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Ciência Política e Direito Constitucional

Mestre Jaime Yamba

PRIMEIRA PARTE. DIREITO CONSTITUCIONAL


CAPÍTULO I
NOÇÃO DE DIREITO CONSTITUCIONAL

SECÇÃO I. DEFINIÇÃO
O direito constitucional é a parcela da ordem jurídica que rege o próprio estado enquanto
com unidade e enquanto poder 1. É o conjunto de normas que recortam o contexto jurídico
correspondente a comunidade politica como um todo e ai delimitam os indivíduos e os
grupos uns face aos outros em relação ao Estado poder e que, ao mesmo tempos, define a
titularidade do poder, os modos de formação e manifestação de vontade politica, os órgãos
de que esta carece e os actos em que se traduz. Chama – se também direito político, por
esses serem normas que se reportam, específica e directamente ao Estado, que constituem
o estatuto jurídico do estado ou do político, que exprimem um particular enlace da instância
e da instancia jurídica da vida humana2.
O direito constitucional é direito da constituição, e esta pode ser definida como o conjunto de
normas jurídicas que definem, estrutura (povo, território e poder politico), fins (segurança,
justiça estar económica), e funções do estado (politica, legislativa, judiciária e
administrativa), ainda a organização (económica, politica e social), titularidade (órgão),
exercício político (processo de feitura e execução de leis), exercício político (fiscalização da
constitucionalidade, tribunais e provedor da justiça)
O direito constitucional é ramo de direito público interno formado pelo conjunto das normas
constitutivo do Estado jurídico do político (sobretudo formalmente constitucionais), quer
estabelecem os princípios do direito politico e jurídicos da sociedade, regulam matéria
processual e formalmente a organização do poder politico, consagram e garantem os direitos
e deveres fundamentais dos cidadãos e pessoas jurídica e definem positivamente a ordem –
quadro, social e cultura.

Normas constitucionais e normas ordinárias


As normas constitucionais são os mais importantes de um ordenamento jurídico, elas
constituem o suporte e fundamento das restantes normas jurídica, que soa designada como
normas ordinária e que tem que respeitar as primeiras sob pena da inconstitucionalidade.
As normas constitucionais encontram – se assim no topo da hierarquia, são as fontes
hierarquicamente superiores de direito. Prevalecem sobre as demais normas jurídicas,

1
DUVERGER Maurice, Grandes Sitemas Político, Coimbra, Almedida, 1985
2
SILVA, Maria Magalhães e ALVES, Dora Resende, Lisboa, Reis dos Livros,
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existindo mecanismo destinados á apreciação da conformidade desta relativamente ao


conteúdo daquelas.
As normas constitucionais estão em regra reunidas num único diploma. No entanto, podem
existir normas constitucionais fora de texto constitucional, que são aqueles que apesar de
assumirem a forma da norma ordinária versam matéria com dignidade constitucional.
Pode definir – se lei como um acto normativo geral e abstracto, editado pelo parlamento,
cujo finalidade essencial é a defensa da liberdade e propriedade dos cidadãos.
II. Espécies de Direito constitucional

Direito constitucional Particular


Esta espécie de direito constitucional dedica – se apenas á análise da ordenação
constitucional de um estado concreto. Estuda apenas a estrutura, fins e funções, a
organização, titularidade, exercício e controlo do poder politico neste mesmo Estado.
Exemplo quando estudamos o direito angolano está no âmbito do direito constitucional
particular.

Direito constitucional geral


O direito constitucional geral é uma espécie que visa a fixação de uma dogma constitucional
que sirva de enquadramento teórico ao estudo do direito constitucional Particular. Vias fixar
conceitos e categorias, ordenar em institutos preceitos singulares, determinar categorias,
formular conceitos que abranjam tais institutos e categorias, declarando os princípios
fundamentais que passam pelo sistema e o vivificam e a que se chama dogmas.
Por exemplo, se estudamos o sistema de fiscalização da constitucionalidade no direito
angolano, estamos no âmbitos do Direito constitucional particular, mas se estudamos o
sistema de fiscalização em geral e aí enquadramos, em seguida, o nosso, estamos então a
fazer um estudo de direito constitucional geral. Tal como quando estudamos conceitos como
justiça, lei, regulamento, etc.

