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MITOLOGIA GREGA

A Mitologia Helênica é uma das mais geniais concepções que a humanidade produziu.
Os gregos, com sua fantasia, povoaram o céu e a terra, os mares e o mundo
subterrâneo de Divindades Principais e Secundárias. Amantes da ordem, instauraram
uma precisa categoria intermediária para os Semideuses e Heróis. A mitologia grega
apresenta-se como uma transposição da vida em zonas ideais. Superando o tempo, ela
ainda se conserva com toda a sua serenidade, equilíbrio e alegria. A religião grega teve
uma influência tão duradoura, ampla e incisiva, que vigorou da pré-história ao século IV
e muitos dos seus elementos sobreviveram nos Cultos Cristãos e nas tradições locais.
Complexo de crenças e práticas que constituíram as relações dos gregos antigos com
seus deuses, a religião grega influenciou todo o Mediterrâneo e áreas adjacentes
durante mais de um milênio. Os gregos antigos adotavam o Politeísmo Antropomórfico,
ou seja, vários deuses, todos com formas e atributos humanos. Religião muito
diversificada, acolhia entre seus fiéis desde os que alimentavam poucas esperanças
em uma vida paradisíaca além túmulo, como os heróis de Homero, até os que, como
Platão, acreditavam no julgamento após a morte, quando os justos seriam separados
dos ímpios. Abarcava assim entre seus fiéis desde a ingênua piedade dos camponeses
até as requintadas especulações dos Filósofos, e tanto comportava os excessos
orgiásticos do culto de Dioniso como a rigorosa ascese dos que buscavam a
purificação. No período compreendido entre as primeiras incursões dos povos
helênicos de origem Indo-européia na Grécia, no início do segundo milênio a. C., até o
fechamento das escolas pagãs pelo imperador bizantino Justinianus, no ano 529 da era
cristã, transcorreram cerca de 25 séculos de influências e transformações. Os primeiros
dados existentes sobre a religião grega são as Lendas Homéricas, do século VIII a. C.,
mas é possível rastrear a evolução de crenças antecedentes. Quando os indo-
europeus chegaram à Grécia, já traziam suas próprias crenças e deuses, entre eles
Zeus, protetor dos clãs guerreiros e senhor dos estados atmosféricos. Também
assimilaram cultos dos habitantes originais da península, os Pelasgos, como o oráculo
de Dodona, os deuses dos rios e dos ventos e Deméter, a deusa de cabeça de cavalo
que encarnava o ciclo da vegetação. Depois de se fixarem em Micenas, os gregos
entraram em contato com a civilização cretense e com outras civilizações
mediterrâneas, das quais herdaram principalmente as divindades femininas como
Hera, que passou a ser a esposa de Zeus; Atena, sua filha; e Ártemis, irmã gêmea de
Apolo. O início da filosofia grega, no século VI a.C., trouxe uma reflexão sobre as
crenças e mitos do povo grego. Alguns pensadores, como Heráclito, os Sofistas e
Aristófanes, encontraram na mitologia motivo de ironia e zombaria. Outros, como
Platão e Aristóteles, prescindiram dos deuses do Olimpo para desenvolver uma idéia
filosoficamente depurada sobre a divindade. Enquanto isso, o culto público, a religião
oficial, alcançava seu momento mais glorioso, em que teve como símbolo o Pártenon
ateniense, mandado construir por Péricles. A religiosidade popular evidenciava-se nos
festejos tradicionais, em geral de origem camponesa, ainda que remoçada com novos
nomes. Os camponeses cultuavam Pã, deus dos rebanhos, cuja flauta mágica os
pastores tentavam imitar; as ninfas, que protegiam suas casas; e as nereidas,
divindades marinhas. As conquistas de Alexandre o Grande facilitaram o intercâmbio
entre as respectivas mitologias, de vencedores e vencidos, ainda que fossem
influências de caráter mais cultural que autenticamente religioso. Assim é que foram
incorporadas à religião helênica a deusa frígia Cibele e os deuses egípcios Ísis e
Serápis. Pode-se dizer que o sincretismo, ou fusão pacífica das diversas religiões, foi a
característica dominante do período Helenístico.
DEUSES GREGOS

A figura de Adônis, estreitamente vinculada a mitos vegetais e agrícolas, aparece


também relacionada, desde a antiguidade clássica, ao modelo de beleza masculina.
Embora a lenda seja provavelmente de origem oriental - adon significa "senhor" em
fenício -, foi na Grécia Antiga que ela adquiriu maior significação. De acordo com a
tradição, o nascimento de Adônis foi fruto de relações incestuosas entre Smirna (Mirra)
e seu pai Téias, rei da Assíria, que enganado pela filha, com ela se deitou. Percebendo
depois a trama, Téias quis matá-la, e Mirra pediu ajuda aos deuses, que a
transformaram então na árvore que tem seu nome. Da casca dessa árvore nasceu
Adônis. Maravilhada com a extraordinária beleza do menino, Afrodite (a Vênus dos
romanos) tomou-o sob sua proteção e entregou-o a Perséfone (Prosérpina), deusa dos
infernos, para que o criasse. Mais tarde as duas deusas passaram a disputar a
companhia do menino, e tiveram que submeter-se à sentença de Zeus. Este estipulou
que ele passaria um terço do ano com cada uma delas, mas Adônis, que preferia
Afrodite, permanecia com ela também o terço restante. Nasce desse mito a idéia do
ciclo anual da vegetação, com a semente que permanece sob a terra por quatro
meses. Afrodite e Adônis se apaixonaram, mas a felicidade de ambos foi interrompida
quando um javali furioso feriu de morte o rapaz. Sem poder conter a tristeza causada
pela perda do amante, a deusa instituiu uma cerimônia de celebração anual para
lembrar sua trágica e prematura morte. Em Biblos, e em cidades gregas no Egito, na
Assíria, na Pérsia e em Chipre (a partir do século V a.C.) realizavam-se festivais
anuais em honra de Adônis. Durante os rituais fúnebres, as mulheres plantavam
sementes de várias plantas floríferas em pequenos recipientes, chamados "jardins de
Adônis". Entre as flores mais relacionadas a esse culto estavam as rosas, tingidas de
vermelho pelo sangue derramado por Afrodite ao tentar socorrer o amante, e as
anêmonas, nascidas do sangue de Adônis.
AFRODITE

Afrodite, na mitologia grega, era a deusa da beleza e da paixão sexual. Originário de


Chipre, seu culto estendeu-se a Esparta, Corinto e Atenas. Seus símbolos eram a
pomba, a romã, o cisne e a murta. No panteão romano, Afrodite foi identificada com
Vênus. A mitologia oferecia duas versões de seu nascimento: segundo Hesíodo, na
Teogonia, Cronos, filho de Urano, mutilou o pai e atirou ao mar seus órgãos genitais,
e Afrodite teria nascido da espuma (em grego, aphros) assim formada; para Homero,
ela seria filha de Zeus e Dione, sua consorte em Dodona. Por ordem de Zeus, Afrodite
casou-se com Hefesto, o coxo deus do fogo e o mais feio dos imortais. Foi-lhe muitas
vezes infiel, sobretudo com Ares, divindade da guerra, com quem teve, entre outros
filhos, Eros e Harmonia. Outros de seus filhos foram Hermafrodito, com Hermes, e
Príapo, com Dioniso. Entre seus amantes mortais, destacaram-se o pastor troiano
Anquises, com quem teve Enéias, e o jovem Adônis, célebre por sua beleza. Afrodite
possuía um cinturão mágico de grande poder sedutor e os efeitos de sua paixão eram
irresistíveis. As lendas freqüentemente a mostram ajudando os amantes a superar
todos os obstáculos. À medida que seu culto se estendia pelas cidades gregas,
também aumentava o número de seus atributos, quase sempre relacionados com o
erotismo e a fertilidade.
Apolo foi o deus mais venerado no panteão grego depois de Zeus, o pai dos céus. Os
santuários dedicados a essa divindade, sobre cuja origem - oriental ou indo-européia -
existem dúvidas, se estendiam por todo o Mundo Helênico; a ele era consagrado o
templo de Delfos, o de maior importância na Grécia, mencionado já na Ilíada. Nesse
santuário, centro do culto "Apolíneo", a Pítia, ou Pitonisa, aspirava os vapores que
saíam de uma fenda na terra e, em profundo êxtase, pronunciava o oráculo sob a
influência do deus. Apolo e sua irmã gêmea Ártemis (identificada pelos romanos com
Diana) eram filhos de Zeus e Leto, da estirpe dos Titãs. Segundo a lenda, os dois
nasceram na ilha de Delos, outro dos lugares importantes de seu culto, onde Leto se
havia refugiado, perseguida pelo implacável ciúme de Hera, esposa de Zeus. Apolo,
com um ano de idade e armado de arco e flechas, perseguiu a serpente Píton, também
inimiga de sua mãe, até o lugar sagrado de Delfos, e ali a matou. Zeus recriminou o
filho pela profanação do santuário e, em memória da serpente, instituiu os Jogos
Píticos. O poder de Apolo se exercia em todos os âmbitos da natureza e do homem.
Por isso, suas inovações eram múltiplas e variadas. Além de ser por excelência o deus
dos oráculos e fundador de importantes cidades, sua proteção - e sua temível ira -
abarcava desde a agricultura e o gado até a juventude e seus exercícios de ginástica,
assim como os marinheiros e navegantes. Tinha poder sobre a morte, tanto para enviá-
la como para afastá-la, e Asclépio (o Esculápio Romano), o deus da medicina, era seu
filho. Considerado também o "Condutor das Musas", tornou-se deus da música por ter
vencido o deus Pã em um torneio musical. Seu instrumento era a lira. A identificação
de Apolo com o Sol - daí ser chamado também Febo (brilhante) - e o ciclo das estações
do ano constituía, no entanto, sua mais importante caracterização no mundo helênico.
Apolo, que durante o inverno vivia com os hiperbóreos, mítico povo do norte,
regressava a Delos e Delfos a cada primavera, para presidir às festas que, durante o
verão, eram celebradas em sua honra. O culto de Apolo também teve grande amplitude
em Roma. As numerosas representações que dele fizeram artistas de todos os
tempos, tanto na antiguidade Greco-Romana como nos períodos Renascentista e
Barroco, mostraram-no como um deus de beleza perfeita, símbolo da harmonia entre
corpo e espírito.

HOMERO

A Homero se atribuem os dois maiores poemas épicos da Grécia antiga, que tiveram
profunda influência sobre a literatura ocidental. Além de símbolo da unidade e do
espírito helênico, a Ilíada e a Odisséia são fonte de prazer estético e ensinamento
moral. De acordo com o historiador grego Heródoto, Homero nasceu em torno de 850
a.C. em algum lugar da Jônia, antigo distrito grego da costa ocidental da Anatólia, que
hoje constitui a parte asiática da Turquia, mas as cidades de Esmirna e Quio também
reivindicavam a honra de terem sido seu berço. Até mesmo as fontes antigas sobre o
poeta contêm numerosas contradições, e a única coisa que se sabe com certeza é que
os gregos atribuíam a ele a autoria dos dois poemas. A tradição lhe atribuiu também a
coleção dos 34 Hinos homéricos, dos quais procede a imagem lendária de Homero
como poeta cego, mas que depois constatou-se serem de fins do século VII a.C. Os
maiores especialistas gregos não admitem que tenha sido Homero o autor de obras
como o desaparecido poema Margites ou a paródia épica Batracomiomaquia. As
muitas lendas e a escassa confiabilidade dos dados biográficos sobre Homero fizeram
com que já no século XVIII muitos questionassem até mesmo a existência do poeta. As
diferenças de tom e estilo entre a Ilíada e a Odisséia levaram alguns críticos a aventar
a hipótese de que poderiam ter resultado da recomposição de poemas anteriores, ou
de que teriam sido criadas por autores diferentes. Todas essas dúvidas constituem a
chamada "questão homérica", e permanecem abertas à discussão. Os pontos em que
há maior concordância dos estudiosos são: a Ilíada é anterior à Odisséia; quase com
certeza os dois poemas foram compostos no século VIII a.C., cerca de três séculos
após os fatos narrados; foram originalmente escritos em dialeto jônio, com numerosos
elementos eólios - o que confirma a origem jônica de Homero; pertenciam à tradição
épica oral, pelo menos no que se refere às técnicas empregadas, já que existem
opiniões divergentes quanto ao emprego ou não da escrita pelo autor. A versão na
forma escrita, tal como se conhece hoje, teria sido feita em Atenas durante o século VI
a.C., se bem que a divisão de cada poema em 24 cantos corresponderia aos eruditos
alexandrinos do Período Helenístico. No decorrer desse período teriam sido
introduzidas várias interpolações. Com base nesses dados, todos mais ou menos
hipotéticos, deduziram-se alguns dados básicos sobre Homero e sua obra. Tanto a
Ilíada como a Odisséia apresentam diversas inconsistências internas, como alusões a
técnicas e equipamentos de combate que existiram em épocas diferentes. Tais
inconsistências, porém, poderiam ser explicadas pelo fato de o poeta, se é que
realmente existiu, ter utilizado materiais anteriores e por terem sido provavelmente
incorporados alguns outros. Quanto à existência de um autor único para a Ilíada, a
mais antiga das duas obras, argumenta-se que embora seja evidente a existência de
poemas épicos orais anteriores sobre os mesmos temas, não parece haver existido
nenhum de extensão sequer aproximada, nem dotado de tal complexidade estrutural.
Tal constatação indicaria a existência de um criador individual, que deu uma nova
estrutura aos temas tradicionais e integrou-os em sua visão pessoal da realidade. Os
que negam a autoria comum de ambas as obras argumentam que a primeira foi
composta em tom mais heróico e tradicional e que a segunda tende mais para a ironia
e a imaginação. Acrescentam ainda o emprego de um léxico posterior na Odisséia. Já
a tese que defende a autoria única baseia-se na afirmação de Aristóteles, de que a
Ilíada seria uma obra da juventude de Homero, enquanto a Odisséia teria sido
composta na velhice, quando o poeta decidiu redigir a segunda obra como
complemento da primeira e ampliação de sua perspectiva. Ambas as obras têm
características comuns absolutamente inovadoras, como a visão antropomórfica dos
deuses, a confrontação entre os ideais heróicos e as fraquezas humanas e o desejo de
oferecer um reflexo integrador dos ideais e valores da emergente sociedade helênica.
Esses argumentos, somados à mestria técnica evidente nos dois poemas, favorecem a
conclusão de que o autor da Ilíada, esse grande poeta jônico a quem os gregos
chamavam Homero, foi também o autor, ou principal inspirador da Odisséia. Ao mesmo
tempo em que refletiram luminosamente a antiguidade mais remota da civilização
grega, os poemas homéricos projetaram-na adiante com tamanha originalidade e
riqueza que ela se faria presente nas mais diversas manifestações da arte, da literatura
e da civilização do Ocidente. Inúmeros poetas partiram de sua influência, inúmeros
artistas se impregnaram de sua fortuna criativa, seu colorido e suas situações, que se
tornaram símbolo e síntese de toda a aventura humana na Terra, a ponto de o nome de
um poeta cuja existência mesma não se pode provar passar a confundir-se com a
própria poesia. Quanto à morte de Homero, a versão mais aceita é de que teria
ocorrido em uma das ilhas Cíclades
DIONISO

