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RESUMO
O objetivo do artigo é mostrar uma visão evolutiva dos fundamentos e princípios da Biogeografia, praticada
principalmente no campo da Geografia.
INTRODUCTION TO BIOGEOGRAPHY
ABSTRACT
The objective of the article is to show an evolutionary vision of the basis and principles of Biogeography,
practiced mainly in the field of geography.
Desta forma, o crescimento gradual do trabalho ecológico começou a chamar a atenção para outros fatores
que determinam a natureza da vegetação e demonstra a sua dinâmica, O clima e, posteriormente, os solos,
foram importantes na explicação dos tipos de vegetação a eles associados e sob os quais haviam se
desenvolvido. Este fato foi de grande importância porque serviu para iniciar os estudos biogeográficos, pois
até princípios deste século, os conceitos de vegetação eram essencialmente estáticos. Contudo, o
crescimento gradual do trabalho ecológico, começou a chamar a atenção para o significado de outros
fatores que determinavam a natureza da vegetação.
Desta forma, a biogeografia passou a ser entendida como sinônimo do estudo de tipos de vegetação
mundial, climaticamente definidos e solos afins, A preocupação dos estudos geográfica e biológica tinha,
com isso, o fim principal de descrever e explicar o clímax vegetacional-climático,
Com referência a este aspecto, Romariz (1964) coloca a necessidade e a escassez de trabalhos dessa
natureza, Isso é historiado pela pesquisadora; “Após a primeira tentativa de Martius que, em 1837,
estabeleceu a divisão do Brasil em cinco regiões, destaca-se o já citado Mapa florestal do Brasil de
Gonzaga de Campos, aperfeiçoado depois, em 1926, por César Diogo quando publicou o seu Mapa
fitogeográfico do Brasil, além do Mapa das formações vegetais de A. J. Sampaio (1930)”.
Temos ainda valiosos trabalhos publicados pelo Conselho Nacional de Geografia, o qual é órgão integrante
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, que tem como finalidade coordenar os estudos e pesquisas
de Geografia do Brasil.
1
Professora Assistente Doutora do Depto, de Geografia do Instituto de Geociências e Ciências Exatas da UNESP - Rio
Claro. Tradutora do AYOADE.
Alguns destes trabalhos, pela viabilidade de localização, podem ser referenciados.
Desta forma, o Atlas do Brasil (1959), dividido em três partes fundamentais, possui na primeira, de caráter
regional, mapas, inclusive de vegetação; numa segunda parte, os mapas gerais do Brasil dão uma
perspectiva nacional de vários fatos e, mesmo aqueles de caráter físico, como os de relevo, clima e
vegetação, são acompanhados, além do texto explicativo, de gráficos, cortes e encartes de detalhes
bastante Úteis à melhor compreensão dos fenômenos.
O Atlas Nacional do Brasil (1966), através de processos modernos de metodologia geográfica, de técnica
cartográfica e das particularizações de aspectos essenciais, proporciona aos técnicos material para análise
das condições particulares do quadro físico, sendo constituído por uma série de mapas onde se inclui o de
vegetação.
Diante da importância desta obra como fonte de aperfeiçoamento do conhecimento e aclaramento sobre a
situação do País, alguns estados realizaram seus Atlas Estaduais, mediante o apoio e colaboração do
Instituto Brasileiro de Geografia.
Os Atlas regionais estaduais seguem normas do Instituto Brasileiro de Geografia, no desempenho de sua
função coordenadora das atividades geográficas do Brasil.
Romariz (1964) também menciona, quanto aos trabalhos parciais do espaço brasileiro, o “Mapa
fitofisionômico do Mato Grosso de F. C, Hoehne, os diversos mapas referentes ao Nordeste e que
acompanham o Estudo Botânico do Nordeste de Luetzelburg, o Mapa da Vegetação do Rio Grande do
Sul de Lindmann, os excelentes trabalhos de Reinhard Maack, que em diferentes épocas vem mapeando a
vegetação paranaense, datando de 1950 a sua última edição do Mapa fitogeográfico do Paraná, e
algumas tentativas dos referidos técnicos do C.N.G. para a Amazônia e determinadas áreas do Nordeste,
do Centro-Oeste, de Minas Gerais e do Sul do Brasil”.
