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UNIVERDIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS

A Poética do olhar nos sentidos de Alberto Caeiro

PATRÍCIA DA SILVA SANTOS, nº USP 10876966

Trabalho apresentado para avaliação parcial na


Disciplina FLC0380 –Literatura Portuguesa III,
ministrado pelo Prof.ª Dr.ª Marlise Vaz Bridi, no
segundo semestre letivo do ano de 2020.
A poesia de Alberto Caeiro possui marcas assertivas com um toque refinado
de simplicidade. Por isso, Fernando Pessoa o considerava um de seus maiores
heterônimos.
O poema VII a ser analisado do Guardador de Rebanho – Da minha aldeia,
percebemos a facilidade de Alberto Caeiro em reconhecer a grandiosidade do
universo presente no pequeno mundo da sua aldeia. A magnitude de sua aldeia
incorpora toda a Terra, na qual é estendida a tudo ou por toda parte. A visão é a
forma pela qual o eu lírico acessa o mundo e o mundo se apresenta através dos
sentidos.
A expressão que abre o poema ( “Da minha terra vejo”) pode ser vista como
dêitico no qual atribui uma marca do “aqui e agora” enfatizado no poema deixando
em destaque a “aldeia” que o indivíduo poético evidencia, no entanto ao olharmos
os pares opostos nos primeiros versos ( minha aldeia/ universo) e no segundo
( minha aldeia/ outra terra qualquer) propõem um único tempo de fechamento e
abertura, contraindo e ao esmo tempo alargando as fronteiras, para além da
indispensável presença do outro para compreender a si mesmo. Como Platão
evidenciou, o indivíduo não faz parte de si, mais similarmente da presença do outro
que nele existe. Assim como a aldeia do sujeito poético não se faz por si mesma,
mas com base nas referências externas que podem indicar o processo auto-
representação que dão indícios que a aldeia é imensa como qualquer terra que
possa existir no universo. A ação do ver está nesse processo de enxergar de várias
formas - três vezes registrados na primeira estrofe (verso 1-3); percebemos duas
vezes as conjugações na primeira pessoa do singular do presente do indicativo
(verso 1- 3) e uma única vez o emprego na forma infinitiva (verso 1). ademais,
observando os versos 7,8,9 e 10 surgem relativamente as palavras, ‘vista’, olhar,
olhos e outra vez ver.
Os olhos são instrumentos ligados aos sentidos, enxergar, ver onde formam
essa relação entre o exterior e interior, eles transmitem ao coração aquilo que é
externo ao indivíduo. Se olharmos para a Antiguidade, os olhos foram considerados
instrumentos do conhecimento, já na Idade Média essa ferramenta expressava o
amor neoplatônico, o meio por qual o amado se perdia apaixonadamente pela
beleza interior caracterizada na beleza exterior da musa que lhe inspirava o amor.
Caeiro nesses versos, evidencia brilhantemente a forma do ver/enxergar
como se fosse um modo de conhecer, saber. Se fosse analisado como oração
subordinada adverbial de causa, onde percebemos a expressão causada pela
circunstancia envolvidas no núcleo verbal de uma oração ou indo em direção a
causa da ocorrência da oração principal, no verso “Porque eu sou do tamanho do
que eu vejo”, (verso –3 ) exprime o porquê de “ minha aldeia "ser tão vasta como
outra qualquer: a aldeia é tão grande pelo fato de que o sujeito poético enxergar no
universo, e isso ocorre devido ao indivíduo poético evolui a partir do que vê, vai
crescendo na medida que vê e do porquê vê explicita dessa forma (“Porque eu sou
do tamanho do que vejo/ E não do tamanho da minha altura...”). Dessa maneira
observamos eu e a aldeia, como o eu ser individual, a aldeia como ser coletivo se
unirem conjuntamente, ou seja, o primeiro e segundo verso pode propor outro ponto
de vista a ser lido de que a aldeia se torna grande pelo simples fato de que dela o
indivíduo possa enxergar o quão da terra possa ver o universo.
Nos quatros versos da primeira estrofe, podemos observar a diversidade
