Sei sulla pagina 1di 11

A IDENTIDADE DA ORDEM DOS FRADES MENORES

(laical e clerical)

Frei Sebastião Kremer OFM, in Vida Franciscana,


Prov. Franciscana da Imaculada Conceição, Ano
LIII, Nº. 70, 1996, pg. 43-60
Introdução

Nem sempre se compreendeu todo o alcance doutrinal e jurídico do assunto, ou do problema, que
na Ordem é simplesmente chamado ou conhecido como a questão do artigo três.
A questão do artigo três pode ser sintetizada nos seguintes pontos:
a) a consciência e a vontade da Ordem de recuperar a própria identidade de Fraternidade constituída
tanto de irmãos leigos quanto de irmãos clérigos que, por força da profissão religiosa, têm iguais
direitos e deveres, salvo os que decorrem da ordem sagrada;
b) pelo fato de ser enumerada pela Igreja entre os institutos clericais, a Ordem, por direito, deve ser
governada, em todos os níveis, por clérigos;
c) a exclusão dos irmãos leigos de chegar aos cargos de governo implica, como conseqüência, numa
espécie de desqualificação dos irmãos;
d) originalmente, a ordem sagrada não é uma qualificação do carisma franciscano.
Além disso, a questão do artigo três, no seu conjunto, fere também a compreensão do estado da
vida consagrada na Igreja e, portanto, não se trata simplesmente de ser qualificado como instituto
clerical ou instituto laical.
Quanto ao estado da vida consagrada, o Concílio Vaticano II ensina que "do ponto de vista da
estrutura divina e hierárquica da Igreja, tal estado não constitui um estado intermediário entre o
clerical e o laical. Mas de ambos são chamados alguns fiéis por Deus a fim de desfrutar desse peculiar
dom na vida da Igreja, procurando cada qual a seu modo ser útil à sua missão salvífica"1.
Portanto, pelo fato de aceitar em suas fileiras tanto clérigos quanto leigos, a vida religiosa não
pode ser definida em razão da clericalidade ou da laicidade de seus membros: "Status vitae
consecratae, suapte natura, non est nec clericalis nel laicalis", define o Código de Direito Canônico2.
Considerando que a vida religiosa exprime de forma mais completa a consagração batismal3, como o
estado batismal ela é uma realidade que ultrapassa qualquer qualificação antitética (clericalidade e
laicidade). Assim como pela recepção do batismo nos tornamos simplesmente "cristãos" (vida cristã),
da mesma forma pela emissão da profissão religiosa nos tornamos simplesmente "religiosos" (vida re-
ligiosa).
Ainda que a vida religiosa como tal não se submeta à qualificação da clericalidade e da laicidade,
segundo a ordem canônica vigente os institutos religiosos são qualificados como "laicais" ou
"clericais". O critério usado para tal classificação não é meramente de "estrutura" organizativa
(numérico), como no antigo Código4, mas foi introduzido um critério "qualitativo" que, portanto, se
refere diretamente à própria estrutura do instituto5.
A Ordem dos Frades Menores não aceita ser contada entre os institutos "clericais", pelo simples
fato que para ser um verdadeiro frade menor não é necessária a ordem sagrada; e sempre reafirmou
esta vontade. De fato, sem ter que aprofundar o problema, pode-se afirmar que São Francisco jamais
teve a intenção de fundar uma Ordem de clérigos.
O presente estudo divide-se em três partos: Na primeira, apresentam-se, de forma sucinta, as
decisões capitulares; na segunda, examinase a evolução da questão nas relações com a Santa Sé; na
terceira, são feitas algumas propostas para, eventualmente, serem apresentadas ao próximo Capítulo
geral.
1
LG 43
2
CDC, can. 588 §1
3
Cf. LG 44; PC 5
4
No can. 488 do antigo Código, os institutos religiosos foram classificados em clericais ou laicais, tendo por
base um critério meramente estrutural-funcional. O critério numérico nada tinha a ver com a "natureza" da
vida religiosa (e do instituto religioso), mas com sua "estrutura" organizativa comunitária. De fato, conforme o
can. 488 do antigo Código, um mesmo instituto que ontem era "clerical-, amanhã poderia tornar-se "laical",
apenas porque o número dos irmãos leigos se tornara maior do que o dos clérigos.
5
CDC, can. 588 §2: "Denomina-se instituto clerical aquele que, em razão do fim ou objetivo pretendido pelo
fundador ou em virtude de legítima tradição, está sob a direção de clérigos, assume o exercício de ordem
sagrada e é reconhecido corno tal pela autoridade da Igreja".
1
I. DECISÕES DOS ÚLTIMOS CAPÍTULOS GERAIS
1. Capítulo geral de 1979
A questão da identidade da Ordem, isto é, que a Ordem é constituída de irmãos clérigos o leigos
com iguais direitos e deveres, apareceu como decisão no Capítulo geral de 1979. De fato, ao tratar da
formação em geral, o Capítulo geral aprovou a seguinte proposição:
"De institutione"
"Ad tuendarn et in praxim deducendam identitatern Ordinis Fratrum Minorum, in quo omnes
fratres, clerici vel non, pari ratione paribusque iuribus et obligationibus incorporantur, necesse est et
mentalitatem plurimorum fratrum et quasdarn structuras mutare. Ad haec obstacula superanda turn
ministri turn educatores quarn maxime curam ponant" (Placet 93; Non placet 16 ; Placet iuxta modurn
2; Abstinet 1. Definitive approbatur)6.