“Quanto aos aspectos da cobertura vegetal, os estudos são praticamente inexistentes. Os poucos que existem
referem-se a aspectos PALEOFITOGEOGRÁFICOS ou ao passado recente como os estudos de Ab’Saber
(1970), Gonzaga de Campos (1943/ 1944) — este não especificamente para o Estado de São Paulo —
Chiarini, Coelho (1969) e Troppmair (1969). Há cartas fitogeográficas da cobertura vegetal representando
formações vegetais hoje praticamente desaparecidas. O desmatamento nos últimos 100 anos no Estado de
São Paulo foi detalhadamente estudado por Victor (1975)”.
“Os estudos sobre a VEGETAÇÃO REAL, aquela que realmente existe nos dias atuais e que pode ser
encontrada no campo, são praticamente ausentes ou, quando existem, referem-se a áreas muito restritas,
citados em teses, dissertações e artigos, porém sem dar uma visão conjunta da cobertura vegetal do território
paulista”.
Entretanto, voltando aos estudos biogeográficos em geral, novamente estes são impulsionados por rápidos
e crescentes avanços ecológicos a partir da década de 50, quando a ênfase tem sido dada não só aos
estudos extensivos e intensivos de taxonomia vegetal, mas também aos detalhados trabalhos sobre as
relações ecológicas e seus processos. Isto se deve ao fato de que a biosfera, compreendendo todos os
ecossistemas terrestres, tem sofrido modificações, pois o crescimento da população humana tem permitido
que o homem se organize de maneiras novas e mais produtivas em cidades cada vez maiores, trazendo
conseqüências negativas para o equilíbrio destes ecossistemas que a compõem.
O estudo dos ecossistemas pertence mais diretamente aos ecólogos e biólogos; o estudo das
biogeocenoses ou dos geossistemas, isto é, os ecossistemas vistos numa perspectiva horizontal, onde se
verifica a distribuição, a estrutura e a organização espacial dos componentes bióticos e abióticos
(Troppmair, 1983) constitui o objeto de pesquisa do geógrafo e, particularmente, do biogeógrafo, Contudo,
para uma melhor compreensão da realidade e do equilíbrio dos ecossistemas e geossistemas, que se
fundem na biosfera, faz-se necessária a existência e a colaboração de estudos interdisciplinares destes e
de outros pesquisadores de áreas próximas e complementares.
2. OBJETIVOS, DEFINIÇÕES, CAMPO, MÉTODOS E SUBDIVISÕES DA BIOGEOGRAFIA
A biogeografia, como todos os ramos da ciência, procura utilizar-se de explicações de outros campos de
estudo. Está intimamente ligada à ecologia, à biologia e à geografia, sendo que nesta última, relaciona-se
diretamente com os outros ramos da geografia física. Utiliza-se também da geologia, da climatologia, da
pedologia, da botânica, da zoologia, da genética, etc. para a compreensão biogeográfica. Seu campo de
estudo centraliza-se na biosfera, a qual tem sido entendida como parte biologicamente habitada da litosfera,
da atmosfera e da hidrosfera, que é a sede das interações recíprocas, e onde se manifesta o grande
fenômeno da vida.
Através das várias definições da biogeografia, podemos conectar seu objeto, seu objetivo, suas subdivisões,
seu campo, seus métodos de estudo e sua importância para a Geografia. [61]
“O estudo da distribuição dos seres vivos no globo terrestre e das causas que a condicionam
constitui o assunto da biogeografia, que compreende a geografia botânica, ou fitogeografia, e a
geografia animal, ou zoogeografia. A divisão da biogeografia nestes dois ramos é resultado mais
de uma necessária partilha entre cientistas do que de uma diferença de método e de objeto. E, pois,
não só mais interessante, mas mais lógico explicitar os princípios gerais comuns à fitogeografia e à
zoogeografia”.
