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DOCÊNCIA EM

FARMACOTÉCNICA EM MANIPULAÇÃO
SAÚDE
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Portal Educação

P842f Farmacotécnica em manipulação / Portal Educação. - Campo Grande:


Portal Educação, 2012.

153p. : il.

Inclui bibliografia
ISBN 978-85-66104-09-7

1. Farmacologia. 2. Medicamentos - Manipulação. 3. Tecnologia


farmacêutica I. Portal Educação. II. Título.

CDD 615.4
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO À FARMACOTÉCNICA................................................................................................... 7

1.1 CONCEITOS E DEFINIÇÕES .................................................................................................................. 8

1.2 CLASSIFICAÇÃO DOS MEDICAMENTOS ............................................................................................. 10 2

1.3 OPERAÇÕES BÁSICAS ......................................................................................................................... 11

1.3.1 Conferência de Fórmulas ........................................................................................................................ 14

1.3.1.1 Tipos de Prescrições ............................................................................................................................... 15

1.3.2 Pesagem ................................................................................................................................................. 15

1.3.2.1Tipos de Balança ..................................................................................................................................... 16

1.3.2.2Cuidados na Pesagem............................................................................................................................. 17

1.3.3 Tomada de Volume ................................................................................................................................. 17

1.3.4 Mistura ..................................................................................................................................................... 18

1.4 COMPONENTES DE FORMULAÇÕES .................................................................................................. 19

1.4.1 Princípios Ativos ...................................................................................................................................... 20

1.4.2 Adjuvantes Farmacêuticos ...................................................................................................................... 21

1.4.2.1Coadjuvantes Terapêuticos ..................................................................................................................... 21

1.4.2.2Coadjuvantes Técnicos............................................................................................................................ 23

1.4.3 Veículos ................................................................................................................................................... 31

1.4.3.1Veículos em Formas Líquidas ................................................................................................................. 32

1.4.3.2Veículos em Formas Plásticas................................................................................................................. 32

1.4.3.3Veículos em Formas Sólidas ................................................................................................................... 32

1.4.3.4Veículos em Formas Gasosas ................................................................................................................. 33


2 MATERIAIS PARA EMBALAGEM E ACONDICIONAMENTO .............................................................. 34

2.1 TIPOS DE MATERIAIS DE ACONDICIONAMENTO .............................................................................. 35

2.1.1 Vidros ...................................................................................................................................................... 36

2.1.2 Plásticos .................................................................................................................................................. 38

2.1.2.1Tipos de Plásticos .................................................................................................................................... 39

2.1.3 Metais ...................................................................................................................................................... 41 3

2.1.4 Borrachas ................................................................................................................................................ 41

3 ESTABILIDADE DE MEDICAMENTOS .................................................................................................. 43

3.1 EVIDÊNCIAS DE DETERIORAÇÃO ....................................................................................................... 44

3.2 FATORES DE INSTABILIDADE .............................................................................................................. 44

4 FORMAS FARMACÊUTICAS ................................................................................................................. 47

4.1 FORMAS LÍQUIDAS................................................................................................................................ 48

4.1.1 Soluções .................................................................................................................................................. 48

4.1.1.1Técnicas de dissolução............................................................................................................................ 49

4.1.1.2Vantagens e Desvantagens das Soluções .............................................................................................. 50

4.1.1.3Isotonia e pH em Soluções ...................................................................................................................... 51

5 SUSPENSÕES ........................................................................................................................................ 63

5.1 VANTAGENS E DESVANTAGENS DAS SUSPENSÕES ....................................................................... 64

5.1.1 Pré-requisitos para uma Suspensão Ideal ............................................................................................... 65

5.1.2 Aspectos Teóricos Envolvidos na Estabilidade Física de Dispersões ..................................................... 65

5.1.3 Formulação de Suspensões .................................................................................................................... 70

5.1.4 Emulsões ................................................................................................................................................. 70

5.2 VANTAGENS E DESVANTAGENS DAS EMULSÕES ........................................................................... 72

5.2.1 Pré-requisitos das Emulsões ................................................................................................................... 72


5.2.2 Cálculo de EHL........................................................................................................................................ 74

5.2.3 Formulação de Emulsões ........................................................................................................................ 79

5.3 FORMAS PLÁSTICAS OU SEMISSÓLIDAS .......................................................................................... 82

5.3.1 Penetrabilidade Percutânea .................................................................................................................... 82

5.3.2 Classificação das formas Semissólidas ................................................................................................... 83

5.3.3 Preparação de Formas Plásticas............................................................................................................. 85 4

5.3.3.1 Géis ......................................................................................................................................................... 87

5.3.3.2 Pomadas ................................................................................................................................................. 90

5.3.3.3 Supositórios, Óvulos e Velas ................................................................................................................... 91

5.3.3.4 Pastas...................................................................................................................................................... 94

5.3.3.5 Cremes .................................................................................................................................................... 94

5.4 FORMAS SÓLIDAS ................................................................................................................................. 95

5.4.1 Pós .......................................................................................................................................................... 96

5.4.1.1 Classificação dos Pós Medicamentosos ................................................................................................. 96

5.4.1.2 Parâmetros fundamentais........................................................................................................................ 97

5.4.1.3 Etapas de Obtenção ................................................................................................................................ 99

5.4.1.4 Pós para uso externo ............................................................................................................................. 101

5.4.1.5 Pós para Uso Interno .............................................................................................................................. 103

5.5 GRANULADOS ...................................................................................................................................... 104

5.5.1 Características desejáveis ...................................................................................................................... 104

5.5.1.1 Processos de obtenção .......................................................................................................................... 105

5.5.2 Cápsulas................................................................................................................................................. 106

5.5.2.1 Classificação .......................................................................................................................................... 107

5.5.2.2 Invólucros das cápsulas ......................................................................................................................... 107


5.5.2.3 O Conteúdo das Cápsulas...................................................................................................................... 109

5.5.2.4 Preparo de Cápsulas .............................................................................................................................. 109

5.5.3 Comprimidos .......................................................................................................................................... 111

5.5.3.1 Processos de produção .......................................................................................................................... 112

5.5.3.2 Parâmetros Físicos................................................................................................................................. 114

5.5.3.3 Principais Adjuvantes em Comprimidos ................................................................................................. 115 5

5.5.4 Comprimidos Revestidos ........................................................................................................................ 118

5.5.4.1 Fatores relevantes ao revestimento ....................................................................................................... 118

5.5.4.2 Drageamento .......................................................................................................................................... 119

5.5.4.3 Revestimento Pelicular ........................................................................................................................... 122

6 BIOFARMACOTÉCNICA ....................................................................................................................... 125

6.1 FATORES ENVOLVIDOS NA ABSORÇÃO DE FÁRMACOS ................................................................ 125

6.1.1 Fases da Ação de um Fármaco.............................................................................................................. 126

6.1.2 Classificação Biofarmacotécnica dos Fármacos .................................................................................... 126

6.2 VIAS DE ADMINISTRAÇÃO................................................................................................................... 126

6.3 VIA TÓPICA ........................................................................................................................................... 128

6.3.1 Anatomofisiologia da pele....................................................................................................................... 129

6.3.2 Preparações Tópicas .............................................................................................................................. 131

6.4 VIA NASAL ............................................................................................................................................. 134

6.4.1Anatomofisiologia do Nariz ........................................................................................................................ 134

6.4.1.1Preparações Nasais (Errinos) ................................................................................................................. 135

6.5VIA OFTÁLMICA........................................................................................................................................... 135

6.5.1 Anatomofisiologia do Olho ...................................................................................................................... 136

6.5.1.1 Preparações Oftálmicas (Colírios) .......................................................................................................... 137


6.6 VIA INJETÁVEL ...................................................................................................................................... 138

6.6.1 Intravenosa (IV) ...................................................................................................................................... 139

6.6.2 Intramuscular (IM) .................................................................................................................................. 139

6.6.3 Intradérmica (ID)..................................................................................................................................... 140

6.6.4 Subcutânea (SC) .................................................................................................................................... 140

6.6.5 Intrarraquidiana (IR) ............................................................................................................................... 141 6

6.7 VIA ORAL ............................................................................................................................................... 141

6.8 VIA RETAL ............................................................................................................................................. 141

6.9 VIA VAGINAL E URETRAL .................................................................................................................... 142

7 CÁLCULOS FARMACOTÉCNICOS ...................................................................................................... 143

7.1 CÁLCULOS DE PESAGEM.................................................................................................................... 143

7.2 EXEMPLOS PRÁTICOS......................................................................................................................... 145

REFERÊNCIAS ................................................................................................................................................ 150


1 INTRODUÇÃO À FARMACOTÉCNICA

No rol das Ciências Farmacêuticas, a Farmacotécnica destaca-se por reunir subsídios


teóricos e práticos para aquele que, talvez, seja o maior objetivo do profissional farmacêutico:
produzir medicamentos. E, quando se fala em medicamentos, fala-se de um produto que, por ser
7
destinado à promoção da saúde, é atrelado a um rígido controle de qualidade.

Desde os mais remotos tempos, a qualidade é embasada nas relações da


Farmacotécnica com as demais Ciências Farmacêuticas. O próprio Galeno, considerado o pai da
Farmacotécnica (se não da profissão farmacêutica), em seus escritos no início da Era Cristã,
demonstrava uma enorme coerência científica, sendo que algumas de suas fórmulas são
utilizadas ainda hoje.

Quando se pensa na técnica e todas as implicações relacionadas à escolha da forma


física do medicamento, dependemos de pré-requisitos muito importantes, como a Química - em
especial a Físico-Química e a Química Orgânica. O conhecimento da primeira leva à otimização
da técnica de preparo, e orienta quanto ao perfil biofarmacêutico (velocidade de absorção) que
se pretende atingir. Já a Química Orgânica, além de sua importância nesses aspectos técnicos,
também subsidia nas questões críticas, como a estabilidade dos componentes envolvidos em
uma formulação e suas incompatibilidades.

Por outro lado, quando se pensa no propósito do medicamento, ou seja, a que se


destina, um dos pré-requisitos mais importantes da Farmacotécnica é a Farmacologia, e
consequentemente, Fisiologia, Bioquímica, Anatomia, entre outras ciências. O conhecimento da
Farmacologia definirá a melhor via de administração do medicamento para o sucesso
terapêutico, a melhor forma de apresentação e, por conseguinte, a técnica envolvida no preparo.

Outras Ciências Farmacêuticas, como a Farmacognosia e a Química Farmacêutica,


têm relação direta com a produção de medicamento, uma vez que são responsáveis pela
obtenção e desenvolvimento dos princípios ativos. Desse modo, estão relacionadas num eixo
horizontal e vertical com a Farmacotécnica.

De modo semelhante, as disciplinas de Controle de Qualidade têm também esta


característica - exceto pelo fato de que no eixo vertical elas complementam a Farmacotécnica,
enquanto a Farmacognosia e Química Farmacêutica poderiam até ser consideradas como pré-
requisitos.

A Deontologia, por sua vez, vem complementar a questão do medicamento nos


aspectos legais e éticos, assumindo uma relação paralela com a Farmacotécnica.

Farmacotécnica é, enfim, a ciência responsável pelo desenvolvimento e produção de


medicamentos, levando-se em conta o efeito terapêutico e a estabilidade (prazo de validade)
desejados, condições de acondicionamento, transporte e armazenamento, bem como a forma 8
ideal de administração e dispensação. Seus principais pré-requisitos incluem outras Ciências
Farmacêuticas, como Farmacologia, Farmacognosia e Química Farmacêutica, além de ciências
básicas, como Físico-Química, Química Geral e Orgânica, Fisiologia, Patologia, Parasitologia e
Microbiologia.

1.1 CONCEITOS E DEFINIÇÕES

Considerando-se que a Farmacotécnica tem como função básica desenvolver


medicamentos ou meios de veiculação e administração de fármacos, alguns conceitos se fazem
importantes. Segundo a Farmacopeia Brasileira, em sua quarta edição, temos como definições:

Fármaco: substância ativa, droga, insumo farmacêutico ou matéria-prima empregada


para modificar ou explorar sistemas fisiológicos ou estados patológicos em benefício da pessoa
a qual se administra o medicamento.

Medicamento: produto farmacêutico tecnicamente obtido ou elaborado, que contém


um ou mais fármacos juntamente com outras substâncias, com a finalidade profilática, curativa,
paliativa ou para fins de diagnóstico.

Medicamento magistral: medicamento preparado na farmácia cuja prescrição


estabelece a composição, a forma farmacêutica e a posologia.
Medicamento oficinal: medicamento preparado na farmácia ou industrializado, cuja
fórmula está descrita nos compêndios oficiais (farmacopeias, formulários).

Especialidade farmacêutica: produto farmacêutico industrializado que pode ser:

a) Medicamento de referência: medicamento cuja patente expirou, podendo então ser


reformulado.

b) Medicamento genérico: bioequivalente a um medicamento de referência.


9
b.1) Medicamentos bioequivalentes: medicamentos que não apresentam diferenças
estatísticas no perfil farmacocinético (quantidade absorvida e velocidade de absorção).

c) Medicamento similar: possui o mesmo princípio ativo, forma farmacêutica e dose


do medicamento de referência.

c.1) Equivalentes farmacêuticos: são medicamentos que contêm o mesmo fármaco


(ou mesmo sal, ou mesmo éster da molécula terapeuticamente ativa) na mesma quantidade e
forma farmacêutica, podendo ou não conter excipientes idênticos.

c.2) Alternativas terapêuticas: são medicamentos que contêm a mesma molécula


terapeuticamente ativa ou seu precursor, mas não necessariamente na mesma dose, forma
farmacêutica, sal ou éster.

Forma farmacêutica: é a forma na qual o medicamento é apresentado, podendo ser


líquida (ex.: gotas, xarope, elixir), sólida (ex.: comprimidos, cápsulas), semissólida (ex.: creme,
gel, pomada) ou gasosa (ex.: spray, aerossol).

Fórmula farmacêutica: composição do medicamento, considerando a dose do


fármaco e percentuais dos demais componentes.

Dose: quantidade de fármaco suficiente (mínima) para produzir efeito terapêutico ideal.
A dose usual segura e eficaz é definida por estudos clínicos e depende de fatores fisiológicos,
patológicos e genéticos.

Posologia: frequência com que uma dose é administrada para manter níveis
plasmáticos terapêuticos. Pode ser determinada empiricamente ou por estudos farmacocinéticos,
por meio de duas possíveis abordagens:
a) Abordagem empírica: administração de determinada dose e observação do efeito.
Reajuste da dose e dos intervalos e nova observação.

b) Abordagem cinética: os efeitos terapêuticos e tóxicos relacionam-se com a


concentração plasmática. Envolve a avaliação farmacocinética da absorção, distribuição,
metabolismo e excreção do fármaco no organismo.

10

1.2 CLASSIFICAÇÃO DOS MEDICAMENTOS

Assim como os fármacos, que podem ser divididos em específicos ou inespecíficos, e


subclassificados sob vários aspectos (químico, farmacodinâmico, terapêutico), os medicamentos
também podem ser classificados sob vários critérios. Entre os critérios mais populares está a
forma de apresentação: comprimido, drágea, solução, creme, supositório, pó, pomada, entre
outros.

Quanto à farmacografia, ou seja, à forma de prescrição, existem preparações oficinais


(ex.: farmacopeicas), magistrais (prescritas pelo médico, veterinário ou dentista) e as
especialidades (registradas no Ministério da Saúde e produzidas em escala industrial). Por outro
lado, segundo o princípio terapêutico, existem medicamentos alopáticos e homeopáticos.

Quanto ao grau de dispersão ou diâmetro () das partículas dispersas dos ativos e
coadjuvantes no veículo, temos as dispersões moleculares ( < 0,01 ), dispersões coloidais
(entre 0,01 e 0,5 ), dispersões finas (entre 0,05 e 10 ), e dispersões grosseiras (< 10
). As dispersões moleculares são favorecidas pela afinidade com que as interações
intermoleculares ocorrem. Nos demais casos, a falta de afinidade pode requerer o uso de
técnicas especiais e maior número de operações unitárias. São exemplos de dispersões
moleculares: as soluções líquidas, as ligas metálicas e algumas formas plásticas, como
pomadas, supositórios e géis. Como exemplos de dispersões coloidais, temos alguns géis e
suspensões. As dispersões grosseiras incluem a maioria das suspensões, emulsões e formas
sólidas. As dispersões não moleculares são também conhecidas como dispersões mecânicas.
Assim, quanto à técnica de preparo (dispersão) temos dispersões moleculares e mecânicas.

No que diz respeito à segurança, os medicamentos são classificados quanto ao seu


uso: medicamentos de uso externo ou interno, que podem também, dependendo da ação
desejada, ser classificados como medicamentos de ação sistêmica ou local.

Nesse contexto, quando se pensa no local seguro para utilização do medicamento, há


ainda a classificação quanto à via de administração, que é uma das mais importantes e merece
um capítulo à parte. Entre as principais vias de administração temos: oral, injetável, 11
intramuscular, tópica, oftálmica, nasal, auricular, retal e vaginal.

Finalmente, uma das classificações mais úteis do ponto de vista farmacotécnico diz
respeito à forma física:

Líquidos: soluções, suspensões e emulsões.

Plásticos: formas semissólidas (pomadas, géis, pastas e cremes), supositórios, óvulos


e velas.

Sólidos: pós, granulados, cápsulas, comprimidos, drágeas, pílulas, pastilhas, entre


outros.

Gasosos: sprays, aerossóis, fumigações, entre outros.

1.3 OPERAÇÕES BÁSICAS

Embora o número de operações envolvidas na elaboração de medicamentos seja


bastante grande, existem duas ou três operações básicas que podem ser consideradas
inevitáveis – entre estas a Pesagem e/ou Tomada de Volume e o processo de Mistura. As duas
primeiras justificam-se pela necessidade de garantirmos a correta dosagem do principio ativo, e
a terceira garante a uniformidade do medicamento.
Outras operações, até comuns, podem ser consideradas secundárias ou derivadas dos
processos de mistura. Como exemplo, podemos citar a Trituração, que consiste em subdividir
partículas sólidas, e a Tamisação, que consiste em separar partículas de tamanhos bem
definidos.

Para entender a importância destas operações, basta entender os medicamentos como


formas de dosagem e liberação de fármacos. Essa ideia implica que a proporção do princípio
ativo na formulação deve ser respeitada. Logo, a pesagem ou tomada de volume de cada
12
componente deve ser feita sempre com muita exatidão. Da mesma forma, a liberação dos
fármacos ou princípios ativos deve ocorrer de maneira adequada. Para tanto, esta liberação
precisa ser uniforme em cada dose terapêutica da forma farmacêutica, encerrando quantidades
equivalentes dos ativos. A mistura dos componentes do medicamento buscando, se não um
sistema homogêneo, ao menos uniforme, é fundamental.

Convém ressaltar ainda que, além das práticas supracitadas, são também
imprescindíveis em uma farmácia magistral às práticas relacionadas ao Controle de Qualidade
de matérias-primas (MP), que na verdade antecedem a manipulação. Segundo as exigências da
RDC 067, de 2007 (Anvisa), são operações básicas no controle de qualidade de MP:

a) Caracteres organolépticos;

b) Solubilidade;

c) pH;

d) Peso;

e) Volume;

f) Ponto de fusão;

g) Densidade;

h) Avaliação do laudo de análise do fabricante/fornecedor.

A busca pela melhoria da qualidade de produtos manipulados vem sendo perseguida


pelas farmácias não apenas como um diferencial, mas também pela reconquista de sua
credibilidade frente aos produtos industrializados. Para tanto, a garantia da qualidade dependerá
não apenas da implementação do Controle de Qualidade, mas de um sistema de qualidade
regido por um Manual de Qualidade e Boas Práticas de Manipulação (RDC 210 de 2003) que
envolva todos os processos da produção do medicamento. Tais processos dizem respeito a
todas as etapas, que vão desde a compra das matérias-primas até o acompanhamento
terapêutico.

Entre as principais responsabilidades e atribuições do profissional farmacêutico


responsável técnico estão:
13
 Supervisionar a preparação, incluindo a conferência das fórmulas, o que exige
do farmacêutico, competência prática e conhecimentos científicos.
 Estudar e acompanhar a legislação vigente.
 Adquirir matérias-primas de fornecedores confiáveis e qualificados, criando
meios e critérios para este procedimento.
 Avaliar certificados de análise emitidos pelos fornecedores.
 Implementar e supervisionar o controle de qualidade de acordo com aspectos
éticos e legais.
 Avaliar prescrições médicas quanto a sua adequação, concentração,
compatibilidades, posologia e via de administração.
 Estipular as condições adequadas de manipulação, conservação, transporte,
dispensação e controle do produto.
 Elaborar procedimentos operacionais padrão (POP´s), treinando e qualificando o
pessoal responsável para que sejam seguidos com rigor.
 Supervisionar e inspecionar rotinas operacionais de manipulação.
 Conferir o rótulo.
 Fazer a manutenção de arquivos informatizados de documentação
correspondente às etapas envolvidas no processo: laudos de compra,
certificados de análise de fornecedores e controle de qualidade, relatórios de
preparação da formulação, datas de entrada e saída, entre outras.
 Registrar as substâncias e medicamentos controlados.
 Participar e viabilizar a participação de membros da equipe em programas de
qualificação continuada em todas as áreas pertinentes à produção, incluindo:
desenvolvimento de formulações, garantia de qualidade, farmacovigilância,
informática, entre outras.
 Prestar atenção farmacêutica necessária aos pacientes, objetivando a
administração correta dos produtos.

1.3.1 Conferência de Fórmulas

14

A receita médica em uma farmácia de manipulação poderia ser comparada a uma


ordem de serviço. Entretanto, antes de iniciar a produção de um medicamento, o responsável
técnico farmacêutico deve analisar a prescrição com atenção. Os aspectos relevantes a serem
observados podem ser divididos em questões legais e técnicas.

No que diz respeito às questões técnicas, a conferência da prescrição exigirá


conhecimentos específicos relacionados a problemas de incompatibilidade, erro de dosagem,
bem como a simples questão de cálculos matemáticos.

Em relação aos aspectos legais, um receituário ou prescrição deve apresentar os


seguintes requisitos:

 Identificação do médico, incluindo o número de registro no Conselho Regional


de Medicina (CRM);
 Identificação do paciente;
 Data;
 Legibilidade da receita e concordância dos termos segundo a DCB;
 Dose do fármaco e indicação posológica.

Em caso de dúvida, o profissional deve entrar em contato com o prescritor (receitante),


não sendo conveniente aviar a receita. Juridicamente, somente o farmacêutico será
responsabilizado por acidentes relacionados a erro de receituário.
1.3.1.1 Tipos de Prescrições

As prescrições podem ser de três tipos: especialidades farmacêuticas, oficinais e


magistrais.

As especialidades dizem respeito aos medicamentos industrializados. Logo, cabe ao 15


profissional competente prestar atenção farmacêutica, avaliando questões relacionadas à
posologia, interações medicamentosas, bem como perfil fisiológico do cliente.

No caso das preparações oficinais, em geral não apresentam erros de dosagem, já que
são descritas em literatura confiável. Entretanto, a atenção farmacêutica se estende também à
área de manipulação, assim sendo, é passível de erro nos cálculos matemáticos, e a conferência
desses se faz imprescindível.

Por fim, temos as prescrições magistrais, as quais são elaboradas por médicos,
veterinários ou dentistas, profissionais esses especializados em clínica e terapia, e não em
medicamentos. Assim sendo, cabe ao profissional farmacêutico, sempre que pertinente,
consultar a literatura de referência a fim de evitar danos algumas vezes irreparáveis.

1.3.2 Pesagem

A pesagem de fármacos ou insumos farmacêuticos é um procedimento essencial, pois


pretende garantir a correta proporção do princípio ativo no medicamento. Sem a garantia de uma
proporção predefinida e adequada do fármaco, o medicamento perde seu valor terapêutico e a
farmácia perde sua credibilidade.

Entre os erros ou acidentes mais comuns no processo de pesagem estão:


1. Falha na interpretação ou conversão das unidades, por exemplo: miligramas (mg)
por gramas (g).
2. Descuido na observância de fatores de conversão (Fc) sal-base (por exemplo:
fluoxetina base PM = 309,33; fluoxetina cloridrato PM = 345,79; Fc = 1,12).
3. Descuido na observação dos fatores de correção relacionados à diluição aplicados
a fármacos muito potentes (por exemplo: o hormônio T3 é convenientemente diluído
geometricamente 1:100, logo deve-se aplicar fator 100).
4. Não observação de concentrações constantes nos laudos de qualidade emitidos 16
pelos fornecedores (por exemplo: na vitamina E 50% deve-se aplicar fator 2; no
betacaroteno a 10 % deve-se aplicar fator 10).

1.3.2.1 Tipos de Balança

Entre os vários modelos de balanças disponíveis, os mais comuns poderiam ser


divididos quanto a sua precisão em:

 Balança Roberval: para pesagem de massa maior que 1 g, utilizada para produções em
grande escala.
 Balança Granatária: para pesagem de massa a partir de 0,01 g, útil em situações de
emergência (como um “apagão”) e em caso de produções em pequena escala.
 Balança semianalítica: com precisão para pesagens a partir de 0,001 g, sendo a mais
utilizada na rotina das farmácias.
 Balança analítica: de grande precisão (0,0001 g), útil no controle de qualidade.

O custo das balanças varia de acordo com o modelo e fabricante e, em geral, aumenta
em ordem crescente em função da precisão e capacidade.
1.3.2.2 Cuidados na Pesagem

Independentemente do tipo de balança todas requerem os seguintes cuidados básicos:

1. Acerto do prumo (nível);


2. Uso de recipientes leves ou compatíveis*; 17
3. Tara da balança;
4. Tempo de estabilização de aproximadamente 15 minutos (para balanças eletrônicas).

