Matrícula: 65819 Orientadora: Profª. MD Msc Milene Pinto Costa Série: 5º ano
Rio Grande, RS, Brasil
2020 JUSTIFICATIVA
O presente portífolio foi produzido afim de relembrar todo o aprendizado obtido no
decorrer do estágio no primeiro rodízio que ocorreu na maternidade, estágio esse que foi de suma importância para a melhor formação acadêmica e domínio do cuidado do recém nascido (RN) e sala de parto nos plantões que intercalavam-se entre atendimentos realizados das 08 horas da manhã ao meio dia. Todas as manhãs acompanhando cada caso na sua particularidade foi essencial para o crescimento pessoal e profissional na medida que cada caso era discutido nos “rounds” posteriores a cada atendimento. Nesse sentido, foi possível entender o porquê de cada conduta tomada, assim como examinar adequadamente o RN, distinguir um exame físico dentro do esperado daquele alterado. Diversos foram os cenários, tivemos desde RNs, com casos de calcificações cerebrais em decorrência de uma toxoplasmose não tratada durante a gestação até pacientes maternas com HIV e sem o intuito de dividir a informação com o parceiro, trazendo até nós demandas que envolveram questões éticas e nos fezem refletir sobre como agir frente ao quadro. Entre hemogramas, BT + frações, reticulócitos, fator RH foi possível criar vínculos com cada paciente assistida e reforçar a relação médico paciente tão necessária nos dias de hoje. É válido ressaltar a primordial comunicação multiprofissional da equipe de saúde: médicos, enfermagem, técnicos e fonoaudiologia em prol da saúde e bem estar de cada paciente; no nosso caso, os RNs, que prontamente eram cuidados com zelo e dedicação, nos mostrando que cada profissional é fundamental na sua área de atuação, e que muito mais eficiente é uma equipe hospitalar do que um único profissional tomando a frente. Trarei alguns casos, que mais me envolveram tanto como estagiária como ser humano, fundamental nos colocarmos no lugar das mamães que em nós depositavam toda sua esperança e confiança, assim sendo os casos apresentados terão somente suas iniciais respeitando ao máximo cada paciente que por nós foram acolhidas. Lembrando que cada conduta tomada era discutida e explicada no grande grupo, as questões levantadas e prontamente sanadas foram indubitavelmente cruciais para o excelente aproveitamento e andamento do estágio. CASO 1: RN DE B.Q.V Exame físico: BEG, ATIVO E REATIVO, reflexos presentes, extremidades aquecidas e perfundidas. Coto umbilical: 1 artéria e 1 veia, vistos em ecografia com doppler durante a gestação. A conduta pensada foi um US de vias urinárias para verificar se a alteração se mantinha após o nascimento. Acompanhei o RN durante US de vias urinárias, e felizmente, foi constatado que as vias urinárias estavam dentro da normalidade e sem qualquer alteração. Após o achado o RN recebeu alta hospitalar com as devidas orientações. Nesse caso foi necessário aprender a lidar com a ansiedade e nervosismo da mãe, demonstrando a importância da relação médico paciente ensinada lá nos primeiros anos da faculdade e que agora foram colocados em prática. CASO 2: RN DE R.P.M Exame físico: BEG, ATIVO E REATIVO, eritema tóxico em face, reflexos presentes e simétricos, extremidades aquecidas e perfundidas. Nesse caso a mãe do RN positivou no teste rápido para HIV na internação não havendo diagnóstico anterior já que a mesma não havia realizado nenhuma consulta no pré-natal. Além disso a paciente não autorizou mencionar o diagnóstico ao parceiro. A conduta no momento foi RAC+FI, nevirapina e azt, solicitado carga viral e CD4, além do sangue de cordão e rastreio de sepse com 12 hrs de vida. Aqui foi respeitada a escolha da paciente pois a mesma nos relatou que diria ao parceiro assim que sentisse pronta para tal. O que foi de fato feito ainda no hospital. Estando o RN em condições de alta, assim foi definido, com encaminhamento ao ambulatório de infecto para avaliações e tratamentos posteriores. Relembrando alguns cuidados com RN exposto ao HIV: limpar com compressas todo o sangue e secreções visíveis no RN imediatamente após o nascimento e proceder com banho, ainda na sala de parto, quando necessária realizar aspiração de VAS, proceder delicadamente, evitando traumatismos em mucosas, iniciar AZT VO ainda na sala de parto nas primeiras 4 horas após o nascimento, acrescentar Nevirapina ao esquema caso a mãe tenha CV acima de 1000 cópias ou sem tratamento prévio, nas primeiras 48 horas. É recomendado o alojamento conjunto em período integral, com intuito de aprimorar o vínculo mãe-filho, recomenda-se também a substituição do LM por FI, a alta da maternidade deve ser acompanhada de consulta agendada com serviço especializado para seguimento de crianaças expostas ao HIV, entre 15 e 30 dias após o nascimento, preencher as fichas de notificação da “criança exposta ao HIV” e enviá-las ao serviço de vigilância epidemiológica. CASO 3: RN DE T.S.N Exame físico: BEG, ATIVO E REATIVO, reflexos presentes s simétricos, extremidades aquecidas e perfundidas. Sorologias maternas todas não reagentes, TS da mãe O+, bolsa rota sem horário definido, portanto foi solicitado exames para rastreio de sepse, com os seguintes achados: Rodwell: 1 por neutrofilia I/T: 0.04 PCR: 2,3. Até então sem necessidade de maiores preocupações. Percebida leve icterícia