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Acupuntura

Me. Fabiola Terra Lucio

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EXPEDIENTE

DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de
Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino de
EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi

NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes, Tiago Stachon Diretoria de Design Educacional
Débora Leite Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho Diretoria de Permanência Leonardo
Spaine Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho Gerência de Produção de Conteúdo
Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey Supervisão do Núcleo de Produção
de Materiais Nádila Toledo Supervisão Operacional de Ensino Luiz Arthur Sanglard

FICHA CATALOGRÁFICA

C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ.


Núcleo de Educação a Distância. LUCIO, Fabiola Terra.

Acupuntura.
Fabiola Terra Lucio.
Maringá - PR.: UniCesumar, 2020.
160 p.
“Graduação - EaD”.

1. Acupuntura

Impresso por: CDD - 22 ed. 615.321 Pró Reitoria de Ensino EAD Unicesumar
CIP - NBR 12899 - AACR/2 Diretoria de Design Educacional
ISBN 978-65-5615-151-9
Equipe Produção de Materiais

Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679 Fotos: Shutterstock

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BOAS-VINDAS

Neste mundo globalizado e dinâmico,


nós trabalhamos com princípios éticos
e profissionalismo, não somente para Tudo isso para honrarmos a nossa missão,
oferecer educação de qualidade, mas que é promover a educação de qualidade
nas diferentes áreas do conhecimento,
também, acima de tudo, gerar a conversão
formando profissionais cidadãos
integral das pessoas ao conhecimento. que contribuam para o desenvolvimento
Baseamo-nos em quatro pilares: de uma sociedade justa e solidária.
intelectual, profissional, emocional e
espiritual.
Assim, iniciamos a Unicesumar em 1990,
com dois cursos de graduação e 180
alunos. Hoje, temos mais de 100 mil
estudantes espalhados em todo o Brasil,
nos quatro campi presenciais (Maringá,
Londrina, Curitiba e Ponta Grossa) e em
mais de 500 polos de educação a distância
espalhados por todos os estados do Brasil
e, também, no exterior, com dezenas de
cursos de graduação e pós-graduação. Por
ano, produzimos e revisamos 500 livros e
distribuímos mais de 500 mil exemplares.
Somos reconhecidos pelo MEC como uma
instituição de excelência, com IGC 4 por
sete anos consecutivos e estamos entre os
10 maiores grupos educacionais do Brasil.
A rapidez do mundo moderno exige dos
educadores soluções inteligentes para as
necessidades de todos. Para continuar
relevante, a instituição de educação
precisa ter, pelo menos, três virtudes:
inovação, coragem e compromisso com a
qualidade.Por isso, desenvolvemos para
os cursos híbridos, metodologias ativas,
as quais visam reunir o melhor do ensino
presencial e a distância.

Reitor
Wilson de Matos Silva
MINHA HISTÓRIA
MEU CURRÍCULO

Oi, meu nome é Fabiola, mais conhecida como


Fabi. Sou apaixonada por conhecimento des-
de pequena. Aliás, sempre fiz várias “artes”
em casa tentando recriar experimentos e, às
vezes, estragando algum item da minha mãe
durante a semana, e aos finais de semana eu
normalmente era a cobaia de acupuntura da
minha avó. Durante a época do vestibular, aca-
bei realizando o curso de Biomedicina, pelo
envolvimento do profissional com a área da
pesquisa e da docência, e a partir disso come-
cei a pesquisar sobre o efeitos de compostos
extraídos de plantas no material genético das
células tumorais, isso porque eu nunca fui fã
de remédio alopático, primeiro o chá depois o
remédio da farmácia. No final da graduação,
resolvi engrenar no mestrado de Biotecnologia
estudando o efeito dos pesticidas no DNA de
agricultores da minha cidade, mas ao mesmo
tempo, eu amava criar uma “mistureira” de
plantas para resolver problemas de pele e a
Aqui você pode partir disso a estética entrou na minha vida,
conhecer um com a pós-graduação e depois a clínica. Con-
pouco mais sobre tudo, eu percebia que faltava alguma coisa no
mim, além das tratamento, eu tratava a pele, o cabelo etc.,
informações do tinha resultados, mas eu sabia que na maio-
meu currículo. ria das vezes a causa era algo emocional. Foi
quando eu lembrei da minha avó e comecei
a estudar medicina chinesa. Confesso que no
começo foi difícil dissociar os conceitos de fisio-
logia e medicina da faculdade, mas depois que
engatou a gancho foi amor à “segunda vista”
pois englobava, além da fitoterapia, técnicas
para equilibrar o meu paciente, o que gerava
um bem-estar maravilhoso na vida dele, con-
tribuindo, ao mesmo tempo, com a estética.
Hoje, eu ministro aulas na pós-graduação e
trabalho na área de estética integrando con-
ceitos da medicina ocidental e da medicina
alternativa, possibilitando um tratamento in-
tegrativo com o melhor dos dois hemisférios!
Currículo Lattes disponível em: http://lattes.
cnpq.br/7692704790526712
RECURSOS DE
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cativo Unicesumar Experience. Aproxime seu dispositivo móvel da página
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vinda. Posicionando seu leitor de QRCode sobre o código, você terá acesso
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PENSANDO JUNTOS: ao longo do livro, você será convidado(a) a refletir, questionar


e transformar. Aproveite este momento!

EXPLORANDO IDEIAS: com este elemento, você terá a oportunidade de explorar


termos e palavras-chave do assunto discutido, de forma mais objetiva.

EU INDICO: enquanto estuda, você pode acessar conteúdos online que ampliaram a
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CAMINHOS DE
APRENDIZAGEM
PROVOCAÇÕES INICIAIS
7

ACUPUNTURA

1 9 2 45

Acupuntura como
História e Conceitos Bá-
Recurso na Saúde
sicos da Acupuntura
do Corpo Humano

3 87 4 123

Recursos e Técnicas Acupuntura para


de Aplicação o Bem-Estar
PROVOCAÇÕES

INICIAIS
ACUPUNTURA

Imagine que um dia você está em sua clínica, atendendo uma paciente, mãe de primeira viagem com
filhos gêmeos de dois meses, que está amamentando e não quer tomar nenhum remédio alopático com
medo prejudicar seus filhos. Por causa do peso dos bebês, ela está com muita dor nas costas e no quadril,
mais especificamente na região lombar. Antes de você propor um tratamento, a cliente reclama que não
quer massagem ali na região, pois ela só pode ficar 10 minutos no consultório, pois tem que cuidar dos
gêmeos, e o tempo dela é precioso. O que você, como profissional, pode fazer para ajudá-la a resolver
esse problema em pouco tempo?
Então, você pega um ponto na panturrilha, lá no músculo sóleo, quatro dedos fechados acima do maléolo
medial (aquele ossinho ali no tornozelo, do lado de dentro da perna) e pressiona ele por três minutos, bem
forte. Após este tempo, você pede para a mãe mover um pouco o quadril. Ela olha para você espantada
e diz: “mas que bruxaria é essa? A dor melhorou 90% em três minutos!”.
Essa “bruxaria” não é nada mais nada menos que a estimulação de um ponto de acupuntura relacionado
à dor no quadril e na lombar. Segundo a medicina chinesa, normalmente tensões emocionais e insônia
levam à tensão no músculo sóleo, causando rigidez e dor na região do quadril. Neste sentido, podemos
observar que, apesar da mãe ter reclamado do peso dos bebês, o que mais interfere é a questão emo-
cional presente.
Dessa forma, os pontos de acupuntura buscam o reequilíbrio energético do corpo humano. Essa técnica
complementar está em plena ascensão em nosso país e tem sido de extrema valia para melhorar a qua-
lidade de vida e prevenir doenças no indivíduo. Muitas pessoas procuram a acupuntura mais nas ques-
tões relacionadas à dor. Contudo, ela é muito mais ampla do que se imagina e pode ser utilizada para o
tratamento de diversas enfermidades, como: paralisia de membros, danos psicológicos, emagrecimento,
infertilidade, entre muitas outras áreas.
Agora é sua vez, se você está com dores na lombar ou no quadril, aperte esse ponto por três minutos
bem forte, ou faça em alguém que esteja próximo de você com queixa de dores nesta região. O ponto
fica localizado a quatro dedos do maléolo medial, atrás da margem medial da tíbia. Só não faça ele em
mulheres grávidas! Se estiver com dúvidas, procure imagens sobre o “ponto baço seis da acupuntura” no
Google ou em outra base de dados.
PROVOCAÇÕES

INICIAIS
ACUPUNTURA

Uma vez que você apertou o ponto, reflita: qual foi a sua sensação ao apertá-lo, ou a sensação da pessoa
que recebeu a técnica? O ponto estava dolorido? Houve o alívio de alguma dor que você ou a pessoa
tinha? Em caso positivo, é justamente esse o efeito da acupuntura!
A acupuntura é uma das técnicas pertencentes à medicina tradicional chinesa (MTC), que além da prática
com agulhas (acupuntura), também abrange outras técnicas, como: o bastão quente de ervas (moxa-
bustão), técnicas de orientação nutricional (Shushieh), exercícios de respiração (Chi-Gung), massagem
(Tui-Na) e a matéria médica chinesa, uma farmacopeia com produtos de origem animal, mineral e vegetal.
Trata-se de uma medicina baseada em conceitos filosóficos, que preza fenômenos da natureza como
princípio, um pouco diferente do que estamos acostumados(as), uma vez que buscamos um embasa-
mento científico para a explicação das enfermidades. Os chineses fizeram experimentações ao longo dos
anos e, com seus erros e acertos, delimitaram as técnicas mais eficientes na melhora dos sintomas dos
enfermos. As práticas desenvolvidas se tornaram tão eficazes que, inclusive, algumas técnicas criadas
antes de Cristo pelo povo chinês são utilizadas até hoje. A importância destas práticas é verificada pela
sua inserção no Sistema Único de Saúde (SUS) e têm melhorado a cada dia o bem-estar e a qualidade
de vida da população brasileira.
Agora é sua vez, pense em quais informações seriam importantes você saber enquanto acupunturista,
encontre um grupo de amigos ou conhecidos que tenham feito acupuntura e transforme em perguntas
o que deseja saber.
Com essa introdução, o que mais chamou sua atenção sobre o tema? Você, como terapeuta do Bem-estar,
estará apto(a) a resolver diversas patologias do seu paciente com excelência, abordando o ser humano
como um todo! Ficou entusiasmado(a) com o mundo da acupuntura? Então, vamos lá conhecer mais a
respeito dessa técnica incrível!
1 História e Conceitos
Básicos da Acupuntura
Me. Fabiola Terra Lucio

OPORTUNIDADES
DE
APRENDIZAGEM

Na Unidade 1, você terá a oportunidade de compreender um pouco da história


desta técnica muito utilizada nas práticas integrativas denominada acupuntu-
ra, que previne e trata diversas patologias. Além disso, compreenderá quais
são as teorias que os antigos chineses criaram para classificar as alterações
do corpo humano e quais os conceitos fisiológicos que norteiam a medicina
tradicional chinesa. Por fim, também trabalharemos a função de cada órgão e
víscera na visão oriental, isso servirá para você, como profissional do Bem-es-
tar, classificar a alteração que está ocorrendo no corpo do seu cliente e fazê-lo
entrar em equilíbrio, de modo a solucionar ou reduzir as patologias presentes.
UNICESUMAR

Imagine que você é um jovem jesuíta explorando o Oriente na antiga China. Certo dia, você está
conversando com um velho sábio chinês e reclama que está com uma dor danada nas costas há mais
de anos e que, devido a essa dor, você não consegue dormir bem e está com uns calorões noturnos
que parecem de uma “mulher na menopausa”. O sábio chinês pede para você observar uma pequena
montanha na janela e te diz para experimentar o poder da natureza para curar seu corpo. Quando
você olha para a janela e olha para o lado, vê o curandeiro com agulhas na mão. Considerando que
você não aguenta mais de dor, você corre ou espera para ver o que vai acontecer?
Assustado, você então denomina isso com
seu latim de acus (agulha) e puntura (colocar),
surgindo assim a acupuntura. O chinês fala que
seu corpo está igual ao lado brilhante da monta-
nha, pegando Fogo, e você imediatamente lem-
bra da sua dor nas costas, que parece estar em
chamas. Assim, o chinês coloca a agulha em um
ponto específico da sua mão, você sente uma
energia correr pelo corpo e percebe que a dor
passou. Sem a necessidade de remédios, você
teve um reequilíbrio da sua energia e, agora, sua
qualidade de vida será outra. Finalmente! Será
que isso pode ser aplicado para outros casos?
Seria possível prevenir doenças e dores? E com
esse conhecimento, quantas pessoas com dores
crônicas não poderão ser beneficiadas?
Agora é a sua vez, pegue sua mão não domi-
nante e abra o dedão e o indicador na forma de
L. Entre o primeiro e segundo osso metacarpais,
pegue o segundo osso, divida ele na metade e
aperte com uma força moderada essa região,
Figura 1 - Demonstração do ponto Hegu, ou Intestino por três minutos, conforme a Figura 1.
Grosso 4 (IG4)

10
UNIDADE 1

Uma vez que você apertou o ponto, reflita: o que você sentiu? Aliviou alguma dor que você tinha?
Relaxou seu corpo? O ponto em questão é o Intestino Grosso 4, um dos pontos mais importantes
da acupuntura, utilizado para dores em geral, tensão muscular, afecções do nariz, dismenorreia etc.
Como observado anteriormente, o surgimento da acupuntura é antigo. O Jesuíta da História em
questão esteve na China no século XVII e, apesar dos jesuítas possuírem conhecimento da técnica,
ela começou a ser ensinada no ocidente por Soulié de Mourant somente no século XX (CONTA-
TORE; TESSER; BARROS, 2018).

DIÁRIO DE BORDO
Originalmente, se você perguntasse ao sábio chinês o nome da técnica, ele iria responder que ela
se chama “Zhenjiu”, com um significado um pouco diferente e abrangente da forma literal “agu-
lha-moxabustão”, que inclui outras técnicas de estímulo no corpo, além da agulha, como a moxa
(bastões incandescentes de Artemisia spp., uma planta com inúmeras propriedades medicinais
que serve para praticamente qualquer doença) (MACIOCIA, 2005).
Tratando-se de história e resquícios arqueológicos, os primeiros instrumentos encontrados datam
do período neolítico na província de Henan, feitos de pedra polida e bem afiadas, denominadas de
BianShi (agulha de pedra), cuja função era drenar abcessos e estimular algumas áreas do corpo por
meio da puntura, uma ação de picadas na pele realizadas por meio de agulhas. Estas ficavam por al-
guns minutos em determinada região corporal e posteriormente eram retiradas. As primeiras agulhas

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UNICESUMAR

foram encontradas no ano de 1968, no condado relo Sobre Medicina Interna” ou “Tratado de Me-
de Mancheng, na província de Hebei em uma dicina Interna do Imperador Amarelo). Esta obra
tumba da dinastia Han (aproximadamente do é atribuída à figura mítica do Imperador Amarelo,
século II a.C. ao século II d.C.), datavam de 113 Huang Di (2698 a 2598 a.C.), criador da escrita
a.C. e o kit era composto de nove agulhas: cinco chinesa e unificador da China. O texto aborda
agulhas de prata e quatro de ouro (MA, 2000). informações sobre Anatomia, Fisiologia, Patologia,
As tradições mais antigas da medicina chinesa Diagnóstico e tratamento de doenças, inclusive,
(Dinastia de Shang, Século XVII-XI a.C.) inicial- é o primeiro livro a descrever que o sangue flui
mente estavam ligadas a crenças nos ancestrais, continuamente por todo o corpo, sendo bombeado
onde os entes falecidos eram capazes de colocar pelo coração, teoria que foi proposta no ocidente
em risco ou mesmo destruir a vida humana, e somente 2.000 anos depois (SCOGNAMILLO-S-
as práticas de cura tentavam restaurar o espíri- ZABÓ; BECHARA, 2010; CHIU, 2014).
to não só dos vivos, mas também dos mortos. O primeiro volume do “Clássico do Impe-
À medida que a medicina ancestral diminuía, rador Amarelo” contém as técnicas de exame
crenças mágicas, demonológicas ou sobrenatu- físico e as teorias e fundamentos da medicina
rais tornaram-se a causa de todas as doenças. tradicional chinesa (MTC), enquanto o segundo
Os demônios do corpo humano podem causar contém praticamente toda a ciência do diagnós-
inchaços, e a inserção de agulhas ou lancetas de tico e tratamento por meio de agulhas e moxas,
pedra, por exemplo, era empregada em um esfor- desde os diferentes instrumentos utilizados na
ço para matá-los ou expulsá-los (EPLER, 1980). época, como as “nove agulhas”, até a localização
Entretanto, foi durante a dinastia Han que e a indicação terapêutica dos pontos, sendo cerca
ocorreu o período mais influente das tradições de 60% destes usados como referência ainda hoje
médicas chinesas. Foi nessa época, inclusive, que (MA, 2000; CHIU, 2014).
a elite intelectual chinesa tentou primeiro cate- No entanto, apesar dos avanços, a história da
gorizar os fenômenos das causas das doenças em acupuntura foi marcada também por períodos
um número limitado de causas e efeitos, uma vez estacionários. Durante os anos de 1644 a 1911,
que até esse período as explicações se baseavam pertencentes à Dinastia Ching, com a introdu-
em formas míticas e possessão demoníaca. Aqui, ção das práticas médicas ocidentais, houve uma
os cuidados de saúde chineses deram uma gui- repulsa da elite chinesa sobre as técnicas tra-
nada decisiva com base em leis naturais, concei- dicionais, culminando na proibição desta pelo
tuadas em doutrinas como ‘Yin-Yang’ e ‘Cinco governo chinês (CHIU, 2014).
elementos’ (que serão abordadas posteriormente Foi somente na década de 40 que o líder da
nesta unidade), foram usadas para explicar saúde Revolução Chinesa, Mao Tsé-Tung, estimulou e
e doença e para conceber estratégias preventivas incrementou o ensino e a pesquisa da medicina
e terapêuticas, afastando a ideia de origem de- tradicional alegando que



moníaca das doenças (EPLER, 1980).
Também foi escrito, nessa dinastia, um dos li- A medicina e a farmacologia chinesa são um
vros mais importantes da medicina chinesa, con- palácio de grandes tesouros, devendo ser feitos
siderado a sua base até os dias atuais e, ao mesmo todos os esforços para sua exploração, e para
tempo, o primeiro livro de medicina interna: o sua ascensão a níveis mais elevados” (SCOG-
Huang Di Ney Jing (“Clássico do Imperador Ama- NAMILLO-SZABÓ; BECHARA, 2010, p. 493).

12
UNIDADE 1

Um dos fatores que corroboraram com a decisão Foi, então, durante o século XX, mais precisa-
é o baixo custo dos materiais de acupuntura, o que mente no ano de 1939, que o diplomata francês
permite a mais de 1 bilhão de pessoas ter um maior Georges Souli de Morant, residente na China, o
acesso ao sistema para aumentar e manter sua saú- qual havia se tornado fascinado pela acupuntura
de e bem-estar (MA, 2000; SCOGNAMILLO-S- como uma cura para a cólera, publicou sua obra
ZABÓ; BECHARA, 2010; RAMEY; BUELL, 2004). “L’Acupuncture Chinoise”, sendo essa considerada
Que a MTC possui uma grande importân- a precursora das ondas de interesse mundial pela
cia no mundo oriental é nítido, porém você tem MTC que se espalharam durante todo o século
ideia de como essas práticas chegaram ao mundo XX, introduzindo as noções de canais, a teoria
ocidental? de Yin e Yang, dos cinco elementos, entre outras
A medicina chinesa foi citada pela primeira teorias (SCOGNAMILLO-SZABÓ; BECHARA,
vez na literatura ocidental nos diários de viagem 2010; RAMEY; BUELL, 2004).
de Guilherme de Rubruck, um monge francis- Na década de 70, ocorre um fato interessante.
cano da região onde hoje se localiza a Bélgica, Durante a viagem do presidente Richard Nixon
que realizou expedições missionárias por toda dos Estados Unidos (EUA) à China, fato este que
Ásia para registrar como funcionava a cultura e colocou fim em um isolamento entre China e EUA
os aspectos geográficos do continente, durante que durou quase um quarto de século, o jornalista
o século XII (RAMEY; BUELL, 2004). James Reston teve um grande sucesso no tratamen-
Contudo, a acupuntura em si só seria conhe- to de emergência com acupuntura, sendo então
cida pelo mundo ocidental séculos depois, mais publicado o acontecimento no jornal The New
precisamente durante o século XVI, quando al- York Times, fato que estimulou muito o interesse
guns manuais perdidos começaram a chegar por pela técnica no mundo (RAMEY; BUELL, 2004;
meio dos espanhóis até a Europa, seguidos pelos PRENSKY, 1995).
primeiros registros práticos detalhados fora do Em novembro de 1987, incentivada pela Or-
oriente (RAMEY; BUELL, 2004). ganização Mundial da Saúde (OMS), é fundada
Durante os séculos XVII e XVIII, a acupun- a World Federation of Acupuncture-Moxibustion
tura ganhou forças nas publicações de jesuítas e Societies (WFAS), uma entidade que tem como
médicos, principalmente pelo dinamarquês Ja- objetivo divulgar o entendimento e mutualida-
cob de Bondt (1642), o holandês Willem ten Rhi- de sobre acupuntura e moxabustão por todo o
jne (1683) e os alemães Andreas Cleyer (1682) e mundo, desenvolvendo uma ciência por meio de
Engelbert Kaempfer (1712), os quais chegaram práticas éticas e de alto nível técnico (ROCHA
até a ilustrar os pontos e canais analisados, além et al., 2015).
de relatarem resultados chamados de “milagro- No Brasil, são raros registros oficiais sobre
sos” em suas publicações. Entretanto, mesmo a introdução da MTC, embora sua história se
com esses relatos, as práticas encontravam muita confunda com a chegada dos primeiros imigran-
resistência por parte de médicos e especialistas tes orientais, principalmente os chineses no sé-
da época, os quais acusavam quem realizava prá- culo XIX e dos japoneses no início do século
ticas de medicina chinesa de tentarem resgatar XX. Entretanto, alguns autores defendem que
doutrinas absurdas que mereciam cair no esque- índios na América do Sul já utilizavam a inserção
cimento (SCOGNAMILLO-SZABÓ; BECHA- de espinhos na pele com objetivos terapêuticos
RA, 2010; RAMEY; BUELL, 2004). (SCOGNAMILLO-SZABÓ; BECHARA, 2010).

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UNICESUMAR

A difusão da acupuntura no Brasil começa na década de 50, quando o fisioterapeuta Friedrich


Johann Spaeth funda a Sociedade Brasileira de Acupuntura e Medicina Oriental, em 1958, com a
posterior chegada ao país de vários nomes no campo de ensino das técnicas médicas chinesas, com
destaque para Wu Tou Kwang, em 1961. A partir de 1995, os Conselhos Federais de Biomedicina,
Enfermagem, Fisioterapia, Medicina e Medicina Veterinária reconhecem a acupuntura como uma
especialidade (SCOGNAMILLO-SZABÓ; BECHARA, 2010).
No entanto, foi com a Portaria nº 971, de 3 de maio de 2006, que instituiu a Política Nacional de
Práticas Integrativas e Complementares em Saúde, que a acupuntura ganhou forças no Sistema Único
de Saúde (SUS); e em 2018, com a portaria nº 1998 do Ministério da Saúde, sobre as práticas integrativas
do SUS, acrescenta: dentistas, fonoaudiólogos, profissionais da psicologia, nutricionistas, terapeutas
ocupacionais, naturologistas e técnicos em acupuntura podem praticar a acupuntura (BRASIL, 2018).
Até os dias de hoje, só no SUS já foram realizados mais de 1 milhão de atendimentos com a MTC,
sendo que a cada dia aumenta-se a procura das pessoas por essa técnica para melhorar a saúde e o
bem-estar (BRASIL, [2020], on-line).
Como mencionado anteriormente, a acupuntura surgiu com base nas observações dos antigos
chineses sobre a natureza. Você notou que o antigo chinês pediu para o Jesuíta observar a montanha?
E relacionou a natureza a doenças? Naquela época não havia a ciência que nós conhecemos hoje e
tudo se baseava em fenômenos da natureza, criando conceitos filosóficos sobre o tema e relacionan-
do-os com a saúde.
E por incrível que pareça, a montanha tem um significado muito especial na filosofia chinesa, pois
diz a lenda que um dia estava o chinês sentado quando observou uma montanha, logo, este percebeu
que nela havia um lado escuro e outro lado claro, onde do lado claro haviam algumas características
similares, como a claridade, o calor, haviam mais animais, com isso mais ação, ali era dia, tinha bri-
lho, e logo essas coisas foram classificadas como Yang. O lado escuro, porém, era mais calmo, com
menos animais e normalmente estes dormiam
neste lado, ali era noite, era opaco, foi classificado
como Yin. Assim, o Yin significa, literalmente, o
lado escuro da montanha, e o Yang, o lado cla-
ro, mostrando que a montanha é a mesma, mas
possui duas qualidades/lados.
Assim, surgiu a teoria do Yin e Yang, que faz
parte da filosofia chinesa, tendo se incorporado à
Medicina com o passar dos anos. Portanto, essas
duas partes opostas podem ser encontradas em
todos os fenômenos, situações, objetos etc., em
que o Yin e o Yang só podem ser classificados se
houver uma relação de oposição, sendo ambos
conceitos relativos que necessitam de uma re-
Yin Yang
ferência (AUTEROCHE; NAVAILH, 1992). Por
Figura 2 - Ilustração da montanha e o conceito de
Yin e Yang exemplo:
Fonte: adaptada de EBRAMEC (2020).

14
UNIDADE 1

Yin Yang
Frio Calor
Noite Dia
Molhado Seco
Inverno Verão
Lua Sol
Repouso Atividade
Terra Céu
Quadro 1 - Comparação da oposição de Yin e Yang
Fonte: adaptado de EBRAMEC (2020).

Para os Chineses, a existência desse dualismo é constante no universo e parece ser inerente a tudo; são
duas forças contrárias e complementares, isso quer dizer que não pode haver Yin sem o Yang, nem Yang
sem o Yin. Assim, tudo é constituído da intertransformação e do movimento desses dois princípios, o
que nos leva à representação inicial do Yin e do Yang, o primeiro como uma linha quebrada e o segundo
como uma linha reta, e a mais conhecida representação que é denominada do Tai Ji (EBRAMEC, 2020).
Representação inicial:
Yang Yin

Figura 3 - Representação primária do Yin e Yang


Fonte: a autora.

Nei Ching cita no livro "O Imperador Amarelo"


que “No Yin, existe o Yang e no Yang, existe Yin”
(WANG, 2001, p. 507), podemos perceber que isto
está sendo demonstrado na representação como
as esferinhas brancas e pretas, com o pequeno Yin
dentro do Yang, e o pequeno Yang dentro do Yin,
como se nessas forças vitais uma não negasse a
outra, sempre havendo intertransformação. Na
prática, podemos imaginar um cubo de gelo, que
é frio, compacto, sendo classificado como Yin, sen-
do colocado sobre uma mesa à temperatura am-
biente, após um tempo o gelo começará a derreter,
ficando mais quente e mais líquido, ou seja mais
Yang. Outro exemplo é uma pessoa com febre, que
remete a uma doença de calor, logo Yang; após a
Figura 4 - Representação Tai Jin
febre, a pessoa começa a ter calafrios, demonstran-
do um estado de frio, ou seja, Yin, assim podemos
perceber o princípio da transformação aplicado à
teoria do Yin e do Yang (WANG, 2001).

15
UNICESUMAR

De tal modo, segundo Nei Ching, “Yang e Yin correspondem ao Tao (caminho) do céu e da Terra.
Céu se cria pelo conceito de Yang, Terra pelo acúmulo de Yin. Yin é calmo, Yang é movimento. Yang
gera a vida, Yin a mantém e se impõe. Yang mata, Yin preserva. Yang se transforma em Yin para gerar
a vida” (AUTEROCHE; NAVAILH, 1992, p. 6).
Assim, podemos perceber que na verdade o movimento dessas duas forças tende ao equilíbrio (mas
um equilíbrio estável leva à estagnação e morte); o andar de uma pessoa em uma bicicleta representa
bem esse conceito, é um constante desequilíbrio corrigido pelo movimento.
Com base nisso, e pensando na saúde humana, podemos perceber que o prejuízo só ocorre no corpo
quando uma das duas forças tende a predominar sobre a outra, levando a um excesso ou deficiência,
o que passa a ser perigoso (pense em uma gangorra, o Yin aumentado, reduzirá o Yang e vice-versa),
assim todas as doenças são geradas pelo desequilíbrio do Yin ou do Yang, e para tratar esses doentes,
devemos tonificar as deficiências e dispersar os excessos.
O homem é o elo entre o Céu (Yang) e a Terra (Yin), sendo a energia do homem o resultado da
transformação da energia do Céu e da Terra. Se elevarmos os braços para o céu, temos a posição
perfeita para que a energia do Yang do Céu desça pela parte externa e posterior do corpo onde si-
tuam-se as partes Yang do corpo, como também, ao mesmo tempo, temos a subida da energia Yin
da Terra pelas partes internas e anteriores. Segundo a medicina chinesa, enquanto o homem não
oferecer resistência à livre passagem dessa energia, temos a saúde perfeita.
Lembre-se que, mesmo em
um corpo humano saudável, o
Yin e o Yang estão se afrontan-
do e repelindo-se constante-
mente, porém é essa relação de
oposição que criará um equi-
líbrio dinâmico e originará o
desenvolvimento e a transfor-
mação, propiciando todas as
condições de saúde, por meio
da perfeita circulação de ener-
gia (EBRAMEC, 2020).
Agora que introduzimos
o conceito da filosofia Yin e
Yang, veremos quais são os
elementos de base para essa
teoria.
Figura 5 - Representação da energia Yin Yang fluindo no Homem
Fonte: adaptada de Pinterest ([2020], on-line)1.

16
UNIDADE 1

Figura 6 - Ilustração do símbolo de Yin e Yang

Conforme aponta a Figura 6, o primeiro conceito, que acaba confundindo um pouco, é o da Uni-
dade de Yin e Yang. Apesar do nome, isso indica que esses dois conceitos são integrados, sempre
demonstrados como dois contrários de UMA mesma situação, objeto etc. Isto é, embora sejam
opostos, formam uma só unidade e são complementares.
Por outro lado, o segundo é o da Oposição entre dois aspectos, ou seja, toda a situação tem um
componente oposto, se nós inspiramos (Yin), nós expiramos (Yang) também, se subimos algo
(Yang), descemos (Yin), se o homem é mais agitado (metabolicamente, Yang) a mulher é mais
calma (Yin) etc. Lembre-se que tudo depende do referencial! Por exemplo, acabamos de ver que o
homem é mais Yang do que a mulher, agora se pensarmos que uma mulher está mais nervosa, em
relação ao homem, o referencial emocional demonstra que essa mulher está mais Yang do que o
homem, repito, sob o referencial emocional. Agora se pegarmos o referencial do sexo, ela estará
mais Yin do que o homem.
O terceiro elemento, que já abordamos, é o da interdependência, ou seja, algo somente pode
existir em relação ao seu oposto, por exemplo: se existe o lado da frente, é por que existe o lado
de trás, só existe expiração porque inspiramos etc. Vale atentar-se ao fato que nada é, no total Yin
ou Yang, e sim um equilíbrio dinâmico, onde o equilíbrio e o desequilíbrio se afetam constante-
mente até encontrar um novo equilíbrio; temos em alguns momentos mais Yin e menos Yang e,
em outros, mais Yang e menos Yin, portanto, sempre há um crescimento e decrescimento dessas
duas forças (AUTEROCHE; NAVAILH, 1992).

17
UNICESUMAR

O quarto princípio fica mais claro quando pensamos nas alterações climáticas. O verão é a
estação mais quente, logo, é o ápice do Yang, enquanto o Inverno, o ápice do Yin. Do verão ao
outono, até o inverno, o clima evolui do calor ao frio, graças ao decrescimento do Yin e a elevação
do Yang. Por outro lado, do Inverno à Primavera, até o Verão, temos o aumento do Yang, e o de-
crescimento do Yin. Esse fato é ressaltado pelo capítulo 5 do Su Wen: “O Yin exagerado deve-se
tornar Yang, o Yang exagerado deve tornar-se Yin”. “O Frio ao máximo produz o calor, o calor ao
máximo produz Yin”, isso significa que o Yin, quando levado ao extremo, torna-se Yang, e o Yang
crescendo em excesso torna-se Yin (WANG, 2001, p. 49).
Pensando em doenças, voltamos ao exemplo da febre. Se essa está intensa, logo em seguida a tempe-
ratura pode baixar bruscamente, o rosto ficar pálido e os membros frios (intertransformação do Yang
em Yin). Da mesma forma, quando uma pessoa está com tensão muscular, pense que o Yin representa
o duro, logo temos uma força Yin ali causando dor, e se fizermos uma certa pressão forte como uma
massagem esquentando o local, essa força Yang relaxará a musculatura.
Portanto, os princípios do Yin e Yang são: unidade de forças opostas, mas com interdependência,
que estão sempre em crescimento ou decrescimento, para manter o equilíbrio.
Agora, pensando na prática clínica, essa teoria serve para:
• Explicar as estruturas do corpo humano.
• Explicar a fisiologia.
• Ajudar a classificar as atividades patológicas do corpo humano.
• Ajudar no diagnóstico e tratamento das doenças.

Se pensarmos no princípio Yin e Yang, o corpo humano é composto de duas partes ligadas, porém
opostas, conforme a tabela a seguir:
Yin Yang
Parte superior Parte inferior
Interior Exterior
Parte medial Parte lateral
Frente/Ventre Costas (Atenção: chinês lembra da posição de en-
gatinhar, o sol bate nas costas)
Estrutura (lembrar do gelo, sólido) Função (metabolismo)
Ossos (mais interno) Pele (superfície)
Orifícios inferiores Orifícios superiores
Órgãos (Zang, em chinês) Vísceras (Fu, em chinês)
Sangue (Xue, em chinês) Energia que flui no corpo (Qi, em chinês)
Quadro 2 - Classificação das estruturas na teoria Yin e Yang
Fonte: adaptado de EBRAMEC (2020).

18
UNIDADE 1

No geral, as atividades fisiológicas são de natureza Yang (CLAVEY, 2000) e o sangue (Xue), os fluídos
corporais (Jin Ye) são Yin. Logo, as substâncias Yin necessitam da movimentação Yang para serem ati-
vadas e movimentadas, assim o Yang relaciona-se com a função e o Yin com a forma das substâncias.
No geral, temos:

Yin Yang
Inibição Excitação
Relaxamento Contração
Inspiração Expiração
Comer Vomitar
Dormir Movimentar-se

Quadro 3 - Classificação da fisiologia humana na teoria Yin e Yang


Fonte: adaptado de EBRAMEC (2020).

A explicação das causas das doenças, como já vimos anteriormente, está ligada ao desequilíbrio de um
aumento ou declínio grande demais do Yin ou do Yang. As duas forças em equilíbrio são uma condição
fundamental para elas se controlarem mutuamente e manterem um equilíbrio relativo. As atividades
patológicas são classificadas de acordo com a sua natureza (CLAVEY, 2000):
Yin Yang
Doenças crônicas Doenças agudas
Calafrio Febre
Deficiência Excesso
Doenças profundas Doenças superficiais
Redução da atividade Hiperatividade
Face pálida Face vermelha
Pulso lento Pulso rápido
Respiração fraca Respiração Ruidosa
Dor difusa (centrada) Dor pulsátil (vários locais)
Voz fraca Voz forte
Falta de sede Sede
Fezes pastosas Constipação
Sonolência e apatia Insônia e agitação
Urina clara e pálida Urina escassa e escura

Quadro 4 - Classificação das patologias humanas na teoria Yin e Yang


Fonte: adaptado de EBRAMEC (2020).

19
UNICESUMAR

Para entender melhor a classificação das patologias humanas na teoria Yin e Yang, observe o Gráfico 1:
3

2,5

1,5

0,5

0
1 2 3 4 5

Yin Yang
Gráfico 1 - Ilustração da alteração de Yin e Yang no corpo humano
Fonte: a autora.

No caso 1, temos uma situação fisiológica normal. Por outro lado, no caso 2, o Yang subiu em excesso
e o Yin normal e, na terceira coluna, o Yang está normal e o Yin reduzido. Em ambas as situações (2 e
3), nós temos um Yang maior, logo, essa pessoa terá doenças relacionadas ao calor, porém na terceira
situação falamos em Falso calor ou Calor Vazio, porque o Yin está baixo. Então, pensando no que vimos
anteriormente, essa pessoa terá um quadro igual ao do nosso amigo Jesuíta, insônia (porque o Fogo
agita) e calor em algum momento do dia. Agora, para diferenciar os dois, temos:
Calor vazio: nessa situação, a pessoa terá sinto- Excesso de Yang (calor cheio): esse calor
mas de calor no final do dia (uma vez que o Yin é consome os fluídos internos (pense que o chinês
predominante de noite para as funções corporais, olhava o Fogo e via este evaporar a Água), assim
de repouso, assim, quando a pessoa precisar do a pessoa sente muita sede, a urina fica escassa e
Yin, ele não estará lá, e logo o Yang vai prevalecer escura, a língua fica vermelha, há a presença de
com os sintomas), terá calor nos membros (calor febre, fezes ressecadas.
dos 5 palmos), sudorese noturna, insônia, boca e
garganta secas à noite, inquietação mental etc. É
o caso do nosso explorador Jesuíta.
Quadro 5 - Sintomas da doença por calor
Fonte: adaptado de Auteroche e Navailh (1992).

Contudo, na situação 4, temos o Yang baixo e o Yin normal e, na situação 5, o Yin em excesso e o Yang
normal; como em ambas as situações o Yin está mais alto, teremos sintomas de Frio.
Excesso de Yin (frio cheio): normalmente nesses Frio vazio: normalmente essa pessoa apresenta
quadros a pessoa tem calafrios, membros frios, não resfriado, uma face pálida, apatia, desânimo, urina
tem sede (pois não tem Fogo dentro dela) e diarreia clara e abundante, sudorese, desejo de ingerir
(Yin é a energia da Terra e “puxa para baixo”). líquidos quentes e ausência de transpiração.

Quadro 6 - Sintomas da doença por frio


Fonte: adaptado de Auteroche e Navailh (1992).

20
UNIDADE 1

Já vimos como classificar uma doença de acordo com a teoria Yin


e Yang e, nesse momento, veremos sobre o tratamento. A prin-
cípio é bem lógico, se um paciente está com “Calor alto” (Yang),
temos que eliminar esse calor e, em casos de “Frio alto” (Yin),
teremos que expulsar ele, aquecendo o corpo. Pensemos em um
paciente com “Frio”: dentre os recursos que podemos utilizar,
temos a possibilidade da fitoterapia, pedindo para o paciente
acrescentar alimentos com propriedades quentes em sua refeição,
seja na forma de chá ou na comida em si, como alho e pimenta
ou alimentos mornos, como canela e alecrim (CLAVEY, 2000).
Também é possível utilizarmos a moxa, um bastão incandescente com a erva Artemisia spp, que
possui diversas atividades medicinais, inclusive responsável pelo prêmio Nobel de 2015 de fisiologia
e medicina atribuído à William C. Campbell, Satoshi Omura e Youyou Tu (SU; MILLER, 2015).
Em paciente com “Calor”, devemos utilizar comidas frias, como melancia, alface e algas, ou frescas,
como hortelã e erva-doce (CLAVEY, 2000). Também podemos utilizar agulha para dispersar esse calor.
Atenção, nós podemos aquecer um corpo com agulhas ou esfriar com moxa, tudo depende da
técnica, contudo como estamos abordando o princípio de Yin e Yang, ficaremos nesses conceitos
nesta unidade.

Leitura sobre a descoberta do prêmio Nobel e sua importância no


combate à malária. Veja como uma planta usada a mais de mil anos
ainda reserva propriedades desconhecidas pela medicina ocidental.

Bem, você acabou de ver sobre a teoria do Yin e Yang. Agora, pensando na quantidade de patologias que
temos, essa teoria não parece meio restrita? Para isso, temos uma outra forma de diagnóstico dentro da
acupuntura, uma teoria que os antigos chineses também desenvolveram ao tentar compreender o mundo
ao seu redor. Foi com base na percepção do universo natural que os cercavam que eles desenvolveram
um novo conceito baseado em cinco elementos básicos.
Você leu durante a história várias vezes sobre os chamados “cinco elementos”, porém, faz alguma
ideia do que seja isso? Você deve estar se perguntando neste momento: “mas por que cinco elementos,
não são quatro?”.
Para entender isso, primeiro temos que desconstruir a ideia clássica de elementos que a sociedade
ocidental possui, advinda da civilização grega, na qual era estabelecido pela maioria dos filósofos como

21
UNICESUMAR

sendo substâncias fundamentais ou constituintes básicos da natureza, passivas e sem movimento. Para
a filosofia chinesa, os cinco elementos (Água, Terra, Fogo, Metal e Madeira) não são os constituintes
básicos da natureza, mas sim cinco fases de um ciclo ou, ainda, a capacidade inerente que um fenômeno
tem de se modificar (MACIOCIA, 1996; MACIOCIA, 2005).
Essa teoria é identificada pelo termo chinês Wu Xing, em que Wu significa, literalmente, cinco e
Xing traz a ideia de movimento, sendo por isso que o entendimento mais primário dos cinco elementos
parece estar baseado na observação de quatro estações ou no movimento de planetas (EBRAMEC, 2020).
Se voltarmos mil anos antes no período cristão, os registros no Shang Shu Da Chuan diziam:
“Água e Fogo, é o que bebe e come o povo. Metal e Madeira é o que ele produz. Terra é o que gera
os dez mil seres, o que é útil ao homem”. Então, por abstração, os cinco elementos serviram para
explicar o universo todo (AUTEROCHE; NAVAILH, 1992, p. 23).
Desde as origens, tem-se que esses cinco elementos possuem relações constantes, sendo originados
reciprocamente e sendo condicionados uns pelos outros, com seus movimentos e alterações cons-
tantes, formando um ciclo no qual eles se sucedem constantemente. Até por essa característica de
algo que está em movimento, essa teoria também é conhecida como Cinco Movimentos/Elementos
(AUTEROCHE; NAVAILH, 1992; MACIOCIA, 1996).
Após essa explicação, você provavelmente deve estar se perguntando: “tudo bem! Entendi o que é
natureza para os chineses, mas o que isso tem a ver com a medicina oriental?”
A medicina chinesa utiliza essa teoria para classificar fenômenos conforme a natureza, função e for-
ma, e os liga a um dos cinco elementos. A partir disso, são estabelecidas de modo sistemático as rela-
ções existentes entre a constituição das vísceras, o estado fisiológico ou patológico do organismo e os
objetos do meio que o cercam, e
FOGO sua relação com a vida dos ho-
mens (AUTEROCHE; NAVAI-
LH, 1992; EBRAMEC, 2020).
Cada elemento traz em si
MADEIRA TERRA as características básicas e ele-
mentares das coisas e situações
relacionadas a eles, ou seja, um
conhecimento amplo sobre as
características dos elementos
facilita entender suas finali-
dades e funções. No entanto,
para entender bem essa parte,
é preciso lembrar que os chine-
ses trabalham com analogias,
relações, metáforas, ou seja, ao
aprofundar seu conhecimento
ÁGUA METAL
em acupuntura, será necessário
Figura 7 - Ciclo representando como os cinco elementos coexistem e relacio- ter a mente aberta para aprender
nam-se entre si de maneira constante com este conhecimento milenar.

