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Setor Público
Disciplina Negociação e Gestão
de conflitos
i
Negociação e Gestão de conflitos
Sumário
1. Introdução ................................................................................................................ 1
1.1 A interdependência .............................................................................................................1
1.2 Conceitos de Negociação ...............................................................................................2
1.3 Negociação X Barganha .......................................................................................................3
1.4 Características de uma negociação .......................................................................................3
1.5 Diferentes formas de enquadrar uma negociação .................................................................3
1.5.1 Tangíveis e Intangíveis ........................................................................................................................... 4
1.5.2 Uma questão de direitos ....................................................................................................................... 4
1.5.3 Uma questão de interesses ................................................................................................................... 4
1.5.4 Uma questão de poder .......................................................................................................................... 4
2. Conflitos ....................................................................................................................... 5
2.1 Conceitos ............................................................................................................................5
2.2 Conflitos no mundo .............................................................................................................5
2.3 Alguns Importantes conflitos na história ..............................................................................6
2.3.1 Guerra fria.............................................................................................................................................. 6
2.3.2 Alguns conflitos históricos ..................................................................................................................... 7
2.4 Impacto econômico da falta de paz ......................................................................................8
2.5 Conflitos organizacionais .....................................................................................................9
2.6 Fatores que facilitam a gestão dos conflitos .......................................................................12
2.7 Caminhos para resolução dos conflitos...............................................................................13
2.7.1 Caminhos entre a assertividade e a cooperação................................................................................. 14
2.8 Conciliação, mediação e arbitragem ................................................................................... 16
2.8.1 Conciliação ........................................................................................................................................... 16
2.8.2 Mediação ............................................................................................................................................. 16
2.8.3 Arbitragem ........................................................................................................................................... 17
3. Elementos essenciais em uma negociação ....................................................................19
3.1 Poder ................................................................................................................................ 19
3.1.1 Fontes de poder ................................................................................................................................... 19
3.2 Tempo............................................................................................................................... 21
3.3 Informação........................................................................................................................ 21
3.4 Flexibilidade ...................................................................................................................... 21
4. Estratégias de negociação ...........................................................................................22
4.1 Barganha........................................................................................................................... 22
4.1.1 Preparação ........................................................................................................................................... 24
4.1.2 Durante a negociação .......................................................................................................................... 25
4.1.3 O fechamento do acordo ..................................................................................................................... 27
4.1.4 Táticas agressivas utilizadas na Barganha ........................................................................................... 27
ii
4.2 A negociação distributiva ou cooperativa ...........................................................................30
4.2.1 Preparação ........................................................................................................................................... 30
4.2.2 Durante a negociação .......................................................................................................................... 31
Lista de figuras
Figura 1 - Global Peace index 2020 ............................................................................................ 6
Figura 2 - Cortina de ferro.......................................................................................................... 6
Figura 3- Modelo das inquietações duais ................................................................................ 14
Figura 4 - Fluxo da mediação ................................................................................................... 17
Figura 5 - termos de uma negociação ...................................................................................... 23
Figura 6 - Processo de identificação das soluções ................................................................... 31
Figura 7 - os elementos da comunicação................................................................................. 33
Figura 8 - Sete expressões faciais do ser humano ................................................................... 38
Figura 9 - Perfis psicológicos de Ackoff .................................................................................... 39
Figura 10 - Tipos de Ackoff e a cultura dos países ................................................................... 40
Figura 11 - Estilos de negociadores - Modelo de Sparks ......................................................... 41
Lista de tabelas
Lista de quadros
Quadro 1 - Conflitos não resolvidos podem levar à falência ................................................... 11
Quadro 2 - Dicas de linguagem corporal ................................................................................. 36
Quadro 3 - Tipos de Gottschalk ............................................................................................... 42
Agosto de 2020
Professora Maria Amélia de Paula Dias, PhD
Departamento de Administração
Faculdade de Administração, Contabilidade, Economia e Gestão de Políticas Públicas
Universidade de Brasília
iii
1. Introdução
Uma das origens do termo “negociação” é supostamente do latim: negocium (não + ócio)
que significa atividade trabalhosa, difícil. Em Português, a negociação significa ato de negociar,
transacionar. O termo em inglês é bem parecido, provavelmente tem origem no latim – negociate.
Para que aprender negociação? Qual a finalidade?
Na verdade, negociamos o tempo todo, desde que nascemos. Na vida organizacional, ela é
absolutamente necessária, pois além da necessidade de nos integrarmos à nossa equipe e às demais
equipes da organização, estamos sempre disputando recursos. Sim, o tempo das pessoas é escasso,
o dinheiro é escasso e, de maneira geral, nossos planos são mais audaciosos que nossos recursos.
Se não estiver acontecendo isto na sua organização, pode ser um sinal de atenção – talvez sua
estratégia não esteja coerente com seu mercado ou seu ambiente institucional.
Texto preparatório: Interdependência
1.1 A interdependência
A negociação é necessária por que somos interdependentes uns dos outros. A
interdependência ocorre porque vivemos em sociedade e em família, em condomínios, prédios,
bairros. Trabalhamos em organizações, em conjunto ou não, mas ninguém vive completamente sem
se relacionar e ter algum tipo de interdependência com outra(s) pessoa(s), a menos que seja um(a)
ermitão vivendo no meio de um floresta isolado de todos. Ainda assim dependerá das plantas e dos
animais para viver.
Há vários tipos de interdependência que podemos resumir em 3 abrangentes:
a) quando as metas são competitivas/opostas. A realização dos objetivos de uma parte
impede a realização de outras. É o caso de uma competição esportiva.
b) quando as metas são relacionadas. O alcance dos objetivos de uma parte ajuda a outra
a alcançar os dela. É o caso de um trabalho em grupo ou a elaboração de uma canção
com musica e letra.
c) Interdependência de longo prazo – quando uma negociação é apenas uma parte do
relacionamento entre as partes. Quando negociamos as tarefas de casa com nossos
parceiros ou familiares, por exemplo.
Na maioria das relações de interdependência, todos querem atingir seus objetivos e metas.
As soluções, de maneira geral, podem ser melhores negociando do que não negociando. A
interdependência e as alternativas de solução estão intimamente ligadas. Quando mais
interdependentes, mais negociações se faz.
1
Exercício – Interdependência
leitura do texto preparatório Interdependência
Tarefas:
Identificar os níveis de interdependência: relacionamentos pessoais, em grupos sociais, entre
pessoas e equipes, entre organizações e entre organizações e sociedade/clientes
Identificar os tipos de interdependência:
a. quando as metas são competitivas/opostas. A realização dos objetivos de uma parte
impede a realização de outras
b. quando as metas são relacionadas. O alcance dos objetivos de uma parte ajuda a outra a
alcançar os dela.
c. Interdependência de longo prazo – quando uma negociação é apenas uma parte do
relacionamento entre as partes.
Exercício - Interdependência
Para entender melhor como funciona os vários tipos de interdependência, propõe-se o
seguinte exercício: Assista ao vídeo
https://www.youtube.com/watch?v=EdPS5LjT6Ts
Como eram as instituições antes? 5 características e depois? O que procura o novo executivo
apresentado pelo palestrante? Qual a relação da interdependência e negociação? Qual a
diferença entre autonomia e independência? Como a interdependência leva à cooperação?
Muitos autores definem negociação e em cada uma das definições se evidencia algo diferente.
Veja a seguir:
1. É o uso da informação e do poder, com o fim de influenciar o comportamento dentro de
uma rede de tensão (Cohen, 1980:13).
2. É um processo de comunicação bilateral, com o objetivo de se chegar a uma decisão
conjunta (Fisher & Ury, 1985:30).
3. É o processo de comunicação com o propósito de atingir um acordo agradável sobre
diferentes ideias e necessidades (Acuff, 1993:21).
4. Uma coleção de comportamentos que envolve comunicação, vendas, marketing psicologia,
sociologia, resolução de conflitos (Acuff, 1993 )
5. Processo pelo qual as partes se movem de suas posições iniciais divergentes até um ponto
no qual o acordo pode ser obtido (Steele et al. 1989:3). Este movimento tem vários tipos:
compromisso, barganha, correção, emoção e raciocínio lógico
6. É um negócio que pode afetar profundamente qualquer tipo de relacionamento humano e
produzir benefícios duradouros para todos os participantes (Nierenberg, 1981:3) . A
negociação é um elemento do comportamento humano, segundo o autor.
7. Conjunto de técnicas, práticas e princípios para a solução de divergências, problemas e
conflitos entre pessoas, empresas e países (Terra, 2013).
2
8. Negociação importa em acordo e, assim , pressupõe a existência de afinidades, uma base
comum de interesses que aproxime e leve as pessoas a conversarem (Matos, 1989:240).