O festival de tragédias da Grande Dionisíaca, celebração primaveril ao deus grego


Dioniso pelo retorno da fertilidade da terra após o inverno, deu origem à arte dramática.
Dioniso, divindade do vinho e da embriaguez, era na origem deus da vegetação,
cultuado na Trácia e na Frígia. Segundo a tradição clássica, era filho do deus Zeus
com Sêmele, filha mortal do rei de Tebas. Enciumada, Hera, esposa de Zeus,
persuadiu Sêmele a pedir a ele que se mostrasse em todo o esplendor de sua
majestade. Sêmele morreu fulminada pelos raios emitidos por Zeus, mas este salvou o
filho que ela trazia no ventre e enxertou-o em sua própria coxa. Quando Dioniso
nasceu, para protegê-lo de Hera, Zeus enviou-o a Nisa, onde cresceu e descobriu a
vide e o fabrico do vinho. Depois realizou numerosas viagens para expandir seu culto e
ensinar aos homens a arte da vinicultura. Antes de subir ao Olimpo, desceu aos
infernos para buscar a mãe e levou-a consigo. Em Roma, Dioniso foi identificado com
Baco. As bacanais, rituais equivalentes às dionisíacas gregas, foram suprimidas em
186 a.C.
ZEUS

Como divindade suprema do Olimpo, chamado "pai dos deuses e dos homens", Zeus
simbolizava a ordem racional da Civilização Helênica. Zeus é o personagem
mitológico que, segundo Hesíodo e outros autores, nasceu de Réia e de Cronos, o
qual engolia os filhos para evitar que se cumprisse a profecia de que um deles o
destronaria. Após o nascimento de Zeus, Réia ocultou a criança numa caverna, em
Creta, e deu uma pedra envolta em faixas para o marido engolir. Quando chegou à
idade adulta, Zeus obrigou o pai a vomitar todos os seus irmãos, ainda vivos, e o
encerrou sob a terra. Transformou-se então no novo senhor supremo do cosmo, que
governava da morada dos deuses, no cume do Monte Olimpo. A esposa de Zeus foi
sua irmã Hera, mas ele teve numerosos amores com deusas e mulheres mortais, que
lhe deram vasta descendência. Entre as imortais, contam-se Métis, que Zeus engoliu
quando grávida para depois extrair Atena da própria cabeça; Leto, que gerou Apolo e
Ártemis; Sêmele, mãe de Dioniso; e sua irmã Deméter, que deu à luz Perséfone.
Com Hera concebeu Hefesto, Hebe e Ares. O deus assumia com freqüência formas
zoomórficas - cisne, touro - ou de nuvem ou chuva, em suas uniões com mortais, que
deram origem a uma estirpe ímpar de heróis, como os Dióscuros (Castor e Pólux),
Héracles (Hércules) e outros que ocupam lugar central nos ciclos lendários. Os
templos e estátuas em honra a Zeus dominavam todas as grandes cidades, embora
seu culto fosse menos popular do que o das respectivas divindades locais. Era
representado comumente como homem forte e barbado, de aspecto majestoso, e com
essa imagem foi adotado pelos Romanos, que o identificaram com Júpiter.

DEMÉTER

Na Grécia Antiga, a deusa Deméter e sua filha, Perséfone, eram cultuadas nos
mistérios de Elêusis, rituais secretos em que se agradeciam a fecundidade da terra e
as colheitas. Deméter, deusa grega da agricultura, era filha de Cronos e Réia e mãe
de Perséfone, que a ajudava nos cuidados da terra, e de Pluto, deus da riqueza.
Perséfone foi raptada por Hades, que a levou para os Infernos e a esposou.
Desesperada com o desaparecimento da filha, Deméter saiu a sua procura e, durante a
viagem, passou pela cidade de Elêusis, onde foi hospitaleiramente recebida. Em
agradecimento, revelou aos habitantes seus ritos secretos. A terra abandonada,
entretanto, tornava-se estéril e os alimentos começavam a escassear. Preocupado com
a difícil situação dos mortais, Zeus convenceu Hades a permitir que Perséfone
passasse o outono e o inverno nos Infernos e regressasse para junto da mãe na
primavera. Assim, Deméter simbolizou a terra cultivável, produtora da semente -
Perséfone - que há de fecundá-la periodicamente. Em Elêusis celebravam-se os
mistérios, ou ritos secretos, em que Deméter figurava como deusa da fertilidade e
Perséfone como encarnação do ciclo das estações. Na Mitologia Romana, Deméter
foi identificada com Ceres.
ATENA

Embora a mitologia lhe reservasse várias atribuições, em todas elas Atena


personificava a serenidade e a sabedoria características do espírito grego. Zeus,
segundo a Mitologia Grega, para evitar o cumprimento de uma profecia, engoliu sua
amante grávida, a Oceânide Métis. Depois ordenou a Hefesto que lhe abrisse a
cabeça com um golpe de machado e dela nasceu Atena, já armada. Acredita-se que
ela era originalmente a deusa-serpente cretense, protetora do lar. Adotada pelos
micênicos belicosos, seu caráter tutelar completou-se com o de guerreira. Finalmente,
transformou-se na deusa protetora de Atenas e outras cidades da Ática. Como todos
os deuses do Olimpo, Atena tinha um caráter dual: simbolizava a guerra justa e
possuía uma disposição pacífica, representando a preponderância da razão e do
espírito sobre o impulso irracional. Em Atena residia a alma da cidade e a garantia de
sua proteção. Na tragédia Eumênides, Ésquilo deu expressão acabada à figura sábia e
prudente de Atena, atribuindo-lhe a fundação do Areópago, conselho de Atenas. O mito
afirma que Atena inventou a roda do oleiro e o esquadro empregado por carpinteiros e
pedreiros. As artes metalúrgicas e os trabalhos femininos estavam sob sua proteção; o
culto a Atena se baseava no amor ao trabalho e à cidade. Seu principal templo, o
Pártenon, ficava em Atenas, onde anualmente celebravam-se em sua honra as
Panatenéias e davam-lhe o nome de Atena Partênia. Foi representada por Fídias na
célebre estátua do Pártenon, de que se conserva uma cópia romana do século II da era
cristã. Os relevos desse templo apresentam sua imagem guerreira, com capacete,
lança, escudo e couraça. Os romanos assimilaram-na à deusa Minerva (que, com
Juno e Júpiter, compunha a tríade capitolina) e acentuaram ainda mais seu caráter
espiritual, como símbolo da justiça, trabalho e inteligência.

ÁRTEMIS

A atribuição a Ártemis de traços de deidades pré-helênicas e cretenses mais antigas


conferiu-lhe uma imagem multifacetada e ambígua. Na mitologia grega, Ártemis era
filha de Zeus e de Leto e irmã gêmea de Apolo. Tida como virgem e defensora da
pureza, era também protetora das parturientes e estava ligada a ritos de fecundidade;
embora fosse em essência uma deusa caçadora, encarnava as forças da natureza e
tutelava as ninfas, os animais selvagens e o mundo vegetal. Cultuada sobretudo nas
áreas rurais, na Ática enfatizou-se seu caráter de "senhora das feras", na ilha de
Eubéia foi considerada protetora dos rebanhos e no Peloponeso reconheceu-se seu
domínio sobre o reino vegetal e ela foi associada à água vivificante. Apesar dessa
imagem protetora, Ártemis exibia facetas cruéis: matou o caçador Órion; condenou à
morte a ninfa Calisto por deixar-se seduzir por Zeus; transformou Acteão em cervo para
ser despedaçado por sua própria matilha e, com Apolo, exterminou os filhos de Níobe e
Anfião, para vingar uma suposta afronta. Suas ocupações principais eram a caça e a
dança, no que se fazia acompanhar das Ninfas. Ártemis tinha diversas representações.
As cópias de sua estátua no templo de Éfeso, uma das maravilhas do mundo antigo,
correspondem ao modelo das chamadas deusas-mães e apresentam muitos seios,
símbolo de fecundidade. Na Grécia clássica foi representada com longa túnica e arco
retesado, enquanto na época helenística exibia túnica curta e aljava, seguida por uma
matilha ou um filhote de cervo. Essa imagem foi também a mais comum em Roma, que
identificou Ártemis com Diana.

Pã, cujo nome em grego significa "tudo", assumiu de certa forma o caráter de símbolo
do mundo pagão e nele era adorada toda a natureza. Na mitologia grega, Pã era o
deus dos caçadores, dos pastores e dos rebanhos. Representado por uma figura
humana com orelhas, chifres, cauda e pernas de bode, trazia sempre uma flauta, a
"flauta de Pã", que ele mesmo fizera, aproveitando o caniço em que se havia
transformado a ninfa Siringe. Sobre seu nascimento há várias versões: dão-no como
filho de Zeus ou de Hermes, também como filho do Ar e de uma nereida, ou filho da
Terra e do Céu. Teve muitos amores, os mais conhecidos com as ninfas Pítis e Eco,
que, por abandoná-lo, foram transformadas, respectivamente, em pinheiro e em uma
voz condenada a repetir as últimas palavras que ouvia. Segundo a tradição, seu culto
foi introduzido na Itália por Evandro, filho de Hermes, e em sua honra celebravam-se as
lupercais. Em Roma, foi identificado ora com Fauno, ora com Silvano. A respeito de Pã,
Plutarco relata um episódio de enorme repercussão em Roma ao tempo do imperador
Tiberius. O piloto Tamo velejava pelo mar Egeu quando, certa tarde, o vento cessou e
sobreveio longa calmaria. Uma voz misteriosa chamou por ele três vezes. Aconselhado
pelos passageiros, Tamo indagou à voz o que queria, ao que esta lhe ordenou que
navegasse até determinado local, onde deveria gritar: "O grande Pã morreu!".
Tripulantes e passageiros persuadiram-no a cumprir a ordem, mas quando Tamo
proclamou a morte de Pã ouviram-se gemidos lancinantes de todos os lados. A notícia
se espalhou e Tiberius reuniu sábios para que decifrassem o enigma, que não foi
explicado. A narrativa de Plutarco tem sido interpretada como o anúncio do fim do
mundo romano e do advento da era cristã.

ALEXANDRE O GRANDE
A poderosa figura de Alexandre III pertence ao reduzido grupo de homens que
definiram o curso da história humana. Seu gênio militar se impôs sobre o império persa
e assentou as bases da frutífera Civilização Helenística. Alexandre III nasceu em 356
a.C. no palácio de Pella, Macedônia. Filho do rei Felipe II, cedo se destacou como um
rapaz inteligente e intrépido. Quando o príncipe tinha 13 anos, seu pai incumbiu um dos
homens mais sábios de sua época, Aristóteles, de educá-lo. Alexandre aprendeu as
mais variadas disciplinas: retórica, política, ciências físicas e naturais, medicina e
geografia, ao mesmo tempo em que se interessava pela história grega e pela obra de
autores como Eurípides e Píndaro. Também se distinguiu nas artes marciais e na doma
de cavalos, de tal forma que em poucas horas dominou o Bucéfalo, que viria a ser sua
inseparável montaria. Alexandre percebeu que o animal temia a própria sombra e
voltou-o contra o sol, conseguindo desta maneira doma-lo. Na arte da guerra recebeu
lições do pai, militar experiente e corajoso, que lhe transmitiu conhecimentos de
estratégia e lhe inculcou dotes de comando. O enérgico e bravo jovem teve
oportunidade de demonstrar seu valor aos 18 anos, quando, no comando de um
esquadrão de cavalaria, venceu o batalhão sagrado de Tebas na Batalha de Queronéia
em 338 a.C. Depois do assassinato de seu pai em 336 a.C., Alexandre subiu ao trono
da Macedônia e se dispôs a iniciar a expansão territorial do reino. Para tão árdua
empreitada contou com poderoso e organizado exército, dividido em infantaria, cuja
principal arma era a zarissa (lança de grande comprimento) e cavalaria, que constituía
a base do ataque.
Busto de Alexandre III.
Imediatamente depois de subir ao trono, Alexandre enfrentou uma sublevação de
várias cidades gregas e as incursões realizadas no norte de seu reino pelos Trácios e
Ilírios, aos quais logo dominou. Em contrapartida, na Grécia, a cidade de Tebas opôs
grande resistência, o que o obrigou a um violento ataque no qual morreram milhares de
tebanos. Pacificada a Grécia, o jovem rei elaborou seu mais ambicioso projeto: a
conquista do Império Persa, a mais assombrosa campanha da antigüidade. Em 334
a.C. cruzou o Helesponto, e já na Ásia avançou até o Rio Granico, onde enfrentou os
persas pela primeira vez e alcançou importante vitória. Em Sardes, na Lídia, de posse
de seu tesouro, Alexandre construiu um templo a Zeus, no local do antigo palácio real
do rei Croesus. Zeus, o Deus padroeiro da Macedônia, encontra-se no reverso de
quase toda cunhagem de prata de Alexandre, sentado no trono e segurando uma
águia, segundo a famosa Estátua de Fídias em Olímpia. O verso traz Hércules com
seu capuz de máscara de leão morto em Neméia. À medida que as fontes de
cunhagem marchavam para leste, o Zeus, esculpido por operários não gregos, torna-se
crescentemente vago e o Hércules cada vez mais parecido com Alexandre.
Alexandre III em batalha contra os persas apresentado em mosaico romano.
Alexandre prosseguiu triunfante em sua jornada, arrebatando cidades aos persas, até
chegar a Górdia, onde cortou com a espada o "Nó Górdio", o que, segundo a lenda, lhe
assegurava o domínio da Ásia. Ante o irresistível avanço de Alexandre, o rei dos
persas, Dario III, foi a seu encontro. Na Batalha de Isso em 333 a.C. consumou-se a
derrota dos persas e começou o ocaso do grande império. Em seguida, o rei
macedônio empreendeu a conquista da Síria em 332 a.C. e entrou no Egito. O sonho
de Alexandre, de unir a cultura oriental à ocidental, começou a concretizar-se. O rei da
Macedônia iniciou um processo pessoal de orientalização ao tomar contato com a
civilização egípcia. Respeitou os antigos cultos aos deuses egípcios e até se
apresentou no santuário do Oásis de Siwa, onde foi reconhecido como filho de Amon e
sucessor dos faraós. Em 332 a.C. fundou Alexandria, cidade que viria a converter-se
num dos grandes focos culturais da antigüidade. Depois de submeter a Mesopotâmia,
Alexandre enfrentou novamente Dario na Batalha de Gaugamela em 331a.C., cujo
resultado determinou a queda definitiva da Pérsia em poder dos macedônios. Morto
Dario em 330a.C., Alexandre foi proclamado rei da Ásia e sucessor da dinastia persa.
Seu processo de orientalização se acentuou com o uso do selo de Dario, da tiara persa
e do cerimonial teocrático da corte oriental. Além disso, no ano 328 contraiu matrimônio
com Roxana, filha do sátrapa da Bactriana, com quem teve um filho de nome
Alexandre IV.
Mapa contendo todo o trajeto feito por Alexandre III durante o seu reinado.
A tendência à fusão das duas culturas gerou desconfianças entre seus oficiais
macedônios e gregos, que temiam um excessivo afastamento dos ideais helênicos por
parte de seu monarca. Nada impediu Alexandre de continuar seu projeto imperialista
em direção ao Oriente. Em 327 a.C. dirigiu suas tropas para a longínqua Índia, país
mítico para os gregos, no qual fundou colônias militares e cidades, entre as quais
Nicéia e Bucéfala, esta erigida em memória de seu cavalo, às margens do Rio Hidaspe.
Ao chegar ao Rio Bias, suas tropas, cansadas de tão dura viagem, se negaram a
continuar. Alexandre decidiu regressar à Pérsia, viagem penosa no qual foi ferido
mortalmente e acometido de febres desconhecidas, que nenhum de seus médicos
soube curar. Alexandre morreu na Babilônia, a 13 de junho de 323 a.C., com a idade
de 33 anos. O império que com tanto esforço edificou, e que produziu a harmoniosa
união do Oriente e do Ocidente, começou a desmoronar, já que só um homem com
suas qualidades poderia governar território tão amplo e complexo, mescla de povos e
culturas muito diferentes. Seu império foi dividido por seus generais: Seleucos I fundou
a Dinastia Seleucida na região da Síria; Ptolomeu I fundou a Dinastia Ptolomaica no
Egito; Lisimacos se apoderou da região da Trácia e Felipe III da Macedônia e Grécia.
Depois de sua morte prematura, a influência da civilização grega no Oriente e a
orientalização do mundo grego alcançaram sua mais alta expressão no que se conhece
sob o nome de helenismo, fenômeno cultural, político e religioso que se prolongou até
os tempos de Roma.

