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Na grande maioria dos casos coloca-se o acento indicativo de crase diante das horas, isto é, escreve-se às
na indicação de determinado horário:
À uma hora
Sabe-se que não existe crase diante de artigo indefinido, como em:
No caso de “uma hora”, todavia, o à precedente configura uma crase porque aí se trata não do artigo
indefinido mas do numeral “uma”, que acompanha e determina a primeira hora, como o fazem os
numerais até 24 [as duas horas, as três horas etc.]. Portanto:
Sendo a crase a fusão da preposição A com o artigo A, não se poderá acentuar o AS das horas quando se
empregar outra preposição (que não seja A). São quatro as possibilidades: para, desde, após, entre. Com
elas é proibido usar o AS craseado, para que não haja uma superposição de preposições. Exemplos:
Reafirmando: este as não leva crase porque é puro artigo. Nesse último exemplo pode-se verificar mais
claramente tratar-se de artigo ao se trocar “as 20 h” por um horário do gênero masculino: “faltará luz na
Serrinha entre o meio-dia e as 22 h”.
Até as ou às
Os portões permanecerão abertos até as 23 horas.
Os portões permanecerão abertos até às 23 horas.
Embora tenhamos dito acima que a crase é proibida depois de uma preposição, é possível - embora
desnecessário - usá-la junto com ATÉ na frente da hora. Ocorre que a preposição até, excepcionalmente e
por motivo de clareza, pode ser seguida da preposição a. Sendo assim, escrever até as 23 h ou até às 23 h
é indiferente, porque neste caso não há o perigo de confusão com a partícula inclusiva.
Explica-se: a partir do séc. XVII começou-se a usar as preposições ATÉ e A combinadas para dar maior
clareza ao pensamento, uma vez que ATÉ tem igualmente o sentido de inclusão = mesmo, inclusive,
ainda, também. Mudança de significado pode ocorrer em frases do tipo
Naturalmente nas frases 1 e 3 a ambiguidade poderia ser evitada com uma vírgula: “Queimou todo o
cabelo, até a raiz. Rabiscou tudo, até a porta”.
Entende-se por crase a fusão de vogais idênticas. Em Gramática Descritiva se utiliza o termo para
designar a contração da preposição A com o artigo definido A (AS) e com AQUILO, AQUELE e flexões,
indicada pelo acento grave: à/às, àquele, àquilo.
Só nós falantes do português temos de lidar com a crase. A origem do problema – e é um problema
porque existem três fonemas iguais com grafias diferentes: a / há / à – está no artigo definido feminino,
que no latim vulgar era “illa”, tendo evoluído para "la" em francês, italiano e espanhol. No português
arcaico o artigo também era "la", passando mais tarde para "a". Se o artigo tivesse permanecido com o L,
seria fácil distingui-lo da preposição, e o caso estaria encerrado!
Uma curiosidade: até meados do século XX não existia o acento grave. Essa notação era feita pelo acento
agudo: áquelle por a aquelle, á mão por a a mão.
Gostaria ainda de destacar duas acepções do Dicionário Houaiss (2001) no verbete crase que corroboram
o modo brasileiro de se expressar sobre esse fato lingüístico:
“3.1 A contração da preposição a e o artigo a (ou no pl.: as), grafada à, às, e seu emprego na língua
escrita (já que na fala essas formas geralmente não se distinguem). Ex.: <erra muito em crase> <fez muito
erro de crase>"
“4. Derivação: por extensão de sentido. O acento grave que marca na escrita a contração.” [grifei]
De 1 a 10 / De segunda a sexta / Da 1ª à 4ª
Quando se faz a ligação de dois numerais ou substantivos por DE ... A, não se deve crasear o segundo;
mas quando se determina o primeiro elemento com DA ou DO, o segundo inicia com Á (ou AO, se
masculino). É uma questão de coerência: havendo determinação no 1º substantivo ou numeral ordinal
(que acompanha o substantivo), deve haver determinação no segundo. O que não pode acontecer é a
mistura, por exemplo: * de 2ª à 6ª. Modelos bons:
SEM DETERMINAÇÃO:
Trabalhamos de 3ª a sábado.
A exposição ficará aberta ao público de hoje a domingo.
Ainda há vagas para alunos de 5ª a 8ª série.
Só sabe contar de 1 a 100.
Os eletrodomésticos estão em todas as casas, de norte a sul do país.
As inscrições poderão ser feitas de 1° de maio a 15 de junho.
COM DETERMINAÇÃO:
Por sugestão de M. P. Kern, de Pinhalzinho/SC, vamos tratar hoje do “uso de face a e inobstante,
expressões muito usadas no meio jurídico”. O pedido sem dúvida decorre do fato de algumas pessoas
condenarem a locução face a, que a seu ver deveria ser em face de.
O fato é que FACE A existe: é uma forma evoluída, reduzida e moderna da locução originária EM FACE
DE, que a princípio comutava com À FACE DE. Ambas eram usadas com o sentido de diante, perante,
defronte, na presença de. Mais tarde surgiu a variante com a preposição A no final: EM FACE A (por
possível analogia com "junto a, próximo a"). Inovação mais recente é a redução para (EM) FACE A.
O mesmo se dá com "em frente a" e "em frente de" comutando com "frente a", locução cuja legitimidade
não é questionada. São comuns frases como:
Lembro, contudo, é preciso ter conhecimento da crase para poder usar as variantes que terminam com a
preposição A:
Quem prefere não se arriscar com a crase deve se ater a locuções semelhantes que não terminem com A,
como por exemplo:
Aí estão várias opções. O que não se deve é eliminar uma delas por preconceito ou purismo. O maior
gramático que o Brasil já teve, Ernesto Carneiro Ribeiro, termina as suas “Ligeiras Observações sobre as
Emendas do Dr. Rui Barbosa feitas à redação do Projeto do Código Civil” com estas palavras: “Temos,
logo, razão de dizer: o purismo exagerado, intransigente, é impossível, perante o estudo histórico das
línguas”.
Quanto ao vocábulo INOBSTANTE, é forma evoluída e reduzida de "não obstante" [ = nada obstante],
com valor equivalente a "apesar de, a despeito de", locuções que dão uma idéia oposta àquela expressa na
outra parte do enunciado, contrariando uma provável expectativa. Exemplos de uso:
Enfim, pode ainda não haver aceitação de “inobstante” pela Academia Brasileira de Letras, mas já há
registro seu no Dicionário de Usos do Português do Brasil (Francisco Borba, 2002), que diz ser uma
preposição que "expressa relação de concessão" [apesar de, não obstante] e também advérbio de
concessão [apesar disso], apresentando vários exemplos nesse verbete.
