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PARTE 3 Antigos povos “Orejones” e Xaray nas fontes coloniais A presente contribuigao pretende, a partir das fontes escritas pelos primeiros conquista- dores, aproximar-se do povoamento étnico do Alto Paraguai e do Pantanal e, em particular, dos dois complexos que se destacaram nos séculos XVI e XVI: “Orejones” e Xaray."" Para os conquistadores, tanto espanhdis quanto portugueses, o Pantanal era, acima de tudo, “0 coracao aqutico da América do Sul”, “a lagoa dos Xaray”, mar e terra simultaneamen- te, um pais fabuloso, propicio para receber as ‘mais loucas quimeras. Nessa extensa regido, en- contraram povos que diferiam quanto 3 lingua € a0s costumes, sendo que todos tinham suas vidas regidas pelas inundacGes sazonais: Quando as dguas estio baixas, os nativos dei- xam o interior © vém viver na margem com seus filhos @ mulheres para desfrutar das pes- carias, porque é muito peixe que matam, ¢ s80 muito carnudos; encontram-se nessa vida boa, bailando e cantando todos os dias e noites, como pessoas que tém assegurada a alimer tagdo; e como as aguas comecam a subir, la por janeiro, voltam a retirar-se para os locais Seguros, porque as aguas sobem seis bragas acima dos desfiladeiros, e se estendem por es- sta contribuigio baseia-se em trabalhos anteriores dda autora sobre 0 tema (COMBES, 2010) e nos de Marfa Fatima Costa (1999 e 2004). Apenas utiliza- mos aqui as fontes histéricas sobre os “Orejones” Xaray, remetendo para dados arqueolégicos a parte ccorrespondente deste liv, © COSTA, 2004, p. 67. Isastate Comes Isabelle Combes. sas terras por mais de 100 léguas pela planicie no interior, de modo que parece mar, e cobre as drvores e as palmeiras que esto sobre a ter- ra, € os navios passam por cima deles; ¢ isso acontece todos os anos do mundo habitual- mente |... 08 nativos do rio, quando as dguas sobem nos desfiladeiros, preparam umas ca- rnoas muito grandes para esse perfodo e, no meio dessas canoas, colocam duas ou trés ccargas de barro e fazem um fogio; isso feito, 0 indio entra na canoa com sua mulher e filhos € casa, e com a cheia da Agua vao para onde quiserem; e sobre aquele fogao fazem fogo e cozinham de comer e se aquecem, e, desse modo, passam os quatro meses do ano que correspondem a essa cheia das aguas; e como a gua esté alta, saltam em algumas terras que ficam descobertas, ¢ ali matam veados e antas € outros animais selvagens que estio fugindo da agua; e como as Aguas voltam a subir para retornar a seu curso, eles retornam cagando e pescando do mesmo jeito que foram, e nao saem de suas canoas até que os desfiladeiros estejam descobertos, onde eles costumam ter suas casas, f de se admirar a grande quantida- de de peixes que as dguas que vao baixando deixam na terra seca; e quando isso acontece, no fim de marco e em abril, todo esse tempo aquela terra cheira muito mal, ja que a terra est intoxicada, (NUNEZ CABEZA DE VACA, 1944 (15551, cap. LN, Infelizmente, Cabeza de Vaca nao especi- fica de quais “nativos do rio” esta falando. Na tentativa de identific’-los, nos empenharemos nestas paginas. 129 Provavelmente, 0 primeiro europeu a che- gar ao Pantanal foi o portugués Alejo Garcia, nos anos 1530 JULIEN, 2005). Esse persona- gem partiu do territério atlintico em busca das riquezas que os indigenas do rio La Plata diziam que supostamente existiriam adiante, na direcao do ocidente. Ele chegou, provavel- mente, muito préximo da fronteira inca, retor nando com ouro e prata, até deparar-se com a morte na sua viagem de retorno. Os indfgenas que assassinaram Garcia, ao que tudo indi ca, foram moradores do Pantanal, talvez os Guayoyae, pois sabemos que esses indigenas mataram alguns cristaos antes da chegada dos espanhéis de Assungao em sua regiao (RIBE- RA, 2008a [1544], p. 19). De toda forma, os Xaray do Pantanal “tinham noticias” dos eu- ropeus “desde o tempo em que Garcia havia andado por aquelas terras” (NUNEZ CABEZA DEVACA, 1944 [1555], cap. LIX). Entretanto, por mais famosa que tenha sido na literatura, a viagem de Garcia foi muito pouco documentada. As primeiras no- ticias concretas sobre os indigenas do Panta- nal datam, assim, dos anos 1540, e provém dos espanhéis estabelecidos em Assuncao. Assuncao foi fundada em 1537, no lugar em que se localizava a aldeia indigena Lambaré. Essa regido era territério cério, ou seja, ter- rit6rio de pessoas falantes de guarani, cujo nome logo serviu para designar praticamente qualquer grupo que falasse 0 mesmo idio- ‘ma, assim como a palavra “guarani” e, logo, “chiriguanaes”. No mesmo ano da fundagao da cidade, Juan de Ayolas partiu rumo oeste, Chaco adentro, em busca das mesmas rique- zas que Garcia. Foi morto no seu retorno pe- los indfgenas Payagué do rio Paraguai. Sem se desanimar, os assuncenhos continuaram procurando noticias sobre “a terra adentro’, dessa vez, subindo o rio. Em 1542 e 1543, 0 lugartenente de Ayolas, Domingo Martinez de Irala, realizou uma viagem subindo o rio até a regido do Pantanal. Ali fundou, no dia 6 de janeiro de 1543, 0 Puerto de los Reyes, em uma das principais lagoas da regido, ge- ralmente identificada como a atual lagoa La 130 Gaiba.® Essa viagem esté documentada prin- cipalmente pelo informe que Irala redigiu em sua volta,** talvez 0 documento mais valioso de todo o corpus paraguaio. No ano seguinte (1543-1544), 0 novo governador de Assun- a0, Alvar NGfiez Cabeza de Vaca, também subiu 0 rio Paraguai até Puerto de los Reyes. A partir daf, fez uma breve expedicdo em dire- 40 ao oeste, mandando Francisco de Ribera um pouco mais “terra adentro”; paralelamen- te, enviou outro grupo mais ao norte do Pan- tanal, sob 0 comando de Hernando de Ribera. Sobre essas viagens, dispomos, principalmen- te, dos Comentarios do mesmo Cabeza de Vaca, das relagdes de Hernando de Ribera, e do livro de Ulrich Schmidel, um mercenério alemao que acompanhava a expedicio.® Qs assuncenos voltaram a ingressar no Pantanal em 1557, sob 0 comando deNutlo de Chaves, futuro fundador da cidade de San- ta Cruz de la Sierra, no atual oriente bolivia- no. Pouco tempo depois, no final do século XVI, uma expedicao cruzenha também seguiu 1a direcao do pais dos Xaray, conduzida pelo ‘general Lomas Portocarrero, Os informes referentes a essas distintas viagens so nossas melhores fontes sobre os indigenas que povoavam essa regio quando ‘0s europeus chegaram. Além de suas pré- prias observagies, os expedicionérios euro- peus também recolheram relatos, mitos ou noticias de seus guias e intérpretes indigenas. Dessa forma, e devemos estar conscientes dis- so, as informac&es chegam a nés através de um duplo filtro, europeu e indigena. Assim, por exemplo, adverte-se que muitos dos no- mes étnicos mencionados nas fontes nao sio pr6prios: muitos parecem pertencer & lingua gorgotoqui (nomes que trazem o sufixo -coci); outtos s40 guarani, recolhidos da boca dos acompanhantes dos espanhéis de Assungio, como é 0 caso do nome dos “Yacaré” 5 SANABRIA, 1974; SUSNIK, 1978: 24; JULIEN, (J © IRALA, 2008 [1543], © NUNEZ CABEZA 20082 [1544], 2008b 115671, JACA, 1944 [1555]; RIBERA, 1545]; SCHMIDEL, 2008 "OREJONES” E XARAY NAS FONTES COLONIAIS, Rumo ao Alto Paraguai Na diregdo de Assungio, os Guarani Cérioestendiam-se até o lugar chamado Guayviaio."® A partir dai, 0 rio Paraguai estava dominado pelos Payagus, grupo “ca- noeiro” da familia lingufstica Guaikurd, co- nhecidos como “piratas” do rio Paraguai..” Em seu territério, localizava-se 0 porto La Candelaria ou San Fernando, de onde Ayo- las partiu Chaco adentro. A montante do Payagud, 0 grupo dos Matarae** & mencionado, mas os verdadeiros donos dessa parte do rio eram os Guaxarapo (mais tarde conhecidos Guachi), possivelmente membros da familia linguis- tica guaikurt.” Qs Guaxarapo eram inimigos de varios grupos da regiao, como 0s Aygua, os Guarani de Itatim, os Guacama € 0s Xaquide.