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Capítulo 5

Espiritualidade cristã em contexto urbano:


limites e possibilidades
Elpídio Carlos Hellwig

Introdução

O tema da espiritualidade é desafiante e faz parte do meu cotidiano


como ministro da igreja e pessoa de fé. Ele diz respeito ao planejar, refletir e
agir de uma comunidade cristã.
Atualmente, espiritualidade é um termo que veio sendo redescoberto e
experimentado não só no âmbito da igreja, como também pelas pessoas na so­
ciedade como um todo. Entrementes, o termo espiritualidade sofreu um certo
desgaste e está inflacionado em seu uso. Já não o compreendemos mais como
sendo a igreja seu lugar de referência. Assim, a compreensão que temos do
conceito espiritualidade não fica muito clara, e nela se misturam conteúdos e
métodos advindos das mais diversas práticas de tradições religiosas ocidentais
ou orientais. Há também uma crescente busca por vivências de espiritualida­
de, bem como um crescimento do mercado esotérico.
Por causa da procura por espiritualidade, há na atualidade um grande
mercado religioso, em que se oferece a indivíduos um “produto” que possa
satisfazer seu desejo. E cada pessoa escolhe a seu bel prazer na esperança
de obter experiência religiosa mais profunda. Assim, muitas pessoas saem de
igrejas tradicionais como a Igreja Evangélico-luterana acusada de ser cogniti­
va e teórica em demasia.
Além dos motivos acima arrolados, o que me fez enveredar pelo ca­
minho da espiritualidade foi o curso Especialização em Missão Urbana, que
realizei no Programa de Pós-Graduação da Faculdades EST em São Leopoldo.
Ele me confrontou com o tema da espiritualidade no contexto urbano e levou-
-me a refletir acerca dos espaços de espiritualidade que estão sendo oferecidos
na comunidade onde atuo como ministro.
O presente trabalho propõe-se a estudar as possibilidades e os limites
da espiritualidade em contexto urbano. Trata-se de uma tarefa grandiosa, mas
que merece uma investigação a partir da realidade da vida comunitária. Aí,
quem sabe, podemos descobrir opções e caminhos para melhor responder aos
anseios profundos das pessoas que procuram o espaço da igreja em suas crises
e buscas.

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A pesquisa está subdividida em dois tópicos, além da introdução e con­
clusão. O primeiro tópico busca uma definição de espiritualidade, partindo de
uma perspectiva bíblica, passando pela comunidade primitiva e como ela foi
sendo vivenciada ao longo da história da igreja, especialmente em obras do
reformador Martim Lutero e nos dias de hoje. Vai também abordar os diferen­
tes tipos de espiritualidade e as vivências de espiritualidade na comunidade,
levantando a questão se existe uma espiritualidade típica na cidade.
O segundo tópico aborda a questão da espiritualidade e igreja na cidade,
perguntando por modelos, quais já existem e quais ainda devem surgir. Vai
falar das necessidades espirituais das pessoas que vivem na cidade, apresentar
os diferentes espaços de espiritualidade pessoal e comunitária, exemplificados
aqui a partir da comunidade evangélico-luterana de São Bento do Sul em San­
ta Catarina. No final, aborda limites e possibilidades de uma espiritualidade
urbana, buscando caracterizar e qualificar essa mesma espiritualidade.
Espero que este estudo seja uma contribuição à vivência da espirituali­
dade cristã no contexto urbano ao questionar seus limites e buscar suas pos­
sibilidades. Ao mesmo tempo, procuro demonstrar o enorme potencial que a
comunidade cristã tem para acolher, servir e desafiar pessoas na caminhada do
evangelho de Cristo hoje neste país em constante mudança.

1 - Espiritualidade cristã: desafio comunitário desde as origens

1 .1 - Definição e fundamentos bíblicos

O que é espiritualidade? A busca pela definição do que vem a ser espiri­


tualidade não é tarefa fácil. Espiritualidade é hoje um termo bastante abstrato
e reflete, de certo modo, o espírito do ser humano na atualidade. Quando fala­
mos em espiritualidade, referimo-nos à relação do ser humano com Deus, mas
também às múltiplas formas de protesto do ser humano diante da crise gerada
pelo mundo modemo e sua inconformidade diante dessa crise. Nesse caso es­
pecífico, a espiritualidade pode ser até mesmo feminista, ecológica ou negra,
quando se articula como reação contra todas as formas superficiais e racionais
de contemplar a complexidade da vida. Espiritualidade é uma palavra difícil
de definir, pois há muitas perspectivas a partir das quais se podem entender a
palavra e a realidade a que ela remete. O dicionário Novo Aurélio Século X X I
define espiritualidade como qualidade ou caráter de espiritual; doutrina acerca
do progresso metódico na vida espiritual.350

350 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio Século XXI: O dicionário da Lín­
gua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.

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Constatamos a partir dessa definição que espiritualidade designa uma
qualidade incorpórea, imaterial e relacionada com a religião. Essa associação
fica evidente quando afirma que espiritualidade é qualidade ou caráter de es­
piritual ou uma doutrina acerca do progresso metódico na vida espiritual. O
Novo Aurélio também entende espiritualidade como sendo uma qualidade do
ser humano ou até mesmo conseqüência de um programa metódico que busca
alcançar ou aperfeiçoar essa qualidade.
O teólogo alemão Hermann Brandt analisa em seu livro Espiritualidade
- Vivência da Graça a espiritualidade cristã ao longo da história. Ele afirma
que a espiritualidade cristã vai num crescendo de distanciamento do mundo
em direção a uma espiritualidade comprometida, ecumênica e da libertação.
Em sua análise, mostra que “espiritualidade” é um termo plural e multicolo-
rido por causa de sua história variada e das múltiplas concepções acerca da
concretização da fé cristã que fizeram uso desse termo e para as quais ele se
tomou característico. Para o autor, a espiritualidade em sentido cristão não
pode ser outra coisa que o âmbito e o domínio do Espírito Santo. Se ela nasce
e é nutrida pela experiência do Espírito de Jesus Cristo, ela jam ais pode ser
entendida e vivenciada como obra nossa ou produto de nosso esforço. Espiri­
tualidade cristã é ação do Espírito do Evangelho em nós, que nos faz renascer
como novas criaturas e nos faz descobrir como centro de nossa vida a graça
libertadora e recriadora de Deus. Depois de analisar o entendimento de Lutero
acerca do Magnificat, o cântico de Maria (Lucas 1.46-55), ele afirma:

Espiritualidade a partir do Espírito de Jesus Cristo não tem uma finalidade em


si mesma, mas é a vida dos agraciados imerecidamente. Só assim a espirituali­
dade cristã está livre em princípio e em definitivo de todo e qualquer legalism o.
Justamente por isso ela é espiritualidade da libertação. Livres da necessidade
de autoafirmação piedosa e ativa em busca da identidade própria, nossas ener­
gias, antes presas a esse ativism o, agora estão soltas; não mais necessitam os
dela, nem para nós, nem para Deus. Por termos recebido realmente tudo atra­
vés do Evangelho, através do Espírito de Jesus Cristo, não precisamos mais
ficar agarrados a nada para nos manter.351

Essa espiritualidade se desenvolve na exata medida em que recorre


sempre de novo à origem e fonte que a nutre, a saber, o Espírito animador,
santificador e consolador de Deus.
O termo espiritualidade originalmente deriva do adjetivo espiritual, em
latim spiritualis, que é uma tradução do termo grego pneum áticos, conforme

351 BRANDT, Hermann, Espiritualidade - Vivência da graça. 2. ed. revista. São Leopoldo:
Sinodal, EST, 2006. p. 83s.

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aparece na Bíblia em 1 Coríntios 2.14-3.3. Ele designa aí a forma de viver a
vida a partir do Espírito de Deus. Desse modo, a partir de Paulo, pneumáticos
toma-se o termo técnico para a existência cristã, e o adjetivo spiritualis passa
a designar o centro da existência cristã. Espiritualidade quer, pois, expressar o
aspecto formal da estrutura central da vida cristã para designar a relação do ser
humano com Deus e com os outros. Por isso o termo nas cartas de Paulo não é
abstrato, mas muito concreto, pois remete a um modo de ser, existir e viver.352
O moderno conceito de espiritualidade tem seu nascedouro na Igreja
Católica Romana a partir da piedade vivida nas ordens religiosas francesas do
século XVIII. No mundo protestante, o termo passa a ser mais conhecido a
partir da V Assembleia do Conselho M undial de Igrejas, reunida em Nairóbi,
Quênia, no ano de 1975. Na mensagem dirigida aos cristãos aparecia a busca
por uma nova espiritualidade que perpasse o planejar, refletir e agir cristãos.
Isso fez renascer nas igrejas históricas, principalmente protestantes, o tema da
espiritualidade.353
Os fundamentos bíblicos para a espiritualidade cristã encontram-se, por
exemplo, nos evangelhos, que repetidamente falam acerca de como Jesus se
retirava para orar, fazendo-o geralmente de forma solitária. Os evangelhos tam­
bém nos relatam que Jesus, seguindo tradição judaica, se fazia presente nos
cultos da sinagoga. Também vivia em comunhão de vida com seus discípulos
e dava testemunho a respeito da proximidade do reino de Deus em palavra e
ação. De forma resumida, podemos afirmar que na espiritualidade de Jesus
estavam presentes o ouvir, o orar e o compartilhar. No entanto, essa espiritua­
lidade de Jesus não se toma a base de fé das comunidades cristãs, mas sim o
Cristo morto e ressuscitado, assimilado doxologicamente - como louvor ao
trino Deus. Assim surge o culto da comunidade primitiva, que é a forma fun­
damental e a origem de sua espiritualidade. Desse modo, a espiritualidade da
comunidade primitiva vai se definir como sendo doxológica e eclesial, isto é,
vivida de forma comunitária, tendo como base o culto e a vida em comunhão.354
O texto de Atos 2.42-47 apresenta-nos os elementos que compõem essa
espiritualidade. Nele aparece a espiritualidade de Jesus transformada, agora,
numa espiritualidade comunitária. Nesse belíssimo texto, temos diante de nós
o ícone da igreja primitiva. E uma pequena comunidade familiar que se au­
xiliava na superação do anonimato da grande cidade, que se podia preocupar

352 MUELLER, Ênio R. Teologia cristã em poucas palavras. São Paulo: Teológica; São Leo­
poldo: EST, 2005, que aborda esse aspecto amplamente ao longo da obra.
353 BUTZKE, Paulo Afonso. Aspectos de uma espiritualidade luterana para nossos dias. E stu­
dos Teológicos, v. 43, n. 2, p. 105, 2003.
354 BUTZKE, 2003, p. 107-108.

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com a fé e a vida de seus membros. Possuía também um perfil diaconal que
exercia grande atração sobre os contemporâneos não cristãos por se contrapor
à desumanização das grandes cidades.

