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Relatório Interno de Investigação Pesqueira n° 43

PADRÃO DE DISTRIBUIÇÃO DAS PRINCIPAIS ESPÉCIES DE CAMARÃO


NA BAÍA DE MAPUTO
As opiniões expressas neste estudo são dos autores e não reflectem necessariamente as opiniões do
Instituto Nacional de Investigação Pesqueira (IIP) ou o mandato deste.
O conteúdo desta publicação/relatório ou parte da mesma, não deverá ser reproduzida, sem referência
explicita da fonte (citação devida).

Autor: SAMUCIDINE, Kélvin e Badru HAGY, Badru. Ano: 2020


Título:Padrão de distribuição das principais espécies de camarão na Baía de Maputo
Publicação: Relatório Interno de Investigação Pesqueira,Nº43
Instituto Nacional de Investigação Pesqueira, Maputo. 19 p.

Propriedade: Instituto Nacional de Investigação Pesqueira


Título: Relatório Interno de Investigação Pesqueira no 43, Maio de 2020
Autores: Kélvin SAMUCIDINE e Badru HAGY
Direcção: José Mário Mafuca e Isabel Chaúca
Comissão Editorial: Isabel Chaúca, José Halafo e Rafael Rafael
Coordenação de Edição: Elisa Ofinar
Capa, Arranjos e Design Gráfico: Fligência Djedje
Impressão: IIP
Tiragem: 35 exemplares
Endereço: Av. Mao Tsé Tung, n o 389; Telef.: (+258) 21 490 536 / 21 490 307 / 82 311 8530
Fax: (+258) 21 492112
MAPUTO - MOÇAMBIQUE
Relatório Interno de Investigação Pesqueira nº 43

PADRÃO DE DISTRIBUIÇÃO DAS PRINCIPAIS ESPÉCIES DE CAMARÃO


NA BAÍA DE MAPUTO

Kélvin Samucidine e Badru Hagy

Instituto Nacional de Investigação Pesqueira


Índice

1. Introdução ---------------------------------------------------------------------------------------------- 2
2. Problema de estudo ----------------------------------------------------------------------------------- 4
3. Objectivos ---------------------------------------------------------------------------------------------- 5
3.1 Objectivo geral ...................................................................................................................... 5
3.2 Objectivos específicos .......................................................................................................... 5
4. Revisão bibliográfica -------------------------------------------------------------------------------- 5
5. Material e Métodos ---------------------------------------------------------------------------------- 7
5.1 Área de estudo....................................................................................................................... 7
5.2 Enquadramento e descrição do cruzeiro ............................................................................... 8
5.3 Material ................................................................................................................................. 9
5.4 Amostragem .......................................................................................................................... 9
5.4.1 Recolha de dados ambientais ------------------------------------------------------------------- 9
5.4.2. Recolha de amostras de produção ------------------------------------------------------------ 10
5.4.3 Processamento das amostras biológicas ------------------------------------------------------ 10
6. Análise de dados ------------------------------------------------------------------------------------ 10
6.1 Distribuição das espécies de camarão penaeideo na Baia de Maputo ................................ 10
6.2 Dinâmica ambiental das áreas de maior abundância das espécies de camarão .................. 12
7. Resultados e discussão ----------------------------------------------------------------------------- 13
7.1 Distribuição da biomassa explorável de camarão penaeideo na Baía de Maputo .............. 13
7.1.1 Contribuição relativa das espécies no padrão de distribuição da biomassa ------------- 15
7.1.2 Distribuição espacial dos rendimentos médios do camarão ------------------------------- 17
7.3 Dinâmica ambiental das áreas de distribuição das espécies de camarão ............................ 19
8. Conclusões-------------------------------------------------------------------------------------------- 25
9. Recomendações ------------------------------------------------------------------------------------- 26
10. Referências Bibliográficas ------------------------------------------------------------------------ 27
1. Introdução

A pescaria de camarão na Baía de Maputo, desempenha um importante papel socio económico no seio
das comunidades costeiras. Estima-se que esta contribua com cerca de 50% da produção desembarcada
anualmente (IIP, 2013), beneficiando em torno de 3000 famílias (entre pescadores e comerciantes),
através da segurança alimentar e emprego (Michaque, 2008).

A actividade é levada a cabo pelas frotas semi-industrial e artesanal, incluindo um pequeno grupo de
pescadores sem barco (recolectores) que usam redes mosquiteiras para captura de camarão de pequeno
tamanho em zonas de maré (Dengo e Govender, 1999). Embora a mesma se realize um pouco por toda
extensão da Baía de Maputo, o maior esforço de pesca encontra-se concentrado em pequenas áreas, sendo
fortemente influenciado pelo tipo de maré (Pegado et al., 2001). Algumas destas áreas abrangem uma
larga extensão dos estuários do Incomati, Umbeluzi e Maputo, estendendo-se desde os bancos de areia
(pesca artesanal) até zonas para além de 1 milha (frota semi-industrial). De acordo com Chauca et al.,
(2007), as áreas hospedam desde os estágios pos-larvares à sub-adultos da maioria das espécies de
camarão penaeideo, como sejam Penaeus indicus (camarão branco), Metapenaeus monoceros (camarão
castanho), P. japonicus (camarão banana ou flor), P. monodon (camarão tigre), e Metapenaeus stebbingi
(camarão perigrino), sendo as duas primeiras as mais abundantes e de maior interesse comercial. Todavia,
nos últimos 10 anos o stock de camarão tem vindo a registar alguma alteração na composição das
espécies, que se supõe afectar o padrão de distribuição espacial e por conseguinte os níveis de produção
das frotas.

De acordo com os operadores da pescaria, por volta de 2006 foi observada a presença de uma espécie
desconhecida de camarão nos desembarques da frota artesanal e semi-indsutrial. A sua monitorização teve
início em 2007, conduzindo a fortes suspeitas de tratar-se de Metapenaeus dobsoni (análise morfológica).

