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© 1984 Living Stream Ministry

Edição para a Língua Portuguesa


© 2003 Editora Árvore da Vida

Título do original em inglês:


Life-Study of First Corinthians

ISBN 85-7304-158-7

1ª Edição — Fevereiro/2003 — 5.000 exemplares

Traduzido e publicado com a devida autorização do Living Stream Ministry e todos os


direitos reservados para a língua portuguesa pela Editora Árvore da Vida.

Editora Árvore da Vida


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Tel.: (11) 5071-8879 — São Paulo — SP — Brasil
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E-mail: editora@arvoredavida.org.br

Impresso no Brasil

As citações bíblicas são da Versão Revista e Atualizada de João Ferreira de Almeida, 2a


Edição, e Versão Restauração (Evangelhos), salvo quando indicado pelas abreviações:
BJ— Bíblia de Jerusalém
lit. — tradução literal do original grego ou hebraico
IBB-Rev. — Imprensa Bíblica Brasileira, versão Revisada
NVI — Nova Versão Internacional
TB — Tradução Brasileira
VRA — Versão Revista e Atualizada
VRC — Versão Revista e Corrigi da de Almeida
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM UM
INTRODUÇÃO (1)

Leitura Bíblica: 1Co 1:1-9


O arranjo dos livros da Bíblia está realmente sob
a soberania do Senhor. Por exemplo, Apocalipse não
é o primeiro livro, e Gênesis não é o último. Só esse
exemplo já prova que o arranjo dos livros da Bíblia
está de acordo com a soberania de Deus.
No Novo Testamento, os quatro Evangelhos
proporcionam um registro da vida do Senhor Jesus e
mostram como Ele cumpriu a redenção por meio da
crucificação. Pelos Evangelhos sabemos também da
ressurreição e ascensão de Cristo. No livro de Atos
temos o mover do Senhor nos lugares celestiais e em
ressurreição, por meio do Seu Corpo na terra. Nesse
livro, temos não só os atos dos apóstolos e discípulos,
mas também os atos do Cristo ressurreto e ascendido.
Depois do livro de Atos temos a primeira das
Epístolas do Novo Testamento: Romanos, que nos dá
um esboço completo e integral tanto da vida cristã
como da vida da igreja. Aí não temos só os
ensinamentos a respeito da vida cristã e da vida da
igreja, mas também os princípios.
Logo depois de Romanos temos 1 Coríntios, que
nos proporciona uma ilustração da vida cristã, da
vida da igreja e da vida do Corpo. Cada uma dessas
vidas é plenamente ilustrada em 1 Coríntios.
Entretanto, poucos mestres cristãos percebem que o
que é revelado em Romanos, na forma de esboço, está
plenamente ilustrado em 1 Coríntios. Repetindo, em
Romanos temos um esboço da vida cristã e da vida da
igreja, ao passo que em 1 Coríntios temos uma
ilustração da vida cristã, da vida da igreja e da vida do
Corpo.
Muitos livros sobre 1 Coríntios foram escritos por
mestres entre os Irmãos Unidos e também por
pessoas do movimento pentecostal ou carismático.
Alguns dos mestres dos Irmãos Unidos disseram que
1 Coríntios foi escrito para resolver muitos problemas
sérios na igreja. Os que têm antecedentes
pentecostais ou carismáticos, podem enfatizar os
dons em 1 Coríntios, principalmente falar em línguas
e curas. Contudo, esse livro não diz respeito
principalmente a problemas na igreja ou a dons
espirituais ou milagres. Por favor, fiquem, sim,
impressionados com o fato de que esse livro nos dá
uma ilustração da vida cristã, da vida da igreja e da
vida do Corpo.
A maioria dos leitores de 1 Coríntios tem uma
impressão negativa da igreja em Corinto. Você gosta
dessa igreja? Se for sincero, você vai admitir que não.
Muitos anos atrás, eu não me importava muito com a
igreja em Corinto, mas agora eu a aprecio. Para mim,
1 Coríntios é muito doce e agradável. Gosto desse
livro, não porque resolve problemas ou trata de dons,
mas porque ilustra a vida cristã,, a vida da igreja e a
vida do Corpo.
Alguns podem discordar da afirmativa de que 1
Coríntios é uma ilustração de nossa, vida cristã. Eles
podem perguntar: “Devemos nós seguir os cristãos
em Corinto? Devemos ter o tipo de vida cristã
descrito nesse livro? Devemos seguir o exemplo da
igreja em Corinto e ter o tipo de vida da igreja que
tinham? Devemos ter a vida do Corpo da forma que
vemos em Corinto? Tudo na igreja em Corinto era
lamentável. A vida cristã, a vida da igreja e a vida do
Corpo eram todas lastimáveis”. Entretanto, se os
coríntios eram ou não lastimáveis nessas questões, é
secundário. O ponto aqui é que, num sentido bem
real, os coríntios ilustram a vida cristã, a vida da
igreja e a vida do Corpo comum, ou típica. Na
verdade, a vida cristã comum é simplesmente igual à
dos coríntios. O mesmo é verdade sobre a vida da
igreja típica e a vida do Corpo.
Pondere sobre sua própria vida cristã, vida da
igreja e vida do Corpo. A sua vida cristã é melhor que
a dos coríntios? A sua vida da igreja e vida do Corpo é
superior à deles? Se for honesto, responderá que você
não é melhor que os coríntios nessas questões.
A igreja em cada cidade é uma Corinto. Não se
gabe da igreja em sua cidade nem pense que ela é
especial, ou superior à igreja em Corinto. Você tem
segurança para dizer que a sua vida cristã é melhor
que a dos coríntios, ou que a sua vida da igreja e vida
do Corpo são superiores à deles? Não considere a
igreja em sua cidade melhor que a igreja em Corinto.
A vida da igreja em Corinto é uma ilustração acurada
da igreja em todas as cidades.
E quanto à sua experiência sobre a vida do
Corpo? Alguns podem apreciar a vida do Corpo em
determinado lugar e sentir que é maravilhosa, mas
será que a vida do Corpo aí é melhor do que a que é
ilustrada em 1 Coríntios? Com certeza não. Em nossas
células, em nossa constituição, somos todos iguais
aos crentes em Corinto. Sem dúvida, foi segundo a
sabedoria de Deus que a igreja ali foi usada como
ilustração completa da vida cristã, da vida da igreja e
da vida do Corpo, encontradas em cada cidade .
Já enfatizamos que determinados mestres da
Bíblia, principalmente entre os Irmãos Unidos, dizem
que 1 Coríntios lida com sérios problemas na igreja.
Essa Epístola, de fato, aborda muitos problemas. O
primeiro deles é o da divisão. Em 1:11 e 12, Paulo diz:
“Pois a vosso respeito, meus irmãos, fui informado,
pelos da casa de Cloe, de que há contendas entre vós.
Refiro-me ao fato de cada um de vós dizer: Eu sou de
Paulo, e eu, de Apolo, e eu, de Cefas, e eu, de Cristo”.
Assim como havia divisões entre os santos em
Corinto, também há divisões entre os crentes nas
igrejas hoje. Que igreja local não tem alguma divisão?
Você tem segurança em dizer que não há divisões na
igreja em sua cidade? Quando falo divisões, não
quero dizer denominações; quero dizer o tipo de
divisão ilustrado pelos coríntios, que diziam: “Eu sou
de Paulo, e eu de Apoio”. É comum, na igreja numa
cidade, ouvir que alguns irmãos são a favor de
determinada coisa ou pessoa, e outros são a favor de
outra coisa ou pessoa. É isso que quero dizer com
divisão. Nenhum de nós ousa dizer que na igreja em
nossa cidade não haja divisão assim.
Freqüentemente há divisão até mesmo entre
marido e mulher. Como irmão e irmã em Cristo, eles
vêm juntos à mesa do Senhor e participam do único
pão. Entretanto, a irmã pode não estar de fato em
unidade com o marido. Ela talvez, por exemplo, fale
dele de forma facciosa, ou interiormente encontre
falhas nele, ou discorde dele sem nada dizer. Isso é
divisão. Por certo, nenhum de nós pode dizer que não
há divisão em nossa vida da igreja ou vida familiar.
Nisso, somos iguais à igreja em Corinto.
Menciono a divisão, não para mostrar que 1
Coríntios é um livro que trata de muitos problemas,
mas para ressaltar que é um livro que ilustra a vida
cristã, a vida da igreja e a vida do Corpo. Esse livro diz
respeito a cristãos individuais, à igreja e ao Corpo.
Daí, ele ilustra três categorias de vida espiritual: a
vida individual cristã, a vida corporativa da igreja e a
vida orgânica do Corpo. É crucial ter tal visão ao ler
esse livro. Nós então entenderemos que o que está
escrito não é para resolver problemas ou enfatizar
dons, mas para ilustrar a vida cristã prática e real, a
vida da igreja e a vida do Corpo.
Pode parecer que as ilustrações em 1 Coríntios
sejam negativas. E são mesmo, mas são práticas.
Além disso, a situação real entre os crentes e nas
igrejas, tanto na época de Paulo como hoje, tem
muitos elementos negativos. Certamente é difícil
encontrar uma igreja em que a situação esteja
totalmente livre de elementos negativos. Alguns
podem pensar na vida da igreja descrita em Atos 2 e
4, contudo, que poderia ser mais negativo do que o
caso de Ananias e Safira em Atos 5? A murmuração
no capítulo 6 também indica que existia uma situação
negativa. Mesmo quando o Senhor Jesus estava na
terra com os discípulos, houve muitas situações
negativas. Os discípulos contenderam entre si sobre
quem seria o maior. É claro, 1 Coríntios não é uma
ilustração da Nova Jerusalém; antes, é uma ilustração
da vida cristã, da vida da igreja e da vida do Corpo
nesta era. Já que vivemos nesta era, a era da igreja,
precisamos tomar 1 Coríntios como nossa ilustração.
Esse livro é um retrato da igreja em nossa cidade. Que
todos vejamos claramente que 1 Coríntios ilustra
nossa própria vida cristã, a vida da igreja e a vida do
Corpo.
Por um lado, nossa vida da igreja é ilustrada pela
de Corinto; por outro, somos iguais aos coríntios
quanto a nossa vida cristã individual. Sabemos por
essa Epístola que os crentes em Corinto estavam na
alma e agiam de forma carnal. Você nunca esteve na
alma? nunca viveu segundo a carne? você pode dizer
especificamente que não gastou tempo na carne? Se
respondermos honestamente essas perguntas,
veremos que, espiritualmente falando, somos todos
coríntios. Somos todos de um lugar onde as pessoas
vivem na alma e na carne, mas louvamos ao Senhor
porque, também como os coríntios, às vezes vivemos
no espírito.
Outro item crucial é que 1 Coríntios enfatiza
Cristo. Em 2:2, Paulo diz algo contundente: “Porque
decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e
este crucificado”. Ele aqui fala não do Cristo
ressurreto ou ascendido, nem do Cristo que nos
concede todo tipo de dons, mas do Cristo crucificado,
que foi levado à morte. A ênfase do autor nesse livro é
baseada em Cristo, que foi executado, crucificado.
Nesse livro de ilustração, o centro está em Cristo, mas
não primordialmente Nele como o Espírito que dá
vida em ressurreição, mas no Cristo crucificado. Se
virmos que 1 Coríntios é um livro de ilustração, e que
ressalta o Cristo crucificado, estaremos preparados
para considerar essa Epístola em detalhes.
Em 1:1-9, Paulo aborda muitos pontos
importantes. Nesse trecho, primeiro temos uma
impressão adequada do apóstolo. Depois, uma visão
clara da igreja e dos crentes, os santos. Como
veremos, Paulo, então, aborda algo que podemos
denominar de dons iniciais. Se quisermos entender 1
Coríntios, precisamos saber quais são os dons iniciais
e quais são os dons avançados. No capítulo 1 não
vemos os dons avançados, dons que advêm do
crescimento de vida, mas somente os iniciais. O
versículo 9 é crucial. Paulo aí diz: “Fiel é Deus, pelo
qual fostes chamados à comunhão de seu Filho Jesus
Cristo, nosso Senhor”. Ele aqui fala da comunhão de
Cristo à qual Deus nos chamou. Assim, os tópicos
principais em 1:1-9 são o apóstolo, a igreja, os santos,
os dons iniciais e a comunhão de Cristo.

I. OS ESCRITORES E OS DESTINATÁRIOS

A. Os Escritores

1. Paulo, um Apóstolo Chamado por Cristo


Primeira Coríntios 1:1 diz: “Paulo, chamado pela
vontade de Deus, para ser apóstolo de Jesus Cristo, e
o irmão Sóstenes”. Um apóstolo é um enviado. Paulo
o foi, não autodesignado, mas chamado pelo Senhor.
Seu apostolado foi autêntico (9:1-5; 2Co 12:11-12; ver
também 2Co 11:13; Ap 2:2), tendo a autoridade do
governo de Deus do Novo Testamento (2Co 10:8;
13:10). Com base nessa posição com tal autoridade,
ele escreveu essa Epístola, não só para nutrir e
edificar os santos em Corinto, mas também para
regular e ajustar a igreja ali.
Vale a pena comparar a maneira de Paulo se
referir ao seu apostolado em 1 e 2 Timóteo e Tito com
o que ele diz em 1 Coríntios. Em 1 Timóteo 1:1, ele diz
que era apóstolo de Cristo Jesus pelo mandato de
Deus e de Cristo Jesus. Em 2 Timóteo 1:1, ele fala de
si mesmo como um apóstolo de Cristo Jesus pela
vontade de Deus, de conformidade com a promessa
da vida que está em Cristo Jesus. Em Tito 1:1 e 2, ele
diz que era apóstolo de Jesus Cristo, para promover a
fé que é dos eleitos de Deus e o pleno conhecimento
da verdade segundo a piedade, na esperança da vida
eterna. Primeira Coríntios 1:1 enfatiza duas questões
pertinentes ao apostolado de Paulo: que ele era um
apóstolo chamado de Cristo Jesus e que se tomou
apóstolo por intermédio da vontade de Deus.
a fato de Paulo ser um apóstolo chamado indica
que ele não escolhera nem designara a si mesmo, e
seu apostolado não teve origem nele. Desde que o
livro do irmão Nee A Vida Normal da Igreja Cristã
foi impresso, muitos começaram a considerar-se
apóstolos, que na verdade são apóstolos
auto-escolhidos. Paulo, pelo contrário, era um
apóstolo autêntico, chamado. Ele certamente não
teve a intenção de ser um enviado de Cristo Jesus. Em
vez disso, como era devotado ao judaísmo, ele
tencionava perseguir os que invocavam o nome do
Senhor. Um dia, porém, no caminho de Damasco, o
Senhor lhe apareceu e ele recebeu o chamado de
Deus. Ele foi chamado para ser apóstolo pelo Cristo
ascendido. Assim, seu apostolado teve origem não em
si mesmo, mas no Cristo nos céus.
Em 1:1, Paulo diz ser apóstolo pela vontade de
Deus. A vontade de Deus é Sua determinação para
levar a cabo o Seu propósito. Por ela, Paulo foi
chamado para ser apóstolo de Cristo. Essa afirmação
fortalece sua posição e autoridade apostólicas. Em
outras Epístolas, ele também nos diz que era apóstolo
pela vontade de Deus (2Co 1:1; Ef 1:1; Cl 1:1; 2Tm 1:1).
A vontade de Deus aqui se relaciona com a
administração de Deus, com o Seu governo. Ele foi
chamado de acordo com a vontade de Deus e sob a
Sua administração para levar a cabo a Sua economia
neotestamentária. Isso é de grande significado. Ele foi
designado e chamado segundo a vontade de Deus
para executar a Sua administração.
Uma vez chamado para ser apóstolo segundo a
iniciativa de Cristo e mediante a vontade de Deus
para executar a Sua administração, Paulo tinha tanto
a posição como a autoridade de enviado de Deus.
Assim, ele tinha base para escrever essa Epístola.
Primeira Coríntios, portanto, não é simplesmente um
livro de ensinamento; é também de autoridade. Por
exemplo, em 4:21, ele fala dos coríntios: “Que
preferis? Irei a vós outros com vara, ou com amor e
espírito de mansidão?” Como apóstolo chamado
mediante a vontade de Deus ele tinha a posição e
autoridade de apóstolo.

2. O Irmão Sóstenes
Em 1:1, Paulo não só se refere a si mesmo mas
também menciona o irmão Sóstenes. Provavelmente
esse Sóstenes não era o mesmo de Atos 18:17, que era
o principal da sinagoga em Corinto quando Paulo foi
perseguido ali. Essa Epístola foi escrita em Éfeso (1Co
16:8), pouco depois de o apóstolo ter deixado Corinto.
Esse Sóstenes, um irmão no Senhor, deve ter-se
unido ao apóstolo em seu ministério itinerante. A
menção dele aqui fortalece o apostolado de Paulo e
indica o princípio do Corpo.

B. Os Destinatários

1. À Igreja de Deus em Corinto, aos


Santificados em Cristo Jesus, Chamados
Santos
Em 1:2, temos os destinatários dessa Epístola.
Ela foi escrita “à igreja de Deus que está em Corinto,
aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser
santos”. A igreja de Deus! Que expressão! Não é a
igreja de Cefas, de Apolo, de Paulo, nem de qualquer
prática ou doutrina, mas de Deus. A despeito de haver
na igreja em Corinto toda divisão, pecado, confusão,
abuso de dons e ensinamento herético, o apóstolo
ainda a chamava de igreja de Deus, porque nela
havia, de fato, a essência divina e espiritual, que faz
dos crentes reunidos a igreja de Deus. Esse
endereçamento espiritual do apóstolo baseou-se em
sua visão espiritual ao considerar a igreja em Cristo.
Tal endereçamento simples por si só deve eliminar
toda divisão e confusão, tanto na prática como em
doutrina.
No versículo 2, Paulo fala da “igreja de Deus que
está em Corinto”. A igreja foi constituída do, Deus
universal, mas existia em Corinto, uma cidade
específica na terra. Em natureza, a igreja é universal
em Deus, mas na prática é local num lugar definido.
Assim, a igreja tem dois aspectos: o universal e o
local. Sem o aspecto universal, ela não tem conteúdo;
sem o aspecto local, é impossível ela ter qualquer
expressão e prática. Assim o Novo Testamento
enfatiza também o aspecto local da igreja (At 8:1;
13:1; Ap 1:11).
A descrição de Paulo sobre a igreja é
maravilhosa. Entretanto, os cristãos têm prestado
pouca atenção a ela. A igreja é a igreja de Deus, pois é
constituída da natureza divina. A expressão “a igreja
de Deus” indica que a igreja tem a natureza divina, ou
seja, é constituída do elemento de Deus. Por isso, a
igreja é de Deus. Esse é o aspecto universal dela, mas
a igreja, que é de Deus, também é local. Nesse caso, é
a igreja de Deus em Corinto.
Nesse único versículo vemos tanto o aspecto
universal como o aspecto local da igreja. O aspecto
universal refere-se à constituição, natureza e
conteúdo da igreja, e o aspecto local refere-se à
expressão e aspecto prático da igreja. Se tivermos
somente o aspecto local, mas não o aspecto de a igreja
ser de Deus, teremos somente uma formalidade
exterior. Faltar-nos-á a realidade interior. Porém, se
tivermos somente o aspecto universal, mas não o
aspecto local da igreja numa cidade específica,
teremos a realidade, mas não o aspecto prático. Por
um lado, a igreja é constituída de Deus; por outro, é
expressa numa cidade específica.
Poucos mestres cristãos viram esses dois
aspectos da igreja. Em seus escritos, alguns podem
falar sobre a igreja de Deus, e outros podem dizer
alguma coisa sobre a igreja estar em Corinto. Mas
precisamos ficar impressionados com o fato de a
descrição de 1:2 incluir os dois aspectos da igreja, o
universal e o local. Também precisamos entender que
o aspecto universal se refere à natureza e conteúdo da
igreja, e o aspecto local, ao seu aspecto prático e
expressão. Hoje precisamos ter os dois aspectos.
Precisamos ser a igreja de Deus em certa cidade, por
exemplo, em Florianópolis, Bogotá ou São Paulo.
Devemos ser universais bem como locais, e locais
bem como universais. Todos devemos ser capazes de
dizer que somos da igreja de Deus em determinado
lugar. Quando alguém lhe perguntar a qual igreja
pertence, você deve dizer que pertence à igreja de
Deus em sua cidade específica. Na restauração do
Senhor, temos a igreja universal expressa e praticada
em cidades específicas.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM DOIS
INTRODUÇÃO (2)

Leitura Bíblica: 1Co 1:1-9


Nesta mensagem, vamos considerar mais um
pouco a introdução de Paulo em 1:1-9.
O versículo 2 diz: “À igreja de Deus que está em
Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados
para ser santos”. De acordo com a gramática, “à igreja
de Deus” é aposto de “aos santificados em Cristo
Jesus”. Isso indica que “à igreja de Deus” equivale
“aos santificados em Cristo Jesus”. Isso indica
categoricamente que a igreja é composta dos santos, e
os santos são os elementos constituintes da igreja. Os
dois não devem ser considerados entidades
separadas. Individualmente, somos os santos;
corporativamente, somos a igreja. Assim, a igreja não
é somente constituída de Deus mas também dos
santos.
Ser santificado é ser separado para Deus para o
cumprimento do Seu propósito. Os santos são os
separados, os que foram postos à parte para Deus.
Nesse versículo, Paulo diz que fomos
“santificados em Cristo Jesus”. Somos santificados no
elemento e âmbito de Cristo. Cristo é o elemento e o
âmbito que nos separou, nos fez santos para Deus
quando cremos Nele, ou seja, quando fomos
introduzidos numa união orgânica com Ele ao crer
Nele.
A expressão “chamados santos” (VRC) indica que
os crentes em Cristo são os santos chamados; não
chamados para ser santos (VRA). Trata-se de
posição, é uma santificação posicional com vistas à
santificação disposicional.
Muitos leitores de 1 Coríntios acham difícil
reconhecer que os crentes em Corinto fossem santos.
Por certo, de acordo com a definição católica, eles não
eram. Conforme o catolicismo, somente
determinadas pessoas, como Tereza ou Francisco,
podem corretamente ser chamados de santos.
Podemos pensar: Como os crentes carnais em Corinto
poderiam ser chamados de santos? Entretanto, é na
Palavra que Paulo os descreve como os que foram
santificados em Cristo Jesus e chamados santos.
Você teria a ousadia de dizer que é santo? Alguns
podem replicar: “Não tenho argumento contra a
palavra de Paulo em 1 Coríntios 1:2. De acordo com
essa palavra, fui santificado, mas ainda não sinto que
sou santo”. Sobre isso, não devemos olhar para nós
mesmos. Paulo não diz que os coríntios foram
santificados em si mesmos, mas em Cristo Jesus.
Precisamos esquecer-nos de nós mesmos e ver que é
em Cristo Jesus que somos santificados.
Sobre a questão de ser santificado em Cristo
Jesus, um irmão não deve ser influenciado por
qualquer opinião negativa que a esposa possa ter
dele. Todo irmão é santo aos olhos dos outros, mas
não aos olhos da esposa. A mulher sempre conhece os
pontos fracos do marido. Ela tem um conhecimento
detalhado de suas falhas. Isso toma difícil para
qualquer esposa admitir que seu marido é santo, mas
mesmo que um irmão não seja santificado aos olhos
de sua esposa, ele entretanto é santificado em Cristo
Jesus.
Deus não olha para nós enquanto estamos em
nós mesmos; antes, olha para nós em Cristo. Isso
pode ser ilustrado pelas palavras que o profeta Balaão
proferiu sobre os filhos de Israel. Aparentemente, os
filhos de Israel eram cheios de iniqüidade, mas
quando Balaão profetizou sobre eles, declarou: “Não
viu iniqüidade em Jacó, nem contemplou desventura
em Israel” (Nm 23:21). De modo semelhante, Paulo
conhecia todas as coisas malignas da igreja em
Corinto, mas em sua introdução, ele se dirigiu a eles
como os santificados em Cristo Jesus, e chamou-os
santos.
No versículo 2, Paulo diz, pelo uso de outro
aposto, que os que foram santificados em Cristo Jesus
são chamados santos. Para nós, isso pode parecer
repetitivo, mas sem tal repetição podemos não ter
uma impressão forte do fato de que os crentes em
Corinto eram realmente santos, até mesmo chamados
santos.
Todo salvo é um chamado. Ser chamado é ser
salvo. Quando o Senhor Jesus disse a Pedra:
“Segue-Me”, esse foi o Seu chamamento para Pedro.
Nós, os salvos, fomos todos chamados. Uma vez
chamados, tomamo-nos santos.
Não pense que somente pessoas tais como Tereza
e Francisco devem ser chamados santos. Você e eu
também somos santos. Você tem ousadia de declarar
que é um santo? Alguns de nós podem ter confiança
somente em dizer que somos crentes, mas não ter
segurança em dizer que somos santos. Alguns podem
dizer: “Sou um pecador salvo pela graça e um crente
em Cristo, mas não ouso dizer que sou um santo”. O
motivo para essa insegurança é que a influência
maligna do catolicismo ainda afeta nossa
compreensão. Outros, cônscios de falhas como perder
a calma ou brigar com o cônjuge, podem não ter
confiança para dizer que são santos. Mas, ser santo ou
não, não depende de perder a calma ou discutir.
Depende de ser ou não chamado.
Em vez de dizer “chamados santos”, a Edição
Revista e Atualizada de João F. de Almeida diz
“chamados para ser santos”. Conforme essa tradução,
ser santo é uma pendência, ainda não é um fato
consumado. Paulo, porém, não disse que somos
chamados para ser santos; diz que somos chamados
santos. Se virarmos as costas para nós mesmos e
olharmos para Cristo, seremos capazes de declarar
que somos santos. Vamos perceber que um santo é
simplesmente um chamado.
Ser chamado por Deus é ser separado para Ele.
Por exemplo, os que foram chamados para ó serviço
militar foram separados da vida civil e engajados no
exército. Isso ilustra o chamamento de Deus. Quando
fomos chamados por Deus, fomos engajados,
separados por Ele. Como conseqüência, fomos
santificados, isto é, separados para certo propósito.
Uma vez chamados por Deus para o Seu propósito,
somos os santos chamados.

2. Com Todos os que em Todo Lugar Invocam


o Nome de Nosso Senhor
No versículo 2, Paulo também diz: “Com todos os
que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor
Jesus Cristo, Senhor deles e nosso”. Note que ele não
diz “e todos os que”, mas “com todos os que”. Isso
indica que a igreja numa cidade, como a igreja em
Corinto, é composta somente dos crentes naquela
cidade, não de todos os crentes em todo lugar.
Também indica que essa Epístola foi dirigida não só
aos crentes na igreja em Corinto, mas a todos os
crentes em todo lugar. Primeira Coríntios destina-se
a todos os crentes em qualquer lugar ou tempo.
Se eu fosse escrever essa Epístola, provavelmente
teria usado o vocábulo e em vez de com. A maneira de
Paulo se expressar aqui é muito importante. Como
vimos, isso indica que a igreja numa cidade inclui
somente os santos dessa cidade específica, e não
todos os santos na terra. Paulo escreveu essa Epístola
à igreja em Corinto, com todos os santos na terra.
Somente os santos locais são os componentes de uma
igreja específica; os santos em outras cidades não.
Contudo, essa saudação indica que esse livro de
ilustrações foi escrito não só aos santos em Corinto,
mas a todos os santos, não importa onde estejam.
Ao se referir aos santos em Corinto, Paulo usa a
expressão “chamados santos”. Mas quando fala de
todos os santos na terra, ele usa outra descrição:
“Todos os que em todo lugar invocam o nome de
nosso Senhor Jesus Cristo”. Nesse versículo, vemos
dois chamados: primeiro, somos chamados santos;
segundo, invocamos (chamamos) o nome do Senhor.
Isso indica que nós, os crentes, os santos, fomos
chamados por Deus para invocar o nome do Senhor.
Fomos chamados para chamar, ou invocar! Ser
chamado é uma vez por todas, mas invocar o nome do
Senhor dura a vida inteira. Continuamente
precisamos invocá-Lo.
Invocar o nome do Senhor implica crer Nele (Rm
10:14). Todos os crentes no Senhor devem ser os que
O invocam (At 9:14, 21; 22:16). Fomos chamados para
chamar, chamados por Deus para invocar o nome do
Senhor Jesus.
Nos versículos iniciais dessa Epístola, Paulo nos
dá a definição de um apóstolo, da igreja e dos santos.
Um santo é alguém que foi chamado por Deus para Si
mesmo. Segundo, um santo é alguém que invoca o
nome do Senhor Jesus.
Invocar o nome do Senhor Jesus não é orar
silenciosamente é invocá-Lo audivelmente. Os
cristãos freqüentemente oram em silêncio ou em voz
muito baixa. Nós, porém, devemos invocar o nome do
Senhor Jesus; precisamos invocá-Lo audivelmente.
Posso testificar que esse tipo de invocar faz grande
diferença.
Quando você invoca o nome do Senhor dessa
forma, você é o primeiro a ouvir a sua oração. Se você
não ouvir a sua própria oração, como pode esperar
que o Senhor a ouça? Mas se ouvir a sua oração, terá
certeza de que o Senhor a ouviu também.
Como santos em Cristo Jesus, não somos
máquinas. Nossa oração ao Senhor, portanto, não
deve ser mecânica. Quando O invocamos, todo o
nosso ser é estimulado. O nosso ser interior é
exercitado.
Já enfatizamos que um santo é alguém chamado
por Deus e invoca o nome do Senhor Jesus. Contudo,
alguns cristãos se opõem vigorosamente a invocar o
nome do Senhor. Invocar o nome do Senhor Jesus,
entretanto, não só é bíblico como também necessário
no dia-a-dia. Como cristãos, não devemos ser mudos.
Não devemos ir às reuniões e sentar silenciosos como
se fôssemos ídolos mudos. Devemos invocar o nome
do Senhor Jesus audivelmente. Às vezes pode até ser
preciso invocá-Lo em lugares públicos. Você pode
pensar que isso vai fazê-lo sentir-se constrangido,
mas na verdade em vez de ficar envergonhado, você
será exaltado no Senhor.
Você foi chamado pelo Senhor, mas você O está
invocando? Preocupo-me com o fato de que entre nós
há alguns que não invocam o nome do Senhor. Eles
ainda estão preocupados com o constrangimento que
talvez sintam. Quanto mais invocamos o nome do
Senhor Jesus, mais somos libertados e enaltecidos.
Além do mais, invocar identifica-nos como santos
chamados.
No versículo 2, Paulo diz que o Senhor Jesus
Cristo é “deles e nosso”. Cristo, por ser
todo-inclusivo, pertence a todos os crentes. Ele é
nossa porção, dada a nós por Deus (Cl 1:12). O
apóstolo acrescentou essa frase especial no [mal
desse versículo para enfatizar o fato crucial de Cristo
ser o único centro de todos os crentes em qualquer
lugar ou situação. Nessa Epístola, a intenção do
apóstolo era resolver os problemas existentes entre os
santos em Corinto. Para todos os problemas,
principalmente a questão de divisão, a única solução
é o Cristo todo-inclusivo. Todos fornos chamados à
comunhão Dele, à participação Nele (v. 9). Todos os
crentes devem centralizar sua atenção Nele, e não em
qualquer pessoa dotada, ênfase exagerada em
doutrina ou prática específica.

II. SAUDAÇÃO
No versículo 3, ternos a saudação de Paulo aos
coríntios: “Graça a vós outros e paz, da parte de Deus
nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo”. Graça é Deus
como nosso desfrute (Jo 1:17; 1Co 15:10), e paz é urna
condição decorrente da graça, resultante do desfrute
de Deus nosso Pai.

III. OS DONS INICIAIS


A. Dados pela Graça de Deus em Cristo
No versículo 4, Paulo diz: “Sempre dou graças a
Deus a vosso respeito, a propósito da sua graça, que
vos foi dada em Cristo Jesus”. A ação de graças do
apóstolo a Deus pelos crentes coríntios baseou-se na
graça de Deus, dada a eles em Cristo, e não na
condição deles mesmos.

B. Em Tudo, Enriquecidos em Cristo


No versículo 5, Paulo continua: “Porque, em
tudo, fostes enriquecidos nele, em toda a palavra e em
todo o conhecimento”. O vocábulo grego traduzido
por palavra nesse versículo é lógos, que expressa o
pensamento formado na mente. A palavra do
evangelho pregada pelo apóstolo traz em si o
pensamento de Deus para o nosso entendimento.
Assim, a palavra é a expressão do pensamento divino.
Conhecimento é a apreensão, a percepção do que é
conduzido pela palavra e expresso nela. Os crentes
coríntios foram enriquecidos pela graça de Deus em
toda a expressão do pensamento divino acerca de
Cristo e em toda apreensão e percepção em conhecer
Cristo.

C. Confirmado pelo Testemunho de Cristo em


Vós
No versículo 6, Paulo prossegue dizendo: “Assim
como o testemunho de Cristo tem sido confirmado
em vós”. O testemunho de Cristo é a pregação do
apóstolo, não meramente com doutrinas objetivas,
mas com experiências subjetivas, tais como uma
testemunha dando testemunho vivo de Cristo. Tal
testemunho de Cristo foi confirmado nos crentes
coríntios e entre eles quando foram enriquecidos em
Cristo, como mencionam os versículos 4 e 5.

D. Não Faltou Nenhum Dom


Por anos a fio, tive problemas com os versículos 4
a 7, principalmente com relação ao significado do
versículo 7. Tentei imaginar como Paulo poderia ter
dado graças pela igreja em Corinto, quando os santos
estavam em tal situação lamentável, divididos e
confusos. Também, não tinha um entendimento
adequado de graça. Quarenta anos atrás, não sabia o
que era graça. Como resultado, não podia entender o
versículo 4. Acerca do versículo 5, fiquei imaginando
como os crentes em Corinto poderiam ter sido
enriquecidos em Cristo. Da mesma forma, não sabia o
que queria dizer o testemunho de Cristo ser
confirmado neles e não lhes faltar nenhum dom.
Sobre o versículo 7, eu até dei mensagens nas quais
disse alguma coisa como: “Vemos em 1 Coríntios que
os dons não são eficazes. Pelo versículo 7,
entendemos que você pode ter todo tipo de dom e
ainda ser infantil”. Naquela época, eu pensava que
esse entendimento era correto. Mas, bem lá no fundo,
não tinha paz sobre esses versículos. Por fim, comecei
a ver que, no versículo 7, temos o que podemos
chamar de dons iniciais, os dons provenientes da
graça que recebemos ao crer no Senhor Jesus.
No versículo 7, dom refere-se aos dons interiores
resultantes da graça, tais como o dom gratuito da vida
eterna (Rm 6:23) e o dom do Espírito Santo (At 2:38)
como o dom celestial (Hb 6:4), e não aos dons
exteriores, miraculosos, tais como cura ou falar em
línguas, nos capítulos doze e catorze. Todos os dons
interiores são partes da graça. Eles constituem as
coisas iniciais da vida divina recebidas de graça.
Todos esses precisam crescer (3:6-7) até o pleno
desenvolvimento e maturidade. Aos crentes coríntios
não faltavam os dons iniciais de vida, mas eles
estavam desesperadamente carentes de crescimento
em vida. Assim, não importa quanto tivessem sido
inicialmente enriquecidos em graça, eles ainda eram
infantis em Cristo, anímicos1, carnais e até mesmo
carne (2:14; 3:1, 3).
Depois de muitos anos, tenho agora a ousadia de
dizer que o dom em 1:7 é diferente dos dons
mencionados nos capítulos doze e catorze. Nesses
dois capítulos, alguns dons são miraculosos e outros
são maduros. (V amos ponderar mais sobre isso ao
chegar a esse trecho.) Como já enfatizamos, o dom no
versículo 7 refere-se aos dons iniciais resultantes da
graça, ou seja, a vida eterna e o dom do Espírito
Santo. Na época de nossa regeneração, recebemos a
vida eterna como o dom de Deus. Conforme Atos
2:38, o Espírito Santo também é um dom. Dizer que
são dons iniciais indica que ainda não se
desenvolveram, não cresceram até a maturidade.
O crescimento de uma semente até se tomar
planta adulta ilustra o crescimento e
desenvolvimento dos dons iniciais. Primeiro, uma
semente é enterrada. Ela é a planta inicial. Ao crescer,
ela se desenvolve até atingir a maturidade. Todos os
crentes coríntios tinham os dons iniciais: todos
tinham a vida divina e o Espírito Santo semeados
neles. Se entendermos esses versículos, não só pelo
contexto mas também à luz de nossa própria
experiência e de outros crentes, veremos que aqui
1
Anímico: Pertencente ou relativo à alma; psíquico (Dic. Aurélio). (N.T.)
Paulo estava dizendo aos coríntios: “Vocês, crentes
em Corinto, receberam o Senhor Jesus. Quando
creram Nele, receberam os dons iniciais: a vida divina
e o Espírito Santo. O problema é que não permitiram
que esses dons crescessem e se desenvolvessem”. Por
esse motivo, no capítulo três, Ele ressalta que os
coríntios precisavam crescer. Ele diz: “Eu plantei,
Apolo regou; mas o crescimento veio de Deus” (3:6).
Os coríntios, ainda infantis com relação aos dons
iniciais, precisavam desesperadamente crescer.
Uma criança tem vida e as funções vitais, mas
não tem crescimento ou desenvolvimento. Isso toma
impossível ela fazer qualquer coisa. Quanto mais
cresce, mais a criança é capaz de fazer coisas. Por
exemplo, meu neto de onze anos, pode fazer muitas
coisas que seu irmão mais novo, de sete, não é capaz.
Mesmo quatro anos de crescimento já fazem grande
diferença. Isso não quer dizer que o mais novo não
tenha vida. Ele tem vida, mas não a mesma
quantidade de desenvolvimento dessa vida. De modo
semelhante, embora os coríntios tivessem recebido os
dons iniciais e tivessem sido enriquecidos em Cristo
em toda a palavra e todo o conhecimento, eles ainda
eram infantis. Os dons iniciais não haviam sido
desenvolvidos.
A Epístola de 1 Coríntios foi escrita a pessoas
filosóficas. Não devemos pensar, entretanto, que os
gregos antigos eram mais filosóficos que nós hoje.
Todos somos filosóficos. Como os coríntios, nós, os
filosóficos, fomos enriquecidos em nossa
compreensão sobre as coisas espirituais. Podemos ter
o conhecimento dessas coisas, e ainda ser infantis em
Cristo.
Devido à sua educação, muitos santos são
capazes de entender as expressões usadas para
transmitir coisas espirituais. Eles podem apreender a
idéia sem ter a realidade. Essa era a situação dos
coríntios. Por serem cultos, educados e filósofos, eles
podiam entender as palavras que transmitiam a idéia
do ministério de Paulo, mas não tinham a realidade
dessa idéia. É totalmente possível que os que têm
curso superior hoje entendam o meu ministério
somente pelas palavras. Podem entender a idéia
transmitida nas palavras, mas talvez careçam da
realidade que a idéia indica. Essa realidade é o
próprio Cristo. Como os coríntios, eles são ricos em
palavra e conhecimento e em sua compreensão das
coisas espirituais, mas podem não ter muita realidade
dessas coisas.

E. Aguardar a Revelação do Senhor


No versículo 7, Paulo diz: “Aguardando vós a
revelação de nosso Senhor Jesus Cristo”. Essa
revelação refere-se à aparição, à segunda vinda do
Senhor. Aguardar a Sua aparição é um sinal normal
dos verdadeiros crentes.

F. Ser Confirmados até o Fim


No versículo 8, Paulo diz: “O qual também vos
confirmará até ao fim, para serdes irrepreensíveis no
Dia de nosso Senhor Jesus Cristo”. O pronome
relativo o qual, nesse versículo, refere-se a Deus no
versículo 4. O próprio Deus que inicialmente nos deu
graça, também nos confirmará até o fim. A palavra
confirmará indica a necessidade de crescimento
depois de recebida a graça inicial.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM TRÊS
INTRODUÇÃO (3)

Leitura Bíblica: 1Co 1:1-9


Em 1:6, Paulo diz: “Assim como o testemunho de
Cristo tem sido confirmado em vós”. O testemunho de
Cristo aqui é diferente do testemunho de Jesus em
Apocalipse 1. Paulo aqui quer dizer a pregação de
Cristo. Ele pregava Cristo e isso era um testemunho
Dele. Alguns podem ficar imaginando por que ele não
usou a palavra pregação, e, sim, testemunho.
Pregação pode ser considerada simplesmente uma
questão de palavras transmitindo pensamentos. Um
testemunho é bem diferente: tem de ser um viver, e
não apenas uma pregação.
Muitos dos ministros cristãos de hoje somente
pregam, não testificam. Na pregação deles,
expressam certas idéias em palavras. Contudo, não
têm vida para testificar o que pregam.
Para ajudar os coríntios não só a compreender a
sua palavra mas também a realidade, Paulo disse-lhes
que o testemunho de Cristo foi confirmado neles.
Aqui ele parece estar dizendo: “Fiz muito mais que
simplesmente pregar Cristo a vocês. O que preguei foi
o meu viver. Esse é o meu testemunho sobre Cristo.
Vocês foram enriquecidos em toda a palavra e todo o
conhecimento; foram enriquecidos na compreensão
do que preguei a vocês”. A pregação de Paulo aos
coríntios foi o seu testemunho a eles.
O testemunho de Paulo acerca de Cristo foi
confirmado nos crentes em Corinto, ou entre eles.
Paulo foi muito cauteloso ao redigir sua Epístola.
Dizendo que o testemunho de Cristo era confirmado
nos coríntios, Paulo queria dizer: “Quando lhes
preguei Cristo, eu a testifiquei a vocês. Quando vocês
creram Nele e O receberam, alguma coisa aconteceu
em vocês. A vida eterna lhes foi dada e o Espírito
Santo entrou em vocês. Esses são os dons iniciais que
estão em vocês. Esses dons confirmam o que
testifiquei a vocês”.
Todas as questões que Paulo aborda aqui se
relacionam com ser santo. Um santo é uma pessoa
chamada por Deus que agora invoca o nome do
Senhor Jesus. Um santo é também uma pessoa que
tem em si a confirmação. Você tem em si a
confirmação da qual Paulo fala no versículo 6? Como
crente em Cristo, você com certeza tem em si a vida
divina e o Espírito Santo. Por isso, você está
confirmado com relação à sua salvação. Se alguém
não tem em si essa confirmação, tenho dúvidas sobre
a sua salvação. Um santo não só foi chamado por
Deus e invoca o nome do Senhor, mas também tem
certa confirmação interior. Alguma coisa nele
confirma que ele pertence ao Senhor e tem a vida
divina e o Espírito Santo.
Já no início da vida cristã, alguns santos podem
perder a sensação de que são salvos. Eles talvez não
sintam que têm a vida divina ou o Espírito Santo.
Quando era jovem, eu também às vezes perdia essa
sensação. Pouco depois de ter sido salvo, li o livro de
John Bunyan, O Peregrino. Em dado ponto, o
peregrino naquele livro perde seu certificado. Quando
li isso, perguntei a mim mesmo onde estava meu
certificado, Parecia que não era capaz de encontrá10.
Por muitos dias fiquei perturbado com isso e fui
incapaz de comer ou dormir bem. Então li um livro
publicado pelo irmão Nee, A Certeza da Salvação.
Nele, o irmão Nee afirma que na Bíblia, Deus
claramente nos diz que tão logo cremos em Cristo,
somos salvos. Quando li isso, abri a Bíblia em João
3:16, ajoelhei-me e disse: “Quero testificar aos céus e
à terra que creio nesse versículo. De acordo com esse
versículo na Bíblia, sei que tenho vida eterna”.
Embora ainda tivesse dúvidas depois disso, por fim
voltou o forte sentimento de que eu era de fato filho
de Deus. É isso que quero dizer com confirmação
interior.
Como crentes em Cristo, todos temos a
confirmação de que somos filhos de Deus com a vida
divina e o Espírito Santo. Como Paulo diz, não nos
falta nenhum dom. Vimos que isso quer dizer que
temos os dons iniciais: a vida divina e o Espírito
Santo.
Uma vez ponderadas diversas questões
relacionadas com ser santo, todos devemos ter ciência
de que de fato somos santos. Você pode negar o fato
de que é um santo? Você foi chamado por Deus,
invoca o nome do Senhor Jesus e tem a confirmação
interior de ter a vida divina e o Espírito Santo.

IV. A PARTICIPAÇÃO EM CRISTO


No versículo 9, Paulo diz: “Fiel é Deus, pelo qual
fostes chamados à comunhão de Seu Filho Jesus
Cristo nosso Senhor”. Essa palavra é uma
continuação do versículo 8, e fortalece a idéia da
certeza da fidelidade de Deus. Em Sua fidelidade, Ele
confirmará os crentes até o fim, fazendo-os
irrepreensíveis no dia da volta do Senhor.
a versículo 9 nos diz que Deus nos chamou à
comunhão de Seu Filho, Jesus Cristo nosso Senhor.
Comunhão denota a participação, o compartilhar,
do Filho de Deus. É participar do Cristo
todo-inclusivo, partilhá-Lo. Deus nos chamou a tal
comunhão, para que participemos de Cristo,
compartilhemos Dele e a desfrutemos como nossa
porção dada por Deus. Dizer isso, como dizer que
Cristo é deles e nosso no versículo 2, ressalta
novamente o fato crucial de Cristo ser o único centro
dos crentes para resolver os problemas entre eles,
principalmente o da divisão.
Esse livro desvenda-nos que o próprio Cristo,
que é a porção de todos os crentes, e a cuja comunhão
fomos chamados, é todo-inclusivo. Ele é o poder e
sabedoria de Deus como justiça, santificação e
redenção para nós (1:24, 30). Ele é nossa glória para
nossa glorificação (2:7; Rm 8:30), assim, é o Senhor
da glória (2:8). Ele é as profundezas de Deus, as
Suas-coisas profundas (2:10). Ele é o único
fundamento do edifício de Deus (3:11). Ele é nossa
Páscoa (5:7), o pão asmo (5:8), o alimento espiritual,
a bebida espiritual e a rocha espiritual (10:3-4). Ele é
a Cabeça (11:3) e o Corpo (12:12). Ele é as primícias
(15:20, 23), o segundo Homem (15:47) e o último
Adão (15:45). Como tal, Ele se tomou o Espírito que
dá vida (15:45). É o Cristo todo-inclusivo, com as
riquezas de pelo menos dezenove itens, que Deus nos
deu como nossa porção para nosso desfrute. Devemos
concentrar-nos Nele, e não em pessoas, coisas ou
questões além Dele. Devemos enfocá-Lo como nosso
único centro designado por Deus para que todos os
problemas entre os crentes sejam resolvidos. É à Sua
comunhão que fomos chamados por Deus. A Sua
comunhão toma-se a comunhão dos apóstolos
partilhada com os crentes (At 2:42; 1Jo 1:3) em Seu
Corpo, a igreja, e deve ser a comunhão que
desfrutamos na participação de Seu sangue e corpo
em Sua mesa (10:16, 21). Tal comunhão tem de ser
única porque Ele é único. Ela proíbe qualquer divisão
entre os membros de Seu Corpo único.
A palavra comunhão é muito profunda. Não
creio que algum mestre ou expositor cristão da Bíblia
consiga exaurir o seu significado. Comunhão não
quer dizer meramente que há comunicação entre você
e alguém; também denota participação nessa pessoa.
Além disso, significa que nós e Cristo nos tomamos
um. Também quer dizer que desfrutamos a Ele e a
tudo o que Ele é, e Ele desfruta a nós e a tudo o que
somos. Como conseqüência, não há somente mútua
comunicação, mas mutualidade de todas as formas.
Tudo o que Cristo é toma-se nosso, e tudo o que
somos toma-se Dele. Todos fomos chamados por
Deus a tal mutualidade entre nós e o Seu Filho. Não
creio que em qualquer outra língua haja um
equivalente adequado para a palavra grega que
significa comunhão. Fomos chamados à comunhão
do Filho de Deus. Fomos chamados a uma
mutualidade na qual desfrutamos o que o Filho de
Deus é, e na qual somos um com Ele e Ele conosco.
Em 6:17, Paulo diz: “Mas aquele que se une ao Senhor
é um espírito com ele”. Fomos chamados a tal
unidade, na qual desfrutamos o que Cristo é, e Ele
desfruta o que somos.
Embora sejamos tão lastimáveis, Cristo ainda
nos desfruta. Talvez você ache isso muito difícil de
crer. Você pode dizer: “Certamente creio que fomos
chamados para desfrutar Cristo. Mas será verdade
que Cristo nos desfruta? Você pode dizer que isso é
verdade, mas acho difícil acreditar”. Cristo, contudo,
diria: “Filho, Eu o desfruto muito. Você não percebe
quanto. Mesmo quando você está fraco e deprimido,
Eu ainda o desfruto pois sou um espírito com você”.
O versículo 9 relaciona-se ao 2. Nesse versículo,
Paulo diz: “Com todos os que em todo lugar invocam
o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e
nosso”. Cristo é nosso, e é também deles. Ele pertence
a nós e a todos os crentes.
Alguns exegetas crêem que no versículo 2, as
palavras deles e nosso se referem a lugares. Não
concordo com essa interpretação. Paulo aqui não está
falando do lugar deles e do nosso como se dissesse
que eles invocam o nome do Senhor Jesus onde estão
e que nós o invocamos onde estamos. Essa não deve
ser a idéia de Paulo nesse versículo. Ele está dizendo
que o próprio Senhor Jesus Cristo, cujo nome
invocamos em todo lugar, é Senhor nosso e deles,
porção nossa e deles. Isso quer dizer que todos os
santos O têm como sua única porção. O motivo disso
é que todos fomos chamados à comunhão do Filho de
Deus, o Senhor Jesus Cristo.
Isso nos leva a um tópico importantíssimo: todos
os crentes em Cristo, inclusive nós, têm suas
preferências. Os crentes coríntios tinham as suas.
Como gregos, eles eram filosóficos. Os que não são
dados à meditação ou reflexão, podem não ter
preferências. Por exemplo, se eu perguntar a uma
pessoa assim qual presbítero ela prefere entre os
demais na igreja em sua cidade, ela pode responder
que todos são iguais, e não vê diferença entre eles.
Mas se fizer essa pergunta a alguém dado ao exercício
da intelectualidade, ele imediatamente responderá
que tem preferência por determinado presbítero.
Na igreja numa cidade sempre há pelo menos
dois ou três presbíteros. Você não tem preferência
entre eles? Sempre que precisa discutir algo a
respeito da igreja, você não prefere ir ao presbítero de
sua escolha? Você pode dizer que gosta de ir ao irmão
Fulano de Tal. Na verdade, esse irmão é a sua
preferência. O fato de ter tal preferência indica que
você é uma pessoa reflexiva e filosófica.
Provavelmente você tem pensado muito sobre os
presbíteros em sua cidade. A maioria dos membros
da igreja numa cidade tem gasto tempo ponderando
sobre seus presbíteros. Como conseqüência, eles têm
preferência a respeito deles.
Toda preferência é carnal. Uma vez que se atém à
sua preferência, você está na carne. Além disso, ter
preferência o faz perder Cristo como o único centro.
Nosso único centro é o Senhor que é tanto deles como
nosso, o Filho de Deus a cuja comunhão todos fomos
chamados por Deus. Não fomos chamados à nossa
preferência quanto a presbíteros ou quanto a igrejas
locais. Às vezes os santos dizem: “Não estou feliz com
a igreja nesta cidade e não quero ficar mais aqui.
Tenciono mudar-me para outra cidade”. Isso é ter
preferência, e é carnal. Repetindo: ter preferência é
perder Cristo como o único centro.
Creio que quando Paulo escrevia essa Epístola
aos crentes coríntios, ele estava dizendo: “Queridos
irmãos, vocês precisam perceber que nem Paulo, nem
Cefas, nem Apolo, nem qualquer outra pessoa é o
único centro entre os crentes. Esse centro não é nem
mesmo um Cristo restrito, o Cristo de sua
preferência. O Cristo que é o único centro de todos os
crentes é o que é tanto deles como nosso”. Se virmos
isso, não nos importaremos mais com pessoas,
cidades ou nacionalidades. Em vez disso, vamos
importar-nos com Cristo como o único centro de
todos os crentes.
Paulo endereçou essa Epístola especificamente
“à igreja de Deus que está em Corinto, aos
santificados em Cristo Jesus, chamados para ser
santos”. Esses santos, os crentes que viviam em
Corinto, eram os componentes da igreja em Corinto.
Entretanto, a Epístola foi escrita não só para eles,
mas também para “todos os que em todo lugar
invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo,
Senhor deles e nosso”. Não deve haver diferença.
Além do mais, de acordo com o versículo 9, Deus nos
chamou à comunhão de Cristo. Fomos chamados à
unidade, à mutualidade, entre nós e Ele. Portanto,
não deve haver preferência com respeito a igrejas ou
indivíduos. Somente Cristo, ninguém mais, é o único
centro de todos os cristãos.
Muitas e muitas vezes quero enfatizar que o
único centro é Cristo e tão-somente Cristo. Se a igreja
em sua cidade é boa ou ruim, superior ou inferior,
não importa. O que importa é Cristo como o único
centro. Todos fomos chamados a Ele, chamados à Sua
comunhão, ao Seu desfrute, a participar Dele. Fomos
chamados à mutualidade na qual somos um com Ele.
Só isso consegue tragar as divisões e eliminar todas as
diferenças e preferências entre os santos.
Considere a situação entre os cristãos hoje: há
preferências e mais preferências. Alguns preferem ser
presbiterianos, ao passo que outros preferem ser
batistas, metodistas, luteranos ou pentecostais.
Alguns dizem: “Eu gosto disso”, e outros: “Eu gosto
daquilo”. Alguns declaram: “Eu gosto desse pastor”, e
outros: “Eu gosto' daquele ministro”. “Eu gosto... eu
gosto”, é comumente proferido pelos crentes hoje.
Talvez você goste de determinada coisa, mas Deus
pode não gostar. Deus somente se agrada de Cristo.
Deus tem um único centro: Jesus Cristo, e Ele
chamou você não à denominação de sua escolha, mas
à comunhão de Seu Filho. Nenhum indivíduo ou
grupo pode ser nossa preferência. Nossa única
preferência, nossa única escolha, tem de ser Cristo
como o único centro, o Cristo que é deles e nosso, o
Cristo a cuja mutualidade fomos chamados por Deus.
Oh! todos precisamos ver que Deus nos chamou para
a comunhão de tal Cristo!
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM QUATRO
CRISTO E SUA CRUZ, A ÚNICA SOLUÇÃO PARA
TODOS OS PROBLEMAS DA IGREJA (1)

Leitura Bíblica: 1Co 1:1 0-13


Na primeira mensagem deste Estudo-Vida,
enfatizamos que, depois de apresentar em Romanos
um esboço maravilhoso da vida cristã, da vida da
igreja e da vida do Corpo, Paulo nos dá uma
ilustração desses três aspectos em 1 Coríntios.
Entretanto, não devemos pensar que nessa Epístola
temos uma ilustração da vida adequada ou normal
nesses três aspectos; antes, ela ilustra o que é real ou
típico, e não o que é normal ou adequado. Assim,
nunca devemos cometer o erro de dizer que em 1
Coríntios temos a vida adequada da igreja. O que
vemos sobre a prática da vida da igreja nessa Epístola
não é adequado nem normal; pelo contrário, é
comum e típico.

CRISTO, O CENTRO ÚNICO


Em 1:1-9, Paulo nos impressiona com o fato de
que, na economia de Deus, Cristo é o centro único. A
intenção de Deus é fazer de Cristo, Seu Filho, o centro
de Sua economia e também fazê-Lo tudo para todos
os crentes. É por isso que, no versículo 9, Paulo nos
diz que fomos chamados à comunhão do Filho, Jesus
Cristo, nosso Senhor. É também o motivo de ele
enfatizar no versículo 2 que Cristo é “deles e nosso”.
Em Sua economia, a intenção de Deus é fazer Cristo
tudo, dá-Lo a nós como nossa porção e também
infundi-Lo em nós pela Sua obra em nós.
No versículo 10, Paulo começa a lidar com as
divisões entre os coríntios. Primeiro, ele lhes roga,
pelo nome de nosso Senhor, que é o nome acima de
todos os nomes (Fp 2:9) e deve ser o único nome
entre todos os crentes. Entretanto, ao equiparar o
nome de Paulo, Apolo e Cefas com o de Cristo, os
coríntios facciosos cometeram o mesmo erro que
Pedro cometeu no monte da transfiguração, ao
equiparar Moisés e Elias com Cristo (Mt 17:1-8). Para
preservar a unidade no Senhor e evitar divisões,
precisamos enaltecer e exaltar o nome único de nosso
Senhor, abandonando todos os outros nomes além
desse altíssimo nome.
Quando creram em Cristo, os coríntios não
receberam nada de Paulo, Apolo ou qualquer outro
servo de Deus. Sem dúvida, Paulo e Apolo foram de
grande ajuda para eles, mas foi Cristo que eles
receberam. Em 1:13, Paulo lhes pergunta: “Foi Paulo
crucificado em favor de vós, ou fostes, porventura,
batizados em nome de Paulo?” A resposta para essas
duas perguntas é não. Cristo foi o único crucificado
por eles e os crentes foram batizados no nome de
Cristo. Paulo aqui parece dizer: “Na verdade, vocês
não receberam coisa alguma de Paulo, Apolo ou
Cefas. Vocês não devem nem mesmo ser limitados a
um Cristo restrito. Vocês devem prestar toda a
atenção ao único Cristo. Ele é não somente de vocês e
nosso, mas pertence a todos. Ele é deles e nosso
porque é a porção dos santos em todo lugar. Deus O
deu a nós, e nos chamou à Sua comunhão”.

CHAMADOS À COMUNHÃO DO FILHO DE


DEUS
Não é fácil dar uma definição adequada da
comunhão do Filho de Deus. É algo totalmente
maravilhoso. Ela envolve não só a unidade entre nós e
o Deus Triúno, mas também a unidade entre todos os
crentes. Além disso, ela implica desfrute: o desfrute
que temos do Deus Triúno, o desfrute que o Deus
Triúno tem de nós e também o desfrute que os
crentes têm entre si. Nessa comunhão, desfrutamos o
Deus Triúno, e Ele nos desfruta. Além do mais,
desfrutamos todos os crentes e todos os crentes nos
desfrutam. Que desfrute maravilhoso, universal e
mútuo! Fomos chamados a algo que é denominado de
comunhão do Filho de Deus. Essa comunhão é
universal e mútua, e tal mutualidade não é somente
entre os crentes e o Deus Triúno, mas também entre
os próprios crentes.
Porquanto fomos chamados para tal comunhão,
não devemos dizer que somos de Paulo, de Cefas, de
Apolo ou de qualquer outra pessoa. Nem devemos
dizer que somos por certa doutrina ou prática
específica. Deus não nos chamou à comunhão de
pessoas, doutrinas e práticas. Não fomos chamados à
comunhão de Paulo ou de ninguém mais; tampouco
fomos chamados à comunhão relacionada com uma
doutrina ou prática. Fomos chamados unicamente à
comunhão do Filho de Deus. Isso quer dizer que
fomos chamados à realidade, à corporificação do
Deus Triúno. Nessa comunhão, desfrutamos o Deus
Triúno: o Pai, o Filho e o Espírito. Nela, também
desfrutamos todos os crentes e eles nos desfrutam.
Além disso, o Deus Triúno nos desfruta e a todos os
outros crentes em todo lugar.
Não seria maravilhoso se todos os cristãos de
hoje percebessem que foram chamados a essa
comunhão? Se fosse assim, o mundo se tomaria como
o jardim do Éden. Não haveria necessidade do
milênio porque o milênio já estaria aqui. Entretanto,
a verdadeira situação entre os cristãos hoje é
totalmente diferente. Muitas coisas se entremeteram
para substituir Cristo como a porção única dos
crentes. Até mesmo coisas demoníacas e satânicas
penetraram. Todavia, Deus determinou que em Sua
economia uma Pessoa, o Seu Filho, o Senhor Jesus
Cristo, tem de ser tudo. Ele é o Pai, o Filho e o
Espírito, e temos de tê-Lo constituído em nós para se
tomar você e eu. Como já enfatizamos no Estudo-Vida
de Colossenses, na igreja, que é o novo homem, Cristo
tem de ser tudo e todos. Ele tem de ser a realidade
dela. Também tem de ser a realidade de toda doutrina
e prática. Cristo é a realidade de nosso batismo, bem
como o âmago de nossa comunhão. Se essa fosse a
experiência dos cristãos hoje, quão excelente seria a
situação entre todos nós!
A verdadeira situação entre os crentes é muito
triste, até mesmo trágica. Os cristãos podem ter
muitas coisas, mas falta-lhes a realidade de Cristo, a
Pessoa viva. No cristianismo de hoje, há milhares, até
mesmo milhões de itens e coisas. Mas onde é possível
encontrar a realidade de Cristo, a Pessoa viva? A
situação entre os crentes em Corinto foi um exemplo
dessa terrível deficiência. Por esse motivo, em 1
Coríntios, Paulo enfatiza para eles que é errado dizer
que são de Paulo, de Apolo, de Cefas ou até mesmo de
um Cristo restrito. Isso é totalmente contrário à
economia de Deus. Na economia de Deus há lugar
somente para Cristo.
Aprecio a palavra de Paulo no versículo 2: “Com
todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso
Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso”. Ele aqui
fala de todos os que invocam o nome do Senhor e de
todo lugar. E então diz que Cristo é deles e nosso.
Acerca de crentes e lugares, não há diferença. Não
importa onde você esteja, quando invoca o nome do
Senhor Jesus, Cristo é tanto seu como também a
porção de todos os santos. Em todo lugar, Cristo é
deles e nosso.
Deus não presta atenção a nada além de Cristo.
Por que, então, prestamos atenção a tantas outras
coisas, até mesmo outras pessoas, no lugar de Cristo?
Alguns dos crentes em Corinto devotavam sua
atenção a Paulo. A estes, ele diria: “Por que prestam
atenção a mim? Não sou digno da atenção de vocês. E
por que alguns de vocês preferem Cefas ou Apolo?
Eles não devem ser objeto de sua atenção tampouco.
Nem devem concentrar-se em práticas ou doutrinas.
Nenhuma pessoa, prática ou doutrina é digna de sua
atenção. Sua atenção tem de ser focalizada tão-só,
plena e absolutamente em Cristo, Aquele a cuja
comunhão fomos chamados por Deus”.

INVOCAR O NOME DO SENHOR


Talvez você fique imaginando como podemos
desfrutar tal comunhão. Podemos desfrutá-la
simplesmente invocando o nome do Senhor Jesus.
Entretanto, se dissermos que somos de Paulo,
estaremos, na verdade, invocando o Seu nome. Dizer
que somos de determinada pessoa significa que
invocamos o nome dela. Todo nome além do nome de
Cristo tem de ser posto de lado, e precisamos exaltar
somente um único nome: o de nosso Senhor Jesus
Cristo, essa Pessoa maravilhosa a cuja comunhão
Deus nos chamou. A maneira de desfrutar essa
comunhão é invocar o nome do Senhor. Quanto mais
o invocamos, mais desfrutamos a comunhão à qual
fomos chamados. Repetindo o que enfatizamos
anteriormente: fomos chamados por Deus para
invocar o nome do Senhor Jesus. Invocando o Seu
nome, desfrutamos Sua comunhão e participamos
dela. Que maravilhoso! Insto a todos os santos que
aprendam a invocar o nome do Senhor Jesus.

APRENDER A NÃO TER PREFERÊNCIAS


É decisivo que os santos na restauração do
Senhor aprendam a não ter preferências. Em certa
igreja não se deve preferir um presbítero em
detrimento de outro. Todas essas preferências têm de
ser condenadas. Também desejo deixar
enfaticamente claro que vocês não devem preferir
Witness Lee ou preferir estar no lugar onde está o
ministério. Alguns me têm perguntado se tenciono
mudar-me para outro lugar. Os que me indagaram
isso foram mais longe dizendo que pretendiam
mudar-se para lá também. Isso é preferência pessoal
e tem de ser condenada. Não deve haver preferência
por Witness Lee ou pelo ministério. Nossa única
preferência deve ser Cristo. Todos devemos poder
dizer que nossa preferência é o Cristo abrangente e
todo-inclusivo.
Alguns podem dizer: “Talvez você prefira certo
irmão ou até prefira o ministério, mas eu prefiro
Cristo”. Até essa preferência está errada pois, na
verdade, é uma preferência por um Cristo muito
restrito, e não o Cristo todo-inclusivo revelado nos
escritos de Paulo. Tal Cristo restrito pode ser seu, mas
não o de Paulo. Longe de ser restrito, o Cristo de
Paulo é universalmente abrangente.
Tampouco devemos ter preferências acerca de
igrejas. Não devemos preferir a igreja. em nossa
cidade acima das outras, ou a igreja nalguma cidade
acima da que está em nossa cidade. Devemos ficar
contentes simplesmente em estar na igreja onde Deus
nos colocou segundo o Seu arranjo soberano. Sim, 1:2
de fato fala da igreja de Deus que está em Corinto,
mas nesse versículo Paulo também menciona todo
lugar. Devemos estar dispostos a estar na igreja de
Deus em todo lugar. Se o vento do Espírito levar você
para certa cidade, você deve simplesmente ficar na
igreja ali sem qualquer preferência. Se depois de certo
tempo, o vento espiritual levá-lo para outra cidade,
você deve ficar igualmente contente por estar na
igreja ali. A respeito das igrejas, não devemos ter
preferências. Jamais devemos dizer que preferimos a
igreja em nossa cidade ou em alguma outra; antes,
devemos ser capazes de dizer: “Minha preferência
está somente em Cristo. Estou disposto a ser
conduzido pelo vento para qualquer direção, pois, em
todo lugar, Cristo é o mesmo”.
Não devemos ter o conceito de que podemos
desfrutar Cristo mais em determinada cidade do que
em outra. Não devemos pensar, por exemplo, que
podemos desfrutar mais Cristo no lugar onde está o
ministério. Na verdade, se o Senhor o enviar a certa
cidade, talvez para lá iniciar a vida da igreja, você
pode ter mais desfrute de Cristo nesse lugar do que na
cidade onde está o ministério. Entretanto, é errado ir
a tal cidade por preferência. Não vá a nenhum lugar
por causa da sua preferência. Antes, simplesmente
permita que o Senhor o guie em qualquer movimento
que você fizer.
Se todos os cristãos preferissem somente o Cristo
todo-inclusivo, o mundo inteiro seria subjugado. Até
mesmo uma região como o sul da Califórnia, um lugar
que as pessoas consideram um centro de diversão,
seria subjugado por nós. Ademais, a Nova Inglaterra,
às vezes considerada o túmulo da religião, também
seria vivificada por intermédio do desfrute que os
santos teriam de Cristo.

TOMAR CRISTO COMO TUDO


Tenho encargo de que todos compreendamos o
que é, de fato, a restauração do Senhor. A intenção de
Deus em Sua restauração é restaurar Cristo como
tudo. É restaurar Cristo como o único centro da
economia de Deus e como tudo para nós como nossa
porção para nosso desfrute.
Quando consideramos 1 Coríntios, vemos que
Paulo nos dá uma ilustração. Isso não quer dizer,
entretanto, que devemos seguir os coríntios na
maneira de ter a vida cristã, a vida da igreja e a vida
do Corpo. Pelo contrário, significa que não nos
devemos queixar da igreja em nossa cidade. Não
devemos pensar que a igreja onde estamos seja
inferior e que, de acordo com a nossa preferência,
devemos mudar-nos para um lugar onde imaginamos
que a vida da igreja seja melhor. Precisamos ver que
onde quer que estejamos, a verdadeira vida da igreja
é igual à que é descrita em 1 Coríntios. Já que todos
estamos em tal situação, que devemos fazer?
Primeiro, precisamos abandonar todo outro nome
que não o de Cristo. Devemos renunciar a nomes de
pessoas ou servos de Deus de nossa preferência, e
também pôr de lado todos os nomes de
denominações. Além do mais, precisamos voltar-nos
de todas as doutrinas e práticas para Cristo, o único
centro da economia de Deus, como nosso tudo.
Nos primeiros nove versículos, Paulo lança,
como fundamento, Cristo, o único centro. Nesse
único centro, temos a comunhão e desfrute únicos e
todo-inclusivos, a comunhão de Cristo. Em 1:10,
Paulo começa a lidar com onze problemas
encontrados em 1 Coríntios. Ao fazê-lo, Paulo deixa
muito claro que a solução única para todos os
problemas na igreja é Cristo e Sua cruz. A única
resposta é Cristo e esse crucificado. Ao indicar tal
solução única para os problemas da igreja em
Corinto, e para os problemas de todas as igrejas
também, ele enalteceu Cristo e O exaltou. Para Paulo
estava muito claro que a única solução para nossos
problemas é Cristo e a cruz. Por isso, com 1:1-9 como
bom fundamento, podemos começar a apreciar Cristo
e a cruz como a única solução para todos os
problemas da igreja.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM CINCO
CRISTO E SUA CRUZ, A ÚNICA SOLUÇÃO PARA
TODOS OS PROBLEMAS DA IGREJA (2)

Leitura Bíblica: 1Co 1:10-13


Na mensagem anterior, enfatizamos que Cristo e
Sua cruz são a única solução para todos os problemas
da igreja. Nesta mensagem, vamos considerar essa
única solução de maneira mais completa.

I. CRISTO

A. O Centro da Economia de Deus


Cristo é O centro da economia de Deus. Entre os
milhares de versículos na Bíblia, um é extremamente
crucial sobre esse assunto, e esse versículo é
Colossenses 3:11. Falando do novo homem, Paulo diz:
“Onde não há grego nem judeu, circuncisão nem
incircuncisão, bárbaro, cita, escravo ou livre, mas
Cristo é tudo em todos” (IBB-Rev.). À luz desse
versículo, nenhum de nós deve gabar-se nas questões
de raça e nacionalidade. Em minhas viagens pelo
mundo, tenho observado que todos são orgulhosos de
seu país e raça. Porém, como crentes em Cristo, não
devemos orgulhar-nos de nossa raça ou
nacionalidade. De acordo com Colossenses 3:10 e 11,
a igreja, o Corpo de Cristo, é o novo homem; nele não
há distinção de raça e nacionalidade. Como Paulo diz,
no novo homem não há grego nem judeu. Os judeus
são conhecidos pela religião e os gregos pela cultura,
principalmente pela filosofia, Entretanto, não há
espaço para gregos ou judeus no novo homem. Paulo
ainda diz que não há circuncisão nem incircuncisão,
bárbaro, cita, escravo ou livre. Isso indica que no
novo homem não há lugar para religião ou cultura,
não importa qual seja. Pelo contrário, Cristo é tudo
em todos.
Colossenses 3:11 nos dá uma base bem
fundamentada para dizer que, na economia de Deus,
Cristo é tudo. Ele é toda pessoa, todo item e toda
coisa. Ele tem de ser nossa raça e nacionalidade. Se
alguém lhe perguntar a que raça você pertence, você
deve responder: “Pertenço à raça de Cristo”. Devemos
ter a percepção de que não somos chineses, alemães,
franceses, neozelandeses, americanos ou de qualquer
outra nacionalidade, mas membros de Cristo. Se
todos os cristãos soubessem que Cristo é o centro da
economia de Deus, todas as divisões desapareceriam.
Há pouco tempo li que, em determinado país, os
membros de certo grupo racial reuniram-se numa
catedral para celebrar um acontecimento que eles
consideravam uma vitória para a sua causa. Nessa
reunião, algumas coisas negativas foram ditas sobre
outro grupo racial. Depois, exatamente em frente da
catedral houve um choque entre os membros desses
dois grupos. Que vergonha tal embate acontecer
depois de uma reunião, supostamente feita em nome
de Cristo! Isso é totalmente contrário à natureza do
novo homem. Na igreja, que é o novo homem, não há
distinção de cor: não há brancos, negros, vermelhos,
pardos ou amarelos. Repetindo, no novo homem
Cristo é tudo; Ele é tudo em todos.
Ao pregar aos coríntios, Paulo testificou-lhes do
Cristo todo-inclusivo, do Cristo que é o 'centro da
economia de Deus e tudo na Sua economia. Segundo
o seu passado, Paulo era um judeu autêntico e típico.
Como tal, ele devia ter evitado todo contato social
com os gregos. Mas, ao perceber que no novo homem
não há judeu ou grego, mas Cristo é tudo, Paulo pôde
testificar aos gregos em Corinto acerca de Cristo. Ele
pôde dizer: “Desejo testificar que Cristo é tudo e no
novo homem não há judeu nem grego. No novo
homem, eu não sou judeu, sou uma pessoa
constituída de Cristo; mas embora tenha testificado
sobre isso, vocês insistem em permanecer no antigo
status social. Vocês não tomaram Cristo como centro
único e todo-inclusivo. Embora eu declare a vocês que
abandonei minha religião e agora enalteço Cristo,
vocês ainda mantêm a cultura e filosofia gregas.
Vocês sabem que fui profundamente envolvido com o
judaísmo. Desenvolvi-me nele mais que muitos
outros, mas abandonei tudo isso. Quando me
aproximei de vocês, decidi nada saber entre vocês
além de Cristo e esse crucificado. Deus não se
importa com a religião judaica ou filosofia grega. Ele
se importa somente com Cristo porque, em Sua
economia, Cristo é o centro e tudo para nós”.

B. A Porção dos Santos


Colossenses 1:12 diz: “Dando graças ao Pai que
vos fez idôneos à parte que vos cabe da herança dos
santos na luz”. Todos os cristãos sabem que Deus nos
redimiu, mas poucos percebem que Ele também nos
qualificou para participar de Cristo como a porção
dos santos. A palavra porção em Colossenses 1:12
indica desfrute. Cristo é o único desfrute para todos
os santos. Nada deve substituí-Lo como nossa porção.
Coisas como batismo, falar em línguas ou curas não
podem substituir o próprio Cristo. Somente a Pessoa
viva de Cristo, e não qualquer doutrina ou prática, é
nossa porção.
Às vezes, dizemos que desfrutamos as reuniões
da igreja. Entretanto, em vez de dizer que
desfrutamos as reuniões, devemos testificar que
desfrutamos Cristo nas reuniões. Há grande diferença
entre desfrutar a reunião em si e desfrutar Cristo na
reunião. Certos santos podem gabar-se de que as
reuniões em sua cidade são melhores que as de outro
lugar. Precisamos ser muito cautelosos sobre disso.
Não diga que desfruta as reuniões em sua cidade;
antes diga que desfruta Cristo. Não devemos
orgulhar-nos de nossa cidade ou de qualquer outro
lugar. Em certo sentido, toda cidade deve ser
rebaixada em nossa avaliação para que enalteçamos
Cristo, nossa única porção. A única porção dos santos
não é a igreja numa cidade, mas é Cristo.

C. O Todo-Inclusivo É Nosso Tudo


Cristo é todo-inclusivo para ser o nosso tudo. Em
seu Evangelho, João indica que Cristo é muitas
coisas. Por exemplo, Ele é o pão vivo, a porta, o Pastor
e a videira verdadeira. Além disso, em Colossenses
vemos que Cristo não é apenas todo-inclusivo, mas
também todo-abrangente. Contudo, nem no
Evangelho de João nem na Epístola aos Colossenses
temos os aspectos de Cristo relacionados em 1
Coríntios. Nessa Epístola, Paulo menciona dezenove
aspectos do Cristo todo-inclusivo. Nesta mensagem,
vamos simplesmente mencioná-los e comentá-los
sucintamente.

