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UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA

ASTECAS E INCAS:
UMA PESQUISA BIBLIOGRÁFICA COMPARADA

ANDREI SOARES PORTES MACHADO

Rio de Janeiro / RJ
2017
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ANDREI SOARES PORTES MACHADO

ASTECAS E INCAS:
UMA PESQUISA BIBLIOGRAFICA COMPARADA

Monografia apresentada ao curso de


Licenciatura em História da Universidade
Veiga de Almeida como pré-requisito para
conclusão de curso.
Orientadora: Professora Doutora Verônica
Moreira dos Santos Pires
Co-orientador: Thiago Reis

Universidade Veiga de Almeida


2017
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RESUMO

MACHADO, .Andrei Soares Portes. Astecas e Incas: Um estudo bibliográfico comparado.


Monografia de fim de curso. Universidade Veiga de Almeida, Rio de Janeiro, 2017

O trabalho aqui apresentado se propõe a analisar criticamente a bibliografia atual, disponível


em português, que constrói a memória histórica dos astecas e incas. Para tanto, essa pesquisa
está estruturada tomando por base as metodologias de história comparada e estudo de caso.
Ao longo dessa obra são apresentados e debatidos os problemas relacionados às fontes
primárias de estudo dos astecas e incas, as quais se relacionam a questão dos cronistas
espanhóis e do eurocentrismo. Outros tópicos abordados são: a problemática de se trabalhar
com a metodologia de história comparada, os anacronismos presentes ainda hoje na literatura
aqui trabalhada e as semelhanças e diferenças dos casos estudados. Por fim, esta monografia
abre espaço para se repensar a construção das culturas pré-colombianas e o problema de
equiparar termos da língua asteca e inca com termos europeus.

Palavras-chave: astecas. incas. história comparada.


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ABSTRACT

MACHADO, .Andrei Soares Portes. Astecas e Incas: Um estudo bibliográfico comparado.


Monografia de fim de curso. Universidade Veiga de Almeida, Rio de Janeiro, 2017

This paper analyzes critically modern references, available in Portuguese, which construct the
historical memory of the Aztecs and the Incas. To do so, this research is based on two
methodologies: comparative history and case study. Throughout this work, the issues
involved in primary sources of study of the Aztecs and the Incas, which include Spanish
chroniclers and eurocentrism, are presented and debated. In addition, other topics such as the
problems related to working with the comparative history methodology, the anachronisms
present to this day in the literature and the similarities and differences between the studied
cases are also exploited. Finally, this paper opens a space to rethink the construction of pre-
Columbian cultures and the problem of matching terms used in the Aztec and in the Inca
languages with term used in Western languages as if they were equivalents.

Keywords: Aztecs. Incas. Comparative history.


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RESUMEN

MACHADO, .Andrei Soares Portes. Astecas e Incas: Um estudo bibliográfico comparado.


Monografia de fim de curso. Universidade Veiga de Almeida, Rio de Janeiro, 2017

El trabajo aquí presentado pretende analizar críticamente la bibliografía actual, disponible en


portugués, que construye la memoria histórica de los aztecas y los incas. Para ambos, esta
investigación está estructurada con base en las metodologías de historia comparada y el
estudio de caso. A lo largo de este trabajo se presentan y discuten los problemas relacionados
con la fuente primaria de estudio de los aztecas y los incas, que se refieren a la cuestión de los
cronistas españoles y el eurocentrismo. Otros temas tratados son: los problemas de trabajar
con la metodología de la historia comparada, los anacronismos presentan aún hoy en la
literatura aquí trabajada y las similitudes y diferencias de los casos estudiados. Por último,
esta monografía abre espacio para repensar la construcción de las culturas precolombinas y el
problema de la coincidencia de términos de lengua azteca e inca con términos europeos.

Palabras clave: Aztecas. Incas. Historia comparada


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SUMÁRIO

Introdução 7

1 Da teoria e da metodologia .................................................................................................... 9

1.1 Aspectos teóricos e metodológicos que orientam esse trabalho. .............................. 9

2 A visão contemporânea sobre os astecas..................................................................... 21

2.1 Sobre a historiografia asteca............................................................................................. 21

2.2 Sobre a Mesoamérica e as culturas que mais influenciaram os astecas.................... 22

2.3 O assentamento asteca no Vale do México ................................................... ............. 24

2.4 Organização político-social do Império asteca ................. .......................................... 25

2.5 Economia do Império asteca ......................................... ................................................ 27

2.6 A sociedade e o governo ......................................... .................................................... 28

2.7 Reflexões adicionais sobre o capítulo ........................................ ............................... 29

3 A visão contemporânea sobre os incas............................................................................ 32

3.1 Sobre a historiografia inca ................................................................................................ 32

3.2 A topografia Andina e as culturas mais influenciaram os incas. .................................. 32

3.3 A chegada dos incas e sua ascensão ................................................................................ 34

3.4 A organização político-social e o poder do Império...................................................... 37

3.5 A economia inca e o modo de produção Andino.......................................................... 38

3.6 A sociedade e o governo ................................................................................................... 39

3.7 Reflexões adicionais sobre o capítulo ....................................................................... 43

Conclusão................................................................................................................................... 46

REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 49
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Introdução
Levando-se em conta a grande quantidade de temas, assuntos, e casos que existem na
historiografia, é normal que o acadêmico eleja aqueles que lhe são mais familiares e que
despertam o seu interesse. Contudo, há uma infinidade de temas relevantes que são pouco
explorados no meio acadêmico e que não chegam ao conhecimento dos jovens pesquisadores,
ficando à margem dos poucos que se interessam em pesquisar tais assuntos.
Felizmente, temas esquecidos em uma cultura em dado momento podem estar
florescendo em outra. Nesse trabalho aborda-se um desses temas que no Brasil nunca foi
muito estudado: os astecas e os incas, de modo a investigar as seguintes questões: Como essas
culturas são entendidas e apresentadas pela historiografia? Qual o enfoque dado a elas pela
historiografia contemporânea? Quem eram os incas e os astecas?
Tendo em vista esses questionamentos, alguns objetivos foram estabelecidos para esse
trabalho, quais sejam: levantar uma historiografia contemporânea, e de preferência diversa,
que possa demonstrar o enfoque dos acadêmicos ao se estudar as culturas pré-colombianas;
2) Compreender quais são as fontes primárias as quais os acadêmicos têm acesso ao
estudarem essas culturas;
3) Apresentar as culturas asteca e inca, a partir da visão desses historiadores,
comparando os aspectos diferentes e semelhantes que essas sociedades apresentaram; e
4) Problematizar a historiografia levantada, abrindo espaço para um debate
historiográfico.
A hipótese inicial que perpassou essa pesquisa era de que os acadêmicos traçavam
paralelos em demasia entre as culturas pré-colombianas e outras formas de civilizações
ocidentais, o que facilitava a compreensão em um nível didático, mas, por outro lado, talvez
não levasse em conta as singularidades dessas culturas.
Para que esse trabalho pudesse ser realizado foi necessário compreender as obras dos
cronistas espanhóis que escreveram enquanto essas culturas ainda existiam, delinear qual seria
a metodologia desse trabalho e compreender se a adjetivação dessas culturas como Império é
usada devidamente.
Dessa forma, buscou-se entender o discurso de Alteridade, na visão de Tzvetan
Todorov, e o eurocentrismo, para que se pudesse compreender o local de fala dos cronistas
espanhóis em meados do século XVI. Também foi estudado e analisado o conceito de
império, com base na obra de Luís Moita, e, por fim, ficou decidido que o trabalho seria
redigido sobre a égide da metodologia da História Comparada e do estudo de caso, com base
na obra de José D’ Assunção Barros e Robert Yin respectivamente.
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Em termos de organização, esta pesquisa está dividida em três capítulos, além da


introdução e da conclusão.
O primeiro capítulo dedica-se a explicar o que é a metodologia da História
Comparada, apresentando a produção teórica a cerca do que seriam Comparação e História
Comparada. Na sequência, aborda a importância da escolha metodológica adequada para
alcançar os objetivos da pesquisa e a importância do estudo de caso para entender as questões
levantadas nesse trabalho. Outros assuntos elencados de modo breve são: a diferença de
perspectivas dos cronistas espanhóis, que proporcionaram importante parcela das fontes
historiográficas para o período aqui abordado, o conceito de Alteridade, proposto por Tzvetan
Todorov, ao se estudar outras culturas.
O segundo capítulo apresenta os principais tópicos abordados pelos acadêmicos ao
tentar reconstruir uma imagem geral do Império asteca por meio do estudo de León-Portella,
Jacques Soustelle e Mario Giordani Curtis. Nesse capítulo são abordados aspectos como: a
historiografia asteca, as culturas que influenciaram a forma de vida asteca, os primórdios da
civilização, sua organização político-social no período de seu ápice, os principais aspectos
econômicos e sociais, a respeito da sociedade e do governo.
O terceiro capítulo aborda a cultura inca por meio dos estudos de John Murra, Henri
Favre e Mario Giordani Curtis. Esse capítulo se subdivide da mesma forma que o anterior,
recebendo o acréscimo de reflexões entre o que foi apresentado sobre os astecas no capítulo
dois e o que está sendo apresentado sobre os incas no capítulo em questão.
Como fechamento, a conclusão tece a síntese da comparação aqui proposta entre os
astecas e os incas além de apresentar algumas observações sobre a bibliografia levantada.
Ressalta-se, porém, que de modo algum este trabalho se propõe a ser uma visão
exaustiva ou completa acerca do tema abordado. Ao contrário, a ideia principal que o permeia
é facilitar e possibilitar estudos relacionados às culturas pré-colombianas.
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1. DA TEORIA E METODOLOGIA
Nesse capítulo é apresentada a parte pertinente a teoria, metodologia e termos
importantes para a compreensão dos casos estudados nessa monografia. O capítulo foi escrito
sem subdivisão de forma que cada tópico dialogue com o tópico seguinte.
Dentre os autores apresentados nesse capítulo estão: Jose d'Assunção Barros, Robert
Yin, Marc Bloch, Tzvetan Todorov e Luís Moita.

