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1 Para Suess “biosfera” era somente a fina camada superficial terrestre onde se encontram os seres vivos,
compreendendo, portanto, a vida e as condições ambientais que permitem a sua existência (temperatura, pressão,
composição química) (M.Piqueras:1998)
mera fase transitória para um posterior desenvolvimento da consciência suprema. (K.Kotov : 2002)
Concomitantemente a esta noção de espaço de pensamento surge introduzido por Iuri
Lotman o termo “semiosfera”, o campo semiótico fora do qual qualquer tipo de processo de
significação é impossível. Lotman, contudo, apesar de algumas similitudes, defende que não se
deve confundir Noosfera com Semiosfera pois elas remetem-nos para espaços distintos, a primeira
para um espaço material e espacial, componente do mundo físico e a segunda para um espaço
abstracto.
Apesar do termo “semiosfera” surgir com Lottman, a ideia de campo/espaço semiótico é, a
ele, anterior. Segundo Mihhail Lotman, no seu texto “Umwelt e Semiosfera”2, podem distinguir-se
três concepções deste espaço semiótico: a Clássica ( noção de Semiose de Peirce), a Moderna (o
Umwelt de Uexküll – ideia posteriormente retomada por Sebeok) e a Pós-Moderna (a Semiosfera de
Lotman). A semiose de Peirce difere em alguns apectos da da Escola de Tartu (à qual Lotman
pertencia), o ponto central da Semiótica de Peirce era o signo (isolado e singular) e as qualidades a
ele intrínsecas.Ou seja, na óptica de Peirce, naquilo a que chama Primeiridade3, assumem-se as
características do signo (representamen) como algo imediatamente dado, envolvendo apenas o
nosso “mundo experimentado o mundo de sentimentos e sensações antes que haja qualquer
percepção consciente do outro” (F. Merrel : 2003). É, assim, a junção dos sistemas semióticos que
constrói o espaço semiótico, são eles os elementos primários a partir dos quais sistemas mais
complexos se formam. Lotman, pelo contrário, considera que é a semiosfera a unidade inicial
dentro da qual, posteriormente, têm lugar os actos sígnicos, surgem os sistemas subordinados.
Muito embora esta diferença entre as concepções de Peirce e Lotman, ao alcançar-se a categoria da
Terceiridade (de Peirce) pode observar-se uma interligação tridimensional entre as três categorias,
formando-se, portanto, um “continuum” semiótico que em muito se assemelha à
tridimensionalidade do espaço semiótico (semiosfera) de Lotman. O Uexküll, por seu turno,
distinguia “o espaço objectivo no qual vemos mover um ser vivo” ao qual dá o nome de Umgebung,
do Umwelt, o “mundo-ambiente constituído pelos elementos (…) portadores de significado”,
porém, ao contrário do animal, o Homem não vive absorto e aturdido por estas “marcas”, ou seja, a
Umgebung humana é a nossa própria Umwelt, cujo teor depende do ponto de vista pelo qual é
observada. Não existe realidade determinada. Na linhagem de Uexküll, surge também Heidegger
que considera que o Homem forma o seu próprio mundo, constituído por todos os nossos
2 Sign Systems Studies 30.1, 2002
3 Segundo C.S.Peirce, num artigo de Maio de 1867 (“Sobre uma nova lista de categorias”) toda a experiência e
pensamento podem ser descritos de acordo com três categorias. A Primeiridade reúne tudo aquilo que é sem, para
isso, precisar de se relacionar com coisa alguma, auto-suficiente, auto-contido e auto-reflexivo. A Secundidade
corresponde aquilo que somente é em relação com outra coisa, interagindo na qualidade de signo e objecto. Na
Terceiridade “um signo (...) é algo que se encontra em relação com o seu objeto, de um lado, e
com o seu interpretante, de outro forma a pôr o interpretante numa relação com o objeto
que corresponde à sua” (1974, p. 124), é uma acção cognitiva que torna possível a
mediação entre as outras duas categorias.