2. Capítulo geral de 1985


O grande trabalho do Capítulo geral de 1985 foi a revisão das Constituições gerais, tendo por base
o novo Código de Direito Canônico, promulgado em 1983.
Durante o Capítulo foi reafirmada a identidade da Ordem como Fraternitas7. E quanto à
constituição da Ordem, foi aprovado o seguinte texto como art. 3 das Constituições gerais:
"Ordo Fratrum Minorum, suapte natura originaria, consistit fratribus tam clericis quam laicis.
Omnes fratres per professionem iuribus et obligationibus religiosis omnino aequales sunt" (Placet
130; non 3; iuxta 2. Approbatur)8.
Com Decreto de 8 de dezembro de 1986, a Congregação para os Religiosos e Institutos seculares
aprova as Constituições gerais da Ordem dos Frades Menores9. Quanto ao art. 3 pede que sejam
introduzidas as seguintes modificações:
"Art. 3: Tirar "suapte propria natura", e acrescentar o que segue:
" ... aequales sunt, salvis iis quae ex sacro ordine proveniunt. Ordo enim noster inter clericalia
instituta ab Ecclesia adnurneratur10”.
Em data de 30 de janeiro de 1987, o Ministro geral pede à Congregação que lhe permita de não
promulgar como lei da Ordem a declaração: "Ordo enim noster inter clericalia instituta ab Ecclesia
adnumeratur11".
6
Acta Capituli generalis ordinarii Ordinis Fratrum Minorum, a die 21 maii usque ad diem 22 iunii 1979
celebrati, Roma 1980, 902, Quaestiones Votatae 171.
Para melhor compreensão do significado de questão votada, é interessante conhecer a proposição como
foi proposta na Aula capitular:
"Ad tuendarri et in praxim deducendam identitatem franciscanam qua Ordo nec clericorum, nec laicorum
tanturn sed Ordo Fratrum Minorum constituitur, in quo omnes fratres pari ratione paribusque iuribus et
obligationibus incorporantur, necesse est et mentalitatern plurimorum fratrum et quasdarn structuras, quae
clericalismum adhuc sapiunt, mutare. Ad haec obstacula superanda turn ministri tum educatores quam
maximam curam ponant". Ibidem, 776, Propositiones votandae 5.
7
CCGG, Art. 1 §1: "Ordo Fratrum Minorum, a S. Francisco Assisiensi fundatus, est fraternitas in qua fratres
Jesum Christum sub actione Spiritus Sancti pressius sequentes, ...”.
8
Acta Capituli generalis ordinarii Ordinis Fratrum Minorum, a die 12 maii usque ad diem 22 iunii 1985
celebrati, Roma 1986, 288, Quaestiones Votatae 56.
Note-se que no texto difinitivo do art. 3, apresentado à Congregação, foi mudada a expressão suapte natura
originaria" por "suapte propria natura". Cf. texto enviado à Congregação, Prot. 067856.
9
Congregatio pro Religiosis et Institutis saecularibus, Decretum, Prot.n.M. 64-1/84. Cf. Regula et
Constitutiones Generales Ordinis Fratrum Minorum, III, Roma 1987.
10
Congregatio pro Religiosis et Institutis saecularibus, Osservazioni e Decisioni del Congresso sulle
Costituzioni dei Frati Minori, Prot.n.M. 64-1/84, transmitidas por Carta de 20 de dezembro de 1986, do
Secretário da Congregação, Dom V. Fagiolo.
11
Carta do Ministro geral John Vaughn ao Cardeal J. Hamer, de 30 de janeiro de 1987, Prot. Nº. 069989. "A
respeito da declaração "Ordo enim noster inter clericalia instituta ab Ecclesia adnumeratur" (Art. 3), ouso
dirigir-me à Vossa Eminência com o mesmo espírito com o qual Frei Francisco de Assis se dirigiu ao Senhor
Cardeal de Óstia, Protetor de toda a Fraternidade, para pedir-lhe um favor: de não ter que promulgar esta lei à
nossa Ordem.
Confesso que à alegria pela promulgação da nova legislação une-se em mim uma certa tristeza por uma
cláusula que para grande número de irmãos, certamente não apenas de irmãos leigos, tem um sabor de
injustiça, pois priva alguns do direito de assumir o cargo de Superior na Ordem, quando a Regra, aprovada
pelo Papa Honório III, o concede e as próprias antigas Constituições o retomaram. E, de fato, no curso dos
2
O Prefeito da Congregação transmite ao Ministro geral a redação definitiva do art. 3, sem acolher
o pedido de não promulgação"12.

