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FACULDADE DE EDUCAÇÃO
NITERÓI
2010
2
Niterói
2010
3
SUMÁRIO
Página
DEDICATÓRIA .............................................................................................. 1
AGRADECIMENTOS .................................................................................... 2
RESUMO ....................................................................................................... 3
REFERÊNCIAS .............................................................................................143
ANEXO I ........................................................................................................153
ANEXO II .......................................................................................................156
6
AGRADECIMENTOS
RESUMO
OYAMA, Edison Riuitiro. Lenin, educação e revolução na construção da
República dos Sovietes. Orientador: José dos Santos Rodrigues. Niterói-RJ/UFF,
26/01/2010. Tese (Doutorado em Educação), 165 páginas. Campo de Confluência:
Trabalho e educação; Linha de Pesquisa: O mundo do trabalho e a formação
humana.
Nosso propósito com a presente tese foi investigar o tema educação escolar
e revolução social num contexto histórico determinado, qual seja, o período
imediatamente posterior à eclosão da Revolução Russa de Outubro de 1917,
examinando quais eram os objetivos e as ações de Vladimir Ilich Ulianov (Lenin) no
campo da educação. Para tanto, empreendemos uma pesquisa de natureza
bibliográfica, sendo que as fontes empíricas compulsadas foram os textos e obras
de Lenin referentes à educação. Além destas, também recorremos a informações
pertinentes à história da revolução russa, ao período do “comunismo de guerra” e da
Nova Política Econômica, bem como a biografias e estudos de especialistas em
Lenin. Por sua vez, o conteúdo do trabalho trata: dos aspectos natureza histórica,
política e sociológica relacionados ao Outubro de 1917 e da análise propriamente
dita do tema Lenin e a educação – antes e depois de 1917. Mas, se em seu
delineamento inicial, o estudo se restringia aos anos de 1917-1924, com o
desenvolvimento da pesquisa percebemos que excluir uma análise referente ao
período anterior a 1917 comprometeria o entendimento mais abrangente do que
significou a educação para Lenin. Desse modo, no período anterior à insurreição de
1917, investigamos a questão da educação política das massas e as disputas com
os “populistas” russos. Após o Outubro de 1917, pesquisamos sobre os esforços da
República dos Sovietes na erradicação do analfabetismo; o Programa do Partido
Comunista Russo de 1919 para a educação e a politecnia. Ao final, deduzimos que:
a educação assumiu grande importância e papel de destaque no que se refere à
educação política das massas e na preparação da revolução bolchevique; no
processo de consolidação da revolução; de (re) construção econômica e
implantação das bases para construção da futura sociedade comunista. Concluímos
também que: a educação e a educação escolar participam necessariamente da luta
de classes em vários níveis e dimensões da realidade; a derrubada do poder político
na Rússia foi uma premissa para as transformações revolucionárias ocorridas
posteriormente no campo da educação soviética; educação e política são
9
1
Segundo Coggiola (2007, p.9), a primeira edição do Manifesto ocorreu em fins de fevereiro / início
de março de 1848, em Londres. Para este trabalho, nós consultamos a edição de março de 1998 da
Boitempo Editorial, atualmente em sua 5ª reimpressão.
2
Marx e Engels (2007a, p.52) escreveram no Manifesto: “[...] os comunistas podem resumir sua teoria
numa única expressão: supressão da propriedade privada.”
11
Desse modo, uma das formas pelas quais se mantém o poder político e
econômico é por meio da educação, dado seu caráter de mútua influência e relação
com os processos econômicos e políticos e sua vinculação com a luta de classes.
Em acréscimo às análises de Marx, Engels e Lenin, outros também já haviam
constatado: a educação na sociedade burguesa é uma educação burguesa. Em
outras palavras, “Enquanto existir uma sociedade de classes, a escola
inevitavelmente será uma escola de classes [...].” (SNYDERS, s.d., p.32).
Por conseguinte, é preciso reconhecer que o modo de produção capitalista
impõe determinações de natureza econômica e política à escola. Nesse sentido, é
3
Considerada uma obra inacabada, A ideologia alemã foi escrita durante os anos de 1845-1846 e
submetida para publicação. Contudo, diante da recusa para publicação do manuscrito, o texto foi
deixado de lado, sendo publicadas partes do texto original apenas na década de 20-30 do século XX,
por David Riazanov (ENDERLE, 2007).
12
O problema estava no ar: qual das duas coisas é mais importante? Qual o
primeiro a ser resolvido? Exatamente em 1869, [...] Marx, falando no
Conselho Geral da I Internacional, onde este problema já surgira,
reconhecia a particular dificuldade em abordá-lo:
“Exige-se, de um lado, uma mudança das condições sociais para
criar um sistema de instrução adequado e, do outro lado, um adequado
sistema de instrução para poder mudar as condições sociais”.
4
Supomos que o termo instrução pode ser tomado como sinônimo de educação escolar.
5
Nesta edição de A Ideologia Alemã, As Teses sobre Feuerbach foram publicadas como Anexo.
13
6
Na transcrição do texto nós suprimos as notas da Editora.
7
A título de exemplo, em nível de Brasil, referimo-nos ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra. No exterior, aos movimentos sociais localizados nas regiões de Chiapas e Oaxaca, no México.
8
Referimo-nos ao projeto de tese apresentado em nosso Exame de Qualificação, em agosto de 2008.
14
10
De acordo com Carr (1981, p.43 et seq), a promulgação da Constituição da República Soviética
Federal Socialista Russa (RSFSR) ocorreu em julho de 1918. Ao longo dos anos, foram incorporados
à RSFSR Azerbaijão e Ucrânia (1920), Bielo-Rússia, Armênia e Geórgia (1921). Em dezembro de
1922, os congressos das quatro repúblicas da RSFSR, da Ucrânia, Bielo-Rússia e Transcaucásia
reuniram-se separadamente e aprovaram a criação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
(URSS).
11
Na época, vigorava na Rússia o calendário juliano, com uma defasagem de treze dias em relação
ao calendário gregoriano, vigente nos países de capitalismo avançado, em suas áreas de influência e
respectivas colônias. Portanto, a insurreição bolchevique ocorreu em 25 de outubro de 1917, pelo
calendário juliano e a 07 de novembro, pelo calendário gregoriano. A República Soviética ajustou-se
ao calendário gregoriano a partir de 1º de fevereiro de 1918 (REIS FILHO, 2003, p.58).
12
Lenin faleceu em janeiro de 1924 e o seu último texto de que se tem notícia foi Melhor menos, mas
melhor, publicado em março de 1923.
16
Revisão da bibliografia
Na revisão da bibliografia pertinente ao tema Lenin e a educação,
inicialmente, nossa investigação teve como base dois documentos: a dissertação
intitulada Origem e desenvolvimento da educação na Rússia leninista (1917-1924):
reconstituição de seus traços centrais, de autoria de Elisa Mainardi (MAINARDI,
2001) e a tese intitulada Lenin e a educação política: domesticação impossível,
resgate necessário, cujo autor é Francisco Mauri de Carvalho (CARVALHO, F. M. de
2005a). Por conseguinte, constatamos que a produção bibliográfica em nível
nacional, na forma de teses e dissertações é deveras escassa, pois até o segundo
semestre de 2008 foram localizados apenas esses dois trabalhos13.
O curioso é que, quando se compara a produção bibliográfica que trata do
tema educação/pedagogia associada a nomes como Marx, Gramsci e até
Makarenko e Pistrak, em termos quantitativos, esta é bastante superior à produção
bibliográfica referente ao tema Lenin e a educação.
A título de exemplo analisemos a situação em relação a Marx.
Em seu competente trabalho de investigação sobre a existência de um
pensamento pedagógico em Marx e Engels, no contexto em que tal pensamento foi
gestado e anunciado, Nogueira (1993), em algumas de suas considerações finais
concluiu que o tema da educação e do ensino não é central na obra de Marx e
Engels, cujo tratamento, quando comparado ao de O Capital, está longe de ser
minucioso e sistemático. Mas a autora ponderou que é incontestável que a
educação e o ensino encontram-se presentes no conjunto da obra desses autores,
se bem que apresentando certas descontinuidades, ambiguidades e limitações, tais
como a ausência de análise: a) em relação à aplicabilidade das propostas
13
Nessa pesquisa inicial baseamo-nos nas seguintes fontes de informação: Banco de teses e
dissertações do portal Capes; Education Resources Information Center (ERIC); Banco de dados
bibliográficos de Universidades Públicas Estaduais e Federais do eixo Rio-São Paulo, Minas Gerais,
Rio Grande do Sul e Santa Catarina; Banco de dados bibliográficos da Biblioteca Nacional.
17
14
De acordo com Nogueira (1993, p.13), o livro Textos sobre educação e ensino (MARX; ENGELS,
2004) foi organizado e comentado por Roger Dangeville e publicado originalmente em francês, pela
Maspéro em 1976. O livro também foi publicado em português pela Editora Centauro. Trata-se de
uma antologia dos textos de Marx e Engels sobre a educação e ensino. Porém, a antologia compõe-
se de textos em que na maioria das vezes a relação com o tema da educação e o do ensino é apenas
marginal.
15
Partido Comunista da Rússia (bolchevique), ou PCR (b): consultar a nota 53.
