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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA

HABEAS CORPUS 188.820/DF – ELETRÔNICO


RELATOR: MINISTRO EDSON FACHIN
IMPETRANTE: DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO
PACIENTES: TODAS AS PESSOAS PRESAS EM LOCAIS ACIMA DE SUA
CAPACIDADE INTEGRANTES DE GRUPOS DE RISCO PARA
A COVID-19 E QUE NÃO TENHAM PRATICADO CRIMES
COM VIOLÊNCIA OU GRAVE AMEAÇA
PETIÇÃO ASSEP-CRIM/PGR 424805/2020

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Excelentíssimo Senhor Ministro Edson Fachin,

O PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA, no uso de suas

atribuições constitucionais e legais, com fundamento no art. 317 do RISTF,

vem interpor AGRAVO REGIMENTAL COM PEDIDO LIMINAR DE

EFEITO SUSPENSIVO em face da decisão proferida em 17 de dezembro de

2020, pela qual Vossa Excelência deferiu parcialmente a liminar requerida

pela DPU nos autos do Habeas Corpus em epígrafe, assim o fazendo para

determinar aos juízes de execução penal do País, observado o preenchimento

dos requisitos ali discriminados, que concedam progressão antecipada da

pena e prisão domiciliar/liberdade provisória a determinado grupo de

condenados.

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I – DA TEMPESTIVIDADE

O Ministério Público Federal foi intimado da decisão agravada em

18.12.2020 (entrada dos autos na PGR), sexta-feira, com início da fuência do

prazo recursal no dia 1º/2/2021, segunda-feira, correspondente ao primeiro

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dia útil após o término das férias coletivas desse Supremo Tribunal Federal.

II – SÍNTESE DA CONTROVÉRSIA

Trata-se de Habeas Corpus coletivo impetrado pelo DEFENSOR

PÚBLICO-GERAL DA UNIÃO em face de atos indistintamente atribuídos ao

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, SUPERIOR TRIBUNAL MILITAR,

TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL, todos os TRIBUNAIS DE JUSTIÇA

DOS ESTADOS, todos os TRIBUNAIS REGIONAIS FEDERAIS, Juízos

Criminais Federais, Juízos Criminais Estaduais e Juízos de Execução Penal

Federais e Juízos de Execução Penal Estaduais, em benefício de todas as

pessoas presas em locais acima de sua capacidade, integrantes de grupos de

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risco para a Covid-19 e que não tenham praticado crimes com violência ou

grave ameaça.

Após discorrer sobre a legitimidade ativa ad causam, a adequação do

habeas coletivo, as autoridades impetradas e os apenados beneficiários da

medida postulada, o Impetrante traçou um panorama da histórica precária

situação dos presídios brasileiros, defendendo uma potencialização do risco

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de morte dela derivado pela epidemia de Covid-19, bem como apontou uma

resistência generalizada por parte dos órgãos julgadores em acolher a

Recomendação 62/2020 do CNJ, que sugere aos tribunais e magistrados a

adoção de medidas preventivas à propagação da infecção pelo novo

coronavírus no âmbito dos sistemas de justiça penal e socioeducativo.

Ao final de sua exposição, requereu:

a – a concessão da medida liminar, com a imediata concessão da


liberdade provisória ou a colocação em prisão domiciliar dos
pacientes enquadrados nas condições cumulativas apresentadas no
corpo da peça, quais sejam: i) estejam colocados em presídios acima
de sua capacidade; ii) integrem o chamado grupo de risco (idosos e
pessoas com comorbidades) e iii) não estejam presos por crimes
praticados com violência ou grave ameaça;
b – a oitiva das autoridades coatoras e da Procuradoria-Geral da
República, caso se entenda necessário;
c – a concessão defnitiva da ordem, com a confrmação da liminar
deferida;

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d – a intimação pessoal da Defensoria Pública-Geral da União de


todos os atos do processo.

Reputando necessários maiores esclarecimentos sobre a matéria

posta em juízo, essa relatoria determinou fossem oficiados o Superior

Tribunal de Justiça, o Conselho Nacional de Justiça, o Departamento

Penitenciário Nacional, o Juízo da Unidade Regional de Departamento

Estadual de Execução Criminal (DEECRIM) 10ª RAJ da Comarca de Sorocaba

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e o Diretor do Presídio de Sorocaba/SP.

