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A Rememoração e o Desvelamento do Recalcado

-Noções sobre a Resistência no Processo Analítico-

Leandro Menezes Faber

Enquanto essencialmente marcado pela cisão, o ser humano depara-se com a


emergência incontrolável de uma “irracionalidade”, mais surpreendente por ser, mais do que
externa, fruto de uma sua vida psíquica interna que lampeja e efetua-se, mais além dos seus
conhecimentos instrumentalizados e aprendidos de controle e cognição, aos quais podemos
superdeterminar, no campo extensivo da Psicanálise, todo o arcabouço da cultura e das
estruturas humanas ditas não naturais, mas, que longe de juízo de valor ou espécie, na
verdade fundam a diferença exclusiva do Homem em relação ao reino animal. Exclusividade
não total, não alijadora, mas determinante, e ao mesmo tempo entretecida a uma sua parte
que não quer calar, o Ics , tal como estabelecido por Freud.

Mas, qual a direção a tomar para, de alguma maneira, tentar algum acesso a esta
instância tão estranha, mesmo que tão íntima? Como será retrilhar algo que, desde tão cedo,
ou mesmo antes de nossa existência, é, no mais das vezes, o evitado, tão associado através
dos tempos ao reino obscuro a ser suplantado pela luz da razão?

Por se tratar, por fundação, do registro ocultado da história pessoal do indivíduo, não
trata-se esta tentativa de apropriação ou olhar ao Ics e seus efeitos e determinações investigar
somente, mas rememorar, reescrever, realocar, resignificar o já estabelecido, o recalcado.

Conforme Freud, em “O Inconsciente” [ Das Unbewusste, 1915], um dos ensaios


agrupados sob o nome de escritos metapsicológicos, não há uma “eliminação” dos resíduos
inconscientes:

“Aprendemos, com a psicanálise, que a essência do processo de repressão não consiste em


eliminar, anular a idéia que representa o instinto, mas em impedir que ela se torne
consciente.

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Dizemos então que se acha em estado de ‘inconsciente’, e podemos oferecer boas provas
de que também inconscientemente ela pode produzir efeitos, inclusive aqueles que afinal
atingem a consciência”

Daí podemos depreender dois conceitos fundamentais: que algo impede, total ou
parcialmente o retorno do reprimido, e, talvez mais importante, que o recalcado, mesmo
assim, pode produzir efeitos, por várias vias, inclusive sinalizáveis ao consciente.

Portanto, podemos, por duas vias, que emanam destas duas características do aparelho
psíquico apontadas, perguntar: o que impede o retorno, o que bloqueia, turva ou desvia este
trajeto, este jorro; e - pela direção oposta – o que permite, ou permitiria seu acesso à
consciência, ao manifesto, e como isto sinaliza-se.

No mesmo texto, Freud pergunta-se:

“De que forma podemos chegar ao conhecimento do inconsciente? É claro que o


conhecemos apenas enquanto consciente, depois que experimentou uma transposição ou
tradução em algo consciente. Diariamente o trabalho psicanalítico nos traz a experiência de
que é possível uma tal tradução. Isso requer que o analisando supere determinadas
resistências, as mesmas que outrora, rejeitando-o do consciente, transformaram um
dado material em reprimido [grifos nossos]”

Este justo elemento fundador de uma outra dimensão do ser, o Inconsciente, é do qual
ocupa-se, quase como pedra fundamental, o trabalho analítico, aí colocado em uma primeira
instância de trabalho: a resistência.

Conforme assinala Lacan, no Seminário, Livro I “Os Escritos Técnicos de Freud”,


esta é uma questão original e de grande preponderância no processo analítico:

“Se alguma coisa faz a originalidade do tratamento analítico é ter percebido, na origem...a
relação problemática do sujeito consigo mesmo...a descoberta...é ter colocado esta relação
em conjunção com o sentido dos sintomas.
É a recusa desse sentido pelo sujeito que lhe coloca um problema. Esse sentido não lhe
deve ser revelado, deve ser assumido por ele. Nisso, a Psicanálise é uma técnica que
respeita a pessoa humana... Seria portanto paradoxal colocar em primeiro plano esta idéia

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de que a técnica analítica tem por finalidade forçar a resistência do sujeito. O que não quer
dizer que o problema não se coloque de modo algum.