Desta forma, o objeto da biogeografia refere-se aos seres vivos, que nascem, se reproduzem e morrem. Os
processos de multiplicação e de dispersão desses seres são os fatores primordiais da distribuição
geográfica das espécies. Tanto a extensão ocupada por cada espécie, como a adaptação ao meio e à
tendência constante do agrupamento, isto é, da vida social que contribui para mostrar a fisionomia das
regiões geográficas; enfim, montar os mosaicos das paisagens geográficas.
Dansereau (1949) define a biogeografia como: “a ciência que estuda a distribuição, a adaptação, a
expansão e associação das plantas e dos animais (ou seres vivos)”. Esta definição não pode, entretanto,
ser desprendida dos fatores: tempo e espaço. Estes são importantíssimos, levando o estudo dos seres vivos
a ser enfocado sob diferentes níveis de integração: paleontológico (refere-se à origem, apogeu e
desaparecimento das plantas e animais); paleo-ecológico (tratam da evolução das espécies, mudanças
geográficas do clima e da vegetação); aerográfico (estabelece a distribuição de todas ou de algumas
espécies de plantas e animais); bioclimatológico (indaga sobre os fatores meteorológicos responsáveis pela
atual limitação); autoecológico (limita-se ao ser vivo individualizado, isto é, nos vários aspectos do seu ciclo
vital e em seu meio); sinecológico (considera o próprio meio de um modo global, com tudo o que nele vive,
descobrindo o motivo do equilíbrio existente); sociológico (estuda a maneira como se associam as espécies,
as proporções que guardam entre si) e por último considera o nível industrial, onde se pesquisa a adaptação
do homem ao meio, no sentido de saber: como ele utilizou ou utiliza seus recursos, como transformou a
paisagem até o ponto de estabelecer um novo equilíbrio, diferente do primitivo. Portanto, a ciência
biogeográfica, compreendida por diferentes níveis, necessita da utilização de diferentes técnicas e
variedade de pesquisas, para se chegar às combinações biogeográficas existentes na biosfera.
Cailleux (1953) ao definir, posicionar e subdividir a biogeografia comenta que há uma diferença entre a
geologia e a biogeografia. Isto se deve ao fato de que na geologia os dados biológicos utilizados são
fragmentários, porque a imensa maioria dos seus compartimentos desaparece sem deixar sinal; e a
biogeografia dispõe de um grande número de dados atualmente observáveis. Como toda geografia, ela nos
revela não somente um instante de sua história, mas mostra-nos toda sua totalidade.
Pela definição que se tem dado dos conjuntos, vê-se que “a biogeografia estuda uma superposição de
estruturas, a implantação de uma descontinuidade (as espécies) sobre um suporte contínuo (oceanos e em
menor grau, continentes) ou descontínuo (lagos, arquipélagos ou ilhas). Assim considerada, ela poderá
oferecer um campo de aplicação de acordo com a teoria dos conjuntos, que tem um tio amplo lugar na
matemática contemporânea”. [62]
Para Furon (1961) a biogeografia “é a ciência que estuda a distribuição dos seres vivos na superfície dos
continentes e no interior dos oceanos, além disso as causas desta distribuição no espaço e no tempo”.
Evidencia também que a finalidade da biogeografia é de reconstruir a história da população atual, pois
representa numerosos problemas e muitos enigmas. Para tanto, Furon subdivide-a em três ramos
principais:
a) Biogeografia estatística — cujo objeto pode limitar-se ao estudo e repartição das espécies
animais e vegetais atuais e as condições ecológicas desta repartição;
b) Biogeografia histórica ou Paleobiogeografia — que estuda a repartição e ecologia dos seres
vivos no decorrer dos tempos geológicos;
c) Biogeografia dinâmica — que estuda as origens da população atual, suas causas
geográficas e biológicas.