“portadores de significado” (desinibidores), porém, enquanto que o animal vive enclausurado no
seu círculo desinibidor, o Homem constrói-o progressivamente, através do desvelamento. (G.
Agamben : 2002). A Umwelt de Uexküll (Círculo desinibidor de Heidegger) corresponde portanto à
noção de campo semiótico, numa concepção, tal como supracitado, moderna.
P.S.- A noção de campo semiótico não surge com Lotman, é, a ele, anterior. Qualquer concepção
semiótica define o seu campo semiótico, ora expandindo ora retraindo os seus limites. Por exemplo,
Sebeok, biosemioticista, defende a existência, não de uma semiosfera, mas sim de uma
semibiosfera, ou seja os limites do seu campo coincidem com os limites da biosfera, pois onde “há
vida há semiose”, alargando, portanto, a semiosfera cultural de Lotman, integrando no espaço
biosemiótico elementos que, segundo Lotman, pertenciam ao campo extra-semiótico.
Surge, então, Lottman (Escola de Tartu) que dá ao campo semiótico o nome de Semiosfera,
traçando-lhe limites e descrevendo as suas principais características.
• A existência deste universo (semiosfera) torna reais actos signatórios específicos, não é a
junção de vários actos semióticos separados que o constrói.
Ilustração 1: A integração dos signos no espaço semiótico é que torna possível a existência dos
primeiros, não é a junção destes que cria a semiosfera.
• Noção de Fronteira/Limite
◦ Imprescindível na compreensão da delimitação do espaço semiótico.
◦ As fronteiras não podem ser visualizadas através da imaginação concreta, pois a
semiosfera é um espaço de carácter abstracto.
◦ Constituída por uma enorme multiplicidade de pontos, simultaneamente pertencentes ao
espaço interno, da semiosfera, e ao externo, ao espaço não-semiótico.
Ilustração 3: Semiosfera, Fronteira e Filtros.
▪ Exemplo I :
“Pontos-limite” da semiosfera ↔ Receptores sensoriais do sistema nervoso.
▪ Para os Russos, a crueldade do Czar era algo natural, já não os surpreendia esta
larga aplicação de uma execução, quer relativemente ao número de pessoas
envolvidas quer à grande variedade de estratos sociais.
▪ Os estrangeiros, porém, sentiam-se revoltados pelo facto da culpa de um único
4 Boyars (bōyärz'), do Russo боярин, eram membros da alta nobreza Russa (do séc. X ao séc. XVII), cuja inicial
influência e subida a cargos do Governo se deveu principalmente ao facto de terem prestado apoio militar aos
príncipes de Kiev. Assim,e apesar de, rapidamente, todo o seu poder e prestígio ter passado a depender somente dos
contratos de vassalagem, típicos do feudalismo europeu, os boyars ocupavam os mais elevados cargos do Estado e
os seus conselhos eram imensamente prezados pelo príncipe. Aquando da mudança do poder político para Moscovo
(nos séculos XIV e XV) os boyars conseguiram manter a sua influência. Porém, esta foi-se, gradualmente,
dissolvendo, particularmente com a tomada de poder de Ivan III e, posteriormente, de Ivan IV. Os boyars foram,
assim, perdendo grande parte dos seus direitos e privilégios, ao mesmo tempo que viam acrescidos os seus deveres.
Deste modo, com o seu poder cada vez mais enfraquecido, o título de boyar não consegue manter-se até ao século
XVIII, sendo abolido no século XVII por Peter I.
homem fazer sofrer tantos outros.
“Pode ficar surpreendido por se terem exilado também mulheres e crianças. Porém, aqui, quando
o chefe da família cai em desgraça, toda a sua família é alvo de perseguição” (Shubinskij 1874 :
46)
▪ Conceito de colectivo ≠ Personalidade Individual – Esta noção de colectivo faz com
que o indivíduo nele se dilua.
