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SOCIOLÓGICOS E
ANTROPOLÓGICOS
DA EDUCAÇÃO
GRADUAÇÃO
Unicesumar
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor Executivo de EAD
William Victor Kendrick de Matos Silva
Pró-Reitor de Ensino de EAD
Janes Fidélis Tomelin
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
Impresso por:
Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos
com princípios éticos e profissionalismo, não so-
mente para oferecer uma educação de qualidade,
mas, acima de tudo, para gerar uma conversão in-
tegral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos
em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional e
espiritual.
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos
de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de
100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil:
nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba,
Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos
EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e
pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros
e distribuímos mais de 500 mil exemplares por
ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma
instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos
consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos
educacionais do Brasil.
A rapidez do mundo moderno exige dos educa-
dores soluções inteligentes para as necessidades
de todos. Para continuar relevante, a instituição
de educação precisa ter pelo menos três virtudes:
inovação, coragem e compromisso com a quali-
dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de
Engenharia, metodologias ativas, as quais visam
reunir o melhor do ensino presencial e a distância.
Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é
promover a educação de qualidade nas diferentes
áreas do conhecimento, formando profissionais
cidadãos que contribuam para o desenvolvimento
de uma sociedade justa e solidária.
Vamos juntos!
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está
iniciando um processo de transformação, pois quando
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou
profissional, nos transformamos e, consequentemente,
transformamos também a sociedade na qual estamos
inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu-
nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de
alcançar um nível de desenvolvimento compatível com
os desafios que surgem no mundo contemporâneo.
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica
e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con-
tribuindo no processo educacional, complementando
sua formação profissional, desenvolvendo competên-
cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em
situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado
de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal
objetivo “provocar uma aproximação entre você e o
conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento
da autonomia em busca dos conhecimentos necessá-
rios para a sua formação pessoal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de cresci-
mento e construção do conhecimento deve ser apenas
geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos
que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita.
Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu
Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns
e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das dis-
cussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe
de professores e tutores que se encontra disponível para
sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de
aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui-
lidade e segurança sua trajetória acadêmica.
AUTORES
Link: <http://lattes.cnpq.br/1936893341910908>.
Link: <http://lattes.cnpq.br/3020130108890878>.
APRESENTAÇÃO
FUNDAMENTOS SOCIOLÓGICOS E
ANTROPOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO
SEJA BEM-VINDO(A)!
Caro(a) aluno(a), este livro didático da disciplina “Fundamentos Sociológicos e Antropo-
lógicos da Educação” tem por objetivo geral fornecer subsídios para responder à seguin-
te questão: qual é o papel e a importância de estudarmos a Sociologia e Antropologia
em um curso de licenciatura.
Tal pergunta surge como uma espécie de guia que irá balizar os temas e conteúdos aqui
apresentados. Mais do que fazer uma defesa da relevância desses conhecimentos, o li-
vro pretende aguçar a sua consciência crítica, dialogando com questões fundamentais
para a compreensão do convívio do homem em sociedade e na sociedade, além das
interfaces assumidas pelo sujeito em relação à cultura e ao comportamento em nosso
meio social.
Imagine que em uma rua, ao ser visualizada pela televisão, existem várias pessoas cami-
nhando. Ao observarmos atentamente, cada uma tem uma expressão facial diferente:
algumas estão serenas, outras preocupadas, outras sorrindo. Os pensamentos também
são os mais diversos: o retorno do trabalho para casa, a ida até a universidade, o cuidado
com os filhos quando chegar em casa e o encontro marcado com seu amor.
Observe que os indivíduos possuem suas particularidades e peculiaridades. Quando
essas características individuais são confrontadas com ideias distintas (que não são as
nossas), normalmente há um embate de argumentos. É assim que começa a disputa
pelas posições sociais existentes em nossa sociedade.
Neste exercício de visualização das disputas em sociedade, é possível refletir como cada
indivíduo possui um papel diferente, uma importância distinta em nossa sociedade. De-
ve-se atentar também para o fato de que esse universo social exige que esses papéis
sejam cumpridos. Dessa forma, na falta daquele que exerce determinada função social,
esta ficará desprovida.
Além das disputas individuais em sociedade, os embates pela aceitação da sociedade de
cada indivíduo também é intensa. A partir dessa “disputa” entre a visão do homem e seu
comportamento em sociedade é que surgiram duas áreas de conhecimento que serão
exploradas neste livro: a Sociologia e a Antropologia.
Como pano de fundo — e com importância relevante —, a educação é o primeiro ce-
nário em que aprimoramos nosso convívio social, aprendendo cotidianamente como
dividir os espaços, respeitar os direitos e constituir nosso papel de cidadania. Na escola,
desde os anos iniciais, compreendemos a importância e os entraves da vida em socieda-
de, conhecendo, às vezes a duras penas, que nossas vontades nem sempre serão aceitas.
Por outro lado, a gratificante construção de um trabalho em grupo nos faz crer que a
vida em/na sociedade ainda é a melhor saída para somar nossos esforços, subtrair as
dificuldades, dividir os problemas e multiplicar o sucesso do trabalho em grupo.
Neste panorama, a Unidade I abordará o processo histórico de formação da Sociologia
enquanto disciplina, sendo as revoluções Industrial e Francesa as principais alterações so-
ciais que contribuíram para a reflexão sobre a necessidade dessa área de conhecimento.
APRESENTAÇÃO
UNIDADE I
15 Introdução
38 Considerações Finais
45 Referências
46 Gabarito
UNIDADE II
SOCIOLOGIA CLÁSSICA I
49 Introdução
54 Auguste Comte
75 Considerações Finais
81 Referências
82 Gabarito
10
SUMÁRIO
UNIDADE III
SOCIOLOGIA CLÁSSICA II
85 Introdução
114 Referências
115 Gabarito
UNIDADE IV
119 Introdução
145 Referências
146 Gabarito
11
SUMÁRIO
UNIDADE V
149 Introdução
174 Referências
175 Gabarito
176 CONCLUSÃO
Professor Dr. Tiago Valenciano
Professor Me. Gilson Costa de Aguiar
SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA:
I
UNIDADE
COMPREENDENDO NOSSA
SOCIEDADE
Objetivos de Aprendizagem
■■ Conhecer o processo de formação da sociedade atual e as condições
nas quais ela se desenvolveu.
■■ Estudar e analisar o processo histórico de constituição da Sociologia
e da Antropologia enquanto saberes científicos.
■■ Sinalizar a importância da Sociologia e da Antropologia na formação
docente.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ O estudo das ciências sociais enquanto forma de conhecimento
científico
■■ O ambiente para a formação da Sociologia
■■ O espaço de surgimento da Antropologia: o que é essa ciência?
15
INTRODUÇÃO
Caro(a) aluno(a), você já parou para pensar sobre a quantidade de pessoas que
vivem em sua cidade? Já refletiu, ainda, sobre a diferença de ideias, estilo de vida
e preferências que cada uma tem? Já analisou que essas pessoas estão permanen-
temente pensando em algum assunto? Essas e outras perguntas serão debatidas
nesta unidade, que tem como objetivo demonstrar e analisar o processo de for-
mação de nossa sociedade atual a partir de uma visão muito particular: a das
Ciências Sociais.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Introdução
16 UNIDADE I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O ESTUDO DAS CIÊNCIAS SOCIAIS ENQUANTO
FORMA DE CONHECIMENTO CIENTÍFICO
dade seja formada e moldada de acordo com o interesse de cada ser que a integra.
Nota-se, ainda, que a sociedade é dinâmica, que se inventa e reinventa a cada
novo produto, nova moda, nova forma de aprendizado e de trabalho ou, ainda,
a cada novo século. Por esse caráter — de permanente mudança social constru-
ída diariamente — é que o paradoxo se estabelece: ao passo que a ciência é fixa,
com sua metodologia bem delimitada e que busca um “padrão” de comporta-
mento e atitude para que se obtenha um resultado, a sociedade se move, sendo
construída diariamente por todos nós. Portanto, fica o questionamento: como
se podem tirar leis gerais a partir do conhecimento científico para a compreen-
são da sociedade?
Esse é o desafio das Ciências Sociais desde sua gênese: explicar, a partir de
mecanismos científicos, o comportamento da sociedade, que se move constan-
temente em busca de uma realidade diferente daquela que nós vivenciamos.
Talvez por esse estilo peculiar é que o conteúdo aprendido seja tão abstrato e tão
difícil de ser medido e tocado. Nosso esforço está em demonstrar como as ciên-
cias sociais se tornaram um importante e necessário instrumento para a análise
deste “mundo de maluco” em que vivemos, que clama a cada nova descoberta
por uma análise apurada de nossa realidade social.
Costumamos argumentar que as Ciências Sociais anseiam pelo conflito e
pelo debate. De fato: sem os problemas entre as relações humanas seria muito
difícil imaginar como o cientista social teria seu objeto de estudo, isto é, a socie-
dade, caracterizada pelas disputas sociais existentes. Desta forma, reafirmamos
o ponto de largada da trajetória de formação dessa área: o conflito entre os seres
humanos. Não tratamos aqui das brigas entre vizinhos e familiares ou as que
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
será que as Ciências Sociais irão colaborar com a formação acadêmica? São essas
as perguntas que pretendemos responder neste tópico.
Nossa jornada inicia na Grécia Antiga em 500 a.C., quando a sociedade se
diferenciava das demais por um motivo: foi a primeira vez que se tentou orga-
nizar uma corrente de pensamento sobre a vida humana em sociedade. Pelo
desenvolvimento típico da Democracia e do contato com diferentes culturas, os
gregos puderam não depender necessariamente da Igreja e do Estado — deten-
tores do poder político, econômico e ideológico daquele período — para pensar
sobre a natureza dos homens e da sociedade.
Prova desse argumento são as ideias de Platão e Aristóteles sobre a melhor
forma de organizar a política em sociedade, que ganharam força e vigor na Grécia
Antiga e até hoje balizam discussões sobre a política. Cada qual à sua maneira,
ambos proporcionaram o pioneirismo da Grécia, que recebeu o título distintivo
de “berço da civilização ocidental”, pela forma “evoluída” que sua população se
comportava.
Apesar dos avanços proporcionados pelos gregos, a primeira universidade só
surgiu no século XII, com a consolidação dos intelectuais no mundo acadêmico
após a ruptura do comando da Igreja sobre a educação. Neste hiato, as produ-
ções isoladas refletiam o comando da Igreja sobre a condição individual e social
de pesquisa, o que não contribuiu para o progresso das Ciências Humanas. A
instituição das universidades delimitou, de alguma forma, uma separação entre
o mundo “exterior” (a sociedade em si) e o mundo “interior” (as instituições de
ensino), o que levava novamente à reflexão sobre a importância da discussão da
vida em sociedade.
Observamos que, apesar das universidades terem surgido como espaço para a
transmissão do conhecimento, precisavam dialogar mais com a comunidade, uma
crítica que permanece até os dias de hoje. O papel, portanto, das Ciências Sociais
neste contexto é estabelecer a conexão entre o acadêmico e o popular, entre a
erudição do conhecimento e a praticidade das pessoas, entre a teoria e a prática.
Somente após o Renascimento é que as Ciências Sociais começaram a assu-
mir seu espaço de atuação. Contudo, convém ressaltar que o período conhecido
como Renascença (que ocorreu entre o fim do século XIV e início do XVII) teve
grande relevância para compreender o campo de trabalho de um cientista social.
Tal argumento se baseia nas transformações econômicas, políticas e sociais do
período, com fenômenos que alteraram as estruturas da sociedade desde então.
Além da valorização de elementos da Antiguidade Clássica (por isso o nome
“Renascimento”), citamos a transição do modo de produção feudal para o capi-
talista como chave para o entendimento das cisões ocasionadas pelo turbilhão
de transformações sociais.
A ruptura cultural ocasionada a partir do Renascimento e do fim da sociedade
medieval na Europa oportunizou que o homem (pautado pelo antropocentrismo)
passasse a figurar como centro das preocupações de pesquisas acadêmicas, dis-
cussões filosóficas e da sociedade em si. O foco direcionado para o homem
enquanto “centro do universo” abriu espaço para o protagonismo das Ciências
Sociais, que são basicamente um produto das transformações ocorridas no perí-
odo entre e a Revolução Industrial e a Revolução Francesa (principalmente após
esses períodos), conforme trataremos a seguir.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Um processo de estranhamento, isto é, de olhar o outro de forma diferente para
conhecer melhor a si mesmo, obteve sucesso na relação da Antropologia com as
demais ciências. Paralelo a isso, a Antropologia dialogou com a Medicina, bus-
cando explicações biológicas para a existência de um outro não europeu.
Outra vertente de atuação da Antropologia é a chamada Antropologia Cultural
ou Histórica, que tem por objetivo estudar os padrões de cultura de determi-
nados grupos sociais ou de sociedades específicas, a fim de compreender como
essas comunidades estão organizadas, quais são seus costumes, sua organiza-
ção interna, seu relacionamento com outras sociedades, entre outros aspectos.
Após essa divisão de áreas de atuação entre o antropólogo de campo (que
trabalhava em conjunto com pesquisas na seara da Biologia e da Medicina) e o
antropólogo histórico-cultural, a Antropologia passou a ter de forma evidente seu
objeto de pesquisa, consolidado na segunda metade do século XIX: o homem e
seu duplo relacionamento, com seu eu interior e com o mundo exterior, ou seja,
a sociedade propriamente dita.
Em segundo lugar, destacamos a Sociologia como ciência que se estabeleceu
no campo das Ciências Sociais. Por seu caráter mais generalista, as raízes para
seu estabelecimento são as mais diversas: inspirou-se na História, na Filosofia, na
Política, na Economia, na Antropologia, na Psicologia, entre outras. Abrangente
em relação aos objetos de pesquisa, a Sociologia pode ser considerada como a
mãe de todas as Ciências Sociais.
Produto indireto das Revoluções Burguesas, a Sociologia tem como foco o
estudo da sociedade e das diversas implicações que essa relação pode estabele-
cer. Ela nasce “da constatação de que a ordem social moderna desorganizou as
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Você se lembra de que, no início deste tópico, foi visto que a ciência busca
um padrão de comportamento que a sociedade, às vezes, não pode oferecer por
seu dinamismo próprio? Após nossos últimos apontamentos, esse paradoxo ficou
mais fácil de ser enxergado. Isso porque as Ciências Sociais não são exatas, mas
são múltiplas e dependem de diversos ingredientes para que haja um produto
final, uma conclusão de determinado fenômeno social.
É assim, caro(a) aluno(a), que as Ciências Sociais justificam sua presença
neste livro sobre os fundamentos sociológicos e antropológicos da Educação:
não é possível educar sem conhecer a diversidade de aspectos que formam a
sociedade em que vivemos. É muito difícil educar e transmitir o conhecimento
somente a partir da sua própria realidade, sem considerar que o processo de
formação educacional está em constante movimento e em constante mudança.
Quer uma prova desse argumento? Basta olharmos para a trajetória da edu-
cação brasileira nos últimos anos. Saímos de uma educação rígida, em que as
carteiras da sala de aula eram enfileiradas; em que os alunos, na maioria das
vezes, não tinham a palavra durante as aulas; em que o professor era a auto-
ridade absoluta e em que o giz e o apagador faziam sucesso. Hoje, a educação
mudou. Os alunos aprendem, muitas vezes, em grupos, nos quais o diálogo e a
troca de conhecimento vale muito mais do que diversas aulas. O professor, ao
mesmo tempo que transmite o conhecimento, recebe-o dos alunos. Além disso,
o ensino a distância se tornou uma realidade possível e praticável para quem não
pode estar fisicamente presente em uma carteira escolar.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O AMBIENTE PARA A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA
uma prioridade. Buscar uma ação para sua transformação será o objeto de pre-
ocupação das forças políticas e também dos cientistas.
O crescimento urbano desse período pode ser medido pela vida em Londres,
a primeira grande cidade industrial do mundo, no centro de uma economia que
já foi por quatro séculos a maior do mundo, a inglesa. Londres praticamente tri-
plicou a sua população entre os séculos XVIII e XIX. A massa populacional que
passou a migrar para a cidade, com o chamado êxodo rural, fez crescer uma
cidade desconexa e desordenada.
Os operários se concentraram em torno das fábricas ou em cortiços. Sem vias
planejadas, as cidades estavam com problemas de ocupação. As moradias eram
mal ventiladas, muitas delas tinham apenas um cômodo, onde ficava toda família,
faltava saneamento e todos estavam expostos a um ambiente úmido e insalubre
que provocava doenças, como tifo, cólera, varíola e escarlatina. Essas epidemias
passaram a preocupar o Estado. A busca de um saneamento básico levará, entre
outras atitudes, a promover o zoneamento urbano e as políticas de saúde pública.
A desigualdade de condições ficou expressa também na vida das classes mais
abastadas, que tinham acesso aos benefícios dos produtos que a economia mun-
dial permitia. A elite londrina, por exemplo, consumia produtos de luxo vindos
das mais diversas partes e, também, aqueles que eram produzidos na indústria
do seu país. As classes populares, em sua grande maioria formada de operários,
não tinham acesso a esses bens.
Outros problemas também surgiram com a formação dos núcleos urba-
nos industriais, com a concentração populacional. O alcoolismo, o crescimento
dos homicídios, os latrocínios e a prostituição são alguns deles. Até mesmo os
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identificação. A economia capitalista fez emergir as relações centradas na racio-
nalidade e na busca de orientar a convivência social pela produtividade. A vida
passou a valer na proporção em que gerava a riqueza e na lógica de mercado.
Dentro dessa lógica do mercado de trabalho, a quantidade de seres huma-
nos disponíveis para trabalhar nas fábricas apresentava uma qualificação básica.
