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A face perversa da Plataforma Lattes | Questão de Ciência https://www.revistaquestaodeciencia.com.br/questao-de...
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A face perversa da Plataforma Lattes | Questão de Ciência https://www.revistaquestaodeciencia.com.br/questao-de...
Lattes com baboseira, porque capta recursos facilmente. Agora, quem não
publica bem e não é citado precisa encher linguiça, para tentar confundir os
revisores externos das agências de fomento, na esperança de captar uma
granazinha. Um pesquisador sério trata o Lattes como um cartão de visita;
somente coloca a verdade e mais nada, pois não precisa enganar ninguém. Mas
um menos sério pode não fazer isso”.
Ou seja, acrescenta, volta-se ao método pelo qual alguns currículos Lattes são
formados. “O chefe do laboratório acolhe um pesquisador júnior, que produz
ciência e o nome do pesquisador sênior é incluído nas publicações, mesmo que
ele tenha apenas emprestado as instalações e não tenha tido qualquer
participação na elaboração do trabalho e revisão do manuscrito”, explica. “Acho
que o Lattes e a cultura de alta produtividade talvez tenham sido os maiores
responsáveis por abortar carreiras promissoras, e gerar desvios de conduta por
parte de nossos pesquisadores”.
Defesa
Há pesquisadores renomados e importantes que defendem a plataforma e listam
seus aspectos positivos. É o caso, por exemplo, do médico e bioquímico Walter
Colli, do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (IQ-USP). “O Lattes
foi uma grande inovação porque elimina a burocracia”, elogia. “Quem tem que
exercer a crítica é quem está buscando o currículo de alguém. É apenas uma
fonte de informação, e todos sabem que é necessário conferir todos os dados”.
Colli chama atenção para o fato de o currículo Lattes não ser um documento
registrado em cartório, com firma reconhecida. É apenas um ordenamento
daquilo que seu autor julga relevante para mostrar a quem se interesse. Por isso,
não descarta a possibilidade de que pesquisadores abasteçam seus currículos
com informações falsas. “Depende da pessoa”, diz. “O meu não tem nada de
duvidoso, nem o da maioria dos cientistas. Em alguns casos, pode acontecer.
Afinal, em todas as profissões há aqueles que fazem maquiagem de
informações”.
Mas, segundo ele, a falsidade não dura muito, e é logo descoberta. “O CNPq,
responsável por essa inovação, tem uma Comissão de Ética que está atenta a
fraudes, quando for provocada”, diz Colli. “O motivo de ser desta forma, de agir
só quando provocada, é explicável. Imagine-se montar uma burocracia só para
checar a veracidade das informações em cada currículo. A responsabilidade, em
cada um, é exclusivamente de seu autor. A Plataforma Lattes é apenas uma
correia de transmissão para informar e facilitar avaliações”.
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Sobre publicações sem relevância, ele diz que o desonesto pode colocar o que
quiser em currículo. “Mas nesse caso se aplica fortemente o dito: ‘a mentira tem
perna curta’, conforme visto por algumas declarações falsas por alguns políticos,
que inventam cursos no exterior, por exemplo”, explica. “Como qualquer
currículo, depende da honestidade do profissional e sempre devemos cruzar com
outros bancos de dados. Isso é extremamente fácil de fazer hoje”.
'De acordo com ela, a plataforma passou por várias alterações e melhorias desde
que foi lançada. “Uma delas é a aba ‘atividades que impactam a sociedade (ou
algo assim)'”, explica. “Nela, o pesquisador seleciona àquelas atividades que são
ligadas ao impacto e real contribuição à sociedade. Claro que há um fator
subjetivo nisso, porque quem seleciona o impacto na sociedade é o próprio
cientista. Mas não vejo problemas nisso”.
Grace acrescenta que outra conquista recente foi a de adicionar aos currículos de
mulheres o período em que foram mães. “Isso é importante, para que quando
essas pesquisadoras tiverem seus currículos analisados se possa traçar uma
possível queda de produção com o tempo da maternidade. Mas isso ainda não
entrou em vigor”, explica.
A colocação do "índice h" foi mais uma mudança, assim como o número de
citações em diferentes plataformas mundiais. O índice h, ou h-index em inglês, é
uma proposta para quantificar a produtividade e o impacto de cientistas
baseando-se nos seus artigos mais citados. “Isso acompanha a tendência
mundial de que além dos números de publicações, é preciso ter um referencial
de quanto o seu paper é citado, o que indica ou sinaliza o impacto na
comunidade científica”, conta Grace.
Para Clement, toda dessa discussão tem a ver com algo óbvio: a comunidade
acadêmica brasileira é uma amostra da sociedade brasileira como um todo.
“Tem gente séria, competente, inteligente e tem pessoas incompetentes, burras,
sem seriedade”, explica. “O Lattes é uma amostra disso. Não ajuda que o CNPq
nunca publicou um manual de uso, e não tem uma norma pública de exigir
correção de erros. Algumas universidades elaboraram manuais de uso para
ajudar seus professores e alunos, mas nunca ouvi de uma universidade ter uma
norma exigindo correções de erros. O sistema parte do pressuposto que o
cidadão é honesto. A maioria é, mas os não honestos levantam todo deste tipo de
dúvida”.
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