--- Gostaria de esclarecimentos acerca do uso de "residente e domiciliado À rua ou NA rua, bem como se
digne DE ou se digne EM". Jefferson Barbosa, Bauru/SP
A rigor, como os verbos morar, residir, situar, localizar e semelhantes são regidos pela preposição EM,
deveria se usar NA e não À nos casos específicos. Mas é muito comum o uso intercambiável das
preposições A e EM, como temos visto em diversas ocasiões. Então, nessa situação se vêem ambas as
formas: na rua e à rua, com preferência por esta última na forma escrita. O mesmo acontece com seus
derivados morador, residente, domiciliado:
Na língua falada, justifica-se o uso mais frequente de NA porque o "à" se confunde na pronúncia com HÁ
e com o artigo A. Já o EM, combinado ou não com um artigo, não deixa margem a dúvidas:
Isso não quer dizer que não se possa ou não se deva escrever “Vende-se casa na Av. Central”, “residente e
domiciliado na rua Botucatu”. Absolutamente! É uma boa opção. Mas por outro lado não se pode tachar
de erro o emprego do "a craseado" nesses casos, uma vez que já está consagrado pelo uso... e abonado
pelos gramáticos.
Quanto aos gramáticos, valho-me do saudoso Celso Pedro Luft, que, na sua coluna “O Mundo das
Palavras” nº 2.347, resume o assunto desta forma: “No português brasileiro atual, com o verbo morar e
derivados a preposição originária em pode comutar com a (esta, sobretudo na língua escrita): morar
(morador) na ou à Rua X. O mesmo vale para residir (residente) e situado, sito”.
DIGNAR-SE (DE)
Com relação ao verbo pronominal dignar-se, ele pede a preposição DE (e não ‘em’). No entanto pode
haver a elipse da preposição diante de verbo no infinitivo. Exemplificamos:
O adjetivo bem-vindo é composto com hífen, pois aí o advérbio "bem" passa a ter valor prefixal, fazendo
parte indissociável do nome. Veja-se que não se diz "seja vindo!" – ou se é bem-vindo ou se é outra
coisa. A mesma análise pode ser feita com a palavra composta bem-sucedido [não se fala "sou
sucedido"]. Em outros casos, o "bem" é um reforço: bem-disposto, bem-educado.
Por outro lado, vale saber que existe a palavra Benvindo, mas então é nome de pessoa:
Meu tio Benvindo nasceu na Bahia em 1916.
Vamos tratar agora da crase em relação às locuções adverbiais de circunstância – modo, meio, lugar,
tempo – formadas pela sequência Prep A + Substantivo ou Adjetivo. A maioria delas tem a ver com o
modo, respondendo à pergunta "como?" Por exemplo: "Comprou o carro à vista." Comprou como? À
vista.
Nas locuções adverbiais masculinas, como a cavalo, a caminho, a capricho, a caráter, a frio, a gás, a
gosto, a lápis, a meio mastro, a nado, a óleo, a pé, a postos, a prazo, a sangue-frio, a sério, a tiracolo, a
vapor etc. não se acentua o a, que é mera preposição.
Nas locuções circunstanciais femininas, contudo, embora esse A possa ser somente preposição, é de
tradição acentuá-lo por motivo de clareza. Compare nos exemplos abaixo o significado da frase sem o
acento e com ele:
É por essa questão de clareza que se recomenda e geralmente se acentua o A nas locuções femininas de
circunstância, para que a preposição não seja confundida com o artigo feminino. Nestes casos, não
funciona o artifício de ver como é que se comporta uma expressão similar no masculino, pois não haverá
correspondência de À com AO. Trata-se de uma exceção. Então, por ex., mesmo que se escreva a prazo
(subst. masc.), escreve-se à vista, com acento.
Vejamos outros exemplos em que a preposição poderia se confundir com o artigo e por isso o acento é de
praxe: à evidência, estou à disposição, fique à vontade, encontra-se à paisana, à espreita, escreve à
perfeição, vive à toa, o cão anda à solta, cumpriu o trato à risca, navegar à vela, apanhar (flores) à mão,
escrever à caneta, cortar à faca ou à gilete, falar à boca pequena [em voz baixa], provou o caso à
saciedade [plenamente], tomou a injeção à força, amor à primeira vista, assalto à mão armada,
modéstia à parte, às (ou a) expensas etc.
É facultativo o acento indicativo de crase quando não há confusão possível: carro a gasolina, barco a
vela, matou o cachorro a bala, guardar o dinheiro a chave etc.
É obrigatório o acento quando o substantivo está no plural e o artigo também: às vezes sai às pressas, está
tudo às mil maravilhas, às avessas, estou às ordens, comprou bugigangas às centenas etc. Por oportuno:
jamais acentuar o A sem S diante de plural: a duras penas, a prestações etc.
É obrigatório o acento quando a locução é formada com adjetivo - singular ou plural: bife à milanesa,
lasanha à bolonhesa, agir à louca, ficar às escuras, comer às escondidas, falar às claras, vivem às
tontas, prega a revolução às abertas [abertamente] etc.
Também levam acento obrigatório as locuções femininas terminadas em DE e QUE: à custa de, à força
de, à frente de, à mercê de, à testa de, à semelhança de, à proporção que, à medida que.
Por fim, é obrigatório o acento nas locuções circunstanciais femininas de tempo e lugar em que de fato se
tem A + A, o que se comprova com a substituição do primeiro A por outra preposição. (Vale lembrar que
À corresponde a DA, NA, PELA, PARA A e A corresponde a DE, EM, POR, PARA.) Assim, temos: à
beira do caminho, à beira-mar, à época, à direita, à esquerda, ir à frente, combateram à sombra, bater à
porta etc. Em todas elas, pode-se trocar o A por NA: na beira-mar, na época, na frente... Sobre esse uso,
ver Não Tropece na Língua 297.
Anoto ainda que a locução "à distância" mereceu comentário especial: ver Não Tropece na Língua 149.
No Brasil é grande a preocupação com a crase, mas poucas pessoas se dão conta de que conhecer bem o
artigo é imprescindível para se fazer bom uso do acento indicativo de crase. O artigo é a palavra que
introduz o substantivo, indicando-lhe o gênero (masculino/feminino) e o número (singular/plural).
O violino está desafinado. [referência a um instrumento específico, seja o meu ou o seu, enfim
aquele já mencionado]
A lâmpada queimou. [a apontada ou a única no local]
Falei com os meninos. [meninos já conhecidos do falante]
Vimos as estrelas no telescópio. [as estrelas de que falávamos antes]
O artigo definido também é empregado para indicar a espécie inteira; isto é, usa-se o singular com
referência à pluralidade dos seres:
O artigo indefinido – um, uma, uns, umas – determina o substantivo de modo impreciso, indicando que
se trata de simples representante de uma dada espécie. Designa um ser ao qual não se fez menção
anterior. Exemplos:
Por questão de estilo, evita-se a utilização frequente de UM, UMA. O abuso do artigo indefinido torna a
frase pesada e deselegante. Observe nos períodos abaixo como certos artigos são desnecessários:
Está certa a ausência do artigo, pois significa que nenhum país (da Europa) foi poupado no pior inverno
dos últimos anos. É importante notar que a indefinição se faz mentalmente – não é preciso constar
explicitamente o artigo ou o pronome indefinido. Caso a reportagem estivesse se referindo só à Inglaterra
ou à Suécia, por exemplo, o redator teria escrito “não pouparam o país”.
