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DEPARTAMENTO JURÍDICO XI DE AGOSTO

FACULDADE DE DIREITO DA USP


PRAÇA. JOÃO MENDES 62 – 17º ANDAR
CEP 01501-902 – SÃO PAULO, SP
FONES: 3241- 4461

Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 9ª Vara da Fazenda Pública do Foro

Central da Comarca de São Paulo

Autos nº 1049231-58.2016.8.26.0053

MARIA DAS GRAÇAS IGNÁCIO, nos autos da ação de

reconhecimento de dependência econômica c/c concessão de pensão por morte que

move em face da CAIXA BENEFICENTE DA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE

SÃO PAULO – CBPM e da SÃO PAULO PREVIDÊNCIA - SPPrev, por seus

advogados, tendo regularizado sua representação processual (fls. 120), vem, em atenção

ao r. despacho proferido em audiência de 30/10, apresentar suas alegações finais,

ressaltando que, em razão de as provas dos autos terem comprovado a dependência

econômica da requerente em relação ao de cujus, a ação deve ser julgada totalmente

procedente, como passa a demonstrar.

I. BREVE SÍNTESE

1. A autora é genitora de Antônio Cesar Ignácio Pereira, Policial

Militar falecido de quem dependia financeiramente. Quando do óbito, tentou obter o

benefício de pensão por morte pela via administrativa (fls. 13/14 e 20/21), mas teve o pleito
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indeferido, uma vez que o segurado simplesmente esquecera de declará-la como

dependente perante a Administração (fls. 15).

2. Assim, pretendeu ajuizar, à época do óbito, a competente ação

para o fim de comprovar sua dependência, mas em razão de um verdadeiro quiproquó

com o seu patrono de então – que resultou, inclusive, em reclamação formal à OAB 1,

por abandono (fls. 16/17) –, acreditou que “não tinha direito ao benefício” e, não tendo

condições financeiras de arcar com outro patrocínio, ficou por longos anos sem acessar

o direito que lhe pertence.

3. Todavia, devidamente orientada por este Depto. Jurídico – que

presta assistência judiciária gratuita à população de baixa renda – moveu a presente

ação pretendendo obter o reconhecimento judicial de sua dependência econômica em

relação ao filho, com a consectária condenação das corrés ao pagamento da pensão por

morte.

II. O PESO DE UM ‘SIMPLES PAPEL’

Tivesse o segurado arrolado a sua mãe como dependente junta à Administração

Pública, teria ela recebido o benefício desde o óbito – declaração que tinha

presunção de veracidade

4. Ao contrário do sustentado, em contestação, pela SPPrev, a

requerente não teve o pleito administrativo indeferido por ter deixado de apresentar

documentos necessário ou por ter sido provado que ela não dependia economicamente

do de cujus. Nada disso: o pleito administrativo foi indeferido pelo simples fato de o ex

servidor não a ter inscrito, em vida, como sua dependente junto à CBPM (fls. 15):

1Diz a reclamação que “depois de alguns meses [em que continuou a pagar os advogados], ao voltar ao
escritório, eles já não se encontravam lá, nem deixaram endereço onde eu poderia encontra-los, nem se
comunicaram mais comigo (....) em 2006 fui [novamente] à OAB, mas me informaram que o endereço que
havia lá era de Sorocaba”.
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5. Sim, uma mera declaração, um documento puramente

burocrático afastou o recebimento da pensão desde a data do óbito!

6. E se prestada em vida, a declaração teria servido à Autarquia

Estadual, pois, à época, não havia normatividade apta a indeferir o benefício ou

perscrutar sua pertinência, gozando a inscrição, como veremos, de presunção de

veracidade.

7. O filho-policial faleceu em 29/09/2001 (fls. 12), quando o artigo 60

do Decreto Estadual nº 7.391/1975, regulamentador da Lei nº 452/74 (que instituiu o

regime previdenciário militar) dispunha:

Artigo 60 - A situação de dependência econômica, para fins de pensão deve ser


declarada pelo contribuinte, mediante o preenchimento de declaração devidamente
comprovada, conforme modelo e instruções fornecidos ao interessado pela CBPM,
em requerimento dirigido ao Superintendente.

Parágrafo único - Após o óbito do contribuinte a comprovação da dependência


econômica só poderá ser feita perante o Juízo competente e com a participação da
CBPM.

