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PRODUTO 2 - Documento técnico contendo estudo analítico do processo de expansão de EaD ocorrido no
período 2002-2012, particularmente no que se refere aos cursos de formação de
professores nas IES públicas e privadas
Contrato nº SA-4021/2013
ABRIL/2014
1
Este produto 2 contou com a colaboração de uma equipe de pesquisadores para a sua escrita: Juliana Guimarães
Faria (Texto) e Lívia Soares de Lima Sousa (Apêndice). Revisão de conteúdo: Conselheiro Luiz Dourado e
Juliana Guimarães Faria.
1
Título do Projeto
CNE/UNESCO – 914BRZ1142.3 – “Desenvolvimento, aprimoramento e consolidação de
uma educação nacional de qualidade”
Objetivo
Consultoria especializada para o desenvolvimento de estudos analíticos sobre a expansão de
educação a distância na educação superior, tendo como foco a formação de professores, com
vistas a subsidiar a Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação
(CES/CNE) na elaboração de diretrizes do processo de regulação e avaliação da EaD.
SUMÁRIO
Introdução ..............................................................................................................................03
Referências.............................................................................................................................135
Apêndice.................................................................................................................................143
3
INTRODUÇÃO
2
Este produto 2 faz parte do Projeto CNE/UNESCO 914BRZ1142.3 (composto de Produto 1 e 2).
3
Para o desenvolvimento deste documento foram utilizadas algumas informações e dados do Produto 1, como
forma de complementar a análise e dar organicidade ao texto.
4
A trajetória da EaD pode ser visualizada no produto 1 deste Projeto.
4
que dedicou uma sessão para tratar do diagnóstico, das metas e dos objetivos para a EaD na
década de 2001/2010.
Os Indicadores de Qualidade para Cursos de Graduação a Distância, publicados em
maio de 2000 pelo MEC, serviram para “orientar as Instituições e as Comissões de
Especialistas que forem analisar projetos de cursos de graduação a distância” (MEC, 2000, p.
3). Ou seja, um documento orientador também para a elaboração dos projetos a serem
apresentados que perdurou até 2003, quando um novo foi publicado. Caracterizou-se como
diretrizes gerais sobre o desenho do projeto de curso, buscando a descrição, nos processos de
credenciamento, de uma identidade com a EaD. Além disso, fazia indicações sobre a equipe
multidisciplinar, a interação professor e aluno, os recursos educacionais, a infraestrutura de
apoio, os convênios, a avaliação da qualidade, os editais a serem abertos sobre os cursos
oferecidos pela IES e a análise de custos de implementação e manutenção de cursos EaD.
Até o ano 2000, havia apenas sete IES credenciadas para a oferta de EaD na
educação formal. Em 2001 esse número saltou para dez instituições e em 2002 já serão 25
IES. Até 2001, todas as IES credenciadas eram públicas7. Isso pode ser explicado justamente
pelas Portarias nº 1098, nº 2253 e nº 3021, publicadas em 2001, que suspenderam os pedidos
de credenciamento, permitindo apenas às IES públicas a apresentação das propostas ao MEC
(estimuladas pelo próprio PNE/2001-2010 e pela Comissão UniRede).
Após 2004, os instrumentos jurídicos revogam os anteriores e inauguram um
arcabouço, com maior variedade de atos e maior complexidade de detalhamento das formas
de orientação legal e de regulação das práticas da EaD, instituído, progressivamente, ao logo
do período histórico.
O grande destaque para o período 2004-2005 está no Decreto nº 5.622, de 19 de
dezembro de 2005, que regulamenta o artigo 80 da LDB nº 9.394/96. Surgiu do detalhamento
de aspectos relativos à EaD, revogando os Decretos anteriores (nº 2.494/1998 e nº
2.561/1998) e, posteriormente, foi alterado pelo Decreto nº 6.303 (2007).
O Decreto nº 5.622 parece manter a necessidade do mesmo ordenamento legal aos
cursos presenciais (regras de tramitação), e acrescentou para garantir indicadores de qualidade
aos cursos a distância, favorecendo sua expansão pela iniciativa privada e induzindo sua
oferta pelas públicas.
No gráfico da Figura 1 é possível observar que, entre 2002 e 2012, a taxa de
crescimento das IES credenciadas para EaD foi de 500%, saltando de 25, em 2002, para 150
7
Dados retirados do Censo da Educação Superior, INEP (2007).
9
instituições, em 2012. As IES públicas cresceram 400%, entre 2002 e 2012, e as IES privadas
tiveram uma taxa de crescimento superior, chegando a uma taxa de 677,8%. O quantitativo de
IES privadas com EaD só foi significativamente superior ao quantitativo de IES públicas nos
anos de 2005 e 2006.
Por um lado, a regulamentação favoreceu essa expansão, visto que deixou um
hiato, desencadeado pela política neoliberal da época (CHAVES FILHO, 2012), com
reduzido acompanhamento, supervisão e regulação no período (DOURADO, 2008). Chaves
Filho (2012) aponta que, até meados de 2008, as políticas permitiram a expansão desenfreada
da EaD por falta de controle do Estado8.
Por outro lado, as políticas públicas, os editais, os programas e os projetos
lançados pelo Governo Federal durante o período serviram de incentivo para as IES públicas
ofertarem EaD, desencadeando a expansão de seu credenciamento. A partir de 2006, após o
Sistema UAB, essa expansão foi de 142%, saindo de 33 IES públicas credenciadas, em 2006,
para 80, em 2012, prevalecendo sobre as IES privadas credenciadas.
Figura 1
também, o incentivo do setor público, por meio de editais, programas e ações, para IES
públicas ofertarem EaD pode estar impactando mais nas instituições federais de ensino
superior (IFES) do que nas IES estaduais ou municipais.
Tabela 1
A Tabela 2
mostra que, das instituições privadas que ofereceram EaD no período
2002-2012, 50% das IES eram
universidades, apesar de, em 2012, as faculdades aparecerem
com 31,42%. Porém,
até 2005 prevalecia um número maior
de faculdades credenciadas para a
oferta da EaD do que de universidades. Entre as
públicas, 75% das IPES que ofereceram
cursos
EaD eram
universidades,pois o início da oferta pelos CEFET e IFET foi apenas em
2007, com a criação do Sistema e-Tec Brasil. Consideramos positivo o fato de a EaD estar
sendo ofertada majoritariamente por universidades, ao mesmo tempo em que traz
preocupações devido à falta de inclusão dos alunos da EaD nas atividades de pesquisa e
extensão, dado o modelo de implementação da EaD por meio de polos de apoio presencial, o
que reduz o contato do estudante com o campus universitário e as atividades docentes.
Oliveira (2011) e Dourado (2008) explicam porque a expansão privada da educação
superior é marcada pela diferenciação e diversificação institucional. Ao analisar o aumento de
instituições de educação superior de graduação a distância no período de 2002 a 2012, a
diversificação das IES privadas acontece na forma preconizada por Oliveira, porém
sobressaindo o número de universidades em detrimento das faculdades e dos centros
universitários.
11
Tabela 2
Tabela 3
Fonte: Elaborado pela autora com base MEC/INEP
Tabela 4
Figura 2
Figura 3
Tabela 5
Figura 4
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB) nº 9.394, de 20 de
dezembro de 1996, por meio da alteração da Lei nº 12.014, de 6 de agosto de 2009, dispõe
que a formação de professores tenha como base o conhecimento dos fundamentos científicos
e sociais de suas competências de trabalho; a associação entre teoria e prática, mediante
estágios supervisionados e a capacitação em serviço; e o aproveitamento da formação e
experiências anteriores (art. 61, § único, inciso I, II e III). A Lei nº 12.056, de 13 de outubro
de 2009, alterou o art. 62 da LDB e dispôs, ainda, que a formação de docentes será feita em
universidades e institutos superiores de educação de nível superior e médio na modalidade
normal, como exigência mínima para a docência na educação infantil e em séries iniciais do
18
ensino fundamental (art. 62). A formação inicial deve ser, de preferência, na modalidade
presencial (art. 62, § 3º), e a formação continuada poderá utilizar recursos tecnológicos e
educação a distância (art.62, § 4º).
As modificações da LDB nº 9.394/96 foram realizadas no mesmo ano e, após a
instituição da Política Nacional de formação de Profissionais do Magistério da Educação
Básica (Decreto nº6.755, de 29 de janeiro de 2009), a CAPES passou a atuar no fomento a
programas de formação inicial e continuada, principalmente na modalidade presencial.
Em 2002, o Conselho Nacional de Educação (CNE) instituiu as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica (Resolução
CNE/CP 1, de 18 de fevereiro), tendo como princípios orientadores a competência na
orientação do curso, a coerência entre a formação oferecida e a prática esperada do futuro
professor, e a pesquisa com o foco no processo ensino-aprendizagem. Previu a criação dos
Institutos Superiores de Educação. Um dia depois, o CNE instituiu duração e carga horária
desses cursos (Resolução CNE/CP, de 19 de fevereiro) com, no mínimo, 2.800 horas,
privilegiando a articulação teoria e prática, seguindo:
professores da educação básica, por IES públicas, em que: destina-se aos professores em
exercício na educação básica pública há pelo menos 3 (três) anos em área distinta da sua
formação inicial. A carga horária deve ter um mínimo de 800 (oitocentas) horas quando o
curso de segunda licenciatura pertencer à mesma área do curso de origem, e um mínimo de
1.200 (mil e duzentas) horas quando o curso pertencer a uma área diferente do curso de
origem. Sua continuidade fica condicionada à avaliação a ser realizada a partir do terceiro ano
de sua aplicação. A Resolução CNE/CP 3, de 7 de dezembro de 2012 a alterou, possibilitando
que os cursos emergenciais possam ser ofertados também na modalidade a distância por IES
que participem do PARFOR e por IES comunitárias sem fins lucrativos.
O Documento Referência da CONAE (2010) entende a formação inicial e
continuada como um processo permanente, que articula as instituições de educação básica e
superior, requerendo debate mais aprofundado sobre as políticas na área. A preferência pela
formação inicial presencial também está contemplada no Documento, por meio de
proposições, e prevê ampliação, nas instituições federais de ensino superior (IFES), da oferta
de vagas de formação inicial presencial (eixo VI, item 1.4); formação inicial
preferencialmente presencial, podendo ocorrer excepcionalmente na modalidade de EaD nos
locais em que não existam cursos presenciais (item 170); estímulo à institucionalização da
EaD no tocante à formação continuada (item 174).
Com relação ao Plano Nacional de Educação (PNE), temos o do período 2001-
2010, aprovado por meio da Lei n. 10.172, de 9 de janeiro de 2001 e o referente ao período
2011-2020, ainda em votação no Senado Federal, por meio do Projeto de Lei n. 8.035/2010. A
formação de professores e EaD nos dois PNEs tratam principalmente:
a) Lei n. 10.172, de 9 de janeiro de 2001 (PNE 2001-2010), no item das metas
para a Formação de Professores:
10. Onde ainda não existam condições para formação em nível superior de todos os
profissionais necessários para o atendimento das necessidades do ensino, estabelecer
cursos de nível médio […]
13. Desenvolver programas de educação a distância que possam ser utilizados
também em cursos semi-presenciais modulares […]
17. Garantir que, no prazo de 5 anos, todos os professores em exercício na educação
infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, inclusive nas
modalidades de educação especial e de jovens e adultos, possuam, no mínimo,
habilitação de nível médio (modalidade normal) […]
18. Garantir, por meio de um programa conjunto da União, dos Estados e
Municípios, que, no prazo de dez anos, 70% dos professores de educação infantil e
de ensino fundamental (em todas as modalidades) possuam formação específica de
nível superior, de licenciatura plena em instituições qualificadas.
19. Garantir que, no prazo de dez anos, todos os professores de ensino médio
possuam formação específica de nível superior, obtida em curso de licenciatura
plena nas áreas de conhecimento em que atuam.