O universo dos verbos que admitem à ou às após si é relativamente restrito, pois se trata apenas dos
verbos transitivos indiretos e, entre estes, somente daqueles que exigem complemento regido da
preposição a. Nas frases abaixo, de construção semelhante, vamos perceber o mesmo verbo seguido de
complemento com e sem crase (neste último caso, o complemento constitui ou o sujeito ou o objeto direto
da oração):
Solicito acrescentar à lista de livros estes títulos: Mila 18, Os Ratos e Mad Maria.
Solicito acrescentar a lista de livros ao pacote que seguirá para a livraria.
Um bom artifício para confirmar se em determinada circunstância o verbo pede o a craseado é trocar seu
complemento feminino por um masculino, de preferência sinônimos. Onde se usa ao, deve-se usar à, pois
um à (a a) é o feminino de um ao (a o) . Exemplos:
Como já foi visto, a crase envolve, além de um substantivo feminino determinado, a regência da
preposição "a". Não só verbos (V. Não Tropece na Língua 071) mas também nomes – substantivos,
adjetivos e advérbios – regem ou se servem da preposição "a" para se relacionar com os substantivos ou
outros termos regidos. Por exemplo: horror a lugares fechados; útil a tanta gente; paralelamente a
isso... Se depois desses nomes intermediados pela preposição "a" for colocado um substantivo feminino
determinado, teremos a a, o que implica uma crase e o uso do acento indicativo dessa crase/fusão. Nesses
casos, valer-se do artifício da troca do substantivo feminino pelo masculino é muito bom para tirar a
prova-dos-noves:
É possível fazer a associação de nomes a verbos. Há alguns nomes que apresentam o mesmo regime dos
verbos de que derivam. É o caso, por exemplo, dos verbos abaixo:
Grande parte dos nomes que exigem a preposição "a", contudo, derivam de verbos com diferente
regência. Em geral, verbos transitivos diretos:
Vou APOIAR a formação de um novo grupo de trabalho. - Vou dar apoio à formação de um novo
grupo de trabalho.
Salários baixos não INCENTIVAM a eficiência e o desempenho. - Salários baixos não são
incentivo à eficiência e ao desempenho.
Margarida APRECIA a sogra. - Margarida tem apreço à sogra.
Eles AMAM a pátria em que nasceram. - Eles têm amor à pátria em que nasceram.
Sempre ELOGIO as pessoas esforçadas. - Sempre faço elogios às pessoas esforçadas.
PREFERIU a uva mais cara. - Deu preferência à uva mais cara.
CONSULTAMOS a entidade indicada. - Fizemos uma consulta à entidade indicada.
Para finalizar e variar um pouco, proponho ao leitor preencher as lacunas abaixo com à(s) ou ao(s),
conforme o caso:
Confira as RESPOSTAS CORRETAS: 1. acesso à ponte/ao túnel 2. parecer favorável à cobrança /ao
pagamento 3. em cumprimento à alínea/ao item 4. destinadas ao restauro/à recuperação 5. ligados à
nobreza/ao clero 6. filiação ao sindicato/à associação 7. restrita aos supermercados / às bancas de revistas
8. sanção às obras /aos artefatos 9. sujeitas à aprovação/ao consentimento 10. adesão à greve/ao motim.
A pedido de Jaime Ramos, vamos tratar do uso da crase com as locuções prepositivas quanto a, junto a,
relativamente a, etc. A locução prepositiva é composta de dois ou mais vocábulos, sendo o último deles
uma preposição simples (ex.: ao lado de, de acordo com, frente a). Sua função é a mesma da preposição.
Só nos interessam agora as locuções que acabam na preposição "a", pois estas exigem o a craseado
quando se ligam a um substantivo feminino determinado.
Como são relativamente poucas as locuções que se enquadram nesta categoria, pode-se memorizá-las
para evitar os condenáveis erros de crase:
O uso de JUNTO A em frases desse tipo (e outras como: solicitar providências junto a,
conseguir/obter/acertar/fazer pedidos junto a alguém) é condenado por puristas. Contudo, não há como
negar a sua frequência em artigos de jornais, revistas e correspondência em geral. Estritamente falando,
junto a significa apenas “perto, próximo, ao lado”, por exemplo: Encostou o carro junto à calçada.
17. Os produtores de uva enfrentaram uma queda de produção de 70% devido à ocorrência de geadas em
outubro.
Devo advertir que o uso de DEVIDO A não tem o “respaldo dos autores cuidadosos”, no dizer do
professor A. da Gama Kury, porque a locução surgiu da “masculinização” do particípio do verbo dever,
que concordava normalmente com o substantivo referente: “ausência devida a problemas pessoais;
problemas devidos ao excesso de chuvas”.
Já a opinião de Celso Luft é a seguinte: “Os puristas não gostam desta locução e acham que devido deve
ser usado apenas como particípio: o acidente foi devido (= deveu-se) a um descuido. O uso corrente da
locução, claro, desautoriza os puristas”.
Em todo caso, observe-se a concordância quando "devido" é realmente particípio e atente-se sempre para
a colocação do acento indicativo de crase diante de substantivo feminino, dada a presença da preposição
"a" nos dois casos: Acidentes devidos a motoristas imprudentes / ao desatino / à imprudência do
motorista... Foi cancelado o show devido a problemas / devido ao tempo / devido à chuva.
Dado o, dada a
Que não se faça confusão com a locução "devido a", apesar da semelhança de significado e uso. DADO
sim é um particípio; não rege preposição, portanto não forma uma locução, mas concorda com o
substantivo sequente: Dado o mau tempo / dados os raios e trovões / dada a chuva / dadas as condições
de tempo, não fomos à praia.
Ambas corretas. Note-se, porém, que a locução escrita com a prep. A é antiga. Essa grafia já não aparece
em dicionários atuais, tendo sido substituída por AFINAL ou AO FINAL, locução adverbial que significa
“na última parte, no fim, na conclusão /desenlace /remate, ao termo /término”.
O advérbio afinal (ou afinal de contas), além de significado semelhante – por fim, finalmente, enfim, em
conclusão, em resumo – apresenta algumas nuances de interpretação, podendo expressar indignação,
contrariedade, surpresa/espanto, melancolia, resignação, ou algo como “pensando bem”. Exemplos:
A forma correta é ante o e ante a, porque não se trata de uma locução; consequentemente, não cabe a
preposição A depois da também preposição ANTE, que se comporta como “perante” [perante o juiz]
com o mesmo significado de “diante de, em presença de alguém ou algo”. Naturalmente não há crase
quando se usa um substantivo feminino:
1. O verbo subscrever pode ser transitivo indireto (com a preposição A) na acepção de “conformar-se (ao
parecer de alguém)”, como em subscrever a preceito, a conselhos, a um regimento. Já com o significado
de “dar sua aprovação a; assinar ou firmar aprovando”, ele é transitivo direto – daí ser desnecessária a
preposição nestas frases:
2. Não há necessidade de usar inicial maiúscula em egrégio e colendo, pois tais termos, usados para
distinção ou realce, são simples adjetivos – não fazem parte do nome próprio Tribunal de Justiça.
