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AULAS DIREITO
COMERCIAL
Inês Sá Rodrigues
2018/2019 Prof. Paulo Olavo Cunha e Francisco Barona
Índice
Noção de Direito Comercial .................................................................................................. 7
Evolução histórica do Direito Comercial .............................................................................. 10
Evolução dos sujeitos individuais .................................................................................... 17
Evolução do Direito Comercial português........................................................................ 20
Autonomia do Direito Comercial .......................................................................................... 23
Princípio da celeridade .................................................................................................... 25
Facilidade da prova ......................................................................................................... 25
Princípio da solidariedade ou garantias........................................................................... 26
Princípio de segurança e boa-fé no mundo comercial ..................................................... 27
Fontes de Direito................................................................................................................. 28
Noção de atos de comércio................................................................................................. 32
Conceito de comerciante................................................................................................. 40
Atos preparatórios da atividade comercial ....................................................................... 40
Atos de comércio objetivos ............................................................................................. 43
Atos de comércio mistos ................................................................................................. 44
Atos formalmente comerciais .......................................................................................... 45
Teoria do acessório......................................................................................................... 45
Concorrência ...................................................................................................................... 46
Práticas individuais...................................................................................................... 47
Preços e condições de venda................................................................................... 48
Práticas restritivas (proibidas) .................................................................................. 49
Sanções e medidas cautelares ................................................................................. 49
Práticas coletivas ........................................................................................................ 51
Práticas concertadas ................................................................................................ 53
Posição dominante abusiva ...................................................................................... 55
Dependência económica abusiva ............................................................................. 56
Auxílios públicos ....................................................................................................... 57
Concentração de empresas ........................................................................................ 57
Tutela da concorrência .................................................................................................... 61
Propriedade industrial ......................................................................................................... 63
Invenções........................................................................................................................ 66
Marcas ............................................................................................................................ 68
Proteção da marca ...................................................................................................... 68
Outros direitos privativos da propriedade industrial ......................................................... 70
Concorrência desleal ...................................................................................................... 71
Alargamento da tutela dos direitos privativos por via internacional .................................. 72
Empresa comercial ............................................................................................................. 73
Art. 230º Código Comercial ............................................................................................. 76
12.Setembro.2018 Teórica
Contactos:
1) poc@lisboa.ucp.pt
2) poc@vda.pt
Bibliografia:
Avaliação:
1) Aulas práticas
2) Exame – casos práticos
3) Teste de avaliação (provavelmente fim de novembro)
Programa:
Primeiro vamos fazer uma introdução, explicar o que é o mercado, por que há
concorrência e porque é que esta é uma concorrência disciplinada. Isto é, tem de
haver normas e regras que visam defender essa concorrência, arbitrar o
relacionamento entre os agentes económicos do mercado.
Uma grande diferença entre aquilo que é classicamente o Direito Comercial e aquilo
que hoje o prof. POC entende que é o Direito do Mercado tem a ver com os
destinatários das normas deste ramo de direito.
abstração admitisse que pudesse haver realidades além das pessoas físicas, que
foram reconhecidas como suscetíveis de direitos e vinculações.
Embora continue a haver comerciantes individuais, a verdade é que eles têm cada
vez menos peso na economia porque chegou-se à conclusão que integrando-se em
estruturas mais complexas (sociedades comerciais), terá maior vantagem.
O capítulo mais relevante será o dos sujeitos de Direito Comercial (como se acede,
que realidades podem ser sujeitos, etc.). Aqui vamos diferenciar aspetos importantes
que permitem distinguir entre Direito Comercial tal como é entendido classicamente
vs. plano do Direito do Mercado. Vamos chegar à conclusão que este ramo do Direito
não se resume só ao estudo dos sujeitos produtores, prestadores de serviços e
distribuidores de bens. Este ramo do Direito hoje tem de ir para além disso – também
terá de incluir com o mesmo relevo os consumidores.
Vamos também ver que estes sujeitos do Direito Comercial têm um instituto comum
que publicita a sua situação jurídica pontual (Registo Comercial).
Na origem deste ramo do Direito esteve a classe dos mercadores, sujeitos que se
afirmavam e diferenciavam em razão da natureza da sua atividade profissional –
atividade económica de intermediação – e em relação à qual precisavam de dispor
O Direito Comercial justifica-se então por ser formado por um conjunto de normas que
visa regular os atos e as atividades jurídico-mercantis. Ou seja, há dados atos1 e os
contratos passaram a ser celebrados também pelas pessoas a quem se destinava a
atividade dos comerciantes.
Isto vai colocar uma questão que é: se olhar para um contrato entre comerciantes, a
intuição leva a dizer que se é entre sujeitos comerciais, isso justifica um regime
específico – ambos intervêm profissionalmente no mercado (podem perspetivar e
conhecer os efeitos do ato que celebram). Assim, não haverá problema em qualificar
o contrato como comercial e consequentemente sujeitá-los ao regime comercial. O
problema surge quando se confronta um comerciante e um consumidor, que regime
jurídico aplicar? Para o sujeito comercial, o ato é comercial. Para o não comerciante
é um ato da vida quotidiana. Que regime aplicar? Isto vai ser respondido depois.
1 Contratos
Em sentido económico é intermediação entre oferta e procura, na sua base está uma
atividade de troca. Por isso, os atos caracteristicamente comerciais são:
1) Os atos de troca.
2) A compra para revenda: sugere o ganho que o adquirente pretende vir a obter com
a revenda do bem.
3) A compra para explorar o uso: compra para aluguer2.
Esta ideia de conjunto de normas que regula certos atos e atividades e agrega certos
sujeitos, que intervêm profissionalmente no mercado e dotados de certas
capacidades e meios, prof. POC considera que este ramo tem de ser alargado – isto
porque muitos dos instrumentos que estes sujeitos utilizaram, por exemplo os
cheques, livranças, letras, embora criados para satisfazer as relações entre
comerciantes, acabaram por se generalizar a todas as pessoas e deixaram de ser
elementos caracterizadores da tal classe. Assim grande parte dos atos que têm
origem na atividade económica comercial passa, na realidade, a estar ao alcance de
todos os cidadãos. Inclusivamente daqueles que são as contrapartes naturais dos
atos comerciais finais, mas que também podem, nas suas relações privadas, recorrer
a esses instrumentos.
Há uns anos não havia dúvidas de que isto acontecia, sobretudo quando se pensa
em profissões autónomas, não subordinadas. Mas nos atuais casos, de organizações
complexas, que exercem a mesma atividade exclusiva, e que na realidade não estão
dependentes da produção de um determinado sujeito, já é discutível se essas
organizações não são verdadeiras empresas comerciais. E, se não forem, é apenas
porque o legislador rejeita a sua qualificação.
14.Setembro.2018 Teórica
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Ocorreu uma evolução natural para uma perspetiva objetivista segundo a qual se
justifica haver atos jurídicos sujeitos a um regime próprio e específico
independentemente dos sujeitos que neles estão envolvidos e independentemente
dos sujeitos que os praticam. E por isso é também possível descortinar uma teoria
objetivista de percecionar a realidade que caracteriza o Direito Comercial.
Na última aula também começamos por referir a evolução histórica. O sentido desta
seria naturalmente procurar compreender como é que as questões se colocam no
presente – é esta a grande relevância da história como um fenómeno cultural
imprescindível ou indispensável.
4 O comércio tem na sua base a ideia da intermediação, sendo isto que o caracteriza. Esta intermediação começa com uma
lógica de troca ou de câmbio e evolui para uma lógica de compra para revenda, em que naturalmente o fator monetário se
torna verdadeiramente determinante, isto é, a moeda passa a ser indispensável.
11
para além do encargo inerente ao peso desse mesmo transporte, havia de facto o
risco do desapossamento5.
Por isso o Direito Comercial teve de pensar como poderia superar isto. Pensou
porventura6 promover deslocações monetárias através de instruções que se possam
dar através de documentos que estão consubstanciados no suporte físico, que é
nomeadamente o papel – que se leva com muito mais facilidade e para além disso
não tem um valor imediato em caso de desapossamento. Porque? Porque é um
documento que apenas permitir proceder a uma liquidação financeira a quem estiver
legitimado para o efeito.
Hoje em dia temos uma geração que funciona virtualmente e por isso o papel começa
a ser dispensado. O que se questiona hoje em dia é se não deve tendencialmente
desaparecer os meios de pagamento que se consubstanciam em papel. E por isso se
fala da paperless society e da sua evolução para a cashless society, isto é, para uma
sociedade que não tenha uma espécie monetária física.
No plano dos próprios sujeitos durante muito tempo foi sobretudo evidente perspetivar
a intervenção na vida económica com referência à pessoa física ou singular, que era
o sujeito de Direito que era conhecido e reconhecido. Ex: o Estado tal como nós o
concebemos hoje é um fenómeno do séc. XIX.
12
É verdade que desde 1986 estas sociedades em nome coletivo são um dos tipos
societários possíveis e estão reguladas no CSC e constituem verdadeiras pessoas
jurídicas, continuando a apresentar características muito próximas daquelas que
estiveram na sua génese, a verdade é que não foi sempre pacífico que elas pudessem
constituir um centro autónomo de imputação de efeitos jurídicos, isto é, que elas
pudessem ser dotada de personalidade jurídica.
13
O sócio comanditário, isto é, aquele que limita a sua responsabilidade ao capital que
disponibiliza à entidade, é um sócio que pretende permanecer oculto, ou seja, que
não quer ser conhecido. Isto surgiu e justifica-se porque tratava-se de uma época em
que a Igreja censurava as formas de exploração do capital e por isso condenava os
lucros e os juros. E a simples ideia de participar numa entidade com a finalidade de
obter uma rentabilidade do investimento feito era algo que podia conduzir à censura
da Igreja e esta censura poder-se-ia materializar na chamada excomunhão. Esta era
no fundo uma espécie de sanção social grave – era no fundo a exclusão da sociedade
na época. O que acontecia é que havia pessoas que queriam a rentabilidade, mas
não queriam a sanção e por isso uma forma de a poder ter era investirem sem serem
conhecidas.
14
se mandassem 30, a rentabilidade era muito maior. Só que já não bastava uma única
pessoa para capitalizar aquela unidade económica, era preciso mais capital.
Um tipo societário que é hoje muito conhecido e que é o 4º tipo societário são as
chamadas sociedades por quotas, só foi criado em Portugal no séc. XX, embora seja
o dominante atualmente em número, não em peso económico.
No que diz respeito às sociedades anónimas estas caracterizavam-se por ter uma
estrutura algo complexa, mas sobretudo caracterizavam-se por concederem aos seus
participantes, isto é, aqueles que subscreviam partes sociais que caracterizavam o
8 Embora as primeiras grandes companhias tenham surgido no plano internacional no final do séc. XVI.
9 Ex: Companhia das Índias – porcelanas.
10 Não havia propriamente uma preocupação com a tributação como há hoje – o rei tributava pela imposição de certas taxas
15
seu capital, responsabilidade limitada pelo capital que subscreviam. Ou seja, como
aquilo que era importante a quem coordenava essas entidades seria obter o maior
número possível de participante – como eram muitos era completamente impossível
muitas vezes estar a individualizá-los.
E por isso, essas sociedades caracterizavam-se por os seus sócios terem uma
responsabilidade limitada àquilo que correspondia à participação subscrita. Se a
sociedade corresse mal, não lhes viria a ser pedido nada mais para além daquilo com
que já se tinham comprometido. Isto correspondia, em relação a todas as outras
formas de atividade económica, a um enorme anseio por parte dos sujeitos que
intervinham na vida económica com uma natureza mercantil que era poderem limitar
a responsabilidade dos seus negócios a um determinado património que eles se
dispusessem a organizar do seu património familiar, aquele que em princípio eles
careciam para financiar a sua subsistência e da sua família. E por isso o grande
anseio da parte final do séc. XIX era procurar admitir se possível criar uma espécie
de sociedade em nome coletivo, uma sociedade com a participação de 2 ou mais
sujeitos, mas com uma reduzida dimensão, a qual pudesse proporcionar aos seus
participantes uma responsabilidade limitada pelo capital que eles se propunham
subscrever. E isso evitaria, se as coisas corressem mal, arrastar toda a vida pessoal
e familiar do sujeito envolvido.
É isso que vem a justificar no final do séc. XIX, primeiro na Alemanha e em segundo
lugar em Portugal, a possibilidade de criar uma sociedade que pretendia de algum
modo conjugando características que eram por um lado típicas da sociedade em
nome coletivo, mas na sua essencialidade correspondiam à tal lógica ambicionada da
limitação da responsabilidade, que eram as sociedades por quotas – o que aconteceu
em 1901 em Portugal. Tinha designadamente um número de sócios particularmente
reduzido que era de 2.
Sociedade é uma palavra que etimologicamente quer dizer pluralidade, ou seja, uma
sociedade quer dizer 2 ou mais. E isto era uma grande diferença em relação à
sociedade anónima. Por quê? Porque a sociedade anónima tal como estava regulada
no Código Comercial de 1888 era uma sociedade que pressupunha um mínimo de 10
pessoas, o que era muito para a época. E por isso as sociedades por quotas vieram
permitir que a exploração dos pequenos negócios viesse vir a assumir aquela forma
16
jurídica – isto foi o que aconteceu desde o princípio do séc. XX, com uma grande e
gradual afirmação dessas sociedades por quotas. Até ao momento, que situamos no
final do séc. XX, em que o legislador português, já depois de estar em vigor há mais
de 10 anos o CSC, reconheceu o paradoxo que é a possibilidade de uma sociedade
ser participada apenas por uma pessoa, seja ela pública, singular ou coletiva. Isto é,
a admissibilidade da sociedade unipessoal, o que em sim constitui uma contradição
em termos etimológicos – é o mesmo que dizer uma pluralidade de uma pessoa.
E por isso este ramo começou a ser, sobretudo na Idade Média, perspetivado como
um ramo autónomo do Direito. Autónomo porque ele agregaria princípios e regras
que se caracterizavam por serem especiais relativamente às regras do Direito
Comum, sendo que este era (e ainda é) o Direito Civil.
No entanto vieram ao longo da história a ocorrer fenómenos que fizeram com que
esta lógica de atender a um ramo que queria caracterizar e ser apanágio de uma
17
Quando chegamos aqui já temos por isso afirmadas duas perspetivas diferentes
relativamente a um mesmo complexo ou conjunto normativo.
18
Chegados ao séc. XX conseguíamos conviver com vários sistemas e alguns até que
registam características de um e do outro. O desenvolvimento económico que veio a
ocorrer no séc. XX teve o efeito de permitir algo que é contrário à própria formação
do Direito Comercial – permitir generalizar ao mercado e portanto também às pessoas
comuns instrumentos que tinham tido uma origem no âmbito do Direito Comercial. Os
tais títulos de crédito, os documentos que serviam para poder realizar pagamentos –
porventura também podiam ser utilizados pelas pessoas singulares nas suas
relações, independentemente de o fazerem à margem da vida económica e comercial,
no plano das suas vidas pessoais. E por isso veio a ocorrer no séc. XX um fenómeno
que corresponde à fragmentarização do Direito Comercial e à generalização de
muitos dos seus instrumentos e operações.
12É isso que caracteriza o Direito Comercial – ser um direito de crédito. Isto porque o crédito permite proceder à liquidação
ou pagamento de um bem sem a necessária e imediata contrapartida, ou seja, sem a necessária e imediata satisfação do
preço desse bem.
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O peso dominante dos sujeitos económicos que permitem concluir que se dá com a
evolução e o progresso tecnológico, uma evolução que se justifica não atender
apenas aos sujeitos ativos, produtores e distribuidores de bens e serviços, mas
também àqueles em função dos quais a vida económica existe (consumidores) – são
estes últimos que permitiram de algum modo no nosso país ao que se tem vindo a
designar pela retoma. Há os consumidores externos, que absorvem mais exportações
portugueses, e os consumidores externos, que são os únicos que no domínio dos
serviços evitem que os serviços paguem todos uns aos outros e que não saiam do
mesmo espaço geográfico – turistas.
13 Que corresponde ao que hoje se chama de insolvência, isto é, a impossibilidade de efetuar pagamentos.
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No plano legislativo há que assinalar que o primeiro Código Comercial português data
de 1833 – é conhecido como Código de Ferreira Borges, entrou em vigor em 1834 e
tem uma característica: foi escrito por um jurisconsulto que era expatriado e que vivia
nas Ilhas Britânicas e que portanto é muito influenciado peals ideias anglo-saxónicas.
Estamos a falar de uma época em que houve um enorme confronto entre as ideias
continentais que resultavam dos códigos franceses do princípio do século e as ideias
muito liberais que caracterizavam o tecido normativo de Inglaterra. E por isso primeiro
Código Comercial português, evidentemente que surgido já depois das invasões
francesas e num momento de pleno controlo do Estado por parte da coroa, é bastante
influenciado pelas normas inglesas. É claro que neste primeiro código vamos já
conceber e descortinar os tipos sociais que na época já se identificavam – sociedades
em comandita, as sociedades em nome coletivo e as sociedades anónimas, também
chamadas companhias.
Este primeiro Código Comercial subsistiu até 1888 – neste ano surgiu o novo Código
Comercial, também chamado Código de Veiga Beirão, que era o Ministro dos
Negócios Eclesiásticos e da Justiça e foi o impulsionador da elaboração e da
aprovação deste código. Este segundo Código Comercial é o nosso atual Código
Comercial – as normas que temos na nossa legislação comercial atual são o resquício
do Código Veiga Beirão de 1888. Este código, que assenta muito numa lógica de o
ato comercial14, tratava também dos atos em especial, e neste caso das sociedades
comerciais, ou seja, o Código de Veiga Beirão regulava as sociedades comerciais –
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como era 1888 não contemplava as sociedades por quotas. Depois regulava toda
uma série de contratos comerciais e finalmente agregava ainda matérias de Direito
Marítimo. E no início, mas apenas no início, regulava a matéria da falência – mas
apenas durante cerca de 1 ano, que depois foi autonomizada.
Este código tinha uma tendência interessante – lendo a carta de lei que aprovou o
Código de Veiga Beirão vemos que havia a presunção de que a partir daquele
momento todas as alterações em matéria comercial viessem a ser inseridas no
Código. Esta presunção durou menos de 1 ano – logo no ano seguinte a matéria da
falência saiu do Código e veio a dar lugar a um diploma próprio e autónomo. A partir
daí foi uma dispersão total e inúmera legislação extravagante, até chegarmos ao
momento atual em que já houve toda uma sucessão de diplomas próprios e
autónomos que são complementares ao Código Comercial.
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O Direito Aéreo nunca esteve no Código, evidentemente não podia lá estar previsto
num diploma que surgiu em 1888.
19.Setembro.2018 Teórica
Art. 1º Código Comercial: como que acolhe os princípios que estavam no Código do
Comercio Francês de 1807. Iremos ver depois como é que a questão se estrutura.
Antes de o fazermos, temos de ter em conta que sempre que o Código se refere ao
ato pode ser simples ou negócio jurídico, e este último pode ser unilateral ou bilateral.
A questão é saber se faz ou não sentido equacionar um ato que não tenha natureza
negocial ou contratual como um ato que requer a aplicação de um determinado
regime jurídico (que seria aqui o regime comercial).
Quando estudámos Direito Civil concluímos que era um ramo do direito privado
comum, por exemplo. Aqui, em Direito Comercial, mais do que pensar se é ou não
direito privado especial, que só se pode afirmar por referência a um ramo que seja
comum, vamos ver se podemos ficar no Direito Comercial ou se podemos ir para além
do próprio Direito Comercial.
1) Autonomia formal: concluir que há um ramo que se diferencia dos demais porque
tem um conjunto de normas próprias, quiçá eventualmente um código próprio. O
facto de existir um Código Comercial leva-nos a dizer que há um conjunto de
normas que se diferencia das demais. Mais do que isso: se no CC o contrato de
15
Rigorosamente nunca fez parte do Código de Veiga Beirão. Surgiu em diploma próprio e autónomo em Portugal em 1940,
mas que também se reconduz a este grande ramo do Direito.
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compra e venda está nos arts. 874º e ss e no Código Comercial está nos arts.
463º e ss, e evidentemente que essas regras apresentam alguma diferenciação16,
sem prejuízo de também recorrermos às regras do contrato civil de compra e
venda porque essas também se aplicam aos contratos comerciais. É, portanto, um
conjunto de normas distintas e distanciado das normas de outros ramos17.
2) Autonomia substancial: procurar encontrar situações jurídicas que careçam de um
regime jurídico que seja substantivamente diferente do regime que deve ser
aplicado às situações jurídicas que caracterizam as situações comuns, em função
de dados interesses e princípios que estão subjacentes ao reconhecimento dessa
mesma diferenciação. Para podermos alicerçar a autonomia substancial temos de
indagar se há princípios relativos a este ramo do Direito18 que as diferenciam das
normas de Direito Civil. Pode suceder que se conclua que há verdadeira
autonomia substancial e não haver autonomia formal – ex: isto seria assim se as
normas de Direito Comercial estivessem contidas no CC. Esta foi a opção do
legislador italiano, por exemplo. Nesses ordenamentos esbate-se a autonomia
formal, ainda que não a substancial. Em Portugal há uma autonomia substancial
com um conjunto de características e princípios que as distinguem relativamente
as normas de Direito Civil.
3) Autonomia pedagógica: este ramo tem autonomia didática, tem é que ir para além
dos limites a que está confinado e deixar de ser mero Direito Comercial.
legislação extravagante
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mais for protegido mais será concedido. Quando não há correspondência do devedor,
o credor retrai-se e deixa de conceder esse crédito – as crises económicas são o
espelho disto: dá-se retração do crédito e abrandamento na atividade económica.
1) Impor alguma reflexão e ponderação na celebração dos atos – quanto mais agrava
a forma, mais posso refletir.
2) Quanto maior forma, mais fácil será a prova.
Vamos agora ver os princípios do Direito Comercial que o fazem divergir do Direito
Civil.
Princípio da celeridade
Os negócios jurídicos devem celebrar-se com a máxima rapidez. A celeridade vem
acompanhada da necessária simplicidade de formas e de fórmulas. Isto é, a
celeridade implica que a forma de determinados negócios seja, comparativamente a
negócios análogos quando celebrados fora do Direito Comercial, mais simples.
Facilidade da prova
Também importa ao Direito Comercial promover a facilidade da prova, porque quanto
mais fácil a prova, mais o negócio se celebra. Existem negócios comuns ao plano civil
e ao plano comercial, como as garantias – ex: penhor.
25
Se olharmos ao art. 400º Código Comercial há desde logo um aspeto que o afastam
do penhor civil20, que tem a ver com as formalidades inerentes à constituição do
penhor mercantil – enquanto no penhor civil há que disponibilizar ao credor
pignoratício o bem que garante a obrigação, no âmbito do Direito Comercial, o penhor
mercantil não implica a tradição da coisa para a esfera do credor. Os penhores
mercantis podem recair sobre estabelecimentos comerciais, mas também sobre
máquinas e equipamentos em concreto. O art. 400º estabelece as regras de prova do
penhor mercantil – independentemente do bem tem que ser escrito. Há regras que
justificam que no Direito Comercial seja mais fácil constituir as garantias e,
inerentemente, temos uma facilidade de prova nesse sentido.
O mesmo se diga se olharmos ao art. 396º, que está dentro dos artigos sobre
empréstimo comercial e que nos diz que, seja qual for o valor, é admitido qualquer
género de prova. O que não quer dizer que as partes não pretendam uma forma
escrita, isso pode ser opção das partes, mas não é imposta pelo legislador, é uma
forma convencional – aquela que é imposta pelas próprias partes.
Já no plano do Direito Civil as obrigações plurais são conjuntas, o que significa que,
se nada for dito em contrário e existirem diversos devedores, cada um responde por
parte idêntica às dos demais, com o risco de, se nem todos tiverem a quantia que
lhes cabia, quem vai ficar a perder ser o credor, porque cada um só é obrigado pela
sua parte.
20 Nunca confundir penhor com penhora. Penhor é uma garantia real pela qual uma pessoa afeta um bem móvel, não sujeito
a registo, a assegurar o cumprimento de uma obrigação. A penhora é uma fase do processo executivo, é o ato de apreensão
de bens para que, à sua custa dos mesmos, seja satisfeito um crédito judicialmente reclamado.
26
Assim se passa, por exemplo, na fiança21. Aquilo que caracteriza a fiança civil é um
importante princípio que é o chamado benefício da excussão prévia – significa que o
fiador, ao opor o benefício da excussão prévia, pode exigir que o credor primeiro
execute todos os bens do devedor, antes de lhe exigir o cumprimento da obrigação.
Já no Direito Comercial a solidariedade significa que o credor vai poder escolher e
fiador não tem o benefício da excussão prévia. Isto é importante porque o credor pode
optar por cair em cima do fiador e depois o fiador pode ter direito de regresso contra
o devedor. A solidariedade reforça o crédito e o crédito gera crédito, e por isso tem
que haver princípios especiais de Direito Comercial.
Por isso, há regras que visam repor algum equilíbrio nessas circunstâncias,
nomeadamente, a necessidade do predisponente ter de se assegurar que a
contraparte está ciente dos principais efeitos desse contrato. Se ele não explicar nada
à contraparte e ela conseguir provar isto, pode não ficar vinculada em certos casos,
pelo simples facto de assinar.
21A fiança é uma garantia pela qual o fiador oferece todo o seu património para assegurar o cumprimento da obrigação do
devedor, que é o seu afiançado. Como é uma garantia pessoal, só desparece com a morte.
27
direito inerente a um título que adquira, ainda que tenha havido uma vicissitude antes
do título chegar à posse. Ou seja, desde que aparentemente tudo esteja formalmente
correto, mesmo que tenha havido uma vicissitude, por exemplo, o furto, mas em que
esse furto não se nota no título, a preocupação do legislador é que possa haver uma
legitimação daquela situação jurídica ativa. Por isso, o desconhecimento de certos
factos pode ser relevante para alicerçar uma posição jurídica no âmbito do mundo
comercial, para tutela do valor de crédito dos títulos que circulam.
A boa-fé sustenta, no Direito Comercial, situações que no Direito Civil não eram
aceitáveis. Sobretudo porque o Direito Civil se caracteriza muito na causalidade – os
negócios jurídicos têm uma causa e se a causa sofrer uma vicissitude, o negócio vê
os seus efeitos postos em crise, deixando de se produzir.
Fontes de Direito
Relativamente às fontes de direito, a posição de base do prof. POC aproxima-se do
entendimento do prof. OA, para quem nenhuma fonte de direito está legitimada para
subordinar o valor e o alcance de outras fontes de direito. O que significa que o facto
de poder decorrer da lei uma limitação, por exemplo o valor do costume, não é
fundamento suficiente para se considerar que o costume é uma fonte subordina à lei.
22 Não constituindo as decisões judiciais precedentes a ter de observar. Todavia a jurisprudência assume natural destaque
quando o STJ elabora AUJ, que, não sendo vinculativos, condicionam substancialmente a aplicação do Direito pelos tribunais.
23 Formada pelas opiniões dos jurisconsultos mais conceituados.
28
29
de acordo com a norma que o intérprete criaria se fosse o legislador – segundo o art.
10º/2 CC. A lacuna é uma situação jurídica que se encontra por regulamentar, mas
que carece de regulamentação e pode acontecer que a lacuna seja intencional. Isto
é, que o legislador não tenha querido inicialmente prover à solução dessa
circunstância. É tido como conveniente hoje em dia, que seja o próprio mercado a
determinar as melhores soluções. Ex: Uber correspondeu durante muito tempo a uma
verdadeira lacuna.
30
que sucede com os “usos da praça”, que são, em geral, também usos comerciais, se
constituírem prática habitual dos comerciantes no exercício do respetivo comércio,
cuja juridicidade radica na convicção de que, na atividade comercial que se
desenvolve naquele lugar, o comportamento devido é o que é imposto pelos usos, de
que resulta.
Para que os usos assumam relevância e eficácia social, devem ser adotados por
todos os sujeitos envolvidos numa certa atividade económica e não apenas por
aqueles que se encontram numa das suas vertentes.
Valendo o costume pela convicção social de que uma dada norma de conduta deve
ser observada, é de admitir que as prática sociais atuadas e aceites por categorias
de profissionais, mais ou menos vastas, de determinados agentes sirvam para
caracterizar juridicamente uma relação de natureza comercial, pelo menos enquanto
a lei não impuser diferente solução.
As fontes internacionais, que são cada vez mais importantes com a globalização do
mercado, são fontes que visam aplicar-se a situações jurídicas plurilocalizadas. O
Direito Comercial é também sustentado por fontes de origem externa que, nalguns
casos, são expressamente transpostas para a nossa ordem jurídica.
31
É grande a dificuldade que se prende com a tutela jurídica neste nível do plano
internacional.
21.Setembro.2018 Teórica
Temos um artigo fundamental que é o art. 2º – o nosso Código não tem a preocupação
de arrastar uma noção de ato de comércio. Esta é uma noção atomística, relativa a
um ato, portanto pode ser um ato isolado, pode ser objeto de uma prática isolada, ou
seja, pode acontecer uma vez na vida. Cada um de nós pode praticar um ato isolado
sujeito ao Direito Comercial e não ser comerciantes. O nosso Código não avança uma
definição de ato de comércio, nem sequer é possível um conceito unitário – o que é
32
A expressão atos de comércio abrange, para além dos negócios jurídicos, os atos
jurídicos simples e os factos ilícitos, geradores de responsabilidade extracontratual.
33
exclusivamente civil, se o contrário do próprio ato não resultar”: esta segunda parte
refere-se a atos de comércio subjetivos, porque como diz o art. 2º para que sejam
de comércio estes atos têm que ser praticados por um comerciante. São atos de
comércio subjetivos, isto é, se forem praticados por comerciantes – mas nem
todos os atos os atos dos comerciantes são atos de comércio subjetivos.
Os atos de comércio subjetivo são os atos praticados por comerciante, exceto se
forem de natureza exclusivamente civil ou se se mostrar que o ato não é comercial,
isto é, se resultar do ato que ele não é acessório da atividade mercantil do
comerciante que o praticou. Isto porque a lei parte do pressuposto de que todos
os atos do comerciante são acessórios da sua atividade profissional.