*® Mas também tinham aliados, em particular, grupos de Puerto de los Reyes, no Pantanal, os quais os ajudaram, em 1544, a sublevarsse contra Cabeza de Vaca; e 0s indios Guat6, que também ajudaram os Arrianicosi a rebelarem-se contra o espanhol.” Existiam, também, “Cério" mais acima de Assuncio; em outras palavras, pessoas de fala guarani Os primeiros, a montante dos Guaxarapo, eram os de Garabatibi (muito provavelmente karaguata yvy, ou seja, “a terra do caraguata”, em guarani), 2 margem este do rio. Em seguida, vinham os tatim, & margem leste. Praticamente todos os grupos do rio e da “terra adentro” mais a oeste possufam alguns objetos de metal, seja de prata ou de ouro, que provinham do ocidente, provavelmente como NUNEZ CABEZA DEVACA, 1944 [1555], cap. XIVI Sobre os Payagus, ver Métraux (1996 (19461, p. 33- 55) € Susi (1978, p. 94-108) © NUNEZ CABEZA DE VACA, 1944 15551, cap. L HER NANDEZ, 1941 [1545], p. 394, Ver Susi (1978, p 124-128) © METRAUX, 1996 {1946}, p. 37, 54; SUSNIK, 1978, p 22-24 © TRALA, 2008 (1543); N 1944 [1558], cap. X NUNEZ CABEZA DE VACA, 1944 [1555], cap. XLVI, XIV e LV “fleceién de Domingo Martines de rac Int, 1544, AGI Justicia 1131, publicade no apéndice de Actas Captuares-Asuncién (2001 FZ CABEZA DE VACA, Isastate Comes dos centros incas fronteiricos. O circuito do metal (por meio de trocas, roubos, presentes etc.) 6 bastante conhecido, pois se tratava do principal interesse dos exploradores espa- nhéis.” © importante € que, por meio desse comércio e outros mecanismos (aliangas ma- trimoniais, guerras, etc.) que nao conhecemos com detalhes, todos os grupos da regio esto interconectados Os “Orejones” e seus vizinhos Como efeito imediato da conexio perma- nente entre grupos da atual Chiquitania e do Paraguai, os espanhéis encontraram, na re- {ido de Puerto de los Reyes, alguns in origindrios da “terra adentro” mais a oeste. Estes grupos eram: “Parcialidades”® (pequenos grupos) chané, em particular dos grupos dos Ariticogi ou Cariticogi Esse nome era de um grupo chané que vivia aproximadamente sete dias a oeste de Puerto de los Reyes e dois dias a oes- te dos Gorgotoqui, ou seja, entre 0 Alto Paraguai e a futura cidade de Santa Cruz de la Sierra. Em 1543, Irala encontrou, em Puerto de los Reyes, alguns chané desse grupo. Viviam ha pouco tempo nesse lugar; escravos de Alejo Garcia, escaparam depois de sua morte, pri- meiro para onde viviam os Guaxarapo e, depois, para Puerto de los Reyes. O primeiro entrevistado, chamado Xago- ani, disse que sua “parcialidad” deno- minava-se Ariticoci; 0 segundo, o chefe Cheroge, deu 0 nome de Cariticogi. A primeira versio do nome da parcia ® Ver Combes (2008, 2010), © »*Parcialidad” & um termo colonial da América espa- hola, atvalmente em desuso. Designa, geralmente grupos indigenas considerados “parte” de um grupo ‘maior, assim como uma “tribo” pode ser parte de um ‘grupo étnico”, Aos grupos maiores, costumava-se denomind-los “generaciones”, Entretanto, 0 significa do de “parcialidad” e de “generacién” nem sempre 6 claro. Na falta de um equivalente contemporinco para esses termos, decidimos preservé-los 131 lidad, Ariticoci, & muito interessante, porque lembra a autodenominacao dos grupos Pareci de Mato Grosso, que se chamavam, precisamente, Ariti. Os cruzenhos recém “descobriram” os Pa- reci a cerca de 100 léguas ao nordeste de sua cidade, em fins do século XVI Os Pareci pertencem ao grupo linguis- tico arawak, mas a um ramo distinto do mojo-bauré, a0 qual pertence o idioma chané.” A presenca de “Ariticoci” pré- ximo a Santa Cruz, em meados do sé- culo XVI, poderia indicar que, por tras do nome geral de “Chané", existiam, na verdade, representantes de diferentes ramos da familia arawak na regido. = Outros grupos da regido da primeira Santa Cruz também estavam presentes em Puerto de los Reyes: 0s Quigoaraco- ci, e, provavelmente, os Tarapecoci (Ta- ramecoci) (NUNEZ CABEZA DE VACA, 1941a [1543], p. 335). Outros grupos indigenas so mencionados nas proximidades de Puerto de los Reyes por Nijfiez Cabeza de Vaca (1941b [1543], p. 345), Nao temos maiores informagées sobre eles: - Os Ararobone, Ariabone, Quibone, Acaquibone e Etatarabone. O sufixo id@ntico: -bone, poderia indicar um pa- rentesco lingufstico entre esses grupos. ~ Os Canache. ~ Os Yobecosi ~ Os Coriancogi (ou Corianicogi, Curia- necoci) viviam préximos de Puerto de los Reyes.® Esse nome talvez seja uma deformacio do nome dos Arrianicoci, que encontraremos adiante. Termina, em todo caso, como muitos etndnimos da regido, com o sufixo -co¢i, antiga marca gorgotoqui (provavelmente in- 5 METRAUX, 1942, p. 161; TAYLOR, 1957, p. 46; SUS- Nk, 1978, p. 46 % RIVET, Paul apud METRAUX (1942, p. 160); FABRE, 2008. % NUNIEZ CABEZA DE VACA, 1941b [1543], p. 345; leccién de Domingo Martinez de lraia", AGL Justicia 1131, publicado no apéndice de ‘Actas Capitulares-Asuncién (2001) 132 gua otuqui posteriormente chiquitani- zada) do plural” — 0 que nao significa, necessariamente, que se tratasse de fa- lantes de gorgotoqui, mas, antes, que esse nome Ihes foi dado por pessoas que falavam essa lingua. Os Coriancogi participaram, juntamente com os Gu xarapo e 0s “Orejones”, da rebelido contra os homens de Cabeza de Vaca - © mesmo informe de Cabeza de Vaca (1941b 11543], p. 345) menciona os Poyane na regido. E possivel que esse grupo, como os Chané de Puerto de los Reyes, seja origindrio do oeste e que seu nome remeta ao do principal Poane, da parcialidade Chibano, encomendado, em 1561, em Santa Cruz la Vieja (RE- PARTIMIENTO...., 2008 [1561], p. 103). Também 6 mencionada ao menos uma al- deia guarani em Puerto de los Reyes, ao mando do “principal” Yandarupia, que diz conhecer a rota do metal na direcao do ocidente.*® En- tretanto, os moradores mais caracteristicos de Puerto de los Reyes so, por uma parte, grupos “canoeiros” e pescadores e, por outra parte, ‘05 chamados “Orejones”. Entre os grupos pes- cadores, mencionam-se 0s Guat6. As primei- ras informagées sobre esse grupo provém de Niiez Cabeza de Vaca, que 0s localizava no Alto Paraguai e Puerto de los Reyes, em 1544 (1944 [1555], cap. LXVIII, LX e LX); mais tare de, Diaz de Guzman situou-os pelo rio Araguay (ou Acaray), quer dizer, de acordo com Susnik, pela lagoa Caceres.” Os Guaté eram “cano- ciros” tao famosos como os Payagud. Cabeza de Vaca indica que eram inimigos dos Itatim aliados, pelo menos por vezes, dos Guaxara- po; de fato, juntos, ajudaram os Arrianicosi a se rebelar contra os espanhdis. A lingua dos Gua- 16, geralmente, 6 considerada isolada, ainda que a menos um depoimento posterior afirme que os Guaté falavam o idioma “guayarapo” COMBES, 20126. © IRALA, 2008 (15431, p. 9 ® DIAZ DE GUZMAN, 1835 (16121, p. 115; SUSNIK, 1978, p. 18-19, "OREJONES” E XARAY NAS FONTES COLONIAIS, [guaxarapo].™ J4 encontramos os Guaxarapo no Alto Paraguai; alguns deles também viviam em Puerto de los Reyes, mas a grande maioria vivia mais a jusante. De forma totalmente distinta desses grupos pescadores, os "Orejones” de Puerto de los Reyes so descritos como grandes agricultores. Com esse nome, os espanhdis designaram vse rios grupos diferentes que tinham em comum o costume de furaras orelhas: “tém as orelhas fura- das ¢ tio grandes, que pelos seus furos passa um punho fechado, e trazem enfiadas nelas umas morangas medianas, e frequentemente as tiram substituem por outras maiores; e assim fazem suas orelhas ficarem tao grandes que quase Ihes alcanga 0 ombro, e, em razao disso, 0s outros indios da comarca hes chamam_orejones” (NGNEZ CABEZA DE VACA, 1944 [1555], cap. LIV)." No mesmo capitulo, Cabeza de Vaca oferece uma descrigao geral dos “Orejones’ Os indios desse Puerto de los Reyes sao lavra- dores; semeiam milho © mandioca (que 6 0 pao das indias), semeiam amendoim (que s20 como avelas} [1 & terra fétil e abundante, no que se refere a mantimentos de caga e pesca- Tia; 0s indios criam muitos patos em grande quantidade. [As mulheres] ndo cobrem suas vergonhas; vive cada um por si com suas mu- Iheres e filhos. Acrescenta que as mulheres so fiandeiras de algodio e que “daqui os indios comecam a ter idolatria e adoram os idolos de madeira