Ainda consta do aludido despacho, datado de 21 de outubro de

2020, o seguinte: “Com a vinda das informações e da manifestação da DPU, dê-se

vista à PGR para manifestação no prazo de 48 (quarenta e oito) horas. Por fm,

voltem-me os autos conclusos“.

Na sequência, as autoridades impetradas prestaram informações e

anexaram aos autos os documentos tidos por pertinentes.

Mais adiante, determinou-se a intimação do Impetrante para que se

manifestasse sobre a documentação juntada nas informações.

Foi, então, mais uma vez, aos 14 de dezembro de 2020, determinada

a abertura de vista a esta PGR, para manifestação no prazo de 48 horas.

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Sobreveio petição da DPU, por meio da qual, após avaliar o

conteúdo das informações, reafirmou a necessidade de concessão da ordem

nos termos postulados.

O eminente Relator, por seu turno, a despeito da inexistência de

manifestação deste órgão ministerial, que somente toma ciência dos

presentes autos eletrônicos nesta ocasião, destacando o perigo da demora e

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superando as questões preliminares, deferiu parcialmente a liminar diante da

plausibilidade jurídica do pedido, cabendo reproduzir da parte dispositiva do

pronunciamento correspondente os seguintes excertos:

Ante o exposto, diante da persistência agravada do quadro


pandêmico da emergência sanitária decorrente da Covid-19,
presentes a plausibilidade jurídica do pedido e o perigo de lesão
irreparável ou de difícil reparação a direitos fundamentais das
pessoas levadas ao cárcere, para fns da efetividade da Recomendação
nº 62/2020 do CNJ, observado o contido no art. 5º-A nela incluído
pela Recomendação n.º 78/2020, DEFIRO, em parte, a medida
liminar, ad referendum da Segunda Turma, nos termos seguintes
termos:
Quanto à progressão antecipada da pena: DETERMINAR que
os juízes de execução penal do País, de ofício ou mediante
requerimento das partes, desde que presentes os requisitos subjetivos
(art. 112, § 1º, da LEP), concedam progressão antecipada da pena aos
condenados que estejam no regime semiaberto para o regime aberto
em prisão domiciliar e que, cumulativamente, atendam aos seguintes
requisitos: i) estejam em presídios com ocupação acima da capacidade
física; ii) comprovem, mediante documentação médica, pertencer a

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um grupo de risco para a Covid-19 conforme contido no art. 2º, § 3º,


da Portaria Interministerial n.º 7, de 18 de março de 2020; iii)
cumpram penas por crimes praticados sem violência ou grave ameaça
à pessoa, exceto os delitos citados no art. 5º-A da Recomendação n.
62/2020 do CNJ (incluído pela Recomendação n. 78/2020 do CNJ);
iv) faltem 120 (cento e vinte) dias para completar o requisito objetivo
para a progressão do regime semiaberto para o aberto (art. 112 e
parágrafos da LEP).
As condições do regime aberto em prisão domiciliar serão
fxadas pelo juízo da execução penal respectivo.
Na apreciação dos processos individuais, não obstante, o juízo

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competente, caso entenda adequado, poderá deixar de conceder ao
condenado em cumprimento de pena em regime semiaberto a
progressão antecipada para o aberto em prisão domiciliar, caso
objetivamente presentes as seguintes hipóteses cumulativas: 1)
ausência de registro de caso de Covid-19 no estabelecimento prisional
respectivo; 2) adoção de medidas preventivas ao novo coronavírus
pelo presídio; 3) existência de atendimento médico adequado no
estabelecimento prisional. Alternativamente, o juízo competente, na
apreciação dos processos individuais, poderá deixar de conceder a
progressão ao regime aberto em prisão domiciliar, caso presentes
situações excepcionalíssimas que demonstrem objetivamente a
ausência de risco concreto e objetivo à saúde do detento na hipótese
de sua manutenção no cárcere e que o regime aberto em prisão
domiciliar, ainda que com monitoração eletrônica, mostra-se
manifestamente inadequado ao caso concreto e causa demasiado risco
à segurança pública.
Quanto à prisão domiciliar e à liberdade provisória:
DETERMINAR que os juízes singulares e os Tribunais do País
quando emissores da ordem de prisão cautelar, de ofício ou mediante
requerimento das partes, concedam prisão domiciliar ou liberdade
provisória, ainda que cumuladas com medidas diversas da segregação
(art. 319 do CPP), a presos que, cumulativamente, atendam aos

