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Talvez você já tenha recebido um vídeo bem conhecido nas redes sociais em que
Carlos Augusto Vailatti, um famoso palestrante arminiano e curiosamente defensor do
pós-tribulacionismo, faz a seguinte crítica à leitura pré-tribulacionista de Ap 3:10 (quando
participava de um programa de debates no “Vejam Só”): “[...] A expressão ‘ἐκ τῆς ὥρας’ que
quer dizer ‘da hora’ tem algo de curioso, e por isso eu citei de propósito Ap 3:10, é que a
preposição ‘ἐκ’ segundo os maiores dicionaristas, enciclopedistas e eruditos no grego, quer
dizer ‘sair de dentro’. [...] O significado básico de ‘ἐκ’ é ‘sair de dentro’; se João quisesse
falar sobre ‘sair’ e ‘tirar’ e ‘não participar’ da tribulação, ele poderia ter usado a preposição
‘ἀπό’, ou tantas outras, mas ele usa ‘ἐκ’ que quer dizer ‘sair de dentro’. Desse modo, o
significado básico dessa preposição dentro da expressão ‘ἐκ τῆς ὥρας’, por si só, já refuta a
interpretação pré-tribulacionista. [...] Ora, para a Igreja emergir ‘de dentro da hora da
provação’, como a preposição grega ‘ἐκ’ nos dá a entender claramente, isto significa que ela
deverá, necessariamente, estar presente durante esta provação: ou ‘durante toda ela’ ou, pelo
menos, ‘em boa parte dela’. Quando eu faço essa análise ou essa exegese com muita calma, eu
percebo que há um grave equívoco da exegese pré-tribulacionista que deixou de considerar
um erro tão básico em grego porque ‘ἐκ’ quer dizer ‘sair de dentro’ se a Igreja está ‘dentro’ é
porque ela irá experimentar ‘toda’ ou ‘boa parte’ da Tribulação” [esta transcrição não é
“ipsis litteris”, há pequenas modificações feitas pelo autor desse artigo].
Eu confesso que toda essa argumentação é muito persuasiva. Não é atoa que esse tipo
de informação disseminada em muitos blogs e redes sociais tem convencido muitos leitores
leigos a abandonarem a leitura pré-tribulacional de Ap 3:10 e também a renunciarem ao
pré-tribulacionismo por completo. De uma forma geral, o pós-tribulacionismo parece ter
conquistado um “bom terreno” ao remover do pré-tribulacionismo um de seus versos
prediletos. É como se o “Super-trunfo” houvesse se transformado em “Nêmesis”.
Pois bem! O propósito dessa reflexão não é “refutar” toda essa argumentação citando
“meia dúzia de acadêmicos”; fazendo conjecturas sobre “o que João deveria ter escrito”; ou
me apegar cegamente à “semântica dos verbos e preposições”. Há muitos grandes acadêmicos
que já fizeram esse trabalho. Eu poderia muito bem dizer, como Vaillati fez, que se João
quisesse infalivelmente ensinar o pós-tribulacionismo em Ap 3:10, ele não deveria usar a
preposição “ἐκ”, mas sim a preposição “ἐν” ou “διά”; já que, segundo o próprio Vaillati, “ἐκ”
é ambíguo [pois pode indicar, também, um “arrebatamento meso-tribulacional ou o pré-ira”].
Mas, isso não bastaria. Não perderei tempo com esse tipo de argumentação, pois, “o que está
escrito... está escrito”! De nada adiantará, também, evocar aqui os “grandes dicionaristas,
enciclopedistas e eruditos” porque para cada 5 ou 10 nomes que eu citar, um
pós-tribulacionista “de plantão” poderá conseguir outros 5 ou 10 nomes que defenda a sua
sardinha. E eu não quero que essa reflexão se torne uma “guerra de nomes”. Não quero uma
guerra de “João deveria ter feito isso” ou “João deveria ter escrito aquilo” — o que está feito,
está feito. Tampouco quero uma guerra de quem pode citar mais acadêmicos, porque isso,
muitas vezes, remove a autoridade escriturística e repassá-la aos intelectuais.
Minha sincera intenção nessa pequena reflexão é demonstrar como que um leitor leigo
pode chegar à conclusão pré-tribulacionista do texto de Ap 3:10 sem depender dos grandes
gramáticos e sem conjecturar sobre “o quê o apóstolo deveria ou não ter escrito”. Meu
propósito não é convencer o pós-tribulacionista sobre o pré-tribulacionismo; mas, auxiliar o
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resposta é clara: Jesus não usou o futuro do indicativo porque ele não estava ensinando
escatologia em Jo 17:15. A doutrina que Jesus ensina em Jo 17:15 é o seu amor e cuidado
pelo seu povo enquanto estiver aqui na terra, rogando ao Pai que preservasse os seus
discípulos. Devemos tirar de nossas mentes essa ideia de que Jo 17:15 deva nortear a
interpretação de Ap 3:10. Estes versos não são “gêmeos”.