que eles mesmos fazem” Quem sao esses “Orejones"? Cabeza de Vaca menciona, entre eles, os Sacosie, Xa- que italvez os “Xaquidi” de trala) e Chané (1944 115551, cap. Lil). Entretanto, sabemos WE ZURBANO, Francisco Lupercio de, “Catalogo de fas rnaciones de inalos que hay de la una y otra banda de! rio Paraguay para convert al Evangelio de Cristo”, 1644, apud PASTELLS, 1915, p. 126. Sobre 0s Guaté, remetemos a contribuigdo neste mesmo lio, © Tratamos aqui dos "Orejones” de Puerto de los Reyes; «© termo pode ter sido aplicado a outros grupos que também furavam as orelhas. Por exemplo, no pode mos ter certeza de que os dois "Orejones” escravos dos Tarapecogi encontrados por Francisco de Ribe- ra, em 1544, tenham sido indigenas de Puerto de los Reyes (ver NUNEZ CABEZA DE VACA, 1944 [15: cap. LXX) Isastate Comes que os Chané dessa regidio, com seu princi- pal Cheroce, nao eram origindrios de Puerto de los Reyes, mas sim de “terra adentro” mais a oeste, provavelmente da regiao da futu- ra Santa Cruz; como o titulo do capitulo LV dos Comentarios bem expressa, eram “indios de (Alejo] Garcia” que se refugiaram depois de sua morte entre os “Orejones", travando aliangas (matrimoniais, inclusive) com Saco- si e Xaque."® Em rigor, os “Orejones” seriam, entdo, estes dltimos. © nome do primeiro desses grupos varia bastante nas fontes, Subindo o rio Paraguai, em 1542, antes de chegar a Puerto de los Reyes, Irala coletou informagdes sobre os Sycosy (ou Sicoxi) e os Xacosy (ou Xacoci); ambos viviam a montante dos Guaxarapo e possufam metal (IRALA, 2008 [1543]). So citados na mesma frase e pelo mesmo informante, o que sugeritia ido se tratar das mesmas pessoas; entretanto, ‘essas eram apenas noticias “de ouvido”. Pou- co mais tarde, em janeiro de 1543, dessa vez jd no Puerto de los Reyes, Irala encontrou os “Gicogis" convivendo com os Chané de Che- roce vindos do interior das terras, Nao muito tempo depois, Cabeza deVaca aponta que lrala obteve suas informacées dos “Cacocis-chanes’ de Puerto de los Reyes, e que os Chané “de Garcia” haviam feito, na regio, alianga com 05 “Socosies” ou “Sacosies”."° Confrontando cesses dados, é razodvel pensar que os Sicoci de tum sejam os Sacoci do outro, também chama- dos por Socosi.!® "7 Sobre esses Chané como ex-escravos de Garcia, ver IRALA, 2008 [1543]; RELACION DEL RIO DE LA PLATA, 2008 [1545]; NUNEZ CABEZA DE VACA, 1944 (15551, cap. L, Lille LV, ® NUNEZ CABEZA DE VACA, 1944 [1555], cap, XXXIK, L, Segundo Susnik (1978, p. 22; 28), um possivel sub- grupo dos Sacoci era 6 dos Aygua, citado pelos en- ttevistados cério e guaxarapo de Irala, em 1542. Vir viam a oeste do rio Paraguai, acima dos Guaxarapo, de quem eram inimigos. Cram semeadores de milho, ‘mandigca e amendoim. Segundo © depoimento de lum chefe guaxarapo, os Aygua eram os que tinham mais metal dentre os indigenas do vio Paraguai: re Ccebiam tais metais dos Huytig do interior, os quais, por sua vez, conseguiam-nos dos Payzuno (IRALA, 2008 [1543}, p. 2-4; 6). Susnik indica o sul da lagoa Mandiore como habitat dos Aygua (1978, p. 22; 28) 133 Asses diversos nomes, soma-se o de “Su- rucusi" empregado por Schmidel."®* © ale- mao explica que, antes que ele mesmo che- gasse ao Puerto de los Reyes, Cabeza de Vaca j4 havia despachado trés barcos na frente, que chegaram ao lugar onde viviam os Su- rucusi. Esses indios “tinham peixe e carne, € trigo turco (milho) e mandioca, também ou- tra raiz que se chama amendoim e se parece com as avelas; e os homens levam nos labios uma grande pedra azul igual a uma peca de tabuleiro, e as mulheres andam (levando} co- bertas suas partes” (SCHMIDEL, 2008 [1567], cap. 32). Essa descrigdo nao é totalmente compativel com a, jé citada, de Cabeza de Vaca; entretanto, mais adiante, 0 préprio Schmidel se contradiz, falando dos mesmos Surucusi (Yonde haviam estado os j4 mencio- nados trés barcos"): “vivem cada um por si com suas mulheres e filhos. Também os ho- mens tém pendurado no lébulo da orelha um disquinho redondo de madeira do tamanho de uma boa pega de tabuleiro; as mulheres também tém uma pedra cinza de cristal no labio apontando para fora; & grossa e larga, mais ou menos do tamanho de um dedo; as mulheres também so muito lindas e nao tem nada tapado em seu corpo e andam nuas” Esses indfgenas tinham milho, mandioca, amendoim, batatas, peixe e carne “em divina abundancia” (SCHMIDEL, 2008 [1567], cap. 34). Essa é exatamente a mesma descrigao daquela feita por Cabeza de Vaca Um capitulo adiante, 0 alemao mencio- na outro grupo dos mesmos Surucusi — “uma, nagao dos sobreditos Surucusis” -, habitantes de uma ilha (SCHMIDEL, 2008 [1567], cap. 5 Js diversas grafias utlizadas por Schmidel em alemao So: Suruchkusis (eap. 32); Sueruckusies (cap. 34, 39 © 39); Sueruekuesies (cap. 34 € 39) © Suruckuesis (cap. 39). Todas sio transcritas para o espanhol por Surucusi”. Nesse aspecto, & preciso ter cuidado com a edigio de Schmidel realizada por Lafone Quevedo (SCHMIDEL, 1903 [1567): indica, com efeito, os te- mos alemaes, propondo varias interpretacbes entre parénteses; os Surucusi equivalem, uma vez, aos Sacoci, outra vez, aos Socosie etc. Exes termos so interpretacies de Lafone Quevedo a partir de outros textos, como os Comentarios de Cabeza deVaca; nao figuram no texto original de Schmidel 134 45). Esses “outros Surucusis” nao parecem ‘outros que nao os “Socorinos” de Cabeza de Vaca, habitantes de uma ilha em Puerto de los Reyes com os Xaque." Dessa maneira, todos estes nomes: Sacosi, Socosie, Sicoxi, Surucusi e Socorinos (além de variantes de cada um deles) parecem ser equivalentes e designar, se no um mesmo grupo, ao menos diver- sas parcialidades da mesma “generacién” ou grupo étnico. Os tinicos que se diferenciam, ainda que seja apenas pelo nome, sio os Xa- que, Xaquete, Saquese ou Xaquese; todos sdo “os Orejones” dos espanhdis. A princi- pio, esses grupos receberam amigavelmente 0 espanhdis, mas, pouco depois, quando os homens de Cabeza de Vaca cafram doentes, sublevaramse auxiliados pelos Guaxarapo do rio Paraguai. Muitos indigenas foram mortos nessa oportunidade; Cabeza de Vaca aponta que “Socorinos” e “Xaques” comeram alguns prisioneiros espanhéis.""” Nao sabemos muito mais sobre os Orejo- nes, Os Chané recém-chegados em Puerto de Jos Reyes falaram guarani com Irala, idioma que conheciam por terem sido prisioneiros dos tim anteriormente (IRALA, 2008 [1543], p. 7). Mas nada foi dito sobre os idiomas usados pelos Orejones. Apontaremos, para terminar esse predmbulo, alguns nomes encontrados nas fontes que nao parecem outra coisa que variantes dos nomes dos Orejones: Taycagi, Taycogi, Taycosi Em 1542, sobre o rio Paraguai, um infor- mante cério de Irala fala dos Taycaci que vi- vem a oeste do rio e semeiam milho, man- dioca e amendoim (IRALA, 2008 [1543], NUNEZ CABEZA DEVACA, 1944 [1555], cap. DXXt; fesse nome aparece como *Gocarino” no documento dda “Eleccién de Domingo ‘Martinez de Irala’, AGI Justicia 1131, publicado no apéndice de Actas Capitulares-Asuncién (2001). © NUNEZ CABEZA DE VACA, 1944 [1555], cap, UX}; SCHMIDEL, 2008 (15671, cap. 39; “Eleccion de Domingo Martinez de Irala®, AGI Justicia 1131, ppublicado no apéndice de Actas Capitulares-Asuncion (2000) "OREJONES” E XARAY NAS FONTES COLONIAIS, p. 2-3). A relacdo com os Sacosi Orejones parece comprovada, uma vez que 0s capi- ties de Cabeza de Vaca informam que os Taycoci ou Taycosie eram indios de Puerto de los Reyes que se rebelaram contra o es- panhol com a ajuda dos Guaxarapo. No Requerimiento feito por Caceres, que ofe- rece a mesma informacao, os “Taycosis” so nomeados juntamente com os Xaquete e "Xarcosis” ou “Xaycosias”.!9° Saicoce A carta de Antonio Rodrigues menciona os “Saicoces” como um povo lavrador préxi- mo dos Xaray (1956 [1553]). Parecem ser 08 Sacoci. TSNUNEZ CABEZA DE VACA, 1941a (15431, p. 335; CACERES, 1941 [1544], p. 351-352 Scuerves ILUSTRAGAO 68 - XARAY SCHISIDEL, 1903 (1567 Isaatate Conats Goicogi e Caincocie Esses dois nomes encontram-se na decla- racdo