A empresa capitalista estava, ainda, dando os seus primeiros passos nos sécu-
los XVIII e XIX, estando longe de uma complexa rede de produção com setores
específicos em um alto grau de qualificação como temos hoje. A sobrevivência
passa a custar a sujeição a uma condição desumana de trabalho.
As condições de trabalho da classe operária durante a Revolução Industrial e
sua propagação pela Europa foi tema de análise de Eric Hobsbawm em sua obra
Era das Revoluções. O historiador inglês estabelece uma relação direta entre a
quantidade de mão de obra ofertada para a produção, o nível de qualificação e
as condições de trabalho:
Conseguir um número suficiente de trabalhadores era uma coisa; outra
coisa era conseguir um número suficiente de trabalhadores com as ne-
cessárias qualificações e habilidades. A experiência do século XX tem
demonstrado que este problema é tão crucial e mais difícil de resolver
do que o outro. Em primeiro lugar, todo operário tinha que aprender
a trabalhar de uma maneira adequada à indústria, ou seja, num ritmo
regular de trabalho diário ininterrupto, o que é inteiramente diferen-
te dos altos e baixos provocados pelas diferentes estações no trabalho
agrícola ou da intermitência autocontrolada do artesão independente.
A mão de obra tinha que aprender a responder aos incentivos monetá-
rios. Os empregadores britânicos daquela época, como os sul-africanos
de hoje em dia, constantemente reclamavam da “preguiça” do operário
ou de sua tendência para trabalhar até que tivesse ganhado um salá-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
generalizava. Entre os movimentos operários que surgiram na Europa, alfabe-
tizar os filhos era uma garantia de não reproduzir a relação que os pais estavam
sujeitos para os filhos.
Para enfrentar a violência que o mundo urbano apresentava, a classe ope-
rária se organizou em associações e sindicatos. Assim, enfrentou o ambiente de
trabalho imposto pelas empresas e os empresários capitalistas, dando início aos
confrontos em forma de “quebra de máquinas” e paralisação de trabalhadores.
Aconteceram greves ocasionadas pela luta por melhores condições de trabalho,
como o Movimento Cartista na Inglaterra do século XIX.
Os problemas sociais urbanos chegaram a um determinado grau em que
até mesmo as forças sociais e políticas opostas de trabalhadores e patrões passa-
ram a lutar contra problemas comuns e se associar em campanhas para romper
comportamentos que se mostravam nocivos à sociedade. Um desses “inimigos
comuns” foi o consumo de bebidas alcoólicas. Como afirma Hobsbawm:
Por outro lado, havia muito mais pobres que, diante da catástrofe social
que não conseguiam compreender, empobrecidos, explorados, joga-
dos em cortiços onde se misturavam o frio e a imundice, ou nos exten-
sos complexos de aldeias industriais de pequena escola, mergulhavam
em total desmoralização. Destituídos das tradicionais instituições e
padrões de comportamento, como poderiam muitos deles deixar de
cair no abismo dos recursos de sobrevivência, em que as famílias pe-
nhoravam a cada semana seus cobertores até o dia do pagamento, e em
que o álcool era “a maneira mais rápida para se sair de Manchester”
(ou de Lille ou de Borinage). O alcoolismo em massa, companheiro
quase invariável de uma industrialização e de uma urbanização brusca
e incontroláveis, disseminou “uma peste de embriaguez” em toda a
Europa. Talvez os inúmeros contemporâneos que deploravam o cres-
Podemos considerar que diante desse ambiente, que trazia condições de degrada-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ção para parte considerável dos trabalhadores (às vezes até para a classe média e
para o patronato), a ação pública deveria ser pontual e estar dentro de uma polí-
tica geral de governabilidade da vida social urbana. Isto é, era preciso uma ação
dos governos municipais das cidades industrializadas. Eles necessitavam ter a
capacidade de colocar, diante dos conflitos que se intensificam e de práticas que
denegriam as forças sociais, mecanismos eficientes de ação.
Se a necessidade de racionalizar a vida social era uma emergência para o
poder público, ela estaria na pauta de discussão do mundo científico. As cor-
rentes de pensadores que se debruçaram sobre os problemas da vida urbana e
das condições humanas na sociedade industrial são sensíveis a partir do século
XVIII. Contudo, foi no século seguinte que essa preocupação se intensificou.
Das correntes liberais ao Socialismo, as teses políticas emergiram à procura
de dar resposta ao contexto tenso que o mundo industrial urbano apresentava.
Os valores que orientavam o homem europeu tinham se alterado e seriam um
modelo para as demais formas de compreensão que surgiram em diversas partes
do mundo. Se o movimento liberal e socialista surgiu na Europa, sua propagação
pela América, Ásia e África foi corrente. A influência da intelectualidade euro-
peia se demonstrou com o surgimento dos Estados nacionais em áreas antes
colonizadas pelos europeus.
Paralelo a essas correntes, e muitas vezes sendo um contraponto a elas, os
movimentos herdados das correntes naturais também emergiram. É o caso do
Positivismo inaugurado por Comte na França. As teses do pensador francês
viriam a inspirar aqueles que consideravam que a análise da vida social deveria
estar fundada nos mesmos critérios dos fenômenos biológicos.
Virgindade Sociológica
Quem passou pelo lento processo de formação acadêmica nas Ciências So-
ciais – ou ainda o cumpre — vai saber muito bem daquilo que falo. Quem
um dia se arriscará nessa seara das humanidades poderá perceber aquilo
que digo. Quem já vivencia isso sabe muito bem o que escrevo. Talvez uma
dessas profecias um dia se tornará realidade. Talvez são meros pensamen-
tos, lançados à luz de uma tela de notebook, que nada remetem aqueles
grandes sociólogos em quem nos inspiramos.
A profissão do sociólogo é algo que se vivencia. Não dá pra separar seu dia a
dia do seu exercício profissional. Afinal, a todo momento estamos em conta-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
to com as pessoas, com a sociedade e, no fim das contas, só se faz Sociologia
com a sociedade, relacionando-se com ela. Se vamos à uma festa, pronto!
Logo queremos compreender porque aquelas pessoas estão ali, o que se
passa na cabeça delas e qual é a noção de festa que elas possuem. Se lecio-
namos em sala de aula, a pergunta é sempre a mesma: o que será que eles
farão com as informações e o conteúdo aqui ministrados?
Fonte: os autores.
Os pensadores que denominamos clássicos das ciências sociais irão produzir seus
argumentos neste ambiente de confronto direto entre a massa de trabalhadores,
as empresas, os empresários capitalistas e o poder público. Os problemas emer-
gentes da vida urbana alimentaram as análises de pensadores, como Durkheim,
Marx e Weber. Eles darão as diretrizes para a compreensão da vida social, dos
meios para a organização das instituições e do seu papel na construção da ordem
coletiva. O que podemos destacar a princípio, e que será amplamente discutido
na próxima unidade, é a importância do trabalho como condição para a orien-
tação do homem em sociedade.
Esse foi o ambiente que propiciou a formação da Sociologia, uma ciência
da sociedade, que procura compreender a relação do homem com seu espaço
e seu tempo. Para isso, faz uso do passado histórico, para o entendimento de
determinados contextos; do presente, para explicação de fenômenos “atuais”; e,
por fim, da correlação de fatos para possíveis cenários futuros. Resta-nos, então,
responder: qual é a relação do homem consigo e quais são suas ações que estão
presentes na sociedade? É isso que vamos debater agora, diante do ambiente de
formação da Antropologia.
Quando falamos sobre o surgimento de uma nova ciência, logo vem à mente
algo inédito, fascinante e voltado para um “conhecimento superior”. Porém, a
inserção de novos conhecimentos nas humanidades é um fato que ocorre “natu-
ralmente”, com a necessidade de especificar as subáreas do pensamento humano.
Demonstramos que a Sociologia é produto das ideias de sua época, um período
de grande transformação social baseado nas mudanças sociais da Europa dos sécu-
los XIX e XX. O itinerário de formação da Antropologia não foi diferente, já que
também é fruto da busca por conhecer o “novo”, por descobrir algo que encantava: o
contato com novos povos e novas culturas por intermédio das grandes navegações.
Antes de falarmos de uma metodologia para explicar o que é e como estu-
dar a Antropologia, podemos afirmar que já existia uma espécie de “pensamento
antropológico”, isto é, já havia um número considerável de pensadores refletindo
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
à Antropologia. Afinal, a força do homem branco europeu era suficiente para
dominar culturalmente um “novo homem descoberto”? Quem detinha, então,
o domínio das relações culturais: o dominante (aqui visto como o Europeu) ou
o dominado de qualquer localidade outrora “descoberta”?
Estabeleceu-se, assim, um paradoxo para a Antropologia: como agir diante
dessa situação? Em Aprender Antropologia, François Laplantine faz um resgate
histórico dessa ciência, trazendo à luz uma importante contribuição acerca da
fundamentação deste “novo” conhecimento.
O projeto de fundar uma ciência do homem — uma antropologia — é,
ao contrário, muito recente. De fato, apenas no final do século XVIII é
que começa a se constituir um saber científico (ou pretensamente cien-
tífico) que toma o homem como objeto de conhecimento, e não mais
a natureza; apenas nessa época é que o espírito científico pensa, pela
primeira vez, em aplicar ao próprio homem os métodos até então utili-
zados na área física ou da biologia (LAPLANTINE, 1987, p. 7).
Segundo Marconi e Presotto (2007), existem dois grandes grupos que estru-
turam a Antropologia: a Antropologia Física ou Biológica e a Antropologia
Cultural, que, com suas peculiaridades, auxiliam no entendimento do seu campo
de atuação.
A Antropologia Física ou Biológica é destinada a estudar a posição do homem
enquanto “herdeiro biológico”, ou seja, o homem e a evolução dele desde o
surgimento da espécie até a atualidade. Surge, então, o primeiro trabalho do
antropólogo físico, que é estudar a Paleontologia, destinada a buscar o entendi-
mento do homem a partir da interface com a Biologia, a Genética, a Arqueologia
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
e outras áreas.
A Paleontologia é um subcampo do conhecimento antropológico, uma vez
que se articula com as demais áreas relacionadas a conhecer os fósseis humanos,
realizar escavações em sítios arqueológicos, entre outros. Por meio do estudo
do aspecto biológico humano, a Paleontologia articula as ciências naturais com
a História, compreendo como o homem estava situado na terra dos primórdios
até a atualidade.
Por outro lado, a Antropologia Cultural tem como missão o estudo dos
aspectos que irão formar a sociedade a partir daquilo que nós, humanos, consi-
deramos como cultura, ou seja, algo que será perpetuado de geração em geração,
constituindo o conjunto de várias áreas do conhecimento. A palavra “cultura”
expressa o cultivo de elementos, como o conhecimento, a arte, as crenças, a lei, a
moral, os costumes e todos os hábitos e as aptidões adquiridos pelo ser humano.
Neste sentido, a Antropologia Cultural tem por objetivo o estudo das dife-
rentes culturas para cada sociedade, por meio de alguns questionamentos: existe
um padrão de cultura? É possível mensurar semelhanças e diferenças entre dife-
rentes culturas? O que faz com que a cultura de um povo seja formada? Ela é
sempre imutável ou ela pode ser transformada de acordo com a evolução da socie-
dade? São essas as questões que permeiam há anos a Antropologia Cultural, um
campo dessa ciência que estuda o homem e, sobretudo, recentemente, os possí-
veis “padrões de cultura” identificados na sociedade.
Laplantine (1987) salienta que a Antropologia Social e Cultural (ou Etnologia)
é, hoje, o principal campo de atuação da Antropologia, uma vez que corresponde
a praticamente tudo o que há na sociedade: “seus modos de produção econômica,
suas técnicas, sua organização política e jurídica, seus sistemas de parentesco, seus
sistemas de conhecimento, suas crenças religiosas” (LAPLANTINE, 1987, p. 19).
Portanto, a Etnologia é a área destinada a compreender a sociedade a partir
do ponto de vista do homem. Conforme você, aluno(a), viu durante a formação
das ciências sociais, a Antropologia pretende estudar a relação do homem em/
na sociedade, enquanto o sociólogo estuda o funcionamento da sociedade, seja
a partir das suas instituições ou a partir dos mecanismos desenvolvidos pelos
humanos para que a sociedade progrida.
Será que a Antropologia sempre estudou os aspectos culturais para entender
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
a ação do homem? Um dos pioneiros da área é Bronislaw Malinowski (1884-
1942), que atribuiu a ela um caráter científico. Com a utilização da Etnografia, o
autor ia até o campo de estudo para compreender melhor o dia a dia das comu-
nidades do pacífico ocidental.
A ideia de Malinowski para o trabalho do antropólogo é simples: nada como
se tornar um deles para conhecê-los melhor. Seguindo essa máxima, o autor se
mudou para as Ilhas Trobriand, defendendo, durante sua pesquisa, aquilo que acre-
ditava: é preciso fazer Antropologia no momento onde observamos determinado
acontecimento. Com isso, afastava-se a possibilidade de atuar antropologicamente
a partir de informações alheias, isto é, sem ter a fidelidade dos conhecimentos
adquiridos no campo (na área de pesquisa) pelo próprio antropólogo.
Seu método conhecido como “observação participante” até hoje pauta os tra-
balhos na Antropologia. Portanto, segundo Malinowski, não há melhor maneira
de se fazer Antropologia senão participar cotidiana e rotineiramente com o nativo,
ou seja, com o estranho que se tentará entender, para posteriormente estabe-
lecer um padrão de cultura delimitado acerca de seu comportamento. Em Os
Argonautas do Pacífico Ocidental, o autor se depara com essa realidade, traduzindo
em seus diários as ações cotidianas do “nativo estranho” com o qual se deparou.
O nascimento da Antropologia, como exposto, teve como objeto de estudo
o homem não europeu. Ela se debruçou sobre o comportamento de civilizações
encontradas pela expansão europeia e sua dominação nas mais diferentes partes
do mundo. Considerou, dessa forma, comparações, classificações e escalona-
mento mediante valores que o homem ocidental impunha aos demais povos.
Essa escala serviu para estabelecer a “linha evolutiva” que tinha a “Europa
assimilação do ser vivo ao meio do que de sua competência mental para garantir
a permanência. Isto é, formas mais complexas de espécies podem ser elimina-
das se não assimilarem determinadas mudanças no meio.
A literatura também foi uma expressão da superioridade ocidental. Romances
e aventuras fortaleceram o ideal do vitorioso homem branco. Nas páginas dos
livros que se transformaram em clássicos durante os séculos XIX e XX, os per-
sonagens vitoriosos eram os exemplares fiéis do corpo social do ocidente. Talvez,
nenhum romance de aventura expressou com maior intensidade esta ideia do
que a Lenda de Tarzan.
O homem branco está fadado, segundo a produção científica e literária pro-
duzida pelo ocidente, à conquista, à superioridade e à responsabilidade de civilizar
o mundo e, como um deus, recriá-lo a sua imagem e semelhança. Na conquista
estabelecida sobre diversos povos, o homem ocidental julgou, absolveu e conde-
nou. Sua sentença sempre está calcada na busca por si mesmo, segundo François
Laplantine. Por isso, os que lhe pareciam conhecidos eram absolvidos e os que
lhe causavam estranheza e o negavam deviam ser exterminados.
Esse panorama da Antropologia, conforme anunciamos anteriormente,
mudou: o que está em voga na modernidade é a busca pelo conhecimento dos
padrões de cultura e comportamento de cada sociedade, além da valorização
da peculiaridade das culturas. Antes vistas como estranhas e desvalorizadas,
as culturas não europeias passaram a ter a devida importância na discussão
antropológica. O que vale hoje para a Antropologia é a igualdade de análise das
culturas, reforçando as particularidades e não a supremacia cultural de um em
relação a outrem.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
artísticas, religiosas) (LAPLANTINE, 1987, p. 120).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta unidade, pudemos trabalhar com a formação das Ciências Sociais ao longo
dos anos, isto é, apresentamos a você, caro(a) aluno(a), como e porque existem
três ciências que se dedicam a estudar a sociedade sob três pontos de vista: a
Sociologia, a Antropologia e a Ciência Política.
Quanto à Sociologia, que tem a sociedade como grande laboratório, pudemos
constatar seu ambiente de formação, tendo como plano de fundo a Revolução
Industrial e a Revolução Francesa, dois marcos importantes para a compreen-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
são de que a vida citadina possui maior complexidade do que a campesina, o
que reflete nas novas relações sociais, trabalhistas, políticas e comportamentais.
Tal alteração do modo de vida do homem fez com que ele passasse a explo-
rar novos espaços, ainda não descobertos (ou não explorados), o que demonstra
a necessidade de compreendermos a cultura do outro para melhor nos enten-
dermos. Surgia aí a Antropologia, destinada a estudar o homem e sua trajetória
em/na sociedade.
A jornada até aqui estabelecida conduz para iniciar o propósito deste livro,
indicado nesta Unidade I: aguçar o senso crítico da vida que estabelecemos
socialmente. Isto é, olhar para além do já fixado, do que é dado pela sociedade
para nós e do que ofertamos em troca para a sociedade. Em suma: a proposta
é melhor compreender o meio em que vivemos, dialogando, criticando e deba-
tendo os caminhos para melhorar o convívio social.
Dessa forma, ainda fica a questão motriz do livro, porém já pautada de ante-
mão: quais são os fundamentos sociológicos e antropológicos e a respectiva
contribuição de ambos para a educação? É o que pretendemos demonstrar nesta
trajetória, iniciando pelos chamados autores clássicos da sociologia, que expu-
seram com propostas centrais um a um os estilos de vida na sociedade urbana
em seus primórdios.