Numa primeira aproximação ao art. 2º, apesar do cuidado que o Direito Comercial
tem em procurar regular o ato de comércio como uma manifestação de vontade
abrangendo os atos jurídicos simples ou stricto sensu, os que existem por
contraposição aos negócios jurídicos, que são manifestações de vontade
intencionais, portanto as manifestações de vontade não intencionais também deviam
caber, e curiosamente o art. 2º, 2ª parte ao qualificar os atos de comércio subjetivos
fala em contratos e obrigações – mas é verdade que não deixa de se incluir na
obrigação as obrigações que estão para além dos contratos. Os contratos são os atos
de comércio bilaterais e as obrigações são os efeitos jurídicos que ocorrerem à ordem
jurídica.
Mas nem todos os atos das pessoas singulares ou físicas que sejam comerciantes
são atos de comércio. Isto é, as pessoas singulares praticam na sua vida, mesmo
34
aquelas que se dedicam a uma atividade comercial, praticam outros atos á margem
da sua atividade comercial – estes não vai fazer sentido enquadrar no Direito
Comercial. É este o cuidado que o art. 2º, 2ª parte também tem.
1) Compra e venda, arts. 463º a 476º – também existe uma disciplina nos arts. 874º
a 939º CC.
2) Mandato, arts. 231º a 265º – também existe uma disciplina nos arts. 1157º a 1179º
CC.
3) Empréstimo (ou mútuo), arts. 394º a 396º – também existe uma disciplina nos arts.
1142º a 1151º CC.
4) Depósito, que pode assumir a forma comercial prevista nos arts. 408º a 424º –
também existe uma disciplina nos arts. 1185º a 1206º CC.
5) Fiança, prevista unicamente no art. 101º – também prevista nos arts. 627º a 654º
CC.
6) Penhor, previsto nos arts. 397º a 402º – também previsto nos arts. 666º a 685º
CC.
35
Mas tal não significa que o Direito Comercial não reconduza à matéria mercantil este
tipo de atos.
Art. 101º: fala da fiança – a palavra mágica deste artigo é solidário, porque se formos
estudar o regime da fiança civil vamos ver que se o ato for civil o fiador só responde
pela dívida garantida depois de excutidos os bens do devedor, a isto se chama o
benefício ou o privilégio da excussão prévia. Apesar do art. 101º ser apenas uma linha
e meia, conseguimos mesmo assim estabelecer a diferença mais relevante que podia
haver entre um ato que está regulado no Código Civil (em mais de 20 artigos) e um
ato que no Código Comercial apenas tem um artigo. Como é que se regula a fiança
mercantil, independentemente da autoria da vontade poder produzir algumas
cláusulas? Muito simplesmente com este art. 101º e com todos os artigos do CC que
não forem compatíveis com este art. 101º – fiança mercantil ou comercial. Ser fiador
comercial é totalmente diferente de ser fiador civil – ser fiador comercial significa estar
na primeira linha da responsabilidade.
Voltando ao art. 2º, 2ª parte: “ todos os atos dos comerciantes, que não forem de
natureza exclusivamente civil (é um primeiro requisito), se o contrário do próprio ato
não resultar”. Os que forem de natureza exclusivamente civil não são atos de
comércio.
1) Todos os atos de natureza exclusivamente civil: isto foi muito discutido. O critério
que o prof. POC acha mais apropriado é considerar que são atos de natureza
exclusivamente civil os atos que sejam de uma espécie cujo género não fosse
apto a ser regulado no Código Comercial. E como é que o género não é apto a
ser regulado no Código Comercial? Se ele não visar realizar os valores
subjacentes ao próprio Direito Comercial. E por isso o ato pode ter um conteúdo
patrimonial, isto é, ser suscetível de avaliação pecuniária, mas se ele não pudesse
ser regulado no Código Comercial ele é um ato de natureza exclusivamente civil.
Ex: doação pura – tem que ser um ato de natureza exclusivamente civil, isto
porque o Direito Comercial prossegue o lucro, visa satisfazer os interesses dos
autores dos atos e visa proporcionar-lhes um ganho relativamente à situação em
que se encontravam antes da prática do ato. A doação é um negócio jurídico
gratuito e assim sendo apenas impõe sacrifícios a uma das partes, que é o doador.
E por isso a doação, como qualquer ato gratuito, corresponde a uma espécie de
36
um ato de um género (gratuito) que não têm cabimento no Código Comercial e por
isso é um ato de natureza exclusivamente civil. Para além dos atos gratuitos,
quase todos os atos de natureza pessoal são atos de natureza exclusivamente
civil: casamento, perfilhação, adoção, testamento – estes atos que estão
regulados no CC são atos de natureza exclusivamente civil.
Por este primeiro crivo, tendencialmente, todos os atos patrimoniais dos
comerciantes reconduzem-se a atos de comércio subjetivos e podem
corresponder ao exercício da sua atividade.
2) O art. 2º, 2ª parte introduz um outro requisito dizendo que o ato não é de comércio
se dele resultar o contrário, isto é, se o contrário resultar do próprio ato. O que é
que isto significa? Isto significa que se resultar do ato que ele nada tem que ver
com o exercício da atividade comercial daquele sujeito então ele não é um ato de
comercio subjetivo – ainda que não seja um ato de natureza exclusivamente civil,
ele é um ato civil. Ex: o Código Comercial no art. 464º qualifica as compras para
consumo como atos civis – exclui a comercialidade das compras para consumo.
O comerciante faz compras que têm a ver com o seu estabelecimento, para
revenda, a verdade é que se tal acontece ele também pratica atos que nada tem
a ver com a sua atividade, como por exemplo, comprar bens para se alimentar –
estas compras por isso não são atos de comércio.
O que diz portanto a parte final do art. 2º, 2ª parte é que se no momento em que
o ato é praticado resultar que ele não tem nada que ver com o exercício da
atividade daquele sujeito, então esse ato não vai ser comercial, salvo se for um
ato especialmente regulado, salvo se entrar na comercialidade pela janela do art.
2º, 1ª parte – se for um ato objeto para aquele sujeito. Se não for um ato objetivo
para aquele sujeito, também não é um ato que seja reconduzível ao Direito
Comercial, apesar de ser praticado por um sujeito, se se demonstrar que no
momento da prática do ato que aquele ato nada tinha que ver com a atividade
daquele sujeito.
Temos que recorrer ao art. 13º, sobre o qual já falamos para qualificar como
comerciante as sociedades comerciais. O art. 13º diz, antes de falar das
sociedades25, que são comerciantes as pessoas que, tendo capacidade para
praticar atos de comércio, fazem deste profissão – aqui a palavra-chave é
25 Pois estas eram mais raras quando o Código Comercial foi feito.
37
O que é que resulta da parte final do art. 2º? A lei exige que para que se exclua a
comercialidade do ato do comerciante que o próprio ato se evidencie que nada tem
que ver com a atividade do comerciante. Mas há certos atos em que não se evidencia
nada – ex: comerciante que compra uma jarra e a atividade dele não é de compra e
venda de jarras. Esta jarra pode ir para o seu escritório ou esta jarra pode ser para
levar para casa – se nada resultar então esta compra, porque não é uma compra para
ser um ato objetivo de comércio, tinha que ser uma compra para revenda (arts. 463º
e ss). Mas ele não comprou para revender, comprou a jarra para usar e fruir – se a
jarra fosse para a fábrica e ele não tivesse pago o preço da jarra tinha todo o sentido
que fosse o seu acervo patrimonial inerente à exploração da sua atividade económica
que respondesse pelo preço daquela jarra. Se ele comprar a jarra para casa teve de
comprar com o seu próprio dinheiro. O que nos diz o art. 2º, 2ª parte é que quando
não resulta nada do ato, então será um ato subjetivo de comércio – ou seja, na dúvida
é um ato subjetivo de comércio. Há portanto aqui uma presunção de que o ato é
comercial quando não resulta o contrário, quando não resulta que não é comercial.
Muitas vezes resulta que é comercial e em alguns casos resulta que ele não é
comercial (ex: diz para embrulhar a jarra e para mandar entregar em casa da sua filha
porque é o presente de anos dela). E por isso o Direito diz que esse ato que noutras
circunstâncias poderia ser um ato de comércio para aquele sujeito, neste caso é um
ato civil, é um ato que não cabe nos atos de comércio.
38
No que diz respeito a todos estes atos subjetivos, há um problema que se coloca que
é que muitas vezes a forma que damos ao ato, isto é, a exteriorização da declaração
de vontade que damos ao ato pode ser suficiente para o reconduzir ao regime
comercial. Ou noutros casos é o próprio Direito que reconhece que, ainda que o ato
por natureza fosse um ato exclusivamente civil, há atos que o Direito admite que se
possam enquadrar na atividade comercial – e o Direito admite-o de foçar expressa. E
outros enquadram-se porque correspondem aos usos comerciais – práticas
reiteradas de comércio.
Mas há outras doações em que não há espírito de liberalidade. Há, por exemplo, as
doações conforme os usos e costumes dos comerciantes, que se traduzem em
ofertas de brindes – cativar o cliente. Estes brindes têm a ver com a atividade deles,
são no fundo doações interessadas. Para além destas doações há outras que
também, neste caso, é o próprio legislador a reconduzi-las à atividade do autor do ato
– por exemplo, aquelas que são inerentes à atividade de mecenato e patrocínio (ex:
um banco a patrocinar um concerto). Muitas vezes a entidade faz isto primeiro porque
a lei as autoriza e segundo porque a lei reconhece que esse ato se pode enquadrar
na sua matéria coletável e portanto pode ser um custo da sua atividade, e por vezes
até admite que esse custo seja superior ao próprio custo da oferta – ex: façam doação
e possam descontar na matéria coletável 130% do valor da doação que fizeram. Aqui
é o próprio Direito que qualifica a matéria mercantil e isto é particularmente importante
em relação às sociedades, porque se o Direito não aceitasse este tipo de atos elas
nunca teriam capacidade para os poderem praticar, isto porque uma sociedade por
definição não pode realizar doações.
O art. 2º, 2ª parte tem a ver com a chamada qualificação da substância pela forma.
Ex: quando estamos numa fila de supermercado e vemos alguém solicitar uma fatura,
imputar o ato aquisitivo a uma sociedade comercial ou a um empresário individual 26,
o que o autor da aquisição está a pretender que ainda que aqueles bens sejam de
26 O número de contribuinte das sociedades comerciais em regra começa por 5. O dos empresários individuais começam por
8. Ao passo que o dos sujeitos individuais começa por 1 ou por 2.
39
Conceito de comerciante
Se olharmos para o art. 13º, o que qualifica os comerciantes, vimos para que os
empresários individuais sejam comerciantes é preciso que eles façam do comércio
profissão. Ou seja, é comerciante aquele que faz do exercício do comércio profissão,
isto é, a pessoa que se dedica habitualmente, como meio de vida, à prática de atos
de comércio (absolutos), nomeadamente de compra para revenda (art. 13º/1).
A essas pessoas acrescem aquelas que se propõe a exercer uma atividade mercantil
(art. 230º) e as empresas coletivas, organizadas sob a forma de sociedades
comerciais, só pelo simples facto de existirem, ou seja, de se constituírem como tais
(art. 13º/2). E também, em certas circunstâncias, as cooperativas e empresas
públicas.
40
Mas o comerciante que se estabelece pratica outros atos que não têm nada a ver com
isso – por exemplo, ele tem que fazer obras, tem que fazer a decoração, comprar
máquinas, etc. Estas compras estão sujeitas ao regime comercial? Estas compras
são atos de comércio? E de facto não seriam pelo art. 2º, 2ª parte. Não são porque
ele ainda não é comerciante, não são porque estes atos não são atos relativamente
a um comerciante, não são atos objetivos de comércio.
Então como é que eventualmente eles caberiam? Eles cabem por uma segunda
norma que é uma norma que permite abranger os chamados atos preparatórios da
atividade comercial. É uma segunda norma qualificadora do Código Comercial que
consta do art. 230º. Este artigo enuncia uma série de atividades. Neste artigo cabem
os atos de organização da empresa – o propor-se a prática de atos de comércio,
nomeadamente as que estão previstas no art. 230º, reconduz à comercialidade todo
uma série de atos que de outro modo não poderia estar aí incluídos. E portanto os
atos preparatórios vão ser atos comercias por se enquadrarem na atividade comercial
das pessoas singulares que os praticaram. É verdade que o art. 230º fala em
41
A questão que também se coloca é de saber se o art. 230º mais do que qualificar atos
comerciais ou de comércio, se vai também qualificar empresas comerciais, isto é,
entidades como comerciais e depois vai procurar também qualificar as atividades que
são desenvolvidas por essas empresas. Ou seja, a própria noção de ato de comércio
pode no fundo corresponder a duas situações juridicamente distintas:
O que acontece é que também o art. 230º tem uma segunda faceta muito importante
que é a de excluir expressamente a comercialidade de determinadas empresas, que
correspondem a organizações, numa certa perspetiva, de fatores produtivos que na
realidade se destinam a um determinado mercado.
E portanto o art. 230º ao qualificar a empresa vai também qualificar o empresário, isto
é, vai também determinar que só possam assumir a forma de sujeitos comercias
aquelas entidades que tenham como substrato uma empresa comercial. E portanto
uma entidade que tenha como substrato uma empresa que não possa ser comercial
nunca pode assumir a forma de uma sociedade comercial.
42
1) Atos de comércio absolutos: aqueles que são comerciais por natureza, ou seja, os
que têm como objeto atividades de intermediação entre a oferta e a procura que
sejam desenvolvidas com a finalidade de obter – são os chamados atos
intencionais. Estes podem ser de diversas categoriais:
a) Atos de intermediação – compra e venda, art. 463º quando ato se destina a
revenda; a troca, art. 480º; o aluguer, porque este é feito à custa de um bem
que, em princípio, foi adquirido precisamente com essa finalidade, art. 481º; o
reporte, art. 477º; a conta corrente, art. 484º.
b) Atos industriais: têm a ver com a fabricação e portanto com toda a indústria
transformadora no geral. Estão previstos no art. 230º/1, o artigo que alarga as
atividades, no art. 230º/5 a propósito da atividade de emissão e ainda no art.
230º/6 a propósito das chamadas empreitadas, isto é, das atividades de
construção de obras públicas e privadas.
c) Atividades e operações de natureza financeira, previstas nos arts. 362º a 365º
e no Regime Jurídico das Instituições de Crédito e Sociedades Financeiras.
d) Atividades aleatórias: o exemplo típico é um contrato de seguro, hoje regulado
no DL nº 72/2008, de 16 de Abril.
e) Prestações de serviços, que se reconduzem designadamente a
agenciamento, art. 230º/3, promoção de espetáculos públicos, art. 230º/4,
transporte, art. 230º/7 (incluindo o transporte aéreo por interpretação desta
regra contida neste artigo)27.
2) Atos objetivos por acessoriedade objetiva: são atos jurídicos28 que se
caracterizam por ter uma conexão com um ato de comércio que já esteja
previamente definido como um ato absoluto. Podemos estabelecer mais do que
uma categoria: atos instrumentais. Aqui já falamos de dois: a fiança, art. 101º, e o
penhor. A fiança é instrumental porque é um ato de comércio objetivo por ser
acessório de outro ato de comércio, ou seja, quer dizer que a garantia tem que ser
27 Há uma outra norma importante em matéria de transporte que é o art. 366º CSC, que regula o contrato de transporte.
28 Contratos.
43
relativa a um contrato comercial para ser uma fiança mercantil. E depois temos
outros atos que são objetivos por acessoriedade objetiva como, por exemplo, o
mandato, art. 231º, a comissão, o empréstimo e o depósito. O mandatário
comercial o que é que faz? É aquele que pratica atos de comércio – aquele que
por nome e por conta de outrem realiza atos de comércio, designadamente
objetivos de comércio, ex: compra para revenda. É por isso mandatário comercial
aquele que se encontra num estabelecimento comercial – o gerente do
estabelecimento comercial, o balconista do estabelecimento comercial.
3) Atos objetivos por acessoriedade subjetiva: significa que estes atos precisam de
um requisito para poderem ser atos de comércio. Têm que ter como característica
o serem praticados por uma empresa comercial, serem praticados por um sujeito
de Direito Comercial. Um exemplo típico é aquele que consta do art. 366º – este
artigo está parcialmente revogado. O contrato de transporte é um ato de comércio
especialmente regulado quando a empresa transportadora for uma empresa
comercial, nos termos desse mesmo artigo, isto é, se ela se constitui para esse
efeito.
No que diz respeito ao Direito Comercial podíamos ainda reconduzir aos atos de
comércio em geral, por interpretação extensiva, todos aqueles negócios e contratos
que não estão regulados no Código Comercial, mas que podem ser por ele
agregados, como é o caso do arrendamento comercial.
44
com isso um ganho. O ato é civil para uma das partes e comercial para a outra, mas
o regime que lhe é aplicável só pode ser um.
E o Código Comercial tem uma norma muito importante que é o art. 99º, que nos diz
que o ato, ainda que só seja mercantil em relação a uma das partes, vai em princípio
ficar sujeito ao Direito Comercial – aplicação do regime comercial a atos de comércio
mistos.
Mas depois o art. 99º diz-nos que se aplica o regime comercial, salvo quanto a
aspetos desse regime que não devem ser oponíveis à parte relativamente à qual o
ato era civil ou não comercial.
Teoria do acessório
Nem todos os atos podem ser reconduzíveis necessariamente ao Direito Comercial –
rejeição da teoria do acessório. Isto é, temos que recusar que um ato por ser
acessório, por ter conexão com um ato que seja comercial, designadamente quando
o autor do ato não seja um comerciante, que esse ato só por ter essa ligação seja um
ato que se reconduz ao Direito Comercial. Porque se admitíssemos isto era o mesmo
que admitir a analogia no Direito Comercial, e esta não é possível na qualificação da
matéria comercial.
Se um não comerciante tiver comprado um bem para o revender – ele usa um carro
que para transportar o bem. O contrato de transporte é relativamente a este sujeito
que precisa de transportar um bem de um local para o outro é um ato de comércio?
Tem uma ligação com um ato que é objetivamente comercial, mas ele não pode ser
qualificado como ato comercial. Se o sujeito já fosse comerciante então este ato de
transporte, se não reconduzisse ao Direito Comercial como um ato especialmente
regulado no Código Comercial, este ato caberia sempre no art. 2º, 2ª parte – estava
45
a transportar algo que tinha adquirido para revender no âmbito do exercício da sua
atividade.
26.Setembro.2018 Teórica
Concorrência
Procuramos perspetivar a relação na lógica de que apenas um lado da relação é
insuficiente e, por isso, enquadramos a matéria no setor do Direito do Mercado,
tutelando as posições mais fracas e reintroduzindo um equilíbrio natural que se
estabelece nas relações de mercado. É esse mercado que justifica que a atividade
económica tenha determinado o desenvolvimento e é do mercado que é preciso
tratar, procurando assegurar que todas as práticas que nele ocorrem – atos e
operações – são conformes a uma ideia de correção, de modo a que se consiga atingir
o equilíbrio e de modo a que as prestações, num mercado que é por definição
oneroso, consigam ser equivalentes.
Há uma preocupação grande a esse propósito, que visa dotar todos os sujeitos que
acorrem ao mercado de um conjunto de regras jurídicas que disciplinam as práticas,
quer as práticas liguem aos destinatários finais dos serviços e bens produzidos, quer
essas práticas liguem aos próprios agentes produtivos, distribuidores ou prestadores
de serviços no mercado.
Uma vez que a força relativa dos sujeitos intervenientes é diferente, importa ao Direito
acautelar que a intervenção no mercado se processe de modo equilibrado e são, sem
pôr em causa a existência de concorrentes que visem satisfazer idênticas
necessidades, por um lado, e evitando que os fornecedores se conluiem com a
finalidade de obter um retorno pelos bens produzidos ou pelos serviços prestados
manifestamente superior ao respetivo valor intrínseco, em nítido desfavor daqueles
que necessitam desses bens, por outro lado.
46
No plano comunitário temos essas regras, no plano nacional também temos regras
importantes. Essas regras correspondem a diplomas autónomos, e no plano nacional
a concorrência é regulada pelo diploma das práticas individuais, DL nº 166/2013, de
27/12, e outro que trata das práticas coletivas, nomeadamente quando são
concertadas, a Lei nº 19/2012 de 8/5.
Práticas individuais
O Direito Português regula as práticas individuais dos agentes económicos no
mercado nacional, procurando impedir e censurando as que forem restritivas da
concorrência num diploma autónomo – DL nº 166/2013, de 27 de dezembro. Exclui-
se do âmbito de aplicação deste diploma as transações sujeitas a regulação sectorial
– ex: setor financeiro.
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Vamos começar por abordar o diploma, naquilo que seria fundamentalmente uma
perspetiva unitária da intervenção dos agentes no mercado. São diversas as vertentes
que encontramos no diploma:
1) Uma relativa aos preços e condições de venda, e, portanto, normas que visam de
algum modo evitar que haja abusos, arts. 3º e 4º.
2) Outra de práticas restritivas que o diploma considera serem proibidas,
relativamente às quais o diploma comina uma proibição.
3) Depois um terceiro complexo de normas, as sanções e medidas cautelares, que
podem ocorrer nesta matéria.
O art. 3º estabelece uma regra que diz respeito à proibição da prática de preços ou
condições de venda que sejam discriminatórias – tem como preocupação que os
preços sejam discriminatórios relativamente a prestações equivalentes. Se as
prestações forem diferentes pode haver diferenciação nos preços e condições de
venda, designadamente, se os bens forem em número muito diferente. Por isso, no
48
1) A venda com prejuízo (art. 5º): naturalmente, considerando que não é possível
vender um bem por um preço inferior ao seu preço efetivo, e este preço efetivo foi
aquele relativo ao custo de aquisição do bem por parte do prestador de serviço ou
produtor.
2) Também se proíbe a chamada recusa de venda (art. 6º), quer dizer, os agentes
económicos que se encontram no lado da oferta não podem recusar a venda de
bens ou serviços embora a lei admita que em certas circunstâncias pode haver
causas justificativas para a recusa.
3) Proibição das práticas negociais que de algum modo afetem o relacionamento
comercial entre as empresas e que afetem o modo como esses agentes se vão
comportar no mercado (art. 7º), por exemplo, impondo que a contraparte não
possa transacionar o bem que adquire com uma outra empresa em concreto,
condicionando a venda. Portanto, a todos esses casos, a lei vai reconduzir à
mesma situação.
Sanções e medidas cautelares
A reação a estes atos. Relativamente às sanções, previstas nos arts. 9º a 11º, as
práticas que corresponderem a atos que são negativamente qualificados pelo diploma
legal vão integrar contraordenações, a que vão corresponder coimas previstas no art.º
49
10º, e em certas situações, sanção pecuniária compulsória, que vise obrigar o agente
a adotar uma conduta positiva e a cessar a violação da ordem jurídica.
A própria lei prevê no art. 8º as medidas cautelares, que admitem que as entidades
de fiscalização possam antecipar incumprimentos e impor condutas que os agentes
económicos devam observar no mercado.
Até aqui tivemos uma preocupação essencial, estivemos centrados nas práticas
individuais dos agentes do mercado, ou seja, posicionam-se no mercado, adotam
condutas e essas têm que ser aferidas. Relativamente a este diploma, temos que
concluir que os agentes económicos podem incorrer nas previsões que são
estabelecidas nesta lei, e se tal vier a acontecer, naturalmente, vão sofrer uma reação
desfavorável.
O exemplo mais claro diz respeito ao Pingo Doce, que um dia comunicou ao mercado
que estava a vender os produtos por metade do preço,e isto é um ato que
corresponde a uma prática individual, e a consequência, de facto, era a venda com
prejuízo, mas a campanha acarretou uma notoriedade extraordinária, porque a
publicidade foi imensa. As sanções eram mais reduzidas, estávamos num quadro
legal diferente, e a entidade, sabendo o risco da sanção, concluiu que compensava,
pelo ganho que veio a ter.
50
Práticas coletivas
Estamos a falar das práticas que envolvem mais do que um sujeito e, em regra, são
reveladoras de certa concertação. Os sujeitos que as realizam, falseando o modo
como o mercado devia atuar normalmente de acordo com as regras sãs de
funcionamento, adotam uma conduta desleal ao mercado e, para esse efeito, existe
a Lei da Concorrência (LC) – Lei nº 19/2012, de 8 de Maio.
Esta lei é importante porque reconhece a existência de uma entidade que tem
competência para supervisionar o mercado em geral: a Autoridade da Concorrência,
a quem cabe promover e defender a concorrência e cabe reagir contra a
inobservância das normas que devem observar a sã concorrência no mercado. O art.
5º autonomiza esta entidade.
O conceito de empresa que consta do art. 3º/1 da Lei da Concorrência é muito vasto
– a empresa é qualquer entidade que exerça uma atividade económica que consista
na oferta de bens ou serviços num certo mercado, independentemente do seu
estatuto jurídico ou forma jurídica30 e independentemente do modo de financiamento.
Mas falamos da empresa porque a ideia de empresa é abrangente, visa abarcar
quase todas as realidades, independentemente de serem adequadamente
estruturadas, há preocupação de reconduzir ao conceito todas as manifestações de
vida económica.
51
Mais importante é o que resulta do art. 3º/2: reconduzir ao conceito de uma única
empresa todas as situações que chamaríamos pluriempresariais. Situações
pluriempresariais: situações em que existem empresas juridicamente autónomas,
distintas entre si, mas que se constituírem uma unidade económica produtiva ou se
tiverem laços de interdependência que tenham a ver com participações recíprocas
umas nas outras, no respetivo capital, com a detenção de uma maioria de votos uma
nas outras, com a possibilidade de designar a maioria dos mais relevantes cargos
sociais, ou com a possibilidade de condicionar os negócios de uma delas. Nesses
casos, os que vamos caracterizar como a chamada empresa plurisocietária, a lei
considera que estamos perante uma única empresa e não perante um conjunto de
empresas.
Art. 3º, Noção de empresa: “1. Considera-se empresa, para efeitos da presente lei,
qualquer entidade que exerça uma atividade económica que consista na oferta de
bens ou serviços num determinado mercado, independentemente do seu estatuto
jurídico e do seu modo de financiamento. 2. Considera-se como uma única empresa
o conjunto de empresas que, embora juridicamente distintas, constituem uma unidade
económica ou mantêm entre si laços de interdependência decorrentes,
nomeadamente: a) De uma participação maioritária no capital; b) Da detenção de
mais de metade dos votos atribuídos pela detenção de participações sociais; c) Da
possibilidade de designar mais de metade dos membros do órgão de administração
ou de fiscalização; d) Do poder de gerir os respetivos negócios.”
Porque é que o legislador tem a preocupação de saber o que deve considerar como
única empresa? Se o conglomerado de empresas constitui um grupo jurídico, por
haver controlo de uma empresa em outras, se tudo contar como uma única empresa,
se o diploma estabelecer determinados critérios em função do volume de negócios e
os indexar à noção de empresa, torna-se mais fácil atingir os critérios se for uma única
empresa, do que se estivéssemos a ver todas autonomamente. Do ponto de vista da
concorrência há um efeito importante, que é dizer que encaro cada empresa como,
eventualmente, sendo uma individual mesmo sendo uma que integre um conjunto de
empresas com uma ligação específica entre si.
52
Práticas concertadas
A Lei da Concorrência surgiu em 2012, ou seja, surgiu numa fase complexa – é o
pleno da crise económica. No que diz respeito às práticas relativamente às quais se
pretende reagir, não há grande diferença em relação ao que se passou antes.
Começando pelo art. 9º, que se refere às chamadas práticas concertadas proibidas.
53
parte, essas práticas são proibidas. Esses acordos são proibidos, e, quando estão
formalizados, são nulos, como determina o art. 9º/2.
Essas práticas, em que se traduzem? O art.º 9/1 avança com uma série de exemplos,
uma vez que é uma enumeração exemplificativa, outros podem existir,
Há casos em que pode haver harmonização? Sim, como determina o art. 10º. São
situações em que se justificam acordos ou até decisões de entidades ou associações
empresariais concertadas, mas, apesar da lei permitir, estabelece limites apertados:
54
55
Têm a ver com o facto de uma empresa, por ser fornecedora ou cliente de outrem,
poder estar dependente no seu funcionamento da vontade da empresa dominante.
Isto porque não dispõe, no mercado, do que se pode considerar como alternativa
equivalente, isto é, quando não possa, no mercado, recorrer a soluções diferentes
junto de outras empresas, porque o fornecimento de bens ou a prestação de serviços
é feito por um número restrito de agentes económicos, ou quando, num prazo
razoável não se conseguir encontrar no mercado outras condições de fornecimento,
que sejam idênticas às praticadas no mercado aberto – portanto às que seriam
praticadas se não estivesse sujeita a essa dependência. Por isso, quando uma
empresa explora abusivamente o estado de dependência económica em que outra se
pode encontrar, nessa circunstância, a lei sanciona o abuso de dependência.
56
Auxílios públicos
A quarta, e última categoria, que está sob a mira da autoridade de supervisão,
representa uma alteração em relação ao passado anterior, vem prevista no art. 65º,
sobre os auxílios públicos.
Concentração de empresas
A concentração de empresas ocorre quando, por efeito de fusão de empresas ou da
aquisição do controlo da totalidade ou de parte do capital ou dos ativos de uma ou
várias empresas por quem já seja titular de uma das envolvidas, se verifique uma
mudança duradoura do controlo sobre a totalidade ou parte de uma empresa (art.
36º/1 LC).
57
De todas as normas que constam do Capítulo III, os arts. 36º, 37º e 39º são os artigos
mais importantes. Sempre que há um ato de mercado que se projeta no que pode
resultar numa concentração, a Autoridade da Concorrência tem que se pronunciar
dos efeitos negativos que se venham a manifestar no mercado e, em alguns casos,
rejeitar a concentração, noutros aceitar e em alguns casos permitir sobre
determinadas condições, os chamados remédios, que passam por impor que a
entidade que resulte da operação tem que ceder no mercado parte dos ativos e
portanto que possa contribuir para a revitalização da concorrência.
A concentração de empresas tem a ver com uma ideia chave, de mudança de controlo
da empresa. Uma empresa pertence a determinada pessoa, tem representatividade
no mercado, em alguns casos menor, noutros maior, e quando há mudança de
controlo duradouro, a lei entende que pode haver concentração no art. 36º/1, quando
se refere às operações que conduzem à mudança de controlo duradouro:
58
1) Aquisição de totalidade e ou parte do capital social dessa empresa – art. 36º/3, a).
2) O controlo do seu ativo líquido – art. 36º/3, b).
3) Uma influência relevante junto dos respetivos órgãos sociais (ação preponderante
nos órgãos da empresa, por efeito de direitos ou contratos) – art. 36º/3, c).