8. Esse era o panorama normativo quando do óbito do servidor,

que não elencava quaisquer documentos comprobatórios da dependência econômica:

bastava a mera declaração feita em vida, desde que devidamente protocolada e

formalizada em modelo pré-definido pela Administração Pública.

9. Foi apenas em 06/07/2007 – quase seis anos após o óbito – que a

Lei nº 452/74 teve o seu art. 8º alterado pela Lei Complementar nº 1.013, inaugurando o

novo § 5º, que, este sim, estabeleceu regras e critérios para a concessão do benefício pela

via administrativa:
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Depois da alteração promovida pela Lei


Redação da lei nº 452/74 à época do óbito 2
Complementar nº 1.013, de 06/07/2007 3

Artigo 8º - São beneficiários obrigatórios: Artigo 8º - São dependentes do militar, para fins
de recebimento de pensão:
VI - os pais do contribuinte solteiro, desde que
vivam sob sua dependência econômica e não III - os pais, desde que comprovadamente
existam outros beneficiários obrigatórios. vivam sob dependência econômica do militar, e
não existam dependentes das classes
§ 1º - Os filhos legitimados e os reconhecidos mencionadas nos incisos I ou II deste artigo,
equiparam-se aos legítimos. ressalvado o disposto no parágrafo § 3° deste
artigo.
§ 2º - A pensão atribuída ao temporariamente
incapaz será devida enquanto perdurar a (...)
incapacidade.
§ 5º - A comprovação de dependência
§ 3º - A invalidez permanente, a incapacidade econômica dos dependentes enumerados na
temporária, o desquite e a viuvez, segunda parte do inciso II, no inciso III e no § 1°
supervenientes à morte do contribuinte, não deste artigo deverá ter como base a data do
conferem qualquer direito pensão instituída. óbito do militar de acordo com as regras e
critérios estabelecidos em norma
regulamentar.

10. E em razão desse novo § 5º acima transcrito, foi editado o novo

Decreto nº 52.859, de 02/04/2008, que, agora sim, especificou os documentos

comprobatórios da dependência econômica, abrindo a possibilidade, inclusive, de

indeferimento administrativo se a gama comprobatória fosse insuficiente:

Artigo 21 - A comprovação de dependência econômica, necessária para o


deferimento de pensão ao filho inválido para o trabalho ou incapaz civilmente, ao
enteado, ao menor tutelado e aos pais do servidor, será feita com a apresentação de,
no mínimo, três documentos, dentre os enumerados a seguir:

I - Declaração pública feita perante tabelião;


II - Cópia de declaração de imposto de renda, em que conste nominalmente o
interessado como dependente;
III - Disposições testamentárias;
IV - Comprovação de residência em comum;
V - Apólice de seguro em que conste o interessado como beneficiário;
VI - Registro em associação de classe onde conste o interessado como beneficiário;
VII - Inscrição em instituição de assistência médica do interessado como beneficiário.

2 Fonte: http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/1974/lei-452-02.10.1974.html
3 Fonte: https://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/1974/alteracao-lei-452-02.10.1974.html
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Parágrafo único - Sem prejuízo do disposto no "caput" deste artigo, os dependentes


que integrem as classes a seguir indicadas também instruirão seus requerimentos:

(...)

5. o pai e a mãe, com a certidão de nascimento do servidor e a declaração escrita em


que este tenha nomeado um deles ou ambos como dependentes, a qual somente terá
eficácia quando não tenham bens próprios para seu sustento.

Artigo 22 - Por decisão motivada, o Diretor Presidente da SPPREV poderá indeferir


os requerimentos previstos nos artigos 20 e 21 deste decreto, quando os documentos
exibidos não bastem para demonstrar que o interessado, na data do óbito do
servidor, dependia economicamente dele ou atendia aos demais requisitos fixados
na lei para a aquisição e o exercício do direito à pensão.

11. Não prospera, portanto, a argumentação da SPPrev de que “a

requerente não apresentou nenhum documento, pois de fato, não vivia sob a dependência

econômica do ex servidor. A requerente se quer (sic) comprovou residência em comum, o que

culminou com o indeferimento do pleito pela via administrativa” (fls. 48/49).

12. Ora, não apresentou os documentos elencados no artigo 21 do

Decreto supra, exatamente porque tais exigências inexistiam quando do indeferimento

administrativo que, frise-se, deu-se em 25/02/2002 (fls. 15).