3. Capítulo geral de 1991


Sobre a identidade da Ordem e a questão do artigo três tomaram-se três decisões. Duas delas
dirigem-se ao Ministro e Definitório geral:
1) "O novo Definitório geral continue a trabalhar com afinco para a aquisição da exata
identidade da Ordem como fraternidade, conforme as linhas do cessante governo da Ordern"
(Placet 86)13.
2) "Para chegar a uma sempre maior estima de nossa vocação de Frades menores, clérigos e
leigos, na Igreja e no mundo de hoje, pedimos que o Ministro geral e seu Definitório nos
levem a uma corajosa revisão das estruturas e instituições da nossa Ordem, para que ela reflita
mais concretamente nossa verdadeira identidade fraterna" (Placet 86; Non placet 49; Abst. 11.
Adprobatur)14.
3) Quanto ao acesso de todos os irmãos, leigos e clérigos, aos cargos de governo da Ordem -
o Capítulo geral, depois de ouvir a Mensagem do Cardeal Hamer, Prefeito da CIVCSVA15,
vota o seguinte texto:
"O Capítulo geral pede à Santa Sé que, em conformidade com a origem da Ordem, com a
provada e sã legislação e tradição pluri-secular e com as exigências concretas de uma autêntica
Fraternidade, na qual irmãos leigos e clérigos se sintam verdadeiramente iguais na partilha da
vida, da missão e da responsabilidade, os irmãos leigos possam chegar aos cargos de Ministro
e de Guardião, colaborando no exercício do poder de governo, apesar de nossa Ordem ser
enumerada pela Igreja entre os Institutos clericais.
No espírito da Regra e da tradição da Ordem e em conformidade com as exigências do
direito para o exercício do poder de ordem, o Capítulo geral pede que, no caso de ser eleito
para o cargo de superior um irmão leigo, na concessão se prescreva que deve ser previsto um
vigário clérigo ou um clérigo delegado para os atos que exijam o poder de ordem" (Placet 155;
Placet i.m. 1; Non placet 21; Abst. 5. Adprobatur)16.
séculos, irmãos leigos foram Superiores, não apenas locais mas também provinciais (Frei Elias, por exemplo,
irmão leigo, foi Ministro geral da Ordem), Se no passado a Ordem negligenciou este direito, é também
verdade que nestes vinte anos após o Concílio não cessou de manifestar na prática e por ocasião dos Capítulos
gerais sua intenção e seu desejo de reencontrar a natureza própria que lhe foi dada pela Regra".
12
J. Card. Hamer, Carta, de 17 de julho de 1987, Prot. n.M. 64-1/84. "Todavia, tudo considerado, esta
Congregação confirma a redação do artigo 3 como foi aprovado pelo Congresso, com a única variante de
dividir o artigo em dois parágrafos. Portanto, a redação definitiva que deverá ser inserida no texto
constitucional é a seguinte:
"Art. 3 §1: Ordo Fratrum Minorum constat fratribus tam clericis quam laicis. Omnes fratres per
professionern iuribus et obligationibus religiosis omnino aequales sunt, salvis iis quae ex Ordine sacro
proveniunt.
§2: Ordo Fratrum Minorum ab Ecclesia inter clericalia Instituta adnumeratur.
13
Acta Capituli generalis ordinarii Ordinis Fratrum Minorum, a die 30 maii usque ad diem 1 julii 1991
celebrati, Roma 1991, 322. Cf. Quaestiones Votatae 106, Ibidem, 183-184.
14
Acta Capituli generalis ordinarii Ordinis Fratrum Minorum, a die 30 maii usque ad diem 1 iulii 1991
celebrati, Roma 1991, 635. Cf. Quaestiones Votatae 121, Ibidem, 191.
15
J. Card. Hamer, Allocutio ad Capitulum generale (14.6.91) in Acta Capituli generalis ordinarii Ordinis
Fratrum Minorum, a die 30 mii usque ad diem 1 iulii 1991 celebrati, Roma 1991, 702-703 e 705: "1. Ontem,
tive a alegria de presidir, em nome do Santo Padre, a eleição do vosso Ministro geral, o Pe. Hermann
Schalueck. Hoje, em virtude da mesma missão, gostaria de refletir convosco sobre alguns aspectos de vosso
patrimônio espiritual. ( ... )
6. Com efeito, a fraternidade é o primeiro lugar onde o Evangelho é vivido e anunciado. Nela cada irmão é
evangelizado e cada um recebe dela a missão de evangelizar. Porque não existe um irmão que dê a si mesmo a
missão. É no coração da fraternidade que Cristo e a Igreja lha conferem; é em nome da fraternidade que ele a
exerce. É junto com os irmãos que cada um vive as alegrias, as dores e as dificuldades. Esta missão é única, a
mesma para todos os irmãos, clérigos e leigos, como o testemunham a comum vocação e missão dos membros
do primeiro grupo de mártires de Marrocos. Unidos na mesma Regra, na mesma fórmula de profissão, no
mesmo nome, trazendo o mesmo hábito, os irmãos "com confiança manifestem um ao outro as suas
necessidades, porque, se uma mãe ama e nutre seu filho carnal, com quanto maior diligência não deve cada
um amar e nutrir a seu irmão espiritual" (RegB 6,8)".
16
Acta capituli generalis ordinarii Ordinis Fratrum Minorum, a die 30 maii usque ad diem 1 iulii 1991
celebrati, Roma 1991, 640-641. Cf. Questiones Votatae 123, Ibidem, 192. Não consta que a decisão tenha sido
apresentada à Santa Sé.
3
II. PERCURSO DAS RELAÇÕES COM A SANTA SÉ

A 15 de maio de 1991, imediatamente antes da celebração do Capítulo geral, o Ministro geral


envia longa carta ao Card. Prefeito da CIVCSVA, na qual expõe a unicidade da vocação e missão da
Ordem como Fraternidade e pede que, apesar de a Igreja enumerar a Ordem entre os institutos
clericais, os irmãos leigos possam chegar aos cargos de Ministro e de Guardião, colaborando no
exercício do poder de governo17. Pouco depois, a 21 de maio de 1991, era entregue à CIVCSVA um
Estudo, intitulado: Ministerium Fratrum in Ordine Fratrum Minorum, preparado pela Ordem sobre a
questão18.

a) Carta da CIVCSVA, de 26 de novembro de 1992


A Carta de 26 de novembro de 199219, deve ser considerada uma resposta da CIVCSVA ao
aludido estudo. Nela aparece uma mudança radical da Congregação no trato da questão20. De fato,
antes desta carta, a Santa Sé impostava tudo sobre o esquema rigidamente bipartido, isto é,
clerical/laical. Agora, porém, entrevê-se uma posição que admite a possibilidade de uma categoria
intermédia. A mudança de posição pode ser sintetizada nos seguintes pontos:
1) sustenta que alguns institutos podem ter caracterização tal que, para atingir seus
objetivos, devam pedir tanto a clericalidade quanto a laicalidade;
2) é de opinião que o termo mais adequado para qualificar tal categoria intermédia de
institutos seja "misto";
3) reconhece que a noção de instituto misto não aparece da mesma forma em todos os
institutos que venham a ser aprovados ou reconhecidos como tais;
4) afirma que compete à Santa Sé aprovar o pedido de tal qualificação e conceder as
faculdades que se julgam necessárias para o governo do instituto.
Nesta Carta, além da mudança de posição, impressiona a solução adiantada pela Congregação.
Propõe à Ordem uma espécie de "plebiscito": "Tratando-se de matéria referente à própria natureza da
Ordem e de sua configuração jurídica e que, portanto, diz respeito a todos os seus membros, uma
decisão sobre o assunto deve ser tomada com o concurso de todos os religiosos professes
(perpétuos)".
Resumindo, a Carta,