É importante que se diga que há determinados atos que o art. 36º/4 exclui da
concentração, mas na lógica desta disciplina legal há circunstâncias que a lei
considera serem de afastar. Mas olhando ao art. 37º vemos quais são os casos em
que há obrigatoriedade de notificação prévia:
59
60
A lei admite que possam ser previamente avaliadas pela Autoridade da Concorrência
certas práticas proibidas e admite como justificadas práticas proibidas, desde que se
enquadrem num regulamento comunitário (art. 10º/3).
28.Setembro.2018 Teórica
Concorrência
Tutela da concorrência
Depois de apreciar as situações que eram rejeitadas pela Ordem Jurídica, no sentido
de que elas padronizavam corresponderiam, acarretariam uma distorção no normal
funcionamento do mercado, falta perspetivar o que se suscita em matéria de tutela da
concorrência.
Tem regra prevista no art. 5º da Lei nº 19/2012 (LC), mas também tem um estatuto
próprio. É a entidade que supervisiona o mercado e visa concorrência leal e sã, mas
61
também para a proteção dos consumidores. A Lei da Concorrência afeta uma grande
parte do seu articulado a explicar como é que a Autoridade da Concorrência pode
intervir no mercado, quais os poderes sancionatórios que lhe são reconhecidos nos
termos deste diploma.
O processo sancionatório vem descrito nos arts. 13º a 35º – é um processo que
permite a Autoridade da Concorrência obter inúmeras informações, os seus poderes
são, em certos casos, paralelos aos de uma autoridade policial ainda que, em regra,
para invadir o espaço de determinado agente económico dependa de mandato
judicial. Entre os diversos artigos que dizem respeito ao processo sancionatório, que
pode confinar-se à mera obtenção de informações, mas que pode implicar abertura
de inquérito, onde a Autoridade da Concorrência pode averiguar determinadas
práticas que entende que são menos corretas e decidir se há ou não ilícito
concorrencial.
Dentro dos poderes que lhe assistem vale a pena olhar para os arts. 18º e 19, onde
os poderes da Autoridade da Concorrência estão sintetizados – os poderes que a
aproximam de uma entidade policial, nomeadamente permitindo buscas domiciliárias,
isto é, nas empresas que estão no mercado e haja suspeita de que haja ilícito
concorrencial. No âmbito dessa intervenção (arts. 18º e 19º) tem poderes de
apreender bens (provas) e o que é interessante em matéria do processo sancionatório
é que a lei da concorrência permite a transação, medida muito anglo-saxónica.
1) Afinal não havia razão de ser e o seu inquérito é concluído com o simples
arquivamento – art. 24º/3, b).
62
Propriedade industrial
A natureza dos direitos privativos, que são de propriedade industrial, radica na
lealdade na concorrência, na lealdade que se possa verificar num comportamento dos
diversos agentes económicos do mercado. É importante ter em conta que estamos a
focar-nos num setor jurídico que integra ou se encontra paredes meias com outros
direitos, como o autoral, que se reconduz a um ramo mais vasto que é o da
propriedade intelectual.
Quando falamos da atuação dos agentes económicos do mercado, como este existe
em função dos destinatários finais (consumidores) temos de ponderar os interesses
63
da oferta e da procura e temos de disciplinar o modo como aqueles que estão no lado
da oferta se comportam. O direito da propriedade é, de certa forma, anterior à
preocupação e autonomização do direito da concorrência, este começou a
autonomizar-se muito tardiamente (último quarto do séc. XX), na altura do mercado
único europeu, devido a preocupações com comportamentos padrão a evitar.
64
No que diz respeito ao regime jurídico dos direitos privativos da propriedade industrial
são diversos os que estão estabelecidos no CPI, mas vamos falar fundamentalmente
de dois:
1) Invenções
2) Marcas
65
Invenções
Invenções: produtos novos ou processos novos de fazer um produto já conhecido.
Constam dos arts. 51º e ss, em particular os arts. 51º e 55º. Tal como resulta da lei,
as invenções têm de constituir uma novidade e podem consistir num produto novo no
mercado, isto é, até ai não era comercializado, ou podem consistir num processo novo
de obtenção de um certo produto cuja composição já podia ser conseguida, mas esse
processo torna-o mais fácil.
As invenções são objeto de registo com uma designação especial: patente. Esta
confere ao seu titular o direito exclusivo de explorar a invenção em qualquer parte do
território português (art. 101º/1). Aqui estão todas as realidades que surgem e
constituem novidade – ex: TV ou telemóvel. Se, porventura, conseguirmos melhorar
o processo de produção pode também ser patenteado. Para além desses bens temos
outras invenções que consumimos diariamente – ex: medicamentos – que também
são patenteáveis. O que se pretende com o registo é assegurar que quem a atingiu
vai poder explorar economicamente o valor de mercado desse mesmo bem, produto
ou processo de produção de um bem ou produto.
66
Têm direito à patente o inventor ou os seus sucessores (art. 58º/1), pertencendo esse
direito à empresa no âmbito da qual a descoberta foi efetuada se esta tiver sido feita
durante a execução do contrato de trabalho no qual a atividade inventiva estivesse
prevista (art. 59º/1).
Há um direito privativo muito próximo das invenções: modelos de utilidade, art. 117º
– é uma diferença muito ténue, sendo as suas características parecidas às invenções,
pois têm de ser nova.
Para a invenção ser nova é preciso determinar se o produto já era ou não conhecido
do chamado estado da técnica, isto é, o patamar que a evolução técnica tinha
atingido. Art. 56º/1: situação em que se encontra cada sociedade do ponto de vista
técnico a cada momento, através dos produtos e dos processos de produção que já
são nela generalizados.
A patente pode ser utilizada por pessoa diferente do respetivo titular, através de um
contrato de licença.
A lei impõe a exploração económica da invenção, para que a mesma possa ser
socialmente aproveitada (art. 106º), impondo em certos casos a licença obrigatória
sobre uma patente (arts. 107º e 108º).
67
Marcas
A marca é um sinal ou conjunto de sinais suscetíveis de representação gráfica,
adequados a distinguir os produtos ou serviços de uma empresa dos de outras
empresas. Ou seja, a marca é um sinal distintivo no comércio, permite diferenciá-lo
de todos os outros que visam publicitar bens, serviços da mesma categoria ou classe
que aquele que ela pretende diferenciar. As marcas estão previstas nos arts. 222º e
ss e, se olharmos para esse artigo, vemos que ela é constituída por um sinal ou
conjunto de sinais suscetíveis de ter representação gráfica.
Nos termos do art. 222º a representação gráfica pode ser em palavras (incluindo
nomes de pessoas), desenhos, letras, números, sons, forma do produto ou da
respetiva embalagem (ex: garrafa de Coca-Cola). A marca pode também incluir frases
publicitárias com caráter distintivo e, por isso, beneficiar da mesma tutela, nos termos
do art. 222º/2. O que a lei impõe é que estes sinais sejam adequados a distinguir os
produtos ou serviços de uma empresa.
Proteção da marca
Há circunstâncias (que são muito relevantes) em que as marcas têm tutela
independentemente do registo, e noutros casos, ou porque ainda não se procedeu ao
registo ou porque ela é tão conhecida que o legislador entende dispensar o registo.
Voltando a embalagem da Coca-Cola: se houver outra bebida que use o mesmo tipo
de embalagem a Coca-Cola vai reagir. Outra possibilidade é a embalagem ou as
cores (ex: aspirina). Quase todos os produtos de marca são objeto de registo.
Se criar um produto e proceder imediatamente ao registo vou ter de fazer face aos
encargos e ainda nem sei se é viável economicamente. Como é um produto novo
nem tem reputação que lhe permita merecer tutela para além do espaço jurídico em
que é objeto de registo, o que significava que se eu quisesse por um produto no
68
Marca notória (art. 241º): é uma exceção que concede tutela a uma marca, ainda que
sem registo, quando ela for conhecida, do conhecimento geral dos utilizadores
daquele bem ou serviço, ainda que ela não tenha um prestígio suficiente para ser do
conhecimento da generalidade do mercado. Esta marca notória, mesmo não
69
Marca de prestígio (art. 242º): vai além, é conhecida pela generalidade dos
destinatários das mensagens no mercado. Por isso, a marca de prestígio é aquela
que deve obstar, no fundo, a um registo com a mesma designação de um bem ou
produto de qualquer espécie ou categoria, independentemente de estar ou não
registada no espaço jurídico onde se suscita o pedido de registo. É aquela que, pela
sua reputação e notoriedade geral, se afirma para além da classe a que respeitam os
produtos que diferencia. O que a caracteriza não é excecional qualidade dos produtos
que diferencia no mercado, mas o enorme significado que tem junto daqueles que se
situam do lado da procura, incluindo os consumidores que não dispõe de condições
para adquirir os produtos que ela identifica.
Uma marca notória é conhecida num mercado restrito, como sejam os amortecedores
Koni (conhecidos no mundo automóvel) ou relógio Hublot. A marca de prestígio
destaca-se pelo conhecimento relevante e são produtos do mercado têm qualidade
superior à média: Dior, BMW, Mercedes, etc. Imaginem criar um pesticida “Chanel”.
Tudo situações de tutela independente do registo.
1) Logótipos (arts. 304º-A e ss): formados por sinais ou conjunto de sinais que podem
ser objeto de representação gráfica e que são constituídos por elementos
nominativos, figurativos ou ambos. É um sinal distintivo do comércio, composto
por um sinal ou conjunto de sinais suscetíveis de representação gráfica, formado
por elementos nominativos, figurativos ou ambos combinados (art. 304º-A/1), que
70
Concorrência desleal
Como reagia o mercado em 1940, no ano da primeira codificação e sistematização
em Portugal, quando havia praticas menos adequadas? Já aqui havia uma
preocupação com a concorrência desleal, naquele caso na que pudesse resultar da
intervenção dos agentes económicos cujos direitos são tutelados pelo CPI,
especialmente nos casos onde não conseguíssemos chegar à conclusão que estava
em causa a violação do direito privativo da propriedade industrial, isto é, nos casos
em que pudéssemos chegar à conclusão que, eventualmente, só podíamos evitar a
comercialização de determinado bem no mercado por tal ato poder corresponder aos
usos honestos, de uma sã e leal concorrência no mercado.
E é essa concorrência desleal a lei hoje reserva o art. 317º, considerando como ato
de concorrência desleal “todo o ato que seja contrário às normas e usos honestos de
qualquer ramo da atividade económica”. É o padrão do ramo da atividade económica
71
que vai determinar se o ato é ou não adequado. O art. 317º tem exemplos de atos
contrários de usos contrários:
72
Hoje há acordos mais recentes que visam alargar a proteção do bem para além do
espaço jurídico em que ele nasce, que uma invenção ou marca nova venha a designar
um produto que não é de notoriedade, mas poderá sê-lo ter proteção fora do espaço
jurídico onde nasceu. Os tratados visam uma resposta unitária a nível internacional.
02.Outubro.2018 Prática
03.Outubro.2018 Teórica
Empresa comercial
A empresa constitui o substrato do sujeito de Direito Comercial, cuja atividade é
necessariamente empresarial, mas não se confunde com as pessoas que em cada
momento seja titulares dos bens que integram a sua organização, nem com as formas
jurídicas que em cada momento as enquadram – isso vão ser os sujeitos
propriamente ditos. Isto é, a empresa pode na realidade ser detida por sujeitos
individuais e por sujeitos coletivos, que correspondam a formas jurídicas de
imputação de efeitos de direito, que a ordem jurídica reconhece como autónomos
relativamente a quem para eles contribua relativamente às pessoas singulares.
Quando olhamos para essas entidades, olhamos para elas posicionadas no mercado
de uma forma estável e articulada, de uma forma que possam constituir uma
referência não apenas nas atividades que se proponham a realizar, mas relativamente
a todos aqueles que em cada momento a venham a integrar.
73
É natural que em qualquer ramo do direito, consoante o ramo que esteja em causa,
se possa acentuar a vertente que mais importa a esta organização que existe para o
mercado. Para o Direito do Trabalho vertente que se acentua mais é a vertente
institucional, isto é, preocupa-nos, nos meios produtivos que constituem esta
empresa, essencialmente os meios humanos. As pessoas que estão ligadas ao titular
da empresa através do contrato individual de trabalho. Se procurarmos analisar a
74
No plano fiscal não há nenhuma definição de empresa, porque aquilo que caracteriza
a preocupação do Direito Fiscal é relativamente ao sujeito do Direito Comercial, neste
caso do direito tributado.
75
76
O art. 230º faz mais porque diz que haver-se-ão por comerciais as empresas,
singulares ou coletivas, que se propuserem – isto é, quando elas tiverem intenção de
vir a fazer aquilo já são comerciais. Ou seja, quando se estão a organizar já são
comerciais.
1) Teoria dos atos de comércio: quem considerar que a única norma qualificadora da
matéria mercantil está no art. 2º, que se deve conjugar com outros artigos porque
há vários atos de comércio que só se definem por acessoriedade, pela sua
conexão com os outros, então para esses o art. 230º tem uma vantagem, pois vai
permitir alargar os atos de comércio – vai permitir reconduzir ao Direito Comercial
certos contratos que não estavam especialmente regulados se o art. 230º não os
acolhesse. Isto é relevante pois se olharmos para o art. 230º, 1º está lá o setor
secundário da economia.
Só que a preocupação do legislador, dizem essas pessoas, é que aqui não vale a
pena pensarmos num ato isoladamente considerado, porque o que está em causa
é uma atividade porque, por exemplo, não é concebível ter uma fábrica para fazer
um único ato.
Para estes nunca se colocará o problema da autonomia da empresa porque ela é
mais um ato, mas é um ato que tem aqui de configurar a forma de atividade. É um
mero alargamento dos atos de comércio tal como são configurados.
2) Leitura mais moderna – teoria jurídica da empresa31: defende que o art. 230º é
uma norma qualificadora autónoma, que existe em paralelo com o art. 2º, não
77
sendo uma extensão deste. Este artigo tem uma vertente subjetiva, porque
qualifica um empresário, não qualifica apenas um ato ou uma atividade – porque
fala das pessoas singulares ou coletivas, esta regra qualifica o empresário
comercial e fá-lo de tal modo que os parágrafos que estão no final deste artigo
excluem a comercialidade de determinadas realidades que aqui podiam estar.
Este artigo ao falar do empresário, não é indiferente o papel que ele tem e a
concretização que ele propõe para os meios que vão integrar esta realidade
económica – os tais fatores de produção vão integrar esta realidade económica.
Isto é uma forma de dizer que relativamente aos mesmos meios, mesmo conjunto
de fatores produtivos, o papel do empresário pode ser determinante. Uns
empresários configurariam esses meios de um modo e teriam um certo resultado,
e outros configurariam de outro modo.
Por isso, quem olha para o art. 230º deste modo vai olhar de forma mais ampla
porque vai considerar que quando o artigo enuncia uma série de atividades que
uma pessoa se propõe realizar, e o artigo permite, por isso, qualificar quem é um
empresário comercial. Na realidade este artigo é suscetível de interpretação
analógica. Portanto, caberá aqui neste artigo todas as atividades nele enunciadas
e, para além dessas, também serão comerciais todas as que se pudessem
reconduzir ao art. 230º de acordo com os critérios que se podem extrair desta
regra. É aqui que o prof. POC acha que esta teoria vai um pouco longe demais.
78
Olhando para estes quatro perfis classicamente estabelecidos, o prof. POC diria que
nenhum deles é suficiente. São aspetos parciais de abordagem de uma realidade que
deve ser vista de forma compreensiva. Como? Por um lado a empresa é uma
organização, mas é uma organização dinâmica, em permanente mutação. É uma
organização dinâmica que não se pode diferenciar nem do seu titular, nem do
estabelecimento que a integra. Portanto o prof. POC considera mais correto dizer que
a empresa congrega dois fatores:
79
1) Fator pessoal: para além de toda a componente institucional, salienta o efeito que
na direção das pessoas e dos demais fatores produtivos tem a empresa.
2) Fator patrimonial: constituído por todos os bens e elementos que têm um valor
económico e que estão unificados pela função unitária a que se dirigem. Nestes
bens estão bens corpóreos, mas também bens incorpóreos. Portanto neste
conceito de bens, cabem determinados direitos como os privativos da propriedade
industrial que respeitam a realidades imateriais (ex: marca e logótipo).
Se a empresa congrega estes dois fatores, então a atividade, que para alguns
constitui a própria empresa, é o objeto da empresa, consiste no funcionamento
articulado destes fatores.
Mas a verdade é que se olharmos para o art. 230º chegamos à conclusão que este
apenas exige como requisito de comercialidade a organização. As empresas são
aquelas que se propuserem, aquelas que se organizarem, para a prática de
determinadas atividades. Este artigo não apela necessariamente ao funcionamento,
mas esse é implícito das atividades que aquela organização irá exercer.
80
Constata-se que o art. 230º ampliou os atos de comércio, pois nele não estão
previstas todas as empresas, mas apenas as que não resultavam já de atos de
comércio objetivos previstos no Código Comercial ou em legislação avulsa. Por outro
lado, o art. 230º ao qualificar determinadas empresas como comerciais parece
acentuar os aspetos subjetivo e objetivo da empresa, que decorrem respetivamente
da referência expressa a “pessoas singulares ou coletivas que se propuserem” e do
facto da qualificação comercial das várias empresas ser feita pela atividades que têm
em vista realizar.
81
analogia iuris, porque dessa resultaria que todas as realidades caberiam no art. 230º
se não fossem excluídas pelas exceções.
32Cunha Gonçalves tem uma opinião diversa: a aplicação deste art. 230º/6 está dependente apenas da existência de uma
empresa cujo objeto seja edificar ou construir.
82
Dos parágrafos do art. 230º resultam empresas que este artigo exclui da
comercialidade:
83
09.Outubro.2018 Prática
Parte I
Hipótese 1
Alberto é educador de infância estando casado com Elvira, que trabalha como
manicure num espaço cedido dentro de um supermercado. Como as suas vidas não
andam a correr muito bem, decidiram abandonar a sua anterior profissão e tornarem-
se empresários de pastelaria. Alberto é um excelente pasteleiro e tem um amigo de
infância que vive na província produzindo cereais de todo o tipo, muito apetecíveis
nas pastelarias lisboetas. Esse seu amigo (Cristiano) vem todos os dias a Lisboa
trazer os cereais encomendados por Alberto. A pastelaria foi logo um enorme
sucesso, mas este foi abruptamente interrompido pela instalação, a 50m, de uma loja
da “Padaria Portuguesa” que, por se integrar numa rede de franchising, conseguia
praticar preços muito competitivos; ficando o negócio de Alberto em dificuldades.
Suponha agora que a Padaria Portuguesa celebrou um contrato com Cristiano nos
termos do qual Cristiano forneceria cereais à Padaria e se vinculava a comprar bolos
e pão da Padaria Portuguesa, que iria revender ao público na sua região, assumindo
84
O art. 13º vem definir quem é comerciante, sendo que para tal tem de praticar de
forma profissional atos de comércio. Os atos objetivos absolutos podem, segundo
esta teoria, ser praticados tanto por comerciantes como por não comerciantes. Se
fossem subjetivamente comerciais teriam de ser praticados por comerciantes.
Mais difícil é quando o art. 2º diz “e o contrário não resultar do próprio ato”.
Imaginemos que um comerciante compra um computador, há no art. 2º, 2ª parte deste
artigo uma presunção de comercialidade, pois se não verificarmos aqueles requisitos
presume-se comercial. A lei diz que tem de resultar das circunstâncias em que é
praticado que ele é alheio à atividade comercial, isto para atos que apesar de não
dizer respeito a atividade profissional são com eles conexos – ex: material informático
para stand de automóveis.
Até agora vimos a TAC. Quanto à teoria jurídica da empresa (TJE): neste caso, C não
é comerciante porque a agricultura não é um ato comercial, uma vez que o art. 230º
85
Muitos autores defendem que, no âmbito da TJE, esse alargamento das atividades
económicas para o domínio comercial se pode fazer também por analogia.
10.Outubro.2018 Teórica
Empresa comercial
Art. 230º Código Comercial
Estávamos a analisar o art. 230º. Para já o que importa saber é que o art. 230º, na
doutrina, está longe de ser pacífico. De um modo geral, quando se olha para o art.
230º fazemos um prolongamento da leitura que temos dos arts. 1º e 2º. Isto é, a maior
para dos autores clássicos olha para o art. 230º e diz que o Código Comercial tem
uma norma qualificadora, que é o art. 2º, que nos diz o que são atos de comércio. E
diz que o art. 1º do Código Comercial irá reger os atos de comércio
independentemente de quem os praticar – perspetiva objetivista. Quando a doutrina
clássica chega ao art. 230º, tenta ver nele um prolongamento daquilo que está no art.
86
Todas estas leituras do art. 230º são possíveis e visam partir do princípio de que o
que é relevante está no art. 2º.
87
Teoria Jurídica da Empresa (TJE) – corrente mais moderna. O prof. POC está mais
de acordo com esta, embora não adira totalmente. Paulo Sandim é um percursor
desta corrente em Portugal. Esta teoria procura explicar que o art. 230º é uma norma
qualificadora autónoma, tão relevante como o art. 2º. Por isso, deve ser visto em
paralelismo com o art. 2º. Ou seja, não numa relação de subordinação em relação ao
art. 2º, mas sim numa relação de total autonomia e independência. Por isso, diz que
o art. 2º se preocupa com a qualificação dos atos. Os atos são importantes porque
vão desenhar que é a pessoa do comerciante, se for uma pessoa física, por ser aquela
que os pratica no dia-a-dia. Se fizer da prática daqueles atos (leia-se “contratos”), o
art. 230º aponta para uma realidade diferente. O art. 230 diz que enquanto o
comerciante do art. 13º só é comerciante no momento em que pratica esses atos, ao
invés, o art. 230º permite incluir os atos constitutivos ou organizativos da atividade
mercantil. Por isso, permite perspetivar a empresa também como um sujeito
relevante34.
É claro que, para quem é adepto da TJE, não se pode ficar pelos números do art.
230º. E isto vai ter importância. Quem é adepto da TJE no estado puro (POC não
adere ao estado puro), na realidade, olha para art. 230ç e diz que é uma norma que
obriga a confrontar as atividades nela enunciadas com as exclusões que estão no seu
final. E, do confronto dessas exclusões (que constituem exceções) com as atividades
enunciadas, então, podemos desenhar o perfil da empresa comercial. Ao fazer isso,
identificamos a realidade que pode constituir substrato de um sujeito de Direito
Comercial, designadamente, se tiver uma composição coletiva, de uma sociedade
comercial, incluindo na sociedade todos os atos praticados antes da sua própria
constituição. E o que é que, fundamentalmente, dizem esses 3 parágrafos do art.
230º?
1) Parágrafo 1º:
a) Excluem, claramente, da indústria transformadora “o proprietário ou o
explorador rural que apenas fabrica ou manufatura os produtos do terreno que
34 Vamos ver que a empresa não consegue ter a personificação no Direito Português. Mas a empresa vai ter uma
personificação através da forma jurídica que corresponde à titularidade por parte do empresário. Então é individual se
pertencer a um empresário individual – amplia os atos sujeitos ao regime comercial porque nos termos do proémio do art.
230º basta que a empresa se proponha à prática das atividades comerciais e, dentro desta prática, estão os atos de
constituição ou organização da empresa para ela ser considerada como relevante no Direito Comercial. E, se adotar a forma
de sociedade ou entidade jurídica autónoma, essa forma jurídica externa é a superestrutura que a coloca no mercado e lhe
dá uma razão de ser.
88
risco climático pudesse ser uma empresa comercial. Teria de ser uma empresa
civil.
3) Parágrafo 3º: está em causa a atividade comercial de edição. Por interpretação
extensiva caberia nesta edição (que à época era, fundamentalmente, uma edição
tipográfica) todo o tipo de atividades, inclusivamente, as atividades de caráter
informático. Mas, se a edição for do próprio autor isso significa que essa empresa
está dependente do trabalho intelectual do autor. Logo, não pode incluir-se nas
empresas comerciais. Porque? Porque se o autor adoecer ela deixa de poder
editar. Então, o parágrafo 3º exclui a comercialidade dessas empresas. Se o autor
constituísse uma empresa para editar as suas obras – edição própria. A logica
aqui é o fator do trabalho. A edição própria pode surgir em situações em que o
autor não é conhecido e não consegue, por exemplo, publicar na Almedina. Então,
tem confiança e publica a própria obra. No fundo, o que o paragrafo 3º diz é que
esta atividade de edição própria não pode ter a característica comercial para
qualificar a empresa comercial. Quanto muito, esse autor tem uma empresa civil.
Vamos analisar os números do art. 230º e ver o que os diferencia dos parágrafos do
art. 230º. O que os diferencia é algo que aflora com particular nitidez: é,
fundamentalmente, o risco do capital. O que caracteriza a empresa comercial é ser
uma empresa a quê está associado o risco do capital que nela é arriscado. Daqui
retira-se que se o risco do capital for predominante a empresa pode constituir-se como
comercial.
90
1) Há autores que olham para os números do art. 230º como sendo parte da
enunciação taxativa – só estes é que podem existir. Então só cabem aqui as
matérias que forem enquadráveis por interpretação extensiva, ou seja, se
entenderem que o espírito da norma está abrangido na sua previsão. Ex: art.
230º/7 – cabe o transporte aéreo e espacial, que não está no art. 230º/7, mas cabe
por interpretação extensiva. Ex: a construção de pontes e outro tipo de obras
também cabem no art. 230º/6.
2) Quem entender que isto é uma interpretação exemplificativa significa que isso já
não está limitado à interpretação extensiva e vai-se discutir se há ou não lugar à
analogia.
a) Há autores que entendem que só pode haver analogia legis, isto é, de acordo
com os princípios que o próprio sistema admite como válidos para a criação de
empresas ou atividades que possam revestir a forma comercial, mas de acordo
com aquilo que possa resultar do próprio sistema. Ou seja, temos de ir
encontrar um lugar paralelo no sistema positivado tal como ele existe para
concluir que aquela realidade também tinha cabimento no art. 230º. A analogia
legis vai reconduzir ao art. 230º outras atividades comerciais que não estão
nele previstas. Ex: art. 362º Código Comercial, operações bancárias – nos
termos do Código Comercial os atos que correspondem à prática bancária são
atos de comércio. Ora, quem faz analogia legis diz que vai poder reconduzir a
uma atividade do art. 230º a atividade bancária, porque é uma atividade que
resulta de um lugar previsto no Código Comercial. Os atos que estão na sua
base são qualificados como comerciais pelo próprio Código Comercial. Logo a
atividade bancária também caberia no art. 230º. Outro exemplo é o da
atividade seguradora, prevista na Lei do Contrato de Seguro – não cabe em
nenhum dos números do art. 230º, pois por interpretação extensiva ela não é
lá incluível. Mas se pensarmos que a legislação mercantil avulsa prevê a
comercialidade dessa atividade, podemos diz que que por analogia legis ela
também tem cabimento no art. 230º.
b) Por outro lado, há autores, designadamente da TJE35, que é a posição mais
lata, que dizem que pode haver uma analogia total. Ou seja, as exceções que
estão no art. 230º permitem concluir que aquilo que não foi afastado desta
91
regra se pode vir a subsumir por semelhança à previsão das várias atividades
nela enunciadas. Desse modo, alarga-se tremendamente todas as atividades
que se quer reconduzir ao art. 230º. A analogia iuris ou de Direito é aquela que
está perspetivada pela TJE. É como se estivéssemos a dizer que não há limites
para incluir por semelhança as atividades comerciais no art. 230º. Quais é que
lá cabem? Todas aquelas a que chegarmos à conclusão em que há risco de
capital para o empresário mercantil. Em todas essas vamos dizer que se
reconduziriam também ao art. 230º e permitem, assim, a qualificação da
empresa como comercial.
POC considera que o grande problema da analogia iuris é que ela esvazia
fortemente o art. 2º, 2ª parte – se concluirmos que todas as atividades em que
haja risco de capital podem caber no art. 230º, então o prolema é que não
vamos precisar do art. 2º, 2ª parte, que qualifica os atos de comércio
subjetivos. No fundo, se aceitamos que o art. 230º entra em todos os atos por
analogia no geral, então o art. 2º, 2ª parte fica reservado apenas aos atos do
comerciante que não é empresário. Porque? Porque os atos do empresário
entrariam pelo art. 230º e já não precisávamos do art. 2º, 2ª parte. Isto é um
esvaziamento antissistemático.
De facto, aceitar que o art. 230º, apesar de não estar no princípio do Código,
é uma norma autónoma qualificadora, não é um problema que ela esteja no
fim. No código francês a norma qualificadora está no fim. O problema é poder
fazer uma interpretação de uma norma esvaziando totalmente outra norma.
POC acha que é demasiado ir para além da analogia legis. Ou seja, o que POC
aceita que é que se inclua no art. 230º atividades que não estejam nele
previstas, mas que também estejam aptas a ser comerciais por terem previsão
no sistema positivado.
92
O art. 1º/3 CSC estabelece o princípio da tipicidade. É o artigo delimitador e tem uma
palavra mágica: “devem”. É este artigo que estabelece a tipicidade porque é ele que
explica que as sociedades comerciais devem adotar um dos tipos enunciados no art.
1º/2. Não é o art. 1º/2 que expressa a tipicidade, mas o art. 1º/3. O art. 1º/2 podia dar
os tipos e, não obstante, poderem ser criados novos tipos se não houvesse o art. 1º/3.
Quer dizer que o legislador nos diz qual é a forma jurídica que a empresa comercial
93
pode ter. Mas, depois, diz-nos no art. 1º/4 que as “sociedades que tenham
exclusivamente por objeto a prática de atos não comerciais podem adotar um dos
tipos referidos no nº2, sendo nesse caso aplicável a presente lei”. Ou seja, se for uma
empresa civil tem por objeto a prática de atos não comerciais – ex: a sociedade
agrícola tem por objeto a prática de atos não comerciais – tem de constituir como
empresa civil, porque essencialmente não tem natureza comercial, mas a lei admite
que elas possas adotar a forma comercial. Então, podem constituir-se como
sociedades civis sob forma comercial. É por isso que uma empresa agrícola pode ser
sociedade civil, tem por objeto exercício da atividade agropecuária, mas pode adotar
a forma de sociedade comercial – pode ser uma Lda., ou SA. Os efeitos disto é que,
na prática, não se vai distinguir das empresas puramente comerciais. Porquê? Porque
vai passar a estar sujeita ao mesmo regime jurídico aplicável às sociedades
comerciais.
