Laban – Movimento

O movimento é a substancia primeira da vida. É a matéria em evolução

no tempo e no espaço.
O corpo em movimento esteve presente nos movimentos da própria
história. Um bom exemplo é a Grécia antiga, onde a educação dos guerreiros
incluía dança, filosofia e música.
Com a revolução industrial, o ritmo da movimentação do homem vai
sofrer alterações marcantes. Cidades cada vez maiores, espaços cada vez
menores. As maquinas ditam o ritmo humano. Os movimentos são repetidos
em trabalho monótono que limita a formação do homem.
É nesse mundo que nasceu Rudolf Von Laban, bailarino e coreógrafo
húngaro, um dos responsáveis pelo surgimento da dança moderna. Laban
acreditava que o movimento aumenta a compreensão do comportamento,
enriquece a responsabilidade individual e a integração da personalidade.
Laban observou que o movimento humano se constitui na relação de
quatro fatores onde estão todos os gestos do cotidiano.
Nas décadas de 20 e 30 Laban atingiu sua maturidade. Dançou e
coreografou na efervescência cultural do pré guerra. Envolveu-se com artistas
como Kandinsky1, Dalcroze e Dadá.
A partir dessas experiências, Laban desenvolve um método de
movimentação onde o importante é desenvolver o movimento natural na sua
espontaneidade e riqueza. Cada indivíduo tem o seu modo de se movimentar.
O seu repertório que é formado pela sua experiência em descobrir-se, o corpo
e o mundo.
O pós guerra trouxe transformações tecnológicas que intensificaram o
processo da revolução industrial. Surgiram o mundo do consumo e as grandes
cidades. O movimento se restringe ao absolutamente necessário. Não há
espaço, não há tempo para o corpo, para a expressão do indivíduo que está
isolado na grande cidade.
Laban desenvolveu seu método prevendo as necessidades do mundo
moderno, onde o corpo está limitado pelo espaço e por regras e padrões de
comportamento.
Hoje em dia, quando vamos a um museu, podemos levantar questões de
Laban. Lá está consagrada e emoldurada a expressão de um especialista.
Porém a necessidade de expressão não é um dom de poucos. Ela existe e está
em todos nós. No seu quarto, ou mesmo numa mesa de secretária, podemos
ver uma pessoa. Seu senso de organização, seus interesses, parte de uma

1
foi um artista plástico russo, professor da Bauhaus e introdutor da abstração no campo das
artes visuais. Apesar da origem russa, adquiriu a nacionalidade alemã em 1928 e a francesa
em 1939. Wikipédia
personalidade. Os objetos e o modo como são arrumados, determinam o modo
e a necessidade de cada um.
Se a gente pensar um pouquinho, a gente logo percebe que educar quer
dizer fazer a criança controlar-se e de certo modo fazer a criança parar ou
se mexer pouco. Sabe, o terror da escola, das mães e dos pais é criança
muito irrequieta. Criança tem que ser irrequieta. Ela está aprendendo a
usar o aparelho, a máquina neuromecânica mais complexa do universo
conhecido. Repito, são sete bilhões de neurônios que têm que funcionar
coordenadamente. Mas como mexer-se muito incomoda muita gente, toda
educação dá no sentido de “fique bonzinho”, “seja um bom menino”, “fique
no seu lugar”, “não se mexa demais”. Educação restringe os movimentos.
Agora entra o importante. Ao restringir os movimentos, a educação
restringe a inteligência. Quem é muito quadrado só entende quadrado. Pra
ser bem curto e bem grosso. Quem é muito limitado de movimentos tem
um jeito, ou é muito formal, ou é muito tímido. É uma pessoa que tem
medo de se mexer e tem medo de pensar. Na verdade, toda grande lição
do grande Piaget, do grande educador é mais ou menos essa, ele diz
literalmente, a gente só consegue mexer com as ideias na cabeça do
mesmo jeito e na mesma medida qu a gente consegue mexer os objetos
com as mãos. Quem nunca juntou nada não pode saber o que quer dizer
juntar. Quem nunca separou nada não pode saber o que quer dizer
separar. Então há uma ligação profundíssima entre a versatilidade dos
movimentos e a versatilidade da inteligência. Se você começar a pegar
crianças de escola e fazer uma porção de variação de movimentos com
eles, desde grandes movimentos ginásticos até todas as habilidades
manuais, eles vão ficar muito vivos, muito interessados, muito espertos e
ninguém vai conseguir controlá-los. Então é importante, já diz o ditado, é
de pequenino, não que se torce o pepino, mas é de pequenino que a gente
começa a mumificar as crianças, com o famoso ficar quieto, não se mexa,
você me deixa louco, pára pelo amor de deus, não faça assim não faça
assado, e com estas mil proibições a criança vai restringindo três coisas ao
mesmo tempo: os movimentos, a Inteligência e os sentimentos. J. A.
Gaiarsa, Psiquiatra.