22
UNIDADE 1

Madeira (Mu) Metal (Jin)

Importante deixar bem claro, nessa parte, que a Para caracterizar esse elemento, foi observado
Madeira observada para essa teoria foi principal- uma lâmina de Metal, a qual possui como carac-
mente o bambu, não madeiras muito resistentes. terísticas:
Por isso, as características atribuídas ao elemento • Purificação.
Madeira são: • Solidez.
• Flexibilidade. • Vibração.
• Geração (primavera).
• Harmonização.
• Adaptação. Água (Shui)

Para caracterizar esse elemento, foram observados


Fogo (Huo) fluxos contínuos de Água, como rios e cachoeiras,
com as seguintes características:
Para o entendimento do elemento Fogo, foi ob- • Umedecem.
servado uma chama ardente, como a de uma fo- • Penetram.
gueira, por exemplo, a qual apresenta as seguintes • Limpam.
características: • Refrescam.
• Queima.
• Aquece. Dessa forma, não se encontra o elemento em si,
• Inflama. mas sim sua natureza encarada de modo abstrato
• Hiperfunciona. conforme suas características. Isto é, tudo que for
observado e tiver como particularidade a produ-
ção e a flexibilidade será colocado no elemento
Terra (Tu) Madeira. Tudo que tiver característica de calor
e inflamação entrará no elemento Fogo. O que
Para esse elemento, foram observadas as caracte- tiver como característica transformação e desen-
rísticas do solo, as quais consistem em: volvimento será encaixado no elemento Terra.
• Nutrição. Pureza e robustez são características presentes
• Desenvolvimento. no elemento Metal. E, por fim, o que for úmido
• Permitir crescimento. e frio será caracterizado como o elemento Água
• Absorção. (AUTEROCHE; NAVAILH, 1992). Assim temos:

23
UNICESUMAR

Elemento
Descrição
Madeira Fogo (Huo) Terra (Tu) Metal (Jin) Água (Shui)
(Mu)

Cores Verde Vermelho Amarelo Branco Preto


(Movimento)

Sentidos Visão Tato Paladar Olfato Audição

Parte do Olhos Língua Boca / Lábios Nariz Orelha


Corpo

Tecido Tendão / Unhas Vasos Músculo (Carne) Pele/Pelos Ossos / Cabelos

Fígado Coração Baço Pulmão Rim


Zang Fu
Ves. Biliar Intest. Delgado Estômago Intest. Grosso Bexiga

Emoção Raiva Alegria Preocupação Tristeza Medo

Ato Gritar Rir Cantar Suspirar Gemer

Fase Germinação Desenvolvimento Transformação Amadurecimento Armazenamento


Colheita

Elemento Vento Calor Umidade Secura Frio


da Natureza

Sabores Ácido Amargo Doce Picante Salgado


(Distribuição)

Odores Rançoso Queimado Perfumado Acre Pútrido


(Agrupamento)

Sons Dó Lá Mi Ré Sol
(Concentração)

Primavera Verão Transição Outono Inverno


Estações
do Ano
Quadro 7 - Descrição dos cinco elementos e suas características
Fonte: adaptado de Auteroche e Navailh (1992).

Note que, a respeito dos Órgãos e Vísceras “Zang Fu” (no quadro), na primeira linha são apresentados
os órgãos do elemento e embaixo a respectiva víscera, associados pelos conceitos da medicina chinesa.
Cada órgão possui uma víscera acoplada e atrelada à função dos cinco elementos.
Os relacionamentos entre os cinco elementos funcionam como um modelo de relações entre
os sistemas internos e entre os sistemas e os tecidos, órgãos dos sentidos, cores, cheiros, sons e
sabores (AUTEROCHE; NAVAILH, 1992; CLAVEY, 2000).
Os cinco elementos, como descritos por uma passagem de Shang Shu, simbolizam cinco sabores
ou aromas, indicando que esses sabores representam mais uma qualidade inerente de uma coisa
(mais ou menos como uma composição química ou ingredientes, em termos atuais) do que sabores
reais. Então, quando você ler sobre sabores, não pense como se o Metal fosse realmente picante,
tenha em mente que tudo aquilo que possui características do elemento Metal, inerentemente, pos-
suirá uma característica ligando ao sabor picante (AUTEROCHE; NAVAILH, 1992; WONG, 1988).

24
UNIDADE 1

Quando entendemos os elementos como movimentos, temos que entender eles como cinco
direções diferentes de movimentos dos fenômenos naturais. A Madeira seria o movimento ex-
pansivo, exterior em todas as direções. O Metal é o contrário, sendo um movimento contraído
e interior. A Água representa o movimento descendente, ao passo que o Fogo forma seu oposto,
sendo o movimento ascendente. A Terra, por sua vez, representa a estabilidade, a neutralidade de
movimento (AUTEROCHE; NAVAILH, 1992).
Quando observamos os elementos como estações do ano no ciclo anual, notamos novamente
associações por meio de metáforas. A Madeira corresponde à primavera, sendo associada ao nas-
cimento. O Fogo é associado ao crescimento e está associado ao verão. O Metal corresponde ao
outono, sendo associado à colheita. E, por fim, a Água corresponde ao inverno, sendo associada
ao armazenamento. A Terra é o único elemento que não corresponde a uma estação do ano, uma
vez que é o centro, ou seja, é o elemento neutro ao redor do qual as outras estações e elementos
girarão, correspondendo à transição (AUTEROCHE; NAVAILH, 1992; MACIOCIA, 2005).
Vale ressaltar que alguns autores colocam a Terra como a estação da canícula, uma estação de
transição que ocorre na China, caracterizada por chuvas. E no modelo tradicional para fechar
um círculo, foi colocada a Terra ao lado do Fogo e acima do Metal, levando à representação mais
comum dos cinco elementos.
Verão

FOGO

Primavera MADEIRA TERRA METAL Outono

ÁGUA

Figura 8 - Representação do ciclo que os


elementos realizam ao redor da Terra
ao serem vistos como estações do ano Inverno
Fonte: Maciocia (1996, p. 26).

25
UNICESUMAR

Os cinco elementos se produzem mutuamente, favorecendo seu crescimento respectivo; isso é


chamado de produção recíproca. Essa relação é também chamada como relação mãe-filho, pois
mãe é aquele que produz e filho é aquele que é produzido, ou seja, aqui o elemento mãe nutre
o elemento filho. A ordem de produção dos cinco elementos é: Madeira produz o Fogo, o Fogo
produz a Terra, a Terra produz o Metal, o Metal produz a Água e a Água produz a Madeira. Isso
ocorre sucessivamente em um ciclo ininterrupto (MACIOCIA, 1996).
Se tivermos uma mãe forte, consequentemente o filho será forte. Agora, se o filho está fraco,
o elemento mãe doará toda sua força para o elemento filho. Se tivermos, por exemplo, uma de-
ficiência do elemento Madeira, a mãe, o elemento Água se esgotará, por ceder energia ao filho.
Existe, ainda, a chamada dominação recíproca, ou relação avô-filho, que consiste no processo
inverso pelo qual os elementos se governam e se autorrestringem, é semelhante ao avô dominando
o neto, uma vez que para os chineses os mais velhos sempre devem ter a prioridade de ordem sobre
os mais novos. A ordem de dominação é: Madeira domina a Terra, a Terra domina a Água, a Água
domina o Fogo, o Fogo domina o Metal e o Metal domina a Madeira. Essa relação também é um
ciclo ininterrupto (MACIOCIA, 1996).
É importante frisar que a produção e a dominação recíprocas são aspectos inseparáveis que criam
equilíbrio. Se não ocorrer produção, as coisas não surgem e nem se desenvolvem. Se não ocorre
dominação, não se mantêm transformações e nem o desenvolvimento de maneira equilibrada.
Contudo, mesmo com esse equilíbrio existente, pode ocorrer situações anormais de cresci-
mento e transformação dos elementos, muitas vezes relacionadas às doenças, são as chamadas
relações de Cheng e Wu. O Cheng tem o sentido de agredir, Wu tem o sentido de transgredir
(MACIOCIA, 1996).
A relação Cheng (ou Excesso de dominância) é aquela em que um elemento exerce dominância
em outro elemento de maneira excessiva, ultrapassando o normal para que ocorra a regulação.
Um exemplo seria quando a dominância do Fogo é demais, a ponto da Água não conseguir res-
tringi-lo, o Fogo agredirá em excesso o Metal, tornando-o muito mais fraco do que deveria ser,
em outra analogia, pensando na Água como excesso de dominância: se você quer reduzir o Fogo,
o normal é jogar um pouco de Água, agora se você jogar um monte de Água, você vai acabar
apagando o Fogo, em vez de reduzi-lo. Em outras palavras, seria como um avô que controla o
seu neto (MACIOCIA, 1996; MACICOCIA, 2005).
A relação Wu (ou Contra-dominância) é a relação em que a dominância mútua ocorre em
corrente contrária, ou seja, quando o elemento tem tamanha força que transgrida o fluxo nor-
mal do ciclo e passa a agredir também o elemento que deveria exercer dominância sobre ele.
Um exemplo disso seria no caso da relação de dominância mútua do Metal com a Madeira, em
que, se a Madeira for forte demais, ela exercerá dominância contra o Metal; em outras palavras,
é aquele neto que controla o avô (MACIOCIA, 1996).
Quando analisamos os diversos sistemas do corpo humano e seus respectivos representan-
tes dentro dos cinco elementos, podemos perceber ainda melhor todo o sistema de produção e
dominância, explicando concretamente a fisiologia humana, os fenômenos patológicos e assim
poder correlacionar com as funções reais dos sistemas para chegar a diagnósticos corretos (MA-
CIOCIA, 1996).

26
UNIDADE 1

Um exemplo dos cinco elementos e a fisiologia é o Fogo. Como vimos anteriormente (na
tabela), o Fogo corresponde à alegria, certo? Quando uma pessoa dá muita risada, ela aumenta
o elemento Fogo, e esse faz uma contradominância com o elemento Água, que está relacionado
com a bexiga. Isso pode explicar porque é comum que certas pessoas, quando têm uma crise de
risos, urinam, por exemplo.
Elemento Orgão Víscera

Fogo Coração Intestino Delgado


Fogo Pericárdio Triplo Aquecedor
Terra Baço Estômago
Metal Pulmão Intestino Grosso
Água Rim Bexiga
Madeira Fígado Vesícula Biliar
Quadro 8 - Elementos da natureza e sua relação com o órgão e a víscera acoplada
Fonte: adaptado de Maciocia (1996).

Note que o elemento Fogo possui dois órgãos e duas vísceras. Abordaremos essas estruturas no final
desta unidade.
Assim, cada órgão do corpo humano corresponde a um elemento e, graças às propriedades desses
elementos, consegue-se explicar as particularidades de funcionamento de cada um deles (WEN, 1985;
MACIOCIA, 1996). Segundo Maciocia (1996):
• O fígado tem a função de drenar e de ser regulador. A Madeira tem como natureza produzir e
fazer crescer, por isso o fígado pertence à Madeira.
• O Yang do coração tem a função de aquecer. Como o Fogo tem essa função, o coração pertence
ao Fogo.
• O baço é o órgão em que se inicia as origens e as transformações, função semelhante à da Terra,
por isso o baço pertence ao elemento Terra.
• O pulmão tem como função “purificar e fazer descer”. A natureza do Metal é de purificação, por
isso o pulmão pertence ao Metal.
• Os rins têm a função de “comandar” a Água. A natureza da Água é de umidificar, portanto os
rins pertencem ao elemento Água.

A teoria dos cinco elementos explica a relação fisiológica entre os órgãos. Assim, os rins (Água) irão
alimentar o fígado. O fígado (Madeira), por sua vez, estoca o sangue que vai ajudar o coração (Fogo). O
calor do coração aquecerá o baço (Terra), o qual transformará a essência dos alimentos, que encherá o
pulmão (Metal). O pulmão, por sua vez, purifica e faz circular para baixo, auxiliando a Água dos rins.
Como tudo, ocorre um controle recíproco nos órgãos. O Qi do pulmão purifica e desce, podendo
deter a subida excessiva do Yang do fígado. A ação reguladora do fígado pode drenar a congestão do baço.
O movimento de transporte e transformação do baço pode deter o transbordamento da Água dos rins.
A Água dos rins pode deter o excesso de calor do coração. O calor Yang do coração pode controlar um
excesso do refrescamento causado pelo pulmão (AUTEROCHE; NAVAILH, 1992; MACIOCIA, 1996).

27
UNICESUMAR

A teoria dos cinco elementos consegue explicar não apenas as relações fisiológicas entre os
órgãos, como também as influências que os órgãos exercem entre si em situações patológicas.
Por exemplo, uma doença no fígado pode se transmitir para o baço, pois a Madeira aproveita a
fraqueza da Terra e a agride, exercendo uma relação Cheng. Ao mesmo passo, uma doença no
baço também pode agredir o fígado, por meio de uma transgressão de uma relação Wu da Terra
(baço) sobre a Madeira (fígado) (MACIOCIA, 1996).
E como essa teoria pode ajudar nos diagnósticos? Se você entender o que cada elemento representa
e como se dá suas relações, será fácil de utilizá-las para auxiliar em diagnósticos.
As mudanças anormais na atividade dos órgãos do corpo humano e em suas relações mútuas podem
refletir no tom da voz, nas variações de apetite, tons de pele, no pulso, servindo para ajudar a chegar
em um diagnóstico. Por exemplo, se o rosto estiver vermelho, se o gosto está amargo, se o pulso está
amplo, trata-se de “excesso de Fogo (Yang) no coração” (MACIOCIA, 1996).
Lembrando que, como dito anteriormente, a medicina chinesa trata muito com formas abstratas
e metáforas, ou seja, a sequência de relacionamentos entre os elementos pode sofrer inconsistências
ou deficiências na prática clínica. Embora esse modelo possa ser extremamente útil na prática clínica,
não se deve esquecer as reais funções dos sistemas e como eles interagem entre si, ou seja, não deve-
mos utilizar a teoria dos cinco elementos na prática de modo isolado das funções reais dos sistemas
que o modelo está tentando representar. Quando utilizados de maneira correta, os elementos podem
proporcionar um modelo rápido e eficaz e um ótimo parâmetro para diagnósticos e tratamentos.
Acabamos de ver o conceito de cinco substân-
cias baseadas em elementos naturais materiais,
entretanto, existe um conceito para os chineses
denominado Qi, que é material e imaterial ao mes-
mo tempo. Sim, para nós isso parece um conceito
de difícil entendimento, e seria mais próximo ao
que chamamos de energia, ou se você está com
dificuldade de entender como isso pode ser imate-
rial e material ao mesmo tempo, veja o ideograma
chinês do Qi. Segundo ele, Qi significa arroz (cru)
e vapor/gás, isso demonstra que o Qi pode ser ima-
terial/funcional/Yang, como o vapor, e material/
substancial/Yin, como o arroz (MACIOCIA, 1996).
Na verdade, se pensarmos, tudo tem Qi, tudo é
Qi, pois tudo precisa de energia, e ela está percor-
rendo e fluindo o nosso corpo e o universo. E não
confunda o conceito, pois essa energia não tem
nada a ver com o conceito de energia solar ou de
Qi ATP que estamos acostumados. É realmente um
Figura 9 - Ideograma de Qi conceito mais aberto, que pode se referir a subs-
tâncias que mantêm as atividades vitais do corpo,
como Água (Qi da Água), o sangue (Xue Qi) e até

28
UNIDADE 1

a função dos órgãos e vísceras, como Qi do coração, Qi do intestino, Qi do pulmão, Qi da bexiga. O Qi,
humano, também “assume” vários tipos de formas, podendo defender o corpo das agressões externas
(Wei Qi), nutrir o corpo (Yin Qi), entre outros. Então, lembre-se que se trata de um conceito muito amplo.
A formação do Qi se dá de dois modos. A primeira é herdada dos pais lá na formação do zigoto (Jing
pré-celestial) e a segunda advém dos alimentos, da Água e do ar (Jing pós-celestial) (SCOGNAMIL-
LO-SZABÓ; BECHARA, 2010). O Jing pré-celestial, localizado no rim, vai determinar a constituição
da pessoa e sua vitalidade, ele se manterá integro na pessoa se ela tiver um equilíbrio entre vida sexual,
trabalho e alimentação e, caso haja um desequilíbrio, o Jing é consumido, reduzindo a vitalidade do
indivíduo. Ao mesmo tempo, é o Jing que explica como as doenças são passadas pelas gerações, como,
por exemplo, um avô anão, que teve um neto anão, ou uma mãe ansiosa que teve um filho ansioso
(MACIOCIA, 1996).
Por sua vez, o Jing pós-celestial é basicamente formado pelo pulmão, estômago e baço; quando ele
está em quantidade suficiente, uma parte promove as necessidades do corpo e o resto é armazenado no
rim, como um estoque para necessidades futuras. Segundo os chineses, quando uma pessoa está muito
doente, e de repente vem a “melhora da piora”, é o resto de energia Jing armazenada que foi usada. Na
verdade, a energia Jing se manifesta em ciclos, sendo de sete em sete anos na mulher e de oito em oito
no homem. Um exemplo é, aos 7 anos, os dentes de leite da menina são substituídos, aos 14 ocorre a
menstruação, aos 21 ela está pronta para engravidar (MACIOCIA, 1996).
Para a formação do Jing pós-celestial, não podemos deixar de descrever a formação dos diferentes
tipos de Qi: primeiramente, o Pulmão vai pegar a energia do ar (Qi do ar ou Kong Qi), e essa energia
vai descer dentro do corpo humano até o tórax, onde irá encontrar a energia dos alimentos (Qi dos
alimentos ou Gu Qi) extraída pelo estômago e enviada ao baço, que tem um sentido ascendente para
o tórax e um descendente para o rim. Assim, o tórax tem uma energia (Qi torácico ou Zong Qi); essa
energia fica ali nutrindo o pulmão e o coração, garantindo um bom funcionamento desses órgãos
(AUTEROCHE; NAVAILH,1992; MACIOCIA, 1996; EBRAMEC, 2020).
E a energia dos alimentos que desceu para o rim? Lá, essa energia irá encontrar o Jing pré-celestial,
formando o Yuan Qi ou Qi original, ou seja, o Qi original é “originado” a partir do Jing congênito, sendo
nutrido e reposto a partir dos alimentos. Segundo Maciocia (1996, p. 57): “O Qi original não é nada
mais, nada menos do que a essência Jing na forma de Qi”.
De certa forma, ao mesmo tempo, o Jing que é feito com a essência pré-celestial, lá no rim, vira
uma substância que preenche as medulas: óssea, espinhal e o cérebro (sim, o conceito de medula deles
é diferente do nosso), por isso uma pessoa com o Jing fraco tem falta de memória e tontura. E para
completar, o Qi original também será distribuído para todo o corpo, promovendo a atividade dos
órgãos e das vísceras (Zang Fu) (MACIOCIA, 1996).
Quando o Qi original ascende no corpo, ele transforma o Qi torácico em Zheng Qi ou Qi corre-
to, que seria o nosso conceito ocidental de imunidade. O Qi correto é então dividido em mais duas
energias: Qi nutritivo (Ying Qi) e Qi Defensivo (Wei Qi). O primeiro será responsável por nutrir o
corpo, ele flui com o sangue (Xue) pelo corpo, enquanto o segundo é a forma mais Yang do Qi, sendo
concentrada na pele e nos músculos. Sua função é defender o corpo de patógenos exógenos ou Xie
Qi, aquecer, nutrir o corpo e regular a abertura e fechamento dos poros do corpo (AUTEROCHE;
NAVAILH,1992; MACIOCIA, 1996).

29
UNICESUMAR

O Qi defensivo é controlado pelo pulmão, por sua vez, lembre-se que o tecido do pulmão (elemento
Metal) é a pele, logo, se o pulmão estiver fraco, o Qi defensivo também estará e a chance de um patógeno
adentrar no corpo aumenta, assim também aumenta a propensão a resfriados.
O baço é um outro exemplo que demonstra como a relação dos cinco elementos interfere na fisio-
logia do Qi. Esse órgão interfere na imunidade, sendo responsável pelo Gu Qi, e pertence ao elemento
Terra, cujo sabor é o Doce. Isso significa que se uma pessoa come muito doce, ela prejudicará o baço,
e esse, lesado, não poderá produzir um Gu Qi forte e, consequentemente, o Qi torácico ficará fraco,
prejudicando o pulmão que não poderá defender o corpo, resultando que a pessoa tenha uma redução
da imunidade.
Com base nesse exemplo, podemos perceber que, se o Qi não flui bem pelo nosso corpo, teremos
a manifestação de doenças, e a acupuntura visa restabelecer essa harmonização e regular o fluxo de
Qi pelo organismo, por isso é importante saber os diversos tipos de Qi. Para deixar mais claro, temos:
• Qi do ar (Kong Qi): recebemos por meio da respiração, sua origem é diretamente do ar, sendo
relacionado com o pulmão.
• Qi dos alimentos (Gu Qi): formado a partir de todos os alimentos que ingerimos, é a energia
dos alimentos, extraída pelo estômago e transformada pelo baço.
• Qi torácico (Zong Qi): é formado por meio da interação do Qi do Ar e dos alimentos, sendo
acumulado no tórax, auxiliando o pulmão a manter uma boa respiração e penetra no coração
e nos vasos sanguíneos para impulsionar o sangue, mantendo uma boa circulação sanguínea.
• Qi original (Yuan Qi): é a essência Jing do rim na forma de Qi, sendo nutrido e reposto após
o nascimento pela energia dos alimentos. Esse Qi auxilia nos processos de transformação de
outros Qi, aquece o corpo/fornece calor e movimenta a atividade dos órgãos e das vísceras (Zang
Fu), ou seja, impulsiona as atividades vitais de todo o organismo.
• Qi correto (Zheng Qi): produzido pela ação do Qi torácico juntamente com o Qi original
advindo dos rins. Esse Qi é a junção do Qi defensivo e nutritivo; lembre-se que ele é o conceito
que mais se aproxima do de imunidade ocidental.
• Qi nutritivo (Ying Qi): é a energia nutritiva que flui por todo o corpo, ele está presente nos
líquidos corporais e vasos sanguíneos, circulando junto com o sangue para nutrir o corpo.
• Qi defensivo (Wei Qi): possui característica Yang quando comparado ao Qi nutritivo, estando
sob controle do pulmão, circulando pelo exterior do corpo para protegê-lo. Além de nutrir e
aquecer o corpo regulando a temperatura, controla os poros e a transpiração.
• Xie Qi: é visto como uma energia perversa, externa ao corpo, que pode causar doenças por
desarmonia quando o Qi está enfraquecido ou quando o indivíduo fica exposto a muito tempo;
no geral, os fatores patogênicos externos estão relacionados como clima: calor, umidade, vento,
secura, Fogo, umidade, frio.

Como exposto, as funções do Qi podem ser enumeradas em: promover as funções fisiológicas do
corpo; aquecer e regular a temperatura, consolidar e comandar suas funções, defender o organismo,
ativar o metabolismo, transformar e transportar os fluidos, o sangue (Xue) e os estágios do próprio Qi.

30
UNIDADE 1

Tanto o Jing como o Qi são consideradas substâncias vitais,


segundo a medicina chinesa, e juntamente com eles temos o
sangue (Xue), líquidos corporais (Jin Ye) e a mente (Shen).
O sangue (Xue) está intimamente relacionado com o Qi nu-
tritivo, como pudemos ver anteriormente. E vale lembrar que,
apesar da tradução ser sangue, o conceito é uma forma bastante
densa do Qi, carregada de nutrientes, cuja função é nutrir e ume-
decer todo o corpo. Sua origem se dá pelo Qi dos alimentos, como
vimos, o baço e o estômago enviam a energia ao pulmão, esse
órgão a direciona ao coração, onde é transformado em sangue.
Segundo Maciocia (1996, p. 65), “o Qi do pulmão interpreta um
papel importante no impulso do Qi dos alimentos para o cora-
ção, esse é um exemplo do princípio de que o Qi faz o sangue
se movimentar”.
A outra forma de produção é auxiliada pelo Qi original, ad-
vinda do rim. Isso porque, como vimos, ela ajuda a preencher a
medula óssea, e essa, posteriormente, transforma-se em sangue.
A circulação deste último também é um pouco diferente da
que estamos acostumados(as). Na visão oriental, o coração é
responsável por controlar a força para que ocorra a circulação,
o pulmão vai estar relacionado com o Qi e a promoção do mo-
vimento, o baço mantém o sangue dentro dos vasos e não deixa
que ele promova hemorragias e, por fim, o fígado regula o fluxo
do sangue, ou seja, esse órgão é responsável pelo volume de
sangue que circula o corpo de acordo com o estado de repou-
so ou movimentação, ele também regula e equilibra o sangue
menstrual (AUTEROCHE; NAVAILH,1992; MACIOCIA, 1996;
ROSS, 1994).
Se qualquer um dos órgãos não exercer bem o papel, as fun-
ções do sangue serão prejudicadas. Pensemos no baço, se sua
energia estiver fraca, ele não conseguirá segurar o sangue dentro
dos vasos, causando hemorragias; se a energia do fígado parar/
estagnar, a menstruação da mulher atrasa.
Acabamos de aprender um pouco sobre o sangue, uma das
substâncias vitais. A próxima função abordada será a dos líqui-
dos corporais e sabemos que você deve estar pensando: “certo,
se o sangue não é um líquido corporal, o que vai sobrar para
entrar nessa classificação?” Na verdade, o termo em chinês Jin Ye
corresponde a todos os líquidos intra e extracelulares do nosso
corpo, um termo bem mais genérico e amplo (AUTEROCHE;
NAVAILH, 1992).

31
UNICESUMAR

A palavra Jin faz referência aos fluídos. Esses líquidos são mais Yang, menos diluídos, menos
densos e mais aquosos, sendo relacionados com a função de umidificação. Essa substância cir-
cula com o Qi defensivo no exterior do corpo, umedecendo e nutrindo parcialmente a pele dos
músculos, é ela a responsável pela fluidez do sangue, e sua eliminação por meio do suor, lágrimas,
saliva e muco (MACIOCIA, 1996).
Por sua vez, a denominação Ye corresponde aos líquidos, e são mais Yin, mais densos, movendo e
fluindo no corpo com dificuldade e mais devagar do que os Jin; possuem importante função de nutrição.
Os Ye circulam junto com o Qi nutritivo, no interior do corpo e dos vasos sanguíneos, umedecendo as
articulações, cérebro, medula espinhal, óssea e lubrificam os orifícios dos órgãos dos sentidos (boca,
nariz, olhos e ouvido) (MACIOCIA, 1996).
Ainda podemos relacionar os fluidos com cada órgão e a teoria dos cinco elementos, segundo Wang
(2001, p. 57), “os cinco órgãos transformam-se em humores, o coração faz a transpiração, pulmão faz
a secreção nasal, o fígado faz as lágrimas, o baço a baba e o rim o cuspe”.
A visão da medicina chinesa é bem diferente da nossa, certo? Então continue de mente aberta que
agora veremos a última substância vital, o Shen ou a mente. Esse conceito nada mais nada menos cor-
responde à atividade mental; é o espírito da consciência, sendo relacionado ao elemento Fogo, portanto
tem relação com o coração, local onde a mente está armazenada (EBRAMEC, 2020).
O Shen coordena psiquismo e configura o ser humano; ele faz o homem se adaptar ao meio que o
rodeia, ligando o interior com o exterior, sendo responsável pela coerência da personalidade. Funcio-
nando corretamente, a pessoa possui uma vida emocional equilibrada, falas lógicas, pensamento claro,
sono saudável, uma boa memória, brilho no olhar e vivacidade na expressão facial.
Quando a mente está fraca, temos um indivíduo sem alegria, abatido, com esquecimentos e incapaz
de fazer esforços físicos e mentais. Agora, em excesso, a pessoa terá alegria e risos excessivos, dificul-
dade de dormir e uma hiperatividade mental. O Shen possui outros desdobramentos: Hun, Po, Yi e
Zhi, que não estão abrigados no coração, assim, veremos esses conceitos quando abordarmos a teoria
Zang Fu (CAMPIGLIA, 2004).
Agora pensemos no dia a dia e na sociedade que vivemos. Quem nunca sofreu ou conhece alguém
que tenha “sintomas do stress”? Para o chinês, esses sintomas são advindos de um desequilíbrio do
Shen; inicialmente, eles eram tratados com orações e posteriormente com fitoterapia e técnicas de
acupuntura. Um dos pontos que podem ser utilizados para “acalmar” a mente é o VG20 (Vaso Gover-
nador 20, representado na Figura 10), localizado no ápice da cabeça, no ponto mais alto; ele reflete o
aspecto material do espírito, localizado no cérebro, sendo um ótimo regulador de Yang (DEADMAN;
AL-KHAFAJI; BAKER, 1998)
Agora, vamos pensar uma mente com aspecto Yang, teria irritação, ansiedade, mania, compulsão,
agressividade; e mais Yin seria uma pessoa metódica, sem consciência dos fatos/ações, medrosa, calma,
passiva dos fatos, depressiva e anoréxica (CAMPIGLIA, 2004).

32
UNIDADE 1

O shen é tão importante na acupuntura que é classificado como um dos três tesouros (San Bao)
para a vida, ou seja, são três estados do Qi essenciais à vida que fazem o ser humano surgir no mundo:
o Shen (seria o mais Yang); o Jing (seria a Terra, mais Yin) e entre o Shen e o Jing há o Qi, representado
pelo homem. Com base nessa analogia, podemos perceber que as atividades do Shen, Jing e Qi são
interligadas e, em equilíbrio, proporcionam uma vida longa e saudável (CAMPIGLIA, 2004; EBRA-
MEC, 2020).
Você percebeu durante o texto que apontamos diversos órgão com função diferente da nossa base
ocidental? A mente, em vez de estar no cérebro, situa-se no coração. Sim, os órgãos (Zang) e vísceras
(Fu) da medicina chinesa possuem uma função um pouco diferente da que estamos acostumados,
segundo Wang (2001, p. 86), no capítulo 11 do Su Wen “os órgãos armazenam o Qi essencial e não eli-
minam, está é a razão pela qual eles são plenos e não podem ser preenchidos, já as vísceras transmitem
e transformam as substâncias, elas não armazenam, é a razão pela qual elas se preenchem e não podem
ser plenas”. E como vimos lá na teoria dos cinco elementos, cada um corresponde a um elemento:
• Zang: Fígado, Coração, Pericárdio, Baço, Pulmão, Rim.
• Fu: Vesícula Biliar, Intestino Delgado, Triplo Aquecedor, Estômago, Intestino Grosso, Bexiga.

O Elemento Terra tem como Zang o Baço, e Fu o estômago. O baço é considerado principal órgão do
sistema digestório, ele é responsável por transformar a essência dos alimentos através do Qi, encami-
nhando essa energia para o pulmão e o coração; quando o Qi do baço está deficiente, os líquidos dos
alimentos se transformam em mucosidade, depositando-se no corpo, formando os edemas. Ao mesmo
tempo, o baço contribui com a formação do sangue (xue) pelo Gu Qi e ainda mantém este dentro
dos vasos, logo se o Qi do baço estiver deficiente, causará hemorragias e hematomas (AUTEROCHE;
NAVAILH,1992; MACIOCIA, 1996).
Uma outra função desse órgão é manter as estruturas corporais
em seu devido lugar, isso porque seu Qi flui em ascendência
para o coração e o pulmão, gerando força e sustentação.
Caso a energia do baço reduza, podem ocorrer as
ptoses corporais, prolapso retal, diarreia com res-
tos de alimentos, queda da bexiga e distensão do
abdômen, sendo necessário tonificar esse órgão,
aumentando sua força (AUTEROCHE; NAVAI-
LH,1992; MACIOCIA, 1996).
Vamos relembrar a tabela dos cinco elementos:
o baço se abre na boca e manifesta-se nos lábios,
isso significa que qualquer alteração de paladar ou
mudança na cor dos lábios refletirá uma alteração
no baço. Lábios normais são considerados rosados
e úmidos; agora, em uma deficiência desse órgão,
eles podem ficar pálidos e secos (AU-
TEROCHE; NAVAILH, 1992;
MACIOCIA, 1996).

33
UNICESUMAR

Ao mesmo tempo, ele “controla os músculos e O pulmão também é responsável pelo Olfato
a carne”, ou seja, um baço forte reflete boa força (“Abre-se no Nariz”) e pelo tom da voz, seu fluxo
e desenvolvimento muscular, enquanto em uma de Qi é descendente e dispersivo pelo corpo, por
deficiência, os músculos ficarão fracos e pode- isso um quadro de tosse ocorre devido à inver-
rão atrofiar. Por fim, relembrando os conceitos são da energia do pulmão, assim como sintomas
mencionados sobre o Shen, o baço controlará o de resfriado, gripe, falta de voz e nariz entupido
Yi (Intenção) responsável pelo estudo, memori- estão relacionados com patógenos climáticos (ex-
zação, foco e produção de ideias, e quando em ternos), como frio, vento e umidade, invadindo
desequilíbrio gera preocupação e pensamentos esse órgão (AUTEROCHE; NAVAILH, 1992;
excessivos (por isso, como a maioria de nós pensa MACIOCIA, 1996).
muito atualmente, é comum as pessoas terem um Por último, o pulmão retém o aspecto Po do
desequilíbrio do baço, isso é visto pela vontade de Shen. A alma corpórea, relacionada com o instin-
comer coisas doces, o sabor do elemento Terra) to, quando afetada, gera tristeza e afeta a respira-
(AUTEROCHE; NAVAILH, 1992; MACIOCIA, ção, que fica curta e superficial. Se uma pessoa
1996; CAMPIGLIA, 2004). perde o Po, ela perde a vontade de se proteger. O
O Fu do elemento Terra é o estômago, tam- par acoplado do pulmão é o Intestino Grosso e,
bém responsável no Qi dos alimentos por meio como já vimos, sua função é receber os líquidos
do recebimento dos alimentos e quebra desses impuros do intestino delgado e fazer uma triagem
para serem enviados ao baço. Enquanto o Qi do separando novamente o que é puro (enviando ao
baço flui em ascendência, o do estômago descende corpo) e impuro (umidifica as fezes e “joga” elas
para o Intestino grosso, levando a parte impura/ fora e uma parte vai para a bexiga formando a
não utilizável dos alimentos para posterior for- urina) (AUTEROCHE; NAVAILH, 1992; MA-
mação das fezes e da urina, dando origem aos CIOCIA, 1996; CAMPIGLIA, 2004).
fluidos corporais. Em caso de inversão do Qi do O próximo elemento é a Água, cujo órgão é
estômago, esse ascende e teremos vômitos e re- um dos mais importantes, o rim. Já vimos que ele
fluxos; assim como em deficiências nutricionais, abriga a essência Jing pré e pós-celestial, e agora
devemos tonificar o Qi dele para melhorar a ab- vamos introduzir mais um conceito. Entre os
sorção, juntamente com o baço (AUTEROCHE; rins está o Ming Men (ou portão da vitalidade),
NAVAILH, 1992; MACIOCIA, 1996). alguns autores trazem como o rim direito: ele
O filho da Terra é o Metal, cujo órgão é o Pul- seria a parte mais Yang do rim, sendo a raiz de
mão. Como vimos anteriormente, ele “governa o origem do Qi primário e fonte de Fogo de todos
Qi”, tendo importante papel em sua distribuição, os órgãos, aquecendo o estômago e o baço para
ajudando o coração a impulsionar o sangue no a digestão, a parte inferior do corpo (aquecedor
corpo, além de controlar a respiração recebendo o inferior), o Jing e o útero, além de harmonizar as
Qi do ar. Lembre-se que ele será responsável pelo atividades sexuais. Por isso, problemas na parte
Qi defensivo, protegendo nosso corpo contra as sexual e de fertilidade geralmente estão relacio-
doenças externas; ele ainda controla toda a super- nadas com o rim (AUTEROCHE; NAVAILH,
fície do corpo, abertura dos poros e saída do suor, 1992; MACIOCIA, 1996).
além de se manifestar nos pelos, portanto, se essa O rim também é responsável pela audição e
função for prejudicada, a pele se tornará seca e os pelos cabelos, além do controle dos ossos e den-
pelos corpóreos ressecados (MACIOCIA, 1996). tes. Por isso, deficiência do rim causa perda de

34
UNIDADE 1

audição, zumbidos, tontura, queda de cabelo, cabelos brancos e fracos, osteoporose, queda de dentes,
dentes frágeis, além de causar lombalgia devido à localização do órgão (AUTEROCHE; NAVAILH,
1992). Esse órgão também controla os orifícios inferiores, por isso micção e a defecação estão sob o
seu controle, logo você já pode imaginar o que uma desarmonia pode causar, certo?
A força de vontade (Zhi), relacionada à determinação de corrermos atrás dos nossos objetivos, é
uma parte do Shen albergada no rim e, em deficiência, gera medo e insegurança (CAMPIGLIA, 2004).
Pensemos: quem está com medo não acaba fazendo xixi? Inclusive a função de reservatório de urina
é da víscera acoplada do rim, a bexiga.
A filha da Água, a Madeira, é um dos elementos em que mais vemos alterações em algumas pessoas,
o indivíduo “irritadinho”, aquele que ao chegar uma borboleta perto já se irrita. Isso ocorre, pois o fígado,
órgão em questão, abriga o Hun, ou alma etérea, responsável pelo planejamento e consequentemente
resolver problemas com maior facilidade, agora, quando desequilibrado gera irritabilidade. Isso por-
que o Hun tem o aspecto mais Yang de todos os Shen (AUTEROCHE; NAVAILH, 1992; MACIOCIA,
1996; CAMPIGLIA, 2004).
Não podemos esquecer, como vimos agora pouco, o fígado tem a função importante de armaze-
nar o sangue e controlar suas quantidades circulantes. Os distúrbios do fígado são visíveis na saúde
da mulher, por refletirem no estado menstrual. Pensemos: quando as mulheres perdem sangue na
menstruação, podem ficar mais irritadas, logo, em caso de alterações menstruais, temos que pensar
no fígado (MACIOCIA, 1996).
O fígado também se relaciona com as unhas e tendões, quando o fígado leva o sangue, ele acaba
sendo responsável por nutrir os tendões (e consequentemente os músculos) e as unhas. Em caso de
deficiência no Qi e no sangue do fígado, essas estruturas não serão nutridas, resultando em unhas
quebradiças, cãibras, tremores e debilidade de membros. Não podemos esquecer que os olhos são de
responsabilidade desse órgão, logo, alterações na visão ou na cor dos olhos indica desequilíbrio no
fígado. Para facilitar pense em uma pessoa irritada: seus olhos não ficam vermelhos e ela não começa
a chorar? Lembre-se: lá na parte de líquidos corporais, vimos a seguinte frase: “quem faz as lágrimas é
o fígado” (AUTEROCHE; NAVAILH, 1992; MACIOCIA, 1996).

35
UNICESUMAR

Com base na tabela dos cinco elementos, vimos que seu Fu é a Vesícula Biliar. Essa víscera é mais
“estrelinha” do que as demais, uma vez que armazena uma substância pura, a bile, envolvida no processo
de digestão dos alimentos. Ao mesmo tempo, esse Fu também está relacionado com a coragem, quando
ocorre uma deficiência da vesícula, a pessoa se torna sem coragem (seria uma pessoa mais tímida) e
indecisa (AUTEROCHE; NAVAILH, 1992; MACIOCIA, 1996; CAMPIGLIA, 2004).
Respire fundo, pois chegamos até aqui, último elemento, o Fogo, representado pelo órgão coração.
Lembremos que é o lugar onde está a mente Shen, portanto o coração é considerado o Imperador do
corpo, assim, alterações como insônia e agitação precisam ser tratadas por meio desse Zang. Como
vimos, é o coração que mantém o fluxo do sangue para o corpo, por isso problemas circulatórios estão
relacionados com esse órgão; no geral, os chineses dizem que “o coração governa o Zue” (AUTEROCHE;
NAVAILH, 1992; MACIOCIA, 1996).
Uma das ramificações do coração é a língua, por isso, um “coração normal” refletirá em uma língua
vermelho-pálida normal. Uma outra manifestação do coração é a face, ou seja, uma pessoa com coração
forte terá uma face rosada e brilhosa (o famoso “coradinho”), se o sangue do coração estiver estagnado,
a face ficará roxa-azulada, e se o coração tiver calor, a face estará avermelhada (MACIOCIA, 1996).
Claro que não poderíamos deixar de associar o elemento Fogo, calor, à transpiração. Nós já sabemos
que o pulmão controla essa parte, e aqui o coração auxilia, pois, quando temos variações no Shen (nossos
estados emocionais), a transpiração normalmente vem associada, afinal existem pessoas que, se ficarem
nervosas, a mão começa a suar, por exemplo (AUTEROCHE; NAVAILH, 1992; MACIOCIA, 1996).
A víscera do coração é o intestino delgado, cuja função, como já vimos, é receber os líquidos do
estômago, separando a parte impura (etapa inicial das fezes), enviando-as para o intestino grosso e a
parte impura líquida para a bexiga (AUTEROCHE; NAVAILH, 1992; MACIOCIA, 1996).
Não sabemos se você percebeu, mas o Fogo é o único com dois órgãos e duas vísceras, sendo
considerado o segundo órgão o pericárdio, o envoltório do coração, tendo praticamente as mesmas
funções: governa o sangue, alberga a mente, além de proteger o coração dos fatores patogênicos. Seu
par acoplado é o triplo aquecedor (San Jiao), cuja correspondência na medicina ocidental não existe,
e seria uma víscera que atua na circulação, distribuição, excreção e metabolismo dos Jin Ye, e aqueci-
mento o corpo, sendo dividido em três partes (AUTEROCHE; NAVAILH, 1992; MACIOCIA, 1996):
• Aquecedor superior: engloba região superior e Zang Fu - Coração, Pulmão e Pericárdio.
• Aquecedor médio: engloba região medial e Zang Fu - Baço, Estômago e Vesícula Biliar.
• Aquecedor inferior: engloba região inferior e Zang Fu - Fígado, Rim, Bexiga, Intestino Grosso
e Delgado.

Bom, acabamos de ver todos os órgãos e as vísceras segundo a medicina chinesa, mas e o útero, o cé-
rebro? Não existem? Segundo Maciocia (1996), o útero, a medula, o cérebro, vasos sanguíneos, ossos
e a vesícula biliar são classificados como seis Yangs extraordinários, ou vísceras extraordinárias, que
completam o quadro da fisiologia chinesa:
• O útero: irá regular a menstruação, concepção e gravidez, e tem relação com a essência Jing
(na gestação, a mulher gasta a essência Jing dela para formar o feto); é o “palácio da criança”.
• Ossos: estocam e protegem a medula óssea, e estão relacionados com rim (lembre-se que ele
controla os ossos).