1.2 - Ênfases da espiritualidade cristã ao longo da história

As formas fundamentais da espiritualidade cristã que o Novo Testa­


mento nos apresenta desenvolveram-se ao longo da história da igreja. Nas
diferentes etapas dessa história foram surgindo características e ênfases que
moldaram a espiritualidade em cada época. Podemos até mesmo falar de dife­
rentes escolas de espiritualidade.
Digno de nota é que os três primeiros séculos da igreja cristã foram
extremamente movimentados. Houve perseguições, controvérsias teológicas,
luta contra as heresias, fatos que marcaram essa época. Também mudanças
significativas advieram da súbita m udança do status da igreja no século IV:
de igreja perseguida ela se tomou igreja do império sob Constantino. Ser ci­
dadão do império romano implicava a filiação à igreja cristã, fato que trouxe
as massas à igreja.
Esta secularização da igreja provocou o fenômeno da anacorese, que
levou muitos cristãos a procurar uma vida ascética de isolamento no deserto
como forma de revalorizar a vida de fé. Desaparecido o martírio, a ascese (do
grego áskesis - “exercício”) tomou-se o ideal de perfeição da vida cristã, a
única possibilidade de viver a espiritualidade cristã com seriedade.355
O movimento do monaquismo, que já havia iniciado em 285 DC com a
ida de Antônio (ou Antão) para o deserto do Egito, toma corpo com a organi­
zação da vida dos monges e monjas. Ele se caracterizou pela fuga do mundo
e pela contemplação, seja na vida solitária dos anacoretas ou na forma de vida
comunitária dos cenobitas. Esse movimento cresceu nos séculos seguintes,
constituindo as ordens e congregações religiosas que assumiram em muitos
momentos a tarefa missionária da igreja cristã. Foi também nesse âmbito que
se desenvolveram mais tarde a teologia da Idade Média e a espiritualidade
conventual, tão importantes para desencadear os vários movimentos de refor­
ma da igreja, que culminaram na Reforma do século XVI.

1.3 - A espiritualidade em Lutero

No movimento da Reforma, Lutero herdou as formas fundamentais da


espiritualidade medieval. No convento dos agostinianos, ele recebeu instru­

355 BUTZKE, 2003, p. 110.

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ções sobre métodos de meditação de textos da Escritura, sobre como lutar
contra as tentações, como viver com os sacramentos, a vivência do amor e
da solidariedade cristã. Foi isso que Lutero recebeu e praticou em sua vida
monástica, e essa era a espiritualidade da igreja ocidental no início do século
XVI. Lutero submeteu, porém, essa forma de piedade à teologia da Reforma.
Tal teologia afirma que nós somos aceitos por Deus não por causa de méritos,
obras piedosas ou morais, mas “recebemos remissão do pecado e nos tor­
namos justos diante de Deus pela graça, por causa de Cristo, mediante a fé,
quando cremos que Cristo padeceu por nós e que por sua causa os pecados nos
são perdoados e nos são dadas justiça e vida eterna”356.
A partir de sua redescoberta do evangelho e da salvação como graça
de Deus, Lutero reorganizou essa vivência da espiritualidade especialmente
no que se refere à meditação.357 O normal na época de Lutero era a seqüência
lectio-meditatio-oratio-contemplatio (unio). Lutero reordena essa seqüência:
oratio-meditatio-tentatioi5i. Nessa inversão, ele começa com a oração e inclui
a lectio na meditado. Para Lutero, meditação é sempre meditação da Palavra.
O que chama a atenção é o fato de que Lutero substitui a contemplado - a
visão mística de Deus e a união com ele - pela tentado - a experiência da
presença de Deus mediada pela Palavra na situação de tentação. Com isso o
motivo maior da meditação passa a ser a vivência aprovada da fé nas ambigüi­
dades do dia a dia. Mas isso não significa que Lutero descarta a contemplado.
Ele apenas considerava que não era possível alcançá-la através de um método
de meditação, pois, para ele, a contemplado sempre é presente de Deus e não
pode ser “produzida” por exercícios.359
Lutero vai falar dessa piedade evangélica, que está apoiada em cinco
pilares, nos Artigos de Esmalcalda. Ali ele afirma que

[...] D eus é exuberantemente rico em sua graça. Primeiro, mediante a palavra


falada, em que é pregada remissão de pecados em todo o mundo. Esse é o ofi­
cio próprio do evangelho. Em segundo lugar, pelo batismo; em terceiro, pelo

156 LIVRO DE CONCÓRDIA. A s confissões da Igreja Evangélica Luterana. 4. ed. São Leopol­
do: Sinodal; Porto Alegre: Concórdia, 1993. p. 30.
357 Assim também Manfred Seitz vai falar do comportamento de Lutero em relação à meditação
como algo trazido através da tradição da mística e dos monges como uma maneira de refletir
sobre a palavra bíblica. Cf. SEITZ, Manfred. Prática da f é - Culto, poimênica e espirituali­
dade. São Leopoldo: Sinodal, 1990. p. 161-165.
358 Significativa é a abordagem de Baeske acerca dos critérios para o cavoucar teológico de
Lutero. BAESKE, Albrecht. Como se estuda e vive teologia conforme Lutero, in: HOCH,
Lothar Carlos. Formação teológica em terra brasileira - Faculdade de Teologia da IECLB,
1946-1986. Edição Comemorativa. São Leopoldo: Sinodal, 1986. p. 74-87.
359 BUTZKE, 2003, p. 113-114.

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santo sacramento do altar; em quarto, mediante o poder das chaves e também
p e r mutuum colloquium et consolationem fratrumC"

E a partir desses vários exercícios espirituais que o cristão luterano vai


poder permanecer firme na fé ao longo de sua vida, quais sejam; o culto, onde a
palavra é pregada; os sacramentos —Batismo, Confissão e Santa Ceia - como
meios de graça; e a poimênica fraterna nas diversas situações existenciais.
Temos também indicações interessantes acerca da meditação de Lutero
no prefácio ao Catecismo Maior. Lutero escreve:

[...] faço com o uma criança a que se ensina o Catecismo: de manhã, e quando
quer que tenha tempo, leio e profiro, palavra por palavra, o Pai-Nosso, os D ez
Mandamentos, o Credo, alguns salmos etc. Tenho de continuar diariamente a
ler e estudar, e ainda assim não m e saio com o quisera, e devo permanecer crian­
ça e aluno do Catecismo. Também m e fico prazerosamente assim. [...] existe
multiforme proveito e fruto em ler e exercitá-lo todos os dias em pensamento e
recitação. E que o Espírito Santo está presente com esse ler, recitar e meditar, e
concede luz e devoção sempre nova e mais abundante, de tal forma que a coisa
de dia em dia melhora em saber e é recebida com apreço cada vez maior.361

Podemos assim afirmar que a meditação do Catecismo está estruturada


metodologicamente como exercício de meditação. Lutero expõe seu método
de meditação quando escreve a seu amigo Pedro. No escrito “Como se deve
orar, para o mestre Pedro barbeiro”362, Lutero apresenta seu método de me­
ditação como “coroazinha quádrupla” . Nele Lutero destaca três momentos:
o momento de concentração e pacificação interior, no qual devem silenciar
os pensamentos: “ [...] depois de aquecido o coração... encontrando-se assim
a si mesmo, ajoelhe-se ou fique parado, com as mãos postas em oração e os
olhos voltados para o céu”363. Depois seguem os Dez Mandamentos e o Credo
Apostólico ou palavras bíblicas que se conhecem de cor. Essa parte também
pode ser posposta ou omitida quando há pouco tempo à disposição. A par­
te principal do exercício espiritual tem como conteúdo o Pai-Nosso.364 Cada

360 LIVRO DE CONCÓRDIA, 1993, p. 332.


361 LIVRO DE CONCÓRDIA, 1993, p. 388.
362 LUTERO, Martinho. Pelo evangelho de Cristo. Obras Selecionadas de Momentos Decisi­
vos da Reforma. Porto Alegre: Concórdia; São Leopoldo: Sinodal, 1984. p. 317ss.
363 LUTERO, 1984, p. 319.
364 Muito pertinente a respeito é a observação de ZWETSCH, Roberto E. Meditação sobre a
Oração, in: HOEFELMANN, Vemer; SILVA, João Artur Muller da (Coords.). Proclamar
Libertação, v. 31. São Leopoldo: Sinodal/EST, 2005. p. 303-305. Nesse artigo, o autor afir­
ma acerca do Pai-Nosso: “E muito estranho que existam colegas na IECLB que ultimamente
suprimiram essa oração dos cultos dizendo que é tradicionalismo vazio. Não posso entender

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mandamento, cada artigo, cada petição é recitada e depois meditada a partir
das quatro perguntas da “coroazinha quádrupla O que eu aprendo? (doctri-
na), pelo que tenho a agradecer? (gratiarum actio), o que tenho a confessar?
(■confessio) e pelo que quero pedir? (oratio).
Aqui temos, pois, um exercício espiritual composto por concentração,
meditação e oração, elaborado por Lutero. Importante é observar que essa me­
ditação do Catecismo era inédita na história da espiritualidade. Aos poucos,
ao longo de décadas, essa forma de espiritualidade conseguiu ser assimilada
pelas famílias evangélicas. Essa espiritualidade estava apoiada no ciclo da
natureza e no ritmo do ano litúrgico.
Atualmente, essa espiritualidade já não se mantém mais com a mesma
estabilidade que se conheceu até a metade do século XX, também na 1ECLB.
Nos dias de hoje, tornou-se difícil transmitir os fundamentos teológicos e es­
pirituais às novas gerações, principalmente se apenas nos baseamos no Cate­
cismo Menor de Lutero. Em muitos lugares, a espiritualidade luterana tomou-
-se por demais cognitiva - restringindo-se, em grande medida, à reflexão in­
telectual sobre o texto bíblico ou sobre a doutrina - , perdendo a conexão com
a experiência, com o corpo e com o cotidiano. É nossa herança iluminista. No
entanto, há tentativas de melhorar essa situação. Isso se tom a manifesto na va­
riada literatura editada pela igreja no formato de devocionários como “Caste­
lo Forte”, “Semente de Esperança”, “Orando em Família”, “Senhas Diárias”,
“Gotas de Orvalho” e outros, como oferta para uma espiritualidade cotidiana
doméstica, vivida e praticada de forma pessoal ou familiar.

1.4 - Tipos de espiritualidade

Sendo a espiritualidade uma forma de viver a fé cristã a partir de um


impulso da graça para participar da vida divina sobre a face da Terra, pois a
consumação só terá lugar quando Deus será tudo em todos (1 Coríntios 15.
28), a vida nova do ser humano requer uma adesão de todo o seu ser, uma
entrega total a Deus. A partir do evangelho é possível experimentar uma trans­
formação através da renúncia, seguimento ao evangelho, esvaziando-se de si
mesmo e enchendo-se de Jesus Cristo. Também viver o evangelho pressupõe
um equilíbrio emocional e não elimina a responsabilidade perante a razão. No
Batismo, recordamos a morte com Cristo para o pecado e a ressurreição com
Cristo para a nova vida.

tal atitude. Espero que, pelo menos, essas pessoas não tirem essa página de suas Bíblias, pois
então não sei mais o que significa ser cristão’’.