Retornemos à questão de “ἐκ”. Como lançar luz sobre qual significado essa preposição
pode denotar em Ap 3:10? Minha sugestão é que busquemos nas Escrituras outra oração em
que a preposição “ἐκ” também esteja introduzindo o elemento temporal “ὥρα”. Em minhas
pesquisas, encontrei apenas um único outro verso que repete as mesmas palavras em uma
mesma estrutura gramatical. Como um bônus, esse verso também foi escrito pelo apóstolo
João o que facilita muito o nosso trabalho exegético, considerando que a mesma mente foi
quem escreveu ambos.
A passagem é essa: “Νῦν ἡ ψυχή μου τετάρακται, καὶ τί εἴπω; πάτερ, σῶσόν με ἐκ τῆς
ὥρας ταύτης; ἀλλὰ διὰ τοῦτο ἦλθον εἰς τὴν ὥραν ταύτην” (Jo 12:27). O trecho que queremos
é “πάτερ σῶσόν με ἐκ τῆς ὥρας ταύτης” cuja tradução livre pode ser “πάτερ PAI σῶσόν
SALVA με ME ἐκ FORA τῆς ὥρας DA HORA ταύτης DESTA”.
Veja que nesse verso não há outra tradução possível para a preposição “ἐκ” que não
seja “fora da”. Veja também que “ἐκ”, em Jo 12:27, está introduzindo um elemento temporal:
o vocábulo “ὥρας”. Percebe como essa frase “σῶσόν με ἐκ τῆς ὥρας” é muito semelhante a
“σε τηρήσω ἐκ τῆς ὥρας”? Veja essa tabela comparando os dois versículos:
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Para todos os efeitos, caso alguém me pergunte: “como você sabe que a única tradução
possível para a preposição “ἐκ” em Jo 12:27 é “fora da” e não “dentro de”? Eu sei disso
porque João está criando, neste versículo, uma oposição entre duas preposições; a saber: “ἐκ”
e “εἰς”. A preposição “εἰς” significa “dentro de”, “por dentro” ou “para dentro”, logo, o seu
perfeito oposto é “para fora”, “por fora” ou “fora de”. O apóstolo está narrando o pedido que
Cristo está faz ao Pai. Jesus sabe que ele veio precisamente para “esta hora”, para o sacrifício
na Cruz do Calvário, para estar ali, para cumprir sua missão. Em outras palavras, quando
Jesus diz “que direi eu? Pai, salva-me desta hora?” ele demonstra o absurdo que seria ele
querer estar livre ou querer que aquela hora fosse removida de sua missão, é para aquela hora
que ele veio. É por isso que João faz essa oposição entre “ἐκ” e “εἰς”. O que João está fazendo
é criando uma tensão para demonstrar que Cristo sofreu tanto a ponto de rogar que, se
possível, aquela hora fosse removida de sua missão. Mas, Jesus sabia que não poderia pedir
isso, pois ele veio para estar “dentro desta hora” [“εἰς”] e não “fora desta hora” [“ἐκ”]. Se
“ἐκ”, como dizem os pós-tribulacionistas, sempre significasse “dentro de”; que tensão estaria
sendo criada pelo apóstolo João neste texto? Se assim fosse, se “ἐκ” como preposição
temporal não pudesse exercer o significado “fora de”, mas apenas “dentro de” ou “para
dentro”, que ideia Jesus Cristo estaria opondo em suas palavras se dissesse: “Que direi eu? Pai
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livra-me de dentro (ἐκ) desta hora? Mas para isto vim para dentro (εἰς) desta hora”? Essa frase
de Cristo não teria algum sentido se ambas as preposições exercessem o mesmo significado.
Para que isso fique ainda mais claro, há um verso paralelo à Jo 12:27 que traz luz ao que Jesus
estava se referindo aqui: “[...] orou de novo, dizendo: Meu Pai, se não é possível passar de
mim este cálice sem que eu o beba, faça-se a tua vontade” (Mateus 26:42). Conclui-se que
Cristo orou: “Que direi eu? Pai livra-me para fora (ἐκ) desta hora? Mas para isto vim para
dentro (εἰς) desta hora”.
Algo é digno de nota aqui: o erro dos pós-tribulacionistas não é o que dizem de Jo
17:15, mas a insistência em fazer desse texto a chave-hermenêutica de Ap 3:10. O que eles
deveriam fazer é olhar para Jo 12:27, porque aí está um verso que pode auxiliar na
interpretação de Ap 3:10, pois, ambos os contextos, em última instância, falam sobre um
livramento de algo futuro. A única diferença é que em Jo 12:27 Jesus nega que sua intenção
seja se livrar “para fora” da hora para qual ele veio e em Ap 3:10 Cristo promete livrar a sua
Igreja “para fora” da hora que não lhes pertence.
