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O sociojurídico e o serviço social

O termo ‘sociojurídico’ é relativamente recente na história do serviço

social brasileiro. Ele surge, segundo Borgianni (2004), a partir da iniciativa da

Editora Cortez de publicar uma edição da revista Serviço Social & Sociedade nº

67, de 2001, com artigos que versassem sobre a inserção profissional no Poder

Judiciário e o sistema penitenciário. Segundo a autora, tratava-se de fazer


referência direta a esses espaços, porque

[...] é toda nossa intervenção [de assistentes sociais] com o universo do jurí-

dico, dos direitos, dos direitos humanos, direitos reclamáveis, acesso a direitos
via Judiciário e Penitenciário. (BORGIANNI, 2004, p. 44 e 45).

Coincidentemente, a comissão organizadora do 10º CBAS, realizado em

2001 no Rio de Janeiro (RJ), programou a realização de um painel para a


apresentação de trabalhos de profissionais que abordassem essas mesmas
questões. O termo usado para nominar o painel foi ‘sociojurídico’.

A partir de então, várias foram as iniciativas para se aproximar e conhecer

melhor a atuação profissional nessas instituições. Assim, a deliberação do 32º

Encontro Nacional CFESS-CRESS, realizado em 2003 em Salvador (BA), foi


um

marco, conforme segue:


Realizar o primeiro Encontro Nacional de Serviço Social na área sociojurí-

dica, precedido de Encontros Regionais/Estaduais, no 33º Encontro Nacional


CFESS-CRESS (2004), considerando a necessidade de ampliar, articular e

aprofundar este debate. (CFESS, 2003, p. 19).

O termo ‘sociojurídico’ mantém-se vivo no universo profissional (e se

expandindo para outras categorias profissionais, como os/as psicólogos/as),

desde o momento em que os temas passaram a compor a agenda de debates

do serviço social brasileiro. A insistência no termo revela uma característica


importante, que informa os debates recentes da profissão: a importância que

a dimensão jurídica ganhou no cotidiano das práticas profissionais.

Isso não desmerece uma observação de fundamental importância para o

serviço social. A inserção profissional no Judiciário e no sistema penitenciário

data, no Brasil, da própria origem da profissão. Iamamoto e Carvalho (1982)


revelam, por exemplo, que um dos primeiros campos de trabalho de
assistentes

sociais na esfera pública foi o Juízo de Menores do Rio de Janeiro, então


capital

da República. Emergente, diante do agravamento dos problemas relacionados

à ‘infância pobre’, à ‘infância delinquente’, à ‘infância abandonada’, manifestos

publicamente no cotidiano da cidade, o serviço social é incorporado a essa

instituição como uma das estratégias de tentar manter o controle almejado


pelo Estado sobre esse grave problema, que se aprofundava no espaço
urbano.

Assim, o debate sobre o lócus do jurídico ganha, no cenário contemporâ-

neo, gradativamente, relevo na concretização da dimensão técnico-operativa

do serviço social, na medida em que desenvolve significativa intervenção no

cotidiano das diversas instituições onde atuam assistentes sociais. Esse


movimento tem demandado sua problematização no cerne da representação
da

categoria, sobretudo pela interferência no cotidiano profissional dos espaços

sócio-ocupacionais, mas também pela nítida impositividade do ‘jurídico’, que

cerca as demandas inerentes ao sociojurídico. Tal faticidade permite ainda

uma singular interferência na elaboração dos instrumentos privativos da ação

profissional, determinando também um desafio à efetivação do projeto ético

-político do serviço social, ao cumprimento de seu Código de Ética e às


resoluções do CFESS, destacando-se a Resolução nº 493/2006 (que versa
sobre as

condições éticas e técnicas do exercício profissional).

O termo ‘sociojurídico’ revela o lugar que o serviço social brasileiro ocupa

neste espaço sócio-ocupacional, após seu redirecionamento ético e político,

disposto a analisar a realidade social em uma perspectiva de totalidade e em

meio a contradições sociais profundas. Desse modo, é fundamental situar qual


o significado sócio-histórico e político da dimensão ‘jurídica’ para a sociedade,

ou, como diz Borgianni (2012, p. 65):

Por entender o ‘social’ – ou essa partícula ‘sócio’ – como expressão


condensada da questão social, e dela emanarem continuamente as
necessidades

que ensejarão a intervenção de juristas, especialistas do Direito, de agentes

políticos e seus partidos.