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seguintes requisitos: i) estejam em presídios com ocupação acima da


capacidade física; ii) comprovem, mediante documentação médica,
pertencer a um grupo de risco para a Covid-19 conforme contido no
art. 2º, § 3º, da Portaria Interministerial n.º 7, de 18 de março de
2020; iii) não estejam presos por crimes praticados sem violência ou
grave ameaça, exceto os delitos citados no art. 5º-A da Recomendação
n. 62/2020 do CNJ (incluído pela Recomendação n. 78/2020 do
CNJ).
As condições da prisão domiciliar e da liberdade provisória,
inclusive, a eventual cumulação de medidas cautelares diversas da
prisão (art. 319 do CPP), serão defnidas pelos juízos de origem ou

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Tribunais quando emissores da ordem de prisão.
Na apreciação dos processos individuais, não obstante, o juízo
competente, caso entenda adequado, poderá deixar de conceder a
prisão domiciliar ou a liberdade provisória, caso objetivamente
presentes as seguintes hipóteses cumulativas: 1) ausência de registro
de caso de Covid-19 no estabelecimento prisional respectivo; 2)
adoção de medidas de preventivas ao novo coronavírus pelo presídio;
3) existência de atendimento médico no estabelecimento prisional.
Alternativamente, o juízo competente, na apreciação dos processos
individuais, poderá deixar de conceder prisão domiciliar ou liberdade
provisória, caso presentes situações excepcionalíssimas que
demonstrem objetivamente a ausência de risco concreto e objetivo à
saúde do detento na hipótese de sua manutenção no cárcere e que a
soltura, mesmo com imposição de medidas cautelares diversas à
prisão (art. 319 do CPP), mostra-se manifestamente inadequada ao
caso concreto e causa demasiado risco à segurança pública.
O órgão emissor da decisão no processo individual, em
analogia ao art. 316, parágrafo único, do CPP, deverá reavaliar a
presença dos critérios fxados na presente decisão, a cada 90 dias.
A presente medida liminar possui vigência até o fm da
situação de emergência de saúde pública decretada pela autoridade

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responsável (art. 1º, § 2ª, da Lei 13.979/2020) ou até decisão judicial


em sentido contrário.
Comunique-se, com urgência, os Tribunais de Justiça dos
Estados, os Tribunais Regionais Federais e o Superior Tribunal de
Justiça.
Consigno que, em caso de eventual descumprimento da
presente decisão, o instrumento cabível é o recurso apropriado, e não
a reclamação, conforme assentado, nos HC 143.641, relator Min.
Ricardo Lewandowski e HC 143.988, de minha relatoria.
Inclua-se em pauta, para fns de referendo desta medida
liminar, na imediata sessão virtual da Egrégia Segunda Turma com

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início em 05.02.2021.
Publique-se. Intime-se.
Brasília, 17 de dezembro de 2020.

Em face dessa decisão unipessoal é que se interpõe o presente

agravo regimental, com o fito obter a sua reversão mediante demonstração da

manifesta inadequação do Habeas Corpus e da impossibilidade de concessão

das medidas determinadas por essa ilustrada relatoria.

III – RAZÕES PARA A REFORMA DA DECISÃO RECORRIDA

Conforme relatado, apesar de o processo ter sido protocolado em

17/7/2020 e de ter sido determinada abertura de vista pelo Ministro Relator, a

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Procuradoria-Geral da República só foi intimada em 17/12/2020, ou seja uma

única vez em 5 meses.

Consta do decisum agravado, em relação à superação conjunta das

questões preliminares ao conhecimento da impetração, o seguinte:

Preliminarmente, cumpre destacar que o impetrante, mesmo que,

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minimamente, aponta decisões proferidas pelo Superior Tribunal de
Justiça, que, em sua compreensão, estariam a descumprir a
Recomendação n.º 62/2020 do CNJ. Argumenta, ainda, a resistência
dos Tribunais em aplicar referida Recomendação. Desse modo, ao menos
in status assertionis, a impetração comporta conhecimento no ponto.
Igualmente, o Supremo Tribunal Federal, em analogia com o
mandado de segurança de natureza coletivo (art. 5º, LXX, da CF), tem
admitido a impetração de habeas corpus coletivo para discutir
pretensões de natureza individual homogênea. Trata-se de uma forma
de prestigiar a isonomia na prestação jurisdicional e de facilitar o acesso
à Justiça. Nesse sentido: HC 143.641, rel. Min. Ricardo Lewandowski;
HC 165.704, rel. Min. Gilmar Mendes; HC 143.988, de minha
relatoria.
Assim, entendo que o presente habeas corpus, impetrado em favor
de todas as pessoas presas em locais acima de sua capacidade integrantes
de grupos de pisco para a Covid-19 e que não tenham praticado crimes
com violência ou grave ameaça à pessoa, merece ser conhecido.