1.1 Aspectos teóricos e metodológicos que orientam esse trabalho


Na busca para compreender as mais diversas sociedades humanas, os historiadores
vêm desenvolvendo diferentes modalidades historiográficas que lhes permitam analisar os
seus objetos de estudo, seja por meio de observação participativa, integrando-se às culturas
sob análise, ou não-participativa, mantendo-se externo ao objeto de interesse.
Essas modalidades historiográficas se apresentam das mais diversas formas e possuem
focos que variam desde delimitações espaciais, temporais ou sociais até religiosas,
econômicas ou populacionais. É difícil afirmar que existam modalidades históricas “erradas”
ou reducionistas por natureza, pois, mesmo a partir de uma abordagem equivocada, ou que
não leve em consideração as especificidades do objeto em foco, pode-se tirar conclusões
importantes que auxiliem outros pesquisadores.
Dentre essas modalidades, destaca-se nesta monografia a História Comparada, a qual
oferece uma abordagem única em que, de um lado, tem-se o estabelecimento de um recorte e
de outro, o seu próprio “modo de tratamento sistematizado das fontes dos dados e dos
processos investigativos” (BARROS, 2007, p.2).
Ao se trabalhar com História Comparada, devem-se fazer algumas perguntas que serão
fundamentais para trilhar o caminho mais adequado aos objetivos da pesquisa e entender o
que pode e o que não pode ser comparado, pois essa modalidade historiográfica não é uma
mera exposição de fatos ou curiosidades, mas, como estabelecido por Marc Bloch, citado por
Barros (2007, p.6), a História Comparada deve ser construída a partir de problematizações
especificas para não correr o risco de desviar-se para um “comparativismo histórico”.
Antes de tudo, deve-se perguntar: “O que é comparar?”, “Por que comparar?”, “O que
esperar com a comparação?”, “O que se pode comparar?”, “O que observar?”, “Como
observar?” e “Como tratar os resultados finais?” (BARROS, 2007, p.2-4).
Como reflexão inicial, pode-se dizer que comparar é um dos gestos mais naturais do
ser humano. Possuímos uma tendência natural de comparar o novo e desconhecido com o
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antigo e conhecido, o que pode se apresentar como um problema para o historiador quando
este envereda para uma divisão reducionista e esvazia a singularidade dos seus objetos de
estudo. Para que isso não ocorra, se faz importante que o historiador tenha o cuidado de
escolher objetos de pesquisa que possam ser comparados entre si e cuja comparação sirva
para acentuar suas diferenças e semelhanças, levando em consideração seus processos
históricos distintos.
A História Comparada se diferencia de um simples comparativismo histórico na
medida em que estabelece uma sistematização do método comparativista. As premissas
básicas do método de História Comparada, a saber: “comparar”, “elencar semelhanças” e
“estabelecer analogias”, são ações tão naturais e familiares ao historiador quanto as ações de
“contextualizar acontecimentos” ou “dialogar com as suas fontes”. Ao separar a história
comparada do comparativismo, Bloch aponta dois aspectos que não podem fugir da História
Comparada, que seriam eles “uma certa semelhança dos fatos” e “certas dessemelhanças nos
ambientes em que esta similaridade ocorria”. Esses dois parâmetros visam tanto resguardar o
historiador para que os objetos de estudo escolhidos possuam suas diferenças e semelhanças,
questão essencial para a comparação, e para que não se escolham objetos idênticos ou que
sejam anacrônicos entre si (BARROS, 2012, p.16).
Ao se observar duas ou mais realidades distintas, que possuem suas semelhanças e
diferenças, como feito por Marc Bloch na sua obra Os reis taumaturgos (1924), o trabalho do
historiador se abre para a possibilidade do que Barros (2012, p.17) chama de “iluminação
reciproca”, na qual o estudo de dois objetos não tão bem compreendidos podem ser melhor
compreendidos por meio da comparação de suas especificidades, semelhanças, diferenças e
do processo de transformação que lhes resultou. Para tanto, esse tipo de estudo deve ser feito
sobre dois objetos que possuíram contato entre si.
O exemplo mais famoso desse tipo de estudo foi, mais uma vez, a obra de Marc Bloch
Os reis taumaturgos (1924). Nessa obra, Bloch explora a temática dos reis taumaturgos na
França e Inglaterra. Nos idos de 1920, essa questão da capacidade de alguns monarcas
medievais curarem certas doenças de seus súditos por meio do toque real era uma temática
pouco conhecida e pouco estudada. Por meio da sobreposição desses dois objetos que se
influenciaram mutuamente e que existiram no mesmo período temporal, Bloch obteve
resultados inéditos que só foram possíveis por meio do estudo comparado e problematizado
desses dois casos.
A História Comparada ainda é um método jovem e que atrai muito mais interesse
teórico-metodológico do que estudos de cunho aplicado propriamente ditos. Contudo, tem
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ganhado bastante espaço também na literatura, principalmente desde os idos de 1980, com a
publicação de um número inteiro da revista American History Review, dedicado a essa forma
contemporânea de se trabalhar a historiografia (BARROS, 2012, p14).
Dentre os motivos pelos quais isso ocorre, está o fato de que, por sua natureza, a
História Comparada se apresenta, muitas vezes, como um desafio para o historiador. Isso se
dá, principalmente, pela forma como os historiadores se especializam em áreas do
conhecimento no ocidente. Isso ocorre, normalmente, de duas formas diferentes. Em espaços
temporais (Idade Média, Idade Moderna, Antiguidade, Tempo Presente, etc.) ou em espaços
físicos (França, Brasil, Inglaterra, etc.), o que apresenta um desafio para o historiador quando
se depara com a necessidade de buscar e de se inteirar de fontes, autores e debates
historiográfico que não fazem parte da sua especialidade, fora de sua zona de conforto.
Sendo assim, uma das maiores atrações desse método - a possibilidade de romper
barreiras físicas e temporais - é vista com certo fascínio, mas também com receio de tombar
ao anacronismo se não forem frisadas as singularidades e especificidades de cada caso.
Embora a sistematização da História Comparada seja atribuída a Marc Bloch, é
importante adicionar que a ideia de se utilizar o comparativíssimo para auxiliar a entender as
sociedades e a vida humana remonta ao Iluminismo do século XVIII. Essas primeiras
experiências possuíam focos diversos, seja pelo estudo da vida e do pensamento na Inglaterra
e França por Voltaire em duas suas de obras: Cartas filosóficas, de 1734, e Ensaio sobre os
costumes e o espirito das nações, escrito em 1756, no qual se comparava a China, a Índia e o
mundo Islâmico em relação às sociedades europeias. Em sua obra A riqueza das nações de
1776, Adam Smith propunha uma comparação entre a irrigação e agricultura na China e
alguns outros países asiáticos e o que se via nas cidades europeias da época, caracterizadas
pelo comércio e pela manufatura (BARROS, 2012, p.28).
No século XIX, a comparação foi adotada por diversas disciplinas como a
antropologia, a linguística, a sociologia, o direito e a economia. A utilização de uma análise
comparada só viria a ser reintroduzida na historiografia a partir do revisionismo empreendido
pela Escola dos Annales no período entre guerras. Alguns historiadores apontam essa
revitalização da comparação dentro da história como uma resposta ao nacionalismo extremo,
o que ajudou a desencadear a 1ª Guerra Mundial.
A comparação se apresentava, então, como uma possibilidade intrigante de deixar para
trás o desapontamento dos historiadores com os velhos modelos de história dos séculos
passados desde sua institucionalização como ferramenta política e campo acadêmico, que
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enfatizavam a construção de memórias nacionais voltadas para a exaltação de povos, e trilhar


por um novo caminho historiográfico.
Nesse contexto, alguns historiadores europeus defenderam a bandeira da comparação
como o método historiográfico a ser seguido.
Henri Pirenne, renomado historiador Belga, abordou a comparação dentro da história
em dois trabalhos tardios: no texto “De la méthode comparative em historie” e em “What are
historians trying to say”, um capítulo do livro Methods in Social Science: a case book, livro
organizado por Stuart Rice e publicado em 1931. Em seu artigo “Marc Bloch and Henri
Pirenne on Comparative History”, Adriaan Vershulst (2001) afirma que Pirenne, por fruto de
suas experiências pessoais na 1ª Grande Guerra e como forma de combate ao nacionalismo
Belga, considerava que os avanços no campo da comparação tornariam a História “mais rica e
mais precisa”. O autor acrescenta que, para Pirenne, a comparação deveria ser trabalhada de
forma objetiva para compreender o que é singular de cada nação e o que, no seu
desenvolvimento, é partilhado por outras (SILVA e TORRES, 2015, p.303).
Ainda no período entre guerras, Marc Bloch escreveu o seu famoso artigo Pour une
historie comparée des sociétés européenes, na Reveu de Synthèse Historique (1928). A obra é
fruto do VI° Congresso Internacional de Ciências Históricas de Oslo, no qual Bloch
encabeçou importante conferência com o intuito de refletir sobre os benefícios da História
Comparada e o seu potencial para a historiografia. A partir de então, como estabelecido
anteriormente, essa metodologia historiográfica vêm ganhando espaço nos círculos
acadêmicos de história.
Por último, é importante observar o que Barros chama de “Ilusão sincrônica”, que se
constitui como “a ideia de que todas as sociedades são comparáveis se se encontram em
estágios similares de desenvolvimento” (2007, p.12). O problema com essa ideia é que ela
desconsidera o fato de que cada sociedade é uma unidade única e dinâmica.
Para a boa realização deste trabalho se fez necessária a utilização da metodologia do
estudo de caso em conjunto com a da História Comparada.
As diferentes metodologias existem para auxiliar o pesquisador em seu processo de
pesquisa, seja na sua escolha de fontes e do objeto de estudo, seja no modo como observar o
objeto ou como realizar sua análise. Metodologias distintas apresentam predileções próprias
para análise de objetos e formas de estudo diferentes. Como dito anteriormente, a História
Comparada apresenta um modo de tratamento sistematizado das fontes, dos dados e dos
processos investigativos. Já o estudo de caso se volta mais para delinear o foco e o objeto de
estudo.
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Em relação à função da metodologia, Waldyr Viegas (1999) identifica três aspectos


em que esta auxilia o pesquisador: o didático, o econômico e o pedagógico.
O aspecto didático guia o pesquisador na sua busca de propósito. O aspecto econômico
indica os melhores procedimentos estruturados e organizados, a sua disposição, e o auxiliam a
direcionar o foco, permitindo que o pesquisador não desperdice sua energia. Por fim, o
aspecto pedagógico aponta falhas e desvios na realização da pesquisa a serem corrigidos.
Esses campos metodológicos são importantes, pois permitem que diferentes pessoas
trabalhem sobre a supervisão de preceitos maiores similares, mas com objetos e objetivos
distintos. Além disso, a distinção entre formas de se construir o saber auxiliam não só na
pesquisa, mas também na transmissão do conhecimento. Para aqueles que possuem íntima
ligação com a academia, saber qual a metodologia adotada por um pesquisador é importante,
pois pode vir a influenciar a opinião desse leitor, e sua decisão em adquirir e ler a obra. Por
fim, há sempre a possibilidade de diferentes metodologias sustentarem teorias diversas sobre
campos do saber. Sendo assim, como explica Robert Yin (2004, p.21), a função de estudos
subsequentes dentro de um campo do conhecimento é expandir seus pressupostos teóricos,
suas teorias e coletar dados adicionais que possam construir em cima do que já é sabido.
Sendo assim, o estudo de caso se apresenta como uma ferramenta útil para
historiadores na medida em que permite que várias obras, teorias e fontes sejam agregadas
para possibilitar uma melhor compreensão das partes que montam um todo. Além disso, o
fato de muitas vezes se estudarem cenários específicos, um método estruturado que possa ser
adotado se faz bem vindo.
Por exemplo, Nicholas G. L. Hammond em sua obra O Gênio de Alexandre, o Grande
(2005) nos apresenta seu estudo sobre Alexandre, o Grande: os feitos e possíveis traços da
personalidade desta figura histórica, os quais chegaram até nós por meio de seus biógrafos, e
também quais são as nossas fontes de informação sobre a vida desse personagem. Segundo
Hammond:
Devemos nosso conhecimento principalmente a quatro antigos
escritores, cujos trabalhos foram compostos três séculos ou mais
depois da carreira de Alexandre: Diodoro Sículo, autor de uma
história universal; Pompeu Trogo, cujo trabalho sobreviveu em uma
epítome de Justinino; Plutarco, biógrafo e moralista; e Arriano, o
historiador da Expedição de Alexandre. É óbvio que esses escritores
consultaram os trabalhos de autores anteriores que haviam sido
contemporâneos dos acontecimentos ou escreveram trabalhos-padrão
em uma época anterior do período helenístico (que começou após a
morte de Alexandre). (2005, p.59)
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R. Yin (2004) defende que um bom estudo de caso deve acrescentar algo de novo ao
se estudar um caso. Como podemos analisar a partir do exemplo anterior, Hammond reúne as
obras de diferentes autores para poder analisar quais partes da narrativa são derivadas de quais
autores e, a partir dessa investigação, construir e estudar a imagem de Alexandre, o Grande,
que esses diferentes autores apresentam.
Como metodologia, o estudo de caso foi muito utilizado, e ainda o é, por antropólogos
e sociólogos que examinam as complexas sociedades e o comportamento humano. Outras
áreas, tais quais: administração, direito, medicina, educação e historia se utilizam do estudo de
caso com frequência. Segundo Doris Soares:
Em linhas gerais, essa metodologia é aplicável em contextos onde se
deseja investigar um sistema complexo que não pode ser facilmente
representado ou compreendido por meio de uma única medida
quantitativa, ou que não faz sentido fora do contexto onde ocorre
naturalmente. Desta forma, o estudo de caso pode incluir tanto dados
quantitativos quanto qualitativos, coletados a partir de uma
observação meticulosa do objeto de interesse de modo a capturar, de
forma adequada e precisa, o caso em toda a sua totalidade e
complexidade. (2006, p.111)

Por fim, R. Yin (2004) descreve que um bom estudo de caso deve delinear e responder
as perguntas como e por quê. Essas perguntas têm como objetivo delinear o trabalho do
pesquisador auxiliando-o a realizar um estudo centrado e focado na sua análise proposta.
No caso desta monografia, o foco é estudar como compreendemos hoje os povos inca
e asteca, e por que compreendemos essas culturas de tal maneira e não de outra forma. Seu
objeto de análise são as sociedades asteca e inca. Sendo assim, optou-se pela história
comparada e o estudo de caso como metodologias a serem seguidas neste trabalho.
Devemos observar também a questão da temporalidade na historiografia, pois o seu
foco varia de sociedade para sociedade e de época para época.
Na Europa medieval havia uma longa tradição de viajantes publicarem diários
contendo suas observações, comentários e a rota percorrida. Tal forma literaria era comum
principalmente entre peregrinos que realizavam viagens até locais sagrados, mas também não
eram incomuns registros de viagens de comerciantes e aventureiros que transitavam entre os
centros urbanos e locações mais “exóticas”, locais onde o trânsito humano era menor ou que
ficavam mais afastados dos maiores centros populacionais. Nesse contexto, não é de se
estranhar os diferentes registros de viagens que temos sobre as Américas, aqui apresentados
como crônicas de cronistas espanhois.
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Um rápido exemplo a ser abordado é a obra de Jean de Léry Viagem à terra do Brasil
(2007), publicada originalmente em 1578. Nessa obra Léry, que fora pastor e missionário
calvinista natural da França, descreve sua viagem da Europa até o Novo Mundo, suas
experiências na França Antártica e com os indígenas daquela região. Léry narra desde a
organização de seu grupo, empreendida pela igreja de Genebra, seus dias em alto mar, a
geografia, o clima, a personalidade de Villegagnon, comandante da colónia, os animais, os
costumes e a língua dos nativos, as dificuldades e os conflitos enfrentados pelo seu grupo,
tanto na jornada de ida, na colónia e na jornada de volta, os animais das Américas, etc. É uma
obra que, para conterrâneos seus que viajavam pouco e possuiam pouco acesso à informação,
seria uma fonte inestimavel e riquissima em informações sobre o mundo além da realidade
diária.
Uma das maiores problemáticas enfrentada pelo historiador é reconstruir as sociedades
humanas que não mais existem de forma que sua obra seja verossímil ao que um dia existiu.
Quanto mais nos afastamos da modernidade, mais complicado se torna reconstruir tais
sociedades. Os problemas são os mais diversos, tais como a falta de fontes primárias, sejam
elas textos ou achados arqueológicos, o que impossibilita compreender línguas mortas; a
existência de relatos contraditórios, o que cria questões e situações até hoje postas em debate
ou mal compreendidas, entre outros.
Essa problemática parte do fato de que todo conhecimento das Ciências Sociais é
aproximado e fruto de construção com base em diversas fontes de conhecimento e teorias. A
construção histórica é constantemente revisada, à medida que se encontram e se reúnem novas
fontes que podem, ou não, entrar em conflito com o que é tido como norma. Poucas teorias
não são passiveis de reavaliação e, por conseguinte, de serem derrubadas ou reformuladas.
Pode-se dizer que o esforço para reconstruir sociedades, sejam elas atuais ou não, é um
esforço constante e sempre incompleto, pois as sociedades humanas são organizações tão
ricas que nenhum acadêmico consegue reconstruí-las em sua plenitude.
Ao se estudar as sociedades pré-colombianas, nós deparamos com todos esses
problemas. Há historiadores que fazem usos de discursos anacrônicos, tanto aqueles que
viveram na época da conquista quanto aqueles de tempos mais recentes; observamos a
dificuldade de compreender e entender o outro como um individuo em todas as suas
especificidades; observamos discursos carregados de juízos de valor e a tentativa, por vezes,
de engessar essas culturas pré-colombianas em modelos teóricos usados para descrever outras
culturas, tais quais: Civilizações hidráulicas, modo de produção asiático, Impérios,
Feudalismo, etc.
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Ao mesmo tempo, podemos observar que a construção dessas sociedades é