20
Figura 5
Evolução no número de instituições que ofertou cursos de formação de professores
presenciais e a distância no período 2002-2012
Tabela 8
Número de instituições que ofertaram cursos de formação de professores,
presenciais e a distância, segundo a categoria administrativa das IES
2002-2012
Modalidade Rede 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Pública 134 138 143 149 165 170 175 180 196 203 215
Presencial
Privada 680 795 840 894 942 965 987 985 1.032 1.059 1.054
Subtotal 814 933 983 1.043 1.107 1.135 1.162 1.165 1.228 1.262 1.269
Pública 16 21 24 24 26 42 54 61 61 70 76
A distância
Privada 8 15 18 32 34 42 50 48 53 54 54
Total geral 838 969 1.025 1.099 1.167 1.219 1.266 1.274 1.342 1.386 1.399
Fonte: INEP
23
Figura 6
Evolução no número de instituições que ofertaram cursos de formação de professores a
distância, segundo a Categoria Administrativa das IES, 2002-2012
Tabela 9
Número de matrículas em cursos de formação de professores a distância, segundo
categoria administrativa
2002-2012
Tabela 10
Variação da taxa de matrículas em cursos de formação de professores, presenciais e a distância,
segundo categoria administrativa
2002-2012*
2002-
Modalidade Rede 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2012
Privada 13,5% 6,3% 6,2% -1,0% -4,7% -5,4% -18,5% -9,7% -5,7% -5,0% -24,6%
Presencial Pública 7,8% 2,0% -2,7% -1,3% -2,0% -1,3% -10,2% 0,3% 5,4% 2,5% -0,6%
Sub-
total 10,8% 4,3% 2,2% -1,1% -3,6% -3,6% -14,8% -5,0% -0,2% -1,1% -13,3%
Privada 47,7% 137,6% 168,0% 176,7% 50,6% 48,0% -5,3% -2,1% 0,5% 5,0% 5579,1%
A Distância Pública 16,0% -9,6% 24,6% -9,2% 20,8% 151,9% -21,3% 5,6% 1,7% 3,9% 217,1%
Subtotal 20,7% 17,2% 77,6% 94,5% 44,4% 66,0% -9,5% -0,3% 0,8% 4,8% 1015,7%
Total 11,1% 4,8% 5,5% 6,1% 3,1% 9,8% -13,2% -3,6% 0,1% 0,8% 24,5%
Fonte: INEP
*Nota: tem-se 2012 por ano-
base.
Figura 7
Evolução do número de instituições que ofertaram cursos de formação de professores
presenciais, segundo região
2002-2012
Figura 8
Evolução do número de instituições que ofertaram cursos de formação de professores a
distância, segundo a região
2002-2012
Figura 9
Número de IES e polos de EaD
2011
Tabela 11
Número de cursos de formação de professores, presenciais e a distância, segundo a
localização
2002-2012
Modali-
dade Local 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Capital 1.380 1.510 1.581 1.704 1.751 1.769 1.830 2.167 2.088 2.073 2.122
Presencial
Interior 4.499 5.038 5.700 5.792 5.877 5.766 5.597 5.506 5.313 5.279 5.491
Subtotal 5.879 6.548 7.281 7.496 7.628 7.535 7.427 7.673 7.401 7.352 7.613
Total 5.924 6.599 7.356 7.662 7.898 7.846 7.936 8.160 7.922 7.911 8.194
Fonte:
INEP
Nota: NI = Não informado
Figura 10
Evolução do número de vagas nos processos seletivos em cursos de formação de
professores, presenciais e a distância
2002-2012
9
O programa concede bolsas a alunos de licenciatura participantes de projetos de iniciação à docência por
30
Figura 11
instituições de educação superior (IES), em parceria com escolas de educação básica da rede pública de ensino.
Os projetos devem promover a inserção dos estudantes no contexto das escolas públicas desde o início da sua
formação acadêmica para que desenvolvam atividades didático-pedagógicas sob orientação de um docente da
licenciatura e de um professor da escola (Disponível em: <
http://www.capes.gov.br/educacao-
basica/capespibid>. Acesso em: 10 fev. 2014.
10
Disponível em: <http://www.capes.gov.br/educacao-basica/prodocencia>. Acesso em: 10 mar. 2014.
11
O PRODOCÊNCIA começou em 2006, por meio de gestão realizada pela Secretaria de Ensino Superior do
MEC.
31
consolidação das licenciaturas por meio da oferta de apoio financeiro a projetos institucionais
que contribuam para inovar os cursos de formação de professores. As principais áreas que
possuem projetos em execução são: Matemática (52), Ciências Biológicas (47), Pedagogia
(47), Física (42), Química (42) (CAPES, Relatório PRODOCÊNCIA, 2009-2011).
Ao verificar as áreas contempladas, tanto pelo PIBID quanto pelo
PRODOCÊNCIA, observamos que são as mesmas destacadas pelo CNE como aquelas que
mais careciam de formação de professores, pelo déficit de pessoal qualificado. E, ainda, na
continuidade da criação de mecanismos que promovam a valorização docente, dia 16 de julho
de 2008, por meio da Lei nº 11.738, foi regulamentado o piso salarial profissional nacional
para os profissionais do magistério público da educação básica, o qual tem sido atualizado
anualmente conforme a variação do valor mínimo por aluno do Fundeb, como se constata na
Figura 12.
Figura 12
Valor do piso por ano
13
Entre os consórcios e parcerias destacam-se a Rede Universidade Virtual do Centro-Oeste (Univir-CO), a
Universidade Virtual Pública do Brasil (UniRede), o Projeto Veredas e o Centro de Educação Superior a
Distância do Estado do Rio de Janeiro (CEDERJ) (VIANNEY; TORRES; SILVA, 2003), entre outros. A Univir-
CO foi criada em julho de 1998, a partir da iniciativa de universidades federais e estaduais da região Centro-
Oeste, para promover a democratização da educação e da pesquisa. Dois anos depois, em dezembro de 1999,
surgiu a proposta para a criação da UniRede, ou seja, de um consórcio interuniversitário (LIMA, 2013).
34
definidos por meio de uma agenda de ajuste14, que contemplasse consultas aos atores
interessados ou eventos nacionais para cumprir essa função, a fim de não despender tanto
esforço e recurso público em uma diversidade de programas e ações que muitas vezes
possuem a mesma finalidade, como por exemplo o PROGESTÃO e o Programa Nacional
Escola de Gestores da Educação Básica (cujo objetivo é a formação de gestores das escolas
públicas de educação básica); e o PRÓ-LICENCIATURA, da UAB e o PARFOR (que visam
a formação inicial de professores).
Os principais programas e ações que integram a trajetória de constituição da EaD
pública no Brasil temos estão no Quadro 115:
Quadro 1
Principais programas e ações de formação de professores
Formação de gestores
Curso de Licenciatura Plena em 1995 Secretaria de Estado e Educação (SEDUC); secretarias
Educação Básica municipais e Universidades Estadual e Federal do Mato
Grosso
Aperfeiçoamento em Gestão Escolar 2000 Iniciativa do Consórcio Univir-CO / UFG
Programa de Capacitação a Distância 2000 Desenvolvido pelo Conselho Nacional de Secretários de
para Gestores Escolares Educação (CONSED), em parceria com as Secretarias
(PROGESTÃO) Estaduais e Municipais de Educação
Programa Nacional Escola de Gestores 2005 Início pelo INEP e atualmente pela Secretaria de Educação
da Educação Básica Pública Básica do MEC
Formação específica para educação infantil
Programa de Formação Inicial para 2005 Capacitação em nível médio
Professores em Exercício na Educação Secretaria de Educação Básica do MEC
Infantil (PROINFANTIL)
Demais Programas para Formação de Professores
Programa de Formação de Professores 1999 Secretaria de Educação a Distância/ MEC, por meio de
em Exercício (PROFORMAÇÃO) Editais
Programa Gestão da Aprendizagem 2001/ Formação continuada para as últimas séries do ensino
Escolar (GESTAR I e II) 2004 fundamental
Programa de Formação Inicial para 2004 Formação inicial de professores das redes públicas.
Professores dos Ensinos Fundamental SEB e SEED
e Médio (PRÓ-LICENCIATURA)
Universidade Aberta do Brasil (UAB) 2006 Formação inicial e continuada
PRÓ-LETRAMENTO 2005 Formação continuada para professores de séries iniciais do
ensino fundamental nas áreas de Língua Portuguesa e
Matemática
Programa Nacional de Formação 2007 Formação continuada de professores
14
A agenda de ajuste é a segunda etapa a ser considerada na abordagem do ciclo da política pública, dentre seis
(preparação da decisão política, agenda de ajuste, formulação, implementação, monitoramento, avaliação), no
momento em que um problema torna-se uma questão política, ou seja, adquire status de problema público. É o
momento em que se levantam os elementos do problema, os quais resultarão no desenho de políticas ou
programas a serem implementados posteriormente (RODRIGUES, 2011).
15
O Apêndice A contém os quadros referentes a cada programa deste tópico. Descrevemos e utilizamos como
parâmetro alguns programas e ações, mas sabemos que outros (não citados nessa lista) foram desenvolvidos e
tiveram importância dentro do seu período histórico.
35
16
Nesse mesmo ano foi implementado o Projeto Veredas em Minas Gerais, para a oferta do Curso Normal
Superior a Distância; a Rede Brasileira de Ensino a Distância (IUVB.br), formada por dez IES privadas; e a
Rede de Instituições Católicas de Ensino Superior (CVA-RICESU).
37
para a EaD no país e o seu direcionamento para a formação de professores, tanto no edital 1
quanto na fase 2.
Em 2005, em continuidade ao primeiro edital, o MEC realizou um processo
seletivo para as instituições ofertarem cursos de licenciatura a distância denominado PRÓ-
LICENCIATURA FASE 2, com pressupostos metodológicos e orientações pedagógicas
definidas (diferentemente do que ocorria no edital da primeira fase), como “o uso didático de
tecnologias de informação e comunicação, estratégias de interação, relação numérica
tutor/aluno, linguagens, materiais e mídias utilizadas, entre outros elementos específicos da
modalidade a distância” (CARVALHO; PIMENTA, 2010, p. 110).
Carvalho e Pimenta (2010, p. 117) observam que “a consolidação real destes
consórcios e parcerias não foi avaliada de forma mais aprofundada pelo MEC” e que eles
apresentaram vários problemas, como parcerias mais intencionais do que reais e variados
resultados, como reflexo da complexidade nas estruturas das universidades e do grau de
organização dos consórcios e equipes de gestão da EaD17. Em 2009, o PRÓ-
LICENCIATURA foi incorporado à UAB (ALMEIDA, 2012) e, em 2013, suas atividades
foram encerradas (Relatório de Gestão da DED/CAPES, 2013).
Seguindo a trajetória de formação de professores, que passou pelo
PROFORMAÇÃO e pelo PRÓ-LICENCIATURA (valorizando a formação dos consórcios
para sua oferta), outras ações contribuíram para a criação da UAB, entre elas, o modelo de
oferta de cursos do Consórcio CEDERJ. Este foi criado como uma rede regional de educação
a distância, coordenando as ações das universidades públicas federais e estaduais do Rio de
Janeiro, e com o apoio do Governo Estadual, numa cooperação em três níveis:
17
Alguns autores alegam problemas e desafios nos consórcios. Martins (2006) conceitua-os como
relacionamentos construídos sob interesse comum na oferta dos cursos. A partir disso, ocorrem diversos
problemas: “ter que administrar conflitos, discutir soluções heterogêneas, alocar recursos para uso comum e
praticar paciência, boa vontade e generosidade o tempo todo. Não é fácil reunir grupos distintos de especialistas,
com seus vieses já estabelecidos, trabalhando em instituições diferentes, de modo a produzir resultados de forma
integrada”(p. 75). Valladares et al (2007, p. 7) complementa que “a longo prazo, a alternativa de consórcio leva a
um choque inevitável com a autonomia universitária, com a vocação inerente a cada IPES e sua inserção na
realidade local, as demandas que cada uma precisa atender no seio da comunidade em que se situa. Ademais, a
preservação da identidade de cada IPES é́ uma questão que sempre emerge em qualquer discussão e análise de
consórcios de universidades públicas.”
38
interior do estado, com a tarefa de preparar a infra-estrutura física básica para sediar
os polos de apoio presencial. (COSTA, 2007, p. 13)
18
A UAB é um sistema financiado e avaliado pela CAPES, ficando a oferta dos cursos e a gestão acadêmica e
operacional a cargo das IES públicas. Como atores envolvidos em suas ações, podemos citar o Executivo
Federal, o MEC (CAPES, FNDE e SEED), as universidades públicas, os estados e os municípios. Manteve-se o
modelo de parceria entre os entes federados, em que os governos estaduais e municipais atuaram na organização
dos polos de apoio presencial; as IES públicas, como proponentes de cursos superiores na modalidade a
distância; e o Governo Federal, como fomentador (LIMA, 2013).
39
Tabela 12
Total de alunos na EaD segundo modalidade
Brasil 2007-2012
Cursos
2007 2008 2009 2010 2011 2012
Licenciatura 3.466 19.891 50.364 73.144 104.290 140.687
Formação Pedagógica - - 107 107 64 166
Bacharelado 534 5.519 8.494 15.952 21.285 24.207
Tecnólogo 1.366 3.209 4.986 4.640 5.527 6.877
Especialização 1.278 3.700 9.869 38.706 55.747 66.426
Aperfeiçoamento 15 79 2,969 9,398 14,560 21.176
Extensão - - - 394 3,.571 4.938
Sequencial - 438 597 667 691 751
Mestrado Profissional - - - - 1.300 2.799
Fonte: SisUAB
Figura 13
Fonte: DED/CAPES
(6.877 cursos). Vale ressaltar que a taxa de crescimento dos cursos de especialização
(5.197%), aperfeiçoamento (141.173%) e bacharelado (4.533%), entre 2007 e 2012, foram
maiores do que a taxa de crescimento da licenciatura (4.059%).
Quando observamos os dados de 2013 acerca dos matriculados e formados em
cursos a distância, o Quadro 2 mostra que, apesar de o número de alunos matriculados ser
maior na licenciatura, no fim de 2013 era maior o número de formados em especialização e
aperfeiçoamento, ou seja, em cursos de formação continuada.