Porém, algumas particularidades do caso deixaram de ser

consideradas, conforme se demostrará a seguir.

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Bem observou a Presidência desse STF, em despacho exarado durante

o período de férias forenses, que o Impetrante não demonstrou adequadamente,

de forma individualizada e fundamentada, quais juízos teriam deixado de

atender às recomendações e de que forma teria ocorrido a suposta

recalcitrância, não bastando, para fins de definição do polo passivo da ação,

sustentar a “resistência de diversos Juízos do país em aplicar a Recomendação 62/2020

do CNJ”.

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A doutrina é no sentido de ser “…inadmissível a impetração contra

autoridade coatora indeterminada, pois não haveria nem mesmo quem pudesse prestar as

informações. […] É preciso delimitar a responsabilidade do agente coator, a fm de saber

contra quem a ação mandamental deve ser proposta” (NUCCI, Guilherme de Souza.

Habeas corpus. 2. ed. rev., atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense, 2017).

No que diz respeito aos tribunais superiores, cujos atos se mostram

especialmente relevantes para fins de fixação da competência desse Supremo

Tribunal Federal para exame de Habeas Corpus (art. 102, inc. I, alínea “i”, da

CF/88), limitou-se a DPU a mencionar alguns poucos precedentes do Superior

Tribunal de Justiça.

A leitura das respectivas ementas evidencia que em tais processos o

Tribunal da Cidadania resolveu a controvérsia com base nas especifcidades

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dos casos concretos, de forma que os precedentes não podem, por si mesmos,

serem considerados “ato coator”, já que não têm o condão de caracterizar o

alegado aviltamento à Recomendação do CNJ.

Ao contrário, o Tribunal simplesmente realizou o cotejo entre a

realidade fática e a “norma” (Recomendação 62/2020) tida por aplicável, o que

levou, naqueles casos específicos, à não concessão da ordem postulada, senão

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vejamos.

No HC 576.805, após ponderada avaliação de cunho fático-probatório,

o STJ reconheceu a inexistência de risco diferenciado para a apenada, diante da

adoção, pelas autoridades impetradas, de medidas efetivas para o seu resguardo.

Já no HC 580.495, a Corte superior denegou a ordem após constatar

que o paciente não estava inserido em algum dos grupos de risco previstos na

Recomendação 62, nem em outras normas de combate ao novo coronavírus.

O HC 579.154 sequer chegou a ter seu mérito avaliado pelo STJ, diante

da falta de exaurimento da instância precedente (impugnação de decisão

singular).

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Em relação ao HC 583.801, decidiu-se no sentido da inexistência de

prova pré-constituída capaz de evidenciar a insuficiência das medidas adotadas

pelo estabelecimento prisional com vistas à prevenção do contágio pelo vírus.

Por derradeiro, no HC 570.002, a despeito dos óbices procedimentais

impeditivos ao conhecimento da ação constitucional (supressão de instância), a

Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, diante da notícia de que o paciente

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teria sido diagnosticado com a Covid-19, determinou a remessa dos autos para

imediata apreciação da possibilidade de aplicação ao caso da Recomendação

62/2020 do CNJ pelo Juízo da Comarca.

Por outro lado, o Superior Tribunal de Justiça, por meio da Terceira

Seção, em recente julgamento de Habeas Corpus coletivo, com fundamento nas

sugestões constantes da Recomendação 62/2020 do Conselho Nacional de

Justiça, determinou a solturade todos os presos do país que tiveram liberdade

condicionada ao pagamento de fiança1.

Aliás, a mesma razão decisória (medida preventiva à Covid-19) já

havia sido empregada anteriormente pelo STJ em relação àqueles que se

1 https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/14102020-STJ-
confirma-decisao-que-mandou-soltar-todos-os-presos-do-pais-que-tiveram-liberdade-
condicionada-a-fianca.aspx

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encontravam presos por força de decretos de prisão civil decorrentes de dívida

de alimentos2.