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Essa transformação cristã acontece com o agir do Espírito Santo na vida
do ser humano a partir do Batismo. O Espírito Santo, habitando em nós, vai
nos conceder as inclinações e disposições para seguir Jesus Cristo, pois o único
objetivo é a união com Deus já aqui e agora, bem como na eternidade. Sendo
Cristo, para nós, o caminho, a verdade e a vida, como viver em Cristo e no Es­
pírito? Ao longo dos tempos, várias formas de viver a espiritualidade foram se
materializando, pois a verdadeira vida não se descreve, mas se experimenta, se
vive. Desse modo, na história da igreja, várias formas de espiritualidade foram
aparecendo. O que elas têm em comum é que propõem o seguimento a Cristo.
No início da era cristã, as pessoas que seguiam Cristo, principalmente
durante o período de perseguição (70-313), para não negar sua fé apoiavam-se
no desejo de imitar Cristo no sofrimento e martírio. Quando o tempo da per­
seguição termina, o ideal passa a ser o ascetismo e a virgindade. No período
da patrística (séculos IV-V), a espiritualidade vai estar marcada pela concep­
ção teológico-ontológica e psicológico-experimental. Vamos encontrar, por
exemplo, em Orígenes, a mística do logos. Busca-se uma vida ascética com
o objetivo de domar as paixões, como algo essencial para a contemplação e a
união com Deus. O centro da espiritualidade cristã vai ser a humanidade de
Cristo. Agostinho e, mais tarde, Tomás de Aquino vão interpretar o corpo hu­
mano como a parte inferior, caduca da pessoa e da personalidade. Na verdade,
as suas reflexões são reflexos de visões platônicas e aristotélicas, algo muito
típico de seu tempo e de um modo de ser da igreja.
Nos séculos seguintes, encontramos o surgimento do monaquismo, que
se caracterizou pela fuga do mundo e pela vida contemplativa. Essa forma de
espiritualidade vamos encontrar na vida solitária dos anacoretas ou na for­
ma de vida comunitária dos cenobitas. Dessa forma de espiritualidade sur­
gem os beneditinos, cuja espiritualidade está resumida no ora et labora (orar
e trabalhar) da Regra de São Bento. Da ordem beneditina, na Idade Média,
originaram-se, mais tarde, várias escolas e outros ramos de espiritualidade
cristã, como a inaciana do século XVI. E uma espiritualidade apoiada em três
princípios: trabalho, leitura e oração.
O que se percebe é que, ao longo da Idade Média, se começa a acentuar
aos poucos e sempre mais o elemento afetivo sobre o intelectual. Surge a ênfa­
se do matrimônio espiritual, da paixão e a do coração de Jesus. Mas o aspecto
eclesial começa a perder espaço. A própria espiritualidade, de certo modo, vai
dando lugar a uma simples afetividade365, a união mística com Cristo.
Nesse período, destaca-se Francisco de Assis, que foi um apaixonado
por Cristo e sua humanidade. Ele vai desenvolver a espiritualidade solidária. E

365 A esse respeito cf. DREHER, Martin N. A Igreja latino-americana no contexto mundial -
História da Igreja, v. 4. São Leopoldo: Sinodal, 1999. p. 120-129.

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dele que herdamos toda a espiritualidade do presépio, que celebramos no Na­
tal e que, surpreendentemente, ainda persiste nas famílias cristãs de diferentes
confissões. Em Inácio de Loyola surge a síntese dos diferentes tipos de espiri­
tualidade e a espiritualidade do serviço com a organização da Companhia de
Jesus. Na Idade Moderna, podemos citar Teresa d ’Ávila, que vai aperfeiçoar a
descrição psicológica da experiência mística.
Na atualidade, pode-se mencionar a espiritualidade da libertação. Um
dos precursores dessa espiritualidade é Thomas Merton, monge trapista norte-
-americano que buscou unir mística e compaixão, seguimento de Jesus e pro­
fecia, oração e libertação.366 Essa espiritualidade, além de considerar o ser
humano em sua integralidade, também leva em conta a realidade na qual o ser
humano está inserido. Roberto Zwetsch afirma:

A espiritualidade cristã é visceralmente corporal. Ela alia corpo, tempo e eter­


nidade. Por isso uma espiritualidade que nega o corpo, que afoga a em oção,
que se tom a indiferente diante do sofrimento alheio que inunda o mundo não
corresponde ao núcleo da vivência da fé cristã.367

Essa espiritualidade nasce da compaixão diante do sofrimento que afli­


ge a humanidade e pergunta-se pelo significado do seguimento a Jesus Cristo
no continente latino-americano, que é majoritariamente cristão e, ao mesmo
tempo, empobrecido em sua esmagadora maioria.

1.5 - Vivências de espiritualidade na comunidade

São vários os momentos de espiritualidade vivenciados na comunidade


local. Eles são vivenciados tanto pelas crianças como por jovens, adultos e
idosos. Passo a mencionar os diferentes momentos em que é possível viven-
ciar essa espiritualidade numa comunidade local.
O culto comunitário é um momento marcante de espiritualidade. Sentir-
-se acolhido no momento da chegada, silenciar na presença de Deus, confessar
comunitariamente os pecados, ouvir o anúncio do perdão, louvar a Deus, ou­
vir sua palavra, refletir sobre a vida que se está levando, poder concretamente
participar através de uma oferta em dinheiro, de alguma obra de serviço so­
cial, participar do sacramento da Ceia do Senhor, sentindo que Deus se deu

366 MERTON, Thomas. Paz na era pós-cristã. Testamento de um dos maiores místicos do sécu­
lo XX. Aparecida: Santuário, 2007. BERTELL1, Getúlio Antônio. M ística e compaixão. A
teologia do seguimento de Jesus em Thomas Merton. São Paulo: Paulinas, 2008. p. 175s.
367 ZWETSCH, Roberto E. Teologia e prática da missão na perspectiva luterana. São Leopol­
do: Sinodal/EST, 2009. p. 56.

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por inteiro em favor de cada pessoa, acolher a bênção de Deus na certeza de
que Deus acompanha a pessoa em seu dia a dia são momentos muito fortes de
espiritualidade que o culto cristão sempre vai poder proporcionar a seus par­
ticipantes. O culto é, pois, o momento em que Deus nos serve através de sua
palavra e sacramentos e durante o qual cada pessoa o serve através do louvor
e das orações. E ali que Deus tem um encontro marcado com cada pessoa atra­
vés da comunidade reunida numa determinada hora e lugar. As diferentes for­
mas de culto são importantes, pois vão ao encontro de necessidades diferentes
das pessoas que o buscam. Por exemplo, culto voltado especificamente aos jo ­
vens, com músicas, instrumentos e linguagens específicos. Cultos de Batismo,
de aniversário de Batismo, de Confirmação, de louvor, de oração, de Tomé,
de unção ou outras formas são necessários e importantes para a vivência da
espiritualidade. Também os cultos de bênção matrimonial e sepultamento são
espaços ricos para a vivência da espiritualidade. No caso do sepultamento e
velório, são significativas a forma de lidar com o limite da vida e sua transito-
riedade e a forma como celebramos o luto e caminhamos solidariamente com
as pessoas enlutadas.
Outro espaço de espiritualidade na comunidade são as celebrações de
Quaresma e de Advento, que culminam na celebração dos cultos de Páscoa
e Natal. Essas celebrações são espaços mais informais, nos quais é possível
trazer as angústias e alegrias da vida para dentro da celebração.
Há diferentes celebrações que acontecem nos diversos grupos da co­
munidade, como grupo de crianças, jovens, mulheres, idosos, oração, música.
Esses são espaços importantíssimos de vivência da espiritualidade. Pelo fato
de haver maior proximidade entre os participantes do grupo, há oportunidade
de mais sintonia com os temas do dia a dia que lá podem ser compartilhados,
discutidos. Esse clima favorece a solidariedade e a compaixão entre os inte­
grantes do grupo.
Momentos fortes de vivência da espiritualidade são os cursos que têm
um determinado tempo de duração e número de participantes. Podemos citar
como exemplo: Curso Básico da Fé, Celebrar e Viver, Deus está Presente,
retiros espirituais, encontros de pais e padrinhos para preparação ao Batismo,
encontro de noivos visando à preparação ao matrimônio, ensino confirmatório
como espaço de educação contínua na fé e assim por diante. Nesses encontros
surge uma aproximação muito grande entre os participantes, criando uma for­
te comunhão e solidariedade, bem como espaço de poimênica e cura interior.
São momentos especiais para uma experiência com Deus.
Podemos dizer que são muitas e variadas as vivências de espiritualidade
que encontramos na comunidade. Claro que também há crises. Muitas vezes,
as pessoas reclamam do fato de não encontrar aquilo que estão buscando. Ou
então a forma de viver a espiritualidade não cabe dentro da experiência cul­

179
tural que a pessoa traz consigo. Há também um sincretismo religioso muito
grande na vida das pessoas, especialmente no que se refere às concepções de
morte, ressurreição e/ou reencamação. Muitas pessoas creem na imortalidade
da alma e com isso enveredam facilmente para a crença na reencamação, dou­
trina que contraria a fé na ressurreição.
Experimentamos que as pessoas que vivem na cidade buscam cada vez
mais espaços de silêncio, meditação em pequenos grupos, nos quais podem
experimentar comunhão com Deus e com as pessoas participantes, além da
solidariedade fraterna. Há também uma carência afetiva manifestada no sen­
tido de poder ser tocado, abençoado, ungido ou simplesmente ser ouvido.
A partir dessa experiência de solidariedade é possível libertar-se de pesos e
amarras que a vida vai colocando sobre os ombros.
Corresponde aos desafios urbanos às comunidades cristãs atrair, encon­
trar espaços e respostas na vivência de uma espiritualidade cristã autêntica,
que acolhe as angústias das pessoas, mas ao mesmo tempo as desafia para um
compromisso de fé holística nestes tempos difíceis em que vivemos.

2 - Espiritualidade e igreja na cidade - em busca de modelos

2.1 - Necessidades das pessoas que vivem na cidade

As pessoas que vivem na cidade carregam, com certeza, dentro de si


necessidades espirituais como todo ser humano. No entanto, devido à forma
de vida que se experimenta na cidade, essas necessidades podem ser específi­
cas. As pessoas que moram na cidade vivem certa contradição. Têm saudades
da vida no campo, mas não deixam de viver nas cidades nem desejam voltar
à vida anterior. Quando vão para o campo, um final de semana já é suficiente.
Depois as pessoas já voltam para as cidades.
Outro aspecto importante na grande cidade é o trabalho que se executa
e não a vida que se leva. Somos avaliados a partir de nosso desempenho pro­
fissional. Daí não é estranho que as famílias estejam sendo substituídas pelas
empresas, pois se busca transformar a empresa em núcleo familiar. Surge as­
sim a família IBM, a família Condor, a família da Caixa e tantas outras. Na
cidade, o ser humano vale pelo seu desempenho. Mas não se pode internalizar
os valores da empresa. A felicidade não está na empresa, mas no lar ou em
outras formas de desfrutar a vida. Por isso não é saudável ficar além da hora no
emprego, pois a casa não é a extensão da empresa. Vida verdadeira acontece
não só na relação com o trabalho, mas em sua relação com diferentes dimen­
sões da vida: relação com Deus, com a família, com o outro, com a natureza,
para citar algumas. Nesse específico entra a função da igreja ou comunidade

180
cristã de poder proporcionar essa vivência espiritual, de ajudar as pessoas a
perceber a lógica de sua vida: estou gastando o tempo em desempenhar fun­
ções ou nos relacionamentos com as pessoas?
Também vivemos hoje sob a égide do medo. Uma insegurança muito
grande marca a vida das pessoas. Como conseqüência, as pessoas estão sendo
vigiadas o tempo todo e em toda parte. Como lido com esse tipo de controle
social?
Há também nas pessoas da cidade a necessidade de identidade. É im­
portante nesse aspecto central da vida pessoal ir forjando uma espiritualidade
que possa criar núcleos de relacionamento, com o objetivo de dar identidade,
de tal forma que as pessoas saibam os nomes umas das outras, se conheçam
e desenvolvam amizade verdadeira, pois é nos relacionamentos que o ser hu­
mano se reconhece. Ter espaços nos quais é possível trabalhar a fé que leva
em direção ao outro, a fé relacionai. Pois a pessoa sente necessidade de que
alguém saiba seu nome, a reconheça, respeite e ame. O importante é tomar
consciência de que todos os seres humanos querem ser amados, benquistos,
pois há muitas pessoas que clamam por ser gente. Elas querem experimentar
que são amadas por Deus através da comunidade de fé. A grande característica
da vida na cidade é ela estar marcada pelo anonimato, saudade e pelo anseio
por relações pessoais. A espiritualidade cristã quer ser um a oferta e uma res­
posta a esse anonimato que despersonaliza e empobrece as pessoas.