Quadro 2
Matriculados e formados nos cursos a distância
SITUAÇÃO NO FIM de 2013
CURSOS MATRICULADOS FORMADOS
Aperfeiçoamento 13.754 23.877
Bacharelado 33.327 3.833
Especialização 61.537 34.203
Extensão 6.039 2.589
Formação Pedagógica 673 89
Licenciatura 111.547 22.557
Mestrado Profissional 5.010 241
Sequencial 926 258
Tecnólogo 5.771 2.149
TOTAL 238.584 89.796
Fonte: DED/CAPES
Com relação à taxa de evasão dos cursos UAB, o Quadro 3 registra as matrículas
e alunos ativos em 2011.
Quadro 3
Número de matriculados e ativos nos cursos UAB
%
Matrículas Alunos Evasão
Modalidade Ativos / Concluintes
Iniciais Ativos Bruta
Total
Licenciatura 131.854 104.290 50,9% 770 20,3%
Form.Pedagógica 107 64 0,0% - 40,2%
Bacharelado 27.326 21.285 10,4% 197 21,4%
Tecnólogo 9.486 5.527 2,7% 654 34,8%
Especialização 79.323 55.747 27,2% 10.718 16,2%
Aperfeiçoamento 39.590 14.560 7,1% 15.654 23,7%
Extensão 5.041 3.571 1,7% 823 12,8%
Sequencial 1.115 691 0,3% 206 19,6%
Total 292.727 205.044 100,0% 28.816 20,1%
Fonte: DED/CAPES
41
Figura 14
Distribuição percentual de matrículas
2013
Figura 15
Matrículas no PARFOR
Quadro 4
Evolução do número de IES com turmas implantadas
2009-2012
Ano IES
2009 32
2010 79
2011 86
2012 92
Fonte: Relatório de Gestão da DEB 2009-2012
Figura 12
Percentual de turmas do PARFOR por curso
Quadro 5
Resumo do alunado por curso ao final de 2013
TIPO DE
CURSO MATRICULADOS EVADIDOS FORMADOS
Aperfeiçoamento 13.754 17.700 23.877
Bacharelado 33.327 14.252 3.833
Especialização 61.537 33.926 34.203
Extensão 6.039 3.227 2.589
Formação 673 97 89
Pedagógica
Licenciatura 119.475 55.415 23.179
Mestrado 5.337 917 746
Profissional
Sequencial 926 399 239
Tecnólogo 5.771 5.700 2.149
TOTAL 246.839 131.633 90.904
Fonte: Relatório de Gestão da CAPES (2013)
Figura 16
Indicadores e metas do Sistema UAB e Mestrado Profissional
2012 148.000
2014 171.000
2012 2.800
2014 6.300
Tabela 13
Dados do PROFMAT
2011 e 2012
Ano Nº de Nº de Formados* Custeio Bolsa
IES Matrículas
2011 50 1.800 - R$ 14.304.000,00 -
2012 57 1.560 - R$ 3.042.000,940 R$ 34.194.450,00
TOTAL 60 3.360 - R$ 17.346.900,00 R$ 34.194.450,00
*As turmas de 2011 tinham previsão de encerramento para abril de 2013.
Fontes: DED e SGB/CAPES.
professores a distância, enquanto na modalidade EaD pública, 76 IES com 24% das
matrículas.
Para analisar o índice de vagas e matrículas nos cursos de formação de
professores, optamos por fazer uso dos dados do período entre 2009 e 2012, porque os Censos
anteriores trabalharam com nomenclaturas diferentes. O item formação de professores é
dividido entre Pedagogia e Formação de Professor da Educação Básica, de disciplinas
profissionais e matérias específicas.
Portanto, se considerarmos os cursos que fazem parte de cada item na
classificação do Censo 2009-2012, temos um (1) curso de Formação de Professor da
Educação Básica (séries iniciais do ensino fundamental), dez (10) cursos de Formação de
Professor de Disciplinas Profissionais (Artes, Artes Plásticas, Artes Visuais, Computação,
Disciplinas do Setor Primário [Agricultura e Pecuária], Educação Física, Enfermagem,
Música, Teatro, Educação Profissional e Tecnológica) e 14 de Formação de Professor em
matérias específicas (Biologia, Ciências, Filosofia, Física, Geografia, História, Letras, Língua
Estrangeira Moderna, Língua Vernácula, Língua Vernácula e Estrangeira Moderna,
Matemática, Química, Sociologia, Educação Religiosa).
A formação em matérias específicas concentra o maior número na oferta de
cursos, com 64% , ou seja, a maioria, em cursos de licenciatura que formam professores em
matérias das séries iniciais do ensino fundamental e médio em 2012, conforme Figura 17.
Figura 17
Número de cursos de graduação a distância, segundo áreas e/ou cursos, 2009-
2012
Tabela 14
Número de Cursos de Graduação a distância segundo áreas e/ou cursos
2009-2012
2009 2010 2011 2012
Área e/ou Curso
Pb Pd T Pb Pd T Pb Pd T Pb Pd T
Educação (total) 241 154 395 328 190 518 361 193 554 374 203 577
Fonte: Censo da Educação Superior/INEP.
Nota: Pb – Público; Pd – Privado; T – Total. Em 2009, as áreas de Formação de professor de educação especial,
Formação de professor de educação infantil e séries iniciais do ensino fundamental, Formação de professor do
ensino fundamental, Formação de professor para a educação básica, Normal superior, Formação de professor de
educação infantil, Formação de professor e ciências da educação (cursos gerais) completam a área de educação.
Tais cursos/áreas foram retirados da série histórica desde 2010.
51
Tabela 15
Oito cursos com maior número de vagas ofertadas na educação a distância
2009-2012
Figura 18
Seis cursos com maior número de vagas ofertadas na educação a distância
2009-2012
Fonte: INEP (2009-2012).
Cunha (2006) sinaliza que o déficit na formação de professores tem relação com o
aumento do número de matrículas no ensino médio, o qual de 3,77 milhões em 1991 passou
para 8,19 milhões em 2000. Com isso, a capacidade de formação de professores para o ensino
básico pelas universidades brasileiras não acompanha esta demanda. Gatti, Barretto e André
(2011) defendem que há uma crise na formação inicial de professores, tanto presencial quanto
a distância, especialmente pela fragmentação formativa e curricular, em que se incluem os
estágios, além da necessidade de o Estado tomar decisões sobre as condições reais de oferta
desses cursos devido ao “desarranjo nas políticas governamentais quanto à formação de
docentes, que põe em cheque seus sistemas de credenciamento, acompanhamento e
avaliação” (p. 259).
Outro problema para a resolução do déficit de professores relaciona-se à ausência
de atratividade da profissão, consequência da falta de valorização (com salários e carga
horária incompatíveis com a função, carreira não planejada e que não atende à realidade) e
condições efetivas de trabalho (falta de material, espaços escolares e recursos).
53
Tabela 16
Oito cursos de formação de professores com maior número de matrículas na
modalidade de educação a distância
2009-2012
2009
Áreas e/ou Curso
Pública Privada Total
Pedagogia 23.944 241.355 265.299
Formação de professor de Língua/Literatura vernácula (Português) 2.137 18.849 20.986
Formação de professor de Matemática 14.039 6.781 20.820
Formação de professor de Biologia 7.261 11.737 18.998
Formação de professor de História 2.008 14.788 16.796
Formação de professor de Língua/Literatura vernácula e língua est.
moderna 699 12.789 13.488
Formação de professor de Letras 9.807 443 10.250
Formação de professor de Geografia 1.717 5.597 7.314
2010
Áreas e/ou Curso
Pública Privada Total
Pedagogia 33.569 239.679 273.248
Formação de professor de Língua/Literatura vernácula (português) 13.673 14.918 28.591
Formação de professor de Matemática 15.041 8.287 23.328
Formação de professor de Biologia 8.612 10.475 19.087
Formação de professor de História 2.775 15.144 17.919
Formação de professor de Língua/Literatura estrangeira moderna 4.632 10.022 14.654
Formação de professor de Geografia 3.359 6.136 9.495
Formação de professor de Língua/Literatura vernácula e língua est.
moderna 431 6.445 6.876
2011
Áreas e/ou Curso
Pública Privada Total
Pedagogia 34.332 247.216 281.548
Formação de professor de Língua/Literatura vernácula (Português) 12.310 12.201 24.511
Formação de professor de Matemática 14.378 7.957 22.335
Formação de professor de História 3.757 14.679 18.436
Formação de professor de Biologia 8.343 7.569 15.912
Formação de professor de Língua/Literatura estrangeira moderna 5.003 7.421 12.424
Formação de professor de Geografia 4.427 5.612 10.039
Formação de professor de Língua/Literatura vernácula e língua est.
moderna 510 7.319 7.829
2012
Áreas e/ou Curso
Pública Privada Total
Pedagogia 37.123 258.579 295.702
Formação de professor de Matemática 14.780 8.322 23.102
Formação de professor de Língua/Literatura vernácula (Português) 10.563 11.297 21.860
Formação de professor de História 3.762 16.489 20.251
Formação de professor de Biologia 8.986 7.056 16.042
Formação de professor de Língua/Literatura estrangeira moderna 5.009 7.311 12.320
Formação de professor de Geografia 4.142 5.997 10.139
Formação de professor de Língua/Literatura vernácula e língua est.. 1.139 7.143 8.282
54
moderna
Fonte: Elaborado pela autora, a partir de dados do Censo da Educação
Superior/INEP (2009-2012)
baseado no escrever e ler, e que não pode ocorrer sem uma mídia ou
tecnologia. Na presencialidade, o professor também planeja, mas a sua aula
ocorre espontaneamente a partir dos conhecimentos científicos que ele
professor já possui. Na modalidade EaD, a trajetória da compreensão do
conteúdo científico que vai ser trabalhado entre o docente e os estudantes não
pode ocorrer nessa forma espontânea porque o tempo e o espaço de acesso dos
estudantes é diferente e mediado principalmente pelo texto escrito, o que
requer uma estruturação antecipada das ações, tanto dos alunos quanto dos
professores, ou seja, um novo padrão cultural;
- a arquitetura e a interação educacional não se baseiam apenas na relação
espontânea e natural pelo falar e ouvir na sala de aula presencial, mas tem que
ser “planejada, desenhada, construída, testada e avaliada com consciência total
dos objetivos e meios pedagógicos”(p. 71), o que demanda mais tempo,
esforço e dedicação docente;
- os alunos assumem responsabilidades que antes eram apenas dos professores,
ou seja, precisam ser ativos para além de suas tarefas de aprender, atuando
coletivamente no grupo e juntamente com o docente, agregando às suas ações:
planejar tempo e atividades a serem realizadas; interpretar e refletir
criticamente sobre o que estão fazendo quando aprendem, necessariamente
mediados pelo docente por meio de tecnologias ou mídias; apresentar e
representar efetivamente o conhecimento construído por meio de suportes
digitais de verbalização e visualização; compartilhamento deliberado do
conhecimento com outras pessoas;
- o professor precisa necessariamente planejar tudo cuidadosamente com
antecedência e se manter informado e consciente do que está acontecendo
durante todo o processo ensino-aprendizagem, avaliando individualmente e
coletivamente os alunos, e refletir sobre o modo como ensina e avalia por
meio da distância, constantemente.
humana e política, preocupada inicialmente com o para que fazer e comprometida com a
emancipação humana (FARIAS et al., 2009).
Isso exige um papel central para alguns elementos dos processos educativos na EaD,
ou seja, aqueles que consideram a mediação, os materiais didáticos e tecnológicos, a relação
professor-estudante, estudante-estudante, estudante-estudantes, estudantes-coletividade, sua
relação com a modalidade e com os conhecimentos necessários para nela atuar. Concordamos,
assim, com o conceito trazido por Neder (2005, p. 81):
A EaD [...] deve ser compreendida como uma modalidade de educação que permite
o compartilhamento, o diálogo entre os sujeitos, na busca de construção de
significados sociais, possibilitando a constituição, por isso mesmo, de um espaço,
não necessariamente físico, de interlocução entre os sujeitos da ação educativa.
instituição estão sendo consideradas na sua avaliação? Que condições efetivas são oferecidas
às instituições para que possam produzir academicamente e se desenvolver?
Para o autor, então, a qualidade da educação superior tem vinculação também com a
cobertura do sistema, o financiamento oficial destinado às IES públicas, o aumento da
contratação docente, a diminuição da rotatividade de docentes no setor privado, com
entidades corporativas para defendê-los, a expansão do ensino noturno nas IES públicas e a
qualificação e regime de trabalho de dedicação integral dos docentes nas diferentes formas de
organização institucional.
Para se pensar a qualidade na EaD, deve-se fundamentar, então, o que se propôs,
anteriormente, para a qualidade na educação e na educação superior, acrescentando as
peculiaridades da EaD, próprias da modalidade, conforme já apresentado, visto que, segundo
Peters (2009), a qualidade na modalidade de educação a distância não pode ser julgada
aplicando exclusivamente os critérios da educação face a face.