Em 2009, a sua ocorrência tornou-se mais expressiva sobretudo nos arrastões semi-industriais, registando
a maior contribuição nas capturas (Metapenaeus dobsoni, 54%; Penaeus indicus 18%; Metapenaeus
monoceros, 12%; outros camarões, 16%) (IIP, 2009). Esse padrão de dominância da espécie se mostrou
mais ou menos similar até por volta de 2011, tal como evidenciam os indicadores de produção
(Metapenaeus dobsoni, 39%; Penaeus indicus 34%; Metapenaeus monoceros, 22%; outros camarões,
5%) (IIP, 2012). No entanto, em virtude do tamanho relativamente reduzido bem como a textura mole dos
tecidos, a espécie despertara até então, uma fraca apreciação para o comércio local. Em 2014 a sua
identificação viria a ser confirmada com base em métodos moleculares como Metapenaeus dobsoni

2
(Miers, 1878). De acordo com Pillai & Thirumilu (2013), a espécie é reconhecida por suportar a pesca
comercial em águas costeiras do Leste do oceano Índico (ex: Índia, Sri Lanka, Malásia, Indonésia,
Filipinas e Nova Guiné).

Paralelamente, no decurso da campanha de pesca de 2012 foi igualmente observado o aparecimento de


outra espécie de camarão penaeideo, com um tamanho comercialmente atractivo. A espécie foi
identificada como Parapenaeopsis sculptilis (Heller, 1862) através de métodos moleculares (Simbine, em
preparação). A sua distribuição natural está associada aos mares tropicais (desde a costa Oeste da Índia,
estendendo-se por Hong Kong, Malásia, Indonésia até Austrália e Nova Guiné), suportando a pesca
comercial em alguns sistemas estuarinos.
Na Baía de Maputo, a sua contribuição na captura anual em relação as espécies comerciais foi estimada
em (Parapenaeopsis sculptilis 4%; Penaeus indicus 21%; Metapenaeus monoceros, 7%; Metapenaeus
dobsoni, 59%; outros camarões, 8%) (IIP, 2013). Actualmente, pouco se pode inferir em relação a sua
apreciação para o comércio e consumo pelas populações devido a ocorrência esporádica nas capturas.

Em Moçambique, estas espécies podem então ser consideradas exóticas1, ao abrigo das definições
adoptadas pela Convenção Internacional sobre Diversidade Biológica (CDB COP-6, Decisão VI/23, 2002
(Leão et al., 2011). Segundo o mesmo autor, entre os efeitos decorrentes da sua introdução em novos
habitats, a degradação da biodiversidade figura entre os mais temíveis. Tendo em conta que as espécies
nativas suportam pescarias comercias e de pequena escala em águas costeiras, o estabelecimento de
espécies exóticas poderá acaretar a ocupação do mesmo nicho ecológico (competição pelo espaço,
alimento) interferindo por conseguinte no sucesso reprodutivo e renovação do stock das espécies
nativas.

Assim, o presente trabalho visa essencialmente analisar o padrão de distribuição das espécies de
camarão (comerciais e exóticas) na Baía de Maputo baseando-se na magnitude de ocupação
espacial bem como a sua contribuição na biomassa do stock explorável.

1
Quando encontrada em um local diferente do de sua distribuição natural por causa de introdução mediada por acções humanas,
de forma voluntária ou involuntária. Se a espécie introduzida consegue se reproduzir e gerar descendentes férteis, com alta
probabilidade de sobreviver no novo habitat, ela é considerada estabelecida.

3
2. Problema de estudo

Tendências recentes têm evidenciado variações acentuadas nas capturas de camarão, sendo largamente
marcadas pela redução de espécies comerciais a favor de outras espécies (Fig. 1). A tendência se mostra
ainda mais evidente nos arrastões da frota semi-industrial em relação as artes camaroneiras da pesca
artesanal (arrastos para bordo e para praia) (Die et al., 2013).

Figura 1: Variação da composição das capturas nas diferentes artes de pesca de camarão no período 2007 - 2013

Entre as prováveis hipóteses, um enfoque tem sido dirigido a pressão de pesca imposta pelo surgimento
da arte de emalhar de fundo em 2007, bem como o surgimento do camarão exótico Metapenaeus dobsoni.
A arte de Emalhar de fundo é largamente reconhecida pela rápida expansão nos centros de pesca (40000
artes activas/ano) em virtude da apreciável contribuição de espécies comerciais (P. indicus e M.
monoceros) na produção anual (200 ton) (Fig. 1). De acordo com Inácio et al. (2014), essa produção
esteve fortemente associada ao regime de pesca ininterrupto (incluindo o período de veda), extensão das
redes (± 1500 m) e a inobservância do resguardo a outras artes. Todavia, com a sua inclusão no despacho
sobre o regulamento da veda em 2010, foi notória uma rápida recuperação da biomassa de espécies
comerciais e por conseguinte um incremento das capturas na frota semi-industrial.

Por outro lado, a tendência crescente das espécies exóticas (Metapenaeus dobsoni e
Parapenaeopsis sculptilis) em relação as comerciais (P. indicus e M. monoceros), que se vem
assistindo no mais recente período, poderá significar o sucesso da sua adaptação e propagação no
ecossistema ou ainda alguma vantagem competitiva das espécies exóticas na ocupação do nicho
ecológico.

4
Desse modo, o presente estudo representa uma contribuição importante para a gestão da pescaria, na
medida em que permite inferir sobre o padrão de distribuição das espécies comerciais e exóticas e por
conseguinte avaliar as potencialidades dos estratos para a optimização dos níveis de produção.

3. Objectivos

3.1 Objectivo geral


Descrever o padrão de distribuição das principais espécies de camarão nas áreas de pesca da Baia de
Maputo

3.2 Objectivos específicos


ξ Analisar a distribuição da biomassa das espécies de camarão Penaeus indicus, Metapenaeus
monoceros, Metapenaeus dobsoni e Parapenaeopsis sculptilis na Baía de Maputo;
ξ Descrever a dinâmica ambiental das áreas de distribuição das espécies de camarão.