“A biogeografia serve de traço de união entre a geografia física e a geografia humana. Como seu
nome indica esta constitui uma geografia do vivente, que estuda a repartição das plantas, dos
animais, em ligação íntima com o estudo dos solos, no sentido exato do termo, isto é, certa porção
de rochas desagregadas pelas intempéries e penetrada igualmente pelos organismos; não somente
penetrada pela parte subterrânea das plantas, mas também por uma fauna, uma flora microbianas
extremamente densas”.
Em 1965, Birot, abordando as formações vegetais do globo, faz a seguinte colocação sobre a biogeografia:
“Numa perspectiva mais estritamente geográfica, nós reiteramos como seu objetivo essencial, a explicação
da paisagem, isto é, a disposição das grandes formações vegetais naturais antes da intervenção do
homem”. Portanto, desta colocação deduz-se que para Birot, o homem não é considerado na combinação
biogeográfica, fato que voltaremos a discutir,
A definição formulada por Elhai (1968), tem sido considerada como bastante completa:
Para Elhai, a cobertura vegetal representa uma paisagem, pois é formada de organismos vegetais mais ou
menos diversificados, abrigando uma fauna mais ou menos rica, constituindo uma comunidade viva que é a
biocenose, Os fatores do meio são importantes na fixação dessas biocenoses, justificando, assim, seu
estudo pelos geógrafos.
Esses fatores do meio constituem o chamado mundo físico, sendo que o humano está relacionado com o
papel da força de intervenção do homem, pela sua atitude em modificar, em proteger, em criar ou destruir
as paisagens existentes em equilíbrio com as condições naturais. Portanto, Elhai reconhece que o homem é
um [63] elemento da combinação geográfica; ele não pode ser absolutamente excluído, podendo ser até o
mais importante nesta combinação.
As plantas também exercem uma grande influência nas características da atmosfera e do solo que ocupam.
Elas não s6 criam um habitat de uma paisagem física, mas também modificam-no e transformam-no,
determinando uma reciclagem biológica muito particular, que em outros casos não existiria, contando até
mesmo com a ação humana. Constituem também a fonte primária da energia alimentícia para todos os
outros organismos viventes, incluindo o homem. São, portanto, fundamentais e constituem a base da cadeia
trófica. No espaço geográfico, a cobertura vegetal representa, muitas vezes, o elemento exclusive que
caracteriza um meio físico.
Lemée (1967) citado por Kuhlmann (1977), reconhece no campo da biogeografia diferentes direções
interdependentes e complementares:
1. corologia, que é o estudo da área geográfica das unidades taxonômicas, tais como espécies,
gêneros, famílias, etc., de sua origem e de suas mudanças dos limites e das características dos
territórios florais e faunísticos. Corresponde ao nível denominado de Aerografia, por Dansereau;
2. biocenologia, que é o estudo das comunidades de organismos vistas em seus diferentes aspectos,
como organização, composição taxonômica dinâmica e extensão geográfica;
3. ecologia, que é a análise das relações dos organismos e de suas comunidades com o meio exterior.
Em geral, os estudos de fitogeografia preocupam-se em analisar a ação do meio sobre a distribuição das
plantas (Quintanilla, 1981).
Para Lacoste e Salanon (1973), a biogeografia apresenta um caráter de vasta ciência de síntese, pois a
partir de dados analíticos postos ao seu alcance por diferentes especialistas, é possível deduzir, dentre o
conjunto de casos particulares que oferece o mundo vivente, certas leis fundamentais da distribuição dos
organismos. Para alcançar seu objetivo que é “o estudo da distribuição dos seres vivos sobre a [64]
superfície do globo, pondo em evidência as causas que regem esta distribuição”, utiliza-se do método
descritivo e explicativo; sendo assim, esta ciência relaciona-se não só com a geografia, mas também com
diversas disciplinas como a botânica, a zoologia, a pedologia, e a climatologia.