Consideramos a educação como bem público, de direito de todos e dever do Estado.
Além disso, enfatizamos o que Bondioli (2004) aponta como uma “transação”, ou seja,
“reconhecer a natureza ideológica, valorativa da qualidade e considerar o embate entre pontos
de vista, ideias e interesses um recurso e não uma ameaça” (p. 15). Isso quer dizer que,
mesmo apresentando, a seguir, perspectivas de análise para a qualidade da modalidade,
reiteramos a importância de uma conferência nacional de EaD (baseada em conferências
regionais anteriores), unindo esforços para diagnóstico, crítica e construção de
posicionamentos e critérios para se pensar a sua qualidade no país, o que preconiza Evans
(1995), ao defender a necessidade do Estado de promover a autonomia inserida, ou seja,
escutar e dialogar com os atores envolvidos para as tomadas de decisão.
Essa conferência nacional se torna importante para que seja possível, a partir do
diagnóstico da área e das contribuições de pesquisadores e instituições que praticam a EaD, a
construção de critérios, indicadores e planos de melhorias que possam contribuir na
redefinição de políticas e programas para a área. A exemplo da experiência vivenciada no
Brasil com os Fóruns em Defesa da Escola Pública, Fóruns de Licenciatura, Conferência
Nacional de Educação, Encontro Acadêmico da Capes para se discutir a interdisciplinaridade
nas universidades brasileiras, dentre outros, o campo da EaD necessita de um espaço amplo
de debate e de aprofundamento para o levantamento dos desafios e propostas específicos para
a modalidade.
A possibilidade de uma conferência nacional de EaD, num movimento de autonomia
inserida promovido pelo Estado, seria mais um importante elemento balizador na construção
63
Quadro 6
Perspectivas para a qualidade da EaD no ensino superior
PARA O ESTADO PARA AS IES
i – Utilização de mecanismos de autonomia i – Clareza, compreensão da concepção e dos
inserida, a partir das expectativas da objetivos e institucionalização da EaD.
sociedade, instituições e estudantes na ii – Interação e transitabilidade permanentes
elaboração de regulamentação e políticas dos atores envolvidos na modalidade:
públicas para a área. elementos fundamentais e peculiares, que
ii – Estabelecimento de um sistema de permeiam as relações pedagógicas e de
avaliação, supervisão e de regulação que gestão.
atenda às características da modalidade de iii – Arquitetura pedagógica própria da
EaD. modalidade.
iii – Formulação de políticas públicas para o iv – Equipe profissional efetiva, com
desenvolvimento da modalidade. estabilidade, capacitação e plano de carreira.
iv – Política de financiamento para a EaD v – Infraestrutura, parque tecnológico estável
previsto no orçamento global da instituição. e seguro com amplo acesso às informações e
ao conhecimento.
vi - Espaço para utilizar e desenvolver
diferentes atividades em ambientes físico e
virtual.
vii – Mecanismos de avaliação e
acompanhamento próprio para a modalidade.
A) Para o Estado
Justificativa:
A educação e a EaD neste documento são vistas como bens públicos, de direito de
todos e dever do Estado. Nessa concepção, o processo democrático da definição da agenda de
ajustes de suas políticas públicas se faz necessário e, para isso, Evans (2004) defende a atitude
de promoção de autonomia inserida22 para a compreensão do papel do Estado e como este
pode desenvolver suas capacidades para promover o desenvolvimento.
O conceito de autonomia inserida trata de uma combinação de autonomia e parceria,
ou seja, o Estado deve possuir autonomia relativa da classe dominante para promover o
desenvolvimento, formular e implementar objetivos coletivos. Assim, a intervenção estatal
depende da combinação das características da máquina pública com a capacidade do Estado
para gerir as relações sociais em direção à execução dos objetivos coletivos, de forma que
haja conexão com as diversas redes externas, ou seja, com os diversos atores envolvidos com
a política pública. Seriam os gestores de alto escalão dos órgãos governamentais e ligados
22
Embedded autonomy.
65
ações da UAB pelas IPES, para que se possa, com estabilidade, partir para o processo de
institucionalização. O Fórum mostrou ser um elemento de articulação entre IPES, CAPES e
as outras instâncias do MEC, atuando, também, como elemento de cooperação entre eles
(LIMA, 2013).
● Fóruns de Área do Sistema UAB: instituído pela Portaria CAPES nº 78/2010
para discussões e levantamento das necessidades e possibilidades das áreas do Sistema UAB.
Assim, destacamos outro procedimento necessário à autonomia inserida que diz
respeito à continuidade da implementação de Fóruns na área da EaD, dando prosseguimento
aos que existem: a criação de um Fórum interinstitucional de EaD do MEC para promover um
espaço de diálogo e articulação entre os órgãos que hoje atuam na EaD, como a CAPES, a
Secretaria de Educação Básica (SEB/MEC), a Secretaria de Regulação e Supervisão da
Educação Superior (SERES/MEC), o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira (INEP) e a Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior
(CONAES). Seria um espaço de compartilhamento das ações, definição de prioridades e
encaminhamentos futuros, além de deliberações para procedimentos na EaD e sobre as
responsabilidades de cada órgão.
Para além da constituição de Fóruns temáticos (Estadual Permanente, Coordenadores
UAB e de Área da UAB) e de um Fórum Interinstitucional para a EaD organizados pelo
Governo, se faz necessária a criação de mecanismo de enforcement (que pode ser por meio de
67
Diretriz ou Referencial de Qualidade) para induzir, por meio da criação de Fórum ou Grupo
de Trabalho de EaD dentro das IES, o debate, a veiculação e a cultura da EaD na instituição.
Nessa direção, tendo por base a promoção de autonomia inserida, se faz importante,
também, o estabelecimento e construção de metadados analíticos para as autoavaliações
elaboradas e relatadas pelas IES públicas e privadas no desenvolvimento da EaD, para a
composição de uma agenda de ajustes e adaptabilidades, necessários à formulação e
implementação de novas políticas públicas ou regulamentações na área, bem como para a
construção de seus indicadores de qualidade.
Justificativa:
Quadro 07
Desempenho de estudantes de graduação a distância
ENADE 2006 e 2008 (INEP/MEC)
Ingressantes EaD Concluintes EaD
Cursos
2006 2008 2006 2008
Biologia 32,8 31,2 32,8 31,9
Ciências Sociais 52,9 37,2 52,9 62,3
Filosofia 30,4 34,4 30,4 33,5
Física 39,6 33,0 39,6 37,2
Geografia 32,6 35,6 32,6 33,9
História 31,6 33,3 31,6 29,6
Letras 33 37,6 33,1 35,3
Matemática 34 31,2 34,2 28,9
Pedagogia 46,8 41,0 46,1 46,2
Desempenho Médio 37,0 37,0 35,5 38,3
Fonte: Elaborado a partir de Bof (2011).
24
Giolo (2010) e Dourado e Santos (2011) demonstram essa expansão.
25
Ver Faria (2011)
26
Ver Zuin (2010)
27
A distinção dos dados do ENADE entre EaD e presencial foram divulgados pelo INEP somente em 2006. Os dados de
2008 foram divulgados em evento científico no qual representantes do INEP participaram como palestrantes. Não há
publicação oficial que demonstre esse dado distinguindo EaD e presencial.
69
Figura 19
Desempenho alunos de graduação presencial e EaD
2006
Figura 20
Desempenho alunos de graduação presencial e EaD
2008
28
Resolução CNE/CES n. 01/2001; Portaria 4059/2004; Decreto 5622/2005; Decreto 5773/2006; Decreto 6303/2007;
Portaria MEC 10/2009; e instrumentos com indicadores para avaliação publicados pelo Inep.
71
mesmos atores devem atuar de forma interativa por um período mais longo, com
transparência das ações, de maneira que possam ser observadas, e, as decisões,
colaborativamente regulamentadas (STEIN; TOMMASI, 2007).
A falta de coordenação entre os atores pode levar a políticas inconsistentes ou
incoerentes (SPILLER, STEIN, TOMMASI, 2003). Essa falta de coordenação é percebida
quando há três diferentes instrumentos jurídicos (Decreto 5622/2006, Portaria 4059/2004 e
Resolução 01/2001) para regulação da EaD na educação superior, tratando separadamente da
oferta de: (i) pós-graduação lato sensu, (ii) práticas semi-presenciais e (iii) cursos superiores a
distância, com concepções diferenciadas do que seja EaD nos três instrumentos. Há ausência
de diretrizes para a pós-graduação stricto sensu para a modalidade, apesar de haver oferta de
Mestrado EaD pelas IPES, com ações orientadas pela Capes (ProfMat, ProfBio e outros); há
instrumento jurídico que flexibiliza a supervisão de polos (Portaria 10/2009) como medida de
adaptação ao processo de avaliação; há publicação de diferentes instrumentos do Inep que
associam critérios da avaliação da educação superior presencial com a EaD e, posteriormente,
os revoga, estabelecendo critérios diferenciados para as duas modalidades; há uma variedade
de Portarias que aprovam instrumentos e indicadores que foram sendo modificados diante das
dificuldades enfrentadas nas suas aplicações; há uma fragmentação da EaD em diferentes
órgãos do Governo que a promovem e a acompanham, sem o desenvolvimento de ações
coordenadas entre si (LIMA, 2013); e a concepção de EaD, expressa no Decreto 5622/2005,
difere da expressa nos Referenciais da Qualidade para Educação Superior a Distância, visto
que o primeiro induz a uma organização única da EaD e os Referenciais indicam a
importância da experiência de diferentes práticas da EaD.
Essa falta de coordenação parece ser um indício de que ainda não se estabeleceram
diretrizes comuns que atendam às especificidades da modalidade. Chaves Filho (2012)
argumenta que até meados de 2007, mesmo após a publicação de instrumentos específicos
para EaD, como o Decreto 5622/2005 e o Decreto 4059/2004, os credenciamentos para EaD
eram baseados em relatórios avaliativos, redigidos com base em instrumentos para a
modalidade presencial. Ou seja, sem atender às especificidades da modalidade, como alerta
Peters (2009), quando argumenta que a qualidade na EaD não pode ser julgada aplicando
somente critérios próprios da presencialidade.
Assim, a coordenação das ações políticas de avaliação, supervisão e regulação é um
dos elementos a serem buscados para o desenvolvimento com qualidade da modalidade. Para
72
isso, a dinâmica da autonomia inserida com a proposição pelo Estado do debate com os atores
envolvidos é um caminho importante. Porém, alguns apontamos e problematizações podem
ser traçados em relação à coordenação da avaliação, regulação e supervisão, a partir da
concepção de EaD, de polos de apoio presencial, de professor e tutor, de infraestrutura e de
indicadores de avaliação.
No Decreto 5622/2005 é possível identificar alguns elementos. A começar pela
concepção de EaD expressa no artigo 1o, citado anteriormente. Da forma como é conceituada,
permite interpretar a EaD como uma prática que acontece: (i) quando há tecnologias de
informação e comunicação e (ii) separação espaço-temporal entre professores e alunos,
permanecendo o restante do processo ensino-aprendizagem idêntico ao presencial. Conforme
já foi discutido, essa visão é equivocada (PETERS, 2009), sendo importante ampliá-la e
redefini-la a partir de discussão entre os atores envolvidos, por meio de mecanismos de
autonomia inserida. Nesse processo de discussão, pode-se incorporar ao conceito
fundamentos mais amplos que compreendam a EaD, como defendemos anteriormente neste
documento, ou seja: “uma prática social-educativa-dialógica de um trabalho coletivo, de
autoria e colaborativo, articulada com uma arquitetura pedagógica e de gestão integrada ao
uso das tecnologias de informação e comunicação, voltada para a formação crítica, autônoma
e inovadora, baseada na interação dos atores envolvidos”.
É natural que qualquer mudança na concepção de EaD, a ser expressa em diretrizes
para a modalidade, irá impactar as determinações descritas nos seus instrumentos de
avaliação, regulação e supervisão.
Isso pode ser percebido quando observamos os artigos 1o e 9o do mesmo Decreto
(5622/2005), os quais apontam que os encontros presenciais são obrigatórios em cursos a
distância para atividades avaliativas, de laboratórios e estágios (art. 1o); o credenciamento
para oferta de cursos a distância destina-se às instituições públicas ou privadas (art. 9o),
respectivamente. Observamos, também, na Portaria n. 40, de 12 de dezembro de 2007, no
artigo 44, que o credenciamento para a EaD está condicionado às IES já credenciadas nos
sistemas federal ou estadual, com experiências em cursos presenciais. Ou seja, o
credenciamento para EaD destina-se a instituições que tradicionalmente já desenvolvem
educação superior presencial. Essa perspectiva induz a uma determinada concepção de EaD,
baseada no desenvolvimento institucional de finalidade dupla29 com cursos baseados no
29
IES com finalidade dupla é aquela que oferece duas modalidades, sendo EaD e presencial (MOORE;
KEARSLEY, 2007).