36
UNIDADE 1

• Medula: como já abordamos, o termo medula possui um sentido mais abrangente, tendo relação
com a medula espinhal, óssea e o cérebro. Lembre-se que ela é a produzida pela essência Jing
do rim, lá no Qi original, formando, posteriormente, o sangue.
• Cérebro: controla memória, visão, audição, concentração, tato e olfação, cada um sendo asso-
ciado a um órgão, além de auxiliar a fala juntamente com o coração.
• Vasos sanguíneos: permitem a circulação do sangue pelo corpo.
• Vesícula biliar: é considerada, também, extraordinária por estocar a bile, uma substância pura.

Como vimos nesta unidade, cada órgão e víscera da medicina chinesa possui uma função e até classifi-
cação um pouco diferente da qual estamos acostumados(as), sendo que uma deve estar suplementada
e coordena a outra, formando um verdadeiro equilíbrio em nosso corpo.
Caro(a) aluno(a)! As bases da acupuntura refletem um estado de saúde que é ditado pelo completo
equilíbrio do indivíduo no seu corpo e em seu estado de energia Qi, juntamente com sua mente/Shen
e seu Jing, os três tesouros.
O homem é a junção do Céu e da Terra. Você também não fica maravilhado de como os chineses,
antes mesmo de Jesus Cristo, criaram todas essas teorias filosóficas que são, até hoje, a base da me-
dicina chinesa e ainda utilizamos elas para fazer o diagnóstico, procurando as alterações na saúde e
bem-estar do indivíduo? Agora, você não olhará nosso amigo Jesuíta apenas como um homem com
dores nas costas. Você verá aquela dor como uma possível desarmonia do rim e, provavelmente, ele
estará com dificuldades de ir ao banheiro; você verá que os calorões noturnos e a insônia é o Yang alto
desse homem, provavelmente ele é uma pessoa agitada, com muita sede, que fala alto e que não está
com o fígado em plenas condições energéticas. Você também poderá pensar que o Qi do Rim estando
ruim corresponde ao elemento Água, e a Água é o avô do Fogo, se o neto está descontrolado e o avô
fraco, teremos sintomas do elemento Fogo, igual estamos vendo, então temos que fortificar esse avô.
Podemos, por exemplo, lembrar que o sabor da Água é o salgado, então tratar esse homem aumentan-
do a quantidade de alimentos de base salgada que ele ingere (ou agulhando pontos que favoreçam o
elemento Água, matéria das próximas unidades).
Agora temos certeza que, assim que seu paciente entrar em sua sala, você terá uma visão mais in-
tegrativa, podendo classificar desde a coloração da sua face, modo de falar, expressar-se, entre outros
aspectos, com as bases da teoria chinesa de Yin e Yang e dos cincos elementos, relacionando com a
fisiologia de cada órgão para procurar a alteração patológica.
Assim, essa base da acupuntura foi essencial para que você entendesse os princípios da medicina
chinesa, compreendendo suas histórias e as bases filosóficas que a permeiam, ajudando no seu dia a
dia como terapeuta do bem-estar. Então, com base nisso, procure um caso clínico na internet ou até
de algum parente seu e tente traçar o diagnóstico dessa pessoa com base nas teorias que vimos nesta
Unidade 1.

37
Agora, com base em tudo o que você leu e aprendeu, complete o mapa mental a seguir
com os tópicos base da acupuntura!

Yin Característricas básicas

Qi
Princípios

Yang Teoria Yin/Yang


Três tesouros Xue
MAPA MENTAL

ACUPUNTURA Jing

Água

Normais

Relações
Madeira Cinco elementos

Anormais

Metal
Fogo

Terra

38
1. A acupuntura é um método de tratamento da medicina tradicional chinesa, criada a mais de 6
mil anos, e corresponde a uma medicina que baseia as causas do organismo em fenômenos
naturais. Com base nisso, assinale a alternativa correta.
a) Um aspecto Yang não pode conter Yin no seu interior.
b) São características Yin: forma, descendência, agitação, partes posteriores do corpo.
c) Uma pessoa que tem sensação de calor à tarde, sudorese noturna e garganta seca à noite está
com um Frio cheio.
d) Pessoa com resfriado, uma face pálida, urina clara e abundante, sudorese, desejo de ingerir
líquidos quentes e ausência de transpiração está com um Frio vazio.

AGORA É COM VOCÊ


e) A oposição entre Yin e Yang significa que todo fenômeno tem, ao mesmo tempo, quatro aspectos
opostos.

2. A teoria dos cinco movimentos se baseia em constituintes básicos da natureza, correspondendo


a cinco fases de um ciclo, relações constantes, sendo originados reciprocamente e sendo condi-
cionados uns pelos outros, com seus movimentos e alterações constantes, formando um ciclo
no qual eles se sucedem constantemente. Sobre os cinco movimentos, assinale a alternativa que
representa a sequência correta:

( ) Umidade
I) Elemento Fogo
( ) Branco
II) Elemento Metal
( ) Sabor picante
III) Elemento Água
( ) Shen
IV) Elemento Terra
( ) Ossos
V) Elemento Madeira
( ) Tendão

a) IV-II-II-I-III-V.
b) III-III-IV-I-V-IV.
c) IV-III-II-I-IV-IV.
d) IV-II-I-IV-III-V.
e) V-II-II-I-V-V.

3. Em mais um dia de trabalho, chega ao seu consultório o Sr. José, 43 anos, relatando dor de ca-
beça, irritação, agitação mental, olhos vermelhos, dores na região lombar e, apesar de ele ser
uma pessoa agitada, sua respiração está fraca e a pele ressecada. Considerando os sintomas,
relacione-os com a teoria Yin e Yang, e para os cinco movimentos considere os sintomas, relacio-
nando o sintoma ao órgão correspondente, e aponte qual elemento está em excesso e qual está
em deficiência juntamente com a classificação de dominância do ciclo anormal (Cheng ou Wu).

39
1. C. Uma pessoa com resfriado, uma face pálida, urina clara e abundante, sudorese, desejo de ingerir líqui-
dos quentes e ausência de transpiração está com excesso de Yin no corpo, manifestando sintomas de frio
logo será um Frio cheio.

2. A. Umidade pertence ao elemento Terra (IV), a cor branca ao Metal (II), o sabor picante ao Metal (II), o Shen
ao elemento Fogo (I), os ossos ao elemento Água (III) e o tendão ao elemento Madeira (V).

3. De acordo com a teoria Yin/Yang, os sintomas Yang são a dor de cabeça por ser região superior, dor nas
costas por ser região posterior, irritação, agitação mental e olhos vermelhos. E o sintoma Yin é a respiração
fraca, secura da pele e se considera a dor como sendo centrada/em um local.
De acordo com os cinco movimentos: agitação mental (Elemento Fogo-coração-Shen); olhos vermelhos
(Madeira-fígado); irritação (Madeira-fígado); dores nas costas na região lombar (Água-Rim); respiração fraca
CONFIRA SUAS RESPOSTAS

(Metal-pulmão) e pele seca (Metal-pulmão).


Considerando os olhos vermelhos, a irritação, vemos um excesso do fígado e uma deficiência do Metal pelo
pulmão e pele seca. Como o Metal é avô da Madeira, vemos um excesso do neto e falta de dominância do
avô, sendo caracterizado por um ciclo Wu ou de contradominância. O elemento Água, por ser o filho do
Metal, acaba aparecendo como uma dor nas costas, já que uma mãe fraca nutre fracamente o filho, ou
não nutre.

40
AUTEROCHE, B.; NAVAILH, P. O Diagnóstico na Medicina Chinesa. 2. ed. São Paulo: Andrei, 1992.

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1
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REFERÊNCIAS

42
43
MEU ESPAÇO
MEU ESPAÇO

44
2 Acupuntura como
Recurso na Saúde do
Corpo Humano
Me. Fabiola Terra Lucio

OPORTUNIDADES
DE
APRENDIZAGEM

Na Unidade 2, você terá a oportunidade de compreender um pouco mais


a fundo sobre a teoria e caminho dos meridianos/canais de acupuntura
muito utilizados nas práticas integrativas, que permitem o tratamento do
corpo humano. Além disso, compreenderá quais são os sintomas de cada
canal de acordo com o desequilíbrio energético e conhecerá mais sobre
os acupontos, suas funções e como funciona a medida chinesa do corpo
humano. Por fim, veremos como a acupuntura pode ajudar no bem-estar
do paciente, e juntando todos esses conceitos, você terá uma visão mais
profunda e integrativa que servirá para você, como profissional do bem-
-estar, correlacionar esses sintomas e tipos de acupontos a um tratamento
para o corpo do seu cliente entrar em equilíbrio, solucionando ou reduzindo
as patologias presentes.
UNICESUMAR

Durante as últimas décadas


deste século, várias múmias
humanas pré-históricas com
tatuagens bem preservadas
vêm sendo encontradas em
países como Sibéria, Peru e
Chile. Algumas das tatuagens
eram obviamente decorativas,
enquanto outras tinham um
valor menos estético e finali-
dade um pouco desconhecida
(DORFER et al., 1999).
O Homem Tirolês do Gelo,
o mais velho corpo humano
mumificado europeu com
tatuagens, possui cerca de 15
grupos de tatuagens nas cos-
tas e pernas. As tatuagens não
parecem ter importância deco-
rativa por possuírem uma for-
ma geométrica linear simples
e estão localizados nas partes
menos visíveis do corpo, o que
levou os cientistas a proporem Figura 1 - Tatuagens nas costas do Homem do Gelo Tirolês, sendo demons-
tradas por setas
a seguinte questão: “e se tiver Fonte: Dorfer et al. (1999, p. 1025).
significado médico?”.
Com seu olhar crítico e treinado, de terapeuta de bem-estar, observe a figura apresentada,
demonstrando as tatuagens do Homem Tirolês do Gelo (Figura 1).
Após os cientistas estudarem os desenhos, eles perceberam uma coincidência com o um canal de
energia da acupuntura, lugar que circula o Qi, a energia do corpo. Lembre-se que tudo na medicina
chinesa é integrado, e a circulação de energia em canais assegura a vida, afinal, por eles circula Qi e
Sangue (Xue) e esses princípios estão diretamente relacionados com os Zang Fu (órgãos e vísceras).
As linhas ilustradas na foto representam o canal de energia ou meridiano, e as bolinhas brancas os
pontos em que é possível trabalhar os desequilíbrios do corpo humano com estimulações por meio
de instrumentos, como as agulhas. No caso, acredita-se que essas tatuagens se tratam de um sistema
antigo de medicina europeia baseada na acupuntura chinesa.
Na acupuntura, a estimulação em pontos específicos modifica a subjacente energia Qi que afeta os
órgãos internos, dor percepção e processos inflamatórios. É interessante imaginar que o conhecimento
desses pontos de acupuntura já era utilizado por diversos povos para a cura por meio da tatuagem, e
em diversos continentes, como o Europeu, Asiático e até na América Latina. Esse conhecimento seguiu
anos até chegar nas práticas de terapia oriental que usamos hoje para propagar o bem-estar.

46
UNIDADE 2

Nos dias de hoje, nós não temos o hábito de fazer tatuagens para tratar problemas de saúde e seus
desequilíbrios de energia. Contudo, nos últimos tempos, houve uma relação da colocação de piercings
auriculares e o tratamento de doenças, como a enxaqueca. Faça uma breve pesquisa, levantando in-
formações sobre o assunto em blogs da internet, digitando as seguintes palavras-chave no buscador:
“piercing de orelha e crise de enxaqueca”.
Após finalizar a pesquisa, vamos refletir respondendo as seguintes questões: a) Quem fez, melhorou?
b) Há alguma entrevista com um profissional da área de acupuntura acerca desse tema? c) Qual o posi-
cionamento do profissional encontrado? Anote todas respostas às reflexões propostas no espaço a seguir.

Caro(a) aluno(a), os canais de energia e os pontos de acupuntura possuem propriedades muito signi- DIÁRIO DE BORDO
ficativas. É provável que você tenha encontrado blogs da internet descrevendo a técnica como muito
útil, isso porque os canais de energia passam por diversos lugares no corpo, interligando-o. Em outras
palavras, imagine que você possui nervos na orelha, que, por sua vez, estão ligados ao seu Sistema Ner-
voso Central, responsável por propagar o estímulo até o órgão ou região que você queira estimular ou
sedar (acalmar). Se você leu algum relato dos(as) acupunturistas sobre isso, apesar de não haver muitas
pesquisas sobre, há relatos científicos de que as tatuagens interferem no fluxo de energia do corpo, e
com o piercing não é diferente! Se você lesionar a sua orelha, você “cortará” essa ponte de estímulo entre
a orelha e o sistema nervoso central, ou na visão da medicina chinesa, você corta o canal de energia.
No começo até pode funcionar pela lesão recente, mas posteriormente isso perderá seu efeito, ou seja,
não tratará a patologia energética.

47
UNICESUMAR

Voltando ao Homem do Gelo Tirolês, no qual foram en-


contradas tatuagens que estavam localizadas em canais
de energia, agora você já tem uma ideia sobre isso. Com
20° base na introdução feita, vamos aprofundar o conceito
10° canais de energia.
0° Para a medicina chinesa, os canais de energia são
denominados de Jing Luo. Adivinha de onde esse nome
veio?! Sim, da observação. Você lembra que toda a base
da medicina chinesa veio da observação do homem com
a natureza e seus fenômenos, como vimos na Unidade 1?
Para os canais de energia, a observação veio de uma
trama de um tecido chinês muito famoso, a seda. Assim, o
Jing denota a ideia de caminho e refere-se às linhas longitudi-
Figura 2 - Ilustração nais trançadas de uma forma mais firme no tea. O Luo, por sua vez,
dos meridianos terrestres.
denota rede, sendo que os ramos do Jing são as linhas que cruzam
lado a lado para formar uma “teia” no tecido (MACIOCIA, 2007).
Assim, os Jing seriam o caminho, a via principal do sistema, as linhas longitudinais, sendo a pala-
vra traduzida como canais ou meridianos, e o Luo seria a rede de ramos desse sistema principal que
cobrem o corpo e se cruzam na diagonal. A combinação dos dois ideogramas Jing e Luo representa
uma das mais importantes teorias da medicina chinesa: a dos canais de energia e canais colaterais,
seriam os meridianos de energia e suas ramificações (AUTEROCHE, B.; AUTEROCHE, M., 1996).
O termo meridiano, muito usado no Brasil
pelos acupunturistas no lugar de canais, tem
grande influência da escola Francesa de acupun-
tura, sendo introduzido por Soulié de Mourant,
um dos primeiros a traduzir textos da medicina
chinesa. Ele tentou encontrar um termo para
essas linhas que percorriam o corpo, invisíveis
e que tinham um significado importante. Logo,
foi relacionado aos meridianos terrestres que
são invisíveis, mas funcionais.
Veja, aluno(a), se o conceito ainda está difícil Canais principais
Canais de
conexão
de entender, imagine uma árvore: a raiz são os Órgãos internos
órgãos e vísceras; o Jing seria o tronco e os ramos
principais; o Luo seriam os ramos mais finos e
superficiais, que fazem a conexão do tronco com
os ramos principais (DEADMAN; AL-KHAFAJI;
BAKER, 1998), como ilustra a Figura 3.
Figura 3 - Analogia da árvore com os canais principais e
de conexão (Jing Luo) e ligação com os órgãos internos
Fonte: Maciocia (2007, p. 13).

48
UNIDADE 2

Assim, os canais principais e os canais colaterais são trajetos para a circulação da energia (Qi) e do
sangue (Xue). Em outras palavras, esses canais transportam essas substâncias vitais, promovendo a
nutrição, defesa (pelo Wei Qi, Qi defensivo) e harmonização energética dos tecidos, dos órgãos e das
vísceras (Zang Fu), por isso, todas as funções básicas da vida dependem dos canais de energia (YA-
MAMURA, 2001). Portanto, o conceito central da medicina chinesa está em restaurar o equilíbrio e a
saúde, melhorando o fluxo de energia ao longo dos canais do corpo. Todos os problemas físicos estão
relacionados com obstruções/alterações no fluxo de Qi e sangue, a restauração dessa circulação pode
devolver a saúde do corpo (DONATELLI, 2018).
Inclusive, no primórdio da formação da vida, a vida embrionária e fetal é a fase de formação dos
canais, em que o Jing pré-celestial e a energia materna formam o Qi fetal, que passa a formar os ór-
gãos, as vísceras (Zang Fu) e as demais estruturas corporais. Os órgãos situados acima do músculo
diafragma originam os membros superiores. Os órgãos situados abaixo do músculo diafragma, por sua
vez, originam membros inferiores (DEADMAN; AL-KHAFAJI; BAKER, 1998; YAMAMURA, 2001).
Os canais também integram a energia Yin e Yang do corpo. Eles saem dos órgãos internos com
uma energia mais Yin (lembre-se que o Yin corresponde ao interno, ao baixo) e conforme esse canal
se aproxima da extremidade, a energia Yin transmuta para uma energia Yang (corresponde ao alto, ao
exterior). Essa alternância da polaridade de energia é um dos mecanismos responsáveis pela circula-
ção de energia. Com base nisso, os canais possuem a função de ligar os órgãos e os membros, o alto
e o baixo do corpo, o interior e o exterior. Em outras palavras, imagine a cabeça como um neurônio
gigante que se conectará aos pés. O mesmo raciocínio se aplica aos órgãos mais internos ao exterior
do corpo nos músculos e ao exterior do corpo, na pele (AUTEROCHE, B.; AUTEROCHE, M., 1996;
YAMAMURA, 2001).

Figura 4 - Ilustração dos canais de acupuntura principais do corpo humano.

49
UNICESUMAR

Pensando nesse sentido de interior e exterior, E tem mais, você sabia que um órgão doente
como os canais ocupam diferentes profundidades pode “transmitir” a doença para outro? Isso acon-
do corpo humano, além de circular o Qi e o Xue tece porque os órgãos e as vísceras são conectados
entre essas áreas, os canais podem servir para pelos canais. Uma pessoa com fogo no coração
expulsar ou interiorizar os agentes patogênicos, (ansiosa, agitada) pode transmitir esse fogo para
como vento, frio, umidade, calor, fogo e secura o seu acoplado, o intestino delgado, e como o
(DEADMAN; AL-KHAFAJI; BAKER, 1998). fogo aquece e evapora a água, pode resultar em
Vamos imaginar que uma pessoa dorme com intestino preso (DEADMAN, AL-KHAFAJI, BA-
a janela aberta e está ventando frio. No outro KER, 1998).
dia, ela pode levantar espirrando, com calafrios, Agora que já vimos as funções dos canais e a
febre branda e leve dor no corpo, sinais que o sua importância nas doenças, vamos conhecer
fator patogênico está na camada mais superficial o conceito de diferentes canais. Existem vários
dos canais de energia; nesse caso, o tratamento tipos de canais/meridianos. Veremos, ao longo
será expulsar o fator dos canais principais. Ago- da descrição, a palavra Mai, que se refere tanto
ra se essa pessoa insistir em continuar tomando aos canais de energia quanto a vasos sanguíneos,
o vento frio, esse fator pode interiorizar e lesar sendo uma palavra ambígua.
órgãos propriamente ditos (lembre-se que os Canais Principais (Jing Mai): esses canais
órgãos estão no interior, canais, mais internos). são originados diretamente dos órgãos e vísceras,
Para melhorar esses sintomas, concorda que basta sendo em número de doze, são seis pares Yin e
exteriorizar o patógeno? Assim, tudo que é via Yang e os mais importantes no sistema de canal,
de entrada também pode ser a via de saída, isso possuindo pontos ligados aos cinco elementos.
pode ser utilizado como princípio de tratamento Esses canais estão relacionados com outros canais
e proteção do corpo (DEADMAN; AL-KHAFAJI; e colaterais. Veremos eles mais a fundo nesta uni-
BAKER, 1998; YAMAMURA, 2001). dade (MACIOCIA, 2007)
Você sabia que os canais também respondem Colaterais ou Flutuantes, Ramificações,
às disfunções do corpo? A harmonia do canal, Conexão (Luo Mai): são ramificações dos canais
quando interrompida, origina “canais doentes”, principais, divididos em longitudinais e transver-
um canal com insuficiência de energia (desnu- sais, e “correm” em todas as direções, preenchendo
trição) ou sem fluxo de Qi e Xue (chamado de o espaço entre a pele e os músculos (há variáveis
estagnação). E como são esses sinais? Normal- em níveis de profundidade), eles são como uma
mente, eles se manifestam como formigamento, rede que interligam os canais do corpo para que
dor local ou ao longo de um trajeto do canal, o Qi e Xue chegue a todas as células do corpo
fraqueza, entorpecimento etc. (DEADMAN; AL- (MACIOCIA, 2007). Pela classificação chinesa,
-KHAFAJI; BAKER, 1998). dividimos esses vasos em 16 grandes vasos Luo,
Uma doença dos Zang Fu também poderá que são originados de pontos dos canais princi-
refletir no canal. Por exemplo, uma pessoa com pais denominados de pontos de conexão/passa-
fogo no fígado (característica Yang) pode ser gem ou pontos Luo; esses vasos ligam os canais de
transmitido aos olhos pelo canal do fígado (sim, característica Yin com os canais de característica
o canal do fígado passa pelos olhos!), deixando Yang e ainda possuem função de condução e con-
esses vermelhos e doloridos! (DEADMAN; AL- trole da energia sobre outros vasos Luo (FOCKS;
-KHAFAJI; BAKER, 1998). ULRICH, 2008).

50
UNIDADE 2

Há, ainda, uma subdivisão dos vasos Luo,


em Sun Luo (vasos pequenos ou netos), eles Canal principal

se situam na superfície do corpo e em ór- Canal de conexão

gãos internos; desses vasos, Sun Luo, “saem”


outros vasos mais finos e superficiais, deno-
minados de Fu Luo. O que se torna uma in-
formação importante para nós, terapeutas, é
que os fatores patogênicos entram no corpo
por meio desses vasos Luo, por serem os mais
superficiais, por isso técnicas de estimula-
ção superficiais, como sangria, massagem e
ventosa, estimulam esses vasos, tendo efeito Figura 5 - Demonstração dos canais principal e dos canais
terapêutico para tratar doenças (FOCKS; UL- de conexão
Fonte: Maciocia (2007, p. 183).
RICH, 2008).
Canais Tendino-Musculares (Jing Jin): são em número de 12 e “saem” dos canais principais
por meio de pontos denominados Jing (poço). A função desses canais, como o próprio nome diz,
está relacionada aos tendões, músculos, articulações (regiões subepidérmicas); eles formam uma
rede cujo trajeto é similar ao dos canais principais. Podem ser utilizados em tratamentos relacio-
nados ao movimento e mobilidade por meio de pontos no corpo denominados de Jing (poço)
(FOCKS; ULRICH, 2008).
Alterações patológicas nesses canais são denotadas como: dor, câimbra, rigidez muscular, paralisia,
fraqueza, inchaço muscular, dor nos tendões e ligamentos, além da restrição de movimento (nesse caso,
há uma participação dos Jing Jin e dos canais principais) (FOCKS; ULRICH, 2008).

Você já relou em algum músculo que estava dolorido e havia um ponto específico que estava
doendo mais? Esses pontos são denominados pontos-gatilho da dor, sendo manifestações
dos canais tendino-musculares, recebem uma denominação chinesa de pontos ashi e podem
fazer parte ou não dos pontos de acupuntura já padronizados. Eles são muito utilizados em
uma técnica conhecida como Dry Needle ou Agulhamento a seco, usada para aliviar dores
musculares. Basicamente, procuram-se os pontos doloridos e coloca-se uma agulha de acu-
puntura no local da dor para aliviá-la, pode ser utilizada em dor de cabeça, lesões de esforço
repetitivo, ombros, joelhos, qualquer dor muscular/articular, e os resultados são rápidos e
vistos a partir da primeira sessão.

51
UNICESUMAR

Canais Distintos/ Divergentes (Jing Bie): também são em número de 12 e bilaterais ao corpo,
ou seja, estão em pares. São denominados como canais especiais, sendo ramificações dos canais
principais e promovem a circulação de Qi, inclusive, em locais que os canais principais não che-
gam, além disso, consolidam a ligação do Yin e Yang e auxiliam na ligação dos canais de energia
com seus órgãos e vísceras acoplados, e todos esses canais têm ligação com o coração. Contudo,
diferentemente dos canais anteriores, o Jing Bie não possui pontos próprios (MACIOCIA, 2007;
FOCKS; ULRICH, 2008).
Canais Extraordinários/ Vasos Maravilhosos (Qi Jing Mai): esses canais são em número de oito
(quatro pares) e não possuem relação direta com os canais principais, apesar de existirem pontos
de confluência entre os dois. Os vasos extraordinários são reservatórios de energia, do excesso de
Qi dos canais, sendo utilizados para diversas patologias (FOCKS; ULRICH, 2008).
Os oito canais são: vaso da concepção (ren), vaso governador (du), vaso da vitalidade/pentra-
dor (chong), vaso da cintura (dai), vaso da motilidade Yin (yin qiao), vaso de ligação Yang (yang
wei), vaso de ligação Yin (yin wei) e vaso da motilidade Yang (yang qiao). Desses canais, somente
o vaso da concepção e o vaso governador possuem pontos próprios e, às vezes, aparecem com os
doze canais primários, sendo chamados de 14 canais (DEADMAN; AL-KHAFAJI; BAKER, 1998).
O vaso da concepção (VC)
(Figura 6, à esquerda) tem VG-21
seu trajeto iniciado na linha
E-1
mediana, bem no centro do VG-16
VC-24 E-4
músculo períneo (acima do
ânus), ele ascende pela linha 22
20
média do corpo, na parte fron- B-12
18 VG-12
tal, passando pelo abdômen,
16
tórax e terminando no queixo VG-9 VG-28
14
(DEADMAN; AL-KHAFA- 12
6
JI; BAKER, 1998). O vaso do 10
governador (VG)(Figura 6, à 8 4
6
direita) também tem seu início
4
no músculo períneo, abaixo do VC-2 2
ânus, passa pela região do cóc-
cix, ascendendo pela coluna
vertebral até atingir o crânio,
continuando pela linha medial
circundando-a até passar pela
fronte, nariz, lábio superior e VC-1 VG-1
termina dentro da boca, no
lábio superior na junção com
a gengiva, na linha medial do Figura 6 - Trajeto dos canais extraordinários
corpo (MACIOCIA, 2007). Fonte: Forks (2018, p. 53-54).

52
UNIDADE 2

O Vaso da concepção é conhecido como o mar da energia Yin (lembre-se, o ventre é Yin) e
trabalha doenças do sistema urinário, genital, cardiorrespiratório e digestório. O vaso do go-
vernador é conhecido como mar do Yang (lembre-se que o sol bate nas costas, logo ele é Yang),
e seu uso é para tratar disfunções do Sistema Nervoso Central. Por estar em cima da coluna,
normalmente utilizamos uma técnica da medicina chinesa chamada de ventosaterapia, em que
colocamos uma espécie de copo chamado ventosa, tiramos seu ar interno com uma bomba,
sugando a pele, fazendo a energia e o sangue circularem no meridiano estimulado (INADA,
2003; DONATELLI, 2018).
Assim, especificando mais a Figura 6, à esquerda, temos o Vaso da Concepção. À direita, o Vaso
Governador; as linhas pontilhadas indicam um trajeto no interior do corpo, e as linhas contínuas o
trajeto superficial/exterior, em que existem pontos de estimulação representados em bolinhas pretas
(FOCKS; ULRICH, 2008).
Zonas cutâneas (Pi Bu): são em número de doze e estão relacionadas com os canais principais,
correndo mais superficialmente nos seus respectivos canais de energia. Elas formam a primeira
barreira de proteção externa. Nutrindo e protegendo a pele e os poros, é aqui que o Wei Qi (Qi
defensivo) fica. Por serem superficiais, também podemos aplicar técnicas como massagem e ven-
tosa para tratar as doenças desse canal, que é o mesmo dos canais principais (MACIOCIA, 2007;
FOCKS; ULRICH, 2008).

São vários tipos de canais, não é mesmo? Contudo, o que


devemos lembrar é que todos são conectados e influenciam a
circulação de Qi e sangue no corpo, são neles que vamos atuar REALIDADE
para atingir o equilíbrio em nosso paciente. Só que, desses canais AUMENTADA
que vimos, os mais importantes dentre esse sistema de classifi-
cação são os Canais Principais.
Existe um canal para cada Zang Fu e a relação entre os canais
e órgãos e vísceras é tão importante que os canais levam o nome
de cada estrutura correspondente. Todos os canais são bilaterais e
possuem trajetos superficiais (em que estão os famosos pontos de
acupuntura) e profundos/internos, originalmente esses canais são
em seis de natureza Yin e seis de Natureza Yang, que asseguram a
comunicação dos Zang Fu, totalizando 12 canais (DONATELLI,
2018). Esses canais são conhecidos como sendo seis canais unitários,
relacionados à mão (Shou) e ao pé (Zu).
Mapa dos Canais de Energia

53
UNICESUMAR

Tabela 1 - Os 12 canais principais

Canal Principal Abreviação Nome em chinês


Pulmão P Shou Tai Yin
Intestino Grosso IG Shou Yang Ming
Estômago E Zu Yang Ming
Baço BA Zu Tai Yin
Coração C Shou Shao Yin
Intestino Delgado ID Shou Tau Yang
Bexiga B Zu Tai Yang
Rim R Zu Shao Yin
Pericárdio PC Shou Jue Yin
Triplo Aquecedor TA Shou Shao Yang
Vesícula Biliar VB Zu Shao Yang
Fígado F Zu Jue Yin

Fonte: adaptada de Donatteli (2018).

Então, como podemos ver na Tabela 1:


• Há seis canais de natureza Yin ligados aos órgãos (Zang): Pulmão (P), Baço (BA), Coração (C),
Rim (R), Pericárdio (P) e Fígado (F).
• E seis canais de natureza Yang ligados às vísceras (Fu): Intestino Grosso (IG), Estômago (E),
Intestino delgado (ID), Bexiga (B), Triplo Aquecedor (TA) e Vesícula Biliar (VB).

Desses canais, podemos observar que há:


• Três Canais de Energia Yin do membro superior (Shao/ mãos).
• Três Canais de Energia Yin do membro inferior (Zu/ pé).
• Três Canais de Energia Yang do membro superior.
• Três Canais de Energia Yang do membro inferior.

Os três canais de energia Yang das mãos e os Três canais de energia dos pés se intercomunicam na ca-
beça (união alto e baixo - Yang e Yin). Dos canais Yang, devemos lembrar que Yang é o alto, o céu, então
nosso parâmetro sempre será a cabeça, assim, há três canais Yang que se iniciam na mão e terminam
na cabeça (Intestino Grosso, Triplo Aquecedor e Intestino Delgado), e três que se iniciam na cabeça
e terminam nos pés (Bexiga, Estômago e Vesícula Biliar), sempre o Qi “correndo” do alto para o baixo
(YAMAMURA, 2001; DONATELLI, 2018).
E dos canais Yin, lembrem-se que Yin simboliza a terra, o baixo, seu sentido de comunicação será do
baixo para o alto (terra-céu) ou seja, eles “correm” em sentido ascendente, sendo o tronco o ponto de
intercomunicação. Desses canais, três começam nos pés e terminam no tronco (Rim, Baço e Fígado) e
três começam no tronco e terminam nas mãos (Pulmão, Pericárdio e Coração) (YAMAMURA, 2001;
DONATELLI, 2018).
Assim, esses canais Yin e Yang são acoplados, com o respectivo Zang Fu, fazendo a ligação da energia
Yin e Yang do corpo.

54
UNIDADE 2

Tabela 2 - Acoplamento do Canal Yin e Yang

Canal Yin (Zang) Canal Yang (Fu) Elemento


Fígado Vesícula Biliar Madeira
Pericárdio Triplo Aquecedor Fogo
Coração Intestino Delgado Fogo
Rim Bexiga Água
Baço Estômago Terra
Pulmão Intestino Grosso Metal
Fonte: a autora.

Com base no que acabamos de ver, podemos dizer que o Tai Yang, Shao Yang, Yang Ming (3 yang) e Tai
Yin, Jue Yin, Shao Yin (3 yin) ligam o alto e o baixo do corpo. Quando analisamos os canais acoplados
(Tabela 2), vemos a união de canais com polaridades opostas, ou seja, Yin e Yang, mas que pertencem
a um mesmo elemento.
O Qi circula por esses canais, e na medicina chinesa há uma teoria do relógio biológico ou da grande
circulação de Qi. Essa teoria diz que cada Zang Fu e seus canais principais possuem um horário espe-
cífico para a circulação máxima de energia que dura duas horas, e com uma diferença de doze horas,
podemos encontrar o ponto de energia mínima desse canal (DONATTELI, 2018):
• 3:00-05:00 – Pulmão
• 5:00-07:00 – Intestino grosso
• 7:00–09:00 – Estômago
• 9:00-11:00 – Baço
• 11:00-13:00 – Coração
• 13:00-15:00 – Intestino delgado
• 15:00-17:00 – Bexiga
• 17:00-19:00 – Rins
• 19:00-21:00 – Pericárdio
• 21:00-23:00 – Meridiano triplo aquecedor
• 23:00-01:00 – Vesícula biliar
• 01:00-03:00 – Fígado.

Tais horários aparecem esquematizados a seguir. Alguns autores denominam o canal do pericárdio de
circulação-sexualidade, e o baço de baço-pâncreas.

55
UNICESUMAR

Ba
mago Pâncrçeo
Estô as
no Co
sti o r
te ross


In

ão
G

1h
7a9

9a1
3h

h
5a
1

Intestai do
1a
ão

Delg
7h
1
Pulm

3a5

no
5h
h 13 a 1

15 a
1a3h 17 h
do

Bexig
Fíga

1h

17

a
a

a1
23
19 a 2
23 h

9h
21 a

1h
síc liar
ula

Ri
m
Bi

Yin
Ve
or
ced CircSexo Yang
Aqueriplo ulaçã
T o
Meridianos
Acoplados
Figura 7 - Circulação de energia nos canais
Fonte: Donatteli (2018, p. 6).

É importante saber esses horários e estar atento a essas questões na hora de avaliar o seu paciente. Por
exemplo, suponhamos que uma pessoa tenha insônia e sempre acorde entre as 1:00 e as 3:00. A qual
órgão corresponde? Ao fígado, isso significa que posso tratar o fígado dela para melhorar essa questão.
Caro(a) aluno(a), agora que já vimos a teoria dos canais, vamos aprofundar mais nos canais unitários,
conhecendo um a um. Entretanto, antes vamos conhecer a definição dos famosos pontos de acupuntura
ou acupontos, já que vamos conhecer a localização de alguns utilizados no trajeto dos canais.
Em chinês, os pontos são chamados de Xue, o ideograma dessa palavra significa teto e dividir, na
verdade, remete à ideia de retirar pedras de uma caverna que abriga o Qi; em outras palavras, o ponto
de acupuntura está localizado em pequenas covas nos canais de energia. Esses pontos possuem ca-
racterísticas bioelétricas próprias, podendo ter manifestações de alterações funcionais e/ou orgânicas
(ex.: dor, presença de caroços...), que refletem o estado dos órgãos e vísceras, além do canal de energia
(YAMAMURA, 2001; DONATTELI, 2018). Posteriormente, caro(a) aluno(a), veremos alguns pontos
de acupuntura, então guarde bem esse conceito!
O Primeiro canal que vamos ver é o do Pulmão ou Tai Yin da mão. Esse canal possui 11 pontos de
acupuntura, pertence ao elemento metal e começa na região do aquecedor médio, no estômago, por
meio de um trajeto interno. A partir disso, ele desce para se conectar ao intestino grosso, voltando a
subir, retorna ao estômago atravessando o músculo diafragma e entra no Pulmão, sobe até a traqueia
e entra na forquilha supra-esternal, posteriormente alcança a laringe e desce interna e obliquamente
em direção ao aspecto lateral do peito, emergindo no ponto P1 (Zhongfu) na linha intramamilar, no
1° espaço intercostal (DEADMAN; AL-KHAFAJI; BAKER, 1998).

56
UNIDADE 2

Esse é o primeiro acuponto do pulmão, denominado de P1 (sempre é a abreviação do órgão seguido


do número) e também é onde o canal do pulmão inicia o seu trajeto externo. Posteriormente, sobe a
fossa infraclavicular, na altura da segunda costela, descende passando pelo ombro, pela parte anterior
do braço, passa pelo cotovelo (lado antero-lateral), em direção ao processo estiloide do rádio, termi-
nando no ângulo da unha do polegar (DEADMAN; AL-KHAFAJI; BAKER, 1998).

Assista a este vídeo disponível no YouTube, pois ele demonstra os canais


e quais são os caminhos que eles percorrem no corpo humano! Você
pode usar esse vídeo para acompanhar a descrição anatômica dos canais!

Existem sintomas que chamare-


mos de principais: esses remetem
a sinais que, para o profissional
da acupuntura, indicará um dese-
quilíbrio no canal em questão. No
caso do pulmão, os sintomas prin-
cipais são: respiratórios (mal-estar
no tórax, falta de ar, tosse com ou
sem expectoração, calafrios e fe-
bre); sintomas cutâneos (hiperhi-
drose, sudorese noturna, urticária
e dor na pele no trajeto do canal);
mentais (depressão, claustrofo-
bia, lembre-se que, pelos cinco
elementos, o medo é a emoção
do metal); e membros superiores
com dor ou parestesia ao longo do
canal (MACIOCIA, 2007).
Quando falamos no canal do
pulmão, há alguns sintomas que
nos dão sinal de excesso ou de-
ficiência da energia deste, sinais
importantes para saber qual de-
sequilíbrio energético o paciente
terá e, posteriormente, determi- Figura 8 - Trajeto do canal interno (linha pontilhada) e externo do pulmão
nará a forma de tratamento: Fonte: Deadman, Al-Khafaji e Baker (1998, p. 74).

57
UNICESUMAR

• Excesso: febre, tosse com expectoração purulenta, dor dorsal alta, dor no trajeto do Canal (ombros e
braço), respiração ruidosa, voz alta, dor, febre e calafrios (DEADMAN; AL-KHAFAJI; BAKER, 1998).
• Deficiência: tosse com falta de ar, secreção fluida, voz fraca, parestesia (dormência, formigamento,
coceira...) no trajeto do Canal e sudorese noturna (DEADMAN; AL-KHAFAJI; BAKER, 1998).

Lembre-se, se há uma deficiência energética, temos que tonificar/dar energia a esse canal; se há excesso,
temos que drenar ou dispersar essa energia. No geral, o canal do pulmão é utilizado para tratar doen-
ças do tórax (dor no tórax inteiro é sinal que precisa tratar o pulmão), garganta, traqueia, nariz e do
próprio pulmão, além de harmonizar o Qi. Observe também que, no trajeto do canal, o Pulmão passa
pelo estômago, isso não te lembra algo dos cinco elementos? A Mãe do metal é a Terra, ou seja, se o
metal está fraco, temos que tonificar/dar energia para a mãe que é a terra, por isso podemos reforçar a
energia do Baço e do Estômago para melhorar o pulmão! Outro ponto é que o trajeto do canal passa
pela laringe, isso reforça a conexão desse órgão com a voz (MACIOCIA, 2007).
Agora vamos pensar nos patógenos da medicina chinesa: um patógeno externo, como frio, umidade
etc., ao invadirem o pulmão, há dores do tipo Yin, ombralgia, dores do cotovelo, dor no aspecto lateral do
punho e polegar (comum em esforço repetitivo), ou seja, em qualquer lugar que o trajeto passe, por isso é
de suma importância ao profissional acupunturista conhecer o trajeto dos canais (YAMAMURA, 2001).
Agora, se tivermos uma doença mais Yang, um calor ou até um patógeno de vento, o paciente
apresentará a garganta inchada e dolorida e palma da mão quente (YAMAMURA, 2001). Lembre-se
que o excesso ou deficiência de energia pode abranger tanto a teoria do Yin e Yang como a dos cinco
elementos, que você estudou na Unidade 1.
Quando pensamos em acupontos, dois pontos importantes de tratamento são: o P3, trata distúrbios
no movimento do braço com incapacidade de estender ou dor no aspecto interno do braço, e o outro é
o P7, o ponto mais importante para tratar qualquer problema no canal do pulmão (MACIOCIA, 2007).
O acoplado do Pulmão é o intestino grosso, ou Yang Ming da mão, que tem 20 pontos e começa na
extremidade do dedo indicador, do lado de onde terminou o pulmão, e recebe a energia desse canal, por
meio de um ramo de conexão que liga o P7 ao IG1 (Intestino grosso 1), localizado no ângulo radial do dedo
indicador. O canal corre ao longo do aspecto radial do 2° dedo da mão, alcança o ponto IG4, entre 1 e 2 ossos
metacarpianos – esse ponto é muito utilizado e você já o estimulou por meio de um exercício na Unidade 1.
Posteriormente, o canal entra na tabaqueira anatômica em IG5 e faz um trajeto ao longo do bordo
póstero-lateral do rádio entre os músculos extensor, em que estão localizados os pontos IG8, IG9 e
IG10. Na extremidade lateral do sulco do cotovelo, alcança o ponto IG11 e sobe pelo bordo lateral do
braço até o ápice do “V” do músculo deltoide; no bordo antero-lateral do acrômio segue girando ao
redor do ombro até parar entre a crista escapular e a extremidade lateral da clavícula, em que vai para
o meio da fossa supraespinhosa da escápula e faz um trajeto até o meio da coluna entre os processos
espinhosos da C7 e T1, que é um ponto do canal do Vaso Governador (VG24). Retorna anteriormente
na fossa supraclavicular, em que emite dois ramos: o interno penetra no peito até atingir o Pulmão, passa
através do diafragma, ramifica para o Intestino Grosso e desce até a perna em um Ponto denominado
E37 (Estômago) que une inferiormente os canais do IG e do E. O ramo externo sobe anterolateral ao
pescoço, atravessa a mandíbula, penetra na gengiva e circunda o lábio até o outro lado, terminando na
asa do nariz (ponto IG20), unindo-se ao meridiano principal do Estômago.

58
UNIDADE 2

O canal de energia do In-


testino Grosso é utilizado
no tratamento de patologias
da face, olhos, ouvido, nariz,
boca, gengiva, garganta, o
próprio intestino e harmo-
nizar o Qi (YAMAMURA,
2001). No geral, os sintomas
que chamam a atenção para
alterações são na boca (farin-
gite, amidalite), nariz (coriza,
obstrução ou sangramento);
nuca e ombros (dor e inchaço
no pescoço), gengiva (incha-
das e doloridas), além de boca
seca, esclera vermelhas, dor no
abdômen após a alimentação
(MACIOCIA, 2007).
Quanto a energia, temos:
• Excesso: fome frequen-
Figura 9 - Trajeto do canal in-
te, dor abdominal, mau terno (linha pontilhada) e ex-
hálito, constipação e dor terno do Intestino Grosso
de garganta (DEAD- Fonte: Deadman, Al-khafaji e
Baker (1998, p. 98).
MAN; AL-KHAFA-
JI;BAKER, 1998).
• Deficiência: diarreia, sensação de frio nas extremidades e aumento do peristaltismo (DEAD-
MAN; AL-KHAFAJI; BAKER, 1998).