contemporânea, uma vez que se encontra em formação, sendo desde meados do século XX,
constantemente repensada seja pelos esforços de Miguél León-Portilla, Ronaldo Raminelli,
John Murra, Ciro Flamarion ou dos diversos autores pós-coloniais.
Em relação às fontes utilizadas para o estudo dessas civilizações, possuímos tanto
fontes de crônistas de época, tais como: Bartolomeu de Las Casas, Bernal Díaz del Castillo,
Fernando de Alva Cortés Ixtlilxóchitl, Pedro Cieza de León, Inca Garcilaso de la Vega e Jean
de Léry, tanto quanto construções mais recentes com base em fontes deixadas pelos cronistas,
os nativos e a arqueologia, tais como: Miguel León-Portilla, John Murra, John Hemming,
Lewis H. Morgan, Angel Parlem, Jacques Soustelle e Mario Curtis Giordani.
Não cabe a esse trabalho debater a intenção desses escritores ao construir suas
narrativas da forma com que as fizeram. Entretanto, é válido explorar alguns dos preceitos
inconscientes que os cronistas carregavam ao escrever sobre os povos com os quais tiveram
contato, preceitos estes que os acadêmicos ainda reproduzem ao se utilizarem dessas fontes
primárias. Para isso, há a necessidade de compreendermos dois conceitos chaves:
Eurocentrismo e Alteridade.
É impossivel falar da percepção do outro que não o Europeu Ibérico no século XVI
sem abordar os conceitos de Alteridade e Eurocentrismo.
O problema a ser abordado aqui é um de entendimento, o qual pode ser pensado
tomando por base o conceito de Alteridade (outridade), partindo da obra de Tzevetan Todorov
A conquista da América: a questão do outro, na qual o autor diz que a existência do “eu-
indivíduo” só é possível a partir da existência do outro. Dessa forma, a visão que o “eu-
indivíduo” possui do outro é moldada pelo seu contato com o diferente.
Para Todorov (1982), esse outro pode ser entendido como uma abstração criada para
compreender o que difere o “eu-indivíduo” do outro. Nesse caso, o outro pode ser dividido em
dois grupos: o interior e o exterior. O primeiro existe dentro da própria sociedade na qual o
“eu-indivíduo” está inserido, se caracterizando por ser exterior ao “eu-indivíduo”, ou seja, não
existe um sentimento de pertencimento nesse grupo por parte do eu. O segundo grupo se
caracteriza por todos aqueles que são exteriores à sociedade na qual o eu se insere. São os
estrangeiros que muitas vezes possuem costumes, histórias, culturas, línguas e moral estranha
e, por vezes, alienígenas à concepção do eu.
Essa questão do “eu-diferente” é particularmente importante de ser pensada no
contexto ibérico do século XVI, pois por muitos séculos essa parte do continente viu a
convivência entre os cristãos europeus e os muçulmanos estabelecidos na península, vindos
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do norte da África. Essa confluência de culturas diferentes muitas vezes não era pacífica e,
portanto, a partir do século VIII, iniciou-se o movimento nos reinos cristãos de reconquista da
península que consideravam sua por direito e da expulsão do diferente, que nesse caso
compunha todos que não eram cristãos. Esse longo movimento de conflito cristão-muçulmano
coloca em xeque a aceitação do outro-muçulmano perante o eu-cristão, na medida em que os
reinos ibéricos se reconhecem como semelhantes perante a existência de um diferente.
Esse caso é importante para pensar a construção do Eurocentrismo e a criação da
dicotomia entre Ocidente e Oriente. Uma série de eventos leva o Ocidente a ser visto como
cultura padrão, detentora de características essenciais. (Bryan Turner, 1989, apud
BARTOLUCI, 2009, p. 55).1 Segundo esse ponto de vista, aquelas sociedades não Ocidentais
seriam culturas atrasadas que ainda não haviam atingido o patamar de evolução Ocidental.
Sendo assim, caberia ao ocidental levar a essas civilizações atrasadas as condições para o seu
desenvolvimento e civilização, ao mesmo tempo em que construiria uma autoimagem de
superioridade e legitimidade. Esse processo se deu ao longo de séculos, principalmente entre
os séculos XVIII e XIX, com a Reforma Protestante, a Revolução Francesa, o Imperialismo e
o Fardo do Homem Branco, só para citar alguns eventos-chaves que constroem essa ideia.
Contudo, o foco temporal desse trabalho está no final do século XV e início do século
XVI, o que nos impede de falar sobre Eurocentrismo pleno. Evidencia-se, por outro lado, um
princípio de Eurocentrismo por trás da questão de Alteridade, pois os europeus chegados às
Américas, em sua maioria ibéricos, estavam vivenciando o princípio da construção da
identidade europeia, por meio do contato com essas culturas estrangeiras ao seu entendimento
de mundo. A confusão do europeu para com a figura do índio é nítida nos documentos de
época. Ora eram considerados como pagãos, hora como herejes, muçulmanos, crianças
passíveis de aprendizado, seres puros não corrompidos pelo pecado de Adão e Eva, mais
animais do que homens. Segundo uns, não possuiam reis nem religião, já outros comparavam
a realidade desses nativos com títulos e termos europeus.
Essa confusão dos cronistas ao descreverem os nativos parte de várias barreias, tais
quais: a diferença de línguas, que aos poucos vai sendo rompida, as diferentes intenções dos
cronistas ao relatarem suas experiências, a questão da não compreensão do outro, entre outros
motivos.
Com isso em mente, Todorov nos apresenta a possibilidade de refletir sobre a
historiografia das culturas nativas da América, visto que as nossas fontes primárias foram

1
A obra utilizada por Bartoluci foi: TURNER, Bryan S. Orientalism, postmodernism and globalism. London:
Routledge, 1994.
18

escritas por cronistas europeus e por filhos de nativos com europeus que cresceram durante,
ou logo após, o processo de conquista dessas culturas americanas. Os incas não possuíam
escrita e pouquissimos códices originais astecas sobreviveram a ocupação espanhola. Isso
significa que as fontes primárias para o estudo dessas culturas possuem certas limitações nas
suas pluralidades.
Por último, mas não menos importante, precisamos trabalhar com o conceito de
Império para que possamos trabalhar com essas duas culturas americanas.
Sendo assim, se faz necessário delimitar o conceito de Império a fim de responder
duas questões: “O que podemos entender por Império?” e “Podem os incas e os astecas serem
considerados povos ou culturas imperiais?”.
Para tanto, será adotado o conceito de império proposto por Rober Gilpin (1981) e por
Maurice Duverger (1980), como apresentado por Luís Moita em seu artigo A propósito do
conceito de império (2005).
Ao se estudar o caso das culturas comumente adjetivadas como Império, vemos uma
clara distinção entre os diferentes aspectos utilizados para designar sociedades como impérios
com o passar do tempo. Dessa forma, pode-se dividir o uso do termo império em dois
momentos: o império “clássico” e o império “colonial”. Como o segundo não diz respeito a
esse trabalho, e nem se faz necessário para a compreensão do primeiro, essa monografia
apenas trabalhará com a noção de império clássico.
O conceito de Império é muito amplo, tendo sido utilizado ao longo da história para
descrever desde os maiores impérios da antiguidade, como o império Persa e o império
Macedônico, até o asteca e o inca, objetos de estudo deste trabalho. Além disso, sua utilização
ainda é contemporânea, dada a existência do império Britânico e do contínuo debate sobre a
natureza imperial, ou não, dos Estados Unidos.
Maurice Duverger ao examinar com minúcia o termo império, chega à seguinte
conclusão2:
Entende-se por um império um Estado vasto e formado por diferentes
povos, onde um povo exerce hegemonia. Em essência, é monárquico,
possuindo um poder centralizado e sagrado. Constitui-se como um
espaço formado por meio de conquistas e, na sua expansão territorial,
abrange diferentes identidades culturais. (apud MOITA, 2005, p. 14)

Já Robert Gilpin (apud MOITA, 2005, p.14) define Império da seguinte forma: “Por
‘império’ entende-se uma agregação de diversas gentes guiadas por um povo culturalmente

2
Moita trabalha com o conceito de Império de Duverger mediante a seguinte obra: DUVERGER, Maurice. Le
concept d’Empire. Paris: Presses Universitaires de France, 1980.
19

diferente e uma forma política caracterizada por uma centralização do poder, concentrado nas
mãos de um imperador ou soberano”.3
O império do tipo “clássico” está intimamente ligado com as sociedades que tiravam
seu sustento da agricultura e eram dependentes da arrecadação de tributos na forma de
produtos essenciais ou de luxo. De forma geral, se fazia necessária a expansão do território
com o intuito de aumentar a arrecadação de tributos, adquirir mão-de-obra e terras cultiváveis.
Isto ocorria devido ao fato de que a riqueza do império estava estritamente relacionada com o
tributo arrecadado daqueles que trabalhavam a terra e daqueles que trabalhavam com
comércio, o que significa que a máquina imperial dependia de uma vasta extensão territorial.
Como será visto a seguir, tanto os astecas quanto os incas atendiam a esse critério de
Império. Ambas eram sociedades agrárias que centralizavam o poder nas mãos de um
indivíduo (O Tlatoani, no caso dos astecas, e O Inca, no caso dos incas). Ambos os territórios
controlados pelos astecas e pelos incas eram formados por diversos grupos culturais
dominados por um povo específico (no caso asteca pelos aztecah e no caso inca pelos incas).
Além do mais, os Impérios foram formados por meio de conquistas militares e possuíam
várias culturas que, embora apresentassem características similares entre si, apresentavam
também características divergentes e se enxergavam como grupos diferentes.
Por fim, é interessante analisar que vários pensadores, ao estudar e escrever sobre os
impérios, concluem que essa forma de governo é, por natureza, insustentável ao longo prazo e
que é apenas uma questão de tempo para que o império venha a ruir sobre seu próprio peso,
seja por causa de contradições internas, seja por forças exteriores pressionando o império.
Na obra Império (2001), Michael Hardt e Antonio Negri discutem, entre outras coisas,
a natureza dos impérios e suas diferentes interpretações por diversos estudiosos atravessando
a história humana. Na antiguidade clássica, acreditava-se que todo império possuía um ciclo
de vida baseado em ascensão e queda. Esse ciclo seria regido pelo destino ou fortuna. Já os
autores iluministas, como Montesquieu e Maquiavel, buscaram explicações de cunho
científico-sociais ao tentar compreender os impérios. Segundo esses autores, o declínio e a
corrupção de um império não estavam relacionados a uma concepção abstrata de destino, mas
sim à extrema dificuldade de se governar um vasto território expansivo por um longo período
de tempo.
Com essa base, podemos pensar o rápido declínio de ambos os Impérios estudados
neste trabalho como sinais de fadiga acentuados pelos espanhóis. O Império asteca era

3
Para mais informações, a obra de Gilpin utilizada foi: GILPIN, Robert. War and change in world politics.
Cambridge: Cambridge University Press, 1981.
20

formado por grupos que possuíam diferenças étnicas e culturais, muitos deles insatisfeitos
com sua situação de submissão. Nesse contexto, a aliança dos espanhóis com diferentes
grupos mesoamericanos ajudou a ruir o império. Já os incas, na época da expedição de
Pizarro, se encontravam no meio de uma guerra civil para decidir o próximo inca e com várias
rebeliões internas em diversas partes de seu território. Mais uma vez, os espanhóis iriam
auxiliar o império a ruir por dentro.
No próximo capítulo serão apresentados alguns aspectos da sociedade asteca e inca de
acordo com a compreensão contemporânea de alguns historiadores, principalmente Miguel
Leon-Portilla (2012), Henri Favre (1987), Jacques Soustelle (1987), John Murra (2012) e
Mario Curtis Giordani (1990).
21

2. A visão contemporânea sobre os astecas


Nesse capítulo são apresentadas algumas das principais características da sociedade
asteca no século XVI, como descritos por historiadores da segunda metade do século XX. O
enfoque desse capítulo está na estrutura hierárquica-social asteca e como esta interage com
sua organização social.
Para facilitar a comparação entre o Império asteca e Inca, esse capítulo e o próximo
estão subdivididos em tópicos de tal modo que as semelhanças e diferenças dessas duas
sociedades possam ser mais facilmente comparadas e analisadas.
Essas subdivisões são em ordem: Sobre a historiografia, sobre o meio geográfico em
que a cultura abordada estava inserida e as culturas anteriores a influenciaram, os primórdios
dessa civilização, sua organização político-social em seu ápice, sobre economia, a respeito da
sociedade e o governo e por fim algumas considerações finais.
As obras de Jacques Soustelle (1987), Mário Curtis Giordani (1990) e Miguel Leon-
Portilla (2012) serão utilizadas nesse capítulo para o estudo da sociedade asteca.