HELENISMO

A era helenística marcou a transição da civilização grega para a romana, em que


inoculou sua força cultural. Não se encontra nela o esplendor literário e filosófico do
período áureo da Grécia, mas divisa-se um grande surto da ciência e da erudição.
Chama-se civilização helenística a que se desenvolveu fora da Grécia, sob influxo do
espírito grego. Esse período histórico medeia entre 323 a.C., data da morte de
Alexandre III (Alexandre o Grande), cujas conquistas militares levaram a civilização
grega até a Anatólia e o Egito, e 30 a.C., quando se deu a conquista do Egito pelos
romanos. Grande parte do Oriente Antigo foi então helenizado e assistiu-se a uma
fusão da cultura grega, revitalizada nas áreas conquistadas, com as tradições políticas
e artísticas do Egito, Mesopotâmia e Pérsia. Depois da morte de Alexandre, a
transmissão da cultura grega persistiu nos grandes centros urbanos, embora sofresse
influência dos costumes orientais. A tentativa de Antígonos, um dos mais antigos
generais de Alexandre, de manter intacto o império conquistado pelo guerreiro
macedônio, fracassou após a Batalha de Ipso, na Frígia (302 a.C.). A partilha do
império foi feita entre três generais: Seleucos I Nicator, Ptolomeu I e Lisímacos. As
lutas, entretanto, continuaram, e vinte anos depois o império foi dividido em três
estados independentes: o reino do Egito ficou com os Lágidas, descendentes de
Ptolomeu; o da Síria, com os Selêucidas, descendentes de Seleucos; e o da
Macedônia coube aos antigônidas, descendentes de Antígonos.

Alexandria, no Egito, com 500.000 habitantes, tornou-se a metrópole da civilização


helenística. Foi um importante centro das artes e das letras, e a própria literatura grega
tem uma fase chamada "alexandrina". Lá existiram as mais importantes instituições
culturais da civilização helenística: o Museu, espécie de universidade de sábios, dotado
de Jardim Botânico, Zoológico e Observatório Astronômico; e a Biblioteca, com
200.000 volumes, salas de copistas e oficinas para preparo do Papiro. O Reino
Egípcio só terminou com a conquista de Otavius, no reinado de Cleópatra. O reino da
Síria abrangia quase todo o antigo império persa até o Rio Indo. A capital era Antioquia,
outro grande centro da cultura helenística, perto da foz do Orontes, no Mediterrâneo.
Os selêucidas, entretanto, não puderam manter a unidade de seu vasto império, que
acabou conquistado pelos romanos no século I a.C. Já o reino da Macedônia teve de
enfrentar a luta das cidades gregas, ciosas da defesa de sua autonomia, e acabou
incorporado ao Império Romano. Do ponto de vista cultural, o período compreendido
entre 280 e 160 a.C. foi excepcional. Tiveram grande desenvolvimento a história, com
Polibius; a matemática e a física, com Euclides, Eratostenes e Arquimedes; a
astronomia, com Aristarcus, Hiparcus, Seleucus e Heráclides; a geografia, com
Posidonius; a medicina, com Herofilus e Erasistratus; e a gramática, com Dionisius
Tracius. Na literatura, surgiu um poeta extraordinário, Teocritus, cujas poesias idílicas e
bucólicas exerceram grande influência. O pensamento filosófico evoluiu para o
individualismo moralista de Epicuristas e Estóicos, e as artes legaram à posteridade
algumas das obras-primas da antigüidade, como a Vênus de Milo, a Vitória de
Samotrácia e o grupo do Laocoonte. À medida que o Cristianismo avançava, a
civilização helenística passou a representar o espírito pagão que resistia à nova
religião. O espírito grego não desapareceu com a vitória dos valores cristãos; seria,
doze séculos depois, uma das linhas de força do Renascimento.
ASCLÉPIO/ESCULÁPIO

O culto a Asclépio/Esculápio, deus greco-romano da medicina, teve muito prestígio no


mundo antigo, quando seus santuários converteram-se em sanatórios. Os textos
primitivos não concediam caráter divino a Esculápio, que os gregos chamavam
Asclépio. Homero o apresenta na Ilíada como um hábil médico e Hesíodo e Píndaro
descrevem como Zeus o fulminou com um raio, por pretender igualar-se aos deuses e
tornar os homens imortais. Com o tempo, passou a ser considerado um deus, filho de
Apolo e da mortal Corônis, com o poder de curar os enfermos. Seu templo mais
famoso era o de Epidauro, no Peloponeso, fundado no século VI a.C. O teatro dessa
cidade foi construído para acolher os peregrinos que acorriam para a festa em honra de
Esculápio, a Epidauria. Era também patrono dos médicos e sua figura aparecia nos
ritos místicos de Elêusis. Seu culto foi iniciado em Roma por ordem das profecias
sibilinas, conjunto de oráculos do ano 293 a.C. Na época clássica, Esculápio era
representado, quer sozinho, quer com sua filha Higia (a saúde), como um homem
barbudo, de olhar sereno, com o ombro direito descoberto e o braço esquerdo apoiado
em um bastão, o caduceu, em volta do qual se enroscam duas serpentes, e que se
transformou no símbolo da medicina.

CRONOS
A figura enigmática de Cronos representou, na mitologia, um claro exemplo dos
conflitos religiosos e culturais surgidos entre os gregos e os povos que habitavam a
península helênica antes de sua chegada. Cronos era um deus da mitologia pré-
helênica ao qual se atribuíam funções relacionadas com a agricultura. Mais tarde, os
gregos o incluíram em sua Cosmogonia, mas lhe conferiram um caráter sinistro e
negativo. Na mitologia grega, Cronos era filho de Urano (o céu) e de Gaia ou Gê (a
terra). Incitado pela mãe e ajudado pelos irmãos, os Titãs, castrou o pai - o que
separou o céu da terra - e tornou-se o primeiro rei dos deuses. Seu reinado, porém, era
ameaçado por uma profecia segundo a qual um de seus filhos o destronaria. Para que
não se cumprisse esse vaticínio, Cronos devorava todos os filhos que lhe dava sua
mulher, Réia, até que esta conseguiu salvar Zeus. Este, quando cresceu, arrebatou o
trono do pai, conseguiu que ele vomitasse os outros filhos, ainda vivos, e o expulsou do
Olimpo, banindo-o para o Tártaro, lugar de tormento. Segundo a tradição clássica,
Cronos simbolizava o tempo e por isso Zeus, ao derrotá-lo, conferira a imortalidade aos
deuses. Era representado como um ancião empunhando uma foice e freqüentemente
aparecia associado a divindades estrangeiras propensas a sacrifícios humanos. Os
romanos assimilaram Cronos a Saturno e dizia-se que, ao fugir do Olimpo, ele levara a
agricultura para Roma, com o que recuperava suas primitivas funções agrícolas. Em
sua homenagem, celebravam-se as saturnálias, festas rituais relacionadas com a
colheita.

ÉOLO
A mitologia grega apresenta três personagens com o mesmo nome de Éolo, cujas
tradições se confundem, o que acarreta certa confusão para essa figura. Um dos heróis
com o nome de Éolo é o rei mítico da Magnésia, na Tessália, filho de Helena e pai de
Sísifo. Foi o ancestral dos eólios e deu nome à terra em que viviam, a Eólia, na costa
oeste da Anatólia. Seus filhos Cânace e Macareu cometeram incesto e depois se
suicidaram. A história deles serviu de tema à tragédia Éolo, de Eurípides, que se
perdeu. O segundo personagem de nome Éolo é neto do mesmo rei da Magnésia e
filho do deus Posêidon com Melanipe. Quando esta deu à luz gêmeos, seu pai
mandou cegá-la, prendeu-a num calabouço e expôs as crianças à intempérie. Teano,
esposa do rei da Icária, ameaçada de abandono pelo marido por não conceber,
acolheu os dois, mas pouco depois deu também à luz gêmeos. Mais tarde, sugeriu aos
filhos legítimos que matassem Éolo e Beoto, mas como estes eram filhos de um deus,
levaram a melhor e mataram os filhos de Teano. O rei, que preferia os adotivos, soube
da verdadeira história, mandou matar Teano e casou-se com Melanipe. Homero, na
Odisséia, fala de um Éolo, filho de Posêidon. Rei dos ventos, acolheu Ulisses em sua
ilha e deu-lhe um odre, em que guardava os ventos adversos. Em liberdade ficou
apenas Zéfiro, que soprava suavemente sobre as velas das naus. Enquanto Ulisses
dormia, seus companheiros, à procura de vinho e de ouro, abriram o odre e
desencadearam uma tormenta que acabou por devolvê-los à Eólia. Esse episódio levou
Éolo a pensar que os deuses perseguiam Ulisses e seus companheiros e, por isso,
negara-lhes ajuda para prosseguir viagem
EROS

Ignorado por Homero, Eros aparece pela primeira vez na Teogonia de Hesíodo, que o
descreve como o mais belo dos imortais, capaz de subjugar corações e triunfar sobre o
bom senso. Deus grego do amor e do desejo, Eros encerrava, na mitologia primitiva,
significado mais amplo e profundo. Ao fazê-lo filho do Caos, vazio original do universo,
a tradição mais antiga apresentava-o como força ordenadora e unificadora. Assim ele
aparece na versão de Hesíodo e em Empédocles, pensador pré-socrático. Seu poder
unia os elementos para fazê-los passar do caos ao cosmos, ou seja, ao mundo
organizado. Em tradições posteriores era filho de Afrodite e de Zeus, Hermes ou
Ares, segundo as diferentes versões. Platão descreveu-o como filho de Poro
(Expediente) e Pínia (Pobreza), daí que a essência do amor fosse "sentir falta de",
busca constante, em perpétua insatisfação. Seu irmão Ânteros, também filho de
Afrodite, era o deus do amor mútuo e, às vezes, oponente e moderador de Eros.
Artistas de várias épocas representaram com freqüência o episódio da relação de Eros
com Psiqué, que simboliza a alma e constitui uma metáfora sobre a espiritualidade
humana. Em Roma, Eros foi identificado com Cupido. Inicialmente representavam-no
como um belo jovem, às vezes alado, que feria os corações dos humanos com setas.
Aos poucos, os artistas foram reduzindo sua idade até que, no Período Helenístico, a
imagem de Eros é a representação de um menino, modelo que foi mantido no
Renascimento.
GAIA

O nome Gaia, Géia ou Gê, é utilizado como prefixo para designar as diversas ciências
relacionadas com o estudo do planeta. A deusa foi também a propiciadora dos sonhos
e a protetora da fecundidade. Na mitologia grega, Gaia é a personificação da Terra
como deusa. Uma das primeiras divindades a habitar o Olimpo, nasceu imediatamente
depois do Caos. Sem intervenção masculina, gerou sozinha Urano (o Céu), as
Montanhas e o Ponto (o Mar). Formou com Urano o primeiro casal divino e dessa união
nasceram os Titãs, os Ciclopes e os Hecatonquiros, gigantes de cinqüenta cabeças e
cem braços. Urano detestava os filhos e, logo após seu nascimento, encerrava-os no
Tártaro. Revoltada com esse procedimento, Gaia decidiu armar um dos filhos, Cronos,
com uma foice. Quando, na noite seguinte, Urano se uniu a Gaia, Cronos atacou-o e
castrou-o, separando assim o Céu e a Terra. Cronos lançou os testículos de Urano ao
mar, mas algumas gotas caíram sobre Gaia, fecundando-a. Desse contato, nasceram
as Erínias (identificadas, na mitologia latina, com as Fúrias). Gaia, na mitologia
clássica, personificava a origem do mundo, o triunfo e ordenamento do cosmos frente
ao caos, a propiciadora dos sonhos, a protetora da fecundidade e dos jovens.
HADES

As escassas referências a Hades nas lendas gregas, em comparação com os outros


grandes deuses, revelam o temor que essa divindade infundia ao povo. Hades era filho
de Cronos e de Réia, irmão de Zeus e de Poseidon. Destronado Cronos, coube a
Hades o mundo subterrâneo, na partilha que os três irmãos fizeram entre si. Reinava,
em companhia de sua esposa Perséfone, sobre as forças infernais e sobre os mortos,
no que freqüentemente se denominava "a morada de Hades" ou apenas Hades.
Embora supervisionasse o julgamento e a punição dos condenados após a morte,
Hades não era um dos juízes nem torturava pessoalmente os culpados, tarefa que
cabia às Erínias. Era descrito como austero e impiedoso, insensível a preces ou
sacrifícios, intimidativo e distante. Invocava-se Hades geralmente por meio de
eufemismos, como Clímeno (o Ilustre) ou Eubuleu (o que dá bons conselhos). Seu
nome significa, em grego, "o invisível", e era geralmente representado com o capacete
que lhe dava essa faculdade. O nome Plutão ("o rico" ou "o distribuidor de riqueza"),
que se tornou corrente na religião romana, era também empregado pelos gregos.
HEFESTO