18
16
Os termos leninista e leniniano foram empregados como sinônimos ao longo de nossa tese e
significam tão somente relativos a Lenin.
19
18
Sovietes dos Deputados Operários.
24
19
De acordo com Zizek, os trechos entre aspas foram extraídos do texto de Lenin Páginas de um
diário.
20
Sovietes: os conselhos dos sovietes surgiram pela primeira vez em outubro de 1905, em São
Petersburgo. Sua representação era constituída com base nas unidades de produção. Elegia-se um
delegado para cada quinhentos operários e seu mandato era revogável. Garantiu na prática a
liberdade de imprensa, organizou patrulhas para a proteção dos cidadãos, apoderou-se em parte dos
correios, dos telégrafos e dos trens e buscou estabelecer de fato a jornada de trabalho de oito horas.
Foi a organização mais adequada para a classe operária em sua luta independente, mostrando sua
potencialidade como organismo de poder operário e como alicerce para um novo tipo de Estado
(TROTSKI, 2007, p.23, nota 5).
21
Consultar o item 1.1.3 O comunismo de guerra.
25
Objetivos e justificativas
Em termos genéricos, nosso objetivo foi investigar o tema educação escolar
e revolução social, com relação às seguintes questões: quem vem antes, a
revolução ou a educação? Pode existir uma “educação revolucionária” antes da
revolução? A educação escolar participa da luta de classes? Em caso positivo, de
que forma? Ao vincularmos tais questões ao contexto da Revolução Russa de 1917,
propusemo-nos então a pesquisar: sobre a Revolução de Outubro, bem como refletir
a respeito das suas implicações, consequências e legado; sobre Lenin e os “estudos
leninistas da educação”.
Especificamente, nosso objetivo foi verificar o duplo e indissociável caráter
atribuído à educação por Lenin - as dimensões política e econômica -, considerando-
se a necessidade de consolidação do poder político do Estado proletário e de
reconstrução econômica da República Soviética, bem como a implantação das
bases materiais e culturais para a construção da futura sociedade comunista.
No plano político, em linhas gerais, tratava-se de consolidar o poder do
Estado proletário, mediante a destruição dos vestígios do poder czarista22 e burguês
e ao mesmo tempo, construir os fundamentos de uma futura sociedade comunista.
Assim, à educação caberia a tarefa de destruir os fundamentos da educação
22
Czarista, czarismo: regime caracterizado pelo poder absoluto do czar (TROTSKI, 2007, p.22, nota
4).
27
Aspectos metodológicos
Caracterização da pesquisa, fontes e limitações
Nosso trabalho pode ser caracterizado como sendo uma pesquisa
bibliográfica (GIL, 2002) e as fontes empíricas investigadas foram os textos e obras
de Lenin sobre a educação.
Quanto às limitações da pesquisa, referimo-nos à impossibilidade de
consulta à totalidade da obra de Lenin em russo, em função do tempo disponível
para realização de nosso trabalho e pelo desconhecimento do idioma russo. Quando
28
23
A título de ilustração, cite-se que Foster (2005, p.311 et seq) mencionou alguns acontecimentos
relacionados à prisão de Bukharin entre os anos de 1937-1938. Assim, de acordo com Foster,
Bukharin escreveu quatro manuscritos, que eram conhecidos apenas por Stalin e alguns carcereiros.
Os manuscritos não foram destruídos porque Stalin resolveu poupá-los (mas não poupou Bukharin,
nem a “velha guarda” do partido bolchevique, nem os que podem ser considerados verdadeiros
heróis da revolução), consignando-os ao seu arquivo pessoal. Tais documentos só foram
redescobertos no final da década de 1980, por meio de um assessor de Mikhail Gorbachev, sendo
publicados apenas em 1992, originalmente em russo (How it all began e Philosophical arabesques,
numa tradução em inglês).
24
A nosso ver sobre esta questão abrem-se muitas possibilidades de pesquisa historiográficas e
filológicas interessantíssimas. Contudo, os desafios são imensos: dominar o idioma russo; obter
acesso às fontes originais e de primeiríssima mão (os textos originais do próprio Lenin); obter acesso
às fontes do Instituto Marxismo-Leninismo da ex-URSS etc.
29
25
Sugerimos consultar o ANEXO I, no qual constam datas e informações resumidas sobre a biografia
de Lenin e sobre a história da Rússia referente ao período analisado por nós.
32
26
O domingo sangrento (ocorrido em 9 de junho de 1905, pelo calendário gregoriano) foi o estopim
da revolução de 1905. Tendo em mãos uma petição dos operários de São Petersburgo ao czar
Nicolau II – chamado de “o paizinho” - (jornada de trabalho de oito horas; reconhecimento dos direitos
dos operários; promulgação de uma Constituição que garantisse a separação entre Igreja e Estado;
mais democracia etc.), uma multidão de pessoas dirigiu-se pacificamente ao palácio do governo.
Foram recebidos a tiros e massacrados, com centenas de mortos e feridos. Ao massacre, somou-se o
descontentamento com a guerra russo-japonesa, deflagrando uma onda de greves e revoltas pelo
país (SERGE, 2007, p.54).
27
Referimo-nos ao motim do encouraçado Kniaz-Potemkim, ocorrido em 15 de junho de 1905, na
base naval de Kronstadt, a qual pertencia à frota russa do mar Báltico. O acontecimento inspirou a
realização do filme que se tornaria um clássico - O encouraçado Potemkim -, de Sergei Eisenstein.
Ver a Nota 29.
28
Carvalho, F. M. de (2005a) mencionou que as duas primeiras revoluções foram de caráter
democrático-burguês e a terceira, socialista.
29
O levante dos marinheiros de Kronstadt foi sufocado pela República Soviética à custa de muitas
vidas de ambos os lados e provocou profunda comoção tanto entre os bolcheviques quanto entre os
opositores da República Soviética. A revolta também tinha um sentido simbólico, posto que Kronstadt
tornou-se famosa na campanha contra o czarismo, quando da insurreição dos marinheiros do
encouraçado Potemkim em 1905.
30
Reis Filho (2003, p.41) mencionou que ocorreram verdadeiras “batalhas historiográficas”, a
propósito da natureza dessas revoluções. Foge ao escopo de nosso estudo penetrar em tal
discussão, porém, é oportuno citar que Reis Filho não compartilha da tese segundo a qual haveria um
encadeamento entre as revoluções, as quais ocorreram, até certo ponto, de forma espontânea e sem
qualquer determinação ou ação de partidos ou facções revolucionárias. Mas nem todos compartilham
dessa interpretação. No caso, citamos Deutscher (A revolução inacabada) Lenin (Cartas de longe e
Por ocasião do IV aniversário da Revolução de Outubro), Serge (O ano I da revolução russa) e
Trotski (A história da revolução russa).
31
Ao longo de nosso trabalho nos referimos à Revolução Bolchevique de Outubro de 1917 também
pelas expressões Revolução Russa de Outubro de 1917, Revolução de Outubro, Revolução de
Outubro de 1917, Outubro de 1917, O Outubro de 1917.
33
modo que “[...] seus traços característicos só podiam ser apontados em relação ao
curso mais amplo da história mundial [...]” (REIMAN, 1985, p.75).
Concordamos com Deutscher e Trotski, para quem o Outubro de 1917 foi,
genericamente, o resultado da contradição entre o desenvolvimento das forças
produtivas e suas correspondentes relações de produção, conforme o que fora
propugnado por Marx no seu famoso Prefácio de Para a Crítica da Economia
Política. Desse modo, para Deutscher (1968a, p.9), assim como nos antigos regimes
francês e inglês, foi o desenvolvimento do capitalismo na Rússia que gerou
contradições insanáveis numa estrutura social incapaz de contê-las. Por
conseguinte, as “[...] forças do progresso estavam de tal modo comprimidas no
espartilho da antiga ordem que teriam faltamente de explodir.” (Idem, ibidem, p.9).
A propósito, a concepção de Trotski se fundamenta naquilo que ele
denominou de lei do desenvolvimento desigual e combinado, a qual se aplicaria aos
países atrasados, quando ocorre uma combinação original dos elementos obsoletos
de uma sociedade com os mais avançados (TROTSKY, 1978a, p. 62). Tal lei “[...]
significa aproximação das diversas etapas [de desenvolvimento], combinação das
fases diferenciadas, amálgama das formas arcaicas com as mais modernas.” (Idem,
ibidem, p.25). Portanto, no caso da Rússia, seria a combinação de um país com “[...]
uma economia atrasada, uma estrutura social primitiva e [de] baixo nível cultural [...]”
(Idem, ibidem, p.23), que convivia com a penetração de uma industrialização
avançada, própria da Europa ocidental, nas grandes cidades russas.
Com relação ao contexto da Europa ocidental, a Revolução de Outubro é o
resultado das crises e do processo de desagregação que corroía o sistema
capitalista desde meados do século XIX, conforme escreveu Hobsbawm (1995,
p.62): “Parecia óbvio que o velho mundo estava condenado. A velha sociedade, a
velha economia, os velhos sistemas políticos tinham, como diz o provérbio chinês,
‘perdido o mandato do céu’. A humanidade estava à espera de uma alternativa.”
Porém, por que essa alternativa ao capitalismo ocorreu na Rússia e não em
outro país da Europa ou do mundo?