2.1 Sobre a historiografia asteca


Na construção da historiografia Asteca há diferentes fontes que podem ser utilizadas
para reconstruir a história desse povo, a saber: documentos escritos antes da chegada dos
espanhóis, documentos escritos após o contato com os espanhóis e vestígios arqueológicos.
No caso das fontes escritas pelos astecas, alguns de seus documentos chegaram até
nós, já outros foram destruídos pelos espanhóis no período após a conquista ou se perderam
com o tempo. Esses documentos, chamados de Códices astecas, foram escritos pelos nativos
no período pré-colombiano ou na época da colonização Espanhola. Além das fontes deixadas
pelos nativos, possuímos também os relatos dos cronistas europeus que escreveram sobre esse
mundo novo com o qual tiveram contato.
Sendo o México um país no qual a arqueologia é incentivada pelo Estado, há,
portanto, um esforço de preservação de fontes e reconstrução de artefatos e ruínas de cidades,
não só astecas, mas também das diversas sociedades Mesoamericanas. Essa preocupação com
a memória se apresenta como uma ótima ferramenta para o estudo e compreensão dessas
sociedades, pois a pluralidade de fontes tende a possibilitar um melhor entendimento dos mais
diversos setores de uma dada sociedade, no nosso caso a Asteca.
Dito isso, há no México uma aceitação e apropriação dos astecas como antepassados
cujos costumes devem ser estudado, preservado e tratados como parte integral de sua herança
22

cultural, a começar pelo próprio nome México, que por sua vez é uma variação do termo
Mexica, que é um dos nomes usados para descrever os astecas. Esse termo, Mexica, é mais
comum no México do que fora dele. É justamente pela aceitação desse passado que vemos um
forte incentivo na arqueologia e historiografia voltadas para o estudo e preservação da cultura
asteca, e das demais culturas Mesoamericanas.

2.2 Sobre a Mesoamérica e as culturas que mais influenciaram os astecas


A Mesoamérica é o nome que se dá para uma área geográfica extensa na América
Central, rica e diversa em fauna, flora e onde várias culturas e etnias diferentes se sucederam
ao longo do tempo. Essas possuíam similaridades culturais e técnicas que partem das suas
influências mútuas.
Em linhas gerais, nas sociedades contemporâneas entre si, essa osmose cultural ocorria
principalmente por meio da dominação militar de grupos vizinhos e pelo comércio: uma das
principais formas de difusão de práticas, costumes e notícias, visto que comerciantes estavam
em constante trânsito pela região, levando e trazendo não só mercadorias, mas também
costumes e informações.
Já entre culturas que não coexistiram em uma mesma época, observamos uma
apropriação cultural dos grupos que vieram anteriormente, cujo legado deixavam na forma de
obras de arte, textos hieroglíficos, esculturas, pirâmides e centros urbanos abandonados ou
pouco habitados. Esse legado era comumente apropriado pelos grupos que migravam, como
foi o caso dos astecas, ou por grupos que possuíam relação com essas culturas. Ainda hoje
muitas obras arquitetônicas e de arte permanecem em pé no México, o que permite que os
arqueólogos reconstruam parte dessas culturas antigas, algumas pré-datando a Era Cristã.
Dentre as que exerceram maior influência nas demais sociedades do Vale do México
foram: os olmecas, os teotihuacanos e os toltecas.
Os olmecas são considerados a primeira grande civilização do Vale do México e
precursores das fundações artísticas e arquitetônicas das culturas que os sucederam. Soustelle
(apud CURTIS, 1970, p.136) observa que “desde a segunda metade do II milênio antes de
nossa era (1500-1200 A.C.) esse povo misterioso construiu imponentes centros
cerimoniais...”.4 Ainda que pouco se saiba de sua origem ou queda, como dito por Curtis
“Quem eram os olmecas? Qual sua origem? Estamos aqui em face de indagações que
aguardam respostas definitivas.” (1990, p.136). O que se sabe, contudo, é que suas principais

4
SOUSTELLE, Jacques. Les Aztèques. Paris: Presses Universitaires de France, 1970.
23

características, segundo Curtis (1990, p.136), são os “monumentos megalíticos como, por
exemplo, cabeças monumentais; estilo realista e naturalista; predileção pelo jade e pela
serpentina; espelhos côncavos de obsidiana; religião complexa e poderosa com forte elemento
de cerimonialismo etc.”.
No que consta a influência exercida pelos olmecas sobre as demais culturas
Mesoamericanas, Frank da Costa diz o seguinte5:
É difícil discernir se se trata de influência puramente intelectual, de
proselitismo religioso, de expansão econômica ou de conquista
militar. Há indicações de que os Olmecas não eram pacíficos e que
realizaram migrações quando do abandono de seus centros
cerimoniais. As simples culturas locais não lhes podiam oferecer
grande resistência. A distribuição dos monumentos em estilo Olmeca
e de outros objetos sugere fenômenos de colonização e expansão
cultural e talvez comercial em área mais vasta, que relembra bastante
os padrões astecas de dispersão, enclaves e rotas comerciais. (apud
CURTIS, 1990, p. 137)

Independentemente de sua origem e do destino desse povo, sua influência foi sentida
nas outras culturas Mesoamericanas que vieram a se estabelecer alguns séculos depois, como
é o caso dos teotihuacanos, habitantes de Teotihuacán que experimentaram seu ápice por
volta de 200-600 D.C.
A cidade de Teotihuacán apresentava características comuns na Mesoamérica do
século XVI, possuindo grande similaridade com a cidade asteca de Tenotlichitan, a saber:
pirâmides monumentais, templo dedicado a Quetzalcoatl e Tlaloc, centro cerimonial, um
grande centro religioso e zonas artesanais. (Curtis, 1990, p.138). Além do mais, há indícios de
que nessa época já houvessem surgido todos os grupos dominantes que existiriam nas épocas
posteriores, ou seja, uma casta de guerreiros, uma aristocracia tribal, sacerdotes, mercadores e
um esboço de burocracia estatal em processo de formação como grupo separado. (Curtis,
1990, p.138). Tão importante para os astecas era Teotihuacán que passam a considerá-la o
local de nascimento do mundo.
Contudo, por volta de 600 D.C. a cidade desaparece, sendo incendiada e
sistematicamente destruída. Sua destruição deixa um vácuo de poder na área, mais tarde
ocupada pelos toltecas no século X, que se fixam no Vale do México.
Os toltecas, que até esse ponto eram um grupo de chichimecas falante do dialeto
nahua, tomam para si grande parte da cultura dos antigos teotihuacanos, fundando a cidade de
Tula no início do ano 900 D.C. Porém, a expansão do poderio tolteca pela Mesoamérica e a

5
A citação que Curtis faz a da Costa vêm da seguinte obra: FRANK DA COSTA, João. Evolução Cultural da
América Pré-Colombiana . MEC – Conselho Federal de Cultura, 1978.
24

sua subsequente queda acontecem em menos de trezentos, e em 1170 D.C., temos o terceiro
vácuo de poder no Vale do México, no qual ocorre a migração dos astecas para o Vale do
México.

2.3 O assentamento asteca no Vale do México


Originalmente os astecas foram uma dentre várias tribos que realizaram um
movimento migratório em direção ao Vale do México. Esse primeiro momento da história
asteca é envolto em mitos e lendas.
Os astecas saíram de sua terra natal, Aztlan, rumo ao Vale do México, sendo uma das
últimas tribos seminômades a se assentarem por lá, após o vácuo de poder deixado pela
decadência dos toltecas no século XIII. Assim como as outras tribos seminômades que
migraram para o Vale, os astecas viriam a ser fortemente influenciados pela cultura tolteca,
cultura essa que ainda se fazia presente na área, sendo mantida viva pelas outras sociedades
que a adotaram e também pelos grupos toltecas dispersos pelo Vale.
Os astecas faziam parte do grupo nahua, o mesmo grupo étnico dos Toltecas.
Compartilhavam do mesmo dialeto, o nahuatl, e possuíam semelhanças culturais. Entretanto,
os astecas eram vistos como chichimecas por não estarem fixados na terra, sobreviverem da
caça e da pesca, desconhecerem a agricultura, e possuírem uma organização social
relativamente simples, se comparada com a de seus vizinhos. 6
Segundo Soustelle (1990, p.13), sabemos muito pouco da organização tribal dos
astecas no seu período anterior a fundação de Tenochtitlan. De acordo com seus manuscritos,
os sacerdotes astecas, guiados pelo deus Uitzilopochtli conduziram a tribo em direção ao
Vale. 7 Uitzilopochtli era o deus da guerra, do sol e necessitava de sacrifícios humanos.
Sobre a primeira organização social dos astecas, Soustelle diz o seguinte:
Ao se fixar no vale do México, a tribo asteca apresentava-se como
uma sociedade homogênea e igualitária, essencialmente guerreira;
seus membros-soldados e cultivadores (ou caçadores e pescadores)
não reconheciam qualquer outra autoridade senão a dos sacerdotes,
eles próprios guerreiros e intérpretes dos oráculos de Uitzilopochtli.
(1990, p.29)

6
O termo “chichimecas” era utilizado pelos grupos étnicos da língua nahuatl, o que inclui os Toltecas e os
Astecas, assim como por outros grupos étnicos falantes dessa língua, como termo geral para designar esses
grupos de seminômades que habitavam as regiões no norte do México. Normalmente era comparado ao termo
Romano “Bárbaro.
7
Dependendo do autor, alguns termos que derivam da língua Nahuatl podem ser grafados de formas diferentes.
Uitzilopochtli e Huitzilopochtli são usados para se referir a mesma divindade. Nesse caso, a primeira versão é da
forma com que Soustelle optou por grafar, já a segunda foi escolhida por Curtis.
25

Foi no Vale do México que os astecas integraram os aspectos culturais dos povos ao
seu redor com sua própria cultura, moldando esses traços até chegar à cultura do século XV
que conhecemos por asteca. No período que corresponde entre o século XIII e XVI os astecas
demonstraram uma incrível capacidade de assimilação de costumes, técnicas e rituais. Dentre
esses aspectos assimilados podemos citar: práticas e rituais religiosos, o panteão
Mesoamericano, incluindo a serpente emplumada Quetzalcoatl e o deus da chuva Tlaloc; o
gosto pelo trabalho com o jade, metalurgia, agricultura e domesticação de animais; a
construção de cidades e estruturas megalíticas; adoção de instituições, arte e uma complexa
hierarquização social prezando uma aristocracia militar.

2.4 Organização político-social do Império asteca


O que chamamos de Império asteca começou como uma confederação de Cidades-
Estados. Por Cidade-Estado entendemos um núcleo populacional que possuí uma forma de
governo autônomo e regional. Inicialmente faziam parte dessa confederação três cidades:
Tenochtitlan, Texcoco e Tlacopan. No inicio, essas cidades demonstravam um equilíbrio de
poder e importância, mas com o passar do tempo, Tenochtitlan, a sede do poder asteca,
tornou-se a cidade mais importante da aliança e sede da Confederação, enquanto que as outras
duas cidades passaram a assumir papéis secundários. Por essa razão a Confederação é
normalmente chamada de Império asteca, visto que os astecas a lideravam.
No seu auge, no início do século XVI, o Império asteca se estendia por boa parte do
México central, principalmente o Vale do México, e abrangia diversas Cidades-Estado e
povos diferentes. Mário Curtis Giordani, em sua obra “História da América Pré-colombiana:
Idade Moderna II” (1997) aponta que, segundo a relação de tributos dos astecas da época da
chegada dos espanhóis, o Império asteca governava 371 cidades, subdivididas em 38
províncias. Essa divisão das cidades em províncias era puramente administrativa. A grande
maioria dessas cidades foi incorporada à Confederação por via de conquista militar. Algumas
se rendiam perante o exército asteca, já outras eram anexadas após vitórias militares.
Cada cidade importante do Império possuía um funcionário imperial (calpixqui) cuja
função era receber o tributo da cidade. Os astecas normalmente permitiam que as lideranças
locais continuassem no poder mediante pagamento de tributos para o Império. De maneira
geral, a liderança local só seria substituída por um líder nomeado pelos astecas em caso de
rebeldia da cidade.
Diferentes cidades possuíam diferentes obrigações para com a Confederação. Algumas
deveriam apenas pagar tributos em forma de 1/3 de sua produção de determinados produtos,
26

outras estavam encarregadas de enviar presentes ao Imperador e ainda havia cidades com
obrigação de fornecer estadia e refeição para funcionários imperiais e tropas em trânsito pela
região.
Cada altepetl (cidade em nahuatl) possuía estatuto próprio, produzia os recursos
necessários para se manter e alimentar o sistema tributário Imperial, possuía administração,
traços culturais próprios e culto preferencial a certas divindades. Algumas se aliavam a
Confederação enquanto outras eram submissas à Confederação. Sendo assim, a Confederação
asteca era como um mosaico de cidades diferentes que possuíam certa autonomia, mas
também deveres e limitações.
Ao ingressar na Confederação, fosse por vontade própria ou por submissão, a cidade
deveria seguir algumas regras. O altepetl não poderia mais praticar política externa ou militar
independente, visto que a política externa era reservada apenas a Tenochtitlan. Deveria
celebrar a divindade asteca Huitzilopochtli e, como já dito anteriormente, algumas ficavam
incumbidas de pagar tributo.
A sociedade asteca era altamente belicosa. Tal inclinação para conflitos armados
estava enraizada na base da sociedade desde seus primórdios tribais. Na época da chegada de
Cortez, vários títulos e cargos carregavam consigo obrigações militares ou eram concedidos
para pessoas que se destacavam em guerras. Temos, por exemplo, o título de tlacochcalcatl
(Senhor da casa das lanças) que era uma espécie de comandante militar, o próprio chefe da
Confederação, o Huey Tlatoani (Grande orador ou Grande governante) era primeiramente um
chefe de guerra e o mais elevado comandante militar da confederação. Os títulos mais altos e
importantes ficavam restritos aos pili.8
Religião e guerra andavam lado-a-lado. Huitzilopochtli, o deus padroeiro de
Tenochtitlan, era cultuado como a divindade da guerra. O culto a Quetzalcoatl exigia
sacrifícios humanos diários em números cada vez maiores que só poderiam ser atendidos
mediante a constante captura de prisioneiros de guerra. Essa constante necessidade de
prisioneiros para sacrifícios repercutia na forma de guerrear dos astecas. Os conflitos armados
possuíam a finalidade de capturar os inimigos e não mata-los. Era comum, principalmente em
épocas de secas severas, que a Confederação organizasse conflitos armados altamente
ritualizados entre as cidades da Confederação com o intuito de capturar prisioneiros para
serem sacrificados. Os astecas denominavam esse conflito de xochiyáoyotl, ou guerra florida.