*O recipiente deve ser o mais leve possível e grande o suficiente para garantir que não haja
queda de insumos no equipamento, especialmente se esses forem corrosivos.

1.3.3 Tomada de Volume

A tomada de volume de líquidos, assim como a pesagem de insumos sólidos, pretende


garantir a proporção correta entre o(s) princípio(s) ativo(s), o(s) coadjuvante(s) técnico(s) e o
veículo.

Para esse procedimento utilizam-se diversas vidrarias, sendo as mais comuns, em


ordem crescente de precisão: béquer, cálice, proveta e pipeta. Estas podem ainda ser
encontradas na versão de material plástico, úteis para formulações que contenham substâncias
que atacam o vidro, como ácido fluorídrico ou hidróxidos alcalinos muito concentrados.

Ressalta-se ainda que no caso de líquidos viscosos, como a glicerina, a trietanolamina


e os óleos vegetais, em geral, opta-se pela pesagem ao invés da tomada de volume, sendo
proibido o uso de pipetas.
1.3.4 Mistura

Após a tomada dos insumos farmacêuticos em suas devidas proporções, deve-se


misturá-los de forma a obter um medicamento com aspecto o mais homogêneo possível.

No caso de formas farmacêuticas líquidas nas quais os sólidos são livremente solúveis, 18
ou os líquidos são miscíveis ao veículo utilizado, tem-se uma solução (sistema homogêneo).

Entende-se por mistura todo processo que busca a dispersão entre partículas com a
maior uniformidade possível. Já por dissolução entende-se como sendo uma mistura na qual, por
exemplo, partículas sólidas se dispersariam intimamente em um líquido de modo a obter-se um
sistema homogêneo verdadeiro (dispersão molecular). Bons exemplos de dispersões
moleculares são os casos das ligas metálicas (solução de aço: carvão e ferro; solução de latão:
cobre e zinco) e das pomadas (pomada amarela: vaselina e lanolina; pomada branca: vaselina e
cera branca), sistemas estes que, embora não sejam líquidos, constituem dispersões
moleculares.

Assim, percebe-se que uma dissolução é um processo de mistura, mas nem toda
mistura caracteriza-se por um processo de dissolução, ou seja, por uma dispersão molecular.

Para que uma dissolução ocorra, é necessário que soluto e solvente apresentem
afinidades, como, por exemplo, graus de polaridade ou constante dielétrica semelhante. De
modo que o processo de dissolução é facilitado por estes aspectos físico-químicos.

Já nos casos de sistemas de polaridade muito distintos, o grau de miscibilidade ou


solubilidade será mínimo ou desprezível, e o processo de mistura se caracterizará por uma
dispersão mecânica. Nesses sistemas, têm-se as dispersões grosseiras, cujo diâmetro da
partícula é superior a 0,5 , e as dispersões coloidais, que apresentam dimensões
intermediárias entre as soluções e as suspensões (0,01 a 0,5 ). São exemplos de misturas não
moleculares: pó antisséptico, suspensão de leite de magnésia, loção hidratante, leite, café, entre
outras.

Independente do tipo de dispersão, os medicamentos devem possuir, sempre que


possível, o máximo de uniformidade. Para tanto, vários procedimentos farmacotécnicos são
empregados, os quais envolvem uso de coadjuvantes técnicos e de tecnologias específicas. De
modo geral, as partículas sólidas devem ser trituradas e tamisadas antes de serem misturadas,
tanto no preparo de um pó quanto de uma suspensão. Para misturas entre líquidos não miscíveis
(loções e cremes), uma melhor uniformidade pode ser garantida com o uso adequado de
tensoativos ou substâncias anfifílicas.

19

1.4 COMPONENTES DE FORMULAÇÕES

Uma formulação medicamentosa é composta basicamente por três classes de


componentes: os princípios ativos (fármacos), os coadjuvantes e os veículos, dos quais da
combinação correta depende o sucesso de uma farmacoterapia. Igualmente, não
necessariamente um medicamento será composto pelas três classes, havendo três
possibilidades:

i. FÁRMACO
ii. FÁRMACO + VEÍCULO
iii. FÁRMACO + ADJUVANTES + VEÍCULO

Os fármacos são responsáveis pela ação farmacodinâmica propriamente dita,


enquanto os coadjuvantes atuam na promoção da estabilidade ou biodisponibilidade, bem como
correção de propriedades organolépticas. Já os veículos, em princípio, são inertes e têm a
função básica de veicular o fármaco, ou seja, conduzi-lo pela via de administração escolhida em
sua devida proporção.
1.4.1 Princípios Ativos

Os princípios ativos ou fármacos são os elementos-chave responsáveis pela ação


terapêutica de um medicamento alopático ou fitoterápico. São classificados em função de vários
aspectos, como: classe química, classe terapêutica, alvo molecular ou especificidade.
20
Quanto à especificidade, existem apenas duas classes: a dos fármacos específicos e a
dos inespecíficos.

Os específicos correspondem à maioria dos mais de sete mil fármacos constantes no


arsenal terapêutico, tais como os analgésicos e anti-inflamatórios, os agentes cardiovasculares,
anti-histamínicos, hormônios, agentes antiparasitários diversos, antineoplásicos, entre outros.

Já os fármacos inespecíficos, em número bastante reduzido, são aqueles que não


atuam seletivamente sobre determinados receptores. A ação farmacodinâmica desta classe
depende apenas de suas propriedades físico-químicas, sendo esses pouco vulneráveis às
modificações estruturais.

Entre os fármacos inespecíficos mais comumente manipulados temos os antissépticos,


rubefacientes, vesificantes, adstringentes, emolientes, umectantes, hidratantes, queratoplásticos,
queratolíticos e cáusticos.

Os antissépticos podem atuar por mecanismos diversos, tais como poder redox, pKa
(acidez), quelação, alquilação.

Os rubefacientes e vesificantes possuem ação irritante que provoca aumento da


circulação local e contribui para dissipar processos inflamatórios.

Os adstringentes causam precipitação de proteínas e, consequentemente, auxiliam no


bloqueio da difusão de um processo inflamatório.

Os emolientes atuam na epiderme por meio da sua hidrofobicidade, impedindo a


desidratação da pele. Da ação de manter os tecidos mais macios ou moles deriva o termo
emoliente. Por outro lado, tecidos mais hidratados viabilizam a dispersão da inflamação ou,
muitas vezes, processos de absorção.
Os umectantes são substâncias hidrofílicas, em geral compostos sintéticos poli-
hidroxilados, que por sua natureza mantêm a pele umedecida, enquanto os hidratantes possuem
características igualmente hidrofílicas. Entretanto, são mais absorvíveis, dada sua origem natural
(bioquímica), sendo capazes de hidratar os tecidos em níveis mais profundos, incluso intra e
intercelular.

Os queratoplásticos e queratolíticos, por sua vez, não possuem nenhuma relação com
processos inflamatórios, e sim com síntese e lise de proteínas, respectivamente.
21
Enfim, os agentes cáusticos são agentes corrosivos utilizados com fins terapêuticos na
remoção de verrugas e calosidades.

1.4.2 Adjuvantes Farmacêuticos

Os adjuvantes ou coadjuvantes são componentes ou excipientes que integram os


medicamentos com funções diversas.

Dependendo de suas aplicações, podem ser divididos em coadjuvantes terapêuticos e


coadjuvantes técnicos.

1.4.2.1 Coadjuvantes Terapêuticos

O emprego do termo coadjuvante terapêutico está diretamente ligado às fases


farmacodinâmica e farmacocinética, sendo, principalmente, de competência da Farmacologia.
Nesse campo, tem-se uma infinidade de associações medicamentosas entre fármacos
“principais” e “coadjuvantes”, seja para sinergismo, redução de efeitos adversos ou aumento da
meia-vida. Assim, temos a carbidopa e ácido clavulânico, que associados à levodopa e penicilina
aumentam a meia-vida destes por inibição metabólica.

A diferença entre o papel terapêutico e técnico do coadjuvante poderia ser traduzida,


de modo simplista, pela influência deste, respectivamente, nos aspectos farmacológicos e físico-
químicos. Entretanto, muitas vezes, é impossível definir uma fronteira entre tais funções.

Alguns exemplos de componentes que poderiam ser considerados como coadjuvantes 22


terapêuticos são: os queratolíticos, os emolientes, os promotores de penetração percutânea, os
molhantes, os tampões, todos relacionados à eficácia de ação do fármaco.

Como exemplos, temos o ácido salicílico, que atua como coadjuvante terapêutico em
preparações antimicóticas por sua ação queratolítica, removendo tecido necrosado e viabilizando
a ação dos princípios ativos antifúngicos.

Pomadas indicadas em contusões superficiais têm, na inerente ação emoliente de suas


bases lipófilas, funções de veículos e coadjuvantes terapêuticos de fármacos anti-inflamatórios
específicos.

Muitos medicamentos de uso tópico poderiam ser inúteis sem os promotores de


penetração percutânea. Estes agentes, em geral, são solventes polares e apróticos, tais como
dimetil sulfóxido (DMSO) e dimetilformamida (DMF), moléculas anfifílicas como polietilenoglicol,
propilenoglicol, etanol, derivados da ureia, tensoativos, ou ainda compostos apolares como ácido
oleico e miristato de isopropilo.

FIGURA 1 – PROMOTORES DE ABSORÇÃO PERCUTÂNEA

FONTE: Arquivo Pessoal do Autor


Nesse contexto, os molhantes e tampões, além de suas funções técnicas, são
imprescindíveis no processo de absorção de fármacos hidrofóbicos ou impermeáveis,
desempenhando, assim, também uma ação coadjuvante terapêutica.

1.4.2.2 Coadjuvantes Técnicos


23

O uso correto e adequado de coadjuvantes técnicos é de competência direta do


farmacotécnico. Os coadjuvantes técnicos possuem as mais variadas e importantes funções,
podendo interferir nos aspectos químicos, físicos, físico-químicos e biológicos da formulação.

Entre os coadjuvantes técnicos que influem nos aspectos químicos destacam-se os


estabilizantes químicos, que atuam reduzindo a susceptibilidade de um ou mais componentes da
formulação a reações químicas diversas.

No que diz respeito aos aspectos físicos, estão relacionados à estabilidade física do
medicamento. Os aspectos físico-químicos dizem respeito às interações físico-químicas
envolvidas na estabilidade de um medicamento e marcam a interface entre as duas classes
anteriores. Com relação aos aspectos biológicos, temos os coadjuvantes envolvidos na
resistência do medicamento frente à contaminação microbiana e aqueles envolvidos nas
propriedades organolépticas.

I) Estabilizantes Químicos

Os coadjuvantes técnicos deste grupo desempenham papel direto na estabilidade


química da formulação. A baixa estabilidade química está relacionada à maior reatividade
química de uma substância, ou seja, sua capacidade de se decompor ou de combinar com
outras moléculas gerando outros compostos químicos. A importância de promover a estabilidade
química de uma formulação está no simples fato de que os compostos gerados podem ser
potencialmente tóxicos ou farmacologicamente inativos.

Entre os principais tipos de estabilizantes químicos temos: os antioxidantes, quelantes,


tamponantes, acidificantes e alcalinizantes.

a) Antioxidantes
24

São agentes adicionados para prevenir a oxidação do princípio ativo ou do


medicamento como um todo. Podem ser hidro ou lipossolúveis, naturais ou sintéticos, bem como
orgânicos ou inorgânicos. São exemplos de antioxidantes: o ácido ascórbico, metabissulfito de
sódio, sulfito de sódio, tioureia, BHA, BHT e tocoferol.

b) Quelantes

São agentes que complexam com metais (traços contaminantes), evitando que estes
catalisem (acelerem) um processo de oxidação. São exemplos de quelantes o EDTA, ácido
cítrico, ácido tartárico.

c) Tamponantes

São agentes que mantêm o pH em uma faixa estreita ótima de estabilidade. São ainda
importantes quanto ao aspecto fisiológico, processo de solubilização de determinados fármacos
e processo de absorção. Os principais sistemas tampão são: citrato de sódio/ácido cítrico;
fosfatos alcalinos, bicarbonato/gás carbônico.
d) Acidificantes

Têm a função de baixar o pH para um valor biocompátivel e de maior estabilidade,


especialmente frente à hidrólise. Podem ainda, em medicamentos de uso oral, conferir à
formulação um sabor ácido agradável, sendo nestes casos usualmente denominados
acidulantes. Alguns exemplos de acidificantes de uso farmacotécnico incluem: ácido cítrico,
ácido clorídrico, ácido tartárico, di-hidrogenofosfato de sódio. 25

e) Alcalinizantes

Possuem a função de elevar o pH. Como exemplos, temos o hidróxido de sódio,


carbonato de sódio, citrato de sódio, amônia, trietanolamina e fosfato disódico.

II) Estabilizantes Físico-químicos

Os coadjuvantes técnicos deste grupo exercem mudanças quimicamente reversíveis


na interação entre a fase dispersa (ex.: fármaco) e veículo. Dessas mudanças há a estabilização
da formulação medicamentosa frente a deteriorações comumente classificadas como físicas (ex.:
separação de fases numa emulsão). Entre os processos físico-químicos envolvidos na
estabilização de um medicamento temos a ionização, ou protonação, a solvatação, alteração da
constante dielétrica, redução da tensão interfacial, efeitos de eletrólitos sobre o potencial zeta.
Os principais coadjuvantes envolvidos nesta classe são: tensoativos (emulsificantes e
mollhantes); cossolventes e solventes, acidulantes, alcalinizantes, eletrólitos, floculantes e
coagulantes.
a) Tensoativos, Emulsificantes e Molhantes

Agentes que diminuem a tensão interfacial entre duas fases de polaridades distintas.
Possuem uma porção polar e outra apolar, sendo que, dependendo da característica da parte
polar, classificam-se em:

26
FIGURA 2 – EXEMPLOS DE TENSOATIVOS ANIÔNICOS, CATIÔNICOS, ANFÓTEROS E NÃO IÔNICOS

Lauril sulfato de sódio - LSS

Dodecil betaína

Dodecil benzeno sulfonato de sódio

Monoéster de sorbitano
Cloreto de n-dodecil piridina

Octil fenol polietoxilado


Lauril mono etanolamida

FONTE: Arquivo Pessoal do Autor

 Aniônicos - quando a parte polar possui carga efetiva negativa;


 Catiônicos - quando a carga é positiva;
 Não iônicos - quando a parte polar é um grupo hidrofílico, tal como hidroxila ou
amina primária;
 Anfóteros - quando há uma parte polar ionizável positiva e outra negativa, tal
qual aminoácidos.
Já os emulsificantes são tensoativos utilizados na estabilização de emulsões, que são
sistemas constituídos por líquidos imiscíveis (ex.: óleo-água). Entre os principais tensoativos
temos: lauril sulfato de sódio (LSS), estearato de sódio, oleato de sódio, alquil ésteres de
sorbitano, ésteres de sorbitano, álcool cetílico, estearatos de polioxietileno.

Por outro lado, entende-se por molhantes os tensoativos utilizados com o intuito de
diminuir a tensão interfacial e superficial num sistema sólido-líquido-gasoso promovendo o
contato sólido-líquido e o deslocando gás adsorvido.
27
Esses processos resultam no aumento da molhabilidade da partícula sólida e,
consequentemente, favorecem sua dispersão no veículo. São molhantes os tensoativos
sintéticos (LSS, Span®, Tween®) e naturais (lecitina, colesterol, gomas).

b) Alcalinizantes e Acidificantes

Podem, além de garantir estabilidade química, promover a estabilidade física por


promoção da dissolução via ionização, ou por interferirem nos estados reológicos de sistemas
poliméricos, via modificações de interações inter e intramoleculares.

c) Eletrólitos, Coagulantes e Floculantes

São coadjuvantes que atuam sobre cargas superficiais residuais de partículas sólidas
ou amorfas, atenuando, evitando ou modificando processos de sedimentação. Exemplos:
complexos e sais metálicos, polímeros hidrofílicos, bem como acidificantes e alcalinizantes.

III) Estabilizantes Físicos

As características que diferem estabilizantes físicos de físico-químicos são muito sutis.


Basicamente, a ação de ambos está relacionada a ações tipicamente físico-químicas. Entretanto,
os coadjuvantes aqui classificados como físicos não interferem diretamente nas propriedades de
outro componente.

Entre os estabilizantes físicos temos aqueles relacionados à estabilidade física do


produto em processo, na prateleira e em uso. Entre os coadjuvantes envolvidos na estabilidade
física propriamente dita, temos os agentes doadores de consistência (viscosificantes,
espessantes e/ou agentes suspensores), os agentes envolvidos na coesão do pó (aglutinantes)
e os agentes de revestimento ou cobertura (plastificantes, formadores de película, revestimentos
28
entérico e revestimento de açúcar).

Aqueles envolvidos na estabilização das propriedades físicas durante o processo, tal


como os envolvidos nas propriedades de fluxo de pó (lubrificantes, antiaderentes e deslizantes),
são importantes para uniformidade do produto final.

Já os desagregantes, assim como os agentes de cobertura, estão envolvidos na


estabilidade do produto durante a administração do medicamento e definem a velocidade de
absorção (biodisponibilidade) do medicamento.

a) Viscosificantes, Agentes Suspensores e Espessantes

São agentes que diminuem a fluidez ou conferem consistência. São úteis no sentido de
aumentar o tempo de sedimentação das suspensões.

O termo viscosificante é atribuído a líquidos viscosos (ex.: glicerina, propilenoglicol,


trietanolamina), enquanto os agentes suspensores são mais associados a polímeros ou agentes
sólidos hidrofílicos empregados em suspensões ou formas semissólidas, como géis. São
exemplos de agentes suspensores: carboximetilcelulose (CMC), Carbopol®, Natrosol®,
bentonita, Veegum®, caolin, ágar, goma arábica, goma guar, goma xantana, goma adraganta. Já
o termo espessante é associado frequentemente a agentes doadores de consistência
empregados em cremes e pomadas lipófilas (ex.: parafina, ceras, álcool estearílico, álcool
cetílico, Lanett N® e ácido esteárico).
b) Lubrificante, Deslizantes e Antiaderentes

Melhoram as características reológicas do pó, uniformizando o peso de comprimidos e


cápsulas durante o processo de enchimento. Evitam também avarias no equipamento, tais como
riscos nas punções e matrizes das máquinas de compressão causadas por fricção. São
lubrificantes: estearato de magnésio, estearato de cálcio, estearato de zinco, silicone, parafina e
polietilenoglicol. Entre os deslizantes mais utilizados estão à sílica coloidal, amido de milho e 29
talco; e como antiaderentes, o estearato de magnésio e o talco.

c) Aglutinantes

São utilizados para garantir a coesão de granulados e comprimidos. São, na maioria,


de natureza polimérica, e sua ação se dá por interações intermoleculares do tipo ponte de
hidrogênio, entre as partículas do pó. Entre os principais aglutinantes temos as gomas, o ácido
algínico, a carboximetilcelulose, a etilcelulose, povidona, gelatina e Nu-Tab®.

d) Agentes de Cobertura

São agentes utilizados para revestir comprimidos ou cápsulas a fim de conferir-lhes


proteção adicional contra a decomposição química ou sabores desagradáveis. A película de
cobertura pode ser de três naturezas distintas: cobertura de açúcar (ex.: glicose líquida,
sacarose), cobertura polimérica (hidroxietilcelulose, hidroxipropilcelulose,
hidroxipropilmetilcelulose, metilcelulose) e revestimentos entéricos (etilcelulose, acetoftalato de
celulose, goma laca 35%).
e) Desagregantes

São usados em comprimidos para promover sua desintegração, facilitando a dispersão


e a absorção. Podem atuar por três mecanismos: intumescimento (ex.: celulose microcristalina,
alginato de sódio, croscarmelose), por formação de canalículos (ex.: glicose, frutose, lactose,
sacarose, maltose) e por efervescência (bicarbonato de sódio).

30

IV) Estabilizantes Biológicos

Basicamente, os estabilizantes biológicos são os coadjuvantes utilizados contra a


proliferação microbiana. Podem ser conservantes antimicrobianos ou antifúngicos.

a) Conservantes Antimicrobianos

São os agentes que evitam a proliferação de microrganismos em geral (ex.: Nipagin®,


Nipazol®, álcool benzílico, cloreto de cetilpiridínio, cloreto de benzalcônio, clorobutanol).

b) Conservantes Antifúngicos

Utilizados na prevenção do crescimento de fungos. Os exemplos incluem:


butilparabeno, etilparabeno, metilparabeno (Nipagin®), propilparabeno (Nipazol®), ácido
benzoico, propionato de sódio e benzoato de sódio.
V) Agentes Corretivos

Têm a função de modificar as propriedades organolépticas de cor, sabor e aroma.

a) Corantes

31

Dão cor ao medicamento com a finalidade estética, marcadora ou como parâmetro de


dispersibilidade (ex.: amarelo de tartrazina, azul de metileno, urucum).

b) Flavorizantes

Agentes que conferem sabor e aroma (ex.: menta, vanilina, essências de abacaxi,
hortelã, tutti-fruti, canela).

c) Edulcorantes

Agentes que conferem sabor doce (ex.: xarope, glicose, frutose, maltose, sorbitol,
glicerina e adoçantes, como a sacarina, ciclamato e aspartame).

1.4.3 Veículos

Veículos são os agentes carreadores do fármaco. Devem ser inertes e inócuos. Têm a
função de completar a forma de dosagem aumentando o volume, possibilitando a quantificação
da dose certa de fármaco e permiti sua administração.
1.4.3.1 Veículos em Formas Líquidas

Têm a função de dar volume final ao medicamento e são, em geral, relacionados às


formas farmacêuticas líquidas (ex.: água destilada, etanol, glicerina, óleos e propilenoglicol).

32

1.4.3.2 Veículos em Formas Plásticas

São geralmente denominados bases, sendo que, quando lipófilas, caracterizam-se pela
mistura de ceras (ex.: cera de abelhas, parafina, álcool cetílico) e óleos (ex.: óleos vegetais,
óleos de silicone e óleo mineral) diversos. Por outro lado, quando hidrófilas caracterizam-se por
sistemas gel, os quais são formados por polímeros hidrofílicos (tais como derivados de celulose,
ácido carboxivinílico e polipeptídeos) e encerram acima de 90% de água.

1.4.3.3 Veículos em Formas Sólidas

Enquanto para formas medicamentosas líquidas e plásticas os veículos encerram


proporções majoritárias, em formas sólidas, muitas vezes, o próprio fármaco é o componente em
maior proporção na formulação. Assim, termos como excipiente e diluente podem ser associados
a veículos em formas sólidas.
I) Excipientes

É o conjunto de componentes da formulação, sem o(s) princípio(s) ativo(s) que


compõem a fórmula. Em geral apresentam, além da função diluente, funções agregadas, tais
como a de aglutinantes, desagregantes, edulcorantes, entre outras.

33
II) Diluentes

São componentes cuja função básica é a de complementar o peso de formas sólidas


(ex.: amido, celulose microcristalina e lactose).

1.4.3.4 Veículos em Formas Gasosas

Os Propelentes teriam a função de veículo em formas gasosas, pois são agentes


responsáveis pelo desenvolvimento da pressão necessária em um frasco de aerossol, permitindo
a expulsão do produto quando a válvula é acionada. Exemplos incluem CO 2 e CFC´s como
diclorofluorometano.
2 MATERIAIS PARA EMBALAGEM E ACONDICIONAMENTO

Como qualquer produto de consumo, as formas farmacêuticas devem obrigatoriamente


ser acondicionadas e embaladas de forma adequada antes de expostas nas prateleiras.

O material utilizado para acondicionamento (container) tem como função garantir a 34


qualidade, a segurança e a estabilidade de seu conteúdo. Já a embalagem, além de ser uma
proteção secundária, apresenta também uma função “mercadológica” na apresentação do
produto.

A combinação entre materiais de acondicionamento e embalagem deve apresentar os


seguintes requisitos:

1. Proteger o medicamento de danos físicos e químicos: vibração (ex.: no transporte),


compressão (ex.: pressão aplicada durante estocagem), choque (ex.: impactos
durante desaceleração brusca em um transporte), abrasão.
2. Ser inerte: não pode interagir com o produto, seja por migração, adsorção,
absorção, extração ou qualquer reação química (ex.: perda de conservantes por
absorção em tampas de borracha, amolecimento de containers de plástico por
ésteres ou ácido salicílico).
3. Suportar extremos de temperatura e umidade característicos das diferentes
estações do ano.
4. Ser impermeável a gases da atmosfera, tais como O2 e CO2, evitando assim
processos de oxidação e/ou o crescimento de microrganismos comumente
favorecidos pela presença de O2, bem como mudanças de pH pela presença de
CO2.
5. Evitar a perda de gases voláteis (ex.: perda de fármacos voláteis como salicilato de
metila, ou de álcool ou éter, aumentando a concentração de fármacos não voláteis).
6. Proteger da ação da luz, especialmente para fármacos fotossensíveis.
7. Serem suficientemente transparentes para permitir a inspeção do conteúdo.
8. Proteger o medicamento de partículas contaminantes do ar, tais como
microrganismos e poeira.
9. Proteger de animais (ex.: insetos e roedores).
10. Ser inócuo: não liberar partículas para o conteúdo (ex.: fiapos de vidro ou metal),
não liberar substâncias tóxicas ou que comprometam a estabilidade do conteúdo
(ex.: unidades poliméricas de materiais plásticos ou álcalis de vidro).
11. Ser fácil de identificar e rotular.
12. Apresentar elegância.
13. Ser de fácil uso e conveniente.
14. Ser barata e econômica.
Algumas diferenças entre acondicionamento e embalagem podem ser exemplificadas 35
no Quadro abaixo:

Acondicionamento Embalagem

a) Contato direto, devendo ser inerte, inócuo e a) Contato indireto (envolve o material já
estável. embalado).

b) Função técnica (proteção e envase). b) Função comercial (apresentação).

c) Proteção primária contra luz, umidade, CO2, c) Proteção secundária contra luz, poeira, insetos
O2, microrganismos, poeira, insetos. e choque mecânico (protege o medicamento por
proteger acondicionamento).
d) Materiais usuais: vidro, plástico e metal, bem
como de uso exclusivo para tampas de borracha. d) Materiais usuais: papel ou cartolina.