de Ortiz de Vergara, em 1569; ele apenas diz que esses indigenas viviam a montante de Assuncéo (1941 [1569], p. 119) (lust. 69). Os Xaray e seus “submetidos” De Puerto de los Reyes seguindo rio acima, nas profundidades do Pantanal, chegava- se 3 regido dominada pelos Xaray, visitados, primei- ro, por Hemando de Ribera, em 1544, e, em se- guida, por Chaves, em 1557-1558. O que mais se sobressai nessa regido 6, sem duivida, o com- plexo sistema hierdrquico estabelecido entre os diferentes grupos xaray e aqueles a eles “sub- metidos” — grupos muito diversos, que incluem tanto os agricultores Ortues, como os Tiyue & 135 Yayna, “gente de canoa”. A rede de clientelis- mo xaray estende-se até o ocidente, ¢ existem dados, por exemplo, sobre matriménios interét- nicos entre mulheres xaray e homens “chirigua- naes" da parcialidad bambaguasu;"® os Xaray tinham um papel muito ativo na rede de comér- cio de metal andino em direc3o ao leste. Os Xaray'"" Os Xaray viviam acima de Puerto de los Reyes, seguindo a montante do rio Para- guai, majoritariamente & margem oeste do rio, ainda que as primeiras comunidades encontradas, chegando pelo sul, estives- sem assentadas na margem leste. € dificil localizar com precisio a “lagoa dos Xa- rayes". A expressao ficou vigente até o sé- culo XIX para se referir, em geral, as lagoas do Pantanal. De sul a norte, as principais lagoas da regio sa Caceres, Mandiore, La Gaiba e Uberaba. Em 1772, um documento fala “das lagoas de Manioré, Vayuba e Jarayes”.""" S goa Vayuba” & a de La Gaiba, entio a lagoa dos Xaray poderia ser identificada como a de Uberaba; isso corresponderia ao nome da aldeia Urebarasanay e com a localiza- do de Puerto de los Reyes na lagoa La Gaiba, mais ao sul. Entretanto, os Xaray constitufam uma et- nia bastante numerosa, e 6 provavel que, a partir dessa lagoa, tenham se espalhado também para o interior. Em 1597, encon- traram-se indicios de que vérios povos xa- ray estivessem assentados préximo a algu- mas montanhas, possivel alusio a serra de TS RELACION GENERAL, 2008 (15601, p. 59 © Encontram-se numerosas gratis diferentes para 0 nome desse grupo: Jae, Jara, Ja ary, Jur, Sarde be, Scher, Xabe, Xara, Xara Xaalle, rare, Xared Sobre uma possvcl etimologia do nome. M,C. Mi gliacio 2006) inerpretou-o como um temo guarani Gard, “os donos da gua ov do ro"), mas ess ei mologia no parece sor valida, polo guaran uliza- CONSULTA... 1906 117721, p. 86 136 Aguapel, mais ao norte (LOMAS PORTO- CARRERO, 2008 [1604], p. 283). As informagGes sobre os Xaray foram ob- tidas principalmente em duas ocasides: a viagem de Nihez Cabeza de Vaca, em 1543-1544, com a expedi¢ao de Hernan- do de Ribera, que se separou do grosso das tropas; e a visita de Hernando de Lomas Portocarrero, em 1597. Em ambas as expe- dices, existem mengées dos homens de Nuflo de Chaves aos Xaray, mas que nao dao muitos detalhes sobre seus povos ou sua cultura. O que sabemos é que Chaves esteve no porto denominado “Parabazn’”, também batizado como Santiago.""? As primeiras caracteristicas que causaram impacto nos espanhéis e por eles foram muito bem recebidas, 6 que os Xaray eram numerosos, agricultores e criavam animais domésticos. Um Cario de Garabatibi os des- creveu como semeadores de milho, man- dioca e amendoim (IRALA, 2008 [1543], p. 2-3); eram “pessoas de grandes lavouras € comida’, “lavradores de fartos mantimentos e criadores de patos, galinhas e outras aves pesqueiras e caca”; “sio lavradores que se- meiam milhos e outras sementes em grande quantidade, e criam patos e galinhas como as da Espanha”; “semeiam e colhem duas vvezes por ano milho e batatas e amendoim; criam patos em grande quantidade e algu- mas galinhas como as da nossa Espanha’; “s30 muito abundantes as rogas de milho € de mandioca, e conseguem muita caga de veado e muitas frutas”.""? Outra caracteristica peculiar dos Xaray era a sua organizacdo politica e a estrita ACIAS CAPITULARES-ASUNCION, 2001, ata de 7 de setembro de 1364, Respectivamente: RELACION DE LOS CASOS. 2008 (15611, p. 66; RIBERA, 2008b [1545], p. 29 NUNEZ CABEZA DE VACA, 1944 [1556], cap. LVI © LIX; RIBERA, 2008a [1544], p. 19. Tncontamos luma nica releréncia indicando 0 contrrio, que “na provincia dos Karis", a gente no é“lavradora” (MEMORIAY RESOLUCION: , 2008 [1560], p. 33) Pode ser que se trate de um eqiwoco ot, mals pro- vavelmente, de uma justificatva de Nuflo de Chaves, {ue usou esse pretexto para nao permanecer na re: Bio e poder explorar terra adeno, "OREJONES” E XARAY NAS FONTES COLONIAIS, hierarquia que reinava em seus povos. Os Xaray eram “gente de razdo e que obede- cem a seu principal”, “a gente com mais policias dessas provincias’.'"* O chefe dos Xaray era, na época da viagem de Cabeza de Vaca, Camire, nome que os espanhéis deram também a sua aldeia.''® Mais im- portante, no mesmo capitulo, Cabeza de Vaca indica que, além dessa aldeia, exis- tiam outras quatro em “que todos obede- ciam a dito principal” Camire. Schmidel fala em 12.000 homens que acompanham o chefe Camire e 0 chamam de “rei” dos Xaray. Escreve que “dirige sua corte & sua maneira, como um grande se- nhor desses paises, Durante a mesa, é pre- ciso tocar miisica para ele; (também), ao meio-dia, caso ocorra ao rei; os homens e as mulheres mais belas devem bailar dian- te dele” (2008 [1567], cap. 36). Conhece- mos 0s nomes, bem como algumas carac- teristicas das aldeias xaray de 1543-1544 a mando de Camire, De sul a norte, partindo do Puerto de los Reyes (seguindo a Her- nando de Ribera}, encontravam-se: - Uma aldeia xaray nao identificada, & margem leste do rio Paraguai ~ Gayca, que, ao contrério das demais aldeias, estava localizada na margem leste do rio Paraguai. fm seguida, passando por uma aldeia dos Pe- robazan, chegava-se a outras aldeias xaray: - Guaya, com 300 casas, & margem oes- te do rio. = Camire mesmo, j4 mencionada, tam- bém a margem oeste. Essa aldeia, de acor- do com o primeiro levantamento de Her- nando de Ribera, possufa 400 casas, cifra que aumenta para 1.000 casas em seu se- gundo levantamento; Cabeza de Vaca fala em “até mil vizinhos’. ~ Vretobare, nome ao mesmo tempo de uma aldeia e de seu chefe."* TERIBERA, 20086 (15431, p. 29; DIAZ DE GUZMAN, 1835 (16121, p.81 = RIBERA, 2008b [1545], p. 29; NUNEZ CABEZA DE VACA, 1944 [1353], cap. LIX, Rodkigues (1956 (1553) excreve “Camery S RIBERA, 2008a [1544], 2008b [1545]; NUNEZ CA- BEZA DEVACA, 1944 (15551, cap. LX Isastate Comes Essas eram as aldeias xaray “propriamente ditas”, mas jé nessa época identificavam-se pelo menos dois outros grupos xaray, ainda que levassem outro nome: ~ Os Perobazan. Ribera, em 1544, fala de sua aldeia como se fosse a “primeira ge- neracién dos Xarayes”, e, em outra carta, de “uns indios que se chamam Xarayes ¢ Perobaganes”."” - Os Sibeti ou Sieberi de Schmidel, que viviam a montante dos Xaray propriamente ditos e a jusante dos Ortuese. Esses Siberi, diz Schmidel, pareciam-se aos Xaray e falavam mesmo idioma (2008 [1567], cap. 37) © povo de Vretobare é mencionado por Ri- beira em sua relagao de 1545, que também faz mencdo a Camire. Mais tarde, em 1557, Vretobare ou Vretobere era 0 "cacique prin- cipal” dos Xaray, e declarou ser filho de Ca- Imire, jé falecido nessa época.""* Esse dado pode ser interpretado como o indicio de um governo hereditario entre os Xaray. Mais dados sobre a organizacao politica xa- ray nos so oferecidos pelo informe de Her- nando de Lomas Portocarrero, em 1597.""* Esse informe cita como povos xaray: ~ Yereroruni (ou Yeritoruni), com um “cacique principal” chamado Managi Outros caciques importantes do mesmo povo eram Yarure Tayri e Yguaya este til- timo nome, provavelmente o mesmo que © da aldeia Guaja registrada em 1544. Mas esses nao eram o8 tinicos caciques, € 0 informe de Portocarrero oferece uma lista impressionante de outros caciques, “os quais, ditos caciques, tém os indios de seus ayllus povoados pelos bairros do dito povo Yereroruni; e em cada bairro tem uma praca”." No total, eram 1.350 0s “indios casa- dos” de Yereroruni “sem o bando de mu- IBERA, 2008a (1544), p. 18; 1941 (1545), p. 413. RELACION GENERAL, 2008 (1560), p. 57, Nessa casio 6 que Vetobare explica aos homens de Cha- Idotou 0 nome Camire ou Candire porter matado muitos Candie LOMAS PORTOCARRFRO, 2008 (1604; ver ULIEN, I ‘Ao comocar esa lita, Lomas Portocarrro anuncia tin tora de 14 caciques, mas enumera 19-nomes. Os nomes no esto separados por virgulas e alguns poderiam ser composts, chegando 20 total de V4. 