--- Gostaria de saber sobre o uso de crase antes de pronomes possessivos. É permitido? Existe alguma
regra? W. Castro, Rio de Janeiro/RJ
--- A minha mãe (para minha mãe) tem crase? Sibele Akselrad, São Paulo/SP
Sabemos que a crase está condicionada ao uso simultâneo da preposição A com o artigo A; portanto, para
ocorrer a crase é preciso que a palavra anterior [um verbo ou um nome] exija a preposição A e o
substantivo posterior – que será obrigatoriamente feminino, explícito ou não – admita a presença do
artigo definido. Sibele coloca entre parênteses “para minha mãe”, sem o artigo antes do possessivo.
Consequentemente, se trocarmos a prep. PARA por A, não aparecerá o acento: Disse a minha mãe que
voltaria cedo.
Entretanto, outros leitores traduziriam esse “a minha mãe” por “para a minha mãe”, o que pressupõe a
coexistência da preposição com o artigo definido. Neste caso, escreve-se com o acento indicativo de
crase: Disse à minha mãe que voltaria cedo.
Conclusão sabida e regra repetida: o uso da crase antes do pronome possessivo é facultativo. Quer dizer,
pode-se omitir o acento que não fica errado. Mas é altamente recomendável usá-lo, pois evita
ambigüidades, sobretudo depois de verbos, vejam só:
Favor anexar a sua declaração de isento a sua identidade. Anexar o que a quê? Deixemos claro:
Favor anexar à sua declaração de isento a sua identidade.
Favor anexar a sua declaração de isento à sua identidade.
Favor anexar a sua identidade à sua petição.
Anexamos à petição o documento solicitado.
Peço que junte à nota para a imprensa a sua fotografia.
A bem da verdade, esse tipo de crase só deveria ser dito “facultativo” em relação às regiões do Brasil, já
que em alguns Estados não se usa o artigo definido diante do possessivo. Ali as pessoas normalmente
dizem: “de minha mãe, de meu pai, minha amiga, para/a minhas tias”, o que em tese as desobrigaria do “a
craseado”. Já em outros lugares o artigo definido é usual: “da minha mãe, do meu pai, com a minha
amiga, para as minhas tias”. Esta situação enseja o emprego de à/às: Refiro-me à minha amiga e às
minhas tias, por exemplo, em vez de a minha amiga e a minhas tias.
Em Portugal a crase (que é chamada simplesmente de acento grave) com os pronomes possessivos é de
lei, pois o uso do artigo definido diante deles é a norma naquele país. Numa biblioteca pública de Porto,
em agosto de 2001, li num manual de gramática que era “mania de brasileiro” a dispensa do artigo na
frente dos possessivos! No Brasil, de fato, tanto faz.
Plural
É preciso ter cuidado com a opção diante de pronome possessivo plural: a alternativa não é as/às, mas sim
a/às, pois aí se trata de escolher entre a simples preposição (entendendo-se que não se queira usar o artigo
definido antes do possessivo) ou a preposição combinada com o artigo no plural:
Não reconheceu o Estado de Israel por questões políticas ligadas a/às suas relações com os países
árabes.
MODOS DE ASSISTIR
--- Gostaria de saber se o verbo assistir, quando se refere à televisão, é transitivo direto ou indireto.
Devo dizer: assistir televisão ou assistir à televisão? Esta é uma dúvida que tenho, e até agora não
encontrei esse exemplo nas gramáticas que consultei. Neila D. Oliveira, Tatuí/SP
--- Gostaria de esclarecimento quanto à regência do verbo assistir, em seus dois sentidos, com uso ou
não de crase. Edson Luiz Zeppelini, São Paulo/SP
No sentido de “ajudar, prestar assistência ou socorro, tratar”, o verbo assistir é transitivo direto, isto é,
seu complemento não é precedido por preposição:
Com o significado de “ver, presenciar, estar presente, observar, acompanhar com atenção”, ele é
transitivo indireto, com complemento preposicionado:
Na linguagem coloquial brasileira, no entanto, ouve-se (e também se lê, até em bons autores)
habitualmente o verbo sem a preposição: assistir o filme/ a minissérie/ os jogos. No caso da televisão,
valem as duas regências, já consagradas pelo uso (e anotadas por Celso Luft): assistir à TV ou assistir
TV:
Nesta segunda acepção, usa-se a ele/ a ela [e não “lhe”] quando o complemento é um pronome pessoal:
“Não posso dizer como andam as corridas de touros, pois não assisto a elas há muito tempo”.
--- Na frase ‘Tais palestras foram assistidas por um público médio de 300 participantes’ há erro? tendo
em vista que o verbo assistir, nesse caso, é transitivo indireto [acho que não se pode fazer voz passiva
com verbo trans. indireto]. Paulo Roberto Ribeiro, Lavras/MG
Nada de erro! Embora transitivo indireto, ele admite a voz passiva. Pode-se afirmar o mesmo de obedecer
(a) e proceder (a) – uma reminiscência de quando eram verbos transitivos diretos (vale lembrar que a
regência é muito dinâmica, mutável). Assim sendo, temos:
--- Professora: assiste razão à advogada? Ou a crase está equivocada pelo fato de que, no caso, o verbo
assistir é transitivo direto? Márcio Schiefler Fontes, Florianópolis/SC
O acento indicativo de crase foi bem colocado. No sentido de “caber, competir, pertencer” o verbo assistir
é transitivo indireto, ou seja, algo assiste a alguém:
--- Tenho certa resistência em grafar ensino a distância, sem o acento grave indicativo de crase, como é
comum encontrar nos documentos exarados pelo MEC. Alguns autores classificam tal ocorrência como
CRASE FACULTATIVA. Podia comentar? Prof. José T. B. Neto, Umuarama/PR
Não está errado o Ministério da Educação. Mas eu, assim como o professor, prefiro usar o acento – nessa
e em outras locuções adverbiais femininas que indicam circunstância. O motivo é que a ausência do
acento pode deixar o texto ambíguo. Em “ensinar/estudar a distância”, por exemplo, fica-se com a
impressão de que é a distância que está sendo ensinada ou estudada. É o mesmo caso de viu a distância,
escreveu a distância, curou a distância, fotografe a distância, permanece a distância [= a distância
permanece] e assim por diante, que parecem melhor quando craseadas: viu à distância, escreveu à
distância, curou à distância, fotografe à distância, permanece à distância.
Já na frase “Compramos uma chácara a grande distância daqui” não há crase, porque está subentendido
o artigo indefinido: a [uma] grande distância.
Enfim, entendo que é sempre melhor acentuar a expressão, até porque em determinadas situações só o
acento clarifica o sentido dado à palavra, como por exemplo nesta explicação entre parênteses: Reviu seus
estudos a respeito da estratégia tele (“à distância”) de lidar com os saberes tácitos.
Maria Helena de Moura Neves (Gramática de Usos do Português, Ed. Unesp, 2000:164) ensina:
“Também não recebem marca de plural os nomes de tribos indígenas, seguindo convenção internacional
dos etnólogos: (...) # Entretanto, frequentemente se usam esses nomes pluralizados, como qualquer outro
nome de povo”.
Embora facultativo o uso, parece soar melhor o plural quando o nome da tribo tem vogal final: pataxós,
caiapós, macuxis, ianomamis, kaiowás, camaiurás, xavantes, bororos.