semântica : terra; ela é usada no sentido de pátria, nação, no verso 2, outra
denotação como solo, chão, terreno no entendimento de mundo no verso 1;
tamanho, verso 3, amplifica a habilidade de olhar/ver e no verso 4 estabelece a
demarcação da grandeza física. Semelhantemente, a “minha aldeia” do primeiro
verso é individualizada cerceada pela minúscula terra e sua população aludida, ao
mesmo tempo que “a minha aldeia” presente no segundo verso demonstra a
grandeza e a hesitação em “tão grande como outra terra qualquer”.
Com seis versos, na segunda estrofe a princípio introduz uma espécie de
abertura espacial com indícios de que se refere a outro lugar (Nas cidades),
divergente daquilo de onde o discurso fora exprimido (“aqui na minha casa no cimo
deste outeiro”). Com isso, podemos compreender, portanto, a aparição de um novo
par de oposição, ou seja, as estrofes onde aparecem as palavras (“aldeia/cidades”),
localizadas entre os versos 5 e 6 (“Nas cidades” /” aqui na minha casa”). Dessa
forma “Nas cidades” é a abertura espacial mais por outro lado também existe uma
espécie de estrangulamento do olhar, visto que “as grandes casas fecham a vista á
chave”, havendo a contenção da vida (“Nas cidades a vida é mais pequena”). É
imprescindível notar a composição das imagens que o poeta constrói aqui. Na qual
a cidade é construída de imensas casas, onde existem espaços amplos que todavia,
demonstra o indivíduo isolado, transformando no pequeno (verso 9) e revertendo-o
“pobre” (verso 10), dado que “ fecham a vista a chave ; estabelece a relação da
aldeia do sujeito poético e a sua casa “ no cimo do outro outeiro”( verso 6) sugerem
o encolhimento dos cômodos e a redução do espaço do coletivo; contudo,
concedem uma abrangência do olhar que aldeia e o eu que nele habita se tornem
infinitos (primeira estrofe).
As cidades e as grandes casas são redutos dos bairros da burguesia
mencionadas aqui são vistas pelo o ponto de vista do estranhamento e também do
pathos, na medida que retiram do homem aquilo que, da perspectiva do poema,
torna o grande: a probabilidade de um olhar amplo, pode possibilitar um olhar mais
além - o que “ se pode ver no universo”, o que se pode enxergar, observar sem se
limitar no “horizonte” e “de todo o céu”. (verso8).
Segundo a História, na segunda metade do século XIX, as casas modernas
burguesas, eram regidas pelo mercado e o capital veio a crescer além de propagar
os magazines, as galerias de arte, as grandes feiras industriais, isso veio a
contribuir no aumento assustador do índice da população. Tal circunstância, dessa
época levou ao homem ir para as ruas, com o intuito de aproveitar essa nova onde
mercantilista, empurrando para o interior das casas, que serviam de refúgio, um
cenário apresentado em que era possível separar o homem público do privado, na
possibilidade de o indivíduo separar-se e também diferenciar-se das massas. “O
interior [da residência] não é apenas o universo do homem privado, mas também o
seu estojo”, reconhece Walter Benjamim. Nesse seguimento, o recolhimento para a
casa, pode apontar uma certa proteção, sobre ás contradições sociais, por exemplo,
pode-se deduzir a interioridade de afirmação da sua singularidade e do seu valor
como individuo, esse processo é tão imensurável pois os objetos colhidos pelo
sujeito e carregados para o interior da sua residência obtêm esse valor do indivíduo,
transfigurando em uma extensão do eu, da mesma forma que o próprio interior se
transforma por ele habitado. Nesse processo se define o fictício cultural do início da
modernidade onde levara para as novelas de detetive, a pintura de interiores e
também ao indivíduo imerso em si, na busca do autoconhecimento de si próprio, de
representar e constitui-se como sucede na literatura intimista, com o surgimento
final daquela época centúria.
