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Doença Renal Crônica: Problemas e Soluções

Marcus G. Bastos RESUMO


Wander Barros do Carmo
O número de pacientes com doença renal crônica (DRC) está aumentando em
Rodrigo Reis Abrita todo o mundo em escala alarmante. A magnitude do problema é tão grande que
Ellen Christine de Almeida tem levado autoridades médicas a considerá-lo como um problema de saúde
Denise Mafra pública. No Brasil, as atenções com a DRC se restringem quase que exclusi-
Darcília Maria N. da Costa vamente ao seu estágio mais avançado, quando se necessita de terapia renal
substitutiva. Contudo, a evolução da DRC depende da qualidade do atendi-
Jacqueline de A. Gonçalves mento ofertado muito antes da ocorrência da falência funcional renal. Nesta
Lúcia Antônia de Oliveira revisão, os autores chamam a atenção para a necessidade do diagnóstico pre-
Fabiane Rossi dos Santos coce da DRC, a pertinência do encaminhamento imediato para acompa-
nhamento nefrológico e para a importância da implementação de medidas que
Rogério B. de Paula retardem a progressão da doença, assim como a correção de suas compli-
cações e comorbidades mais freqüentes. Finalmente, discutem o papel do
atendimento multidisciplinar ao paciente renal crônico e o seu possível impacto
favorável no tratamento da doença. (J Bras Nefrol 2004;26(4): 202-215)

Descritores: Doença renal crônica. Epidemiologia. Diagnóstico precoce.


Encaminhamento imediato. Tratamento. Atenção multidisciplinar.

ABSTRACT

NIEPEN – Núcleo Interdisciplinar Chronic Kidney Disease: Problems ad Solutions.


de Estudos e Pesquisas em
Nefrologia da Universidade The number of patients with chronic kidney disease is increasing worldwide.
Federal de Juiz de Fora; e The magnitude of the problem is so high that the medical authorities are con -
Fundação IMEPEN, sidering it a public health problem. In Brazil, most of the attention to chronic kid -
ney disease has been limited when the disease reach its dialytic phase. How -
Juiz de Fora, MG.
ever, the outcome of CKD depends on the quality of care offered long before the
occurrence of end-stage renal failure. In this review, the authors draw attention
to the need of early diagnosis of the disease, the importance to immediate refer -
ral for nephrological care, and the need of identification and correction of the
main complications and comorbidities found. Finally, they discuss the role of the
multidisciplinary attention to patients with CKD, and its possible favorable
impact on the outcome of the disease. (J Bras Nefrol 2004;26(4):202-215)

Keywords: Chronic kidney disease. Epidemiology. Early diagnosis. Immediate


referral. Management. Multidisciplinary care.

INTRODUÇÃO

Os rins são órgãos fundamentais para a manutenção da homeostase do


corpo humano. Assim, não é surpresa constatarmos que, com a queda progres-
siva do ritmo de filtração glomerular (RFG) observada na doença renal crônica
(DRC) - e conseqüente perda das funções regulatórias, excretórias e endócrinas -,
Recebido em 08/05/03 ocorra o comprometimento de essencialmente todos os outros órgãos do or-
Aprovado em 18/09/04 ganismo. Quando a queda do RFG atinge valores muito baixos, geralmente
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inferiores a 15 mL/min, estabelece-se o que denominamos A proposta de estagiamento da DRC tem algumas
falência funcional renal (FFR), ou seja, o estágio mais vantagens, posto que uniformiza a terminologia emprega-
avançado do continuum de perda funcional progressiva da, evita a ambigüidade e a superposição dos termos
observado na DRC. atualmente empregados e facilita a comunicação entre os
A constatação, a partir da década passada, da alta profissionais da equipe de saúde envolvidos nos cuidados
incidência e prevalência da DRC vem alarmando a comu- dos pacientes, e destes com os pacientes e seus familiares.
nidade científica mundial. Admite-se que, para cada
paciente em terapia renal substitutiva (TRS), existam de
vinte a trinta outros com DRC em seus diferentes está- PROBLEMAS COM A DRC
gios1. Também preocupante é a observação da inadequa-
bilidade dos cuidados de saúde oferecidos na evolução da Sobrecarga Socioeconômica
DRC. A otimização do manuseio clínico na DRC envolve
o diagnóstico imediato da doença, encaminhamento pre- O número de pacientes portadores de DRC está
coce para os cuidados especializados e a implementação aumentando em todo o mundo. Nos Estados Unidos da
das medidas de retardo da progressão da doença, identifi- América, estima-se um crescimento anual de 6% de
cação e correção das complicações e comorbidades mais novos casos de FFR. O quadro atual é de uma taxa de
comuns, bem como educação e preparo para TRS. No incidência que dobra a cada 10 anos e uma prevalência
presente artigo, os autores identificam os principais pro- que aumentou de 166.000 casos em 1990 para cerca de
blemas observados na DRC e discutem as soluções que 372.000 em 20003. Entre os americanos, estima-se que
poderão determinar uma melhor qualidade dos cuidados de 6 a 20 milhões apresentam algum grau de diminuição
de saúde oferecidos aos pacientes. do RFG, indicando que o número ascendente de FFR
continuará aumentando. Mantidas as tendências de
aumento da prevalência e da incidência da DRC obser-
DEFINIÇÃO DA DRC vadas nas últimas duas décadas, pode-se prever que, no
ano de 2010, cerca de 175.000 novos pacientes necessi-
A National Kidney Foundation (NKF), em seu tarão de alguma forma de TRS, aumentando para cerca
documento Kidney Disease Outcomes Quality Initiative de 650.000 o número de americanos necessitando deste
(K/DOQI)2, definiu a DRC baseada nos seguintes tipo de tratamento, a um custo total estimado de
critérios: US$28,33.
• Lesão presente por um período igual ou superior No Brasil, embora os números sejam mais
a 3 meses, definida por anormalidades estru- modestos e nem sempre precisos, não deixam de ser preo-
turais ou funcionais do rim, com ou sem cupantes. As informações obtidas junto à Sociedade
diminuição do RFG, manifestada por anorma- Brasileira de Nefrologia e Ministério da Saúde são se-
lidades patológicas ou marcadores de lesão melhantes: a prevalência de pacientes necessitando de
renal, incluindo alterações sangüíneas ou TRS dobrou nos últimos 5 anos. Em 2000, a taxa de
urinárias, ou nos exames de imagem; incidência anual já tinha atingido 101 pacientes por
milhão da população (pmp). Semelhantemente ao obser-
• RFG <60 mL/min/1,73 m2 por um períod ≥3 vado em outros países, o custo do tratamento da TRS no
meses, com ou sem lesão renal. Brasil é muito alto. Por exemplo, em Juiz de Fora, gasta-
Baseado nesta definição, o grupo de trabalho que se, mensalmente, cerca de R$1.400,00 por paciente em
desenvolveu o K/DOQI propôs a seguinte classificação TRS e cerca de R$11,00 com os demais usuários do Sis-
para a DRC (tabela 1): tema Único de Saúde. Apesar dos recursos envolvidos,
muitos brasileiros não têm acesso à TRS: enquanto cerca
de 800 a 1.200 pmp fazem diálise na América do Norte e
Tabela 1. Estagiamento da DRC. no Japão, no Brasil apenas 323 pmp estão usufruindo
Estágio Descrição RFG dessa modalidade terapêutica, ou seja, cerca de 70% dos
(mL/min/1,73 m2 )
pacientes não se beneficiam da TRS. Assim, poderíamos
I Lesão renal com RFG normal ou aumentado ≥90
comparar a DRC a um enorme iceberg, onde a sua ponta,
II Lesão renal com leve diminuição do RFG 60-89
que se projeta acima do nível do mar, corresponderia aos
III Lesão renal com moderada diminuição do RFG 30-59
pacientes em TRS e a parte submersa, de dimensão muito
IV Lesão renal com acentuada diminuição do RFG 15-29
maior e desconhecida, corresponderia à DRC em seus
V Falência renal funcional ou em TRS <15
diferentes estágios.
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Tabela 2. Parâmetros de qualidade a serem alcançados nos cio, fósforo, bicarbonato ou albumina5. O estudo eviden-
pacientes com DRC (baseado nas referências de nº 2, 26, 27, 33,
36, 48 e 52).
ciou claramente a necessidade de otimização das medidas
Parâmetros Índices a ser
que retardam a progressão da doença renal e chama a
alcançados atenção para o desconhecimento, principalmente entre os
Pressão arterial (mmHg) médicos de outras especialidades, sobre as principais
Proteinúria <1,0 g/24h 130/80 complicações e comorbidades presentes nesta população
Proteinúria ≥1,0 g/24h 120/75
Proteinúria, g/24h <0,3
de pacientes com altíssimo risco de evolução para FRF.
Hemoglobina, g/dL >12
Fósforo, mg/dL <4,5
Cálcio, mg/dL >8,5
Produto cálcio/fósforo <55
PROPOSTAS DE SOLUÇÕES
Potássio, mEq/L <5,5
Albumina, g/dL >3,5 A solução para os problemas relativos à DRC é
Bicarbonato sérico, mEq/L ≥22
Hemoglobina glicosilada, % <7,5
complexa e envolve, pelo menos, três ações principais: 1.
LDL colesterol, mg/dL O diagnóstico precoce da DRC; 2. O encaminhamento
Diabéticos <100 imediato para acompanhamento especializado; e 3. A
Não-diabéticos <120
identificação e a correção das principais complicações e
comorbidades da DRC, bem como o preparo do paciente
Qualidade do Atendimento ao Paciente Com DRC (e seus familiares) para a TRS.