9. Processo pelo qual duas ou mais partes tentam resolver interesses opostos. (Leweicki,
Saunders e Barry, 2014:7)
3
1.5 Diferentes formas de enquadrar uma negociação
As pessoas dão diferentes importâncias ao que está sendo negociado e encaram uma
negociação de forma distinta, dependendo do objeto de negociação e a relação que têm com estes
objetos. Assim, elas podem ter focos distintos, maneiras distintas de negociar a se organizam
de formas distintas também. Estas questões ajudam a compreender as questões principais e o
modo como são discutidas. Para obter informações sobre estas diferenças, é importante que hajam
conversas a respeito da questão ou sobre o conflito (conforme o caso). Estas informações
transformam a maneira de como as pessoas vêem um conflito/ questão negociada e podem dar
condições para sua administração. Uma disputa judicial pode, por exemplo, ser uma revanche
(vingança) de um lado. Se a outra parte compreender isto e suas razões pode administrar melhor a
questão.
1.5.1 Tangíveis e Intangíveis
Assim, o objeto da negociação envolve mais que valores monetários ou produtos concretos.
E o sucesso da negociação envolve gestão de tangíveis (preço, bens) e um direcionamento para os
intangíveis.
• Tangíveis – são aqui as questões visíveis, aparentes: preço de algo, valores, bens
tangíveis
• Intangíveis – são as questões não tão visíveis assim como as motivações psicológicas
como : a necessidade de vencer, causar uma boa impressão, parecer competente ou
rigoroso diante das partes, defender um princípio ou uma questão precedente à
negociação, parecer justo ou proteger a própria reputação
• Os intangíveis estão relacionados com valores pessoais e emoções, exercem forte
influência nos processos de negociação e seus desfechos. Eles afetam nossa
capacidade de julgamento sobre o que é justo, correto ou apropriado na gestão dos
tangíveis.
Com base na relação de tangíveis e intangíveis, as pessoas enquadram uma negociação como
uma questão de direitos, de interesses ou de poder.
1.5.2 Uma questão de direitos
Quando as pessoas encaram como um direito, quando se busca o que é “certo”, sobre quem
tem uma legitimidade. Exemplos: disputas de herança, disputa de direitos comerciais (entre pessoas
ou entre empresas). Assim, pode ser difícil, mas quando as pessoas arrumam um critério para definir
quem está certo ou não, a questão fica resolvida. Na maior parte das vezes, é muito comum que a
disputa requeira um árbitro. Quando se faz um contrato, por exemplo, define-se um fórum para
resolução de uma eventual disputa.
Nas disputas legais, usualmente se faz uma rotulagem ou identificação do problema – fase
chamada de nomeação; a definição de quem causou o problema ou seja, de quem é a culpa e, por
último, a reivindicação, que é a queixa de tem o problema a ser resolvido que decide tomar alguma
atitude contra quem causou o problema.
1.5.3 Uma questão de interesses
A questão refere-se a interesse quando uma pessoa precisa de algo, aparentemente, por uma
necessidade operacional mas na verdade tem outros interesses não explícitos – ou seja – existem
intangíveis que estão ocultos. Por exemplo, ao negociar o preço de um carro, aparentemente a
necessidade de compra é a de transporte. Mas pode ser que ao escolher uma determinada marca,
uma necessidade de status seja mais forte do que a de transporte.
4
1.5.4 Uma questão de poder
Por último, uma negociação pode ser encarada como uma disputa de poder, onde se mede
quem é o mais forte, ou quem tem mais poder de coerção, ou quem faz mais pressão econômica,
ou até mesmo quem tem mais autoridade legítima (empregados e empregadores). Neste caso, os
vencedores e perdedores ao final ficam claramente definidos ao final. Isto significa que este tipo de
enquadramento leva mais a disputas competitivas, ou seja, em barganhas e não em negociações na
visão mais atual (veja item 1.3 Negociação X Barganha).
2. Conflitos
Segundo o dicionário on line, conflito é sinônimo de: desordem, pendência, altercação,
discussão, choque, embate, divergência, oposição, luta, guerra. O conflito é muito natural para o
ser humano, já que a diferença de percepções leva quase sempre ao conflito.
2.1 Conceitos
O conflito pode ser percebido como um um forte desacordo ou oposição de interesses, ideias
etc., e inclui a convicção de que as aspirações atuais das partes não são concretizáveis
simultaneamente (Pruit e Rubin, 1986). O conflito surge porque há alguma forma de interação de
pessoas/partes interdependentes que percebem a incompatibilidade e a interferência recíproca
em relação à realização de seus objetivos (Hocker e Wilmot, 1985). Ele pode acontecer entre duas
ou mais partes: pessoas, grupos, empresas, países etc.
Os tipos podem ser: conflito de necessidades, de interesses, opinião. Diferenças de
personalidades, metas conflitantes, recursos compartilhados, diferenças de informação e de
percepção etc.
5
Países menos pacíficos do mundo em 2020 159. Iêmen
163. Afeganistão 158. Somália
162. Síria 157. Líbia
161. Iraque 154. Rússia
160. Sudão do Sul 145. Israel
O Brasil tem piorado sua colocação. Em 2018, ocupava o 106º. lugar, em 2019 em 116º. e em
2020 aparece no 126º.
Fonte: http://visionofhumanity.org/app/uploads/2020/06/GPI_2020_web.pdf
6
Fonte: educação.globo.com
No período da Guerra Fria, aconteceram várias disputas estratégicas e conflitos indiretos entre
os EUA e União Soviética, de 1945 a 1989, com intensa disputa para obtenção da hegemonia política,
econômica e militar e alguns marcos relevantes como:
• A criação da NATO ou OTAN (1949)
• Pacto de Varsóvia
• Corrida Espacial – EUA e URSS disputam o direito do espaço sideral
• Propaganda político-ideológica,
• Invasões para expansão dos domínios: Coreia (1951-53), Vietnã (1959-75), Afeganistão,
Angola
• Apoios à golpes na América Latina, etc.
Notável foi o episódio da crise dos mísseis em Cuba que resultou em acordo entre Kennedy e
Krushev, em 1962. Como resultado deste conflito na difícil relação entre Cuba e EUA, os EUA
reforçaram o embargo comercial contra Cuba, que dura até hoje, com enorme impacto na vida da
pequena ilha. Mas ambos, EUA e URSS foram considerados perdedores e o planeta respirou aliviado
pois foi evitado uma outra guerra entre as duas potencias. A partir de então, aconteceram alguns
acordos:
• Tratado de Moscou (1963) - Os dois países regularam a pesquisa de novas tecnologias
nucleares e concordaram em não ocupar a Antártida
• TPN (tratado de não proliferação de Armas Nucleares) – 1968
• SALT I (Strategic Arms Limitation Talks - Acordo de Limitação de Armamentos Estratégicos)
(1972)
• SALT II (1979) - Prorrogação das negociações do SALT I
Após 1979, as relações entre os dois países entraram em outra fase, chamada a Segunda
guerra fria, de 1979 a 1985. Uma série de acordos para limitar armas e o relaxamento do controle da
URSS sobre outros países do leste europeu culminaram na queda do muro de Berlim, em 9 de
novembro de 1989. A reunificação alemã foi oficializada em 3 de outubro de 1990. Este foi um conflito
muito recente e que modificou a vida de milhares de pessoas por muito tempo. E poderia ter alterado
a configuração do mundo que conhecemos caso não tivesse acabado – todos temíamos uma Terceira
grande guerra que seria fatal, pois já havia o conhecimento das armas nucleares que poderiam ter
arrasado a vida como conhecemos no planeta Terra.
SAIBA MAIS: Quer saber mais detalhes? Este foi apenas um breve resumo. Faça uma pesquisa sobre
este episódio e assista ao filme 13 dias que abalaram o mundo, 2000.
7
a fugir destes territórios, em particular da faixa de gaza para que os governos árabes pudessem atacar
mais facilmente o local, contra Israel. A Palestina – área ocupada também reivindica espaço, mesmo
sem ser politicamente um Estado.
Em 1993 é criado um acordo de paz em Oslo, mas nunca foi obedecido, sendo que o conflito
entre árabes, palestinos e israelitas pela ocupação de terras continua. Em 2001 foi elaborada um
plano para retirada dos judeus da Faixa de Gaza e em 2005 os palestinos retomam a faixa de Gaza,
mas por desentendimentos internos, enfraquecem e são tomados por
Hamas (grupo terrorista que não reconhece Israel). Percebeu a
confusão? Tudo isto em um território inóspito (Israel ocupa 22.072
Km, Palestina 6.220 km2), que teria a mesma dimensão que nosso
menor estado, Sergipe de 21.915 km2.