▪ É, ainda, intrínseco ao conceito de Vingança de Sangue, onde os familiares de um
assassino são vistos também como responsáveis pelos crimes por este cometidos.
• Portanto, o limite do espaço semiótico:
◦ É a mais importante, funcional e estrutural posição do mesmo;
◦ Impregna de substância o mecanismo semiótico;
◦ É um mecanismo bilingual;
◦ Traduz as comunicações externas para a linguagem interna da semiosfera e vice-versa.
◦ Permite que semiosfera estabeleça contacto com espaços não- e extra-semióticos.
◦ Domínio da semântica – exige que apelemos a uma realidade extra-semiótica, contanto
que não nos esqueçamos que, para uma dada semiosfera, esta realidade apenas se torna
numa realidade em si mesma se traduzida para a linguagem da semiosfera ( do mesmo
modo que materiais químicos exteriores apenas podem ser adoptados por uma célula se
transformados nas estruturas bioquímicas internas desta).
Funções da Fronteira
• A tarefa de qualquer orla ou película, desde a membrana de uma célula viva à visão da
biosfera como uma película que cobre o nosso planeta (Vernadsky) até à delimitação da
semiosfera, consiste em:
Estas áreas com múltiplos significados culturais surgem também na fronteira da semiosfera,
levando a uma espécie de creolização5 das estruturas semióticas.
5 A hibridização de uma cultura, à medida que absorve e tranforma forças a ela exteriores.
◦ Exemplo IV: Roma Antiga
▪ Existia uma área cultural, em rápido crescimento.
▪ Esta área incorpora na sua órbitra estruturas externas (de outras áreas culturais).
▪ Transforma-as na sua própria periferia, originando um forte crescimento cultural e
económico da área periférica.
▪ A área periférica traduz, através do centro, as suas estruturas semióticas →
Estabelece precedentes culturais e, a longo prazo, conquista, literalmente, a esfera
cultural central.
▪ No núcleo cultural formam-se novas estruturas.
• Para uma determinada semiosfera pode ser espaço não-semiótico todo o espaço de outras
esferas semióticas.
• Assim:
◦ De um ponto de vista interno (de uma semiosfera X): Uma dada cultura (integrada
numa esfera Y) pode ser tomada como o mundo externo, não-semiótico.
• Logo: O ponto de passagem da fronteira de uma determinada cultura depende da posição
do observador.
• Nível estrutural
◦ Irregularidades:
1. Aumenta a fusão entre os vários níveis.
2. A realidade da semiosfera, a hierarquia das linguagens e dos textos como uma regra,
é perturbada.
3. Os elementos colidem como se coexistissem num mesmo nível.
4. Os textos parecem estar imersos em linguagens que não lhes correspondem, e estão
ausentes os códigos que permitiriam decifrá-los.
◦ A estrutura do espaço semiótico é heterogénea e caracterizada por uma intensa
interactividade, criando reservas de processos dinâmicos.
◦ A heterogeneidade e a criação de reservas representam um dos mecanismos para a
criação de informação dentro da esfera semiótica.
6Descrição feita de um ponto de vista interno e em termos oriundos do processo de auto-desenvolvimento de uma
determinada semiosfera
◦ Todos e Partes Semióticos: Reconstrução de um Sistema.
▪ Destruição da integridade do sistema semiótico → Acelera o processo de
“rememoração”.
▪ Entende-se por rememoração: a reconstrução do Todo semiótico a partir das suas
partes.
▪ Reconstrução da linguagem perdida → Criação de uma nova linguagem.
▪ A nova linguagem emana do auto-conhecimento da cultura.
▪ Por outras palavras, o fluxo cultural de reservas específicas de texto ( em códigos
perdidos) conduz, quando a integridade do sistema é destruída, ao processo de
criação de novos códigos, entendidos como reconstruções (“recordações”).