O viver em sociedade significa aprender, sobretudo, as regras e o

comportamento e a escola cumpre o papel de transmissora de muitas dessas
regras. Algumas realmente necessárias, outras apenas regras, nunca
questionadas e por vezes inúteis. Regras velhas de uma época onde não havia
tecnologia e o conhecimento da psicologia humana atual.
A teoria de movimento do Laban foi organizada em dezesseis temas de
movimento e eu aproveitei nessa aula principalmente os cinco primeiros
temas. A conscientização do corpo, as partes do corpo, partes do corpo
em contato, o corpo com unidade na hora que estávamos rolando no chão.
O peso, o firme e o leve, a ideia da manteiga, a ideia da briga. O espaço
também foi trabalhado, principalmente na locomoção, como cavalos. O
ritmo, passando de um tempo lento e acelerando até chegar no tempo
rápido, a fluência do movimento e por fim o relacionamento entre as
crianças foram enfatizado hoje aqui. Um professor de dança educativa
parte da observação da movimentação natural da criança, o que que ela
 traz, o que é do repertório dela. Então feita essa observação, nós
enriquecemos, tentamos enriquecer, fazer com que essa criança enriqueça
esse vocabulário de movimento tornando cada vez mais colorido, dando
cor pra esse movimento, dinâmica pra ele. Renata M. S. Neves. Prof. de
Dança Educativa.

O método pedagógico de Rudolf Laban é um dos caminhos para o

movimento consciente. Mesmo em simples exercícios podemos notar, cada
criança tem seu modo de se movimentar. O método propõe que através da
conscientização pelo movimento livre e improvisação seja ampliado o repertório
de movimento do indivíduo.
A improvisação acontece como uma intuição inteira que integra corpo e
mente ou trabalha mais com as sensações, raciocínios, imaginação. Os
dezesseis temas permitem a organização do trabalho na aula de dança. Os
temas são a relação dos quatro fatores de movimento: peso, tempo, espaço e
fluência.
O peso pode ser delicado ou firme. Atua na intenção, na sensação do
corpo. O espaço pode ser flexível ou direto, atuando na atenção do indivíduo,
no caminho que o movimento desenha no espaço. A fluência é o fator que atua
no controle do movimento, para que ele continue ou pare. O tempo implica a
decisão no tempo interno de cada um, com o ritmo construindo desenho no
tempo. A maneira como as pessoas, individualmente utilizam os fatores é
peculiar e faz parte da sua personalidade.
A dança coral, desenvolvida por Laban, permite ao homem comum, ao
dançarino potencial de cada um, encontrar no trabalho de grupo um espaço
para sua manifestação. A arte cotidiana parte da existência de todos e é
despertada na forma de criação. Laban realizou muitas danças corais, na
Alemanha e na Inglaterra, chegando a reunir milhares de pessoas numa festa
que podemos comparar aos afoxés e escolas de samba do Brasil. Através de
uma coreografia simples de temas de movimentos, retirados da movimentação
natural das pessoas participantes, profissões, habilidades, caráter, Laban
realizava uma orquestração, como num coral, criando evoluções e desenhos e,
finalmente reunindo todos numa grande festa que resultava num espetáculo
grandioso compartilhado por todos. Sendo mais que uma simples festa, e essa
é a grande diferença da escola de samba, era uma experiência comungada por
todos, que dela saíam se conhecendo um pouco mais. Como dizia uma de
suas seguidoras, Lisa Ullmman2, Laban fez a dança da alegria.

2
Lisa Ullmann era professora de dança e movimento alemão-britânica, lembrada
predominantemente por seu trabalho em associação com o pioneiro da dança Rudolf
Laban. Wikipedia.