável à aplicação dos efeitos penais da


norma (ainda que no período de vacância) que se utilizam os princípios de lex mitior
e lex gravior para determinar esses efeitos. Desse modo, admitidos os efeitos
penais, se a nova norma for mais grave ela não irá retroagir, no entanto diante de
uma lei benéfica ela poderá sim retroagir, ainda que no período de vacância.
Desse modo, infere-se que com base nessa doutrina, ao analisar a lei. n°
13.869, de 05 de setembro de 2019, intitulada Nova Lei Contra o Abuso de
Autoridade, a qual regulamenta a tipicidade de novas condutas como crime,
percebe-se que ela não poderia retroagir durante o período de vacância que se
estendera até o dia 02 de janeiro de 2020, por se tratar de uma lex gravior, por isso
apesar de valida não tivera seus efeitos penais sobre os fatos ocorridos antes do
âmbito sua vigência.

4 ABOLITIO CRIMINIS

4.1 DEFINIÇÕES

Entende-se por Abolitio Criminis, a própria abolição do crime, que


consiste na transformação de um fato que antes era considerado crime, ou por
assim dizer, um fato típico em atípico, que em razão de uma nova lei, perde o
caráter criminoso, não sendo mais considerado como crime. Em decorrência,
cessarão a execução e os efeitos penais da sentença condenatória, bem como
todos os efeitos penais da conduta antes reputada como criminosa . Nesse sentido,
é oportuno destacar o proeminente penalista Rogério Greco:
Além de conduzir à extinção da punibilidade, também faz cessar
todos os efeitos penais da sentença condenatória, permanecendo,
contudo, os efeitos civis. Os efeitos civis, ao contrário, não serão
atingidos pela  abolitio criminis (Greco, 2016).

O Instituto do Abolitio Criminis é reafirmado pelo princípio da


Retroatividade da lei penal benéfica, onde os efeitos benéficos e favoráveis da
lei penal retroagem para todos os fatos anteriores à sua vigência. Trata-se de
um benefício constitucional concedido àquele que está sofrendo persecução
penal, encerrado pelo Artigo 5º, inciso XL: A lei penal não retroagirá, salvo para
beneficiar o réu. Na sequência, reiterado pelo Artigo 2° parágrafo único: A lei
posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores,
ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.
O instituto da Abolitio Criminis trata-se de uma proteção à coletividade,
onde não pode, de maneira arbitraria, o Poder Judiciário manter um processo em
que o tipo penal já foi revogado, pensamento análogo podemos possuir no caso do
inquérito policial, onde o Poder Executivo, por meio de seu órgão de Segurança
Pública não pode manter uma investigação criminal no qual não existe mais crime a
ser investigado (Masson, 2014).
4.2 ABOLITIO CRIMINIS NA LEI DE DROGAS E SEUS EFEITOS NO SISTEMA DE
SEGURANÇA PÙBLICA