13. Parênteses. Infelizmente, a condição social que é imposta à boa

parte da população mais simples e carente importa, quase sempre, na falta de

formalização dos negócios jurídicos que praticam ou na ausência de estabilização de

alguma situação jurídica que vivenciam, mediante registro documental no órgão

competente – no presente caso, a mera declaração de dependência econômica –,

normalmente só levado a cabo por conhecedores do regramento jurídico que,

possuindo maiores informações, são capazes de melhor resguardar seus interesses e

direitos.

14. E justamente no momento em que a família prosperava – em

razão da admissão do de cujus na PMSP –, jamais a autora cogitava que seu filho

perderia a vida, ou que aquela mera declaração, um ‘simples papel’, teria tanto impacto
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prático na sua vida. Tivessem disso conhecimento, certamente o filho Antonio teria

aposto sua assinatura no requerimento de inscrição junto à Autarquia Estadual e a

requerente teria recebido a pensão desde o óbito.

15. Como, por fim, para a concessão do benefício de pensão por

morte, deve-se aplicar a legislação vigente ao tempo do óbito do de cujus, nos termos da

Súmula nº 340 do STJ 4, tem-se por totalmente rechaçada a defesa da SPPrev.

III. DEPOIMENTOS COMPROVARAM A DEPENDÊNCIA ECONÔMICA

16. A testemunha Olga conhece a família há muitos anos, pois

“frequentava o salão dela” [da autora] (0’48”), que “era bem simples” (1’08”), tendo

presenciado pessoalmente que o de cujus “prestava assistência” à requerente (1’50”), que

“a ajudava muito materialmente” (1’57”) e que, depois que ele veio a falecer, notou muita

mudança no seu padrão financeiro, pois, “tendo ela muitos filhos, era só ele [o filho] quem

auxiliava a mãe” (2’18”).

17. A requerente era casada, “mas tinha um marido que não

trabalhava, só ela [a requerente] trabalhava” (4’10”) e afirmou que “deu, muitas vezes,

cestas básicas para ela, pois ela não tinha alimentação, então eu ajudei muito ela” (4’50”),

tendo doado essas cestas básicas “até pouco tempo” (4’58”), fazendo questão, inclusive,

de, até hoje, contratar os seus serviços de cabeleireira, mesmo atualmente morando

longe, tudo a fim de a prover com algum serviço, para “ajuda-la” (5’02”).

18. Em relação à casa da requerente, afirma que “ela não tinha muita

coisa dentro da casa, mas depois que o filho começou a ajudar, ela teve uma televisão”

(5’50”) e outros bens materiais, tendo visitado a casa da requerente (2’30”) e afirmado

4SÚMULA N. 340 (STJ): “A lei aplicável à concessão de pensão previdenciária por morte é aquela vigente na
data do óbito do segurado”.
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que, depois que o de cujus passou no concurso da PMSP, a condição de vida da

família melhorou “bastante”, “muito” (2’38”).

19. É natural, porém, que não se comente de todos os pormenores da

vida financeira com todos os conhecidos da vizinhança, daí que o depoimento de

Valéria apresenta um retrato muito mais fiel e descritivo da vida da requerente – e do

papel do de cujus na manutenção da casa –, em razão, inclusive, da proximidade efetiva

entre ambos e devido ao fato de que, à época, frequentavam a mesma casa.

20. Afirmou, assim, que a residência da autora atualmente “está

deplorável”, que “não teve mais um conserto, um nada” (0’55”) desde o falecimento de

Antonio, mas que antes, “sempre foram feitas melhorias”, e que a casa, nessa época, “era

normal” (1’22”), quando ele sempre “arrumava uma ou outra coisa”.

21. Quando o de cujus entrou na PMSP, tinha Valéria “cerca de 16

anos” (1’51”) e que como a família era “de muitos filhos”, todos trabalharam “desde muito

cedo” para ajudar na casa, especialmente os mais velhos, incluindo ela própria, que

teriam mais responsabilidade no sustento da família, sendo certo que:

foi quando ele entrou na polícia foi que a gente teve uma melhoria em casa,
pois eram muitos irmãos, os pais não tinham muitas condições, ninguém tinha
estudo, então foi o meu irmão que deu um ‘up’ dentro de casa em relação a
comida, em relação a vestimenta (2’28”).