17
Carta do Ministro geral ao Prefeito da CIVCSVA, de 15 de maio de 1991, Prot. 077414. Trata-se de
uma longa carta de 9 páginas, que termina com o seguinte pedido:
"Apesar disso, hoje me sinto em condições de apresentar um pedido, ou mais precisamente, uma graça:
peço que, de conformidade com as origens da Ordem e com a provada e sã legislação e tradição pluri-secular,
com as exigências concretas de uma autêntica Fraternidade, na qual irmãos leigos e clérigos se sintam
verdadeiramente iguais na partilha da vida, da missão e da responsabilidade, e apesar de nossa Ordem ser
enumerada pela Igreja entre os institutos clericais, os irmãos leigos possam chegar aos cargos de Ministro e de
Guardião, colaborando no exercício do poder de governo.
No espírito da Regra e da tradição da Ordem e em conformidade com as exigências do direito para o
exercício do poder da ordem, peço que na concessão seja especificado que quando um irmão leigo é eleito
para um cargo de superior, se prescreva a providência de que para os atos que exijam poder de ordem, seja
delegado um vigário clérigo ou um clérigo definidor."
Note-se que este texto inspira a redação do texto da terceira decisão do Capítulo geral de 1991.
A Carta de 15 de maio foi motivada por uma troca de correspondência anterior. De fato, a 24 de
novembro de 1990, o Ministro geral explica, numa carta (cf. Prot. 076971) ao Cardeal, o mal-estar de muitos
frades pelo fato de a Ordem ser enumerada entre os institutos clericais e pede para eliminar das CCGG o
parágrafo 2 do art. 3. O Cardeal responde e reafirma: "A fórmula, de caráter legal, foi inserida nas
Constituições porque necessária para definir a condição jurídica da Ordem dos Franciscanos Menores.
Portanto, Sua proposta de tirar o art. 3, 2, deixando para outro documento o esclarecimento e o
estabelecimento de normas para o problema assim como o compreende a Ordem, não parece possível à luz do
can. 587" (J. Card. Hamer, Carta de 23 de fevereiro de 1991, Prot.n.M. 64-1/84/OFM, Prot 076971).
A intransigência legal é a explicação para esta última tentativa de possibilitar aos irmãos o acesso aos cargos
de governo, mesmo que a Ordem deva ser enumerada entre os institutos clericais.
18
Carta do Ministro geral à CIVCSVA, 21 de maio de 1991, Prot. 077478.
19
E. Card Martinez Somalo, Carta ao Ministro geral, de 26 de novembro de 1992, Prot. 079703.
20
Note-se que nesse entretempo foram nomeados um novo Prefeito e um novo Secretário da Congregação,
respectivamente o Card. Eduardo Martinez Somalo e Dom Francisco Javier Errázuriz Ossa.
4
1) afirma que "será necessária uma consulta a toda a Ordem e se a maioria de oitenta por cento
expressar seu consenso, tal decisão deverá ser ratificada por uma decisão do Capítulo geral,
obtida pela maioria qualificada de dois terços dos participantes";
2) pede "que se comuniquem a este Dicastério... as normas que segundo o governo geral devem
regular o poder dos Superiores, tendo presente a índole da Ordem, se fosse reconhecida como
instituto misto".
A resposta da Ordem à CIVCSVA foi apresentada com a Carta de 15 de maio de 1993, após uma
troca de idéias do Ministro e do Vigário geral com a Ordem dos Frades Menores Capuchinhos21.
Ao pedido de apresentar as normas que deveriam regular o poder dos Superiores foi proposto:
“- a possibilidade de todos chegarem a todos os cargos de governo da Ordem, como aconteceu
historicamente (entre os primeiros Ministros gerais, alguns eram leigos) para realizar o fato de
chamarem-se e serem de fato Irmãos";
“- a concessão, aos irmãos leigos que assumirem os vários cargos da Ordem, de todas as
faculdades que o Código concede aos Ordinários (can. 134 do CM, ad instar Ordinariorum,
excetuadas aquelas que exigem a ordenação sacra".

Quanto à consulta "referendária" à Ordem, foi respondido que tal prática não é conhecida na
Ordem e que não parece oportuna"22.

b) Audiência com o Secretário da CIVCSVA


A 18 de outubro de 1993, o Ministro geral e o Vigário geral da Ordem foram recebidos em
audiência pelo Secretário da CIVCSVA, Dom Francisco Javier Errázuriz Ossa, para trocar idéias
sobre a questão da Identidade da Ordem. Entre outras coisas, afirmou-se que o lugar natural para as
decisões sobre a matéria é o Capítulo geral. E se afirmou que os últimos Capítulos gerais da Ordem já
teriam tomado as decisões sobre o assunto. O Secretário pede que lhe sejam transmitidos maiores
esclarecimentos sobre os documentos capitulares que se expressaram sobre a natureza da nossa
Ordem23.
c) Carta da CIVCSVA, de 15 de março de 1994

Na Carta de 15 de março de 199424, a Congregação constata:


1) “a convicção da Ordem em considerar-se instituto misto no qual todos se chamam e realmente
são irmãos, com iguais direitos e deveres, excetuados aqueles inerentes à ordem sagrada, com
a possibilidade de acesso a todos os cargos reconhecida a todos os frades";
2) que quanto "a uma legislação concreta sobre o poder de que poderão gozar os superiores nos
vários níveis, faltam indicações precisas, absolutamente necessárias em matéria de tal alcance
eclesial".