8
Grupo de maior prestígio. Comumente traduzido como nobre.
27

2.5 Economia do Império asteca


A economia asteca operava sobre quatro pilares. Eram eles: espólios de guerra, tributo
das cidades submissas, a produção das propriedades dos nobres e o comércio realizado pelos
pochtecas. 9
Entende-se por espólios de guerra tudo aquilo que o exército vitorioso carregava
consigo após derrotar o oponente. Dentre os bens adquiridos dessa forma se encontravam
prisioneiros de guerra, equipamentos militares, produtos em espécie e animais.
Quase todas as cidades pagavam tributos para as três principais cidades da
Confederação: Texcoco, Tlacopan e Tenochtitlan. A divisão do tributo entre essas cidades
ocorria na proporção de 2/5, 1/5 e 2/5. De acordo com Jacques Soustelle, na sua obra A
civilização Asteca (1987), quando os astecas alcançaram hegemonia dentro da Confederação,
à tributação passou a ser inteiramente encaminhada para Tenochtitlan. A natureza dos tributos
variava desde grãos, peles e penas de animais, até minérios, cacau e roupas de algodão. O
tributo pago correspondia à parte da produção local, que de acordo com os registros astecas
variava de 1/4 a 1/3 da produção dessas cidades.
Ainda existe um debate entre os historiadores a cerca da posse de terra na sociedade
asteca. Alguns citam a terra como de pose coletiva, outros atestam que as terras pertenciam
10
aos pili ou a um calpulli. Entretanto, pode-se afirmar que uma parte dos macehualtin
trabalhava a terra cultivando grãos e cereais, devendo ser entregue uma parte do que era
produzido na terra como tributo para o calpixqui ou nobre local, dependendo de para quem o
macehualtin estava cultivando a terra: para o governo asteca ou a nobreza local. 11
Por fim, os pochtecas formavam um poderoso grupo em ascensão dentro da sociedade
asteca na época da chegada de Cortez na Mesoamérica, movimentando milhares de
mercadorias preciosas para dentro e fora do Império, acumulando riquezas e vendo sua
influência crescendo cada vez mais. Soustelle assim descreve esse grupo:
Com seu deus particular Yiacatecuhtli, seu ritual, seus próprios chefes,
seus próprios tribunais, os Pochtecas apareciam como uma classe
possante e em plena ascensão em uma sociedade em que eles
representavam a fortuna privada, o luxo e a riqueza face ao ideal
austero e guerreiro da classe dirigente. (1990, p.39)

9
Título reservado aos grandes negociantes Astecas. Representavam um grupo em ascensão
10
Pequenas unidades que abrangiam várias famílias dentro de uma cidade. Era comandada por um chefe eleito
assistido por um conselho. Tinha a função de distribuir periodicamente as terras da cidade a homens casados
para que fossem trabalhadas, administrava o grupo e, em alguns casos, possuíam até mesmo forças armadas
próprias. Cada cidade possuía alguns calpulli.
11
Macehualtin: Grupo social que abrangia guerreiros, artífices, mercadores, agricultores e outras formas de
trabalhos especializados. Quando casavam recebiam um lote de terra do calpulli ou de um Pilli para cultivo. 1/3
de tudo que criavam era pago como imposto. Curtis chama esses indivíduos de “plebeu(s)” (p.150)
28

Esses quatro aspectos são considerados os pilares da economia do Império, pois juntos
supriam as demandas internas, fossem elas de oferendas para sacrifícios ou bens de consumo,
permitiam a distribuição de privilégios e mantinham a máquina administrativa funcionando.

2.6 A sociedade e o governo


Como dito anteriormente, a sociedade asteca foi se hierarquizando ao longo do tempo
devido à influência das sociedades com quais tiveram contato, sendo elas vizinhas ou
subjugadas. Embora fosse hierárquica, a sociedade asteca não era estratificada; existia
mobilidade social interna por meio da captura de prisioneiros de guerra, preparação e
qualificação para funções religiosas e administrativas.
A sociedade asteca pode ser dividida em três grandes grupos. Alguns autores como,
Soustelle (1987), se utilizam de analogias com as classes medievais Europeias. Nesse caso a
camada que estava no topo era denominada de pilli (que abrangia os dirigentes de cidades e
calpullis, altos funcionários administrativos imperiais, soldados muito bem condecorados,
altos sacerdotes e os bem-nascidos); analogamente é comparada com a nobreza e aristocracia.
Pelos pillis terem acesso a maior quantia de recursos, melhor educação e serem um grupo de
prestigio, a maioria dos cargos e postos mais elevados se encontravam nas mãos desse grupo.
Logo em seguida estava a grande massa do povo que abrangia todas as outras pessoas,
entre os membros desse grupo estavam: macehualtin, pequenos e grandes artífices, pequenos
e grandes comerciantes, soldados profissionais, a vasta parte do clero e funcionários
administrativos de baixa importância.
Essa divisão entre o grupo dominante e o povo se refletia também no sistema
tributário. Todos deviam prestar serviços militares ao se senhor, mas os pilli e os guerreiros
profissionais estavam isentos dos demais tributos. Os governantes das cidades, tlatoanis,
tinham direito a parte da arecadação dos impostos como pagamento pelos seus serviços. Os
mercadores e os artífices pagavam taxas adicionais com base nos artigos de seu comércio. Os
macehualtins eram encarregados de fornecer como tributo 1/3 de tudo que criavam e estavam
sujeitos à corvéia. 12
Na base se encontravam os tlatlacotin (escravos). O termo escravo é “malgrado e
inexato”, como apontado por Soustelle, pois carrega consigo uma conotação pejorativa, o que
não se enquadra muito bem na forma como eles eram tratados na sociedade asteca e como

12
Serviço obrigatório e não remunerado. De tempos em tempos eram chamados para realizar serviços como
conservação e construção de estradas e pontes.
29

eram enxergados pela lei. Não eram pagos por seus serviços, podiam possuir bens, casar,
possuir escravos, não podiam ser vendidos, sua condição não era hereditária e não tinha
obrigações militares ou fiscais. Soustelle enumera as diferentes formas que um cidadão
poderia vir a se tornar um tlatlacotin:
Prisioneiros de guerra destinados ao sacrifício por ocasião das
grandes cerimônias; condenados pela justiça civil, os quais não
cumpriam pena de prisão, mas eram obrigados a trabalhar para a
coletividade ou para pessoa que haviam prejudicado; os homens e
mulheres que se vendiam voluntariamente por se haverem arruinado
no jogo ou pela bebida; e, enfim, servidores que uma família colocava
à disposição de um senhor para saldar uma dívida (esse costume foi
abolido em 1505). (1987, p.32)

A gênese do grupo conhecido como pilli remonta da época em que os astecas se


assentaram no vale do México. Os astecas acreditavam que a nobreza tolteca descendia
diretamente de Quetzalcoatl. Impressionados com a cultura tolteca e a descendência divina de
sua nobreza, os astecas uniram a sua nobreza à nobreza tolteca por meio de laços de sangue e
casamentos. Essa insistência das casas reais astecas de afirmarem sua descendência dos
toltecas pode ser interpretada como uma forma de se afirmar legitimidade e continuidade
cultural. Os descendentes dos tlatoanis ocupavam as mais altas funções administrativas e
militares. Um pilli podia cair na obscuridade caso não se mostrasse digno dos pais. Em
contrapartida, após grandes batalhas e conquistas militares vários indivíduos podiam ser
elevados a essa posição de pilli.
Sanders (apud CURTIS, 1971, p.110) apresenta um grupo que Soustelle não menciona
em sua obra A civilização Asteca.13 Esse grupo se chamava mayeques e estavam no fundo da
escala: “servos vinculados às terras dos nobres ou a propriedades atribuídas a cargos
políticos.”.

2.7 Reflexões adicionais sobre o capítulo


Ao se estudar construções historiográficas feitas por autores diferentes há sempre o
risco de anacronismo quando terminologias são utilizadas indevidamente, julgamentos de
valores são feitos, ou há comparações indevidas.
Esse capítulo mostra o quão complicado é reconstruir algo a partir de olhares plurais.
Ao longo da revisão de literatura, a qual essa monografia tomou por base Soustelle e
Curtis, os quais, por sua vez, recorrem a outros autores, notou-se uma grande dificuldade em

13
Para mais informações ver: SANDERS, William Timothy. Pré-história do Novo Mundo. Zahar Editores,
1971.
30

descrever a construção da sociedade asteca. Isso por que os historiadores usam palavras do
dialeto asteca em vários trechos das suas obras, mas logo em seguida apresentam como
sinônimos e terminologias que são familiares aos seus leitores. Essa estratégia de escrita faz
com que os termos astecas acabem sendo igualados aos conceitos europeus da Idade Média ou
aos conceitos romanos.
Além disso, algumas vezes os termos astecas são entendidos de formas diferentes por
autores diferentes, o que resulta em construções distintas de um mesmo objeto. Isso dificulta a
realização de estudos que buscam a comparação e construção de um mesmo objeto, a partir de
fontes diversas, pois o pesquisador deve primeiramente apreender o entendimento que cada
historiador tem de um dado objeto antes que possa delinear um quadro que se aproxime de
uma visão mais objetiva do objeto de estudo.
Essa predileção por comparar o que nos é desconhecido com terminologias mais
naturais ao historiador acaba por causar sérios problemas de anacronismo e esvaziamento de
sentido dos termos originais. Podemos citar como exemplo a descrição do que seria o
calmecac.
Ao apresentar essa instituição, Soustelle (1987, p.39) escreve “Presos ao celibato, os
sacerdotes não somente se desincumbiam das obrigações do culto, como também da educação
dos jovens aristocratas em colégios denominados calmecac.” Esse termo nahuatl
normalmente é entendido como um “colégio encabeçado pelos sacerdotes que forneciam
ensino para a aristocracia asteca”. O problema em traduzir calmecac como colégio reside em
toda a bagagem cultural que o termo colégio possui na nossa sociedade.
Assim, é válido questionar se, ao utilizar um termo mais próximo de nossa
compreensão, o autor está refirmando como o termo é traduzido nas fontes a que teve acesso,
se apenas se utiliza desse termo para facilitar a compreensão do leitor, ou se não lhe ocorreu
que, ao descrever essa instituição, tal tradução do termo dificilmente é precisa.
Da mesma forma, Curtis, ao apresentar a organização político-administrativa do
Estado asteca, se utiliza do argumento de Sanders, que diz o seguinte:
O judiciário, por exemplo, incluía uma pirâmide de tribunais, dotado
cada um deles de juízes, escrivães e uma força policial; o departamento
da Fazenda contava com um pequeno exército de coletores de impostos,
escrivães, artífices régios e trabalhadores. (1990, p.146)

Há de se ressaltar nessa passagem a utilização do termo força policial e departamento


da fazenda. Como Curtis só se utiliza dessa passagem para explicar essa parte do aparato
administrativo, entende-se que aceita esses dois termos por seus significados corriqueiros.
31

Isso levanta mais perguntas do que respostas. Como funcionava a polícia? Qual seu papel
dentro da sociedade, lembrando que o papel da polícia varia de acordo com a sociedade e a
época? Qual sua posição dentro da organização asteca? Membros da baixa administração
faziam parte da massa (macehualtin), mas dentro desse contexto, qual seria a posição ocupada
por eles? Do mesmo modo, departamento da Fazenda nos remete ao órgão governamental
responsável pela arrecadação de tributos e impostos. Mesmo que fosse o caso, como esse
órgão funcionava dentro de seu contexto especifico e qual é o termo nahuatl?
Embora não haja espaço nessa monografia para entrar em detalhes, é interessante dizer
aqui que, cada vez mais, a filosofia asteca vem ganhando reconhecimento, em parte pelos
esforços de Miguel León-Portilla, que escreveu seu PhD sobre esse tema. De tamanho
interesse eram as questões e os debates filosóficos empreendidos pelos astecas que várias
fontes dos missionários espanhóis e até mesmo códices astecas foram escritos sobre o tema, o
que prova a importância e a desenvoltura da filosofia dessa cultura.
Infelizmente, Soustelle, Curtis e Portilla, em nenhum momento, desenvolvem ou ao
menos apresentam essa questão integral da sociedade asteca nas obras estudadas neste
levantamento bibliográfico. Já a área jurídica e administrativa, ao contrário, recebe atenção e
elogios por historiadores por serem vistas como pontos importantes da cultura asteca,
passiveis de serem mencionados, apresentados e trabalhados.
Diante dessa constatação, há de se preguntar: Dá-se o devido tratamento às fontes
primarias? É válido recorrer a termos análogos ao estudarmos o universo nativo? Caso
contrário, até que ponto? Esses são questionamentos que merecem um estudo mais
aprofundado em outro momento, e podem ser encaminhamentos futuros para outro trabalho.
32

3. A visão contemporânea sobre os incas

Nesse capítulo são apresentadas algumas das principais características da sociedade


inca no século XVI, como descritos por historiadores da segunda metade do século XX. O
enfoque desse capítulo está na estrutura Imperial inca e no seu modelo econômico.
Esse capítulo segue a mesma subdivisão estabelecida no capítulo dois com a intenção
de facilitar uma comparação entre os dois casos estudados. Porém, como veremos nesse
capítulo, o enfoque historiográfico e as singularidades da sociedade inca foram levados em
consideração ao elencar um subtópico com outro. Assim sendo, alguns aspectos incas que
podem ser considerados análogos aos astecas não se encontram sobre o mesmo subtópico.
As obras aqui estudadas e trabalhadas foram as de Henri Favre (1987), John Murra
(2012) e Mario Giordani Curtis (1990).