2.2 - Espaços de espiritualidade pessoal e comunitária


na Comunidade Evangélica de Confissão Luterana
de São Bento do Sul

Na comunidade local são vários os espaços de espiritualidade ofereci­


dos às pessoas na cidade de São Bento do Sul, SC.
A Comunidade Evangélica de Confissão Luterana São Bento do Sul é
formada por 1.500 membros batizados. Esses são descendentes de imigran­
tes que vieram da Europa, de países como Áustria, Bavária, Prússia, Polônia,
Saxônia, Tchecoslováquia, Portugal e também descendentes de indígenas e
africanos. A grande maioria dos membros da comunidade evangélica luterana
trabalha em indústrias de madeira, das quais há mais de duzentas instaladas
no município. Além dos assalariados, são membros da comunidade pequenos
empresários, comerciantes, artesãos, músicos, pequenos agricultores. Apesar
da forte influência da cultura alemã, todos os trabalhos da comunidade são
realizados em português.
Esse trabalho é desenvolvido por um casal de ministros pastores, além
de uma grande equipe de lideranças preparadas para a missão nos mais va­

181
riados âmbitos da comunidade. O trabalho eclesial acontece de tal forma que
o culto se tom a o centro da vida de fé da comunidade. Também são realiza­
das celebrações no período de Advento, Quaresma, Páscoa, Natal, Ação de
Graças, Dia M undial de Oração. A comunidade está organizada em diversos
grupos, nos quais acontece uma dinâmica muito ativa de trabalhos específicos,
tais como grupos de Missão Criança, Culto Infantil, Ensino Confirmatório,
Juventude, OASE - Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas, Grupo de
Terceira Idade, Música (coral e gm po vocal), Diaconia (ação social e visita­
ção), Estudos Bíblicos, Presbitério, recepcionistas de cultos, entregadores do
jom al “O Caminho”, Cursos (Pais e Padrinhos, Noivos, Membros Novos),
Celebrar e Viver, Deus está Presente. É uma comunidade bastante dinâmica e
com forte presença na realidade social e política da cidade.
A seguir, vamos apresentar e comentar cada uma dessas possibilidades
oferecidas pela comunidade, procurando destacar sua contribuição para a vi­
vência de uma espiritualidade contextualizada e atual.

2.2.1 - C ulto com unitário

O culto comunitário é realizado todos os sábados à noite. Ele acontece


também aos domingos de manhã somente no primeiro e terceiro domingos do
mês. O culto é um espaço de espiritualidade importante, procurado e freqüen­
tado por muitas pessoas. Ele é significativo porque “é o encontro da comuni­
dade com Deus”368. Ele é um espaço de oração, meditação, louvor, adoração,
comunhão. Nele se pode ouvir a palavra de Deus e celebrar a Ceia do Senhor.
O culto comunitário é um espaço privilegiado em que se participa de um con­
junto de elementos e formas que nos foram legados pelos cristãos há mais
de dois mil anos, através dos quais se realiza esse encontro com Deus. Poder
celebrar esse encontro com Deus, como fizeram pessoas no passado distante,
ainda hoje em tantas diferentes comunidades cristãs é um privilégio todo es­
pecial. Por isso mesmo há uma preocupação constante para encontrar formas
atualizadas de culto sem perder suas características confessionais.

368 KIRST, Nelson. Nossa liturgia: das origens até hoje. Série Colmeia - fascículo 1. São Leo­
poldo: Sinodal, 1993. p. 12.

182
2.2.2 - C ultos d e B a tism o e de a niversário d e B a tism o

Os cultos de Batismo e de aniversário de Batismo pressupõem o traba­


lho do Programa Missão Criança, um programa que vem sendo desenvolvido
em nossa comunidade desde abril de 2006. O Programa Missão Criança é um
espaço de espiritualidade direcionado aos pais, mães e suas crianças. Ele tam­
bém quer ajudar mães e pais na tarefa de educar e instruir o seu filho/a na f é
da Igreja Cristã. Com isso se quer valorizar o Batismo, encarando-o como um
ponto alto da vida comunitária. E de maneira indireta é uma forma de cativar
os pais para integrar-se cada vez mais na vida da comunidade. O Programa
Missão Criança compreende: encontro com pais e padrinhos com o objetivo
de refletir acerca do significado do Batismo, sua importância, bem como pre­
parar o culto de Batismo; realização de seminário, reuniões de planejamento
e avaliações do conselho com os ministros ordenados; contatos e visitas a
todas as crianças batizadas para uma maior aproximação entre comunidade
e família da criança; entrega do convite ao culto especial de aniversário de
Batismo - ocasião em que se faz a entrega de um livrinho com uma história
bíblica; preparação, organização e condução do culto especial de aniversário
de Batismo, oportunidade em que se busca adornar a igreja conforme o tema
do culto e ocasião em que cada criança recebe um presente. Nesse culto se faz
a recordação do Batismo de cada criança e ela recebe um a bênção individual.
São realizados três cultos de aniversário de Batismo por ano. A equipe do
Programa Missão Criança faz plantão e cuidado das crianças de 1 a 5 anos de
idade na sala do programa no horário dos cultos dos sábados à noite.
Os cultos de aniversário são sinônimo de “casa cheia” . Quase em sua
totalidade as crianças convidadas participam desses cultos. São realizados
cultos de aniversário de Batismo no período de 1 a 5 anos de Batismo. O obje­
tivo é que as crianças possam crescer no amor de Deus e viver em comunhão
em nossa comunidade.

2.2.3 - C ulto na m a d ru g a d a d a P á sc o a

O culto na madrugada da Páscoa tem a sua preparação a partir das cele­


brações de Quaresma que são realizadas na comunidade. Costuma-se realizar
quatro celebrações de Quaresma no período anterior ao domingo da Páscoa.
Nessas celebrações, trabalha-se com variados símbolos colocados no centro do
círculo e em tomo dos quais acontece a celebração. Os encontros são sempre
muito dinâmicos e participativos, para os quais as pessoas trazem suas angús­
tias, medos e sofrimentos, que ali são compartilhados e trabalhados de forma
poimênica no próprio gmpo. As celebrações são realizadas sempre à noite.

183
Esse espírito de caminhada conjunta tem o seu ponto alto no culto de
Páscoa, celebrado na madrugada de domingo. Poder celebrar a vitória da vida
sobre a morte exatamente no dissipar das trevas da noite em meio ao raiar de
um novo dia tem uma força espiritual muito grande. Esse culto termina com
a celebração do café da manhã comunitário no salão da comunidade. Para
esse café cada participante traz algo de sua casa, que é colocado numa grande
mesa, na qual todos se servem. E uma experiência do ágape, refeição comum
praticada pelas primeiras comunidades cristãs. O culto na madrugada de Pás­
coa tem sido sempre uma experiência de espiritualidade muito marcante. Faz
cinco anos que realizamos esse culto, e a falta de espaço na igreja chega a ser
preocupante.369

2.2.4 - C ulto de N a ta l

Também o culto de Natal é precedido em sua preparação pelas celebra­


ções de Advento. Elas acontecem no mesmo estilo das celebrações da Quares­
ma. Nas celebrações de Advento, temos como símbolo a Coroa de Advento,
colocada no centro do círculo do encontro. Além da coroa, outros símbolos
vão sendo agregados, conforme o tema da celebração. Essas celebrações tam ­
bém são realizadas à noite. Busca-se explorar o permanecer à luz de velas
durante a celebração. Também essas celebrações são muito significativas para
os participantes. Sem elas, com certeza o culto de Natal não teria o mesmo sig­
nificado, pois elas vão num crescendo em direção à celebração do nascimento
de Jesus. Também essas celebrações têm sido um espaço de espiritualidade
pessoal e comunitário muito procurado.

2.2.5 — C ulto com os idosos

Além dos encontros quinzenais com os idosos, temos realizado dois


cultos anuais especificamente para pessoas idosas. Um deles acontece no pe­
ríodo da Quaresma e o outro no período de Advento. Esses espaços de espiri­
tualidade, voltados especialmente às pessoas da terceira idade, têm sido muito
valorizados por elas. Esses cultos terminam sempre com a celebração de um
café comunitário no salão da comunidade, momento em que o diálogo entre
as pessoas é especialmente importante.

369 Maiores informações sobre a Páscoa como evento central da vivência cristã, cf. KIRST,
Nelson. Liturgia, in: SCHNEIDER-HARPPRECHT, Christoph (Org.) Teologia prática no
contexto da América Latina. São Leopoldo: Sinodal, ASTE, 1998. p. 128-130.

184
2 .2 .6 - C ulto In fa n til

O Culto Infantil como espaço de espiritualidade voltado especialmente


às crianças acontece todos os sábados à noite, no horário do culto comuni­
tário. Também uma vez por mês é promovida uma “tarde especial” com as
crianças, com duração média de três horas de atividades variadas. Promove-se
também uma vez por ano a “noite do soninho” . Nessa ocasião, as crianças
passam à noite acampadas dentro do salão da comunidade, realizando várias
atividades lúdicas, recreativas e meditativas. A comunidade celebrou no ano
de 2009 seus 90 anos de Culto Infantil, um espaço de espiritualidade voltado
às crianças. Todo esse trabalho requer uma equipe de pessoas capacitadas,
que se reúnem semanalmente para o preparo dos encontros, bem como para a
participação em seminários. Consideramos esse espaço de vital importância
para as crianças.

2 .2 .7 - P ro g ra m a C elebrar e Viver370

O Programa Celebrar e Viver tem por objetivo: encontrar a Deus - en­


contrar o próximo - encontrar-se a si mesmo. Com esse programa se quer pro­
porcionar a um grupo de 25 a 50 pessoas a experiência de vivenciar a liturgia
como celebração da vida em comunhão com outros irmãos e irmãs e desafiar
ao serviço no mundo.

O projeto teve sua origem na Igreja Luterana dos Estados Unidos (Am erican
Lutheran Church) na década de 1970 sob o nom e “caring com m unity”. Em
1971, o pastor Harry Hinrichs havia assumido o ministério pastoral numa co ­
munidade evangélico-luterana na região sul de Chicago, bairro com maioria
de população negra. A questão racial era candente e polêm ica. A comunidade
situava-se justamente na rua que dividia o bairro entre o setor “branco” e o se­
tor “negro”. N a comunidade, porém, havia poucas famílias negras. Certa oca­
sião, a comunidade procurava um novo zelador. Para a vaga candidataram-se
vários membros. N o processo de seleção, evidenciou-se que um membro negro
era o mais qualificado para o cargo. Eleito, porém, foi um branco. A decisão
levou a um conflito na comunidade. Hinrichs relata o fato com o segue: “Essa
decisão abalou minha fé. Ela provocou questionamentos que se tomaram cada
vez mais profundos e fundamentais. Que credibilidade têm nossos belos cultos
se entre nós acontece segregação racial e social? Podem os orar o Pai-N osso e
excluir o irmão negro de nossa comunhão? Com o se relacionam nosso louvor
e a prática do amor ao próximo?”

370 PROJETO Celebrar e Viver - manual para coordenadores. Sínodo Vale do Itajaí - 1ECLB.
As informações aqui constantes foram obtidas nesse manual do Sínodo do Vale do Itajaí.