O canal do IG está intimamente relacionado com a face (juntamente com o canal do Estômago), o
ponto IG4 é um dos principais pontos para tratar problemas da face, só que ele deve ser estimulado
do lado oposto à região afetada, pelo fato do canal possuir esse cruzamento. Ele também é utilizado
para problemas nos dentes e nas gengivas (o maxilar usa, preferencialmente, o canal do Estômago)
(MACIOCIA, 2007).
Outro ponto importante é o IG15, ele está localizado próximo à articulação do ombro, sendo um
dos principais pontos para tratar problemas nessa região, assim como IG4 e IG1. Você já escutou falar
sobre “cotovelo de tenista”? Uma dor devido à irritação do tecido que liga o músculo do antebraço ao
cotovelo, o canal do IG está quase sempre envolvido, então é interessante abordar pontos como o IG11
que trata da dor nessa região (MACIOCIA, 2007).
Quando falamos da invasão de Frio no canal, o paciente sentirá dores de características Yin, difi-
culdade dos músculos extensores do braço e do ombro. Já Calor, haverá sintomas de boca seca, sede,
odontalgia, garganta inchada e dolorida, cervicalgia, inchaço e sinusite maxilar (YAMAMURA, 2001).

59
UNICESUMAR

Agora vamos para o próximo meridiano que


é o do Estomago ou Yang Ming do pé, perten-
cente ao movimento Terra e possui 45 pontos.
Esse canal se inicia na lateral da asa do nariz, sobe
até a raiz do nariz, em um ramo interno, em que
encontra o canal da Bexiga (em B1), dirige-se à
região infraorbitária e inicia seu canal externo
no ponto E1; na linha da pupila, descende late-
ralmente o nariz, penetrando no lábio superior,
passa pela bochecha até o ponto E5 e curva-se ao
longo da mandíbula em E6 e ascende em frente à
orelha. Após, ele segue a linha de implantação do
cabelo e, na fronte, une-se ao canal do VG (Vaso
Governador) no ponto 24.
Um Ramo sai da mandíbula e desce ao longo
do pescoço, penetrando na fossa supraclavicular.
Internamente, o canal atravessa o diafragma, es-
tômago e conecta-se com o baço, saindo na região
inguinal. Outro ramo desce externamente pas-
sando pelo peito e abdômen na linha do mamilo,
unindo-se a outra porção do canal em E30; desse
ponto o canal continua descendo até alcançar o
joelho e continua em sentido descendente lateral Figura 10 - Trajeto do canal interno (linha pontilhada) e
à tíbia até alcançar o pé. Atravessando seu dorso, externo do Estômago
termina na margem ungueal do segundo artelho Fonte: Deadman, Al-Khafaji e Baker (1998, p. 98).
(dedo), em que se conecta com o canal do Baço.
Esse canal é utilizado no tratamento de distúrbios da face: olhos, nariz, boca, gengivas, alvéolos
dentários, garganta, estômago, intestinos, doenças mentais e febris (MACIOCIA, 2007).
O canal de energia do estômago é utilizado em distúrbios da face, olhos, nariz, boca, gengivas,
dentes, garganta, estômago, intestino grosso, doenças mentais e febris (YAMAMURA, 2001). Os sin-
tomas principais podem ser gastrointestinais (edema no abdômen, distensão e plenitude abdominal);
membros (inchaço na região do joelho, dor, adormecimento, inchaço do pescoço, vontade de estirar
a região dorsal); face/cabeça (inchaço no pescoço, dor de garganta, desvio da boca, aftas, corrimento
nasal sanguinolento, vontade de beber, escalar lugares altos, cantar e tirar as roupas).
Quanto a energia no canal:
• Excesso: fome frequente, dor, secura na garganta e mau hálito, urina amarelada, espasmos fa-
ciais, dor nas pernas e joelho ao longo do canal, constipação e dor de garganta (DEADMAN;
AL-KHAFAJI; BAKER, 1998).
• Deficiência: bocejos, cansaço, suspiros, indisposição/cansaço, distensão gástrica, eliminação de
fezes malformadas, disenteria, urina clara e paralisia facial no trajeto no canal (DEADMAN;
AL-KHAFAJI; BAKER, 1998).

60
UNIDADE 2

Uma curiosidade do canal do estômago é que


ele passa pelo canal da Vesícula biliar (em VB3)
e no da Bexiga em (B1), isso significa que o canal
do estômago pode influenciar a energia destes
canais, sendo muito importante no tratamento
de afecções da face (MACIOCIA, 2007). Um dos
pontos mais “versáteis” para o tratamento via acu-
puntura é o E36, que beneficia Estômago e Baço
(fortalece o elemento terra), tonifica Qi e Sangue
(Xue), tonifica Qi Original, regula os intestinos,
clareia a visão e acalma a mente. De maneira geral,
ele regula todos os elementos (LIMA, 2016).
O elemento Terra é muito importante e, como
seus órgãos, baço e estômago, tem grande res-
ponsabilidade pela formação do Qi, é muito
comum utilizarmos pontos desses canais como
tratamento. Em relação ao Baço ou, dependendo
do autor, chamado de baço-pâncreas, conhecido
como Tau Yin da perna, esse canal tem 21 pontos
e seu trajeto iniciado na margem ungueal medial
do hálux corre ao longo do aspecto medial do
pé (na junção da pele “vermelha e branca/negra
do pé”), seguindo pela face medial até o maléolo,
posteriormente segue pela face interna da perna
na tíbia, joelho e coxa até a extremidade externa
da perna inguinal onde entra (interno) no abdô-
Figura 11 - Trajeto do canal interno (linha pontilhada) e
men e passa para o canal do Vaso Governador, externo do Baço
conecta-se ao baço e ao estômago, diafragma Fonte: Deadman, Al-khafaji e Baker (1998, p. 177).
e coração, em que liga no canal do Pericárdio.
Um outro ramo interno ascende até o esôfago, alcança a raiz da língua até a superfície inferior. Um
outro canal de energia, externo, vai pela parede anterolateral do tórax até o segundo espaço intercostal
e depois descende até a linha média axilar do sétimo espaço intercostal (DEADMAN; AL-KHAFAJI;
BAKER, 1998; YAMAMURA, 2001; MACIOCIA, 2007).
No geral, os canais do baço apresentam sintomas como a desnutrição e palidez, gastrointestinais
(dor epigrástrica, distensão abdominal, náuseas e vômitos após alimentar-se, fezes amolecidas, icte-
rícia, dificuldade de urinar), hematológicos (anemia), membros superiores (sensação de opressão no
tórax com dor abaixo da região do coração), insônia e excesso de preocupação (YAMAMURA, 2001).
No geral, o baço é usado no tratamento do tubo digestivo (tubo gastrointestinal), sangue e sistema
reprodutor feminino. Pontos importantes do canal do baço são BA6 e BA4, que nutrem o Yin do
corpo (“aumentam” essa energia), principalmente o Yin da perna, tratando dor no dorso do pé e no
artelho maior (MACIOCIA, 2007).

61
UNICESUMAR

• Excesso: dor abdominal, febre, constipação e dor nas articulações (DEADMAN; AL-KHAFAJI;
BAKER, 1998).
• Deficiência: aumento dos movimentos peristálticos, diarreia, náuseas, vômito, insônia, fraqueza
e distensão do intestino (DEADMAN; AL-KHAFAJI; BAKER, 1998).

É importante notar que o canal do estômago faz conexão com o canal do coração, por isso sua impor-
tância em distúrbios emocionais, uma vez que o coração abriga a mente (Shen) (MACIOCIA, 2007).
O coração possui um canal denominado Shao Yin da Mão e possui 9 pontos, seu canal interno começa
em seu próprio órgão, atravessa o músculo diafragma e conecta-se com o intestino grosso. Um outro
canal interno vai do coração para a garganta e termina nos olhos. E o último ramo vai do coração
para os pulmões e se torna externo na região da fossa axilar (ponto C1), posteriormente, desce pela
face medial do braço, do cotovelo e do antebraço, passando pelo processo estiloide da ulna e região
hipotênar da palma da mão, terminando na margem ungueal do rádio no dedo mínimo no ponto C9
(DEADMAN; AL-KHAFAJI; BAKER, 1998; YAMAMURA, 2001; MACIOCIA, 2007).
Quando nos referimos aos sintomas principais
do canal do coração, o que deve vir a sua mente
será os sintomas relacionados ao órgão: falta de ar,
aperto/dor no coração palpitações; alterações vas-
culares (calor, rubor facial, suor noturno); braços
(dor, adormecimento ou formigamento ao longo
do canal). Em relação à língua e à boca, a pessoa
pode apresentar boca seca e sede, rigidez na língua
e língua vermelha com úlceras (YAMAMURA,
2001). Esse canal é utilizado para desordens da
língua, coração, tórax e alterações mentais por
causa do Shen. Em relação à classificação dos sin-
tomas pelo nível de energia, temos:
• Excesso: boca seca e sede, dor no trajeto
do canal ou no próprio coração, rosto ver-
melho, ansiedade e insônia, língua dura/
rígida com a cor vermelha e úlceras, pul-
sação rápida (DEADMAN; AL-KHAFAJI;
BAKER, 1998).
• Deficiência: aumento dos movimentos pe-
ristálticos, diarreia, náuseas, vômito, insônia,
Figura 12 - Trajeto do canal interno (linha pontilhada) e
externo do Coração fraqueza e distensão do intestino (DEAD-
Fonte: Deadman, Al-Khafaji e Baker (1998, p. 177). MAN; AL-KHAFAJI; BAKER, 1998).

62
UNIDADE 2

Caro(a) aluno (a), note que o


canal do coração possui ramo
interno ligado à garganta, isso
confirma a influência do co-
ração em alguns sintomas da
garganta, como a sensação de
constrição dessa, que normal-
mente está ligada a uma energia
parada/estagnada no canal, pro-
vavelmente provocado por sin-
tomas emocionais. Você já deve
ter escutado sobre alguém que
estava com alguma alteração
emocional e sentiu a “garganta
fechar” (MACIOCIA, 2007).
O canal do coração é muito
utilizado na prática do profis-
sional da acupuntura para “acal-
mar o espírito”, ou seja, pessoas
com ansiedade, palpitações,
pavor, psicose, manias; etc... os Figura 13 - Trajeto do canal interno
pontos mais utilizados são o C5 (linha pontilhada) e externo do Intes-
tino Delgado
e o C7 (DEADMAN; AL-KHA- Fonte: Deadman, Al-Khafaji e Baker
FAJI; BAKER, 1998). (1998, p. 227).

O próximo canal também pertence ao elemento fogo, é o acoplado do coração, o Intestino Delga-
do ou Tai Yang da Mão, que possui 19 pontos. Seu trajeto externo começa na borda ungueal do dedo
mínimo e segue pela margem ulnar da mão, subindo sobre a ulna pela margem medial (dorso) do
antebraço, passa pelo cotovelo e segue pela parte póstero lateral do braço até a articulação do ombro,
onde contorna a escápula superiormente e vai até a fossa supraclavicular, ao qual sobe um ramo pela
lateral do pescoço, entrando na diagonal da face até a “maçã do rosto” e termina no interior da orelha.
O ramo interno parte da clavícula e descende passando pelo coração, esôfago, diafragma, estômago e
penetra no Intestino delgado (DEADMAN; AL-KHAFAJI; BAKER, 1998).
O canal do intestino delgado está ligado ao tratamento de afecções da cabeça, olhos, ouvidos, gar-
ganta, pescoço, coluna vertebral e desordens mentais. No geral, dor, adormecimento/formigamento,
rigidez (não consegue movimentar) na região cervical, ombro e braços estão ligados ao trajeto do
canal, muito usado em problemas do ombro. Também auxilia problemas do ouvido, como zumbido
e surdez, dor e úlceras na garganta, e dor ao redor do umbigo, borborigmos no intestino delgado e
diarreia. Quanto à energia do canal:

63
UNICESUMAR

• Excesso: dor de gargan-


ta, rigidez e dor na nuca,
dor no ombro e braços
(DEADMAN; AL-KHA-
FAJI; BAKER, 1998).
• Deficiência: diarreia,
zumbido, surdez, bor-
borigmo, adormecimen-
to ou formigamento na
região do canal (DEAD-
MAN; AL-KHAFAJI;
BAKER, 1998).

Olhe o trajeto com canal, perce-


be que ele passa pela escápula e
ombros? Por isso, quando um
paciente chegar até você com
problemas articulares do om-
bro, é interessante apalpar no
lugar dos pontos desse canal e
colocar uma agulha, moxa ou
massagear o ponto mais sensí-
vel; em geral o ponto IG11 é o
mais sensível em questão (MA-
CIOCIA, 2007).
O próximo canal a ser abor-
dado será o canal que estava
marcado nas tatuagens do Ho-
mem do Gelo Tirolês, o canal
da bexiga ou Tay Yang do Pé,
que possui a maior quantidade
de pontos, com 67 acupontos.
O canal da bexiga pertencente
ao elemento água, é um canal
muito importante, pois abriga
alguns acupontos denominados
Bei Shu, que se conectam aos
órgãos internos, sendo muito
utilizados na técnica de vento-
saterapia. Figura 14 - Trajeto do canal interno (linha pontilhada) e externo da Bexiga
Fonte: Deadman, Al-Khafaji e Baker (1998, p. 251).

64
UNIDADE 2

O canal da bexiga começa no canto interno do olho, acendendo pela fronte até o ponto VG20, que
se situa no ápice da cabeça na linha medial. Nesse ponto, o canal emite seu primeiro ramo interno que
penetra no cérebro e outro que vai para a orelha e se comunica com o canal da vesícula biliar. Ainda
do ponto VG20, o canal continua seu trajeto externo descendendo para a região da nuca e se ramifica
em duas partes.
O primeiro vai até a sétima vértebra cervical e desce ao longo do dorso (distância do dedo indicador
mais médio a partir da coluna vertebral) até a região lombar, em que vira um ramo interno indo até
a bexiga e os rins, e continua externamente até a linha quarto forame do sacro, depois acede até o 1º
forame sacral, fazendo uma espécie de zigue-zague, descendo até o cóccix. A partir daí, descende pela
linha média da perna, passando pela nádega, coxa até chegar na fossa poplítea, em que se encontra
com o segundo ramo de energia do canal no ponto B40.
O segundo ramo começa a quatro dedos da linha média da coluna na região cervical, no ponto B41
e descende até encontrar a fossa poplítea (ponto B40), o canal descende pela perna, entre os músculos,
passa pela borda lateral do tendão do calcâneo e do maléolo do pé, seguindo pela lateral e terminando
na margem ungueal do quinto dedo do pé (DEADMAN; AL-KHAFAJI; BAKER, 1998; WEN, 2011).
Como você pode perceber pelo trajeto deste canal, podemos imaginar que suas funções serão
bem versáteis, equilibrando a energia do corpo para afecções da cabeça, fronte, olhos, nariz, doenças
mentais, febre, dor na região lombar, desordens imunológicas e hídricas (YAMAMURA, 2001), sendo
os seus principais sintomas relacionados a dores de cabeça (região frontal, occipital e parietal), dores
na lombar, nas costas, ciático, panturrilha e região íleo-sacral, além do olho e supraorbital, infecção no
sistema urinário e distúrbios da micção, obstrução nasal, corrimento nasal com secreção sanguinolenta
(YAMAMURA, 2001; WEN, 2011).
Quanto ao caráter energético, temos:
• Excesso: dor de cabeça com rigidez na nuca, dor lombar e de membros inferiores (DEADMAN;
AL-KHAFAJI; BAKER, 1998; WEN, 2011).
• Deficiência: frio nas costas, dor lombar e parestesia com irradiação para os membros inferiores
no trajeto do canal (DEADMAN; AL-KHAFAJI; BAKER, 1998; WEN, 2011).

O canal da bexiga, como podemos perceber, possui grande influência nas costas por “correr” duas vezes
ao lado da coluna, assim ele está envolvido em duas patologias mais comuns, a dor nas costas e a dor
de cabeça (veja o trajeto da bexiga pelo crânio). O ponto B60 é um dos pontos principais para tratar a
dor na região superior das costas, e o B40 para a região inferior. E para dores de cabeça, pode-se utilizar
o B60 e o ponto B10 (MACIOCIA, 2007).
A Bexiga é o canal acoplado do Rim, o Shao Yin do pé pertencente ao elemento água, possui um
total de 27 pontos. Os rins, como vimos na Unidade 1, possuem importante papel na fisiologia Zang
Fu, pois abriga a essência Jing, está relacionado com o útero e harmoniza a parte sexual, controla os
orifícios inferiores, ossos e dentes (lembre-se sempre que, apesar de estarmos vendo os canais, todas
as funções do elemento ou do órgão que vimos na Unidade 1 são indicativos de sinais de alterações
energéticas do Zang Fu em questão) (AUTEROCHE; NAVAILH, 1992; MACIOCIA, 2007).

65
UNICESUMAR

O canal do rim começa na ponta do quinto


dedo do pé e segue para o meio da planta do pé,
indo para a face medial ao lado do osso cuboide,
vai para a face medial do pé e segue pela perna
(na face medial). Chega à prega do joelho (ex-
tremidade medial), seguindo pela face póstero
medial da coxa, pelos músculo grácil e adutor
(entre a pélvis) (vira interno), passando pela re-
gião do períneo, seguindo ventralmente a coluna
vertebral, penetrando nos rins e na bexiga; exte-
rioriza-se na pélvis, ascendendo ao lado medial
do músculo reto abdominal, passando pelo es-
terno até a frente do pescoço.
Existe um ramo interno que sai dos rins, passa
pelo fígado, diafragma, indo até a faringe e termi-
nando na raiz da língua. Outro canal interno sai
dos pulmões, ligando-se ao coração e une-se ao
pericárdio (envoltório do coração), onde trans-
Figura 15 - Trajeto do canal interno (linha pontilhada) e
mite a energia a esse invólucro (DEADMAN; externo do Rim
AL-KHAFAJI; BAKER, 1998; MACIOCIA, 2007; Fonte: Deadman, Al-Khafaji e Baker (1998, p. 251).
WEN, 2011).
No geral, o canal energético do rim é utilizado para tratamentos da região lombar (pelo fato do rim
ficar nessa região), problemas do sistema reprodutor e urogenital, formação de pedras no rim, oligú-
ria/poliúria, garganta, dores de cabeça, doenças mentais, cardíacas, ósseas e auditivas (YAMAMURA,
2001). Assim, como sintomas principais, teremos: pessoa com bastante cansaço, impotência sexual,
esterilidade e distúrbios do crescimento, além de tendência a envelhecer mais rápido e hiperpigmen-
tação da pele. Pode haver queda dos dentes e até quebra (instabilidade), osteoporose, queda/ausência
de cabelo, falta de brilhos nos fios capilares, zumbido ou surdez no ouvido e tontura (relacionada à
labirintite) (YAMAMURA, 2001; WEN, 2011).
• Excesso: sede e ardência na boca, distensão (DEADMAN; AL-KHAFAJI; BAKER, 1998;
WEN, 2011).
• Deficiência: dor na lombar, queda dos cabelos, dentes fracos, impotência, zumbido e medo
excessivo (DEADMAN; AL-KHAFAJI; BAKER, 1998; WEN, 2011).

O trajeto do canal do rim reforça sua importância sobre os outros órgãos, principalmente levando
energia yin e yang, afinal, vimos que ele passa pelo fígado, pulmão, coração e pericárdio. A conexão do
rim com o coração e o pericárdio também é de suma importância para compreendermos o papel do
rim na saúde ginecológica, sexual e emocional, e a conexão entre essas (MACIOCIA, 2007).
Um dos pontos mais interessantes para tratar patologias do rim é o R3, localizado entre o ápice do
maléolo medial e o tendão do calcâneo. Ele possui funções que tonifica o Yin e o Yang do rim, acalma
o Shen, beneficia o Jing, fortalece a lombar, joelhos e regula o útero (LIMA, 2016).

66
UNIDADE 2

Vimos que o canal do rim


“passa” sua energia para o ca-
nal do pericárdio, denomi-
nado, por alguns autores, de
circulação-sexualidade, co-
nhecido como Jue Yin da mão,
pertencendo ao elemento fogo
e possuindo nove acupontos
(AUTEROCHE; NAVAILH,
1992; MACIOCIA, 2007).
O Canal do pericárdio co-
meça internamente, no meio
do tórax, desce e atravessa o
diafragma, seguindo pela linha
medial anterior do tronco onde
está situado o canal do triplo
aquecedor. O outro canal co-
meça interno, no meio do tórax,
seguindo lateralmente no quar-
to espaço intercostal, emergin-
do 4 dedos abaixo da axila, um
pouco acima do mamilo, assim,
Figura 16 - Trajeto do canal interno (linha pontilhada) e externo do pericárdio
o canal circunda a axila e des- Fonte: Deadman, Al-Khafaji e Baker (1998, p. 367).
cende na face interna do braço
entre os canais do pulmão e coração, ou seja, fica praticamente no meio do braço, posteriormente segue
pelo cotovelo, passando pelo antebraço até a palma da mão, terminando na margem ulnar no terceiro
dedo (DEADMAN; AL-KHAFAJI; BAKER, 1998; MACIOCIA, 2007; WEN, 2011;FOCKS, 2018).
Os sintomas principais do canal do pericárdio são, basicamente, sensação de calor na região do
coração, contração e dor no cotovelo, dor e adormecimento no braço no trajeto do canal (MACIOCIA,
2001). Quanto às alterações vasculares desse órgão, elas podem refletir como dor no coração, verme-
lhidão e calor no rosto e na palma da mão e sensação de aperto no tórax. Além disso, por ter algumas
funções semelhantes ao coração, também há manifestação de ansiedade (WEN, 2011).
• Excesso: rosto vermelho e com calor, opressão torácica, dor na axila, ansiedade e risada
incontrolável (DEADMAN; AL-KHAFAJI; BAKER, 1998; WEN, 2011).
• Deficiência: falta de concentração e palpitações cardíacas (DEADMAN; AL-KHAFAJI;
BAKER, 1998; WEN, 2011).

O Canal do pericárdio é muito interessante para tratar problemas do tórax, destacando-se o ponto
PC6 para dor, sensação de opressão ou tensão no tórax.
O próximo canal a ser abordado será o do triplo aquecedor ou Shao Yang da Mão, que possui 23
acupontos e pertence ao elemento fogo (WEN, 2011). Esse canal se inicia no quarto dedo da mão, subin-

67
UNICESUMAR

do pela parte dorsal desta (entre


o quarto e quinto metacarpo),
passa pelo lado dorsal do pu-
nho, seguindo pelo antebraço
entre o rádio e a ulna. Con-
tinua seu caminho passando
pelo lado radial do olecrano no
cotovelo, subindo pelo tríceps
(radialmente), chegando ao om-
bro, onde passa por trás deste e
ascende acima da escápula, se-
guindo atrás da nuca, chegando
à região auricular, onde circun-
da indo até a região lateral do
supercílio, lugar onde encontra
o canal da vesícula biliar.
Em relação aos ramos inter-
nos, há um que sai do canal na
região supraclavicular, vai até
o peito, onde se liga com o pe-
ricárdio e a pleura pulmonar,
descende atravessando o dia-
fragma, indo até o abdômen, li-
Figura 17 - Trajeto do canal interno (linha pontilhada) e externo do Triplo aquecedor
gando-se ao peritônio e à serosa Fonte: Maciocia (2007, p. 77).
visceral, intestinal e da pelve.
O ramo sai da pleura, ascende pela nuca, onde vira o trajeto externo, ligando-se ao primeiro ramo que
estava circundando a orelha, onde se separam novamente; esse ramo volta a virar interno, seguindo
na região temporal e descendendo até a maxila, onde termina no canto interno do olho (WEN, 2011;
MACIOCIA, 2007).
Pelo trajeto do canal do Triplo Aquecedor, você já pode imaginar para quais afecções ele será
utilizado? Da região temporal, olhos, ouvidos, garganta, região cervical, dorsal e doenças febris (YA-
MAMURA, 2001). Assim, dentre os sinais principais, teremos: zumbido, vertigem ou dor no ouvido,
muito calor e suor à tarde, dor no canto externo do olho, inchaço facial, dor na faringe e distensão no
abdômen (YAMAMURA, 2001; MACIOCIA, 2007; WEN, 2011).
Em relação à energia, teremos:
• Excesso: dor no trajeto do meridiano, dor na faringe e distensão do abdômen (DEADMAN;
AL-KHAFAJI; BAKER, 1998; WEN, 2011).
• Deficiência: surdez, vertigem ou zumbido no ouvido e transpiração espontânea (DEADMAN;
AL-KHAFAJI; BAKER, 1998; WEN, 2011).

68
UNIDADE 2

O trajeto do canal do triplo


aquecedor confirma a grande
influência do canal na orelha.
Um dos pontos bastante utiliza-
dos para tratar essas afecções do
ouvido, como zumbido e dor, é
o ponto TA21, localizado no fi-
nal da mandíbula (MACIOCIA,
2007; LIMA, 2016).
Agora respire! Vamos para o
canal que comumente alguém
chega reclamando para nós no
dia a dia: o canal da vesícula bi-
liar. Este canal passa “pela costu-
ra lateral da calça”, em que, mui-
tas vezes, quando um paciente
está com “dor no ciático”, é inte-
ressante perguntar se essa dor
não desce pela lateral da perna,
que significa o acometimento
do canal da vesícula biliar.
Esse canal é bem grande,
possuindo 44 acupontos em
seu trajeto, sendo conhecido
como Shao Yang do pé. À pri- Figura 18 - Trajeto do canal interno (linha
meira vista, olhando o desenho, pontilhada) e externo da Vesícula Biliar
esse canal é bem complexo, por Fonte: Maciocia (2007, p. 78).
isso, sugiro que, se possível, você
acompanhe o desenho juntamente com a descrição.
O Canal de energia da vesícula biliar começa no canto externo do olho e segue para a região pré-
-auricular, ascendendo pela região temporal e descende atrás da orelha, fazendo uma curva. Ascende
indo até a região frontal, desce até a região parietal, occipital e chega na região cervical, bem na coluna
vertebral (ponto VG14) (torna-se interno nesse ponto). A partir desse ponto, o canal vem para a parte
anterior do corpo humano, até a região supraclavicular (até o ponto E12, meio da clavícula). O canal,
ainda interno, passa pelo tórax, diafragma, fígado e vesícula biliar, emergindo (externo) na sínfise pú-
bica (E30), passa lateralmente ao quadril, até o glúteo na região sacra. Um ramo externo sai do ponto
E12, descendendo pela linha média da axila, seguindo para a linha do mamilo e, depois, a das últimas
costelas até a lateral do corpo; após, o ramo segue para a altura do umbigo (mas na linha do mamilo)
e para na crista ilíaca, passando pela articulação do quadril até o sacro, onde encontra o outro ramo.
Agora, com os ramos juntos, o canal segue pela face externa da coxa, joelho, perna, maléolo lateral
(margem antero-lateral do pé) e termina na margem lateral do quarto dedo do pé (WEN, 2011).

69
UNICESUMAR

O canal da vesícula biliar, por abranger di-


versas áreas do corpo, pode ser usado para tratar
quase quaisquer tipos de dor, tais como: ouvido,
cabeça, nuca, nariz, garganta, axila, coxa e perna,
além de poder tratar do fígado e a própria vesícula
(YAMAMURA, 2001).
Dentre os sintomas desse canal, temos dor de
cabeça, cor da pele acinzentada (uma espécie de
branco pálido), compleição acinzentada (a cor
da pele ficará mais cinza), gosto amargo na boca
(lembre-se do elemento madeira que o gosto é
o amargo), inchaço e dor na clavícula, a pessoa
suspira bastante, há inchaço na região axilar, dor
no hipocôndrio, instabilidade para mexer/virar a
região da cintura e ter os pés bem quentes (MA-
CIOCIA, 2007). De acordo com os níveis de ener-
gia, o paciente apresentará:
• Excesso: febre, boca com gosto amargo,
irritabilidade e enxaqueca (DEADMAN;
AL-KHAFAJI; BAKER, 1998; WEN, 2011).
• Deficiência: tontura e vômito, perturba-
ção da visão, insônia, sonha muito e zum-
bido no ouvido (DEADMAN; AL-KHA-
FAJI; BAKER, 1998; WEN, 2011).

Como podemos perceber, o canal da vesícula bi-


liar passa por diversas áreas da cabeça, por isso
está frequentemente associado à dor do tipo enxa-
Figura 19 - Trajeto do canal interno (linha pontilhada) e ex-
queca. Para tratar dores ao longo do canal, pode-se terno do fígado
utilizar os pontos VB43 e o VB20, por exemplo Fonte: Deadman, Al-Khafaji e Baker (1998, p. 469).
(MACIOCIA, 2007).
O Canal da vesícula também pode ser usado para tratar seu acoplado, o Fígado ou Jue Yin do Pé,
um canal com 14 pontos pertencente ao elemento fogo. O canal do fígado começa na margem ungueal
do hálux (dedão), seguindo pelo dorso do pé entre os metatarsos (primeiro e segundo), passando pelo
tornozelo e ascende pelo lado medial da perna, seguindo para o joelho e coxa, passa pela região pubiana,
seguindo para o abdômen, onde entra com contato com o canal do vaso governador (na linha alba),
dirige-se à décima primeira costela e, posteriormente, no sexto espaço intercostal a um palmo da linha
medial (ponto F14). A partir desse ponto, o canal penetra internamente no fígado, seguindo para a
vesícula biliar, atravessa o diafragma, ramificando-se no pulmão, ascende até a garganta, o maxilar e os
olhos, e sobe pela região frontal até o vértice da cabeça (VG20). Um ramo sai da região nasal e circunda
os lábios (DEADMAN; AL-KHAFAJI; BAKER, 1998; MACIOCIA, 2007; WEN, 2011).

70
UNIDADE 2

O canal do Fígado é utilizado para tratar alte- até nós, com dor na lombar, com vontade de
rações energéticas das regiões da cabeça, pélvica, comer alimentos salgados, apresentando queda
dos hipocôndrios, sistema geniturinário (sistema de cabelos e bastante ansioso.
urinário e sistema genital feminino e masculino), Podemos pensar que a vontade de comer
digestivo e sanguíneo (YAMAMURA, 2007). alimentos salgados está ligado ao sabor do rim,
Seus sintomas principais incluem: rosto acin- assim como a dor na lombar. Logo, pensamos
zentado; garganta seca; dor nas costas (pessoa no trajeto do canal do rim e em sua localiza-
não consegue se curvar); conjuntivite; inchaço ção. Queda de cabelos é um sinal da deficiên-
e distensão do abdômen inferior, em mulheres; cia de energia do rim, e como o rim pertence
e, nos homens, hérnia inguinal; entorpecimento ao elemento água, sabemos que ele é o avô do
ou dor ao longo do canal; irritabilidade/emoti- elemento fogo; se o avô está fraco, não teremos
vidade; distúrbios da menstruação; e infecções ninguém para controlar o neto e, assim, a energia
gênito-urinárias (YAMAMURA, 2001; WEN, do elemento fogo aumenta. Então lembraremos
2011). No geral, teremos: do coração que está ligado à ansiedade. Existem
• Excesso: dor no peito, dor de cabeça, diversas formas de pensar sobre um diagnóstico
náusea e vômito e muita emotividade na medicina chinesa, então não se desespere,
(DEADMAN; AL-KHAFAJI; BAKER, veremos mais adiante os principais pontos de
1998; WEN, 2011). tratamentos para as doenças mais comuns (Uni-
• Deficiência: tontura, secura ocular, pro- dade 3).
blemas na visão e fraqueza nos membros Você notou que, ao longo do estudo dos ca-
inferiores (DEADMAN; AL-KHAFAJI; nais, abordamos alguns acupontos? Pois bem!
BAKER, 1998; WEN, 2011). Os acupontos são os principais locais de trata-
mento dentro de um canal, em que cada ponto
Quanto ao papel do fígado nas dores de cabeça, possui uma função característica ao qual foi
é ressaltado pelo encontro do canal com o ponto descrita ao longo de vários anos, assim, um acu-
VG20, por isso um dos pontos muito interessantes ponto ou ponto de acupuntura é um ponto com
de se usar é o F3 para tratar dores e até irritação. sensibilidade a algum estímulo e, normalmente,
Para as afecções genitais, uma vez que o canal pas- são caracterizados por estarem em “depressões/
sa pela região pubiana, tendo grande influência so- buracos” no corpo, mais comumente nas ligações
bre essa região, há o ponto F5 (MACIOCIA, 2007). entre músculo e tendão, articulações e tendão,
O conhecimento do trajeto dos canais princi- próximo de vasos, locais onde o músculo possui
pais se faz necessário para qualquer profissional maior diâmetro e na região de penetração dos
que trabalhe com a acupuntura, sendo assim, feixes nervosos na pele. As linhas de ligação dos
você reparou que cada canal possui sintomas acupontos são os meridianos que acabamos de
específicos? Na medicina chinesa, nós temos estudar (WEN, 2008).
várias formas de diagnosticar um desequilíbrio O nosso sistema nervoso possui uma carga
energético. Essa forma pode ser pela tabela dos elétrica fisiológica necessária para a manutenção
cinco elementos, que vimos na Unidade 1, pela fisiológica e do impulso do sistema nervoso, o
fisiologia Zang Fu e do Qi, e pelos sintomas co- interessante é que o local dos acupontos repre-
muns do canal. O ideal é juntar todos os conhe- senta uma área com uma maior condutividade
cimentos, por exemplo, se chegar um paciente elétrica, ou seja, a energia ali é maior!

71
UNICESUMAR

Quando esse ponto é estimulado, principalmente com agulha, ocorre uma sensação de “choquinho”
(parestesia elétrica) ou calor, chamada de De chi, que é a chegada do Qi ou obtenção da energia ali no
ponto de acupuntura, é como se fosse um sinal para “a energia chegou, ou o ponto foi acertado pela
agulha” (TAFFAREL; FREITAS, 2009).
O De qi também pode se manifestar como uma sensação de peso, distensão, sensação de choque
elétrico (mais comum), adormecimento, sensação de onda, bolha de ar, frio ou calor e ele não é sentido
somente no local do agulhamento, mas pode também percorrer o canal sendo sentido em outro lugar
(TAFFAREL; FREITAS, 2009).
Em outro ponto de vista, cada Zang Fu possui, dentro de si, uma energia correspondente aos cinco
elementos, que é transmitida aos canais de energia, e destes para a superfície da pele nos acupontos,
sendo os pontos mais básicos denominados de Shu antigos, que representam, nos canais principais, a
energia dos cinco elementos e servem como a essência dinâmica do Yin e Yang. De maneira mais sim-
ples, esses pontos são os locais em que os Zang Fu se manifestam no exterior e, ao longo do trajeto dos
canais, há outros tipos de pontos, como os Mu, Shu Yuan, Luo, Xi entre outros (YAMAMURA, 2001).
Cada ponto de acupuntura é encontrado no corpo através de medidas proporcionais, chamadas de
Cun (ou tsun) ou polegadas. O Cun, ou um Cun, corresponde à medida da largura da falange distal do
polegar da pessoa ou a medida da prega distal e proximal da falange média (do dedo médio). 1,5 Cun
são representados pela largura do dedo indicador e médio, e três cuns é a largura dos quatro dedos
(anelar, médio, indicador e mínimo), sempre do paciente (WEN, 2008).

1t. 1,5t.
3t.

1t.

Figura 20 - Medidas em cun/tsun (T).


Fonte: Wen (2008, p. 32).

72
UNIDADE 2

Também é possível determinar o tamanho das partes do corpo com o cun, conforme a figura a seguir:
9t.
12t.
3t.
10t.
3t.
9t.
3t. 3t.
8t.
9t. 12t.
8t.

5t. 12t.

18t. 19t.

13t. 16t.

Figura 21 - Medidas digitais, os valores em cun/tsun (T) e


sua distribuição corporal
Fonte: Wen (2008, p. 33).

Com o Cun, é possível encontrar mais facilmente a localização dos acupontos, e essa medida é pro-
porcional conforme o tamanho do indivíduo, o que facilita o trabalho do acupunturista. Dessa forma,
sempre devemos comparar a mão do terapeuta com a do paciente e fazer uma estimativa do tamanho
para encontrar os pontos em questão.
Os pontos de acupuntura são divididos em algumas funções, como você acabou de ler no texto; a
função do ponto Shu antigo, a exteriorização do Zang Fu e os pontos Shu têm seu nome baseado na
circulação de água na terra, desde sua saída da fonte até chegar no mar (Tabela 3).

73
UNICESUMAR

Tabela 3 - Pontos Shu antigos

Nome Tradução Local Indicação


Chinês
Ting/Jing Poço Ângulos ungueais Aumenta produção de Qi/ doen-
ças agudas
Ying Nascente Regiões metacarpofalângicas e me- Ativa a circulação de Qi no canal/
tatarsofalângicas febre, alterações na cor da pele
Shu Riacho Nos carpos/metacarpos, próximo Fortalece a imunidade e o Qi no
aos punhos, ou nos tarsos/metatar- canal/ distúrbios crônicos, sensa-
sos, próximo aos tornozelos ção de peso/umidade
Jing Rio Punhos e antebraços, tornozelos e Estimula o Ying Qi (energia nutrien-
pernas te)/ tosse, asma, garganta, voz
He Mar Cotovelo e joelho Reúne o fluxo de Qi do exterior
com o interior/ distúrbios gas-
trointestinais, diarreia.
Fonte: adaptada de Donatelli (2018).

Assim, temos esses pontos como:

C8, CS8
Xing

C9, CS9 C7, CS7


Jing Shú
FOGO

C3, CS3 C4, CS4


Hé Jing
F2 BP2
Xing Xing

F1 F3 BP1 BP3
Jing Shú Jing Shú
MADEIRA TERRA

F8 F4 BP9 BP5
Hé Jing Hé Jing

R2 P10
Xing Xing

R1 R3 P11 P9
Jing Shú Jing Shú
ÁGUA METAL

R10 R7 P5 P8
Hé Jing Hé Jing

Ciclo de geração (Shèng)


Ciclo de dominância (Kè)

Figura 22 - Pontos Shu dos canais Yin (órgãos)


Fonte: Donatelli (2018, p. 16).

74
UNIDADE 2

Observando a Figura 22, temos o ponto do coração (C) e o ponto do Pericárdio (PC ou CS).
C8 é o ponto fogo do meridiano do coração, logo é o ponto Xing do fígado; C7 é o ponto terra do
canal do coração, e ponto Shu; C4 é o ponto Metal do Canal do coração e ponto Jing (rio); C3 é o
ponto água de fogo, e ponto He; e C9 é o ponto madeira do canal do coração, ponto Jing (poço).
Isto é, além de tratar pelas funções ao qual vimos na Tabela 3, podemos utilizar essa figura
para tratar pelos cinco elementos, como vimos na Unidade 1.
Por exemplo, o pulmão é o movimento do metal, se uma pessoa está com deficiência de ener-
gia no canal, podemos tratar dentro do próprio movimento (metal), assim, precisamos fortificar
a mãe para dar energia para o filho. P8 é o ponto metal de metal, então precisamos estimular o
ponto P9, que é o ponto da mãe, no caso, o ponto terra de metal. Ainda, se pensarmos que o avô
forte pode estar influenciando, usamos manobras para acalmar/sedar o avô no ponto P10, que é
o ponto fogo (essas manobras serão abordadas na Unidade 3).
Agora, se o pulmão está com excesso de energia, pegaremos o movimento metal de metal e
vamos reduzir a energia do ponto filho, assim, a mãe P8 (metal de metal) transfere sua energia
que está em excesso, então sedamos o ponto P5 (água) e damos energia para o avô (tonificar),
para ele controlar melhor o ponto (P10).
Existe, ainda, a possibilidade de usarmos movimentos correspondentes, por exemplo, que-
remos aumentar a energia do pulmão (tonificar), então vamos no elemento mãe, que é o Baço
(BP na Figura 22, e usamos o ponto terra de terra que é o BP3. Para reduzir o controle do avô,
usaremos o ponto do elemen-
to fogo, no fogo de fogo, que
ID5, TA6
é o C8, e mesmo pensamento Jing

para reduzir/sedar a energia TA3, ID3


Shù
TA10, ID8

FOGO
caso essa esteja em excesso,
vamos reduzir a energia do TA2, ID2 TA1, ID1
Xing Jing
movimento filho, a água no VB38
Jing
E41
Jing

R10 e tonificar/aumentar a VB41 VB34 E43 E36


Shù Hé Shù Hé
energia no avô C8. O mesmo MADEIRA TERRA

pensamento vale para as vís- VB43 VB44 E44 E45


Xing Jing Xing Jing
ceras (Figura 23).
Segundo Donatelli (2018,
p. 20), há “uma exceção à regra
B60 IG5
‘tonifica-se a mãe, tonifica-se Jing Jing

a filha’ na relação do Movi- B65


Shù
B54

IG3
Shù
IG11

ÁGUA METAL
mento Água para a Madeira,
pois a Água é yin não tendo o B66 B67 IG2 IG1
Xing Jing Xing Jing
potencial de tonificar o yang
da Madeira (que é yang); as-
Ciclo de geração (Shēng)
sim, o Ponto F8 (Ponto Água Ciclo de dominância (Kè)
da Madeira) tonifica o yin do Figura 23 - Pontos Shu dos canais Yang (Vísceras)
Fígado”. Fonte: Donatelli (2018, p. 16).

75
UNICESUMAR

A medicina chinesa possui vários tipos de pontos, alguns dos básicos são descritos na Tabela 4.
Tabela 4 - Pontos de acupuntura

Nome Função
Pontos Mu São pontos de alarme, servem como verificador do fluxo de energia no Meridiano, tam-
bém tem efeito terapêutico para equilibrar o sistema do Meridiano, principalmente nos
fu (Vísceras), em sintomas agudos e em desarranjos locais.
Pontos Combate sintomas crônicos, sendo usado em tratamentos dos Meridianos. Tem maior
Shu dorsais efeito nos Zang (Órgãos) e em desarranjos locais e serve também como verificador do
fluxo de energia no Meridiano.
Pontos Combate sintomas agudos, sendo usado para conter as crises do sistema do Meridiano
de acúmulo e algias. Geralmente, precisa ser sedado.
(Xi)
Ponto Luo Pontos de conexão para ser usado quando os Meridianos Acoplados estão em desequilíbrio
em forças opostas: um com Deficiência de fluxo (Yin) e o outro com Excesso (Yang). Usa-se
a estratégia de tonificar o ponto Luo do Canal em Deficiência ou sedar o ponto Luo Canal
em Excesso. Também é utilizado quando há um desequilíbrio em forças opostas dos lados
direito e esquerdo do Canal, empregando-se a mesma estratégia.
Fonte: adaptada de Donatelli (2018).