2.1 TIPOS DE MATERIAIS DE ACONDICIONAMENTO

Os acondicionamentos utilizados para medicamentos podem ser de material plástico,


metálico ou vidro. As características de cada tipo de material variam, assim como suas
aplicações.
2.1.1 Vidros

São compostos constituídos de uma mistura de óxidos metálicos nos quais predomina
o dióxido de silício (SiO2). Embora fisicamente tenham aspecto de sólido, trata-se de um líquido
de elevada viscosidade.
36
A adição de óxido de cálcio e magnésio aumenta a resistência hidrolítica de vidros
alcalinos, sendo que o óxido de magnésio reduz a tendência de desvitricação.

Já a adição de óxido de bário pode levar à redução do ponto de fusão de vidros de


sílica ou borossilícico, aumentando sua fusibilidade.

O óxido de alumínio, por sua vez, é empregado na confecção de vidros refratários.

Óxidos de ferro, como Fe2O3, conferem ao vidro cor ligeiramente amarelo-esverdeada,


enquanto o FeO gera uma coloração azul-esverdeada. A cor âmbar é formada pela combinação
de óxidos de íons Fe3+ (Fe2O3) e enxofre (S=), junto com os íons Na+. Óxido crômico (Cr2O3) é o
agente corante primário para todos os vidros verdes.

A principal desvantagem dos vidros, em geral, está na baixa resistência a choques


mecânicos. Como vantagens, estes materiais:

 Podem ser moldados em uma grande variedade de formas e tamanhos


(fusibilidade).
 Podem ser transparentes ou âmbar.
 Podem ser selados hermeticamente com ou sem o uso tampas.
 São impermeáveis à umidade e gases atmosféricos.
 São baratos e de fácil rotulagem.

Tipos de Vidros

a) Sílica (quartzo): SiO2


Apresentam boa transparência, maior ponto de fusão, maior custo, maior resistência
hidrolítica (menor número de grupos silanóis livres OH-), menor resistência mecânica.

Uso: cubetas de quartzo são úteis como recipiente para análises espectrofotométricas
na região do UV, por não absorverem radiação nesta faixa de frequência.

37
b) Sódico cálcico: (SiO2, NaO2, CaO) Tipo III

Apresentam menor ponto de fusão, são mais baratos, têm menor resistência hidrolítica
(transfere basicidade).

2 Na2 SiO3 + H2O  Na2 Si2O5 + NaOH

Uso: xaropes, solução oral e pós, desde que não sejam muito incompatíveis a álcalis
como Na+ e K+.

c) Sódico cálcico tratado: Tipo II e IV

Boa fusibilidade, boa resistência hidrolítica, menor custo que a sílica (quartzo) e tipo I.

Tipo II até 100 mL, Tipo IV para volumes maiores que 100 ml.

São obtidos com tratamento do Tipo I com vapor de água e SO2.

Si-O-Na + H2O  Si-OH + NaOH

2 NaOH + SO2 + ½ O2  Na2SO4 + H2O

Si-O-H + H-O-Si   T oC  Si-O-Si + H2O

Uso: liofilizados, extratos hepáticos, soluções de antibióticos, soluções injetáveis de


grande volume (tipo IV).
d) Borossilícico: (SiO2, B2O3) Tipo I

Possuem maior resistência térmica (Pyrex®) e coeficiente de dilatação, boa resistência


hidrolítica (exceto para poliálcoois), menor ponto de fusão.

Uso: pós (suspensões) injetáveis, soluções aquosas com catalisadores ou soluções


alcalinas. Não devem ser usados com polióis como glicerina, propilenoglicol, entre outros.
38

2.1.2 Plásticos

Grupo de resinas sintéticas (polímeros) de altos pesos moleculares, obtidos pela


condensação ou adição de unidades denominadas monômeros, podendo, durante o processo de
fabricação, ser moldados em diversas formas.

No processo de polimerização, seja por adição (ex.: PVC e polietileno) ou por


condensação (ex.: poliamida ou nylon), podem ser adicionadas substâncias com diversas
funções, tais como: plastificantes, estabilizantes, fungicidas, antiestáticos, retardadores de
combustão e antioxidantes e corantes.

Como vantagens, estes materiais, dependendo do polímero, podem:

 Apresentar boa inocuidade e estabilidade;


 Ser transparentes, impermeáveis e inertes;
 Apresentar boa estabilidade térmica.
2.1.2.1 Tipos de Plásticos

Os plásticos podem, dependendo da composição, apresentar características diversas


no que diz respeito à permeabilidade, estabilidade térmica, flexibilidade, transparência (Quadro
1).
39
Os polímeros de cloreto de polivinila, polietileno, poliestireno, poliamidas, poliuretanos,
policarbonatos, celofane, poliacrílicos e polipropileno, por exemplo, integram o grupo dos
chamados termoplásticos. Já a baquelite, o cascolac e a fórmica são exemplos de materiais
plásticos bastante rígidos (duroplásticos).

Quadro 1 – Tipos de plásticos, características e aplicações.

Permeabilidade
Termorresistênc
Tipo de plástico a gases e Transparência Autoclavação Outros Aplicações
ia
vapores

Celulósicos
(metil, etil, Comprimido
Decompõe em Folhas
hidroxi, etil, Impermeável Boa Não suporta s, pós e
água quente plastificantes
carboximetil cápsulas
celulose)

Comprimido
Polivinílicos
Frascos e s, pós e
(acetato de Pouco permeável Boa Alta Sim
cintas cápsulas e
polivinila e PVC)
líquidos.

Não nas Acondiciona


Poliestireno Pouco permeável Boa Até 90o C condiçõesmento de sólidos Frascos
normais em geral
Líquidos e
sólidos
Polipropileno Permeável Opaco Boa Sim Frascos
(revestiment
os)

Teflon - Revestiment
Pouca
politetrafluoroetil - Opaco Até 200 oC - o de
adesividade
eno superfícies
40
Poliacrilatos
(polimetacrilato - Boa Baixa Não - Frascos
de metila)

Poliamidas
Impermeável Boa Boa Sim - Filmes
(nylon)

Impermeável a Leve e
Policarbonatos
vapor e pouco resistente ao
(ésteres do ácido - Boa Não Frascos
permeável a choque
carbônico)
gases mecânico

Polietileno Frascos p/
Pouco permeável Opaco Boa Sim -
(baixa pressão) injetáveis

Polietileno
Permeável Opaco Baixa Não - Frascos
(alta pressão)

Uso: formas líquidas, semissólidas e sólidas.

Os plásticos celulósicos são usados para embalar comprimidos, cápsulas e pós.

Plásticos polivinílicos são usados para acondicionamento de comprimidos, cápsulas,


pós e formas líquidas, bem como no revestimento de metais e papéis.

O poliestireno é mais empregado no acondicionamento de formas sólidas.


Plásticos termorresistentes rígidos ou flexíveis de PVC, polietileno polipropileno e
poliestireno de alta densidade podem ser utilizados no acondicionamento de injetáveis, desde
que não haja cedência de plastificante.

2.1.3 Metais
41

São muito úteis na dispensação de formas semissólidas (ex.: pomadas, cremes). Entre
os mais utilizados, temos os tubos de estanho e alumínio. Ambos são leves e maleáveis,
impermeáveis, apresentam boa plasticidade, boa proteção contra luz e boa resistência térmica,
são inodoros, não são tóxicos e podem ser moldados facilmente. Como principal desvantagem
dos acondicionamentos metálicos está a possibilidade de ocorrer catálise oxidativa.

O estanho Sn, embora mais caro, é mais quimicamente inerte que o alumínio, que em
alguns casos exige revestimento interno com vernizes.

Uso: formas semissólidas, como pomadas e cremes.

2.1.4 Borrachas

São hidrocarbonetos polimerizados de origem natural (ex.: polímeros do isopreno) ou


sintética (ex.: polímeros do butadieno, siloxano ou cloropreno). São empregados na vedação dos
frascos (borracha natural só aplicável a soluções aquosas).

De acordo com o tratamento dado, as borrachas podem apresentar como


características: elasticidade, resistência térmica e mecânica.
Como tratamentos, temos a vulcanização, que inclui a adição de dióxido de enxofre
(SO2), zinco (Zn), entre outros compostos com função de ativadores, aceleradores, cargas,
amolecedores ou antioxidantes.

A composição complexa das borrachas acarreta possibilidades diversas de interação


com o conteúdo. O SO2 e o Zn atacam o anel -lactâmico das penicilinas. Igualmente, as
borrachas podem absorver conservantes ou antioxidantes, viabilizando indiretamente a
proliferação de microrganismos e oxidação.
42
Uso: são utilizadas em tampas de acondicionamento de produtos injetáveis de doses
múltiplas. Esses recipientes fechados com tampas de borracha permitem a retirada com agulhas
de sucessivas porções do medicamento destinado à administração parenteral sem alterar
concentração, qualidade ou pureza das porções restantes.
3 ESTABILIDADE DE MEDICAMENTOS

Todo medicamento em condições adequadas de acondicionamento e armazenamento


deve apresentar, dentro dos limites oficialmente estabelecidos e do seu prazo de validade,
atributos de eficácia e segurança referentes à manutenção das suas características físicas,
43
químicas, microbiológicas, terapêuticas e toxicológicas.

O tempo de manutenção destas características se relaciona e depende da maior ou


menor estabilidade do medicamento. Por sua vez, este tempo (prazo de validade) é determinado
por estudos de estabilidade.

Portanto, prazo de validade é o intervalo de tempo que decorre entre a fabricação e o


acondicionamento do medicamento até o momento em que a atividade química (ou potência)
do(s) fármaco(s) não seja menor que o limite estabelecido pelas especificações (em geral de 95
a 105%, ou de 90 a 110%), ou suas características físicas, químicas e microbiológicas não
mudem apreciavelmente (dentro das especificações), e desde que os produtos resultantes sejam
conhecidos, estudados e que não aumentem ou alterem a toxicidade da preparação.

Todo medicamento deve apresentar, no rótulo e/ou embalagem, o mês e ano de


vencimento da validade.

De modo geral, o prazo de validade para produtos extemporâneos após violação de


acondicionamento, segundo USP/NF, segue o Quadro 2.

Quadro 2 – Prazo de validade para produtos e matérias-primas violadas

Formulações
Matérias-primas Formulações aquosas
não aquosas

25% do prazo original e no


Máximo 6 meses Em geral 14 dias*
máximo 6 meses

*Pode ser estendido caso haja informações justificáveis sobre a estabilidade.


3.1 EVIDÊNCIAS DE DETERIORAÇÃO

As evidências de decomposição decorrentes da instabilidade de um produto podem se


manifestar por alterações físicas ou químicas. Enquanto as alterações físicas são facilmente
detectáveis*, as alterações químicas**, em geral, requerem métodos analíticos sensíveis.
44
*Alterações físicas: alterações de cor, odor, aspecto (todas as formas farmacêuticas),
diminuição ou ganho de volume, turvação e presença de gás (todas as formas líquidas);
separação de fases (emulsões), sedimentação (suspensões), fragmentação e caking (formas
sólidas).

**Alterações químicas: são evidenciadas pela formação de produtos de


decomposição, os quais podem ser responsáveis diretos por diversas alterações físicas, tais
como: mudança de cor ou odor, aparecimento de bolhas de gás ou mesmo turvação. Por sua
vez, tanto as alterações físicas quanto químicas podem decorrer de alterações microbiológicas.

3.2 FATORES DE INSTABILIDADE

Os fatores relacionados à estabilidade de medicamentos e fármacos podem ser


intrínsecos ou extrínsecos. Os fatores intrínsecos dizem respeito à reatividade química e/ou
propriedades físico-químicas de cada componente da formulação, bem como, sob a ótica do
medicamento, a incompatibilidades e ao tipo de acondicionamento.

Existem três reações mais comuns envolvidas na decomposição de medicamentos: a


oxidação, a hidrólise e a fotólise.

Oxidação: processo em que átomo ou molécula perde um ou mais elétrons para um


agente oxidante, sendo que no caso de átomos há aumento do n o ox. No caso de
medicamentos, o principal agente oxidante é o oxigênio. Assim, neste tipo de decomposição há
ganho de O e/ou perda de H. Os grupos susceptíveis à oxidação incluem: aldeídos, álcoois,
tioálcoois, fenóis, amina, imina e grupos insaturados.

Hidrólise: processo solvolítico no qual, a partir de reação com solvente, ocorre quebra
de ligação (cisão) da molécula. Em se tratando de medicamentos, a água é o solvente mais
utilizado, assim como o mais solvolítico. Exemplos de grupos susceptíveis incluem anidridos,
ésteres, carbamatos, ureídas, amidas e imidas.
45
Fotólise: a luz pode desencadear várias reações, incluindo oxidação, polimerização,
rearranjos, entre outras. Os grupos mais vulneráveis são cromóforos com o máximo de 400 a
800 nm e moléculas com S, N e/ou O.

Já os fatores extrínsecos são aqueles que podem agravar os fatores intrínsecos, tais
como temperatura, luz, oxigênio, umidade, gás carbono e tempo. As correlações entre fatores
intrínsecos e extrínsecos, bem como exemplos de alterações ou fenômenos envolvidos, são
mostradas no Quadro 3.

Quadro 3 – Correlação entre fatores intrínsecos e extrínsecos com deterioração

Fator Exemplos de fármacos Evidências


Fator intrínseco agravado
extrínseco susceptíveis associadas

Fotodecomposição, Clorpromazina, iodetos, Escurecimento, perda


Luz oxidação, rearranjos de fenóis, aloína, omeprazol, de teor, formação de
ligação química. vit. B12, sulfadiazina. produtos tóxicos.

Lovastatina, lactobacilus, Mudança de cor, perda


Oxidação, evaporação,
Temperatura haloperidol, imipramina, de volume, perda de
hidrólise.
vitaminas, estrógenos. teor.

Hidrólise, proliferação AAS, lactato de amônia, Alteração de pH, perda


Umidade microbiana, barbitúricos, ácido fólico, de teor, ganho de
higroscopicidade. anestésicos, efedrina. volume.
Reações ácido base,
Gluconato de cálcio, Precipitação, perda de
CO2 hidrólise, solubilidade em
hidróxido de magnésio. teor, alteração de pH.
pH ácido.

Vitamina B6, C, D2 e E, Mudança de cor, perda


Oxigênio Oxidação hidroquinona, ergotamina, de teor, formação de
tetraciclinas, adrenalina. produtos tóxicos.

Tempo Todos Todos Todas 46

Enquanto os fatores intrínsecos são inerentes ao produto, os fatores extrínsecos


podem e devem ser controlados, seja no desenvolvimento da formulação, na escolha do
acondicionamento ou na determinação das condições de armazenamento.
4 FORMAS FARMACÊUTICAS

Forma farmacêutica é a maneira pela qual o fármaco é administrado ao paciente, ou


seja, a forma de apresentação do medicamento (ex.: comprimido, xarope, colírio, supositório,
injetável, creme).
47
É definida pela via de administração, necessidades do paciente, fórmula e
equipamentos disponíveis. Com base na relação paciente-doença define-se a melhor via de
administração. A partir desta definição e das características físico-químicas do fármaco,
determina-se a melhor forma farmacêutica.

Por sua vez a forma define a fórmula farmacêutica, que se refere à composição, bem
como o tipo de acondicionamento ideal e equipamentos de produção a serem utilizados.

Todas as formas farmacêuticas devem atender aos seguintes atributos:

 Conter a quantidade adequada de fármaco.


 Ser livre de materiais estranhos (matérias-primas aprovadas de acordo com
especificações oficiais).
 Liberar o fármaco na quantidade e com a velocidade adequada.
 Ser formulada de acordo com a via de administração a que se destina.
 Ser bem aceita pelo paciente (ausência de efeitos indesejáveis, sabor agradável,
estética).
 Ser adequada à estabilidade do fármaco.
 Fornecer ação farmacológica ótima.

As formas farmacêuticas podem se apresentar nas seguintes formas físicas: sólida,


semissólida, líquida ou gasosa.
4.1 FORMAS LÍQUIDAS

As preparações líquidas podem conter uma ou mais substâncias químicas dissolvidas


em um solvente adequado ou em uma mistura de solventes mutuamente miscíveis ou
dispersíveis.
48
No que diz respeito à preparação de formas líquidas, deve-se considerar a solubilidade
dos solutos, o solvente empregado, a estabilidade e as compatibilidades.

Já o número de operações unitárias e componentes necessários depende da escala de


produção, prazo de validade pretendido e via de administração desejada.

De modo geral, as formas líquidas podem ser divididas, quanto à complexidade


tecnológica, em dois grupos: estéreis e não estéreis, os quais por sua vez podem ser
subdivididos quanto à complexidade técnica em: soluções, suspensões e emulsões.

4.1.1 Soluções

As soluções são dispersões moleculares cujas partículas apresentam dimensões


menores que 0,01 m. Interações intermoleculares com tal grau de dispersão requerem alta
afinidade entre soluto e solvente. Assim, no desenvolvimento de uma solução medicamentosa,
deve-se conhecer previamente a constante de solubilidade (Ks) de cada componente no veículo
proposto.

No que diz respeito ao veículo (solvente) a água, seguida pelo etanol, glicerina e óleos
vegetais, é o mais utilizado. Dependendo do veículo utilizado as soluções podem ser
classificadas em: hidróleos (água), alcoóleos (álcool), glicerina (gliceróleos), éter (eteróleos),
cetóleos (acetona) e enóleos (vinho). Um tipo especial de solução são os xaropes (sacaróleos),
os quais contêm elevado teor de açúcar (sacarose), valor este que ultrapassa 80%. Tais
soluções são excelentes para via oral, uma vez que além do valor energético do açúcar,
viabilizam o mascaramento de sabor desagradável. Comparativamente, os elixires apresentam
menor viscosidade e sabor menos adocicado do que os xaropes. Mas por se tratarem de
soluções hidroalcoólicas, quando o valor de álcool ultrapassa 10% esses são autoconservantes.
Do mesmo modo, os elixires apresentam possibilidade de dissolução de solutos solúveis em
água ou álcool.

49
Com relação ao valor da constante de solubilidade (Ks), quando este é alto, a
dissolução é obtida facilmente. Assim sendo, do ponto de vista farmacotécnico, estas
preparações são as mais simples. Entretanto, para situações em que o fármaco apresenta baixa
solubilidade, o conhecimento das técnicas de dissolução é fundamental.

4.1.1.1 Técnicas de dissolução

As principais técnicas de dissolução são:

Agitação mecânica: a convecção é a técnica de dispersão mais empregada. Embora


seja a mais segura do ponto de vista da estabilidade, pode causar aeração e viabilizar a
oxidação.

Aquecimento: a dispersão das moléculas e, consequentemente, a constante de


solubilidade (Ks), em geral aumenta significantemente com a temperatura. Porém, a dissolução
com aquecimento é contraindicada para fármacos termoinstáveis ou voláteis.

Ajuste da constante dielétrica: a afinidade soluto-solvente é fundamental para que se


logre alto grau de dispersão. Nos casos em que um determinado fármaco não apresenta boa
hidrossolubilidade, pode-se reduzir a constante dielétrica da água com a adição de um solvente
orgânico miscível. O veículo hidroalcoólico apresentará constante dielétrica mais apropriada ao
grau de polaridade do fármaco.
Uso de cossolvente: quando se utiliza pequena quantidade de um solvente inócuo e
miscível com o veículo de escolha para dissolução prévia do soluto, dá-se a esse solvente o
nome de cossolvente. A diferença entre esta técnica e a anterior está no fato de que a
quantidade de solvente empregada não altera significantemente a constante dielétrica. Portanto,
o soluto deverá apresentar alguma afinidade com o sistema solvente e não precipitar após a
incorporação da solução previamente obtida no veículo.

Ajuste de pH: no caso de fármacos ácidos ou básicos, o ajuste de pH pode determinar


50
ionização e, consequentemente, a hidrossolubilidade. As implicações da alteração de pH devem
considerar ainda estabilidade ótima, biocompatibilidade e biodisponibilidade.

Uso de agentes solubilizantes: uma alternativa empregada é o uso de agentes


solubilizantes. Esses incluem formação de complexos e sistemas miscelares. Como exemplo,
destaca-se o uso de iodeto na solubilização do iodo em água, o princípio da adição (formação de
sais entre fármacos básicos e ácidos) e o uso de tensoativos.

4.1.1.2 Vantagens e Desvantagens das Soluções

Entre vantagens e desvantagens das soluções podemos destacar:

Vantagens

 Alta estabilidade física: partículas em dispersões moleculares não sofrem ação da


gravidade.
 Alta biodisponibilidade: partículas pequenas são mais facilmente absorvidas.
 Alta uniformidade: dispersões moleculares são sistemas uniformes e homogêneos.

Desvantagens
 Baixa estabilidade química: reações químicas dependem da colisão intermolecular,
favorecida em dispersões moleculares.
 Alta biodisponibilidade: nem sempre se deseja absorção imediata.

51
4.1.1.3 Isotonia e pH em Soluções

A regularização dos líquidos do organismo compreende a manutenção de


concentrações adequadas de água e eletrólitos e a preservação da concentração de íons
hidrogênio dentro de uma faixa estreita e adequada ao melhor funcionamento celular. O
equilíbrio entre o gradiente de concentração interno e externo é produto da soma das
concentrações parciais de todos os constituintes fisiológicos. Definir a quantidade ideal destes
constituintes no meio intra ou extracelular é bastante complexo, já que pode variar de órgão para
órgão e/ou organismo para organismo. Entretanto, a tonicidade (pressão osmótica) intra e
extracelular, fruto da concentração global de todos solutos, deve ser equivalente, no sentido de
se evitar lesões celulares por osmose. Em um meio hipertônico, a célula tende a perder solvente
(água). O processo de desidratação poderá comprometer a biossíntese celular, e se for muito
intenso levar a célula à morte. Em um meio hipotônico, a célula tenderá a absorver água para
equilibrar a pressão osmótica interna com a externa, podendo, em casos extremos de diferença
de gradiente de concentração, resultar no rompimento da membrana com extravasamento do
citoplasma, seguida de morte celular.

No caso dos íons de hidrogênio, a manutenção da quantidade ideal destes nos meios
intra e extracelulares depende de um delicado equilíbrio químico entre os ácidos e bases
existentes no organismo, denominado equilíbrio ácido base. Alterações bruscas de concentração
de hidrogênio podem mudar a permeabilidade das membranas e as funções enzimáticas
celulares (biossínteses) comprometendo também as funções de diversos órgãos e sistemas. A
unidade de medida da concentração de hidrogênio em soluções é denominada pH. A redução do
pH (aumento da concentração de íons de hidrogênio) é denominada acidose, enquanto o seu
aumento é denominado alcalose.

Os íons de hidrogênio são extremamente móveis. Alterações de sua concentração


poderiam afetar, por efeito de migração, a concentração de outros íons, como sódio, potássio e
cloretos, podendo, desse modo, afetar também a isotonia do sistema. Entretanto, o organismo
dispõe de eficientes mecanismos de regularização do pH, integrados pelos sistemas renal,
circulatório (tampão) e respiratório.
52
O pH normal da água (solvente universal) é 7,0, ou seja, para cada 10.000.000 (10 7)
moléculas de água apenas 1 se dissocia:

[H+] / [H2O] = 1 x 10-7  pH = log [H+] log 10-7 = 7.

Assim sendo, o pH 7,0 é considerado neutro.

Os fluidos biológicos são soluções aquosas contendo uma grande variedade de


solutos, os quais apresentam diversas características químicas e iônicas. Os valores normais de
pH, por sua vez, dependem das concentrações destas diferentes substâncias (Quadro 4).

Quadro 4 - Valores normais de pH em sistemas fisiológicos.

Fluido pH Relevância

Sangue 7,4 Injetáveis

Lágrima 7,2 a 7,4 Colírios

Muco nasal 5,5 a 6,5 Errinos

Citoplasma 6,8 Distribuição

Vacúolos ácidos 5,0 Distribuição


A solução orgânica padrão para avaliação do pH é o sangue. O pH normal do sangue
varia dentro de uma estreita faixa de concentração, de 7,35 a 7,45. Portanto, em comparação
com a água, o sangue é ligeiramente alcalino. Essa alcalinidade representa a atividade iônica de
numerosas substâncias, incluindo o sistema tampão do sangue (bicarbonato/ácido carbônico
64%, hemoglobina/oxi-hemoglobina 28%, proteínas ácidas/proteínas básicas 7%, fosfato
monoácido/fosfato diácido 1%). A relação do principal sistema tampão é de 20 partes de
NaHCO3 para 1 de H2CO3. O equilíbrio deste sistema tampão é, por sua vez, controlado pela
respiração (ex.: eliminação de CO2) e filtração renal (ex. bomba H+/Na+). 53

I) Importância do ajuste de pH de medicamentos

Na elaboração de uma formulação medicamentosa, o ajuste de pH pode ser importante


sob vários aspectos, dentre os quais:

 Dissolução dos componentes da fórmula (especialmente dos fármacos);


 Manutenção da estabilidade química e farmacodinâmica;
 Obtenção do efeito terapêutico;
 Prevenção de fenômenos irritativos (isoidria).
Ressalta-se que, muitas vezes, o pH de maior estabilidade do fármaco não é o que
melhor se ajusta a sua solubilidade, ao uso terapêutico e/ou a sua compatibilidade com o meio
fisiológico. Assim, adota-se como critério básico a escolha do pH para estabilidade razoável e
compatível com o uso clínico.

a) Ajuste de pH em soluções:

O ajuste se dá pela adição de acidulantes (acidificantes) ou alcalinizantes (bases).

b) Uso de tampões para manutenção do pH:


O uso de sistemas tampões segue a equação de Henderson-Hasselbalch:

pH = pKa – log [HA]/[A-]

Baseia-se no princípio de que ácidos ou bases fracas se dissociam muito pouco, de


forma a manter o pH numa faixa estreita de equilíbrio. 54

Assim, os tampões são sistemas que podem ser compostos por:

 Ácido fraco e seu sal (ex.: ácido acético/acetato de sódio, ácido bórico/borato de
sódio);
 Base fraca e seu sal (ex.: amônia/cloreto de amônio);
 Dois sais (ex.: fosfato monopotássico/fosfato bipotássico).
Alguns sistemas tampões que se tornaram clássicos são os de Gifford, à base de ácido
bórico e carbonato de sódio (pH 5,0 a 8,6); de Sorensen, à base de fosfatos mono e dissódico
(pH 5,91 a 8,04); e de Palitzsh, à base de ácido bórico e borato de sódio (pH 6,7 a 8,7) - todos
utilizados em colírios.