O acento indicativo de crase antes de nomes próprios de mulheres é tido como facultativo, pois se escreve
“à” diante de alguns nomes femininos, mas não diante de outros. O que demarca nossa opção é a
possibilidade de esse nome, principalmente o de batismo, ser anteposto por um artigo definido, o que lhe
dá um tom de afetividade ou de familiaridade, indicando a pessoa como conhecida ou “de casa”. No
Brasil, além disso, esse uso tem caráter regionalista - em algumas regiões, como Sul e Sudeste, é habitual:
o Marcos, a Lea, a Joana. Isso quer dizer que, se você costuma empregar o artigo definido diante de um
nome de mulher, pode usar o “a craseado” quando a situação pedir (ou seja, quando a expressão ou verbo
diante do nome exigir a preposição a).
Assim, no caso de mulheres a quem se chama pelo nome de batismo, vale o uso regional. Se você diz:
“Gosto de Beatriz. Penso em Rita”, não usará crase: ► Contei a Beatriz o que relatei a Rita. Mas se você
diz: “Gosto da Beatriz. Penso na Rita”, escreverá: ► Contei à Beatriz o que relatei à Rita.
Já quando se faz referência a nome e sobrenome, tão somente a familiaridade é que vai determinar o uso
do acento indicativo de crase:
1) a crase não ocorrerá se o nome da pessoa for mencionado formalmente, envolto em distinção, ou se
tratar de personalidade pública, pois nessas circunstâncias o nome da pessoa, seja homem ou mulher,
nunca é precedido de artigo definido:
2) a crase ocorrerá se, apesar do nome completo, a pessoa for referida com amizade, numa atmosfera
afetiva. É muito comum este tipo de uso nos agradecimentos que se fazem em livros, teses e dissertações,
situação que por sua formalidade e tipo de divulgação comporta o nome completo das pessoas
homenageadas, embora possam ser da intimidade do autor. É importante que se mantenha a coerência: se
o nome do homem é articulado [o, ao], também o da mulher deverá ser precedido de artigo [a, à].
Vejamos um exemplo real:
A crase também ocorre com os pronomes demonstrativos aquele(s), aquela(s) e aquilo. Isso acontece
quando a expressão anterior é acompanhada da preposição A, que se aglutina ao A inicial desses
pronomes. Pronuncia-se um A só. Na escrita, também fica um A só, mas com acento grave:
Analisemos a mesma frase com o uso dos outros pronomes demonstrativos. Veremos que com eles a
crase é impossível, pois não começam pela vogal A: “Não me refiro a isso, refiro-me a esta questão, não
me refiro a esse tema”.
Muitas pessoas estranham o acento numa palavra masculina como “aquele”. Vale lembrar que a crase
implica duas vogais idênticas, portanto o que conta é a fusão do A preposição com a letra A que dá início
ao pronome. Vejamos alguns exemplos:
Comprei um vaso semelhante àquele que recebi de presente o ano passado. > semelhante a +
aquele
Todas as minhas taças são iguais àquelas que vovó tinha. > iguais a + aquelas
Cumpre seu papel com respeito absoluto àquilo que de melhor lhe foi transmitido por seus pais. >
respeito a + aquilo
Ganhei uma toalha idêntica àquela que me deste no Natal.
Todos os diretores devem ficar cientes. Comunique o fato primeiro àquele que você considera mais
importante.
O plano é um desafio àquelas convenções estabelecidas no acordo.
Dirigiu-se àquela moça que vimos ontem no Jornal do Meio-Dia.
Agradeço a meus pais e àqueles que sempre confiaram em mim.
Sabes a quem vou escrever? Àquele amigo de infância que se mudou para Olinda quando
estávamos na 6ª série.
Os recursos serão destinados somente àqueles empresários em dia com o IR.
Prefiro esta proposta àquela.
O auxílio-acidente será devido a partir do dia seguinte ao da cessação do auxílio-doença, quando
este benefício anteceder àquele (Lei 8.213/91).
--- A crase está relacionada a um substantivo feminino, como você já falou. Mas vi um à craseado na
frente de um “que”. Está correto? A frase era assim: Espero que você compre uma peça idêntica à que
você quebrou. Adroaldo, São José/ SC
Trata-se de caso menos comum; é uso correto. Na verdade, a crase aí ocorre não pelo pronome relativo
“que”, mas por causa de um substantivo feminino subentendido, que está oculto justamente porque se
pretende evitar sua repetição:
Espero que você compre uma peça idêntica à [peça] que você quebrou.
Ganhou uma moto igual à [moto] que havia comprado um mês antes.
Disse que tinha amor à vida, “à (vida) que tinha antes do acidente”, frisou com pessimismo.
Quando se trata de saber se diante dos nomes de cidades, estados e países se usa a ou à, fica valendo o
mesmo princípio da determinação [V. Não tropece na língua 150], qual seja: se o nome é feminino e pode
ser precedido pelo artigo definido A, existe a possibilidade do uso do “a craseado”.
Cidades
Como regra, NÃO se usa o acento indicativo de crase diante dos nomes de cidades, porque eles repelem o
artigo definido, como se pode observar: “Salvador é uma festa. Venho de Florianópolis. Ele mora em
Curitiba. Estivemos em Vitória”. Assim sendo, nada de crase:
Bem-vindos a Salvador.
Vamos a Blumenau.
Refiro-me a Imperatriz - MA.
Somente quando modificados por algum elemento restritivo ou qualificativo é que os nomes de cidade
podem receber o artigo feminino e portanto a crase. São casos raros:
Estados
Em princípio, só dois estados brasileiros admitem a crase: a Bahia e a Paraíba. As demais unidades da
Federação ou são nomes masculinos (o Amapá, o Acre, o Amazonas, o Ceará, o Espírito Santo, o
Maranhão, o Mato Grosso do Sul, o Pará, o Paraná, o Piauí, o Rio de Janeiro, o Rio Grande do Norte, o
Rio Grande do Sul, o Tocantins) ou repelem qualquer artigo (Alagoas, Goiás, Mato Grosso, Minas
Gerais, Pernambuco, Rondônia, Santa Catarina, São Paulo, Roraima, Sergipe). Sendo assim:
Bem-vindos à Bahia.
Vamos à Paraíba e a Santa Catarina.
Esse patrimônio incalculável pertence a Goiás.
Refiro-me ao Rio Grande do Sul e ao Pará.
Quanto a Mato Grosso, embora originalmente o artigo seja dispensável, há uma hesitação: quando não
acompanhada da palavra “estado”, é comum (provavelmente por analogia com o Mato Grosso do Sul) a
construção “o Mato Grosso, do Mato Grosso, no Mato Grosso”. Mas sempre se dirá “o Estado de Mato
Grosso” – é a forma oficial.
Países
A presença da crase diante de um nome de país depende de ser esse nome determinado ou não pelo artigo
feminino A. Entre os países que levam artigo - e que constituem a maioria - alguns são masculinos (o
Canadá, os Estados Unidos, o Japão, o Chile), outros femininos (a Rússia, a Venezuela, a Índia). Existem
países que rejeitam o artigo, como Portugal, Israel, Angola, Moçambique, São Salvador, Liechtenstein. E
há nomes de países que se usam tanto com o artigo quanto sem ele, principalmente quando regidos de
preposição – os brasileiros preferem com o artigo; os portugueses, sem ele: na França/em França; da
Itália/de Itália; na Espanha/em Espanha; da Inglaterra/de Inglaterra. O mesmo vale para o continente: da
Europa/de Europa. Portanto, escrevemos:
Bem-vindos à Argentina.