Porque, internamente, a Revolução Russa de outubro de 1917 foi o
resultado da confluência de uma série de aspectos: a existência de uma autocracia
violenta, cruel e repressiva, que garantia privilégios para a burocracia, a Igreja e
para si própria; uma sociedade baseada fundamentalmente numa economia rural e
estagnada; um campesinato pobre, faminto e inquieto; a emergência de
34
32
Petrogrado: desde 1703, data em que foi fundada, Petrogrado tinha o nome de São Petersburgo.
Seu nome foi mudado para Petrogrado (1914-1924), em função da guerra, posto que São
Petersburgo foi considerado muito germanizado. Teve o nome mudado para Leningrado (1924-1991)
e em 1991 voltou a ser São Petersburgo. São Petersburgo está localizada às margens do Rio Neva,
no Golfo da Finlândia, às margens do mar Báltico. Foi capital da Rússia por mais de duzentos anos e
deixou de sê-lo em 1918, após a Revolução de Outubro.
35
que novas condições e novas ideias tenham deixado entrever a perspectiva de uma
saída revolucionária [...].” (Idem, ibidem, p.416).
É sob tal perspectiva que a atuação do Partido Bolchevique33 foi crucial no
desenrolar da Revolução de Outubro. Segundo Serge (2007, p.76), as massas
populares russas tinham “[...] milhões de rostos; não são nada homogêneas; são
dominadas por interesses de classe, diversos e contraditórios; só alcançam a
consciência verdadeira – sem a qual nenhuma ação fecunda é possível – mediante
a organização.”
O que o Partido Bolchevique fez, ao longo dos anos, por meio de sua
inteligência coletiva, organização, disciplina, dedicação, ação entre o povo, foi
interpretar e dar vazão aos anseios e às necessidades dessa massa disforme e
anárquica. Ainda, nas palavras de Serge (ibidem, p.76):
[...] o que todos eles querem [o povo], o partido o exprime em termos claros
e o faz. O partido lhes revela aquilo que pensam. O partido é o vínculo que
os une a todos, de ponta a ponta do país. O partido é sua consciência, sua
inteligência, sua organização.
33
Partido bolchevique: consultar a nota 53.
36
34
Brunoviki: tropas de blindados. Era um regimento chave na consolidação da revolução, dias após a
insurreição de Outubro e antes da invasão de Petrogrado por Kerenski. Na prática, quem controlasse
os brunoviki controlaria Petrogrado.
35
Khanjunov: oficial que defendia a neutralidade do regimento brunoviki e consequentemente não
apoiava os bolcheviques.
36
Krilenko: Comissário do Povo para Assuntos Militares do governo revolucionário. Orador que pedia
o apoio dos brunoviki à causa revolucionária.
37
37
Para uma visão detalhada dos momentos decisivos que antecederam a insurreição, sugerimos
consultar A história da revolução russa (TROTSKY, 1978b), Capítulo IX – A insurreição de outubro,
no qual Trotski revelou as dificuldades de organização política e militar relativas à insurreição; a
posição contrária de Kamenev e Zinoviev; as exortações desesperadas de Lenin; as dúvidas atrozes
e as vacilações que dilaceravam os líderes da insurreição; os detalhes da logística e da organização
da insurreição etc.
38
Para mais detalhes, consultar no ANEXO II, onde reproduzimos integral ou parcialmente alguns
dos principais Decretos promulgados pelo Conselho dos Comissários do Povo.
39
O Conselho dos Comissários do Povo representou o primeiro governo da República Soviética e foi
instituído na sessão do II Congresso dos Sovietes de toda a Rússia, no dia 08 de novembro de 1917
(pelo calendário gregoriano), portanto, um dia após a derrubada do governo provisório de Kerenski
pelos bolcheviques. O nome Comissários do Povo foi sugestão de Trotski, em função do desgaste
relacionado aos termos governo e ministro.
38
42
Carr (1981) aludiu ao fato de que muitos decretos foram baixados, mas não cumpridos na prática.
Isso é previsível, posto que para uma lei ser cumprida não basta ela ser promulgada. Mas supomos
que havia dois propósitos relativos à promulgação dos decretos: 1) um propósito prático, qual seja, de
instituir uma ordem socialista, que foi alcançada em parte com os decretos e ações da República
Soviética; 2) um propósito simbólico: mostrar ao povo russo e ao mundo as ações e os rumos da
revolução.
43
Consultar Reed (1977), Serge (2007) e o ANEXO II.
41
44
O Tratado de Brest-Litovsk foi assinado na cidade de Brest-Litovsk, que fica na fronteira da Rússia
com a Polônia, em 3 de março de 1918, entre a Rússia soviética e a Alemanha e continha condições
42
muito duras para a Rússia. Pelo Tratado, a Rússia abria mão do controle sobre a Finlândia, Países
bálticos (Estônia, Letônia e Lituânia), Polônia, Bielorússia e Ucrânia, bem como dos distritos turcos de
Ardaham e Kars, e do distrito georgiano de Batumi. Estes territórios continham um terço da população
da Rússia, metade de sua indústria e nove décimos de suas minas de carvão. O governo soviético foi
obrigado a assiná-lo, posto que o exército czarista se desagregara e o exército vermelho apenas
começava a ser formado. A paz de Brest, apesar de suas condições leoninas, deu ao país dos
Sovietes o tempo necessário para acumular forças, derrotando depois a burguesia contra
revolucionária interna e a intervenção externa. Após a revolução de novembro de 1918 na Alemanha,
o Tratado de Paz de Brest-Litovsk foi anulado pelo Comitê Executivo Central de Toda Rússia.
(LENINE, 1980a, p.730, nota 354; LENIN, 1968, p.43, nota 42).
45
Na Primeira Guerra Mundial (agosto de 1914-novembro de 1918), lutaram de um lado as Potências
Centrais ou Tríplice Aliança (Impérios Alemão, Austro-Húngaro e Turco-Otomano) e de outro os
países da Entente (Grã-Bretanha, França e Império Russo, até 1917 e a partir de 1917 também
Estados Unidos) (PARKER, 1993, p.248-249).
43
46
A primeira edição do livro de Victor Serge data de 1930.
45
47
Serge (2003, p.135 et seq) relatou que logo após a destituição do governo provisório em outubro de
1917, a guarda vermelha revolucionária enfrentou alguns focos de resistência contra revolucionária
em Petrogrado, mas que foram debelados com relativa facilidade e os inimigos contra revolucionários
tiveram suas vidas poupadas. Foi um grave erro, pois os sobreviventes espalharam-se pelo país e
formaram novos focos de contrarrevolução que posteriormente vieram a receber apoio estrangeiro.
46
Nove (1986, p.108) declarou que o “[...] comunismo de guerra não foi
imposto como parte de um plano predeterminado.” Em sua totalidade, as ações
formavam um conjunto desesperado de expedientes em função da prioridade
absoluta destinada à guerra. A propósito, Lenin teria afirmado: “[...] tudo pela vitória
no fronte da guerra civil, e nada mais [...]”48 (LENIN, s.d. apud FERNANDES, 1978,
p.169). Ele também asseverou que o “[...] ‘comunismo de guerra’ foi-nos imposto
pela guerra e pela ruína. Não foi nem podia ser uma política que correspondesse às
tarefas econômicas do proletariado. Foi uma medida provisória.” (LENINE49 [escrito
em 21 de abril de 1921], 1980c, p.502).
Segundo Carr (1981, p.28), durante vários meses o regime viveu sem
qualquer planejamento. Não havia estratégia a longo prazo e as medidas eram
tomadas visando unicamente a sobrevivência imediata (HOBSBAWM, 1995, p.66 et
seq).
Nove (1986, p.108) também destacou o caráter ideológico do comunismo de
guerra, na medida em que alguns defendiam a ideia segundo a qual, através
daquelas práticas, ingressava-se num “atalho” para o comunismo, quando da
adoção da proibição do comércio privado e da eliminação do dinheiro. No plano
político, recrudesceu a centralização política e a hegemonia do partido único, que se
tornou sinônimo de Estado. Porém, a situação era clara: o comunismo de guerra foi
adotado não como um plano, mas como um conjunto de medidas para se vencer a
guerra.
48
Rapport d’activité politique du Comité Central du Parti Communiste (b) de Russie Le 8 mars. In:
LENIN. Oeuvres, v.32, déc. 1920 /août. 1921, p.176-199.
49
Sobre o imposto em espécie.
47
Sendo assim, esse sistema não poderia funcionar por muito tempo. As
requisições de alimentos à força e a proibição do comércio privado permitiram que o
governo controlasse as situações mais graves e emergentes, mas a longo prazo
essas ações agravaram e aceleraram a desintegração da economia. O camponês
começou a produzir apenas o necessário para sua sobrevivência e na medida em
que não havia alimento suficiente para a cidade, os fundamentos da civilização
urbana praticamente desabaram, de modo que:
modo, era preciso adotar medidas não para construir o socialismo, mas para matar a
fome e reconstruir o país. Tais medidas teriam nome: a Nova Política Econômica
(REIS FILHO, 2003, p.77 et seq).
A NEP não foi um modelo elaborado mais do que havia sido o comunismo
de guerra. As principais medidas adotadas foram: as requisições de alimentos foram
substituídas por um imposto em espécie e depois de pago o imposto, o excedente
poderia ser comercializado; restabelecimento da pequena propriedade privada na
indústria e serviços em geral. Isto é, foi permitido o comércio ao nível da produção e
da circulação de mercadorias (NOVE, 1986; REIS FILHO, 2003, p.77 et seq).