Não foi sempre assim, inclusivamente, ao nível da jurisdição. Durante muito tempo,
houve um processo comercial, isto é, uma tramitação de atos de natureza processual
que era aplicável apenas a dados atos e pessoas. Isto gerou que houvesse tribunais
exclusivamente afetos a dirimir litígios que surgissem no âmbito do Direito Comercial.
Nos anos 30 houve uma evolução e o que aconteceu foi que se manteve a jurisdição
comercial, mas desapareceu o processo comercial. A lógica do processo comercial
era um processo que permitia atuar muito mais rápido que o civil – logo, tinha menos
garantias para o devedor. Porque? Porque a tutela do Direito Comercial é a tutela do
crédito. Depois o processo comercial acabou. Durante alguns anos, ainda se manteve
a jurisdição especial – tribunais próprios, competência exclusiva e diferenciada dos
cíveis. Com o CPC de 193936 deixou de haver jurisdição comercial. Outro fator que
distinguia o sujeito de Direito Comercial do que não era sujeito de Direito Comercial
era também a situação de incumprimento no Direito Comercial. No Direito Comercial,
o incumprimento gerava a falência. No Direito Civil uma situação patrimonialmente
deficitária determinava o que se chamava de insolvência. Hoje tudo é abrangido pela
insolvência. Portanto, neste plano também já não há diferenciação neste plano.
Deixou de haver diferenciações – há diferenciações em função natureza dos atos, ou
seja, quando a natureza dos atos exclui a sujeição dos mesmos ao regime comercial.
36 Percursor doatual CPC 2013. POC é dos que considera que o CPC de 2013 não é um novo código mas uma simples reforma
do código velho.
94
Se olharmos agora para o art. 230º, sendo assim, as empresas agrícolas deste artigo
podem adotar a forma de sociedade comercial. Ex: Sociedade Agrícola do Casalinho
S.A – pode produzir uvas, transformá-las numa adega própria (naquilo que é uma
empresa acessória) e, efetivamente, esta empresa passa a adotar forma de
sociedade comercial. Isto leva-nos a uma questão: a transposição do art. 230º para a
atualidade. Isto é feito em 1888. Portanto, passaram-se 130 anos. O que acontece é
que, hoje, há explorações agrícolas em que já é temeroso poder concluir que o risco
dominante é o do fator terra. Porque? Porque o investimento de capital é tão intensivo
que o risco é verdadeiramente o do capital. E, então, verdadeiramente, estas
empresas já deviam ser teoricamente empresas comerciais. Tal e qual como quando
vimos as profissões autónomas – tradicionalmente não se enquadravam no Direito
Comercial (médicos, advogados, etc.). Não cabiam no Direito Comercial porque
quando um médico ou um advogado falhava, o resultado não se produzia. Mas no
final da 2ª década do séc. XXI, olha-se para as grandes sociedades e grandes
hospitais e chegamos à conclusão que os meios financeiros que essas empresas
envolvem é grande e, por isso, o risco do capital é brutal. Agora, é um risco diferente.
Ex: o risco, nos escritórios não é tanto dinheiro investido nos bens que compõem o
escritório. O capital da advocacia é a clientela. Isto é, o que caracteriza o capital da
advocacia é a clientela. Sem clientela, não há nada para fazer. E tem risco porque ela
não é segura. Por isso, o legislador tem vindo a abrir e permite, hoje, a uma sociedade
de advogados que adote uma forma de sociedade comercial com responsabilidade
limitada.
95
terra, então, eu não sei se tenho fator de dependência de uma exploração, terra em
concreto ou não. Se não tiver, a minha sociedade é comercial.
Por isso, no séc. XXI, a forma dos atos sobrepõe-se à respetiva substância e qualifica-
a. Utilizando um termo coloquial, POC diria que a forma dos atos canibaliza a sua
substância. Como? Porque a declaração da afetação daquele ato, que pode não
corresponder à realidade, é uma declaração que pode reconduzir o ato a uma dada
qualificação. Ex: se A constituir uma sociedade para dar forma jurídica a uma pequena
empresa, ele não deveria poder fazer uma sociedade comercial. Porquê? Porque o
art. 230º, Parágrafo 2º, parte final não permite. Porém, quando ele constituiu uma
empresa com um objeto comercial – ex: compra e venda de livros, jornais e revistas
– não sabe se vai ser pequena, média ou grande. Como não sabe, não há
possibilidade de controlo por sujeitos externos da dimensão da empresa. Logo,
ninguém pode dizer que não se pode constituir como sociedade comercial porque é
uma pequena empresa. Ou seja, se se recorre à forma societária, sociedade
comercial pura, qualifica-se a substância. Ainda que seja uma pequena empresa,
estou a convertê-la numa empresa comercial. Tal e qual que, se eu celebro um
contrato que, a priori, não seria comercial porque não seria para mim um ato de
comércio (designadamente por ser compra para consumo – art. 464º/1), mas se eu
declarar que é uma compra para uma empresa, eu estou a qualificar a substância
pela forma. Estou a dizer que a forma passe a ser definitivamente a forma comercial.
É essa e é a realidade com que hoje vivemos e com que se confronta o art. 230º.
Estabelecimento comercial
É o espaço físico onde se desenvolve uma a atividade comercial. Não há um conceito
inequívoco na lei, mas, basicamente, é o suporte da atividade do comerciante. Dentro
da sua expressão ampla, tendo em conta que o comércio também tem uma conceção
jurídica, então, também lhe esta associado o estabelecimento fabril, uma vez que,
quem tem uma fábrica e produz e a usa como suporte da atividade comercial
transformadora, na realidade, tem um centro de vida que constitui a sua referência.
96
97
Transmissão do estabelecimento
O estabelecimento é relevante porque o Direito conhece-lhe um regime próprio
quando ele é objeto de uma vicissitude, isto é, quando sobrevém uma circunstância
que acarrete uma mudança da sua titularidade. Por exemplo, isso é o que ocorre com
a transmissão do estabelecimento. A transmissão pode fazer-se:
1) Por trespasse.
98
Trespasse
O trespasse designa a transmissão do estabelecimento comercial ou industrial, a qual
pode resultar de diversos negócios típicos e também da própria herança e partilha de
sócios. É um ato de transmissão global e a título definitivo (distingue-o da cessão de
exploração).
37Visa permitir a quem pagou uma dada renda durante um dado período, decorrido esse período, ter a opção de aquisição
do bem pelo valor remanescente.
99
100
(transmitente) exatamente o montante que ele ia obter com o trespasso, então, tanto
lhe faz vender a um trespassário ou ceder ao senhorio. Se, na realidade, o que ele
queria era ceder o espaço físico, então não teve nenhum prejuízo porque,
provavelmente, o estabelecimento já estava despojado de muitas das suas situações
jurídicas. Ex: já não tinha trabalhadores afetos; já não tinha praticamente bens. Nesse
caso, percebe-se que o senhorio tinha direito de preferência, ou seja, nos mesmos
termos e condições, possa assumir a titularidade do estabelecimento. Mas, atenção,
ao exercer a preferência e ao promover a confusão entre a titularidade do
estabelecimento e a titularidade do local onde se exerce a atividade comercial, ele
passa a ter que desempenhar a atividade de empresário. Ou seja, ele passa a ser o
titular do estabelecimento com todos os efeitos jurídicos que daí decorram, passa a
estar vinculado por essa atividade.
Cessão de exploração
Consiste na transferência temporária e onerosa, em que o cedente conserva a
titularidade do estabelecimento, limitando-se a permitir que o cessionário o explore
(art. 1109º CC). Trata-se de uma verdadeira locação do estabelecimento,
correspondendo à cedência do gozo do estabelecimento como um todo e
pressupondo, desse modo, que o mesmo já se encontre devidamente constituído e
apto a funcionar. Esta cedência provisória não carece do consentimento do senhorio
do local arrendado em que está instalado o estabelecimento, mas deve ser-lhe
comunica no prazo de um mês.
101
estabelecimento está situado em local arrendado, mas deve-lhe ser comunicado. Ex:
restaurador, pessoa que monta o restaurante, equipou a cozinha, sala de jantar,
utensílios, serviços, atoalhados, trabalhadores, um chefe, bens diversos,
investimentos mais significativos nos bens menos pereceríeis e, ao fim de uns anos,
apesar de ser um êxito, está cansado. Ele pode ceder a exploração do restaurante a
um terceiro. Encontrar alguém que lhe pague uma renda, quantia periódica que lhe
compense ceder a exploração. O maior problema que ele pode enfrentar é a perda
de valor que aquilo pode acarretar para o estabelecimento.
Problema do séc. XXI: passar a ter de equacionar que o espaço físico e geográfico
vai ceder ao espaço cibernético – estabelecimentos que estão na internet deixam de
ter espaço físico. Isto vai obrigar a reformular toda a lógica inerente ao
estabelecimento. Isto não significa que o estabelecimento que está na internet não
tem os mesmos elementos que referimos para o caracterizar.
12.Outubro.2018 Teórica
102
O que o art. 13º determina é que se é comerciante quem de modo habitual pratica
atos de comércio. Isto coloca uma pequena limitação que é o facto de ainda não ser
comerciante quem ainda não pratica de forma habitual esses atos – mas para isso
temos o art. 230º que nos permite superar a dificuldade, onde cabem os atos
organizativos e constitutivos da empresa. O comerciante acaba por ser sinónimo do
empresário individual.
Ora bem, o que é fundamental ter em conta é que para além dos comerciantes
individuais que adquirem essa qualidade porque praticam esses atos e devem faze-
lo todos os dias, a lei aceita que sejam comerciantes as sociedades comerciais, e
essas bastam constituir-se, não há a mesma exigência no art. 13º/2. Por isso, é que
referimos que se porventura constituirmos como comercial uma realidade que
ontologicamente, pela sua natureza, não devesse ter essa qualidade, a constituição
é a qualificação daquela substância pela forma que é declarada, que é a da sociedade
comercial.
Há realidades que não se podem qualificar pela forma, aquelas que se definem
substancialmente de modo diferenciado, como a agricultura, aí não há possibilidade,
vou ter que recorrer à sociedade civil sob forma comercial. E não há mais realidades?
Há, mas vão existir mais. Por um lado as empresas públicas, e os agrupamentos
complementares de empresa e ainda, de certo modo, as cooperativas, são realidades
a que subsidiariamente vamos aplicar as regras do CSC, que acabam por constituindo
pessoas jurídicas autónomas, serem assimiladas pelos comerciantes tal como são
referidos no art. 13º.
103
Pessoas singulares
Vamos começar por tratar as pessoas singulares e a primeira situação que se coloca
é a capacidade e profissionalidade do exercício do comércio. Naturalmente que isto
faz-nos revisitar conceitos, como o de capacidade.
104
como é evidente vai ter duas vertentes, uma vertente relacionada com a
capacidade de gozo e uma com a capacidade de exercício. A que diz respeito ao
gozo é a medida de direitos e vinculações de que uma pessoa é suscetível de ser
titular ou estar adstrito – para caracterizar o gozo tenho que acrescentar ao
conceito genérico de capacidade, a titularidade e a adstrição. E portanto, já sei
que, quando falo da capacidade de gozo estou a falar de conceitos que são
variáveis, podem ser mais ou menos. Tendencialmente, a capacidade de gozo das
pessoas singulares é coincidente com a sua personalidade jurídica.
Tendencialmente quando as pessoas possam ter uma medida tão ampla que
podem ser titulares de todos os direitos e todas as vinculações. Mas há pessoas
que não têm essa medida – menores e maiores acompanhados que sofram
limitações relativamente a direitos de carácter pessoal. Isso resulta que a
incapacidade de gozo dos menores é genérica, abrange quase todos os direitos e
vinculações, o que significa que se for menor posso suceder na titularidade de um
estabelecimento comercial, cuja atividade defina o comércio. Isso não significa
que o menor possa ser comerciante, isso é outra realidade. As PC, segundo o art.
160º CC, só são suscetíveis de direitos e vinculações convenientes e adequados
à realização da sua atividade e à prossecução do seu fim. E o art. 160º/2 diz que
não podem dispor dos direitos inseparáveis da personalidade singular,
nomeadamente, os direitos de caráter pessoal, por exemplo, o direito a casar ou
o direito de dispor dos seus bens. Até se conclui que em princípio está em causa
o princípio da especialidade: só devem ter os direitos e vinculações indispensáveis
à realização dos seus fins – este princípio está no art. 6º/1 CSC. As PC têm uma
capacidade de gozo específica, não há uma absoluta concordância. A capacidade
jurídica tem uma outra vertente, que é a capacidade de exercício, esta é a medida
de direitos e vinculações que uma pessoa é suscetível de atuar pessoal e
livremente. E portanto, se eu utilizo a palavra atuar, é sinónimo de exercer. O que
está em causa é saber que direitos e vinculações cada pessoa pode exercer. Os
menores sofrem uma incapacidade de exercício genérica, só podem praticar os
atos ao alcance da sua compreensão – atos da vida corrente, e também os
interditos e inabilitados – futuros maiores acompanhados – também padecem
dessas limitações. O Direito entende que em certas circunstâncias para proteção
de determinadas pessoas cuja capacidade de entendimento e representação do
alcance de atos jurídicos é inferior à capacidade em geral, o direito estabelece
105
1) PC sem interesses materiais – associações que não tenham por objeto interesses
materiais, como, por exemplo, um clube desportivo.
2) Todos aqueles que se encontrem legalmente impedidos de o fazer, por serem
objeto de uma proibição genérica – aqueles que pelo seu estatuto profissional não
possam exercer profissionalmente o comércio, por exemplo, militares e
magistrados. Aqueles que a lei pretende que exerçam a profissão em exclusivo.
3) Relativamente a todos estes, acresce que há uma outra regra, do art. 17º, onde o
legislador tem o cuidado de afastar mais algumas entidades, procurando porém
salvaguardar que o facto de não poderem ser comerciantes, não invalida que não
possa circunstancialmente praticar atos de comércio. Afasta o Estado e entes
públicos menores – autarquias locais, mas também afasta misericórdias, asilos,
paróquias. Todas estas realidade, do parágrafo único do art. 17º – excetua o art.
13º – dizendo que não pode ser comerciantes. Quem tiver por fim a caridade, não
pode ser comerciante, porque este procura o lucro.
106
O art. 1690º é a regra geral e básica na matéria da dívida dos cônjuges: qualquer dos
cônjuges tem legitimidade para contrair dívidas, sem necessidade do consentimento
do outro.
107
Isto tem alguma consequência? Há uma norma no Código Comercial que fala no
exercício do comércio, que se destina a articular com o art. 1691º/1, d), que é o art.
15º, que diz que as dívidas comerciais do cônjuge comerciante se presumem
contraídas no exercício do comércio. Para quem for casado, as dívidas de quem é
casado, presumem-se contraídas no exercício do comércio. A presunção do art.º 15
articula-se com a do art. 1691º/1, d): se as dívidas comerciais do cônjuge comerciante
se presumem contraídas no exercício do comércio, então todas as dívidas comerciais
responsabilizam ambos os cônjuges.
Mas pode haver dívidas comerciais de uma pessoa casada não comerciante? Sim, e
essas não estão no art. 15º. Quais é que são as dívidas comerciais de um cônjuge
não comerciante? As que resultem de um ato de comércio que um não comerciante
pode praticar. Um não comerciante compra um imóvel para o revender. Nos termos
do art. 463º, as compras para revenda são atos de comércio objetivos. Se para
comprar o imóvel contrair uma dívida junto do banco, é uma dívida comercial.
Que dívidas comerciais é que se integram no art. 15º? São todas aquelas que estão
associadas à atividade do comerciante. Então, se o comerciante contrai uma dívida
comercial e está casado, esta dívida, pelo art. 15º, vai presumir-se contraída no
exercício do comércio.
108
Os títulos de crédito são documentos que incorporam determinado direito, que deve
ser exercido nos termos da respetiva literalidade, isto é, que deve ser exercido nos
termos da previsão desse instrumento. Entre os títulos de crédito identificam-se títulos
cambiários, que podem ser utilizados para a circulação do crédito – letra, livrança e
cheque. Enquanto as livranças e as letras são respetivamente uma promessa e uma
ordem de pagamento, o cheque é um meio de pagamento em si mesmo, um
instrumento que permite a determinado sujeito, à custa de bens desmobilizados a
determinada entidade (o banco), poder ordenar o pagamento de certa quantia. O que
estes documentos cambiários têm de relevante no mundo comercial, é que são
válidos independentemente da causa, do que tenha estado na origem. Eles permitem
gerar o crédito.
A letra é uma ordem de pagamento dada para que certa quantia venha, em
determinada data, a ser paga a quem for dela portador, isto é, beneficiário. Ela no
fundo é sacada – ato jurídico da sua criação – é emitida, para, no fundo, poder
antecipar o crédito relativamente a outro ato jurídico diferente. Ex: o comerciante que
pretende vender a sua mercadoria, pretende ficar devedor do preço, por isso,
compromete-se com a letra a, num determinado prazo, proceder ao pagamento da
quantia a quem nessa data dispuser daquele título, sendo que a dívida é circulável –
quem lhe concedeu o crédito pode aproveitar o respetivo valor patrimonial,
transmitindo-o a uma outra pessoa com a qual tenha estabelecido um relacionamento
comercial. Ao ato de transmissão chama-se endosso, o ato translativo, vem do
109
francês endos. Tudo vai depender do crédito merecer a pessoa que se compromete
a pagar, da sua credibilidade. O último beneficiário tem a vantagem de, se não for
satisfeito pelo devedor cambiário, vai poder recorrer a todos os que o antecederam e
responsabilizá-los. Não podemos estar preocupados quando o transmitimos, com a
construção dos atos jurídicos que justificaram a sua transmissão. Uma eventual
vicissitude que afete o primeiro negócio não pode afetar a validade do título, não pode
afetar os restantes. Por isso se diz que os títulos são abstratos, valem
independentemente da validade da fonte subjacente à sua criação. É por isso que se
diz que quando A subscreve um título com esta natureza, quando A transmite o título
tem que garantir que vai assumir a obrigação, independentemente de qualquer
problema. O titulo não reflete a razão de ser do negócio jurídico que o justificou.
O que importa reter é que, até agora todos os negócios tinham uma causa, os
negócios do Direito Comercial português são todos causais. Quer isto dizer que se
houver uma vicissitude na sua fonte isso afeta a validade e eficácia do mesmo. Os
títulos cambiários são abstratos, a sua validade e existência na ordem jurídica é
independente da causa e eles não refletem em si mesmos a razão de ser da sua
criação ou transmissão.
110
Ora, se a empresa for um bem comum do casal, apesar de explorada por um deles,
o que se vai discutir é se aquele que não a explora é ou não comerciante, apenas por
ser titular da empresa. Isto é, se o cônjuge que não tiver a sua direção efetiva é
também comerciante.
Ora, há um momento, que é o momento em que nem sequer a herança foi aceite,
herança jacente. Mas há um momento em que, antes de ter sido efetuada a partilha,
que já sabemos quem são os seus titulares. E então essa empresa vai ingressar numa
situação de contitularidade dos seus titulares e que passa a pertencer a todos os
herdeiros – todos eles adquirem provisoriamente a qualidade de comerciante na
medida em que praticarem os atos, e não apenas o cabeça-de-casal.
111
Antecipação da sucessão
Mas a questão da sucessão coloca uma outra questão, sobretudo quando a empresa
comercial em si, ou integrando um grupo, atinge uma determinada dimensão, que é
procurar promover em vida o destino dessa empresa comercial. Ou seja, regular em
vida como é que essa pessoa será sucedida na titularidade da empresa, e esse
propósito fala-se da possibilidade de ser celebrado um protocolo familiar, em que
todos os envolvidos assumem o destino dos bens que pertencem a um sujeito, ainda
que tais bens não se consubstanciem a uma realidade empresarial única. O protocolo
familiar é o instrumento pelo qual os membros da família do empresário acordam na
continuidade da empresa e na sua transição geracional, procurando identificar de,
entre eles, o mais apto para assegurar a respetiva direção e gestão. Procurar
promover em vida a melhor solução para o destino dessa empresa. Procurar regular
o modo como uma determinada pessoa ira ser sucedida na titularidade de uma única
ou de um conjunto de empresas, que se expressa nas respetivas participações
sociais.
Este instrumento permitirá evitar a natural dispersão dos ativos que integram as
empresas familiares ou a sua venda precipitada.
112
113
16.Outubro.2018 Prática
Parte I
Hipótese 1
Alberto é educador de infância estando casado com Elvira, que trabalha como
manicure num espaço cedido dentro de um supermercado. Como as suas vidas não
andam a correr muito bem, decidiram abandonar a sua anterior profissão e tornarem-
se empresários de pastelaria. Alberto é um excelente pasteleiro e tem um amigo de
infância que vive na província produzindo cereais de todo o tipo, muito apetecíveis
nas pastelarias lisboetas. Esse seu amigo (Cristiano) vem todos os dias a Lisboa
trazer os cereais encomendados por Alberto. A pastelaria foi logo um enorme
sucesso, mas este foi abruptamente interrompido pela instalação, a 50m, de uma loja
da “Padaria Portuguesa” que, por se integrar numa rede de franchising, conseguia
praticar preços muito competitivos; ficando o negócio de Alberto em dificuldades.
114
Suponha agora que a Padaria Portuguesa celebrou um contrato com Cristiano nos
termos do qual Cristiano forneceria cereais à Padaria e se vinculava a comprar bolos
e pão da Padaria Portuguesa, que iria revender ao público na sua região, assumindo
o compromisso de o fazer de acordo com a política comercial da Padaria Portuguesa
e sujeito ao controlo desta.
Na última aula vimos esta alínea. Vimos que o art. 13º define quem é comerciante,
sendo que para tal tem que praticar, de forma profissional, atos de comércio.
De acordo com a teoria dos atos de comércio (TAC) são considerados comerciantes
os que pratiquem, de forma profissional, atos de comércio – estes encontram-se
previstos no art. 2º, 1ª parte: atos de comércio absolutos objetivos.
Já para a teoria jurídica da empresa (TJE) o art. 230º, 1ª parte funciona como uma
norma qualificadora autónoma, que antecipa a aquisição da qualificação como
comerciante a um sujeito para o momento em que ele ainda não está no exercício
profissional dessa atividade, mas está-se a propor a esse efeito. Numa leitura
conjugada do art. 230º com o art. 13º, para a TJE tanto é comerciante aquele que
está no exercício profissional de uma atividade, como aquele que se está a propor a
esse exercício.
115
isso, quer enquanto empresário agrícola, quer enquanto fornecedor dos produtos que
ele explora, faz dele um mero empresário civil, e não comercial.
Cristiano tinha também uma obrigação38 de comprar bolos para os revender. Fará isto
dele comerciante? Para a TAC um sujeito que celebre um contrato por virtude do qual
se obriga a comprar bolos para revender ainda não será considerado comerciante
porque ainda não pratica essa atividade profissionalmente. Já para a TJE será
considerado comerciante – no entanto, do art. 230º não resulta a classificação da
compra para revenda como uma atividade comercial. Podemos socorrer-nos do art.
2º, 1ª parte – atos objetivos absolutos – que para a TJE é uma norma qualificadora
somente para atos ocasionais, sendo que tudo aquilo que sejam atividades ou atos
profissionais escapam ao campo qualificador deste artigo. Assim, tudo o que sejam
atos ou atividades profissionais ou estão inseridos no art. 230º ou não considerados
comerciais (TJE).
Se o art. 230º é para a TJE uma norma qualificadora autónoma, não é estranho que
tenha deixado estas atividades de intermediação de fora? Para o prof. Barona este
art. 230º partiu da consideração que essas atividades são comerciais por natureza,
ou seja, pressupõem-nas como comerciais. O art. 230º é uma norma de alargamento
e por isso não veio excluir as atividades de intermediação do comércio, mas
pressupõem que essas atividades são já comerciais. O que este artigo vem fazer é
qualificar como comerciais atividades que até então não o eram.
Por isso é que há quem diga que quando o art. 230º diz “Haver-se-ão por comerciais
(…)”, deveria dizer “Haver-se-ão, também, por comerciais (…)”, porque essas
atividades de intermediação já se pressupõe como comerciais para a TJE.
Implicitamente são consideradas como tal por este art. 230º, embora este não fale
nelas expressis verbis. É uma norma de alargamento para além das atividades de
intermediação. Alarga para as atividades industriais, transformadoras e de prestação
de serviços.
Não se trata de um caso de analogia, que se coloca noutros termos e para outras
atividades que, não estando elencadas expressamente no art. 230º, podem ou não
receber a qualificação de atividade comercial. É aqui que se coloca a questão de
116
1) Analogia legis (art. 10º CC): temos um caso previsto e um caso omisso e temos
uma norma que regula o caso previsto. Sendo que o que a analogia legis manda
fazer é atender à razão de ser da norma que é aplicável ao caso que é previsto e
ver se é ou não aplicável também ao caso omisso, isto é, se procedem as mesmas
razões de decidir.
2) Analogia iuris: quando falha a analogia legis, para integrar a lacuna o intérprete
cria uma norma que teria sido criada pelo legislador se este tivesse previsto o caso
omisso.
A grande diferença entre ambas é que na analogia legis há uma resolução casuística
de cada caso. Ou seja, procuramos num caso análogo uma norma que se aplique,
uma vez que a ratio dessa norma é a mesma ratio que levaria a decidir o caso omisso.
Já na analogia iuris o grau de abstração que o legislador impõe é maior porque diz ao
intérprete que ele vai criar uma norma, que vai ter de ser geral e abstrata.
Quando dizemos que o art. 230º pode levar à qualificação mercantil através de um
sistema de analogia iuris, isso obriga-nos a ver dentro do art. 230º quais são as
características que uma determinada atividade económica tem de revestir para ser
qualificada como uma atividade comercial, para que possamos definir a norma que
será aplicável a todos os casos que não foram expressamente previstos pelo
legislador.
Daí a relevância do que falámos sobre a qualificação mercantil ao abrigo do art. 230º
e da TJE assentar sempre numa atividade económica assente num risco de capital
em função de um determinado mercado. Isto significa que sempre que eu esteja
perante uma atividade económica que se desenvolve em função de um determinado
mercado e que assente num risco de capital, ela, através de uma operação de
analogia iuris, pode ser qualificada como comercial pelo art. 230º.
117
determinada atividade está ou não abrangida num dos vários números do art. 230º,
tenha algum apego na letra e espírito dessa alínea. Alarga-se o espírito da norma em
relação àquilo que é a sua letra, tendo que ser mantido um mínimo de
correspondência verbal.
Ex: será que comprar um apartamento para arrendar é uma atividade comercial?
Embora se preveja a compra para revenda, nenhuma norma do Código Comercial
prevê a compra para arrendamento como um ato ou atividade comercial. Será que
prevendo a compra para revenda, uma compra para arrendamento (que é menos)
não deve ser também comercial? Há autores que entendem que não porque há uma
exclusão expressa. Comprar para arrendar não é a mesma coisa do que comprar para
revender, nem é “menos”, mas apenas diferente. Ter-se-ia que fazer uma operação
de qualificação por integração analógica.
O Código Comercial foi feito e pensado à luz das atividades comerciais que existiam
à época. Hoje o domínio das atividades comerciais alargou-se para outras áreas que
para o legislador comercial eram impensáveis naquela altura. Mas em alguns casos,
até por mera interpretação extensiva, se conseguem integrar como sendo atividades
comerciais, porque está dentro do espírito do legislador ou porque resulta de uma
interpretação atualista daquelas normas.
b) E Alberto?
Alberto utiliza os cereais transportados por Cristiano para produzir bolos. Alberto é
pasteleiro. Será que o ato de transformar os cereais em bolos é um ato de comércio?
118
Neste caso trata-se de uma pequena empresa ou empresário, uma vez que o risco
de prestação da atividade incide sobre a própria pessoa, sendo uma empresa civil.
Será que o barbeiro é comerciante? Se ele morrer deixa de haver atividade, tal como
no nosso caso. Tudo o que sejam as chamadas profissões manuais, o que acontece
com pasteleiro, padeiro, mecânico, marceneiro, barbeiro, etc. – tudo isso são
pequenos empresários.
Claro que se em determinada altura houver uma reorganização dessa atividade que
torne irrelevante a pessoa que corta o cabelo, que faz os bolos ou os pastéis, isso
quer dizer que deixamos de ter uma pequena empresa porque a atividade deixa de
estar centrada naquela pessoa em concreto, e o que se tornou relevante foi a
organização económica, a organização de fatores produtivos que aí está em
presença, estando nós perante uma atividade comercial.
Mas até lá, estando a atividade centrada numa pessoa, trata-se de uma pequena
empresa, não sendo Alberto comerciante, nem para a TJE nem para a TAC. O
pequeno empresário é o que tem o risco da sua atividade centrado na sua própria
pessoa, não sendo um comerciante.
Hipótese 2
António é proprietário de um táxi e exerce a atividade de taxista, juntamente com um
filho.
Será que António é comerciante e estes atos são comerciais? Neste caso, estando
mais uma vez o risco centrado na pessoa de António, sendo este um pequeno
empresário, não se considera um comerciante. A questão seria diferente se ele
tivesse uma frota de táxis.
119
Por isso, quem exerce diretamente a atividade, como era o caso do António e do filho,
é um pequeno empresário.
2. A resposta seria diferente se ele tivesse uma frota de táxis? Neste segundo caso:
Já se tivesse uma empresa, como parece acontecer nesta alínea, onde parece haver
uma determinada organização maior que sustenta determinada atividade económica,
que é a atividade de transportes, aí ele já satisfazia os requisitos do próprio art. 366º
e do art. 230º/7, uma vez que ele próprio também pressupõe uma empresa, quando
diz “(…) as empresas (…)”. Ou seja, este artigo também pressupõe essa noção de
empresa subjacente ou como pressuposto do desenvolvimento de uma determinada
atividade económica.
Serão estes atos comerciais? Se imaginarmos que ele ainda não tinha a frota de táxis,
ele não seria comerciante.
Para a TJE: art. 230º, “que se propuserem” – estão aqui em causa os atos
preparatórios. Se ele ainda não tivesse a frota, mas já tivesse a praticar estes atos
preparatórios da compra dos 2 táxis, dos livros, do financiamento, etc., tudo isso se
enquadraria no art. 230º como atos preparatórios da atividade comercial, sendo
qualificados por este artigo como comerciais.