1. Poder
Em 1:24, Paulo diz: “Mas para os que foram
chamados, tanto judeus como gregos, pregamos a
Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus”. O Cristo
crucificado pregado por Paulo é o poder de Deus.
Esse poder visa realizar e cumprir o que Deus
planejou e propôs.

2. Sabedoria
Conforme 1:24, Cristo é também a sabedoria de
Deus. Sabedoria visa planejar e propor. Na economia
de Deus, Cristo é tanto sabedoria para planejamento
como poder para realizar o que foi planejado.

3. Justiça
Em 1:30, Paulo diz que Cristo é nossa justiça.
Especificamente, essa justiça visa ao nosso passado e
nos capacita a ser justificados por Deus.

4. Santificação
O versículo 30 revela também que Cristo é nossa
santificação. Isso é para o presente e relaciona-se com
a santificação da alma.

5. Redenção
De acordo com 1:30, Cristo é também nossa
redenção. Isso é para o futuro e relaciona-se
especificamente com a redenção do corpo (Rm 8:23).

6. Glória
Em 2:7, Paulo diz: “Mas falamos a sabedoria de
Deus em mistério, outrora oculta, a qual Deus
preordenou desde a eternidade para a nossa glória”.
Cristo, o Senhor da glória (2:8), é nossa vida hoje
(CI3:4) e será nossa glória no futuro (Cl 1:27). Para
essa glória Deus nos chamou (1Pe 5:10) e nela nos
introduzirá (Hb 2:10). Esse é o objetivo da salvação
de Deus. Quão maravilhoso é que Cristo seja nossa
glória para nossa glorificação!

7. Profundezas de Deus
Em 2:10, Paulo diz: “O Espírito a todas as coisas
perscruta, até mesmo as profundezas de Deus”. Cristo
é as profundezas de Deus. Esse aspecto de Cristo vai
muito além de nossa experiência e capacidade de
abstração. Refere-se às coisas profundas de Deus, a
Cristo em muitos aspectos como nossa porção eterna.

8. Único Fundamento da Edificação de Deus


Em 3:11, Paulo diz: “Porque ninguém pode lançar
outro fundamento, além do que foi posto, o qual é
Jesus Cristo”. Como Cristo e Filho do Deus vivo, o
Senhor Jesus é o único fundamento lançado por Deus
para a edificação da igreja (Mt 16:16-18). Ninguém
pode lançar nenhum outro fundamento.

9. Páscoa
Em 5:7, Paulo diz: “Pois também Cristo, nosso
Cordeiro pascal, foi imolado”. O vocábulo grego para
Cordeiro pascal é páscoa. Dizer que Cristo é nossa
Páscoa significa não só que Ele é o Cordeiro pascal
mas também toda a Páscoa.

10. Pão Asmo


Em 5:8, Paulo prossegue: “Por isso, celebremos a
festa, não com o velho fermento, nem com o fermento
da maldade e da malícia, e sim com os asmos da
sinceridade e da verdade”. O próprio Cristo é o pão
asmo.

11. Manjar Espiritual


Primeira Coríntios 10:3 diz: “Todos eles
comeram de um só manjar espiritual”. Cristo é o
manjar espiritual como nosso suprimento diário de
vida.

12. Água Espiritual


Em 10:4, Paulo diz: “E beberam da mesma fonte
espiritual”. Cristo hoje é nossa água espiritual.

13. Pedra Espiritual


Em 10:4, Paulo também diz: “Porque bebiam de
uma pedra espiritual que os seguia. E a pedra era
Cristo”. A pedra fendida em Êxodo 17:6 é uma
prefiguração do Cristo ferido e fendido por Deus para
fazer fluir a água da vida e saciar nossa sede (10
19:34).

14. Cabeça
Em 11:3, vemos que Cristo é a Cabeça. Ele é
Cabeça de todo homem.

15. O Corpo
De acordo com 12:12, Cristo é também o Corpo.
Isso quer dizer que Ele é não só a Cabeça, mas
também é constituído em nós para, de fato, tornar-se
nós. Assim, Ele é tanto a Cabeça como o Corpo. É
difícil explicar como Ele pode ser o Corpo.
Entretanto, a Bíblia revela isso, e nós cremos nela.
16. Primícias
Em 15:20, Paulo diz: “Mas, de fato, Cristo
ressuscitou dentre os mortos, sendo ele as primícias
dos que dormem”. No versículo 23, ele novamente se
refere a “Cristo, as primícias”. Assim, o próprio Cristo
é as primícias.

17. O Segundo Homem


Em 15:47, Paulo fala do segundo homem. Esse
segundo homem é também Cristo.

18. O Último Adão


Em 15:45, Paulo se refere a Cristo como o último
Adão. Como primícias, segundo Homem e último
Adão, Cristo é o primeiro, o segundo e o último.
Como tal, Ele é tudo.

19. O Espírito que dá vida


Em 15:45, Paulo diz que o último Adão, Cristo,
tornou-se o Espírito que dá vida. Se não fosse o
Espírito que dá vida, Cristo não seria poder e
sabedoria para nós, nem poderia ser nossa justiça,
santificação e redenção. Os que afirmam ser herético
ensinar que Cristo é o Espírito não têm como
experimentá-Lo. Visto que não O conhecem como o
Espírito, eles não O experimentam como esses
dezenove itens. Embora Cristo se tenha instalado
neles, eles não O experimentam. Mais uma vez,
podemos usar a eletricidade como ilustração. Embora
a eletricidade esteja instalada num edifício, se não
houver corrente elétrica, a instalação nada significa.
De modo semelhante, embora tenhamos Cristo em
nós, se não O experimentarmos como o Espírito, não
haverá como experimentá-Lo. Se Cristo não fosse o
Espírito que dá vida, como poderia ser a Cabeça e o
Corpo? Como poderia ser nossa comida, bebida e
pedra que nos segue? A chave para experimentá-Lo
em todos esses aspectos consiste em que, como
último Adão, Ele se tornou o Espírito que dá vida.
Já enfatizamos repetidas vezes que em 1:9 Paulo
diz que Deus nos chamou à comunhão de Seu Filho,
Jesus Cristo nosso Senhor. Essa comunhão é, na
verdade, executada pelo Espírito. Em 2 Coríntios
13:13, Paulo diz: “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o
amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam
com todos vós”. Essa comunhão é uma mutualidade
maravilhosa e excelente. Uma vez que ela é executada
pelo Espírito, se não O tivermos, não teremos a
comunhão. Essa comunhão é chamada não só de
comunhão do Filho mas também do Espírito porque,
depois de passar por um processo maravilhoso, o
Filho se tomou o Espírito que dá vida. Por isso, em
nossa experiência, a comunhão do Filho por fim se
toma a comunhão do Espírito. Se somos um espírito
com esse Espírito, podemos ter o desfrute dessa
comunhão.
Conforme 1 Coríntios, temos Cristo em dezenove
aspectos, inclusive o aspecto de ser o Espírito
todo-inclusivo. Os primeiros dezoito itens das
riquezas de Cristo estão corporificados no Espírito
que dá vida. Em nosso estudo dessa Epístola,
precisamos atentar para esses pontos cruciais. Não
perca tempo demasiado estudando os detalhes de
diversas coisas negativas. Antes, concentre-se nos
muitos aspectos de Cristo. Ore e tenha comunhão
acerca deles. Cristo é o centro único da economia de
Deus, é a única porção de todos os santos e é
todo-inclusivo para ser nosso tudo.
Depois de ressaltar muitos aspectos de Suas
riquezas, Paulo declara que esse Cristo se tomou o
Espírito que dá vida. Agora, o Espírito toma todos os
aspectos das riquezas de Cristo reais, aplicáveis e
predominantes em nossa experiência. Quando
tocamos Cristo como o Espírito e somos um espírito
com Ele, aplicamos todos os aspectos de Suas
riquezas.
Sempre que pondero sobre a situação lastimável
entre os cristãos hoje, meu coração sofre. Em vez das
riquezas do Cristo todo-inclusivo, a maioria dos
crentes tem somente cacos ou pedaços de argila. Sim,
eles têm Cristo de nome, mas não como seu desfrute
na experiência. Visto que experimento Cristo e O
desfruto diariamente, meu coração dói por todos os
crentes que não têm Cristo dessa forma.
Nós, na restauração do Senhor, precisamos
refletir sobre nossa situação com respeito ao desfrute
de Cristo. Quanto O desfrutamos diariamente? Você
O desfruta em todos os dezenove aspectos revelados
em 1 Coríntios? Espero que mais e mais os santos
sejam capazes de declarar: “Senhor Jesus, eu Te
desfruto e estou muito feliz em Ti. Tu és tudo para
mim. És o poder e a sabedoria de Deus, és minha
justiça, santificação, redenção e até mesmo minha
glorificação, Senhor, és as profundezas de Deus. Oro
para que me introduzas mais e mais no desfrute de Ti
mesmo como essas profundezas”.
Alguns me perguntaram como recebo luz da
Palavra. Outros imaginam como sou capaz de dar
tantas mensagens. Sou capaz de receber luz e dar
mensagens porque diariamente desfruto Cristo. Nem
mesmo os membros de minha família sabem quanto
O desfruto. Tenho comunhão com Ele, oro a Ele e
peço-Lhe que Se revele a mim na Palavra. Tenho
orado: “Senhor, mostra-me como és as profundezas
de Deus”. Posso testificar que Ele respondeu minha
oração e mostrou-Se a mim dessa forma. Na verdade,
essa experiência não é comum. Como resultado,
quando é necessário eu dar uma mensagem, tenho
algo cheio de frescor para dizer. Ademais, não é
incomum vir nova luz até mesmo enquanto estou
falando. A fonte não sou eu, e, sim, o próprio Cristo
que desfruto dia a dia.
Na primeira mensagem deste Estudo-Vida,
vimos que 1 Coríntios é uma ilustração da vida cristã,
da vida da igreja e da vida do Corpo. A luz a respeito
disso veio não quando eu estava escrevendo as notas
sobre 1 Coríntios, mas quando estava descansando à
tarde no próprio dia que dei essa mensagem.
Espontaneamente orei: “Senhor, que devo dizer na
mensagem desta noite?” Então senti que devia
começá-la dizendo que 1 Coríntios é uma ilustração
da vida cristã, da vida da igreja e da vida do Corpo.
Tive da parte do Senhor a impressão de que deveria
dizer aos santos que, depois de apresentar um esboço
completo da vida cristã e da vida da igreja em
Romanos, Paulo nos dá uma ilustração em 1
Coríntios. Essa percepção não veio por acaso, mas
resultou de minha experiência passada do Senhor e
meu desfrute atual Dele.
Encorajo todos os santos a que se concentrem em
Cristo ao ler a Bíblia. Por exemplo, quando você
chegar ao livro de Apocalipse, não se preocupe com
coisas como dez chifres e sete cabeças. Pelo contrário,
focalize a atenção no Cristo aí revelado e em pontos
como os candeeiros de ouro, o desfrute da árvore da
vida e beber da água da vida. Dessa forma você
desfrutará os muitos aspectos das riquezas de Cristo.

D. Chamados para Participar de Cristo


Vimos em 1:9 que Deus nos chamou à comunhão
de Seu Filho, para participar de Cristo. Isso significa
que fomos chamados para desfrutá-Lo. Como já
enfatizamos, a maneira de desfrutar essa comunhão é
invocar o nome do Senhor Jesus. Novamente digo:
fomos chamados por Deus para invocar o nome do
Senhor Jesus Cristo. Ele nos chamou para invocar
esse nome único, que está acima de todo nome.
Devemos parar de considerar os nomes de pessoas e
lugares e concentrar-nos no nome único, o nome do
Senhor Jesus Cristo.

II. A CRUZ
A cruz de Cristo é também parte da única solução
para os problemas na igreja. A primeira obra que a
cruz faz em nossa experiência é pôr fim a nós.
Segundo a minha observação, os irmãos
normalmente são mais dispostos que as irmãs para
ser aniquilados. Nesses anos todos na restauração do
Senhor, tenho visto poucas irmãs dispostas a ser
aniquiladas pela cruz. Você percebe que todo
casamento é um aniquilamento? Quando uma irmã
se casa, ela usa um véu. Esse véu é sinal de
aniquilamento e sepultamento. Se não estiver
disposta a sofrer tal aniquilamento, ela não deve
cobrir a cabeça na hora do casamento. Além disso, ela
perde o nome de solteira e toma outro sobrenome, o
do marido.
A cruz opera em nós para aniquilar-nos. Por um
lado, Cristo é nosso desfrute; por outro, a cruz é nosso
aniquilamento. Pela experiência sabemos que quanto
mais desfrutamos Cristo, mais somos aniquilados.
Quando a cruz opera para aniquilar-nos, que
devemos fazer? Não devemos fazer nada exceto
permanecer em descanso no lugar onde se processa o
aniquilamento.
É maravilhoso que tudo o que é aniquilado pela
cruz é redimido. Como isso é animador! O desfrute da
redenção depende da experiência de aniquilamento.
Determinados santos têm pouco desfrute da redenção
porque não estão dispostos a ser aniquilados.
A cruz resolve todos os embaraços que
enfrentamos na vida da igreja e principalmente em
nossa vida conjugal. Segundo a minha experiência, a
vida conjugal pode ser muito cheia de embaraços,
aborrecida e confusa. Que pode desembaraçar as
complicações e resolver os problemas? Precisamos de
um instrumento para cortar todo o embaraço, e esse
instrumento, essa faca afiada, chama-se cruz.
Somente ela pode salvar-nos dos embaraços da vida
conjugal. Quando somos cortados por ela, não somos
embaraçados por mais nada.
A vida humana é cheia de problemas e
embaraços. O simples fato de estar vivo significa
encontrar problemas e encrencas. Isso é verdade não
apenas na vida conjugal e familiar, mas também na
vida da igreja. De acordo com a maneira humana, o
meio de resolver problemas ou embaraços é a
negociação. Um irmão e uma irmã podem tentar
resolver problemas dessa forma. Entretanto, essa não
é a maneira divina. A maneira de Deus é suprir você
de Cristo e aniquilá-lo pela cruz. Sempre que há um
problema na vida familiar ou na vida da igreja, o
homem natural pode imediatamente tentar negociar
e resolver o problema por meio de conversação. Pela
misericórdia do Senhor, posso testificar que sempre
que enfrento essa tentação, bem lá no fundo tenho a
sensação de que não tenho necessidade de falar ou
negociar. Minha única necessidade é ir à cruz e ser
aniquilado. Cristo então chega com suprimento para
resolver todo o problema. Essa é a maneira de Deus
resolver todos os problemas na vida da igreja.
Devemos prestar total atenção a Cristo. Ele é
nossa única preferência e escolha. Além disso,
precisamos ter uma compreensão adequada acerca da
cruz, percebendo que o propósito dela é aniquilar
tudo o que somos. Precisamos tomá-la e desfrutar
Cristo. Essa é a única solução para todos os
problemas na igreja. Para os judeus a cruz é uma
ofensa, e para os gentios é uma tolice. Para nós,
porém, os chamados de Deus, é de fato poder e
sabedoria de Deus (1:24). De acordo com nossa
mentalidade natural e cultural, é tolice ser crucificado
e eliminado, mas, para os chamados, sabemos que a
cruz é a sabedoria e poder de Deus.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM SEIS
CRISTO NÃO DIVIDIDO

Leitura Bíblica: 1Co 1:10-17


Em 1:10, Paulo diz: “Rogo-vos, irmãos, pelo
nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que faleis todos a
mesma coisa e que não haja entre vós divisões; antes
sejais inteiramente unidos na mesma disposição
mental e no mesmo parecer”. Com esse versículo, o
apóstolo começa a lidar com as divisões entre os
coríntios. Primeiro, ele lhes faz um pedido, pelo nome
de nosso Senhor, que é o nome acima de todos os
nomes (Fp 2:9) e deve ser o único nome entre todos
os crentes. Entretanto, ao equiparar o nome de Paulo,
Apolo e Cefas ao de Cristo, os coríntios facciosos
cometeram o mesmo erro de Pedro no monte da
transfiguração, quando equiparou Moisés e Elias a
Cristo (Mt 17:1-8). Para manter a unidade no Senhor
e evitar divisões, precisamos enaltecer e exaltar o
nome único de nosso Senhor, abandonando todos os
outros nomes afora esse altíssimo nome.

FALAR A MESMA COISA


No versículo 10, Paulo insta com os crentes que
falem a mesma coisa a fim de que não haja divisões
entre eles. Nessa Epístola, Paulo lida com onze
problemas entre os crentes em Corinto. O primeiro é
a divisão. A divisão é quase sempre o problema
principal, que introduz todos os demais problemas
entre os crentes. Pode ser considerado como a raiz
dos problemas entre os crentes. Assim, ao lidar com
os problemas na igreja em Corinto, o machado do
apóstolo primeiro toca na raiz, ou seja, as divisões
entre eles. A primeira virtude do andar digno do
chamamento de Deus é guardar a unidade do Espírito
no Corpo de Cristo (Ef 4:1-6).
No versículo 12, Paulo prossegue: “Refiro-me ao
fato de cada um de vós dizer: Eu sou de Paulo, e eu,
de Apolo, e eu, de Cefas, e eu, de Cristo”. Em
princípio, isso é exatamente o mesmo que dizer: Sou
luterano, sou wesleyano (metodista), sou
presbiteriano, sou episcopal, sou batista. Todas essas
denominações devem ser condenadas e rejeitadas.
Elas podem ser aniquiladas e eliminadas tomando
Cristo como centro único entre todos os crentes.
Dizer “sou de Cristo”, excluindo os apóstolos e
seus ensinamentos ou outros crentes, é tão faccioso
quanto dizer “sou disso” ou “sou daquilo”.
Esses versículos indicam que as divisões entre
cristãos são sempre resultado de se colocar outro
nome acima do nome do Senhor Jesus. Quando
alguns dentre os coríntios diziam: “Sou de Apoio”,
eles automaticamente estavam enaltecendo o nome
de Apolo acima do nome de Cristo. Através dos
séculos, divisões entre os cristãos têm sido causadas
por essa prática. Os crentes comumente designam a si
mesmos luteranos, presbiterianos ou batistas, sem
qualquer sentimento de vergonha. Na verdade, é uma
vergonha um cristão denominar-se luterano, pois
significa que coloca o nome de Lutero acima do nome
de Cristo. Nenhum crente deve fazer tal coisa.
É muito significativo que, no versículo 10, Paulo
rogue aos irmãos pelo nome de nosso Senhor Jesus
Cristo. Isso indica que não devemos enaltecer
nenhum nome acima desse nome. Por esse motivo, os
cristãos não devem ter denominação. Denominar-nos
é tomar um nome mais elevado que o de Cristo. Isso é
uma vergonha, tanto para o Senhor como para os
crentes. Entretanto, alguns cristãos gabam-se de
dizer que pertencem a determinada denominação.
Além do mais, esses nomes são colocados em placas
e divulgados. Isso indica quanto os cristãos de
hoje se desviaram. Eles não têm sentimento de
vergonha quando adotam um nome específico além
do de Cristo.
Pelo nome do Senhor Jesus Cristo, Paulo rogou a
todos os crentes em Corinto que falassem a mesma
coisa. Quando eu era jovem, certos líderes cristãos me
disseram que eu não devia esperar que todos algum
dia falassem a mesma coisa. Você acha que é possível
que, como cristãos, falemos a mesma coisa? Se você
considera isso possível, eu pergunto: Como podemos
falar a mesma coisa? Ao ponderar sobre as diferenças
entre as nações e raças hoje, vemos que as pessoas
não falam a mesma coisa. Por exemplo, os chineses
não falam o mesmo que os japoneses, nem os alemães
o mesmo que os franceses. Como é possível que
crentes de diferentes nacionalidades falem a mesma
coisa? Para responder essa questão, precisamos
entender o que Paulo quer dizer com a expressão “a
mesma coisa”.

CRISTO, E ESSE CRUCIFICADO


Quando Paulo fala de “a mesma coisa”, ele quer
dizer Cristo, e esse crucificado. Assim, falar a mesma
coisa significa que todos falamos sobre Cristo, e esse
crucificado. Pela experiência, posso testificar que,
embora segundo a história seja impossível que
chineses e japoneses, alemães e franceses, sejam de
fato um, tenho visto verdadeira unidade entre crentes
de diferentes nacionalidades. É maravilhoso ver a
autêntica unidade entre crentes chineses e japoneses
e também alemães e franceses. Tal unidade é possível
somente quando nos concentramos em Cristo como
nosso único centro e porção. Como tal, Ele está em
todos os santos (Cl 1:27) para até mesmo se tomar
todos os santos (Cl 3:11). Enquanto muitos cristãos de
hoje estão divididos porque enfatizam muitas coisas
em lugar de Cristo, nós somos um porque nada temos
senão Cristo.
Os cristãos estão divididos porque se importam
com muitas outras coisas afora Cristo. Por exemplo,
alguns argumentam acerca do nome no qual devemos
batizar os crentes. Para nós, o Cristo todo-inclusivo
tem de ser nosso centro e único desfrute. Uma vez
que as pessoas tenham uma fé viva em Cristo Jesus,
não importa se são batizados no nome do Senhor
Jesus ou no nome do Pai, do Filho e do Espírito
Santo.
Visto que o Senhor nos levantou para levar a
cabo Sua restauração, nosso enfoque é Cristo, e não
as práticas. Deixamos tudo o mais e nos voltamos ao
próprio Cristo. Isso tem feito com que outros
espalhem boatos sobre nós e nos critiquem. Por
exemplo, começando em 1968, alguns irmãos ficaram
convictos de sua velhice e quiseram ser sepultados
nas águas do batismo. Posteriormente, alguns boatos
foram espalhados de que nós ensinávamos
“rebatismo”. Os opositores citaram a palavra de Paulo
em Efésios 4 sobre um só batismo. Entretanto, aquilo
se refere ao batismo que é um em natureza ou tipo, e
não à prática de batizar um crente uma vez só. O fato
é que não ensinamos nem praticamos o “rebatismo”.
Se alguns crentes estiverem convencidos de sua
velhice e quiserem ser sepultados, não deverão ser
condenados por isso.
Outros nos têm criticado porque temos a prática
de invocar o nome do Senhor Jesus. Alguns até têm
dito que isso é um mantra e é a mesma coisa que uma
cantilena oriental.
No passado, alguns se desviaram com o que
pensavam ser uma maneira melhor de se reunir.
Entretanto, nosso centro não é certa maneira de se
reunir: nosso centro é o próprio Cristo. Se chegasse
alguém até você e criticasse a maneira de se reunir e
propusesse outra, você deveria replicar: “Não me
importo com esse assunto. Eu só conheço Cristo e
esse crucificado”. Falar sobre coisas afora Cristo,
mesmo sobre reuniões da igreja, pode ser um engodo.
Na restauração do Senhor, nossa única escolha e
preferência é o Cristo crucificado. A melhor maneira
de silenciar as línguas fofoqueiras é não responder
quando alguém procura fazer você voltar-se de Cristo
para outras coisas. Suponha que um irmão venha até
você e diga: “Que você achou das reuniões da semana
passada?” Você deve responder: “Não me importo
com as reuniões; só me importo com Cristo”.
Entretanto, se você começar a falar sobre as reuniões,
a porta se abrirá para mexericos e críticas.
Muitos cristãos hoje não falam sobre Cristo. Em
sua conversa, eles estão preocupados com muitas
outras coisas. Nas igrejas locais, todos precisamos
falar do Cristo crucificado. Não discuta as reuniões,
quer sejam elevadas ou fracas, e não fale sobre a
igreja, se é boa ou ruim. Igualmente, não fale sobre os
presbíteros, se estão certos ou errados, se são capazes
ou incapazes. Nossa atitude deve ser que nos
importamos somente com Cristo, a igreja de Deus em
todo lugar e a restauração do Senhor. O objetivo de
Deus em Sua restauração é restaurar Cristo como
tudo para nós.
Em mais de cinqüenta anos na vida da igreja,
tenho observado que muitos santos em diferentes
países e cidades ainda não foram integralmente
resgatados da situação degradada do cristianismo.
Mesmo alguns dos queridos santos na restauração do
Senhor falam como no cristianismo de hoje. Em vez
de falar de Cristo e esse crucificado, falam sobre as
reuniões, os presbíteros e os santos. Quando os
outros quiserem que você converse com eles desse
modo, você deve dizer: “Não desejo falar sobre isso.
Minha única preferência é Cristo. Só me importo com
Cristo, não com a condição da igreja ou as reuniões”.

VER CRISTO COMO O CENTRO ÚNICO


Se uma igreja é ou não autêntica, não é questão
de condição. Não pense que se determinada igreja é
saudável, ela é a igreja, mas se perder essa condição
saudável, então deixa de ser a igreja. O irmão Fulano
de Tal é a mesma pessoa, quer seja forte ou fraco,
saudável ou doente. De modo semelhante, mesmo
que a condição da igreja seja deprimente e muito
doentia, ela ainda é a igreja. Se virmos a igreja na
restauração do Senhor dessa forma e nos
importarmos somente com Cristo como nosso único
centro, não teremos divisões.
Se alguém é capaz de deixar a restauração, ele
nunca viu o que é a restauração. Se você é capaz de
desistir da vida da igreja, isso prova que você nunca a
viu. Quer a igreja seja boa ou má, saudável ou
doentia, viva ou morta, ainda é a igreja. Se
percebermos isso, vimos que Cristo é o centro único
de Deus.
Se você fosse um cristão em Corinto, iria
reunir-se com a igreja ali? Creio que a maioria de nós,
incomodados com tal igreja confusa e dividida, iria
preferir mudar-se para outra cidade para ter a vida da
igreja. Tal atitude, na verdade, é facciosa, embora
possa não parecer. Não importa qual seja a condição
da igreja em nossa cidade, não devemos fazer nossa
escolha, ter nossa própria preferência ou buscar uma
oportunidade para nós mesmos. Pelo contrário,
devemos deixar o vento do Espírito soprar
livremente. Atualmente, estamos em certa cidade
pela ordenação de Deus. Não devemos mudar-nos
para outro lugar segundo nossa preferência, mas se o
vento soprar-nos para outra cidade, essa é a
ordenação de Deus, e não nossa escolha ou
preferência.
Não dê como certo que, já que você está agora na
restauração do Senhor, está seguro nela e não é
possível ser faccioso. Estarmos seguros ou não na
restauração e protegidos da divisão, depende da visão
que tivemos. Se vimos que Cristo é o único centro,
vamos estar seguros. Não importa o que aconteça na
restauração, vamos permanecer na vida da igreja.
Teremos a certeza de que estamos na restauração do
Senhor.
Sempre que visitamos outra cidade ou temos
comunhão com santos de outra cidade, somos
tentados a perguntar sobre a igreja ali. Perguntas
assim podem abrir a porta para muitas coisas
negativas. Precisamos aprender a nos importar com
Cristo e não ser curiosos sobre a condição das igrejas
em outros lugares.
Em 1942, houve grande tumulto em Xangai,
causado principalmente pela oposição contra o irmão
Nee. Esse alvoroço se espalhou para outros lugares.
Naquela época eu estava em Chefoo, no norte da
China. Os líderes tomaram uma firme decisão diante
do Senhor de que quem viesse de Xangai, não
importava quem fosse, seria avisado para não falar
sobre a situação da igreja ali. Dissemos: “Não falem
sobre a igreja em Xangai. Nós aqui somos a igreja em
Chefoo. Vamos falar do Senhor Jesus Cristo e da
igreja aqui”. Isso salvou Chefoo de se envolver nessa
perturbação.
É crucial que todos aprendamos o segredo de
nada saber a não ser Cristo, e esse crucificado.
Todavia, na verdade, isso é bem difícil praticar. Para
nós não é fácil falar a mesma coisa. Não obstante,
precisamos aprender a falar uma só coisa: Cristo, e
esse crucificado.

NA MESMA DISPOSIÇÃO MENTAL E NO


MESMO PARECER
No versículo 10, Paulo também diz aos coríntios
que estivessem “na mesma disposição mental e no
mesmo parecer”. A palavra grega traduzida por
disposição aqui é a mesma palavra traduzida por
consertando em Mateus 4:2l. Isso quer dizer reparar,
restaurar, ajustar, recuperar, fazendo com que algo
quebrado se torne totalmente completo,
integralmente refeito. Os crentes coríntios, como um
todo, estavam divididos; sua unidade fora quebrada.
Precisavam de conserto para juntá-los perfeitamente
de modo que ficassem em harmonia, tendo a mesma
disposição mental e o mesmo parecer para falar a
mesma coisa, isto é, Cristo e Sua cruz.
O testemunho da igreja em Corinto fora
seriamente danificado, e Paulo escreveu essa Epístola
para consertar a situação. Esse conserto foi também
uma sintonia. A palavra sintonia é um termo musical.
Entre os santos em Corinto não havia harmonia. Ao
escrever essa Epístola, Paulo estava procurando
restaurar a harmonia, ajustá-los para que fossem
sintonizados na mesma disposição mental e no
mesmo parecer.
O problema entre os coríntios não era com seu
espírito. Eles tinham sido regenerados e o Senhor
Jesus habitava em seu espírito. Seu problema era com
a disposição mental, isto é, a mente, e o parecer, isto
é, as opiniões. Há uma diferença entre mente e
opinião. Pensar ocorre na mente; as opiniões são
pensamentos expressos em palavras. Se somente
pensarmos sobre uma questão, será uma atividade
mental, mas quando nosso pensar se transforma em
falar, isso se torna um parecer. É difícil ser
sintonizado na mesma maneira de pensar, isto é, na
mesma disposição mental e na mesma maneira de
falar, ou seja, no mesmo parecer. Ser sintonizado no
mesmo parecer, na verdade, significa falar a mesma
coisa. Quando todos falamos a mesma coisa, estamos
no mesmo parecer.

UMA VISÃO DE CRISTO NA ECONOMIA DE


DEUS
Se quisermos ser sintonizados no mesmo
parecer, precisamos ter uma visão do lugar de Cristo
na economia de Deus. Tenho encargo de que todos os
santos vejam Cristo e O conheçam. Quando você tiver
visto o Cristo todo-inclusivo e aprendido o segredo de
desfrutá-Lo, sua maneira de pensar e falar será
mudada. Você, então, se tomará puro e simples. Em
vez de expressar seu próprio parecer, você se
importará somente em desfrutar Cristo e falar Dele.
Tendo-se tomado uma pessoa que não sabe nada
exceto Cristo, você será fiel à restauração do Senhor.
O Senhor hoje está buscando pessoas que se
importem somente com Ele. Coletivamente, aqui e lá,
essas pessoas serão candeeiros. Entre elas, não
haverá preferências ou opiniões, mas somente Cristo.
Que todos aprendamos esse segredo!
Suponha que você entre no salão de reuniões e as
cadeiras estejam arrumadas de forma muito
incomum, totalmente contrária à sua preferência.
Não deve fazer qualquer diferença para nós a maneira
de arrumar as cadeiras. Uma vez que podemos
reunir-nos para ler a Palavra e falar de Cristo,
devemos estar satisfeitos. Queixar-se da arrumação
das cadeiras e se distrair por isso é prova de que você
não teve a visão acerca de Cristo. Os diamantes
divinos estão acessíveis a você na reunião da igreja,
mas você se distrai com o arranjo de cadeiras. Isso
não indica que você não percebe a preciosidade dos
diamantes? Enquanto puder receber mais diamantes
do Senhor, você não deve importar-se com a
arrumação das cadeiras. Se conhecer a preciosidade
dos diamantes, você não irá importar-se com coisa
alguma. Não se importará com o arranjo das cadeiras
porque virá às reuniões por causa de Cristo e
tão-somente por causa Dele.
Na restauração do Senhor, nós nos importamos
somente com Cristo. Na restauração, o Senhor não
está restaurando nenhuma outra coisa que não o
próprio Cristo em nossa experiência. Somente nos
concentrando em Cristo é que podemos ser salvos de
divisões.

SALVOS DA FACCIOSIDADE
Por natureza, todos somos facciosos. Nascemos
com um elemento faccioso. A única maneira de ser
resgatados dessa tendência é ver o Cristo
todo-inclusivo e aprender o segredo de desfrutá-Lo.
Por favor, atente cuidadosamente para o fato de que a
única maneira de evitar divisões é ver Cristo,
recebê-Lo e desfrutá-Lo. Isso, e tão-somente isso,
poderá tomar-nos sintonizados no mesmo parecer.
Então haverá verdadeira harmonia entre nós.
Se você visitar outra cidade, não procure saber
das coisas sobre a igreja lá. Não pergunte sobre os
presbíteros ou os jovens. Em vez disso, importe-se
somente com a harmonia que advém do desfrute de
Cristo. Quando visito uma igreja, importo-me
somente em contemplar tal harmonia. Se essa
harmonia não estiver presente em certa igreja,
percebo que os santos nesse lugar não desfrutam
Cristo adequadamente; mas se desfrutarmos Cristo
continuamente, haverá harmonia entre nós.
Às vezes, fico desapontado quando os santos me
dizem o que viram em suas visitas às igrejas em
diferentes lugares. O que me desapontou não foram
as notícias que me relataram, mas o próprio fato de
falarem de outras coisas que não o desfrute de Cristo.
Sua conversa indica que não têm uma visão adequada
e que não foram totalmente resgatados de sua
natureza facciosa. Em vez de se importar com Cristo,
estão interessados na maneira como os presbíteros
dirigem a igreja ou na forma como os jovens
avançam. Importar-se com tais coisas em vez de
Cristo é faccioso. Sempre que visitar a igreja em outra
cidade, você deve procurar ser cego e nada ver além
de Cristo. Você, então, será alguém que aprendeu o
segredo, fala a mesma coisa e tem a mesma
disposição mental e o mesmo parecer.
Vamos aprender a não ter escolha, preferência ou
gosto por nada além de Cristo. O Cristo
todo-inclusivo é nossa única escolha, preferência,
gosto e desfrute. Isso nos preservará na igreja na
restauração do Senhor até que Ele volte. Senão,
posteriormente ficaremos decepcionados ou
distraídos e renunciaremos à restauração do Senhor.

CRISTO É ÚNICO E NÃO ESTÁ DIVIDIDO


No versículo 13, Paulo pergunta: “Acaso Cristo
está dividido? foi Paulo crucificado em favor de vós,
ou fostes, porventura, batizados em nome de Paulo?”
Cristo é único e não está dividido. Esse Cristo único e
não dividido, tomado como o único centro entre
todos os crentes, deve ser o término de todas as
divisões.
Cristo, e não alguma outra pessoa, foi crucificado
por nós. O que foi crucificado por nós deve ser Aquele
a quem todos os crentes pertencem. Esse com certeza
é Cristo, e não outra pessoa. Todos os crentes foram
batizados no nome, isso é, na Pessoa, do Cristo
crucificado e ressurreto. Isso resulta numa união
orgânica com Ele. Seu único nome e Pessoa não
podem ser substituídos pelo nome e pessoa de
nenhum dos Seus servos.
Depois de falar nos versículos 14 a 16 dos que
foram batizados por ele, Paulo diz no versículo 17:
“Porque não me enviou Cristo para batizar, mas para
pregar o evangelho; não com sabedoria de palavra,
para que se não anule a cruz de Cristo”. Paulo não
fora enviado para batizar pessoas de maneira formal,
mas para pregar o evangelho, ministrando Cristo aos
outros para gerar a igreja como expressão de Cristo.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM SETE
O CRISTO CRUCIFICADO, PODER DE DEUS E
SABEDORIA DE DEUS (1)

Leitura Bíblica: 1Co 1:18-25

O ESPÍRITO DE PAULO EM PRIMEIRA


CORÍNTIOS
O irmão Watchman Nee uma vez nos disse que o
mais importante e precioso ao ler a Bíblia é tocar o
espírito do escritor. Quando Paulo escreveu a
Epístola de 1 Coríntios, sem dúvida havia em seu
espírito um encargo específico. Ao lê-la, precisamos
penetrar no espírito do escritor.
A fim de tocar o espírito de Paulo em 1 Coríntios,
precisamos conhecer um pouco os antecedentes tanto
do próprio Paulo como dos crentes em Corinto. Paulo
era um judeu religioso típico, totalmente
comprometido com a religião de seus antepassados.
Por ser absoluto pelo judaísmo, ele se opunha ao
evangelho, ao nome de Jesus e à igreja. Como
sabemos, enquanto ele se opunha à igreja, o Senhor
Jesus foi até ele, chamou-o, separou-o,
comissionou-o e incumbiu-o de pregar Cristo. Em
obediência à comissão do Senhor, Paulo de fato
pregou Cristo.
Em certa viagem do ministério, ele visitou
Corinto, uma cidade culta na Grécia, onde viviam
muitos homens filosóficos. Para eles, Paulo pregou
Cristo Jesus. Alguns deles receberam a palavra da
pregação de Paulo, aceitaram a Cristo e foram salvos.
Quando foram regenerados, receberam os dons
iniciais: vida eterna e o Espírito Santo. Esses dons
iniciais foram semeados neles como sementes
espirituais. Entretanto, depois de receber a vida
divina e o Espírito Santo, eles não viveram por esses
dons. Em vez disso, eles ainda viviam segundo a
cultura grega. Isso quer dizer que tinham um viver de
sabedoria e filosofia, e não de Cristo. Eles viviam de
acordo com sua filosofia e sabedoria mundana, e não
de acordo com a vida divina e o Espírito Santo.
Devido à sabedoria mundana de sua filosofia, os
crentes em Corinto tinham várias maneiras de pensar
e opiniões diversas. Falavam coisas diferentes e
tinham preferências e escolhas distintas. Alguns
diziam: “Eu gosto de Paulo”; outros: “Eu prefiro
Cefas”; e outros ainda: “Minha escolha é Apolo”.
Alguns deles até diziam: “Eu gosto de Cristo”. Essas
opiniões e modos de falar diversos abriram a porta
para muitas coisas malignas penetrarem na vida da
igreja, como contendas, discussões, fornicação e
litígios. Quanto à vida conjugal, havia também
confusão e opiniões distintas. Alguns diziam que um
irmão devia deixar a esposa se ela não estivesse
disposta a crer no Senhor juntamente com ele. Outros
aconselhavam o contrário. Assim, entre os crentes em
Corinto, havia várias opiniões. Embora fossem
cristãos autênticos, que haviam recebido os dons
divinos, eles não tinham um viver cristão, mas uma
vida grega. Não tinham um viver de divindade, mas
uma vida de filosofia segundo a sabedoria mundana.
Como conseqüência, havia confusão entre eles. Era
esse o pano de fundo dessa Epístola.
Enquanto Paulo escrevia essa Epístola, ele tinha
encargo de orientar os cristãos distraídos e filosóficos
em Corinto de volta para Cristo. Eles tinham sido
distraídos pela sabedoria, filosofia e cultura. Assim,
no espírito, Paulo tinha o encargo de levá-los de volta
ao próprio Cristo do qual ele lhes testificara. Esse
encargo no espírito de Paulo é evidente em especial
nos primeiros dois capítulos desse livro.

O CRISTO CRUCIFICADO
Os primeiros dois capítulos de 1 Coríntios são
muito difíceis de entender. Você pode lê-los muitas
vezes sem entender o que Paulo está falando. Pode
ficar impressionado com muitos versículos e ainda
não ser capaz de ver o ponto central do autor. O ponto
central é que, em seu espírito, Paulo se esforçava para
conduzir os crentes filosóficos distraídos de volta a
Cristo. Por esse motivo, o autor não enfatiza o Cristo
ressurreto ou ascendido; antes, enfatiza o Cristo
crucificado. Em 2:2, ele diz: “Porque decidi nada
saber entre vós, senão a Cristo Jesus, e esse
crucificado”. Para os coríntios, Paulo proclamou um
Cristo crucificado, um Cristo que tinha sido morto.
Já enfatizamos que a melhor maneira de resolver
problemas entre as pessoas é dar fim a todos os
envolvidos. Contudo, a maneira humana de resolver
problemas é negociar. A maneira de Deus, antes, não
é negociar, mas dar fim. Quando todos estão
exterminados, há silêncio. A melhor maneira de
introduzir o silêncio e a simplicidade é ter o Cristo
crucificado. Parece que Paulo dizia aos coríntios:
“Testifiquei a vocês de um Cristo que foi crucificado.
Quando fui pela primeira vez até vocês, preguei sobre
o Cristo crucificado. A vida do Senhor na terra
terminou com a morte pela crucificação”.
O fato de Cristo ter sido crucificado implica
muitas coisas.
Implica que Ele foi desprezado, rejeitado e
derrotado. Ninguém poderia ser crucificado sem
primeiro ser rejeitado e derrotado. Mediante a
crucificação, Ele sofreu a rejeição dos homens. Ele era
capaz de evitar a morte na cruz, mas não o fez. Ele só
pôde ser crucificado porque estava disposto a ser
morto. A crucificação de Cristo silenciou todo o
universo e simplificou a situação extremamente
complicada no universo.
Bem no fundo de seu espírito, Paulo estava
ansioso por impressionar os cristãos distraídos e
filosóficos em Corinto com esse Cristo crucificado.
Entre os santos havia perturbação e tumulto. Muitas
vozes falavam várias coisas: “Eu sou de Apolo”, “eu
sou de Cefas”, “eu sou de Paulo”, “eu sou de Cristo”.
Que poderia silenciá-las? Paulo sabia que poderiam
ser silenciadas somente por um Cristo crucificado.
Por isso, no seu espírito havia encargo de conduzir os
crentes de volta ao Cristo que ele lhes havia pregado e
testificado. Ele podia dizer: “O Cristo que preguei a
vocês era um Cristo silencioso, que estava disposto a
ser crucificado sem uma palavra. Estava disposto a
ser desprezado, rejeitado e levado à morte. Esse é o
Cristo que ministrei a vocês quando cheguei. Agora
quero que vocês saibam que tal Cristo é o poder de
Deus. Somente um Cristo crucificado pode salvá-los.
O poder salvador de Deus não é um Cristo forte, mas
um Cristo crucificado; não um Cristo lutador, mas um
Cristo derrotado”. Repito: no espírito, Paulo queria
trazer de volta esses cristãos rixosos e filosóficos à
simplicidade e ao silêncio do Cristo crucificado.
Além disso, em 1:17, Paulo disse que pregava o
evangelho, “não com sabedoria de palavra, para que
se não anule a cruz de Cristo”. Nesse versículo,
sabedoria de palavra se refere a especulações
filosóficas. Em 2:1, ele diz: “Eu, irmãos, quando fui
ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus,
não o fiz com ostentação de linguagem, ou de
sabedoria”. Literalmente, a palavra grega traduzida
por “com ostentação de linguagem” significa de
acordo com exaltação ou superioridade. Paulo não
foi a Corinto para mostrar um discurso excelente ou
sabedoria filosófica no testemunho de Deus. Pelo
contrário, ele evitou especulação filosófica e
excelência de discurso, e pregou a simples palavra da
cruz. A palavra da cruz é simples, nada tendo a ver
com a ostentação de linguagem.
Ao ministrar Cristo aos coríntios, Paulo não
exercitou sabedoria filosófica porque percebeu que
eles eram um povo filosófico, nasceram num
ambiente filosófico e cresceram sob tal influência. O
objetivo dele era livrá-los da filosofia na qual
nasceram. Ele parece estar dizendo: “Vocês nasceram
em filosofia e sabedoria mundana; eu, porém, fui a
vocês não com filosofia, mas com Cristo e a cruz. Não
prego Cristo de acordo com a ostentação de suas
especulações filosóficas; antes, prego-lhes Cristo de
forma simples, dizendo-lhes que Ele foi crucificado.
Ele estava disposto a ser desprezado e rejeitado. Ele
aceitou a rejeição do homem. Quando foi preso, não
resistiu. Quando foi levado à cruz, não lutou. Ficou
em silêncio porque estava disposto a ser crucificado.
Esse é o Cristo que preguei a vocês”.
A pregação de Paulo era totalmente contrária ao
princípio da filosofia grega. Conforme a filosofia dos
gregos, a pregação de Paulo de um Cristo crucificado
não era nem lógica nem filosófica. Ele aqui parece
estar dizendo aos coríntios: “Minha pregação não foi
de acordo com filosofia ou sabedoria mundana.
Entretanto, vocês aceitaram minha pregação e
testemunho, foram enriquecidos em Cristo em toda
expressão e conhecimento, e pela graça receberam os
dons iniciais: a vida divina e o Espírito Santo.
Todavia, vocês não viveram segundo o que receberam
do Senhor. Os dons iniciais que receberam não foram
desenvolvidos. Eles não cresceram até a maturidade;
antes, permaneceram no estágio de infância. Ainda
são bebês em Cristo. Agora, o meu encargo é
conduzi-los de volta ao Cristo crucificado e aos dons
iniciais. Vocês precisam esquecer sua cultura,
sabedoria e filosofia grega, e voltar a Cristo e esse
crucificado”. Esse era o espírito de Paulo ao escrever
os dois primeiros capítulos de 1 Coríntios. Escrevendo
com tal espírito, ele chamou a atenção dos coríntios
para o Cristo crucificado e falou-lhes a palavra da
cruz. Ele lhes disse que o Cristo crucificado é o poder
de Deus para salvar-nos e a sabedoria de Deus para
cumprir Seu plano.
Nesta mensagem, vamos considerar 1:18-25
Nosso entendimento desses versículos depende de
uma compreensão adequada dos dezessete versículos
anteriores. Os versículos 1 a 9 são a introdução dessa
Epístola, em que Paulo fala dos dons iniciais e da
participação em Cristo. Nos versículos 10 a 17, ele
prossegue mostrando que Cristo não está dividido.
Ele roga aos santos pelo nome de nosso Senhor Jesus
Cristo que falem todos a mesma coisa: Cristo e a cruz,
e que fiquem sintonizados na mesma disposição
mental e parecer. Então, nos versículos 18 a 25, ele
nos mostra que o Cristo crucificado é o poder e a
sabedoria de Deus.
A CRUZ DE CRISTO
O versículo 18 diz: “Certamente a palavra da cruz
é loucura para os que se perdem, mas para nós, que
somos salvos, poder de Deus”. A Versão Corrigida
inicia esse versículo com a palavra “porque”. Isso
indica que o versículo 18 é uma explicação do 17. No
versículo 17, Paulo declara: “Porque não me enviou
Cristo para batizar, mas para pregar o evangelho; não
com sabedoria de palavra, para que não se anule a
cruz de Cristo”. A cruz de Cristo é o centro do
cumprimento da economia neotestamentária de
Deus, que é ter uma igreja produzida por meio da
redenção de Cristo. Paulo pregava a Cristo crucificado
(v. 23; 2:2; Gl 3:1) e se gloriava na cruz de Cristo
(GI6:14), e não na lei com a circuncisão, pela qual os
judeus e alguns dos crentes judeus contendiam (Gl
3:11; 5:11; 6:12-13), nem a filosofia promovida pelos
gregos e alguns crentes gentios (CI2:8, 20). A cruz de
Cristo aboliu as ordenanças da lei (Ef 2:15; CI2:14), e
nós, os crentes, morremos para a filosofia, um
elemento do mundo (CI2:20). Mas Satanás instigou
os judaizantes e os filósofos a pregar seus ismos de
sabedoria humana, para que a cruz de Cristo fosse
anulada. O apóstolo Paulo estava alerta quanto a isso.
Ao lidar com a divisão entre os crentes coríntios,
advinda principalmente por causa dos antecedentes
de religião judaica e filosofia grega, ele enfatizou
Cristo e Sua cruz. Quando Cristo é tomado para
substituir opiniões religiosas e sabedoria filosófica, e
Sua cruz opera para lidar com a carne aliada a
qualquer passado, acabam as divisões. A exaltação da
preferência natural e da sabedoria humana não pode
resistir diante de Cristo e Sua cruz.
A PALAVRA DA CRUZ
Paulo não queria que a cruz de Cristo fosse
anulada por meio da pregação em sabedoria de
linguagem, isso é, em especulações filosóficas. Ele
não fora enviado por Cristo para pregar o evangelho
na sabedoria de linguagem e se recusava a ser
tolerante com as especulações filosóficas. Ele estava
preocupado com que a cruz de Cristo fosse anulada.
Percebera que a palavra da cruz é loucura para os que
perecem. Eles consideram a palavra da cruz algo
simples demais, e loucura.
O termo grego traduzido por palavra nesse
versículo é o mesmo usado em 1:5. A palavra da cruz é
a pregação da cruz. Tal pregação é desprezada e
considerada loucura pelos que se perdem, ou
perecem, mas honrada e recebida como poder de
Deus pelos que somos salvos. Paulo, em seu
ministério, enfatizou a cruz como o centro da
salvação de Deus (GI2:20; 3:1; 5:11, 24; 6:14; Ef 2:15;
Fp 2:8; 3:18; Cl 2:14).
Muitos professores e pessoas cultas hoje tratam a
palavra da cruz como tolice. Para eles, é loucura falar
sobre um Cristo desprezado, rejeitado e crucificado.
Eles não querem ouvir de um Cristo que foi morto
sem reagir em defesa própria. Quando lhes é
apresentada a palavra sobre o Cristo crucificado,
dizem: “Isso é loucura; não me falem sobre isso. Se
alguém me despreza, eu reajo. Se alguém me rejeita,
eu luto. Além disso, se alguém tenta matar-me, eu me
protejo e o golpeio primeiro. Até mesmo as leis
terrenas me garantem o direito de legítima defesa.
Não me fale de um Cristo crucificado”. Assim, a
palavra da cruz ainda é loucura para os que se
perdem, principalmente as pessoas filosóficas.

SER SALVOS
No versículo 18, Paulo fala de “nós, que somos
salvos”. Aprecio a expressão “somos salvos”. O tempo
verbal grego também permite a tradução “estamos
sendo salvos”. Se alguém lhe perguntar se é salvo,
você pode querer responder: “Estou no processo de
ser salvo. Fui salvo parcialmente, até certo ponto.
Todavia, ainda não estou totalmente salvo, mas sendo
salvo”. Para nós, que estamos no processo de ser
salvos, a palavra da cruz é o poder de Deus.

DESTRUIR A SABEDORIA DOS SÁBIOS


No versículo 19, Paulo continua: “Pois está
escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, e
aniquilarei a inteligência dos instruídos”. Novamente
ele começa o versículo com a palavra “pois”,
mostrando que também é uma explicação do que
aconteceu antes. Ele aqui enfatiza que Deus não se
importa com a sabedoria dos sábios ou com a
inteligência dos instruídos; antes, destruirá essa
sabedoria e aniquilará essa inteligência.
A intenção de Paulo no versículo 19 era referir-se
especificamente aos gregos filosóficos. Parece que ele
estava dizendo: “Vocês, gregos, pensam que são
sábios e instruídos. Não percebem que Deus vai
destruir a sabedoria dos sábios e aniquilar a
inteligência dos instruídos. Se considerarem a si
mesmos sábios, Deus destruirá a sua sabedoria. Se
considerarem a si mesmos instruídos, Deus
aniquilará sua inteligência. É perigoso considerar-se
sábio ou inteligente, porque corre-se o risco de ser
destruído por Deus ou aniquilado por Ele”.
No versículo 20, Paulo faz diversas perguntas:
“Onde está o sábio? Onde, o escriba? Onde, o
inquiridor deste século? Porventura, não tomou Deus
louca a sabedoria do mundo?” Onde estão os sábios
de hoje? Estão na Grécia? na Nova Zelândia? nos
Estados Unidos? em Taiwan? É comum que os que
têm certo passado nacional ou cultural considerem-se
os mais sábios e filosóficos dos povos. Talvez sejam
mais sábios que outros, mas não são mais sábios que
Deus nos céus. Na vida da igreja não devemos
praticar nenhuma sabedoria específica. Além do
mais, não devemos ser escribas ou inquiridores.
Entretanto, os líderes em determinados lugares
podem orgulhar-se pensando que os jovens sob seu
treinamento são escribas e inquiridores. Mas a Bíblia
diz: “Onde está o escriba? Onde, o inquiridor deste
século?” Deus tomou de fato louca a sabedoria do
mundo.

A LOUCURA DA PREGAÇÃO
No versículo 21, Paulo prossegue: “Visto como,
na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por
sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar aos que
crêem, pela loucura da pregação”. Aqui, a pregação
difere de pregar. Pregar é o meio de ministrar a
palavra. A pregação aqui é o que é pregado, ou seja, a
mensagem. Deus se apraz na loucura da pregação, da
mensagem, do que é pregado, para salvar os que
crêem.
Nesse versículo, Paulo se refere à loucura da
mensagem. Ao falar e escrever, eu intencionalmente
uso expressões simples. Outros me têm advertido
contra essa prática dizendo que expressões simples
não atraem pessoas cultas. Entretanto, não quero
usar expressões eloqüentes. Isso não é pregar a Cristo
ou a cruz. Na pregação de Cristo e da cruz, devemos
usar termos e expressões simples. Não somos os que
pregam a ostentação de linguagem. Assim, devemos
seguir o exemplo de João em seu Evangelho. Seus
escritos são muito simples. Por exemplo, João 1:1 diz:
“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus,
e o Verbo era Deus”. No versículo 4, João diz: “Nele
estava a vida, e a vida era a luz dos homens”. No
versículo 14, ele nos diz simplesmente: “E o Verbo
tomou-se carne, e armou tabernáculo entre nós”.
Ao pregar a Cristo e a cruz às pessoas filosóficas,
Paulo falou de forma simples. De acordo com nossa
opinião, ele devia ter exercitado seu conhecimento
para expressar excelentes palavras de linguagem
filosófica. Ele, porém, deliberadamente evitou isso.
Quando foi a Corinto pregar a Cristo e a cruz, ele
decidiu nada saber quanto à ostentação de
linguagem. Pelo contrário, usou expressões simples e
breves, expressões consideradas loucura pelos gregos
filosóficos. Entretanto, ele diz que Deus usa a loucura
da pregação para salvar os que crêem. Pela pregação
de Cristo e a cruz de forma simples, as pessoas creram
e foram salvas. Como resultado, temos a certeza de
que creram não na ostentação de linguagem, mas em
Cristo e na cruz que pregamos.

SINAIS E SABEDORIA
O versículo 22 diz: “Porque tanto os judeus
pedem sinais, como os gregos buscam sabedoria”.
Um sinal é uma prova miraculosa (Mt 12:38-39) para
consubstanciar o que é pregado. A religião necessita
de sinais, e os judeus continuavam a exigi-los. A
sabedoria é pertinente à filosofia e era
constantemente buscada pelos gregos.
No versículo 22, Paulo se refere a dois tipos de
pessoas: os judeus religiosos e os gregos filosóficos.
Os religiosos desejam sinais e milagres, e os filósofos
buscam sabedoria. Mas ao pregar o Cristo
crucificado, Paulo não se importava com sabedoria ou
sinais.
Quando o Senhor Jesus estava na cruz, os judeus
escarneciam Dele e diziam: “Tu que destróis o templo
e em três dias o reedificas, salva-Te a Ti mesmo! Se és
Filho de Deus, desce da cruz!” (Mt 27:40). Os
principais sacerdotes, escribas e anciãos diziam:
“Salvou a outros, a Si mesmo não pode salvar-Se. É
Rei de Israel! desça agora da cruz, e creremos Nele”
(v. 42). Eles desafiaram o Senhor a provar que era o
Cristo, o Filho de Deus, libertando-Se da cruz. Mas
Ele permaneceu em silêncio; nada fez para salvar-Se.
Em vez de milagre e sabedoria, houve fraqueza e
loucura. De acordo com a sabedoria humana, ser
crucificado é algo totalmente louco, sem sentido.
Ao dizer “eu sou de Paulo” ou “eu sou de Cefas”,
os coríntios estavam exercitando sua sabedoria.
Estavam seguindo sua filosofia, e não Cristo. Paulo,
porém, pregou-lhes o Cristo crucificado, escândalo
para os judeus que buscavam sinais e gregos que
buscavam sabedoria. Mas para os que são chamados,
esse Cristo é sabedoria e poder de Deus.

PREGAR O, CRISTO CRUCIFICADO


É significativo que Paulo não dissesse aos
coríntios: “Pregamos o Cristo ressurreto”. O centro da
pregação em Atos era a ressurreição de Cristo.
Conforme esse livro, essa pregação é um testemunho
de que Jesus Cristo, que fora crucificado, foi
ressuscitado. Mas nessa Epístola, Paulo não enfatiza a
ressurreição de Cristo; antes, ressalta a pregação do
Cristo crucificado. Sem dúvida, tanto judeus como
gregos deviam ter preferido ouvir acerca do Cristo
ressurreto. Para os judeus, isso teria sido um grande
milagre. Quão miraculoso é alguém ressuscitar do
túmulo e subir aos céus! Os gregos talvez
considerassem a palavra sobre ressurreição muito
filosófica, Em sua busca por sabedoria, eles devem ter
ficado interessados em aprender como um morto
poderia viver novamente. Entretanto, Paulo pregou
um Cristo crucificado, um Cristo que nada fez para
salvar a Si mesmo. Ele seguiu esse Cristo crucificado e
O pregou aos coríntios. Portanto, o versículo 23
declara: “Mas nós pregamos a Cristo crucificado,
escândalo para os judeus, loucura para os gentios”.
Era um escândalo para os judeus e loucura para os
gregos o fato de Paulo seguir um Cristo crucificado.
No versículo 24 Paulo prossegue: “Mas para os
que foram chamados, tanto judeus como gregos,
pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de
Deus”. Os que são chamados são os crentes
escolhidos por Deus na eternidade (Ef 1:4) e que
creram em Cristo no tempo (At 13:48). Aos
chamados, o Cristo crucificado pregado pelos
apóstolos é o poder e sabedoria de Deus. Sabedoria é
para planejar, objetivar; poder é para executar,
cumprir o que foi planejado e objetivado. Na
economia de Deus, Cristo é as duas coisas. Louvado
seja o Senhor porque para nós hoje, o Cristo
crucificado é o poder e sabedoria de Deus!
No versículo 25, Paulo conclui: “Porque a loucura
de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza
de Deus é mais forte do que os homens”. Até mesmo a
loucura de Deus é mais sábia que a nossa sabedoria, e
Sua fraqueza mais forte que nossa força.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM OITO
O CRISTO CRUCIFICADO, PODER DE DEUS E
SABEDORIA DE DEUS (2)

Leitura Bíblica: 1Co 1:18-25


Nesta mensagem, ainda vamos considerar como
o Cristo crucificado é o poder e sabedoria de Deus.
Em 1:23 e 24, Paulo diz: “Mas nós pregamos a Cristo
crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os
gentios; mas para os que foram chamados, tanto
judeus como gregos, pregamos a Cristo, poder de
Deus e sabedoria de Deus”.

I. O CRISTO CRUCIFICADO
Como crentes em Cristo, todos precisamos ser
capazes de responder esta pergunta: Por que era
necessário que Cristo fosse crucificado? Em sua
pregação aos gregos filosóficos em Corinto, Paulo
deve ter indicado a razão disso. Talvez a resposta
mais comum a essa pergunta seja dizer que Cristo
tinha de ser crucificado para Deus nos salvar. Deus
não poderia salvar-nos sem a crucificação de Cristo.
Conforme o Novo Testamento, Deus não tem como
salvar ninguém sem a cruz de Cristo. Vamos
considerar sucintamente por que isso é assim.
No universo, há muitos tipos de problemas. Há
os problemas de Satanás, do mundo e do pecado. Há
também o problema do homem. o homem criado por
Deus para o Seu propósito caiu e tomou-se
pecaminoso. Outros problemas relacionados com o
homem são a carne e a vida natural. Além disso, tudo
no universo se tomou velho, isto é, tomou-se podre,
corrupto. O que é corrupto é velho. Velhice indica
escassez de vida. Quando uma árvore cresce, ela tem
vida. Mas quando começa a morrer há carência de
vida. Por causa de Satanás, do mundo e do homem
pecaminoso, carnal e natural, o universo todo, que
inclui os céus e a terra, tomaram-se velhos, corruptos,
arruinados e cheios de morte.
Além de todos esses problemas, há o problema
das ordenanças e regulamentos dados por Deus para
o viver do homem. Por isso, a cruz resolve o problema
de Satanás, do mundo, do pecado, do homem, da
carne, da vida natural, da velhice e das ordenanças.
Para que esses problemas sejam resolvidos, era
necessário que Cristo fosse crucificado.
Antes de Cristo ser crucificado para resolver
todos os problemas, Ele tinha de se revestir da
natureza humana. Isso quer dizer que tinha de se
tomar um homem, uma criatura. Tomando-se um
homem, Ele tomou-se uma criatura. Ele Se revestiu
da natureza humana, não só com o objetivo de morrer
por nós e derramar Seu sangue pelos nossos pecados,
mas também com o propósito de resolver o problema
de Satanás, do mundo, do pecado, do homem caído,
da vida natural, da carne, da velhice e das
ordenanças.
Embora pudesse ter recusado a morte da cruz,
Cristo foi crucificado. De acordo com a compreensão
humana, Ele foi executado por outros. Todavia, a Sua
compreensão foi diferente. Em João 10:11, Ele diz:
“Eu sou o bom pastor. O bom Pastor dá a Sua vida
pelas ovelhas”. Sobre Sua vida, o Senhor prossegue
em 10:18: “Ninguém a tira de Mim; pelo contrário, Eu
espontaneamente a dou. Tenho autoridade para dá-la
e tenho autoridade para retomá-la”. Sua vida não foi
tirada Dele. Pelo contrário, Ele a deu por nós. Se Ele
não tivesse disposto a dar a vida, as pessoas não
poderiam executá-Lo. Em vez de defender-Se, Ele
aceitou a morte na cruz. Ele estava disposto a ser
crucificado a fim de cumprir a redenção e resolver
todos os problemas no universo. O Cristo crucificado
é escândalo para os que buscam sinais e loucura para
os que buscam sabedoria. Mas para nós que cremos,
Ele é o poder e sabedoria de Deus.

II. O PODER DE DEUS


Na cruz de Cristo, vemos o poder de Deus. É
necessário o poder de Deus para derrotar Satanás, o
mundo, o pecado, o homem caído, a carne, a vida
natural, a velha criação e as ordenanças. Que outro
poder é maior que o Cristo crucificado como o poder
de Deus? Que outro poder pode destruir Satanás ou
vencer o mundo? Somente Deus tem o poder para
cumprir essas coisas. Esse poder não é de fazer coisas
falando, tais como o poder que Ele exerceu na
criação; antes, é o poder de crucificação, o poder da
morte maravilhosa de Cristo. Isso quer dizer que a
crucificação de Cristo tomou-se o poder de Deus. A
morte de Cristo tomou-se o poder de Deus para
destruir Satanás, resolver o problema do mundo,
eliminar o pecado e pôr fim ao homem caído, à carne,
à vida natural e à velha criação. Por esse poder, Deus
é capaz de resolver o problema das ordenanças. Por
essa morte, a morte de Cristo, todos os problemas no
universo foram removidos. Assim, o Cristo
crucificado é o poder de Deus para abolir todas as
coisas negativas e levar a cabo Seu plano.
III. A SABEDORIA DE DEUS
O Cristo crucificado é também a sabedoria de
Deus. Para realizar qualquer coisa, precisamos tanto
de poder como de sabedoria. Já enfatizamos que
sabedoria visa ao planejamento e propósito, ao passo
que poder visa executar e cumprir o que é planejado e
idealizado. Na economia de Deus, o Cristo crucificado
é tanto o poder de Deus como Sua sabedoria. É
possível ter poder ou força sem ter sabedoria ou
maneira. Se tivermos poder sem sabedoria, podemos
usar nossa força de forma tola. Portanto, precisamos
de Cristo tanto como poder como sabedoria.
O Cristo crucificado, como poder e sabedoria de
Deus, pode ser aplicado ao problema de
temperamento que enfrentamos. Sem exceção, todos
somos incomodados pelo temperamento. Quem pode
dizer que nunca perdeu acalma? Depois de
experimentar um pouco de crescimento em vida,
chegamos a odiar nosso temperamento e desejamos
ser livres dele. Sei de algumas irmãs que, poucos dias
antes do casamento, fizeram voto de nunca mais
perder a calma, principalmente com o marido.
Entretanto, em todos os casos, esse voto foi quebrado.
Não só na vida conjugal, mas em qualquer situação da
vida diária, somos perturbados pelo temperamento.
Muitos cristãos que amam o Senhor e O buscam
têm orado algo assim: “Senhor Jesus, Tu sabes como
perco a calma facilmente. Senhor, Tu és Jeová
Salvador. Peço-Te que me salves do pecado de perder
a calma. Ó Senhor, livra-me disso”. Embora muitos
tenham orado dessa forma, ninguém foi
conseqüentemente libertado da irascibilidade. Em
nós mesmos, simplesmente não temos o poder para
controlar o temperamento, nem a sabedoria, a
maneira de fazer isso. Podemos pensar que a oração
nos dará poder e sabedoria. Contudo, mesmo quando
oramos ainda não os temos. Mas quando invocamos o
nome do Senhor, desfrutamos Cristo e somos
enchidos com o Espírito que dá vida, não temos
problemas com o temperamento. Espontaneamente
temos o poder para controlá-lo e a maneira de lidar
com ele. Que são esse poder e maneira? São a morte
de Cristo. Somente o Cristo crucificado é o poder e
sabedoria para lidar com nosso temperamento.
Podemos também aplicar o Cristo crucificado
como poder e sabedoria de Deus à nossa necessidade
de paciência. Todos desejamos ser pacientes, mas
nunca encontrei alguém que de fato o fosse.
Valorizamos a paciência e queremos ser pacientes,
mas não conseguimos sê-lo. Contudo, quando
experimentamos o Cristo crucificado, nós a temos
automaticamente. Ele se toma para nós o poder e a
sabedoria visando a paciência. Como resultado,
temos a força e a maneira de ser pacientes. Na
verdade, não tentamos ser pacientes. Simplesmente o
somos experimentando o Cristo crucificado.
O Cristo crucificado pode ser aplicado a todo tipo
de experiência humana. Por mais de quarenta anos,
nada temos pregado a não ser Cristo e esse
crucificado. Nele há os elementos da ressurreição e
ascensão. Assim, quando O desfrutamos, também
desfrutamos Sua ressurreição e ascensão. A chave
para experimentar a ressurreição e ascensão de Cristo
é encontrada na Sua crucificação. A crucificação é o
limiar para entrar em todas as Suas riquezas. A cruz é
a maneira de experimentar Cristo com todas as Suas
riquezas. Sem a Sua crucificação, não há porta para
entrar nas riquezas de Cristo.
Efésios 1:9 fala do bom prazer de Deus que Ele
propusera em Si mesmo. Em 3:11, Paulo se refere ao
“eterno propósito que estabeleceu em Cristo Jesus,
nosso Senhor”. Além disso, em 1:11, ele diz que Deus
“faz todas as coisas conforme o conselho da sua
vontade”. O Cristo crucificado como sabedoria de
Deus relaciona-se com o plano de Deus segundo Seu
beneplácito e também de acordo com a maneira de
Ele cumprir Sua vontade. O plano de Deus segundo
Seu beneplácito e maneira para cumprir Sua vontade
é muito profundo. Entretanto, esses pontos
profundos podem ser aplicados à nossa experiência.
Vimos que quando experimentamos o Cristo
crucificado, Ele se toma o poder e a sabedoria de
Deus. Já que temos o Cristo crucificado como a
sabedoria de Deus, não há necessidade de buscar uma
maneira de executar a vontade de Deus.
Simplesmente experimentando o Cristo crucificado,
espontaneamente temos a maneira de fazer a vontade
de Deus. Tomamo-nos muito sábios em fazê-la. Não
nos é mais necessário decidir ou determinar fazer a
vontade de Deus. Fazer a vontade de Deus não
depende nem mesmo de orar: “Senhor, seja feita a
Tua vontade”. Os cristãos em toda a parte oram para
que a vontade de Deus seja feita. É comum, nos cultos
cristãos, os crentes orarem: “Senhor, que seja feita a
Tua vontade, e não a nossa”. Mas não importa
quantas vezes os crentes orem para que a vontade de
Deus seja feita, ela não é feita. Se você quiser fazer a
vontade de Deus>, não há necessidade de orar: “Seja
feita Tua vontade”. Já que você experimentou o Cristo
crucificado, Ele se tomará para você a sabedoria de
Deus para cumprir Seu plano. Você terá a sabedoria
de Deus para fazer Sua vontade. Talvez você não
possa compreender isso na hora, mas se olhar para
trás depois de alguns meses ou anos, perceberá que
teve sabedoria de Deus para levar a cabo Seu plano de
acordo com Sua vontade. Isso, é claro, não é sua
sabedoria natural, mas é o Cristo crucificado como
sabedoria de Deus.
Quando experimentamos o Cristo crucificado,
somos aniquilados. Tudo o que somos, tudo o que
temos e tudo o que podemos fazer é completamente
aniquilado. Para ser aniquilado, não há necessidade
de você se crucificar. Nem mesmo há necessidade de
se considerar morto. Você é aniquilado simplesmente
experimentando o Cristo crucificado. Na verdade, é
impossível alguém crucificar a si mesmo. Mas quando
invocamos o nome do Senhor Jesus, quando O
desfrutamos e experimentamos, Sua crucificação nos
aniquila. Tudo que somos é aniquilado pelo Cristo
crucificado.
A crucificação é a maneira de ser libertado da
carne, da vida natural e da velha criação. O Cristo
crucificado é não só o poder mas também a maneira.
Para os judeus, tal Cristo é um escândalo e para os
gregos, é loucura, mas para nós que fomos chamados,
é o poder e sabedoria de Deus para que sejamos
libertados de todas as coisas negativas. Somos-Lhe
gratos e O louvamos pois estamos agora no processo
de ser salvos. Quanto mais somos salvos
experimentando o Cristo crucificado, mais O
desfrutamos.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM NOVE
CRISTO, NOSSA SABEDORIA: JUSTIÇA,
SANTIFICAÇÃO E REDENÇÃO

Leitura Bíblica: 1Co 1:26-31


Nesta mensagem, vamos considerar 1:26-31.

I. A ESCOLHA DE DEUS

A. Os Loucos para Envergonhar os Sábios


No versículo 26, Paulo diz: “Irmãos, reparai,
pois, na vossa vocação; visto que não foram
chamados muitos sábios segundo a carne, nem
muitos poderosos, nem muitos de nobre
nascimento”. Aqui vemos que entre os crentes não há
muitos sábios segundo a carne. No versículo 27, Paulo
diz: “Pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas
do mundo para envergonhar os sábios”. Ser sábio está
relacionado com a mente, ao passo que ser poderoso
está relacionado com a vontade.

B. Os Fracos para Envergonhar os Fortes


No versículo 27, Paulo também diz: “E escolheu
as coisas fracas do mundo para envergonhar as
fortes”. Quando li esses versículos muitos anos atrás,
fiquei imaginando como um Deus amável poderia
envergonhar as pessoas. Imaginei como Ele poderia
usar os loucos do mundo para envergonhar os sábios,
e os fracos do mundo para envergonhar os fortes.
Entretanto, Paulo claramente diz que Deus o faz.
No versículo 27, Paulo usa duas vezes a palavra
“escolheu”. O chamado de Deus (vs. 24-26) baseia-se
na Sua escolha, na Sua eleição. Ambos estão de
acordo com o Seu propósito (Rm 9:11; 2Tm 1:9). A
escolha de Deus foi ordenada antes da fundação do
mundo (Ef 1:4); Seu chamamento é cumprido no
tempo para levar a cabo a Sua escolha. O
chamamento e a escolha de Deus são o início da
salvação dos que Ele predestinou. Nós não O
escolhemos; Ele nos escolheu. Não O invocávamos
(chamávamos) até que Ele nos chamou. Ele é o
Iniciador. Toda a glória deve ser-Lhe dada!

C. As Coisas Humildes e Desprezadas para


Reduzir a Nada Os de Nobre Nascimento
No versículo 26, Paulo enfatiza que entre os
crentes em Corinto, não havia muitos de nobre
nascimento. No versículo 28, ele prossegue: “E Deus
escolheu as coisas humildes do mundo, e as
desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a
nada as que são”. A igreja de Deus não é composta
principalmente da classe superior, mas dos humildes
e desprezados do mundo. Apreciar a classe alta é
contrário ao pensamento de Deus e uma vergonha
para a igreja.
No versículo 28, a palavra humilde significa vil,
ignóbil, isto é, nascido de pessoas comuns.
Desprezados também significa desprezível. A
expressão “aquelas que não são” refere-se aos
humildes e desprezados como se nem mesmo
existissem. Os humildes e desprezados não são
considerados no mundo.
A tríplice repetição de “Deus escolheu” nos
versículos 27 e 28 desvenda-nos o lidar soberano de
Deus com três tipos de pessoas do mundo: os sábios,
os fortes (os poderosos) e os de nobre nascimento.
Daí, “as que são” refere-se aos de nobre nascimento,
que são muito considerados no mundo, mas
reduzidos a nada por Deus em Sua economia.
Aos olhos do homem, os humildes, os
desprezados, parecem não existir. Eles são tão
menosprezados que parece que não existem. Assim,
são “aquelas que não são”. Deus, porém, usa essas
mesmas coisas para reduzir a nada as que são, isto é,
os de nobre nascimento, que são muito considerados
no mundo. Deus escolheu os humildes, a classe baixa,
para envergonhar os de nobre nascimento, isto é,
pessoas da classe alta.
Por um lado, nos versículos 26 a 28, Paulo
refere-se de maneira geral a todo o mundo; por outro,
refere-se especificamente aos gregos. Alguns dentre
os gregos que foram salvos ainda se consideravam
sábios. Nesses versículos, Paulo enfatiza que tal
atitude é um erro. Ele parece estar dizendo: “Crentes
em Corinto, não se considerem sábios. Deus não
escolheu os sábios. Se vocês se considerarem sábios,
isso quer dizer que não foram escolhidos por Deus.
Igualmente, Deus não escolheu os poderosos ou os de
nobre nascimento”.
Que você pensa de si mesmo? Você se considera
sábio ou tolo? forte ou fraco? de nobre ou humilde
nascimento? Não creio que, bem no fundo, nós nos
consideramos tolos, fracos e de humilde nascimento.
Simplesmente não nos vemos dessa forma.
Novamente precisamos conhecer o espírito de
Paulo ao escrever essa Epístola. A ênfase no seu
espírito era que os crentes coríntios não estavam
vivendo como salvos. Ele parecia dizer-lhes:
“Queridos santos em Corinto, vocês são os salvos, os
escolhidos de Deus, mas não estão vivendo como tais.
Antes, estão vivendo como se não tivessem sido
escolhidos por Deus. Não há indicação no seu viver de
que Deus os escolheu, porque vocês se consideram
sábios, fortes e de nobre nascimento. Irmãos, vocês
precisam perceber que Deus não escolheu esses tais.
Se vocês se consideram sábios, isso indica que Deus
não os escolheu. Lembrem-se: Ele escolheu os tolos,
os loucos para envergonhar os sábios; os fracos para
envergonhar os fortes; os de humilde nascimento
para envergonhar os de nobre nascimento. Por isso,
não se considerem sábios, fortes e de nobre
nascimento”.
É fácil falar sobre viver Cristo, mas é difícil
praticá-lo. Enquanto nos consideramos sábios, não
vivemos Cristo. Todos os que de fato vivem Cristo,
consideram-se tolos, fracos e de humilde nascimento.
Eles se consideram nada e percebem que sua
existência na terra nada significa: Podem dizer sobre
si mesmos: “Eu estou incluído entre as coisas que não
são. Vivo em determinada localidade, mas minha
existência aqui nada significa. Mas, embora eu seja
nada, Deus me escolheu”. Repito: Deus não escolheu
os sábios, os fortes ou os de nobre nascimento. Se
você se considerar sábio, forte e de nobre nascimento,
irá rejeitar a escolha de Deus. Pela maneira que você
vive, irá renunciar à escolha de Deus. Deus
envergonha os sábios, os fortes e os de nobre
nascimento. Todos devemos ser capazes de dizer:
“Senhor, confesso que não sou sábio ou poderoso.
Pelo contrário, sou de fato tolo, fraco e contado entre
os de origem humilde”. O que estava no espírito de
Paulo ao escrever esse trecho de 1 Coríntios era essa
ênfase.
Em seu espírito, Paulo também sentia a
necessidade de rebaixar os crentes gregos orgulhosos.
Alguns deles talvez fossem muito inteligentes e
sábios, mas Paulo não deu atenção a isso. Pelo
contrário, procurava enfatizar que o próprio fato de
terem sido escolhidos por Deus provava que eram
tolos, loucos, e não sábios; eram fracos, e não fortes;
eram de humilde nascimento e não de nobre
nascimento. Portanto, era um erro os crentes em
Corinto pensarem que eram sábios e poderosos.
Vimos que no versículo 28, Paulo diz que Deus
irá “reduzir a nada” as coisas que são. As palavras
“reduzir a nada” também são usadas em 2
Tessalonicenses 2:8 e Hebreus 2:14, traduzidas por
destruir. Ser reduzido a nada por Deus, na verdade,
significa ser destruído por Ele. Se estudarmos a
história, veremos que muitas pessoas de elevada
reputação foram reduzidas a nada por Deus. Muitos
com alto padrão social foram destruídos, anulados
por Ele. Nunca devemos considerar-nos alguma
coisa. Se nos virmos como alguma coisa, Deus nos
reduzirá a nada.

