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Possíveis resaltando la relevancia que tiene ser consciente de ello.

Posteriormente se discute la visión de McKenzie acerca

contribuições de de la presencia de distintos medios de comunicación,


sus relaciones y efectos en determinada cultura, para fi-

D. F. McKenzie nalmente, dar cuenta de la función expresiva de la mate-


rialidad de los medios, como propuesta teórica.

para a pesquisa Palabras clave: McKenzie; bibliografía; materialidad;

em História da historia del libro; libro.

Comunicação no Introdução2
Donald F. McKenzie nasceu em Timaru, Nova

Brasil Zelândia, em 1931 e morreu em Oxford, Inglaterra, em


1999. Sua importância para o universo dos estudos dos
textos e de sua história é imensa e apesar disso seu nome
Márcio SOUZA GONÇALVES1 é pouco citado no campo da pesquisa em História da
Comunicação no Brasil.
Resumo: São exploradas facetas teóricas e metodológi- O elogio a McKenzie feito por Roger Chartier
cas da possível contribuição de D. McKenzie para a pes- em sua Lição inaugural no Collège de France permite
quisa no campo da História da Comunicação no Brasil. situar brevemente a importância do primeiro:
Inicialmente é tratado o modo como pressupostos teóri-
cos condicionam a abordagem das fontes empíricas e as
conclusões derivadas. Segue-se uma discussão de como Há uma outra ausência, uma outra
suposições acerca dos modos de trabalho dos impresso- voz que nos é preciso “escutar com os
res modernos falseiam um conjunto de conclusões teó- olhos”: a de Don McKenzie. Era um
ricas e de como a consciência disso pode ser relevante. erudito que vivia entre dois mundos: 135
Aborda-se então a visada do autor acerca da presença Aotearoa, essa Nova Zelândia em que
de diferentes meios de comunicação, sua relação e seus ele nasceu e onde foi um incansável
efeitos dentro de uma dada cultura. Por fim, investiga-se defensor dos direitos do povo maori, e
como é desenvolvida a tese da função expressiva dos Oxford, que a ele confiou a cadeira de
aspectos materiais dos meios. Crítica Textual. Utilizador especialista
de técnicas eruditas da “nova bibliogra-
Palavras-chave: McKenzie; bibliografia; materialidade; fia”, ele nos ensinou a ultrapassar seus
história do livro; livro. limites mostrando que o sentido de
todo texto, qualquer que seja, canônico
Posibles contribuciones de D. F. McKe- ou sem qualidades, depende das formas
nzie para la investigación de la Historia que o dão a ler, dos dispositivos pró-
de la Comunicación en Brasil prios à materialidade do escrito. Assim,
por exemplo, para os objetos impres-
Resumen: El presente artículo explora aspectos teóri- sos, o formato do livro, a construção
cos y metodológicos de la posible contribución de D. da página, a edição do texto, a presença
McKenzie para la investigación en el campo de la His- ou não de imagens, as convenções ti-
toria de la Comunicación en Brasil. Inicialmente se dis- pográficas e a pontuação. Fundando a
cute el modo como los presupuestos teóricos influyen “sociologia dos textos” sobre o estudo
en el tratamiento y abordaje de fuentes empíricas; en de suas formas materiais, Don McKen-
este sentido se discute cómo los juicios de valor sobre zie não se distanciava das significações
el trabajo realizado en las imprentas modernas, distor- intelectuais e estéticas das obras. Muito
sionó el conjunto de hallazgos y conclusiones teóricas, pelo contrário. E é na perspectiva que
2 Uma versão preliminar do presente texto foi apresentada no XXX-
1 Doutor em Comunicação pela UFRJ, Pós-Doutor em Comunica-
VI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Intercom
ção pela UFMG, Professor do PPGCom da UERJ, Bolsista Prociên-
em 2013.
cia UERJ/FAPERJ. Email: msg@uerj.br