A ideia era fazer concessões e reativar o capitalismo, sob a tutela do Estado
proletário num país em que a terra, as fábricas e o sistema monetário haviam sido
estatizados. O princípio, “[...] portanto, era permitir o intercâmbio capitalista, apesar
de todos os riscos políticos aí envolvidos.” (RODRIGUES, L. M. e FIORE, 1978,
p.19). Lenin admitiu que a NEP era um retrocesso, pois haveria certo retorno ao
capitalismo, na medida em que o lucro, o livre intercâmbio de mercadorias, o
enriquecimento individual seriam permitidos e mesmo estimulados.
Seria um retrocesso ante as expectativas dos bolcheviques. Porém, na
50
Por via de regra, uma guerra civil resulta no monopólio do poder pelos
vencedores. O sistema de partido único converteu-se numa necessidade
inevitável para os bolcheviques. Sua própria sobrevivência e, sem dúvida, a
da Revolução, dependiam disso. Não visavam tal medida com
premeditação. Estabeleceram-na com apreensão, como um expediente
temporário. O sistema de partido único ia contra as inclinações, a lógica e
as ideias de Lenin, Trotski, Kamenev, Bukarin, Lunacharski, Rikov e tantos
52
outros. Mas a lógica da situação impôs-se e fez tábua rasa de suas ideias e
escrúpulos. O expediente temporário converteu-se em norma. O sistema de
partido único adquiriu uma permanência e um ímpeto próprios.
55
Para uma visão mais detalhada da análise de Lenin a respeito dos problemas relacionados ao
movimento operário, socialista e revolucionário europeu e russo ao final do século XIX – início do
século XX; bem como suas críticas acerbas contra as tendências reformistas, revisionistas e
economicistas existentes à época, recomendamos consultar Que fazer? e A doença infantil do
“esquerdismo” no comunismo.
54
Seu núcleo duro era composto por alguns jovens inteligentes, disciplinados e
dedicados até a alma à causa do socialismo e da revolução. Em seu conjunto, sob a
liderança de Lenin, Trotski, Krilenko e outros, o Partido formava um todo organizado
e combativo, disposto a ir às últimas consequências por seus ideais. “Essa é a
história não contada da Revolução de Outubro, o oposto do mito de um pequeno
grupo de revolucionários implacavelmente dedicados que deram um golpe de
Estado.” (ZIZEK, 2005, p.11).
Lenin se considerava um marxista e procurou ser um marxista ortodoxo. Ele
foi diretamente aos textos de Marx e Engels, estudando-os sistematicamente, mas
também procurou dominar os autores que fundamentaram as bases da formação do
marxismo, entre eles Hegel. Foi assim que sua primeira obra de fôlego, O
desenvolvimento do capitalismo na Rússia, evidenciou que Lenin detinha um
completo domínio crítico das teorias econômicas de Marx e do materialismo histórico
e que ele se sustentava nas teorias econômicas de Marx como hipóteses diretrizes,
assegurando um trabalho criativo aplicado à realidade russa (FERNANDES, 1978,
p.14).
Ele também detinha um agudo senso dialético, posto que a dialética exige
que “[...] um fenômeno social seja estudado sob todos os ângulos, e que a
aparência, o aspecto exterior seja reduzido às forças motrizes capitais, ao
desenvolvimento das forças produtivas e à luta de classes.”56 (LENIN, s.d. apud
FERNANDES, 1978, p.28). Nesse sentido, as estruturas não podem ser tomadas em
si e por si mesmas, mas como elementos dinâmicos, concretos, reais, em
movimento – as condições histórico-sociais concretas, cujos fundamentos seriam o
desenvolvimento das forças produtivas e a luta de classes.
Lenin não era daqueles que esperam o tempo certo, mas aquele que
percebe a perspectiva revolucionária como algo real que deve ser apreendida a
partir dos desvios e contradições do sistema. Era o tipo de homem que “faz história”,
isto é, age nos acontecimentos, modificando-os e transformando-os (ZIZEK, 2005,
p.14). Não se trata de subjetivismo voluntarista, mas da união indissolúvel entre a
aguda capacidade de apreensão e de intervenção no real.
56
LENIN. Oeuvres, v.21, août.1914/déc. 1915, s.d., p.221.
56
57
As tarefas imediatas do poder soviético.
58
Cartas de longe.
59
Por ocasião do IV Aniversário da Revolução de Outubro.
57
60
Gubernia - província ou unidade territorial e administrativa da Rússia. As gubernias dividiam-se em
uezdes (distritos), que por sua vez dividiam-se em vólosti (subdistritos). Este sistema prevaleceu de
1708 a 1929, quando houve uma reforma administrativa. (CARVALHO, F. M. de 2005a, p.13).
61
Ver a nota anterior.
58
62
As tarefas das uniões da juventude.
59
63
A propósito das palavras de ordem.
64
Umas das questões fundamentais da revolução.
61
65
Uma grande iniciativa.
66
A revolução russa e a guerra civil.
67
O Estado e a revolução.
62
68
O Estado e a revolução.
69
As tarefas das uniões da juventude.
63
todos iriam trabalhar pelo bem comum (LENIN70 [escrito em 28 de junho de 1919],
1968), pois o objetivo do comunismo é alcançar o maior desenvolvimento possível
das potencialidades do ser humano e das forças produtivas em favor da
humanidade. O objetivo do comunismo é alcançar a felicidade suprema do ser
humano (LUNATCHARSKI, 1988c).
Em função dessas proposições, os bolcheviques foram tachados de
utopistas, acusados de fazer promessas demagógicas sobre o comunismo. Contra
isso, Lenin objetou que o crucial é não ter essas concepções como dogmas e não
ater-se exclusivamente às palavras. O que importa é entender os graus de
maturidade econômica do comunismo, os processos e as etapas, posto que não
existem regras predeterminadas. Ou seja, por “[...] que etapas, através de que
medidas práticas a humanidade chegará a este fim supremo, não sabemos nem
podemos saber.” (LENINE71 [escrito entre agosto e setembro de 1917] 1980b,
p.289).
Sobre a revolução, ao escrever sobre as atividades do partido, o qual deve
desenvolver um trabalho sistemático, cotidiano e disposto a tudo, Lenin mencionou
que existiriam momentos de calma, repressão e explosão. Nesse sentido, “[...] a
própria revolução não deve ser imaginada como um ato único [...], mas como uma
rápida sucessão de explosões mais ou menos violentas, alternando com períodos de
calma mais ou menos profunda [...]” (LENINE72 [escrito no outono de 1901-fevereiro
de 1902], 1980a, p.204).
Em verdade, não podemos definir etapas fixas e predeterminadas no curso
de uma revolução. De modo diferente, ela é caracterizada pelas mudanças e
imprevisibilidade no curso da história. Com responsabilidade e dotado de grande
senso de realidade, Lenin declarou que primeiro (e mais importante) é conquistar o
poder político pela via revolucionária e depois vê-se o que é possível fazer
(LENINE73 [datado de 17 de janeiro de 1923], 1980c).
Ou seja, a revolução é imprevisível quanto aos seus desdobramentos e fins.
Ela define-se na luta, no seu devir.
70
Uma grande iniciativa.
71
O Estado e a revolução.
72
Que fazer?
73
Sobre a nossa revolução.
64
74
Por ocasião do IV aniversário da revolução de outubro.
65
situação econômica e social exigia que fossem feitas transformações, mas de outro,
a autocracia e aqueles em que ela baseava o seu poder não tinham intenção de
alterar o status quo. A opção foram as reformas, as quais ocorreram, mas não de
maneira a atender aos anseios e necessidades do povo em geral, o que gerou
descontentamento em alguns setores da sociedade ávidos por mudanças. Tal é a
origem dos movimentos revolucionários e terroristas de 1860-70, que de certo modo
foram os precursores dos partidos marxistas e revolucionários.
Tais reformas, mesmo que parciais e incompletas, abriram novos horizontes
à Rússia, com a ascensão de novas forças políticas, sociais e econômicas, que a
partir de 1890 propiciaram profundas transformações: intenso crescimento
demográfico e urbano (o que viria a exigir mais alimentos, transporte, saúde,
educação, habitação etc.); criação de uma rede de estradas de ferro; ativação do
comércio externo; aumento da produção de carvão, petróleo, cereais;
desenvolvimento da indústria de base. Por consequência, a burguesia se fortaleceu.
Também se formou uma articulação de capitais nacionais e internacionais
patrocinada, protegida e estimulada pelo Estado. Ou seja, a Rússia finalmente abria
as portas para o desenvolvimento do capitalismo, subordinando-o aos interesses do
Estado.
Houve muitos avanços, mas comparada com a Europa a Rússia era
atrasada, pois convivia com o desequilíbrio, o obsoleto e a carência da agricultura.
Isto é, o progresso econômico e social trouxe contradições insanáveis que foram o
combustível para as revoluções: “Assim, o influxo do capitalismo na Rússia, apesar
do progresso proporcionado, não foi capaz de resolver os problemas acumulados e
acentuou contrastes no processo de desenvolvimento econômico em curso.” (REIS
FILHO, 2003, p.32).