A figura de Hefesto, apesar de ser motivo freqüente de escárnio nas lendas gregas, foi
muito venerada pelas dádivas por ele concedidas aos mortais. Hefesto, na mitologia
grega, era o deus do fogo. Filho de Hera e de Zeus, teria nascido feio e coxo. A mãe,
envergonhada, o jogara do Olimpo ao mar. Foi recolhido pela titânia Tétis, que o
educou na ilha de Lemnos. De volta ao Olimpo, esposou, por ordem de Zeus, Afrodite,
a mais bela das deusas. Como deus do fogo, Hefesto tornou-se o ferreiro divino e
instalou suas forjas no centro dos vulcões. Ali fabricou os raios de Zeus, o tridente de
Poseidon, a couraça de Héracles, as flechas de Apolo e as armas de Aquiles.
Confeccionou também uma rede invisível em que aprisionou os amantes Afrodite e
Ares para expô-los ao ridículo diante dos outros deuses e se vingar das traições da
esposa. Patrono dos ferreiros e dos artesãos em geral, é responsável, segundo a
lenda, pela difusão da arte de usar o fogo e da metalurgia. Era geralmente
representado como um homem de meia-idade, barbado, vestido com uma túnica sem
mangas e com um gorro sobre o cabelo desgrenhado. Apresenta muitas semelhanças
com o deus Vulcano, da mitologia romana.
HÉLIO

O famoso Colosso de Rodes, escultura em bronze erguida no século III a.C. e


considerada uma das sete maravilhas do mundo antigo, era uma estátua de Hélio,
representado como um belo jovem coroado de raios resplandecentes. Hélio, na
mitologia grega, era a representação divina do Sol. Filho de Hipérion, era neto de
Urano e de Gaia (o Céu e a Terra), irmão de Eos, a Aurora, e de Selene, a Lua.
Percorria o céu todos os dias, de leste para oeste, num carro flamejante puxado por
quatro corcéis, para levar luz e calor aos homens. Faetonte, filho de Hélio e de
Clímene, morreu ao tentar conduzir o carro do Sol, quando buscava provar sua
ascendência divina. Narra a mitologia que a ninfa Clítia, apaixonada por Hélio e por ele
desprezada, foi transformada por Apolo em heliotrópio, flor que gira ao longo do dia
sobre seu caule, voltada sempre para o Sol, ou a conhecida flor Girassol. Na Grécia
clássica, Hélio foi cultuado em Corinto e sobretudo em Rodes, ilha que lhe pertencia e
onde era considerado o deus principal, honrado anualmente com uma grande festa
HERA

As crises de ciúme provocadas pela infidelidade de seu esposo, Zeus, marcaram o


comportamento da deusa grega Hera em muitos episódios da mitologia. Hera, na
mitologia grega, era filha de Cronos e Réia, irmã e esposa de Zeus. Venerada como
rainha dos deuses em Esparta, Samos, Argos e Micenas, tinha entre as duas últimas
cidades um templo famoso por abrigar uma bela estátua sua, esculpida em ouro e
marfim por Policleto. Embora, na lenda, Hera figure como deusa da vegetação, foi em
geral considerada rainha do empíreo - o céu - e protetora da vida e da mulher. Esta
última característica tornava-a também protetora da fecundidade e do matrimônio, pelo
que recebeu o nome de Ilítia, atribuído em outras ocasiões a uma filha sua. Foram
também seus filhos Hebe, a juventude florida; Ares, deus da guerra; e Hefesto, deus
ferreiro. O ciúme despertado pelas constantes infidelidades de Zeus levou-a a
perseguir encarniçadamente as amantes do marido e os filhos oriundos dessas uniões
de Zeus. Hera intervém com muita freqüência nos assuntos humanos: protegeu os
aqueus na guerra de Tróia e velou, igualmente, pelos argonautas, para que seu barco
passasse sem perigo pelos temíveis rochedos de Cila e Caribde. Seus atributos são o
cetro e o diadema, o véu (associado à mulher casada) e o pavão (símbolo da
primavera). Na Mitologia Romana, Hera foi identificada com a deusa Juno.
HERMES

A figura do deus Hermes era motivo de grande veneração entre os gregos, que o
consideravam um benfeitor e defensor da humanidade perante os deuses do Olimpo.
Hermes, na mitologia grega, era filho de Zeus e da ninfa Maia. Reverenciado como
deus da fertilidade, tinha o centro de seu culto na Arcádia, onde se acreditava que
tivesse nascido. Seu nome tem origem, provavelmente, em herma, palavra grega que
designava os montes de pedra usados para indicar os caminhos. Considerado protetor
dos rebanhos, era freqüentemente associado a divindades da vegetação, como Pã e as
ninfas. Entre suas várias atribuições incluíam-se as de mensageiro dos deuses;
protetor das estradas e viajantes; condutor das almas ao Hades; deus da fortuna, da
eloqüência e do comércio; patrono dos ladrões e inventor da lira. Era também o deus
dos sonhos, a quem os gregos ofereciam a última libação antes de dormir. Nas
representações mais antigas, aparece como um homem adulto, com barba, vestido
com uma túnica longa, ou com a imagem de um pastor, com um carneiro sobre os
ombros. Foi posteriormente representado como um jovem atlético e imberbe, com
capacete alado, asas nos pés e, nas mãos, o caduceu - bastão mágico com que
distribui fortuna. Em Roma, foi assimilado ao deus Mercúrio.
NINFAS

Fonte de inspiração da arte greco-romana, as ninfas emprestaram suas características


a seres mitológicos de culturas posteriores, como elfos, fadas e gnomos. Na mitologia
grega, ninfas eram as divindades femininas secundárias associadas à fertilidade e
identificadas de acordo com os elementos naturais em que habitavam, cuja
fecundidade encarnavam. As oceânides e as nereidas eram ninfas marinhas; as
náiades, crenéias, pegéias e limneidas moravam em fontes, rios ou lagos; as
hamadríades (ou dríades) eram protetoras das árvores; as napéias, dos vales e selvas;
e as oréades, das montanhas. Diferenciavam-se ainda muitos outros grupos. Embora
não fossem imortais, as ninfas tinham vida muito longa e não envelheciam. Benfazejas,
tudo propiciavam aos homens e à natureza. Tinham ainda o dom de profetizar, curar e
nutrir. Em geral, não se destacavam individualmente, embora algumas das mais
citadas na literatura apresentassem genealogia definida. As nereidas, por exemplo,
eram filhas do deus marinho Nereu e entre elas destacava-se Tétis, mãe do herói
Aquiles. As náiades haviam sido geradas pelo deus do rio em que viviam e com elas
foram mais tarde identificadas as ninfas da Mitologia Romana. Um tipo muito especial
de ninfas eram as melíades, nascidas do freixo - árvore que simboliza a durabilidade e
firmeza - que eram belicosas. Belas, graciosas e sempre jovens, as ninfas foram
amadas por muitos deuses, como Zeus, Apolo, Dioniso e Hermes. Quando uma ninfa
se apaixonava por um mortal, podia tanto raptá-lo, como aconteceu com Hilas; fundir-
se com ele, como Salmácis com Hermafrodito; ou se autodestruir, como fez Eco por
amor a Narciso.
PERSÉFONE

Os antigos ritos misteriosos celebrados em Elêusis, localidade da Ática, tinham no mito


grego de Perséfone seu principal motivo simbólico. Perséfone era filha de Zeus, senhor
dos deuses, e de Deméter, deusa da agricultura. Ainda era uma jovem donzela - em
grego, koré, o que explica o fato de também ser chamada de Cora - quando foi raptada
por Hades, o senhor dos mortos, que a levou para seu reino subterrâneo e a fez sua
esposa. Ao saber do rapto, Deméter ficou desesperada e descuidou-se de suas
tarefas: as terras tornaram-se estéreis e houve grande escassez de alimentos. Zeus
ordenou a Hades que devolvesse Perséfone, mas como esta comera uma semente de
romã no mundo subterrâneo não podia ficar inteiramente livre. Estabeleceu-se então
um acordo: Perséfone passaria um terço do ano com Hades. Os quatro meses ao ano
que Perséfone permanece no mundo subterrâneo correspondem à aparência árida dos
campos gregos no verão, antes que reverdeçam com as chuvas de outono. O mito
simbolizava o ciclo anual da colheita. Deméter representava a terra cultivável, de que
nascia Perséfone, a semente que brota periodicamente. O amor de Perséfone por
Adônis, relatado em outra lenda, achava-se igualmente vinculado aos rituais agrícolas.
Na mitologia romana, a deusa foi identificada com Prosérpina. O rapto de Perséfone foi
celebrado por poetas como Ovídio e também serviu de tema para diversos pintores do
Renascimento.
POSÊIDON

As tempestades que, segundo Homero, Posêidon provocou para evitar que Ulisses
(Odisseu), que o ofendera, retornasse à pátria, são um exemplo característico do
temperamento irado que a Mitologia Grega atribuía a esse deus. Posêidon (ou
Posídon), deus grego dos mares, era filho de Cronos, deus do tempo, e Réia, deusa
da fertilidade. Eram seus irmãos Zeus, o principal deus do panteão grego, e Hades,
deus dos infernos. Quando os três irmãos depuseram o pai e partilharam entre si o
mundo, coube a Posêidon o reino das águas. Seu palácio situava-se no fundo do Mar
Egeu e sua arma era o tridente, com que provocava maremotos, tremores de terra e
fazia brotar água do solo. Pai de Pégaso, o cavalo alado gerado por Medusa, esteve
sempre associado aos eqüinos e por isso se admite que tenha chegado à Grécia como
deus dos antigos helenos, que também levaram à região os primeiros cavalos. O
temperamento impetuoso de Posêidon, cuja esposa era Anfitrite, conduziu-o a
numerosos amores. Como pai de Pélias e Nereu, gerados pela princesa Tiro, era o
ancestral divino das casas reais de Tessália e Messênia. Seus outros filhos eram, na
maioria, seres gigantescos e de natureza selvagem, como Órion, Anteu e o Ciclope
Polifemo. Embora tenha perdido uma disputa com Atena pela soberania da Ática, foi
também cultuado ali. Em sua honra celebravam-se os Jogos Ístmicos, constituídos de
competições atléticas e torneios de música e poesia, realizados a cada dois anos no
istmo de Corinto. Os artistas plásticos acentuaram a ligação de Posêidon com o mar e
representaram-no como um homem forte, de barbas brancas, com um tridente na mão
e acompanhado de golfinhos e outros animais marinhos. A Mitologia Romana
identificou-o com o deus Netuno.
PROMETEU

A figura trágica e rebelde de Prometeu, símbolo da humanidade, constitui um dos mitos


gregos mais presentes na cultura ocidental. Filho de Jápeto e Clímene - ou da nereida
Ásia ou ainda de Têrmis, irmã de Cronos, segundo outras versões - Prometeu
pertencia à estirpe dos Titãs, descendentes de Urano e Gaia e inimigos dos deuses
olímpicos. O poeta Hesíodo relatou, em sua Teogonia, como Prometeu roubou o fogo
escondido no Olimpo para entregá-lo aos homens. Fez do limo da terra um homem e
roubou uma fagulha do fogo divino a fim de dar-lhe vida. Para castigá-lo, Zeus enviou-
lhe a bonita Pandora, portadora de uma caixa que, ao ser aberta, espalharia todos os
males sobre a Terra. Como Prometeu resistiu aos encantos da mensageira, Zeus o
acorrentou a um penhasco, onde uma águia devorava diariamente seu fígado, que se
reconstituía. Lendas posteriores narram como Hércules matou a águia e libertou
Prometeu. Na Grécia, havia altares consagrados ao culto a Prometeu, sobretudo em
Atenas. Nas lampadofórias (festas das lâmpadas), reverenciavam-se ao mesmo tempo
Prometeu, que roubara o fogo do céu, Hefesto, deus do fogo, e Atena, que tinha
ensinado o homem a fazer o óleo de oliva. A tragédia Prometeu acorrentado, de
Ésquilo, foi a primeira a apresentá-lo como um rebelde contra a injustiça e a
onipotência divina, imagem particularmente apreciada pelos poetas românticos, que
viram nele a encarnação da liberdade humana, que leva o homem a enfrentar com
orgulho seu destino. Prometeu significa etimologicamente "o que é previdente". O mito,
além de sua repercussão literária e artística, tem também ressonância profunda entre
os pensadores. Simbolizaria o homem que, para beneficiar a humanidade, enfrenta o
suplício inexorável; a grande luta das conquistas civilizadoras e da propagação de seus
benefícios à custa de sacrifício e sofrimento
RÉIA

Na época clássica, Réia foi cultuada em alguns pontos da Grécia, principalmente em


Creta, na Arcádia, na Beócia e em Atenas. Nessa cidade se localizava o santuário que
a deusa compartilhava com o irmão e esposo Cronos. Réia é uma antiga deusa,
provavelmente de origem pré-helênica, associada à "Grande Mãe" cretense e aos ritos
agrícolas. Símbolo da terra, por meio do sincretismo creto-micênico foi transformada
pelos gregos em esposa de Cronos. Segundo a Teogonia, de Hesíodo, Réia, uma das
titânidas, filha de Urano e Gaia - o casal primordial, céu e terra - casou-se com Cronos,
seu irmão. Dessa união nasceram seis filhos: Héstia, Deméter, Hera, Hades,
Posêidon e Zeus. Avisado por uma profecia de que um de seus filhos lhe tomaria o
trono, Cronos devorava cada um deles logo que nascia. Quando da gestação de Zeus,
Réia foi para Creta e, numa caverna do monte Dicte, deu à luz o caçula, que foi
amamentado pela cabra Amaltéia. Envolveu então uma pedra em panos, como se
fosse a criança, e deu-a ao esposo, que a engoliu sem perceber a troca. Mais tarde,
Zeus destronou Cronos e o obrigou a vomitar todos os irmãos. A iconografia de Réia
não figura entre as mais importantes da mitologia grega. Suas raras representações
remetem ao mito do nascimento de Zeus. Os romanos identificaram-na tardiamente
com a divindade oriental Cibele, mãe dos deuses.
TITÃS

A dramática lenda dos titãs constitui um expressivo exemplo da integração dos cultos
pré-helênicos ao corpo da mitologia grega. Segundo Hesíodo, os titãs eram os 12
filhos dos primitivos senhores do universo, Gaia (a Terra) e Urano (o Céu). Seis eram
do sexo masculino - Oceano, Ceo (pai de Leto), Crio, Hipérion, Jápeto (pai de
Prometeu) e Cronos - e seis do feminino - Téia, Réia (mãe dos deuses), Têmis (a
justiça), Mnemósine (a memória), Febe (a Lua) e Tétis (deusa do mar). Tinham por
irmãos os três hecatonquiros, monstros de cem mãos que presidiam os terremotos, e
os três Ciclopes, que forjavam os relâmpagos. Urano iniciou um conflito com os titãs
ao encarcerar os hecatonquiros e os ciclopes no Tártaro. Gaia e os filhos revoltaram-
se, e Cronos cortou com uma foice os órgãos genitais do pai, atirando-os ao mar. O
sangue de Urano, ao cair na terra, gerou os gigantes; da espuma que se formou no
mar, nasceu Afrodite. Com a destituição de Urano, os titãs libertaram os outros irmãos
e aclamaram rei a Cronos, que desposou Réia e voltou a prender os hecatonquiros e
os ciclopes no Tártaro. Salvo Jápeto e de Crio, que tomaram consortes fora da própria
linhagem, os titãs uniram-se entre si e deram origem a divindades menores. Cronos e
Réia que produziram descendência mais numerosa: Héstia, Deméter, Hera, Hades,
Posêidon e Zeus, a primeira geração de deuses olímpicos. Avisado de que os filhos o
destituiriam, Cronos engoliu todos eles exceto Zeus, salvo por um ardil da mãe. Ao
tornar-se adulto, Zeus fez Cronos beber uma poção que o forçou a vomitar os filhos, e
uniu-se aos irmãos, os deuses olímpicos na luta contra os titãs nas planícies da
Tessália, pela posse do Monte Olimpo. Esse conflito culminou com a derrota de Cronos
e dos titãs, confinados por Zeus no Tártaro. Os titãs, do mesmo modo que seus irmãos,
seriam divindades primitivas, talvez de remota origem oriental, ligadas a ritos agrários.
Sua vinculação aos elementos primários da natureza parece confirmada por uma lenda
órfica posterior, que atribui aos titãs a origem da parte terrestre, ou material, dos seres
humanos. Derrotando os Titãs, Zeus estabeleceu seu domínio como o maior do
deuses. Depois, os três filhos de Cronos dividiram a herança em três partes: Zeus ficou
com o amplo céu e o ar superior, Posêidon com o mar e Hades com o mundo
subterrâneo.