Os pontos Mu são bastante utilizados no diagnóstico, pois se tornam sensíveis ao toque quando os
Zang Fu estão em desequilíbrio, e eles podem ser utilizados como pontos terapêuticos mais indicados
em casos de excesso de energia (DONATELLI, 2018):

Pontos MU

Pl (Pulmão)

VC17 (Pericárdio)
VC14 (Coração)
V14 (Fígado)
VC12 (Estômago) VB24 (Vesícula Biliar)
BP15 (Baço) F13 (Baço)
E25 (Int. Grosso) VB25 (Rim)
R16 (Rim) VC5 (Triplo Aquecedor)
VC3 (Bexiga)
VC4 (Intestino Delgado)
Figura 24 - Pontos Mu
Fonte: Ser (2015, on-line)1.

76
UNIDADE 2

Os pontos Shu dorsais estão localizados nas costas, a 1,5 cun lateral, a linha média posterior do
corpo (coluna vertebral), no canal principal da bexiga; inclusive, são os pontos da tatuagem que vimos
no Homem do Gelo Tirôles; esses pontos são fundamentais na técnica de ventosaterapia, tendo maior
destaque para o tratamento dos órgãos. O que acaba sendo interessante é que, além de serem pontos
terapêuticos, podem ser utilizados no diagnóstico, assim, se esses pontos estão sensíveis à palpação,
deve haver patologias nas estruturas correspondentes (MACIOCIA, 2007; DONATELLI, 2018).
Tabela 5 - Pontos Bei Shu

Ponto Local Função


Margem inferior do processo espinhoso da 3ª Harmoniza e tonifica o pulmão.
B13
vértebra torácica.
Margem inferior do processo espinhoso da 4ª Harmoniza e tonifica o coração, acalma a
B14
vértebra torácica. Mente. Bei shu do Pericárdio.
Margem inferior do processo espinhoso da 5ª Harmoniza e tonifica o coração.
B15
vértebra torácica.
Margem inferior do processo espinhoso da 6ª Harmoniza e tonifica o sangue, facilita a sua
B16
vértebra torácica. circulação. Bei shu do vaso governador.
Margem inferior do processo espinhoso da 9ª Harmoniza e tonifica o fígado, nutre o san-
B18
vértebra torácica. gue, clareia a visão.
Margem inferior do processo espinhoso da 10ª Harmoniza a vesícula biliar.
B19
vértebra torácica.
Margem inferior do processo espinhoso da 11ª Harmoniza o baço.
B20
vértebra torácica.
Margem inferior do processo espinhoso da 12ª Harmoniza e fortalece o estômago.
B21
vértebra torácica.
Margem inferior do processo espinhoso da 1ª Harmoniza o triplo aquecedor.
B22
vértebra lombar.
Margem inferior do processo espinhoso da 2ª Harmoniza e tonifica os rins.
B23
vértebra lombar.
Margem inferior do processo espinhoso da 4ª Harmoniza e umedece a energia dos Intes-
B25 vértebra lombar. tinos, aumenta a energia da nutrição. Bei
shu do intestino grosso.
Ao nível do primeiro forame sacral posterior, 1,5 Harmoniza e faz circular a energia do intes-
B27
cun lateral à crista sacral mediana. tino delgado.
Ao nível do segundo forame sacral posterior, 1,5 Harmoniza a energia da bexiga, fortalece
B28 cun lateral à crista sacral mediana. a região lombar e harmoniza o aquecedor
inferior.
Fonte: adaptada de Lima (2016).

Agora que vimos alguns pontos, a medicina chinesa, sem dúvidas, é uma técnica que promove o bem-
-estar de forma integrativa no indivíduo, mas como será que a medicina ocidental vê sobre isso e qual
os efeitos da acupuntura para o bem-estar?
Tratando-se de mecanismos ocidentais de estudos, uma extensa pesquisa mostrou que, em relação à
redução da dor, a acupuntura pode ser iniciada por estimulação nos músculos e nervos, que são capazes
de enviar mensagens para a medula espinhal e, em seguida, ao cérebro, que, por sua vez, desencadeará
mecanismos opioides endógenos, como as endorfinas, que reduzem a dor e liberam sensação de bem-estar.

77
UNICESUMAR

Alguns estudos comprovaram, por ressonância magnética, que


a acupuntura tem efeitos específicos quantificáveis nas estruturas
relevantes do cérebro humano e modula diversos mecanismos
do corpo, como a função imunológica e até a expressão de genes
(KAPTCHUK, 2002; WANG et al., 2020).
Certamente, notamos que as pesquisas acerca da acupuntura e
dos seus mecanismos com base na medicina ocidental são muito
recentes, contudo, ainda temos muito o que descobrir sobre essa
técnica tão importante para a saúde do indivíduo.
Por outro lado, não faltam estudos práticos publicados em periódicos online demonstrando
a correlação da acupuntura com a melhora da qualidade de vida e o bem-estar. Exemplo disso
é o estudo de Takiguchi et al. (2008), que viu melhora na qualidade de vida de pacientes com
fibromialgia em relação à redução da dor e também na melhora da qualidade do sono. Ao
mesmo tempo da melhora na qualidade do sono, também foi vista, em revisão bibliográfica
realizada por Marcucci (2007), sobre melhora da qualidade de vida em portadores da doença
de Parkinson, esses também reduziram tremores e a dosagem da medicação.
A redução da dosagem ou até redução na medicação é um fato que pode ser observado com
o tratamento da acupuntura, principalmente em dores crônicas. Isso é um fato importante em
pacientes que utilizam medicações com muitos efeitos adversos e colaterais (BRASIL et al., 2008).
A melhora na qualidade de vida em relação à melhora da movimentação e redução da dor
em pacientes com artrite reumatoide foi vista por diversos estudos em revisão realizada por Seca
et al. (2019). E não somente de dor trata a acupuntura; a melhora em pacientes com síndrome
do ovário policístico é observada principalmente em relação à ansiedade, depressão, regulação
dos níveis de hormônios, existindo até relatos da melhora do quadro de infertilidade (ZHANG
et al., 2020).
Esses são apenas alguns dos inúmeros exemplos de como podemos ajudar e auxiliar nosso
paciente com a acupuntura, afinal, ela trata o local e o todo dentro do corpo humano. Um bom
estado de saúde é descrito como “um estado completo de equilíbrio social, físico e emocional”,
embora a acupuntura possa ser uma adição valiosa à assistência médica em algumas condições,
ela raramente é totalmente integrada à prática clínica tradicional da medicina ocidental, por isso
as práticas integrativas dentro do Sistema Único de Saúde e sua popularização são necessária
para que as técnicas alternativas possam levar equilíbrio e bem-estar ao indivíduo.
Caro(a) aluno(a), acabamos de aprender novos conceitos sobre uma das teorias mais importantes
da acupuntura. As teorias dos canais e seus caminhos, apesar de serem invisíveis, são fundamentais
para o profissional da acupuntura, afinal é por eles que ocorre a passagem do fluxo de Qi.
É a partir desses canais que você poderá equilibrar a energia do seu paciente e até utilizar eles
como forma de diagnóstico, pois o excesso ou a deficiência de energia em cada canal se manifestará
em diversos sinais e sintomas e que, juntamente com as teorias do Yin e Yang e dos cinco elementos,
levará você a descobrir qual canal precisa ser equilibrado!

78
Possivelmente, ao longo do estudo desta uni-
dade, você imaginou alguém que deveria ter al-
guma alteração em algum canal ou, até mesmo, o
Homem do Gelo Tirôles, que tinha alterações no
canal da Bexiga, essas poderiam estar se manifes-
tando em deficiência ou excesso! Você também
não pode esquecer que há horários específicos
de duas horas, que é o pico máximo do fluxo de
energia no canal. Esse horário é o melhor para
tratar o paciente com distúrbio naquele canal, po-
dendo ser utilizado como forma de diagnóstico.
Além disso, você também conheceu o con-
ceito dos acupontos, locais onde há uma maior
atividade nervosa e elétrica ou aumento de ener-
gia, sendo normalmente próximas a estruturas
anatômicas específicas. Esses pontos são de
suma importância, pois neles você irá causar um
estímulo para equilibrar o paciente, sendo este
encontrado por medidas anatômicas do próprio
paciente pelo Cun, havendo pontos com clas-
sificações específicas que você utilizará para o
diagnóstico, como os pontos Mu, diagnóstico e
tratamento como os Bei shu, além dos pontos de
tratamento específicos, como Jing, He etc.
Agora, por exemplo, olhando a Figura 1, do
Homem do gelo Tirôles, sabemos que ele pos-
suía alterações no canal da bexiga, e as tatuagens
estavam em pontos Bei Shu! Há outra forma de
tratamento que você já sabe: pelos cincos ele-
mentos tonificando ou dispersando a energia
do ciclo de geração (mãe-filho e avô-neto), quais
manifestações ele deveria ter em caso de excesso
de energia? E em caso de deficiência?
Agora, com base em tudo o que você leu e aprendeu nesta Unidade 2, complete o mapa
mental!

Definição Canais de Energia


Classificação

Tipos Acupontos Deficiência Excesso Órgão Principais

Cun
MAPA MENTAL

80
1. Um paciente chega até você se queixando que tem muita fome, principalmente às 8h:00 da manhã,
que sua garganta está seca e tem muito mau hálito, dores nas pernas, principalmente, no joelho
e na parte lateral do joelho, em que frequentemente há inchaço. Qual o problema do paciente?
a) Excesso de energia no canal do estômago.
b) Excesso de energia no canal do intestino delgado.
c) Deficiência de energia do intestino grosso.
d) Excesso de energia do intestino grosso.
e) Deficiência de energia no canal do estômago.

AGORA É COM VOCÊ


2. Leia o texto e assinale a alternativa correta.
“O meridiano deste órgão é Yin, com 11 acupontos, no seu trajeto externo, com sentido energé-
tico, que vai desde o tórax até o polegar”.
a) Canal do Coração.
b) Canal do Pulmão.
c) Canal do Rim.
d) Canal do Estômago.
e) Canal do Fígado.

3. Acupontos são áreas com maior concentração de energia. Sobre eles, assinale a alternativa correta.
a) Pontos Mu são pontos de alarme e servem como verificador do fluxo de energia no Meridiano,
seu uso, segundo Donatelli (2018), se dá mais na deficiência de energia.
b) Pontos Luo são utilizados quando há um desequilíbrio da mesma força em meridianos acoplados.
c) Para fortalecer a imunidade, pode-se usar os pontos Shu.
d) Os melhores pontos para tratar febre e dores agudas são os pontos He ou mar por simbolizarem
um feito da natureza com muita água.
e) Acupontos Jing (Rio) podem ser utilizados em uma síndrome intestinal, visto que fortalecem a
imunidade, e um intestino desinflamado tem tudo a ver com isso.

81
1. A. Todos os sintomas correspondem ao excesso de energia no canal do estômago, e o pico de energia nesse
canal é das 7h:00 às 9h:00 horas, horário que o paciente sente mais fome, pois já temos um pico natural
de energia nesse horário; com um excesso, isso manifesta-se mais nesse horário que bate com o relatado
(8h:00), além disso, a parte lateral do joelho corresponde ao trajeto do canal do estômago.

2. B. O Pulmão é o meridiano que corresponde a essas características.

3. C. Os pontos Shu podem ser utilizados para aumentar a imunidade.


CONFIRA SUAS RESPOSTAS

82
AUTEROCHE, B.; AUTEROCHE, M. Guia prático de acupuntura e moxabustão. São Paulo: Andrei, 1996.

AUTEROCHE, B.; NAVAILH, P. O Diagnóstico na Medicina Chinesa. 2. ed. São Paulo: Andrei, 1992.

BRASIL, V. V.; ZATTA, L. T.; CORDEIRO, J. A. B. L.; SILVA, A. M. T. C.; ZATTA, D. T.; BARBOSA, M. A. Qualidade
de vida de portadores de dores crônicas em tratamento com acupuntura. Revista Eletrônica de Enfermagem.
n. 10, v. 2, p. 383-394, 2008.

DEADMAN, P.; AL-KHAFAJI, M.; BAKER, K. A Manual of Acupunture. United Kingdom: East Sussex, 1998.

DONATELLI, S. Caminhos de energia: atlas dos meridianos e pontos para massoterapia e acupuntura. Rio
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DORFER, L.; MOSER, M.; BAHR, F.; SPINDLER, K.; EGARTER-VIGL, E.; GIULLÉN, S.; DOHR, G.; KENNER,
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FOCKS, C. Guia prático de acupuntura: localização de pontos e técnicas de punção. São Paulo: Manole, 2018.

FOCKS, C.; ULRICH M. Guia prático de acupuntura: localização de pontos e técnicas de punção. São Paulo:
Manole, 2008.

INADA, T. Técnicas simples que complementam a acupuntura e a moxabustão. São Paulo: Editora Roca,
2003.

KAPTCHUK, T. J. Acupuncture: theory, efficacy, and practice. Annals of internal medicine, n. 136, v. 5, p.
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REFERÊNCIAS
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MACIOCIA, G. Canais de acupuntura: uso clínico dos canais secundários e dos oito vasos extraordinários.
São Paulo: Editora Roca, 2007.

MARCUCCI, F. C. I. Acupuntura na Doença de Parkinson: revisão de estudos experimentais e clínicos. Revista


Neurociências, n. 15, v. 2, p. 147-152, 2007.

SECA, S.; MIRANDA, D.; CARDOSO, D.; NOGUEIRA, B.; GRETEN, H. J.; CABRITA, A.; ALVES, M. Effecti-
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TAFFAREL, M. O.; FREITAS, P. M. C. Acupuntura e analgesia: aplicações clínicas e principais acupontos. Ciência


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TAKIGUCHI, R. S.; FUKUHARA, V. S.; SAUER, J. F.; ASSUMPÇÃO, A.; MARQUES, A. P. Efeito da acupuntura
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83
WEN, T. S. Acupuntura clássica chinesa. 15. ed. São Paulo: Editora Cultrix, 2011.

YAMAMURA, Y. Acupuntura tradicional: a arte de inserir. São Paulo: Editora Roca, 2001.

ZHANG, H. L.; HUO, Z. J.; WANG, H. N.; WANG, W.; CHANG, C. Q.; SHI, L.; QIAO, J. Acupunture ameliorates
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REFERÊNCIA ON-LINE

Em: http://mtcbalance.blogspot.com/2015/11/pontos-shu-dorsais-e-mu-frontais.html. Acesso em: 09 jul. 2020.


1
REFERÊNCIAS

84
85
MEU ESPAÇO
MEU ESPAÇO

86
3 Recursos e Técnicas
de Aplicação
Me. Fabiola Terra Lucio

OPORTUNIDADES
DE
APRENDIZAGEM

Na Unidade 3, você compreenderá mais a fundo sobre a prática da acu-


puntura, instrumentos utilizados, forma de colocação da agulha, tipos de
estimulações e como retirar a agulha. Além disso, você aprenderá como
posicionar o paciente e os cuidados requeridos durante o agulhamento.
Você estudará sobre as patologias que mais atingem a população, a visão
ocidental e oriental acerca delas, além de alguns protocolos de tratamento.
Por fim, você agregará mais conhecimento sobre a técnica de moxabustão
e suas indicações, assim você poderá implantar essas técnicas no seu dia
a dia, tendo mais opções de tratamento para solucionar os problemas de
saúde do seu paciente!
UNICESUMAR

Imagine que chegue em sua clínica de bem- lenta, em rotação, dentre outros; a forma como
-estar uma cliente reclamando de fortes dores o estímulo é realizado influencia na direção,
de cabeça, após ter dado à luz, dizendo que está aumento ou melhora do Qi. O resultado da
tomando 120 doses mensais de medicamento estimulação de pontos de acupuntura para a
analgésico. O detalhe é que são permitidas, no enxaqueca pode reduzir a intensidade da dor,
máximo, 60 doses mensais. Ela ressalta que as espaçar as crises (aumentando o intervalo de
dores pioram conforme usa mais doses do me- tempo entre elas), reduzir a dosagem da medi-
dicamento. Também relata que está se sentindo cação ou, até mesmo, curar essa dor!
desamparada por ter somente um tipo de tra- Agora é sua vez! Procure em alguma base
tamento, o medicamentoso, por isso recorreu de dados da internet o assunto “acupuntura
a você para solucionar tal problema. Quais são para enxaqueca” e explique como a acupun-
as opções de tratamento dentro da acupuntura tura pode melhorar a qualidade de vida de
que você pode propor a essa paciente? alguém com enxaqueca. Caso essa pessoa já
A dor é um fenômeno neurofisiológico na tenha realizado algum tratamento relacionado
qual o indivíduo tem uma sensação desagradá- com a medicina chinesa, procure saber se ela
vel de intensidade variada, que leva estímulos obteve melhora e como foi esse tratamento.
dolorosos ao cérebro, gerando um sofrimento Caso você queira colocar mais ainda a mão
físico. Dentre os estímulos dolorosos, temos na massa, procure os pontos citados no texto
a crise de enxaqueca, caracterizada por forte e massageie em você mesmo!
dor de cabeça. O que você descobriu sobre o tratamento
Para a medicina chinesa, a maioria dos de acupuntura para a enxaqueca? É bastante
casos de enxaqueca estão ligados a alguma utilizado? Quais os resultados obtidos? Caso
disfunção energética do fígado ou da vesícula você tenha conseguido conversar com alguém
biliar, e pensando na piora da dor, lembre-se sobre, como foi a reação dessa pessoa sobre
que quase todos os comprimidos analgésicos a acupuntura para a enxaqueca? Anote todas
são metabolizados no fígado, assim, quanto suas percepções e inferências no Diário de Bor-
mais remédio ela ingere, pior são as crises de- do a seguir.
vido à sobrecarrega desse órgão. Dessa forma, Assim, dando continuidade ao caso da pa-
é necessário aplicar pontos que promovam a ciente com enxaqueca supracitado, podería-
“limpeza do órgão” e que façam a energia fluir mos agulhar pontos como o F3, que estimula o
para que as crises melhorem. fluxo de Qi no fígado, e esse estímulo pode ser
Um outro ponto é que, provavelmente após realizado com diversos instrumentos, sendo o
o parto, a paciente em questão tenha perdido mais clássico instrumento da medicina chinesa
bastante sangue, originando uma deficiência a agulha.
de sangue no fígado, o que implica em res- As agulhas são instrumentos usados na esti-
tabelecer o fluxo harmônico nesse órgão no- mulação dos pontos de acupuntura. Hoje, elas
vamente. Para isso, podem ser realizados es- são feitas de material de aço inoxidável, ape-
tímulos em pontos específicos, por exemplo sar de, ao longo da história, existirem relatos
o F3, VB34, TA3 e VB41. Esse estímulo pode do uso de espinhos de peixe, lascas de pedras,
ocorrer com agulhas e bastões de moxa, e a ferro, ouro, dentre outros materiais (YAMA-
forma do estímulo pode ser forte/fraca, rápida/ MURA, 2001).

88
UNIDADE 3

DIÁRIO DE BORDO
Na Unidade 1, foi citado o kit
de nove agulhas encontradas
na província de Hebei, datadas
de 113 a.C, ele era composto
por cinco agulhas de prata e
quatro de ouro (MA, 2000).
De acordo com o livro clás-
sico da Medicina Chinesa, O
Imperador Amarelo, as nove
agulhas eram utilizadas para
diversas finalidades, em que
cada uma era adequada para Figura 1 - Imagem das nove agulhas
um fim (WANG, 2001). Fonte: Blog Obgyn key (2016, on-line)1.

Quadro 1 - Classificação das nove agulhas


Nome Chinês Tradução
Chan Zhen Ponta de flecha
Yuan Zhen Ponta redonda
Di Zhen Obtusa
Feng Zhen Pontiaguda
Pi Zhen Forma de espada
Yuan-li Zhen Arredondada
Hao Zhen Filiforme
Chang Zhen Longa
Da Zhen Grande
Fonte: adaptado de EBRAMEC (2020, p.1).

89
UNICESUMAR

As “Nove Agulhas” são: a Chan,


para puncionar superficialmente
a pele; a Yuan, com cabeça redon-
da, para aplicar massagens; a Di,
para pressionar o ponto; a Feng,
para sangrias em geral, podendo
ser realizadas em veias superfi-
ciais; a quinta agulha Pi foi feita
para extrair o pus e funcionar
como um bisturi; a Yua-li, que é
redonda e com a ponta aguda,
Figura 2 - Agulha filiforme
para casos de urgências de dores;
a Hao (filiforme) é de amplo uso
e a agulha utilizada até os dias
atuais pelos acupunturistas; a
oitava agulha, Chang, é longa e
feita para ser inserida profun-
damente nas regiões de muita
musculatura; e a nona agulha,
Da, é utilizada para tratar doen-
ças das articulações, essa agulha
é utilizada, hoje em dia, por acu-
Figura 3 - Agulha intradérmica ou Hinaishin
punturistas bastante experientes, Fonte: Blog Medicina do Tao (2015, on-line)2.
sendo conhecida como agulha
de fogo, onde a ponta da agulha
é esquentada com fogo até ficar
rubra, e colocada bem rápida e
superficialmente na pele, cau-
sando uma microqueimadura e
alívio das dores (ZHIDE, 2003).
A agulha utilizada hoje na
acupuntura segue a forma da
sétima agulha, conhecida como
filiforme (Figura 2), uma espécie
de capilar cilíndrico com calibre
de 0,10-0,50 mm e de 1,5-10 cm
de comprimento, que permane-
ce no corpo do paciente apenas e
durante uma sessão de tratamen-
to. É composta por uma ponta,
um corpo e um cabo que serve Figura 4 - Martelo de sete pontas
para manipulá-la. O diâmetro Fonte: Americanas ([2020], on-line)3.

90
UNIDADE 3

das agulhas é comparado a um fio de cabelo, e a o material. Contudo, alguns autores, como Geor-
mais utilizada pelos acupunturistas é do tamanho ge Soulié Mourant (1990), destacam que agulhas
0,25x30 mm, contudo, existem diversos tamanhos com cobre, ouro ou metais mais coloridos toni-
no mercado: 0,25x15 mm, 0,25x30 mm, 0,30x60 ficam o ponto e são mais Yang, e metais brancos,
mm (usada no ponto VB30 para tratamento de como a prata, são mais dispersantes e mais Yin
dores no nervo isquiático) (DONATELLI, 2018). (MORANT, 1990; FOCKS, 2018).
No geral, agulhas curtas devem ser utilizadas Em uma explicação mais completa, Yamamura
na face, cabeça e dedos (0,15x10 mm ou 0,25x15 (2001, p. 505) explica que:



mm); as médias para tronco e extremidades; e as
longas para regiões muito musculosas (0,30x40 A agulha de acupuntura metálica, pelo efeito
mm ou 0,30x60 mm) (DONATELLI, 2018). “ponta” que apresenta, gera na sua extremida-
Há também as agulhas intradérmicas, que ficam de pontiaguda, um campo eletromagnético
no nível da pele, bem superficiais, elas podem ser de polaridade negativa, e no cabo, na extre-
utilizadas tanto na auriculoterapia quanto na acu- midade oposta, gera polaridade positiva. Esta
puntura sistêmica, sendo fixada por alguns dias na bipolaridade da agulha pode ser aumentada
pele, entre três a sete dias, em média. dependendo dos diferentes tipos de metais
Por último, a agulha cutânea ou dérmica, mais que são utilizados em sua confecção e do efei-
conhecida como martelinho de cinco ou sete to solenoide (efeito eletromagnético) que é
pontas. Ele é utilizado quando há a necessidade neles produzido. Além disso, a polaridade
de se estimular uma área maior ou, ainda, gerar aumenta quando o poder de “ponta” da ponta
efeitos dispersantes, podendo ser utilizado para dos dedos do Homem também é associado.
dores musculares; nesse caso, atingiremos os canais
cutâneos para o tratamento do paciente. A área a A princípio, a acupuntura parece uma simples
ser tratada deve ser higienizada com álcool 70º ou técnica de colocar a agulha em um paciente, basta
Clorexidina alcoólica 2% e, posteriormente, segu- achar a patologia e colocar a agulha no acuponto
radas a uma pequena distância do paciente, para e está tudo resolvido! Entretanto, não se engane,
picar rapidamente a área a ser tratada até ficar le- são vários os procedimentos envolvidos. Primei-
vemente vermelha (pacientes idosos, debilitados ramente, a agulha é composta de matéria (Aço) e
ou crianças) ou até ocorrer formação de pápulas energia, assim, a polaridade do meio ambiente e
na pele ou sangramento superficial (ativar o fluxo os estímulos locais são transmissores e parte fun-
de Qi e Sangue). Após o uso, o martelo deve ser damental para o efeito terapêutico, uma vez que
descartado em recipiente adequado e a pele do o modo como a agulha é colocada pode alterar
paciente deve ser limpa com algodão seco e estéril a polaridade dos canais de energia, originando
(FOCKS; ULRICH, 2008). estímulos para a condução e circulação do Qi
Agora que você aprendeu sobre os tipos de nos canais de energia; dessa forma, o ângulo de
agulhas, deve estar se perguntando, de que mate- penetração da agulha e o modo de manipulá-la
rial elas são feitas? Apesar de já ter sido produzida na pele interferem na circulação do Qi, tornando
de diversos materiais, como ouro, prata, cobre, fer- um canal ou ponto mais ativo ou menos ativo,
ro, até chegar no aço inoxidável, segundo os livros chamado também de tonificação e dispersão, as-
clássicos da medicina chinesa, não há descrição sunto que veremos mais adiante nesta unidade
de atividade terapêutica diferente de acordo com (YAMAMURA, 2001).

91
UNICESUMAR

Dados esses conhecimentos, vamos voltar lá no


início com a nossa paciente com enxaqueca. Após
ter chegado em seu consultório, feita a anamnese
e ter determinado os pontos para agulhá-la, e já
conhecendo os tipos de agulhas, então, quais os
próximos passos? Primeiramente, você precisará
de uma bancada para colocar seus materiais; as
agulhas; uma bandeja de aço inoxidável, de prefe-
rência cirúrgico, para colocar as agulhas após se-
rem retiradas do paciente; algodão ou gaze; álcool
70º ou clorexidina alcoólica 2% para assepsia da
pele; luvas descartáveis de látex ou nitrílicas para
sua proteção e do paciente; máscaras e toucas des-
cartáveis para você; um lixo de materiais normais
e um de resíduos biológicos; além de um recipien-
te coletor de perfurocortantes tipo Descarpack,
conforme vimos nas aulas de Biossegurança.
Após organizar os materiais, você deverá po-
sicionar a paciente de acordo com os pontos es-
Figura 5 - Efeito da ponta da agulha com uma agulha do
tipo filiforme, provocando polaridade positiva e o efeito
colhidos, então, é necessário saber o caminho dos
aumentado com a ponta dos dedos canais de acupuntura, vistos na Unidade 2. Comu-
Fonte: Yamamura (2001, p. 506). mente, para tratamentos na face, tórax, abdômen e
extremidades, usa-se a posição de decúbito dorsal
(barriga para cima); para a região das coxas, perna ou posterior, a posição escolhida é o decúbito ven-
tral (barriga para baixo); a posição sentada é utilizada quando vamos trabalhar com a cabeça, nuca,
ombros e costas; e, quando necessário, para atingir pontos da lateral, como nos flancos, pode-se colocar
o paciente em decúbito lateral (YAMAMURA, 2001).
Deve ser considerado também, para uma posição mais confortável, que as macas devam ser largas
e ter alguns acessórios, como almofadas, rolos de nuca e joelho. Caso o paciente esteja semidespido,
deve ser coberto com um lençol ou uma coberta, pois ele deve estar relaxado para ter um melhor fluxo
de energia durante o tratamento (FOCKS; ULRICH, 2008).
Após posicionado, deve-se instruir o paciente a ficar imóvel durante e após a inserção da agulha,
pode-se marcar os pontos de acupuntura com caneta dermográfica. Deve-se colocar os equipamentos
de proteção individuais e, após, fazer a assepsia da pele com algodão e produto específico, prosseguindo
ao agulhamento. Caso seja a primeira sessão, é interessante explicar o que o paciente pode sentir no
De Qi (choque, dormência etc.), para que ele esteja preparado.
Atenção, aluno(a), há alguns cuidados que devemos notar antes de agulhar a paciente (YAMAMU-
RA 2001; FOCKS; ULRICH, 2008).

92
UNIDADE 3

• Paciente não deve estar alcoolizado ou sob influência de drogas ou sedativos.


• Não pode estar com fome ou sede.
• Tratado imediatamente após ter se alimentado em excesso.
• Excessivamente emocionado (ansioso, irritado). É necessário acalmar o paciente antes de pro-
ceder com o agulhamento ou adiar a sessão, pois há relatos de desmaios durante a técnica, por
exemplo. Atenção! Caso o paciente venha a sofrer um desmaio durante à sessão de acupuntura,
deve-se retirar todas as agulhas imediatamente e pressionar com a unha o ponto VG26, locali-
zado no ponto médio do filtro labial, abaixo do nariz).
• Exageradamente esgotado (opta-se por outras alternativas, como fitoterapia por exemplo).
• Não deve estar com muito frio.
• Febre muito alta, apesar de haver métodos de acupuntura para controlá-la, é necessário ter
experiência na prática, por causa do risco de convulsões.

Após ter feito esses passos, você irá prosseguir ao


agulhamento. Existem diversas técnicas que podem
ser utilizadas, podendo ser realizadas com ambas
as mãos ou apenas uma e, ainda, com o auxílio de
um instrumento chamado mandril – uma espécie
de tubo condutor, muito utilizado na acupuntura
Japonesa, e criado por Waichi Sugiyama, que era
cego, e tinha dificuldade para localizar o ponto
com uma das mãos e ter que utilizar a mesma mão
para posicionar a agulha de maneira adequada na
outra mão e inserir a agulha; assim, o mandril foi
inventado por Sugiyama e é muito utilizado no oci-
dente por sua fácil aplicação (EBRAMEC, 2020). Figura 6 - Inserção da agulha com auxílio do mandril

Bom, para algumas pessoas é estranho pensar como um deficiente


visual conseguiria realizar a acupuntura, e a história da acupuntura no
Japão está aí para provar que nada é impossível, por isso te pergun-
to: você faria acupuntura com um cego? Segue um vídeo para você
expandir os seus conhecimentos sobre este tópico!

Outros métodos de inserção utilizam ambas as mãos. Os clássicos chineses descrevem que a mão direita
deve ser utilizada para inserção e a esquerda como mão de apoio, controlando a fixação e encurvamento
do corpo da agulha , mas não podemos deixar de levar em consideração que temos terapeutas destros e
canhotos, sendo necessário a adaptação de cada um para a aplicação da técnica. (FOCKS; ULRICH, 2008).
Seguem alguns métodos de colocação:

93
UNICESUMAR

Pinçamento: mais utilizado


em regiões com pouco tecido
e áreas com estruturas ósseas.
O tecido é beliscado e a agulha
é inserida superficialmente de
forma oblíqua (FOCKS; ULRICH,
2008; DONATELLI, 2018).

Figura 7 - Inserção da agulha por pinçamento no ponto Yintang


Fonte: Focks e Ulrich (2008, p. 617).

Pressão com a unha:


pressionar a pele com o
dedo polegar ou indica-
dor, esticando levemen-
te a pele, deixando um
espaço de 2 cm onde se
insere a agulha, pode ser
feito basicamente em
qualquer região (YAMA-
MURA, 2001; FOCKS; UL-
RICH, 2008).

Figura 8 - Inserção da agulha por pressão da unha


Fonte: Focks e Ulrich (2008, p. 616).

94
UNIDADE 3

Esticar a pele: técnica utili-


zada em tecidos moles (ex.:
abdômen) e peles flácidas.
Segundo a Medicina Chinesa,
consiste em esticar a pele com
a mão esquerda e inserir com a
mão direita, podendo ser rea-
lizada com o dedo polegar e
indicador, ou dedo indicador e
médio (FOCKS; ULRICH, 2008;
DONATELLI, 2018).

Figura 9 - Inserção da agulha por estiramento do tecido


Fonte: Focks e Ulrich (2008, p. 617).
Direta com a agulha: também conhecida como “bico
da ave”, consiste em inserir a agulha com uma mão só,
para isso, segura-se a agulha a 1-2 mm da pele, e essa
é inserida de forma rápida, pode-se usar o dedo médio
como um guia. Essa técnica é utilizada em agulhas
longas (FOCKS; ULRICH, 2008; DONATELLI, 2018).

Bicada de ave:
puncionar
rapidamente
e com força
Dedo médio serve
como uma barra-guia
e estende a pele
para frente

a b
Figura 10 - Inserção da agulha pelo método direto
Fonte: Focks e Ulrich (2008, p. 618).

95
UNICESUMAR

Um outro ponto que o acupunturista deve se atentar é a angulação da agulha. Um ângulo de 90º
(perpendicular/vertical) é realizado em áreas do abdômen, extremidades do corpo, região lombar e
glútea, e em regiões com bastante músculo e gordura. A 45º (oblíquo), em regiões com pouca pele ou
próximo de órgãos, devemos tomar cuidados para não inserir a agulha muito profundamente e per-
furar o paciente. Por fim, a horizontal <15º, empregada na face, crânio, mãos, pés e em cima de vasos
e nervos (FOCKS; ULRICH, 2008; DONATELLI, 2018).

a b c
Figura 11 - Ângulos de colocação das agulhas. A. Perpendicular (90º). B. Oblíquo (45º). C. Horizontal (15º a 25º)
Fonte: Donatelli (2018, p. 298).

O direcionamento da ponta da agulha também é um ponto, é recomendado utilizar um atlas, nele


importante para o tratamento, normalmente há o está descrita a profundidade e angulação de cada
direcionamento de acordo com o fluxo de Qi do ponto, é muito importante fazer essa consulta,
canal. Isto é, se eu for agulhar o ponto IG4, por pois erros na angulação e profundidade podem
exemplo, na nossa paciente da enxaqueca para acabar lesando órgãos internos e vasos impor-
promover analgesia, eu vou direcionar a ponta tantes que levarão a danos sérios no paciente. Por
da agulha sentido ombro ou por outro ponto. isso, nunca agulhe sem antes ter passado por um
Pense que o ponto começa lá no dedo em IG1 e, treinamento prático com um especialista (DEAD-
conforme o canal segue pelo braço, aumenta-se MAN; AL-KHAFAJI; BAKER, 1998).
o número dos pontos, assim a direção do canal Desta forma, algumas áreas do corpo huma-
é mão-tronco e, desse modo, deveremos posi- no são consideradas de risco (DEADMAN; AL-
cionar a agulha para ela “seguir o fluxo do Qi” -KHAFAJI; BAKER, 1998; YAMAMURA, 2001):
ou, seguindo uma outra abordagem, podemos • Área da cavidade torácica: não usar in-
direcionar a ponta da agulha para a cabeça (local serção oblíqua profunda ou perpendicular,
que eu quero tratar) ou, ainda, se ela se queixar seja na área dorsal ou supraclavicular, isso
de dor no pé, posso direcionar a ponta para o pé evita o risco de pneumotórax!
(EBRAMEC, 2020). • Abdômen: deve-se tomar cuidado em
Você deve estar se perguntando, certo, mas pacientes magros e crianças para não atin-
até onde eu posso aprofundar a agulha na pele? gir a cavidade peritoneal e não agulhar
Caro(a) aluno(a), isso varia muito! Depende da gestantes nessa região, principalmente no
localização do ponto, constituição física do pa- primeiro trimestre; os pontos inferiores
ciente (gordo/magro) e a angulação da agulha e nenhum ponto no abdômen e cintura
(quanto menor o ângulo mais superficial). Em para mulheres acima de três meses de ges-
pessoas robustas e obesas, pode-se aprofundar tação; e alguns pontos como IG4, BP6, B60
mais a agulha; em pessoas magras e crianças, a e B67 não podem ser estimulados durante
aplicação é superficial. Quando você for agulhar a gravidez.

96
UNIDADE 3

• Inserção próxima a órgãos importan- doentes mais crônicos ou que estejam com defi-
tes: deve-se ter precaução redobrada ao ciência de Xue e Qi. As manobras de dispersão são
se agulhar pontos na região da pleura, pul- realizadas em pessoas com doenças agudas, febris,
mões, coração, fígado, baço, rins e bexiga. fatores patogênicos (frio, umidade, calor etc.) e
Por exemplo: quando o coração está au- estase de Qi e/ou Xue (YAMAMURA, 2001).
mentado, agulhamento na área epigástri- Vamos supor que chegue um paciente com
ca é passível de lesá-lo, agulhando pontos febre até você: é um fator patogênico, então de-
como o E19 e R21. vemos sedar um ponto para a febre? Isso não irá
• Inserção próxima a grandes vasos: o reduzir a função do ponto? Não! Isso não vai
agulhamento sobre vasos tende a ser mais reduzir a ação do ponto, mas sim sedar o fator
dolorido de forma aguda; caso isso ocor- patogênico, logo esse será enfraquecido. A mesma
ra, é necessário retirar a agulhar e inserir coisa se aplica a estase, por exemplo, uma dor de
em uma direção diferente; caso ocorra um cabeça por friagem que estagnou a energia ali na
sangramento significativo, deve fazer uma cabeça, ao sedar o ponto, vamos estar reduzindo
pressão com uma bola de algodão por um o patógeno e promovendo o livre fluxo de Qi.
minuto. Deve haver extremo cuidado no Segundo Donatelli (2018), para tonificar, após
agulhamento em regiões como da artéria a inserção da agulha, podemos:
aorta e femoral, por exemplo. Na falta de ex- • Colocar a agulha no sentido de energia do
periência, não estimule a região com agulha. canal.
• Inserção próximo a grandes nervos: a • Girar a agulha no sentido horário.
sensação quando a agulha lesiona algum • Inserir a agulha na expiração do pacien-
nervo é de um forte choque que não deve te e, após o tempo de aplicação, retirar na
ser confundida com o “choquinho” do De inspiração.
Qi, quando próximos de nervos. Os atlas de • Com a agulha inserida na pele, vibrá-la
pontos trazem as especificações da região, (para isso raspamos o cabo da agulha com
por exemplo, o ponto PC7 que está acima a unha).
do nervo medial da mão. Normalmente • Agulha feita de ouro.
nesses casos, a agulha é somente inserida • Inserir lentamente a agulha na pele, e reti-
não sendo manipulada no paciente. Em rá-la rapidamente.
caso de neurite traumática, a sensação de • Pistonar a agulha dentro da pele (vai e
dor, formigamento, entre outros, pode per- vem), sem retirar, de forma lenta.
manecer de 2-3 semanas. • No geral, movimentos mais gentis toni-
ficam.
Como você acabou de ler, não basta somente inse-
rir a agulha, é preciso manipulá-la para alcançar o Na dispersão/sedação, o autor ressalta os seguintes
De Qi, que significa a chegada do Qi ali no ponto, métodos:
assunto que já estudamos nas outras unidades. • Inserir contra o fluxo de energia do canal.
Existem diferentes formas de manipulação e além • Girar a agulha no sentido anti-horário.
da finalidade de obter o De Qi, pode-se tonificar • Inserir a agulha na inspiração do pacien-
ou dispersar um ponto. As estimulações de toni- te e, após o tempo de aplicação, retirar na
ficação são realizadas para pessoas enfraquecidas, expiração.

97
UNICESUMAR

• Com a agulha inserida, pontuá-la (fazer movimentos de vai


e vem/ subir e descer, sem retirá-la da pele).
• Agulha feita de prata.
• Inserir a agulha rapidamente na pele, e retirá-la lentamente
(quanto mais rápida a agulha é colocada, menos dor o pa-
ciente sente).
• Pistonar a agulha dentro da pele (vai e vem) sem retirar, de
forma rápida.
• No geral, movimentos mais bruscos sedam.

Um outro ponto que o terapeuta deve estar atento é desenvolver uma


sensibilidade para também analisar o local do acuponto, em caso
de o ponto estar frio, esbranquiçado e mole ao toque, isso significa
a presença de características Yin, então deve-se tonificar esse ponto.
Por outro lado, um ponto com a temperatura elevada (quente), duro
ao toque, vermelho no centro e esbranquiçado ao redor apresenta
características Yang, então deve-se sedar (DONATELLI, 2018).
Após você ter colocado a agulha, estimulado e ter obtido o De Qi,
a agulha pode ser deixada na pele por alguns minutos, isso é chamado
de tempo de retenção da agulha. Em casos de tonificação, deixa-se de
2-10 minutos e sedação de 15-30 minutos. Contudo, hoje, a maioria
dos acupunturistas, independentemente de tonificar ou dispersar,
deixam as agulhas na pele do paciente por cerca de 25-30 minutos;
alguns terapeutas fazem estímulos adicionais no meio desse tempo
(YAMAMURA, 2001; DONATELLI, 2018; EBRAMEC, 2020).
Caso você esteja em dúvida em relação a tonificar ou dispersar o
ponto, existe uma técnica denominada de harmonização do ponto,
assim, a agulha é colocada a 90º no acuponto, e ela vai realizar o equilí-
brio necessário (DONATELLI, 2018). Você deve estar pensando, mas
e os locais que não podemos colocar a agulha perpendicularmente?
Nesse caso, se você for um iniciante na técnica, use o mandril para
inserir a agulha, uma vez que o tamanho de inserção na profundidade
da pele dele é considerado superficial em pessoas adultas.
Caro(a) aluno(a), após o tempo de retenção, deve-se retirar as
agulhas, para isso você precisará de uma bandeja de aço cirúrgico
ou de material (de preferência) autoclavável, para colocar as agu-
lhas, algodão seco e estéril, que deve ser pressionado na pele após
a retirada da agulha. Alguns acupunturistas gostam de retirar as
agulhas com pinças de ponta larga, para evitar acidentes com per-
furocortantes, mas a grande maioria retira as agulhas pela ponta
do cabo com a mão.