Portanto, na Rússia coexistia o que havia de mais avançado em termos do
capitalismo com o mais antiquado de civilização: exportava-se cereais e a população
passava fome; conviviam a aristocracia e o mujique semi servil. Existiam diferentes
“[...] etapas históricas, universos contraditórios, mas entrelaçados, integrados.”
(Idem, ibidem, p.32). De um lado, havia as elites reacionárias, sempre desejosas de
manter seu poder e contrárias ao desenvolvimento e à modernização. De outro,
apareceram as correntes liberais e revolucionárias.
69
[...] aos bolcheviques, acabar-se-á com eles por um destes dois processos
[explicitados a seguir]. O Governo pode evacuar Petrogrado, declarando em
seguida o estado de sítio, e o comandante militar do distrito pode tratar
desses senhores sem formalidades legais... Ou então, por exemplo, se a
Assembleia Constituinte manifestar quaisquer tendências utópicas, poderá
ser dissolvida pela força das armas... (Idem, ibidem, p.49-50, grifos do
77
autor)
77
Mais claro, direto e sincero impossível.
70
78
Kerenski: foi o chefe do governo provisório a partir de julho de 1917 e deposto pela Revolução de
Outubro de 1917. Destituído do poder, comandou a primeira tentativa armada de derrubar o poder
soviético, mas foi derrotado e fugiu para o exterior (REED, 1977, p.385).
71
presos. Aberto o cofre, este não tinha dinheiro, que fora levado pela administração
anterior. Nos Ministérios da Agricultura, Abastecimentos e Finanças o cenário era o
mesmo. Os funcionários não vinham trabalhar e quando o faziam era para sabotar.
79
Palácio Smólni: antigo colégio para moças da aristocracia russa. Após a insurreição de Outubro, foi
tomado como sede do governo proletário.
80
Imediatamente após a tomada do poder em outubro de 1917, organizaram-se grupos contra
revolucionários, um deles denominado Comitê de Salvação, cujo centro de atividade e organização
era a Duma Municipal de Petrogrado.
72
82
Simbirsk era uma pequena cidade que ficava às margens do Rio Volga. Mais tarde chamou-se
Ulianovsk. Lenin nasceu em Simbirsk em 10 de abril de 1870, com o nome de batismo Vladimir Ilich
Ulianov.
77
83
Para mais detalhes, consultar o item 2.3.1 As disputas com os populistas.
84
Idem à nota anterior.
78
85
Krupskaia . Na ocasião, ele pede inicialmente que seus comentários não sejam
publicados, mas em vista do contexto e das dificuldades relacionadas com a
implantação do ensino politécnico na URSS, após a morte de Lenin, Krupskaia
resolveu publicar o texto do seu companheiro.
Ou seja, apesar de não ser um especialista em educação, nem ter escrito
nenhum compêndio que tratasse dos aspectos técnico-metodológicos da instrução
ou da pedagogia, Lenin sempre se preocupou e teve destacada atuação na área
educacional. Na condição de Presidente do Conselho dos Comissários do Povo, ele
discutia no Comitê Central do Partido, participava e acompanhava tudo ou boa parte
do que ocorria no campo educacional, devido a sua relação com Krupskaia e
proximidade com Lunacharski (ROSSI, 1981). Ademais, Lenin também se informava
sobre os mais variados assuntos (incluindo-se a educação) junto às delegações e
representantes de camponeses e trabalhadores, que constantemente solicitavam
audiências com ele.
Foi assim que as concepções e as ações de Lenin para a educação
definiram as bases do primeiro período pós revolucionário na Rússia (1917-1930)
(CAMBI, 1999, p.558) e as diretrizes do que viria a ser o sistema educacional
soviético (MACHADO, 1991).
Todavia, a nosso ver os elementos biográficos não são suficientes para
explicar a preocupação, o envolvimento e as ações de Lenin no campo educacional.
Dessa forma, é preciso entender como os elementos de natureza política,
econômica e social se relacionam com a educação em Lenin.
85
Para mais detalhes, consultar o item 3.5.1 A politecnia: tarefas imediatas e mediatas.
79
[...] quanto ao seu serviço e missão.” (Idem, ibidem, p.21). Em segundo lugar, a
educação é determinada pelos objetivos imediatos ditados pela revolução socialista:
a “[...] liquidação dos inimigos capitalistas, das classes opressoras e dos contra
revolucionários de direita ou de esquerda.” (Idem, ibidem, p.21). Em última instância,
a liquidação total da sociedade capitalista e czarista em particular. É por isso que os
escritos de Lenin não se relacionavam com questões especificamente pedagógicas -
não que ele não tivesse consciência da importância do assunto - apenas que não
eram prioridade nem de seu conhecimento profundo.
Em seu prefácio, os editores do livro A instrução pública (LENINE, 1981, p.
3-11) corroboraram a tese segundo a qual Lenin atribuía grande significado à
educação do povo, focando as questões da instrução e da formação em relação às
tarefas políticas da classe operária e da construção da sociedade soviética nas
diferentes etapas de sua evolução.
Genericamente, Lenin se embasava nas seguintes premissas: o caráter
indissociável existente entre educação e política; o caráter classista da educação, de
modo que a educação necessariamente participa da luta de classes; a revolução
social é condição indispensável para que haja uma revolução na educação; os
problemas da educação não se restringem à educação escolar.
Considerando-se que um dos elementos que direciona o raciocínio e a ação
das classes dominantes é como fazer para manter e perpetuar o poder político e
econômico, é inegável que a educação, a pedagogia e a educação escolar estão
intimamente relacionadas com a luta de classes e com as formas pelas quais as
classes dominantes agem para manter e perpetuar o seu poder (PONCE, 2001,
p.169).
Desse modo, em mais de uma ocasião Lenin criticou o fato de que na
educação burguesa (e czarista) propunha-se apartar a educação da política e quais
eram os objetivos do capital com relação à formação humana:
86
pessoas exploradas e apoia com sinceridade a política soviética. (LENIN
[proferido em 14 de janeiro de 1919], 2002, p.1-2)
86
Speech at the second all-Russia Congress of Internationalist teachers.
87
Speech at the first all-Russia Congress on Education.
81
88
A propósito da questão da arte em geral no período da revolução, sugerimos consultar o
interessante artigo intitulado Arte e revolução (WILLETT, 1987).
89
As tarefas imediatas do poder soviético.
82
90
O título do livro de Yujakhov é Os problemas da educação. Experiências de ensaios sociais.
Reforma da escola secundária. Sistema e objetivos do ensino superior. Manuais para as escolas
secundárias. Problemas da instrução pública geral. A mulher e a instrução.
91
Pérolas da projetomania populista.
83
92
Russkoie Bogatstvo: revista mensal que foi publicada em São Petersburgo de 1876 a 1918. No
começo da década de 90 do século XIX, a revista passou a ser o órgão de divulgação dos populistas
liberais. (LENINE, 1981, p.141, nota 2).
93
Não tivemos acesso ao livro Os problemas da educação, de Yujakhov e portanto, não podemos
afirmar se o texto Uma utopia no campo. Plano de ensino secundário obrigatório compõe a referida
obra.
85
94
Por ocasião do IV aniversário da Revolução de Outubro.
86
95
Iskra (Centelha): primeiro jornal marxista ilegal da Rússia, fundado por Lenin em 1900, que
desempenhou papel decisivo na criação do partido marxista revolucionário da classe operária. Seu
primeiro número saiu a público em dezembro de 1900 em Leipzig. O Iskra converteu-se no núcleo de
unificação das forças do partido e de seleção e educação dos seus quadros. O Iskra começou a
sofrer influências mencheviques e em 1903 Lenin abandona sua redação e a partir de então os
mencheviques convertem o Iskra em seu próprio órgão de divulgação (LENINE, 1980a, p.698-699,
nota 103).
88
Desse modo, somente por meio de uma educação política das massas é que
estas vão adquirir consciência de todos os tipos de opressão, violência,
arbitrariedade e abusos que ocorram contra todas as classes (e não apenas contra a
classe operária) em todas as formas de manifestação da vida - intelectual, moral,
96
Que fazer?
97
Que fazer?
89
política, cultural etc. Só assim é que a classe operária adquire uma verdadeira
consciência política, pois é preciso conhecer, estar consciente de tudo: as relações
de classe, a opressão em todos os níveis e não apenas no nível econômico.
É por essa razão que a defesa pelos [por parte dos] nossos “economistas”
da luta econômica como o meio mais amplamente aplicável para integrar as
massas no movimento político é, pelo seu significado prático, tão
profundamente nociva e tão profundamente reacionária. Para se tornar um
social-democrata o operário deve ter uma ideia clara da natureza
econômica e da fisionomia política e social do latifundiário e do padre, do
dignatário e do camponês, do estudante e do vagabundo, conhecer os seus
pontos fortes e os seus pontos fracos, saber orientar-se nas frases mais
correntes e sofismas de toda a espécie com que cada classe e cada
camada encobre os seus apetites egoístas e as suas verdadeiras
“entranhas”, saber distinguir que interesses refletem estas ou aquelas
instituições e leis e como os refletem. E não é nos livros que se pode obter
essa “ideia clara”: só a podem dar quadros vivos, denúncias em cima dos
acontecimentos, de tudo o que sucede num dado momento à nossa volta,
do que todos e cada um falam, ou pelo menos, murmuram, à sua maneira,
do que se manifesta em determinados acontecimentos, números, sentenças
judiciais, etc., etc., etc. Estas denúncias políticas que abarcam todos os
aspectos da vida são uma condição indispensável e fundamental para
educar a atividade revolucionária das massas. (Idem, ibidem, p.129, grifos
do autor)
Dessa forma,
Finalmente:
98
As informações referentes às notas de números 99 a 115 (exceto as notas 101 e 112) de nossa
tese constam no livro A instrução pública.