Como se nota, o Superior Tribunal de Justiça tem se mostrado sensível

às recomendações provenientes do CNJ, razão pela qual não pode figurar como

autoridade coatora, tampouco podem suas decisões serem consideradas ilegais

ou abusivas.

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Dito de outra maneira, não logrou o Impetrante demonstrar a

inobservância, geral e contumaz, pelo STJ, da Recomendação sob análise, o que

afasta a competência dessa Corte Suprema.

Sabe-se que a ilegalidade arguida em Habeas Corpus há de ser patente,

manifesta, incontroversa, diante da inexistência de fase instrutória. O

reconhecimento da ilegalidade em caráter liminar, como verificado, exige

diferenciado grau de plausibilidade jurídica acerca da alegada irregularidade da

situação posta nos autos.

A jurisprudência desse STF há muito está firmada no sentido de que

“o deferimento de liminar em habeas corpus constitui medida excepcional por sua

própria natureza, que somente se justifca quando a situação demonstrada nos autos

2 https://www.conjur.com.br/2020-mar-27/ministro-stj-estende-hc-todos-presos-divida-
alimentar

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representar, desde logo, manifesta ilegalidade ou teratologia, não sendo esse o caso

dos autos” (HC 173.055, 2ª Turma, Rel. Min. GILMAR MENDES, DJe 13.8.2020).

Também é preciso ter presente que a Recomendação 62 do CNJ,

independentemente de seus elevadíssimos propósitos, não tem o mesmo caráter

vinculante conferido a normas jurídicas cogentes. Sua eventual inobservância

por parte do STJ, neste momento admitida apenas por hipótese, não elevaria a

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Corte à condição de “autoridade coatora”, tampouco teria o condão de

caracterizar manifesta ilegalidade capaz de autorizar a liminar.

Sob outra perspectiva, é preciso reconhecer a inexistência de urgência

justificadora do provimento liminar, sobretudo à míngua de manifestação deste

órgão de atuação.

Conforme registrado na própria decisão agravada, os autos foram

distribuídos a essa relatoria em 17.7.2020, ou seja, há cinco meses. Durante a

marcha processual até aqui desenvolvida, por duas vezes foi determinada a

intimação desta PGR para manifestação sobre os termos da impetração, o que

evidencia a importância do parecer, sendo a primeira delas em 21 de outubro de

2020 e a outra em 14 de dezembro de 2020.

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Não obstante, embora trate-se de processo que tramita pelo meio

eletrônico e a despeito da relevância da matéria de fundo e da abrangência do

pedido formulado, em nenhum momento os autos foram remetidos, sendo

este o primeiro contato do Ministério Público com as alegações do Impetrante.

Ausente o requisito alusivo ao periculum in mora, como facilmente

depreendido do próprio andamento processual, não se sustenta a decisão

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concessiva da liminar.

Sob a perspectiva da plausibilidade do direito invocado, é preciso

atentar para as informações prestadas pelo DEPEN, segundo as quais “a

(indesejada) taxa de mortalidade por Covid-19 no sistema prisional brasileiro é de 0,09

por 1000 presos, o que signifca que o Brasil está com índices menores do que o de países

como Canadá (0,33), Estados Unidos (0,34), Argentina (0,12) e Bolívia (1,46)”, dado

que enfraquece sobremaneira o argumento central da impetração.

Consoante apontado naquelas informações, calcadas em estudos

técnicos realizados por especialistas, o divisado agravamento significativo do

número de pessoas contaminadas no sistema prisional “não encontra respaldo no

acompanhamento periódico realizado pelo Departamento Penitenciário Nacional”.

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Merece destaque, da mesma forma, o dado constante das informações

prestadas pelo Conselho Nacional de Justiça, no sentido de que, após a chegada

da Covid-19 ao sistema carcerário, “tanto nos presídios quanto fora deles, o número

de ocorrências evoluiu de forma similar, com um crescimento exponencial seguido de

gradual desaceleração”, o que também infirma a alegação de diferenciado risco

àqueles que se encontram acautelados em unidades de privação de liberdade.

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De mais a mais, esse Supremo Tribunal Federal, nos autos da ADPF

347, negou referendo à medida cautelar que havia sido deferida pelo Ministro

Marco Aurélio, por meio da qual determinara aos Juízes de Execução a ampla

revisão de prisões em razão do quadro de pandemia causado pelo novo

coronavírus.