Em 2010 – Barak Obama, Benjamin Netanyahu (1º. Ministro de
Israel) e Mahmoud Abbas (o presidente da Autoridade Nacional
Palestina (ANP) retomam negociações, mas a irredutibilidade do
governo Netanyahu e a proteção diplomática americana impedindo as
punições a Israel na ONU por transgressões internacionais, reduz o
espaço de negociação, levando a situação a um impasse.
Israel continua construindo conjuntos habitacionais na Cisjordânia
(território da Palestina, que fica a 45 Km da faixa de Gaza)
Neste conflito, vê-se claramente que mais do que uma disputa geográfica, disputa-se o direito
à história do lugar, com base nas crenças de 3 povos com sua culturas e religiões fortes e distintas.
Hoje, complicam negociação da paz: a demora na criação de um Estado palestino independente; a
construção de assentamentos israelenses na Cisjordânia; e a barreira construída por Israel (ar, terra
e mar), restringindo a circulação de pessoas e de mercadorias nos três territórios palestinos: Faixa de
Gaza, Jerusalém oriental e Cisjordânia, a reivindicação da Palestina que quer suas antigas fronteiras
de antes de 1967 que foram tomadas por Israel na guerra de 6 dias, entre outras questões.
Interessante notar que, em pesquisa feita pela BBC, em 2014, em 22 países, somente os EUA apoiam
Israel, (aliados militares) o que o torna mais forte (a figura mostrada foi obtida na wikipedia).
Exercício – faça sua própria pesquisa sobre o conflito na ilha de Chipre e a situação atua do conflito
entre Israel e Palestina.
1 https://www.independent.co.uk/news/world/politics/world-peace-these-are-the-only-11-countries-in-the-world-that-are-actually-free-from-
conflict-9669623.html
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• A crise Rohingya: Myanmar e Bangladesh
• Crise na Coreia do Norte
• Yêmen
• Afeganistão
• Guerra civil na Síria
• Região subsaariana (Sahel)
• Congo
• Ucrânia
• Venezuela
Nos últimos 70 anos, o crescimento da economia per capita cresceu 3 vezes mais em países
pacíficos quando comparados com países com baixos níveis de paz. Brasil é o destaque negativo na
América do Sul. (Global Peace Index-2018): A América do Sul mostra uma ilustração de que boas
políticas podem sobressair da posição geográfica. Chile e Uruguai, desde 2017 tem estado entre os
50 países mais pacíficos do mundo, apensar da proximidade com o Brasil que desde 2017 vem
piorando sua posição de 106º em 2017 para 126º em 2020 (GPI, 2018, 2020).
2GALINDO, Flávia; OLIVEIRA, Alex Pires de; SILVA, Geanderson Lúcio de Sousa; ALYRIO, Rovigati Danilo. Assertividade e cooperaç ão na negociação de
conflitos em uma agência de pequeno porte. Ciências sociais em perspectiva (7) 13, 2008
9
Fluxos de informações distorcidos
Decisões pobres e desacertadas
Gasto de energia improdutivo
Possibilidade de rompimento do relacionamento
A evolução de uma relação conflituosa podem evoluir de uma discordância, chegando até uma
verdadeira guerra. A discussão aumenta e vira um debate, que se não resolvido, gera falta de
confiança. Esta por sua vez, ainda sem solução acaba gerando imagens e ideias pré-concebidas que
deterioram a continuidade do relacionamento. Se as pessoas são obrigada a conviver, como é o caso
do ambiente de trabalho, em um próximo embate, podem surgir ameaças e punições gratuitas. Anda
sem resolver, em um processo cumulativo, os comportamentos começam a ser destrutivos,
boicotadores sempre que houver oportunidade. Claro que tudo isto é percebido de parte a parte, de
tal forma que, as partes em uma reação de autopreservação estão sempre prontos a se defender a
atacar. É o estágio final da guerra explícita entre as partes. Note que esta é uma explicação didática
da questão. Pode ser que este processo evolua desta forma para uma das partes e a outra não se
conta. Mas quando se chega no estágio final, naturalmente as partes acabam reagindo como se
estivessem em uma guerra mesmo.
10
Logo, negociar é sempre uma alternativa, desde o início. Apontando uma das definições já
mencionadas, “negociação é o processo através do qual as partes se movem das suas posições iniciais
divergentes até o ponto no qual o acordo pode ser obtido” (Steele et al., 1995). Para tanto, é
necessário descobrir os pontos em comum, o que torna muito importante o diálogo. Para a
manutenção do relacionamento, é preciso; buscar um resultado ganha-ganha, desenvolver o diálogo
– aprender a dialogar e ter flexibilidade. Isto não significa necessariamente dividir os ganhos, mas
atender às necessidades das partes.
3McDonalds, Lawrence C. um fracasso colossal, Editora Record. Veja também Reportagem G1: Ex-vice-presidente do Lehman Brothers conta bastidores
de falência em livro http://g1.globo.com/Noticias/Economia_Negocios/0,,MUL1346350-9356,00-
EXVICEPRESIDENTE+DO+LEHMAN+BROTHERS+CONTA+BASTIDORES+DE+FALENCIA+EM+LIVRO.html veja também Bazerman e Neale: negociando
racionalmente. Editora Atlas, capítulo 14 – negociando em grupos e organizações.
11
Tabela 2 - evolução das abordagens de gestão de conflitos
4. Uma luta entre o certo e o errado, o bom e 4. Uma confrontação entre as diferenças em
o mal certos aspectos do relacionamento, mas sem
excluir outros aspectos que ainda podem ser
construídos
Fonte: WEEKS, Dudley: the eight essential steps to conflict resolution – Open Library
4Martinelli, Dante P., Almeida, Ana Paula. Negociação e solução de conflitos. São Paulo: Atlas, 2016
5Lewicki, Roy J., Saunders, David M. , Barry, Bruce, Fundamentos de Negociação, 5ª. Edição, Porto Alegre,
AMGH Editora Ltda
12
Tabela 3 - o que facilita ou dificulta a gestão dos conflitos
Situação das metas Soma positiva – as duas acreditam Soma zero – um parte ganha, outra
que podem ter um desempenho perde
melhor, em vez de meramente
distribuir os resultados atuais
Continuidade da interação – as Relacionamento de longo prazo – Transação única – sem transações
partes trabalharão em conjunto no futuras interações devem ocorrer passadas ou futuras
futuro?
A estrutura das partes – o quanto Organizadas – coesas, liderança Desorganizadas – não coesas,
são coesas e organizadas como forte liderança fraca
grupo
Envolvimento de terceiros – Uma terceira parte confiável e Nenhuma terceira parte neutra
outras partes podem se envolver forte está disponível está disponível
para ajudarem a resolver a
disputa?
Percepção da evolução do conflito Equilibrado – as duas partes têm Desequilibrado – uma parte se
os mesmos prejuízos e os mesmos sente mais prejudicada e quer
ganhos, e estão mais dispostas a revanche e compensação, ao
declarar um “empate” passo que a parte forte deseja
manter o controle
Fonte: Lewicki, Roy J., Saunders, David M. , Barry, Bruce, Fundamentos de Negociação, 5ª. Edição, Porto Alegre, AMGH Editora Ltda
Os caminhos discutidos aqui passam pelo pressuposto que é necessária uma intervenção. A
assertividade, a passividade e a cooperação são questões necessárias na gestão e resolução de
conflitos.
A Assertividade é a afirmação dos próprios direitos e expressão de pensamentos, sentimentos
e crenças, de maneira direta, honesta e apropriada, de modo que não viole o direito de outras pessoas
(Lange apud Galindo et al. 2008). Quando uma pessoa expressa suas próprias opiniões e sentimentos
de maneira direta, e em um tom moderado, olho no olho, por exemplo, a chamamos de assertiva.
Como esta postura, demonstra que tem respeito por si mesma e aos outros.
6https://epocanegocios.globo.com/Inspiracao/Carreira/noticia/2013/04/angustias-de-quem-assume-o-primeiro-cargo-de-
gestao.html
13
A postura não assertiva é considerada passiva. A “passividade é o ato de violar os próprios
direitos ao não expressar honestamente sentimentos, pensamentos e convicções, dando como tal
permissão aos outros para que também eles violem os nossos direitos”. (GABRIEL apud GALINO et al.)
Sobre a cooperação, Axelrod (apud Galindo et al., 2008) apresenta as seguintes questões,
baseadas em observação de indivíduos que cooperam livremente sem a presença de uma autoridade
que os force a isto.
A base da cooperação não é realmente a confiança, mas a durabilidade das relações. Quando
as condições são propícias, os indivíduos podem vir a cooperar através de um aprendizado, via
tentativa e erro, das possibilidades de recompensas mútuas, através da imitação de outros indivíduos
bem sucedidos; ou mesmo via de um processo de seleção cega dos comportamentos mais viáveis. A
busca da otimização de seus interesses individuais levam ao melhor resultado para todas as partes.