99
O texto Em torno da política do ministério da instrução pública foi escrito por Lenin para ser lido por
um deputado bolchevique na Duma. O deputado Badáev pronunciou o discurso em 4 (17) de junho
de 1913, quando da discussão sobre o relatório da Comissão de orçamentos sobre o projeto de
despesas do Ministério de Instrução Pública para o ano de 1913. O deputado expôs quase que
textualmente o discurso, mas foi privado da palavra quando disse “Acaso não merece este governo
ser expulso pelo povo?”
100
Em torno da política do ministério da instrução pública.
101
Se fosse no Brasil diríamos centavos por pessoa.
92
102
Deciatina: antiga medida de superfície agrária russa que existiu antes da introdução do sistema
métrico. Uma deciatina correspondia a 1,092 hectare.
103
Duma: órgão legislativo que o governo czarista se viu obrigado a convocar em função dos
acontecimentos revolucionários de 1905, mas na prática a Duma carecia de todo poder efetivo. Suas
eleições não eram diretas, igualitárias ou gerais. Os direitos das classes trabalhadoras e das
nacionalidades não russas eram muito restritos e parte considerável dos operários e camponeses não
tinham garantidos seus direitos eleitorais.
104
Conselho de Estado: um dos organismos supremos do Estado da Rússia czarista. Foi criado em
1810 como instituição consultiva quanto à promulgação das leis. Seus representantes eram
nomeados e ratificados pelo czar. Era tão reacionário que recusava até projetos de lei moderados
aprovados pela Duma de Estado.
105
Isbá: cabana russa primitiva.
106
Uriádnik: grau inferior na polícia russa da época.
107
Centúrias negras: bandos monárquicos formados pela polícia czarista, cujo objetivo era lutar
contra o movimento revolucionário. Os centúrias negras assassinavam os revolucionários, agrediam
os intelectuais progressistas e organizavam perseguições antissemitas.
93
Assim, Lenin pergunta: “[...] não tinha eu absoluta razão ao dizer que o
Governo é um estorvo ao fomento da instrução pública na Rússia? Que o Governo é
o maior inimigo da instrução pública na Rússia?” (Idem, ibidem, p.38, grifo do autor).
Finalmente, ele termina com uma provocação peremptória:
108
Outubristas: membros do partido União 17 de outubro, fundado em 17 de outubro de 1905. Era um
partido que representava e defendia os interesses da grande burguesia e dos latifundiários. Os
outubristas apoiavam totalmente a política interna e externa do governo czarista.
109
Ano cinco: alusão à revolução de 1905-1907.
110
Kassó: grande latifundiário e professor universitário. Foi ministro da Instrução Pública de 1910 a
1914. Aplicou uma política reacionária em relação à escola primária, secundária e superior e reprimiu
cruelmente os estudantes revolucionários e os professores progressistas.
111
O corpo docente era composto predominantemente por mulheres.
94
privadas e 177 escolas paroquiais. Os salários médios das professoras eram: 924
rublos/ano; 609 rublos/ano e 302 rublos/ano, respectivamente.
Nas aldeias havia 3.545 escolas unitárias112 dos zemstvos113 e 2.506
escolas unitárias paroquiais. Nas escolas unitárias o salário médio anual das
professoras era de 374 rublos; nas paroquiais, 301 rublos/ano. Nas primeiras, o
número de professoras com instrução representava 20%; nas escolas paroquiais,
2,5% (sem levar-se em conta os professores de religião).
Ao que Lenin declarou: “Professoras pobres e famintas: as nossas escolas
paroquiais são isto.” (LENINE [publicado em 18 de dezembro de 1913], 1981, p.49).
Com relação à porcentagem de professoras com instrução laica média e
superior: nas escolas urbanas, 76%; 67% nas privadas e 18% nas paroquiais.
“Professoras ignorantes [...]: as nossas escolas paroquiais são isto.” (Idem, ibidem,
p.49). Também, com base nos dados do mesmo censo escolar, Lenin concluiu que
as escolas paroquiais não dispõem de espaço físico e iluminação suficientes. “Estes
dados permitem ver até que extremo é lamentável a situação das escolas
paroquiais.” (Idem, ibidem, p.50). E acrescentou:
112
Lenin ou os editores não explicam o que eram as escolas unitárias. Talvez escolas primárias do
campo.
113
Zemstvos: organismos de administração autônoma local instituídos nas provinciais centrais da
Rússia czarista em 1864. A competência dos zemstvos estava limitada às questões econômicas
meramente locais (construção de hospitais, abertura de estradas, estatística etc.). Atuavam sob o
controle dos governadores e do Ministério do Interior, que poderiam anular as decisões tomadas nos
zemstvos, se não fossem do agrado do governo.
95
114
“Indivíduos estranhos”, segundo Lenin, foi a expressão empregada pelo então Ministro do Interior
que denunciou essa atividade como subversiva. Os elementos estranhos a quem se refere o Ministro
eram militantes engajados na derrubada do czarismo.
115
Escolas dominicais para adultos, em particular para os operários, de modo que a social
democracia revolucionária utilizava essas escolas para a educação política dos operários.
96
[...] ensiná-los [os membros da classe operária] não somente com base nos
livros, mas através da participação na luta diária da existência desse estrato
atrasado e menos desenvolvido do proletariado. Existe, eu repito, um certo
elemento pedagógico nesta atividade diária. O Social-Democrata que perca
essa visão deve cessar de ser um Social-Democrata. Essa é a verdade.
Mas alguns de nós frequentemente esquece, que um Social-Democrata que
reduz suas tarefas políticas à pedagogia também deveria, por outra razão,
cessar de ser um Social-Democrata.
116
[Speech at the] First all-Russia congress on adult education.
101
117
Sobre as tarefas da biblioteca pública de Petrogrado.
102
118
As tarefas das Uniões da Juventude.
119
Sobre os partidos políticos existentes à época, facções, classes que pertenciam etc., sugerimos
consultar as Notas e explicações do livro Dez dias que abalaram o mundo (REED, 1977, p.35).
103
120
Consultar o item 1.1.4 A Nova Política Econômica e a adoção do modelo de Partido Único.
121
Consultar o item 4.3.5 Contrarrevolução burocrática, carência, escassez e educação.
104
conhecimentos politécnicos.
9. Abrir os anfiteatros das universidades a todos aqueles que têm
o desejo de aprender qualquer coisa, e em primeiro lugar os trabalhadores,
permitindo a todos aqueles que têm capacidade o acesso ao ensino
universitário. Abolir todas as barreiras artificiais entre as novas forças
científicas e a cátedra; assegurar a manutenção material àqueles que
estudam para dar aos proletários e aos membros do campesinato a
possibilidade real de frequentar a universidade.
10. Do mesmo modo, devem ser acessíveis aos trabalhadores
todos os tesouros artísticos que foram criados graças à exploração do seu
trabalho, e se encontravam até o presente momento à disposição exclusiva
dos exploradores.
11. Desenvolver ampla propaganda das ideias comunistas e
utilizar o aparelho e os meios do Estado para este fim. (Apud DIETRICH,
1973, p.214-215)
122
As tarefas das Uniões da juventude.
123
[Brief report of] Speech delivered at the first all-Russia Congress of Internationalist teachers.
109
124
Speech at the first all-Russia Congress on Education.
125
Movimento Proletkult. Proletkult – abreviatura de Proletarskaia Kultura (Cultura Proletária).
Organização cultural vinculada ao Comissariado do Povo para Instrução Pública, mas começou a
defender independência deste Comissariado, opondo-se assim ao Partido Comunista e à República
Soviética. Em consequência disso, intelectuais burgueses infiltraram-se no movimento e começaram
a exercer influência em sua condução. Assim, os adeptos do Proletkult negavam a importância da
herança cultural do passado e isolavam-se das tarefas educativas e culturais entre as massas
(LENINE, 1981, p.147. Nota 44; SCHERRER, 1984, p.189).
126
Discurso na Conferência de toda a Rússia dos Comitês de Instrução Política das secções de
Gubernia e UEZD da instrução pública.
110
decênios de luta pela liberdade política, a fim de que toda a soma destes
costumes, hábitos e ideias sirva de instrumento de educação de todos os
trabalhadores; e a tarefa de resolver a questão de como precisamente
educar recai sobre o proletariado. (Idem, ibidem, p.402)
127
As tarefas das Uniões da Juventude.
111
128
As tarefas das uniões da juventude.
129
Speech at the first all-Russia congress of communist students.
113
130
Item 4.2 O problema da construção da sociedade socialista.
115
131
La ricostruzione dell’economia nazionale e l’istruzione politecnica.