4. Revisão bibliográfica

Camarões penaeideos figuram entre os mais diversificados crustáceos decápodas da subordem


Dendrobrachiata e família Penaeidea. Largamente distribuídos pelas áreas tropicais e subtropicais,
habitam geralmente águas costeiras superficiais (Dall et al, 1990). A família inclui um grande número de
espécies de interesse comercial, suportando uma das mais importantes pescarias do mundo (De Abreu,
2008). No entanto, uma vez que elas não são territoriais, o seu ciclo de vida é largamente descrito com
base em padrões migratórios em relação aos ambientes marinho e estuarino.

Em meio marinho, tais padrões são geralmente atribuídos a fenómenos de macroescala2, constituindo
factor chave para o fluxo genético em áreas geográficas diferentes bem como o estabelecimento de
espécies exóticas (Pineda et al., 2007).

Por outro lado, em sistemas estuarinos ou baías, as migrações nos diferentes estágios do ciclo de vida são
geralmente governadas por respostas comportamentais face a acção das correntes, temperatura e
salinidade da água (Abduremane, 1998; Bacaimane, 2005).

2
Fenômenos meteorológicos com dimensões da ordem de algumas centenas de quilômetros e duração da ordem de um dia a
meses. Desempenham um importante papel na determinação das características climáticas e sazonais nas diversas regiões do
globo. Exemplos: furacões, frentes frias, ciclones e anticiclones e as “ondas de oeste”.

5
Complementarmente, os movimentos migratórios que governam a distribuição do stock no decurso da
campanha de pesca, poderão ser largamente atribuídos a dinâmica de interacção entre as marés, o sistema
terrestre e atmosfera. De acordo com Bacaimane (2005), essa interacção promove a produtividade
primária e a troca de nutrientes entre o sistema bentónico e a coluna de água, criando nichos altamente
favoráveis para várias espécies de camarão. Desse modo, o padrão de distribuição das espécies pelas
diferentes áreas de pesca, encontra-se largamente associado a sua preferência como área de assentamento,
refúgio e alimentação (De Abreu, 2008).

Na Baía de Maputo em particular, o padrão de distribuição do camarão ao longo da campanha de pesca é


largamente influenciado pelos estuários do Incomati, Espírito Santo e Maputo, governando a abundância
relativa das espécies nas áreas de pesca.

A espécie Penaeus indicus, também denominada “camarão branco”, habita as áreas de fundos lodoso e
arenoso, distribuindo-se por profundidades que variam entre 2 – 90 metros. Na Baía de Maputo, a espécie
compõe o grupo dos camarões comercialmente importantes em virtude da sua abundância relativa e os
apreciáveis tamanhos (Fêmeas, CT=228 mm); (Machos, CT=184 mm) (Fisher et al., 1990). De acordo
com Chauca et al., 2007, o pico das migrações de recrutamento tem lugar entre os meses de Janeiro a
Março, geralmente governado por factores ambientais e hábitos alimentares nos diferentes estágios do
ciclo de vida. Na área de pesca, esta se desenvolve até a maturidade sexual contribuindo para incremento
do tamanho do stock explorável, dando lugar a desova no mesmo ano (Brinca & Palha de Sousa, 1984).

A espécie Metapenaeus monoceros, também denominada “camarão castanho”, habita zonas de fundos
lodoso-arenoso, distribuindo-se em profundidades que variam de 1 a 60 metros. Na Baía de Maputo,
representa a segunda espécie mais importante em virtude da sua abundância relativa bem como os
apreciáveis tamanhos (Machos, CT=150 mm); (Fêmeas, CT=195 mm) (Fisher et al., 1990). De acordo
com (Brinca & Palha de Sousa, 1984) a sua migração dos estuários para a área de pesca ocorre aos 4
meses de idade (recrutamento), estendendo-se entre os meses de Dezembro e Junho. Nas áreas de pesca,
ela permanece por aproximadamente 1 ano, até atingir a idade máxima (16 meses), contribuindo para o
aumento do tamanho do stock explorável.

A espécie Metapenaeus dobsoni (com ocorrência recente na Baía de Maputo), é caracterizada por habitar
as águas costeiras com fundo lodoso (estuários, baías bem como lagunas e arrozais), podendo no estágio
adulto migrar para os 37 metros de profundidade (Pillai, 2013). Em algumas zonas de distribuição natural
(Ex: Kerala - India), é apontada como a mais importante, representando cerca de 50% (21 ton) do

6
camarão desembarcado anualmente. Apesar do tamanho pouco atractivo (macho -118 mm; femea – 130
mm de CT) a sua importância encontra-se associada as elevadas capturas anuais (Ex: Chennai, 545 ton).
Adicionalmente, em algumas áreas a espécie representa um apreciável suporte a aquacultura em sistemas
abertos extensivos, devido a alta tolerância a variações de salinidade (3 – 25 ppt), rápida maturidade
sexual (Machos – 59 mm; fêmeas – 84 mm), altamente fecunda (34500 – 159000 ovos/indivíduo).
Segundo Pillai & Thirumilu (2013), os padrões temporais dos movimentos migratórios (recrutamento e
desova) variam de acordo com as zonas geográficas, registando por vezes dois picos anuais.

A espécie Parapenaeopsis sculptilis (com o mais recente registo nas capturas da Baía de Maputo – 2012),
geralmente habita as zonas adjacentes a franja costeira. Os estágios juvenis a sub-adultos (0 – 1 ano)
confinam-se as águas superficiais com fundos lodoso a arenoso, migrando a profundidades superiores a
15 metros no estágio adulto (1 – 2 anos). Em alguns estados da Índia (Kutch, Bombay e Hoogly) suporta
a pesca comercial em sistemas estuarinos entre Outubro a Maio, e ainda em sistemas ribeirinhos durante
as monções.

De acordo com Brinca & Palha de Sousa (1984), se por um lado o recrutamento da maioria das espécies
de camarão penaeideo contribui directamente no tamanho do stock explorável; os rendimentos médios
(Kg/dia., Kg/hr, etc) por outro lado representam um índice de abundância do stock em um dado período,
sendo geralmente atribuído a respostas comportamentais face aos factores externos de pressão.