Significado sem comunicação não seria possível. Neste sentido, podemos dizer que o diálogo precede e dá à luz a
linguagem.
Noção de Semiosfera
Além das características já apresentadas, Lotman considera que, no âmago da semiosfera, jazem
ainda algumas outras noções:
◦ Assim, os textos não são idênticos, não formam um Todo homogéneo, mas, na sua
heterogeneidade, são semelhantes o suficiente para que a sua conversão mútua se
torne possível.
◦ Se os participantes numa relação dialógica fossem iguais esta não existiria sequer, eles
têm de ser distintos e “de conter, no interior da sua estrutura, uma imagem semiótica de
contra-agente” (Paducheva 1982).
Chinês Tradução
E → D :Eu amo a mãe.
我愛媽媽
D → E :A mãe ama-me.
E → D :Todos se preocupam comigo.
人人為我
D → E :Eu preocupo-me com todos.
E → D :Um homem passa pelo Grande Templo de Buda.
人過大佛寺
D → E :O Templo de Buda é maior que um homem.
E → D :O convidado vai a Tien Ran Ju.
客上天然居
D → E :É um convidado dos Céus.
E → D :Os lugares certos geram pessoas abastadas
地福多出賢
D → E :Pessoas abastadas vêm dos lugares certos.
E → D :O Monge viaja para o Templo Escondido nas Nuvens.
僧遊雲隱寺
D → E :O Templo esconde as nuvens e os monges que viajam.
E → D :A chuva nutre as árvores da Primavera e fá-las tão viçosas e altas
雨滋春樹碧連天 que tocam o Céu.
D → E :O céu toca as árvores verdes e a Primavera nutre a chuva.
E → D :O vento espalha a fragância das flores e arrasta as pétalas
vermelhas pelo chão.
風送花香紅滿地
D → E :O chão está coberto de vermelho e as flores perfumadas dizem
adeus ao vento.
E → D :Flores vermelhas e brilhantes caem com a chuva
艷艷紅花隨落雨
D → E :A chuva cai com as flores e torna-se vermelha.
E → D :A Primavera regressa à aldeia de Xiafu.
春回先富村
D → E :A aldeia é famosa e volta primeiro à Primavera.
• O Palíndroma:
◦ Activa camadas escondidas do significado linguístico;
◦ Procura lidar com o problema da assimetria funcional do cérebro.
◦ Não é desprovido de sentido, pelo contrário, possui vários.
◦ O texto, aquando da sua leitura convencional, identifica-se com aquilo que é aberto,
enquanto que, ao ler lido em reverso, se associa à esfera esotérica da cultura.
▪ Na era Barroca associava-se o palíndroma à feitiçaria e à magia negra, usando-se,
assim, para o definir, o termo “versus diabolicus”.
▪ Pode associar-se também à violência: Vladimir Tropov considerava o anagrama
semiológico de Saussurre como que uma operação cirúrgica, um acto sagrado, onde
o sacerdote desmebra o animal que se oferece ao sacrifício. Ora, se seguirmos esta
analogia, o palíndroma é algo muito mais horrendo, pois além do desmembramento
do corpo todas as partes cortadas são reorganizadas no altar sacrificial.
“Eugene Onegin”:
• “Ela” ama “ele” - enfatiza o seu amor numa carta.
• “Ela” é friamente repudiada por “ele”.
• Assim: Uma mesma tela, organizando segundo a simetria de espelho a uma gravura pintada,
altera a semântica-emocional para o seu estado inverso, pois:
1. Os objectos reflectidos possuem a sua própria estrutura de superfície, simétrica ou
assimétrica.
2. Através da transformação enantiomórfica, a simetria superficial é neutralizada e não
pode ser mostrada de nenhuma outra forma, enquanto que a assimetria se torna
estruturalmente significante.
3. Assim, a simetria-espelho representa, como já vimos, a estrutura primária das
relações dialógicas.