No campo prático, considerando a intrínseca relação entre a teorização e

a objetivação das categorias inerentes à proposta emancipatória, o ‘jurídico’

tem se apresentado, fundamentalmente, como estrutura complexa de


manutenção do status quo.

Em tal lógica, se referenda pelo ‘jurídico’ a resolutividade do que são

inerentes as problemáticas jurídicas, destacando que, na observação legal, a

análise de situações sociais se reduz a ritos processuais. Obviamente, muito


mais pobre para a devida intervenção, a qual, em diversos casos, pela falta de

radicalidade analítica, empobrece seu escopo, limitando-se, no geral, à defesa

da estrutura do capital e de suas leis de proteção à propriedade privada e ao

permanente desenvolvimento da taxa de acumulação.

Instalam-se, assim, os fundamentos do Estado burguês, em que as soluções


dadas são de sua legitimação, em um esforço de ocultar as conexões

determinadoras das realidades sociais, baseadas em um desenvolvimento


societário pela via da exploração e das diversas formas de dominação e
opressão.
Nessa perspectiva, se o direito que encorpa o ‘jurídico’ se constitui pelos

“operadores do direito [que] concorrem pelo monopólio do direito de dizer o

direito” (BOURDIEU apud SHIRAISHI, 2008, p. 83), para os/as assistentes


sociais,

outra dimensão é necessária: a de contribuir para trazer, para a esfera do


império

das leis, a historicidade ontológica do ser social, pela via das diversas
possibilidades de intervenção profissional, balizadas pelo projeto ético-político
profissional.

Essa dimensão é fundamental, a partir do momento em que se entende

que direito e ‘jurídico’ não são sinônimos. O direito que se torna lei é o direito

positivado. Mas o direito é mais amplo do que as leis. Ele é produto de


necessidades humanas, que se constituem nas relações sociais concretas.
Relações

que são dialéticas e contraditórias. Portanto, as formas de sua positivação na

lei dependem dos interesses em disputa, das correlações de forças, dos níveis

de organização e mobilização das classes e segmentos de classes sociais.

Ao ser positivado em lei, o direito ganha status de norma a ser seguida, e

protegida pelo Estado. Portanto, o ‘jurídico’ é “antes de tudo, o lócus de


resolução dos conflitos pela impositividade do Estado” (BORGIANNI, 2012, p.
14).

A definição da autora é de fundamental importância, porque contribui

para caracterizar o ‘sociojurídico’. O Estado burguês dispõe de um conjunto


de instituições e mecanismos coercitivos, que são mobilizados e acionados

constantemente quando se faz necessária a manutenção da ordem social –

marcada pelas contradições de classes. Mecanismos estes que vão desde o

uso da força física ao poder de interferir na realidade social, segundo preceitos

‘pactuados’

e positivados em forma de leis e normas jurídicas.


As demandas que aparecem como ‘jurídicas’, ou como ‘normativas’, são

fetichizadas e ideologizadas no campo do direito, pois elas são essencialmente

sociais. Elas se convertem em demandas ‘jurídicas’ ou de ‘preservação da paz

e a ordem’ pela necessidade de controle e manipulação da realidade, de


disciplinamento ou normalização de condutas sociais (FÁVERO, 1999),
segundo os

interesses dominantes em determinado momento histórico.

Embora o debate sobre o sociojurídico se instale com maior preponderância


somente nos últimos anos no seio da categoria, a relação entre a sociabilidade
capitalista e a impositividade do Estado é historicamente constatada.

Chega mesmo a apresentar uma participação determinante nos processos de

judicialização das diversas dimensões da sociabilidade e, fundamentalmente,

nos espaços onde se efetiva o exercício profissional.