3.1 Sobre a historiografia inca


O império inca se apresenta ainda hoje como uma experiência histórica pouco
estudada, tanto por historiadores como por arqueólogos. Ao levantar uma bibliografia do
século XX que trabalhe com as diferentes facetas dos incas, vemos um grande foco na
estrutura política, nos seus governantes e, principalmente, no modo de produção econômico
andino, que tanto para historiadores quanto para economistas, se apresenta como um campo
de pesquisa muito atraente por sua singularidade. Esse foco, que também é encontrado no
estudo das culturas pré-colombianas da América de forma geral, apresenta um desafio para a
construção da memória dessas culturas, ao passo que não desenvolve totalmente suas
singularidades.
Como os incas não possuíam escrita, as fontes primárias sobre esse povo se compõem
das escritas pelos cronistas espanhóis que presenciaram a queda do Império de perto, das
tentativas de preservação da história e cultura inca pelo Inca Garcilaso de la Vega e dos
registros dos funcionários imperiais espanhóis quando da implementação da colonização dos
Andes. John Murra levanta a problemática de se estudar os incas dizendo que:
É dessas histórias e dos relatos posteriores de testemunhas oculares
que deriva basicamente nosso conhecimento sobre as civilizações
andinas em 1532.14 Trata-se de um conhecimento bastante
incompleto; nem mesmo a comunidade acadêmica nem sempre tem
consciência da fragmentação em que permanecem os registros. A

14
Por histórias Murra se refere aos relatos escritos pelos cronistas espanhóis que viram o Império inca de perto
antes da influência espanhola.
33

arqueologia poderia ajudar, não fosse a posição marginal que os


arqueólogos ainda mantêm nas repúblicas andinas (em flagrante
contraste com o que acontece no México) É possível que milhões de
pessoas que leram a ode de Pablo Neruda a Machu-Picchu e outros
milhões visitaram o monumento, mas ninguém sabe que segmento da
sociedade Inca habitou o lugar. Isso não impede que ondas sucessivas
de arquitetos “restaurem” a colônia, mas poucos arqueólogos se
dedicam profissionalmente – se é que algum o faz – a esse estudo,
trabalhando no próprio sitio [...] (2012, p.63-64)

Como dito por Murra, ao contrário do que acontece no México com o estudo dos
astecas, as cinco repúblicas andinas que ocupam o território em que um dia habitaram os incas
não enxergam essa cultura como uma herança que lhes é de direito, talvez com exceção do
Peru, visto que lá se investe cada vez mais no turismo para os Andes, principalmente, em
Machu Pichu. Sem o incentivo arqueológico do Estado e o pouco interesse de grupos
privados, os historiadores ficam atados às documentações de época, que são poucas e
limitadas, e livros modernos acerca do tema. Ademais, a arqueologia poderia corroborar ou
elucidar essa documentação de época, pois às vezes os documentos apresentam lacunas e
dúvidas que a arqueologia pode explorar e desvendar.
Em relação às evidências arqueológicas, Murra aponta a dificuldade de se estudar os
incas e, paradoxalmente, a facilidade de se estudar culturas Andinas mais antigas.
[...] grande parte de períodos mais antigos, alguns que datam de
centenas de anos antes dos Incas, parecem mais acessíveis e tiveram
suas peças de cerâmica minuciosamente estudadas [...] Todavia,
quanto mais nos aproximamos de 1532, época em que o Estado andino
foi dominado e estilhaçado nas centenas de grupos étnicos que o
compunham, menos possibilidade temos de obter conhecimentos
através da arqueologia na forma como é praticada hoje, e mais temos
de depender dos relatos escritos por aqueles que “estiveram lá” (2012,
p.64)

Tendo em vista os limites da arqueologia e das fontes pertinentes às culturas pré-


colombianas nos Andes e seu entorno, nota-se um contraste entre a disponibilidade de fontes
para se estudar as culturas Andinas e Mesoamericanas e diferentes interesses historiográficos
e arqueológicos. Nos Andes o paralelo aos códices astecas seria o quipo. O quipo era um
instrumento inca composto de diferentes cordas e nós que tinha por função contabilizar o
número de famílias e a produção de um dado centro urbano. Cada quipo podia manter
registros do que fora produzido naquele local por diversas gerações, assim como o número de
familiais que habitavam aquela localidade. Curtis apresenta uma explicação particular desses
quipos dizendo:
34

Não obstante, graças a ele (quipo), nos tempos dos incas, os


historiadores oficiais do Império retinham os acontecimentos passados
e transmitiam seu relato a seus historiadores particulares, sem que seja
fácil precisar se esses últimos eram funcionários especializados ou
simplesmente os chefes das tribos. (CURTIS, 1990, p.16)

Favre, no final da década de 1980, observa que novas fontes que podem auxiliar na
nossa compreensão dos incas estão sendo constantemente desenterrada de arquivos. Essas
fontes são as visitas que surgem como alternativa para a dependência das crônicas espanholas
por meio dos pesquisadores, a saber15:
Em comparação com as crônicas, aliás, menos contestáveis em seus
dados do que na interpretação que elas impõem, as visitas apresentam
a grande vantagem de descreverem a vida local no Império Inca,
prendendo-se a fatos sistematicamente observados, e de reportarem,
sem qualquer pretensão literária ou preocupação demonstrativa, o
modo pelo qual o poder imperial atingia até os níveis mais baixos das
populações que lhe estavam submetidas. Sua investigação permitiu ao
etno-historiador norte-americano John Murra projetar suas pesquisas
sob enfoques totalmente novos. Os primeiros resultados dessas
pesquisas parecem confirmar plenamente a intuição de Cunow que, já
no fim do século passado, argumentava que a sociedade andina da
época inca manifestava, sem dúvida, menos analogia com as
sociedades da Europa antiga e medieval, com as quais era comparada,
do que com as da África e Oceania modernas e contemporâneas.
(FAVRE, 1987, p.24)

Dito isso, fica claro que o estudo historiográfico dos incas e das altas culturas andinas
ainda é incompleto e, assim como o estudo dos astecas e das demais culturas
Mesoamericanas, se faz atual.

3.2 A topografia Andina e as culturas que influenciaram os Incas


O Império inca fascina historiadores, economistas e geógrafos, não só pelo fato de ter
conseguido sobreviver e prosperar em condições tão hostis para a vida humana, mas também
por ter se estender por toda a Cordilheira dos Andes, desde altitudes acima de três mil metros
até regiões costeiras ao nível do mar. Em sua extensão máxima, o Império inca se estendia por
aproximadamente 4.000 km do norte ao sul, desde a Colômbia Meridional até o vale do Rio
Maule, no Chile. Ao leste, a floresta amazônica servia de fronteira, assim como era o caso do
oceano Pacífico a Oeste.

15
Visitas: Documentos do século XVI redigidos por funcionários da coroa Espanhola narrando suas visitas a
ayllus (ver mais a frente) Incas logo após a fragmentação do Império Inca.
35

John Murra, ao trabalhar a singularidade inca, nos apresenta um fato curioso para
análise. Segundo o autor, algo que muito intrigava os economistas locais e internacionais era
que a maior concentração populacional de um povo majoritariamente agrário se encontrava
vivendo milhares de metros acima do nível do mar (fato que ainda é contemporâneo) e, por
exemplo, a maior concentração populacional inca a véspera da conquista se encontrava no
entorno do lago Titicaca, que fica a 3812 metros acima do nível do mar. Murra aponta o
trabalho de campo de Carl Troll em 1931 como um grande passo em direção a compreensão
da realidade inca. Carl constatou que os mapas das chuvas e temperaturas tradicionalmente
utilizados naquela região não coincidiam com suas observações de campo, e que as
terminologias científicas usadas para descrever outras regiões eram insuficientes para o caso
andino.
[...] Troll observou que os tradicionais mapas das chuvas e das
temperaturas eram inadequados e enganosos quando aplicados a essa
região. Para registrar os extremos andinos num período de 24 horas,
Troll criou novos gráficos. Cedo descobriu que a terminologia
cientifica desenvolvida em outros lugares não descrevia os climas
locais [...]. (2012, p.67)

Se considerarmos que, do ponto de vista climatológico e geográfico, os Andes se


apresentam como um caso a parte, então as culturas que prosperaram naquela região devem
ter desenvolvido um sistema de subsistência igualmente único para lidar com sua realidade
local.
Nos Andes diversas culturas complexas se sucederam e conviveram juntas. Assim
como no caso da Mesoamérica, é válido dizer que essas culturas se influenciaram mutuamente
mantendo suas identidades próprias. Tanto as culturas que antecederam os incas quanto as que
coexistiram com os incas não possuíram a escrita. Sendo assim, a principal fonte de
conhecimento moderna sobre essas culturas advém da arqueologia.
Dentre as culturas mais notáveis que antecederam os incas podemos citar os chavin,
tiahuanaca, huari e o Império chimu. Assim como na Mesoamérica, o nome dessas culturas é
normalmente relacionado ao seu maior centro populacional.
A cultura de chavin aqui se faz relevante por ser o primeiro exemplo de construtores
de edifícios religiosos em larga escala nos Andes, datando essa prática por volta de 1500 a.c.
Certamente, se possuíram recursos para tal empreitada, devem ter prosperado culturalmente e,
como defendido por Curtis e Favre, influenciado as culturas com quem entraram em contato.
Segundo Henri Favre (1987, p.6), a cultura religiosa de chavin se expande rapidamente por
36

volta de 900 a.c “desde Pichiche ao norte, até Ocucaje ao sul, sem dúvida por via de
proselitismo.”.
A seguir abordamos as culturas tiahuanaca e huari que prosperaram por volta do
século VII-IX d.c. Ambas possuíram uma vasta produção artesanal e construíram centros
urbanos megalíticos, especialmente tiahuanaca. Favre (1987, p.7) aponta que essas culturas,
localizadas respectivamente nas margens do lago Titicaca e no Vale Médio do Mantaro,
“conseguem reunificar em torno delas o mundo andino fragmentado”. Favre também diz que
“nessa época, Huari já havia sofrido a influência de Tiahuanaco, de modo que as duas cidades
difundiram uma única e mesma cultura, levemente diferenciada pelo estilo de sua cerâmica.”.
Por último, Favre ressalta que ambas essas culturas se difundiram pelo baixo e médio Andes,
por meio de conquistas militares.
Além disso, o militarismo dessa época é fortemente atestado pelas
obras defensivas, pelas decorações murais que mostram uma
abundância de guerreiros e prisioneiros, e também pelos túmulos,
onde as cabeças-troféus decepadas dos inimigos figuram entre as
peças do mobiliário funerário. Sem dúvida, a área cultural
influenciada por Tiahuanaco e Huari não correspondia ao território
politicamente dominado pelas duas metrópoles. Não é menos verdade,
porém, que durante dois ou três séculos elas foram as capitais de
grandes Estados andinos, antecipando-se como precursoras dos vastos
Impérios Chimu e Inca. (1987, p.8)

O Império Chimu, que veio a se estabelecer nos Andes em torno do século XIII, é
descrito por Favre (1987, p.8) como um império “hidráulico” que “se assemelhava mais, em
seus fundamentos, ao do Egito ou da Mesopotâmia do que ao dos incas, que lhe era
contemporâneo e cujo desenvolvimento, aliás, influenciará.” São descritos como império
hidráulico por terem reativado e ampliado redes de irrigação que haviam sido previamente
destruídas em guerras, permitindo assim uma melhor irrigação dos vales vizinhos, onde as
chuvas eram fracas, proporcionando melhores colheitas e população mais numerosa. Essa
cultura, que Favre (1987, p.9) chama de “a mais brilhante de todas as civilizações jamais
surgidas sob o sol dos Andes”, influenciou bastante os incas, que estavam em processo de
expansão territorial ao mesmo tempo em que os chimu. Favre aponta a importância dada à
classe dirigente chimu, que mais tarde seria absorvida pelos incas com a criação do título
“Inca”.
Os soberanos que dirigiam esses grandes trabalhos de construção
hidráulica dispunham de um poder absoluto. Os cronistas espanhóis
Miguel Cabello Balboa e Antônio de La Calancha mencionam que a
classe aristocrática, da qual descendiam, atribuía-se uma origem
divina. Ela pretendia constituir uma humanidade ao mesmo tempo
37

anterior e superior à que formavam as pessoas comuns. Vivia em um


luxo e refinamento inauditos, do qual ainda são testemunhos as
cerâmicas, os ornamentos de metais preciosos e as numerosas peças
de mobiliário que os arqueólogos encontraram nas sepulturas. (1987,
p.8)

Esse é um dentre os diversos elementos que os incas absorveram das culturas que
incorporaram em seu território. Favre enfatiza (1987, p.61) que os incas inovaram pouco,
dizendo que “mais do que aquilo que eles acrescentaram a essa herança, sua originalidade
decorre dos empréstimos seletivos que fizeram e da maneira pela qual os empregaram e
agenciaram.”.
Meggers apresenta alguns desses empréstimos seletivos ao se utilizar do discurso de
Meggers dizendo16:
As famosas estradas Incas, com escadarias e túneis abertos na rocha
sólida, pontes de suspensão cruzando rios e gargantas, e estalagens em
intervalos regulares para viajantes oficiais foram prenunciadas pelos
sistemas de estradas, menos extensos, da época Wari. Também as
construções em pedras que se justapõem com perfeição e são famosas
na arquitetura incaica, tiveram seus antecedentes nas edificações de
Tiahuanaco. A liteira, na qual o imperador viajava, e outros atributos
de classe foram prerrogativas dos antigos governantes Mochica. 17
(apud CURTIS, 1990, p.217).

Por fim temos a língua oficial do Império inca, o quéchua, uma adoção cultural das
tribos com que os incas vieram a ter contato nos Andes. Os incas foram importantes na
difusão dessa língua pelo território Andino e por adotarem-na como língua franca do Império
sem, entretanto, abandonarem sua própria língua.

