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5-‐03-‐2013
Vamos
retomar
a
matéria
do
princípio
da
legalidade
e
do
poder
discricionário,
dando
o
enquadramento
geral
e
introduzindo
a
questão
do
poder
discricionário.
Começando
pela
lógica
do
princípio
da
legalidade,
esta
legalidade,
hoje,
tem
de
ser
entendida
numa
dimensão
diferente
que
é
desde
logo
uma
dimensão
constitucional
e
uma
dimensão
global,
porque
como
já
sabemos
o
Direito
Administrativo
dos
dias
de
hoje
deixou
de
ser
exclusivamente
ensimesmado,
a
viver
apenas
de
si
próprio
para
ter
que
se
abrir,
desde
logo,
aos
outros
domínios
do
ordenamento
jurídico
e
de
se
abrir
também
para
além
das
realidades
fronteiriças,
para
além
das
realidades
estaduais.
A
primeira
mudança
desta
concretização
está
bem
presente
numa
frase
emblemática
de
Fritz
Firman,
dos
anos
60-‐70,
que
considera
que
“o
Direito
Administrativo
é
Direito
Constitucional
concretizado”,
ou
seja,
o
Direito
Administrativo
existe
numa
relação
directa
e
imediata
com
o
Direito
Constitucional
e
existe
para
concretizar
as
grandes
opções
constitucionais.
Efectivamente
esta
nova
perspectiva
contrariava
a
versão
originária
(de
acordo
com
Otto
Mayer,
o
Direito
Constitucional
passava,
era
uma
coisa
passageira,
e
o
Direito
Administrativo
ficava),
e
a
lógica
clássica,
a
lógica
tradicional
era
de
uma
sobranceria
do
Direito
Administrativo
relativamente
ao
Direito
Constitucional.
O
direito
constitucional
era
uma
realidade
mais
política
do
que
jurídica
e
era
uma
realidade
tendente
a
mudar,
enquanto
que
a
Administração
Pública
se
manteria
e
daí
aquela
citação
famosa
de
Otto
Mayer
“O
Direito
Administrativo
fica
e
o
Direito
Constitucional
passa”.
Esta
nova
versão
de
olhar
para
o
Direito
Administrativo
como
um
fenómeno
da
concretização
da
constituição
é,
se
quiserem,
ou
dá
origem,
nos
nossos
dias,
a
uma
lógica
ainda
mais
elaborada.
Há
um
autor
alemão
Peter
Häberle,
que
fala
na
dupla
dependência
entre
a
constituição
e
o
direito
administrativo.
Há
uma
dependência
constitucional
do
direito
administrativo,
o
direito
administrativo
depende
da
constituição
que
consagra
as
opções
constitucionais,
realiza
directamente
os
preceitos
constitucionais.
Mas
também
há
uma
dependência
administrativa
do
direito
constitucional,
o
direito
constitucional
só
se
realiza
através
da
administração
pública.
Se
a
administração
pública
não
executar
as
grandes
opções
constitucionais,
essa
administração
pública
está
a
violar
a
missão,
está
a
cometer
uma
ilegalidade.
Esta
ideia
de
dupla
dependência
introduz
também
um
fenómeno
novo
que
tem
relevância
no
quadro
do
princípio
da
legalidade.
É
que
tradicionalmente
o
princípio
da
legalidade
tinha
a
ver
com
a
lei
formal,
a
lei
emanada
do
parlamento,
e
agora
esta
noção
mais
ampla
de
legalidade
implica
a
ideia
da
contrariedade
a
toda
a
ordem
jurídica
inclusive,
como
veremos,
a
contrariedade
aos
grandes
valores
da
CRP
e
aos
grandes
valores
do
Direito.
Quando
falamos
da
legalidade,
não
está
em
causa
uma
concreta
lei,
porque
mesmo
na
ausência
de
lei
a
administração
está
directamente
vinculada
pela
CRP.
Os
juízos
acerca
das
decisões
administrativas
fazem-‐se
com
base
no
parâmetro
constitucional,
a
CRP
é
a
razão
de
ser,
a
medida
e
o
limite
das
actuações
administrativas.
Portanto,
há
aqui
uma
dimensão
que
é
uma
dimensão
diferente
da
consagração
do
princípio
da
legalidade.
O
princípio
da
legalidade
tinha
nascido
no
liberalismo
político,
no
quadro
de
uma
lógica
formal,
o
que
estava
em
causa
era
a
subordinação
do
governo
à
lei
que
provinha
do
parlamento,
o
parlamento
na
lógica
do
sufrágio
censitário,
representada
a
burguesia
dominante
que
impunha
a
sua
vontade
através
da
lei,
a
administração
tinha
uma
função
secundária
e
derivada.
Esta
construção
liberal
vai
influenciar
a
teoria
do
princípio
da
legalidade
mas
também
vai
influenciar
a
construção
positivista
de
direito
e
da
ordem
jurídica,
a
ideia
que
considerava
a
administração
e
a
justiça
numa
posição
de
igualdade
com
funções
executoras
com
funções
de
mero
cumprimento
da
lei,
como
era
a
construção
Kel….
Nada
disto
faz
sentido
nos
dias
de
hoje,
a
administração
enquanto
função
do
Estado
é
uma
função
que
tem
que
concretizar
os
valores
constitucionais,
que
está
directamente
vinculada
pela
CRP.
A
administração,
na
sua
actuação
quotidiana
existe
para
realizar
os
grandes
valores
que
se
impõem
ao
direito.
Esta
transformação
também
é
mais
ampla
do
que
o
próprio
direito
constitucional,
ela
abrange
o
direito
internacional,
o
direito
global,
mas
abrange
também
todas
as
realidades
de
natureza
jurídica,
e
em
última
análise
até
os
próprios
actos
que
a
administração
vai
praticando.
A
ideia
de
que
há
um
principio
de
estabilidade
dos
direitos
constituídos
pela
administração,
esta
estabilidade,
mesmo
se
hoje
em
dia
é
uma
realidade
que
não
pode
ser
considerada
como
já
foi
no
inicio
do
século
XX.
Mas
esta
ideia
de
que
há
uma
certa
estabilidade
da
actuação
administrativa
implica
um
respeito
até
pelos
actos
administrativos
que
a
administração
já
praticou
e
que
não
pode
pôr
em
causa,
a
menos
que
haja
uma
mudança
das
circunstâncias
jurídicas,
uma
mudança
das
realidades
ou
a
menos
que
os
actos
sejam
ilegais.
Portanto,
isto
introduz
uma
visão
mais
exigente
da
legalidade,
a
legalidade
não
é
apenas
a
contradição
com
a
lei,
em
sentido
restrito,
a
legalidade
é
a
contradição
com
o
direito
no
seu
conjunto,
é
a
contradição
com
toda
a
ordem
jurídica.
Uma
visão
intermédia,
até
a
meio
do
período,
era
a
que
correspondia
à
lógica
francesa
de
Maurice
Haurriou
de
falar
no
bloco
de
legalidade,
o
que
já
era
mais
amplo
do
que
a
lei
em
sentido
restrito
mas
ainda
não
era
suficientemente
material,
porque
aquilo
que
se
passa
nos
dias
de
hoje
é
que
as
constituições,
como
de
resto
os
ordenamentos
jurídicos,
adquirem
valores,
valores
jurídicos
que
são
parâmetros
da
actuação
administrativa.
Quando
a
Constituição
estabelece
o
princípio
da
imparcialidade,
o
princípio
das
proporcionalidades,
o
princípio
da
justiça
ou
o
princípio
da
boa
fé,
isso
significa
que
há
valores
materiais
que
são
recebidos
pelo
direito
que
têm
que
ser
respeitados
pelo
direito
e
que
no
limite,
quando
não
são
cumpridos
geram
a
ilegalidade
das
decisões
administrativas.
É
por
isso
que
a
tendência
do
estrangeiro
é
a
de
falar,
num
sentido
mais
amplo,
não
apenas
em
legalidade
mas
em
juridicidade,
que
é
uma
expressão
que
em
Portugal
a
Prof.
Maria
da
Glória
Garcia
também
tem
proposto.
Eu
concordo
com
esta
ideia,
só
que
acho
que
em
rigor
não
é
necessário
mudar
a
palavra,
porque
se
repararem
esta
noção
foi
recebida
pelo
nosso
ordenamento
jurídico,
se
pegarem
no
CPA
logo
no
art.
2º
ou
3º
quando
define
o
princípio
da
legalidade
lá
diz
que
a
legalidade
é
a
subordinação
da
administração
à
lei
e
ao
direito,
quando
se
fala
em
direito
o
que
está
em
causa
é
todo
este
conjunto
valorativo
que
a
ordem
jurídica
estabelece,
um
conjunto
valorativo
que
obriga
a
fazer
opções
de
acordo
com
as
realidades
constitucionais.
Portanto,
o
princípio
da
legalidade,
de
acordo
com
esta
perspectiva,
foi
enriquecido,
já
não
é
o
princípio
da
contrariedade
a
uma
e
única
concreta
lei,
o
que
está
em
causa
é
a
necessidade
de
compatibilização
de
uma
actuação
administrativa
com
os
valores
fundamentais
da
ordem
jurídica,
mas
também
a
própria
lógica
interna
da
legalidade
foi
sendo
subvertida
e
reconstruída
no
quadro
da
evolução.
Os
liberais,
e
depois
os
autores
positivistas
no
inicio
do
sec.
XX
(…).
Aquilo
que
vai
corresponder
à
lógica
liberal
é
a
de
dividir
o
princípio
da
legalidade
em
princípio
da
reserva
de
lei
e
em
princípio
da
preferência
de
lei.
No
inicio
isto
tinha
um
sentido
rigoroso
que
hoje
em
dia
também
já
não
podemos
aceitar
e
que
correspondia
a
esta
lógica
liberal.
A
expressão
reserva
de
lei
é
algo
que
vem
dos
direitos
reais
e
corresponde
a
uma
certa
visão
liberal
de
olhar
para
a
Constituição,
a
ideia
de
que
os
direitos
têm
imites,
têm
extremos
como
a
propriedade,
confinam
a
Norte,
Sul,
Este,
Oeste
e
a
ideia
de
que
há
uma
reserva,
uma
coutada,
em
que
a
administração
não
pode
actuar.
Essa
ideia
da
reserva
de
lei
significava
precisamente
a
definição
do
domínio
da
liberdade
e
da
propriedade
em
que
a
administração
não
podia
intervir
porque
era
matéria
reservada
à
lei.
Era
uma
lógica
exclusivista
neste
entendimento
de
um
domínio
específico,
em
termos
reais.
O
Prof.
Lucas
Pires
dizia
que
a
noção
liberal
era
uma
espécie
de
visão
real
da
propriedade
e
da
liberdade
dos
direitos
fundamentais
e
que
essa
ideia
de
um
direito
real
concebido
à
imagem
de
um
direito
de
propriedade
era
algo
que
correspondia
a
essa
ideia
de
reserva
de
lei.
Nos
dias
de
hoje,
isto
não
faz
qualquer
sentido,
reserva
de
lei
no
sentido
de
haver
uma
matéria
que
é
exclusiva
da
legislação
é
algo
que
entendido
nestes
termos
absolutos
que
e
é
uma
matéria
que
corresponde
ao
universo
da
liberdade
da
propriedade
não
faz
sentido
nos
dias
de
hoje.
Portanto,
esta
lógica
precisa
de
ser
reconstruída
no
sentido
de
dizer
que
há
determinadas
matérias
em
que
as
grandes
opções
devem
ser
determinadas
pelo
legislador,
isto
decorre
também
de
opções
constitucionais,
mas
isso
não
implica
necessariamente
a
intervenção
do
legislador
em
todos
os
momentos
da
actuação
administrativa,
o
legislador
não
pode
determinar
todas
as
coisas
e
há
coisas
que
tem
que
deixar
à
administração,
o
que
introduz,
também,
a
ideia
de
que
a
administração
tem
um
poder
de
escolha,
um
poder
de
escolha
obrigado
pela
CRP
e
um
poder
de
escolha
que
vai
alem
da
lei.
O
legislador
não
pode
prever
todas
as
coisas
(“há
mais
coisas
no
céu
e
na
terra
do
que
na
cabeça
do
legislador”).(…).
Como
tal
o
legislador
deve
estabelecer
os
valores
e
os
princípios,
que
tem
que
ser
concretizados
pela
administração
no
caso
concreto,
que
têm
que
ser
reconstruídos
no
caso
concreto.
A
função
legislativa
não
é
a
função
executiva
de
que
falava
Kelvin
M…,
a
administração
foi
uma
função
criadora
ao
aplicar
o
direito
ao
caso
concreto,
ao
satisfazer
as
necessidades
públicas,
a
administração
tem
de
interpretar,
tem
que
reconstruir,
tem
que
estabelecer
uma
realidade
que
implica
uma
dimensão
criadora
por
parte
da
administração,
uma
realidade
que
não
é
totalmente
secundária
nem
totalmente
privada.
E
a
própria
ideia
de
preferência
de
lei,
e
esta
já
tem
uma
maior
adesão
à
realidade,
que
é
a
ideia
de
que
em
última
análise
a
lei
prefere
sobre
todas
as
circunstâncias,
é
preciso
entender
que
esta
preferência
de
lei
existe
em
termos
formais
também
não
significa
que
esta
lei
não
seja
subordinada
à
CRP
nem
aos
valores
constitucionais.
Esta
própria
ideia
de
preferência
de
lei
tem
de
ser
reformulada,
e
é
por
isso
que
eu
julgo
mais
adequado,
do
que
utilizar
esses
mecanismos
tradicionais
da
reserva
de
lei
e
da
preferência
de
lei
para
explicar
a
diferença
entre
poder
discricionário
e
poder
vinculado,
usar
uma
expressão
(…)
que
é
a
noção
de
conformidade
e
compatibilidade.
Nalguns
casos,
a
ordem
jurídica
ao
regular
uma
actuação
administrativa
é
de
tal
forma
detalhada
que
a
administração
deve
actuar
de
forma
conforme
a
essa
previsão
legislativa,
portanto,
nesses
casos
os
aspectos
vinculados
à
actuação
administrativa
são
bastante
mais
amplos
que
os
aspectos
discricionários.
É
impossível
eliminar
os
aspectos
discricionários
mas
eles
podem
ser
mais
ou
menos
amplos
e
quando
a
lei
estabelece
que
a
administração
deve
actuar
de
forma
conforme
àquela
previsão,
isso
significa
que
o
legislador
está
a
estabelecer
um
núcleo
amplo
de
aspectos
discricionários
de
exercício
do
poder.
Mas
há
outros
casos
em
que
a
lei
apenas
determina
aquilo
que
é
uma
lógica
de
compatibilidade,
a
lei
deixa
a
administração
a
escolha
das
soluções
mais
adequadas
desde
que
compatíveis
com
os
princípios
e
os
valores
constitucionais.
Ou
seja,
esta
é
a
realidade
essencial
que
corresponde
à
lógica
do
poder
discricionário,
a
administração
escolhe
e
ao
escolher
ela
é
responsável
por
essas
decisões.
Entender
as
coisas
nestes
termos
implica
uma
nova
visão
da
lógica
do
poder
vinculado,
aquele
que
corresponde
a
uma
realidade
que
está
pré-‐
determinada
na
lei,
e
do
poder
discricionário,
na
medida
em
que
a
lei
permite
uma
margem
de
escolha
da
administração.
Esta
realidade
de
entendimento,
de
relacionamento
entre
o
poder
vinculado
e
o
discricionário
deve
em
primeiro
lugar
partir
de
um
pressuposto,
que
não
era
o
pressuposto
liberal,
um
pressuposto
que
a
lei
não
pode
nem
deve
regular
todas
as
coisas.
É
impossível
ao
legislador
prever
todas
as
hipóteses
possíveis
e
imaginárias,
estabelecer
o
cálculo
de
construção
de
todos
os
aeroportos,
de
todas
as
pontes,
de
todas
as
cidades,
de
todas
as
terras,
etc.
Mas
mesmo
que
pudesse,
o
legislador
não
devia
fazer
isso
porque
as
decisões
concretas
precisam
de
uma
lógica
de
aplicação
do
direito
ao
caso
concreto,
são
escolhas
que
são
da
responsabilidade
da
administração,
escolhas
pelas
quais
a
administração
deve
responder
em
tribunal,
mas
que
são
escolhas
dela.
Isto
implica
ultrapassar
dois
dos
pressupostos
liberais,
dois
dos
pressupostos
positivistas
do
entendimento
do
princípio
da
legalidade:
o
primeiro,
a
ideia
de
que
o
princípio
da
legalidade
é
uma
coisa
em
vias
de
extinção,
o
legislador
vai
legislando
tudo
e
algum
dia
acaba
com
a
discricionariedade
–
isto
é
um
disparate
puro
e
simples,
é
impossível
ao
legislador
prever
todas
as
coisas
e
mesmo
que
possível
era
um
absurdo,
conduzia
a
situações
ilógicas.
O
sítio,
o
local
mais
adequado
para
construir
um
aeroporto
em
Lisboa
é
algo
que
depende
de
escolhas,
não
pode
ser
pré-‐
determinado
para
todos
os
aeroportos
de
todo
o
mundo,
os
princípios
tem
de
ser
iguais
mas
tem
de
haver
flexibilidade
nas
opções
que
estão
a
ser
tomadas.
O
poder
administrativo
é
um
poder
criador,
é
um
poder
de
aplicar
a
lei
ao
caso
concreto
recreando
esta
lei
na
busca
das
melhores
soluções
possíveis.
Aquela
visão
tradicional
que
estava
em
voga,
também
nesta
escola,
o
Prof.
Marcelo
Caetano
dizia
que
o
poder
discricionário
era
uma
excepção
ao
princípio
da
legalidade,
mas
não
é,
é
uma
forma
de
realização
do
princípio
da
legalidade.
Este
é
hoje
tão
exigente
que
obriga
também
o
poder
discricionário.
O
contraponto
desta
realidade
era
dizer:
mas
a
administração
no
poder
discricionário
pode
fazer
aquilo
que
entender,
a
administração
é
livre!
–
A
administração
nunca
é
livre,
é
sempre
responsável,
responde
sempre
pelos
seus
actos
e
todos
os
seus
actos
podem
ser
controlados.
E
portanto
a
ideia,
que
alguns
autores
ainda
repetem
mas
que
na
minha
perspectiva
de
forma
errada,
de
que
o
poder
discricionário
é
um
poder
mais
livre,
que
o
poder
discricionário
não
está
submetido
a
qualquer
controlo
jurisdicional,
é
uma
ideia
errada.
Um
poder
discricionário
exercido
em
violação
do
princípio
da
justiça,
em
violação
do
princípio
da
proporcionalidade,
em
violação
do
princípio
da
imparcialidade
está
a
ser
exercido
ilegalmente,
a
actuação
administrativa
é
ilegal.
Isto
pode
e
deve
ser
controlado
pelos
tribunais
e,
portanto,
não
só
o
poder
discricionário
é
algo
que
não
pode
nunca
ser
evitado
como
é
algo
desejável
para
que
as
decisões
administrativas
sejam
mais
adequadas,
como
isto
significa
que
a
administração
deve
ser
mais
responsabilizada
pelo
exercício
do
poder
discricionário
e,
por
causa
disso,
a
administração
deve
responder
pelos
seus
actos.
Esta
ideia
tradicional
foi
afastada
só
perto
dos
anos
70,
o
próprio
Prof.
Freitas
do
Amaral,
que
hoje
diz
e
bem
que
qualquer
acto
administrativo
tem
aspectos
discricionários
e
aspectos
vinculados,
nas
primeiras
lições
de
Direito
Administrativo
ainda
incluía
o
poder
discricionário
entre
as
excepções
do
Princípio
da
Legalidade.
O
que
está
em
causa
não
é
uma
excepção,
mas
um
modo
diferente
de
realizar
a
legalidade,
é
um
modo
que
implica
uma
lógica
crítica
e
criadora,
uma
lógica
da
responsabilidade
da
administração,
mas
a
administração
responde
perante
terceiros
e
perante
os
tribunais.
Não
faz
sentido
dizer
que
estamos
perante
uma
reserva
dos
tribunais,
ainda
hoje
também
se
diz
que
há
uma
reserva
da
administração
e
que
os
tribunais
não
a
podem
controlar,
mas
os
tribunais
podem
controlar
tudo,
na
medida
da
legalidade.
A
legalidade
na
medida
em
que
aceita
princípios
materiais
como
a
justiça,
a
igualdade,
a
proporcionalidade
permite
o
controlo
de
todas
as
coisas.
Diz
o
Prof.
Freitas
do
Amaral,
e
bem,
que
hoje
em
dia
nenhum
acto
administrativo
é
integralmente
discricionário
ou
integralmente
vinculado,
porque
em
todos
os
actos
administrativos
há
aspectos
do
poder
que
são
discricionários
ou
vinculados.
Não
faz
sentido
dizer,
como
se
diz
noutros
ordenamentos
jurídicos
ou
como
dizia
a
doutrina
clássica
que
há
actos
discricionários
e
actos
vinculados,
porque
não
há.
Todos
os
actos
têm
em
medida
diferente
aspectos
vinculados
e
aspectos
discricionários.
Indo
mais
longe
do
que
o
Prof.
Freitas
do
Amaral,
entendo
que
o
problema
não
é
apenas
do
acto,
não
é
apenas
da
actuação
administrativa
final,
no
caso
do
acto,
contrato
ou
regulamento,
embora
eu
fale
do
acto.
O
problema
é
que
cada
poder
administrativo,
seja
ele
qual
for,
é
um
poder
simultaneamente
discricionário
e
vinculado.
É
preciso,
do
poder
criativo
da
administração
de
reconstruir
a
lei
ao
caso
concreto,
esta
reconstrução
não
é
apenas
a
de
opção
entre
duas
realidades
que
a
lei
considera
como
imediatamente
iguais.
Aqui
entramos
numa
outra
questão
que
merece
discussão,
que
é
a
da
natureza
deste
poder
discricionário.
É
que,
no
quadro
da
doutrina
portuguesa
maioritária,
a
lógica
que
o
Prof.
Freitas
do
Amaral
tem
defendido
e
que
tem
a
ver
com
este
grande
progresso
que
é
já
dizer
que
os
actos
são
discricionários
e
vinculados,
mas
ao
mesmo
tempo
que
se
diz
isso
(…).
A
lógica
clássica,
a
lógica
tradicional,
assentava
num
entendimento
que
já
dava
alguma
valorização
ao
poder
discricionário,
mas
que
ainda
colocava
esta
distinção
no
quadro
das
formas
finais
de
actuação,
ao
nível
do
acto,
do
regulamento
e
do
contrato,
e
da
minha
perspectiva
esta
ideia
de
que
não
há
poderes
integralmente
discricionários
nem
poderes
integralmente
vinculados
também
se
coloca
em
relação
aos
próprios
poderes
administrativos
que
são
exercidos,
não
é
só
apenas
o
acto
que
não
pode
ser
discricionário
nem
vinculado,
é
o
próprio
exercício
do
poder,
a
propósito
de
qualquer
realidade,
que
não
pode
ser
nem
discricionário
nem
vinculado.
A
lógica
tradicional
era
a
de
dizer
o
seguinte,
neste
entendimento,
a
lei
nalguns
casos
prevê
o
essencial
da
actuação
administrativa,
deixando
sempre
alguma
discricionariedade,
quanto
mais
não
seja
quanto
ao
momento
da
decisão,
noutros
casos
a
lei
estabelece
que
há
para
ela
um
diferente
escolher
entre
duas
ou
três
opções
legais.
O
problema
é
de
escolha,
entre
duas
opções
alternativas
igualmente
valoradas
pela
lei.
Só
que
isto
é
ainda
uma
visão
limitada
do
poder
discricionário,
porque
as
opções
da
administração
não
se
colocam
apenas
entre
escolhas
finais,
as
opções
começam
no
momento
em
que
a
administração
interpreta
a
lei,
interpretar
a
lei
significa
fazer
opções,
que
são
opções
discricionárias,
são
opções
da
responsabilidade
da
administração
mas
são
opções
que
ela
tem
de
tomar.
Só
os
positivistas
do
se.
XIX
é
que
podiam
dizer
que
a
lei
só
tem
uma
interpretação,
interpretar
a
lei
é
um
poder
vinculado,
depois
pode
haver
poder
discricionário
na
sua
execução,
mas
a
interpretação
é
única.
(…)
Alguém
ainda
acredita
que
há
uma
única
interpretação
para
todas
as
normas?
Claro
que
não
há.
Claro
que
a
questão
se
tem
de
colocar
no
quadro
da
aplicação,
os
tribunais
aplicam
e
há
uma
visão
que
é
dominante
naquele
momento
mas
é
naquele
momento,
porque
no
momento
seguinte
pode
ter
a
visão
oposta
e,
portanto
não
há
uma
única
interpretação.
Interpretar
é
escolher!
A
primeira
escolha
coloca-‐se
ao
nível
da
interpretação
da
lei.
Depois
há
um
segundo
momento
que
é
o
da
aplicação
da
lei,
fazer
enquadrar
aquilo
que
é
a
previsão
legal
naquilo
que
a
norma
diz,
e
aqui
temos
de
novo
escolhas,
que
são
da
responsabilidade
da
administração.
A
administração
tem
de
saber
quais
são
as
situações
de
risco
que
atribuem
poderes
especiais
aos
órgãos
administrativos,
a
administração
tem
de
saber
quando
é
que
há
uma
questão
de
insuficiência
económica
que
justifica
a
atribuição
de
uma
pensão
de
saúde.
É
um
juízo
que
decorre
da
aplicação
dos
factos
à
lei,
é
um
juízo
que
obriga
a
responsabilidade
no
âmbito
da
apreciação
dos
conceitos
legais.
Depois
há
a
discricionariedade
na
decisão,
no
momento
da
decisão
pode
haver
várias
soluções
legalmente
possíveis.
Mas
a
discricionariedade
não
se
resume
ao
momento
da
decisão.
A
escola
de
Lisboa,
Marcelo
Caetano,
Freitas
do
Amaral,
Paulo
Otero,
entre
outros,
considera
a
discricionariedade
como
uma
realidade
ligada
apenas
à
decisão,
é
a
margem
de
decisão.
Em
oposição
a
isto,
a
escola
de
Coimbra,
mais
influenciada
pelo
Direito
Alemão,
fala
numa
dupla
dimensão
da
discricionariedade
e
diz
que
a
discricionariedade
corresponde
não
apenas
à
margem
de
decisão
mas
também
à
margem
de
apreciação.
Há
quem
fale
em
margem
de
livre
apreciação
e
margem
de
livre
decisão,
isto
é
uma
posição
tradicional
da
escola
de
Coimbra
que
vem
do
Prof.
Rogério
Soares,
que
vem
de
Vieira
de
Andrade,
que
tem
adeptos
em
Lisboa
como
Sérvulo
Correia
e
Marcelo
R.
Sousa,
mas
que
da
minha
perspectiva
se
é
uma
visão
melhor
do
entendimento
da
discricionariedade
ainda
não
é
suficiente
porque
deixa
de
fora
o
momento
da
interpretação.
Para
além
da
margem
de
apreciação
e
da
margem
de
decisão
ainda
há
uma
margem
de
interpretação,
são
estes
os
três
momentos
do
poder
discricionário.
A
margem
de
interpretação,
a
margem
de
apreciação,
da
aplicação
dos
factos
à
realidade,
e
margem
de
decisão,
as
opções
que
resultam
desta
interpretação
e
desta
apreciação.
E
em
todos
e
em
cada
um
destes
momentos
que
nos
podemos
separar
em
termos
lógicos,
mas
que
são
um
contínuo
na
actividade
jurista
e
na
actividade
da
administração,
há
escolhas,
há
aspectos
discricionários.
A
administração
tem
que
escolher
em
primeiro
lugar
a
melhor
interpretação
da
lei,
para
aquele
caso
concreto
que
a
obriga
naquele
momento,
tem
que
apreciar
da
melhor
maneira
os
factos
e
enquadrá-‐los
na
norma
–
a
margem
de
apreciação
-‐,
e
tem
que
acrescentar
a
margem
de
decisão.
Os
autores
que
falam
em
margem
apreciação
e
margem
decisão,
costumam
acrescentar
a
expressão
“livre”,
eu
confesso
que
não
gosto
e
que
nunca
utilizo,
por
uma
razão
simples,
isto
vem
de
um
equívoco,
desde
logo
de
tradução,
porque
a
tradução
do
direito
alemão
é
intraduzível
(…).
Mas
isto
introduz
uma
lógica
de
que
há
aqui
uma
grande
amplitude
de
escolha
e
para
mostrar
essa
amplitude
muitos
autores
falam
em
margem
de
livre
apreciação
e
margem
de
livre
decisão.
Ora
bem,
eu
acho
que
o
termo
livre
não
é
adequado,
porque
a
administração
nunca
é
livre,
o
meu
entendimento
do
Princípio
da
Legalidade
é
que
a
administração
está
sempre
a
aplicar
o
direito
no
seu
conjunto,
e
essa
aplicação
não
é
livre,
agora
essa
aplicação
do
direito
obriga
a
escolhas,
escolhas
que
são
da
responsabilidade
da
administração
e
escolhas
que
são
susceptíveis
de
ser
controladas.
Não
há
nunca
liberdade,
há
uma
margem,
uma
margem
de
interpretação,
apreciação
e
decisão,
mas
esta
margem
nunca
é
livre.
A
razão
porque
eu
introduzo
estas
três
dimensões
tem
a
ver
também
com
uma
posição
que
eu
assumo
no
quadro
da
teoria
jurídica,
que
é
olhar
para
o
Direito
como
uma
realidade
cultural,
uma
realidade
cultural
que
tem
que
ser
interpretada,
aplicada
e
entendida
no
quadro
de
uma
dimensão
cultural.
Não
basta
apenas
olhar
para
a
norma,
é
preciso
ver
como
a
norma
é
aplicada
e
é
preciso
ver
como
ela
é
interpretada
e
o
resultado
de
tudo
isto
é
que
conduz
ao
resultado
de
uma
realidade
que
está
em
causa.
Isto
corresponde
a
uma
visão
que
no
quadro
da
teoria
do
direito
tem
sido
defendida
por
(…)
e
por
uma
corrente
que
está
muito
na
moda,
uma
corrente
culturalista
que
olha
para
o
direito
como
um
fenómeno
artístico.
Esta
começou
por
dizer
que
o
direito
era
um
fenómeno
literário,
depois
acrescentou
que
o
direito
era
parecido
com
a
transição
jurídica,
depois
começou
a
dizer
que
o
direito
era
uma
arte
dramática.
A
ideia
que
o
direito
é
uma
realidade
que
tem
uma
dimensão
cultural
e
uma
dimensão
artística
e
tem
que
ser
entendida
neste
sentido.
Esta
ideia,
da
minha
perspectiva
é
essencial
para
compreender
a
realidade
de
hoje.
Como
é
que
isto
nasceu?
Nasceu
da
chamada
teoria
filosófica
do
(…),
a
teoria
da
hermenêutica
jurídica.
O
jurista
no
quadro
de
uma
lógica
hermenêutica
vai
aplicar
uma
lei
a
um
caso
concreto,
uma
coisa
é
a
lei
legislada,
outra
coisa
é
a
prática
social
da
lei,
são
realidades
diferentes
e
têm
que
ser
entendidas
no
quadro
deste
entendimento
e
o
que
o
jurista
faz
é
aplicar
uma
realidade
legislada,
um
texto
legislativo
a
uma
realidade
efectiva
e
portanto
surgiu
daí
a
ideia
que
o
jurista
era
como
um
critico
literário
(…).
Primeiro
a
ideia
da
aproximação
à
literatura,
o
autor
escreve
um
texto
e
esse
texto
ao
ser
lido
pelo
leitor
vai
ser
transformado.
Aliás
diz-‐se
que
o
autor
deixa
de
existir
a
partir
do
momento
em
que
escreve
a
sua
obra,
o
autor
liberta-‐se
da
sua
obra
e
a
obra
passa
a
ser
de
quem
a
lê.
A
norma
jurídica,
a
partir
do
momento
em
que
é
escrita
passa
a
ser
interpretada
pelo
interprete
e
passa
a
ser
o
interprete
o
dono
dessa
norma
jurídica.
Tal
como
o
critico
literário
que
interpreta
a
obra
em
todos
os
seus
conceitos
possíveis
e
imaginários,
também
o
jurista
tem
que
interpretar
essa
norma
em
todos
os
contextos
materiais
possíveis
e
imaginários.
(…)
Depois
chegou-‐se
à
conclusão
de
que
isto
ainda
era
muito
fechado,
literatura
é
uma
coisa
feita
na
sala
escura
(…)
e,
portanto,
isto
ainda
não
é
bem
o
direito.
E
vem-‐se
dizer
que
o
direito
é
mais
uma
coisa
como
a
tradução,
porque
a
tradução
implica
a
tradução
do
mundo
da
norma
ao
mundo
da
realidade,
implica
um
esforço
de
adaptação
e
um
esforço
cultural
de
transpor
de
uma
língua
para
a
outra,
porque
traduzir
também
não
é
uma
coisa
literal,
tradução
literal
fazem
os
computadores
e
fica
uma
coisa
que
não
tem
utilidade
nem
lógica.
(…)
O
tradutor
tem
que
traduzir
de
uma
língua
para
a
outra,
tem
de
procurar
a
dimensão
cultural
e
tem
que
adaptar
dois
códigos
diferentes.
Mas
isto,
de
novo,
continua
a
ser
uma
actividade
fechada
e
daí
o
Sr.
M(…)
dizer
que
a
função
do
jurista
é
como
a
de
um
músico
ou
de
um
artista
numa
sal
de
teatro,
porque
o
intérprete
vai
recrear
um
texto,
aplicando-‐o
ao
caso
concreto,
vai
interpretá-‐lo
e
as
interpretações
são
todas
diferentes,
qualquer
intérprete
tem
uma
interpretação
diferente
da
obra,
qualquer
trecho
musical
tocado
pela
prima
num
fim-‐de-‐semana
ou
tocado
por
um
grande
pianista
é
completamente
diferente
e
cada
pianista
interpreta
o
texto
de
forma
diferente.
E,
portanto,
há
em
primeiro
lugar
uma
realidade
única
que
é
da
interpretação,
o
jurista
ao
interpretar
está
a
dar
um
sentido
ao
original,
um
sentido
criador
à
norma
que
ele
interpreta
e
depois
vai
aplicá-‐la
em
publico,
aplicá-‐la
numa
sala
de
espectáculos,
aplicá-‐la
numa
aula,
aplicá-‐la
num
tribunal,
e
ao
aplicar
esta
norma
há
um
resultado
social
que
produz
um
resultado
do
publico
na
audiência,
na
sala
de
audiências
de
um
tribunal,
o
publico
pode
aderir
entusiástica
e
apoplecticamente
ou
o
publico
pode
apupar
(…).
O
jurista,
tal
como
o
músico
ou
como
o
artista
de
teatro,
vai
interpretar
a
norma
recreando-‐a,
reconstruindo-‐a,
vai
aplicá-‐la
a
uma
situação
concreta,
vai
actuar
numa
realidade
de
aplicação
de
um
contexto
material
transformando
pela
interpretação
e
pela
aplicação
a
partitura
que
está
a
tocar
e
vai
ter
um
resultado
social
que
é
o
modo
como
a
sala
reage
àquilo
que
ele
está
a
dizer.
Esta
ideia
é
para
mim
a
ideia
que
explica
a
diferença
entre
o
poder
vinculado
e
o
poder
discricionário,
a
administração
é
responsável,
primeiro,
por
interpretar
a
norma,
por
recrear
a
norma
no
caso
concreto
e
a
interpretação
é
criadora,
em
segundo
a
administração
vai
aplicar
essa
norma,
vai
subsumi-‐la
à
realidade,
vai
reconstrui-‐la
no
momento
da
aplicação
e,
por
último,
a
administração
vai
poder
decidir
em
várias
soluções
legalmente
possíveis
e
isto
conduz
a
um
resultado
que
tem
uma
dimensão
social.
Reintroduzir
a
dimensão
cultural
também
introduz
a
dimensão
da
aleatoriedade,
cada
intérprete
actua
de
forma
diferente
e
é
a
audiência
que
vai
determinando
o
modo
como
o
direito
vai
ser
aplicado.
É
por
isso
que
tão
importante
como
a
interpretação
dominante
é
a
interpretação
minoritária,
tão
importante
como
o
conteúdo
da
sentença
é
voto
vencido,
tão
importante
como
as
opções
principais
são
as
opções
secundárias,
e
o
direito
enquanto
fenómeno
cultural
está
em
mudança
permanente,
a
realidade
também
está
em
permanente
mudança
e
em
permanente
transição,
há
responsabilidade
na
interpretação,
há
responsabilidade
na
aplicação
aos
factos
e
há
responsabilidade
na
decisão.
Tudo
isto
é
a
minha
opinião
do
poder
discricionário
e
é
esta
tentativa
hermenêutica
que
nós
vamos
fazer
na
aula
de
5ª
feira
com
a
receita
culinária.
7-‐03-‐2013
Após
análise
do
princípio
da
legalidade
e
a
sua
evolução
até
aos
nossos
dias,
incluindo
o
pargo
conceito
de
discricionariedade
e
de
vinculação,
cabe
agora,
através
de
um
“experiência
culinária”,
tentar
explicar
uma
concretização
dos
poderes
discricionário
e
poder
vinculado,
a
respeito
da
matéria
relativa
ao
princípio
da
legalidade.
Examinemos,
para
tanto,
uma
receita
culinária.
VASCO
PEREIRA
DA
SILVA
apresenta,
desde
logo,
uma
receita
brasileira
que
dá
pelo
nome
de
escondidinho
de
carne
moída
com
mandioca,
o
que
coloca,
à
partida,
um
problema
de
interpretação:
o
que
é
o
escondidinho?
O
escondidinho,
diz-‐nos
VASCO
PEREIRA
DA
SILVA,
pela
sua
experiência
brasileira,
significa
um
prato
em
que
a
carne
não
está
à
vista.
Mas
como
é
que
está
escondida
e
como
é
que
se
esconde
a
carne?
Deparamo-‐nos
com
o
primeiro
problema
de
interpretação,
de
aplicação
e
de
execução.
Relembremos,
previamente,
um
aspeto
relevante
quanto
ao
âmbito
e
noção
do
já
estudado
princípio
da
legalidade.
Vimos
que
este
princípio
tem
vindo
a
alargar
progressivamente.
Começou
por
ser
um
princípio
meramente
formal
e
transformou-‐se
num
princípio
material.
Quando
falamos
em
submissão
da
Administração
à
lei,
não
estamos
a
pensar
apenas
nas
leis
provenientes
do
Parlamento,
nem
sequer
das
leis
em
sentido
formal.
Estamos,
antes,
a
pensar
na
contrariedade
ao
Direito
e,
nessa
noção
de
contrariedade
ao
Direito,
cabem
também,
como
vimos,
princípios
e
valores
da
Ordem
Jurídica
que
obrigam
a
Administração,
mesmo
no
exercício
de
poderes
discricionários,
mesmo
naquelas
situações
em
que
a
Administração
tem
alguma
margem
de
manobra
para
decidir,
alguma
margem
de
manobra
para
actuar.
Este
foi
o
primeiro
dos
alargamentos
que
nós
vimos.
Na
sequência
deste
alargamento
material,
vimos
também
que
neste
sentido,
a
contrariedade
ao
Direito,
significa
a
contrariedade
não
apenas
a
todas
as
fontes
possíveis
e
imaginárias
de
normas
jurídicas,
mas
também
a
contrariedade
a
valores.
E
esse
juízo
é
decisivo
quando
estamos
no
quadro
do
poder
discricionário,
porque
são
esses
valores
que
são
suscetíveis
de
controlo,
e
é
através
desses
aspectos
que
os
Tribunais
podem
intervir
no
controlo
da
discricionariedade.
Vimos,
igualmente,
que,
nestes
termos,
discricionariedade
e
vinculação
são
duas
formas
de
realização
da
legalidade.
Não
faz
sentido,
na
opinião
de
VASCO
PEREIRA
DA
SILVA,
considerar
a
discricionariedade
como
uma
realidade
à
margem
do
Direito.
A
discricionariedade
é
uma
forma
de
realização
do
Direito
e
é
uma
forma
que
não
é
suscetível
de
ser
ultrapassada.
Hoje
em
dia,
qualquer
decisão
da
Administração,
seja
ela
qual
for,
tem
aspetos
discricionários
e
aspetos
vinculados.
Assim,
VASCO
PEREIRA
DA
SILVA
não
apenas
adota
a
posição
sufragada
por
FREITAS
DO
AMARAL,
como
acrescenta
que,
da
sua
perspetiva,
a
questão
não
se
coloca
apenas
ao
nível
da
decisão,
mas
também
ao
nível
do
poder.
Qualquer
poder
exercido
apresenta
aspetos
discricionários
e
aspetos
vinculados
e,
portanto,
é
impossível
eliminar
a
discricionariedade.
Aquela
lógica
do
liberalismo
político
de
que
a
discricionariedade
era
uma
exceção
ao
princípio
da
legalidade
é
algo
que
não
faz
mais
sentido.
A
ser
assim,
discricionariedade
e
vinculação
são
formas
de
realização
da
vontade
do
Direito,
são
formas
de
cumprir
as
determinações
do
Direito
para
o
caso
concreto,
o
que
significa
que
se
trata,
por
um
lado,
de
aumentar
a
responsabilidade
da
Administração
(porque
a
Administração
não
é
pura
e
simplesmente
derivada,
mas
tem
a
autonomia
da
concretização
do
direito),
mas
por
outro
lado,
essa
realidade
introduz
a
possibilidade
de
controlo
da
Administração.
Mas
o
controlo
não
é
exatamente
igual.
O
controlo
de
uma
vinculação
é
um
controlo
complexo,
porque
a
lei
diz
exatamente
aquilo
que
a
Administração
deve
fazer,
enquanto
o
controlo
da
discricionariedade
é
um
controlo
que
assenta
num
juízo
de
ponderação
de
princípios
e
valores
e,
portanto,
é
preciso
haver
um
desrespeito
desses
valores
para
que
haja
controlo
jurisdicional.
Isto
significa
que
não
interessa
se
a
decisão
é,
do
ponto
de
vista
do
mérito,
a
melhor
ou
a
pior,
pois
os
Tribunais
controlam
apenas
a
legalidade
do
nosso
sistema
jurídico.
Só
que
esta
legalidade,
nos
dias
de
hoje,
está
premiada
de
princípios
e
valores,
e
os
princípios
constitucionais
vinculam
directamente
a
Administração
no
exercício
dos
poderes
discricionários.
O
que
faltava
referir
no
quadro
deste
entendimento,
é
que
nos
dias
de
hoje,
o
princípio
da
legalidade
deve
ser
entendido
em
termos
amplos,
em
termos
de
implicar
um
conteúdo
que
tem
uma
tripla
dimensão.
A
legalidade,
desde
logo,
é
o
fundamento
da
actuação
administrativa
e
este
é
um
aspeto
derivado
do
exercício
do
poder
administrativo,
uma
vez
que
as
grandes
opções
são
tomadas
pelo
legislador.
O
legislador
diz
quando
a
Administração
deve
ou
não
deve
atuar.
Nenhuma
atuação
administrativa
pode
ter
lugar
se
não
tiver
por
fundamento
uma
lei,
uma
concreta
lei
que
lhe
atribua
poder
para
atuar.
Este
é
um
dos
aspetos
do
princípio
da
legalidade
que
se
traduz
no
princípio
da
competência,
isto
porque,
a
lei
estabelece
sempre
a
competência
dos
órgãos
e
sem
competência
para
decidir
não
é
possível
atuar.
Esta
regra
tem
toda
a
razão
de
ser,
desde
logo,
porque
os
diferentes
órgãos
administrativos
ou
não
administrativos,
exercem
a
função
administrativa,
os
diferentes
órgãos
têm
funções
diferenciadas
e,
portanto,
só
atuam
quando
se
trata
de
matéria
da
respectiva
competência.
Se
há
um
problema
de
saúde
pública,
espera-‐se
que
quem
atue
seja
a
Ministra
da
Agricultura
(que
agora
tem
o
pelouro
da
Saúde
Pública).
Não
pode
o
Ministro
da
Defesa
Nacional
substituir-‐se
a
ela.
Não
pode
o
Ministro
da
Economia
praticar
atos
em
vez
da
Ministra
da
Saúde.
O
que
significa
que
há,
nesta
ideia
do
fundamento,
uma
lógica
de
repartição
do
poder
por
diferentes
entidades
e
há
uma
lógica
de
escolha
daquela
entidade
que
está
em
melhores
condições
de
escolher.
Isso
significa
que
não
é
possível
atuar,
a
menos
que
haja
essa
competência,
e
essa
competência
é
determinada
pela
lei.
Este
é
o
aspecto
mais
secundário,
mais
derivado,
do
poder
discricionário.
Ele
só
existe
quando
esteja
previsto
na
lei,
porque
relativamente
aos
outros
aspetos,
a
lógica
secundária,
de
alguma
maneira,
é
afastada,
sobretudo
no
domínio
do
poder
discricionário,
pela
autonomia
da
Administração,
que
é
também
um
poder
do
Estado.
Portanto,
haverá
uma
lógica
mais
secundária
relativamente
aos
aspectos
que
a
lei
define
como
correspondendo
ao
poder
vinculado,
mas
há
uma
autonomia
da
Administração
que
escolhe
a
solução
mais
adequada
sempre
que
esteja
em
causa
um
poder
de
natureza
discricionária.
Mas,
para
além
do
fundamento
nos
dias
de
hoje,
a
lei
é
sempre
critério
da
decisão
administrativa.
O
princípio
da
legalidade
é
critério
da
decisão,
ou
seja,
a
lei
estabelece
os
parâmetros
a
que
essa
decisão
tem
de
se
conformar
se
se
tratar
do
exercício
de
um
poder
vinculado,
estabelece
os
parâmetros
com
os
quais
a
Administração
tem
de
compatibilizar
se
se
tratar
do
exercício
de
um
poder
de
natureza
discricionária.
Significa
isto
que,
no
caso
de
um
poder
vinculado
e
um
poder
com
um
grande
grau
de
vinculação
(“interpretem
nesses
termos
sempre
que
eu
usar
a
expressão
vinculado
ou
discricionário,
porque
em
rigor
nunca
nenhum
poder
é
integralmente
uma
coisa
ou
outra,
mas
um
poder
maioritariamente
vinculado
é
um
poder
em
que
a
Administração
vê
o
conteúdo
da
sua
decisão
pré-‐determinado
pelo
legislador”),
a
Administração
deve
cumprir
aquilo
que
diz
o
legislador.
Se
não
fizer
aquilo
que
diz
o
legislador,
nesses
aspectos
vinculados,
a
Administração
está
a
desrespeitar
a
lei.
Se
se
trata
de
um
poder
discricionário,
ou
seja,
predominantemente
discricionário,
aqui
a
Administração
tem
mais
autonomia,
mas
não
tem
nunca
liberdade.
A
Administração
nunca
é
livre,
as
suas
escolhas
são
sempre
balizadas,
o
que
leva
VASCO
PEREIRA
DA
SILVA
a
não
aceitar
aquela
fórmula
da
margem
de
livre
decisão
ou
margem
de
livre
apreciação.
Para
o
Senhor
Professor,
está
em
causa
apenas
uma
margem
de
apreciação,
uma
margem
de
decisão.
Aliás,
VASCO
PEREIRA
DA
SILVA
entende
que
há
também
uma
margem
de
interpretação.
Isto
significa
que,
em
relação
àqueles
aspetos
discricionários,
a
escolha
é
da
responsabilidade
da
Administração,
é
a
Administração
que
vai
escolher
a
forma
mais
correta
de
interpretar,
de
aplicar,
de
escolher
entre
várias
soluções
possíveis.
Isso
é
algo
que
é
inerente
ao
poder
administrativo
enquanto
poder
estadual.
É
por
isso
que
aquela
lógica
positivista
de
ver
a
Administração
como
um
poder
simplesmente
privado
entra
em
crise
perante
esta
situação.
A
Administração
aqui
é
autónoma,
a
Administração
aqui
faz
escolhas,
escolhas
das
quais
ela
é
responsável
e
o
ser
responsável
significa
que
estas
escolhas
podem
ser
controladas.
Existem
parâmetros
de
decisão,
mas
esses
parâmetros
de
decisão
são
também
parâmetros
de
controlo.
O
que
é
que
está
aqui
em
causa?