73
modelo dual-mode30. Essa indução pode ser limitadora de novas experiências, visto que
desconsidera a possibilidade de outros modelos e propostas, como a criação de universidades
abertas para oferta exclusiva de EaD (como acontece em outros países) e práticas acadêmicas
baseadas tanto no single mode31 (PETERS, 2009) quanto nos modelos híbridos e/ou de
blended learning ou B-learning (KÖSE, 2010).
O blended learning é um tipo de curso que integra atividades online com momentos
presenciais pedagogicamente planejados, superando o modelo em que apenas se complementa
os momentos presenciais com a atividade online ou vice-versa. Não corresponde ao modelo
semipresencial porque, apesar de assumir uma ampla variedade de formas, precisa estar
ligado pedagogicamente e deve ser mais do que um “add-on”32 para um curso, pois implica
um processo de redesenho significativo dele (WALLACE; YOUNG, 2010), ou seja, as partes
presencial e a distância online precisam ser complementares.
Outra forma de uso do B-learning consiste em disponibilizar ao estudante diferentes
possibilidades de acessar um mesmo conteúdo, para que ele escolha aquela que pretende
seguir em determinada fase do curso: fazer aquele conteúdo presencial, com o apoio do
professor; online, com um grupo de alunos em atividade; e em grupo presencial, entre outros.
Para Köse (2010), blended learning é uma abordagem de aprendizagem que contém
diferentes tipos de metodologias e tecnologias de educação, e que tem como objetivo
proporcionar experiências de educação mais eficazes. Um modelo típico de blended learning
pode conter duas ou mais metodologias com diferentes abordagens, mas hoje ele ainda está
associado apenas à combinação entre educação presencial e atividades de aprendizagem
online, em sua maioria. Os modelos de aprendizagem combinada permitem aos professores
utilizar as vantagens de ambas as modalidades.
O modelo do B-learning, ainda conforme estudos realizados por Köse (2010), cresce
rapidamente, como resultado das melhorias na educação e da tecnologia. Outras vantagens do
modelo são: pode ser aplicado em estudantes com diferentes estilos de aprendizagem e níveis;
permite a redução de custos e reduz as despesas de educação em geral; usa várias
metodologias, atraindo mais atenção dos alunos para o curso; com a combinação presencial e
online, os alunos podem ter a possibilidade de acesso ao conhecimento de qualquer lugar até
se encontrarem cara a cara com os professores.
30
Cursos dual-mode são aqueles que acontecem de forma que o aluno estuda tanto em momentos a distância
quanto em momentos presenciais (PETERS, 2001).
31
Single mode são cursos totalmente a distância.
32
Não podem ser vistos na perspectiva de apenas adicionar atividades um ao outro (presencial e online), pois
devem ser planejados com objetivos pedagógicos de forma que um complemente e se combine ao outro.
74
Justificativa:
Sendo assim, podemos considerar a EaD, por si só, uma inovação à medida em que ela
gera mudanças (na relação professor-aluno, na forma de construir e expressar o
conhecimento, de veicular informações, e outros), oportunidades (amplia o acesso ao ensino
superior a pessoas que possuem dificuldade para conciliar trabalho, família e estudo, é
acessível nas cidades em que não possuem IES físicas, e outros) e é colocada em prática de
forma ampla (atende um grande número de estudantes).
Peters (2009) complementa que o principal motivo da EaD ter se tornado interessante
são os avanços na telecomunicação, com inovações importantes no aperfeiçoamento das
tecnologias de computadores pessoais, de multimídia, de compactação digital de áudio/vídeo
e de internet, as quais, associadas à outras tecnologias, trazem diversos benefícios:
transmissão rápida das informações, maior interatividade, mais orientação para os alunos,
maior individualização no atendimento e no esclarecimento de dúvidas, melhor qualidade dos
programas e cursos, maior desenvolvimento da aprendizagem de forma significativa.
Há que se considerar que a inovação dos processos na educação a distância pode ser
vislumbrada numa perspectiva social (mudanças de forma ampla dos processos acadêmicos,
de interação, de comunicação e outros) e tecnológica (mudanças tecnológicas em produtos –
bens e em processos –, na forma com que são oferecidos), necessitando de constante pesquisa
e desenvolvimento para que cumpra seu objetivo de promoção da educação superior como
bem comum, de acesso com qualidade e permanência.
Nesse contexto, temos como sugestão a ser problematizada: o resgate do apoio de
pesquisas de mestrado e doutorado visando incentivar a entrada de novos pesquisadores na
área (como era o caso do Programa de Apoio à Pesquisa em Educação a Distância [PAPED],
com última chamada em 2005) e o fomento para criação e fortalecimento de núcleos de
pesquisa visando incluir a EaD no Programa Observatório da Educação (CAPES/ MEC),
criado pelo Decreto n. 5.803/2006.
Para Peters (2009), com o uso das tecnologias a EaD proporciona uma perspectiva
nova em que não se sabe ainda aonde chegará, justamente pelas rápidas transformações e
inovações tecnológicas de hoje (CASTELLS, 1999), mas já tem capacitado estudantes para o
acesso fácil às informações do mundo, a programas didáticos diversos, livros eletrônicos,
bibliotecas eletrônicas, em situações e circunstâncias novas e diferentes, em que estudantes e
professores precisam replanejar o processo ensino-aprendizagem, sua função num curso a
distância, bem como a forma com que organizam os estudos e as interações. Isso requer o
desenvolvimento de estudos e pesquisas para problematizar tanto o uso das tecnologias na
83
Justificativa:
Oliveira e Catani (2011) destacam que o Brasil possui um conjunto amplo de IES,
com forte predominância do setor privado nas matrículas em cursos de graduação presencial e
a distância (75%) e forte presença do setor público na oferta de programas/cursos de pós-
graduação stricto sensu (80%), com investimento nos cursos a distância a partir de 2010. Para
que se possa ampliar também a oferta da educação de graduação no setor público e,
consequentemente na modalidade a distância, uma alternativa pode estar voltada para
repensar e redefinir as formas de fomento e de investimento na área.
Ao refletir sobre o processo de institucionalização da EaD na educação superior,
com relação às IES privadas, observamos que ele acompanha o movimento das
regulamentações e instrumentos de avaliação para a modalidade, mas é exigido
credenciamento anterior em cursos presenciais, além do apoio do Estado, por meio de bolsas e
financiamento estudantil (o que ocorre tanto para o ensino presencial quanto a distância). Nas
IES públicas, temos como principal indutor da institucionalização a diversidade de programas
e ações, analisados anteriormente neste documento, e que nem sempre impactam
positivamente o processo, por se tornarem ações isoladas, fragmentadas e desarticuladas,
decorrentes, também, da regulamentação que favoreceu credenciamentos experimentais das
instituições federais de educação superior.
Outros fatores que têm contribuído significativamente para o processo de
institucionalização dizem respeito ao fomento e à forma de financiamento complementar, por
meio de editais, portanto, não previstos no orçamento das IES públicas para a oferta dos
cursos. Como consequência, as instituições recorrem ao pagamento por meio de bolsas aos
professores e coordenadores participantes.
O modelo de fomento por meio de editais, ao mesmo tempo que proporciona a
oferta de cursos e a inclusão da cultura da EaD na IES pública, limita seu desenvolvimento e
institucionalização porque resulta em oferta esporádica de cursos, sem regularidade; nem
sempre se incluem ou são permitidos de serem incluídos nos Sistemas de Cadastro de
Atividades Docentes (SICAD); o pagamento das bolsas não são incluídos no computo geral
do salário docente, não revertendo em direitos trabalhistas; as IPES ofertam apenas os cursos
a distância com financiamento externo, perdendo sua autonomia e a chance de planejamento
institucional da modalidade, por se pautar no atendimento de ações oportunizadas em diversos
momentos, sem planejamento anterior de uma política institucional para a modalidade em
85
seus documentos institucionais, dentre outros motivos. Faltam, assim, reflexões acerca da
autonomia das IES e do modelo EaD da UAB a ser seguido.
Quando analisamos os dados dos principais programas para a formação de
professores do Ministério da Educação (MEC), eles demonstram que o atual Governo Federal
(2011-2013) continua tendo como foco a privatização da oferta de cursos de formação de
professores, por meio do ProUni (216.761 bolsas no período) e FIES (109.647 contratos
firmados para cursos em licenciatura), inclusive na modalidade EaD, e como política pública
o PARFOR (70.220 matrículas de professores), a UAB (119.475 matrículas em cursos de
licenciatura) e o SISU ([Sistema de Seleção Unificada], com 166.410 vagas em cursos de
licenciatura em IPES). Para dar continuidade a essa política, no dia 23 de abril de 2014, a
comissão especial da Câmara dos Deputados que analisa o texto do Plano Nacional de
Educação (PNE) definiu que, entre outras despesas, o financiamento do Governo por meio do
Fundo de Financiamento Estudantil (FIES), a isenção fiscal concedida a instituições privadas
que participam do ProUni e as bolsas do Ciência sem Fronteiras serão consideradas no cálculo
da destinação de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para a educação pública.
Assim, para o setor privado, como meio de fomentar (e consequentemente
expandir a oferta) não só dos cursos de formação de professores, mas todos, de modo geral,
temos o Programa de Financiamento Estudantil (FIES), criado pelo Ministério da Educação
para financiar a graduação de estudantes de IES privadas com juros de 3,4% ao ano, e o
Programa Universidade para Todos (ProUni), por meio da concessão de bolsas integrais e
parciais a estudantes de graduação do ensino superior privado. Entre 2010 e 2013, ou seja, no
atual Governo, o FIES teve um crescimento de 1.529,42% nos contratos firmados,
demonstrando o investimento na esfera pública para o ensino superior.
86
Figura 21
FIES entre 2010 e 2013
Com relação ao ProUni,34 desde 2005 estão disponíveis os dados sobre o número
de bolsas concedidas, conforme a modalidade, presencial e a distância. Identifica-se a queda
em ambas as modalidades em 2013 e, apesar do aumento no número de bolsas até 2012, a
concessão para alunos em cursos a distância é inferior às concedidas a alunos dos cursos
presenciais, em números brutos. Mas se compararmos o percentual de crescimento do número
de bolsas ofertadas em cada ano e modalidade, a EaD registrou um crescimento no percentual
de bolsas concedidas superior ao da modalidade presencial no período de 2005 a 2013:
846,21% e 181,27%, respectivamente, conforme mostra a Tabela 17.
34
Dados
obtidos por meio de solicitação ao Serviço de Informação ao Cidadão do Ministério da Educação,
Protocolo 23480.001562/2014-24, via correspondência eletrônica.
87
Tabela 17
Bolsas do ProUni ofertadas no período 2005-2013
Ano Bolsas em Cursos Presenciais Bolsas em Curso EAD
2005 104.929 7.346
2006 129.657 9.011
2007 133.184 30.670
2008 176.966 48.039
2009 185.899 61.744
2010 192.300 48.973
2011 199.270 55.328
2012 211.439 73.183
2013 190.211 62.163
Quando utilizamos a relação entre a Tabela 17 e a Tabela 18, que trata do número
de matrículas por ano nas duas modalidades, para calcular a porcentagem gerada entre a
quantidade de alunos/matriculados que recebem as bolsas nas duas modalidades, verificamos
que a EaD possui um número proporcional maior de alunos contemplados do que os da
modalidade presencial: a média de alunos atendidos na modalidade presencial fica entre 3,5%
e 3,6% e da modalidade a distância, entre 4,3% e 8,3%.
Tabela 18
Figura 22
Organização acadêmica e grau acadêmico na modalidade EaD 2012
35
Disponível em: < portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&task>. Acesso em: 10 mar. 2014.
89
Quadro 8
Resumo de Bolsas - 2013
QTD.
INSTITUIÇÕES BOLSAS R$
Quadro 9
Bolsas do tipo UAB pagas em 2013
UAB
Tipo de Curso Quantidade de Bolsistas Parcelas Pagas Valor Pago
APERFEIÇOAMENTO 280 1.709 R$ 1.812.300,00
BACHARELADO 5.400 34.059 R$ 31.285.740,00
ESPECIALIZAÇÃO 9.569 45.819 R$ 43.086.395,00
EXTENSÃO 22 96 R$ 90.795,00
FORMAÇÃO PEDAGÓGICA 248 1.333 R$ 1.361.900,00
LICENCIATURA 23.449 160.555 R$ 146.748.330,00
POLOS 668 6.242 R$ 6.866.200,00
TECNÓLOGO 1.220 6.802 R$ 6.065.360,00
NEAD 233 2.040 R$ 3.047.200,00
Equipe Multidisciplinar 1.188 6.899 R$ 8.371.430,00
PACC 1.379 5.952 R$ 5.945.965,00
TOTAIS 43.656 271.506 R$ 254.681.615,00
Fonte: SGB/CAPES
Plano Nacional de Educação (2011), a EaD é destaque para o alcance da meta de expansão do
ensino superior no Brasil e a planilha financeira pontua que espera-se o “aumento de 5,3
milhões de matrículas, sendo 26,4% públicas (1.148.519) e dessas 50% presenciais (709.206)
e 50% EaD (709.206) ao custo de R$ 15,5 mil e R$ 3,09 mil/aluno-ano, respectivamente”
(MEC, 2011, p. 1). Além da previsão de custeio dos gastos com a oferta de EaD pelo setor
público corresponder a menos de 30% se comparado ao presencial, o valor se mostra
insuficiente, visto os gastos apenas com as bolsas no Sistema UAB, necessitando revisão e
estudos da relação custo/aluno e qualidade na educação superior para a modalidade. Sabemos
que há outros gastos, além das bolsas, mas questionamos se eles atingiriam a meta com esse
pequeno valor, comparando-o ao custo/aluno da modalidade presencial muito aquém do
necessário para o desenvolvimento de um curso a distância com qualidade.