21
Carta do Ministro e Definitório geral à CIVCSVA, de 15 de maio de 1993, Prot. 079703.
22
Carta do Ministro e Definitório geral à CIVCSVA, de 15 de maio de 1993, Prot. 079703: "considerando que
a "natureza mista" da Ordem é clara e esteve constantemente na sua consciência, pensamos que não se deva
submeter tal reconhecimento à consulta. Por outro lado, tal consulta não é conhecida na Ordem, e não nos
parece oportuna.
Parece que não se deva propor o assunto do can. 119, n. 3, pois não se modifica a "natureza" da Ordem; ao
contrário, seria reconhecida sua plena autenticidade. É algo que já faz parte da Ordem, embora em algumas
épocas tenha ficado um pouco na obscuridade".
A Ordem dos Frades Menores Capuchinhos manifestou sua perplexidade de forma mais incisiva: "Quanto a
um referendum non inferior a 80% de "Sim", observamos: ou a "clericalidade-laicalidade" faz parte do
"carisma" e então deve ser respeitada independentemente da relação maioria-minoria; ou não entra no
"carisma" como elemento qualificante, e então nem a maioria maciça mudaria a realidade". Carta do Ministro
e Definitório geral OFMCap à CIVCSVA, de 2 de fevereiro de 1993, Prot. n. 01460/92.
23
A 25 de outubro de 1993, o Vigário geral envia uma carta ao Secretário da CIVCSVA (Prot. 081053),
agradecendo o colóquio mantido a 18 de outubro e acrescenta três anexos: Anexo 1: fotocópia das páginas 885
e 902 das Acta do Capítulo geral de 1979; Anexo 2: fotocópia das páginas 288 e 511 das Acta do Capítulo
geral de 1985; Anexo 3: fotocópia das páginas 214-215 e 322 das Acta do Capítulo geral de 1991. E inclui
também um exemplar da Ratio Formationis Frariciscanae.
Talvez por um lapso, não foram enviadas as duas decisões do Capítulo geral de 1991, isto é, as QV 121 e 123.
24
E. Card Martínez Somalo, Carta ao Ministro geral, de 15 de março de 1994, Prot. n. 749/88 (Prot. OFM
081660).
5
Para fazer progredir o estudo sobre a matéria, a CIVCSVA enviou um texto com as reflexões e
observações de um Consultor seu25, convidando a Ordem a:
1) dar uma resposta aos problemas teológicos, jurídicos e práticos importantes;
2) redigir as normas constitucionais que, na Ordem, deverão regular o poder em todos os níveis.
A mesma Carta, acompanhada do estudo do Consultor, foi enviada também à OFMCap. Por
isso, os Ministros das duas Ordens, depois de estudar a Carta no respectivo Definitório, instituíram
uma Comissão Comum para estudar e responder os pedidos da CIVCSVA26.
Pressionada pela iminência de dois acontecimentos, a saber, o Capítulo geral dos Frades Menores
Capuchinhos, no mês de junho, e o Sínodo dos Bispos sobre a Vida Consagrada, no mês de outubro, a
Comissão Comum se pôs a trabalhar intensamente. O Estudo, Risposta OFM-OFMCap alle
"Rifiessioni e Osservazioni" di un Consultore della CIVCSVA (25 de feverero de 1994), preparado
pela Comissão, foi entregue aos respectivos Ministros gerais a 2 de junho de 199427, com a seguinte
proposta conclusiva:
"Em virtude do carisma fundacional, a Ordem é um instituto religioso "misto" - nem clerical nem
laical - de direito pontifício, e como tal reconhecido pela autoridade da Igreja".
"Sendo a Ordem dos Frades Menores e a Ordem dos Frades Menores Capuchinhos uma
Fraternidade, todos os frades realmente são e se chamam irmãos, com iguais deveres e direitos,
também quanto a um possível acesso, em todos os níveis, ao cargo de superior, ficando firme o
princípio que os irmãos leigos deverão exercer por meio de sacerdotes da Ordem os atos que
exigem ordem sagrada.
Os superiores maiores, quer sejam clérigos ou leigos, governam "ad instar ordinariorum" com o
poder que o Código de Direito Canônico concede aos ordinários religiosos28”
Baseados nas conclusões da Comissão Comum, os dois Definitórios gerais deveriam elaborar a
mudança das Constituições gerais, no caso de nossas Ordens serem reconhecidas como mistas.
A 16 de junho de 1994, a resposta da OFM, com o Estudo feito em conjunto com a Ordem dos
Frades Menores Capuchinhos, foi entregue à Congregação29. Na Carta, além de retomar a Conclusão

25
O Acesso ao cargo de Superior dos Irmãos leigos num Instituto Misto. É um estudo de 14 páginas, no
qual o Consultor traça o seguinte esquema:
A. O Código de Direito Canônico (can. 588) e sua interpretação
B. O pedido das Ordens franciscanas
C. O problema canônico
D. A dimensão teológica
E. Duas modalidades diferentes de governo e outras diferenças
F. O bem da Igreja
G. Algumas conclusões provisórias
No ponto B., onde o Consultor analisa o pedido das Ordens franciscarias, é interessante notar as
observações feitas:
"Se se compara o pedido das Ordens franciscanas com as condições do can. 588 §2, pode-se constatar que
elas querem ser institutos mistos não por razão da finalidade apostólica do Instituto, que certamente exige que
se assuma o exercício da ordem sagrada, mas por razão do tipo de fraternidade querida por São Francisco".
"Apesar das explicações que a Comissão deu até o momento (de Interpretação do Direito Canônico) não
coincidirem exatamente com as razões apresentadas pelas Ordens franciscanas, isso não deveria ser obstáculo
contra um possível reconhecimento destas Ordens como institutos mistos" (cf. p. 5).
Entre as conclusões provisórias (ponto G.) o Consultor afirma:
a) As Ordens Franciscanas e Capuchinhas [sic] mostram um alto sentido de responsabilidade pela herança
espiritual de São Francisco, ao insistir sobre a busca de uma solução que seja conforme o carisma fundacional.
( ... )
b) A consciência destas Ordens - de serem fraternidades mistas por vontade de São Francisco é claríssima e
merece ser confirmada (cf. p, 13).
26
H. Schalueck, ofm, F. Carraro, ofmcap, Carta, de 15 de abril de 1994. São membros desta Comissão
Comum, pela OFMCap: Fr. Francisco Iglesias, Fr. Giampiero Gambaro e F. Teodosio Mannucci; pela OFM:
Fr. Juan Folguera, Fr. Sebastião Kremer e Fr. Andrea Boni. A Comissão elegeu Fr. Sebastião como Presidente
e Fr. Giampiero como Secretário.
27
Este Estudo, de 36 páginas, é dividido em três partes:
I. Problemas teológico-jurídicos
II. Aprofundamento de algumas questões levantadas pelo Consultor quanto à Ordem de São Francisco
III. Proposições conclusivas.
28
Risposta OFM-OFMCap afle "Riflessioni e Osservazioni" di un Consultore defla CIVCSVA (25 febbraio
1994), p. 34.
29
Carta do Definitório geral OFM à CIVCSVA, de 16 de junho de 1994, Prot. n. 081894.
6
do Estudo da Comissão Comum, o Definitório geral propunha os Artigos das CCGG que deveriam ser
mudados, no caso de ser reconhecida como Instituto-misto.
"Art. 3 §1: Ordo Fratrum Minorum constat fratribus tam clericis quam laicis. Omnes fratres per
professionem iuribus et obligationibus religiosis omnino aequales sunt, salvis iis quae ex Ordine
sacro proveniunt.
Art. 3 §2 novus: Ordo Fratrum Minorum ab Ecclesia inter "mixta" Instituta iuris pontificii
recognoscitur.
Art. 174 §2 novus: Superiores Maiores in Ordine, síve clerici sive laici, gubernant ad instar
ordinariorum cum potestate quam Codex Iuris Canonici Ordinariis religiosis concedit.
Art. 174 §3 novus: Si Superior est laicus, pro actibus, qui Ordinem sacrum requirunt, sacerdotem
Ordinis designare debet.
Art. 183 §1: Pro conferendo officio Ministri generalis ad validitatem requiritur ut candidatus sit a
decem saltem annis sollemniter professus; pro aliis officiis generalibus regiminis et Superioribus
maioribus, ut quinque saltem annis sollemniter professi sint"30.
Ainda estamos aguardando uma resposta da Congregação31.