Uma
forma
clássica
de
colocar
a
questão
era
dizer
que
o
poder
discricionário
está
sempre
obrigado
ao
cumprimento
das
vinculações
legais
que
existam
no
caso
concreto.
Isto
é
verdade
sempre
que
há
aspetos
vinculados,
esses
aspetos
vinculados
têm
que
ser
respeitados,
têm
que
ser
cumpridos
e,
se
não
são
cumpridos,
há
controlo.
O
problema
é
saber
quais
são
esses
aspetos
vinculados.
Tradicionalmente,
como
se
encontra
no
manual
de
MARCELLO
CAETANO,
havia
apenas
dois
aspectos
vinculados
no
exercício
do
poder
discricionário:
a
competência,
a
tal
que
é
fundamento
do
poder
administrativo
e
o
fim.
Era
preciso
que
a
Administração
atuasse
de
acordo
com
o
fim
legal
para
o
qual
era
atribuído
aquele
poder.
Se
a
Administração
tem
um
poder
para
prosseguir
a
cultura,
se
tem
uma
verba
atribuída
no
âmbito
da
sua
competência
cultural,
não
pode
usar
esse
poder
para
prosseguir
o
fim
da
habitação,
ou
o
fim
da
segurança
social.
São
ainda
fins
públicos,
mas
são
fins
que
não
correspondem
àquele
poder
e,
portanto,
a
vinculação
do
fim
é
uma
vinculação
do
poder
discricionário.
A
Administração
deve
exercer
aquele
poder
para
o
fim
para
o
qual
ele
foi
concebido.
Mas
dizer
apenas
isto,
como
dizia
MARCELLO
CAETANO,
que
chegava
a
concluir
que
o
único
vício,
para
além
do
de
incompetência,
que
correspondia
ao
comportamento
da
Administração,
era
aquilo
a
que
se
chamava
o
vício
de
desvio
de
poder,
a
preterição
do
fim
legal
pela
persecução
de
um
fim
diferente
do
fim
legal,
que
podia
ser
de
interesse
publico
ou
de
interesse
privado.
FREITAS
DO
AMARAL
diz
que,
quando
está
causa
a
persecução
do
fim
de
interesse
privado,
há
corrupção,
porque
o
órgão
está
a
exercer
um
poder
público
para
fins
de
interesse
privado,
quando
se
trata
de
um
outro
fim
de
interesse
público
há
também
uma
ilegalidade
embora
não
tão
grave.
Mas
dizer
isto
era
dizer
pouco…
Porque
isto
esquecia
que
a
Administração
estava
diretamente
obrigada
pela
Constituição
e,
ao
estar
diretamente
obrigada
constitucionalmente,
os
princípios
constitucionais
são
vínculos
autónomos
do
poder
discricionário,
o
que
significa
que
a
Administração
não
pode
tratar
os
particulares
de
forma
desigual,
por
exemplo,
porque
um
dos
vínculos
é
o
princípio
da
igualdade.
Se
há
quatro
candidatos
a
um
concurso,
a
Administração
tem
que
os
tratar
em
condições
iguais,
não
pode
favorecer
um
relativamente
a
outro,
seja
por
que
razão
for.
Se
nas
relações
entre
privados
os
indivíduos
podem
fazer
escolhas
que
podem
ser
aberrantes
mas
que
são
justificadas,
como,
por
exemplo,
comprar
os
jornais
num
vizinho
porque
é
do
mesmo
partido
politico
ou
de
qualquer
outra
coisa,
o
que
num
ponto
de
vista
privado
é
admissível,
já
a
Administração
não
pode
fazer
estas
coisas.
A
Administração
não
pode
escolher
o
candidato
por
razões
partidárias,
por
razões
religiosas,
por
razões
sejam
elas
quais
forem.
Mas,
para
além
da
igualdade,
a
Administração
está
obrigada
por
outros
princípios,
como
o
da
imparcialidade,
segundo
o
qual
a
Administração
não
pode
decidir
em
causa
própria.
Isto
significa
que
o
Presidente
da
Câmara,
o
Ministro,
o
Chefe
de
Serviços,
o
Chefe
de
uma
Repartição
pública,
não
pode
contratar
a
sua
mulher,
nem
os
vizinhos,
nem
a
família,
nem
as
pessoas
com
as
quais
tenha
relações
de
proximidade
ou
de
inimizade.
Isto,
não
porque
essas
pessoas
eventualmente
não
sejam
as
melhores
possíveis,
mas
porque
se
se
tomasse
essa
decisão,
se
estaria
a
decidir
em
causa
própria,
uma
vez
que,
no
caso,
o
decisor
seria
parte
interessada.
Portanto,
a
decisão
de
contratação
da
mulher,
do
primo,
da
amiga,
enfim,
aquelas
histórias
que
se
contam
e
que
infelizmente
tanto
acontecem,
(“graças
a
deus
já
não
tanto
como
noutros
tempos”,
desabafa
VASCO
PEREIRA
DA
SILVA),
trata-‐se
de
situações
de
violação
do
principio
da
imparcialidade,
trata-‐se
de
situações
ilegais.
Mas,
para
além
disso,
há
outros
critérios
materialmente
ainda
mais
importantes.
O
critério
da
proporcionalidade
é
um
critério
que
permite
controlar
as
próprias
escolhas
da
Administração.
A
proporcionalidade
significa
que
a
medida
seja
necessária,
em
primeiro
lugar,
porque
uma
medida
desnecessária
é
ilegal,
e,
portanto,
a
necessidade
implica
um
controlo
do
poder
discricionário.
Em
segundo
lugar,
pode
ser
necessária,
mas
não
ser
adequada
e,
se
é
necessária
mas
não
é
adequada,
há
também
ilegalidade.
Por
outro
lado,
a
medida
tem
que
afectar
de
forma
equivalente
todos
os
particulares,
pelo
que
se
prejudica
um
relativamente
aos
demais,
ou
se
é
mais
gravosa
para
alguns
particulares
relativamente
a
outros,
a
Administração
está
a
cometer
uma
ilegalidade.
A
existência
do
princípio
da
proporcionalidade
significa
que
as
decisões
administrativas
deixaram
de
ser
livres,
a
Administração
tem
sempre
que
fazer
as
escolhas
necessárias,
adequadas
e
proporcionais
em
sentido
restrito.
Isso
significa
que
os
critérios
da
decisão
podem
ser
controlados.
Quando
estava
em
causa
só
o
fim
legal,
ainda
se
podia
dizer,
como
dizia
MARCELLO
CAETANO,
que
está
em
causa
um
mero
controlo
externo
do
poder.
Quando
estamos
a
apreciar
um
princípio
como
o
da
proporcionalidade,
é
o
próprio
critério
o
exercício
do
poder,
é
a
própria
decisão
administrativa
que
está
a
ser
integralmente
controlada.
Se
a
isto
acrescentarmos
um
princípio
como
o
princípio
da
justiça
material,
temos
ainda
uma
maior
indeterminação,
uma
maior
responsabilidade
da
Administração
e
uma
situação
que
permite
o
controlo,
porque
a
injustiça
material
de
uma
decisão
em
casos
extremos
gera
também
a
ilegalidade.
Será
de
muito
difícil
de
realização?
VASCO
PEREIRA
DA
SILVA
entende
que
não.
Suponha-‐se
que
há
um
mecanismo
europeu
que
prevê
uma
verba
que
só
pode
ser
usada
naquele
ano
com
aquele
fim,
e
essa
verba
não
é
utilizada.
Se
se
trata
de
uma
verba
que
deveria
ter
sido
utilizada
por
razões
que
podem
ser
de
justiça
(por
exemplo,
houve
um
cataclismo
e
aquela
verba
foi
colocada
à
disposição
do
Estado
Português
para
resolver
aquele
problema
daquele
cataclismo
ou
foi
no
âmbito
de
uma
política
pública
de
combate
à
SIDA,
combate
à
pobreza,
qualquer
outra
realidade),
se
esta
verba
é
desperdiçada
e
o
poder
não
é
exercido,
estamos
perante
a
violação
do
princípio
da
justiça
e,
portanto,
estamos
perante
um
controlo
que
é
um
controlo
efetivo.
Trata-‐se
de
um
critério
de
decisão,
é
um
parâmetro
de
decisão
e
é
um
parâmetro
de
controlo.
A
Administração
deve
decidir
naqueles
termos
e,
para
além
disso,
a
Administração
pode
ser
controlada
nos
termos
da
sua
decisão
se
não
cumpre
aquilo
que
a
lei
estabelece.
É
por
causa
destes
princípios
constitucionais
que,
hoje
em
dia,
não
faz
sentido,
na
ótica
de
VASCO
PEREIRA
DA
SILVA,
dizer,
em
primeiro
lugar,
que
o
poder
discricionário
não
é
uma
forma
de
realização
do
princípio
da
legalidade,
porque
o
é;
não
se
pode
dizer
que
ele
não
pode
ser
controlado,
porque
pode;
e
também
não
se
pode
dizer
que
ele
só
pode
ser
controlado
externamente,
porque
esses
princípios
têm
que
ver
com
as
razões
internas
do
exercício
do
poder
e,
portanto,
o
controlo
é
um
controlo
que,
mesmo
admitindo
a
formulação
tradicional,
que
é
a
de
um
controlo
que
apenas
incide
sobre
os
aspetos
vinculados,
e
esses
aspetos
vinculados
hoje
em
dia
são
de
tal
maneira
amplos
e
de
tal
maneira
vastos,
que
implicam
a
possibilidade
de
controlo.
O
que
não
é
controlável
é
aquilo
que
corresponde
à
diferença
entre
o
mais
e
menos,
é
aquilo
a
que
quando
fizermos
a
receita,
podemos
ver
que
é
o
que
distingue
um
bom
cozinheiro
de
um
cozinheiro
sofrível,
porque
se
estraga
a
refeição
há
ilegalidade,
aí
não
há
dúvida,
viola
a
lei.
Pode
ficar,
no
entanto,
melhor
ou
pior,
mais
salgado
ou
menos
salgado:
se
está
salgado
em
excesso
estragou
tudo,
se
tem
pimenta
em
excesso
estragou
tudo,
ter
um
bocadinho
mais
ou
bocadinho
menos,
depende
do
paladar.
É
isso
que
é
da
responsabilidade
exclusiva
da
Administração
e
que
não
é
suscetível
de
controlo,
isto
é,
ter
um
bocadinho
mais
ou
um
bocadinho
menos
de
sal,
desde
que
não
esteja
demasiado
salgado
ou
que
não
esteja
insonso.
Portanto,
o
controlo
do
poder
discricionário,
por
causa
disso,
é
diferente
do
controlo
que
corresponde
ao
poder
vinculado.
É
que
estas
questões
que
são
da
responsabilidade
da
Administração,
não
têm
apenas
que
ver
com
o
momento
da
decisão,
ou
seja,
não
é
um
problema
de
a
lei
deixar
várias
alternativas
possíveis,
não
é
apenas
alternativas
de
decisão
final.
A
discricionariedade
coloca-‐se,
não
apenas
nesse
momento,
mas
primeiro
no
momento
da
aplicação
da
norma,
da
aplicação
à
realidade
da
norma
(aquilo
a
que
a
doutrina
alemã
chama
de
margem
de
apreciação
e,
em
Portugal,
SÉRVULO
CORREIA,
VIEIRA
DE
ANDRADE
e
MARCELO
REBELO
DE
SOUSA
falam
em
margem
de
livre
apreciação
em
margem
de
livre
decisão),
apreciação
com
a
aplicação
dos
factos
à
norma.
Na
perspectiva
de
VASCO
PEREIRA
DA
SILVA,
ainda
há
um
terceiro
aspeto
em
que
a
Administração
é
responsável,
em
que
há
uma
margem
de
responsabilidade
da
Administração,
que
é
a
interpretação.
A
Administração
tem
que
interpretar
e
isso
é
algo
que
decorre
da
perspectiva
hermenêutica,
de
consideração
de
que
estamos
a
falar
de
uma
norma
que
vai
ser
transformada
em
facto,
que
vai
ser
aplicada
à
realidade
e,
portanto,
tem
que
ser
interpretada,
tem
que
ser
subsumida
a
uma
situação
de
facto
e,
depois,
tem
que
permitir
a
tal
liberdade
de
escolha.
Ora
bem,
distinguir
esses
três
momentos
é
algo
que
nós
fazemos
do
ponto
de
vista
intelectual,
ou
seja,
teoricamente
é
fácil
distingui-‐lo.
Mas,
estamos
a
falar
de
um
processo
que
é
um
processo
contínuo
e,
portanto,
a
interpretação
pode
juntar-‐se
à
aplicação
e
à
decisão.
Tal
não
significa
que
não
haja
estes
aspetos
sempre
misturados,
mas
eles
podem
estar
misturados,
nós
estamos
a
separa-‐los
aqui
para
efeitos
de
explicação,
para
tornar
mais
clara
a
realidade
que
está
em
jogo.
Vamos,
então,
fazer
a
receita
de
escondidinho
de
carne
moída
com
mandioca.
Convém
sempre
ler
a
receita,
importa
começar
por
ler
a
receita,
porque
a
seguir
temos
que
ir
comprar
as
coisas
e
é
preciso
ver
se
temos
aqueles
produtos
em
casa
ou
se
temos
que
os
ir
comprar.
O
legislador
primeiro
interpreta,
depois
aplica
os
factos.
Para
aplicar
pode
ter
que
“ir
às
compras”,
pode
ter
que
fazer
um
estudo
técnico,
um
parecer,
tem
que
munir-‐se
de
pareceres,
pode
ter
que
fazer
investigação
para
aplicar
a
norma
aos
factos.
Por
último,
depois
de
ler,
temos
que
proceder
à
execução.
Mas
vamos
misturar
agora
as
coisas
embora
separando
estas
duas
realidades.
Na
receita
de
escondidinho
de
carne
moída
com
mandioca,
o
primeiro
problema
é
o
da
interpretação
do
termo
escondidinho.
Trata-‐se
de
um
conceito
vago
e
indeterminada
que
tem
de
ser
interpretado
e
a
interpretação
é
apenas
da
responsabilidade
da
Administração.
O
estar
mais
escondido
ou
menos
escondido,
a
carne
estar
a
aparecer
ou
estar
totalmente
escondida
debaixo
da
mandioca,
é
algo
que
corresponde
à
qualidade
do
cozinheiro.
Contudo,
não
pode
a
carne
estar
toda
à
vista,
porque
aí
não
teríamos
um
escondidinho,
teríamos
outra
coisa,
ou
seja,
não
teríamos
feito
a
receita,
o
que
significa
que
teríamos
cometido
uma
ilegalidade.
Isto
coloca-‐se
primeiro
na
interpretação,
depois
na
execução
(tem
que
se
fazer
de
maneira
tal
a
que
a
carne
fique
escondida),
e
depois
há
ainda
opções
a
tomar
quanto
a
mais
carne,
menos
carne,
questões
que
têm
que
ver
com
a
decisão
final,
na
medida
em
que
sem
carne
não
há
receita,
estraga-‐se
a
receita,
carne
a
mais
também
pode
estragar
a
receita,
mesmo
que
seja
toda
de
“vaca
legítima”.
Temos
algo
que
corresponde
às
normas
de
controlo,
o
controlo
do
poder
discricionário
implica
esse
juízo
que
é
da
responsabilidade
da
Administração.
As
receitas
começam
por
ter
os
ingredientes.
que
é
algo
que
nós
temos
que
interpretar
para
depois
aplicar,
para
ir
às
compras
ou
chegar
à
conclusão
que
temos
no
nosso
frigorífico.
Ingredientes:
-‐
Oitocentas
gramas
de
carne
moída
Curiosamente,
não
diz
se
carne
é
de
vaca
ou
de
porco,
ou
de
frango,
ou
de
perdiz,
ou
de
coelho
e
portanto,
pelo
que
há
que
começar
por
interpretar
esse
aspeto.
Se
não
é
especificado,
cabe
à
responsabilidade
executor
fazer
essa
escolha
e,
portanto,
não
dizendo
de
que
carne
se
trata,
vai-‐se
fazer
uma
escolha.
De
entre
os
tipos
de
carne,
o
agente
vai
fazer
uma
escolha.
Se
gosta
mais
de
carne
vaca,
ou
gosta
mais
de
carne
de
porco,
terá
de
optar
e
essa
escolha,
que
é
da
sua
responsabilidade,
vai
ter
consequências
na
receita.
Isto
aqui
é
algo
que
corresponde
a
um
poder
discricionário,
discricionário
na
interpretação,
quanto
a
saber
qual
é
a
carne
que
pode
utilizar,
saber
qual
é
a
carne
que
a
comprar
e
qual
a
carne
a
utiliza
para
fazer
a
receita
e,
depois,
executar
o
prato
com
oitocentas
gramas.
O
que
é
que
é
vinculado
aqui?
As
oitocentas
gramas.
Deve
usar-‐se
esta
quantidade,
nem
mais,
nem
menos.
Este
aspecto
é
vinculado,
este
não
tem
escolha.
O
poder
tem
esse
aspecto
vinculado,
tudo
o
mais
é
da
responsabilidade
de
quem
escolhe.
-‐
Duas
colheres
de
sopa
de
óleo
Colheres
de
sopa
é
fácil
saber
o
que
é,
já
o
óleo
não
se
diz
qual
usar.
Será
óleo
de
caju,
de
girassol…?
Temos
aqui
uma
escolha
que
é
deixada
à
responsabilidade
do
cozinheiro,
pois
vai
ter
que
comprar
óleo
e
saber
qual
é
o
óleo
mais
adequado
para
esta
circunstância.
A
receita
não
especifica
e,
como
tal,
é
algo
que
é
remetido
para
a
margem
de
escolha
do
cozinheiro
que
tem
primeiro
que
interpretar,
depois
aplicar
aos
factos
e
depois
decidir
o
óleo
que
deita.
-‐
Dois
dentes
de
alho
amassado
Este
é
exemplo
de
poder
vinculado
vinculado,
dois
dentes
de
alho
amassado
parece
não
causar
problema
nenhum.
-‐
Uma
cebola
grande
picada
Enfim,
também
não
causa
grande
problema,
embora
se
se
quiser
ser
purista,
tem
de
descobrir
o
tamanho
da
cebola.
Era
melhor
que
dissesse
uma
cebola
de
5
cm,
ou
uma
cebola
de
20
gramas,
aí
saber-‐se-‐ia
sabia
exatamente
o
tamanho
indicado.
Portanto,
apesar
de
tudo,
uma
cebola
grande
não
é
aquela
minorca
que
está
lá
em
casa,
vai
ter
de
se
comprar
uma
cebola.
Há
aqui
um
grau
maior
de
vinculação,
embora
haja
alguma
discricionariedade.
-‐
Dois
tomates
sem
pele
e
sementes
picados
Tomates
sem
pele
é
fácil.
Sem
pele
e
sementes
já
é
mais
complicado.
Terá
de
se
coar
o
tomate
e
picar.
Isto
é
relativamente
vinculado,
embora
não
diga
se
é
picar
em
grande
ou
em
pequenino,
como
é
que
é
o
picado,
se
é
um
picado
muito
reduzido
ou
picado
grande.
Há
aqui
um
aspeto
que
é
discricionário,
embora
o
resto
seja
vinculado.
-‐
Sal
e
pimenta
do
reino
e
coentro
picado
a
gosto
O
que
é
que
sal
e
pimenta
e
coentro
a
gosto?
É
difícil,
desde
logo,
de
interpretar
e
depois
é
difícil
de
executar,
verificando-‐se
uma
liberdade
de
escolha
na
decisão
final.
É
certo
que
não
se
pode
eliminar
nem
o
sal,
nem
a
pimenta,
nem
os
coentros,
mas
pode
gostar-‐se
de
um
bocadinho
mais
de
sal,
um
bocadinho
menos
de
sal,
um
bocadinho
mais
de
pimenta,
um
bocadinho
menos
de
coentros…
Isso
distinguirá
o
resultado
final,
distinguirá
a
receita
de
um
cozinheiro
face
à
de
outro,
mas
isso
não
é
estragar
a
receita.
O
não
usar
sal
ou
usar
em
excesso,
isso
sim,
é
suscetível
de
controlo.
-‐
Uma
xicara
de
chá
de
cheiro
verde
picado
Não
sabendo
do
que
se
trata
chá
verde,
a
primeira
coisa
a
fazer
terá
de
ser
interpretar
esse
conceito
indeterminado.
Seria
necessário
o
recurso
talvez
à
internet
para
saber
que
o
cheiro
verde
significa
cebolinho.
Depois
de
resolvido
esse
problema
de
interpretação,
esse
problema
de
execução,
teria
que
se
tomar
a
decisão
quanto
ao
modo
de
proceder
a
esse
picado.
De
novo,
é
uma
situação
vinculada,
mas
tem
um
aspeto
discricionário,
pois
continua
a
não
se
especificar
o
modo
de
picar.
-‐
Depois
aparece
o
puré
-‐
Um
quilo
(kg)
de
mandioca
cozida
e
espremida
Bem,
aqui
pode
haver
um
problema
de
interpretação,
embora
não
seja
dos
maiores.
-‐
Uma
xicara
de
chá
de
leite
Aqui
estamos
no
domínio
da
vinculação,
embora
se
possa
perguntar
se
é
leite
magro,
leite
gordo,
leite
meio
gordo
ou
meio
magro.
Isso
é
algo
que
é
deixado
à
discrição
cozinheiro,
é
algo
que
vai
influir
no
resultado
final.
Desde
que
seja
leite
que
não
esteja
estragado,
isso
não
é
suscetível
de
controlo.
-‐
Duas
colheres
de
manteiga
Qual
o
tipo
de
manteiga?
A
escolha
da
manteiga
vai
influenciar
o
resultado
final,
apesar
de
ser
algo
relativamente
vinculado.
Mas,
de
novo,
mesmo
quando
estamos
na
vinculação,
temos
aspectos
discricionários.
-‐
100
gramas
de
queijo
Mozarela
ralado
Isto
é
relativamente
fácil,
apesar
de
se
poderes
retirar
elementos
vinculados
e
discricionários.
Modo
de
preparação:
Em
uma
panela
coloque
a
carne
moída,
o
óleo
e
frite
em
fogo
médio
até
dourar.
O
que
é
isto?
Fogo
médio
até
dourar?
Fogo
médio
é
a
meio?
Talvez
seja
melhor
colocar
a
meio,
não
se
quer
por
nem
demasiado
fogo,
nem
menos,
mas
dourar,
não
é
pura
e
simplesmente
deixar
as
coisas
lá,
também
não
pode
ser
deixar
esturricar
a
carne.
Temos,
aqui,
mais
um
conceito
indeterminado,
que
nos
traz
um
problema
de
interpretação,
um
problema
de
execução
e
um
problema
de
decisão
quanto
ao
resultado
final.
Acrescente
o
alho,
a
cebola
e
refogue
até
amaciar.
Aqui
ainda
é
pior!
O
que
é
que
é
refugar
até
amaciar?
E
é
muito
macio
ou
pouco
macio?
Mais
um
problema
colocado
pela
receita,
que
obriga
a
tomar
escolhas
que
são
da
sua
responsabilidade
de
quem
as
realiza
e
que
podem
estragar
a
receita
se
ficar
demasiado
duro
ou
ficar
demasiado
mole,
mas
que
geram
a
necessidade
de
tomar
decisões.
Adicione
os
tomates,
tempere
com
sal
e
pimenta
e
frite
até
secar
a
água.
Outra
vez,
não
nos
diz
qual
é
o
sal,
nem
qual
é
a
pimenta
e
depois
diz
frite
até
secar
a
água.
Fritar
até
secar
a
água
deve
ser
não
ficar
uma
coisa
viscosa.
Temos
vários
problemas
de
interpretação,
de
subsunção
os
factos
à
norma
e
de
execução.
Retire
do
fogo
e
misture
o
cheiro
verde
e
o
coentro
picado.
Exponha
em
um
refratário
médio
e
reserve.
Dois
conceitos
indeterminados.
Reservar
é
deixar
um
bocadinho
a
arrefecer,
mas
quanto
tempo?
Não
é
dito.
O
refratário
não
sabendo
do
que
se
trata,
deve
ser
uma
panela
qualquer
especial
para
fazer
essa
coisa
e,
portanto,
tem-‐se,
de
novo,
que
ir
investigar
para
subsumir
os
factos
à
norma.
Em
uma
tigela
coloque
a
mandioca
espremida,
o
leite,
a
manteiga,
os
temperos
e
misture.
Tudo
isto
é
assim
um
bocadinho
a
olho,
porque
não
é
dito
quanto
é
que
é
a
mandioca,
quanto
é
que
são
os
coentros.
Portanto,
tudo
isto
implica
um
problema
de
interpretação,
um
problema
de
execução,
um
problema
de
decisão.
Espalhe
o
puré
sobre
o
refugado,
polvilhe
com
Mozzarela
e
leve
a
forno
médio
pré
aquecido
por
vinte
minutos
ou
até
a
Mozzarela
derreter.
Tem-‐se
um
“ou”,
vinte
minutos
ou
até
a
Mozarela
derreter.
O
que
é
que
acontecerá
primeiro?
Há
uma
margem
de
liberdade,
suscitando-‐se,
primeiro,
a
questão
da
interpretação,
depois
a
questão
da
decisão
final.
12-‐03-‐2013
Voltamos
a
comparar
a
atividade
administrativa
à
preparação
de
uma
receita
culinária.
Desta
vez,
uma
receita
mais
curta
e
mais
fácil
de
fazer,
só
para
servir
de
apresentação
e
introdução
ao
que
vamos
falar
de
seguida.
A
receita
é
simples,
uma
daquelas
que
qualquer
pessoa
é
capaz
de
fazer,
escolhida
do
livro
de
culinária
do
Maigret.
A
A
eleita
foi
Omoleta
da
Quinta,
uma
omoleta
feita
à
moda
de
Maigret
que,
como
veremos,
também
tem
os
seus
segredos.
Ora
bem,
para
a
Omeleta
da
Quinta,
para
duas
pessoas,
Maigret
começa
por
identificar
os
elementos
necessários
para
a
sua
realização:
-‐
6
ovos;
-‐
100
gramas
de
presunto;
-‐
30
gramas
de
manteiga;
-‐
1
grossa
fatia
de
pão
saloio
com
um
centímetro
e
meio
de
espessura;
-‐
sal;
-‐
pimenta.
Como
se
vê,
esta
é
a
receita
de
um
francês
especialista
em
culinária
e
inspector
da
judiciária,
porque
vai
ao
cúmulo
de
dizer
que
a
fatia
de
pão
saloio
tem
um
centímetro
e
meio
de
espessura
e,
portanto,
este
é
um
aspecto
grandemente
vinculado,
no
quadro
deste
poder.
Pão
saloio,
apesar
de
tudo,
permite
alguma
dose
de
interpretação
e,
depois,
gera
problemas
de
execução.
Como
refere
VASCO
PEREIRA
DA
SILVA,
da
sua
perspectiva,
o
poder
discricionário
e
o
poder
vinculado
colocam-‐se
a
três
níveis:
ao
nível
da
interpretação,
ao
nível
da
apreciação
dos
factos
e
ao
nível
da
decisão.
Isto
significa
que,
na
perspectiva
do
Senhor
Professor,
para
além
da
realidade
tradicional
que
só
se
preocupava
com
a
decisão,
é
importante
ter
em
conta
também
aquilo
a
que
a
doutrina
mais
aberta
chama
de
margem
de
apreciação,
para
além
da
margem
de
decisão,
para
usar
as
expressões
de
MARCELO
REBELO
DE
SOUSA
e
VIEIRA
DE
ANDRADE.
Portanto,
importa
considerar
também
a
avaliação
dos
factos
e
o
modo
como
essa
avaliação
dos
factos
é
feita.
Mas,
VASCO
PEREIRA
DA
SILVA
acrescenta
ainda
a
interpretação,
que
gera,
igualmente,
questões
de
escolha,
questões
que
se
reconduzem
aos
problemas
da
discricionariedade
e
da
vinculação.
A
escolha
da
Administração
começa
na
interpretação
da
norma,
interpretação
que
tem
aspetos
que
são
vinculados
e
aspetos
que
são
discricionários.
Depois
da
interpretação,
há
que
apreciar
os
factos,
que
verificar
os
factos
e
aplicar-‐lhes
a
norma.
Por
último,
haverá
as
questões
concretas
de
natureza
decisória.
Vamos
então
à
nossa
receita.
Diz-‐nos
a
receita
para
cortar
o
presunto
em
pequenos
cubos.
Aqui
temos
uma
situação
que,
por
um
lado,
introduz
vinculação
(cortar
o
presunto
em
cubos
é
diferente
de
por
o
presunto
em
fatias),
mas,
por
outro,
tem
uma
dose
de
discricionariedade,
porque
não
se
nos
diz
qual
a
dimensão
dos
cubos.
Maigret,
que
foi
tão
rigoroso
em
matéria
de
pão
saloio,
em
matéria
de
cubos
de
presunto,
deixa,
desta
forma,
uma
margem
de
escolha
ao
cozinheiro,
deixa
uma
margem
de
escolha
à
Administração.
Manda
que
se
deite
os
cubos
na
manteiga
derretida
e
que
se
deixe
torrar
durante
dois
a
três
minutos.
Aqui
temos
um
problema
que
é,
simultaneamente,
de
interpretação,
de
aplicação
aos
factos
e
de
decisão.
Torrar
o
presunto
não
será,
com
certeza,
queimar,
mas
é
mais
do
que
alourar.
Portanto,
há
que
encontrar
aqui
algo
em
que
o
presunto
fique
efetivamente
cozinhado,
até
mais
do
que
cozinhado,
mas
que
nos
dá
uma
margem
que
é
da
responsabilidade
da
Administração,
margem
esta
que
aponta
para
que
o
presunto
seja
tratado,
enfim,
durante
mais
tempo,
porque
torrar
é
mais
do
que
cozer
ou
de
que
aloura.
Logo,
temos
aqui,
para
além
da
questão
da
interpretação,
depois
a
questão
da
avaliação
dos
factos,
a
questão
da
apreciação
desses
factos
e,
por
fim,
a
decisão.
Temos
uma
margem
de
decisão
na
medida
em
que
mais
ou
menos
torrado
depende
do
gosto
do
cozinheiro,
mais
ou
menos
torrado
depende
do
gosto
da
Administração
e,
assim,
o
mais
ou
menos
é
algo
que
permite
a
tal
margem.
No
quadro
dessa
margem
não
há
controlo,
haverá
controlo
se
estiver
torrado
de
mais
ou
torrado
de
menos,
portanto,
a
lógica
coloca-‐se
no
quadro
deste
último
controlo.
Indica
que
se
corte
quatro
lascas
da
fatia
de
pão
saloio.
Neste
ponto,
o
autor
é
muito
rigoroso
naquilo
que
respeita
ao
pão,
porque,
para
além
do
pão
ter
um
centímetro
e
meio,
disse-‐nos
que
corte
quatro
lascas.
Apesar
da
tendente
precisão,
é
algo
que
pode
introduzir
algum
elemento
de
discricionariedade.
De
seguida,
aloure-‐se
as
lacas
(veja-‐se
que
alourar
diferente
de
torrar).
Aloure-‐as
na
mesma
frigideira,
primeiro
de
um
lado
e
depois
do
outro.
Ora,
o
pão
é
alourado,
aqui
não
diz
que
é
torrado,
o
que
significa,
ainda
que
atribuindo
discricionariedade,
uma
situação
em
que
há
limites
para
o
exercício
deste
poder.
Indica
que
se
barre
um
prato
côncavo
para
ir
ao
forno.
O
que
é
que
é
barrar
um
prato
pondo-‐lhe
manteiga?
Há,
em
primeiro
lugar,
uma
responsabilidade
na
interpretação
e,
depois,
a
lógica
da
execução.
Manda
que
se
disponha
no
prato
as
fatias
finas
do
pão.
Isso
é
vinculado.
Acrescenta
que
se
deite
sal
e
pimenta.
Aqui
temos,
desde
logo,
discricionariedade.
Discricionariedade
para
saber
qual
é
o
sal
e
pimenta
adequado
para
o
prato,
e
isto
também
é
uma
questão
de
gosto,
depende
de
cozinheiro
para
cozinheiro,
depende
de
autoridade
administrativa
para
autoridade
administrativa,
mas
implica
um
juízo
que
é
da
responsabilidade
da
Administração.
Agora,
vem
a
especificidade
desta
receita:
manda
partir
os
ovos,
separando
as
gemas
das
claras,
que
é
algo
que
é
fácil
de
interpretar,
mas
que
gera
alguns
problemas
de
execução.
Enfim,
separar
as
gemas
das
claras
não
é
fácil
e,
portanto,
do
ponto
de
vista
dos
factos,
não
há
aqui
margem
de
decisão.
Depois,
diz
para
bater
as
gemas
com
um
garfo.
Também
estamos
no
domínio
da
vinculação,
embora
não
diga
quanto
tempo.
Isto
introduz
a
tal
dimensão
de
que
todos
os
poderes,
sejam
eles
quais
forem,
têm
aspetos
vinculados
e
aspetos
discricionários,
O
tempo
é
um
aspeto
discricionário.
Indica
que
se
deite
pimenta.
Ora,
de
novo,
não
nos
diz
a
quantidade
de
pimenta
e
isto
implica
que
há
um
juízo
que
é
feito
por
nós,
no
momento
da
interpretação,
que
depois
de
traduz
na
execução
e,
posteriormente,
se
traduz
no
momento
da
decisão,
porque
nessa
altura
vamos
fazer
a
escolha.
Agora
vem
a
parte
um
bocadinho
mais
complicada:
pede
que
se
bata
as
claras
em
castelo
pouco
firme.
Castelo
pouco
firme
é
algo,
enfim,
não
só
difícil
de
executar
como,
desde
logo,
há
um
problema
de
interpretação.
Bom,
para
que
fique
pouco
firme,
não
deve
ficar
como
aqueles
pudins
de
molotof,
deve
ficar
um
bocadinho
mais
baixinho.
Mas
saber
o
que
é
que
é
o
pouco
firme,
para
além
de
interpretação,
gera
um
problema
de
execução
e,
depois,
um
problema
de
escolha,
que
implica
saber
em
que
medida
é
que
este
bater
as
claras
em
castelo
pouco
firme
se
traduz
no
quadro
da
discricionariedade.
Pede
que
se
misture
tudo
e
coloque
sobre
o
pão.
Enfim,
o
tudo
aqui
tem
que
ver
com
as
claras
e
as
gemas,
que
cria
um
problema
de
interpretação.
Depois,
gera
questões
de
aplicação
e
de
decisão.
Sugere
que
se
distribua
por
cima
os
cubos
de
presunto.
Portanto,
depois
de
se
deitar
as
claras
batidas
em
castelo
e
as
gemas,
deita-‐se
por
cima
os
cubos
de
presunto.
Indica
que
se
leve
o
prato
ao
forno,
calor
por
baixo.
Logo,
aqui
também
uma
regra
relativamente
vinculada.
Manda
que
se
coza
durante
oito
a
dez
minutos.
Bom,
oito
a
dez
minutos
é
algo
que
introduz
a
discricionariedade,
quer
no
âmbito
da
execução,
quer
no
âmbito
da
decisão,
porque
temos
de
decidir
se
são
oito
ou
se
são
dez.
Em
princípio,
menos
de
oito
significará
que
a
receita
fica
estragada,
mais
de
dez
também,
mas,
entre
uma
coisa
e
outra,
temos
então
a
tal
margem
de
discricionariedade.
Finaliza
indicando
que
se
salpique
com
salsa
cortada
e
sirva.
Enfim,
para
salpicar
com
salsa
também
aqui
não
nos
diz
a
dose,
pelo
que,
de
novo,
introduz
um
elemento
de
discricionariedade.
Contudo,
não
há
outro
aspecto
para
além
desse
e,
portanto,
é
uma
realidade
relativamente
simples.
Depois,
dá-‐nos
uma
indicação
de
bebida.
No
entanto,
atendendo
à
dificuldade
de
encontrar
o
acompanhamento
sugerido,
o
tradutor
português
foi
simpático
com
os
leitores
e
deu
aqui
duas
sugestões:
o
Dorna
Grande
92,
tinto,
ou
Dão
Tinto,
por
exemplo,
o
Quinto
das
Maias
de
91,
ou
a
Cruz
de
Almeida
Pinto.
Temos
aqui
várias
sugestões
em
alternativa
que
o
editor
fornece
para
esta
receita.
O
que
VASCO
PEREIRA
DA
SILVA
pretende,
com
este
exercício,
é
mostrar-‐nos
como
a
atitude
da
Administração,
a
atividade
administrativa,
não
é
diferente
da
atuação
de
um
aprendiz
de
cozinheiro
e
que
o
que
a
Administração
vai
fazer,
no
quadro
do
poder
discricionário,
é
aquilo
que
nós
fazemos
numa
receita
culinária.
A
primeira
realidade
que
ressalta
da
leitura
desta
receita,
como
das
outras
receitas,
é
que
cada
aspeto
da
mesma,
cada
elemento
do
poder
administrativo,
tem
aspetos
vinculados
e
aspetos
discricionários.
Relembre-‐se
que,
para
VASCO
PEREIRA
DA
SILVA,
num
poder
administrativo
há
sempre
aspetos
discricionários
e
aspetos
vinculados
e
que
a
questão
nem
sequer
se
coloca
apenas
em
relação
aos
atos.
FREITAS
DO
AMARAM,
enfim,
introduz
a
ideia
correta
de
que
os
atos
não
podem
ser
nem
integralmente
discricionários,
nem
vinculados,
e
que
esta
distinção
não
faz
sentido
em
relação
às
decisões
finais.
Todavia,
na
perspetiva
de
VASCO
PEREIRA
DA
SILVA,
mais
do
que
os
atos,
são
os
próprios
elementos
do
poder
que
vai
ser
exercido
que
têm
aspectos
discricionários
e
aspectos
vinculados
e,
portanto,
a
Administração
tem
sempre
que
fazer
escolhas,
escolhas
que
são
da
sua
responsabilidade.
Algumas
escolhas
são
exclusivas
da
Administração,
na
medida
em
que
correspondam
ao
exercício
do
poder
discricionário,
outras
são
suscetíveis
de
controlo
e
este
controlo
pode
ser
integral,
como
sucede
no
caso
dos
poderes
vinculados,
mas
há
sempre
controlo,
mesmo
no
caso
dos
poderes
dicionários.
Ou
seja,
há
sempre
parâmetros
de
decisão
que
são
parâmetros
de
controlo,
o
que
significa
que,
à
partida,
todos
os
poderes
são
controláveis
e
não
se
pode
dizer
que
os
poderes
discricionários
não
são
suscetíveis
de
controlo
jurisdicional.
Eles
são
controláveis
como
os
outros,
são
controláveis
na
medida
das
vinculações
que
existam
e,
nos
dias
de
hoje
e
nas
ordens
jurídicas
como
a
nossa,
há
alguns
aspetos
que
são
sempre
vinculados
no
exercício
do
poder
discricionário.
Esses
aspectos
são
sempre,
para
além
daqueles
que
resultam
da
concreta
lei,
aqueles
que
correspondem
à
competência
do
órgão,
o
que
corresponde
à
primeira
dimensão
do
princípio
da
legalidade,
e
depois,
os
que
correspondem
ao
fim
legal
do
poder,
isto
é,
o
fim
legal
é
sempre
um
aspeto
vinculado.
A
Administração
tem
que
realizar
aquele
poder
para
a
obtenção
do
fim
que
a
lei
determina
e
só
este
fim.
Por
outro
lado,
na
nossa
ordem
jurídica,
a
Constituição
impõe
princípios
directamente
aplicáveis
e
que
vinculam
sempre
a
Administração.
Esses
princípios
introduzem
um
controlo
muito
apertado
das
atuações
jurídicas
administrativas
porque,
sendo
tão
amplos,
vão
da
igualdade
e
da
imparcialidade,
à
justiça
e
boa
fé,
à
proporcionalidade,
implicando
o
controlo
dos
próprios
critérios
da
decisão
da
Administração.
É
por
isso
que
é
errado
dizer,
como
se
dizia
tradicionalmente,
que
não
há
controlo
do
poder
discricionário,
pois
há
sempre
controlo
dos
aspetos
vinculados
do
poder
discricionário.
É
também
errado
dizer,
como
dizia
a
doutrina
tradicional
de
Lisboa,
que
o
controlo
era
apenas
externo,
era
o
controlo
apenas
do
fim,
na
medida
em
que
está
em
causa
a
aplicação
de
princípios,
como
o
principio
da
proporcionalidade.
O
controlo
é
interno,
é
o
controlo
do
próprio
exercício
do
poder
e
dos
critérios
do
exercício
do
poder.
Muito
simplesmente,
e
concretizando
a
proporcionalidade,
que
é
o
critério
mais
exigente,
suponha-‐se
que
há
um
cataclismo
no
centro
de
Lisboa,
para
pensarmos
numa
realidade
histórica,
ardia
o
Chiado.
Uma
situação
deste
género
exige
a
tomada
de
medidas
excecionais,
extraordinárias
para
se
resolver
o
problema.
Ora
bem,
para
resolver
um
problema
de
um
incêndio
no
Chiado,
faz
sentido
condicionar
o
trânsito,
mas
não
faz
sentido
condicionar
o
trânsito
em
Coimbra,
nem
em
Loures,
nem
em
zonas
do
norte,
a
cidade
universitária
do
norte
de
Lisboa,
ou
seja,
situações
em
não
haja
uma
ligação
directa
e
imediata
com
aquela
realidade.
Portanto,
se
for
tomada
uma
medida
destas
pelo
órgão
competente,
essa
medida
é
ilegal
por
ser
desnecessária.
Estabelecer
restrições
ao
trânsito
pode
ser
uma
medida
necessária,
mas
uma
medida
necessária
na
zona
e,
quando
muito,
nas
áreas
envolventes,
para
permitir
o
acesso.
Se
se
toma
uma
decisão
que
vai
além
disso,
essa
medida
é
desnecessária.
Mas
pode
ser
necessária,
e
desadequada.
Pode
ser
algo
que
ajude
a
resolver
o
problema
e
que
possa
ser
considerada
necessária,
mas
que
seja
inadequada
para
a
realidade
que
está
em
jogo.
Por
exemplo,
pode
ser
necessário
estabelecer
condicionamentos
à
circulação
de
pessoas
na
zona,
pode
ser
necessário,
para
evitar
aquela
realidade
tão
portuguesa
de
toda
agente
ir
ver
a
desgraça,
espreitar
a
desgraça
(há
um
acidente
e
a
seguir
há
logo
outro
porque
toda
a
gente
pára
para
ver,
a
realidade
do
voyer
é
uma
realidade
muito
típica
do
português),
e
portanto,
pode
fazer
sentido,
poder
ser
adequado,
que
haja
restrições
a
direitos
pessoais,
designadamente
no
quadro
da
circulação
das
pessoas.
Mas
já
não
é
adequado
para
resolver
o
problema
que
as
pessoas
que
vivam
na
zona,
por
exemplo,
sejam
retidas
na
sua
casa
ou
que
as
pessoas
tenham
os
seus
bens
congelados.
Uma
medida
desse
género
não
é
adequada
para
combater
um
incêndio.
Depois,
há
também
uma
questão
de
proporcionalidade,
ou
seja,
a
medida
tomada
deve
ser
a
menos
gravosa
dentro
de
todas
as
medidas
que
sejam
necessárias.
Ora,
se
pode
haver
alguma
circulação
na
zona,
não
faz
sentido
proibir
integralmente
a
circulação
de
pessoas
e
de
veículos
na
zona,
uma
vez
que
tal
seria
desproporcional,
seria
ir
além
da
justa
medida.
Este
é
um
bom
exemplo,
e
como
este
há
muitos,
de
que
os
próprios
critérios
do
exercício
do
poder
administrativo
são
suscetíveis
de
controlo
e,
portanto,
não
estamos
perante
um
controlo
meramente
externo.
Estamos
perante
um
controlo
interno
do
exercício
do
poder,
o
poder
é
controlável
em
relação
aos
aspetos
vinculados
e
os
aspectos
vinculados
da
nossa
ordem
jurídica
são
de
ordem
tal,
que
permitem
o
controlo
do
exercício
do
poder.
Para
além
disto,
há
também
um
outro
aspeto
que
é
importante
considerar
que
tem
que
ver
com
duas
ou
três
realidades
que,
em
regra,
a
doutrina
costuma
fazer
referência.
Primeiro
aquilo
que
FREITAS
DO
AMARAL
designa
por
figuras
afins,
as
realidades
próximas
e
que
são,
na
sua
perspetiva,
diferentes,
mas
que
são
figuras
afins.
Para
o
FREITAS
DO
AMARAL,
nessas
figuras
afins,
há
a
considerar,
primeiro,
a
interpretação,
que
na
sua
perspectiva
a
interpretação
é
algo
que
numa
lógica
positivista
corresponde
a
um
poder
vinculado.
Ora
bem,
na
perspectiva
de
VASCO
PEREIRA
DA
SILVA,
a
interpretação
é
discricionariedade,
não
é
uma
figura
afim.
A
interpretação
tem
elementos
discricionários
e
elementos
vinculados.
Nalguns
casos
é
vinculada,
noutros
há
sempre
margem
e
aspetos
discricionários
e
vinculados.
É
um
poder
complexo
que
tem
elementos
discricionários
e
elementos
vinculados
e,
portanto,
nesta
perspectiva,
VASCO
PEREIRA
DA
SILVA
não
está
de
acordo
com
esta
dimensão.
Por
outro
lado,
FREITAS
DO
AMARAL
também
fala
da
remissão
para
normas
extrajurídicas,
designadamente
para
normas
técnicas.
Também
aqui
a
remissão
para
normas
técnicas,
tanto
pode
ser
discricionária
como
vinculada,
porque
ao
remeter
para
normas
técnicas
(e
há
quem
fale
por
exemplo
em
discricionariedade
técnica,
como
há
quem
fale
em
vinculação
técnica)
tudo
depende
da
natureza
da
norma.
Se
a
norma
estabelecer
uma
conduta
certa
e
determinada,
é
vinculada.
Se,
pelo
contrário,
deixar
margem
de
escolha
que
dependa
de
critérios
técnicos,
a
escolha
das
melhores
soluções
disponíveis,
as
melhores
tecnologias
disponíveis
(como
se
diz
na
Lei
do
licenciamento
ambiental),
escolhas
que
dependam
de
juízos
técnicos,
aí
temos
uma
realidade
que
é
discricionária.
É
absolutamente
igual
utilizar
critérios
éticos,
critérios
técnicos,
critérios
de
senso
comum.
Estamos
perante
juízos
que
permitem
escolhas
e,
no
quadro
dessas
escolhas,
há
aspetos
discricionários
e
aspetos
vinculados.
Portanto,
em
relação
a
estas
duas
figuras,
que
FREITAS
DO
AMARAM
distingue,
VASCO
PEREIRA
DA
SILVA
diria
que
a
questão
da
interpretação
se
coloca
no
primeiro
momento
da
escolha
da
Administração
e
que
tem
aspectos
discricionários
e
aspetos
vinculados;
e
que,
por
sua
vez,
a
questão
da
remissão
das
normas
técnicas,
tem
que
ver
com
o
momento
da
apreciação
dos
factos,
ou
com
momento
da
decisão,
e
também
em
ambos
os
casos,
esta
remissão
tanto
pode
corresponder
a
uma
remissão
vinculada
como
a
uma
remissão
discricionária.
Aí
estamos
naquilo
a
que
tradicionalmente
se
chama,
a
discricionariedade
técnica.
Contudo,
na
perspectiva
de
VASCO
PEREIRA
DA
SILVA,
a
discricionariedade
técnica
é
verdadeira
discricionariedade,
não
há
que
introduzir
outra
realidade
que
não
aquela
que
corresponde
à
lógica
da
discricionariedade.
Também
neste
sentido,
FREITAS
DO
AMARAL,
em
versões
passadas,
falava
daquilo
a
que
chamava
figuras
afins
do
poder
discricionário,
apesar
de
já
não
lhes
fazer
referência
na
última
edição
da
sua
obra.
Tradicionalmente,
realizava
a
distinção
entre
aquilo
a
que
chamava
de
liberdade
probatória
e
discricionariedade
técnica.
Na
sua
ótica,
estas
duas
figuras
eram
realidades
que,
embora
sendo
vinculadas,
tinham
um
regime
idêntico
ao
da
discricionariedade.
Ora
bem
esta
distinção,
para
VASCO
PEREIRA
DA
SILVA,
também
não
faz
sentido.