O crime de tráfico de drogas possui como elemento secundário a pena


cominada em abstrato de cinco a quinze anos e o pagamento de 500 a 1.500 dias
34 multas, sendo que é uma pena muito elevada e que irá encarcerar durante muito
tempo um réu (Brasil, 2006).
O Código Penal no parágrafo 2° do artigo 33 distingue o regime de
cumprimento da pena de acordo com a pena a ele imposta, sendo que conforme o
preceito secundário do crime de Tráfico de Drogas, este iniciará em regime
semiaberto ou em regime aberto, levando em consideração o mínimo e o máximo
respectivamente das penas cominadas (Brasil, 1940).
A pena do crime de tráfico de drogas ainda interfere na aplicação das
medidas despenalizadoras, ou melhor, a não aplicação das medidas
despenalizadoras, sendo que não poderá aplicar a composição civil dos danos e
nem a suspensão condicional do processo, nem a transação penal; outro instituto
que poderia beneficiar o réu é a suspensão condicional da pena, mas este também
não pode ser aplicado. A não aplicação de todos esses institutos se dá por causa da
pena cominada em abstrato (Brasil, 1995).
A lei n° 8.072/1990 por considerar o crime de tráfico de drogas como
sendo um crime hediondo prevê que a progressão de regime se dará de forma mais
demorada, visto que na Lei de Execuções Penais, lei n° 7210/1984, para a
progressão de regime precisará que o acusado cumpra um sexto da pena, já na Lei
de Crimes Hediondos, lei n° 8.072/1990, para que o preso progrida de regime é
preciso que este cumpra dois quintos da pena no caso de ser primário e de três
quintos no caso de reincidência (Brasil, 1990).
Essas são algumas das causas que aumentaram tanto a população
carcerária nos últimos anos. O Ministério da Cidadania informa em sua página na
internet que de acordo com Luciana Boiteux em 2014,grande parte de mulheres e
homens presos estavam cumprindo a pena em decorrência do crime de tráfico de
drogas (Brasil, 2019).
A grande quantidade de encarceramentos das pessoas que cometeram o
crime de tráfico de drogas inicialmente se dá conforme o tipo de traficante. Grande
parte dos condenados por tráfico de drogas respondem individualmente ao processo
sem co-autores ou participes. Deste total de pessoas presas por tráfico de drogas
grande parte são primários e portam baixa quantidade de drogas ao ser preso, ou
seja, a lei n° 11.343/2006 não atinge a maioria dos grandes traficantes (Lemos,
2014).
Segundo Clério Lemos (2014) o grande problema se dá pelo fato de que
em mais da metade dos casos no Rio de Janeiro os condenados pelo crime de
tráfico de drogas receberam penas acima do mínimo cominado no artigo 33 da lei n°
11.343/200. Destaca-se no Rio de janeiro a presunção dada para que os réus se
dediquem a prática de atividades criminosas ou integrar organizações criminosas,
impossibilitando assim a aplicação da causa de diminuição de pena no caso do
Juízo Estadual. No âmbito federal no estado do Rio de Janeiro há a redução da
pena na maioria das vezes nos casos dos presos considerados como “mulas”
(Lemos, 2014).
Diante de todas essas informações, ante as informações sobre os
encarcerados é possível notar que a Abolitio criminis do crime de tráfico de drogas,
tipificado no artigo 33 da lei 11.343/2006 causaria grandes efeitos, desencarcerando
grande parte da população carcerária (Lemos, 2014).
Revogar o tipo penal descrito na lei n° 11.343/2006 desprenderia muito
tempo e de grande discussão sobre o tema, passando pelas duas casas do
Congresso Nacional, dentre as outras formalidades como o quórum de votação
(Moraes, 2017).
Por outro lado, revogar apenas a Portaria n° 344 do Ministério da Saúde
poderia ser realizada de maneira mais célere e com menor grau de análise do tema,
e no fim causar o mesmo efeito prático. O artigo 33 da lei n° 11.343/2006 trata-se de
norma penal em branco e a portaria n° 344 do Ministério da Saúde trata-se de norma
complementar, e as duas juntas tipificam crimes, como por exemplo, o tráfico de
drogas, salienta-se que o crime de tráfico de droga está prescrito no artigo 33 da lei
n° 11.343/2006, mas para esta ter aplicabilidade é necessário a portaria n° 344 do
Ministério da Saúde, inexistindo qualquer desta não há de se falar em crime (Brasil,
2006).
Assim sendo, revogar a Portaria n° 344 do Ministério da Saúde causaria a
Abolitio Criminis do crime de tráfico de drogas, onde não poderia conhecer qual
substância seria considerada como proibida no Brasil, pode também haver a
revogação de alguma substância especifica como ocorreu com o Cloreto de Etila e
mesmo assim conforme decidido pelo Supremo Tribunal de Justiça haveria Abolitio
Criminis (Brasil, 1998).
Havendo a Revogação da Portaria n° 344 do Ministério da Saúde e
consequentemente a Abolitio criminis do crime de tráfico de drogas geraria
inicialmente o trancamento de todos os Inquéritos Policiais que investigassem o
crime de tráfico de drogas e todos os processos em que fossem réus agentes que
cometeram o crime, sempre respeitando a inércia do juízo, que deverá ser
provocado (Brasil, 1998).
No âmbito da Execução Penal os encarcerados que fossem condenados
pelo crime de tráfico de drogas, após pedido fundamentado iriam ser libertados pela
retroatividade da lei penal mais benéfica, como ocorreu no caso do Cloreto de Etila
(Gomes, 2002).
Conforme o Levantamento Nacional de Informações Penitenciarias
INFORPEN mulheres, a maior parcela de mulheres presas cometeram o crime de
tráfico de drogas, em relação a ambos os gêneros os dados do Levantamento
Nacional de Informações Penitenciarias informou que o Tráfico de Drogas é o
segundo crime que mais possui pessoas presas perdendo apenas para o roubo e
furto (Brasil, 2017, p. 62).
Com a aplicação do instituto do Abolitio Criminis seria extintos os efeitos
indiretos da pena, como a exclusão do nome do rol de condenados, não poderia
constar como maus antecedentes e não poderia ser computado como reincidência
na prática de crime posterior (Gomes, 2002).
Assim é possível notar que a revogação da portaria n° 344 poderia
causar efeitos irreversíveis, despenalizando e desencarcerando milhares de
detentos, tratando assim de um tema sensível que deveria ser mais formalizado pelo
Poder Público exigindo assim uma discussão mais amadurecida do tema (Brasil,
1998).