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ele abriu que eu situaria um ensino que mento da pontuação é um dado absolutamente objeti-
pretende jamais separar a compreen- vo e verificável, não sujeito a discussão: basta a análise
são histórica dos escritos da descrição dos textos para que seja estabelecido. Essa utilização de
morfológica dos objetos que os portam dados objetivos seria, por seu turno, garantia de um co-
(CHARTIER, 2008, p. 16-17. A tradu- nhecimento verdadeiro e de solidez epistemológica para
ção de todos os textos de McKenzie é as análises desenvolvidas. Essa prática de utilização do
nossa). espaçamento da pontuação como fonte de informação,
por seu turno, remete para um pressuposto acerca das
McKenzie, tão importante quanto pouco pre- práticas cotidianas dos compositores: “que qualquer
sente, no Brasil, nas discussões no campo da história da compositor poderia ter e teria uma prática própria [no
comunicação, é o eixo fundamental do presente artigo. espaçamento da pontuação], e seus companheiros talvez
Pretende-se aqui discutir a relevância do seu trabalho práticas diferentes, e que em um livro onde as práticas
para os estudos comunicacionais brasileiros contempo- parecem diferir umas das outras, os compositores po-
râneos, notadamente em torno de três vertentes distin- dem ser distinguidos” (McKENZIE, 2002, p. 96).
tas. Nosso autor põe em prática esse modo de ope-
Em primeiro lugar, investigar-se-ão as possíveis rar tomando como caso a segunda edição, revisada,
contribuições metodológicas do trabalho do neozelan- de Psyche, de J. Beaumont, publicada pela Cambridge
dês para as pesquisas em Comunicação. Tais contribui- University Press em 1701-2. Não serão discutidos aqui
ções podem ser relevantes no desenho e aprimoramento os detalhes numéricos da investigação deste texto (ver
de pesquisas empíricas nacionais. Essa discussão envol- McKENZIE, 2002, p. 97 e seguintes), mas apenas os re-
ve o modo como pressupostos teóricos determinam for- sultados que a o uso de espaçamento de pontuação para
mas de apreensão de evidências empíricas, o que por seu determinação do compositor permite delinear:
turno condiciona as conclusões produzidas. Em segui-
da, será explorado o modo como McKenzie compreen- (a) que dois homens estavam envolvi-
136 de a relação entre meio de comunicação e cultura, em dos, um que raramente colocava espa-
um paradigma não determinista, não totalizador e não ço antes da vírgula, e outro que o fazia
reducionista, paradigma atento à complexidade inerente mais frequentemente do que não o fa-
ao tema e ao perigo das grandes generalizações. Final- zia; (b) que dois grupos de compositores
mente, será abordado o modo como McKenzie compre- estavam envolvidos, um dos quais não
ende a relação entre sentido e suporte ou entre sentido e poderia posteriormente ser dividido
materialidade, como se queira. por este teste. Uma terceira proposição,
Não se tem aqui a pretensão de um recensea- contudo, ocorreria sem dúvida aos que
mento completo das contribuições de McKenzie, mas aceitassem a segunda: (c) que enquanto
apenas a discussão de algumas dessas contribuições que os hábitos comuns de um grupo disfar-
podem ser interessantes para a pesquisa em história da çam suas identidades independentes,
comunicação no Brasil em seu estado atual. A seleção o segundo grupo poderia certamente
das contribuições a serem discutidas é portanto localiza- posteriormente ser subdividido (dentro
da e circunstancial. de limites estatísticos confiáveis) através
das gradações na incidência de vírgulas
Espaçamento da pontuação espaçadas […] (McKENZIE, 2002, p.
Num pequeno artigo de 1984, McKenzie discu- 98).
te o uso das evidências materiais textuais para a detecção
do compositor envolvido na preparação de textos. Tal

O cuidadoso trabalho de análise feito por
ideia pode ser assim enunciada: “um compositor pode
McKenzie da obra Psyche existe, porém, apenas para
ser distinguido de outro por sua maneira de espaçar a
servir de demonstração viva da inadequação do proce-
pontuação” (McKENZIE, 2002, p. 91). Assim, por exem-
dimento e dos pressupostos em jogo, pois os resultados
plo, o uso de espaçamento antes da vírgula caracteriza-
não combinam em nada com a identidade dos compo-
ria tal compositor, distinto de um outro onde a vírgula
sitores reais, que pode ser estabelecida através de uma
seguiria imediatamente depois das palavras. O espaça-
pesquisa nos arquivos da editora. “Aqui devo apenas ob-