D. Nenhuma Carne Se Glorie perante Deus


No versículo 29, Paulo diz: “A fim de que
ninguém se vanglorie na presença de Deus”. Isso
declara o motivo do favor especial de Deus ao
escolher-nos. O vocábulo “ninguém” literalmente é
“nenhuma carne”. Assim, nenhum ser humano pode
ter qualquer jactância, qualquer glória perante Ele.

II. É DE DEUS QUE ESTAMOS EM CRISTO


JESUS
Paulo começa o versículo 30 com as palavras:
“Mas vós sois dele, em Cristo Jesus”. Esse versículo
pode ser traduzido por: “Mas é Dele que estais em
Cristo Jesus, o qual se nos tomou sabedoria da parte
de Deus: tanto justiça, como santificação e redenção”.
O que nós, crentes, como nova criação, somos e temos
em Cristo é de Deus, e não de nós mesmos. Deus é
que nos põe em Cristo, transferindo-nos de Adão. Foi
Deus quem fez Cristo sabedoria para nós. Ele nos
transferiu de Adão para Cristo (2Co 5:17) mediante a
crucificação e ressurreição de Cristo (Gl 2:20) quando
cremos e fomos batizados (Jo 3:15; Gl 3:26-28).
A palavra “mas” no início do versículo 30,
implica contraste enfático com os versículos
anteriores. Além disso, estar em Cristo implica que
agora, Nele, somos sábios, fortes e de nobre
nascimento. Todavia, poucos crentes se consideram
sábios, fortes e de nobre nascimento em Cristo. Se as
irmãs percebessem que são sábias e fortes em Cristo,
não chorariam tanto. Derramar lágrimas é muito fácil
para as irmãs. Isso indica que, no tocante à
experiência, elas não são sábias ou fortes em Cristo.
Segundo a nossa experiência, muitas vezes somos
sábios na carne, mas tolos em Cristo; fortes na carne,
mas fracos em Cristo. Isso quer dizer que em nossa
vida cristã talvez não haja o “mas” inserido por Paulo
no versículo 30. Em nossa experiência, deve haver
esse “mas”. Embora fôssemos tolos, fracos e vis,
devemos ser capazes de dizer: “Mas somos Dele, em
Cristo Jesus”. Agora que estamos em Cristo, somos
sábios, fortes e de nobre nascimento Nele.
A regeneração nos faz ser de nobre nascimento e
nos dá um status muito alto, o de filho numa família
real. Você percebe que, como alguém que crê em
Cristo, você tem um status divino, de filho do Rei dos
reis? Nascemos na família de Deus! Isso quer dizer
que temos um status mais elevado que os anjos.
Somos membros da família de Deus e os anjos são
nossos servos. Em Cristo somos de fato mais elevados
que os anjos. Como é bom que Deus tenha escolhido
os tolos, fracos e de humilde nascimento e nos tenha
feito estar em Cristo! Isso não é ação nossa ou obra de
qualquer outra pessoa; estarmos em Cristo é algo
totalmente de Deus.
De acordo com o contexto, em Cristo aqui
implica que somos sábios, fortes e de nobre
nascimento Nele. É crucial perceber que estamos em
Cristo. Devemos também gabar-nos de que agora
estamos em Cristo. Além do mais, podemos testificar
que, uma vez em Cristo, não mais somos tolos, fracos
ou de humilde nascimento. Irmãs, se em sua
experiência vocês são fortes em Cristo, vocês têm um
antegozo da Nova Jerusalém: não derramem
lágrima~ com tanta rapidez. Na Nova Jerusalém não
haverá mais lágrimas. As vezes, à mesa do Senhor,
somos-Lhe gratos pelo antegozo da Nova Jerusalém
vindoura. Quando experimentarmos o pleno gozo,
não haverá mais lágrimas. Em vez de lágrimas,
haverá o fluir da água da vida. Irmãs, quando
estiverem inclinadas a chorar, lembrem-se das
palavras de Paulo: Mas vós sois Dele, em Cristo Jesus.
Em Cristo, vocês são sábias e fortes. Louvado seja o
Senhor porque Nele somos de nobre nascimento,
filhos da família real! Que maravilhoso status!

III. CRISTO, DA PARTE DE DEUS, TORNA-SE


SABEDORIA AOS CRENTES
Em I:30, Paulo diz que Cristo Jesus “se nos
tomou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e
santificação, e redenção”. Paulo não diz que Cristo é
sabedoria para nós; diz que Cristo tornou-se
sabedoria para nós. Isso indica que em determinada
época, Ele não era sabedoria para nós, mas
posteriormente tomou-se sabedoria para nós. Por
exemplo, dizer que sou seu amigo é um pouco
diferente de dizer que me tornei seu amigo. Dizer que
me tomei seu amigo implica que antes não era, mas
agora me tornei. Cristo não podia ter-se tomado
sabedoria para nós antes de estarmos Nele, mas
quando cremos Nele Deus nos colocou Nele. Cristo
então se tomou sabedoria para nós.
Suponha que certa jovem seja pobre. Um dia, ela
desposa um milionário. Exatamente naquele dia ela
se toma rica. Antes era pobre, mas agora ficou rica.
De modo semelhante, anteriormente, visto que não
estávamos Nele, Cristo não era sabedoria para nós,
mas uma vez que cremos Nele e Deus nos pôs Nele,
Ele se tomou sabedoria para nós.
Note que no versículo 30, Paulo não diz que
Cristo se tomou nossa sabedoria; diz que Cristo se nos
tornou sabedoria, isto é, tomou-se sabedoria para
nós. Cristo tomar-se sabedoria para nós é diferente
de se tomar nossa sabedoria. Dia após dia precisamos
de Cristo como sabedoria para nós. Podemos
novamente usar a eletricidade como ilustração. Falar
de nossa eletricidade é diferente de falar que a
eletricidade é para nós. Quando a eletricidade é para
você, você recebe uma carga elétrica. Quando a
eletricidade é a sua eletricidade, ela pertence a você,
mas quando ela é para você, ela é transmitida a você e
você a experimenta. De modo semelhante, dizer que
Cristo é nossa sabedoria é muito genérico, e não
experimental; mas quando Cristo se toma sabedoria
para nós, nós O experimentamos.
Paulo tinha não só conhecimento mas também
muita experiência espiritual. Além disso, ele conhecia
a situação dos crentes. Como cristãos, podemos dizer:
“Temos Cristo como nossa sabedoria”. Entretanto, na
prática isso não significa muito. É igual a dizer:
“Temos eletricidade como nossa energia”. Podemos
dizer isso sem, na verdade, ter luz ou calor porque a
eletricidade ainda não é para nós. Também podemos
ter Cristo como nossa sabedoria sem ter Cristo como
sabedoria para nós. Precisamos que Cristo se tome
sabedoria para nós.
No versículo 30, aprecio a frase “se nos tomou da
parte de Deus”. Cristo se tomou sabedoria para nós
da parte de Deus. A expressão “se nos tornou da parte
de Deus” indica alguma coisa atual, prática e
experimental na forma de transmissão.
Continuamente, Ele tem de se tomar sabedoria para
nós da parte de Deus. Isso indica transmissão viva e
contínua. As palavras “para” e “de” indicam que uma
transmissão atual, viva e prática ocorre da parte de
Deus para nós.
Paulo redigiu o versículo 30 da forma que fez a
fim de indicar aos crentes em Corinto que Cristo deve
constantemente se tomar sabedoria para eles da parte
de Deus. Cristo como sabedoria deve
incessantemente fluir de Deus para eles. Entretanto,
sua situação atual era contrária a isso. Cristo pode ter
sido a sabedoria deles, mas não estava atualmente
fluindo para eles da parte de Deus. Novamente quero
enfatizar que Paulo não disse “Cristo é a sabedoria de
Deus”, ou “Cristo é vossa sabedoria”. Ele diz “Cristo
tomou-se sabedoria para nós da parte de Deus”. Isso
indica que Cristo deve continuamente fluir de Deus
para nós e ser nossa sabedoria atual e prática na
experiência.
É importante aprender a aplicar a Bíblia à nossa
experiência. A Bíblia não é primordialmente um livro
de doutrinas, mas de vida, e vida é questão de
experiência. O que é revelado na Bíblia tem de ser
vivo e aplicável em nossa experiência.
No versículo 30, tanto a pontuação como a
gramática são significativas. Segundo o original
grego, depois da frase “da parte de Deus, sabedoria”,
deve haver dois pontos. Isso indica que sabedoria
inclui os três itens que vêm depois, isso é, justiça,
santificação e redenção. De acordo com a gramática
grega, o versículo deve ser lido: “O qual se nos tomou,
da parte de Deus, sabedoria: tanto justiça, como
santificação e redenção”. Embora soe estranho em
nossa língua, a tradução é precisa de acordo com o
grego. Cristo como sabedoria para nós da parte de
Deus implica justiça, santificação e redenção.
Cristo foi feito sabedoria para nós da parte de
Deus como três coisas vitais na salvação de Deus:
justiça (para nosso passado), pela qual fomos
justificados por Deus, para que pudéssemos nascer de
novo em nosso espírito a fim de receber a vida divina
(Rm 5:18); santificação (para o presente) pela qual
somos santificados na alma, isto é, transformados na
mente, emoção e vontade, com a vida divina (Rm
6:19, 22); e nossa redenção (para o futuro), isto é, a
redenção do corpo (Rm 8:23), pela qual seremos
transfigurados no corpo com Sua vida divina para ter
Sua semelhança gloriosa (Fp 3:21). É de Deus que
participemos de tal salvação completa e perfeita,
tornando todo o nosso ser (espírito, alma e corpo)
organicamente um com Cristo, e tomando-O tudo
para nós. É totalmente de Deus, e não de nós
mesmos, que podemos gloriar-nos Nele, e não em nós
mesmos.
É certamente correto dizer que Cristo é justiça
para nosso passado, santificação para nosso presente
e redenção para nosso futuro. Depois que cremos no
Senhor Jesus e fomos justificados, precisamos ter um
viver santo, uma vida santificada. A experiência
subjetiva de santificação implica em transformação,
processo que ocorre na alma. A redenção do corpo
ocorrerá no futuro. Assim, fomos regenerados no
espírito quando cremos no Senhor, estamos no
processo de ser transformados, santificados, na alma,
e no futuro o corpo será redimido, transfigurado.
Embora essa compreensão seja correta,
precisamos enfatizar que isso é uma interpretação do
versículo 30. Desse modo, não devemos permitir que
o sentido de Paulo aqui seja limitado por isso. Sim,
para um pecador ser plenamente salvo, ele precisa
passar por três passos: regeneração no espírito,
santificação na alma e transfiguração, ou redenção,
no corpo. Quando esse processo se completar,
seremos o mesmo que o Senhor Jesus. De acordo com
1 João 3:2, seremos como Ele, porque O veremos
como Ele é. Hoje não somos como o Senhor no corpo,
mas quando o corpo for transfigurado, ou
plenamente redimido, seremos totalmente como Ele
é.
Justiça, santificação e redenção não estão
somente relacionadas com o passado, presente e
futuro. Diariamente precisamos de Cristo como
justiça, santificação e redenção. Todos os dias
precisamos ser justos, santificados e redimidos, não
só num aspecto, mas em todos. Por exemplo, ao lidar
com os filhos, alguns pais podem ainda comportar-se
da antiga maneira. Assim, eles precisam ser justos,
santos e redimidos com relação aos filhos.
Recentemente, no Estudo-Vida de Êxodo,
enfatizamos que a redenção inclui três itens:
aniquilamento, substituição e ser conduzido de volta
a Deus. Quando Deus nos redime, Ele nos aniquila,
substitui por Cristo e conduz de volta a Si mesmo.
Com relação a tudo na vida diária, precisamos
ser aniquilados, substituídos por Cristo e conduzidos
de volta a Deus. A maneira de lidar com os filhos, se
ainda for antiga, precisa ser aniquilada, substituída
por Cristo e conduzida de volta para Deus. Então
seremos redimidos no tocante à questão de lidar com
nossos filhos.
Na vida da igreja também precisamos de
redenção, pois de muitas formas ainda somos muito
naturais. Alguns podem não gostar de certo irmão ou
irmã. Outros podem deixar de cuidar adequadamente
dos jovens ou idosos. Outros ainda podem ter
preferência por algum presbítero. Tudo isso se
relaciona com a vida natural e aponta para a
necessidade de redenção. Assim, na vida da igreja
precisamos ser aniquilados, substituídos por Cristo e
conduzidos de volta para Deus. Em todas as coisas
precisamos ser justos, santificados e redimidos.
Quando Cristo se tomar sabedoria para nós da parte
de Deus, em tudo Ele será nossa justiça, santificação e
redenção. Quão profunda é a idéia de Paulo aqui!

IV. GLORIAR-SE NO SENHOR


No versículo 31, Paulo conclui: “Para que, como
está escrito: Aquele que se gloria, glorie-se no
Senhor”. É de Deus que estamos em Cristo, e é Cristo
que se tomou para nós sabedoria da parte de Deus a
fim de suprir todas as nossas necessidades. Portanto,
é somente Nele que nos gloriamos.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM DEZ
QUATRO TÓPICOS CRUCIAIS PARA A PARTICIPAÇÃO
EM CRISTO

Leitura Bíblica: 1Co 1:2, 9; 6:17; 10:16


Nesta mensagem vamos considerar quatro
tópicos cruciais abordados nos primeiros dez
capítulos de 1 Coríntios. Em 1:2, Paulo diz: “À igreja
de Deus que está em Corinto, aos santificados em
Cristo Jesus, chamados para ser santos, com todos os
que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor
Jesus Cristo, Senhor deles e nosso”. Não creio que a
maioria dos leitores dessa Epístola prestem atenção
adequada a todos os tópicos mencionados nesse
versículo. Um tópico crucial em 1:2 é a expressão de
Paulo “deles e nosso”. No versículo 9 Paulo
prossegue: “Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados à
comunhão de seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor”.
Nesse versículo, o tópico crucial é a comunhão do
Filho de Deus. Na seqüência da experiência, isso vem
depois do tópico vital no versículo 2. Um terceiro
tópico importante é encontrado em 6:17. Paulo aqui
diz: “Mas aquele que se une ao Senhor é um espírito
com ele”. Em nossa experiência, a questão de ser um
espírito com o Senhor vem depois de ser chamados
por Deus à comunhão de Seu Filho. O quarto tópico
crucial está relacionado com a comunhão do sangue
de Cristo e do corpo de Cristo. Em 10:16, Paulo fala
disso: “Porventura o cálice da bênção que
abençoamos não é a comunhão do sangue de Cristo?
O pão que partimos não é a comunhão do corpo de
Cristo?” Esse versículo se refere à mesa do Senhor.
Assim, nesses versículos, os quatro tópicos cruciais
são Cristo sendo deles e nosso, a comunhão do Filho
de Deus, ser um espírito com o Senhor e a mesa do
Senhor.

A PESSOA DE PAULO E SEU ESPÍRITO


Como ajuda para entender esses tópicos,
precisamos ponderar sobre a maneira de Paulo lidar
com os problemas entre os crentes em Corinto. A
maneira de alguém lidar com um problema
invariavelmente depende do tipo de pessoa que ele é.
O mesmo problema será tratado de formas diferentes
por pessoas diferentes. Por exemplo, alguém que
ocupa alto posto no governo lidará com um problema
de modo diferente de um ladrão ou gatuno.
Igualmente, um professor erudito lidará com um
problema de modo diferente de uma pessoa com
educação muito limitada. Com certeza, um oficial do
governo, um ladrão, um professor e alguém iletrado
lidarão com o mesmo problema de maneiras
diferentes. Em cada caso, a maneira de o problema
ser abordado vai depender inteiramente da pessoa
que o resolve. Mantendo isso como princípio, a
maneira de Paulo lidar com o problema entre os
coríntios baseia-se no tipo de pessoa que ele é. Por
isso, para entender como Paulo lida com os
problemas, precisamos primeiro saber que tipo de
pessoa ele era e o que estava nele.
Ao ler 1 Coríntios, precisamos penetrar no
espírito de Paulo e tocar no encargo em seu espírito.
Tocar no espírito de Paulo dessa forma é tocar a
realidade do seu ser. O espírito de alguém é a
realidade do seu ser, isto 'é, a sua verdadeira pessoa, o
seu eu real. A realidade do nosso ser não é nossa
mente ou emoção, muito menos algum aspecto do
corpo físico. A realidade de nosso ser como pessoas é
nosso espírito. Por esse motivo, uma pessoa é
freqüentemente mais autêntica quando perde a calma
porque nessa hora, seu espírito é expresso.
Entretanto, quando procedemos com cautela e
agimos de certa forma, podemos estar acobertando
nosso verdadeiro ser e não expressando nossa pessoa
real. Somente quando nosso espírito se expressa é
que manifestamos a realidade de nosso ser. Muitas
vezes isso ocorre quando estamos zangados e
perdemos a calma. O importante aqui é que somente
quando tocamos o espírito de uma pessoa é que
contatamos a realidade do seu ser.
Ao ler a Bíblia, é muito importante que toquemos
o espírito do escritor. Senão não entenderemos o
sentido do que ele está dizendo. Conheceremos seus
escritos somente na superfície e segundo letras pretas
no papel branco. Quando porém penetramos no
espírito do escritor, tocamos as profundezas de seus
escritos.
Quando Paulo escreveu 1 Coríntios, ele era uma
pessoa que tinha o Deus Triúno infundido em si. Ele
fora enchido, permeado e saturado do Pai, do Filho e
do Espírito. Além disso, de forma plena, Paulo tinha
tido a visão acerca da economia de Deus. Ele
percebera que a intenção do Deus Triúno é
dispensar-Se aos Seus escolhidos e redimidos. Como
parte dos redimidos de Deus, Paulo havia
experimentado esse dispensar. Ele com certeza sabia
que Deus Pai é o manancial, Deus Filho é a fonte e
Deus Espírito é o fluir. Ele também tinha uma
percepção clara de que o Deus Triúno fora
dispensado a ele com um objetivo, e que esse objetivo
é a expressão corporativa de Deus. Todas essas coisas
estavam não só claras para Paulo, mas também
estavam nele e eram parte do seu próprio ser. Ele,
assim, era alguém cheio do Deus Triúno e Sua
economia. Isso deve ajudar-nos a ver que tipo de
pessoa ele era, os elementos básicos do seu ser.
Uma vez que Paulo era alguém saturado do Deus
Triúno e Sua economia, ele lidava com os problemas
entre os crentes em Corinto segundo o tipo de pessoa
que era. Entendendo isso, seremos capazes de
entender por que Paulo lidou com a igreja em Corinto
da forma como o fez.

OS QUE INVOCAM O NOME DO SENHOR


Ao lidar com os problemas na igreja em Corinto,
Paulo inclui os versículos relacionados nó início desta
mensagem. Até mesmo 1:2 é um aspecto do lidar de
Paulo com os problemas. Nesse versículo, ele se
refere aos que em todo lugar invocam o nome de
nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso. Para
a maioria dos leitores dessa Epístola pode parecer
que esse versículo nada tem a ver com os problemas
que Paulo enfrenta mais tarde no texto. Além do
mais, pode parecer que nada nesse versículo é útil
para resolver esses problemas. Quando estudei esse
livro muitos anos atrás, fazendo um esboço detalhado
de toda a Epístola e escrevendo muitas notas, não
prestei muita atenção a esse versículo. Eu imaginava
o que uma afirmação sobre invocar o nome do Senhor
Jesus em todo lugar tinha a ver com os problemas
entre os crentes em Corinto. Se eu fosse o escritor,
provavelmente não o teria incluído. Entretanto, 1:2
contém uma ferramenta usada por Paulo ao lidar com
os problemas entre os coríntios.

A COMUNHÃO DO FILHO DE DEUS


Primeira Coríntios 1:9 parece estar mais
diretamente relacionado com os problemas entre os
coríntios. Paulo começa esse versículo dizendo: “Fiel
é Deus”. Ele então prossegue dizendo que por esse
Deus fiel fomos chamados à comunhão de Seu Filho,
Jesus Cristo. Não acho que os crentes coríntios
entendessem o que Paulo queria dizer com a
comunhão do Filho de Deus. Mas por que ele usaria
uma expressão que seus leitores não poderiam
entender? Qual era seu alvo ao enfatizar que eles
foram chamados à comunhão do Filho de Deus? Que
auxílio isso seria aos coríntios facciosos, aos que
estavam dizendo que eram de Paulo, Apolo, Cefas ou
de um Cristo limitado? Para eles, isso deve ter soado
como língua estrangeira. Quando essa Epístola foi
lida entre eles, alguns podem ter dito para si mesmos:
“Paulo, por que você nos diz que fomos chamados à
comunhão do Filho de Deus? Que quer dizer com
isso?”

UM SÓ ESPÍRITO COM O SENHOR


Em 6:12-20, Paulo lida com o abuso de liberdade
na comida e no corpo. De repente, ele insere as
palavras: “Mas aquele que se une ao Senhor é um
espírito com ele”. Podemos imaginar o que essa frase
tem a ver com o abuso de comer e do corpo. É claro,
podemos conseguir algum entendimento lendo esse
versículo em seu contexto, mas se não tivermos a
visão do autor não entenderemos por que esse
versículo foi inserido. Não valorizaremos o fato de
isso ser uma ferramenta muito útil para lidar com os
coríntios e seus problemas.

A BOA TERRA E A MESA DO SENHOR


Em 10:1-13, Paulo usa a história dos filhos de
Israel no Antigo Testamento como prefiguração dos
crentes do Novo Testamento (v. 6). Na verdade, Paulo
aqui usa especificamente a experiência dos filhos de
Israel no deserto como figura para advertir os
coríntios. Ele lhes conta que o povo de Deus passou
pelo mar e foram “todos batizados, assim na nuvem,
como no mar, com respeito a Moisés” (10:2).
Ademais, “todos eles comeram de um só manjar
espiritual” e “beberam da mesma fonte espiritual;
porque bebiam de uma pedra espiritual que os seguia.
E a pedra era Cristo” (vs. 3-4). Então, no versículo 5,
ele faz uma afirmação grave, dizendo: “Entretanto,
Deus não se agradou da maioria deles, razão por que
ficaram prostrados no deserto”. Ele, então, fala
explicitamente que “estas coisas se tomaram
exemplos para nós”. Se lermos esse trecho de 1
Coríntios de forma completa, podemos imaginar qual
era o propósito principal de Paulo ao dar essa
advertência.
Essa advertência está relacionada com o desfrute
de Cristo como a boa terra. Paulo aqui parece dizer:
“Vocês, coríntios, precisam ser cautelosos. A boa terra
estava adiante dos filhos de Israel como promessa de
Deus, mas a maioria deles não entrou nela. Antes, da
maioria deles, Deus não se agradou. Eles morreram e
foram espalhados pelo deserto. Não receberam a boa
terra como herança prometida por Deus. Vocês
precisam ser cuidadosos para que sua situação não
seja a mesma. Vocês, crentes em Corinto, também
têm um objetivo prometido por Deus, que é entrar em
Cristo como a boa terra. Entretanto, há uma evidente
possibilidade de que vocês não alcancem Cristo como
a terra; antes, sejam espalhados no deserto e dessa
forma deixem de receber a promessa de alcançar
Cristo como a terra”. Essa idéia sobre a boa terra está
evidentemente implícita nesses versículos.
Depois de chegar na advertência baseada no
exemplo dos filhos de Israel, Paulo prossegue falando
sobre a mesa do Senhor. Ele diz em 10:16:
“Porventura o cálice da bênção que abençoamos não é
a comunhão do sangue de Cristo? O pão que
partimos, não é a comunhão do corpo de Cristo?” Se
tivermos a percepção adequada do seu propósito ao
escrever, veremos que essa palavra é continuação da
advertência sobre perder o desfrute da boa terra, o
desfrute pleno do Cristo rico prometido por Deus.
Além disso, o desfrute desse Cristo rico é a própria
comunhão de Seu corpo e sangue. Em outras
palavras, esse desfrute se refere à mesa.

O RICO DESFRUTE DE CRISTO COMO


NOSSA PORÇÃO
Vamos agora pôr esses quatro tópicos juntos e
ver que tipo de quadro eles representam. Em 1:2,
vemos que, com base em Sua economia, Deus nos deu
Cristo como porção. Como tal, Cristo é tanto deles
como nosso. Podemos desfrutá-Lo como nossa única
porção simplesmente invocando o Seu nome. Quando
o invocamos, temos Sua Pessoa e depois essa Pessoa
se toma nossa porção.
De acordo com 1:9, Deus nos chamou à
comunhão do Seu Filho Jesus Cristo. Isso quer dizer
que Ele nos chamou ao desfrute e participação da
própria Pessoa de Cristo como porção. Visto que Ele
nos chamou para o desfrute de tal Pessoa, agora
devemos ser os que invocam o Seu nome. A palavra
chamados no versículo 9 é uma repetição da mesma
palavra no versículo 2, onde Paulo fala de santos
chamados. Por intermédio do Deus fiel, nós, os santos
chamados, fomos chamados à comunhão, à
participação, ao desfrute de Seu Filho. Invocando o
Seu nome, nós O desfrutamos como Aquele que é
tanto deles como nosso. Essa é a conexão e
continuação dos versículos 2 e 9.
Sabendo que fomos chamados à comunhão de
Cristo e que devemos agora invocá-Lo para
desfrutá-Lo como nossa porção, podemos imaginar
como podemos ter essa experiência de Cristo de
forma prática. Podemos experimentar Cristo por
meio do Espírito como a eletricidade celestial. Já
ressaltamos muitas vezes que em 6:17 Paulo diz que
aquele que se une ao Senhor é um espírito com Ele. O
verbo unir-se nesse versículo é sinônimo de
comunhão em 1:9. Comunhão e unir-se se referem à
mesma coisa. Por exemplo, se você se une a um
irmão, você tem comunhão com ele. A união é, na
verdade, a comunhão. Isso nos capacita a ver a
conexão entre 1:2 e 9 e 6:17. A palavra chamados em
1:9 liga esse versículo com 1:2, e o verbo unir-se em
6:17 liga esse versículo com 1:9.
A maneira de desfrutar o Senhor na prática é que
Ele é o Espírito em nosso espírito. Cristo hoje é o
Espírito que dá vida, e nós temos um espírito humano
regenerado. Quando nos unimos a Ele, tomamo-nos
um espírito com Ele. Sempre que somos um espírito
com o Senhor, estamos na comunhão de Cristo. Além
disso, quando exercitamos o espírito para invocar o
nome do Senhor Jesus, aplicamos essa comunhão e
desfrutamos Cristo. Que rico desfrute é esse!
Esse desfrute é tipificado pela mesa do Senhor no
capítulo dez. A mesa é um símbolo de desfrute, pois é
uma festa. É claro, o termo comunhão é usado duas
vezes em 10:16 com referência à comunhão do corpo e
do sangue do Senhor. Em 1:9, a comunhão é a do
Filho de Deus, mas em 10:16 toma-se a comunhão do
corpo e do sangue do Senhor. Isso indica que Cristo
foi processado por meio da morte e ressurreição para
tomar-se a comida na mesa para nosso desfrute.
O processo pelo qual Cristo passou pode ser
ilustrado pelo processo de preparar um frango. Antes
de poder tomar-se comida para nós, o frango tem de
ser morto, preparado e cozido. O Filho de Deus, Jesus
Cristo, também foi morto, preparado, processado,
“cozido” para ser o corpo e sangue na mesa, pronto
para que O comamos. Dessa forma, Ele está acessível
para nosso desfrute.
Quando pomos esses quatro tópicos juntos,
temos o desfrute pleno do Filho de Deus processado,
“cozido”. Ele se tomou o Espírito, nós temos o espírito
regenerado e agora esses dois espíritos se tomaram
um. Quando exercitamos o nosso espírito para
invocar o nome do Senhor Jesus, desfrutamo-Lo
como nossa porção e experimentamos a comunhão de
Cristo de forma prática.
Os quatro tópicos abordados por Paulo nesses
versículos são ferramentas usadas para lidar com os
problemas entre os coríntios. Visto que são tópicos
profundos no espírito de Paulo, eles saíram de seu ser
quando enfrentou os problemas. Contudo, os cristãos
que lêem essa Epístola superficialmente, não têm
nenhuma compreensão desses tópicos. Se nós,
porém, considerarmos esses tópicos e os
entendermos, teremos uma visão profunda e mais
abrangente da mesa do Senhor. Além disso, se
tivermos essa visão quando chegarmos à mesa, isso
fará diferença no tocante ao desfrute de Cristo.
Ademais, se formos os que desfrutam o Filho de Deus
dessa forma, todos os problemas serão resolvidos.
Louvado seja o Senhor pela maneira de Paulo lidar
com os problemas entre os cristãos! Precisamos
considerar a conexão entre esses quatro versículos até
nossa visão ficar mais clara. Então tocaremos as
profundezas dos dez primeiros capítulos de 1
Coríntios. É crucial que todos toquemos as
profundezas desse livro.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM ONZE
A PARTICIPAÇÃO NA COMUNHÃO DE CRISTO

Leitura Bíblica: 1Co 1:2, 9-13


Em 1 Coríntios, capítulo um, dois e três, Paulo
usa muitos termos especiais e expressões
extraordinárias, que não são encontrados em
nenhum outro lugar nos seus escritos. O primeiro
versículo extraordinário é 1:2, no qual ele diz: “À
igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados
em Cristo Jesus, chamados para ser santos, com
todos os que em todo lugar invocam o nome do
Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso”. A
expressão “chamados santos” (como na VRC) é
incomum. Muitos cristãos não têm certeza de que são
santos. Você tem louvado o Senhor pelo fato de ser
santo? Você tem o conceito, ou a idéia de que é santo?
Se fosse declarar ousadamente que sou santo, alguns
poderiam acusar-me de ser orgulhoso, dizendo que
sou simplesmente chinês de sangue e cristão por fé.
Entretanto, Paulo se refere aos que receberam essa
Epístola como “chamados santos”. Esse é um termo
extraordinário.
No versículo 2, Paulo também se refere à questão
de invocar o nome de nosso Senhor Jesus Cristo em
todo lugar. Ele então prossegue dizendo que Cristo é
“deles e nosso”. O próprio Cristo cujo nome
invocamos é tanto deles como nosso. Talvez você
tenha lido esse versículo muitas vezes sem atentar
para essa expressão. O significado dessas palavras é
muito profundo.
Em 1:9, Paulo diz: “Fiel é Deus, pelo qual fostes
chamados à comunhão de Seu Filho Jesus Cristo,
nosso Senhor”. Todo cristão percebe que Deus é fiel.
Também é comum perceber que Deus é
misericordioso, bondoso e amável. Poucos cristãos,
entretanto, percebem que foram chamados à
comunhão do Filho de Deus, e poucos têm a
compreensão adequada do que é essa comunhão. Os
cristãos freqüentemente perguntam aos outros se
foram salvos, mas raramente perguntam se foram
chamados. Alguém alguma vez se aproximou de você
e perguntou: “Você foi chamado por Deus à
comunhão de Seu Filho?” Nesse versículo, Paulo fala
não de ser salvo, mas chamado. Ademais, ele não diz
que fomos chamados para o céu ou para a bênção
eterna, mas à comunhão do Filho de Deus.
O Cristo que invocamos é deles e nosso. Fomos
chamados pelo Deus fiel à comunhão de Seu Filho
Jesus Cristo, nosso Senhor. Isso é muito profundo.
Por todos os séculos, os cristãos não têm tocado
adequadamente as profundezas desses pontos.

O BOM PRAZER DE DEUS


Se quisermos compreender esses dois versículos,
precisamos voltar ao início com Deus na eternidade
passada. Antes de criar o universo, Deus tinha um
prazer, um desejo no coração. Todo ser humano está
buscando algum tipo de prazer. Deus também tem o
Seu. De acordo com esse bom prazer, Ele elaborou
um plano: dispensar a Si próprio em diversos seres
humanos, infundir-Se neles. Esse é o Seu prazer e
deleite. Os cristãos não vão conseguir conhecer
adequadamente o significado de 1:2 e 9, a menos que
percebam isso.
Poucos cristãos percebem que Deus tem um
prazer e que Seu plano é dispensar-Se e infundir-Se
em nós. Contudo, isso é revelado na Bíblia. Em
Efésios 1:5, Paulo fala do “beneplácito 2 de Sua
vontade”, e no versículo 9, “o Seu beneplácito que
propusera em Cristo”. Além disso, Paulo usa o termo
dispensação muitas vezes. Em Efésios 1:10, ele fala de
uma “dispensação da plenitude dos tempos”, e em
3:9, ele se refere à “dispensação do mistério, desde os
séculos oculto em Deus, que criou todas as coisas”.
Repetindo: o bom prazer de Deus é dispensar-Se a
nós e trabalhar-Se em nós.

O PROCESSO DA DISPENSAÇÃO DE DEUS A


Criação
Neste ponto, precisamos fazer uma pergunta
decisiva: Como é possível Deus dispensar-Se a nós?
Primeiro, Ele criou os céus, a terra e o homem.
Zacarias 12:1 diz que o Senhor estendeu o céu, fundou
a terra e formou o espírito do homem dentro nele. O
espírito humano é um órgão especial criado por Deus
para o homem recebe-Lo. Podemos usar um rádio
como ilustração. Um rádio contém um receptor que
capta as ondas sonoras no ar. Nós somos como o
rádio, e nosso espírito como o receptor. Os céus são
para a terra, a terra é para o homem e o homem,
criado com espírito, é para Deus. Visto que o homem
tem um espírito, um receptor, ele pode receber Deus
em si.

A Encarnação
Muito depois de Deus ter cumprido a obra de
2
Beneplácito, em latim beneplacitum, ou seja, bom prazer, aprazimento, agrado, satisfação. (N.T.)
criação, que foi o primeiro passo visando à
dispensação de Si mesmo a nós, Ele deu o segundo
passo: a encarnação. Um dia, o Deus infinito, o
próprio Deus que criou o universo, tomou-se um
homem. De acordo com João 1:1 e 14, o Verbo, que é
Deus, tomou-se carne, ou seja, tomou-se um homem.
Nas palavras de Isaías 9:6, um filho nos nasceu cujo
nome é Deus forte. O bebê nascido numa manjedoura
em Belém era na verdade o Deus forte. O Senhor
Jesus viveu na terra de forma humilde. Foi criado no
lar de um carpinteiro, e Ele mesmo trabalhou como
tal. Quem poderia pensar que o próprio Deus
habitava Nele? Com trinta anos Ele saiu a ministrar.
Algumas das coisas que fez faziam as pessoas pensar
sobre Ele. Suas palavras eram muito mais filosóficas
que as proferidas pelos maiores filósofos. Alguns dos
que O ouviram maravilharam-se e disseram: “Como
sabe este letras sem ter estudado?” (Jo 7:15). Outros
ficavam ofendidos e diziam conhecer Sua mãe,
irmãos e irmãs. Por fim, Ele foi à cruz e morreu.

A Crucificação
Pela encarnação, o Senhor Se revestiu de
humanidade. O homem é a cabeça da velha criação.
Quando Adão caiu, toda a criação, que ele
representava, caiu com ele e envelheceu. Quando
Deus Se revestiu de humanidade, Ele vestiu toda a
velha criação. Assim, quando Ele foi crucificado, a
criação também o foi. Por isso, pela Sua morte na
cruz, Ele pôs fim a toda a criação, inclusive você e eu.
Mediante essa morte maravilhosa e todo-inclusiva,
Ele nos redimiu. Ele nos trouxe de volta a Deus, mas
em ressurreição Ele nos substitui Consigo mesmo.
Por isso, Ele nos aniquilou, trouxe-nos de volta para
Deus e em ressurreição substitui-nos Consigo
mesmo.

A Ressurreição
Em João 11:25, o Senhor Jesus disse: “Eu sou a
ressurreição e a vida”. Como ressurreição, Ele é o
elemento com o qual somos substituídos. Além disso,
em ressurreição Ele se tomou o Espírito que dá vida
(1Co 15:45). Ressurreição é na verdade a Pessoa viva
de Cristo, o Deus encarnado, que viveu na terra como
homem, morreu na cruz para nossa redenção e em
ressurreição se tomou o Espírito que dá vida. Assim,
Ele é tanto a ressurreição como o Espírito. Ele se
tomou o Espírito e o Espírito é a ressurreição. Como o
Espírito e como a ressurreição, Ele agora é nosso
substituto.
Depois que Cristo se tomou o Espírito que dá
vida em ressurreição, foi possível Ele entrar em nós.
Ele, a eletricidade divina, pode entrar em nosso
receptor. Contudo, é necessário que O recebamos
mediante arrependimento, crendo Nele e invocando
Seu nome. Um pecador pode orar: “Senhor Jesus, sou
pecador, mas, Senhor, Tu és meu Salvador. Agora eu
me abro a Ti, e Te recebo”. Sempre que alguém ora
dessa forma, essa Pessoa maravilhosa excelente, que
é o próprio Espírito e ressurreição, entra nele. Isso
não é mera teologia; é um fato maravilhoso. Todo
cristão autêntico pode testificar que quando creu no
Senhor e invocou o Seu nome, algo incomum
aconteceu a ele. O Senhor, como o Espírito que dá
vida, entrou nele. Urna vez que recebemos o Senhor
em nós, Ele nunca irá deixar-nos, mesmo se nos
arrependermos de nos ter tomado cristãos. Depois
que creu no Senhor Jesus, você nunca mais será
capaz de parar de crer Nele. Urna vez que Ele entrou
em nós, nunca nos deixará. Agora podemos ver qual a
maneira de Deus dispensar-Se a nós.
Você percebe que tipo de Deus está
dispensando-Se a você? Ele é o Deus Triúno, o Pai, o
Filho e o Espírito. Aquele que recebemos é Cristo, o
Redentor, o Salvador, o Espírito que dá vida e a
ressurreição. Tudo isso são aspectos diferentes de
urna só Pessoa.

INVOCAR O NOME DO SENHOR


Aquele no qual cremos, que recebemos e que
entrou em nós, também deve ser o que invocamos.
Entretanto, muitos cristãos hoje não atentam para a
questão de invocar o nome do Senhor Jesus. Como
vimos, Paulo fala disso em 1:2, quando diz: “Com
todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso
Senhor Jesus Cristo”. Aqui, a palavra grega para
invocar é epikaléo. Essa palavra significa chamar em
voz alta. Orar de forma suave, gentil é bem diferente
de invocar audivelmente o nome do Senhor Jesus.
Suponha que um pecador ouça a pregação do
evangelho e seja persuadido a crer no Senhor e O
invoque. Ele pode orar em silêncio: “Senhor Jesus,
sou um pecador. Eu Te agradeço, pois morreste por
mim. Creio em Ti. Teu sangue me purifica. Tu me dás
vida eterna”. Urna pessoa que ore assim pode ser
salva, mas talvez não o seja de forma vigorosa.
Suponha que outra pessoa esteja convenci da de crer
no Senhor Jesus, mas em vez de orar suavemente,
invoque audivelmente o nome do Senhor, declarando
que crê Nele e O recebe. Se invocar o nome do Senhor
dessa forma, sua experiência de salvação será mais
vigorosa.
Quando invocamos o nome do Senhor Jesus,
Aquele que recebemos, Ele se toma nosso. Isso quer
dizer que Ele se toma nossa porção, até mesmo nossa
porção todo-inclusiva. Como nossa porção, Cristo é
nossa vida, suprimento de vida e tudo para nós. Ele é
tudo o que precisamos: consolo, paciência, justiça,
santidade, poder. Ele então se toma sabedoria para
nós da parte de Deus. Esse Cristo que é nossa porção
é tanto deles como nosso.

O SENTIDO DA COMUNHÃO
Em 1:9, Paulo diz que Deus nos chamou à
comunhão de Seu Filho. O sentido da palavra
comunhão é muito profundo. O Novo Testamento
ilustra essa comunhão com um banquete. Nos
Evangelhos, o Senhor Jesus disse que um banquete
foi preparado e que pessoas foram convidadas (Mt
22:1-3; Lc 14:16-17). Todos fomos convidados a um
banquete maravilhoso, no qual desfrutamos muitos
pratos. O desfrute desse banquete é uma participação
mútua e conjunta. Assim, na comunhão do Filho de
Deus temos desfrute. Esse desfrute, contudo, é
corporativo, e não individual. Enquanto desfrutamos
esse banquete juntos, temos comunhão.
Algumas versões traduzem a palavra grega
koinonía como comunhão. Ter comunhão é partilhar
alguma coisa em comum. Quando você toma café' da
manhã sozinho, você não desfruta comunhão; mas
quando vai a um banquete onde há muitas pessoas e o
desfruta com elas, você tem comunhão. Essa
comunhão é um desfrute coletivo, uma participação
conjunta.
Comunhão também inclui comunicação. Sempre
que festejamos com outros, há comunicação. Você se
comunica com outros e eles com você.
A comunhão à qual Deus nos chamou é de Seu
Filho, Jesus Cristo, nosso Senhor. Ela inclui o Deus
Triúno, o Pai, o Filho e o Espírito. É a comunhão do
Cristo encarnado, crucificado e ressurreto, que em
ressurreição é o Espírito que dá vida. Essa Pessoa
todo-inclusiva é nosso banquete e esse banquete é a
comunhão. Como pessoas chamadas a essa
comunhão, agora desfrutamos Cristo, festejando-O.
Além disso, temos comunhão e estamos em
comunicação uns com os outros. Essa comunhão é a
vida da igreja.
A vida da igreja é a vida de ressurreição da qual
todos participamos. Ademais, essa ressurreição é o
Espírito que dá vida, o Espírito que dá vida é Cristo e
Cristo é o Deus encarnado. Cristo, como alguém
todo-inclusivo, também implica em justificação,
santificação e redenção. Cristo é Deus, até mesmo o
Deus Triúno, o Pai, o Filho e o Espírito. Como alguém
encarnado, crucificado e ressurreto, Ele é a
ressurreição e o Espírito que dá vida. Ele é até mesmo
nosso banquete. Além disso, o próprio Cristo é na
verdade a comunhão à qual Deus nos chamou. Dizer
que fomos chamados à comunhão de Jesus Cristo
significa que fomos chamados a Ele. Ele é vida,
ressurreição, santificação, redenção e tudo para nós.
Por isso, Ele próprio é a comunhão.

DIVIDIDOS POR PREFERÊNCIAS


Vamos ponderar novamente sobre o pano de
fundo de 1 Coríntios. Paulo escreveu essa Epístola aos
gregos filosóficos, que se consideravam muito sábios.
Por causa de sua filosofia, alguns deles disseram: “Eu
sou de Paulo”, outros: “Eu sou de Apolo”, e outros
ainda: “Eu sou de Cefas”. Os crentes em Corinto
tinham, assim, preferências. Essas preferências os
fizeram dividir-se. Dizer “eu sou de Paulo” equivale a
dizer “fui chamado a ter preferência por Paulo”. O
mesmo é verdade ao dizer: “eu sou de Apolo”, ou “eu
sou de Cefas”. Em vez de tomar Cristo, que é
todo-inclusivo, como porção, os coríntios tomavam
como porção outra pessoa: Paulo, Apolo ou Cefas.
Assim, nessa Epístola, Paulo parece dizer: “Crentes
em Corinto, vocês não foram chamados à sua própria
preferência. Deus os chamou à comunhão de Seu
Filho. Vocês não devem preferir a mim, Apoio, Cefas
ou qualquer outro. Todos fomos chamados a uma
Pessoa viva e todo-inclusiva. Fomos chamados à
comunhão de Seu Filho, nosso Senhor Jesus Cristo.
No texto original grego do Novo Testamento, não
há divisões de versículos. Isso significa que 1:10 é a
continuação direta do versículo 9. Repetidas vezes
temos enfatizado que no versículo 9 Paulo diz que
Deus nos chamou à comunhão de Seu Filho. Então,
no 10 ele prossegue: “Rogo-vos, irmãos, pelo nome de
nosso Senhor Jesus Cristo, que faleis todos a mesma
coisa, e que não haja entre vós divisões; antes sejais
inteiramente unidos, na mesma disposição mental e
no mesmo parecer”. Vemos aqui que ele roga aos
crentes pelo nome do Senhor Jesus Cristo, o próprio
nome que todos os crentes invocam. Especificamente,
ele lhes rogou que falassem a mesma coisa. Visto que
diziam: “Eu sou de Paulo”, ou “eu sou de Apolo”, eles
falavam coisas diferentes. Se formos considerar os
versículos 11 a 13, veremos que a comunhão no
versículo 9 está em contraste às divisões no 10. Além
disso, essas divisões foram causadas por preferências
por certas pessoas. Não fomos chamados a
preferências ou divisões, mas à única comunhão, ao
único desfrute de Cristo e à participação Nele. Oh! é
vital que vejamos isso! Somente uma coisa pode
guardar-nos da divisão: a percepção de que o Cristo
todo-inclusivo é nossa porção e fomos chamados à
Sua comunhão e desfrute.
Os cristãos hoje estão divididos por causa das
preferências. Isso pode ser também verdade conosco
na vida da igreja. Você pode gostar da igreja hoje
porque a condição atual. se ajusta à sua preferência.
Alguns podem dizer: “Louvado seja o Senhor! A vida
da igreja em minha cidade é excelente. As reuniões
são vivas e de alto padrão, e eu as desfruto muito”.
Talvez depois de um tempo, as reuniões não sejam
tão vivas ou de padrão tão alto como agora. Então,
alguns podem ficar decepcionados, abandonar a vida
da igreja e ir atrás de algo que se ajuste à sua
preferência.
Ter preferências é muito diferente de desfrutar o
Cristo todo-inclusivo. Se virmos o que significa Cristo
ser nossa porção e ser chamado à Sua comunhão, não
ficaremos preocupados se as reuniões são de alto
padrão ou não. Não teremos preferências sobre as
reuniões. A origem primordial das divisões entre os
cristãos são as preferências. Se porém tivermos visto
que o bom prazer de Deus é simplesmente produzir
mediante a Sua obra em nós o Cristo todo-inclusivo
como nossa porção para nosso desfrute, não nos
importaremos com nada além de Cristo e o desfrute
de Sua comunhão.

EXPERIMENTAR E DESFRUTAR A
COMUNHÃO
. Vimos que a comunhão é o desfrute de Cristo e a
participação conjunta Nele. Não há necessidade de
analisar essa comunhão de forma doutrinária a fim de
experimentá-la. Quando toma café da manhã, você
analisa tudo o que come? faz um estudo da
composição dos ovos, da torrada e do suco? Ninguém
seria tão tolo a ponto de estudar o alimento em vez de
desfrutá-lo. Além disso, não devemos ficar
preocupados sobre os utensílios usados para comer.
Que tolice seria brigar por causa de talheres, copos ou
tigelas! Não seria ridículo alguém se voltar da comida
preparada para seu desfrute e se preocupar com
facas, garfos e colheres na mesa? Entretanto, isso é
uma ilustração da atual situação entre os cristãos. Em
vez de se importar com Cristo como sua única porção,
muitos discutem doutrinas e práticas.
Suponha que você chegue a uma reunião da
igreja e encontre as cadeiras arrumadas de maneira
muito incomum. Se isso o incomoda, prova que você
não viu o que é a igreja. A vida adequada da igreja não
depende do arranjo específico de cadeiras. A igreja é a
comunhão, a participação conjunta, o desfrute mútuo
de Cristo. Ele é agora a ressurreição e o Espírito. Se
você viu que a vida da igreja consiste nessa
comunhão, não ficará preocupado acerca de coisas
como arranjo de cadeiras no salão de reunião. Além
disso, não se desviará de Cristo por doutrinas ou
práticas.
Encorajo-o a buscar a experiência e o desfrute da
comunhão do Filho de Deus. Quanto mais
desfrutamos a participação conjunta nessa
comunhão, melhor será a vida da igreja. Precisamos
desfrutá-la em casa e nas reuniões. Então não
seremos perturbados por opiniões, mexericos ou
ensinamentos diferentes, porque não nos
importaremos com nada além do desfrute conjunto
prático do Cristo todo-inclusivo, que é para nós o
Espírito, a ressurreição e o Deus Triúno. Essa
comunhão é a realidade da igreja. Assim, precisamos
buscar experimentá-la em todo o tempo. Então
desfrutaremos Cristo na igreja.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM DOZE
PARTICIPAR DE CRISTO COMO NOSSA PORÇÃO

Leitura Bíblica: 1Co 1:2, 9; 6:17; 10:16-17

EM RESSURREIÇÃO
Nosso Cristo é todo-inclusivo; Ele é o Deus
Triúno, o Pai, o Filho e o Espírito. Como Deus
encarnado, Ele viveu como homem na terra por trinta
e três anos e meio. Por meio de Sua morte na cruz, Ele
crucificou a velha criação. Ao fazer isso, conduziu a
criação de volta para Deus. Agora que nos aniquilou
na cruz, Ele está substituindo por Si mesmo em
ressurreição aquilo a que deu fim. Em ressurreição,
Ele tomou-se o Espírito que dá vida. Na verdade, o
Espírito que dá vida é a ressurreição. Assim, a
ressurreição não é meramente uma coisa ou questão,
é uma Pessoa viva. Em João 11:25, Ele disse: “Eu sou
a ressurreição e a vida”.
Hoje, a Pessoa maravilhosa de Cristo, por meio
de quem todas as coisas foram criadas, que passou
pela encarnação, crucificação e ressurreição, é o
Espírito que dá vida, todo-inclusivo. Esse Espírito é a
expressão final, máxima e consumada do Deus
Triúno.
Se alguém nos perguntar onde estamos hoje,
devemos dizer que estamos em ressurreição.
Ressurreição é o Espírito que dá vida, o Espírito que
dá vida é Cristo, e Cristo é o Deus Triúno processado.
No livro de 1 Coríntios, Paulo lida com onze
problemas. Seis deles são abordados nos primeiros
dez capítulos, e cinco, nos últimos seis capítulos. Os
primeiros seis problemas são divisão, litígios, incesto,
abuso de liberdade no comer e no casamento, a
questão do casamento propriamente dito, e comer
coisas sacrificadas a ídolos. Todos eles estão
relacionados com a humanidade, a vida humana. O
segundo grupo envolve o âmbito da administração de
Deus: o encabeçamento, a mesa do Senhor, os dons
espirituais, a ressurreição e a oferta de bens
materiais. Ao lidar com o problema da ressurreição,
Paulo profere uma palavra maravilhosa. Em 15:45,
ele diz que o último Adão tomou-se o Espírito que dá
vida. Isso é ressurreição. Quando era simplesmente o
último Adão, Cristo ainda não estava em ressurreição,
antes, estava na carne, na humanidade. Mas pela
morte Ele entrou em ressurreição e agora, em
ressurreição, não está mais na carne, pois é o Espírito
que dá vida. Esse Espírito é a realidade da
ressurreição.
Quando estamos no espírito, estamos em
ressurreição. Ressurreição é a vida que vence a morte.
Se de fato estivermos em ressurreição na experiência,
estaremos cheios de frescor e vivos, com vida
borbulhando interiormente. Em tal caso, podemos
ser comparados a uma planta. Uma planta pode ser
usada como ilustração de ressurreição. Se ela viceja e
floresce, podemos dizer que está em ressurreição,
mas se ela murcha e morre, não podemos dizer que
está em ressurreição. Do mesmo modo, se estivermos
vivos e cheios de frescor, estaremos de fato em
ressurreição. Mas se nos sentarmos nas reuniões de
modo formal, religioso, certamente não estaremos em
ressurreição. Pelo contrário, em geral, ainda
estaremos no túmulo.
COMO PAULO LIDAVA COM PROBLEMAS
Já enfatizamos que os primeiros seis problemas
abordados em 1 Coríntios estão relacionados com o
viver humano. A maneira de Paulo lidar com eles é
muito diferente da que é praticada pelos ministros e
pastores de hoje. Por exemplo, se um casal tem um
problema e consulta o pastor, ele vai lidar com o
problema ou de maneira religiosa ou natural. A
maneira de Paulo é profunda e muito difícil de
descrever. Sua maneira de lidar com problemas é
gradualmente revelada nos primeiros dez capítulos.
Ela é espiritual e elevada. Podemos compará-la a uma
corrente que tem muitos elos. O primeiro capítulo
dessa Epístola começa com um elo da corrente e o
último capítulo termina com outro. Paulo começa em
1:2 com a palavra sobre Cristo sendo deles e nosso. Os
problemas entre os crentes em Corinto foram todos
devidos ao fato de negligenciarem Cristo como sua
única porção. Sua porção não era a filosofia grega ou
a sabedoria mundana, era o Cristo todo-inclusivo
ministrado por Paulo. Esse Cristo todo-inclusivo é
tanto deles como nosso. Isso quer dizer que Ele é
nossa única porção.
Se um casal com problemas na vida conjugal
fosse contatar Paulo, ele não os ajudaria de forma
religiosa. Ele não encarregaria o marido de amar a
mulher ou a mulher de submeter-se ao marido. Essa,
entretanto, é a maneira praticada por pastores hoje. A
maneira de Paulo lidar com problemas humanos é
muito diferente. Mesmo o que ele diz em 1:2 acerca
dos santos chamados, os santificados em Cristo
Jesus, e os que invocam o nome de nosso Senhor
Jesus Cristo em todo lugar, tanto deles como nosso, é
uma palavra relacionada com os problemas
abordados nessa Epístola. Embora esse versículo não
apareça como parte da maneira de Paulo abordar os
problemas humanos, na verdade contém as riquezas
espirituais usadas por ele para resolvê-los. De acordo
com esse versículo, nós cristãos precisamos perceber
que o Cristo todo-inclusivo é nosso. Além do mais,
somos santos chamados, os que foram chamados por
Deus para invocar o querido e precioso nome do
Senhor Jesus Cristo. Se uma irmã casada invoca o
nome do Cristo todo-inclusivo, ela de fato será
submissa ao marido. O motivo de a mulher não ser
submissa é que lhe falta o desfrute do Cristo
todo-inclusivo. Irmãs, quando vocês estão com
dificuldades para se submeter ao marido,
simplesmente invoquem o nome do Senhor. Eu lhes
asseguro que depois de invocá-Lo algumas vezes, o
Senhor as tocará e suprirá. Espontaneamente vocês
se tornarão muito submissas. Esse é o resultado de
desfrutar Cristo como nossa porção.
Por muitos anos, as irmãs sempre vêm a mim
com problemas sobre a vida conjugal. Em muitos
casos, não só me solidarizo, mas também concordo
com elas. Nos primeiros anos do meu ministério, eu
me comportava igual a muitos pastores. Encorajava
as irmãs a ler Efésios 5 e também a orar, mesmo com
jejum se necessário. Muitas vezes uma irmã voltava
para dizer que o que eu sugerira não funcionara. Tudo
o que eu podia fazer, então, era dizer à irmã que se
conformasse e eu tentaria ajudá-la. Na verdade, eu
não a ajudava em nada. Gradualmente, aprendi que
problemas na vida conjugal não são resolvidos
simplesmente orando e lendo a Bíblia. São
necessários nutrição e suprimento de vida. Não
podemos receber a nutrição de que necessitamos
simplesmente da Bíblia em preto e branco, porque
precisamos do próprio Cristo vivo. Orando-lendo a
Palavra e invocando o nome do Senhor, recebemos a
nutrição e o suprimento necessários. Quando uma
irmã é suprida dessa forma, ela pode encontrar a
solução do problema que enfrenta com o marido.
Às vezes, quando invoco o nome do Senhor
Jesus, fico profundamente tocado por Ele e até choro.
Esse toque então se toma minha nutrição,
suprimento e força. Além disso, tenho percebido que
ao invocá-Lo, posso fazer coisas que não sou capaz
em minha própria força. Isso é o desfrute de Cristo
segundo 1:2. Se invocarmos o nome do Senhor Jesus
em todo lugar, saberemos que Cristo é nosso, e O
desfrutaremos.
Primeira Coríntios 1:9 diz: “Fiel é Deus, pelo qual
fostes chamados à comunhão de Seu Filho Jesus
Cristo nosso Senhor”. Fomos chamados à comunhão
do Cristo todo-inclusivo como nossa porção. Essa
comunhão é nada menos que a Sua Pessoa viva. Isso
quer dizer que fomos chamados para essa Pessoa e
Sua comunhão. Deus nos chamou a Cristo com vistas
à nossa participação conjunta e desfrute.

UM ESPÍRITO COM O SENHOR


Vimos que o Cristo todo-inclusivo é nossa porção
e fomos chamados à Sua comunhão. Mas como pode
o Cristo encarnado, crucificado e ressurreto tomar-se
nossa porção para nosso desfrute? Para entender isso
precisamos considerar 6:17 Nesse versículo, Paulo
declara: “Mas aquele que se une ao Senhor é um
espírito com ele”. A comunhão para a qual fomos
chamados é Cristo como o Espírito que dá vida. Para
experimentá-la, precisamos ser um espírito com Ele.
Em nosso espírito, somos um com o Espírito que dá
vida.
Quando comecei o ministério nesse país muitos
anos atrás, enfatizei que os que cremos em Cristo
temos um espírito humano regenerado, um espírito
humano habitado pelo Espírito divino e somos um
espírito com o Senhor. Muitos ficaram surpresos ao
saber que temos espírito. É claro, eles sabiam que
tinham alma e coração, mas não conheciam o espírito
humano. Todos os cristãos conhecem o Espírito
Santo, mas nem todos percebem que têm um espírito
humano. É importante que todos os que
recentemente entraram na vida da igreja percebam
que têm um espírito humano regenerado pelo
Espírito Santo. Além disso, no viver diário,
precisamos exercitar o espírito.
Quando enfrentamos problemas no viver diário,
podemos reagir com a alma, o corpo ou o espírito.
Suponha que um irmão volte para casa do trabalho,
exausto pelas atividades do dia. Encontra a esposa
cheia de queixas e descontente com ele. Ele pode
reagir de três maneiras. A primeira, universalmente
comum, é reagir na alma, principalmente na mente e
emoção. Uma segunda possibilidade é reagir de
forma física, cheio de ira. A terceira alternativa é
reagir exercitando o espírito regenerado. É vital que
todos os crentes percebam que seu espírito foi
regenerado e é habitado pelo Espírito todo-inclusivo
que dá vida. O irmão que enfrenta dificuldade com a
esposa deve exercitar o espírito e permitir que o
Espírito que dá vida o oriente. Ele, então, saberá o
que dizer à esposa e como se comportar. Qualquer
pessoa que observe um irmão vivendo de tal maneira
perceberá que ele é diferente dos maridos comuns.
Em vez de exercitar o corpo para reagir fisicamente
ou exercitar a alma, ele exercita o espírito. Todos
precisamos exercitar o espírito no viver diário,
principalmente na vida conjugal e familiar.
Por termos um espírito regenerado, podemos
experimentar Cristo como nossa porção e também
experimentar a Sua comunhão. Se nosso espírito não
fosse regenerado e habitado pelo Espírito, Cristo não
poderia ser nossa porção e não poderíamos estar na
Sua comunhão. Assim como os aparelhos elétricos
têm de ter corrente elétrica para funcionar, também
nós precisamos estar no espírito se quisermos
experimentar Cristo como nossa porção e desfrutar
Sua comunhão. Somente quando a corrente elétrica
chega ao aparelho é que podemos, na verdade, ter luz,
calor ou ar refrigerado. De modo semelhante,
somente sendo um espírito com o Senhor podemos
experimentá-Lo como Aquele que é todo-inclusivo.
Por esse motivo, Paulo nos diz que aquele que se une
ao Senhor é um espírito com Ele. Todos os que crêem
no Senhor Jesus e O amam, uniram-se a Ele. No
espírito, somos realmente um com Ele. Temos um
espírito regenerado, e Cristo é agora o Espírito que dá
vida habitando em nosso espírito. Como
conseqüência, somos um espírito com Ele. Que
maravilha! Oh! todos precisamos perceber que somos
um espírito com o Senhor. Se virmos isso, diremos:
“Louvado seja o Senhor, pois sou um espírito com
Ele! Deus me criou com um espírito humano e meu
espírito foi regenerado por Ele. Hoje, o Cristo
todo-inclusivo é o Espírito que dá vida habitando em
meu espírito. Ele é um com meu espírito, e eu sou um
com Ele”.
Freqüentemente os irmãos me têm dito que não
conseguem entender como sou capaz de dar tantas
mensagens em conferências e treinamentos, ano após
ano. Alguns me perguntaram de onde vêm essas
centenas e até milhares de mensagens. Posso
testificar que elas vêm do Cristo todo-inclusivo, que é
o Espírito que dá vida mesclado com o meu espírito.
Sempre que invoco o nome do Senhor Jesus, Ele me
supre. Essa é a razão de eu ser capaz de dar
mensagem após mensagem. As únicas limitações são
o tempo e a força física. Não há limitações para o
suprimento do Senhor. Na verdade, quanto mais falo,
mais sou capaz de falar. O reservatório espiritual é
inexaurível. Quanto mais a água flui, mais há para
fluir. Para qualquer pessoa que é um espírito com o
Senhor, o suprimento é inexaurível.
Suponha que um irmão venha até você com
queixas sobre a esposa. O irmão pode dizer: “O
Senhor lhe deu uma esposa gentil, bondosa, paciente
e amorosa. Mas com a minha mulher é extremamente
difícil conviver. Se sua esposa fosse como a minha,
você provavelmente estaria numa situação pior que a
minha quanto à vida conjugal. Eu simplesmente não
tenho como prosseguir com ela. Que devo fazer?” A
melhor maneira de ajudar tal irmão não é
explicar-lhe alguns pontos ou argumentar com ele.
Tampouco é ensiná-lo e dar-lhe mais conceitos
doutrinários. Sua urgente necessidade é perceber que
ele é um espírito com o Senhor. Entretanto, é difícil
ajudar um irmão em tal situação a ver que ele é um
espírito com o Senhor e que deve invocar o nome do
Senhor, mas se você puder fazê-lo, o viver dele será
revolucionado.
Se quiser convencer outro santo que ele é um
espírito com o Senhor, você mesmo tem de ter uma
experiência adequada disso. Quando se toma tal
pessoa, você vai testificar que até mesmo quando sua
esposa o ofende, você é capaz de exercitar o espírito,
invocar o nome do Senhor Jesus e receber Seu
suprimento.
Fora de Cristo, não é possível ser um marido
adequado ou uma mulher apropriada. Não há
exceções. Fora de Cristo, todos somos iguais. É
extremamente difícil uma irmã ser boa mulher ou um
irmão ser bom marido. Entretanto, o casamento é
ordenado por Deus. Por isso, já que o casamento é
ordenação de Deus e já que é tão difícil ser um marido
ou mulher apropriado, não temos escolha senão
experimentar Cristo.
Como muitos de nós podem testificar, quando
exercitamos o espírito e invocamos o nome do
Senhor, desfrutamos Sua doçura. Às vezes, podemos
até chorar porque Ele nos toca de forma muito tema.
Outra vezes, louvores podem brotar e podemos
agradecer-Lhe por nos dar a melhor e mais adequada
mulher, ou marido. Se invocarmos o Seu nome
exercitando o espírito, imediatamente perceberemos
que Deus nos de~ o melhor cônjuge. Que tenhamos
mais e mais esse tipo de experiência em nosso meio.
Cristo é tanto deles como nosso, e fomos
chamados à Sua comunhão, que ocorre somente em
nosso espírito. Louvado seja o Senhor pois aquele que
se une a Ele é um espírito com Ele! Portanto, temos
uma fonte, um manancial que é um reservatório
inexaurível. Essa fonte é Cristo, o Deus Triúno
processado, o Espírito todo-inclusivo que dá vida.

RECEBER CRISTO COMENDO-O


Em 10:16, Paulo chega a outro tópico
importante: “Porventura o cálice da bênção que
abençoamos não é a comunhão do sangue de Cristo?
O pão que partimos não é a comunhão do corpo de
Cristo?” Em 1:9, ele fala da comunhão do Filho, mas
em 10:16 fala da comunhão do corpo e do sangue de
Cristo. A comunhão em 1 O:16 é mais prática que a de
1:9 porque em 10:16, o sangue de Cristo é separado do
Seu corpo, indicando que nos é possível festejá-Lo.
Todavia, em 1:9, Cristo como o Filho de Deus não está
ainda pronto para que participemos Dele,
comendo-O.
A praticidade da comunhão em 10:16 pode ser
ilustrada pela maneira como se prepara um frango.
Anos atrás na China, as irmãs na igreja
freqüentemente davam à minha família um frango.
Sua intenção era que esse frango fosse usado para
nossa alimentação. Um frango era um verdadeiro
presente, mas não era prático para comer. Antes que
possa nutrir-nos, ele precisa ser morto, cozido e
depois servido. De modo semelhante, para se tomar
nosso banquete, Cristo, o Filho de Deus, teve de ser
processado. Em 10:16, vemos que Seu sangue e corpo
estão agora na mesa, um lugar de banquete. Isso
indica que Ele se encarnou e foi crucificado. O sangue
separado do corpo indica crucificação. Entretanto, o
fato de Cristo estar na mesa indica Sua ressurreição.
Por isso, na mesa vemos a encarnação, a crucificação
e a ressurreição de Cristo.
Se Cristo ainda não tivesse encarnado, não
poderia ter sangue e corpo. Se não tivesse sido
crucificado, Seu sangue não poderia ser separado do
Seu corpo. Se não tivesse sido ressuscitado, não
poderia estar na mesa como nossa comida. Sempre
que nos achegamos à mesa do Senhor e vemos o pão e
o cálice, devemos dizer: “Senhor, como Te adoro! Tu
te encarnaste, foste crucificado e ressuscitado. Eu Te
agradeço, pois, mediante a encarnação, Tu Te
revestiste de um corpo humano com sangue e carne.
Também Te sou grato porque mediante a
crucificação, Teu sangue foi separado do corpo.
Agora, em ressurreição, és servido a nós na mesa. Ó
Senhor, eu Te louvo!”
No capítulo dez, o Senhor maravilhoso a cuja
comunhão fomos chamados, toma-se muito prático
para nós. Agora podemos recebe-Lo comendo-O.
Como veremos em mensagem posterior, a mesa com
o corpo e o sangue de Cristo é a realidade de Cristo
como a boa terra. Ele não só tem sangue e corpo mas
também é a mesa, e essa mesa é a boa terra.

CARENTES DO DESFRUTE DE CRISTO


Em 1 Coríntios, Paulo não lida com os problemas
entre os crentes de forma religiosa ou humana,
natural. Pelo contrário, sua maneira de lidar com
problemas está totalmente relacionada com o
desfrute de Cristo. Ele sabia que problemas entre
cristãos são causados por carência do desfrute de
Cristo. Se um irmão e a esposa têm problemas, isso
prova que estão carentes de Cristo. Carecem do
desfrute adequado de Cristo. Igualmente, se houver
problemas entre os presbíteros, ou na igreja numa
cidade, ou entre os santos, isso também é sinal da
carência do desfrute de Cristo.
Como Paulo percebera que os problemas entre os
coríntios eram devido à falta de desfrute de Cristo, ele
lidou com eles apontando para Cristo como sua
porção para seu desfrute. Nessa Epístola, parece que
ele lhes estava dizendo: “Vocês precisam perceber
que só Cristo é sua porção. Vocês não devem procurar
sua porção em sabedoria ou filosofia, Deus os chamou
à comunhão de Cristo como sua porção. Hoje, essa
porção é 0 Espírito, e vocês são um espírito com Ele.
Além do mais, Cristo, que se encarnou, foi crucificado
e ressuscitou, é agora apresentado a vocês sobre a
mesa como festa para sua nutrição e desfrute. Vocês
estão convidados a desfrutar esse que é servido a
vocês sobre a mesa. Se O desfrutarem como a mesa e
também como a boa terra, serão nutridos. Então, não
haverá problemas na igreja”.
A razão de termos problemas em certas questões
é que estamos carentes do desfrute de Cristo. Se
tivermos problemas na vida da igreja ou na família, é
porque nos falta o desfrute adequado de Cristo. O que
precisamos não é de um Cristo doutrinário em nossa
mentalidade, mas um Cristo em nosso espírito, que
podemos desfrutar e experimentar de forma prática.
Se virmos que o Cristo todo-inclusivo que habita em
nosso espírito como Espírito que dá vida é nossa
única porção para nosso desfrute, e exercitarmos
nosso espírito para invocá-Lo dia após dia, nossa vida
conjugal e da igreja serão cheias de Cristo. Como
conseqüência, não seremos mais perturbados por
qualquer coisa na vida conjugal ou da igreja. Só nos
importaremos com Cristo e não teremos gosto ou
apetite por coisa alguma além Dele. Vamos desejar
Cristo e tão-somente Cristo, e O festejaremos na mesa
do Senhor. Essa é a revelação encontrada no livro de 1
Coríntios.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM TREZE
EXPERIMENTAR CRISTO COMO SABEDORIA PARA
NÓS DA PARTE DE DEUS

Leitura Bíblica: 1Co 1:24, 30


Em 1:24, Paulo diz: “Mas para os que foram
chamados, tanto judeus como gregos, pregamos a
Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus”. Esse é
um versículo importante. Paulo aqui diz que para os
que foram chamados, os que foram escolhidos por
Deus na eternidade e vieram a crer em Cristo, Ele é o
poder e sabedoria de Deus. Como pessoas chamadas
por Deus para invocar o nome do Senhor, temos
Cristo como poder e sabedoria de Deus para nós.

ASPECTOS DE CRISTO COMO NOSSA


PORÇÃO
Em 1:30, Paulo prossegue dizendo: “Mas vós sois
Dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tomou, da parte
de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e
redenção”. Por que, depois de ressaltar que Cristo é
deles e nosso e que fomos chamados à Sua comunhão,
Paulo diz que Ele se tomou sabedoria para nós da
parte de Deus, tanto justiça, como santificação e
redenção? Vimos que ser chamado à comunhão de
Cristo significa ser chamado ao desfrute conjunto de
Cristo como nossa única porção. Na segunda parte do
capítulo 1, Paulo nos mostra diversos aspectos do
desfrute dessa porção maravilhosa. Podemos usar um
frango preparado como ilustração. Quando alguém
lhe serve frango, pode perguntar-lhe que parte do
frango você prefere: a asa, o peito ou a coxa. Nos
versículos 24 e 30, temos vários aspectos de Cristo: as
“asas”, o “peito” e as “coxas” para nosso desfrute. No
versículo 2, Paulo fala da nossa porção e no versículo
9 nos conta que fomos chamados ao desfrute dessa
porção. Agora, nos versículos 24 e 30, vemos os
aspectos dessa porção para nosso desfrute. Nesses
trechos percebemos que podemos desfrutar Cristo
como sabedoria e poder de Deus. Além do mais, como
sabedoria de Deus, Cristo inclui justiça, santificação e
redenção. Meu encargo nesta mensagem é
considerar, do ponto de vista de nossa experiência,
como Cristo é sabedoria para nós da parte de Deus,
inclusive justiça, santificação e redenção.

A MANEIRA DIVINA
Não é fácil compreender ou explicar a sabedoria,
justiça, santificação e redenção. Prefiro falar dessas
questões de acordo com a experiência espiritual. Nos
versículos 24 e 30, a sabedoria de Deus denota a
maneira divina. Se tivermos sabedoria, saberemos a
maneira adequada de fazer as coisas, mas, se não
formos sábios, nossa maneira de fazer as coisas será
tola. Para ter a melhor maneira, precisamos de
sabedoria. Sabedoria nesses versículos equivale à
maneira, ou caminho, em João 14:6, em que o Senhor
Jesus diz: “Eu sou o caminho”. Fora de Cristo como
caminho, ou maneira, não temos acesso ao Pai. Daí, a
maneira de Deus é Sua sabedoria. Como podemos
desfrutar Deus e participar Dele? Se quisermos
desfrutá-Lo e participar Dele, precisamos ter uma
maneira, que é a sabedoria de Deus.
Como ilustração da relação entre sabedoria e
maneira, podemos usar as aulas de direção. Alguém
que está aprendendo a dirigir pode achar difícil fazer
uma curva. Visto que não tem a sabedoria adequada,
ele não sabe fazê-la corretamente. Entretanto, um
motorista habilidoso e experiente tem a sabedoria
para manobrar o carro. Ele tem como controlá-lo,
fazê-lo ir aonde deseja. Isso é a sabedoria do
motorista.
Como sabedoria para nós da parte de Deus, a
maneira de Deus, isto é, Cristo é justiça, santificação e
redenção. Na verdade, são três passos dessa maneira.
Naturalmente, tal compreensão se relaciona com
nossa experiência.
Suponha que uma irmã tenha problema com o
marido. Ela exercita o espírito e invoca o nome do
Senhor Jesus. Como resultado, é salva do problema.
Para ser mais exato, ela recebe Cristo como sabedoria
para ela da parte de Deus. Antes de aprender a
exercitar o espírito e invocar o Senhor, ela discutia
com o marido. Isso é tolice. Entretanto, as mulheres
sempre discutem com o marido, tentando
convencê-lo e até subjugá-lo. Por exemplo, um
marido pode habitualmente chegar tarde à casa. Com
base em sua sabedoria natural, a mulher pode tentar
mudar o comportamento dele. Contudo, quanto mais
ela discute com ele, mais freqüentemente ele volta
tarde para casa. A argumentação dela na verdade
piora o problema. Em vez de discutir com o marido,
ela deve exercitar o espírito e invocar o nome do
Senhor. Então terá a sabedoria, ou maneira, de lidar
com o problema.