2.7.1 Caminhos entre a assertividade e a cooperação
Representando as alternativas entre a assertividade e a cooperação, alguns autores propõem
a analogia ao seguinte gráfico:
Na Inação (aversão ao conflito) existe pouco interesse para atingir os seus próprios objetivos
e da outra parte conseguir o mesmo. Pode ser um recuo ou uma passividade. Pode ser considerado
também como prevenção. A Acomodação (aparente inação) pode ser – instrumento para manipular
e esconder o conflito. Para evitar o problema emocional, muitas pessoas encobrem os problemas
com uma série de técnicas: diminuir a seriedade do problemas, negar sua existência ou tratá-lo
14
apenas superficialmente. Isso pode ter relação com aspectos culturais. Que tipo de culturas tendem
a evitar o conflito? Coletivistas ou individualistas?
Exercício: com base nas 3 listas a seguir, faça a sua própria lista de orientações para o processo de
negociação de conflitos
7 Weeks, Dudley: the eight essential steps to conflict resolution – Open Library
8 6 passos para lidar com o conflito, de George Kohlrieser, da revista HSM 131 extra
9 Martinelli, Dante P., Almeida, Ana Paula. Negociação e solução de conflitos. São Paulo: Atlas, 2016
15
2.8 Conciliação, mediação e arbitragem
A conciliação, a mediação e a arbitragem acontecem quando uma terceira parte vem ajudar
na resolução do conflito.
2.8.1 Conciliação
Segundo a Câmara Brasileira de Mediação e Arbitragem Empresarial,
“Conciliação é uma forma de solução extrajudicial de controvérsias em que o terceiro – O Conciliador (ou
conciliadores se mais de um) exerce a tarefa não só de aproximar as partes desavindas, mas SUGERE e
PROPÕE soluções, esforça-se para levá-las a um entendimento que ponha fim ao conflito, ou à sua
expectativa. Pode ser definido também como um processo voluntário e pacífico de resolução de
controvérsias, que cria um ambiente propício para as partes se concentrarem na procura de soluções
criativas e, como na mediação, sua aplicabilidade abrange todo e qualquer contexto de convivência capaz
de produzir conflitos. (Câmara Brasileira de Mediação e Arbitragem Empresarial -
https://cacb.org.br/conheca-a-cbmae/cbmae/)”
Caso a conciliação não resulte em acordo, o caso pode seguir para a arbitragem ou
julgamento.
2.8.2 Mediação
Já a mediação, usualmente é usualmente contratada pelas partes para também ajudar o
processo de acordo. Para a Câmara Brasileira de Mediação e Arbitragem Empresarial,
“A Mediação é uma forma de solução extrajudicial de controvérsias em que o terceiro Mediador (ou
mediadores se mais de um) tem a função de aproximar as partes, para que elas negociem diretamente a
solução desejada de sua divergência. Constitui-se em recurso eficaz na solução de controvérsias originadas
de situações que envolvem diversos tipos de interesses. É um processo confidencial e voluntário, em que
a responsabilidade pela CONSTRUÇÃO DAS DECISÕES CABE ÀS PARTES envolvidas. Diferente da arbitragem
e da Jurisdição Estatal, em que a decisão caberá sempre a um terceiro.” (Câmara Brasileira de Mediação e
Arbitragem Empresarial - https://cacb.org.br/conheca-a-cbmae/cbmae/)”
16
Figura 4 - Fluxo da mediação
Condução do
As partes concordam Estabelecimento das Objetivo final: chegar
processo de
em se ouvir regras a um acordo
negociação
O mediador deve ser visto como imparcial, sem vieses, como expert. Precisa ser imparcial e
de confiança. Poder ser ou não um profissional. Para atuar como mediador judicial é preciso ser
graduado há pelo menos dois anos em qualquer área de formação, conforme o artigo 11 da Lei n.
13.140, de 26 de junho de 2015 (Lei da Mediação), e passar pelo curso de capacitação.
2.8.3 Arbitragem
A terceira possibilidade – a arbitragem – ainda não é um julgamento, mas tem valor de
sentença e deve ser cumprida. Neste processo, as partes perdem totalmente o controle dos
resultados.
É um método de solução de conflitos fora do Poder Judiciário em que um ou mais árbitros
emitem decisões com força de sentença judicial. A lei que regulamenta a Arbitragem é a Lei nº
9307/96. O processo arbitral é mais complexo que a mediação e a conciliação, mas ainda assim, é
bem mais simples que o processo judicial. Por lei, a decisão deve sair em no máximo seis meses do
início do processo, e a decisão arbitral tem valor de sentença – deve ser cumprida (Câmara Brasileira de
Mediação e Arbitragem Empresarial - https://cacb.org.br/conheca-a-cbmae/cbmae/)”.
17
Tabela 4 - Vantagens e desvantagens da mediação e arbitragem
Arbitragem - Tornar possível uma solução clara entre as partes; - As partes perdem o controle dos
resultados – a solução arbitrada, então
- Às vezes, há a opção ou não de escolher a solução pode não atender à necessidade das
indicada; partes;
- Os árbitros são escolhidos por serem justos, - O resultado final pode significar custos
imparciais e sábios; e esforços adicionais;
- Os custos de prolongar uma disputa são evitados; - Tende a não haver comprometimento
- O caráter voluntário; com a solução encontrada;
18
3. Elementos essenciais em uma negociação
Tradicionalmente, existem 3 elementos importantes em uma negociação: poder, tempo e
informação. Mas para se fazer uma negociação cooperativa, é preciso acrescentar aí a flexibilidade.
3.1 Poder
O significado do poder é segundo o dicionário online: poder de influenciar, possuir força física
e moral, ter influência, ter a faculdade ou a possibilidade de fazer algo; possibilidade de que algo
aconteça (pode ser que chova); domínio, império, faculdade e jurisdição que alguém tem para
executar algo ou mandar; direito de agir, de decidir, de mandar; autoridade, governo de um país. Em
negociação entende-se o poder como a capacidade de fazer algo que mude a realidade e alcançar
objetivos.
Costuma-se dizer que ALFA é mais poderoso que BETA”, se:
• ALFA normalmente tem mais poder de influenciar o ambiente em que atua como um
todo e/ou superar qualquer resistência comparado a BETA (ambiente)
• ALFA tem mais capacidade de influenciar BETA ou vencer a resistência de BETA do que
BETA em ALFA (relacionamento)
• Na maioria das vezes, ALFA tem mais sucesso ao satisfazer seus desejos que BETA
(pessoal)
Nas organizações entende-se o poder como o conjunto de competências que conferem ao
negociador uma vantagem ou aumentam a probabilidade de os objetivos almejados por ele serem
alcançados. É também a capacidade de obter resultados desejados e a habilidade de fazer com que
as coisas sejam feitas segundo um modo preferido, o que se exagerado pode resultar em um poder
coercitivo e absoluto.
Assim, exerce- o poder SOBRE alguém quando é usado em caráter coercitivo, para dominar e
controlar o outro. Ela gera impotência e dependência da outra parte, sendo esta dependência no
sentido orientador (ter caráter benévolo e apoiador) ser opressivo e abusivo como acontece em
grupos, famílias autoritárias).
Por outro lado, exerce-se o poder COM alguém, quando compartilhado com outra parte,
gerando capacidade e independência no sentido do empoderamento. Usualmente gera mais
participação, autonomia e integridade.
Assim, o poder pode gerar prosperidade e realizações ou tirania e desordem.
Poder é um conceito relacional: ele não reside nas pessoas, mas na relação dele com o
ambiente. Não é atributo exclusivo de um indivíduo, mas o poder de alguém em determinada
situação é determinado pelas características da situação e pelos atributos da pessoa. Portanto, por
consequência, o poder é sempre temporário. Pode até durar muito, mas sempre pode acabar e
sempre pode aumentar. As fontes de poder nas organizações são: informação e experiência, a
personalidade, a posição em uma organização, relacionamento e pelo contexto da relação ao do
acontecimento.