Justificativa:
Nesse item, o foco para a busca por uma oferta da EaD com qualidade tem como
elemento importante o princípio da clareza da concepção e dos objetivos da EaD, na busca
pela sua institucionalização.
A institucionalização pode ser definida como o estabelecimento de uma prática ou
ação num sistema humano e caracterizada pela rotina difundida e legitimada, esperada,
91
apoiada, permanente e resiliente. Além disso, é uma ação comprometida com a criação de um
ambiente engajado no processo de transferência de uma agenda de progresso para
institucionalizar uma nova ação em sua cultura organizacional (KESAR, 2007), inserida na
programação global da instituição, operando de maneira viável e desejada (PLATT, 2009).
Isso significa que, ao se institucionalizar, a EaD será difundida e incorporada na IES,
por meio dos processos formais de regulamentações internas, como uma prática permanente,
por meio do ingresso de alunos de forma sistemática, e apoiada, incorporada à cultura
organizacional, ou seja, com determinações explícitas de papéis e dinâmicas no seu trabalho
acadêmico interno.
Para Platt (2009), a institucionalização exige que três condições sejam atendidas: a)
apoio organizacional (condições organizacionais de oferta da EaD, como espaço físico e
virtual, equipe dedicada e infraestrutura específica para as necessidades da EaD); b)
padronização de procedimentos (orientações e normatizações explícitas e incorporadas às
diferentes frentes de ação da modalidade); c) a incorporação de valores e normas associados à
ação facilitada pela cultura organizacional (fóruns internos de debates sobre a modalidade,
equipe efetiva com formação em EaD e previsão de formação continuada).
O resultado é visto como a conclusão de um processo em que estejam presentes
indicativos de mudança estrutural, processual e cultural dentro da organização (PLATT,
2009). Além desses três elementos, o outro é a política de EaD que a IES vai definir para o
seu desenvolvimento, ou seja, o planejamento direcionado e não fragmentado das ações e
metas para a modalidade, superando a pulverização de diversos programas, ofertados
esporadicamente e sem continuidade (ou seja, qual a vocação institucional, se a IES define
que irá desenvolver a EaD para formação de professores e/ou tecnológicos e/ou bacharelados;
ou se opta por ofertar apenas lato sensu).
Nessa perspectiva, então, é de se esperar que o processo de institucionalização da EaD
nas IES seja um processo de mudanças. Pode-se dizer que, pela prática da EaD, as IES
venham a experimentar alterações e mudanças de suas práticas internas num processo de
institucionalização. São exemplos de mudanças no processo de institucionalização da EaD: a
utilização das tecnologias de informação e comunicação na relação professor-aluno; ou a
utilização de material didático, desde a sua elaboração até a sua distribuição, com
planejamento pedagógico; o atendimento remoto aos alunos sobre assuntos relacionados à
secretaria acadêmica. Ao estudar a gestão em escolas em processo de inovação e mudança,
92
Glatter (1995)36 aponta que. a partir de intervenções de pequena escala, é possível alterações
e impactos mais decisivos nas instituições. Para o autor, as mudanças são entendidas como
um conjunto de alterações que afetam os padrões e as relações estabelecidas, como
também,os conceitos do grupo.
Glatter (1995) argumenta, ainda, que a mudança efetiva precisa passar por fases
arbitrárias, e, portanto, planejadas, até chegar à institucionalização ou estabilização. Para o
autor, a fase inicial é de introdução de novas práticas, buscando o aval institucional, visando
operacionalizar e vir a fazer parte do trabalho escolar de forma institucionalizada.
Iniciação: introduzir novas idéias e práticas e procurar o aval institucional.
Implementação: operacionalizá-las.
Institucionalização (ou estabilização): constituí-las em normas e rotinas, de modo a
que se torne parte integrante do trabalho escolar (GLATTER, 1995, p. 146).
Defende, ainda que, para institucionalizar, é necessário o uso da perspectiva da
mudança como processo, e não como acontecimento, ao transformar projetos individuais e
específicos em projetos institucionais, ao criar novas estruturas e formar equipes específicas e
adequadas, ou seja, deve tornar-se parte integrante da instituição de educação superior.
Com relação à institucionalização da EaD, encontramos em Faria (2011), alguns
elementos necessários ao seu processo nas IES e, em Lima (2013), o modo como ela se
efetiva nas IES e se torna política pública e de Estado. Destaca (2011, p. 164) que são
necessários as seguintes posturas:
Trabalho coletivo, comunicação em rede, abertura para o aprendizado e para romper
com a cristalização dos processos existentes, atenção à cultura organizacional,
valorização da investigação, atitude crítica, busca de meios para organizar a EaD na
instituição e comprometimento coletivo.
36
Glatter (1995) faz reflexões sobre a escola, mas podemos utilizar suas análises para contribuirmos com as
reflexões sobre a universidade.
93
reconhecermos que as políticas públicas são indutoras de práticas sociais, ou seja, a forma
prescrita nos três instrumentos jurídicos não induz a necessária explicitação da EaD na IES,
com clareza de objetivos e finalidades, visto que não estimula a integração da EaD à
concepção de educação superior da IES, não preconiza a discriminação do diagnóstico para a
oferta da EaD, bem como os elementos que expressam a escolha da modalidade, como as
tecnologias, cursos e tecnologias.
Além da previsão de oferta de cursos e os seus polos de abrangência (como
determinado no Decreto 5773/2006), no processo de institucionalização é de se esperar que a
EaD seja integrante de uma proposta de educação superior da IES, ou seja, que a missão,
objetivos e metas contemplem a EaD; que a organização didático-pedagógico da IES tenha
coerência com as necessidades da especificidades da EaD (Núcleo de desenvolvimento da
EaD na IES? Gestão descentralizada na IES? Regimentos internos contemplam a EaD de
forma que integra/articula com a modalidade presencial?).
Além disso, é de se recuperar o Instrumento de Credenciamento Institucional, quando
atribui valor conceitual ao Plano de Gestão para a EaD dentro da IES. Se não há definição do
que seja esse Plano de Gestão, não há clareza do que se espera dele e sua efetiva contribuição
para a qualidade da oferta.
O Plano de Gestão da EaD não é algo exigido pelos Decretos que regulamentam a
modalidade, mas pode contribuir com o processo de institucionalização, visto que a gestão da
EaD é um tópico que deve ser descrito nos projetos de curso como indicador de qualidade,
conforme preveem os Referenciais da Qualidade de Cursos Superiores a Distância. O Decreto
5622/2005 (art. 7o) delega aos Referenciais da Qualidade para Educação Superior a Distância
a responsabilidade de pautar os atos do poder público para credenciar, autorizar e reconhecer
os cursos: “Parágrafo único. Os atos do Poder Público, citados nos incisos I e II, deverão ser
pautados pelos Referenciais de Qualidade para a Educação a Distância, definidos pelo
Ministério da Educação, em colaboração com os sistemas de ensino” (grifo nosso).
Os Referenciais de Qualidade trazem os tópicos que devem estar expressos nos
Projetos de Curso (concepção, sistema de comunicação, material didático, avaliação, equipe
multidisciplinar, infraestrutura de apoio, gestão acadêmico-administrativa e sustentabilidade
financeira) e, sobre o processo de gestão e organização próprio da EaD, apresentam alguns
elementos, como a indicação da existência indispensável de infraestrutura que centralize a
gestão de cursos a distância das IES, com a presença de “estruturas mais gerais como centros
ou secretarias de educação a distância ou em estruturas mais localizadas, especialmente salas
95
10. Finalmente, ter em conta a importância de manter uma certa estabilidade durante
a implementação do processo de mudança. Os actos heróicos ou teatrais não
produzem efeitos mais eficazes do que sistemas estáveis de funcionamento.
Justificativa:
Para as autoras, a dimensão acadêmica deve utilizar as TIC para além do aparato
técnico, como elemento constitutivo do processo educativo, que, exige conhecimentos e
habilidades para usufruir de suas potencialidades, sendo incorporadas ao processo educativo
de forma planejada, atendendo às especificidades da EaD. Já a dimensão técnica é aquela
responsável pelo bom funcionamento das TIC, que reconhece sua importância e o
atendimento pedagógico ao qual ela se destina, dentro de um projeto institucional para seu
desenvolvimento e utilização. E a da gestão deve reconhecer que as TIC alteram a cultura que
caracteriza a IES e que sua presença não se restringe ao simples aparato tecnológico, mas é
algo mais complexo, pois envolve novos aprendizados, que precisam ser incorporados dentro
de um projeto institucional, com condições técnicas e acadêmicas. Assim, as TIC devem ser
percebidas pelas dimensões acadêmica, tecnológica e de gestão de forma integrada, visando
atender as especificidades da EaD.
98
Alonso (2005) acentua que a EaD deve estar fundamentada nos processos de
interação, com a presença do diálogo interativo, que permitirá o encontro entre os atores do
processo educacional para a construção dos saberes necessários à formação. Para a autora, são
os recursos tecnológicos de informação e comunicação que irão permitir o necessário
encontro e a mediação no desenvolvimento dos cursos a distância.
Toschi (2008) considera que a EaD se constitui no distanciamento do tempo e do
espaço no processo educativo, porém, salienta que sua recombinação depende da atividade
social dos sujeitos, ou, poderíamos dizer, do seu diálogo interativo e na mediação. Para
Toschi, os estudantes podem concretizar essa recombinação no momento em que se tornam
sujeitos mais ativos no processo ensino-aprendizagem. Isso implica que, na maior parte do
tempo, há separação espacial, física e temporal entre professor-estudante, estudante-estudante,
estudante-coletivo, porém, essa separação pode ser minimizada pelo diálogo interativo, por
meio dos diferentes recursos e tecnologias de informação e comunicação peculiares à EaD.
A educação em si não pode prescindir desse diálogo interativo, visto que a
nomenclatura “distância” não se traduz como isolamento e/ou exclusivo autoestudo
individual, mas como separação espacial, física e temporal. Isso se dá justamente por
conceber a educação formal como algo intencional, vinculada ao sistema de educação,
organizado como processo formativo dialógico e problematizador da realidade, e que prevê
socialização e formação para a construção de sujeitos ativos, críticos e transformadores da
realidade social, cultural, política e econômica em que estão inseridos, num processo de
interação.
Belloni (1999) aponta que a interação pressupõe intersubjetividade, com ação
recíproca entre sujeitos de forma direta ou indireta. A autora faz diferenciação com o conceito
de interatividade, que é a relação com uma potencialidade técnica oferecida pelas tecnologias
de informação e comunicação.
É fundamental esclarecer com precisão a diferença entre o conceito sociológico de
interação – ação recíproca entre dois ou mais atores onde ocorre intersubjetividade,
isto é, encontro de dois sujeitos – que pode ser direta ou indireta (mediatizada por
algum veículo técnico de comunicação, por exemplo, carta ou telefone); e a
interatividade, termo que vem sendo usado indiscriminadamente com dois
significados diferentes em geral confundidos: de um lado a potencialidade técnica
oferecida por determinado meio (por exemplo CD-ROOMs de consulta, hipertextos
em geral ou jogos informatizados), e, de outro, a atividade humana, do usuário, de
agir sobre a máquina e de receber em troca uma ‘retroação’ da máquina sobre ele
(BELLONI, 1999, p.58).
interativo, suprindo o processo educativo, mas a forma como ela é utilizada, envolvendo o
processo de mediação entre professores, estudantes e as TIC é que determina seu caráter
educacional (LIMA, 2005). Ou seja, nos cursos a distância deve ocorrer a interação visando a
construção de conhecimento do estudante baseada no diálogo interativo, com o apoio de
tecnologias de informação e comunicação, proporcionando uma visão global do que será
estudado, mobilizando-o para o conhecimento a ser construído. Posteriormente, o curso
oferece orientações e proposições para a análise e compreensão dos conteúdos, para
possibilitar sínteses e avaliações mediante um processo de mediação pedagógica.