Quanto à Europa, refiro-me à França, à Áustria e à Alemanha.
O presidente chegou à Inglaterra por volta do meio-dia, mas não foi a Londres.
Enviamos saudações à Colômbia.
CRASE E NUMERAIS
Embora o fenômeno da crase tenha a ver basicamente com a classe dos substantivos, muitas pessoas
perguntam se ocorre crase diante dos numerais cardinais. Respondo que normalmente não, porque eles
são usados sem artigo definido e não têm gênero (exceto um e dois e os terminados em -entos: uma,
duas, duzentas, trezentas etc.). Observe:
Outras vezes se poderá encontrar na frente do numeral um “a”, que não será acentuado por se tratar de
mera preposição:
Vale lembrar que à/às só tem cabimento diante de substantivos femininos que admitem a anteposição do
artigo definido. No entanto, poderemos visualizar uma crase – correta – antes do numeral em duas
circunstâncias:
1) quando houver, subentendido diante do numeral, um substantivo feminino definido, que não se repete
por questão de estilo:
2) quando houver explicitamente junto ao numeral um substantivo feminino determinado (do qual o
numeral é apenas um dos determinativos):
Como se vê, a crase aí está relacionada não ao numeral mas ao substantivo determinado: as crianças
abandonadas, as primeiras pessoas que aparecem, as propostas descritas. Mudando-se esse substantivo
para um equivalente masculino, temos aos em vez de às:
3) A verdade dos fatos não pode ser contestada; seu contexto, sim ou seu contexto sim.
A vírgula antes de sim não está errada, mas tampouco é necessária.
--- Minha dúvida tem a ver com o uso de já em frases como: "Já a senadora Heloísa Helena recusa-se a
apoiar Sarney." Ou: "Já o líder do PSDB afirma que..." O já aí não me parece que seja advérbio. é o
quê? Nair Resende, São Paulo/SP
Já, além de advérbio, pode ser conjunção coordenativa de duas modalidades: alternativa e adversativa.
Por exemplo, numa frase como "Já chateada, já raivosa, quedou-se na rede", é conjunção alternativa. Nos
dois casos da consulta, tem sentido adversativo, como se fosse:
- Mas a senadora / No entanto, a senadora Heloísa Helena recusa-se a apoiar Sarney.
- Por outro lado, o líder do PSDB afirma que não apoiará ninguém.
--- Constantemente esbarramos em uma dúvida literalmente cruel em nossas redações: a teor do exposto
ou ao teor...? Márcia Bittencourt, Brasília/DF
O correto é a teor de, já que o a é simples preposição, como nas locuções "a exemplo de" e "a serviço
de".
--- Tenho visto em diversos acórdãos dos tribunais pátrios a expressão "à toda evidência" ora com crase,
ora sem. Afinal, qual é a forma correta? Glacir, Florianópolis/ SC
--- Agora pergunto-lhe: Quando mulheres fazem um abaixo-assinado o certo é: "As abaixo-assinadas"?
Valéria C. Barbosa, São Paulo/SP
Sim, Valéria, basta não haver nenhum homem na lista/reivindicação para ela ser introduzida por um "As
abaixo assinadas". Note que não se coloca hífen neste caso – ele só vai no substantivo: "Fizemos um
abaixo-assinado".
--- O correto é "crédito sujeito a aprovação" ou "crédito sujeito à aprovação"? Sérgio Schüler
--- Minha consulta é sobre o emprego da crase nos dois casos abaixo: 1 – Descumprimento de ordem
judicial pode levar prefeito à condenação. 2 – O prefeito está respondendo a ação penal no TRE. Rui
Zilnet, Rio de Janeiro/RJ
Entre os usos proibidos da crase, consta que não se usa o a craseado diante dos pronomes em geral, que
repelem o artigo e portanto configuram termos indefinidos, e diante de substantivo feminino usado em
sentido geral e indeterminado. Isso acontece porque a crase só tem cabimento diante de palavras
femininas determinadas pelo artigo definido A ou AS.
Às vezes – principalmente quando o contexto deixa margem a dúvidas – é preciso tirar a prova dos noves
imaginando uma palavrinha indefinida na frente do substantivo em questão. Se ela pode ser usada,
significa que o "a" que se encontra ali é apenas uma preposição, e não um "a craseado". Usando as frases
dos consulentes, o exercício mental é o seguinte:
Bastaria, no entanto, que a 'aprovação' (para tomar como exemplo a última frase) viesse determinada para
que a crase fosse usada: "Crédito sujeito à aprovação da diretoria". Da mesma forma:
Porém:
Nas manchetes de jornais aparecem muito as frases sem tal crase, pois na chamada da notícia o
substantivo em foco ainda não foi determinado. é o caso específico da manchete "Bomba explode em
frente a escola". Qual escola? Ainda não se sabe. Somente no texto que se segue é explicitado: "Uma
bomba feriu ontem quatro policiais que trabalhavam em frente à escola Colombina, localizada no
condado etc."
Vejamos outras frases em que se subentende uma palavra indefinida diante de um substantivo que à
primeira vista parece dever ser craseado:
+ TRF antecipará pagamento a credora do INSS que sofra de doença grave. [qualquer uma]
+ Aposentou-se para dar lugar a gente nova [= a pessoas novas]
+ A hidrolipoaspiração permite a retirada de gordura sem necessidade de o paciente ser submetido
a transfusão de sangue. [ = a uma transfusão de sangue]
+ A sociedade sabe que a tapeação é generalizada e que isso não levará a boa coisa. [ = a nenhuma
boa coisa]
--- É incorreto escrever: A contratada deve refazer os serviços as suas expensas? Qual é o certo: 'A
contratada deve refazer os serviços às expensas suas' ou 'A contratada deve refazer os serviços às
expensas próprias'? Maria Luiza, Rio de Janeiro/RJ
No primeiro caso é incorreto, sim, escrever "as expensas" [sem acento], pois a expressão comporta ou
apenas a [simples preposição] ou às, à semelhança da locução "às custas de". Exemplos:
Ao sair de casa, quando completou a maioridade, João começou a viver a suas expensas.
Também é possível falar "às próprias expensas". E ainda se pode inverter a ordem das palavras nesta
locução, por exemplo: "vive a expensas suas" ou "vive às expensas suas, às expensas próprias".
--- Por que na frase: o prêmio foi entregue à quem menos merecia, usa-se crase e na frase: o prêmio foi
dado a quem não merecia, não se usa? Jaciene Nascimento, Nilópolis/RJ
Em nenhuma das frases apresentadas é correto o uso do acento indicativo de crase. A grafia certa é: 1. O
prêmio foi entregue a quem menos merecia e 2. O prêmio foi dado a quem não merecia. Diferente seria:
"O prêmio foi entregue àquele que menos merecia", em que a palavra sublinhada está por "a aquele =
para aquele".