Direito constitucional comparado


O direito constitucional comparado faz uma descrição dos vários sistemas constitucionais
positivos, tentando captar os seus aspectos característicos, podendo fornecer contributos
para o direito constitucional geral. A comparação pode ser simultânea e diz – se sincrónica
ou sucessiva e diz – se diacrónica.
III. Noção de ciências políticas
Trata –se de uma ciência que vai estudar, ordenar, sistematizar e dar a conhecer a realidade
politica, os fenómenos políticos.

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Hoje em dia, entende – se por fenómenos políticos todo aquele que pressupõe uma relação
de poder, uma relação entre governantes e governados.
A moderna Ciência politica norte – americana estuda os fenómenos políticos não
enquadrados na estrutura do estado, mas no âmbito global das actividades políticas de uma
sociedade enquadradas num sistema político (conjunto de variáveis que permitem
estabelecer relações entre os fenómenos políticos). Isto porque hoje se entende que o
politico é estadual, mas vai alem dele, abrangendo a actividade de estruturas e exteriores ao
Estado. A ciência politica é assim descritiva e não normativa.
O âmbito de sobreposição das ciências politicas e do Direito Constitucional
O direito constitucional é o direito da constituição. E esta pode ser definida como estatuto
jurídico do político
Direito público e direito privado
Todo o ordenamento jurídico permite e até exige o estabelecimento no seu interior de certas
divisões e arrumações.
Segundo a divisão clássica (SUMA DIVISIO), o direito divide –se em dois grandes grupos: o
direito público e o direito privado. Esta classificação oriunda do direito romano, dizia
ULPIANO ‘’ o direito público era aquele concernente ao Estado dos negócios romanos, o
direito privado era o que disciplinava os interesses particulares. Esta distinção não é sem
críticas
Critério de distinção e apreciação
Os critérios apresentados pelos diversas autores para o estabelecimento de uma delimitação
ou distinção entre o direito público e o direito privado reconduzem – se hoje, essencialmente
a três teoria que são: a teoria dos interesses prosseguidos pelas normas jurídicas, a teoria
da posição dos sujeitos na relação jurídica e a teoria da qualidade dos sujeitos na relação
jurídica. Todas essas teorias postulam a separação entre o Estado e a sociedades civil.
A. Teoria dos interesses:
Segundo esta teoria, o direito público corresponderia a interesse público e o direito privado o
interesse privado. E, consequentemente seria normas de direito públicas o que respeitassem
ao interesse geral da comunidade, pertencendo ao direito privado aos interesses
particulares.
Este critério é sujeito a várias críticas certeiras
Criticas
Acentue – se, em primeiro lugar, que todo o direito público e privado – visa proteger
simultaneamente interesses públicos e interesses particulares. As normas de direito privado
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não se dirigem apenas à realização de interesses dos particulares, tendo em vista


frequentemente, também, interesses públicos. Pense – se na norma que sujeita as vendas
de imóveis a escritura pública como requisito de validade do acto (artigo 875). Tem – se em
vista com ela, além defender as partes contra a sua ligeireza ou precipitação, realizar as
interesses público da segurança do comércio jurídico, da prova fácil da realização do acto,
da fácil distinção entre o conteúdo dos actos jurídicos e as meras negociações.
As normas de direito público, para sua vez, para além do interesse público visando, pretende
também, dar adequada tutela a interesses dos particulares. As normas, que definem as
condições de promoção de promoção dos funcionários públicos ou de acesso de função
pública, tem em vista, para além de interesses públicos do eficaz funcionamento dos
serviços, uma protecção justa legítimas interesses das pessoas singulares a que se dirigem.
Este critério não é aceitável, pelas duas seguintes razões:

 Não pode saber, se em muitos casos, qual é os interesse predominante. O interesse


principalmente tutelado por certas normas será os interesses da colectividade ou
interesse particular.

 Há normas que, dado o lugar da sua inserção no sistema jurídico e da tradição e


desenvolvimento histórico do direito, são pacificamente classificadas como de direito
privado e, todavia, visam predominantemente interesses públicos. É o que acontece
com a maioria das normas imperativas (jus cogens).
B. Critério da supremacia
Poderia pensar – se em recorrer no critério, segundo o qual o direito público disciplina
relações entra entidades que estão numa posição de supremacia e infra ordenação.
Enquanto o direito privado regularia relações entre entidade relativa de igualdade ou
equivalência.
Este critério também não é adequado, pois

 O direito público regula por vezes, relações entre entidade numa relação de
equivalência ou igualdade como acontece com as relações entre municípios e bairros.