URANO
Na mitologia grega, a figura imponente de Urano, personificação do céu, encarnava o
impulso fecundante primário da natureza. Urano é o deus do firmamento na mitologia
grega. Segundo a Teogonia, de Hesíodo, Urano foi gerado por Gaia (a Terra), nascida
do Caos original e mãe também das Montanhas e do Mar. Da posterior união de Gaia
com Urano, nasceram os Titãs, os Ciclopes e os Hecatonquiros. Por odiar os filhos,
Urano encerrava-os no corpo de Gaia, que lhes pediu que a vingassem. Só Cronos,
um dos Titãs, lhe atendeu. Com uma harpe (cimitarra), castrou Urano quando este se
uniu a Gaia. Das gotas de sangue que caíram sobre ela nasceram as Erínias, os
Gigantes e as Melíades (ninfas dos freixos). Os testículos decepados flutuaram no mar
e formaram uma espuma branca, de que nasceu Afrodite, a deusa do amor. Com seu
ato, Cronos separara o céu da Terra e permitira que o mundo adquirisse uma forma
ordenada. Na Grécia clássica não havia culto a Urano. Este fato, aliado a outros
elementos da narrativa, sugere uma origem pré-grega. O uso da harpe indica fonte
oriental e a história apresenta semelhança com o mito hitita de Kumarbi. Em Roma,
Urano foi identificado com o deus Céu.
HERÓIS GREGOS

AQUILES
A antiga e rica lenda de Aquiles ilustra a assertiva de que "os eleitos dos deuses
morrem jovens", já que o herói preferiu uma vida gloriosa e breve a uma existência
longa, mas rotineira e apagada. Aquiles era filho de Tétis (a ninfa marinha, e não a
deusa do oceano) e de Peleu, rei dos mirmidões da Tessália. Ao nascer, a mãe o
mergulhou no Estige, o rio infernal, para torná-lo invulnerável. Mas a água não lhe
chegou ao calcanhar, pelo qual ela o segurava, e que assim se tornou seu ponto fraco -
o proverbial "calcanhar de Aquiles". Segundo uma das lendas, Tétis fez Aquiles ser
criado como menina na corte de Licomedes, na ilha de Ciros, para mantê-lo a salvo de
uma profecia que o condenava a morrer jovem no campo de batalha. Ulisses, sabedor
de que só com sua ajuda venceria a guerra de Tróia, recorreu a um ardil para
identificá-lo entre as moças. Aquiles, resoluto, marchou com os gregos sobre Tróia. No
décimo ano de luta, capturou a jovem Briseida, que lhe foi tomada por Agamenon,
chefe supremo dos gregos. Ofendido, Aquiles retirou-se da guerra. Mas persuadiram-
no a ceder a seu amigo Pátroclo a armadura que usava. Pátroclo foi morto por Heitor,
filho do rei de Tróia, Príamo. Sedento de vingança, Aquiles reconciliou-se com
Agamenon. De armadura nova, retornou à luta, matou Heitor e arrastou seu cadáver
em torno da sepultura de Pátroclo. Pouco depois, Páris, irmão de Heitor, lançou contra
Aquiles uma flecha envenenada; dirigida por Apolo, atingiu-lhe o calcanhar e matou-o.
As proezas de Aquiles e muitos temas correlatos foram desenvolvidos na Ilíada, de
Homero, que relata a guerra de Tróia. O cadáver de Aquiles, segundo a versão mais
comum, foi enterrado no Helesponto junto ao de Pátroclo.
HÉRCULES
A figura de Hércules, aclamado como herói e depois adorado como deus, talvez
corresponda originalmente a uma figura histórica, cuja bravura militar ensejou a lenda
homérica de que venceu a morte. Filho de Zeus, senhor dos deuses, e de Alcmena,
mulher de Anfitrião, Hércules (Heracles para os gregos) foi concebido para tornar-se
grande herói. Um engenhoso estratagema de Zeus gerou a oportunidade: visitou
Alcmena caracterizado como Anfitrião, enquanto este combatia Ptérela, rei de Tafos,
para vingar afronta à família da esposa. Hera, esposa de Zeus, enciumada com o
nascimento de Hércules, pois desejava elevar o primo Euristeu ao trono da Grécia,
enviou duas serpentes para matá-lo no berço, mas o herói, com sua força prodigiosa,
destruiu-as. Casado com Mégara, uma das princesas reais, Hércules matou-a, e aos
três filhos, num acesso de fúria provocado por Hera. Para expiar o crime, ofereceu
seus serviços a Euristeu, que o incumbiu das tarefas extremamente arriscadas
conhecidas como "Os 12 Trabalhos de Hércules": (1) estrangulou um leão, de pele
invulnerável, que aterrorizava o vale de Neméia; (2) matou a hidra de Lerna, monstro
de muitas cabeças; (3) capturou viva a corça de Cerinéia, de chifres de ouro e pés de
bronze; (4) capturou vivo o javali de Erimanto; (5) limpou os estábulos de três mil bois
do rei Augias, da Élida, não cuidados durante trinta anos; (6) matou com flechas
envenenadas as aves antropófagas dos pântanos da Estinfália; (7) capturou vivo o
touro de Creta, que lançava chamas pelas narinas; (8) capturou as éguas antropófagas
de Diomedes; (9) levou para Edmeta, filha de Euristeu, o cinturão de Hipólita, rainha
das guerreiras amazonas; (10) levou para o rei de Micenas o imenso rebanho de bois
vermelhos de Gerião; (11) recuperou as três maçãs de ouro do jardim das Hespérides,
por intermédio de Atlas, que sustentava o céu sobre os ombros e executou por ele esse
trabalho, enquanto Hércules o substituía; e (12) apoderou-se do cão Cérbero, guardião
das portas do inferno, de três cabeças, cauda de dragão e pescoço de serpente.
Hércules realizou outros atos de bravura e participou da viagem dos argonautas em
busca do velocino de ouro. No fim, casou-se com Dejanira, que involuntariamente lhe
causou a morte, ao oferecer-lhe um manto impregnado de sangue mortal, que ela
acreditava ser o filtro do amor. O corpo de Hércules foi transportado ao Olimpo, onde
se reconciliou com Hera e casou-se com Hebe, deusa da juventude.

JASÃO

Entre os heróis da mitologia grega, a figura de Jasão, ao mesmo tempo valente e


volúvel, é das que apresentam maior ambigüidade. Jasão era filho de Esão, rei de
Iolco, na Tessália. Pélias, irmão de Esão, privou o rei de seu trono e Jasão, ainda
menino, foi educado longe da corte pelo Centauro Quíron (Quirão). Aos vinte anos,
Jasão retornou a Iolco para clamar o trono. Pélias prometeu concedê-lo, com uma
condição: que trouxesse o mítico tosão (lã) de ouro guardado por Eetes, rei da
Cólquida, e protegido por um dragão. Embora a missão fosse considerada impossível,
Jasão aceitou-a. Construiu então um navio, o Argos, com mastro feito de um dos
carvalhos de Dodona, lugar vizinho ao templo de Júpiter, cujas árvores eram oráculos,
e embarcou com um grupo de heróis, os "argonautas". Entre eles encontravam-se
Hércules, Cástor e Pólux, Orfeu e muitos outros. Depois de numerosas peripécias,
Jasão chegou à Cólquida e, com a ajuda da maga Medéia, filha do rei, conseguiu
apoderar-se do tosão. Jasão casou-se, então, com Medéia e, depois de uma longa
viagem, ambos aportaram em Iolco. Medéia conseguiu com suas artes a morte de
Pélias e fugiu com o marido para Corinto, onde viveram dez anos e tiveram filhos. A
história termina tragicamente: Jasão abandona a esposa por Creusa, filha do rei de
Corinto, e Medéia vinga-se matando a noiva. Em seu furor mata também seus dois
filhos com Jasão. O final deste é incerto. Segundo algumas versões, enlouquecido de
dor, suicidou-se; segundo outras, morreu por castigo divino, por ter quebrado o
juramento de fidelidade a Medéia. Apolônio de Rodes, em sua crônica sobre os
argonautas, e Eurípides, na tragédia Medéia, foram alguns dos grandes escritores
gregos que trataram da lenda de Jasão

PERSEU

Temeroso de ver cumprida a previsão de um oráculo, segundo a qual sua filha Dânae
daria à luz aquele que lhe roubaria o trono e a vida, Acrísio, rei de Argos, enclausurou-
a numa torre. Zeus, sob a forma de uma chuva de ouro, introduziu-se na torre e
engravidou Dânae, que gerou Perseu. Herói da mitologia grega, Perseu era filho de
Zeus com a mortal Dânae. Logo após seu nascimento, o avô abandonou-o ao mar
numa arca, em companhia da mãe, para que morressem. A correnteza, porém,
arrastou a arca até a ilha de Sérifo, reino de Polidectes, que se apaixonou por Dânae.
Mais tarde, com o intuito de afastar Perseu da mãe, Polidectes encarregou Perseu de
perigosa missão: trazer a cabeça da Medusa, a única Górgona mortal. Com a ajuda de
Atena, Hades e Hermes, que lhe emprestaram as armas e a armadura, Perseu venceu
as Górgonas e, para evitar a visão da Medusa, que petrificava quem a fitasse,
decapitou-a enquanto dormia, guiando-se por sua imagem refletida no escudo de
Atena. Passou então a carregar sua cabeça como um troféu, com que petrificava
inimigos. Na Etiópia, Cassiopéia, esposa do rei Cefeu e mãe de Andrômeda,
proclamara-se mais bela que as próprias ninfas. Posêidon, furioso, castigou-os com
uma inundação e com a presença de um monstro marinho. Um oráculo informou a
Cefeu que a única maneira de salvar o reino seria expor Andrômeda ao monstro, o que
foi feito. Perseu, em sua viagem de volta a casa, viu a bela princesa e apaixonou-se
por ela. Com a cabeça da Medusa, petrificou o monstro e libertou a jovem, com quem
se casou. De volta à Grécia com a esposa, após resgatar sua mãe do castelo de
Polidectes, Perseu restabeleceu o avô Acrísio no trono de Argos mas, como predissera
o oráculo, terminou por matá-lo, embora acidentalmente. Ao sair de Argos, fundou
Micenas, e tanto a Grécia como o Egito o honraram como herói

TESEU

O lendário herói grego Teseu derrotou o Minotauro, monstro que habitava o célebre
labirinto mantido pelo rei Minos, na ilha de Creta. Teseu era filho de Egeu, rei de
Atenas, e Etra, filha do sábio Piteu, rei de Trezena, na Argólida, onde nasceu. Egeu,
antes de retornar a seu reino, escondera sua espada sob uma pesada rocha e
recomendara a Teseu que só a procurasse quando fosse bastante forte para levantá-la.
Com 16 anos, Teseu pôde realizar a façanha e foi ao encontro do pai. Decidido a livrar
Atenas do pesado tributo devido a Creta, de sete moças e sete rapazes que eram
devorados pelo Minotauro todos os anos, o herói seguiu para essa cidade como se
fosse um dos jovens sacrificados. Antes de penetrar no labirinto do Minotauro, recebeu
de Ariadne, filha de Minos, rei de Creta, um novelo de lã para marcar o caminho de
volta. Assim, conseguiu matar o monstro e se salvar com os companheiros. Por
descuido, o barco de Teseu retornou a Atenas com as velas pretas que indicavam luto.
Desesperado, Egeu se jogou no mar. O herói assumiu então o governo: uniu os povos
da Ática, com capital em Atenas, adotou o uso da moeda, criou o Senado, promulgou
leis e instaurou a base da democracia. Cumpridas essas tarefas, Teseu retomou à vida
de aventuras. Depois de lutar contra as amazonas, uniu-se à rainha delas, Antíope. Por
motivos políticos, casou-se com Fedra, que depois apaixonou-se por Hipólito, filho de
Teseu com Antíope. Ao lado do amigo Pirítoo, raptou Helena de Esparta, mais tarde
resgatada por seus irmãos Castor e Pólux, e desceu aos infernos para tentar raptar
também Perséfone, esposa de Plutão, mas este os manteve presos em suas cadeiras
durante um banquete. Anos depois, Teseu foi salvo por Hércules. Ao voltar a Atenas,
Teseu encontrou-a dilacerada por lutas internas, pois os cidadãos o julgavam morto.
Triste, desistiu do poder, mandou os filhos para a Eubéia e, amaldiçoando a cidade,
exilou-se na ilha de Ciros, onde foi morto por seu primo Licomedes.