Cada
uma
destas
realidades,
seja
a
chamada
liberdade
probatória,
por
exemplo,
a
classificação
dos
estudantes
é
o
numa
prova
oral,
o
exemplo
sugerido
por
FREITAS
DO
AMARAL,
é
uma
realidade
que
não
se
pode
dizer
que
seja
integralmente
discricionária,
nem
integralmente
vinculada.
Tem
elementos
de
vinculação.
Ora,
se
alguém
sabe
tudo
pode
ter
uma
nota
um
bocadinho
mais
baixa,
mas
não
pode
chumbar,
pois
isso
seria
violar
as
regras
do
exercício
do
poder.
Ainda,
quem
não
sabe
nada,
também
não
deve
ter
a
nota
máxima,
porque
isso
equivaleria
a
violar
as
regras
do
exercício
do
poder,
mas
entre
um
doze
e
um
treze,
um
treze
e
um
catorze,
enfim
entre
um
valor
acima
ou
um
valor
abaixo,
há
um
margem
da
decisão
do
órgão
administrativo,
margem
esta
que
corresponde
à
tal
responsabilidade
decisória
do
órgão
do
poder
público.
Com
isto,
da
perspectiva
de
VASCO
PEREIRA
DA
SILVA,
quer
a
questão
da
liberdade
probatória,
quer
a
questão
da
discricionariedade
técnica,
são
poderes
que
são
mistos,
que
têm
aspetos
vinculados
e
aspetos
discricionários
e
que
correspondem
a
realidades
que
surgem
no
âmbito
da
execução
do
poder.
Mas,
há
agora
um
problema
novo
e
é
um
problema
que
não
encontra
um
tratado
em
termos
atuais
nos
manuais
utilizados
para
estudar
esta
cadeira.
O
manual
FREITAS
DO
AMARAL
faz
alguma
referência
a
esse
problema,
mas
no
quadro
do
Direito
passado,
do
direito
anterior.
VASCO
PEREIRA
DA
SILVA
refere-‐se
ao
problema
de
saber
se
há,
ou
não,
um
direito
à
boa
administração
e,
havendo
esse
direito,
qual
é
o
seu
conteúdo.
Aqui,
o
que
está
desatualizado
no
livro
estudados
é
que
tudo
isso
foi
escrito
antes
da
entrada
em
vigor
da
Carta
dos
Direitos
Fundamentais
da
União
Europeia,
que
estabelece
esse
dever
de
boa
administração.
Coloca-‐se
aqui
uma
questão
de
interpretação:
saber
se
esse
dever
de
boa
administração
é
um
dever
jurídico,
se
é
um
dever
vinculado
em
termos
iguais
aos
dos
outros
deveres,
respeito
da
imparcialidade,
da
igualdade,
da
proporcionalidade,
ou
se,
pelo
contrário,
esse
dever
da
Administração
deixa
alguma
margem
ao
legislador.
A
resposta
a
isto
depende
de
várias
coisas:
em
primeiro,
depende
da
natureza
do
sistema
jurídico
que
está
em
causa,
porque
a
lógica
de
sistemas
como
o
francês,
como
o
é
o
nosso,
entendem
que
o
que
está
em
causa
é
um
controlo
apenas
da
legalidade,
que
o
mérito
das
decisões
é
algo
que
é
relevante
apenas
do
ponto
de
vista
administrativo.
Mas,
do
ponto
de
vista
do
controlo
jurisdicional,
o
ter
surgido
um
dever
na
Administração
como
um
dever
obrigatório
para
as
Administrações
Publicas,
nos
termos
da
Carta
dos
Direitos
Fundamentais,
poderia
significar
que,
no
nosso
sistema
de
tipo
francês,
os
tribunais
poderiam
sempre
controlar
a
Administração
para
saber
se
ela
tomou
ou
não
as
decisões
mais
corretas.
Uma
interpretação
desse
género
é,
da
perspectiva
de
VASCO
PEREIRA
da
SILVA,
uma
interpretação
excessiva,
porque,
se
olharmos
para
a
Carta
dos
Direitos
Fundamentais,
aquilo
que
aparece
lá
dito
como
integrando
os
deveres
de
boa
administração,
são
direitos
e
deveres
de
natureza
processual
que
já
estão
consagrados
no
Direito
português.
O
direito
a
audiência,
o
direito
de
participação
nas
decisões
públicas,
o
direito
à
fundamentação
das
decisões,
tudo
isso
aparece
como
correspondendo
ao
dever
de
boa
administração
e,
portanto,
em
termos
do
Direito
Europeu,
aquilo
que
se
estabelece
na
norma
que
consagra
o
dever
de
boa
administração,
corresponde
a
direitos
e
deveres
de
natureza
processual
com
uma
amplitude
mais
limitada
e
que
são,
na
nossa
ordem
jurídica,
já
aspectos
vinculados
no
exercício
do
poder.
Assim,
se
adotássemos
uma
interpretação
literalista,
como
defendem
alguns
Autores,
isso
significaria
que
o
dever
de
boa
administração
significaria,
na
prática,
dar
um
nome
novo
à
existência
de
regras
processuais
que
poderiam
ser
controladas
no
âmbito
da
Administração.
Não
é
essa
também
a
interpretação
de
VASCO
PEREIRA
DA
SILVA,
que
julga
que
o
legislador
europeu
é
bastante
claro
e
que
esses
deveres
que
aí
aparecem,
aparecem
a
título
de
exemplificativo.
Isto
significa
que
ainda
sobra
algum
conteúdo
útil
para
o
dever
de
boa
administração
enquanto
dever
jurídico,
enquanto
dever
que
permite
o
controlo
do
exercício
do
poder
discricionário.
E,
para
VASCO
PEREIRA
DA
SILVA,
esse
conteúdo
útil
deve
ser
interpretado
no
quadro
da
lógica
de
um
sistema
que,
por
um
lado,
admite
apenas
o
controlo
da
legalidade,
mas
admite
esse
controlo
em
termos
alargados,
o
controlo
em
termos
que
permite
a
adoção
de
valores
e
de
princípios,
como
o
principio
da
justiça,
o
principio
da
boa
fé
e
outros
do
género.
Na
ótica
do
Senhor
Professor,
este
pode
ser
o
sentido
útil
a
dar
à
interpretação
do
dever
de
boa
administração.
Não
no
sentido
de
permitir
que
todas
as
escolhas,
aquelas
que
são
da
responsabilidade
da
Administração
e
que
a
lei
remete
para
escolha
da
Administração,
os
aspetos
da
escolha
em
si,
exceto
quando
a
escolha
está
fora
do
standard
legal,
mas
quando
está
dentro
do
standard,
quando
corresponde
à
discricionariedade,
essa
escolha
não
é
um
parâmetro
jurídico
de
decisão
e,
portanto,
não
é
também
um
parâmetro
jurídico
de
controlo.
Agora,
a
consagração
desse
dever
de
boa
atuação,
torna
mais
efetiva
esta
nossa
noção
acerca
do
poder
discricionário
e
do
poder
vinculado,
porque
dizer
que
a
Administração
pode
controlar,
no
quadro
do
mérito
das
de
decisões,
as
decisões
más
e
as
decisões
excecionalmente
boas,
porque
excecionalmente
boas
também
pode
ser
mau,
e
de
acordo
com
aquela
lógica
de
que
tudo
tem
limites
e
até
a
bondade
tem
limites
(ser
bom
é
bom,
mas
ser
bom
em
excesso
é
ser
um
pobre
de
espirito)
e,
portanto,
entre
o
excesso
para
cima,
e
o
excesso
para
baixo,
a
ideia
de
que
aí
há
uma
susceptibilidade
de
controlo
e
que
mesmo
o
mérito
tem
parâmetros
que
permitem
o
controlo
do
ponto
de
vista
da
legalidade,
isso
é
um
acréscimo
aos
vínculos
legais.
Portanto,
VASCO
PEREIRA
DA
SILVA
equipara
este
governo
de
boa
administração
ao
princípio
da
justiça,
enquanto
princípio
constitucional
que
obriga
a
Administração.
Corresponde
a
uma
exigência
de
atuação
que
permite
alguma
liberdade
que
não
deixa
de
estar
submetida
a
controlo,
mas
esse
controlo
só
existe
quando
haja
um
afastamento
integral
dos
parâmetros.
Quando
uma
medida
administrativa
é
tomada
sem
as
condições
legais
para
o
exercício
do
poder,
ela
está
exercida
fora
dos
parâmetros
e,
portanto,
pode
dizer-‐se
que
viola
também
o
dever
de
boa
administração.
VASCO
PEREIRA
DA
SILVA
vai
mais
longe
do
que
aquilo
que
FREITAS
DO
AMARAL
coloca
em
discussão
no
âmbito
das
lições.
FREITAS
DO
AMARAL,
adotando
a
perspetiva
clássica,
diz
que
esse
dever
de
boa
administração
só
é
parâmetro
de
controlo
no
domínio
do
poder
administrativo,
não
permite
a
lógica
do
parâmetro
de
controlo
no
domínio
do
poder
judicial,
não
é
um
instrumento
de
controlo
no
quadro
do
poder
judicial.
VASCO
PEREIRA
DA
SILVA
entende
que,
embora
não
se
coloque
como
parâmetro
decisório
nos
mesmos
termos
que
outras
vinculações,
estabelece
um
standard,
estabelece
uma
realidade
de
natureza
jurídica
que
tem
que
ser
preenchida
e,
quando
esse
standard
não
é
preenchido,
quando
essa
realidade
não
é
preenchida,
estamos
perante
uma
ilegalidade.
Portanto,
a
norma
que
vem
do
Direito
Europeu,
em
primeiro
lugar,
e
no
quadro
da
noção
ampla
de
princípio
da
juridicidade,
essa
previsão
do
Direito
Europeu
integra
a
ordem
jurídica
portuguesa
e
obriga
a
Administração
no
exercício
do
poder
discricionário.
Por
outro
lado,
esse
dever
de
boa
administração
existe
enquanto
dever
de
realização
correta
do
interesse
público
e,
portanto,
obriga
a
uma
especial
exigência
da
administração
no
exercício
dos
seu
poderes
e,
nessa
medida,
estabelece
o
standard
decisório
que
é
suscitável
de
ser
controlado
quando
não
for
utilizado.
Desta
forma,
na
perspetiva
de
VASCO
PEREIRA
DA
SILVA,
permite
algum
controlo,
mesmo
se
não
permite
um
controlo
integral.
Ou
seja,
há
uma
lógica
emblemática
na
consagração
de
um
direito
de
boa
administração.
VASCO
PEREIRA
DA
SILVA
diria,
também,
que
as
razões
que
levaram
o
legislador
europeu
a
introduzir
este
novo
dever,
por
um
lado,
têm
que
ver
com
a
tentativa
de
garantir
a
nível
europeu
a
lógica
de
assegurar
direitos
de
natureza
procedimental
que
não
existiam
em
todos
os
países
da
União
Europeia.
Mas,
há
também
o
aspeto
simbólico
de
permitir
o
controlo
da
discricionariedade
que
não
é
negligenciável
e
que
mesmo
tendo
uma
dimensão
mais
emblemática
do
que
efetiva,
é
um
importante
critério
para
a
decisão
da
Administração
e
permite
um
parâmetro
de
controlo.
Isto
está
de
acordo
com
o
facto
de,
antecipando
uma
matéria
que
merece
olhar
mais
atendo
em
Contencioso
Administrativo,
em
Portugal
ser
possível
condenar
a
Administração
a
praticar
atos,
e
a
praticar
atos
e
a
atuar
quando
estamos
no
domínio
das
vinculações
legais.
Mas
o
legislador
estabeleceu
uma
abertura
no
sistema
que
permite
o
controlo,
também,
do
poder
discricionário.
Não
naqueles
aspetos
vinculados
que
são
tratados
comos
os
outros
elementos
vinculados
no
exercício
do
poder,
mas
a
própria
discricionariedade.
O
legislador
português
e
à
semelhança
do
legislador
alemão,
consagrou
aquilo
a
que
na
Alemanha
se
chamam
as
sentenças
indicativas.
O
juiz,
perante
uma
decisão
que
cabe
na
margem
da
Administração,
o
juiz
não
pode
decidir
substituindo-‐se
à
Administração,
pode
dizer
o
que
é
que
é
o
correto
exercício
do
poder
discricionário,
ou
seja,
pode
discriminar
o
dever
de
boa
administração.
Portanto,
aquela
norma
do
Código
do
Processo
que
permite
estas
sentenças
indicativas,
dar
indicações
concretas
quanto
ao
modo
do
exercício
do
poder
discricionário,
representa,
na
nossa
ordem
jurídica,
uma
forma
de
concretização
jurídica
do
dever
de
boa
administração,
enquanto
parâmetro
decisório
e
não
apenas
enquanto
realidade
de
natureza
politica.
Com
isto
ficamos
com
a
dimensão
essencial
da
distinção
entre
discricionariedade
e
vinculação.
Para
terminar
esta
matéria
fica
apenas
a
faltar
a
análise
de
todos
e
de
cada
um
dos
princípios
que
funcionam
como
vinculações
autónomas
ao
exercício
dos
poderes
discricionários.
14-‐04-‐2013
Cabe-‐me
analisar
as
demais
vinculações,
para
alem
das
impostas
pelo
Princípio
da
Legalidade
à
actividade
discricionária.
Há
um
conjunto
de
principios
que
visam
ainda
permitir
o
controlo,
para
já
um
controlo
originário
(legislador),
e
depois
permitir
um
controlo
secundário
(juiz).
Estes
principios,
que
podem
ser
encontrados
quer
na
CRP
(266,267)
quer
nas
primeiras
normas
do
procedimento
administrativo,
têm
uma
função
fundamental…
estes
principios
limitam
as
opções
da
administração
e
podem
mesmo
levar
a
que
uma
norma
que
permitiria
uma
decisão
discricionária…
a
influencia
dos
princípios
jurídicos
pode
ser
tal
que
no
caso
concreto
não
tem
opção,
tem
apenas
uma
única
conduta
possível
e
por
isso
dizemos
que
houve
uma
recessão
da
reserva
da
discricionariedade
a
zero.
Comecemos
por
ver
o
principio
da
prossecução
do
interesse
publico,
um
dos
mais
complexos.
Este
principio
decorre
do
Princípio
da
Legalidade,
ele
tem
posição
própria
no
ordenamento
jurídico
português,
surge
naturalmente
no
266/1
da
CRP
e
a
ideia
de
que
a
prossecução
do
interesse
publico
além
de
vincular
o
fim
da
actuação
administrativa
serve
de
controlo
à
discricionariedade.
Simplificando,
pode
dizer-‐
se
que
a
administração
pública
não
é
livre
de
escolher
prosseguir
ou
não
o
interesse
publico,
é
livre
de
escolher
a
melhor
maneira
de
o
prosseguir,
isto
é,
os
tribunais…
Em
que
circunstancia
o
princípio
da
prossecução
do
interesse
público
se
aplica
à
dimensão
de
mérito
ou
à
dimensão
de
legalidade.
Quanto
à
dimensão
de
legalidade
estamos
perante
…
que
é
a
ideia
de
que
se
um
tribunal
puder
encontrar
numa
actuação
discricionária
ou
conseguir
demonstrar
que
a
actuação
discricionária,
a
opção
da
administração,
não
foi
pela
prossecução
do
interesse
público
então
o
acto,
apesar
de
discricionário,
pode
obviamente
ser
controlado.
Costuma-‐se
dizer
que
mesmo
os
actos
discricionários
são
vinculados
quanto
ao
fim,
o
fim
tem
de
ser
sempre
por
força
do
266/1
1ªparte
a
prossecução
do
interesse
público.
Dito
isto
também
é
verdade
que
há
uma
dimensão
de
mérito
pela
prossecução
do
interesse
público
que
é
a
melhor
maneira
de
prosseguir
o
interesse
público
e
aqui
confrontamos
com
o
problema
da
discricionariedade
o
facto
do
conceito
de
interesse
público
ser
um
conceito
indeterminado.
Sendo
um
conceito
indeterminado,
a
partir
do
momento
em
que
sabemos
ou
que
estamos
numa
área
de
consenso
sobre
determinadas
condutas
que
são
prossecução
do
interesse
público
é
apenas
à
administração
que
é
dada
a
hipótese
de
escolher
a
melhor,
o
tribunal
não
pode
fazer
esse
segundo
passo.
O
tribunal
só
pode
delimitar
o
que
está
dentro
ou
fora
do
interesse
público
mas
não
pode
dizer
o
que
é
melhor
ou
pior.
…
o
princípio
da
prossecução
do
interesse
público
não
pode
ser
invocado
como
forma
de
controlar
a
discricionariedade
e
se
for
temos
uma
usurpação
do
poder
administrativo
por
parte
dos
tribunais,
o
que
viola
o
principio
da
separação
de
poderes.
Quanto
ao
principio
da
protecção
dos
interesses
dos
particulares,
também
contido
na
CRP
(266/1
2ªp)
e
no
CPA,
é
fácil
de
enunciar
e
descrever,
ele
é
também
para
muitos
autores
o
reverso
da
medalha
e
portanto
uma
decorrência
do
principio
da
legalidade,
a
ideia
de
que
a
lei
é
feita
para,
simultaneamente,
garantir
objectivamente
a
satisfação
dos
interesses
da
comunidade
política
mas
com
o
respeito
possível
pelas
posições
individuais
dos
cidadãos.
E
portanto
sempre
que
o
legislador
permite
à
administração
pública
escolher,
ele
na
pratica
está
a
dizer
ao
administrador
que
só
pode
escolher
na
medida
em
que:
a)
cumpra
o
interesse
público
b)
não
viole
as
posições
dos
particulares
Sempre
que
a
administração
pública
possa
escolher
entre
várias
opções
e
se
nessas
varias
opções
nós
encontrarmos
posições
jurídico-‐subjectivas
dos
particulares
então
estamos
a
reduzir
a
margem
de
discricionariedade?
A
resposta
é
sim
se
essas
posições
mesmo
que
legalmente
legitimadas
não
tenham
contra
si
outros
interesses
que
justifiquem
essa
destruição.
…
O
principio
da
proporcionalidade
encontra-‐se
tripartido:
1)
principio
da
adequação
2)
principio
da
necessidade
3)
principio
da
razoabilidade
/
proporcionalidade
stricto
sensu
/
custo-‐benefício
Quanto
ao
principio
da
adequação
permite
saber
se
a
opção
escolhida
é
adequada
para
o
fim.
Depois,
sendo
adequado,
cabe
saber
se
atingindo
o
fim
ela
é
no
caso
concreto
aquela
que
consegue
o
melhor
resultado,
ou
se
é
necessária
para
aquele
caso.
Sendo
adequada
e
necessária,
importa
saber
se
no
caso
concreto
as
vantagens
superam
as
desvantagens.
Diz-‐se
que
é
o
principio
mais
utilizado
e
mais
apto
a
controlar
a
actividade
discricionária,
isto
porque
é
aquele
que
conta
com
mais
…
só
sei
se
é
proporcional
quando
estou
em
confronto
com
o
caso
concreto.
A
ideia
de
proporcionalidade
é
uma
ideia
profundamente
relacional,
só
funciona
com
esta
mediação.
Principio
da
imparcialidade,
permite
perguntar
se
a
opção
da
administração
pública
não
viola
garantias
de
que,
apesar
de
estar
a
ser
prosseguido
o
interesse
público,
só
está
a
ser
prosseguido
o
interesse
público.
Há
um
conjunto
de
sujeitos,
destinatários,
da
actuação
administrativa
que
não
devem
ser
beneficiados
para
alem
daquilo
que
a
própria
norma
permite.
Está
claramente
em
causa
uma
margem
de
discricionariedade.
Não
posso
com
determinada
decisão
favorecer
certa
pessoa
em
detrimento
de
outra,
mesmo
que
esteja
a
prosseguir
interesses
públicos
mas
também
esteja
a
prosseguir
interesses
privados.
Figuras
que
concretizam
normativamente
o
principio
no
CPA
:
impedimentos,
suspeições,
escusas,
etc.
Mesmo
que
estas
figuras
não
existissem
no
CPA
o
simples
principio
enunciado
logo
no
inicio
do
código
permitiria
que
eu
invocasse
a
violação
da
imparcialidade
para
tornar
o
acto
discricionário
ilegal.
O
principio
da
igualdade,
a
dimensão
fundamental
deste
é
a
chamada
dimensão
material,
isto
é,
não
posso
tratar
de
modo
igual
situações
desiguais.
(6º/2
CRP).
O
princípio
da
boa
fé
também
encontramos
no
CPA
e
na
CRP.
A
dimensão
que
importa
aqui
é
baseada
no
principio
da
confiança,
este
é
particularmente
importante
num
Estado
de
Direito,
importante
no
controlo
da
legalidade
e
como
forma
de
controlo
da
actividade
discricionária
da
administração.
Como
se
apura
esta
dimensão?
A
ideia
de
que,
uma
vez
considerada…
um
excesso
de
sentido
de
actividade
não
pode
haver
um
retrocesso
sem
que
haja
uma
justificação
que
possa
ser
compreendida
pelo
particular.
Como
é
que
isto
se
liga
à
questão
da
discricionariedade?
Se
eu
tenho
várias
opções
permitidas
pela
norma
jurídica,
mas
algumas
delas
claramente
violam
o
sentido
que
os
particulares
legitimamente,
por
decorrência
quer
da
norma,
quer
da
actuação
administrativa
anterior
estão
à
espera,
então
eu
não
tenho
essas
opções,
a
não
ser
que
eu
consiga
demonstrar
que
alguma
razão
jurídica
permite
mudar
o
sentido
da
actuação
administrativa.
Isto
está
ligado
a
um
conceito
que
é
a
auto-‐vinculação
administrativa,
é
a
ideia
de
que
os
particulares
dever
poder
confiar
na
boa
fé
da
administração
pública,
que
devem
confiar
na
prática
reiterada
da
administração
pública
como
critério
para
fazer
juízos
de
prognose.
O
legislador
não
consegue
antecipar
todas
as
decisões
e
por
isso
deixa
uma
margem
para
a
administração
pública
se
vincular
no
caso
concreto.
Uma
outra
dimensão
do
princípio
da
confiança
prende-‐se
com
a
ideia
de
que
o
principio
da
confiança
também
permite
esperar
da
parte
do
particular
que
a
administração
pública
vai
sempre
escolher
a
decisão
que
no
caso
concreto
é
a
melhor.
Há
um
acrescento
de
exigência
de
fundamentação
sempre
que
uma
norma
confere
uma
margem
de
discricionariedade,
isto
é,
é
através
do
principio
da
confiança
que
nós
podemos
formular
esta
afirmação.
Todo
o
acto
administrativo
tem
de
ser
fundamentado
e
o
principio
da
confiança
como
que
redobra
as
exigências
de
fundamentação
quando
estamos
perante
actos
discricionários.
A
fundamentação
é
um
dos
aspectos
que
é
controlado
no
controlo
jurisdicional.
O
principio
da
justiça,
as
dificuldades
deste
prendem-‐se
sobretudo
com
a
novidade
do
principio
da
justiça
como
limite
da
actividade
discricionária.
Acaba
por
funcionar
como
uma
válvula
de
escape
do
sistema,
isto
é,
se
eu
não
conseguir
reconduzir
o
controlo
da
actividade
discricionária
a
mais
nenhum
dos
princípios
anteriores
então
pode-‐se
tentar
encontrar
uma
protecção
no
principio
da
justiça.
A
outra
hipótese
em
que
também
se
entende
que
pode
haver
uma
aplicação
deste
principio
é
nas
chamadas
violações
manifestas
ou
gritantes
da
ordem
jurídica
(ex:
as
próprias
partes
reconhecem
que
houve
uma
violação
embora
estejam
em
desacordo
quanto
à
medida
dessa
violação).
Próxima
matéria
–
confronto
entre
a
discricionariedade
e
a
margem
de
livre
apreciação
conferida
à
administração.
Discricionariedade
e
margem
de
livre
apreciação
não
coincidem
necessariamente,
isto
é
a
discricionariedade
permite
optar
entre
várias
condutas
dadas
pelo
legislador
e
a
livre
margem
de
apreciação
é,
já
depois
de
escolhida
a
conduta
que
quer
seguir,
escolher
entre
as
diferentes
medidas
dessa
conduta
que
está
normalmente
associado
à
interpretação
de
conceitos
indeterminados,
não
só
de
conceitos
mas
também
de
tipos.
19-‐04-‐2013
Vamos
hoje
começar
um
novo
capitulo,
que
eu
intitulei
de:
“Em
busca
de
um
centro
para
o
Direito
Administrativo”.
E
a
questão
que
se
coloca
aqui
é
de
saber,
em
primeiro
lugar,
se
há
ou
se
deve
haver
um
conceito
central
no
direito
administrativo
e,
em
segundo
lugar,
a
questão
de
saber
se
havendo
esse
conceito,
qual
é
que
ele
deve
ser.
A
questão
foi
uma
questão
essencial
no
inicio
do
direito
administrativo,
no
sec.
XIX,
no
auge
do
positivismo
jurídico
cada
disciplina
científica
procurava
ter
um
centro,
procurava
ter
uma
realidade
em
volta
da
qual
era
construído
o
modelo
científico
e
doutrinário,
e
no
caso
do
direito
administrativo
as
primeiras
concepções
jurídicas
foram
acto-‐centricas,
fizeram
do
acto
administrativo
o
centro
do
direito
administrativo.
E
a
procura
de
um
direito
central,
no
direito
privado
era
o
conceito
do
negócio
jurídico
privado,
no
direito
público
era
o
conceito
do
acto
administrativo,
no
direito
constitucional
era
a
norma
constitucional,
enfim,
havia,
no
Sec.
XIX,
esta
ideia
de
que
uma
determinada
ciência
tinha
um
conceito
chave
e
à
volta
desse
era
construído
todo
um
universo
jurídico
adequado
a
essa
realidade.
Tinha
a
ver
com
uma
lógica
fechada,
positivista,
uma
lógica
de
considerar,
em
termos
lógicos,
a
realidade
e
de
construir
um
aparelho
teórico
explicativo
dessa
realidade,
também
em
certo
sentido
independente
dessa
realidade,
enfim,
de
alguma
maneira
pode-‐se
brincar
dizendo
que
a
preocupação
do
positivista
jurídico
era
a
de
construir
uma
ciência
tão
pura
que
se
perdeu
a
ligação
à
pratica
e
que
a
pratica
se
vingou
do
direito.
Portanto,
de
alguma
maneira
a
ironia
no
quadro
da
lógica
de
construir
o
museu
com
um
determinado
centro
e
totalmente
organizado
era
a
de
essa
questão
assumir
uma
importância
excessiva
e
corresponder
a
um
esquema
fechado
e
entendido
num
sentido
que
era
normológico
e
que,
para
mim,
é
a
ligação
com
a
realidade.
A
colocação
da
questão
nestes
termos
não
faz
sentido,
se
hoje
em
dia
ainda
se
pode
falar
em
conceito
central,
coisa
em
relação
à
qual
eu
tenho
as
minhas
duvidas,
mas
admitindo
que
faz
sentido
esse
conceito
só
pode
ser
o
do
conceito
mais
geral,
mais
comum,
mais
abrangente
que
seja
susceptível
de
uma
maior
utilização,
não
uma
realidade
fechada
de
um
sistema
fechado,
não
algo
que
corresponda
à
pirâmide
do
poder
nos
quadros
tradicionais.
Mas
admitindo
que
ainda
faz
sentido
a
questão,
o
que
eu
duvido,
a
sua
colocação
hoje
em
dia
teria
de
ser
de
forma
diferente.
Mas
vejamos
primeiro
a
lógica
clássica
e
depois
a
necessidade
e
as
tentativas
que
surgiram
para
a
sua
superação.
A
lógica
clássica
era
a
de
considerar,
como
vos
disse,
o
acto
administrativo
como
o
centro
do
direito
administrativo,
era
a
manifestação
predominante,
era
de
alguma
maneira
o
actor
principal
e
até
o
único
protagonista
do
direito
administrativo
e
este
acto
era
o
acto
autoritário,
o
acto
correspondi
à
definição
do
direito
aplicada
ao
súbdito
no
caso
concreto.
Há
a
definição
jurídica,
por
um
lado,
e
por
outro
lado
um
acto
susceptível
de
execução
coactiva.
Como
já
sabemos
há
duas
grandes
construções
na
teoria
do
acto
administrativo:
A
construção
do
positivismo
jurídico
de
Otto
Mayer,
que
assimila
na
lógica
positivista
o
acto
administrativo
à
sentença
enquanto
o
acto
de
execução
do
direito
e
considera
que
o
acto
define,
tal
como
a
sentença,
o
direito
do
particular
no
caso
concreto,
e
este
acto,
também
tal
como
as
sentenças,
é
susceptível
de
execução
coactiva
mesmo
contra
a
vontade
do
particular;
Maurice
Hauriou,
positivismo
sociológico,
comparava
o
acto
administrativo
com
o
negócio
jurídico
e
isto
fazia
com
que
se
acentuasse
a
sua
dimensão
autoritária,
havia
uma
definição
autoritária
do
direito
e
havia
um
privilégio
de
execução
desse
acto
contra
a
vontade
do
particular.
Maurice
hauriou
falava
num
privilégio
decisório,
um
privilégio
da
administração
que
definia
o
direito
e
portanto
gozava
desse
privilégio,
enquanto
nas
relações
jurídico
privadas
o
negócio
jurídico
é
que
era
a
fonte
do
direito,
aqui
tínhamos
uma
definição
unilateral
e
depois
tínhamos
um
outro
privilegio
exorbitante
que
era
o
poder
de
executar
coactivamente
esse
acto
contra
a
vontade
dos
particulares.
Este
centro,
e
todo
o
direito
administrativo
era
construído
em
função
deste
centro,
as
normas
substantivas
destinavam-‐se
a
regular
o
acto
administrativo,
a
administração
preocupava-‐se
apenas
com
o
resultado
final,
ninguém
ligava
ao
que
existia
antes,
não
se
estudava
nem
regulava
o
procedimento
administrativo,
o
que
interessava
era
o
resultado
final
da
decisão
administrativa,
e
portanto
a
lógica
era
substantiva,
finalista
e
era
este
acto
que
depois
era
discutido
no
processo.
O
processo
administrativo
era
concebido
como
recurso
a
um
acto
administrativo,
o
que
se
ia
fazer
era,
numa
segunda
fase,
apreciar
aquele
acto
(“à
semelhança
de
um
cadáver”
–
M.Hauriou),
verificava-‐se
se
o
acto
cumpria
ou
não
a
legalidade,
se
o
acto
cumprisse
a
lei
era
confirmado,
se
não
era
anulado,
não
havia
partes
no
processo,
não
havia
o
particular
a
defender
nenhum
direito,
não
havia
administração
a
manifestar
nenhuma
posição
de
vontade,
pelo
contrario,
de
acordo
com
esta
lógica
do
processo,
o
particular
e
a
administração
eram
auxiliares
do
juiz.
Tudo
estava
centrado
no
acto
administrativo
final,
era
a
forma
exclusiva,
ou
quase,
da
actuação
da
administração,
era
um
acto
material
que
definia
direitos
e
era
susceptível
de
execução
coactiva,
não
havia
nenhuma
relevância
no
procedimento,
o
que
estava
antes
do
acto
era
irrelevante
porque
só
contava
a
decisão
final,
e
era
esta
que
era
apreciada
no
contencioso.
Esta
realidade
era
uma
realidade
que
correspondia
a
uma
construção
autoritária
do
direito
administrativo
que
tinha
por
base
a
lógica
de
uma
administração
agressiva,
de
uma
administração
que
existia
apenas
para
garantir
a
segurança
dos
particulares
e,
portanto
do
ponto
vista
liberal,
esta
administração
publica
devia
estar
limitada
pela
lei
ao
domínio
da
policia
e
não
deveria
intervir
na
vida
da
sociedade,
a
lógica
de
um
liberal
era
a
de
uma
administração
que
apenas
servia
para
garantir
a
liberdade
e
a
propriedade,
que
apenas
existia
para
exercer
a
função
policial.
É
por
isso
que
este
acto
administrativo
vai
ser
construído
à
imagem
e
semelhança
do
acto
policia,
que
era
o
modelo
paradigma
deste
acto
definitório
de
direito
e
de
este
acto
susceptível
de
execução
coactiva,
porque
a
policia
quando
impõe
a
ordem
pública
usa
destes
meios
de
natureza
coactiva.
Ora,
se
isto
era
assim
no
sec.
XIX,
isto
vai
entrar
em
crise
no
sec
XX
porque
o
surgimento
do
estado
social
traz
consigo
um
modelo
de
administração
prestadora,
e
esta
já
não
coloca
o
acto
administrativo
no
centro
da
sua
actividade,
esta
administração
prestadora,
que
agora
passa
a
ser
generalizada,
e
em
todos
os
domínios
da
vida
económica
social
e
cultural,
esta
administração
prestadora
usa
múltiplas
formas
de
actuação
e
portanto
passa-‐se
da
farda
única
do
acto
administrativo
para
um
moderno
pronto
a
vestir
das
formas
de
actuação
da
administração,
esta
escolhe
qual
é
a
forma
de
actuação
mais
adequada
à
obtenção
do
resultado
que
pretende:
se
se
trata
de
um
acto
unilateral
pratica
um
acto
administrativo,
se
se
trata
de
um
negocio
ela
celebra
um
contrato,
se
se
trata
de
estabelecer
regras
genéricas
faz
um
regulamento,
se
se
trata
de
estabelecer
mecanismos
com
carácter
perceptivo
faz
um
plano,
se
se
trata
de
produzir
bens
e
serviços
actua
como
um
privado,
se
se
trata
de
uma
actuação
técnica
ela
pratica
operações
materiais.
O
acto
administrativo
deixou
de
ser
“a
forma
da
actuação
administrativa”
para
passar
apenas
a
ser
uma
das
formas
de
actuação
administrativa,
uma
entre
muitas,
uma
à
escolha
entre
várias.
Isto
faz
com
que
daqui
resulte
desde
logo
a
primeira
crise
do
acto
administrativo,
o
acto
que
até
aí
era
protagonista
e
que
agora
é
apenas
um
dos
actores
havendo
um
papel
principal
repartido
por
numerosas
actuações.
Há
vários
candidatos
ao
mesmo
Óscar.
Por
outro
lado,
havendo
todas
estas
formas
de
actuação
era
preciso
procurar
algo
que
fosse
comum
a
elas,
e
começou-‐se
a
ver
que
aquilo
que
existia
antes
do
acto
e
aquilo
que
estava
para
alem
do
acto
é
que
poderia
comum
àquilo
que
estava
antes
do
negocio
jurídico
ou
depois
do
negocio
jurídico,
tal
como
do
regulamento,
tal
como
outra
realidade,
ou
seja,
passou-‐se
a
procurar,
não
apenas
a
decisão
final
mas
procurou-‐se
olhar
para
a
realidade
da
qual
essa
decisão
final
saía.
Começou-‐se
a
olhar
para
o
procedimento
porque
o
acto
não
cai
do
céu,
o
acto
é
um
resultado
de
um
procedimento
em
que
participam
entidade
públicas
e
privadas.
E
essa
foi
uma
das
alternativas
do
acto
administrativo
como
construção
central,
a
partir
dos
anos
50-‐60
a
doutrina
administrativa
italiana
introduz
essa
discussão,
que
se
prolonga
nos
anos
70-‐80
e
ainda
hoje
encontram
no
quadro
de
orientação
italiana
esta
ideia
de
que
o
procedimento
é
uma
realidade
anterior
e
posterior
ao
acto
administrativo
e,
portanto,
é
uma
realidade
que
por
ser
comum
a
todas
as
formas
de
actuação
está
em
condições
de
poder
funcionar
como
o
conceito
central
alternativo.
Mas
outra
visão
que
surgiu
no
direito
alemão
foi
a
de
focar
a
relação
jurídica
como
realidade
alternativa
porque
se
se
olha
apenas
para
o
acto
só
se
percebe
parte
…
o
acto
administrativo
é
uma
foto
instantânea
de
relações
em
movimento,
não
basta
olhar
para
a
fotografia
para
perceber
o
que
se
passa
no
relacionamento
entre
o
particular
e
a
administração,
é
preciso
ver
o
filme
todo,
é
preciso
ver
as
relações
jurídicas
que
se
iniciaram
no
momento
em
que
o
procedimento
teve
lugar
e
as
relações
jurídicas
que
continuam
depois
da
pratica
do
acto
administrativo,
que
criou
direitos
ou
deveres
para
as
partes,
e
também
aqui
esta
relação
jurídica,
tanto
existe
no
caso
do
acto
administrativo
como
no
caso
do
NJ
como
no
caso
do
regulamento
ou
no
caso
de
uma
actuação
material.
O
que
como
diz
C…,
com
também
alguma
ironia,
nenhuma
decisão
é
tomada
instantaneamente,
há
todo
um
conjunto
de
ligações
que
se
estabelecem
entre
o
particular
e
administração
que
têm
de
ser
consideradas.
A
doutrina
germânica
passou
a,
também
a
partir
dos
anos
50-‐60,
dizer
que
a
alternativa
ao
acto
administrativo
no
quadro
da
administração
prestadora
era
a
relação
jurídica.
Mas
de
novo
esta
busca
de
novo
centro
para
o
direito
administrativo
tem
a
ver
com
outra
crise
do
acto
administrativo
que
é
a
que
resulta
do
facto
do
acto
ter
deixado
de
ser
o
protagonista,
porque
se
o
acto
deixa
de
ser
o
protagonista
e
se
há
vários
actores
principais
é
preciso
encontrar
algo
que
seja
comum
a
essas
actuações
principais,
é
preciso
encontrar
algo
que
permita
caracterizar
a
administração
pública.
Mas
as
transformações
não
se
ficam
por
aqui
e
as
crises
não
se
ficam
por
aqui
porque
o
próprio
acto
definitivo
executório,
para
usar
a
expressão
tradicional
da
escola
de
Lisboa
do
prof
Marcelo
Caetano
que
era
um
pouco
a
mistura
da
construção
de
Otto
Mayer
e
Maurice
Hourriou
e,
portanto,
definitório
porque
definia
o
direito
aplicável
no
caso
concreto
e
executório
porque
era
susceptível
de
execução
coactiva,
este
acto
também
entra
em
crise
e
corresponde
a
uma
situação
minoritária
no
quadro
da
lógica
da
administração
prestadora,
porque,
desde
logo,
a
administração
não
define
o
direito,
a
função
administrativa
usa
o
direito
para
satisfazer
necessidades
colectivas,
diferentemente
da
justiça
a
administração
não
define
o
direito.
A
administração
usa
o
direito,
pratica
actos
que
têm
efeitos
jurídicos
mas
que
podem
não
ter
qualquer
conteúdo
de
natureza
jurídica.
Ex
do
controlador
aéreo:
quando
dá
uma
ordem
a
um
avião
para
descolar
ou
aterrar
está
a
praticar
um
acto
administrativo
mas
ele
não
tem
a
mínima
consciência
disso,
não
sabe
nada
de
direito,
a
razão
porque
ele
manda
o
avião
aterrar
ou
descolar
tem
a
ver
com
a
circulação
do
aeroporto,
tem
a
ver
com
as
circunstâncias
meteorológicas
e
é-‐lhe
absolutamente
indiferente
saber
se
produz
efeitos
jurídicos
ou
não.
O
acto
ele
próprio
se
produz
efeitos
jurídicos
não
tem
de
ter
um
conteúdo
jurídico,
não
é
em
situação
alguma
um
acto
de
definição
do
direito.
Por
outro
lado
também
não
é
executório,
porque
a
ideia
da
executoriedade
só
se
aplica
relativamente
a
actos
desfavoráveis
e
administração
prestadora
trouxe
consigo
o
acto
favorável,
o
acto
que
cria
direitos
para
os
particulares,
o
acto
que
atribui
vantagens
aos
particulares
e
este
acto,
por
natureza,
não
é
susceptível
de
execução
coactiva
contra
a
vontade
do
particular
porque
este
quer
que
ele
se
execute,
portanto
não
faz
sentido
dizer
k
este
acto
é
executório
porque
resulta
de
um
pedido
do
particular
e
corresponde
à
satisfação
de
um
interesse
deste.
Portanto,
também
o
conceito
de
acto
entrou,
ele
próprio,
em
crise
com
o
estado
social,
com
a
passagem
de
uma
administração
agressiva
para
uma
administração
prestadora
e
no
quadro
de
todas
as
transformações
da
actuação
da
administração.
Podia-‐se
dizer
,
no
quadro
do
estado
social,
que,
se
tinha
havido
uma
crise
do
acto
administrativo
como
conceito
central
ele
tendia
a
ser
substituído,
no
caso
da
doutrina
italiana
pelo
procedimento,
no
caso
da
doutrina
germânica
pela
relação
jurídica,
sendo
certo
também
que
os
dois
conceitos
não
eram
necessariamente
excludentes,
porque
como
começou
logo
a
ser
dito
as
relações
jurídicas
tanto
podem
ser
procedimentais
como
substantivas,
como
processuais
e,
portanto,
podia
haver
relações
jurídicas
no
procedimento
e
a
existência
da
ideia
da
relação
jurídica
não
punha
em
causa
a
lógica
do
procedimento.
Mas
efectivamente
surgem
duas
grandes
correntes
que
estão
centradas
nestes
dois
países
e
as
alternativas
que
se
colocavam,
até
aos
anos
70,
eram
estas
duas
lógicas
dilemáticas
do
acto
(não
será
procedimento?)
e
da
relação
jurídica.
Mas
a
realidade
também
se
transformou
com
a
passagem
do
estado
social
para
o
estado
pós
social,
com
a
crise
sofrida
nos
anos
70
e
que
dura
até
aos
nossos
dias,
com
o
surgimento
da
administração
que
em
vez
de
ser
meramente
prestadora
é
reguladora
e
infra-‐estrutural.
Por
um
lado,
esta
realidade
nova
vai
aprofundar
as
alternativas
ao
acto
administrativo
e
vai
introduzir
alternativas
de
direito
privado
que
se
transformam
nas
formas
mais
frequentes
de
actuação
da
administração,
alternativas
de
direito
privado,
alternativas
técnicas,
no
quadro
da
tal
administração
reguladora
que
é
determinada
pelo
mote
da
privatização
das
suas
tarefas
e
das
suas
funções,
por
outro
lado
também
este
acto
que
agora
começa
a
ser
entendido
no
direito
administrativo
é
um
acto
que
produz
efeitos
múltiplos,
ou
seja,
a
lógica
da
relação
jurídica,
que
de
alguma
maneira
surgia
como
alternativa
ao
acto
administrativo,
vai
ter
de
ser
entendida
em
termos
amplos
porque
a
relação
jurídica
era
uma
relação
bilateral,
uma
relação
que
se
estabelecia
entre
a
autoridade
administrativa
que
tinha
emitido
o
acto
e
o
destinatário
dessa
actuação.
Aquilo
que
corresponde
à
lógica
dos
anos
70
é
o
surgimento
de
novos
titulares
de
direitos
subjectivos,
no
quadro
de
relações
jurídicas
que
são
multilaterais,
o
particular
que,
no
quadro
do
direito
do
ambiente
tem
direito
a
que
a
fabrica
colocada
na
sua
vizinhança
produza
em
condições
que
sejam
ambientalmente
adequadas,
o
direito
do
vizinho
a
que
a
construção
ao
lado
da
sua
não
lhe
tape
o
sol
nem
ponha
em
causa
os
seus
direitos
no
âmbito
de
uma
relação
urbanística,
ou
o
consumidor
de
um
bem
que
tem
direito
a
não
comer
carne
de
cavalo
quando
está
a
comprar
carne
de
vaca,
etc,
tudo
isto
introduziu
uma
nova
dinâmica
de
direito
e
uma
relação
jurídica
em
que
todos
os
que
são
afectados
pela
decisão
administrativa
são
sujeitos
da
relação
multilateral.
O
acto
administrativo
que
surge
nesta
altura
é
o
acto
com
eficácia
múltipla,
que
foi
estudado
por
um
autor
alemão
chamado
Halbinger?,
ainda
nos
anos
70,
na
altura
ele
ainda
se
chamava
acto
com
eficácia
em
relação
a
terceiro,
hoje
em
dia
esse
acto
é
um
acto
no
quadro
de
uma
relação
jurídica
multilateral
e
aquilo
que
ai
sucedeu,
quer
no
quadro
italiano
quer
no
quadro
francês
é
que
por
um
lado
se
continuou
a
acentuar
a
crise
ao
acto
administrativo
e
começaram
a
surgir
nomes
novos
que
geram
problemas
novos
e
que
obrigam
a
realidades
diferentes
quanto
ao
modo
de
entender
o
direito
administrativo.
E
há
quem
diga
que
nos
nossos
dias,
e
eu
devo
dizer
que
em
parte
acho
este
entendimento
adequado,
a
realidade
do
direito
administrativo
é
poli-‐cêntrica
e
haverá
centros
diferentes
consoante
a
perspectiva
e
consoante
a
realidade
tenha
a
ver
com
o
direito
interno
ou
direito
global,
consoante
a
realidade
tenha
a
ver
com
o
direito
do
ambiente,
do
urbanismo,
do
ordenamento
do
território
ou
do
consumo
ou
da
saúde
ou
qualquer
outra
realidade
porque
se
calhar
estamos
perante
realidades
policêntricas
e
que
já
não
faz
sentido
continuar
a
utilizar
a
questão
de
buscar
um
novo
centro
para
o
direito
administrativo.
Mas
se
ainda
fizer
algum
sentido
….
A
nova
ciência
do
direito
administrativo
parte,
por
um
lado,
de
uma
lógica
de
considerar
que
a
metodologia
adequada
ao
direito
administrativo
de
hoje
implica
a
conjugação
da
lógica
jurídica
tradicional
com
a
lógica
técnica
que
vem
do
direito
do
ambiente,
direito
do
urbanismo,
com
a
abertura
a
novas
realidades
e
a
considerar
que
aquilo
que
resulta
destes
ramos
de
direito
especial
tem
uma
dimensão
essencial
no
quadro
do
direito
administrativo
geral
e
neste
entendimento
há
quem
diga
que
a
haver,
ainda,
alguma
figura
central
para
o
direito
administrativo
essa
figura
é
a
da
relação
jurídica
multilateral,
uma
relação
que
tem
tantos
sujeitos
quanto
destinatários
da
actuação
administrativa,
uma
relação
que
estabelece
uma
realidade
equilibrada
entre
todos
aqueles
que
são
afectados
no
quadro
desta
realidade.
Ora
bem
a
razão
porque
eu
escolhi
este
titulo
para
este
capitulo
é
porque
ele
permite
este
enquadramento
desta
realidade
primeiro,
mas
permite
depois
um
efeito
pedagógico
que
eu
acho
que
é
útil
independentemente
da
resposta
à
questão
de
saber
se
ainda
há
ou
não
um
conceito
central,
que
é
uma
questão
que
provavelmente
continuaremos
a
discutir
até
ao
fim
da
vida,
se
faz
sentido
ou
não,
a
fazer
sentido
já
não
pode
ser
no
sentido
do
sec.
XIX,
a
fazer
sentido
é
apenas
considerando
que
ela
corresponde
à
procura
do
conceito
mais
alargado.
Mas
mais
importante
do
que
isso
é
que
este
titulo
serve,
do
ponto
de
vista
pedagógico,
para
estudarmos
o
procedimento
e
a
relação
jurídica
multilateral,
porque
são
essas
sim
realidades,
que
sejam
centrais
ou
não,
essenciais
para
entender
o
direito
administrativo
dos
nossos
dias.
E
portanto,
de
alguma
maneira
este
enquadramento
histórico
fornece
uma
oportunidade
pedagógica
para
agora
iniciarmos
o
estudo
da
realidade
procedimental.
Começando
pelo
procedimento.
A
mudança
de
perspectiva
da
decisão
final
para
o
procedimento
foi
essencial.
Siamini?,
um
dos
autores
italianos
mais
famosos,
diz
que
o
procedimento
é
a
forma
da
função
e
o
procedimento
enquanto
forma
da
função
deve
ser
adequado
ao
exercício
da
função
administrativa,
o
que
significa
considerar
que
cada
função
tem
um
procedimento
especifico,
há
função
legislativa
e
há
um
procedimento
legislativo,
há
a
função
administrativa
e
há
o
procedimento
administrativo,
há
uma
função
judicial
e
há
um
processo,
o
processo
é
apenas
a
forma
da
função
judicial
e
não,
como
se
dizia
no
período
do
positivismo
ligando
o
procedimento
e
o
processo
que
o
processo
era
a
matriz
a
origem
do
procedimento,
não
só
não
é
a
origem
como
não
tem
nada
a
ver.