5. Material e Métodos

5.1 Área de estudo

A Baía de Maputo, situa-se a Sul de Moçambique entre os paralelos 25°55' S e 26°10' S e os meridianos
32°40' E e 32°55' E. Encontra-se ligada ao oceano Índico no extremo Nordeste através de uma entrada
com cerca de 18 km de largura, estendendo-se desde Macaneta até a ilha dos Portugueses a Sudeste
(Lencart e Silva, 2007). No extremo Sul, encontra-se a Peninsula de Machangulo e a Este as Ilhas da
Inhaca e dos Portugueses, protegendo a Baía das correntes e ondas oceânicas. Com uma extensão de 1200
km2, a área autorizada à actividade pesqueira na Baía de Maputo é estimada em 503,2 km2 conforme
disposto no Diploma Legislativo no 2567, de 25 de Janeiro de 1967 (Bacaimane, 2005) (Fig. 2).

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Figura 2: Localização geográfica da área de estudo – Baia de Maputo, ilustrando os estratos de pesca, as estações de
amostragem.

5.2 Enquadramento e descrição do cruzeiro

O estudo foi realizado no âmbito de um programa de monitorização da pescaria de camarão na Baía de


Maputo, visando a optimização dos rendimentos face ao aparecimento das espécies exóticas. O mesmo foi
executado através de um cruzeiro de investigação no período de veda, ao abrigo de uma cooperação entre
a associação dos Armadores da Pesca Semi-industrial de camarão da Baia de Maputo e o Instituto
Nacional de Investigação Pesqueira - IIP.

O cruzeiro decorreu no mês de Fevereiro de 2014, com duração de 11 dias (saídas), a bordo de uma
embarcação de pesca semi-industrial. A mesma, com a denominação de Onda do Mar (Mar Sul, Lda)
apresenta um comprimento total de 13,6 m, 190 HP, TAB 24,2 e conservação da produção a gelo.
O cruzeiro consistiu essencialmente em jornadas diárias de pesca (das 05:00h – 17:00h), contando com
uma tripulação composta por técnicos do IIP e um grupo “efectivo” de pescadores afectos a mesma
embarcação em campanhas comerciais. Ao fim de 11 dias de trabalho, foram realizados 31 arrastos,
cobrindo cerca de 224 km2 (aproximadamente metade da área autorizada para a pesca, 503,2 km2).

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5.3 Material
 4 Coletes salva vida
 4 capas de chuva
 4 pares de luvas
 4 pares de botas
 1 aparelho GPS
 1 aparelho CTD
 2 Balanças 10 kg
 2 Craveiras
 2 Baldes de 20 kg
 2 pranchetas
 Fichas de amostragem

5.4 Amostragem
O esquema de amostragem foi baseado no modelo aleatório estratificado. Para o efeito, foram
consideradas as áreas de maior concentração de esforço de pesca em virtude das condições de arrasto
demersal bem como a reconhecida abundância das espécies comerciais (Coelho, 1972; Pegado &
Masquine, 2011). Os limites fronteiriços das áreas de navegação e das áreas arrastáveis foram inferidos
com base na experiência dos capitães, tendo em conta a configuração dos fundos batimétricos. De acordo
com Sparre & Venema (1997) o modelo ora adoptado, confere maior precisão nas estimativas, a um custo
igual ou inferior ao método aleatório simples.

A navegação aos estratos de amostragem foi sincronizada com o ciclo diário de marés, recorrendo-se
igualmente a mapas batimétricos digitais em GPS, (Garmin - 76CSx) para o contorno de bancos de areia.

5.4.1 Recolha de dados ambientais

Os dados de temperatura, salinidade, pressão e transparência da água foram colectados antes do início de
cada arrasto, com recurso a uma sonda CTD (Salinity, temperature, depth) SEACAT 19PLUS da Seabird,
tal como referido em Natividade (2006). Para o efeito, o aparelho foi introduzido na água fazendo
submergir até a profundidade máxima do local, mantendo-o por aproximadamente 5 minutos para o
registo dos dados.

9
5.4.2. Recolha de amostras de produção

Em cada estrato, as amostras da produção pesqueira foram obtidas com base no procedimento de pesca
usado nos arrastões comerciais de camarão. A rede de malha 55mm era lançada ao mar imediatamente
após a medição dos parâmetros abióticos. Cada arrasto teve a duração de 45 min, controlada em tempo
real com o auxílio de GPS (Garmin - 76CSx), a uma velocidade constante de 3.5 km/h. No entanto, em
decorrência de alguns constrangimentos operacionais de ordem técnica (Ex: encalhe das portas em bancos
de lodo, presença redes de emalhar de fundo ao longo do percurso do arrasto), foi efectuado um ajuste
temporal de alguns arrastos, assumindo-se uma duração média de 1 hora e 20 minutos.
A contagem do tempo dos arrastos foi efectuada logo que a rede alcançasse o fundo (momento da
travagem do guincho, a critério do pescador). Paralelamente, no decurso de cada arrasto, foi efectuado o
registo das coordenadas geográficas das trajectórias descritas pela embarcação, com recurso a um
aparelho GPS, (Garmin - 76CSx), conforme descrito em Natividade (2006).

Ao fim de cada arrasto, a produção da rede era despejada na popa da embarcação e estimado o seu peso
por meio de observação directa e conversão em número de caixas de 30 kg, seguindo-se o registo da
informação em Fichas de Diário de Bordo.

5.4.3 Processamento das amostras biológicas

Por cada arrasto foi recolhida uma amostra aleatória equivalente a 10 % da captura total. Para o efeito, foi
usada como unidade de medida uma caixa de 30 kg, que era preenchida por fracções retiradas de
diferentes locais (centro, margens, de cima e de baixo) da captura total, com recurso a uma pá.
Com base na referida amostra, era efectuada a análise da composição da captura, consistindo
essencialmente em uma triagem da produção e separação de todo camarão e fauna acompanhante (peixes,
moluscos e outros crustáceos). Para o camarão, foi efectuada a identificação das espécies, contagem e
pesagem por sexos.