120
resulta de forma evidente das circunstâncias em que o próprio ato é praticado que ele
é alheio à atividade desenvolvida pelo operador comerciante. Existe assim neste art.
2º, 2ª parte, uma presunção de que nestas situações, quando estamos perante atos
conexos com a atividade principal do comerciante, se tratam de atos comerciais.
Quando falamos de atos conexos falamos de atos acessórios da atividade principal.
Em suma, os atos que dizem respeito à atividade principal do sujeito são qualificados
pela TAC pelo art. 2º, 1ª parte e para a TJE pelo art. 230º. Todos os outros atos que
não digam respeito à atividade principal do comerciante, mas que possam estar
relacionados com essa atividade, sendo dela acessórios, ou seja, atos conexos,
serão qualificados como comerciais de acordo com o art. 2º, 2ª parte quer para a TAC
quer para a TJE.
Assim, quando ele compra os livros para a exploração, os táxis e faz o financiamento
bancário para a aquisição dos táxis, tudo isto são atos que são conexos com a
atividade, e não podemos dizer que resulta das circunstâncias em que foram
praticados, que eles são alheios à atividade principal do sujeito. Isto do lado do
António
Por isso, quando fazemos a qualificação, temos de ver pelo lado de quem é que
estamos a qualificar. Neste caso, estamos a ver para o lado do António, mas
podemos ter que fazer também a qualificação pelo outro lado da relação.
E este critério de separação entre a atividade comercial do sujeito e aquilo que são
atividades conexas é importante porque é isso que determina a aplicabilidade do art.
230º para a TJE ou do art. 2º, 1ª parte para a TAC, ou a aplicabilidade do art. 2º, 2ª
parte.
b) Suponha que António, num local distante do seu negócio e sem referir que era
empresário, celebrou um contrato de arrendamento de um andar, por um mês,
durante o período normal de férias. Este acto é comercial? Justifique.
121
c) Suponha agora que António, sem aludir à qualidade de comerciante mas perante
quem sabia que ele era comerciante, encomendou pelo telefone um computador. O
acto é comercial? Justifique.
Neste caso caímos novamente no âmbito de aplicação do art. 2º, 2ª parte. Estamos
perante um comerciante, o ato não é exclusivamente civil e não resulta das
circunstâncias em que o ato é praticado que o ato não seja comercial, presumindo-
se a sua comercialidade.
Quando há dúvida sobre saber se o ato está ou não relacionado com a atividade do
comerciante, a lei presume que é comercial, porque não resulta da sua prática o
contrário.
Hipótese 3
António, comerciante de eletrodomésticos, comprou cinco torradeiras e uma carrinha
de transporte de mercadorias.
Para a TJE também se trataria de um ato comercial porque o art. 230º também tem
que ser lido em conjunto com o art. 463º, mas com uma particularidade. É que o art.
463º quando fala na compra para revenda é para qualificar o ato principal daquele
sujeito. A partir do momento em que se qualifica a atividade de determinado sujeito
com comercial, isso dispensa a verificação de cada ato em concreto. Ou seja, isto vai
fazer com que se possa dispensar a verificação se cada torradeira foi comprada com
122
a intenção de ser revendida, porque sendo um ato que se integra no art. 230º, ele vai
receber a qualificação comercial.
Este art. 230º trouxe uma certa subjectivização da atividade comercial, porque basta
que a atividade seja praticada por um comerciante (sendo que este art. 230º qualifica
não apenas atos, mas também sujeitos), ao abrigo do art. 230º, para que ele seja
considerado como comercial. Não se verifica em cada compra de torradeiras que o
comerciante faz se essa torradeira é comprada com o intuito de revender, porque a
partir do momento em que considero que a atividade de compra de eletrodomésticos
é comercial, fico dispensado de verificar se em cada compra de varinhas mágicas,
torradeiras ou batedeiras, ele compra para revender.
Tudo o que diga respeito à sua atividade principal é comercial, e por isso é que se
diz que este art. 230º trouxe uma subjectivização à qualificação mercantil.
Já a compra da carrinha é comercial para ambas as teorias pelo art. 2º, 2ª parte,
porque se trata de um ato conexo com a atividade comercial do sujeito em causa.
17.Outubro.2018 Teórica
123
constituir sociedades unipessoais, criar sociedades por quotas normais com pelo
menos dois sócios, mas que na realidade só pertencessem a um.
Por isto ter acontecido, em meados da década de ’90, em alteração ao CSC, foram
admitidas as sociedades pessoais por quotas, reguladas nos arts. 270º-A e ss. Depois
da sociedade unipessoal por quotas ter sido implementada e ter registado um número
de adesões muito superior àquele que o EIRL teve, o legislador a partir daí procura
desencantoar o recurso ao estabelecimento de responsabilidade limitada e até
incentivou a conversão desse estabelecimento numa verdadeira sociedade
unipessoal por quotas. Essa realidade era uma realidade juridicamente autónoma e
independente e, por isso, o seu titular, que pode ser uma pessoa singular ou coletiva,
pode relacionar-se juridicamente com ela, pode ser contraparte negocial em atos
jurídicos, em contratos. Numa sociedade unipessoal por quotas o titular pode ser o
senhorio dessa mesma sociedade, porque ele diferencia-se desta estrutura jurídica.
39 Montante patrimonial que o titular do EIRL afeta à produção da atividade através deste estabelecimento.
124
onde se prevê uma enorme semelhança com o aumento e redução do capital de uma
sociedade comercial.
Depois conclui-se que, em princípio, o capital que era afeto só podia ser utilizado para
a atividade dessa estrutura e, enquanto essa estrutura não gerasse meios financeiros
que ultrapassem o capital social, o seu titular não poderia retirar para si, para sua
fruição, esses meios financeiros – a isto se chama a intangibilidade do capital social
e que caracteriza também as sociedades comerciais em geral.
Também se previu que o EIRL não responde pelas dívidas do seu titular. Vai estar
tendencialmente afeto a responder pelas dívidas relativas à sua atividade, como
resulta do art. 10º, mas, naturalmente, ele responde pelas dívidas comuns que
existissem antes da sua constituição, para que a constituição desta estrutura não seja
um meio de subtrair à responsabilidade certos bens do comerciante de uma
responsabilidade que ele já tivesse no momento do seu exercício. Mas a partir do
momento em que ele os segrega e constitui esta estrutura, então esta estrutura já não
tem de responder pelas suas dívidas comuns, o que não significa que não possa
responder quando já não houver bens do comerciante para essa satisfação.
Em termos de natureza jurídica o EIRL não é uma pessoa nem sujeito de Direito, é
um património autónomo. Esta figura entrou em estertor, tendo declinado quando se
pôde substituí-la por uma sociedade unipessoal por quotas, ainda que cada pessoa
só possa ter uma destas.
Dos arts. 270º-A e ss resulta que, em bom rigor, uma mesma pessoa pode ser
simultaneamente titular de uma sociedade unipessoal por quotas e de um EIRL, ainda
que a sua capacidade de movimentação possa ser diferente numa e noutra.
125
Sociedades comerciais
As sociedades comerciais são o comerciante que está previsto no art. 13º/2 do Código
Comercial – aqueles comerciantes que o são apenas pelo facto de se constituírem
como tal. No século atual, embora haja um número absoluto de empresários
individuais superior ao número dos empresários comerciais, estes são muito mais
relevantes no contexto da nossa economia.
Mas o art. 1º CSC indica que as sociedades constituída como comerciais estão
sujeitas à adoção de um determinado tipo negocial. A autonomia privada nesta
matéria abrange a faculdade de constituição de uma sociedade comercial – todos os
sujeitos têm liberdade de recorrer a estas entidades, mas a partir do momento em
que decidem criar, o art. 1º limita as opções, estabelecendo um princípio de tipicidade.
Há uma limitação na liberdade de seleção do tipo negocial – art. 1º/3. Os tipos vêm
previstos no art. 1º/2. O art. 1º/4 abre a forma e o regime da sociedade comercial a
todas aquelas sociedades que, pela sua natureza, não se possam constituir como
sociedades comercias, como é o caso da sociedade agrícola – porque nessas não é
possível pela declaração da forma qualificar a substância. As acessórias das
agrícolas já é possível e nas que correspondem a pequenas empresas também. Nas
126
1) Sócios de capital: disponibilizam a sociedade de bens que ela vai necessitar para
se colocar no mercado e funcionar.
2) Sócios de indústria: disponibilizam o seu trabalho.
As participações nestas sociedades são designadas por partes e cada sócio tem um
voto independentemente do seu contributo, a não ser que diferente disposição se
tenha convencionado. São sociedades que são administradas pelos gerentes – todos
os sócios, tendencialmente, são gerentes. Os terceiros só podem ser gerentes se os
sócios estiverem de acordo com isso. São sociedades fechadas e não carecem de
órgão de fiscalização, isto é, um órgão social que se pretende substituir à intervenção
dos sócios no controlo da atividade de gestão, que costuma ser feita uma vez por
ano.
127
Sociedades em comandita
Na realidade, as sociedades em comandita quase já não existem. São de tradição
germânica e francesa. A sua razão de ser é de substancialmente corresponderem a
uma estrutura empresarial que pode ter um certo interesse, porque se caracterizam
por conjugar sócios de duas naturezas:
Podemos constituir uma sociedade em comandita sob subtipo simples ou por ações.
Além das normas que constam do art. 5º CSC, as sociedades em comandita além de
estarem sujeitas a regras comuns, estão sujeitas à aplicação subsidiária das normas
das sociedades em nome coletivo, se forem simples, ou das sociedades anónimas,
se forem por ações.
Os sócios são de 2 tipos e isto também se vai refletir na forma como vão desempenhar
os seus papéis na sociedade: uns integram a gestão e a administração da sociedade,
outros estão ocultos.
128
São sociedades fechadas, como regra, em que releva a participação dos sócios (arts.
228º e ss). Os direitos e vinculações desta sociedade são atribuídos aos sócios do
ponto de vista qualitativo, independentemente da sua participação.
Sociedades anónimas
As sociedades anónimas são as continuadoras das companhias colonias e que
precederam cronologicamente às sociedades por quotas. São estruturas capitalistas,
129
ou seja, visam agregar patrimónios relevantes para satisfazer atividades que carecem
de uma afetação de meios elevados.
Os seus sócios têm responsabilidade limitada, mas neste caso em vez de ser ao
montante de capital subscrito pela sociedade, só é responsável pelo capital que
subscreve enquanto sócio.
130
131
Empresa plurisocietária
Este é o fenómeno em que as sociedades, sendo detidas pelas mesmas pessoas,
físicas ou coletivas, estão relacionadas entre si. Nesta medida há que diferencias 2
circunstâncias diferentes.
132
Nas sociedades em relação de grupo, além das situações que correspondem a uma
participação de uma sociedade na outra, com maior ou menor intensidade, é possível
formar um grupo de sociedades através de um contrato de subordinação, isto é, ainda
que as sociedades nada tenham a ver umas com as outras, elas estarem de acordo
através de um instrumento contratual em aceitarem ser dirigidas por uma delas, em
subordinarem a sua gestão a uma dessas sociedades.
Na primeira metade do séc. XX a ordem jurídica não imaginava que uma sociedade
pudesse ser detida por outra. Tinha de ser detida por pessoas físicas ou singulares.
Então o que caracterizava antes um grupo económico é que as diversas sociedades
dedicadas a atividades comerciais também diferentes tinham como característica
uma titularidade comum dos respetivos capitais – o dono das sociedades era o
133
mesmo. Como não havia pressão fiscal para descontar o lucro de umas nas outras,
não havia necessidade de criar um regime jurídico em que se criasse ligação para
que sociedades pudessem descontar lucros de umas nas outras.
134
19.Outubro.2018 Teórica
Podemos ter cinco tipos sujeitos de direito comercial além dos comerciantes e das
sociedades comerciais.
Em comum estas entidades partilham o facto de não prosseguirem o lucro, mas sim
uma melhoria e uma eficiência dos serviços que são prestados pelos agrupados.
Pretendem constituir uma atividade que é acessória ou complementar à atividade
principal prosseguida pelos agrupados, que não corresponde, por isso, à atividade
principal dos agrupados.
Cooperativas
Terceira categoria de entidades são as cooperativas. São uma PC de livre
constituição e de capital e composição variáveis, cuja finalidade é a satisfação, sem
intuito lucrativo, das necessidades económicas, sociais ou culturais dos seus
membros, pela entreajuda que no fundo elas são espelho. E dentro desta entreajuda,
135
Por detrás de tudo isto, além do princípio que é reconhecido constitucionalmente, uma
vez que o sector cooperativo tem dignidade constitucional e existe a par do sector
privado e do sector público, também as cooperativas são hoje objeto de regulação
pelo Código Cooperativo, cuja última versão data de 2015. Na realidade, elas têm
uma série de regras que as aproximam muito das sociedades comerciais, mas o seu
fim descaracteriza-as relativamente a estas. As regras que as aproximam das
sociedades comerciais são sobretudo as regras que dizem respeito à sua estrutura
orgânica e à sua governação. Por isso, a governação da sociedade anónima vamos
encontrá-la no domínio das cooperativas, apesar disso ser relativamente contestável,
dado que sendo as cooperativas de um modo geral de dimensão reduzida, não se
justifica muitas vezes uma governação especialmente complexa. No entanto, no seu
objeto, para além das atividades económicas que podem ser diversas, podem ter uma
atividade fundamentalmente cultural ou social, sendo uma forma de promoção e
associação possível por parte dos seus membros. Por sua vez, a forma de
representação e vinculação também não difere da das sociedades anónimas, isto é,
são dirigidas, administradas e representadas externamente através seu do órgão de
gestão, que hoje se chama administração.
São sujeitas a um controlo, uma vez que, de algum modo, são supervisionadas por
uma entidade pública, que é a CASES, e nos termos do Código Cooperativo estão
sujeitas a uma tutela pública rigorosa, dado que são formas de organização jurídica
às quais a ordem jurídica dispensa benefícios, nomeadamente de carácter fiscal.
Logo, temos de ter controlo para ver se há cumprimento dos fins e princípios
cooperativos e não estão antes a ter uma atividade lucrativo.
A lei impõe que as cooperativas que tenham objeto comercial devem estar inscritas
no registo comercial. Essas, que têm regras características das sociedades e que
subsidiariamente recorrem ao regime jurídico das sociedades comerciais, são sujeitos
de direito comercial, só que sem fim lucrativo.
136
Empresas Públicas
Quarta figura são as empresas públicas: são empresas que adotam uma forma de
organização jurídico-societária, mas materializam-se pela intervenção do Estado na
economia, isto é, são produto da intervenção do Estado na economia como um agente
produtivo ou prestador de serviços.
O que as caracteriza é o respetivo capital ser total ou quase totalmente detido pelo
Estado ou outras entidades públicas, havendo também a par das empresas públicas
de carácter estadual, as empresas públicas autárquicas de dimensão regional ou até
mesmo local. Há toda uma série de empresas que acabam por serem e pertencerem
ao Estado e não se terem de organizar necessariamente como as outras.
Nas empresas públicas, como pertencem ao Estado, a procura não tem de ser
necessariamente o lucro, mas isso não significa que tais empresas não observem,
não apenas pela previsão do diploma que as enquadra, mas também pela remissão
para a aplicação subsidiária das regras do CSC, as regras características das
sociedades comerciais. O diploma que neste momento as regula DL Nº 133/2013, de
3 de outubro, que as procura caracterizar no art. 5º, explicando a diferença entre as
empresas públicas e as privadas. Vem, conjuntamente com outros diplomas, definir
o modo como o Estado intervém ativamente na economia, não apenas dispondo
sobre a forma que tais empresas devem revestir, como consta do art. 13º, tais
empresas devem adotar a forma de sociedade comercial com responsabilidade
limitada, só pode ser sociedades por quotas ou anónimas, e essas empresas podem
adotar uma forma jurídica diferente que é a de entidade pública empresarial, que não
se caracteriza por ter uma atividade concorrencial no mercado como as demais.
137
No que caracteriza as empresas como públicas, o diploma refere que são aquelas em
que haja uma influência dominante das empresas públicas e esta influência
dominante vai-se caraterizar como a influência dominante em geral para o direito das
sociedades comerciais. Vai atender a três critérios.
138
todas as características que nos levam a associá-la, a não ser que seja uma
sociedade empresarial industrial ou se prosseguir uma atividade que não tenha lugar
a ser sujeito de direito comercial, exemplo da companhia das lezírias.
Empresas locais
Entidades locais: reguladas pelo diploma 50/2012 de 31 de agosto. Dedicam-se à
prossecução de serviços de carácter municipal. A EMEL é uma empresa municipal
ou local. Também há outras que podem resultar do agrupamento de diversas
autarquias. Este diploma surgiu um ano antes do diploma que regula as empresas
públicas em geral na crise, e quis acabar com os abusos, como o da proliferação de
empresas com caráter local, em que muitas poderiam apresentar pretensões
lucrativas. As empresas municipais são pessoas coletivas de direito privado. São
empresas públicas de dimensão local. Devem organizar-se sob a forma de sociedade
de responsabilidade limitada – recorremos ao quadro das sociedades comerciais
depois da própria lei.
Fundações
Estas não estão reguladas na legislação comercial, mas no CC, nos arts. 157º a 166º,
nos artigos gerais sobre PC, e ainda nos arts. 185º a 194º. Muitas vezes se recorre
às fundações para ter fins lucrativos.
Estas são agregados de fundo de meio material que visam prosseguir um fim de
interesse social, que se pode traduzir na promoção de solidariedade, no
desenvolvimento cultural, social, artístico e tecnológico e que resulta da vontade de
um instituidor e da aceitação de uma entidade de carácter público.
139
Depois ter presente também no domínio das fundações que, na realidade, não é
impossível às fundações deterem participações em sociedades comerciais. Podem
fazê-lo, e podem até organizar estruturas paralelas que se destinam a explorar os
seus ativos e a constituir o suporte da sua vida patrimonial. Se não pudessem
rentabilizar o seu património, ao fim de uns tempos despenderiam o acervo que
constitui a sua base. Ela também pode deter ações. Ela não pode é ser criada com
esse fim.
E apesar de ser claro não pode ser constituída para beneficiar familiares do instituidor,
em certos termos e condições os familiares podem deter lugares nos órgãos sociais
da fundação.
Não pode claro é ser utilizada para fins comerciais, mesmo que através de atos lícitos,
senão temos uma fraude à lei.
Não se confunde com uma realidade diferente, que são as fundações de empresa.
Os grupos económicos em geral, sobretudo os que têm uma maior capacidade
financeira, e as empresas podem recorrer a este tipo de PC para organizar
acessoriamente as suas atividades de carácter altruístico e de natureza puramente
social ou cultural. A fundação EDP tem um museu, o Maat. A fundação Millenium BCP
tem a fundação Francisco Manuel dos Santos. O grupo Jerónimo Martins tem a
fundação oceano azul. Tudo atividades que não se enquadram na vida comercial.
Consumidores
São os destinatários dos bens e serviços produzidos, prestados e distribuídos no
mercado. Justificam uma tutela cada vez mais crescente, porque o mercado está cada
vez mais violento. Passou de ter uma dimensão local, regional para uma dimensão
nacional e atualmente internacional. O mercado sentiu a necessidade de tutelar e
proteger os destinatários, uma vez que o mercado existe em razão destes. O
mercado, nalguns casos, considera como consumidores outros agentes profissionais
em certas circunstâncias.
140
141
Tutela do consumidor
São estes os exemplos dos principais diplomas que tutelam os consumidores. Além
destes, há diplomas de caráter financeiro, em que o mais importante é o que diz
respeito ao regime dos contratos de crédito ao consumo. Atividade hoje em dia
supervisionada pelo banco de Portugal no que respeita a certos bens. O DL nº
133/2009, de 2 de Junho regula estes contratos, e diz quais são os direitos e garantias
que aquele que recorre ao crédito para adquirir determinados bens de consumo pode
beneficiar. Diploma que sofreu uma alteração para garantir fundamentalmente que
quem concede o crédito ao consumo não o faça a pessoas que depois não o possam
cumprir.
142
uma vertente profissional. Esta noção que se extrai no art. 2º/1 da Lei da Proteção
dos Consumidores pretende caracterizar o consumidor e o fornecedor. O sujeito de
direito comercial e um, que não o sendo, é sujeito do mercado.
O consumir não deixa de ser um agente económico, ele adquire no mercado aos
empresários ou aos agentes profissionais, os bens ou serviços para a satisfação
dessas mesmas necessidades pessoais, suas ou de terceiros. Aquele que adquire a
um particular (artigos em segunda mão) não é consumidor para efeitos da LDC, seja
quais forem os usos que dá a esses bens. A tutela dessa pessoa vai ter de se adequar
nos termos do direito civil, e não beneficia da tutela desta lei.
Lei das CCG: as CCG são proposições pré-elaboradas de modo rígido e que visam
regular determinados aspetos do negócio jurídico, em que uma das partes é
indeterminada, limitando-se a propor ou a aceitar toda uma série de regras
predispostas. Esta ideia de adesão levou o legislador a ter que se debruçar sobre o
conteúdo dessas regras. Já não estava apenas interessado em que as regras que
constam desta lei sejam incluídas ou reproduzidas no plano contratual, como também
quer limitar a exoneração da responsabilidade da contraparte. O regime jurídico
impõe deveres de informação aos agentes produtivos e prestadores de bens e
serviços, impõe-lhes não apenas regras que disciplinam o teor e o conteúdo dessas
cláusulas que vão integrar os respetivos contratos, mas obrigam-nos a esclarecer o
âmbito e alcance dessas cláusulas. Se rebato a cláusula, no entanto, ou ela é mesmo
nula e se tem por não escrita, ou ela não é nula e se rebato não posso invocar a
surpresa, porque regula um aspeto contratual que não é habitualmente parte deste
tipo de contrário. Arts. 5º e 6º deste diploma impedem que as cláusulas prevaleçam
sobre as regras com conteúdo particular, impedem também a aplicação das cláusulas
que uma pessoa não se tenha inteirado previamente à celebração do contrato. Esta
matéria tem vindo a conhecer uma grande complexização.
143
Como se procede à proteção dos consumidores? Fora destas leis que falámos, há
princípios do direito civil e do direito das obrigações que também contribuem para
esta proteção, e que podem ser aplicados aos casos em que o sujeito que se
movimenta no mercado e não tem como contraparte uma entidade profissionalizada.
Por exemplo, o princípio da equivalência das prestações no contexto de um contrato,
a impugnação do negócio que tenha características usurárias, a contratação em
abuso de direito, e depois mesmo a nível dos próprios contratos, o CC prevê situações
de tutela – a do art. 913º que tutela as vendas em que há vício na coisa transmitida,
este artigo explica quais os direitos do adquirente, são tudo regras que já existiam
antes de haver uma tutela específica.
Há tutela clara através do Código da Publicidade, que visa disciplinar o modo como
devem ser tornados públicos os bens e os serviços que são produzidos, por Estados
e distribuídos no mercado, a constituição no art. 60º/2 dispensa tutela à publicidade
estabelecendo regras que devem limitar essa mesma publicidade.
23.Outubro.2018 Prática
Parte I
Hipótese 3
António, comerciante de eletrodomésticos, comprou cinco torradeiras e uma carrinha
de transporte de mercadorias.
b) Suponha que Bernardo, cliente da loja de António, comprou uma torradeira para
a sua casa nova. O acto praticado por Bernardo é comercial? Justifique.
144
Temos de olhar para as duas teorias: a teoria dos atos de comércio (TAC) e a teoria
jurídica da empresa (TJE).
Segundo a TAC não se considera comercial pelo art. 464º/1. Sendo a torradeira
comprada para uso doméstico, não é uma compra para revenda, logo é uma compra
civil.
Para a TJE chegávamos à mesma conclusão. Nesta teoria não faz sentido ir ao art.
230º, neste caso, pois Bernardo nem é comerciante. Esta teoria usa o art. 2º, 1ª parte
para as hipóteses de atos ocasionais, isto é, atos que porventura sejam praticados
por não comerciantes. A TJE diz que o art. 2º, 1ª parte tem alguma utilidade, mas é
meramente residual porque só se aplica a atos ocasionais. Na TJE é preciso explicar
isto: também chegamos à desqualificação pelo art. 464º, mas porque íamos primeiro
ao art. 2º, 1ª parte, tal como também vamos na TAC, mas aqui vamos a este artigo
numa lógica diferente. Isto porque a TJE olha para esta norma do art. 2º, 1ª parte
como uma norma residual, porque permite enquadrar os atos ocasionais que não se
enquadrariam na norma qualificadora central, que é o art. 230º.
Assim no fim do dia o recurso às normas acaba por ser o mesmo, mas com
fundamentos jurídicos diferentes nas diferentes teorias.
Hipótese 4
Carlos, comerciante de artigos desportivos, comprou 100 camisolas do Benfica, 50
porta-chaves do Sporting, tendo ainda encomendado ao mesmo fornecedor 1000
patins em linha com o símbolo do Futebol Clube do Porto.
Pela TAC, de acordo com o art. 2º, 1ª parte, são considerados atos de comércio todos
aqueles que estejam especialmente previstos no Código, isto remete para o art. 463º
e qualificaríamos estes atos de Carlos como comerciais.
Para a TJE temos de recorrer ao art. 230º e neste não encontramos a compra para
revenda nos seus vários números. Como é que a TJE resolve esta qualificação que
é sobre uma atividade de intermediação? À luz da TJE o art. 230º é uma norma de
alargamento que já pressupõe que o ato de intermediação é um ato de comércio. Isto
retira-se da forma como está redigido o artigo “haver-se-ão (ainda)”. Daí que
normalmente a doutrina faça até a distinção entre o comércio em sentido económico
145
b) Suponha que Fernando comprou a Carlos duas camisolas, dois porta chaves e
dois patins em linha para os seus filhos, devendo o preço dos mesmos ser pago daqui
a dois dias. As compras realizadas por Fernando são comerciais?
c) Se o preço não for pago na data devida qual o valor dos juros?
O juro é um fruto civil. O fruto civil é tudo aquilo que uma coisa produz periodicamente,
sem prejuízo da sua substância. Assim, o juro aqui é o fruto da quantia que não foi
paga. Nas obrigações a prazo entramos em mora após o vencimento do prazo. Há
juros civis e comerciais. Os juros comerciais não têm origem no incumprimento da
obrigação – a lei diz é que há juros comerciais sempre que haja um comerciante que
tenha um crédito, art. 102º, 3º parágrafo: “relativamente aos créditos”, portanto a
aplicação de juros moratórios comerciais exige sempre que o credor seja
146
comerciante. Não e necessário por isso que a obrigação seja comercial, isso é a outra
questão. É muito importante reter isto, a lei o que diz é que a obrigação de pagar juros
comerciais não é definida em função do devedor, é em função do credor. O critério
da lei não é em função da obrigação comercial, mas sim do estatuto de comerciante.
Qual é a taxa de juro comercial? Varia consoante portaria semestral pelo Ministério
das Finanças. Há critérios que balizam as taxas definidas, encontram-se balizadas
pelo art. 102º, 4º e 5º Parágrafo. O 5º parágrafo fala do regime das transações
comerciais sujeitas ao DL Nº 62/2013. Este diploma é o diploma que vem definir o
que é uma transação comercial, como combater o seu atraso e por outro vem instituir
o regime da injunção. O DL não abrange apenas as transações comerciais com
grande rigor técnico-jurídico, isto é, transações que não seriam critérios à luz da TAC
ou da TEJ, é mais amplo, devia na verdade chamar “transações económicas”. Este
DL vem também excluir do seu âmbito as transações com consumidores. Assim no
nosso caso, sendo o Fernando claramente um consumidor, o Carlos, apesar de
comerciante com crédito sobre Fernando, não vai ver o regime do DL aplicado aos
seus juros pois Fernando é consumidor. Logo, a taxa de juro nunca poderá ser a
prevista no art. 102º, 5º parágrafo.
A taxa de juro será a do art. 102º, 4º parágrafo, sendo 7% a taxa de juro moratória.
Ou será a taxa do juro civil? Será que a lei, no diploma supra mencionado, ao afastar
os consumidores, quis afastar dos juros comerciais no geral deixando estes apenas
para as empresas? Podemos retirar isto apenas do facto da lei excluir os
consumidores no DL Nº 62/2013 mas nada dizer no mesmo em relação a estes? A
jurisprudência divide-se. Há jurisprudência que entende que se aplicarão os juros
civis: este diploma ao alterar o art. 102º quis também excluir do domínio comercial os
contratos dos consumidores para efeitos de juros – significaria que sempre que uma
das partes fosse consumidor se aplicariam os juros civis. A maioria da doutrina no
entanto defende o contrário, que se não se aplicaria a norma especial do parágrafo
5º, aplicamos a norma do parágrafo 3º e se aplica o parágrafo 4º, ou seja, o juro
comercial de 7%.
Porque será que o legislador usa como critério para a definição do patamar mínimo
dos juros estas operações de refinanciamento do Banco Central Europeu? A partir do
momento em que se criou o Euro os bancos centrais que tem de controlar a
147
24.Outubro.2018 Teórica
148
149
4) Temos também as firmas de fantasia – ex: Apple. Não está em causa uma
atividade agrícola, mas uma atividade diferenciada. Tem de cumprir os princípios
que devem caracterizar o nome pelo qual o comerciante deve ser conhecido.
Quanto maior a dimensão da sociedade (tendencialmente) mais a sociedade
adota a firma denominação. O individual tem de assumir a firma nome, embora
possa ser conhecido por outra designação a que ele esteja particularmente
associado – ex: uma alcunha.
1) Princípio da verdade: tem vindo a ser mitigado nas firmas das sociedades. Aquela
designação que vai identificar o comerciante deve corresponder à realidade, logo
se for individual ou se for sociedade cuja firma seja constituída por associados
deve refletir isso mesmo. No nome individual pode haver circunstâncias que o
diferenciem no mercado, como haver uma alcunha, que não está excluído, e pode
colar-se ao nome. Como nas sociedades se esgotaram muito as firmas possíveis,
a lógica da verdade, que no passado obrigava as sociedades comerciais a adotar
uma firma tão próxima da verdade quanto possível, tem vindo a evoluir. Hoje em
dia a maior preocupação é evitar que a firma pela qual a sociedade é conhecida,
pretenda atuar no mercado, não deve induzir em erro os demais agentes
económicos – a firma não pode ser totalmente diferenciada daquilo que se propõe
a fazer. São as regras do próprio CSC, nomeadamente do art. 200º nas
sociedades por quotas e do art. 275º nas SA.