185
Hinrichs questionava-se: “O que de fato tenho pregado? Quanto disso é com ­
preendido e integrado na vida dos membros? Som os realmente uma igreja
apenas para a classe média branca? Com o podem os experimentar em nossa
comunhão a força transformadora do evangelho?” Essas perguntas acentuaram
o conflito de Hinrichs com o presbitério. Sua dem issão foi inevitável.
Em sua nova comunidade em Green Bay, W isconsin, Hinrichs encontrou uma
equipe de lideranças que o auxiliaram a desenvolver, a partir de seus questio­
namentos, o projeto “caring com m unity” (“comunidade solidária”, “tragfahi-
ge Gemeinschaft”). Hinrichs relata: “Eu me lembro dos preparativos para o
culto dominical. Eu via com cada vez mais clareza a ligação entre os passos
litúrgicos: A colhida - Confissão de Pecados - Palavra - Confissão da Fé -
Ofertório - Santa Ceia. Cada passo contém de forma concentrada e sim bólica
a totalidade da vida. Eles interpretam nossa vida com D eus e nossa vida uns
com os outros. Se os sím bolos cristãos forem redescobertos em comunhão, a
compreensão e a experiência do corpo de Cristo conduzirão a novos p osicio­
namentos e atitudes”. O sucesso da “caring com m unity” foi tal que a American
Lutheran Church solicitou que Hinrichs colocasse seu projeto à disposição de
todas as comunidades da igreja.
N a década de 1980, o projeto chegou à Igreja Evangélica da Alemanha, onde
recebeu o nom e de “Gottesdienst Leben”. A partir dessa nomenclatura pro­
vém também a sugestão do nom e em português: “Celebrar & Viver”. Enquanto
“Celebrar” remete aos passos litúrgicos, “Viver” lembra a relação do projeto
com a totalidade da vida. N o Brasil, o curso “Celebrar & Viver” foi realizado
pela primeira vez em 1994 na Paróquia Matriz de Porto A legre sob a coorde­
nação do pastor Kurt Rieck. D esde 2001, a A ssessoria de Formação do Sínodo
Vale do Itajaí oferece treinamentos para obreiros/as e paróquias interessadas.
Um manual de cerca 100 páginas subsidia o treinamento e a realização do
projeto nas paróquias.

As cinco fases do projeto são as seguintes:


Decisão do Presbitério: Após a devida informação a respeito do pro­
jeto, o presbitério toma a decisão de realizá-lo em sua comunidade/paróquia.
C urso de M ultiplicadores: O/a pastor/a (ou outro/a ministro/a) e uma
pessoa da comunidade (ou mais de uma) participam de um curso de multipli­
cadores. Nesse curso, a equipe de coordenadores paroquiais é introduzida na
teologia e na prática de Celebrar & Viver. Auxílios concretos para a realização
do projeto em âmbito paroquial são fornecidos.
G ru p o de T reinam ento: Os coordenadores convidam 12 a 15 pessoas
da comunidade/paróquia para um Grupo de Treinamento. Esse grupo deve
representar os diferentes segmentos da comunidade: homens, mulheres, pais,
mães, idosos, jovens, universitários, operários, empresários, membros ativos e
membros distanciados. Esse grupo se reunirá semanalmente durante três me­
ses (cerca de 12 encontros). Os coordenadores transmitirão ao Grupo de Trei­

186
namento o processo de aprendizado pelo qual passaram no Curso de Multipli­
cadores. Cada um dos seis passos de Celebrar & Viver será, paulatinamente,
explicado teologicamente e depois exercitado. Entre o 6o e o 7o encontros
pode ser realizado um retiro de final de semana.
G ra n d e G rupo: Após três meses de projeto (12 encontros), o Grupo de
Treinamento convida mais 20 a 30 pessoas para participar dos 12 a 20 encon­
tros seguintes, formando o Grande Grupo. Nos cultos, programas e meios de
comunicação, todos os membros da comunidade serão convidados. Com os
membros interessados o Grupo de Treinamento poderá realizar um encontro
de Celebrar & Viver antes de um a inscrição definitiva. N a inscrição, cada
participante assume o compromisso de participar regularmente dos encontros.
Os primeiros sete encontros do Grande Grupo são coordenados pelo
Grupo de Treinamento. Eles transmitem ao Grande Grupo o seu próprio pro­
cesso de aprendizado. Após, os participantes do Grande Grupo são desafiados
a auxiliar na coordenação dos encontros.
Para o segundo e o quarto passos de Celebrar & Viver (Confissão de
culpa/Absolvição e Confissão de fé), o Grande Grupo subdivide-se em G ru ­
pos Fam iliares, constituídos por 5 a 7 pessoas. Nesses pequenos grupos, pre­
ferencialmente heterogêneos, acontecem de forma mais intensiva o comparti­
lhar e a comunhão. Os membros do Grupo de Treinamento serão distribuídos
equitativamente entre os diversos Grupos Familiares.
C ontinuidade: O projeto Celebrar & Viver deve ser encerrado no prazo
predeterminado. Importante é avaliar as experiências feitas. Os participantes
poderão escolher um a nova atividade na comunidade onde queiram se engajar
ou outro curso em que desejam participar. Provavelmente haverá interesse em
aprofundar-se na fé e no conhecimento da Bíblia. A partir da vivência da li­
turgia de forma dinâmica e existencial no projeto, é possível que participantes
aceitem o convite para integrar uma Equipe de Liturgia em sua comunidade.
Outros aceitarão de bom grado o convite para integrar a equipe de apoio de
um próximo projeto.
Os seis passos litúrgicos dos encontros são os que seguem:
Invocação/C ham ado/A colhida - M em ória do B atism o [Plenário -
5 minutos]-. “Nós somos chamados em nome do Deus Triúno, Pai, Filho e
Espírito Santo” (Isaías 43.1). Na invocação, somos lembrados de nossa voca­
ção. Somos lembrados de nosso Batismo, no qual fomos chamados pelo Deus
Triúno e em cujo nome estamos reunidos. Esse Deus está presente em todas
as situações de nossa vida com o seu chamado. Eím “cartão de chamada”, con­
feccionado por cada participante, lembra-nos do contexto existencial no qual
estamos inseridos: família, vizinhança, profissão, escola, sociedade. Todos os
participantes são acolhidos pelo próprio nome: “NN tu és chamado!”

187
Confissão da culpa - Absolvição [grupos familiares -1 5 -2 0 minutos]:
“Como vivi a semana que passou?” Aqueles que desejarem podem compar­
tilhar (“sharing” - somente ouvir, não discutir ou problematizar) suas expe­
riências em seu contexto existencial e são ouvidos pelo grupo familiar. Depois
de 15 minutos, o grupo familiar entoa um “Kyrie” (canto litúrgico), no que é
seguido pelos outros grupos à medida que vão encerrando seu compartilhar,
até todos estarem cantando a uma só voz no plenário. Alguém diz: “Cristo
aceitou os pecadores e perdoou seus pecados. Em nome de Cristo também os
teus pecados estão perdoados” . O grupo responde com “Amém”, e entoa-se
em conjunto o canto de “Glória”.
P a lav ra [plenário - 45 minutos]: Inicia-se lendo um trecho da palavra
de Deus, a Bíblia. Cada semana, um círculo familiar prepara a interpretação e
a atualização da Palavra, geralmente o texto do próximo domingo. Pergunta-
-se, inicialmente, em que situação histórica o texto foi dito pela primeira vez
(“palavra histórica” - “o que Deus disse no passado?”). Depois pergunta-se
pelo seu significado para a situação atual (“palavra atual” - “o que Deus diz
hoje?”) e para a situação pessoal (“palavra pessoal” - “o que Deus diz para
mim?”) de cada participante. Os coordenadores são motivados a usar de muita
criatividade para tom ar viva a Palavra e sua mensagem.
Confissão de fé [grupos fam iliares - 10-15 minutos]'. A Palavra espera
por uma resposta pessoal de fé. Nos círculos familiares, compartilha-se o que
a Palavra nos diz pessoalmente. Compartilha-se igualmente a que essa Palavra
desafia concretamente (serviço/diaconia) no contexto existencial. Escolhe-se
um símbolo para o desafio que aceitamos. Normalmente, encerra-se esse pas­
so orando em conjunto o Credo Apostólico.
O fertório [plenário - 1 5 minutos]: Aqui as pessoas ofertam a Deus e
ao próximo o que são e têm (Romanos 12.1-2). A mesa eucarística é prepara­
da com os elementos da Santa Ceia, as velas são acesas. Alguém diz: “Trazei
o vosso sacrifício de serviço para o altar de Deus, tendo em mente também
vosso altar do dia a dia” . Alguns trazem os símbolos de seus desafios e servi­
ços para o altar. Ora-se em comunhão, intercalando as preces com o “Kyrie”
(Oração de Intercessão).
S anta C eia [plenário - 15 minutos]: Celebra-se o dom da comunhão
com Deus e com irmãos e irmãs. Partilha-se o corpo de Cristo e experimenta-
-se o tomar-se seu corpo. Faz-se a memória da vida, morte e ressurreição de
Cristo por nós, experimenta-se a alegria com a sua presença na comunidade
de irmãs e irmãos, recebe-se perdão e contempla-se a ceia futura no seu reino.
Louvor (Prefácio e Sanctus), instituição, voto de paz, distribuição dos elemen­
tos, oração e bênção são as partes litúrgicas deste último passo, após o qual
todos se despedem com um canto final.

188
As experiências todas com o Celebrar & Viver foram muito gratifican-
tes. Os encontros sempre foram avaliados de forma muito positiva. Vale a
pena investir nesse tipo de espaço de espiritualidade.

2 .2 .8 - D e u s está presente^1'

Outro espaço de espiritualidade proporcionado na comunidade é o inti­


tulado Deus está presente. Essa série de encontros se compreende como uma
tentativa de fortalecer e consolidar a espiritualidade como manifestação reli­
giosa cristã nas comunidades. Destina-se a pessoas que procuram um aprofun­
damento na vida espiritual, sem perder o fundamento cristão luterano.
Deus está presente quer sensibilizar para a construção de uma vida a
partir da ação de Deus e voltada a ela. Os exercícios que serão realizados ao
longo do programa querem contemplar a pessoa como um todo, sua vida e
presença diante de Deus.
Não é um programa teórico. Nele se quer experimentar e ensaiar mo­
mentos de espiritualidade. Não se trata primeiramente de transmitir conheci­
mento, como acontece em um curso, mas sim da possibilidade de trilhar um
caminho que proporcione experiências pessoais.
Experimentar a vida de forma espiritual. Abrir-se diante de Deus e em
silêncio, olhar para o essencial da vida. Seguir um caminho espiritual que se
orienta pelo testemunho bíblico e que permite experimentar o poder curativo
e orientador da fé na própria vida. Encontrar-se vividamente com Deus e Jesus
Cristo, viver a partir da fé profunda, fundada na comunhão com Cristo e que
se deixa levar ao servir através do evangelho. Quem dirige o encontro não
transmite conhecimento, mas dá instruções para o exercício.
Essa série de encontros quer m ostrar de forma prática como viver a
espiritualidade, a oração e a meditação. Quer ajudar a aprofundar a vida pes­
soal de oração. Não se quer apenas entregar informações, mas exercitar. Essa
série de encontros quer sobretudo levar a uma atitude de abertura interior, a
descobrir como estar na presença de Deus com todos os sentidos e de forma
concentrada.
O mais importante nesse programa é seu caráter de exercício. Os passos
são escolhidos de tal maneira que possam ser praticados em casa e aprofunda­
dos. Eles representam uma ajuda pessoal na contemplação de textos bíblicos.
Dentro dos parâmetros da série de encontros há impulsos e tarefas concretas
para o tempo “entre” os encontros do grupo. São métodos de concentração

371 DEUS ESTÁ PRESENTE. Iniciação à espiritualidade cristã. Promoção da Assessoria de


Formação do Sínodo Vale do Itajaí - IECLB.