A mediação pedagógica é vista como “o tratamento de conteúdos e das formas de
expressão dos diferentes temas, a fim de tornar possível o ato educativo dentro do horizonte
de uma educação concebida como participação, criatividade, expressividade e
relacionalidade” (GUTIERREZ; PRIETO, 1994, p. 62). Para Gutierrez e Prieto, a informação
em si mesma não é suficiente, sendo necessária a mediação pedagógica visando dar um
caráter educativo à aprendizagem, ou seja, momentos que promovam a relacionalidade,
expressividade, reelaboração e criatividade. Na EaD, pela separação tempo e espaço, esses
momentos são viabilizados por meio de diferentes processos comunicacionais (material
didático e comunicação assíncrona37 e síncrona38) e tecnologias de informação e comunicação
(interação em ambiente virtual de aprendizagem).
A separação tempo e espaço desencadeia necessidades à mediação pedagógica, se
comparada à presencialidade, para garantir a qualidade do curso e a construção do
conhecimento do estudante. É preciso prever como o aluno irá acessar os recursos necessários
à sua formação, tanto em bibliotecas quanto em laboratórios e em atividades teórico-práticas,
podendo ser em espaços descentralizados ou em ambiente virtual; e a forma pela qual será
estabelecido o diálogo interativo, não só via ambiente virtual de aprendizagem, mas também
por diferentes meios, como correspondências e até smartphones.
Na EaD, a mediação pedagógica se desenvolve de modo mais complexo do que na
presencial, visto que requer diferentes formas de comunicação, tecnologias e de linguagens.
Catapan (2010) aponta que na EaD o movimento da aprendizagem não depende
exclusivamente da interferência do professor, mas também de como as situações de
aprendizagem são propostas e como os estudantes se inserem na mediação, organizando
espaços, tempos e procedimentos de estudo. Para isso, é necessário desenvolver no estudante
37
A comunicação assíncrona é aquela em que os participantes não estão utilizando o mesmo tempo real e espacial.
38
A comunicação síncrona é aquela que ocorre em tempo real. Todos os participantes interagem no mesmo tempo real, sem
estar necessariamente no mesmo espaço.
100
a habilidade para o diálogo, a interação, para que seja um sujeito ativo na exploração do
material didático, do conteúdo e demais recursos, na perspectiva de transitabilidade constante.
A perspectiva da transitabilidade é um elemento que deve permear não só os
estudantes, mas também os professores, gestores e demais atores que atuam na EaD. Para
além de um movimento que permite o trânsito e o acesso amplo a tudo que se refere à IES ou
ao curso, é o trajeto entre um espaço e outro, o acesso sem barreiras e a possibilidade de ir e
vir, de receber e também contribuir, na perspectiva de autoria e autonomia, de forma
interligada e de intercâmbio entre os diversos atores e dimensões que perpassam a EaD, quais
sejam: acesso a conteúdos; acesso a projetos; acesso e produção de informações; acesso a
materiais didáticos; intercâmbio e interligação às equipes de gestão, pedagógicas e de
suportes; uso de tecnologias e ambientes virtuais e físicos, como bibliotecas virtual e física, e
laboratórios; participação, acesso e conhecimento das atividades acadêmicas de ensino,
pesquisa e extensão da IES; trânsito institucional entre os diferentes departamentos e
instâncias decisórias; consulta a diferentes dados acadêmico-institucionais, como desempenho
e trajetória acadêmica; e conhecimento sobre o projeto pedagógico de curso e demais
documentos institucionais da IES.
Ainda é preciso acompanhamento e monitoramento das relações entre estudantes,
professores e instituição, por meio de mecanismos, tecnologias ou equipe, visando avaliar
constantemente os processos de interação e transitabilidade. Principalmente porque a EaD é
recente e está sendo incorporada na cultura organizacional da IES e das relações de interação
entre os diferentes atores, por meio de tecnologias de informação e comunicação. O
acompanhamento e monitoramento da interação pode ser feito por administradores de
sistemas virtuais, coordenadores, representantes estudantis e outras formas a serem
desenvolvidas no contexto do desenvolvimento da EaD na IES. Assim será possível
identificar e prever entraves e barreiras à transitabilidade e interação que possam
comprometer a qualidade. Do ponto de vista da regulação, são os Referenciais da Qualidade e
os Instrumentos de Avaliação do INEP que balizam esses aspectos de interação e
transitabilidade, visto que nada é mencionado no Decreto 5622/2005.
Os Referenciais da Qualidade para Educação Superior a Distância prevêem e
valorizam a interação: “O princípio da interação e da interatividade é fundamental para o
processo de comunicação e devem ser garantidos no uso de qualquer meio tecnológico a ser
disponibilizado” (BRASIL, 2007, p. 10). Ressaltam que a interação é importante para
proporcionar a inserção do aluno com sentimento de pertencimento ao grupo e ao curso,
característica a ser considerada na modalidade a distância.
101
ampliar a avaliação, partindo para uma observação descritiva, que identifique a forma como
se realizam a mediação pedagógica e a interação dentro do curso.
Sobre as TIC, o Instrumento de Avaliação de Cursos de Graduação Presencial e a
Distância (INEP, 2012) apenas verifica se elas permitem executar o projeto pedagógico do
curso (item 1.14). E o Instrumento de Credenciamento Institucional para oferta da EaD, tem
item verificador da quantidade de TIC que atende às necessidades de professores, tutores,
técnicos e estudantes envolvidos nas atividades de EaD (item 3.3). Ou seja, também estão na
lógica da quantidade e não consideram a forma dos processos de interação por meio das TIC.
Os Instrumentos de Avaliação do INEP e os Referenciais da Qualidade devem
incorporar a perspectiva da interação e transitabilidade, a partir de uma concepção da EaD,
conforme já foi abordada anteriormente, prevendo, inclusive, acompanhamento e
monitoramento por parte da IES.
Justificativa:
A atividade educativa, em espaços formais, é intencional e sistemática, e por
isso precisa ser organizada previamente, o que se concretiza por meio do planejamento das
ações pedagógicas e didáticas, que devem ocorrer junto ao coletivo de professores da IES,
numa perspectiva transformadora (FARIAS et al, 2009), tanto em cursos presenciais quanto
em cursos na modalidade a distância. Desse modo, requer ser flexível (postura aberta às
correções, avaliação e replanejamento do percurso); ter caráter participativo, articulador e
mobilizador de toda a IES; registrar as formulações decorrentes do compartilhamento coletivo
de intenções e ações; ter objetividade e ousadia (FARIAS et al, 2009). São características de
planejamento inerentes a qualquer modalidade, mas quando se trata de EaD, elas se
complexificam e é necessário relacioná-las com suas especificidades.
103
essencial aos cursos a distância. É necessário ampliar a visão de currículo, pois apenas a
utilização do termo inovador (p.9) não é suficiente, sendo importante incorporar uma
organização curricular diferenciada, para chegar a uma construção ao longo do curso, por
meio da interação, e outros.
Castro e Ladeira (2009), em um recorte teórico sobre o processo de planejamento
de cursos a distância, apontam a necessidade do envolvimento de uma equipe
multidisciplinar, além do tratamento interligado e interdependente (o que chamamos neste
documento de transitabilidade) de ações que delimitem a concepção pedagógica, de
elaboração e implementação de cursos na modalidade, planejando, inclusive, procedimentos
de gestão que garantam a realização do projeto. Para isso se faz necessário, inicialmente, um
levantamento do perfil do estudante, a dispersão geográfica aonde será ofertado, contextos
envolvidos e informações culturais. Posteriormente, definem-se os pressupostos pedagógicos
e formula-se o projeto, com estrutura curricular, conteúdos, programas, materiais, recursos,
sistemas de apoio ao estudante e avaliação, para poder organizar os suportes tecnológicos na
organização do curso, suas atividades, design de interface na web e escolha das ferramentas
de suporte.
Lima e Faria (2008) salientam que o plano de uma disciplina ou curso a
distância não pode ser visto como ponto de chegada, mas deve ser reavaliado constantemente
pela equipe docente e pelos alunos, ou seja, ser flexível e adaptável. O estudo e levantamento
dos conteúdos devem ser dimensionados de forma flexível, visto que na EaD a possibilidade
de participação dos sujeitos garante a coletividade e interação na comunicação. Devem-se
planejar momentos para o levantamento do conhecimento prévio dos estudantes,
contextualizando e analisando as situações problema, além de sistematizar o conhecimento
novo, visto que no processo de interação isso é suscitado pela própria natureza de socialização
da prática educativa. Os objetivos, as sugestões de atividades, os dispositivos pedagógicos e a
bibliografia básica e complementar devem ser planejados, considerando os participantes do
curso protagonistas na construção do conhecimento e de seu próprio trajeto.
No movimento de flexibilidade e inclusão dos estudantes nos processos de
construção de conhecimento, a avaliação também deve ser flexível e clara aos estudantes,
com informações sobre os principais pontos a serem observados no conteúdo trabalhado,
utilização de atividades avaliativas como parâmetro à revisão do conteúdo ou novas formas
de avaliação, além da diversificação nos procedimentos avaliativos, tudo detalhadamente e
textualmente sistematizado.
107
Figura 19
Evolução do número de matrículas em cursos de formação de professores a distancia,
segundo gênero, 2002-2012
pedagógico adotado pelo curso, no qual os estudantes precisam ter habilidades específicas a
serem formadas ao longo do curso como autonomia, capacidade de interação e de estudo, por
meio de material didático e TIC. Assim, as tecnologias, os meios e recursos adotados
contribuem para diminuir a distância pedagógica entre os atores envolvidos, assegurando as
formas de comunicação e interação.
Os Referenciais de Qualidade para Educação Superior a Distância (2007) indicam
diferentes recursos como essenciais ao desenvolvimento dos cursos a distância, como o
sistema de comunicação, o material didático e a infraestrutura de apoio. Para atender às
exigências de qualidade dos processos pedagógicos, a prioridade deve ser dada ao sistema de
telecomunicação, por meio de telefone, fax, videoconferência e ambiente virtual de
aprendizagem.
Assim determinam os Referenciais de Qualidade:
Justificativa:
O Projeto de Lei do Novo Plano Nacional de Educação (PNE), PL n. 8.035, de
2010, em trâmite no Senado Federal, apresenta em seu artigo 2º as Diretrizes, das quais
destacamos a IX: “valorização dos profissionais da educação”. Essa diretriz é contemplada ao
longo do anexo do documento nas suas metas e estratégias, com destaque para algumas
estratégias de formação e valorização dos profissionais:
39
Consideramos como de equipe multiprofissional: Gestão (diretores, coordenadores, secretários-gerais,
técnicos-administrativo); Acadêmico (professores) e Tecnológico (editores, produtores, artistas gráficos,
programadores e outros).
115
c) Acesso à internet de banda larga nos espaços físicos formativos para alunos
profissionais que atuam na modalidade.
Justificativa:
Justificativa:
A educação a distância, quando for uma proposta institucional planejada e prevista nos
documentos institucionais que compõem uma IES (PDI, PPI, PPC), precisa atender aos
requisitos tratados nas regulamentações, bem como fazer a previsão da forma com que será
realizado o atendimento ao estudante e os locais em que as atividades serão desenvolvidas.
Geralmente os estudantes de cursos a distância não se envolvem nas atividades de ensino
porque nem sempre as atividades de extensão e pesquisa saem da sede da IES (pela distância
da cidade em que moram e a sede, pela falta de divulgação ou transitabilidade de informações
entre os alunos EaD ou pela falta de disponibilidade aos alunos EaD). Faz-se necessária a
previsão da articulação dessas atividades de extensão e pesquisa também para os alunos da
EaD, de modo que ocorra a indissociabilidade entre essas atividades e o ensino; e, também, o
120
fomento específico para o desenvolvimento de pesquisas e atividades de extensão das IES nos
polos, promovendo e desenvolvendo inovações na área.
De acordo com a atual regulamentação, o espaço descentralizado para
atendimento aos alunos é chamado de polo de apoio presencial. Levantamos uma série de
problemas sobre o uso desse espaço e se deveria ser denominados polo. Autores como Zuin
(2006), Andrade (2010), Mill e Pimentel (2010), Balzzan (2010), Dourado e Santos (2011),
destacam a importância do polo como espaço fundamental para o desenvolvimento formativo
da modalidade, para os cursos e profissionais envolvidos, e para que os alunos tenham acesso
às atividades pedagógicas, de pesquisa e de laboratório.
Os polos de apoio presencial no país têm sido objeto de reflexão e crítica de
alguns pesquisadores (SEGENREICH, 2009; DOURADO; SANTOS, 2011), quanto à sua
qualidade, acompanhamento e avaliação. Segenreich (2009) demonstra que críticas têm sido
feitas à qualidade da infraestrutura e dos recursos humanos dos polos, devido à distância da
cidade sede das IES; e algumas instituições chegam a possuir cerca de 500 polos em todo o
Brasil, mas há falta de sensibilidade às diferenças regionais.
Dourado e Santos (2011) alertam que mesmo com a legislação do credenciamento
das IES para a oferta de EaD apresentar um conjunto de condições para os polos, “a maioria
desses espaços não atende às exigências mínimas de funcionamento, nem às condições
materiais, nem à formação dos profissionais” (p. 182). Os autores complementam que o
Documento Referência da CONAE (2010) mostrou sua preocupação com esses espaços,
recomendando que os polos de apoio presencial da UAB sejam utilizados como centros de
formação continuada, coordenados pelas IPES, em parceria com as redes de educação básica
pública, com a implantação de polos regionais para a promoção de formação e
acompanhamento aos profissionais da educação, substituindo tutores por professores efetivos.