Para formulações via oral, os tampões mais utilizados são de ácido cítrico e fosfato
dissódico (pH 2,8 a 8,0), sendo que tampões contendo borato são proibidos em virtude da
toxicidade (hemolítico via oral).

II) Importância do ajuste da Pressão Osmótica (Isotonização)

A isotonia é uma propriedade que ocorre quando a pressão osmótica de duas soluções
distintas é idêntica (soluções isotônicas). No caso dos medicamentos, esta identidade é
comparada com a tonicidade dos fluidos biológicos. Lágrima, sangue, muco nasal e fluidos
teciduais possuem mesma pressão osmótica, que corresponde a uma solução aquosa de NaCl
0,9 %.

Quando um medicamento apresenta tonicidade (pressão osmótica) maior que a dos


fluidos biológicos é classificado como hipertônico, e como hipotônico, se a tonicidade for menor.
Há tecidos particularmente mais sensíveis às variações de pressão osmótica, entre
eles: mucosas oftálmica e nasal, tecido muscular e subcutâneo. No caso do sangue, a
sensibilidade tecidual é compensada pelo fluxo e volume relativamente grandes. Já a pele e
mucosas do trato gastrintestinal são praticamente insensíveis a estas variações.

De um modo geral, os medicamentos devem ser preferencialmente isotônicos,


havendo, em alguns casos, a necessidade terapêutica de administrar soluções hipertônicas (ex.:
quimioterápicos, reposição eletrolítica, redução da pressão intracraniana, nutrição parenteral
55
prolongada).

No caso de soluções hipotônicas administradas via parenteral e via mucosas (colírios e


errinos), a isotonização é obrigatória, a fim de se evitar dor ou irritação local e, dependendo do
caso, lesões mais graves.

III) Ajuste da Tonicidade (Cálculos de Isotônia)

O ajuste da tonicidade é feito pela adição de quantidade adequada de um isotonizante


(ex.: NaCl, dextrose, sacarose). A quantidade a ser adicionada dependerá, por sua vez, da
tonicidade prévia da solução, a qual pode ser determinada por cálculos de isotonia. O cálculo é
geralmente feito comparando a pressão osmótica com outra propriedade coligativa, como o
abaixamento do ponto de congelamento (abaixamento crioscópico - ºC).

Propriedades coligativas são propriedades físico-químicas de soluções que, segundo a


Lei de Raoult, se correlacionam de modo proporcional na concentração.

Assim, sempre que um sólido é dissolvido em uma solução, a pressão osmótica e o


ponto de ebulição aumentam, enquanto o ponto de congelamento diminui.

A opção pelo ponto de congelamento em associação com a tonicidade deve-se ao fato


de que as demais constantes coligativas não são aplicáveis, seja por questões de estabilidade,
seja por questões práticas.

Essas correlações são válidas para soluções ideais (diluídas), sendo que desvios
positivos para solutos de forte atração intermolecular com solventes e negativos para atrações
fracas são potencializados em soluções concentradas. Particularmente para os eletrólitos, há
desvios consideráveis na Lei de Raoult, mesmo em soluções diluídas. Entretanto, estes desvios
são corrigidos dividindo-se o valor obtido por fatores de correção baseados na valência dos
eletrólitos envolvidos.

Na prática, existem três formas de se determinar a quantidade de isotonizante a ser


adicionada a uma formulação: cálculo pela concentração molal, uso de tabelas de abaixamento
crioscópico e uso de gráficos.

56

a) Cálculo pela Concentração Molal

Quando não houver dados tabelados para soluções a 1% sobre EqNaCl ou , pode-se
utilizar a Equação de Van´t Hoff , onde:

 = 

 é a constante crioscópica do solvente; para água  = 1,86 ºC / moles.L

 é a concentração molal de uma substância dissolvida em um determinado solvente.

 = n / W (n = número de moles do soluto e W = massa do solvente em Kg).

n = m / PM (m = massa de soluto e PM = peso molecular do soluto).

Logo, tem-se:

 =  . m / PM .W (para não eletrólitos).

No caso de eletrólitos, a Equação de Van´t Hoff deve considerar a capacidade de


ionização dos solutos, uma vez que estes geram, a partir desta, uma maior quantidade de
partículas em solução, e a pressão osmótica é a propriedade que resulta do número total de
partículas.
Ou seja, cada partícula dissociada de NaCl gera por dissociação 2 partículas (1 de Na +
e outra de Cl-).

Assim:

 =  . m . i / PM .W (equação 1)

Valores de i para substâncias ionizáveis: 57

 Não eletrólitos ou substâncias de baixa ionização i = 1,0


 Substâncias que se dissociam em 2 íons i = 1,8
 Substâncias que se dissociam em 3 íons i = 2,6
 Substâncias que se dissociam em 4 íons i = 3,4

Por definição, a constante  é o abaixamento crioscópico que ocorre quando se


adiciona 1 equivalente-grama de uma dada substância a 1 kg de solvente. A correlação entre o
abaixamento crioscópico () e a pressão osmótica é possível, uma vez que o  dos fluidos é de
0,52 ºC. Assim, a massa a ser adicionada, de qualquer substância, a 1 L de água para obter
soluções de mesma tonicidade dos fluidos biológicos, pode ser calculada pela equação:

m =  . PM . W /  . i (equação 2)

m = 0,52 . PM / 1,86 . i (equação 2a)

m = 0,2796 . PM / i (equação 2b)

Exemplo 1: Calcule a massa de dextrose a ser adicionada a 1 L de água para obter


solução glicosada isotônica, dados: PM 198,2; i = 1.

Para i = 1 m = 0,2796 . PM
m = 0,2796 . 198,2 = 55,4 g/L

Exemplo 2: Qual a concentração isotônica de uma solução de ácido ascórbico, dados:


PM = 176,17; i (molécula) = 1

m = 0,2796 . 176,17 = 49,3 g/L 58

Exemplo 3: Qual a massa de NaCl que deve ser adicionada a 100 ml de água para
obter solução isotônica, dados: PM = 58,5; i (NaCl) = 1,8

m = 0,2796 . 58,5 / 1,8 = 9,09 g/L = 0,909 g/100 ml

Entretanto, quando se deseja isotonizar uma solução medicamentosa, devem-se seguir


os seguintes passos:

a) Calcular o valor de abaixamento crioscópico () para cada soluto.

b) Somar os valores de ().

c) Subtrair o valor obtido na etapa (b) de 0,52º.

d) Definir o melhor isotonizante e aplicar equação 2.

Exemplo 4: Calcule a quantidade de NaCl a ser adicionada em 30 ml de uma


preparação oftálmica contendo Atropina.SO4 1%; Bissulfito de sódio 0,05%, dados: PM (sulfato
de atropina) = 694; i (sulfato de atropina) = 2; PM (bissulfito de sódio) = 104; i (bissulfito de
sódio) = 1,5; PM (NaCl) = 58,5; i (NaCl) = 1,8 .
Aplicando-se a fórmula:  =  . m . i / PM .W obtém-se os valores individuais de
abaixamento crioscópico, ou seja:

Sulfato de atropina = (1,86 . 10 . 2 / 694 . 1) = 0,0536 ºC

Bissulfito de sódio = (1,86 . 0,5 . 1,5 / 104 . 1) = 0,0134 ºC

 Total = 0,067 ºC 59

0,52 ºC – 0,067 ºC = 0,453 ºC (Déficit no ponto de congelamento)

m = 0,453 . 58,5 / 1,86 . 1,8 = 7,92 g/L (massa de NaCl para suprir déficit em 1L)

0,24g (seria a massa de NaCl para isotonizar 30 mL da solução)

b) Uso de tabelas (1% e/ou Eq.NaCl)

A partir de valores tabelados de 1% e Eq.NaCl para vários compostos, pode-se


estimar a concentração global do medicamento e determinar a quantidade necessária a se
adicionar de isotonizante para tornar o medicamento isotônico com os fluidos biológicos. Esses
cálculos tratam-se, basicamente, de regras de 3 e são, portanto, bem simples. Como parâmetros
de isotonicidade utiliza-se, além do valor de 0,9% para NaCl, a temperatura de congelamento
dos fluidos fisiológicos, que é de 0,52 ºC.
Exemplo 1: Com base nos valores tabelados abaixo calcule o que se pede.

Composto 1% Eq.NaCl

Ácido ascórbico 0,105 º 0,18

Ácido bórico 0,283 º 0,50


60
Borato de sódio 0,241 º 0,42

Cloreto de benzalcônio 0,091 º 0,16

Cloreto de cálcio 0,395 º 0,68

Cloreto de potássio 0,493 º 0,76

Dipirona 0,115 º 0,19

D-Glicose (dextrose) 0,100 º 0,18

1a) Quantidade de dextrose para isotonizar 2 ml de solução injetável de ácido


ascórbico 0,5%.

 (ácido ascórbico 0,5%): 0,5 . 0,105 = 0,0525

 (fluido) -  (solução): 0,52 – 0,0525 = 0,4475

Valor de dextrose para isotonizar:

1% ------0,100ºC

x ----- 0,4475ºC

 x = 4,48 %, ou seja, 4,48 g de glicose para cada 100 ml (~ 0,2 g para 5 ml)
1b) Quantidade de NaCl para isotonizar 30 mL de solução de Ringer.

Solução de Ringer (gmL) (%)

Cloreto de cálcio…............................ 0,1 g  0,2 . 0,68 = 0,136

Cloreto de potássio …………………. 0,1 g  0,2 . 0,76 = 0,152


61
Cloreto de sódio ........... qsp ... isotonizar x = ?

Glicose .…………………....….......... 0,5 g  1,0 . 0,18 = 0,18

Água ..................... qsp ................. 50 ml* Total em Eq NaCl = 0,468 %

*Obs.: O valor a ser multiplicado pelo valor “tabelado” de Eq NaCl ou 1% sempre deve
estar em percentagem (%). Logo, a quantidade de cada soluto devem ser calculadas em g /
100ml.

 x = 0,9 – 0,468 = 0,432 %

Ou seja: 0,1296 g de NaCl para isotonizar 30 ml.

c) Método do Gráfico

Esse método é utilizado quando a demanda de soluções medicamentosas é alta e as


doses variam para cada paciente, situação comum em farmácias hospitalares.

Traça-se no eixo y a concentrações de NaCl de 0 a 0,9 % (concentração isotônica),


fazendo-se o mesmo para o fármaco que se queira isotonizar. Nesse caso, a concentração
isotônica do fármaco poderá ser calculada pelos métodos anteriores.

Feito isto, traça-se uma reta ligando o ponto no eixo y relacionado à concentração
isotônica de NaCl ao ponto no eixo x correspondente à concentração isotônica do fármaco em
questão.
Nas doses personalizadas do fármaco que forem hipotônicas, a concentração de NaCl
necessária para se isotonizar o medicamento será o par y (do ponto x,y) correspondente à reta
traçada (Fig. 3).

FIGURA 3 – GRÁFICO PARA DETERMINAÇÃO DE QUANTIDADE DE ISOTONIZANTE

62

1,8 Fármaco g /100mL

FONTE: Arquivo Pessoal do autor


5 SUSPENSÕES

São preparações líquidas obtidas pela dispersão de uma substância sólida insolúvel
(mas finamente dividida) em um veículo. Essa substância é a fase dispersa (interna) e o veículo
a fase dispergente (externa).
63
Destinam-se à via oral tópica ou parenteral, sendo que, no que diz respeito ao tamanho
da partícula, as vias oral e tópica permitem dimensões maiores que a oftálmica e a injetável.

As suspensões destinadas ao uso injetável ou oftálmico devem ter partículas de


dimensões menores que 100 nm. Partículas grandes apresentam liberação mais lenta e podem
provocar irritação tissular ou da mucosa.

Dependendo da Farmacopeia as suspensões líquidas recebem diferentes


denominações, incluindo:

Misturas: soluções ou suspensões para uso oral sem agentes de dispersão (leite de
magnésia).

Suspensões: dispersões de partículas sólidas insolúveis, finamente divididas em meio


líquido (orais, oftálmicas e injetáveis IM).

Loções: suspensões ou emulsões para uso externo, geralmente contendo


antisséptico, adstringente, antiparasitário (ex. gel de calamina e loção de benzoato de benzila).

Géis: suspensões em meio aquoso, em que as partículas da fase dispersa têm


dimensões próximas às dos coloides (0,1 a 5 m).

Magmas: semelhantes aos géis, com partículas maiores e menor estabilidade física.

Emulsões: orais, tópicas, microemulsões (uso injetável).

Entretanto, com relação à fase dispersa e à fase dispergente, as suspensões podem


assumir formas diversas. Assim, temos, além das suspensões propriamente ditas
(sólido/líquido), névoas (líquido/gasoso), fumos (sólido/gasoso), espumas (gasoso/líquido),
emulsões (líquido/líquido), pós (sólido/sólido), inclusões (líquido/sólido) e pedras-pomes
(gasoso/sólido).

A classificação mais apropriada para dispersões refere-se à dimensão da fase dispersa


(Quadro 5).

Quadro 5 – Classificação das dispersões segundo o tamanho da partícula ()


64
Tamanho Tipo de Dispersão Exemplos

10 a 50 m Grosseira Suspensões e emulsões

0,5 a 10 m Fina Suspensões finas

de 1 nm a 0,5 m Coloidal Magmas, géis e microemulsões

Menor que 1 nm Molecular Soluções

5.1 VANTAGENS E DESVANTAGENS DAS SUSPENSÕES

As principais razões para se optar por suspensões são: aumento ou controle da


biodisponibilidade, correção ou atenuação de sabor desagradável, preferência por forma líquida
(deglutição e/ou flexibilidade de dose).

Como vantagens, as suspensões permitem:

 O aumento da estabilidade química em solução;


 A possibilidade de administrar fármacos insolúveis na forma líquida (preparações
pediátricas e geriátricas);
 Maior facilidade na correção de sabor desagradável de certos fármacos;
 Retardar o tempo de absorção de fármacos por via injetável.
Entre as desvantagens, destacam-se:

 Baixa estabilidade física;


 Menor uniformidade;
 Menor velocidade de absorção.

65
5.1.1 Pré-requisitos para uma Suspensão Ideal

Além de estabilidade química, física e microbiológica, as características desejadas


para suspensões em geral são:

 Sedimentação lenta;
 Fácil redispersão;
 Fluidez adequada.

O tamanho da partícula pode variar dependendo do tempo de absorção desejado,


sendo que quanto menor a partícula mais absorvível ela será. Entretanto, produtos de uso
oftálmico ou tópico devem ser micronizados para evitar irritação.

5.1.2 Aspectos Teóricos Envolvidos na Estabilidade Física de Dispersões

Os fatores que afetam a estabilidade de dispersões farmacêuticas (suspensões e


emulsões) referem-se às características da fase dispersa, da fase dispergente e dos adjuvantes
utilizados, podendo envolver aspectos físicos ou físico-químicos.
I) Aspectos Físicos

a) Tamanho da partícula

O tamanho da fase dispersa afeta diretamente a estabilidade de uma suspensão. A Lei


de Stokes explica o fenômeno por meio da equação: 66

dx / dt = 2 g.r2 (d1-d2) / 9

Onde: dx / dt = velocidade de sedimentação; r = raio da partícula; g = aceleração da


gravidade; (d1-d) = diferença de densidade entre partícula (d1) e meio(d2);  = viscosidade do
meio (veículo).

Portanto, com base na equação acima, pode-se inferir que as dispersões grosseiras e
finas apresentam em geral maior tendência à sedimentação que suspensões coloidais.

b) Consistência do veículo

Os aspectos reológicos da fase dispergente são igualmente críticos na velocidade de


separação de fases de uma suspensão ou emulsão.

Segundo a Equação de Stokes, o aumento da viscosidade () pode reduzir a


velocidade de sedimentação, sendo um dos recursos mais empregados para estabilizar
suspensões.

Entretanto, existem limitações referentes à redispersibilidade e ao tempo de


escoamento, tais como: aumento da dificuldade no escoamento para enchimento (envase) e
administração (oral ou IM); inviabilização da passagem pelas agulhas (injetáveis IM); dificuldade
no espalhamento adequado (tópicos).
II) Aspectos Físico-químicos

Incluem propriedades físico-químicas como densidade da partícula e veículo,


polaridades ou cargas superficiais dos sistemas envolvidos e aspectos cristalográficos.

a) Densidade da fase dispersa 67

No que diz respeito à densidade da fase interna, as suspensões (> densidade que o
veículo) tendem à sedimentação, enquanto as emulsões (< densidade que o veículo) tendem à
flutuação. Igualmente, segundo a Lei de Stokes, quanto maior a diferença entre densidade da
partícula dispersa e veículo dispergente, maior será a velocidade de sedimentação.

b) Tensão interfacial entre fase interna e externa

No que diz respeito à baixa afinidade entre fases dispersa (interna) e dispergente
(externa) em suspensões e emulsões, a tensão interfacial é um dos aspectos mais críticos.

Essa tensão será tanto mais crítica quanto maior for a área superficial de contato entre
as fases interna e externa. A influência da tensão no sistema pode ser expressa pela equação da
Energia Livre de Gibs (G).

G = S-L . A

Onde: S-L é a tensão interfacial sólido-líquido e A é a superfície total de contato do


sólido.

Embora a redução do tamanho da partícula diminua a velocidade de sedimentação, a


subdivisão das partículas aumenta a área superficial total de contato. Esse aumento da área
superficial aumenta a energia do sistema que idealmente deveria ser zero, resultando na
instabilidade do sistema disperso. Esta instabilidade manifesta-se pela promoção da
reagregação das partículas (aderência entre as partículas), que culmina novamente, com
aumento da velocidade de sedimentação. Uma maneira de reduzir o tamanho da partícula sem
aumentar a energia do sistema e causar instabilidade, é reduzir a tensão interfacial (S-L) com
adição de tensoativos.

c) Molhabilidade das partículas suspensas 68

Em sistemas dispersos, em que as fases dispersas e dispergentes apresentam


afinidade muito baixa, ou mesmo repulsão, a molhabilidade da partícula será baixa, podendo
inclusive ocorrer adsorção de gases, os quais tendem a deixar as partículas menos densas,
provocando, inclusive, a flutuação.

Assim sendo, quanto maior a molhabilidade em um solvente polar como a água, maior
será o deslocamento de gás adsorvido nesta partícula, já que o ar é composto basicamente por
moléculas apolares (ex. O2, N2, CO2, Ar). Entretanto, se a afinidade pelos gases adsorvidos na
superfície da partícula for grande (repelir água) esta irá flutuar.

Este fenômeno, também relacionado a tensões interfaciais, pode ser definido de


acordo com ângulo de contato da partícula com o veículo, que pode ser:

 De zero grau: totalmente molhável;


 De 180º: totalmente não molhável;
 Entre 0 e 180o: molhabilidade intermediária.
Nesses casos, a molhabilidade também pode ser aumentada com a adição de
tensoativos, macromoléculas muito hidrofílicas (CMC e gomas) ou ainda substâncias hidrófilas
inorgânicas insolúveis (bentonita, Veegum®, hidróxido de alumínio e Aerosil®). A adição desses
componentes, de modo geral, tende a aumentar a área de contato sólido líquido.
c) Crescimento de cristais

O tamanho das partículas pode aumentar quando a atividade termodinâmica na fase


sólida é menor do que na líquida, ou seja, a concentração do sólido em solução é maior que sua
solubilidade. Essa ocorrência pode ser em razão de:

 Variação de temperatura (armazenamento);


69
 Polimorfismo do sólido em suspensão;
 Diferentes tamanhos de cristais;
 Presença de material cristalino ou amorfo além do fármaco.

d) Cargas superficiais e redispersibilidade

As partículas dispersas (fase interna) tendem a se sedimentar com ação da gravidade,


processo que pode ocorrer de forma isolada ou aglomerada.

A sedimentação de forma aglomerada, embora em geral seja mais rápida, leva à


formação de sedimento floculado, o qual é facilmente redispersível. Já a sedimentação de forma
isolada leva à formação de sedimentos compactos, muitas vezes, irredispersíveis devendo,
portanto, ser evitada.

Para entender os processos de sedimentação é necessário compreender quais os


tipos de interações interpartículas envolvidos. As forças que atuam sobre partículas podem ser
atrativas (Van der Waals) ou repulsivas (eletrostáticas).

Quando as forças atrativas predominam, há em geral a formação de sedimento frouxo


e de fácil redispersão; no caso oposto, há a tendência de formação de sedimento compacto.

Para evitar a sedimentação de forma isolada, deve-se atuar sobre as forças repulsivas,
as quais são resultantes de eventuais cargas superficiais das partículas.

As cargas eletrostáticas (positivas ou negativas) na superfície são decorrentes da


ionização das moléculas na superfície da partícula ou da adsorção de íons no meio líquido.
Essas cargas são responsáveis pela formação de um potencial “Zeta”, que pode ser
medido em célula eletrostática.

Quanto maior o potencial Zeta, maiores as forças de repulsão entre as partículas e


maior é a tendência de um sedimento compacto (cake).

A redução do potencial Zeta pode ser lograda com a adição de íons de cargas opostas
até o ponto de neutralização das cargas, ou pela adição de polímeros hidrofílicos para formação
de uma camada protetora sobre as partículas. 70

5.1.3 Formulação de Suspensões

Submete-se o fármaco insolúvel ou pouco solúvel à subdivisão (moagem,


micronização). Esse processo pode ser feito isoladamente, com o auxílio de coadjuvantes ou
parte do veículo. Após a subdivisão das partículas se faz a incorporação ao veículo.

Os componentes usualmente empregados na preparação de suspensões incluem,


além dos fármacos, agentes molhantes (tensoativos não iônicos: Tweens® e Spans®; moléculas
hidrofílicas: CMC, Veegum®, bentonita, glicerina); agentes suspensores (alginatos, gomas,
gelatina, bentonita, atapulgita, Veegum®, Carbopol®, Natrosol®, CMC, álcool polivinílico-
kolidon®, dióxido de silicone coloidal, ceras, lanolina, óleo de rícino), agentes floculantes (fosfato
monopotássico, íons em geral, bentonita), edulcorantes, flavorizantes, antioxidantes e
conservantes.

5.1.4 Emulsões

São formas farmacêuticas constituídas por duas fases líquidas imiscíveis, em geral
água e óleo, e que podem apresentar consistência líquida ou semissólida.

As formas líquidas são empregadas para uso interno ou externo, e as semissólidas


para uso externo. As formas de uso externo são denominadas loções, quando líquidas, ou
cremes, quando semissólidas.
Quanto à classificação das emulsões, temos os seguintes critérios:

 Tamanho das gotículas: microemulsões e emulsões;


 Número de fases: bifásica, trifásica e emulsões múltiplas;
 Disposição das fases: emulsões água em óleo (A/O) ou óleo em água (O/A).

71
A maioria das emulsões utilizadas na terapêutica constitui emulsões do tipo O/A, ou
seja, a fase interna (descontínua ou dispersa) é a oleosa, e a externa (contínua ou dispergente)
é a aquosa. As emulsões O/A além de serem laváveis, podendo ser facilmente removidas da
pele ou das roupas, apresentam, em geral, melhor biodisponibilidade.

Os métodos mais simples para descobrir qual é a fase interna e qual a externa são:

 Condutometria: apenas emulsões em que a fase contínua e a aquosa conduzem a


corrente elétrica.
 Uso de corantes: corantes hidrofílicos colorem de maneira uniforme emulsões O/A,
enquanto corantes lipofílicos colorem emulsões A/O.
 Adição de veículo: a incorporação de veículo, seja água ou óleo, só será fácil se
esse corresponder à fase externa da emulsão.
 Microscopia: pode-se avaliar, inclusive, a uniformidade dos tamanhos das gotículas
(Fig 4).

FIGURA 4 – IMAGEM MICROSCÓPICA DE UMA EMULSÃO, FA (1) E FO (2)

FONTE: Arquivo pessoal do autor.


5.2 VANTAGENS E DESVANTAGENS DAS EMULSÕES

Nas emulsões, o fármaco pode estar dissolvido ou suspenso nas fases aquosa ou
oleosa, e esta versatilidade é uma das principais vantagens das emulsões.

Como vantagens as emulsões apresentam, ainda: 72

 Aumento da estabilidade química em solução;


 Possibilidade de se solubilizar o fármaco na fase interna ou externa;
 Possibilidade de mascarar o sabor e o odor desagradável de certos fármacos por
meio de sua solubilização na fase interna;
 Possibilidade de se otimizar a biodisponibilidade;
 Boa biocompatibilidade com a pele humana.