ULISSES
A figura de Ulisses transcendeu o âmbito da mitologia grega e se converteu em
símbolo da capacidade do homem para superar as adversidades. Segundo a versão
tradicional, Ulisses (em grego, Odisseu) nasceu na ilha de Ítaca, filho do rei Laerte, que
lhe legou o reino, e Anticléia. O jovem foi educado, como outros nobres, pelo Centauro
Quirão e passou pelas provas iniciáticas para tornar-se rei. A vida de Ulisses é relatada
nas duas epopéias homéricas, a Ilíada, em cuja estrutura coral ocupa lugar importante,
e a Odisséia, da qual é o protagonista, bem como no vasto ciclo de lendas
originadoras dessas obras. Depois de pretender sem sucesso a mão de Helena, cujo
posterior rapto pelo tebano Páris desencadeou a guerra de Tróia, Ulisses casou-se
com Penélope. A princípio resistiu a participar da expedição dos aqueus contra Tróia,
mas acabou por empreender a viagem e se distinguiu no desenrolar da contenda pela
valentia e prudência. A ele deveu-se, segundo relatos posteriores à Ilíada, o ardil do
cavalo de madeira que permitiu aos gregos penetrar em Tróia e obter a vitória.
Terminado o conflito, Ulisses iniciou o regresso a Ítaca, mas um temporal afastou-o
com suas naves da frota. Começaram assim os vinte anos de aventuras pelo
Mediterrâneo que constitui o argumento da Odisséia. Durante esse tempo, protegido
por Atena e perseguido por Posêidon, cujo filho, o Ciclope Polifemo, o herói havia
cegado, conheceu incontáveis lugares e personagens: a terra dos lotófagos, na África
setentrional, e a dos lestrigões, no sul da Itália; as ilhas de Éolo; a feiticeira Circe; e o
próprio Hades ou reino dos mortos. Ulisses perdeu todos os companheiros e
sobreviveu graças a sua sagacidade. Retido vários anos pela ninfa Calipso, o herói
pôde enfim retornar a Ítaca disfarçado de mendigo. Revelou sua identidade ao filho
Telêmaco e, depois de matar os pretendentes à mão de Penélope, recuperou o reino,
momento em que conclui a Odisséia. Narrações posteriores fazem de Ulisses fundador
de diversas cidades e relatam notícias contraditórias acerca de sua morte. No contexto
da mitologia helênica, Ulisses corresponde ao modelo de marujo e comerciante do
século VII a.C. Esse homem devia adaptar-se, pela astúcia e o bom senso, a um
mundo cada vez mais complexo e em contínua mutação. A literatura ocidental
perpetuou, como símbolo universal da honradez feminina, a fidelidade de Penélope ao
marido, assim como achou em Ulisses e suas viagens inesgotável fonte de inspiração.

ANIMAIS E MONSTROS MITOLÓGICOS

CENTAURO

Na mitologia grega, os centauros eram a personificação das forças naturais


desenfreadas, da devassidão e embriaguez. Centauro era um animal fabuloso, metade
homem e metade cavalo, que habitavam as planícies da Arcádia e da Tessália. Seu
mito foi, possivelmente, inspirado nas tribos semi-selvagens que viviam nas zonas mais
agrestes da Grécia. Segundo a lenda, era filho de Ixíon, rei dos lápitas, e de Nefele,
deusa das nuvens, ou então de Apolo e Hebe. Em ambos os casos parece clara a
alusão às águas torrenciais e aos bosques. A história mitológica dos centauros está
quase sempre associada a episódios de barbárie. Convidados para o casamento de
Pirítoo, rei dos lápitas, os centauros, enlouquecidos pelo vinho, tentaram raptar a noiva,
desencadeando-se ali uma terrível batalha. O episódio está retratado nos frisos do
Pártenon e foi um motivo freqüente nas obras de arte pagãs e renascentistas. Os
centauros também teriam lutado contra Hércules, que os teria expulsado do cabo
Mália. Nem todos os centauros apareciam caracterizados como seres selvagens. Um
deles, Quirão, foi instrutor e professor de Aquiles, Heráclito, Jasão e outros heróis,
entre os quais Esculápio. Entretanto, enquanto grupo, foram notórias personificações
da violência, como se vê em Sófocles. Nos tempos helênicos se relacionavam
freqüentemente com Eros e Dioniso. As representações primitivas dos centauros os
mostram como homens aos quais se acrescentava a metade posterior de um cavalo.
Mais tarde, talvez para realçar seu caráter bestial, só o busto era humano. Foi esta a
imagem que se transmitiu ao Renascimento.

CICLOPES

A construção das colossais muralhas das antigas cidades micênicas foi uma das
muitas façanhas atribuídas aos ciclopes pela mitologia grega. Segundo as lendas e
obras épicas da antiga Grécia, os ciclopes eram gigantes monstruosos, de força
descomunal, que possuíam apenas um olho no meio da testa. Para Hesíodo os
ciclopes eram três, filhos de Urano, o céu, e de Gaia, a terra. Chamados Brontes,
Estéropes e Arges, forjaram os raios para Zeus e o ajudaram a derrotar seu pai,
Cronos. Homero os descreveu na Odisséia como filhos de Posêidon, deus das
águas, pertencentes a uma raça de pastores selvagens que habitavam a longínqua ilha
de Trinacria, provavelmente a Sicília. Para escapar com vida da fúria dos monstros,
Ulisses cegou seu chefe, Polifemo. Outros autores, inspirados em Hesíodo, relatam
que os ciclopes trabalharam como ferreiros para Hefesto. Habitavam o monte Etna e
as profundezas vulcânicas e realizaram importantes trabalhos para os deuses, como o
capacete de Hades e o tridente de Posêidon. Também se atribuía a eles o controle dos
fenômenos atmosféricos, a erupção dos vulcões e a edificação de construções
gigantescas irrealizáveis por homens comuns. Segundo uma das lendas, foram todos
mortos por Apolo. São freqüentes as representações desses personagens míticos nos
vasos e baixos-relevos antigos; nas pinturas de Pompéia, são representados com os
raios próprios dos deuses.

HARPIAS
Representadas ora como mulheres sedutoras, ora como horríveis monstros, as Harpias
traduzem as paixões obsessivas bem como o remorso que se segue a sua satisfação.
Na mitologia grega, as Harpias (do grego hárpyia, "arrebatadora") eram filhas de
Taumas e Electra e, portanto, anteriores aos olímpicos. Procuravam sempre raptar o
corpo dos mortos, para usufruir de seu amor. Por isso, aparecem sempre
representadas nos túmulos, como se estivessem à espera do morto, sobretudo quando
jovem, para arrebatá-lo. Parcelas diabólicas das energias cósmicas, representam a
provocação dos vícios e das maldades, e só podem ser afugentadas pelo sopro do
espírito. A princípio duas - Aelo (a borrasca) e Ocípite (a rápida no vôo) - passaram
depois a três com Celeno (a obscura). O mito principal das Harpias relaciona-se ao rei
da Trácia, Fineu, sobre quem pesava a seguinte maldição: tudo que fosse colocado a
sua frente, sobretudo iguarias, seria carregado pelas Harpias, que inutilizavam com
seus excrementos o que não pudessem carregar. Perseguidas pelos argonautas, a
pedido de Fineu, obtiveram em troca da vida a promessa de não mais atormentá-lo. A
partir de então, refugiaram-se numa caverna da ilha de Creta.
MEDUSA
Medusa tinha poderes tão extraordinários que mesmo morta podia petrificar quem
olhasse para sua cabeça. Uma mecha de seu cabelo afugentava qualquer exército
invasor e seu sangue tinha o dom de matar e ressuscitar pessoas. Personagem da
mitologia grega, Medusa era uma das três Górgonas, filhas das divindades marinhas
Fórcis e Ceto. Ao contrário de suas irmãs, Esteno e Euríale, Medusa era mortal.
Temidas pelos homens e pelos deuses, as três habitavam o extremo Ocidente, junto ao
país das Hespérides. Tinham serpentes em vez de cabelos, presas pontiagudas, mãos
de bronze e asas de ouro. Perseu foi encarregado por Polidectes de decepar a cabeça
da Medusa. Para isso, o herói muniu-se de objetos mágicos, como sandálias aladas,
para pairar acima dos monstros, e o escudo de bronze, cujo reflexo permitiu neutralizar
o olhar petrificante. Com a espada dada pelo deus Hermes, Perseu decapitou Medusa
e recolheu sua cabeça, que foi posta no escudo de Atena como proteção contra os
inimigos.

MINOTAURO
Tema freqüente de inspiração para escritores, o Minotauro tem sido considerado um
símbolo da fatalidade que determina o curso da vida humana. Segundo a mitologia
grega, Posêidon, deus do mar, enviou a Minos, rei de Creta, um touro branco que
deveria ser sacrificado em sua honra. Deslumbrado com a beleza do animal, o
monarca guardou-o para si. Em represália, Posêidon despertou na rainha Pasífae uma
doentia paixão pelo animal. Da união, nasceu o Minotauro, ser monstruoso com corpo
de homem e cabeça de touro. Logo após seu nascimento, o Minotauro foi levado ao
labirinto, construído pelo arquiteto e inventor Dédalo e de onde ninguém conseguia
sair. Anos mais tarde, Minos declarou guerra a Atenas, para vingar o assassinato de
seu irmão Androgeu. Vitorioso, exigiu que os vencidos enviassem, a cada nove anos,
sete rapazes e sete virgens para serem devorados pelo Minotauro. Quando os
atenienses se preparavam para pagar pela terceira vez o tributo, Teseu se ofereceu
como voluntário. Penetrou no labirinto, matou o Minotauro e, guiado por um fio que lhe
fora dado por Ariadne, filha de Minos, escapou de Creta em sua companhia e na de
seus companheiros atenienses.
PÉGASO

O cavalo comum é um símbolo tradicional do desejo carnal. Os centauros, metade


homens, metade cavalos, são monstros que representam a identificação do ser
humano aos instintos animalescos. O cavalo alado, ao contrário, é símbolo da
sublimação e da imaginação criadora. Pégaso, segundo a mitologia grega, nasceu do
sangue da Medusa, após ser esta decapitada por Perseu. Atena domesticou o cavalo
alado e ofereceu-o ao herói grego Belerofonte, para que combatesse a Quimera. Com
ele, Belerofonte tentou aproximar-se do Olimpo, mas Zeus fez com que Pégaso
corcoveasse, provocando a queda do cavaleiro, que morreu. Transformado em
constelação, o cavalo passou desde então ao serviço de Zeus. Pégaso vivia no
Parnaso, no Hélicon, no Pindo e na Piéria, lugares freqüentados pelas Musas, filhas de
Zeus e Mnemósine, e onde o cavalo alado costumava pastar. Com um de seus coices,
fez nascer a fonte de Hipocrene, que se acreditava ser a fonte de inspiração dos
poetas. Na literatura clássica há numerosas alusões às fontes de inspiração. A história
de Pégaso tornou-se um dos temas preferidos da literatura e das artes plásticas
gregas.
QUIMERA

A figura mítica da quimera, oriunda da Anatólia e cujo tipo surgiu na Grécia durante o
século VII a.C., sempre exerceu atração sobre a imaginação popular. De acordo com a
versão mais difundida da lenda, a quimera era um monstruoso produto da união entre
Equidna - metade mulher, metade serpente - e o gigantesco Tífon. Outras lendas a
fazem filha da hidra de Lerna e do leão de Neméia, que foram mortos por Hércules.
Habitualmente era descrita com cabeça de leão, torso de cabra e parte posterior de
dragão ou serpente. Criada pelo rei de Cária, mais tarde assolaria este reino e o de
Lícia com o fogo que vomitava incessantemente, até que o herói Belerofonte, montado
no cavalo alado Pégaso, conseguiu matá-la. A representação plástica mais freqüente
da quimera era a de um leão com uma cabeça de cabra em sua espádua. Essa foi
também a mais comum na arte cristã medieval, que fez dela um símbolo do mal. Com o
passar do tempo, chamou-se genericamente quimera a todo monstro fantástico
empregado na decoração arquitetônica. Em linguagem popular, o termo quimera alude
a qualquer composição fantástica, absurda ou monstruosa, constituída de elementos
disparatados ou incongruentes.

LENDAS MITOLÓGICAS

AGAMENON
Personagem histórica que a tradição cercou de lendas, Agamenon figura na Ilíada, de
Homero, como um soldado valoroso, digno e austero. Agamenon, filho de Atreu e
Aérope, foi rei de Micenas ou Argos no chamado período heróico da história grega. Ele
e seu irmão Menelau esposaram as filhas do rei de Esparta, Clitemnestra e Helena.
Quando Páris, filho do rei de Tróia, raptou Helena, Agamenon recorreu aos príncipes
da Grécia para formar uma expedição de vingança contra os troianos, o tema da Ilíada.
No porto de Áulis (Áulide), sob a chefia suprema de Agamenon, reuniu-se uma frota de
mais de mil navios com enorme exército. No momento de partir, porém, foram
impedidos por uma calmaria. Isso se devia à interferência de Ártemis, deusa da caça,
enfurecida por Agamenon ter abatido um cervo em um de seus bosques sagrados. A
deusa só se aplacaria com o sacrifício de Ifigênia, uma das filhas do violador. Durante o
rito, Ártemis aplacou-se e substituiu-a por uma corça, mas levou Ifigênia consigo. A
frota partiu e durante nove anos os gregos sitiaram Tróia, tendo sofrido pesadas
baixas. No décimo ano, Agamenon despertou a cólera de Aquiles, rei dos mirmidões,
ao tomar-lhe a escrava Briseida. Aquiles retirou-se com seus soldados e, só quando os
troianos mataram seu amigo Pátroclo, consentiu em voltar à luta, o que resultou na
queda de Tróia. Cassandra, irmã de Páris que coube a Agamenon como presa de
guerra, em vão alertou-o para não retornar à Grécia. Em sua ausência, Clitemnestra,
inconformada com a perda da filha, tramara sua morte com o amante Egisto. Quando o
marido saía do banho, atirou-lhe um manto sobre a cabeça e Egisto assassinou-o.
Ambos mataram também seus companheiros e Cassandra. Orestes, filho mais velho
de Agamenon, com a ajuda da irmã, Electra, vingou o crime, matando a mãe e Egisto.
Os átridas, como eram chamados os integrantes da família de Agamenon, inspiraram
grandes tragédias, desde a Grécia antiga (Ésquilo, a trilogia Oréstia; Sófocles, Electra;
Eurípides, Electra) até os tempos contemporâneos (Eugene O'Neill, O luto assenta bem
em Electra; Jean-Paul Sartre, As moscas).