Um
processo
que
tem
a
ver
com
o
exercício
da
função
judicial
que
se
destina
a
dizer
o
direito
tem
que
ser
uma
estrutura
rígida
que
estabeleça
igualdade
de
oportunidades
para
todos
os
particulares
como
regras
que
têm
que
ser
sempre
as
mesmas.
Pelo
contrário
a
administração
publica
que
tem
como
função
satisfazer
as
necessidades
colectivas,
tem
que
ter
regras
de
procedimento
ágeis,
regras
de
procedimento
variáveis,
regras
de
procedimento
que
permitam
que
os
particulares
intervenham
mas
que
não
sejam
sempre
iguais,
que
sejam
adequadas
à
realidade
que
está
em
causa.
O
procedimento
legislativo
também
tem
de
ser
o
adequado
a
um
sistema
e
uma
justiça
representativa
no
quadro
de
um
estado
de
direito.
Cada
função
tem
o
seu
próprio
procedimento,
e
como
dizia
…
o
procedimento
é
a
forma
da
função.
O
procedimento
da
função
administrativa
destina-‐se
à
tomada
de
decisões,
satisfação
das
necessidades
colectivas,
procurando
que
a
regulação
desse
procedimento
de
tomada
de
decisões
seja
lógico,
seja
racional,
conduza
às
melhores
decisões
possíveis,
que
seja
adequado
ao
funcionamento
da
administração.
Aqui
entra
uma
realidade
que
é
a
questão
da
multifuncionalidade
do
procedimento
administrativo,
este
é
uma
realidade
multifuncional
porque
desempenha
numerosas
tarefas:
em
primeiro
lugar
ele
serve
para
legitimar
a
actuação
administrativa,
uma
actuação
que
é
tomada
no
quadro
de
um
procedimento
é
uma
administração
que
adquiriu
uma
forma
autónoma
de
legitimação
(…
legitimação
com
o
procedimento)
e
isso
é
uma
realidade
nova
que
os
anos
70
introduzem,
havia
a
legitimação
democrática,
a
que
resulta
de
eleições,
havia
a
legitimação
legal
burocrática
(Max
Weber),
que
resulta
das
competências
e
do
estado
de
direito,
e
agora
temos
uma
legitimação
acrescida
das
decisões
administrativas
que
resulta
da
existência
de
um
procedimento,
o
facto
de
haver
um
procedimento
significa
que
os
destinatários
da
decisão
são
ouvidos,
significa
que
a
medida
é
tomada
depois
de
ponderadas
diferentes
alternativas,
significa
que
a
administração
se
preocupou
não
apenas
com
o
resultado
final
mas
com
o
modo
de
atingir
esse
resultado
e
esta
é
uma
filosofia
nova,
é
uma
filosofia
que
deixa
de
se
preocupar
com
a
realidade
final
e
passa
a
preocupar-‐se
com
o
modo
de
tomada
de
decisões.
A
existência
de
um
procedimento,
a
existência
da
participação
dos
particulares
nesse
procedimento
confere
às
decisões
administrativas
uma
fonte
de
legitimação
autónoma,
a
legitimação
do
procedimento
que
acresce
às
outras
dimensões
que
podem
existir
ou
não,
e
essa
é
uma
dimensão
que
a
administração
pública
dos
nossos
dias
tem
sempre,
a
administração
actua
através
de
regras
procedimentais,
a
sua
legitimação
é
em
primeira
linha
de
natureza
procedimental,
depois
haverá
outros
órgãos
que
acumulam
com
essa
legitimação
procedimental
também
a
legitimação
democrática
e
acumulam
sempre
a
legitimação
legal
burocrática
/
legitimação
de
estado
de
direito
mas
estamos
perante
uma
forma
de
legitimação
autónoma
da
administração
pública.
Mas
para
alem
disso
o
procedimento
serve
em
segundo
lugar,
tem
uma
outra
função
que
é
a
de,
por
um
lado,
definir
o
que
é
o
interesse
público
e,
por
outro
lado,
permitir
coser
os
interesses
públicos
e
privados.
O
procedimento
é
uma
realidade
que
vai
servir
para,
desde
logo,
definir
o
próprio
interesse
público
a
prosseguir
no
caso
concreto,
porque
a
administração
tem
sempre
que
prosseguir
o
interesse
público.
Mas
saber
o
que
é
o
interesse
público
é
uma
realidade
que
não
está
pré
determinada,
e
portanto
a
melhor
solução
de
o
prosseguir
tem
de
ser
procurada
no
caso
concreto
e
esta
procura
da
melhor
solução
no
caso
concreto
implica
um
juízo
de
alternativas
(ex:
a
decisão
do
melhor
locar
onde
por
a
ponte
sobre
o
Tejo
é
uma
decisão
que
pensando
apenas
no
governo
e
pensando
que
todos
os
ministros
estão
apenas
a
prosseguir
da
melhor
forma
o
interesse
publico
que
lhes
cabe
realizar,
esta
decisão
são
varias
decisões
completamente
diferentes.
A
melhor
decisão
para
construir
a
ponte
na
perspectiva
do
ministro
da
economia
é
a
que
melhor
desenvolve
uma
determinada
zona,
da
perspectiva
do
ministro
das
finanças
é
a
que
sai
mais
barata,
etc,
e
qual
destas
perspectivas
é
a
melhor?
Todas!
Porque
todas
realizam
o
interesse
público.
Como
tal
a
determinação
da
melhor
solução
decorre
do
procedimento,
o
procedimento
que
diz
em
que
momento
é
que
cada
uma
destas
posições
se
manifesta
e
como
é
que
estas
posições
parcelares
se
vão
identificar
na
decisão
final.).
O
procedimento
serve,
desde
logo,
para
definir
o
interesse
público,
essa
balela
que
nos
venderam
de
que
o
interesse
público
esta
pré
determinado
é
um
disparate.
O
interesse
público
tem
sempre
de
ser
prosseguido
mas
qual
é
o
interesse
ninguém
sabe,
isso
depende
do
procedimento
do
caso
concreto.
O
interesse
publico
serve
também
para
ouvir
o
direito
dos
particulares
que
também
são
importantes
para
que
a
decisão
seja
a
melhor
decisão
possível.
Olhando
para
o
exemplo
da
ponte
foi
importante
para
que
fosse
construída
aquela
ponte
Vasco
da
Gama
que
os
particulares
lesados
pela
ponte
se
tivessem
manifestado,
foi
importante
que
a
Quercus
tivesse
contestado
aquele
local,
etc,
porque
assim
a
decisão
pôde
ser
melhor.
(questão
da
ponte
não
ter
luz
por
razoes
ambientais).
O
facto
de
ter
havido
a
manifestação
de
interesses
públicos
e
privados
permitiu
que
na
decisão
fosse
melhor,
permitiu
que
a
decisão
tivesse
de
considerar
dimensões
que
inicialmente
não
estavam
consideras.
É
no
procedimento
que
por
um
lado
se
determina
o
interesse
público
e
por
outro
se
cosem
os
interesses
públicos
e
privados,
e
essa
é
uma
função
essencial
do
procedimento.
O
procedimento
também
é
um
factor
de
racionalidade
da
decisão
e
um
instrumento
de
defesa
dos
direitos
dos
particulares.
21-‐04-‐2013
Na
ultima
aula
estávamos
a
analisar
as
questões
do
procedimento
e
da
relação
jurídica,
começámos
por
discutir
a
questão
de
saber
se
havia
ou
não
um
centro
para
o
direito
administrativo,
vimos
que
essa
questão
em
termos
clássicos
tinha
sido
uma
questão
essencial
e
que
o
direito
administrativo
do
sec
XIX
tinha
nascido
com
um
centro
que
era
o
acto
administrativo,
vimos
que
esta
construção
era
inadmissível
em
face
das
realidades
posteriores,
com
o
estado
social
que
trouxe
consigo
outras
formas
de
actuação
e
trouxe
consigo
a
crise
do
acto
administrativo
autoritário
e
vimos
também
que
na
sequencia
do
estado
social
surgiram
duas
alternativas,
a
alternativa
do
procedimento
e
a
alternativa
da
relação
jurídica,
consoante
se
tratasse
da
doutrina
italiana,
que
valoriza
o
procedimento,
ou
da
doutrina
alemã,
que
valoriza
a
relação
jurídica.
E
vimos
que
nos
nossos
dias
esta
questão
tem
de
ser
repensada,
em
primeiro
lugar
porque
há
uma
realidade
multilateral
que
influencia
quer
o
procedimento
quer
a
relação
jurídica,
se
considerarmos
que
há
um
conceito
central,
da
minha
perspectiva
será
o
conceito
da
relação
jurídica
multilateral
que
se
aplica
ao
procedimento,
às
relações
substantivas
e
ao
processo,
portanto
é
um
conceito
que
tem
uma
dimensão
mais
amplas,
mas
nos
dias
de
hoje
esta
questão
do
centro
já
não
faz
tanto
sentido
e
pode-‐se
dizer
que
o
que
está
em
causa,
quando
muito,
é
a
de
um
conceito
que
por
um
lado
seja
um
conceito
genérico
como
é
este
conceito
de
relação
jurídica
multilateral,
por
outro
lado
seja
um
conceito
que
seja
mais
utilizado
do
que
os
outros,
não
que
isso
signifique
como
na
lógica
do
sec
XIX
que
esse
seja
um
conceito
que
ocupe,
do
ponto
de
vista
teórico,
um
lugar
predominante,
um
lugar
quase
primacial.
Esta
questão
teórica
ajuda-‐nos
agora
a
introduzir
aquilo
que
começamos
a
analisar
na
aula
passada,
que
é
o
estudar
o
procedimento
e
a
relação
jurídica
no
procedimento
administrativo.
E
vimos
que
estes
dois
conceitos
são
decisivos
do
direito
administrativo
de
hoje.
E
estávamos
a
analisar
o
conceito
de
procedimento.
A
valorização
do
procedimento
administrativo
implicou
uma
transformação
da
lógica
da
actuação
administrativa,
em
vez
de
ser
relevante
apenas
o
resultado
final
da
actuação,
aquilo
que
releva
é
o
modo
de
atingir
esse
resultado,
é
o
modo
de
procedimento,
não
interessa
apenas
a
decisão
final
interessa
tudo
aquilo
que
se
passa
para
atingir
essa
decisão
final.
Valorizar
autonomamente
o
procedimento
significa
valorizar
todos
os
momentos
da
formação
da
vontade
da
administração
e
da
manifestação
dessa
administração
no
quadro
das
relações
jurídicas
administrativas
e,
portanto,
significa
ter
em
consideração
não
apenas
a
fotografia
(Otto
Backov?)
mas
olhar
para
o
filme
todo,
olhar
para
o
inicio
da
actuação
administrativa,
do
seu
desenvolvimento
até
à
decisão
final
e
para
além
dela,
porque
depois
à
os
procedimentos
de
execução
das
decisões
que
estão
em
causa.
O
procedimento
e
olhar
para
ele
implica
mudar
a
perspectiva
do
direito
administrativo
constitucional,
implica
valorizar
os
momentos
intermédios,
os
momentos
iniciais,
valorizar
a
integralidade,
ou
usando
uma
expressão
da
doutrina
italiana
implica
valorizar
todo
o
arco
do
exercício
do
poder,
todos
os
momentos
em
que
o
poder
é
exercido
têm
de
ser
considerados
e
não
apenas
o
momento
final
da
decisão.
Isto
tem
consequências
porque
isto
implica
que
a
lógica
do
direito
administrativo
seja
uma
lógica
alargada
e
implica
olhar
para
a
administração
como
uma
realidade
que
se
vai
desenvolvendo
e
que
vai
dar
origem
a
decisões
e
que
vai
tomando
múltiplas
decisões
em
procedimento
que
são
cada
vez
mais
complexas
e
que
se
relacionam
uns
com
os
outros
e
que
se
encadeiam
uns
nos
outros.
Como
ainda
fizemos
referencia
na
aula
passada,
a
construção
italiana
vai
partir
da
ideia
de
que
cada
função
estadual
tem
o
seu
próprio
procedimento
e,
por
isso,
o
procedimento
legislativo
é
distinto
do
procedimento
administrativo
e
é
distinto
do
processo
judiciário,
porque
num
caso
está
em
causa
a
feitura
de
leis
e,
portanto,
o
procedimento
administrativo
é
feito
por
um
órgão
que
é
representativo
e
aqui
a
ideia
da
participação,
sendo
importante
em
determinadas
decisões
não
é
tão
essencial
por
causa
da
lógica
da
representatividade,
já
pelo
contrario
num
procedimento
administrativo
a
participação
no
procedimento
é
o
elemento
essencial
e
é
condição
da
sua
legitimidade
acrescida,
a
legitimidade
que
decorre
do
procedimento
administrativo
e,
num
processo
judicial
o
juiz
como
entidade
parecida
fica
à
espera
que
as
partes
lhes
tragam
os
litígios,
fica
à
espera
que
as
partes
tragam
a
juízo
aquilo
que
ele
deve
julgar.
O
erro
de
certa
visão,
em
Lisboa
o
prof.
Marcelo
Caetano
dizia
que
estava
a
iniciar
uma
construção
processualista
e
fazia
do
processo
administrativo
a
realidade
paradigmática
dos
outros
procedimentos
estaduais,
essa
é
uma
visão
errada
porque
o
processo
administrativo
enquanto
processo
da
função
judicial
destina-‐se
a
emitir
uma
sentença
que
resolva
um
litigio
dos
particulares
e,
portanto,
tem
que
ser
um
processo
pesado
e
rígido,
um
processo
que
não
pode
sofrer
alterações;
pelo
contrario
a
administração
pública
actua
de
uma
forma
que
implica
maior
flexibilidade,
maior
agilidade,
maior
ligeireza
e
o
procedimento
deve
ser
adequado
à
actuação
administrativa
e,
portanto,
diferentemente
do
processo
esta
lógica
do
procedimento
administrativo
é
uma
lógica
que
deve
conduzir
a
que
haja
regras
de
actuação
mas
que
essas
regras
sejam
simples,
flexíveis
e
que
permitam
que
a
administração
possa
tomar
as
decisões
adequadas
à
realidade
que
está
em
jogo.
À
um
procedimento
para
cada
função,
cada
procedimento
é
distinto,
procedimento
e
processo
são
coisas
radicalmente
distintas,
que
não
se
devem
confundir.
É
um
dos
traumas
da
infância
difícil
confundir
o
procedimento
e
o
processo,
um
erro
que
se
fazia
também
em
Portugal
(…
)
corresponde
à
não
distinção
da
função
de
julgar
e
a
função
de
satisfazer
as
necessidades
colectivas.
O
procedimento
administrativo
é
uma
realidade
multifuncional,
uma
realidade
que
desempenha
em
simultâneo
funções
diferenciadas.
Em
primeiro
lugar
à
uma
função
de
legitimação,
a
actuação
administrativa
legitima-‐se
através
do
procedimento
e
legitima-‐se
porque
nesse
procedimento
participam
os
interessados
da
decisão.
Ao
lado
das
outras
fontes
de
legitimidade,
a
legitimidade
democrática
que
decorre
das
eleições,
a
legitimidade
legal
burocrática
em
sentido
webberiano
ou
a
legitimidade
do
estado
de
direito,
há
uma
fonte
autónoma
de
legitimidade
que
decorre
da
existência
de
um
procedimento
administrativo
(…).
Nicles
Uman?
Foi
um
autor
alemão
que
estudou
esta
realidade
(…).
Em
regra
o
orgao
administrativo
não
é
eleito,
há
alguns
que
são
eleitos,
os
órgãos
do
estado
e
os
orgaos
das
autarquias
mas
a
maioria
dos
orgaos
administrativos
não
são
eleitos,
a
legitimidade
não
é
democrática
em
termos
directos,
é
uma
legitimidade
que
decorre
do
cumprimento
da
lei
e
das
regras
do
estado
de
direito
e
depois
é
uma
legitimidade
procedimental,
decorre
do
procedimento
e
da
participação
no
procedimento
dos
particulares
interessados
na
tomada
de
decisões,
daí
a
importância
da
participação
e
do
direito
de
audiência
como
dimensões
essenciais
do
novo
direito
administrativo
que
eram
dimensões
que
no
passado
não
eram
consideradas,
a
única
preocupação
era
com
a
decisão
final,
agora
tão
importante
como
a
decisão
final
é
o
modo
de
chegar
a
essa
decisão
final,
a
participação
dos
particulares,
a
audição
dos
particulares,
a
composição
de
interesses
que
vai
ser
feita
no
procedimento
é
um
instrumento
de
legitimação
da
decisão
administrativa.
Em
segundo
lugar
o
procedimento
serve
para
criar
racionalidade
no
funcionamento
da
administração,
e
esta
criação
de
racionalidade
torna
as
decisões
mais
racionais.
Por
um
lado
o
procedimento
é
o
instrumento
de
racionalização
da
decisão
administrativa,
há
um
conjunto
de
regras
procedimentais
que
estabelecem
o
modo
da
administração
actuar
estabelecendo
um
método
de
decisão
que
é
o
mais
adequado
àquela
realidade
no
caso
concreto
e
este
método
que
decorre
de
uma
boa
lei
de
procedimento
traduz-‐se
numa
racionalidade
das
decisões,
a
decisão
porque
foi
tomada
no
quadro
de
um
procedimento
decisório
racional
que
ouviu
as
partes,
que
ouviu
os
técnicos,
que
fez
os
estudos
necessários
adequados,
a
decisão
é
por
causa
disso
mais
racional.
Portanto
temos
a
racionalização
do
procedimento
e
temos
a
racionalização
da
decisão
que
decorre
desse
procedimento,
são
duas
realidades
que
estão
indissociavelmente
ligadas.
O
procedimento
serve
para
a
manifestação
e
composição
de
interesses
públicos
e
privados,
em
primeiro
lugar
os
interesses
públicos
porque,
como
vimos
na
aula
passada,
a
administração
tem
um
dever
que
resulta
da
própria
Constituição,
o
art.
266º,
o
dever
de
prosseguir
o
interesse
público,
mas
este
é
um
dever
genérico,
é
um
dever
geral.
Saber
qual
é
o
interesse
público
que
ela
tem
de
prosseguir
no
caso
concreto
só
pode
resultar
do
procedimento
e,
portanto,
há
um
interesse
concreto
que
é
construído
no
procedimento,
não
é
uma
realidade
pré
determina,
é
algo
que
resulta
do
procedimento
e
tem
que
ser
construído,
e
construído
através
da
ponderação
de
interesse
contrapostos,
diferenciados,
que
têm
que
ser
ponderados.
Vimos
na
aula
passada
o
exemplo
da
ponte
sobre
o
Tejo,
em
que
a
decisão
ao
nível
do
governo,
o
órgão
máximo
da
administração
pública,
pode
ser
diferente,
a
melhor
decisão
de
prossecução
do
interesse
público
pode
ser
diferente
consoante
a
perspectiva
do
ministro,
o
ministro
das
finanças
é
o
sitio
onde
a
ponte
é
mais
barata,
o
ministro
da
economia
é
o
que
melhor
desenvolve
uma
determinada
zona,
o
ministro
da
defesa
é
o
que
protege
melhor
os
interesses
estratégicos
de
Portugal,
o
ministro
do
ambiente
é
o
que
não
põe
em
causa
o
ambiente,
e
temos
já
cinco
soluções
diferentes,
todas
elas
são
de
realização
do
interesse
público
e,
portanto,
a
decisão
de
realização
do
interesse
público
não
existe
à
posteriori,
resulta
da
manifestação
e
da
composição,
da
ponderação
destes
interesses
públicos
parcelares
do
procedimento.
É
o
procedimento
que
vai
combinar,
coser
estes
interesses
públicos
e
determinar
qual
é
aquele
que
deve
prevalecer,
como
é
que
ele
se
combina
com
os
outros
e,
portanto
há
regras,
por
um
lado
são
regras
de
competência,
por
outro
são
regras
de
natureza
técnica,
que
vão
combinar
estes
interesses
públicos
unilaterais
e
vão
dar
origem
a
uma
noção
de
composição
do
próprio
interesse
público,
vão
conduzir
à
noção
de
interesse
publico
no
caso
concreto.
(…)
posso
dizer
que
o
interesse
público
não
existe,
não
existe
porque
não
é
pré
determinado,
o
interesse
público
só
existe
a
partir
do
momento
em
que
é
determinado
no
procedimento,
só
nessa
altura
é
que
a
exigência
de
prossecução
do
interesse
público
se
transforma
na
escolha
de
um
interesse
público
concreto
que
está
por
trás
daquela
actuação
administrativa
e
isto
é
o
resultado
de
uma
composição,
uma
ponderação
de
interesses
que
é
realizada
no
procedimento.
Mas
para
alem
da
ponderação
dos
interesses
públicos
há
também
a
composição
e
a
ponderação
dos
interesses
privados.
A
entidade
pública
deve
ouvir
todos
os
interesses
envolvidos,
deve
decidir
depois
da
consideração
também
dos
interesses
privados
envolvidos.
Esta
consideração
dos
privados
é
independente
da
existência
de
direitos
subjectivos,
é
apenas
enquanto
manifestação
de
um
interesse
ou
de
uma
posição
que
pode
não
ser
necessariamente
um
direito
subjectivo.
Ex:
nos
EUA
assisti
a
uma
audiência
pública
para
uma
decisão
de
interesse
do
município,
o
que
estava
em
causa
era
instalação
da
canalização
naquela
rua,
a
dada
altura
uma
simpática
velhota
levanta-‐se
e
diz
que
a
rua
que
vai
ser
arranjada
é
uma
rua
que
tem
2km
e
as
obras
estão
previstas
para
3meses
mas
durante
esse
tempo
iria
ser
afectada
porque
faz
as
compras
do
outro
lado
da
rua
e,
estando
a
rua
em
obras,
tem
de
fazer
um
desvio
de
2km
para
um
lado
e
2km
para
o
outro
e
depois
vai
ter
de
voltar
outra
vez
mais
4km
carregando
as
compras,
isso
é
uma
situação
gravemente
incomoda,
isto
põe
em
causa
a
sua
qualidade
de
vida
como
a
qualidade
de
vida
das
outras
pessoas
do
mesmo
bairro
que
também
são
idosas.
Esta
senhora
fez
com
que
os
técnicos
de
NY
fizessem
uma
coisa
que
não
tinham
ainda
pensado,
que
era
colocar
umas
passadeiras
para
as
pessoas
passarem
de
um
lado
para
o
outro
da
rua,
o
que
não
estava
previsto
porque
não
tinham
sido
considerados
todos
os
interesses
envolvidos
no
quadro
daquela
decisão.(…)
Ouvir
os
particulares,
ouvir
todos
os
interesses
envolvidos
é
uma
condição
de
qualidade
da
decisão,
a
decisão
mais
bem
informada
é
uma
melhor
decisão,
a
decisão
tem
que
considerar
todas
as
alternativas,
tem
que
determinar
todos
os
interesses
que
possam
ser
afectados
e
tem
que
os
ponderar
e
tem
que
os
avaliar.
Há
aqui
uma
dimensão
essencial
do
procedimento
enquanto
realidade
que
compõe
interesses
públicos
e
privados.
Como
vos
disse
também,
a
propósito
do
exemplo
da
ponte,
a
existência
de
contestação
quer
das
pessoas
afectas,
quer
das
associações
ambientalistas
levou
a
que
a
decisão
que
foi
tomada
fosse
melhor
do
que
a
decisão
inicial,
porque
precisamente
como
houve
a
contestação
das
associações,
que
inclusive
chegaram
a
por
um
processo
contra
o
Estado
por
violação
da
directiva
habitats,
porque
havia
espécies
protegidas
do
outro
lado
do
rio,
ora
como
era
preciso
proteger
as
espécies,
no
caderno
de
encargos
celebrado
entre
o
Estado
e
a
Lusoponte
estabeleceram-‐se
medidas
ecológicas.
A
construção
da
ponte
tinha
de
ser
obrigatoriamente
feita
segundo
as
melhores
tecnologias
disponíveis
em
termos
ambientais,
os
materiais
utilizados
não
podiam
pôr
em
causa
o
ambiente,
o
equipamento
utilizado
tinha
que
ser
destinado
à
preservação
do
ambiente.
As
luzes
azuis
não
são
apenas
esteticamente
bonitas,
são
também
escolhidas
de
propósito
para
não
encandear
os
peixes
nem
as
aves
(…)
Tal
como
houve
depois
outros
deveres,
como
por
exemplo
a
recuperação
das
salinas
do
Samoco
para
evitar
a
violação
da
directiva
(…).
Foi
por
causa
de
todas
estas
medidas,
que
constaram
do
caderno
de
encargos,
que
o
processo
instaurado
pela
Quercus
contra
o
Estado
,
no
TJUE,
não
avançou.
Avançaria
e
teria
levado
à
condenação
do
estado
português
se
não
houvesse
essas
medidas
de
salvaguarda
ambiental,
como
essas
medidas
foram
tomadas
e
pertenceram
ao
caderno
de
encargos
o
processo
não
avançou
e
o
Estado
não
foi
condenado.
Este
é
um
bom
exemplo
de
que
a
composição
dos
interesses
públicos
e
privados
torna
as
decisões
melhores,
mais
correctas
e
mais
eficazes.
O
procedimento
é
um
instrumento
civil
de
realização
da
realidade
que
está
em
causa
no
âmbito
da
actuação
administrativa.
Para
além
disso
também
há
uma
outra
função
do
procedimento,
é
que
ele
serve
também
para
a
tutela
antecipada
de
direitos,
a
tutela
preventiva
do
direito.
O
procedimento
é
uma
garantia
dos
direitos
fundamentais.
(…)
A
existência
de
um
procedimento
é
algo
que
permite
aos
particulares,
antes
de
serem
levados,
antes
de
serem
agredidos
na
sua
esfera
jurídica,
que
se
defendam,
que
digam
aquilo
que
pretendem,
aquilo
que
é
a
sua
posição,
que
determinem
a
sua
dimensão
subjectiva
que
pode
ser
afectada
por
aquela
decisão.
Isto
já
não
se
confunde
com
a
posição
da
velhota
que
não
tinha
nenhum
direito,
mas
estava
a
enunciar
algo
que
tinha
a
ver
com
a
qualidade
da
decisão
(…),
não
possuía
um
direito
subjectivo,
estava
apenas
a
manifestar
um
interesse.
Aqui
o
que
está
em
causa
é
a
tutela
do
direito,
aquilo
que
está
em
causa
é
o
particular
através
do
procedimento
defender
o
seu
direito,
o
particular
deve
ser
ouvido
antes
da
tomada
de
decisão
que
o
afecta,
quer
essa
decisão
seja
um
concurso
universitário,
quer
essa
decisão
seja
uma
decisão
de
construção
de
uma
ponte
ou
de
uma
auto-‐estrada,
quer
essa
decisão
seja
qualquer
outra
realidade.
Há
um
momento
obrigatório
em
qualquer
procedimento
em
que
o
particular
é
chamado
a
pronunciar-‐se,
é
chamado
a
dar
a
sua
opinião
sobre
aquela
decisão
e
desta
forma
o
particular
tem
uma
forma
de
tutela
preventiva
do
seu
direito,
antes
desse
direito
ser
usado
o
particular
pode
actuar
para
a
sua
defesa,
esta
realidade
é
uma
realidade
essencial.
Estas
funções
são
do
procedimento,
a
tal
realidade
multifuncional
que
é
o
procedimento
realiza
em
simultâneo
todas
estas
funções.
Mas
isto
não
elimina
a
angústia
do
decisor,
tem
de
haver
uma
decisão,
tem
de
haver
uma
ponderação
de
todos
esses
aspectos,
mas
o
decisor
não
deve
depois
fazer
uma
média
ou
olhar
para
o
interesse
que
grita
mais,
ou
que
se
manifesta
mais
nos
media,
deve
considerar
todos
os
interesses,
se
não
considera
a
decisão
é
errada.
Implica
uma
decisão,
uma
escolha,
primeiro
é
preciso
ponderar,
depois
é
preciso
escolher,
e
a
escolha
é
da
responsabilidade
do
orgao
com
competência
decisória.
Esta
participação
não
elimina
a
angustia
do
decisor,
este
continua
a
ter
de
escolher
mas
uma
coisa
é
escolher
sem
ter
uma
completa
constelação
dos
interesses
em
jogo,
coisa
que
torna
a
decisão
forçosamente
pior,
ou
tomar
uma
decisão
conhecendo
e
ponderando
todos
os
interesses
em
jogo,
uma
decisão
bem
informada
é
uma
melhor
decisão,
uma
decisão
que
pondera
todos
os
interesses
em
jogo
é
uma
decisão
que
cumpre
a
lei.
A
valorização
do
procedimento
implica
o
respeito
de
todas
estas
regras,
implica
que
o
não
respeito
destas
regras
implique
a
ilegalidade
da
decisão.
A
não
consideração
dos
interesses
envolvidos
no
procedimento
implica
a
ilegalidade
da
decisão
administrativa
que
está
a
ser
tomada.
Não
que
a
decisão
tenha
de
ser
no
sentido
X
ou
Y,
não
é
isso
que
está
em
causa,
é
ponderar
o
interesse
e
verificar
a
sua
importância
no
quadro
da
decisão
final
que
vai
ser
tomada
e
depois
decidir.
A
decisão
em
ultima
analise
é
da
responsabilidade
do
titular
do
orgao,
não
afasta
a
angustia
da
decisão
mas
a
decisão
tem
que
ponderar
todos
os
interesses
em
jogo,
se
não
pondera
estamos
perante
uma
má
decisão,
uma
decisão
que
é
ilegal.
Esta
valorização
do
procedimento
vai
conduzir
a
que
na
maior
parte
dos
países
surjam
normas
de
natureza
procedimental,
a
partir
dos
anos
70
temos,
um
pouco
por
toda
a
parte,
normas
de
natureza
procedimental,
de
resto
as
primeiras
já
vêm
de
antes,
na
Áustria
e
nos
EUA
há
códigos
procedimentais
ainda
anteriores
aos
anos
70.
Mas
a
partir
dos
anos
70,
com
o
Estado
pos
social,
esta
dimensão
procedimental
tornou-‐se
essencial,
no
âmbito
da
realidade
administrativa
e
tendem
a
surgir
normas
de
natureza
procedimental.
Mas
eu
diria
que
em
termos
de
direito
comparado
há
duas
orientações
diferentes.
Há
uma
orientação,
minimalista,
a
de
ter
meia
dúzia
de
leis
o
mais
precisas
e
o
mais
exactas
que
possam
existir
mas
não
ter
um
código,
ter
leis
dispersas,
parcelares,
que
regulam
aspectos
essenciais
da
actuação
administrativa
mas
não
ter
um
código,
não
ter
um
instrumento
codificado,
esta
é
a
alternativa
francesa
e
a
alternativa
italiana.
A
ideia
de
que
é
preciso
boas
leis,
leis
que
regulam
a
participação,
a
audiência,
leis
que
estabelecem
o
dever
de
fundamentar,
leis
que
regulam
o
procedimento,
mas
estas
leis
serem
espaças,
limitadas
e
muito
eficazes.
Em
alguns
casos
a
sua
eficácia
é
efectivamente
enorme,
estou
a
pensar
no
sistema
italiano,
que
é
um
exemplo,
(…)
é
precisamente
porque
a
administração
pública
funciona
que
podem
viver
sem
governo,
a
administração
pública
toma
excelentes
decisões
de
acordo
com
regras
procedimentais
muito
adequadas,
e
eles
vivem
com
isso.
O
procedimento
administrativo
em
Itália
tem
um
aspecto
decisivo,
e
isto
decorre
dos
anos
70
em
que
surgiram
aquelas
leis
em
matéria
procedimental
e
em
que
a
administração
pública
se
transformou
no
âmbito
da
realidade
que
estava
em
causa.
Esses
países
adoptam
uma
lógica
de
não
haver
uma
codificação
genérica
e
de
haver
leis
sobre
aspectos
essenciais
do
procedimento
administrativo.
Há
uma
outra
tradição,
alemã,
austríaca,
portuguesa
ou
espanhola,
em
que
pelo
contrario
se
fizeram
codificações
e
estas
são
mais
do
que
códigos
de
procedimento,
o
legislador
aproveitou
a
codificação
para
regular
também
outras
coisas
essenciais
e,
portanto,
em
Portugal
o
nosso
CPA
não
é
apenas
um
código
de
procedimento,
é
um
verdadeiro
código
administrativo
porque
o
legislador
aproveitou
para
regular
os
aspectos
essenciais
da
actividade
administrativa.
Isto
é
muito
evidente
se
olharem
para
a
divisão
das
partes
do
CPA,
tem
uma
parte
primeira
que
se
intitula:
princípios
gerais,
e
estes
são
os
princípios
gerais
da
actividade
administrativa,
não
são
apenas
princípios
procedimentais,
são
também
substantivos;
depois
tem
uma
parte
que
fala
dos
sujeitos,
Parte
II,
e
aqui
os
sujeitos
não
são
apenas
os
sujeitos
procedimentais,
são
os
sujeitos
das
relações
jurídicas
substantivas;
depois
a
Parte
III,
que
se
intitula
como
Do
Procedimento
Administrativo,
aqui
está
o
código
de
procedimento,
é
uma
parte
do
código,
essa
regula
o
procedimento,
o
resto
regula
outras
coisas
que
são
relevantes
no
quadro
do
direito
administrativo;
a
parte
IV
intitula-‐se
da
Actividade
Administrativa,
tem
regras
procedimentais
mas
tem
regras
de
natureza
substantiva,
a
técnica
do
acto,
do
regulamento,
tinha
do
contrato
mas
hoje
em
dia
já
não
tem.
Portanto
este
CPA
é
mais
do
que
um
código
de
procedimento,
é
um
verdadeiro
código
administrativo,
estabelece
as
regras
essenciais
de
actuação
da
administração,
ele
vai
alem
da
regulação
do
procedimento.
Portanto,
em
termos
das
grandes
famílias
há
aqueles
que
apenas
regulam
o
procedimento,
normalmente
de
forma
não
codificada,
é
o
caso
italiano
e
é
o
caso
francês,
e
há
o
daqueles
países
que
aproveitam
para
fazer
um
código
de
procediemento
e
nesse
não
tratam
apenas
do
procedimento,
regulam
aspectos
essenciais
do
direito
Administrativo
e
isso
foi
o
que
fez
efectivamente
o
legislador
português
e
é
esta
a
realidade
influenciada
no
CPA
alemão
e
no
CPA
espanhol,
que
de
alguma
maneira
influenciaram
o
legislador
que
veio
dar
origem
a
este
nos
CPA.
Este
CPA
era
e
é,
na
nossa
ordem
jurídica,
o
resultado
de
uma
tarefa
constitucional,
o
legislador
desde
66
estabelecia
nos
artigos
266
e
ss.,
ou
267
consoante
a
revisão
constitucional
em
causa,
suponho
que
agora
é
o
267,
o
legislador
estabelece
a
necessidade
de
uma
lei
que
regule
o
processamento
da
actividade
administrativa,
era
uma
exigência
da
CRP,
e
isto
tinha
a
ver
com
a
valorização
do
procedimento
no
quadro
constitucional,
a
nova
ordem
jurídica
exigia
a
existência
de
uma
codificação
do
procedimento,
mas
foi
preciso
esperar
até
91
para
que
finalmente
tivéssemos
um
CPA,
foi
uma
exigência
que
demorou
ate
ser
concretizada,
e
demorou
também
no
quadro
de
uma
evolução
da
realidade,
porque
os
primeiros
códigos
eram
códigos
de
processo
administrativo
gracioso,
códigos
que
eram
copiados
do
código
de
processo
civil
e
que
introduziam
uma
pratica
que
era
uma
pratica,
na
lógica
tradicional
do
pensamento
do
Prof.
Marcelo
Caetano,
de
subordinação
da
administração
à
justiça
e
de
equiparação
das
suas
formas
de
actuação.
Ate
que
finalmente
há
uma
comissão,
presidida
pelo
prof
Freitas
do
Amaral,
que
fez
o
CPA
que
está
hoje
em
vigor
e
que
é
de
alguma
maneira
uma
coroa
de
gloria
do
Direito
Administrativo,
na
medida
em
que
ela
procurou
racionalizar
e
transformar
em
normas
escritas
um
conjunto
de
realidades
que
eram
essenciais
para
o
estado
de
direito.
Eu
sinto-‐me
particularmente
à
vontade
para
porque
tendo
participado
nesta
experiencia,
da
qual
gostei
muito,
para
dizer
que
o
que
fizemos
em
91
já
está
desactualizado
e
que
isto
precisa
de
ser
mexido,
não
obstante
de
ter
sido
essencial
já,
hoje
em
dia,
20
anos
depois,
é
uma
realidade
datada,
foi
um
momento
decisivo
no
Direito
Administrativo,
foi
um
momento
da
racionalização
do
direito
administrativo
e
da
criação
de
regras
uniformes,
estáveis,
garantidoras
da
segurança,
que
eram
essenciais
para
o
funcionamento
da
administração.
Agora,
precisamente,
foi
um
momento
em
que
muitas
das
decisões
foram
compromissórias
e,
portanto,
enquanto
realidades
compromissórias
esses
compromissos
hoje
em
dia
já
não
são
aceitáveis,
houve
outras
coisas
que
o
código
não
regulou,
por
exemplo,
uma
coisa
que
hoje
é
inadmissível
mas
o
código
não
tratou
da
actividade
informática
da
administração,
hoje
em
dia
coloca
imensos
problemas
e
precisa
de
ser
regulada.
Depois
há
outras
realidades
que
a
própria
evolução
legislativa
pôs
em
causa,
por
exemplo
a
contratação
pública,
havia
um
capitulo
deste
código
que
tratava
do
contrato
administrativo,
não
só
esta
noção
de
contrato
administrativo
é
uma
noção
do
passado,
que
aqui
ainda
aparecia
no
quadro
de
uma
lógica
compromissória
como
hoje
em
dia
o
CCP
substituiu
toda
a
matéria
e,
portanto,
é
uma
realidade
que
hoje
em
dia
já
não
esta
regulada
no
CPA.
Portanto,
hoje
em
dia
estou
à
vontade
para
dizer
que,
não
obstante
a
importância
que
teve
e
de
eu
considerar
que
foi
um
momento
importante,
isto
precisa
urgentemente
de
uma
mexida,
e
há
aqui
um
conjunto
de
normas
que
precisam
de
ser
repensadas
e
alteradas.
2-‐04-‐2013
Estivemos
na
aula
passada
a
analisar
o
procedimento
administrativo,
as
suas
funções,
a
sua
importância,
os
modelos
de
codificação.
Assim
vimos
designadamente,
que
havia
dois
modelos
em
termos
de
direito
comparado,
um
modelo
minimalista
que
corresponde
á
lógica
italiana
e
francesa
de
regular
apenas
alguns
aspectos
do
procedimento,
mas
aspectos
relevantes
para
a
sua
organização,
enquanto
que
havia
uma
lógica
diferente,
anglo-‐saxónica,
mas
também
meio
latina
e
alemã
de
aproveitar
a
codificação
do
procedimento,
codificar
o
direito
administrativo,
e
que
o
Código
Português
de
alguma
maneira
seguiu
esta
orientação,
pois
como
vimos
aquilo
corresponde
à
organização
do
Código
do
Procedimento
Administrativo,
é
um
verdadeiro
Código
Administrativo,
trata
dos
sujeitos,
trata
dos
princípios
gerais
do
Direito
Administrativo,
trata
dos
órgãos,
trata
depois
das
formas
de
actuação
administrativa
e
no
meio
tem
um
capítulo
sobre
o
procedimento.
Portanto
há
efectivamente
um
tratamento
de
uma
matéria
que
vai
muito
além
da
lógica
do
Procedimento.
Na
aula
passada,
vimos
ainda
que
por
um
lado
a
elaboração
deste
código
significou
um
momento
importante
no
quadro
de
direito
administrativo
português,
foi
um
momento
de
formalização
e
de
concretização
de
princípios
que
estavam
na
constituição
e
que
foram
de
alguma
maneira
transformado
num
mecanismo
jurídico
que
lhes
deu
sistematização
e
estrutura,
mas
vimos
também
que
o
legislador
por
um
lado
por
ter
consagrado
demasiadas
soluções
compromissórias,
por
outro
pela
existência
do
decurso
do
tempo
que
levou
a
que
na
altura
não
se
considerasse
relevante
tratar
das
questões
da
administração
informatizada,
e
portanto
elas
ficaram
de
fora
do
código,
por
outro
lado,
alterações
legislativas
posteriores,
estou
a
pensar
por
exemplo
no
Código
da
contratação
pública,
tudo
isso
fez
com
que
este
documento,
Código
do
Procedimento,
seja
hoje
em
dia,
um
texto
datado
e
a
precisar
de
ser
revisto,
mas
no
essencial,
aquilo
que
ele
fez
no
quadro
de
direito
português
foi
importante,
foi
decisivo
e
um
novo
código
ou
uma
revisão
do
mesmo
pode
ser
também
um
instrumento
adequado
de
progresso
da
ciência
jurídica
administrativa.
Mas
uma
das
coisas
que
este
código
fez,
aquilo
a
que
o
Professor
Freitas
do
Amaral
chamou
uma
pequena
grande
revolução
no
Direito
Administrativo
Português
foi
o
de
ter
instaurado
a
obrigatoriedade
da
audiência
dos
particulares.
A
Constituição
consagrava
um
princípio
da
participação
e
o
Código
regulou
essa
participação
estabelecendo
um
direito
de
audiência
como
uma
etapa
obrigatória
de
qualquer
procedimento
administrativo
e
portanto
para
continuar
a
citar
o
Professor
Freitas
do
Amaral,
o
procedimento
que
era
trifásico,
que
até
aí
continha
uma
iniciativa,
tinha
uma
instrução,
e
depois
tinha
uma
decisão
o
instrumento
passou
a
ser
quadrifásico,
depois
da
instrução
e
antes
da
decisão,
há
um
novo
momento,
um
momento
obrigatório
de
qualquer
procedimento
em
que
o
particular
deve
ser
ouvido.
E
esta
audiência
destina-‐se
precisamente
a
realizar
da
maneira
mais
adequada
o
princípio
da
participação,
ela
visa
que
os
particulares
intervenham
na
tomada
de
decisões
administrativas,
ela
visa
que
o
particular
colabore
na
decisão
e
que
tente
evitar
que
haja
litígios,
tem
uma
dupla
dimensão.
Como
já
vimos
em
aula
passada,
que
o
procedimento
é
uma
realidade
multifuncional,
a
participação
no
procedimento
por
um
lado
corresponde
à
realização
de
finalidades
objectivas
que
têm
a
ver
com
a
correcção,
com
a
qualidade
da
medida,
com
a
eficácia
da
decisão,
mas
o
procedimento
também
tem
uma
dimensão
subjectiva
de
tutela
antecipada
dos
direitos
dos
particulares.
O
particular
é
ouvido
e
ao
ser
ouvido
vai
defender
os
seus
direitos
no
quadro
daquela
relação
estabelecida
com
a
administração.
E
portanto
esta
realidade
do
estabelecimento
da
obrigatoriedade
da
audiênciado
particular
foi
uma
das
grandes
transformações
deste
código
de
procedimento
e
é
um
daqueles
marcos
do
direito
administrativo
que
não
deve
ser
posto
em
causa.
Na
altura,
quando
elaborámos
este
código
uma
tal
exigência
era
considerada
excessiva,
houve
até
um
esforço
por
parte
da
comissão
que
eu
integrei,
de
fazer
um
inquérito
às
diferentes
entidades
administrativas
em
Portugal
e
quando
se
explicou
que
pretendíamos
não
apenas
codificar,
mas
estabelecer
este
dever
de
a
administração
ouvir
os
interessados,
as
respostas
foram
todas
negativas,
todas
as
pessoas
consideraram
que
isso
era
uma
loucura,
que
isso
poderia
fazer
sentido
num
Código
para
Nórdicos
ou
gente
do
centro
da
Europa,
mas
que
isso
seria
inadmissível
em
Portugal.
Mas
o
legislador,
e
bem
consagrou
essa
solução
e
hoje
em
dia
é
efectivamente
cumprida
e
corresponde
ao
direito
português.
Digamos
que
o
legislador
fez
uma
boa
aposta
e
que
essa
aposta
foi
ganha
e
a
razão
para
que
essa
aposta
fosse
ganha
teve
a
ver
com
o
facto
de
quer
a
doutrina,
quer
os
tribunais
terem
considerado,
e
bem
que
a
ausência
de
procedimento
implica
a
invalidade
da
decisão
administrativa
e
o
facto
de
os
tribunais
terem
reagido
eficazmente
afastando
todos
os
actos
praticados
sem
audiência
dos
interessados,
levou
a
que
ninguém
pusesse
em
causa
essa
obrigatoriedade
e
que
a
audiência
se
tenha
transformado
num
princípio
essencial
do
direito
administrativo
português.
Mas
na
altura
foi
ousado
e
na
altura
tivemos
dúvidas
quanto
à
sua
aceitabilidade
porque
efectivamente
a
administração
pública
não
estava
habituada
a
esse
comportamento.
Mas
também
é
preciso
dizer
que
se
essa
aposta
procedimental
está
ganha,
não
está
ainda
tudo
ganho
porque
também
é
preciso
ver
que
o
modo
como
a
doutrina
e
a
jurisprudência
olhou
para
a
falta
de
audiência
do
procedimento
foi
pela
via
formal,
pela
via
procedimental
e
portanto,
não
considerou
a
necessidade
de
dar
relevo
também
material
ao
procedimento
administrativo.
E
da
minha
perspectiva
isso
é
algo
que
ainda
ficou
por
fazer.
Mas
antes
de
chegar
a
essa
questão
que
tem
a
ver
com
o
possível
desenvolvimento
futuro
do
direito
português,
vejamos
o
modo
como
no
direito
português
foi
equacionada
esta
questão
da
invalidade
de
uma
decisão
administrativa
por
falta
de
procedimento.
Houve
aqueles,
onde
eu
me
incluo
que
consideraram
que
a
falta
de
procedimento
era
uma
falha
grave
na
decisão
administrativa,
porque
da
minha
perspectiva
a
Constituição
consagra
um
direito
fundamental
de
participação
no
pocedimento
e
esse
direito
fundamental
implica
que
a
ausência
de
uma
audiência
de
um
particular,
a
negação
do
particular
intervir
no
procedimento
deva
gerar
a
invalidade
mais
grave,
deve
corresponder
à
nulidade
da
decisão
administrativa.
E
como
eu,
outros
autores
com
este
ou
com
outros
argumentos
defendem
que
efectivamente
a
falta
de
audiência
deve
corresponder
à
sanção
mais
grave
por
parte
do
ordenamento
jurídico
e
que
essa
sanção
deve
corresponder
à
nulidade.
O
Professor
Marcelo
Rebelo
de
Sousa
usa
como
argumento
não
apenas
a
ideia
do
direito
fundamental,
mas
o
facto
de
se
tratar
de
um
elemento
essencial
de
um
acto
administrativo
e
portanto
faltando
esse
elemento
essencial
que
decorre
da
obrigatoriedade
da
audiência
de
dever
haver
nulidade,
outros
como
Sérvulo
Correia
e
autores
de
Coimbra
como
Gomes
Canotilho
também
acentuam
a
dimensão
do
direito
fundamental
que
estaria
a
ser
preterido
numa
destas
circunstâncias,
mas
se
esta
é
na
minha
opinião
a
posição
mais
correcta
quanto
à
invalidade
do
procedimento,
ou
melhor,
quanto
à
invalidade
de
uma
decisão
tomada
sem
audiência
administrativa,
não
foi
esta
a
posição
que
a
jurisprudência
veio
a
consagrar.
O
Professor
Freitas
do
Amaral
tem
defendido
e
esta
posição
foi
aceite
pela
jurisprudência
que
embora
se
trate
de
uma
formalidade
muito
importante,
trata-‐se
apenas
de
uma
invalidade
de
natureza
formal
e
que
em
razão
da
constelação
dos
interesses
em
jogo,
a
sanção
que
a
ordem
jurídica
deveria
atribuir
deveria
ser
a
da
anulabilidade.
E
os
tribunais
aceitaram
esta
argumentação
considerando
que
a
falta
de
audiência
implicaria
a
simples
anulabilidade
de
um
acto
administrativo.
Só
que
independentemente
da
qualificação
jurídica
da
ilegalidade
e
independentemente
de
eu
entender
que
a
qualificação
feita
pelos
tribunais
é
errada,
o
que
é
facto
é
que
essa
qualificação
tem
funcionado
e
os
tribunais
têm
sido
bastante
eficazes
na
anulação
dos
actos
administrativos
que
são
tomados
através
da
preterição
do
direito
de
audiência.