Entre as desvantagens, destacam-se:

 Baixa estabilidade física ou físico-química;


 Menor uniformidade.

5.2.1 Pré-requisitos das Emulsões

Como pré-requisitos, as emulsões devem apresentar estabilidade química e física


compatíveis com seu uso, e serem formuladas de forma biocompatível com a via de
administração desejada. Assim, as emulsões devem apresentar viscosidade adequada ao uso
tópico ou oral. Os tensoativos utilizados na estabilização das emulsões devem apresentar
valores de EHL (Equilíbrio Hidrófilo Lipófilo) adequados (Fig. 5) e ser compatíveis com uso
interno ou externo.
FIGURA 5 – TENSOATIVOS E EHL IDEAL. A= MUITO LIPOFÍLICO; B= EHL IDELA E C= MUITO HIDROFÍLICO

Porção Polar A

Porção Apolar
A

73

ÓLEO
B
ÁGUA

FONTE: Fonte pessoal do autor

Os valores de EHL podem ser encontrados na literatura em tabelas diversas. Segundo


a Tabela de Griffin, estes valores variam de 0 a 40. Quanto aos valores de EHL, os compostos
são classificados em:

 Agentes antiespuma 1-3 (EHL baixo)


 Emulsificantes A/O 3-6
 Agentes molhantes 7-9
 Emulsificantes O/A 8-18
 Detergentes 13-16
 Agentes solubilizantes 16-40 (EHL alto)
Os tensoativos, propriamente ditos, formam sobre a superfície da gotícula filmes do
tipo monomolecular (micelas). Já os auxiliares de tensoativos podem formar filme multimolecular,
caracterizado pela sobreposição aleatória de polímeros ou adsorção de partículas sólidas.

5.2.2 Cálculo de EHL


74

Praticamente todos os aspectos físico-químicos discutidos para suspensões são


igualmente válidos para emulsões. Entretanto, no que diz respeito ao uso de tensoativos, a
adequação ou aproximação dos valores de EHL em emulsões é fundamental para garantia da
estabilidade física. Essa adequação é ainda mais gritante no caso de emulsões líquidas, pois do
mesmo modo que o aumento da viscosidade retarda a velocidade de sedimentação das
partículas, dificulta a coalescência das gotículas e, consequentemente, a separação de fases.

No caso de derivados graxos, o equilíbrio hidrófilo-lipófilo (EHL) é determinado em


função de parâmetros que incluem peso molecular, índice de saponificação (S) e índice de
acidez (A).

EHL 20 . (1 – S / A)

Para compostos não iônicos, tais como os polímeros hidroxilados, o índice de


polaridade da molécula é dado por uma relação entre peso molecular e número de hidroxilas. O
índice hidrófilo-lipófilo (IHL) de derivados de polioxietileno é determinado em função do número
de grupos oxietileno (O) e átomos de carbono da cadeia (C).

IHL = O . 100 / C
Com o valor de EHL de cada componente envolvido na formulação da emulsão O/A ou
A/O, pode-se então escolher, de forma criteriosa, o sistema tensoativo ideal.

a) Etapas envolvidas na escolha de sistema tensoativo ideal:

 Determinar o tipo de emulsão A/O ou O/A. 75


 Determinar a proporção de cada componente constante na fase oleosa.
 Multiplicar cada valor obtido na fase 2 pelo valor dado de EHL (em geral tabelado).
 Somar os valores obtidos na fase 3 e determinar o valor de EHL requerido.
 Escolher dentre o(s) tensoativo(s) disponíveis aquele(s) que mais se adéqua(m) ao
valor de EHL requerido.

Obs.: quando os valores de EHL requeridos são distintos dos valores dos tensoativos
disponíveis, em geral trabalha-se com dois tensoativos, sendo que, obviamente, um deverá
apresentar valor superior e o outro inferior ao valor de EHL requerido. As proporções são
calculadas conforme Esquema B, a seguir.

B) Cálculo dos percentuais de tensoativos

 Escolher o par de tensoativos que irá compor o sistema tensoativo.


 Atribuir a um tensoativo (A) valor algébrico (x) e ao outro tensoativo (B) valor de (1-x)
e aplicar a fórmula abaixo:

EHLreq = x . EHLA + (1-x) . EHLB

O valor obtido para x corresponderá à proporção de tensoativo A, que multiplicado


por 100 nos dá o valor em percentual. O valor (1 – x) nos dá, por sua vez, a
proporção necessária de tensoativo B, assim como 100 – (%A) igual (%B).
 Os valores em gramas podem ser obtidos multiplicando-se a proporção determinada
de cada tensoativo pela quantidade em gramas previamente estipulada na
formulação.
Obs.: em geral as formulações empregam de 3 a 7% de emulsificante. Valores
superiores resultariam em desperdício, e inferiores seriam insuficientes para recobrir
adequadamente a superfície de todas as gotículas.

C) Exemplo de cálculos envolvendo EHL


76

Calcule as quantidades em gramas de tensoativos para o sistema emulsificante mais


adequado às formulações abaixo:

a) Loção hidratante b) Creme emoliente

Cera branca ..............................5,0 g Cera branca .................... 40 g

Óleo mineral ............................26,0 g Lanolina ........................... 10 g

Óleo de amêndoas ..................18,0 g Óleo de amendoim .......... 57 g

Lactato de amônia .................... 4,0 g Óleo de rícino..................... 5 g

Emulsificante(s) ........................ 5,0 g Emulsificante(s) ................ 3 %

Água destilada .......... qsp ...... 100 mL Água ................................. 20 g

Dados (EHL A/O e EHL O/A): cera branca (4 e 11); óleo mineral (5 e 12); óleo de
amêndoas (6 e 14); lanolina (8 e 11), óleo de rícino (6 e 14).

Com base nas formulações acima, pode-se inferir, sem a necessidade de qualquer
método de análise, que a fórmula a é uma emulsão O/A, e a b, A/O. Essa conclusão se baseia
no fato de que sempre que a fase aquosa for superior em proporção será a fase externa.
Igualmente, formulações com aproximadamente 31% ou mais de água já tornam possível
sistemas O/A. Em contrapartida, sempre que a FO for superior a 75% será a fase externa.

Assim sendo, os valores a serem utilizados na emulsão a serão os correspondentes à


EHL O/A, enquanto para emulsão b, EHL A/O.

Esses valores, por sua vez, são multiplicados pelas respectivas proporções de cada
componente da fase oleosa. A somatória nos dará o EHL requerido para cada emulsão.

77
Cera branca ............ 5,0 / 49 . 11 = 1,12 Cera branca ............ 40 / 112 . 4 = 1,43

Óleo mineral .......... 26,0 /49 . 12 = 6,36 Lanolina .................. 10 / 112 . 8 = 0,71

Óleo de amêndoas.18,0 / 49 . 14 = 5,14 Óleo de amêndoas ... 57 / 112 . 6 = 3,05

FO = 5 + 26 + 18 = 49 Óleo de rícino............ 5 / 112 . 6 = 0,27

EHLreq = 1,12 + 6,36 + 5,18 = 12,62 FO = 40 + 10 + 57 + 5 = 112

EHLreq = 1,43 + 0,71 + 3,05 + 0,27 = 5,45

Com base no EHL requerido, consulta-se na literatura qual o tensoativo ou sistema


tensoativo mais adequado (Quadro 7).

Quadro 7 – Valores de EHL para alguns agentes emulsificantes

Nome químico Nome Comercial EHL

Sequioleato de sorbitano Arlacel® 3,7

Monoestearato de sorbitano Span 60® 4,7

Monopalmitato de sorbitano Span 40® 6,7

Monolaurato de sorbitano Span 20® 8,6

Éter láurico de polioxietileno Bryj30® 9,7


Monooleato de polioxietilenosorbitano Tween 81® 10,0

Monoestearato de polioxietileno Myrj 45 ® 11,1

Monolaurato de polioxietilenossorbitano Tween 21® 13,3

Monoleato de polioxietilenossorbitano Tween 80® 15,0

Lauril Sulfato de sódio (LSS) Crodalan AWS 40,0

78
Como nenhum dos tensoativos apresenta EHL exatamente igual aos EHLs requeridos
que são encontrados nos cálculos, utilizam-se dois cujos valores estejam imediatamente superior
e inferior ao determinado.

Por exemplo, para emulsão a (EHL req = 12,62), os tensoativos Myrj 45 e Tween 21
podem, nas devidas proporções, resultar em um sistema tensoativo de EHL exatamente igual a
12,62.

Para tanto se aplica a fórmula:

EHLreq = x . EHLA + (1-x) . EHLB

Assim, assumindo-se que tensoativo A seja o Myrj 45 e B o Tween 21, substitui-se e


determina-se valor de x.

12,62 = 11,1x + 13,3 (1-x)

x = 0,31 = 31%

Ou seja, o sistema tensoativo será composto por 50% do tensoativo Myrj 45 e 50% de
Tween 21, o que em gramas corresponderia a 2,5 g de cada.
Já para a emulsão b, os tensoativos com EHL mais próximos do requerido (5,45) são o
Span 60 (EHL = 4,7) e o Span 40 (EHL = 6,7).

5,45 = 4,7x + 6,7 (1-x)

x = 0,625, ou seja 62,5% de Span 60 e 37,5% de Span 40.

79

Considerando que 3% de 132 g (FO + FA) é igual a 3,96 g (~ 4,0 g), o sistema
tensoativo ideal para fórmula b será composto por 1,5 g de Span 60 e 2,5 g de Span 40.

5.2.3 Formulação de Emulsões

As emulsões líquidas ou semissólidas possuem, necessariamente, uma fase aquosa e


outra oleosa, as quais são imiscíveis de tal forma que se faz primordial o uso de tensoativos. De
modo geral, cada fase da emulsão é preparada isoladamente, incorporando-se depois uma fase
em outra. A fase aquosa é preparada aquecendo-se a água e nela dissolvendo-se os compostos
hidrossolúveis sem exceder a faixa de temperatura de 75-80 ºC. De modo similar, a fase oleosa
é também aquecida (ou fundida).

A dispersão da fase interna na externa deve ser feita com ambas as fases
praticamente à mesma temperatura (em torno de 70 ºC).

Essa dispersão (mistura) é feita sob agitação constante, sendo invariavelmente


necessária a presença de um sistema tensoativo adequado. Ressalta-se que emulsões de uso
interno, por apresentarem limitações quanto a gama de tensoativos biocompatíveis, são menos
estáveis, devendo-se recomendar a agitação antes do uso.

O fármaco, em geral, é incorporado depois do resfriamento e da formação da emulsão.


Componentes Usuais

I) Fase aquosa: a água é a matéria-prima utilizada em quase todos os produtos


farmacêuticos. Frequentemente constitui o componente mais abundante da formulação em
emulsões O/A. Deve ser adequadamente tratada, apresentar carga microbiana baixa ou nula, e
80
preferencialmente ausência de eletrólitos.

II) Fase oleosa: no caso de emulsões A/O, a fase oleosa é, invariavelmente, superior
em proporção. Pode ser composta por ampla variedade de substâncias lipofílicas, as quais em
geral são responsáveis pela inerente ação emoliente das emulsões. Estas substâncias podem
ser de origem:

Natural: os óleos de origem vegetal, como óleo de amêndoas, óleo de soja e cera de
carnaúba; têm como vantagem ser renováveis. Entre os compostos de origem animal, cada vez
menos utilizados para elaboração de cosméticos e medicamentos, destacam-se: lanolina e
derivados, espermacete e derivados.

Semissintética: destacam-se os ácidos graxos, como o ácido esteárico; álcoois


graxos superiores, como o álcool cetílico, álcool estearílico e álcool cetoestearílico (misturas
comerciais 50:50 e 50:70); ésteres de ácidos graxos e álcoois de cadeia média, como éster
decílico do ácido oleico (Cetiol V ®); ésteres de glicerol, como monoestearato de glicerila;
ésteres de glicol, como monoestearato de etilenoglicol, o diestearato de etilenoglicol e o
monoestearato de dietilenoglicol; e ésteres isopropílicos, como o miristato de isopropila,
palmitato de isopropila e estearato de isopropila - que são os mais empregados, seja como
espessantes ou como emulsionantes secundários.

Sintéticas: de maior destaque temos os silicones, que são compostos orgânicos


constituídos por cadeias, nas quais se alternam átomos de silício e oxigênio e que apresentam
radicais, tais como metil, etil e fenil, ligados ao átomo de silício. Podem apresentar, de acordo
com características estruturais, além de inércia química, baixa comedogenicidade, bom
espalhamento, baixa pegajosidade e ausência de efeito brilhante quando aplicado na pele. Estas
vantagens deram origem aos produtos oil free, que em função de seu aspecto não gorduroso
ganham a cada dia mais destaque.
Entre os principais tipos de silicones utilizados em formulações temos:

 Óleos de silicone: formam uma película isolante sobre a pele, repelindo a água,
agindo como lubrificante e emoliente (ex.: dimeticona e a fenilmeticona).
 Silicones voláteis: evaporam-se rapidamente quando aplicados, porém são capazes
de deixar sobre o local uma fina película (ex.: ciclometiona).
 Silicones emulsionantes: apresentam-se sob a forma emulsionada e podem ser
empregados na obtenção de preparações do tipo A/O.
81
Minerais: são hidrocarbonetos extraídos do petróleo cuja inocuidade depende do grau
de pureza, pois os mesmos podem conter substâncias carcinogênicas. Não são saponificáveis e
são quimicamente inertes, resistindo à oxidação e à hidrólise. Não apresentam capacidade de
penetração percutânea, sendo que o tamanho da cadeia determina ainda propriedades
emolientes, oclusivas e espessantes. Destacam-se o óleo mineral, a vaselina e a parafina.

III) Tensoativos: podem ser naturais (saponinas, colesterol, lecitina, lanolina, gomas)
ou sintéticos, os quais se subdividem em: aniônico (estearato de sódio, oleato de sódio,
laurilsulfato de sódio); catiônicos (cloreto de benzalcônio, cloreto de cetilpiridineo); não iônicos
(ésteres de sorbitano, alquil ésteres de sorbitano); tensoativos anfóteros (aminoácidos). Para o
uso interno são permitidos os tensoativos naturais como gomas, gelatina, lecitina, ou sintéticos,
como monoestearato de glicerilo, Spans® e Tweens®.

A combinação de ceras e tensoativos deu origem a produtos comerciais denominados


“ceras autoemulsionantes”, cuja composição, embora varie de fabricante para fabricante, integra
um ou mais tensoativos e substâncias graxas sólidas, dentre as quais se destacam os álcoois
graxos superiores.

O tipo de sistema tensoativo presente na cera autoemulsionante determina sua


natureza aniônica, catiônica ou não iônica.

Do mesmo modo, uma vez que a adição de ativos de carga contrária pode ocasionar a
desestabilização da emulsão, as ceras ditas não iônicas apresentam vantagens sobre as
demais, já que o risco de incompatibilidades é menor. Em contrapartida, as ceras
autoemulsionantes à base de tensoativos catiônicos apresentam ainda a desvantagem de serem
mais irritantes.

IV) Outros coadjuvantes: incluem conservantes (parabenos, bronopol, imidazolidinil


ureia, 2-fenoxietanol, metilcloroisotiazolinona e metilisotiazolinona), espessantes (álcool cetílico,
álcool estearílico e ácido esteárico), gelificantes (Carbopol®, gomas e hidroxietilcelulose),
umectantes (glicerina, sorbitol e propilenoglicol), e eventualmente edulcorantes, flavorizantes,
aromatizantes e corantes.

82
5.3 FORMAS PLÁSTICAS OU SEMISSÓLIDAS

São formas farmacêuticas consistentes e pegajosas de aparência translúcida ou


opaca, destinadas à aplicação na pele ou mucosas. As indicações dependem do grau de
absorção percutâneo.

Para ação tópica epidérmica destacam-se as ações emoliente, antimicrobiana,


desodorizante, protetora, entre outras.

Para ação tópica endodérmica destacam-se as ações anti-inflamatória, anestésica


local e antimicótica.

Para ação hipodérmica destacam-se anti-inflamatórios, anestésicos locais, hormônios.

Outras formas plásticas incluem supositórios, óvulos e velas que apresentam


consistência mais firme e são destinados respectivamente à mucosa retal, vaginal e uretral.

5.3.1 Penetrabilidade Percutânea


A penetrabilidade percutânea das formas semissólidas depende de fatores intrínsecos
e extrínsecos.

Entre os fatores intrínsecos destacam-se o coeficiente de partição, coeficiente de


difusão, solubilidade e peso molecular do fármaco, todos decisivos para a penetrabilidade.

No que diz respeito aos fatores extrínsecos destacam-se a temperatura, aspectos


anatomofisiológicos (área aplicada, tipo de pele), forma de aplicação (massagem, iontoforese) e
forma farmacêutica. 83

O tipo de pele determina o grau de hidratação, espessura e constituição da emulsão


epitelial, podem depender de fatores como idade, hereditariedade, dieta, medicação e
patologias.

No que diz respeito à forma farmacêutica, destacam-se como fatores positivos para a
penetração percutânea:

 O poder oclusivo das substâncias graxas ou oleosas aumenta a hidratação da pele e


absorção;
 Bases nas quais o fármaco é pouco solúvel aumentam a cedência do mesmo para a
pele;
 Uso de promotores de absorção (Dimetilsulfóxido-DMSO, dimetilformamida-DMF,
dimetilacetamida-DMA, ureia, propilenoglicol, tensoativos);
 Uso de substâncias altamente higroscópicas tende a aumentar o conteúdo de água
na pele, facilitando a absorção de fármacos hidrofílicos (aniônicos, catiônicos e não
iônicos);
 Uso de bases contendo óleos de origem animal (lanolina, espermacete) apresenta
maior afinidade com a emulsão epidérmica e viabilizam a absorção.

5.3.2 Classificação das formas Semissólidas


As formas semissólidas são classificadas sob vários critérios, incluindo penetrabilidade,
características físico-químicas e físicas.

Quanto à penetrabilidade, podem ser: epidérmicas, endodérmicas ou diadérmicas.


Quanto às características físico-químicas as formas plásticas podem ser do tipo solução
(pomadas, géis, óvulos e supositórios), suspensão (pastas) ou emulsão (cremes), características
determinantes na técnica de preparo das pomadas.

Quanto às características físicas, ou aspecto, as formas semissólidas são classificadas 84


em:

 Pomadas propriamente ditas hidrófobas: são formas semissólidas translúcidas,


pegajosas e consistentes que absorvem pouquíssima água, compostas de mistura
de hidrocarbonetos líquidos e sólidos; ceras, silicones ou outras substâncias
graxas, as quais são submetidas à fusão.
 Pomadas propriamente ditas hidrófilas: são formas miscíveis com a água,
compostas por uma mistura de polímeros hidrófilos (PEG) de pesos moleculares
distintos (PEG 400 + PEG 4000). São consistentes, removíveis com água e de
aparência translúcida.
 Pastas: são formas farmacêuticas de consistência semissólida, que encerram boa
proporção de partículas sólidas insolúveis (~20-50%). Eficazes para absorver
secreções de lesões. São formuladas com excipientes de características graxas ou
aquosas e destinadas à aplicação na pele ou mucosas.
 Cremes e loções: são formas emulsionadas de aparência opaca, cuja viscosidade
depende da composição e do tipo de fase externa; cremes O/A (hidrófilos) são em
geral menos viscosos que os A/O (hidrófobos). O = óleo e A=água.
 Géis: sistemas semissólidos constituídos por uma matriz polimérica (natural ou
sintética) dispersa em fase líquida (água ou óleo de parafina). Gel hidrófilo (água e

classificado como pomada hidrófoba.


5.3.3 Preparação de Formas Plásticas

As formas plásticas (semissólidas) podem ser obtidas por dissolução ou dispersão


mecânica, com ou sem fusão dos componentes sólidos em veículos apropriados. Os princípios
seguidos no preparo das diferentes formas líquidas (soluções, suspensões e emulsões) são
85
também válidos para formas plásticas dos tipos solução, suspensão e emulsão.

Assim sendo, as técnicas a serem empregadas dependerão não só das características


físico-químicas dos fármacos e coadjuvantes, como também do veículo.

O veículo deve ter consistência adequada (boa espalhabilidade), ser bem tolerado, não
apresentar incompatibilidades, apresentar cedência adequada a cada tipo de fármaco para
melhor permeação, ser estável, ser preferencialmente lavável e esterilizável.

Os veículos podem ser constituídos por componentes:

a) Hidrófobos

Ceras: são usadas para aumentar a consistência das pomadas, e embora não
laváveis, podem absorver água. Em geral, apresentam poucas incompatibilidades. Como
exemplos podem citar a lanolina, cera de abelhas, cera de cacau, espermacete e palmitato de
cetila.

Hidrocarbonetos: são bases oclusivas, inibindo a evaporação normal da pele. Não


absorvem e não são laváveis com água, apresentam muito pouca incompatibilidade e elevada
estabilidade química. Parafina (derivado de hidrocarboneto de alto PM) e vaselina pastosa
(derivado de PM intermediário) são emolientes e espessantes, sendo que a parafina tem
emprego como endurecedora de supositórios. Já o óleo mineral, vaselina líquida ou parafina
líquida possuem cadeia menor e são usados para diminuir a consistência de formas plásticas em
geral (inclusive como amolecedores de supositórios e óvulos).
Silicones: são bastante estáveis e fisiologicamente inertes, usados quando se
pretende obter fórmulas altamente hidrófobas.

b) Hidrófilos

Polietilenoglicóis (PEGs): a consistência adequada é determinada pela mistura de 86


polímeros sólidos e líquidos (PEG 4000 e PEG 400, Carbowax®). Possuem boa aderência, boa
espalhabilidade, não são oclusivos, podem ser misturados a vaselinas, lanolinas e óleos
vegetais. São estáveis, laváveis com água, incompatíveis com vários conservantes.

Produtos minerais: são partículas inorgânicas finamente divididas que formam


sistemas coloidais liofóbos (géis). Exemplos: bentonita e dióxido de silício (Aerosil®).

Derivados de celulose: são polímeros orgânicos hidrofílicos utilizados como agentes


doadores de consistência em géis típicos (liófilos). Ésteres de celulose como metilcelulose (MC),
hidroxietilcelulose (HEC), carboximetilcelulose (CMC) e seu sal sódico (CMC-Na), bem como
outros polímeros orgânicos, tais como alginato de sódio, PVA, ácido poliacrílico (Carbopol®), são
exemplos de componentes utilizados em veículos para géis, que geralmente integram 80 a 98%
de água. São todos laváveis com água, podem deixar resíduo sólido na pele e apresentam
várias incompatibilidades.

c) Emulsionados

Emulsões A/O: agentes espessantes e emulsificantes, como monoestearato de


glicerila, colesterol e álcool cetílico podem ser adicionados para aumentar a estabilidade.
Destaque para o Cold Cream, que forma um filme protetor sobre a pele diminuindo a evaporação
de água.

Emulsões O/A: são mais empregadas em razão das vantagens como fácil remoção da
água. Formam um filme na superfície da pele quando a água evapora. Destaque para
diadermina, com elevado poder desengordurante. Entre os agentes espessantes temos o ácido
esteárico saponificado, e ceras autoemulsionáveis à base de álcool cetílico e estearílico
associadas aos tensoativos.

Outros componentes usualmente empregados em formas plásticas incluem


umectantes, conservantes, antioxidantes e, eventualmente, corantes e aromatizantes.

87
5.3.3.1 Géis

Os géis são formas farmacêuticas ou cosméticas obtidas a partir da hidratação de


alguns compostos orgânicos macromoleculares ou de compostos inorgânicos gelificantes. São
preparações livres de gorduras (oil-free)*, cujo teor de água é bastante elevado, sendo em geral
facilmente laváveis. Estas características fazem dos géis produtos de consumo em expansão.
Entre as desvantagens destacam-se a baixa penetrabilidade percutânea (exceto géis
transdérmicos**) e maior susceptibilidade à contaminação microbiana, fato também relacionado
ao elevado teor de água (80 a 98%).

Dependendo do tipo de agente gelificante os géis podem ser liófilos (polímeros


hidrofílicos) ou liófobos (argilas, bentonita). Do ponto de vista físico-químico, os géis são
considerados dispersões coloidais, em geral liófilas, transparentes e tixotrópicas***.

*OLEOGÉIS: são produtos contendo 90 a 95% de óleo, espessados por agentes


gelificantes não hidrossolúveis, como por exemplo, sílicas e argilas. Assemelham-se às pastas,
mas são mais fluidos.

**GÉIS TRANSDÉRMICOS: são, na verdade, microemulsões de uma fase


hidrossolúvel, que é o gel aquoso de polaxamer 407 (20 a 40%), e de uma fase lipossolúvel
composta de uma solução de lecitina granulada e palmitato de isopropila. O Pluronic® Lecithin
Organogel (PLO) é uma microemulsão lipossomal fosfolipídica empregada para administração
de fármacos via transdérmica.
**TIXOTROPIA: fenômeno associado à diminuição da viscosidade do sistema
provocado por forças mecânicas, sendo, porém, reversível quando em repouso.

I) Os Componentes Usuais

Os principais coadjuvantes técnicos na formulação de géis são: gelificantes, 88


umectantes, conservantes, antioxidantes, agentes quelantes, entre outros.