19
O poder da personalidade está associado a poderes pessoais que são natos e presentes em
qualquer situação, independente do papel desempenhado, dos conhecimentos e das habilidades
para lidar com pessoas. Podem ser relacionados a: moralidade, atitude, persistência e capacidade
persuasiva. O poder da personalidade pode advir também de orientações cognitivas, motivacionais
ou morais, da seguinte forma:
• Orientações cognitivas:
• As pessoas acreditam que a sociedade é de um todo integrado, o poder será
usado por autoridades benevolentes para o bem de todos (culturas
comunitárias)
• A sociedade está em permanente conflito de interesses e de classes. O poder
está sempre desequilibrado – logo é preciso lutar pelo poder, sempre
(sociedades marxistas e afins)
• O poder é distribuído igualmente entre os diversos grupos que competem por
um equilíbrio de poder em constante evolução (democracias liberais)
• Orientações motivacionais: disposição que umas pessoas têm mais que outras em ter
poder, controlar e influenciar outras (personalidade autoritária)
• Orientação moral: noções morais do uso de poder – em compartilhar poder
20
cultura e pode depender de que entidades são representadas em uma negociação. Por último, pode-
se elencar que o poder contextual pode vir de algum fator leva à uma liderança situacional,
momentânea.
Exercício
1. Como lidar com quem tem mais poder que você? Elenque pelo menos duas alternativas
2. Por que é importante saber lidar com o poder?
3.2 Tempo
Dicionário online:
1. Período sem interrupções no qual os acontecimentos ocorrem;
2. continuidade que corresponde à duração das coisas (presente, passado e futuro);
3. o que se consegue medir através dos dias, dos meses ou dos anos;
4. Duração
5. Série ininterrupta e eterna de instantes.
6. Medida arbitrária da duração das coisas.
7. Prazo, demora.
O tempo deve ser cuidadosamente analisado. Deve ser utilizado como ponto de apoio para se
projetar uma negociação. Deve, portanto, ser controlado, de forma que o limite
do tempo deve ser definido por quem negocia, assim como os prazos. Se uma
parte não o controla, a outra parte perceberá facilmente e assumirá o controle.
Aquele que tem mais tempo e sabe disso e fará tudo para exercer um poder
adicional sobre a outra parte em uma negociação. Já foi muito observado que em
negociações, a pressão do fim do tempo - gera tensão e provoca concessões para
a realização do acordo.
Em sequestros, o sequestrador pode usar o tempo e pressionar para que
a negociação seja feita logo, que o outro faça concessões. Ele precisa de um
desfecho rápido para que a polícia tenha menos tempo de encontrá-lo.
3.3 Informação
Dicionário on line
• Reunião dos conhecimentos, dos dados, sobre um assunto ou pessoa
• Ação ou efeito de informar ou de se informar
3.4 Flexibilidade
Dicionário:
• Fácil manuseio,
• Que se consegue dobrar com facilidade
• Maleável
21
• Normalmente, as pessoas flexíveis são consideradas dóceis e diplomáticas
Em negociação:
• qualidade de compreender, aceitar ou assumir as opiniões, ideias ou pensamentos de
outras pessoas
• Conhecer diferentes estilos de negociação possibilita ser mais flexível e eficaz
• Aprenda a dizer e ouvir tanto o “sim” quanto o “não”, pois tanto aquele que só se volta
apenas para o “sim”, como aquele que tem sede pelo “não” se comportam de modo
inflexível.
Exercício
1. Como estes três pontos relacionam em uma negociação?
2. O que se pode fazer para ser mais flexível?
4. Estratégias de negociação
Lembrando do item 1.2, uma negociação é um processo social complexo. Envolve a
comunicação entre duas ou mais partes, demanda uma preparação, acontece como um processo e
não como algo pontual e demanda uma finalização ou implementação de acordo.
A negociação ocorre quando existe um conflito de necessidades e desejos entre duas ou mais
partes – de outra forma não haveria necessidade de negociar. Negociar é sempre uma opção para se
obter um acordo. Mas existem basicamente dois tipos de estratégias de negociação: a barganha
distributiva ou competição ou ganha-perde, e a negociação integrativa ou cooperação ou ganha-
ganha.
A barganha pressupõe um ganhador e um perdedor, por isso, é chamada de soma zero. A
negociação integrativa pressupões que as partes cheguem a uma solução satisfatória a ambas, por
isso é chamada soma positiva.
4.1 Barganha
Seu objetivo principal é maximizar o ganho, o valor do negócio para uma parte, a qualquer
custo. É importante falar conhecer as táticas deste tipo de comportamento para saber lidar com elas
e evitá-la, se necessário. Mas estudos já confirmaram que as partes em uma negociação ficam mais
satisfeitas quando praticam a negociação integrativa. 10
Para iniciar, é preciso saber algumas definições. Em uma negociação há sempre:
10FISHER, Roger, URY, William e PATTON, Bruce. Como chegar ao sim – como negociar acordos sem fazer concessões. Tradução Rachel
Agavino. Edição revista e atualizada. Rio de Janeiro, Editora Sextante: 2018
22
• O Ponto – alvo ou aspiração: Valor que alguém deseja fazer uma negociação (a
condição ideal para uma parte)
• Ponto de resistência: o valor limite aceito por um comprador
• o valor mínimo aceito por um vendedor
• Preço inicial ou pedido – é o ponto inicial definido pelo vendedor
• Oferta inicial – é a primeira oferta apresentada pelo comprador
• Variação de barganha ou variação de acordo ou zona de acordo em potencial:
diferença entre os pontos de resistência
ponto de secreto
resistência do ponto-alvo
vendedor (PRV) do vendedor Preço inicial
secreto
25.000
Oferta da
concessionária
secreto
Oferta inicial
Ponto de
do comerciante
resistência do
comerciante
comprador PRC
Agora é mais fácil definir a variação de barganha – que é a diferença entre os dois pontos de
resistência, do comprador e do vendedor. É POSITIVA quando o ponto de resistência (PRC) do
comprador está acima do ponto de resistência do vendedor (PRV). É NEGATIVA: quando o ponto de
resistência do comprador está abaixo do ponto de resistência do vendedor.
Variação de Barganha = PRC – PRV
Se PRC – PRV = + ou > 0, logo PRC > PRV mostra que há espaço para negociação
23
Se PRC – PRV = – ou < 0, logo PRC < PRV resulta em negociação difícil, pouco ou nenhum
espaço para negociação.
As estratégias agressivas tentam pressionar a outra parte para que ela mude seu ponto de
resistência para fazer um acordo o mais próximo do ponto de resistência e conquistar para si a maior
parte da variação de barganha. Convencer a outra parte a mudar o seu ponto de resistência torna-
se muito importante, influenciando as noções dele sobre o valor real do bem, e com isso aumentar a
variação de barganha. Caso a variação da barganha seja negativa
é necessário convencer a outra parte, a reduzir seu ponto de resistência, ou mudar o seu próprio e
assim criar uma barganha positiva e ter espaço para negociar algo. Feito o negócio, ainda tentará
convencer a outra parte de que esse acordo é o melhor – em vez de persuadi-lo ou deixá-lo com a
impressão de fez um mal negócio. A satisfação do ego é muito relevante.
Os pontos críticos para a estratégia agressiva são:
• descobrir as informações do outro;
• esconder as suas informações sobre pontos estratégicos ou questões emocionais
envolvidas no objeto em negociação;
• simular a passagem de informações nem sempre verdadeiras para o outro;
• usar as informações para persuadir o outro a mudar seu ponto de resistência.
Percebe-se assim como o processo de comunicação torna-se cheio de artimanhas e complexo.
Nunca se sabe o que é verdadeiro ou não. As informações são vitais para a formulação da estratégia.
A seguir serão elencados a preparação para as negociações, que valem, de maneira geral para
qualquer tipo. Dar-se-á maior foco, no início, para à barganha ou a negociação competitiva. No
entanto, retirando as partes antiéticas e ilícitas, as fases continuam sendo válidas para o
planejamento de uma negociação distributiva.
4.1.1 Preparação
Quando a negociação começa com variação de barganha negativa – (diferença entre os dois
pontos de resistência) há chances de haver um impasse, a menos que as pessoas sejam persuadidas
a mudar seus pontos de vista. De qualquer forma, em uma negociação do tipo barganha, é sempre
muito difícil de descobrir se existe uma variação de barganha.
De início, é importante avaliar os objetivos, o ponto de resistência, e os custos de desistência
da negociação para a outra parte.
De forma indireta, identificar quais as informações são importantes para definir o ponto de
resistência. Por exemplo:
24
• na venda de um imóvel, qual o tempo que ele está à venda, o número potencial de
compradores, a pressa de um comprador e a saúde financeira do vendedor
• na venda de um carro, qual a quantidade de carros novos no estoque da concessionária,
as reportagens sobre vendas de carros (como está o mercado), a tabela FIPE e a
popularidade de um modelo em revistas especializadas, ou mesmo um guia de referência
para descobrir quanto a concessionária paga no atacado pelo carro
Note que estes parâmetros mostram a situação que a outra pessoa está avaliando – mas estas
informações podem ter significados distintos de pessoa a pessoa.