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servar que o padrão de vírgulas espaçadas não tem rela- na variabilidade, o comum, nas pesquisas em torno dos
ção significativa com a divisão de trabalho entre compo- suportes textuais. Isso pode ser especialmente relevante
sitores. […] As estatísticas são impecáveis; as assunções, e em um momento como o atual, em que mudanças nas
desse modo as inferências, são nonsense” (McKENZIE. tecnologias levam os teóricos a supervalorizar os cortes
2002, p. 99). A aparente certeza de dados objetivos, as- e as rupturas, supondo nossa época radicalmente dis-
sim, McKenzie nos ensina, é mera aparência, na medida tinta das que a precederam, nossos escritores e leitores
em que os dados objetivos dependem de pressupostos totalmente diversos de seus antecessores. A história dos
teóricos que a eles dão sentido. O pressuposto essen- livros ensina que os cortes devem ser situados sobre as
cialmente problemático no caso específico que aqui se permanências, que diversas temporalidades podem se
apresenta é o de que a diferença no espaçamento remete entrelaçar quando se pensa a relação entre comunicação
para diferentes compositores, o que por sua vez supõe e cultura: a inovação no modo de produção de livros
que cada compositor teria um modo idiossincrático e propiciada pela prensa tipográfica, por exemplo, um
constante de espaçar... corte, deve ser compreendida a partir da permanência
Desse exemplo, três elementos importantes, do da forma códice, uma longa continuidade (GONÇAL-
ponto de vista epistemológico, podem ser destacados. VES in GONÇALVES e COUTINHO, 2009).
O próprio McKenzie destaca que na discussão há uma Em segundo lugar, destaque-se o perigo da apa-
“questão de princípio mais profunda”, um “aspecto mo- rente objetividade dos dados, especialmente se quanti-
ral” (2002, p. 101) subjacente: tativos. Não se deve esquecer que as evidências empí-
ricas sempre ganham sentido dentro de um quadro de
referência, dentro de um paradigma teórico. O para-
nosso uso da divisão como função de
digma ou quadro de referência age determinando que
análise. Evidência de diferença é obser-
tipo de evidência é relevante (no caso acima discutido
vável e contável; em contraste, o que é
o espaçamento da pontuação); oferece um conjunto de
comum ou coerente é compreendido
pressupostos que dão sentido aos dados objetivos (cada
como sendo inerte e não informativo.
compositor tem seu modo idiossincrático e constante
O computador, que está se tornando in- 137
de espaçar a pontuação); desse modo condiciona os re-
dispensável no serviço de tais análises, é
sultados que serão obtidos (admitindo-se a relevância
a criança – de fato, a suprema expressão
do espaçamento de pontuação e o estilo pessoal de cada
– do sistema binário. Sua virtude reside
compositor, temos a atribuição de composição como
na separação de carneiros e bodes, de
resultado teórico condicionado). Ter em mente que a
cré e queijo (2002, p. 101-2).
objetividade remete para elementos não objetivos que a
condicionam é essencial, epistemologicamente falando,
Essa lógica de separação, potencializada pelo para que se construam boas teorias.
computador, juntamente com pressupostos equivoca- Finalmente, o caso do espaçamento das vírgulas
dos, tais como os abordados acima, são, aos olhos de nos permite apontar para a importância do uso de dife-
McKenzie, rentes fontes para o estabelecimento de fatos. Partindo
dos pressupostos acima delineados, o uso exclusivo da
bastante inadequadas para a diversida- obra impressa como fonte para a determinação da iden-
de do comportamento humano que tidade dos compositores levaria a um erro grave de atri-
criou a “evidência”. […] De modo mais buição, erro mascarado sob a capa da melhor objetivida-
ominoso, contudo, tais procedimentos de dos dados. A consulta aos arquivos da universidade
ameaçam redefinir a bibliografia como de Cambridge, por seu turno, permite que os nomes
uma ferramenta essencialmente disjun- dos compositores sejam conhecidos. Passemos a outro
tiva e desviar-nos do desafio maior de aspecto do pensamento de McKenzie.
discernir a unidade na variabilidade hu-
mana (McKENZIE, 2002, p. 102). O pressuposto da racionalidade alheia
Um dos textos mais importantes reunidos na
coletânea de textos de McKenzie organizada por McDo-
O primeiro aspecto seria, a partir disso, a im- nald e Suarez, coletânea que é referência constante ao
portância de se atentar para as semelhanças, a unidade longo do presente artigo, é sem dúvida alguma Printers

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of the Mind: Some Notes on Bibliographical Theories somente ser atingida de modo com-
and Printing-House Practices, publicado originalmente plexo – e que as considerações finas de
em 1969. A discussão aí desenvolvida teve grande im- tempo implicadas em tantos estudos
pacto no campo da Bibliografia, em seus métodos de devotados à análise de um único traba-
trabalho e pressupostos teóricos. O aspecto que aqui in- lho podem estar muito distantes da re-
teressa se refere mais uma vez aos pressupostos que dão alidade. Relaxe-se o esquema de tempo
sentido às evidências empíricas e ao mesmo tempo con- mesmo que delicadamente e todo um
formam a compreensão do objeto teórico. Além disso, a castelo de cartas bibliográfico desaba.
utilização das fontes e evidências tal como aí se configu- Em particular, as correlações frequente-
ra é relevante. Será aqui tratado o problema do modo de mente traçadas entre tamanho de edi-
operação das casas impressoras e dos efeitos disso sobre ção, número de compositores, fôrmas
a teorização, ou seja, um detalhe, representativo para o [skeleton formes] e prensas devem pa-
que interessa, de uma argumentação mais ampla. recer muito diferentes se transportadas
Os arquivos da casa impressora de Bowyer, co- para um contexto de impressão simul-
brindo os anos de 1730 a 1739, são uma ótima fonte de tânea [concurrent printing] (McKEN-
dados. “Os detalhes que dá do trabalho de compositores ZIE, 2002, p. 27).
e operários de prensa, às vezes semana a semana, tam-
bém permitem uma reconstrução acurada das condições Assim, partindo-se da ideia de que a impressão
de trabalho, seja para um livro, seja para a casa impres- era dedicada, é feita uma série de deduções referentes a
sora como um todo” (McKENZIE, 2002, p. 19). tamanho de edição, número de trabalhadores, fôrmas e
Era um pressuposto tacitamente aceito no cam- prensas. Se a impressão é simultânea, não dedicada, as
po da Bibliografia (um entre vários outros, como em deduções deixam de ser válidas.
qualquer disciplina) o de que a impressão funcionava de Um exemplo abstrato de dedução a partir do
modo dedicado, ou seja, o de que ao menos uma equipe pressuposto da impressão dedicada:
de composição e impressão se dedicava integralmente a
138
um dado texto em produção e a ele apenas até sua con-
clusão. “É a assunção de que mesmo que todos os recur- Se se assume que um compositor usu-
sos de uma casa não fossem dirigidos para a impressão almente trabalhava apenas em um livro
do livro sob exame, pelo menos um compositor e uma de cada vez, ele não teria necessidade
equipe de prensa seriam postos a trabalhar plenamente de alterar a medida em que regulara seu
de modo consistente sobre ele” (McKENZIE, 2002, p. componedor. Mudanças na medida da
25). A racionalidade subjacente ao processo de impres- linha dentro de um livro poderiam des-
são seria a dessa dedicação exclusiva, que não seria exa- se modo ser tomadas como indicação
gerado qualificar de linear: um livro seguiria em linha de interrupção anormal, depois da qual
reta passando pelo compositor(es) a ele dedicado(s), se- o componedor foi novamente regulado
guindo para a equipe(s) de prensa a ele dedicada(s) até com uma medida ligeiramente diferen-
ficar finalmente pronto. te, ou da presença de um segundo com-
Esse pressuposto, de impressão e composição positor (McKENZIE, 2002, p. 31).
dedicadas, dava sentido a uma série de conclusões que
os investigadores bibliógrafos tiravam das evidências Ora, o ponto fundamental é que os arquivos
empíricas. O próprio McKenzie é bastante claro: da editora de Bowyer, confirmando estudos anteriores
sobre a Impressora da Universidade de Cambridge, in-
Uma tal conclusão não é inconsistente dicavam que as práticas de impressão, longe de serem
com os padrões dados anteriormente dedicadas, ou seguirem uma racionalidade linear, eram
para demonstrar os níveis variáveis de simultâneas e seguiam uma lógica de distribuição, por-
produção atingidos por uma casa im- tanto de não linearidade, bastante complexa. Como in-
pressora; eles simplesmente reforçam o dica a apresentação do texto de McKenzie: “O princípio
ponto de que uma disposição “econô- fundamental da produção simultânea, onde composito-
mica” de homens e materiais poderia res e operários de prensa igualmente estavam trabalhan-