189
comprovados e aprovados, relacionados sempre com conteúdos de tradição
cristã. Eles possibilitam concentração interior e convidam o/a participante a
parar e quedar, ou seja, olhar para o essencial.
O programa Deus está presente não é propriamente um curso de m edi­
tação, mas tem elementos de meditação. A palavra meditar quer designar uma
postura entre atividade e passividade. Não se trata de fazer (ativo) nem deixar
estar (passivo), mas sim de deixar-se envolver e deixar acontecer. O soltar-se
e o deixar ou liberar o que incomoda são pré-requisitos importantes.
A meditação cristã pressupõe a palavra de Deus e visa a um enraiza­
mento e crescimento cada vez mais fortes nela. O alvo da meditação é ex­
perimentar Deus e vivenciar a si mesmo renovadamente por meio dele. O
direcionamento amoroso e absoluto para Deus e sua Palavra precede a m edi­
tação. É, pois, necessário um relacionamento constante e contemplativo com
Deus, para que o Deus que fala possa ser experimentado. Quer-se praticar a
meditação.
Um exemplo de meditação que nunca cessa encontramos no Salmo 1.2:
“Antes o seu prazer está na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noi­
te”, que significa recitar à meia-voz a palavra de Deus. Com ela entrelaça-se
uma técnica de meditação que pode ser descrita acertadamente como “rum i­
nação” . Com relação a ela, Lutero diz em sua preleção dos Salmos: “Meditar
cabe somente aos seres humanos, pois imaginar e pensar parece que também
os animais podem. [...] M editar e pensar são coisas distintas; pois meditar
significa pensar de modo profundo e cuidadoso, na verdade ruminar no cora­
ção. Meditar é demorar-se no centro ou ser movido pelo centro ou pelo mais
profundo”372.

2 .2 .9 - C ulto d e Tomé

Um breve histórico373
Outro espaço de espiritualidade que a comunidade proporciona é o Cul­
to de Tomé. Essa proposta nasceu em Helsinque, capital da Finlândia, em
1987, após uma evangelização que reavivou comunidades e despertou muitas
pessoas para uma vida de fé. Diante da crescente preocupação pelo fato de que
somente 2% dos membros participavam regularmente do culto tradicional,
a comunidade reavivada se perguntou: O que podemos oferecer a toda essa
gente faminta e sedenta pelo evangelho?

372 Apud DEUS ESTÁ PRESENTE. Iniciação à espiritualidade. Promoção da Assessoria de


Formação do Sínodo Vale do Itajaí - IECLB, p. 13.
373 REIS, Ana Isa dos. Culto de Tomé: origem, manifestações, relevância e conseqüências. Dis­
sertação de Mestrado Profissionalizante. São Leopoldo: EST, 2006. p. 10-13.

190
Nasceu então um grupo de trabalho com a tarefa de formular uma pro­
posta de celebração que atendesse melhor os anseios do povo numa realidade
urbana. Esse grupo foi integrado por membros participantes da vida comuni­
tária, bem como por pessoas distantes; por pessoas simples, bem como por
autoridades e empresários.
A celebração deveria proporcionar a edificação de uma viva comunhão
cristã e tomar-se um lar espiritual para homens e mulheres, que em nossas
cidades frias e desumanas buscam identidade, compreensão e valorização. Ela
também deveria ser uma porta aberta para o diálogo com pessoas em crise,
com dúvidas e pessoas críticas à igreja.
A celebração foi chamada de “Culto de Tomé” . Tomé é o discípulo de
Jesus que teve dúvidas acerca da ressurreição de Cristo (João 20.24-29). Ele
precisava de algo mais do que unicamente o testemunho falado; precisava ver
e tocar em Jesus para poder crer. Essas dúvidas e necessidades de Tomé tam­
bém estão presentes hoje, de forma especial no meio urbano. O Culto de Tomé
visa responder a elas através de um a celebração mais envolvente, significativa
e simbólica. Ele nos ajuda a experimentar comunhão com Deus não só pela
audição, mas também pela visão, olfato, paladar e tato.
Em São Bento do Sul, o culto foi introduzido em 2007. Ele é realiza­
do duas vezes por ano, uma em cada semestre. Temos tido resultados muito
positivos com essa iniciativa. Esse culto é sempre aguardado com muita ex­
pectativa. Ele foi celebrado pela prim eira vez apenas com os participantes do
programa Celebrar & Viver, os quais depois passaram a formar a equipe de
apoio ou equipe litúrgica, como também podem ser chamados.

A form a como o culto é realizado


Preparo do ambiente
A igreja deve estar à meia-luz ou, de preferência, à luz de velas. As ve­
las são parte essencial da ornamentação para o Culto de Tomé.
Prepara-se, no altar principal da igreja, a Estação das Orações Indivi­
duais. Nesse lugar devem estar dispostos recipientes para a fixação de velas,
que serão acesas durante a celebração (em nossas celebrações temos usado
potes de cerâmica com areia). Ao pé do altar podem-se colocar pedras, que
também terão sua representação simbólica.
Em um segundo altar prepara-se a Estação da Oração pelo Mundo.
Nesse devem estar um globo terrestre e uma cruz, lembrando os sofrimentos
e clamores do mundo. Ali também há um recipiente para a fixação de velas.
Em um terceiro altar prepara-se a Estação das Intercessões. Colocam-
-se sobre esse papéis, canetas e um cesto para o recolhimento das orações
escritas. Junto a esse altar deve haver cadeiras para uso dos participantes.

191
Em um espaço reservado colocam-se duas cadeiras, frente a frente, uma
para o/a ministro/a, outra para os participantes, que servirão de Estação da
Intercessão Pessoal.
O grupo de apoio veste-se de roupa escura e sobrepõe uma estola bran­
ca. Isso vale também para os ministros/as, o que vem a reforçar a ideia do
sacerdócio geral de todas as pessoas crentes.

Roteiro do culto
A igreja permanece fechada até dez minutos antes do início da celebra­
ção. Quando se abrem as portas, o grupo de apoio recepciona os participantes.
Na igreja, há música de fundo.
Entrada
Após o badalar dos sinos, o grupo de apoio entra na igreja em procissão;
entoando um hino de louvor e carregando velas, dirige-se ao altar e deposita
as velas a seus pés.
Acolhida e saudação trinitária
Poderá ser feita por um ministro/a ou integrante da equipe de apoio.
Louvor
Por ser um a proposta diferente do culto tradicional, sugere-se um a mú­
sica alternativa, conduzida com outros instrumentos que não o órgão. (Em
nosso culto, formamos um grupo de canto acompanhado por violões.) A pro­
posta é que sejam cantados aqui vários hinos.
Confissão de pecados
A confissão de pecados é tema central no Culto de Tomé. Pecado é
quebra de relacionamento entre Criador e criatura e crise de relacionamento
com o próximo e comigo mesmo. O pecado gera sentimentos de culpa, dívida
e indignidade. E necessário libertar-se desses sentimentos para viver feliz,
confessando pecados, recebendo a absolvição e vivendo do perdão.
O Culto de Tomé proporciona um caminho amoroso para esse processo.
Estabelece uma atmosfera de aceitação, de compreensão e confiança, propor­
ciona um clima em que posso dar-me a conhecer como realmente sou. Posso
mostrar o meu lado bom e ruim, as minhas trevas e a minha luz, saber-me
aceito e perdoado.
A confissão de pecados é introduzida com a leitura de um salmo (Pro­
postas: Salmos 30, 32, 51, 90, 139 e outros). Seguem a oração de confissão e
um canto comunitário de confissão.
Fase dinâmica
Essa é ao mesmo tempo o centro e a grande novidade do Culto de Tomé.
Vivemos em um mundo onde todos estão carregando aflições, sofrimentos,
inquietações, desespero. Diante dessa situação, Deus vem ao nosso encontro e
convida-nos através de Jesus Cristo: Vinde a mim todos os que estais cansados

192
e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei
de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para
as vossas almas. Porque o meu ju g o é suave e o meu fardo é leve (Mateus
11.28-30).
A fase dinâmica visa promover esse encontro reconfortante com Cristo
através do silêncio, meditação, introspecção, oração, ação simbólica, diálogo
e bênção.
Todos os participantes são convidados a participar das estações. Po­
derão decidir de que maneira querem participar, havendo a possibilidade de
permanecer em seus lugares para momentos de reflexão pessoal ou de leitura
bíblica.
Estação das orações individuais - Cada participante é convidado a di­
rigir-se a esse altar e depositar um a pedra sobre ele, lembrando suas dificulda­
des, doenças e crises. Em seguida, acende-se um a vela, lembrando que Jesus
Cristo, a luz do mundo, quer ser a luz em nosso caminho e caminhar conosco
em meio às nossas dificuldades. Junto com a ação simbólica faz-se um a ora­
ção, levando a Deus as súplicas e a gratidão.
Estação da Oração pelo Mundo - Nesse altar, os participantes inter­
cedem pelo mundo com seus sofrimentos. Ao fazê-lo, as pessoas acendem
uma vela. Pode-se fazer menção a temas como a paz no mundo, a natureza, a
educação. É possível o grupo de apoio sugerir uma situação específica para a
oração da comunidade.
Estação das Intercessões - Nesse local, através da escrita, cada parti­
cipante formula suas orações pessoais ou gerais. Cada um dirige-se à mesa e,
servindo-se de caneta e papel, escreve sua oração. Dobrando o papel, coloca-o
no cesto sob a mesa. Esse cesto será trazido ao altar principal no final da fase
dinâmica. As orações não serão lidas, mas sim levadas a Deus, que tudo sabe.
Na oração final e após o culto, elas serão incineradas.
Estação da Intercessão Pessoal - Diante de cada ministro/a há uma ca­
deira vaga, e os mesmos estarão à disposição para um breve diálogo e momen­
to de intercessão. Após o diálogo, o ministro colocará a mão sobre o ombro do
participante e fará uma oração.
A fase dinâmica leva entre trinta e quarenta e cinco minutos, dependen­
do do número de participantes da celebração. Nossa experiência tem mostrado
que a procura pela intercessão pessoal é muito grande, e é importante que se
possa contar com o apoio de mais de um ministro/a. Durante a fase dinâmica
também há música de fundo.
Louvor - Durante o louvor é trazido até o altar principal o cesto com as
orações escritas.

193
Palavra de absolvição - Levando em conta que toda a fase dinâmica
é um “derramar o coração perante Deus e se dar a conhecer”, cabe aqui uma
palavra formal de absolvição.
Unção com óleo - No Culto de Tomé, a unção com óleo é a celebração
do “sim” de Deus. Sim que Deus nos disse no Batismo e que mantém fiel, ape­
sar de nossa infidelidade. Para pessoas que estão acostumadas a ouvir tantos
“nãos”, o sim de Deus é remédio que liberta e alivia. Lembramos que o grande
sim de Deus, garantia de seu amor e sua fidelidade, está na dádiva de Jesus
Cristo, o nosso Salvador.
Alguns integrantes do grupo de apoio colocam-se junto ao altar, ten­
do consigo um recipiente com óleo para unção, de preferência um a essência
aromática. O participante coloca-se diante de um desses e diz o seu nome.
Seu nome é repetido, e o sinal da cruz é feito na testa do ungido, dizendo-se:
“Receba este óleo como sinal do grande amor de Deus. Vá em paz”. Durante
a unção, também há música de fundo na igreja.
L o u v o r - Aqui cantam-se hinos de alegria e gratidão.
Prédica - Procuramos fazer um a pregação temática, mais curta do que
a pregação de um culto tradicional. O tema da pregação também é o tema de
todo o culto.
Confissão d e f é - Poderá ser feita com um dos credos tradicionais ou
um credo cantado.
Louvor - Canta-se aqui um hino de preparo para a Santa Ceia. Também
poderá ser substituído pelo hino do ofertório.
Santa Ceia - Segue a liturgia da Santa Ceia. Conforme a proposta do
culto, celebramos a Ceia de forma bem dinâmica. Para expressar mais clara­
mente a comunhão dos pecadores perdoados, fazemos um grande círculo para
a distribuição. A distribuição é feita pelos integrantes do grupo de apoio.
Oração fin a l - Nessa são incluídas todas as intercessões escritas. Para
simbolizar isso, a pessoa que dirige a oração deverá ter a cesta em suas mãos.
Seguem a bênção, o envio, o louvor e no final a saída, na qual o grupo de apoio
sai em procissão pelo corredor central da igreja levando consigo as orações es­
critas, que serão incineradas na presença de todos no pátio da igreja. Durante
a ação canta-se um hino de louvor. E, no final, a confraternização, momento
em que todos se dirigem ao salão comunitário para um cafezinho, que é pro­
videnciado pelo grupo de apoio.
O Culto de Tomé proporciona uma experiência profunda que vale a
pena realizar e que compensa todo esforço investido. Por outro lado, ele exige
bastante tempo de preparo. Muitas pessoas precisam estar envolvidas e aplicar
os seus dons. E necessário também realizar uma boa divulgação. Há de se ter
abertura para mudar conceitos. Mas o resultado é surpreendente.