De forma indireta, às vezes, a outra parte revela informações precisa, principalmente se está
no limite do tempo por meio de pressão ou pode-se fazer ainda espionagem ou algum tipo de
manipulação, como por exemplo, levar a pessoa para uma festinha, oferecer-lhe uma quantidade
exagerada de bebida e convencê-la a conversar a respeito de seus interesses.
Por último, com base nos objetivos e nas informações, definir seus argumentos de
convencimento.
Para alterar as impressões da outra parte, costuma-se utilizar ações diretas como:
• Apresentação seletiva – revelar somente os fatos necessários às suas posições para
direcionar as observações da outra parte
25
• Explicar ou interpretar fatos conhecidos da outra parte – mostrando que os
argumentos ou pressupostos da outra parte não são válidos
• O importante é que a outra parte compreenda ou forme a imagem que você deseja –
ela pode mudar o modo de pensar sobre a questão
• Exibir uma reação emocional:
- decepções ou demonstrações de entusiasmo
- indiferença - a questão é secundária
- raiva ou estardalhaço ou respostas ansiosas: o assunto é importante
- a verificação cuidadosa dos detalhes apresentado ou
- a insistência para que sejam esclarecidos e comprovados tem efeito análogo ao
demonstra uma reação emocional
- aceitar como verdadeiros os argumentos da outra parte de maneira natural pode
gerar a impressão de desinteresse em relação ao assunto.
No entanto, é preciso ter cuidado. Ao adotar ações diretas como selecionar fatos, enfatizar ou
reduzir sua importância, é preciso estar ciente que a outra parte pode descobrir toda a manipulação
de informações, embora não sejam mentiras. Este é um dos problemas da barganha – pode haver
rompimento de confiança nas relações com estas manobras ou uma reviravolta. A outra parte – se
perceber a manobra poder fazer concessões sobre os pontos relevantes e exigir de volta concessões
sobre pontos principais. É o feitiço virando contra o feiticeiro.
A primeira opção - as ações de rompimento, podem gerar mais atrito e raiva e acirrar o
conflito. Ações de boicote também podem ser feitas como:
• publicar nas redes sociais um problema que a empresa não quer negociar
• trancar os negociadores em uma sala até que cheguem em um acordo
26
A segunda opção, a de envolver estranhos, é sempre um fator complicador e é usado para
atrasar as negociações ou mudar a percepção das pessoas. Exemplos: denúncias em órgãos de
fiscalização ou na impressa, solicitar o pronunciamento de terceiros, etc.
Por último, manipular a programação da negociação como, por exemplo, começar as reuniões
logo na chegada de uma viagem longa, quando o efeito de fusos horários pode atrapalhar a lucidez
das pessoas.
4.1.4.a. Mocinho/bandido
Primeiro o bandido começa com uma posição inicial dura, ameaças, comportamento hostil e
intransigência. Depois ele sai para atender um telefone ou por sugestão mesmo. O mocinho assume
27
e tenta fechar um acordo antes que o outro volte. Às vezes o bandido só entra quando as negociações
estão indo para um rumo não desejado.
O principal ponto fraco é que é facilmente reconhecida. A forma de lidar com ela é
confrontando as duas partes e falando abertamente sobre ela.
4.1.4.d. A mordida
Esta tática aparece depois de muito tempo de negociações, quando se está próximo de fechar
o acordo, pede-se algo adicional que não estava previsto antes. É usualmente pouco para se recusar,
mas o risco é irritar a outra parte.
A forma mais fácil de lidar com ela é expô-la e perguntar: o que mais você deseja? E que a outra
parte indique todas as partes que deseja. Para que a negociação contemple todos os pontos de
maneira global. Também pode-se preparar as suas próprias mordidas à medida que a outra parte
apresente as dela e contrapô-las para desestimular a outra parte a adotar esta tática.
4.1.4.e. A galinha
Uma parte faz um grande blefe (ou ameaça) para constranger a outra parte a recuar e
conceder o que querem. Exemplo: entre um sindicato e uma fábrica, a fábrica ameaça a fechar as
portas se não fechar um acordo. Se o sindicato acreditar nos administradores da fábrica, ele cede. Se
não acreditar e não ceder – a fábrica pode fechar e a responsabilidade será do sindicato. Se a fábrica
não fechar, a administração da fábrica perderá completamente a credibilidade.
O principal risco desta tática é transformar a negociação em jogo sério, quase mortal.
Lidar com ela é difícil, nunca se sabe se é verdade. A preparação e uma compreensão mais
ampla das situações das duas partes, permite identificar melhor quando a tática é utilizada.
4.1.4.f. A intimidação
Usar uma manobra emocional, com demonstração de raiva, para indicar uma situação
ameaçadora é o mote desta tática. Outras coisas podem intimidar como usar longos contratos
escritos para dar a sensação de legitimidade, por exemplo. Quanto maior a impressão de
legitimidade, menores as chances de a outra parte questionar o processo em vigor. A culpa também
28
pode ser usada como forma de intimidação. Os negociadores podem questionar a integridade da
outra parte e intimidá-la.
Para lidar com ela, o melhor é falar dela, manter o foco no objetivo e tirar o foco das pessoas.
29
Ao deixar claro que você identificou a tática, deixe sempre uma saída honrosa para a outra
parte – para que ela possa continuar na negociação da melhor maneira possível. Melhor não
pressionar demais quem usa estas táticas podem eles podem se tornar muito agressivos. A saída
honrosa apazigua os ânimos e pode propiciar a continuidade da negociação.
Dos caminhos para a resolução de conflitos apontados no item 2.7.1 Caminhos entre a
assertividade e a cooperação, temos dois que são próprios de uma negociação distributiva ou
cooperativa ou ganha-ganha – o acordo e a solução de problemas. Lembrando a Figura 3 (Modelo das
inquietações duais), pode-se ver que ambos compatibilizem a defesa dos interesses próprios e os da
outra parte.
O acordo é muito procurado, mas os autores mais atuais (Fisher, Ury, Lewicki etc)
recomendam que a negociação ganha-ganha ou distributiva vá além da acomodação de uma solução
boa para ambas partes, mas ainda deficiente em alguns aspectos, e se chegue a uma verdadeira
solução de problemas. Isto requer das partes um desapego das emoções ruins trazidas pela
competitividade exacerbada (no caso dos conflitos negociais) ou rancores (no caso de conflitos
pessoais). Somente com este desapego é possível caminhar para a melhor solução possível para um
conflito e/ ou uma negociação comercial.
4.2.1 Preparação
O foco da negociação cooperativa concentra-se na solução de problemas. É necessário
administrar o contexto e o processo para ganharem a cooperação e comprometimento de todas as
partes, seguindo as diretrizes de:
a. Concentrar-se nos aspectos em comum, não nas diferenças;
b. Tentar abordar as necessidades e interesses, não as posições;
c. Comprometer-se em atender às necessidades de todas as partes envolvidas;
d. Pensar em opções de ganho recíproco;
e. Adotar critérios objetivos de padrões de desempenho.
Como colocar em prática estas diretrizes? Assim como na barganha, há uma orientação para
ajudar na abordagem de uma negociação cooperativa. As etapas são:
1. Criar um fluxo livre de informações:
• Revelar seus objetivos
30
• Escutar os outros com atenção
• Criar condições para uma discussão livre e aberta das questões e problemas
2. Fazer um esforço para entender as necessidades e os objetivos reais do outro
negociador. Se as prioridades das partes não são iguais, é mais fácil trocar
informações;
3. Análise dos aspectos comuns às partes e a minimização de diferenças;
4. A busca por soluções que auxiliem a atingir as metas e os objetivos de ambas partes.
Ser Firmes e flexíveis ao mesmo tempo – é uma arte. Mas ser firmes acerca de seus
interesses e flexíveis no modo como esses interesses e necessidades se compatibilizam
com os da outra parte.
Fica evidente que estas diretrizes e etapas que a negociação cooperativa requer, além dos 3
elementos importantes na negociação ( 3. Elementos essenciais em uma negociação - poder, tempo
e informação), é fácil perceber que a flexibilidade entra como um quarto elemento essencial para o
alcance do nível de solução de problemas (3.4 Flexibilidade). A ideia é utilizar estes quatro elementos
para criação e compartilhamento de valor no processo de negociação cooperativa.
A Figura 6 traz um desenho simbólico de criação de valor que se situa entre o valor crescente
para o comprador e vendedor.