Historicamente, a qualidade do tratamento ofereci- Diagnóstico Precoce da DRC


do aos pacientes com DRC têm sido considerada inade-
quada e avaliada infreqüentemente. Contudo, as publi- Uma observação inquietante na prática nefrológica
cações recentes de diretrizes sobre os cuidados ótimos é a constatação de que um número significante de
recomendados para os pacientes portadores de DRC ofe- pacientes com DRC perde função renal de maneira
recem a oportunidade de se estabelecerem parâmetros a insidiosa e assintomática. Assim, torna-se importante
serem alcançados e, assim, garantir melhor qualidade de definirmos que pacientes devem ser avaliados. Infeliz-
atendimento. A tabela 2 sumariza as principais recomen- mente, não existem muitos estudos que nos permitam
dações para um ótimo cuidado na DRC e destaca a determinar quem deveria ser rastreado. Na verdade, as
importância do controle do diabetes, da pressão arterial evidências atuais não justificam o rastreamento universal
(PA), manutenção dos níveis de proteinúria em valores da DRC na população. Por exemplo, no estudo realizado
inferiores a 1 g/dia, correção da anemia, correção das por Lopes 6, foram analisadas urinas com fita de imersão
alterações do metabolismo do fósforo e cálcio, da acidose de 1.417 indivíduos sorteados entre os 35.960 moradores
e prevenção da desnutrição. do bairro de Ibura, Recife. Em 505 (36%) análises, encon-
Em estudo recente, Israni et al.4 identificaram, em trou-se alguma alteração urinária. Cento e oitenta e três
um Centro Acadêmico de Atenção Primária na cidade de indivíduos entre os 435 selecionados, por apresentarem
Boston, EUA, que a qualidade do atendimento aos idade acima de 12 anos, compareceram para reavaliação.
pacientes com DRC era inadequada em termos de con- Os autores confirmaram a presença de alguma alteração
trole pressórico, tratamento com IECA ou BRAT1, avalia- urinária em 55 (30%) da população re-avaliada: pro-
ção da proteinúria e encaminhamento para tratamento teinúria em 14 dos 78 (18%) casos iniciais de proteinúria,
nefrológico. Infelizmente, este quadro não é diferente hematúria em 27 dos 67 (40%) casos com hematúria na
daquele encontrado em nosso meio. Ao avaliarmos os primeira avaliação e proteinúria associada à hematúria em
indicadores de controle clínico ótimo na DRC registrados 14 dos 38 (38%) casos que inicialmente apresentaram
em prontuários de pacientes com hipertensão arterial e/ou essas alterações. Destes, apenas 11 pacientes (7 hiperten-
diabetes com creatinina ≥1,5 mg/dL na mulher e ≥2,0 sos grau II e 4 diabéticos) e 2 outros com suspeita diag-
mg/dL no homem, em um ambulatório do SUS, cons- nóstica de glomerulonefrite apresentavam patologias com
tatamos que somente 35% dos pacientes apresentam potencial para perda progressiva da função renal. Vale
pressão arterial sistólica nos limites recomendados, 35% ressaltar que a creatinina sérica nestes 11 casos variou de
dos casos não faziam uso de IECA, 48% dos diabéticos 0,6-1,4 mg/dL durante o período de avaliação.
apresentavam glicemia acima de 110 mg/dL e que, em Na Bolívia, Plata et al.7 também conduziram um
somente 28% e 16% dos prontuários, havia registros de programa de diagnóstico e tratamento das doenças renais
hemoglobina e proteinúria, respectivamente. Para nossa em diferentes áreas do país. Dos 14.082 indivíduos ini-
surpresa, não havia nenhum registro de dosagem de cál- cialmente rastreados, 4.261 (30%) apresentaram alguma
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Figura 1. Relação da creatinina sérica com ritmo de filtração


glomerular (reproduzido da referência 13, com autorização).