Na ocasião, prevaleceu o entendimento segundo o qual cada situação

deve ser avaliada de forma particularizada, conforme, não custa repetir, parece

estar sendo empreendido pelo Superior Tribunal de Justiça nos casos que

chegam ao seu conhecimento.

Oportuna a transcrição do seguinte trecho do voto condutor proferido

pelo Ministro Alexandre de Moraes naquela ADPF:

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Da mesma forma, do ponto de vista material, em que pese a preocupação


de todos em relação à situação do Covid-19 nas penitenciárias, o que há
na medida cautelar, ao conclamar o Juízo de Execuções, acaba sendo
uma determinação para que se realize, eu diria, uma megaoperação para
analisar detalhadamente, em um único momento, todas essas
possibilidades. Ou seja, não se aguardar caso a caso, como a resolução
do Conselho Nacional de Justiça assim determinou.

Os pedidos de soltura ou progressão de regime hão de ser analisados

de forma individual, sem fórmulas ou regras generalizantes, como pretende a

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DPU, sob pena de violação ao princípio da individualização da pena.

A propósito da imprescindibilidade dessa análise particularizada,

apesar da gravidade da situação causada pelo novo coronavírus, assim decidiu a

Ministra Rosa Weber ao negar seguimento ao HC 189.039:

Ao exame dos autos, não detecto a ocorrência de situação


autorizadora do afastamento do mencionado verbete, pois, de acordo
com o ato dito coator, “Inicialmente, cabe destacar que o paciente
cumpre pena em regime fechado, circunstância que, por si só, já obsta a
concessão do benefício, uma vez que o art. 117 da LEP somente admite a
prisão domiciliar para os condenados que estejam cumprindo pena em
regime aberto. Na hipótese, apesar de o sentenciado fazer parte do grupo
de risco, uma vez que possui 68 (sessenta e oito) anos de idade, esse fato
não lhe garante o direito automático de ser colocado em regime de prisão
domiciliar, até mesmo porque o sistema prisional onde se encontra
recolhido vem adotando medidas necessárias para o seu isolamento
social do público em geral, como também não há comprovação de que
houve comprometimento de seu estado de saúde, o que afasta o pleito de

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prisão domiciliar. Registre-se, por oportuno, que as autoridades


sanitárias e a administração das Penitenciárias vem implementando
medidas necessárias para evitar a disseminação do Covid-19 nos
presídios”.
Em situações tais, a Recomendação 62 do CNJ não sinaliza
para a imediata revogação ou substituição das prisões
cautelares e das prisões-pena, apenas concita os magistrados a
adotarem ações contra a disseminação da pandemia do novo
coronavírus, sem prescindir, contudo, da análise
individualizada -, ou seja, em cima de casos concretos - sobre
situações particularizadas de prisão provisória ou de execução

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penal (artigo 4º).
Nesse espectro, “[a] crise sanitária decorrente do novo
coronavírus é insufciente a autorizar o recolhimento em
domicílio” (HC 183.140/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, 1ª Turma,
unânime, j. 15.6.2020); “a referida Resolução não recomenda a
automática conversão da prisão preventiva em domiciliar.
Devem ser tidos em conta, entre outros fatores, a situação
pessoal do preso, o crime de que é acusado, a situação do
estabelecimento prisional etc.” (Ext 1.270, Rel. Min. Roberto
Barroso, decisão monocrática, DJe 29.5.2020). (HC 189.039/PI, DJe
2.9.2020)

Em outra oportunidade, o Ministro Nunes Marques, indeferindo a

ordem postulada no HC 190.301, destacou a necessidade de avaliação das

condições do atendimento médico disponibilizado na unidade prisional,

confirmando ser específica a análise de cada situação, verbis:

Para além disso, melhor sorte não socorre a parte impetrante no


que toca à pretendida substituição da pena privativa de liberdade

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imposta à paciente por prisão domiciliar, com fundamento na


Recomendação nº 62/2020 do Conselho Nacional de Justiça.
Em decorrência da circunstância de pandemia provocada pelo
novo coronavírus (COVID-19), o Conselho Nacional de Justiça editou a
Recomendação nº 62/2020 com o objetivo de reduzir os riscos de
disseminação do vírus à população privada de liberdade.
Tal o contexto, verifco que a decisão ora impugnada, ao avaliar a
pretensão da paciente com fundamento na Recomendação nº 62/2020 do
Conselho Nacional de Justiça, ressaltou “(…) que a paciente não logrou
êxito em comprovar que se encontraria em situação de vulnerabilidade
que pudesse ensejar, de forma excepcional, a concessão do pedido, não