98
UNIDADE 3

No geral, o algodão é pego com o dedo indicador e o polegar da


mão esquerda, e a mão direita é utilizada para realizar movimentos
suaves de rotação (vai e vem), sendo retiradas de maneira lenta
até a agulha sair completamente (EBRAMEC, 2020). Se você for
canhoto(a), pode inverter o uso das mãos conforme a orientação
da Medicina Chinesa. Deve-se tomar cuidado, pois às vezes há
encurvamento da agulha por conta da contração do músculo ou
até retenção da agulha por espasmos musculares, assim, você não
deve tentar “arrancar a agulha na força”, mas arrumar a posição do
paciente ou massagear a área ao redor da agulha para facilitar o
relaxamento muscular, ou até esperar cinco minutos para o paciente As principais características do
relaxar ou parar os espasmos (e é importante que você não conte método das três agulhas são a
a ele, para que não entre em desespero, aumentando a contração utilização de apenas três pontos
muscular). Uma última opção é inserir uma agulha em um acuponto ou três agulhas para o tratamento
anterior e posterior a esse (YAMAMURA, 2001). das alterações, a seleção de pontos
Há casos de quebra da agulha, seja por má manipulação, defei- de acordo com regiões do corpo, a
tos de fabricação ou até retenção, nesse caso, evite que o paciente seleção de poucos pontos com ca-
veja a agulha quebrada e retire com uma pinça, caso a ponta esteja racterísticas que se somam, além
visível. Se a ponta da agulha não estiver visível, deve-se imobilizar de utilizar diversas teorias da base
o paciente e chamar o serviço médico para a retirada de forma ci- da Medicina Chinesa. Além dis-
rúrgica. Por último, às vezes, há a perfuração de um pequeno vaso so, é um método muito fácil de se
sanguíneo com a agulha, o que pode levar a um pequeno hematoma, aplicar, empregando uma peque-
que não deve ser confundido com o extravasamento de sangue, na quantidade de pontos, e por
pelo pertuito (furo) do ponto após a retirada da agulha, que pode causa disso utiliza poucas agulhas,
significar excesso da energia Yang (YAMAMURA, 2001). podendo ajudar no medo que al-
Após ter retirado as agulhas, você deve orientar seu paciente a guns pacientes possuem das agu-
não ter relações sexuais após a sessão, não deve beber álcool, realizar lhas (SILVA FILHO, 2013).
exercícios ou trabalhos pesados, comer de forma excessiva e não Esse método surgiu no início
permanecer com fome ou sede (YAMAMURA, 2001). da década de 70, quando o Dr.
Agora que você aprendeu vários conceitos básicos sobre acupun- Jin selecionou três pontos para o
tura e sobre como realizá-la, chegou a hora de conhecermos como tratamento de uma alteração, no
utilizá-la no dia a dia clínico, para realizar o tratamento das princi- caso uma rinite alérgica, a qual foi
pais doenças e acometimentos que podem surgir para você atender. tratada com apenas 3 atendimen-
Para isso, precisamos conhecer o método criado pelo professor tos (SILVA FILHO, 2013)
titular da Universidade de Medicina Chinesa de Guang Zhou, o Dr. E é justamente pela rinite
Jin Rui, conhecido como: método das Três Agulhas do Jin. alérgica que começaremos vendo
O método consiste em utilizar seleções e combinações de pontos como funciona o tratamento por
de acupuntura unicamente criadas para o tratamento de Síndromes, meio do exemplo utilizado pelo
doenças e sintomas associados, sendo que cada uma das combi- Dr. Jin para entender melhor
nações é composta de apenas três pontos de acupuntura, sejam como e porque ele utiliza cada
bilaterais, unilaterais ou uma mescla (SILVA FILHO, 2013). um dos 3 pontos diferenciados

99
UNICESUMAR

de agulha para esse tratamento. Em seguida, veremos vários dos principais acometimentos que podem
acontecer em várias partes do corpo, além, é claro, de doenças que podem ter como um tratamento
complementar esse método tão importante. Também veremos, ao longo das doenças, outros pontos não
relacionados ao método das três agulhas, mas indicados por protocolos descritos em materiais científicos.
Atenção, aluno(a), é aconselhado que, ao longo do texto, quando os acupontos forem citados, você
pesquise sua localização em uma base de pesquisa da internet, a fim de facilitar seu aprendizado!

Rinite alérgica
A rinite alérgica é uma inflamação da mucosa nasal, causada pela exposição a algum alérgeno (poeira,
pelos etc.), causando uma reação de sensibilização que leva a uma resposta inflamatória, resultando
em sintomas que podem ser crônicos ou recorrentes (IBIAPINA et al., 2008).
Geralmente, a rinite cursa com uma rinorreia aquosa (escorre fluído) que pode levar à obstrução
das narinas, bastante prurido na região, espirros e sintomas nos olhos, como prurido e hiperemia
conjuntival (IBIAPINA et al., 2008).
Na acupuntura, para realizarmos o tratamento da rinite alérgica, utilizamos as três agulhas do nariz
(Bi San Zheu), que possui como objetivos eliminar o vento em excesso, dissolver e eliminar a muco-
sidade, abrir as narinas e melhorar os fluxos dos Canais (SILVA FILHO, 2013).
Para isso, a primeira agulha será colocada no ponto IG20, pois trata-se de um ponto muito associado
ao nariz. A agulha deve ser inserida de maneira oblíqua, com a ponta da agulha direcionada para o
centro do nariz (SILVA FILHO, 2013).
A segunda agulha deve ser inserida no ponto Bitong, um ponto extra, fora do trajeto dos canais
principais, trata-se de um excelente ponto para tratamentos de obstruções nasais, além de se tratar de
um ponto com importante efeito local. A agulha deve ser colocada de maneira superficial (pode-se usar
o mandril), horizontal e com a ponta direcionada para baixo. Também pode ser colocada de maneira
oblíqua com a agulha direcionada para o centro do nariz (SILVA FILHO, 2013).
A terceira e última agulha deve ser inserida no ponto Yintang (ponto extra), trata-se de um ponto
com importante ação local (pois se encontra próximo à raiz do nariz, entre as sobrancelhas na região
da glabela). Além disso, tem a capacidade de desobstruir o fluxo do trajeto do Canal do Vaso Gover-
nador, que passa pelo nariz, além de melhorar a função nasal. A agulha deve ser inserida de maneira
superficial no ponto, horizontal e com a ponta direcionada para baixo (SILVA FILHO, 2013).
O método de três agulhas pode ser usado de outra maneira, sendo chamado de método de três
agulhas por condições. Consiste em uma técnica em que dois ou três pontos de acupuntura são combi-
nados entre si, de acordo com suas principais funções, não sendo necessário que possuam proximidade
anatômica entre os pontos. Esses pontos possuem funções especiais ou induzem resultados efetivos
para o tratamento de sintomas, doenças e síndromes, devendo sempre possuírem efeitos somatórios
entre si para justificar essa combinação (SILVA FILHO, 2013).

Ansiedade
No caso da ansiedade, devido aos diferentes modos que a medicina oriental e ocidental entende os
eventos decorrentes da mente, focaremos em como apenas a Medicina Tradicional Chinesa entende
alterações emocionais.

100
UNIDADE 3

Segundo a Medicina Tradicional Chinesa, um distúrbio no coração leva a uma desarmonia no espírito,
assim, qualquer situação de excesso, deficiência/estagnação no sangue ou Qi no coração ou em outro
órgão que afete o coração (pelos cinco movimentos) pode afetar o Shen (mente) que está albergada no
coração. Isto é, qualquer desregulação energética no coração ou que afete este órgão poderá resultar em
ansiedade, lembrando que isso não significa que a pessoa possui uma doença no órgão coração em si!
Fatores como calor e umidade, emoções, trabalho excessivo e medo podem lesar a energia do coração,
gerando quadros de ansiedade (ROSS, 2003). A tensão emocional por um longo tempo, excesso de tra-
balho, falta de sono e descanso e o excesso de calor do ambiente (verão) podem levar a uma deficiência
da energia do coração, gerando aumento da ansiedade. Segundo Ross (2003, p. 465) “a deficiência do Qi
do coração e do rim, do yin do coração e do rim, e do sangue do coração e do baço podem dar origem
à ansiedade, já que o Qi, o yin e o sangue são necessários para manter o espírito estável”.
O sentimento de frustração e a raiva advindos do fígado podem lesar o coração por uma agitação,
pense que a madeira é a mãe do fogo, assim uma mãe agitada pela a raiva, agita o fogo do filho.
Outro ponto é o consumo de alimentos quentes e gordurosos, que podem lesar o baço, pois gordura
vira umidade em nosso corpo, e a umidade fere o baço, pertencente ao movimento terra, além disso um
avô fraco não controlará o neto que terá excesso de energia, assim teremos um desequilíbrio de energia
no elemento fogo gerando ansiedade. Normalmente, para identificarmos uma lesão no baço, a língua
fica inchada ou com marcas de dentes nas laterais.
A estase de sangue no coração pode surgir decorrente da raiva, trauma, alegria excessiva, frustração,
desejo ou culpa. Isso ocorre após um longo período, após acontecer, primeiramente, uma estagnação
do Qi. O sangue estagnado, quando afeta a mente, pode causar depressão, insônia, palpitações no pei-
to, sensação de sufocamento no tórax, humor oscilante, irritabilidade e até psicose. O sono fica muito
comprometido, a pessoa acometida anda constantemente a noite, debate-se e tem pesadelos.
O princípio do tratamento mediante a Medicina Tradicional Chinesa, no geral, é tonificar o coração,
acabar com a estase, acalmar a mente e nutrir o sangue. Existem diversos protocolos de tratamento para
a ansiedade. Os seguintes pontos podem ser utilizados nesse tratamento, por exemplo (SILVA, 2010):
• B15: é o ponto shu do coração. Deve ser utilizado com moxa (abordada no próximo tópico
deste livro).
• B6: nutre o sangue e acalma a mente. É bem eficaz em casos em que tiver insônia associado aos
sintomas.
• B9: elimina a umidade.
• C7: acalma a mente, equilibra e é muito utilizado em quadros de ansiedade.
• E36: nutre o sangue.
• F3: move a estagnação do Qi e do sangue, acalma o Yang do fígado (pessoa nervosa).
• IG4: reduz o calor, relaxa a musculatura, move estagnação do sangue, acalma o yang do fígado,
acalma a mente, tonifica o Qi e o sangue.
• P6 e BC4: regulam o Yin, tem a capacidade de acalmar a mente e nutrir o sangue.
• PC6: harmoniza o Qi, acalma a mente.
• VC4: nutre o sangue e acalma a mente.
• Yintang: (ponto extra) acalma a mente, usado em casos de ansiedade, de distúrbios do sono e
de confusão mental.

101
UNICESUMAR

Asma
A asma é uma doença inflamatória crônica que acomete as vias aéreas e ainda não possui uma
causa bem definida. Devido à inflamação, as vias aéreas são hiperresponsivas e se contraem mais
facilmente em resposta aos diversos estímulos recebidos, sendo que essa contração, na maior parte
dos casos, é de caráter reversível. Isso pode causar tosse, sibilos, dispneia e sensação de opressão
torácica (CAMPOS, 2007).
Para a Medicina Tradicional Chinesa, a asma ocorre devido a uma deficiência dos sistemas de
defesa do Pulmão e do Rim, com invasões repetidas de vento que não são tratadas devidamente,
causando uma retenção crônica de vento na região torácica (HUANG et al., 2013)
Na visão da medicina oriental chinesa, a asma possui três apresentações diferentes, variando
suas apresentações clínicas e, consequentemente, seu tratamento (HUANG et al., 2013).
Primeiramente, a asma pode ser por vento frio (sem transpiração), o qual cursará com bron-
coespasmo e dispneia repentinos com dificuldade expiratória, produzindo ruídos altos, aperto
no tórax, falta de sede, tosse e espirro. É uma crise iniciada em decorrência de clima frio. Nesse
caso, o tratamento tem como objetivo aliviar o exterior, acalmar a mente e a asma e expelir o vento
frio. Os pontos utilizados nesse caso serão os B13, P7, P6, C7 e VC15 (ROSS, 2003).
A segunda apresentação da asma pode ser por vento frio (com transpiração), o qual também
cursará com broncoespasmo e dispneia repentinos com dificuldade expiratória, porém com
ruídos mais baixos que no caso anterior. O tratamento, nesse caso, tem como objetivo aliviar o
exterior, expelir o vento frio, harmonizar o Qi de nutrição e de defesa, além de acalmar a mente
e, consequentemente, a asma em si (ROSS, 2003). Os pontos utilizados são o B13, P7, P6, C7,
VC15, E36 e BP6.
O último tipo de asma é o por vento calor. É uma asma com broncoespasmo muito alto, tosse
em latido, sede moderada, febre e mente inquieta. O tratamento, nesse caso, visa aliviar o exterior,
expelir vento-calor e restabelecer o Qi de descida do pulmão (a tosse é inversão do fluxo do Qi
do pulmão, que está ascendente e, por subir, causa a tosse e acalma a mente) (MACIOCIA, 1996).
Utilizamos os seguintes pontos nesse tratamento: P5, P7, B13, P6, P11, C7 e VC15.
No caso de o paciente estar em uma crise asmática no momento, utilizamos um tratamento
que se pauta nos quatro seguintes pilares com seus respectivos pontos utilizados:
• Tonificar os sistemas de defesa do Pulmão e Rim. Pontos utilizados: B23, VC4, VC8, P9 e B13.
• Normalizar o Qi do pulmão, restabelecendo a descida dele. Pontos utilizados: P7, P5, VC17
e B13.
• Acalmar a mente. Pontos utilizados: C7, VC15 e VG24.
• No caso de ser uma asma de início tardio, deve-se tonificar o Baço. Pontos utilizados: E36,
VC12, B20 e B21.

Cefaleias
As famosas “dores de cabeça” podem ser de vários tipos, porém vamos focar em dois tipos apenas:
a cefaleia tensional que, como o próprio nome já diz, é mais relacionada com questões musculares,
e a famosa enxaqueca, que vimos na nossa paciente lá no início desta unidade.

102
UNIDADE 3

A cefaleia tensional é o tipo mais comum de dor de cabeça, acometendo, geralmente, mais
mulheres do que homens. Ela pode ser episódica pouco frequente (quando ocorre de 1 a 2 vezes
por mês) ou muito frequente (quando ocorre de 1 a 2 vezes por semana) ou, ainda, pode ser uma
dor crônica diária (quando acontece 15 dias no mês por 3 ou mais meses) (SILVA, 2017). Costuma
ser uma dor que piora no final do dia ou início da noite.
É uma dor que ocorre sem aviso prévio e costuma iniciar mais fraca. Na maioria das vezes, é uma
dor dos dois lados da cabeça, podendo ocorrer em qualquer região da cabeça (frontal, nuca, dos lados
etc.). Luz, cheiros e movimentos do corpo não costumam piorar a dor (SILVA, 2017).
Para a Medicina Tradicional Chinesa, a cefaleia tensional pode ser precipitada pelos seguintes aspectos
emocionais: raiva (ascensão do Yang do Fígado causando cefaleia na região do meridiano da Vesícula biliar),
preocupação (cria nódulo no Qi do pulmão e do coração, causando a ascensão indireta de Yang do Fígado) e
medo (pela deficiência direta do Rim ou por ele causar a ascensão do Yang do Fígado) (RODRIGUES, 2001).
Para o tratamento das cefaleias tensionais, podemos utilizar vários pontos diferentes, sendo que
alguns sugeridos são o VB20, o qual se localiza abaixo da borda occipital, na depressão da inserção dos
músculos trapézio e esternocleidomastoideo, com o agulhamento sendo feito de maneira transversal
ou oblíqua de modo superficial devido à medula espinhal (RODRIGUES, 2001).
Pode-se usar, ainda, os seguintes pontos: IG4 (agulhamento perpendicular com 0,5 a 1 Tsun de
profundidade), F3 (agulhamento perpendicular ou oblíquo com 0,3 a 0,8 Tsun de profundidade),
VB14 (agulhamento transversal com 0,3 a 0,8 Tsun de profundidade), GB8 (agulhamento transversal
0,3 a 0,8 Tsun de profundidade), VB21 (agulhamento perpendicular 0,5 a 0,8 Tsun de profundidade,
evitando agulhamento profundo devido ao ápice do pulmão), B2 (agulhamento perpendicular ou
transverso, 0,3 a 0,8 Tsun de profundidade), B10 (agulhamento perpendicular ou oblíquo com 0,3 a
0,5 Tsun de profundidade), B60 (agulhamento perpendicular 0,5 a 1 Tsun de profundidade), P7 (agu-
lhamento oblíquo, 0,5 a 1 Tsun de profundidade), PC5 (agulhamento perpendicular, 0,5 a 1 Tsun de
profundidade), E8 (agulhamento anteroposterior 0,5 a 1 Tsun de profundidade), E36 (agulhamento
perpendicular ou oblíquo, 0 a 2 Tsun de profundidade) e E44 (agulhamento perpendicular ou oblíquo,
0,3 a 0,8 Tsun de profundidade) (RODRIGUES, 2001).
A enxaqueca, também conhecida como migrânea, é uma dor que é comum, pode ser incapacitante
e tem duração variável, podendo durar até 72 h seguidas. Ela pode ou não ter alguns sinais antes de
acontecer, como, por exemplo, bocejos repetidos, alterações visuais ou alterações sensitivas (SPECIALI;
FLEMING; FORTINI, 2016).
É uma dor geralmente unilateral, pulsátil, de intensidade que varia entre moderada e intensa, que
piora com atividades do dia a dia. Pode também estar associada com náusea, vômitos, fotofobia (piora
com luz do sol) ou fonofobia (piora com barulhos).
Na acupuntura, para tratarmos a enxaqueca, podemos usar o método das três agulhas, o qual terá
como função, nesse caso, limpar o calor no canal Shao Yang, subjugar o excesso de Yang no canal do
fígado, desobstruir os canais e colaterais na região temporal e aliviar a dor (SILVA FILHO, 2013).
A primeira agulha será colocada no ponto TA23, pois trata-se de um ponto local associado ao
Shao Yang. A segunda agulha será colocada no P7, por ser ponto que comanda a região da cabeça. A
terceira agulha será colocada no VB41, pois o Canal Shao Yang está normalmente envolvido com a
enxaqueca (SILVA FILHO, 2013).

103
UNICESUMAR

Constipação intestinal
A constipação intestinal pode ser entendida como o famoso “intestino preso”. Na medicina ocidental,
não existe uma definição universal para constipação, porém, com base nas queixas dos pacientes,
pode ser entendidos como fezes endurecidas, esforço excessivo para evacuar, sensação de evacuação
incompleta, demora excessiva no banheiro ou uma frequência de evacuação semanal menor do que
três vezes (GALVÃO-ALVES, 2013).
É uma condição multifatorial, sendo que, na maior parte das vezes, ocorre devido a uma ingesta
inadequada de fibras e água. Vários distúrbios podem levar à constipação, sendo que pode ser por
obstrução, por lentificação do trânsito intestinal ou alterações intestinais, de assoalho pélvico ou
retais (GALVÃO-ALVES, 2013).
Para a Medicina Tradicional Chinesa, a irregularidade no movimento intestinal é a principal
manifestação de que está acontecendo um desequilíbrio funcional do intestino. Esse desequilíbrio
ocorre de um acúmulo de Calor, secando os Jing Ye do Intestino grosso, com a energia Yang insu-
ficiente para movimentar e produzir a impulsão no movimento desse órgão para eliminar as fezes
(BECKNER, 2011)
O tratamento da constipação intestinal para a Medicina Chinesa tem como objetivo limpar o Calor
em excesso, além de promover o movimento intestinal e umedecer os Intestinos (SILVA FILHO, 2013).
O primeiro ponto onde será inserida uma agulha é o E25, pois é um Ponto Alarme (Mu) do In-
testino Grosso, com grande influência sobre essa Víscera. O segundo e último ponto é o VC12, pois
trata-se de um ponto de influência das Vísceras, auxiliando na regulação da direção descendente do
Qi e funcionamento regular dos intestinos (SILVA FILHO, 2013).

Dismenorreia
São as famigeradas cólicas menstruais dolorosas. Seu nome deriva do grego que significa fluxo mens-
trual difícil. São caracterizadas por dores abdominais que podem ou não estar associadas a outros
sintomas, como dor lombar, tontura, náuseas, vômitos, diarreia ou fadiga. É estimado que cerca de
52% das adolescentes sofrem dessas dores, sendo que 10% delas ficam incapacitadas para serviços de
1 a 3 dias todos os meses (DALL'ACQUA; BENDLIN, 2015).
Para a medicina chinesa, dismenorreia é o conjunto de sinais e sintomas relacionados ao mecanismo
de fluidos orgânicos e as alterações do psiquismo feminino no período pré-menstrual. É a estagnação
causada pelo movimento incorreto do Qi do fígado e, consequentemente, do sangue, uma vez que o
fígado armazena este (MACIOCIA, 1996).
Para o tratamento de dismenorreias, iremos usar dois pontos que terão como objetivo regular o
Vaso Concepção, mobilizar o Qi e remover a estagnação do sangue (Xue) para aliviar as dores (SILVA
FILHO, 2013).
Utiliza-se o ponto BA6, por se tratar de um ponto que possui como principal característica servir
de cruzamento para os três Canais de natureza Yin do pé, tendo a capacidade de estimular a energia
Yin do corpo e fortalecer o Baço na sua função de produzir o sangue. O segundo e último ponto é
o Shiquzhui, que é um ponto selecionado por meio de experiência clínica, e fica na linha da coluna
vertebral abaixo da quinta vertebra lombar, deve-se tomar muito cuidado ao se agulhar esse ponto
por ele se situar sob a coluna vertebral (SILVA FILHO, 2013).

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UNIDADE 3

Um outro ponto extra muito interessante é o Zigong, que significa palácio da criança; esse ponto
regula a menstruação, beneficia o útero e tonifica o rim (LIMA, 2016).
Outro ponto muito interessante na parte uterina é o ponto extra Zigong, conhecido como palácio
da criança, localizado 4 cun abaixo do umbigo e 3 cun laterais à linha média; esse ponto regula o Qi, a
menstruação e alivia dores. Atenção: em caso de agulhamento neste ponto, deve-se pedir ao paciente
para esvaziar a bexiga, a fim de não lesá-la (DEADMAN; AL-KHAFAJI; BAKER, 2006).

Fibromialgia
É uma síndrome dolorosa crônica, de etiologia desconhecida e não inflamatória, que acomete o sistema
muscular-esquelético, podendo apresentar sintomas em outros sistemas. Possui sintomas que podem ser
confundidos com os sintomas de depressão e síndrome de fadiga crônica. É extremamente comum de
acontecer, sendo a segunda maior causa de dor musculoesquelética crônica (PROVENZA et al., 2004).
O quadro clínico varia, porém um sintoma presente em todos os pacientes é a dor difusa e crônica,
envolvendo esqueleto axial e periférico. É uma dor difícil de ser localizada com exatidão, podendo ser
dor em pontada, queimação, peso,“tipo cansaço” ou dores físicas semelhantes a contusões. Pode piorar
com frio, umidade, mudança climática, questão emocional ou por esforço físico intenso (PROVENZA
et al., 2004).
Para tratarmos os sintomas de fibromialgia utilizando a Medicina Tradicional Chinesa, focaremos
na utilização de pontos para o alívio da dor, da ansiedade e da depressão, por serem sintomas associa-
dos diretamente a quadros de fibromialgia. O tratamento tem como objetivo espaçar as crises de dor
e diminuir a intensidade em que elas ocorrem (ARAUJO, 2007). Há diversos estudos demonstrando
pontos para ajudar a espaçar as crises e reduzir sua intensidade, em um dos protocolos, desenvolvido
por Araújo (2007), os seguintes pontos são utilizados:
• Yintang (ponto extra).
• IG4 – tranquiliza o Shen, alivia dor, move o Qi e o sangue, pacifica o Yang do fígado, regula
o intestino, ponto de comando da face etc. (LIMA, 2016). Agulhamento perpendicular, com
profundidade de 0,5 a 1 cm bilateral.
• PC6 – tranquiliza o Shen, redireciona o Qi do pulmão e do estômago, acalenta a dor, move
estagnações e relaxa o tórax (LIMA, 2016). Agulhamento perpendicular com profundidade de
0,3 a 0,5 cm bilateral.
• VB34 – relaxa e fortalece os tendões, desobstrui o canal da vesícula biliar, harmoniza o fígado
etc. (LIMA, 2016). Agulhamento perpendicular, bilateral, com profundidade de 0,5 a 1,5 cm.
• BA6 – para a dor, regula o útero, tranquiliza o Shen, ponto importante para distúrbios gineco-
lógicos, gastrointestinais e circulatórios (LIMA, 2016). Agulhamento perpendicular bilateral,
com profundidade de 0,3 a 1 cm.
• F3 – circula o Qi e Xue de todo o corpo, tranquiliza o Shen, nutre o sangue do fígado e pacifica o
Yang deste (LIMA, 2016). Agulhamento perpendicular, bilateral, com profundidade de 0,5 a 1 cm.

Gastrite
A gastrite é uma inflamação do revestimento interno do estômago. Pode ser causada por vários mo-
tivos, entre eles uso prolongado de medicamentos, consumo de álcool, tabagismo ou de característica

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UNICESUMAR

autoimune. Geralmente cursa com queimação, dor de estômago, azia, indigestão, sensação de estufa-
mento, náusea e vômito (MINISTERIO DA SAÚDE, 2019).
Para a Medicina Tradicional Chinesa, a gastrite é conhecida como Plenitude no Estômago, a qual
pode ser causada tanto pelo Calor quanto pelo Frio. O Calor pode ser causado pelo consumo excessivo
de alimentos quentes (álcool, alimentos ácidos, carnes vermelhas), por problemas emocionais que in-
terferem no Yin do fígado, gerando Yang excessivo, ou vir do coração. O frio pode decorrer da invasão
de Fogo Exterior de grande intensidade ou causado por estagnação de sangue (YAMAMURA, 2015)
O tratamento na acupuntura busca refrescar o estômago e dispersar o Fogo. Para isso, utilizamos os
seguintes pontos, caso for uma síndrome causada por excesso de Calor no estômago: E44, PC6, E25,
VC12 e E36. Os sintomas desse desequilíbrio são: sintomas de queimação no epigástrio, sede com
vontade de beber líquidos frios, inquietude mental, sangramento na gengiva, pode haver aftas, mau
hálito e fome excessiva (EBRAMEC, 2020).
No caso de ser uma síndrome causada pelo excesso do Frio, utilizaremos os pontos VC12, E36,
PC6, B20 e E34 para aquecer o Centro e dispersar o Frio. Os sintomas são: dor repentina no epigástrio,
vômito, sensação de frio, há uma preferência por líquidos quentes, normalmente ao ingerir alimentos
ou bebidas frias pode haver vômito (EBRAMEC, 2020).
Caso o paciente tenha um quadro associado de refluxo gastresofágico, deve-se usar o ponto especí-
fico da cárdia, o VC13, usando ainda para potencializar seu efeito o R20 e o R21 (YAMAMURA, 2001)

Hipertensão
A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é caracterizada como uma doença crônica, não transmissível, de
causas multifatoriais, associada a alterações funcionais, estruturais e metabólicas (SILVA et al., 2016). Ela
é definida como pressão arterial sistólica maior ou igual a 140 mmHg e uma pressão arterial diastólica
maior ou igual a 90 mmHg, em indivíduos que não fazem utilização de medicação anti-hipertensiva. Para
o diagnóstico, é necessário conhecer a pressão usual do indivíduo, sendo necessários aferições repetidas
para afastar outras possíveis causas de elevação de pressão arterial (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006).
A Medicina Tradicional Chinesa não identifica a hipertensão como uma entidade nosológica própria
e independente, mas como parte de um processo complexo de adoecimento, o qual um dos resultados
é a elevação pressórica, porém ela faz parte de um conjunto de distúrbios funcionais e energéticos,
no qual o coração é o órgão-objeto das agressões diretas ou indiretas dos desequilíbrios dos demais
Órgãos, como o fígado e o rim (YAMAMURA, 2015).
Assim, ela reconhece três tipos básicos de hipertensão: hipertensão arterial Yang verdadeiro, hiper-
tensão arterial Falso Yang e hipertensão arterial mista. Independentemente das origens energéticas,
todas coexistem com deficiência energética de Qi do rim, que funciona como fator permissivo para que
o coração seja envolvido e ocorra uma lesão. O tratamento utilizando pontos de acupuntura mudará
caso seja hipertensão ligado ao Falso Yang ou ao Yang verdadeiro (YAMAMURA, 2015).
No caso da Hipertensão por Yang Verdadeiro, o paciente hipertenso reclamará de problemas
relacionados à digestão associado as alterações hemodinâmicas (náuseas, vômitos entre outras). Os
pontos utilizados para o tratamento serão os seguintes: VC17, VC14, F3, PC6, C7, VG20, Ponto Extra
Yintang, R3, R7, Ponto Extra no ápice da orelha e Ponto hipotensor da orelha (serão abordados em
auriculoterapia na Unidade 4) E36, VG26, VB30, F5 e TA16.

106
UNIDADE 3

No caso da Hipertensão por Yang Falso, que pode ser genética, é agravada pelo consumo de sal e resulta
em bastante edema no paciente, pois há problema no metabolismo dos líquidos. Os pontos utilizados para
o tratamento serão: PC6, C7, VG20, R3, R7, E36, IG4, IG11 e VG26 (YAMAMURA, 2015).
No caso de ocorrer uma crise hipertensiva, ou seja, o aumento súbito da PA para maior ou igual a 180
de sistólica por 120 de pressão diastólica, acompanhado de sintomas que podem ser leves (tontura, zum-
bido, cefaleia) ou graves (dispneia, dor no peito) poderá ser realizado tratamento nos seguintes pontos,
lembrando que isso não substitui os cuidados médicos (YAMAMURA, 2015):
• IG15: realizar estímulo em dispersão bilateralmente.
• Ponto extra no ápice da orelha (abordaremos na parte de auriculoterapia na Unidade 4): picar com
agulha hipodérmica e tirar três a quatro gotas de sangue. Fazer esse procedimento após massagear
a orelha adequadamente.
• E36.
• VG20.

Insônia
Para a medicina ocidental, insônia é a dificuldade em iniciar ou manter o sono, ou mesmo a percepção
de um sono não reparador quando a quantidade ou a qualidade do sono é insatisfatória e que tenha
consequências ruins durante o dia, por exemplo fadiga excessiva, dificuldade na realização de atividades
diárias ou mudanças de humor (VARELA et al., 2005).
A insônia pode ser aguda quando está associada à presença de um fator estressor e não estiver
ocorrendo em um período maior do que três meses, e pode ser considerado como um quadro crônico
quando ela persiste por um período maior do que um mês, porém sem fatores estressantes associados
(VARELA et al., 2005).
Para a Medicina Tradicional Chinesa, a quantidade e qualidade do sono dependem de como está o
estado da mente. Considerando que a Mente é enraizada no coração, especificamente no sangue e no Yin
do coração. Se o coração for saudável e o sangue fluir no sistema nervoso central, a mente é devidamente
enraizada e o sono será profundo. Os órgãos relacionados ao sangue, que vimos na Unidade 1, baço, coração,
fígado, rim (por causa da medula), caso tenham desequilíbrio, afetarão na produção de sangue e, conse-
quentemente, podem gerar insônia. O baço gera demora para dormir e possui pensamentos obsessivos; a
do coração, a pessoa acorda muitas vezes à noite e frequentemente assustada; a do fígado, a pessoa, além de
pesadelos e sonhos sem nexo e perturbados, acorda de manhã cansada por ter sono agitado; por último, a
do rim, a pessoa acorda muito cedo e não consegue dormir mais, comumente está presente em idosos por
causa da perda da essência Jing do rim ao longo do tempo de vida (DA SILVA FILHO; DO PRADO, 2007).
Cada tipo há um tratamento específico, mas no geral o tratamento da insônia tem como objetivo nutrir
o coração, acalmar a mente e comunicar o coração com o rim, de modo que o equilíbrio seja restabele-
cido e crie condições apropriadas para ocorrer enraizamento de Qi e essência e ocorra o equilíbrio para
normalizar o sono (SILVA FILHO, 2013).
Para o tratamento da insônia utilizando o método das três agulhas, usaremos como o primeiro ponto
o C7, pois trata-se do ponto Fonte (Yuan) do coração, com grande capacidade de retornar as funções
regulares do órgão, além de conseguir tonificar o coração e acalmar a mente. Nesse ponto, a agulha deve
ser inserida com uma profundidade de inserção de 0,5-0,8 cun (SILVA FILHO, 2013).

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UNICESUMAR

O segundo ponto de inserção é o R6, o qual é um ponto com grande capacidade de nutrir o Yin,
que normalmente se apresenta em deficiência relativa em relação ao Yang nos pacientes com insônia.
A agulha deve ser inserida de modo semelhante à inserção de C7 (SILVA FILHO, 2013).
O terceiro e último ponto é o Yintang, o qual é um dos pontos extras mais utilizados na prática
clínica, pois possui grande capacidade sedativa e tem como característica acalmar o paciente. A inser-
ção da agulha deve ser oblíqua apontando para baixo, com uma inserção de 0,3 a 0,5 cun. Importante:
todos esses pontos devem ser estimulados com manipulações em tonificação (SILVA FILHO, 2013).

Lombalgia Aguda
A dor lombar é uma causa frequente de morbidade e incapacidade, sendo a segunda causa de dor
mais prevalente, perdendo apenas para a cefaleia em sua incidência. É complicado abordar uma lom-
balgia devido à possibilidade de ocorrer uma inexistência de relação fidedigna entre achados clínicos
e achados de exames de imagem, podendo se tratar de dores muito inespecíficas. Além disso, outro
problema é que várias etiologias diferentes podem desencadear uma lombalgia. Por isso, trataremos
aqui de lombalgias agudas em geral, independentemente de sua causa etiológica.
Para o tratamento de lombalgias agudas, utilizando o método das três agulhas por condições, temos
como objetivo mobilizar o Qi e o Sangue para a região, além de ativar os Canais e fortalecer o Canal
do Vaso Governador (SILVA FILHO, 2013).
O primeiro ponto que será colocado a agulha é o B60, por se tratar de um ponto que tem sua ação
sobre o trajeto do canal da Bexiga (lembre-se que, em seu trajeto, ele passa pelas costas), além de ser
conhecido por meio de experiência clínica. O segundo ponto é o ID3 por também se tratar de um
ponto conhecido através da experiência clínica. O último ponto onde será colocado agulha também
foi conhecido por meio de experiência clínica, e trata-se do VG26 (SILVA FILHO, 2013).

Obesidade
A obesidade se trata de um processo de acúmulo excessivo de gordura corporal, com implicações
adversas e possivelmente significativas à manutenção da saúde. Possui diversos fatores etiológicos que
podem ser associados, desde fatores psicológicos e sociais, até fatores físicos e genéticos (MENSORIO;
JUNIOR, 2006).
Para a medicina ocidental, para avaliarmos o grau de obesidade de um indivíduo, um dos indicado-
res mais utilizados é o IMC (índice de massa corporal), que é calculado fazendo o peso dividido pela
altura ao quadrado. Quando o IMC estiver acima de 30 é considerado obesidade, sendo que se estiver
entre 30 e 34,9 é considerado obesidade grau I, entre 35 e 39,9 é considerado obesidade grau II e com
o IMC acima de 40 é considerado obesidade grau III (MENSORIO; JUNIOR, 2006).
A obesidade se trata basicamente de uma doença moderna, causada devido à má alimentação dos
tempos atuais, regada de doces, gordura e um estilo de vida sem exercícios. A medicina chinesa vê a
obesidade como prejudicial à saúde e que encurta a vida e ela foi descrita, pela primeira vez, no livro
do Imperador Amarelo, como dentro de uma síndrome com sintomas exaustão, hemiplegia,“atrofia do
corpo” e dificuldades respiratórias, que, frequentemente, ocorrem em pacientes obesos (FLAWS, 2002).
Por se tratar de uma doença que pode ter diversas etiologias diferentes, o tratamento da obesidade
para a Medicina Tradicional Chinesa possui diversas funções e locais de ação, principalmente regu-

108
UNIDADE 3

lar as funções do baço e do estômago, ativar o fluxo do Qi e Sangue da região abdominal, criar uma
regulagem em descendência das substâncias e, é claro, eliminação de peso. Normalmente, os chineses
associam o ganho de peso ao ganho de umidade no corpo (pense que, na prática, ao colocar uma
esponja na água ela incha) normalmente relacionada ao consumo de alimentos doces e gordurosos
(SILVA FILHO, 2013).
Ao utilizarmos o método das três agulhas para agirmos contra a obesidade, agulharemos, primei-
ramente, o ponto VC12, por ser um ponto de acupuntura que possui uma ação local na região do
abdome, área em que ocorre maior acúmulo de gordura em pacientes obesos. A inserção da agulha
deve ser de modo perpendicular, de acordo com as camadas de gordura apresentadas pelo paciente.
Recomenda-se que o agulhamento seja feito com uma profundidade de cerca de 1,2 cun, com mani-
pulação em dispersão mediante movimentos de pistonagem com grande amplitude e alta frequência
para ter uma forte sensação de De Qi (SILVA FILHO, 2013).
O segundo ponto será o E36, pois trata-se do ponto Mar (He) do canal do Estômago, assim como
o ponto de Mar Inferior (Xia He) das Víscera do mesmo nome. Esse é um ponto em que deve ser
realizado um agulhamento bilateral e perpendicular, podendo ser levemente direcionado para cima.
Recomenda-se que a manipulação seja realizada em dispersão mediante movimentos de pistonagem,
com grande amplitude e alta frequência, com forte sensação de De Qi (SILVA FILHO, 2013).
O último ponto é o VB26, o qual é um ponto que possui grande influência sobre o Vaso da Cintura,
um canal em volta da cintura com o trajeto de círculo. O agulhamento deve ser bilateral e subcutâneo,
inserção de 1,5 cun. Para um efeito terapêutico potencializado, após obter o De Qi, recomenda-se utilizar
um estímulo elétrico (eletroacupuntura) nesses pontos por cerca de 40 minutos (SILVA FILHO, 2013).

Acidente Vascular Encefálico (AVE)


O acidente vascular encefálico é definido como uma disfunção neurológica aguda, de origem vascular,
seguida de ocorrência súbita ou rápida de sinais e sintomas relacionados ao comprometimento de áreas
focais no cérebro (COSTA; SILVA; ROCHA, 2011)
O AVE é uma doença comum e de grande impacto na saúde pública mundial, pois é a principal
causa de importantes disfunções motoras e cognitivas e incapacidades neurológicas. Os sobreviventes
de acidentes vascular encefálicos geralmente cursam com incapacidades residuais, por exemplo, pa-
ralisia de músculos, rigidez de partes do corpo afetadas, perda na mobilidade das articulações, dores
difusas, problemas de memória, dificuldades na comunicação escrita e oral e deficiências sensoriais
(COSTA; SILVA; ROCHA, 2011).
Para a Medicina Tradicional Chinesa, o AVE se enquadra como uma situação de “Golpe de Vento”,
o qual corresponde a quatro possíveis quadros na medicina ocidental: hemorragia cerebral, trombose
cerebral, embolia cerebral e espasmo de um vaso cerebral (ERICKSON, 2000).
A etiologia do Golpe de vento é complexa, pois embora ocorra repentinamente, forma-se ao longo
dos anos. Ela possui cinco fatores etiológicos fundamentais (ERICKSON, 2000).
O primeiro dos fatores seria o excesso de trabalho, estresse emocional e atividade sexual excessiva,
os quais causam um esgotamento do Yin do rim, levando um descontrole do Yang, que ascende, po-
dendo levar ao excesso de Yang no fígado, causando aumento no Vento, principalmente em idosos. Esse
vento leva a coma, obscurecimento mental e paralisia. Se houver um padrão de excitabilidade excessiva

109
UNICESUMAR

ou estímulo estressante do Shen do coração de modo prolongado, pode haver o desenvolvimento de


Fogo no coração, um aumento no calor interno que agita o fígado e pode levar ao surgimento de Vento
(ERICKSON, 2000; ROSS, 2003).
O segundo fator etiológico seria a alimentação irregular e o esforço físico excessivo, enfraquecendo o
pâncreas e criando mucosidade, que gera a obesidade. Essa mucosidade pode se combinar com o Fogo, o
que leva ao surgimento de formigamento nos membros, fala ininteligível ou afasia e língua inchada com
revestimento pegajoso e brilho. Também pode levar à estagnação de Qi no estômago, que invade o baço/
pâncreas, podendo gerar fleuma (algo pegajoso), a qual pode obstruir os orifícios do coração, gerando
mais Fogo, o qual, ao se associar ao Vento, causa o Golpe do Vento, ou a fleuma pode agir nos meridianos,
causando paresias (ERICKSON, 2000; ROSS, 2003).
O terceiro fator seria atividade sexual excessiva e repouso inadequado. Essa combinação enfraquece o
rim e gera deficiência da medula, falhando na nutrição do sangue, gerando a estase do sangue e causando
rigidez e dor nos membros, além de língua púrpura (ERICKSON, 2000; ROSS, 2003).
O quarto fator seria esforço físico excessivo aliado a repouso inadequado, enfraquecendo o baço/
pâncreas, os músculos e os meridianos. O vento interno preexistente adentra os meridianos devido à
deficiência de Qi e de sangue. Ainda ocorre a interação do Vento externo com o Vento interno, causando
paralisia nos membros (ERICKSON, 2000; ROSS, 2003).
O último fator seria fatores psicológicos, em que raiva, ansiedade e medo são responsáveis no dese-
quilíbrio do Yin e do Yang. Estagnação e deficiência do Sangue do Qi, a soma desses fatores é responsável
pelo Golpe do Vento (ERICKSON, 2000; ROSS, 2003).
É possível que nem todos esses fatores etiológicos estejam presentes no quadro, porém, o comum é
que pelo menos três desses fatores estejam presentes (ERICKSON, 2000; ROSS, 2003).
Cada causa principal do Golpe do Vento deve ser tratado de uma maneira diferente para estabelecer
equilíbrio no que está sendo acometido e em qual órgão está ocorrendo o distúrbio. Apesar de haver
vários tratamentos para o AVE e principalmente no caso da acupuntura, sua prevenção e o auxílio para
minimizar as sequelas são os pontos que esta técnica integrativa entra (ERICKSON, 2000; ROSS, 2003).
Os pontos utilizados para prevenção podem ser (YAMAMURA, 2015):
• Em caso de Vento (normalmente o paciente apresenta a língua trêmula ou ela se move muito sem
o controle): F3, VB34 e VB20.
• Em caso de Fogo (sintomas Yang associados) acrescentar: PC7 e F2.
• No caso de Mucosidade (saburra da língua gordurosa, é difícil de tirar e se você passar um palito,
fica com a marca) acrescentar: VC22, E40 e PC6.

Os seguintes pontos são para tratamento de sequelas específicas do AVE (Golpe de Vento) com acome-
timento exclusivo dos Meridianos:
• Hemiplegia - o tratamento desse caso é para pacientes que chegarem no consultório em, no má-
ximo, três meses após o AVE. Os pontos utilizados para tratar a atrofia muscular e os espasmos
são usados no lado afetado. São utilizados os seguintes pontos: IG10, PC2, E36, VB30, IG11, VB21,
TA14, TA5, IG4, IG3, ID3, PC7, VB29, VB34, VB39, E41, F4, BP59, VG26, VG20 e B7(ERICKSON,
2000; ROSS, 2003).
• Atrofia Muscular – se a atrofia estiver muito caracterizada, utilizar o IG10 e o E36 bilateralmente com
pontos adicionais para tonificar o Qi do baço, como o VC12 e o B20 (ERICKSON, 2000; ROSS, 2003).

110
UNIDADE 3

• Afasia (dificuldade na fala) – VC23, TA1 e C5 (ERICKSON,


2000; ROSS, 2003).
• Paralisia Facial – utilizar o IG4 e o E44 como pontos distais
em dispersão dos dois lados. Utilizar como pontos locais se-
lecionados entre VG26, VC24, E5, E6, ID18, IG20, VB14 e V2
(ERICKSON, 2000; ROSS, 2003).