d) Sínodo dos Bispos de 1994

Durante o mês de outubro de 1994 celebrou-se a IX Assembléia Geral Ordinária do Sínodo dos
Bispos sobre 'A Vida consagrada e sua missão na Igreja e no mundo".
O Ministro geral, Fr. Hermann Schalück, membro do Sínodo, na sua intervenção, refere-se ao n.
32 do Instrumentum laboris, que trata da vocação e do papel dos irmãos leigos nos institutos clericais.
Ele distinguia entre os irmãos leigos, muitas vezes coadjutores ou cooperadores, nos institutos de
natureza clerical, e os irmãos leigos nos institutos onde o caráter presbiteral não faz parte do carisma
original. Ele afirmava:
"Para outros (institutos), e é o caso da minha Ordem, como também de vários outros institutos,
sobretudo monásticos, fundados muitas vezes por leigos, o carisma original não está vinculado a
nenhum ministério ou serviço particular. Consiste simplesmente em viver em comunidade a vida
evangélica radical, conforme o modo próprio de cada família espiritual. Esta vida é oferecida
igualmente a leigos e a clérigos, não tendo os últimos nenhum privilégio ou direito particular,
salvo no que se refere à ordem sacramental.
Assim, em sua Regra, aprovada por vossos predecessores Inocêncio III e Honório III, nos inícios
do século 13, Francisco de Assis, a cujo carisma nossa Ordem quer ficar fiel, coloca em pé de
igualdade "os irmãos que pregam, oram ou trabalham (praedicatores, oratores, laboratores), sejam
clérigos ou leigos" (RegNB 17,5). A todos indistintamente pode ser confiado "o cargo de ministro
dos irmãos" (ministerium. fratrum: RegNB 17,4; cf. RegB 7,2). (...)
Introduzindo uma terceira categoria de institutos masculinos, institutos mistos (n. 32), o
Instrumentum restabelece uma tradição antiga com renovada atualidade. Ele vai além do atual
Código do Direito Canônico e abre as portas a uma feliz evolução".
Sobre os Institutos mistos, o Sínodo aprova a Proposição final n. 10:
"Os institutos mistos.
Para fortificar a dignidade e a identidade própria da vida religiosa masculina, seja reconhecida
publicamente a existência de institutos mistos, isto é, aqueles nos quais, segundo a intenção do
fundador, são iguais tanto os religiosos clérigos quanto os não clérigos, "em igualdade, com idênticos
direitos e deveres, excetuando-se aqueles que derivam da sagrada ordenação" (PC 15; EV 1/752).
Além disso, propõe-se que, quando for pedido pelos capítulos gerais, as tarefas de governo
estejam abertas a todos, sem discriminação."

e) Carta ao Santo Padre e ao Secretário do Sínodo

30
Carta do Definitório geral OFM à CIVCSVA, de 16 de junho de 1994, Prot. n. 081894, p. 2-3. E se
acrescentava: "Quanto ao mais, segundo o nosso parecer, não seria necessário introduzir outras mudanças nas
Constituições gerais. De fato, foram redigidas segundo o espírito e o carisma de S. Francisco e na convicção
que a Ordem é constituída de irmãos leigos e clérigos com iguais direitos e deveres".
31
A 24 de outubro de 1994, chegou ao Ministro geral uma carta assinada pelo Sub-Secretário, R Jesus Torres,
acusando o recebimento dos artigos das CCGG para regular os cargos de governo. J. Torres, Carta ao Ministro
geral, 24 de outubro de 1994, Prot. n SpR 749/88 (Prot. OFM 082450).
7
Por vontade dos Ministros gerais, a Comissão Comum continuou a se reunir periodicamente para
examinar o andamento da questão. Assim, no mês de julho de 1995, a Comissão propôs a elaboração
de duas cartas, uma ao Santo Padre e outra ao Secretário geral do Sínodo dos Bispos.
A 13 de julho de 1995, os Ministros gerais OFM e OFMCap enviaram ao Santo Padre uma Carta,
assinada conjuntamente, para pedir "a graça de poder viver o nosso carisma como nô-lo confiou São
Francisco e como nô-lo transmitiu a nossa sã tradição". E, fazendo referência à Proposição final n. 10
sobre os institutos mistos, escreviam: "... desejamos manifestar-lhe a nossa confiante esperança de
uma solícita e definitiva aprovação dos nossos reiterados pedidos sobre o assunto, apresentados em
nome de nossas Ordens e dos respectivos Capítulos gerais".
Na mesma data, os Ministros gerais OFM e OFMCap enviaram uma Carta conjunta também ao
Cardeal Jan Pieter Schotte, Secretário geral do Sínodos dos Bispos, para apresentar-lhe brevemente a
identidade de nossas Ordens e para reafirmar que a Proposição final n. 10 do Sínodo garante às nossas
Ordens a possibilidade de realizar plenamente a nossa identidade32.

f) Comissão de religiosos constituída pela CIVCSVA

Em Carta de 19 de junho de 1995, o Card. Martínez Somalo comunica ao Ministro geral que a
Congregação recebeu o encargo de aprofundar o assunto da proposição do recente Sínodo dos Bispos
sobre a categoria dos Institutos mistos. Pede que indique três religiosos preparados para fazer parte da
Comissão33.
A 20 de outubro de 1995, Frei Sebastião Kremer foi nomeado membro da Comissão, sendo
convocado para uma reunião na Congregação no dia 14 de novembro de 199534.
Na Carta, o Cardeal,
1) indica o assunto da reunião: "Os Padres Sinodais dirigiram sua atenção à possibilidade de
enquadrar numa nova categoria de Institutos (Institutos mistos) as famílias religiosas que julgam
não poder qualificar-se nem clericais nem laicais"... e cita a Proposição final n. 10;
2) pede para apresentar à reunião, numa breve nota escrita, a situação dos irmãos conforme se deduz
da mente e dos propósitos do Fundador, das Regras e Constituições e de propostas e eventuais
decisões dos últimos Capítulos gerais;
3) afirma que a finalidade deste primeiro encontro é de ter um quadro geral dos aspectos concretos
em relação ao conjunto dos institutos, dos problemas mais evidentes, das esperanças e
perspectivas de solução.
A reunião do dia 14 de novembro de 1995 foi presidida pelo Chefe de Gabinete, P. Diego Di
Odoardo. Cada membro foi convidado a apresentar a maneira como seu Instituto sentia o problema 35.
Além disso, a Comissão foi informada sobre a existência de uma Comissão de peritos encarregada de
estudar o problema do ponto de vista teológico-jurídico. Um membro desta Comissão de peritos
estava presente à reunião. O Presidente da reunião prometeu enviar a cada membro da Comissão a
contribuição dos outros membros. Até a presente data não enviou nem os vários textos nem outras
notícias.