A imaginação sociológica capacita seu pos- sequência histórica. E pelo fato de viver,
suidor a compreender o cenário histórico contribui, por menos que seja, para o condi-
mais amplo, em termos de seu significado cionamento dessa sociedade e para o curso
para a vida íntima e para a carreira exte- de sua história, ao mesmo tempo em que
rior de numerosos indivíduos. Permite-lhe é condicionado pela sociedade e pelo seu
levar em conta como os indivíduos, na agi- processo histórico.
tação de sua experiência diária, adquirem
frequentemente uma consciência falsa de A imaginação sociológica nos permite
suas posições sociais. Dentro dessa agi- compreender a história e a biografia e as
tação, busca-se a estrutura da sociedade relações entre ambas, dentro da socie-
moderna, e dentro dessa estrutura são dade. Essa é a sua tarefa e a sua promessa.
formuladas as psicologias de diferentes A marca da análise social clássica é o reco-
homens e mulheres. Através disso, a ansie- nhecimento delas [...]. É a marca do que há
dade pessoal dos indivíduos é focalizada de melhor nos estudos contemporâneos
sobre fatos explícitos e a indiferença pelo do homem e da sociedade.
público se transforma em participação nas
questões públicas. Nenhum estudo social que não volte ao
problema da biografia, da história e de
O primeiro fruto dessa imaginação — e a suas interligações dentro de uma socie-
primeira lição da ciência social que a incor- dade completou a sua jornada intelectual.
pora — é a ideia de que o indivíduo só pode Quaisquer que sejam os problemas espe-
compreender sua própria experiência e cíficos dos analistas sociais clássicos, por
avaliar seu próprio destino localizando-se mais limitadas ou amplas as característi-
dentro de seu período; só pode conhecer cas da realidade social que examinaram,
suas possibilidades na vida tornando-se os que tiveram consciência imaginativa das
cônscio das possibilidades de todas as pes- possibilidades de seu trabalho formula-
soas, nas mesmas circunstâncias em que ele. ram repetida e coerentemente três séries
Sob muitos aspectos, é uma lição terrível; de perguntas:
sob muitos outros, magnífica. Não conhe-
cemos os limites da capacidade que tem o 1) Qual a estrutura dessa sociedade como
homem de realizar esforços supremos ou um todo? Quais seus componentes essen-
degradar-se voluntariamente, de agonia ciais e como se correlacionam? Como difere
ou exultação, de brutalidade que traz pra- de outras variedades de ordem social?
zer ou de deleite da razão. Mas em nossa Dentro dela, qual o sentido de qualquer
época chegamos a saber que os limites da característica particular para a sua conti-
“natureza humana” são assustadoramente nuação e para a sua transformação?
amplos. Chegamos a saber que todo indi-
víduo vive, de uma geração até a seguinte, 2) Qual a posição dessa sociedade na his-
numa determinada sociedade; que vive tória humana? Qual a mecânica que a faz
uma biografia, e que vive dentro de uma modificar-se? Qual é seu lugar no desen-
42
Teoria social
Ana Christina Vanali (Organizadora)
Editora: Núcleo de Estudos Paranaenses
Sinopse: o presente trabalho articula em coletânea um resumo
dos principais teóricos da Sociologia, possibilitando que o(a)
acadêmico(a) possa “viajar” pela matriz de conhecimento dessa área.
Karl Marx, Émile Durkheim, Max Weber, Karl Polanyi, Karl Mannheim, Norbert Elias,
Howard Becker e Pierre Bourdieu são retratados nesta obra, de fácil leitura e de conteúdo didático.
Aprender antropologia
François Laplantine
Editora: Editora: Brasiliense
Sinopse: leitura clássica acerca da Antropologia. François
Laplantine faz uma trajetória em três partes sobre a história
do pensamento antropológico: a história, as tendências e as
especificidades.
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
Tempos Modernos
Clássico que retrata a frenética vida de um operário em uma
linha de produção. Esse filme de Charles Chaplin demonstra as
dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores depois da Revolução
Industrial. É ótimo para retratar as mudanças da Europa, em sua
transição de rural para urbana.
Ofício do Sociólogo
Neste texto-resumo, é possível observar os comentários de Pierre Bourdieu e de outros
autores acerca da prática da sociologia no dia a dia.
Link disponível em: <http://sociodialy.blogspot.com.br/2007/06/o-ofcio-de-sociolgo.
html>.
45
REFERÊNCIAS
1. B.
2. A.
3. D.
4. A.
5. A concentração populacional nas cidades ocasionou diversos problemas, como
o alcoolismo, os homicídios, os latrocínios e a prostituição. A condição de vida
do operariado, que trabalhava cerca de 15 horas diárias, contribuía para esse
cenário de ridicularização humana.
Professor Dr. Tiago Valenciano
Professor Me. Gilson Costa de Aguiar
II
UNIDADE
SOCIOLOGIA CLÁSSICA I
Objetivos de Aprendizagem
■■ Reconhecer o contexto do nascimento da Antropologia e da
Sociologia como Ciência.
■■ Dominar a formação das teses positivistas e suas críticas ao
liberalismo e socialismo.
■■ Estudar a formação do estruturalismo como método de análise social.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ A sociedade, um “objeto estranho”
■■ Auguste Comte
■■ A herança positiva no estruturalismo de Émile Durkheim
49
INTRODUÇÃO
Introdução
50 UNIDADE II
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A SOCIEDADE, UM “OBJETO ESTRANHO”
A análise da vida social foi preocupação para vários cientistas sociais. A maio-
ria buscava estabelecer princípios de moralidade e uma idealização de conduta
necessária, orientando a ação na vida social com elementos de ética e moral que
pudessem superar os atritos da vida coletiva. As instituições religiosas se dedi-
caram a compreender os males sociais como algo orientado pelas tendências
malignas que atentavam a vida humana.
Os homens da racionalidade, por sua vez, valorizavam a razão como forma
de compreensão e ação, mas sem o entendimento do fenômeno social. Partia-se
do princípio de que o homem deveria se orientar diante dos outros, os quais
eram desconhecidos da compreensão da Ciência.
Dois acontecimentos de grande tensão social, que emergiram da necessi-
dade de uma compreensão científica da sociedade, foram a industrialização e o
crescimento das cidades de forma desordenada. A vida urbana produziu fenô-
menos de instabilidade social em uma proporção nunca vista. São exemplos o
desenvolvimento do alcoolismo, da prostituição, do homicídio, do suicídio e do
SOCIOLOGIA CLÁSSICA I
51
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
dução da vida material e pelas relações entre as classes formadas pela economia,
pelos proprietários dos meios de produção (a burguesia) e pela força de traba-
lho (o proletário).
A tese do materialismo histórico e dialético será entendida ainda nesta uni-
dade. Aqui, porém, é importante pontuar que no nascimento da Sociologia há
um posicionamento da sociedade capitalista em formação, seja na crítica, como
as teses de Marx, ou na defesa de uma reorganização da vida em sociedade, como
propôs Comte ou Durkheim, os quais passaremos a analisar a partir de agora.
A preocupação com a organização da vida social foi cultuada por muitos
pensadores. Podemos considerar que mesmo entre os liberais havia a busca de
estabelecer uma relação entre a particularidade das sociedades e os problemas
que elas atravessavam, sejam eles comuns ou não. A distinção de valores entre
uma nação e outra era clara; afinal, sempre foi perceptível ao homem que o com-
portamento de determinadas sociedades diante de problemas idênticos não era
o mesmo. Dessa forma, seria possível estabelecer um critério comum na análise
de sociedades distintas?
A instalação do liberalismo gerou uma euforia nos países da Europa onde
ele foi instalado. Na França e Inglaterra, onde as ideias liberais se consolida-
ram, na primeira em forma de revolução e na segunda como reorganização do
poder, o liberalismo promoveu o expansionismo da empresa econômica asso-
ciada à ação militar.
Entre os ingleses, o desenvolvimento de uma indústria fundada na maqui-
nofatura gerou a busca por novos mercados e a necessidade do estado intervir
na vida social para adaptar a sociedade à empresa capitalista emergente. Não é
SOCIOLOGIA CLÁSSICA I
53
AUGUSTE COMTE
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
mas para aquele que veio a ser um
dos fundadores da Sociologia era
uma possibilidade que se mostra-
ria inovadora, por meio da busca
de trazer as leis naturais para a aná-
lise da vida social.
Em 1814, já na decadência do
Império Napoleônico, Comte ingressa na Escola Politécnica de Paris. Um cen-
tro de formação de cadetes voltado ao desenvolvimento do corpo intelectual do
estado francês. Uma carreira que Comte pretendia manter. Contudo, foi levado a
ingressar no Movimento Socialista Francês, liderado por Saint-Simon, na busca
de desenvolver um modelo ideológico que influenciasse a administração fran-
cesa na busca de atender as melhorias da vida da população. Uma ilusão que
Comte em pouco tempo rompeu.
O rompimento entre Comte e Saint-Simon ocorreu por diversos fatores, o
mais conhecido foi a mania do mestre do socialismo utópico de roubar as ideias
de seus discípulos. Simon não costumava ser muito original em suas ideias, mas
isso acontecia por um motivo de por discordância teórica, já que os dois apresenta-
vam análises opostas. Enquanto Comte acreditava em uma interferência neutra do
Estado, Saint-Simon tendia a um acordo político de tendência pequeno-burguesa.
Comte chegou a acusá-lo de se aproximar de empresários franceses e favorecê-los,
manipulando os movimentos sociais franceses. Outra crítica foi a de intelectualizar
o movimento político e gerar uma casta intelectual beneficiária da liderança social.
Traçando um caminho próprio, Comte busca, então, uma análise mais objetiva
SOCIOLOGIA CLÁSSICA I
55
Auguste Comte
56 UNIDADE II
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ção do conhecimento e seu desenvolvimento posterior.
Segundo o próprio Comte (1989):
A época em que as ciências começaram a tornar-se verdadeiramente
positivas deve ser reportada a Bacon, que deu o primeiro sinal dessa
grande revolução; a Galileu, seu contemporâneo, que lhe deu o primei-
ro exemplo, e, por fim, a Descartes, que destruiu irrevogavelmente nos
espíritos o jugo da autoridade em matéria científica. Foi então que a
filosofia natural nasceu e que a capacidade científica encontrou seu ver-
dadeiro caráter, como elemento espiritual de um novo sistema social.
Nesta citação, fica claro o papel das Ciências Naturais como também da rup-
tura que pensadores como Bacon, Galileu e Descartes fizeram com a Filosofia
Humanista. Não podemos esquecer que o conhecimento científico que foi promo-
vido partindo da lógica da Ciência Moderna acabou por romper com a tradição
filosófica da racionalidade científica. Pensar o homem era pré-requisito para
pensar as coisas, em especial os elementos da natureza. O que Comte propõe é
SOCIOLOGIA CLÁSSICA I
57
a razão inversa: nós somos elementos dentro de uma lógica universal, obede-
cemos as leis naturais dentro da vida social, assim como a astronomia e a física
já demonstraram por meio da comprovação da existência empírica destas leis.
Vale ressaltar que para Comte o único conhecimento o qual, partindo da
abstração, consegue se positivar por meio da experimentação é a Matemática.
Ela é a Filosofia das Ciências Naturais. A lógica matemática se constitui na raiz
do pensamento positivo, das ciências que se positivaram. O avanço do conheci-
mento científico partindo da Matemática gerou a capacidade de dimensionar de
forma precisa a condição dos fenômenos físicos e compreender o seu movimento
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Auguste Comte
58 UNIDADE II
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
modernização do Brasil por meio das teses positivas. Mesmo a Proclamação da
República (1889), feita pelos militares, foi inspirada na purificação do regime,
na moralização do Estado e na eficiência da máquina pública, ou seja, nas teses
positivistas. O lema expresso na bandeira brasileira (Ordem e Progresso) é ins-
pirado nas teses de Comte. A ordem científica promove o progresso humano.
O método defendido por Comte se sustenta nos mesmos critérios das Ciências
Naturais. Para ele, o pesquisador dos fenômenos sociais deve se postar diante
de seu objeto da mesma forma que o físico, o químico ou o biólogo. Deve-se
ater, ainda, aos fatos observáveis, mensuráveis e que necessitam ser compara-
dos e classificados. A objetividade é um critério fundamental para o cientista
social positivista.
Outro aspecto importante do método positivo, que costumeiramente gera
polêmica, é a neutralidade científica. Isto é, o pesquisador não pode se deixar
envolver pelos valores subjetivos, teológicos ou abstratos, que deturpem a aná-
lise do fenômeno ou que lhe imponha um julgamento prévio. A objetividade
está ligada diretamente à neutralidade.
Caso se dedique exclusivamente aos fatos observáveis, passíveis de men-
suração, de proporcionalidade e de correlação objetiva com outros fenômenos
a ele relacionados pela ligação direta e objetiva, o pesquisador atingirá a ver-
dade. Um exemplo a ser considerado é a prática do homicídio: por mais que
haja repulsa moral à sua prática, ele existe ao longo da história, é uma constante
social. Segundo Enzensberger (1995, p. 9), “os animais lutam, mas não fazem
guerra. O homem é o único primata que planeja o extermínio dentro de sua pró-
pria espécie e o executa entusiasticamente e em grandes dimensões”.
SOCIOLOGIA CLÁSSICA I
59
Auguste Comte
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Um dos princípios fundamentais defendidos por Comte é a Lei dos Três Estágios.
Nela, o autor busca a compreensão do desenvolvimento social mediante a presença
do conhecimento científico na vida social. A Ciência está presente nas relações
entre o homem e as instituições que servem de orientação para a ordem social.
Também podemos considerar a própria explicação do homem sobre a natureza
e os elementos que atingem diretamente sua relação com as leis naturais.
Por isso, anteriormente, as leis naturais desvendadas nas teses de Galileu e
Bacon são elogiadas por Comte como uma conquista importante na busca de
compreender as leis universais e orientar o homem para o conhecimento cientí-
fico moderno, separando a Ciência da Filosofia. Essa maturidade do pensamento,
para ele, atingiu outros campos de conhecimento e hoje já estaria em seu grau
satisfatório para ser usada na análise do desenvolvimento social humano.
Quais seriam, porém, esses estágios de desenvolvimento? O primeiro é o
estado teológico, em que os fenômenos naturais só podem ser compreendidos
com a crença em um elemento divino, que oriente a vida dos homens e promova
as condições nas quais ele está inserido. Logo, o conhecimento que temos da vida
e das coisas que nos cercam é considerado, neste estágio de desenvolvimento,
como superficial. Esse estado permite ao homem uma verdade carregada de prin-
cípios sustentáveis apenas se admitirmos a existência de uma entidade acima da
capacidade de compreensão humana, que seria o verdadeiro condutor da vida.
O segundo é o estado da abstração, que, para Comte, desempenha o papel
de passagem do estágio teológico para o físico, que veremos logo mais. Nele, o
homem rompe com as explicações teológicas e estabelece uma relação racional
com o mundo, tentando entendê-lo dentro de categorias lógicas. Esse estágio
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Auguste Comte
62 UNIDADE II
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
nado à organização das teorias acerca da sociedade via física-social, ou seja, a partir
da explicação de uma ciência que possa analisar os movimentos dos corpos em/na
sociedade. O positivismo, que, posteriormente, se tornou uma filosofia de vida e reli-
gião, em que a ciência era a máxima de seus dogmas, obteve muitos adeptos no Brasil,
no contexto da Proclamação da República, em 1889. O lema da bandeira nacional
(ordem e progresso) é uma derivação do lema do positivismo proposto por Comte:
o amor por princípio, a ordem como base e o progresso por fim. Vale ressaltar que
a religião positivista era vista como a “religião da humanidade”, uma espécie de pro-
fecia imanada por Comte, que imaginava angariar adeptos crentes em seus ideais.
O pensamento de Comte auxiliou no entendimento da vida social, ofere-
cendo a possibilidade de formar um método de análise criterioso e com meios
de mensurar os fenômenos sociais na mesma condição dos fenômenos naturais.
Muitas dessas teses positivistas não só serão questionadas, mas também utiliza-
das ao longo do amadurecimento da Ciência fundada pelo pensador francês. Não
se pode negar, porém, a importância que tiveram as primeiras bases de análise de
Comte. Elas permitiram a busca por delimitar um campo de atuação para uma
Ciência que tivesse como foco a vida social e seus fenômenos.
A HERANÇA POSITIVA NO
ESTRUTURALISMO DE ÉMILIE DURKHEIM
SOCIOLOGIA CLÁSSICA I
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
laboratório para serem desmembrados, dissecados e estudados em suas partes
decompostas, com a objetividade da observação descritiva e comparativa, o que
seria impossível aos fenômenos sociais.
Não podemos reproduzir os fenômenos sociais em laboratório. Seria impos-
sível isolá-los da condição social onde se realizam, já que estão presos à sociedade
e somente nela é possível observá-los. Contudo, nem por isso, devemos deixar
de tratá-los na condição de coisa material. Para isso, devemos quantificá-los e
proporcioná-los dentro da ordem em que se estabelecem.
Com uma observação objetiva dos fenômenos sociais, podemos compreen-
der os elementos que influenciam a sua condição. Para Durkheim, os fenômenos
sociais são uma condição coletiva, que leva em consideração a coação e coesão
social dentro da condição solidária em que se realiza.
É importante definir neste momento o termo “solidariedade”, que é a con-
dição em que os fenômenos ocorrem, ou seja, a cumplicidade entre os agentes
que proporcionam a existência dos fenômenos. Isso não indica a consciência por
parte daqueles que praticam o ato. Se pensarmos na Educação e nos elementos
que contribuem para que ela ocorra, nem todos têm a dimensão de que sua ação
vai refletir na condição de educar.
As condições em que se realiza a Educação estão baseadas em fatos que inter-
ligados, de alguma forma, vão gerar os fatores que permitem que ela ocorra. Logo,
o ambiente de educar e os condicionantes da educação não são apenas os seus
agentes diretos (alunos, escola, professores, funcionários, currículo escolar etc.).