6. Análise de dados

6.1 Distribuição das espécies de camarão penaeideo na Baia de Maputo

A distribuição das espécies de camarão foi descrita com base nos níveis de biomassa relativa nos
diferentes estratos arrastados. Para o efeito, em cada estrato foram considerados arrastos sucessivos,

10
alocados proporcionalmente as suas dimensões espaciais (Km2) e mapeada a contribuição relativa das
espécies através de diagramas de proporções de biomassa.

A biomassa das diferentes espécies de camarão foi estimada através do método da área varrida, usando-se
a seguinte expressão:

a D * R * X 2 ; D V * t (Sparre e Venema, 1997)

onde:
a - Área varrida
D – Distância arrastada
R - Comprimento do cabo mestre
X2 – Fracção do cabo mestre que é igual a largura da trajectória varrida pelo arrasto
R*X2 – Abertura horizontal da rede

A biomassa total (em kg e Ton) num determinado estrato foi então estimada extrapolando o rendimento
médio de cada área varrida para a área total do estrato, através da expressão:

C
B *A
(a * q * r )

Onde:

B - Biomassa no estrato
C - Captura média no estrato k
A – Área do estrato k
a - Área varrida por arrasto
q - Coeficiente de capturabilidade 3
r – Número de redes a operar

A dinâmica das campanhas de pesca nos diferentes estratos, foi descrita com base nos rendimentos
médios diários, CPUE (Kg/hr). De acordo com Brinca & Palha de Sousa (1984), uma vez que a CPUE

3
Para o cálculo de biomassa, foi assumido o coeficiente de capturabilidade do arrasto igual a 1 (todo o camarão que
se encontrasse no trajecto da rede durante o arrasto era capturado).

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representa um índice de abundância relativa dos stocks, esta pode ser convertida em uma medida de
biomassa absoluta com base no método de área varrida.

Para o efeito, em cada estrato foram considerados os valores médios das capturas, conferindo uma
estimativa não-viciada da captura média por hora através da seguinte expressão:

nk
1
y ƒy (Brito, 1998)
k
n
k i 1
ik

Onde:
yik - captura por hora de cada arrasto i no estrato k,

Y k - captura média por hora das estações nk distribuídas aleatoriamente no estrato k

Paralelamente, assumindo o carácter aleatório da amostragem foi igualmente considerada a variância das
capturas, constituindo uma estimativa não viciada da população:

nk 2

2
ƒi 1 ♣
♦y
♥ ik yk •÷≠
S k
(Brito, 1998)
n k 1

6.2 Dinâmica ambiental das áreas de maior abundância das espécies de camarão

A dinâmica ambiental das áreas de pesca de camarão foi descrita com base nos padrões dos parâmetros
físicos, pressão (para derivar a profundidade), condutividade (para derivar a salinidade), fluorescência
(para derivar a clorofila-a), temperatura e oxigénio dissolvido. Paralelamente, foram registadas as
coordenadas geográficas dos pontos de recolha de parâmetros ambientais com recurso a um GPS.

Os dados devidamente registados, foram convertidos e processados com o auxílio do programa SeaSoft.
A elaboração dos mapas e perfis dos parâmetros ambientais foi posteriormente efectuada usando os
programas Surfer e ArcMap.

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7. Resultados e discussão

7.1 Distribuição da biomassa explorável de camarão penaeideo na Baía de Maputo

Durante o período em análise, a biomassa total de camarão foi estimada em 41 toneladas repartidas de
forma peculiar pelas áreas de pesca. As diferentes fracções representam a ocorrência de cada espécie e a
sua contribuição relativa na biomassa por área de pesca, traduzindo o seu padrão de distribuição pela Baía
de Maputo (Figura 3).

Figura 3: Distribuição da biomassa (ton) (a) e abundância de camarão (nr ind) (b) e a contribuição das espécies no padrão de
distribuição pelos estratos de pesca da Baía de Maputo. *Outros – conjunto de espécies de camarão de baixo valor comercial
devido a fraca abundância.

De um modo geral, os recursos de camarão estiveram maioritariamente distribuídos pelos estratos A e C,


com biomassas estimadas em 24 ton e 14 ton, respectivamente. A distribuição pelos estratos B e D se
mostrou relativamente fraca, com biomassas estimadas em 3 ton e 0.1 ton, respectivamente.

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As diferenças observadas na distribuição da biomassa pelos estratos, possivelmente resultem da dinâmica
de interacção entre o escoamento dos rios e as correntes de maré em campanhas diárias.

Se por um lado, o maior escoamento registado no mês de Fevereiro (Canhanga e Dias, 2014) pressupõe
maior força de recrutamento e biomassa explorável (Brinca & Palha de Sousa, 1984); as capturas diárias
por outro lado, parecem ser resultantes do efeito combinado entre as variações atmosféricas, correntes de
maré e a configuração batimétrica dos estratos.

Relativamente ao período em análise (Fevereiro), a fraca biomassa observada no estrato B possivelmente


traduza a fraco escoamento do rio Maputo (Figura 5.b) reduzindo assim a contribuição de recrutas a esta
área. Tais suposições são suportadas com base no regime hidrológico do rio, que de acordo com Kramer
(2003), vem registando alterações bastante significativas nos últimos 10 anos. Segundo o mesmo autor,
tem sido observada uma cada vez crescente intrusão salina (até 40 km a montante “Ponte de Salamanga”)
decorrente da intensa utilização dos ecossistemas a montante (florestas de mangal, pântanos e lagunas
costeiras). Entre as mais importantes implicações, são registadas alterações na velocidade de escoamento
bem como nas épocas de ocorrência de caudais extremos (Bacaimane, 2005).

No estrato D por outro lado, a menor biomassa poderá estar associada ao fraco recrutamento decorrente
da baixa precipitação, e portanto menor escoamento na ilha de Inhaca (Figura 5.b). A precipitação
contribui em média com 100 cm3/ano distribuída de forma bastante irregular entre Novembro a Abril
(Abdurremane, 1998). Desse modo, os níveis de precipitação registados até ao período em análise,
provavelmente terão exercido uma fraca influência na migração dos recrutas das Baías de Sangala e Saco,
a Norte e Sul da ilha, respectivamente.