alteração na fita de imersão urinária: hematúria (14,3%),


leucocitúria (12,5%), proteinúria (2,1%), proteinúria e
glicosúria (0,3%) e proteinúria e hematúria (0,1%).
Após avaliação clínica e testes confirmatórios em 1.019 Figura 2. Rastreamento da DRC em sub-grupos de risco.
indivíduos, os autores encontraram 31 (3%) condições
clínicas com potencial de perda progressiva da filtração através da microscopia de contraste de fase, método sim-
glomerular: 13 casos (1,3%) de doença renal policística ples e barato, e que possibilita, de imediato, diferenciar se
do adulto, 11 casos (1%) de DRC e 7 casos (0,7%) de o sangramento é de origem glomerular ou pós-glomeru-
nefropatia diabética. lar. Quando a proteinúria for detectada (presença de uma
O US Multiple Risk Factor Intervention Trial8, ou mais cruzes), o próximo passo é quantificá-la, o que
estudo que reuniu mais de 300.000 homens rastreados e pode ser feito em urina de 24 horas ou em amostra isola-
seguidos em média por 16 anos, mostrou que a perda da da (neste caso, divide-se o valor da proteinúria em mg/dL
filtração glomerular ocorreu principalmente nos indiví- pelo da creatinina, também em mg/dL, e o valor encon-
duos de idade avançada, tabagistas, hipertensos e diabé- trado corresponde, em gramas, a proteinúria de 24
ticos. Outro grupo com maior chance de desenvolver horas)14.
DRC é constituído por familiares de pacientes com falên- As fitas de imersão urinária também permitem
cia renal e em TRS9. É possível que existam outros gru- rastrear as infecções urinárias. Os métodos variam entre
pos de pacientes com maiores chances para desenvolvi- os fabricantes, alguns utilizando o teste do nitrito, que
mento de FFR. Por exemplo, ao avaliarmos o RFG antes detecta bactérias com capacidade de converter nitrato
de procedimentos intravasculares em vasculopatas sem para nitrito, e outros, o teste da esterase leucocitária, que
conhecimento prévio de doença renal, observamos que sugere a presença de leucocitúria 14. Sempre que possível,
43,4% e 2,3% dos pacientes encontravam-se nos estágios as suspeitas de infecção urinária devem ser confirmadas
III e IV da DRC, respectivamente10. Eknoyan et al.11 e pela urocultura.
Cass12 recomendam a investigação da DRC em pacientes O RFG, idealmente, deveria ser determinado pela
diabéticos e hipertensos, nos indivíduos com idade >50 depuração da inulina ou de materiais radioisotópicos
anos, fumantes e parentes de pacientes em TRS, e em (p. ex., DTPA)15. Infelizmente, tais métodos, além de
determinados grupos étnicos (p. ex., negros e índios caros, não são práticos. Na prática clínica, o RFG pode ser
americanos, hispânicos e nativos australianos). obtido pela dosagem da creatinina sérica e/ou pela depu-
O diagnóstico da maioria das DRC de caráter pro- ração desta pelo rim. Na figura 1, pode-se observar que a
gressivo baseia-se principalmente na identificação de dosagem da creatinina sérica, embora de fácil realização
hipertensão arterial, na presença de hematúria e/ou pro- e de baixo custo, não deveria ser utilizada no acompa-
teinúria e/ou leucocitúria e na determinação do RFG13. nhamento da DRC, posto que só atingirá valores acima do
A pesquisa da hematúria e da proteinúria pode ser normal após o paciente perder cerca de 50-60% do RFG.
facilmente realizada empregando-se as fitas de imersão O método mais adequado para o acompanhamento
urinária. Essas fitas são de baixo custo e fácil manuseio, da DRC emprega a depuração da creatinina na avaliação
podendo ser utilizadas nos postos de saúde e nos con- do RFG. A depuração da creatinina pode ser realizada em
sultórios. Nos casos de hematúria, recomendamos a reali- urina coletada no período de 24 horas, porém a coleta
zação da sedimentoscopia urinária, preferencialmente urinária inadequada, seja por incompreensão da técnica
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ou tipo de atividade do paciente, é um limitador da técni- sérica for ≥1,5 mg/dL na mulher e ≥2,0 mg/dL no
ca. Alternativamente, o RFG pode ser estimado a partir da homem25. Os potenciais benefícios do encaminhamento
creatinina sérica. Os métodos mais empregados utilizam precoce incluem a identificação e o tratamento das causas
as fórmulas de Cockroft-Gault16 e a do estudo MDRD17, reversíveis de falência renal; diagnóstico e correção dos
as quais apresentam uma correlação de R2 = 84,2 e R2 = fatores de agudização da DRC (p. ex., agentes nefrotóxi-
90,3, respectivamente, com RFG determinado pela depu- cos); diminuição da velocidade de perda da filtração
ração do DTPA17. A figura 2 sumariza uma proposta de glomerular; identificação e correção das principais com-
investigação para a DRC. plicações e comorbidades mais prevalentes da DRC; e a
obtenção de melhores parâmetros bioquímicos, físicos e
Encaminhamento Imediato Para Atendimento psicológicos quando do início da TRS26-28.
Especializado
Otimização do Tratamento
O encaminhamento tardio dos pacientes com DRC
para acompanhamento nefrológico é considerado um dos A perda progressiva da filtração glomerular se
grandes problemas de saúde pública, posto que é evitável, associa a um conjunto extenso e complexo de alterações
associa-se com maior risco de morbimortalidade e determi- fisiológicas que resultam em um grande número de com-
na um grande impacto financeiro no sistema de saúde18. plicações e comorbidades, as quais ocorrem muito mais
Comparados aos pacientes com acompanhamento nefro- precocemente na evolução da doença do que anterior-
lógico precoce no curso de suas doenças, aqueles que são mente pensado29. Assim, o sucesso do tratamento dos
vistos tardiamente, ou seja, praticamente à época de inicia- pacientes com DRC na fase de TRS depende da excelên-
rem alguma forma de TRS, apresentam maior risco de cia do controle clínico ao longo da evolução da doença.
morte no primeiro ano de diálise 19, iniciam a hemodiálise Infelizmente, uma constatação atual é que, mesmo nos
em caráter de urgência e através do acesso vascular tem- melhores sistemas de saúde do mundo, a DRC é subdiag-
porário20, têm menor chance de escolha da diálise peri- nosticada e tratada inadequadamente. Tais observações
toneal ou transplante preemptivo21, apresentam piores são particularmente preocupantes quando, cada vez mais,
parâmetros metabólicos22 e manuseio inadequado da ane- dispomos de um número crescente de alternativas ter-
mia23, além de permanecerem mais tempo hospitalizados e apêuticas com impactos favoráveis na velocidade de
acarretarem maiores gastos aos sistemas de saúde19-23. perda funcional, nas complicações e nas comorbidades
Em estudo recente, McLaughlin et al.24 avaliaram o que ocorrem com a progressão da DRC.
custo financeiro do manuseio da DRC em pacientes Didaticamente, o tratamento da DRC pode ser
encaminhados precocemente ou tardiamente ao nefrolo- dividido em 4 modalidades: 1. As intervenções para
gista. Nos pacientes com encaminhamento precoce, o diminuir a progressão da doença; 2. O diagnóstico e trata-
custo total médio, no período de 5 anos, foi de US$87.711, mento das complicações próprias da DRC; 3. A identifi-
contra US$110.056 nos pacientes encaminhados tardia- cação e o manuseio das comorbidades mais freqüentes; e
mente. O tempo de vida médio (em anos) foi de 3,53 e 4. As medidas educativas e de preparo para TRS30-33.
3,36 nos pacientes encaminhados precocemente e tardia-
mente, respectivamente. O tempo de vida fora da TRS foi
de 2,18 anos nos pacientes encaminhados precocemente e INTERVENÇÕES PARA
1,76 anos nos pacientes acompanhados tardiamente pelo DIMINUIR A PROGRESSÃO DA DRC
nefrologista. Finalmente, os pacientes com acompanha-
mento nefrológico precoce permaneceram quase a metade As intervenções para diminuir ou reverter a pro-
do tempo internados (25 dias), quando comparados aos gressão da doença renal e prevenir a ocorrência de FFR
pacientes encaminhados tardiamente (41 dias). terão maior impacto quanto mais precocemente imple-
Estes achados apontam para a necessidade impe- mentadas. É sempre oportuno ressaltar que o sucesso
riosa de alertarmos e estimularmos outros profissionais de terapêutico da doença primária também é muito impor-
saúde (principalmente cardiologistas, endocrinologistas, tante na prevenção da falência renal.
clínicos gerais e urologistas), que também lidam com os
subgrupos de risco para DRC, a encaminhar os pacientes Controle da Pressão Arterial
para acompanhamento conjunto com o nefrologista ou