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do simultaneamente e em padrões imprevisíveis numa A casa impressora de Bowyer relembra que a re-
grande gama de livros, se aplicava a praticamente toda a alidade dos impressores era mais complexa do que a su-
manufatura de livros” (In McKENZIE, 2002, p. 13). posta simplicidade da impressão dedicada. Isso põe em
Assim, longe de ser a exceção, a impressão si- xeque, indiretamente, vários discursos que confundem a
multânea era a regra: “A força desses exemplos é sim- Modernidade, como projeto filosófico, com a realidade
plesmente que as prensas de Cambridge e Bowyer, como cotidiana da época Moderna e Contemporânea inicial
qualquer casa impressora hoje ou qualquer casa impres- (historicamente falando), discursos que terminam por
sora antes delas, seguiam o princípio da impressão si- contrapor os supostos hibridismos, misturas, a desor-
multânea” (McKENZIE, 2002, p. 25-6). dem de nosso momento histórico a uma suposta socie-
McKenzie refuta, assim, um pressuposto errô- dade disciplinar racionalmente organizada, esta caracte-
neo e comum acerca do processo de impressão, pressu- rística da Modernidade.
posto que fundamentava uma série de inferências teóri-
cas. Comunicação e cultura
Seguindo com o exemplo do componedor, in- Grassam no campo da Comunicação explica-
dicado acima, tem-se: ções para a nosso momento histórico, identificado pela
presença das tecnologias digitais de comunicação. Todo
um campo semântico marcado por termos como con-
Essas conclusões devem, porém, parecer
vergência, digitalização, virtualização, redes etc é mo-
deslocadas se se começa com uma pre-
bilizado para explicar a singularidade de nosso tempo,
missa diferente. Se aceitamos a impres-
singularidade que remete por sua vez para a novidade
são simultânea, por exemplo, então a
dos meios de comunicação digitais. Tais explicações são
plausibilidade das medidas refletirem a
tipos ou exemplos de um paradigma maior que em ou-
divisão de trabalho entre compositores
tros trabalhos já denominamos epocalismo (p. ex. GON-
será pequena. […] Não apenas a largu-
ÇALVES e CLAIR, 2007). Não serão repetidas aqui críti-
ra das páginas de tipo colocadas pelo
cas ao paradigma epocalista já desenvolvidas com maior
mesmo compositor varia, mas diferen- 139
detalhamento alhures (GONÇALVES e CLAIR, 2013).
tes compositores são frequentemente
Será tratada, sim, a contribuição de McKenzie para uma
encontrados usando uma medida idên-
compreensão menos epocalista da relação entre comuni-
tica e interrupções são rotina. A práti-
cação, cultura e história.
ca geral inferida de evidências físicas
Ora, o pensar epocalista “procura compreender
limitadas e a assunção subjacente sobre
nosso momento histórico dentro de uma sucessão de
o método de trabalho permanecem mu-
épocas distintas, cada uma marcada por determinadas
tuamente consistentes, mas na maioria
características” (GONÇALVES e CLAIR, 2007, p. 138).
dos casos é plausível que estejam muito
No campo comunicacional, seguindo esse raciocínio,
erradas (McKENZIE, 2002, p. 32).
cada época seria idêntica a si mesma, homogênea, ao
mesmo tempo que distinta das épocas anteriores e pos-
O caso específico da análise de McKenzie da teriores, e além disso definida por algum meio de co-
impressora de Bowyer é importante por dois motivos. municação hegemônico. Assim, por exemplo, pode-se
Permite ver claramente o modo como pressupostos im- falar numa cultura tipográfica, definida pelo impresso,
plícitos, admitidos a priori como válidos, condicionam ao qual sucede uma cultura digital, marcada pelas ditas
os resultados da pesquisa. Se um determinado pressu- NTICs. Nesse sentido, “o epocalismo nada mais é do
posto sucumbe, sendo provado errôneo, todos os resul- que a percepção diacrônica da sucessão dessas formas
tados dele dependentes sucumbem junto. sociais gerais com suas características próprias, a decor-
Além disso, a natureza do pressuposto em ques- rência lógica de uma tipologia social baseada em traços
tão é relevante. O que era atribuído aos impressores do gerais (intimamente ligados ao tipo de meio de comuni-
XVIII era uma certa racionalidade linear na organização cação presente)” (GONÇALVES e CLAIR, 2007, p. 145).
do processo de produção que termina por ser mais ca- McKenzie, num texto de 1990, discute o século
racterística das tentativas de se fundamentar epistemo- XVII inglês e o modo como então se relacionam a fala,
logicamente a Bibliografia do que do mundo concreto o manuscrito e o impresso. Contrariando, sem utilizar
dos trabalhadores. o termo, o epocalismo, o neozelandês defende, baseado