Tais observações podem ainda ser suportadas com base em (Nordez, 2014), segundo a qual a taxa de
escoamento dos rios demonstra uma correlação forte a moderada em relação as capturas acessíveis a
pesca artesanal e semi-industrial, respectivamente. Efeito similar foi observado no Banco de Sofala,
demonstrado por meio de uma relação linear entre as taxas de captura de camarão e as descargas anuais
do rio Zambeze (Kramer, 2003). De acordo com o mesmo autor, uma redução das descargas anuais deste
rio em 1m3 resultaria na redução das taxas de captura por hora em cerca de 156 kg.
Complementarmente, o padrão de circulação das águas na Baía de Maputo poderá ter influenciado as
capturas nos diferentes arrastos e portanto a biomassa dos estratos B e D. No período em análise, esse
padrão parece ter sido governado pela interacção entre a pressão atmosférica (ventos do Sudeste e do
Este) (Canhanga e Dias, 2014) e a configuração batimétrica (bancos areno-lodosos) (Coelho, 1972)

14
modificando assim o efeito das marés na disponibilidade do recurso naqueles estratos. Na estação de
inverno por outro lado, (com predominância de ventos do Nordeste) (Canhanga e Dias, 2014), a área
confere refúgio a algumas espécies de camarão através da turvação da água. Nesse período, tem sido
registadas capturas apreciáveis, maioritariamente em estado de desova. Consequentemente, a área
geralmente sofre intensa pressão de pesca comercial bem como de operadores artesanais (Emalhe de
Fundo), que por vezes migram dos seus centros de origem e se instalam em acampamentos próximos ao
estrato de pesca.

7.1.1 Contribuição relativa das espécies no padrão de distribuição da biomassa


De um modo geral, a contribuição relativa das espécies na distribuição da biomassa, pode ser descrita do
seguinte modo:
A espécie Penaeus indicus registou a mais ampla distribuição pela Baía de Maputo, com uma
representação dominante (>40 %) em todos estratos de pesca.

A espécie Metapenaeus monoceros, embora representada em todos estratos da Baía de Maputo, sua
contribuição relativa não se mostrou acentuada. A espécie esteve maioritariamente distribuída pelos
estratos A e B, com cerca de 7% e 22% da biomassa total, respectivamente.

A espécie Metapenaeus dobsoni (espécie exótica), esteve representada somente nos estratos A e C,
mostrando uma maior distribuição pelo estrato A com 39% da biomassa total.

A espécie Parapenaeopsis sculptilis, esteve distribuída pelos estratos A e B, contribuindo com 6% e 33%
da biomassa total, respectivamente. A sua ocorrência não foi reportada nos estratos C e D.

A categoria “outros” esteve representada em todos estratos de pesca da Baia de Maputo, embora em
proporções relativamente fracas (2%). No entanto, a sua maior distribuição esteve associada ao estrato D,
com 13% da biomassa total (Fig. 3.a).

Por outro lado, a contribuição relativa das espécies em número de indivíduos, permitiu realçar a
amplitude de distribuição pelos estratos na Baia de Maputo.
A espécie exótica M. dobsoni mostrou uma tendência crescente de ocupação espacial, destacando-se
como dominante no estrato A (67%) e expandindo a sua distribuição para os estratos B e D, com 3% e 9%
respectivamente.

15
O camarão P. indicus representou a espécie secundária no estrato A, com 21% (a seguir a M. dobsoni),
mantendo no entanto a sua maior distribuição pelas restantes áreas (B, C, D) bem como a dominância em
relação as outras espécies (>33%). As restantes espécies demostraram um padrão de distribuição similar
ao observado em termos de contribuição na biomassa por estrato (Fig. 3.b).

As diferenças observadas nos padrões de distribuição das espécies, poderão traduzir a sua preferência
relativa pelo habitat (disponibilidade de alimento e refúgio) em determinado estágio do ciclo de vida.
No estrato A, a maior diversidade específica possivelmente reflicta uma maior produtividade das águas
associadas aos mangais do estuário do Espírito Santo e Incomati (clorofila-a: 13 mg/m3) (Fig. 6.d),
tornando-os viveiros preferenciais para o assentamento das pós-larvas.
A força do recrutamento, poderá por sua vez ser atribuída a maior contribuição do rio Incomati em
descargas anuais (260.19 m3/s) (Canhanga e Dias, 2014), tornando o estrato A um nicho altamente
favorável e portanto preferencial para a distribuição do camarão. Tais observações, foram igualmente
discutidas em Forbes e Demetriales (2005) relativamente a abundância e diversidade de recrutas em águas
estuarinas (Kosi Bay, St Lucia, Richards Bay e Durban Bay) e as capturas subsequentes.

A maior distribuição da espécie Metapenaeus dobsoni no estrato A provavelemente reflita alguma


vantagem competitiva na gestão espacial e temporal das condições do nicho (alimentos, flutuações de
salinidade).
Tais condições, geralmente governadas pela interacção entre o índice de escoamento e regime de marés,
influenciam o sucesso reprodutivo da espécie bem como a rápida adaptação ao meio.
Essas observações foram igualmente demonstradas em Pillai (2013), evidenciando maior ritmicidade de
recrutamento em marés vivas e portanto, uma optima adaptação em águas estuarinas bem como em
lagunas costeiras (3 – 25 ppt).

Essa suposição pode ser suportada com base em Pillai & Thirumilu (2013), segundo o qual, apesar do seu
tamanho reduzido a espécie reproduz-se durante todo o ano, podendo os picos variar por zonas
geográficas e de ano para ano. Segundo o mesmo autor, em Kochi (India) a espécie é descrita como
altamente fecunda, produzindo entre 38400 – 80600 ovos/fêmea a partir de 84 mm de comprimento total
na primeira maturação FAO (S/data). A espécie P. indicus, por outro lado, embora reconhecido pelo
potencial reprodutivo entre 68000 a 1.254.200 ovos/fêmea com cerca de 130 – 149 mm de comprimento
total na 1ª maturação, a extensão da época reprodutiva varia com a área geográfica. Em Moçambique, o
período reprodutivo é relativamente curto, estendendo-se de Setembro a Março (Cristo & Mascarenhas,

16
1986). Relativamente a espécie M. monoceros pescada em Moçambique, a 1ª maturação tem lugar com
99.53 mm de comprimento total e o período reprodutivo similar a P. indicus.