g) A Exortação Apostólica Pós-Sinodal Vita Consecrata


A Exortação Apostólica Pós-Sinodal Vita Consecrata, de 25 de março de 1996, quanto aos
Institutos mistos, afirma:
"61. Alguns Institutos religiosos, que, no projeto originário do fundador, se apresentavam como
fraternidades, onde todos os membros - sacerdotes e não sacerdotes - eram considerados iguais
entre si, com o passar do tempo adquiriram uma fisionomia diversa. Importa que estes Institutos

32
H. Schalueck, ofm e J. Corriveau, ofmcap, Carta ao Card. Jan Pieter Schotte, de 13 de julho de 1995. Na
conclusão, afirma-se: “Julgamos que o texto da Proposição final do Sínodo n. 10 garanta às nossas Ordens a
possibilidade de realizar plenamente o que, sinteticamente, tomamos a liberdade de lhe expor".
33
E. Card Martínez Somalo, Carta ao Ministro geral, de 19 de junho de 1995, Prot. n. SpR 749/88 (Prot. OFM
083263). A mesma Carta é enviada a uns dez Institutos, entre os quais os Capuchinhos, os Conventuais, os
Salesianos, os Jesuítas, etc.
34
E. Card. Martínez Somalo, Carta a P Sebastiano Kremer, de 20 de outubro de 1995, Prot. n.SpR 749/88. Pela
Ordem dos Capuchinhos foi convocado Fr. Giampiero Garribaro, ofmcap e pelos Conventuais, Fr. Donald
Kos, ofmconv.
35
Para esta reunião, Fr. Sebastião Kremer apresentou um texto que sintetizava os Estudos anteriormente
entregues à CIVCSVA sobre a questão.
8
chamados "mistos" ponderem, na base de um aprofundamento do próprio carisma de fundação, se
seria oportuno e possível voltar à inspiração original.
Os Padres sinodais formularam o voto de que, em tais Institutos, seja reconhecida a todos os
religiosos igualdade de direitos e deveres, exceto os que derivam da Ordem sacra. Para examinar
e resolver os problemas conexos com esta matéria, foi instituída uma específica comissão, cujas
conclusões convém esperar para se fazerem depois as opções convenientes segundo aquilo que for
autenticamente estabelecido”36.
Deste texto pode-se concluir.-
1) o reconhecimento da existência de Institutos que se configuram como Fraternidades, nos quais
todos os membros são considerados iguais entre si;
2) estes Institutos, chamados mistos, devem examinar se é oportuno e possível voltar à inspiração
original;
3) a existência de uma Comissão para examinar e resolver os problemas conexos com esta matéria.

h) Audiência dos Ministros Gerais com o Prefeito da CIVCSVA


Durante o ano de 1966 não se teve nenhuma notícia da parte da CIVCSVA. A OFMcap fez um
encontro internacional Sobre as expressões laicais da vocação capuchinha, de 2 a 21 de setembro de
199637. A OFM começou a preparação do próximo Capítulo Geral, onde, entre outros temas, se prevê
a discussão do reconhecimento da Ordem como instituto misto".
Nesse contexto, os Ministros Gerais da OFM e da OFMcap, em carta a Frei Sebastião Kremer,
OFM datada de 3.10.96, pediram a reunião da Comissão Comum para "verificar se há condições para
ulteriores passos junto às autoridades competentes, para que seja reconhecida oficialmente a específica
identidade de nossas Ordens".
A Comissão se reuniu no dia 11 de novembro de 1996 e tomou conhecimento dos últimos eventos
que interessavam à questão da identidade das duas Ordens. Pressupondo que a Comissão Pós-Sinodal
anunciada pela Exortação Apostólica Pós-Sinodal Vida Consagrada, 61. estivesse trabalhando,
surgiram algumas preocupações.
A Comissão sugere aos dois Ministros Gerais de terem um colóquio com o Cardeal Prefeito da
CIVCSVA38.
O Colóquio com o Prefeito da CIVCSVA, Card. Martínez Somalo, aconteceu no dia 9 de
dezembro de 1996. Na ocasião os Ministros Gerais deixaram um "pro-memoria" com suas
preocupações no tocante às eventuais conclusões da Comissão Pós-Sinodal sobre a elaboração de uma
terceira e nova categoria de institutos ao lado dos clericais e laicais 39. Entre outras coisas, chamava-se
a atenção para:
1) a importância que cada instituto "misto" tenha a autonomia necessária de dar-se as leis próprias;
2) o termo instituto de vida consagrada "misto" não parece ser o mais apto e pode criar inúteis
confusões. A esse propósito se propõe "seria melhor falar de institutos em que os membros
religiosos são clérigos ou leigos".
3) o tempo passa. Nenhuma notícia! Algumas perguntas: A Comissão Pós-Sinodal está trabalhando?
Está prevista uma consulta aos institutos interessados? Há alguma previsão de tempo?