ARIADNE
As desventuras de Ariadne ou Ariadna, filha de Pasífae e de Minos, rei de Creta,
começaram quando ela deu a Teseu, seu amado, o fio que lhe permitiria sair do
labirinto onde vivia o Minotauro, metade touro e metade homem. Depois de deixar
Creta junto com Teseu, este, talvez obedecendo a ordens de Atena, abandonou-a à
própria sorte na ilha de Naxos. O destino posterior de Ariadne é objeto de versões
divergentes. Segundo uma, ela teria se suicidado em Naxos; segundo outra, teria
encontrado a morte ao dar à luz em Chipre. A versão mais difundida é a de que
Afrodite sentiu piedade pela jovem abandonada e lhe deu por esposo o deus do vinho,
Dioniso. Dessa união teriam nascido dois filhos. Outra versão do mito afirma que
Ariadne morreu em conseqüência da intervenção de outra deusa, Diana, por sua vez
incitada pelo próprio Dioniso. A origem do mito de Ariadne deve ser buscada na Creta
minóica e em algumas ilhas próximas, como Naxos, ou mais afastadas, como Chipre,
onde era considerada deusa da vegetação. Os habitantes de Naxos, por exemplo,
costumavam homenagear Ariadne com alegres festivais e sacrifícios de caráter ritual.
MEDÉIA

Segundo a lenda grega, a feiticeira Medéia ajudou Jasão, líder dos argonautas, a obter
o velocino de ouro. O mito é conhecido pelas versões literárias que lhe deram
Eurípides, Ésquilo, Ovídio e Sêneca. Medéia era filha de Eetes, rei da Cólquida. Eetes
possuía o velocino de ouro, que Jasão e os argonautas buscavam, e o mantinha
guardado por um dragão. A maga Medéia apaixonou-se por Jasão e, depois de ajudá-
lo a realizar sua missão, seguiu com o grupo para a pátria de Jasão, Jolcos, na
Tessália. Mais tarde, Jasão apaixonou-se por Glauce e abandonou Medéia.
Inconformada, ela estrangulou os filhos que tivera com Jasão e presenteou a rival com
um manto mágico que se incendiou ao ser vestido, matando-a. Medéia casou-se,
depois, com o rei Egeu, de quem teve um filho, Medos. Por ter, porém, conspirado
contra a vida de Teseu, filho de Egeu, foi obrigada a refugiar-se em Atenas. Medéia foi
honrada como deusa em Corinto e sobretudo na Tessália. Sua lenda serviu de tema a
obras artísticas e literárias de todos os tempos, das quais a mais conhecida é a
tragédia Medéia, de Eurípides.
MUSAS

A imagem das musas como inspiradoras das artes mostra a força do legado helênico à
cultura ocidental. De seu nome deriva o termo museu, lugar inicialmente destinado ao
estudo das ciências, letras e artes, atividades protegidas pelas musas. Na mitologia
grega, as musas eram deusas irmãs veneradas desde tempos remotos no monte
Hélicon, da Beócia, onde eram festejadas a cada quatro anos, e na Piéria, Trácia.
Inicialmente, eram as inspiradoras dos poetas. Mais tarde sua influência se estendeu a
todas as artes e ciências. Na Odisséia Homero menciona nove musas, que
constituíam um grupo indiferenciado de divindades. A diferenciação teve início com
Hesíodo, que chamou-as Clio, Euterpe, Talia, Melpômene, Terpsícore, Érato, Polímnia,
Urânia, e Calíope (ou Caliopéia), esta a líder das musas. Eram filhas de Mnemósine
(Memória). Na relação de Hesíodo - que embora seja a mais conhecida, não é a única -
os nomes são significativos. Érato, por exemplo, significa "adorável" e Calíope, "a de
bela voz". Em geral as musas eram tidas como virgens, ou pelo menos não eram
casadas, o que não impede que lhes seja atribuída a maternidade de Orfeu, Reso,
Eumolpo e outros personagens, de alguma forma ligados à poesia e à música, ou
relacionados à Trácia. Estátuas das musas eram muito usadas em decoração. Os
escultores representavam-nas sempre com algum objeto, como a lira ou o pergaminho,
e essa prática pode ter contribuído para a distribuição das musas entre as diferentes
artes e ciências. As associações entre as musas e suas áreas de proteção, no entanto,
são tardias e apresentam muitas divergências. De maneira geral, Clio se liga à história;
Euterpe, à música; Talia, à comédia; Melpômene, à tragédia; Terpsícore, à dança;
Urânia, à astronomia; Érato, à poesia lírica; Polímnia, à retórica; e Calíope, à poesia
épica. Mesmo na mitologia greco-romana existem outros grupos de musas, de cunho
mais regional, como o das musas Méleta, da meditação; Mnema, da memória; e Aede,
protetora do canto e da música.
NARCISO

A lenda de Narciso, surgida provavelmente da superstição grega segundo a qual


contemplar a própria imagem prenunciava má sorte, possui um simbolismo que fez
dela uma das mais duradouras da mitologia grega. Narciso era um jovem de singular
beleza, filho do deus-rio Cefiso e da ninfa Liríope. No dia de seu nascimento, o adivinho
Tirésias vaticinou que Narciso teria vida longa desde que jamais contemplasse a
própria figura. Indiferente aos sentimentos alheios, Narciso desprezou o amor da ninfa
Eco - segundo outras fontes, do jovem Amantis - e seu egoísmo provocou o castigo
dos deuses. Ao observar o reflexo de seu rosto nas águas de uma fonte, apaixonou-se
pela própria imagem e ficou a contemplá-la até consumir-se. A flor conhecida pelo
nome de Narciso nasceu, então, no lugar onde morrera. Em outra versão da lenda,
Narciso contemplava a própria imagem para recordar os traços da irmã gêmea, morta
tragicamente. Foi, no entanto, a versão tradicional, reproduzida no essencial por Ovídio
em Metamorfoses, que se transmitiu à cultura ocidental por intermédio dos autores
renascentistas. Na psiquiatria e particularmente na psicanálise, o termo narcisismo
designa a condição mórbida do indivíduo que tem interesse exagerado pelo próprio
corpo.
SÍSIFO

De maneira semelhante a Prometeu, Sísifo encarnava na mitologia grega a astúcia e a


rebeldia do homem frente aos desígnios divinos. Sua audácia, no entanto, motivou
exemplar castigo final de Zeus, que o condenou a empurrar eternamente, ladeira
acima, uma pedra que rolava de novo ao atingir o topo de uma colina, conforme se
narra na Odisséia. Sísifo é citado na Ilíada de Homero como filho de Éolo (iniciador
da estirpe dos eólios). Rei de Éfira, mais tarde Corinto, é tido como o criador dos
Jogos Ístmicos celebrados naquela cidade e como o mais astuto dos homens. Em
relatos posteriores a Homero, aparece como pai de Ulisses, que teria gerado com
Anticléia. A lenda mais conhecida sobre Sísifo conta que aprisionou Tânato, a morte,
quando esta veio buscá-lo, e assim impediu por algum tempo que os homens
morressem. Quando Tânato foi libertada, por interferência de Ares, Sísifo foi
condenado a descer aos infernos, mas ordenou à esposa, Mérope, que não enterrasse
seu corpo nem realizasse os sacrifícios rituais. Passado algum tempo, pediu permissão
a Hades para regressar à Terra e castigar a mulher pela omissão e não voltou ao além-
túmulo senão muito velho. Sua punição final reafirma uma provável concepção grega
do inferno como lugar onde se realizam trabalhos infrutíferos.
HISTÓRIAS MITOLÓGICAS

HESÍODO
Hesíodo foi um dos dois grandes poetas gregos da idade arcaica. Junto com a de
Homero, sua obra constitui um dos pilares sobre os quais se edificou a identidade
helênica. Hesíodo viveu por volta de 800 a.C. na Beócia, região situada no centro da
Grécia. Passou a maior parte da vida em Ascra, a aldeia natal. Sabe-se que viajou a
Cálcis, na ilha de Eubéia (a cerca de 800m da costa grega), com o objetivo de
participar dos jogos funerários realizados em honra de um certo Anfidamos, e foi o
ganhador do prêmio. Sabe-se também - sempre pelas informações do próprio poeta -
que depois da morte do pai, seu irmão Perses corrompeu os juízes locais e apoderou-
se da maior parte da herança que correspondia a ambos. Por esse motivo, em suas
obras, Hesíodo exalta particularmente a virtude da justiça, cuja guarda atribui a Zeus.
Hesíodo relata ainda que foi pastor, até que lhe apareceram as Musas e ordenaram-lhe
"cantar a raça dos benditos deuses imortais". Dessa exortação nasceram a Gênese
dos deuses e Os trabalhos e os dias, as duas únicas obras autênticas do poeta que
permaneceram. A Gênese dos deuses parece ser o primeiro poema escrito por
Hesíodo. Relata a sangrenta história dos deuses da mitologia grega pré-homérica. No
início existem o Caos, a Terra e Eros. Da Terra (ou Gaia, ou Géia) nasceu Urano, o
primeiro rei dos deuses, que contraiu matrimônio com sua mãe. Entre os filhos de
ambos encontra-se o titã Cronos, que se rebelou contra Urano e, depois de castrá-lo,
governou o universo. Cronos foi destronado pelo filho Zeus, que fundou o panteão
helênico clássico. Os trabalhos e os dias trata de temas mais terrenos. A primeira parte
é dedicada a mitos que ressaltam a necessidade do trabalho duro e honesto. Exalta a
Justiça, filha predileta de Zeus e única esperança dos homens. A segunda parte do
poema tem propósitos didáticos: estabelece normas para a agricultura e para a
educação dos filhos, além de mencionar superstições do dia-a-dia. Diferentemente de
Homero, Hesíodo não se ocupou das esplêndidas façanhas dos heróis gregos. Seus
temas são os deuses, regentes do destino do homem, e o próprio ser humano, com
suas fadigas e misérias. Dividiu a história da humanidade em cinco períodos, da idade
do ouro à do ferro, das quais o último correspondia ao difícil período histórico em que
ele próprio viveu. Para Hesíodo, só o trabalho e o exercício das virtudes morais
permitem aos seres humanos chegar a uma existência discretamente feliz na infausta
idade do ferro. Hesíodo morreu, ao que tudo indica, em Ascra.
HOMERO

A Homero se atribuem os dois maiores poemas épicos da Grécia antiga, que tiveram
profunda influência sobre a literatura ocidental. Além de símbolo da unidade e do
espírito helênico, a Ilíada e a Odisséia são fonte de prazer estético e ensinamento
moral. De acordo com o historiador grego Heródoto, Homero nasceu em torno de 850
a.C. em algum lugar da Jônia, antigo distrito grego da costa ocidental da Anatólia, que
hoje constitui a parte asiática da Turquia, mas as cidades de Esmirna e Quio também
reivindicavam a honra de terem sido seu berço. Até mesmo as fontes antigas sobre o
poeta contêm numerosas contradições, e a única coisa que se sabe com certeza é que
os gregos atribuíam a ele a autoria dos dois poemas. A tradição lhe atribuiu também a
coleção dos 34 Hinos homéricos, dos quais procede a imagem lendária de Homero
como poeta cego, mas que depois constatou-se serem de fins do século VII a.C. Os
maiores especialistas gregos não admitem que tenha sido Homero o autor de obras
como o desaparecido poema Margites ou a paródia épica Batracomiomaquia. As
muitas lendas e a escassa confiabilidade dos dados biográficos sobre Homero fizeram
com que já no século XVIII muitos questionassem até mesmo a existência do poeta. As
diferenças de tom e estilo entre a Ilíada e a Odisséia levaram alguns críticos a aventar
a hipótese de que poderiam ter resultado da recomposição de poemas anteriores, ou
de que teriam sido criadas por autores diferentes. Todas essas dúvidas constituem a
chamada "questão homérica", e permanecem abertas à discussão. Os pontos em que
há maior concordância dos estudiosos são: a Ilíada é anterior à Odisséia; quase com
certeza os dois poemas foram compostos no século VIII a.C., cerca de três séculos
após os fatos narrados; foram originalmente escritos em dialeto jônio, com numerosos
elementos eólios - o que confirma a origem jônica de Homero; pertenciam à tradição
épica oral, pelo menos no que se refere às técnicas empregadas, já que existem
opiniões divergentes quanto ao emprego ou não da escrita pelo autor. A versão na
forma escrita, tal como se conhece hoje, teria sido feita em Atenas durante o século VI
a.C., se bem que a divisão de cada poema em 24 cantos corresponderia aos eruditos
alexandrinos do Período Helenístico. No decorrer desse período teriam sido
introduzidas várias interpolações. Com base nesses dados, todos mais ou menos
hipotéticos, deduziram-se alguns dados básicos sobre Homero e sua obra. Tanto a
Ilíada como a Odisséia apresentam diversas inconsistências internas, como alusões a
técnicas e equipamentos de combate que existiram em épocas diferentes. Tais
inconsistências, porém, poderiam ser explicadas pelo fato de o poeta, se é que
realmente existiu, ter utilizado materiais anteriores e por terem sido provavelmente
incorporados alguns outros. Quanto à existência de um autor único para a Ilíada, a
mais antiga das duas obras, argumenta-se que embora seja evidente a existência de
poemas épicos orais anteriores sobre os mesmos temas, não parece haver existido
nenhum de extensão sequer aproximada, nem dotado de tal complexidade estrutural.
Tal constatação indicaria a existência de um criador individual, que deu uma nova
estrutura aos temas tradicionais e integrou-os em sua visão pessoal da realidade. Os
que negam a autoria comum de ambas as obras argumentam que a primeira foi
composta em tom mais heróico e tradicional e que a segunda tende mais para a ironia
e a imaginação. Acrescentam ainda o emprego de um léxico posterior na Odisséia. Já
a tese que defende a autoria única baseia-se na afirmação de Aristóteles, de que a
Ilíada seria uma obra da juventude de Homero, enquanto a Odisséia teria sido
composta na velhice, quando o poeta decidiu redigir a segunda obra como
complemento da primeira e ampliação de sua perspectiva. Ambas as obras têm
características comuns absolutamente inovadoras, como a visão antropomórfica dos
deuses, a confrontação entre os ideais heróicos e as fraquezas humanas e o desejo de
oferecer um reflexo integrador dos ideais e valores da emergente sociedade helênica.
Esses argumentos, somados à mestria técnica evidente nos dois poemas, favorecem a
conclusão de que o autor da Ilíada, esse grande poeta jônico a quem os gregos
chamavam Homero, foi também o autor, ou principal inspirador da Odisséia. Ao mesmo
tempo em que refletiram luminosamente a antiguidade mais remota da civilização
grega, os poemas homéricos projetaram-na adiante com tamanha originalidade e
riqueza que ela se faria presente nas mais diversas manifestações da arte, da literatura
e da civilização do Ocidente. Inúmeros poetas partiram de sua influência, inúmeros
artistas se impregnaram de sua fortuna criativa, seu colorido e suas situações, que se
tornaram símbolo e síntese de toda a aventura humana na Terra, a ponto de o nome de
um poeta cuja existência mesma não se pode provar passar a confundir-se com a
própria poesia. Quanto à morte de Homero, a versão mais aceita é de que teria
ocorrido em uma das ilhas Cíclades.