De acordo com De Abreu (2008), o padrão de distribuição evidenciado pelas espécies na Baia de Maputo,
representa um processo natural denominado Conectividade biológica. O mesmo consiste na troca de
indivíduos entre os diferentes habitats da Baia através de interacções bióticas (refúgio a predação),
migrações diárias (impostas pelo regime de marés), sazonais e ontogénicas (busca de alimentos no estágio
sub-adulto e adulto), influenciando assim a distribuição.

7.1.2 Distribuição espacial dos rendimentos médios do camarão


Sob ponto de vista de produção pesqueira, os estratos A e C apresentaram rendimentos médios similares,
estimados em torno de 22 kg/hr . Os estratos B e D por outro lado, demonstraram alguma variação nos
rendimentos dos arrastos, estimados em torno de 4 kg/hr e 0.3 kg/hr, respectivamente.

A contribuição das espécies por áreas de pesca, demonstrou alguma variação importante sobre os
rendimentos médios (kg/hr) (Fig. 4).

Figura 4: Distribuição espacial dos rendimentos médios por espécies de camarão nos estratos de pesca (A, B, C e D)
na Baia de Maputo.

O camarão Penaeus indicus mostrou a maior contribuição na produção pesqueira a nível da Baia de
Maputo, com os maiores rendimentos observados nos estratos A e C, estimados em 10 e 20 kg/hr
respectivamente. Nos estratos B e D, apesar da variabilidade no seu padrão de ocorrência nas capturas, os

17
altos rendimentos comparativamente as restantes espécies, conferem alguma importância a estes estratos
como áreas de distribuição da espécie.

O camarão Metapenaeus monoceros, embora com rendimentos médios bastante fracos a espécie esteve
distribuída pelas principais áreas de pesca. Os maiores rendimentos foram observados nas áreas A e B
(2.0 kg/hr e 1.0 kg/hr respectivamente), podendo ser descritas como as principais áreas de distribuição da
espécie.

O camarão exótico Metapenaeus dobsoni, apesar da sua ocorrência nos estratos B e C, a sua distribuição
parece estar largamente associada ao estrato A, apresentando rendimentos médios de 8.0 kg/hr. Não foi
registada sua ocorrência no estrato C.

O camarão exótico Parapenaeopsis sculptilis demosntrou um padrão de distribuição orientada para os


estratos A e B, com rendimentos médios estimados em 1.5 kg /hr. Não houve registo de sua ocorrência no
estrato C.

De um modo geral, as flutuações observadas nas taxas de captura poderão estar associadas a força do
recrutamento, que de acordo com De Paula e Silva & Masquine (2014) parece ser mais pronunciada em
águas estuarinas associadas aos mangais pouco impactados.

Sob ponto de vista de composição das capturas, um enfoque particular é atribuído ao estrato A,
particularmente pela pronunciada contribuição da espécie exótica M. dobsoni. Essa contribuição poderá
significar alguma vantagem competitiva na utilização das condições do nicho (aporte de nutrientes e
escoamento dos estuários do Incomate e Espirito Santo.

O estuário do Incomati, caracterizado pelas formações de mangal de Marracuene, Macaneta, Bairro dos
pescadores, Costa do Sol/bairro Triunfo, Ilhas Bengalene, Xefina pequena, Xefina grande, Muntanhana,
perfaz aproximadamente 4451.3 há (Paula et al., 2014). Todavia, pode-se inferir que a contribuição
efectiva no recrutamento de camarão seja atribuída a uma extensão de cerca de 37%, correspondente ao
mangal semi-intacto (Macamo et al., 2014). O estuário do Espirito Santo por outro lado, resulta da
confluência de 4 rios (Infulene, Matola, Umbeluzi, e Tembe) com formações de mangal que se expandem
a montante abrangendo extensas áreas de Maputo e Catembe.

18
7.3 Dinâmica ambiental das áreas de distribuição das espécies de camarão

Durante o período em análise, a temperatura da água não registou flutuações acentuadas nas diferentes
áreas de pesca. Em geral, atingiu uma média de 28 oC, abrangendo a maior extensão da área de pesca da
Baía. A menor temperatura foi registada nas águas costeiras da cidade de Maputo, numa extensão
compreendida pela entrada ao estuário do Espirito Santo e a foz do Incomati. A sul da Península de
Machangulo foi registada a maior temperatura, traduzindo uma diferença de 1.5 oC em relação as águas
frias (Figura 5.a).
Essas observações poderão estar largamente associadas a diferença de profundidade nas referidas áreas. A
extensão compreendida entre os estuários do Espirito Santo e do Incomati abrange parte da área reservada
a navegação, e portanto com uma profundidade relativamente maior que não permite o aquecimento pleno
da coluna de água. A área de pesca associada a península de Machangulo por outro lado, é caracterizada
pela presença de numerosos bancos que favorecem flutuações de temperatura devido a baixas
profundidades.

Relativamente a salinidade foi observado um forte gradiente propagando-se do sul da Baía (península de
Machangulo) (34 ppt) em direcção ao estuário do Incomati (28 ppt) (Figura 5.b). Essa tendência poderá
significar uma contribuição diferencial do escoamento no período em análise, sendo relativamente baixa
nos estuários do Espirito Santo e Maputo e alta no Incomáti. Tendência similar foi descrita em Canhanga
e Dias (2014), segundo o qual, o maior escoamento a Baía de Maputo tem lugar no mês de Fevereiro
sendo a maior contribuição atribuída ao rio Incomati (260.19 m3/s).

Os valores registados da temperatura média da água bem como da salinidade neste período encontram-se
dentro dos limites previamente registados por Hoguane e Dove ( 2001), sugerindo ser característicos desta
área de pesca.