TORNAR-SE JUSTO
Justiça, santificação e redenção são os materiais
usados na construção da rodovia em nossa vida
cristã. Você alguma vez já percebeu que sabedoria é
nossa maneira, nosso caminho, e que justiça,
santificação e redenção são os materiais usados para
pavimentar o caminho? Isso é bem verdade com
relação à nossa experiência cristã. Quando
desfrutamos Cristo, o primeiro aspecto da virtude
divina, da bondade divina, o que vamos experimentar
é Deus como nossa justiça. Sempre que desfrutamos
Cristo e O experimentamos, primeiro temos Deus
como nossa justiça. Isso quer dizer que quando
exercitamos o espírito e invocamos o nome do Senhor
Jesus, tomamo-nos justos. Quanto mais o invocamos,
mais justos nos tomamos.
Vamos novamente mencionar uma ilustração da
vida conjugal. Com certeza é errado o marido chegar
tarde à casa. Todavia, a mulher pode estar errada e
ser injusta na maneira de lidar com ele sobre essa
questão. Ela pode ser totalmente injusta,
condenando-o e colocando toda a culpa nele. Ela
nunca se condena ou culpa a si mesma. Sua atitude
também é errada, e ela é injusta ao discutir com ele.
Embora ele esteja somente dez por cento errado, a
mulher o condena como se estivesse totalmente
errado. Por isso, a atitude e o comportamento dela
para com ele são noventa por cento injustos.
Sempre que marido e mulher discutem, os dois
lados são injustos. Ele vai declarar que está certo e
que ela está completamente errada. Ela vai insistir
que ele está totalmente errado e somente ela está
certa. Como conseqüência, tanto o marido como a
mulher se tomam injustos. Se ela começar a exercitar
o espírito e invocar o nome do Senhor Jesus, irá
perceber que tem sido injusta para com ele. Ela,
então, vai dizer para si mesma: “Sim, meu marido
está errado até certo ponto, mas eu pus culpa demais
nele. Além do mais, estou errada ao discutir com ele e
condená-lo. Agora vejo que ele está errado somente
numa pequena parte, mas eu estou muito mais errada
do que ele. Sou pelo menos duas vezes mais injusta
que ele”. Quando percebe sua situação, invocando o
nome do Senhor, a irmã espontaneamente se toma
justa, porque Cristo toma-se justiça para ela.
Sempre que há uma contenda ou discussão entre
as pessoas, nenhuma das partes envolvidas é justa.
Por exemplo, suponha que um presbítero e um irmão
na igreja tenham uma discussão. Em vez de exercitar
o espírito para invocar o nome do Senhor, o
presbítero se defende. Em tal caso, ele não está sendo
justo. Ademais, ele pode dizer aos outros presbíteros:
“Tal irmão traz morte às reuniões”. Mais tarde,
quando esse presbítero exercita o espírito e invoca o
nome do Senhor, percebe que foi injusto. Ele pode
também perceber que o irmão em questão raramente
espalha morte nas reuniões. O presbítero, entretanto,
disse aos outros que esse irmão sempre traz morte às
reuniões da igreja. Portanto, percebendo que não foi
justo, ele vai precisar confessar aos outros presbíteros
e dizer: “Irmãos, peço-lhes que me perdoem porque
falei sobre esse irmão. Confessei ao Senhor e Ele me
perdoou. Agora também confesso a vocês. De acordo
com o que me lembro, somente numa ocasião ele
trouxe morte à reunião. Eu, porém, disse que ele
sempre faz isso. Não estava certo, nem fui justo”.
Quando invocamos o nome do Senhor e
exercitamos o espírito, tomamo-nos justos. À medida
que nos tomamos justos dessa forma, tornamo-nos
justos também na forma de falar ao cônjuge. Suponha
que uma irmã seja muito justa com respeito ao
marido. Por fim, sua justiça vai convencê-lo e
subjugá-lo. Ele pode dizer para si mesmo:
“Anteriormente minha mulher não era assim. Sempre
que eu estava errado, ela me condenava muito.
Admito que estava errado, mas ela estava mais errada
ainda na forma que me condenava”. Por condenar o
marido, ela o ofendeu fazendo-o reagir
negativamente. Mas agora ela está correta para com
ele porquanto exercita o espírito invocando o nome
do Senhor. Dessa forma, o Senhor se torna justiça
para ela.
Toda vez que nos tomamos justos invocando o
Senhor, ficamos calmos. A justiça nos acalma. O
motivo de marido e mulher discutirem e trocarem
palavras ásperas é que nenhum lado é justo. Mas, se
um lado se torna justo, essa justiça fará o outro lado
se acalmar. Suponha que seja a mulher que se volte
para o Senhor, invoque-O e se torne justa ao lidar
com o marido. Imediatamente ele vai perceber que
ela mudou e agora é justa e correta com relação a ele.
O que tenho descrito sobre justiça, aprendi por
meio da experiência, e não de livros. Pela minha
experiência sei que ser justo é ser sábio. Ter Cristo
como nossa justiça é tê-Lo como nossa sabedoria.
Dessa forma, Ele se toma sabedoria para nós da parte
de Deus.

SER SANTIFICADO
Já enfatizamos que quanto mais exercitamos o
espírito para invocar o nome do Senhor', mais justos
nos tornamos. Agora precisamos ver que não só nos
tomamos justos e santos, mas somos também
santificados. Isso significa que quanto mais
exercitamos o espírito para invocar o nome do Senhor
Jesus, mais somos separados do que é comum e
deixamos de ser comuns. Toda vez que uma irmã
briga com o marido, discutindo com ele e trocando
palavras ásperas, ela é comum. Ela não é diferente da
mulher descrente. Toda mulher mundana e descrente
briga com o marido, mas quando uma irmã invoca o
nome do Senhor e se toma justa, experimenta Cristo
como santificação e é santificada. O Cristo que ela
desfruta a toma santa, santificada, separada. Como
resultado, o marido percebe a diferença. Mesmo que
não creia no Senhor, ele vai saber que a mulher não é
mais comum.
Através dos anos, tenho conhecido muitas irmãs
que se tomaram santificadas de fato. Em muitos
casos, a santificação dela convenceu o marido e o
influenciou a crer no Senhor. Como conseqüência, ele
se tomou um bom irmão no Senhor.
Tanto justiça como santificação são aspectos de
Cristo como sabedoria para nós da parte de Deus.
Temos enfatizado que sabedoria é a maneira, ou
caminho. Como recebemos a sabedoria de que
precisamos? Ela advém do desfrute de Cristo. Dia
após dia e hora após hora, não devemos viver na
alma, no ego, mas no espírito, exercitando-o ao
invocar o nome do Senhor Jesus. Cristo, então, se
tomará nosso desfrute, nutrição, apoio e suprimento
de forma muito prática. O resultado é que nos
tomamos justos. Em vez de condenar os outros e
culpá-los, sabemos somente culpar e condenar a nós
mesmos. Vemos que estamos errados para com os
outros de muitas maneiras. Daí, tomamo-nos justos e
corretos. Além disso, tomamo-nos maridos diferentes
ou mulheres diferentes dos demais. Já não somos
comuns. Pelo contrário, somos separados,
santificados e até mesmo especiais. Isso é
santificação.

CONDUZIDOS DE VOLTA A DEUS


Se formos aqueles que exercitam o espírito,
invocam o nome do Senhor e desfrutam Cristo como
única porção, não só nos tomaremos justos e
santificados, mas também experimentaremos Cristo
como nossa redenção. Isso quer dizer que na
experiência seremos levados de volta a Deus. Sempre
que a mulher briga ou discute com o marido, ela está
bem longe de Deus. Quanto mais argumenta com ele,
mais é levada para longe do Senhor. Mas quando
desfruta Cristo e, assim, se toma justa e santificada,
ela é conduzida de volta a Deus.
A redenção também inclui o aniquilamento. O
Cristo que habita em nós, que nos supre e se toma
nossa alimentação, também nos aniquila. Quanto
mais invocamos o nome do Senhor, mais iremos
gradualmente perceber quanto ainda estamos na
velha criação. Vamos odiar-nos e confessar que
precisamos ser aniquilados. Esse aniquilamento é o
segundo aspecto de experimentar Cristo como
redenção para nós. Primeiro, ser redimido é ser
conduzido de volta a Deus; segundo, é ser aniquilado
pelo Senhor. Redenção inclui a percepção de que
precisamos ser aniquilados e de que o Senhor de fato
o está fazendo.
A redenção também inclui ser substituídos por
Cristo. Quando Cristo nos aniquila, Ele nos substitui
por Ele mesmo. Isso é transformação, e também é
transfiguração. Isso é mais do que santificação, que
nos separa e faz diferentes dos outros. Esse é o
verdadeiro processo de transformação no qual nosso
velho elemento, a antiga constituição, é aniquilado e
substituído por novo elemento, nova constituição: o
próprio Cristo em ressurreição. Quando somos
substituídos, somos transformados e reconstituídos
de Cristo. Não é essa a visão de Deus? Quando
experimentamos Cristo como justiça, santificação e
redenção, de fato O temos como sabedoria para nós
da parte de Deus.
Repetindo:1:2 diz que Cristo, nossa porção, é
tanto deles como nosso. O versículo 9 diz que fomos
chamados ao desfrute, à comunhão de Cristo como a
única porção. Nos últimos versículos do capítulo um
vemos que quando O desfrutamos como essa porção,
tomamo-nos justos, santificados e redimidos. Ele,
então, se torna nossa sabedoria, nossa maneira, ou
caminho. Como conseqüência, tomamo-nos o povo
mais sábio da terra. Se você é casado, irá tomar-se um
marido muito sábio, com a sabedoria de Deus. Essa
sabedoria é o Cristo que você desfruta diariamente de
forma prática. Com Cristo como nossa sabedoria,
vamos andar no caminho da justiça, santificação e
redenção. Vamos tomar-nos justos, separados e
redimidos. Esse é o resultado de desfrutar Cristo
como nossa única porção. significado. No Antigo
Testamento não havia tal coisa chamada comunhão.
No máximo, havia a unidade dos irmãos mencionada
no Salmo 133. O versículo 1 desse Salmo declara: “Oh!
Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos!”
Essa unidade, entretanto, é exterior, ao passo que
comunhão é interior. É possível ter certa unidade sem
vida. Por exemplo, os membros de um sindicato têm
certa unidade específica, mas totalmente destituída
de vida. Comunhão requer vida. Sem vida, não
conseguimos ter comunhão. Comunhão é uma
questão interior que podemos descrever como
“intercomunicação de vida”.
A palavra comunhão é usada pela primeira vez
em Atos 2:42, onde nos é dito que os que foram salvos
e acrescentados à igreja no dia de Pentecostes
permaneciam firmes no ensinamento e comunhão
dos apóstolos. Os apóstolos lhes haviam pregado o
evangelho, e essa pregação os introduziu em algo que
a Bíblia chama de comunhão.
Duvido que haja em qualquer língua um
equivalente da palavra grega para comunhão,
koinonía. Esse termo implica unidade e também um
fluir mútuo entre os crentes. Quando desfrutamos a
comunhão uns com os outros, há um fluir entre nós.
Embora a corrente elétrica não seja viva, ela pode ser
usada para ilustrar o que queremos dizer com um
fluir em comunhão. O fluir da eletricidade produz
unidade. O fluir, ou corrente, que temos em nossa
comunhão espiritual envolve tanto unidade como
vida. Nossa comunhão é um fluir em unidade, é uma
intercomunicação entre nós como crentes em Cristo.
No Novo Testamento, comunhão descreve tanto
o fluir entre nós e o Senhor como entre nós mesmos.
Primeira João 1:3 diz: “O que temos visto e ouvido
anunciamos também a vós outros, para que vós
igualmente mantenhais comunhão conosco. Ora, a
nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho, Jesus
Cristo”. Em 1 João, temos vida (1:1-2) e depois
comunhão. Há um fluir, uma corrente, vertical entre
nós e o Pai e o Filho, e horizontal entre todos os
crentes. Louvado seja o Senhor pois na terra hoje há
algo chamado comunhão, entre os filhos de Deus e
dos filhos de Deus com o Deus Triúno!
Desde o dia de Pentecostes, uma corrente tem
fluído horizontalmente entre os crentes. Esse fluir
transcende espaço e tempo. No tocante ao tempo, ela
tem fluído de geração em geração. No tocante ao
espaço, ela é de âmbito mundial. Ela flui entre os
crentes no mundo inteiro. Visto que estamos nesse
fluir, não podemos ser separados pelo espaço. Não
importa onde estejamos, estamos todos no fluir, isto
é, na única comunhão.
Segundo a palavra de Paulo em 1:9, fomos todos
chamados por Deus a essa comunhão. Talvez a
melhor ilustração da comunhão seja a circulação do
sangue no corpo humano. Exatamente agora o sangue
está circulando por todo o seu corpo. Em muito pouco
tempo, o sangue faz o ciclo completo. A vida depende
dessa circulação. Assim como há a circulação do
sangue no corpo humano, também há uma circulação
especial, chamada comunhão, no Corpo de Cristo. É
muito triste que entre tantos cristãos hoje, essa
circulação seja negligenciada ou totalmente
inexistente. Assim, é crucial perceber que na
restauração do Senhor estamos sendo conduzidos de
volta ao fluir, à comunhão.
Em 1:9 vemos que, mediante o Deus fiel, fomos
chamados à comunhão do Filho de Deus, Jesus
Cristo. Isso indica claramente que não fomos
chamados à comunhão de qualquer denominação,
prática ou doutrina teológica. A única comunhão à
qual Deus nos chamou é a comunhão do Seu Filho.
Isso quer dizer que somente Ele tem de ser nossa
comunhão.
A palavra comunhão em 1:9 significa
participação. Isso pode ser provado considerando
esse versículo em seu contexto. O versículo 10, que dá
continuação ao 9, diz: “Rogo-vos, irmãos, pelo nome
de nosso Senhor Jesus Cristo, que faleis todos a
mesma coisa, e que não haja entre vós divisões; antes,
sejais inteiramente unidos, na mesma disposição
mental e no mesmo parecer”. O versículo 10 contrasta
com o 9. No 9, Paulo diz que Deus nos chamou à
comunhão de Seu Filho. Então começa o versículo 10
com as palavras: “Rogo-vos, irmãos, pelo nome de
nosso Senhor Jesus Cristo”. Pelo nome do Senhor
Jesus, Paulo roga que não haja divisões entre os
santos. Divisões estão em oposição à comunhão. Elas
são contrárias à comunhão para a qual Deus nos
chamou. No versículo 11, ele continua: “Pois a vosso
respeito, meus irmãos, fui informado pelos da casa de
Cloe, de que há contendas entre vós”. As contendas
mencionadas nesse versículo são também contrárias
à comunhão.
No versículo 12, Paulo prossegue: “Refiro-me ao
fato de cada um de vós dizer: Eu sou de Paulo, e eu de
Apolo, e eu de Cefas, e eu de Cristo”. Uma vez que os
coríntios diziam tais coisas, eles estavam fora da
comunhão. Dizer “eu sou de Paulo” é estar fora da
comunhão do Filho de Deus. Mesmo os que diziam
“eu sou de Cristo” não estavam na comunhão.
Os coríntios estavam divididos pelas suas
preferências e escolhas. Paulo, entretanto, queria que
eles percebessem que haviam sido chamados a uma
só comunhão. Isso quer dizer que tinham sido
chamados a uma só participação, apreço, gozo,
preferência, escolha. Os que diziam “eu sou de Paulo”
valorizavam Paulo e o desfrutavam. O mesmo ocorria
para com os que diziam ser de Apolo ou Cefas. Mas a
comunhão em 1:9 é nossa participação em Cristo; é
nosso desfrute e apreço por Ele e preferência por Ele.
Nesses versículos, Paulo parece estar dizendo aos
crentes em Corinto: “Não digam que vocês são dessa
ou daquela pessoa. Todos precisam perceber que
foram chamados a um só desfrute, apreço,
preferência e escolha. Vocês foram chamados a uma
só comunhão, que é o Filho de Deus como nossa
porção. Todos estamos na comunhão de Cristo”.

PODER DE DEUS E SABEDORIA DE DEUS


Em 1:23 e 24, Paulo diz: “Mas nós pregamos a
Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura
para os gentios; mas para os que foram chamados,
tanto judeus como gregos, pregamos a Cristo, poder
de Deus e sabedoria de Deus”. Deus nos chamou à
comunhão de Cristo, o Único. Ele é o poder e a
sabedoria de Deus para os que fomos chamados.

EM CRISTO
Primeira Coríntios 1:30 diz: “Mas vós sois Dele,
em Cristo Jesus, o qual se nos tornou, da parte de
Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção”.
Deus nos colocou em Cristo e agora estamos Nele.
Anteriormente, estávamos em Adão, mas fomos
transferidos de Adão para Cristo. Isso não foi uma
transferência exterior, mas interior e em vida. Em
vida fomos transferidos de um reino para outro, de
Adão para Cristo. Agora todos podemos declarar:
“Aleluia, estou em Cristo! Quão feliz estou por estar
em Cristo!”
Estar em Cristo é algo tremendo. Longe de ser
mera doutrina, é um fato maravilhoso. Estamos em
Cristo e Ele é o poder e a sabedoria de Deus. É a
corporificação do Deus Triúno. Quão maravilhoso é
que estejamos em tal Pessoa!
JUSTIÇA, SANTIFICAÇÃO E REDENÇÃO
Em 1:30, Paulo nos conta que Cristo se tomou
sabedoria para nós da parte de Deus. Essa sabedoria
compreende justiça, santificação e redenção. Justiça
relaciona-se com substância, ao passo que
santificação envolve um processo. Santificação
implica a ação de ser santificado, Redenção também
não é mera coisa, mas envolve um processo porque
envolve a ação de ser redimido.
É significativo que no versículo 30 Paulo fale de
justiça, mas não de justificação; fale de santificação,
mas não de santidade. Por que ele fala de justiça, e
não de santidade? de santificação e redenção, e não
de justificação? Já enfatizamos que justiça é Cristo
para o nosso passado, santificação é Cristo para o
presente, e redenção é Cristo para o futuro. Visto que
nossa vida passada era pecaminosa, precisamos que
Cristo seja nossa justiça para o passado. Uma vez que
nossa vida presente não é santa, ou santificada,
precisamos que Cristo seja nossa santificação atual
para que nos tomemos santos e separados para Deus.
No futuro; nosso corpo será redimido. Assim, a
redenção é para o futuro. Essa interpretação sobre
justiça, santificação e redenção não é errônea;
todavia, não é suficientemente prática. Precisamos
compreender esses três itens de modo mais profundo
e mais experimental.
Sempre que de fato desfrutamos Cristo na vida
diária e O experimentamos, Ele se toma justiça para
nós. Isso é diferente de dizer que Ele nos justifica, ou
que se toma nossa justificação. Paulo certamente está
correto ao usar a palavra justiça no versículo 30 em
vez de justificação.
Novamente gostaria de usar uma ilustração da
vida conjugal para mostrar como Cristo pode se
tomar justiça para nós. Toda vez que marido e mulher
discutem e trocam palavras ásperas, os dois lados se
consideram totalmente certos. Na verdade, não é
exato dizer que o marido ou a mulher estão
totalmente certos. Suponha que o marido realmente
desfrute Cristo no viver diário. Cristo então se tomará
justiça para ele. Quanto mais ele desfruta o Senhor,
mais Cristo se toma justiça para ele. Como resultado,
ele vai perceber que, no geral, está errado em relação
à mulher. De modo semelhante, se a mulher desfruta
Cristo, Ele se toma justiça para ela, e ela terá a mesma
percepção a respeito de si mesma. Ela vai sentir que
está errada em discutir com o marido e que ele está
muito mais certo do que ela. Com isso vemos que
quanto mais desfrutamos Cristo, mais nos tomamos
justos, certos, retos e corretos. Além disso, quanto
mais o marido e a mulher desfrutam Cristo, mais
condenarão a si mesmos, e não um ao outro. O
marido perceberá que está errado e condenará a si
mesmo, e a, mulher fará a mesma coisa. Isso os
impedirá de discutir e trocar palavras ásperas. Dessa
forma, Cristo se toma justiça para ambos dia após dia.
Por natureza, nenhum ser humano é realmente
justo. Nem mesmo os maridos e mulheres são justos
uns com os outros. Pelo contrário, são quase sempre
injustos. Irmãos, vocês honestamente crêem que são
justos com a mulher? Irmãs, vocês são justas com o
marido? Nos anos de sua vida conjugal, você tem sido
sempre justo com sua mulher? Não creio que alguém
casado possa honestamente testificar que tenha sido
sempre justo. O motivo de não sermos justos é que
não temos o desfrute adequado de Cristo. Mas se O
desfrutarmos continuamente na vida diária, nós nos
tomaremos as pessoas mais justas.
Justiça é na verdade o próprio Cristo. Ele,
portanto, não deve ser meramente justiça para o
nosso passado para que sejamos justificados por
Deus. Também deve ser nossa justiça atual no viver
diário. Percebi isso, não pelos livros, mas pela
experiência cristã. Além do mais, essa percepção não
veio com facilidade, mas foi o resultado de enfrentar
tantos problemas e dificuldades.
Se desfrutarmos Cristo no viver diário e se Ele se
tomar justiça para nós de maneira prática, nós nos
tomaremos pessoas especiais, santificadas. Em vez de
ser comuns, seremos separados para Deus.
É muito comum que marido e mulher discutam.
Todo casal faz isso. Se nossa vida conjugal for
comum, nela não somos santificados, mas se um
irmão for libertado da tendência de discutir com a
mulher porque Cristo se tomou justiça para ele, ele
será um marido especial, peculiar, que é santificado,
separado para Deus. Como nossa justiça diária, Cristo
nos faz santificados e separados. Não somos mais
comuns; pelo contrário, somos separados dos demais.
Por isso, no viver diário, Cristo deve ser não só nossa
justiça, mas também santificação.
Quando somos santificados e separados para
Deus, somos também redimidos. Isso quer dizer que
somos conduzidos de volta a Deus. Sempre que
marido e esposa brigam, eles são afastados do
Senhor. Quando porém Cristo se toma justiça e
santificação para eles, espontaneamente são
conduzidos de volta a Deus. Isso é redenção. Como já
ressaltamos, a redenção inclui aniquilamento,
substituição e ser conduzido de volta a Deus. Assim, a
redenção é na verdade transformação.
Se desfrutarmos Cristo diariamente, Ele se
tomará nossa justiça. Depois, como tal, Ele nos fará
distintos dos demais. Seremos santificados e
separados para Deus por Cristo como nossa
santificação. Automaticamente essa santificação nos
conduzirá de volta a Deus, de quem nos afastamos.
Essa é a experiência de Cristo como nossa redenção.
Além disso, essa redenção nos aniquila e nos faz ser
substituídos com o que Cristo é. Isso é transfiguração.
A redenção futura do corpo será a transfiguração do
corpo, mas hoje podemos experimentar Cristo como
Aquele que transfigura nosso ser interior. Desse
modo, Ele será não só nossa transfiguração no futuro
mas é também nossa transfiguração presente, a
redenção, em nosso ser.
Paulo queria que os coríntios percebessem que
eram tolos por terem divisões e preferências. Era
tolice dizer que eram de uma pessoa em particular.
Deus os chamara à comunhão de Seu Filho, à
comunhão Daquele que é sabedoria e poder de Deus.
Esse é o Cristo que, em nossa experiência, se toma
justiça para nós, que nos santifica e que nos leva de
volta para Deus aniquilando-nos e substituindo-nos
Consigo mesmo.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM QUINZE
O CRISTO CRUCIFICADO, O CENTRO DO MINISTÉRIO
DO APÓSTOLO

Leitura Bíblica: 1Co 2:1-5; Cl 2:2, 9; Ef 1:9-10


Nesta mensagem, chegamos a 2:1-5. De acordo
com esses versículos, o Cristo crucificado era o centro
do ministério de Paulo. Além disso, nesses versículos
vemos as características do seu ministério.

A MANEIRA DE PAULO PREGAR


No versículo 1, Paulo diz: “Eu, irmãos, quando fui
ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus,
não o fiz com ostentação de linguagem ou de
sabedoria”. Literalmente, a palavra grega traduzida
por ostentação significa superioridade ou alto nível.
Paulo não foi a Corinto para mostrar ostentação de
linguagem ou de sabedoria filosófica no testemunho
de Deus.
Os gregos se deleitavam com expressões
excelentes de pensamentos filosóficos. Paulo,
entretanto, não fora a Corinto com excelente discurso
ou sabedoria. Isso indica que ele não pregava o
evangelho aos gregos segundo a maneira deles de
sabedoria. Pelo contrário, ele evitava tal prática.
A maneira de Paulo pregar o evangelho era
diferente do modo comum entre ministros e pastores
de hoje. Em institutos e seminários bíblicos, as
pessoas aprendem a pregar usando a psicologia e
filosofia das pessoas a quem se dirige a mensagem.
Por exemplo, os que vão pregar o evangelho na
Alemanha são encorajados a aprender a psicologia e
filosofia alemãs e usá-las na pregação. Entretanto,
quando Paulo foi à Grécia, ele não pregou dessa
forma. Ele estava preocupado com que a cruz de
Cristo não fosse anulada mediante a sabedoria de
linguagem.
Na China, ouvi alguns missionários pregar
usando filosofia ética chinesa. Embora usassem o
nome de Cristo e mencionassem a Bíblia, o seu falar
não impressionava os outros com Cristo ou com a
Palavra de Deus. Em vez disso, aos chineses cultos
eles davam a impressão de que o evangelho na
verdade confirmava a filosofia deles.

O TESTEMUNHO DE DEUS
Ao falar aos outros acerca de Cristo e o
evangelho, precisamos estar certos de que a maneira
que usamos não faz com que os ouvintes percam o
ponto crucial. É melhor que o nosso falar não seja
considerado eloqüente do que fazer os outros
perderem os pontos principais de Cristo e da cruz.
Não é nosso alvo impressionar as pessoas com o
nosso conhecimento ou linguagem. Pelo contrário, o
nosso encargo é impressioná-los com Cristo.
Precisamos ministrar-lhes Cristo e não fazer uma
demonstração do nosso falar ou conhecimento.
Um segundo ponto importante no versículo 1 diz
respeito ao testemunho de Deus. Qual é o testemunho
de Deus a que Paulo se refere no versículo 1'? Alguns
dos melhores manuscritos antigos contêm o vocábulo
mistério em vez de testemunho. O que o apóstolo
anunciou como o testemunho de Deus era o mistério
de Deus, que é Cristo como Sua corporificação e a
igreja como a expressão de Cristo (Rm 16:25-26; Cl
1:26-27; 2:2; 4:3; Ef 3:4-6, 9). Na verdade, o
testemunho e o mistério de Deus são um só. O
mistério de Deus é o Seu testemunho. Esse
testemunho, esse mistério, inclui Cristo como
corporificação de Deus e a igreja como expressão de
Cristo.
Hoje, muitos pregam sobre Cristo e testificam
Dele, mas a maioria dos que o fazem não se importam
com a igreja. Entretanto, o pleno testemunho de Deus
inclui tanto Cristo como a igreja. Recentemente, no
Estudo-Vida de Êxodo, vimos que a arca do
testemunho, que prefigura Cristo, tinha medidas de
meia unidade. Essas dimensões indicam que uma
segunda metade é necessária. Se pregarmos a Cristo
sem pregar a igreja, damos somente metade da
mensagem, metade do testemunho de Deus. A
maioria dos cristãos hoje têm, no máximo, apenas
metade do testemunho. Na verdade, muitos nem
mesmo têm a metade completa, porque não têm um
Cristo completo. No Novo Testamento, o pleno
testemunho de Deus é Cristo e a igreja. Cristo é a
Cabeça e a igreja é o Corpo. Cristo é o mistério de
Deus e a igreja é o mistério de Cristo.
Quando Paulo chegou a Corinto, ele anunciou as
duas metades do testemunho de Deus, isto é, pregou
Cristo e a igreja. Isso pode ser provado pelo conteúdo
de 1 Coríntios. Nessa Epístola, vemos tanto a Cabeça
como o Corpo. Na verdade, a maior parte desse livro
está relacionada com a igreja, e não diretamente com
Cristo. Nos primeiros dois capítulos, Cristo é
revelado, mas todos os capítulos restantes enfocam a
igreja. A maioria dos problemas entre os crentes em
Corinto envolvia a igreja. Portanto, Paulo lhes
apresenta o testemunho completo de Deus: Cristo, a
Cabeça, e a igreja, o Corpo. Além do mais, ele anuncia
esse testemunho em palavras simples, e não em
ostentação de linguagem com especulações
filosóficas,

DECIDIDO A CONHECER SOMENTE CRISTO


No versículo 2, Paulo continua: “Porque decidi
nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e esse
crucificado”. O Cristo crucificado era o único tema, o
centro, o conteúdo e a substância do ministério do
apóstolo. Para isso, ele decidiu nada saber senão o
Cristo todo-inclusivo, quando estava para ministrar a
palavra do testemunho de Deus aos gregos que
exaltavam o discurso eloqüente e enalteciam a
sabedoria. Que determinação! Esse deve ser um
padrão para todos nós.
A expressão “este crucificado” indica a
humilhação e o vitupério de Cristo. A Sua
ressurreição em glória (Lc 24:26) e ascensão em
exaltação (At 2:33, 36) não são mencionadas aqui
porque o propósito de Paulo é derrubar o orgulho dos
gregos em sua sabedoria elevada.
Conforme o versículo 2, Paulo decidiu nada saber
entre os coríntios exceto Cristo, e esse crucificado.
Alguns podem apelar para esse versículo como base
para argumentar que Paulo não pregou sobre a igreja,
mas somente testificou sobre Cristo. Sabemos pelo
contexto todo de 1 Coríntios que, a partir do capítulo
três, em que Paulo diz que os crentes são lavoura e
edifício de Deus, ele tinha muito para dizer sobre a
igreja. Nessa Epístola, ele, na verdade, fala mais sobre
a igreja do que sobre Cristo. O que ele quis dizer no
versículo 2 é que decidiu não saber de filosofia,
cultura, doutrina, religião ou qualquer tipo de prática.
Ele se importava somente com Cristo. Quando,
porém, falou de Cristo, Paulo incluiu a igreja porque
Cristo é a Cabeça da igreja, que é o Corpo. Em 12:12,
ele até indica que a igreja, o Corpo, é parte de Cristo.
Por isso, não é correto dizer que Paulo excluiu a igreja
quando declarou que decidira nada saber exceto
Cristo.
No versículo 2, Paulo parece dizer: “Queridos
irmãos em Corinto, vocês ainda são muitos filosóficos
e vivem segundo a sua própria sabedoria, mas
quando cheguei até vocês para ministrar-lhes o
mistério de Deus e anunciar o testemunho de Deus,
não confiei em sabedoria ou filosofia. Com certeza
não enfatizei religião ou cultura. Falei a vocês sobre
uma Pessoa viva, o Filho de Deus, Jesus Cristo. Decidi
nada saber entre vós exceto essa Pessoa maravilhosa.
Deliberadamente fiquei longe da filosofia, sabedoria e
eloqüência”.
Paulo também lembrou aos coríntios que o Cristo
que ele pregava era o que fora crucificado. Por um
lado, ele não usou linguagem eloqüente ou sabedoria;
por outro, proclamou não um Cristo honrado,
exaltado, glorificado, mas que fora desprezado,
rejeitado, derrotado e até mesmo crucificado. Paulo
aqui parece dizer: “Vocês creram em Cristo e O
receberam com os dons iniciais, mas depois disso,
cometeram o erro de não viver uma vida crucificada.
Pelo contrário, têm vivido uma vida de glorificar e
exaltar a si mesmos. Mas Aquele que eu lhes preguei e
que vocês receberam foi um Cristo rejeitado,
desprezado e crucificado. Vocês não devem mais viver
para exaltar a si mesmos. Antes, devem viver uma
vida crucificada, até mesmo o Cristo crucificado.
Vocês não devem gabar-se do seu conhecimento. Pelo
contrário, devem estar dispostos a dar a impressão
que nada sabem exceto o Cristo crucificado. Todos
vocês estão dizendo que são de Paulo, de Cefas, de
Apolo ou de um Cristo limitado. Isso está de acordo
com a maneira do homem, e não de acordo com o
Cristo crucificado. Vocês devem viver o Cristo
crucificado”.
Sempre haverá problema na igreja numa cidade
quando os santos buscarem conhecer outras coisas
além de Cristo. Conhecer doutrinas demais
freqüentemente gera debates e até mesmo causa
divisões. É sempre proveitoso nada saber senão a
Cristo, e esse crucificado; essa é a única maneira
segura.
Se todos os irmãos nas igrejas decidirem nada
saber exceto a Cristo Jesus, não haverá problemas na
vida da igreja. A igreja mais maravilhosa é a que se
compõe de santos que nada sabem além de Cristo.
Toda vez que lhes fazem uma pergunta, respondem
que só conhecem Cristo, invocando o nome do
Senhor, orando e desfrutando o Senhor Jesus. Eles
estão dispostos a parecer tolos, nada conhecendo
exceto a Cristo, e esse crucificado.
Se a melhor igreja é aquela onde os santos nada
sabem exceto a Cristo, a igreja com mais problemas é
aquela onde os santos sabem coisas demais afora
Cristo. Há quarenta anos, despendi bastante tempo
tentando ajudar igrejas assim. Meus esforços foram
vãos porque todos sabiam demais.
É muito importante para nós decidir não saber
certas coisas e aprender a dizer: “Não sei”. Aprenda a
decidir nada saber exceto a Jesus Cristo. Oh! todos
precisamos ter tal espírito, atitude e prática. Se
decidirmos nada saber exceto a Cristo, não haverá
problemas ou divisões entre nós.
Às vezes, quando visito uma igreja em outra
cidade, os santos lá têm perguntas sobre certas
doutrinas e práticas. Responder a tais perguntas seria
um grande erro e desperdiçaria muito tempo e
energia. Além disso, poderíamos perder a chance de
ministrar Cristo aos santos. Devemos ser os que
conhecem somente Cristo e a Palavra de Deus. Então
teremos mais oportunidades para ministrá-Lo aos
outros.
O problema em Corinto era que os crentes
tinham conhecimento demais. Além disso,
valorizavam o conhecimento, a ponto de adorá10 e
fazer disso um ídolo. Por isso, não é de surpreender
que a intenção de Paulo fosse reduzir o conhecimento
deles e indicar-lhes o Cristo crucificado.

FRAQUEZA, TEMOR E TREMOR


No versículo 3, Paulo prossegue: “E foi em
fraqueza, temor e grande tremor que eu estive entre
vós”. Fraqueza aqui se refere à fraqueza física do
apóstolo, devida talvez aos seus sofrimentos físicos
nas perseguições que sofreu pelo evangelho. Entre os
gregos, ele não tinha aparência de alguém forte
fisicamente. Eles buscavam ser fortes, não só
psicologicamente em suas filosofias, mas também
fisicamente nos jogos olímpicos e competições.
Paulo lembra aos coríntios que estivera entre eles
em temor e muito tremor. Temor é o sentimento
interior; tremor é a aparência exterior. O apóstolo
temia perder Cristo como foco em seu ministério para
os gregos sequiosos por sabedoria, e tremia pela
possibilidade de ser influenciado por essa aspiração
predominante. Por tal temor e tremor, ele se
posicionou fiel e firmemente no seu ministério
designado por Deus, de acordo com a visão celestial, e
evitava qualquer desvio. Os judeus religiosos eram
orgulhosos de sua religião tradicional, e os gregos
filosóficos eram altivos em sua sabedoria mundana.
Ao ministrar Cristo aos dois, o apóstolo estava em
temor e muito tremor. Que contraste entre ele e os
coríntios! / Paulo percebeu que era difícil pregar
Cristo a pessoas filosóficas. E fácil ser engodado pela
filosofia ou tentado a subjugar outrem. Quando
falamos aos outros sobre Cristo, é melhor esquecer
que tipo de pessoas eles são e simplesmente
proclamar o testemunho sobre Cristo. Como Paulo,
devemos estar em temor e tremor para não perder o
foco em Cristo quando falamos a pessoas filosóficas.

DEMONSTRAÇÃO DE ESPÍRITO E DE
PODER
O versículo 4 diz: “A minha palavra e a minha
pregação não consistiram em linguagem persuasiva
de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de
poder”. Palavras persuasivas de sabedoria resultam
da mente humana; demonstração do Espírito advém
do nosso espírito. O falar e a pregação do apóstolo
não provinham da mente com palavras de
especulação, mas do espírito com a liberação e
exibição do Espírito, ou seja, de poder.
No versículo 5, Paulo diz: “Para que a vossa fé
não se apoiasse em sabedoria humana; e, sim, no
poder de Deus”. A sabedoria dos homens é a filosofia
elementar; o poder de Deus é o Cristo todo-inclusivo
(1:24).
Nos versículos 4 e 5, Paulo repete o que dissera
anteriormente.
Suas palavras são diferentes, mas seu conceito é
o mesmo. Ele não exercitou palavras persuasivas de
sabedoria, mas a demonstração do Espírito e de
poder. O poder por ele demonstrado foi o Cristo
crucificado. A conseqüência dessa demonstração foi
que a fé dos crentes não resultaria da sabedoria de
Paulo sobrepujando a sabedoria deles, mas seria o
poder de Deus, o Cristo crucificado.
Em séculos passados, tanto os nestorianos 3
como os jesuítas tentaram converter os chineses
cultos ao cristianismo. Alguns chineses abraçaram a
religião cristã por causa dos esforços desses
missionários; entretanto, fizeram isso sem na
verdade receber Cristo. Foram influenciados
principalmente por certos aspectos de cultura e
aprendizado. Com isso vemos que é um erro descer ao
nível de alguém ao pregar Cristo e tentar usar sua
linguagem e filosofia. Ao pregar Cristo, precisamos
manter nosso nível e esse nível é o próprio Cristo.
Deixemos que aqueles que estão dispostos subam até
esse nível e aceitem Cristo. Então se tomarão crentes
autênticos em Cristo. Os esforços tanto dos
nestorianos como dos jesuítas terminaram em
fracasso simplesmente porque desceram ao nível da
ética e filosofia locais. Muitos cristãos hoje estão
cometendo um erro semelhante, um erro que
precisamos aprender a evitar.

UMA VISÃO DA ECONOMIA DE DEUS


Na restauração do Senhor, precisamos ter uma
visão clara da economia de Deus. Depois precisamos
3
Nestorianismo: ensinamento (comumente. considerado como heresia) difundido por Nestórius, no
século VI, de que Cristo, o Homem-Deus, teria duas “pessoas” distintas, uma humana e outra divina.
ser governados, controlados e dirigidos por essa
visão. Porque tive essa visão e sou dirigido por ela,
nunca mudei o meu tom através dos anos. Sei o que
vi, sei o que estou ensinando e sei o que estou
ministrando ao povo do Senhor. Se tivermos a visão
da economia de Deus, automaticamente teremos uma
única escolha, preferência, gosto e ministério. Nós
nos importaremos somente com o Cristo
todo-inclusivo e todo-abrangente, e com a autêntica e
adequada vida da igreja. Hoje, na restauração do
Senhor, precisamos ser fortes e inabaláveis na visão
da economia de Deus, na Sua vontade eterna. Visto
que Paulo tivera essa visão e era fiel a ela, ele podia
ser muito forte. Todos precisamos ser fortes e firmes
nesse caminho.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEMDEZFBSEIS
A SABEDORIA DE DEUS EM MISTÉRIO, CRISTO
COMO AS PROFUNDEZAS DE DEUS

Leitura Bíblica: 1Co 2:6-10


O título desta mensagem é “A Sabedoria de Deus
em Mistério, Cristo como as Profundezas de Deus”. A
vírgula no título indica que Cristo, como as
profundezas de Deus, é a sabedoria de Deus em
mistério. A sabedoria de Deus em mistério é, na
verdade, o Cristo todo-inclusivo como as profundezas
de Deus.
Os capítulos um e dois de 1 Coríntios são um
trecho muito profundo da Palavra. Poucos leitores os
entendem adequada e apropriadamente. A palavra de
Paulo em 2:6-10 é particularmente profunda. Não
devemos tomar esses versículos ou capítulos como já
entendidos. Ademais, é necessário conhecê-los para
entender o restante do livro. A porta para entender 1
Coríntios é encontrada nos capítulos um e dois.

UMA SABEDORIA MISTERIOSA


Em 2:6, Paulo diz: “Entretanto, expomos
sabedoria entre os experimentados; não, porém, a
sabedoria deste século, nem a dos poderosos desta
época, que se reduzem a nada”. Nos versículos
anteriores, Paulo diz que não viera com ostentação de
linguagem e que seu falar não fora com palavras
persuasivas de sabedoria, mas no versículo 6 ele diz
que fala sabedoria entre os experimentados, ou
maduros. Quando escreveu essa Epístola, ele
certamente percebeu que os crentes em Corinto
estavam longe de ser crescidos. Por que, então, diz
que fala sabedoria entre os maduros? O seu propósito
em fazer isso foi pôr os coríntios no devido lugar.
Aqui, ele parece dizer: “Vocês, coríntios, pensam que
alcançaram a algo grande, mas, na verdade, são ainda
bebês. Nós falamos sabedoria, mas entre os maduros.
Além disso, a sabedoria que falamos não é a deste
século, tampouco a dos poderosos desta era. As
pessoas comuns não a têm, e os poderosos também
não. De fato, os poderosos desta era estão sendo
anulados”.
No versículo 7, Paulo continua: “Mas falamos a
sabedoria de Deus em mistério, outrora oculta, a qual
Deus preordenou desde a eternidade para a nossa
glória”. A sabedoria de Deus é Cristo (1:24), que é o
mistério oculto (Cl 1:26-27), predestinado,
predesignado e preordenado antes dos séculos, na
eternidade, para nossa glória.
Glória nesse versículo se refere a Cristo, que é o
Senhor da glória (v. 8). Ele é nossa vida hoje (Cl 3:4) e
será nossa glória no futuro (Cl 1:27). Para essa glória
Deus nos chamou (1Pe 5:10), e nela Ele nos
introduzirá (Hb 2:10). Esse é o objetivo da salvação
de Deus.
De acordo com o versículo 7, a sabedoria de Deus
é um mistério; é uma sabedoria misteriosa. Assim, ela
não é como a sabedoria grega, que é pública e muito
superficial. Além do mais, é a sabedoria que foi oculta
e Deus predestinou antes das eras para nossa glória.
A sabedoria de Deus é o nosso destino e esse foi
determinado, decidido por Ele de antemão. Na
eternidade, Ele determinou nosso destino. Ele
predestinou a Sua sabedoria para ser nossa glória.
Isso significa que na eternidade Ele decidiu que Sua
sabedoria seria nosso destino e glória. Nosso destino
não é meramente o desfrute das bênçãos eternas nos
céus. Antes, é a sabedoria misteriosa de Deus. Ele a
predestinou para ser nossa glória.
No versículo 8, Paulo continua o raciocínio do
versículo 7: “Sabedoria essa que nenhum dos
poderosos deste século conheceu; porque, se a
tivessem conhecido, jamais teriam crucificado o
Senhor da glória”.
No versículo 9, Paulo prossegue: “Mas, como está
escrito: Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem
jamais penetrou em coração humano o que Deus tem
preparado para aqueles que o amam”. O âmbito do
que os olhos podem ver é muito limitado, o âmbito do
que os ouvidos podem ouvir é mais amplo e o âmbito
do que o coração consegue perceber não tem limites.
Deus em Sua sabedoria (isto é, em Cristo) ordenou e
preparou para nós muitas profundezas e coisas
ocultas, tais como justificação, santificação e
glorificação. Tudo isso, os olhos humanos jamais
viram, os ouvidos humanos jamais ouviram e o
coração humano jamais percebeu.
O versículo 10 diz: “Mas Deus no-lo revelou pelo
Espírito; porque o Espírito a todas as coisas
perscruta, até mesmo as profundezas de Deus”. Como
veremos, as profundezas de Deus aqui se referem a
Cristo.

O CENTRO DE DEUS E NOSSA PORÇÃO


Quanto mais consideramos 2:6-10, mais
percebemos que esses versículos são profundos e
difíceis de entender. Para entendê-los precisamos
considerar o contexto dos capítulos um e dois, que
nos dão uma visão clara de Cristo como o centro de
Deus e nossa porção — é isso que Paulo enfatiza
neles. Deus tem uma economia, que deseja levar a
cabo, a qual é Sua vontade, Seu propósito. O ponto
central da economia de Deus é Cristo. Como poder e
sabedoria de Deus na economia divina, Cristo é o
centro único de Deus. Ele nos chamou à comunhão, à
participação, à mutualidade desse centro. Como
resultado, Cristo, que é o centro único, se toma nossa
porção para nosso desfrute. A frase “deles e nosso”
em 1:2 indica isso.
A idéia central de 1 Coríntios 1 e 2 é expressa
pelas palavras centro e porção. De acordo com esses
capítulos, Paulo considera Cristo o centro de Deus e
nossa porção. Isso quer dizer que o centro de Deus
nos foi dado como porção para nosso desfrute.
Primeira Coríntios 1:30 diz: “'Mas vós sois dele,
em Cristo Jesus, o qual se nos tomou, da parte de
Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção”.
Aqui vemos que Cristo se tomou sabedoria para nós
da parte de Deus. Como tal, Ele é nossa justiça,
santificação e redenção. Esses termos são uma
definição adicional do que Cristo é para nós como
nossa porção. Não só Cristo é nossa justiça para o
passado, santificação para o presente e redenção para
o futuro, mas até em nossa vida diária Ele é justiça,
santificação e redenção para nós. Isso é o que Cristo é
como nossa porção para nosso desfrute.
Se tivermos essa compreensão da idéia central
dos capítulos um e dois, estaremos preparados para
discorrer sobre 2:6-10. Como centro de Deus e nossa
porção para nosso desfrute, Cristo é sabedoria de
Deus em mistério. A sabedoria em 2:7 é muito
profunda. É além da compreensão humana, pois é
uma sabedoria misteriosa, sabedoria em mistério. Em
Deus há algo que Paulo descreve como sabedoria em
mistério. É Cristo, o centro da economia de Deus e a
porção para nosso desfrute. Poucos ministros hoje
pregam a Cristo como sabedoria de Deus em mistério.
A maioria dos cristãos hoje não O conhecem como
essa sabedoria misteriosa. Pela misericórdia do
Senhor, nós nos esforçamos para ministrar Cristo e
testificar Dele como tal visão em mistério. É útil até
mesmo ter a expressão “sabedoria em mistério” em
nosso vocabulário cristão. Louvado seja o Senhor por
vermos que esse Cristo é o centro de Deus e nossa
porção!
No versículo 7, Paulo diz que essa sabedoria
estava oculta e foi predestinada na eternidade para
nossa glória. Um destino é a porção final e máxima de
alguém. Como cristãos, temos um destino, que é a
porção final, máxima e consumada para nosso
desfrute. A sabedoria de Deus em mistério não só
estava oculta mas também foi predestinada por Deus
para se tomar nosso destino para nossa glória. Glória
é o nosso destino, nossa sorte. Na eternidade,
estaremos em glória.

VELADOS PELA FILOSOFIA


Os crentes em Corinto, sendo gregos,
consideravam-se filósofos e cheios de sabedoria, mas
para Deus tal sabedoria não era absolutamente
sabedoria; era tolice. A verdadeira sabedoria é aquela
que está oculta em Deus. A sabedoria da filosofia
humana não é a verdadeira sabedoria.
Como nasci e fui criado na China, estou
familiarizado com os clássicos de Confúcio.
Aparentemente, esses escritos estão cheios de
sabedoria. Na verdade, aos olhos de Deus, são tolice.
Cheguei a sentir pena dos chineses eruditos na
filosofia ética de Confúcio. Essa filosofia os velou e
impediu de ver Deus, Cristo, o Espírito e a salvação de
Deus. Uma vez velados pela filosofia, esses chineses
éticos não conseguem ver essas realidades
maravilhosas. Sem dúvida, o mesmo princípio se
aplica à filosofia grega. Ela era um véu espesso que
cobria os gregos. Mesmo em Corinto, os que tinham
crido no Senhor e O haviam recebido ainda estavam
velados pela sua filosofia e sabedoria.
A filosofia torna as pessoas tolas porque as faz
rejeitar Deus e negar Cristo. Que poderia ser mais
tolo que isso? São as pessoas filosóficas que negam
Deus e Cristo. Por isso, aos olhos de Deus, a sabedoria
filosófica delas nada é senão tolice. Quando estava na
China, eu desejava ardorosamente que os chineses
cultos pudessem converter-se de sua filosofia e ver
Deus e Cristo.

NOSSO DESTINO
De acordo com a compreensão de Paulo nos
capítulos um e dois, a verdadeira sabedoria é a
sabedoria misteriosa e oculta em Deus. Como já
enfatizamos, essa sabedoria é o próprio Cristo. Deus
fez com que essa sabedoria oculta e misteriosa fosse o
nosso destino. Isso quer dizer que Deus determinou
que o Cristo misterioso e oculto se tornasse nosso
destino. Você sabe que o seu destino é ser cristão? O
seu destino é o Cristo misterioso e oculto, que é a
sabedoria de Deus, o centro de Sua economia e nossa
porção. Você já ouviu que Cristo é o nosso destino?
Todos sabemos que Cristo é o nosso Redentor,
Salvador, Senhor, Amo e até mesmo nossa vida, mas
provavelmente você nunca percebeu que Cristo é o
seu destino. Não obstante, esse fato maravilhoso é
revelado em 2:7. Paulo aqui diz que há uma sabedoria
misteriosa, oculta em Deus, que é o próprio Cristo.
Além disso, Deus a predestinou para nossa glória.
Isso com certeza indica que Ele fez Cristo ser o nosso
destino. Louvado seja o Senhor porque Ele é não só o
nosso Salvador, Senhor e vida, mas também nosso
destino! Esse destino por fim nos conduzirá à glória.
Embora seja correto dizer que glória é Cristo,
precisamos lembrar-nos que glória é Deus expresso.
Dizer que glória é Cristo na verdade significa que
Cristo é Deus expresso. A expressão de Deus, Cristo, é
nosso destino. Que destino temos! Esse destino nos
introduzirá na glória, uma glória que é a própria
expressão de Deus. Se virmos isso, haveremos de
querer inclinar-nos diante do Senhor, adorá-Lo e
oferecer ações de graças e louvá-Lo.

AMARA DEUS
No versículo 9, Paulo diz: “Nem olhos viram,
nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em
coração humano o que Deus tem preparado para
aqueles que o amam”. Perceber as profundezas e
coisas ocultas que Deus ordenou e preparou para nós
e participar delas, requer não só que creiamos Nele,
mas também O amemos. Temer a Deus, adorá-Lo e
crer Nele, isto é, recebê-Lo, tudo isso ainda é
inadequado; amá-Lo é o requisito indispensável.
Amar a Deus significa colocar todo o nosso ser, isto é,
espírito, alma e corpo, com o coração, alma, mente e
força (Mc 12:30), totalmente Nele, ou seja, permitir
que todo o nosso ser seja ocupado por Ele e perdido
Nele, para que Ele se tome tudo para nós e sejamos
um com Ele na prática em nossa vida diária. Dessa
forma podemos ter a comunhão mais íntima e
próxima com Deus. É assim que somos capazes de
entrar em Seu coração e apreender todos os seus
segredos (Sl 73:25; 25:14). Assim, não só percebemos,
mas também experimentamos, desfrutamos e
participamos totalmente dessas profundezas e coisas
ocultas de Deus.

CONHECERASPROFUNDEZASDEDEUS
No versículo 6, Paulo diz que a sabedoria da qual
falamos não é a deste século, ou dos poderosos desta
era. Em si mesmos, os seres humanos não são
capazes de conhecê-la. Ela tem de ser revelada pelo
Espírito. Portanto, no versículo 10, Paulo diz: “Mas
Deus no-lo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a
todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas
de Deus”. Deus nos revela as profundezas e coisas
ocultas por meio do Espírito, porque elas não foram
vistas por olhos humanos, ouvidas por ouvidos
humanos, nem subiram ao coração humano. Isso
quer dizer que o homem não tem idéia sobre elas, não
cogita delas. São totalmente misteriosas, ocultas em
Deus e estão além da compreensão humana. Deus
porém, no-las revelou pelo Espírito, que sonda todas
as coisas, até mesmo as profundezas de Deus.
Ter alguma coisa revelada a nós é diferente de ser
ensinado sobre isso. Ensinar relaciona-se com a
mente; revelar, com o nosso espírito. Para perceber as
profundezas e coisas ocultas que Deus preparou para
nós, o espírito humano é mais necessário que a
mente. Quando todo o nosso ser se tornar um com
Deus, amando-O em íntima comunhão, Ele nos
mostrará, em nosso espírito por meio do Seu Espírito,
todos os segredos de Cristo como nossa porção. Isso é
revelar as coisas ocultas planejadas pela Sua
sabedoria acerca de Cristo, coisas que nunca subiram
ao coração humano.
Primeira Coríntios 2:10 diz que o Espírito sonda
todas as coisas.
O verbo grego traduzido por sondar é usado em
referência ao perscrutar ativo, e implica
conhecimento acurado obtido não por descoberta,
mas por exploração. O Espírito de Deus explora as
profundezas de Deus com relação a Cristo e no-las
mostra em nosso espírito para a nossa percepção e
participação.
As profundezas de Deus são Cristo em muitos
aspectos como nossa porção eterna, preordenado,
preparado e dado a nós livremente por Deus. Esses
aspectos nunca penetram no coração humano, mas
são revelados a nós em nosso espírito pelo Espírito de
Deus. Daí precisarmos ser espirituais a fim de
participar deles. Precisamos agir e viver em nosso
espírito para desfrutar Cristo como tudo para nós.

UM ESPÍRITO COM O SENHOR


Muitos dos que crêem em Deus não conhecem as
profundezas de Deus. Conhecem a Deus somente de
forma superficial. Isso se dá com judeus,
muçulmanos e a maioria dos cristãos. Quantos
cristãos hoje conhecem a Deus de acordo com Suas
profundezas? Muitos crentes nem mesmo têm uma
percepção adequada das questões que Deus considera
verdadeiramente profundas. Alguns pensam que ter
conhecimento bíblico sobre as sete cabeças, os dez
chifres e as setenta semanas é conhecer as
profundezas. Segundo eles, entender tais questões é
conhecer a Bíblia de maneira profunda. Certos
crentes até pensam que falar em línguas é algo
profundo. Na verdade, falar em línguas é muito
superficial. Nada tem a ver com as profundezas de
Deus mencionadas no versículo 10.
Se você desejar conhecer as profundezas de
Deus, precisa conhecer os livros de Romanos,
Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, Hebreus,
João e Apocalipse. Mas nem mesmo esses livros, que
revelam questões muito profundas, nos contam que
Cristo, o último Adão na carne, tomou-se o Espírito
que dá vida. Somente em 1 Coríntios temos tal
afirmação. Além disso, somente nesse livro Paulo diz:
“Mas aquele que se une ao Senhor é um espírito com
ele” (6:17). Que coisas são mais profundas que essas?
Que é mais profundo que o último Adão tomar-se o
Espírito que dá vida e sermos unidos ao Senhor como
um só espírito? Essas coisas são insondáveis, são
incomensuravelmente profundas.
Conhecer Deus somente como Criador é
conhecê-Lo muito superficialmente. Até mesmo os
alunos de medicina, que estudam fisiologia, podem
concluir que o corpo humano tem de ter tido um
Criador. Por meio do seu estudo, eles podem vir a
conhecer a Deus e reconhecê-Lo como Criador.
Outros podem saber que Deus é soberano e pode
providenciar tudo que precisamos. Mas nem mesmo
isso é o conhecimento das profundezas de Deus.
Se quisermos conhecer as profundezas de Deus,
precisamos saber que, por intermédio da encarnação,
Deus um dia se tornou um homem chamado Jesus.
Por meio da crucificação, o Senhor Jesus aniquilou a
velha criação e liberou a vida divina para ser
partilhada por todos os que crêem Nele. Agora, em
ressurreição, Ele é o Espírito que dá vida que habita
em nosso espírito e se tornou um espírito conosco.
Temos um espírito mesclado em nós, nosso espírito
humano regenerado mesclado com o Espírito divino.
Isso é muito profundo. Infelizmente, poucos cristãos
conhecem essas profundezas.
Se considerarmos o contexto de 1 Coríntios,
teremos a certeza de interpretar as profundezas de
Deus em 2:10 como se referindo ao Cristo
todo-inclusivo que, como Espírito que dá vida, habita
em nosso espírito. Depois de cumprir a redenção,
esse Cristo se tornou Espírito que dá vida. Como tal,
Ele está tão disponível para nós que podemos
unir-nos a Ele como um só espírito. Nada pode ser
mais profundo que isso. Como é triste que essas
profundezas sejam negligenciadas por tantos cristãos
hoje!
Conhecer as profundezas de Deus é conhecer
Cristo em muitos aspectos como nossa porção eterna.
Ele é o centro da economia de Deus, a porção dada a
nós por Deus como nosso desfrute e a sabedoria
misteriosa oculta em Deus. A sabedoria de Deus em
mistério é Cristo como as profundezas de Deus.
Encorajo todos a orar e ter comunhão acerca disso e
buscar uma compreensão mais profunda das
profundezas de Deus: o próprio Cristo como a
sabedoria oculta e misteriosa, o centro da economia
de Deus e a porção dada a nós por Deus para nosso
desfrute. Cristo, que é todo-inclusivo e abrangente, é
de fato as profundezas de Deus.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM DEZESSETE
COMUNICAR COISAS ESPIRITUAIS POR MEIO DE
PALAVRAS ESPIRITUAIS A HOMENS ESPIRITUAIS

Leitura Bíblica: 1Co 2:11-16, 7, 10

VIVER CRISTO PARA A EXPRESSÃO DE


DEUS
A intenção de Deus é tomar o homem Sua
expressão. Para realizar isso, Deus deseja entrar no
homem para ser sua vida a fim de que este O
expresse. Para isso, Deus tomou-se homem mediante
a encarnação. Posteriormente Cristo, Deus
encarnado, morreu na cruz. Por meio de Sua
crucificação, Ele aniquilou toda a velha criação.
Assim, a crucificação de Cristo envolveu não só a
morte do Senhor Jesus, mas o término de toda a velha
criação. Por meio dessa morte todo-inclusiva, a vida
divina, que é na verdade o próprio Deus, foi liberada e
infundida nos que foram predestinados, redimidos e
chamados por Deus. Crendo no Cristo crucificado e
ressurreto, eles receberam a vida divina e o Espírito
divino. A expectativa de Deus é que eles agora vivam
por essa vida e andem por esse Espírito. Isso é viver
Cristo para a expressão de Deus. Além disso, tal viver
não deve ser individualista; pelo contrário, deve ser
corporativo. Assim, Deus deseja que Seu povo seja
edificado como Sua habitação, o Corpo de Cristo.
Essa é a intenção de Deus.
Os crentes em Corinto, cuja maioria era grega,
receberam os dons iniciais, a vida divina e o Espírito
divino. Mas depois de os receber, eles não viveram
por eles. Eles não viveram pela vida divina ou
andaram pelo Espírito divino. Como resultado, não
viveram Cristo. Eles falharam em tomar Cristo como
sua vida, conteúdo e tudo. Em vez disso,
permaneciam na cultura grega e exultavam em sua
sabedoria e filosofia. Essa era a situação na época que
Paulo lhes escreveu essa Epístola.

VIVER A CULTURA EM VEZ DE CRISTO


Ao escrever aos coríntios, Paulo parecia estar
dizendo: “Vocês, crentes em Corinto, devem
abandonar sua cultura, sabedoria e filosofia gregas.
Em vez de ser gregos, vocês devem ser cristãos. Não
devem mais viver sua cultura grega, exultar em sua
filosofia e gabar-se em sua sabedoria. Vocês
receberam Cristo, e Deus os colocou em Cristo. Agora
que Deus fez de vocês cristãos, vocês devem tomar
Cristo como sua vida, conteúdo e tudo, e devem
vive-Lo. Além do mais, esse Cristo é a sabedoria de
Deus. A sabedoria grega é superficial e é tolice aos
olhos de Deus. A sabedoria de Deus, porém, a
verdadeira sabedoria, é profunda e misteriosa.
Ultrapassa em muito a capacidade de pessoas
filosóficas entendê-la, pois é a sabedoria oculta em
Deus e é até mesmo as profundezas de Deus. Essa
sabedoria, as profundezas de Deus, é o próprio Cristo
no qual vocês creram e receberam. Insto-os a que
exaltem esse Cristo, tomem-No como sua vida e tudo,
e O vivam”. Se entendermos esse conceito subjacente,
será muito mais fácil entender os dois primeiros
capítulos de 1 Coríntios. '
Tanto o catolicismo como o protestantismo
apartaram-se da revelação de Cristo nesses capítulos.
O catolicismo assimilou muitas coisas pagãs,
demoníacas, satânicas e diabólicas. A prática do
catolicismo é receber e absorver o paganismo. Isso
está documentado no livro As Duas Babilônias, e nos
escritos de G. H. Pember. O protestantismo seguiu a
prática de adaptar-se à cultura local. Se os elementos
de uma cultura não são pecaminosos ou idólatras, são
absorvidos pelo protestantismo. Por exemplo, na
China, muitos missionários protestantes adotaram a
ética chinesa, e na Índia seguiram certos aspectos da
cultura indiana. Como conseqüência, as
denominações na China e Índia se tornaram uma
mistura cultural. Na China, vi que os missionários
ficavam felizes quando os chineses adotavam a
cultura ocidental. Estavam dispostos também a
absorver a cultura local. Por isso, o cristianismo na
China se tornou uma mistura de cultura chinesa e
ocidental. Aparentemente, tal mistura não é tão
demoníaca ou satânica como o paganismo no
catolicismo. Em princípio, todavia, os dois são iguais
porque ambos pregam Cristo, mas não ajudam as
pessoas a viver Cristo, a tomá-Lo como sua vida,
viver, conteúdo e tudo para elas.
Que viver você tinha quando estava no
cristianismo organizado? Em vez de viver Cristo, você
não viveu de acordo com a sua cultura? Certamente
ninguém o ensinou a viver Cristo, a tomá-Lo como
sua vida e conteúdo. Alguém lhe disse que respirasse,
bebesse e comesse Cristo? Tudo isso é estranho para a
maioria dos cristãos de hoje.
Em princípio, a situação entre os crentes hoje é a
mesma que havia entre os crentes em Corinto. Os
coríntios receberam Cristo, mas não O viveram. Não
tinham o conceito de que Cristo seria sua vida, viver e
conteúdo. Em vez disso, seus pensamentos se
concentravam na cultura, sabedoria e filosofia gregas.
Além do mais, eles exultavam em sua sabedoria e se
gabavam de sua filosofia. Isso os fez pensar
diferentemente um do outro e ter várias preferências.
Alguns preferiam Paulo, outros Cefas e ainda outros
Apolo. Como resultado, ficaram divididos. Essa
divisão foi a raiz do mal e confusão entre eles.
A situação entre os cristãos hoje é a mesma da
igreja em Corinto. Portanto, todos os cristãos,
inclusive nós, precisamos dessa Epístola. Precisamos
ser ajudados por esse livro a abandonar tudo o que
não é Cristo. Não importa qual seja sua cultura ou
nacionalidade, você precisa abandoná-la. Todos
precisamos renunciar à nossa cultura, filosofia, ética
e tradições, e centrar-nos em Cristo como nossa única
porção.

TOMAR CRISTO COMO TUDO


A maioria dos crentes batizados em determinada
denominação não são moldados a Cristo ou à Bíblia,
mas a essa denominação. Eles falam e se comportam
de acordo com essa denominação em particular.
Agora que estamos na vida da igreja na restauração
do Senhor, não devemos ser moldados por nada além
de Cristo. Devemos ter somente Cristo, e não
tradições ou regulamentos. Por exemplo, há uma
diferença entre uma irmã que não usa maquiagem
porque se amolda à restauração e uma irmã que não
usa maquiagem porque vive Cristo, andando no
espírito e invocando-O. De modo semelhante, um
irmão pode parar de fumar porque está tentando
conformar-se às práticas da restauração, ou pode
fazer isso porque vive Cristo e não tem mais desejo de
fumar. Em vez de nos amoldar à restauração,
devemos simplesmente viver Cristo.
É muito comum entre os cristãos ter muitas
coisas no lugar de Cristo. Os crentes podem ter ética,
moralidade, cultura, filosofia, doutrina e tradição em
lugar de Cristo. Num sentido muito real, o
cristianismo de hoje está sem Cristo. Entre os
cristãos, quase tudo pode tomar-se um substituto
para Cristo.
O conceito subjacente de 1 Coríntios 1 e 2 é que
precisamos abandonar tudo, exceto Cristo. Quando
Paulo foi a Corinto e pregou Cristo, ele decidiu nada
saber entre eles exceto Jesus Cristo, e esse
crucificado. Isso indica claramente que ele renunciou
a tudo, exceto Cristo. Quando lemos 1 Coríntios,
precisamos ficar profundamente impressionados com
esse-conceito subjacente. Temos de ver que
precisamos abandonar tudo, exceto Cristo, e
realmente tomá-Lo como tudo para nós. Cristo na
verdade é todo-inclusivo; Ele é tudo, até mesmo as
profundezas de Deus.

CONHECER OS DOIS ESPÍRITOS


Em 2:11, Paulo diz: “Porque qual dos homens
sabe as coisas do homem, senão o seu próprio
espírito, que nele está? Assim, também as coisas de
Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus”.
O espírito do homem é a parte mais profunda do seu
ser. Tem capacidade de penetrar as áreas mais
íntimas das coisas do homem ao passo que a mente
do homem é capaz somente de conhecer as coisas
superficiais. Assim também, somente o Espírito de
Deus consegue conhecer as profundezas de Deus.
Os gregos eram famosos pela ginástica e pela
filosofia. A ginástica visava ao treinamento e
desenvolvimento do corpo, e a filosofia visava ao
desenvolvimento da mente. Hoje há também uma
forte ênfase em desenvolver o corpo e a mente. O
espírito, entretanto, é totalmente negligenciado.
Quando mencionamos o espírito, alguns não
entendem o que estamos falando. Para eles, o espírito
denota demônio ou fantasma. Até mesmo cristãos
não sabem a diferença entre o espírito humano e a
alma. Muitos cristãos crêem na dicotomia, o
ensinamento de que o homem é composto de duas
partes: corpo e alma, e somente a minoria segue a
Bíblia, crendo na tricotomia, a verdade de que o
homem tem três partes: espírito, alma e corpo. Os
crentes em Corinto sabiam exercitar o corpo e a
mente, mas ignoravam o espírito humano. Assim, no
versículo 11, Paulo os ensina sobre isso e diz que o
espírito do homem conhece as coisas do homem. Os
que não exercitam o espírito humano não conseguem
conhecer plenamente as coisas do homem. Assim
como somente o espírito do homem conhece as coisas
do homem, também somente o Espírito de Deus
conhece as coisas de Deus.
No versículo 12, Paulo continua: “Ora, nós não
temos recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito
que vem de Deus, para que conheçamos o que por
Deus nos foi dado gratuitamente”. Como aqueles que
nasceram de Deus pelo Seu Espírito, nós recebemos o
Espírito de Deus. Daí, somos bem capazes de
conhecer as profundezas de Deus, que Ele nos deu
gratuitamente para nosso desfrute.
Paulo queria que os crentes em Corinto
soubessem que, como seres humanos, eles tinham um
espírito para conhecer as coisas do homem, e que,
como crentes em Cristo, tinham recebido o Espírito
de Deus para conhecer as coisas dadas gratuitamente
por Deus. Os cristãos coríntios careciam do
conhecimento adequado desses dois espíritos. Eles
tinham mente aguçada e alma forte, mas não
percebiam que tinham o espírito humano. Além
disso, negligenciavam o Espírito de Deus que tinham
recebido. Assim, nos versículos 11 e 12, Paulo lhes
recorda esses espíritos. Ele ressalta que eles tinham
um espírito humano neles e haviam recebido o
Espírito de Deus para conhecer as coisas por Ele
dadas gratuitamente. Segundo o versículo 9, essas são
as coisas preparadas por Deus e ordenadas por Ele.
Todas estão relacionadas com Cristo. Para
conhecê-las, os coríntios tinham de prestar atenção
ao seu espírito humano e ao Espírito de Deus.

COISAS ESPIRITUAIS E PALAVRAS


ESPIRITUAIS
Referindo-se às coisas dadas a nós por Deus,
Paulo prossegue no versículo 13: “Disto também
falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria
humana, mas ensinadas pelo Espírito, conferindo 4
coisas espirituais com espirituais”. O verbo grego
traduzido por conferir quer dizer misturar ou colocar
junto, como quando se interpreta ou explica algo. É
comum na Septuaginta, em versículos como Gênesis
40:8; 41:12, 15. A idéia aqui é falar coisas espirituais
por meio de palavras espirituais. A ênfase não está na
pessoa para quem o discurso é dirigido, mas nos
meios pelos quais as coisas espirituais são proferidas.
O apóstolo fala de coisas espirituais, que são as
4
O verbo conferir também pode ser traduzido por interpretar ou explicar. (N.T.)
profundezas de Deus acerca de Cristo, por meio das
palavras espirituais ensinadas pelo Espírito.
Paulo diz que não falou coisas espirituais em
palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas em
palavras ensinadas pelo Espírito. Isso quer dizer que
ele não falava em palavras de sabedoria ou filosofia
gregas; antes, ele conferia, ou comunicava, coisas
espirituais com palavras espirituais. Nesse versículo,
ele usa o mesmo termo com dois sentidos. Primeiro,
as coisas espirituais se referem às próprias coisas
espirituais, as profundezas de Deus acerca de Cristo.
Segundo, a expressão se refere a palavras espirituais.
Coisas espirituais são expressas por palavras
espirituais. Essas palavras espirituais são coisas
espirituais usadas para expressar coisas espirituais.
Por exemplo, a palavra mesa denota um objeto
chamado mesa. Porquanto a palavra mesa é a
designação de uma mesa de verdade, não devemos
considerar o termo como uma coisa e a mesa em si
como outra. O falar que está de acordo com a
sabedoria grega não é espiritual, mas as palavras
ensinadas pelo Espírito de Deus são de fato coisas
espirituais. Desse modo, coisas espirituais são tanto
as coisas dadas a nós por Deus acerca de Cristo como
nossa porção, como também as palavras ensinadas
pelo Espírito de Deus. Como Paulo, precisamos falar
coisas espirituais por meio de palavras espirituais.
Os crentes em Corinto falavam sobre Cristo, não
em palavras espirituais, mas nas palavras da filosofia
e sabedoria gregas. Como resultado, eles
impressionavam os outros com filosofia, e não com
Cristo. Paulo, entretanto, não usou termos filosóficos
quando falou acerca de Cristo. Antes, falou coisas
espirituais por meio de palavras espirituais. Ele usou
palavras espirituais que equivalem às próprias coisas
espirituais. No versículo 13, ele parece dizer aos
coríntios: “Não posso usar palavras da sabedoria
grega para transmitir coisas espirituais, pois são
palavras ensinadas pela sabedoria do homem. Como
tais, não são espirituais e não servem para transmitir
coisas espirituais. Se eu usasse a sabedoria de
palavras admiradas por vocês, gregos, não seria capaz
de lhes falar coisas espirituais”.
Todos devemos aprender com Paulo a não tentar
falar com as expressões comuns das pessoas. Isso
quer dizer que não devemos abaixar o padrão da
pregação ao nível do padrão da expressão humana
comum. A expressão humana comum não é adequada
para transmitir coisas espirituais. Tão logo passamos
do padrão da linguagem ensinada pelo Espírito para
as palavras ensinadas pela sabedoria humana, não
mais somos capazes de transmitir coisas espirituais
aos outros. Por esse motivo, no meu falar e meu
escrever esforço-me para permanecer nas palavras
ensinadas pelo Espírito. '
Precisamos resistir à tentação de abaixar o
padrão espiritual. Em vez disso, precisamos buscar
trazer os outros a esse padrão. Uma vez que temos a
visão da economia de Deus, precisamos manter o
padrão dessa visão, até mesmo quando os outros nos
encorajam a descer ao seu nível com a queixa de que
não conseguem entender o que dizemos. Essa
exigência chegou até mim muitas vezes e de várias
direções. Entretanto, recuso-me a descer ao nível da
sabedoria humana. Pelo contrário, encorajo os
outros, pela misericórdia de Deus, a subir ao padrão
divino. Simplesmente não conseguimos transmitir
coisas espirituais por meio da filosofia grega, de ética
chinesa ou com expressões comuns à cultura
americana. Coisas espirituais podem ser transmitidas
apenas por meio de coisas espirituais, isto é, palavras
espirituais. Eis uma lição que é importante aprender.
Os que traduziram a Bíblia para o chinês
aprenderam a importância de usar palavras
espirituais para transmitir coisas espirituais. Por
exemplo, o Novo Testamento sempre usa a expressão
“em Cristo”. Contudo, na língua chinesa não há como
expressar o fato de uma pessoa estar em outra. Os
tradutores não mudaram a expressão “em Cristo”.
Eles não tentaram adaptar-se às limitações da língua
chinesa nessa questão. Antes, inventaram nova
expressão chinesa para transmitir a idéia de estar em
Cristo. Mais tarde, essa expressão se tomou popular
na língua chinesa falada. Isso ilustra que se
transmitirmos coisas espirituais por meio de palavras
espirituais, os outros por fim aprenderão e subirão ao
padrão de Deus.

HOMENSANÍMICOS
O versículo 14 diz: “Ora, o homem natural5 não
aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são
loucura; e não pode entende-las porque elas se
discernem espiritualmente”. O versículo 13 enfatiza
os meios espirituais, isto é, as palavras espirituais
pelas quais as coisas espirituais são faladas. Os
versículos 14 e 15 ressaltam o objeto espiritual, isto é,
um homem espiritual, não anímico, que é capaz de
discernir as coisas espirituais. Tanto os meios como o
objeto precisam ser espirituais. As coisas espirituais
precisam ser proferidas por meio de palavras
5
O vocábulo natural, nesse versículo, é literalmente animico, isto é, da alma, relativo à alma. (N.T.)
espirituais ao homem espiritual.
Um homem anímico é um homem natural,
alguém que vive na alma, e não no espírito. Tal
homem não recebe as coisas do Espírito de Deus;
antes, rejeita-as. Os judeus religiosos que queriam
sinais e os gregos filosóficos que buscavam sabedoria
(1:22) eram tais homens naturais, para os quais as
coisas do Espírito de Deus eram loucura (1:23).
As coisas do Espírito de Deus no versículo 14 se
referem às profundezas de Deus acerca de Cristo
como nossa porção. Um homem anímico não
consegue conhecê-las porque não tem constituída
nele a capacidade de percepção espiritual. Dessa
forma, ele não é capaz de conhecer as coisas
espirituais. As coisas espirituais são espiritualmente
discernidas, examinadas e investigadas por pessoas
espirituais com meios espirituais.
De acordo com o contexto de 1 Coríntios, um
homem anímico é alguém que vive conforme a
cultura grega. Em princípio, os que vivem segundo a
própria cultura são anímicos. Se um crente chinês
viver de acordo com a ética chinesa, ele é anímico.
Igualmente, se um irmão americano viver de acordo
com a moderna cultura americana, ele também é um
homem anímico. Daí um homem anímico ser alguém
que vive em sua cultura.

DISCERNIMENTO ESPIRITUAL
No versículo 14, Paulo enfatiza que as coisas do
Espírito de Deus são espiritualmente discernidas. Se
quisermos discerni-las, precisamos saber que temos
um espírito. Então precisamos perceber que o
Espírito de Deus habita em nosso espírito e ainda
exercitar o nosso espírito para discernir coisas
espirituais de forma espiritual.
No versículo 15, Paulo diz: “Mas o que é
espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é
discernido” (VRC). Ser espiritual é agir e viver em
nosso espírito pelo Espírito de Deus, que habita em
nosso espírito. Os que não exercitam o espírito, não
têm como discernir um homem espiritual. Assim
como uma vaca não aprecia boa música, também uma
pessoa anímica não consegue discernir alguém
espiritual. Hoje, muitos cristãos podem ser
comparados a vacas ouvindo música: não têm
capacidade de apreciar ou discernir o que ouvem.
Esses cristãos podem prontamente entender coisas
mundanas ou naturais, mas não são capazes de
discernir coisas ou pessoas espirituais.