E
portanto
independentemente
do
problema
da
natureza
jurídica
da
qualificação,
que
segundo
a
minha
perspectiva
deveria
ter
conduzido
à
outra
lógica
da
nulidade
e
não
da
simples
anulabilidade,
o
que
é
facto
é
que
esta
posição
que
podemos
considerar
dominante
porque
é
a
posição
aceite
pela
jurisprudência
esta
posição
tem
vindo
a
funcionar
e
os
tribunais
têm
sido
adequados
no
quadro
da
aplicação
do
princípio
do
dever
de
audiência.
Mas
esta
lógica
é
uma
lógica
formal,
aquilo
que
a
jurisprudência,
na
sequência
do
que
o
Professor
Freitas
do
Amaral
ensinou
tem
dito
é
que
a
falta
de
audiência
corresponde
a
um
vício
formal
do
acto
administrativo,
corresponde
a
uma
falta
de
forma
e
reconduz
o
problema
a
uma
lógica
formal.
Da
minha
perspectiva
isto
é
duplamente
errado,
porque
equivale
a
confundir
a
forma
com
o
procedimento.
Uma
coisa
é
a
forma,
uma
coisa
é
a
externalização
de
uma
acto
administrativo,
outra
coisa
é
as
regras
da
sua
elaboração.
Uma
coisa
é
o
modo
de
como
ele
se
apresenta,
outra
coisa
é
o
modo
em
como
ele
é
formado
e
falar
em
vício
de
forma
por
falta
de
procedimento
equivale
a
confundir
a
forma
com
o
procedimento
administrativo,
equivale
a
confundir
uma
regra
que
tem
a
ver
com
a
aparência
externa
do
acto
com
o
seu
modo
de
formação.
A
forma
do
acto
é
a
sua
roupagem,
se
está
vestido
com
fato
de
ganga,
normalmente
é
um
despacho,
é
a
forma
tradicional
do
acto
administrativo,
se
está
de
fato
e
gravata
pode
ser
um
decreto
que
é
a
forma
mais
solene
do
acto
administrativo
e
entre
uma
coisa
e
outra
há
diferentes
formas
de
solenidade,
e
isto
é
que
é
a
forma
do
acto,
tem
a
ver
com
a
forma
de
como
o
acto
se
externaliza,
como
ele
se
apresenta
a
público,
outra
coisa
diferente
é
o
do
cumprimento
das
regras
procedimentais.
Portanto
da
minha
perspectiva
não
faz
sentido
confundir
forma
com
procedimento
e
não
faz
sentido
qualificar
o
vício
da
falta
da
audiência
num
acto
administrativo
como
correspondendo
a
um
vício
de
natureza
formal.
Da
minha
perspectiva
o
que
está
em
causa
é
o
aspecto
essencial
do
procedimento
de
um
acto
administrativo,
está
em
causa
a
violação
de
um
direito
fundamental
do
procedimento
e
isso
deve
bastar,
veremos
mais
adiante
que
da
minha
perspectiva
a
chamada
teoria
dos
vícios
do
acto
administrativo
é
uma
forma
pobre
de
olhar
para
a
realidade
da
ilegalidade
e
é
algo
que
é
desnecessário
na
nossa
ordem
jurídica.
Mas
admitindo
que
essa
teoria
dos
vícios
do
acto
administrativo
faria
algum
sentido
então
era
preciso
arranjar
aqui
um
vício
da
falta
de
procedimento
como
vício
autónomo,
não
é
uma
coisa
que
me
preocupe
uma
vez
que
como
veremos
não
é
necessário
pegar
nessa
teoria
dos
vícios
que
corresponde
a
uma
realidade
histórica
e
ultrapassada
e
portanto
enfim
o
que
está
em
causa
é
no
entanto
dizer
que
uma
coisa
é
a
preterição
de
uma
norma
procedimental
outra
coisa
é
a
ideia
de
que
estamos
perante
uma
ilegalidade
de
natureza
formal.
Mas
eu
à
pouco
disse-‐vos
que
essa
consideração
estava
duplamente
errada,
é
que
há
também
para
além
da
dimensão
procedimental
do
procedimento,
há
também
uma
dimensão
substantiva,
e
esta
eu
não
tenho
a
certeza
de
já
ter
sido
devidamente
sentida
e
efectivada
na
ordem
jurídica
portuguesa.
Eu
disse-‐vos
à
pouco
das
resistências
que
a
ideia
de
uma
audiência
como
momento
obrigatório
do
procedimento
tinha
gerado
na
doutrina,
como
elas
foram
ultrapassadas,
mas
foram
ultrapassadas
numa
lógica
minimalista,
numa
lógica
de
valorizar
apenas
a
dimensão
do
mal,
a
dimensão
procedimental
da
audiência
e
da
minha
prespectiva
é
preciso
acentuar
que
o
direito
à
audiência
também
tem
uma
dimensão
material
e
que
também
há
uma
ilegalidade
material
quando
uma
audiência
não
é
devidamente
realizada
e
não
produz
efeitos
na
decisão
a
ser
tomada,
que
há
também
uma
ilegalidade
material
nas
audiências
em
que
os
interesses
que
foram
espelhados,
que
foram
mostrados
não
são
contabilizados
no
quadro
da
decisão
final.
O
decisor
não
entrou
em
linha
de
conta
com
esses
interesses,
com
esses
argumentos,
que
o
particular
levou
ao
seu
encontro,
e
a
forma
de
resolver
esta
questão
da
ilegalidade
material
da
audiência
ou
da
audiência
deficiente
é
que
da
minha
prespectiva
ainda
constitui
hoje
em
dia
uma
falha
do
direito
administrativo
português.
Porque
normalmente
quer
os
titulares
dos
órgãos,
quer
os
particulares
se
contentam
apenas
com
a
existência
da
audiência,
se
contentam
apenas
com
a
dimensão
formal,
já
tenho
ouvido
muitos
funcionários
públicos,
muitos
dirigentes
da
administração
pública
perante
uma
situação
de
falta
de
audiência
se
lamentarem
do
esquecimento
que
tiveram
em
não
ter
previsto
um
prazo
qualquer
para
que
as
pessoas
dissessem
de
sua
justiça.
E
portanto
já
tenho
visto
muitas
situações
que
correspondem
precisamente
a
esta
lógica
de
algo
que
se
faz
para
cumprir
o
preceito
e
não
como
elemento
essencial
da
decisão
administrativa,
e
da
minha
perspectiva
esta
participação
dos
interessados
é
um
elemento
essencial
da
decisão
é
uma
das
funcionalidades
como
já
sabem
que
é
desempenhada
pelo
procedimento
administrativo.
E
a
forma
de
resolver
esta
dimensão
material
da
audiência
deficiente
é
que
pode
variar
de
país
para
país.
Designadamente
há
duas
tradições,
uma
tradição
anglo-‐saxónica
e
uma
tradição
europeia
de
lidar
com
o
problema.
A
tradição
anglo-‐saxónica
que
vem
dos
EUA
e
que
também
encontra
aplicação
no
quadro
do
direito
britânico
é
de
considerar
que
se
for
tomada
uma
decisão
sem
a
consideração
de
todos
os
interesses
trazidos
à
entidade
administrativa
decisora
que
o
tribunal
deve
remeter
de
novo
essa
decisão
à
entidade
decisora
e
dizer
que
a
entidade
decisora
deve
apreciar
uma
segunda
vez
aquela
decisão,
deve
tomar
uma
nova
decisão
sobre
aquela
matéria,
aquilo
a
que
a
jurisprudência
norte-‐americana
faz
referência,
é
preciso
que
a
autoridade
administrativa
tenha
uma
aproximação
melhor
do
que
aquela
que
teve
da
primeira
vez
e
portanto
aquilo
que
o
tribunal
faz
é
reenviar
a
decisão
em
que
os
interesses
não
foram
considerados
para
a
autoridade
administrativa
convidando-‐a
a
uma
segunda
decisão
sobre
aquela
matéria.
A
lógica
europeia
é
diferente
pois
tem
partido
da
actuação
dos
juízes
e
tem
conduzido
á
ilegalidade,
à
declaração
de
ilegalidade,
à
anulação
da
decisão
que
não
respeita
materialmente
esses
interesses.
E
aqui
tem
havido
basicamente
olhando
para
o
direito
comparado
dois
argumentos
diferenciados,
há
o
argumento
da
doutrina
italiana
que
parte
do
princípio
da
imparcialidade
entendido
em
sentido
amplo
e
considera
que
uma
decisão
em
que
todos
os
interesses
não
são
considerados
é
uma
decisão
que
viola
o
princípio
da
imparcialidade
e
que
o
princípio
da
imparcialidade
obriga
a
administração
a
considerar
todos
os
interesses
de
que
tem
conhecimento,
todos
os
interesses
que
foram
trazidos
pelos
particulares
até
si,
senão
o
fizer
ela
está
a
incorrer
numa
ilegalidade
material
por
violação
do
princípio
da
imparcialidade.
Uma
orientação
diferente,
embora
conduzindo
a
outro
resultado
porque
esta
orientação
italiana
tem
a
ver
com
um
certo
alargamento
da
ideia
da
imparcialidade
que
corresponde
a
uma
tendência
do
direito
italiano.
No
direito
alemão
tem-‐se
afirmado
a
existência
de
um
dever
de
ponderação
dos
interesses,
como
dever
inerente
ao
procedimento,
um
dever
material
de
consideração
desses
interesses.
Quando
este
dever
não
é
cumprido,
quando
a
autoridade
administrativa
não
aprecia
os
interesses
que
são
trazidos
até
si
também
estaremos
perante
uma
ilegalidade
material.
Ora
bem,
esta
via
europeia
parece-‐me
ser,
até
por
causa
da
diferente
tradição
do
funcionamento
da
jurisdição,
parece-‐me
ser
aquela
que
é
mais
adequada
para
o
direito
português.
E
no
direito
português
eu
tenho
defendido
esta
ilegalidade
material
de
uma
audiência
deficiente
decorrente
dos
princípios
constitucionais
designadamente
daqueles
constantes
do
artigo
266º
da
Constituição
que
estabelecem
por
um
lado
o
princípio
da
prossecução
do
interesse
público,
por
outro
lado
o
princípio
do
respeito
pelos
direitos
e
interesses
dos
particulares.
Prosseguir
o
interesse
público
obriga
a
considerar
todas
as
dimensões
públicas
da
decisão
a
tomar,
obriga
a
autoridade
administrativa
a
ter
uma
constelação
completa
dos
interesses
públicos
que
estão
envolvidos
naquela
decisão,
por
outro
lado
o
respeito
pelos
direitos
dos
particulares
obriga
a
que
a
administração
tenha
em
consideração
esses
interesses
no
momento
em
que
toma
a
decisão,
e
portanto
eu
tenho
defendido
a
ilegalidade
material
decorrente
da
deficiência
da
audiência,
de
uma
audiência
que
não
se
traduziu
na
decisão
que
acabou
por
ser
tomada,
que
a
forma
de
reagir
perante
essa
realidade
tem
a
ver
com
a
alegação
dos
dois
princípios
constitucionais
da
prossecução
do
interesse
público
e
do
respeito
pelos
direitos
dos
particulares
e
da
alegação
da
sua
violação
quando
isso
suceda.
Mas
eu
chamo
a
atenção
para
o
facto
de
tudo
aquilo
que
eu
estou
a
dizer
tem
a
ver
com
a
consideração
dos
interesses,
a
tomada
de
consideração,
de
consciência
desses
interesses,
não
significa
decidir
de
acordo
com
interesses
A.
B
ou
C
,
significa
que
esse
interesse
foi
considerado
mesmo
quando
se
decidiu
e
sentido
contrário.
O
que
está
em
causa
é
considerar
integralmente
todos
os
interesses
envolvidos,
não
está
em
causa
decidir
de
acordo
com
o
interesse
A,
B
ou
C,
não
está
em
causa
fazer
uma
média
dos
interesses,
não
está
em
causa
evitar
a
ponderação.
O
que
se
pretende
é
que
haja
ponderação
de
todos
os
interesses
públicos
e
privados,
e
que
essa
ponderação
de
todos
esses
interesses
públicos
e
privados
tenha
consequências
no
âmbito
da
decisão
administrativa.
E
se
isto
já
é
possível
no
direito
português,
se
isto
é
uma
realidade
dos
dias
de
hoje,
eu
declaro
com
toda
a
franqueza,
falando
do
ponto
de
vista
da
práctica
jurisdicional
e
da
lógica
do
funcionamento
da
administração,
eu
diria
que
aqui
ainda
estamos
longe
termos
conseguido
aqueles
resultados
que
já
foram
obtidos
quanto
à
simples
exigência
da
audiência
do
procedimento
e
portanto
este
é
um
aspecto
que
ainda
não
está
integralmente
concretizado
e
que
na
minha
perspectiva
necessitaria
de
ser
concretizado
no
quadro
do
direito
português
conduzindo
a
um
maior
controlo
jurisdicional
não
apenas
das
situações
em
que
não
existe
audiência
do
particular,
mas
também
naquelas
em
que
essa
audiência
não
produz
resultados
na
decisão
final
que
venha
a
ser
tomada
no
quadro
daquele
procedimento.
Ora
bem,
para
terminar
a
questão
do
procedimento
e
a
questão
da
audiência,
ela
aparece
referida
no
Código
de
Procedimento
enquanto
momento
obrigatório
de
qualquer
procedimento
nos
artigos
100º
e
seguintes,
mas
precisamente
porque
o
Código
consagra
uma
lógica
de
intervenção
do
particular
nos
diferentes
momentos
do
procedimento
já
é
possível
ao
particular
solicitar
a
audiência
em
qualquer
momento
e
o
particular
deve
intervir
o
âmbito
da
formação
da
vontade
administrativa
e
é
por
isso
que
o
legislador
designadamente
no
artigo
59º
permite
que
em
qualquer
fase
do
procedimento
possa
haver
uma
audiência
dos
interessados
e
portanto
o
que
está
em
causa
tem
a
ver
com
uma
formação
da
vontade
administrativa
em
que
os
particulares
vão
sendo
progressivamente
ouvidos
ou
haver
pelo
menos
possibilidade
de
eles
se
pronunciarem
no
momento
final.
O
legislador
dispensa
a
audiência
final
quando
tenha
havido
uma
intervenção
dos
particulares
suficientemente
expressa
e
suficientemente
interventora
no
procedimento,
é
quando
se
permite
a
dispensa
da
audiência
final,
mas
se
não
houve
esta
intervenção
ao
longo
do
procedimento
o
particular
deve
ser
pelo
menos
ouvido
antes
da
decisão
final,
antes
de
a
administração
decidir
àcerca
do
seu
caso
concreto.
O
código
de
procedimento
para
além
de
regular
este
mecanismo,
estabelece
regras
que
são
as
regras
que
correspondem
à
situação
da
tutela
jurídica
ou
subjectiva
da
protecção
jurídica
ou
subjectiva
da
maior
parte
dos
procedimentos
públicos,
ou
seja,
o
particular
actua
para
defesa
das
suas
posições
de
vantagem,
actua
para
defesa
dos
seus
direitos
subjectivos
e
ao
actuar
para
defesa
destes
direitos
subjectivos
entendidos
naquele
sentido
amplo
que
já
fizemos
referência
noutro
momento
do
nosso
curso,
o
particular
goza
de
uma
legitimidade
alrgada
que
lhe
é
concedida
pelo
artigo
53º
do
Código
do
Procedimento.
Esta
legitimidade
alargada
da
minha
perspectiva
corresponde
à
titularidade
de
direito
de
acordo
com
a
perspectiva
de
outras
correntes
da
tal
lógica
tripartida,
corresponde
à
legitiidade
dos
titulares
de
direitos
subjectivos,
interesses
legítimos
e
interesses
difusos,
ou
seja,
aquilo
que
o
Código
estabeleceu
foi
um
alargamento
da
legitimidade
para
uma
tutela
jurídico
subjectiva
para
uma
tutela
de
defesa
de
direito
ou
interesses
próprios,
enfim,
não
vamos
voltar
a
essa
discussão
que
já
tivemos
noutro
momento,
da
minha
perspectiva
a
forma
adequada,
a
forma
correcta
de
conceber
as
posições
de
vantagem
dos
particulares
perante
a
administração
é
a
da
teoria
dos
direitos
subjectivos
públicos,
não
é
essa
posição
a
única
existente
no
direito
português,
hoje
em
dia
é
difícil
de
saber
qual
é
a
posição
dominante,
há
uma
larga
corrente
da
doutrina
que
defende
a
concepção
tripartida
que
leva
a
distinguir
entre
os
direitos
subjectivos,
os
interesses
legítimos
e
os
interesses
difusos,
os
direitos
de
primeira,
segunda
ou
terceira,
que
na
minha
perspectiva
corresponde
a
um
erro
do
ponto
de
vista
da
construção
jurídica,
mas
independentemente
disso
o
que
está
aqui
em
causa
é
uma
legitimidade
jurídico
subjectiva
e
o
código
de
procedimento
limitou-‐se
a
regular
esta
dimensão
subjectiva
da
participação,
o
que
significa
que
o
código
não
regula
a
integralidade
da
participação
procedimental
nem
a
integralidade
das
audiências
públicas.
Há
designadamente
um
outro
diploma
normativo,
a
lei
da
acção
popular
que
estabelece
um
alargamento
desta
legitimidade,
daquilo
a
que
chama
os
procedimentos
de
massa
que
tanto
podem
corresponder
a
actos
administrativos
individuais
e
concretos
como
a
regulamentos
gerais
e
abstratos.
Nesses
procedimentos
de
massa
admite-‐se
como
parte
legítima
toda
e
qualquer
pessoa
independentemente
de
ter
interesse
directo
na
demanda,
o
critério
para
distinguir
na
nossa
ordem
jurídica
a
acção
popular
de
acção
juridio
subjectiva
tem
a
ver
precisamente
com
a
titularidade
de
algum
interesse
na
demanda.
Se
há
interesse
na
demanda,
a
tutela
é
subjectiva,
a
legitimidade
ocorre
nos
teros
do
código
do
procedimento
no
quadro
da
regra
do
artigo
53º,
se
pelo
contrário
o
particular
não
tem
interesse
na
demanda,
se
o
particular
não
é
parte
interessada
a
tutela
faz-‐se
em
termos
objectivos
no
âmbito
da
acção
popular.
O
actor
popular
não
pode
ter
interesse
directo
na
demanda,
a
lei
da
acção
popular
que
é
de
95
era
ligeiramente
confusa
quanto
à
distinção
entre
acção
juridico
subjectiva
e
acção
popular,
mas
o
código
de
processo
a
partir
de
2004
com
a
sua
norma
do
artigo
9º
estabelece
bem
a
diferença
entre
aquilo
que
considera
acção
juridico
subjectiva
para
defesa
do
interesse
próprio
e
acção
popular
quando
o
particular
não
tem
interesse
na
demanda.
Ora
bem,
está
em
causa
a
construção
de
um
aeroporto,
de
uma
auto-‐estrada,
de
uma
ponte,
os
interessados
não
têm
necessariamente
de
ter
direito
subjectivo
e
portanto
são
chamados
a
participar
mesmo
aqueles
indivíduos
que
não
têm
interesse
na
demanda,
é
aquilo
a
que
se
chama
os
interesses
em
estado
de
orfandade,
os
interesses
órfãos,
a
autoridade
pública
vai
à
procura
de
interesses
órfãos,
de
interesses
que
não
têm
tutelar
jurídico,
de
interesses
que
correspondem
a
presunções
de
facto
e
vai
pedir-‐lhes
que
participem
e
portanto
nestes
casos
a
audiência
é
diferente
da
audiência
regulada
no
Código
Procedimento
em
que
estão
em
causa
a
tutela
de
direito
dos
particulares
no
âmbito
de
relações
intersubjectivas.
Aqui
estamos
perante
uma
lógica
de
acção
popular,
de
uma
lógica
que
é
objectiva
de
procura
da
melhor
solução
que
exista
para
aquele
caso.
Neste
caso
a
autoridade
pública
vai
à
procura
de
interlocutores,
vai
querer
ouvir
mesmo
aqueles
que
não
tenham
um
interesse
directo
na
demanda
mas
que
no
entanto
podem
contribuir
para
a
qualidade
da
decisão.
Corresponde
àquela
história
da
simpática
avózinha
de
Downthon
Mahantan
que
numa
audiência
pública
realizado
pela
autarquia
que
explicou
que
com
aquelas
obras
que
iam
acontecer
naquela
rua
ela
teria
de
fazer
um
desvio
de
dois
quilómetros
para
ir
fazer
as
compras
da
mercearia
que
ficava
do
outro
lado
e
depois
teria
de
vir
carregada
mais
dois
quilómetros
de
um
lado
para
o
outro
e
que
isto
era
algo
que
era
incómodo.
A
velhinha
não
tinha
nenhum
direito
subjectivo
que
necessitava
de
tutela,
no
entanto
era
prejudicada
facticamente
por
aquela
decisão
e
o
facto
de
ela
ter
participado
nessa
audiência
não
apenas
salvou
a
minha
tarde
como
salvou
a
decisão
tomada
pelo
município
que
na
sequência
desta
intervenção
passou
a
prever
a
existência
de
umas
passadeiras
para
peões
para
que
a
velhota,
como
todos
os
moradores
dessa
zona
não
tivessem
de
fazer
o
tal
desvio
de
dois
quilómetros.
E
portanto
neste
caso,
estando
em
causa
uma
acção
popular,
a
audiência
é
uma
audiência
pública,
os
particulares
são
chamados
a
intervir
e
esta
audiência
pública
está
aberta
não
apenas
aos
titulares
de
direito
em
sentido
alargado,
mas
está
aberta
a
todos
aqueles
que
o
queiram
fazer,
portanto
essa
é
a
lógica
do
regime
jurídico
que
existe
na
nossa
ordem
jurídica
e
que
tem
esta
dimensão
dupla.
Há
uma
relação
juridico
subjectiva
para
a
tutela
os
direitos
dos
particulares
que
está
regulada
no
direito
de
audiência
do
código
de
procedimento
e
depois
há
uma
acção
popular
que
permite
no
âmbito
dessas
audiências
públicas
que
qualquer
particular
interessado
possa
fazer
ouvir
a
sua
voz,
sem
ter
de
provar
a
existência
de
qualquer
interesse
e
até
mesmo
de
provar
que
não
tem
interesse
na
demanda
senão
já
não
estaremos
no
quadro
da
lógica
da
acção
popular
e
portanto
o
regime
jurídico
português
é
um
regime
que
tem
estas
duas
realidades
e
que
consagra
esta
ideia
de
um
direito
de
audiência
que
no
entanto
se
concretiza,
um
direito
de
audiência
que
é
uma
manifestação
do
direito
fundamental
de
participação
no
procedimento
e
esta
participação
tem
duas
concretizações
diferentes,
há
procedimentos
com
um
reduzido
número
de
destinatários
em
que
a
legitimidade
pra
intervir
é
determinada
de
acordo
com
regras
juridico
subjectivas
e
há
depois
os
procedimentos
de
massa
em
que
a
legitimidade
é
a
do
autor
popular
que
intervêm
nas
tais
audiências
públicas
como
momento
também
obrigatório
prévio
à
tomada
de
decisão
sobre
uma
determinada
matéria.
Portanto,
esta
consagração
da
audiência
nestes
termos
alargados
é
se
quiserem
uma
das
principais
coroas
de
glória
deste
código
do
procedimento
e
ela
corresponde
a
um
regime
jurídico
que
assenta
nesta
ideia
da
participação
dos
particulares
na
tomada
de
decisões
públicas,
nesta
valorização
procedimental
da
participação
dos
particulares
no
quadro
das
decisões
que
devam
ser
tomadas,
mas
esta
realidade
procedimental
pode
ser
entendida
no
quadro
da
existência
de
relações
jurídicas
procedimentais
e
fazendo
a
ponte
entre
aquelas
duas
alternativas
ao
acto
adinistrativo
de
que
tínhamos
falado
numa
aula
passada,
o
procedimento
e
a
relação
jurídica
não
são
realidades
antagónicas,
são
realidades
que
se
complementam
porque
partindo
da
perspectiva
da
relação
jurídica,
há
relações
jurídicas
que
se
estabelecem
no
procedimento,
relações
jurídicas
de
natureza
procedimental,
tal
como
há
relações
jurídicas
anteriores
ao
procedimento
são
relações
jurídicas
substantivas
que
decorrem
das
posições
dos
particulares
em
face
da
administração
e
poderá
haver
relações
contenciosas
que
decorrem
da
contestação
judicial
da
validade
de
uma
decisão
administrativa,
mas
isso
ficará
para
a
próxima
aula.
4-‐04-‐2013
Estivemos
a
analisar
na
aula
passada,
a
audiência
do
procedimento
como
fase
necessária
e
obrigatória
de
acordo
com
o
Direito
Português,
na
sequência
da
opção
constitucional
no
princípio
da
participação
dos
cidadãos
na
tomada
de
decisões
administrativas.
Analisámos
como
introduz
uma
lógica
a
que
o
Professor
Freitas
do
Amaral
chama
de
um
procedimento
quadrifásico
em
que
temos
a
fase
da
abertura
do
procedimento,
que
pode
ser
realizada
tanto
por
uma
entidade
pública
como
por
um
particular.
Segue-‐se
a
fase
da
instrução
na
qual
são
preparadas
as
decisões,
em
que
são
realizados
todos
os
estudos
técnicos,
pareceres,
para
evitar
que
“a
casa
venha
abaixo”
porque
há
uma
“chuvinha”
no
mês
de
Abril,
como
parece
que
aconteceu
agora
na
estrada
entre
Famalicão
e
Fafe.
O
que
está
em
causa
é
uma
licença
ilegalmente
atribuída,
pois
ao
que
parece
havia
um
rio
debaixo
daquela
casa,
que
foi
desviado
e
que
com
a
chuva
desviou
o
trajecto.
As
entidades
licenciadoras
não
estudaram
bem
o
terreno,
se
aquele
permitia,
ou
não,
a
construção
e
os
prejudicados
são
os
particulares
que
compraram
as
habitações
de
luxo
naquele
sitio
-‐
estamos
perante
uma
realidade
de
incumprimento
de
normas
de
ordenamento
do
território.
É
como
aquele
caso
do
Morro
no
Brasil
que
todos
os
anos
vem
abaixo
e
que
vamos
continuar
a
ver
ano
após
ano
esta
situação
decorrente
da
violação
de
normas
de
ordenamento
do
território,
de
urbanismo.
Para
que
isto
não
aconteça
é
necessário
que
haja
uma
instrução,
é
necessário
ver
se
aquele
terreno
permite
a
construção.
Se
não
permitir,
não
deve
ser
emitida
licença,
é
para
isso
que
existe
a
Administração
Pública,
é
para
que
esta
tome
as
decisões
mais
adequadas
à
realidade
que
tem
de
fazer
uma
instrução.
Esta
instrução
tem
de
ser
participada,
tem
de
haver
intervenção
de
diferentes
entidades
públicas,
por
exemplo,
no
âmbito
de
um
processo
de
construção
é
preciso
analisar
primeiro
antes
de
fazer
a
construção,
depois
é
preciso
fazer
vistorias
por
parte
dos
serviços
camarários
e
depois
há
uma
licença
de
habitação
que
decorre
de
acordo
com
o
facto
de
a
habitação
ter
sido
de
acordo
com
a
lei.
Os
exemplos
dados
correspondem
a
uma
violação
das
regras
procedimentais,
situações
em
que
a
Administração
não
faz
a
instrução
como
devia
fazer
no
procedimento
que
está
em
causa.
Depois
há
a
audiência
dos
interessados,
vimos
na
aula
passada
que
é
um
momento
obrigatório
do
procedimento
administrativo.
Por
último,
temos
a
decisão
administrativa
que
vai
determinar
qual
é
a
melhor
decisão
do
ponto
de
vista
do
interesse
público
para
aquela
decisão.
3.A
Relação
Jurídica
Administrativa
3.1
A
diversidade
de
relações
jurídicas
administrativas.
Relações
jurídicas
substantivas
e
procedimentais.
Mas
isto
dito
e
arrumada
a
questão
procedimental,
este
capítulo
ainda
serve
para
introduzir
a
questão
da
relação
jurídica
e
das
relações
jurídicas
multilaterais
que
ainda
sucedem
nos
dias
de
hoje.
Precisamente
como
tínhamos
visto,
no
quadro
daquela
alternativa
ao
acto
administrativo,
o
modelo
do
procedimento
do
Direito
Italiano
e
o
modelo
da
relação
jurídica
do
Direito
Alemão
surgiram
como
tentativas
explicativas
de
um
novo
centro
para
o
Direito
Administrativo.
Já
expliquei
que
não
considero
que
a
questão
faça
sentido,
nos
dias
de
hoje
não
temos
centro
nenhum,
precisamos
de
construir
um
direito
adequado
à
realidade
dos
nossos
dias,
não
um
Direito
Administrativo
autocentrado
–
essa
não
é
a
questão
principal.
Mas
enunciar
a
questão,
permite
enunciar
duas
mudanças:
a
questão
de
passar
a
considerar
o
procedimento
e
a
questão
da
relação
jurídica
administrativa
que
se
constitui
no
quadro
desta
realidade.
A
ideia
da
relação
jurídica
administrativa
assenta
na
ideia
de
que
o
particular
e
a
Administração
se
encontram
numa
posição
de
igualdade,
implica
a
superação
da
visão
do
particular
como
um
súbdito,
como
um
objecto
do
poder,
como
um
administrado
–
que
é
a
expressão
daqueles
que
ainda
não
têm
a
psicanálise
em
dia
ainda
utilizam.
O
particular,
na
nossa
ordem
jurídica,
é
um
sujeito
de
Direito,
estabelece
relações
com
a
Administração
Pública.
Esta
qualidade
de
sujeito
de
Direito
provém
do
facto
de
a
Constituição
lhe
conferir
direitos
fundamentais
que
vinculam
as
entidades
públicas
e
as
privadas.
A
posição
do
particular
como
sujeito
de
direito
decorre
da
sua
dignidade
constitucional
enquanto
titular
de
posições
de
vantagem
no
quadro
de
relações
jurídicas
que
estabelece
com
a
Administração.
Estas
relações
jurídicas
são
à
partida
equilibradas.
Do
ponto
de
vista
da
realidade
de
partida,
o
particular
e
a
Administração
estão
em
pé
de
igualdade.
A
administração
tem
de
actuar
no
âmbito
do
interesse
público,
podia
dizer-‐se
que
o
interesse
público
é
algo
superior
ao
interesse
do
particular
–
mas
este
interesse
público
nos
dias
de
hoje
não
pode
ser
definido
unilateralmente
–
como
se
diz
do
art.
267º
CRP
tem
de
ser
prosseguido
no
respeito
dos
particulares
e
a
ordem
jurídica
nacional
assenta,
como
se
diz
no
art.
1º,
na
dignidade
da
pessoa
humana.
Portanto,
se
a
Administração
tem
a
ideia
da
prossecução
do
interesse
público,
o
particular
é
titular
de
direitos
fundamentais
que
valem
perante
a
Administração.
É
por
isso
que
a
Constituição
fala
e
bem
do
interesse
público
e
não
em
primazia
do
interesse
público.
Não
porque
esse
interesse
público
não
deva
prevalecer
no
âmbito
das
realidades
do
Direito
administrativo,
mas
porque
essa
prevalência
não
pode
ser
feita
à
custa
dos
direitos
dos
particulares
e
essa
posição
do
respeito
pelo
interesse
público
pelos
direitos
dos
particulares
implica
uma
lógica
relacional
com
a
Administração.
Foi
esta
a
lógica
seguida
na
Alemanha
após
a
2ª
Guerra
Mundial.
Os
alemães
tinham
experimentado
o
eclipse
do
Estado
de
Direito
com
o
totalitarismo
nazi.
E,
precisamente
com
essa
experiência
na
qual
a
Administração
tinha
servido
como
instrumento
para
a
realização
de
objectivos
que
punham
em
causa
a
dignidade
da
pessoa
humana,
houve
uma
preocupação
da
Lei
Fundamental
e
depois
dos
diferentes
organismos
e
normas
reguladoras
da
Administração
Pública
que
tinham
de
acentuar
esta
ideia
de
igualdade
à
partida
entre
os
particulares
e
a
Administração.
Depois,
as
relações
jurídicas
são
todas
diferentes.
As
relações
jurídicas
podem
determinar
posições
desiguais
mas
a
lógica
é
uma
lógica
relacional
em
que
a
posição
é
idêntica.
Esta
lógica
da
Lei
Fundamental
foi
recebida
pelo
legislador
português.
Este
fala
nesta
ideia
de
relação
jurídica
administrativa
quando
no
art.
212º
nº
3
CRP
se
determina
o
âmbito
da
jurisdição
administrativa
diz-‐se
que
serve
para
o
julgamento
das
relações
jurídicas
administrativas
e
fiscais.
Ou
seja,
é
a
ideia
da
relação
jurídica
administrativa,
a
ideia
do
equilíbrio
entre
o
particular
e
a
Administração
que
subjaz
ao
modelo
constitucional.
Tal
como
são
os
artigos
que
estabelecem
os
princípios
fundamentais
da
Administração
pública,
a
CRP
estabelece
o
princípio
da
prossecução
do
interesse
público
no
art.
266º
nº1
CRP,
no
respeito
dos
princípios
e
interesses
dos
particulares
–
duas
coisas
que
andam
sempre
ao
lado
uma
da
outra,
sendo
esta
a
lógica
de
uma
Administração
Pública
Democrática
e
paritária
que
estabelece
relações
jurídicas
com
os
particulares
e,
no
quadro
destas,
haverá
direitos
e
deveres
muito
diferentes
dos
particulares
e
da
Administração.
Há
uma
lógica
relacional
no
Direito
Português
que
assim
adopta
a
lógica
germânica
que
vem
da
Lei
Fundamental.
Se
pegarem
nos
principais
diplomas
reguladores
da
Administração
Pública,
por
exemplo
no
CPA,
verão
que
esta
lógica
relacional
é
algo
que
o
legislador
considerou
como
princípio
do
Direito
Administrativo.
O
art.
2º
do
CPA
diz
que
as
disposições
do
Código
se
aplicam
a
todos
os
órgãos
da
Administração
Pública
que
estabeleçam
relações
com
os
particulares.
O
Direito
administrativo
é
o
direito
das
relações
com
os
particulares,
não
é
o
direito
da
Administração,
não
é
o
direito
dos
privados.
Esta
lógica
da
relação
jurídica
está
presente
em
todas
as
normas
bem
como
está
presente
em
todos
os
diplomas
da
matéria.
Verão
no
4º
ano,
quando
chegarem
a
Contencioso
Administrativo,
que
também
o
legislador
adopta,
na
perspectiva
contenciosa,
esta
lógica
das
relações
jurídicas.
Isto
significa
que
este
conceito
de
relações
jurídicas
tem
uma
ampla
aplicação
na
ordem
jurídica
e
é
susceptível
de
ser
utilizado
tanto
quando
falamos
de
relações
jurídicas
substantivas
como
procedimentais
ou
processuais.
As
relações
jurídicas
substantivas
que
decorrem
das
posições
subjectivas
dos
particulares
e
da
Administração
resultantes
da
lei
e
ordenamento
jurídico,
que
estabelecem
direitos
e
deveres
recíprocos
no
quadro
de
relações
que
estabelecem
uns
entre
os
outros.
Na
medida
em
que
há
direitos
subjectivos
dos
particulares,
significa
que
estes
tem
garantidas
determinadas
posições
face
à
Administração
Pública
e
estão
subordinados
a
determinados
deveres
perante
a
Administração.
Portanto
há
uma
lógica
relacional
entre
direitos
e
deveres,
entre
formas
activas
e
passivas,
no
quadro
das
relações
jurídicas.
Depois
há
relações
procedimentais,
porque
no
âmbito
da
relação
substantiva,
enquanto
está
em
causa
uma
actuação
administrativa,
está
em
causa
uma
relação
procedimental.
Esta
pode
ser
iniciada
por
um
pedido
do
particular
ou
pode
ser
feita
por
iniciativa
pública,
mas
em
que
os
particulares
devem
participar.
No
quadro
dessa
relação
procedimental,
os
particulares
gozam
do
direito
de
audiência,
do
direito
de
intervir
no
procedimento.
A
Administração
tem
o
dever
de
audição
e
o
particular
o
direito
de
ser
ouvido.
Isto
além
de
outros
direitos
de
natureza
procedimental.
A
relação
procedimental
irá
dar
lugar
à
decisão.
A
diferença
da
lógica
inicial
e
tradicional
é
que
mais
importante
que
a
decisão
final
é
tudo
o
que
se
passa
no
procedimento.
A
diferença
dos
dias
de
hoje
é
que
o
procedimento
vai
produzindo
sucessivos
actos
que
são
relevantes
no
âmbito
da
relação
processual.
Mais
importante
que
o
dever
de
decidir,
para
usar
uma
expressão
do
Direito
Italiano,
é
o
direito
de
procedere,
o
direito
de
proceder,
de
actuar
no
quadro
do
procedimento.
Por
último
há
uma
relação
jurídica
processual,
quando
no
quadro
da
relação
jurídica
substantiva
ou
procedimental
são
lesados
os
direitos
dos
particulares,
portanto
o
particular
usa
dos
meios
contenciosos
para
a
tutela
dos
seus
direitos
substantivos
no
âmbito
de
um
litígio.
3.2.
Relações
jurídicas
bilaterais
e
multilaterais
O
conceito
de
relação
jurídica,
que
vem
do
Direito
alemão,
tem
esta
qualidade
de
se
referir
a
todas
as
vinculações
e
ligações
previstas
no
ordenamento
jurídico
que
podem
ter
lugar
entre
o
particular
e
a
Administração.
Vimos
que,
historicamente,
foi
importante
como
proposta
de
alternativa
ao
acto
administrativo.
Mas
é
preciso
ter
em
consideração
que
a
admitir
como
hipótese,
e
apenas
como
hipótese,
que
a
ideia
da
relação
jurídica
poderia
ser
o
centro
do
Direito
Administrativo,
então
a
relação
jurídica
que
estava
em
causa
era
uma
relação
jurídica
multilateral,
porque
aquilo
que
trouxe
a
alteração
da
Administração
prestadora
para
a
perspectiva
estrutural
foi
a
ideia
de
que
a
decisão
administrativa
não
produz
efeitos
apenas
quanto
aos
seus
destinatários,
o
seu
efeito
jurídico
vai
além
deles,
e
os
afectados
devem
poder
actuar
no
procedimento
e
no
processo
para
a
defesa
dos
seus
direitos.
E
isso
decorre
do
alargamento
dos
direitos
fundamentais,
que
decorrem
de
novas
matérias
como
o
Ambiente,
Ordenamento
do
Território,
Saúde,
Urbanismo,
todos
aqueles
domínios
novos
que
levaram
ao
surgimento
de
novos
direitos
fundamentais.
Isso
significou
que
além
dos
titulares
do
acto
administrativo
no
âmbito
da
lógica
tradicional,
a
autoridade
administrativa
em
causa
e
o
particular
directamente
afectado.
Contudo,
esta
lógica
não
corresponde
à
realidade
que
muitas
vezes
está
em
causa.
No
caso
do
desabamento
de
Famalicão
e
Fafe,
estando
em
causa
um
prédio,
todos
os
habitantes
dos
apartamentos
são
afectados
pela
decisão
ilegal
de
construção
daquela
habitação.
Portanto,
estamos
perante
uma
relação
multilateral,
todos
os
proprietários
das
fracções
são
sujeitos
dessa
relação
e
estão
em
condições
para
ir
a
tribunal
pedir
uma
indemnização
à
entidade
licenciadora.
Com
a
afirmação
de
novos
direitos
fundamentais
deu-‐se
a
transformação
da
lógica
das
relações
jurídicas
que,
até
então,
eram
meramente
bilaterais
em
relações
multilaterais.
Esta
figura
da
relação
jurídica
multilateral
nasceu
do
Direito
do
Ambiente,
foram
os
seus
autores
que
vieram
dizer
que
havendo
direitos
ambientais
por
tutelar
as
relações
jurídicas
passaram
a
relações
multilaterais.
Esta
figura
passou
para
o
Direito
Administrativo
geral,
já
não
está
em
causa
a
relação
bilateral.
Esta
concepção
decorre
também
da
realidade
dos
anos
70
que,
no
quadro
do
Novo
Direito
Administrativo
daqueles
autores
que
vos
falei
que
pretendem
hoje
renovar
o
Direito
Administrativo
–
coisa
a
qual
o
Professor
tem
a
maior
das
simpatias
pelas
ideias
e
simpatia
pelas
pessoas.
O
que
estes
Professores
vêm
dizer
é
que
as
conclusões
a
que
se
chegou
do
ponto
de
vista
do
Direito
Administrativo
especial,
tem
que
ser
reintroduzidas
na
Teoria
geral
do
Direito
Administrativo
e
que
é
preciso
reconstruir
o
Direito
Administrativo
dos
dias
de
hoje
em
função
da
lógica
de
direito
Administrativo
especial.
Assim
o
conceito
de
relação
multilateral
do
Direito
do
Ambiente,
Direito
Administrativo
especial,
tornou-‐se
hoje
um
conceito
de
Direito
Administrativo
geral.
Esta
ideia
da
relação
jurídica
multilateral
tem
múltiplas
virtualidades
pois
permite
explicar
os
fenómenos
do
Direito
Administrativo,
tal
como
existem
nos
dias
de
hoje.
Agora
quanto
à
questão
de
fundo,
se
é
preciso
um
centro
do
Direito
Administrativo,
essa
é
uma
questão
que
tem
a
ver
com
uma
lógica
positivista
e
é,
em
rigor,
desnecessária.
A
lógica
do
Direito
Administrativo
possivelmente
é
plurifuncional,
não
implica
um
centro
mas
vários
centros.
Agora,
o
que
significou
nos
anos
60
e
nos
anos
70
pôr
em
causa
a
lógica
actocentrica,
na
perspectiva
do
Professor,
teve
que
ver
com
a
valorização
das
relações
jurídicas
administrativas.
Esta
lógica
das
relações
jurídicas
administrativas
foi
acolhida
em
Portugal,
facto
de
que
o
Professor
é
em
parte
responsável
por
algumas
expressões
(como
a
do
art.
3º
CPA).
Temos
aqui
uma
tentativa
de
explicar
o
fenómeno
administrativo
numa
lógica
relacional
de
relações
de
paridade
que
hoje
em
dia
têm
de
ser
entendidas
no
quadro
de
uma
relação
multilateral.
4.
Da
farda
única
ao
moderno
“pronto-‐a-‐vestir”
das
formas
de
actuação
administrativa
(Adcos
administrativos,
planos,
regulamentos,
actuação
informal,
técnica,
privada,
operações
materiais).
Posto
isto,
o
último
ponto
deste
terceiro
capítulo,
está
enunciado
num
tom
provocatório
e
é
da
farda
única
do
acto
administrativo
às
modernas
formas
do
“pronto-‐a-‐vestir”
da
actividade
administrativa.
Ou
seja,
o
que
está
em
causa,
é
analisar
todas
e
cada
uma
das
formas
de
actuação
administrativa
porque,
da
perspectiva
do
Professor,
não
é
apenas
o
acto
administrativo
que
conta,
uma
actuação
actocentrica
não
faz
sentido,
o
acto
não
é
a
única
das
formas
de
actuação
administrativa,
mas
é
uma
das
formas
de
actuação
administrativas.
É
preciso
valorizar
o
acto,
aliás
esta
é
uma
das
matérias
da
predilecção
e
especialidade
do
Professor,
mas
nem
tudo
é
acto
administrativa
e
é
preciso
dar
importância
às
outras
formas
de
actuação
administrativa
e
a
todas
as
actuações
que
correspondem
à
moderna
realidade
da
administração
pública.
Esta
lógica
policêntrica
e
que
contesta
o
centrismo
do
acto
administrativo
é
uma
lógica
que
valoriza
as
restantes
formas
de
actuação.
E
é
por
isso
que
nesta
disciplina
iremos
dar
relevância
ao
estudo
das
restantes
formas
de
actuação
administrativa
e
não
apenas
ao
acto
administrativo.
Mas
começamos
pela
farda,
por
o
que
tradicionalmente
era
entendido
como
o
centro
do
Direito
Administrativo.
Vamos
agora
em
busca
do
acto
administrativo
perdido.
Este
foi
o
título
da
tese
de
doutoramento
do
Professor.
O
que
estava
ali
em
causa
era,
por
um
lado,
pôr
em
causa
a
até
então
dominante
construção
atocentrica
–
vejamos
a
construção
de
Marcello
Cateano
ou
Freitas
do
Amaral
–
e
só
a
partir
dos
anos
80
começaram
a
ser
valorizadas
as
outras
formas
de
actuação.
Ainda
hoje
encontramos
concepções
que
ainda
têm
influência
destas
concepções
tradicionais,
quando
dizem
que
“o
acto
administrativo
já
não
é
tudo
mas
ainda
é
muito
importante”,
mesmo
quando
dão
uma
importância
secundária
ao
acto
administrativo,
o
uso
de
expressão
como
“não
obstante
o
acto
administrativo
continua
a
ser
muito
importante”,
ou
seja
a
conclusão
não
se
harmoniza
com
as
premissas.
Para
entender
isto
é
preciso
entender
o
acto
administrativo
no
quadro
de
uma
lógica
evolutiva,
pois
o
acto
acompanhou
os
modelos
de
Administração
e
de
Estado.
A
construção
clássica
atocentrica
correspondia
a
uma
visão
do
Direito
Administrativo
que
correspondia
aos
pressupostos
do
Estado
Liberal.
É
diferente
da
construção
teorizada
no
âmbito
do
positivismo
jurídico
no
séc.
XIX
e
nos
princípios
do
séc.
XX
quando
começou
a
surgir
o
Estado
Social.
Isto
também
explica
que
esta
construção
atocentrica
se
tenha
mantido
até
aos
nossos
dias.
A
construção
do
Professor
Marcelo
Caetano
do
acto
definitivo
executório
foi
adoptada
pela
lei
portuguesa,
só
desaparecendo
com
a
revisão
constitucional
de
89.
Foi
preciso
esperar
pelo
Código
de
Processo
para
desaparecer
a
expressão
do
acto
definitivo
executório.
Esta
ideia
do
acto
definitivo
executório
era
a
ideia
de
Otto
Mayer
e
Maurice
Harriou
em
que
a
construção
era
atocentrica,
de
um
acto
típico
da
Administração
agressiva,
de
um
acto
constituído
numa
lógica
de
autoridade
que
tinha
como
modelo
a
actuação
de
Polícia.
Se
olharmos
para
os
dois
modelos,
de
Otto
Mayer
e
Maurice
Harriou,
havia
uma
realidade
comum
e
havia
algumas
diferenças
de
formulação.
Havia
uma
realidade
comum
que
era
uma
matriz
positivista,
mesmo
se
diferente:
Otto
Mayer
era
um
positivista
científico
e
Maurice
Haurriou
um
positivista
sociológico.
Por
isso
também
Haurriou
é
mais
aberto
que
Otto
Mayer
e
chega
a
admitir
actos
favoráveis
(o
que
em
Otto
Mayer
era
totalmente
inadmissível).
Mas
esta
realidade
positivista
de
base
levou
à
construção
de
um
acto
administrativo
que
tinha
duas
características
idênticas
que
tinham
que
ver
com
esta
concepção
de
autoridade.
O
acto
administrativo
era
em
primeiro
lugar
de
direito,
definia
o
direito
aplicável
aos
súbditos
segundo
Otto
Mayer,
e
em
segundo
lugar
este
acto
era
de
execução
coactiva.
O
modo
como
a
construção
vai
ser
feita
é
distinto:
Otto
Mayer
aproximava
os
actos
administrativos
das
sentenças
e
dizia
que,
há
semelhança
do
juiz,
a
Administração
iria
definir
o
direito
aplicável
ao
particular
no
caso
concreto.
Tal
como
a
sentença
é
susceptível
de
execução
coactiva,
também
esse
acto
da
função
administrativa
gozaria
dessa
característica.
Assim,
por
um
lado,
a
definição
de
direito
provém
da
comparação
da
Administração
aos
tribunais,
por
outro
lado,
a
executoriedade
resulta
da
concepção
positivista
kelseniana
de
que
a
Administração
e
a
Justiça,
como
funções
secundárias,
definem
o
direito
e
executam
o
Direito
de
forma
coactiva.
