Sei sulla pagina 1di 3

A Morte e o Facebook

O Segundo Que Passou

15/02/2011 Luis Spencer Freitas

Falar sobre a morte nunca é um tema fácil. Para algo tão inevitável e que acaba por
acontecer a todos, o tema irá sempre suscitar as mais variadas emoções e reflexões. Este
tema surgiu-me por estar no Facebook no outro dia e receber um post no meu feed com
as fotografias de alguém que já tinha morrido. Pelo link das fotos cheguei ao perfil
dessa pessoa e percebi que o perfil dela ainda estava bastante activo – desde mensagens
na wall a posts a mandar ingredientes para o Café World. Verifiquei que o perfil de
Facebook outlived a pessoa real. E fiquei a pensar neste assunto desde então – qual o
impacto da morte para as redes sociais?

Não sou o primeiro a falar do tema – muitos já reflectiram sobre o tema da morte nas
redes sociais. Neste caso, falo mais especificamente do Facebook pelo impacto da rede
e pela forma como cada um expõem da sua vida pessoal neste meio e a intensidade das
relações – o Facebook é actualmente diário, álbum de fotografias e histórico das
relações pessoais. Dei por mim a questionar – como é que o Facebook encara a morte de
um dos seus utilizadores?

Já repararam certamente, do lado direito do vosso feed, nas opções que costumavam
aparecer – que sugeriam utilizadores que têm amigos em comum com a pessoa logada
ou sugeriam utilizadores com a qual não têm contacto há algum tempo. Creio que esta
opção ou desapareceu ou não está simplesmente activa no meu perfil. No entanto, não
são poucas as pessoas que, quando esta funcionalidade existia, davam por si a receber
mensagens para fazerem “reconnect” com amigos e familiares que já tinham morrido.
Esta mensagem, enquanto derivada de um algoritmo que detecta a relação entre dois
utilizadores e a sua falta de interacção na rede e responde com um estímulo automático,
provoca as reacções mais diversas. Pode provocar saudade na memória de alguém
querido. Pode levar alguém às lágrimas. Pode provocar um sorriso a quem compreende
o que aconteceu e até acha a situação caricata. Mas o que a maioria dos utilizadores irá
fazer é clicar no perfil – e por uns breves momentos ver a sua pessoa querida viva num
memorial online.

No momento da sua criação, o Facebook era muito direccionado a jovens e pensar no


contexto da morte neste momento seria improvável – apesar de não haver uma relação
directa entre um tema e outro. Para além disso, o Facebook sempre foi considerado
como um espaço de alegria, democracia e partilha de informação onde certas questões
não têm tempo de antena. No entanto, o facto é que o Facebook tem noção que os seus
utilizadores morrem, e tem desde o seu inicio uma página que permite aos utilizadores
solicitarem a eliminação de uma página de alguém que já morreu. Este perfil pede
alguma informação pessoal, inclusivamente grau de parentesco/relação com o mesmo e
uma prova da morte (link para obituário ou noticia que confirme a morte). Esta página
será simplesmente apagada. Só quando é pedido para apagar é que este utilizador deixa
de aparecer nos amigos sugeridos ou nas opções do “Reconnect with…”.

O Facebook, originalmente, logo que sabia da morte de um dos seus utilizadores


apagava o perfil do mesmo, apagando qualquer prova da existência dele na rede social.
No entanto, quando aconteceram os tiroteios de Virginia Tech em 2007, amigos e
familiares das vítimas pediram ao Facebook para os deixarem homenagear através dos
seus perfis. Desde então o Facebook dá a opção de não apagar as páginas, mas sim
transformá-las em páginas de tributo que, sem alguma da informação pessoal que
constava e invisível das buscas dentro da rede social, permitem aos seus actuais amigos
ter a memória eterna dos seus entes queridos.