137 Iheres, meninos e criangas”. Viviam em 450 casas. - Aucu, cujo cacique principal era Ya- guare. Outros caciques importantes de Aucu eram Ymaycare, Ymiybarebareya (ou Ybichiarebareya, Ybiachirabare), Basecayri (ou Baretayri) e Yueyonaquemincu (ou Ygueyonaqueminore, Gueyonaquemino- re}. Outros caciques do mesmo povo eram Vruguaqueminore, Yagua, Setaeri e Mana- canare, Aucu tinha 610 casas, e 1.850 “in- dios casados sem o bando”. Os habitantes de Aucu so chamados, em uma oportuni- dade, no mesmo informe, de “aucues" ~ Vacayucure (ou Vacayucuri, Bagayu- cure). Seu cacique era’ chamado Yutaeri Yquemiechiriba Yaguare. Essa aldeia tinha 450 casas, com 1.350 “indios sem seu bando de mulheres, meninos e criancas”. ~ Bayuatari (ou Baybatari), com apenas um cacique chamado Ybichicayri ou Ybichi- cayre. Tinha 100 casas e 300 “indios casados sem 6 bando’. “E povo fundado na encos- ta de um morro e na parte baixa; varia entre grandes pantanos e lagoas, especialmente nos tempos de égua’” - Uticate, com os caciques Eguare e Ybichicaure (ou Ybichicayre). Esse povo ti- nha 140 casas e 420 “indios casados sem © bando de mulheres e meninos e criancas que nao sdo contabilizados’. Estava loca- lizado na encosta do mesmo morro que Bayuatati A essas aldeias evidentemente Xaray, temos que agregar a de Uribarbacanay (ou Vreba- rasanay), “povo perabagan", com seus caci- ques Vratabare, Guare (ou Yaguare) e Chie- chitiba. Os Xaray tinham uma organizagio social e politica intema claramente hierarquizada, mas também tinham “outras nac6es ci cunvizinhas submetidas a seu dominio”:"" ‘Ao povo de Yereroruni e a seu cacique Managi, estavam submetidos os povos “da ago Orlugues”: Hubuu e Atuebaya; dois povos Cayguarare: Yaburuna e Uipiguara; e um povo da “naco Parienes (ou Arienes)” Coteyuguarena. ‘Ao povo de Aucu e a seu chefe Yaguare, DIAZ DE GUZMAN, 1835 {1612}, p. 15.4 lista das nagGes “submetidas? aos Xaraye & baseada no infor me de Lomas Portocarero (2008 (1604). 138 estavam submetidos os povos Cubie, “dos Tiyues”, Curuguara, Guarichi eYayna. Esses diferentes povos ou etnias ndo parecem ser Xaray. Por exemplo, ao falar dos Parienes ou Arienes, descrevem “casas pequenas”, enquanto que, no caso das aldeias xaray, sempre falam em “galpdes redondos”. Os povos Cubie, Tiyu, Curuguara, Guarichi e Yayna sio chamados “povos indios natu- rais [...] pessoas de canoa e povoam lagoas e pantanos ¢ estudrios e lugares escondi- dos e inabitéveis"; apenas se comunicam com os Perobazan e as pessoas de Aucu “a quem reconhecem”, Em todo caso, podemos tirar alguns dados desse informe tdo rico, Os Xaray eram mui- to numerosos: sem contar os Perobazan, fo- ram registrados 5.270 habitantes em apenas 5 aldeias...“ainda que, por andarem os nati- ‘vos muito amedrontados, é possvel estimar que existam muito mais pessoas que, pelo informe que se tem, estio divididas e refu- giadas em estincias por temor aos cristaos’, Em 1636, lembrando a expedigao de Her- nando de Lomas Portocarrero, L6pez Roca fala em mais de 30.000 pessoas na regido, em 6 grandes povos (2011 (1636). Ossacerdote que acompanhou a expedicao de 1597 ficou muito impressionado pela hierarquia existente entre os Xaray e escre- veu que, quando seu chefe ia ver os espa- nhéis, “dois de seus principais Ihe levavam pelos bracos e quando queria se sentar um deles oferecia seus joelhos que the servia de cadeira, que essa é sua cerim6nia”.””” ‘As fontes proporcionam mais dados sobre a cultura dos Xaray. Suas casas eram “gal- pes redondos”, mas aparentemente uni- familiares: “cada um tem sua casa para si, onde vivem com sua mulher e filhos”."® Isso corresponde ao nimero de casas de habitantes indicados pelo informe de TANUA-1598, 1954, p. 728. NUNEZ CABEZA DE VACA, 1944 [1555], cap. LIX Diaz de Guzmin disse; “existem povos dessesindios com 60 mil casas, porque cada fndio vive na sua pré- pria, com suas mulheres e ios” (1835 11612), p. 15) "OREJONES” E XARAY NAS FONTES COLONIAIS, 1597. Cabeza de Vaca indica que os ho- mens usavam adornos de pena de papa- gaio e de conchas brancas. As mulheres eram “grandes fiandeiras de algodio”: “fazem grandes mantas de algodio [...1 € nelas, nas mantas, estao bordados diversos animais, como veados e avestruzes e ove- thas indias”. Usavam essas mantas para se cobrir quando fazia frio ou para se sentar, mas também tecem “umas roupas largas de algodao”, que Cabeza de Vaca chama (em guarani) “tipoes”, e redes. © mesmo autor menciona também “banquinhos de pau’, de um tipo parecido as apika gua- Os homens, disse Schmidel, “tém pendu- rado no ldbulo das orelhas um aro redon- do de madeita, e a orelha esté enrolada ou dobrada ao redor desse aro de madeira"; este é um dado importante, pois 6 possi- vel que vatias informagées das fontes so- bre os “Orejones” se refiram aos Xaray. Os homens também tinham um adorno labial, “uma larga pedra de cristal azul”. Os Xa- ray possufam objetos de metal (ouro e pra- ta) que conseguiam nas suas viagens até 0 este ou por meio de roca." Finalmente, os depoimentos so eloquen- tes em relagio a tatuagem de homens e mulheres: “os homens esto pintados da cor azul dos joelhos para cima. € seme- thante ao modo como se pintam calgas e blusas aqui fora, (Também) as mulheres estio pintadas de outra maneira linda: de azul, dos seios até as partes, muito bem fei- to. Um pintor aqui fora [na Europa] teria que se esforcar para pintar isso” (SCHMI- DEL, 2008 [1567], cap. 36). Mais tarde, 0 sacerdote que acompanhou Loma Porto- carrero escreve: Toda essa nago costuma se pintar dos pés & cabega de forma muito elegante, e trabalhado de forma diferente para os homens e para as "Z. CABEZA DEVACA, 194 [1555], cap. LIX: a citagio sobre os bordados das mantas 6 de Schmidel (2008 (15671, cap. 36) % SCHMIDEL, 2008 [15671, cap. 36. Isastate Comes ” RELACION GENERAL mulheres, fazem essas pinturas com muitos espinhos juntos, picando-se no local em que ird 0 trabalho, sangrando muito, e depois co- locam por cima sumo de tabaco e de outra erva que solta aquele negro ou azul [1 a pin- tura [nao] sai nunca por mais que a lavem, e, com isso, tém veste para toda a vida.!> Na época préhispanica, os Xaray eram pat= te ativa do comércio de metal (ouro e pra- ta) entre o ocidente e o oriente. Juntamen- te com os Gueno e os Ymore, entregavam metal a numerosos grupos do alto Paraguai os Xaquide, Xacota, Chanes, Quigoaraco- i, Yriacogi, Xabacoxi, Deycoxi, Turucoxi e Guarhagui (IRALA, 2008 [1543], p. 6) Conseguiam esse metal dos grupos “do interior’, vale dizer, do ocidente (NUNEZ CABEZA DEVACA, 1944 [1555], cap. LVI. Em 1544, os Xaray da aldela de Vretobare tinham placas de prata que conseguiram de “um principal que estava em umas serras [...] em certa guerra que Ihe havia travado” (RIBERA, 2008a [1544], p. 18). De fato, sa- bemos que os Xaray participaram de uma (umas) expedicao (expedigdes) alé 0 oeste em busca de metal, acompanhados por ou- tros grupos. Com Gaye ou Caye, chefe xaray que “juntou todas as pessoas da comarca”, partiram os homens de Bambaguasu e os Pitaguari (todos chiriguanaes), os Ortues e 0s Etone."” Apesar de os Xaray serem ini- migos dos Guarani “das montanhas” ao este," tinham, entéo, boas relagdes com outros grupos chiriguanaes: realmente, os Chiriguanaes de Bambaguasu costumavam se casar com mulheres xaray, e também co- nhecemos 0 caso de um itatim casado da mesma maneira."” ANUAAS96, 1954, p. 730, Ver também DIAZ DE GUZMAN (1835 [16121, p81 » 2008 [1560], p. 57-58. Ver também Aleaya (2011 T1636 NUNEZ CABEZA DEVACA, 1944 [1555], cap. LVI, LIX RELACION GENERAL... 