O termo gelificante refere-se aos espessantes utilizados na elaboração de géis, ou


seja, os veículos hidrófilos. Em geral são polímeros que possuem a propriedade de, quando em
solução aquosa, aumentar a viscosidade do sistema, quer diretamente ou após sua
neutralização. Quanto à estrutura coerente de gel, os gelificantes podem formar géis de
esqueleto coloidal linear (polímeros derivados de celulose), esqueleto coloidal laminar (argilas)
ou esqueleto esferocoloidal (dióxido de silício de alta dispersão).

a) Gelificantes

Entre os principais gelificantes destacam-se:

Carbômeros: polímeros sintéticos do ácido poliacrílico solúveis em água (ex.:


Carbopol®, Synthalen®). Adquirem maior consistência com a neutralização das cargas
superficiais (viscosidade ideal pH 6-8). Concentração usual: 0,5-1,5%.

Hidroxietilcelulose (HEC): é um polímero derivado da celulose, não iônico (Natrosol®,


Cellosize®), disponível em diversos graus de peso molecular. É compatível com eletrólitos e
possui menor sensibilidade ao pH do meio. Como vantagem, destaca-se a facilidade de
dispersão, a qual pode ser obtida sob agitação em água fria. Porém, a formação da estrutura
coerente do gel (rede) ocorre mais rapidamente com aquecimento. Como desvantagem
apresenta maior risco de contaminação microbiana. Concentração usual 1,0-3,0%.
b) Umectantes

São utilizados para evitar a perda de água da formulação, conferindo ao gel maior
elasticidade (melhor espalhamento). Entre os mais utilizados temos a glicerina, o propilenoglicol
e o sorbitol. A concentração usual gira em torno de 5%.

89

c) Outros Coadjuvantes

Especialmente para géis, o uso de conservantes é indispensável à formulação,


principalmente de géis obtidos com gelificantes naturais, já que apresentam grande
susceptibilidade ao desenvolvimento microbiano. Parabenos, imidazolidinilureia (germal 115®) e
5-bromo-5-nitro-1,3-dioxano (Bronidox L®) são alguns dos mais utilizados.

Os agentes quelantes são particularmente importantes para os géis, pois inativam por
complexação metais pesados e alcalinos terrosos, bem como potencializam a ação de alguns
antimicrobianos. Entre os problemas causados por estes metais nas formulações destacam-se:

 Reação com ânions, levando à precipitação;


 Oxidação de corantes e essências;
 Inativação de antimicrobianos.

II) Produção de Géis

A fase mais crítica na preparação de géis refere-se à hidratação do polímero. Esta


deve ser feita de modo criterioso e gradual. A adição de excesso de água pode levar à formação
de grumos que dificultam a dispersão mecânica de forma a comprometer a homogeneidade ou a
uniformidade da formulação.
A adição de outros adjuvantes (ex.: solubilizantes), bem como o acerto de volume e
pH, devem ser feitos só após a homogenização (uniformização) parcial do veículo.

5.3.3.2 Pomadas 90

São formas farmacêuticas plásticas deformáveis, que apresentam como


características, boa espalhabilidade, pegajosidade, emoliência e poder oclusivo. Destinam-se à
pele sadia (função de proteção) ou lesionada (função curativa) e mucosas. Dependendo da
composição apresentam ação local ou sistêmica.

As pomadas propriamente ditas, assim como os géis, são do tipo solução. Entretanto,
empregam veículos hidrófobos ou, no caso específico das pomadas hidrófilas, polietilenoglicóis.

O uso de veículos minerais (vaselina, parafina) tende a diminuir a penetrabilidade,


enquanto os veículos de origem animal (ex.: lanolina, espermacete) aumentam. Por não
conterem água são relativamente estáveis à contaminação microbiana. Entre os agentes
estabilizantes mais utilizados destacam-se os antioxidantes lipofílicos como BHT, BHA e
tocoferol.

I) Produção de Pomadas

A preparação de pomadas pode ser feita a frio (ex.: pomada amarela) ou por fusão
(ex.: pomada branca).

Nas preparações a frio faz-se uma simples dispersão com auxílio de espátula, pão-
duro ou equipamentos industriais apropriados. Ressalta-se que a dispersão a frio só é possível
para veículos pastosos e líquidos.
Na preparação por fusão, os componentes da base da pomada são submetidos a
aquecimento. No caso de ceras sólidas, esta é a única alternativa viável.

A incorporação dos demais componentes de uma pomada é, em geral, feita após a


preparação da base, especialmente quando se utiliza o método da fusão. Entretanto, havendo
termoestabilidade, o fármaco ou coadjuvante poderá ser solubilizado a quente durante a fusão.

91

5.3.3.3 Supositórios, Óvulos e Velas

De acordo com a Farmacopeia Brasileira II (1959), “supositórios são preparações


farmacêuticas consistentes de forma cônica ou ogival, destinadas à aplicação retal e obtidas por
solidificação ou compressão em moldes de massa adequada encerrando substâncias
medicamentosas”.

Já os óvulos seriam “preparações farmacêuticas consistentes de forma ovoide,


destinadas à aplicação vaginal, obtidas por solidificação ou compressão em moldes de massa
adequados encerrando substâncias medicamentosas. Em geral destinado à ação local, sendo os
antibióticos, antiparasitários, antissépticos, entre outros, os fármacos mais utilizados em óvulos”
(Farmacopeia Brasileira II, 1959).

Finalmente, velas “são preparações farmacêuticas consistentes de forma cilíndrica,


destinadas à aplicação uretral” (Farmacopeia Brasileira II, 1959).

Enfim, embora tais formas farmacêuticas se caracterizem propriamente como formas


semissólidas, fazem parte também do grupo das formas chamadas plásticas e se assemelham
muito em especial a géis e pomadas, no que diz respeito aos componentes usuais e técnicas de
preparação.

I) Componentes Usuais
a) Excipientes inertes ou veículos: constituem a base do supositório; devem
desintegrar-se obrigatoriamente a 37 ºC.

Bases lipofílicas: manteiga de cacau, óleos hidrogenados e outros excipientes


semissintéticos.

Bases hidrófilas: polioxietilenoglicóis, entre outros.


92
Base anfifílica: ácido esteárico saponificado + glicerina.

b) Tensoativos: facilitam a dispersão de matérias hidrófobas, promovendo absorção.

 Naturais: lecitina de soja.


 Sintéticos: polissorbatos.

c) Antioxidantes: em especial protegem os excipientes graxos de processos de


rancificação. Ex.: alfatocoferol, butil-hidroxianisol, ácido nordi-hidroguairético, entre outros.

d) Endurecedores: são utilizados para aumentar a consistência e elevar o ponto de


fusão. Exemplos: parafina, ceras, PEG 4000.

e) Amolecedores: são substâncias empregadas para abaixar o ponto de fusão;


incluem glicerina, propilenoglicol, óleos vegetais e minerais.

II) Características dos Excipientes Base

a) Manteiga de cacau: apresenta três formas polimórficas (α, β e β'), sendo muito
utilizada em supositórios. Funde-se aproximadamente a 30 ºC, devendo ter baixa acidez.
Susceptível à rancificação.
b) Óleos hidrogenados: são obtidos por hidrogenação catalítica de vários óleos
vegetais (ex.: óleos de coco, amendoim e semente de algodão), processo este que diminui a
vulnerabilidade à oxidação (rancidificação).

c) Excipientes semissintéticos: são obtidos a partir de ácidos graxos saturados de


origem vegetal, esterificados, de cadeia variando de 12 a 18 carbonos. Apresenta, entre outras
vantagens, ponto de fusão mais bem definido, menor acidez, menor susceptibilidade para
oxidação, maior uniformidade de lote para lote. Exemplos: Fattbase®, Witepsol®, Novata®,
93
Estaram®.

d) Polioxietilenoglicóis: são bases hidrossolúveis, também designadas


polietilenoglicóis, PEG, Carbowaxes, entre outros. São polímeros do óxido de etileno designados
por números (PEG 200, PEG 400, PEG 1500) que dão uma ideia aproximada do peso molecular
da cadeia polimérica. Os mais utilizados são os de peso molecular 6000, 4000 e1500.

III) Métodos de obtenção

a) Fusão-solidificação

As matérias-primas são misturadas ao(s) excipiente(s) previamente fundido(s) e em


seguida a massa é vertida em moldes apropriados. Depois do resfriamento, os supositórios são
retirados dos moldes, exceto no caso em que o molde é a embalagem do produto.

b) Compressão

O excipiente é triturado e misturado ao fármaco e depois comprimido em equipamento


apropriado. Esse método, em razão das desvantagens como a necessidade de equipamento
especializado, dificuldade de homogeneização e aspectos irregulares dos supositórios obtidos,
só é usado em casos específicos como, por exemplo, para fármacos termolábeis.
5.3.3.4 Pastas

Pastas são suspensões semissólidas, cujos problemas relacionados à sedimentação


são irrelevantes, dada a consistência (viscosidade) do veículo.

A preparação das pastas requer subdivisão das partículas sólidas seguida por 94
incorporação na base semissólida. A incorporação deve ser feita sempre de forma gradativa e
progressiva.

5.3.3.5 Cremes

Os cremes são emulsões semissólidas. Assim como para as formas líquidas, sua
preparação deve ser embasada na Lei dos Semelhantes e seguir as seguintes fases:

1) Agrupar os componentes de acordo com suas solubilidades em fase aquosa


(FA) ou oleosa (FO);
2) Calcular o EHL requerido e selecionar o sistema tensoativo apropriado;
3) Dissolver componentes da FO, podendo-se aquecer a 5ºC acima do ponto de
fusão. Por segurança deve-se evitar que ultrapasse 80ºC;
4) Dissolver componentes da fase aquosa, recomenda-se aquecer 3 a 5ºC acima
da FO;
5) Incorporar sob agitação a fase interna na externa (Fig.6).
FIGURA 6 – PREPARAÇÃO DE EMULSÕES: INCORPORAÇÃO DA FASE INTERNA NA FASE EXTERNA

Agitação

Emulsão A/O 95

Emulsão O/A

FONTE: Arquivo pessoal do autor

5.4 FORMAS SÓLIDAS

As formas sólidas representam mais de dois terços dos medicamentos atuais. Tal
difusão deve-se a vantagens como:

 Menor custo com acondicionamento, armazenamento e transporte;


 Maior estabilidade química, física e microbiana;
 Boa aceitação;
 Facilidade de administração;
 Possibilidade de se controlar a biodisponibilidade.
Entre as principais formas sólidas temos pós, granulados, cápsulas, comprimidos e
drágeas.

5.4.1 Pós

96

Pós são formas farmacêuticas sólidas constituídas por um ou mais princípios ativos,
adicionados ou não de adjuvantes, pulverizados e misturados homogeneamente. Apresentam
vantagens como:

 Viabilidade de obtenção de outras formas farmacêuticas (comprimidos, drágeas,


cápsulas, suspensões, pomadas e soluções);
 Fácil dissolução;
 Fácil absorção;
 Efeito mais rápido e regular.

Entre as desvantagens destacam-se:

 Inconveniente na ingestão;
 Estabilidade;
 Dificuldade de proteção da decomposição dos pós contendo materiais
higroscópicos.

5.4.1.1 Classificação dos Pós Medicamentosos

I) Quanto à aplicação
 Uso interno: podem constituir solução no momento da administração.
 Uso externo: devem possuir boa espalhabilidade e tenuidade e não devem causar
irritação local.

II) Quanto à constituição


97
 Pós simples.
 Pós compostos.

III) Quanto ao tamanho da partícula

Os pós podem se classificar de acordo com a abertura do poro do tamis em:

 Pó grosseiro: malha de 850 m (20).


 Tamis 20 (não mais que 60% tamis 40).
 Pó medianamente grosseiro: malha de 425 m (40).
 Tamis 40 (não mais que 60 % tamis 60).
 Pó fino: malha de 180 m (80).
Tamis 80.

 Pó muito fino: malha 125 m (120).


Tamis 120.

5.4.1.2 Parâmetros fundamentais

a) Tamanho da partícula: pode interferir em processos de mistura, dissolução e


biodisponibilidade. Pode variar de alguns milímetros a menos que 1 m (coloidal). São micropós
as partículas menores que 10 m. A granulometria das partículas é dada em função da abertura
de malha ou número do tamis (Quadro 8).

Quadro 8: Abertura da malha x número Tamis

Número do tamis  malha

2 9,5 mm 98

4 4,75 mm

8 2,36 mm

10 2,00 mm

20 850 m

40 425 m

60 250 m

80 180 m

100 150 m

120 125 m

200 75 m

400 38 m

Processos dependentes do tamanho da partícula:

1. Velocidade de dissolução;
2. Suspensibilidade;
3. Uniformidade na distribuição;
4. Tecnologia de obtenção de comprimidos e cápsulas;
5. Penetrabilidade (partículas inaladas: 1 a 5 m);
6. Espalhabilidade (não aspereza < 100 m).

b) Características superficiais (porosidade e cargas): podem facilitar a adsorção de


gases ou vapores, interferindo na estabilidade, solubilidade, compressibilidade e aspectos
reológicos. Em suspensões líquidas, a presença de carga pode levar à sedimentação isolada
(compacta) e o excesso de porosidade pode afetar a molhabilidade.

99

c) Propriedades de fluxo: a escoabilidade de um pó depende do tamanho, da forma,


da densidade e das características de superfície (especialmente as que estão relacionadas às
forças de coesão e formação de películas em torno das partículas).

5.4.1.3 Etapas de Obtenção

As etapas de obtenção incluem pesagem e outras operações preliminares, como


triagem e estabilização, seguido por secagem, pulverização, tamisação, mistura e se necessário
nova secagem.

I) Operações preliminares: triagem (ex.: matérias-primas vegetais), estabilização


(inativação de enzimas, secagem para eliminar excesso de umidade).

II) Pulverização: subdivisão das partículas. Em pequena escala pode ser feita por:

 Contusão: almofariz de bronze ou ferro (drogas vegetais);


 Trituração: almofariz de porcelana e vidro (drogas cristalinas);
 Intermédio: a trituração é feita com líquidos ou com outros sólidos (no caso de
substâncias com estrutura amorfa);
 Fricção: a trituração é feita sobre um tamis invertido (aplicada a substâncias friáveis
e moles).
Já em grande escala emprega moinhos, que podem basear-se em três princípios:

 Atrito: fricção entre duas superfícies (moinho micronizador);


 Laminagem: uso de moinhos de placas;
 Impacto: uso de moinho de martelos e barras que giram em alta velocidade.

III) Tamisação: processo destinado à padronização do tamanho de partículas por meio


de passagem do pó por uma peneira de malha definida designada tamis. 100

Entre os problemas da falta de uniformidade de tamanho de partículas estão os


mecanismos de segregação, nos quais partículas maiores e mais pesadas tendem a se separar
das menores, mais leves. Esse fato se opõe à uniformidade mínima requerida para uma mistura
medicamentosa.

Por outro lado, a seleção de partículas garante a obtenção de partículas com tenuidade
adequada, diminuindo riscos de irritação, promovendo estabilidade física, dissolução e absorção.

IV) Mistura

Para eficiência desta etapa todos os componentes devem ter o mesmo tamanho de
partícula.

Regras básicas de mistura:

 Quantidades desiguais: inicia-se pelo de menor quantidade misturando com


diluente;
 Substâncias potentes: diluição geométrica com auxílio de indicador (corante);
 Misturas explosivas: pulverização separadamente;
 Misturas de substâncias higroscópicas, eutéticas ou voláteis: por intermédio de
diluentes absorventes (ex.: sílicas);
 Pós elásticos ou plásticos: mistura e trituração por intermédio de partículas duras;
 Pós que sofrem caking por pressão leve: mistura e trituração por intermédio de
solvente volátil;
 Pós tóxicos: uso de capela e Equipamentos de Proteção Individual (EPI´s);
 Conservantes: são previamente solubilizados em solventes voláteis.
A mistura de pós ou granulados pode ser feita em pequena escala com auxílio de gral,
almofariz ou tamis.

Já em grande escala, utilizam-se misturadores por tombamento (misturadores em V)


para pós secos, ou masseiras para pós umedecidos.

101

V) Secagem

Antecede a mistura dos pós, realizada em estufas com sistemas blindados e captura
de vapores de solventes. O controle é feito pela avaliação do teor de umidade.

Parâmetros importantes: temperatura (40 a 70 ºC) e tempo (até 12 horas).

5.4.1.4 Pós para uso externo

I) Requisitos:

 Não devem ser irritantes: tamis 40-100 (< 100 m);


 Ausência de ação sistêmica;
 Boa aderência (fixação sobre a pele): quanto menor a partícula, maior a
aderência;
 Espalhabilidade adequada;
 Boa capacidade de adsorção de líquidos;
 A facilidade de fluidez depende de lubrificantes;
 Boa conservação: passíveis de esterilização (calor seco a 150 ºC, óxido de
etileno, radiações ) ou combinados a sistemas conservantes eficazes.
 Compatibilidade entre componentes.
 Uniformidade de tamanho de partículas.

II) Bases para Pós de Uso Externo

Devem apresentar características como boa aderência, capacidade de lubrificação,


102
capacidade de adsorção de líquidos e boa fluidez. Podem ser classificadas em: orgânicas ou
inorgânicas, e naturais ou sintéticas.

a) Bases Inorgânicas

Entre as bases inorgânicas destacam-se o talco, óxido de zinco, carbonato de


magnésio, dióxido de titânio e dióxido de silício.

Talco: é um hidroxipolissilicato de magnésio de origem natural, quimicamente inerte,


untuoso, insolúvel em água, comum nos pós de uso externo, boa aderência e boa fluidez, baixa
capacidade de adsorção de água.

Óxido de zinco: pó cristalino, bom adsorvente de água e óleo, boa fluidez, baixa
aderência, ação antisséptica e adstringente.

Dióxido de titânio: bom poder de cobertura, boa fluidez e aderência, quimicamente


inerte.

Óxido de magnésio: excelente capacidade de adsorção de água e aderência. Baixa


fluidez.

Carbonato de magnésio: boas propriedades aderentes, boa capacidade de adsorção


de água. Baixa fluidez.

Dióxido de silício de alta dispersão (Aerosil®): boa aderência e fluidez, grande


capacidade de adsorção de água e óleo. Uso em torno de 0,5 a 3,0%. Otimiza a formulação de
pós tópicos.

b) Bases Orgânicas

Entre as bases orgânicas temos estearatos, lactose e amido.


Estearatos: são utilizados os de alumínio, magnésio e de zinco. São untuosos, não
adsorvem água nem óleo, possuem bom poder aderente e efeito refrescante sobre a pele.
Também são utilizados como adjuvantes para outras bases na faixa de 1-5 %.

Amido: alta aderência, boa fluidez, boa capacidade de adsorção de água e óleo.
Embora de baixo custo, constitui, quando úmido, excelente substrato para crescimento
microbiano.

Lactose: baixa fluidez, baixo poder aderente. Utilizada para pós absorvíveis. 103

III) Pós para Uso Externo Especiais

Pós refrescantes: amido ~ 95% e estearatos ~ 5%.

Pós hidrorrepelentes: contém 2 a 10% de substâncias graxas (lanolina, óleo mineral)


incorporadas no pó.

Pós adstringentes: contêm substâncias adstringentes, como taninos e sais de bismuto,


incorporados em talcos ou amido.

Pós antipruriginosos e analgésicos: mentol, cânfora e calamina misturados a uma base


de boa aderência (amido e talco).

Pós antissépticos: ácido salicílico, ácido bórico em bases aderentes e com boa
capacidade de adsorção de água (óxido de zinco, amido e talco).

5.4.1.5 Pós para Uso Interno

I) Requisitos:
 Permitir solubilização dos ativos;
 Quando efervescentes (trituração de ácido e base separadamente);
 Garantir sabor e odor agradáveis;
 Boa conservação;
 Compatibilidade entre componentes.

104

5.5 GRANULADOS

São formas farmacêuticas sólidas constituídas por um ou mais princípios ativos


adicionados de adjuvantes, sob a forma de grânulos homogêneos, destinados à administração
direta por via oral (granulados efervescentes), ou como intermediários na preparação de
drágeas, cápsulas e comprimidos.

Vantagens:

 Possibilitam a obtenção de outras formas farmacêuticas (comprimidos, drágeas,


cápsulas, suspensões e soluções);
 Fácil deglutição;
 Melhor fluidez.
Desvantagens: custo e tempo de preparação.

5.5.1 Características desejáveis

 egularidade na cor e forma;


 Boa fluidez;
 Resistência mecânica;
 3-5% de umidade;
 Boa solubilidade em água.

5.5.1.1 Processos de obtenção

105

Os granulados podem ser obtidos por via úmida, fusão ou via seca. As etapas para
obtenção de cada via são descritas a seguir.

VIA ÚMIDA POR FUSÃO VIA SECA

Pesagem Pesagem Pesagem

Pulverização Pulverização Pulverização

Tamização Tamização Mistura

Mistura Mistura Pré-compressão

Umectação Leve aquecimento (Rolos compressores, máquina

Granulação úmida de compressão)


Granulação úmida

(Tamis ou Granulador rotativo) Granulação


(Tamis ou Granulador rotativo)

Secagem (Estufa) (Tamis ou Granulador rotativo)


Secagem (Estufa)

Calibração Calibração
Calibração

(Tamis ou Granulador rotativo) (Tamis ou Granulador rotativo)


(Tamis ou Granulador rotativo)

Lubrificação Lubrificação
Lubrificação

(Gral (almofariz) ou misturador em (Gral (almofariz) ou misturador (Gral (almofariz) ou misturador

V) em V)
em V)
5.5.2 Cápsulas

São formas farmacêuticas sólidas nas quais o(s) fármaco(s) e excipientes estão
contidos no interior de um invólucro solúvel, geralmente constituído de gelatina de tamanho
variável, normalmente destinado ao uso oral. Em geral, representam 50% da produção de
106
farmácias de manipulação.

Vantagens:

 Possibilita a proteção parcial do fármaco da ação da luz e do ar;


 Fácil identificação;
 Precisão de dosagem;
 Boa conservação;
 Produção a seco;
 Preparação em escala industrial ou artesanal;
 Rápida liberação do(s) fármaco(s);
 Necessidade de menor número de excipientes;
 Versatilidade;
 Mascara odor e sabor desagradável.

Desvantagens:

 Não oferece proteção absoluta da ação da umidade ao fármaco;


 Não é passível de fracionamento;
 Limitado à administração de fármacos muito irritantes, instáveis ou higroscópicos.
5.5.2.1 Classificação

I) Quanto ao invólucro

107
 Duras: podem constituir-se de gelatina ou amido.
 Moles: compostas basicamente de gelatina e plastificantes (glicerina).

II) Quanto à composição

 Pós.
 Granulados.
 Substâncias oleosas (cápsulas moles).

5.5.2.2 Invólucros das cápsulas

Tamanho: variam quanto à capacidade, sendo classificadas por diferentes números:


000, 00, 0, 1, 2, 3, 4 e 5, inversamente proporcionais ao volume interno (Quadro 9).
Quadro 9 – Tamanho das cápsulas e numeração

No da
Diâmetro (cm) Comprimento (cm) Volume (mL)
cápsula

Parke Davis Eli Lilly

000 0,93 2,22 1,37 1,42

00 0,80 2,03 0,95 0,92


108
0 0,73 1,85 0,68 0,70

1 0,66 1,67 0,50 0,50

2 0,60 1,54 0,37 0,40

3 0,56 1,36 0,30 0,37

4 0,51 1,25 0,21 0,21

5 0,47 0,93 0,13 0,12

Matéria-prima: as cápsulas são fornecidas por empresas especializadas na sua


fabricação, sendo que atualmente a matéria-prima base é a gelatina, adicionada aos seguintes
componentes:

 Plastificantes: utilizados para dar consistência adequada à gelatina, bem como


torná-la mais flexível e resistente (ex.: glicerina, sorbitol e propilenoglicol).
 Conservantes: utilizados para prevenir problemas de contaminação microbiana,
embora seja rara em cápsulas duras (ex.: parabenos).
 Opacificantes: utilizados para obtenção de cápsulas opacas, conferem maior
proteção à luz, estética (ex.: dióxido de titânio).
 Corantes: têm função estética e de facilitar a identificação.
5.5.2.3 O Conteúdo das Cápsulas

É composto por um ou mais fármacos combinados ou não de excipientes, com


diferentes funções coadjuvantes.

Os diluentes são extremamente importantes em cápsulas, especialmente quando a 109


quantidade é muito pequena, inviabilizando manuseio.

O uso incorreto da quantidade e o tipo de diluente podem interferir na


biodisponibilidade (dificultar ou retardar a liberação), custo (diversidade de preços) e estabilidade
do produto (especialmente em virtude da incompatibilidade). Exemplos de diluentes empregados
em cápsulas incluem a celulose microcristalina (Microcel®, Avicel® e Unitab®), lactose (lactose
malha 200), amido, manitol, derivados de cálcio (Emcompress®, Calstar®).

Não devem ser utilizados como diluentes de cápsulas: talco, caulim, derivados de
celulose formadores de géis viscosos, bem como outros agentes viscosificantes como
carbopol®, gomas e PVP.

5.5.2.4 Preparo de Cápsulas

I) Cápsulas Duras

O conteúdo de fármaco depende de sua dose terapêutica eficaz. Quando se fizer


necessária à adição de um ou mais excipientes (o que é frequente), a mistura deve seguir as
regras de mistura descritas para o preparado de pós.
A escolha da cápsula depende do volume final de fármaco mais excipiente(s), sendo
que o volume da cápsula (Vcap) deve ser preenchido em pelo menos 90%. O cálculo se dá pela
medida da densidade aparente da mistura. Esta densidade pode ser calculada pela relação
massa-volume utilizando-se uma proveta e balança. O pó exatamente pesado é transferido para
a proveta e submetido à compactação (3 batidas de ~ 2 cm altura).

O enchimento pode ser manual ou por equipamentos manuais, semiautomáticos ou


encapsuladores industriais.
110
A quantidade de excipientes inertes (mexc) necessária para o preenchimento da
cápsula (ideal > 90%) pode ser calculada pela fórmula abaixo:

mexc = (Vcap – mp.a. / dp.a.) . dexc

O acondicionamento e a embalagem devem oferecer proteção, funcionalidade e


possuir adequada identificação.