A MENTE DE CRISTO
O versículo 16 é uma conclusão desse trecho de 1
Coríntios: “Pois, quem conheceu a mente do Senhor,
que o possa instruir? Nós, porém, temos a mente de
Cristo”. Porque somos organicamente um com Cristo,
temos todos as faculdades que Ele tem. A mente é a
faculdade de inteligência, o órgão de compreensão.
Temos tal órgão de Cristo, para que saibamos o que
Ele sabe. Temos não só a vida de Cristo mas também
a Sua mente. Cristo precisa saturar nossa mente a
partir de nosso espírito, tornando-a uma com a Dele.
Quando somos um com Cristo, Sua mente se torna
nossa mente. Isso não deve ser mera doutrina para
nós; tem de ser a nossa experiência e prática.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM DEZOITO
OS DOIS ESPÍRITOS CONHECEM CRISTO COMO AS
PROFUNDEZAS DE DEUS

Leitura Bíblica: 1Co 2:2, 7-16


Em 2:1, Paulo diz: “Eu, irmãos, quando fui ter
convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus,
não o fiz com ostentação de linguagem ou de
sabedoria”. Ele não chegou a Corinto com ostentação
de linguagem ou de sabedoria filosófica ao proclamar
o testemunho de Deus. Isso não quer dizer que ele
não tivesse excelência de linguagem ou de sabedoria,
e, sim, que deliberadamente renunciou a tais coisas.
No versículo 2, ele prossegue: “Porque decidi nada
saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este
crucificado”. Ele deliberadamente decidiu nada saber
exceto o Cristo crucificado. Isso implica que ele foi
aos coríntios como crucificado. Estava disposto a
parecer tolo e iletrado porque tinha decidido isso.

A SABEDORIA DE DEUS EM MISTÉRIO


No versículo 6, Paulo diz aos coríntios:
“Entretanto, expomos sabedoria entre os
experimentados; não, porém, a sabedoria deste
século, nem a dos poderosos desta época, que se
reduzem a nada”. Ele aqui parece dizer: “Não pensem
que não temos sabedoria. Temos sabedoria e
podemos falá-la, mas somente aos que são totalmente
crescidos. Vocês,-coríntios, ainda são infantis. Como
posso falá-la a vocês?”
No versículo 7, Paulo prossegue: “Mas falamos a
sabedoria de Deus em mistério, outrora oculta, a qual
Deus preordenou desde a eternidade para a nossa
glória”. A expressão “sabedoria em mistério” implica
que a sabedoria é o mistério. Essa sabedoria, esse
mistério, é Cristo. Ademais, como sabedoria em
mistério, Ele foi preordenado por Deus desde a
eternidade para nossa glória. Cristo, que é a
sabedoria e o mistério, será nossa porção em glória.

AS PROFUNDEZAS DE DEUS
Cristo, que é a sabedoria de Deus em mistério, é
até mesmo as profundezas de Deus. No versículo 10,
Paulo diz: “Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito;
porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até
mesmo as profundezas de Deus”. O próprio Cristo é
as profundezas de Deus. Todo cristão autêntico sabe
que Cristo é o Salvador que morreu na cruz pelos
nossos pecados. Entretanto, conhecê-Lo dessa forma
é conhecer somente coisas superficiais. Que são então
as profundezas? Como as profundezas de Deus, Cristo
inclui coisas tais como a sabedoria e o mistério de
Deus.
Antes de ser salvo, você conhecia o propósito do
universo e o sentido da vida humana? Com certeza
não. Você não conhecia o propósito de sua vida na
terra ou qual seria o seu destino. Tanto o propósito do
universo como o sentido de sua vida eram um
mistério. Somente quando recebemos uma visão
sobre Cristo e experimentamos a salvação de Deus
'podemos entender tal mistério. Os cristãos já
receberam a salvação de Cristo, mas muitos não
tiveram a visão sobre Ele. Como conseqüência, ainda
não conhecem o sentido da vida. Porém, quando
temos a visão de Cristo na economia divina,
começamos a perceber que Ele mesmo é o propósito
do universo e também o sentido da vida humana.
Fomos criados por Deus para Cristo, e hoje vivemos
para Cristo. Ele é nossa vida, o propósito de nossa
vida e também o objetivo de nosso viver. Além disso,
é o nosso destino: é a Ele que nos dirigimos. Quando
recebemos tal visão acerca de Cristo, começamos a
conhecer o mistério do universo e da vida humana.
Espontaneamente, tornamo-nos sábios porque O
temos como sabedoria de Deus. Então, pouco a pouco
e passo a passo, passamos a conhecê-Lo como as
profundezas de Deus.

EXPERIMENTAR AS PROFUNDEZAS DO SER


DE DEUS
As profundezas de Deus estão entre o que Ele
predestinou para nossa glória. Paulo fala disso no
versículo 9: “Mas, como está escrito: Nem olhos
viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou
em coração humano o que Deus tem preparado para
aqueles que o amam”. Embora olhos não o tenham
visto e ouvidos não o tenham ouvido e embora nunca
tenha subido ao coração do homem, Deus no-lo
revelou (v. 10) e gratuitamente no-lo deu (v. 12). Dia a
dia vemos algo mais, e mais profundo, sobre Cristo
como nossa porção. Posso testificar que por todos
esses anos, principalmente nos últimos, Cristo se tem
tornado de fato as profundezas de Deus para mim.
Quando desfrutamos Cristo, Ele se torna nossa
justiça. Além disso, pela experiência sabemos que,
sempre que O desfrutamos, Ele se torna o gozo de
Deus para nós, mas quando não O experimentamos,
Deus não fica contente conosco e não temos o Seu
gozo. Toda vez que O desfrutamos de forma prática,
temos o gozo de Deus. Na verdade, o próprio Cristo
que desfrutamos é o gozo de Deus. A princípio,
quando O desfrutamos, percebemos que não somos
justos. Então, espontaneamente, Ele se torna a justiça
de que precisamos. Depois, quando continuamos a
desfrutá-Lo, percebemos que Deus está contente
conosco e temos o gozo divino. Essa experiência é um
pouco profunda, mas não é ainda a experiência das
profundezas de Deus.
Quando desfrutamos Cristo continuamente, por
fim entramos nas profundezas do ser de Deus. Então
percebemos que estamos no próprio coração, nas
profundezas, do Deus todo-poderoso e que Ele se
torna nosso elemento interior. Os que se opõem à
verdade de que nós, os que cremos em Cristo,
estamos mesclados com Deus, chamarão isso de
heresia, pois não tiveram essa experiência.
Entretanto, não posso negar que, quando desfruto
Cristo, toco as profundezas de Deus e Ele se torna
substância em mim.
Cristo é prático para nós na experiência. Ele não
só é nossa justiça, santificação e redenção, mas
também as profundezas de Deus. No capítulo um,
vemos que Cristo é algo para nós, e no dois, que Ele é
algo de Deus. Visto que nossa experiência é limitada,
não somos capazes de explicar adequadamente o que
quer dizer Cristo ser as profundezas de Deus. Mas um
dia avançaremos na experiência e de fato O
conheceremos como tal.

O ESPÍRITO DO HOMEM CONHECE AS


COISAS DO HOMEM
Experimentar todos os aspectos de Cristo
revelados nos capítulos um e dois ocorre mediante os
dois espíritos, o Espírito divino e o espírito humano
regenerado. No versículo 10 Paulo fala do Espírito
divino, e no 11, do espírito humano: “Porque, qual dos
homens sabe as coisas do homem, senão o seu
próprio espírito que nele está? Assim também as
coisas de Deus ninguém as conhece, senão o Espírito
de Deus”. Esse versículo indica que se quisermos
conhecer as coisas do homem, precisamos usar o
espírito humano, e se quisermos conhecer as coisas
de Deus, deve ser por meio do Espírito de Deus.
Não importa quão educadas as pessoas
mundanas possam ser, elas não conhecem as coisas
do homem. As coisas do homem no versículo 11 não
se referem a questões tais como casamento, moradia,
comida e transporte. Não é necessário usar o espírito
humano para conhecer tais coisas. Não é a isso que
Paulo se refere.
De acordo com a Bíblia, que são as coisas do
homem? Quando a Bíblia nos fala pela primeira vez
do homem, ela nos conta que ele foi feito à imagem de
Deus (Gn 1:26). O primeiro aspecto das coisas do
homem é que ele foi criado por Deus à Sua imagem
para expressá-Lo. Mas o homem criado por Deus
para ser Sua expressão caiu e se tornou pecaminoso.
A maioria dos filósofos não percebe que são caídos,
mas a queda do homem é um item importante das
coisas do homem. Como criaturas de Deus que
caíram precisamos arrepender-nos, ser salvos e
regenerados. Essas são também as coisas do homem.
Agora, como os salvos e regenerados, precisamos
amar ao Senhor, vivê-Lo, expressá-Lo e cumprir Seu
propósito eterno. Esses são outros aspectos das coisas
do homem.
Pessoas mundanas não conhecem nenhuma
dessas coisas porque não exercitam seu espírito. Se
você falar com um professor incrédulo sobre as coisas
do homem, ele não terá entendimento algum sobre
elas. Ele pode conhecer matemática ou ciência, mas
não as coisas do homem. De semelhante modo, os
médicos sabem sobre doenças, remédios e vitaminas,
mas nada sabem das coisas do homem. Antes de ser
salvos, também não tínhamos compreensão das
coisas do homem porque nosso espírito estava
mortificado. Nem mesmo sabíamos que tínhamos um
espírito humano, e nunca o usamos. Fora do espírito
humano, como poderíamos saber das coisas do
homem? É simplesmente impossível conhecer as
coisas do homem sem exercitar o espírito humano.
Ser salvo é ser vivificado e avivado no espírito.
Todos os salvos de fato, não importa onde estejam,
foram avivados no espírito. Isso é um fato da
experiência deles, mesmo que não tenham percepção
disso.
Tão logo o espírito de uma pessoa é avivado
dessa forma, ela passa a conhecer o verdadeiro
significado e também a origem da vida humana. Isso
quer dizer que começa a conhecer as coisas do
homem. Entretanto, depois de avivados no espírito
quando foram salvos, muitos cristãos são
influenciados a se voltar do espírito para a mente
natural e exercitá-la. Provavelmente o único lugar
onde os cristãos hoje ouvem mensagens sobre o
desenvolvimento do espírito humano regenerado é na
restauração do Senhor. Em todos os outros lugares,
eles são encorajados a desenvolver a mentalidade
natural. Esse desenvolvimento destrói o
conhecimento adequado sobre as coisas do homem e
da sua situação: Novamente digo, se quisermos
conhecer as coisas do homem, precisamos usar o
espírito.

INTRODUZIDOS NO ESPÍRITO DE DEUS


Quando exercitamos o espírito para conhecer as
coisas do homem, somos introduzidos no Espírito de
Deus. Os dois espíritos, o espírito humano
regenerado e o Espírito divino, não podem ser
separados. Esse é o motivo de Paulo falar de ambos
em 2:11. Primeiro, ele diz que ninguém conhece as
coisas do homem exceto o espírito do homem que
nele está. Depois diz que ninguém conhece as coisas
de Deus exceto o Espírito de Deus. Se quisermos ser
um ser humano adequado e autêntico, precisamos ter
esses dois espíritos. Precisamos ter o espírito do
homem para conhecer as coisas do homem, e o
Espírito de Deus para conhecer as coisas de Deus.
Segundo a Bíblia, as coisas do homem estão
relacionadas com as coisas de Deus. Tudo isso torna
ainda mais necessário ter esses dois espíritos.

O SIGNIFICADO DE SER ESPIRITUAL


No versículo l3, Paulo prossegue referindo-se às
coisas espirituais: “Disto também falamos, não em
palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas
ensinadas pelo Espírito, conferindo 6 coisas
espirituais com espirituais”. No versículo 14, ele
enfatiza que as coisas do Espírito de Deus são
espiritualmente discernidas: “Ora, o homem natural
não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe
são loucura; e não pode entendê-las porque elas se
discernem espiritualmente”. Um homem natural é
6
O verbo conferir também pode ser traduzido por interpretar ou explicar. (N.T.)
anímico, isto é, alguém que vive na alma em vez de
viver no espírito. No versículo 15, ele diz: “Mas o que
é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é
discernido” (VRC). Nesses versículos temos
conhecimento espiritual, interpretação espiritual,
discernimento espiritual e pessoas espirituais.
Você sabe o que significa ser espiritual? Ser
espiritual é ter os dois espíritos mesclados no seu ser.
Ser espiritual é ter o seu espírito, o espírito humano
regenerado, mesclado com o Espírito de Deus para
ser um só espírito. Pessoas espirituais vivem nesse
espírito mesclado. Sempre que está no espírito
mesclado, você é espiritual e tem discernimento
espiritual, conhecimento espiritual e interpretação
espiritual. Você é capaz de discernir espiritualmente
tanto as coisas do homem como as coisas de Deus.
Quando consideramos a questão de Cristo como
as profundezas de Deus e a questão dos dois espíritos,
precisamos admitir que para experimentar Cristo
como as profundezas de Deus, precisamos ter os dois
espíritos. Precisamos exercitar o espírito humano e
ser introduzidos no Espírito de Deus. Isso quer dizer
que o nosso espírito precisa ser mesclado com o
Espírito de Deus.

EXPERIMENTAR O ESPÍRITO MESCLADO


Já enfatizamos que alguém que vive no espírito
mesclado é um homem espiritual. Um homem
espiritual é o oposto do homem anímico, ou natural.
De acordo com o contexto desses capítulos, ser
anímico é ser grego e viver segundo a cultura grega.
Os filósofos e os que admiram a sabedoria humana
são anímicos. As pessoas espirituais são as que
exercitam o espírito para interagir com o Espírito de
Deus. Uma vez que vivem no espírito mesclado, são
de fato espirituais e têm conhecimento,
discernimento e interpretação espirituais. Aqui, no
espírito mesclado, desfrutamos Cristo, não de forma
espiritual, mas como as profundezas de Deus e até
mesmo nas Suas profundezas. Desfrutamo-Lo de
maneira que os olhos nunca viram, os ouvidos nunca
ouviram, a mente nunca cogitou e o coração jamais
imaginou. Desfrutamos Cristo de forma além de tudo
que jamais sonhamos.
Deus predestinou, preparou, revelou e deu Cristo
para nós como as profundezas de Deus. Que
maravilha! Precisamos orar mais acerca desses
tópicos, principalmente para que tenhamos
claramente essa visão. Também precisamos praticar o
espírito mesclado a fim de ser espirituais. Então
seremos capazes de discernir as coisas do homem e
de Deus, e de nos comunicar com os outros
espiritualmente no espírito mesclado. Certamente, se
experimentarmos o espírito mesclado dessa forma,
teremos a experiência mais profunda de Cristo. Nós O
experimentaremos, não de maneira superficial, mas
como as profundezas de Deus. Experimentaremos
Cristo diariamente como nossa justiça, santificação e
redenção. Mas nós O experimentaremos de forma
que até ultrapasse esses aspectos, porque
experimentaremos o próprio Deus com todas as Suas
profundezas. Louvado seja o Senhor por ser nossa
porção mediante o espírito mesclado!
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM DEZENOVE
O ESPÍRITO DO HOMEM CONHECE AS COISAS DO
HOMEM E O ESPÍRITO DE DEUS CONHECE AS COISAS
DE DEUS (1)

Leitura Bíblica: 1Co 1:9-12, 17-31; 2:1-16


De acordo com o arranjo dos livros do Novo
Testamento, Romanos vem imediatamente antes de 1
Coríntios. Embora as duas Epístolas tenham sido
escritas por Paulo, são diferentes no estilo de
composição. Romanos é composto conforme a
doutrina e revela a verdade de forma doutrinária. No
início de Romanos há pecadores, mas no fim há as
igrejas. Em Romanos I:18-32 temos uma descrição
dos pecadores sob a condenação de Deus, mas em
Romanos 16 lemos sobre as igrejas. Por exemplo, em
16:1 Paulo diz: “Recomendo-vos a nossa irmã Febe,
que está servindo à igreja de Cencréia”. É
maravilhoso que os que eram pecadores sejam
justificados, santificados e posteriormente prossigam
tendo a plena experiência e desfrute do Espírito como
primícias. Como resultado, tomam-se o Corpo de
Cristo expresso de forma prática como uma igreja em
cada cidade. Romanos 16 fala não só da igreja em
Cencréia mas também da igreja na casa de Priscila e
Áqüila (v. 5). A igreja em Roma se reunia na casa
desse casal. Com certeza é interessante que um livro
doutrinário como Romanos comece com pecadores e
conclua com as igrejas.

UM LIVRO DE COMPLICAÇÕES
Romanos e 1 Coríntios são compostos de
dezesseis capítulos cada. Em contraste com
Romanos, 1 Coríntios não é um livro de doutrinas,
mas de práticas. Entretanto, essa Epístola é bem
complicada. Normalmente, as questões doutrinárias
são complicadas. Parece que, ao discutir doutrinas,
não importa quando e onde, enfrentamos
complicações. Entretanto, é estranho que num livro
doutrinário como Romanos não haja complicações.
Assim, desde jovem, desfrutei o livro de Romanos,
porque ele não tinha complicação. Mas não me
importava muito com 1 Coríntios. Às vezes, ao ler a
Bíblia, eu pulava esse livro, querendo evitar todas as
complicações e problemas que ele contém.
Exemplos das complicações em 1 Coríntios são
encontrados nos capítulos um, cinco e quinze. Em
1:10, Paulo roga aos crentes em Corinto que não haja
divisões entre eles. Depois, nos versículos 11 e 12, fala
de contendas e divisões: “Pois a vosso respeito, meus
irmãos, fui informado, pelos da casa de Cloe, de que
há contendas entre vós. Refiro-me ao fato de cada um
de vós dizer: Eu sou de Paulo, e eu de Apolo, e eu de
Cefas, e eu de Cristo”. Certamente, o relatório que ele
recebeu dizia respeito a uma situação complicada.
No capítulo cinco, Paulo lida com o pecado
grosseiro da fornicação. Essa questão é tão terrível
que nem mesmo gosto de falar sobre isso. Depois, no
capítulo quinze, vemos que alguns dos crentes diziam
não haver ressurreição. Considerando esses três
capítulos, observamos que havia sérias complicações
entre os crentes em Corinto.
Visto que 1 Coríntios envolve as complicações na
prática da vida da igreja, em certo sentido, não gosto
desse livro. Todavia, noutro sentido bem diferente,
amo muito essa Epístola. Isso pode parecer
contraditório, mas é, na verdade, uma maneira de ver
o livro em dois aspectos. Muitas coisas na Bíblia
parecem contraditórias. Por exemplo: Deus é um,
contudo é triúno. O Espírito de Deus é um;
entretanto, o livro de Apocalipse fala dos sete
Espíritos. Também parece contraditório dizer que
Cristo é tanto Deus como homem. Ao manter o
princípio de ver os dois lados da verdade na Bíblia,
posso dizer que, ao ver 1 Coríntios de um ângulo, não
gosto desse livro, mas, ao vê-lo de outro ângulo, gosto
muito dele.

UMA COMPARAÇÃO ENTRE ROMANOS E 1


CORÍNTIOS
No passado, disse que podemos comparar a
Bíblia como um todo à mão de uma pessoa, o Novo
Testamento a um anel nessa mão, e Romanos a um
diamante no anel. Quão amável e preciosa é a
Epístola de Paulo aos Romanos! Certamente é um
diamante. Embora eu use tal ilustração para enfatizar
o grande valor de Romanos, não tenho como ilustrar
a preciosidade de 1 Coríntios, pois, em certo sentido,
é mais precioso que Romanos.
Em 1 Coríntios, Paulo aborda muitas coisas que
nem mesmo menciona em Romanos. Por exemplo,
em 1:9, ele nos conta que por meio do Deus fiel,
fomos chamados à comunhão do Seu Filho. Em
nenhum lugar de Romanos ele profere tal palavra.
Em 1:24, ele também diz que, para nós que fomos
chamados, Cristo é o poder e sabedoria de Deus. Não
há menção disso em Romanos.
Romanos revela que estamos em Cristo, mas em
1 Coríntios 1:30 Paulo declara ainda: “Mas vós sois
dele, em Cristo Jesus”. [Como já vimos, esse versículo
pode ser traduzido por: “Mas é Dele que estais em
Cristo Jesus”.] Aqui vemos que é de Deus que
estamos em Cristo. Romanos fala do fato de estarmos
em Cristo, mas não diz que isso é de Deus. Antes de
ser salvo, você alguma vez sonhou que estaria em
Cristo? Você alguma vez imaginou que Deus o
colocaria Nele? Sabemos por meio de 1:30 que é
totalmente de Deus que agora estamos em Cristo. Na
eternidade passada, antes de Deus ter criado
qualquer coisa, Ele pensou em colocar-nos em Cristo.
Podemos até dizer que Ele tinha um sonho a nosso
respeito, um sonho que, conforme o desejo de Seu
coração, estaríamos em Cristo. Visto que Deus
desejava ter-nos, Ele tinha tal sonho a nosso respeito.
Assim, não é por acaso que estamos em Cristo. Isso
foi decidido por Deus na eternidade passada. Toda
vez que pondero que na eternidade passada Deus
tinha um sonho a meu respeito e decidiu pôr-me em
Cristo, fico extasiado de alegria. Oh! é de tremendo
significado que Deus sonhou a nosso respeito na
eternidade! Quão doce e amável é! Quão preciosa é a
declaração: “Mas vós sois dele em Cristo Jesus”!
Em 1 Coríntios, Paulo também fala das
profundezas de Deus e de beber de um só Espírito.
Em Romanos 11:33, Paulo diz: “Ó profundidade da
riqueza, tanto da sabedoria, como do conhecimento
de Deus”. Entretanto, em Romanos ele não menciona
as profundezas de Deus. Nem há qualquer referência
em Romanos quanto a beber de um só Espírito. Essas
expressões únicas encontradas em 1 Coríntios não são
somente preciosas, mas agradáveis ao paladar. Em
Romanos, há muitas coisas preciosas, mas as coisas
preciosas em 1 Coríntios são particularmente boas ao
paladar. Nesta mensagem, vamos ainda considerar
muitas coisas preciosas encontradas em 1 Coríntios 1
e 2.

AS COISAS DO HOMEM E O ESPÍRITO DO


HOMEM
Ao ler 1 Coríntios quando jovem, ficava intrigado
com a expressão “as coisas do homem” em 2:11. Você
não fica intrigado com isso? Por que Paulo diz que
sem o espírito do homem não conseguimos conhecer
as coisas do homem? Por que é tão difícil
conhecê-las? De acordo com o meu conceito, era fácil
conhecer as coisas do homem, pois pensava que ele se
referia a coisas tais como comida, vestes, habitação e
vida familiar. Naquela época, eu não conhecia o
espírito humano. Você sabe o que é o seu espírito e
onde se localiza em você? Como jovem cristão, eu não
conhecia nem o espírito nem as coisas do homem,
que podem ser conhecidas somente pelo espírito
humano. Por outro lado, a palavra de Paulo de que as
coisas de Deus ninguém conhece exceto o Espírito de
Deus, não me perturbava. Parecia-me óbvio que, já
que eu não era Deus, não poderia conhecer as coisas
de Deus. Eu prontamente entendi que somente o
Espírito de Deus conhece as coisas de Deus. O que me
incomodava era o que ele disse sobre as coisas do
homem e o espírito do homem.
Que são as coisas do homem a que Paulo se
refere em 2:11? Isso com certeza não se refere ao
conhecimento das coisas exteriores relativas ao
homem: idade, local de nascimento, o nome da
esposa e filhos, ocupação, escolas nas quais se formou
e o tipo de carro que dirige. Conhecer alguém dessa
forma nada tem a ver com o que Paulo quis dizer com
“as coisas do homem” em 1 Coríntios.
De acordo com João 6:42, os judeus diziam:
“Não é este Jesus, o filho de José, cujo pai e mãe
conhecemos?” Eles conheciam certas coisas
exteriores sobre o Senhor: que viera da Galiléia, era
carpinteiro e tinha irmãos e irmãs, mas de fato não O
conheciam absolutamente (Mc 6:3; Jo 7:41). Isso
indica que o que podemos conhecer sobre um homem
nada significa. Podemos conhecer o homem de
maneira exterior, sem conhecer as verdadeiras
“coisas do homem”. Por um lado, conhecemos o
homem; por outro, não conhecemos as coisas dele.
Não podemos negar que conhecemos algo do homem.
Entretanto, não podemos dizer que conhecemos as
coisas do homem. Você tem um conhecimento pleno
acerca de si mesmo? conhece a sua origem e destino?
conhece o seu verdadeiro amor e vida? Você conhece
tantas coisas acerca de si mesmo sem conhecer as
coisas que são profundas em você.

UM QUADRO DO HOMEM E DEUS


Em princípio, tanto as coisas do homem como as
de Deus mencionadas em 2:11 devem referir-se a
questões sobre as quais Paulo falou nos dois
primeiros capítulos de 1 Coríntios. Essa é a maneira
adequada de entender não só a Bíblia mas também
qualquer escrito. Suponha que seu pai lhe escreva
uma longa carta na qual fale sobre muitas coisas. Em
dado ponto, ele pode dizer: “Se você não tiver
conhecimento adequado, não será capaz de entender
essas coisas”. A frase “essas coisas” com certeza se
refere a todas as coisas anteriormente mencionadas
na carta. De modo semelhante, as coisas do homem
em 2:11 têm de se referir ao que Paulo tinha dito
sobre o homem nos versículos anteriores. O mesmo é
verdade acerca das coisas de Deus. Com isso podemos
ver que 1 Coríntios 1 e 2 nos dá uma revelação, uma
visão clara, tanto do homem como de Deus. Nesses
capítulos, vemos um quadro do homem e também de
Deus.
Esses dois capítulos nos dão simultaneamente
um retrato tanto de Deus como do homem. Em 1
Coríntios 1 e 2 temos uma visão dupla, uma visão das
coisas de Deus e das do homem. Você teve essa visão
dupla? já viu que no retrato de Paulo sobre o homem
também temos um retrato de Deus? viu que quando
contemplamos as coisas do homem nesses capítulos,
vemos as coisas de Deus? Que revelação maravilhosa
está contida aqui!
Já enfatizamos que, em princípio, tanto as coisas
do homem como as de Deus em 2:11 se referem ao
que Paulo já tinha escrito nessa Epístola acerca do
homem e de Deus. Assim, se quisermos conhecer as
coisas do homem e as de Deus, precisamos considerar
o que ele aborda nesses capítulos.

EXEMPLOS DAS COISAS DO HOMEM


Em 1:10-12, Paulo fala de certas coisas do
homem. Por exemplo, no versículo 10 ele diz:
“Rogo-vos, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus
Cristo, que faleis todos a mesma coisa”. Falar a
mesma coisa com certeza é um aspecto das coisas do
homem. Podemos pensar que falar a mesma coisa é
normal e comum. Contudo, você alguma vez viu um
grupo de pessoas que sempre falou a mesma coisa?
Você conhece um casal que realmente fala a mesma
coisa? É muito difícil que marido e mulher falem a
mesma coisa. Irmãos, com que freqüência vocês e sua
esposa falam a mesma coisa? Em 1:10, Paulo insta
com todos os crentes em Corinto que falem a mesma
coisa. Falar assim não é um aspecto da vida caída do
homem, mas de pessoas salvas. Quando li esse
versículo anos atrás balancei a cabeça em descrença.
Para mim, era impossível que todos os crentes numa
cidade falassem a mesma coisa. Todos na igreja em
sua cidade falam a mesma coisa? É um fato que
sempre falamos coisas diferentes, tanto na vida da
igreja como na vida conjugal. Falar diferentemente é
uma característica predominante do homem caído. A
falha em falar a mesma coisa causa muitos
problemas, tanto na vida conjugal como na vida da
igreja, mas, embora seja normal para nós falar coisas
diferentes, o desejo de Deus é que todos os Seus
salvos e redimidos tenham unidade no falar. Assim,
segundo esse desejo, Paulo roga aos crentes em
Corinto que falem a mesma coisa.
Em 1:10, Paulo prossegue: “Que não haja entre
vós divisões; antes, sejais inteiramente unidos na
mesma disposição mental e no mesmo parecer”. Aqui
temos divisões, disposição mental, ou mente, e
parecer, ou opiniões: tudo isso são coisas do homem.
Paulo aqui toca a mente. Freqüentemente, podemos
não falar diferentemente, mas por dentro
apegamo-nos a opiniões diferentes. Por exemplo, um
irmão pode dizer que as irmãs devem usar véu.
Embora talvez sua esposa não diga nada, por dentro
ela pode discordar dele. Isso mostra que esse irmão e
a esposa não têm a mesma opinião. Conforme a
palavra de Paulo em 1:10, devemos não só falar a
mesma coisa, mas também estar afinados com a
mesma mente e a mesma opinião.
Freqüentemente temos opiniões diferentes na
vida da igreja. Por exemplo, um irmão pode preferir
um presbítero mais inteligente, outro pode preferir
um que seja gentil e outro ainda pode preferir um
presbítero que seja lento e cauteloso. Isso expõe o fato
de que, entre eles, há opiniões diferentes. Tais
opiniões com certeza são aspectos das coisas do
homem.
Em 1:11, Paulo continua: “Pois a vosso respeito,
meus irmãos, fui informado, pelos da casa de Cloe, de
que há contendas entre vós”. As contendas
mencionadas nesse versículo são também coisas do
homem. No versículo 12, ele prossegue: “Refiro-me
ao fato de cada um de vós dizer: Eu sou de Paulo, e
eu, de Apolo, e eu, de Cefas, e eu, de Cristo”. Aqui
temos as preferências entre os coríntios, que são
também coisas do homem.

AS COISAS DE DEUS
Nos versículos 17 a 25, Paulo chega às coisas de
Deus. Em 1:18, ele menciona a palavra da cruz. A
palavra da cruz é uma das coisas de Deus. Para nós
que estamos sendo salvos, a palavra da cruz é o poder
de Deus. O poder de Deus é também um aspecto das
coisas de Deus. Segundo os versículos 19 e 20, Deus
destruirá a sabedoria dos sábios, porá de lado o
entendimento dos prudentes e tomará em loucura a
sabedoria do mundo. Essas questões também devem
ser incluídas entre as coisas de Deus. No versículo 21,
Paulo diz: “Visto como, na sabedoria de Deus, o
mundo não o conheceu por sua própria sabedoria,
aprouve a Deus salvar os que crêem, pela loucura da
pregação”. Até mesmo a loucura da pregação é uma
das coisas de Deus. O versículo 24 continua: “Mas
para os que foram chamados, tanto judeus como
gregos, pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria
de Deus”. O poder e sabedoria de Deus são outras
coisas mais de Deus. Por fim, no versículo 25, Paulo
declara: “Porque a loucura de Deus é mais sábia do
que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do
que os homens”. Paulo até inclui a loucura de Deus e
a fraqueza de Deus entre as coisas de Deus.
No versículo 26, ele novamente se volta para as
coisas do homem: “Irmãos, reparai, pois, na vossa
vocação; visto que não foram chamados muitos
sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem
muitos de nobre nascimento”. De acordo com o
conceito humano, devemos considerar-nos sábios, e
não tolos.
Nos versículos 27 e 28, Paulo outra vez fala das
coisas de Deus: “Pelo contrário, Deus escolheu as
coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios, e
escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar
as fortes; e Deus escolheu as coisas humildes do
mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para
reduzir a nada as que são”. Aqui vemos o que Deus
escolheu. As coisas de Deus aqui incluem escolher os
loucos para envergonhar os sábios, os fracos para
envergonhar os fortes e as coisas humildes e
desprezadas, as que não são para reduzir a nada as
coisas que são. O resultado é que nenhuma carne, isto
é, ninguém, deve gloriar-se perante Deus (v. 29).
O versículo 30 diz: “Mas vós sois dele, em Cristo
Jesus, o qual se nos tomou da parte de Deus
sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção”. As
coisas de Deus, por certo, incluem o fato de Deus nos
colocar em Cristo Jesus.

O CONHECIMENTO ADEQUADO DE DEUS E


DO HOMEM
Quando consideramos o livro de 1 Coríntios,
vemos que as coisas do homem incluem a posição, a
situação, a condição, a necessidade, a origem e o
destino do homem. A mente natural não é adequada
para conhecer essas coisas. Nem mesmo os
professores universitários as conhecem. Confúcio
conhecia filosofia ética, mas não conhecia as coisas de
Deus nem as do homem. Ele disse que se pecarmos
contra os céus, isto é, contra Deus, não há como ser
perdoado. Isso indica que ele não conhecia Deus nem
o homem. Ele não conhecia a origem, a condição, a
posição, a situação, a necessidade e o destino do
homem. Embora soubesse que havia um Deus, ele
não O conhecia.
Os fariseus e saduceus pensavam que visto que
conheciam o Antigo Testamento, também conheciam
Deus. Embora se esforçassem em seguir o Antigo
Testamento até certo ponto, não tinham o verdadeiro
conhecimento de Deus. Você acha que os sacerdotes
que O adoravam no templo de fato O conheciam?
Não, não O conheciam absolutamente. De
semelhante modo, os fariseus, saduceus e escribas
não conheciam as coisas do homem. Não conheciam
sua própria posição, condição e necessidade. Somente
o Senhor Jesus conhecia tanto as coisas do homem
como as de Deus. Uma vez que os fanáticos religiosos
exercitavam a mentalidade natural, eles não podiam
conhecer essas coisas. O Senhor Jesus, todavia,
exercitava o Seu espírito. De acordo com Marcos 2:8,
em Seu espírito Ele percebia os pensamentos e
intenções dos fariseus. Visto que exercitava o Seu
espírito com o Espírito de Deus, Ele pôde conhecer
tanto as coisas do homem como as de Deus.
Em 1 Coríntios 1 e 2, Paulo é um exemplo de
pessoa que conhece as coisas do homem e também as
de Deus. Ele sabia a posição, a condição, a situação e
o destino dos crentes em Corinto. Por exercitar a
mentalidade filosófica grega, esses crentes não
conheciam as coisas do homem. Embora não se
conhecessem, Paulo os conhecia muito bem porque
era alguém que exercitava o espírito para ser
introduzido no Espírito de Deus. Por meio dos dois
espíritos, ele tinha um conhecimento completo dos
coríntios.
Paulo também tinha o conhecimento adequado
de Deus. Quando descreve a condição e situação entre
os gregos filosóficos em Corinto, ele nos dá um
retrato de Deus. Não é espantoso que ao descrever a
condição dos crentes, ele apresente um quadro das
coisas de Deus? Ele aqui mostra que enquanto os
coríntios exaltavam a sabedoria humana, Deus
tencionava destruí-la. Assim, sobre essa única coisa,
temos uma revelação dupla: primeiro, que os
coríntios exaltavam sua sabedoria; segundo, que
Deus estava demolindo essa mesma sabedoria. No
mesmo princípio, no capítulo três, os crentes
coríntios estavam destruindo a igreja, mas Deus a
estava edificando. Novamente, uma figura apresenta
uma revelação dupla: uma visão da destruição do
homem e da edificação de Deus. Além disso, ao
mostrar quanto os coríntios precisavam de Cristo,
Paulo também revela até que ponto Deus os estava
suprindo com Cristo. Novamente, um único quadro
contém duas visões. Nesses dois capítulos, vemos
quanto precisamos de Cristo e também quanto Cristo
nos está sendo suprido por Deus. Portanto, vemos
tanto as coisas do homem como as de Deus.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM VINTE
O ESPÍRITO DO HOMEM CONHECE AS COISAS DO
HOMEM E O ESPÍRITO DE DEUS CONHECE AS COISAS
DE DEUS (2)

Leitura Bíblica: 1Co 1:9-12, 17-31; 2:1-16

NEGLIGENCIAR OS DOIS ESPÍRITOS


Em 2:11, Paulo diz: “Porque qual dos homens
sabe as coisas do homem, senão o seu próprio
espírito, que nele está? Assim, também as coisas de
Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus”.
Se quisermos conhecer as coisas do homem e as de
Deus, precisamos dos dois espíritos: o humano e o
divino. Uma vez que negligenciavam esses dois
espíritos, os crentes coríntios não podiam conhecer as
coisas do homem e as de Deus. Assim, no capítulo
dois, Paulo parecia dizer-lhes: “Coríntios, em vez de
confiar em sua mente filosófica, exercitem o espírito,
e não a alma ou a carne. Se exercitarem o espírito e
confiarem no Espírito de Deus, conhecerão sua
condição, situação, posição, necessidade e destino.
Ninguém conhece essas coisas do homem exceto o
espírito do homem. Deixando de exercitar o espírito
e, em vez disso, usando a mente filosófica, vocês terão
perdido o alvo. Vocês não conhecem as coisas do
homem, e não conhecem a si mesmos. Não conhecem
sua situação e não percebem quão lamentável é sua
condição. Insto-os a que exercitem o espírito, assim
como exercito o meu. Porquanto exercito o espírito,
conheço as coisas concernentes a vocês. Conheço a
sua posição, condição e situação”. Ao lidar com os
crentes coríntios, Paulo com certeza estava no
espírito.
Algo que Paulo diz em 4:21 deixa muito claro que
ele estava no espírito ao escrever aos crentes em
Corinto. Nesse versículo, ele pergunta: “Que preferis?
Irei a vós outros com vara, ou com amor e espírito de
mansidão?” Ele era uma pessoa totalmente no
espírito. Podia ir a Corinto tanto com vara como com
espírito de mansidão. Uma vez no espírito, ele podia
dizer: “O meu espírito me faz conhecer as coisas sobre
vocês. Quando o exercito, percebo que vocês se
afastaram da sua posição em Cristo, ignoram o seu
destino e negligenciam as bênçãos que têm em Cristo.
Em vez de exercitar o espírito, vocês exaltam sua
filosofia e sabedoria e fazem escolhas segundo sua
preferência. Vocês, entretanto, não conhecem as
coisas sobre vocês mesmos porque não exercitam o
espírito. Esqueçam sua mentalidade grega e usem seu
espírito regenerado. Então conhecerão as coisas do
homem, as coisas relativas a vocês mesmos”.
Paulo também percebeu que os crentes coríntios
confiavam mais em sua sabedoria filosófica do que no
Espírito de Deus. No capítulo dois, ele parece
dizer-lhes: “Quando cheguei a vocês, não confiava em
minha sabedoria. Embora tivesse recebido excelente
educação, quando estava com vocês decidi nada saber
exceto Cristo, e esse crucificado. Exercitei o espírito e
confiei no Espírito de Deus. Por isso, quando estava
entre vocês, estive no espírito mesclado. Já que estou
no espírito, conheço a situação de vocês e conheço as
coisas de Deus. Conheço Cristo, a sabedoria e o poder
de Deus. Até mesmo sei que a fraqueza de Deus é
mais forte que o poder do homem, e a loucura de
Deus é mais sábia que a do homem. Vim a conhecer
as coisas de Deus em meu espírito mesclado com o
Espírito de Deus. Deus até mesmo revelou as Suas
profundezas para mim. Não só conheço as coisas que
Deus fez e faz mas até as profundezas do próprio
Deus, as profundezas do Seu ser. O que sou capaz de
fazer, vocês não são porque não confiam nos dois
espíritos: o humano e o de Deus”. Muitos cristãos
hoje também negligenciam esses dois espíritos.
A maioria dos crentes se apega à doutrina da
dicotomia: a crença de que o homem é composto de
duas partes principais: a alma e o corpo. De acordo
com esse ponto de vista, o espírito do homem é
idêntico à alma. Alguns que ensinam dicotomia até
mesmo afirmam que espírito, alma e mente são
sinônimos. Dizem que o espírito é a alma, a alma é o
coração e o coração é a mente.
Em 1954, tive uma conversa com um missionário
americano que cria na dicotomia. No final de uma
conferência em Hong Kong, ele me disse quanto
apreciara a conferência, mas não podia concordar
com o ensinamento de que o espírito humano é
diferente da alma. Ele afirmava que o espírito e a
alma são idênticos. Eu lhe mencionei as palavras de
Paulo em 1 Tessalonicenses 5:23. Nesse versículo,
Paulo fala do espírito, da alma e do corpo,
propositadamente usando duas vezes a conjunção
“e”. Perguntei-lhe como, com base nesse versículo, ele
poderia insistir que a alma e o espírito são sinônimos.
Entretanto, ele ainda se apegava ao seu próprio ponto
de vista.

DOIS EXTREMOS
Muitos crentes não têm uma compreensão
adequada do Espírito de Deus. Alguns
fundamentalistas enfatizam a doutrina. Em muitos
casos, eles até temem falar sobre o Espírito. Não dão
a devida atenção aos dois espíritos no Novo
Testamento. Especificamente, não dão ênfase
adequada aos dois espíritos nas Epístolas de Paulo.
Assim, representam um extremo com respeito ao
Espírito de Deus.
Certos cristãos no movimento pentecostal ou
carismático representam outro extremo, porque
enfatizam em excesso dons específicos do Espírito,
tais como cura e falar em línguas. A situação entre
muitos deles é muito semelhante à dos crentes em
Corinto: colocam muita ênfase em línguas e milagres.
Em muitos casos, as supostas ocorrências de falar em
línguas e cura não são autênticas. De acordo com Atos
2, falar em línguas tem de ser falar uma língua ou
dialeto. O autêntico falar em língua não consiste em
mera repetição de sons. Se um lingüista registrar e
estudar o assim chamado falar em línguas praticado
em muitos grupos carismáticos hoje, vai concluir que
os sons proferidos não pertencem a qualquer língua
ou dialeto.
Em algumas reuniões carismáticas, tanto o falar
em línguas como a interpretação não são autênticas.
Por exemplo, alguém pode proferir certos sons, que
recebem certa interpretação. Em outra ocasião, a
mesma pessoa pode proferir os mesmos sons, mas
esses recebem outra interpretação. Numa ocasião, a
interpretação pode ser uma exortação para ser
humildes diante do Senhor, e, em outra, pode ser
uma palavra sobre um terremoto ou a vinda do
Senhor. Certos crentes devotam muita atenção ao
exercício dos assim chamados dons espirituais sem
qualquer tentativa de discernir o que é verdadeiro do
que é falso.
Em alguns grupos cristãos, há grande ênfase na
cura milagrosa. Certa vez fui de propósito a uma
campanha de cura em Manila, para ver se havia
algum caso de cura autêntica. Nas reuniões a que fui,
não houve nenhum. Alguns diziam ter sido curados,
mas por fim essa suposta cura foi comprovada como
mero fenômeno psicológico. Não houve cura
permanente. Depois de certo tempo, todos que
supostamente tinham sido curados naquela reunião,
estavam do mesmo jeito que antes.
Em alguns grupos pentecostais, houve o anúncio
de que em suas reuniões os dentes das pessoas se
enchiam miraculosamente de ouro. Eu
absolutamente não creio, em tais relatos. Por que não
iria Deus restaurar os dentes em vez de enchê-los de
ouro? Isso estaria mais em concordância com o
princípio na Bíblia. Além do mais, se tais milagres
tivessem de fato acontecido, repórteres teriam sabido
a respeito e os noticiariam.
Em 1963, fui a algumas reuniões de um grupo
pentecostal. Numa dessas reuniões, uma mulher
proferiu uma palavra curta em línguas. Então um
jovem deu uma longa interpretação dela. Mais tarde,
o líder do grupo admitiu que a interpretação dada
pelo jovem não era autêntica. Muito depois, encontrei
esse jovem em outro lugar e perguntei-lhe sobre a
interpretação que ele dera. Em particular,
perguntei-lhe se ele cria que a interpretação era
autêntica. Ele negou que o que tinha falado
tencionava ser a interpretação da mensagem em
línguas que a mulher havia dado. Então lembrei-o
que ele tinha claramente indicado a todos os
presentes que dera a interpretação. Prossegui: “Não
há necessidade de fazer tais coisas. Eu
definitivamente creio que você ama o Senhor. Por que
simplesmente não prega a verdade e ministra as
riquezas de Cristo aos outros?”
A situação do cristianismo hoje é muito parecida
com a da igreja em Corinto. Há a negligência ao
espírito humano e a freqüente identificação do
espírito com a alma. Ademais, há também a
negligência do Espírito de Deus por causa da
preocupação com doutrina, ou pela ênfase exagerada
dos dons espirituais, autênticos ou não.

O CRISTO CRUCIFICADO
Ao lidar com a divisão e confusão em Corinto,
Paulo não dependeu de doutrina. Pelo contrário,
tomou como base a experiência de Cristo. Em 2:1 e 2,
ele diz: “Eu, irmãos, quando fui ter convosco,
anunciando-vos o testemunho de Deus, não o fiz com
ostentação de linguagem ou de sabedoria. Porque
decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e
esse crucificado”. O Cristo crucificado era o único
tema, centro, conteúdo e substância do ministério do
apóstolo. Cristo crucificado é o centro da economia de
Deus. Paulo decidiu que entre os coríntios, ele nada
saberia exceto o Cristo crucificado.

A RESTAURAÇÃO DO SENHOR HOJE


Se não tivéssemos o ministério de Paulo, não
conheceríamos o propósito eterno de Deus ou Sua
economia. Embora Pedro fosse o apóstolo líder, ele
não nos fala sobre o Corpo de Cristo. A palavra mais
elevada nos escritos de Pedro diz respeito a participar
da natureza divina: “Pelas quais nos têm sido doadas
as suas preciosas e mui grandes promessas, para que
por elas vos torneis co-participantes da natureza
divina” (2Pe 1:4). Nos escritos de Paulo, muitos
termos são usados para mostrar que Cristo é
todo-inclusivo e extensivo, que Ele é o Espírito que dá
vida, é tudo na economia de Deus e é para nós. Em
suas Epístolas, ele também revela que a igreja é o
Corpo, a plenitude de Cristo e a Sua habitação e
noiva, e até mesmo o novo homem. Além disso, em
seu ministério ele nos diz que estamos em Cristo,
Cristo está em nós e fomos unidos a Cristo como um
só espírito. No ministério de Paulo, o ministério
completivo, há uma visão central. Essa é a visão de
que Cristo, a expressão final e máxima de Deus, se
tomou o Espírito que dá vida para Se infundir em nós
como nossa vida a fim de fazer-nos membros vivos do
Seu Corpo para expressá-Lo organicamente. Essa é a
visão central do ministério completivo de Paulo. Ele é
o único a nos esclarecer esse ponto de enorme
importância.
A restauração do Senhor hoje é a restauração da
visão central do ministério completivo de Paulo. O
objetivo primordial do Senhor hoje não é a
restauração de verdades doutrinárias. Nos séculos
passados, Ele restaurou muitas verdades. Por
exemplo, a verdade do batismo por imersão foi
restaurada. Conforme a Bíblia, o batismo tem de ser
por imersão. Entretanto, esse não é o objetivo central
da economia divina, nem é um aspecto do ministério
completivo de Paulo. De fato, em 1:17, ele declara:
“Porque não me enviou Cristo para batizar, mas para
pregar o evangelho; não com sabedoria de palavra,
para que se não anule a cruz de Cristo”. Ele não foi
enviado para batizar pessoas de maneira formal, mas
para pregar o evangelho, ministrando Cristo aos
outros a fim de gerar a igreja como expressão de
Cristo. Porém certos crentes valorizaram a verdade
do batismo por imersão e até a tomaram como base
para formar a denominação batista.
Outras questões doutrinárias foram restauradas,
que também não são elementos da visão central do
ministério de Paulo. Por exemplo, as verdades a
respeito do presbiterato, da cura divina e santidade
estão de acordo com as Escrituras, mas não são o
ponto central da restauração do Senhor hoje. Em Sua
restauração, Ele busca restaurar o Cristo
todo-inclusivo como Espírito que dá vida que Se
infunde nos crentes e os toma Seu Corpo vivo. Em
outras palavras, o centro da restauração do Senhor
hoje é Cristo e a igreja.
Sempre que as pessoas vêm a mim com a
intenção de argumentar sobre doutrina e práticas,
não tenho disposição para falar muito. Alguns têm
tentado discutir conosco sobre batismo ou uso do
véu. Com relação ao véu das irmãs, alguns têm
questionado: “Por que tantas irmãs em suas reuniões
não usam o véu? Vocês não sabem o que Paulo diz
sobre isso em 1 Coríntios 11 nem crêem nisso?” A isso,
tenho replicado que com certeza sabemos o que Paulo
diz a respeito de véu e cremos nisso. Além disso, nós o
praticamos de acordo com a Bíblia, mas não forçamos
as irmãs a usar um véu. Sim, praticamos essa
verdade, mas não de maneira formal e legalista, como
fazem alguns grupos cristãos. Percebemos que o que
o Senhor procura restaurar hoje como ponto central
não é o véu ou outra doutrina ou prática. Antes, Ele
está restaurando Cristo como vida e tudo para nós, e a
igreja como Seu Corpo e plenitude. Concordamos que
imersão e uso do véu são aspectos da restauração,
mas não o centro. Repetindo, o centro da restauração
do Senhor é Cristo e a igreja: Cristo como a
corporificação de Deus e a igreja como a expressão de
Cristo. Isso é o que Deus busca hoje, e é crucial que
todos o vejamos.
Se quisermos cumprir o desejo do Senhor de ter
na terra a adequada vida da igreja como Sua
expressão e como preparação para Sua volta,
precisamos exercitar o espírito para conhecer as
coisas do homem e também precisamos confiar no
Espírito que habita em nós para conhecer as coisas de
Deus. Então saberemos que o que Deus quer não é o
falar em línguas, a cura ou os dons miraculosos. Ele
tem restaurado esses pontos, mas não como centro ou
objetivo de Sua restauração. O que Ele quer não é o
falar em línguas, cura ou o alongamento de pernas
atrofiadas, e, sim, uma igreja composta de crentes
cheios, saturados e impregnados Dele mesmo para
ser o Seu Corpo a fim de expressá-Lo. Por causa disso,
precisamos da verdadeira experiência do Espírito que
habita em nós, e não apenas dos dons exteriores do
Espírito.
Deus quer que percebamos que o Deus Triúno
(Pai, Filho e Espírito) passou por um processo
envolvendo encarnação, viver humano, crucificação,
ressurreição e ascensão. Pela crucificação, Jesus
Cristo aniquilou a velha criação. Pela ressurreição,
Ele nos fez germinar na nova criação. Pela ascensão,
foi glorificado, exaltado, entronizado, designado
Senhor e comissionado com o governo divino. Depois
disso, desceu sobre a igreja como o Espírito que dá
vida todo-inclusivo. Hoje, como esse Espírito, Ele
aguarda que as pessoas O recebam crendo Nele. Tão
logo alguém invoque o nome do Senhor Jesus, Cristo
entra nele, regenera o seu espírito, habita em seu
espírito e Se mescla com seu espírito regenerado para
fazê-lo tomar-se de fato um com Ele. Então esses
crentes têm de vir a conhecer seu espírito humano e
também o Espírito que dá vida, a expressão final e
máxima do Deus Triúno, para ser transformados e
edificados com outros a fim de ser o Corpo, o
organismo, para expressar o Deus Triúno com vistas
ao cumprimento do propósito de Deus. Esse é o
objetivo de Deus, o centro de Sua restauração hoje.

TORNAR-SE UM TESTEMUNHO VIVO


Nós na restauração do Senhor, portanto, não nos
devemos importar com coisas insignificantes ou ser
distraídos por doutrinas ou práticas. Devemos
importar-nos somente em nos tomar um testemunho
vivo, tendo o Deus Triúno dispensado a nós para
fazer-nos membros do Seu Corpo orgânico para
expressá-Lo.
Não esperamos que a maioria dos cristãos tenha
essa visão ou tome esse caminho, mas cremos que é
do Senhor que a minoria do Seu povo escolhido, que
O ama e busca, seja introduzida nessa visão central
para crescer em vida e ser transformada pelo Espírito,
a fim de se tomar partes do Corpo vivo de Cristo. Por
fim, esse Corpo vivo se tomará a noiva amada de
Cristo, que preparará o caminho para Sua volta.
Nos primeiros dois capítulos de 1 Coríntios,
Paulo prepara o caminho para termos a visão central
do Seu ministério completivo. Neles, ele nos ajuda a
ver a posição, condição, situação e destino dos
crentes. Se tivermos clareza dessas questões,
abandonaremos todas as coisas naturais: filosofia,
sabedoria e cultura. Não nos importaremos com
nossas realizações, mas somente com nossa posição
em Cristo e nossa condição, situação e destino Nele.
Também nos importaremos com a experiência
autêntica do Deus Triúno e com o desfrute de Cristo,
o Filho de Deus. Pelo Espírito em nosso espírito,
conheceremos Deus e todas as Suas coisas, que são na
verdade o próprio Cristo. Veremos que o poder de
Deus, e até mesmo Sua fraqueza, é Cristo. Quando foi
crucificado, Cristo se tomou fraco. Se não se tivesse
tomado fraco, como poderia ter sido preso, julgado e
levado à morte? Ele de propósito se tomou fraco, mas
Sua fraqueza é poderosa. Ele hoje é nosso poder e
sabedoria da parte de Deus. Além disso, é nossa
justiça, santificação e redenção. Podemos até
conhecê-Lo como as profundezas de Deus. Dessa
forma, conhecemos todas as coisas de Deus.
Pelo nosso espírito, sabemos das coisas do
homem, e pelo Espírito de Deus sabemos das coisas
de Deus. Como resultado, podemos viver em Cristo,
com Cristo, por Cristo e para Cristo. Ele então terá a
vida adequada da igreja como Seu Corpo orgânico
para expressá-Lo.
Que misericórdia ter essa visão! Que graça e que
maravilha ser introduzidos na percepção dessa visão!
Temos encargo que todos os santos na restauração do
Senhor tenham a mesma visão e, então, falem a
mesma coisa, tendo a mesma disposição mental com
o mesmo parecer. Na verdade, Cristo é nossa mente,
opinião e falar. Falar a mesma coisa, ter a mesma
disposição mental e ter o mesmo parecer são nada
menos que o nosso próprio querido Cristo. De fato
Ele é tudo para nós. Quão preciosa é a revelação nos
dois primeiros capítulos de 1 Coríntios!
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM VINTE E UM
O ESPÍRITO DO HOMEM CONHECE AS COISAS DO
HOMEM E O ESPÍRITO DE DEUS CONHECE AS COISAS
DE DEUS (3)

Leitura Bíblica: 1Co 2:1-16


Em 2:11, Paulo diz: “Porque qual dos homens
sabe as coisas do homem, senão o seu próprio
espírito, que nele está? Assim também as coisas de
Deus ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus”.
Com esse versículo, vemos que o espírito do homem
conhece as coisas do homem e o de Deus, as coisas de
Deus. a espírito do homem é a parte mais profunda
do seu ser. É a faculdade capaz de penetrar na região
mais íntima das coisas do homem, ao passo que a sua
mente é capaz de conhecer apenas coisas superficiais.
Além disso, somente o Espírito de Deus consegue
conhecer as coisas de Deus.

USAR O ÓRGÃO CERTO


Para perceber algo, precisamos usar o órgão
certo. Por exemplo, percebemos sons usando o
sentido da audição. Mas suponha que alguém esteja
falando e você use o olfato em vez da audição. Assim,
você não perceberá nada e poderá chegar à conclusão
que nada está acontecendo. Na verdade, alguém está
falando, mas você está usando o órgão errado para
perceber o que ele está dizendo.
Uma discussão entre marido e mulher pode
também ilustrar o erro de usar o órgão errado. Um
irmão pode estar muito descontente com a esposa e
ofendido em sua emoção pela atitude dela para com
ele. Mas se ele se voltar da emoção para o espírito
pelo exercício da vontade, seu sentimento mudará.
Em vez de condenar a esposa e ficar ofendido com
ela, vai entendê-la de forma totalmente diferente.
Com esses exemplos vemos que é muito importante
usar os órgãos adequados ao lidar com diversos
assuntos.

O ESPÍRITO E A EXPERIÊNCIA DE CRISTO


É particularmente importante que, para
conhecer as coisas espirituais, usemos o órgão
adequado: o espírito humano. Entretanto, sobre a
experiência de Cristo e a igreja, a maioria dos cristãos
aprendeu a conhecê-los pelo exercício da mente e
com base em ensinamentos tradicionais. Algumas
denominações até têm seminários nos quais as
pessoas são treinadas para usar a mente a fim de
resolver problemas entre cristãos. Além disso, esses
treinamentos não se baseiam na pura Palavra de
Deus, mas na tradição. Assim, em vez de usar o
espírito, a maioria dos cristãos usa a mente natural
para entender, analisar, visualizar e filosofar. Além
disso, a base para essa atividade mental é a tradição, e
não a Bíblia.
Essa prática tem feito com que muitos crentes
cometam erros sérios na compreensão da experiência
de Cristo. Por exemplo, um mestre cristão bem
conhecido escreveu que Cristo não habita, na
verdade, em nós, mas está somente nos céus e é
representado em nós pelo Espírito Santo. Isso é um
caso claro de exercício da mente de acordo com a
doutrina e teologia tradicionais para entender a
experiência de Cristo. Segundo a Bíblia, Cristo tanto
está nos céus como nos crentes. Em João 14:17, o
Senhor Jesus diz acerca do Espírito da realidade:
“Vós O conheceis, porque Ele habita convosco e
estará em vós”. O Senhor aqui diz explicitamente que
o Espírito da realidade estará em nós. Quando
comparamos os versículos 17 e 18, vemos que o
pronome “Ele”, que é o Espírito da realidade no
versículo 17, se toma o sujeito (subentendido) do
verbo “deixar”, que é o próprio Senhor, no versículo
18. No versículo 18, o Senhor prossegue: “Não vos
deixarei órfãos, virei a vós”. Isso com certeza não é
uma referência à segunda vinda de Cristo. Se fosse,
todos os cristãos do primeiro século até hoje teriam
ficado órfãos.
No versículo 19, o Senhor declara: “Ainda por um
pouco e o mundo não Me verá mais; vós, porém, Me
vereis; porque Eu vivo, vós também vivereis”. As
palavras “por um pouco” certamente não se referem
aos mil e novecentos anos que se passaram desde a
primeira vinda do Senhor. Com essa expressão, o
Senhor não se referia a anos ou semanas. Ele indicava
aqui que estava prestes a ser crucificado e sepultado.
Por esse motivo, o mundo não mais O veria. Mas,
apenas três dias mais tarde, no dia de Sua
ressurreição, os discípulos O contemplariam.
Primeiro Ele foi visto por Maria de manhã e por um
grupo de discípulos à noite. Dessa forma, foi depois
de pouco tempo que eles O contemplaram, embora o
mundo não O visse mais.
No final do versículo 19, o Senhor Jesus diz:
“Porque Eu vivo, vós também vivereis”. Isso indica
que Ele viveria em nós e nos faria viver por Ele.
Assim, Ele parecia dizer: “Eu entrarei e viverei em
vocês e os farei viver por Mim”. Isso começou a
ocorrer na noite de Sua ressurreição. João 20:19 diz:
“Ao cair da tarde daquele dia, o primeiro da semana,
fechadas as portas onde estavam os discípulos, por
medo dos judeus, veio Jesus, pôs-se no meio, e
disse-lhes: Paz seja convosco”. De acordo com João
20:22: “Soprou neles, e disse-lhes: Recebei o Espírito
Santo”. Ao insuflar o Espírito nos discípulos, o
Senhor Se infundiu neles como vida e tudo para eles.
Dessa forma, tudo o que Ele tinha falado nos
capítulos catorze ao dezesseis pôde ser cumprido.
Depois que insuflou o Espírito Santo nos discípulos,
Ele desapareceu da vista deles. Mas, daí em diante, o
'Cristo ressurreto começou a viver neles e fê-los viver
por Ele.
Em João 14:20, o Senhor diz: “Naquele dia, vós
conhecereis que Eu estou em Meu Pai, e vós em Mim,
e Eu em vós”. Esse dia é o dia da ressurreição do
Senhor. Aqui o Senhor não diz: “Naquele dia sabereis
que Eu estou nos céus e que vós estais na terra”.
Entretanto, esse é o ensinamento tradicional
sustentado por muitos cristãos. O Senhor diz
definitivamente: “Conhecereis que Eu estou em Meu
Pai, e vós em Mim, e Eu em vós”. O Senhor aqui nada
diz sobre ser representado neles pelo Espírito Santo.
Ele diz claramente: “Eu em vós”.
Com base na revelação de João 14, o Senhor
Jesus diz em 15:4: “Permanecei em Mim, e Eu
permanecerei em vós”. No versículo 5, Ele continua:
“Eu sou a videira, vós os ramos. Quem permanece em
Mim, e Eu nele, esse dá muito fruto; porque sem Mim
nada podeis fazer”. Ele aqui não fala simplesmente de
estar em nós, mas de permanecer em nós como nós
permanecemos Nele. Permanecer significa ficar, ser
permanente, continuar a existir. Cristo permanece
em nós, fica em nós. Isso não é representação, mas a
permanência em nós do próprio Cristo.

SUSTENTAR OS DOIS ASPECTOS DA


VERDADE
Em João 14:23, o Senhor Jesus diz: “Se alguém
Me ama, guardará a Minha palavra; e Meu Pai o
amará, e viremos a ele e faremos com ele morada”.
Aqui, o Senhor diz que o Pai e o Filho virão ao que O
ama e farão com ele morada. Mas o ensinamento
cristão tradicional é contrário a isso. Primeiro, há
uma ênfase no fato de que, depois de Sua
ressurreição, Cristo ascendeu aos céus. Segundo,
também é enfatizado que, depois de Sua ascensão, Ele
enviou o Espírito Santo de Deus sobre a igreja. Com
base nesses conceitos, os ensinamentos tradicionais,
ressaltando somente um lado da verdade, dizem que
Cristo está agora nos céus, e o Espírito Santo na terra,
representando-O nos crentes. Entretanto, essa visão
tradicional negligencia totalmente a palavra clara da
Bíblia acerca de Cristo habitar em nós. A Bíblia r
revela tanto que Cristo está no céu (Rm 8:34) como
também que está, de fato, em nós (Rm 8:10). Sobre
isso, precisamos crer nos dois aspectos da verdade e
sustentá-los.
No século passado, Robert Govett escreveu um
livro intitulado Os Dois Lados da Verdade Divina.
Como quase tudo o mais, a verdade divina na Bíblia
tem dois lados. A respeito de Cristo, um lado da
verdade divina é que Ele ascendeu aos céus e enviou o
Espírito Santo à terra. Mas o outro lado é que o
próprio Cristo de fato está em nós.
É realmente triste que muitos cristãos hoje
enfatizem apenas um lado da verdade e negligenciem
totalmente o outro. Isso dá margem a muitos
problemas e discussões. Precisamos voltar-nos dos
ensinamentos tradicionais para a pura Palavra e
aceitar os dois aspectos da verdade divina. Por
exemplo, a verdade da Trindade, o Deus Triúno, tem
dois lados. A palavra triúno, ou trino, significa
três-um. Vem da raiz latina significando três (tri-) e
um (-uno). Nosso Deus é triúno. De acordo com a
Bíblia, aceitamos a verdade que Deus é unicamente
um, e também três. Assim, cremos que Deus é Triúno,
é três-um.

A NECESSIDADE DE EXERCITAR O
ESPÍRITO
Uma coisa é ficar na mente natural e procurar
entender questões de maneira tradicional. É muito
diferente de exercitar o espírito para conhecer coisas
segundo a Palavra de Deus. Suponha que certo
professor universitário afirme ser ateu. Conforme sua
compreensão mental, não há Deus. Além disso, ele
diz aos outros que Deus não existe, mas se tal pessoa
se voltasse para o espírito, automaticamente oraria:
“Ó Deus, perdoa-me”. De acordo com sua
mentalidade, não há Deus, porque na mente natural é
impossível conhecê-Lo. Mas se ele se voltasse para o
espírito, imediatamente teria a sensação de Deus e
perceberia que precisa orar e pedir perdão.
Esse princípio com certeza se aplica a nós como
crentes. Alguns podem argumentar que nada há de
errado em haver muitas igrejas numa cidade. Tal
afirmação é feita de acordo com o conceito natural,
mas se essa pessoa se voltar ao espírito e ler o Novo
Testamento, vai adorar o Senhor e dizer: “Ó Senhor,
Tu és único, e Tua igreja também é única. Tu és a
Cabeça, e a igreja é o Corpo. Agora vejo que há uma
Cabeça e um Corpo. Também vejo que a expressão da
igreja numa cidade tem de ser única. Senhor,
perdoa-me por dizer que pode haver muitas igrejas
numa cidade”. Novamente vemos que usar somente a
mente natural para entender as coisas nos dá um
quadro, mas voltar ao espírito para perceber as coisas
espirituais nos dá outro quadro.
Porquanto Paulo exercitava o espírito, ele tinha
um conhecimento completo da situação e condição
dos crentes em Corinto. No capítulo dois, ele parece
dizer-lhes: “Visto que vocês, coríntios, ainda estão
usando apenas a mente filosófica grega, não
percebem a si mesmos. Com a mente não é possível
conhecer as coisas do homem. Vocês não conhecem a
sua situação, posição, condição, necessidade ou
destino. Pensam que são muito sábios, mas na
verdade são tolos e cegos. Conheço as coisas do
homem porque estou no espírito. Somente o espírito
do homem conhece as coisas do homem. Já que vocês
exercitam a mente, e não o espírito, não conhecem as
coisas do homem acerca da experiência de Cristo e a
igreja. Não percebem que estão do lado errado e
numa condição errada. Além do mais, perdem o
suprimento de Deus para suas necessidades. Nem
mesmo percebem que estão negligenciando seu
destino”.
Se exercitarmos o espírito, descobriremos que
nele habita o Espírito de Deus. Então conheceremos
não só as coisas do homem, mas também as de Deus.
Conheceremos a nós mesmos e também a Cristo.
Preocupo-me que até mesmo alguns entre nós
talvez não conheçam a si mesmos adequadamente.
Alguns talvez não saibam que estão na condição
errada. Pode haver muitas coisas que ainda não
confessaram a Deus e sobre as quais não foram por
Ele purificados. Podem ser orgulhosos nos
pensamentos, pensando que estão certos e todos os
demais, inclusive a igreja inteira, estão errados. Essa
maneira de pensar sobre si mesmos advém do seu
fracasso em exercitar o espírito. Mas se se voltassem
ao espírito e o exercitassem, diriam: “Ó Senhor, sou o
único que está errado. Estou errado em tudo e com
todos. ó Senhor, perdoa-me e purifica-me”.
Exercitar o espírito nos introduz no Espírito de
Deus. O Espírito de Deus nos capacita a conhecer não
só em que estamos errados, mas também que Deus
nos ama e Cristo quer ser nossa vida e pessoa. Pelo
Espírito de Deus, podemos também conhecer Cristo
como sabedoria de Deus para nós. Se continuarmos,
então, a viver no espírito mesclado, em nosso espírito
humano unido ao Espírito de Deus, descobriremos
que Cristo é nossa justiça, santificação e redenção
diárias. Vamos experimentá-Lo e desfrutá-Lo.
Também sentiremos nossa necessidade da igreja e
desejaremos ir às reuniões, embora outros possam
criticar-nos e questionar o que estamos fazendo.
Se usarmos o espírito, primeiro viremos a
conhecer a nós mesmos. Especificamente, saberemos
em que estamos errados em nossa posição, condição e
situação. Também saberemos em que estaremos
perdendo de vista as provisões divinas que Deus nos
predestinou, preparou, revelou e deu. Então faremos
uma confissão ao Senhor e buscaremos o Seu perdão.
Por fim, perceberemos que o Espírito de Deus habita
em nós e está ansioso por nos mostrar o quanto Cristo
nos ama e quão rico Ele é para nós, para nossa
experiência e desfrute. Isso nos fará desfrutar o
Senhor e ter um desejo crescente pela vida da igreja.
Essa é a experiência do espírito do homem
conhecendo as coisas do homem, e do Espírito de
Deus conhecendo as coisas de Deus.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM VINTE E DOIS
A IGREJA: LA VOURA E EDIFÍCIO DE DEUS (1)

Leitura Bíblica: 1Co 3:5-17


No capítulo três de 1 Coríntios, Paulo chega à
igreja. Embora a palavra igreja não se encontre nesse
capítulo, o que ele aborda aqui está muito relacionado
com a igreja.
Paulo compôs esse capítulo de forma muito
sábia. Ele não usou expressões superficiais a respeito
da igreja, antes, usou expressões muito profundas.
Nesse capítulo, ele usa três termos principais para
igreja: lavoura, edifício e santuário (ou templo).
No versículo 9, ele diz: “Porque de Deus somos
cooperadores; lavoura de Deus, edifício de Deus sois
vós”. Os crentes que foram regenerados em Cristo
com a vida de Deus são a Sua lavoura na nova criação
de Deus para cultivar Cristo, para que material
precioso seja produzido para o edifício de Deus. Daí,
somos não só a lavoura de Deus mas também o Seu
edifício. Corporativamente, como igreja de Deus,
temos Cristo plantado em nós. Ele também tem de
crescer em nós, e de nós Ele tem de produzir, no
sentido desse capítulo, não frutos, mas material
precioso como ouro, prata e pedras preciosas para a
edificação da habitação de Deus na terra. Assim, o
edifício de Deus, a igreja, é o aumento de Cristo, a Sua
expansão em Sua abrangência ilimitada.
Nos versículos 16 e 17, Paulo por duas vezes se
refere ao santuário de Deus: “Não sabeis que sois
santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em
vós? Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o
destruirá; porque o santuário de Deus, que sois vós, é
sagrado”. O santuário de Deus no versículo 16 se
refere aos crentes coletivamente em determinada
cidade, como em Corinto, ao passo que o santuário de
Deus no versículo 17 se refere a todos os crentes
universalmente. O santuário único e espiritual de
Deus no universo tem sua expressão em muitas
cidades na terra. Cada expressão é um santuário de
Deus naquela cidade.
O santuário de Deus nesses versículos é a
explicação do edifício de Deus no versículo 9. O
santuário é o edifício, que é produzido pelo material
cultivado na lavoura. Desse modo, temos a lavoura, o
edifício e o santuário. O edifício de Deus não é
comum; é o santuário do Deus santo, o templo no
qual o Espírito de Deus habita. Nós, os edificadores
de tal templo santo, devemos perceber isso para ser
cuidadosos ao edificar, não com material sem valor
como madeira, feno e palha, mas com material
precioso como ouro, prata e pedras preciosas (v. 12),
que corresponde à natureza e economia de Deus.
Na Epístola de 1 Coríntios, Paulo gasta mais
tempo para falar sobre a igreja do que sobre Cristo.
Vimos que nos dois primeiros capítulos, ele tem
muito a dizer sobre Cristo. Os problemas entre os
crentes em Corinto foram causados por sua falta de
experiência de Cristo. Por esse motivo, ele começa a
Epístola com Cristo e, então, continua com a igreja.
Onde Cristo está, aí também a igreja tem de
estar. Se pregarmos Cristo, precisamos também
pregar a igreja. Igualmente, se tivermos Cristo,
devemos estar na igreja. Cristo e a igreja não podem
ser divididos, assim como a cabeça não deve ser
separada do corpo. Separar a cabeça do corpo é trazer
morte ao corpo. Por isso, não devemos jamais separar
Cristo da igreja ou a igreja de Cristo.

A LAVOURA DE DEUS
O título desta mensagem é “A Igreja: Lavoura e
Edifício de Deus”. Esse título indica que a igreja é
tanto lavoura como edifício de Deus. Todos sabemos
que o propósito da lavoura é produzir alimento. Um
edifício é uma estrutura feita de certo material.
Aparentemente, uma lavoura não está relacionada
com um edifício porque a lavoura produz alimento, e
não material de construção. Ninguém construiria
uma casa com o produto cultivado numa lavoura. Os
produtos da lavoura aparentemente não são úteis
para construir. Entretanto, a lavoura no versículo 9 é
para a edificação. Tudo o que aí é produzido visa à
edificação.
No versículo 9, Paulo fala primeiro da lavoura de
Deus, depois do edifício de Deus. O motivo dessa
ordem é que o edifício depende da lavoura. Se não
houver lavoura, não poderá haver o edifício, porque a
lavoura produz material para o edifício.

AS PLANTAS NA LAVOURA DE DEUS


Todos os membros da igreja são plantas na
lavoura de Deus. Eles foram plantados pelos
ministros de Cristo (os cooperadores de Deus), foram
regados por outros ministros (também cooperadores
de Deus), e devem crescer em vida pelo próprio Deus.
Nós nos tomamos membros da igreja não
ingressando numa organização social, mas sendo
plantados. No versículo 6, Paulo diz: “Eu plantei,
Apolo regou, mas o crescimento veio de Deus”. Paulo
plantou os crentes em Corinto como igreja, que é a
lavoura de Deus, para que pudessem produzir Cristo.
É algo muito significativo ser uma planta na
lavoura de Deus. Na lavoura não há necessidade de
um mestre ensinar as plantas. Uma planta não
necessita que alguém lhe diga o que fazer ou como
crescer. Porém, entre os cristãos hoje, dá-se muito
ensinamento às plantas. Na verdade, os crentes não
são considerados plantas, mas alunos, como
estudantes. Antes de entrar na vida da igreja, eu era
um “aluno” na assembléia dos Irmãos Unidos.
Embora aprendesse muito sobre a Bíblia, estava
morrendo por falta de vida. Em vez de viver como
planta, eu vivia como estudante. Eu até me preocupo
que na igreja em algumas cidades haja uma escola em
vez de lavoura. Pode haver ensinamento, mas muito
pouca rega das plantas. Todos devemos praticar a
vida da igreja na forma de lavoura, na forma de
plantio, rega, cultivo e poda. Precisamos aprender
quando regar os santos, quando alimentá-los e
quando podá-los.