Muito mais que isso, a Educação é resultado de uma complexidade social mais
SOCIOLOGIA CLÁSSICA I
65
intensa e ampla. Uma relação que vai além dos muros da escola e que envolve a
construção solidária de todos seus elementos. Os seres humanos que convivem
dentro do ambiente escolar são resultado de outros fenômenos que os produ-
zem, além do dia a dia de sala de aula.
Um aluno é filho ou pai, é jovem ou idoso, é casado ou solteiro, trabalha ou
não, locomove-se mediante os meios de transportes dos mais variados. Todos
esses fatores e muitos outros, os quais seria impossível relacionar, contribuem
para o entendimento da educação como um fenômeno social. Podemos consi-
derar pelos mesmos critérios a condição do professor, do diretor e de todos que
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
mento da ordem social e dos fatos que ela produz.
Quanto mais a sociedade divide suas funções, mais a particularidade perde
sentido como referência para o entendimento do corpo social, ou seja, não
está no comportamento do indivíduo um padrão para o comportamento cole-
tivo, quando falamos de sociedades com um alto grau de divisão do trabalho
social. Na sociedade industrial, a condição de vida para atender às necessida-
des dos membros da sociedade é fruto de um número imenso de indivíduos
e, por isso, não é no olhar sobre esse elemento particular que vamos enten-
der a vida social.
Se abrirmos a geladeira em nossa casa e olharmos os produtos que estão
à nossa volta, dos mais elementares aos de uso fútil, iremos perceber que há
uma quantidade imensa de trabalho coletivo para a existência deles. Seria
impossível quantificar o número de indivíduos que participam da produção
diária de nossas vidas. Logo, nem nós, nem cada um desses indivíduos, têm
em seu comportamento o padrão da vida social, ela é o encontro solidário
de todos esses elementos enquanto um organismo que gera as condições de
todos e de cada um.
SOCIOLOGIA CLÁSSICA I
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AS FORMAS DE SOLIDARIEDADE
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
rar que há dois tipos de solidariedade estabelecida por Durkheim: a primeira liga
diretamente o indivíduo à sociedade, o que chamamos de solidariedade mecânica.
A segunda, só pode ser entendida na complexidade das relações sociais em sua
divisão do trabalho social, na qual o indivíduo é apenas um componente dentro
da complexa cadeia de dependência – a solidariedade orgânica. Nesta, o indi-
víduo exalta suas particularidades e parece negar sua relação com a sociedade.
Durkheim define assim as duas formas de solidariedade:
Como a solidariedade negativa não produz por mesma nenhuma in-
tegração e, além disso, não tem nada de específico, reconhecemos so-
mente duas espécies de solidariedade positiva, nas quais se notam as
seguintes características:
2) A sociedade não é vista sob o mesmo aspecto nos dois casos. No pri-
meiro, o que chamamos por esse nome é um conjunto mais ou menos
organizado de crenças e sentimentos comuns a todos os membros do
grupo: o tipo coletivo. No segundo caso, ao contrário, a sociedade na
qual somos solidários é um sistema de funções diferentes e especiais,
que unem relações definidas. Essas duas sociedades são apenas uma.
São duas faces de uma única e mesma realidade, mas nem por isso têm
menos necessidade de ser distinguidos (DURKHEIM, 2002, p. 27).
SOCIOLOGIA CLÁSSICA I
69
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
entre suas moléculas. Assim, as moléculas de uma mesa são mais resistentes à
coação por serem mais coesas. Se pensarmos em uma folha de papel, chegaremos
à conclusão oposta, ela é mais flexível por ter moléculas menos coesas e, dessa
forma, resiste menos à coação. Basta uma pequena força e você pode rasgá-la.
Em um movimento grevista, no qual há um grau elevado de adesão de tra-
balhadores a uma paralisação, há um grau elevado de coesão. Portanto, romper
o movimento, pressionar os trabalhadores a voltarem ao trabalho sem atender
as suas reivindicações seria difícil e exigiria grau elevado de coação. Um aparato
policial dispersando manifestantes em uma passeata seria um bom exemplo de
coação. Por isso, imagine o papel do Estado como agente de coação para garan-
tir a ordem social e o quanto, também, pode ser uma expressão de coesão. Ao
executar uma sentença e promover a justiça sob um valor que une a maioria dos
elementos sociais que se sentem atingidos pelo crime cometido e reagem com a
sentença aplicada, há uma coesão social.
Em sala de aula, a manutenção da disciplina para o desenvolvimento de um
conteúdo é, ao mesmo tempo, fruto das partes que executam a prática educativa
(professor e alunos) e da unidade que eles estabelecem para executar a função
para as quais existem. Quanto mais coesos neste sentido forem os membros que
executam a Educação, mais eficiente ela será e menos espaço para ações con-
trárias. Quem tentar a indisciplina será coagido tanto pelos iguais como pelos
diferentes. Um aluno que tente promover a desordem sofre a coação dos cole-
gas (alunos) e, também, do contrário (professor).
Aqui estamos usando o exemplo da escola, mas poderíamos estender essa
explicação para todas as instituições sociais. O funcionamento de uma sociedade
SOCIOLOGIA CLÁSSICA I
71
complexa como a nossa acontece devido a uma gama imensa de funções, que
se estabelecem para poder dar condições de funcionamento e atendimento às
necessidades coletivas e particulares. Por isso, para Durkheim, seria a divisão de
trabalho a mais importante solidariedade entre os elementos sociais, devendo
ser preservada e valorizada por todas as partes do corpo social.
Para Durkheim, a sociedade tem funções primordiais, como o trabalho que
comentamos anteriormente. Desta forma, existe uma gama de valores que estão
escalonados moralmente e devem ser estimulados para todos os componentes
da sociedade. Esses comportamentos e valores são passíveis de transformação e
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
podem mudar seu sentido. Há valores, porém, que devem ser preservados sob
pena de colocar a sociedade em risco. O trabalho, como falamos, é um deles.
ANOMIA E PATOLOGIA
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
momentos de revolução, uma sociedade apresenta comportamentos que fogem
à normalidade. A desordem se estabelece pela falta de uma regulagem dentro da
ordem social, na qual acontecem as diferentes funções que a sociedade necessita
para sua existência. As condições sociais nesse ambiente de transição acabam
por propiciar, por exemplo, ações de violência ou de degradação moral. Não é
por acaso que se desenvolveu o alcoolismo e o homicídio durante a Revolução
Industrial. Portanto, a patologia é passageira, além de possuir um movimento
pendular: ora pode surgir em/na sociedade, ora pode desaparecer.
A anomia, diferentemente da patologia, não é em si um problema a ser resol-
vido, como uma ameaça à sociedade, mas uma condição de sua reordenação, seja
de todo o corpo social ou de alguma de suas partes. As mudanças são constantes
e quando ocorrem em determinados pontos da sociedade podem promover uma
acomodação que envolva grande parte do corpo social. Logo, vai se estender para
diversas instituições até se estabilizar. O processo de emancipação da mulher,
por exemplo, considerando o papel que ela passa a exercer em diversas institui-
ções sociais, reflete em todo o corpo social. Em alguns casos de forma imediata
e principalmente no núcleo familiar, promove de forma imediata uma desor-
dem e reações agressivas. A violência contra as mulheres, a crise de identificação
masculina, os problemas de convivência com os filhos e o processo de eman-
cipação política são alguns desses dilemas e representam exemplos de anomia.
Já a patologia é um fenômeno que se apresenta dentro de uma ordem estabele-
cida, com normas organizadas e que atende a determinada condição social, mas
que apresenta comportamento fora da normalidade. Esse é um problema a ser
SOCIOLOGIA CLÁSSICA I
73
A CONSOLIDAÇÃO DE DURKHEIM
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
considera que a consciência dos diversos campos do conhecimento e dos profis-
sionais que exercem uma atividade prática na vida social sobre a solidariedade
orgânica traria o respeito à vida profissional.
Defensor da organização das corporações profissionais, afirmava que elas
podem exercer um papel importante na preservação da sociedade naquilo que
ela tem de mais elementar: a divisão do trabalho social. Para ele, se a divisão de
funções separou o homem da relação direta com a sociedade, a dependência
que se construiu entre as diversas partes do corpo social deve ser fator de apro-
ximação consciente e de preservação da unidade por meio do respeito às mais
variadas profissões.
SOCIOLOGIA CLÁSSICA I
75
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerações Finais
76
1. A Física Social tem por objetivo estudar os fenômenos sociais. Esse conceito, desen-
volvido por Auguste Comte, pode ser considerado o “embrião” da Sociologia. Consi-
derando essas informações, leia as asserções a seguir e escolha a opção correta.
I. A Física Social deve ser estudada com o mesmo espírito que os demais fenô-
menos científicos, como a Física e a Química.
II. Fenômenos astronômicos são superiores e, portanto, descartados do estudo
da Física Social.
III. A medicina é a profissão que mais se aproxima do perfil de atuação da Física
Social.
IV. A Matemática é uma das ciências que inspiraram a criação da Física Social,
pela sua semelhança em analisar fenômenos biológicos.
a) Estão corretas apenas I e II.
b) Estão corretas apenas II e III.
c) Estão corretas apenas I e III.
d) Estão corretas apenas II, III e IV.
e) Estão corretas apenas I, II e IV.
2. Émile Durkheim se consolidou enquanto sociólogo. Atuou como fundador da
Escola Francesa de Sociologia, além de ter desenvolvido análises sobre a Educa-
ção. Considerando essas informações, leia as seguintes asserções e escolha a
alternativa correta.
I. Durkheim advinha da Escola Francesa de Sociologia, sendo Auguste Comte e
Pierre Bourdieu pensadores que inspiraram seu pensamento.
II. Durkheim argumentou sobre a importância da instituição de ensino na for-
mação do homem moderno.
III. Uma das principais atividades de Durkheim como sociólogo foi o reconhe-
cimento da profissão de sociólogo e também de filósofo no Ministério do
Trabalho Francês.
IV. A partir da divisão social, o homem acabou diminuindo a relação direta com
a sociedade.
a. Estão corretas I, II e IV.
b. Estão corretas II e III.
c. Estão corretas I, III e IV.
d. Estão corretas I, II e III.
e. Estão corretas II e IV.
77
3. A chamada Lei dos Três Estágios é uma das características conceituais do pensa-
mento de Auguste Comte. Em relação a ela, é correto afirmar que:
a) O estágio abstrato é resultado de manifestações estritamente espirituais e
teológicas.
b) Comte se inspirou em Durkheim para a elaboração desta “lei”, uma vez que o
segundo pode ser considerado mentor intelectual do primeiro.
c) O estágio abstrato é considerado o mais evoluído dos três para Comte.
d) O primeiro estágio é o teológico, pois neste os fenômenos só podem ser
compreendidos a partir da crença no divino.
e) O estágio positivo serviu de inspiração para os dois estágios superiores, con-
siderados de maior importância no pensamento de Comte, que são o teoló-
gico e o abstrato.
4. Émile Durkheim, sociólogo francês, foi influenciado pelo pensamento de Com-
te. Engajado no reconhecimento da disciplina enquanto método científico,
Durkheim esteve concentrado nessa tarefa nos primeiros anos de atuação nes-
ta seara de conhecimento. Em relação à herança positivista sobre as ideias de
Durkheim e a consolidação da Sociologia, é correto afirmar que:
a) A Sociologia, apesar de ter enfrentado dificuldades para seu reconhecimento
como Ciência, não enfrentou barreiras para sua aceitação.
b) Durkheim seguiu os pressupostos sociológicos de Comte, fazendo com que a
Sociologia fosse aceita sem critérios científicos.
c) A regra para reconhecimento da Sociologia enquanto disciplina é, em geral,
sem precisão.
d) A Sociologia enfrentou barreiras, como as demais ciências, em sua constitui-
ção. Durkheim utilizou o método científico para validar os conhecimentos
sociológicos.
e) As especificidades de cada sociedade não são passíveis de reconhecimento,
tanto no pensamento de Comte quanto no de Durkheim. Por isso a Sociolo-
gia é uma ciência que não obteve progresso.
5. Comte elaborou um dos princípios fundamentais de sua teoria sociológica: a Lei
dos Três Estágios. Indique quais são os três estágios e comente sobre o está-
gio positivo, o mais desenvolvido.
78
Psiquiatra afirma que as políticas nacionais de prevenção do suicídio “não saíram do papel”
A Vila
Em 1897, uma vila parece ser o local ideal para viver: tranquila,
isolada e com os moradores vivendo em harmonia. Porém,
esse local perfeito passa por mudanças quando os habitantes
descobrem que o bosque que o cerca esconde uma raça de
misteriosas e perigosas criaturas, por eles chamados de “Aquelas
de Quem Não Falamos”.
COMTE, A. Sociologia. Tradução de Evaristo de Moraes Filho. São Paulo: Ática, 1989.
(Coleção Grandes Cientistas Sociais).
DURKHEIM, É. As regras do método sociológico. 2. ed. Tradução de Maria Isaura
Pereira de Queiroz. São Paulo, 1960.
_______. Objetividade e identidade na análise da vida social. In: FORACCHI, M. M.;
MARTINS, J. de S. Sociologia e sociedade. 22. ed. Rio de Janeiro: LTC – Livros Técni-
cos e Científicos Editora S. A., 2002.
ENZENSBERGER, H. M. Mediocridade e loucura e outros ensaios. São Paulo: Ática,
1995.
FILOUX, J. C. Émile Durkheim. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massan-
gana, 2010.
REFERÊNCIA ON-LINE
1
Em: <http://www.ebc.com.br/2012/09/psiquiatra-afirma-que-as-politicas-nacio-
nais-de-prevencao-do-suicidio-nao-sairam-do-papel>. Acesso: 13 ago. 2017.
82
GABARITO
1. c)
2. e)
3. d)
4. d)
5. “Os três estágios são o teológico, metafísico e o positivo. O estágio positi-
vo é o mais importante, pois a partir dele é possível explicar os fenômenos
por meio da Ciência. Ele é resultado do avanço do processo de abstração
e transformação desses fenômenos em teorias comprovadas”.
Professor Dr. Tiago Valenciano
Professor Me. Gilson Costa de Aguiar
III
UNIDADE
SOCIOLOGIA CLÁSSICA II
Objetivos de Aprendizagem
■■ Entender a crítica ao capitalismo feita pelo materialismo histórico e
dialético.
■■ Entender a lógica dos modelos de ação social em Weber e as
categorias desses modelos.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Karl Marx, o materialismo histórico dialético
■■ Weber e a racionalidade impura: os modelos ideais de ação
85
INTRODUÇÃO
A crítica ao capitalismo teve nas teses de Karl Marx a sua principal expressão.
Construída ao longo do século XIX, quando o processo revolucionário capita-
lista ainda se encontrava em fase de consolidação, Marx desenvolveu uma análise
da política econômica burguesa. Por meio dela, analisou as relações sociais vin-
culadas à economia capitalista e desenvolveu a Teoria Socialista.
O pensador alemão foi um marco na defesa da implantação do socialismo
científico, que, segundo ele, realizaria-se a partir do momento em que a classe
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Introdução
86 UNIDADE III
KARL MARX, O
MATERIALISMO
HISTÓRICO DIALÉTICO
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
sociedade capitalista de sua forma
irônica de tratar temas caros ao
interesse do liberalismo. Em outros
momentos, enfatizou as contradi-
ções que a sociedade industrial
apresentou em seu tempo e ainda
hoje expressa. De suas teses, e por
ele mesmo, nasceu a defesa do socialismo científico e a idealização da sociedade
comunista. O socialismo deve ser, para ele, uma busca da classe operária, que vive
uma luta de classes como em nenhuma outra sociedade que a antecedeu. O pro-
letário deve ser a classe revolucionária sob a pena de perder o bonde da história.
Obviamente, iniciamos nossa discussão falando de um Marx “panfletário”,
parcial e engajado na defesa de um projeto político e ideológico. Essa é uma
diferença em relação ao autor que analisamos anteriormente, Émilie Durkheim.
A parcialidade é inerente ao cientista social, diferente dos pesquisadores das
Ciências Naturais. Esse é um ponto importante nas teses do materialismo histó-
rico e dialético, a imparcialidade do pesquisador. Para Marx, as Ciências Naturais
têm um método incompatível com o das Ciências Sociais e Humanas. O homem
que analisa a sociedade está inserido nela, ele tem em si os seus valores. O olhar
do pesquisador carrega inerentemente um posicionamento político e ideológico.
O próprio Marx jamais fugiu da parcialidade em sua análise e na busca de
implantar uma sociedade socialista. Ele considerava que, diante do posiciona-
mento ideológico que o pensador social traz consigo, o pensamento deve ser
direcionado para uma luta política fundada em um projeto científico de sociedade.
SOCIOLOGIA CLÁSSICA II
87
Esse projeto deve partir de uma análise crítica ao capitalismo, análise fundada
no conhecimento científico. Da crítica que se faz, deve-se elaborar um projeto
de sociedade para a superação dos problemas que o capitalismo apresenta. Por
isso, para ele, a Economia e a História têm destaque como instrumento de aná-
lise. Esses dois campos do conhecimento são capazes de dar subsídios para a
compreensão das transformações que os homens promoveram em si e na natu-
reza mediante os meios de produção.
Para Marx, a sociedade capitalista foi resultado das transformações que
ocorreram na Europa com o advento das práticas mercantis. Nesse contexto, a
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
há muito mais que o valor de um produto, está toda a condição de organização
da sociedade na produção da vida humana. Não é por acaso que Marx se dedi-
cou a vida toda a entender o funcionamento da economia capitalista, tendo na
mercadoria um dos seus elementos mais importantes.
Ao definir a mercadoria, em O Capital, Marx afirma:
A mercadoria é, antes de mais nada, um objeto externo, uma coisa que,
por suas propriedades, satisfaz necessidades humanas, seja qual for a
natureza, a origem delas, provenham do estômago ou da fantasia. Não
importa a maneira como a coisa satisfaz a necessidade humana, se di-
retamente, como meio de subsistência, objeto de consumo, ou indire-
tamente com meio de produção. [...]