--- Consulta sobre o emprego da crase. Estaria correta a frase "Boa noite à todos"? Por quê? Gildete da
Silva Cordovil, Rio de Janeiro/RJ
Isso porque todo e toda, pronomes indefinidos, não são determinados pelo artigo. E como se sabe, a crase
é o processo de junção da preposição A como o artigo definido A.
--- Por que dizemos "ir ali" ao invés de "ir àli" (a ali )? Gustavo Lacerda, Curitiba/PR
Escreve-se "vou ali", sem acento, porque não existe a ocorrência de "a + ali". O verbo "ir" pode ser usado
de várias maneiras (só no Dicionário de Regência, de Celso Luft, ele ocupa mais de uma página), e uma
delas é como intransitivo: verbo ir + advérbio (locativo). Neste caso, não há a incidência da preposição
"a". Seguem alguns exemplos: "Queremos ir ali agora. Vou lá, sim. Vamos para lá. A listagem do
material necessário vai em anexo, conforme solicitado. Vai abaixo a nominata. Ele sempre ia na frente".
--- Referente à compra solicitada... favor informar se existe crase após referente. E o porquê. Cida Parra,
São Paulo/SP
Sim, o correto é escrever referente à compra solicitada. A razão é que "referente a" forma uma locução
na qual o a é uma preposição (veja o masculino: "referente ao prazo solicitado") e o substantivo
"compra" está determinado pelo artigo definido A.
Não se trata de "correção" mas de estilo. Em "quero fazer uma colocação", a impropriedade estaria
justamente no uso da palavra colocação no lugar de "afirmação ou manifestação, apresentação, exposição
(de fatos ou ideias)". Vale o mesmo para o verbo colocar, embora os dicionários registrem a acepção de
"trazer à baila, propor, aventar, apresentar, expor".
Para expressar-se sem o emprego abusivo de "colocar", especialmente em textos mais formais e
monitorados, há opções: Gostaria de falar / comentar / afirmar / dizer / mencionar / comunicar /
aduzir / informar / anotar / observar / registrar" etc. Ou, para o caso aventado pela consulente:
"Quero me manifestar sobre o assunto /quero fazer uma observação /quero expor ou apresentar uma idéia
em relação ao tema" e assim por diante.
--- É correto usar o acento indicador de crase em frases nas quais apareçam verbos transitivos indiretos
no particípio? Ex: obedecidas às normas regimentais. Marcelo Martins, Bragança Paulista/SP
Não se coloca o acento indicativo de crase nesses casos, pois aí o verbo é usado transitivamente; o
emprego do verbo obedecer na voz passiva é uma reminiscência dos tempos em que ele era transitivo
direto. Escreva, portanto, sem acento: "obedecidas as normas regimentais /foram obedecidas as instruções
/as instruções devem ser obedecidas". O corretor ortográfico do Word tem que ser desconsiderado neste
caso.
O verbo assistir é parecido, pois pela norma-padrão se escreve "assiste-se a bons filmes", mas é possível
dizer, na voz passiva, que "o filme foi assistido por milhares de pessoas".
--- Eu gostaria de saber como se usa corretamente tais expressões: tivesse e estivesse.Luis Antônio, São
José do Rio Preto/SP
Tivesse é o pretérito imperfeito do subjuntivo (que exprime um condição) do verbo ter, enquanto
estivesse é do verbo estar. Eles podem ser usados como verbo principal (exemplos 1, 2 e 3 abaixo) ou
como auxiliar (frase 4):
--- Qual é a diferença que existe entre "podia" e "poderia"? Maurício Picolo Catelli, Caxias do Sul/RS
A forma podia pertence ao pretérito imperfeito do modo indicativo, que designa um fato passado mas não
concluído, dá ideia de continuidade, de processo que no passado era constante:
Poderia faz parte do futuro do pretérito do indicativo, que é o nosso condicional e exprime dúvida,
probabilidade, suposição sobre fatos passados. Exemplos:
O caso é que na linguagem falada, provavelmente por comodidade, costumamos dizer ‘podia’ no lugar de
‘poderia’. No português de Portugal este uso do imperfeito pelo futuro do pretérito é bastante comum.
--- O que quer dizer meritocracia? Ana Lúcia França Teixeira, Salvador/BA
O sufixo "cracia" (usado em democracia, aristocracia) quer dizer "força, poder, autoridade". Portanto, a
palavra "meritocracia" denota a força do mérito, daquilo que é meritório. Em outros termos, o que vale é
o merecimento próprio, e não a herança, o dinheiro, o "ser filho de papai"... Exemplo auto-elucidativo:
- Disse Ioschpe: “Temos de ter um sistema de meritocracia: se as vagas são tão poucas, que
sejam para os melhores”.
--- Dispomos de “tudo que há de mais moderno ou de “tudo O que há de mais moderno”? O artigo é
opcional? Tem alguma função sintática? C.E.F., São Paulo/SP
Nesse caso o “o” não é artigo, mas pronome demonstrativo neutro (Cf. Não tropece na língua 31 -
Armagedon), exigido na escrita, conforme a norma gramatical (na fala, pode haver a contração das
vogais: tudo o que – tudoo que – tudo que). Tomemos duas frases de exemplo:
No período 1, o pronome ”o” é o objeto indireto de “dispomos”; no 2, o objeto direto de “li”. “Tudo” é
pronome adjetivo indefinido. “Que” é pronome relativo, tendo por antecedente o “o” da oração anterior.
--- Gostaria de saber, por gentileza, se diante do pronome “outra” ocorre crase. Nilson
Pode ocorrer, sim. Depende da determinação do substantivo que o pronome “outra” acompanha, esteja
esse substantivo implícito ou aparente no período. Quando você fala genericamente “de outra” entre
diversas, não pode haver crase. Quando se trata “da outra” – que se coloca em contraposição a uma
primeira –, há crase. Por exemplo:
MAS:
- Isso significa que finalmente as duas mulheres começaram a se dirigir uma à outra do
mesmo modo que às demais.
- O produto só era vendido nas butiques GLEN e VIVA. Na primeira custava R$ 520,00, mas
fui à outra loja e o encontrei por menor preço.
Em face do assunto abordado há duas semanas, perguntaram-me se estavam bem corretos dois dos
exemplos apresentados: "Preferiu sentar-se no sofá" e "Sentamos à mesa principal". Sim, pode-se usar
tanto a preposição "a" quanto "em" com o verbo sentar(-se). Nós brasileiros ora falamos sentar na
poltrona, num banco, no sofá, na mesa, ora sentar à poltrona, a um banco, ao sofá, à mesa.
Da mesma forma, pode-se usar bater na porta e bater à porta, lavar a roupa na mão e lavar a roupa à
mão. O fato é que o uso da preposição "em" é mais comum na fala coloquial, e o "a craseado" sugere uma
escrita mais elegante e erudita.
Também nas expressões de tempo pode-se fazer a substituição do "em" pelo "a":
- Não respondi ao telegrama pois naquela/ àquela hora o correio já havia fechado.
- Naquela/ àquela altura dos acontecimentos, ninguém se lembrou do cachorro.