CULTIVAR MATERIAL PARA O EDIFÍCIO DE


DEUS
Plantar, regar e fazer crescer (v. 6) relacionam-se
com a vida. Isso indica que os crentes são lavoura de
Deus para cultivar Cristo. Como plantas na lavoura de
Deus, a igreja, precisamos crescer. Sem crescimento,
somos inúteis. Algumas plantas do meu jardim estão
vivas, mas não crescem. Igualmente, há muitos
crentes hoje que estão espiritualmente vivos, mas não
crescem. É claro, é melhor estar vivo do que morrer.
Já que estamos vivos, temos a oportunidade de
crescer. Espero que ninguém na restauração do
Senhor fique contente em viver sem crescer. Todos
precisamos crescer para produzir Cristo. Todos os
santos na restauração do Senhor precisam estar
desesperados para crescer. Devemos orar: “Senhor,
concede-me o crescimento”.
O propósito de nosso crescimento na lavoura de
Deus é produzir Cristo. Assim como é o objetivo de
uma vinha produzir uvas, também é o objetivo da
lavoura de Deus produzir Cristo. O ponto central
dessas mensagens sobre 1 Coríntios 3 é crescer para
produzir Cristo.
Como auxílio para fazer Cristo crescer,
precisamos considerar os capítulos um e dois muitas
vezes. Se você ler e orar-ler esses capítulos, será
regado e nutrido. O próprio elemento e substância de
Cristo serão infundidos em seu ser. Então
espontaneamente você crescerá e produzirá Cristo. O
resultado do seu crescimento será Cristo.
A intenção de Paulo em 1 Coríntios I e 2 é
apresentar Cristo como nossa porção, desfrute, vida,
viver, conteúdo e tudo. Cristo deve ser nossa escolha,
preferência, gosto e desfrute. Devemos desfrutá-Lo a
tal ponto que não nos importamos com qualquer tipo
de cultura. Em vez de viver a cultura, vivemos Cristo.
Ele se toma tudo para nós no viver diário: nossa
cultura, ética e moralidade.
Quando crescermos adequadamente, Cristo será
produzido em nós. Então, tudo o que cultivarmos
Dele se tomará o material para a edificação de Deus.
A igreja é edificada somente com Cristo. Entretanto,
ela não-é edificada com o Cristo objetivo, que está nos
céus ou de repente desce dos céus. Pelo contrário, é
edificada com o Cristo que experimentamos e até é o
produto cultivado por nós. Assim, para a edificação
da igreja, precisamos ter o Cristo produzido mediante
o nosso crescimento em vida.
No Estudo-Vida de Êxodo, enfatizamos que o
material usado para a edificação do tabernáculo era
chamado de oferta alçada. Isso quer dizer que o
material criado por Deus tinha de ser ganho,
possuído, desfrutado e valorizado pelo povo redimido
de Deus. Então, as pessoas deviam trazer o material e
apresentá-lo a Deus como oferta alçada. Somente
material ganho, possuído e oferecido dessa forma
poderia ser adequado para a edificação do
tabernáculo. Isso significa que precisamos ganhar,
possuir e desfrutar as riquezas de Cristo até que se
tomem nosso tesouro. Depois precisamos trazer o que
experimentamos de Cristo às reuniões da igreja e
oferecer esse Cristo ao Senhor como oferta alçada.
Esse Cristo então se tomará o material usado para a
edificação da igreja.
Uma vez que os cristãos de hoje não
experimentam nem produzem Cristo, não há
edificação entre eles. Edificar a igreja não é mera
questão de pregar o evangelho, salvar pecadores e
trazer esses recém-salvos à assim chamada igreja.
Isso não é a edificação da igreja, é o amontoado de
material bruto. Entre muitos crentes hoje, o melhor
que pode ser visto é esse amontoado de material para
edificação. Mas onde está a verdadeira edificação?
Não há edifício porque não há experiência de Cristo,
não há crescimento de Cristo como material para a
edificação de Deus. Agora que vimos que somos
lavoura de Deus, precisamos crescer na vida divina
para produzir Cristo.
PLANTAR E REGAR
No versículo 6, Paulo diz: “Eu plantei, Apolo
regou, mas o crescimento veio de Deus”. Se
quisermos cultivar Cristo na lavoura, precisamos
plantar e regar. Entretanto, não devemos pensar que
somente pessoas como Paulo e Apolo são
responsáveis pelo plantio e rega. Todos na igreja
devem realizar essa obra. Contudo, não temos esse
conceito. Em vez disso, quando descobrimos que
alguém está fraco em determinadas questões,
podemos mencionar isso aos presbíteros. Se um
irmão vier até você e você perceber que ele está fraco
você deve alimentá-lo e nutri-lo. Em vez de chamar os
presbíteros, você mesmo deve alimentá-lo e nutri-lo.
É crucial que todos aprendamos isso.
Você pode sentir que está fraco e muito
debilitado em vida. Entretanto, outros estão ainda
mais fracos e debilitados que você. Se um deles
contatá-lo, você precisa rega-lo. Então você será
regado também. Mas isso não quer dizer que
devemos regar os outros de propósito. Antes, o regar
deve ser feito espontaneamente e até mesmo
inconscientemente. Sempre que alguém mais fraco
vem a você, não decida por si mesmo regá-lo. Isso é
uma representação, e não um regar autêntico. Se você
regar outro santo espontaneamente, ou mesmo sem
intenção, o Senhor soberanamente enviará outros até
você para regá-los. Por fim, você descobrirá que ao
regá-los, você mesmo é regado. Isso é o verdadeiro
reavivamento. Na vida da igreja, todos devemos regar
um ao outro. Então cresceremos para produzir Cristo.
O motivo de nos faltar a prática de regar os
outros é que ainda estamos sob a influência do
cristianismo. Nós, é claro, não temos os termos
clérigos e leigos, mas podemos ainda ter essa prática.
Muito embora tenhamos deixado nosso passado
religioso para trás, a influência desse passado ainda
nos segue e impede de regar os outros. Por exemplo,
um irmão pode dizer para si mesmo: “Quem sou eu?
Nada sou. Que os presbíteros e os mais
experimentados cuidem dos outros. Sou apenas um
pequeno irmão na igreja. Como posso ajudar
alguém?” Esse conceito tem de ser desarraigado de
nós. Ninguém deve apegar-se ao conceito de que está
fraco demais ou muito debilitado em vida para regar
os outros. Talvez você esteja fraco, mas não está
morto. Embora possa sentir-se morto, o fato de ainda
estar na vida da igreja prova que não está
completamente morto. Uma vez que ainda está vivo, é
capaz de regar os outros. Não se considere inútil.
Assim como todos os membros do corpo físico são
úteis, não há membro da igreja que seja inútil e não
consiga cuidar de outros regando-os.
Por causa de nosso passado religioso, é-nos fácil
aplicar a palavra de Paulo somente a pessoas como
Paulo e Apolo. Podemos pensar que somente certas
pessoas podem plantar e regar, mas nós mesmos não
somos capazes disso. Alguns podem pensar que os
presbíteros ou líderes em sua cidade devam executar
todo o regar. Outros talvez se concentrem nas
próprias necessidades de ser regados por outros, e
não na importância de rega-los. Novamente digo que
esse conceito precisa ser desarraigado. Todos somos
capazes de regar os outros. Não vamos ter a prática
do cristianismo de hoje. A igreja é o Corpo de Cristo.
No Corpo, cada membro é útil e pode funcionar. Que
o veneno da prática de clérigos e leigos seja
completamente eliminado!
Espero que todos os santos vejam que são
capazes de plantar e regar. Doravante, não devemos
considerar que somente os presbíteros e os mais
experientes podem ajudar os outros. Pelo contrário,
todos temos de perceber que devemos ser aqueles que
ajudam os outros. Encorajo você a orar: “Senhor, tem
misericórdia de mim e concede-me graça para que eu
possa viver-Te a fim de regar os outros. Sempre que
alguém vier até mim com um problema, lembra-me
de tomar o encargo de ajudá-lo e regá-lo”.
Alguns podem temer que, se tentarem plantar e
regar, cometerão erros. Talvez você faça algo errado.
Mas fique encorajado com o fato de que o verdadeiro
aprendizado vem com atividade, com a prática. Você
pode cometer erros em certas coisas, mas por fim
aprenderá com seus erros e se tomará habilidoso em
plantar e regar. Em certas questões, você pode até se
tomar mais útil ainda que os presbíteros. O número
de presbíteros na igreja numa cidade é pequeno.
Como poderiam cuidar de tantos irmãos? Em vez de
procurar que os presbíteros façam tudo, pegue o
encargo de cuidar dos outros, de regá-los. Nós
estamos na restauração do Senhor para praticar a
vida da igreja. A fim de praticá-la de maneira
adequada, todos devemos plantar e regar.
Uma vez que Paulo diz que ele plantou e Apolo
regou, não pense que Paulo é útil somente para
plantar e Apolo somente para regar. Não, os que
lavram não só plantam ou regam; eles fazem tudo o
que é necessário: plantar, regar, adubar e até cortar e
podar as plantas. Por meio da prática, vamos
aprender a fazer todas essas coisas na vida da igreja.
Não é verdade que você deva somente plantar ou
regar e não se envolver com outras coisas. Antes,
todos temos de aprender a fazer tudo o que for
necessário para produzir o crescimento de Cristo na
lavoura de Deus. Isso até inclui aprender a matar a
“praga” que assola as plantas. Um santo mais fraco
pode contatá-lo e você pode perceber que ele está
sendo incomodado por certa “praga”.
Espontaneamente, você pode perceber que também
está infestado por essa mesma “praga” e que os dois
precisam do mesmo remédio.
Espero que todos os santos na restauração do
Senhor toquem o encargo desta mensagem e também
entrem no espírito no qual ele foi dado. Então
seremos ajudados a crescer na lavoura de Deus a fim
de produzir Cristo, e também aprenderemos a cuidar
dos outros.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM VINTE E TRÊS
A IGREJA: LA VOURA E EDIFÍCIO DE DEUS (2)

Leitura Bíblica: 1Co 3:5-17

DOIS ASPECTOS DE PLANTAR


Em 3:6 e 7, Paulo fala de plantar e regar: “Eu
plantei, Apolo regou; mas o crescimento veio de
Deus. De modo que nem o que planta é alguma coisa,
nem o que rega, mas Deus que dá o crescimento”.
Plantar é ministrar e partilhar vida a alguém que está
espiritualmente morto de modo que se tome vivo.
Quando a vida é infundida numa pessoa morta em
pecados, ela se toma uma planta viva. Visto que Paulo
infundiu vida nos coríntios, ele era seu pai em Cristo.
Em 4:15, ele diz: “Porque, ainda que tivésseis
milhares de preceptores em Cristo, não teríeis,
contudo, muitos pais; pois eu pelo evangelho' vos
gerei em Cristo Jesus”. Antes de Paulo ir a Corinto, os
coríntios não eram plantas. Antes, eram pecadores
mortos. Mas quando ele os visitou, infundiu vida
neles e eles se tomaram plantas vivas. Esse é o
primeiro aspecto do plantar.
a segundo aspecto do plantar é introduzir as
plantas vivas em contato com o solo adequado e
colocá-las nesse solo. Com certeza, o solo correto no
qual as plantas podem crescer é a vida da igreja. Por
um lado, precisamos aprender a infundir Cristo nos
pecadores por meio da pregação do evangelho em
vida. Quando Cristo é infundido nos outros, eles se
tomam plantas vivas. Por outro lado, precisamos
plantar esses vegetais no solo adequado, a vida da
igreja. Essas duas coisas juntas constituem o plantar.

UMA QUESTÃO DE VIDA


Plantar, regar e fazer crescer relacionam-se com
a vida. Isso indica claramente que os crentes são a
lavoura de Deus para cultivar Cristo. Os ministros de
Cristo podem plantar e regar. Deus é o único que
pode fazer crescer. Os crentes coríntios
superestimavam o plantador e o regador, mas
negligenciavam Aquele que faz crescer. Assim, eles
não cresciam em Cristo como sua vida.
Os crentes coríntios, sob a influência da
sabedoria filosófica grega, prestavam demasiada
atenção ao conhecimento e negligenciavam a vida.
Nesse capítulo, o objetivo de Paulo é voltar a atenção
deles do conhecimento para a vida, enfatizando-lhes
que ele é o que alimenta e planta. Apolo é o que rega e
Deus é o que dá crescimento. Em 4:15, ele até lhes diz
que ele é o pai espiritual deles, que os gerou em Cristo
mediante o evangelho. Do ponto de vista da vida, a
visão divina, eles são lavoura de Deus para cultivar
Cristo. Isso é totalmente uma questão de vida, uma
questão completamente perdida de vista pelos
crentes que são dominados por sua vida natural,
anímica, sob a influência de sua sabedoria natural.
No versículo 7, Paulo diz: “De modo que nem o
que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus,
que dá o crescimento”. No tocante ao crescimento de
vida, todos os ministros de Cristo, sejam os que
plantam, sejam os que regam, nada são, e Deus é
tudo. Precisamos voltar os olhos deles para Deus
somente. Isso nos liberta do espírito faccioso que
resulta do apreço por um ministro de Cristo em
detrimento de outro.

PLANTAR, REGAR E CRESCIMENTO


Na vida da igreja, precisamos aprender não só a
plantar, mas também a regar. Na verdade, regar os
outros é muito fácil. Suponha que um santo venha até
você com um problema. Não tente resolver o
problema dele. De fato, não somos capazes de
resolver os problemas dos outros. Você mesmo não
tem muitos problemas que ainda não foram
resolvidos? Uma vez que você não resolveu seus
próprios problemas, como pode esperar ajudar os
outros nos problemas deles? Desse modo, ao regar os
santos, devemos esquecer-nos de tentar resolver seus
problemas. Segundo a minha experiência, a melhor
maneira de regar os outros é orar-ler alguns
versículos com eles. Por exemplo, um irmão pode
apresentar um problema acerca do seu emprego ou
vida familiar. Em vez de tocar no problema, leia e ore
a Palavra com ele. Se fizer isso, os dois serão regados.
Você saberá que ele foi regado, pois você mesmo o foi.
Ter consciência de que você foi regado prova que você
o regou.
Em seu contato com outros, perde-se muito
tempo com conversa vã. Problemas não podem ser
resolvidos com conversa. Mesmo que você seja capaz
de resolver o problema de alguém, isso não o suprirá
de vida nem vai rega-lo. Em vez disso, vai matá-lo,
Repito, não devemos tentar resolver os problemas
dos outros. Quanto mais o tentarmos, mais
problemas haverá e mais os outros serão mortos
pelos nossos esforços.
Em vez de nos envolver com problemas, devemos
ser simples no contato com os que vêm a nós para ter
comunhão. Deus é nosso Pai, e por fim cuidará de
todos os nossos problemas. A questão crucial é regar.
Já enfatizamos que, lendo-orando com outro santo,
podemos regá-lo. As vezes, basta apenas orar com ele.
Orando, a outra pessoa é conduzida ao Senhor e nós
somos introduzidos no Senhor de forma mais
profunda. Como conseqüência, os dois lados são
regados. Eis uma maneira muito prática de regar os
santos na vida da igreja.
Nos versículos 6 e 7, Paulo fala não só de plantar
e regar, mas também de crescer. Ele ressalta que só
Deus é que faz crescer. O crescimento na lavoura de
Deus produz o material para o edifício de Deus.
Já que é Deus que faz crescer; precisamos deixar
a questão do crescimento para Ele. Nossa
responsabilidade é plantar e regar, e não ajudar os
outros a crescer. Se tentarmos ajudar os outros a
crescer, estaremos indo além de nossa
responsabilidade. Fazer os santos crescer é ir além de
nossa capacidade. Nenhum de nós consegue fazer os
outros crentes crescer. Nem mesmo Paulo era capaz
disso. Ele tinha muita clareza de que podemos
plantar e regar, mas somente Deus dá o crescimento.
Enquanto estamos plantando e regando,
precisamos ter a certeza com fé de que Deus fará
crescer. Precisamos crer que Deus está aqui e vai
fazer com que tudo que plantamos e regamos cresça.
Se tivermos essa certeza, não tentaremos ajudar os
outros a crescer.
Se tentarmos ajudar as outras plantas a crescer,
podemos danificá-las e arrancá-las. Uma vez li sobre
um garotinho que estava aborrecido pois a grama
perto de sua casa não crescia muito bem. Querendo
ajudá-la a crescer, ele arrancou muitas camadas.
Como resultado, em vez de crescer, a grama morreu.
O que esse garotinho fez à grama ilustra o que alguns
santos fazem na vida da igreja hoje. Os presbíteros
em algumas igrejas não estão plantando ou regando,
antes, em seus esforços por ajudar os santos a crescer,
eles os arrancam. Quanto mais os presbíteros ajudam
dessa maneira, menos as plantas crescem.
É importante ter a plena certeza de que quando
plantamos e regamos, Deus faz crescer. Assim, depois
de plantar e regar, devemos ficar descansados e não
tentar ajudar os outros a crescer. O crescimento não
vem de nós; vem totalmente de Deus. Por meio da
vida da igreja e do nosso. regar, Deus suprirá as
plantas e as fará crescer. Enquanto os santos
permanecem na vida da igreja e são regados, Deus os
faz crescer.

A EDIFICAÇÃO: O OBJETIVO ETERNO DE


DEUS
A igreja é não só a lavoura de Deus mas também
o Seu edifício. À medida que crescemos na lavoura,
produzimos material precioso para a edificação da
habitação de Deus na terra. O objetivo eterno de Deus
é a edificação, o santuário construído com material
precioso em Cristo como o único fundamento. A obra
de edificação é cumprida não só por intermédio de
pessoas como Paulo, Apolo e Cefas, mas também por
meio de todo membro do Corpo, como revela Efésios
4:16.
Sobre a edificação, Paulo diz em 3:11 e 12:
“Porque ninguém pode lançar outro fundamento,
além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo. Contudo,
se o que alguém edifica sobre o fundamento é ouro,
prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha”. O
fundamento do edifício é único, mas o edifício pode
diferir devido aos diferentes edificadores com
material diferente. Todos os crentes coríntios tinham
aceitado Cristo como o fundamento. Entretanto,
alguns crentes judeus entre eles tentavam edificar a
igreja com seus conhecimentos judaicos e alguns
crentes gregos tentavam usar sua sabedoria filosófica.
Não eram como os apóstolos, que edificavam com o
seu excelente conhecimento e ricas experiências de
Cristo. A intenção do apóstolo nessa Epístola é
advertir os crentes a não edificar a igreja com as
coisas do seu passado natural. Eles têm de aprender a
edificar com Cristo, tanto em conhecimento objetivo
como em experiência subjetiva, como Paulo fez.
Já enfatizamos que no versículo 16 o santuário se
refere aos crentes coletivamente em certa cidade, mas
no versículo 17 refere-se a todos os crentes
universalmente. O único santuário espiritual de Deus
no universo tem sua expressão em diversas cidades
na terra. Cada expressão é um santuário de Deus
naquela cidade. Além disso, o santuário no versículo
16 é a explicação do edifício de Deus no versículo 9. O
edifício de Deus é o santuário de Deus, o santuário no
qual o Espírito de Deus habita.
Os crentes gregos filosóficos em Corinto não
tinham a percepção adequada de que o objetivo
eterno de Deus é ter um santuário. Em vez de se
importar com esse objetivo, eles se importavam com
seus interesses, preferências, escolhas e gostos
pessoais. Isso é provado pelo fato de que em 1:12
Paulo enfatiza que cada um deles diz: “Eu sou de
Paulo, e eu, de Apolo, e eu; de Cefas, e eu, de Cristo”.
Isso indica que para alguns Paulo era sua preferência;
para outros Apolo era sua escolha; ainda para outros
Cefas estava de acordo com o seu gosto. Os crentes
em Corinto se importavam com muitas questões
pessoais e individuais, mas negligenciavam a
edificação de Deus como Seu eterno objetivo.
No capítulo três, Paulo se esforçava por mostrar
aos coríntios que o objetivo eterno de Deus é a
edificação. Isso significa que Deus não quer que os
crentes sejam individualistas. Ele definitivamente
não quer que os santos tenham preferências pessoais,
individualistas, por Paulo, Apolo, Cefas ou até mesmo
um Cristo limitado. Deus se importa com a edificação
e deseja que todos os crentes numa cidade sejam
edificados como Seu santuário. Além disso, se
quisermos ser edificados para nos tomar a habitação
de Deus, precisamos crescer, e para isso precisamos
do regar. Desse modo, o plantar, o regar e o
crescimento visam todos ao objetivo de Deus, a
edificação.
Paulo tinha uma compreensão clara do objetivo
de Deus. Ele também percebeu claramente que os
crentes gregos em Corinto eram individualistas
demais em seu conceito e prática. Não é o objetivo de
Deus meramente ter muitos crentes individualistas.
Seu objetivo é ter uma lavoura que produza material
para a edificação do santuário santo como Sua
habitação.

CUIDAR DA VIDA CORPORA TIVA DA


IGREJA
Precisamos considerar o pano de fundo dessa
Epístola para entender o uso que Paulo faz das
expressões lavoura e edifício de Deus. Os crentes
gregos em Corinto não se importavam com a vida
corporativa da igreja; antes, se importavam com seus
interesses pessoais e individuais. Isso produziu
divisões. Sempre que há divisões, não pode haver o
santuário de Deus. Portanto, depois de abordar certos
pontos cruciais nos capítulos um e dois, Paulo indica
no capítulo três que os coríntios estão totalmente
errados ao se importar com seus interesses
individuais e não com o santuário, o edifício
corporativo de Deus.
Em 3:17, Paulo especificamente enfatiza que o
edifício de Deus, o santuário, é santo; não é secular,
mundano ou grego. Na verdade, a palavra santo nesse
versículo está em contraste com a palavra grego. O
santuário santo de Deus é separado de qualquer coisa
humana, secular e mundana; especificamente, de
qualquer coisa grega.
Se considerarmos o contexto dos primeiros três
capítulos desse livro, vamos perceber que a intenção
de Paulo era impressionar os crentes em Corinto que
o edifício de Deus é separado de qualquer coisa grega.
Os crentes gregos ainda valorizavam sua sabedoria,
filosofia, cultura e modo de vida. Consideravam a
cultura grega a melhor. Paulo porém diz que o
santuário de Deus é santo, separado de qualquer
coisa terrena e, principalmente, de qualquer coisa
grega.
No versículo 16, ele indica que o Espírito de Deus
habita nos crentes como Seu santuário corporativo,
mas já que os crentes em Corinto eram
individualistas e se importavam com seus interesses
pessoais, principalmente com sua filosofia e modo de
viver gregos, eles não eram santos, nem corporativos.
Então, não podiam experimentar ou desfrutar muito
o habitar do Espírito. Se não tivermos uma vida da
igreja corporativa adequada, não poderemos ter
muito desfrute do habitar do Espírito. Sim, o Espírito
habita no nosso espírito, mas o fato de Ele habitar na
igreja, corporativamente, é muito mais rico e
predominante que habitar nos crentes
individualmente.
Se considerarmos todos esses pontos, vamos
perceber que o conceito de Paulo é profundo. Sua
idéia é convencer todos os crentes individualistas
gregos de que eles precisam cuidar da vida da igreja
corporativa, e não de seus interesses, preferências e
escolhas individualistas.

O ÚNICO FUNDAMENTO
Sabemos, por meio de 3:11, que Cristo é o único
fundamento para a igreja como edifício de Deus.
Ninguém pode lançar outro fundamento. Entretanto,
alguns crentes em Corinto tomavam Paulo, Apolo ou
Cefas como seu fundamento. Ao declarar que eram de
Paulo, Apolo ou Cefas, estavam dizendo que esses
eram seu fundamento e base. Em 1:13, Paulo lhes
pergunta: “Foi Paulo crucificado em favor de vós ou
fostes, porventura, batizados em nome de Paulo?”
Fazendo-lhes essas perguntas, ele enfatizou que ele
não é o fundamento único. Pelo contrário, ele diz em
3:10: “Segundo a graça de Deus que me foi dada,
lancei o fundamento como prudente construtor”. a
único fundamento não é Paulo, Apolo, Cefas ou
qualquer outro além de Jesus Cristo, o Filho de Deus.
O problema entre os coríntios é que eles
tentavam lançar muitos outros fundamentos. Vemos
no capítulo catorze que, para alguns, falar em línguas
era um fundamento. Isso indica que é possível uma
prática específica tomar-se um fundamento.
Portanto, Paulo queria que os crentes em Corinto
percebessem que ele já tinha lançado o único
fundamento: Jesus Cristo.
Primeira Coríntios 3:10 diz: “Segundo a graça de
Deus que me foi dada, lancei o fundamento como
prudente construtor; e outro edifica sobre ele. Porém
cada um veja como edifica”. Esse versículo indica que
a igreja é edificada não só pelos ministros de Cristo,
como Paulo, Apolo e Cefas, mas por cada membro do
Corpo. Cada um de nós tem de ser um construtor.
Devemos perceber não só que somos
construtores, mas também que precisamos atentar
para o modo de edificar sobre Cristo como o único
fundamento. Como veremos, a igreja, a casa de Deus,
tem de ser edificada com ouro, prata e pedras
preciosas, o material produzido pelo crescimento de
Cristo em nós. Contudo, como indica o versículo 12,
há a possibilidade de edificar com madeira, feno e
palha, material produzido por nós na carne e na vida
natural. Daí, cada um de nós, cada membro do Corpo,
tem de ver como edifica, isto é, precisamos atentar
para o material com que edificamos. Precisamos
edificar com ouro, prata e pedras preciosas, e não
com madeira, feno e palha.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM VINTE E QUATRO
O NECESSÁRIO CRESCIMENTO EM VIDA (1)

Leitura Bíblica: 1Co 3:1-9


A idéia subjacente de Paulo nos capítulos um e
dois é que Cristo é o único centro de Deus e também a
porção dos santos. A partir do capítulo três, Paulo fala
sobre a igreja. Quando passa a abordar essa questão,
ele escreve, de forma muito significativa, proveitosa e
vivificadora, sobre alimentar, plantar e regar para
haver crescimento. Em 3:9, ele diz que a igreja é
lavoura e edifício de Deus. Embora não use a palavra
igreja nesse capítulo, ele fala sobre a igreja de forma
maravilhosa. Escreve sobre a igreja não em forma de
doutrina, mas de experiência de vida.

ESPIRITUAL, ANÍMICO E CARNAL


Em 3:1, Paulo diz: “Eu, porém, irmãos, não vos
pude falar como a espirituais, e sim como a carnais,
como a crianças em Cristo”. Paulo aqui é muito
franco ao dizer aos coríntios que não poderia
falar-lhes como a espirituais, mas como a carnais. Um
homem espiritual é alguém que não se comporta
segundo a carne ou age de acordo com a vida anímica,
isto é, da alma, mas vive conforme o espírito, ou seja,
seu espírito mesclado com o Espírito de Deus. Ele é
dominado, governado, dirigido, movido e guiado por
tal espírito mesclado.
O vocábulo grego para carnal no versículo 1 é
mais enfático do que o que aparece no versículo 3
[também traduzido por carnal em português, apesar
de ser diferente em grego], e se refere aos aspectos
mais grosseiros da carne. O primeiro denota feito de
carne; o segundo denota influenciado pela natureza
da carne, participante do caráter carnal. No
versículo 1, o apóstolo considera os crentes coríntios
como totalmente da carne, feitos de carne, ou seja, a
carne. Que palavra forte! Então, no versículo 3, o
apóstolo condena o comportamento deles de ciúmes e
contendas como carnal, sob a influência de sua
natureza carnal e sendo parte do caráter da carne.
Esse livro revela que um crente pode ser de três
tipos: espiritual, vivendo em seu espírito sob a unção
do Espírito Santo (Rm 8:4; GI5:25); anímico, vivendo
em sua alma sob a direção da alma, a vida natural
(2:14) ou carnal, da carne e vivendo na carne sob a
influência na natureza da carne. O Senhor Jesus
deseja que todos os crentes recebam Sua graça para
ser o primeiro tipo: homens espirituais. Esse é o
objetivo desse livro: motivar os crentes coríntios, que
são anímicos e carnais, a aspirar ao crescimento de
vida para se tornar espirituais (2:15; 3:1; 14:37).
Como fomos chamados por Deus à comunhão de
Cristo (1:9), que é agora o Espírito que dá vida
(15:45), e somos um espírito com Ele (6:17), podemos
experimentá-Lo e desfrutá-Lo somente quando
vivemos em nosso espírito sob a direção do Espírito
Santo. Quando vivemos na alma ou na carne,
perdemos o alvo de participar Dele.

CRIANÇAS EM CRISTO
Em 3:1, Paulo se refere aos crentes em Corinto
como crianças em Cristo. Embora tivessem recebido
todos os dons iniciais em vida e de nenhum tivessem
falta (1:7), eles não tinham crescido em vida depois de
recebê-los; antes, permaneciam como crianças em
Cristo; não espirituais, mas carnais. O apóstolo aqui
enfatiza a deficiência deles e indica sua necessidade,
isto é, crescer em vida até a maturidade, ser
plenamente crescidos (2:6; Cl 1:28).
No versículo 2, Paulo prossegue: “Leite vos dei a
beber, não vos dei alimento sólido; porque ainda não
podíeis suportá-lo. Nem ainda agora podeis, porque
ainda sois carnais”. Dar leite a beber ou comida para
comer é alimentar os outros. Alimentar refere-se à
vida. Isso difere de ensinar, que se refere ao
conhecimento. O que o apóstolo ministrava aos
crentes coríntios parecia ser conhecimento. Na
verdade, era leite (ainda não era alimento sólido), e
isso devia tê-los nutrido. Leite é principalmente para
crianças, ao passo que alimento sólido é para os
amadurecidos (Hb 5:12). O fato de os crentes
coríntios não poderem receber alimento sólido indica
que não estavam crescendo em vida.
No versículo 3, Paulo continua: “Porquanto,
havendo entre vós ciúmes e contendas, não é assim
que sois carnais e andais segundo os homens?”
Ciúmes e contendas são expressões e características
da natureza da carne. Daí, caracterizam os que estão
na carne, os que são carnais. Todo ser humano caído
é carne (Rm 3:20; GI2:16). Por isso, andar de acordo
com o homem é andar segundo a carne.
O versículo 4 diz: “Quando, pois, alguém diz: Eu
sou de Paulo; e outro: Eu, de Apolo; não é evidente
que andais segundo os homens?” A palavra homens
aqui se refere a homens da carne, a homens naturais
caídos, a homens do mundo. Em vez de andar de
acordo com o homem natural, devemos andar
conforme o espírito mesclado. Contudo, ao dizer que
eram de Paulo ou de Apolo, os coríntios andavam de
acordo com o homem natural caído. Eles não viviam e
agiam segundo o Espírito em seu espírito humano
regenerado. No versículo 8, Paulo declara: “Ora, o
que planta e o que rega são um”. Ele aí parece estar
dizendo: “Eu e Apolo somos um. Sou um com Apolo e
ele é um comigo. Por que vocês tentam dividir-nos?
Por que alguns de vocês dizem que são dele e outros
dizem que são meus? Falar dessa maneira é ser
faccioso. Apolo e eu somos um no ministério dado por
Deus. Eu plantei e ele regou, mas ambos partilhamos
do único ministério. Além do mais cada um receberá
o seu próprio galardão conforme seu próprio labor.
Somos os cooperadores de Deus e vocês, a lavoura, o
edifício de Deus”.

PLANTAS NECESSITAM DE CRESCIMENTO


Em 3:1-9, vemos que Paulo considerava todos os
crentes em Cristo como plantas que precisam de
crescimento. A coisa mais necessária para uma planta
é crescer. Os crentes coríntios não tinham falta dos
dons iniciais em vida, que são a vida eterna e o
Espírito Santo; todavia, eram desesperadamente
carentes do crescimento em vida. Os dons iniciais
foram dados com o objetivo de crescimento e
desenvolvimento.
Muitos cristãos hoje não percebem que
receberam os dons iniciais em vida e que precisam
urgentemente de crescimento de vida. A questão mais
negligenciada entre os crentes são os dons iniciais
para o crescimento de vida. Espero que muitos entre
nós, principalmente os jovens, percebam que têm a
vida divina e o Espírito Santo neles como dons
iniciais e esses dons precisam crescer e
desenvolver-se.
Os crentes coríntios tinham recebido os dons
iniciais em vida como semente. Isso quer dizer que a
semente fora plantada em seu ser, e seu ser era a
terra. Mas embora tivessem recebido a semente,
ainda precisavam do crescimento em vida para o
desenvolvimento dos dons já recebidos.

OS DONS INICIAIS E OS DONS


MIRACULOSOS
Muitos cristãos falam sobre dons, mas não
prestam atenção aos dons iniciais. Os dons em 1:7 são
os dons iniciais, e são diferentes dos que estão nos
capítulos doze e catorze. Nos capítulos doze e catorze,
temos tanto os dons miraculosos como os dons
maduros. O falar em línguas autêntico é um dom
miraculoso. Por exemplo, foi certamente um milagre
a jumenta de Balaão falar. Embora possa ser
chamado de dom, com certeza aquilo não era o dom
inicial de vida. Os crentes podem ficar espantados
com a manifestação de um dom miraculoso, talvez
considerem os dons iniciais da vida eterna e do
Espírito Santo muito comuns e indignos de muita
atenção. Entretanto, embora os dons miraculosos
tenham origem em Deus, eles na verdade não têm
tanto valor como os dons iniciais. Sem dúvida, foi por
Deus que a jumenta de Balaão falou. Mas esse
acontecimento miraculoso não proporcionou à
jumenta ou a Balaão muita ajuda em vida.
Muitos cristãos hoje apreciam dons miraculosos
mais que os dons iniciais. Alguns gostariam muito
que todo crente falasse em línguas, mesmo que as
línguas não fossem autênticas. Posso testificar isso
pela experiência. Em 1963, fui convidado por certo
grupo pentecostal. Depois de uma das reuniões, o
líder desse grupo e a esposa tentaram fazer com que
determinado irmão chinês falasse em línguas. A
esposa lhe disse que não falasse nem inglês nem
chinês, mas fizesse outros sons. O irmão percebeu
que, para sair daquela situação, tinha de dizer alguma
coisa. Lembrando-se de algumas palavras em malaio,
ele proferiu alguns vocábulos que lembrava dessa
língua. Imediatamente, o líder desse grupo
pentecostal e a esposa bateram palmas e se
regozijaram por esse irmão ter falado em línguas. No
dia seguinte, disse ao casal o que de fato acontecera e
ainda os questionei sobre essa prática.
Ademais, em uma das reuniões desse mesmo
grupo pentecostal, uma mulher falou uma pequena
frase em línguas. Então um jovem deu uma longa
interpretação da frase. Mais tarde, o líder do grupo
admitiu que a interpretação dada pelo jovem não era
autêntica. Eu então perguntei-lhe por que ele se
envolvia nessas práticas quando temos tão rico Cristo
para ministrar aos outros. Ele nada conseguiu
responder.
Os crentes pentecostais ignoram os dons iniciais
por causa dos dons miraculosos, e muitos
fundamentalistas prestam atenção não a dons, mas à
doutrina. Assim, entre os pentecostais e
fundamentalistas há séria negligência com relação
aos dons iniciais, aos dons da vida divina e do
Espírito Santo. Que lamentável é a situação entre
tantos cristãos hoje! Isso me faz ter encargo de
enfatizar a importância crucial dos dons iniciais.
Todos precisamos ver que eles são a semente
plantada em nós e precisam ser desenvolvidos e
cultivados. Nessa Epístola, Paulo procura
desenvolver e cultivar os dons iniciais recebidos pelos
crentes coríntios. Ele percebia plenamente que os
crentes ali eram infantis e desesperadamente
carentes de crescimento. Ele só podia alimentá-los
com leite, mas o seu desejo era supri-los com
alimento sólido.

CRESCER PELO SUPRIMENTO DE VIDA


Novamente desejo enfatizar que, quando lemos
ou estudamos a Bíblia, precisamos penetrar no
espírito do autor. Em 1 Coríntios 3, o encargo no
espírito de Paulo era ajudar os crentes a perceber o
que tinham e o que precisavam. Eles tinham a vida
divina e o Espírito Santo e precisavam de crescimento
em vida e no Espírito Santo. Mas como poderiam
crescer? Para crescer, precisavam ser regados.
Embora os santos pudessem regar os outros, o
crescimento advém somente do próprio Deus. Como
Paulo diz: “Eu plantei, Apolo regou, mas o
crescimento veio de Deus. De modo que nem o que
planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que
dá o crescimento”. Se o crescimento advém
tão-somente de Deus, os que regam os outros devem
ajudá-los a contatar Deus. Na verdade, contatar Deus
é por si só o regar. Desse modo, a melhor maneira de
ser regado é contatá-Lo. Se você puder ajudar alguém
mais fraco ou mais jovem a ter contato com Deus, isso
o introduzirá num regar genuíno. O regar então
suprirá os ingredientes de vida aos que já possuem a
vida divina. Quando esses ingredientes lhes são
acrescentados, eles terão um suprimento adicional de
vida. Então crescerão espontaneamente. Assim como
o adubo ajuda as plantas a crescer de forma
espontânea, também os crentes em Cristo crescem
espontaneamente recebendo mais suprimento de
vida.
Muitos dos que estão no movimento carismático
ou pentecostal não se importam com a vida e o
crescimento de vida. A maioria nem mesmo
compreende o que é vida. Em vez de se concentrar no
desenvolvimento da vida divina nos crentes, eles
dedicam sua atenção a buscar os dons miraculosos.
Como resultado, muitos que enfatizam coisas como
falar em línguas são extremamente imaturos na vida.
A ênfase de Paulo em 1 Coríntios é muito diferente.
Esse livro revela que Cristo é o centro único da
economia de Deus e também nossa porção para nosso
desfrute. Esse Cristo maravilhoso é agora o Espírito
que dá vida em nosso espírito. Continuamente
precisamos exercitar o espírito para ser um só
espírito com Ele. Quanto mais O contatamos dessa
forma, mais somos regados, supridos e nutridos.
Então espontaneamente cresceremos. Sou grato ao
Senhor porque muitos dos santos nas igrejas por todo
o mundo estão experimentando o crescimento
autêntico em vida. O que precisamos na restauração
do Senhor e o que o Senhor busca entre nós, é mais
crescimento em vida, mais desenvolvimento dos dons
iniciais.
Vimos que em 3:1, Paulo indica que os crentes
em Corinto eram crianças em Cristo. Eles, é claro,
foram salvos de fato, mas eram carnais, e não
espirituais. Exibiam os sinais de infantilidade: não
eram capazes de receber alimento sólido, mas
somente leite; eram cheios de ciúmes e contendas e
andavam segundo os homens; exaltavam gigantes
espirituais causando divisões.
A situação em Corinto é igual à de muitos crentes
hoje. Em quase todo grupo cristão, certos líderes são
exaltados de tal forma que causam divisões. Além do
mais, muitos cristãos não são capazes de receber
alimento sólido, mas somente pequena quantidade de
leite.
Paulo sabia que os coríntios precisavam de
alimentação, rega e suprimento adicional de vida.
Precisavam ser nutridos com alimento sólido (v. 2),
regados constantemente (vs. 6-7) e mais suprimento
de vida de Deus para crescer em vida. É disso que
precisamos na vida da igreja hoje. Precisamos ser
nutridos com alimento sólido. Também precisamos
regar os outros e a nós mesmos. Vimos que até os
mais jovens e fracos entre nós são capazes de regar os
santos. Mas ao regar os outros, não devemos tentar
resolver seus problemas ou ter a presunção de fazer a
obra de Deus tentando ajudar os outros a crescer.
Pelo contrário, devemos simplesmente despender
tempo contatando Deus juntos. Outros então serão
regados e Deus lhes dará crescimento por intermédio
do suprimento de vida adicional. Que todos vejamos
que o que é urgentemente necessário é o crescimento
de vida. Que possamos viver para produzi-lo, e
funcionemos plantando, alimentando, regando e
também deixando o verdadeiro crescimento para
Deus.

OS COOPERADORES DE DEUS
No versículo 8, Paulo diz que o que planta e o que
rega são um. No mesmo versículo, ele prossegue
dizendo: “Cada um receberá o seu galardão, segundo
o seu próprio trabalho”. O galardão é um incentivo
aos ministros de Cristo que laboram plantando ou
regando na lavoura de Deus.
Em 3:9, Paulo diz: “Porque de Deus somos
cooperadores”. Isso indica que Deus é também um
trabalhador. Enquanto os ministros de Cristo, Seus
cooperadores, trabalham na lavoura divina, Deus
também trabalha. Que privilégio e glória que os
homens sejam cooperadores de Deus, trabalhando
juntos com Ele em Sua lavoura para cultivar Cristo!
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM VINTE E CINCO
O NECESSÁRIO CRESCIMENTO EM VIDA (2)

Leitura Bíblica: 1Co 3:1-9


Em 3:1, Paulo diz aos crentes em Corinto: “Eu,
porém, irmãos, não vos pude falar como a espirituais,
e sim como a carnais, como a crianças em Cristo”. O
fato de Paulo se referir a eles como crianças indica
que não tinham crescido em vida depois de receber os
dons iniciais da vida divina e do Espírito Santo.
Se os santos numa cidade carecem do
crescimento de vida, não conseguem ter a vida
adequada da igreja. Na verdade, a realidade da igreja
não existe entre eles. Sim, de nome são a igreja numa
cidade, mas não têm a realidade da igreja. A igreja
existe como o ajuntamento de pessoas salvas, mas
não pode ser considerada realidade no crescimento
de vida e na experiência e desfrute de Cristo. Além
disso, onde falta o crescimento de vida, a vida cristã
dos crentes é uma desordem, a vida da igreja é
prejudicada e a vida do Corpo é destruída. Essa foi
exatamente a situação em Corinto. Embora os crentes
ali tivessem recebido os dons iniciais, eles não tinham
crescimento de vida. Pelo contrário, tinham apenas a
vida divina e o Espírito Santo semeado neles. Como
não tinham o crescimento normal de vida, não
tinham a vida adequada cristã, da igreja ou do Corpo.
Percebendo a situação entre-os coríntios, Paulo
não fala da igreja de forma doutrinária, mas com
vida, sobre alimentar, regar e crescer. Somente se os
coríntios crescessem em vida poderia a realidade da
igreja existir entre eles por intermédio da experiência
de Cristo e somente então poderia a vida do Corpo ser
edificada.

TRÊS TIPOS DE DONS


Em 1 Coríntios há três tipos de dons: os iniciais
(capítulo um), os miraculosos e os maduros
(capítulos doze e catorze). Muitas vezes já
enfatizamos que os dons iniciais, que os crentes
recebem quando são salvos, incluem a vida divina e o
Espírito Santo. Os miraculosos incluem cura e falar
em línguas. Quando a jumenta de Balaão falou, isso
com certeza foi uma ocorrência miraculosa, um
verdadeiro exemplo de falar em línguas. Uma criatura
que nem mesmo tinha vida humana, na verdade,
falou como se fosse humana. As línguas nos capítulos
doze e catorze referem-se a uma língua autêntica que,
porém, não foi aprendida. De repente, sob o poder
divino, um crente miraculosamente fala outra língua.
Isso é o verdadeiro falar em línguas. Esse dom
miraculoso não exige crescimento de vida como os
dons maduros.
O verdadeiro falar em línguas é diferente do que
é praticado hoje, quando pessoas proferem sons e
sílabas que nada têm a ver com qualquer língua real.
Se esses sons fossem registrados e analisados por um
lingüista, ficaria provado que não fazem parte de
qualquer língua ou dialeto.
Nos capítulos doze e catorze, Paulo menciona
tanto o falar em línguas como a interpretação. Entre
os grupos pentecostais e carismáticos, há muitos
supostos exemplos de falar em línguas com
interpretação. Entretanto, em muitos casos, eles não
são autênticos. Por exemplo, numa reunião alguém
pode proferir alguns sons ou sílabas que, então, serão
interpretados de uma forma. Em outra reunião, a
mesma pessoa pode proferir os mesmos sons, mas
haverá diferente interpretação. Assim, os mesmos
sons têm duas interpretações. Isso não é um dom
miraculoso verdadeiro; pelo contrário, é natural e é
fruto da invenção humana.
Não pode haver dúvida de que cura é um dom
miraculoso. O dom da cura mencionado por Paulo é
de fato miraculoso, mas nas campanhas de cura
realizadas por cristãos hoje há muitas curas falsas.
Em muitas dessas campanhas, não há um caso sequer
de cura milagrosa autêntica.
Nos capítulos doze e catorze, também temos
outra categoria de dons, os dons maduros. Profetizar
é um deles. Profetizar é melhor que falar em línguas
pois edifica a igreja, e falar em línguas, não (14:4).
Todos devemos buscar esses dons, principalmente
profetizar, pois edifica a igreja.
Se quisermos profetizar para a edificação da
igreja, precisamos ter experiência de vida. Nossa
capacidade de profetizar depende de nossa
experiência. Sem a experiência adequada de vida, não
seremos capazes de profetizar para edificar a igreja.
O dom de profecia em 1 Coríntios é diferente do
que é comumente praticado nos grupos carismáticos
de hoje. Por exemplo, muitos anos atrás, alguns
profetizaram que um grande terremoto destruiria a
cidade de Los Angeles. Normalmente, tais “profecias”
concluem, à moda do Antigo Testamento, com as
palavras: “Assim diz o Senhor”. Mas, em 1 Coríntios,
profetizar significa falar por Cristo e até mesmo
expressá-Lo. Se quisermos expressar Cristo,
precisamos primeiro experimentá-Lo. Somente
quando temos a experiência autêntica de Cristo
podemos ministrá-Lo à igreja. Assim, profetizar
expressando Cristo requer experiência. Entre os
coríntios podia haver muitos dons miraculosos, mas
eles careciam dos dons maduros, como profetizar
para a edificação da igreja.
Em 1 Coríntios também temos o dom de governo,
ou liderança. Tal dom é baseado em maturidade. É
difícil esperar que um jovem seja capaz de ser líder.
Tomar a liderança exige certa maturidade. Na
verdade, esse dom se relaciona com o presbiterato.
Um presbítero é alguém que não é infantil. Pelo
contrário, ele precisa ter certa maturidade.
Os crentes em Corinto careciam dos dons
maduros. Especificamente, careciam do dom de
expressar Cristo para que a igreja fosse suprida e
edificada, e careciam do dom da liderança adequada.
Eles tinham recebido os dons iniciais, mas poucos
haviam crescido em vida. Como conseqüência, não
havia nem o dom adequado de profetizar nem o de
liderar que pode edificar a igreja.

O ENCARGO DE PAULO
Sabemos pela palavra de Paulo em 3:1 que os
crentes coríntios não tinham crescido em vida, mas
permaneciam no estágio de infância. Assim, com
encargo de indicar a necessidade de crescimento, ele
diz: “Eu plantei, Apolo regou, mas o crescimento veio
de Deus. De modo que nem o que planta é alguma
coisa, nem o que rega, mas Deus que dá o
crescimento” (vs. 6-7). Isso indica claramente que os
crentes precisavam do plantar e do regar a fim de
crescer em vida.
Já enfatizamos que, embora os coríntios
tivessem recebido neles a vida divina e o Espírito
Santo como semente, eles permaneciam na
infantilidade e não cresciam em vida. Na verdade,
continuavam a viver na cultura, filosofia e sabedoria
gregas. Isso causou confusão em sua vida cristã,
danos à vida da igreja e ruína à vida do Corpo. Daí, ao
escrever essa Epístola, Paulo teve encargo de lhes
dizer que já não deviam viver sua cultura, sabedoria e
filosofia gregas.
Quando Paulo usa a palavra sabedoria no
capítulo um, ele está especificamente se referindo à
sabedoria da cultura grega. Creio que quando os
coríntios leram essa Epístola, perceberam que a
sabedoria equivale à cultura. Eles permaneciam na
cultura nativa e viviam nela. Paulo, entretanto,
parecia dizer: “Irmãos, Deus os chamou à comunhão
de Seu Filho, e não à sua cultura. O próprio Cristo que
é sua porção e para cuja comunhão vocês foram
chamados tomou-se sabedoria de Deus para vocês.
Ele diariamente é sua justiça, santificação e redenção.
Não vivam mais sua cultura, mas Cristo. Como
sabedoria de Deus, Cristo é as coisas profundas de
Deus. a que os olhos humanos não viram, o que os
ouvidos humanos não ouviram e o que o coração do
homem nunca imaginou foi revelado a nós mediante
o Espírito de Deus. Essas coisas, as profundezas de
Deus, estão relacionadas com Cristo como sabedoria
misteriosa de Deus para nosso destino”.
Paulo tinha encargo de que os crentes coríntios
crescessem em vida. Ele sabia que se quisessem
crescer em vida, espontaneamente teriam uma vida
cristã adequada. Então a realidade da vida da igreja
existiria entre eles e a autêntica vida do Corpo seria
edificada. Eles seriam a igreja não somente de nome,
mas em realidade, em vida e em experiência de
Cristo. Então seriam a lavoura de Deus e o Seu
santuário, de modo verdadeiro e prático.

SINAIS DE INFANTILIDADE
Em 1 Coríntios 3, vemos que os crentes em
Corinto mostraram certos sinais de infantilidade. O
versículo 2 diz: “Leite vos dei a beber, não vos dei
alimento sólido; porque ainda não podíeis suportá10.
Nem ainda agora podeis, porque ainda sois carnais”.
Um sinal de infantilidade entre os crentes é o de ser
capaz de receber somente leite, e não alimento sólido.
Uma vez que um crente permanece no estágio de
infância, ele não é capaz de receber coisa alguma
sólida, não importa quantas mensagens ouça que
contenham comida sólida.
Até certo ponto pelo menos, esse sinal de
infantilidade está presente entre nós. Ano após ano,
alimento sólido tem sido ministrado aos santos, mas
em muitos casos, pela reação ao que é ministrado,
eles mostram que não são capazes de chegar a esse
nível. Isso indica que muitos não são capazes ainda de
receber alimento sólido. Antes, só podem tomar leite.
Isso é sinal de infantilidade.
Recentemente, em determinada reunião, os
santos estavam revisando uma das mensagens de
Estudo-Vida sobre 1 Coríntios. Eu esperava que a
reação dos santos indicasse que tinham digerido
algum alimento sólido. Entretanto, de acordo com o
que foi compartilhado, tomou-se evidente que muitos
tinham recebido somente leite. Eu esperava que
alguns testificassem que, pela misericórdia do
Senhor, estavam experimentando Cristo diariamente
como justiça, santificação e redenção, mas não houve
testemunhos desse tipo. Ademais, em vez de se
importar com os “diamantes” encontrados nas
mensagens, muitos prestaram mais atenção à
“embalagem” e à “caixa”. Eles falaram sobre a caixa e
sobre a embalagem, mas negligenciaram os
diamantes. Os que têm crescimento de vida não estão
preocupados com embalagens ou caixas, mas
concentram-se nos diamantes. Em seus testemunhos,
eles apreciam os diamantes e falam deles.
Há muitos diamantes nos capítulos um e dois de
1 Coríntios. Entretanto, por todas as gerações, a
maioria dos leitores dessa Epístola tem tocado
somente nas embalagens ou na caixa, e não nos
diamantes, nas coisas profundas de Deus. Por
exemplo, quando testificamos sobre 1:30, devemos
ser capazes de dizer como Cristo se torna sabedoria
para nós da parte de Deus em nossa vida diária. Um
irmão pode testificar que, na vida conjugal, desfruta
Cristo como sua justiça, santificação e redenção
atuais, vivas e instantâneas. Falar dessa maneira é
mostrar que vimos os diamantes e não apenas a
embalagem.
Estou muito preocupado que determinados
líderes, que ministram a Palavra em suas cidades,
repitam as mensagens dadas pelo ministério sem que
eles mesmos tenham visto os diamantes. Eles podem
encorajar os santos e adverti-los sobre o crescimento
de vida e ensiná-los a embrulhar os diamantes, como
pô-los em bonitas caixas e valorizar os diamantes e
amá-los. Podem falar muito sobre “como”, sem ter
tido a verdadeira visão dos diamantes. Entretanto,
espero que cada vez mais os líderes e todos os santos
sejam capazes de testificar do que viram e
experimentaram acerca dos diamantes em 1
Coríntios.
A palavra de Paulo sobre a comunhão do Filho de
Deus em 1:9 é certamente um diamante. Precisamos
testificar essa comunhão, esse desfrute mútuo, não de
forma doutrinária, mas experimental. Aprender
doutrina é receber somente leite, ao passo que tomar
os diamantes de forma experimental é receber
alimento sólido. O primeiro sinal de infantilidade é
não ser capaz de absorver alimento sólido.
No versículo 3, Paulo expõe um segundo sinal de
infantilidade: “Porquanto, havendo entre vós ciúmes,
e contendas, não é assim que sois carnais e andais
segundo o homem?” Os que são crianças são cheios
de ciúmes e contendas, e andam de acordo com o
homem, isto é, segundo o homem caído na carne. Os
que são crianças, que são superficiais acerca das
coisas espirituais, ainda têm ciúmes e contendas.
Qualquer contenda ou ciúme entre nós indica
infantilidade.
Suponha que um irmão dê um testemunho muito
bom na reunião. Então, outro irmão, ouvindo esse
testemunho, decide dar um testemunho ainda
melhor. Isso é contenda, sinal da infantilidade desse
irmão.
Suponha que somente alguns irmãos digam
amém ao testemunho que você dá, mas muitos digam
amém ao testemunho de outro. Se isso aborrece você,
expõe o fato de que com você ainda tem alguma
contenda ou ciúme. Devemos ficar felizes quando há
uma resposta alta de amém pelo testemunho de um
irmão. Devemos louvar o Senhor por haver tal
“diamante” entre nós.
Um terceiro sinal de infantilidade é exaltar
gigantes espirituais causando divisões. Em 3:4 e 5,
Paulo escreve: “Quando, pois, alguém diz: Eu sou de
Paulo, e outro: Eu, de Apolo, não é evidente que
andais segundo os homens? Quem é Apolo? E quem é
Paulo? Servos por meio de quem crestes, e isso
conforme o Senhor concedeu a cada um”. O fato de
que os coríntios exaltavam certas pessoas é outra
indicação de sua imaturidade. No versículo 7 Paulo
ressalta que tanto os que plantam como os que regam
nada são, mas Deus é tudo no tocante ao crescimento
de vida. Se voltarmos os olhos somente para Deus,
seremos libertados da tendência facciosa que resulta
de apreciar um ministro de Cristo em detrimento de
outro.
É possível que sejamos como os coríntios ao
exaltar certos gigantes espirituais e com isso
causemos divisões. Alguns podem declarar: “Gosto
muito desse irmão e penso que o seu falar é
excelente”. Na vida da igreja não devemos ter
preferências acerca de oradores, presbíteros, irmãos
ou irmãs. Ter preferências é sinal de infantilidade.
Os três sinais de infantilidade enfatizados por
Paulo nesse capítulo são os mesmos entre muitos
cristãos hoje. Poucos crentes são capazes de receber
alimento sólido. Ciúmes, contendas e exaltação de
certas pessoas são comuns. Espero que entre nós na
restauração do Senhor, todos esses sinais de
infantilidade desapareçam. Quando ouvimos uma
mensagem, devemos ser capazes de penetrar nas
profundezas dela e não ser distraídos por embalagens
ou caixas. Além disso, não devemos ter ciúmes ou
contendas e não devemos ter quaisquer preferências
ou escolhas pessoais. Isso vai provar que crescemos e
até amadurecemos em vida.
A LAVOURA E O EDIFÍCIO
Nesse ponto, gostaria de dizer algo mais acerca
da igreja como lavoura e edifício de Deus. A expressão
“lavoura de Deus” se refere principalmente ao
crescimento em vida. O edifício, o santuário, refere-se
ao objetivo do propósito eterno de Deus. Dessa
forma, a igreja é a lavoura para produzir materiais
para que Deus cumpra Seu objetivo de ter o edifício.
Primeiro, temos a lavoura para o crescimento em
vida, depois o edifício para o cumprimento do
propósito eterno de Deus. Ser capaz de apreender
essas questões cruciais é indicação de que ingerimos
alimento sólido em 3:9. Louvado seja o Senhor
porque a lavoura visa ao crescimento em vida e o
edifício visa ao cumprimento do objetivo de Deus!
Em 3:17, Paulo diz que o santuário de Deus é
santo. De acordo com o contexto, ser santo aqui não é
simplesmente ser separado para Deus, mas quer dizer
não ser grego. Se pensarmos que a palavra sagrado
meramente significa ser separado, nossa
compreensão sobre esse versículo é superficial
demais e doutrinária. Para os coríntios, ser
separados para Deus significava não ser mais
gregos. No mesmo princípio, ser santos, separados
para Deus, significa que não somos mais americanos,
chineses, japoneses ou alemães. Se virmos isso, será
sinal de que recebemos alimento sólido do versículo
17. Isso prova que apreendemos algo experimental,
prático e profundo.
Ser edifício de Deus significa que não estamos
mais divididos ou espalhados. Conforme o contexto
desses capítulos, o edifício contrapõe-se à divisão.
Paulo sabia que os crentes gregos em Corinto se
tinham dividido devido às preferências. Em 1:12, ele
diz: “Refiro-me ao fato de cada um de vós dizer: Eu
sou de Paulo, e eu, de Apolo, e eu, de Cefas, e eu, de
Cristo”. Isso indica que eles haviam sido espalhados;
não tinham sido nem mesmo empilhados, muito
menos edificados juntos para ser o santuário de Deus.
Repetindo, Deus deseja um edifício. A meta divina é o
edifício. Primeiro, Ele quer uma lavoura para cultivar
Cristo, e depois quer um edifício.
Os coríntios não tinham um edifício que era
santo, um edifício que estava fora da cultura grega.
Isso quer dizer que não tinham um edifício que era
santo e habitado pelo Espírito de Deus, que não
continha nada de sua sabedoria, filosofia e cultura.
Entretanto, o objetivo de Deus é ter um edifício
enchido com o Espírito de Deus, um edifício de
material cultivado em Sua lavoura. Como crentes,
todos precisamos ser pelo edifício de Deus.

RECEBER MISERICÓRDIA PARA TER A


VISÃO
Quando percebemos nossa carência acerca do
crescimento em vida e o edifício, podemos reagir
sendo ainda mais velados. Alguns podem ficar
empolgados, outros chorar e outros ainda orar ou
tentar arrepender-se. Mas é possível que até mesmo
empolgação, choro, oração e arrependimento
tomem-se véus. Essas atividades podem impedir-nos
de ter a visão da economia de Deus.
Para ter essa visão, precisamos da misericórdia
de Deus. Romanos 9 fala da misericórdia de Deus e
Atos 9 ilustra a misericórdia de Deus. Romanos 9:16
diz: “Assim, pois, não depende de quem quer ou de
quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia”.
Conforme Atos 9, Deus mostrou misericórdia a Saulo
de Tarso. Sem dúvida, Saulo orou muito antes de ter
sido salvo. É duvidoso, entretanto, que Deus tenha
respondido suas orações. Mas um dia, para a grande
surpresa de Saulo, o Senhor lhe apareceu. Isso é
misericórdia.
Não precisamos chorar, orar ou nos arrepender
de forma religiosa, mas precisamos da misericórdia
do Senhor para ter a visão mostrada a Paulo.
Precisamos ver quanto ainda estamos vivendo em
nossa cultura, tradição e religião. Precisamos ver que
estamos vivendo em muitas coisas afora Cristo e não
estamos de fato vivendo-O dia após dia. Sim, temos
ouvido mensagens, mas ainda podemos não ter
obtido a visão. Oh! precisamos da misericórdia do
Senhor para ter a visão celestial! Nem nosso choro
nem nossa empolgação querem dizer coisa alguma.
Novamente digo que precisamos da misericórdia do
Senhor. Embora não devamos orar de forma excitada
ou religiosa, devemos orar ansiosamente pela
misericórdia do Senhor. Vamos todos orar: “Senhor,
tem misericórdia de mim. Preciso ter a visão vista por
Paulo. Senhor, concede-me um céu claro para eu ver a
revelação de Tua economia”
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM VINTE E SEIS
A OBRA DE EDIFICAÇÃO COM MATERIAL
TRANSFORMADO

Leitura Bíblica: 1Co 3:10-14


Nesta mensagem vamos considerar no trecho de
3:10-14, o tema da obra de edificação com material
transformado.

I. NÃO LANÇAR OUTRO FUNDAMENTO,


MAS EDIFICAR SOBRE O FUNDAMENTO JÁ
LANÇADO
Em 3:10 e 11, Paulo diz: “Segundo a graça de
Deus que me foi dada, lancei o fundamento como
prudente construtor; e outro edifica sobre ele. Porém
cada um veja como edifica. Porque ninguém pode
lançar outro fundamento, além do que foi posto, o
qual é Jesus Cristo”. Doutrinariamente falando,
muitos cristãos compreendem o que quer dizer não
lançar outro fundamento além de Jesus Cristo.
Todavia, ao escrever essas palavras, Paulo não falava
de forma doutrinária. Ele percebia que ao dizer que
eram de Paulo, Apolo ou Cefas, os coríntios na
verdade estavam lançando outro fundamento. Aqui,
ele parecia dizer: “Crentes em Corinto, vocês não
devem dizer que são de alguém ou de alguma coisa.
Cristo, o único fundamento, já foi lançado. Ele é tanto
deles como nosso, e é para a Sua comunhão que
fomos chamados por Deus. Cristo é o único
fundamento”.
É comum que os cristãos. lancem outros
fundamentos além de Cristo. Por exemplo, quando
alguém declara que é pelo batismo por imersão, lança
a imersão como fundamento. O mesmo ocorre com
ser a favor de falar em línguas. Sempre que afirma ser
a favor de determinada pessoa, doutrina ou prática,
você lança outro fundamento. Esse é o significado
correto do que Paulo diz nos versículos 10 e 11.
Os cristãos têm sido divididos por diversos
fundamentos. Milhares de fundamentos já foram
lançados e outros mais estão sendo. Assim, devemos
ser cautelosos para não dizer que somos a favor de
certa coisa ou pessoa. Falar dessa forma é lançar
outro fundamento; é também causar divisão. Além
disso, na igreja em nossa cidade não devemos dizer
que somos de alguma coisa ou alguém, ou que somos
por qualquer coisa ou alguém. Somos somente de
Cristo e por Ele. É possível que até mesmo os santos
na igreja em cada cidade estejam lançando vários
fundamentos. Quanto a isso, meus olhos estão muito
vigilantes, não sobre o cristianismo, mas sobre a
restauração do Senhor. Mesmo os santos que amam o
Senhor e Sua restauração podem ainda dizer que são
por certas coisas. Isso é lançar outro fundamento.
Em vez de lançar outro fundamento, precisamos
edificar sobre o já lançado. Isso quer dizer que
precisamos edificar sobre o único Cristo. Devemos
compreender isso não só doutrinariamente, mas
também prática e experimentalmente. Por exemplo,
suponha que um irmão lhe diga que, segundo o
sentimento dele, a igreja em sua cidade não é
positiva. Como você responderia a isso? A resposta
que você der vai revelar s~ está ou não edificando
sobre Cristo como o único fundamento. A melhor
maneira de responder não é corrigi-lo ou argumentar
com ele, mas ler-orar alguns versículos com ele. O
que importa em ler-orar com alguém não são
particularmente os versículos que você escolhe, mas
se você tem um espírito vivo cheio das riquezas de
Cristo. Então, se ler-orar juntos, em vez de discutir a
situação, esse irmão será regado e nutrido. Nada rega
e nutre os outros mais que o seu espírito vivo. Uma
vez que o seu espírito está vivo e cheio das riquezas de
Cristo, os outros serão regados e nutridos, não
importa que versículos você leia-ore. Depois de orar
juntos, não há necessidade de discutir com ele sobre a
igreja ou tentar aperfeiçoá-lo. Se ele quiser dizer que
a igreja não é positiva, deixe-o falar. O que ele precisa
não é de correção ou ajuste, mas ser regado e nutrido.
Toda vez que ele vier a você, simplesmente regue-o e
nutra-o. Em certo sentido, ele está espiritualmente
doente, ou pode estar com fome e sede. Por causa da
doença, ele precisa de remédio, e, por causa da fome e
sede, precisa de comida e água. Cada contato com ele
é uma oportunidade de regá-lo e nutri-lo, Por fim, o
que é suprido a ele se tomará o remédio que irá
curá-lo. Depois de algum tempo, nutrido e curado, ele
não vai mais dizer que a igreja não é positiva. Ele
mesmo vai perceber que é tolice falar dessa forma
sobre a igreja.
Ter comunhão com outros com um espírito vivo,
cheio das riquezas de Cristo é edificar sobre Cristo
como o único fundamento. Também é edificar com
Cristo. Quando você contata os outros dessa forma
edifica sobre Cristo e com Ele. Como resultado,
outros serão solidamente edificados na igreja como
parte do Corpo. Isso é edificar sobre o fundamento já
lançado.
Estou muito preocupado com que os santos
percebam que 1 Coríntios não é um livro de
doutrinas. É um livro que lida com problemas
práticos. É um erro considerar que essa Epístola
tenha por base questões doutrinárias. Podemos dizer
que a Epístola aos Efésios foi escrita tendo a doutrina
por base, mas isso não se aplica a 1 Coríntios. Tudo o
que Paulo diz nesse livro é apresentado de maneira
prática a fim de resolver os problemas entre os
crentes. Desse modo, sua palavra acerca de Cristo
como o único fundamento deve ser compreendida
não doutrinariamente, mas de forma prática e
experimental. Por exemplo, dizer que somos por certa
pessoa ou prática é lançar outro fundamento. É muito
sério falar de tal forma. É lançar outro fundamento e
causar divisão. Além do mais, ministrar Cristo aos
outros é edificar sobre o fundamento já lançado. Se
quisermos ministrá-Lo aos' santos, precisamos ter
experiência espiritual. Não é adequado meramente
repetir, de forma doutrinária, mensagens dadas no
ministério. Precisamos partilhar com os outros, não
um Cristo doutrinário, mas o Cristo que temos
experimentado.

II. ATENTAR COMO EDIFICA SOBRE O


FUNDAMENTO
No versículo 10, Paulo diz: “Porém cada um veja
como edifica”. A igreja tem de ser edificada com ouro,
prata e pedras preciosas. Contudo, é muito possível
que edifiquemos com madeira, feno e palha. Assim,
cada um de nós deve ver como edifica, isto é, com que
material edifica.
Precisamos atentar para não edificar com nada
além de Cristo. Isso quer dizer que sempre que
dermos uma mensagem ou testemunho, ou toda vez
que tivermos comunhão com outros, precisamos ser
cautelosos para não dar aos outros outra coisa além
de Cristo. Ademais, o Cristo que partilhamos não
deve ser doutrinário, mas um Cristo que
experimentamos. Devemos ministrar não meramente
o conhecimento ou a doutrina de Cristo, mas Ele
próprio. Em tudo o que fazemos na vida da igreja,
precisamos atentar para não ministrar qualquer coisa
além do Cristo que experimentamos.
No capítulo três, Paulo parece dizer aos
coríntios: “Irmãos, sejam cuidadosos em como
edificam sobre Cristo como o fundamento. Deus
deseja uma edificação, um santuário. Cuidado para
não edificar com sua cultura, filosofia e sabedoria
gregas. Igualmente, os que têm um passado judaico,
devem ser cautelosos para não edificar com a cultura,
religião e conceitos judaicos. Pelo contrário, todos
precisamos aprender a ministrar Cristo aos outros”.
Isso é o que significa ver como edificamos sobre o
fundamento já lançado.
É muito fácil edificar sobre o fundamento com
algo natural ou de nossa cultura, embora não
tenhamos intenção de fazer isso e não estejamos
cônscios do que estamos fazendo. Por exemplo,
podemos edificar com algo americano, chinês ou
alemão. Além disso, podemos também edificar com
determinados elementos comuns à nossa cultura
regional. Se ministrarmos aos outros dessa forma,
estaremos sendo muito descuidados. Não estamos
atentando como edificamos. Embora tenha vindo da
China, sou muito cauteloso para não edificar com
qualquer coisa chinesa, mas somente com Cristo. É
crucial que todos aprendamos a edificar sobre Cristo
como o fundamento, com o Cristo que temos
experimentado de forma prática. Há uma falta de tal
edificação entre nós. Estou bem preocupado, pois
muitos simplesmente repetem mensagens de forma
doutrinária. O que é urgentemente necessário é o
Cristo vivo, verdadeiro, prático e atual em nossa
experiência. Edificar com tal Cristo é ver como
edificamos.

III. EDIFICAR COM OURO, PRATA E PEDRAS


PRECIOSAS

A. Material Transformado
No versículo 12, Paulo diz: “Contudo, se o que
alguém edifica sobre o fundamento é ouro, prata,
pedras preciosas, madeira, feno, palha”. Ouro, prata e
pedras preciosas tipificam diversas experiências de
Cristo nas virtudes e atributos do Deus Triúno. É com
esse material que os apóstolos e todos os crentes
espirituais edificam a igreja sobre o único
fundamento de Cristo. Ouro pode representar a
natureza divina do Pai com todos os seus atributos;
prata pode tipificar o Cristo redentor com todas as
virtudes e atributos de Sua Pessoa e obra; pedras
preciosas podem significar a obra transformadora do
Espírito com seus atributos. Todo esse material
precioso é o produto de nossa participação em Cristo
e desfrute Dele em nosso espírito mediante o Espírito
Santo. Somente isso é bom para a edificação de Deus.
Como lavoura de Deus com plantar, regar e
crescer, a igreja deve produzir plantas; mas o material
adequado para a edificação da igreja são ouro, prata e
pedras preciosas, os quais são todos minerais. Assim,
a idéia de transformação está implícita aqui. Não
precisamos somente crescer em vida, mas também
ser transformados em vida, como é revelado em 2
Coríntios 3:18 e Romanos 12:2. Isso corresponde ao
conceito nas parábolas do Senhor em Mateus 13 sobre
o trigo, a semente de mostarda e a medida de farinha
(os quais' são todos vegetais) e o tesouro escondido
na terra, ouro e pedras preciosas (minerais). A igreja
é uma lavoura que produz ouro, prata e pedras
preciosas. Esses são minerais e normalmente são
extraídos da terra. No capítulo três porém, temos
uma lavoura que por fim produz ouro, prata e pedras
preciosas. Isso implica que, à medida que crescem, as
plantas na lavoura de Deus, por fim, se tornam
minerais. As plantas, é claro, são vegetais em
natureza, mas quando crescem são transformadas em
minerais. Desse modo, nesse capítulo, temos tanto
crescimento em vida como transformação. Tudo o
que é semeado na lavoura de Deus sofre, por fim,
transformação em natureza. Transformação não
envolve mera mudança exterior, mas interior,
orgânica, metabólica. No Novo Testamento,
transformação envolve metabolismo, processo no
qual um novo elemento é acrescentado em nosso ser
para substituir o antigo. Assim, transformação é uma
mudança metabólica. Primeiro somos plantas, mas
posteriormente nos tornamos minerais. Os que têm
experiência adequada de crescimento e
transformação podem testificar que se crescemos
adequadamente, a transformação vem
automaticamente em seguida. O crescimento produz
transformação e até se torna a própria transformação.
Quanto mais crescemos como plantas, mais nos
tomamos minerais.
Assim como uma criança tem de comer para
crescer, também nós, como plantas na lavoura de
Deus, precisamos comer algo para crescer. Se
quisermos crescer, precisamos ter o Deus Triúno: o
Pai, o Filho e o Espírito. Não crescemos por meio de
doutrina, advertência, ou encorajamento exterior;
crescemos por meio do Deus Triúno e com Ele.
Crescemos com Deus como uma Pessoa viva. Se
quisermos edificar sobre Cristo como o único
fundamento, precisamos do ouro, prata e pedras
preciosas que advêm como resultado de crescer com a
Pessoa viva do Deus Triúno.

B. Ouro Representa a Natureza de Deus Pai


Que quer dizer, de forma prática, edificar com
ouro? Suponha que um irmão contate você para
comunhão. Ele é humilde, bondoso e amável.
Entretanto, você percebe que é natural e todas as suas
virtudes são naturais. Não será ajuda dar-lhe
doutrina dizendo-lhe: “Irmão, você é natural. Suas
virtudes e comportamento são todos naturais”. Em
vez de falar-lhe dessa forma, você precisa
ministrar-lhe de tal maneira que ele perceba que suas
virtudes são naturais, algo obtido por nascimento, e
não contêm nada do elemento de Deus. Busque a
orientação e o que o Senhor diz para saber
ministrar-lhe da forma apropriada. Posteriormente,
esse irmão será ajudado a ver que nada há da
natureza de Deus em suas boas virtudes. Ele vai
perceber que seu amor, bondade e humildade não
contêm o ouro divino, mas são simplesmente a
madeira de sua humanidade natural. Antes de
ministrar aos outros dessa forma, precisamos ter nós
mesmos uma experiência adequada. Então seremos
capazes de ministrar o ouro, a natureza divina, aos
santos. Depois que o ministério chega ao irmão dessa
forma, ele vai começar a condenar suas virtudes
naturais. Sempre que for humilde ou bondoso de
forma natural, ele dirá: “Isso é minha virtude natural.
Eu a condeno porque nada há de Deus nela”. Essa
compreensão, é claro, é totalmente diferente da que é
encontrada na maioria dos cristãos hoje. A religião
encoraja os crentes a desenvolver suas virtudes
naturais, mas para a edificação de Deus, precisamos
de ouro, isto é, a natureza divina acrescentada a nós.

C. Prata Representa a Obra Redentora de


Deus Filho
A prata representa a obra redentora de Cristo.
Também precisamos compreender isso de forma
experimental. Quanto mais experiência autêntica
tivermos, mais vamos conhecer o que é o verdadeiro
ouro e a verdadeira prata. Se buscarmos o Senhor,
por fim vamos chegar a perceber que, não importa a
que nos assemelhemos em nosso ser natural, somos
caídos. Há um elemento pecaminoso até mesmo em
nossa bondade e amor. Isso indica que somos
totalmente caídos. Tudo o que somos e temos é caído
em natureza e precisa da redenção de Deus.
Segundo o Novo Testamento, a redenção de Deus
primeiro nos aniquila. Quando Cristo morreu na cruz
para nos redimir, Ele nos aniquilou. Tudo o que
Cristo aniquila, Ele também redime, traz de volta a
Deus. Desse modo, ser trazido de volta a Deus vem
depois da aniquilação. Além disso, tudo o que Cristo
aniquila e redime, Ele então substitui Consigo
mesmo. A redenção portanto envolve aniquilamento,
ser conduzido de volta a Deus e substituído com o que
Cristo é. Essa é a definição correta, adequada e
completa da redenção de acordo com o Novo
Testamento.
Quando Cristo nos redime, Ele nos aniquila,
conduz de volta a Deus e depois substitui Consigo
mesmo. Essa é a obra redentora de Cristo. Vimos que
tudo que temos e somos é caído, mas agora que fomos
aniquilados e levados de volta a Deus, a obra de
substituição ocorre em nós. Cristo, como o Espírito
que dá vida, entrou em nós e está gradualmente
substituindo-nos Consigo mesmo. Esse é o motivo de
Paulo dizer em Gálatas 2:19-20: “Estou crucificado
com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo
vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne,
vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si
mesmo se entregou por mim”. Nesse único versículo,
vemos os três pontos: aniquilamento, substituição e
ser conduzido de volta a Deus.
Se tivermos a experiência adequada da redenção
de Cristo, ao contatar os santos infundiremos a
realidade da redenção neles. Dessa forma, a prata
ser-lhes-á acrescentada. Isso é o que significa edificar
com prata.
Essa edificação gradualmente eliminará a morte
da vida da igreja. A igreja em cada cidade é
perturbada pela morte, que advém de mexericos,
conversas negativas e até mesmo virtudes naturais.
Como essa morte poderia ser tragada? Somente pela
edificação com ouro e prata. Toda vez que você
ministra ouro e prata aos santos, os germes negativos
neles são mortos e os santos são nutridos de forma
positiva. A prata é um antibiótico divino para matar
todos os germes. Então, espontânea e
automaticamente, a morte será tragada pela vida. A
vida inclui ouro e prata, isto é, a natureza de Deus e a
obra redentora de Cristo.
D. Pedras Preciosas Representam a Obra
Transformadora de Deus Espírito
As pedras preciosas são a totalidade do ouro e
prata. Quando em nossa experiência espiritual temos
a natureza de Deus e a obra redentora de Cristo, o
resultado será a transformação do Espírito Santo. Se
ministrarmos ouro e prata aos santos, a conseqüência
serão pedras preciosas, a obra transformadora do
Espírito. Em outras palavras, o Espírito Santo nos
transforma metabolicamente pela natureza divina
com a cruz. Dessa forma nos tornamos pedras
preciosas.
No capítulo três, Paulo de fato está dizendo aos
coríntios: “Irmãos, em vez de edificar a igreja em sua
cidade, vocês a estão destruindo e demolindo. Vocês
não estão edificando com ouro prata e pedras
preciosas, mas com madeira, feno e palha. Estão
edificando com seu homem natural grego e sua
cultura, filosofia, sabedoria, hábitos e costumes
gregos. Assim, estão destruindo o santuário de Deus e
sofrerão a destruição de Deus. Encorajo-os a ser
cuidadosos para não edificar com sua humanidade e
cultura gregas. Vocês precisam evitar tudo o que é
grego e estar no espírito mesclado para ministrar a
natureza de ouro de Deus Pai aos outros e também a
prata da cruz de Cristo. O resultado serão pedras
preciosas, uma mudança metabólica produzida pela
obra transformadora do Espírito Santo”. Isso é
edificar com o Deus Triúno sobre Cristo como o único
fundamento.
É significativo que Paulo mencione somente três
tipos de material precioso: ouro, prata e pedras
preciosas, porque correspondem ao Deus Triúno. O
ouro se refere à natureza de Deus Pai, a prata à obra
redentora do Filho e as pedras preciosas à obra
transformadora do Espírito. Essa é a experiência do
Deus Triúno tornando-se o suprimento para que
ministremos aos santos e o material para a edificação
da igreja. Se edificarmos a igreja com esse material
precioso, e não com nosso homem ou cultura
naturais, estaremos sendo cuidadosos em como
edificamos sobre Cristo. Então a nossa obra de
edificação não destruirá o santuário de Deus, e nós
não sofreremos a destruição de Deus.