Essa forma da mercadoria que Marx expõe é o fetiche. Ele se constitui como o
valor estabelecido pela burguesia para o produto, no qual a mercadoria encobre
SOCIOLOGIA CLÁSSICA II
89
os objetos de consumo são marcadas por um mundo de fantasias mais irreal que
um conto de fadas. Tudo porque a divisão do trabalho se ampliou e se trans-
formou em uma cadeia mundial de produção. O bem de consumo pronto, ao
alcance de nossas mãos, ou melhor, de nosso bolso, próximo fisicamente, está
distante de ser compreendido por nós em sua cadeia complexa de produção.
O poder de determinação da burguesia sobre a sociedade se intensificou na
mesma intensidade em que a sociedade capitalista viu expandir a divisão do tra-
balho promovida pela maquinofatura e em que a mercadoria passou a envolver
um maior número de indivíduos em suas relações de produção e de consumo.
O ideário burguês se alastrou por meio do liberalismo e se impôs como condi-
ção de poder em quase todos os cantos do mundo.
Essa condição capitalista é o fator determinante das instituições que temos
hoje em nossa sociedade. Independentemente de qual seja a proposta de ação e
atuação promovida pelas mais diversas instituições sociais, dando sempre este
ar de aparência democrática, ela está subordinada às condições capitalistas de
produção e, por isso, reproduz seus interesses. A escola é um bom exemplo dessa
falsa ideia de liberdade de pensamento que o liberalismo induz. Segundo Marx,
a educação está instituída dentro das relações capitalistas, dessa forma, o con-
teúdo e as disciplinas apresentados aos alunos e a forma como são organizados
acabam por favorecer a compreensão burguesa de mundo.
A burguesia utiliza todos os meios para justificar o seu poder, mas prin-
cipalmente justificar a propriedade privada dos meios de produção, formas
que permitem a ela dominar as relações que produzem a vida material. Desde
que a maquinofatura se estabeleceu como principal meio de transformação da
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
necessidades se for adquirido em forma de mercadoria. Da luz que se dá com o
apertar de um botão ao alimento que adquirimos nas gôndolas dos mercados,
qualquer produto que sofra a transformação humana só pode ser adquirido em
forma de mercadoria.
Se a mercadoria atende às necessidades da vida humana, então podemos
medir o valor da existência de um indivíduo por meio da mercadoria e da sua
capacidade de adquiri-la. Como isso pode ocorrer? Basta entendermos que, para
adquirirmos as condições necessárias para suprir nossas necessidades, temos que
consumir mercadorias, logo, o nosso salário é a proporção de vida que pode-
mos adquirir. O salário é, então, a proporção mensal que a existência humana
pode merecer.
É bom fundamentar, porém, que o salário nada mais é que a quantia paga
pela venda de nosso trabalho. Se vendemos o nosso trabalho por um determi-
nado valor, o que determina o quanto ele vale? Se formos entender o mercado de
trabalho, ele vale a proporção de riqueza que é capaz de produzir e a quantidade
de pessoas habilitadas para realizá-lo. Quanto mais indivíduos aptos à realização
de uma determinada tarefa, mais baixo será o salário (lei da oferta e procura).
Para obter maior produtividade sem depender da força de trabalho, a classe
burguesa desenvolve tecnicamente os meios de produção. Dessa forma, aprimo-
rando o maquinário industrial, a burguesia reduz a necessidade de trabalhadores
e, por consequência, o número de operários dos quais depende. Os que são menos
necessários como força de trabalho tendem a ganhar cada vez menos ou serem
excluídos da condição de força produtiva.
O cálculo do salário do trabalhador também deve ser considerado no valor
SOCIOLOGIA CLÁSSICA II
91
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
rais que determinam os líderes políticos, chamados de “representantes públicos”.
As empresas de grande poder de capital, que se beneficiam das obras públicas,
empenham-se em investir em campanhas políticas, buscando fazer valer seus
interesses, por meio dos candidatos que apoiam seus projetos. Ao serem eleitos,
os que receberam o financiamento burguês de campanha passam a defender a
busca de lucro das empresas patrocinadoras da sua campanha.
Na educação, essa dependência ocorre da mesma forma segundo as teses
de Marx, já que em qualquer instituição pública a finalidade é a manutenção da
ordem social e a garantia de sua permanência. Para que isso ocorra, atendendo
aos interesses da classe dominante, o Estado promove práticas que legitimem as
relações de mercado, ou seja, o consumo da mercadoria, a preparação da mão
de obra para se submeter à economia burguesa, e também a idolatria ao sucesso
dos personagens que a burguesia se espelha.
Os ídolos da história, os grandes cientistas e o importante literário são fru-
tos de sua competência e nunca do meio onde vivem e das condições sociais que
os geraram. Para Marx, a burguesia esconde por trás da idolatria ao líder e ao
personagem de destaque todas as relações sociais de produção que o geraram.
Fantasiosamente, tudo se resume na competência de um homem só.
Essa lógica que estabelecemos anteriormente serve também para entender-
mos a cultura propagada pela burguesia. Ela defende a competência particular
acima da coletividade. As condições humanas que são geradas por toda uma rela-
ção de produção, que apresenta a desigualdade entre os homens, é encoberta pela
personificação, pela idolatria à particularidade, pelo heroísmo egocêntrico e auto-
nomista estabelecido nas obras típicas do capitalismo, segundo as teses de Marx.
SOCIOLOGIA CLÁSSICA II
93
der as verdadeiras relações sociais. Por isso, o cientista social, para Marx, deve
ser um teórico engajado. Tem que estar militando em defesa da classe operária.
Deve usar seu conhecimento para desvendar as relações de opressão e lutar pela
libertação mediante um projeto socialista.
Na educação, Dermerval Saviani é uma das maiores expressões nessa linha
de defesa com base no materialismo histórico, por meio da educação históri-
co-crítica. Nela, Saviani defende o papel político do educador e sua capacidade
de introduzir na sala de aula, no exercício de sua atividade pedagógica, a cons-
ciência crítica e a compreensão das relações sociais. A escola, para ele, é uma
expressão das relações sociais, nela se percebem as contradições que as relações
de produção estabelecem.
O papel do conhecimento dentro das instituições de ensino tem trazido con-
trovérsias no debate sobre o papel que a educação deve exercer na vida social. Os
que consideram a educação um meio de preparar o indivíduo para a sociedade
não concordam com as teses histórico-críticas. Para eles, a educação deve estar
mais voltada a adequar o indivíduo do que lhe dar conteúdos de questionamento
sem o devido preparo para a vida em sociedade. Cabe ao educador, porém, posi-
cionar-se e colocar em questão qual o papel que o aluno considera exercer em
sociedade. Por isso, a importância em definir um método e uma postura polí-
tica. Vamos tratar desse assunto ao final desta unidade, em nossas conclusões.
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WEBER E A RACIONALIDADE IMPURA: OS MODELOS
IDEAIS DE AÇÃO
De todos os sociólogos que vimos até agora, Max Weber é o que ocasiona um
sentido importante de reflexão sobre as contradições humanas. Ele coloca uma
questão vital em sua obra: “seria o homem um ser puramente racional e capaz
de direcionar sua vida pela razão?”. Esse é um tema central no trabalho do pen-
sador alemão e um dos precursores do existencialismo.
Weber representa o resgate da individualidade não como conceito filosófico, mas
como condição de análise social. Não significa que todos os indivíduos são objeto de
estudo da Sociologia, mas em cada um há o sentido que uma coletividade apresenta
sobre a vida social. Em cada um de nós há elementos que nos colocam na condição
de civilização, os quais se expressam em nossas ações. Somos ocidentais, o que sig-
nifica que há elementos comuns na construção de modelos de ação, nos valores que
cultuamos e nas ações que praticamos. São as ações que denunciam nossos valores.
SOCIOLOGIA CLÁSSICA II
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ele, a racionalidade não significa uma ação consciente. Não existe na ação social
que promovemos um sentido lógico e objetivo exclusivamente. Isso não quer dizer
que todo comportamento é irracional. Há uma intenção racional de quem pratica
determinado ato, mas nunca essa razão será pura. As relações que os homens esta-
belecem em sociedade têm uma gama de intenções subjetivas, que são construídas
em grau de importância diferente para cada indivíduo e para cada coletividade.
Um indiano está mais apto a certos comportamentos por ter uma cultura
que o predispõe a isso. Há uma herança cultural que permite que certos tipos
de ação se potencializem em determinadas sociedades mais do que em outras.
Usamos aqui os indianos como exemplo, mas poderíamos nos referir a outros
povos. Ao observar a paciência que têm em ficar horas na fila para assistir a uma
sessão de cinema, podemos considerar seu gosto pelos filmes, o que é óbvio.
Vemos, ao mesmo tempo, o quanto eles se sujeitam a esperar horas para assisti-
-lo, o que só pode ser entendido pela sua cultura contemplativa, ou seja, diante
do desejo, eles têm a paciência para buscá-lo. Isso não quer dizer que sejam
passivos, mas que para determinados fins é possível ter parcimônia, o que, em
determinadas sociedades, seria impossível, mesmo naquelas em que se valoriza
a produção cinematográfica.
Por isso, deve-se considerar que para Weber não seria possível ter uma aná-
lise puramente racional de determinado fenômeno pela análise objetiva dos fatos
(Durkheim) ou pela consciência das relações racionais da economia e da história
da produção da vida material dominada por uma determinada classe (Marx). Ao
mesmo tempo, não se podem desprezar os fatos sociais que devem ser entendi-
dos pelo sentido que os sujeitos, agentes da ação, dão a eles. Esse sentido não é
SOCIOLOGIA CLÁSSICA II
97
de quem observa, do cientista, mas sim de quem é observado, daquele que pra-
tica o comportamento.
Se considerarmos a própria vida de Marx sob o olhar de Weber, o pensa-
dor socialista viveu a crítica à sociedade capitalista, passou por diversos países,
sua família viveu todas as consequências de ter que fugir e de não ter condições
econômicas para se sustentar. Contudo, Marx fazia questão de que suas filhas
tivessem aulas de canto, poesia e piano, como toda jovem da aristocracia ou da
burguesia emergente. Marx era conservador em relação à vida amorosa de suas
filhas, controlava seus relacionamentos e influenciava a escolha de seus maridos.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Marx é um homem como pensador e outro ao agir dentro das relações sociais.
O que ele preservava em suas relações domésticas não serve para legitimar seu
pensamento. Não podemos desprezar as teses do materialismo histórico e dialé-
tico, mas não podemos considerar que nelas está expresso o ser humano Marx.
É sobre essa condição humana que Max Weber se debruça em seus estudos.
O argumento de Weber se destaca à Teoria dos Modelos de Ação, na qual
busca uma compreensão dos sentidos das ações sociais pelos agentes que a pra-
ticam. Para isso, ele considera que os modelos e valores subjetivos dados ao
comportamento social são carregados de uma escala de valor, uma cadeia de
entendimentos e de interesses que se elabora subjetivamente e se expressa no
comportamento. Por isso, para ele, nem todo o comportamento praticado pelos
indivíduos é social. Só o é quando está direcionado ao outro, envolve o interesse
de reação de outro ou busca uma resposta em outro. Essa pessoa com quem se
relaciona pode ser um conhecido, um imediato, um ser construído e fictício ou
mesmo um princípio a que se obedece, uma regra moral religiosa que se traduz
em um comportamento “ético” esperado.
Se não quero pecar não pratico tal ato, porque as consequências virão no juízo final.
Esse comportamento pode não ser ilegal, não ter qualquer tipo de restrição jurídica
nem provocar uma reação social que o condene, mas muitas pessoas não o praticam,
temendo uma suposta punição em uma existência pós-morte. Esse é um exemplo
de um fato social inspirado em modelo. Nela, a ética religiosa determina uma ação.
Os modelos, para Weber, são construídos nas relações sociais. Nelas, somos
orientados pelas tradições das relações sociais que nos antecederam, nas heran-
ças passadas, nas quais os comportamentos e valores que nos identificam foram
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
que passe e como tenho que agir para superá-la, pode reforçar os valores que
tenho ou modificá-los, até mesmo rompê-los.
Há também a construção futura dos modelos de ação, em que se estabelece o
sentido por meio do interesse de um resultado que virá depois da ação praticada.
Uma ação preventiva é, também, uma ação fundada no modelo futuro. Um pai pre-
ocupado com seu filho pode abrir uma caderneta de poupança, esse é um exemplo
de uma ação futura. Em algumas civilizações, já que falamos do ato de poupar, a pre-
ocupação em prevenir uma possibilidade de crise pode ter consequência direta em
uma política econômica. Os japoneses têm, por tradição, poupar. Logo, em alguns
casos, aquecer a economia nipônica dá relativo trabalho, já que fazer os japoneses
irem às compras não é uma tarefa fácil. No Brasil, pelo resultado do endividamento
das famílias brasileiras pelo crédito fácil, o modelo econômico é oposto.
Esses modelos se interagem dentro dos indivíduos ao longo do tempo e podem
ganhar interpretações novas com as mudanças das condições presentes. O que é
uma tradição ligada a um ritual moral de responsabilidade pode se associar ape-
nas à comercialização de uma festa, um momento de êxtase sem compromisso
futuro. Se usarmos o casamento como um fenômeno social, sua permanência
como ritual de associação à união conjugal está perdendo importância.
Hoje, mais de 50% dos casais, segundo dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística, do Censo de 2010 (IBGE, 2010), não se casaram no civil
ou no religioso, ou seja, a maioria dos casais não adota o ritual do casamento, a
cerimônia. Porém, as festas de casamento são cada vez mais um espetáculo. Sua
idolatria está na aparência requintada da cerimônia e não na permanência da
união. Se casar é uma festa, o casamento, para alguns, é uma prisão.
SOCIOLOGIA CLÁSSICA II
99
Logo, muitos dos comportamentos que temos em nossa sociedade têm um sen-
tido diferente do que há décadas. O que antes poderia ser associado a um ritual de
importância para a coletividade, hoje pode estar associado apenas a uma super-
ficialidade momentânea. A família está em constante transformação, contudo
ainda se preserva o modelo tradicional — patriarcal monogâmica e consanguínea
— na busca de constituir uma união estável. Porém, estatisticamente, segundo
o Censo de 2010, novos modelos familiares estão surgindo. A família tradicio-
nal está em decadência.
Se os modelos de ação são construídos nas relações sociais mediante as
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
racionalidade científica. É por meio dela que orientamos nossa ação para a superação
de problemas, que podem ser de ordem coletiva ou particular. Se estivermos doentes,
devemos procurar um médico, se uma sociedade tem uma epidemia, o Estado deve
tomar atitudes racionais para tentar sanar o problema, buscando a prevenção e a cura.
A racionalidade lógica está sustentada na busca de atender interesses uti-
lizando uma ação fundada na razão objetiva. Uma busca determinada sempre
necessita de ações lógicas para que seja executada. Um dos exemplos utilizados
por Weber é do engenheiro que constrói uma ponte porque tem que estabele-
cer uma ligação nas duas margens do rio. Outro exemplo é o aluno que, se quer
fazer um determinado curso, matricula-se em uma universidade. Se uma mulher
deseja evitar ter filhos, toma anticoncepcional. Se alguém deseja chegar a um
determinado lugar, vê o caminho mais eficiente e seguro.
Quando observamos o comportamento social, podemos concluir que pela
ação poderíamos deduzir a intenção de quem a pratica. Em uma sociedade capi-
talista, na qual a economia exerce um papel fundamental em nossas vidas, nosso
comportamento com o dinheiro deveria ser racional e lógico, já que ele é ape-
nas um meio de atender às nossas necessidades.
Se tenho necessidades vitais para me manter e garantir a minha sobrevivên-
cia, devo fazer com que o dinheiro cumpra essa função. Logo, deveria investir
em atividades de qualificação ou aplicar em bens que me permitam obter mais
dinheiro para minha segurança futura e melhora da minha qualidade de vida.
Se não tenho qualificação e necessito melhorar minha condição de vida, posso
investir em um curso técnico ou superior e jamais utilizar de meu dinheiro para
comprar um automóvel diante dessa necessidade racional e lógica.
SOCIOLOGIA CLÁSSICA II
101
Uma crença, um valor moral e um sentido emocional que exija um ritual asso-
ciado a um comportamento esperado. A racionalidade é uma exigência aparente
da forma como avaliamos o comportamento do outro, mas o valor a ela associado
pode ser um determinante para o comportamento que nossa busca de raciona-
lizar não consegue compreender de imediato, a não ser quando analisamos com
mais cuidado. Por isso, há uma associação de um determinado valor a um com-
portamento que se pratica. Uma necessidade de cumprir um ritual para atingir
um benefício que nem sempre está denunciado diretamente ao comportamento.
Pelo senso comum, afirmamos que os alemães são orgulhos, os assim como
os japoneses. Comentamos do nacionalismo norte-americano, do bom humor
italiano e da hospitalidade brasileira como características desses povos. Essas
características são esperadas quando nos relacionamos com alguém que tenha
como identidade uma dessas nacionalidades e sua característica específica. Não
espero de um italiano a mesma passividade de um nipônico diante de uma
mesma situação.
Esses valores podem ser apenas fantasiosos, não se comprovando em sua
maioria, mas podem ter uma expressão de verdade diante de determinadas
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rar na fila para obter água e alimento, para pegar um transporte coletivo, para
abastecer um veículo e para usar um telefone. Essa prática coletiva está além da
racionalidade, está ligada ao valor moral que atinge o conjunto social.