Nesse contexto o poema de Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa
escreve sobre as necessidades e privações do território do eu, como se fosse o
desejo de olhar para fora, ver o horizonte a partir da visão privilegiada do ‘cimo
deste outeiro’. E ao analisarmos mais adiante tratando das ‘grandes casas’ da
cidade, o sujeito poético se inclui entre aqueles que detém um olhar distanciado do
horizonte e que vão se tornando pequenos de pobreza, isso é evidente no emprego
do uso do pronome possessivo e também do pronome pessoal obliquo átono
apresentado na primeira pessoa do plural “ nosso” e “nos”, repetidamente contínuos
nos versos 8,9 e 10. E esses pronomes hipoteticamente convocar o interlocutor
além de incluir o leitor nesses vários ‘nós’ - com o pronome pessoal que abarca um
chamamento do ‘tu’ de forma coletiva, indicando a possibilidade da perda individual
de cada um que se distingue com o discurso pronunciado e com o local a partir do
qual o enunciado é articulado e o eu situado.
O poema VII do Guardador de Rebanhos, é uma constituição na qual se
destaca esse universo do ver/olhar na assimilação do mundo, das coisas
observadas pelo olhar do sujeito poético de forma objetiva e analítica salientado
pelo poeta, que figura estimular na mente do leitor as associações logicas, ou seja,
o sentido de olhar deforma intelectual pensado como ponto de vista fundamental
para o estabelecimento do ser individual e ser nacional dessa mesma maneira, a
aldeia na qual o sujeito poético habita não se pode se separar no processo
construtivo de ambas individualidades. No entanto, é evidente esse aspecto, por
outro lado, o poema retrata as imagens que no limite, são disseminadas, tendo em
vista o movimento de ampliamento das fronteiras, da dialética na abertura, no
espaço estreito e no desfecho no espaço ampliado do difusivo e pouco palpável
das peripécias espaciais evocadas ( universo, outra terra qualquer, nas cidades, as
grandes casas, da minha aldeia, e deste outeiro, que dão uma noção de que o
indivíduo poético fala de um lugar que é mais mítico do que real). Apesar de o tema,
o conjunto de todos os aspectos além da sugestão mítica, a importância do olhar, a
amplitude do sujeito poético nessa ação possa se intensificar e se considerarmos o
simbolismo do número VII no qual dá título ao poema.
A composição do poema na composição do eu e da sua aldeia são
manifestadas desde início e a representação de ambos é de forma objetiva e
composta principalmente por meio do empirismo do ver, do conhecimento através
do olhar, sendo a única riqueza do indivíduo, ou seja, enxergar é tornar-se sujeito,
na amplitude de não ter um olhar limitado é diminuir-se ou empobrecer no limite e
etc. Dessa forma a fragmentação do sujeito é uma marca da modernidade como
também os questionamentos sobre Quem eu sou? O que sou?, Como sou? Que
são características da busca doeu por si mesmo, e essas questões se manifestam
de forma literal de várias maneiras da divisão intima do sujeito poético á heteronímia
de Pessoa, da perda de si mesmo ao eu titulado como labirinto ( Mário de Sá
Carneiro)ou como “singularíssima pessoa”, considerada como no Augusto dos Anjos
de “ Tomé, Dr., esta tesoura, e....corte/Minha singularíssima pessoa”- (2002: 116),
na pós-modernidade o desfalecimento do indivíduo atinge uma grande dimensão e
amplitude onde o eu vai se decompondo na linguagem e procura se refazer pela
linguagem, e enxerga-se perder, possivelmente a noção humanista da integridade e
totalidade, visto que ao pensar na totalidade e integridade do discurso, no qual o
sujeito vai apresentando de forma difusa, diluída as várias vozes aqui recorre para
compor texto, cuja a marca essencial é o descentramento dispersivo e a
descontinuidade. Esses componentes estão presentes no poema Escritura, de
Octavio Paz:

