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Jesus herdou esta percepção dinâmica da natureza. De tal modo que, para Ele, a
natureza se torna “diáfana”, transparente: a beleza da Criação faz ver a arte
do Criador.
Ele reclama da insensibilidade dos fariseus e saduceus, incapazes de decifrar os
“sinais dos tempos”. Pois aquele que treina os olhos na observação do vento,
das nuvens e do cor do céu, deveria ser hábil em perceber os sinais de Deus na
história humana (Mt. 16,1-3)
Vendo além dos desertos, Jesus se encanta com as flores e os pássaros e faz
destas singelas criaturas uma parábola da providência divina (Lc. 12,24.27-28).
Certa manhã, indignado, ele seca uma figueira estéril (Mt. 21,18-22). Mas noutra ocasião, misericordioso,
diz que é importante saber cultivar: dar atenção, cuidar, cavar ao redor, colocar adubo e esperar o tempo
dos frutos (Lc. 13,6-9).
Pássaro e lírios, figos e figueiras! Jesus usa o simbolismo do jardim em sua pedagogia, como retrato
excelente da Terra, destinada a ser um lugar de convivência, saúde e sustento.
É no cenário do jardim que Jesus multiplica o pão dos pobres “sentados sobre a relva verde” (Mc.
6,39). O mesmo verificamos na parábola do semeador (Mt. 13,4-9) e em várias ocasiões de oração e
ensinamento, quando o Mestre inicia seus discípulos na intimidade dos jardins (Jo. 18,1-2).
No jardim Ele planta seu corpo ferido pela Paixão, para brotar vivo como novo Adão.
E, uma vez ressuscitado, apresenta-se a Maria Madalena na figura do jardineiro e cultivador (Jo 20,15).
Com isto concorda o relato da Criação: tudo o que Deus fez terminou num jardim.
O Criador, depois de plantado o jardim, parou o seu trabalho. Entregou-se ao puro prazer de contemplar a obra
de suas mãos. “E viu que era muito bom...” (Gen. 1,31).
Deus prefere os jardins. E passeava por entre as árvores, à hora da brisa da
tarde (Gen. 3,8).
O jardim é a face graciosa que Deus oferece aos homens. No jardim, Deus
realiza o seu sonho. Por isso, nós e o universo só seremos felizes quando todos
formos um jardim.
Na oração: - há dentro de cada um de nós, um jardim secreto, fe-
chado, que precisa ser aberto;
- essa é a peregrinação interior: visitar o jardim secreto,
cenário silencioso, onde a beleza se esconde; é nele que
moram as emoções, a criatividade, a bondade, os sonhos...
- há um universo inteiro dentro de nós, que precisa ser des-
coberto e cuidado... Caminhar pelos cenários do interior é uma aventura, um desafio...