5 PRINCÍPIO DO DESLOCAMENTO NORMATIVO-TÍPICO

5.1 DEFINIÇÕES
Nem sempre a revogação formal de um dispositivo legal garante a
abolição do crime - abolitio criminis -, ou seja, a lei que promove a descriminalização
de uma determinada conduta que, até então, era considerada criminosa. Encontram-
se inúmeras leis revogando dispositivos penais, mas não é correto afirmar que
sempre ocorreu o abolitio criminis.
Greco (2015) explica que quando a revogação de um dispositivo
promove apenas a transposição de uma conduta que estava em um tipo penal para
outro, trata-se do princípio da continuidade normativo-típica. Nas palavras do autor:
Pode ocorrer que determinado tipo penal incriminador seja
expressamente revogado, mas seus elementos venham a migrar para outro tipo
penal já existente, ou mesmo criado por nova lei. Nesses casos, embora
aparentemente tenha havido uma abolição da figura típica, temos aquilo que se
denomina de continuidade normativo-típica (Greco, 2015, p. 164).

5.2 EXEMPLOS
A fim de exemplificar o princípio anteriormente mencionado,
analisa-se os crimes encontrados nos artigos 214, 216, e 219 do Código Penal
Brasileiro, e nas leis 12.015 e 11.106. O Art. 214 contempla o "Atentado violento ao
pudor". O Art. 216, "Violação sexual mediante fraude", e o Art. 219, " Rapto violento
ou mediante fraude".
Ocorre que a conduta antes descrita no Art. 214 foi fundida ao
tipo penal do Art. 213. do Código Penal Brasileiro (1940): "Constranger alguém,
mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir
que com ele se pratique outro ato libidinoso".
Anteriormente existiam dois crimes distintos contra a liberdade
sexual: estupro e atentado violento ao pudor. No estupro o sujeito era passivo
determinado, somente o gênero feminino, enquanto no atentado violento ao pudor
poderia ser cometido por ambos. Atualmente, após a alteração dada pela Lei n°
12.015 de 07 de agosto de 2009, o crime de estupro passou a existir um único
dispositivo que uniu as condutas atentatórias que atingem homens e mulheres, em
um crime que pode ser praticado e sofrido por ambos os gêneros.
O Art. 216 foi fundido ao Art. 215. Enquanto que o Art. 219 tornou-
se qualificador do "Cárcere privado". Não ocorrerá, portanto, a abolitio criminis, mas,
sim, a permanência da conduta anteriormente incriminada, só que em uma nova
caracterização, continuando em um novo tipo penal.
6 A IMPORTÂNCIA E APLICABILIDADE PARA A ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL
DE SEGURANÇA PÚBLICA
Trabalhar na segurança pública é um desafio, pois o profissional dessa
área necessita de bastante conhecimento em diversas áreas do direito, já que atua
diretamente em problemas sociais.
A atividade policial, representa um risco a vida do operador, mas não
somente isso, trata-se também um risco quando esse não possui a cognição
necessária para respaldar suas ações na legislação a qual é subordinado, tanto
administrativamente, civilmente e penalmente.
Com a vigência da nova lei de abuso de autoridade os profissionais
precisaram se atualizar, muitos buscando graduação em direto para melhor
compreender tal lei e também oferecer um melhor serviço à sociedade.
Outros termos importantes que o policial precisa saber é o vacatio legis
que representa o período de vacância de uma lei, que dura entre a data de sua
publicação até a entra em vigor, assim também com o abolitio criminis que ocorre
quando um tipo penal anterior é excluído por uma lei nova, o descriminalizando.
Toda essa mutação que ocorre nas nossas legislações, são
extremamente dinâmicas, o que obriga o profissional de segurança pública se
adequar para poder realizar suas ações com respaldo legal necessário.
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Habeas Corpus nº 100.692. Paciente: Elber


Anderson da Cruz e outros. Relator: Ministro Arnaldo Esteves Lima. Brasília, 15 de
junho de 2010. Disponível em:
https://jurisprudencia.s3.amazonaws.com/STJ/IT/HC_100692_PR_1306617573894.p
df?Signature=v%2FBY56rWyi7FOg1wBSuh7pbnWlo
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