As firmas de fantasia são autónomas por definição, deixou de haver necessidade
de haver correspondência entre a atividade que consta da própria firma e a que
esta exerce de facto. Isto é diferente do que acontecia há uns anos – ex: um nome
de um supermercado, antigamente, tinha de demonstrar que prosseguia essa
mesma atividade, hoje pode ser explorado com firma de fantasia. O que não é
possível é, por exemplo, ter uma sociedade de pronto a vestir e a firma refletir uma
atividade de supermercado.
Onde se enquadra normativamente esta matéria? Diploma autónoma que regula
o Registo Nacional de Pessoas Coletivas – DL n.º 129/98, de 13 de Maio. O artigo
relevante quanto à verdade é o art. 32º. No plano das sociedades comerciais há
uma regra própria: o art. 10º CSC, precisamente sobre a firma, estabelece os
150
princípios que deve obedecer a firma. Olhando para o art. 10º/5 vemos que não
se pode indiciar que se está perante uma pessoa coletiva quando não corresponde
à realidade.
Este princípio sofre limitações com a transformação da realidade económica que
está subjacente à própria firma. Há quem diga que o logótipo é a firma em sentido
objetivo, mas acontece frequentemente que um estabelecimento é conhecido por
uma designação que corresponde, por sua vez, à fima de um sujeito de Direito
Comercial que é o seu titular. Isto é, há equivalência entre o nome da sociedade
titular do estabelecimento comercial e o próprio nome do estabelecimento, como
seja, por exemplo, o El Corte Inglês.
A questão é saber quais os efeitos da transmissão do estabelecimento
relativamente à firma, pois quem adquire o estabelecimento pode querer o logótipo
ou o nome do estabelecimento. Assim, a lei admite que as vicissitudes que
possam vir a ocorrer relativamente ao estabelecimento ou empresa possam
acarretar uma exceção relativamente à própria firma. Isso acontece não apenas
com mera transmissão do estabelecimento, mas pode também acontecer com a
transmissão da própria sociedade comercial – se esta tiver uma firma com um ou
mais nomes de sócios, a transmissão dessa sociedade pode implicar que o nome
do sócio seja transmitido com a mesma, ainda que careça de autorização do
mesmo. Verifica-se que quem fica titular da sociedade não é o senhor X, mas
quem a adquiriu e quis manter essa designação – ex: por ser uma designação
conhecida). O mesmo se diga dos fenómenos transmissão mortis causa, ocorre
uma sucessão – pode haver um interesse que os continuadores do comerciante
possam querer manter a firma. Por isso, muitas vezes, encontramos em
sociedades mais antigas a referência a “X e herdeiros” ou “X e sucessores”.
2) Princípio da novidade (exclusividade): art. 33º do DL nº 129/98 e art. 10º/2 CSC.
Diferenciação da firma no âmbito de um espaço jurídico. É precisamente o Registo
Nacional de Pessoas Coletivas que, na realidade, procede à inscrição e
diferenciação das firmas dos vários sujeitos de Direito Comercial que se
pretendem movimentar no mercado, quer dos empresários individuais quer das
sociedades comerciais. Por isso, resulta que cada vez que a pessoa se quiser
colocar no mercado, adotando forma de uma sociedade comercial, sujeita-se a
uma autorização desse instituto, que averigua a confundibilidade do nome que se
quer utilizar. Isto é, para usar uma designação que sirva se diferenciar de todas
151
as que já existem, sobretudo no caso de vir a criar valor objetivo e subjetivo poder
beneficiar disso. No domínio das sociedades comerciais a lei carateriza os vários
tipos impondo que, à sua designação, em princípio, seja acrescentado um sufixo
que identifique claramente qual a sociedade que está em causa.
a) Sociedades por quotas: firma a terminar em “limitada” ou “Lda.” – art. 200º.
b) Sociedades anónimas: “sociedade anonima” ou “S.A.” – art. 275º.
c) Sociedades em comandita:
i. Se simples de terminar “em comandita” ou “& comandita”.
ii. Se forem por ações deve terminar em “comandita em ações” ou “por
ações”.
Em termos de firma ficam apenas de fora as sociedades em nome coletivo (art.
177º), onde o fundamental é que a expressão caracterize a pluralidade de sócios
permita constatar que se está perante uma realidade societária, uma coletividade
– ex: Olavo Cunha & Companhia ou e Outros. Há que ter cuidado pois nada
impede que numa sociedade comercial participe uma outra sociedade comercial.
Por isso, se tiver a designação Olavo Cunha, S.A. e Companhia, não temos uma
sociedade anónima – temos uma sociedade em nome coletivo onde participa uma
sociedade anónima. Se fosse sociedade anónima teria de terminar em S.A., ou
em Lda. se fosse por quotas, etc.
Quando um sujeito de Direito Comercial, para maximizar ou rentabilizar o valor a
obter com a alienação do seu ativo, acede a transmitir juntamente com o ativo o
seu próprio nome, corre o risco sério de, no futuro, não poder intervir na atividade
económica com esse mesmo nome, está a prescindir do nome para intervir na
atividade económica.
Escrituração mercantil
Art. 18º, que se volta a refletir no art. 29º Código Comercial.
152
sejam a correspondência, contratos, etc. Mas hoje, como a lei impõe o dever de
conservação dos documentos obrigatórios, sendo que obrigatórios são apenas os
livros de atas, a verdade é que a escrituração pode resumir-se a esses mesmos livros
de atas. Basta pensar que os contratos não têm forma especial – podem ser verbais
–, deles não restam registo e o comerciante pode celebrar todos os contratos
presencialmente e não guardar qualquer elemento relativo a comunicações que tenha
efetuado. A escrituração, por isso, não se confunde com a evidência dos resultados
dessa mesma atividade. Isso respeita às contas dos comerciantes, organização
contabilística da atividade. As contas abrangem a expressão financeira dos negócios
comerciais desde o momento em que foram celebrados (registo da concretização) até
ao momento a que vão ter de ser prestadas a quem tem direito de ter uma explicação
sobre o que foi feito na atividade comercial (dimensão da contabilidade).
O relevo da escrituração mercantil (arts. 29º e ss): estabelece o art. 31º quais os livros
obrigatórios. Há desenvolvimento noutros diplomas – arts. 63º e 388º CSC voltam a
mencionar os livros de atas. Como é fácil de perceber, sempre que estivermos a falar
de agente económico singular, em princípio, a formação da sua vontade confunde-se
com a respetiva declaração. Por isso, não há registo da formação da vontade, essa
plasma-se nos atos que ele pratique. Se for por forma escrita fica aí registado. Se o
sujeito de direito comercial for composto por órgãos com composição plural já se pode
e justifica que tais órgãos e os elementos que os preencham reúnam autonomamente
do universo dos elementos que integram a entidade, isto é, dos sócios, formem a sua
decisão e passem-na a escrito na dita ata. Atas essas que devem constar todas do
livro de atas. Como diz o art. 31º e o art. 37º: as sociedades comerciais são obrigadas
a possuir livros de atas e estes são os únicos que são mesmo obrigatórios.
153
Constitui uma exceção a esta regra os casos em que existe a plurisociedade (conjunto
de sociedades) e onde certas sociedades consolidam contas com outras ou adotam
um método de equivalência patrimonial relativamente às sociedades que são
participadas. Nestes casos temos um período um pouco mais extenso: 5 meses.
154
atividade dos comerciantes. Serve também para outros fins e, desta mesma
comunicação, a lei extrai finalidades diversas: fiscal e fins estatísticos (junto do INE e
do Banco de Portugal). Com o mesmo ato satisfazemos varias obrigações que,
outrora, teriam de ser satisfeitas com atos diferentes.
No passado havia uma caraterística que distinguia os comerciantes dos que não são
sujeitos de Direito Comercial, que é este estar dispensado de arresto – procedimento
cautelar que visa apreensão judicial dos bens quando há receio de que os bens
existentes já sejam insuficientes para satisfazer os créditos que recaem sobre
determinado complexo patrimonial. No passado entendia-se que o sujeito de Direito
Comercial não devia estar sujeito a uma medida com esta amplitude. Se
apreendermos, por exemplo, máquinas e equipamentos o comerciante não pode
laborar para responder as dívidas que tem, precipitando a situação de insuficiência
do comerciante, que acabará incumprimento generalizado das dívidas. O arresto está
previsto nos arts. 391 e 396º CPC. Trata-se de um arresto preventivo, não se
confunde com a penhora, que é a apreensão natureza judicial de bens, promovendo
a sua venda e à custa desta satisfazer os créditos que recaem sobre o devedor.
Insolvência
As empresas precisam de liquidez e do acesso a meios que lhes permitam solver
regularmente os seus compromissos.
Um facto é que, em 2004, com uma alteração à lei que regulava as falências, o regime
da falência foi unificado para os sujeitos singulares e para todos os sujeitos de Direito
Comercial. Um argumento é, por exemplo, procurar sustentar o esbatimento da
autonomia do Direito Comercial. Isto aconteceu com o Código da Insolvência e
Recuperação de Empresas (CIRE) e o fenómeno da falência passou a designar-se
155
por insolvência. Ainda há muita jurisprudência pós-2004 que aplica o diploma anterior
por causa da aplicação da lei no tempo.
Situação de insolvência
Quando uma empresa, um ente personalizado se encontra impossibilitado de cumprir
as suas obrigações, dizemos que se encontra em situação de insolvência.
Por isso, o CIRE é organizado no sentido de permitir que quem está naquela situação
de incumprimento ou quase incumprimento pode requerer a declaração desta mesma
situação de impossibilidade. É importante notar que a impossibilidade de cumprir
pontualmente as dívidas não significa, restritamente, a insolvência da pessoa. Essa
156
pessoa pode ter situação patrimonial positiva, mas pode não ter créditos ou meios
para satisfazer as suas dívidas.
Não se trata aqui de um balanço entre ativo e passivo, mas da constatação de uma
situação em que as pessoas podem ver-se na contingência de ser-lhes declarada
essa situação de incumprimento, que é a situação de insolvência.
Para o efeito a lei disponibiliza alguns critérios que constituem fatores indicadores da
insolvência (art. 20º/1) e cuja verificação contribui certamente para a perceção dessa
situação.
157
Logo no art. 2º CIRE temos a indicação de quem pode ser sujeito da insolvência. Logo
no art. 2º/1, a) o CIRE generaliza a todas as pessoas. Por isso quando faz referência
no art. 2º/1, e) às sociedades comerciais é apenas para aquelas que ainda não estão
devidamente constituídas, as outras cabem no art. 2º/1, a).
O art. 18º é o que esteve subjacente quando se referiu que o devedor deve
apresentar-se à insolvência nos 30 dias seguintes (ver art. 3º).
O art. 20º prevê que os terceiros possam requerer a insolvências – até o próprio MP
em certas condições.
26.Outubro.2018 Teórica
158
1) Empresa recuperar, ainda que parcialmente, isto é, ainda que parte da sua
atividade. Restruturação da empresa.
2) Liquidação.
Quando a emprese se encontra em situação difícil, mas ainda não incapaz de solver
os seus compromissos pode recorrer ao processo especial de revitalização, arts. 17º-
A a 17º-I. A ideia subjacente a este processo é de que uma situação de insolvência
e, em especial, a apresentação de requerimento para a sua declaração, pode
prejudicar seriamente o valor dos ativos subsistentes e, em alguns casos,
comprometer a recuperação da empresa. Serve para evitar o alarme social que pode
resultar do conhecimento de uma situação económica difícil.
Este é o processo pelo qual o devedor, quando recolhe o acordo de alguns dos seus
credores, e sobretudo daqueles credores que não estão intimamente ligados com ele
– os que são os beneficiários diretos da sua atividade, art. 46º, como por exemplo, os
sócios –, que estes requeiram ao tribunal uma declaração que lhe permita ingressar
num processo especial de revitalização.
Devedor consegue dessa maneira suster todas as obrigações negativas que tivessem
contra si sido propostas. Com base nesse acordo, o tribunal declara que ficaram
159
suspensas contra a empresa todas as ações que possam vir a ser propostas –
sistema ágil, muito utilizado em Portugal, de matriz anglo-saxónica. Lógica de que os
credores apercebendo-se que a empresa pode pela insolvência comprometer a
satisfação dos seus créditos, aceitam que tribunal possa tomar uma medida intercalar.
Processo de insolvência
A insolvência corresponde a um dever do próprio insolvente, mas pode também ser
requerida por terceiros, MP ou por quem habitualmente represente o devedor. É por
isso um importante instrumento de pressão sobre a empresa. Há um movimento
sociológico, contraditório com a situação jurídica, frequentemente os credores
poderiam fazê-lo mas não o fazem por esperança de virem a ser pagos
preferencialmente. Se os créditos tiverem garantias especiais a solução é
necessariamente diferente.
Diploma que tem 3 centenas de artigos. O processo de insolvência vai consistir nos
atos processuais que visam a apreensão e execução universal dos bens do devedor.
Inicia-se, em regra, por declaração desse mesmo devedor, consubstanciada na sua
apresentação à insolvência, ou pode ser desencadeada por um credor. O processo
pode permitir minorar a redução ou a extinção total dos créditos dos credores.
160
Intervenientes
Quem são os sujeitos que devem participar no processo de insolvência?
1) Em primeiro lugar o insolvente, mesmo que o processo não se inicie pela sua
apresentação à insolvência nos termos do art. 18º, o insolvente é sempre parte no
processo – é o devedor, o que se encontra impossibilitado de cumprir as suas
obrigações, e essa situação pode ser provada por factos indiciadores das
dificuldades de cumprimento, art. 20º, factos relativos a incumprimento sistemático
e periódico de determinado tipo de obrigações.
2) Quando se abre uma situação de crise na empresa, quem vai dirigir a empresa?
A empresa vai ser dirigida por um técnico designado para o efeito – profissional
escolhido pelo juiz (podendo atender a sugestões feitas pelos credores) e
remunerado, o chamado administrador da insolvência, arts. 52º a 65º.
É importante referir que em certas condições e apenas nos casos em que devedor
seja uma empresa, o devedor pode conservar a administração dos bens, mas sem
prejuízo da participação do administrador da insolvência (aqui atua tipo curador)
– devedor compromete-se a apresentar um plano de insolvência: plano de
recuperação da empresa.
O administrador da insolvência beneficia de um estatuto, Lei nº 22/2013, de 26
Fevereiro – regulação autónoma – e em princípio consta de uma lista oficial de
pessoas que se pré-qualificam para exercer o cargo.
Nalguns casos, como por exemplo nos que o processo de insolvência é precedido
de uma processo especial de revitalização, existe um administrador judicial
provisório, o qual pode vir a ser confirmado como administrador da insolvência,
mas os credores podem não aceitar, antes rejeitar e designar outra pessoa para
o exercício do cargo.
3) O administrador da insolvência atua sobre a fiscalização de um órgão que não é
necessário, mas existe frequentemente: comissão de credores (arts. 66º a 71º) –
esta é composta por 3/5 membros e é presidida pelo maior credor da empresa.
Nesta entram os credores mais importantes. Esta fiscaliza a atividade do
administrador, órgão coadjuvante auxiliar do próprio administrador. Este último
opera sobre a supervisão do juiz do processo, até que seja homologado um plano
de insolvência ou até que a empresa entre em liquidação. Ao administrador cabe
161
162
À sentença podem ser deduzidos embargos, nos termos do art. 40º. Pode-se obstar
a que a sentença provenha com todos os efeitos dela decorrentes.
Naturalmente que esta resolução deve ser comunicada por carta, designadamente à
contraparte negocial do devedor e tem efeitos retroativos – mas isto não é automático.
Os credores podem opor-se a esta resolução – tensão entre administrador e credores.
Podem opor-se se conseguirem demonstrar que aqueles atos não provocaram
prejuízo ao devedor, que a resolução não se justifica. Para esse efeito os credores
dispõe do prazo de 6 meses para impugnar a resolução. Este instituto está previsto
no art. 120º e a intervenção dos credores no art. 125º.
Quanto aos efeitos sobre a empresa e sobre os seus gestores o principal efeito, que
ocorre sempre, é uma transferência dos poderes de administração de quem tinha a
gestão da empresa e também de disposição dos próprios bens da massa insolvente
163
Quanto aos créditos que existem sobre a insolvência, naturalmente que a posição da
lei é muito clara: com a declaração de insolvência vão-se vencer imediatamente todas
as obrigações do devedor – os credores ficam sujeitos às regras do CIRE durante a
pendência do processo e dentro dessas regras pode haver efeitos inesperados, como
a redução dos juros e a extinção de determinadas garantias, arts. 90º e 91º.
164
Plano de insolvência
Sucede contudo que quando o tribunal e os credores organizados na comissão e na
assembleia concluem que a empresa pode subsistir na ordem jurídica ou quando logo
no momento em que é requerida a declaração de insolvência o apresentante tem
noção que é possível encontrar uma solução satisfatória, é possível fazer um plano
de insolvência. Isto é, não se justificando pôr termo à vida da empresa, o que se faria
pela liquidação, mas admitindo que ela possa continuar, ainda que não na titularidade
do devedor, é possível apresentar um plano que permita, ainda que parcialmente,
recuperar os créditos, ainda que a longo prazo. Plano que deve ser submetido à
apreciação dos credores, art. 192º. O plano deve indicar (arts. 195º e 196º):
1) Quais os efeitos que se iram fazer sentir na esfera jurídica dos credores e qual a
posição que estes vão ter perante o próprio insolvente.
2) Deve conter os objetivos a atingir, designadamente a satisfação dos créditos
pendentes e as medidas necessárias para a sua execução.
3) Deve demonstrar que o ganho com a sua aplicação é claramente positivo.
4) Deve indicar as regras legais postas em causa pela execução do plano.
5) Quais são os atos que se vão projetar sobre o passivo do devedor, atos que irão
de ter de ser satisfeitos à custa dos bens da massa.
165
O plano deve ser objeto de aprovação pelos credores e de homologação pelo juiz.
Tem que ser aprovado por uma larga maioria de credores, não uma maioria simples.
O quórum dos votos presentes tem que ser representativo – 1/3 dos créditos em
causa. A assembleia vai deliberar por 2/3 dos créditos. Uma vez transitada em julgado
a homologação (encerramento do processo de insolvência), empresa vai reassumir a
atividade da empresa. Plano deve ser executado nos termos da decisão homologada,
mas pode suceder que não tenha havido capacidade de previsão de todas as
vicissitudes. O plano deve conter os mecanismos de financiamento que serão
utilizados.
Da lógica creditícia o encerramento é muitas vezes mais vantajoso por uma questão
de risco – no encerramento não há riscos, daí a atenção que deve ser tida na
aprovação do plano.
Como é que os credores recuperam a empresa? Convertendo parte dos seus créditos
em parte do capital da empresa – prescindem parte dos seus créditos, assumindo
controlo do capital da empresa. Imaginando que a empresa quando é formada é
formada com contributos de quem está na sua base, e estes contributos determinam
uma posição interna relativa dos seus sócios. Quando a empresa entra em
incumprimento as participações dos sócios perdem valor. Reduzir o capital é
reconhecer que aquele capital que tem uma determinada expressão, afinal vale 0.
Valendo 0 e se ninguém estiver disponível a manter a empresa em funcionamento,
então a empresa já não deve ter bens, ou pelo menos bens que satisfaçam os seus
credores iniciais. Mas também se deve admitir que os próprios terceiros, se confiarem
na recuperação da empresa, se possa concluir que abdicam de parte dos seus
créditos e esses créditos têm um valor: por isso a empresa recapitaliza-se à custa
desses mesmos créditos.
166
E se o plano não for cumprido? Não há muitas alternativas, apenas duas e há efeitos
imediatos que podem ocorrer. Plano pode, por exemplo, ter estabelecido que os
créditos ficassem a aguardar que não fossem satisfeitos. Com o incumprimento isso
cessa e vencem-se imediatamente, mas há duas possibilidades:
1) Liquidação da empresa.
2) Abrir-se uma nova insolvência daquela empresa.
167
O RERE permite que o devedor e todos ou alguns credores, desde que, sendo não
subordinados, representem, pelo menos, 15% dos créditos por satisfazer (art. 6º/1),
quando o capital não está perdido, reajam a uma situação difícil, autorregulando os
respetivos interesses. Permite ao devedor negociar diretamente com um ou mais dos
seus credores, procurando subscrever um protocolo de negociação, um instrumento
que vai depositar na Conservatória do Registo Comercial (arts. 6º a 8º), nos termos
do qual, não se encontrando perdido a totalidade do seu capital (é aplicado
geralmente em situações de crise da empresa, mas pré-insolvênciais), renegoceiam
o crédito. A ideia é a de resolver fora do tribunal a situação de insolvência. Este
procedimento visa evitar os processos de insolvência e suspende os processos que
tenham sido instaurados por credores que sejam parte no protocolo (art. 1º/1).
168
A grande vantagem é que o RERE permite um acordo, ainda que parcial, desde que
15% dos credores esteja disponível para aderir a esta solução. Geralmente não é
difícil, porque um único credor costuma deter essa percentagem.
1) Medida de 2017: alteração dos arts. 87º a 89º do CSC. Aplica-se apenas às
sociedades por quotas. Consiste num aumento de capital por subversão dos
suprimentos. Se os sócios são credores da sociedade e, fundamentalmente, o que
esta medida permite é que, se eles representarem uma maioria tão significativa
quanto aquela necessária para deliberar um aumento do capital social, eles
próprios possam converter os seus créditos, suprimentos, em capital da empresa.
Conversão de suprimentos em capital.
2) Medida 2018. Lei Nº 7/2018: converter outros créditos em capital. Aqui são
créditos de quaisquer pessoas. Um crédito é uma pressão sobre o funcionamento
da empresa. Se o titular do crédito estiver disponível a consolidar definitivamente
o crédito no capital da empresa, a pressão deixa de existir. Se for credor posso
pressionar a empresa a aceitar-me como sócio e eu passo a influir diretamente na
gestão da empresa. Este regime é muito interessante porque é um movimento
feito de fora para dentro da empresa. A empresa não é obrigada a aceitar – os
sócios da empresa podem ter iniciativa de realizar dinheiro e pagar esses créditos.
Se empresa recusar essa pretensão dos seus credores pode haver suprimento
social de deliberação.
Próxima aula: evidentemente que a atividade dos sujeitos de Direito Comercial carece
de uma certa publicidade, que se faz pelo registo – divulgar ao público os efeitos das
situações jurídica inerentes a determinados sujeitos e relativas a certos atos.
31.Outubro.2018 Teórica
169
Registo
O registo é um instituto público que visa aferir publicidade a atos e a situações
jurídicas mercantis. Existe um código, que é o Código do Registo Comercial, DL nº
403/86 de 3 dezembro, que visa tornar uma série de circunstâncias e vicissitudes do
Direito Comercial públicas. Se olharmos para o art. 18º Código Comercial sobre os
deveres e obrigações dos comerciantes, o art. 18º/3 fala-nos da obrigação de registar.
A lei tem depois o cuidado de determinar que atos é que estão sujeitos a esse registo
comercial, designadamente a carência de registo desses atos são os que respeitam
à própria existência dos comerciantes, atos relativos à matrícula do empresário
individual, do comerciante por exemplo, o CRC é que prevê estas questões em
conjunto com o regulamento que o acompanha.
O CRC tem uma série de factos enumerados, entre eles temos o importante art. 3º,
que trata de todos os atos comerciais que devem ser objeto de inscrição. Temos
também o art. 10º que trata do mandatário comercial – o mandato comercial está
previsto nos arts. 231º e ss Código Comercial.
O importante é olhar para os arts.1º a 10º CRC para perceber as pessoas e os atos
que devem constar do registo comercial sendo publicitados43.
43As conservatórias prediais no limite podem fazer registos comerciais nos locais onde não haja conservatórias para registo
comercial. O Registo comercial durante muitos anos era baseado na apresentação presencial dos sujeitos, mas à cerca de
uma dúzia de anos passou a ser promovido por via online. Qualquer conservatória pode fazer o registo eletrónico hoje em
dia.
170
atividade económica levou o legislador a não ficar satisfeito com a existência de uma
fiscalização interna por parte dos sujeitos do Direito Comercial.
Tribunais e arbitragem
Naturalmente que, compete aos tribunais judiciais comuns, apreciarem os litígios que
ocorram no mercado e a nível da atividade comercial. A nível judicial temos os:
Além dos tribunais referidos, os juízos de comércio que têm uma competência própria
e exclusiva para apreciar os aspetos de insolvência e das ações que dizem respeito
aos direitos sociais que se desenvolvem no plano das sociedades comerciais, há
tribunais de competência territorial alargada que visam apreciar ações relativas às
marcas (ex: tribunal da propriedade intelectual) e o tribunal da concorrência da
regulação e supervisão que tem por finalidade apreciar os recursos das sanções da
Autoridade da Concorrência.
Os tribunais arbitrais têm muita relevância no nosso ramo do Direito Comercial. Isto
porque os conflitos em matéria jurídico-mercantil recaem invariavelmente em direitos
de natureza disponível, sendo possível recorrer aos tribunais arbitrais na resolução
de litígios. A lei chega a prever que, previamente, na arbitragem de um litígio possa
haver recurso a meios alternativos de resolução e nesse sentido é hoje admissível a
constituição dos centros de negociação, mediação ou conciliação que visam resolver
litígios de pequena dimensão.
Os tribunais arbitrais existem em vários locais, mas há muitos juntos das câmaras de
comércio, câmaras que constituem em regra as formas de acesso à arbitragem e
tribunais arbitrais com as suas próprias regras. Isto acontece tanto a nível nacional
como internacional44.
44Há ainda a questão de arbitragem necessária: arbitragem que acontece quando Estado decreta que as partes têm de
constituir um tribunal arbitral, a lei que permite isto vai no entanto ser revogada.
172
Contratos comerciais
Vamos agora entrar num capítulo bastante relevante. Este capítulo diz respeito aos
atos de comércio que são, em princípio, qualificadores do sujeito que os pratica se
ele não for já comerciante por definição.
Pode suceder, e daí que o Código tenha optado pela ideia de atos de comércio e não
contratos comerciais, que haja atos não negociais, negócios unilaterais e atos ilícitos,
e por isso ocorrendo esses atos pretende-se que estes estejam regulados pelo Direito
Comercial.
173
(malta ele teve uns 20 min a falar sobre o que era um negocio típico/atípico e o que
era um negocio nominado. Eu ouvi a aula e passei mas apaguei porque não valia
mesmo a pena estar, é a matéria de TGN e civil e é básica)
174
O que requisito que liga o sujeito ao objeto é a legitimidade, que é uma questão muito
importante para diferenciar os contratos civis dos comerciais como vamos ver adiante.
Diferenciação
Como é que em relação ao mesmo tipo negocial podemos distinguir um contrato civil
de um contrato comercial? Qual é o critério?
É possível se recorrermos por exemplo a dois negócios que estão regulados quer no
CC quer no Código Comercial conseguimos ver essas diferenciações. No que toca a
legitimidade dos sujeitos e a forma vamos conseguir diferenciar.
Vamos recorrer ao mútuo e à compra e venda, dois tipos que se encontram em ambos
os códigos. A compra e venda nos arts. 874º e ss CC e arts. 473º e ss Código
Comercial. O mútuo, no art.1142º CC e no art. 394º Código Comercial. Quanto à
forma em princípio na compra e venda não necessariamente uma diferenciação em
função do ramo do direito comercial e civil, tanto num como no outro a forma é a
mesma em todos os casos. Mas já no mútuo a forma é diferente porque o art. 396º
admite que o mútuo não esteja dependente de qualquer forma, já no Direito Civil o
art. 1143º dá-nos mais que uma forma em função do valor do mútuo.
175
31.Outubro.2018 Prática
Gonçalo Ferreira.
06.Novembro.2018 Prática
Parte I
Hipótese 8
Belindo tem uma empresa que se dedica à instalação de sistemas de vigilância de
habitações. Recentemente conseguiu ficar como representação de uma empresa
nacional, titular de uma marca muito conhecida. Considerando que o pontual
cumprimento do contrato o obrigava a fazer alguns investimentos iniciais, resolveu
constituir com o cônjuge uma sociedade e mandou fazer uma página de internet da
sociedade, ABC - Sistemas de Vigilância, Lda, a Carlitos. Celebrou depois, já com a
sociedade constituída, como gerente desta, um contrato de arrendamento de um
espaço situado num Centro Comercial da cidade e pediu a um Banco 2000 euros, a
título de financiamento, entregando ao banco uma livrança por si (Belindo) subscrita,
em nome da sociedade e a título pessoal, como avalista.
176
qualificação como comercial quer para o lado do banco, quer para o lado do cliente
do banco, então quer a TAC quer a TJE chegariam ao mesmo resultado dizendo que
o ato é comercial.
O problema põe-se no facto do art. 362º fazer apenas uma qualificação unilateral.
Põe-se então a questão de saber para a contraparte do banco, ou seja, para o cliente,
se esse contrato é ou não um ato comercial.
Esta empresa, que instalava sistemas de segurança, tinha como atividade principal a
instalação. Então a qualificação do contrato de financiamento como comercial pelo
lado da empresa é o que? Art. 2º, 2ª parte: todos os atos que não digam respeito à
atividade principal do comerciante, mas que sejam com eles conexos.
O art. 2º, 1ª parte seria para que na TAC? Serve para qualificar os atos respeitantes
à atividade principal do comerciante. Ainda pode ter relevância para que tipo de atos?
Para os atos ocasionais para quem não é comerciante.
Portanto não faz sentido dizer que o contrato de financiamento para a empresa,
segundo a TAC, seria comercial pelo art. 2º, 1ª parte. Porque para a empresa esse
ato seria comercial pelo art. 2º, 2ª parte, porque de facto não dizia respeito à sua
atividade principal, não era um ato que tivesse natureza exclusivamente civil e
também não resultava do ato que ele tinha sido contraído com uma finalidade diversa
da atividade do comerciante. Logo presume-se como comercial pelo art. 2º, 2ª parte.
E para a TJE? Para o banco é a mesma coisa – art. 362º. E para a sociedade? Ato
conexo com a sua atividade principal. Logo é comercial por força do art. 2º, 2ª parte
e do art. 230º.
177
178
A partir do momento em que estes instrumentos passaram a ser utilizados por sujeitos
não comerciantes, levantou-se o problema de saber se estes atos eram ou não
comerciais. Porque enquanto fossem apenas utilizados por comerciantes ninguém
duvidaria que eles diziam respeito ao comércio do comerciante ou seriam qualificados
pelo comércio do comerciante.