Os processos de criminalização de diversas práticas sociais, consideradas

‘impróprias’ para determinada ordem – visando, segundo Zaccone (2008), a


exercer um controle ‘selecionado’ sobre determinadas classes e segmentos

populacionais – requerem necessariamente a mobilização dos mecanismos

coercitivos do Estado. A ‘onda punitiva’ da ‘Política de Tolerância Zero’


(WACQUANT, 2007) é uma expressão fundamental da afirmação do
neoliberalismo,

quer seja, do processo de retração de direitos. A criminalização dos pobres se

converte em uma das principais formas de controle da ‘questão social’ diante

do cenário socioeconômico contemporâneo. Criminalizar e ampliar diversas

formas de práticas punitivas, em vários aspectos e em diferentes dimensões

(de inquérito, de verificação, de controle), supõe mobilizar essas instituições,

que são a expressão máxima do poder impositivo estatal.

A dimensão coercitiva do Estado, marca dessas instituições, constrói estruturas


e culturas organizacionais fortemente hierarquizadas, e que encerram

práticas com significativo cunho autoritário. ‘Arbitrariedades’ fazem parte da

dimensão do ‘árbitro’, de quem dispõe de poder legitimado para exercê-lo ‘em

nome de ‘bens maiores’: a ordem e a justiça. O poder de interferir e decidir

sobre a vida das pessoas, de outras instituições, de populações ou até mesmo

de países, a partir do uso da força física ou da lei, confere a tais instituições


características extremamente violadoras de direitos – mesmo quando o
discurso

que as legitima é o da garantia dos direitos.


Essa é uma das características do projeto de paz perpétua que o ideário

burguês construiu após conquistar violentamente o poder político, que teve em


Kant seu principal sistematizador. Segundo o filósofo alemão, para enfrentar a
‘maldade própria da natureza humana’, os Estados, como comunidades

políticas republicanas, devem impor o direito, mesmo que, para isso, o uso da

coerção se faça necessário:

Qualquer oposição que neutralize o impedimento de um efeito promove esse

efeito e é compatível com ele. Ora, tudo que é injusto é um impedimento à

liberdade segundo leis universais. Contudo, a coerção é um impedimento

ou oposição à liberdade. Consequentemente, se um certo uso da própria

liberdade for um impedimento à liberdade segundo leis universais (isto é, for

injusto), então o uso da coerção para impedi-lo é compatível com a liberdade


segundo leis universais, na medida em que é a prevenção de um impedimento
de liberdade; ou seja, é justo. Segue-se, pelo princípio da contradição,

que ao direito está vinculada uma autorização para usar a coerção contra

quem o viole (KANT, 2005, p.74).


Pensar o universo ‘jurídico’ parece, então, tarefa fundamental, uma vez

que a sociabilidade vivida está repleta de leis e instituições que traduzem a

defesa de bens socialmente determinados e que em nada representam o


discurso de igualdade. Na realidade, demonstram a luta de classe e a defesa
de

bens jurídicos construídos com base em uma moral conservadora e/ou liberal,

que em muito revogam o desenvolvimento do gênero humano pela lógica da


emancipação. Nesse sentido, o bem maior é a propriedade, e a justiça será a

constante permanência da lei e da ordem das coisas, que ao fim e ao cabo,

são reprodutoras de desigualdades que existem e se reproduzem no cerne do

modo de produção capitalista, este que é determinador da ‘questão social’.


Assistentes sociais devem ter clareza que o Direito Positivo, por possuir um

caráter de classe, impõe a defesa dos interesses da classe dominante e,


portanto,

seja no acesso ao complexo aparelho de justiça burguês, e mesmo nos


instrumentos de convencimento de seus operadores5

, a lógica da defesa da classe dominante se faz presente. Tal fundamento


possui relevância determinante na vida

das pessoas, uma vez que ao serem “julgadas por algum crime, ou por algum
ato

ilícito, estarão, no limite, à mercê dessa discricionariedade de classe, ainda que

isso se dê com muitas e complexas mediações” (BORGIANNI, 2012, p. 50).

Dessa maneira, é que a ‘área’ ou ‘campo’ sociojurídico apresenta, no tempo


presente, uma perspectiva singular para a atuação profissional, que percebe o
direito como um complexo carregado de contradições. Possibilita, então,

a ação em busca de novos sentidos para as relações sociais, na direção da


realidade emancipatória e diferente da pura reprodução da ordem estabelecida.