3.3 A chegada dos incas e sua Ascensão


Assim como os primórdios da história asteca são envoltos em mitos e lendas, também
o primórdio do povo inca é incerto e envolto de lendas. Por um lado temos poucas evidências
histórias que possam esclarecer a origem da cultura inca, como dito por Favre:
Admite-se ter sido em fins do século XIII que chegaram os Incas às
terras férteis que circundam os rios Huatanay e Tullumayo, no centro
de uma depressão nas cordilheiras. Essa data é tão hipotética como
todas as demais que foram atribuídas aos diversos episódios da
história inca, inclusive as mais destacadas. Ela corresponde, no
entanto, a uma ruptura que os arqueólogos observaram na tradição

16
A obra de Meggers cita por Curtis é: MEGGERS, Betty G. América pré-histórica. Paz Terra, 1979.
17
Os chimu se estabeleceram e prosperaram no antigo território Mochica, apropriando-se de certos traços
culturais mochicas, que depois seriam transferidos aos Incas quando conquistaram os chimu.
38

cultural local, e cujas características sugerem a irrupção por essa


época de um novo povo na região. (1987, p.10)

Por um lado temos a descrição de lendas e mitos sobre o surgimento do povo inca,
como observado por Favre:
Como todas as etnias andinas, os Incas se reconheciam como
paqarina, isto é, uma matriz tribal de onde acreditavam originar-se
seu ancestral-fundador. Os primeiros cronistas espanhóis relatam que
a paqarina da etnia inca era a gruta de Paqariqtampu, situada
aproximadamente a uns 30 km ao sul de Cuzco.18 Dessa gruta, haviam
saído outrora quatro irmãos: Ayar Kachi, Ayar Uchu, Ayar Awka e
Ayar Manko ou Manko Kapaq. (1987, p.11)

Esse mito é essencial para a cosmologia inca, pois moldou a história e a cultura desse
povo. Favre (1987, p.43) observa que os dirigentes incas enxergavam o império e o povo de
Cuzco como uma força civilizadora que trouxe a ordem para aquela parte do mundo e que
fora das fronteiras do império não poderia haver senão barbárie e desordem. Isso é uma
extensão do mito de fundação inca onde Manko Kapaq, segundo Favre (1987, p.11) “reuniu
sob sua autoridade as populações esparsas das redondezas, que viviam na barbárie, para fazê-
las penetrar na civilização.”.
Além disso, nos Andes havia o costume de cada povoamento possuir uma divindade
local, normalmente um antigo ancestral prodigioso, que após a morte começou a ser cultuado.
Essa divindade era designada pelo termo de Waka. Favre (1987, p.11) aponta a existência
desse traço no mito de fundação inca: “O mais velho, Ayar Kachi, regressou de Hayskisro,
reentrando na caverna matricial para aí se converter em waka (divindade local).”.
Assim como os astecas, os incas começam sua empreitada Imperial como parte de uma
confederação de tribos. Os incas aparecem como um dentre quatro povos que formavam uma
confederação nos Andes. De acordo com Favre o mito de surgimento inca teria um propósito
muito mais prático do que histórico:
O mito dos irmãos Ayar aparecia, assim, como elaboração tardia a
partir de elementos díspares. Ele visa, em primeiro lugar, atribuir uma
origem comum aos ancestrais-fundadores de quatro grupos étnicos
diferentes que haviam decidido confederar-se. Sua principal função
era justificar a situação política de Cuzco após a chegada dos Incas, e
não descrever o itinerário que estes teriam empreendido. (1987, p.11-
12)

Por fim, Favre diz que os incas possivelmente ocupavam uma posição fraca e de
dependência nessa aliança, e que aos poucos foram se tornando o grupo mais importante ao
18
A mitologia Inca descreve essas grutas como “portais” dentre a vida e a morte. O lago Titicaca é um exemplo
de um desses locais.
39

conquistarem vitórias militares e anexarem outros povos até que, ao final do século XI, se
tornaram a principal força dentro dessa confederação. Assim, lançaram as bases para o que
viria a ser o Império inca, instaurando o culto solar associado ao inca e a divindade ancestral
inca. Os outros grupos que faziam parte da Confederação foram aos poucos perdendo sua
autonomia até se fundirem ao que Favre (1987, p.13) chama de “Estado de pretensão
unitária”.
Dito isso, pode-se fazer um paralelo entre os mitos primordiais astecas e incas. Ambos
têm sua gênese em terras místicas, respectivamente Aztlan e Paqariqtampu. Enquanto que os
astecas fizeram uma longa peregrinação, os incas surgiram já nos Andes ao redor de Cusco.
Os astecas se diziam guiados pelo seu deus padroeiro, Huitzilopochtli, e mais tarde viriam a
alegar descendência de Quetzalcoatl. Os incas também remontam sua linhagem a uma figura
lendária. Por fim, ambas as classes dominantes se atribuíam origem divina.
Em termos dos mitos que lançaram a base para os dois Impérios, vemos duas situações
bem diferentes. Favre defende que esse mito inca foi criado posteriormente como forma de
justificar a confederação. Embora ambos os povos que despontaram nessas confederações
tenham tomado para si o poder e o controle, os astecas, segundo Soustelle, não tinham
intenção de unificar o Império. Por outro lado os incas, como aponta Favre, lançaram as bases
para a unificação dos Andes, processo esse que estava em curso quando os espanhóis
entraram em contato com esse Império.

3.4 A organização política- social e o poder do Império


O Império inca, em seu auge, abrangia territórios do atual Chile, Argentina, Bolívia,
Equador, Peru e Colômbia. Era constituído por diversas unidades étnicas diferentes e
comandado, no topo, pelo povo conhecido como inca, que impôs a língua Quíchua. De acordo
com Favre (1987, p.61), os incas pouco inovaram, se aproveitando da vasta bagagem de
métodos e tecnologias já existentes nos Andes, “Mais do que aquilo que eles acrescentaram a
essa herança, sua originalidade decorre dos empréstimos seletivos que fizeram e da maneira
pela qual os empregaram e agenciaram”.
Territorialmente o Império se dividia em quatro partes (suyu) desiguais em termos de
tamanho. Isso explica a autodenominação do Império pelos incas de Tawaintisuyo, ou seja,
quatro partes ou quatro províncias. Cada uma dessas partes, por sua vez, se dividia em
unidades de 10 mil famílias que, por sua vez, se subdividiam em unidades de mil, 100 e 10
famílias. Cada fração dessas unidades estava sob a responsabilidade de um funcionário
40

imperial subjugado (que respondia) a um funcionário de uma unidade superior. Favre observa
o Império refletia a organização tipicamente Andina.
Tal visão mítico-ideológica de um Império que se conservou marcado
pelas origens tribais não podia confirmar a tese de um Estado
despótico de estruturas rígidas e centralizadas. Entretanto, o Império
Inca se apresentava fundamentalmente como integrador da ordem
social tradicional. Ele operava a síntese da organização piramidal e
segmentaria (sic) das etnias andinas sobre as quais repousava; ele
prolongava e coroava os escalonamentos de chefias, da mesma
maneira que estas prolongavam e coroavam os escalonamentos dos
ayllu. De fato, o Império, a chefia centralizada e o ayllu entravam em
uma mesma relação de homologia, a um tempo reproduzindo-se e se
englobando. (1987, p.43)

A menor unidade do Tawantinsuyu era o ayllu. 19 Cada ayllu era composto de diversas
famílias unidas por parentesco que obedeciam a um líder local cujo título era kuraka. Cada
ayllu possuía uma divindade tutelar, waka, considerada como ancestral do kuraka,
legitimando o líder local. Como forma de punir os ayllus rebeldes os incas apreendiam e por
vezes destruíam wakas dos ayllus rebeldes. Cada ayllu possuía divindades próprias que
normalmente eram incorporadas ao culto religioso inca após sua anexação ao Império.
Cada ayllu estava inserido em uma organização hierárquica dentro de uma dada
província. Existiam ayllus dominantes e ayllus dependentes. Os ayllus dependentes estavam
submetidos à tutela dos ayllus dominantes, ou seja, os kurakas dos ayllus dominantes
exerciam mando sobre os ayllus dependentes. Uma das funções dos kurakas era representar
suas etnias perante o inca. Já os cargos de funcionário imperial eram reservados ao grupo da
etnia inca, e os altos cargos administrativos normalmente estavam reservados as linhagens
imperiais. Cada uma das quatro províncias estava submetida ao julgo de um tucricues.20 Suas
ordens vinham de um conselho composto por quatro membros intitulados de apu que
aconselhavam o inca na tomada de decisões.21
De fato, o Império inca pode ser interpretado como uma continuação natural do
escalonamento das diferentes sociedades andinas por ter adicionado mais um degrau à
pirâmide social andina com a introdução de um poder centralizador que abarcava outros
poderes menores. Dos ayllus até o inca, a forma básica da estrutura social se repete da menor

19
Caracterizado como pequenas coletividades agropastoris que tinham a obrigação de produzir recursos, ceder
mão-de-obra periodicamente para construção de obras a encargo da administração Inca, reparar pontes e estradas
e ceder homens para a guerra.
20
Essa é a grafia de Curtis. Favre grafa o temo como “tukriquq”. De maneira geral Curtis utiliza a letra “C” em
termos que Favre utiliza da letra “K”.
21
Curiosamente Curtis e Favre divergem quanto aos termos tukriquq e apu. Favre (1987, p.50) se refere ao
primeiro grupo como governadores. Já Curtis (1990, p. 221), ao refere ao segundo grupo, diz “qualificados ora
de vice-reis, ora de governadores, pelos cronistas espanhóis”.
41

unidade de poder até a maior de todas e, mesmo com a adição dos funcionários imperiais que
serviam como representantes dos incas no local onde eram designados, a estrutura básica da
sociedade andina permaneceu imutável.

3.5 A economia inca e o modo de produção Andino


Assim como muitos aspectos da cultura e sociedade inca foram absorvido e
desenvolvido das sociedades que os incas dominaram, o “modo de produção Andino” era
anterior aos incas, sendo por eles adotado e expandido.
Como anteriormente dito, a população dos Andes se dividia entre os que viviam no
nível do mar e os que viviam nas montanhas. Dessa forma, a economia dessas populações se
complementava. Assim sendo, Murra (2012, p.70) denomina a economia inca de “economia
de arquipélago”, sendo cada ayllu uma “ilha” de produção que contribuía com uma parcela
para o todo.
As terras ao redor de cada ayllu eram de usufruto da comunidade, ficando a cargo do
Kuraka supervisionar sua concessão. A totalidade dessas terras era dividida em três partes:
uma servia para a manutenção do ayllu, outra para a manutenção das autoridades imperiais e
outra para a manutenção dos templos locais e centrais. Existiam terras dedicadas ao pastoreio
e terras dedicadas a agricultura. no caso do pastoreio, como observado por Curtis (1990,
p.222): “As vastas extensões da estepe estavam disponíveis para cada família que aí mantinha
um rebanho sob a guarda de crianças ou adolescentes”. Já no caso da agricultura, “as terras de
cultura eram entregues, loteadas, a título de usufruto, às famílias. A extinção da célula
familiar implicava a reintegração do lote ao fundo comum”.
Enquanto que no caso asteca o comércio era uma prática que vinha ganhando força, o
comércio nos Andes não possuía a mesma importância e era até mesmo inibido pelo modo de
vida. Curtis diz:
A rígida planificação socioeconômica do império não estimulava até
mesmo impedia um intenso intercâmbio comercial. Este intercâmbio
possuía um caráter local e consistia na troca de mercadorias em
pequenos mercados regionais. Quanto ao comércio externo deve-se
registra que a elite da população podia conseguir, mediante trocas,
mercadorias originais de países distantes. (1990, p.223)

Cada indivíduo dentro do ayllu era responsável por um conjunto de tarefas em seu
núcleo natal. Quando não estavam cuidando das plantações e dos rebanhos, os membros do
ayllu poderiam trabalhar para o kuraka local realizando tarefas mediante pagamento em
espécie.
42

O tributo recolhido pelo Estado inca não era na forma de espécie, como era o caso dos
astecas. Nos Andes o celeiro de cada família era considerado sagrado. Logo, o Estado recolhia
tributo por meio de serviços prestados ao Estado. Cada indivíduo deveria ceder sua força de
trabalho ao Estado de tempos em tempos. Esse serviço, denominado de mita, consistia na
manutenção e expansão do sistema de estradas e estalagens inca, trabalho em minas, pastoreio
dos rebanhos do inca e cultivo das terras do Estado.
Um elemento importante da sociedade inca que foi extensamente estudado por Murra
eram os mitmacs.22 Os mitmacs eram famílias escolhidas dentro de um ayllu que deveriam
exercer funções especiais indicadas pelo Estado inca. Originalmente, sua função seria deixar
seus núcleos familiares sazonalmente para trabalhar em plantações e minas, que normalmente
ficavam a alguns dias de caminhada de suas residências permanentes.
Porém, com a hegemonia inca nos Andes, as funções dos mitmacs foram ficando cada
vez mais diversas, o que se deu, em parte, devido a constante expansão do Império. Eles
passaram também a serem deslocados para servir de guarnição militar nas bordas do Império
ou em regiões particularmente turbulentas. Como os incas dominavam vastas extensões de
terras, havia a necessidade de deslocar mitmacs para trabalhar em locais cada vez mais
distantes, o que acabou levando à criação de diversas “colônias permanentes” onde moravam
famílias de mitmacs no entorno dessas suas zonas de trabalho sazonais. Esse fluxo de
famílias, e às vezes ayllus inteiros, também atendia a outros interesses do Estado como, por
exemplo: Disseminação da língua quéchua, costumes e técnicas pelos Andes. Transferir
grupos problemáticos para mais perto do centro de poder e grupos leais para locais mais
problemáticos.
Como não existiam soldados profissionais, os incas recorriam ao recrutamento em
massa de grupos étnicos que revezariam sazonalmente o serviço com outros grupos. É
interessante notar que os grupos recrutados sempre faziam parte da população que vivia nas
montanhas, pois os incas não confiavam muito nos grupos que viviam nas terras baixas.
É importante mencionar também as aqllas, ou “mulheres escolhidas”. As aqllas eram
moças recrutadas dos diversos cantos do Império para fazer parte do culto do sol nos templos
em Cusco. Normalmente são mais lembradas hoje por sua importância econômica do que sua
importância religiosa. Isso se da pelo fato de que parte de suas funções era a de fiar e tecer a
lã dos rebanhos do inca, que eram vastos. Favre diz o seguinte sobre o papel dessas moças:

22
Termo que alguns autores traduzem como colono, a exemplo de Curtis que grafa o termo como mitima (1990.
p. 217). A grafia aqui apresentada é de Murra.
43

Passavam a vida na mais rigorosa castidade e no mais completo


isolamento, a serviço do culto solar. Entretanto, além das funções
religiosas que preenchiam, elas desempenhavam um papel econômico
de singular importância, fiando e tecendo a lã dos rebanhos do Sol. Os
monastérios, cujo número aumentava proporcionalmente ao das
metrópoles regionais, e que por vezes compreendiam 2 mil aqlla,
representavam verdadeiras oficinas têxteis, produzindo em abundância
todo tipo de tecidos e vestimentas. (1987, p.42)

Essas vestimentas eram de singular importância dentro do Império inca por serem
símbolo de poder, utilizadas como presentes, principalmente para o exército, e serem peças
valiosas.