equipe nefrológica o mais breve possível. Segundo o Fica cada vez mais claro que o controle rigoroso
Instituto Nacional de Saúde Norte-Americano, tais da pressão arterial é da maior importância para minimizar
pacientes deveriam ser referenciados quando a creatinina a progressão da DRC, além de diminuir o risco da doença
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cardiovascular freqüentemente associada 34. O estudo rial, a proteinúria e a velocidade de queda do RFG. No
Multiple Risk Factor Intervention Trial (MRFIT) identifi- estudo com o ramipril, o nível tensional alvo alcançado
cou o nível pressórico elevado como fator de risco inde- foi pressão diastólica <90 mmHg e os pacientes foram
pendente para a ocorrência de FRF35. divididos em portadores de proteinúria leve (1-3 g/24h) e
Um outro aspecto relaciona-se ao nível de PA proteinúria maciça (>3 g/24h), com posterior estratifi-
ótimo a ser alcançado nos pacientes com DRC. A Organi- cação para receberem ramipril ou placebo. Ao final dos
zação Mundial de Saúde recomenda valores da pressão primeiros três anos de estudo, observou-se que somente
arterial ≤130/85 mmHg (≤140/90 mmHg em pacientes 23% dos pacientes no grupo ramipril, comparados a 41%
com idade acima de 60 anos) para os pacientes com dos pacientes controles, dobraram a creatinina sérica ou
doenças renais 36. O sexto relato do Joint National Com - evoluíram para FRF. Mais recentemente, os autores pu-
mittee of Prevention, Detection, Evaluation, and Treat - blicaram um seguimento de 4 a 5 anos do grupo de
ment of High Blood Pressure37 recomenda a manutenção pacientes com proteinúria maciça, que passaram a receber
da pressão arterial em nível inferior a 140/90 mmHg nos ramipril, além do tratamento anti-hipertensivo conven-
indivíduos com baixo risco de doença cardiovascular e cional para manter PA média <90 mmHg. Este grupo de
inferior a 130/85 mmHg nos pacientes diabéticos, porta- pacientes, que, no início do estudo, apresentava uma
dores de doença cardiovascular e que apresentam compro- queda progressiva e constante do RFG, após passar a
metimento de órgãos alvos, incluindo a DRC. No estudo receber o ramipril, evidenciou uma diminuição da perda
MDRD, avaliou-se o impacto de nível pressórico ainda funcional e uma tendência à estabilização da filtração
mais baixo na progressão da DRC. Os autores constataram glomerular durante o último ano de seguimento44.
que a diminuição do RFG foi de -3,56 e -4,10 mL/min/ano Na análise realizada por Jafar et al.45 sobre os
nos pacientes mantidos com pressão arterial média de 92 dados de 11 estudos randomizados com IECAs, foi obser-
(120/75)mmHg e 107 (140/90)mmHg, respectivamente. vado que os efeitos benéficos desses anti-hipertensivos são
No período de observação de 9,4 anos, o grupo com con- mediados também por outros fatores independentes do con-
trole mais rigoroso da PA permaneceu 1,24 anos (9,43 vs. trole pressórico e da diminuição da proteinúria, posto que
8,19 anos) a mais em tratamento conservador38,39. apresentaram efeito nefroprotetor mesmo nos pacientes
Atualmente, contamos com várias opções medica- com proteinúria leve (<1 g/d). Embora ainda iniciais, estu-
mentosas para o tratamento da hipertensão arterial na dos recentes sugerem que os bloqueadores do receptor 1 da
DRC e freqüentemente haverá necessidade de associar-se angiotensina (BRAT1) apresentam efeitos semelhantes aos
2 ou mais anti-hipertensivos para alcançar o controle ideal IECAS na DRC diabética46 e não-diabética47.
da pressão.
Uma classe de drogas que se tem mostrado espe- Diminuir a Proteinúria
cialmente importante na diminuição da progressão da
DRC envolve o bloqueio do eixo renina-angiotensina. Nos últimos anos, tem-se dado grande importância
Nos últimos anos, vários estudos têm comprovado a eficá- à presença da proteinúria nas diferentes doenças renais. A
cia dos inibidores da enzima de conversão da angiotensi- albuminúria, inicialmente interpretada apenas como um
na (IECA) na DRC diabética40 e não-diabética41. No indicador de lesão glomerular, é atualmente também con-
estudo em que se utilizou o captopril (25 mg, 3 vezes ao siderada deletéria ao rim per se e é o principal fator de
dia) na nefropatia diabética com creatinina sérica <2,5 risco de progressão na DRC48,49. A quantidade de pro-
mg/dL, proteinúria >500 mg/dia e em que se manteve a teinúria se correlaciona com a magnitude da lesão renal
pressão arterial <90 mmHg (diastólica) e <140 mmHg em diferentes modelos animais50 e em seres humanos51, e
(sistólica), foi observada uma menor porcentagem de a sua redução se associa com a estabilização do RFG52.
pacientes que dobraram a creatinina sérica do que no A maior eficácia dos IECAs e BRAT1, relativamente aos
grupo controle40. Além da observação de menor veloci- demais anti-hipertensivos, em reduzir a proteinúria,
dade de perda do RFG, no grupo captopril (11%), com- somada às suas ações em diminuir a pressão arterial, anti-
parativamente ao grupo controle (21%), observou-se inflamatórias, e de estabilização do RFG tornaram essas
menos necessidade de diálise, de transplante e menor drogas as preferidas na DRC diabética46 e não-diabética47.
ocorrência de morte durante o estudo.
Dois outros grandes estudos – o ACE Inhibition in Controle do Diabetes
Progressive Renal Insuficiency Study 42 e o Ramipril Effi -
cacy in Nephropathy Study43 – também confirmaram a Até o momento, não está completamente estabele-
superioridade dos IECAs, comparativamente a outras cido se o controle rigoroso da glicemia possui uma ação
classes de anti-hipertensivos, em diminuir a pressão arte- protetora nos pacientes com nefropatia diabética estabele-
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cida. Contudo, o controle glicêmico intenso tem sido avaliada em diferentes estudos. Os benefícios possíveis da
recomendado na prevenção primária e na diminuição da dieta com baixo teor de proteína incluem os seus efeitos em
progressão da microalbuminúria, tanto nos pacientes com retardar a progressão da DRC, em diminuir os riscos car-
diabetes tipo 153 quanto no diabetes tipo 254. Independen- diovasculares e na melhora da sintomatologia urêmica63.
temente da ação benéfica de um estado de euglicemia na A Organização Mundial de Saúde64 recomenda uma
evolução da nefropatia diabética, a maioria dos autores ingestão diária de proteína de 0,8 g/kg/dia para homens e
recomenda o controle glicêmico adequado como estraté- mulheres não-grávidas que não estão amamentando. Nos
gia para prevenir ou diminuir as complicações macro e pacientes com DRC, a dieta deveria ser adequada às
microvasculares do diabetes. necessidades do paciente e, nos casos em que se decida
por menor conteúdo de proteína (p. ex., 0,4-0,6 g/kg/dia),
Fumo recomenda-se o acompanhamento com nutricionista
experiente para prevenir a ocorrência de desnutrição e
Fumar associa-se com maior velocidade de pro- garantir a aderência.
gressão da doença renal em pacientes com nefropatia dia-
bética e não-diabética e com maior risco de doença car- Controle da Hiperlipidemia
diovascular55,56. O fumo possui efeitos vasoconstritor,
tromboembólico e direto no endotélio vascular e se cons- Existe ainda pouca evidência sobre o impacto des-
tituiu em fator de risco independente para a ocorrência favorável da hiperlipidemia na progressão da DRC. Em-
de falência renal em homens com doenças renais57. Em bora estudos em animais tenham evidenciado que níveis
outro estudo, Bleyer et al58 mostraram que o tabagismo, mais baixos de colesterol se associam com menor perda
juntamente com a hipertensão arterial e a doença vascu- funcional renal 65 e o tratamento com estatinas se associa
lar, constituiu um forte preditor para o aumento da crea- com menor perda renal funcional em seres humanos66, até
tinina sérica em pacientes não diabéticos e com idade o momento nenhum estudo com número razoável de
acima de 65 anos. Parar de fumar per se reduziu em 30% pacientes demonstrou definitivamente que a correção das
o risco de progressão da nefropatia associada com o dia- anormalidades lipídicas se associa com diminuição da
betes tipo 259. Assim, os estudos indicam que o fumo é velocidade de queda do RFG nas doenças renais progres-
maléfico na progressão da DRC e fica claro que tal hábito sivas. Contudo, é importante ressaltar que corrigir a hiper-
deveria ser desestimulado nos pacientes renais. lipidemia, que se associa à DRC, justifica-se, posto que
pode corrigir, ou amenizar, as doenças cardiovasculares
Obesidade freqüentemente associadas.