 O direito privado disciplina, também algumas vezes situações e infra – ordenação como
acontece com o poder parental, com as relações entre associações e sociedades e os
seus membros.
C. Critério da teoria dos sujeitos
O critério mais adequado e que hoje reúne a maioria das sufrágio pode ser designado por
teorias dos sujeito, em virtude de assentar na qualidade dos sujeitos das relações jurídica
disciplinadas pelas normas a qualificar como direito público ou direito privado.

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Segundo este critério, o direito privado regula as relações jurídicas estabelecidas entre
particulares ou entre particulares e o Estado, ou outros entes públicos, e os mais intervindo o
Estado, ou esses entes públicos em veste de particular, isto é, de despidos de imperium ou
poder soberano. Acontece esta última hipótese quando o Estado ou um município por
exemplo compra um automóvel, arrenda um prédio para instalação de um serviço etc. em
casos deste tipo o Estado é um ente público menor, como qualquer particular que celebrasse
aquelas compras ou aquele arrendamento, actuam em pé de igualdade com vendedor ou
com o senhorio e estão fora de exercício de quaisquer funções soberanas. Se a relação
jurídica disciplinada pela norma não se apresenta com estas características estamos perante
uma norma de direito público.
Este critério é o que permite destacar os dois ramos de direitos com mais precisão e
segurança e o que melhor se amolda ao âmbito de cada uma das duas grandes divisões
como elas são entendidas actualmente.
Alcance prático de distinção entre o direito Público e o direito Privado e apreciação
É legítimo que nos perguntamos qual é o interesse prático ligado a esta distinção entre o
direito privado e o direito público, para o qual têm sido, como vimos, propostos vários
critérios. A divisão efectuada e a exacta integração de cada norma na categoria
correspondente, além de satisfazerem um interesse de ordem científica na sistematização e
no lógico agrupamento e separação de grande grupos de normas jurídicas, revestem
interesse no próprio plano da aplicação do direito.
Vamos dar dois exemplos desses alcances práticos.

 Determinação das vias jurídicas

A distinção entre direito público et direito privado, vai muitas vezes determinar as vias
judiciais a que o particular que considera lesado pelo Estado ou por uma autarquia local
deve recorrer ou vice – versa.
Se o particular tem uma pretensão contra o Estado ou contra um ente público menor ou vice
– versa, há que averiguar, no fundo, se a relação jurídica donde essa pretensão deriva é
uma relação de direito público ou direito privado. Essa averiguação ira determinar o tribunal
competente para apreciação da lide, pois a competência deste é demarcada, também,
segundo um princípio de especialização, isto é, um função da matéria sujeita a sua
apreciação

 A responsabilidade civil

A responsabilidade civil, isto é a obrigação de indemnizar os prejuízos sofridos, decorrente


de uma actividade de órgãos, agentes ou representante do Estado está sujeita a um regime

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diverso consoante os danos são causados no exercícios de uma actividade de gestão


pública, os pedidos de indemnizações feitas a administração são apreciados pelos tribunais
administrativos e o regime da responsabilidade e o prescrito por uma lei especial não o
código civil.
Se os danos resultam de um actividade de gestão privada, os pedidos d indemnização
contra a administração central ou local, são deduzidos perante os tribunais judiciais e o
regime da responsabilidade e o constante do código civil.
Ora actividade de gestão pública e a actividade da administração disciplinada pelo direito
público e actividade de gestão privada a que e regida pelo direito privado.

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CAPÍTULO II. A TEORIA DA CONSTITUIÇÃO