Recomenda-se o uso de embalagens não transparentes, recipientes herméticos e


adição de silicagel. O uso de blister é uma inovação a ser aplicada também em manipulações
magistrais.

II) Cápsulas Moles

Possuem geralmente forma ovalada ou esférica, sendo constituídas de um filme de


gelatina que recebeu uma quantidade considerável de agentes plastizantes. Seu tamanho é
variável e destina-se principalmente ao acondicionamento de líquidos, desde que estes não
dissolvam o invólucro.

Preparação e enchimento: exige equipamentos especializados, restringindo-se às


preparações industriais.
5.5.3 Comprimidos

São preparações farmacêuticas de consistência sólida, formas variadas, obtidas por


meio de compressão, contendo substância(s) ativa(s) com ou sem adjuvantes adequados e
revestidos ou não.
111

Classificação

 Uso interno: comprimidos mastigáveis, convencionais, efervescentes e sublinguais.


 Uso externo: comprimidos vaginais, injetáveis (pellets), para dissolução
(permanganato de potássio).

Tipos diversos: multicapas (compressão por 2 ou mais etapas), revestidos (entéricos


e de liberação controlada).

Vantagens:

 Boa estabilidade físico-química;


 Simplicidade e economia na preparação (larga escala);
 Precisão de dosagem;
 Fácil administração;
 Fácil manuseio.
Por esses e outros motivos os comprimidos representam mais de 50% de toda
produção industrial, sendo a mais popular forma farmacêutica de dosagem.
5.5.3.1 Processos de produção

A produção de comprimidos, do ponto de vista econômico, só se aplica a escala


industrial.

As máquinas de compressão podem ser rotativas, contendo um número variável de 112


punções e matrizes, ou do tipo excêntrica ou alternativa, as quais se tornaram obsoletas por
apresentarem baixo rendimento.

Basicamente, três processos distintos são empregados na preparação do material a


ser comprimido:

 Granulação úmida;
 Granulação seca;
 Compressão direta.
Independentemente do processo, este sistema particulado deve apresentar reologia
adequada, baixa aderência e abrasividade ao ferramental e, após comprimido, fácil ejeção.

I) Granulação por Via Úmida

Processo ainda bastante utilizado na indústria farmacêutica. Baseia-se na obtenção de


granulado a partir da adição de um agente aglutinante (3.3.2.2).

Vantagens:

 Produção de comprimidos com dureza e friabilidade, em geral, mais adequadas;


 Permite a compressão de fármacos com elevadas concentrações na formulação.

Desvantagens:

 Instabilidade de alguns fármacos (ex.: hidrolizáveis, termolábeis);


 Tempo requerido para o processo de granulação.
II) Granulação Via Seca

Processo utilizado como alternativa à granulação por via úmida. Baseia-se na


produção de granulado por intermédio da compactação dos pós.

Vantagens:

 Não emprega aglutinante úmido, podendo ser utilizado a fármacos hidrolisáveis; 113
 Não é necessária a secagem, podendo ser empregada em fármacos termolábeis;
 Demanda menor tempo de processo.

Desvantagens:

 O aspecto dos comprimidos é esteticamente inferior;


 Comprimidos com friabilidade alta e dureza baixa (baixa resistência mecânica);
 Necessidade de equipamento específico para compactação (compactador de rolo).

III) Compressão Direta

Processo mais moderno, tendência na indústria farmacêutica.

Baseia-se na utilização de adjuvantes que permitem compressão direta de uma


simples mistura de pós (eliminação da etapa de granulação).

Vantagens:

 Não emprega aglutinantes úmidos;


 Não é necessária a secagem (ideal para compostos termolábeis);
 Menor número de etapas do processo (menor tempo de processo);
 Obtenção de comprimidos com bom aspecto (depende da composição).
 Bons resultados de dissolução do fármaco;
 Não requer equipamentos específicos.
Desvantagens:

 O custo dos excipientes ainda é mais elevado.


 Adjuvantes para compressão direta: celulose microcristalina PH 102 e 200 e
fosfatos dibásicos de cálcio* (Emcompress® e Calstar®).
* Obs.: incompatíveis com tetraciclina e indometacina.

114
Etapas do processo:

 Tamização;
 Mistura;
 Adição de lubrificantes;
 Compressão.

5.5.3.2 Parâmetros Físicos

No controle de processo: aspectos reológicos, granulométricos* e físico-químicos


(cargas superficiais, densidade) da partícula (pó ou granulado).

No controle de produto: dureza, friabilidade, peso médio, desintegração e dissolução


do comprimido.

Quanto à granulometria, obrigatoriamente comprimidos menores devem ser obtidos de


partículas menores. Por exemplo, comprimidos menores que 5 mm devem utilizar partículas
(tamis no 20); comprimidos de 5 a 7 mm (tamis no 16); comprimidos de 8 a 10 (tamis no 14) e
finalmente comprimidos maiores de 11 mm (tamis no 12). Vide Quadro 7.
5.5.3.3 Principais Adjuvantes em Comprimidos

Os ingredientes terapeuticamente inertes podem exercer influência marcante sobre a


estabilidade do produto e a biodisponibilidade do fármaco em formas sólidas.

Os principais coadjuvantes empregados na formulação de comprimidos e outras 115


formas sólidas, inclusive cápsulas, são:

I) Diluentes: substâncias farmacologicamente inertes, que são adicionadas ao


princípio ativo para conferir peso e volume adequado, especialmente quando a quantidade é
muito pequena, inviabilizando manuseio (ex.: lactose, amido, celulose microcristalina, manitol).

II) Absorventes: são substâncias adicionadas com a finalidade de absorver a água de


extratos, fixar certos princípios ativos voláteis e, principalmente, impedir a umidade na
formulação (comprimidos e cápsulas) - o que comprometeria a estabilidade do princípio ativo ou
poderia causar fragilização de comprimidos (ex.: aerosil®: silicato que absorve 200% de água
continuando no estado seco; carbonato de cálcio).

São também utilizados quando a formulação é composta por substâncias


higroscópicas e misturas eutéticas.

III) Aglutinantes: a maioria das substâncias não se pode aglomerar solidamente,


qualquer que seja a pressão exercida sobre elas. Assim, os aglutinantes agem como um
adesivo, conglomerando às pequenas partículas de pó em outras maiores, irregulares e providas
de reentrâncias (compressão).

Podem ser empregados sob a forma de pó, em solução, ou dispersos em solução


aquosa ou alcoólica. Ex.: açúcares na forma de pós ou xaropes, pasta de amido (10 a 30%),
gomas arábica e adraganta (10 a 20%), gelatina (4%), derivados de celulose, entre outros.
Hoje, existem misturas comerciais de celulose microcristalina, fosfato tricálcico e
estearato de magnésio (Avicel® e Encompress®) que visam substituir aglutinantes e
lubrificantes.

Podem exercer influência marcante na desintegração do comprimido, opondo-se a


esta.

116
IV) Desagregantes: são substâncias que aceleram a dissolução ou a desagregação
dos comprimidos na água ou nos líquidos do organismo. Normalmente são compostos que
possuem grande poder de absorção de água, inchando-se em contato com esta, ocasionando a
desintegração do comprimido. São exemplos de desagregantes: amido, alginatos, gelatina,
derivados de celulose, silicatos (bentonita, Veegum®, Explotabe®), amido glicolato de sódio
(Explosol®), croscarmelose sódica (Explocel®), entre outros.

V) Lubrificantes: são substâncias que permitem um melhor escoamento do pó ou


granulado que será comprimido. Normalmente são adicionados sobre o granulado, após a
secagem. As suas principais ações são:

 Diminuir a tendência do produto para aderir às punções e matrizes;


 Reduzir a fricção entre as partículas;
 Promover uma fácil ejeção dos comprimidos;
 Promover, quando em excesso, a impermeabilização dos comprimidos;
 Pela natureza apolar se opõe a desintegração.

Quanto ao mecanismo de ação podem ser classificados em:

 Deslizantes: talco e carbowaxes (PEG).


 Antiaderentes: estearato de magnésio e parafinas.

Outros lubrificantes incluem ácido esteárico, silicones e óleos vegetais.


VI) Molhantes: são substâncias tensoativas utilizadas para promover a dissolução dos
fármacos no trato gastrintestinal (TGI) após a desintegração.

Especialmente de formulações contendo excesso de lubrificantes ou fármacos


hidrófobos, substâncias tensoativas, chamadas molhantes, as quais favorecem a penetração da
água e dissolução. Ex: lauril sulfato de sódio, Spans® e Tweens®. Fármacos como: fluconazol,
finasterida, azitromicina, cisaprida, paroxetina, atenolol, lanzoprazol, piroxicam, clorpropamida,
nimesulida, mebendazol e extrato seco de ginseng exigem molhantes na formulação para melhor
117
absorção.

VII) Corretivos Organolépticos e Estabilizantes

Corretivos

Corantes: aspecto estético ou para auxiliar na visualização da eficiência da mistura.


Ex.: eritrosina e amarelo de tartrazina.

Edulcorantes: possuem sabor doce e são empregados para corrigir o gosto de uma
preparação, sendo muito empregados em granulados. Ex. sacarina, ciclamatos e aspartame.

Flavorizantes: complementam em geral a ação dos edulcorantes como corretivo


organoléptico. Ex.; essências de cereja, limão, hortelã e canela.

Estabilizantes

Antioxidantes e conservantes são também comumente empregados para aumentar


a estabilidade da formulação nos casos em que há risco de oxidação ou contaminação
microbiana.
5.5.4 Comprimidos Revestidos

As formas sólidas revestidas podem ser de dois tipos:

 Drágeas - revestimento com açúcar;


 Comprimidos revestidos - revestimento por película (polímeros). 118

Vantagens:

 Estabilidade - proteção física e química (luz, umidade, incompatibilidades, O2);


 Marketing - estética (apelo visual);
 Biodisponibilidade - controle da liberação do fármaco;
 Organoléptica - mascarar odor / sabor desagradável.

5.5.4.1 Fatores relevantes ao revestimento

I) Propriedades dos Comprimidos

Uma vez que na maioria dos métodos de revestimento os comprimidos são submetidos
à rolagem, onde ocorre grande atrito entre comprimidos e/ou paredes do equipamento, as
seguintes propriedades são essenciais:

 Resistência mecânica (dureza e friabilidade adequada).


 Formato esférico.

II) Tipo de Revestimento


As soluções de revestimento são em geral compostas por: polímeros formadores de
película, solventes (em geral orgânicos), plastificantes e aditivos ou no caso de drágeas de
açúcar. Quanto à espessura dos revestimentos tem-se que quando:

 De açúcar várias camadas, solução aquosa;

 Polimérico (menor número de camadas).

119
III) Tipo de Processo

Depende da metodologia e equipamentos utilizados no processo. Pode ser:

 Drageamento - aplicado às drágeas;


 Revestimento pelicular - aplicação de película por aspersão (pode ser manual);
 Revestimento por compressão - aplicação de capas a um núcleo por compressão;
(O núcleo é automaticamente centrado na matriz de uma máquina rotativa, que já
recebeu o excipiente de revestimento. Após o enchimento, há a etapa de compressão);

 Revestimento por leito fluidizado - sistema moderno de aspersão;


 Revestimento eletrostático - aplicado a substâncias condutoras (via aplicação de
carga eletrostática forte, reveste-se substrato);
 Revestimento por imersão - aplicação de película por imersão (pode ser manual);
 Revestimento pelicular sob vácuo - substitui-se oxigênio por azoto.

5.5.4.2 Drageamento

Baseia-se na aplicação de sucessivas camadas de açúcar, na forma de xarope, à


superfície dos comprimidos. Requer comprimidos lenticulares e de boa resistência mecânica.
Caracteriza-se por ser um processo tecnologicamente ultrapassado, que apresenta as seguintes
desvantagens:

 É bastante demorado;
 Dependente do operador (experiência);
 Difícil validação;
 Baixo grau de uniformidade (peso e tamanho); 120
 Variação intralote e interlote;
 Maior tempo de dissolução;
 Não permite gravações;
 A película formada é mais frágil.

Em contrapartida, o aspecto estético e a boa deglutição são fatores compensadores.

O drageamento envolve várias etapas:

I) Isolamento

Tem a função de proteger o núcleo da umidade proveniente das etapas seguintes do


processo:

 Após a obtenção dos núcleos esses são levados à estufa para retirar a umidade
residual;
 A seguir, são colocados na bacia e deixados sob rolamento, para aparar possíveis
arestas;
 O isolamento é obtido aplicando-se camadas de material impermeável, como por
exemplo, goma laca, PVP, acetato de polivinila, entre outros. O material geralmente
é uma solução de solvente orgânico, aplicada aos poucos. Após um período de
rolamento dos núcleos, são feitas novas aplicações, quantas forem necessárias.
II) Sub-revestimento

O objetivo, nesta fase, é dar corpo ao revestimento, tornando possível o


“arredondamento” do comprimido. Utiliza-se nesta fase um xarope simples que é adicionado
sempre aos poucos, alternadamente a um pó fino, misturado a um lubrificante, que normalmente
é o talco.

121
 O xarope simples pode conter cerca de 5% de goma arábica, a fim de se obter um
revestimento mais resistente.
 O pó mais comumente empregado é o carbonato de cálcio, com cerca de 10 a 15%
de talco, para facilitar a sua distribuição uniforme pelo lote.
Todo o processo é realizado com a turbina em movimento e com a insuflação de ar
quente.

III) Alisamento

Tem a função de eliminar superfícies rugosas e irregulares.

Utiliza-se nesta fase sucessivas aplicações de xarope simples, seguidas cada uma de
um espaço de tempo em que a turbina se mantém em funcionamento e é feita a insuflação de ar
quente.

O xarope simples deve conter menor quantidade de goma arábica (~2,5%), a fim de
permitir melhor desgaste e eficiência no alisamento.

Nessa fase, são aplicadas em torno de oito camadas de xarope.

IV) Coloração

Tem finalidade apenas estética, sendo, portanto, opcional. Para tanto, basta adicionar
nas últimas camadas da fase de alisamento o corante desejado à solução de xarope simples.
V) Polimento

Tem como objetivo dar às drágeas um brilho peculiar e revesti-las com uma película
fina impermeável, que protegerá as camadas de açúcar da umidade do ar.

Parafina e ceras sintéticas ou naturais (ex.: cera de carnaúba) são os materiais


utilizados neste processo, que pode ser:
122

 A cera ou parafina é dissolvida em solvente orgânico e misturada às drágeas na


bacia de drageamento. Posteriormente, são levadas à turbina de polimento e deixadas rolar,
adquirindo assim o brilho final;
 A cera ou parafina é jogada em uma turbina de drageamento, recobrindo o seu
interior. As drágeas são colocadas nesta turbina e deixadas rolar, sendo então recobertas por
uma película. Recebem, ao mesmo tempo, o polimento.

5.5.4.3 Revestimento Pelicular

Baseia-se na aplicação de uma fina camada de solução especialmente formulada


sobre a superfície dos comprimidos:

 Processo tecnologicamente moderno;


 Mais rápido;
 Pode ser validado;
 Não produz grandes alterações à superfície dos comprimidos;
 Peso e tamanho dos comprimidos mais uniformes.
Características

Pode ser preparado em solvente aquoso (equipamento e polímeros especiais) ou


solvente orgânico (custo, toxicidade e risco de explosão). A volatilidade do solvente orgânico
permite melhor secagem e rápida aderência.

123
I) Equipamentos Utilizados em Processos de Revestimento

Os processos empregados podem utilizar:

 Drageadeiras: convencionais ou perfuradas (Acelacota);


 Leitos fluidizados.

II) Materiais de Revestimento

Pré-requisitos:

 Barato;
 Biodisponível;
 Solúvel;
 Produzir produtos com bom aspecto;
 Estável e compatível;
 Inócuo (atóxico);
 Inodoro, incolor e insípido;
 Mecanicamente resistente (gastrorresistente quando necessário);
 Capacidade de impressão em equipamentos de alta velocidade.
Sistemas solventes:

 Etanol / Água;
 Acetona / Água;
 Cloreto de Metileno / Etanol;
 Cloreto de Metileno / Acetona;
 Etanol / Isopropanol.

124
Plastificantes: melhoram as características das películas, evitando trincas, quebras e
reduzindo a temperatura de transição vítrea. Podem ser:

 Hidrossolúveis: PEGs e glicerina.


 Insolúveis em água: tributil citrato, óleo de rícino e acetiltrietilcitrato.

Corantes: são os de uso alimentício. Exemplo: amarelo de tartrazina.

Opacificantes: são utilizados para proporcionar revestimento branco, mascarar a cor


do comprimido e reduzir a quantidade necessária de corante. São mais baratos que os corantes.
Exemplo: dióxido de titânio.

Outros componentes: aromatizantes, edulcorantes, antioxidantes, conservantes,


tensoativos, entre outros.
6 BIOFARMACOTÉCNICA

Estudo dos processos que ocorrem no organismo a partir da administração da forma


farmacêutica, considerando as fases de liberação e dissolução do fármaco que precedem sua
absorção.
125

6.1 FATORES ENVOLVIDOS NA ABSORÇÃO DE FÁRMACOS

Os fatores envolvidos na biodisponibilidade ou absorção de um fármaco incluem:

I) Fatores físico-químicos

 A – Natureza química do fármaco: polimorfismo, tamanho da partícula, solubilidade


e estabilidade.
 B – Tipos e quantidade de excipientes: interações com fármaco e influência na sua
liberação e dissolução.
 C – Concentração do fármaco e coeficiente de difusão.

II) Fatores fisiológicos: sexo, idade e peso corporal.

III) Fatores patológicos


6.1.1 Fases da Ação de um Fármaco

Após a administração de um medicamento, o fármaco passa pelas seguintes fases:

 Fase biofarmacotécnica: liberação do princípio ativo a partir do medicamento;


 Fase farmacocinética: absorção, distribuição, metabolismo e excreção; 126
 Fase farmacodinâmica: interação com a biofase e ação terapêutica.

6.1.2 Classificação Biofarmacotécnica dos Fármacos

Quanto à biodisponibilidade intrínseca, os fármacos são classificados em quatro


classes:

 Classe I: Alta Solubilidade / Alta Permeabilidade;


 Classe II: Baixa Solubilidade / Alta Permeabilidade;
 Classe III: Alta Solubilidade / Baixa Permeabilidade;
 Classe IV: Baixa Solubilidade / Baixa Permeabilidade.

6.2 VIAS DE ADMINISTRAÇÃO

Como visto no módulo anterior, as formas mais populares de classificação dos


medicamentos dizem respeito à via de administração ou forma física. Assim, pode-se encontrar
em drogarias e farmácias as mais diversas formas físicas de medicamentos, incluindo:
Formas líquidas: soluções, suspensões ou emulsões de uso tópico (ex.: duchas,
enemas, colutórios, gargarejos, errinos, colírios), oral (ex.: xaropes, gotas) ou injetável.

Formas semissólidas: pomadas, pastas, cremes e géis de ação superficial


(epidérmica), média (endodérmica) ou sistêmica (diadérmica), para aplicação na pele ou
mucosas.

Formas plásticas: incluem, além das formas semissólidas de uso tópico, os


supositórios, óvulos e velas, respectivamente para aplicação retal, vaginal e uretral. 127

Formas sólidas: incluem pós, granulados, cápsulas, comprimidos, pellets, pílulas,


pastilhas, drágeas, bolos e geleias - as quais, embora predominantemente destinem-se à
absorção via trato gastrintestinal (TGI), podem ser apresentadas em comprimidos vaginais ou
sublinguais, bem como nos pellets subcutâneos (vias alternativas de absorção).

Formas gasosas: incluem aerossóis e sprays para aplicação tópica, nasal ou bucal,
bem como formas de uso veterinário, hospitalar ou mesmo caseiro, como as fumigações,
vaporizações, inalações.

Algumas dessas formas farmacêuticas merecem destaque no que diz respeito à via de
administração, seja pelas características anatomofisiológicas, seja pela importância terapêutica.

Enfim, cada forma farmacêutica se adéqua melhor a uma determinada via de


administração. Por sua vez, a melhor via de administração é definida por vários fatores, os quais
incluem:

Fatores farmacológicos: biodisponibilidade do fármaco (tempo de absorção, meia-


vida e velocidade de resposta), alvo molecular de ação.

Fatores patológicos: gravidade da doença, órgãos potencialmente atingidos, estado


do paciente.

Fatores físico-químicos: estabilidade do fármaco, solubilidade, coeficiente de


partição.

Fatores diversos: biocompatibilidade, incompatibilidades, características


anatomofisiológicas.
6.3 VIA TÓPICA

Termos como USO TÓPICO ou VIA TÓPICA são trocados por USO EXTERNO ou VIA
CUTÂNEA de modo tão deliberado, que frequentemente geram dúvidas quanto ao verdadeiro
significado do termo tópico.
128
No que diz respeito ao espectro de ação, os medicamentos podem ser tópicos (ação
local) ou sistêmicos. Assim, pode-se entender por produto de uso tópico todo aquele que,
aplicado a um determinado local, não atinja o sistema circulatório.

Dependendo das características do produto, a via tópica se estende não somente à


pele e anexos, como também mucosas oftálmicas, vaginais, retais e bucais, bem como a outras
cavidades internas, tais como nariz e ouvido.

A pele merece destaque por ser o segundo maior órgão do corpo humano, perdendo
apenas para esqueleto ósseo. A importância da pele se justifica ainda por suas funções que
incluem:

 Função sensorial;
 Função nutricional (biossíntese de vitamina D);
 Excreção e balanço eletrolítico (suor);
 Termorregulação (transpiração);
 Fotoproteção (melanina);
 Proteção (mecânica, química e imunológica).

A proteção química a xenobióticos se dá pela impermeabilidade da pele à maioria das


substâncias não gasosas. Entretanto, como já foi visto em formas semissólidas, a absorção
percutânea, dependendo de fatores físico-químicos diversos (pH, pKa, log P, concentração,
coeficiente de difusão) ou anatomofisiológicos, não é desprezível. As principais vias de absorção
cutânea são a região folicular, os ductos sudoríparos e o extrato córneo descontínuo.
Os mecanismos de permeação cutânea podem ser: intracelular, intercelular e
transanexial (folículos). Para entender a absorção percutânea é necessário conhecer as
características anatomofisiológicas da pele e anexos.

6.3.1 Anatomofisiologia da pele


129

A pele é constituída basicamente por três camadas (Fig. 7): epiderme, derme
(endoderme) e hipoderme (diaderme).

FIGURA 7 - ESTRUTURA DA PELE

FONTE: Disponível em: <http://fernandalopesmarykay.blogspot.com.br/2011/04/importancia-do-cuidado-com-


pele.html>. Acesso em: 29 mar. 2012.
A epiderme é um epitélio estratificado pavimentoso avascular e pouco hidratado,
composto por queratinócitos (80%), melanócitos (13%), células de Langerhans (4%) e células de
Merkel. Este epitélio é disposto em três camadas: o extrato córneo, a camada granulosa e a
camada basal. No caso da planta dos pés e palma das mãos temos ainda o espesso extrato
lúcido.

O extrato córneo é uma barreira impermeável formada por células queratinizadas; na


parte mais externa, camada descamativa (camada descamante de Ranvier), é composto por
130
células mortas e revestido por uma emulsão epitelial formada predominantemente por sebo.

A camada granulosa, glicoproteica, caracteriza-se pelo armazenamento de queratina,


sendo que a produção desta proteína é feita por células especializadas denominadas
queratinócitos. Outra proteína de destaque presente na epiderme é a melanina, produzida pelos
melanócitos e responsável direta pela fotoproteção.

Na interface entre derme e epiderme encontram-se as células basais (corpúsculo de


Malpighi), responsáveis pela multiplicação celular, importantes para o processo descamativo do
epitélio, o qual garante renovação e proteção. A espessura da epiderme média varia de 0,06 a 1
mm, podendo chegar a 1,5 mm na região das palmas das mãos e planta dos pés, ou 0,04 para
pálpebras.

A derme é formada por tecido conjuntivo composto por proteínas fibrosas (colágeno
74%, elastina 4%, e reticulina 4%). É enervada, vascularizada (sistema linfático e sanguíneo) e
apresenta alto grau de hidratação, conferido pela presença de vários componentes que integram
o NMF - fator natural de hidratação (ex.: mucopolissacarídeos, lactatos, aminoácidos, eletrólitos,
entre outros), bem como pela característica oclusiva da emulsão epitelial. Entre as células da
derme destacam-se os fibroblastos, responsáveis pela biossíntese do material conjuntivo, os
mastócitos e histócitos, que além de apresentarem natureza conjuntiva conferem proteção
biológica, e os linfócitos, relacionados a funções sensoriais, vasculares e imunológicas. Na
derme, fixa-se a base de vários anexos da pele, como o aparato pilossebáceo (pelos e glândulas
sebáceas) e as glândulas sudoríparas.

A hipoderme, camada mais profunda, espessa e irrigada da pele, é formada


predominantemente por adipócitos e fibroblastos. No tecido adiposo, os adipócitos são
organizados em blocos por tecido fibroso, garantindo ótima proteção mecânica. A função
armazenadora de gordura dos adipócitos confere ainda à hipoderme funções de reservatório
energético e de isolamento térmico.

A vascularização, que é maior tanto pelo sistema linfático, quanto sanguíneo, confere à
hipoderme proteção imunológica e absorção sistêmica.

Os principais anexos cutâneos incluem: glândulas sudoríparas apócrinas e écrinas,


aparelho pilossebáceo e unhas.