Ao se adentrar em um universo da impositividade como o mundo do direito, a


atividade do trabalho ganha novas dimensões, que irão realizar uma

espécie de equalização da alienação, do fetiche, da precarização e do


estranhamento. Dessa forma, necessita-se da apreensão por parte dos/as
assistentes

sociais, a partir da tradição marxiana, para que seja possível refletir sobre o

mundo jurídico, pois que na sociabilidade capitalista é

[...] o único ensinamento real que a sociedade burguesa tem para oferecer ao
proletariado. Se fora da produção pode imperar a ideologia jurídica,

dentro dela impera a servidão, a desigualdade. Mas o lugar da produção é

a fábrica. Assim, a função institucional que cumprem a casa de trabalho,

primeiro, e a prisão, como se verá depois é o aprendizado, por parte do


proletariado, da disciplina de fábrica. (MELOSSI, 2004, p. 134).

É, portanto, neste sentido, que Lukács, ao analisar o direito positivo, reflete que

o funcionamento do Direito positivo se apóia [...] sobre o seguinte método:

manipular um turbilhão de contradições de modo tal que dele surja um sistema,


não só unitário, mas também capaz de regular praticamente, tendendo

ao ótimo, o contraditório acontecer social, de sempre se mover com elasti-


SERVIÇO SOCIAL INSERIDO NO SISTEMA PRISIONAL
Sob o enfoque histórico, o serviço social no campo da execução penal teve sua prática, à
princípio, influenciada como todos os outros campos de actuação da profissão, pela
religião católica, possuindo uma natureza assistencialista.
Portanto, no decorrer dos anos, o serviço social foi ganhando maturidade profissional e
partir de 1986 com a reformulação da profissão e o código de ética profissional, a
prática do assistente social no campo sóciojurídico foi revalorizada, passando esta
categoria a reconhecer o direito de acesso à justiça como parte integrante da cidadania.
Reiterando que é evidente afirmar que o Projeto-Ético-Político do serviço social,
materializa-se em outras dimensões.
Na actualidade, há um crescimento da literatura especializada na área com ênfase na
dimensão investigativa e a busca pela qualificação do exercício profissional. Como
ressaltado por CHUAIRI (2001):
O Trabalho do assistente social no campo Sociojurídico se caracteriza por uma prática
de operacionalização de direitos, de compreensão dos problemas sociais enfrentados
pelos sujeitos no seu quotidiano e suas inter-relações com o sistema de justiça. Além
disso, esse espaço profissional permite a reflexão e a análise da realidade social, da
efetivação das leis e de direitos na sociedade, possibilitando desenvolvimento de acções
que ampliem o alcance dos direitos humanos e a eficácia da ordem jurídica em nossa
sociedade. (CHUAIRI 2001).

A INTERVENÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NO SISTEMA PRISIONAL