Como ocorre isto? Duas grandes fases – criação de valor e compartilhamento de valor, nesta
ordem. A criação de valor envolve:
a. Identificar e definir o problema/conflito.
i. Definir o problema de maneira aceitável para as partes
ii. Definir o problema visando à praticidade e à compreensão
iii. Definir o problema como uma meta e identifique os obstáculos para
realizá-la
iv. Despersonalize o problema
v. Considere separadamente a definição do problema e a busca por
soluções
31
b. Entender o problema e trazer os interesses e necessidades das partes à tona
i. Identifique interesses e necessidades - interesses substantivos,
interesses processuais e interesses de relacionamento;
ii. diferentes tipos de interesses são comuns em negociação. As partes
podem ter diferentes interesses em jogo e muitos interesses nascem de
necessidades ou valores humanos profundamente arraigados. Ao longo
da negociação, os interesses podem variar ou vir à tona. Mas revelar
interesses nem sempre é fácil ou vantajoso – é preciso confiança;
iii. Defina o critério de avaliação das soluções encontradas – quando elas
são satisfatórias para as partes.
32
Quando existem objetivos e metas em comum é muito mais fácil a negociação cooperativa
(ver item 1.1 A interdependência – metas compartilhadas). Outros fatores facilitam este tipo de
negociação: a confiança na capacidade de resolver problemas, a convicção na legitimidade da própria
posição e na perspectiva da outra parte, a motivação e o comprometimento com o trabalho conjunto,
a confiança mútua, a comunicação clara e precisa e a compreensão da dinâmica da negociação
cooperativa.
CANAL DE COMUNICAÇÃO
MENSAGEM
CÓDIGO
FEEDBACK
RUÍDO
Fonte: elaborado pela autora
Estes elementos já são bem conhecidos. Vamos nos fixar nos códigos ou meios de
comunicação que podem ser verbais e não verbais. Destes dois, o foco será nos processos de
comunicação não verbais. Apenas 35% do significado social de quaisquer interações corresponde às
palavras pronunciadas (Birdwhistell, 1985)11. 7% da comunicação é por meio das palavras, 55% pelas
11BIRDWHISTELL, R.L. Kinesics and context: essays on body motion communication. 4.ed.Philadelphia: UPP (University of
PensylvaniaPress), 1985
33
expressões do corpo e face, 38% à tonalidade, intensidade e outras características da voz (Rectoe &
Trinta, 1985)12. Aquilo que não é dito pela palavra pode ser encontrado no tom de voz, na expressão
do rosto, na forma do gesto ou na atitude do indivíduo (Gaiarsa, 1995) 13.
Associado à comunicação não verbal, incluímos aqui também o saber ouvir (parte da
comunicação verbal), pois o ouvir inclui observar o que é dito e o que não é dito. Falaremos então
das expressões do corpo e da face.
Tipos de perguntas utilizáveis para gerir uma situação ou mesmo para ajudar a sair de
situações difíceis:
As Administráveis preparam a outra parte para perguntas adicionais (posso fazer uma
pergunta?). Exemplos:
• Para obter mais informações (quanto é o aluguel?)
• Para provocar reflexões (você tem alguma sugestão para melhorar isso?)
12 RECTOR, Mônica e TRINTA, Aluízio R. comunicação não-verbal: a gestualidade brasileira. São Paulo: Editora Vozes, 1985.
13 GAIARSA, J.A. A estátua e a bailarina. 3. ed. São Paulo: Ícone, 1995
34
• Termômetro: identifica como a outra parte se sente. “como você se sente em relação a
nossa proposta”
Exercício - Elabore perguntas ADMINISTRÁVEIS (diga de que tipo) para sair das situações descritas
abaixo:
1. Ultimatos do tipo: é pegar ou largar
2. Pressão para responder a um prazo final irracional
3. Táticas de jogo alto ou jogo baixo
4. Um impasse
5. A indecisão entre aceitar e rejeitar uma proposta
6. A oferta que você fez é igual àquela oferecida a dos outros
7. Tentativas para pressionar, controlar ou manipular
Segundo Corraze (apud Mesquita, 199714) a comunicação não verbal estuda o corpo e seus
movimentos, os objetos associados ao corpo (roupas, adornos, tatuagens, marcas etc.) e a dispersão
dos indivíduos no espaço, como o indivíduo se relaciona com o espaço próprio e dos semelhantes.
A Cinésica é estabelecida pelo corpo, desenhada por cada uma das suas partes, movimentos,
gestos, posturas e expressões faciais.
A Proxêmica constitui-se no jogo de distâncias e posições que se entretecem entre as pessoas
objetos e o ambiente.
A Tacêsica é o estudo do toque. Pode expressar sentimentos como afeto, atração, persuasão
etc. O autotoque pode expressar a tensão interna e baixa estima.
E, por último, mas não menos importante, a para-linguística – que é a relações entre os sons
vocais, suas características e o que é dito .
O gestual e os movimentos do corpo são afetados pela cultura e podem ser aprendidos. A
comunicação não-verbal, como um meio de transmissão e recepção de uma mensagem, como um
meio de interação e entendimento entre os seres humanos, não pode ser desvinculada do contexto
individual ou de natureza social ao qual pertence a informação (Davis apud Mesquita, 1997).
14MESQUITA, Rosa Maria. Comunicação não verbal: relevância na atuação profissional. Revista paulista de educação física, Vol 11 (2),
páginas 155-163, jul/dez. 1997)
35
Por outro lado, experiências feitas com crianças cegas de nascença e que não tinham como
imitar ninguém provam que expressões básicas ao ser humano independem de cultura.
Pierre Weil e Roland Tompakow15 foram dois nomes de destaque na identificação do gestual
do corpo. Para os pesquisadores, a linguagem corporal é muito presente, mas a interpretamos ao
nível subconsciente. De maneira resumida, ela pode ser identificada com a representação de 3
animais no nosso corpo: o boi, o leão e a coruja (ou gavião). Sugere-se que os interessados procurem
mais detalhes na referência.
O boi relaciona-se com o abdômen. A sua movimentação está relacionada com os instintos
como a fome e o sexo, demonstrando fome, vontade sexual ou satisfação de ambos instintos.
O leão é retratado na postura do tórax. Representa o EU e a vida emocional. A preponderância
do tórax demonstra a preponderância do EU, a necessidade de se impor, orgulho, arrogância,
vaidade. O tórax encolhido mostra um EU diminuído, com timidez e retração. O tórax em postura
normal – EU equilibrado.
A coruja ou gavião relaciona-se à vida mental, aos pensamentos, e o estado de controle do
corpo pela mente. A cabeça erguida significa hipertrofia do controle mental, a cabeça baixa significa
que o indivíduo é controlado pelos estímulos externos e a cabeça em posição normal indica um
controle normal da mente.
Note que estas posturas devem ser observadas com cuidado e dentro do contexto. Não devem
ser nunca uma avaliação absoluta.
Quadro 2 - Dicas de linguagem corporal
15 WEIL, Pierre, TOMPAKOW, Roland - O corpo fala – a linguagem silenciosa da comunicação não-verbal. Petrópolis: Vozes, 1986
36
Outros gestos e atitudes que podem demonstrar sentimentos e emoções :
Mutismo: muitas vezes não podemos ou não queremos externar nossos sentimentos: os
lábios ficam presos entre os dentes, os braços ficam cruzados perto dos joelhos, como se o indivíduo
estivesse se fechando, mão sobre a boca, entre outros.
Mãos:
• Fechadas = agressão, ódio, insegurança
• Abertas = afastar o perigo, a ameaça ou oferecer, concordar
• Nos bolsos = estar em contato com o próprio corpo, reconfortador, busca de equilíbrio frente
a uma possível insegurança
• Tamborilando: Impaciência (pernas também)
16 EKMAN, Paul e FRIESEN, Wallace – Unmask the face – a guide to recognizing emotions from facial expressions, Cambridge, Malor Books, 2003
37
Figura 8 - Sete expressões faciais do ser humano
Fonte: Pinterest
https://www.google.com/imgres?imgurl=https%3A%2F%2Fi.pinimg.com%2Foriginals%2F8a%2F03%2F36%2F8a0336e35aed08ca1dfc9504f5458309.jp
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DQgQMygKegUIARC6AQ..i&docid=wLl4jafdMFcuvM&w=900&h=800&q=sete%20expressoes%20faciais%20do%20ser%20humano&ved=2ahUKEwi2x7
b8jLzrAhUuBLkGHRe-DQgQMygKegUIARC6AQ
38
a distinção entre Estímulos internos que são provenientes da própria pessoa enquanto que os
Estímulos externos são provenientes do ambiente.
Os tipos puros de Jung utilizados por Ackoff foram:
a. O tipo Introvertido (I) é voltado para seu próprio eu e se interessa em modificar a si
mesmo;
b. O Extrovertido (E) é voltado para o exterior e tende a agir modificando o ambiente, os
outros;
c. O tipo Subjetivo (S) responde a estímulos internos e é guiado por estímulos internos (não
se importa tanto com a opinião dos outros);
d. O tipo Objetivo (O) – responde a estímulos externos, é guiado por estímulos externos (se
importa muito com a opinião dos outros).