Essa condição que se estende por um número de indivíduos e que os identifica
por um comportamento comum é que chamamos de valor associado. Os japone-
ses foram racionais ao se comportarem de forma organizada, mas também havia
um sentido comum de valor ao considerarem que essa prática levaria ao resta-
belecimento de seu país e de sua nacionalidade que é tão cara para a população.
A honra é, para algumas comunidades, algo caro, que deve ser preservada e estar
presente diante de situações em que aquilo que se deseja preservar está ameaçado.
Colocamos no início dessa exposição os indianos e sua organização, mostrando a
forma como eles se comportam em determinado momento associada a um valor
que não existiria em outra civilização, é isso que estamos reforçando aqui.
A economia tem em seu desenvolvimento inúmeros casos que podem ser-
vir para tratar do comportamento lógico em relação a valores. O dinheiro, como
falamos, é um meio, mas onde ele é aplicado depende da intenção de quem o
tem. Dessa forma, investir, consumir, usar o dinheiro para aplicar e obter mais
ou gastar para adquirir objetos de prazer imediato são opções de quem tem o
dinheiro e dependem dos valores do ser humano diante da condição econômica.
Pessoas com a mesma quantidade de dinheiro, tendo a mesma escolaridade e
acesso às mesmas informações sobre objetos de consumo e possibilidades de
aplicação financeira podem não ter o mesmo comportamento. Em parcela con-
siderável de uma sociedade, este pode ser um comportamento comum, como
falamos dos japoneses anteriormente.
SOCIOLOGIA CLÁSSICA II
103
significante de acordo com a nossa visão, apenas com moças com uma
formação especificamente religiosa, em especial a pietista. Ouve-se
frequentemente, e confirma-o a investigação estatística, que de longe,
as melhores oportunidades de uma educação econômica são inegavel-
mente encontradas neste grupo. A capacidade de concentração mental,
tanto quanto o sentimento de obrigação absolutamente essencial para
com o próprio trabalho, estão aqui combinados com uma economia
estrita que calcula a possibilidade de altos vencimentos, um autocon-
trole e uma frugalidade que enormemente aumentam a capacidade de
produção (WEBER, 1980, p. 193).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
maior relevância. Se tivermos os nossos expoentes sociais associados ao conhe-
cimento e à busca de competência intelectual, científica e técnica, levaríamos os
demais elementos sociais a perceber a associação do sucesso à educação.
Agora vamos tratar dos demais modelos de ação que ainda restam abordar
aqui, o emocional e o tradicional, que se completam, determinando também as
ações sociais, segundo Weber.
AFETIVA
SOCIOLOGIA CLÁSSICA II
105
Em uma sociedade, pode ocorrer uma emotividade associada a fatos que aba-
lam o sentimento de unidade coletiva, como já vimos o exemplo da Alemanha
entre as duas guerras mundiais. Há, porém, a emotividade que pode levar à
depressão e descrença na unidade. Em alguns países, o sentimento de depressão
gerou comportamentos preocupantes. Se pensarmos na grande crise econômica
durante a quebra da Bolsa de Nova Iorque, em 1929, o número de suicídios cres-
ceu significativamente. Não podemos negar o sentimento de desespero que levou
uma parte dos suicidas a colocarem fim em suas vidas por terem perdido todo
o seu patrimônio. Em outros países, a falência não traria esse desespero, prin-
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TRADIÇÃO
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vezes, o comportamento permanece, mas o valor acaba se desassociando dele.
Uma tradição é a condição em que se mantém um determinado comportamento
arraigado em uma sociedade e que gera um sentimento (modelo emocional),
muitas vezes, de segurança. A permanência de um regime de governo, um ritual
religioso, uma comida típica e uma tradição de liderança são alguns exemplos.
O comportamento tradicional, em sua origem, poderia estar associado a
uma razão lógica ou a um valor, mas com o passar do tempo, sua permanência
ganha um sentido próprio e se perpetua relacionado a um número significativo
de elementos, muito além do que lhe deu origem. O casamento pode ser con-
siderado uma tradição, mas nem por isso está associado à manutenção de uma
relação duradoura. Nas comidas típicas, a permanência pode ser uma associação
de valores comerciais ou mesmo de identidade social com um passado, sem que
o alimento continue sendo uma expressão lógica. Na origem da comida típica, há
uma condição de ambiente, clima e disponibilidade de ingredientes que podem
não existir mais, mas o alimento ainda é produzido.
Na política, podemos exemplificar a condição do mando, da associação do
poder com determinados grupos sociais. Ao repetir o mando ao longo de gera-
ções, associa-se o poder a determinados personagens e sua hereditariedade. Nos
países onde a monarquia se mantém, pode-se dizer que é fruto de uma tradição
que não encontra respaldo racional lógico. O modelo monárquico inglês, com
seu parlamento, é um bom exemplo. O império japonês também poderia ser
colocado como uma manutenção tradicional. No Brasil, a política coronelista,
o mando de determinadas famílias em regiões de predomínio agrário, ainda se
mantém. Por mais que os coronéis tiveram sua origem em uma sociedade agrária
SOCIOLOGIA CLÁSSICA II
107
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
forma crítica de entender a sociedade capitalista, como também um projeto de
sociedade que se propôs a superar as relações capitalistas de produção. Já Max
Weber, em sua análise cultural, quando traz a compreensão da economia e sua
relação com a ética religiosa, avança sobre um campo inovador em sua época.
Entender o efeito das culturas sobre a vida material e sobre o comportamento
concreto. Em sua principal obra, A ética protestante e o espírito capitalista, a his-
tória da civilização ocidental ganha um contorno novo, a contribuição econômica
para o sentido da lucratividade e da materialidade do capitalismo. Max Weber
vai além da perspectiva meramente objetiva da análise social. Ele quer entender
os sentidos que os sujeitos que praticam a ação dão a ela. Qual é a orientação do
comportamento que será relacionado a outro. O legado cultural de uma nação
pode influenciar seu destino econômico e pode potencializar momentos que se
tornam únicos e promovem guinadas significativas na vida social.
A realidade econômica para sociedades que construíram um legado cultural
distinto sobre o enriquecimento pode ter influências diferentes para as práticas
econômicas. Para Weber, sociedades protestantes, principalmente puritanas, e
católicas dão um significado diferente ao enriquecimento.
SOCIOLOGIA CLÁSSICA II
109
1. Max Weber argumenta que existem quatro modelos para analisar as relações
sociais, que normalmente ocorrem com características próprias”. Acerca deles,
leia as asserções a seguir e escolha a alternativa correta.
I. Um desses modelos é a ação racional lógica a fins ou a finalidades, que foca
justamente em um objetivo específico a ser alcançado.
II. A ação lógica com relação a valores também é um modelo proposto por Weber.
III. A ação tradicional se assemelha muito à ação racional lógica com relação a fins.
IV. Weber não propôs modelos teóricos para a análise da sociedade.
a) Estão corretas apenas I e II.
b) Estão corretas apenas II e III.
c) Estão corretas apenas I, II e III.
d) Estão corretas apenas II, III e IV.
e) Estão corretas apenas I, II e IV.
2. Max Weber analisou os tipos de relações sociais, sendo um deles a ação lógica
com relação a valores. Diante dele, podemos afirmar que:
a) Prioriza sempre o fim lógico como forma de conduta. Vale mais o resultado
final do que a forma de ação.
b) Weber criou esse tipo metodológico para aprimorar o conceito de solidarie-
dade orgânica de Durkheim.
c) Auxilia na compreensão do pensamento do autor, sobretudo em relação às
tradições presentes nessa ação.
d) A ação lógica com relação a valores prioriza um valor moral como forma de
conduta para avaliarmos o comportamento da outra pessoa.
e) A necessidade de cumprir um ritual específico para a ação lógica com relação
a fins tipifica a ação lógica com relação a valores.
3. Karl Marx avalia o fetiche da mercadoria como a idealização do valor atribuído
pelo homem a um produto. Acerca desse conceito, leia as asserções a seguir e
escolha a alternativa correta.
I. O fetiche da mercadoria varia de acordo com a imagem idealizada pelo ho-
mem e transformada em realidade nos valores estabelecidos pelo fetiche.
II. O valor material de uma mercadoria é encoberto pelo fetiche.
III. Uma relação de “mundo de fantasia” na sociedade atual auxilia na explicação
do fetiche, uma vez que a estabelecemos quando desejamos um produto.
IV. O fetiche da mercadoria, proposto por Marx, nada mais é que o mesmo con-
ceito de valor de troca.
110
Isabela Vieira
Rio de Janeiro - Piadas sobre negros ainda da própria filha como “palha de aço”.
são usadas para desqualificar e margina- As aparições da personagem estão sob
lizar essa parcela da população, critica o análise no Ministério Público do Rio de
professor da Universidade Estadual Pau- Janeiro, que vai avaliar se há racismo
lista (Unesp) Dagoberto José da Fonseca, no programa, a pedido da Secretaria de
que pesquisa o tema desde a década de Igualdade Racial (Seppir).
1980. “Esse tipo de piada, de brincadeira,
que não é nada inocente, tem o objetivo “A personagem Adelaide está colocada
de rebaixar, de inferiorizar, de desqua- dentro dos marcos do passado. Havia
lificar o negro, de mostrá-lo como um uma leitura nas piadas de que os negros
animal, incompetente ou estigmatizar eram pobres, desdentados e feios. Ela [a
uma situação de pobreza pela qual passa personagem] não rompe com o passado,
boa parte dessa população”. como Mussum, Grande Otelo e Choco-
late. Adelaide tem o nariz e os lábios
Doutor em Ciência Sociais, ele começou exageradamente alargados e o cabelo
a pesquisar o tema depois de ouvir de despenteado, em um clichê, que, no final,
um amigo uma piada racista ainda na a compara a um gorila”, criticou.
faculdade. A anedota deu origem a uma
tese de mestrado que, engavetada desde Sobre o tema da sexualidade, em um dos
então, foi resumida e será publicada no quatro capítulos da obra, Fonseca tam-
livro Você Conhece Aquela? A Piada, o Riso bém critica o mito da potência sexual,
e o Racismo à Brasileira, com previsão de no caso dos homens, ou de lascívia, no
lançamento em dezembro. caso das mulheres. Segundo o professor,
essas ideias surgem na colonização tanto
Em 133 páginas, o professor da Faculdade no Brasil quanto na África e refletem teo-
de Ciências e Letras da Unesp reúne pia- rias de um momento histórico em que o
das em que os protagonistas são negros negro era tido como inferior.
e aparecem como “vadios, malandros,
ladrões”. Em algumas dessas anedotas “Quando a gente pensa em um negro
são comparados a doenças degenerati- brutamonte, está associando o negro a
vas, como câncer, ou têm características um tarado, a um cavalo, a um touro, ou
físicas, como o nariz e a boca, exagera- seja, voltamos para a questão da animali-
das, reforçando estereótipos. zação”, ressaltou. “Do outro lado, quando
se remete à mulher negra, há ideia de
É o caso da personagem Adelaide, do lascividade, de promiscuidade. Tudo vin-
programa Zorra Total, da TV Globo. No culado ao processo colonial, em que o
quadro, ela é uma mulher negra, pobre, dono do corpo era quem escravizava”,
sem dentes, que se refere aos cabelos acrescenta.
112
Sociologia (Marx)
Karl Marx
Editora: Ática
Sinopse: trata-se de uma coletânea de textos fundamentais
de Marx, organizados por Octávio Ianni e coordenados por
Florestan Fernandes, que definem bem o pensamento do
autor.
Material Complementar
114
REFERÊNCIAS
REFERÊNCIA ON-LINE
1
Em: <http://www.ebc.com.br/2012/11/pesquisador-da-unesp-diz-que-piadas-ra-
cistas-reforcam-padrao-colonialista-e-estereotipos>. Acesso em: 14 ago. 2017.
115
REFERÊNCIAS
GABARITO
1. a)
2. d)
3. c)
4. a)
5. São as transformações mercantis que ocorreram na Europa. A burguesia passou
a organizar seu projeto de Estado e, neste sentido, estabeleceu o seu poder eco-
nômico sobre a máquina estatal. Enquanto classe dominante financiadora do
capitalismo, a burguesia – também detentora das práticas mercantis - fez com
que o capitalismo prosperasse.
Professor Dr. Tiago Valenciano
Professor Me. Gilson Costa de Aguiar
IV
DOS CLÁSSICOS EM
UNIDADE
DIANTE: COMO PENSAR A
SOCIOLOGIA?
Objetivos de Aprendizagem
■■ Relacionar os clássicos da Sociologia e posicionar o acadêmico acerca
da discussão teórica da disciplina.
■■ Articular o pensamento de Pierre Bourdieu, apresentando um “novo”
clássico da Sociologia.
■■ Estabelecer um panorama sobre os fundamentos da Sociologia para
Educação.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Os clássicos ainda importam?
■■ A sociologia de Pierre Bourdieu
■■ Fundamentos Sociológicos da Educação
119
INTRODUÇÃO
acadêmica?
Para além dos clássicos, seguimos nossa viagem apresentando a sofisticada
Sociologia de Pierre Bourdieu, voltada para a explicação de conceitos, como
campo, habitus e capital, fundamentais para expor a diversidade que é nossa
sociedade, que possui símbolos e regras próprias de um jogo disputado a cada
dia em busca da hegemonia social. Bourdieu traz à tona questões estruturais da
Sociologia, talvez em menor complexidade metodológica do que seus anteces-
sores, mas com um legado importante para seus sucessores.
Indagaremos, ainda, quais são os fundamentos sociológicos para a educa-
ção, ou seja, o próprio título desta disciplina. A proposta é relacionar, em um
tom ensaísta, os principais conceitos dos autores abordados, no sentido de pen-
sar a relação entre a Sociologia e a Educação para a nossa sociedade e qual seu
impacto. Os apontamentos aqui efetuados surgem com o objetivo de explorar
sua imaginação sociológica, estabelecendo um papel questionador do status quo
do modelo de sociedade que vivemos.
Com esse itinerário, esperamos conduzir nosso diálogo para um balanço
da produção sociológica clássica, articulando-a com nossa realidade, com as
perspectivas do(a) aluno(a) para o Ensino Superior e, sobretudo, com as novas
experiências profissionais vindouras.
Introdução
120 UNIDADE IV
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
OS CLÁSSICOS AINDA IMPORTAM?
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Observamos, a seguir, um quadro que demonstra justamente essa atuali-
dade dos clássicos da Sociologia e em qual medida eles (ainda) influenciam o
estudo da sociedade.
Quadro 1 - Abordagens sociológicas da sociedade moderna
SOCIEDADE MODERNA
Relação entre indivíduo e
Pensador Conceitos principais
sociedade
Fato social; ordem;
Émile Durkheim Ser indivíduo é ser social; anomia; objetividade;
(1858-1917) indivíduo como simples coerção social; coesão
executor da estrutura social; divisão social do
Sociologia positivista/ (resíduo); a ação é subpro- trabalho; solidariedade
funcionalista/objetivista duto da abstração. mecânica e orgânica;
consciência coletiva.
Materialismo histórico;
superestrutura; infra-
Karl Marx Indivíduo como produto estrutura; fetichismo
(1818-1883) das relações sociais de da mercadoria; capital;
Objetivismo produção. alienação; exploração;
luta de classes; ditadura;
revolução; dialética.
Fonte: Ribeiro (2016, p. 157).
Veja que nesse quadro cada um dos autores clássicos da Sociologia possui relação
com a sociedade moderna e, por que não, com a atual sociedade pós-moderna/
globalizada. Analisando cada um deles, notamos que o relacionamento entre o
indivíduo e o outro/mundo exterior é diferente, porém com o sentido de que a
sociedade é um elemento essencial para compreensão de nossa realidade.
Durkheim estabelece essa relação entre o indivíduo e a sociedade a partir
do momento em que se assume que o ser é estritamente social. Isso significa
que o indivíduo executa um modelo baseado na força que a sociedade pode
exercer sobre as pessoas. Logo, o fato social se justifica, exemplos como a
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
teocêntricas. sencantamento) secularizada.
Fonte: Sell (2012, p. 17).
Nessa abordagem, Sell aponta quais são os legados que cada um desses autores
deixou para análise da sociedade contemporânea. Marx analisou a Revolução
Industrial como basilar na Idade Moderna, e tal revolução culminou na conso-
lidação do modo de produção capitalista e suas possibilidades de configuração
social ainda vigentes.
Já Durkheim optou pela divisão do trabalho social na Idade Moderna, apon-
tando que a solidariedade orgânica - aquela em que cada indivíduo cumpre seu
papel específico na sociedade complexa - é o elemento que explica a contempo-
raneidade. Por fim, Weber, em um processo de racionalização e desencantamento
do mundo, via a ação social (cada qual com um sentido específico), e observou
que a secularização, elemento agregador a partir da religião, deixou de constar
com a devida importância.
Muitos consideram desnecessário retomar uma produção científica quase
toda produzida no século XIX. Há sempre o questionamento que esses conhe-
cimentos estão superados e seu entendimento não terá validade para quem quer
compreender os dilemas da sociedade atual. Esse tipo de posicionamento é um
engano, isso porque necessitamos compreender a tendência dos pensadores da
atualidade, pois ainda é nos pensadores clássicos que os contemporâneos bus-
cam a sustentação de suas teses, senão na totalidade.
Outro fator que nos faz considerar importante o estudo dos clássicos das
Ciências Sociais é o preparo que ele nos dá para a leitura de outros teóricos da
atualidade, os quais possuem uma formação fundada no trabalho dos primeiros
grandes cientistas sociais e suas análises de uma sociedade que continua baseada
nos elementos da economia de mercado, industrial e financeira. Isso acrescido de
um aumento complexo das relações de produção e de divisão do trabalho social.