3.6 A sociedade e o governo


Favre, Curtis e Murra não trabalham com estruturas sociais em si. Isso advém do
estudo da economia andina, que se apresenta diferente o suficiente para evitar a distinção de
“classes” da forma tradicional. Como abordado anteriormente, a população Andina estava
dividida em relação às tarefas que realizavam para o Império inca. Aqui vamos pontuar
brevemente a questão da “nobreza” e a posição dos yana.
Frank da Costa descreve esse grupo da seguinte maneira 23:

A nobreza não se confundia com a administração. Provinha de


evolução do sistema centro-andino (estratificação social baseada no
parentesco) com influência de noções mais estritamente aristocráticas
e hereditárias, provavelmente inspiradas pelos Chimu. No apogeu do
império inca, a nobreza incluía:
a) Os membros dos onze ayllu reais constituídos pelos descendentes em
linha paterna dos onze soberanos (Inca pelo sangue);
b) Os Incas por privilegio, que habitavam Cuzco, Urubamba e Apurimac
e falavam quéchua nativo. Os que residiam perto de Cuzco eram divididos
em onze ayllu;
c) Os Curaca, antigos chefes locais e funcionários administrativos que
recebiam o usufruto de terras que passavam para os seus descendentes.
(apud CURTIS, 1990, p.225)

Assim, a nobreza era principalmente constituída pelo inca, sua família e seus
descendentes. Estavam isentos do sistema de mita e possuíam demais privilégios.
O último grupo social de interesse no mundo inca que será apresentado aqui eram os
yana.24 Favre assim descreve sua posição:

23
Para mais informações, a obra consultada por Curtis foi: FRANK DA COSTA, João. Evolução Cultural da
América Pré-Colombiana . MEC – Conselho Federal de Cultura, 1978.
24
O termo é traduzido como dependentes perpétuos.
44

Não eram escravos no sentido que os historiadores da antiguidade dão


a esse termo. Embora desligados de qualquer laço ou atributo étnico,
conservavam o direito de reter suas terras e possuir seus próprios bens
e seu próprio gado. Não podiam escapar de sua condição, que lhes era
hereditária, mas a transmitiam a um só de seus filhos, escolhido por
seu senhor para substituí-los e sucedê-los em uma morte. Essa
categoria recobria, aliás, níveis bastante diversos. O yana, que o
serviço do soberano associava aos faustos da Corte de Cuzco,
encontrava-se em sua posição inteiramente diferente daquele que
houvesse sido atribuído a um pequeno kuraka de província, por meio
do jogo de redistribuições sucessivas. Sabe-se que certos yana
dispunham de suficiente riqueza e prestígio para terem tantas esposas
como um chefe local, e que muitos deles ocupavam altas funções na
administração imperial. (1987, p.41)

Eram servos e dependentes que prestavam serviços integralmente para algum líder,
como, por exemplo, um kuraka ou o Inca. Esses indivíduos, junto das aqllas, são os únicos
exemplos de grupos que não estavam inseridos no sistema dos ayllus Andino.
Ao contrário do que se observou no caso asteca, os incas não possuíam grupos de
guerreiros profissionais, não apresentavam títulos que não correspondessem a alguma forma
de ocupação administrativa. Os incas desconheciam a escravidão, tendo em vista que todos
deveriam contribuir de uma forma para o Estado inca.
Além disso, a posição social de um indivíduo dependia de sua descendência direta e,
ao contrario dos pilli no caso asteca, não havia esse movimento claro de ascensão e queda de
um grupo para outro.

3.7 Reflexões adicionais sobre o capítulo


Os incas se apresentam aqui com uma estrutura distinta da asteca. Embora ambos os
impérios fossem encabeçados por imperadores, as questões de sucessão e representação
dessas figuras eram claramente distintas. O líder asteca era na teoria uma figura eleita pelo
conselho para liderar a confederação, mas na prática era um líder com claros poderes cujo
cargo era hereditário. Já no caso inca havia uma fusão da religião com o governo, o que
explica a figura divina do Imperador como a representação da divindade solar que, por sua
vez, implica em suas regalias e poderes. Dito isso, seu poder não era pleno e incontestável,
visto que a sucessão do Inca sempre resultava em uma guerra civil entre os herdeiros do Inca
falecido, apoiados por diferentes grupos dentro da sociedade inca.
Vale lembrar que a estrutura aqui estudada apresenta uma visão estática da sociedade
inca, não levando em consideração que a sociedade estava em um constante processo de
mudança. Ao longo do tempo, a realidade clássica observada nos Andes e aqui apresentada se
45

modificava conforme o poder inca desagregava a antiga ordem tribal, enfraquecendo os


kurakas locais e estratificando os grupos sociais. Essas mudanças só foram possíveis pela
centralização e organização do governo inca, sua política de deslocamento populacional
forçada dos mitmacs, a grande mão-de-obra ao seu dispor e a crescente independência
economia da etnia inca em relação às outras etnias que compunham o Império, fruto do
trabalho dos mitmacs, yana e aqlla. Favre chama a atenção para as mudanças em curso nos
Andes:

A ordem social que o Estado tendia a desenvolver manifestava


claramente seu caráter estratificado ao redor de Cuzco, onde a etnia
inca se erigia em classe ociosa, graças aos numerosos dependentes que
satisfaziam suas necessidades. As mudanças que estavam em curso,
porém, revelavam em graus diversos a existência dessas classes em
gestação em muitas outras regiões do Tawantinsuyu. Era apenas
questão de tempo a transformação de um Império tradicional em um
grande Estado moderno. (1987, p.42)

Já a estrutura social asteca sofria mudanças estruturais nesse mesmo momento. Os


grandes comerciantes, pochtecas, cada vez mais viam seu prestigio crescer perante o aumento
de sua importância e acumulo de poder.
Ao se comparar esses dois grupos próximos temporalmente, mas afastados
geograficamente, é tentador dizer que ambos convergiam para estruturas de poder no molde
convencional Europeu. Se esse era o caso ou não é uma pergunta que jamais será respondida
pela História.
46

Conclusão

Tomando por base os objetivos estabelecidos no inicio desse texto, finalizamos o


trabalho de comparação entre os astecas e os incas reforçando que por mais que comparações
possam ser traçadas entre essas culturas, fundamentalmente esses povos se apresentam como
grupos distintos que possuem suas formas próprias de organização social, econômica e
cultural. Ambos possuem suas origens envoltas em lendas e começaram sua empreitada
Imperial fazendo parte de confederações. Ambos aprenderam muito com as culturas que os
antecederam, mas ao passo que os astecas apresentavam características únicas e que não
podem ser atribuídas à osmose cultural, mas sim a inovação, os incas estavam satisfeitos em
aperfeiçoar o conhecimento já existente, inovando pouco.
Em termos de Império, vemos diferenças tanto na natureza dos tributos quanto da
autonomia dos grupos subjugados. Enquanto que os astecas recolhiam tributo em espécie, os
incas requisitavam tributo na forma de trabalho sazonal. Os incas possuíam um controle mais
rígido dos povos subjugados, muitas vezes movendo comunidades inteiras de um local para
outro e disseminando o quéchua pelos Andes como língua oficial. Os astecas, por outro lado,
não se importaram em estabelecer um controle tão rígido sobre os povos dominados. Não era
incomum que os líderes das cidades continuassem no poder após serem subjugados pelos
astecas.
Dito isso, em síntese com as outras semelhanças e diferenças estabelecidas nos
capítulos anteriores, os incas e os astecas são civilizações que, se estudada apenas do ponto de
vista de sua organização social, apresentam semelhanças superficiais. Contudo, ao se estudar
os demais aspectos culturais, se apresentam como organizações deveras distintas.
O processo de levantamento bibliográfico sobre os incas e astecas foi uma tarefa mais
difícil do que se imaginou. Não é que exista uma carência de obras sobre o tema propriamente
dito. Pelo contrario, a produção literária sobre essas civilizações não é pequena. O problema
reside no fato de que os acadêmicos de maior renome nessas áreas são franceses, americanos
e mexicanos e escreveram muitas de suas obras antes da década de 1970. Algumas delas
foram traduzidas para o português, principalmente pela editora Zahar, na década de 1980.
Mas, mesmo assim, a escassez de material traduzido para o português é motivo suficiente para
desencorajar pesquisadores que não consigam ler pelo menos uma língua estrangeira
fluentemente. Nota-se, também, uma carência de obras de grande porte redigidas nas últimas
duas décadas.
47

Em termos de literatura nacional, os autores mais aclamados escrevem sínteses e


coletâneas sobre essas culturas, a exemplo de Ciro Flamarion Cardoso e Mário Curtis
Giordani. Curtis, em particular, foi de fundamental importância para a realização desse
trabalho. Isso se deu pela importância da sua obra História da América pré-colombiana. Nela
Curtis reconstrói algumas civilizações pré-colombianas, como os astecas e incas, fazendo
referência e utilizando o discurso de diversos estudiosos de renome nessa área, apresentado,
assim, um microcosmo da produção literária sobre as civilizações pré-colombianas.
Sobre a forma com que os casos foram apresentados e subdivididos nos capítulos dois
e três foi uma réplica do estilo utilizado pelos diversos autores aqui trabalhados. Dessa forma,
o trabalho ficou mais estruturado e permitiu contrapor ambos os casos mais facilmente.
Contudo, destaco que, conforme a monografia foi se desenvolvendo, vários aspectos
importantes sobre os casos aqui estudados não puderam ser apresentados e discutidos por falta
de espaço.
Acredito, por exemplo, que um estudo comparado entre os significados que o quéchua
e o nahuatl atribuem as suas instituições e organizações, se comparado com termos de outras
línguas de cunho Imperial pode vir a apresentar resultados interessantes acerca da
singularidade, ou não, do sistema de organização das sociedades aqui apresentadas. Isso
provavelmente decore da barreira linguística, a qual os acadêmicos aparentam ter problemas
para contornar. Como dito nas considerações finais do capítulo 2, certas terminologias
amplamente usadas por acadêmicos não necessariamente se mostram apropriadas ao se
trabalhar com os astecas e incas. Dessa forma, a língua nativa, junto com as fontes primárias,
são os maiores obstáculos que um pesquisador precisa transpor se deseja estudar essas
culturas.
Ao que se refere às questões de estudo apresentadas na introdução, devo admitir que
meu primeiro contato com renomados autores nessa área, por meio da obra de Leslie Bethell,
foi um tanto quanto desanimador. Em uma coletânea de oito volumes com a intenção de
apresentar a história da América Latina, desde a época pré-colonial até o pós 1930, os astecas
e os incas são apresentados em apenas um capítulo cada, totalizando 75 páginas de
informação. Isso foi um tanto quanto desconcertante. Claro, é importante lembrar que cada
um desses capítulos foi retirado de livros escritos por especialistas no tópico em questão, o
que justifica, por exemplo, que o capítulo pertinente aos incas, escrito por Murra, seja um
tratado econômico sobre aspectos da economia Andina, resumindo os incas a como
funcionava sua economia. É o tipo de construção que em uma coletânea se faz compreensível,
embora que ainda sim desconfortável.
48

Dito isso, fiquei impressionado com a variedade de tópicos abordados por Favre e
Soustelle. Embora não sejam exaustivas, ficando em torno de 100-120 páginas, não deixam de
descrever os antecedentes das culturas tratadas, suas vestimentas, ornamentos, expressões
artísticas, instituições, títulos, aparatos militares, cerâmica, praticas agrícolas, métodos de
alvenaria, entre outros.
Devo dizer que fui pego de surpresa ao concluir que tanto os incas quanto os astecas
possuem instituições, títulos e termos que, por vezes, são entendidos anacronicamente, ao se
substituir o termo da língua nativa por um mais familiar ao leitor/escritor. É fácil esquecer que
toda palavra carrega consigo uma bagagem cultural própria do meio a que está inserida.
Uma coisa curiosa que me chamou a atenção, mas que não encontrei uma resposta
conclusiva é o motivo pelo qual certos termos em suas línguas nativas são escritos
consistentemente de forma diferente quando lidos na obra de Favre, Soustelle e Curtis.
Acredito que essa diferença se dá pelo acordo ortográfico de 1990. Curtis publicou sua obra
em 1990, enquanto que as traduções da obra de Favre e Soustelle são anteriores a 1990.
49

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