Conclusão
Tendo por base os estudos feitos pela Ordem dos Frades Menores e a evolução que a questão teve
nos últimos anos, pode-se afirmar que:
a) a Ordem franciscana, no seu projeto original, segundo o carisma do fundador São Francisco
de Assis, é uma Fraternidade constituída de irmãos leigos e irmãos clérigos, os quais,

36
João Paulo II, Exortação Apostólica Pós-Sinodal Vita Consecrata, 25 de março de 1996, n. 61.
37
Nesta ocasião o Santo Padre mandou ao Ministro Geral, Fr. John Corriveau, OFMcap, uma Carta, datada de
18.09.96. Citando as Fontes Franciscanas e as Constituições, assim escreve num parágrafo: "Esta Ordem
religiosa constitui, portanto, uma fraternidade, composta de clérigos e leigos que partilham a mesma vocação
religiosa segundo o carisma franciscano e capuchinho, descrito em seus traços essenciais pela própria
legislação aprovada pela Igreja". A Carta de João Paulo II ao Ministro Geral da OFMcap foi publicada em
L’Osservatore Romano de 18.09.96.
38
Carta de 26.11.96 da Comissão Comum aos dois Ministros Gerais (Prot. OFM n. 085347).
39
A Comissão preparou a Carta "pro-memoria" para o Card. Prefeito, que foi assinada pelos dois Ministros
Gerais no dia 9 de dezembro de 1996, dia do encontro (Prot. OFM, n. 0855347).
9
independentemente de serem clérigos ou leigos, são considerados iguais entre si na vida e na
missão;
b) a Ordem franciscana, no entanto, como grande parte da vida religiosa, sofreu, com o tempo,
um processo de clericalização;
c) a Ordem franciscana, seguindo o Concílio Vaticano 11, realizou um sério aprofundamento do
seu carisma fundacional e já chegou à firme convicção de ser uma Fraternitas, na qual todos
têm iguais direitos e iguais deveres, inclusive os de governo (cf. CCGG, art. 3);
d) a firme vontade da Ordem dos Frades Menores de não ser enumerada nem entre os Institutos
clericais nem entre os Institutos laicais aparece clara e explícita nas decisões dos últimos
Capítulos gerais;
e) o reconhecimento dos "Institutos mistos" por parte da Igreja, como é proposto pelo último
Sínodo dos Bispos, e confirmado pela Exortação Apostólica Pós-Sinodal Vita Consecrata, 61,
torna possível a volta da Ordem à sua natureza original de Fraternidade.

III. PROPOSTAS
Poder-se-iam apresentar três Propostas ao Capítulo geral:

1) Declaração de princípios
Considerando que a Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida
Apostólica admite a possibilidade de uma terceira categoria de Institutos, a saber, os "Institutos
mistos", e considerando que a Exortação Apostólica Pós-Sinodal Vita Consecrata, n. 61, convida os
Institutos chamados "mistos", a examinar, em base ao aprofundamento do próprio carisma
fundacional, se é oportuno e possível voltar à inspiração original, o Capítulo geral decide:
a) A Ordem dos Frades Menores, por força do carisma fundacional, declara ser um Instituto
religioso "misto" (ou, clerical e laical), constituído de irmãos clérigos e leigos.
b) Sendo a Ordem dos Frades Menores uma Fraternidade, todos os frades realmente são e se
chamam irmãos, com iguais deveres e direitos, inclusive quanto à possibilidade de chegar ao
cargo de Guardião e Ministro, mantendo firme o princípio que os irmãos leigos deverão exercer
por meio de sacerdotes da Ordem os atos que exijam a ordem sagrada (cf. RegB 7,2)40.
c) Os Ministros (Superiores maiores), quer sejam clérigos ou leigos, governam "ad instar
ordinariorum" com o poder que o Código de Direito Canônico concede aos Ordinários
religiosos.

2) Modificação das Constituições gerais


De acordo com a declaração de querer ser um Instituto misto e de exercer as faculdades que o
Código concede aos Superiores maiores dos Institutos clericais de direito pontifício ad instar
ordinariorum, dever-se-ia mudar a redação, ao menos, dos seguintes artigos das CCGG:
Art. 3 § 1: Ordo Fratrum Minorum constat fratribus tam clericis quarn laicis. Omnes fratres per
professionem iuribus et obligationibus religiosis omnino aequales sunt, salvis iis quae ex Ordine
sacro proveniunt.
Art 3 §2 novus: Ordo Fratrum Minorum ab Ecclesia inter "mixta" Instituta ius pontificii
recognoscitur.
N.B. Inserir este parágrafo nas CCGG somente se for realmente necessário.
Art. 174: Superiores Maiores in Ordine sunt: Minister generalis, Minister provincialis; Custos
Terrae Sanctae eorumque Vicarii.
Art. 174 §2 novus: Superiores Maiores in Ordine, sive clerici sive laici, gubernant ad instar
ordinariorium cum potestate quam Codex Iuris Canonici Ordinariis religiosis concedit.
Art 174 §3 novus: Si Minister est laicus, pro actibus, qui Ordinern sacrum requirunt, sacerdotern
Ordinis, ad normam Statutorum generalium, designare debet.
N.B.:Nos Estatutos gerais dever-se-iam dar as indicações sobre o modo de designar o sacerdote
para exercer os atos que exijam a ordem sagrada.

3) Promoção da identidade da Ordem e da igualdade de todos os frades

40
Ipsi vero ministri, si presbyteri, cum misericordia iniungant illis poenitentiam; si vero presbyteri non sunt,
iniungi faciant per alios sacerdotes ordinis, sicut eis secundum Deum melius videbitur expedire".
10
Considerando que a Ordem, como grande parte da vida religiosa, com o tempo sofreu um forte
processo de clericalização e considerando a urgência de promover a nossa identidade e a igualdade de
todos os frades, o Capítulo geral decide:
a) Para fomentar um maior aprofundamento da nossa identidade de frades menores e para
promover a mudança de mentalidade e de certas estruturas, os Ministros e os Guardiães usem
todos os meios de animação que nossa legislação lhes concede e cuidem que se elaborem
adequados programas de formação permanente.
b) Todos os frades e todos os Ministros cuidem com atenção de apresentar claramente, na Igreja e
na sociedade, a identidade da Ordem como Fraternidade e como Instituto misto, especialmente
na pastoral vocacional, na formação franciscana e no serviço de evangelização.
c) Em toda a formação inicial, seja prioritária a referência ao carisma franciscano e à natureza da
Ordem.
d) Durante o período de Profissão temporária, seja reservado, indistintamente a todos os frades, um
tempo adequado, de ao menos dois anos, dedicado exclusivamente à formação franciscana.
e) Todos os frades, no serviço de evangelização, mesmo aquele tipicamente clerical, como as
paróquias, procurem manifestar uma atitude de irmão que corresponda à identidade de frades
menores.
f) A Ordem se esforce por introduzir os irmãos leigos no serviço da evangelização.

Roma, 19 de dezembro de 1996.


Tradução de Frei Ary E. Pintarelli

11

Potrebbero piacerti anche