22. Depois, ela própria também foi trabalhar, então “o nosso dinheiro

era praticamente pra dentro de casa, pra melhoria da casa” (2’34”), sendo muito comum que

os filhos ajudassem no sustento (2’40”), mas especialmente ele, pois, ao contrário dela

(que casou muito cedo), ele era solteiro e, portanto, “tinha mais condições” de ajudar

(2’45”).

23. Provada, portanto, a dependência econômica da requerente em

relação ao seu filho.


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IV. REGRAS DE EXPERIÊNCIA TAMBÉM LEVAM À PROCEDÊNCIA

Filho homem mais velho que passa em concurso público estável e ganha o

equivalente a 5 mil reais por mês, presta auxílio essencial à casa habitada por mais 5

irmãos, de pai desempregado.

24. Ademais, para além das provas produzidas em contraditório, é

de se considerar a realidade social do caso em tela, contando com as regras de

experiência do que normalmente ocorre (art. 375, CPC) que, segundo a melhor doutrina,

correspondem a “verdades empíricas ou científicas que se prestam e às vezes são

indispensáveis à interpretação dos fatos”5.

25. Isso porque a autora juntou aos autos (fls. 34/36) cópia da sua

Carteira de Trabalho (CTPS), em que é possível verificar apenas duas anotações (na vida

inteira!), como cabelereira, o que indica que, desde há muito tempo, não é empregada

formal e apresenta rendimentos baixos dada a profissão precária e instável, embora

naturalmente tenha trabalhado por toda a vida.

26. Também está nos autos (fls. 37) cópia de seu cartão de benefício

do programa ‘Bolsa Família’, o que claramente indica seu estado de penúria, reforçado

pelo patrocínio deste Departamento Jurídico – que presta assistência judiciária gratuita

à população de baixa renda –, pela condição concreta da simples residência da Rua

Erastóstenes Frazão, 61, situada para além de Guaianazes, na Zona Leste da Capital, e

devido ao fato de que, desde a morte do filho da requerente, a casa ficou ”deplorável”,

“não teve mais um conserto, um nada” (0’55”, Valéria).

5SANTOS, Moacir Amaral. Prova Judiciária no Cível e Comercial. São Paulo, Saraiva, 1983, p.
440.
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27. De fato, em uma família de 6 filhos e que hoje tem “um

desempregado”, uma “atendente de telemarketing”, outro que trabalha como “técnico na

NET”, outra que “é manicure” e a outra que, depois de “muito tempo desempregada”,

atualmente é “assistente administrativa” (6’20”, Valéria) é natural que o filho mais velho

– único titular, na família, de um cargo de status social e de rendimento estável –

auxiliasse cotidianamente o sustento da casa, com um salário que, atualizado para os

dias de hoje, seria de mais de R$ 5.500,00 6.

28. Todos os irmãos, como afirmado por Valéria, “sempre tiveram a

obrigação de ajudar em casa” e até hoje tentam “ajudar como podem”, havendo mês em que

“um ajuda mais, outro menos, tem mês em que ninguém pode ajudar, pois não tem condições,

pois está desempregado e tem filhos”, sendo certo que “quem está casado ajuda menos e quem

é solteiro ajuda mais” (6’45”).

29. Lembra, assim, do de cujus, que era solteiro e, portanto, era quem

mais tinha condições de auxiliar, inclusive em razão do cargo que detinha que – para a

realidade social da família – representava um cargo de ‘alto padrão’, o único filho que,

até então, tinha ‘vencido na vida’: ganhava bem e de forma estável.

6O de cujus recebia R$ 1.053,71 líquidos (fls. 18), correspondente a 5.85 vezes o salário mínimo de
então (R$ 180,00, ano 2001). A mesma relação, aplicada ao salário mínimo atual (R$ 954,00, ano 2018),
resulta em um rendimento líquido de R$ 5.580,00. Fontes: Medida Provisória nº 2.194-6, de
23/08/2001 e Decreto nº 9.255, de 29/12/17.
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30. Para além das provas dos autos, quantos mercados, subsistência

básica da família, o de cujus não pagava para a mãe, cujos comprovantes naturalmente

se perderam ao longo de todos esses anos? Quantas vezes não auxiliou na compra de

um eletrodoméstico novo, um forno de micro-ondas, uma televisão simples, um

chuveiro novo, um implemento simples para a casa que, conforme afirmado por Valéria

“não teve mais um conserto, um nada” ?