SECÇÃO I. ORIGEM, HISTÓRIA DAS PRIMEIRAS CONSTITUIÇÕES E OS
ANTECEDENTES DO CONSTITUCIONALISMO

A. HISTÓRIA DAS PRIMEIRAS CONSTITUIÇÕES E OS ANTECEDENTES DO CONSTITUCIONALISMO


1.1. Breve história da constituição
O desenvolvimento constitucional gerador da constituição tem várias raízes localizadas em
horizontes temporais diacrónicos e em espaços históricos geográficos e culturais
diferenciados. Em termos rigorosos não há um constitucionalismo, mas vários
constitucionalismos3. Existem, portanto, diversos sistemas constitucionais com corações
nacionais, mas também com alguns momentos de aproximação entre si, fornecendo uma
complexa tessitura histórica – cultural.
Entretanto, constitucionalismo é a teoria que ergue o princípio do governo limitado
indispensável à garantia dos direitos em dimensão estruturante da organização político –
social de uma comunidade. É uma técnica específica de limitação do poder com fins
garantísticos. É uma teoria normativa da política, tal como a teoria da democracia ou do
liberalismo.
Porém, o conceito de Constituição na doutrina é bastante recente e acompanha a origem e
formação do Estado enquanto sociedade de Direito.
A origem e formação do conceito de Constituição tem a sua mais directa raiz embrionária e
seu desenvolvimento na doutrina germânica quando após a Primeira Grande Guerra com a
Constituição de Weimar de 1919 4 e, com certa antecipação, a Constituição Mexicana de
1917 e a Lei Fundamental Russa de 1918, iniciaram a consagração explícita de princípios e
normas constitucionais sobre matérias politicas, administrativas, económicas e sociais,
rompendo com a tradição das Constituições Políticas e espelhando o declínio ou o abandono
da Ideia de Estado Liberal puro, abstencionista quanto à “coisa económica”, para
salvaguardar a legitimação dos poderes do Estado de intervir na organização estadual 5.
Nesta linha intervencionista, de princípios com restrições, a legitimada herança doutrinária
transferiu-se alargadamente a inúmeras Constituições inspiradas ou filiadas no liberalismo.
Porém, no mundo socialista ou comunista, inexistindo, à partida e por intrínseca inerência

3
Constitucionalismo inlgês, americano, francês, asiáticos, latino americano e africano.
4
Esta Constituição inspirou Constituições posteriores como a espanhola de 1931, a portuguesa de 1933 e a
brasileira de 1934, coincidindo não por acaso com a construção do Estado – Providência, depois da II Guerra
Mundial, várias Constituições dedicaram alguns preceitos à conformação da respectiva ordem económica, foi o
caso da Constituição francesa de 1946, da helvética de 1947 e da italiana do mesmo ano. Cfr. AA.VV. Direito
Económico, 4ª ed. Almedina – Coimbra, Portugal, 2001, pág.33.
5
Idem. Cfr. AA.VV. Direito Económico, 4ª ed. Almedina – Coimbra, Portugal, 2001, pág.33.
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estrutural, a separação entre as funções essenciais do Estado, as suas Constituições, logo à