Dessa forma, demonstramos a necessidade de estudar e analisar os clássi-
cos da Sociologia, uma vez que esses autores (Durkheim, Marx e Weber) ainda
influenciam não somente os autores contemporâneos, mas também explicam as
relações sociais estabelecidas na atualidade. Assumindo esse caráter “clássico”,
eles fornecem instrumentos para compreendermos a necessidade justificada de
uma Ciência da Sociedade, que irá pensar os fundamentos da relação entre a
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
sociedade e a educação.
A SOCIOLOGIA DE
PIERRE BOURDIEU
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Trajetórias e biografias: notas para uma análise bourdieusiana
A relação entre biografia e história insere-se em um conjunto mais vasto de
dualidades que percorrem a Sociologia desde muito tempo, baseadas na
exploração da dialética indivíduo/sociedade, ação individual/coletiva, liber-
dade/determinismo, individual/coletivo, estrutura/indivíduo e outras. Neste
último caso, aponta-se para a manutenção, no indivíduo, de componentes
subjetivos sociais e ligados ao grupo onde ele vive, ou, inversamente, a bus-
ca do que é extremamente único e pessoal dentre um aparato mais vasto de
representações da memória, internalizadas a partir da sociedade.
Pode-se mesmo afirmar que as três grandes matrizes teóricas presentes
na Sociologia, desde seus primórdios, giram em torno dos debates sobre a
preeminência de uma ou outra forma de análise do mundo social, ou uma
ou outra forma de encarar filosoficamente a sociedade. Se aceitamos sem
discussão o ponto de vista da sociologia durkheimiana, o peso da socieda-
de tem uma preponderância sobre as individualidades e a subjetividade do
indivíduo.
Fonte: Montagner (2007).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
na convivência social e satisfazer suas necessidades e suas concepções
(PRAXEDES, 2015, p. 15).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
poradas) próprio do campo (por exemplo, o habitus da filologia ou o
habitus do pugilismo). Apenas quem tiver incorporado o habitus pró-
prio do campo tem condições de jogar o jogo e de acreditar na impor-
tância desse jogo.
O capital simbólico é o que mais nos interessa, pois tem a capacidade de influen-
ciar o tipo de ação existente dentro do campo. Ele é a maneira que legitima,
portanto, o poder simbólico que, de acordo com a posição de quem age dentro
do campo, pode, então, dominá-lo:
O capital simbólico confere poder e legitimidade — poder simbólico
— ao agente ou grupo que o possui, a partir de seu reconhecimento
dentro de determinado campo. Essa posse também está relacionada
à posição do agente dentro do campo, e se dá em relação aos demais
agentes, pressupondo o “desconhecimento da violência que se exerce
através dele” (BOURDIEU, 2004, p. 194).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O propósito da Sociologia é, portanto, como exposto, comparar autores e
teorias que, em conjunto, servem como base para fundamentar as teorias que
regem nossa sociedade, nosso cotidiano e as relações sociais que nos permeiam.
Existe um autor A ou B com a razão neste campo científico, portanto é neces-
sário ponderar, para utilizar cada um na medida correta, relacionando teorias e
construindo novas pesquisas.
pergunta basilar do título do livro ainda se mantém: quais são esses fundamen-
tos da Sociologia e da Antropologia? No que eles irão colaborar para a minha
formação docente? Eles serão importantes e úteis na minha carreira de educa-
dor? É o que pretendemos responder a partir de agora (no tocante à Sociologia).
A Sociologia é uma Ciência questionadora por natureza. Desde o nasci-
mento da Física Social, com Auguste Comte, houve a procura da definição de um
método sociológico, aprimorado posteriormente por Émile Durkheim, a fim de
constituir seu escopo de atuação. Citamos a Sociologia como questionadora por
natureza dada a própria dinâmica da Física Social, destinada a estudar a movimen-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
tação da sociedade, isto é, como nós, seres humanos que integramos, interagimos
e, ao mesmo tempo, fazemos a sociedade em que nós vivemos, podemos ten-
tar entendê-la melhor, buscando solucionar conflitos e equacionar problemas.
Note, caro(a) aluno(a), que a proposta de Comte, enquanto fundamento socio-
lógico da educação, está direcionada sobre dois aspectos: chamar atenção para
a análise da sociedade e debater com o positivismo a possibilidade de melhor
estruturar os currículos escolares, de forma metódica, com o decorrer dos anos.
Em primeiro lugar, é importante salientarmos que a crítica de Comte no
momento em que a fez (século XIX) demonstra a preocupação do autor em estu-
dar os problemas inerentes à sociedade. Ora, em um contexto da Idade Média
marcado estritamente pelo aspecto campesino, Comte traduz em seu pensa-
mento a necessidade de estudar o fenômeno social advindo da urbanidade, isto
é, os problemas existentes nas relações sociais e, sobretudo, a dinâmica assumida
pelo movimento da sociedade.
Observamos, assim, que Comte, com a Física Social, desejava estudar a movi-
mentação da sociedade e seu destino, seguindo os pressupostos do positivismo:
criar leis gerais para entender o corpo social. A proposta do autor surge no sen-
tido de enxergarmos que a sociedade é um corpo que se movimenta, com leis e
regras próprias e, neste sentido, a Educação precisa enxergar tais movimentos,
para que não seja um oásis em um universo marcado por disputas territoriais e
conflitos sociais latentes.
Além disso, Comte se debruçava sobre o positivismo, uma teoria destinada
a explicar o próprio destino da sociedade em três estados: o teológico (infância),
o metafísico (juventude) e o positivo (virilidade). Destacamos que o positivismo
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
e menos conformista. Apesar de não ter se dedicado integralmente à produção
de uma Sociologia da Educação, podemos concluir esses pontos acerca dos fun-
damentos fornecidos pela Sociologia para a Educação como um todo, seguindo
as premissas de Marx.
Por fim, Weber fornece os fundamentos sociológicos para a educação quando
acredita que, pela racionalidade, é possível transmitir o conhecimento adequado
para a sociedade. A racionalidade, palavra-chave da Sociologia Weberiana, prevê
basicamente que somente por intermédio de uma pesquisa científica, dotada de
pressupostos racionais, lógicos e com ações voltadas necessariamente para esse
fim, é possível compreender a importância da educação para nossa sociedade.
Além da contribuição da racionalidade, Weber defende a separação entre
a Ciência e Política, na conferência que depois se transformou no livro Ciência
e política: duas vocações. Nessa obra, o autor destaca que a vocação é uma das
premissas para o exercício de duas das mais importantes atividades humanas:
a Ciência e a Política. É nessa conferência que Weber define o típico político
por vocação, famoso em diversas análises políticas. Entretanto, como o que nos
interessa é a questão educacional, vale ressaltar que ele sinaliza o valor da espe-
cialização no campo científico, dotado de conhecimento próprio e racional.
Note, caro(a) aluno(a), que os três autores clássicos da Sociologia se relacio-
nam na produção de um conhecimento sociológico importante para sua carreira
profissional. É nesse sentido que este livro didático de fundamentos sociológi-
cos e antropológicos da educação nasce, isto é, para fornecer subsídios teóricos
e empíricos destas duas áreas de conhecimento (Sociologia e Antropologia) para
a posteridade de sua carreira de pesquisas científicas. É importante ressaltar,
sobretudo, que os conteúdos aqui abordados são de grande necessidade para arti-
cular conceitos e fornecer pontes inteligíveis que se relacionem a outros autores.
O fato é que o conhecimento sociológico aqui abordado pode abrir novos
horizontes, novas indagações, novas inquietudes, pontos típicos do pensar socio-
lógico, uma construção contínua do objeto de análise da disciplina:
Estimule a reabilitação do artesão intelectual despretensioso, e tente se
tornar você mesmo tal artesão. Deixe que cada homem seja seu próprio
metodologista; deixe que cada homem seja seu próprio teorizador; dei-
xe que teoria e método se tornem parte da prática de um ofício. [...] Seja
uma mente independente na confrontação dos problemas do homem e
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
essa base de pensamento pode se articular com a Educação, em um meca-
nismo que a sociedade integra e molda diretamente ao sistema de transmissão
de conhecimento.
Além da ótica crítica que a Sociologia pode subsidiar os debates acadêmicos,
pretendemos aguçar um olhar sociológico, em que somos agentes e analistas do
meio social em que vivemos. Esse olhar tem como foco a preparação para res-
pondermos duas questões importantes para o debate da próxima unidade: quais
são os fundamentos antropológicos da Educação? E como a Sociologia lida dia-
riamente com o mundo globalizado?
Como exposto, a proposta aqui abordada se refere às bases da Sociologia
Clássica, solidificando um caminho para traçarmos o destino da Ciência da
sociedade do presente e do futuro, sem jamais esquecer da Educação, edificada
diariamente, lado a lado da Sociologia, da Filosofia, da Psicologia e de outras
áreas do conhecimento.
Esperamos, assim, caro(a) aluno(a), que o conteúdo aqui abordado possa
auxiliar na pergunta fundamental desta unidade: afinal, quais são os possíveis
usos dos fundamentos sociológicos para a articulação de ideias sobre a Educação?
Essa é a proposta que nós, professores, pretendemos deixar para que você possa
refletir, além, é claro, de solidificar os conhecimentos acerca da Sociologia.
caracterização de uma teoria como repre- Levar aos alunos o acúmulo de reflexões
sentando o ponto de vista de uma classe ou o estado da arte da disciplina não é
determinada não significava, necessaria- uma tarefa fácil, porque exigirá recor-
mente, que fosse uma visão sem valor tes, escolhas, delimitações de conteúdos,
cientifico. Por isso, Marx, em sua obra, de teorias, e parafraseando Weber, aqui
estudou e discutiu com o que havia de nós podemos ser parciais. Até porque
mais sofisticado na Filosofia e na Econo- o tempo das aulas, o número de aulas
mia dos séculos XVIII e XIX . por semana, por mês e por ano exige
que selecionamos o que consideramos
O ensino dos fundamentos socioló- o melhor desse “acúmulo”. Bem, uma
gicos da educação, muitas vezes, foi vez feita a escolha, a seleção e as divi-
direcionado como um mecanismo de sões dos conteúdos, devemos cuidar
inculcação de valores, sejam conserva- para sermos “neutros”, fiéis à ciência, ou
dores, no antigo curso Normal, em que como diria Marx, sermos comprometi-
imperava o positivismo; sejam progres- dos com a busca da essência superando
sistas, muito comum nos anos de 1980, as visões que temos sobre a aparência
no Brasil, devido à ansiedade dos pro- da vida social.
fessores em romper com o autoritarismo
do regime militar, passavam a fazer dis- O fato de estarmos comprometidos com
cursos em favor das mudanças, ora mais uma classe social, no caso, a classe traba-
democráticas, ora mais socialistas-revo- lhadora, exige ainda mais rigor científico.
lucionárias. É o contrário do que propalam algumas
versões vulgares de pedagogias libe-
Ainda hoje, encontramos justificativas rais, do ensino por competências, do
para o ensino de sociologia geral nas “aprender a aprender”, em que os pobres
escolas, tais como: “essa disciplina deverá deverão ter um ensino mais leve, mais
ajudar o aluno a entender seus direitos e palatável, simplificado e resumido no
deveres, muita mais seus deveres já que imediato das experiências cotidianas,
não se comportam adequadamente”; “a normalmente tratadas de forma sincrô-
sociologia deverá ajudar na disciplina nica (sem história) .
dos alunos, no controle da violência, etc”;
“essa disciplina deverá dar mais civismo Com esses princípios poderemos enri-
para os jovens”, e assim por diante. quecer os olhares dos alunos, futuros
professores.
Fonte: Silva (s/d, on-line)1.
MATERIAL COMPLEMENTAR
O poder simbólico
Pierre Bourdieu
Editora: Bertrand Brasil
Sinopse: clássico da Sociologia do autor, esse livro conduz a
uma reflexão sociológica sobre as disputas existentes entre
os símbolos de nossa sociedade, além de nos levar a pensar
sobre a metodologia de construção da prática científica.
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
O Substituto
Henry Barthes é um professor substituto que só aceita esse
tipo de aula para não criar vínculos afetivos com os alunos.
Ele se deparará com uma escola pública, com professores
desmotivados e alunos violentos, tendo que alterar tal
realidade.
Dos clássicos da Literatura aos clássicos da Sociologia, trata-se de um excelente texto para
fazer o balanço entre o que significa ser clássico para a Literatura e, da mesma forma,
para a Sociologia. Disponível em: <http://www.redalyc.org/html/4008/400841526005/>.
145
REFERÊNCIAS
REFERÊNCIA ON-LINE
1
Em: <http://www.uel.br/grupo-estudo/gaes/pages/arquivos/Ileizi%20CORRR%20
O%20ENSINO%20DOS%20FUNDAMENTOS%20SOCIOLOGICOS%20DA%20EDUCA-
CAO.doc>. Acesso em: 15 ago. 2017.
GABARITO
1. a)
2. a)
3. a)
4. O habitus, na definição clássica de Bourdieu, é um sistema de posições sociais
duráveis que o indivíduo sofre ao longo dos anos, que tem por objetivo a ar-
ticulação da sociedade com o comportamento individual. A partir desse com-
portamento “moldado” pela sociedade e com as influências individuais, o sujei-
to aprende uma língua, obtém costumes, valores e a noção da realidade social,
além, é claro, de criar suas próprias ideias, que também irão contribuir para a
modificação da sociedade em que esse indivíduo está postado.
5. Um “campo” é uma teia em que as relações objetivas, dotadas de significado e fi-
nalidade específica, são colocadas em prática por intermédio da posição em que
um agente se localiza. A partir dessas posições do campo, os atores distribuem
suas forças (ou capital, ao modo de Bourdieu), impondo os limites de atuação, a
correlação de virtudes, enfim, o espaço próprio de atuação.
Professor Dr. Tiago Valenciano
Professor Me. Gilson Costa de Aguiar
V
SOCIOLOGIA E
UNIDADE
ANTROPOLOGIA NA
MODERNIDADE
Objetivos de Aprendizagem
■■ Demonstrar as diferentes correntes de pensamento da modernidade/
pós-modernidade.
■■ Articular a Sociologia da atualidade com o estilo de vida globalizado.
■■ Pensar na Educação e na discussão da atualidade.
■■ Pensar na Antropologia e nos seus fundamentos para a Educação na
atualidade.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Sociedade na contemporaneidade
■■ A Educação na atualidade
■■ Um breve passeio sociológico
■■ Os fundamentos antropológicos da Educação
149
INTRODUÇÃO
Introdução
150 UNIDADE V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
SOCIEDADE NA CONTEMPORANEIDADE
Sociedade na Contemporaneidade
152 UNIDADE V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
sentido e lhes possibilitam uma vida de magia que a realidade lhe nega. O não
ser nada se modifica com a obtenção de um bem cobiçado. Ter determinado
produto faz de um ser insignificante uma celebridade em questão de segundos.
Por isso, o esforço em desenvolver a ciência, a tecnologia e a busca de compre-
ensão do mundo pela razão é ineficaz diante da mágica que os bens de consumo
promovem.
Estamos nos rodeando dos bens de consumo, eles estão por todos os luga-
res e é com eles que construímos uma convivência íntima. Eles nos identificam
e nos colocam no centro de um mundo aparente de movimento. Tudo a nossa
volta parece se movimentar, parece estar agindo com uma dinâmica que nos
agrada, pois estamos no comando com nossos “controles remotos” e botões
digitais dando movimento e parando uma parafernália eletrônica que se movi-
menta ao nosso prazer. Se formos entender as condições em que esse convívio
ocorre, vamos perceber que estamos parados, estáticos, enquanto as coisas se
movimentam a nossa volta. Nossos filhos falam do cansaço do dia marcado por
horas à frente do computador, navegando na internet, conversando pelo celular
por mensagens que não têm fim. Estamos exaustos de não fazer nada e de dia-
logar com “coisas” e não com pessoas.
Jean Baudrillard, cientista social francês, filósofo e fotógrafo, tem como um
dos seus principais temas a “sociedade de consumo”. Ele considera que esta-
mos vivendo a vida dos objetos, estamos cada vez mais rodeados desses bens
eletrônicos:
Sociedade na Contemporaneidade
154 UNIDADE V
Essa falsa busca de igualdade pelo consumo encanta até mesmo nas políticas
governamentais. Se formos considerar o interesse do Estado em promover o
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
acesso da população a bens por meio de crédito, concluímos que se transfor-
mou em programa social a inclusão da cidadania na condição de consumidor.
Nesse mesmo sentido, exaltam-se os programas de inclusão digital que pro-
movem a informatização das escolas e o acesso dos alunos à internet, como se
o objeto pudesse dar habilidade ao usuário apenas por existir. Estamos distan-
tes de uma alfabetização adequada, já não conseguimos estabelecer uma relação
lógica entre a mensagem e seus interlocutores em sala de aula; agora considera-
mos que a presença do computador realizará a competência de quem o manipula.
Isso não irá ocorrer. Não é difícil perceber, porém, de onde surge a ideia de efici-
ência com a aquisição. Parte considerável dos celulares que estão nas mãos dos
cidadãos não estão executando a função de comunicar, mas estão promovendo
atividades para preencher a ociosidade. A aula passa mais rápido com um com-
putador ou celular nas mãos.
Esse contexto demonstra que os argumentos fornecidos por Stuart Hall estão
corretos. Vivemos em um período em que as identidades sociais, isto é, aquilo
que nos define perante à sociedade, estão em constante processo de mudança.
É muito difícil neste contexto de ambientação de consumo, globalização exa-
cerbada e conectividade a toda prova definir quem é o indivíduo do século XXI.
Segundo Hall:
Quanto mais a vida social se torna mediada pelo mercado global de es-
tilos, lugares e imagens, pelas viagens internacionais, pelas imagens da
mídia e pelos sistemas de comunicação globalmente interligados, mais
as identidades se tornam desvinculadas – desalojadas – de tempos,
lugares, histórias e tradições específicas e parecem, flutuar livremente
(HALL, 2006, p. 75).