Quando sobre o papel a pena escreve,


5 a qualquer hora solitária,
quem a guia?
a quem escreve o que escreve por mim,
margem feita de lábios e de sonho,
colina quieta, golfo,
ombro para esquecer o mundo para sempre?

Alguém escreve em mim, move minha mão,


10 escolhe uma palavra e se detém,
dúvida entre mar azul e monte verde.
Com um ardor gelado
contempla o que escrevo.

A tudo queima, fogo justiceiro.


Mas este juiz também é vítima
15 e ao condenar-me se condena:
não escreve a ninguém, a ninguém chama,
para si mesmo escreve, em si se olvida,
e se resgata e torna a ser eu mesmo.

(PAZ, 1984)

O título do poema de Octavio Paz, possui vários vocábulos do poema de


Alberto Caeiro, ou seja, podemos observar plurissignificativo. O poema Escritura
pode ter o significado referente ao ato de escrever, como também pode se referir ao
escrito, no qual lavrado em cartório, comprova a existência legal de algo, como por
exemplo uma propriedade. Além disso, olhando o termo da expressão Sagrada
Escritura, faz também referência a Bíblia Sagrada. Os elementos podem todos
podem apresentar hipoteticamente uma forma de leitura do poema Escritura de Paz.
Enquanto o poema aponta a ação de escrever: Quando sobre o papel a pena
escreve, nota-se um suposto isolamento na parte do poema “qualquer hora solitária”
(Verso –2). Observamos no poema de Paz, o sujeito e sua ação isolada nítida em
escrever, à medida que no poema VII de Caeiro é notado o desligamento da casa
do sujeito (no cimo desse outeiro). Sendo assim há uma necessidade de
afastamento das multidões para poder enxergar, para conhecer a si mesmo e a
mesma ação é utilizada para escrever e para escrever-se.
Todavia, o sujeito poético, de Caeiro é construído como um operador desde o
início, com as manifestações categóricas do vejo, sou (verso 1 e 3), já em Escritura,
o indivíduo poético, argumenta sobre quem guia a pena quando ela escreve a
qualquer hora solitária e quem escreve o que escreve por mim. Esses
questionamentos, estão evidentes na primeira estrofe, que figuram um desvio do
foco do sujeito poético para a ação em si o ato de traçar (Quando sobre o papel a
pena escreve) que toma o papel em branco, restrito por suas margens literalmente
invocado pela “margem feita de lábios e de sonho, colina de golfo”, que sustentam o
sujeito poético, -” ombro para esquecer o mundo para sempre” (verso 7). As duas
inquietudes evidenciadas presumem que nos três primeiros versos iniciais há um
processo guiado pela escrita, também há para quem a ação de escrever é dirigida.
Observando os quatros primeiros versos do poema esse sujeito poético aparenta
estar em segundo plano e resulta apenas como um meio pelo qual a ação de
escrever se concretiza. Igualmente transparece com o indivíduo que determina a
escritura e com o conteúdo é destinado a quem guia (verso 3) e “A quem escreve o
que escreve por mim “(Verso 7).
Dessa forma, por caminhos diferentes e estéticas particulares e em contextos
intrínsecos da modernidade os escritores Alberto Caeiro do poema VII de O
Guardador de Rebanhos, e Octavio Paz de Escrituras, retratam de uma tema
interessante na modernidade na qual a tentativa de construção do eu que todavia,
transfigura-se em obstáculo na medida em que é necessário conceber e representa
um eu que na substância, é propagado, segmentado. Diante disso, ambos estão
centrados, em uma ação - olhar/ver, em Caeiro, já para Paz – escrever, além disso
Alberto Caeiro busca de si mesmo no exterior, é necessário ver, enxergar,
conhecer, explorar o exterior para constituir-se, com o intuito de obter condição na
dimensão do indivíduo, da qual composição, entretanto, excede o indivíduo ( Porque
sou do tamanho que vejo). Prontamente no poema de Octavio Paz, para o escritor o
ato de escrever é primeiramente uma atividade que impõe ao próprio eu uma forma
de exceder, porém na medida que vai se transformando em corpo, a escrita, vai se
constituindo como ato de resgate do eu, e da ausência do mundo, como se o ato
não pudesse ser configurado sem o indivíduo que opera, porque nesse processo ela
vai se formando.

Sobre o poeta Fernando Pessoa e seus heterônimos, Paz descreveu:

A experiência de Pessoa, talvez sem que ele mesmo se tenha proposto,


insere-se na tradição dos grandes poetas da era moderna, desde Nerval e os
românticos alemães. O eu é um obstáculo, é o obstáculo. [...] Se é verdade que
nem tudo que escreveu tem a mesma qualidade, tudo, ou quase tudo, está marcado
pelos rastos de sua busca.

(PAZ, 2005: 220).

Pode-se dizer sobre ele mesmo:

O homem, mesmo envilecido pelo neocapitalismo e o psêudo-socialismo de nossos


dias, é um ser maravilhoso porque, às vezes, fala [escreve?]. [...] O inspirado, o
homem que fala [escreve] de verdade, não diz nada que seja seu: por sua boca fala
a linguagem [por sua mão escreve o que escreve – “Alguém escreve em mim, move
minha mão,”]. A poesia não salva o eu do poeta: dissolve-o na realidade mais vasta
e poderosa da fala [da “Escritura”]. O exercício da poesia exige o abandono, a
renúncia ao eu [“para si mesmo escreve, em si se olvida, / e se resgata e torna a
ser eu mesmo”].

(PAZ, 2005: 222)


Referências Bibliográficas

BENJAMIN, Walter. Paris, capital cultural do século XIX. In: KOTHE, Flávio (org.).
Sociologia. São Paulo: Ática, 1985. p. 30-43.
MONTAIGNE. Ensaios. São Paulo: Abril Cultural, 1984.
ANJOS, Augusto dos. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002.
PAZ, Octavio. Signos em rotação.3. ed. São Paulo: Perspectiva, 2005.
PAZ, Octavio. A outra voz. (Trad. Wladir Dupont). São Paulo: Siciliano, 1993
PESSOA, Fernando. Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2005.

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