2008 1560), p. 59; NUNEZ CABEZA DEVACA, 1944 [1555], cap. LX. Ese tatim da “Tleccién de Domingo Martinez de tala", 1544, ‘AGI Justicia 1131, publicado no apéndice de Actas ulaes-Asuncion (2001) 139 Os primeitos contatos indiretos dos Xaray com 5 europeus remetem a viagem de Garcia, ainda que, nessa ocasio, ao que parece, ape- nas tiveram noticias deles sem que os tenham encontrado diretamente. Cabeza de Vaca es- creve, como consequéncia, que 0 chefe Ca- mire “hé muito desejava ver 0s cristdos; e que, desde o tempo em que Garcia havia andado por aquelas terras tinha noticia deles”. A visita de 1543-1544 foi, assim, a primeira feita por alguns europeus entre os Xaray." Os Xaray receberam bem os espanhéis, ainda que tenham fingido no conhecer © caminho para 0 oeste, quando sabemos que, ao contrério, ja haviam feito expedi- es terra adentro,”" Em contrapartida, as relagSes so mais tensas com a expedi¢ao posterior (1557) de Nuflo de Chaves. O filho do conquistador contou, em 1588, que seu pai entrou “na provincia dos Jarie, indios belicosos de guerra, por serem con- quistados, e abriu e assegurou a passagem pelos caminhos daquela provincia”. Os Xaray foram conquistados e “pacificados” por Chaves nesse mesmo ano," Nao temos mais noticias até a expedicao de Hernando de Loma Portocarrero, em 1597. Nessa data, 0 general espanhol esta- beleceu o forte de Santa Catalina no povo de Yereroruni, e, como j4 se mencionou, muitos indigenas fugiram nessa ocasiao. Nos anos que se seguiram (1599-1600), os espanhéis mataram e fizeram cativos a um grande némero de Xaray, que preferiram fugir para o monte." ‘Ve NUNEZ CABEZA DEVACA, 1944 [1555], cap. LIX. Ak aya sustenta que Juan de Ayolas, em 1537, intemouse terra adentro a partir dos povos Xaray (2011 11636}; e559 informacio € errénea, pois todas as outras fontes indicam que Ayolas saiv de La Candelaria, rio abaixo «bastante longe do Pantanal, intemou-seno Chaco, RIBERA, 2008a [1544]; NUNIEZ CABEZA DE VACA, 3944 [1555], cap. LIX "8 RELACION DE LOS SERVICIOS DE NIUFLO DE CHA- VESY ALVARO DE CHAVES, 2008 [1588], p. 241 ' RELACION DE LOS CASOS..., 2008 [1561], p. 68; IN- FORMACION DE SERVICIOS DE NUFLO DE CHAVES, 2008. (15611, p. 77; INFORMACION DE SERVICIOS DE HERNANDO DE SALAZAR, 2008 [1563], p. 122 ™* LOMAS PORTOCARRERO, 2008 [1604], p. 279; PA 140 © destino dos Xaray foi selado no século XVIII, com sua incorporacio as miss6es je- sufticas de Chiquitos. Se aqui mencionamos esses acontecimentos que estdo fora do nos- so marco cronolégico, & porque, nessa épo- a, 08 Xaray também so chamados, € com mais frequéncia, Saraveca (sendo ca o plural chiquitano). Guevara menciona, por exem- plo, sem ambiguidade, “a nacio Xaraye ou Sarabe"."* E esse nome pode permitir uma identificagao da lingua dos Xaray “muito entrecortada e facil de aprender”, pois a lingua dos Saraveca 6 conhecida: tratava-se de um idioma arawak, mais préximo do Pa- reci que do Chané.""” Segundo Susnik, em pareci ka-a-hari, ka-hare significaria “gentio, povo", e esse termo poderia estar na origem do nome dos Xaray (1978, p. 28; 33). Os Perobazane Os Perobazan™ foram encontrados pri- meiro por Hernando de Ribera, em 1544, a 13 dias de viagem rio acima do Puerto de los Reyes, na margem oriental do rio Pa- raguai (RIBERA, 2008a [1544], p. 18). Ali, onde viviam, os rios Yayba e Yacareati jun- tavam-se e desembocavam no rio Paraguai DRE MARTINEZ apud CRONICA ANONIMA, 1944 [164 p. 505. > GUEVARA, 1836 [fins do século XVIII), p. 106. A rmudanga de “Xaraye” para “Sarabe" no € estranha: lembremos que 0 x espanhol quinhentista pronun- ciava-se, geralmente, “sh (suave). Costa e Silva, em luma revisio recente de documentos sobre os antigos Xaray, também insiste sobre a equivalencia Saraves calKaray 2008, p. 161-164). >* DIAZ DE GUZMAN, 1835 [1612], p. 16 © RIVET, Paul apud METRAUX (1942, p. 134; SUSNIK, 1978, p. 36; Fabre 2005) inclui 0 Saraveca eo Pareci nna mesma familia do grupo linguistic arawak °* Qutras grafias do nome sio: Barcacafe, Parabacan, Parebacan, Perabacan, Perabazan, Perebacan, Pere- ‘aan, Perobacan, Probagee e Xerebagan.A termina ‘Gobacan ou bazan & constante nas diierents grafias ddo nome, exceto na curiosa gratia de Probacees. A otar, bazan parece estar presente no nome de uma Aldeia perobazan mencionada em 1597: Vrebarasa- inay (ou Urebabarasanay, ou Unbarbacanay) Talvez se trate do mesmo "porto Parabazan’, também cha- mado Santiago, onde esteve Nutlo de Chaves, em 1558. "OREJONES” E XARAY NAS FONTES COLONIAIS, (RIBERA, 2008b [1545], p. 28-29). Pode- mos localizar, aproximadamente, o habi- tat dos Perobazan préximo da lagoa de La Gaiba. Suas aldeias estavam localizadas em meio as aldeias xaray; antes de chegar até eles, Ribera passou por duas “genera- ciones” xaray: um povo nao identificado, e outro chamado Gayca. Mais acima dos Pe- robazan, havia outras aldeias xaray: Guaya e Camire (RIBERA, 2008a [1544], p. 18). Que os Perobazan tenham constituido uma “generacién” xaray ndo 6 duvidoso. Ribera, em 1544, fala da sua aldeia como “a primeira generagao dos Xaray’, e, em outra carta, de “uns indios que se chamam Xarayes e Perobacanes";"” posteriormen- te, Cristébal de Samaniego menciona “o porto dos Perobacanaes, provincia dos Xabes [Xaray]”, e, em 1597, Lomas Porto- carrero escreve sem dar margem para am- biguidades: “o povo Parabazan chamado Vrebarasanay, Xaray”."*® Por outro lado, todas as descriges das aldeias perobaza- ne coincidem com a dos Xaray. Ambos os grupos sido “pessoas de grandes lavouras e comida”, “pessoas lavradoras e de muitas comidas’."* Em 1544, 0 primeiro povo perobazan encontrado por Ribera possufa 400 casas: “abundam de milho e mandio- ca, frutas e peixes [...] 6 gente lavradora” (2008a [1544], p. 18). Podemos supor que compartilhavam 0 idioma, provavelmente do grupo lingu‘stico arawak. O informe de Portocarrero, no final do século, descre- ve 0 povo Perobazan de Urebabarasanay, “nage Xaray”, como “separado dos de- mais povos Xaray, dividido deles por dito rio” (2008 [1604], p. 282). De fato, para Diaz de Guzmén, pouco mais tarde, os Perobazane eram “os Jarayes” do oriente, T RIBERA, 2008a 115441, p. 18; 1941 11545], p. 413 Depoimento de Crstébal de Samaniego. RELACION DE LOS SERVICIOS DE NUFLO DE CHAVES Y AL. VARO DE CHAVES, 2008 [1588], p. 245; LOMAS. PORTOCARRERO, 2008 [1604], p. 282. RELACION DE LOS CASOS..., 2008 [1561], p. 66; RESOLUCION DE LOS CASOS.... 2008 115611, p: no. Isastate Comes "= RELACION GENERAL “da parte de Xerés"; os “de Santa Cruz”, ou seja, a oeste do rio Paraguai, chamavam-se “Maneses”, do nome de seu chefe princi- pal, Manes; entretanto, “todos se denomi- nam Jarayes” (1835 [1612], p. 15-16, 81) A impressao ressaltada pelo relato de Diaz de Guzman 6 que os Xaray eram mais pode- ros0s que 0s Perobazan, jé que o chefe mé- ximo, Manes, era Xaray, e 0 nome dos Xaray aplicava-se a todos. Entretanto, essa percep- Gao talvez soja enganosa. Com efeito, ainda que, em 1597, a aldeia perobazan Uribarba- canay reconhecesse a autoridade do cacique principal do povo Xaray de Aucu, nao era a nica: outras aldeias notadamente e pura- mente “Xaray”, como Vacayucure, Bayuatari e Uticate, também reconheciam a autorida- de de Aucu. Os Perobazan tampouco eram “submetidos” aos Xaray; ou melhor, “tém as- sim submetidos” outros povos: Cubie, Tiyu, Curuguara, Guarichi e Yayna. Esses povos de “indios nativos’, pescadores, apenas se co- municavam com os Perobazane e as pessoas de Aucu (LOMAS PORTOCARRERO, 2008 11604}, p. 280, 285). Além disso, o nome do cacique da aldeia perobazan, em 1597, era Vratabare, 0 que sugere que essa aldeia era a mesma que a de Vretobare encontrada, em 1544, por Ribera (2008a [1544], p. 19). Em 1544, 0 chefe principal dos Xaray era Cami- re, pai deVretobare, que encontrou Nuflo de Chaves em 1557." Assim, Vretobare, mui- to provavelmente, pertencia & “generacién” dos Perobazane, e existe a possibilidade de que Camire também pertencesse. Fm outras palavras, ainda que, em 1597, 0 cacicado principal pareca estar nas maos dos Xaray “propriamente dito” (Manaci em Yereroruni, e Yaguare em Aucu}, confirmando, com isso, a versio de Diaz de Guzman, néo podemos afirmar que a situagio tenha sido a mesma em anos anteriores. Em 1597, a aldeia perobazan Uribarbaca- nay estava dividida em “trés bairros ou pra- as", que correspondem, provavelmente, a cada um de seus trés caciques: Vratabare, 2008 11560}, p. 57. 