Quanto mais eu dei por mim a pensar neste assunto, mais eu percebi que todas estas
questões de processos estavam apenas a raspar a superfície do impacto de uma morte no
Facebook. Isto quando cruzamos o modelo de Kübler-Ross quanto às 5 fases que
passamos na aceitação da morte e a própria natureza de uma rede social. Qual o impacto
que uma simplesmente mensagem de “Reconnect with” pode ter numa pessoa que está a
passar pela fase de Depressão? Qual o impacto que a existência de uma página de perfil,
que está sempre ali disponível como se ainda estivesse viva, tem numa pessoa que está
na fase de Negação? E acima de tudo, como pode uma página de tributo dar conforto a
quem já chegou à fase de aceitação?

Quando fazemos o cruzamento, verificamos que cada aspecto da presença do utilizador


no Facebook poderá ter um determinado impacto quando lidamos com a sua morte. Mas
se dermos um passo atrás, é fascinante observar o impacto que o Facebook consegue já
ter em momentos tão cruciais como o nascimento ou a morte. Quando nasce alguém,
sabemos que as pessoas mais próximas anseiam pelas suas primeiras fotografias na rede
– os primeiros tags, os primeiros likes, os primeiros “tudo” – que já passam pela rede
social. Da mesma forma, a seriedade da morte no Facebook leva algumas pessoas a
considerar que o Facebook terá um dia de ser considerado uma instituição social que, tal
como muitas outras, deveria ser notificada aquando a morte de alguém para proceder às
necessárias alterações à página de perfil. Só o facto de alguém já ter considerado isto
demonstra o ponto de viragem quanto à presença da rede social na sociedade.

Esta questão ganha ainda mais interesse quando olhamos para a morte e o seu reflexo
digital de um ponto de vista de negócio. A questão da morte aplicada à Web não é
recente – aliás existem serviços como o Legacy Locker ou o Entrustet, que é um
repositório da propriedade digital de um utilizador que será passado aos familiares
aquando a morte do mesmo; ou outros como o 1000Memories, que cria um slideshow
de memórias de um utilizador. O próprio Facebook permite a um utilizador fazer um
download do seu histórico/perfil, podendo ter um backup de tudo o que fez na rede
social para recordar ou passar a alguém para essa pessoa recordar. Para além disto, é
assustador o potencial que um estatuto de “Morto” pode ter no contexto de Facebook
Ads. Creio que seria considerado de mau gosto uma agência funerária segmentar
anúncios no Facebook a familiares de alguém com uma mudança de status para pior –
mas se olharmos da perspectiva pragmática, seria apenas a declinação de um negócio
infelizmente necessário para o contexto das redes sociais. Atenção – não estou a dizer
que concordo ou discordo. Estou apenas a demonstrar como existe aqui uma linha ténue
entre a Morte e a Oportunidade.

No final do dia, ficam os vivos a reflectir o que os mortos já sabem. Não existe uma
resposta fácil ao que o Facebook deverá fazer quando alguém morre. A meu ver, o que
fazem já me parece ser o suficiente. Da mesma forma que as cartas de um defunto
continuam a ser enviadas para o mesmo caso a entidade não seja notificada, o Facebook
tem exactamente o mesmo direito de continuar a notificar as suas listas de amigos para
“Reconnect” com ele. E sabem que mais – o facto é que eu fui ver as fotografias
naquele dia. E por breves momentos eu lembrei-me daquela pessoa com um sorriso nos
lábios. Não irei submeter a página para ser um tributo ou ser apagada – indiquei às
pessoas que têm de tomar essa decisão no seu lugar. Mas por enquanto, fiquei contente
pelo breve reencontro que consegui ter com ela – e fiz um like que significou tudo para
mim a uma fotografia que pensei que nunca mais viria. Creio que aí percebi que estava
na fase de aceitação.

Categories: Social Media Tags:1000memories, Entrustet, facebook, kubler-ross,


Legacy-Locker, social-media, virginia

Potrebbero piacerti anche