31. A admissão do filho da requerente na PMSP representou, de

fato, a prosperidade momentânea da família, tanto que, logo depois de sua morte, a

autora foi obrigada a abandonar o salão que ela própria alugava para prestar seus

serviços de cabelereira, como ficou demonstrado no depoimento de Valéria:

A mãe teve que sair do salão, pois “não conseguiu pagar as contas, pois ele que
ajudava e acabou perdendo tudo, então [ela] perdeu o emprego, perdeu o salão,
perdeu tudo. Tinha a ajuda dele mais o pouquinho que ganhava no mês, então
complementava [a renda]. A ajuda dele era muito necessária, então perdeu tudo.
(3’59”)

32. Era de se esperar: só foi possível alugar um espaço próprio para

empreender, pois o filho auxiliava cotidianamente nas despesas domésticas, mas assim

que faleceu, a família retornou ao patamar de penúria anterior, que a requerente

amarga desde então. Simplesmente não foi mais possível pagar as despesas da casa

concomitante às do salão, minando o rendimento da autora, que deixou de ter o seu

negócio próprio – atividade que certamente lhe garantiria, hoje, condição financeira

muito mais confortável.

33. O documento de dados cadastrais da autora junto à CBPM (fls.

13/14 e 20/21) evidencia, por fim, que ela necessitava do auxílio financeiro de seu filho e

que, à época, o pai do de cujus, o Sr. Cizenando Gomes Pereira, encontrava-se

desempregado, não possuindo a família terreno ou automóvel, dispondo apenas da

singela casa térrea de 60m², sem escritura, a mesma em que até hoje vive a autora, na

singela Rua Erastóstenes Frazão, 61.


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V. A JURISPRUDÊNCIA DO TJSP ADMITE O QUE AQUI SE REQUER

A dependência econômica pode ser comprovada mediante a aferição da capacidade

financeira da beneficiária

34. A jurisprudência Paulista é clara no sentido de que a situação

concreta da família é determinante para a verificação da dependência econômica,

cabendo aos corréus o ônus probatório quanto à existência de fato impeditivo,

modificativo ou extintivo do direito do autor (art. 373, II, CPC) – ônus de que não se

desincumbiram, posto que ausentes quaisquer provas contrárias à pretensão da

requerente.

35. Há casos recorrentes envolvendo óbito de Policial Militar e

ausência da prévia declaração de dependência, só passível de ser suprida na via judicial:

Apelação nº 994.08.141222-9, da Comarca de São Paulo, Voto nº: 7.176, Juiz Fernão Borba
Franco.

PENSÃO POR MORTE - FILHA, POLICIAL MILITAR, FALECIDA - PLEITO DE


PENSÃO PELA GENITORA - comprovada a dependência econômica, deve ser
instituída a pensão por morte aos pais, cujos filhos falecidos não possuíam outros
herdeiros. A prova da dependência econômica pode ser feita nos autos, a exceção da
necessidade da declaração, ainda em vida, do filho sobre a dependência de seus pais.

Por primeiro, não assiste razão à apelante no tocante à suposta ausência dos requisitos
autorizadores do percebimento do benefício pela requerente. O art. 8, VI, da Lei
Estadual nº 452/74 garante o que aqui se busca aos pais do policial militar contribuinte
solteiro, como beneficiários obrigatórios, desde que vivam sob dependência econômica
deste e não existam outros beneficiários obrigatórios (...)

De outra parte, o parágrafo único do art. 60 do Decreto nº 7.391/75, que aprovou o


Regimento Interno da Autarquia, prevê que: "após o óbito do contribuinte a comprovação
de dependência econômica só poderá ser feita perante o Juízo competente e com a participação da
CBPM".

Ou seja, a necessidade de prévia inscrição pelo policial militar contribuinte, declarando


a situação de dependência econômica do genitor (caput do art. 60 do Regimento
Interno), admite a hipótese de que haja comprovação judicial após o óbito. O próprio
legislador excepcionou a obrigatoriedade de inscrição anterior.
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É de se ter em conta que a produção da prova, nos autos de processo judicial, com a
participação da CBPM, cumpriu o preceito do parágrafo único do artigo 60 do referido
decreto.

36. É exatamente o caso destes autos.

37. Continua o mesmo julgado, em trecho que se aplica

indubitavelmente ao caso em epígrafe.