141 Guare (ou Yaguare) e Chiechiriba. A aldeia tinha 155 casas, descritas como “galpoes redondos” como os dos Xaray, e 320 “in- dios casados sem seu bando”, ou seja, sem contar as mulheres nem as criangas (LO- MAS PORTOCARRERO, 2008 [1604], p. 280, 282) Povos “submetidos” aos Xaray e aos Perobazane Parienes (Arienes) Em 1597, Hernando de Lomas Portocar= rero menciona os Parienes (2008 [1604]). Em seu informe escreve sempre Parienes, e uma Gnica vez Arienes. Ainda que isolada, essa grafia pode autorizar um paralelo entre os Arienes/Parienes e outros nomes citados nos anos anteriores pelos primeiros exploradores: 0 Arrianicosi e os Arencoci. A equivaléncia entre Arienes e Arrianicosi também foi suge- rida por Susnik (1978, p. 24-25). € preciso dar- se conta de que Lomas Portocarrero uti- liza “Arienes” ou “Parienes” tanto no singular (‘a nacdo Arienes”) como no plural; conserva- remos essa grafia, pois nesse caso o “s” final nao é necessariamente o plural espanhol. Os Arienes/Parienes de 1597 viviam com 0s Xaray, a quem estavam submetidos. Sabe- mos que suas casas eram diferentes das dos Xaray, eram “casas pequenas” e nao “galpdes redondos” (LOMAS PORTOCARRERO, 2008 [1604], p. 284), e podemos supor - e apenas sopor ~ que no eram Xaray. Asaldeias arienes/parienes citadas por Lomas Portocarrero so duas: a primeira é Coteyuguare- na, com um s6 chefe chamado Ybiyhueya. Esse povo tem 11 casas pequenas € um total de 30 indios casados “sem o bando". A outra aleia é Careguareguacana, com o cacique Ybiyho, tam- bém com 11 casas pequenas e 34 indios casa- dos sem contar as mulheres e as criangas. Am- bas as aldeias eram submetidas a0 povo xaray de Yereroruni e a seu cacique principal Manaci. 142 Devemos notar aqui um dado importan- te: dentre os povos submetidos aos Xaray, 0 informe de Lomas Portocarrero diferencia, por um lado, os Ortues, Arienes/Parienes Cayguarare e, por outro lado, as “pessoas de canoas” (Cubie, Tiyu e outros). E possi- vel que os primeiros tenham sido agricul- tores como os Xaray, € os demais apenas pescadores e cagadores, com muito pou- ca agricultura. Por esse mesmo motivo, é possivel que os Arrianicosi de Cabeza de Vaca" sejam os Arienes, pois é sabido que tinham viveres em abundancia, ainda que tenham se negado a da-los aos espanhdis (NUNEZ CABEZA DE VACA, 1944 [1555], cap. LXVIID; da mesma forma, os Arencocie de Chaves eram “pessoas de grandes lavou- ras e comida”. Nas primeiras décadas do século XVII, © jesufta Fernandez mencionou os Arianes, indfgenas do Pantanal, & margem do rio Pa- raguai (FERNANDEZ, 1726, p. 161). Trata-se, provavelmente, do mesmo grupo. Ortues (Hortugues, Orthuessen, Ortugues, Tortugues) Em 1544, os Ortues viviam ao norte da aldeia xaray de Camire, & margem oeste do rio Paraguai.'** Em 1557, os homens de Nuflo de Chaves os encontraram a noroes- te dos Xaray.“© Em 1597, as aldeias ortues estavam localizadas préximas das dos Xaray, Cayguarare e Arienes/Parienes, sem maiores indicagées (LOMAS PORTOCARRERO, 2008 NUNEZ CABEZA DEVACA, 1944 (15551, cap, LXV XVII Ese gropo vvia nove lguas montane de Puerto de los Reyes, sobre wina grande lagoa, e ne- goursea dar mantimentos aos espanhdl,ajudado em Sua desobediencia pelos Cusxarapo © Cuat6 da Jur Sante, Os Aianicoi eram agricutores (por iso dis punham de mantimentos que poderiam ter sovido para os espanhais “ RELACION DE LOS CASOS..., 2008 [1560], p. 66 “RIBERA, 2008a (1544), p. 18, 2008b [1545], p. 29; SCHMIDEL, 2008 (13671, cap. 37. “ RESOLUCION DE LOS CASOS..., 2008 [1561], p. 110; INFORMACION DE SERVICIOS DE HERNAN: DO DE SALAZAR, 2008 [1563], p. 122 "OREJONES” E XARAY NAS FONTES COLONIAIS, [1604)). Em sua segunda relacio, Hernando de Ribera fala desses “povos dos Ortueses e Aburune” (2008b [1545], p. 29); esta 6a Gni- ca mengao que conhego sobre os Aburune. £ possivel que tenham sido vizinhos dos Or- tues, ou de uma parcialidad deles, Ribera diz que os Ortues eram “lavrado- res & maneira dos Xarayes” (2008b [1545], p. 29); 0 dado é insuficiente para determinar se 0s Ortuese eram ou nao Xaray. Suas ca- sas, “grandes e pequenas” ou “médias” sio diferentes dos “galpdes redondos” dos Xaray (LOMAS PORTOCARRERO, 2008 [1604], p. 284-285). Sabemos que eram agricultores —"tém grandes rogas e terras para elas” (RIBE- RA, 2008a [1544], p. 19) - e que possufam objetos de ouro e prata (SCHMIDEL, 2008 [1567], cap. 37); de fato, antes da chegada dos espanhéis, os Ortues acompanharam o chefe Gaye dos Xaray “a pedido de Candire”, juntamente com os Etone ou Onte."*” Entre a primeira visita de 1544 ea de 1597, 0 dados sobre os povos Ortuese mudam es- tranhamente. Em 1544, Schmidel indica que sua aldeia tinha uma praca central onde es- tava localizada a casa do chefe, e acrescen- ta: “os indios eram muitissimos, em todas as Indias por onde estive nao vi mais indios em nenhuma localidade, nem uma localidade maior que esta localidade dos Ortueses, isso que andei por muitfssimas partes” (2008 (15671, cap. 37). Entretanto, em 1597, a situ- agio parece diferente. So 0s dois povos Or tuguese 0s mencionados nesse ano: Hubuu e Atuebaya. Atuebaya apenas tinha quatro cae sas médias, com 20 “indios sem seu bando"; Hubuu era um pouco maior: 16 casas “entre grandes e pequenas”, com 45 indios casa- dos sem contar as mulheres nem as criancas (LOMAS PORTOCARRERO, 2008 [1604], p. 284-285). Cada um desses povos tinha um s6 cacique: Vbari em Atuebaya, e Guayture em Hubuu. Em todo caso, esses dados mostram uma imagem bastante diferente daquela pin- tada por Schmidel. Em 1597 (ndo temos in- formacio sobre o tema nos anos anteriores), TW RETAGION GENERAL... 2008 115601, p. 58 Isastate Comes ‘05 Ortues eram submetidos aos Xaray, mais precisamente ao povo de Yereroruni ea seu cacique principal Managi (LOMAS PORTO- CARRERO, 2008 [1604], p. 280). Sua atitude com os conquistadores é a mesma que a dos Xaray: receberam amigavelmente a Hernando de Ribera, em 1544, mas, ao que tudo indica, mudaram de atitude com os homens de Nuflo de Chaves," em 1557. Em 1597, foram clas- sificados juntamente com os povos Xaray da regido por Hernando de Lomas Portocarrero. Cayguarare Os Cayguarare so mencionados em 1597 no Pantanal, junto aos Xaray e os demais sub- metidos Ortueses e Arienes/Parienes. Os Cay- guarare, ou ao menos duas pequenas aldeias suas, eram submetidos a0 povo Xaray de Ye- reroruni e a seu cacique Manaci. Essas aldeias ‘ram Yaburuna, com “oito casas em que havia 30 indios casados, sem seu bando”; seu caci- que era Yaguare; ¢ Yupuguara (ou Uipiguara), cujo chefe era Cayaguare (ou Guare). € possi vel que 0 nome dado ao grupo pelos espanhéis provenha do nome desse chefe. Yupuguara ti- nha “seis casas pequenas em que viviam 20 {indios casados sem seu bando” (LOMAS POR- TOCARRERO, 2008 [1604], p. 260; 284), Nao sabemos que idioma os Cayguarare falavam. Suas pequenas casas eram diferentes dos grandes galpdes xaray; entretanto, & pre- ciso notar que Yaguare, nome de um cacique cayguarare, era também o nome de um chefe xaray, e que Guare, outra versio de Cayagua- re, também era um chefe perobazan. Cubie, Tiyu, Curuguara, Guarichi e Yayna © informe de Lomas Portocarrero, de 1597, fala primeiro da aldeia xaray de Aucu, Para 1544, ver RIBERA, 2008a, 2008; SCHMIDEL, 2008 [1567], cap, 37; para 1557, ver RELACION DE LOS CASOS..., 2008 [1561], p. 68; RESOLUCION DE LOS CASOS..., 2008 [1561], p. 110; INFORMA GION DE SERVICIOS DE HERNANDO DE SALA- ZAR, 2008 [1563], p. 122. 