131
O pH cutâneo é regulado pelas secreções glandulares e situa-se em torno de 4,5,
contribuindo de modo importante para defesa da pele. Igualmente, o valor de pH varia de uma
região para outra, podendo atingir 7,2 nos espaços interdigitais ou 8 em doenças da pele. A
psoríase, por outro lado, tende a aumentar a acidez da pele.

6.3.2 Preparações Tópicas

As preparações tópicas incluem todas as formas líquidas, semissólidas e sólidas


destinadas, predominantemente, a uma ação local ou superficial.

De modo geral, as preparações destinadas à pele, exceto em casos extremos, não


necessitam de ajuste de pH. As preparações de uso tópico cutâneo toleraram pH´s e diferenças
de tonicidade relativamente agressivas.

Enquanto as formas semissólidas, como pomadas, cremes e géis, são basicamente


destinadas ao uso tópico cutâneo, as formas sólidas e líquidas são, na maioria, destinadas à
ação sistêmica.

Por outro lado, existem várias preparações líquidas de uso tópico, cujo conceito está
atrelado a vias de administração tópicas bastante específicas.
Colutórios: forma farmacêutica líquida viscosa que se destina à aplicação tópica sobre
as gengivas e partes internas da boca. Geralmente é veiculado na forma de spray e deve
apresentar, além de estabilidade adequada, sabor agradável.

São exemplos de colutórios o Colubiazol®, Flogoral®, hexamedine® e preparações


com própolis e mel.

Os componentes usuais incluem: fármacos (antissépticos: clorexidina; antibióticos:


tirotricina; anestésicos: xilocaína), veículos (glicerina, propilenoglicol, xarope, mel), flavorizantes 132
(menta, essência de hortelã, essência de tutti-fruti), corantes (amarelo de tartrazina),
conservantes (parabenos, sais de amônio quaternário).

Gargarejos: forma farmacêutica líquida, em geral aquosa, destinada à profilaxia e


assepsia da boca e garganta. Não devem ser deglutidos. Muitas vezes, é uma solução
concentrada que no momento do uso é diluída. Além de estabilidade devem apresentar baixa
viscosidade e sabor adocicado. Têm propriedades antisséptica, refrescante e desodorizante,
podendo ainda conter:

Flúor, quando destinada à higiene bucal após escovação.

Adstringentes, para auxiliar a cicatrização e/ou tratamento de gengivites e inflamações


bucais.

Exemplos de preparações comerciais para gargarejos são Cepacol®, Periogard® e


Listerine®.

Os componentes usuais incluem: fármacos (clorexidina, cloreto de cetilpiridinio ou


outros antissépticos), antioxidantes (metabissulfito de sódio), corantes (amarelo de tartrazina),
flavorizantes (mentol), conservantes (cloreto de benzalcônio, parabenos), veículos (glicerina,
água, propilenoglicol).

Enemas: forma farmacêutica líquida destinada à aplicação retal com fim laxativo ou
para produzir efeito local ou sistêmico. Os requisitos básicos destas preparações são
estabilidade e viscosidade adequada.
Os componentes usuais são fármacos (aminofilina, hidrocortisona, fosfatos de sódio,
docusato de potássio, glicerina, óleo mineral leve), veículo (glicerina: água, óleo mineral, óleos
vegetais).

Como exemplos de enemas, temos as soluções laxantes, soluções concentradas de


mono e difosfato de sódio.

133
Duchas: forma farmacêutica líquida destinada a ser introduzida em cavidades do corpo
para limpeza ou ação local antisséptica - faríngea, vaginal, ocular, nasal. Em alguns casos
devem ser estéreis.

Soluções otológicas (soluções auriculares ou áureas): são formas farmacêuticas


empregadas para tratar afecções do ouvido em geral, para combater dor e infecção ou remover
o excesso de cerúmen. O acúmulo de cerúmen pode levar à surdez e à predisposição a
infecções. A maioria das otites é causada por bactérias (pseudomonas aeruginosa, Proteus
vulgaris, estreptococos e estafilococus).

Os requisitos para preparações otológicas incluem, além de estabilidade, viscosidade


adequada para maior contato com a mucosa e pH entre 5,0 e 7,0 (o ideal é 5,0, já que nas otites
o pH geralmente se eleva para alcalino).

Os componentes usuais incluem: fármacos (Antibióticos: cloranfenicol, sulfato de


neomicina, gentamicina, sulfato de polimixina B, nistatina, borato de 8-hidroquinolina.
Corticoides: dexametasona, hidrocortisona, valerato de betametasona, acetonido de
fluocinolona. Anestésicos: lidocaína, tetracaína, benzocaína. Para remoção de cerúmen: H 2O2
10v, trietanolamina, bicarbonato de sódio), veículos (glicerina, Propileno:PEG´s), conservantes
(cloreto de benzalcônio, clorobutanol, parabenos), antioxidantes (sulfito de sódio, metabissulfito
de sódio) e tampões (ácido bórico/borato; fosfato mono e dissódico).
6.4 VIA NASAL

A via nasal merece destaque pela característica do epitélio nasal, que é altamente
vascularizado, podendo-se obter tanto ação tópica quanto sistêmica, bem como pela importância
fisiológica do nariz. Por outro lado, o nariz é um reservatório importante para agentes
134
infecciosos, especialmente vírus e microrganismos causadores de doenças.

Doenças alérgicas afetam as condições normais da mucosa nasal. Uma resposta


excessiva do sistema secretor à irritação pode eliminar a solução do fármaco colocada na
cavidade nasal antes que seja absorvido pela membrana nasal.

São reações comuns a estímulos irritantes: vasodilatação, aumento da permeabilidade


capilar, exsudação, hipersecreção mucosa, obstrução das vias respiratórias, movimento ciliar
aumentado, aumento da temperatura local e espirros.

6.4.1 Anatomofisiologia do Nariz

O epitélio nasal é muito vascularizado, rico em elementos mucosos, tem alta


capacidade de absorção, permitindo taxa e extensão de absorção comparáveis à via
intravenosa; é coberto por uma camada de muco que é escorrido posteriormente pelos cílios. Em
contrapartida, o muco renova-se a cada 10 minutos (produção diária de aproximadamente 1,5 a
2 L), fato que pode constituir-se, eventualmente, em uma barreira à absorção.

Além do muco, outras secreções das glândulas nasais, lacrimais e transudatos


plasmáticos são também produzidas. A composição destas secreções é complexa, podendo ser
detectada a presença de mucoproteínas, glicoproteínas, enzimas, lisozima, IgA, IgE, IgG,
albuminas, prostaglandinas, histamina.
6.4.1.1 Preparações Nasais (Errinos)

Os errinos são formas líquidas destinadas à administração nasal de fármacos para


ação local (limpeza, ação descongestionante, anti-inflamatória e anti-histamínica) ou sistêmica
(hormônios). Devem ser estéreis, isotônicos e respeitar a faixa de pH de 6,4 a 9,0. Entretanto,
135
errinos devem ter, preferencialmente, pH entre 5 e 7, sendo que zonas básicas não são
fisiológicas e favorecem o crescimento bacteriano.

Na preparação de errinos não devem ser utilizados solventes que alterem a


viscosidade do muco e diminuam o movimento ciliar (ex.: óleos vegetais ou minerais, glicerina
acima de 10%, álcool acima de 10%, polietilenoglicóis acima de 1%), bem como substâncias que
causem paralisia do movimento ciliar (ex.: ácido bórico).

Componentes usuais: fármacos (Antibióticos: estreptomicina, neomicina, tirotricina.


Anti-histamínicos: cromoglicato de sódio. Anti-inflamatórios: dexametasona. Hormônios:
ocitocina. Descongestionantes: efedrina, naftilimidazolinas), conservantes (parabenos e
clorobutanol), tampões (fosfato/difosfato de sódio ou potássio), isotonizantes (NaCl, dextrose,
K2SO4, Na2SO4,), veículo (aquoso de baixa viscosidade).

6.5 VIA OFTÁLMICA

A absorção via oftálmica se processa pela conjuntiva e depende da solubilidade do


fármaco, permeabilidade do fármaco pelas membranas, pH e sistema tampão, concentração do
fármaco no colírio, presença de estímulos irritantes (ex.: falta de isotonia). As formas líquidas
instiladas são rapidamente eliminadas pelas lágrimas, apresentando ação de no máximo 5
minutos, o que exige repetidas aplicações.
A instilação é feita no saco conjuntival; quando são recomendadas aplicações
repetidas, essas devem ser feitas em intervalos de 5 minutos.

6.5.1 Anatomofisiologia do Olho

136

No que diz respeito à absorção oftálmica, destacam-se os papéis da córnea, conjuntiva


e lágrima.

A córnea é uma membrana que reveste o globo ocular, pouco irrigada, mas muito
enervada e, portanto, muito sensível a estímulos dolorosos.

A conjuntiva é uma membrana que reveste externamente a córnea e internamente as


pálpebras. É bastante vascularizada, permitindo a absorção e eliminação de fármacos, e
também rica em elementos mucosos. É responsável pela formação de um filme aquoso
composto de mucopolissacarídeos, que se renova constantemente, e pela manutenção da
umidade do globo ocular.

A lágrima é um líquido viscoso (coloidal), composto por proteínas (incluindo a lisozima)


e eletrólitos, que banha o epitélio de revestimento com fim de proteção e lubrificação. O contato
com materiais estranhos no epitélio estimula o aumento da produção de lágrima para remoção
do agente irritante para as fossas nasais. Fato esse que, aliado a interações com proteínas e
mucopolissacarídeos, pode se opor à absorção. Do mesmo modo, considerando-se que o
volume de uma gota varia de 25 a 50 L e que o volume médio dos fluidos oculares é de apenas
7 L, boa parte da dose administrada é perdida.
6.5.1.1 Preparações Oftálmicas (Colírios)

Colírios são formas farmacêuticas líquidas estéreis destinadas ao tratamento de


afecções do globo ocular, incluindo pálpebras, conjuntiva e córnea, ao preparo pré-operatório,
para fins diagnósticos ou limpeza do globo ocular.
137
No que diz respeito à isotonia, ressalta-se que a lágrima, como os demais fluidos
biológios, equivale à solução NaCl 0,9%. A osmolaridade ideal é de 300 mOsm/L, sendo
aceitáveis valores de tonicidade entre 200 e 600 mOsm/L.

Quanto ao pH, dada a renovação da lágrima e fluidos da conjuntiva, aceita-se uma


ampla faixa, que vai de 5,8 a 11,4. Entretanto, a faixa ideal que não produz dor deve ser de 7,2 a
9,5.

Quanto ao grau de dispersão, preferencialmente os colírios devem ser soluções.


Entretanto, suspensões oftálmicas de partículas micronizadas ( 10m) são permitidas e
podem apresentar como vantagem tempo prolongado de ação.

Outras preparações de interesse oftálmico, que devem apresentar os mesmos


requisitos exigidos para colírios incluem: pomadas para uso oftálmico e soluções de limpeza e
manutenção de lentes de contato.

Todas as formas oftálmicas são preparadas em condições de assepsia com matérias-


primas estéreis. O acondicionamento é idealmente feito em vidros tipo I ou plástico.

O processo de esterilização normalmente empregado é o calor úmido (autoclave). Para


soluções oftálmicas pode-se empregar ainda a filtração esterilizante.

Nas pomadas, o fármaco é adicionado na forma de solução ou finamente dividido


(micronizado) em bases adequadas, como vaselina branca ou lanolina.

Componentes usuais: fármacos (Antibióticos: cloranfenicol, ciproloxacino.


Antissépticos: cloreto de benzalcônio. Colinérgicos: pilocarpina, atropina. Agentes de
diagnóstico: corantes. Anestésicos: benzocaína, xilocaína), antioxidantes (ácido ascórbico, sulfito
e metabissulfito de sódio, tioureia), quelantes (EDTA e ácido cítrico), tampões (Solução de
Palizsch: ácido bórico/borato de sódio. Solução de Sorensen: fosfato de sódio/difosfato de sódio.
Solução de Atkin: ácido bórico/carbonato de sódio), conservantes (cloreto de benzalcônio,
cloreto de benzetônio, clorobutanol, parabenos), viscosificantes (hidroxietilcelulose,
hidroxipropilcelulose, metilcelulose, álcool polivinílico, polivinilpirrolidona), isotonizantes (NaCl,
dextrose e ácido bórico), veículos (água estéril).

138

6.6 VIA INJETÁVEL

Entende-se por via de administração parenteral qualquer via interna que não pertença
ao trato gastrintestinal (TGI).

A via injetável, ou parenteral, apresenta como principal vantagem à rapidez e


proporção com que se pode disponibilizar o fármaco em nível sistêmico, já que, por esta via, os
problemas com absorção e metabolismo são nulos ou bastante reduzidos. Outras vantagens
incluem: possibilidade de administração em pacientes debilitados, ausência de problemas de
aceitabilidade relacionados a aspectos organolépticos, possibilidade de absorção completa (via
endovenosa) ou ação localizada (via intramuscular e subcutânea).

Apresenta como desvantagens o risco em razão da dificuldade de se reverter o


processo de absorção e necessidade de pessoal especializado para administração.

Considerando-se a vulnerabilidade da via parenteral, todos os produtos injetáveis


devem ser estéreis e apirogênicos. E, exceto para produtos IV de baixo volume, estes devem ser
necessariamente isotônicos e iso-hídricos.

Componentes usuais: fármacos (antibióticos, vacinas, quimioterápicos, anti-


inflamatórios, antieméticos), conservantes (parabenos), antioxidantes (ácido ascórbico, BHT,
tocoferol), quelantes (EDTA), tampões (fosfato, acetato, citrato), agentes solubilizantes
(tensoativos não iônicos: lecitina, Tween®, span®), espessantes, como sorbitol, gelatina,
metilcelulose e CMC, veículos (água, óleos, álcoois, glicerina, propilenoglicol, dioxanos,
lanolina), coadjuvantes terapêuticos (anestésicos locais: procaína 1%, álcool benzílico < 5%).
As principais vias parenterais são: intravenosa, intramuscular, intradérmica,
subcutânea e intrarraquidiana.

6.6.1 Intravenosa (IV)

139

A administração IV é feita nas veias do braço, preferencialmente soluções,


excepcionalmente suspensões com partículas micronizadas ( de 1 a 2 m) e raramente
emulsões. Os volumes injetados variam de 0,5 a >1000 ml, sendo que os desvios aceitáveis de
pH e tonicidade são maiores para pequenos volumes. Em geral aceitam-se desvios de 0,4% de
NaCl e pH entre 6,0 e 7,5.

Por outro lado, a injeção IV de grandes volumes com desvio significativo de pH pode
causar tromboflebites.

A velocidade de administração IV pode ser rápida (< 1 minuto) para volumes


pequenos, lenta (1 a 10 minutos), perfusão intermitente para volumes entre 50 e 100 mL e
perfusão contínua para volumes superiores a 500 mL. A ação é imediata e a biodisponibilidade é
total; não há etapa de absorção. Desse modo, a via IV é a de maior risco de reações
secundárias (choque anafilático) e infecções.

6.6.2 Intramuscular (IM)

A administração IM é feita, em geral, nos glúteos, músculos da coxa ou do braço. Os


músculos estriados apresentam boa vascularização e pequena inervação sensitiva.
Formas líquidas (soluções, suspensões e emulsões), bem como sólidas (pellets) são
possíveis. O volume injetado não deve ultrapassar 10 ml, sendo o ideal máximo de 2 ml para
deltoide e 5 ml para glúteo. As soluções são obrigatoriamente isotônicas, sendo permitida ligeira
hipertonicidade para aumentar a absorção. Soluções oleosas são permitidas, mas devem
apresentar viscosidade adequada para viabilizar a absorção e a biocompatibilidade. O pH deve
ser ajustado para valores entre 4,5 e 8,5. Valores diferentes de pH, bem como soluções hiper ou
hipotônicas podem causar dor, inflamação, precipitação de proteínas e necrose do tecido.
Apresenta como desvantagens o risco em razão da dificuldade de se reverter o processo de 140
absorção e necessidade de pessoal especializado para administração.

6.6.3 Intradérmica (ID)

A injeção ID é feita geralmente na derme da face anterior do braço. Os volumes variam


de 0,06 a 0,18 mL e, dada a baixa vascularização desta via, é indicada apenas para diagnóstico.

6.6.4 Subcutânea (SC)

Também denominada via hipodérmica, a via SC aceita volumes de, no máximo, 2 ml.
Permite a administração de formas líquidas (soluções, suspensões e emulsões) ou sólidas
(pellets). Embora seja a camada mais vascularizada da pele, a absorção é lenta, sendo
eventualmente indicada a adição de hialuronidase.
6.6.5 Intrarraquidiana (IR)

A via IR, também denominada intratecal ou intraespinhal, é utilizada quando o fármaco


não atravessa a barreira hematoencefálica. A formulação não deve conter conservante, devendo
ser aquosa, isotônica, isoídrica e rigorosamente estéril e apirogênica.
141

6.7 VIA ORAL

Quando se deseja ação sistêmica, a via oral é a mais conveniente e, portanto, a mais
utilizada. Entre as formas farmacêuticas de uso oral e interno, destacam-se os produtos sólidos
(comprimidos, cápsulas e drágeas) e líquidos (gotas, xaropes, elixires), bem como geleias. O
grande diferencial desta via está no fato de que o TGI é um órgão especializado na digestão e
absorção, funções responsáveis tanto pelo aspecto negativo da instabilidade, quanto positivo da
boa biodisponibilidade.

No caso das soluções orais não há necessidade fisiológica de se corrigir o pH ou a


tonicidade, desde que esses não sejam muito agressivos.

6.8 VIA RETAL

A via retal é uma alternativa à via injetável e oral, que em virtude da alta vascularização
pode apresentar também ótima absorção sistêmica.
Em relação à via injetável apresenta a vantagem de não requerer pessoa qualificada
para administração, porém os níveis de absorção são em geral menores.

Já em relação à via oral apresenta como principal vantagem o fato de se evitar por esta
via a ação do suco gástrico e entérico, porém perde, obviamente, no quesito conveniência.

Em resumo, os aspectos mais relevantes da administração retal são:


142

 Absorção relativamente rápida, porém pode ser incompleta e irregular;


 Empregada para fármacos de ação local (ex.: laxativos e anti-hemorroidários) ou
sistêmica (ex.: analgésicos, antitérmicos e anti-inflamatórios);
 Evita ação secreções do TGI;
 Estima-se que apenas 50% da dose sofra metabolismo de primeira passagem
(passe pelo fígado);
 Útil quando não é possível utilizar a via oral, como por exemplo, em casos de
inconsciência ou de fármacos irritantes à mucosa gástrica, fármacos nauseantes,
entre outros;
 Útil para uso pediátrico.

6.9 VIA VAGINAL E URETRAL

A mucosa vaginal e da uretra são bem vascularizadas e podem propiciar ação


sistêmica. Entretanto, de modo geral tais vias têm em vista ação localizada e são destinadas a
medicamentos quimioterápicos utilizados no tratamento de infecções. O pH vaginal varia de 4,6
a 7,0, dependendo da idade e composição da flora bacteriana, sendo, em geral, mais alcalino
após a menopausa.
7 CÁLCULOS FARMACOTÉCNICOS

7.1 CÁLCULOS DE PESAGEM

143

Nos cálculos de dosagem que precedem a pesagem de matérias-primas durante a


preparação da amostra, devem-se seguir as seguintes etapas:

• Análise Criteriosa da Prescrição;

• Fator de Equivalência;

• Conversão de Unidades;

• Proporcionalidade.

A análise da prescrição deve levar em conta o nome usual, que é em geral o mais
frequentemente utilizado em prescrições.

A resolução da ANVISA: RE 391 de 19/8/1999, recomenda que se sigam a DCB ou


eventualmente a DCI.

• Denominação Comum Brasileira (DCB).

• Denominação Comum Internacional (DCI).

O Fator de Equivalência poderá ser maior, igual ou menor que 1,0, dependendo dos
seguintes casos:
→ FEq = 1,00 (quando a matéria-prima disponível e fármaco forem iguais)

Exemplos:

• Cloridrato de amitriptilina.

• Cloridrato de anfepramona.

• Cloridrato de doxepina.

• Cloridrato de terbinafina. 144

• Difosfato de dietilbestrol.

→ FEq > 1,00 (quando a matéria-prima é um sal ou éster do fármaco e a dose é


expressa em relação à base).

Exemplos:

• Acetato de Dexametasona.

• Benzoato de Metronidazol.

• Citrato de Tamoxifeno.

• Cloridrato de Cefalexina.

• Dicloridrato de Flunarizina.

• Palmitato de Cloranfenicol.

• Maleato de Domperidona, entre outros.

→ FEq ³ 1,00 (quando dose pode ser expressa em relação ao sal ou base).

• Cloridrato de Clordiazepóxido.

• Fenitoína sódica.
• Fenobarbital sódico.

• Naproxeno sódico.

Neste último caso, se a matéria-prima disponível for igual à forma prescrita FEq = 1, se
não FEq > 1.

145

No cálculo do Fator de Equivalência (FE) devem ser considerados:

• Valência do sal.

• PM da Base, sal ou éster.

• Grau de Hidratação.

Para o cálculo do Fator de Correção (FC) devem ser considerados:

• Teor de Umidade;

• Potência;

• Diluições.

7.2 EXEMPLOS PRÁTICOS

1) Cálculo do Fator de Equivalência para Sulfato de Salbutamol

Dados: Salbutamol (C13H24NO3) : PM = 239,31

Sulfato de Salbutamol (C13H24NO3). 2 H2SO4 : PM = 576,71

Equivalente grama = PM / Valência


Eq grama = 576,71 / 2 = 288,35

Fator de Equivalência (FE) = 288,35 / 239,31 = 1,20

2) Cálculo do Fator de Equivalência para Hidrocloridrato de Ciprofloxacina

Dados: Ciprofloxacina (C17H18FN3O3) : PM = 331,3

Cloridrato de Ciprofloxacina (C17H18FN3O3.HCl) : PM = 367,8 146

Fator de Equivalência (FE) = 367,8 / 331,3 = 1,11

2.1) Calcule o Fator de Equivalência para Ciprofloxacina mono-hidratada

Dados:

C i p r o f l o x a c i n a (C17H18FN3O3): PM = 331,3

Cloridrato de Ciprofloxacina Monohidratado (C17H18FN3O3.HCl.H2O): PM = 385,8

FE = 385,8 = 1,16

331,3

3) Cálculo do Fator de Correção para matérias-primas com elevado teor de umidade ou


hidratação.

3.1) Ureia contendo 5 % de umidade

Cada 100 g contem 5 g de água

Fc = 100 / 95 = 1,053

3.2) Aciclovir (PM = 225,2); Laudo= 5% de umidade


0,05 x 225, 2 = 11,26

225,2 + 11,26 = 236,46

Fc = 236,46 / 225,2 = 1,05

4) Cálculo do Fator de Correção para matérias-primas com potência abaixo de 100%.

147

4.1) Considere um lote com 96 % de teor

Fc = 100 / 96 = 1,0417

4.2) Calcule o Fator de correção para Cloridrato de ciprofloxacina mono-hidratada, cujo teor
determinado foi de 98 % do valor rotulado.

FE = 1,16 / 0,98 = 1,18 (vide exercício 2.1)

5) Cálculo do Fator de Correção para matérias-primas com elevada potência, que


invariavelmente se encontram pré-diluídas:

5.1) Hormônios T3 e T4 (Fator de diluição usual = 1:1000)

Aplicar Fc = 1000

5.2) Triac, 9-a-fluorhidrocortisona, cianocobalamina, vitamina D2, digoxina, colchicina (Fator de


diluição usual = 1:100)

Aplicar Fc = 100

5.3) Alprazolam, cloxazolam, clonazepam, cobamida, acetato de ciproterona, deflazacort,


etinilestradiol, sulfato de atropina, tartarato de ergotamina, biotina (Fator de diluição usual = 1:10)
Aplicar Fc = 10

5.4) Lorazepam (Fator de diluição = 1:5)

Aplicar Fc = 5

6) Cálculo do Fator de Correção para matérias Minerais Quelato: 148

MP disponível: Calcular percentual do mineral / PM

% metal = PM Quelato / PA metal x 100

Exemplo: Magnésio (Aspartato): 9,8 % de Mg / PM

Fc = 100 / 9,8 = 10,20

7) Exemplos Práticos

7.1) Calcule a quantidade a ser pesada de betacaroteno para preparar a fórmula abaixo:

Betacaroteno .......... 10 mg/cápsula

Dados: MP disponível: Betacaroteno 11%

Fc = 100 / 11 = 9,09

Cálculo: 10 mg x 9,09 = 90,9 mg / cápsula

7.2) Calcule a quantidade a ser pesada de Kawa Kawa para preparar a fórmula abaixo:

Kawa Kawa .......... 100 mg/cápsula

Dados: MP disponível: Extrato de Kawa Kawa com 30 % de kawalactona


Substância referência para cálculo: Extrato com 70 % de kawalactona

Fc = 70 / 30 = 2,33

Cálculo: 100 mg x 2,33 = 233 mg / cápsula

7.3) Calcule a quantidade a ser pesada de Al2O3 para preparar a fórmula abaixo:

Al(OH)3 .......... 10 % 149

Dados: MP disponível: Al2O3

Al2O3 + 3H2O ® 2Al(OH)3

PM=102 PM=2x78

Fc = 102 / 156 = 0,654

Cálculo: 10 % x 0,654 = 6,54%

7.4) Calcule a quantidade a ser pesada de Al2O3 para preparar a fórmula abaixo:

Al(OH)3 .......... 10 %

Dados: MP disponível: Al2O3, Laudo = 55%

Fc = 0,654 / 0,55 = 1,19 (vide exemplo 7.3)

Cálculo: 10 % x 1,19 = 11,9%


REFERÊNCIAS

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