IV. SER POSTO À PROVA

A. No Dia da Volta de Cristo


Em 3:13, Paulo diz: “Manifesta se tomará a obra
de cada um; pois o Dia a demonstrará, porque está
sendo revelada pelo fogo; e qual seja a obra de cada
um o próprio fogo o provará”. O Dia aqui refere-se ao
dia da segunda vinda de Cristo, quando Ele julgará
todos os Seus crentes (4:5; Mt 25:19-30; 2Co 5:10; Ap
22:12).

B. Pelo Fogo
O fogo no versículo 13 denota o fogo no juízo do
Senhor (MI3:2; 4:1; 2Ts 1:8; Hb 6:8) que fará com
que a obra de cada crente seja manifesta e a porá à
prova e testará. Não é o fogo do purgatório, como
deturpa a interpretação do catolicismo. Toda a obra
de madeira, feno e palha não será capaz de resistir à
prova e será queimada.

V. PARA RECEBER UM GALARDÃO


No versículo 14, Paulo prossegue: “Se
permanecer a obra de alguém que sobre o
fundamento edificou, esse receberá galardão”. A obra
que permanece tem de ser a de ouro, prata e pedras
preciosas, o produto de fiéis ministros de Cristo. Tal
obra será recompensada pelo Senhor que vem e julga.
O galardão se baseia na obra do crente depois de
salvo. Difere da salvação, que é baseada na fé no
Senhor e em Sua obra redentora.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM VINTE E SETE
A OBRA DE EDIFICAÇÃO COM COISAS NATURAIS

Leitura Bíblica: 1Co 3:10b, 12-13, 15


Na mensagem anterior, consideramos a obra de
edificação com material transformado. Esse é o lado
positivo da palavra de Paulo sobre a obra de
edificação. Nesta mensagem, vamos considerar o lado
negativo, a obra de edificação com coisas naturais.
Antes de considerar o que significa edificar com
madeira, feno e palha (v. 12), precisamos ressaltar
que, por muitos anos, 1 Coríntios 3 não tem sido
adequadamente entendido pela maioria dos crentes.
O motivo disso é que esse capítulo foi escrito do ponto
de vista da experiência. Já que a maioria dos leitores
de 1 Coríntios são carentes de experiência espiritual,
eles não são capazes de entender esse capítulo. Em
muitos casos eles não estão nem mesmo interessados
nele e preferem outros trechos da Bíblia, tais como
Provérbios, que se ajusta mais ao seu conceito
natural.
Primeira Coríntios 3 é muito profundo. Ao
escrever esse capítulo, Paulo usa muitas metáforas:
leite, alimento sólido, plantar, regar, lavoura de Deus,
edifício de Deus, fundamento, ouro, prata, pedras
preciosas, madeira, feno, palha, fogo e santuário. Sem
experiência, não conseguimos interpretar essas
metáforas apropriadamente ou entender seu
significado. Muitos leitores desse capítulo prestam
atenção somente a duas das metáforas usadas por
Paulo: o fundamento e o santuário. Poucos sabem o
que significa edificar com ouro, prata e pedras
preciosas, ou com madeira, feno e palha. Portanto,
para muitos, esse capítulo é quase totalmente
fechado.
Ao ler a Bíblia, muitos de nós temos o hábito de
tentar entendê-la meramente de forma doutrinária
ou teológica. Entretanto, quando lemos qualquer
trecho da Bíblia, devemos tentar entendê-lo não sob o
ponto de vista da teologia, mas da experiência.
Devemos procurar conhecer como esse trecho da
Palavra se relaciona com nossa experiência com o
Senhor. Além disso, ao dar mensagens, precisamos
apresentá-las enfocando a experiência, não a mera
doutrina.
Já salientamos que 1 Coríntios 1 e 2 é muito
profundo. Esses capítulos até mesmo revelam as
profundezas de Deus (2:10). O capítulo três é também
muito profundo. Se Paulo não o tivesse escrito de
forma metafórica, provavelmente teria necessitado
muito mais capítulos para apresentar o que estava
nele.
Quando lemos esse capítulo, não devemos
procurar apenas entender a linguagem, mas também
observar todos os quadros nele retratados. A palavra
de Paulo sobre a lavoura de Deus não é só uma
metáfora, mas também uma figura. Quando
consideramos o que significa a igreja ser a lavoura de
Deus, podemos visualizar as questões de arar,
semear, plantar, regar, crescer, produzir e colher.
Considerar a questão dessa maneira é olhar para a
figura retratada pelas metáforas usadas por Paulo.
Ao ler esse capítulo, não devemos tomar as coisas
como já conhecidas; antes, devemos perguntar o que
significa “lançar outro fundamento”. Devemos
também indagar qual é o significado de “ouro, prata e
pedras preciosas”, e o significado de “madeira, feno e
palha”. Por exemplo, quando lemos à luz dos
antecedentes dos coríntios o que Paulo falou acerca
de não lançar outro fundamento, vamos perceber que
ele quer dizer não lançar a filosofia ou cultura gregas
como fundamento. Também implica que não
devemos emitir nossas opiniões, preferências ou
escolhas como fundamento. Um irmão pode dizer que
tem encargo de ir a determinado lugar. Esse encargo,
porém, pode simplesmente ser o gosto ou preferência
pessoal dele. Ao ler esse capítulo, devemos ser sérios
e desejosos de entender o que Paulo queria dizer com
todas as várias metáforas. Precisamos encontrar a
interpretação apropriada dessas figuras.

I. COM MADEIRA, FENO E PALHA

A. Coisas Naturais, quer Carnais quer


Anímicas
Madeira, feno e palha representam o
conhecimento, a percepção e a apreensão que advêm
dos antecedentes dos crentes (tais como judaísmo ou
outras religiões, filosofias ou culturas) e a maneira
natural de viver (que é principalmente na alma e é a
vida natural). Madeira pode estar em contraste com
ouro, e representa a natureza do homem natural;
feno, em contraste com prata, e representa o homem
caído, o homem da carne (1Pe 1:24), não redimido
por Cristo; palha, em contraste com pedras preciosas,
e representa a obra e o viver que resultam de fonte
terrena, sem transformação pelo Espírito Santo. Todo
esse material sem valor é o produto do homem
natural dos crentes junto com o que eles acumularam
dos seus antecedentes. Na economia de Deus, esse
material só serve para ser queimado (v. 13).

B. Madeira
Específica e praticamente, a madeira aqui se
refere à natureza humana dos gregos. Por natureza,
os gregos são muito filosóficos. Creio que até
filosofavam sobre Cristo. Assim, a madeira refere-se à
sua natureza, ou composição natural. Por exemplo, os
chineses têm uma ética natural. Isso é a sua
“madeira”. Não devemos edificar a igreja com
madeira. Isso quer dizer que não devemos edificá-la
com nossa natureza, ou composição natural.

C. Feno
Já enfatizamos que o feno representa o homem
não redimido da carne. Madeira tipifica a natureza
dos gregos, enquanto feno representa o homem
natural dos gregos. Edificar a igreja com feno é
edificá-la com o que somos em nosso ser natural. Por
exemplo, o líder da Assembléia dos Irmãos que eu
freqüentava em Chefoo era uma pessoa muito
pausada e firme. Ele sempre caminhava cuidadosa e
lentamente. Ao ensinar a Bíblia, ele dizia que Deus
sempre faz as coisas vagarosamente. Por causa da
influência desse líder, quase todos na assembléia
aprendiam a ser pausados. Quando entravam no
salão de reuniões, caminhavam muito lentamente.
Além do mais, todas as orações nas reuniões eram
feitas com bastante vagar. Toda aquela assembléia
estava de acordo com o ser natural do líder. Isso é
uma ilustração do que significa edificar a igreja com
feno.
Edificar com feno é edificar com o que somos e
com o que preferimos. Suponha que uma pessoa
tenha forte preferência por falar em línguas. Procurar
promover falar em línguas é edificar com feno.
Sempre que edificamos segundo o que somos em
nosso ser natural ou conforme a nossa preferência
natural, edificamos com feno.

D. Palha
Palha representa a obra e o viver que resultam de
fonte terrena. A palha é totalmente destituída de vida.
Edificar com palha é até pior que edificar com
madeira e feno. Ciúmes, contendas, inveja, fofocas e
críticas são todos aspectos da palha. Pessoas
filosóficas são normalmente muito críticas. Quanto
mais pensam de forma filosófica, mais criticam os
outros. Tal crítica é palha.
É muito difícil entre os cristãos de hoje
encontrar-se o material de edificação apropriado.
Onde se consegue encontrar ouro, prata e pedras
preciosas? Entretanto, há abundância de madeira,
feno e palha. Em toda parte podemos ver a
composição natural, o ser natural e até coisas como
ciúmes, inveja, contendas, ódio, murmurações e
queixas. Em quase todo grupo cristão pode-se
encontrar madeira, feno e palha; isto é, a edificação
conforme a composição natural, o ser natural e as
características do viver terreno. Especificamente, em
1 Coríntios 3, madeira, feno e palha se referem à
natureza grega, ao ser grego e ao mal da maneira
grega de viver, principalmente quando essas coisas se
expressavam entre os crentes em Corinto.
No capítulo três, Paulo encarrega os santos de
não lançar qualquer coisa ou pessoa além de Cristo
como o único fundamento. Isso quer dizer que
precisamos não exaltar ninguém ou nada no lugar de
Cristo. Se exaltarmos alguém ou algo em vez de
Cristo, lançamos outro fundamento. Ele também nos
encarrega de ver como edificamos sobre Cristo como
o único fundamento. Os coríntios não deviam edificar
com sua natureza grega, ego grego ou ciúme,
contendas e críticas gregos. Em outras palavras, não
deviam edificar a igreja com nada grego.
Cerca de cinqüenta anos atrás, havia uma
tendência prevalecente entre muitos cristãos na
China de remover das igrejas cristãs qualquer traço
de cultura ocidental. O desejo deles nesse movimento
era ter tudo na igreja de acordo com a cultura nativa
chinesa. Até queriam que as capelas e prédios das
igrejas fossem construídos da forma nativa em vez da
maneira ocidental. Os cristãos nesse movimento
apreciavam a Bíblia, mas rejeitavam a cultura trazida
pelos missionários. Seu alvo era tornar sua igreja
chinesa de todas as formas. A igreja, entretanto, não
deve ser nem ocidental nem chinesa. Deve apenas ser
cristã. Isso quer dizer que deve ser edificada com
Cristo de todas as formas e em todos os aspectos.
Tudo relacionado com a igreja deve ser Cristo.
Embora a igreja deva ser edificada com Cristo e
tão-somente com Ele, toda denominação ou grupo
cristão, de certa forma, procura ser “nativo” ou
natural de alguma forma. Ter uma denominação ou
grupo nativo é edificar com nossa composição e ser
naturais, não importa o que sejam. Alguns podem
desejar uma igreja segundo a natureza alemã, outros
conforme a composição francesa e outros ainda de
acordo com a constituição chinesa. Isso é edificá-la de
acordo com o que somos e fazemos em nossa vida,
composição e ser naturais.
Muitos anos atrás, fui convidado a visitar um
lugar na Inglaterra que era famoso pela
espiritualidade das pessoas. Fiquei lá um mês e
encontrei alguma espiritualidade autêntica, mas o
que mais vi foi a ênfase na maneira britânica de fazer
as coisas. Eles inconscientemente tencionavam fazer
os outros britânicos, e até exerciam controle sobre
lugares bem remotos. Em duas ocasiões, o líder desse
grupo veio a Taiwan a convite nosso para ministrar a
nós. Sua primeira visita foi maravilhosa e muito
proveitosa. Contudo, sua segunda visita foi muito
prejudicial, pois ele procurou impor aos santos certos
hábitos e costumes britânicos. Por exemplo, na hora
de comunhão, ele lembrava: “Por que vocês que são
irmãos de serviço põem os bonés quando ainda estão
no salão de reunião? Assim que a reunião termina,
vocês põem os bonés, mesmo antes sair do prédio”.
De acordo com a sua opinião, os irmãos estavam
errados em usar boné no prédio. Certo irmão tentou
explicar o costume entre militares no Extremo
Oriente, que não é prática tirar o boné dentro ou fora.
Entretanto, os irmãos militares sempre tiravam o
boné na reunião, mas, assim que a reunião terminava,
eles os punham, não importando se estavam dentro
ou fora do salão de reunião. Entretanto, esse irmão
era categórico e perguntou: “Vocês seguem costumes
humanos ou a Bíblia?” Depois de ter respondido
dessa maneira, disse para mim mesmo: “Irmão, você
não está sendo justo. Nós definitivamente seguimos a
Bíblia. De acordo com a Bíblia, quando um irmão ora
numa reunião da igreja, ele não deve ter cobertura na
cabeça. Mas com certeza não há nada de errado em
usar boné quando ainda está no salão de reunião.
Dizer que um soldado tem de esperar até que esteja
fora do salão é seguir a maneira ocidental. Na
Inglaterra, essa pode ser sua prática, mas é injusto
acusar-nos de não seguir a Bíblia porque não
seguimos seu costume nessa questão”.
Percebendo a seriedade de usar coisas naturais
para edificar a igreja, tenho-me esforçado
diligentemente, pela misericórdia do Senhor, em não
introduzir coisas chinesas na restauração do Senhor
neste país. Além do mais, com certeza não quero nada
do que sou influenciando a edificação da igreja.
Nenhum de nós deve edificar a igreja segundo o que
somos em nosso ser natural. Não devemos permitir
que coisa alguma de nosso ser natural seja colocada
na igreja. Sobre isso, todos precisamos buscar o
Senhor por Sua misericórdia. Que Ele tenha
misericórdia de nós para que não edifiquemos a igreja
com o que somos por natureza. Se a igreja expressar a
composição natural ou ser natural dos líderes, isso
indica que, pelo menos até certo ponto, ela tem sido
edificada com feno. Algo do homem natural não
redimido foi introduzido nela. Isso é um elemento
que não foi redimido, aniquilado e substituído por
Cristo. Embora tenha nascido na China, posso
testificar que meu desejo é ser aniquilado e
substituído. Não quero edificar a igreja com feno,
com o que sou em meu ser natural. Nenhum de nós
deve edificar com madeira ou feno, muito menos com
a palha do ciúme, contenda e crítica.
Se olharmos para a situação entre os cristãos
hoje, vamos perceber que a palavra de Paulo sobre
madeira, feno e palha não é mera doutrina. Todos
precisamos exercitar o espírito, buscar o Senhor e
orar: “Ó Senhor, tem misericórdia de mim para que
eu não edifique Tua igreja com meu feitio natural,
meu ser natural ou qualquer coisa de ciúme, contenda
ou inveja. Senhor, quero edificar Tua igreja com o
ouro da natureza do Pai, a prata da cruz que me
redime, aniquila e substitui, e a obra transformadora
do Espírito Santo. Quero edificar a igreja no espírito
mesclado onde experimento a natureza do Pai e a
redenção do Filho, e posteriormente tenho a
transformação do Espírito. Senhor, desejo edificar a
Igreja dessa maneira”.
Agora podemos entender o conceito de Paulo
sobre o material adequado usado na edificação da
igreja. No capítulo três, ele estava na verdade dizendo
aos crentes coríntios: “Vocês são plantas na lavoura
de Deus. Agora precisam fazer Cristo crescer. Quanto
mais crescerem, mais se tomarão ouro, prata e pedras
preciosas para a edificação de Deus. Não lancem
qualquer fundamento além de Cristo. Não exaltem
qualquer coisa, pessoa, doutrina ou prática.
Simplesmente edifiquem sobre o Cristo
todo-inclusivo como o único fundamento já lançado,
mas vejam para não edificar sobre esse Cristo com
qualquer coisa grega; antes, edifiquem com a
natureza do Pai e a redenção do Filho, que resultarão
na transformação do Espírito. Então a igreja será de
ouro e cheia de prata e pedras preciosas”.

II. SER QUEIMADO


No versículo 15, Paulo dá uma advertência: “Se a
obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas
esse mesmo será salvo, todavia, como que através do
fogo”. A obra de madeira, feno e palha só serve para
ser queimada. Essa é a obra que será queimada pelo
fogo julgador do Senhor em Sua volta.
III. SOFRER DANO
Quando Paulo diz “sofrerá ele dano”, quer dizer
perda do galardão, e não da salvação. Sofrer dano
aqui de modo algum significa perecer. A salvação que
recebemos em Cristo não é pelas nossas obras (Tt 3:5)
e é eterna, imutável em natureza (Hb 5:9; Jo
10:28-29). Daí, os crentes cujas obras cristãs não
sejam aprovadas pelo Senhor julgador e que sofrerão
dano, isto é, perda do galardão, ainda serão salvos. A
salvação de Deus a todos os crentes como um dom,
um presente gratuito, é por toda a eternidade, ao
passo que o galardão do Senhor àqueles cujas obras
cristãs são aprovadas por Ele é para a era do Reino. O
galardão é um incentivo para sua obra cristã e não é
dado a todos os crentes.
Embora os crentes cujas obras cristãs não sejam
aprovadas pelo Senhor em Sua volta sejam salvos,
eles o serão como que através do fogo. Através do
fogo certamente indica punição. Entretanto,
absolutamente não é o purgatório hereticamente
ensinado pelo catolicismo em sua citação
supersticiosa desse versículo. Todavia, essa palavra
deve ser uma solene advertência para nós hoje acerca
de nossas obras cristãs.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
“MENSAGEM VINTE E OITO
EDIFICAR SOBRE O ÚNICO FUNDAMENTO

Leitura Bíblica: 1Co 3:10-15


Em 3:10 e 11, Paulo diz: “Segundo a graça de
Deus que me foi dada, lancei o fundamento como
prudente construtor; e outro edifica sobre ele. Porém
cada um veja como edifica. Porque ninguém pode
lançar outro fundamento, além do que foi posto, o
qual é Jesus Cristo”. Se quisermos entender adequada
e profundamente esses versículos, precisamos
conhecer as circunstâncias, ou antecedentes, que
levaram Paulo a escrevê-las. Qual era a situação entre
os coríntios que fez com que ele dissesse que, além de
Cristo, não há outro fundamento? O pano de fundo
era que os crentes filosóficos em Corinto estavam se
voltando para sua cultura, filosofia e sabedoria gregas
em vez de Cristo. Além disso, de acordo com sua
mentalidade filosófica, eles apreciavam diversos
gigantes espirituais. Apreciar certa pessoa e preferi-la
é tomá-la um fundamento em lugar de Cristo.

GOVERNADOS POR UMA VISÃO


Muitos líderes e mestres cristãos citam a palavra
de Paulo em 3:11 sobre não lançar um fundamento
além de Cristo. Entretanto, os que mencionam esse
versículo podem não entender o pano de fundo da
palavra de Paulo. Nem percebem que eles mesmos
podem, na verdade, estar lançando outro
fundamento. Para alguns, o fundamento é cura ou
falar em línguas; para outros, é evangelização ou obra
missionária. Ao considerar a situação no meio do
cristianismo hoje, vemos que há praticamente todo
tipo de fundamento imaginável. Quase tudo pode se
tomar um fundamento no lugar de Cristo como único
fundamento.
Se tocarmos as profundezas da verdade em 3:11 e
entendermos esse versículo de acordo com o seu
contexto e pano de fundo, teremos uma visão de
Cristo como o único fundamento. Essa verdade, essa
visão, então, nos governará e controlará. Quando não
há visão, o povo não tem freio (Pv 29:18 — BJ). Entre
a vasta maioria de cristãos hoje, não há visão
governante de Cristo como o único fundamento.
Antes, muitos ministros e obreiros “não têm freio” ao
lançar outro fundamento. Por um lado, muitos se
referem à palavra de Paulo em 3:11 acerca de Cristo
como o fundamento; por outro, até enquanto falam
desse versículo, lançam outro fundamento. Isso deve
advertir-nos a não entender 3:11 meramente de forma
doutrinária.

VERDADES EXPERIMENTAIS
Nestas mensagens, tenho instado com os santos
repetidas vezes para não abordar 1 Coríntios como
mera doutrina. Entretanto, muitos ainda são capazes
de tomar somente o leite da doutrina, e não o
alimento sólido das verdades mais profundas,
experimentais e práticas reveladas nesse livro. Se
lermos essa Epístola e a entendermos somente
segundo as letras pretas no papel branco, e não nos
importarmos com o pano 'de fundo, nossa
compreensão não será muito prática. Antes, será
mera doutrina.
É significativo que Paulo fale do único
fundamento em 1 Coríntios, mas não nas outras
Epístolas. Por exemplo, uma vez que isso não era
parte do pano de fundo da Epístola aos Colossenses,
não há menção disso nesse livro. Os crentes em
Corinto, porém, estavam lançando outros
fundamentos. Os crentes filosóficos estavam
transformando várias pessoas e práticas em
fundamentos. Isso está relacionado com a palavra de
Paulo em 1:12: “Refiro-me ao fato de cada um de vós
dizer: Eu sou de Paulo, e eu de Apolo, e eu de Cefas, e
eu de Cristo”. Isso indica que alguém lançou Apolo
como fundamento, ao passo que outros lançaram
Cefas ou Paulo. Alguns dos coríntios lançaram um
fundamento de pareceres ou sabedoria. Assim, entre
os crentes em Corinto, havia muitos fundamentos.
Esse pano de fundo levou Paulo a dizer: “Não lancem
outro fundamento além de Cristo. Como prudente
construtor, já lancei Cristo como único fundamento.
Quando cheguei até vocês, cheguei com nada exceto
Cristo. Adverti-os a não lançar outro fundamento,
mas edificar sobre aquele já lançado. Além do mais,
vocês precisam atentar em como edificam. Não
edifiquem com cultura grega, com suas opiniões ou
filosofia, ou com seu apreço ou preferência por
qualquer pessoa. Edificar com esse material é edificar
com madeira, feno e palha”. Entender 1 Coríntios
dessa forma é tocar as profundezas desse livro.
O problema em Corinto era que os crentes gregos
estavam exaltando filosofia e gigantes espirituais. Ao
fazer isso, estavam lançando outros fundamentos
além de Cristo. Entender 3:11 dessa forma é ir além
da mera doutrina e apegar-se ao significado prático
do que Paulo diz. É também ilustrar a doutrina com
situação real entre os crentes. Conhecendo sua
situação, ele parecia dizer-lhes: “Não lancem cultura
ou filosofia gregas como fundamento. Vocês
tampouco devem exaltar qualquer pessoa ou tomá-la
um fundamento além de Cristo”. Se dissermos que
somos a favor de batismo por imersão ou falar em
línguas, estaremos lançando outro fundamento além
de Cristo. Mas, de acordo com 1:2 e 9, Cristo é deles e
nosso, e fomos chamados à Sua comunhão. Como
centro único de Deus e nossa única porção, Ele é o
único fundamento.

EDIFICAR COM MATERIAL PRECIOSO


Em 3:10, Paulo insta conosco para ver como
edificamos sobre Cristo como o único fundamento.
Os crentes em Corinto não deviam edificar com sua
cultura, filosofia ou feitio gregos. Edificar dessa
maneira é edificar com madeira, feno e palha, e não
com ouro, prata e pedras preciosas. Que significa
edificar com esse material precioso? Podemos dizer
que isso é edificar com o próprio Cristo, mas
precisamos ir mais longe e ver que Cristo é a
corporificação do Deus Triúno. Com o Deus Triúno,
temos Deus Pai como ouro, a redenção de Deus Filho
como prata, e a obra transformadora de Deus Espírito
como pedras preciosas. Como já ressaltamos, na
experiência, as pedras preciosas são a totalidade do
ouro e da prata. Isso significa que o Espírito nos
transforma por meio da natureza divina e da cruz de
Cristo. Experimentar a obra transformadora do
Espírito é submeter-se a uma mudança metabólica
que ocorre pela vida divina em nós.

O ENCARGO DE PAULO
Novamente desejo enfatizar que os capítulos um,
dois e três desse livro são muito profundos. Eles não
são primordialmente doutrinários, mas
experimentais. Paulo não os compôs com base em
doutrina ou teologia, mas de acordo com a situação e
condição reais da igreja em Corinto. Precisamos ficar
profundamente impressionados com o fato de que a
situação entre os crentes ali era a de um viver
permeado pela cultura, filosofia e sabedoria gregas.
Eles viviam totalmente de acordo com a maneira
grega de viver. Por isso, ele teve encargo de
mostrar-lhes que essa não é a maneira de ter a vida
cristã, a vida da igreja ou a vida do Corpo. Na
economia de Deus, o centro tem de ser Cristo e
tão-somente Ele. Fomos chamados à comunhão de
Cristo, o Cristo que é deles e nosso. Isso quer dizer
que Ele é nossa única porção, a porção de todos os
que crêem Nele e invocam Seu nome. Já que Cristo é
nossa única porção, não devemos ter nossas próprias
escolhas ou preferências. Não devemos exaltar
ninguém ou nada além de Cristo. Cristo é a única
porção dada a todos os santos e é tudo para o nosso
viver. É sabedoria para nós da parte de Deus, nossa
justiça, santificação e redenção diárias. Essa é a idéia
central acerca de Cristo nesses poucos capítulos.
Em 2:10, Paulo diz: “Mas Deus no-lo revelou pelo
Espírito; porque o Espírito a todas as coisas
perscruta, até mesmo as profundezas de Deus”. Cristo
é as profundezas de Deus, as profundezas do ser de
Deus. Essas profundezas podem ser percebidas e
discernidas, não pela nossa mente filosófica, mas
somente pelo nosso espírito regenerado habitado pelo
Espírito de Deus. Apenas por meio do espírito
mesclado é que conseguimos discernir as
profundezas de Deus, os diferentes aspectos de Cristo
como nossa porção para nosso desfrute.

CRESCER E EDIFICAR
Com base na revelação dada nos capítulos um e
dois, Paulo no capítulo três enfatiza aos coríntios que
o objetivo de Deus é ter uma edificação, o santuário
para Sua habitação. Não é intenção de Deus ter um
grupo de homens sábios ou filosóficos. O Seu objetivo
é ter a igreja. A igreja tem de ser um edifício,
chamado santuário, para a habitação de Deus. A fim
de atingir esse objetivo, Deus tem de ter a igreja
primeiro como a lavoura para cultivar o material para
a edificação. Por meio do processo de crescimento na
lavoura, a edificação vem a existir. Essa edificação é o
santuário de Deus.
No capítulo três, Paulo parece dizer: “Vocês,
crentes coríntios, não devem buscar ser sábios. Em
vez disso, devem ser plantas crescendo na lavoura de
Deus. Não há necessidade de filosofar tanto. Vocês
devem ser simples e nada saber exceto Cristo. Então
crescerão Nele e com Ele, e até mesmo O farão
crescer. Por fim, em seu crescimento, vocês serão
transformados e se tornarão o ouro, prata e pedras
preciosas, como material para a edificação do
santuário de Deus. Sua urgente necessidade hoje não
é filosofar; é crescer. Não é exercitar tanto a mente,
mas permanecer continuamente no espírito, onde o
Espírito de Deus habita. No espírito vocês vão
absorver Cristo. Ele então se tornará sua nutrição e
vocês crescerão com Ele e se tornarão material
precioso para a edificação de Deus. Não precisam
filosofar, precisam simplesmente crescer e edificar.
Mas quando edificarem não lancem outro
fundamento. Cristo, o único fundamento, já foi
lançado. Vocês não devem tornar Paulo, Cefas ou
Apolo, ou qualquer aspecto de cultura ou filosofia
gregas, o seu fundamento. Coloquem todas essas
pessoas e coisas de lado, e simplesmente edifiquem
sobre Cristo como o único fundamento. Eu O tenho
ministrado a vocês, e agora vocês precisam edificar
sobre Ele. Mas precisam edificar com ouro, prata e
pedras preciosas, e não com sua natureza, seu ser ou
suas atividades”.
Madeira se refere à nossa natureza, nossa
composição natural; feno, ao nosso ser; palha, às
nossas atividades. Nunca devemos usar nossa
natureza, ser ou atividades para edificar a igreja. Pelo
contrário, precisamos renunciar a todas essas coisas e
rejeitá-las. Para a edificação adequada, precisamos
desfrutar, experimentar e possuir a natureza de Deus
Pai e a obra redentora do Filho. Quando
experimentamos o Pai e o Filho dessa forma, estamos
em nosso espírito com o Espírito de Deus. O
resultado espontâneo, a conseqüência, serão pedras
preciosas. Se edificarmos com ouro, prata e pedras
preciosas, edificaremos com o material apropriado
sobre Cristo como o único fundamento.

NOSSA OBRA DEVE SER PROVADA PELO


FOGO
Em 3:13-15, Paulo diz: “Manifesta se tomará a
obra de cada um; pois o Dia a demonstrará, porque
está sendo revelada pelo fogo; e qual seja a obra de
cada um o próprio fogo o provará. Se permanecer a
obra de alguém que sobre o fundamento edificou,
esse receberá galardão; se a obra de alguém se
queimar, sofrerá ele dano; mas esse mesmo será
salvo, todavia, como que através do fogo”. Quando o
Senhor Jesus voltar, nossa obra de edificação será
provada pelo Seu fogo santo. Somente ouro, prata e
pedras preciosas serão capazes de resistir ao fogo e
passar nesse teste. Qualquer coisa de madeira, feno
ou palha será queimada. Se nossa obra for capaz de
passar pelo teste do fogo, receberemos galardão. De
acordo com o ensinamento do Novo Testamento, esse
galardão será o desfrute do reino vindouro. Aos fiéis,
o Senhor Jesus dirá: “Muito bem, servo bom e fiel;
foste fiel sobre o pouco, sobre o muito te constituirei;
entra no gozo do teu Senhor” (Mt 25:21, 23).
Entretanto, se nossa obra for queimada pelo fogo,
sofreremos dano, perda. Isso definitivamente não
quer dizer que perderemos a salvação. A salvação é
eterna e não pode ser perdida. Mas esses versículos
indicam que podemos perder o galardão e ainda ser
salvos pelo fogo. Essa é uma séria advertência.

APLICAR A PALAVRA DE PAULO


Precisamos aplicar à situação entre os cristãos
hoje a palavra de Paulo acerca de ver como edificar
sobre o único fundamento. É muito comum encontrar
cristãos fazendo uma de duas coisas: lançando outro
fundamento no lugar de Cristo ou edificando com
madeira, feno e palha, isto é, com sua natureza, ser e
atividades. Milhares de fundamentos foram lançados
por cristãos. De certa forma, todo grupo cristão tem
seu próprio fundamento. É muito comum que
obreiros cristãos lancem outros fundamentos. Por
exemplo, certo líder e seus cooperadores podem
formar uma organização específica. Ao fazer isso,
estão lançando outro fundamento.
É também comum que cristãos hoje edifiquem
com madeira, feno e palha. O resultado é que o
Senhor não obtém a edificação apropriada. Assim,
não há como Ele voltar. Entretanto, um dia Ele vai
voltar. Você acha que nesse dia a maioria dos crentes
terá muito ouro, prata e pedras preciosas? Não creio
nisso. O material precioso sem dúvida será pouco,
mas certamente haverá muita madeira, feno e palha.
Entre os cristãos hoje há abundância de coisas
naturais, mas muito pouco material precioso
apropriado à edificação de Deus. Por isso, na volta do
Senhor para testar nossa obra, muitos sofrerão dano.
Alguns, contudo, serão galardoados.
Espero com fervor que vocês não tomem essas
mensagens como mera doutrina. Não é adequado
aprender todos os tópicos e depois repeti-los. O que é
necessário é que venhamos a digerir as mensagens e
tenhamos os olhos abertos para ver a revelação
nesses capítulos. Então seremos capazes de dizer algo
de forma experimental e prática. Precisamos
desesperadamente ver que o objetivo de Deus é ter a
igreja. Primeiro, ela tem de ser a lavoura de Deus com
todos os crentes como plantas crescendo em vida
para produzir Cristo. Por fim, pelo crescimento em
vida, seremos transformados e nos tomaremos
material precioso, ouro, prata e pedras preciosas,
para a edificação de Deus.
Todos precisamos atentar para a advertência de
não lançar outro fundamento. Cristo, o único
fundamento, já foi lançado. Na restauração do
Senhor, já temos o fundamento adequado. Assim, não
há necessidade de iniciar nada ou ter novo início.
Além disso, não devemos exaltar ninguém ou ter
preferência por coisa alguma. Antes, precisamos
tomar Cristo, que é todo-inclusivo, como fundamento
e edificar sobre Ele, não com nossa natureza, ser ou
atividades, mas com a natureza de Deus, a obra
redentora de Cristo e a obra transformadora do
Espírito de Deus. Se pelo espírito mesclado
edificarmos com esse material precioso, estaremos
levando a cabo a obra apropriada para a restauração
do Senhor. Como resultado, quando Ele voltar, nossa
obra passará no teste e nós receberemos o galardão
para desfrutar o reino vindouro. Se nossa obra for
feita em Cristo, com Ele e para Ele, e for até mesmo o
próprio Cristo, então passaremos no teste do fogo. Se
não, se edificarmos com material que pode ser
queimado, perderemos o galardão. Oh! que todos
vejamos essa verdade! Isso irá introduzir-nos nas
profundezas da restauração do Senhor. Irá fazer-nos
perceber onde estamos e saber que a restauração não
é uma obra cristã comum ou uma repetição da
história do cristianismo; antes, é conduzir-nos de
volta a Cristo, que é as profundezas de Deus, para
Deus ter a edificação. Que todos esperemos no
Senhor para receber misericórdia a fim de ter essa
maravilhosa visão.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM VINTE E NOVE
ALIMENTAR, BEBER, COMER, PLANTAR, REGAR E
CRESCER

Leitura Bíblica: 1Co 3:1-9


Em 1 Coríntios 3, há muitas coisas preciosas e
expressões incomuns. É um capítulo único na Bíblia;
nenhum outro pode substituí-lo.
No versículo 1, Paulo diz: “Eu, porém, irmãos,
não vos pude falar como a espirituais, e sim como a
carnais7, como a crianças em Cristo”. Paulo aqui usa
um termo bem forte. O termo carnal (ou da carne)
no versículo 1 é uma expressão muito forte e se refere
aos aspectos mais grosseiros da carne. Carnal denota
ser feito de carne, ser influenciado pela natureza da
carne e participar do caráter carnal. Paulo não podia
falar-lhes como a espirituais, mas como a carnais, a
crianças em Cristo. Ele foi muito incisivo com os
crentes em Corinto. Se fôssemos falar dessa forma
aos santos hoje, muitos sem dúvida se ofenderiam e
se recusariam a ouvir mais.

SEIS TÓPICOS CRUCIAIS


Meu encargo nesta mensagem é abordar muitas
expressões cruciais usadas por Paulo nesse capítulo.
No versículo 2, ele diz: “Leite vos dei a beber, não vos
dei alimento sólido”. Dar leite para beber ou comida
para comer é alimentar os outros. A Bíblia na
7
Em grego, o vocábulo traduzido por carnais no versículo 1 é diferente do que é traduzido por carnais
do versículo 3. (N.T.)
Linguagem de Hoje traduz a primeira parte do
versículo 2 dessa forma: “Tive de alimentá-los com
leite”. Alimentar é algo vital e difere de ensinar, que
se refere a conhecimento. Paulo parecia estar
ensinando aos coríntios; na verdade, ele os estava
alimentando. O primeiro ponto crucial nesse capítulo
é alimentar. Alimentar os outros é muito agradável.
Uma mãe, por exemplo, agrada-se em alimentar os
filhos. De modo semelhante, o desejo de Paulo era
alimentar os crentes coríntios não só com leite, mas
também com alimento sólido.
No versículo 2, leite é para beber e alimento
sólido é para comer. Daí, a idéia de alimentar,
expressa aqui, automaticamente implica beber e
comer. Antes de entrar na vida da igreja, talvez você
tenha sido cristão por anos a fio, e ainda assim nunca
tenha ouvido uma mensagem sobre beber. Se
quisermos ser cristãos adequados, precisamos beber.
Beber é um conceito básico no livro de 1 Coríntios.
Em 12:13, Paulo diz que a todos nós foi dado beber de
um só Espírito. Esse conceito de beber não foi
inventado por ele. O Senhor Jesus fala disso em João
4 e também em João 7. Em João 4:14, Ele diz à
mulher samaritana: “Aquele, porém, que beber da
água que Eu lhe der, de modo algum terá sede, para
sempre; pelo contrário, a água que Eu lhe der se
tornará nele uma fonte a jorrar para a vida eterna”.
Conforme João 7:37, o Senhor Jesus, no último dia da
festa dos tabernáculos, levantou-se e exclamou: “Se
alguém tem sede, venha a Mim e beba”. Assim, Cristo
fala de beber, e Paulo também fala de beber. Todos os
cristãos devem ser os que desfrutam um beber
espiritual.
Que é mais vital para manter a vida humana:
comer ou beber? A resposta é que beber é ainda mais
importante que comer. Podemos ficar muitos dias
sem comer, mas não conseguimos ficar muito tempo
sem beber. Ademais, durante o dia, bebemos com
mais freqüência que comemos. Podemos comer
somente três vezes por dia, mas podemos beber doze
vezes por dia. Os médicos aconselham beber um copo
de água muitas vezes ao dia. Embora o beber
espiritual seja vital para a vida cristã, é quase
totalmente negligenciado pelos cristãos hoje.
A referência de Paulo a alimento sólido no
versículo 2 implica comer. Por isso, junto com
alimentar e beber, ele ressalta a importância do
comer.
Nos versículos 6, 7 e 8, Paulo fala de plantar.
Especificamente, ele diz sobre si mesmo: “Eu
plantei”. Ele não era somente alguém que alimentava,
mas também plantava. É-nos dito nesse capítulo que
ele alimentava os santos, dando-lhes comida e
bebida, e também plantava, mas não diz que ele era
um mestre.
Com o plantio, temos a rega e o crescimento. Os
versículos 6 e 7 dizem: “Eu plantei, Apolo regou; mas
o crescimento veio de Deus. De modo que nem o que
planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que
dá o crescimento”. Desse modo, nos primeiros sete
versículos desse capítulo, temos seis tópicos
maravilhosos: alimentar, beber, comer, plantar, regar
e crescer. Que capítulo maravilhoso! Você consegue
encontrar outro capítulo na Palavra que aborde esses
seis tópicos? Não creio que haja outro capítulo assim.
Sobre isso, 1 Coríntios 3 é único. De forma bem
sucinta, em apenas sete versículos, Paulo aborda seis
tópicos maravilhosos. De maneira prática e
experimental, ele se refere a alimentar, beber, comer,
plantar, regar e crescer.

UM LUGAR PARA ALIMENTAR


Você tem alimentado os outros na vida da igreja?
A fim de fazê10, precisamos primeiro ser nós mesmos
alimentados. A igreja não é o lugar para ensinar
primordialmente, mas para alimentar. Daí, não
devemos considerá-la uma escola, mas uma sala de
jantar, até mesmo um restaurante. Se os outros
estiverem incomodados com o fato de que você vai a
muitas reuniões da igreja toda semana e imaginarem
o que você faz nelas, deve dizer: “A igreja é um
restaurante e eu vou lá com tanta freqüência porque
preciso comer”. No “restaurante igreja”, devemos
alimentar os outros e ser alimentados.
Quando dou mensagens no ministério, não tenho
sentimento de que estou ensinando os outros ou
pregando. Não é minha intenção ser um pregador ou
mestre. Antes, é ser mordomo, garçom. Quero
atender os santos e servir-lhes Cristo. Não sou o
cozinheiro porque o cozinheiro celestial, o próprio
Senhor, está nos bastidores. Sou apenas um garçom
que serve aos santos um prato delicioso após outro.
As reuniões da igreja devem ser como um
banquete chinês. Se um amigo convidar você a um
restaurante chinês para um banquete, esteja
preparado para desfrutar um prato após outro. Em
alguns banquetes, pode haver até vinte pratos
diferentes inclusive várias carnes, peixes, aves,
vegetais e sopas. A igreja deve ser como um
restaurante onde continuamente banqueteamos
Cristo. Cristo é a única dieta servida no “restaurante
igreja”. Nesse restaurante, desfrutamos a melhor
comida porque todo prato é um aspecto do próprio
Cristo.

BEBER E RESPIRAR
A maneira de beber é invocar o nome do Senhor
Jesus. Ao invocá-lo, tanto bebemos do Senhor como
O respiramos. Invocá-Lo inclui tanto respirar como
beber. A água que bebemos está no ar que
respiramos. A umidade espiritual na vida da igreja é
muito alta porque não há sequidão nela. Sempre que
inalamos o ar espiritual invocando: “Ó Senhor Jesus”,
também participamos da água que está no ar. Assim,
nosso respirar por fim se toma nosso beber. Isso
significa que toda vez que respiramos, também
bebemos.
A maior parte do tempo não há necessidade de
invocar em voz alta a fim de beber. Em silêncio,
podemos dizer: “Ó Senhor Jesus”. Às vezes é
suficiente simplesmente dizer: “Senhor” e outras
vezes simplesmente dizer: “á”. Algumas pessoas
podem considerar isso superstição. No entanto, com
anos de experiência, posso testificar que invocando o
nome do Senhor, sou refrescado, fortalecido e
consolado. Se não respirasse e bebesse o Senhor
dessa maneira, ficaria muito seco e sedento. Além
disso, a vida diária seria bem monótona, totalmente
destituída de refrigério. Mas simplesmente dizendo:
“Ó Senhor Jesus”, sou refrigerado.
Os que têm boa educação ou são profissionais,
podem pensar que invocar o nome do Senhor não é
para eles, mas somente para os jovens, inexperientes
ou incultos; mas beber é para todos. Se você não
beber do Senhor invocando-O, experimentará
sequidão e monotonia. Oh! todos precisamos beber
do Senhor Jesus dia após dia!
Como sou idoso, já passei por muitas
experiências na vida humana. Muitas coisas
desagradáveis me sobrevieram. Não existe vida sem
dificuldades. Como diz um hino: “Deus não nos
prometeu céus sempre azuis 8 ” Mas embora tenha
passado por muitas situações de descontentamento e
desprazer, tenho sido feliz porque tenho o Senhor
Jesus. Mesmo os demônios podem testificar que sou
feliz no Senhor. Não O tenho meramente de forma
objetiva nos céus. Meu Cristo está tanto nos céus
como também em mim. Aleluia, Ele vive em mim e
posso respirá-Lo, bebê-Lo e banqueteá-Lo!
Diariamente desfruto o melhor respirar, beber e
comer.
Se respirar o Senhor, bebê-Lo e comê-Lo, você
não só será nutrido mas também curado. Sim,
participar Dele desse modo pode de fato curar-nos.
Pode até fazer-nos mais fortes fisicamente, pois a
felicidade e alegria que experimentamos ao invocá-Lo
afeta nossa saúde positivamente. Muitos médicos
reconhecem que é saudável ser alegre. Assim, todos
precisamos ser cristãos que respiram, bebem e
comem. Devemos ser cristãos que se alimentam do
Senhor e alimentam os outros com Ele.

PLANTAR E REGAR
Como crentes, devemos também ser os que
plantam e regam. Lendo os versículos 6 e 7, podemos
ter a impressão de que somente alguns como Paulo e
Apolo podem plantar e regar. Mas não devemos
pensar que somente os líderes ou os que
8
God hath not promised skies always blue” — Hymns 720. (N.T.)
compartilham no ministério da Palavra podem
plantar e regar. Não, todos devemos fazê-lo.
Alguns podem ter o conceito de que são ou
plantadores ou regadores, mas não as duas coisas.
Um irmão que faz a obra de plantar pode sentir que
não deve regar o que plantou, considerando isso obra
de outro irmão. Talvez pense ser um plantador e
supor que outro deva fazer a rega. Ver essas tarefas
dessa maneira é de acordo com nosso conceito
natural. Se nos voltarmos ao espírito e o
exercitarmos, não nos importaremos se somos
plantadores ou regadores. Em vez disso,
simplesmente vamos levar a cabo a obra de plantar e
regar.
Alguns podem não regar outros crentes porque
temem prejudicá-los regando-os demais. Todavia, é
melhor cometer um erro e causar algum dano do que
não regá-los de jeito nenhum. Embora possa cometer
alguns erros, você ajudará muitos outros a crescer no
Senhor. Encorajo todos a tanto plantar como regar.

A MAIOR NECESSIDADE
Embora alimentar, beber, comer, plantar e regar
sejam todos importantes, a maior necessidade é o
crescimento. Podemos plantar e regar, mas só Deus
faz crescer. No tocante ao crescimento de vida, Deus é
tudo. Visto que só Ele pode fazer crescer, em nosso
alimentar, plantar e regar, precisamos ser um com o
Deus Triúno. Isso quer dizer que precisamos executar
essa tarefa em união orgânica com o Senhor. Então,
toda vez que alimentamos, Ele também irá fazê-lo.
Ele vai alimentar em nosso alimentar. O mesmo deve
ser verdade quanto a' plantar e regar. Antes de eu dar
uma mensagem, oro desesperadamente: “Senhor, fala
no meu falar. Senhor, faz com que eu seja um espírito
Contigo ao falar de maneira muito prática”. Então
posso ter plena certeza de que enquanto falo, Ele
também fala. Tenho a ousadia de declarar que sou um
espírito com o Senhor e Ele comigo. Sem Ele, tudo o
que eu falar será nada.
Posso plantar e regar, mas não tenho habilidade
ou conteúdo para fazer os outros crescer. O
crescimento advém somente de Deus. Sempre que Ele
chega, faz-nos crescer. Embora somente Ele possa
fazer-nos crescer, Ele próprio não faz o plantio ou a
rega. Ele não planta nem rega sem nós, assim como
não aparece ou fala aos santos diretamente. Pelo
contrário, fala aos outros em nosso falar. Isso quer
dizer que Ele tem de ter o homem cooperando com
Ele para falar, plantar e regar. Quando plantamos e
regamos, Ele também o faz. Que maravilha é não
servir a um ídolo mudo, mas ao Deus vivo! Em nosso
serviço, Ele serve aos santos.
Não confio no meu falar. Meu falar em si mesmo
não tem peso. Entretanto, freqüentemente tenho
certeza de que quando abro a boca para falar, Ele fala
também. Quando falo, Ele flui e entra nos santos.
Minha confiança é totalmente no falar do Senhor em
meu falar. Meu único segredo é o próprio Deus
Triúno. Fora Dele, nada sou. Se não fosse por Ele, eu
morreria.
Todos precisamos primeiro desfrutar o Senhor
respirando, bebendo e comendo. Há muitas maneiras
de beber Dele e comê-Lo. Podemos participar do
Senhor ao ler-orar, ir às reuniões e ter comunhão com
os santos. Podemos também receber o suprimento de
vida ao ler certos livros espirituais. Há muitas
maneiras de desfrutar o Senhor. Quanto mais O
desfrutarmos, mais seremos saturados Dele. Então
teremos encargo de alimentar os outros, plantar e
regar. Se formos um com o Senhor ao alimentar,
plantar e regar, Ele virá espontaneamente fazer com
que os outros cresçam em vida.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM TRINTA
A LA VOURA DE DEUS E O EDIFÍCIO DE DEUS

Leitura Bíblica: 1Co 3:1-17


Depois de mencionar alimentar, beber, comer,
plantar, regar e crescer, Paulo diz em 3:9: “Lavoura
de Deus, edifício de Deus sois vós”. Ele podia dizer
que ele plantava, Apolo regava e Deus dava o
crescimento porque os crentes são a lavoura de Deus.
Os crentes que foram regenerados em Cristo com a
vida de Deus são a Sua lavoura na Sua nova criação a
fim de cultivar Cristo. Como aqueles que creram em
Cristo e O receberam, já não somos mais terra inculta
ou virgem. Não somos pessoas que Deus não tocou.
Antes, Ele semeou algo em nós e fomos tocados e
cultivados por Ele. Agora somos a Sua lavoura
cultivando Cristo.
O conceito de semear, cultivar e cuidar é
muitíssimo enfatizado na Bíblia. O próprio Senhor
Jesus usou a figura de um semeador. Em Mateus
13:3, Ele diz: “Eis que o semeador saiu a semear”.
Sabemos por Mateus 13:37 que o Senhor é o
Semeador: “O que semeia a boa semente é o Filho do
Homem”. A semente por Ele plantada é também Ele
próprio. É o Senhor na Palavra. Essa semente é o
próprio Deus. O Senhor Jesus veio como Semeador
para semear Deus em nós. Somos a terra, o solo, a
terra cultivada, a lavoura, para cultivar Deus.
Na mensagem anterior, enfatizamos que a igreja
é um restaurante. Agora estamos dizendo que a igreja
é uma lavoura. Não há, é claro, nenhuma contradição
aqui porque a igreja tem muitos aspectos. Como o
lugar de cultivo de alimentos, a igreja é uma lavoura,
mas como lugar onde o alimento é preparado e
servido, ela é um restaurante.

CULTIVAR E EDIFICAR
No versículo 9, Paulo diz que somos tanto a
lavoura como o edifício de Deus. Não parece haver
ligação lógica entre um e outro. Que tem a lavoura a
ver com a edificação? Ninguém jamais viu um edifício
construído de frutos e vegetais. Entretanto, a igreja
como lavoura de Deus produz o material para Sua
edificação.
Como cristãos, estamos cultivando Cristo. Agora
precisamos perguntar-nos se fomos ou não
edificados. Muitos podem hesitar em dizer que fomos
de fato edificados a fim de nos tomar o edifício de
Deus. Se perguntarem aos santos acerca disso, a
maioria deles vai replicar que foram edificados até
certo ponto. Na verdade, essa é a resposta correta. Na
edificação espiritual, ou seja, em vida, a verdadeira
edificação é o crescimento. Somos edificados até o
ponto que crescemos.
Crescer aqui se refere a cultivar alimentos.
Crescer é também aumentar. Por exemplo, um irmão
pode ter nascido pesando apenas quatro quilos, mas
hoje pesa oitenta e cinco quilos. Esse é o segundo
sentido de crescer. Ser edificado na igreja é crescer no
sentido de aumentar com Cristo para ter
determinada estatura. O aumento de Cristo é nossa
estatura. Ser edificado casa espiritual não significa
primordialmente unir-se a outros. Quer dizer ter a
vida natural reduzida e ter Cristo aumentado em nós.
Quanto mais a vida natural é reduzida e quanto mais
Cristo aumenta em nós, mais fácil nos será
coordenar-nos com outros. De fato, seremos capazes
de coordenar-nos com qualquer pessoa. Contudo,
alguns me disseram que não conseguem mudar-se de
sua cidade porque foram edificados com certos santos
na igreja ali. De acordo com seu conceito, uma vez
edificados com os demais, não lhes é possível deixar
essa cidade. Isso não é edificação de fato. Antes, é
amizade ou relacionamento social. Se você foi
realmente edificado na igreja, você foi reduzido e
Cristo aumentou em você. Então, onde quer que
esteja, será um com os santos e se coordenará com
eles. Uma vez edificado no edifício espiritual de Deus,
nunca poderá ser retirado dele.
Como igreja, somos lavoura e edifício de Deus. A
lavoura visa à edificação. Tudo o que é produzido na
lavoura e por ela visa à edificação.

O ÚNICO FUNDAMENTO
Um edifício requer um fundamento. Por isso, em
3:10 e 11, Paulo fala do fundamento do edifício de
Deus: “Segundo a graça de Deus que me foi dada,
lancei o fundamento como prudente construtor; e
outro edifica sobre ele. Porém cada um veja como
edifica. Porque ninguém pode lançar outro
fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus
Cristo”. Cristo, o único fundamento, já foi lançado.
Ele foi estabelecido não só na época dos apóstolos,
mas pela eternidade. Todavia, nos últimos dezenove
séculos, muitos obreiros cristãos têm tentado lançar
outros fundamentos. Cada denominação e grupo tem
seu fundamento particular. Entre os cristãos hoje há
milhares de fundamentos.
LANÇAR OUTROS FUNDAMENTOS
Precisamos entender a palavra de Paulo sobre
Cristo como o fundamento no contexto dos primeiros
três capítulos de 1 Coríntios. Neles, Paulo parece
dizer: “Quando vocês, coríntios, declaram que são de
Apolo, Cefas ou Paulo, estão lançando outro
fundamento. Sempre que disserem que são de alguém
ou algo, estão lançando um fundamento”.
Preferências e escolhas são na verdade fundamentos.
Por exemplo, alguém pode preferir batismo por
imersão. Isso é um fundamento. Outro pode gostar de
ter a mesa do Senhor com pão asmo. Isso também é
um fundamento. Os que preferem batismo por
imersão podem não aceitar os que não têm essa
prática. A conseqüência é divisão. Uma divisão é
causada lançando-se outro fundamento além do
próprio Cristo. Podemos até lançar outro
fundamento, tendo preferências por “igrejas locais”.
Alguém pode dizer que não gosta da igreja em sua
cidade e quer mudar-se para outro lugar. Até isso é
lançar outro fundamento. De acordo com o nosso
conceito, podemos ter a liberdade de escolher a igreja
numa cidade que se ajuste à nossa preferência.
Podemos preferir uma igreja específica pois ela
combina com o nosso gosto. Ter preferências e
escolhas com respeito às igrejas é lançar outro
fundamento. Isso é uma explicação acurada da
palavra de Paulo em 3:10 e 11.
Há uma ligação direta entre os versículos 4 e 11.
Essa ligação se toma evidente quando seguimos o
raciocínio de Paulo do versículo 11 de volta para o 4.
Segundo o versículo 11, Cristo é o único fundamento.
O fato de esse versículo começar com a palavra
“porque” indica que é uma explicação do anterior.
Quando seguimos essa ligação para trás, por fim
chegamos à questão dos plantadores e regadores
serem um (v. 8). No versículo 7, Paulo diz: “De modo
que nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega,
mas Deus, que dá o crescimento”. No tocante ao
crescimento em vida, os ministros de Cristo nada são,
e Deus é tudo. Nos versículos 5 e 6, vemos que Paulo,
que plantou, e Apolo, que regou, são simplesmente
ministros por meio dos quais os coríntios creram.
Portanto, os coríntios não deviam ter preferência por
um em detrimento de outro. Como ele diz no
versículo 4: “Quando, pois, alguém diz: Eu sou de
Paulo, e outro: Eu, de Apolo, não é evidente que
andais segundo os homens?” A ligação entre os
versículos 4 e 11 é essa: Dizer que somos de certa
pessoa é lançar outro fundamento. Pertencer a
alguém além de Cristo é lançar outro fundamento
além Dele. Os que diziam: “Eu sou de Paulo”
lançavam Paulo como fundamento, e os que
declaravam: “Eu pertenço a Apolo”, lançavam Apolo
como fundamento. Em princípio, o mesmo ocorre
com todos os que preferem certa doutrina, prática ou
pessoa. Os que são a favor do batismo por imersão,
lançam essa doutrina como fundamento. Isso os
separa de outros crentes e os divide deles.
Desde a época dos apóstolos, muitos líderes e
mestres cristãos têm lançado fundamentos especiais.
Esses fundamentos têm sido fatores de divisão. Os
cristãos hoje estão divididos por vários fundamentos.
Embora nós, na restauração do Senhor, não lancemos
outros fundamentos de forma exterior, alguns podem
dizer para si mesmos: “Prefiro determinado
presbítero da igreja em minha cidade. Prefiro ir a ele.
Não gosto de falar com os outros presbíteros. Essa é
minha escolha, minha preferência”. Isso na verdade
equivale a dizer: “Sou desse presbítero”. Como já
enfatizamos, isso é lançar um fundamento além de
Cristo. Fazer isso arruína a vida do Corpo e prejudica
a edificação de Deus. Em outras palavras, essa não é a
edificação da igreja, mas a sua demolição.

SEM PREFERÊNCIAS
Quando os coríntios diziam que eram de Paulo,
de Apolo ou de Cefas, estavam destruindo o edifício,
danificando o santuário de Deus. Isso deve ser uma
categórica advertência para que não tenhamos
preferências por pessoas ou práticas, ou escolhas de
lugar. Sempre que um irmão muda-se de uma cidade
para outra, isso deve ser puramente conforme a
liderança do Senhor. Não deve haver outro motivo. Se
alguém se muda porque a igreja em sua cidade não
está de acordo com o seu gosto, ou porque um
presbítero não o agrada, ou porque não se sente feliz
com determinados irmãos e irmãs, essa pessoa está
lançando outro fundamento. Isso é divisão. Isso
definitivamente não é edificação. Como vimos, a
verdadeira edificação é ser reduzidos em nossa vida
natural e ter Cristo aumentado em nós. Se essa for a
nossa situação, não teremos quaisquer preferências.
Se o Senhor nos guiar para um lugar que é bem difícil,
nós O louvaremos por essas dificuldades, sabendo
que isso nos reduzirá cada vez mais e dará mais
espaço em nosso ser para Cristo. Então teremos um
verdadeiro crescimento e ficaremos felizes com a vida
da igreja.
Suponha que a igreja em sua cidade seja uma
dificuldade para você. Além disso, suponha que os
presbíteros não pareçam contentes com ninguém.
Que você faria? iria mudar-se para uma cidade onde,
segundo a sua impressão, a vida da igreja é melhor?
iria querer ir a um lugar em que os presbíteros estão
contentes e a igreja não apresenta quaisquer
dificuldades para você? Se fizer essa escolha sem a
orientação do Senhor, você estará agindo segundo a
sua preferência. Espero que todos os santos, jovens e
idosos, percebam que tais preferências não devem
acontecer na restauração do Senhor.
Mesmo criticar a igreja em sua cidade é lançar
outro fundamento. Criticar é ser faccioso e introduzir
destruição. É demolir a edificação. Quando alguns
santos ouvem essa palavra, podem dizer: “Isso não é
justo. Você não sabe como é lamentável a igreja em
minha cidade. Se visitasse a igreja aqui, concordaria
comigo”. Não, eu não criticaria a igreja em sua
cidade. Pelo contrário, se eu fosse a essa cidade,
amorosamente abraçaria a igreja lá.
Suponha que você viva numa família muito
grande com cinco irmãos e seis irmãs. Alguns deles
são sábios, e outros são tolos. Alguns são gentis, e
outros grosseiros. Você vai rejeitar os tolos e
grosseiros, e se importar somente com os sábios e
gentis? Não, você tem de amar e receber todos. Todos
são descendência de seus pais. No mesmo princípio,
todos na vida da igreja são filhos de Deus Pai. Não
devemos achar falhas neles ou criticá-los, pois
nasceram de Deus. Não temos o direito de amar a
alguns mais que aos outros. Além disso, não devemos
ter quaisquer preferências ou escolhas entre eles.
Assim como a família é unicamente uma, também a
igreja é unicamente uma. Por isso, não devemos
procurar ter as próprias preferências: O que tenho
falado nesta mensagem está de acordo com a palavra
de Paulo nos primeiros três capítulos de 1 Coríntios.
O capítulo três se baseia nos capítulos um e dois.
Neles, Paulo parece dizer: “Vocês, crentes em
Corinto, têm suas preferências. Alguns me preferem,
outros preferem a Apolo, e ainda outros a Cefas.
Vocês também têm preferências de cultura, pois
alguns preferem o judaísmo enquanto outros têm
preferência pela cultura e filosofia gregas. Vocês têm
preferências por pessoas, questões e coisas. Precisam
ver que ter preferência é lançar um fundamento. Mas
nenhum fundamento pode ser lançado além do que já
foi posto: Jesus Cristo. Quando estava entre vocês,
lancei o único fundamento, que é o próprio Cristo.
Cheguei a vocês com a decisão de nada saber exceto
Cristo, e esse crucificado. Somente Ele é o
fundamento. O fundamento não pode ser judaísmo,
filosofia grega, Cefas, Apelo, Paulo ou qualquer outra
pessoa. Paulo e Apolo nada são; somos ninguém.
Tanto o que planta como o que rega nada são. O único
que é alguma coisa é Deus, que dá o crescimento”.
Esse é o sentido do que Paulo diz acerca de Cristo
como o único fundamento.

A VERDADEIRA EDIFICAÇÃO
Espero que todos os santos na restauração do
Senhor vejam que são a lavoura de Deus para cultivar
Cristo e também o edifício de Deus, Sua habitação.
Precisamos da verdadeira. edificação, Para tê-la
precisamos crescer, sendo reduzidos e tendo Cristo
aumentado em nós. O resultado é que não temos
preferências por pessoas, questões ou coisas.
Também significa que não temos escolha de lugar.
Estamos contentes simplesmente por ser membros
do Corpo do Senhor, crescendo em Cristo. Se essa for
nossa condição, então onde quer que estivermos,
iremos coordenar-nos com todos os santos, não
importa se são gentis ou grosseiros. A verdadeira
edificação é ser reduzidos e ter Cristo aumentado em
nós, até que cheguemos à medida da estatura da Sua
plenitude.
Em 3:10, Paulo nos adverte a ver como
edificamos sobre o fundamento já lançado. Não
devemos edificar com madeira, feno ou palha, mas
com ouro, prata e pedras preciosas. Esse material
envolve transformação. O que a lavoura cultiva é da
vida vegetal, mas o que é necessário para a edificação
não são plantas, mas minerais. Somente minerais
podem ser usados para a edificação de Deus. Para
termos os minerais, tem de haver transformação. A
vida vegetal tem de ser transformada em minerais.
Desse modo, no capítulo três temos os conceitos da
lavoura, edificação e transformação. No versículo 17,
também temos o conceito do santuário de Deus.
Ao considerar todas essas coisas, vamos perceber
que 1 Coríntios é um livro precioso, cheio de tesouros.
Ao mesmo tempo, ele lida com muitas complicações
relacionadas com a vida da igreja. Louvado seja o
Senhor pelo que vimos sobre alimentar, beber,
comer, plantar, regar e crescer! Também somos
gratos pelo que vimos acerca da lavoura, edificação,
fundamento, transformação e santuário de Deus.
Primeira Coríntios, um livro tanto de tesouros como
de complicações, corresponde à nossa situação e
condição atuais. Ele é urgentemente necessário para
cristãos hoje. Todos os crentes precisam ver o que é
revelado nessa Epístola.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM TRINTA E UM
TRANSFORMAÇÃO COM VISTAS À EDIFICAÇÃO

Leitura Bíblica: 1Co 3:10-17; 2Co 3:17-18; Rm 12:2


Em 1 Coríntios 3, Paulo aborda as questões de
alimentar, beber, comer, plantar, regar e crescer.
Tudo isso está relacionado com vida. Em 3:9, ele
prossegue referindo-se à igreja como lavoura e
edifício de Deus. A lavoura com certeza é questão de
vida, o edifício é o resultado da vida. Nenhum edifício
material envolve algo de vida, mas o edifício
espiritual mencionado nesse capítulo tem muito a ver
com vida. Paulo fala sobre esse edifício não só em 1
Coríntios mas também em Efésios, Colossenses e
Romanos. Todavia, os itens básicos sobre o edifício
são abordados em 1 Coríntios. O edifício de Deus é
totalmente em vida e de vida, pois é a edificação do
Corpo de Cristo.

A LA VOURA E O EDIFÍCIO
Aparentemente, não há ligação entre lavoura e
edifício. Segundo o nosso conceito natural, uma
lavoura é questão de vida, mas um edifício é uma
composição de material inanimado. Assim, não
parece haver continuação adequada entre as
expressões lavoura e edifício de Deus. Contudo, se
percebermos que o edifício aqui é de vida, uma
edificação em vida, veremos que há uma ligação
direta e excelente entre ambos. Tudo que é produzido
na lavoura não é para ela em si, mas visa à edificação.
O produto cultivado na lavoura visa à edificação.
Embora o produto cultivado na lavoura seja para
a edificação, ele não entra diretamente nela. Antes,
pode-se dizer que vai para o restaurante igreja a fim
de ser comido, digerido e assimilado pelos santos. Por
meio desse processo, o que é cultivado na lavoura é
consumido pelos santos e, por fim, se toma até
mesmo os próprios santos.
Uma fazenda não produz só legumes, a vida
vegetal, mas também gado, a vida animal. Tanto a
vida vegetal como a vida animal têm de ser comidas
por nós no “restaurante igreja”. Em 3:2, Paulo diz:
“Leite vos dei a beber”. Leite é um produto tanto da
vida vegetal como da animal. É produzido por vacas,
que se alimentam de grama. O leite é produto da
mescla da vida animal com a vegetal. Essa mescla
também produz carne. Sem a vida animal, não
poderia haver carne. De modo semelhante, sem a vida
vegetal, também não podemos ter carne, pois o gado
depende da grama para sua alimentação. Primeiro
eles comem a vida vegetal e depois produzem leite e
carne para nós.
Menciono isso porque tanto o leite como a carne
são figuras de Cristo como nosso suprimento de vida.
Em João 6:48, o Senhor Jesus diz: “Eu sou o pão da
vida”. Pão é feito principalmente de farinha, que
provém da vida vegetal. Entretanto, o Senhor
prossegue falando do pão como Sua carne: “E o pão
que Eu darei é a Minha carne, que Eu darei pela vida
do mundo” (6:51). Isso indica que a composição desse
pão não é somente da vida vegetal, mas também da
vida animal; é o pão-carne. Por isso, é difícil dizer se
Cristo como nosso suprimento de vida é da vida
vegetal ou animal. Esse pão é o produto, a mescla das
duas vidas.
Quanto mais comemos de Cristo como nosso
suprimento de vida, mais somos transferidos para a
edificação de Deus. Primeiro, somos a lavoura para
produzir alimento. Comendo o que é produzido na
lavoura, somos introduzidos na edificação.

UM PROCESSO METABÓLICO
Para que a comida que comemos se torne nossa
constituição, tem de haver o processo de
metabolismo. Na Bíblia, esse processo é chamado de
transformação. Transformação envolve mudança
metabólica. Daí, é totalmente um processo
metabólico. Primeiro comemos; depois de algum
tempo, a comida é digerida e assimilada e, por fim, se
torna as fibras do nosso ser. Isso é metabolismo,
transformação.
Para um menino de quatro quilos crescer até ser
homem maduro pesando oitenta e cinco quilos, tem
de haver alimentação regular e metabolismo normal.
Gradualmente, a comida ingerida por um menino o
fará crescer. Por fim, como conseqüência de um
processo metabólico por longo tempo, ele se tornará
adulto. Como homem maduro, ele é um produto, uma
composição, de todo o alimento que comeu, digeriu e
assimilou. Isso ilustra o processo de metabolismo
espiritual. O produto cultivado na lavoura é comido e
digerido por nós. Por fim, por meio do processo de
metabolismo, esse alimento se torna nós e nos
transforma em material para a edificação do Corpo de
Cristo.
A igreja é uma lavoura para cultivar Cristo. Cada
item da produção ali cultivada é Cristo. Essa
produção inclui vários aspectos de Cristo. Ele é o
leite, os vegetais e a carne. A igreja cultiva Cristo e
todos os santos O comem. Por fim, mediante
digestão, assimilação e metabolismo, Cristo se torna
nós e nós nos tornamos Ele. Então seremos material
apropriados para a edificação.
O escrito de Paulo em 1 Coríntios 3 tem ligação
direta de um item com outro. Primeiro ele se refere a
alimentar, beber e comer. A seguir menciona também
plantar e regar, depois ele nos diz que somente Deus é
quem dá o crescimento. Depois disso, no versículo 9,
diz que somos lavoura e edifício. Por isso, há ligação
direta entre todos esses tópicos. Como vimos, a
lavoura se torna o edifício.

EDIFICAR SOBRE O ÚNICO FUNDAMENTO


Nos versículos 10 e 11, Paulo fala direta e
explicitamente sobre Cristo como o fundamento:
“Segundo a graça de Deus que me foi dada, lancei o
fundamento como prudente construtor; e outro
edifica sobre ele. Porém cada um veja como edifica.
Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além
do que foi posto, o qual é Jesus Cristo”. Paulo aqui
indica que já tinha lançado Cristo como o único
fundamento. No universo, há somente um
fundamento e não devemos lançar outro. Não
podemos dizer que somos de certa pessoa ou coisa,
que preferimos isso ou aquilo, ou que escolhemos
certa cidade para viver a vida da igreja. Falar dessa
maneira é lançar outro fundamento além de Cristo.
Em vez de lançar outro fundamento, precisamos
edificar sobre o fundamento já lançado.
No cristianismo de hoje, há muitos outros
fundamentos, mas de certa forma não há edificação
sobre o fundamento já lançado. A restauração do
Senhor tem de ser totalmente diferente. Na
restauração, nunca devemos lançar outro
fundamento; devemos simplesmente edificar sobre o
fundamento que foi lançado há mais de mil e
novecentos anos. Somos gratos ao Senhor porque,
pela Sua misericórdia, Ele restaurou esse único
fundamento. Muitos anos atrás, na China, assumimos
uma posição forte a favor de Cristo como o único
fundamento. Tivemos de declarar aos que estavam
nas denominações que não podíamos ter qualquer
fundamento além do próprio Cristo. Como
conseqüência, muitas coisas teriam de ser postas de
lado para que Cristo sozinho pudesse ser exaltado.
Agora que o único fundamento foi lançado, devemos
edificar sobre ele.
Em 3:10, Paulo diz: “Porém cada um veja como
edifica”. Quando nos referimos a como fazer certa
coisa, normalmente queremos dizer a maneira, não o
material usado. Quando nos referimos ao material,
normalmente dizemos: “Com que você está
construindo?” Não perguntamos: “Como você está
construindo?” Na Bíblia, porém, essas duas formas
são a mesma coisa. Como edificamos sobre o
fundamento equivale a com que edificamos. Em
outras palavras, de acordo com a Bíblia, o material
usado na edificação é a maneira como edificamos.
Conforme o nosso conceito natural, o material é uma
coisa e a maneira é outra. O material se refere à
substância, mas a maneira se refere à habilidade ou
técnica. Na Bíblia, contudo, a substância é a técnica; o
material é a maneira. Na verdade, a Bíblia dá pouca
atenção à habilidade ou à técnica, mas dá muita
atenção ao material. A preocupação de Paulo não é
com a maneira ou método que edificamos a igreja,
mas com o material que usamos nela.
DUAS MANEIRAS DE EDIFICAR
No versículo 12, Paulo se refere a duas maneiras
de edificar: “Contudo, se o que alguém edifica sobre o
fundamento é ouro, prata, pedras preciosas, madeira,
feno, palha”. A primeira maneira é edificar com ouro,
prata e pedras preciosas; a segunda é edificar com
madeira, feno e palha. Aqui temos duas categorias de
material de edificação. Ouro, prata e pedras preciosas
são minerais. Madeira, feno e palha são vegetais. Nós,
na restauração do Senhor, estamos todos fazendo a
obra de edificação. Assim temos de ver como
edificamos: com ouro, prata e pedras preciosas ou
com madeira, feno e palha?
A palavra de Paulo em 3:12 não é somente para
os presbíteros ou cooperadores. Pelo contrário, foi
escrita para todo crente. Isso faz parte de uma
Epístola endereçada à igreja em Corinto, com todos
os que em todo lugar invocam o nome do Senhor
Jesus Cristo. Desse modo, esse versículo é dirigido a
todos nós. Aplica-se a você e também a mim.
Na edificação da igreja nós mesmos somos
usados como material. Já que somos o material de
construção, precisamos perguntar que tipo de
material somos. Somos madeira ou ouro, prata ou
feno, pedras preciosas ou palha? Muitos podemos
responder essa pergunta dizendo que estamos no
processo de transformação. Portanto, em certo
sentido, somos tanto madeira como ouro, tanto feno
como prata, tanto palha como pedras preciosas.
Usando um exemplo do mundo dos insetos, podemos
comparar-nos a uma lagarta num casulo, no processo
de se tomar borboleta. Por um lado, ainda somos
lagarta; por outro, há sinais de que estamos
tomando-nos borboletas. O processo de
transformação começou, mas ainda não está
completo. Estamos todos no caminho de
transformação, no processo de ser transformados.

TRANSFUSÃO E TRANSFORMAÇÃO
Em 2 Coríntios 3:18, Paulo diz: “E todos nós, com
o rosto desvendado, contemplando, como por
espelho, a glória do Senhor, somos transformados de
glória em glória, na Sua própria imagem, como pelo
Senhor, o Espírito”. Para contemplar o Senhor e ser
transformados, precisamos de um rosto desvendado.
Não deve haver véu entre nós e o Senhor. Do ponto de
vista da experiência, um véu se refere a isolamento.
Não importa quão próximos possamos estar do
Senhor, se formos isolados por um véu, Ele não
poderá infundir-Se em nós. O isolamento é um termo
usado com freqüência a respeito de eletricidade.
Isolar alguma coisa é cobri-la para não receber
energia elétrica. Até mesmo um pedaço fino de papel
pode ser um isolante. Um aparelho elétrico pode estar
em condições de funcionar e a eletricidade está
instalada no edifício, mas a energia elétrica não
consegue chegar ao aparelho se houver alguma coisa
isolando a ligação.
Isso ilustra o que acontece na vida de muitos
cristãos hoje. Os crentes podem pensar que se
amarem o Senhor estarão próximos Dele e andarão
com Ele e, então, tudo estará certo. Talvez não
percebam, no entanto, que ainda estão sob véus que
os isolam da transfusão do Senhor.
De acordo com a palavra de Paulo, precisamos
contemplar o Senhor com o rosto desvendado. Não
deve haver véus entre nós e o Senhor. Se estivermos
sem véu, seremos um espelho contemplando e
refletindo a gloriosa imagem do Senhor. Sempre que
O contemplamos de forma direta, sem véu, sem
isolamento, experimentamos a Sua transfusão. A
eletricidade divina é infundida em nós.
Comer o Senhor tem muito a ver com tê-Lo
transfundido em nós. Na verdade, comer o Senhor
Jesus é permitir-Lhe entrar em nós na forma de
transfusão. Isso está claramente revelado no Novo
Testamento. De acordo com o Novo Testamento,
nosso relacionamento com o Senhor é totalmente
algo da vida espiritual. Porquanto é algo espiritual, a
linguagem humana não consegue descrevê-lo
adequadamente. Por esse motivo, Paulo usa
metáforas. Em 1 Coríntios 3, as palavras alimentar,
leite, beber e comida sólida são metáforas. O Senhor
Jesus também usou metáforas e parábolas ao ensinar,
por exemplo, ao dizer: “Eu sou o pão da vida” (10
6:35). Ele também disse que o pão que Ele dá é a Sua
carne. Os judeus “disputavam (...) entre si, dizendo:
Como pode este dar-nos a comer a Sua carne?” (v.
52). Comer o Senhor Jesus é recebê-Lo em nós e
permitir-Lhe acrescentar-Se a nós.
Comer não ocorre uma vez por todas; tem de ser
repetido diariamente. Temos comido diversos
alimentos por anos a fio, mas ainda precisamos
comer hoje. Cada vez que os ingerimos, ocorre
transfusão em nós. Pela alimentação e pela
transfusão, Cristo é acrescentado ao nosso ser.
Comer relaciona-se com a transformação.
Quando o alimento é ingerido, digerido e assimilado,
nova substância é acrescentada ao nosso ser para
substituir e eliminar a antiga. Esse é o processo
metabólico de transformação. O sentido de comer é
que nova substância é acrescentada em nós para
descarregar a antiga a fim de produzir transformação
metabólica. Esse ponto crucial tem sido muito
negligenciado pelos cristãos hoje.
Suponha que uma pessoa seja muito pálida. Há
grande diferença entre aplicar maquiagem para
mudar a cor do seu semblante, ou mudá10 como
conseqüência de nutrição adequada e metabolismo.
Aplicar maquiagem é o que faz um agente funerário
nos Estados Unidos: aplica maquiagem ao rosto de
um morto porque não pode haver qualquer mudança
metabólica de vida. Em nossa vida cristã, não
devemos tentar colorir-nos com maquiagem
espiritual. Antes, devemos comer o Senhor. A obra de
Paulo não era a de um agente funerário. Ele não
aplicou maquiagem aos coríntios, mas alimentou-os.
Ele sabia que se comessem e bebessem
adequadamente, seriam transformados e teriam o
semblante espiritual saudável.
A obra de Paulo foi muito diferente da que
muitos obreiros cristãos fazem hoje. Enquanto
muitos executam trabalho de “agentes funerários”,
Paulo alimentava os santos com Cristo. Igualmente, a
igreja não deve ser um lugar onde as pessoas
compram cosméticos; antes, tem de ser o restaurante
do Senhor onde Seu povo pode comer. Quanto mais
comemos de Cristo, mais somos transformados. A
transformação nos fará gloriosos. Fará com que
tenhamos a imagem do Senhor, Sua aparência, Sua
expressão gloriosa.
A transfusão do Senhor em nós também pode ser
ilustrada pela transmissão de eletricidade num
brinquedo. Certos brinquedos movem-se, pulam e até
dançam quando estão ligados à corrente elétrica.
Podemos ser comparados a tal brinquedo elétrico.
Quando Cristo é transfundido em nós, começamos a
nos mover. Podemos até sentir como se pudéssemos
pular ou pairar no ar. Nossa vida cristã é uma vida de
transfusão, é uma vida de continuamente ter o
Senhor infundindo-Se em nós.
A transformação e a transfusão nos tornam
material vivo para a edificação de Deus. Como
material vivo, estamos crescendo e mudando. Posso
observar uma mudança, uma transformação, na vida
de muitos santos, principalmente na dos que não vejo
há certo tempo. Louvado seja o Senhor, pois estamos
sendo transformados! Estamos tornando-nos ouro,
prata e pedras preciosas para a edificação de Deus.
A igreja não é uma organização ou sociedade; é
uma entidade orgânica: o Corpo de Cristo. Somente
pessoas transformadas podem compor o Corpo de
Cristo. Visto que o Corpo de Cristo é orgânico, quanto
mais crescemos e somos transformados, mais somos
edificados como Corpo. É essa edificação de um
Corpo orgânico que o Senhor busca hoje.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM TRINTA E DOIS
EDIFICAR OU DESTRUIR O SANTUÁRIO DE DEUS?