117
tudo o que se fez para cumprir o acordo do VIII Congresso dos Sovietes
sobre a propaganda do plano de eletrificação da Rússia e exige que em
cada central elétrica se celebrem regularmente, mediante a mobilização de
todas as forças idôneas, palestras, conferências e aulas práticas, a fim de
dar a conhecer aos operários e camponeses a eletricidade, a sua
importância e o plano de eletrificação; nos distritos onde não existe ainda
nenhuma central elétrica, é preciso construir com a maior rapidez possível
centrais elétricas, mesmo que pequenas, as quais deverão converter-se no
centro local da indicada atividade de propaganda, instrução e estímulo de
132
toda a iniciativa neste campo. (LENINE [escrito em 25 de dezembro de
1921], 1981, p.125).
132
O IX Congresso dos Sovietes de toda a Rússia de 23 a 28 de dezembro de 1921.
133
Sovkhoze: fazendas modelo estatais.
119
134
um mínimo pormenorizado de conhecimentos. (LENINE [escrito em fins
de 1920], 1981, p.113, grifos do autor)
134
Acerca do ensino politécnico. Observações às teses de N.K. Krupskaia.
135
The work of the people’s commissariat for education.
120
136
A doença infantil do “esquerdismo” no comunismo.
122
De acordo com Costa (2003, p.5), um traço distintivo do século XIX foi a
ocorrência das revoluções democrático-burguesas, o século XX o das revoluções
socialistas. Nesse sentido, o que nos reservará o século XXI? “Há quem diga que a
era das revoluções está encerrada, que o mito da Revolução que governou a vida
dos homens desde o século XVIII já não serve como guia no presente.” (Idem,
ibidem, p.5).
Será?
A nosso ver, a experiência da Revolução de Outubro de 1917 é rica em
ensinamentos.
137
Acerca do infantilismo “de esquerda” e do espírito pequeno burguês.
125
Será que o homem vive [apenas] para vegetar, para vestir dia após dia as
calças, comer um bocado de carne durante o dia e meter-se na cama
chegada a noite? Não. Tudo isso não passa de meios para alcançar uma
vida feliz.
O homem não vive [unicamente] com o fito nesses meios. Tem
necessidade de se vestir, de se alimentar, de descansar e de trabalhar para
desenvolver os seus conhecimentos, desenvolver os seus sentimentos, as
suas sensações, para conhecer a felicidade e dar a mesma felicidade aos
outros. O nosso objetivo último é o de criar uma comunidade fraterna dos
homens de um nível cada vez mais elevado e que faculte plenamente todos
os bens materiais, todas as riquezas e possibilidades acessíveis ao
138
homem... (LUNATCHARSKI , 1988c, p.162-163)
138
Na coletânea dos textos de Lunacharski intitulada Sobre a instrução e a educação, não há menção
sobre quando os textos foram escritos, proferidos ou publicados originalmente.
139
Discurso no I Congresso de toda a Rússia dos Conselhos da Economia Nacional em 26 de maio
de 1918.
126
Porém, é evidente que esses elementos não poderiam ser aplicados numa
sociedade de transição do capitalismo para o socialismo (como era o caso da
Rússia), na qual faltassem os níveis necessários de instrução, consciência política e
capacidade produtiva (Idem, ibidem, p.105-106).
Portanto, Alec Nove afirmou que os bolcheviques não tinham noção real dos
problemas econômicos que eles iriam enfrentar. Por um lado, o autor tem razão,
quando consideramos alguns dos textos leninianos escritos antes da tomada do
poder político. Por exemplo, em A catástrofe que nos ameaça e como combatê-la
(LENIN [escrito em setembro de 1917], 2005, p.172 et seq), ao tratar das medidas
necessárias para se evitar a catástrofe que ameaçava a Rússia naquele momento (a
fome, o desabastecimento, a desorganização nos transportes), Lenin se referiu à
nacionalização do sistema bancário; nacionalização das principais associações
monopolistas capitalistas; abolição do segredo comercial; entre outras; talvez de
forma um tanto superficial, ao afirmar que tais medidas eram universalmente
conhecidas e fáceis de serem aplicadas.
Muito pelo contrário, a República dos Sovietes iria se deparar com imensas
dificuldades para implementar tais medidas e sofrer as terríveis consequências
decorrentes delas.
Por outro lado, Nove pareceu subestimar a capacidade dos bolcheviques,
mas principalmente, desconsiderou que todas as dificuldades decorrentes daquela
incongruência fundamental não poderiam ser previstas a priori, de acordo com o que
Lenin (LENINE [publicado em 27 de maio de 1918], 1980b, p.625) escreveu no já
citado Discurso no I Congresso de toda a Rússia dos Conselhos de Economia
Nacional de 26 de maio de 1918. Portanto, com relação às tarefas de construção do
socialismo:
140
As tarefas imediatas do poder soviético.
130
141
A catástrofe que nos ameaça e como combatê-la.
142
O Estado e a revolução.
131
143
[Discurso proferido no] VIII Congresso dos Sovietes de toda a Rússia, realizado de 22 a 29 de
dezembro de 1920.
132
não pode ser petrificado na abstração situada por cima das partes, visto que
o todo se cria a si mesmo na interação das partes. (KOSIK, 1976, p.41-42,
grifos do autor).
144
The new economic policy and the tasks of the political education departments.
145
[Speech at the] First all-Russia Congress on Adult Education.
135
Assim, talvez o crucial não seja saber quem era mais importante para Lenin:
a educação ou a política, o que por si só seria uma abstração. O que importa é que
146
Sobre a cooperação.
137
4.3.4 A politecnia
Cambi (1999, p.557-558), ao caracterizar os principais aspectos da
“educação leninista”, citou a retomada do conceito de instrução politécnica, ao qual
subjaz a noção da não dissociação entre instrução e trabalho produtivo. Contudo, já
sabemos que para um melhor entendimento do que seja o ensino politécnico, é
necessário conhecer o que denominamos de “o problema da construção da
sociedade socialista” (item 4.2). Não obstante, é indiscutível que Lenin atribuiu
grande importância à politecnia no conjunto de suas ações e preocupações.
Assim, as décadas de 1920-1930 foram muito importantes para a história da
educação soviética, em função das discussões teóricas e dos problemas práticos
enfrentados quando da implementação do ensino politécnico, de modo que houve
um complexo processo de afirmação / negação associado à politecnia (MACHADO,
1989).
Todavia, muitas das proposições relativas à escola politécnica não foram
implementadas ou o foram de maneira distorcida, posto que, do lado dos
educadores e dirigentes soviéticos: muitos se opuseram ao princípio da instrução
politécnica, dando preferência à instrução técnica tradicional; muitos simplesmente
não entenderam o que era a educação politécnica. Do lado dos professores: muitos
138
147
VIII Congresso do PCR(b).
140
ficou, em sua maioria, a cargo do que havia restado de setores da burguesia. Mas
também foram incorporados muitos profissionais liberais e de nível técnico e superior
(médicos, engenheiros, professores, cientistas, agrônomos etc.).
No início, essas pessoas não eram apenas hostis, mas adversárias e
inimigas do sistema. Seu objetivo era aniquilar o governo soviético. Para isso elas
lançaram mão de todo tipo de expediente para prejudicar e minar os bolcheviques:
greves, sabotagens, roubos. Mas, com o passar do tempo, muitos foram eliminados.
E na medida em que a sobrevivência falou mais alto, muitos adaptaram-se à
situação. Logo, vencida em várias frentes (militar, econômica, ideológica), restaram
setores da média e pequena burguesia que foram incorporadas ao aparelho de
Estado. E a esses grupos, somaram-se elementos da classe trabalhadora, dando
origem à burocracia do sistema.
Nesse contexto, Rodrigues, L. M. e Fiore (1978, p.64) definiram tal
burocracia da seguinte forma:
O problema maior foi que, após a guerra civil, com a adoção do modelo de
Partido único, burocracia e partido aproximam-se e combinam-se e após a morte de
Lenin, essa seria a base de sustentação da ditadura stalinista. Evidentemente que
esse processo não foi simples nem linear, contudo, em linhas gerais, tal é o sentido
do que Bensaid (2000a, p.171-174) denominou de contrarrevolução burocrática.
Dito de outra forma, a República dos Sovietes havia sobrevivido a uma
guerra mundial, à guerra civil, à fome, à destruição, às doenças, mas não sobreviveu
a um tipo de restauração vinda de dentro, que lhe solapou os princípios de
liberdade, democracia, revolução internacional, socialismo. Em seu conjunto, esses
ideais foram substituídos por uma ditadura.
Com a instauração da ditadura, há um verdadeiro retrocesso em
praticamente todos os campos e atividades: no plano político, prevalece o modelo de
Partido Único, com os expurgos, prisões e fuzilamentos. No plano cultural, são
abafadas e proibidas todas as iniciativas contrárias ou diferentes à orientação do
Partido. No plano educacional, foram suprimidas todas as iniciativas e experiências
inovadoras e imposto um modelo educacional monolítico. Dessa forma, a
efervescência cultural, política e social que caracterizou os primeiros momentos da
Revolução Russa de Outubro de 1917 e durou até aproximadamente 1930, foi
completamente abafada a partir de então, com a imposição da crença do socialismo
num só país.