Argumentam estes pesquisadores que todo estudo biogeográfico exige, em seu aspecto metodológico, a
dissociação dos três elementos principais, que se influenciam reciprocamente: seres vivos, solo e clima,
para uma análise de ordem racional. O biogeógrafo abordará em primeiro lugar o organismo vivente, pois
este deve ocupar o centro de suas preocupações, já que seus caracteres são os mais facilmente
interpretáveis.
Em seguida empreenderá um exame detalhado da vegetação, a qual, devido a sua estabilidade no espaço,
integra melhor o conjunto de fatores do meio; e permite, conseqüentemente, graças à sua fisionomia e à
sua composição florística, o reconhecimento de áreas cujos caracteres de povoamento e condições
ecológicas são praticamente homogêneas. A partir disto, no seio das localidades ou biótopos assim
definidos, é possível empreender o estudo da fauna, depois do solo e, finalmente, do clima, que para os
autores é o elemento mais difícil de apreender.
Ainda, faz-se necessário separar os níveis sucessivos de organização que se oferecem ao biogeógrafo,
desde o organismo isolado até o ecossistema, e situar as distintas escalas que, desde a da localidade até a
do globo inteiro, podem ser eleitas para um estudo da biosfera.
Desta forma, o estudo da distribuição geral dos seres vivos situa-se, para o biogeógrafo, em dois níveis
diferentes: deve considerar não só a distribuição das espécies isoladamente, mas também a das
comunidades que estas formam na natureza. No primeiro caso, consideram-se os indivíduos de uma
espécie distribuídos sobre a superfície do globo em uma ou em diversas populações; enquanto que, no
segundo caso, consideram-se agrupamentos de espécies animais e vegetais. Portanto; estes dois aspectos
fundamentais da biogeografia correspondem respectivamente à corologia e à biocenologia.
Simmons (1979) discute a colocação do termo biogeografia, mostrando o fato de que não se tem
encontrado um termo que realmente expresse o que se vem fazendo atualmente neste campo de estudo.
Desta forma, o termo “biogeografia’ tem sido utilizada para descrever nosso estudo da biosfera e dos efeitos
do homem sobre sua; plantas á animais e sobre os sistemas ecológicos dos quais eles fazem parte. Assim,
quando se fazem trabalhos de biogeografia, reunem-se as principais unidades da vegetação; clima e solo;
os solos; as unidades de vegetação “natural”, de uma região ou país; um pouco da história da vegetação e a
consideração dos fluxos de energia e de elemento químico através de sistemas ecológicos. Por estas
colocações de Simmons percebo-se claramente a tendência ecológica da biogeografia, nas três últimas
décadas e que vem sofrendo grande impulso nos últimos anos.
Para Quintanilla (1981) a biogeografia, nas primeiras décadas do século, restringia-se precisamente ao
ramo da corologia. Na biogeografia moderna, há uma tendência a se orientar cada vez mais para a
biocenologia ou biocenótica, que se interessa pelas comunidades globais dos seres vivos, animais e
vegetais em sua composição, [65] em suas relações internas e nas relações com o meio ambiente
(“environnement”). Se antes Lacoste e Salanon consideravam os métodos como descritivos e explicativos,
Quintanilla complementa que, na concepção moderna, a biogeografia vem incorporando métodos
estatísticos e quantitativos.
Tivy (1981), referindo-se à biogeografia, argumenta que esta é, como o próprio termo indica, tanto do campo
das ciências biológicas como geográficas. Sendo assim, seu conteúdo cobre as numerosas formas de vida
social animal e vegetal que habitem uma fina camada da litosfera, atmosfera. e hidrosfera (constituindo a
biosfera), porém, densamente povoada, bem como os complexos processos biológicos que controlam suas
atividades. A abordagem e o objetivo da matéria são geográficos, visto que estão preocupados
principalmente com a distribuição (juntamente com as causas e implicações disso) de organismos e de
processos biológicos. Contudo, muito embora este “campo de estudo” seja compartilhado e comum tanto à
biologia como à geografia, não é dom mio exclusivo de nenhuma destas duas ciências.