Duas das principais causas de DRC, o diabetes


mellitus e a hipertensão arterial, estão intimamente rela- DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO
cionadas ao sobrepeso ou obesidade. A obesidade é obser- DAS COMPLICAÇÕES PRÓPRIAS DA DRC
vada em 90% dos pacientes com diabetes tipo 2 e é respon-
sável por 65-75% dos casos de hipertensão arterial primá- Anemia
ria60. Os mecanismos pelos quais a obesidade pode con-
tribuir na perda funcional da DRC podem estar relaciona- Os pacientes com DRC apresentam anemia do tipo
dos com a glomerulosclerose, hipertensão arterial, resis- normocrômica e normocítica, definida como níveis de
tência à insulina, hiperglicemia ou à obesidade per se61. hemoglobina menores do que o normal. A sua ocorrência
Até recentemente, não havia evidências definitivas é mais precoce do que anteriormente pensada, sendo
do benefício do emagrecimento na função renal. Contudo, observada a partir do estágio III da DRC (RFG entre 30 e
estudo recente em pacientes portadores de nefropatia por 59 mL/min/1,73 m2)29. A principal causa da anemia é a
depósito de IgA62 e em pacientes transplantados renais62a deficiência de eritropoetina, e em menor grau, a hemólise,
observou-se maior nível de proteinúria e maior velocidade a presença de inibidores urêmicos, as perdas, o hiper-
de perda da filtração glomerular nos pacientes obesos com- paratireoidismo e as deficiências de ferro, folato ou vita-
parados aos não obesos. mina B1267.
A anemia da DRC determina um grande número
Restrição da Ingestão Protéica de conseqüências adversas: redução na capacidade
aeróbica, no bem-estar geral, na função sexual e na
A restrição da ingestão de proteína na DRC como função cognitiva; também é considerada um fator de risco
estratégia para retardar a progressão da doença tem sido para a ocorrência de hipertrofia do ventrículo esquerdo;
J Bras Nefrol Volume XXVI - nº 4 - Dezembro de 2004 209