19
Figura 5: Gradiente horizontal da temperatura superficial a) e da salinidade média b) na Baía de Maputo no período amostrado

Estracto A
Ao longo do período em análise, a temperatura da água não registou variações significativas ao longo da
coluna de água (Fig 6.a). No entanto, foi possível observar alguma diferença de salinidade entre as massas
de água mais profunda e as águas superficiais no estuário do Espírito Santo (Fig. 6.b). Esse gradiente,
geralmente atribuído a diferença de densidades entre as massas de água doce e oceânica, exerce uma larga
influência na dinâmica de circulação da água na Baía e por conseguinte, na capturabilidade do camarão
nas áreas de pesca. O oxigénio dissolvido e os níveis de clorofila não registaram flutuações acentuadas ao
longo da coluna de água (6.c e d). No entanto, importa salientar a elevada concentração de clorofila-a (13
mg/m3) nas águas associadas ao estuário do Incomáti. Esses níveis de clorofila, poderão ser atribuídos ao
aporte de nutrientes do rio Incomáti, que de acordo com Canhanga e Dias (2014) representa a maior fonte
de escoamento nesta época do ano.

20
Figura 6: Perfil vertical dos parâmetros ambientais do estrato A.

Estrato B

O perfil vertical dos parâmetros ambientais mostra que as massas de água neste estrato se encontram
fortemente misturadas, não havendo variações significativas da temperatura, salinidade e oxigénio ao
longo da coluna de água (Fig. 7.a, 7.b, 7.c). A concentração da clorofila-a mostra um ligeiro aumento em
direcção a entrada do rio Maputo (Fig. 7.d). Esse padrão homogéneo da temperatura poderá significar
uma fraca contribuição do rio sobre o padrão de circulação da água e portanto na capturabilidade do
recurso em campanhas diárias.

21
Figura 7: Perfil vertical dos parâmetros ambientais do estrato B.

Estrato C

A figura 8 mostra os perfis verticais dos parâmetros ambientais para o estrato C. Pode-se verificar que a
temperatura não apresenta variações consideráveis enquanto a salinidade mostra um gradiente vertical
tendo a camada superior maior concentração em relação a inferior (figuras 8a e 8b). Esta inversão de
concentração também foi notável no estrato A. O oxigénio dissolvido e a clorofila a mantiveram-se quase
constante ao longo da coluna de água 8c) e 8d). Os locais de amostragem nesta zona encontravam-se nos
canais profundos e nos bancos de areia, criando deste modo um substrato com elevadas profundidades na
região próxima a terra e baixas no interior da baía.

22
Figura 8: Perfil vertical dos parâmetros ambientais do estrato C.

Estrato D

O perfil vertical dos parâmetros ambientais para o estrato D estão patentes na figura 9. As massas de água
nesta região não apresentaram variações consideráveis no que respeita a temperatura, salinidade e oxigeno
dissolvido. A concentração da clorofila a tem tendência a diminuir a medida que nos afastamos da terra
em direcção ao interior da baia. Esta tendência poderá estar associada ao rio Maputo se considerarmos
que pode ser a principal fonte de fornecimento de nutrientes para este estrato. Esta região a semelhança do
estrato C é caracterizada pelos bancos de areia e alguns canais que podem servir para a navegação o que
contribui para o formato com regiões menos profundas a indicar a região mas para o interior da baia.

23
Figura 9: Perfil vertical dos parâmetros ambientais do estrato D.

24
8. Conclusões

A biomassa de camarão até ao período em análise foi estimada em 41 toneladas, distribuída pelos
diferentes estratos de pesca.

A maior fracção explorável esteve concentrada no estrato A (24 ton), com a mais diversificada
composição de espécies. O estrato D por outro lado, registou a mais baixa contribuição (0.1ton) na
biomassa total da Baía.

Durante o período em análise (Veda, 2014), o camarão Penaeus índicus representou a espécie mais
amplamente distribuída pela Baía de Maputo, com uma contribuição dominante (>40%) na biomassa da
maioria dos estratos de pesca.

O camarão Metapenaeus monoceros, embora com uma distribuição ampla pela Baia, a sua contribuição
relativa na Biomassa dos estratos se mostrou bastante fraca (<25%).

O camarão exótico Metapenaeus dobsoni, apresentou uma distribuição restrita ao estrato A, no entanto,
sua contribuição na biomassa foi bastante significativa, evidenciando maior dominância relativa no
padrão de ocupação espacial do estrato (67%).

O camarão exótico Parapenaeopsis sculptilis, esteve distribuída pelos estratos A e B, com uma tendência
crescente de ocupação espacial (6 e 33% respectivamente), não tendo sido registada nos estratos C e D.

Durante o período em análise a temperatura da água não apresentou variações consideráveis ao longo da
coluna de água, este padrão verificou-se em todos os estratos. Verificou-se ainda a existência de um
gradiente vertical de salinidade nos locais próximos aos estuários dos rios Incomati e Maputo (estratos A
e B). No que concerne a produtividade primária, a Baia de Maputo apresentou valores elevados típicos de
este ecossistema. O oxigénio dissolvido manteve-se constante em todos os estratos.

25
9. Recomendações

Não obstante o padrão de distribuição ora observado estar largamente associado a preferência relativa das
espécies às condições do nicho, importa igualmente referir que a pressão de pesca cada vez crescente ao
longo da campanha poderá implicar alguma dispersão para áreas de refúgio. Assim, recomenda-se a
monitorização da evolução temporal do padrão de distribuição e dominância das espécies pelos estratos,
ao longo das campanhas de pesca.

Por outro lado, não obstante as espécies exóticas apresentarem uma taxa de fecundidade (ovos/fêmea)
relativamente inferior as espécies comerciais, a maior abundância em número de indivíduos destas
espécies poderá estar associado a extensão da época reprodutiva permitindo vários picos de recrutamento
e portanto maior contribuição na biomassa. Assim, recomenda-se a monitorização da época reprodutiva
das espécies exóticas.

26
10. Referências Bibliográficas

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