Ex: imaginando que D vai comprar um automóvel para seu uso particular e o preço
vai ser pago numa série de prestações e em representação dessas prestações o
vendedor do automóvel, E, comerciante, saca 6 letras sobre D, uma referente a cada
prestação. D subscreveu aquelas letras, em que assume um compromisso que vai
pagar aquelas letras na data dos seus vencimentos. D subscreveu estas letras em
representação de um ato que para D não era comercial – comprou um automóvel
para seu uso particular. Mas a verdade é que a letra, ou a livrança ou o cheque, são
atos cambiários, atos que resultam de normas que por si mesmos os qualificam como
comerciais. Ainda que as relações subjacentes, ou seja, as relações que estão na
base da subscrição de cada um desses títulos, não sejam comerciais. Para D a
compra é civil, mas ao subscrever a livrança está a praticar um ato que formalmente
é comercial.
E é ai que surge o problema das letras e das livranças que é o de saber se esses atos
são formalmente comerciais ainda que as relações subjacentes o não sejam ou se os
atos relativos a estes títulos de crédito só serão considerados comerciais se as
relações subjacentes que justificam a intervenção de cada uma das pessoas nesses
títulos, também forem comerciais. E aqui a doutrina divide-se.
179
180
está sujeito a forma especial, pode ser provado por qualquer forma, logo funciona o
princípio da liberdade de forma. É essa a grande especialidade dos empréstimos
mercantis – os empréstimos mercantis entre comerciantes estão sujeitos à liberdade
de forma. Retiramos isto do art. 396º – se pode ser provado de qualquer forma isso
significa que não há nenhum requisito quanto à substância.
f) Belindo é comerciante?
O art. 13º diz que são comerciantes as pessoas que, tendo capacidade para praticar
atos de comércio, fazem deste profissão. Segundo o prof. MC têm que estar
preenchidos quatro requisitos:
Belindo é uma pessoa singular. Quando Belindo constituiu uma sociedade comercial,
ele passa a ser o que nessa sociedade? Sócio. Ele é comerciante por ser sócio? Não.
Qual é a atividade económica que o sócio desenvolve para obter a qualidade de
comerciante? Nenhuma. Um sócio não desenvolve nenhuma atividade económica 46
– quem vai desenvolver a atividade económica é a sociedade que ele constituiu.
Belindo é diferente da sociedade que constitui e é a sociedade que vai levar a cabo
essa atividade económica. A atividade económica desenvolvida por essa sociedade
é que pode ser ou não comercial. Ou seja, ele pelo facto de ser sócio não é
comerciante.
Ele é também gerente da sociedade. Os atos que ele pratica, pratica-os para quem?
Para a sociedade. Portanto ele não pratica atos em nome próprio. Logo os efeitos
jurídicos daquilo que ele pratica são repercutidos em quem? Na sociedade. Logo pelo
facto de ser gerente torna-se comerciante? Não. Se os efeitos jurídicos dos atos que
46Limita-se a deter um bem no seu património, que é uma ação representativa do capital daquela sociedade ou uma quota
representativa do capital daquela sociedade.
181
ele pratica se repercutem na esfera da sociedade, não está a praticar para si próprio,
logo ele não é comerciante. Enquanto gerente ele é membro de um órgão social – as
PC para se exprimirem precisam de órgãos e os órgãos são compostos por pessoas
singulares. Esses órgãos é que exprimem a vontade da PC. Logo são é através dos
órgãos que as entidades coletivas vão desenvolver as suas atividades. As pessoas
que fazem parte desses órgãos não estão a praticar atos para si, estão a praticar ato
em nome e por conta da sociedade. Logo todos os efeitos jurídicos daquilo que eles
fazem enquanto gerentes ou enquanto administradores de uma sociedade,
repercutem-se apenas na esfera jurídica da sociedade, logo quem é comerciante é a
sociedade e não Belindo. Portanto ele pelo facto de ser gerente não é comerciante e
pelo facto de ser sócio também não é comerciante.
Ele só poderia ser comerciante pelo desenvolvimento que tinha feito em nome
individual da atividade de instalação de sistemas de vigilância de habitações.
Ninguém é comerciante pelo facto de ser sócio de uma sociedade, nem ninguém é
comerciante pelo facto de ser membro de um órgão de uma sociedade. Quem é
comerciante é a sociedade, não as pessoas que integram os seus órgãos ou os sócios
dessas sociedades.
Hipótese 9
Antonieta, recentemente nomeada conselheira do STA e que já tomou posse, decidiu
suprir a falta dos subsídios de férias e Natal através de algum ganho que consiga
obter em negócio de venda de bijuteria de qualidade, pelo que encetou a procura de
espaço compatível na Av. da Liberdade em Lisboa. Para realizar o seu projecto,
convidou a filha de Bernardete, sua amiga de infância, miúda talentosa que frequenta
o 10º ano do ensino profissionalizante de artes, de seu nome Carlita. Antonieta e
Carlita rapidamente se entendem e desenvolvem o seu projecto para a A&C biju,
redigindo um acordo escrito, tendo combinado que Antonieta entrava com o
investimento e Carlita com o seu talento artístico para criar as peças e vender.
Comecemos por Carlita. Poderíamos dizer que ela é menor, dado que está no 10º
ano. Sendo menor qual é o problema que se levantava? Para ser comerciante um dos
182
requisitos é ter capacidade tanto de exercício como de gozo. Ela tem capacidade de
gozo? Tem. Mas não tem capacidade de exercício. Sendo menor é incapaz, logo não
tem capacidade, logo não podia ser comerciante à luz do art. 13º. Se ela fosse maior
de idade ou emancipada aí já poderia ser comerciante.
Havendo uma incompatibilidade, os atos que sejam praticados por Antonieta nessa
atividade comercial são válidos, mas as consequências resultantes disso ela vai sofre-
las enquanto magistrada. Isto porque a violação da norma estatutária leva a que ela
possa ser alvo de uma sanção disciplinar.
183
Se isto é uma mera incompatibilidade, não afeta a validade dos atos. E também não
vai afetar a capacidade jurídica, nem de gozo nem de exercício, dela. Então ela
poderia ter a qualidade de comerciante. Embora haja autores que qualificando o ato
como uma mera incompatibilidade, para não afetar a validade dos atos, dizem que
ainda assim essa norma não lhe permite o acesso à aquisição da qualidade de
comerciante.
O outro problema aqui presente nestas duas personagens do caso é saber em que
medida é que o facto de Carlita, imaginando que ela até era maior, ser estudante e o
facto de Antonieta ter outra atividade profissional (magistrado), isso colide com o
chamado com o exercício profissional para se adquirir a qualidade de comerciante?
Ou seja, para se adquirir a qualidade de comerciante tem de se fazer isso uma
atividade a tempo inteiro, tem de o fazer com caráter de exclusividade? Deve ser
tendencialmente exclusiva – é apenas um critério do prof. MC, mas não resulta da lei.
Pensemos numa atividade sazonal, deixam de ser comerciantes por isso? Não. Isso
impede que o sujeito possa simultaneamente exercer outras atividades também com
caráter profissional?
E também não quer dizer que não se possa ter várias atividades em paralelo – para
se adquirir a qualidade de comerciante não tem de se estar exclusivamente dedicado
àquela atividade sem poder desenvolver mais nenhuma.
47Podem haver atividades sazonais ou atividades que se desenvolvem de uma forma intermitente, mas com caráter
profissional.
184
A&C biju é o que? É um projeto. Este projeto deu origem a uma nova entidade
jurídica? Não. Então deu origem ao que?
Elas redigiram um acordo escrito para desenvolver a atividade. Que acordo é este?
Celebraram um contrato comercial que se chama associação em participação. O DL
n.º 231/81, de 28 de Julho trata de dois contratos comerciais: o contrato de consórcio
e o contrato de associação em participação. São ambos contratos comerciais.
O que elas celebraram foi um acordo relativo a uma associação em participação, que
não dá origem a nenhuma pessoa jurídica nova, logo A&C biju não é num
comerciante, é apenas um contrato.
07.Novembro.2018 Teórica
07.Novembro.2018 Prática
Parte II
Hipótese 1
A, titular de um pequeno motel, com 8 empregados, situado em local de que C é o
locador, vendeu-o a B, com todo o activo e passivo, por 20 000 euros, apesar de a
situação líquida ser ligeiramente negativa. C, notificado do negócio, propôs acção de
despejo contra B, alegando que o negócio fora simulado, e deduziu como pedido
subsidiário a entrega do imóvel, por se considerar titular de um direito de preferência.
Quid iuris?
185
Já quanto à empresa, alguma doutrina diz que as empresas têm dois componentes:
Outros autores consideram que o conceito de empresa não serve para nada porque
não há um conceito jurídico único de empresa. A noção de empresa é usada para
diversos efeitos, em diversos ramos do direito. Não há um conceito uniforme. Daí
haverem vários autores que dizem que o conceito de empresa em si não é relevante.
Por exemplo, o art. 230º qualifica a empresa como atividade económica.
186
É preciso dados concretos que nos permitam aferir qual é a dimensão de mercado de
um determinado estabelecimento.
Por esta teoria tradicional a clientela não pode ser parte do estabelecimento porque
ela é fluida, é intermitente, vai variando.
Que elementos é que temos de ter em conta quando estamos a apurar a dimensão
do mercado do estabelecimento?
1) Há casos em que a localização geográfica pode ser um elemento importante,
noutros casos é simplesmente irrelevante. Um estabelecimento de um campo de
golf, esse tem de ser nesse local porque o campo foi instalado lá, não se vai
arrancar a relva e colocá-lo noutro sítio.
2) Por exemplo, os pastéis de Belém: o valor destes está na receita, know-how
inerente a isso, é o valor do estabelecimento. Aquele estabelecimento vale pela
receita. O valor pelo qual se mede a dimensão do mercado, é através da receita.
Depois há indícios que nos ajudam – atendemos aos volumes de faturação, etc.
É através destes fatores que conseguimos apurar a dimensão do mercado do
estabelecimento. A clientela é variável. Se quiser saber se vendem muito ou pouco,
vou olhar para o passivo de exploração.
Isto tudo são indicadores que nos vão permitir apurar a dimensão de mercado do
estabelecimento. Sobretudo nos dias de hoje, onde consideramos que o Direito
187
O que é que o senhorio pode fazer? Abordar a questão do valor + art. 1112º/2 –
legislador estabelece indícios de inexistência de trespasse, dando indícios de que o
que as partes querem é a cessação da posição de arrendatário, não havendo
trespasse quando:
188
189
de conciliar os interesses foi este regime. Art. 424º: a cessação da posição contratual
exige consentimento. Arts. 1038º, 1054º e 1112º.
Trespasse: o legislador criou esta figura do trespasse porquê? “Este motel foi vendido
com todo o ativo e passivo” – aqui há uma divergência doutrinária, é saber se com o
trespasse também são transmitidas as posições contratuais em contratos e dividas
do próprio estabelecimento.
Esta doutrina minoritária, em tese, até tem razão, mas peca num aspeto essencial.
Para dizermos que o estabelecimento para que fosse transmitido pela figura do
trespasse isso constituiria uma exceção à regra de transmissão singular de dívidas,
créditos, posição contratual. Tínhamos de considerar que o estabelecimento
comercial origina um património autónomo, porque era o mesmo que dizer que as
dividas afetas àqueles ativos só podem ser ressarcidas por aqueles ativos e por
190
Não havendo aqui um património autónomo torna-se difícil impor a qualquer credor
que tenha de suportar agora o novo devedor que é o novo titular do estabelecimento,
que pode ter uma consistência patrimonial muito pior do que o anterior titular do
estabelecimento.
09.Novembro.2018 Teórica
A contratação eletrónica não está reserva ao mundo comercial. Alias sempre que nos
deslocamos para o relacionamento entre particulares saímos do mundo particular,
não tem de se dispensar nenhuma proteção especial a nenhuma das partes –
proteção típica do Direito Civil. Nem todos os negócios são suscetíveis de contratação
eletrónica – negócios de carater pessoal não estão abrangidos por estas novas
tecnologias. Há certos negócios imobiliários ainda não é possível fazer através da
contratação eletrónica.
191
Este tipo de novo mercado que se desenvolve exige que a documentação inerente a
estes negócios ocorra e se processe pela mesma via: faturação eletrónica – emissão
conservação arquivamento de todos esses documentos. Para isso há um diploma
próprio.
DL 24/2014, 4 Fevereiro.
192
Contrato de swap: operação pela qual uma das partes do contrato, que pode ser da
mais diversa natureza, e pode ter por objeto diferentes bens (ex: moeda, ativos
financeiros, juros, mercadorias, etc.), trocam posições no que respeita ao risco e á
rentabilidade do negócio. Procuram compensar o risco que decorra de um
determinado negócio. Exemplo mais paradigmático: banco como contraparte uma
empresa sua cliente e um contrato de swap para colateralizar um financiamento – o
problema da empresa é na realidade o risco inerente à variação dos juros, que o
encargo com a dívida assocada com o financiamento passe a ser incontrolável. Banco
pode procurar estabelecer um valor mínimo para esses juros e comprometer-se a fixar
esse valor minimio, designadamente estabelecendo uma taxa. Riscos cambiais:
emprese está obter fornecimento numa moeda estrangeira e será feito a prazo –
receio que essa moeda estrangeira valorizar de tal maneira, vai ter dificuldade em
fazer face ao cumprimento da sua obrigação. Para isso pode haver um swap. Quando
banco celebra este contrato com a empresa, vai ter o cuidado de procurar compensar
o risco que está a assumir. Cliente contratava uma taxa fixa. Por mais que variassem
os juros, o cliente nunca mais pagava mais do que uma taxa de juro. Banco
estabelece taxa de juro em 6.5% e a taxa estava em 5%, só é vantajoso para o cliente
se ele assumir que as taxas vão variar positivamente. Se as taxas atingirem 10% é
bom. Se a taxa de juro reduzir, significa que ele vai continuar a ter de sustentar um
encargo superior aquilo que por recurso a outros (…). Desastroso. O efeito da crise
global que ocorreu em 2007/2008, mas que em Portugal se projetou em 2011 com a
intervenção da Troika, o que aconteceu foi que com a intervenção do BCE e com a
fixação das taxas de juros, nalguns casos atingindo juros negativos, significa que as
empresas que tinham contrato taxas fixas, não consigam cumprir com os seus
193
194
Garantias clássicas
Apontam para o incuprimetno cotnratual poder ser reparado ou à custa de um
determiando património, eventualmente do devedor, ou á custa de determinados bens
que ficam especialmente afetos à satisfação da obrigação. Em vez de recorrer a uma
garantia pessoal, recorre-se a uma garantia especial, que por sua vez pode ser
pessoal ou real.
Sempre que está em causa uma garantia geral em si mesma, a que é representada
pelo património do devedor. Devedor asusme a obrigação e o seus património
responde.
Garantias pessoais
Ponderar o interesse desta garantia. Até que ponto um terceiro tem interesse em
arriscar o seu património pessoal para satisfazer uma obrigação alheia? Há casos em
que se justifica: viabilizar economicamente o terceiro de modo a que este se encontre
em condições de contratar com ele, ou porque o garante tem especiais relações com
esse terceiro (pessoais ou jurídicas).
195
Fiança: garantia pessoal pela qual um determinado sujeito, fiador, disponibiliza o seu
património para assegurar o cumprimento da obrigação de um terceiro, afiançado ou
devedor. Esta garantia pessoal pode revestir natureza comercial se for acessória de
um ato de comércio ou contrato comercial, art. 101º Código Comercial. Grande
diferença entre fiança comercial e civil: art. 638º.
Aval: tem enormes semelhanças com a fiança, só que constitui uma garantia pessoal
relativa ao reforço do crédito inerente à subscrição de um título cambiário. É uma
garantia pessoal do pagamento de uma quantia que seja inscrita num título de crédito
– livrança, letra ou cheque. O que é que assegura? Que a quantia constante do título
seja paga e que não sendo oportunamente pago credor pode exigir diretamente do
garante, avalista, a satisfação do seu crédito, mesmo que a obrigação do devedor
não subsista na ordem jurídica. O aval visa garantir o pagamento do título no momento
do vencimento, caso ele não seja honrado. Garante conserva um direito de regresso
– pode acionar o avalizado para que este o venha ressarcir. Mas se este avalizado
não proceder ao pagamento no momento do vencimento do título, então o credor
pode imediatamente acionar o avalista. Nada impede que o avale seja dado numa
relação puramente civil – pode ocorrer entre 2 não comerciantes. E por isso o aval é
uma garantia típica do mercado, embora não beneficie de toda a tutela característica
do mercado.
Garantias reais
São essencialmente duas: hipoteca e penhor.
196
para a custa do seu valor ser satisfeita uma obrigação, tem de se entregar o bem
móvel ao credor penhoratício. Como é evidente o Direito Comercial estabelece um
regime diferente – penhor 666º e ss CC e 397º a 402º Código Comercial. Penhor é
por definição acessório a um NJ comercial, e diversamente do que acontece no Direito
Civil em que é um NJ real quoad constitutionem, no Direito Comercial o penhor não
impõe a entrega ou transferência da posse do bem empenhado, mas apenas uma
entrega simbólica – devedor vai poder a continuar a usar o bem na sua atividade
mercantil. O penhor conhece uma variação: (garantia real específica) relativa a um
credor em particular – quando seja uma instituição de crédito temos um penhor
bancário. As operações que a contraparte que o devedor celebre com este credor,
essas operações vão-se fundamental consubstanciar em créditos bancários ou
financiamentos concedidos por instituições de crédito, penhor para satisfazer essas
obrigações.
Garantias financeiras
Penhor financeiro: pode recair sobre numerário, que pode corresponder a um saldo
disponível numa determinada conta bancária ou a um crédito (…), sobre instrumentos
de crédito. Credor retem esses instrumentos para satisfação dos seus créditos –
posse desses instrumentos. O bem objeto do penhor encontra-se depositado em
regra junto do credor financeiro.
197
Duas últimas garantias, sendo que um delas não é propriamente uma garantia e a
outra é uma garantia ténue.
Primeira: cartas de conforto – declarações subscritas por um sujeito que visa apoiar
a capacidade creditício de um outro sujeito. A intensidade da garantia é variável
consoante o respetivo conteúdo. Pode equivaler a um reforço pessoal em caso de
incumprimento por parte do devedor. É uma garantia que tem uma natureza pessoal
e tem uma natureza ou caráter epistolado e por isso designa por carta de conforto.
Segunda: não é necessariamente uma garantia. Direito de retenção, 754º e 755º CC.
Não tendo natureza mercantil, pode ser utilizada para em caso de incumprimento não
é uma garantia que vise induzir ao cumprimento, mas que visa (…), caráter
sancionatório retenção de um bem mas pelo que representa a privação do uso do
bem por parte do seu titular, efeito importantíssimo, sobretudo no domínio imobiliário,
prevalece sobre própria hipoteca.
Associação em participação
21º e ss.
198
contributo. Ele pode participar apenas nos lucros, pode ser dispensado de participar
nas perdas. Isto resulta do art. 21º/1 e 2 do DL 231/81.
O contrato não está sujeito a forma especial, salvo se a natureza dos bens envolvidos
o exigir. Isto é, se os bens utilizados na atividade do associante ou com os quais o
associado contribuir exigirem uma forma especial. Art. 23º/1. Pode haver uma forma
convencional, sendo necessário se estiver em causa excluir o associado de participar
nas perdas ou se se pretender atribuir-lhe responsabilidade ilimitada, 23º/2.
Deveres: associado apenas participa nas perdas no limite dos bens que contribuiu.
Participação de algum modo limitada.
Se não for celebrado por um prazo determinado, pode ser resolvido decorridos 10
anos da respetiva celebração. Quando a lei prevê que a resolução ocorra 10 anos
apos a celebração admite que este contrato seja de longo prazo. Claro que entretanto
havendo uma justa causa pode acontecer antes.
199
Consórcio
13.Novembro.2018 Prática
200
Parte II
Hipótese 2
Alberto, industrial de sumos e refrigerantes, casado com Berta, adquiriu em 31 de
Julho de 2008 a Carlos, agricultor e fornecedor de matérias-primas, 100 toneladas
de frutas para a produção de sumos naturais, pelo preço de € 50.000,00, que o
adquirente ficou de pagar em cinco prestações iguais.
Entretanto, e para distribuição dos seus sumos, Alberto celebra com Etelvino, dono
de uma pequena mercearia, situada num imóvel pertencente a Felisberta, um
contrato pelo qual Etelvino lhe cede o gozo da loja (incluindo o respectivo activo e
passivo), a título definitivo, mediante o pagamento de € 100.000,00.
a) Suponha que Felisberta pretende intentar uma acção de despejo contra Alberto,
invocando que houve uma cessão não autorizada da posição de arrendatário. Quid
Iuris?
201
Sendo um trespasse, uma das formas de transmissão de divida, nos termos do art.
595º, é por acordo entre o antigo e o novo devedor, ratificado pelo devedor. Não tendo
sido ratificado, Irene poderá demandar tanto um como o outro, passam a ser os 2
solidariamente responsáveis
Hipótese 3
A, titular de uma papelaria na cidade de Braga, relativamente conhecida mas já com
certo aspecto «fora de moda» - chamada «papelaria da arcada» -, vendeu-a a B, com
todo o activo e passivo, por 50 000 euros. No momento da venda, da contabilidade
constava um activo de 30 000 euros e um passivo de 20 000.
Passados dois meses, foi aberta pela sociedade C, a 50 metros do local, uma outra
papelaria, designada «papelaria moderna». A sociedade pertence maioritariamente a
A.
Quid iuris?
A resposta seria diferente se a segunda papelaria tivesse sido aberta pelo próprio A?
E pelo cônjuge? E se fosse o cônjuge o sócio maioritário da sociedade?
A boa-fé deve ser respeitada tanto nos preliminares como no cumprimento das
obrigações. Ora aqui as obrigações estão todas cumpridas. Pode haver pós-eficácia,
acontece quando haja deveres complexos que subsistam. Quem usa esta ideia são
os autores que, apesar de verem aqui alguma injustiça, negam que o estabelecimento
tenha uma dimensão de mercado. Mas isto está errado pois o contrato está
202
Parte da doutrina vem dizer que quem compra o estabelecimento compra-o na base
de ter uma base de clientela, constituindo isto uma obrigação de meios, um pacto de
não concorrência implícito. Esta surge da aplicação dos arts. 939º e 879º, a): a
primeira vem aplicar as normas da compra e venda a contratos como o trespasse e o
outro diz que o vendedor tem a obrigação de garantir a possibilidade de gozo da coisa.
Há depois outra parte da doutrina que vem dizer que este dever não existe por
princípios de liberdade de iniciativa económica, iniciativa privada e liberdade da
concorrência.
A concorrência desleal não visa prevenir o dolus bonus do comércio, mas sim
medidas de proteção da propriedade industrial, etc.
Prof. Barona: o problema tem a ver com aquilo que compõe o estabelecimento, este
visa dar suporte a atividade económica do comerciante, na produção de bens e
serviços em função do mercado. O que se pretende ao transmitir um estabelecimento
é permitir que o novo titular continue essa atividade económica naquele mercado,
este é o fim do contrato de trespasse. Ora, enquanto trespassante não posso pôr em
causa os fins do contrato – em função deste fim tenho um dever de abstenção, de
não praticar atos que prejudiquem essa dimensão do mercado do estabelecimento.
Essa obrigação de não concorrência, a par de qualquer obrigação de abstenção surge
para preservar o fim contratual.
Isto não tem nada que ver com aquilo do art. 939º, pois isso é relacionado com o gozo
da coisa, tutelado pelas medidas de proteção da posse, não por deveres de
abstenção. Qualquer contrato com eficácia real tem uma parte real e uma
obrigacional. O nosso problema coloca-se na parte obrigacional, e o gozo coloca-se
na parte real.
O fim contratual justifica a existência desta obrigação, mas isto levanta o problema de
saber quais os limites desta obrigação, porque um sujeito não pode estar vinculado a
203
uma obrigação de forma ilimitada, não pode ficar ad eterno impedido de desenvolver
uma atividade económica, nem o pode ficar em qualquer espaço geográfico
1) Tem de ter limites subjetivos: pode envolver outras pessoas que tendo
conhecimento efetivo da atividade que era ali desenvolvida sejam capazes de
prejudicar essa dimensão de mercado.
2) Como também é preciso conhecer a dimensão geográfica do mercado daquele
estabelecimento.
3) E estabelecer limites temporais.
14.Novembro.2018 Teórica
14.Novembro.2018 Prática
16.Novembro.2018 Teórica
Contratos comerciais
Representação comercial
A representação comercial consiste na atuação em nome (e no interesse) de outrem,
informando desse facto a contraparte, ou numa intervenção (negocial) por conta de
outrem, sem revelar que o destinatário final dos efeitos do negócio é o titular de uma
esfera jurídica alheia, diferente do agente que intervém a título pessoal no negócio.
204
efeitos desses atos jurídicos. E isto produz então a multiplicação dos negócios
jurídicos dos sujeitos de Direito Comercial.
Mandato comercial
A representação tem uma designação técnica que é a de mandato, que pode ser civil
ou comercial. É o primeiro contrato que é enunciado depois da empresa comercial,
regulado nos arts. 231º e ss Código Comercial. O mandato comercial é o contrato
pelo qual uma pessoa atua por conta e em nome de outrem, substituindo-a na
celebração de contratos comerciais (art. 231º). Trata-se de um ato que se pressupõe
oneroso no domínio comercial, pelo que o mandante deverá pagar um preço pela
intervenção que o mandatário aceita fazer em seu nome.
Desta noção de mandato comercial releva um aspeto muito importante que é a lógica
da acessoriedade objetiva, ou seja, um mandato comercial é concedido para a prática
de atos de comércio. O mandatário comercial, pensando numa pessoa comercial, é
um profissional, é alguém que atua no mercado sempre para representar terceiros.
Ao analisarmos o art. 231º percebemos que o mandatário é a pessoa instruída para
celebrar contratos comerciais. O mandatário é o sujeito em quem a atividade
comercial é delegada, atuando em regra em nome e por conda do mandante. São os
representantes dos empresários comerciais.
Que tipo de sujeitos podem intervir no domínio deste ato? Podem haver diversas
categorias de representantes. O mandante é quem dá as instruções, o mandatário
pode assumir diferentes formas.
205
Regime jurídico
Forma: o mandato não está sujeito a forma especial, mas a lei admite que possa ser,
no âmbito da intervenção do mandato, exigido ao mandatário um documento escrito
que consubstancia e legitima a sua intervenção (art. 242º). Ou seja, que na realidade
permita à contraparte negocial saber que está, ao negociar com essa pessoa, a
negociar com um sujeito de Direito Comercial que lhe conferiu instruções, logo deve
ser concluído de forma escrita. Quando o mandato assume uma forma escrita formal,
quando corresponde a um contrato entre as partes, nessa circunstância o mandato
deve ser objeto de registo comercial, como previsto no art. 10º, a) CRCom.
O estatuto do mandatário, como resulta da lei (arts. 239º e 240º), obriga o mandatário
a certes deveres de informação e comunicação, isto é, o mandatário tem que se
disponibilizar para explicitar ao mandante o modo como está a cumprir e a
desempenhar o mandato. O mandatário tem também outros deveres,
designadamente o dever de conservação e guarda dos bens que ele irá transacionar
em nome do mandante (art. 236º), e a lei comina a sua responsabilidade por esses
bens – isso significa que ele tem um especial dever de diligência no exercício do
mandato.
Em caso de antecipação do termo do mandato, a lei diz que deve haver lugar a uma
compensação (art. 236º). Isto acontece se vier a morrer qualquer dos sujeitos
intervenientes no contrato.
Efeitos: o efeito principal deste ato é a imputação dos efeitos do ato jurídico praticado
à esfera jurídica do mandante. Aí coloca-se o problema de saber o que acontece
quando tal ato é insuficientemente executado. Se ocorrer o incumprimento do ato ou
um cumprimento defeituoso, vamos ter de ver a responsabilidade do mandatário, e
207
sobre esta responsabilidade a lei comercial tem a norma do art. 238º, que vai acabar
por imputar as perdas e danos resultantes da insuficiente execução do mandato. Isto
é, em caso de incumprimento ou cumprimento defeituoso suscita-se a
responsabilidade contratual do mandatário.
Extinção: o contrato extingue-se pelo decurso do prazo para o qual terá sido
concedido, se o contrato tiver sido celebrado com um determinado termo. Pode
também extinguir-se por execução e esgotamento do objeto. Pode ainda terminar por
revogação (pelo mandante) ou renúncia (do mandatário). Na revogação há um ato
praticado pelo mandante que informa o mandatário que prescinde dos seus serviços.
Na renúncia o mandatário manifesta-se indisponível para continuar a representar o
mandante. O art. 245º prevê que nessas circunstâncias, se não há justa causa, e se
o ato não for praticado com uma antecedência que seja razoável, deve haver
responsabilidade pelas perdas e danos, resultantes da falta de aviso prévio em
qualquer uma destas situações de interrupção do contrato. Ou seja, a revogação e
renúncia sem justa causa dão origem a indemnização (por perda e danos), se não
houver sido convencionada sanção específica.
Contrato de comissão
No mandato, o mandatário, que é quem atua em nome e por conta do comerciante,
revela à contraparte a quem é que vai ser imputado os atos jurídicos, a quem é vão
aproveitar os efeitos que decorrem daquele ato. Isso pode ser por vezes prejudicial,
desligando-me porque a pessoa que vai intervir no ato tem muito dinheiro, logo pode
ter sentido que a sua identidade não seja revelada. É possível conceber uma
representação, mas fazendo-a em termos que os efeitos do ato sejam primeiramente
imputados à esfera jurídica do representante, sem prejuízo de ele estar sempre a
atuar por conta feito do representado. Este contrato está regulado nos arts. 1158º e
ss CC e nos arts. 266º e ss Código Comercial.
208
Isto é, a comissão é o contrato pelo qual o mandatário executa os atos por conta de
outrem, mas em nome próprio. Num primeiro momento, ele assume os efeitos desses
atos e num momento subsequente ele transmite o bem que adquire ou o efeito do ato
que adquire e ingressa para a sua esfera jurídica para o mandante.
Regime jurídico
O regime legal deste contrato consta do Código Comercial, em capítulo autónomo,
nos arts. 266º a 277º, aplicando-se-lhe ainda as regras do mandato, arts. 232º a 247º,
na matéria que não for especificamente regulada nos preceitos sobre a comissão (art.