- O forno de microondas custava, na/ à época, uns oito salários mínimos.
- Na/ à oportunidade, envio-lhe meus cumprimentos.
- No/ Ao ensejo, reiteramos nossas cordiais saudações.
--- Na frase abaixo é necessário, facultativo ou incorreto colocar a preposição depois do verbo vir? "Que
venham a manchar a imagem da arbitragem." Bianca Casagrande, Porto Alegre/RS
Não é indiferente usar ou não a preposição nesse caso. Na combinação de VIR com outro verbo,
distingue-se vir infinitivo de vir a infinitivo.
1) No primeiro caso, tem-se a noção de chegar ou de se locomover com alguma finalidade. A preposição
"para" está implícita:
2) O uso da preposição entre vir e o infinitivo tira da locução verbal a noção de finalidade e empresta-lhe
o sentido de "acontecer, ocorrer, suceder", de "chegar" mas não com o sentido físico:
--- Qual a diferença entre, por exemplo, "brigaram entre eles" e "brigaram entre si"? Chico Damasceno,
Palmas/TO
Não há diferença semântica, mas apenas de nível de linguagem. Pela norma culta ou padrão, devem ser
usados os pronomes reflexivos SI e CONSIGO – e não os pronomes retos – quando o objeto verbal é a
mesma pessoa do sujeito:
No entanto, no Brasil é muito comum, até em textos algo formais, o esquecimento dos pronomes
reflexivos em favor dos pronomes retos nessas mesmas situações. Na linguagem falada, chega a ser
constrangedor o uso de si e consigo. O que se ouve é:
Na combinação, as palavras não perdem nenhuma letra quando feita a união. Observe:
• da ( preposição de + artigo a)
• na (preposição em + artigo a)
Agora, há um caso de contração que gera muitas dúvidas quanto ao uso nas orações: a crase.
Crase é a junção da preposição “a” com o artigo definido “a(s)”, ou ainda da preposição “a” com as
iniciais dos pronomes demonstrativos aquela(s), aquele(s), aquilo ou com o pronome relativo a qual (as
quais). Graficamente, a fusão das vogais “a” é representada por um acento grave, assinalado no sentido
contrário ao acento agudo: à.
Como saber se devo empregar a crase? Uma dica é substituir a crase por “ao”, caso essa preposição seja
aceita sem prejuízo de sentido, então com certeza há crase.
Veja alguns exemplos: Fui à farmácia, substituindo o “à” por “ao” ficaria Fui ao supermercado. Logo, o
uso da crase está correto.
Outro exemplo: Assisti à peça que está em cartaz, substituindo o “à” por “ao” ficaria Assisti ao jogo de
vôlei da seleção brasileira.
É importante lembrar dos casos em que a crase é empregada, obrigatoriamente: nas expressões que
indicam horas ou nas locuções à medida que, às vezes, à noite, dentre outras, e ainda na expressão “à
moda”.Veja:
Quantas vezes em determinadas circunstâncias, sentimo-nos rodeados por dúvidas em relação ao uso
correto deste sinal gráfico. Como por exemplo: festa a fantasia? Ou festa à fantasia? Frango a
milanesa? Ou frango à milanesa?
Este é um fato que aos poucos, mediante à prática assídua da leitura e escrita, torna-se menos complexo,
pois as famigeradas regras que tanto insistem em nos confundir, paulatinamente incorporam-se ao nosso
conhecimento linguístico à medida que as apreendemos de maneira efetiva.
Muitas vezes, uma análise contextual é o bastante para detectarmos ou não a sua presença, tendo em vista
duas funções básicas:
* Sinalizar a fusão básica de duas vogais idênticas referentes a um termo que exija o uso da
preposição “a” com outro que permita o uso do artigo definido. Como demonstra o exemplo:
* Evitar a ambiguidade nas frases em função desta semelhança (duas vogais idênticas, porém com
funções distintas). Neste caso, faz-se necessário estabelecermos uma relação de sentido ligado à
semântica discursiva para que o impasse seja solucionado. Vejamos:
Cheirar a gasolina.
Cheirar à gasolina.
Torna-se importante ressaltar que mesmo em se tratando de casos antepostos a termos masculinos,
prescinde-se da referida exigência. Como nos mostra o exemplo, em que está implícita a idéia de à moda
Luiz XV:
Assim, existirá o acento grave quando o que foi dito anteriormente exigir a preposição “a”. Veja:
Refiro-me a alguém.
Refiro-me a aquela mulher.
Refiro-me àquela mulher.
Agora veja: Refiro-me àquela mulher que entrou agora ou Refiro-me à que entrou agora. Ficará ainda
mais claro se você substituir o pronome por outro que não comece com “a”:
Não me refiro àquilo que aconteceu ontem. Refiro-me a isso que aconteceu agora.
Não se assuste em colocar a crase antes de “aquele”, por se tratar de um termo masculino, pois o que é
levado em consideração é o “a” do início.
Ex. Este caderno é igual àquele que vimos ontem.
Ex. Você receberá o seu bônus quando este suceder àquele dos minutos gratuitos.
Você receberá o seu bônus quando ele suceder a este plano de minutos gratuitos.
Ex. Comprou uma capa igual à (capa) que tinha estragado na última chuva.
• O artigo antecede somente substantivos ou palavras com valor de substantivo. Por esta razão, a crase
não virá diante de verbos, nem tão pouco de pronomes pessoais (sujeito).
Contudo, tanto a preposição “a” quanto o artigo feminino “a” virão diante de substantivos femininos, já
que os substantivos masculinos não admitem artigo feminino.
O verbo “ir” exige preposição, veja: Não irei. Onde? A algum lugar. Qual? A farmácia. Quem vai, vai a
algum lugar. Na resposta “a qual lugar?” temos o artigo “a”. Logo, a preposição “a” mais o artigo
feminino “a”, que acompanha o substantivo na resposta (a farmácia), formam a crase.
O verbo “ler” ou a locução verbal “quero ler” não exigem preposição, portanto, o termo “a” que está na
oração acima é um artigo feminino.
Na oração acima, o pronome pessoal “ele” não admite artigo e, por isso, o termo “a” é uma preposição.
Declarei algo a alguém. Quem? Ele (e não “a ele”).
Os pronomes demonstrativos em que a crase pode ocorrer são: aquele, aquela, aqueles, aquelas, aquilo,
a(s). Para isso, o termo regente deve exigir preposição. Por exemplo:
Em meio a tantas exceções, às vezes é mais simples você memorizar quando a crase não é utilizada do
que quando é! Então, vejamos os casos:
Detalhe importante: Quando especificar a cidade, coloque a crase: Irei à Veneza dos
apaixonados. Refiro-me à Inglaterra do século XVIII.
4. Em substantivos que se repetem: gota a gota, cara a cara, dia a dia, frente a frente, ponta a ponta.
Detalhe importante: Se a palavra “casa” vier determinada por adjunto adnominal, aceita a crase:
Fui à casa de meus avós ou Voltei à casa de meus pais.
11. Diante da palavra “terra” quando significar “terra firme”, “solo”: Após viajarmos muito pelos mares,
voltamos a terra.