Tanto as declarações das testemunhas (fls. 86/90), quanto os documentos juntados aos
autos (destaque-se o holerite da autora, de R$ 341,00 mensais, a fls. 17) bem
demonstram a dependência econômica da requerente em relação a policial militar
falecida.

Como se sabe, o ônus de desconstituir o direito do autor incumbe ao réu, no momento


oportuno, consoante dispõe o artigo 333, inciso II, do Código de Processo Civil.

Em caso análogo a este, a 6ª Câmara decidiu favoravelmente aos autores apelados.


Confira-se: “PENSÃO POR MORTE. Genitora de Policial Militar, morto em exercício. Prova
de que o filho era "arrimo" de família, demonstrada a dependência econômica.
ADMISSIBILIDADE. Previsão legal. Recurso desprovido” (Apelação Cível nº 965.738-5/3-
00, São Paulo, Relator Oliveira Santos, Voto nº 27.384, V.U., j. 29.03.2010).

38. Ademais, residir em casas diferentes não é critério inequívoco

para afastar a dependência econômica, muito menos o fato de a autora ter imóvel

próprio ou contar com outras fontes de renda, desde que minguas, como de fato são as

que com muito esforço possui.

39. É o que também tem assentado o TJSP:

Apelação nº 994.03.064973-6, da Comarca de São Paulo, VOTO Nº 788.

APELAÇÃO CÍVEL - PREVIDENCIÁRIO - Concessão de pensão por morte a pais de


policial militar morto em serviço - Requisitos legais para a concessão do benefício
preenchidos - Documentos colacionados aos autos, bem como as declarações das
testemunhas, que demonstram a dependência econômica dos pais do policial militar
falecido, bem como a ausência de outros beneficiários obrigatórios - Inteligência do art.
8 , inciso VI, da Lei Estadual 452/74 e do artigo 60 do Decreto nº 7.391/75, que aprovou
o Regimento Interno da Autarquia

(...)
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Tantos as declarações das testemunhas (fl. 145/46), como os documentos juntados aos
autos, demonstram a dependência econômica dos autores em relação ao policial militar
falecido. E a dependência econômica dos requerentes foi alvo de minuciosa apreciação
pelo d. Juízo a quo, que assim consignou:

"Com efeito, os autores lograram demonstrar que as filhas são, senão casadas, pessoas que têm
vida independente. Todas lutam com dificuldade, já que cada uma delas possui três filhos. Consta,
na versão de Josefa de Albuquerque Bento Ornelas, amiga da família há vinte anos, que as filhas
do casal não trabalham, dedicando-se exclusivamente aos filhos. Uniram-se à pessoas simples,
como elas (fl. 146). Esta versão é confirmada por uma outra testemunha, Terezinha Neres de
Aguiar (fl. 145)".

Prossegue o nobre magistrado:

"Da prova dos autos também é possível retirar que embora os requerentes tenham casa
própria, certo é que José Carlos, marceneiro, não recebe aposentadoria. Não bastasse,
encontra-se desempregado desde a época em que o filho era vivo (fl. 145 e 146). Aliás, os
requerentes vêm aos autos para dizer que estão sobrevivendo graças ao valor do seguro de
vida (R$ 10.000,00), cujo recebimento comprovam a fl. 123 e 124.”

E finaliza:

"Instados pelo magistrado a juntar cópia da Declaração de Imposto de renda, esclareceram que
não prestam declaração à Receita Federal, porque na forma do regulamento do Imposto de renda,
estão isentos".

Por conseguinte, patente a dependência econômica dos autores diante da prova


produzida em Juízo. Outrossim, se pretendia a recorrente desconstruir o direito dos
autores, deveria ter produzido prova nesse sentido, ônus do qual não se desincumbiu
(art. 333, inciso II, do Código de processo Civil).

40. O caso acima se aproxima, em muito, com o destes autos, salvo

em relação ao triste fato de que, aqui, a requerente não contou com o valor do seguro

de vida, posto que seu filho não faleceu em serviço.

41. O fato, aliás, de o de cujus ter deixado de morar com os pais

depois de alguns anos na PMSP indica exatamente o oposto do que crê a SPPrev: que a

prosperidade de vida por ele alcançada permitia que, além de auxiliar cotidianamente

a mãe, estava apto a se preparar para construir sua própria vida particular, saindo da

casa dos pais, o que é bastante normal e até esperado.