Com efeito, não sabemos que...tal analista não dá um só passo sem ensinar... a
colocar sempre a respeito do paciente a pergunta: O que é que ele pode ainda inventar como
defesa? [ grifos nossos ] “

Neste ponto, Lacan responde à questão da “invasividade” da técnica hipnótica


freudiana, colocada por Hyppolite, utilizada como um dos métodos de “acesso” ao recôndito
dos núcleos inconscientes, e o vencimento da resistência do paciente. Deste processo de
desenvolvimento da técnica psicanalítica, podemos referenciar o assinalado por Freud em
Recordar, Repetir, Elaborar – Novas Recomendações Sobre a Técnica da Psicanálise [1914]:

“Não me parece desnecessário lembrar continuamente,àqueles que estudam a psicanálise,


as profundas alterações que a técnica psicanalítica sofreu desde o início. Na primeira fase, a
da catarse de Breuer, o foco era colocado sobre o momento da formação do
sintoma...Recordar e ab-reagir, com o auxílio do estado hipnótico, eram então as metas a
serem alcançadas. Em seguida, depois da renúncia à hipnose, impôs-se a tarefa de
descobrir, a partir dos pensamentos espontâneos do analisando o que ele não conseguia
recordar. A resistência seria contornada mediante o trabalho de interpretação e a
comunicação dos seus resultados ao doente...Por fim se formou a técnica coerente de
agora, na qual o médico renuncia a destacar um fator o problema determinado e se contenta
em analisar a superfície psíquica destacada pelo analisando, utilizando a arte da
interpretação essencialmente para reconhecer as resistências que nela surgem e torná-las
conscientes para o doente...Em termos descritivos:preenchimento das lacunas da
recordação; em termos dinâmicos: superação das resistências da repressão.”

Ainda no Seminário I Lacan digressa por esta pergunta acima referida, ou seja, esta
resistência, de onde vem ela?

“Vimos que não há texto nos Studiens über Hysterie que permita considerar que, como tal
ela venha do eu. Nada indica tampouco na Traumdeutung que ela venha do processo
secundário...Quando chegamos aos anos 1915, em que Freud publica Die Verdrängung...a
resistência é certamente concebida como algo que se produz do lado do consciente, mas
cuja identidade é essencialmente regulada pela sua distância...em relação àquilo que foi
recalcado...
Afinal de contas, o que foi originalmente recalcado, o que é que é, desde A Interpretação
dos Sonhos...? É ainda e sempre o passado. Um passado que deve ser restituído, e
relativamente ao qual não podemos fazer de outra forma a não ser reevocar uma vez mais a

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ambigüidade e os problemas que ele levanta quanto à sua definição, sua natureza e sua
função.”

O aspecto talvez mais importante a destacar é aquele que nos mostra, na teoria
Freudiana, que o retorno, a rememoração, não se dá de maneira perfeita, completa. Muitas
vezes traveste-se de verdade incontestável um fato fantasioso, muitas vezes desloca-se o
sentido ou a representação derivada de uma cristalização pulsional engendrada como núcleo
gerador do sintoma, justamente no seu acobertamento, na evitação do desprazer, como
assinalou em Além do Princípio do Prazer [1920], por ser a aproximação do núcleo
traumático fonte de angústia. Mais além, em uma resposta a este surgimento, que, no entanto,
não encerra a questão, mas perfaz o ínicio do engendramento do Sujeito do Desejo, Um
Início:

“( ...)nesse jogo de vaivém é o espelhamento do aquém ao além do espelho por onde passa
a imagem do sujeito. Trata-se, no curso da análise, de sua compleição. Ao mesmo tempo, o
sujeito reintegra seu desejo. E cada vez que um novo passo é dado na compleição dessa
imagem, é na forma de uma tensão particularmente aguda que o sujeito vê seu desejo surgir
em si mesmo...Naquele momento, o desejo é, pelo sujeito, sentido – não pode sê-lo sem a
conjunção da palavra. E é um momento de pura angústia e nada mais. O desejo emerge
numa confrontação com a imagem. Quando esta imagem, que tinha sido descompletada, se
completa, quando a face imaginária que estava não-integrada,reprimida,recalcada,surge,
então a angústia aparece. É o ponto fecundo” O núcleo do recalque. Cap XV, Seminário I –
Os escritos técnicos de Freud

BIBLIOGRAFIA:

FREUD, Sigmund. Recordar, Repetir e Elaborar In Obras Completas V. 10. São Paulo:
Companhia das Letras, 2010.
FREUD, Sigmund. O Inconsciente [Ensaios de Metapsicologia] In Obras Completas V.
12. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
FREUD, Sigmund. Além do Princípio do Prazer In Obras Completas V. 14. São Paulo:
Companhia das Letras, 2010.
LACAN, Jacques. O Seminário, livro1: os escritos técnicos de Freud. 2. ed. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Editor, 2009.

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