Inserido ao sistema prisional, o profissional assistente social tem fundamental


importância inserido junto a instituição penal, principalmente no que se refere ao
atendimento aos internos e seus familiares, cujo suas atribuições, encontram-se
regulamentadas no Código de Ética Profissional, na Lei de Regulamentação da
Profissão. Como afirma Torres (2001):
No próprio trabalho quotidiano, os profissionais podem estabelecer estratégias
profissionais e interdisciplinares, por meio do empenho, do compromisso, da
criatividade inovadora e,principalmente, da competência técnica, teórica e política,
propondo as mudanças ou afirmações necessárias às suas atribuições profissionais no
sistema carcerário. (TORRES, 2001, p. 91)
É notório perceber o quanto o serviço social no sistema prisional, é de fundamental
importância quanto ao atendimento às necessidades e aos direitos de cidadania dos
internos e seus familiares dependentes, podendo-se afirmar que este profissional actua
como mediador de possíveis conflitos existentes ou ainda, que possam vir a existir por
trás das paredes do cárcere. Trata-se de um dos poucos profissionais que tenha acesso e
contacto directo junto aos internos.
O assistente social realiza diariamente visita aos pavilhões, cujo atendimento aos
encarcerados se faz por intermédio de interação e a escuta quanto aos problemas
vivenciados, procurando desta forma, o profissional atender suas necessidades e
solicitações, estabelecendo uma relação de confiança e respeito entre o profissional e o
recluso, além de permitir ao recluso acesso a bens e serviços garantidos por lei.
O dia-a-dia do assistente social na instituição prisional não se resume apenas nas visitas
realizadas aos pavilhões, este profissional presta atendimento diário aos familiares dos
internos, atendendo uma grande demanda diária na busca de solucionar diversos tipos
de problemas e situações, à exemplo: cadastrar companheiras para visita íntima;
encaminhar o familiar que de alguma forma esteja impossibilitado de visitar seu interno
no pavilhão (bebês, idosos e deficientes), chamada de visita assistida; solicitar e
acompanhar as autorizações para saída dos internos para atendimento médico fora do
presídio; solicitar e acompanhar a entrega de medicamentos; solicitar a matricula do
interno aos cursos educacionais; solicitar pedido de remição de pena, dentre outras
atribuições exercidas por este profissional.
Cabe também ao serviço social, agilizar a obtenção de documentos civis, como
identidade, certidão de nascimento, orientar sobre os direitos junto ao Instituto Nacional
de Segurança Social - INSS, possibilitar o registo e reconhecimento de paternidade,
encaminhar processos para o casamento civil e interagir junto a instituições como:
Conselho tutelar, julgado de menores, prestação de assistência jurídica, agências do
INSS, hospitais públicos, dentre outras, cujas atividades têm como objetivo assegurar os
direitos garantidos de acordo com o que a lei estabelece em prol dos encarcerados e
familiares. No sistema penitenciário observa-se que o serviço social enfrenta algumas
limitações, porém considera as leis, normas e decretos em vigor que determinam as
atribuições do Assistente Social em sua profissão na unidade prisional. Salientando que,
embora as legislações tenham como objetivo contribuir no tratamento penal do preso e
na sua reintegração social, porém, devido ao acúmulo de atividades burocráticas, por
possuir um número reduzido de profissionais e que por se tratar de um profissional
especializado que vende sua força de trabalho para as entidades empregadoras, o
assistente social não possui total autonomia dentro das instituições prisionais,
enfrentando dificuldades para expandi-las de maneira a contribuir totalmente com o
objetivo proposto ao assistente social inserido no sistema penal.
Em contrapartida, observa-se também, que apesar das dificuldades enfrentadas no
contexto prisional, o profissionalismo e a dedicação por parte do assistente social, se faz
de forma ética, flexível e com disposição a atender as necessidades ora solicitadas por
seus usuários (internos e familiares), cujo demanda ultrapasse o limite diário nos
atendimentos gerados pela superlotação de reclusos, comparados ao pequeno número de
profissionais assistentes sociais disponibilizados pelas instituições prisionais. Estes
profissionais, dentro das possibilidades, actuam de forma a garantir a cidadania e
melhoria na qualidade de vida de seus usuários.

Em suma, o assistente social no sistema prisional possui uma gama de conhecimentos e


lida com diversificadas histórias de vida que faz com que a cada dia se façam novas
descobertas dentro do contexto do universo que compõe o fazer profissional do
assistente social no sistema prisional.

Considerações sobre o fazer técnico do Assistente Social no Sistema Prisional

A presença do Assistente Social nas prisões sempre esteve vinculada à promoção de