Da combinação destas definições, Ackoff (apud Martinelli, 201617) derivou mais 5 tipos de
negociadores, compondo assim os 9 tipos:
Introvertido
Centrado
Extrovertido
SI SE
Subjetivo
Os tipos SI e OE são os tipos puros de Carl Jung. Os tipos SE e OI são tipos mistos. – para
Ackoff, 75% das pessoas são tipos mistos. Segundo Ackoff e Churchman (apud Martinelli, 2016),
quanto mais próximo do centro, mas balanceados seriam os pares para trabalhar. Assim, pontos
simétricos seriam balanceados. Mas os menos balanceados seriam aqueles que estão em posições
diferentes em relação ao centro ( um ponto distante do centro e outro próximo).
17MARTINELLI, Dante Pinheiro. Negociação empresarial – enfoque sistêmico e visão estratégica. 2ª. Edição -ebook. Editora Manole,
2016.
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A cultura também influencia na personalidade. As crianças são criadas conforme a cultura
vigente, mas tem também sua própria personalidade – assim, embora possamos ter tipos mais
comuns em algumas culturas, não podemos generalizar sempre.
Em uma tentativa de fazer uma relação com a cultura de diferentes países de maneira geral,
ter-se-ia os seguintes comparativos
• Os Norte americanos tendem a ser mais SE – subjetivos extrovertidos. Não se importam com
a opinião dos outros e agem querendo modificar muito mais o ambiente externo que a si
próprio. Os alemães também seriam SE, mas menos radicais que os EUA – apresentam
dificuldade de convivência com os EUA
• Os russos seriam mais OE – objetivos extrovertidos – Importam-se com a opinião dos outros
e agem querendo modificar o ambiente
• Ingleses/canadenses – OI – Objetivos introvertidos – se importam com a opinião dos outros
mas agem querendo modificar a si mesmos e não ao ambiente
• Franceses – SI – subjetivos introvertidos – não se importam com a opinião dos outros e
querem modificar a si mesmos.
• Árabes e judeus – SE – movidos por impulsos internos mas querem modificar o ambiente.
Ambos querem manipular a outra parte para satisfazer suas finalidades, deixam um espaço
muito limitado para cooperação entre si.
Introvertido Centrado
Extrovertido
Alemães
SI S E EUA
Franceses Árabes/Judeus
Subjetivo
18 MARTINELLI, Dante Pinheiro. Negociação empresarial – enfoque sistêmico e visão estratégica. 2ª. Edição -ebook. Editora Manole,
2016.
19 Os nomes dos estilos foram preservados respeitando a referência, mas não necessariamente expressa a concordância da autora que
40
Figura 11 - Estilos de negociadores - Modelo de Sparks
CONTROLE
Confron
Restritivo
tador
DESCONSIDERAÇÃO CONFIANÇA
Ardiloso Amigável
DEFERÊNCIA
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• Como vêem os negociadores: como cooperativos e amigáveis.
• Embora existam situações de competitividade, as coisas podem ser resolvidas
• Objetivo principal: manter o relacionamento, com ou sem alguma conquista substancial ser
atingida
As táticas utilizadas enfatizam um número mínimo de objetivos, realização fácil e cordialidade:
Táticas utilizadas:
• Misturam colaboração e confronto
• Limites reais
- Busca definir e estabelecer limites reconhecíveis para as partes
- Propósitos – fazer a negociação avançar e obstruir o que for desnecessário
- Esta tática beneficia o negociador que está bem preparado
Gosttschal definiu 4 estilos que também podem ser observados nas negociações: o duro, o caloroso,
o detalhista e o negociador (por natureza). As características deles são:
20MARTINELLI, Dante Pinheiro. Negociação empresarial – enfoque sistêmico e visão estratégica. 2ª. Edição -ebook. Editora Manole,
2016.
42
6.4 Habilidades a serem desenvolvidas
Pare, olhe, ouça. Prepara-se sistematicamente, reduza o ritmo quando necessário, faça
intervalos frequentes, invista na confiança da relação, vá devagar quando tiver pressa, coloque-
se na posição do outro, mantenha o autocontrole, cuidado com as ameaças.
Podemos nunca entrar em uma negociação comercial, mas estamos todos os dias nos
relacionando com dezenas de pessoas. Todo o conhecimento aqui exposto pode nos ajudar a
identificar comportamentos agressivos e aqueles desejáveis de forma a nos dar mais opções para nos
relacionarmos melhor com nossos grupos sociais. As pessoas são diferentes, mas somos todos
interdependentes. Aproveite e faço bom uso!
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“ ...mas nada é puro para os contaminados e infiéis” Paulo (TITO, 1:15)
“O homem enxerga sempre, através da visão interior. Com as cores que usa por dentro,
julga os aspecto de fora.
Pelo que sente, examina os sentimentos alheios.
Na conduta dos ouros supõe encontrar os meios e fins das ações que lhe são peculiares”.
(Fonte Viva, Chico Xavier/Emmanuel, cap.34)
7. Referências
1. BAZERMAN, Max H. e NEALE, Margareth: Negociando racionalmente. 2ª. Edição. Tradução:
Darrel Champlin. Editora Atlas, capítulo 14 – negociando em grupos e organizações.
2. BIRDWHISTELL, R.L. Kinesics and context: essays on body motion communication. 4.ed.
Philadelphia: UPP (University of PensylvaniaPress), 1985
3. COHEN, H. Você pode negociar qualquer coisa. 14. ed. Rio de Janeiro: Record, 2000.
4. EKMAN, Paul e FRIESEN, Wallace – Unmask the face – a guide to recognizing emotions from
facial expressions, Cambridge, Malor Books, 2003
5. FISHER, Roger, URY, William e PATTON, Bruce. Como chegar ao sim – como negociar acordos
sem fazer concessões. Tradução Rachel Agavino. Edição revista e atualizada. Rio de Janeiro,
Editora Sextante: 2018
6. GAIARSA, J.A. A estátua e a bailarina. 3. ed. São Paulo: Ícone, 1995
7. GALINDO, Flávia; OLIVEIRA, Alex Pires de; SILVA, Geanderson Lúcio de Sousa; ALYRIO, Rovigati
Danilo. Assertividade e cooperação na negociação de conflitos em uma agência de pequeno
porte. Ciências sociais em perspectiva (7) 13, 2008
8. LEWICKI, R. L.; SAUNDERS, D. M.; BARRY, Bruce. Fundamentos da negociação. Tradução: Félix
Nonnenmacher. Porto Alegre: Bookman, 5a edição, 2014.
9. MARTINELLI, D.P.; ALMEIDA, A. P.de. Negociação e solução de conflitos: do impasse ao ganha-
ganha através do melhor estilo. São Paulo: Atlas, 2016.
10. MCDONALDS, Lawrence C. Um fracasso colossal, Editora Record.
11. MESQUITA, Rosa Maria. Comunicação não verbal: relevância na atuação profissional. Revista
paulista de educação física, Vol 11 (2), páginas 155-163, jul/dez. 1997)
12. MESQUITA, Rosa Maria. Comunicação não-verbal: relevância na atuação profissional. Revista
paulista de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo. II(2): 155-`63,
jul/dez.1997.
13. RECTOR, Mônica e TRINTA, Aluízio R. comunicação não-verbal: a gestualidade brasileira. São
Paulo: Editora Vozes, 1985.
14. WEEKS, Dudley: the eight essential steps to conflict resolution – Open Library
15. WEIL, Pierre, TOMPAKOW, Roland - O corpo fala – a linguagem silenciosa da comunicação
não-verbal. Petrópolis: Vozes, 1986
16. WHEELER, Michael – A arte de Negociação. Como improvisar acordos em um mundo caótico.
Tradução de Poliana Oliveira. São Paulo: Leya, 2014.
1. http://visionofhumanity.org/app/uploads/2020/06/GPI_2020_web.pdf
44
2. http:// www.educação.globo.com
3. https://www.independent.co.uk/news/world/politics/world-peace-these-are-the-only-11-
countries-in-the-world-that-are-actually-free-from-conflict-9669623.html
4. Reportagem G1: Ex-vice-presidente do Lehman Brothers conta bastidores de falência em
livro http://g1.globo.com/Noticias/Economia_Negocios/0,,MUL1346350-9356,00-
EXVICEPRESIDENTE+DO+LEHMAN+BROTHERS+CONTA+BASTIDORES+DE+FALENCIA+EM+LIVR
O.html
5. https://epocanegocios.globo.com/Inspiracao/Carreira/noticia/2013/04/angustias-de-quem-
assume-o-primeiro-cargo-de-gestao.html
6. 6 passos para lidar com o conflito, de George Kohlrieser, da revista HSM 131 extra
7. https://cacb.org.br/conheca-a-cbmae/cbmae/)
8. Pinterest -
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