Sabe por que João não escolheu usar a preposição “ἀπό” para denotar o significado
“fora desta hora”? Porque a preposição “ἐκ” pode muito bem exercer essa função, até mesmo
quando introduz um elemento temporal como o substantivo “ώρα”. Talvez alguém diga: “mas
os pós-tribulacionistas não citaram meia dúzia de gramáticos que dizem que a preposição ‘ἐκ’
nunca pode denotar ‘fora de’ quando introduz um elemento temporal?”. Aí é que está a
questão, meu caro leitor: os gramáticos nunca disseram que a preposição “ἐκ” como
preposição temporal “nunca pode significar ‘fora de’”, os pós-tribulacionistas é que fizeram
parecer que era isto o que os gramáticos estavam a dizer.
Conclui-se que dentro das escrituras temos um exemplo de “ἐκ” como preposição
temporal exercendo um sentido oposto de “para dentro de” ou “de dentro de”. Exemplo este,
escrito pela “mesma pena” que escreveu “τηρήσω ἐκ τῆς ὥρας” em Ap 3:10.
Para mim, apenas esse caso bastaria para que eu cresse em uma leitura
pré-tribulacional de Ap 3:10... mas sei que o coração humano nunca se satisfaz com
“migalhas”. Ainda que o pré-tribulacionismo definitivamente não dependa de Ap 3:10, quero
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citar outro exemplo de uso da preposição “ἐκ” que pode servir como prova de uma leitura
pré-tribulacional desse texto.
O nosso exemplo está em Genesis 12:1 “καὶ E εἶπεν FALOU κύριος O SENHOR τῷ
PARA Αβραμ ABRÃO ἔξελθε SAI ἐ κ FORA τῆς γῆς DA TERRA σου TUA καὶ E ἐκ
FORA τῆς συγγενείας DA PARENTELA σου TUA καὶ E ἐκ FORA τοῦ οἴκου DA CASA
τοῦ πατρός DO PAI σου TEU ε ἰς PARA DENTRO τὴν γῆν DA TERRA ἣν ἄν σοι δείξω
QUE EU TE MOSTRAREI”.
Uma vez demonstrado que “ἐκ”, de fato, pode significar “fora” (Gn 12:1) mesmo
quando introduz um elemento temporal (Jo 12:27), resta-me trabalhar agora sobre a questão
do verbo “τηρέω”. Como já demonstrado no início desse artigo, a argumentação
pós-tribulacionista baseia-se no significado léxico dessa palavra. Contra o dicionário não se
pode discutir. Todavia, o próprio texto de Ap 3:10 revela que há um uso especial desse verbo
nas Escrituras; na realidade, quase sempre esse verbo está relacionado com “guardar os
mandamentos de Deus”. A ideia por trás dessa expressão não é a mera “proteção” de um
manuscrito ou papiro que contenha a Palavra de Deus, antes, a ideia por trás dessa expressão é
que essas Palavras fluam “para fora” desses papiros indo diretamente para o coração do leitor.
Como sabemos, há certas expressões Escriturísticas que não podem ser compreendidas
apenas se considerarmos o significado léxico dessas palavras. Talvez, a expressão mais
conhecida seja “ἡ βασιλεία τῶν οὐρανῶν” (o Reino dos Céus). Se tomarmos essas palavras ao
pé da letra, teríamos que reconhecer que os Céus possuem um reino, mas sabemos que essa
expressão não quer atribuir autoridade a uma criação de Deus. Há outras expressões bíblicas
como: Justiça, Paz, Vida, Redenção, etc. que normalmente transcendem o seu significado
lexical. Usarei um exemplo para demonstrar que o significado dentro do dicionário nem
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Percebe que a questão de Apocalipse 3:10 não pode ser facilmente resolvida apenas
apontando para o que o dicionário tem a dizer? Mais do que isso, que grande gramático da
língua grega negaria que “τηρέω” tenha esse significado de “esconder” algo “para fora” de
algum lugar? Nunca negaram isso, no máximo, dizem que esse não é o uso comum; mas não
que é impossível que esse verbo exerça esse significado.
Meu desejo é que esse artigo nos ajude a nos mantermos alertas ao retorno de Cristo.
Ele virá nos buscar, esta é a promessa. Ele resgatará a sua noiva, purificará a sua nação e
reinará em glória por mil anos, diretamente de Jerusalém, a Cidade Santa, o lugar que Deus
escolheu desde os primórdios bíblicos!