fator precipitante da insuficiência cardíaca congestiva e alumínio, deve ser tentada. Os produtos à base de cálcio
da angina;68,69 e, possivelmente, associa-se com maior (carbonato ou acetato), além da ação quelante, possibili-
velocidade de queda da filtração glomerular.70 tam a correção da hipocalcemia. A disponibilidade
As diretrizes da NKF2 e da comunidade européia33 recente do Sevelamer HCl (Renagel®), polímero catiônico
relativas à anemia recomendam a sua correção quando a que se liga ao fósforo através da troca iônica, concilia boa
hemoglobina diminuir a valores <12g/dL nos homens e quelação de fósforo com a ausência do risco de hipercal-
nas mulheres após a menopausa, e <11g/dL nas mulheres cemia.
que menstruam. A disponibilidade da eritropoetina Com relação ao PTH, os níveis recomendados na
humana recombinante (EPO), a partir da segunda metade DRC são de 2 a 3 vezes o normal (130-195 pg/mL)73. O
da década de 80, provocou uma grande revolução no tratamento com vitamina D ativada, recomendado quando
tratamento da anemia na DRC, sendo a EPO considerada os níveis de PTH ultrapassam 200 pg/mL, não deve ser
atualmente a medicação de eleição. Vale a pena lembrar iniciado antes do controle da hiperfosfatemia. A maior
que, antes de iniciar o tratamento com EPO, é importante complicação com o tratamento pela vitamina D é o peri-
corrigir outras causas tratáveis de anemia, principalmente go da supressão excessiva da paratireóide com ocorrência
a deficiência corporal de ferro. A dose inicial recomenda- da doença óssea adinâmica e hipercalcemia.
da varia de 50-100 UI/kg até 3 vezes por semana, e a
manutenção baseia-se na monitorização regular da hemo- Acidose metabólica
globina.
A acidose metabólica é uma complicação na DRC,
Alterações do Metabolismo de Cálcio e Fósforo decorrente da queda do RFG, e está relacionada à perda
tubular renal de bicarbonato e ao acúmulo de íons
As alterações do metabolismo de cálcio e fósforo hidrogênio gerados a partir do metabolismo de aminoáci-
também ocorrem nos pacientes com DRC muito antes do dos contendo enxofre74. Com a progressão da DRC,
estágio de FFR29,71. A hiperfosfatemia e o aumento do observa-se uma queda progressiva da concentração de
produto fósforo-cálcio podem determinar o desenvolvi- bicarbonato sérico, acompanhada de aumento do anion
mento de doença óssea, além de favorecerem a precipi- gap75. Em estudo recente, o nosso grupo documentou
tação de fosfato de cálcio no tecido renal, e assim influ- acidose metabólica em 45,5% dos pacientes com DRC no
enciar na velocidade de progressão da DRC. Estudos estágio III, 78,8% no estágio IV e 85,7% no estágio V76.
recentes mostraram que a retenção do fósforo ocorre em Na maioria dos pacientes, a acidose metabólica é
pacientes no estágio III da DRC, quando ainda se observa assintomática. A grande preocupação com a acidose rela-
boa reserva funcional28,71. A hiperfosfatemia e, mais ciona-se ao seu possível impacto desfavorável na função
importante, a deficiência de vitamina D ativada favore- endócrina, no metabolismo mineral e integridade óssea,
cem a ocorrência de hipocalcemia. É importante estarmos função miocárdica e desnutrição calórico-protéica74. A
atentos para estas alterações, posto que, no seu início, a recomendação da maioria dos autores é manter o bicar-
doença óssea renal pode não ser aparente devido à sua bonato sérico ≥22 mEq/L, alcançável pela administração
natureza subclínica. oral de 0,5-1,0 mEq/kg/dia de bicarbonato de sódio. O
O espectro da osteodistrofia renal inclui a osteíte uso de carbonato de cálcio como quelante de fósforo tam-
fibrosa (a forma mais comum), a osteomalácia e a doença bém pode ajudar a controlar a acidemia.
óssea adinâmica 72. Nos estágios mais iniciais da DRC, o
objetivo terapêutico é prevenir a progressão das anormali- Desnutrição
dades metabólicas para a doença óssea clinicamente evi-
dente. Os princípios do tratamento são: 1. Manutenção A ocorrência de hipoalbuminemia em pacientes
das concentrações de cálcio e fósforo o mais próximas do submetidos a tratamento dialítico está associada com
normal; 2. Prevenção da ocorrência de hiperplasia da maior mortalidade e taxa de hospitalização77. A hipoalbu-
paratireóide e/ou supressão da secreção do PTH; 3. minemia também ocorre na pré-diálise, com prevalência
Manutenção ou restauração da integridade óssea; e 4. Pre- de 50% entre os pacientes americanos que iniciaram
venção e/ou reversão da calcificação dos tecidos moles 72. diálise nos anos de 1986 e 198778. Obrador et al. obser-
O controle da hiperfosfatemia (<5,5 mg/dL) deve, varam níveis séricos de albumina ≤3,5 mg/dL em 67% de
inicialmente, ser tentado com uma dieta de baixo teor de seus pacientes quando do início da diálise79. A causa da
fósforo (<800 mg/dia). Nos casos de insucesso com a hipoalbuminemia é multifatorial e envolve alterações no
dieta, a terapia medicamentosa com quelantes de fósforo, metabolismo das proteínas, diminuição espontânea da
excluídas as formulações a base de hidróxido de ingestão protéica secundária à perda do apetite, produção
210 Doença Renal Crônica: Problemas e Soluções