143 com seu cacique principal Yaguare e outros menores; em seguida, menciona a outros trés povos Xaray: Vacayucure, Bayuatari e Uticate, assim como 0 povo Perobazan de Uribarbaca- nay, € comenta: “todos os povos Xarayes tém, assim, submetidos aos seguintes povos, que sio: 0 povo Cubie, cacique Mayere; © povo dos Tiyue; ¢ 0 povo Curuguara; e 0 povo Gua- richi; e povo Yayna; tém submetidos, como dito, a0 povo Aucu e ao cacique principal Yaguare"; mais adiante, no mesmo informe, acrescenta: “na mesma comarca dessa pro- vincia dos Xarayees, esto os seguintes povos de indios nativos: 0 povo Cubie, 0 povo Tiyu, © povo Curuguara, © povo Guarichi, 0 povo Yayna. Os quais so todos de pessoas cano- elras, e que esto povoadas em lagoas e pan- tanos e esteiros e lugares escondidos e inabi- tévels, € no se comunicam com as demais nagdes, exceto com os indios perabazanes e aucues, a quem reconhecem, e as comunica- Bes so pelo rio”. © espanhol nao classificou esses povos, “por serem poucos e estarem dis- persos na presente ocasido” (LOMAS PORTO- CARRERO, 2008 [1604], p. 280; 285). Essas so as Gnicas informagdes que en- contramos sobre esses povos. Nao sio sufi- cientes para saber se devemos utilizar a pala- vra espanhola “pueblo” no sentido de “aldeia (povoado) ” ou de "grupo étnico (povo) ”. “Cubie’, “Tiyu” e demais poderiam tanto ser © nome de diferentes aldeias, como grupos diferentes. Todos parecem ser pescadores, acima de tudo, e diferenciam-se, assim, dos demais povos submetidos aos Xaray. Os “Cupies” ou “Cubies” seguem sendo mencionados até o século XVIII. Viviam, em 1703, no Pantanal, do lado esquerdo do rio Paraguai.'** Integrados as misses de Chiqui- tos, “os Cupies desapareceram como etnia no final do periodo das redugdes, assimilando- -se, provavelmente, aos Xaray. Jé em 1746, constitufam a menor etnia de San Rafael, re- presentando apenas a 2,7% da populacio” (TOMICHA, 2002, p. 265). Em relagdo aos 16 PADRE JIMENEZ, 1703, apud TOMICHA, 2002, p. 259; FERNANDEZ, 1726, p. 162. 144 Curuguara, talvez sejam os mesmos mencio- nados no inicio do século XVIII pelo jesuita de Chiquitos, Juan Patricio Fernandez, sob 0 nome de “Curuaras”; viviam no Pantanal, na margem esquerda do rio, com os “Cubies’ (FERNANDEZ, 1726, p. 162). Outros povos Os documentos mencionam outros povos do Pantanal, sem que saibamos suas relacdes com os Xaray. Sao: Os Araurique, rio acima dos Ortues. Seu povo tinha entre 80 € 100 casas grandes, eram agricultores. Receberam amigavelmente a expediczio de Hernando de Ribera (RIBERA, 2008a [1544], p. 19). Os Guacaranique, habitantes da aldeia de mesmo nome, rio acima dos Araurique, “em 16 graus menos um terco”. Tinham “grande quantidade de rogas de milho e mandioca’, € seus habitantes receberam bem os espa- nhéis de Hernando de Ribera (RIBERA, 2008a 115441, p. 19), Os Guarencogi, Durante a viagem de ex- ploragao de Irala, em 1543, 300 léguas ao norte de Assungio, Chaves “descobriu os Orejones, Arencocies e os Guarencocies e Guaxarapos, Xerebacanes, Xaries, pessoas de grandes lavouras e comida”."*® Nao encontra- mos mais informacao sobre os Guarencogi; a pesar da semelhanga do nome, nao pare- cem ser os mesmos que os Arencoci, pois so mencionados juntos. Os Guayoyaes. Esse grupo é mencionado por Hernando de Ribera no relato de sua ex- pedig’o aos Xaray. Os Guayoyaes viviam a montante dos Xaray e dos Guacaranique. Se- ‘gundo o principal dos Ortueses, os Guayoyae teriam matado, antes da chegada dos espa- nhdis de Assungao na regiao, alguns cristios; talvez se trate de uma alusio a morte de Alejo Garcia (RIBERA, 2008a [1544], p. 19). Os Yacaré (Achere), Artaneses e Eyocare. Os Yacaré foram encontrados pela expedicao = RELACION DE LOS CASOS..., 2008 11561), p. 66, "OREJONES” E XARAY NAS FONTES COLONIAIS, de Hernando de Ribera aos Xaray, em 1543 Viviam a montante dos Surucusi, a 36 léguas, provavelmente préximo do rio Yacareati cita- do pelo mesmo Ribera (2008b (15451, p. 27). Fram cagadores e pescadores, e muito nume- rosos. Schmidel os descreveu como homens e mulheres muito altos, como nao viu a nin- guém em todo o rio de La Plata; as mulheres “trazem cobertas suas partes com um pano de algodao”. Os Yacaré tiveram boas rela- Bes com os expedicionarios de Hernando de Ribera e thes mostraram 0 caminho até 0s Xaray. Segundo Schmidel, 0 grupo leva- va esse nome porque “a quantidade maior” de jacaré estava em sua regiao (2008 15671, cap. 35); em todo caso, eram chamados as- sim por falantes de guarani. € possivel que 0s Yacaré sejam os Eyocare de Hernando de Ribera, descritos como um povo de pesca- dores que vivia rio abaixo dos Perobazane, & margem oriental do rio Paraguai. Receberam amigavelmente a expedicao de Hernando de Ribera, em 1544 (RIBERA, 2008a [1544], p. 18). Também & possvel que os Yacaré sejam (os mesmos Artaneses mencionados uma Gni- ca vez nos Comentarios de Cabeza de Vaca. O texto diz: “E uma gente crescida de corpo e andam desnudos, em coro; so lavradores semeiam muito pouco, pois alcancam pou- ca terra que seja boa para semear, porque a maior parte é arenal inundavel muito seca; so pobres e se mantém a maior parte do ano com as pescarias das lagoas que tém préximo de seus povos; as mulheres desses indios sio feias de rosto, porque o arrankam e fazem muitos riscos nele com os espinhos da raia, que para isso possuem, e trazem co- bertas suas vergonhas; esses indios s40 muito feios de rosto porque furam o lébio e nele colocam uma casca de fruta de umas rvo- res; que 6 tio grande e redonda como ums grande rodela que pesa e faz alargar tanto © lébio que parece uma coisa muito feia” (NUNEZ CABEZA DE VACA, 1944 [1555], cap. LIX), Nao conhecemos nem seu idio- ma, nem nada mais de sua cultura. Susnik localiza-os ao norte da lagoa Ureraba (1978, Isastate Comes p. 21), Pela localizacao aproximada (ao nor te de Puerto de los Reyes) e a descricdo de gente muito alta, os Arteneses poderiam ser ‘0s mesmos Yacaré de Schmidel. Palavras finais: o fim dos Xaray Em meados do século XVIII, a “lagoa dos Xarayes” dé lugar ao “Pantanal”; o mitico pats inundado toma lugar em uma geografia cien- tifica, que deixa pouco espaco para as qui- meras de outros tempos. Na mesma época, debsaparece da documentagio a maior parte dos tantos povos encontrados na regio pelos primeiros conquistadores. © que aconteceu com os Xaray? © que aconteceu com seus vizinhos? J4 no final do século XVI, quando Lomas Portocarrero en- trou no Pantanal, muitos fugiram, e também muitos outros morreram. Muito pouco se sabe do que pode ter acontecido nas décadas que se seguiram. Em 1703, o padre Bartolomé Xi- ménez escreve que “os Harayes” so “nagao humerosa com um pequeno rei que domina ultras nagdes", mas se refere, com toda evi- déncia, a0 que aprendeu de seus antecesso- res: pois o mesmo padre confirma, um ano de- pois, que os Xaray “esto quase destrufdos, os Portugueses levaram ao seu senhor (...] 05 ma- malucos [sic] tém a essa nagao destrufda”."* Em 1754, 0 jesufta José Quitoga indicou que 10 portugueses que navegavam pelo Pantanal costumavam avistar alguns indios, ainda que poucos. E acrescentava: “Nao se sabe de que nacio so. Poderiam ser algumas reliquias dos Xarayes";" jé falamos, também, sobre a mengao feita por Guevara, em fins do mesmo século, a “nagio Xaray ou Sarabe”” Muitos dos povos do Pantanal foram in- corporados 3s misses jesuiticas de Chiqui- tos, como mostra Roberto Tomichd neste mesmo volume; entretanto, & extremamente dificil seguir seus rastros - os jesuitas deno- TTRIMENEZ, B.apad TOMICHA, 2002, p, 258, n. 80 259, 63, * QUIROGA, 1836 117541, p. 8 145, minavam-nos, frequentemente, por outros Atualmente, os Xaray e seus vizinhos desa- nomes que aqueles empregados no século —_pareceram como povos, mas seguem fazen- XVI. Outros indigenas sofreram nas minas de do parte da histéria de ao menos trés paises ouro mato-grossenses. Outros simplesmente __latino-americanos (Brasil, Paraguai e Boli- morreram, ou fugiram, ou se miscigenaram. vial, e, como tal, merecem ser lembrados. 146 "OREJONES” E XARAY NAS FONTES COLONIAIS,

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