Maurice
Harriou
compara
o
acto
administrativo
com
o
negócio
jurídico
e
o
que
ele
realça
é
a
diferença
de
posição
da
Administração,
é
o
que
ele
chama
de
privilégios
exorbitantes
da
Administração
–
que
são
dois:
há
um
privilegio
de
definição
e
há
um
privilegio
de
execução
que
correspondeu,
no
quadro
do
Direito
Português,
ao
famigerado
privilégio
da
execução
prévia.
Esta
construção
vai,
de
alguma
maneira
no
quadro
do
Direito
Português,
entroncar
na
construção
de
Marcello
Caetano
do
acto
definitivo
executório.
O
acto
era
definitivo
porque
definia
o
Direito,
em
sentido
material
porque
implicava
a
ideia
de
definição
de
direito,
em
sentido
horizontal
era
o
termo
do
procedimento
(porque
não
se
valorizava
o
procedimento
em
si,
analisava-‐se
o
resultado)
e
em
sentido
vertical
porque
era
praticado
pelo
órgão
de
topo
–
o
Governo.
O
acto
era
também
executório,
susceptível
de
execução
coactiva.
Ora
bem,
o
que
vai
suceder
com
a
Administração
prestadora
do
Estado
Social
é
que
estas
características
deixam
de
ser
as
características
do
acto
administrativo
e
a
maior
parte
dos
actos
não
gozam
dessas
características.
Esta
caracterização
é
insuficiente,
desde
logo
porque
foi
posto
em
causa
o
pressuposto
positivista
de
que
é
a
Administração
e
a
Justiça
que
definem
o
direito
–
o
tribunal
e
a
Justiça
definem
o
direito,
o
direito
é
um
fim
para
o
tribunal,
mas
para
a
Administração
o
direito
é
um
meio
para
a
satisfação
de
necessidades
colectivas.
A
Administração
utiliza
o
direito
para
realizar
actividades
colectivas,
mas
não
define
o
direito
e
os
seus
actos
podem
até
não
ter
qualquer
conteúdo
jurídico.
Por
exemplo,
o
controlador
aéreo
não
tem
qualquer
formação
jurídica,
nem
tem
de
ter.
As
suas
decisões
são
exclusivamente
técnicas,
baseadas
na
meteorologia
e
tráfego
aéreo,
mas
traduzem-‐se
num
acto
jurídico
que
produz
efeitos
no
caso
concreto.
Portanto,
a
definição
do
direito
não
é
uma
característica
da
Administração
prestadora
dos
nossos
dias
e
se
os
actos
são
jurídicos
mas
não
são
definição
do
direito
também
a
susceptibilidade
de
execução
coactiva
é
algo
que
só
existe
numa
Administração
do
tipo
polícia.
A
Administração
que
pratica
actos
favoráveis,
estes
não
são
por
natureza
susceptíveis
de
execução
coativa,
porque
o
particular,
se
quer,
pode
executá-‐los.
A
lógica
do
estado
Social,
com
o
aparecimento
dos
actos
favoráveis,
pôs
em
causa
esta
lógica
tradicional
do
acto
administrativo
e
o
modo
de
entender
o
acto
administrativo.
Mas
a
lógica
infra-‐
estrutural
ainda
mais
contribuiu
para
acentuar
esta
crise
porque
agora
surgiu
um
novo
modelo
de
acto
de
eficácia
múltipla,
o
acto
que
gera
as
já
faladas
relações
jurídicas
multilaterais.
Esta
realidade
não
tem
nada
a
ver
com
a
construção
de
Otto
Mayer
e
Maurice
Harriou.
É
uma
realidade
que
obriga
a
uma
reconstrução
do
Direito
Administrativo.
Na
próxima
aula
continuaremos
a
estudar
este
Novo
Modelo
Administrativo
porque
a
doutrina
alemã
ainda
não
tocou
suficientemente
na
questão
do
acto
administrativo
a
ver
do
Professor
Vasco
Pereira
da
Silva.
9-‐04-‐2013
Começámos
na
aula
passada
a
analisar
a
noção
de
acto
administrativo
e
vimos
que
esta
noção
tem
vindo
a
evoluir
consoante
as
realidades
históricas
e
que
o
conceito
de
acto
administrativo
de
hoje
não
pode
ser
igual
ao
conceito
de
acto
administrativo
passado.
Estávamos
na
aula
passada
a
analisar
a
evolução
histórica
do
modelo
de
acto
administrativo,
na
lógica
clássica
correspondente
ao
estado
liberal
o
acto
administrativo
de
que
se
partia
era
autoritário,
correspondia
à
manifestação
do
poder
da
administração,
manifestação
do
poder
de
definir
o
direito,
manifestação
do
poder
na
susceptibilidade
de
execução
coactiva
do
acto
contra
a
vontade
do
particular,
o
modelo
de
acto
administrativo
era
o
modelo
da
administração
de
polícia,
o
acto
era
concebido
à
imagem
de
um
acto
de
policia,
um
acto
que
estabelece
uma
regra
jurídica,
que
estabelece
uma
proibição
relativamente
ao
particular,
este
acto
é
susceptível
de
ser
imposto
se
o
particular
resistir.
Era
este
o
modelo
tradicional
e
este
vai
em
Portugal
ter
um
âmbito
de
aplicação
muito
grande
e
dura
quase
até
aos
nossos
dias.
(…
-‐
prof.
Marcelo
Caetano
e
acto
definitivo
executório,
visto
na
aula
passada).
Do
ponto
de
vista
constitucional
foi
preciso
esperar
pela
revisão
constitucional
de
89
para
que
a
definição
de
acto
definitivo
executório
desaparecesse
da
CRP,
até
aí
aparecia
no
âmbito
da
garantia
da
acção
jurisdicional,
do
ponto
de
vista
legislativo
foi
preciso
esperar
pela
reforma
do
contencioso
administrativo
de
2002-‐2004
para
que
desaparecesse
do
quadro
da
ordem
jurídica.
É
verdade
que
já
ninguém
ligava
àquela
norma
e
tinha
sido
ultrapassada,
a
sua
última
referência
do
ponto
de
vista
legislativo
era
o
de
se
considerar
que
era
uma
noção
relevante
para
efeito
de
impugnabilidade,
se
o
acto
fosse
definitivo
e
executório
é
que
era
susceptível
de
impugnação.
Na
pratica
eram
de
tal
maneira
importantes
as
excepções
que
a
regra
geral
era
posta
em
causa.
A
ideia
da
tripla
definitividade,
horizontal,
vertical
e
procedimental,
era
posta
em
causa
porque
actos
administrativos
que
não
gozavam
destas
características
era,
e
bem,
admitidos
ao
contencioso
administrativo,
admitidos
ao
processo
administrativo.
A
definitividade
horizontal
material
tinha
a
ver
com
a
definição
do
direito
e,
hoje
em
dia,
sabemos
que
há
actos
de
não
definição
do
direito
que
no
entanto
são
de
conteúdo
jurídico
e
produzem
efeitos
no
caso
concreto
e
devem
poder
ser
apreciados
e
o
tribunal
admitia
que
actos
não
definitivos
do
ponto
de
vista
material
fossem
tratados
como
actos
lesivos
e,
portanto,
permitia
o
controlo
jurisdicional.
Do
ponto
de
vista
da
definitividade
horizontal
tinha
que
ser
apenas
a
ultima
decisão
do
procedimento,
tinha
de
ser
apenas
o
acto
final.
Ora
nos
dias
de
hoje
cada
vez
há
mais
actos
intermédios
e
actos
iniciais,
os
procedimentos
têm
uma
lógica
complexa,
faseada,
e
portanto
os
actos
intermédios
e
os
iniciais
produzem
efeitos
externos
que
podem
ser
lesivos
e
entendia-‐se,
e
bem,
que
eles
podiam
ser
impugnados
contenciosamente.
Depois
a
definitividade
vertical,
a
ideia
de
que
o
acto
tinha
de
ser
praticado
pelo
superior
máximo
do
serviço
em
termos
verticais,
aqui
o
que
corresponde
ao
funcionamento
da
administração
é
a
desconcentração
de
decisões
administrativas
e
as
decisões
serem
cada
vez
mais
tomadas
pelos
funcionários
subalternos
que
são
os
titulares
da
competência
decisória.
Estas
três
características,
que
o
legislador
português
tinha
aceitado,
eram
negadas
por
uma
lógica
de
funcionamento
da
justiça
que
não
as
considerava
como
condições
de
impugnabilidade
dos
actos
administrativos.
Por
outro
lado
a
ideia
da
executoriedade
essa
ainda
era
pior
porque
só
se
aplica
em
relação
a
actos
desfavoráveis,
a
actos
que
correspondam
a
situações
de
restrição
de
direitos
e
apenas
quando
essa
possibilidade
se
encontre
prevista
na
lei
e
que
ocorra
nos
termos
legais.
Ora
isto
não
se
verificava
na
maior
parte
dos
actos
administrativos
que
eram
levados
a
juízo,
e
por
isso
já
de
à
muito
tempo
que
a
doutrina,
em
Portugal,
designadamente
o
prof.
Rogério
Soares
dizia
que
quando
o
legislador
falava
erradamente
em
executoriedade
se
devia
entender
que
ele
estava
simplesmente
a
falar
em
eficácia,
bastava
que
o
acto
produzisse
efeitos
jurídicos,
que
o
acto
fosse
eficaz
para
que
ele
fosse
impugnado.
O
conceito
era
negado
por
uma
lógica
de
um
contencioso
administrativo
que
tinha
uma
amplitude
maior
e
que
exigia
que
essa
não
fosse
uma
regra
de
acesso
ao
juiz,
já
na
altura
era
um
nado
morto
esta
construção
doutrinária.
Essa
noção
não
só
era
ilógica
do
ponto
de
vista
doutrinário
como,
no
quadro
da
ordem
jurídica
portuguesa,
esta
exigência
era
inconstitucional
e
que
o
art.
25º
da
Lei
de
Processo
que
falava
em
acto
definitivo
executório
que
se
deveria
entender
como
ultrapassado,
como
violador
da
CRP
e
como
tal
como
uma
realidade
que
tinha
sido
ultrapassada
pela
realidade.
Mas
independentemente
disto
o
que
é
facto
é
que
em
Portugal,
em
termos
legislativos,
só
em
2004
é
que
esta
exigência
do
acto
definitivo
executório
foi
afastada
da
nossa
ordem
jurídica.
E
ainda
encontramos,
por
vezes,
algumas
reminiscências.
Por
exemplo
no
CPA
não
se
fala
já
hoje
em
acto
definitivo
executório
mas
ainda
aparece
a
definição
do
acto
executório,
que
é
um
disparate,
o
que
se
pretende
regular
nessas
não
normas
é
a
possibilidade
de
execução
coactiva
dos
actos
administrativos,
e
aí
estabelece
um
principio
de
tipicidade
em
primeiro
lugar
da
susceptibilidade
de
execução
coactiva,
é
preciso
que
a
lei
preveja
a
possibilidade
daquele
acto
ser
imposto
no
âmbito
de
uma
relação
jurídica,
da
administração
poder
naquele
caso
concreto
impor
ao
particular
um
acto
que
lhe
é
desfavorável,
por
outro
lado
a
própria
lei
regula
as
condições,
tipifica
as
condições
da
relação,
estabelecendo
regras
que
são
diferentes
consoante
se
trate
de
uma
prestação
para
o
pagamento
de
uma
quantia
certa,
se
se
trate
de
um
a
obrigação
para
um
comportamento
ou
se
trate
de
uma
obrigação
destinada
à
pratica
de
um
acto
que
corresponda
ao
exercício,
entrega-‐se
quantia
certa,
quantia
determinada,
coisa
certa
e
obrigação
de
comportamento.
Quanto
à
quantia
o
CPA
estabelece
regras
relativas
a
estas
3
modalidades
de
execução,
o
CPA
estabelece
que
quando
está
em
causa
o
pagamento
de
uma
quantia
certa
a
administração
não
pode
exigir
essa
quantia
de
forma
directa
e
imediata,
tem
que
usar
um
tribunal,
tem
que
usar
o
contencioso
fiscal
porque
o
que
está
em
causa
se
tiver
a
ver
com
o
pagamento
de
uma
quantia
decorre
nos
termos
do
processo
de
execução
fiscal,
e
portanto
neste
caso
não
apenas
há
tipificação
como
há
também
proibição
da
possibilidade
de
cobrança
de
actos
de
quantia
certa,
ou
seja,
algo
que
contraria
a
ideia
da
executoriedade.
(…).
A
revisão
constitucional
de
89
afastou
definitivamente
o
acto
definitivo
executório.
Este
conceito,
clássico
que
foi
o
conceito
do
liberalismo
politico,
em
Portugal,
conduziu
a
uma
realidade
que
perdura
quase
ate
aos
nossos
dias,
e
ainda
encontramos
algumas
construções
que
embora
já
não
falem
no
carácter
central
ou
no
carácter
obrigatório
do
acto
definitivo
executório,
no
entanto
ainda
dediquem
duas
ou
três
páginas
(ex.
manual
do
prof.
Freitas
do
Amaral).
No
quadro
da
evolução
histórica
que
estávamos
a
fazer
se
esta
concepção
clássica
foi
afastada,
o
surgimento
da
lógica
do
estado
social,
da
administração
prestadora,
fez
surgir
um
novo
modelo
de
acto
administrativo,
o
acto
administrativo
de
conteúdo
favorável,
o
acto
administrativo
que
cria
faculdades
que
atribui
vantagens
aos
particulares,
o
acto
que
cria
direito.
Estes
últimos
na
nossa
ordem
jurídica
são
conhecidos
pela
expressão
tradicional
do
acto
constitutivo
de
direitos
em
relação
ao
particular.
Mas
pode
o
acto
ser
favorável
sem
criar
um
direito,
se
a
administração
atribui
uma
licença
ou
se
a
administração
estabelece
uma
autorização
de
construção,
ela
está
a
constituir
um
direito
mas
a
administração
pode
simplesmente
estar
a
atribuir
uma
vantagem
material
ao
particular,
que
resulta
do
usufruto
de
um
determinado
estatuto
jurídico
que
prevê
determinadas
prestações
decorrentes
desse
estatuto
que
decorre
da
produção
de
bens
e
serviços
em
condições
similares
à
de
qualquer
outra
entidade
privada,
ou
seja
a
administração
actuação
de
forma
favorável
ao
particular
e
nem
sempre
está
em
causa
a
atribuição
de
um
direito.
Este
acto
favorável
é
uma
nova
modalidade
de
acto
administrativo
que
não
pode
deixar
de
ser
considerada,
que
já
não
cabe
naquela
noção
do
acto
definitivo
executório,
porque
estamos
aqui
perante
um
acto
que
em
vez
de
definir
utiliza
o
direito
para
a
satisfação
de
necessidades
colectivas.
(…)
O
problema
novo
que
surgiu
da
administração
prestadora
é
o
problema
da
execução
dos
actos
contra
a
vontade
da
administração.
(…).
O
particular
pode
usar
o
tribunal
para
obter
a
execução
daquele
direito.
A
lógica
da
administração
prestadora
é
precisamente
a
oposta
da
lógica
da
administração
clássica
liberal
em
que
o
que
estava
em
causa
era
apenas
a
execução
contra
a
vontade
do
particular.
Aqui
estamos
perante
uma
execução
que
tanto
pode
ser
contra
a
vontade
do
particular
como
contra
a
vontade
da
administração.
Há
um
novo
problema
quanto
à
execução,
e
isso
corresponde
ao
facto
de
ter
surgido
um
grande
numero
de
actos
que
correspondem
a
esta
categoria
dos
actos
favoráveis.
Depois
com
a
administração
infra-‐estrutural
do
estado
pós
social
surge
um
novo
tipo
de
acto
administrativo,
porque
o
que
se
passa
no
quadro
da
lógica
infra-‐estrutural
é
que
a
administração
estabelece
relações
com
uma
multiplicidade
de
sujeitos
que
se
transformam
em
sujeitos
da
relação
jurídica
multilateral,
e
portanto
o
acto
administrativo
passa
a
ter
uma
eficácia
múltipla.
Inicialmente,
quando
isto
começou
a
ser
estudado
por
Walbinger,
na
Alemanha,
falava-‐se
no
acto
com
eficácia
em
relação
a
terceiros
(titulo
de
um
trabalho
seu),
nesta
altura
ainda
estávamos
numa
fase
intermédia,
aqui
já
se
entendia
que
o
acto
produzia
efeitos
para
além
dos
destinatários
mas
esses
outros
particulares
eram
considerados
terceiros.
A
evolução
da
lógica
das
relações
jurídicas
multilaterais
é
que
levou
a
considerar
estes
particulares
como
sujeitos
das
relações
jurídicas
e
isto
decorre
dos
novos
direitos,
em
matéria
de
ambiente,
em
matéria
de
consumo,
em
matéria
de
ordenamento
do
território,
enfim
os
novos
direitos
fundamentais,
porque
o
particular
que
goza
de
um
direito
a
uma
fruição
do
meio
ambiente
que
é
posta
em
causa
por
aquela
decisão
administrativa,
o
particular
torna-‐se
em
sujeito
dessa
relação
multilateral
e
assim
goza
de
poderes
procedimentais
e
de
poderes
processuais
para
actuar
no
quadro
daquela
realidade,
e
portanto
o
acto
administrativo
passa
a
ser
outra
realidade.
O
que
é
curioso
,
nos
nossos
dias,
é
que
se
assiste
a
uma
pluralidade
e
diversidade
de
actos
que
afasta
as
concepções
demasiado
fechadas
de
direito
administrativo,
a
noção
de
acto
administrativo
de
que
devemos
partir
não
deve
ser
fechada,
que
deixa
alguma
coisa
de
fora,
mas
deve
ser
uma
noção
suficientemente
aberta
que
permita
que
todas
estas
realidades
sejam
integradas
no
âmbito
da
noção
de
acto
administrativo
e,
no
quadro
de
uma
querela
que
hoje
existe
no
direito
português,
sou
defensor
fervoroso
de
noções
amplas
de
acto
administrativo
contra
versões
restritas,
a
mais
generalizada
é
a
versão
do
acto
regulador
(ex.
Prof
Freitas
do
Amaral).
As
versões
fechadas
não
são
da
minha
perspectiva
adequadas
para
explicar
as
realidades
multifuncionais,
plurilaterais,
que
correspondem
aos
actos
administrativos
dos
dias
de
hoje,
não
são
adequadas
para
explicar
quer
os
actos
da
administração
de
policia,
quer
os
actos
da
administração
prestadora,
quer
os
actos
da
administração
infra-‐estrutural.
A
noção
deve
compreender
todos
estes
actos.
É
por
isso
que
eu
julgo
que
o
legislador
português,
ainda
que
a
titulo
meramente
pedagógico,
tenha
no
art.
120º
CPA
dado
uma
noção
ampla
de
acto
administrativo,
que
me
parece
uma
noção
particularmente
adequada
a
uma
legislação
dos
nossos
dias,
uma
noção
que
procura
não
deixar
nada
de
fora,
que
procura
ser
o
mais
ampla
possível.
O
que
se
diz
é
que
efeitos
da
presente
lei
consideram-‐se
actos
administrativos
as
decisões
dos
orgaos
da
administração
que
ao
abrigo
de
normas
de
direito
público
visam
produzir
efeitos
jurídicos
numa
situação
individual
e
concreta,
ou
seja,
o
acto
basta
que
produza
efeitos
jurídicos,
não
tem
de
ser
um
acto
de
definição
do
direito,
não
tem
de
ser
um
acto
regulador,
e
isto
já
introduz
um
elemento
na
discussão
que
hoje
existe,
na
nossa
ordem
jurídica
aquilo
que
se
exige
é
que
o
acto
se
destine,
que
vise
produzir
efeitos
jurídicos
e
esses
não
têm
de
ser
novos,
não
têm
que
o
acto
dizer
o
direito,
não
se
exige
nada
de
carácter
regulador
e
portanto
este
também
é
um
argumento
contra
as
tais
concepções
fechadas.
Nos
dias
de
hoje
a
definição
do
direito
já
não
é
uma
característica
do
acto
administrativo,
o
acto
não
tem
que
definir
o
direito,
quem
tem
de
o
fazer
é
o
tribunal.
O
exemplo
que
dá
o
autor
alemão
Heiko
Faber
que
é
o
argumento
retirado
de
um
controlador
aéreo,
é
um
bom
exemplo
de
um
acto
administrativo
que
não
tem
natureza
jurídica,
que
não
tem
nada
de
regulador,
o
que
o
controlador
aéreo
faz
é
analisar
tecnicamente
as
condições
de
acessibilidade
naquele
aeroporto…,
nada
disto
tem
a
ver
com
regulação
jurídica,
ele
não
sabe
nada
de
direito,
não
tem
que
saber,
no
entanto
é
um
acto
administrativo,
produz
efeitos
jurídicos
numa
situação
individual
e
concreta,
nenhum
piloto
pode
desrespeitar,
este
acto
é
obrigatório.
Da
minha
perspectiva
aquelas
concepções
que
procuram
introduzir
um
elemento
regulador
não
são
adequadas
e
encontram
um
problema,
porque
é
preciso
considerar
estas
situações
que
não
são
reguladoras
mas
que
são
actos
administrativos,
então
falam
dos
quase
actos
administrativos,
nos
actos
administrativos
em
sentido
amplo
ao
lado
dos
actos
em
sentido
restrito,
dos
actos
administrativos
próprios
e
impróprios.
A
definição
legal
não
é
perfeita
e
tem
gerado
muita
discussão.
Hoje
em
dia
no
quadro
de
uma
administração
que
intervém
em
todos
os
aspectos
da
vida
da
sociedade
e
que
estabelece
poderes
de
intervenção
dos
particulares
que
desempenham
funções
de
natureza
administrativa,
hoje
em
dia
um
particular
também
pratica
actos
administrativos,
não
tem
de
ser
um
órgão
da
administração.
M
concessionário
de
uma
auto-‐estrada
pratica
actos
administrativos,
tal
como
um
bombeiro.
Sempre
que
estejamos
perante
particulares
que
pela
via
do
contrato,
de
um
contrato
de
concessão,
um
contrato
de
empreitada,
intervém
no
exercício
da
função
administrativa
podem
praticar
actos
administrativos,
por
outro
lado
qualquer
particular
que
colabore
com
a
administração
no
exercício
da
função
administrativa
também
goza
desses
poderes,
e
portanto
este
art.
precisa
de
ser
completado
com
o
art.
4º
ETAF,
que
estabelece,
e
bem,
que
os
actos
praticados
pelos
concessionários,
os
actos
praticados
pelos
empreiteiros
são
actos
administrativos
para
efeitos
de
processo
judicial,
e
portanto
esta
noção
até
pode
ser
criticada
porque
ainda
tem
alguns
aspectos
restritivos,
este
é
um
deles.
Por
outro
lado
também
não
é
muito
claro
o
que
se
pretende
aqui
com
estas
normas
de
direito
público,
eu
não
sei
o
que
são
normas
de
direito
público
ou
direito
privado,
essa
é
uma
distinção
relevante
para
a
universidade,
não
é
uma
distinção
relevante
para
o
legislador,
não
me
parece
ser
a
melhor
forma.
Esta
formulação
legal,
no
entanto,
tem
esta
virtude
de
ser
suficientemente
ampla
para
abranger
a
maior
parte
dos
actos
administrativos
da
actualidade.
Há,
no
entanto,
uma
discussão
que
tem
surgido
a
propósito
deste
art.
e
que
encontram,
por
exemplo,
nas
lições
do
Prof.
Freitas
do
Amaral,
tal
como
encontram
em
parte
nas
considerações
do
Prof.
Sérvulo
Correia,
e
que
tem
a
ver
com
a
expressão
:
decisão
do
órgão
da
administração
pública.
A
decisão,
entende
o
Prof
Freitas
do
Amaral
na
segunda
edição,
implica
o
carácter
regulador
e
diz
que
se
fala
também
em
decisões
judiciais,
e
portanto
implica
aqui
a
regulação
do
direito,
como
argumento
temos
de
considerar
que
é
pobre,
há
decisões
judiciais
como
decisões
politicas
ou
administrativas,
a
decisão
em
si
é
apenas
a
forma
através
do
qual
o
órgão
se
exprime,
não
há
aqui
nenhuma
ideia
que
corresponda
à
definição
de
direito,
uma
decisão
politica
pode
ate
não
ter
nada
de
jurídico.
A
ideia
da
decisão
não
introduz
nenhuma
ideia
de
regulação,
a
decisão
judicial
define
o
direito,
a
decisão
administrativa
não
define
direito
nenhum,
e
portanto
não
há
nenhum
argumento,
com
todo
o
respeito,
que
resulte
desta
lógica
da
decisão.
Aquilo
que
se
pretendeu
quando
se
fez
o
código
foi
utilizar
uma
expressão
neutra.
Não
tem
carácter
regulador,
estamos
a
falar
apenas
de
uma
externalização
de
algo
que
corresponde
a
uma
manifestação
de
vontade,
uma
manifestação
de
ciência,
uma
manifestação
jurídica
de
um
órgão
público,
mais
nada.
E
portanto
recorrer
a
este
argumento
do
art.
120º,
como
faz
o
Prof
Freitas
do
Amaral,
a
ideia
do
acto
regulador
que
define
o
direito
aplicável
ao
particular
no
caso
concreto,
essa
ideia
assenta
numa
visão
que
já
era
ultrapassada
e
que
não
é
aquela
que
o
legislador
português
aceitou
no
quadro
deste
CPA.
É
preciso
dizer
também
que
esta
noção
era
compensada
pela
definição
de
acto
definitivo
executório,
e
que
é
uma
lógica
que
vem
de
Haurriou.
Manter
a
noção
ampla
continua
a
fazer
sentido
(…),
as
noções
restritas
não
cabem
na
letra
da
lei.
Para
além
disso
ainda
introduz
outros
elementos,
é
que
diz-‐se
“o
acto
que
vise
produzir
efeitos
jurídicos
numa
situação
individual
e
concreta”,
e
estas
duas
notas
a
individualidade
e
a
concretude
são
importantes,
designadamente
para
distinguir
o
acto
administrativo
do
regulamento.
Enquanto
que
o
acto
administrativo
é
individual
e
concreto,
o
regulamento
é
geral
e
abstracto.
Curiosamente
quando
se
fala
em
regulamento
na
nossa
ordem
jurídica
não
se
estabelece
nem
a
generalidade
nem
a
abstracção,
e
quando
o
legislador
do
CPA
regula
os
regulamentos
nenhuma
destas
características
é
enunciada.
Eu
tenho
defendido
por
contraposição
das
normas,
esta
que
trata
de
acto
administrativo
e
as
normas
que
se
referem
à
competência
regulamentar,
tenho
defendido
que,
pelo
facto
de
não
haver
nenhuma
referencia
ao
carácter
geral
e
abstracto
dos
regulamentos,
tudo
o
que
for
intermédio,
tudo
o
que
for
individual
e
abstracto
ou
geral
e
concreto
ainda
é
de
considerar
como
um
regulamento
e
não
como
um
acto
administrativo,
porque
este
é
que
tem
de
ser
individual
e
concreto,
o
que
resolve
muitos
problemas.
Em
síntese
esta
norma
do
art.
120º
do
CPA
é
uma
norma
que,
a
titulo
pedagógico,
adopta
uma
noção
ampla
de
acto
administrativo
e
da
minha
perspectiva
é
desta
noção
ampla
que
se
deve
partir.
Falta
indicar
notas
qualitativas
desta
noção
de
acto
administrativo,
não
na
lógica
da
definição
central.
E
portanto
tem
de
se
tratar
de
uma
actuação
praticada
no
âmbito
da
função
administrativa,
o
que
está
em
causa
não
tem
de
ser
um
órgão
administrativo
mas
tem
de
ser
no
exercício
da
função
administrativa,
pode
ser
um
órgão
administrativo
ou
um
privado,
e
esta
actuação
é
uma
decisão
que
se
destina
a
produzir
efeitos
jurídicos
num
caso
individual
e
concreto
e
é
preciso
acrescentar
duas
ou
três
notas,
que
nos
dias
de
hoje
se
tornaram
essenciais
para
caracterizar
o
acto
administrativo,
este
acto
administrativo
é
praticado
no
decurso
de
um
procedimento
que
se
destina
à
tomada
das
decisões
administrativas
mais
adequadas
e
mais
eficazes
e
que
este
acto
administrativo
é
um
acto
que
cria,
modifica
ou
extingue
relações
jurídicas
administrativas,
o
acto
administrativo
tem
uma
função
de
criar
uma
relação
que
mais
não
seja
de
natureza
procedimental,
mas
em
regra
esta
relação
procedimental
que
é
inaugurada
através
do
inicio
do
procedimento
corresponde
a
uma
relação
jurídica
substantiva
e
este
acto
que
cria,
modifica
ou
extingue
uma
relação
jurídica,
e
portanto,
do
ponto
de
vista
da
universidade,
eu
procurando
completar
do
ponto
de
vista
teórico
esta
noção
de
acto
administrativo
diria
que
se
trata
de
uma
decisão
tomada
no
quadro
da
função
administrativa
que
se
insere
num
procedimento,
que
visa
produzir
efeitos
jurídicos
numa
situação
individual
e
concreta
assim
dando
origem
à
criação,
modificação
ou
extinção
de
uma
relação
jurídica.
(…)
A
doutrina
alemã
lamenta-‐se
do
código
alemão
tem
uma
noção
restritiva
de
acto
regulador.
O
nosso
CPA
em
matéria
de
acto
administrativo
é
melhor
que
o
código
alemão.
23-‐04-‐2013
Em
primeiro
lugar
chamei-‐vos
à
atenção
relembrando
o
que
disse
na
aula
passada
para
haver
no
direito
administrativo
uma
diferenciação
entre
a
validade
e
eficácia
e
que
por
causa
disso
no
direito
Administrativo
haver
situações
de
acto
que
são
inválidos
mas
são
eficazes,
que
produzem
efeitos
e
virtualmente
se
se
tratar
de
um
acto
ilegal
mas
for
passível
de
uma
anulabilidade
de
produzir
efeitos
para
sempre,
apesar
de
ser
inválido
e
haver
outras
situações
em
que
há
actos
que
são
legais,
que
são
feitos
de
acordo
com
os
parâmetros
estabelecidos
na
lei,
mas
que
não
cumprem
os
requisitos
de
eficácia,
designadamente
não
foram
notificados
ou
publicados,
não
produzem
efeitos.
E
supostamente
há
uma
situação
em
que
as
duas
realidades
serão
coincidentes
de
um
acto
que
é
inválido
e
ineficaz
que
será
a
situação
específica
dos
actos
nulos
mas
como
veremos
na
aula
de
hoje
mesmo
o
modo
em
como
esta
questão
esta
colocada
não
é
integralmente
adequado
mas
isso
veremos
já
de
seguida.
Quanto
à
questão
propriamente
dita
da
ilegalidade
vimos
que
há
diferentes
condições
de
legalidade
dos
actos
administrativos,
essas
condições
referem-‐se
a
questões
de
competência,
a
questões
de
procedimento,
a
questões
de
forma
e
a
questões
materiais
e
que
no
direito
português
há
uma
tradição
de
identificar
estas
diferentes
ilegalidades
através
da
teoria
dos
vícios
do
acto
administrativo.
Da
minha
perspectiva,
como
estávamos
a
ver
na
aula
passada
esta
teoria
dos
vícios
do
acto
administrativo
que
surgiu
por
razões
históricas
hoje
em
dia
por
um
lado
não
é
necessária,
não
há
nenhuma
exigência
de
utilizar
os
actos,
os
vícios
do
acto
adinistrativo
para
invocar
a
ilegalidade
na
nossa
ordem
jurídica,
não
há
nenhuma
exigência
legal,
por
outro
lado
ela
é
ilógica
porque
a
qualificação
dos
vícios
do
acto
administrativo
não
é
feita
de
acordo
com
critérios
lógicos,
ela
é
feita
de
uma
realidade
que
nasceu
da
história
e
tem
a
ver
com
o
alargamento
das
possibilidades
de
conhecimento
jurisdicional
de
um
acto
administrativo.
Inicialmente
só
havia
uma
forma
de
invalidade
no
direito
francês,
no
direito
português
inicialmente
tudo
correspondia
ao
vício
do
excesso
de
poder,
que
depois
foi
transformado
em
usurpação
de
poderes,
continua
a
ser
um
vício
de
direito
francês,
em
Portugal
começou
a
ser
designado
usurpação
de
poder
ao
lado
começa
a
falar-‐se
de
competência,
depois
acrescenta-‐se
a
forma
e
depois
acrescenta-‐se
o
vício
do
poder
e
vício
de
violação
de
lei.
Ora
bem,
estes
cinco
vícios
que
eram
aqueles
que
constam
da
última
enumeração
legal
dos
vícios
que
é
dos
anos
90,
depois
disso
nenhuma
lei
e
portugal
fala
em
vícios
ou
estabelece
alguma
enumeração
legal.
Aquela
enumeração
tradicional
e
que
vigorou
nos
termos
da
lei
das
autarquias
locais
em
Portugal
até
aos
anos
90,
aquela
enumeração
legal
como
explica
da
minha
perspectiva
lapidalmente
o
Professor
Gonçalves
Pereira
é
ilógica
e
incompleta.
É
ilógica
porque
os
critérios
utilizados
não
são
relativos
a
aspectos
autónomos
do
acto
administrativo
e
portanto
há
vários
vícios
que
tem
a
ver
com
o
mesmo
aspecto
do
acto,
usurpação
de
poder
e
incompetência
têm
a
ver
com
o
vício
da
incompetência.
A
violação
de
lei
e
o
desvio
de
poder
tem
a
ver
com
o
aspecto
material
do
acto
administrativo
e
no
entanto
deu
origem
a
dois
vícios,
e
no
entanto
há
dois
vícios
relativos
a
um
outro
aspecto,
porque
o
chamado
vício
de
forma
abrange
quer
a
forma,
quer
o
procedimento.
Portanto
é
uma
distinção
que
não
assenta
em
critérios
lógicos
e
essa
ilogicidade
tem
a
ver
com
esta
realidade,
usurpação
de
poder
era
uma
incompetência
agravada,
uma
incompetência
agravada
em
que
o
órgão
saia
não
apenas
das
suas
competências
e
atribuições
como
saia
do
âmbito
da
função
administrativa,
invadia
o
poder
judicial,
praticando
um
acto
da
competência
do
tribunal
ou
invadia
o
poder
legislativo,
um
acto
que
estivesse
submetido
a
reserva
de
lei
e
portanto
era
uma
incompetência
agravada,
depois
em
competência
em
rigor
dava
origem
a
dois
vícios,
falava-‐se
em
incompetência
absoluta
por
falta
de
atribuições
quando
saia
da
pessoa
colectiva
ou
no
âmbito
do
Estado
quando
um
ministro
praticava
um
acto
da
competência
de
outro
ministro
a
incompetência
era
absoluta
ou
por
falta
de
atribuições,
quando
se
tratava
de
dois
órgãos
que
tinham
atribuições
comuns
designadamente
por
pertencerem
à
mesma
pessoa
colectiva,
a
incompetência
era
relativa
ou
por
falta
de
competência
e
portanto
em
rigor
temos
três
vícios
que
correspondem
ao
problema
da
competência.
Num
caso
usurpação
de
poder
e
nos
outros
dois
casos
incompetência
absoluta
ou
relativa.
Depois
havia
o
vício
de
forma,mas
como
isto
era
muito
pouco
ena
forma
não
cabia
apenas
a
manifestação
exterior
do
acto
ou
seja
o
modo
de
como
ele
se
apresenta
resolveu-‐se
incluir
neste
vício
de
forma
também
as
questões
de
procedimento
e
portanto
o
vício
de
forma
era
quanto
à
forma
em
sentido
estrito
e
quanto
ao
procedimento.
Ora
forma
e
procedimento
não
têm
nada
a
ver
uma
coisa
com
a
outra,
só
por
razões
históricas
e
tradicionais
é
que
podem
estar
associadas
no
mesmo
vício,
uma
coisa
é
a
forma
de
como
o
acto
de
externaliza
outra
coisa
é
o
modo
de
como
o
acto
é
produzido.
O
ato
pode
vir
ao
mundo
em
decreto,
que
é
a
forma
mais
solene
do
acto
administrativo,
que
tem
de
ser
promulgado
pelo
chefe
de
estado,
ou
pode
ter
a
forma
mais
normal
e
banal
que
é
a
do
despacho.
Ora
bem,
esta
realidade
que
depois
tem
graus
intermédios
como
a
portaria,
portaria
conjunta,
várias
formas
tem
a
ver
com
a
realidade
exterior
do
acto
isto
não
tem
nada
a
ver
com
as
regras
de
funcionamento
interno,
com
o
respeitar
a
audiência,com
o
ser
fundamentado,
enfim
é
uma
realidade
completamente
diferente
por
razões
históricas
considerando
que
havia
aquela
enumeração
legal
dos
vícios
alargou-‐se
o
vício
de
forma
para
abranger
também
o
procedimento,
mas
isto
é
a
prova
de
que
estamos
perante
uma
ilegalidade.
Depois
havia
dois
vícios
materiais
de
novo
que
tinham
a
ver
com
aspectos
materiais
mas
o
que
estava
em
causa
também
não
estava
a
ser
entendido
em
termos
lógicos,
por
um
lado
porque
é
só
um
aspecto
do
acto
e
depois
porque
a
distinção
não
era
adequada,
o
vício
de
desvio
de
poder
dizia-‐se
que
era
o
vício
específico
do
poder
discricionário
que
só
podia
existir
no
poder
discricionário,
mas
como
há
poderes
discricionários
em
todos
os
actos
o
vício
de
desvio
de
poder
pode
existir
sempre
nos
aspectos
discricionários
do
acto
que
está
em
causa
e
portanto
isso
era
um
disparate
colocar
a
questão
nesses
termos.
O
desvio
de
poder
correspondia
à
preterição
e
à
realização
através
de
um
acto
administrativo
de
um
fim
diferente
do
fim
legal,
numa
situação
em
que
o
fim
prosseguido
era
diferente
do
fim
legal,
poderia
ser
por
uma
razão
de
um
fim
de
interesse
privado,
ao
que
o
Professor
Freitas
do
Amaral
chama
de
corrupção
ou
podia
ser
um
outro
fim
de
interesse
público
que
não
era
o
fim
legal
e
aqui
o
primeiro
caso
que
na
jurisprudência
portuguesa
foi
reconhecido
de
um
acto
administrativo
discricionário
derivado
de
um
caso
de
desvio
de
poder
era
um
caso
deste
género,
o
caso
Maria
da
Maria
Conceição
nos
anos
60,
que
era
uma
enfermeira
da
maternidade
Alfredo
Da
Costa
que
não
era
muito
zelosa
no
cumprimento
dos
seus
deveres
funcionais,
chegava
tarde
ao
serviço,
era
respondona,
enfim
não
era
o
modelo
de
funcionário
e
nessa
altura
houve
como
de
vez
em
quando
há
assim
uns
casos
de
opinião
pública
de
um
escânadlo
por
causa
da
troca
de
bebés
,
uma
mãe
que
viu
a
sua
criança
trocada
por
outra,
e
então
o
director
da
maternidade
achou
que
como
tinha
ali
aquela
senhora
enfermeira
que
enfim
não
era
muito
zelosa
podia
aproveitar
para
dar
uma
satisfação
à
opinião
pública,
o
melhor
era
despedir
a
senhora
e
para
a
opinião
pública
ela
ficaria
como
responsável
da
troca
de
bebés
quando
ela
apenas
tinha
chegado
tarde
ao
serviço.
E
o
tribunal
administrativo
e
bem
veio
dizer
que
o
director
da
maternidade
Alfredo
da
Costa
tinha
como
tarefa,
no
âmbito
das
suas
atribuições
defende
a
honra
da
maternidade,
agora
este
interesse,
que
era
o
interesse
legal
não
era
o
interesse
que
ele
tinha
prosseguido
naquele
acto,
ou
melhor
este
interesse
que
ele
tinha
prosseguido
naquele
acto
e
que
era
um
interesse
legal
não
era
um
interesse
que
levava
à
punição
porque
ela
só
podia
ser
punida
pelas
faltas
cometidas
no
quadro
da
relação
de
serviço
não
para
dar
uma
satisfação
à
opinião
pública,
ela
podia
ter
uma
repreensão,
ou
poderia
ter
uma
suspensão
por
não
cumprir
as
suas
exigências
de
serviço
era
para
isso
que
existia
o
poder
disciplinar,
destina-‐se
a
punir
faltas
ao
serviço,
esse
poder
disciplinar
não
pode
servir
para
dar
uma
satisfação
à
opinião
pública
se
servisse
como
no
caso
estava-‐se
a
prosseguir
um
fim
de
interesse
público
de
forma
ilegal
porque
embora
o
director
pudesse
fazer
as
duas
coisas,
pudesse
despedir
a
funcionária
e
pudesse
defender
a
honra
do
instituto
da
maternidade,
não
poderia
fazer
as
duas
coisas
através
daquele
acto
porque
o
exercício
do
poder
disciplinar
está
destinado
a
fins
específicos
e
portanto
foi
o
primeiro
caso
em
que
um
tribunal
português
veio
a
considerar
esta
situação
do
desvio
de
poder,
mas
por
um
lado
esta
situação
é
muito
limitada
e
não
é
verdade
que
este
vício
só
exista
em
actos
discricionários,
desde
logo
sabemos
que
não
há
discricionários
nem
vinculados
e
portanto
o
vício
do
poder
existe
em
todos
os
aspectos
discricionários
de
todo
o
poder
seja
ele
qual
for.
Por
outro
lado
os
poderes
discricionários
na
medida
em
que
têm
sempre
aspectos
vinculados
também
dava
origem
ao
vício
de
violação
de
lei,
porque
se
por
exemplo
houvesse
uma
preterição
de
um
princípio,
o
princípio
da
imparcialidade,
o
princípio
da
justiça
ou
o
princípio
da
proporcionalidade,
a
ilegalidade
desse
acto
praticado
no
uso
do
poder
discricionário
e
relativamente
a
um
aspecto
que
tinha
a
ver
com
o
exercício
do
poder
discricionário
na
medida
em
que
não
respeitava
uma
vinculação
legal
caia
no
vício
de
violação
de
lei.
E
violação
de
lei
que
correspondia
ao
vício
relativo
ao
objecto
ou
ao
conteúdo
do
acto
acabava
por
ser
um
vício
caixote
do
lixo
onde
cabia
tudo
porque
em
última
análise
violação
de
lei
confundia-‐se
com
violação
da
lei,
e
portanto
violação
da
lei
tanto
podia
ser
incompetência
como
vícios
de
forma
como
usurpação
de
poder,
ou
seja,
nada
disto
era
lógico.
Primeira
questão
os
diferentes
aspectos
do
acto
administrativo
não
davam
origem
apenas
a
um
único
vício
e
não
havia
um
critério
lógico
de
determinação
dos
vícios.
É
algo
que
disse
logo
Professor
Gonçalves
Pereira
nos
anos
60,
mas
para
além
disso
esta
enumeração
também
era
incompleta
porque
a
admitir
que
ela
existia
e
que
fazia
sentido
esta
descomposição
da
legalidade
nestas
fatias,
nestas
cinco
fatias
então
havia
outras
fatias
que
era
preciso
criar,
o
Professor
Gonçalves
Pereira
na
altura
falava
nos
vícios
da
falta
de
causa.
No
fundo
o
que
ele
queria
dizer
era
os
vícios
relativos
à
formação
da
vontade
da
autoridade
administrativa,
o
erro,
o
dolo,
a
coacção
que
poderiam
gerar
a
falta
de
causa,
é
verdade
que
isso
faltava,
mas
também
faltava
um
procedimento,
faltava
outros
aspectos
que
eram
essenciais
do
ponto
de
vista
do
acto
administrativo
e
portanto
se
esta
distinção
é
ilógica
e
incompleta
e
se
nenhuma
lei
em
Portugal
hoje
exige
eu
não
acho
que
a
devemos
continuar
a
usar,
devemos
continuar
a
usar
a
teoria
dos
vícios
e
portanto
eu
não
uso
a
teoria
dos
vícios,
eu
identifico
as
ilegalidades
em
orgânicas,
procedimentais,
formais
e
materiais
isso
identifica
as
ilegalidades
e
é
isso
que
no
quadro
da
nossa
ordem
jurídica
é
exigível,
quer
a
Constituição,
quer
o
Código
do
Contencioso
Administrativo
obrigam
à
identificação
do
pedir
e
da
causa
de
pedir.
O
particular
alega
a
ilegalidade
do
acto
e
os
aspectos
da
ilegalidade
que
estão
a
ser
violados,
formais,
materiais,
procedimentais,
orgânicos,
mais
do
que
isso
não
é
obrigado
a
fazer,
no
entanto
há
uma
práctica
em
que
os
advogados
continuam
a
identificar
os
vícios
e
os
juízes
continuam
a
decidir
com
base
na
teoria
dos
vícios,
também
não
vem
mal
ao
mundo
por
fazerem
isso
desde
que
saibam
que
estão
a
utilizar
uma
distinção
que
é
ilógica
e
incompleta
e
desnecessária
e
portanto
enfim
é
uma
práctica
que
da
minha
perspectiva
deveria
ter
acabado
mas
não
acabou.
É
um
daqueles
dados
misteriosos
da
realidade
jurídica,
eu
percebo
quando
olho
para
traz,
quando
era
jovem,
estudante
de
direito
e
tinha
um
professor
que
já
tinha
passado
por
vários
séculos
e
ele
dizia
quando
eu
dizia
qualquer
coisa
assim
mais
exaltada,
ele
olhava
para
mim
com
ar
de
avozinho
e
dizia:
“meu
filho
isto
demora
muito
tempo
“,
e
isto
do
demora
muito
tempo
realmente
é
uma
realidade
que
serve
para
o
direito
administrativo,
não
é
absolutamente
nada
necessário
falar
e
indícios,
contudo
toda
a
gente
continua
a
falar
e
vão
continuar
a
falar
durante
mais
uns
anos
e
depois
a
seguir
passa,
porque
as
coisas
demoram
tempo,
não
há
razão
nenhuma,
não
há
necessidade
nenhuma,
no
entanto
quando
eu
faço
um
parecer
explico
isso
que
há
aqui
uma
ilegalidade
material
e
para
aqueles
que
utilizam
a
teoria
dos
vícios
isto
chamar-‐se-‐ia
desvio
de
poder,
no
entanto
não
é
preciso,
mas
ponho
lá.
Agora,
não
é
absolutamente
necessário
e
não
é
sequer
lógico
ou
adequado,
mas
depois
há
outro
problema
que
pode
resultar
deste,
que
é
o
de
saber
se
a
ilegalidade
para
este
efeito
corresponde
à
ideia
de
invalidade,
porque
há
aqueles
que
como
eu
consideram
que
a
ilegalidade
é
uma
realidade
ampla
que
abrange
tudo
aquilo
que
tem
a
ver
com
a
contrariedade
ao
direito
nos
termos
da
norma
do
CPA
que
já
conhecemos,
nos
termos
do
princípio
da
juridicidade
e
há
aqueles
que
falam
de
fontes
autónomas
de
invalidade,
por
exemplo
o
Professor
Freitas
do
Amaral
diz
que
a
invalidade
corresponde
a
três
fontes
autónomas
de
invalidade,
por
um
lado
há
ilegalidade
em
sentido
restrito,
depois
há
a
violação
dos
vícios
da
vontade
e
por
último
há
a
ilicitude,
desrespeito
pelos
direitos
subjectivos.
Ora
bem,
estas
três
manifestações
da
minha
perspectiva
são
três
manifestações
de
ilegalidade,
ilegalidades
materiais,
quando
a
administração
actua
a
sua
vontade
tem
de
ser
determinada
em
termos
correctos,
tem
de
ser
determinada
sem
vícios
da
vontade
e
se
há
um
vício
da
vontade,
há
uma
ilegalidade
material
do
acto
administrativo
e
para
que
isso
seja
assim
não
é
preciso
que
haja
uma
lei
expressa
a
referir
isso,
isso
decorre
dos
princípios
gerais
da
ordem
jurídica,
isso
decorre
das
regras
da
legalidade
enquanto
juridicidade,
de
resto
aqui
o
Professor
Marcelo
Caetano
tinha
razão,
o
Professor
Marcelo
Caetano,
quando
eu
comecei
a
estudar
direito
administrativo
até
citava
um
grego,
um
grego
que
toda
a
gente
gostava
de
citar
nas
orais,
hoje
nas
orais
gostamos
de
citar
muitos
autores
estrangeiros,
mas
na
altura
não
era
habitual
e
no
manual
do
Professor
Marcelo
Caetano
citava-‐se
o
Citazin
o
Pol,
é
um
autor
que
fez
carreira
em
França,
mas
que
era
grego
e
que
explicava
que
um
vício
da
vontade
no
âmbito
da
formação
da
vontade
da
administração
deveria
ser
formada
em
termos
correctos
e
adequados
correspondia
à
violação
da
lei
era
uma
ilegalidade
e
acho
que
ambos
têm
razão,
não
acho
que
se
justifique
estara
falar
de
uma
fonte
autónoma
que
seria
os
vícios
do
acto
administrativo
enquanto
vícios
da
vontade
e
portanto
tudo
isso
cabe
na
legalidade.