hepática diminuída, proteinúria maciça e o estado infla- ticemia atribuível à doença vascular periférica” foi listada
matório urêmico80. como uma das 10 causas de morte mais freqüentes em
A desnutrição calórico-protéica possui impacto pacientes com FFR entre 1996 e 199883. Contudo, apesar
desfavorável no prognóstico da DRC e a sua ocorrência de ser comum, a doença vascular periférica não é comu-
deve ser evitada. Para tal, devemos oferecer: 1. Avaliação mente rastreada entre os pacientes com DRC. Infeliz-
por nutricionista experiente; 2. Recomendações nutri- mente, as técnicas usulmente utilizadas no diagnóstico da
cionais específicas para a ingestão de proteína, car- doença vascular periférica na população geral nem sem-
boidratos, calorias, lipídeos, sódio, potássio e fósforo; e 3. pre são úteis nos pacientes com DRC, posto que não pos-
Monitorização continuada do estado nutricional. Como já suem a sensibilidade e especificidade aceitáveis nos casos
mencionado, a falta de consenso sobre o valor de dietas de calcificação vascular e doenças dos pequenos vasos.
com baixo teor de proteína como fator de proteção fun- Ademais, o manuseio ótimo da ulceração isquêmica e
cional renal e o perigo de desnutrição que pode ocorrer gangrena em pacientes com DRC em tratamento dialítico
com a progressão da DRC constituem as bases para a ainda é bastante controverso. Assim, para o momento,
prescrição de dietas com maior conteúdo de proteínas talvez pudéssemos adotar as mesmas intervenções que
(0,8-1,2g/kg/dia). obtiveram melhores resultados para doença vascular per-
iférica na população geral, quais sejam: estimular a inter-
rupção do fumo, cuidados preventivos com os pés e exer-
IDENTIFICAÇÃO E MANUSEIO DAS cícios com orientação especializada 85.
COMORBIDADES MAIS FREQÜENTES
Retinopatia e Neuropatia Diabéticas
Doença Cardiovascular
A deflagração do diabete se associa com uma série
A doença cardiovascular é a principal causa de de alterações metabólicas e hemodinâmicas que culmi-
morte entre os pacientes com FFR. A taxa de mortalidade nam no aumento da permeabilidade vascular, hipertensão
dos pacientes com idade entre 25 e 34 anos em TRS é arterial sistêmica e alteração da regulação da pressão
cerca de 500 vezes maior do que na população geral ou, intravascular. A ocorrência de albuminúria não só anun-
dito de outra maneira, um jovem em diálise apresenta a cia o aparecimento da nefropatia diabética, mas também
mesma taxa de mortalidade que um indivíduo com idade das outras complicações secundárias ao distúrbio vascular
acima de 75 anos sem FFR81. A razão deste quadro generalizado, como, por exemplo, no olho e no sistema
assombroso é a maior prevalência de infarto agudo do nervoso86. Existem várias publicações de diretrizes e
miocárdio, insuficiência cardíaca congestiva, parada posicionamentos que orientam sobre os cuidados que
cardíaca, hipertrofia do ventrículo esquerdo, disfunção devem ser tomados com os pacientes diabéticos porta-
sistólica, dilatação do ventrículo esquerdo e acidente vas- dores de retinopatia 87,88 e/ou neuropatia 89,90 e que devem
cular cerebral entre os pacientes em TRS. ser aplicados na vigência da DRC.
O diagnóstico e o tratamento das doenças cardio-
vasculares devem ser estimulados durante todo o período
de evolução da DRC. Os pacientes devem ser orientados MEDIDAS EDUCATIVAS E PREPARO PARA TRS
para modificar as suas dietas, praticar exercícios adequa-
dos às suas condições clínicas, tratados com estatinas, Educação e preparo psicossocial, considerados
IECA e/ou BRAT 1, além de serem estimulados a parar variáveis não biológicas, embora fundamentais na
de fumar e perder peso82. otimização dos cuidados de saúde no período pré-dialíti-
co da DRC, não recebem a atenção necessária. O proces-
Doença Vascular Periférica so educativo deve ser iniciado desde a primeira consulta e
cobrir temas como preservação das veias do braço não
A incidência de doença vascular periférica em dominante para a confecção de acesso vascular, importân-
pacientes submetidos à diálise é cerca de 10 vezes maior cia da aderência à orientação nutricional estabelecida,
do que na população geral83, sendo responsável por signi- alertar sobre o perigo das substâncias nefrotóxicas, orien-
ficativa morbimortalidade nestes pacientes. Por exemplo, tação sobre a administração de determinados medicamen-
em 1998 a amputação secundária à “desordem do sistema tos (p. ex., EPO, insulina) e vacinações (contra o vírus da
circulatório” foi citada como causa de amputação em 80% hepatite B, antigripal e pneumocóccica), apresentação e
dos 12.425 pacientes do Medicare com diagnóstico de discussão sobre as modalidades de TRS e estimular a reali-
FFR quando da alta hospitalar84. Além do mais, “sep- zação de transplante preemptivo. Também importante é
J Bras Nefrol Volume XXVI - nº 4 - Dezembro de 2004 211