Sendo assim, os polos, como espaços descentralizados, carecem de discussão
acadêmica, científica e dos gestores do alto escalão do Governo, por meio do mecanismo de
autonomia inserida, para que possam se transformar em espaços de desenvolvimento regional
e formação, de maneira inovadora, transpondo os problemas já descritos e buscando uma
solução criativa e compartilhada.
Conforme o Censo do Ensino Superior 2009-2012, os dados acerca da quantidade
de polos de apoio presencial e sua distribuição geográfica traduzem disparidades entre as
regiões, tendo em vista que Sudeste e Sul possuíam mais polos do que as outras regiões juntas
até 2009, mudando o quadro entre 2010 e 2012 em que Sudeste e Nordeste marcaram o maior
número de polos (conforme Figura 20). Vale salientar que em 2009 o Brasil possuía mais
121
Figura 20
Número de polos de educação a distância no Brasil conforme região
2009-2012
matrículas, que na esfera privada também é superior. Esses dados podem ser mais bem
visualizados na Tabela
Tabela 19
Distribuição dos polos de educação a distância no Brasil conforme região e categoria
administrativa
2009-2012
Região 2009 2010 2011 2012
Norte Total 8,4% 7,8% 8,3% 7,6%
Pública 3,0% 2,2% 2,2% 2,2%
Privada 5,4% 5,7% 6,2% 5,4%
Nordeste Total 22,8% 23,4% 23,1% 23,9%
Pública 7,8% 6,9% 6,3% 9,4%
Privada 15,1% 16,5% 16,8% 14,5%
Sudeste Total 34,8% 37,2% 35,6% 36,5%
Pública 5,7% 6,4% 7,2% 7,3%
Privada 29,0% 30,8% 28,3% 29,3%
Sul Total 24,3% 21,5% 22,8% 21,9%
Pública 6,7% 4,8% 4,8% 6,1%
Privada 17,6% 16,7% 17,9% 15,9%
Centro-Oeste Total 9,2% 9,9% 10,2% 10,1%
Pública 1,7% 1,8% 2,1% 2,3%
Privada 7,5% 8,1% 8,1% 7,8%
Brasil Total 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%
Pública 25,0% 22,2% 22,6% 27,2%
Privada 75,0% 77,8% 77,4% 72,8%
Fonte: elaboração própria a partir de dados do Censo da Educação
Superior/INEP.
Alguns ambientes e cursos de EAD usam a figura do tutor como mediador, que pode
interagir com o aluno pela presença física em tempo-espaço simultâneos, ou por
meio de instrumentos como o telefone, o fax, o e-mail e o bate-papo. Entretanto, os
ambientes virtuais de aprendizagem ampliaram em muito sua capacidade
comunicativa, oferecendo a docentes e estudantes dispositivos que aumentam
bastante a relação comunicativa entre os participantes dos cursos. (TOSCHI, 2008,
p. 35)
127
os estudantes consigam fazer a relação entre teoria e prática, compreendendo o espaço de sua
profissão e problematizando-o.
Justificativa:
citada no item da meta-avaliação, em que as IES devem considerar as vantagens das etapas
da autoavaliação e avaliação externa. Seria interessante ampliar os Referenciais da Qualidade
visando descrever sobre a autoavaliação na EaD para a garantia da qualidade.
Além disso, no instrumento de avaliação de cursos de graduação presencial e a
distância do INEP (2012), a autoavaliação aparece apenas nas orientações para o avaliador, no
qual ele precisa explicitar os documentos que serviram de base para análise, sendo que um
deles é o relatório. É de se considerar a importância da autoavaliação (OLIVEIRA;
AMARAL; FONSECA; MORAIS, 2008), inclusive para o desenvolvimento da modalidade
de EaD. Sendo assim, seria relevante que a autoavaliação incorporasse itens observáveis, para
que o avaliador acompanhe de fato as ações da IES e ela mesma reflita sobre suas ações.
Quando se faz uso da autoavaliação no processo de avaliação institucional das IES
como forma de regulação, mas sem divulgação, sem verificar se o que é posto é realizado,
quando não se tem retorno de seus relatórios, há uma falta de mecanismo de enforcement40
(NOGUEIRA, 2013). Como diz o próprio Documento Referência da CONAE (2013), item
325, é preciso fortalecer a participação das comissões próprias de avaliação, induzindo
processo contínuo de autoavaliação e - acrescentamos - com o acompanhamento de seus
resultados. Essa indução, como mecanismo de enforcement, significa políticas públicas
explícitas, como alterações nos Referenciais da Qualidade e nos Instrumentos de Avaliação
do INEP, incluindo a autoavaliação específica para a modalidade como um procedimento que
proporciona a busca pela qualidade e o desenvolvimento da modalidade.
Para não concluir, retomamos de onde começamos: é necessária a criação de
mecanismos de autonomia inserida para que o Estado brasileiro, seja por meio do CNE, da
CAPES ou do MEC, possa escutar a sociedade e os atores diretamente relacionados com a
EaD (pesquisadores, professores, gestores, técnicos, estudantes e outros) para o levantamento
das reais necessidades, problemas, limites e possibilidades, de forma coletiva e, assim,
rediscutir, reelaborar, reconsiderar os princípios apresentados inicialmente nestas
considerações finais. Há um levantamento organizado, a seguir, a fim de problematizar uma
política nacional para a EaD e a construção de diretrizes para a modalidade, conforme a
seguir:
40
Silveira (2005) esclarece que os elementos que compõem a implementação de uma política pública são as pessoas,
organizações, dispositivos e serviços. Enforcement é a forma com que são aplicados e monitorados.
132
PRINCÍPIOS PROCEDIMENTOS
PARA O ESTADO
i – Utilização de f) Promover amplo debate, problematização e levantamento de
mecanismos de proposições pelos atores que atuam na área, por meio de
autonomia inserida, a conferências regionais e nacional.
partir das expectativas g) Dar continuidade aos Fóruns existentes para discussão e tomadas
da sociedade, de decisão acerca da formulação e implementação da EaD.
instituições e h) Criar um Fórum Institucional do MEC para articular as diversas
estudantes na ações estabelecidas pelos órgãos que lidam diretamente com a
elaboração de EaD (INEP, CONAES, CAPES, SERES, SESU, SEB, CNE).
regulamentação e i) Criar mecanismo indutor de debate interno nas IES por meio de
políticas públicas para Fóruns ou Grupo de Trabalho, visando, também, estimular novas
a área. experiências nas práticas institucionais.
j) Utilizar meta-dados específicos da EaD, por meio da
autoavaliação das IES, para acompanhamento e tomadas de
decisão futura.
ii – Coordenação nos g) Coordenar a regulamentação existente específica para a EaD.
mecanismos de h) Criar indicadores de qualidade específicos para a modalidade
acompanhamento, nas IES e cursos que ofertam EaD .
avaliação, supervisão i) Implementar uma concepção formativa/descritiva de avaliação,
e regulação que com base em indicadores de qualidade específicos para a
atenda às modalidade, que demonstrem a forma de condução da EaD na
características da IES e nos cursos, superando a lógica de quantificação de
modalidade de EaD. atendimento dos atuais indicadores.
j) Instaurar uma coordenação entre o INEP, SERES e CAPES, na
avaliação, supervisão e regulação da modalidade no país.
k) Ampliar os indicadores de EaD no Censo da Educação
Superior/INEP.
l) Divulgar os indicadores de qualidade da educação superior
(Conceito Preliminar de Curso [CPC], Índice Geral de Cursos
Avaliados da Instituição [IGC], Exame Nacional de
Desempenho de Estudantes [ENADE]), distinguindo EaD e
presencial.
iii – Formulação e d) Desenvolver a infraestrutura tecnológica e de rede de
implementação de transmissão de dados e ampliar o acesso às tecnologias no país.
políticas públicas para e) Desenvolver inovação tecnológica e acadêmica para a área, por
o desenvolvimento da meio do fomento e desenvolvimento de pesquisas em EaD.
modalidade f) Fomentar pesquisa e desenvolvimento de bibliotecas virtuais,
materiais tecnológicos e mídias interativas para a modalidade.
iv – Financiamento e) Integrar as atividades de EaD à previsão orçamentária anual das
para a EaD que instituições públicas de educação superior.
atenda as suas f) Solicitar comprovação de sustentabilidade financeira às IES
especificidades privadas .
g) Definir o custo-aluno-qualidade específico para a modalidade.
h) Estimular e permitir novas propostas por meio de inovação e
novas experiências.
PARA A IES
133
Referências
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APÊNDICE
144
APÊNDICE A
Quadros
Programas de Formação de professores com uso da EaD no Brasil
Período de 2002 – 2012.
Os quadros trazem uma síntese dos principais programas de formação de professores no
período de 2002 a 2012.
a) Formação de gestores
Resultados
Projeções
Documento de ARAÚJO, M. A. M. de L. O “Progestão”no contexto da modernização do estado
Referência brasileiro: mediação para a democratização da gestão escolar ou para a implantação
da lógica gerencial na escola? Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação
em educação da Universidade Federal do Pará, 2006, 185 p.
Documento de BRASIL. Ministério da Educação. Gestão da Educação 2003 – 2010. Brasília: MEC, 2014 <
Referência http://gestao2010.mec.gov.br/o_que_foi_feito/program_82.php >. Acesso em: 10 mar 2014.
41
No site oficial do Programa há registro do início do grupo 4 a partir de 2011. Por se tratar de dois anos deve
ter encerrado ao final de 2012. Não encontramos registros de cursos iniciados posteriormente.
42
A secretaria foi extinta em 2011.
147
Início 1995
Iniciativa Pública
Objetivo Ofertar cursos de formação de professores para professores atuantes nos anos
iniciais do ensino fundamental.
Marco Regulatório Criado pelo Conselho de Ensino e Pesquisa (CONSEPE) da Universidade Federal
do Mato Grosso (ALONSO, 2000).
Secretaria Responsável Secretaria de Estado e Educação (SEDUC); Secretarias municipais e
Universidades Estadual e Federal do Mato Grosso (NEDER, 2000).
Trajetória O curso foi elaborado a partir de dados que constatavam a deficitária formação dos
professores no estado, em que menos de 40% possuíam formação em nível de
graduação. Deste modo, foi criado o Núcleo de Educação Aberta e a Distância
(NEAD), para implantar cursos com objetivo de atender professores da educação
básica dos anos iniciais do ensino fundamental. O curso obteve, no primeiro ano
de implementação, 1995, 352 matrículas, atendendo professores em exercício, nos
anos iniciais do ensino fundamental, de nove municípios do estado (ALONSO,
2000; NEDER, 2000).
Resultados Oferta de cursos em outros polos do estado do Mato Grosso e polos no Japão43.
Projeções Em 2001, segundo Neder (2000), o curso tinha por objetivo profissionalizar o
quadro de professores do estado e municípios de Mato Grosso.
Referências ALONSO, Kátia M. A educação a distância e um Programa Institucional de
Formação de Professores em Exercício. In: PRETI, Oreste (Org.). Educação a
distância – construindo significados. Cuiabá: NEAD/IE – UFMT; Brasília: Plano,
2000.
43
Informações coletadas na página oficial do Núcleo de Educação Aberta e a Distância (NEAD). Disponível em:
http://www.nead.ufmt.br/index.php/institucional/historia.
148
formação docente a distância e deu subsídios para outras ações como o PRÓ-
LICENCIATURA e no sistema UAB.
Projeções
Projeções
PRÓ-LETRAMENTO
Período 2005 – em andamento.
Iniciativa Pública. Ministério da Educação.
Objetivo Ofertar cursos de formação continuada para professores de series iniciais do ensino
fundamental nas áreas de Língua Portuguesa e Matemática.
Marco Regulatório Não possui regulação específica.
Secretaria Responsável Secretaria de Educação Municipal.
Trajetória O programa iniciou a partir de 2005 por universidades em parceria com a Rede
Nacional de Formação Continuada de Professores, portanto é destinado a
professores que atuam nas redes públicas, propondo melhorias para a prática
docente no ensino de Língua Portuguesa e Matemática.
Resultados A partir de 2008 o PRÓ-LETRAMENTO tornou vinculada a Provinha
Brasil.(GATTI, 2011).
Projeções
45
A
Portaria nº 833, de 16 de setembro de 2009 institui as diretrizes para o funcionamento dos Fóruns Estaduais
de Apoio a Formação Docente.
152
Resultados Segundo Bielschowsky (2009), o programa vem trazendo para as escolas públicas a
possibilidade de acesso às novas tecnologias tanto aos alunos quanto aos
professores. O autor aponta, com base nos dados do MEC, que até 2009 um
considerável número de escolas já possuía os laboratórios de informática, mas
ressalta a importância da formação profissional para o uso das TIC.
Projeções