DEPARTAMENTO JURÍDICO XI DE AGOSTO
FACULDADE DE DIREITO DA USP
PRAÇA. JOÃO MENDES 62 – 17º ANDAR
CEP 01501-902 – SÃO PAULO, SP
FONES: 3241- 4461

42. Ademais, quando a requerente é de comprovada baixa renda, tal

como aqui – fazendo jus, inclusive, aos benefícios da justiça gratuita (fls. 38) - o Eg. TJSP

nega os recursos de apelação interpostos pela CBPM e SPPrev, mantendo a procedência

do pedido de reconhecimento de dependência econômica e condenação ao pagamento

da pensão por morte:

Apelação nº 994.09.363673-8, da Comarca de São Paulo, VOTO nº 24540.

Por outro lado, a produção da prova oral, nos autos do processo judicial, com a
participação da CBPM, cumpriu o preceito do par. único do art. 60, do referido
decreto.

As testemunhas ouvidas foram unânimes em afirmar que o policial falecido era


quem custeava as despesas da casa e que os autores têm problemas de saúde (fls.
283/294). O argumento da apelante de que os pais do policial são aptos ao trabalho
porque não são pessoas idosas, é despropositado. Salienta-se, outrossim, que o
ônus de desconstituir o direito dos autores incumbe ao réu (art. 333,II, do CPC), no
momento oportuno.

A condição de dependente deixou de ser declarada em vida pelo servidor, mas


graças ao permissivo do parágrafo único, do artigo 60, do Decreto 7.391/75, isto foi
suficientemente demonstrado no âmbito judicial, em lide que contou com a
participação da ré.

O policial conservou a condição de solteiro, o que adicionado da dependência


econômica, dá por satisfeitos os requisitos necessários para qualificar a condição de
beneficiários obrigatórios dos pais, nos termos do art. 8º, inciso V, da Lei Estadual n.
452/74 "

Em caso análogo, na Apelação Cível nº 768.626.5/6, em que foi relatado pelo e. Des.
OLIVEIRA SANTOS, ficou consignado: “A lei exige que os pais sejam dependentes
economicamente do servidor falecido, mas não significa que, sem ele, pereçam.
Isto quer dizer que não é necessária a demonstração de 'inexistência de outros
meios de subsistência'. E lógico que a autora está viva e, de algum modo, consegue
sobreviver. Há alguma fonte para isso. No entanto, vivia sob dependência do
filho. A inclusão da autora na lista de beneficiários da pensão é mera formalidade"

43. “A inclusão da autora na lista de beneficiários da pensão é mera

formalidade”, ‘simples papel’, mas de tanta relevância concreta no cotidiano da

requerente!

44. Também o caso acima se aproxima muito do discutido nestes

autos, uma vez que a requerente atualmente encontra-se em situação vulnerável, pois
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enfrenta as consequências médicas advindas de quadro de saúde delicado, decorrente

de obesidade patológica. Embora tenha se submetido à cirurgia bariátrica para redução

de peso, sua condição de saúde atual a afasta de trabalhos mais intensos e diversos da

profissão de cabelereira, razão pela qual não possui qualquer tipo de trabalho fixo e

tampouco benefício previdenciário, estando à mingua do sistema de Seguridade Social.

45. “Sobrevive, é verdade, há alguma fonte para isso”, tal como no caso

acima, mas não aufere o mínimo substancial que a Constituição garante e nem a renda

a que tem direito em razão da sua dependência econômica em relação ao seu filho e a

inexistência de outros beneficiários obrigatórios, requisitos da lei implementados no

caso concreto e comprovados nos autos.

VI. CONCLUSÃO E PEDIDOS

46. Ante todo o exposto, considerando as provas produzidas no

processo, a absoluta ausência de desconstituição do direito da autora (não há nenhuma

prova nesse sentido) e, por fim, levando-se em conta as regras de experiência, que

indicam não apenas a dependência econômica propriamente dita, mas também que os

substanciais proventos do de cujus subsidiavam a manutenção da casa da autora, requer

a total procedência da demanda, condenando as corrés à inscrição da requerente nos

quadros de beneficiários da pensão por morte, com o pagamentos das verbas vencidas,

se ainda não prescritas.

Pede deferimento.

São Paulo, 27 de novembro de 2018.

Guilherme Rauen Silva Jardim Rodrigo Ribeiro De Sousa


OAB/SP 219.702-E OAB/SP 217.773

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