medidas que visassem assegurar aos assistidos a reintegração à sociedade. Atuando
conforme os dispositivos legais, os assistentes sociais começaram a manter contato com
os presos, sendo uma das primeiras profissões a penetrar no interior das prisões,
juntamente com a Psicologia e o Direito.
Seguindo os movimentos da profissão, os assistentes sociais no sistema prisional
actuavam como sua totalidade como parte integrante de um sistema social excludente
(FERREIRA, 1990). Dentro deste contexto, ao invés de “atacar“ os problemas que
geram as desigualdades sociais, passou a punir os pobres (WACQUANT, 1999),
gerando um poder coercitivo, sendo que nessa lógica, torna-se bem mais fácil controlar
os eventos criminosos do que intervir nos reais problemas.
Como conseqüência, a população carcerária aumentou significativamente, trazendo
consigo toda uma gama de problemas sociais, o que implicou no atendimento mais
individualizado ao preso e à sua família. As prisões, reconhecidas como depósito de
pessoas excluídas socialmente, reforçou seu caráter punitivo e repressor. Mesmo nestas
condições, a prática do assistente social continuava voltada para a ressocialização,
fazendo com que o objeto de trabalho da profissão, comece a conflitar com os objetivos
da instituição penitenciária.
Conforme Bitencourt (2002), A verdadeira função e natureza da prisão está
condicionada à sua origem histórica de instrumento assegurador da desigualdade social.
(BITENCOURT, 2002, p.03). O crescimento da população encarcerada revelou a
realidade da superlotação, que contribui para o não desenvolvimento de uma condição
de cumprimento da pena digna, dificultando, com isso, o resgate da autoestima. Sem
dúvida, este é um fator que acaba por submeter o sujeito preso a penas cruéis,
humilhantes e degradantes. Destaca-se, ainda, que no cotidiano prisional encontramos
sistemas de funcionamento que estabelecem dificuldades relacionais na dinâmica
institucional. A correlação de forças e a manipulação do poder ganham destaque neste
contexto, pois não raras vezes os assistentes sociais estão subordinados a chefias que
não acreditam no processo de trabalho da área humana. Muitas vezes, servidores
embrutecidos com o quotidiano da prisão acabam desmotivados, não acreditando em
propostas de trabalho interventivo nos Direitos Humanos.
Neste cenário, o que se comprova são correlações de forças e poder que abalam
tragicamente as estruturas de acção no tratamento Penal, tanto quanto se abatem a
dignidade das pessoas presas. Esta questão torna-se volante na produção do quotidiano e
nas relações conflituosas entre a segurança e corpo técnico, uma vez que não se
estabelece um diálogo institucional mínimo sobre o que é possível em termos de
tratamento penal, colocando-se nesse processo a disputa de saberes ou de verdades,
como diria Foucault. Já o poder em seu exercício, passa por canais muito mais sutis,
muito mais ambíguos dentro da prisão, porque cada um de nós (técnicos ou agentes
penitenciários) é, no fundo, titular de certo poder, sendo que este poder não tem por
função única reproduzir somente as relações de trabalho, mas oprimi-las sem a
produção do diálogo. Segundo Foucault (1979), na prisão as redes da dominação e os
circuitos da exploração se apóiam e interferem uns nos outros, mas não coincidem.
A intenção de transformar tecnicamente o indivíduo, tirando-lhe o direito de ser visto
em sua individualidade, contribue para a institucionalização de intervenções meramente
burocráticas, onde o olhar do poder institucional se sobressai sobre o olhar e a escuta do
humano nas suas particularidades, principalmente na sua individualidade. Sobre o fazer
técnico, observamos que há muitas vezes uma tendência em incrementar os processos
de criminalização, acompanhado da tentativa de redefinir o lugar do profissional no
espaço prisional. As intervenções estão se tornando cada vez mais práticas isoladas que
carregam forte conteúdo de valores pessoais e crenças que acabam dando certo limite
para a extensão da acção. À primeira vista, as conseqüências do que foi exposto, produz
o fazer técnico com acções indefinidas, tanto na produção da neutralidade técnica,
quanto na articulação de redes de controle social.
Neste contexto, o que resta para o tratamento penal é somente um efeito indefinido e
acessório no controle da criminalidade, no processo de criminalização e nas
consequências de ambos, tornando-se desacreditável, para os olhos dos profissionais, da
instituição e principalmente para o sujeito preso. Se o tratamento penal na sua
totalidade, não tem um futuro, ou seja, é desacreditável, como poderia o sujeito preso