194
2 .2 .1 0 - M editação vespertina

Outro espaço oferecido pela comunidade é a meditação vespertina, rea­


lizada às seis horas da tarde. Ela tem a duração de trinta a quarenta minutos.
Ela surgiu como continuação do programa “Deus está presente”, acima des­
crito. Os participantes desse programa queriam continuar encontrando-se para
desenvolver sua caminhada espiritual. Busca-se nesse espaço continuar com
a meditação que quer caminhar em direção à oração do coração, inspirada no
conselho paulino: “Orai sem cessar” (1 Tessalonicenses 5.16). Nessa medita­
ção se trabalha com o corpo e com a respiração, buscando a concentração e
através da respiração acessar nosso interior. Nesse encontro acontecem canto
repetitivo, leitura de texto bíblico, silêncio meditativo. Há um grupo fiel que
participa nesse espaço de espiritualidade.374

2.2.11 - G rupo de m ulheres, jo v e n s, e instrum entos m usicais, canto


coral, novos m em bros, oração

Muitos outros espaços de espiritualidade há na comunidade, como por


exemplo a OASE - Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas, que congre­
ga um número significativo de mulheres. Também a Juventude Evangélica,
grupo de canto coral ou instrumentistas. Nesses grupos, espaços significativos
de espiritualidade são cultivados e atraem também sempre novos integrantes
para somar-se aos grupos.
Podemos dizer que a comunidade local oferece um leque bastante am­
plo, com diferentes e significativos espaços de espiritualidade para os mais
variados segmentos da sociedade e que têm sido buscados e freqüentados por
significativo número de pessoas.

2.2.12 - D evo cio n á rio s

Além dos espaços de espiritualidade comunitários, destaco ainda os es­


paços de espiritualidade domésticos, vivenciados no âmbito do lar, em família
ou individualmente. Esses momentos são proporcionados pelos devocionários
em uso na IECLB. Na comunidade de São Bento do Sul, são vários os devo­
cionários distribuídos. Temos em São Bento: “Castelo Forte”, “Semente de
Esperança”, “Orando em Família”, “Senhas Diárias”, “Gotas de Orvalho”,

374 Sobre a meditação como proposta para uma espiritualidade no cotidiano veja artigo de IL-
LENSEER, Louis Marcelo e SANTOS, Joe Marçal Gonçalves dos, in: Tear. Liturgia em
Revista do Centro de Recursos Litúrgicos. São Leopoldo: EST, n. 25, p. 7-10, maio de 2008.

195
para citar os mais usados.375 O uso desses devocionários cria espaços signi­
ficativos, nos quais a fé das pessoas é alimentada e a prática da meditação e
o recolhimento são perpetuados. Evidentemente, com os devocionários po­
demos supor a leitura da Bíblia, de livros de edificação cristã, de teologia ou
outros que aprofundam a vivência da espiritualidade cristã.

2.3 - Limites e possibilidades de uma espiritualidade urbana

A partir do acima exposto, é possível afirmar que a espiritualidade cristã


tem possibilidades e chances muito significativas na realidade urbana. Com
certeza também tem tarefas a realizar. Podemos dizer que um a das oportuni­
dades da espiritualidade passa pelo contexto cultural como um a oportunidade
favorável. Conforme Secondin, há pessoas desejosas de valores menos efê­
meros disponíveis e atentas a quem proponha modelos de vida que saibam
integrar mundos vitais, que saibam fazer uma síntese harmoniosa dos grandes
elementos estruturadores.376 O perigo que surge é a fé transformar-se em sim­
ples opinião, não ligada à verdade alguma. A possibilidade que surge é dar
espaço a uma comunicação que favoreça uma nova identidade, quando o ser
humano for capaz de transformar os problemas em recurso espiritual.
Outro aspecto a considerar é o deslocamento para o vivido, para o ex-
periencial. Hoje a experiência passou a ter uma importância fundamental. O
desafio que se levanta para a espiritualidade é o chamamento à unidade entre
teoria e práxis.377 Ou seja, faz-se necessário elaborar novos paradigmas em
tomo do vivido experiencial. Espiritualidade e vida cotidiana, vivências his­
tóricas concretas e emoções coletivas precisam estar presentes na vivência da
espiritualidade. As alegrias e esperanças, tristezas e angústias do ser humano
precisam ser consideradas pela espiritualidade. Por isso ela vai estar caracte­
rizada pela exigência de compromisso, de entrega.378
Propostas sugestivas começam a surgir nessa direção, como, por exem­
plo, as diversas propostas de espiritualidade feminina, a espiritualidade da
criação de Matthew Fox, a espiritualidade ecofeminista de Rosemary Rad-

375 Numa contagem feita a partir das tiragens desses devocionários, supondo que duas pessoas
leiam o mesmo material uma ou outra vez, pode-se afirmar que eles atingem diariamente
mais de 100 mil pessoas na 1ECLB. Se isso for verdade, a pergunta que fica é como apro­
veitar de uma forma mais participativa toda essa busca das pessoas por uma espiritualidade
que lhes fortaleça a alma e o espírito no cotidiano de suas vidas, hoje tão marcadas por
incertezas, crises e dúvidas.
376 SECONDIN, Bruno. Como e por que cultivar a espiritualidade no coração da modernidade
em crise. Grande Sinal, v. 53, n. 6, p. 767, 1999.
377 SECONDIN, 1999, p. 768.
378 BRANDT, 2006, p. 33.

196
ford-Ruether, a espiritualidade da libertação de Ivone Gebara no Brasil, a es­
piritualidade afro-americana, as diferentes espiritualidades indígenas e outras.
Conforme Secondin, tudo isso aponta para a necessidade e a chance de novos
“modelos de completude”, novos “caminhos do Espírito” próximos a nós,
mais integrais, inclusivos, holísticos, libertadores.379
Essa espiritualidade teria que abandonar sua abordagem estritamente
confessional para tomar-se mais descritiva, analítica, multidisciplinar, ecu­
mênica, multicultural, holística e inclusiva. Também os binômios céu-terra,
natural-sobrenatural, graça-pecado, masculino-feminino, razão-emoção, ins-
tituição-profecia, memória-futuro, tradição-inovação, sagrado-profano devem
ser superados.380 Importante é também recuperar o corpo na espiritualidade.
Ainda são muito fortes as influências de Agostinho e Tomás de Aquino, no que
se refere a uma espiritualidade inimiga da corporeidade, pois eles traziam con­
sigo a visão platônica e aristotélica de que o corpo é a parte inferior e caduca da
pessoa e da personalidade. A espiritualidade contemporânea precisa considerar
a importância do corpo, pois a espiritualidade do corpo reconhece a variedade
e a diversidade, a fragilidade e a finitude do corpo humano. Mais ainda, que a
vivência da fé só pode ser corporalmente integral (corpo - mente - espírito). A
partir do momento em que se tem respeito pelo processo de envelhecimento,
pelos ciclos naturais do corpo humano e do seu lugar no mundo, pode surgir
uma espiritualidade que toma cuidado do corpo humano sem transformá-lo em
ídolo.381 Conforme Secondin, é também graças ao eco feminismo que se chega
a uma visão de profunda integração entre microcosmo e macrocosmo, entre a
vida pessoal e seus mistérios e o cosmo inteiro como fonte e suspiro de vida.382
São várias as possibilidades e os desafios para a espiritualidade que
deseja dialogar com novos cenários culturais.383 Uma delas é auscultar o “co­
ração” do ser humano contemporâneo mergulhado em suas crises.384 Tentar
compreender o que ele anda procurando, o que o fascina e o que o interpela e
inquieta. Vivemos num tempo de mudanças tão profundas, que se tem perdi­
do a memória das origens e se vagueia para lá e para cá, experimentando um

379 SECONDIN, 1999, p. 769.


380 SECONDIN, 1999, p. 770.
381 Cf. NOE, Sidnei. A m ar é cuidar: dez boas razões para integrar as pessoas com deficiência,
valorizar a terceira idade, cultivar a saúde integral, viver uma sexualidade sadia, buscar o
perdão. São Leopoldo: Sinodal, 2005.
382 SECONDIN, 1999, p. 771.
383 SECONDIN, 1999, p. 772-776.
384 Muito pertinente é a abordagem de SOUZA, Ricardo Barbosa de. O caminho do coração:
ensaios sobre a Trindade e a espiritualidade cristã. 3. ed. Curitiba: Encontro, 1999. Também
WONDRACEK, Karin H. K. Caminhos da graça: identidade, crescimento e direção nos
textos da Bíblia. Viçosa: Ultimato, 2006.

197
tempo de transição, de tal modo que a impressão que fica é que não se chega
a lugar nenhum.
Outro aspecto a considerar é exercitar um olhar contemplativo.385 Bus­
car captar os sinais ainda fracos de um novo mundo que vem à luz. A tarefa
aqui é ficar de sentinela, vigiando e intuindo, olhando e perscrutando a noite,
para perceber os sinais do novo que se aproxima.
Não se trata de sacralizar qualquer fenômeno que se chame de “procura
do sagrado” , “necessidade espiritual” , “experiência interior” . Conforme le-
mos em 1 João 4.1, é preciso colocar à prova as inspirações, para saber se vem
mesmo de Deus. A sabedoria típica da espiritualidade cristã deve capacitá-la
a reconhecer aquilo que é autêntico e separá-lo das modas espirituais vazias
de substância. O próprio Dalai Lama, líder do budismo tibetano, sob uma
perspectiva não cristã, também critica a apropriação apressada de aspectos
da meditação oriental feita por ocidentais, pois ela se tom a superficial e sem
profundidade.386
Buscar símbolos novos, criativos, que correspondam às novas necessi­
dades e às novas experiências, faz-se também necessário. A busca por novas
chaves de leitura se impõe para reinterpretar a história e não repetir simples­
mente de maneira fetichista as teorias do passado. Possibilidade e tarefa, ao
mesmo tempo, é caminhar em direção a uma espiritualidade realmente liber­
tadora e curadora neste mundo dividido, injusto, irresponsável e suicida. Ne-
cessita-se urgentemente de uma espiritualidade que venha a ser uma proposta
terapêutica387, que seja caminho de salvação e redenção. Uma espiritualidade
capaz de criar uma comunidade que seja solidária com a dor e o sofrimento,
que seja capaz de exercitar o ministério da cura.388 À medida que for liberta­
dora, ela irá coincidir com a presença surpreendente do reino de Deus que vem
a nós e que é um reino de justiça a orientar toda ação libertadora. É assim que
se poderá ir fomentando o aparecimento de um estilo de vida comum e soli­
dário.389 Essa espiritualidade precisa aprender a convivência das diferenças,
aprender o que é a ecojustiça a partir de uma experiência de vulnerabilidade,
imperfeição e empatia. A espiritualidade precisa ouvir o “grito pela vida”, que
se faz ouvir de tantas situações de opressão e morte. Ela precisa aprender a
não continuar falando de maneira “platônica”, fora da história.