foi feito o Bili check, em glabela: 8.4 Bili check em tórax: 6.7 NF para médio risco 9, sendo o valor dado no bili check próximo do nível de fototerapia, foi solicitado para o RN tipagem sanguínea, fator RH, reticulócitos, BT + frações para determinar a melhor conduta. Os exames coletados viram sem alterações que necessitassem de fototerapia, logo o RN recebeu alta hospital com as orientações adequadas. É válido lembrar alguns fatores de risco na sepse precoce: Temperatura intraparto acima de 38 graus, bolsa rota a 18 h ou mais, procedimentos invasivos ( amniocentese, cerclagem), trabalho de parto em gestação menor que 37 semanas, procedimentos fetais nas últimas 72 h, ITU materna sem tratamento ou em tratamento menos de 72 h, colonização pelo streptococo B em gestante, sem quimioprofilaxia intraparto quando indicada, sintomas clinicos de infecção, prematuridade, baixo peso, óbito fetal ou natimorto sem causa aparente em gestação anterior, apgar 5 minuto menor que 7, desconforto respiratório iniciado acima de 4 hrs após o nascimento, necessidade de VM em um RN á termo. CASO 4: RN de F.G.S Exame físico: BEG, ATIVO E REATIVO, extremidades aquecidas e perfundidas, eritema tóxico em face, mancha mongólica em região sacral. O caso foi escolhido pelas importantes intercorrências na sala de parto, uma cesareana devido a líquido meconial, no decorrer do TP foi detectado também circular de cordão, o RN nasceu vigoroso, porém, acianótico, necessitando de 02 por catéter, AVAS com grande quantidade de mecônio, saturou 87% no primeiro minuto com melhora progressiva para 97%. Sabendo que mecônio é indicativo para rastreio de sepse, assim o fizemos, os resultados foram: Rodwell: 1 por neutrofilia, I/T: 0,02 PCR: 2,0. Solicitado também Raio X de tórax devido a grande quantidade de mecônio aspirado. Este veio sem consolidação. Dadas as circunstâncias o RN evoluiu bem, estando em condições de alta hospitalar. Importante falar um pouco mais sobre o líquido meconial e suas complicações, em especial a aspiração intraparto que pode causar pneneumonite inflamatória e obstrução brônquica mecânica, produzindo uma síndrome de angústia respiratória. O quadro inclui taquipnéia, roncos, sibilos e cianose ou dessaturação. O diagnóstico pode ser confirmado cm radiografia de tórax. RNs com desconforto respiratório são intubados e colocados sob pressão positiva contínua das vias respiratórias ou ventilação mecânica. CASO 5: M.C.S Exame físico: BEG, ATIVO E REATIVO, extremidades aquecidas e perfundidas, RN á termo, AIG, com exposição vertical a toxoplamose. Á tomografia múltiplos focos de calcificações esparsas pelos hemisférios cerebrais, cujo aspecto da imagem, embora não seja específico, permite concluir primariamente dentre os diferentes alterações relacionadas a toxoplasmose congênita. Para esse RN a conduta foi a seguinte sulfadiazina 100 mg/kg/dia, pirimetamina 2 mg/kg/dia e ác. Folínico 10 mg, avaliação de neurologista, oftalmologista, e agendamento de consulta com infectologista pediátrica. Pesquisando sobre o assunto cerca de 70% dos RN com infecção congênita são assintomáticos ao nascimento e, aproximadamente 10 % do total de crianças acometidas têm manifestações graves nos primeiros dias de vida, apresenta –se com doença multissistêmica ou com acometimento de sistema nervoso, associado ou não á forma ocular. A doença congênita com manifestações predominantemente neurológica apresenta-se com coriorretinite, hidrocefalia, meningoencefalite, calcificações cranianas, convulsões, anemias, icterícia, febre e menos frequentemente, esplenomegalia, linfoadenomegalia, hepatomegalia, microcefalia, vômitos, catarata, diástase hemorrágica, hipotermia, glaucoma, atrofia óptica, microftalmia, rash e pneumonia. Na doença sistêmica, apresentação de menor frequência, observa- se esplenomegalia (90%) meningoencefalite (84%) icterícia ( 80%) anemia (77%) hepatomegalia (77%) linfoadenomegalia (68%) coriorretinite(66%) pneumonia (41%) discrasia sanguínea (18%) e calcificações cranianas (4%). Em resumo, toxoplasmose congênita caracteriza-se por hidrocefalia, corioretinite, calcificações cranianas e elevada proteinorraquia bioquímico ao exame do líquor. CASO 6: FM Esse foi um caso que ocorreu durante o plantão, a paciente estava em TP, sem comorbidades, contrações e dilatação apropriadas, e houve parada da descida, o RN foi conduzido ao exame físico, hipotônico, acianótico e já sem batimentos cardíacos, foram feitas todas as manobras conforme as diretrizes de RCP, porém, infelizmente, apesar de todas as tentativas o RN veio á óbito. Foi um caso complexo, o qual pude relacionar a aula dada sobre como dar notícias difíceis aos familiares. Acompanhei de perto a maneira como os preceptores conduziram, de maneira clara e ao mesmo tempo acalentadora, dando todo o apoio necessário naquele momento. Certamente, esse fato contribuiu para o meu crescimento enquanto futura médica, entender que se colocar no lugar do paciente é fundamental para uma melhor relação médico e paciente e que se não pudermos curar, pelo menos amenizar a dor, nem que seja com palavras acolhedoras e afáveis. E para finalizar, uma frase que cabe nesse caso e que certamente faz repensar e mudar a maneira como cuidamos do nosso paciente “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana”.