desacreditado neste sistema acreditar nele? Para enfrentar esta questão precisa-se
romper com práticas instituídas, assim como reconhecer que necessita-se de programas
de acção justa e eficaz. Isto corresponde a uma tarefa ético-política, que assumirá
direcções mais avançadas e críticas, dando autonomia e centralidade a todos os direitos
fundamentais durante o processo de trabalho.
No dia-a-dia de trabalho do Assistente Social existem as intervenções que possibilitam
ao preso e sua família acessarem os recursos e serviços sociais. Nesta perspectiva, o
profissional de serviço social deve estar atento quanto a situação vivenciada pelo sujeito
e seus familiares. No âmbito da família devem ser observados os encaminhamentos à
rede de serviços públicos, como benefícios do INSS, auxílio-reclusão, auxílio-doença e
aposentadoria. Ainda no campo do acesso a direitos, umas das intervenções mais
realizadas pelo assistente social é o registro dos filhos de presos e reconhecimento de
paternidade.
No que se refere aos atendimentos das demandas quotidianas, deve o assistente social
estar atento para as dificuldades enfrentadas pelas pessoas presas no que tange as
condições de habitabilidade no cárcere, questões de saúde e de relacionamento entre os
internos, pois tudo repercute dentro do pronto-atendimento, uma das funções mais
requisitadas aos assistentes sociais. Nesses atendimentos é possível identificar situações
graves que devem ser encaminhadas e acompanhadas até a sua resolutividade. Quando
estendidas às famílias, o profissional tende a dialogar com outros sectores e segmentos
da sociedade, desvelando a rede que dará acesso a bens e serviços dos utentes. Na
actuação quotidiana, todas as situações de intervenção geram comprometimento na
acção profissional e geralmente devem ser dividas com outros profissionais que actuam
no sistema prisional ou em torno dele, formatando uma rede multidisciplinar para
atender as demandas dos presos. Sempre é possível buscar o diálogo com outros
operadores do sistema penal, profissionais que seguidamente contribuem para a
extensão da acção.
O lugar que o Assistente Social ocupa no sistema prisional não se efectiva somente na
elaboração de laudos para o judiciário, que nada mais são do que ferramentas do
judiciário, que aprisionam o fazer-técnico. É importante olhar para a individualização e
o acompanhamento da pena, sempre na tentativa de criar espaços de cumprimento de
pena digno ao sujeito aprisionado.
Para tanto, faz-se necessário que o assistente social disponha de uma escuta efectiva, de
um olhar individualizado na passagem pela instituição, produzindo o recorte necessário
para o atendimento das demandas do sujeito preso na busca do fortalecimento, dos
deveres e dos direitos. Sabidamente que o quotidiano de trabalho nos atravessa
perversamente quando não conseguimos dar conta da produção de acompanhamento da
pena em detrimento ao número elevado de laudos judiciais e da superlotação. Não raras
vezes, aparece o sujeito preso no atendimento em uma única passagem, tendo o
assistente social que produzir algo sobre ele, que não o acompanhará.
Mesmo que a legislação preconize sobre esta manifestação da equipe técnica, a
realidade que nos cerca é a mesma abordada em 1988 pela equipe de Serviço Social da
SUSEPE em seu plano semestral de trabalho e análise dos objetivos da CTC: “Quando a
partir do parecer da CTC é negada ao preso sua progressão de regime, sua revolta é
plenamente compreensível, uma vez que através deste laudo estar-se-á julgando se o
preso progrediu ou não, se melhorou ou não sua conduta. Porém sabe-se que cada vez
menos as instituições prisionais se preocupam em desenvolver um trabalho de
tratamento penal: então se vê que o preso é julgado e punido por não ter melhorado
dentro de uma instituição, que por suas condições agrava seus problemas e não oferece
condições de minimizá-los ou resolvê-los”. (Plano Semestral de Trabalho da CTC, 1988
p.11) Em tempos actuais visualiza-se a função do assistente social como uma máquina
de fazer laudos. Em casas prisionais que contam com um efectivo de 900 presos, a
média dos ofícios judiciais que solicitam avaliações psicossociais para troca de regime é
de sete a doze por semana, o que reflete em demanda de trabalho técnico que gira em
torno dessas solicitações, uma vez que se fazem necessárias intervenções como
entrevistas, pesquisas documentais e processuais, além da redação e elaboração do
documento final.
Dentro desta realidade os estudos sociais e pareceres são elaborados através de um