partida, contêm proposições jurídicas e princípios sobre matérias constitucionais com laivos
de imprecisões.
O certo, porém, é que a origem e a evolução do conceito de Constituição surge no
prolongamento da evolução da Constituição Política 6.
1.2. Antecedentes de constitucionalismo
Até ao 19° Século XVII, os governantes consideravam-se, quando muito, limitados por
normas religiosas ou princípios morais, mas cuja sanção pelo incumprimento era meramente
moral. No entanto, podemos já encontrar alguns que regulavam facetas da organização e o
exercício do poder político. Esses documentos são, hoje em dias, como antecedente do
constitucionalismo, uma vez que tinha em vista a limitação do poder político e a defesa dos
direitos.
As constituições modernas são um produto da época moderna, porem, todas as sociedades
politicamente organizadas possuem e possuíram certas formas de ordenação que podemos
designar por uma constituição. Mas ideia de organização constitucional do estado só
começou a ganhar vulto no século XVIII, com o movimento impulsionado pelas revoluções
liberais. Em termo cronológico, as primeiras constituições escritas apenas surgem
verdadeiramente na transição da idade moderna para idade contemporânea, mais
precisamente na transição da monarquia absoluta para o estado de direito liberal.
Importa de recordar como antecedente histórico fundamental do constitucionalismo certos
documentos de inegável relevância onde era já notório a intenção de limitar o poder político
proteger os direitos dos cidadãos são os documentos como: Magna Carta, Petition of Rights,
as leis fundamentais dos reinos, os forais etc.
a. Magna carta
A Magna Carta (significa "Grande Carta" em latim), também conhecida como Magna Carta
Libertatum, é um documento inglês de 1215 que limitou o poder dos monarcas da Inglaterra,
especialmente o do Rei João, que o assinou, impedindo assim o exercício do poder
absoluto. Resultou de desentendimentos entre João, o Papa e os barões ingleses acerca
6
Gomes Canotilho prefere falar em constitucionalismo, dividindo-o em moderno e antigo. Para este autor,
constitucionalismo é a teoria ou ideologia que ergue o princípio do governo limitado indispensável à garantia
dos direitos em dimensão estruturante da organização político – social de uma comunidade. Este conceito
transporta um claro juízo de valor, é, assim, uma teoria normativa da política. É moderno o constitucionalismo
que representa uma técnica específica de limitação do poder com fins garantísticos. Ela também pode designar
o movimento político, social e cultural que, sobretudo a partir de meados do séc. XVIII, questiona nos planos
político, filosófico e jurídico os esquemas tradicionais de domínios político, sugerindo, ao mesmo tempo, a
invenção de uma nova forma de ordenação e fundamentação do poder político. Este constitucionalismo, diz o
autor, pretende opor-se ao chamado constitucionalismo antigo, isto é, o conjunto de princípios escritos ou
consuetudinários alicerçadores da existência de direitos testamentais perante o monarca e simultaneamente
limitadores do seu poder. Cfr. GOMES CANOTILHO, José Joaquim, Direito Constitucional e Teoria da
Constituição, 4ª ed. Almedina – Coimbra, Portugal, 2000, pág. 51-52.
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das prerrogativas do soberano. Segundo os termos da Magna Carta, João deveria renunciar
a certos direitos e respeitar determinados procedimentos legais, bem como reconhecer que
a vontade do rei estaria sujeita à lei. Considera-se a Magna Carta o primeiro capítulo de um
longo processo histórico que levaria ao surgimento do constitucionalismo.
b. A Petition of Right
A Petition of Rights de 1628, foi imposta pelo parlamento a Carlos I de Inglaterra, que
sucedeu a Jaime I e VI da Escócia e iniciava a dinastia dos Stuart. Não obstante o seu
carácter meramente declarativo, era já uma tentativa de tomada de posição do parlamento
sobre os princípios fundamentais das liberdades civis, para lembrar à lei o respeito divido as
leis do reino. Tenta fixar as fronteiras exactas entre o poder do Rei e o poder da lei, pondo
mas clara alguns princípios da magna carta e foi regido pelo Sir Edward Coke.
c. O instrument os government
O instrumento os government de Cromwell de 1653, é considerado como a primeira
verdadeira constituição escrita de um Estado moderno, a aproximando – se das formulas
constitucionais autoritárias da época contemporâneo.
d. Bill of Rights
Bill of Rights de 1689 ou declaração de direito, após de posição de Carlos Stuart, no reinado
de Guilherme e Maria d’Orange afirmava que sub nenhum pretexto o Rei poderia violar as
leis fundamentais do reino, abstendo – se de perseguir os cidadãos. Entretanto encontramos
a concessão de Forais, que implicava o reconhecimento pelos monarcas de certas
liberdades aos residentes de certa circunscrição territorial, envolvendo a definição de
algumas normas básicas de administração local. Também o pactum subjectionis: pacto de
sujeição medieval, de acordo com ao qual o povo confiou ao monarca e ao seu governo,
contra a garantia de governação obedecer ao dilema da equidade, de forma justa, caso
contrario e legitimo o exercício do direito de rebelião popular. Ainda encontramos as leis
fundamentais do reino, a que as reis deviam obediência, não as podendo modificar, como
regras relativas a sucessão do reino, á natureza e constituição, fins e privilegio das ordens,
natureza e representação nas cortes, indisponibilidade do domínio territorial do reino.
Todavia, não havia até aqui, de uma forma generalizada a preocupação de codificar de
norma fundamentais.com a revolução francesa, em 1789, pretendeu – se pôr termo ao
absolutismo real, mediante a consagração do princípio da separação dos poderes. O poder
passou a ser confiado a vários órgãos, o poder legislativo caberia ao parlamento, o poder
executivo ao rei e o poder judicial aos tribunais. No sistema assim criado, a função executiva
ficará subordinada a lei, embora um sentido negativo seja a administração podia fazer tudo
aquilo que a lei não proibisse e se o executivo violasse a lei, o parlamento forca – lo – ia
9
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demitir – se, enquanto os tribunais fariam a justiça relativamente aos particulares que