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em uma série de evidências, que a melhor maneira de somente com um grande número de
se descrever o que acontecia, em termos de comunica- cópias. Qualquer coisa abaixo de cem
ção, é falar em um grande entrelaçamento entre os três é parcamente econômica (McKENZIE.
mencionados acima, oral, escrito e impresso. De modo 2002, p. 244-5).
algum se poderia falar numa dominância de tal ou tal
meio. Do conjunto de dados que permitem a McKenzie Vários autores tendiam ao manuscrito em detri-
estabelecer seu ponto de vista, dois serão aqui tomados. mento do impresso:
Em primeiro lugar, deve-se notar que a presença
da prensa de modo algum reduziu a importância dos
manuscritos, o mesmo sendo válido, evidentemente, Havia, claro muitas razões pelas quais
para o oral. autores poderiam preferir serem lidos
em manuscritos. Em parte, tem a ver
com a questão da presença (maior na
Assim como algumas funções sociais
fala, ainda implicada no escrito, menor
podiam ainda somente serem realiza-
no impresso). Alguns escritores ficavam
das oralmente, também a sociedade só
perturbados por sua perda de controle
podia ser administrada efetivamente à
sobre seus textos; para eles e para mui-
distância através do manuscrito. Atos e
tos outros, a impressão era muito im-
proclamações poderiam ser impressos e
pessoal, muito pública, muito fixada
largamente dispersados (embora muitas
e muitas vezes muito mais cara para o
ordens e resoluções do Parlamento não
pequeno número de cópias requeridas
o fossem – algumas eram meramente
(McKENZIE. 2002, p. 247).
proclamadas), mas a maioria das ações
executivas tomadas para implemen-
tá-los eram iniciadas em manuscrito A prensa, deste modo, necessariamente coexistia
140 (McKENZIE. 2002, p. 244). de modo importante com a oralidade e com a prática da
escrita manual. A expressão cultura impressa se mostra
inadequada, do ponto de vista analítico e conceitual,
Havia um mercado de textos manuscritos, mer- para falar de uma situação em que uma tal mistura se
cado paralelo ao dos impressos, e não negligenciável: opera.
Em segundo lugar, e esse aspecto é especialmen-
[...] e para o que poderíamos ver como te interessante, nos próprios textos impressos a presença
textos literários e políticos havia um da oralidade era muito forte, de tal modo que efetiva-
comércio de manuscritos bem organi- mente o impresso funcionava como uma espécie de fala.
zado, funcionando concorrentemente Essa presença da oralidade é múltipla e pode-se perceber
com o de livros impressos. […] O fato “escritores e impressores procurando limitar a diferença
de que alguns produtos manuscritos do impresso inventando modos para sugerir suas afini-
fossem libelos não deveria distorcer o dades com a fala e o manuscrito” (McKENZIE, 2002, p.
reconhecimento muito mais importan- 251).
te do manuscrito tanto como forma Um desses modos é fazer com que de alguma
normal de registro pessoal quanto for- maneira o texto tomasse a forma de um diálogo. Isso
ma normal de publicação. Vendedores pode ser bem exemplificado no caso dos catecismos,
de livros e stationers comuns negocia- como no de Edward Vaughan, A plaine and perfect Me-
vam com manuscritos, novos e usados, thod, for the easie vnderstanding of the whole Bible
assim como com livros impressos. […] (McKENZIE, 2002, p. 254). “O Paroquiano discursa
Manuscritos eram economicamente através do texto em tipos romanos, cada vez mais po-
competitivos devido ao fato da impres- pulares, e o Pastor em toda a autoridade formal da letra
são requerer alto investimento inicial gótica” (McKENZIE, 2002, p. 254). O diálogo transfor-
em tipos e composição e um baixo ma o impresso numa forma de discussão oral, de modo
custo por unidade, o que se consegue que o leitor, ao mesmo tempo que lê, de certa maneira
presencia uma conversação.