breve contato, dirigido, condicionado e com finalidade de subsidiar as mudanças de
regime prisional, apresentam apenas um recorte da vida do sujeito, e em poucos
parágrafos, deixam de registrar a trajetória marcada pela exclusão, vulnerabilidades e
conseqüente inclusão nos processos de criminalização vivenciada pela maioria dos
sujeitos presos. Pouco fundamentados, os pareceres sociais, em sua grande maioria, não
dão conta de elaborar a passagem do indivíduo pelo cárcere, até mesmo porque são
raras as ações educativas dentro do ambiente prisional, tornando os instrumentos de
avaliação peças do processo penal e condenatório, que recaí sobre a vida dos presos. As
forças de produção de trabalho técnico ficam renegadas a uma demanda oficial à
medida que contribui para avaliação das tensões intramuros, mas que na verdade não
passa de uma extensão do poder de julgar do juiz (GUINDANI, 2001).
Questiona-se a função do laudo pericial, uma vez que se tornou um instrumento
simbólico para justificar o desacreditável e o desacreditado. Conforme Rauter (2007), o
corpo técnico dentro das prisões pode estar ameaçado caso não se proponha a reproduzir
a engrenagem da instituição carcerária através de sua actuação. A engrenagem
carcerária não trabalha apenas com a agressividade transformada em ressentimento e
má-consciência (DELEUZE, 1978), mas também com os sonhos daqueles que a
reproduzem. Isto acontece porque o discurso e o fazer técnico não são integrados e
quando se dirigem às situações problemáticas tendem a cumprir um papel de controle,
se pensarmos a partir da criminologia administrativa de caráter etiológico.
Desta forma, a autonomia e a competência deixam de existir, fazendo com que o corpo
técnico seja solicitado a reproduzir o seu próprio desaparecimento institucional, ou
transformar-se simplesmente em executor de laudos, conforme Guindani (2001) nos
aponta: O Serviço Social junto às equipes de CTC construíram, no decorrer de sua
história, uma identidade instituída, vinculada aos mecanismos de controle social, com
caráter tarefeiro, subalterno, sem base teórica e intencionalidade ético política.
(GUIDANI, Miriam: 2001 pg.05)
A função para qual o técnico é requisitada, muitas vezes, não passa por realizar
previsões de comportamento criminal. A actuação do profissional envolvido com a
questão penitenciária leva ao burocraticismo, ao sentido contrário à ética profissional e
à qualificação técnica, quando ele próprio se coloca no lugar de executar uma política
condenatória na totalidade dos factores que a ela corresponde. Esta política sinaliza o
fazer técnico, uma vez que o profissional somente se reconhece institucionalmente
quando produz nas suas intervenções o poder persecutório de manter a sociedade livre
do crime. Como diz Raúl Zaffaroni: Para os teóricos e, sobretudo para os práticos da
exceção, sempre se invoca uma necessidade que não conhece lei nem limite. Como
ninguém pode prever exatamente o que alguns de nós – nem se quer nós mesmos –
faremos no futuro, a incerteza do futuro mantém aberto o juízo da periculosidade até o
momento em que quem decide quem é o inimigo deixa de considerá-lo com tal”
(ZAFFARONI; 2007 pg. 25; in: O inimigo do Direito Penal). Apesar do discurso
técnico, sobre a neutralidade nos laudos, o que se percebe é que estes instrumentos não
são nada neutros.
O assistente social que adentra na prisão para humanizá-la revela em seus pareceres,
muitas vezes, conteúdos moralistas e segregadores, carregados daquele olhar
lombrosiano e darwinista social erguido no século XIX e tão presente até os dias de
hoje. Fundamentalmente, a produção de laudos acaba por oprimir as outras
especificidades do fazer técnico do assistente social, que devem ser construídas para
minimizar os efeitos deteriorantes do cárcere.
Para os técnicos da exceção, existe a possibilidade de estender suas intervenções para
um lugar reflexivo, que não conte somente em analisar as questões do delito e da pena,
mas trabalhar as questões do cotidiano, a fim de desvendá-las, para que se possam
construir estratégias de produção no humano e que dêem conta das situações trazidas
pelo sujeito preso ou pelo ambiente prisional. Neste sentido, a aposta no objecto de
trabalho tende a respeitar os parâmetros mínimos dos Direitos Humanos na busca da
humanização das relações sociais. No sistema prisional, faz-se urgente uma mudança no
fazer-técnico, contando com a capacidade deste profissional de saber fazer da escuta e
do olhar institucional um projeto para as suas acções, visando o valor humano e sua
dignidade.

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