violasse a lei. Apenas o parlamento não estava sujeito a fiscalização vindo se posteriormente
a submete – lo ao direito através da justiça constitucional.
Passou a entender – se que existia um poder supremo, o poder do povo de elaborar o pacto
da sua organização, ou seja, a sua constituição, de que constaria os órgãos com a
capacidade para exercer o poder, as suas atribuições, bem como os direitos dos cidadãos
perante esses órgãos.
Aparece então as primeiras constituição escritas. O primeiro texto foi a declaração de
direitos de Estados de Virgínia, em 1776, seguida pela constituição dos outros estados
Americanos ate a constituição da confederação dos Estados Unidas de América. De 1781, e
a constituição da federal de 1787. Em 1789 surgiu a declaração de direito do homem e do
cidadão e em 1791 a primeira constituição francesa, reforçando assim o ciclo iniciado com
as revoluções americano e precisando – se os contornos do chamado Estados
Constitucionais.
Só a partir daqui é que se incarnou a constituição como um conjunto das regras jurídicas
definidoras das relações de poder, de modo a limitar os governantes e legitimar os actos do
Estado.
B. Sistemas e Famílias Constitucionais.
1. Encandeamento temático
Em todo o mundo contam-se hoje perto de 200 Estados formalmente soberanos, todos com
os seus ordenamentos particulares e quase todos revestidos de Constituições escritas.
Trataremos das diversas famílias a que eles pertencem, num estudo quer de trabalhos
comparativos ex professo, quer de exposição perfunctória antecedente do estudo da
formação do Direito Constitucional angolano e dos grandes temas da teoria da Constituição.
Na esteira de Jorge Miranda, são diversas as perspectivas que podemos adoptar para
atingirmos os objectivos a que nos propomos aqui: o recurso à Teoria Geral do Estado 7, a
tipologia das formas políticas8, a observação de experiências constitucionais 9, a formação de
7
Em boa verdade, repousa no enlace com ela, a qual fornece os temas e problemas a considerar, sendo
depois as respectivas soluções procuradas pela investigação comparativa. As matérias de Direito
Constitucional comparado correspondem aos conceitos mais ou menos gerais e abstractos elaborados pela
Teoria do Estado, e esta vai colhendo os resultados da comparação, de modo a actualizar ou substituir
conceitos ultrapassados pelas mutações políticas e sociais.
8
Ela consiste em distribuir os diferentes sistemas constitucionais em razão dos sistemas políticos que
instituam, em inserir as Constituições em esquemas classificados de formas de governo ou de sistemas de
governo e em proceder à respectiva descrição. Oferece, portanto, o óbice de as formas políticas não
esgotarem, de modo algum, os sistemas constitucionais. As Constituições não se reduzem à sua
regulamentação, ocupam-se de outras matérias, desde a estrutura do Estado, os direitos fundamentais e a
economia à sua própria garantia e revisão.
9
É nisso em que se assenta o sistema constitucional de cada país como um todo e procura-se conhecer a sua
origem, quais os elementos políticos, económicos, culturais e religiosos que o têm condicionado, quais os seus
traços dominantes actuais e quais as suas linhas de projecção provável para o futuro. É a experiência da
10
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sistemas e famílias de Direito constitucional. Perfilharemos esta última, que consiste, por um
lado, em examinar o Direito Constitucional de um país tal como se apresenta na sua
realidade de sistema dotado de vida própria e, por outro lado, em tentar agrupar sistemas
semelhantes ou afins num pequeno número de famílias ou tipos constitucionais.
2. A formação de famílias constitucionais
Para RENÉ DAVID, que trabalhou voltado para o Direito privado, contribuiu muito para a
difusão; dele se aproxima dalgum modo KONRAND ZWEIGERT, KARL LOEWENSTEIN e
SANCHEZ AGESTA.
Para DAVID, o Direito não vem a ser unicamente um conjunto de regras jurídicas, variável
de época para época e de país para país. Em cada país pode mesmo dizer-se que ele
permanece idêntico a si mesmo nos conceitos, nos métodos de trabalho, nas ideias sobre a
sociedade e a justiça, nas estruturas em que se insere. Mas um direito pertence à mesma
família de outro, desde que o jurista seja capaz de lidar se dificuldade com os conceitos,
institutos e construções dogmáticas de qualquer deles. Refere-se o segundo requisito à
comunidade de princípios filosóficos, políticos e económicos 10.
DAVID estuda então, com base nesses critérios, a família romano – germânica, os Direitos
socialistas, o sistema de Common Law e dos Direitos religiosos e tradicionais muçulmano,
da Índia, do Extremo Oriente e da África e de Madagáscar.
Para KONRAD, que toma como critério os modelos dos sistemas jurídicos e considera
factores determinantes de certo modelo a origem histórica do ordenamento, os modos de
pensar dos juristas, os institutos jurídicos caracterizantes, as fontes de Direito e a sua
interpretação e os factores ideológicos.
Como sistemas jurídicos enuncia o romanístico, o germânico, o anglo – americano, o
escandinavo, o dos países socialistas, os do Extremo Oriente, o islâmico e o indiano.
Contraposta é a formulação de LOEWENSTEIN entre Constituições originárias e derivadas,
sendo originária uma Constituição que contém um principio fundamental novo,
verdadeiramente criador e, portanto, original para o processo do poder político e para a
formação da vontade estadual e derivada aquela que segue fundamentalmente um modelo
nacional e estrangeiro.
Considera como tipos originários de Constituição o parlamentarismo britânico, o sistema
constitucional americano, o constitucionalismo francês de 1793 que produziu o tipo de
governo de assembleia, as constituições napoleónicas que introduziram o cesarismo
plebiscitário, a Constituição francesa de 1814 de monarquia constitucional de base
organização jurídico política de cada povo, produto de uma mentalidade e de um ambiente peculares, que se
cuida de recortar ao longo das várias vicissitudes históricas por que tenha passado.
10
Cfr. JORGE MIRANDA, ob. Cit. Pág. 103 – 105, tomo I.
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legitimista, a Constituição belga de 1831 que reconciliou o principio monárquico com a