Por
último
a
ideia
da
ilicitude,
tmbém
da
minha
perspectiva
não
faz
sentido,
é
uma
realidade
que
vem
do
direito
italiano
e
a
ideia
de
que
o
acto
pode
ser
ilícito
sem
ser
ilegal
tem
a
ver
com
uma
treta
que
falaremos
a
seguir
na
teoria
da
legalidade
dos
actos
administrativos
que
é
a
ideia
da
convalidação,os
actos
nunca
se
convalidam,
os
actos
que
são
ilgais,
sãosempre
ilegais
até
ao
fim,
não
há
nenhum
milagre
das
rosas,
não
se
transformam
em
legais
ao
fim
de
um
ano,
nem
ao
fim
de
dois
ou
vinte
ou
cinquenta.
Continuam
a
ser
ilegais
podem
é
já
não
ser
impugnados
agora
continuam
a
ser
ilegaise
se
continuam
a
ser
ilegais
pode
haver
sempre
um
pedido
de
indemnização
por
responsabilidade
civil
que
decorra
da
ilegalidade
do
acto,
não
é
preciso
nestes
casos
dizer
que
ele
já
não
é
ilegal,
mas
ele
é
ilícito
e
portanto
gera
a
responsabilidade
civil
na
mesma,
é
claro
que
gera
em
qualquer
dos
casos
e
portanto
no
quadro
da
ordem
jurídica
portuguesa
hoje,
em
que
que
a
responabilidade
civil
é
um
pedido
que
pode
ser
feito
em
simultâneo
ou
autonomamente
em
relação
ao
pedido
de
invalidade,
não
faz
sentido
estar
a
distinguir
esta
causa
autónoma
de
invalidade
e
portanto
se
está
em
causa,
como
diz
o
Professor
Freitas
do
Amaral
o
desrespeito
de
um
direito
subjetivo,
o
desrespeito
pelo
direito
subjectivo
é
uma
ilegalidade,
de
resto
há
um
princípio
constitucional
do
respeito
pelos
direitos
dos
particulares,
se
a
administração
desrespeita
este
princípio
está
a
cometer
uma
ilicitude
segundo
a
expressão
do
Professor
Freitas
do
Amaral,
mas
esta
ilicitude
é
também
uma
ilegalidade
e
portanto
da
minha
prespectiva
não
é
necessário
estar
a
distinguir
fontes
autónomas
de
invalidade
e
portanto
eu
entendo
que
invalidade
e
ilegalidade
são
realidades
sinónimas.
Ora
bem,
para
terminar
a
questão
da
legalidade
e
da
validade
falar
das
sanções
que
a
ordem
jurídica
estabelece
para
os
actos
administrativos
e
esta
é
também
uma
matéria
polémica
e
àcerca
do
qual
enfim
como
todas
no
direito
administrativo,
mas
àcerca
da
qual
há
algumas
questões
que
merecem
ser
discutidas
.
Em
primeiro
lugar,
o
Código
de
Procedimento
nos
artigos
133º
e
seguintes
parece
ter
reduzido
as
questões
das
sanções
aplicáveis
aos
actos
administrativos
apenas
a
duas,
à
nulidade
e
à
anulabilidade
e
não
foi
uma
escolha
inocente,
deixem-‐me
que
vos
diga
que
foi
uma
escolha
muito
pensada
e
que
tinha
a
ver
com
simplificação
da
invalidade
dos
actos
administrativos
e
eu
devo
dizer
que
isto
me
parece
uma
boa
solução,
em
parte
sou
responsável
por
ela,
porque
não
me
parece
que
houvesse
vantagem
em
estar
a
multiplicar
figuras
que
conduziam
exactamente
ao
mesmo,
a
inexistência.
A
inexistência
era
uma
figura
que
nasceu
do
direito
da
família
para
salva
guardar
aquelas
situações
em
que
não
havia
impedimento
mas
por
haver
duas
pessoas
do
mesmo
sexo
dizia-‐se
que
o
casamento
era
inexistente,
é
algo
que
já
não
vale
nos
dias
de
hoje,
acabei
de
ouvir
a
notícia
de
que
em
França
houve
hoje
mesmo
a
aprovação
do
casamento
entre
homosexuais
e
portanto
nem
mesmo
no
direito
da
família
este
argumento
pode
valer
alguma
coisa
e
no
direito
administrativo
isto
equivale
apenas
a
dizer
que
o
acto
a
que
faltasse
algum
elemento
essencial
era
um
acto
inexistente.
Isto
tinha
a
ver
com
uma
visão
francesa
que
morreu
também
de
mau
casamento
que
era
a
visão
francesa
de
considerar
que
a
nulidade
era
tipificada
e
que
as
nulidades
não
podiam
resultar
de
cláusula
geral.
Ora,
hoje
em
dia
isto
não
é
verdade
e
o
legisladordo
código
de
procedimento
deliberadamente
definiu
os
actos
nulos
através
de
uma
cláusula
geral
e
esta
cláusula
geral
do
nº1
do
artigo
133º
destina-‐se
precisamente
a
acabar
com
a
inexitência
porque
diz
que
são
nulos
os
actos
aos
quais
faltem
os
elementos
essenciais
ou
seja,
os
actos
que
a
doutrina
que
falava
da
inexistência
considerava
que
correspondia
a
uma
categoria
à
parte
e
portanto
este
artigo
133º
/1
liquidou
a
figura
da
inexistência
e
da
minha
prespectiva
bem.
O
que
está
em
causa
é
uma
nulidade,
é
um
acto
que
não
tem
aptidão
para
a
produção
de
efeitos
jurídicos,
não
faz
sentido
estra
a
distinguir
os
elementos
que
são
essenciais
ou
que
não
saão
essenciais,
não
faz
sentido
introduzir
essa
distinção.
Há
dois
regimes
jurídicos
primordiais,
um
regime
é
o
dos
actos
nulos,
aqueles
que
à
partida
não
produzm
efeitos,
o
regime
dos
actos
anuláveis
é
o
outro,
os
actos
que
produzem
efeitos
até
serem
anulados
embora
depois
tenham
o
efeito
retroactivo,
saõ
estes
os
dois
regimes
base,
não
há
que
introduzir
complicações
desnecessárias
e
portanto
da
minha
prespectiva
de
acordo
com
a
nossa
ordem
jurídica
os
chamados
actos
inexistentes
são
actos
nulos,
são
actos
que
têm
o
mesmo
regime
jurídico
da
nulidade.
Mas
para
lém
desta
questão
ainda
há
uma
situação
que
agora
surgiu,
e
que
eu
sei
que
já
estiveram
a
discutir
em
aula
prácticas
e
que
é
a
questão
da
simples
irregularidade,
estou
a
usar
uma
expressão
que
o
professor
Marcelo
Rebelo
de
Sousa
utiliza.
E
aqui
há
se
quiserem
duas
prespectivas
para
olhar
para
um
acto
administrativo
e
para
saber
se
nesse
acto
administrativo
é
possível
salvar
alguma
coisaquando
se
faz
um
juízo
ácerca
da
validade
ou
legalidade
do
acto,
historicamente
e
no
quadro
da
teoria
escola
de
Lisboa
que
era
formalista
e
que
era
positivista
entendia-‐se
que
todas
as
ilegalidades
eram
iguais
e
que
não
havia
de
estar
a
distinguir
entre
ilegalidades
formais
de
ilegalidades
substantivas
e
que
uma
ilegalidade
era
uma
ilegalidade
e
ponto
final.
E
não
se
admitia
esta
ideia
de
existência
de
irregularidade,
se
a
lei
falava
numa
exigência
legal
essa
exigência
tinha
de
ser
cumprida,
essa
exigência
era
e
sempre
essencial.
A
escola
de
coimbra
no
entanto,
por
influência
do
direito
alemão
começou
a
dizer
que
nem
todas
as
ilegalidades
eram
iguais
e
que
quando
estava
em
causa
assim
um
acto
administrativo
que
corresponda
ao
exercício
da
legalidade
e
que
se
tratasse
de
uma
ilegalidade
formal
e
menos
importante
que
ela
enfim,
apesar
de
existir
deveria
permitir
que
o
acto
administrativo
se
pudesse
salvar
e
esta
construção,
este
princípio
de
aproveitamento
dos
actos
administrativos
ilegais
que
foi
introduzido
como
vos
disse
pela
escola
de
Coimbra
e
no
quadro
da
influência
alemã
nos
últimos
tempos
passou
a
ter
alguma
correspondência
e
a
ser
concretizada
pelos
tribunais
portugueses
que
vieram
qualificar
questão
de
saber
se
algumas
ilegalidades
poderiam
ser
consideradas
como
não
essenciais
e
ao
ser
consideradas
como
não
essenciais
deviam
permitir
a
salvação
do
acto.
Eu
diria
que
a
posição
correcta
se
coloca
a
meio
caminho
entre
estas
e
que
me
parece
adminissível
que
em
alguns
casos
se
possa
a
salvar
o
acto,
quando
estejamos
perante
uma
ilegalidade
formal
e
que
não
seja
essencial,
mas
isso
só
pode
acontecer
naminha
prespectiva
quando
essa
ilegalidade
não
tenha
cobertura
constitucional,
não
corresponda
a
um
princípio
constitucional
a
um
direito
fundamental,
o
que
significa
que
não
pode
haver
o
salvamento,
a
recuperação
de
actos
administrativos
em
que
falte
o
direito
de
audiência,
em
que
não
exista
participação,
em
que
não
haja
fundamentação,
em
que
não
se
verifiquem
todas
as
condições
formais
indicadas
na
constituição,
se
há
uma
cobertuta
constitucional
para
aquela
ilegalidade
formal,
ela
só
pode
ser
considerada
essencial.
Outra
realidade
poria
em
causa
a
lógica
da
administração
pública,
poria
em
causa
a
vinculação
das
entidades
públicas
por
direitos
fundamentais
e
portanto
eu
acho
que
quer
a
jurisprudência,
quer
a
escola
de
coimbra
têm
exagerado
no
âmbito
do
aproveitamento,
porque
têm
admitido
inix
tremis
que
alguns
destes
casos
possam
ser
aproveitados,
agora
dito
isto,
também
admito
um
pouco
à
semelhança
do
que
faz
o
Professor
Marcelo
Rebelo
de
Sousa
e
o
Dr.
André
Salgado
que
em
determinados
casos
em
que
a
lei
não
faça
muita
força
da
exigência
legal
formal
que
está
em
causa,
tem
de
ser
uma
ilegalidade
meramente
formal,
tem
de
ser
um
daqueles
casos
em
que
a
lei
no
âmbito
da
interpretação
não
diga
claramente
que
se
trate
de
uma
ilegalidade
material,
de
um
ilegalidade
essencial
e
tratando-‐se
de
um
caso
que
não
corresponde
nem
a
nenhum
direito
fundamental
nem
a
nenhum
princípio
costitucional,
aí
não
me
choca
a
ideia
de
que
possa
haver
um
princípio
de
aproveitamento
material
do
acto
administrativo
mas
tem
de
ser
limitado
e
o
limite
passa
por
estas
condições
e
parece-‐me
altamente
criticável
a
práctica
que
os
tribbunais
têm
feito.
Surgiu
primeiro
no
domínio
dos
contratos
e
agora
também
já
é
utilizado
no
domíio
dos
actos
administrativos
de
um
aproveitamento
material
de
acto
que
vai
para
além
destas
situações
e
que
permite
a
trasformação
das
ilegalidades
essenciais
em
ilegalidades
acidentais
e
que
permite
que
o
acto
seja
salvo.
A
admitir
essa
possibilidade
coisa
que
não
me
choca,
ela
tem
de
ser
limitada
em
casos
que
a
lei
permita
e
em
casos
em
que
a
constituição
autorize
e
não
pode
nunca
pôr
em
causa
nem
os
direitos
fundamentais
nem
os
princípios
constitucionais.
E
portanto,
se
quiserem
para
além
das
duas
dimensões
da
nulidade
e
da
anulabilidade
podemos
ainda
que
a
título
excepcional
e
não
a
título
geral
falar
em
irregularidade
dos
actos
administrativos
para
estas
situações
que
permitem
a
sua
recuperação
em
termos
de
salvamento.
Mas
eu
diria
que
apesar
de
tudo,
o
legislador
deveria
dar
um
passo
neste
sentido
e
que
o
legislador
no
âmbito
da
reforma
que
está
em
curso
do
procedimento
deveria
também
ocupar-‐se
desta
situação
no
âmbito
da
realidade
que
está
em
causa,
portanto
deveria
ocupar-‐se
desta
questão.
Uma
outra
questão
e
um
outro
problema
que
surge
quando
se
fala
da
distinção
entre
actos
nulos
e
anuláveis
que
é
o
núcleo
desta
questão
de
inavlidade,
destas
sanções
que
estão
em
causa,
é
o
problema
de
saber
se
alguma
sanção
regra,
porque
a
lógica
tradicional
era
dizer
que
a
sanção
regra
do
direito
administrativo
era
a
anulabilidade,
com
todo
o
respeito
eu
acho
que
isso
é
um
disparate,
eu
diria
que
não
há
nenhuma
sanção
regra
e
isso
resulta
do
modo
em
como
o
código
do
procedimento
encarou
a
nulidade.
Em
primeiro
lugar
a
nulidade
é
definida
através
de
uma
cláusula
geral
e
não
através
de
uma
lógica
de
números
cláusulos,
não
é
a
lógica
francesa
que
tinha
dado
origem
à
inexistência
é
uma
realidade
aberta
que
permite
que
qualquer
ilegalidade
grave
gere
nulidade.
Depois
porque
o
Código
no
nº2
deste
artigo
133º
quando
exemplifica
os
casos
de
actos
nulos
exemplifica
estes
casos
em
termos
que
são
ampliativos
e
em
termos
que
permitem
que
todas
as
ilegalidades
consoante
a
sua
gravidade
possam
gerar
nulidade
ou
anulabilidade
se
reparem
não
só
são
amplos
e
variados
estes
casos
como
eles
permitem
que
todas
as
ilegalidades
sem
excepção
se
forem
graves
naquele
caso
concreto
possam
gerar
anulidade,
vejamos
a
lista
que
aqui
aparece.
Primeio
aparece
uma
referência
a
um
vício,
só
um
está
isolado,
não
há
nenhuma
lista,
mas
está
aqui
usupação
de
poder
é
o
único,
o
legislador
nem
sequer
acreditava
na
lista,
porque
são
os
casos
da
usurpação
de
poder,
os
casos
em
que
há
a
violação
do
princípio
da
separação
de
poder,
violar
a
separação
de
poderes
é
um
princípio
constitucional
essencial,
o
acto
tinha
de
ser
nulo.
Depois
fala-‐se
em
caos
de
incompetência,
incompetências
graves,
incompetências
que
o
que
está
em
causa
é
práctica
de
actos
fora
das
atribuições
ou
do
órgão
ou
da
pessoa
colectiva,
mas
depois
reparem
nos
outros
exemplos
que
ainda
são
mais
ampliativos,
os
actos
cujo
objecto
seja
impossível,
inintiiligivel
ou
constituam
crime.
Objecto
impossivel
é
algo
que
tem
um
âmbito
de
aplicação
muito
grande,
designadamente
aplicando
os
critérios
do
direito
civil
da
teoria
geral
do
direito
ao
direito
administrativo,
e
o
que
não
falta
no
direito
administrativo
o
que
não
falta
são
direitos
inintiligíveis,
alguns
são
tão
inintiligíveis
que
se
tornam
inintiligíveis
por
causa
disso.
Depois,
constituam
um
crime
em
face
da
nossa
panóplia
de
crimes
também
temos
aqui
uma
cláusula
muito
ampla,
depois
temos
os
atos
que
ofendam
o
conteúdo
essencial
de
um
direito
fundamental,
e
o
que
é
que
não
é
direito
fundamental
na
nossa
ordem
jurídica?
Onde
há
direitos,
liberdades
e
garantias,
direitos
sociais
e
económicos
e
culturais,
em
que
há
direitos
de
natureza
procedimental,
em
que
há
um
princípio
de
cláusula
aberta
em
matéria
de
direitos
fundamentais,
esta
é
uma
cláusula
de
grande
expansibilidade,
e
é
uma
cláusula
de
alargamento
da
nulidade
dos
actos
administrativos,
depois
os
actos
sob
coacção,
os
actos
que
careçam
em
absoluto
de
forma
legal
ou
seja,
a
forma
quando
exige
de
todo
o
que
é
um
argumento
a
favor
da
essencialidade,
é
um
argumento
contra
a
teoria
de
coimbra
que
os
tribunais
têm
utilizado,
a
carência
em
absoluta
de
forma
legal
gera
anulidade
do
acto
administrativo.
As
deliberações
de
órgãos
colegiais
em
que
não
haja
quórum
ou
tomadas
tumoltuosamente
as
decisões
que
ofendam
o
caso
julgado
e
os
actos
consequentes
de
actos
ilegais,
ou
seja,
temos
um
acto
que
é
anulável,
mas
se
há
um
acto
que
é
consequente
desse
acto
anulável,
foi
praticado
a
seguir
ao
acto
anulável,
esse
acto
é
nulo.
Ora
bem,
depois
de
ler
isto
ainda
alguém
pode
dizer
no
seu
perfeito
juízo
que
a
anulabilidade
é
a
solução
regra
na
nossa
ordem
jurídica?
Não
é.
Não
só
há
uma
cláusula
geral
ampliativa
como
a
exemplificação
é
extremamete
ampliativa
e
portanto
eu
diria
que
não
há
regra
nenhuma.
Faz
lembrar
aquele
anúncio
da
marca
do
uísqui,
a
garrafa
está
meia
cheia
ou
meia
vazia
depende
da
hora
da
noite,
da
companhia,
do
espírito
que
se
está
a
ter,
da
conversa,
depende
de
várias
circunstâncias,
nuns
casos
está
meia
cheia
noutros
está
meia
vazia.
No
direito
administrativo
também
anulabilidade
ou
nulidade
são
a
regra
consoante
a
realidade
que
esteja
em
causa.
A
análise
da
invalidade
do
acto
administrativo
tem
de
ser
feita
em
concreto,
se
há
uma
ilegalidade
grave
nos
termos
dessa
cláusula
geral
ela
deve
corresponder
à
nulidade
do
acto
administrativo.
Por
último
a
questão
dos
efeitos,
o
código
no
artigo
134º
e
nouma
lógica
de
simplificação
distingue
basicamente
os
actos
nulos
dos
anuláveis
dizendo
que
os
primeiros
não
produzem
quaiquer
efeitos
jurídicos,
os
segundo
produzem
efeitos
jurídicos
até
serem
anulados.
Isto
vale
em
termos
gerais,
mas
isto
também
não
é
muito
rigoroso,
aliás
o
próprio
legislador
no
nº
3
deste
artigo
134º
vem
dizer
que
os
actos
nulos
podem
produzir
efeitos
de
facto
e
portanto
a
questão
não
é
não
produzir
efeitos,
a
questão
é
produzir
efeitos
válidos,
é
ter
aptência
para
a
produção
jurídica
de
efeitos.
O
acto
nulo
não
tem
essa
potencialidade,
não
significa
que
não
venha
a
produzir
efeitos
e
que
esses
efeitos
nos
termos
do
nº3
não
tenham
de
ser
salvaguardados
designadamente
quando
estão
em
causa
direitos
de
terceios
ou
situações
de
terceiros.
O
professor
Rogério
Soares
contava
nas
aulas
a
históra
do
capitão
de
caparnica
em
que
havia
um
capitão
que
durante
todo
o
filme
age
em
termos
normais
e
no
final
descobre-‐
se
que
era
uma
fraude,
que
não
era
capitão
e
no
entanto
tinha
ganho
várias
guerras,
várias
batalhas
e
tinha
uma
carreira
gloriosa,
e
estes
actos
praticados
numa
vida
inteira
tinham
de
ser
salvaguardados,
não
pôr
em
causa
nem
as
batalhas
nem
as
guerras,
nem
as
ordens
que
ele
tinha
dado
por
muito
que
fossem
ilegais
e
o
mesmo
se
diga
dum
falso
médico,
de
um
falso
juiz,
se
um
juiz
pasa
40
anos
da
sua
vida
a
emitir
sentenças
e
que
se
descobre
que
lhe
faltou
a
cadeira
de
direito
administrativo
quandoele
ia
concorrer
para
o
supremo
tribunal
administrativo,
fatou-‐lhe
apeas
essa
cadeira
no
currículo,
que
foi
furjado,
depois
é
preciso
salvaguardar
todas
as
sentenças
que
ele
emitiu
até
aí,
porque
os
desgraçados
que
tiveram
o
julgamento
há
30
anos,
que
já
goza
de
caso
julgado
não
podem
ser
afectados
por
essa
situação.
E
portanto
é
exagerado
dizer
que
o
acto
não
produz
efeitos
jurídicos,
o
acto
não
tem
é
aptência
para
a
produção,
mas
pode
produzir
efeitos
de
facto.
Ora
bem,
esta
diferença
essencial
ter
ou
não
aptência
para
a
produção,
epois
dá
origem
a
outras
difeenças
secundárias
que
existem
e
que
são
correctas,
por
exemlo
no
âmbito
da
relação
hierárquica,
se
a
ordem
corresponde
a
um
acto
nulo,
não
há
dever
de
obediência,
se
corresponde
a
um
acto
anulável
há
o
dever
e
obediência
embora
o
sub-‐alterno
possa
pedir
a
confirmação
por
escrito.
No
âmbito
das
relações
com
os
particulares,
se
o
acto
é
nulo,
o
particular
goza
de
direito
de
resistência,
embora
o
direito
da
resistência
contra
a
polícia
não
convêm,
embora
contra
outra
autoridae
administrativa
não
teha
normalmente
problema,
quanto
á
polícia
convêm
ter
algum
cuidado
fáctico
não
jurídico,
enquanto
que
não
há
direito
de
resistência
se
o
acto
for
meramente
anulado
e
portanto
aí
o
particular
tem
de
cumprir
e
depois
anula
e
a
ideia
de
que
há
um
prazo
para
esta
situação,
porque
o
acto
nulo
não
tem
aptência
para
a
produção
de
efeitos
jurídicos,
esta
nulidade
pode
ser
declarada
a
todo
o
momento,
enquanto
que
o
acto
anulável
precisamente
porque
vai
produzir
efeitos
há
umprazo
de
um
ano
que
dentro
do
qual
essa
invalidade
pode
ser
suscitada,
mas
isto
não
significa
que
este
efeito
de
natureza
processual
corresponda
a
um
milagre
das
rosas
em
que
o
acto
inválido
se
transformaria
em
válido
ao
fim
de
um
ano,
não
há
nenhuma
convalidação
do
acto
administrativo,
na
nossa
ordem
jurídica
entende-‐se
e
bem
que
a
qualquer
momento
o
juiz
pode
conhecer
da
invalidade
de
um
acto
administrativo
impugnável,
ou
seja,
um
acto
administrativo
para
além
do
prazo
de
um
ano,
é
uma
regra
que
foi
produzida
pelo
artigo
38º
do
código
do
processo
e
que
afasta
a
ideia
da
convalidação.
A
convalidação
não
é
nenhuma
diferença
no
quadro
da
teoria
dos
actos
administrativos,
não
há
nenhum
efeito
convalidatório
num
acto
anulado,
o
acto
era
ilegal
continua
a
ser
ilegal
para
todo
o
sempre
e
deixem-‐me
dar
um
exmplo
que
foi
aquele
que
na
nossa
ordem
jurídica
veio
a
chamar
a
atenção
para
este
facto,
houve
uma
greve
universitária
nos
tempos
do
antigo
regime
e
essa
greve
universitária
depois
foi
acompanhada
por
uma
greve
dos
funcinários
públicos
e
o
governo
estabeleceu
e
o
governo
estabeleceu
como
regra
que
todas
as
pessoas
que
tinham
faltado
naquele
dia
deveriam
ser
punidas
através
de
uma
falta
disciplinar,
quer
a
falta
fosse
justificada
quer
não
tinham
uma
sanção
disciplinar
e
os
particulares
afectados
por
esse
acto
que
aconteceu
nos
aos
60
e
no
ínicio
dos
70,
os
particulares,
uns
não
souberam
que
tinham
tido
essa
falta,
alguns
estavam
mesmo
hospitalizados
outros
souberam
e
não
quiseram
fazer
nada.
A
questão
só
veio
a
ser
descoberta
40
anos
depois,
quando
os
particulares
pediram
a
contagem
do
tempo
de
serviço
para
a
reforma
e
descobriram
que
aquele
dia
não
era
contado
e
portanto
tiham
menos
dias
de
serviço
e
isto
significava
não
se
puderem
aposentar
naquela
altura
e
aquilo
que
os
particulares
que
impugnaram
esta
decisão,
vieram
dizer
é
que
nós
não
queremos
impugnar
o
acto,
já
passou
um
ano,
o
acto
é
inimpugnável,
mas
há
efeitos
que
decorrem
deste
acto
que
têm
de
ser
salvaguardada
no
quadro
da
ordem
jurídica
e
o
tribunal
tem
de
reconhecer
os
direitos
que
resultam
de
um
acto
que
é
ilegal,
não
se
trata
de
invalidar
o
acto,
trata-‐se
de
recohecer
os
efeitos
produzidos
e
na
sequência
deste
caso
o
artigo
38º
do
código
de
proceso
permite
que
o
tribunal
em
qualquer
momento
conheça
da
inimpugnabilidade
do
acto,
o
que
significa
que
o
prazo
de
um
ano
não
vale
paraefeitos
de
convalidação,
não
há
qualquer
milagre
das
rosas,
não
há
qualquer
caráter
de
natureza
convalidatória
e
não
faz
sentido
sequer
falar
em
caso
decidido
como
fazia
o
Professor
Marcelo
Caetano,
dizia
que
o
caso
decidido
é
uma
coisa
parecida
com
o
caso
julgado,
o
caso
julgado
implica
a
estabilidade
da
sentença,
o
caso
decidido
do
acto
administrativo
implica
a
convalidação
do
acto.
O
que
ele
não
dizia
é
que
o
caso
julgado
é
uma
regra
decerteza
e
segurança
que
não
convalida
nada,
a
sentença
continua
a
ser
ilegal,
não
pode
é
ser
contrariada.
O
acto
administrativo
tinha
menos
força
mas
convalidava
o
acto,
ou
seja,
tinha
mais
efeitos
que
a
sentença,
era
um
pequenina
batota
intelectual
que
o
Professor
Marcello
Caetano
fazia
com
grande
brilhantismo
e
os
pressupostos
da
batota
é
uma
coisa
parecida
com
a
sentença,
mas
que
é
inferior,não
pode
ter
efeitos
superiores
à
sentença
e
portanto
não
há
nenhuma
razão
para
o
efeito
convalidatório.
30-‐04-‐2013
Na
aula
passada
analisou-‐se
a
questão
da
legalidade
e
invalidade
do
ato
administrativo,
tendo
esta
terminado
na
matéria
das
sanções
que
a
ordem
jurídica
conferia
às
questões
de
nulidade
e
anulabilidade.
Falta
ainda
referir
algumas
questões,
designadamente,
as
que
aludem
ao
efeito
sanador
ou
convalidador
dos
atos
administrativos
decorrentes
do
prazo
-‐
que
alguma
doutrina
portuguesa
sustenta,
ao
contrário
da
nossa
–
e
se
prende
com
a
noção
do
caso
decido
como
realidade
diferente
do
caso
julgado.
Ainda
na
questão
da
nulidade
e
anulabilidade
foram
analisados
os
regimes
legais
do
CPA,
nomeadamente,
dos
artigos
133º
e
ss.,
comparando
o
ato
nulo
e
o
ato
anulável,
tendo
como
diferença
essencial
a
produção
ou
não
produção
de
efeitos
jurídicos:
um
ato
nulo
não
produz
efeitos
nos
termos
do
art.º
134
CPA;
enquanto
o
ato
anulável
produz
efeitos
jurídicos
até
ser
anulado,
depois
dessa
anulação
(seja
feita
pela
Administração,
seja
feita
pelo
Tribunal)
há
uma
eficácia
retroativa
e
vai
afastar
todos
os
efeitos
produzidos,
mas
se
essa
anulação
não
se
vier
a
verificar
o
ato
inválido
pode
produzir
efeitos
a
tempos
indefinidos.
Relativamente
à
diferença
principal
entre
estes
dois
é
ainda
preciso
acrescentar,
em
primeiro
lugar,
que
relativamente
ao
ato
nulo
o
que
está
em
causa
não
é
apenas
a
não
possibilidade
de
produção
de
efeitos,
é
também
a
não
aptidão
para
a
produção
de
efeitos,
ora,
o
ato
nulo
pode
ser
imposto
e
produzir
efeitos
de
facto.
Esses
efeitos
fácticos
podem
ter
de
ser
salvaguardados
pela
ordem
jurídica,
prevista
pelo
art.º
134º,
n.º
3
CPA.
Mais
do
que
não
produzir
efeitos
o
que
está
em
causa
aqui
é
a
aptidão
para
a
produção
de
efeitos,
essa
aptidão
não
existe
se
se
trata
de
um
ato
nulo,
existe
se
se
trata
de
um
ato
anulável.
Quanto
ao
ato
anulável
é
preciso
que
esta
lógica
do
funcionamento
da
ordem
jurídica
que
determina
que
no
caso
dos
atos
anuláveis
tem
que
haver
uma
manifestação
da
administração
ou
dos
tribunais
que
ponha
termo
àqueles
efeitos
que
até
ai
se
tem
por
produzidos
em
termos
eficazes.
Esta
realidade
não
significa,
no
entanto,
que
se
esteja
a
falar
de
algo
que
miraculosamente
confira
a
estes
efeitos
produzidos
uma
manta
de
validade
–
eles
são
produzidos
apesar
do
ato
ser
inválido
e
se
essa
anulação
vier
a
ter
lugar
esses
efeitos
podem
ser
afastados.
Estamos,
assim,
perante
uma
questão
de
simples
eficácia
e
não
de
validade.
Falta
ainda
referir,
uma
característica
que
tradicionalmente
era
associada
a
anulabilidade,
característica
esta
que
não
faz
sentido
nem
em
termos
lógicos,
nem
em
face
do
direito
português
vigente,
era
a
característica
de
se
dizer
que
o
ato
anulável
se
convalidava
ao
fim
da
passagem
do
tempo
quando
decorresse
o
prazo.
Na
nossa
ordem
jurídica
há
um
prazo,
um
prazo
que
o
particular
tem
para
impugnar
o
ato,
este
pode
ser
de
três
meses
até
um
ano.
O
Professor
Marcello
Caetano
fazia
uma
construção
(uma
batota
intelectual)
para
justificar
este
efeito
convalidador,
a
chamada
teoria
do
caso
decidido
–
algo
parecido
ao
caso
julgado
mas
com
um
efeito
inferior
ao
do
caso
julgado.
A
razão
da
criação
desta
figura
tinha
a
ver
um
dos
pressupostos
positivistas
da
equiparação
do
ato
administrativo
à
sentença
e
considerando
que
se
tratavam
de
atos
idênticos
de
aplicação
do
direito
ao
caso
concreto
eles
deveriam
conduzir
a
um
regime
jurídico
similar.
Ora,
este
pressuposto
é
inaceitável
nos
nossos
dias.
Já
sabemos
que
a
sentença
é
um
ato
de
definição
de
direito
mas
o
ato
administrativo
existe
para
a
satisfação
das
necessidades
coletivas,
não
havendo
razão
para
aproximar
o
ato
administrativo
da
sentença
e
muito
menos
em
força
de
caso
decidido.
O
que
não
significa
que
os
atos
administrativos
não
adquiram
estabilidade
e
esta
estabilidade
seja
diferente
consoante
o
ato
que
constitua
direitos
ou
não
constitua
direitos
e
o
ato
que
tenha
sido
produzido
há
mais
ou
menos.
Mas
esta
estabilidade
é
um
efeito
meramente
processual
e
não
um
efeito
de
natureza
substantiva.
Vieira
de
Andrade
chama
ao
efeito
processual,
efeito
caso
decidido
mas
não
tem
natureza
substantiva.
É
possível
o
tribunal
em
qualquer
momento
apreciar
a
validade
do
ato
administrativo
tal
como
pode
salvaguardar
os
efeitos
no
âmbito
de
relações
jurídicas
duradouras.
Portanto,
não
há
razão
para
restaurar
a
teoria
do
caso
decido
tal
como
no
quadro
da
ordem
jurídica
portuguesa
o
tribunal
pode
apreciar
a
validade
de
um
ato
e
tirar
consequências.
O
que
já
não
pode
é
ao
fim
de
um
ano
afastar
aquele
ato
da
ordem
jurídica,
mas
não
se
trata
de
afastar
trata-‐se
de
se
tirar
consequências
da
validade
do
ato.
Em
suma
não
há
qualquer
“milagre
das
rosas”,
não
há
nenhum
efeito
convalidatório
decorrente
do
decurso
do
prazo.
Se
não
há
este
efeito
convaladatório,
quais
são
as
outras
diferenças
quanto
ao
ato
nulo
e
anulável?
O
ato
nulo
pode
ser
conhecido
em
qualquer
momento;
só
pode
ser
pedida
num
prazo
já
referido.
Depois
há
outras
consequências
no
âmbito
na
relação
hierárquica,
se
a
ordem
corresponde
a
um
ato
nulo
não
há
dever
de
obediência,
se
um
ato
anulável
há
dever
de
obediência;
Relativamente
aos
destinatários
há
direito
de
resistência
perante
atos
nulos
mas
não
para
atos
anuláveis,
mas
em
ultima
analise
tudo
se
reconduz
para
consequências
daquilo
que
é
a
regra
principal,
que
tem
a
ver
que
o
ato
nulo
não
tem
aptidão
para
a
produção
de
efeitos
jurídicos
enquanto
o
ato
anulável
produz
até
ser
afastado.
Passando
agora
para
a
questão
da
revogação,
esta
tem
uma
relação
muito
íntima
com
a
matéria
há
pouco
referida
e
vão
envolver
a
problemática
do
efeito
estabilidade
do
ato.
Encontra-‐se
regulada
no
art.º
138º
ss
CPA.
É
uma
matéria
em
que
o
legislador
foi
longe
de
mais,
há
determinadas
ponderações
de
valores
que
o
legislador
faz,
nomeadamente
no
art.
140
e
141,
que
têm
que
ser
ponderadas
em
função
da
realidade
existente.
A
revogação
é
um
ato
administrativo
de
natureza
secundaria
que
se
destina
a
afastar
os
efeitos
de
um
ato
anterior.
Pode
ter
por
fundamento
a
(i)
conveniência
ou
pode
ter
como
fundamento
a
(ii)
invalidade.
Esta
distinção
tem
consequências
diferentes.
Enquanto
a
revogação
(i)
só
vale
para
o
futuro,
não
produz
efeitos
para
o
passado;
a
revogação
(ii)
tem
uma
eficácia
retroativa,
afasta
todos
os
efeitos
produzidos
pelo
ato.
O
legislador
no
CPA
adotou
uma
diferente
terminologia,
fala
em
revogação
ab-‐
rogatória
quando
se
refere
a
uma
revogação
por
conveniência
de
serviços
e
revogação
anulatória
que
é
feita
por
motivos
de
ilegalidade.
A
escola
de
coimbra
fala
em
revogação
quando
se
refere
a
ab
rogatória,
e
administrativa
quando
se
fala
em
anulatória.
Mas
estas
são
exatamente
as
mesmas
e
todos
sabem
do
que
se
fala.
Esta
figura
da
revogação
é
de
natureza
definitiva,
tem
um
conteúdo
negativo
–
limita-‐se
a
fazer
desaparecer
um
outro
ato
da
ordem
jurídica
-‐
contudo,
a
Administraçao
pode
praticar
um
ato
de
conteúdo
contrario
que
corresponde
ao
exercício
de
outra
competência,
ou
seja,
praticar
um
ato
de
conteúdo
contrário
não
é
a
mesma
coisa
que
revogar
um
ato
anterior.
O
legislador
português
resolveu
regular
todas
estas
situações
de
forma
excessiva.
Em
primeiro
lugar,
estamos
a
falar
de
um
ato
que
afasta
os
efeitos
jurídicos
de
outro,
ou
seja,
este
ato
só
pode
existir
se
houver
efeitos
para
afastar.
É
isto
que
o
legislador
diz
diversas
vezes.
Em
segundo
lugar,
arts.
140
e
141,
quando
falamos
em
revogação,
falamos
num
mecanismo
jurídico
que
envolve
bens
e
valores
contraditórios
que
têm
de
ser
ponderados.
Há
dois
valores
que
apontam
no
sentido
da
generalização
da
revogação:
principio
da
legalidade
e
o
principio
da
eficácia
da
atuação
administrativa.
Ambos
os
princípios
apontam
no
sentido
da
revogação
dos
atos
administrativos.
Por
outro
lado,
os
particulares
que
se
confrontam
com
atos
administrativos
tem
o
poder
de
confiar
na
prática
dos
atos
por
parte
da
administração,
e
aqui
temos
outros
princípios
que
garantem
a
estabilidade,
a
confiança
e
os
direitos
adquiridos
pelos
particulares
no
âmbito
da
atuação
da
administração.
E
portanto
temos
valores
contraditórios
e
temos
uma
ponderação
que
deve
ser
efetuada
em
termos
legislativos
e
também
deve
ser
reservada
para
o
aplicador
do
direito
no
caso
concreto.
No
quadro
europeu,
temos
duas
perpetivas:
a
lógica
francesa,
o
legislador
substitui
se
ao
operador
do
direito
e
ele
próprio
faz
a
ponderação
em
todos
os
casos.
E
temos
a
lógica
alemã,
remete
sempre
para
o
aplicador
esta
tarefa
de
ponderação.
Os
sistemas
como
o
português
têm
uma
desvantagem,
são
excessivamente
rígidas
e
podem
estabelecer
ponderações
que
não
são
as
mais
adequadas.
O
legislador
distinguiu
dois
regismes:
(i)
revogabilidade
dos
atos
válidos
art,140
–
os
limites
a
revogação
referem
se
a
situações
que
correspondem
a
ilegalidade
dessa
mudança
de
critério
e
o
caso
de
se
tratar
de
um
ato
constitutivo
de
direito.
No
entanto,
o
próprio
legislador
estabelece
limites
a
estes
limites
à
revogação,
estas
limições
são
demasiado
regidas
e
não
tem
cláusula
de
salvaguarda.
VPS
não
considera
que
esta
seja
a
via
que
encontre
a
solução
correta.
(ii)
revogablidade
dos
atos
inválidos
art.
141
-‐
atos
ilegais,
atos
em
que
a
atuação
vai
atuar
para
reparar
a
ilegalidades,
mas
esta
revogação
tem
prazo
de
um
ano.
Mas
porquê
este
prazo,
se
não
há
nenhum
efeito
convalidatório.
Este
art
não
se
pode
sobrepor
aos
valores
constitucionais
e
neste
caso
deve
ser
permitida
a
revogação.
2-‐05-‐2013
Para
conclusão
da
análise
do
tema
alusivo
à
revogação
de
atos
administrativos
e,
com
isso
concluindo
o
capítulo
relativo
ao
ato
administrativo,
falta
referir
a
questão
da
competência
dos
órgãos
em
matéria
revogatória.
Mas,
antes
disso,
VASCO
PEREIRA
DA
SILVA
chama
à
atenção
para
a
importância
de
se
considerar
a
regra
geral
do
CPA,
que
estabelece
limitações
em
termos
excessivamente
amplos
do
poder
de
revogação,
e
para
a
necessidade
de
se
considerar
essas
regras
à
luz
dos
princípios
constitucionais,
bem
como
de
admitir
que,
para
além
desta
previsão
genérica
que
aqui
aparece,
é
preciso
relativiza-‐la
no
âmbito
de
outras
previsões
que
nos
últimos
tempos
têm
surgido
e
que
têm
sido
favoráveis
a
ideia
da
revogação.
No
fundo,
o
problema
que
aqui
está
em
causa
é
um
ponto
fulcral
do
Direito
Administrativo.
Nos
anos
70
e
80
do
séc.
XX,
a
orientação
genérica
da
doutrina,
da
jurisprudência
e
da
legislação
ia
no
sentido
de
proteger
os
particulares
que
tinham
recebido
algo
da
Administração,
isto
é,
os
particulares
podiam
invocar
a
seu
favor
um
ato
constitutivo
de
direitos
que,
nos
termos
desta
realidade
deveria
haver
ilimites
à
revogação
dos
atos
que
tinham
que
ver
com
essa
proteção.
No
entanto,
nos
anos
90
deste
séc.
e
daí
por
diante,
surgiram
situações
com
base
no
Direito
Administrativo
em
especial,
em
particular
o
Direito
do
Ambiente,
que
introduziram
novas
ponderações
de
valores
fundamentais
que
tinham
que
ver
com
esta
regra
da
revogação.
No
quadro
do
Direito
do
Ambiente,
há
designadamente
um
mecanismo
de
natureza
europeia
que
é
a
licença
ambiental,
por
natureza
um
instrumento
que,
não
obstante,
é
precário
e
suscitável
de
ser
afastado
a
todo
o
momento,
em
função
de
um
conceito
que
o
legislador
regula
no
âmbito
da
licença
ambiental.
Trata-‐se
do
conceito
da
melhor
tecnologia
disponível.
Se
surgir
uma
melhor
tecnologia
disponível,
se
há
uma
tecnologia
ambientalmente
mais
adequada
que
está
a
um
preço
razoável,
o
particular
pode
ser
obrigado
a
mudar
as
suas
técnicas
produtivas.
O
fato
de
ter
tido
uma
licença
não
significa
que
ele
tenha
o
direito
de,
até
ao
fim
da
mesma,
ter
essa
situação
garantida.
Estas
situações
que
nasceram
no
Direito
do
Ambiente
generalizaram-‐
se
a
todos
os
domínios
do
Direito
especial,
como
o
Direito
da
saúde,
Direito
do
Consumo,
Direito
do
Urbanismo
e
Ordenamento
do
território,
tendo
começado
a
surgir
ponderações
diferentes
das
ponderações
feitas
a
título
geral.
Portanto,
hoje
em
dia,
a
partir
dos
anos
90
do
séc.
XX,
já
não
é
correto
dizer
que
ter
um
direito
conferido
pela
Administração
significa
a
irrevogabilidade
desse
mesmo
direito,
porque
em
muitos
casos,
designadamente
no
Direito
especial,
a
Ordem
Jurídica
evoluiu
para
um
sentido
diferente.
Isto
tem
consequências
que
não
são
meramente
legislativas,
uma
vez
que
isto
altera
a
regra
geral.
De
alguma
maneira,
aquela
lógica,
aquela
corrente
alemã
que
recorre
à
Ciência
do
novo
Direito
Administrativo,
vem
dizer
que
é
preciso
reconstruir
o
Direito
geral
com
base
nas
conclusões
do
Direito
especial.
Os
autores
que
propugnam
tal
orientação
vêm
dizer
que
já
não
faz
sentido
que
haja
previsões
genéricas
iguais
a
estas,
como
não
faz
sentido
dizer
que
o
particular
que
recebeu
esse
direito
o
não
pode
ver
afetado
no
futuro.
O
que
dizem
obriga
a
reponderar,
do
ponto
de
vista
teórico,
esta
realidade,
mas
também
serve
de
algo
que
é
um
desafio
para
o
legislador,
sobretudo
nos
países,
como
é
o
caso
de
Portugal,
em
que
o
legislador
procedeu
a
esta
ponderação.
Na
Alemanha
assim
não
foi,
porque
é
o
aplicador
do
Direito
que
faz
a
ponderação
e,
portanto,
nessa
perspetiva
o
que
é
preciso
mudar
é
a
lógica
de
entendimento
da
ponderação
por
parte
da
doutrina
e
jurisprudência.
Mas
no
caso
português
que
corresponde
ao
modelo
francês,
espanhol
e
em
parte
italiano,
foi
o
legislador
a
estabelecer
essas
cláusulas
de
proteção
demasiado
amplas.
Portanto,
ao
tê-‐lo
feito,
é
necessário
que
também
estabelece
cláusulas
de
salvaguarda
que
impliquem
a
possibilidade
de
existência
de
outras
ponderações
de
bens
e
valores
contraditórios,
o
que
implica
relativizar
a
regra
geral.
A
regra
geral
hoje
já
não
é
sempre
a
da
proibição
da
revogação,
mas
antes
a
necessidade
de
conciliar
o
interesse
público
na
revogação
com
os
interesses
dos
particulares.
Essa
cláusula
de
salvaguarda
implica
que
haja,
para
tutelar
alguma
coisa
do
ponto
de
vista
dos
particulares,
a
previsão
expressa
de
haver
a
necessidade
de
indemnizar.
É
certo
que
só
se
chega
a
essa
ideia
através
da
previsão
genérica
que
consta,
na
nossa
Ordem
Jurídica,
no
quadro
da
responsabilização
pelo
sacrifício.
O
particular
sofre
um
sacrifício
no
seu
património
ao
ver
a
Administração
a
revogar
um
ato
que
praticou.
É
uma
revogação
legítima,
mas
é
uma
revogação
que
traz
um
prejuízo
por
um
ato
lícito,
um
prejuízo
anormal
e
especial.
Assim,
à
partida,
podemos
enquadrar
esta
situação
no
âmbito
da
responsabilidade
pelo
sacrifício.
No
entanto,
sublinha
VASCO
PEREIRA
DA
SILVA
que
deveria
haver
uma
previsão
específica
e
que
aquilo
que
se
espera
é
que
possa
acontecer,
também
em
breve,
que
o
legislador
não
só
relativize
esta
norma,
como
também
introduza
essa
cláusula
de
salvaguarda
para
a
tutela
do
direito
dos
particulares.
Portanto,
esta
é
uma
matéria
em
transformação,
e
transformação
muito
recente.
De
um
manual
clássico
constará
a
ideia
de
que
um
dos
grandes
progressos
do
Direito
Administrativo
é
precisamente
esta
tutela
da
confiança
dos
particulares
e
isto
funcionar
como
limite
à
revisibilidade
dos
atos
administrativos.
A
partir
de
finais
dos
anos
80
e
90,
começam
a
ver
que
há
outros
valores
igualmente
importantes,
outros
valores
constitucionais
que
tenham
de
ser
salvaguardados,
designadamente
a
proteção
e
defesa
do
ambiente.
Quando
isso
acontece,
a
ponderação
não
tem
de
ser
idêntica.
Há
uma
transformação
que
é
crescente,
uma
realidade
nova
do
Direito
Administrativo
moderno.
Ora,
para
terminar,
cumpre
agora
aludir
à
questão
da
competência
para
a
revogação.
Aqui,
o
legislador
também
estabeleceu
regras
que
merecem
ser
consideradas,
designadamente
porque
colocam
problemas
de
natureza
interpretativa.
O
legislador,
no
art.
142º
CPA,
estabelece
como
competente
para
a
revogação,
em
primeiro
lugar,
o
autor
do
ato,
em
segundo,
lugar
o
superior
hierárquico,
em
terceiro
lugar,
o
delegante
em
relação
à
competência
que
delegou
no
sub-‐delegante
e,
por
último,
os
órgãos
tutelares.
É
óbvio
que
todas
essas
competências
dependem
de
previsão
legal.
Portanto,
esta
previsão
em
relação
aos
órgãos
da
tutela
administrativa
dá-‐se
porque,
em
princípio,
a
tutela
administrativa
não
abrange
esses
poderes
revogatórios
e,
como
tal,
elas
devem
estar
especialmente
previstas,
enquanto
que
na
lógica,
por
exemplo,
da
relação
hierárquica,
este
poder
de
revogação
é
um
poder
normal.
Mas,
também
no
caso
da
relação
hierárquica,
há
situações
em
que
o
superior
hierárquico
não
pode
revogar
as
ordens
do
subalterno.