Ora, as identidades que assumimos perante a sociedade estão livres, não dispos-
tas de lugares fixos, trafegando de forma individual de acordo com o interesse
de cada cenário. Somos atores prontos para vestir um novo personagem, pre-
parados para entrar e roubar a cena, conectados permanentemente à internet,
ditando padrões de moda, comportamento e relações sociais - ainda que este
não seja o objetivo: ditar um padrão.
Qual é, porém, a concepção de identidade assumida nesta sociedade glo-
balizada/pós-moderna em que vivemos? Segundo Hall (2006), existem três
concepções distintas de sujeitos que lidam com a questão das identidades culturais
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Note que esses três tipos de sujeito auxiliam na compreensão de nossa relação
com o meio social com o passar dos anos. A Sociologia, enquanto Ciência, surge
justamente no apogeu do sujeito sociológico e, conforme apontado na Unidade
I, as preocupações giravam em torno da complexidade da sociedade moderna.
Por outro lado, o sujeito pós-moderno se relaciona diretamente com a socie-
dade de consumo globalizada, em que a noção de tempo/espaço está alterada
constantemente, ou seja, torna-se difícil mensurar que um acontecimento distante,
espacialmente falando, possa ocorrer tão próximo, temporalmente falando, pois
Sociedade na Contemporaneidade
156 UNIDADE V
uma transmissão em tempo real pode facilitar que esse mecanismo ocorra. Logo,
a noção de perto/longe e tempo/espaço são alteradas nessa sociedade globalizada.
Enfim, consideramos que o consumo estabelece uma perversa relação conosco
em nosso modelo societal: se consomem não somente ideias (ou a falta delas),
mas, sobretudo, a sensação de pertencer a uma pós-modernidade, em que há
a celebração da constante mudança nas identidades culturais. Dizer quem é o
sujeito pós-moderno é uma tarefa singular, uma vez que a bricolagem de papéis
sociais estabelecidos para cada evento faz com que essa noção de identidade fixa,
impermeável, de fato não ocorra.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O que observamos - respondendo à pergunta motriz deste tópico - é que
a análise sociológica nunca esteve tão em alta, em um modelo de sociedade de
múltiplas vertentes e diferentes anseios populacionais. Os padrões de resposta
para a clássica pergunta (qual é o relacionamento do indivíduo em/na socie-
dade?) já não existem mais e, nesse sentido, espera-se que o cientista social
possa mensurar, avaliar, comparar e, nem sempre de forma definitiva, delinear
uma sociedade marcada, geralmente, pelo consumo e pelas diferentes identida-
des, mas que permanece em constante processo de construção, em um tempo e
espaço jamais definidos.
A EDUCAÇÃO NA ATUALIDADE
A Educação na Atualidade
158 UNIDADE V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Dentro da escola, o grande desafio é colocar a produção científica como um
instrumento de formação de um ser humano que não se deixa seduzir exclusi-
vamente por esse imediatismo do consumo. O entendimento da vida mediante
à Ciência, que é uma das ações fundamentais da escola, tem se perdido. Ela está
isolada da condição de instrumento de compreensão e crítica da vida social.
Mesmo quando se tratam das Ciências Exatas ou Naturais, o conhecimento cien-
tífico se empobrece e não consegue desvendar as condições de materialidade
que existem nos produtos disponíveis no mercado. Não podemos empobrecer
a Ciência e lhe dar apenas um papel decorativo ou de ritual sem sentido na vida
do ser humano, esteja ele em qualquer nível da Educação.
Temos que considerar que a Ciência é o instrumento fundamental para a
compreensão e superação dos dilemas humanos. Foi por meio do conhecimento
científico que a sociedade ocidental se fez e conseguiu atingir o grau de comple-
xidade que se apresenta em nossos dias. Estamos propagando a ideia de que o
conhecimento chegou até nós por “magia”, que tudo do que usufruímos é uma
mera contribuição de “gênios” e não de uma possibilidade humana, nesse sentido,
a escola e a academia têm que ser um instrumento de luta contra esses conceitos.
Cabe a nós, educadores, ou os que têm lucidez, romper com essa superficiali-
dade que domina os discursos sobre a vida social.
Foi dentro da construção de uma economia racional, fundada no poder do
Estado e nas práticas de desenvolvimento do conhecimento científico para atender
necessidades humanas que o conhecimento que temos sobre a nossa existência
se fez. Não podemos desprezar séculos de história que colocaram a produção
científica no centro das necessidades humanas e como o principal instrumento
sidade de todos, não é por acaso que a educação deve estar próxima de todas as
pessoas e que se tornou um instrumento fundamental da vida humana. Ela, a
Ciência, está por todos os lados e nós temos que perceber e despertar isso.
A Educação na Atualidade
160 UNIDADE V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
UM BREVE PASSEIO SOCIOLÓGICO
O itinerário percorrido nesta unidade visou dois objetivos claros e pontuais acerca
da Sociologia: a relação dos clássicos com a atualidade e como essa Ciência tem se
relacionado com a globalização, presente em nosso cotidiano. Observe que esses
objetivos nos auxiliam a compreender a questão geral implícita nos estudos socio-
lógicos apresentados: demonstrar a importância e a objetividade da Sociologia
em uma sociedade cada vez mais complexa e difícil de ser compreendida.
O passeio realizado pelos clássicos - Durkheim, Weber e Marx, auxiliados
pela teoria social de Pierre Bourdieu - foi importante para expor as diferenças
entre períodos históricos, que influenciaram diretamente no estabelecimento do
Esse cenário nos conduz a respostas ainda não finalizadas acerca de nossa
sociedade, por exemplo: qual o destino desse modelo societal? A denominada
“sociedade de consumo” ainda imperará por muitos anos? Além disso: essas rela-
ções sociais indicam a fugacidade dos contatos, isto é, tendemos a chegar em um
momento em que tais relações serão necessariamente virtuais e não reais? Essas
e outras perguntas ainda estão sem resposta definida, mas são importantes para
traçarmos o futuro do pensamento filosófico e sociológico acerca da humanidade.
Por fim, encerramos esta unidade destacando que a educação terá, como
exposto no segundo Tópico, uma parcela considerável na formação dessa nova
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
sociedade, em que a escola poderá se constituir como um espaço democrático,
destinada a compreender as necessidades do cidadão e seu relacionamento com
a sociedade em que vive. A Sociologia, nesse sentido, tem o papel fundamental
de auxiliar na explicação dessas novas configurações sociais, em que o líquido
parece substituir o concreto e as “antigas” teorias precisam de uma explicação
“reinventada” ou uma exemplificação palpável, a fim de constituir verdades acerca
do futuro da sociedade.
OS FUNDAMENTOS ANTROPOLÓGICOS DA
EDUCAÇÃO
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
do livro O fim do mundo como concebemos: Ciência social para o século XXI,
quando aborda a questão do eurocentrismo. Segundo o autor, cinco são as “acu-
sações” atestadoras de tal fator.
A primeira “acusação” parte do pressuposto de que a historiografia tem se
pautado nas conquistas dos europeus no mundo moderno. Sob qualquer olhar, as
inovações propostas pela Europa sempre são boas. Esse argumento sustenta, tam-
bém, as conquistas, o domínio do capital e, claro, do saber dos europeus perante
aos demais. Isto é, partir (e pensar) do pensamento europeu sempre é bom.
Assim, surge a segunda “acusação”, no tocante da produção europeia ser
considerada universal (universalismo). Tal provincianismo é inerente à Ciência
Social visto deste “padrão europeu universal”, assumido nos passos da história.
O terceiro postulado é a civilização, opondo ao barbarismo ou ao primiti-
vismo os demais. Desse modo, quem não é da Europa pode ser tratado como
“nativo”, pertencente a outro grupo ou clã, não dotado dos mesmos valores da
educação dominante.
O orientalismo é o ponto-chave da quarta “acusação”, pautando a discussão
em torno de uma disputa entre os interesses de ambos. Por fim, a última “acu-
sação” surge pelo progresso, inspirado no Iluminismo e no desenvolvimento de
todas as etapas.
Ainda nesta linha de pensamento, Edward Said afirma que a relação entre
o colonizador e o colonizado é intrigante, vez que o colonizado assume posição
secundária e sua representação pode não ser a exata, da maneira como era, já
que o colonizador traduz o colonizado, evidenciando a visão do seu trabalho de
campo. O colonizado assim é definido:
bem mais ponderar o que de fato será exposto. A crítica realizada por Said se
encontra justamente nessa posição, em que cobra da Antropologia um trabalho
fiel, ilustrando com vigor o lugar do colonizado, até mesmo a defesa de divul-
gação ampla de alguns posicionamentos, na tentativa de esmiuçar cada cultura,
cada costume, cada povo.
Ainda neste debate sobre a importância da disseminação das culturas por
intermédio do multiculturalismo, Henry A. Giroux crítica o conhecimento disci-
plinar, contrapondo-se, então, aos vários especialistas produzidos. Segundo Giroux:
A sabedoria convencional dos acadêmicos é deixar que os membros
de outros departamentos façam o que quer que seja seu trabalho de
maneira que quiserem – contanto que este direito lhes seja garantido.
Como consequência destes desenvolvimentos, o estudo da cultura é
conduzido em fragmentos (GIROUX, 1997, p. 179).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
pressupõe-se a assimilação da diferença às tradições e aos costumes da maio-
ria, aceitando-as e respeitando-as. No liberal, insere-se a minoria nos padrões
da maioria, com as diferenças toleradas no campo privado, sem reconhecê-lo na
esfera pública. Já no pluralista, pondera-se que cada grupo deve viver em sepa-
rado, ou seja, cada qual com sua identidade, não se relacionando com os demais.
No multiculturalismo comercial, argumenta-se que as diferenças surgem em
nichos de mercado, dada a importância de fornecer os desejos desses nichos.
Atender aos anseios das minorias para estancá-las é a missão do multicultura-
lismo corporativo. Esse estancamento supõe o domínio da maioria e o modelo
defendido por Hall (crítico) interroga as relações de poder e as desigualdades
entre os grupos. Assim, qual multiculturalismo seguir? Ou, então, devemos res-
peitar todos esses rostos multiculturais? Hall indaga:
Na verdade, o “multiculturalismo” não é uma única doutrina, não ca-
racteriza uma estratégia política e não representa um estado de coisas
já alcançado. Não é uma força disfarçada de endossar algum estado
ideal ou utópico. Descreve uma série de processos e estratégias políticas
sempre inacabados (HALL, 2003, p. 52-53).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo desta unidade, caro(a) aluno(a), foi articular a nossa sociedade atual
e contemporânea com o estilo de Educação na atualidade e os seus fundamentos
antropológicos, proporcionando um desfecho em nossas ideias aqui expostas.
No primeiro Tópico, a proposta foi demonstrar como nossa sociedade está
destinada ao estilo de vida pós-moderno/globalizado, em que as relações sociais
são efêmeras, fugazes, com pouca durabilidade, em um sujeito praticamente
líquido (segundo Bauman, retomado no terceiro Tópico acerca de “um breve pas-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
seio sociológico”) e que deseja manter suas relações sociais sem grandes vínculos,
a todo custo. Nota-se, portanto, uma quebra do sujeito iluminista/sociológico
para o pós-moderno, conforme exposto no aludido tópico.
Em seguida, debatemos rapidamente os desafios da educação na atualidade,
em que o estar em/na sala de aula física é substituído pelas relações virtuais, com
alteração do espectro de tempo/espaço em nossas mentes. Com um caminho
sem volta, refletimos acerca da Educação de hoje, voltada para as relações vir-
tuais do processo ensino-aprendizagem.
A tônica de Zygmunt Bauman foi exposta no terceiro tópico, em que debate-
mos rapidamente um importante sociólogo da atualidade, pautado pelas relações
fugazes da pós-modernidade, que desenvolve o conceito de “modernidade líquida”
experimentado atualmente.
Já no quarto Tópico, a experiência do multiculturalismo, presente em nosso
dia a dia, leva-nos a refletir que os fundamentos da Antropologia na educação
são complexos, uma vez que devemos observar as diferentes tendências culturais
para chegar a possíveis conclusões. Note que a proposta neste tópico é retomar os
conceitos clássicos da Antropologia Cultural, relacionando-os com a atualidade.
Por fim, vale relembrar que o objetivo desta unidade é avaliar as tendências
da Antropologia e da Sociologia, direcionadas obviamente à Educação, questio-
nando: é possível avançarmos no atual modelo societal?
Condição Pós-Moderna
David Harvey
Editora: Edições Loyola
Sinopse: com a tese de que estamos sendo dominados
pelas novas formas de uso do tempo e do espaço, bem
como a supressão de ambos, David Harvey lança as bases
sobre a pós-modernidade e suas nuances.
As consequências da modernidade
Anthony Giddens
Editora: Editora Unesp
Sinopse: indagando se estamos vivendo em um período
de modernidade tardia ou de modernidade, Giddens analisa
os movimentos sociais experimentados na Europa a partir
do século XVII e que vão justamente analisar as correntes
transformações sociais do estilo de vida urbano.
Nihonjin
Oscar Nakasato
Editora: Benvirá
Sinopse: apesar de se enquadrar como um livro de
literatura propriamente dito, o vencedor do prêmio Jabuti
2012 (o mais importante da literatura nacional) é uma
grande narrativa antropológica, que mostra disputas
evidentes da cultura japonesa versus a brasileira, além dos
olhares diferenciados de cada cultura perante a fixação em
solo nacional.
MATERIAL COMPLEMENTAR
Crash — no limite
A proposta do filme é debater a mistura étnica de diferentes
classes sociais após Jean Cabot, esposa de um promotor de
uma cidade ao sul da Califórnia, ser assaltada por dois negros.
Após o roubo, um acidente de trânsito acaba aproximando
diferentes pessoas, o que demonstra os atuais modelos de
relações sociais da pós-modernidade.
Material Complementar
REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS ON-LINE
1-
Em: <https://tiagovalenciano.wordpress.com/2015/02/26/sociologia-no-tempo-
-das-redes-sociais/>. Acesso em: 15 ago. 2016.
2-
Em: <https://andrepaz85.wordpress.com/2014/02/08/cardoso-oliveira-roberto-
-o-trabalho-do-antropologo-brasilia-ed-paralelo-sao-paulo-unesp-2000-o-traba-
lho-do-antropologo-olhar-ouvir-escrever-p-17-a-36/>
175
GABARITO
1. a)
2. a)
3. a)
4. Padrão de resposta: segundo Zygmunt Bauman:
São esses padrões, códigos e regras a que podíamos nos conformar, que podía-
mos selecionar como pontos estáveis de orientação e pelos quais podíamos nos
deixar depois guiar, que estão cada vez mais em falta. Isso não quer dizer que
nossos contemporâneos sejam livres para construir seu modo de vida a partir do
zero e segundo sua vontade, ou que não sejam mais dependentes da sociedade
para obter as plantas e os materiais de construção. Mas quer dizer que estamos
passando de uma era de “grupos de referência” predeterminados a uma outra de
“comparação universal”, em que o destino dos trabalhos de autoconstrução in-
dividual […] não está dado de antemão, e tende a sofrer numerosa e profundas
mudanças antes que esses trabalhos alcancem seu único fim genuíno: o fim da
vida do indivíduo (BAUMAN, 2001, p. 14).
O argumento de Bauman diz respeito às mudanças dos padrões de compor-
tamento impostos pela sociedade, agora transformados para o condicionante
individual ou de grupos específicos: esses vão se formando ao longo dos dias,
sendo muito difícil transcrever como cada grupo se posicionará em relação a
determinados assuntos.
Veja que, na pós-modernidade/globalização, estamos a todo tempo escrevendo
uma nova história que, com seus fragmentos, colados a um grande quebra-ca-
beças sem fim, vai formando esse modelo societal, pautado nas relações sociais
líquidas e em um consumo exacerbado de bens dispostos pelo capitalismo.
5. a)
CONCLUSÃO
Durante este livro didático, nosso objetivo foi fornecer subsídios para você, caro(a)
aluno(a), pensar acerca dos fundamentos da Sociologia e da Antropologia aplica-
dos à Educação. Nossa proposta era articular autores da Sociologia Clássica, com as
bases da Antropologia, além de realizar um passeio sobre as condições das atuais
relações sociais. A questão geral desse livro está voltada para compreender como
nós nos relacionamos com a vida em/na sociedade.
Nesta jornada, no primeiro momento, abordamos o surgimento das Ciências So-
ciais, além do ambiente de formação da Sociologia e da Antropologia. A ideia era
lançar as bases para você poder dialogar com os autores, trabalhados nas unidades
posteriores.
Já nas Unidades II e III, pudemos constatar as diferenças e semelhanças do pensa-
mento sociológico de Comte, Durkheim, Weber e Marx, além de solidificar os princi-
pais conceitos fundados por esses pensadores. A proposta é simples, porém direta:
fixar esses conceitos e saber articulá-los entre si.
Na Unidade IV, ressaltamos a Sociologia de Pierre Bourdieu, além de conversar para-
lelamente com os clássicos, colocando-os lado a lado, na tentativa de elucidar possí-
veis dúvidas. Igualmente, os fundamentos sociológicos da Educação foram tratados,
autor por autor.
Por fim, na Unidade V, trouxemos a discussão para a Sociologia na pós-modernida-
de, bem como falamos sobre os fundamentos da Antropologia aplicados à Educa-
ção. Nosso “passeio sociológico” pode contrapor o clássico com o moderno, o antigo
com o contemporâneo, enfim, os princípios da Sociologia com os debates atuais.
Observe, caro(a) aluno(a), que é impossível tratarmos todo o conteúdo em apenas
um livro. Entretanto, o salutar aqui foi abordado, esperando que você possa ter uma
nova visão sobre nossa sociedade, lembrando, é claro, que nesta rede em que esta-
mos interligados somos interdependentes.