ILÍADA
A cólera de Aquiles, como se anuncia desde o primeiro verso, é o motivo central da
Ilíada, epopéia do poeta grego Homero, que inicia a literatura narrativa ocidental.
Relato de um dos episódios da guerra de Tróia, travada entre gregos e troianos, a
ação da Ilíada se situa no nono ano depois do começo da guerra, a qual duraria um
ano mais, e abarca no conjunto cerca de 51 dias. O título deriva de Ílion, nome grego
de Tróia. O poema é constituído por 15.693 versos, em 24 cantos de extensão variável.
A divisão em cantos foi feita pelos filólogos de Alexandria. A Ilíada narra um drama
humano, o do herói Aquiles, filho da deusa Tétis e do mortal Peleu, rei de Ftia, na
Tessália, em torno do fim da guerra dos gregos contra Tróia. Segundo a lenda, a
guerra foi motivada pelo rapto de Helena, esposa do rei de Esparta, Menelau, por
Páris, filho do rei Príamo, de Tróia. Agamenon, chefe dos exércitos gregos, arrebatara
a Aquiles, o mais valoroso dos guerreiros gregos, sua cativa Briseide. Em protesto,
Aquiles retirou-se para o acampamento com seus guerreiros, e recusou-se a entrar em
combate. É nesse momento que tem início a Ilíada, com o verso "Canto, ó deusa, a
cólera de Aquiles". Para apaziguar Aquiles, Agamenon envia-lhe mensageiros, com o
pedido de que entre na luta. Aquiles recusa-se e Agamenon com seus homens entram
no combate. Os troianos tomam de assalto as muralhas gregas e chegam até os
navios. Aquiles concorda em emprestar a armadura a seu amigo Pátroclo, que repele
os troianos mas é morto por Heitor. Cheio de dor pela morte do amigo, Aquiles esquece
a divergência com os gregos e investe contra os troianos, vestido com uma armadura
feita por Hefesto, deus das forjas. Consegue fazer recuar para dentro dos muros da
cidade todos os troianos, menos Heitor, que o enfrenta, mas aterrorizado pela fúria de
Aquiles, tenta fugir. Aquiles o persegue e finalmente atravessa-lhe com a lança a
garganta, única parte descoberta de seu corpo. Agonizante, Heitor pede-lhe que não
entregue seu cadáver aos cães e às aves de rapina, mas Aquiles nega piedade, e
depois de atravessar sua garganta mais uma vez com a lança, ata-o pelos pés a seu
carro e arrasta o cadáver em volta do túmulo de Pátroclo. Somente com a intervenção
de Zeus, Aquiles aceita devolver o cadáver a Príamo, rei de Tróia e pai de Heitor. O
poema termina com os funerais do herói troiano. Alguns dos personagens da Ilíada, em
particular Aquiles, encarnam o ideal heróico grego: a busca da honra ao preço do
sacrifício, se necessário; o valor altruísta; a força descomunal mas não monstruosa; o
patriotismo de Heitor; a fiel amizade de Pátroclo; a compaixão de Aquiles por Príamo,
que o levou a restituir o cadáver de seu filho Heitor. Nesse sentido, os heróis
constituem um modelo, mas o poema mostra também suas fraquezas - paixões,
egoísmo, orgulho, ódio desmedido. Toda a mitologia helênica, todo o Olimpo grego,
com seus deuses, semideuses e deidades auxiliares, estão maravilhosamente
descritos. Os deuses, que mostram vícios e virtudes humanas, intervêm
constantemente no desenvolvimento da ação, alguns em favor dos aqueus, outros em
apoio aos troianos. Zeus, o deus supremo do Olimpo, imparcial, intervém apenas
quando o herói ultrapassa os limites, ao proporcionar o tenebroso espetáculo de
passear à volta de Tróia arrastando o cadáver mutilado de Heitor. O poema encerra
grande volume de dados e pormenores geográficos, históricos, folclóricos e filosóficos,
e descreve com perfeição os modelos de conduta e os valores morais da sociedade do
tempo em que foi escrita a obra. Uma questão muito discutida é o fundo histórico do
ciclo da guerra de Tróia. Possivelmente, sua origem remonta a reminiscências da luta,
travada antes da invasão dória, no século XII a.C., entre povos de cultura micênica,
como os aqueus, e um estado da Anatólia, o de Tróia. É historicamente comprovada a
existência de estabelecimentos micênicos na Anatólia, sem que se conheçam as
causas possíveis da guerra. O mundo helênico a que se refere a Ilíada não parece
circunscrever-se ao de uma época cronológica determinada. É muito provável que as
lendas foram incorporando elementos de diferentes etapas da civilização, no curso de
sua transmissão oral e até textual. Aponta-se, por exemplo, a descrição de
armamentos e técnicas militares, e até rituais, correspondentes a diferentes períodos
históricos, desde o micênico a aproximadamente meados do século VIII a.C. Salvo
alguns prováveis acréscimos atenienses, nenhum dado ultrapassa esse período, o que
reforça a tese de que o poema foi redigido nesse último período. A língua e o estilo
homéricos foram em grande medida herdados da tradição épica. Por esse motivo, a
língua, basicamente o dialeto jônico, com numerosos elementos eólios, é um tanto
artificial e arcaizante, e não corresponde a nenhuma modalidade falada normalmente.
A métrica empregada é o hexâmetro, verso tradicional na épica grega.

ODISSÉIA
Além de constituir, ao lado da Ilíada, obra iniciadora da literatura grega escrita, a
Odisséia, de Homero, expressa com força e beleza a grandiosidade da remota
civilização grega. A Odisséia data provavelmente do século VIII a.C., quando os
gregos, depois de um longo período sem dispor de um sistema de escrita, adotaram o
alfabeto fenício. Na Odisséia ressoa ainda o eco da guerra de Tróia, narrada
parcialmente na Ilíada. O título do poema provém do nome do protagonista, o grego
Ulisses (Odisseu). Filho e sucessor de Laerte, rei de Ítaca e marido de Penélope,
Ulisses é um dos heróis favoritos de Homero e já aparece na Ilíada como um homem
perspicaz, bom conselheiro e bravo guerreiro. A Odisséia narra as viagens e aventuras
de Ulisses em duas etapas: a primeira compreende os acontecimentos que, em nove
episódios sucessivos, afastam o herói de casa, forçado pelas dificuldades criadas pelo
deus Posêidon. A segunda consta de mais nove episódios, que descrevem sua volta
ao lar sob a proteção da deusa Atena. É também desenvolvido um tema secundário, o
da vida na casa de Ulisses durante sua ausência, e o esforço da família para trazê-lo
de volta a Ítaca. A Odisséia compõe-se de 24 cantos em verso hexâmetro (seis
sílabas), e a ação se inicia dez anos depois da guerra de Tróia, em que Ulisses lutara
ao lado dos gregos. A ordem da narrativa é inversa: tem início pelo desfecho, a
assembléia dos deuses, em que Zeus decide a volta de Ulisses ao lar. O relato é feito,
de forma indireta e em retrospectiva, pelo próprio herói aos feaces - povo mítico grego
que habitava a ilha de Esquéria. Hábeis marinheiros, são eles que conduzem Ulisses a
Ítaca. O poema estrutura-se em quatro partes: na primeira (cantos I a IV), intitulada
"Assembléia dos deuses", Atena vai a Ítaca animar Telêmaco, filho de Ulisses, na luta
contra os pretendentes à mão de Penélope, sua mãe, que decide enviá-lo a Pilos e a
Esparta em busca do pai. O herói porém encontra-se na ilha de Ogígia, prisioneiro da
deusa Calipso. Na segunda parte, "Nova assembléia dos deuses", Calipso liberta
Ulisses, por ordem de Zeus, que atendeu aos pedidos de Atena e enviou Hermes com
a missão de comunicar a ordem. Livre do jugo de Calipso, que durou sete anos, Ulisses
constrói uma jangada e parte, mas uma tempestade desencadeada por Posêidon
lança-o na ilha dos feaces (canto V), onde é descoberto por Nausícaa, filha do rei
Alcínoo. Bem recebido pelo rei (cantos VI a VIII), Ulisses mostra sua força e destreza
em competições esportivas que se seguem a um banquete. Na terceira parte,
"Narração de Ulisses" (cantos IX a XII), o herói passa a contar a Alcínoo as aventuras
que viveu desde a saída de Tróia: sua estada no país dos Cícones, dos Lotófagos e
dos Ciclopes; a luta com o ciclope Polifemo; o episódio na ilha de Éolo, rei dos ventos,
onde seus companheiros provocam uma violenta tempestade, que os arroja ao país
dos canibais, ao abrirem os odres em que estão presos todos os ventos; o encontro
com a feiticeira Circe, que transforma os companheiros em porcos; sua passagem pelo
país dos mortos, onde reencontra a mãe e personagens da guerra de Tróia. Na quarta
parte, "Viagem de retorno", o herói volta à Ítaca, reconduzido pelos feaces (canto XIII).
Apesar do disfarce de mendigo, dado por Atena, Ulisses é reconhecido pelo filho,
Telêmaco, e por sua fiel ama Euricléia, que, ao lavar-lhe os pés, o identifica por uma
cicatriz. Assediada por inúmeros pretendentes, Penélope promete desposar aquele que
conseguir retesar o arco de Ulisses, de maneira que a flecha atravesse 12 machados.
Só Ulisses o consegue. O herói despoja-se em seguida dos andrajos e faz-se
reconhecer por Penélope e Laerte. Segue-se a vingança de Ulisses (cantos XIV a
XXIV): as almas dos pretendentes são arrastadas aos infernos por Hermes e a história
termina quando Atena impõe uma plena reconciliação durante o combate entre Ulisses
e os familiares dos mortos. A concepção do poema é predominantemente dramática e
o caráter de Ulisses, marcado por obstinação, lealdade e perseverança em seus
propósitos, funciona como elemento de unificação que permeia toda a obra. Aí
aparecem fundidas ou combinadas uma série de lendas pertencentes a uma
antiqüíssima tradição oral com fundo histórico. Há forte crença de que a Odisséia reúna
temas oriundos da época em que os gregos exploravam e colonizavam o Mediterrâneo
ocidental, daí a presença de mitos com seres monstruosos no Ocidente, para eles
ainda misterioso. Pela extrema perfeição de seu todo, esse poema tem encantado o
homem de todas as épocas e lugares. É consenso na era moderna que a Odisséia
completa a Ilíada como retrato da civilização grega, e as duas juntas testemunham o
gênio de Homero e estão entre os pontos mais altos atingidos pela poesia universal.

TRÓIA
A Ilíada, um dos épicos de Homero, narra a guerra que causou a destruição da Tróia
lendária. A Tróia histórica constitui um dos mais ricos e extensos sítios arqueológicos
do mundo antigo. Tróia é uma cidade proto-histórica, atualmente identificada com uma
das nove cidades superpostas descobertas na colina Hissarlik, na Turquia. Foi erguida
por colonos gregos, por volta do ano 700 a.C., no estreito de Dardanelos, no extremo
noroeste da Anatólia, um local que já havia sido ocupado por sucessivas populações
pré-helênicas. A lenda do conflito entre aqueus e troianos pela posse da cidade
forneceu o argumento da Ilíada e obras posteriores. Entre 1870 e 1890, Heinrich
Schliemann identificou o local da antiga Tróia na colina de Hissarlik, e ali descobriu
sete cidades superpostas, destruídas por guerras ou catástrofes. Wilhelm Dörpfeld, que
o auxiliava desde 1882, prosseguiu as escavações e identificou restos de mais duas
cidades. Os estudos que o americano Carl William Blegen realizou entre 1932 e 1938
confirmaram a existência das nove cidades. Tróia I, o estrato mais antigo, data de 3000
a 2600 a.C., primeira fase do bronze antigo. É um pequeno recinto fortificado com
menos de cinqüenta metros na parte mais larga. Tróia II, ainda bem pequena e
fortificada, tinha cem metros de extensão máxima. Seria mais um castelo simples,
porém rico, destruído pelo fogo por volta de 2300 a.C. Nesse estrato descobriu-se jóias
e objetos preciosos que Schliemann, acreditando que se tratava da Tróia homérica,
denominou tesouro de Príamo. Tróia III, IV e V foram cidades de importância local que
existiram no período de 2300 a 1900 a.C., quando terminou o bronze antigo. Tróia VI,
bem mais importante e rica, surgiu pouco antes de 1725 a.C. e foi destruída por um
terremoto em aproximadamente 1275 a.C. De suas ruínas ergueu-se Tróia VII-a, a
verdadeira Tróia épica, destruída por volta de 1200 a.C. Tróia VIII é da época clássica
da Grécia e Tróia IX pertence ao período helenístico-romano, quando Alexandre nela
fez um sacrifício dedicado a Aquiles, de quem julgava descendente. No século IV d.C.,
desapareceram completamente os vestígios históricos da cidade. Páris, filho do rei
Príamo de Tróia, raptara Helena, esposa de Menelau, rei de Esparta e famosa por sua
beleza. Para se vingar, Menelau formou um poderoso exército comandado por
Agamenon e no qual se destacaram Aquiles e Ulisses. O cerco de Tróia, de dez anos,
foi marcado por feitos heróicos de ambos os lados, até que, sob inspiração de Ulisses,
os gregos construíram um gigantesco cavalo de madeira e o abandonaram perto das
portas de Tróia, fingindo uma retirada. Apesar dos presságios de Cassandra, os
troianos levaram para dentro da cidade o cavalo, que trazia em seu interior os
guerreiros de Ulisses. Abertas as portas, os gregos saquearam e destruíram Tróia. O
herói troiano Enéias, filho de Vênus, escapou com alguns partidários e, depois de
muitas aventuras, se instalou no Lácio. Os descendentes desse grupo deram origem ao
povo romano. É quase certo que a lenda tenha um núcleo de verdade, mas é
impossível provar-lhe a historicidade. Uma interpretação de documentos hititas, feita
em 1957, favoreceu a hipótese de que os aqueus fossem um povo pré-helênico
originário da Europa. Na época de Tróia VI, os aqueus, a partir da região, teriam se
espalhado pelo Egeu e formado colônias de micenianos, de onde mais tarde saíram
conquistadores de Tróia VII-a. As freqüentes migrações de povos nessa época, no
entanto, não permitem comprovar a hipótese.

HELENA DE TRÓIA
O rapto de Helena, que a mitologia grega descrevia como a mais bela das mulheres,
desencadeou a lendária guerra de Tróia. Personagem da Ilíada e da Odisséia, Helena
era filha de Zeus e da mortal Leda, esta esposa de Tíndaro, rei de Esparta. Ainda
menina, Helena foi raptada por Teseu, depois libertada e levada de volta para Esparta
por seus irmãos Castor e Pólux (os Dioscuri). Para evitar uma disputa entre os muitos
pretendentes, Tíndaro fez com que todos jurassem respeitar a escolha da filha. Ela se
casou com Menelau, rei de Esparta, irmão mais novo de Agamenon, que se casara
com uma irmã de Helena, Clitemnestra. Helena, contudo, abandonou o marido para
fugir com Páris, filho de Príamo, rei de Tróia. Os chefes gregos, solidários com
Menelau, organizaram uma expedição punitiva contra Tróia que originou uma guerra de
sete anos de duração. Após a morte de Páris em combate, Helena casou-se com seu
cunhado Deífobo, a quem atraiçoou quando da queda de Tróia, entregando-o a
Menelau, que retomou-a por esposa. Juntos voltaram a Esparta, onde viveram até a
morte. Foram enterrados em Terapne, na Lacônia. Segundo outra versão da lenda,
Helena sobreviveu ao marido e foi expulsa da cidade pelos enteados. Fugiu para
Rodes, onde foi enforcada pela rainha Polixo, que perdera o marido na guerra de Tróia.
Após a morte de Menelau, diz ainda outra versão, Helena casou-se com Aquiles e
viveu nas ilhas Afortunadas. Helena de Tróia foi adorada como deusa da beleza em
Terapne e diversos outros pontos do mundo grego. Sua lenda foi tomada como tema
de grandes poetas da literatura ocidental, de Homero e Virgílio a Goethe e Giraudoux.

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