Leitura Bíblica: 1Co 3:10-23; 2Co 3:18; Rm 12:2

OURO, PRATA E PEDRAS PRECIOSAS


Referindo-se a Cristo como o único fundamento,
Paulo diz em 3:10: “Porém cada um veja como
edifica”. No versículo 12, ele prossegue: “Contudo, se
o que alguém edifica sobre o fundamento é ouro,
prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha”. De
acordo com esse versículo, o material apropriado
para edificação é ouro, prata e pedras preciosas. Por
que ele menciona somente três itens do material e
não dois ou quatro? Há três porque se refere à
Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo.
As pedras preciosas estão relacionadas com a
obra transformadora do Espírito Santo. Cada pedra
preciosa é uma substância transformada. Antes era
outro material, talvez argila ou carbono. Depois,
como resultado de calor e pressão intensos, esse
material foi transformado em pedras preciosas. Desse
modo, pedras preciosas indicam transformação. De
acordo com 2 Coríntios 3:18, somos transformados
pelo Senhor Espírito. Isso revela claramente que
transformação é a obra do Espírito. Por isso, o
terceiro item do material apropriado mencionado em
3:12 se refere ao terceiro da Trindade: o Espírito.
Em Êxodo 30, vemos que a prata era usada para
redimir a vida do povo de Deus. Ela representa a
redenção cumprida por Cristo, o Filho, o segundo da
Trindade. Por isso, a prata em 3:12 se refere à
redenção de Cristo.
Ouro, o primeiro item do material precioso
mencionado por Paulo, se refere ao primeiro da
Trindade: Deus Pai. Ouro não tipifica nem redenção
nem transformação; antes, como elemento precioso,
representa algo que não muda nem se corrompe em
natureza. Deus sempre permanece o mesmo.
Portanto, na Bíblia, ouro representa a natureza de
Deus Pai. A natureza divina, como ouro, nunca muda.

TER O DEUS TRIÚNO CONSTITUÍDO EM


NÓS
Vimos que ouro, prata e pedras preciosas se
referem a Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito. Agora
precisamos ainda ver o que significa edificar com esse
material. Para edificar com esse material, nós
mesmos precisamos primeiro tê-los constituídos em
nós. Precisamos ter a natureza do Pai, a redenção do
Filho e a transformação do Espírito constituídas em
nós. Isso quer dizer que precisamos ter o Deus Triúno
constituído em nós. Quando O recebemos em nós
bebendo-O e comendo-O, quando Ele se transfunde
em nós, o próprio Deus Triúno (Pai, Filho e Espírito)
entra em nós para ser o nosso elemento constituinte e
substância. Isso faz ocorrer um processo metabólico
em nós pelo qual um elemento novo é acrescentado e
um elemento velho é eliminado. Outro nome desse
processo é transformação.
A transformação não acontece da noite para o
dia. Pelo contrário, é uma obra que prossegue
continuamente dia após dia. Quando invocamos o
Senhor Jesus, louvamos o Pai, lemos-oramos a
Palavra, oramos, cantamos, adoramos, vamos às
reuniões da igreja e temos comunhão com os santos,
recebemos o Deus Triúno em nós. Quanto mais O
recebemos, mais o Seu elemento nos transforma
metabolicamente e nos faz tê-Lo constituído em nós.
Então temos ouro, prata e pedras preciosas.
Ter ouro é ter a natureza incorruptível do Pai. Ser
redimido é ser aniquilado, substituído e conduzido de
volta a Deus por intermédio de Cristo. Embora
estejamos salvos em muitas coisas, ainda estamos
longe do Deus Triúno. Quando Cristo se torna nossa
redenção, Ele nos conduz de volta a Deus, aniquila
nossa vida natural e nos substitui Consigo mesmo.
Isso é experimentar prata. Depois disso, o terceiro do
Deus Triúno, o Espírito, opera tanto em nós como nas
circunstâncias para transformar-nos em pedras
preciosas.

O PROCESSO DE TRANSFORMAÇÃO
A transformação envolve a obra do Espírito tanto
interior como exteriormente. Ele opera exteriormente
nas circunstâncias para o bem do Seu operar interior.
Por exemplo, Ele pode usar nossos filhos para
transformar-nos. Podemos esperar que os filhos se
submetam e obedeçam, mas um pode ser teimoso e
até rebelde. Pode fazer com que sejamos
pressionados para o bem de nossa transformação.
Como sou idoso e tenho muitos filhos e netos, posso
testificar que o Espírito freqüentemente usa nossos
filhos para pressionar-nos e “queimar-nos” como
parte de Sua obra transformadora. Na primeira vez
que experimentei isso em minha vida familiar, fiquei
perturbado e não conseguia explicar o que acontecia.
Gradualmente, soube que precisava do calor e
pressão causados por meus filhos. Também vi que
precisava de outras pressões. É necessário calor e
pressão muito intensos para a argila se tornar pedra
preciosa. De acordo com Romanos 8:28, Deus faz
com que todas as coisas cooperem para o nosso bem.
Precisamos que todas as coisas trabalhem por nós.
Por isso, não devemos ficar surpresos quando até os
filhos são usados para pressionar-nos e queimar-nos
a fim de que nos tornemos pedras preciosas.
Muitos cristãos estão sob a influência de
ensinamentos que dizem que, se crermos no Senhor
Jesus e agirmos bem para a glória de Deus, seremos
abençoados e prosperaremos de todas as formas.
Segundo esse ensinamento, seremos bem-sucedidos e
prósperos. Ademais, supostamente os filhos serão
bem-sucedidos nas profissões que escolherem. Se
esse ensinamento for exato, Paulo deve ter sido o
crente mais miserável que já viveu. Ouçam o que ele
diz em 4:11-13: “Até a presente hora, sofremos fome, e
sede, e nudez; e somos esbofeteados, e não temos
morada certa, e nos afadigamos, trabalhando com as
nossas próprias mãos. Quando somos injuriados,
bendizemos; quando perseguidos, suportamos;
quando caluniados, procuramos conciliação: até
agora, temos chegado a ser considerados lixo do
mundo, escória de todos”. Acaso é essa a descrição de
alguém bem-sucedido e próspero? A situação dele era
muito diferente da prometida pelo ensinamento de
que os que crêem no Senhor e vivem corretamente
serão abençoados materialmente. Não obstante,
Paulo era, de fato, o mais abençoado dos cristãos,
pois realmente tinha o Deus Triúno constituído nele.
Nós na restauração do Senhor não devemos ficar
amedrontados pelo processo de transformação. Não
devemos desejar sair da restauração e procurar
maneira mais fácil, ir a uma reunião religiosa onde
podemos ser consolados psicologicamente. Louvamos
o Senhor porque estamos recebendo a Sua nutrição e
também sendo submetidos ao processo de
transformação. Estamos recebendo mais do ouro
divino em nosso ser. Posso categoricamente testificar
que não me arrependo de ter tomado o caminho da
restauração do Senhor. Sim, perdi muito, mas
também ganhei muito mais. Se não há perda, não
pode haver ganho. O que perdi foram coisas
materiais, mas ganhei a natureza de Deus, meu Pai.
Ganhei o ouro da natureza divina, algo que nunca
muda ou decai. Aleluia pela natureza divina
acrescentada a nós! Também louvamos o Senhor pela
maravilhosa redenção que experimentamos
diariamente para ser aniquilados, conduzidos de
volta a Deus e substituídos pelo próprio Cristo. Além
disso, somos gratos pelo calor e pressão que nos
transformam de argila em pedras preciosas.

TRANSFORMAÇÃO E EDIFICAÇÃO
Quando nos tomamos ouro, prata e pedras
preciosas, somos edificados. Edificar é questão de
crescimento e transformação. Quanto mais
crescemos, mais somos resgatados de nosso ser
natural. Então, onde quer que estivermos, podemos
facilmente ser um com os santos. Isso é edificação.
Se formos edificados de verdade, não haverá
opiniões, disputas, contendas, comparações,
preferências ou escolhas. Seremos simplesmente pelo
Corpo do Senhor e desejaremos ser parte desse
Corpo. Não importa onde estejamos, seremos um
com todos os santos. Isso é o que significa ser
edificado com ouro, prata e pedras preciosas.
A maioria dos cristãos de hoje está dividida. É
difícil até mesmo encontrar dois que foram edificados
de forma adequada. O motivo da divisão e falta de
edificação é que os crentes permanecem em sua vida
natural, seu ser natural e aspirações mundanas.
Muitos ainda têm as próprias preferências, desejos e
escolhas. Como conseqüência, é impossível que
sejam, de fato, um. Portanto, entre eles não pode
haver a vida prática do Corpo.
Não podemos ter a verdadeira vida do Corpo até
que, pelo menos até certo ponto, cresçamos sendo
transformados. Louvamos o Senhor porque, até certo
ponto pelo menos, as igrejas na restauração do
Senhor têm sido edificadas dessa forma. Os santos
estão se tomando um, e não estão tanto em suas
opiniões, preferências e escolhas. Além disso, temos
um objetivo: a visão central do propósito eterno de
Deus, que é ter Cristo ministrado aos santos para que
todos sejam constituídos num único Corpo. Embora
possamos não ser totalmente um nesse objetivo,
estamos no processo de entrar nessa unidade. A
situação hoje está muito melhor do que há dez anos.
Louvamos ao Senhor pelo que Ele tem feito nos
últimos dez anos. Entretanto, queremos
experimentar mais transformação para ter mais
edificação.
Primeiro, nós mesmos precisamos tomar-nos
ouro, prata e pedras preciosas. Depois,
espontaneamente, edificamo-nos no Corpo. Dessa
forma, edificamo-nos sobre Cristo, o único
fundamento. Quanto mais somos transformados,
mais edificamos sobre Cristo como fundamento.
Além disso, quando ministramos aos outros o Deus
Triúno, isto é, o Pai como elemento de ouro, o Filho
com Sua redenção prática, o Espírito com a obra de
transformação, eles terão infusão e nutrição. Então,
gradualmente, um por um, eles se tomarão da mesma
categoria de material precioso. Estarão na mesma
condição e situação, receberão a mesma nutrição e
terão o mesmo destino. Por fim, o Senhor terá a igreja
que deseja: o Corpo como a expressão corporativa de
Cristo.
Não espere que essa obra de transformação e
edificação vá ser executada em larga escala
envolvendo grande número de cristãos. Pelo
contrário, será cumprida por poucos, segundo o
princípio dos vencedores. a Senhor dirigiu as sete
epístolas em Apocalipse às igrejas e aos santos nas
igrejas. Entretanto, Ele não esperava que todos
fossem de acordo com o que Ele é. Por isso, no fim de
cada epístola, Ele diz algo sobre o vencedor. Por fim,
Ele ganhará um pequeno número de crentes, os
vencedores, para satisfazer o desejo de Seu coração e
cumprir Seu propósito eterno.
Você sabe de que forma o Senhor vai ganhar
esses vencedores? Será por meio de alimentar, beber,
comer, plantar, regar e crescer. Será por meio de uma
lavoura e um edifício com Cristo como o único
fundamento e construído com o material precioso de
ouro, prata e pedras preciosas. Por fim, esse edifício
se tomará o santuário de Deus.

UMA ADVERTÊNCIA PARA NÃO DESTRUIR


O SANTUÁRIO DE DEUS
Em 3:16 e 17, Paulo diz: “Não sabeis que sois
santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em
vós? Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o'
destruirá; porque o santuário de Deus, que sois vós, é
sagrado”. Paulo aqui nos adverte que não destruamos
o santuário de Deus. Quando jovem, pensava que o
santuário nos versículos 16 e 17 era mera referência à
igreja num sentido geral e abrangente. Mais tarde,
como resultado de muito estudo e experiência,
cheguei a ver que enquanto o santuário no versículo
17 pode referir-se a todos os crentes universalmente,
o santuário no versículo 16 se refere aos crentes
coletivamente em certa cidade, como em Corinto. a
santuário único espiritual de Deus no universo tem
expressão em muitas cidades na terra. Cada
expressão é um santuário de Deus nessa cidade.
Assim o santuário tem de representar a igreja
edificada numa cidade. a santuário é edificado com os
crentes de forma prática. Com relação à edificação,
primeiro precisamos ajuntar o material, que depois se
toma parte do edifício.
No capítulo três, Paulo adverte os coríntios a ver
como edificam. Do lado positivo, ele indica que
devem edificar sobre o fundamento com ouro, prata e
pedras preciosas. Do lado negativo, adverte-os sobre
destruir o santuário de Deus. A palavra grega
traduzida por destruir também significa arruinar,
corromper, contaminar, estragar. Edificar com
madeira, feno e palha é arruinar e estragar a
edificação de Deus. Conforme o contexto do capítulo
três, podemos destruir o santuário lançando outro
fundamento que não seja Cristo ou edificando sobre o
fundamento com madeira, feno e palha. a fato de os
coríntios dizerem que eram de Paulo, Apolo ou Cefas,
representa lançar outro fundamento e assim estragar
o santuário. Além do mais, edificar com coisas
naturais também era arruinar o santuário de Deus.
a problema com os coríntios era que eles tinham
outros fundamentos que consistiam em suas
preferências e escolhas. De acordo com o contexto,
nós contaminamos o santuário de Deus quando nos
gloriamos em homens e dizemos que somos de certa
pessoa. Os que têm as próprias escolhas e
preferências podem considerar-se sábios; na verdade,
são tolos. Como veremos, no final do capítulo três,
Paulo ressalta que todas as coisas e todos os servos do
Senhor são nossos. Não há necessidade de ter
preferências ou escolhas. Por isso, não devemos dizer
que somos de alguém ou alguma coisa. Tudo é nosso,
nós somos de Cristo e Cristo é de Deus.
Se considerarmos os últimos versículos do
capítulo três de acordo com o contexto dos três
primeiros capítulos dessa Epístola, veremos que o
conceito de Paulo é que dizer que somos de alguém
significa destruir a igreja. Paulo parece dizer aqui: “A
igreja está no processo de ser edificada. Algumas
partes já foram. Não a destruam. Não a estraguem,
arruínem ou contaminem. Se edificam a igreja com
seu ser natural ou feitio natural, vocês a contaminam.
Também arruínam a igreja quando dizem que são de
Apolo, Cefas ou Paulo. Se destruírem a igreja assim,
Deus os destruirá”. Por um lado, ser destruído por
Deus é ser privado da bênção. É carecer do alimentar,
beber, comer, plantar, regar e crescer. É também
perder a oportunidade de ganhar ouro, prata e pedras
preciosas. Por um lado, ser destruído é ser julgado
pelo fogo e ter nossa obra queimada. Porém, se
edificarmos com ouro, prata e pedras preciosas, nossa
obra permanecerá e receberemos galardão (v. 14).
Encorajo você a ler-orar esses versículos à luz do
que foi abordado nesta mensagem. Se fizer isso, será
nutrido e terá o elemento divino infundido em você.
Você, então, experimentará mais transformação e a
igreja terá mais edificação.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM TRINTA E TRÊS
TODAS AS COISAS PARA A IGREJA, E A IGREJA PARA
CRISTO

Leitura Bíblica: 1Co 3:16-23


Lendo 3:18-23, percebemos que o capítulo três é
uma explicação e continuação dos capítulos um e
dois. Nos dois primeiros capítulos desse livro, Paulo
lida com a sabedoria dos coríntios. Por causa de sua
sabedoria filosófica, eles eram facciosos e exaltavam
gigantes espirituais. Em 3:18 ele se refere aos que se
consideravam sábios, e no versículo 19 diz que a
sabedoria deste mundo é loucura para Deus. Aos
olhos de Deus, a sabedoria grega é loucura. O Senhor
apanha os sábios na própria astúcia deles e conhece
os pensamentos seus, que são pensamentos vãos (v.
20).

I. DESTRUIR O SANTUÁRIO DE DEUS AO


EDIFICAR A IGREJA COM COISAS
NATURAIS E SER PUNIDO POR DEUS
Primeira Coríntios 3:17 diz: “Se alguém destruir
o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque o
santuário de Deus, que sois vós, é sagrado”. Destruir é
arruinar, corromper, contaminar ou estragar o
santuário de Deus. Destruir o santuário de Deus
significa edificar com material sem valor, como
madeira, feno e palha, como descreve o versículo 12.
Isso se refere a crentes judeus que tentaram edificar a
igreja com elementos do judaísmo, e a crentes gregos
que se esforçavam por introduzir elementos
filosóficos na edificação. Tudo isso tendia a
corromper, arruinar, contaminar e estragar o
santuário de Deus, isto é, a destruí-lo. Usar qualquer
doutrina que difira dos ensinamentos fundamentais
dos apóstolos (At 2:42), ou quaisquer meios e
esforços contrários à natureza de Deus, à obra
redentora de Cristo e à obra transformadora do
Espírito, é corromper, arruinar, contaminar, estragar
e destruir a igreja de Deus.
A palavra destruir no versículo 17 pelo menos
implica na punição desvendada no versículo 15.
Sofrerão a punição de Deus todos os que têm
corrompido, arruinado, contaminado e estragado a
igreja de Deus por doutrinas heréticas, ensinamentos
facciosos, maneiras mundanas e esforços naturais na
edificação.
Nesse versículo, Paulo ressalta que o santuário
de Deus é santo. Já que o santuário de Deus, a igreja,
é santo, o material, as maneiras e os esforços pelos
quais edificamos também têm de ser santos e
corresponder à natureza de Deus, à redenção de
Cristo e à transformação do Espírito.
Vimos que edificar a igreja com coisas naturais,
como madeira, feno e palha, é edificar com nosso
feitio, ser natural e ações malignas tais como ciúmes,
contendas, invejas e ódio. Com madeira, feno e palha,
nada há de precioso. A interpretação dessas figuras
não é importante aqui; o crucial é que percebamos
que nossa natureza, ser e ações negativas não têm
parte na edificação da igreja. Como membros da
igreja, precisamos participar da sua edificação.
Entretanto, precisamos ficar atentos para não
permitir que madeira, feno e palha, isto é, nossa
natureza, ser e ações malignas, sejam introduzidos na
igreja. É terrível injetar essas coisas na vida da igreja.
Precisamos ter profunda percepção disso. Precisamos
ver quão abominável isso é e condená-lo.
Nos últimos mil e novecentos anos, dificilmente
houve qualquer edificação da igreja de fato. Hoje a
Bíblia é acessível a todos e o evangelho tem sido
pregado em todos os países. Mas onde está a
edificação autêntica da igreja? Temos de admitir que
até mesmo entre nós na restauração do Senhor, não
há muita edificação. O motivo dessa carência é que
muito de nossa natureza, ser e ações tem sido
introduzido na vida da igreja. Esses elementos são
germes que a prejudicam. Entretanto, podemos não
estar iluminados acerca da seriedade dessa questão.
Alguns santos são fortes no caráter ou peculiares
no modo de pensar. Outros, todavia, podem
considerar-se comuns, gerais e fracos de qualquer
ângulo. Mas, de acordo com a minha experiência e
observação, tais pessoas são as mais naturais. Podem
não criticar os outros e se adaptar a toda situação,
porém são extremamente difíceis de se lidar. Alguns
santos que são extraordinariamente bondosos, são
como borracha, que não se consegue quebrar. Nada
parece tocá-los. Não importa como sejam tratados,
nunca perdem a calma, mas automaticamente
introduzem sua natureza e ser na vida da igreja.
Consideram sua natureza boa e os outros podem
apreciá-la. Assim, essa natureza é inconscientemente
injetada na vida da igreja. Mas como tudo isso é
natural, não pode ser material adequado para a
edificação da igreja. É claro, os que são grosseiros e
duros por natureza também não são o material certo
para a edificação de Deus.
É muito difícil encontrar um uso para a palha,
mas certos tipos de madeira podem ser úteis e
também ter boa aparência. Muitos santos na
restauração do Senhor são como esse tipo de
madeira, mas nem mesmo a madeira da humanidade,
que é naturalmente boa, é útil para a edificação da
igreja.
Edificar a igreja com coisas naturais é destruir o
santuário de Deus. Anos atrás pensei que destruir o
santuário de Deus era perseguir a igreja. Não
percebia que, de acordo com o contexto, é edificar
com coisas naturais. Por exemplo, introduzir feno ou
palha na Nova Jerusalém não a estragaria? De modo
semelhante, injetar nosso feitio natural, ser ou ações
na igreja a danifica. Talvez você nunca tenha
percebido que quando introduz a sua boa natureza,
bom ser e até boas ações naturais na vida da igreja,
você a arruína e corrompe. É claro, se houver ciúmes
ou contendas entre nós, isso também irá prejudicá-la
e contaminá-la.
Os que destroem a igreja edificando com coisas
naturais serão punidos por Deus. Segundo o versículo
17, os que destroem o santuário de Deus serão
destruídos por Ele. Um aspecto da punição de Deus é
trevas. Certamente é uma séria punição não ter luz e
permanecer em trevas. Se você edificar a igreja com
coisas, naturais: estará em trevas. Deus puniu Faraó
com trevas e também usara trevas para punir o reino
do anticristo (Êx 10:21-23; Ap 16:10). Isso indica que
trevas é uma punição séria. Todos os que se esforçam
por introduzir sua natureza, ser e ações na igreja
serão deixados nas trevas.
Conforme os versículos 13 a 15, nossa obra de
edificação será provada pelo fogo. Se ela permanecer,
receberemos galardão. ~as, se ela se queimar,
sofreremos dano, perda. Não posso dizer
definitivamente o que é esse juízo pelo fogo, mas
tanto no Antigo como no Novo Testamento, o fogo
vem de Deus como juízo. Por exemplo, os filhos de
Arão, Nadabe e Abiú, foram julgados pelo fogo. No
livro de Malaquias, é-nos dito que o Senhor vai julgar
as pessoas pelo fogo. No mesmo princípio, o fogo de
Deus vai Julgar nossa obra. O que for de ouro, prata e
pedras preciosas passará pela prova do fogo. De fato,
quanto mais intenso for o fogo, mais refinado se toma
o material. Entretanto, tudo o que é de madeira, feno
e palha será queimado. O que é feito segundo nossa
natureza, ser e ações naturais será queimado.
A punição do Senhor tem pelo menos dois
aspectos: trevas e queima. Nós mesmos podemos
estar em trevas e nossa obra pode ser queimada até as
cinzas. Freqüentemente estou em temor e tremor
diante do Senhor, imaginando se minha obra vai
permanecer. Muitas vezes tenho perguntado a mim
mesmo se minha obra passará pela prova do fogo
julgador do Senhor. Todos devemos perguntar se
nossa obra nos introduz na luz ou nos mantém nas
trevas. Quem já laborou no campo missionário pode
testificar que quanto mais trabalhava, mais
permanecia em trevas. Isso é sinal de que sua obra
estava de acordo com sua natureza, ser e ações
humanas.

II. DESTRUIR O SANTUÁRIO DE DEUS, A


IGREJA, GLORIANDO-SE EM GIGANTES
ESPIRITUAIS
Gloriar-se em gigantes espirituais é também
destruir o santuário de Deus, a igreja. Fazer isso é
estar na carne e caminhar segundo os homens
(3:3-4). Dessa forma, precisamos ser cuidadosos em
não ter preferências por presbíteros, cooperadores ou
irmãos em geral. Além de aprender a não introduzir
nossa natureza, ser e ações na igreja, precisamos
também aprender a não ter preferências por pessoas.
Se exaltarmos alguém, vamos estragar, contaminar e
destruir o santuário de Deus e sofreremos Sua
punição.

III. CONSIDERAR-NOS SÁBIOS E ENGANAR


A NÓS MESMOS
No versículo 18, Paulo diz: “Ninguém se engane a
si mesmo; se alguém dentre vós se tem por sábio
neste século, faça-se estulto para se tomar sábio”.
Tanto os crentes judaizantes como os crentes
filósofos gregos enganavam a si mesmos introduzindo
os elementos do judaísmo e da filosofia grega na
edificação da igreja. A idéia do apóstolo aqui se
centraliza principalmente nos crentes gregos que
superestimavam a sabedoria de sua filosofia (1:22).
Gloriar-se em gigantes espirituais é também
considerar-se sábio e assim enganar a si mesmo. Os
que exaltam determinada pessoa consideram-se mais
sábios que os outros. Os que exercitam a mente
filosófica são os que exaltam os outros.
Considerar-nos mais inteligentes que os outros e
exaltar certas pessoas é enganar a nós mesmos.
Exaltar gigantes espirituais não só destrói a igreja
como também faz com que enganemos a nós mesmos.
De acordo com o contexto do versículo 18, enganar a
i mesmo está relacionado com exaltar o homem.
Entretanto, muitos pensam que nada há de errado em
exaltar os outros. Por exemplo, alguns podem dizer:
“Irmão Fulano de Tal é um dos melhores presbíteros.
Gosto dele e sou por ele”. Isso pode soar inofensivo,
mas na verdade prejudica a igreja. Na restauração do
Senhor, não se deve exaltar ninguém.

IV. FAZER-SE ESTULTO PARA TER A


SABEDORIA DE DEUS
No versículo 18, Paulo encarrega o que se
considera sábio neste século a se fazer estulto para se
tomar sábio. Tomar-se estulto aqui é renunciar à
sabedoria da filosofia e receber a palavra simples
acerca de Cristo e Sua cruz (1:21, 23). Tomar-se sábio
é tomar a sabedoria de Deus fazendo Cristo tudo para
nós (1:24, 30; 2:6-8).
Embora seja fácil tomar-se sábio e difícil fazer-se
estulto, todos na restauração do Senhor precisam
aprender a se fazer estulto no sentido em que Paulo
fala no versículo 18. Na verdade, todos nós, crentes,
hoje somos “gregos” porque somos filosóficos à nossa
própria maneira. Assim, precisamos fazer-nos
estultos para nos tomar sábios. Quanto mais estulto
nos fizermos no sentido correto, mais desfrute
teremos. Mas quanto mais sábios nos tomarmos de
forma filosófica, menos desfrute teremos. Além disso,
o crescimento de vida nas igrejas depende disso. Se
todos estivermos dispostos a nos fazer estultos,
vamos experimentar muito progresso no crescimento
de vida.
Na vida da igreja é necessário que aprendamos a
nos fazer estultos para ter a sabedoria de Deus. Então
a revelação divina virá até nós. Os que recebem mais
revelação de Deus são os que aprenderam a se fazer
estultos. Como resultado, têm a sabedoria de Deus.

V. PERCEBER QUE TODAS AS COISAS SÃO


NOSSAS, QUE SOMOS DE CRISTO E QUE
CRISTO É DE DEUS
Nos versículos 21 e 22, Paulo diz: “Tudo é vosso;
seja Paulo, seja Apolo, seja Cefas, seja o mundo, seja a
vida, seja a morte; sejam as coisas presentes, sejam as
futuras, tudo é vosso”. Todas as coisas, inclusive o
mundo e até a morte, são nossos e cooperam para o
nosso bem (Rm 8:28). Os crentes coríntios diziam
que eram de Paulo, ou de Apolo, ou de Cefas (1:12),
mas Paulo diz que ele, Apolo e Cefas são deles; tudo é
deles. Eles são a igreja e todas essas coisas são para a
igreja. Ademais, a igreja é para Cristo e Cristo é para
Deus.
De acordo com esses versículos, não só os
gigantes espirituais são para nós, mas todas as coisas,
inclusive as negativas tais como o mundo e a morte
são para nós. Isso quer dizer que até o mundo e a
morte podem cooperar para o nosso bem. Você
alguma vez percebeu que a condição negativa da
igreja em sua cidade é sua, e isso coopera para o seu
bem? Alguns podem dizer: “A situação da igreja em
minha cidade não é boa. Estou pensando em me
mudar para um lugar onde a condição da igreja seja
melhor”. Contudo, os que estão insatisfeitos com a
igreja em determinada cidade e se mudam para outro
lugar não experimentam o crescimento de vida como
conseqüência. Todos precisamos ver que a condição
da igreja em nossa cidade, como a morte, é nossa e é
para nós. Realmente todas as coisas são para nós.
Quando você lê 1 Coríntios 3, pode imaginar por
que Paulo conclui o capítulo dessa forma. Depois de
falar de sabedoria e exaltação de gigantes espirituais,
ele conclui dizendo que todas as coisas são nossas,
que somos de Cristo e que Cristo é de Deus. Ele aqui
parece dizer: “Vocês, crentes coríntios, exercitam a
cultura, sabedoria e filosofia gregas. Conforme sua
sabedoria, vocês têm preferências e escolhas. Têm
preferências por pessoas, doutrinas e práticas. Essas
preferências estão todas relacionadas com sua
sabedoria e maneira filosófica de pensar, mas quero
que saibam que todas as coisas, boas ou más, e todas
as pessoas são usadas por Deus para aperfeiçoá-los.
Mesmo o mundo e a morte são meios usados por
Deus para o seu bem. Todas as coisas são suas servas
para seu aperfeiçoamento”.
Gostaria de falar uma palavra de consolo e
encorajamento a todos os santos na restauração do
Senhor. Não sintam que a igreja em sua cidade não
seja o lugar certo para vocês. Mesmo que a condição
da sua igreja deixe a desejar, Deus ainda a usa para
aperfeiçoá-los. Ele usa a igreja que não os satisfaz
para o seu bem. Isso quer dizer que vocês precisam
desse tipo de igreja. Quando estava na China, muitos
santos consideravam a igreja em Xangai excelente e
queriam mudar-se para lá. Mas os que foram ficaram
desapontados. Muitos que nunca tinham ido a
Xangai, pensavam que a igreja lá era maravilhosa,
mas alguns da igreja em Xangai estavam
descontentes com a igreja ali. Isso ilustra o fato de
que não nos devemos mudar para outra cidade a fim
de ter um lugar que imaginamos ser melhor que a
igreja em nossa cidade. Não importa onde você esteja,
a igreja é sua e Deus a usa para aperfeiçoá-lo. Deus
usou a igreja em Xangai para aperfeiçoar os santos
ali. Os irmãos dessa cidade precisavam dessa igreja.
Entretanto, os que viviam em outros lugares,
precisavam da igreja em sua própria cidade.
Deus usa tudo para nos aperfeiçoar. Assim, todas
as coisas são para nós, nós somos para Cristo e Cristo
é para Deus. Deus usa tudo para nos aperfeiçoar para
que sejamos o Corpo vivo de Cristo. Portanto, somos
o Corpo para Cristo e Cristo é a expressão de Deus.
Assim, Cristo é para Deus. Deus é expresso por
intermédio de Cristo, Cristo é expresso por meio de
nós e nós somos aperfeiçoados por intermédio de
todas as coisas. Se virmos isso, não nos queixaremos
nem teremos preferência, escolha ou seleção alguma.
Além disso, ficaremos felizes em receber tudo o que
Deus ordena para nós. Se Ele ordenar uma vida da
igreja difícil para você, aceite e louve-O por isso. Deus
pode ordenar um marido ou esposa difícil. Ele pode
até ordenar morte, mas mesmo um cônjuge difícil, ou
a própria morte, é para nós e é usado para
aperfeiçoar-nos. Por isso, precisamos receber o que
Deus ordenou e reconhecer que isso é usado por Ele
para nos aperfeiçoar.
Como sou idoso, já tive muitas experiências na
vida. Posso de fato testificar que todas as coisas são
minhas, e que Deus as usa para me aperfeiçoar. Uma
vez que Ele usa todas as coisas, acho muito difícil
dizer quem seria a melhor esposa para certo irmão ou
o melhor marido para determinada irmã. De igual
modo, não sei quem seria o melhor cooperador. O
Senhor me levou a um ponto em que não considero
quais cooperadores são bons e quais não são tão
proveitosos, porque percebo que todos cooperam
para o meu bem. Mesmo os que posso considerar os
piores podem ser muitíssimo usados para me
aperfeiçoar. Que abençoados somos por ser
aperfeiçoados por todas as coisas! Oh! quão bom é ver
que todas as coisas são para nós!
Já que todas as coisas são nossas e cooperam
para o nosso bem, não devemos ser tão tolos a ponto
de ter preferências e escolhas pessoais. Somos para
Cristo e Cristo é para Deus. Deus é manifestado por
meio de Cristo, Cristo é expresso por meio de nós e
somos aperfeiçoados por todas as coisas. Cada coisa,
pessoa e situação é nossa. Deus é soberano e usa tudo
e todos para aperfeiçoar os que O amam. Uma vez
que você ama o Senhor, pode ter certeza que Ele usa
tudo para aperfeiçoá-lo. Por isso, todas as coisas são
nossas para a igreja, a igreja é para Cristo a fim de ser
o Seu Corpo, e Cristo é para Deus para ser Sua
expressão. Essas são as palavras conclusivas de Paulo
em 1 Coríntios 3.
À luz dessas palavras, não devemos exaltar a
ninguém nem ter preferências ou escolhas acerca de
pessoas, questões ou coisas. Antes, devemos ver que
todas as coisas, boas e más, são para nós a fim de nos
aperfeiçoar para que nos tornemos o Corpo de Cristo,
que é a expressão de Deus. Essa é a compreensão
adequada da palavra de Paulo de que todas as coisas
são nossas, nós somos de Cristo e Cristo é de Deus.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM TRINTA E QUATRO
DESPENSEIROS DOS MISTÉRIOS DE DEUS (1)

Leitura Bíblica: 1Co 4:1-9


O tema de 1 Coríntios 4 é os despenseiros dos
mistérios de Deus (4:1-21). Esse é o tópico central
desse capítulo; não é nem Cristo nem a igreja. Em 4:1
Paulo diz: “Assim, pois, importa que os homens nos
considerem como ministros de Cristo, e despenseiros
dos mistérios de Deus”. A palavra grega traduzida por
despenseiro nesse versículo tem a mesma raiz da
palavra dispensação ou economia em 1 Timóteo 1:4 e
Efésios 1:10. Isso quer dizer um ecônomo, um
administrador dos bens de uma casa, alguém que
dispensa o suprimento da farru1ia aos seus membros.
Os apóstolos foram designados pelo Senhor para ser
tais despenseiros, dispensando aos crentes os
mistérios de Deus, que são Cristo como o mistério de
Deus e a igreja como o mistério de Cristo (Cl 2:2; Ef
3:4). O serviço de dispensar, o mordomado, é o
ministério dos apóstolos.
Na economia de Deus revelada no Novo
Testamento há principalmente dois mistérios. O
primeiro, revelado no livro de Colossenses é Cristo
como o mistério de Deus. Em Colossenses 2:2, Paulo
fala de “compreenderem plenamente o mistério de
Deus, Cristo”. Cristo é o mistério de Deus. Em Si
mesmo, Deus é um mistério. Ele é real, vivo e
todo-poderoso; entretanto, é invisível. Esse Deus
misterioso está corporificado em Cristo. Desse modo,
Cristo é o Seu mistério. Cristo não é somente Deus,
mas também é Deus corporificado, definido,
explicado e expresso. Portanto, Cristo é Deus tomado
visível. a Senhor Jesus disse: “Quem Me vê a Mim, vê
o Pai” (10 14:9). a primeiro mistério da economia de
Deus é Cristo, Deus expresso como o mistério de
Deus.
O segundo mistério, revelado e explicado no livro
de Efésios, principalmente no capítulo três, é o
mistério de Cristo. Cristo é também um mistério. Em
Efésios 3:4, Paulo usa a expressão “o mistério de
Cristo”. Além disso, Colossenses 1:27 diz: “Aos quais
Deus quis dar a conhecer qual seja a riqueza da glória
deste mistério entre os gentios, isto é, Cristo em vós, a
esperança da glória”. Como crentes, temos Cristo
habitando em nós, mas esse Cristo é um mistério.
Embora viva em nós, as pessoas do mundo não o
percebem. Para eles, isso é um mistério, mas embora
Cristo seja misterioso, a igreja é a Sua manifestação.
Como Seu Corpo, a igreja é a expressão de Cristo.
Quando a vemos, vemos Cristo. Quando entramos
nela, entramos em Cristo. Quando a contatamos,
contatamos Cristo. Ela é de fato o mistério de Cristo.
Quando, em 4:1, Paulo se refere aos mistérios de
Deus, ele quer dizer Cristo como o mistério de Deus e
a igreja como o mistério de Cristo. Ele e os outros
apóstolos eram despenseiros desses mistérios.
Já enfatizamos que a palavra grega para
despenseiros em 4:1 é da mesma raiz da palavra
dispensação ou economia usada em outros lugares. A
palavra grega oikonomía denota administração ou
gerenciamento familiar. Nó Novo Testamento, um
ecônomo é alguém que serve e cuida do dispensar de
Deus à Sua família. Deus tem uma família muito
grande e é Seu desejo dispensar-Se a todos os
membros.
O lugar de um despenseiro na família de Deus
pode ser ilustrado pela sua função numa família rica
nos tempos antigos. Um despenseiro em tal família
era responsável por cuidar dos meios de vida, comida,
vestes e outras necessidades, dos membros da
família. Famílias ricas freqüentemente tinham
abundante suprimento estocado. A responsabilidade
do despenseiro era distribuí-lo aos membros da
família. Usando isso como metáfora, Paulo se refere a
si mesmo como despenseiro na família de Deus. Deus
é sobremodo rico; Ele tem um vasto estoque de bens
que tenciona dispensá-lo aos filhos, mas essa
dispensação requer um despenseiro. Assim, o
despenseiro é um ecônomo, alguém que distribui o
divino suprimento de vida aos filhos de Deus.
Como tal despenseiro, Paulo dispensou Cristo a
todos os crentes. Recebendo tal dispensação por meio
dele, os crentes podiam, então, crescer com o
suprimento recebido. Com isso, vemos que o
ministério de Paulo era um ministério dispensador,
um ministério de dispensar as insondáveis riquezas
de Cristo ao nosso ser para que cresçamos e nos
tomemos a igreja. Paulo dispensava as riquezas de
Cristo não só aos santos individualmente mas
também ao Corpo coletivamente.
O serviço de despenseiro de Paulo é chamado de
mordomado. Em outras palavras, esse mordomado é
o ministério. O ministério é um mordomado, um
serviço que dispensa as riquezas de Cristo aos santos,
os membros do Corpo, e à igreja, o Corpo como um
todo. Que fiquemos todos impressionados com as
duas questões cruciais dos mistérios de Deus e do
mordomo despenseiro.
Se lermos 1 Coríntios 4 cuidadosamente,
veremos que esse capítulo sobre despenseiros dos
mistérios de Deus enfatiza quatro tópicos principais:
servos fiéis de Cristo (vs. 1-5), um espetáculo tanto
para os anjos como aos homens (vs. 6-9), lixo do
mundo e escória de todos (vs. 10-13), e o pai que gera
(vs. 14-21). Vamos abordar os dois primeiros pontos
nesta mensagem e os dois últimos na mensagem
seguinte.

I. SERVOS FIÉIS DE CRISTO


Em 4:1, Paulo diz: “Assim, pois, importa que os
homens nos considerem como ministros de Cristo e
despenseiros dos mistérios de Deus”. Ao usar o
vocábulo “assim”, ele se refere à maneira descrita em
3:21-23. Nesses versículos, ele nos incumbe de não
nos gloriar nos homens porque todas as coisas são
nossas, nós somos de Cristo e Cristo é de Deus.
Dessa forma, ele diz que era contado como
ministro ou servo de Cristo. A palavra grega traduzida
por considerar aqui também significa reconhecer,
atribuir ou classificar. Ele está dizendo que ia ser
avaliado, ou estimado, dessa forma como servo de
Deus.
A palavra servo nesse versículo significa um
assistente ou servo designado, um servo graduado
designado especificamente para certo objetivo (At
26:16).
No versículo 2 Paulo prossegue: “Ora, além
disso, o que se requer dos despenseiros é que cada um
deles seja encontrado fiel”. O vocábulo ora, em grego,
quer dizer aqui, e se refere ao mordomado, ao
ministério dispensador. Nesse ministério
dispensador é muito importante que os despenseiros
sejam encontrados fiéis.
Paulo aqui parece falar sobre si mesmo. Hoje,
muitas pessoas tidas por espirituais pensam que é
sempre errado que cristãos falem de si mesmos.
Quando eu estava com os Irmãos Unidos,
aprendíamos a nunca nos referir a nós mesmos de
forma positiva. Porém, Paulo aqui parece indicar que
era fiel como despenseiro.
No versículo 3, ele continua: “Todavia, a mim
mui pouco se me dá de ser julgado por vós, ou por
tribunal humano; nem eu tampouco julgo a mim
mesmo”. O verbo julgar quer dizer ser examinado
por ou em juízo. Também quer dizer ser criticado.
Paulo está dizendo que não considerava importante
ser criticado pelos santos ou por tribunal humano. O
tribunal (ou dia, no original) humano é a presente era
na qual o homem julga. Isso está em contraste com o
tribunal (ou Dia) de Deus (3:13), que será na era
vindoura, a era do reino, na qual o Senhor irá julgar.
Nesse versículo Paulo também nos diz que nem
ele julgava a si mesmo. Ele considerava como coisa
sem importância ser julgado pelos coríntios ou por
tribunal humano, e não iria julgar a si mesmo.
Nesse versículo, há dois assuntos básicos que
todos precisamos aprender. Primeiro, não nos
devemos importar com ser criticados ou julgados por
outros. A maioria dos cristãos acha insuportável ser
julgada ou criticada. Se certas irmãs souberem que
outros as criticaram, talvez não consigam dormir bem
por muito tempo. Isso também ocorre com os irmãos.
Suponha que um presbítero saiba que alguém lhe fez
críticas. Talvez não consiga descansar bem à noite
porque pode dizer para si mesmo: “Eu sou um dos
presbíteros na igreja, mas alguns me estão
criticando”. Se ficamos aborrecidos com críticas, isso
indica que consideramos importante o ser
examinados pelos outros. Ainda não podemos dizer
como Paulo: “A mim mui pouco se me dá de ser
julgado por vós”.
Quarenta anos atrás, eu costumava ficar muito
aborrecido sempre que era criticado. Às vezes isso até
afetava meu sono e alimentação, mas depois de
muitos anos de experiência, críticas dificilmente me
aborrecem. Não digo que nunca me aborreçam.
Entretanto, posso testificar que me perturbam muito
pouco, se é que perturbam. De fato, ser julgado e
criticado tem-se tomado muito comum, quase
constante. Se não sou criticado, fico imaginando se
estou sendo fiel à comissão do Senhor. Qualquer
pessoa viva e ativa, no fim, será criticada. A melhor
maneira de evitar críticas é não fazer nada. Uma vez
ativos no cuidado da igreja, precisamos estar
preparados para receber críticas.
Aconselho todos os presbíteros nas igrejas a
pedir a misericórdia do Senhor para aumentar sua
capacidade de resistir a críticas. Um irmão que é novo
no presbiterato pode achar muito difícil a princípio
agüentar críticas dos santos. Os presbíteros são
criticados, nem tanto pelos estranhos, mas
principalmente pelos irmãos na igreja. Contudo,
depois de algum tempo, ele deve acostumar-se com as
críticas.
Podemos comparar críticas a pimenta ardida: no
princípio é difícil de comer, mas por fim acostuma-se
com ela. Muitos presbíteros ficaram muito bons em
comer e digerir “a pimenta ardida” das críticas dos
santos. Aprenderam com Paulo que ser criticado é
coisa sem importância.
O segundo ponto que precisamos aprender com
esses versículos é não criticar ou examinar a nós
mesmos. No começo de meu ministério, eu me
examinava após cada mensagem. Gastava muito
tempo ponderando como os outros reagiram ao que
falei. Freqüentemente levava dias antes de eu ficar
totalmente descansado acerca da mensagem que
dera. Então, chegava a hora de outra mensagem.
Hoje, não me examino dessa forma. Tenho aprendido
que não é saudável envolver-se com esse tipo de
autoexame. Na verdade, não somos dignos de tal
exame. Além disso, se não examinarmos a nós
mesmos, pode parecer que estamos muito bem, mas
se nos envolvermos em auto-exame, podemos ficar
muito desapontados. Se os presbíteros todos
examinassem a si mesmos dessa forma, sentiriam que
não estão qualificados para ser presbíteros e com
certeza tentariam renunciar. Paulo pôde dizer que
não se examinava, e nós precisamos aprender com ele
nessa questão.
No versículo 4 Paulo diz: “Porque de nada me
argui a consciência; contudo, nem por isso me dou
por justificado, pois quem me julga é o Senhor”.
Embora sentisse que estava certo, ele não pensava
que, portanto, estava justificado. Sabendo que quem
O julgava é o Senhor, ele estava disposto a deixar a
questão do juízo com Ele. Paulo parecia estar
dizendo: “Que o Senhor me examine. Ele me julgará
no dia de Sua aparição”.
No versículo 5, ele conclui: “Portanto, nada
julgueis antes de tempo, até que venha o Senhor, o
qual não somente trará à plena luz as coisas ocultas
das trevas, mas também manifestará os desígnios dos
corações; e então, cada um receberá o seu louvor da
parte de Deus”. A frase “antes de tempo” significa
antes do dia do Senhor.
As palavras de Paulo nos versículos 2 a 5 indicam
que ele era um despenseiro fiel. Não se importava
com as críticas dos outros nem criticava a si mesmo.
Ele deixava a situação toda com o Senhor. Isso indica
sua fidelidade.
Se nos importamos com as críticas dos outros ou
examinamos a nós mesmos, não somos fiéis. Pelo
contrário, podemos ser muito políticos e tentar evitar
críticas a fim de nos sentir melhor. Precisamos
abandonar isso e deixar o juízo para o Senhor. Então
seremos fiéis.

II. UM ESPETÁCULO TANTO A ANJOS COMO


A HOMENS
Primeira Coríntios 4:6 diz: “Estas coisas, irmãos,
apliquei figuradamente a mim mesmo e a Apolo, por
vossa causa, para que por nosso exemplo aprendais
isto: não ultrapasseis o que está escrito; a fim de que
ninguém se ensoberbeça a favor de um em
detrimento de outro”. Por “estas coisas”, Paulo se
refere às coisas mencionadas no capítulo um ao
quatro. A palavra grega traduzida por aplicar
literalmente quer dizer transfigurar, transferir em
figura. É um termo metafórico. O que o apóstolo
tinha escrito na passagem anterior, a partir do
capítulo um, fornece uma figura. Ele agora a
transfere, ou seja, aplica-a figuradamente a si mesmo
e a Apolo.
Alguns tradutores e expositores pensam que a
expressão “o que está escrito” se refere aos escritos do
Antigo Testamento. Discordamos. Essa frase tem de
se referir ao que foi escrito nos capítulos anteriores,
como: “Foi Paulo crucificado em favor de vós?” (1:13),
“Quem é Apolo? E quem é Paulo?” São simplesmente
ministros de Cristo, um plantador e um regador
(3:5-7). Eles não são o Cristo crucificado pelos
crentes. Não são Deus, que faz os crentes crescer. Não
devem ser avaliados senão como ministros de Cristo,
plantadores e regadores. Senão, os que os avaliam,
como os crentes coríntios carnais, talvez se gloriem a
favor de um em detrimento de outro.
O versículo 7 prossegue: “Pois quem é que te faz
sobressair? E que tens tu que não tenhas recebido? E,
se o recebeste, por que te vanglorias, como se o não
tiveras recebido?” Deus é quem faz distinção entre
nós e os outros. E o que temos, recebemos de Deus.
Desse modo, toda a glória deve ser atribuída a Ele, e
devemos gloriar-nos Nele, e não em nós mesmos ou
em qualquer servo que Ele usou, como Paulo ou
Apolo. Paulo aqui parece dizer: “Vocês acham que é
Pedro, Paulo ou Apolo quem faz distinção entre vocês
e os outros, ou quem faz vocês diferentes dos outros?
Não pensem assim. Além disso, o que vocês.
receberam, receberam não de Paulo, Cefas ou Apolo;
receberam tudo de Deus. Por isso, não devem
gloriar-se como se não o tivessem recebido. Se vocês
têm algo que os toma diferentes ou os distingue dos
outros, isso é algo que receberam de Deus. Já que
Deus o deu a vocês, devem gloriar-se somente Nele, e
não em qualquer homem”.
O versículo 8 diz: “Já estais fartos, já estais ricos;
chegastes a reinar sem nós; sim, tomara reinásseis
para que também nós viéssemos a reinar convosco”.
Os crentes coríntios, orgulhosos do que tinham
obtido, ficaram satisfeitos com o que tinham.
Tomaram-se auto-suficientes e reinavam
independentemente dos apóstolos. Isso era estar
totalmente em si mesmos e em sua carne.
Novamente Paulo se refere à situação entre os
crentes gregos filosóficos em Corinto. Eles pensavam
ser suficientes, estar muito ricos e plenos. Agiam
como se fossem reis reinando sem os apóstolos.
Falando com muita fidelidade, Paulo lhes diz: “Sim,
tomara reinásseis para que também nós viéssemos a
reinar convosco”. Essa palavra não é doce, agradável
ou açucarada de forma nenhuma. Ela mostra a
fidelidade de Paulo.
No versículo 9, ele prossegue: “Porque a mim me
parece que Deus nos pôs a nós, os apóstolos, em
último lugar, como se fôssemos condenados à morte;
porque nos tomamos espetáculo ao mundo, tanto a
anjos, como a homens”. Ele diz que Deus pôs os
apóstolos por último porque os coríntios estavam
agindo como se já fossem reis. Ele aqui lhes diz que
eles se tomaram reis antes dos apóstolos. Isso
significa que Deus colocou os apóstolos por último,
que seriam os últimos a se tomar reis.
Na época de Paulo, quando os criminosos
lutavam com animais ferozes no circo para
divertimento da populaça, eram exibidos por último.
Eram considerados como nada, porque constituíam o
nível mais baixo de pessoas, que tinham cometido
crimes merecedores da pena de morte. O governo
romano freqüentemente os fazia lutar contra animais
ferozes no circo como espetáculo. Sempre que havia
tal espetáculo, os criminosos eram exibidos por
último de todos. Paulo usa isso como metáfora para
ilustrar que os apóstolos foram postos por Deus para
ser a última atração, a última exibição. Os coríntios
não eram os últimos; os apóstolos, sim. Os apóstolos
consideravam a si mesmos criminosos destinados à
morte perante o mundo, e não reis destinados a
reinar como os coríntios.
Paulo também diz aos coríntios que os apóstolos
tinham se tomado “espetáculo ao mundo, tanto a
anjos, como a homens”. Isso também é uma
metáfora, referindo-se às lutas entre criminosos e
animais ferozes no circo romano. Os apóstolos se
tomaram tal espetáculo para o mundo, vistos não só
por homens mas também por anjos. Tanto homens na
terra como anjos no ar observavam a exibição dos
apóstolos. Como veremos na mensagem seguinte,
isso está relacionado com o fato de se tomarem “o lixo
do mundo” e “a escória de todos” (v. 13).
Usando essas metáforas, Paulo dizia aos crentes
coríntios que não deviam agir como se fossem reis ou
como se fossem ricos e tivessem tudo. Ele parecia
dizer: “Não se comportem como reis. Deus nos fez, os
apóstolos, os últimos na exibição divina. Somos como
criminosos condenados à morte. Esse é o nosso
destino. Mas parece que vocês desfrutam outro
destino. Vocês são ricos, estão cheios e estão
reinando. Nós, todavia, somos um espetáculo”.
A palavra de Paulo aos coríntios aplica-se a nós
hoje na restauração do Senhor. Também devemos ser
como os apóstolos no versículo 9: criminosos
destinados à morte e espetáculo tanto a anjos como a
homens. Não devemos considerar-nos os que estão
cheios e são ricos e poderosos. Essa atitude é
totalmente errada. Na restauração precisamos dar
aos outros a impressão de que somos como
criminosos condenados à morte e espetáculo a todo o
universo.
ESTUDO-VIDA DE PRIMEIRA CORÍNTIOS
MENSAGEM TRINTA E CINCO
DESPENSEIROS DOS MISTÉRIOS DE DEUS (2)

Leitura Bíblica: 1 Co4:10-21


Em 4:9, Paulo diz: “Porque a mim me parece que
Deus nos pôs a nós, os apóstolos, em último lugar,
como se fôssemos condenados à morte; porque nos
tomamos espetáculo ao mundo, tanto a anjos, como a
homens”. É significativo que aqui ele diga: “me
parece”. Significa que ele não tinha plena certeza.
Não se trata de humildade, e, sim, de falar segundo o
princípio da encarnação. Ele não diz aqui: “Assim diz
o Senhor”. Tampouco declara: “Irmãos e irmãs, vocês
não sabem que estou falando no espírito?” No
pentecostalismo de hoje há a prática de declarar:
“Assim diz o Senhor”. Todavia, tal prática não está de
acordo com o princípio do Novo Testamento.
Nesse capítulo, Paulo fala sobriamente, ainda
que de forma muito íntima. Ele estava repreendendo,
instruindo, corrigindo, ajustando e disciplinando os
crentes, mas fazia tudo isso de maneira muito íntima.
Então, em dado momento, ele inseriu as palavras “me
parece”. Creio que ele sabia que o seu discurso era
realmente de Deus, mas disse “me parece” porque
sabia que o princípio do Novo Testamento é o
princípio da encarnação. De acordo com esse
princípio, Deus fala em nosso falar. Deus e o homem
se tomam um. Quando o homem é mesclado com
Deus ao fazer algo, essa ação é simultaneamente de
Deus e do homem. As palavras “me parece” ilustram
esse princípio, por isso considero sua inserção no
versículo 9 muito preciosa. Quão significativo é que
Deus fale em nosso falar! A frase “me parece” indica
que Paulo estava falando. Contudo, ao guardar o
princípio da encarnação, o seu falar era o falar de
Deus. Visto que Paulo e Deus eram um, quando Paulo
falava, Deus falava também. Esse é o significado das
palavras “me parece” usadas nesse versículo.
No versículo 9, Paulo usa a frase “em último
lugar”. Essa expressão, comumente compreendida na
época, se refere à última parte do espetáculo no circo.
Segundo o costume antigo, quando criminosos
lutavam com animais selvagens no circo para
diversão da populaça, eram exibidos por último. O
último ato, a última atração, era o de criminosos
condenados lutando com feras para diversão do povo.
A frase “em último lugar” se refere a isso. No
versículo 9, ele usa essa expressão metaforicamente
para transmitir o conceito de que Deus havia posto os
apóstolos em último lugar, como se fossem os mais
vis criminosos condenados à morte, para diversão do
povo.
A palavra grega traduzi da por “espetáculo” é a
palavra para teatro. Refere-se a uma atração, uma
exibição, feita de forma teatral para entretenimento.
Dessa forma, Paulo estava dizendo aos coríntios:
“Vocês já estão cheios. Já se tomaram ricos e têm
reinado sem nós. Bem quisera que vocês de fato
reinassem como reis para que reinássemos com
vocês. Porque, penso eu, Deus pôs a nós, os apóstolos,
por condenados à morte”.
Quando Paulo diz “sim, tomara reinásseis”, ele
indica que os crentes coríntios não estavam de fato
reinando como reis. Antes, estavam sonhando. O fato
de não serem ainda reis é provado pela palavra de
Paulo sobre os apóstolos serem postos em último
lugar. Paulo parece dizer: “Deus não nos fez reis nesta
era. Antes, pôs-nos por criminosos condenados à
morte, para lutar com feras”. Essa metáfora apresenta
um quadro vívido da situação dos apóstolos. Longe de
reinar como reis, eles eram como criminosos
condenados a lutar com animais selvagens para
diversão do povo. Hoje esse é também o nosso
destino aos olhos dos homens. Entretanto, aos olhos
de Deus, nosso destino é desfrutar Cristo. Nós, que
desfrutamos Cristo, nos tomamos como criminosos
aos olhos dos homens para seu prazer. Mas, aos olhos
de Deus, Cristo é nosso destino como desfrute.
Muitos nos têm ridicularizado e escarnecido. Mas,
enquanto escarnecem de nós para seu prazer, nós
desfrutamos Cristo. Isso mostra que temos dois
destinos. Nosso destino aos olhos de Deus é ter Cristo
como desfrute. Nosso destino aos olhos dos homens é
ser considerados criminosos condenados à morte
para divertimento de outros. Se formos fiéis ao
Senhor, como Paulo, esse será o nosso destino
perante os homens. Seremos postos em último lugar e
feitos espetáculo tanto para anjos como para homens.

III. O LIXO DO MUNDO E A ESCÓRIA DE


TODOS
O capítulo quatro de 1 Coríntios é muito íntimo.
Aqui vemos um pai repreendendo, instruindo,
corrigindo e até disciplinando os filhos transgressores
de forma íntima. Quando lemos esse capítulo,
podemos sentir a intimidade entre o escritor e os
crentes em Corinto.
Depois de ressaltar que os apóstolos se tinham
tornado espetáculo para o mundo, Paulo prossegue
no versículo 10: “Nós somos loucos por causa de
Cristo, e vós, sábios em Cristo; nós, fracos, vós, fortes;
vós, nobres, e nós, desprezíveis”. Os apóstolos
estavam dispostos a ser loucos renunciando à sua
sabedoria humana por causa de Cristo, mas os
crentes coríntios carnais permaneciam sábios em sua
sabedoria natural, enquanto proclamavam estar em
Cristo. Paulo não disse que eram filósofos por causa
de Cristo; ele declara que eram loucos por causa de
Cristo. Em certo sentido, todo crente em Cristo tem
de se tomar um louco. Muitos que eram sábios nesse
mundo se tomaram loucos de Cristo. Mas, embora os
apóstolos se tivessem tomado loucos por causa de
Cristo, os coríntios procuravam permanecer sábios.
No versículo 10, Paulo diz também: “Nós fracos,
e vós fortes”. Enquanto ministravam Cristo, os
apóstolos pareciam fracos porque não usavam força
ou poder do seu ser natural (2:3). Mas os crentes
coríntios carnais eram fortes, afirmando ser
proeminentes entre os demais ao exercitar a
habilidade natural.
No versículo 10, Paulo também diz aos coríntios:
“Vós nobres, e nós desprezíveis”. Os crentes coríntios
eram gloriosos ou honrados, numa demonstração de
esplendor, mas os apóstolos eram desonrados e
desprezados pelos coríntios sedentos de glória. Com
isso, podemos ver que os coríntios estavam
totalmente errados em sua maneira de correr a
carreira cristã.
Nos versículos 11 a 13, Paulo continua: “Até à
presente hora sofremos fome, e sede, e nudez; e
somos esbofeteados, e não temos morada certa, e nos
afadigamos, trabalhando com as nossas próprias
mãos. Quando somos injuriados, bendizemos;
quando perseguidos, suportamos; quando
caluniados, procuramos conciliação”. Caluniados
quer dizer insultados, difamados. Procurar
conciliação aqui é exortar, consolar e encorajar a fim
de apaziguar.
No versículo 13, Paulo diz: “Até agora, temos
chegado a ser considerados lixo do mundo, escória de
todos”. Lixo e escória são sinônimos. Lixo denota o
que é jogado fora na limpeza, ou seja, refugo, sujeira.
Escória denota o que é varrido fora, ou seja, dejetos,
refugo. Os dois sinônimos são usados como metáfora,
principalmente sobre criminosos condenados da mais
baixa espécie, que eram lançados no mar ou às feras
no circo. Paulo aqui se compara aos mais vis
criminosos, à escória, ao lixo, a dejetos, a refugo.
Comparado com muitos amigos meus do passado,
também sou lixo e escória. Eles se tornaram pessoas
bem-sucedidas e adquiriram muita riqueza.
Consideram-me tolo e imaginam o que tenho feito da
vida. Ocasionalmente encontro amigos de muitos
anos atrás. Quando me perguntam o que tenho feito,
não tenho certeza sobre o que responder. Eles se
tomaram extremamente bem-sucedidos, mas nós nos
tomamos o lixo do mundo e a escória de todos.
Estamos qualificados somente para ser postos de lado
como refugo. Essa era a avaliação de Paulo sobre si
mesmo com respeito tanto a judeus como a gentios.

IV. O PAI FECUNDO


Os versículos 14 até 21 são o trecho mais íntimo
desse capítulo. Aqui vemos que Paulo era um pai
fecundo. Ele parece dizer aos coríntios: “Sim, eu sou a
escória e o lixo, mas sou um pai que gerou muitos
filhos. Em Cristo Jesus gerei vocês por meio do
evangelho”.
No versículo 14, Paulo diz: “Não vos escrevo estas
coisas para vos envergonhar; pelo contrário, para vos
admoestar como a filhos meus amados”. Se eu fosse
um dos crentes que tivesse recebido essa Epístola em
Corinto, ficaria envergonhado depois de ler os
primeiros treze versículos desse capítulo. Teria dito a
mim mesmo: “Meu pai espiritual diz que estamos
exaltando a nós mesmos, mas ele se considera como
lixo e escória. Isso me faz sentir envergonhado”.
Paulo, todavia, diz que escreveu essas coisas não para
envergonhá-los, mas para admoestá-los como a filhos
amados.
No versículo 15, ele prossegue: “Porque ainda
que tivésseis milhares de preceptores em Cristo, não
teríeis, contudo, muitos pais; pois eu, pelo evangelho,
vos gerei em Cristo Jesus”. A palavra grega traduzida
por preceptores literalmente significa aios, como em
Gálatas 3:24 e 25. Preceptores, ou aios, dão
instruções e orientações aos filhos sob sua guarda; os
pais infundem vida aos filhos que geraram. O
apóstolo era tal pai. Ele tinha gerado os crentes
coríntios em Cristo mediante o evangelho,
transmitindo a vida divina a eles para que se
tornassem filhos de Deus e membros de Cristo.
O versículo 16 continua: “Admoesto-vos,
portanto, a que sejais meus imitadores”. A palavra
grega para admoestar é a mesma traduzida por
procurar conciliação no versículo 13, e também quer
dizer rogar, apelar. Ao admoestar os coríntios a
imitá-lo, Paulo parece dizer: “Meus filhos, não sejam
reis, mas estejam dispostos a ser desprezados como
criminosos aos olhos dos homens. Não sejam
filósofos, mas lixo e escória. Saiam do que eram no
passado e tornem-se imitadores meus. Hoje nós, os
apóstolos, somos desprezados perante o homem por
causa de Cristo. Tornamo-nos os loucos por causa de
Cristo. Fomos feitos espetáculo para anjos e homens,
somos como criminosos sentenciados à morte e
somos escória e lixo. Mas para vocês eu sou um pai
fecundo”.
No versículo 17, Paulo diz: “Por essa causa vos
mandei Timóteo, que é meu filho amado e fiel no
Senhor, o qual vos lembrará os meus caminhos em
Cristo Jesus, como, por toda parte, ensino em cada
igreja”. Os caminhos aqui se referem aos caminhos
nos quais o apóstolo se conduzia quando ensinava os
santos em cada igreja. A expressão “por toda parte,
ensino em cada igreja” indica duas coisas: primeiro,
que o ensinamento do apóstolo é o mesmo
universalmente, e não varia de lugar para lugar;
segundo, que em toda parte equivale a cada igreja e
que cada igreja equivale a toda parte.
Essa Epístola foi levada aos coríntios por
Timóteo. Assim, Paulo não só a escreveu mas também
enviou com ela um cooperador para visitar os
coríntios. Com isso vemos que ele tinha contato
íntimo e pessoal com os crentes em Corinto.
Nos versículos 18 e 19, Paulo diz aos coríntios:
“Alguns se ensoberbeceram, como se eu não tivesse
de ir ter convosco; mas em breve irei visitar-vos, se o
Senhor quiser”. Essa foi a sua resposta aos coríntios
que se perguntavam por que o próprio Paulo não ia
até eles. Alguns estavam ensoberbecidos, pensando
que ele não queria visitá-los, mas ele diz que, se o
Senhor quisesse, em breve iria a Corinto. Se estivesse
ao seu alcance, ele definitivamente iria, mas de
acordo com a maneira de falar do Novo Testamento,
ele inseriu as palavras “se o Senhor quiser” para
indicar que o Senhor talvez não o enviasse para lá.
Desse modo, se o Senhor quisesse, ele iria, mas se o
Senhor não quisesse que ele visitasse os coríntios, ele
nada poderia fazer a esse respeito.
Nos versículo 19 e 20, Paulo diz: “Então
conhecerei não a palavra, mas o poder dos
ensoberbecidos. Porque o reino de Deus consiste, não
em palavra, mas em poder”. A sua palavra sobre o
reino de Deus se refere à vida da igreja. Isso implica
que, no sentido de autoridade, a igreja nesta era é o
reino de Deus. Ele sabia que o reino de Deus não
consiste em palavras, mas em poder. Por esse motivo,
queria conhecer o poder dos ensoberbecidos.
O versículo 21 é a conclusão desse capítulo: “Que
preferis? Irei a vós outros com vara, ou com amor e
espírito de mansidão?” O apóstolo disse isso aos
crentes com base na premissa de ser seu pai
espiritual. Como tal, ele tem a posição e
responsabilidade de disciplinar os filhos.
Espírito de mansidão aqui se refere ao espírito
regenerado do apóstolo, habitado pelo Espírito Santo
e com Ele mesclado. O espírito de mansidão é o que
está saturado da mansidão de Cristo (2Co 10:1) para
expressar a Sua virtude.
De acordo com a palavra de Paulo no versículo
21, será que ele estava contente ou descontente,
zangado ou manso? Eu diria que nesse capítulo ele
está descontente e contente ao mesmo tempo,
zangado e manso também. Isso, porém,
definitivamente não quer dizer que ele fosse “de duas
caras”; antes, revela que um homem espiritual de
fato, pode ser manso e logo depois ficar zangado. Na
verdade, uma pessoa espiritual pode ser mansa até
enquanto está zangada.
Se você não for espiritual, pode levar dias para
sua ira se acalmar, mas a ira de alguém espiritual
pode desvanecer-se instantaneamente. Suponha que
um irmão o ofenda e você fique zangado. Se levar
muito tempo para sua ira passar, isso prova que você
não é espiritual. Quanto mais rápido a sua ira se
dissipar, mais espiritual você é. Irmãs, se vocês não
puderem ficar iradas com o marido num minuto e ser
mansas no minuto seguinte, sua espiritualidade não é
verdadeira. Se precisarem de muitas horas para
dissipar a ira e voltar a ficar contentes com o marido,
vocês têm somente uma espiritualidade fabricada
pelo homem.
Paulo era uma pessoa que podia ficar zangada
num momento e feliz no seguinte. Isso mostra que ele
era de fato espiritual. Dessa forma, é correto dizer que
nesse capítulo, ele estava tanto zangado como sendo
manso para com os coríntios.
Irmãs, quando vocês ficam zangadas com o
marido, quanto tempo leva para sua ira se dissipar?
Leva dias antes de voltar a falar-lhe outra vez e ficar
contente com ele? Presbíteros, se vocês ficam
ofendidos com outro presbítero, quanto tempo leva
para deixar passar a ofensa? Leva uma semana antes
de ter uma comunhão agradável com quem o
ofendeu? Os presbíteros podem dar mensagens sobre
espiritualidade, mas talvez não saibam ser de fato
espirituais para com outros. Certamente não é
verdadeira espiritualidade um irmão levar muitos
dias para deixar passar uma ofensa.
Em 1 Coríntios 4, vemos que Paulo estava
bastante descontente com os crentes gregos em
Corinto. Contudo, seu descontentamento podia
subitamente desvanecer. Ele pôde perguntar no
versículo 21 se queriam que ele fosse a eles com vara
ou em amor e com espírito de mansidão. Isso é uma
palavra de zanga ou de mansidão? É muito difícil
dizer, pois ele, na verdade, estava zangado e manso ao
mesmo tempo.
Se não soubermos como ficar zangados de forma
adequada, não podemos ser de fato espirituais. Na
verdade, não podemos nem ser realmente humanos.
Pelo contrário, seremos como estátuas, carentes de
sentimento humano. Quanto mais espirituais formos,
mais fácil será para nós ficar zangados. Se você nunca
fica zangado com rapidez, isso indica que não é de
fato espiritual.
Alguns podem considerar tal conceito sobre
espiritualidade muito errôneo. Entretanto, pela
experiência, sei que é um fato que quanto mais
espiritual você é, mais fácil lhe será zangar-se. O
motivo disso é que quando somos de fato espirituais,
somos autênticos. Não escondemos nem fingimos. Se
você viver comigo por muito tempo sem ficar zangado
comigo, não vou ter confiança em você. Talvez você
seja um bom “político”. Não posso crer que você
possa viver comigo por muitos meses sem ser
ofendido por mim. Percebo plenamente que
determinadas coisas que faço ofendem os outros. Se
alguém puder ficar comigo e não for ofendido por
mim, deve ser porque sua espiritualidade não é
autêntica. Ele deve ser uma pessoa sem carne nem
sangue, mas uma vez que todos somos pessoas de
carne e sangue, todos sabemos o que é ficar zangado.
Todavia, se formos políticos uns com os outros,
vamos ocultar nossa ira. Alguém realmente espiritual,
porém, não ocultará sua ira. Pelo contrário, pode ser
rápido em ficar zangado; por outro lado, será também
rápido em deixar passar a ira.
Considere novamente o que Paulo diz no
versículo 21. Ele pergunta: “Que preferis? Irei a vós
outros com vara, ou com amor e espírito de
mansidão?” Isso soa como um versículo das
Escrituras sagradas? Se essa palavra não estivesse na
Bíblia, nenhum de vós a aceitaria como digna de estar
nas Escrituras. Pode parecer bíblico para alguns
dizer: “O tempo urge, povo Meu. Eis que venho sem
demora. Eu vos amo, e deveis amar-Me. Assim diz o
Senhor”. Mas soa bíblico ou espiritual perguntar se
devemos vir com vara, ou em amor e espírito de
mansidão? O versículo 21 soa como o escrito de
alguém que está zangado. Entretanto, essas palavras
estão registradas na Bíblia. Novamente vemos que a
Bíblia é diferente de qualquer outro livro.
Suponha que eu esteja zangado com um irmão
um minuto e depois, logo em seguida, fico muito
contente com ele. Ele pode ficar ofendido e
criticar-me por não ser espiritual. Entretanto sua
espiritualidade pode não ser genuína, ao passo que a
minha pode ser real. Repetindo, uma pessoa que é de
fato espiritual pode rapidamente Ir da mansidão à ira
ou vice-versa,
Tenho um apreço profundo pelo capítulo quatro
de 1 Coríntios. Nele vemos uma humanidade muito
autêntica, sem fingimentos. Ainda assim, ela está
cheia de vida. Se lermos as palavras de Paulo muitas e
muitas vezes, principalmente se as lermos-orarmos,
tocaremos vida. Embora o versículo 21 possa não soar
como uma maneira muito bíblica de falar, é um
versículo cheio do peso de vida. Ao contrário, proferir
certas palavras seguidas de “assim diz o Senhor” pode
ser totalmente carente de vida. A palavra de Paulo em
1 Coríntios 4 está cheia do peso de vida.
Todos precisamos aprender com Paulo a ter uma
verdadeira espiritualidade. Se formos de fato
espirituais, não vamos ocultar, não vamos fingir e não
vamos “fazer política”. Antes, vamos ter uma
humanidade de verdade e simplesmente ser o que
somos em Cristo. Esse é o tipo de vida que pode
dispensar as insondáveis riquezas de Cristo aos
crentes. Os que possuem essa humanidade estão
qualificados para ser despenseiros na família de
Deus.
Todos os presbíteros precisam ter a humanidade
ilustrada nesse capítulo. Somente os presbíteros com
humanidade de fato podem edificar a Igreja. Os que
são espertos, “políticos” e nunca ofendem os outros
nem cometem erros, não podem edificar a igreja.
Todavia, não quero dizer que os que são descuidados
podem ser úteis na edificação da igreja. O que quero
dizer é que os presbíteros com verdadeira
humanidade, uma humanidade sem fingimentos,
podem edificar a igreja. Todos os santos precisam ter
essa humanidade. Tanto na vida da igreja como na
vida conjugal, precisamos ser autênticos. Não
devemos esconder ou fingir, mas, como Paulo, ter
autêntica humanidade e verdadeira espiritualidade.
Por um lado, precisamos ser como lixo e escória;
por outro, precisamos ser pais fecundos. Se não
formos lixo e escória e também pais fecundos, nossa
obra terá pequeno impacto. Podemos pregar as coisas
certas, doutrinariamente, mas com pouco resultado.
Um pai fecundo, isto é, que transmite vida aos outros,
tem de ser como um criminoso condenado à morte
aos olhos do homem. Tem de ser considerado inútil,
tolo, lixo e escória. Se vivermos tal vida perante os
homens, então seremos pais capazes de gerar muitos
filhos. Isso significa que se quisermos transmitir vida
aos outros, precisamos ser desprezados aos olhos do
homem. Isso é especialmente verdade hoje na
restauração do Senhor. A fim de ser um transmissor
de vida, você precisa ser desprezado pela religião. Os
cristãos mundanos devem dizer que você é lixo,
escória. Então você se tomará um pai fecundo que
partilha vida.

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