385 BOFF, Leonardo; BETTO, Frei. M ística e espiritualidade. Rio de Janeiro: Rocco, 1994.
386 LAMA, Dalai. Caminho da sabedoria, caminho da paz. Porto Alegre: L&PM, 2009.
387 HOCH, Lothar C. (Org.). Comunidade terapêutica: cuidando do ser através de relações de
ajuda. São Leopoldo: EST, Sinodal, 2003.
388 ULRICH, Claudete Beise e KIEFER, Wemer. Ao Deus desconhecido. Um encontro na cida­
de de Atenas. Estudos Bíblicos, n. 36, p. 47, Petrópolis/São Leopoldo: Vozes/Sinodal, 1992.
389 BRANDT, 2006, p. 34.

198
Uma espiritualidade que se alimenta do Cristo ressurreto vai necessa­
riamente empenhar-se pela reconciliação e paz. O ministério da reconciliação
confiado por Jesus a seus seguidores tem por finalidade promover a paz, o
shalom que vai superar barreiras culturais entre os povos, que vai buscar uma
paz social.390
Urge que a espiritualidade cristã deixe de ser retaguarda para transformar-
-se em vanguarda, espiritualidade que corre à frente, que exerce mais profecia do
que conformismo. Ela deveria atuar como “sabedoria orientadora” que alimenta
a sinceridade e a audácia, que aponta para caminhos mais largos, caminhos de
antecipação profética. A espiritualidade deve aprender e ensinar a interpretar
os “sinais dos tempos”. Ela deve insistir sobre a alteridade do divino, sobre
sua incognoscibilidade, sobre o “totalmente outro”, sobre a “graça a um alto
preço”. A espiritualidade precisa enfrentar o supermercado do sagrado selva­
gem, o retomo drogado da religião e da religiosidade, o fascínio da experiência
religiosa disponível a preços módicos, mesmo a prestações. Só irá sobreviver a
espiritualidade que dá conta da responsabilidade do ser humano, que dá sentido
à existência material, ao mundo da técnica e, de modo geral, à história. Deverão
perecer as espiritualidades de evasão, as espiritualidades dualistas.
A espiritualidade cristã nos dias tumultuados em que vivemos precisa
saber conjugar a palavra de Deus com os sinais dos tempos e dos lugares. Ela
precisa carregar dentro de si a marca da solidariedade para com todos aqueles
que lutam e esperam uma vida menos injusta e humilhada pela opressão e vio­
lência. A espiritualidade precisa abrir-se ao universal, acolher os sofrimentos
e as esperanças dos seus irmãos e irmãs, tecer sempre de novo alianças de
fraternidade e reconciliação entre povos e raças, entre homem e mulher, entre
jovens e idosos, entre memória e utopia.
A espiritualidade que tem possibilidades no meio urbano é aquela que
for intensa e arrebatadora, que souber interagir com as pessoas, uma espiri­
tualidade centrada na graça, pois ela caracteriza Deus como aquele que vem
ao encontro do ser humano, não para condenar, mas para manifestar a sua
misericórdia. Porque Deus é aquele que é capaz de buscar e criar das trevas
a luz, do caos a beleza. Tal espiritualidade abre possibilidades à medida que
é poimênica e dialogai, que considera a vida com sensibilidade e respeito no
que se refere às suas crises e angústias e dá voz ao que sofre. A linguagem dos
Salmos, nesse sentido, é e será sempre uma fonte inesgotável para tal espiri­
tualidade, pois ela capta na oração cotidiana as dores e angústias, o sofrimento
e as perdas e coloca-as diante de Deus, criador do céu e da terra, mas que não
esquece nem abandona a pessoa pobre, sofredora, vulnerável e humilde.

3% HOFFMANN, Arzemiro. A cidade na missão de Deus. São Leopoldo: Sinodal; Curitiba:


Encontro, 2007. p. 34.

199
Uma espiritualidade como vimos apresentando terá possibilidades se
for enraizada na comunidade e mostrar-se engajada socialmente, se estiver em
tensão entre a manifestação da graça e o sofrimento, pois a graça de Deus atua
no mundo através de gestos de misericórdia, manifestados através de todos os
que foram atingidos por essa misericórdia. Portanto também não poderá ser
ingênua, mas autocrítica, pois os sistemas que produzem a morte não mudam
seu padrão de comportamento se não forem desmascarados e se não houver
uma mobilização que os reprima. Não por último, essa espiritualidade precisa
ser cristocêntrica, ela precisa apontar para Jesus como testemunho em meio à
vida numa dimensão relacionai. A espiritualidade cristã é a vivência atual da
fé no Espírito de Cristo, crucificado e ressurreto e que continua a interceder
por nós diante de Deus (Hebreus 7.25).

Conclusão

A questão levantada no final do primeiro tópico requer atenção, m es­


mo que a resposta seja difícil. Não se pode fugir das perguntas, pois são elas
que movem os seres humanos e através delas é que se buscam alternativas.
A questão apresentada foi: Quais são as possibilidades e os limites de uma
espiritualidade urbana?
A pergunta surgiu motivada por uma percepção da realidade. Há uma
busca pela espiritualidade muito presente nas pessoas que vivem na cidade.
Diferentes ênfases ou tipos de espiritualidade foram se desenvolvendo ao lon­
go dos tempos. Essa espiritualidade também esteve sempre, de alguma forma,
condicionada ao momento histórico que se vivia. Desde os primeiros discí­
pulos de Jesus, passando pelas primeiras comunidades cristãs, com seu pe­
ríodo de perseguição, considerando todo o longo período da espiritualidade
monástica apresentado, chegando até os dias de hoje, a espiritualidade cristã
foi sempre dinâmica. Características e ênfases moldaram a espiritualidade em
cada época. No período da primeira secularização da igreja, vamos encontrar
o fenômeno da anacorese, que levou muitos cristãos a procurar uma vida as­
cética de isolamento no deserto. Desaparecido o martírio, a ascese tomou-se
o ideal de perfeição da vida cristã, a única possibilidade de viver a espirituali­
dade cristã com seriedade.
Uma experiência importante que marcou a história da espiritualidade
cristã foi o movimento monástico que instituiu formas de espiritualidade ain­
da vigentes nos dias de hoje nos mosteiros e congregações religiosas. A Co­
munidade de Taizé, na França, que é ecumênica, bebe dessas e outras fontes
e atrai milhares de jovens todos os anos para participar de celebrações e mo­
mentos fortes de renovação espiritual.

200
No movimento da Reforma do século XVI, encontramos Lutero, que
herda as formas fundamentais da espiritualidade medieval monástica. Essa se
caracterizava pelas instruções sobre métodos de meditação de textos da Escri­
tura, sobre como lutar contra as tentações, sobre como viver os sacramentos,
sobre a vivência do amor e da solidariedade cristãs. Lutero, entretanto, subme­
teu essa forma de piedade à teologia da Reforma, que vai resultar num exercí­
cio espiritual composto por concentração, meditação e oração, sem esquecer
a passagem pela tentação.
Foi importante descobrir que a espiritualidade que hoje celebramos é
herdeira de um mar de experiências espirituais vividas por pessoas de fé no
passado e que através dessas formas de espiritualidade buscaram a cura e li­
bertação para suas angústias e males.
O segundo tópico do estudo trouxe diferentes modelos de espirituali­
dade, vividos na cidade atualmente. Nele apresentamos as necessidades es­
pirituais das pessoas que vivem na cidade e a importância de ir forjando uma
espiritualidade que possa criar núcleos de relacionamento, com o objetivo de
dar identidade, criar espaços nos quais se possa trabalhar a fé que leva em di­
reção ao outro, à fé relacionai. Mas o mais básico de tudo foi demonstrar que
as pessoas querem ser amadas, respeitadas como gente, querem experimentar
que são amadas por Deus através da comunidade de fé. Essa é uma necessi­
dade relevante nos dias de hoje, porque a vida na cidade está marcada pelo
anonimato, pela saudade e pelo anseio por relações pessoais.
Perguntando por modelos, essa pesquisa apresentou espaços e formas
de espiritualidade, existentes na Comunidade Evangélica de Confissão Lute­
rana de São Bento do Sul, SC. Apresentou as diferentes formas de culto comu­
nitário que atualmente têm lugar na comunidade, como os cultos de Batismo
e aniversário de Batismo, culto na madrugada da Páscoa, culto de Natal, culto
de idosos, Culto Infantil, Culto de Tomé. Além dos cultos, também fizemos
referência a programas de espiritualidade como o Celebrar & Viver, Deus
está presente, a meditação vespertina, apresentados e destacados como sig­
nificativos espaços para a vivência da espiritualidade, sem desconsiderar os
espaços de espiritualidade gerados nos diferentes grupos da comunidade e nos
espaços domésticos. Constata-se com isso que a comunidade local oferece um
leque bastante amplo, com diferentes e significativos espaços de espiritualida­
de para os mais variados segmentos da sociedade e que têm sido buscados e
freqüentados por um significativo número de pessoas.
A partir da questão levantada no começo do trabalho acerca dos limites
e possibilidades de uma espiritualidade urbana, a presente pesquisa constata
que a espiritualidade tem possibilidades e chances na realidade urbana, mas
com certeza também tem tarefas urgentes a realizar. Quer dizer, a espiritua­
lidade cristã passa pelo contexto cultural, sendo ele uma oportunidade favo­

201
rável. A vida cotidiana, as vivências históricas concretas e as emoções cole­
tivas precisam estar presentes na vivência dessa espiritualidade. As alegrias
e esperanças, tristezas e angústias do ser humano precisam ser consideradas
pela espiritualidade cristã. Por isso ela vai estar caracterizada pela exigência
de compromisso, de entrega. A espiritualidade cristã necessita tomar-se mais
descritiva, analítica, multidisciplinar, ecumênica, multicultural, holística e in-
clusiva, de tal modo que os binômios céu-terra, natural-sobrenatural, graça-
-pecado, masculino-feminino, razão-emoção, instituição-profecia, memória-
-füturo, tradição-inovação, sagrado-profano sejam superados. E, não por últi­
mo, afirmamos que é importante recuperar o corpo na espiritualidade, como
Rubem Alves, Ivone Gebara, Maria Soave, Leonardo Boff, Frei Betto e outros
teólogos e místicos têm enfatizado ultimamente.
O presente trabalho apresenta como possibilidade e tarefa, ao mesmo
tempo, caminhar em direção a um a espiritualidade libertadora, curadora e te­
rapêutica, por isso capaz de criar uma comunidade que seja solidária com a
dor e o sofrimento das pessoas. Ora, uma espiritualidade que se alimenta do
Cristo ressurreto vai empenhar-se pela reconciliação e paz, superando barrei­
ras culturais entre os povos. Podemos afirmar, assim, que a espiritualidade
cristã tem possibilidades no meio urbano enquanto for intensa e arrebatadora
e souber interagir com as pessoas. Enquanto estiver centrada na graça liber­
tadora, a espiritualidade cristã sempre será uma superação, um modo e um
desafio para as pessoas dos dias de hoje, pois a graça nos fala de Deus como
aquele que vem ao encontro do ser humano para manifestar sua misericórdia
ontem, hoje e sempre.

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