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A estruturação dos panfletos igualmente agen- ausente, pondo diante do leitor os dois termos de uma
cia diálogos. Como diz McKenzie: discussão.
Finalmente, um outro modo de “oralizar” o
impresso era apresentar o texto como uma fala endere-
Onde a extensão do diálogo é mais no-
çada a alguém. Pense-se, por exemplo, no início do texto
tável é nos níveis intertextuais achados
de Milton, Areopagítica, que se apresenta como uma
em tantos panfletos. Um modo comum
fala endereçada ao Parlamento.
de apresentá-los era o escritor alternar
seu novo contra-texto com os textos ex-
traídos, adaptados e reestruturados de Adotando uma tal forma, Milton se tor-
outros escritores. Assim, Francis Quar- na presente para os Comuns, e apesar
les, em sua defesa de Cornelius Burges disso seu texto é claramente escrito para
(1644) faz o bíblico Davi apresentar o ser lido, não ouvido. […] Parece-me que
texto de Burges; Calumniator, filho de ambos os textos (Da Educação e Are-
Nimshi (um grande adorador de bezer- opagítica) são genuinamente ambíguos
ros), fala o texto dos críticos de Burges; acerca de seu estatuto, que Milton se
e o texto do próprio Quarles é dado a move facilmente e positivamente em
Jônatas como O Replicador. Parágrafo direção a seu duplo papel, e que sua
após parágrafo através de todo o li- fluência na fala, manuscrito e impresso
vro cada um toma sua vez no debate não é simplesmente a marca de seu gê-
(McKENZIE, 2002, p. 254). nio, mas a marca de seu tempo (McKE-
NZIE, 2002, p. 251).
Se um texto criticado em um panfleto é in-
serido dentro do próprio panfleto, textualmente uma Nota-se assim, em suma, uma imbricação do
conversa se desenrola entre o que critica e o que recebe oral e do impresso, o segundo mimetizando o primeiro
141
críticas, conversa que deixa o leitor na posição de leitor de diversos modos. Não se pode compreender a forma
mas também de ouvinte da discussão alheia. desses impressos analisados por McKenzie sem se consi-
Além disso, as notas marginais eram outro mé- derar essa presença constante, nas páginas que saiam das
todo de inserção do diálogo oral no universo do impres- prensas, de um modo de expressão oral, da fala.
so. Os dois aspectos da argumentação de McKenzie
destacados – forte presença do manuscrito no cotidiano
Notas marginais impressas, como a das sociedades inglesas do XVII e presentificação do oral
marginália no manuscrito de um leitor, dentro dos textos impressos – falam contra uma carac-
são um dos melhores indicadores de tro- terização da cultura daquele momento (e de qualquer
ca textual. […] O autor de Knaves and momento, generalizando-se o argumento) como cultura
Fools in Folio (1648), contudo, estava impressa. Claro, havia a ação das prensas, há algum tem-
bastante convencido da necessidade de po operando no universo da Inglaterra, mas essa ação
notas marginais: “Bom Leitor, nosso é indissociável da uma presença forte da oralidade e da
mais sincero desejo de dar total satis- escrita. Em lugar de dominância, é preferível se pensar
fação tornou mais larga a Margem, que em coexistência.
eu rezo para que você não deixe de ler,
afim de que tu não fracasses em atingir Para os que vendem textos nessas for-
nossa intenção,- tua instrução....” E é mas, algumas delas podem parecer
virtualmente impossível não lê-las, pois mutuamente exclusivas (lemos o livro,
correm para dentro, e se esparramam o ouvimos numa gravação ou vemos
através, do texto num massacre didático o filme?) mas para o falante, auditor,
(McKENZIE, 2002, p. 256-7). leitor ou espectador, os textos tendem
a trabalhar de modos complementares,
Essas notas, como os outros métodos indica- não competitivos. Nenhum entrega seu
dos acima, também agiam tornando presente o texto lugar completamente; todos sofrem al-