Caro(a) aluno(a), agora que já estudamos sobre o agulhamento e al-


guns protocolos aplicados a algumas patologias, não podemos esquecer
sobre as técnicas complementares da medicina chinesa, aliás, a nossa
paciente da dor de cabeça possui outras opções de tratamento, como a
moxabustão, que poderia ser realizada no ponto F3. Além disso, o calor
da técnica de moxabustão tem efeito anti-inflamatório e analgésico,
podendo ser realizada na região de pontos de gatilho (pontos dolorosos
à palpação), para melhorar a enxaqueca, por exemplo.
Afinal, o que é a moxabustão? É uma técnica que aquece os acupon-
tos por meio da queima da erva Artemísia, utilizando, normalmente,
bastões de Artemisa vulgaris. No geral, a moxa é utilizada para fortalecer
a energia Yang, expulsar o frio, além de estimular a circulação de Qi e
sangue (FOCKS; ULRICH, 2008).
Assim, a moxabustão é uma ótima técnica para ser utilizada em pa-
cientes debilitados, tratar doenças do inverno, como gripes e resfriados,
além de aumentar a imunidade, aquecer o útero reduzindo as cólicas e
favorecendo a fertilidade feminina.
Na acupuntura, pode-se fazer massas de moxa do tamanho de um
grão de arroz ou em forma de cone e colocá-las para queimar direta-
mente sobre a pele, causando queimaduras e até cicatrizes, ato que é
muito comum na China; contudo, aqui no Ocidente, é contraindicado
esse método, sendo utilizado o método indireto (YAMAMURA, 2001;
FOCKS; ULRICH, 2008).
No método indireto, a moxa não tem contato com a pele do paciente,
ficando a uma distância de, aproximadamente, 2-3 centímetros da pele,
para isso, pode-se usar bastões de moxa incandescentes, cujo terapeuta
deve aproximar e afastar da pele do paciente umas 3-7 vezes em média
ou durante cerca de 5-15 minutos em cada ponto, ou em regiões gran-
des como abdômen e costas por meio de movimentos circulares por,
aproximadamente, 10 minutos (FOCKS; ULRICH, 2008). O ideal é
aquecer o ponto em uma intensidade confortável para o calor penetrar,
por isso, não se deve aproximar demais o bastão da pele para o calor
ficar insuportável e nem de forma muito rápida, na dúvida, coloque um
dedo seu sobre a pele do paciente perto do ponto e use como sensor de
calor (YAMAMURA, 2001; FOCKS; ULRICH, 2008).

111
UNICESUMAR

a b
Figura 12 – (a) Bastão de moxa e (b) movimentos com o bastão de moxa
Fonte: Focks e Ulrich (2008, p. 677).

Ainda pode-se colocar, entre a pele e um cone de moxa, uma fatia de algum fitoterápico, por exemplo:
alho, para tratar picada de inseto ou infecção subcutânea inicial por causa dos efeitos anti-inflamatórios
e analgésicos do alho; gengibre, que tem efeito de difusão, é usado em dores abdominais e diarreias; sal
no umbigo (ponto VC8) para tratar diarreias, entre outros (DONATELLI, 2018).
No geral, a moxa, na prática clínica, possui
ampla utilização, ela pode ser feita também em
casos de entorses, contusões, contraturas muscu-
lares, dores reumáticas crônicas e dores no geral,
sendo o suficiente a aplicação de moxa na região
ou nos pontos dolorosos; para gripes e resfriados,
pode-se aplicar nos pontos IG4 e VB20, e para a
prevenção de doenças nos pontos E36, IG4 e VC4.
Atenção: a moxa não deve ser utilizada em
doenças febris, agudamente infecciosas, infla-
mações agudas, hemorragias, pessoas com pele
sensível (ex.: crianças pequenas), pacientes com
alterações de sensibilidade cutânea, sob varicoses,
mucosas e regiões infectadas (FOCKS; ULRICH, Figura 13 - Moxa indireta sob fatia de gengibre
2008). Fonte: Donatelli (2018, p. 299).

112
UNIDADE 3

Caro(a) aluno(a), acabamos de estudar, de maneira mais aprofundada, sobre os tipos de agulhas,
cuidados que devemos ter ao agulhar nosso paciente, além das instruções que devemos passar para o
paciente antes e após realizar a acupuntura, aprendemos como inserir a agulha e a realizar a vinda do
De Qi na agulha. Além disso, vimos alguns protocolos para o tratamento de patologias. Não se desespere
sobre algum termo, lembre-se que a teoria chinesa possui mais de 5 mil anos, assim, a construção desse
conhecimento ocorre aos poucos, mas, ao mesmo tempo, tenho certeza que você conseguirá colocar
os princípios em prática e impactar a vida de alguém, trazendo um equilíbrio energético para o seu
paciente graças aos seus conhecimentos!
Agora que você já aprendeu sobre as formas de agulhamento, compre uma agulha de acupuntura,
pode ser a 0,25 x 30 mm, e tente agulhar em uma maçã, almofada ou panceta de porco, para treinar
sua mão para as formas de colocação e estímulos da acupuntura!

113
Com base em tudo o que você leu e aprendeu, desenhe os quadrados e complete-os no
mapa mental a seguir. Os tópicos devem ser completados de forma sucinta de acordo
com as informações principais presentes no texto, devem ser completados os seguintes
tópicos: formas de inserção, tonificação e dispersão, além dos cuidados pré e pós-pro-
cedimento de acupuntura, acrescente todos os tópicos que você estudou nas indicações
e contraindicações da moxabustão, e uma breve descrição da moxa direta e indireta.

Patologias com protocolos


Cuidados pré-procedimento

Contraindicações
Acupuntura
MAPA MENTAL

Indicações Moxabustão Materiais utilizados Cuidados pós-procedimento

Agulhas Formas de injeção

Direta Indireta Formas de tonificar

Formas de dispersar

114
1. A moxabustão é uma técnica que usa propriedades térmicas do calor para atingir o equilíbrio
energético do corpo. Sobre essa técnica, assinale a alternativa correta:
a) A moxa seria indicada para o paciente com gripe e febre muito alta (40º), por ser específica para
tratar sintomas de inverno.
b) Moxabustão indireta com gengibre no umbigo é utilizada para tratamentos de fertilidade.
c) A Moxa bastão pode ser utilizada nas costas por meio do método indireto para aliviar dores.
d) Há vários tipos de plantas utilizadas para fazer os bastões de moxa, como a sálvia, gengibre,
palo-santo, artemisia etc.
e) A moxabustão é mais indicada para elevar a energia Yin e tonificar o Qi.

AGORA É COM VOCÊ


2. É essencial para um terapeuta estar atento aos seu paciente e as recomendações da técnica a
ser aplicada no tratamento. Sobre a técnica de acupuntura, assinale a alternativa com a conduta
correta.
a) Seu José, após acordar às 8 horas da manhã e passar no bar para tomar aquelas seis doses
matinais de cachaça, em jejum, procura o seu atendimento para solucionar uma dor nas costas,
a sessão deve ser realizada imediatamente.
b) Ana está grávida de seis meses, os pontos IG4, BP6, B60 e B67 serão ótimos para ajudá-la a ter
um bom parto.
c) Ao final do tratamento de Juninho, ao retirar uma agulha da coxa dele, você percebe o encur-
vamento da agulha por conta da contração do músculo, assim a melhor conduta é pegar uma
pinça e “arrancar a agulha com força”.
d) Maria, estudante com ansiedade, ao chegar na sua clínica de bem-estar, poderá ser tratada com
os pontos Yintang, F3 e IG4, por exemplo.
e) Após sessão para fibromialgia, a “crossfiteira” Joana, pode ir realizar atividade física imediatamente
ao sair de sua clínica!

3. Sobre as doenças, segundo a medicina chinesa, assinale a alternativa correta.


a) O AVE ocorre devido a um golpe de vento, normalmente advindo do estômago e intestino grosso
e pode demorar anos para se manifestar.
b) Para tratar a ansiedade, deve-se sedar o coração, acabar com a estase, agitar a mente e nutrir
o sangue.
c) A hipertensão por Yang Verdadeiro é genética e agravada pelo consumo de sal, geralmente o
paciente é bem inchado.
d) A gastrite pode ser por Frio ou Calor. A por frio se dá devido ao consumo excessivo de alimentos
quentes (álcool, alimentos ácidos, carnes vermelhas) que, por serem quentes, reduzem o Yang.
e) A constipação intestinal ocorre devido ao excesso de calor que seca os fluidos do intestino, assim
o tratamento tem como objetivo limpar o Calor em excesso, além de promover o movimento
intestinal e umedecer os intestinos.

115
1. C. A Moxabustão é utilizada para aliviar dores pelas suas propriedades anti-inflamatórias e analgésicas.

2. D. Dentre os pontos para o tratamento da ansiedade, esses são descritos para o tratamento, além de outros.

3. E. Na letra A, o AVE é causado mais por um golpe de vento do fígado; na B, deve-se tonificar o coração e
acalmar a mente; na letra C, a hipertensão por Yang Falso é genética; e na letra D a gastrite por calor é
causada pelo consumo excessivo de alimentos quentes.
CONFIRA SUAS RESPOSTAS

116
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REFERÊNCIAS

119
MEU ESPAÇO

120
121
MEU ESPAÇO
MEU ESPAÇO

122
4 Acupuntura para o
Bem-Estar
Me. Fabiola Terra Lucio

OPORTUNIDADES
DE
APRENDIZAGEM

Na Unidade 4, você terá a oportunidade de entrar no mundo dos micros-


sistemas, dentre eles a auriculoterapia, um sistema muito rico em infor-
mação que permite ao terapeuta tratar todos os desequilíbrios do corpo a
partir da análise e estímulos nesta região. A auriculoterapia é um sistema
de baixo custo, que traz um equilíbrio muito bom ao corpo, melhorando
significativamente a qualidade de vida do paciente. Além disso, você apren-
derá sobre a eletroacupuntura, uma técnica que agregou modernização ao
tratamento; por outro lado, você também conhecerá sobre uma técnica
antiga que utiliza abelhas para tratar doenças. Assim, você agregará muito
mais à sua formação como profissional do bem-estar e poderá impactar a
vida dos seus pacientes promovendo muita melhora!
UNICESUMAR

Há um discurso recorrente de que a ansiedade e a depressão são consideradas as doenças do


século. Um fator que normalmente está ligado a essas doenças é a insônia, que acaba afetando o
paciente e, principalmente durante o dia, deixando-o cansado e sonolento, afetando igualmente as
atividades diárias. Agora imagine que chegue um paciente até você que não consiga dormir, pois
teve um estresse pós-traumático, após lutar em uma guerra com outro País. Até hoje, tivemos no
mundo duas guerras mundiais, e uma das grandes sequelas dos sobreviventes é o desenvolvimento
de ansiedade e depressão severa, além da insônia que acompanha essas pessoas. Será que é possível
melhorar a insônia dessa pessoa apenas estimulando a orelha? Se a resposta for afirmativa, que
técnica é esta de estímulo de pontos na orelha?
Caro(a) aluno(a), o tratamento dos pontos de acupuntura na orelha é a chamada acupuntura au-
ricular ou auriculoterapia, uma técnica em que áreas específicas da orelha ou do pavilhão auricular
podem ser devidamente estimuladas por meio de sementes (mostarda e vacaria), cristais, esferas de
metais ou mesmo agulhas. E sim, é possível melhorar a insônia utilizando essa técnica. Um estudo
realizado por King et al. (2015), em Estadunidenses, veteranos da Guerra do Iraque, demonstrou
que a insônia reduziu significativamente no grupo tratado com auriculoterapia, além de melhorar a
qualidade de vida durante o dia dessas pessoas, aumentando o rendimento. King et al. (2015) colo-
caram agulhas filiformes na orelha dos pacientes por trinta minutos e durante três semanas. A partir
desse estudo, você pode perceber que o efeito dessa técnica é muito efetivo para tratar o paciente!
Agora chegou a sua vez! Procure em sua orelha, ou na orelha de uma outra pessoa que servirá
como sua modelo, alguns dos pontos selecionados pela equipe de King et al. (2015), conforme
Figura 1: shemen, coração, rim, subcórtex, endócrino (pineal), cérebro (tronco cerebral), ansiedade
e occipital. Uma vez identificado o ponto, estimule cada ponto com massagem ou com a cabeça de
um palito de fósforo. Não precisa apertar tanto, um leve estímulo de 30 segundos já basta!
Na Figura 1, as bolinhas brancas e pretas representam os pontos em regiões externa da orelha. Os
quadradinhos pretos representam as regiões de borda.

Shemen

Rim

Coração

Cérebro/Tronco cerebral
Subcórtex

Endócrino Occipital

Ansiedade Forehead

Figura 1 - Pontos de tratamento utilizado em veteranos pós-guerra para tratar insônia


Fonte: adaptada de King et al. (2015, p. 583).

124
UNIDADE 4

Uma vez que você estimulou os pontos, reflita os seguintes aspectos anotando-os no Diário de Bordo:
• Qual foi a sua sensação, ou de quem você estimulou, ao apertar o ponto?
• Os pontos estavam doloridos?
• No dia seguinte, volte a este material e anote: houve melhora na noite de sono?

O efeito da auriculoterapia costuma ser rápido, mas se não houver melhoras, aperte os pontos por mais
duas semanas, uma vez por semana e observe os resultados voltando no Diário de Bordo a qualquer
momento para anotar as suas impressões!

DIÁRIO DE BORDO
Acabamos de propor uma problematização e de vivenciar uma experiência de como a auriculoterapia
pode contribuir na melhora do problema de insônia. Essa técnica é também chamada de auriculopun-
tura, aurículo-acupuntura ou apenas aurículo, e é uma técnica que utiliza da orelha como um micros-
sistema. Em outras palavras, a orelha representa todo o organismo. Inclusive alguns livros comparam o
formato da orelha a de um feto, reforçando sobre o conceito de ser um microssistema (WANG, 2008)
como pode ser observado na Figura 2.

125
UNICESUMAR

É interessante apontar que


a prática da auriculoterapia
não é recente. Há muitos rela-
tos e evidências históricas que
demonstram seu uso na Euro-
pa e em regiões vizinhas. Para
ir mais longe ainda, mulheres
do Antigo Egito já utilizavam
pontos auriculares como mé-
todo anticoncepcional, há
mais de 2.500 a.C. Além dis-
so, os povos do Mediterrâneo Cabeça
usavam brincos como forma
de melhorar sua visão (HOU
et al., 2015; EBRAMEC, 2020).
Na Itália, há relatos dentro Mapa do feto invertido
dos escritos de Hipócrates, da-
Figura 2 - Comparação da orelha com a forma de um feto invertido
tados de 400 a.C, sobre a san- Fonte: adaptada de Hou et al. (2015).
gria no dorso da orelha para a
impotência masculina e melhora da ejaculação. Tratamento similar também era utilizado para a
redução de processos inflamatórios em soldados que se feriam na guerra, sendo realizados pequenos
cortes em vasos sanguíneos da orelha, a mesma técnica era utilizada no tratamento de dores nas
pernas (HOU et al., 2015; EBRAMEC, 2020).
Em 1637, um médico chamado Zacatus Lusitanus, cauterizou pontos do ouvido para tratar dores
no nervo isquiático/nervo ciático. O Jornal Francés, Journal des Connanissances Medico-Chirur-
gicales, possui registros de 13 casos de pacientes com dores no nervo ciático, tratados pelo método
de cauterização auricular (HOU et al., 2015). Em 1717, o médico Antônio Maria Valsalva descobriu
um novo ponto na orelha que aliviava a dor de dente, e há inúmeros relatos sobre esse procedimento
sendo realizado juntamente para alívio das dores da extração dentária (HOU et al., 2015).
Em 1810, um professor chamado Ignazio Colla usou uma abelha para estimular o ouvido com o
objetivo de aliviar a dor nas extremidades dos membros inferiores (HOU et al., 2015). No século 20,
precisamente na década de 50, com o Dr. Paul Nogier, a auriculoterapia foi reconhecida pela primeira
vez como um sistema de reflexoterapia em relação ao corpo. Mais uma vez, isso significa que todo o
corpo pode ser tratado pela orelha, é o conceito de microssistema que vimos no começo desta unida-
de, marcando o surgimento de uma nova era para a aplicação da auriculoterapia (HOU et al., 2015).
Os estudos de Nogier nos levaram a descobrir uma série de pontos curativos. Foi ele quem
relacionou a posição dos pontos e aquela ocupada pelo feto invertido, levando a um mapa de re-
flexoterapia (Figura 3). Inclusive, pensar nessa comparação ajuda o auriculoterapeuta a encontrar
mais facilmente os pontos em um mapa para o tratamento, por exemplo, pontos relacionados à
região da cabeça serão encontrados, em sua maioria, onde é a área reflexo, no caso, local onde
imaginaremos “a cabeça do feto” (LEE, 2005).

126
UNIDADE 4

A reflexologia tam-
bém é um mecanismo
de explicação da au-
riculoterapia. Assim,
qualquer alteração
no corpo pode ser
detectada e tratada
pela auriculoterapia.
Para compreender
essa teoria proposta
por Nogier, imagine
uma dor em seu pé
esquerdo e a partir
desse ponto de dor
sairá uma cordinha
do local, como se
fosse o axônio do
neurônio. Essa cor-
da irá se prolongar
até o lado oposto do
corpo, indo para o córtex
cerebral. Assim, responderá por essa dor o lado direito
do cérebro em um ponto X. Do mesmo modo, do ponto
X irá sair outra corda, que irá até a orelha, assim no ponto do pé, como é sempre do lado oposto, a
orelha direita, oposta ao ponto do pé esquerdo estará dolorida (TESSER; NEVES; SANTOS, 2018).
Agora você deve estar pensando, certo: mas se a acupuntura não é chinesa, esse povo não utiliza
a auriculoterapia? Eles utilizavam sim, inclusive, há livros da medicina chinesa que descrevem sobre
o tratamento, registros arqueológicos que permitem afirmar que a auriculoterapia surgiu na China,
sendo que a primeira referência está no livro clássico do imperador amarelo.
No livro supracitado, é descrito, no capítulo 63, do Nei Jing, que em caso de um paciente incons-
ciente, deve-se: “soprar as duas orelhas do paciente com um tubo de bambu e haverá recuperação
imediata.” (WANG, 2001, p. 312). Somando a esse fato, o livro descreve que os membros, os olhos, a
face e a garganta se reúnem por meio da orelha, assim temos vários canais que passam pelas orelhas
ou ao redor destas, e como os canais possuem pares acoplados, por exemplo, fígado e vesícula biliar,
é possível influenciar todos os canais através dos estímulos auriculares. Essa informação foi ressalta-
da por uma publicação em 1572, na China, considerando a orelha como centro da união dos canais
(GARCIA, 2003; EBRAMEC, 2020).
Assim, se a energia dos 12 meridianos se reflete na orelha, um desequilíbrio de energia no canal
e até uma obstrução resultará em pontos dolorosos na orelha, que também serão uma reação reflexa
da energia do canal. Assim, podemos seguir os princípios dos cinco elementos, do Yin e do Yang, para
selecionar os pontos de auriculoterapia, equilibrando os órgãos e as vísceras.

127
UNICESUMAR

Yang Ming do Pé
Yang Ming da Mão
Shao Yang do Pé
Shao Yang da Mão
Tai Yang do Pé
Tai Yang da Mão

Figura 4 - Canais que passam


pela região auricular
Fonte: Garcia (2003, p. 31).

Para ilustrar os pontos, a Figura 4 mostra um com várias linhas na região auricular. Em cada linha, há um
ponto colorido indicando um canal energético. A direita temos a legenda indicando que o círculo azul cor-
responde ao Yang Ming do Pé; o laranja, ao Yang Ming da Mão; o verde escuro, ao Shao Yang do Pé; o verde
claro, ao Shao Yang da Mão; o vermelho escuro, ao Tau Yang do Pé; e o vermelho claro, ao Tai Yang da Mão.
Desde o século 27 a.C, os chineses já mencionavam o tratamento auricular, realizado juntamente
com a acupuntura sistêmica, inclusive Zhou Hou Bei Ji Fang (300 Superior
a 400 d.C). Num manual de emergência, é dito que se pode usar
Coração
óleo de gergelim para irrigar o meato auditivo para tratar a dor
de ouvido, tratamento parecido com a indicação que alguns in-
divíduos fazem atualmente, colocando óleo morno nesta mesma
região para tratar essa dor (HOU et al., 2015).
Apesar de existirem vários relatos sobre a técnica de auriculote- Externo Fígado Baço Pulmão Interno
rapia chinesa, somente em 1888, no livro sobre técnicas essenciais
de massagem (nome chinês, Li Zheng An Mo Yao Shu), escrito por
Zhang Di-Shan, dividiu-se a região auricular em cinco regiões
(Figura 5), com cada uma, respectivamente, visando o coração, Rim

pulmão, fígado, baço e rim (HOU et al., 2015). Foi somente com o
Francês Paul Nogier que realmente houve uma sistematização dos Inferior

pontos de acupuntura, inclusive após a publicação dos Chineses Figura 5 - Divisão das regiões da ore-
lha segundo a Medicina Tradicional
começaram a realizar pesquisas para encontrar um sistema mais Chinesa
parecido com a Medicina Tradicional Chinesa. Fonte: Hou et al. (2015, p. 3).

128
UNIDADE 4

Nesse sentido, existe uma divergência entre pontos em mapas da auriculoterapia Francesa e Chinesa,
mas fique tranquilo(a), pois todos funcionam e possuem sua validade. Por isso, se você perceber
alguma divergência de localização de pontos em materiais de aurículo, saiba que é normal, pois além
da vertente Chinesa e da Francesa há, ainda, algumas colocações de autores sobre pontos com prática
clínica individuais de cada profissional. Neste material, iremos focar mais na Auriculoterapia chinesa.
Agora que você aprendeu um pouco sobre a história da auriculoterapia e o mecanismo segundo a
reflexologia, como será que a pesquisa científica descreve os mecanismos dessa técnica?
Antes de adentrar neste assunto, deve-se retomar o conhecimento sobre os nervos auriculares. A
orelha é composta por nervos cranianos (N. trigêmeo e N. vago) e espinhais (N. auricular maior, N.
auricular menor e N. occipital). Esses nervos permitem a comunicação da orelha com o corpo inteiro.
Vários estudos observaram o efeito dessa técnica para auxiliar no tratamento de diversas patologias
e, apesar dos mecanismos da auriculoterapia não estarem totalmente esclarecidos, sabe-se que o N.
auriculotemporal (ramificação do vago), quando estimulado, libera endorfinas, sendo intimamente
relacionado com a analgesia dos membros superiores (MORÉ; TEIXEIRA; MARTINS, 2018).
Da mesma forma o N. auricular maior também promove a liberação de endorfinas, estado relaciona-
do com a analgesia facial, e o N. vago está relacionado ao controle do reflexo colinérgico e modulação do
sistema límbico. Isso resultará no controle de inflamações e das emoções, tendo efeito, principalmente,
nas vísceras, tórax e em relação ao sistema límbico (controle das emoções), está relacionado aos pontos
auriculares do fígado e do coração (MORÉ; TEIXEIRA; MARTINS, 2018).
Apesar de não estarem totalmente esclarecidos os mecanismos de ação, o que as pesquisas de-
monstram é o controle da dor, inflamação e das emoções, mas a cada dia mais estudos são realizados
tentando compreender os mecanismos biológicos dessa prática terapêutica.
Em relação à irrigação sanguínea da orelha, os vasos sanguíneos da região auricular advêm de
ramos da A. carótida externa, a A. temporal superficial e a A. auricular posterior, e as veias terminam
na V. temporal superficial que se liga com a V. jugular externa (LEE, 2005).
Você acabou de estudar um Ápice do hélice
pouco sobre os nervos e vasos Cabeça do hélice
Escafa (fossa escafóidea)
sanguíneos da orelha. Outra
Tubérculo auricular Fossa triangular
informação anatômica que é
Antélice Joelho do hélice
essencial para um auriculotera-
Ramo ascendente do antélice
peuta é saber a anatomia dessa Concha da orelha
Corpo do hélice
parte do corpo, para poder ter Incisura do supratrago
Raiz do hélice
Hélice
uma boa localização. Dentre as Linha tragal
Trago
regiões superficiais nós temos: Cava
Assoalho da concha
Cauda do hélice
Incisura intertragal
Final da calda e
início do lóbulo Ponte intertragal
Ângulo hélico-lobular Lóbulo Sulco lobular
Antitrago

Figura 6 - Anatomia da região frontal da orelha


Fonte: Dal Mas (2004, p. 2).

129
UNICESUMAR

Convexidade da
No geral, temos a região da hé- fossa triangular
lice que possui formato curvo
e é proeminente, começa na
cavidade da concha do pa- Eminência (face)
Eminência da
vilhão auricular e segue até fossa escafóidea dorsal do hélice
encontrar o lóbulo, quando
Sulco posterior
comparados com a reflexo- do antélice
logia, essas regiões possuem Eminência posterior
muitos pontos anti-inflama- da convexidade da
concha superior
tórios (GARCIA, 2003; DAL
MAS, 2004). A raiz do hélice Eminência posterior
(convexidade) da
surge na região interna da ore- concha cava
lha, ela origina o hélice, e na Sulco do antitrago
reflexologia é análoga à região Face dorsal
do lóbulo
do diafragma, e ao redor dela Ângulo hélico-lobular

(periferia) está a área reflexa Vista posterior da orelha


do sistema digestório (GAR- Figura 7 - Anatomia da região dorsal da orelha
Fonte: Dal Mas (2004, p. 2).
CIA, 2003; DAL MAS, 2004).
E por último, há o antélice, por estar localizado oposto ao hélice, e tem uma bifurcação (que origina
a fossa triangular), essa região está ligada à coluna vertebral (GARCIA, 2003; DAL MAS, 2004).
Essa bifurcação da antélice que origina a fossa triangular: a proeminência do ramo de cima é cha-
mada de cruz superior do hélice (representa os membros inferiores) e a de baixo é denominada de crux
inferior do hélice (representa a inervação de algumas estruturas), e no meio dessas duas proeminências
há a fossa triangular (GARCIA, 2003; DAL MAS, 2004).
Fossa escafoide ou escafa é uma depressão entre a hélice e a antélice, é área reflexa do membro superior
(GARCIA, 2003; DAL MAS, 2004). O lóbulo é uma estrutura localizada na extremidade inferior da orelha,
sendo representante da face e, na parte interna da orelha junto à face, temos uma proeminência denominada
de trago, no geral, é área reflexa do sistema endócrino, e oposto a essa região há o antitrago, localizado
no meio do lóbulo e da antélice, que, no geral, representa o crânio (GARCIA, 2003; DAL MAS, 2004).
A incisura intertragal ou intertrágica, localizada entre o antitrago e o trago, também é área reflexa do
sistema endócrino. A incisura supratrágica, que possui ponto ligado ao ouvido, segundo Farias e Silva
(2018, p.10): “é uma depressão formada pela região anterior e externa da hélice e a margem superior do
trago pouco visível, mas facilmente identificável por palpação”.
Por fim, temos a concha cava (localizada abaixo da raiz do hélice), área reflexa da cavidade torácica,
e a concha da orelha (concha cimba) (superior à raiz do hélice), área reflexa da cavidade abdominal
(GARCIA, 2003; DAL MAS, 2004).
Do ponto de vista histológico, a orelha é composta de tecido cartilaginoso, sendo sustentada por um
tecido conjuntivo, rico em inervações, seu formato no geral é côncavo, ovoide triangular, sendo fina em
baixo e larga em cima (DAL MAS, 2004).

130
UNIDADE 4

Como você acabou de ler, novamente foi nas outras unidades para o equilíbrio
citado sobre as áreas reflexas da orelha, e de um Zang Fu). É muito difícil não utilizarmos
modo geral, nós temos os pontos reflexos, então um desses pontos durante o tratamento
os pontos auriculares são locais específicos da via auriculoacupuntura, uma vez que
orelha que irão refletir a atividade do corpo, as- eles servem para o diagnóstico e trata-
sim, cada ponto corresponderá a uma parte do mento. Por exemplo, imagine que chegue
corpo ou a uma função. Esses pontos de função um paciente extremamente estressado;
terão uma função específica no organismo e, como o stress e irritabilidade estão re-
normalmente, o nome do ponto é relacionado lacionados com o fígado, normalmente
à função deste. Por exemplo, o ponto da ansie- esse ponto estará dolorido ou vermelho
dade trabalhará a ansiedade, existe um ponto (por causa do excesso de Yang). Caso seja
denominado de Ping shuan (ponto da asma, uma pessoa com a pele seca, dermatite,
ele aparece não traduzido normalmente) que estimularemos o ponto do Pulmão, que
acalma a asma. é responsável pela pele.
Segundo Garcia (2003), os pontos auricu- • Sistema Nervoso: são pontos que
lares podem ser classificados em grupos de representam estruturas e parte do
acordo com sua atividade e experiência: sistema nervoso, eles podem excitar ou
• Zona correspondente: recebem o inibir essa estrutura, como o ponto Shen
nome da sua região correspondente, men, que, no geral, acalma o corpo. Os
como joelho, tornozelo, cervical, pulmão, pontos também podem receber o nome
ouvido, dentre outros. A maioria dos de uma função relacionada ao sistema
pontos se enquadra nessa classificação nervoso, como a área da neurastenia
e eles podem ser utilizados tanto para o (transtorno de enfraquecimento do sis-
tratamento quanto para o diagnóstico tema nervoso central).
(normalmente são doloridos quando • Sistema endócrino: são 5% dos pon-
apalpados, indicando a necessidade de tos da auriculoterapia e representam as
se trabalhar na auriculoterapia). glândulas do sistema endócrino, poden-
• Órgãos e vísceras: são onze pontos que do aumentar ou reduzir sua função de
representam os Zang Fu (coração, fíga- produção, ou seja, aumentam a função
do, baço, pulmão, rim, intestino grosso, das glândulas que hipofuncionam e
intestino delgado, vesícula biliar, bexi- reprimem as que hiperfuncionam, um
ga, estômago e o triplo aquecedor ou exemplo de ponto dessa categoria é o
San Jiao). Apesar deles se enquadrarem ponto da suprarrenal.
como zonas correspondentes, por repre- • Pontos específicos: são pontos que
sentarem a função energética dos cincos possuem uma ação bem limitada de
elementos, também possuem essa classi- tratamento e diagnóstico, sendo pontos
ficação separada (inclusive, pode-se uti- “mais diretos” para uma determinada
lizar toda a teoria dos cincos elementos e patologia específica, como o ponto da
trabalhar com eles, igual você aprendeu asma, alergia, ansiedade.

131
UNICESUMAR

• Pontos do dorso da orelha: no geral, os pontos de dorso possuem uma função de espelho
com os pontos anteriores da orelha, assim, se queremos potencializar a ação do tratamento
ou do ponto, se for possível, basta colocar um estímulo na mesma direção do ponto anterior,
ou seja, oposto; é só imaginar se pegasse, por exemplo, um ponto na frente e “enfiasse” um
palito, ele sairia no local do ponto dorsal. Por exemplo: oposto ao ponto do cérebro, está o
rim (no dorso), lembre-se que quem gera a medula é o rim, assim ele tem íntima relação
com o cérebro.
• Outros pontos: existem alguns pontos que recebem a denominação da região anatômica
e estarão relacionados com a área reflexo (que você viu anteriormente na parte de anato-
mia auricular), por exemplo, o ponto do centro da concha (cimba) terá efeito na cavidade
abdominal; de modo geral, pontos da hélice (1-6) são anti-inflamatórios, ápice do trago
(utilizado para fazer sangria).

Para encontrar os pontos auriculares, lembre-se de imaginar um feto na posição cefálica, no geral, “o
feto” irá marcar cada uma das partes, contudo, alguns pontos podem fugir dessa regra. Para localizar
os pontos auriculares, usa-se frequentemente um objeto denominado apalpador com a ponta arredon-
dada, existem os com molas (esses são ideais para iniciantes pegar a força de palpação, lembrando que
deve-se fazer uma pressão leve para empurrar a mola) e os sem molas (normalmente utilizados por
profissionais mais experientes que já sabem a pressão adequada na hora da palpação), com esses objetos,
normalmente o paciente sente uma dor no ponto, indicando para o terapeuta que aquele é o lugar que
se deve estimular, mas em casos de muita deficiência de energia, ao retirar o apalpador, percebe-se que,
normalmente, o ponto fica inchado e o paciente não sente nada do apalpador (então deve-se estimular
o ponto). O que é normal o paciente sentir? A
pressão do apalpador doeu (síndrome de exces-
so de energia) ou não sentiu nada (síndrome de
deficiência de energia), deve-se estimular o ponto
(veremos mais à frente as formas de estimulação)
(DAL MAS, 2004).
Ainda existem os localizadores elétricos (mede
o potencial elétrico da orelha, quando houver uma
queda no potencial elétrico, o aparelho emite um
sinal, como acender um led, indicando o local do
ponto) (DAL MAS, 2004)
Contudo, quais pontos podemos apalpar? Para
isso, é necessário um mapa auricular, e como ci-
tado anteriormente, esses mapas podem variar.
Primeiramente, veremos os pontos do lóbulo da
orelha, normalmente essa região é dividida em Figura 8 - Apalpador auricular com mola
nove quadrantes para facilitar a localização. Fonte: Extra ([2020], on-line)1.

132
UNIDADE 4

• Ansiedade: encontra-se
LÍNGUA MAXILAR na região mais interna e
DENTES
inferior do lóbulo. É usa-
do em “quadros de ansie-
NEURASTENIA OLHO OUVIDO INT.
dade, insônia, irritação e
stress emocional” (FA-
ANSIEDADE
AMÍGDALA
RIAS; SILVA, 2018, p. 22).
• Tonsila faríngea
(Amígdala): encon-
Figura 9 - Divisão do lóbulo da orelha e seus respectivos pontos externos (bo- tra-se na região mais
linha preta) interna e central. Ami-
Fonte: adaptada de Garcia (2003).
dalite e faringite (GAR-
• Ponto dos Dentes: localizado no quadrante superior inter- CIA, 2003).
no, é utilizado em tratamentos odontológicos e de periodon-
tites, além de promover redução da dor nesses procedimen- Na concha cava, temos alguns
tos (GARCIA 2003; FARIAS; SILVA, 2018). pontos como:
• Língua: localizado no quadrante mais superior e central do • Boca: localizado próxi-
lóbulo. Ponto empregado no tratamento de doenças da lín- mo a incisura do trago.
gua, como afta, glossite, fissura lingual, também é conhecido Trata doenças da cavi-
como raiz do coração (GARCIA, 2003); dade bucal, faringite,


• Maxilar: laringite, gengivite, úl-
localizado na terça parte posterior e superior do lóbulo da ore- ceras, além de afecções
lha, extremidade inferior do quadrante superior externo do da articulação temporo-
lóbulo. [...] Sinusite, dor na arcada superior (da mandíbula), mandibular, neuralgia do
neuralgia do nervo trigêmeo, bruxismo, disfunção temporo- trigêmeo e acalma a tosse
mandibular e paralisia facial (FARIAS; SILVA, 2018, p. 22). (GARCIA, 2003).
• Neurastenia: também pode ser denominado de ponto do • Esôfago: está abaixo da
lóbulo anterior, está localizado na parte anterior no lóbulo. raiz do hélice. Usado em
Neurastenia e transtornos relacionados ao sono (seja dificul- qualquer doença relacio-
dade para dormir, manter o sono, sono não reparador etc.), nada a essa região, como
alguns autores usam para a ansiedade e depressão, pode haver hérnia de hiato, refluxo e
uma depressão no lugar desse ponto, indicando a presença opressão torácica (GAR-
dessas patologias (GARCIA, 2003). CIA, 2003).
• Olho: encontra-se no centro do lóbulo. Esse ponto trata to- • Estômago: localizado
dos os problemas que envolvem o olho, desde conjuntivite, no final da raiz do hélice
glaucoma e até olheiras, além disso, pode ser utilizado como (onde essa desaparece).
diagnóstico para doenças oftalmológicas (diagnóstico reali- Utilizado no tratamento
zado, por exemplo, pela palpação auricular) (GARCIA, 2003). de gastrites, úlceras, no
• Ouvido interno: localizado na parte externa no quadrante me- geral, de todos os trans-
dial. É usado em qualquer doença que afete essa região do ouvido, tornos gastrointestinais
como otite, vertigem, zumbido, labirintite etc. (GARCIA, 2003). (GARCIA, 2003).

133
UNICESUMAR

• Cardia: abaixo da raiz do hélice, ao lado


do ponto do esôfago. É utilizada em pro-
blemas gástricos e de refluxo, náuseas e ple- Esôfago Estômago
nitude no tórax (cheio) (GARCIA, 2003).
Boca Cárdia
• Baço: localizado no bordo superior e ex-
Pulmão 1
terno da concha cava, somente do lado Baço
Coração
esquerdo. Usado quando a pessoa possui
muitos pensamentos excessivos, melhora Pulmão 2
do metabolismo hídrico (retira patóge- Traqueia
nos de umidade do corpo), hemorragias,
atrofia muscular, problemas digestivos, SJ (San Jiao)

distensão abdominal, constipação, pro-


lapsos em geral (GARCIA, 2003). Figura 10 - Pontos da concha cava
Fonte: adaptada de Garcia (2003).
• Coração: depressão no centro da concha
cava. Acalma, deixa o sono tranquilo, ponto auxiliar para tratamento da insônia, taquicardia,
dispneia e hipertensão (GARCIA, 2003).
• Pulmão: existem, na verdade, dois pontos do pulmão, um acima e abaixo do coração, ambos
com as mesmas funções. Tratam qualquer patologia do trato respiratório, alergias, problemas
de pele e melancolia/tristeza (GARCIA, 2003).
• Traqueia: na metade da distância do ponto do coração e do conduto externo do ouvido. Acalma
a tosse, fleuma (“catarro grosso”), laringite, asma e bronquite (GARCIA, 2003).
• San Jiao (Triplo Aquecedor): também denominado de ponto do metabolismo: está localizado
abaixo do ponto do pulmão, no nível do meato acústico externo (terço inferior). Usado para aque-
cer as três partes do corpo, ansiedade, regular o metabolismo, acalma dor, auxilia paralisia facial,
odontalgias, neuralgia do trigêmeo e enxaqueca, ele influencia todos os Zang Fu (GARCIA, 2003).

Na concha da orelha (concha cimba), teremos mais pontos relacionados com o abdômen.

PRÓSTATA GLÚTEO
BEXIGA URETER
AB

RIM
M
EN

CENTRO DA CONCHA
PÂNCREAS
IG V.B
RETO
ID
OUVIDO EXT.
FÍGADO D
Figura 11 - Pontos externos da concha cimba
Fonte: adaptada de Garcia (2003).

134
UNIDADE 4

• Fígado: bordo póstero-inferior (localizado somente na orelha direita). Distúrbios menstruais,


tensão muscular, irritabilidade, tendinite, hemorragia e estresse (GARCIA, 2003).
• Pâncreas: localizado na orelha esquerda, no bordo externo da concha da orelha (concha cimba).
Diabetes e outras patologias relacionadas como pancreatite (GARCIA, 2003).
• Vesícula biliar: localizado na orelha direita, no bordo externo da concha da orelha (concha
cimba). Náuseas, dor muscular, gosto amargo na boca, problemas no fígado e insegurança
(GARCIA, 2003).
• Rim: ponto muito importante! Localizado em uma cavidade pequena por baixo da cruz inferior
da antélice. Usado para nutrir o Jing, problemas sexuais, medo, pânico, clareia a visão e fortalece
o corpo no geral (GARCIA, 2003).
• Ureter: região interna da concha da orelha (concha cimba), abaixo do ramo da antélice. Trata
distúrbios do trato urinário (GARCIA, 2003).
• Bexiga: localizado abaixo do ramo inferior da antélice. Utilizada em afecções urinárias, como
infecções, incontinência, além de insegurança e prostatite (GARCIA, 2003).
• Intestino Delgado: bordo superior da raiz da hélice. Problemas digestórios, constipação, diar-
reia, insônia e taquicardia (GARCIA, 2003).
• Intestino Grosso: bor-
do superior da raiz da
hélice ao lado (mais
interno) do intestino
delgado. Problemas di- Ápice
da orelha
gestivos, constipação,
Yang do fígado 1
diarreia, hemorroidas e Ânus
Nervo Hélice 1
flatulências (GARCIA, occipital
menor Yang do fígado 2
2003). Genitais
externos
• Próstata: localizada no Uretra
ângulo anterior e supe-
Reto
rior da concha da orelha Hélice 2
Ponto zero
(concha cimba), e abaixo
do ramo inferior da an-
Hélice 3
télice. Patologias relacio-
nadas à próstata, como
hiperplasia e ejaculação
Hélice 4
precoce, e na mulher
pode ser utilizado para
Hélice 5
patologias urinárias
(GARCIA, 2003).
Hélice 6

Na hélice, os pontos são:


Figura 11 - Pontos externos da hélice. Bolinha preta representa os pontos externos
e o triângulo, os pontos internos
Fonte: Farias e Silva (2018, p. 26).

135
UNICESUMAR

• Ponto Zero: está no primeiro ramo ascendente do hélice. Possui ação analgésica (FARIAS;
SILVA, 2018).
• Reto: está acima do trago. Hemorroida, sangue nas fezes, fecaloma, melena e outras patologias
relacionadas à região (FARIAS; SILVA, 2018).
• Uretra: localizada acima da hélice. Afecções do trato urinário, como uretrite e urolitíase (pedra
no rim) (FARIAS; SILVA, 2018).
• Genital externo: localizado na parte ascendente da hélice, no lado externo, na mesma direção
do ramo inferior da antélice. Trata doenças relacionadas aos genitais, como prurido (coceira)
(FARIAS; SILVA, 2018).
• Ânus: sobre a hélice, no nível da borda inferior da cruz da antélice. Usado no tratamento de he-
morroidas e coceira anal (FARIAS; SILVA, 2018).
• Ápice da orelha: é um ponto muito importante, que fica bem na ponta da orelha, normalmente é
realizada a técnica de sangria nesse ponto, com lancetas para reduzir picos de hipertensão arterial,
alergias, redução de dores e harmonizar as emoções (FARIAS; SILVA, 2018).
• Yang do fígado: localizado perto do tubérculo auricular, antigo Tubérculo de Darwin, na região
superior. É ponto com muita importância, pois reduz o calor do fígado e tensões da musculatura,
além disso acalma, pode ser utilizado em quadros de dor de cabeça, vômitos em jato e tontura,
sendo bastante utilizado na técnica de sangria (FARIAS; SILVA, 2018).
• Nervo occipital menor: localizado no tubérculo auricular, na parte interna. É utilizado para dores
da região cervical, incluindo dor de cabeça nessa região (FARIAS; SILVA, 2018).
• Hélice 1-6: localizados ao longo do hélice até o lóbulo da orelha. São anti-inflamatórios (FARIAS;
SILVA, 2018).