Cabe-nos resgatar Deutscher (1968a, p.635), quando o autor citou que uma
das incongruências fundamentais da Revolução de Outubro foi a tentativa de se
implantar um socialismo fundado na carência e na escassez. Portanto, não é
exagero afirmar que boa parte do esforço do governo soviético foi direcionado para
se tentar superar essa incongruência, ou seja, criar o mais rápido possível as
condições objetivas e subjetivas necessárias para se implantar o socialismo.
Nesse sentido, a existência de uma organização racional, equitativa, correta,
justa da produção e da distribuição da riqueza produzida social e coletivamente é
condição prévia para a instauração do socialismo. Mas, para tanto é necessário que
haja um alto nível de cultura e de instrução. Logo, no plano da educação, o que
desponta como essencial é que a educação assumiu um papel fundamental, tanto
no que se refere ao tema da contrarrevolução burocrática, quanto da incongruência
apontada por Deutscher.
142
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao final de nosso estudo, declaramos que, de modo diferente do que
propusemos em nossa questão de pesquisa, hipótese de trabalho, objetivo
específico, não nos limitamos a investigar o tema Lenin e a educação apenas
durante os anos de 1917-1924, nem estipulamos uma distinção absoluta em relação
às dimensões política e econômica. Desse modo, acabamos por discorrer sobre um
período de tempo maior do que aquele proposto inicialmente, bem como não
mantivemos uma separação rígida entre o político e o econômico.
Isso se deveu ao fato de que não é possível conduzir a construção do
conhecimento de forma linear e previsível. Nesse sentido, o “objeto” da investigação
adquire “vida e contornos próprios” (metaforicamente falando), o qual cabe ao
investigador acompanhar e perquirir – foi assim que procedemos. Por conseguinte,
concluímos que a manutenção da proposta inicial de trabalho, qual seja, a de limitar
o recorte temporal da pesquisa entre os anos de 1917-1924 talvez nos levasse a
visões equivocadas sobre o assunto Lenin e a educação.
No que se refere aos resultados obtidos, concluímos que a educação e a
educação escolar participam necessariamente da luta de classes em vários níveis e
dimensões da realidade. E a experiência da Revolução de Outubro demonstrou que,
com relação ao longo período que antecedeu a insurreição de Outubro de 1917, sob
a atuação do Partido Social Democrata Russo, ocorreu efetivamente uma educação
política das massas. Portanto, sob tal aspecto, faz sentido falar da existência de uma
“educação revolucionária antes da revolução”.
Contudo, sugerimos a adoção de uma postura crítica com relação às
experiências e/ou propostas pedagógicas que se autodenominam de socialistas ou
revolucionárias, mas cuja ação se dá principalmente no âmbito do sistema de
escolarização formal do modo de produção capitalista. Dessa forma, mesmo
considerando as mediações que a educação escolar assume, a nosso ver,
necessariamente ela está limitada e condicionada pelos imperativos do capital.
Há também aqueles que procuram repetir as experiências educativas de
natureza socialista, aplicando-as na sociedade capitalista ou na realidade
educacional brasileira (CARVALHO, J. de O. et al, 2007). Neste caso, Carvalho, F.
M. de (2005b, p.114) se posicionou da seguinte forma:
Outrossim, com base numa visão de totalidade, que abarque o conjunto dos
levantes revolucionários ocorridos na Rússia (1905, fevereiro de 1917, outubro de
1917, março de 1921), é possível concordar com Lenin, quando ele diz que numa
revolução o povo se educa. De fato, a massa conscientizou-se e educou-se quando
envolvida nesses acontecimentos. Por exemplo, quando nas jornadas de fevereiro-
outubro de 1917, o povo tomou consciência e conhecimento das hesitações e
conluios da burguesia, deixando claro que uma coalizão com a burguesia era
impossível e que as únicas alternativas para se superar o caos, a invasão alemã, a
fome e a desorganização eram as propostas dos bolcheviques.
No tocante aos momentos da consolidação da revolução e de reconstrução
econômica, concluímos que, por um lado, a educação foi considerada por Lenin
como elemento de vital importância. Por outro, a falta de instrução, educação e
cultura do proletariado e das massas populares também foi um dos fatores
determinantes no processo denominado por Bensaid de contrarrevolução
burocrática.
É incontestável que Lenin atribuiu grande importância à educação em
praticamente toda sua vida, tanto na sua condição de propagandista e revolucionário
e depois, como estadista, de modo que a educação compôs o conjunto de medidas,
atos e processos relacionados à derrubada da autocracia russa, da sociedade
burguesa e da construção da sociedade socialista/comunista. Portanto, o tema
educação não foi algo marginal nos escritos de Lenin.
Também concluímos que a “educação leninista” não se restringe única e
exclusivamente à politecnia, posto que a educação para Lenin assumiu múltiplas
funções e matizes, atendendo a muitas necessidades e problemas de ordem prática
e teórica. Nesse sentido, o objetivo precípuo de Lenin era construir uma educação
da classe dominante, ou seja, uma educação proletária e socialista, que encerraria
múltiplas tarefas, mas que fundamentalmente visava a aniquilação completa da
sociedade czarista e burguesa e a implantação das bases para construção da futura
sociedade comunista.
145
O retorno a Lenin não pretende ser uma reencenação nostálgica dos “bons
velhos tempos revolucionários”, nem um ajuste oportunista-pragmático do
velho programa para “novas condições”; busca, isto sim, repetir, nas
condições do mundo atual, o gesto leninista que reinventou o projeto
revolucionário na época do imperialismo e do colonialismo [...]. (ZIZEK,
2005, p.15, grifos do autor).
A nosso ver, cabe-nos uma tarefa muito mais difícil e complexa: apropriar-
nos criticamente dos seus ensinamentos e do que ele escreveu (os quais têm data e
contexto específicos), tomá-los como hipóteses diretrizes, como elementos para
reflexão e para ação, adequando-os à realidade, à conjuntura contemporânea e aos
novos desafios postos no enfrentamento e destruição do modo de produção
capitalista, visando a construção da sociedade comunista.
Este talvez seja o maior tributo às grandiosas tarefas que Lenin se impôs ao
longo de toda a sua vida.
148
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ZIZEK, Slavoj. Prefácio: entre as duas revoluções. In: ______. (Org.). Às portas da
revolução. São Paulo: Boitempo, 2005. p.7-16.
158
ANEXO I
159
ANEXO II
162
Item I
Item II
Comentários:
O Projeto não tratava apenas da nacionalização dos bancos. Os artigos 5 e
6 tratam do trabalho obrigatório, seu controle e inspeção. Já os artigos 7, 8 e 9
tratam do controle da produção e da distribuição e do transporte de víveres e
produtos de primeira necessidade. Os artigos 11 e 12 tratam das punições para
aqueles que desobedecerem a presente lei, os sabotadores, os funcionários
grevistas e os especuladores e dispõem sobre a autoridade que controlará e aplicará
a lei.
Segundo a nota 239, à pag. 724 das Obras Escolhidas, volume 2, o Banco
do Estado foi ocupado em 25 de outubro (7 de novembro) de 1917. Por disposição
do governo, na manhã de 16 (27) de dezembro, destacamentos de operários e de
combatentes do Exército vermelho ocuparam todos os bancos e instituições de
crédito de Petrogrado. Nesse mesmo dia foram adotados na reunião do CECR os
decretos “Sobre a nacionalização dos bancos” e “Sobre a revisão dos cofres fortes
nos bancos”. Ambos os decretos foram publicados em 15 (28) de dezembro no
Izvéstia TsIK [s/d].
167
Item III
Comentários:
Segundo a Nota 242, à pag. 725, a Declaração dos Direitos do Povo
Trabalhador e Explorado, foi aprovada pelo Comitê Executivo Central dos Sovietes
(CECR) em 4 (17) de janeiro de 1918. A declaração foi lida e apresentada por
Sverdlov na primeira reunião da Assembleia Constituinte, em 5 (18) de janeiro. A
proposta de discussão sobre a declaração foi rejeitada pela maioria
contrarrevolucionária da Assembleia Constituinte e após a destituição da Assembleia
Constituinte, no dia 12 (25) de janeiro a Declaração foi aprovada pelo III Congresso
dos Sovietes de Toda a Rússia e depois serviu de base para a elaboração da
Constituição soviética. De acordo com Carr (1981), a Declaração dos Direitos do
Povo Trabalhador e Explorado era o correspondente socialista da Declaração
Universal dos direitos do Homem.
Em linhas gerais, a Declaração ratificou algumas das ações tomadas até
então pelo governo provisório (o Conselho dos Comissários do Povo): abolição da
propriedade privada da terra; controle operário sobre a produção; nacionalização
169
Item IV
Comentários:
Segundo a nota 233, à pg. 722, o projeto de Lenin foi a base para a
elaboração do decreto operário sobre a produção, que recebeu o nome de
Regulamento sobre o controle operário, publicado no Izvéstia TsIK, nº 22, de 16 (29)
de novembro de 1917.
No artigo 2, consta que os operários e empregados da empresa ou seus
representantes eleitos exercerão o controle da empresa. De acordo com o artigo 4,
todos os livros e documentos, armazéns, reservas de materiais, ferramentas e
produtos devem ficar à disposição dos operários ou seus representantes eleitos. No
artigo 5 consta que as decisões dos operários e representantes eleitos são
soberanas, devem ser obedecidas e só podem ser anuladas pelos seus respectivos
sindicatos e congressos sindicais.