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gum ajustamento na medida em que nzie contrapõe uma calma ideia de similaridade, uma
novas formas chegam e novas cumpli- lentidão que permite que se veja melhor a passagem do
cidades de interesse e função emergem tempo.
(McKENZIE, 2002, p. 238).
A forma expressiva
Vê-se assim o desenho de um paradigma alter- Um aspecto sumamente importante do traba-
nativo ao paradigma epocalista, tal como nomeamos lho de McKenzie é o modo como ele compreende a
acima. Epistemologicamente, a constituição de um tal relação entre a forma material dos objetos e o sentido
paradigma pode ser bastante rica dentro do campo da que portam.
Comunicação, notadamente em suas reflexões sobre a A tese é bastante simples: o sentido de um texto
relação entre processos comunicacionais, cultura e his- não se reduz às palavras que o compõem; envolve, além
tória, campo muito fortemente marcado por um modo dessas palavras, o objeto que as apresenta, com tudo
de pensar baseado em sucessões de épocas. aquilo que comporta (forma, diagramação, tipos utili-
Um último aspecto, bastante pontual: trata-se zados etc).
de uma breve indicação de McKenzie sobre a questão McKenzie assim o diz, referindo-se à edição dos
da mudança histórica e da tensão entre semelhanças e Works, de Congreve, publicada em 1710 em três volu-
diferenças em sua compreensão, o que retoma algo já mes:
apontado mais acima.
O prefácio do autor, as leituras do pró-
McKenzie assim se expressa:
prio texto, sua divisão de atos e cenas
de um modo neoclássico, seu uso de
Obviamente 1586 não é 1623, nem cabeçalhos decorativos e vinhetas, as
1683, 1695, 1701, 1731 nem 1790. Con- capitulares ornamentadas de cada ato,
tudo, do mesmo modo como Greg sus- os ornamentos de tipo que separam as
tentou que a bibliografia, como estudo cenas, o tamanho e estilo de tipos, sua
142 da transmissão de textos literários, com- capitalização, pontuação, italicização,
preende livros manuscritos assim como sua mise-en-page, papel, a pequena mas-
impressos, eu quero sustentar que a in- sa e peso mais leve de seus três volumes
tegridade do tema pode ser melhor pre- em formato oitavo e a disposição do
servada e uma metodologia harmoniosa conteúdo dentro e entre esses três volu-
desenvolvida somente se enfatizarmos a mes:- o desdobramento muito conscien-
similaridade de condições em todos os te de todos esses recursos fazem com
períodos. Só então distinções finas po- que seja praticamente impossível, em
dem ser traçadas, não como diferenças minha opinião, divorciar a substância
de período, mas como resultado inevi- do texto, por um lado, da forma física
tável de variáveis que serão diferentes de sua apresentação, por outro. O pró-
de um dia para outro e da uma oficina prio livro é uma forma expressiva. Ao
para outra (McKenzie, 2002, p. 57). olho suas páginas oferecem uma agre-
gação de sentidos tanto verbais quanto
tipográficos para a tradução para o ou-
A mudança histórica, assim, na perspectiva do
vido; mas devemos aprender a ver que
neozelandês, deve ser pensada a partir de um fundo de
sua forma na mão também nos fala do
continuidade, de permanências, de temporalidades lon-
passado. A explicação total desses senti-
gas que não se alteram subitamente. A diferença se situa
dos, em toda a sua riqueza contextual,
sobre essa continuidade básica, que é a rigor sua condi-
é a função textual primeira da biblio-
ção de possibilidade. Essa indicação é importante numa
grafia histórica (McKENZIE, 2002, p.
época como a atual, obcecada por cortes e pela cons-
199-200).
trução de sua própria identidade como diferente da de
épocas anteriores. A esse desespero da descontinuidade
e da singularidade, a essa apoteose da velocidade, McKe- Assim, por exemplo, o fato de um livro ser im-
presso e encadernado em capa dura, em papel de boa

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qualidade, influencia a leitura e construção de sentido. Há assim claramente uma intenção, por parte
O mesmo livro, impresso numa impressora caseira de de autor e editor, de influenciar, “através das artes do
baixa qualidade, em papel A4 ordinário e encadernado livro”, o leitor. Será tomado aqui apenas um dos aspec-
em espiral seria abordado de outro modo. Esse raciocí- tos dessas artes, a da divisão gráfica das cenas teatrais na
nio deve ser aplicado a todos os aspectos do objeto que peça impressa na edição de 1710 (cf. McKENZIE, 2002,
apresenta o texto. p. 198-236).
Essa tese da expressividade do objeto por si só Congreve e Tonson utilizam uma diagramação,
tem sua importância. Mas além disso, e o ponto parece decoração, floreios etc diferentes das usuais em edições
ser essencial para McKenzie, é necessário desenvolver teatrais anteriores, com a intenção de transmitir ao lei-
ferramentas metodológicas para investigá-la. A questão tor uma experiência “cênica” no ato da leitura. Mais do
é então: como abordar, para um dado objeto que porta que apenas indicar uma passagem, trata-se, via artes do
texto, a dimensão expressiva do próprio objeto e do que livro, de articular uma forma de leitura dramática.
o constitui?
Uma vertente possível de resposta, que não é Passo agora à questão da divisão de
a adotada por McKenzie, e que goza de certa popula- cena neoclássica, pois o ponto ime-
ridade no campo da Comunicação no Brasil, é a que diato é que Congreve podia, agora,
se estrutura em torno do tema das Materialidades da através do impressor de Tonson, John
Comunicação e de uma certa filosofia substancialista da Watts, se servir de uma gama maior de
presença (cf. GUMBRECHT, 2004). Os trabalhos resul- material decorativo com o qual poten-
tantes são de cunho sobretudo ensaístico, especulando cializar sua concepção de cena teatral,
sobre formas de experiência que escapariam à dimensão para enfatizar o agrupamento cênico
hermenêutica e envolveriam alguma forma de experiên- de personagens em suas relações sociais
cia direta e algo pura da materialidade. Situando-se em estabelecidas, não suas entradas e saídas
uma visada mais filosófica do que propriamente cientí- [do palco]. Ele, desse modo, expressa
fica, tal perspectiva, metodologicamente, em termos de uma atitude social inseparável de seus
análise de objetos de apresentação de texto, afigura-se princípios neoclássicos de construção 143
pouco produtiva. dramática (McKENZIE, 2002, p. 229).
McKenzie segue outro caminho, baseado na
análise empírica de objetos textuais. Trata-se então de
Veja-se, por exemplo, essa comparação (8A vem
abordar os objetos (livros, panfletos etc) investigando
do século XVII, 8B é a edição de Congreve e Tonson):
de que modo a apresentação (o que inclui formato, ma-
terial, diagramação etc) pode afetar o ato de leitura.
A análise de obra de Congreve, citada acima, é
exemplar. Congreve encontra em Tonson o editor ideal
para seus Works publicados em 1710.