No Trago, temos, em sua parte


superior, o ponto do ouvido ex-
terno que pode ser utilizado em Ouvido externo
disfunções da articulação têm- Órg. Coração
poro-mandibular, alterações au-
Laringe
ditivas, zumbido, otite e coceira.
Ápice do trago
E há os outros pontos localiza- Sede
dos no trago em si, que são:
• Fome: esse ponto regula Fome Nariz interno
o apetite.
• Sede: localizado na me- Supra-renal
tade superior do trago.
Regula o mecanismo
da sede, sendo utilizado
muito na diabetes.
Figura 12 - Pontos do Trago. Bolinha preta representa os pontos externos e o
triângulo, os pontos internos
Fonte: adaptada de Garcia (2003).

136
UNIDADE 4

• Órgão coração: está localizado acima e por dentro do ponto do ápice do trago, acima da laringe.
É utilizado em patologias do próprio órgão coração, como taquicardia e fibrilação.
• Laringe: está na face interna do trago sobre a metade superior deste. Utilizado em doenças da
laringe e da faringe, como amidalites, faringite, afonia (sem voz), bronquite, traqueíte etc.
• Suprarrenal: localizado na metade inferior, no lado externo, abaixo da proeminência central
do trago. Esse ponto equilibra a função destas glândulas, pode ser utilizado em estados febris,
alergia, estados de pânico, esse ponto também controla o tônus do sistema vascular, por isso é
contraindicado em pessoas com hipertensão arterial.
• Ápice do trago: no lado externo no Trago, na metade superior, acima da proeminência central
do ápice dessa região. Ponto com ação anti-inflamatória, analgésica e reduz a febre.
• Nariz Interno: está na face interna do trago, na metade inferior deste. É utilizado em afecções
do nariz, como rinite, sangramentos, resfriados e obstrução nasal.

Na incisura intertrago, há pontos que, em sua maioria, são reflexos do sistema endócrino:
• Endócrino: base da incisura intertrago. Trabalha, no geral, problemas hormonais, diabetes,
tireoide, artrite reumatoide, lúpus e até alergia (GARCIA 2003; FARIAS; SILVA, 2018).
• Ovário: também está localizado na incisura intertrago, no começo da borda interna do antitrago.
Trata todas as afecções relacionadas a essa região (infertilidade, por exemplo) e também distúr-
bios hormonais relacionados (problemas menstruais) (GARCIA 2003; FARIAS; SILVA, 2018);
• Visão 1: margem
ântero-inferior da inci-
sura intertrago. Afecções
oftalmológicas, como
glaucoma, inflamação
na retina, entre outras
(GARCIA 2003; FA-
RIAS; SILVA, 2018).
• Visão 2: borda póste- Endócrino
ro-inferior da incisura
Visão 1 Ovário
do intertrago. Usado em
problemas oftalmológi- Visão 2
cos, mesmas indicações
do ponto visão 1, sen-
do este melhor para a
conjuntivite (GARCIA,
2003; FARIAS; SILVA,
2018).
Figura 13 - Pontos externos da Incisura intertrágica
Fonte: Farias e Silva (2018, p. 29).

137
UNICESUMAR

No antitrago, temos pontos internos, que se situam dentro “das voltas da orelha” que normalmente não
enxergamos ao olhar ela de frente, e pontos externos, que se situam na região que enxergamos, muitas
vezes, ao olhar de frente. Alguns dos pontos do antitrago são:
• Subcórtex: na parte interna do antitrago, localizado em sua região inferior. Regula o córtex
cerebral, sendo utilizado para ansiedade, depressão e alívio de dores (FARIAS; SILVA, 2018).
• Asma (Ping Chuan): face externa abaixo do ápice do antitrago. Ponto utilizado para acalmar
a asma, tosse, falta de ar, bronquite e enfisema no pulmão (GARCIA, 2003).
• Fronte: na linha inferior do ponto da asma, abaixo da linha em forma de arco, no lado externo
do antitrago. Fortalece a mente, ajuda na visão, melhora a concentração e a dor de cabeça nessa
região (GARCIA, 2003).
• Temporal (ou Tai Yang): localizado lateralmente ao ponto da fronte (lado mais externo). Fun-
ção de analgesia (enxaqueca, labirintite, dor de cabeça nessa região), clareia a visão e melhora
a audição (GARCIA, 2003).
• Occipital: está na região extrema, póstero-inferior da linha em forma de arco, na parte externa
do antitrago. Utilizado para tontura, dor de cabeça occipital, acalma a convulsão e o pânico, além
de ter função hipotensora (têm função sedativa, acalma) (GARCIA, 2003).
• Hipófise: localizado na
frente da borda supe-
rior do antitrago. Trata
afecções relacionadas à
hipófise (ex. adenomas), Hipófise
hemorragias e ginecoló-
gicas (ex.: impotência,
menstruação irregular) Tronco
Encefálico
(GARCIA, 2003). (TE)
Subcórtex
• Tronco Encefálico
(TE): na borda posterior
do sulco superior do an-
titrago (sobre ela). Possui Occipital
Asma
função sedante, acalma (Ping Chuan)
Temporal
a mente, reduz a febre, (ou Tai Yang)
melhora a concentração,
pode ser utilizado para a
esquizofrenia, epilepsia, Figura 14 - Pontos do antitrago. Pontos em círculo preto são os pontos ex-
pânico e compulsão. ternos, e o triângulo preto, pontos internos
Fonte: Farias e Silva (2018, p. 30).

138
UNIDADE 4

A próxima região é a fossa escafoide (ou escafa), nela estão localizados mais pontos com ação nos ossos
e músculos, dentre eles temos:
• Clavícula: no centro da fossa escafoide, na direção do ponto do coração. Dores, luxação ou
quebra do osso da clavícula (FARIAS; SILVA, 2018).
• Nervo Auricular Maior (NAM): inferior ao ponto da clavícula, ele sai um pouco da escafa,
mas é considerado por alguns autores como pertencente a essa região. Indicado para reduzir
dores dos membros superiores, dores que começam no pescoço e irradiam para o ombro e dor
de cabeça da região occipital (GARCIA, 2003; FARIAS; SILVA, 2018).
• Ombro: localizado no terço médio da fossa escafoide, no mesmo nível do ponto do fígado. Trata
afecções desta região, principalmente na articulação, com ênfase em movimentos de abdução
e supinação (GARCIA, 2003; FARIAS; SILVA, 2018).
• Articulação do ombro: no terço médio da fossa escafoide (dividir em três partes, de cima
para baixo), entre o ponto do ombro e da clavícula. Usado para artrite e entorse desta região.
Atenção! Esse ponto mais o do ombro e da clavícula são usados em conjunto para tratar artrite
e bursite dessa articulação (GARCIA, 2003).
• Cotovelo: ao dividir a escafa em cinco partes iguais, esse ponto estará na terceira parte de cima
para baixo, no centro da fossa. Ajuda no tratamento de patologias do cotovelo (ex.: traumas,
artrite etc.) (GARCIA, 2003).
• Punho: ao dividir a escafa em três partes, está localizada no terço superior. Utilizado em todas
as patologias que afetam o punho, inclusive na síndrome do punho do carpo (GARCIA, 2003;
FARIAS; SILVA, 2018).
• Alergia (ponto do manancial de vento): localizado entre o ponto do punho e dos dedos.
Ponto muito interessante utilizado em alergias, em estados de alergias agudas há a presença
de telangiectasias sob
o ponto e, em caso de
crônicas, como afecções
alimentares, apresenta
inchaço e coloração mais Dedos da mão (Falanges)
pálida (GARCIA, 2003). Alergia
Punho
• Dedos da mão (Falan-
ges): está no extremo su-
perior da fossa escafoide. Cotovelo
É utilizado em todas as
Ombro
patologias que envol-
vem os dedos, incluindo Articulação
do ombro
a síndrome de Raynaud,
Clavícula
luxação, dermatite, entre
Nervo Auricular
outras (GARCIA, 2003; Maior (NAM)
FARIAS; SILVA, 2018).
Figura 15 - Pontos do externo (bolinha preta) da fossa escafoide
Fonte: adaptada de Farias e Silva (2018).

139
UNICESUMAR

A região da antélice provavelmente será utilizada com muita frequência por você, futuro terapeuta, visto
que nela está situada a região da coluna vertebral. Uma das maiores queixas dentro da clínica é justamente
a famosa dor nas costas!
• Pescoço: está no nível da região cervical, no bordo interno da antélice. Atua sobre afecções do
pescoço, inclusive alterações da glândula tireoide, além de dores, como a do torcicolo e cervicalgia
(GARCIA, 2003; FARIAS; SILVA, 2018).
• Região cervical: quando dividida em cinco parte, a região da antélice estará na primeira parte
inferior (de baixo para cima) (corresponde C1-C7) na parte. Trata todas as doenças da região cer-
vical, desde inflamações musculares até hérnias de discos (GARCIA, 2003; FARIAS; SILVA, 2018).
• Tireoide: está entre o ponto do tronco cerebral e a área do pescoço. É um ponto utilizado no diag-
nóstico e tratamento de doenças da tireoide (hipotireoidismo /hipertireoidismo e nódulos presentes
nessa glândula) (GARCIA, 2003).
• Área do Tórax: está no nível da região torácica (interna) e dorsal (externa) (corresponde T1-T12).
Trata patologias dessa região, e isso se expande além da região da coluna, incluindo a parte ventral
do corpo, tratando angina no peito, dores intercostais, opressão no tórax e hérnia de disco (GARCIA,
2003; FARIAS; SILVA, 2018).
• Área do abdômen: está no bordo interno da região da antélice, no mesmo nível da região lombar.
Trata afecções do abdômen, isso abrange inflamações do intestino, diarreia, constipação, dor pós-
-parto e é um ponto muito utilizado no tratamento da obesidade. Uma informação muito útil no
diagnóstico é que se a dor ou um sinal (telangiectasias, região vermelha ou brando) estiver próxima à
cruz inferior da antélice, indica uma patologia a nível do hipogástrico, e quanto mais perto da região
do tórax, corresponde a uma do epigástrico (GARCIA, 2003).
• Área Lombar: está localizado entre a região sacral e dorsal (mesmo nível do abdômen). É utilizada
em tratamentos da colu-
na com ênfase nessa área,
desde lombalgias até hi-
perplasia óssea. Normal-
ÁREA SACRAL (CÓCCIX)
mente, quando essa área
apresenta a cor branca, o ÁREA LOMBAR

paciente está com lombal-


Área do
gia devido à deficiência abdômen

do rim (GARCIA, 2003). ÁREA DO TÓRAX

• Área Sacral (Cóccix):


está na extremidade su-
perior da antélice, na bi- Pescoço
furcação da cruz superior
e inferior. Utilizada no REGIÃO CERVICAL

tratamento de hérnias de
Tireóide
disco, dores musculares/
inflamações nessa região Figura 16 - Pontos externos (bolinha preta) da cruz superior da antélice
(GARCIA, 2003). Fonte: adaptada de Farias e Silva (2018).

140
UNIDADE 4

O Ramo (ou cruz) superior da antélice possui pontos que atuam em dores músculoesqueléticas, com
foco nos membros inferiores:
• Quadril (ou Articulação do quadril): localizado no centro da antélice, bem no começo
(parte superior desta). É utilizado para tratar qualquer patologia desse local, incluindo desgaste
de osso e dores do quadril (GARCIA, 2003).
• Articulação do joelho: está bem no centro do ramo superior da antélice. Trata afecções dessa
região, incluindo dores, artrite, traumas, entre outros (GARCIA, 2003; FARIAS; SILVA, 2018).
• Tornozelo: está no meio dos pontos do calcanhar e da articulação do joelho, perto da fossa
triangular. Todas as patologias dessa região podem ser tratadas com esse ponto, desde dores,
luxações, artrite e até fraqueza (FARIAS; SILVA, 2018).
• Calcanhar (calcâneo):
arte superior da antélice,
na borda interna da héli-
ce. Pode ser utilizado no
tratamento do esporão
de calcâneo e dores dessa
Artelhos
região (GARCIA, 2003). Calcanhar

• Dedos dos pés (arte-


Tornozelo
lhos): borda externa Articulação
do joelho
do ramo superior da
Articulação
antélice na região mais do quadril
superior. Utilizado em
doenças relacionadas às
articulações dos dedos,
incluindo trauma e cir-
culação sanguínea insu-
ficiente (GARCIA, 2003).

Figura 17 - Pontos externos (bolinha preta) da cruz superior da antélice


Fonte: adaptada de Farias e Silva (2018).

141
UNICESUMAR

No ramo inferior da antélice, há um dos pontos muito utilizados no dia a dia do terapeuta, o ponto
do nervo ciático!
• Glúteo: quando se divide a região em três partes, ele está no primeiro terço (do lado externo da
orelha); ponto versátil, utilizado principalmente para dores nessa região, do sacro e do ciático
(GARCIA, 2003).
• Ciático: quando se divide a região em três partes, esse ponto se encontra na parte medial. Possui
uma função de sedação e analgesia, sendo específico para dores do ciático; quando esse ponto é
utilizado na forma de ponto espelho (colocado na região anterior e posterior), há uma melhora
da dor, que é praticamente imediata (GARCIA, 2003).
• Simpático: atenção! Ponto extremamente importante na auriculoterapia! Esse ponto fica um
pouco escondido, mais precisamente na região do terço interno da cruz inferior da antélice, bem
onde ela se insere no lado interno da hélice. As funções dele envolvem relaxamento dos múscu-
los lisos, assim ele atinge todos os órgão internos, reduzindo suas dores (gastrite, dor intestinal,
cálculo renal (pedra no
rim), dentre muitos ou-
tros) e estabilizando os
órgãos, no geral, pode ser
utilizado em problemas
digestivos, respiratórios,
da circulação e espasmos
musculares, é vasodilata-
dor (pode tratar hiper-
tensão), regula as secre- Nervo ciático
Glúteo
ções (internas), podendo Simpático
ser utilizada em casos de
alopecia, suor em exces-
so, dermatite etc. Por úl-
timo, tem função impor-
tante no tratamento para
parar de fumar (normal-
mente a pessoa reduz a
quantidade de cigarros) Figura 18 - Pontos externos (bolinha preta) e interno (triângulo preto) do
(GARCIA, 2003). ramo inferior da antélice
Fonte: adaptada de Farias e Silva (2018).

142
UNIDADE 4

Por fim, a última região que veremos é a Fossa Triangular, região que tem um dos pontos mais im-
portantes desse microssistema, o Shen men. Ponto utilizado em quase todas as doenças do mundo
moderno, existem alguns terapeutas que utilizam esse ponto em todos os tratamentos, tamanha sua
importância, então começaremos por ele:
• Shen men (man): ponto muito importante, localizado no vértice, onde há a divisão da cruz
superior e inferior da antélice, em seu bordo superior. Esse ponto acalma qualquer tipo de dor,
possui função sedativa (acalma o sistema cardiovascular, a respiração e o sistema digestório) e
possui ação anti-inflamatória. Quando esse ponto está dolorido à palpação, indica a presença
de uma doença que causa dor ou neurastenia.
• Pelve: está no bordo interno, do cruzamento dos ramos superior e inferior da antélice. Usado
para tratar dores no baixo ventre, alterações menstruais e afecções da próstata, como prostatite
(GARCIA, 2003; FARIAS; SILVA, 2018).
• Anexos (do útero): localizado no primeiro terço da fossa triangular, entre o ponto da pelve
e do colo. Utilizado para tratar inflamação dos ovários ou das trompas uterinas, alterações
menstruais e leucorreia. Em homens, são utilizados para tratar dores no baixo ventre e afecções
relacionadas à próstata (GARCIA, 2003).
• Colo (do útero): está
localizado entre o ponto
dos anexos e do útero.
Trata qualquer doença
relacionada ao colo ute-
rino, como inflamações
(GARCIA, 2003).
• Útero: está próximo da
hélice, na depressão in-
terna da fossa triangu- Colo Shen men
lar. Pode aparecer com o Pelve
nome de genitais inter- Anexos (do útero)
nos. É usado para tratar
distúrbios da menstrua-
ção, miomas, endome-
triose e disfunções se-
xuais (GARCIA, 2003).

Figura 18 - Pontos externos (bolinha preta) da cruz superior da fossa triangular


Fonte: adaptada de Farias e Silva (2018).

143
UNICESUMAR

Caro(a) aluno(a), agora que já vimos alguns pontos e suas funções, você já sabe selecionar quais pon-
tos utilizar de acordo com a doença que o paciente apresentará, isso porque a auriculoterapia pode
ser trabalhada de acordo com a função dos pontos. Existem alguns protocolos criado por autores,
segundo sua prática clínica para algumas doenças, como o triângulo cibernético, proposto por Souza
(1991). Nesse protocolo, devem ser estimulados os pontos Shen men, rim e simpático, nessa ordem,
eles potencializam qualquer tratamento, inclusive os de acupuntura sistêmica! Assim, para qualquer
desequilíbrio no corpo que você for tratar, pode iniciar com esses três pontos!
Quadro 1 - Protocolos de auriculoterapia

Patologia Ponto Observação


Alergia Ponto da alergia, sangria no ápice, shen
men, endócrino e pulmão.
Cefaleia Occipital, frontal, shen men, subcortpex e Definir os pontos de acordo com a
nervo occipital menor. região da dor.
Cistite Bexiga, rim, genitais externos, subcortex e
sistema nervoso simpático.
Depressão Shen men, fígado, vesícula biliar, frontal,
temporal e coração.
Gastrite Sistema nervoso simpático, shen men, es-
tômago, baço, abdômen e fígado.
Hipertensão Shen men, fígado, rim, coração e sangria
no ápice.
Insônia Shen men, coração, occipital, rim e sangria
no ápice.
Náusea e vômito Estômago, baço, shen men, occipital, fíga-
do, vesícula biliar, boca e subcórtex.
Obesidade Shen men, boca, rim, estômago, endócrino Pode colocar o ponto da ansiedade.
e fome.
Prisão de ventre Intestino grosso, baço triplo aquecedor
(sanjiao), abdômen e reto.
Prostatite Próstata, bexiga, endócrino e pelve.
Taquicardia Coração, intestino delgado, sistema nervo-
so simpático, shen men e subcortéx.
Tontura Fígado, vesícula biliar, ouvido externo, occi-
pital, sangria no ápice e no yang do fígado.
Tosse Pulmão, ping shuan, laringe, occipital, tron-
co cerebral e shen men.
TPM Fígado, ovário, endócrino, hipófise e rim. Colocar ponto do útero quando não
estiver no período menstrual.
Hérnia de disco Fígado e shen men. Colocar na antélice, o estímulo na
área correspondente à dor/ hérnia.
Fonte: adaptado de Garcia (2003), Fonseca (2011) e Lee (2005).

144
UNIDADE 4

A auriculoterapia, como você pôde ver, é uma que vão desde o tamanho de um grão de
técnica simples, em que os pontos podem ser gergelim a um feijão, eles indicam dor/pro-
selecionados por vários métodos, seja pensando cesso inflamatório, estagnações que levam
em sua função, correlacionando os sintomas do à dor ou doenças crônicas. As descamações
paciente à teoria dos cinco elementos (pois temos indicam doenças dermatológicas, como a
os órgãos e vísceras), a do Yin e Yang. Pode-se, in- dermatite ou a presença de uma doença
clusive, analisar o pavilhão auricular, para isso, é aguda na região reflexa. E por fim, as de-
importante que você esteja em um ambiente com pressões, que podem aparecer em forma de
boa iluminação, não manipule a orelha do paciente gomos, sulcos ou linhas significam lesões
antes da avaliação, não deve-se higienizar a orelha em forma de úlcera (ex.: depressão no estô-
do paciente antes de analisá-la e é recomendado mago, úlcera no estômago) ou após cirur-
até realizar um registro fotográfico para notar mu- gias, como extrações dentárias em regiões
danças nessa região do paciente. relacionadas (GARCIA, 2003).
No geral, você deve observar mudanças na cor,
morfológicas e vasculares: Atenção, aluno(a), nem sempre a pessoa apresenta
• Na coloração, podemos pensar princi- sintomas/queixa em relação a alterações vista aci-
palmente no Yin e Yang, em caso de uma ma no pavilhão auricular, para confirmar se você
coloração mais vermelha, teremos um deverá colocar um estímulo nesse ponto, deve-se
predomínio de Yang, e de uma coloração usar um apalpador ou até a ponta dos dedos, o
pálida, Yin. Uma cor arroxeada indica uma ideal é que seja um instrumento de metal com
inflamação aguda (de acordo com o local, a ponta romba. Para isso, você deverá colocar o
você deverá relacionar com o ponto); por paciente sentado ou deitado e realizar o método
outro lado, uma mais vermelha e clara sig- de palpação em ambas as orelhas. Segundo Farias
nifica uma doença aguda ou presença de e Silva (2018, p. 43), para usar o apalpador deve-se:



dor. A coloração branca, vermelha escura
ou marrom indicará um processo crônico Segurar e esticar o pavilhão auricular fir-
(SOUZA, 1991; GARCIA, 2003). memente com uma mão, enquanto segura o
• As alterações vasculares dizem respeito a apalpador com a outra mão. Deslizar sobre
pequenas veias, denominadas de telangiec- a superfície lentamente, parando em peque-
tasias ou, ainda, sobre as angiectasias, que nas regiões sensíveis a pressão levemente
são vasos sanguíneos dilatados. Se estes es- aplicada. Apalpe áreas auriculares que você
tiverem com uma cor azul, significa a pre- suspeita serem reativas por sua correspon-
sença de doenças crônicas, por outro lado, dência com as partes do corpo em que o
caso estejam vermelhos, pode significar a paciente tem dor ou queixas relatadas.
presença de dores, inflamação ou problemas
de circulação na região que o ponto reflexo É interessante notar a reação do paciente, lem-
está ligado (SOUZA, 1991; GARCIA, 2003). brando que ele sentirá a palpação, mas sinais de
• As alterações morfológicas podem apare- dor ou nenhum sinal serão indicativos que o
cer de, basicamente, três tipos: os nódu- ponto deve ser estimulado. Para isso, você pode
los, as descamações e as depressões. Os classificar a reação do/a paciente de acordo com
nódulos aparecem como proeminências, Garcia (2003, p. 170):

145
UNICESUMAR

ESCALA DE REAÇÃO DE DOR DO PACIENTE


Quando existe Quando o Quando o
reação dolorosa paciente paciente geme,
referida pelo enruga as por dor ou esta
paciente. sobrancelhas. é irresistível.

Quando não Quando o Quando o paciente


existe reação paciente pisca esquiva o pavilhão,
dolorosa. por causa da dor. por dor.
Figura 19 - Classificação da reação de acordo com a escala de dor
Fonte: a autora.

Caro(a) aluno(a), após você ter analisado o pavilhão auricular, no geral, você deve selecionar de oito
a dez pontos, sempre focando na queixa principal do paciente. É interessante, na técnica de auriculo-
terapia, sempre tratar uma queixa por vez, assim se, por exemplo, a Dona Maria chegar em sua clínica
se queixando de dor nas costas, zumbido no ouvido e ansiedade, você deverá iniciar pelo que mais
incomodá-la, e somente após essa queixa ser tratada, deverá seguir para a próxima.
O tratamento sempre é feito por ciclos de 5 a 10 sessões, com intervalo de um mês, com o paciente
sempre retornando uma vez por semana no seu consultório para avaliação, aplicação do estímulo e,
caso seja necessário, alteração dos pontos (GARCIA, 2003).

Hoje em dia, é muito comum gestantes procurarem um profissional da área de bem-estar


por preferirem tratamentos mais naturais que preservam esse momento especial pelo qual
a futura mamãe está passando, sendo assim, como será que devemos proceder com a au-
riculoterapia nessas mulheres?
A indicação clássica é que dos quarenta dias de gestação até o terceiro mês não é indicada
a prática da auriculoterapia, sendo que somente após os cinco meses de gestação, caso
seja necessário, o tratamento deve ser realizado pela técnica de estímulo dos pontos com
sementes, mas de forma leve, e a manipulação muito leve também. Além disso, não se deve
usar os pontos do útero, abdômen, ovário e endócrinos, pois estes podem levar ao aborto
(GARCIA, 2003).
A partir disso para complementar seu senso crítico sobre o assunto, leia o artigo de opinião
de Neves (2018) intitulado “Auriculoterapia e gestantes... Há motivos para receio?”
Disponível em: http://dx.doi.org/10.19177/cntc.v7e12201851-54

146
UNIDADE 4

Caro(a) aluno(a), você já aprendeu sobre cada ponto da auriculo e como fazer o diagnóstico pela
visualização e palpação do pavilhão auricular. Você já sabe que deve estimular os pontos auriculares,
mas o que será que podemos utilizar para esse estímulo, quais serão os materiais?
Atualmente, o estímulo mais utilizado são as sementes, por terem baixo custo, fácil aceitação pelo
paciente (não são invasivas), podem ser retiradas pelo paciente na casa dele e para estimular basta
apertar os pontos. Na verdade, o importante é que o material possua um certo grau de dureza e seja o
mais liso possível para não machucar o tecido da orelha. Normalmente, utiliza-se a semente de pro-
priedade neutra de vacaria, uma sementinha preta que, por ser neutra, irá regular o ponto conforme
precisa (SOUZA, 1991; GARCIA, 2003).
Também são muito utilizadas as sementes de mostarda (propriedades quentes e tonificantes), cris-
tais (propriedades sedantes) ou esferas metálicas (ouro,tonificante; prata, sedante), contudo, no geral,
o importante é o estímulo realizado na palpação da semente, para isso, você orientará o paciente a
realizar uma automassagem nas orelhas sobre as sementes, de três a cinco vezes ao dia, estas podem
permanecer na orelha de três a sete dias, sendo que o ideal é o paciente ficar 24h sem as sementes na
orelha para as próximas serem colocadas (SOUZA, 1991; GARCIA, 2003).
• É interessante ressaltar que, no início do tratamento, é comum os pontos serem bem doloridos,
e conforme estes forem estimulados, a dor irá reduzir ou até sumir!
• A semente irá realizar o equilíbrio no ponto, por isso, apesar de existirem técnicas de tonifi-
cação (apertar a semente lentamente e devagar) e sedação (apertar a semente rápida e forte),
basta apenas realizar um estímulo que ele próprio irá promover o equilíbrio do ponto e da área
reflexa em questão!

Para o(a) terapeuta há duas opções, comprar as


placas de sementes prontas ou montá-las; para
isso, você precisará de uma placa plástica própria
para esse fim, algodão, fita micropore larga e de
preferência “cor de pele” (muitas pessoas tem aler-
gia ao esparadrapo e incomodam-se com a cor
branca deles, que fica bem visível nas orelhas),
álcool 70º, estilete, uma pinça pequena e sementes.
Para montar a placa, primeiramente esta deve
ser limpa com álcool e algodão; após estar seca,
o terapeuta deve colocar as sementes sobre esta,
alocando cada semente em seu respectivo buraco
na placa; em seguida retirar o excesso de sementes,
cobrir a placa com o micropore, pressionando
bem para a fita aderir em toda a superfície; pos- Figura 19 - Montagem da placa de auriculoterapia
teriormente, corta-se com o estilete as ranhuras Fonte: Santos (2017, on-line)2.

previamente feitas na placa e, por fim, após definir


os pontos auriculares, basta higienizar a orelha
do paciente com álcool 70%, esperar secar, retirar

147
UNICESUMAR

cada retângulo com a sementes e o esparadrapo, colocando estas sobre a orelha do paciente, pressio-
nando levemente na orelha para que cole, se necessário, use as duas mãos, sendo que uma pressionará
a orelha e outra deverá ser colocada na parte posterior desta como forma de apoio, pressione paulati-
namente a semente sobre a região reflexa até que o paciente sinta o estímulo (GARCIA, 2003).

A B

Figura 20 - Figura A (esquerda) placa de auriculoterapia comercial comprada pronta; Figura B (direita), colocação da
semente com o esparadrapo com auxílio de uma pinça

Caro(a) aluno(a), após a colocação da semen-


te, oriente o seu paciente a pressionar o ponto e
tomar muito cuidado para não esfregar ou fric-
cionar as sementes, pois estas podem produzir
lesão na pele!
Além das sementes e cristais, pode-se utilizar
as agulhas sistêmicas do tipo filiforme. É comum
utilizar a agulha de 26 mm-32 mm, sendo reco-
mendado a mais fina para o conforto do pacien-
te (normalmente deixada de 20-30 minutos na
orelha do paciente, sendo realizada uma vez por
semana) (SOUZA, 1991; GARCIA, 2003). Reco-
menda-se o uso do mandril para a colocação das Figura 21 - Agulha de Hinaishin
agulhas no pavilhão auricular. Fonte: Jocoah ([2020], on-line)3.

Existem as agulhas auriculares (percevejo, que possuem o cabo redondo, e uma pontinha que é a agulha,
foram utilizadas muito tempo na auriculoterapia) e as intradérmicas (Hinaishin, são agulhas retas), am-
bas são pequenas agulhas semipermanentes que ficam uma semana na orelha do paciente, contudo ele
também deverá pressionar a agulha no pavilhão auricular para gerar o estímulo ao longo do dia. Hoje
em dia, elas não são tão utilizadas devido às lesões que podem causar na cartilagem da orelha, além da
possibilidade de infecção, principalmente quando estas têm contato com a umidade (EBRAMEC, 2020).

148
UNIDADE 4

REALIDADE
AUMENTADA

A B

Figura 22 - Figura A (esquerda) paciente com agulhas sistêmicas filiformes. Figura


B (direita), agulha semipermanente do tipo percevejo

Agora que você viu a técnica de auriculoterapia, que tal escutar


o podcast sobre mais uma técnica utilizada dentro desse micros-
sistema? Essa técnica tem uma resposta muito rápida no corpo,
principalmente em relação aos picos de hipertensão arterial! Você
com certeza a utilizará um dia em sua prática clínica: a sangria!
Mapa da Auriculoterapia
A auriculoterapia é um microssistema muito utilizado na prática
do dia a dia do terapeuta do bem-estar, possui baixo custo, simples O tratamento com a toxina da
de realizar e com resultados fantásticos, possui também uma di- abelha, hoje em dia, é utilizado
versidade de estímulos que podem ser utilizados, como agulhas, em medicina não convencional
sementes cristais, pastilhas de silícios, moxa e até estímulos elétricos! em alguns casos, por exemplo,
Também existem técnicas bem diferentes dentro da acupuntura, para tratamento de doenças do
como a apiterapia, o que será que é isso? aparelho respiratório. O princí-
Você certamente, em algum momento da sua vida, já deve ter pio do tratamento ocorre devido
levado uma ferroada de uma abelha. Não preciso nem dizer que dói, à composição do veneno da abe-
não é mesmo? Contudo, e se te falassem que essas ferroadas podem lha, possuindo várias enzimas e
ser utilizadas como métodos terapêuticos? Louco, não é mesmo? substâncias que causam efeitos
Foi exatamente isso que foi descoberto e que vem sendo utilizado anti-inflamatórios, analgésicos,
pelo mundo todo através da história. melhoram a mobilidade do
Nós definimos como apiterapia a utilização de qualquer pro- sangue nos vasos sanguíneos e
duto que venha das abelhas e que seja utilizado no tratamento de ativam o sistema imunológico
pessoas ou de animais, seja desde utilização de mel e derivados na (ALMEIDA et al., 2017).
dieta da pessoa, até a famigerada apitoxina, que é o veneno que a
abelha inocula ao realizar uma ferroada (ALMEIDA et al., 2017).
A utilização da toxina das abelhas não é algo recente. Hipócrates,
o chamado pai da medicina, lá na Grécia antiga, utilizava picadas
de abelha para tratamentos, chamando o veneno, nessa época, de
Arcanum (SEIJAS, 2010). Existem relatos em período próximo da
utilização de apitoxina para tratamento de artrite em articulações
(ALMEIDA et al., 2017).

149
UNICESUMAR

Pode ser utilizado de diversos modos, seja através da prévia extração do veneno, sendo admi-
nistrado por meio de seringas, ou diretamente com a abelha dando a ferroada no momento da
realização do tratamento, diretamente no local em que se busca o efeito terapêutico (pode ser utilizada em
acupontos perto do local). Por exemplo, no caso de um tratamento visando a melhora de uma artrite de joelho,
a ferroada ocorre no local, na tentativa de estimular aquela região para que ocorra uma melhor ativação do
sistema imune ou, pelo menos, que reduza a inflamação local ou as dores localizadas (ALMEIDA et al., 2017).
Apesar disso, que fique bem claro, essa é uma prática pouquíssimo utilizada no Brasil devido aos
seus riscos de toxicidade e chances de causar uma reação anafilática. É absolutamente contraindicada
para indivíduos com histórico de alergias na família, diabéticos, hemofílicos, doentes renais, mulheres
grávidas, entre outros casos (ALMEIDA et al., 2017).

Assista esse vídeo, disponível no YouTube, sobre uma matéria em


relação à apiterapia, ele mostra um pouco sobre a técnica utilizada e
o relato de uma paciente com artrite que se submeteu ao tratamento.

Que a acupuntura é uma técnica antiga você já está careca de saber, porém, isso não significa que se
trata de uma técnica que não sofreu alterações ou modernizações ao longo dos anos e do avanço do
conhecimento tecnológico da humanidade.
Por isso, falaremos sobre a eletroacupuntura, uma técnica que se trata de estímulos elétricos em
agulhas inseridas em pontos de acupuntura. Esse estímulo elétrico causa várias ações no local, por
exemplo, a contração direta do músculo, estimulando-o. O estímulo elétrico ainda pode levar a efeitos
analgésicos por meio do estímulo de produção de diversos hormônios locais, causa um efeito vasodi-
latador, estimulando uma melhor circulação sanguínea no local (ULETT; HAN; HAN, 1998).
É importante destacar que o efeito obtido pela eletroacupuntura variará conforme a frequência do
estímulo elétrico. O estímulo pode ser em baixa frequência (entre 5 a 10 Hz de frequência), estimulando
substâncias ofioideas específicas que causam uma analgesia de baixa intensidade, porém de longa du-
ração. Quando o estímulo é causado por ondas de alta frequência (de 20 a 80 Hz de frequência), ocorre
o estímulo de outras substâncias opioides, diferentes das causadas por baixa frequência, levando a um
efeito analgésico mais intenso, porém que dura muito menos tempo (EBRAMEC, 2020). Chamamos as
frequências altas de estimulação de sedantes. As frequências mais baixas são chamadas de frequências
tonificantes. O tempo de aplicação é de 20 a 30 minutos, podendo ser menor o tempo para estímulos
produzidos por baixas frequências (LIN; SHEN, 2008).
A eletroacupuntura possui várias utilizações diferentes, incluindo: controle de dores agudas e crôni-
cas, redução de edemas e contraturas articulares, inibição de espasmos musculares, minimizar atrofia de
musculaturas não utilizadas (por exemplo para indivíduos acamados), recuperação de fraturas ósseas,
fortalecimento muscular e cicatrização de lesões, sejam elas abertas ou fechadas (LIN; SHEN, 2008).

150
UNIDADE 4

Uma grande utilização dessa técnica é em casos paciente, isso não ocorre na eletroacupuntura, na
de dores musculares decorrentes de Síndromes da qual geralmente as agulhas estão estáveis e ligadas
Obstrução do canal (Bi Zheng), sendo gerada e/ou a eletrodos, dificilmente causando dor. Além dis-
piorada por fatores externos Vento, Frio e Umida- so, devido aos estímulos elétricos se propagando
de. Dores mais localizadas, na visão oriental, estão pelos músculos, normalmente é necessário um
associadas à invasão de Vento/Frio e/ou umidade, número menor de agulhas para causar um efei-
sendo recomendado tratamento com moxabus- to analgésico do que a acupuntura convencional
tão. Contudo, se essa dor for mais aguda ou de (ULETT; HAN; HAN, 1998; LIN; SHEN, 2008).
uma intensidade elevada, é recomendado o uso Em geral, trata-se de um método muito se-
da eletroacupuntura (ULETT; HAN; HAN, 1998). guro, porém é contraindicado em certos casos,
O tipo da dor mudará o modo com que os principalmente em pacientes com incapacidades
eletrodos serão colocados no paciente. Se for uma cardíacas graves, que possuam marcapasso, que
dor aguda, que cause hiperemia e calor no local, o possuam algum implante metálico exposto ou
polo negativo do eletrodo será colocado na área ainda em casos de gravidez (EBRAMEC, 2020)
interna do local da dor e o polo positivo será co- Nesta unidade, vimos sobre algumas técnicas
locado ao redor do local da dor. Se for uma dor antigas, como a auriculoterapia e a curiosa api-
mais crônica, profunda, difusa, que cause palidez puntura e até a modernização da acupuntura com
e frio, o polo positivo do eletrodo será colocado a eletroterapia. Tratando-se da auriculoterapia, é
na área interna do local da dor e o polo negativo uma prática antiga, citada desde o famoso livro
será colocado ao redor do local da dor (ULETT; do Imperador Amarelo, e utilizada, inclusive hoje,
HAN; HAN, 1998; LIN; SHEN, 2008). no sistema único de saúde, sendo um ótimo mi-
Outra grande utilização desse método é em crossistema que possui a base em áreas reflexas
pacientes oncológicos, nos quais consegue atuar do corpo, além de ser uma técnica simples, de
causando um alívio da dor, melhora de efeitos baixo custo, que dá resultado e, praticamente, sem
adversos causados pela quimio e radioterapia, contraindicações (salvo gestantes), podendo ser
além de poder causar uma imunomodulação, praticada em crianças, adultos e idosos. Tenho
melhorando o sistema imune do paciente. Nos certeza que você usará muito essa técnica para
casos desses pacientes, recomenda-se o estímulo melhorar a qualidade de vida dos seus pacientes!
no ponto E36 de maneira bilateral de maneira Então escolha uma pessoa e analise o pavilhão
preferencial, porém também pode ser utilizado auricular dela:
os pontos IG34, VB34 e B60, todos pontos anal- • Como está cada parte anatômica, há mu-
gésicos sistêmicos da dor (ULETT; HAN; HAN, danças de coloração?
1998; LIN; SHEN, 2008). • Telangiectasias ou alterações morfológi-
A eletroacupuntura possui algumas vantagens cas?
sobre a acupuntura convencional, principalmente • Apalpe a orelha, pode ser até com seu dedo
quando analisamos acerca da manipulação das ou a ponta redonda de um fósforo: há áreas
agulhas. Enquanto na acupuntura tradicional doloridas?
geralmente ocorre manipulação das agulhas de • Quais são as alterações desse seu paciente?
maneira constante (por meio de giros e modifi- • Faça um plano para a queixa principal dele
cações), podendo causar dor e desconfortos ao com até 10 pontos!

151
Complete o mapa mental, colocando as definições na parte de apipuntura e eletroacu-
puntura, e o nome dos pontos reflexos de auriculoterapia em cada região correspon-
dente. Na parte de materiais, você deve escrever o nome dos materiais utilizados.

Hélice Fossa escafóidea


Fossa triangular
Antitrago
Apipuntura
Materiais
Lóbulo

Acupuntura Auriculoterapia
MAPA MENTAL

Concha cava

Concha cimba
Eletroacupuntura
Trago e incisura Cruz superior e inferior
intertrágica do antélice

152
1. Observe a imagem a seguir do pavilhão auricular de um paciente que procurou um profissional
do bem-estar para equilibrar a energia do corpo com auriculoterapia.

AGORA É COM VOCÊ


SNV: Sistema nervoso Simpático
Fonte: Fonseca (2001, p. 75).

Sobre a figura em questão, assinale a alternativa correta.


a) O ponto mostrado na figura encontra-se na cruz inferior da antélice.
b) As manchas na hélice do paciente são de natureza Yin.
c) Na região da antélice, a mancha branca sugere uma patologia na coluna vertebral ou tórax.
d) As telangiectasias desse paciente indicam um problema no coração.
e) Os nódulos na região do hélice significam a presença de lesões ulcerativas nos órgãos reflexos.

2. A acupuntura é uma prática milenar, com técnicas que começaram com a colocação de espinhos,
pedras afiadas e até tatuagens à base de pigmentos naturais e evoluiu para materiais de aço já
esterilizados. Sobre as técnicas envolvidas na acupuntura, assinale a alternativa correta.
a) A eletroacupuntura é uma prática antiga utilizada desde a época do imperador amarelo.
b) Apipuntura é eficaz no tratamento de artrite, principalmente quando após a picada colocam-se
partes trituradas da abelha sobre os pontos de acupuntura.
c) A apipuntura se baseia somente no uso do veneno da abelha.
d) Na eletroacupuntura, ao utilizar uma baixa frequência, há uma analgesia de longa duração (maior
tempo), enquanto uma de alta frequência obtém-se uma analgesia de baixa duração (menos
tempo).
e) Gestantes e portadores de marca-passo não são contraindicações da eletroacupuntura.

153
3. A auriculoterapia é uma forma de terapia integrativa que tem como base pontos reflexos no
pavilhão auricular. Sobre os pontos utilizados nesse tratamento, assinale a alternativa correta.
a) O triângulo cibernético pode aumentar efetividade de qualquer tratamento realizado na auri-
culoterapia e na acupuntura sistêmica, ele inclui os pontos Shen Men, endócrino e simpático.
b) O ápice da orelha é um ponto utilizado no tratamento da hiportensão arterial (pressão baixa),
sendo que em picos de hiportensão pode ser realizada nele a técnica de sangria.
c) O ponto do Pulmão não serve somente para problemas respiratórios, mas também permite
tratar dores no dente.
d) Em gestantes, o estímulo no ponto do útero deve ser forte e realizado com muita frequência
durante o dia.
AGORA É COM VOCÊ

e) O ponto do fígado permite tratar tensão muscular, irritabilidade e problemas menstruais ao


mesmo tempo.

154
1. C. A mancha branca está na região da antélice e pode significar um desequilíbrio de energia na região da
coluna. Lembre-se que essa região corresponde tanto às costas, quanto seu espelho “na frente”, logo o
problema poderia ser de tórax também.

2. D. Baixa frequência (entre 5 a 10 Hz de frequência) causa uma analgesia de baixa intensidade, porém de
longa duração. Quando o estímulo é causado por ondas de alta frequência (de 20 a 80 Hz de frequência),
leva a um efeito analgésico mais intenso, porém dura muito menos tempo.

3. E. O ponto de acupuntura vai tratar o que estiver precisando ser tratado, então se uma pessoa estiver com
dores musculares, irritabilidade e problemas menstruais, o ponto vai ajudar em todas.

CONFIRA SUAS RESPOSTAS

155
ALMEIDA, B. F.; CUNHA, M. H.; QUEIROGA, E. N. M.; SILVA, R. A.; MARACAJA, P. B. A utilização da apito-
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EBRAMEC. Escola Brasileira de Medicina Chinesa. Apostila do curso formação em acupuntura. São Paulo:
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básica: Módulo II. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2018.

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2
Em: https://www.facilitandoacupuntura.com.br/como-montar-a-placa-de-auriculo-acupuntura-sem-desper-
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Em: https://www.jocoach.org/susana-freiberger-1/cursos-hinaishin/. Acesso em: 23 jul. 2020.

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