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Educação Literária – Fernando Pessoa ortónimo

Sou um evadido.
Logo que nasci
Fecharam-me em mim,
Ah, mas eu fugi.

5 Se a gente se cansa
Do mesmo lugar,
Do mesmo ser
Por que não se cansar?

Minha alma procura-me


10 Mas eu ando a monte,
Oxalá que ela
Nunca me encontre.

Ser um é cadeia,
Ser eu não é ser.
15 Viverei fugindo
Mas vivo a valer.

Fernando Pessoa,
Poesias inéditas (1930-1935),
Lisboa, Ática, 1955.

1. Explique a metáfora presente no primeiro verso, relacionando-a com o sentido global do poema.
2. Indique o valor expressivo da interrogação retórica que constitui a segunda estrofe.
3. Considerando os versos «Ser um é cadeia, / Ser eu é não ser.» (vv. 13-14), explicite o modo como o sujeito
poético concebe a sua existência.

Exemplos de resposta
1. No primeiro verso do poema, existe a metáfora «Sou um evadido». Com este recurso expressivo, o sujeito
poético faz uma autodescrição em que a sua identidade surge fragmentada, desligada de um centro
agregador. De facto, encontramos, ao longo do poema, palavras e expressões que remetem para a ideia
de fuga («ando a monte», v. 10; «cadeia», v. 13), uma vez que o sujeito se define como alguém cuja
identidade ou essência é a procura, a indagação, ou seja, a recusa de uma identidade fixa e determinada,
surgindo a evasão como uma forma de escapar a essa conceção de identidade.
2. A interrogação retórica presente na segunda estrofe do poema sintetiza um argumento contra a ideia de
uma identidade fixa e determinada. Por outras palavras, o sujeito poético pretende justificar a sua existência
de evadido, sugerindo que o cansaço também se aplica a uma identidade una e inseparável. Assim,
estabelece uma analogia entre o tédio de estarmos sempre no mesmo sítio e o cansaço de sermos sempre
o mesmo «ser».
3. O eu poético define-se como um «evadido», alguém que pretende fugir à prisão que constitui o seu próprio
ser entendido como unidade: «Ser um é cadeia» (v. 13). Assim, define a sua própria existência como uma
procura contínua, uma fuga à identidade unitária. A esta luz, o «eu» é o resultado de um processo
inacabado, sem limites definidos, ou seja, aquilo que somos enquanto pessoas deixa de estar confinado a
descrições claras e imutáveis, e existir é viver aquele processo.
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