O modo como Congreve concebia


seus leitores, a maneira como Tonson
definia seu mercado, informados por
valores estéticos e morais em mudança,
determinaram a escolha deles da lingua-
gem, de recursos tipográficos, e das ha-
bilidades humanas necessárias para ope-
racionalizá-los corretamente. Congreve
e Tonson estavam unidos na definição
e atingimento de um objetivo comum:
a evocação nos leitores, através das artes
do livro, das mais finas qualidades da
arte própria de Congreve como autor
dramático (McKENZIE, 2002, p. 224).
Fonte: McKENZIE, 2002, p. 235.

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A experiência de leitura é afetada pela alteração Em seguida foi discutido, a partir do caso da
gráfica. Assim, Inglaterra do século XVII, o modo como McKenzie en-
cara a relação entre diferentes meios de comunicação
se queremos reconstruir acuradamente num dado espaço cultural. Longe de supor a dominân-
nosso passado literário, não podemos cia de um meio sobre os outros, o autor indica a necessi-
ser indiferentes aos detalhes da forma dade de que se reflita sobre formas diferentes de comple-
do livro, na contribuição que o design mentaridade. Correlativamente, é defendida a ideia da
faz para o sentido, mediando a inten- importância de uma valorização das similaridades entre
ção autoral e dirigindo as respostas dos momentos diferentes, similaridades que são a condição
leitores. As complexidades textuais e para que se compreendam as diferenças. Tem-se aqui,
teatrais, e portanto comportamentais, assim, uma contribuição epistemológica maior, que se
que eu indiquei foram criadas quase refere ao tipo de teoria com o qual se pensa.
somente pela adoção, por Congreve, de Finalmente, foi tratado o problema ao mesmo
uma forma de divisão de cena que não tempo teórico e metodológico da função expressiva dos
deve nada para as palavras enquanto objetos materiais que apresentam textos.
tais – ao que Greg chamaria substância Tentou-se, em suma, um breve e primeiro esbo-
– mas tudo aos “acidentais” (ainda ousa- ço das possíveis contribuições do pensamento de McKe-
mos utilizar o termo?) da apresentação nzie para a reflexão sobre a comunicação no Brasil, tra-
tipográfica. A despeito dos erros que balho que resta por ser mais desenvolvido.
indiquei nos Works de 1710, fica claro
que havia uma consciência em ação na Referências
apresentação do texto para os leitores.
CHARTIER, Roger. Écouter les morts avec les yeux. Pa-
O design do livro tinha a intenção de
ris: Collège de France, Fayard, 2008.
dar um sentido mais completo da arte
de Congreve eliminando a lacuna entre GONÇALVES, Márcio Souza. “O que aprender com
144
a imagem transitória no palco e as ima- os livros?”. In: GONÇALVES, Márcio Souza; COUTI-
gens impressas na página (McKENZIE, NHO, Eduardo Granja (Orgs.). Letra impressa - comu-
2002, p. 233-236). nicação, cultura e sociedade. Porto Alegre: Sulina, 2009,
v. 1, p. 83-104.
Deste modo, McKenzie, além de sustentar a
tese da função expressiva da tipografia, indica caminhos GONÇALVES, Márcio Souza; CLAIR, Ericson Saint.
empíricos de análise que podem ser bastante úteis, no “Antes Tarde do que nunca: notas sobre as contribui-
campo da Comunicação brasileiro, no sentido de uma ções de Gabriel Tarde para a análise da articulação entre
consideração positiva e menos especulativa dos efeitos comunicação e cultura”. In Revista Galáxia. São Paulo,
da materialidade sobre o sentido de um dado texto. n. 14, p. 137-148, dez. 2007.

Considerações finais GONÇALVES, Márcio Souza; CLAIR, Ericson Saint.


Vimos inicialmente dois casos, o do uso do es- “Meios misturados: paradigmas para a reflexão sobre
paçamento da pontuação e o da assunção da ideia de comunicação e cultura Trabalho apresentado ao Grupo
que os impressores modernos funcionavam num regi- de Trabalho Comunicação e Cultura do XXII Encontro
me de impressão dedicada como base para uma série Anual da Compós, na Universidade Federal da Bahia,
de conclusões bibliográficas. Nos dois casos um mesmo Salvador, de 04 a 07 de junho de 2013. Disponível em
aspecto comparece: um pressuposto teórico condiciona http://www.compos.org.br/ler_anais.php
a percepção das evidências empíricas e as conclusões
derivadas. Disso decorre que não se pode considerar a GUMBRECHT, Hans Ulrich. Production of Presence:
presença de evidências empíricas, por si só, como garan- what meaning cannot convey. Stanford: Stanford Uni-
tia de conhecimento válido. Em segundo lugar, nota-se versity Press, 2004.
a partir dos dois casos que é preciso refletir crítica e
McKENZIE, Donald F. Making Meaning: “Printers of
cuidadosamente sobre os pressupostos que dão forma à
the Mind” and Other Essays. Edited by Peter D. McDo-
investigação, sobre sua validade e seu grau de certeza.

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nald & Michael F. Suarez, S.J.. Amherst, Boston: Univer-
sity of Massachusetts Press, 2002.

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