267º).
Forma: este contrato é meramente consensual (art. 219º CC) e como tal a lei não
exige forma específica – a lei não exige um modo especial de exteriorização da
vontade dos contraentes. Mas podem ser reduzidas a escrito as instruções dirigidas
ao mandatário, neste caso o comissário, e é o que acontece com as chamadas ordens
de bolsa a que se refere o art. 327º/1 e 2 CVM, quando dispõe que as instruções
recebidas pelo corretor devem ser reduzidas a escrito.
209
A lei ao caracterizar a comissão no art. 266º, diz que a comissão se verifica quando
o mandatário execute o mandato comercial, mas não se refere à pessoa do
representado, portanto assumindo todos esses efeitos. É um negócio remunerado, o
comissário recebe dinheiro pela intervenção e por vezes pode receber uma
remuneração adicional – a comissão del credere é a remuneração acrescida à
remuneração ordinária que o comissário tem direito a cobrar ao comitente por ter-lhe
assegurado o cumprimento das obrigações contratuais pela contraparte com quem
negociou (art. 269º, 2º parágrafo). Isto acontece sempre que ele assegura os efeitos
do negócio por conta da contraparte, ou seja, se ele assegura ao seu mandante que
os efeitos do negócio se vão realizar e se a contraparte falhar ele vai ser
responsabilizado.
1) Comitente
2) Comissário, que é o empresário mercantil que o comitente encarrega de, por sua
conta, celebrar um ou mais contratos comerciais, sem revelar no interesse de
quem é que o faz.
Os direitos e deveres são os mesmos do mandato mercantil (art. 267º), sendo que o
comissário fica diretamente vinculado pelo contrato celebrado (art. 268º), uma vez
que atua em nome próprio, desconhecendo a respetiva contraparte contratual
naturalmente que não será ele que assumirá os efeitos finais do negócio.
210
Mediação
A mediação é o contrato pelo qual uma pessoa ou entidade (mediador) coloca em
contacto dois interessados em concluir um determinado contrato – normalmente de
compra e venda –, contribuindo para o esclarecimento das partes sobre o âmbito e
escopo do negócio e favorecendo, desse modo, a respetiva conclusão, mediante uma
retribuição, normalmente calculada percentualmente sobre o valor do negócio e a
suportar pelo adquirente, se não for convencionada diferente forma de proceder à
repartição do pagamento devido ao mediador.
Ou seja, é o ato jurídico pelo qual uma determinada entidade vai procurar colocar em
contacto dois interessados na prática de um determinado negócio jurídico, e vai fazê-
lo, não só apresentando as partes, mas também contributos para o esclarecimento
mútuo e disponibilizando-se a evidenciar os efeitos decorre deste mesmo ato, com o
propósito de receber uma retribuição por essa sua intervenção, calculada com base
percentual sobre o montante do negócio. Se nada for em contrário convencionado,
quem adquire é quem suporta a contribuição.
Sobretudo estes contratos têm vindo a ser utilizados no que toca aos bens imóveis.
E a complexidade destes contratos tem vindo a impor uma disciplina legal cada vez
mais rígida que visa acautelar os interesses das partes contratantes, especialmente
das que não atuam profissionalmente.
Devemos ter em conta que o contrato de mediação não deve ser confundido com a
mediação como meio alternativo de resolução de litígios.
Este contrato é, em si mesmo, atípico, o que não significa que, com referência a
determinadas áreas de atividade, ele não seja expressamente previsto.
211
Mediação imobiliária
Ele é previsto em certas áreas de atividade, como no domínio da mediação imobiliária.
A mediação imobiliária está hoje regulada na Lei nº 15/2013, 8 de fevereiro, que impõe
a sua forma escrita (art. 16º/1), procurando sempre informar a contraparte dos seus
direitos e obrigações. Determina os elementos mínimos que dele devem constar (art.
16º/2). Diploma tem regras diversas regras supletivas que visam proteger a parte não
profissional na celebração do contrato. Há prazo supletivo de seis meses de duração
do contrato se as partes não acordarem outro prazo de vigência do contrato.
Temos um negócio que se define sempre em função do seu objeto, ou seja, estamos
perante um negócio que se define sempre em relação a um bem imóvel que vai ser
objeto de transação, ou pode inclusivamente, nalgumas circunstâncias, ser
englobado na transmissão de um bem que ele faça parte e portanto com maior
complexidade. Mas esta atividade mercantil abrange outros atos que não impõem
necessariamente a transmissão da titularidade do imóvel, ou que se repercutem
necessariamente por si só sobre o próprio imóvel, mas que se destinam a propiciar
essa transmissão. E, por isso, engloba-se também na atividade de mediação a
prospeção e a promoção mobiliária, isto é, a divulgação no mercado que há
determinados bens ao dispor desse mercado.
Intermediação financeira
O contrato de mediação também conhece um enorme desenvolvimento no domínio
financeiro, e nessa medida se fala da intermediação financeira. A lei que regula as
transações do mercado, que é o CVM, acolhe uma importante categoria de agentes
comerciais, no art. 293º, que são os intermediários financeiros, que são as entidades
que vão profissionalmente mediar os negócios realizados no mercado financeiro, quer
envolvendo a prestação de serviços, mas que se refiram também a investimentos
executados no âmbito desse mercado, ou a todos os atos que sejam auxiliares dos
212
A lei tem uma grande preocupação com a informação. A lei estabelece diversos
princípios a que devem obedecer estas atividades (art. 304º), nomeadamente à
salvaguarda dos bens e dinheiro dos clientes (arts. 306º a 306º-D), a informação a
investidores (arts. 312º a 312º-G), a resolução de conflitos de interesses (arts. 309º a
309º-F) e a defesa do mercado (art. 311º).
213
214
Intermediação internacional
Intermediação também tem uma grande componente internacional. A mediação
ocorre também com frequência no contexto supranacional, no âmbito de contratos de
diversas espécies, designadamente de compra e venda.
Contratos de distribuição
Celebrados sempre que o produtor ou prestador de serviços não pode ou pretende
relacionar-se diretamente com o adquirente final dos produtos ou dos serviços. Ou
porque não dispõe de meios suficientes para o efeito ou porque entende que é
demasiado oneroso optar pelo relacionamento direto. Procura, então, uma entidade
que profissionalmente possa fazer essa distribuição, podendo fazê-lo com maior ou
menor risco. Pode fazê-lo adquirindo os bens que irá transacionar ou procedendo
apenas ao pagamento do preço ao seu produtor quando contrato estiver concluído
com o consumidor.
Ou a distribuição pode ser indireta. Temos que equacionar diversas fases. Neste
caso, a comercialização efetua-se em diversos planos desde o transporte, depósito e
armazenagem, redução das partidas de mercadorias a quantidades para venda a
retalho, até ao retalhista. Já pressupõem o transporte dos bens, a conservação dos
bens e o seu depósito e armazenagem, e pressupõem que estes bens sejam objeto
de repartição em função das entidades a que se destinam, e que muitas vezes não
215
Contrato de agência
É objeto de regulamentação pelo DL nº 178/86, de 3 de julho. O contrato de agência
vem definido no art. 1º: a agência é o contrato pelo qual uma das partes (agente) se
obriga a promover por conta da outra (principal) a celebração de contratos de modo
autónomo e estável e mediante retribuição, podendo ser-lhe atribuída certa zona ou
círculo de clientes. Possibilidade que uma parte do contrato, que se designa por
principal tem de, relativamente a um bem que comercializa, poder contratar com um
sujeito a distribuição e disponibilização desse bem num outro mercado. E quando o
faz, tem a possibilidade de lhe conceder ou não o exclusivo de venda desse bem no
mercado, e também poder determinar que ele venderá a determinados clientes em
particular, e aqui a distribuição tem mais a ver com os envolvidos no mercado porque
o contrato de agência pode ser celebrado entre produtores de bens e grossistas.
O intermediário, tal como na comissão, não adquire os produtos que irá distribuir, logo
ele diminui os riscos inerentes a essa aquisição, mas tem de assumir alguns custos,
nomeadamente as despesas relativas à sua instalação, ao armazenamento dos bens
que vai distribuir.
O produtor também beneficia deste contrato, pois produzi os bens, mas não recebe o
seu preço imediatamente, ficando dependente da alienação destes bens, faz com que
também não sofra determinados custos. Ele sobretudo diminuiu os riscos de
implantação e colocação no mercado. A distribuição através do agente comercial
permite ao produtor reduzir os riscos inerentes a uma nova implantação no mercado.
A maior dificuldade que se coloca neste plano é saber como se pode pôr fim à vigência
do contrato de agência. A lei prevê que, para além do prazo que possa ser aplicado,
ou quando o contrato celebrado não tem prazo e logo será um contrato de
216
Agência internacional
O contrato de agência conhece também uma exposição internacional, e essa
exposição internacional ocorre quando a distribuição acontece num espaço jurídico
diferente de onde se encontra o principal.
Concessão internacional
Outro contrato de distribuição muito importante legalmente atípico é o contrato de
concessão comercial – neste o intermediário (distribuidor) adquire os produtos,
assumindo um maior risco que o agente (comercial). O concessionário, que é
escolhido por reunir aptidões técnicas e funcionais adequadas à distribuição que se
propõe efetuar sem ser em regime de exclusividade, obriga-se a adquirir uma
quantidade mínima de produtor e a revendê-los, beneficiando da publicidade feral que
é feita a esses produtos, nacional e internacionalmente. Em complemento, e no
âmbito das suas obrigações, o concessionário vincula-se a assegurar serviços de
pós-venda e nalguns casos poderá explorar serviços complementares.
1) A concessão não está tipificada numa fonte legal como a agência. Jurisprudência
recorre ao contrato de agência por analogia sempre que não esteja reduzido a
escrito a concessão comercial. Sendo um contrato legalmente atípico, à
217
Muitas vezes ele é escolhido porque tem qualidades técnicas que satisfazem a
procura desse bem ou serviço. Está inerente uma assistência além do bem ou serviço.
20.Novembro.2018 Prática
Parte II
Hipótese 7
Suponha que António vende, por acordo escrito, a Bento, seu amigo de infância,
mas em relação ao qual guarda ressentimentos por ter sido vítima de bulling, acções
de uma sociedade anónima, em relação à qual não haviam sido emitidos os
documentos de representação das acções,. A alienação envolve 55% do capital social
e António havia contraído um crédito bancário para a sua aquisição, tendo o banco
financiador exigido ficar com o penhor das participações sociais.
Na venda que faz a Bento, António não só não indica que se financiou no banco,
como também omite qualquer referência ao penhor.
99/05.3TVLSB.L1.S1.
218
sociedade os títulos das acções, estes vêem a ser-lhe entregues com uma anotação
que indica terem sido dados em penhor em favor do Banco.
Quid iuris?
O facto de haver um penhor não faz com que ninguém perca o controlo da empresa.
O controlo só ser perderia se o credor penhoratício não fosse parte. Tanto mais que
se nada for dito, com a constituição de um contrato de penhor sobre ações, não se
transmitem os direitos de votos para o credor – o dono das ações continua a ter o
direito de voto.
Parte III
Hipótese 1
Uma empresa de produtos de cerâmica (A) lançou no mercado uma peça que, contra
as expectativas, porque a peça não tinha nada aparentemente de especial, foi um
êxito de vendas. B, concorrente de A, levou a peça a um fabricante de moldes da
Marinha Grande, mandando fazer um molde para a mesma e lançou-a também no
mercado.
Quid iuris?
219
A concorrência desleal o que diz é que os agentes económicos têm o dever de atuar
de uma forma honesta de acordo com as práticas comuns numa determinada área de
atividade económica.
Só são direitos privativos aqueles que a lei considera como tal, ou seja os supra
enumerados. Não há possibilidade de criar mais ou misturar os direitos mencionados.
Todos os direitos estão sujeitos a registo, e só adquirem proteção após esse mesmo
registo.
Patente: trata-se do registo das invenções – confere ao seu titular o direito exclusivo
de explorar a invenção em qualquer parte do território português. Diz respeito a
produtos e processos. Podem ser, por exemplo, combinações novas de coisas que já
existem. Os processos de patentes são muito difíceis de registar – é preciso que todos
os requisitos da patente estejam preenchidos, nomeadamente que o que constitui
novidade é a técnica utilizada. Além de invenção, há o requisito de que a descoberta
ou invenção tem de ser suscetível de aproveitamento industrial – se não houver este
aproveitamento nunca irá ter aplicação económica. Assim para que haja patente é
preciso:
1) Novidade.
2) Invenção.
3) Suscetibilidade de aplicação industrial.
220
O molde pode ser protegido como modelo ou desenho, mas era preciso que houvesse
registo – não havendo não é protegida. Se esta peça de cerâmica tivesse no entanto
um conteúdo artístico podia ser defendido por direitos de autor, ainda que não
registadas.
Neste caso podia o autor proteger-se pela concorrência desleal, art. 317º CPI. A
concorrência desleal são situações onde de alguma maneira há fraude envolvida ou
aproveitamento alheio de outrem, tem de haver sempre um ato que envolva
desonestidade. Neste caso dificilmente iriamos conseguir o caso do molde aqui no
arte. 317º.
21.Novembro.2018 Teórica
Na últma aula estavamos a ver a distribuição comercial. Vimos a agencia, ersta tem
duas partes: principal e o agente, embora muitas vezes envolva a relação comercial
que vai abranger o consumidor. Falamos da concessão comercial, esta tem enormes
semelhanças com a agencia, diferença importante que é o risco do contrato assumido
pelo concessionário, aquisição de bens que devem vir a ser objeto de revenda, devem
estar certas aptidões de natureza técnica. Fundamentalmente em causa os stands de
automóveis. Mas também outros bens são objetos de concessão, nomeadamente os
produtos petrolíferos.
Para além destes dois contratos, que são os principais (concessão contrato atípico,
ao contrário da agencia – recorrer à matéria de agencia sempre que contrato de
concessão não regula um aspeto específico). Há mais contratos de distribuição:
221
a) Licença da marca
b) Licença da patente
Contrato comercial pelo qual a entidade licenciadora faculta à entidade licenciada
direitos para produzir, manter ou utilizar de algum modo. Ex: refrigerantes
frequentemente produzido sob licença e também o material informático e os
produtos de origem médica, nomeadamente os medicamentos quando explorados
por laboratórios de caráter nacional. Invenção tutelada ao abrigo das normas de
propriedade industrial. Pressupõe que o licenciado pague um preço ao licenciador
e este preço é relativo aos produtos produzido, aquilo que se designa por royalties.
Contrato de merchadising: contrato pelo qual uma entidade concede a um 3º
mediante uma contrapartida uma licença para durante um prazo e com respeito a
determinados direitos de que seja titular possa no fundo recorrer a elementos
figurativos que caracterizam a sua posição no mercado. Entre eles está a
utilização de uma marca registada. É isso que acontece com a concessão da
marca a uma determinada atividade. Exemplo típico: produtos desportivos – uma
sociedade desportiva cede a uma entidade que produz equipamentos desportivos
a possibilidade de comercializar produtos com referencia a essa marca da
sociedade desportiva e com um determinado ganho. Pode ir para além disto –
utilização da marca em produtos diferentes da atividade típica da marca, ex:
admitir que a entidade que celebra o contrato, desportiva, cede imagem de marca
para se produzirem produtos de uma natureza diversa daquela que tem a ver com
a sua normal atividade, como por exemplo, vinho. Aproveitamento da imagem e
da força apelativa da marca registada em causa que leva a valorizar aquele
produto no mercado. Evidentemente que se o produto for explorado diretamente
pela própria entidade não é necessário contrato. O contrato de merchadising é
sempre celebrado com uma 3ª entidade. A entidade titular da marca registada (ex:
SLB)na realidade tenha a marca titulada numa certa empresa e que a marca seja
explorada por outra.
2) Transferência de tecnologia e assistência técnica, contratos de transmissão de
conhecimentos técnicos que são associados a um determinado processo de know
how, de fabricação. Celebrados com um agente económico que tem esse
conhecimento técnico que permite a sua utilização e com fins comerciais. A
assistência técnica pode estar ou não associada à transferência, mas concretiza-
se numa prestação de serviços.
222
223
Há aqui que distinguir dois aspetos diferentes: por um lado o objeto do transporte –
podem ser só pessoas e os bens que elas transportem consigo ou podem ser outros
bens, somente os bens, e neste caso falamos no transporte de mercadorias. O
primeiro é o transporte de passageiros. Sem prejuízo do nosso Código Comercial,
ats. 366º a 393º, contempla o contrato de transporte – já falamos no 366º, norma que
caracteriza os atos objetivos por acessoriedade objetiva.
1) Transporte rodoviário
2) Transporte ferroviário
3) Transportes marítimos – colocam em contacto espaços jurídicos diferentes,
envolvem uma série de convenções internacionais. Para além das próprias
normas do Código Comercial e de legislação avulsa mercantil nacional, também
há inúmeras CI que visam regular esses transportes.
Nos contratos de transporte rodoviários estamos a pensar no transporte não feito com
recurso a aluguer, mas sim no contrato pelo qual todo o transporte incluindo o
condutor é contrato.
224
225
Quanto ao pagamento: este pode ser feito á cabeça, não suscitando problemas, mas
pode suceder que não seja imediatamente feito – neste caso o próprio Código
Comercial, arts. 390º e ss, prevê o direito de retenção da mercadoria. Para além do
direito de retenção, há uma segunda garantia que permite que o contrato de
transporte gere um privilégio creditório relativamente ao bem que foi transportado.
Contrato de seguro
Frequentemente associado ao contrato de transporte.
226
1) Seguro vida
Contrato pelo qual uma determinada pessoa, tomador, transfere para uma empresa
que atua profissionalmente o resultado do eventual risco da ocorrência de um dano
quer na sua EJ quer na EJ alheia. Quando é para a EJ alheia fá-lo porque tem um
determinado interesse. O beneficiário é um 3ª pessoa designadamente porque o risco
pode recair sobre a pessoa do próprio segurado, ou porque o tomador do seguro (o
que contrato com a segurada) pode ter interesse que o risco que ocorre na esfera
jurídica de um seu colaborador acabe por (…). Contratos de seguros de acidentes de
trabalho (o que o tomador pretende garantir é que em caso de sinistro não seja ele
próprio a ressarcir ou continuar a assegurar os custos), desportivos (a questão pode
ser mais ampla, pode envolver profissionais que tiveram um custo relevante – seguro
pode não cobrir apenas os danos inerentes da paragem do desportista, mas seria
também uma compensação para a entidade patronal por aquilo que sucedeu com o
seu segurado).
227
228
O contrato de seguro pode passar de uma situação muito simples para uma situação
mais complexa. Mas a maior parte das vezes o tomador, o pagador e o beneficiário
são a mesma pessoa.
Este contrato é documentado por um instrumento que se chama apólice (de seguro)
e naturalmente que o contrato deve ser associado a toda uma determinada série de
informações, a prestar pela seguradora sobretudo aquelas que visem excluir o risco
da seguradora. O risco da seguradora é uma de questões mais relevantes e por isso
na apólice deve constar a natureza e objeto do seguro, os riscos cobertos, a sua
duração, a quantia segurada e o prémio que foi ajustado relativamente àquele seguro.
O risco tem que ser legalmente segurável, a própria lei é que estabelece que tipo de
riscos podem ser seguráveis, e pode ser delimitado em função do próprio objeto do
seguro, da causa do sinistro (particularmente relevante no que diz respeito à
229
21.Novembro.2018 Prática
Parte III
Hipótese 2
A empresa de colchões, almofadas e artigos (M) semelhantes fez registar em Portugal
a marca Molaflex e mais uma série de outras marcas todas com o elemento flex. As
empresas concorrentes B e C solicitaram em momentos diferentes o registo das
seguintes marcas: Flexsuper e Lusoflex.
Será flex um elemento distintivo? Podemos ter imensas marcas a usar determinados
conceitos. Mas só pela análise parcelar da denominação flex não podemos dizer que
isso poe em causa o caráter distintivo da marca, porque a marca tem de ser olhada
no seu conjunto. A marca em si não pode ser olhada apenas parcialmente. É preciso
ver se no seu conjunto se oferece algum elemento distintivo que permita que os seus
consumidores o reconheçam e saber se o sinal distintivo se confunde ou não com
outros. É preciso olhar para a globalidade. Usa a expressão flex – se isto constituir
230
Prof acha que isto não poe em causa o elemento distintivo das outras marcas e que
não há aqui confundibilidade.
O que podemos dizer aqui? Flex não é um elemento distintivo per si, logo não há
confundibilidade com outra marca já registada.
Hipótese 3
Em Março de 2000, a SIC, a PT Multimédia (pertencia ao Grupo Portugal TELECOM
– hoje em dia é a NOS) e a TV Cabo (pertencia à PT Multimédia, também a NOS –
ou seja a NOS é uma junção das duas) celebraram um Acordo de Parceria, por um
prazo de 10 anos, renovável, que atribui à SIC um direito de preferência no
fornecimento de canais temáticos, produzidos em português e para Portugal, para o
pacote básico da TV Cabo. O mesmo contrato prevê a atribuição ao Grupo PT
Multimédia da comercialização exclusiva dos canais de acesso não condicionado
produzidos pela SIC. A Autoridade da Concorrência condenou estas empresas por
terem celebrado entre si um contrato que contém cláusulas restritivas da
concorrência.
Isto foi um caso real. Qual o problema pode ser? Restrição da concorrência. Não
estamos no domínio da PI, nem da concorrência desleal, estamos perante um outro
problema que é a defesa da concorrência no seu conjunto. E para isso há um diploma
específico que DL 19/2012, que foi alterado em 2018 pela Lei 23/2018. Este diploma
que trata do regime jurídico da concorrência o que é que prevê? Trata da promoção
e defesa da concorrência, nomeadamente às práticas restritivas e às operações de
concentração de empresas que ocorram em território nacional ou que neste tenham
ou possam ter efeitos.
231
Este acordo de parceria estava a fazer uma repartição de mercado das fontes
ilimitadas desse mercado.
Qual a consequência? Art. 9º/2: nulidade dos contratos que contenham clausulas que
configurem casos restritivos da concorrência.
Este caso foi muito discutido na altura. AC considerou que era prática restritiva. Quem
aprecia a impugnação dos atos praticado pela AC? Tribunal de Comércio e da
Concorrência, em Santarém.
Hipótese 4
As administrações de duas empresas produtoras de refrigerantes celebraram um
acordo em que estabelecem as bases de um entendimento comum que, entre outros
aspectos, lhes permitirá: (a) distribuir os respectivos produtos preferencialmente em
determinadas zonas do país, (b) controlar os preços de venda dos refrigerantes
gaseificados, e (c) estabelecer um preço mínimo comum para a aquisição de
vasilhame.
232
Lei 19/2012.
Art. 9º/1, c) quanto a (a). Estão a fazer uma diminuição dos concorrentes em certa
zona do país – proibido repartir mercado entre as empresas.
E quanto ao (b)? Art. 9º/1, a). Porque é que não se pode fazer isto? A fixação de preço
pode levar ao que? Diminuir o preço pode aumentar procura do bem e leva a que não
se procure os outros. Hoje em dia os vendedores não podem estabelecer os seus
próprios preços – não podem dizer que o Pingo Doce tem de vender as grades a um
determinado preço, nem sequer por recomendação. Não é permitida a fixação pelo
vendedor ao comerciante final do preço de venda.
E quanto à (c)? Art. 9º/1, a). Se o valor estiver ficado pode ser pagar mais pelo
vasilhame para as pessoas consumirem mais aquele produto e depois pagarem mais
pelo vasilhame. Forma de influenciar os consumidores a consumirem mais aqueles
produtos e a restringir a concorrência. Prática restritiva da concorrência.
Parte IV
Hipótese 1
António, Bernardo e Carlos, gerentes da sociedade “Devedores e companhia Lda.”,
foram interpelados por Dionísio, trabalhador da sociedade, para procederem ao
pagamento de salários em atraso há mais de 6 meses dos 50 trabalhadores da
sociedade. Nessa data, Carlos constatou que:
(ii) António tinha escondido num armazém de uma propriedade sua no Alentejo
grande parte da maquinaria que deveria estar nas instalações fabris da sociedade;
Pergunta-se:
233
c) Suponha que Bernardo, dois anos antes, havia alienado parte substancial do
património da empresa a dois sobrinhos, ao primo e à sogra. O que poderá suceder
a estes negócios?
23.Novembro.2018 Teórica
234
235
aperceber que afinal os danos que teria pretendido assegurar não estavam cobertos
por aquele evento. Ex: danos próprios no automóvel – ato de vandalismo (risco no
automóvel). O vandalismo é segurável só que tem um preço. Há um primeiro
momento que é o momento da determinação dos danos que estão cobertos e é
possível no que diz respeito ao risco poder procurar alargar a cobertura desse risco.
O risco pode ser de diferentes montantes e noutros casos podemos aumentar esse
risco. Ex: os seguros de responsabilidade civil automóvel tem valores elevados, visam
proteger terceiros, mas apesar de haver um montante mínimo nada impede que este
seja elevado, até porque pode a indemnização ser muito ampla se o sinistrado
(lesado) exigir uma grande indemnização e tiver direito à mesma.
São importantes fontes as CCG que caracterizam muitos esses contratos e que
uniformização as soluções a nível bancário.
236
Quando não há solução nem no código comercial (meramente simbólicas, 362º e ss,
e contrato de deposito mercantil 407º, contratação bancária), ainda há uma última
fonte relevante que é a que diz respeito aos usos bancários. Os tais usos sociais a
que aludimos às fontes de direito no CC e quando olhamos para o art. 3º e concluímos
serem práticas reiteradas, mas que não obstante devem ser observadas, no domínio
do direito bancário são relevantes ganham autonomia e frequentemente soa fonte da
disciplina das relações entre as instituições de crédito e os seus clientes. Os usos
bancários são práticas que correspondem a condutas que desde logo todas as
instituições de crédito se devem dispor a observar e que os particulares sabem que
são aplicáveis às suas relações com essas instituições. Prof deu exemplo de uso
bancário. Mas o contrato pode prever, mas ai o contrato celebrado acolhe um uso
típico do mercado bancário.
Embora as partes sejam mais relevantes sejam os bancos e os seus clientes, nada
impede que os bancos se relacionem com terceiros, ainda que o façam pontualmente.
Esta relação que bancos tem com clientes, como começa? Começa por iniciativa do
cliente, quando este procura o banco e junto do mesmo procura iniciar a relação
bancária, que se iniciar através do contrato de abertura de conta. Mas pode-se iniciar
por impulso do banco – pode ser o banco a publicitar os seus serviços e os seus
produtos e desse modo a chamar os potenciais interessados, em termos
personalizados a abordar o cliente desafiando-o a estabelecer com ele uma relação
duradoura, uma relação contratual bancária, que é uma relação que no fundo abrange
determinados contratos que são dogmaticamente autonomizáveis, podem existir
isoladamente, mas que em regra caracterizam o relacionamento entre o banco e o
cliente. Há uns mais habituais e outros que soa eventuais. Porque de facto a relação
237
Contratos eventuais.
238
A conta corrente permite com o lançamento das quantias e bens entregues, apurar
qual o saldo do devedor, se não houver antecipação de fundos por parte do cliente.
Contrato típico no domínio do fornecimento. Que tem uma adaptação ao domínio
bancário e aquilo que se inscreve no contrato típico acaba pro ser o que resulta da
conta corrente bancária. Os lançamentos geram um deve e um haver.
Para além destes contratos, vamos referir mais 3 contratos pela sua importância:
1) Convenção de cheque
2) Abertura de crédito
3) Contrato de utilização de cartão de crédito:
No que diz respeito ao contrato de depósito, é no fundo o contrato pelo qual uma
determinada pessoa entrega à guarda de um banco, de uma instituição de crédito,
fundos que podem ser em dinheiro, mas não necessariamente. Quando estes fundos
são entregues à guarda de um banco o banco não tem de restituir exatamente os
bens, o banco tem é de reembolsar o mesmo género e qualidade e quantidade –
diferente do depósito civil. Não se confunde com outros contratos bancários menores,
como um contrato que mantem sob o controlo do cliente bens entregues à guarda de
um banco, como um contrato de cofre forte (mera custódia). A lógica do depósito
bancário surge inicialmente numa pura perspetiva de segurança. Forma de procurar
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por a salvo as poupanças e os bens fungíveis que as empresas recebem por conta
do exercício da sua atividade. Esta lógica relevante do contrato de depósito vai na
realidade nalguns casos justificar que banco possa exigir um pagamento de uma
remuneração por conta dessa mesma disponibilidade para guardar essa espécie
monetária. O depósito bancário não é objeto de uma regulamentação geral – há
regras e diplomas que se referem a várias modalidades de depósito bancário. Para
além das modalidades as maiores preocupações dizem respeito aos prazos do
depósito, em que se torna intocável os bens entregues às guardas do banco, e o
modo de vencimento e disponibilização antecipada do saldo do depósito que pode
ser feito de diversas formas. É claro que o dinheiro suscita diversos problemas e se
ele torna simples o reembolso, coloca um problema: encontrando-se à guarda do
banco, se banco entrar numa situação generalizada de incumprimento, pode em
ultima análise comprometer os próprios depósitos que estão à sua guarda, por se
tratar de um depósito irregular. Os bens depositados são utilizados para a atividade
do banco de concessão de crédito.
Dentro dos contratos habituais, nota sobre o contrato que é uma especialização do
contrato de conta corrente que regula o fornecimento (…). No que respeita à
movimentação da conta aberta junto do banco, esta movimentação vai na prática
configurar uma conta corrente. A vantagem da conta corrente é evitar introduzir
interrupções na relação que se estabelece entre o banco e o cliente. Este tipo de
operação permite prolongar no tempo e encadear uma nas outras relações jurídicas
que tenham uma natureza idêntica. Por isso a conta corrente no fundo vai operar
relativamente à conta movimentos a débito ou a crédito, permite exprimir a posição
relativa dessa conta e permite apurar qual é que é a situação no relacionamento entre
o bancário e o seu cliente. E por isso a conta corrente bancária sendo a consequência
ou efeito da execução dos demais contratos bancários, tem uma natureza sobretudo
contabilística, exprime-se nas tais variações com natureza contabilística, por isso é
reflexo da relação contratual complexa que permite apuar a situação e o balanço
dessa mesma relação. Não há um regime legalmente típico da conta corrente
bancária. Arts. 344º a 370º. A conta corrente pode-se caracterizar por ser o contrato
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