São
casos
que
a
doutrina
chama
de
competência
exclusiva
e
que
vêm
referidos,
designadamente,
no
art.
141º
CPA.
Agora,
art.
142º
CPA,
se
procurou
tomar
uma
posição
no
sentido
de
uma
discussão
que
existia
em
Portugal
e
que
separa,
por
um
lado,
ROBIN
DE
ANDRADE,
por
outro
lado,
FREITAS
DO
AMARAL,
VASCO
PEREIRA
DA
SILVA
diria
que,
apesar
de
tudo,
manteve
a
anterior
questão
teórica
e
continua-‐se
hoje
a
poder
discutir
nos
mesmos
termos
em
que
estes
Autores
discutiram
no
passado.
O
problema
é
de
saber,
para
efeitos
de
interpretação
do
art.
142º
CPA,
quem
é
o
órgão
competente,
se
o
órgão
legalmente
competente
ou
se
é
aquele
que
efetivamente
praticou
o
ato.
Pode
tratar-‐se
de
um
caso
em
que
o
órgão
que
praticou
o
ato
é
um
órgão
legalmente
incompetente
e,
portanto,
colocar-‐se
a
questão
perante
este
se
quem
deve
revogar
o
ato
deve
ser
o
órgão
incompetente
que
o
praticou
ou
se
deve
ser,
pelo
contrário,
o
órgão
legalmente
competente.
Há
bons
argumentos
a
favor
de
cada
uma
das
teses.
ROBIN
DE
ANDRADE,
de
acordo
com
a
regra
de
que
a
competência
para
dispor
é
a
competência
para
decidir
e
que
quem
pode
decidir
também
pode
revogar,
considera
que
deve
ser
o
órgão
competente
aquele
que,
nos
termos
da
lei,
deve
ser
considerado
o
autor
(aquele
a
quem
a
lei
atribuiu
a
competência
dispositiva)
e
que
exerce
os
poderes
no
âmbito
da
regra
do
princípio
da
legalidade,
na
titularidade
da
competência.
FREITAS
DO
AMARAL,
pelo
contrário,
podendo
invocar
o
elemento
literal,
de
acordo
com
o
órgão
que
praticou
o
ato,
defende
que
devia
ser
o
órgão
efetivamente
praticante
do
ato
a
revogar.
Teria
sido
esta
a
opinião
já
anteriormente
visada
por
VASCO
PEREIRA
DA
SILVA.
Aqui,
os
argumentos
têm
que
ver
com
o
facto
de
o
órgão
competente
não
ter
nenhum
poder
de
controlo
ou
fiscalização
(nas
palavras
de
FREITAS
DO
AMARAL,
supervisão)
sobre
os
atos
do
órgão
incompetente.
Por
outro
lado,
usando
um
argumento
de
ordem
material,
segundo
o
qual
o
órgão
competente
não
deve
apenas
praticar
atos
de
conteúdo
negativo
e,
quando
está
perante
uma
ilegalidade,
deve
praticar
o
ato
de
conteúdo
contrário,
deve
praticar
um
ato
de
conteúdo
positivo
que
tenha
implícito
um
conteúdo
revogatório.
VASCO
PEREIRA
DA
SILVA
considera
que
ambas
as
orientações
têm
razão,
em
face
dos
bons
argumentos
que
as
tornam
defensáveis,
pelo
que
na
sua
perspetiva,
a
solução
adequada
na
Ordem
Jurídica
portuguesa
é
considerar
que
para
efeitos
de
interpretação
do
art.
142º
CPA,
autor
do
ato
tanto
pode
ser
o
órgão
que
efetivamente
praticou
o
ato,
como
o
órgão
legalmente
competente.
As
razões
têm
que
ver
com
a
existência
de
um
princípio
que
é
o
da
legalidade
que,
por
um
lado,
obriga
o
órgão
incompetente
a
reparar
os
seus
atos
ao
descobrir
que
praticou
uma
ilegalidade
e,
portanto
a
repará-‐la
voluntariamente
e
atuar
voluntariamente
de
forma
a
fazer
cessar
os
efeitos
do
seu
próprio
ato
anterior,
permitindo
ao
órgão
legalmente
competente,
titular
da
competência
revogatória,
que
possa
praticar
exercer
tal
competência
não
apenas
no
sentido
positivo,
mas
também
negativo.
Não
porque
o
autor
competente
tenha
competência
de
controlar
a
atuação
do
outro,
mas
porque
ele
é
o
titular
da
competência.
Portanto,
a
razão
que
leva
VASCO
PEREIRA
DA
SILVA
a
defender
que
tanto
o
autor
efetivo
como
o
autor
legal
devem
ser
considerados
como
autores,
tem
que
ver
tanto
com
o
princípio
da
competência,
como
com
o
princípio
da
legalidade.
Neste
sentido,
a
própria
ideia
da
competência
é
uma
dimensão
da
legalidade.
Por
um
lado
o
órgão
ilegalmente
competente
está
a
reparar
uma
ilegalidade
que
ele
próprio
cometeu
e,
assim,
está
a
fazer
algo
que
é
totalmente
legítimo
e
corresponde
ao
dever
que
os
órgãos
administrativos
têm
de
reparar
a
ilegalidade,
por
outro
lado,
o
órgão
titular
da
competência
não
está
a
controlar
ninguém,
não
é
por
ter
qualquer
poder
de
supervisão,
é
porque
a
lei,
nos
termos
do
princípio
da
legalidade,
considerou
que
ele
era
o
órgão
competente.
E,
se
é
o
órgão
competente,
tanto
pode
decidir
o
mais,
como
o
menos.
Pode,
portanto,
praticar
um
ato
de
conteúdo
contrário
que
tem
implicitamente
a
revogação
do
ato
anterior,
como
pode
praticar
ato
de
conteúdo
negativo
limitando-‐se
a
afastar
os
efeitos
do
ato
anterior.
Até
pode
haver
razões
para
esta
conveniência.
Na
ótica
de
VASCO
PEREIRA
DA
SILVA,
o
argumento
de
FREITAS
DO
AMARAL
vai
longe
demais,
porque
pode
acontecer
que,
tratando-‐se
de
uma
competência
que
seja
discricionária
quanto
ao
momento
do
exercício,
o
órgão
competente
para
a
prática
do
ato
entender
que
aquele
ato
praticado
pelo
órgão
incompetente
não
deve
mais
vigorar
na
Ordem
Jurídica,
mas
que
ainda
não
chegou
o
momento
adequada
para
exercer
a
sua
competência
legal
e,
portanto,
está
a
exercer
o
poder
discricionário
que
a
lei
lhe
confere
de
determinar
o
momento
para
a
prática
do
ato.
É
algo
que
corresponde
a
um
correto
exercício
do
poder,
é
algo
que
tem
que
ver
com
o
exercício
da
competência,
é
algo
onde
não
existe
qualquer
poder
de
fiscalização.
Assim,
desta
discussão,
analisando
de
forma
equitativa
os
argumentos
apresentados
por
ambas
as
posições,
VASCO
PEREIRA
DA
SILVA
entende
que
a
boa
solução
reside
na
atribuição
de
razão
às
duas
orientações,
porque
efetivamente,
o
que
está
em
causa,
no
quadro
da
revogação,
é
tanto
a
procura
de
um
ato
melhor
de
satisfação
do
interesse
público,
como
o
dever
de
reparar
a
ilegalidade.
Ora,
se
é
assim,
aquela
solução
legal
que
permita
que
haja
mais
órgãos
em
condições
de
reparar
essa
ilegalidade
e
que
permita,
dessa
forma,
evitar
que
essa
ilegalidade
perdura,
é,
para
VASCO
PEREIRA
DA
SILVA,
a
melhor
solução
legal,
orientação
que
defende
quanto
a
esta
matéria.
Em
termos
de
formas
e
formalidades
não
há
aqui
nada
de
especial
a
adotar
e,
desta
forma,
dá-‐se
por
terminada
a
matéria
da
revogação
e,
portanto,
a
temática
do
ato
administrativo.
Passando
agora
a
outro
capítulo,
cumpre
analisar
uma
outra
forma
de
atuação
administrativa,
o
regulamento,
enquanto
manifestação
unilateral,
que
é
uma
manifestação
de
natureza
geral
e
abstrata.
Nos
dias
de
hoje,
já
não
estamos
perante
uma
“farda
única”
do
ato
administrativo,
mas
a
Administração
encontra-‐
se
perante
um
verdadeiro
“pronto-‐a-‐vestir”,
metáfora
usada
por
VASCO
PEREIRA
DA
SILVA.
No
quadro
deste
“pronto-‐a-‐vestir”
de
formas
de
atuação
administrativa,
a
Administração
escolhe
aquela
que
é
mais
útil.
Numa
lógica
de
uma
Administração
infraestrutural,
como
a
que
temos
nos
dias
de
hoje,
é
muitas
vezes
mais
útil
atuar
de
forma
planificadora,
de
modo
a
que
procure
condicionar
os
comportamentos
dos
particulares,
definindo-‐lhes
um
quadro
de
comportamento,
mas
sem
estar
a
determinar,
por
exemplo,
a
atuação
no
caso
concreto.
É
uma
das
realidades
modernas
desta
Administração
que,
por
um
lado,
o
facto
de
ter
aumentado
o
número
de
destinatários
das
decisões
administrativas,
que
em
alguns
casos
se
dilua
a
distinção
nítida
entre
atos
e
regulamos.
Por
exemplo,
quando
estamos
perante
um
regulamento
produzido
em
massa,
ou
um
ato
administrativo
produzido
em
massa,
é
difícil
distinguir
uma
realidade
da
outra.
Uma
decisão
de
construção
de
um
aeroporto
ou
de
uma
central
nuclear
é
uma
decisão,
um
ato
de
natureza
individual,
mas
que
tem
tantos
destinatários
que
ela
se
confunde
com
o
regulamento.
É
por
isso
que,
na
nossa
Ordem
Jurídica,
por
exemplo,
a
lei
da
ação
popular
prevê
regras
idênticas
para
os
procedimentos
de
massa,
independentemente
de
no
quadro
destes
procedimentos
estarem
atos
administrativos
como
o
regulamento.
Por
outro
lado,
a
Administração,
que
tem
formas
de
atuação
muito
distintas,
pode
preferir
criar
um
quadro
para
a
atuação
futura
e,
portanto,
definir
à
partida,
através
de
um
regulamento,
através
de
uma
norma
de
natureza
planificadora,
definir
um
âmbito
de
aplicação
para
uma
determinada
realidade
e
preferir
atuar
pela
via
do
plano,
ou
pela
via
do
regulamento,
em
vez
de
atuar
pela
via
do
ato
administrativo.
Aquilo
que
caracteriza
o
regulamento
é
o
facto
de,
tal
como
o
ato
administrativo,
ter
natureza
unilateral,
ou
seja,
os
efeitos
jurídicos
decorrem
apenas
da
vontade
da
Administração.
Aquilo
que
distingue
o
ato
do
regulamento
é,
pelo
menos
em
princípio,
o
facto
de
o
regulamento
ser
geral
e
abstrato
e
o
ato
administrativo
ser
individual
e
concreto.
No
entanto,
se
esta
é
a
posição
de
princípio,
também
e
preciso
saber
o
que
fazer
com
os
casos
de
fronteira,
as
decisões
que
são
gerais
e
concretas
ou
individuais
e
abstratas.
Aqui,
VASCO
PEREIRA
DA
SILVA
entende
que,
na
nossa
Ordem
Jurídica,
só
em
relação
ao
art.
120º
CPA
é
que
a
lei,
quando
dá
uma
noção
legal
de
ato
administrativo,
diz
que
ele
deve
ser
individual
e
concreto.
Já
quando
trata
do
regulamento,
nos
arts.
114º
e
seguintes
CPA,
o
legislador
não
diz
nada.
Ao
dizer
nada,
o
legislador
abre
a
porta
para
a
consideração
daquelas
situações
intermédias
com
natureza
regulamentar.
Que
situações
intermédias
são
essas?
Uma
delas
é
relativamente
clara:
é
a
situação
de
haver
uma
previsão
geral
através
de
uma
norma
genérica,
mas
que
se
vai
aplicar
a
um
único
destinatário.
Isto
é
muito
frequente
se
pensarmos
sobretudo
em
órgãos
de
natureza
unipessoal,
em
que
a
deliberação
que
está
em
causa
é
genérica
(ex:
decidir
acerca
das
subvenções
do
Presidente
da
Câmara
ou
Presidente
da
República
é
uma
definição
que
é
genérica
que
vale
para
o
futuro
e
todas
as
situações
da
vida
em
termos
futuros,
mas
que
se
aplica
a
um
único
destinatário).
Aqui
tem
entendido
a
doutrina,
não
apenas
de
Direito
Administrativo,
mas
também
de
Teoria
Geral
do
Direito,
que
havendo
generalidade,
devemos
considerar
que
estamos
perante
um
ato
normativo,
porque
apesar
de
haver
formalmente
um
destinatário,
esse
destinatário
está
a
ser
considerado
numa
perspetiva
em
que
há
fenómenos
de
aplicação
no
espaço
que
são
repetidos
e
que
são
uniformes.
Portanto,
a
ideia
da
generalidade
e
da
abstração,
a
generalidade
tem
que
ver
com
as
circunstâncias
da
vida
que
estão
em
causa,
a
ideia
da
concretude
ou
da
abstração
tem
que
ver
com
os
destinatários
da
decisão
que
está
em
causa.
Podemos
dizer
que
é
um
problema
clássico
que
será
facilmente
resolvido.
Se
há
qualquer
decisão
da
Administração
a
dizer
que
o
processamento
dos
vencimentos
do
Presidente
da
República
acontecem
da
forma
x,
não
temos
dúvidas
em
considerar
que
é
uma
norma
de
natureza
regulamentar,
que
é
geral.
Já
situação
concreta
tem
maior
aplicabilidade
nos
dias
de
hoje,
designadamente,
na
realidade
planificadora,
embora
já
existisse
antes.
Trata-‐se
de
haver
disposições
jurídicas
que
são
gerais,
que
se
aplicam
a
uma
multiplicidade
de
destinatários,
mas
que
são
concretas,
que
se
aplicam
num
único
momento
e
numa
determinada
circunstância
da
vida.
Por
exemplo,
se
a
autarquia
de
Lisboa
decidir
no
dia
de
S.
António
que
todas
as
lojas
devem
ter
um
santinho
na
montra,
esta
decisão
é
geral
(aplica-‐se
a
todas
as
lojas),
mas
é
concreta
(aplica-‐se
apenas
naquele
dia).
Esta
situação
em
que
há
generalidade,
mas
há
uma
única
situação
concreta,
pode
gerar
problemas
de
qualificação.
Problemas
que,
em
rigor,
já
havia
no
passado.
Mas,
que
precisamente
no
passado
geravam
questões
de
delimitação.
Antigamente,
discutia-‐se
muito
acerca
dos
sinais
de
trânsito.
Questiona
VASCO
PEREIRA
DA
SILVA:
o
sinal
de
luz
de
acender
a
apagar,
é
uma
decisão
individual
e
concreta,
um
ato
administrativo,
ou
é
geral
e
abstrata,
um
regulamento?
Não
é
fácil
responder…
Se
o
sinal
não
estiver
a
funcionar,
ele
não
vai
dar
indicações
a
quem
por
lá
passar
e
se
o
sinal
for
substituído
por
um
sinaleiro,
o
sinaleiro
vai
praticar
atos
administrativos
que
se
aplicam
apenas
às
pessoas
que
ali
estão.
Mas
é
diferente
estar
lá
o
sinaleiro
ou
estar
lá
um
sinal
com
uma
lógica
pré-‐
determinada.
Portanto,
este
sinal
que
é
pré-‐determinado
de
acordo
com
regras,
é
uma
realidade
em
que
há
uma
definição
dos
sujeitos,
que
se
aplica
àquele
caso
concreto,
mas
os
sujeitos
podem
ser
quaisquer
entidades
que
se
coloquem
no
âmbito
de
aplicação
daquela
realidade
jurídica
que
está
em
causa.
É
algo
que
é
uma
identificação
dos
particulares
que,
sendo
concreta,
e
aplicando-‐se
àquela
situação
concreta,
é
determinada,
no
entanto,
através
de
uma
realidade
que
corresponde
a
uma
situação
que
pode
ser
considerada
abstrata.
Mas
saber
em
concreto
se
o
sinal
de
trânsito
é
uma
coisa
ou
outra
tem
gerado
rios
de
tinta,
até
porque
há
a
posição
daqueles
que
fogem
ao
problema
dizendo
que
o
sinal
não
é
nada,
é
apenas
um
sinal,
que
tem
por
trás
uma
ordem
da
Administração,
mas
aí
caímos
no
mesmo
problema:
essa
ordem
é
individual
e
concreta
ou
geral
e
abstrata,
ou
é
só
geral
ou
só
abstrata?
É
apenas
uma
forma
de
desviar
a
atenção.
Ora,
esta
discussão
que
tem
feito
as
delícias
da
doutrina,
não
tanto
em
Portugal,
mas
sobretudo
no
Direito
alemão,
tem
gerado
mudanças
de
posição
que
são
mais
determinadas
por
circunstâncias
de
tutela
dos
direitos
do
que
outras,
porque
haver
ou
não
um
sinal
é
algo
relevante.
Porque
haver
ou
não
um
sinal
e
algo
que
é
da
responsabilidade
de
quem
coloca
lá
o
sinal
e
se
o
sinal
está
mal
colocado,
quem
colocou
o
sinal
deve
ser
responsável
por
isso.
Isto,
também,
quando
não
há
sinal.
Supondo
que
há
um
buraco
na
rua
que
não
está
sinalizado,
se
alguém
lá
cai,
a
responsabilidade
corre
pelo
facto
de
não
ter
havido
sinalização.
Há
muitos
casos
em
Direito
Administrativo
em
que
a
entidade
reguladora
do
trânsito
é
responsabilizada
pela
não
colocação
do
sinal
ou
por
uma
colocação
errada
do
mesmo.
Estamos,
portanto,
perante
uma
realidade
que
é
juridicamente
relevante.
O
critério
que
tem
sido
utilizado
no
quadro
da
discussão
que
vem
do
Direito
alemão,
é
o
critério
de
saber
o
que
é
que
tutela
melhor
os
interesses
dos
particulares.
Como
na
Alemanha
não
há,
diferentemente
do
que
se
passa
em
Portugal,
um
mecanismo
genérico
de
impugnação
de
regulamentos,
e
impugnação
passa
sobretudo
pela
via
do
ato,
a
doutrina
mais
recente
tem
vindo
a
dizer
que
o
sinal
de
trânsito,
apesar
de
ser
abstrato,
ou
apesar
de
não
se
aplicar
apenas
a
uma
situação
individual
num
caso
concreto,
o
sinal
deve
ser
tratado
como
um
ato
administrativo.
Isto
em
razão
das
possibilidades
de
defesa.
Em
Portugal,
se
utilizarmos
o
mesmo
critério,
a
questão
coloca-‐se
ao
contrário
e
conduz
à
solução
exatamente
oposta.
Porque
em
Portugal
o
particular
pode
impugnar
o
regulamento
e
pode
impugnar
um
ato
administrativo
de
aplicação
do
regulamento.
Portanto,
a
consideração
como
um
regulamento
permite
uma
proteção
dupla
por
parte
do
particular,
que
pode
impugnar
a
própria
norma
em
si
e
pode,
depois,
impugnar
o
ato
administrativo
de
aplicação
da
norma
ao
caso
concreto.
VASCO
PEREIRA
DA
SILVA
diria
que,
pelas
mesmas
razões
que
no
Direito
alemão
se
defende
que
a
qualificação
correta
dos
sinais
de
trânsito
é
a
de
se
considerar
que
se
trata
de
um
ato
administrativo,
no
Direito
português
devíamos
chegar
à
conclusão
oposta
que
é
a
de
considerar
que
se
trata
de
um
regulamento.
Admitir
que
se
trata
de
um
regulamento
permite
uma
dupla
proteção:
a
proteção
contra
o
regulamento
e
a
proteção
contra
o
ato.
Estamos
a
falar
de
circunstâncias
que
se
repetem
muito
e
a
qualificação
do
sinal
de
trânsito
é
juridicamente
relevante
como
fonte
de
responsabilidade.
Os
particulares
nestas
situações,
em
que
há
na
Ordem
Jurídica
portuguesa
que
permite
reagir
contenciosamente
contra
os
regulamentos
e
há
a
possibilidade
de
reagir
contenciosamente
contra
os
atos
administrativos,
é
a
consideração
destas
situações
como
relevantes.
Esta
solução
também
permite
resolver
o
problema
que,
pelas
razões
opostas,
na
Alemanha
tem
sido
bem
decidido,
mas
tem
sido
decidido
de
forma
que,
na
perspetiva
de
VASCO
PEREIRA
DA
SILVA
é
a
mais
adequada
no
quadro
português.
Trata-‐se
da
questão
dos
planos,
em
que
a
maior
parte
dos
planos
de
urbanismo
e
de
ordenamento
do
território
são
normas
que
se
caraterizam
pela
concretude
mesmo
quando
são
abstratas
e,
portanto,
também
isso
ajuda
a
qualificar
como
regulamentos
estas
figuras
jurídicas.
De
resto,
também
aparecem
situações
contrárias,
situações
em
que
se
aplica
a
uma
única
situação
e
que,
não
obstante,
são
abstratas,
implicando
uma
lógica
que
é
determinada
em
função
de
realidades
diferenciadas.
Neste
contexto,
tanto
os
atos
individuais
mas
abstratos,
como
os
atos
gerais
mas
concretos,
de
acordo
com
esta
perspetiva,
devem
ser
considerados,
na
nossa
Ordem
Jurídica,
como
regulamentos
administrativos.
Isto
permite,
inclusive,
uma
solução
uniforme.
A
distinção
feita
em
ambos
os
ordenamentos
funda-‐se
na
proteção
conferida
aos
particulares.
Na
Alemanha
só
há
um
meio
de
impugnar
decisões
normativas
em
matéria
urbanística
e
se
não
for
uma
decisão
deste
tipo
não
há
meio
algum
e,
não
havendo
meio,
entendem
que
se
trata
de
ato
administrativo;
se
se
tratar
de
domínio
urbanístico,
consideram
regulamento
administrativo.
VASCO
PEREIRA
DA
SILVA
considera
que
esta
é
a
solução
correta
e
que
estas
situações
intermédias,
em
que
há
ou
só
generalidade
ou
só
abstração,
são
de
considerar
como
situações
correspondentes
a
regulamentos.
Estes
regulamentos
são
atuações
normativas
da
Administração
que
tem
que
ver
com
a
aplicação
das
normas
à
realidade.
Portanto,
este
caráter
normativo
não
se
confunde
com
a
lei,
tal
como
não
se
confunde
com
os
atos
administrativos.
Não
se
confundem
com
a
lei,
porque
esta
estabelece
aquilo
que
são
as
orientações
primárias
acerca
de
determinada
matéria
e
a
lei
deve
responder
e
atuar
em
todos
aqueles
domínios
em
que,
por
um
lado,
haja
reserva
de
lei
e,
por
outro
lado,
em
que
se
exige
a
tomada
das
decisões
principais
acerca
do
modo
como
a
Ordem
Jurídica
deve
regular
determinado
conteúdo.
Mas,
isto
dito,
os
regulamentos
têm
um
grau
maior
de
novação
do
que
um
ato
administrativo.
Qualquer
das
atuações
jurídicas
que
está
em
causa
tem
simultaneamente
elementos
de
execução
e
inovação,
mas,
à
partida,
dir-‐se-‐ia
que
uma
norma
por
ser
geral
e
abstrata,
pelo
menos
por
se
cruzar
com
uma
destas
caraterísticas,
uma
norma,
à
partida
é
mais
genérica,
tem
um
grau
de
inovação
maior
por
ser
mais
genérica
ou
mais
abstrata
e
que,
por
causa
disso,
há
aqui
um
maior
grau
de
inovação
em
relação
àquilo
que
se
passa
com
o
regulamento.
O
que
para
VASCO
PEREIRA
DA
SILVA
é
errado
é
a
ideia
positivista
muito
estrita
de
dizer
que
tudo
o
que
é
Administração
é
pura
e
simplesmente
execução
da
lei,
porque
a
execução
da
lei
também
tem
uma
dimensão
inovadora.
Tem
uma
dimensão
inovadora
se
estivermos
no
domínio
do
poder
discricionário,
mesmo
perante
atos
administrativos,
e
tem
uma
dimensão
ainda
mais
inovadora
se
estivermos
perante
o
poder
regulamentar.
Portanto,
sendo
materialmente
distinto
o
poder
regulamentar
do
poder
legislativo,
apesar
da
distinção,
não
se
poderá
dizer
que
há
uma
lógica
meramente
executiva
e
uma
lógica
inovadora
num
caso
e
no
outro.
Nesta
perspetiva,
como
se
distingue
regulamento
da
lei?
Do
ponto
de
vista
orgânico
e
formal,
é
relativamente
fácil
distinguir:
órgãos
com
competência
legislativa
são
reduzidos
e,
assim,
do
ponto
de
vista
orgânico
a
lei
é
um
ato
da
competência
dos
órgãos
dotados
de
poder
legislativo.
Do
ponto
de
vista
formal
e
procedimental,
as
regras
para
a
emissão
de
atos
legislativos
são
diferentes
de
atuações
administrativas,
mas,
para
VASCO
PEREIRA
DA
SILVA
haverá
que
assinalar
uma
diferença
material
entre
atos
e
regulamentos,
porque
este
não
deve,
mesmo
quando
é
inovador,
atuar
em
determinadas
áreas
reservadas
à
lei.
A
essencialidade
em
matérias,
designadamente,
direitos
fundamentais
ou
afins,
deve
introduzir
a
ideia
de
que
a
lei
deve
atuar.
14-‐05-‐2013
No
artigo
1º
do
CCP
encontramos
o
conceito
de
contrato
público,
no
artigo
1º/2.
As
entidades
adjudicantes
são
aquelas
que
estão
definidas
no
artigo
2º
do
CCP.
O
conceito
de
contrato
público
é
essencialmente
de
natureza
subjectiva
ou
organica.
Tem
a
ver
com
quem
contrata,
quando
é
o
Estado
ou
outra
entidade
adjudicante
a
contratar
é
um
contrato
público.
Isto
significa
que
contrato
público
é
um
contrato
cujo
o
procedimento
de
formação
ou
o
procedimento
pré-‐
contratual
é
um
procedimento
regulado
pelas
normas
do
CCP,
um
procedimento
administrativo
que
visa
escolher
o
adjudicatário,
ou
seja,
com
quem
é
que
a
administração
vai
contratar
e
é
um
conceito
que
prescinde
da
análise
substantiva
do
contrato
como
diz
o
artigo
1º/2.
Depois
quando
o
contrato
é
celebrado,
olhando
para
o
seu
conteúdo
e
objecto
esse
contrato
pode
ser
de
direito
privado
ou
um
contrato
administrativo.
Um
contrato
público
administrativo
se
tiver
os
critérios
do
nº6
do
artigo
1º
do
CCP.
Excepcionalmente
é
que
a
administração
pública
actua
sob
a
égide
do
direito
privado.
O
que
é
que
significa
ser
um
contrato
administrativo?
Bom
se
for
um
contrato
administrativo
vamos
aplicar
a
Parte
III
do
CCP,
a
parte
II
do
CCP
aplica-‐
se
a
todos
os
contratos
públicos
e
depois
a
parte
III
é
a
parte
substantiva
do
contrato,
aquilo
que
o
contrato
administrativo
tem
de
específico(cumprimento,
incumprimento,
modificação
objsctiva
e
subjectiva,
extinção
e
invalidade),
o
que
é
diferente
do
CC.
Há
um
aspecto
do
regime
substantivo
que
é
importante
e
que
é
o
que
mais
caracteriza
o
contrato
administrativo,
e
a
existência
de
poderes
unilaterais
do
contraente
público
sobre
o
contraente
privado.
Enquanto
que
num
contrato
privado,
inclusie
num
contrato
privado
da
administração,
as
partes
têm
os
mesmos
poderes,
os
contratos
privados
inclusive
os
da
administração
criam
relações
igualitárias,
por
isso
são
semelhantes
aos
contratos
de
Dto
Civil.
Nos
contratos
administrativos
,
a
relação
é
desigual,
em
que
a
parte
pública
tem
poderes
sob
a
parte
privada
e
vêm
referidos
no
artigo
302º
do
CCP
e
são
poderes
de
dirigir
o
contrato,
de
fiscalizar,
de
modificar
unilateralmente
o
obecto
do
contrato,
resolver
unilateralmente
e
de
aplicar
sanções
,
que
são
poderes
denominados
de
poderes
de
conformação
da
relação
contratual.
Significa
que
uma
das
partes
unilateralmente
podem
alterar
a
relação
contratual
e
isso
é
realmente
específico
em
relação
a
um
contrato
privado
onde
as
partes,
ambas
têm
de
concordar.
Há
também
outro
aspecto
essencial
que
é
o
facto
de
esse
poderes
serem
exercidos
através
de
actos
administrativos
unilaterais.
Só
não
se
aplica
ao
CPA
porque
há
uma
norma,
artigo
308º
que
diz
expressamente
que
o
CPA
não
se
aplica.
A
outra
parte
só
pode
impugnar
os
actos
da
administração,
mas
tem
de
ir
a
Tribunal
para
o
fazer
e
enquanto
não
for
anulado
tem
de
executar.
O
conceito
de
organismo
público
que
vem
expresso
no
artigo
2º
é
uma
forma
de
apanhar
aquilo
a
que
apelidamos
como
fuga
para
o
direito
privado
ou
seja
a
administração
tem
de
criar
formas
privadas
de
actuação,
e
o
que
isto
significa
é
que
pode
ser
de
natureza
privada,
mas
se
tiver
certas
características
que
são
de
natureza
substantiva
então
estão
sujeitas
às
regras
da
contratação
pública
e
isto
não
é
uma
opção
parao
legislador
português,
isto
é
uma
imposição
do
acto
comunitário.
Aliás
para
o
direito
comunitário
a
natureza
jurídica
das
coisas
interessa
pouco,
é
a
ideia
de
que
se
o
dinheir
é
público
então
as
regras
apicáveis
são
também
de
dto
público.
Há
entidades
adjudicantes
sendo
públicas
ou
privadas
desde
que
sejam
materialmente
administração,
tudo
o
que
seja
administração
pública
em
sentido
material
e
que
seja
detido
por
entidades
da
administração
pública
clássica
está
sujeita
às
regras
da
contratação
pública.
As
excepções
em
função
da
natureza
destes
contratos
vêm
expressos
nos
artigos
4º
e
5º.
Em
relação
aos
bens
imóveis
há
um
diploma
próprio
e
no
que
toca
aos
contratos
de
trabalho
da
função
pública
também
há
legislação
específica.
Esta
exclusão
não
significa
que
não
sejam
administrativos,
significa
que
são
regidos
por
legislação
especial.
Já
o
artigo
5º
tem
uma
epígrafe
semelhante
mas
quer
dizer
outra
coisa,
que
é
contratação
excluída.
No
nº1
e
nº2
pela
sua
natureza
e
pela
circunstância
em
que
são
celebrados
não
possam
ser
sujeitos
à
concorrência
de
mercado
ou
seja
aqueles
contratos
em
que
pelas
próprias
circunstâncias
não
faz
sentido,
pela
sua
natureza
estar
sujeito
à
concorência
de
mercado.
Tradicionalmente
o
que
temos
como
exemplo
são:
excluindo
logo
a
parte
II
do
Código,
nem
vamos
verificar
qual
é
o
procedimento
aplicável,
excluimos
á
partida
,
o
exemplo
é
a
aquisição
pelo
banco
de
portugal
de
moedas
antigas
num
leilão,
ou
o
mais
comum
que
é
a
contratação
entre
2
entidades
administrativas,
como
2
municipios
que
cooperam
entre
si,
este
tipo
de
cooperação
interadministrativa
cabe
no
nº1,
aqui
a
lógica
é
de
uma
economia
fiscal
entre
2
entidades
públicas.
Há
contudo
todo
um
conjunto
de
outras
situações
de
celebração
de
contratos
entre
entidades
adjudcantes
que
cabem
depois
por
sua
vez
na
exclusão
do
artigo
5º/2
que
consagra
em
Portugal
uma
construção
de
natureza
jurisprudencial
pelo
tribunal
de
justiça
da
EU
que
é
a
teoria
das
relações
in
house.
São
aquelas
situações
em
que
uma
entidade
pública
celebra
um
contrato
com
outra
entidade
que
de
alguma
forma
não
é
mais
do
que
um
ente
instrumental
do
primeiro.
Por
exemplo
quando
um
municipio
celebra
um
contrato
com
uma
empresa
municipal
que
ele
próprio
criou,
quando
o
Estado
celebra
um
contrato
com
uma
empresa
de
capitais
exclusivamente
públicos
onde
o
único
accionista
é
o
Estado,
são
estes
conjuntos
de
situações
em
que
há
2
pessoas
jurídicas
,
mas
na
materialidade
subjacente
um
não
é
mais
do
que
a
continuação,
um
instrumnto
de
actuação
do
outro.
O
Tribunal
de
justiça
da
EU
começou
a
construir
esta
teoria
que
diz
como
está
no
artigo
5º/2
se
ambas
as
partes
no
contrato
forem
entidades
adjudicantes,
se
uma
exercer
controlo
sobre
a
outra
e
se
a
segunda
exercer
a
sua
actividade
só
a
favor
da
1º
então
não
é
preciso,
não
está
sujeito
às
regras
da
contratação
pública.
E
isto
significa
que
não
é
necessário
nenhum
concurso.
No
fundo
o
que
se
procura
com
o
in
house
é
criar
um
equilibrio
entre
ao
concorrência
e
também
a
própria
liberdade
de
auto
organização
da
administração.
A
análise
que
a
jurisprudência
europeia
faz
da
in
house
é
uma
análise
restritiva
e
portanto
é
necessário
que
se
verifique
uma
relação
de
grande
proximidade
entre
duas
entidades,
se
não
é
in
house
então
lancem
concurso
público.
Vendo
agora
o
artigo
16º
(determina
a
natureza
jurídica),
que
nos
diz
que
se
não
for
excluído
a
sua
celebração
tem
de
ser
feita
por
um
dos
procedimentos
tipificados
nas
alíneas
do
nº1
do
artigo
16º.
Isto
vai
de
um
procedimento
mais
fechado,
mais
restrito,
a
um
procedimento
mais
aberto.
O
mais
restrito
é
o
ajuste
directo,
a
admiistração
convida
quem
quer,
passa
por
um
convite
quer
seja
a
6
ou
a
1
empresas.
Depois
temos
o
mais
amplo
que
é
o
concurso
público
e
aí
háum
prazo
para
a
apresentação
de
propostas
e
depois
o
jurí
analisa
e
escolhe
de
acordo
com
critérios
pré-‐definidos
que
constam
também
do
próprio
regulamento
do
concurso.
E
depois
temos
outros
3
que
são
procedimentos
a
meio
caminho
e
que
são
mais
complicados
e
complexos.
O
concurso
limitado
por
prévia
qualificação
é
um
concurso
em
que
há
uma
prévia
qualificação,
é
um
concurso
em
que
há
uma
prévia
qualificação
dos
candidatos,
as
empresas
só
apresentam
candidaturas,
não
há
propostas.
E
depois
de
acordo
com
critérios
como
a
capacidade
técnica
e
financeira,
a
administração
escolhe
pelo
menos
5
empresas
e
só
essas
5
é
que
depois
são
convidadas
a
apresentar
propostas
e
depois
só
essas
5
é
que
vão
concorrer
entre
elas.
Normalmente
são
concursos
de
montante
elevado
ou
concursos
em
que
o
objecto
revista
alguma
complexidde
como
uma
concessão
de
serviço
público
ou
uma
concessão
de
ora
pública.
No
procedimento
por
negociação
basicamente
é
igual
ao
concurso
limitado
por
prévia
qualificação
com
um
acréscimo,
é
que
não
é
escolhida
uma
proposta,
são
escolhidas
3
e
há
uma
negociação
com
as
3
com
vista
a
escolher
a
melhor
propota.
E
fazem-‐se
negociações
paralelas
mas
fechadas
com
cada
uma
das
empresas
para
obter
a
melhor
proposta.
É
preciso
rudiar
estes
procedimentosde
um
conjunto
de
cuidados,
ficando
assim
tudo
em
acta
e
com
a
maior
tranparência
possível.
Finalmente
o
mais
dificil
de
explicar,
o
diálogo
concorrencial,
é
uma
inovação
e
basicamente
acontece
quando
a
administração
não
sabe
fazer
o
caderno
de
encargos,
ou
seja,
é
uma
solução
técnica
tão
complexa
que
a
administração
não
sabe
fazer
o
caderno
de
encargos
que
é
uma
peça
documental
onde
a
administração
diz
quais
são
as
cláusulas
do
futuro
contrato
a
celebrar.
Então
faz
um
concurso
de
ideias,
faz
um
anúncio
em
que
a
administração
quer
fazer
isto
e
isto
e
surgem
várias
empresas
que
dizem
a
melhor
solução
técnica
e
a
administração
escolhe
uma
solução
e
com
base
nessa
mesma
solução
faz
o
caderno
de
encargos.
Mas
o
que
ela
faz
nesta
1º
fase
não
é
um
contrato,
o
que
ela
adjudicou
foi
apenas
a
ideia
de
qual
era
a
melhor
solução
possível
por
exemplo
para
uma
aplicação
de
software,
só
numa
2º
fase
então
é
que
irá
abrir
um
concurso
como
outro
qualquer.
Isto
coloca
um
problema
que
é:
Então
não
vai
ganhar
sempre
a
empresa
que
deu
a
ideia?
Não,
porque
em
áreas
de
tecnologia
de
ponta
muitas
vezes
a
ideias
vêm
de
empresas
que
têm
a
ideia
mas
que
não
têm
a
estrutura
para
desenvolver
a
mesma
de
forma
barata.
Os
primeiros
ganham
um
pagamento
pela
sua
ideia
isto
na
1º
fase.
E
a
regra
é
a
seguinte:
Contratos
baratos
para
procedimentos
fechados,
contratos
caros
para
procedimentos
abertos
(artigos
19º
e
20º-‐
critério
do
valor)
O
artigo
30º
só
se
aplica
quando
o
contrato
for
particulamene
complexo.
Portanto
a
administração
só
não
tem
de
fundamentar
a
escolha
de
um
procedimento
quando
escolher
o
concurso
público
porque
essa
é
a
regra.
Os
artigos
23º
e
ss
contêm
alguns
critérios
materiais,
isto
é
critérios
em
torno
dos
quais
se
permite
aspectos
para
além
do
valor,
por
isso
podemos
usar
o
ajuste
directo
consoante
a
justificação
e
aí
o
tribunal
de
contas
intervêm
no
ambito
do
visto
prévio.
21-‐05-‐2013
Chegámos
ao
final
do
programa
com
o
título
“Cá
se
fazem,
cá
se
pagam”.
O
que
está
em
causa
é
a
apreciação
dos
atos
da
Administração
e
a
ideia
de
que
a
Administração
deve
prestar
contas
–
esta
ideia
surge,
hoje
em
dia,
com
uma
expressão
inglesa
“accountability”.
Accountability
é
um
pouco
menos
que
responsabilidade.
Prestar
contas
de
que
aqui
se
fala
não
tem
que
ver
com
uma
reapreciação
por
parte
de
um
órgão
Administração
ou
até
mesmo
dos
Tribunais,
mas
sim
com
uma
ideia,
embora
mais
ténue,
de
responsabilizar
a
Administração
pelos
seus
próprios
atos
e
obrigar
a
prestar
contas.
A
Administração
enquanto
poder
público
deve
ser
responsabilizada
pela
sua
atuação,
e
os
mecanismos
até
agora
estudados,
são
mecanismos
que
vão
um
pouco
mais
longe
que
esta
realidade,
por
exemplo,
a
responsabilidade
civil
é
um
pouco
mais
forte
que
a
chamada
“accountability”.
Falta
fazer
referência
às
chamadas
garantias
administrativas
–
garantias
dos
particulares,
da
legalidade
perante
órgãos
administrativos.
A
ideia
é
de
um
sistema
de
autocontrolo
organizado
no
centro
da
Administração
Pública
e
esta
preste
contas
entre
os
seus
próprios
órgãos.
Trata-‐se
aqui
de
garantias
administrativas,
garantias
que
se
processam
perante
órgãos
da
Administração,
garantias
que
revelam
um
sistema
organizado
na
própria
Administração.
E
aqui
há
um
sistema
tradicional,
o
sistema
francês
(em
grande
parte
ainda
é
o
nosso),
em
que
as
garantias
se
encontram
instituídas
perante
órgãos
com
poderes
revogatórios
ou,
eventualmente,
decisórios.
Estas
garantias
correspondem,
na
nossa
ordem
jurídica,
a
uma
tripartição
que
leva
a
que
se
possa
distinguir
entre
reclamação:
quando
se
impugna
um
ato
perante
o
seu
próprio
autos;
recurso
hierárquico:
o
ato
de
determinado
órgão
é
impugnado
perante
o
seu
superior
hierárquico;
e
o
recurso
tutelar:
que
é
feito
perante
entidades
com
poderes
de
tutela,
neste
quadro
ainda
é
possível
falar
noutros
recursos
atípicos
(ou
recursos
impróprios)
porque
na
nossa
ordem
jurídica
há
vários
órgãos
com
poder
de
controlo
sobre
outros
sem
que
haja
uma
relação
hierárquica
ou
tutelar.
Procurando
sistematizar,
existem
dois
recursos
próprios
e
um
recurso
impróprio.
Estas
são
garantias
que
se
exercem
perante
órgãos
decisores,
órgãos
estes
que
têm
poder
de
controlo
sobre
a
atuação
de
controlo
e
podem,
portanto,
revogar
as
atuações
de
órgãos
anteriores.
Mas
o
que
caracteriza
estas
garantias
administrativas
é
a
falta
de
imparcialidade,
pois
estamos
a
falar
em
garantias
que
se
passam
dentro
da
Administração.
No
fundo,
é
a
Administração
que
se
autocontrola
e
em
regra
estas
garantias
não
são
muito
eficazes,
pois
em
regra
os
órgãos
confirmam
a
atuação
dos
outros
órgãos.
Diferentemente
as
garantias
contenciosas
são
mais
eficazes,
existe
aqui
uma
maior
imparcialidade
e
um
controlo
externo,
oferecendo
uma
maior
garantia.
No
modelo
anglo
saxónico
aparecem
garantias
efetuadas
por
órgãos
independentes,
essas
garantias
já
procuraram
assegurar
de
forma
mais
eficaz
o
cumprimento
da
lei
e
a
tutela
do
direito
dos
particulares.
Nos
EUA
existem
as
“agencies”
e
na
Grã
Bretanha
os
“tribunals”.
Este
sistema
parece
ser
bastante
mais
eficaz
que
o
nosso.
Estas
garantias
administrativas
podem
versar
sobre
questões
de
legalidade
como
sobre
questões
de
mérito,
ou
seja,
podem
apreciar
se
o
ato
administrativo
foi
feito
nos
termos
da
lei
ou
podem
verificar
se
podia
ter
sido
praticado
de
modo
mais
eficiente.
Os
tribunais
na
nossa
ordem
jurídica
não
podem
ir
tão
longe,
pois
não
podem
julgar
sobre
questões
de
mérito.
Cumpre
agora
analisar
estas
formas
de
controlo:
Reclamação:
reclamar
significa
contestar
uma
decisão
do
órgão
administrativo
para
um
órgão
que
atuou
e,
portanto,
quando
se
reclama
pretende-‐se
“avisar”
o
órgão
que
atuou,
pretende-‐se
dar
a
decisão
que
foi
tomada,
isto
é,
que
haja
uma
reapreciação
que
foi
tomada.
Esta
é
uma
classificação
muito
antiga,
em
Roma
dizia-‐se
que
reclamar
era
passar
de
uma
Roma
bem
informada
para
uma
Roma
mal
informada.
O
que
está
aqui
em
causa
é
dar
ao
particular
um
maior
número
de
instrumentos
e
no
quadro
da
realidade
a
Administração
olhar
para
a
tua
atuação
anterior.
O
legislador
estabeleceu
um
regime
que
resulta
das
regras
do
art.º
161
ss.,
esta
reclamação
é
um
mecanismo
que
em
regra
não
tem
muita
utilidade,
isto
é,
uma
reduzida
eficácia
prática.
Recurso
hierárquico
–
regulado
no
art.º
166
e
ss,
esta
figura
permite
que
a
atuação
seja
apreciada
por
um
órgão
que
é
responsável
pelo
exercício
da
função.
Não
se
compreende
muito
bem
a
razão
do
art.º
167º
falar
em
recurso
facultativo
–
o
único
que
existe
nos
dias
de
hoje
–
e
necessário.
A
nosso
ver,
a
exigência
de
um
recurso
hierárquico
necessário
é
manifestamente
inconstitucional,
pois
o
necessário
aqui
tem
apenas
a
ver
com
a
necessidade
de
impugnar
e
esta
necessidade
condiciona
a
possibilidade
de
impugnar,
porque
como
este
recurso
necessário
tem
um
prazo
de
30
e
o
particular
não
recorrer
de
uma
atuação
administrativa,
o
efeito
que
resultaria
disto
é
que
ele
não
podia
mais
impugnar
contenciosamente.
Assim,
este
mecanismo
já
foi
(em
parte)
afastada
da
ordem
jurídica
portuguesa.
É
inconstitucional
por
violação
do
princípio
da
separação,
do
acesso
à
justiça.
Além
disso,
o
art.º
170º
há
suspensão
da
eficácia,
salvo
se
a
lei
disponha
em
contrário
ou
quando
o
autor
do
ato
cause
graves
prejuízos
ao
interesse
público.
Ou
seja,
pode-‐se
determinar
que
não
há
efeito
suspensivo
e
aí
o
particular
é
gravemente
prejudicado,
pois
fica
com
o
seu
prazo
reduzido
a
um
prazo
de
um
mês
e
fica
com
o
seu
caso
condicionado
por
uma
garantia
administrativa.
Houve
uma
alteração
que
decorreu
de
uma
norma
legal
e
pôs
em
causa
esta
discussão,
na
reforma
do
contencioso
administrativo
deixou
de
se
exigir
a
prévia
exigência
do
recurso
hierárquico
e
portanto
o
recurso
passou
a
ser
sempre
facultativo.
Este
desaparecimento
resulta
de
uma
dupla
capacidade,
por
um
lado,
caducou
por
inconstitucionalidade
originária,
por
outro,
caducidade
por
falta
de
objeto,
isto
é,
deixaram
de
ter
utilidade.
Dizia-‐se
destas
normas
que
a
única
diferença
entre
o
recurso
necessário
ou
facultativo
dependia
do
ato
a
impugnar
ser
suscetível
ou
não
de
contencioso/impugnação.
Mas
hoje
em
dia
o
Código
de
Processo
prevê
sempre
a
possibilidade
de
impugnação
como
pressuposto
processual.
Para
além
dos
“velhos”
argumentos,
há
agora
um
novo
fundamento
é
que
o
Código
de
Processo
não
faz
qualquer
referência
a
esta
prévia
impugnação.
Mais,
o
Código
de
Processo
estabelece
numa
norma
que
quando
o
particular
impugnou
uma
garantia
administrativa
não
tem
sequer
que
esperar
pelo
resultado,
pode
logo
impugnar
contenciosamente,
ou
seja,
o
particular
pode
a
qualquer
momento
impugnar
contenciosamente
qualquer
decisão.
No
entanto,
há
uma
posição
que
tem
vindo
a
ser
defendida
pelo
Professor
Mário
Arnoso
de
Almeida
e
pelo
Professor
Freitas
do
Amaral,
que
é
uma
solução
“compromissória”.
Não
discutem
a
solução
da
constitucionalidade
mas
dizem
efetivamente
que
o
Código
de
Processo
Administrativo
já
não
consagra
a
regra
do
recurso
hierárquico
necessário
porque
o
Código
de
Processo
afastou
essa
exigência,
ou
seja,
o
CP
revogou
expressamente
as
normas
do
CPA
que
regulam
expressamente
o
recurso
hierárquico.
Mas
se
a
regra
geral
foi
revogada
e
houver
uma
regra
especial
que
estabeleça
essa
exigência,
essa
exigência
afinal
não
foi
revogada.
Esta
posição
não
é
de
aceitar.
O
recurso
hierárquico
necessário
é
um
instrumento
que
não
faz,
hoje
em
dia,
qualquer
sentido.