Desta forma, o interesse do geógrafo tende a focalizar-se mais sobre a variação espacial de duas
características ou processos básicos, do que sobre quaisquer componentes particulares da biosfera. A
primeira é o inter-relacionamento íntimo entre os elementos orgânicos e inorgânicos do meio ambiente
terrestre; a característica stica da biosfera é primariamente um produto da interação ou intercâmbio continuo
entre a litosfera e a atmosfera. A segunda é o relacionamento recíproco entre o homem e a biosfera, que
por sua vez proporciona o elo vital entre o homem e o seu meio ambiente físico.- Assim sendo, a despeito
dos avanços das ciências e das tecnologias modernas, o homem é, ainda, completamente dependente da
biosfera para obtenção de seu alimento.
Para completar seu comentário, Tivy coloca a definição de biogeografia frita por Lemée (1967) como
ilustrativa da tarefa dos geógrafos, compartilhada com biólogos, neste campo de estudo. Assim, Lemée ao
defini-la expressa-se da seguinte forma: E também a biogeografia uma ciência geográfica, porquanto tem
ela que estabelecer as relações dos povoamentos vegetais e animais com os outros grandes fenômenos
geográficos como clima, geomorfologia, solos e atividades humanas para obter uma visão sintética dos
aspectos da superfície do Globo. Para o geógrafo, o conhecimento da parte vivente da paisagem é como
um elemento de primeira importância desse complexo e constitui um indicador muito sensível dos
caracteres do meio geográfico”.
Contudo, não se tem ainda integral conscientização de que a participação do homem nas combinações
biogeográficas deve ser racional e que, na medida do possível, o meio em que vive deve ser usado com
critério conservacionista, de modo a permitir levá-lo à posteridade, tal como o haja recebido ou melhorado.
Portanto, se conservacionista ou não, há necessidade de mudanças drásticas nas regulamentações
públicas de todo o mundo, a fim de invertermos a recente deterioração de nosso ambiente.
Proteger e conservar a natureza torna-se decisão importante para a humanidade; contudo, podemos afirmar
que os problemas de proteção e utilização da natureza e dos recursos naturais ainda são numerosos e
complexos. Portanto, ainda está em processo de gerenciamento o estudo das reações biológicas em cadeia
que o homem tem criado, através de suas atividades, com o crescente desenvolvimento da indústria e da
tecnologia, com modificações diretas e indiretas de seu habitat, intensificando as pressões sobre a biosfera
e aumentando a importância de problemas ecológicos exigindo soluções cada vez mais urgentes.
A compreensão dos processos e das funções ecológicas, assim como a natureza de suas interrelações,
representa soluções para o eficiente manejo dos recursos naturais e para redefinir o equilíbrio dos
ecossistemas.
Assim, não podemos deixar de entender o homem como parte integrante do ecossistema. Por sua vez, o
ecossistema tem sido considerado a unidade fundamental nos estudos que tratam da biosfera e
especificamente no enfoque ecológico; fator este que tem levado o pensamento biogeográfico a sofrer um
novo e atuante impulso.
Concluindo, podemos afirmar que o geógrafo em geral - e o biogeógrafo em particular - têm métodos e -
técnicas suficientes para participar das pesquisas ecossistêmicas que visem, além do conhecimento dos
processos e leis naturais que determinam a dinâmica da paisagem, também o uso racional do espaço e dos
recursos naturais dessa mesma paisagem.
4. BIBLIOGRAFIA
Autores vários, Atlas do Brasil. Conselho Nacional de Geografia, Rio de Janeiro, 1959.
Autores vários, Atlas Nacional do Brasil. Conselho Nacional de Geografia, Rio de Janeiro, 1966.
BIROT, P. Cours de Biogéographie. Les Cours de Sorbonne. Paris, CPU. 1963. 171 p.
CAILLEUX, A. Biogéographie mondiale. Que sais-je? Paris, Presses Universitaires de France. 1953, 126 p.
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