oferecer suporte psicológico ao paciente e seus familiares disciplinar apresentavam menor necessidade de iniciar a
e, assim, amenizar o impacto, algumas vezes devastador, diálise em caráter de urgência (13% vs 35%; p <0,05),
do diagnóstico de DRC no seio familiar. É necessário mais treinamento sobre diálise em regime ambulatorial
também proceder à orientação antitabágica e auxiliar no (76% vs. 43%; p <0,05), menos dias de hospitalização no
planejamento da TRS. primeiro mês, após o início da diálise (6,5 vs. 13,5 dias;
Finalmente, é oportuno ressaltar a importância do p <0,05), melhor controle da pressão arterial média (103
aconselhamento socioeconômico na progressão das vs. 106mmHg; p< 0,05), e níveis mais elevados de hemo-
doenças renais. Semelhantemente ao observado em outras globina (9,6 vs. 9,1 g/dL; p <0,05) e de cálcio (2,14 vs.
doenças crônicas, é possível que as condições socioe- 2,05 mmol/L; p <0,05). A economia anual de divisas por
conômicas dos pacientes com DRC tenham um impacto paciente, à época (1993), foi da ordem de 4.000,00
desfavorável na evolução da doença. Por exemplo, Byrne dólares canadenses. No estudo de Toronto, observou-se
et al.91, Young et al.92 e Pernerger et al.93 mostraram maior freqüência de confecção de acesso vascular no
haver uma associação inversa entre o nível salarial dos período pré-dialítico (86,3% dos pacientes). Esses resul-
pacientes e o acesso à TRS. Krop et al.94 associaram a tados levaram os autores a concluírem sobre o impacto
baixa condição socioeconômica e o acesso inadequado positivo do atendimento multidisciplinar na evolução no
aos cuidados de saúde com a maior velocidade de pro- período pré-dialítico da DRC.
gressão da DRC. Mais recentemente, Fored et al. 95 obser- Numa análise mais recente, o mesmo grupo com-
varam que famílias compostas de membros sem profissão parou o atendimento por mais de 3 meses por uma equipe
e indivíduos sem nível de escolaridade universitário apre- multidisciplinar ou somente pelo nefrologista, com aque-
sentaram maior chance de desenvolver DRC e concluíram le de pacientes que iniciaram a diálise no período de 3
que as condições socioeconômicas per se constituem um meses do encaminhamento (considerados sem acompa-
indicador de risco independente para a doença. Assim, nhamento). Além de confirmarem os seus achados anteri-
parece-nos ser igualmente importante esclarecer e orien- ores, os autores observaram que, quando do início da
tar os pacientes quanto aos seus direitos constitucionais, TRS, os pacientes que freqüentaram o Programa de
motivar o paciente a manter as suas atividades profissio- Atenção Multidisciplinar, comparativamente àqueles
nais e orientar sobre os diferentes programas de acesso seguidos por nefrologistas ou sem acompanhamento,
gratuito a medicamentos (programa de cesta básica de receberam mais EPO (70% vs. 30% e 0%; p <0,03) e ti-
medicamentos, HIPERDIA, medicamentos de alto custo, nham mais chances de serem transplantados nos primei-
como EPO,...), benefícios e serviços disponíveis para ros dois anos de diálise (11,8% vs. 5,2% e 6,4%, p <0,04)97.
complementar os cuidados de saúde dispensados aos Esses e outros dados da literatura nos estimularam,
pacientes com DRC. a partir de fevereiro de 2002, a reunir uma equipe multi-
disciplinar, composta por assistente social, enfermeira,
nefrologista, nutricionista e psicóloga, para o atendimen-
ATENÇÃO MULTIDISCIPLINAR AO to ao paciente portador de DRC. O programa denomina-
PORTADOR DE DRC do de PAI ou Programa de Atenção Integral ao Portador
de DRC, propõe-se a oferecer um atendimento integral,
Como mencionado anteriormente, existe uma não restrito apenas à monitorização da função renal, mas
opinião consensual sobre a inadequabilidade dos cuida- abrangendo a identificação e a correção das complicações
dos de saúde atualmente ofertados aos pacientes com orgânicas, psíquicas e sociais, estimular o envolvimento
DRC, quadro que propicia a implementação de estratégias familiar, amenizar o impacto da DRC na qualidade de
para a melhoria de tais cuidados. Em seu consenso publi- vida, otimizar o tratamento e preparar o paciente para a
cado em 199425, o Instituto Nacional de Saúde Norte- tomada de decisões quanto à melhor modalidade de TRS
Americano recomendou o acompanhamento multidisci- a ser instituída.
plinar aos pacientes com DRC, com o objetivo de reduzir Como estratégia de implementação do PAI, pro-
a morbimortalidade presente antes e após o início da TRS. cedemos inicialmente a um levantamento das condições
Contudo, até o momento, não dispomos de muitos estudos clínicas dos pacientes em acompanhamento no nosso
que avaliem comparativamente os atendimentos nefro- ambulatório de uremia. Em seguida, definimos, baseados
lógico formal e o multidisciplinar, no período pré-dialíti- na literatura, os critérios de bom controle clínico a serem
co da DRC. Levin et al.96 analisaram a experiência de dois alcançados (como os citados na tabela 2). Posteriormente,
Programas de Atenção Multidisciplinar canadenses, um implementamos as medidas para alcançar os parâmetros
desenvolvido em Vancouver e outro, em Toronto. No estabelecidos (p. ex., tratamento com IECA e/ou BRAT
primeiro estudo, os pacientes atendidos por equipe multi- 1). Finalmente, discutimos semanalmente com toda a
212 Doença Renal Crônica: Problemas e Soluções

Tabela 3. Parâmetros biopsicossociais dos 55 pacientes acompanhados no Programa de Atenção Integral ao Paciente com DRC da
Universidade Federal de Juiz de Fora.
PARÂMETROS No início do Após 5 meses de p*i
acompanhamento no PAI acompanhamentono PAI
PAMψ, mmHg 110 ±17 106 ±16 0,03
Hemoglobina, g/dL 11,3 ±1,7 11,3 ±1,7 NS
IMCω , kg/m2 27,3 26,4 0,01
Ingestão de proteína, g/kg/dia 1,23 0,81 0,01
Aceitação da doença 29% 89% 0,01
Sintomas de ansiedade 76% 42% 0,01
Conhecimento sobre fornecimento
gratuito de medicamentos 32% 100% 0,01
Direito a transporte gratuito 4% 100% 0,01
ψ PAM (Pressão arterial média) = soma de um terço da sistólica e dois terços da pressão arterial diastólica;
ω IMC= Índice de massa corporal
Os valores da PAM, IMC e hemoglobina estão expressos como média ± desvio padrão
*Teste t de Student (nível de significância = p <0,05)

equipe multidisciplinar, as razões do(s) porquê(s) de não gias fundamentais no manuseio adequado da doença. Con-
se estar obtendo o controle clínico desejado e novas tudo, a complexidade da DRC e o impacto devastador que
estratégias são implementadas. Na tabela 3, comparamos ela provoca na família são indicadores da necessidade de
alguns parâmetros clínicos dos cinqüenta e cinco uma abordagem que vai muito além dos aspectos médicos,
pacientes antes e após 5 meses de acompanhamento no na qual se privilegie o processo educativo, preferencial-
PAI. Embora o período da análise tenha sido relativa- mente com o apoio de uma equipe multidisciplinar.
mente curto, observamos um melhor controle da pressão
arterial, índices relativos ao sobrepeso e ingestão de pro-
teína mais adequados e melhores parâmetros psicológicos AGRADECIMENTOS
e sociais.
Embora baseada em uma experiência ainda limita- Os autores agradecem ao Professor Miguel Carlos
da, a nossa impressão é a de que o acompanhamento mul- Riella pela leitura crítica do manuscrito.
tidisciplinar, ao propiciar a identificação de problemas
que vão muito além do aspecto médico do paciente,
otimiza os cuidados de saúde no curso da DRC. A orien- REFERÊNCIAS
tação em linguagem adequada das diferentes compli- 1. Jones C, McQuillan G, Eberhardt M, Herman W, Goresh J, et
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