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fazendo jus, portanto, à prisão domiciliar”.
No caso em espécie, não vislumbro demonstradas pela parte
impetrante a existência de diagnóstico suspeito ou confrmado
de infecção do paciente pelo novo coronavírus ou a
impossibilidade de atendimento médico na respectiva unidade
prisional aptas a merecerem o alcance da Recomendação n°
62/2020 do Conselho Nacional de Justiça.
Nesse mesmo sentido se encontra consolidado o entendimento
jurisprudencial desta Suprema Corte, conforme ilustram, em casos
fronteiriços, os seguintes acórdãos: HC 188.716-AgR/SP, Ministro
Celso de Mello; HC 189.421-ED/SP, Ministro Alexandre de Moraes;
HC 189.752/SP, Ministro Marco Aurélio, HC 191.080-AgR/SP,
Ministra Cármen Lúcia. (HC 190.301/SP, DJe 4.12.2020)

Outra não foi a razão decisória empregada pela Ministra Rosa Weber

ao negar seguimento ao HC 190.289:

Nesse contexto, descabe a invocação da Recomendação 62 do CNJ


para alcançar o benefício da prisão domiciliar. Além da gravidade dos
delitos imputados - de natureza sexual que tiveram como
vítimas seus próprios flhos, à época dos fatos com apenas 03 e

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05 anos de idade -, não está comprovada a situação de


vulnerabilidade concreta do paciente e inexistentes indicativos
de negligência de medidas mitigadoras/preventivas quanto à
disseminação do vírus por parte do estabelecimento prisional
(ao contrário, há registro de assistência médica regular no
presídio em favor do Paciente). De acordo com o magistrado de
primeiro grau, o “apenado apresenta quadro de hipertensão sistêmica
desde os 14 anos de idade, pelo que verifca-se que convive com essa
doença a maior parte da vida, pelo que vem recebendo tratamento
adequado dentro da casa penal e sendo autorizada a realização de
exames”, inclusive, “acompanhamento pela equipe multidisciplinar e

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medicação para tratamento da doença”. (HC 190.289/PA, DJe
12.11.2020)

No exame da eficácia e da extensão do direito à saúde da população

carcerária também devem ser sopesados, por exemplo, os direitos dos cidadãos

em liberdade, o direito fundamental à segurança pública e o direito das vítimas.

Ademais, não há como assegurar que os apenados eventualmente

liberados mediante ações coletivas respeitarão as recomendações gerais voltada

para a prevenção da disseminação do vírus, como isolamento social e uso de

máscara de proteção facial.

Forçoso concluir pela ausência do requisito atinente ao fumus boni

juris (no pedido do habeas corpus), o que também evidencia a necessidade de

reconsideração da decisão impugnada.

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Conforme recentemente pontuado por Vossa Excelência

…o deferimento da medida liminar, resultante do concreto exercício do


poder geral de cautela outorgado aos juízes e tribunais, somente se
justifca em face de situações que se ajustem aos seus específcos
pressupostos: a existência de plausibilidade jurídica (fumus boni juris),
de um lado; e a possibilidade de lesão irreparável ou de difícil reparação
(periculum in mora), de outro. Sem que concorram esses dois requisitos,
essenciais e cumulativos, não se legitima a concessão da medida liminar.
(RHC 194.811 MC, DJe 16.12.2020)

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Por fim, o periculum in mora e o fumus boni iuris estão evidenciados no

caso e a manutenção da decisão, sobretudo por ter sido proferida às vésperas do

recesso forense, oferece risco de lesão grave à ordem e à segurança pública.

IV – PEDIDO

Em face do exposto, o PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA

requer seja exercido o juízo de reconsideração, para que seja revogada a decisão

pela qual determinada a concessão de progressão antecipada da pena e de

prisão domiciliar ou liberdade provisória.

Caso assim não entenda, requer a imediata concessão de medida

liminar, para se obtar os efeitos da decisão monocrática, até exame do recurso

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pelo órgão colegiado, com o conhecimento e provimento do agravo regimental,

para que seja revogada a decisão liminar e mantido o status quo ante até o

julgamento de mérito da ação constitucional de Habeas Corpus.

Brasília, data da assinatura digital.

Augusto Aras
Procurador-Geral da República

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Assinado digitalmente

VOL/AALT

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