soberania popular, e as constituições russas soviéticas de 1918 e 1924.
Enfim, as famílias constitucionais englobam todos os documentos constitucionais que
provêm de uma comum Constituição originária ou, eventualmente, de uma Constituição que,
embora derivada ela própria de outra, tenha exercido influência exterior.
2. 3. Sistemas Constitucionais da actualidade
Os apontamentos a que nesta altura correspondem a esta parte da matéria, serão fotocópias
da obra do Prof. Jorge Miranda, intitulada Manual de Direito Constitucional, 2000, tomo I, 6ª
Edição, Coimbra Editora, Portugal, às páginas 109 às 238.
Porém, fica para nós a missão de elaborar na próxima edição os apontamentos mais
acabados e adequados ao novo estudo do Direito Constitucional que pretendemos
implementar nesta Universidade de Belas.
SECÇÃO II. CONCEITO E CONTEÚDO DAS CONSTITUIÇÕES
1.1.Conceito da constituição
A ordem jurídica da constituição é constituída por todas as normas e actos jurídicos que
disciplinam a actividade do Estado enquanto poder político seja eles leis, decretos-lei,
regulamentos, portarias, despachos ou outras. Esta multiplicidade de regras não tem, porém,
um desenvolvimento incoerente ou anárquico mas, pelo contrário, constitui um sistema
caracterizado por uma unidade e coerência internas. Daí resulta que seja possível e
desejável enunciar os princípios fundamentais, os princípios gerais que desempenham o
modelo da nossa ordem constitucional no presente curso curricular.
A constituição, enquanto ente conformado e conformador de relações sociais, é um o
resultado e factor de integração política, que reflecte a formação, as crenças, as atitudes
mentais, a geográfica e as condições económicas de uma sociedade e, também, imprime-lhe
carácter11, funciona como principio de organização, dispõe sobre os direitos e deveres de
indivíduos e dos grupos, rege os comportamentos, racionaliza as suas posições recíprocas e
perante a vida colectiva como um todo, pode ser agente ora de conservação, ora de
transformação (V. g. arts. 1.º, 2.º, 3.º, 4.º, 5.º, 18.º ss da L. C.).
Porém, por se Constituição, Lei Fundamental, Leis das Leis, revela-se mais do que isso. É a
expressão imediata dos valores básicos acolhidos ou dominantes na comunidade política
(arts. 1.º, 3.º n.º 1 e 2, 14.º n.º 2, 18.º da L. C.), a sede da ideia de Direito nela triunfante
(arts. 18.º, 20.ºss), o quadro de referência do poder político que se pretende ao serviço desta
ideia (arts. 53.º n.º 2, 54.º L. C.), o instrumento último de reivindicação de segurança dos

11
MIRANDA Jorge, Manual de Direito Constitucional, 2000, Tomo II – Constituição, 4.ª Edição, Coimbra Editora,
64 – 67.
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cidadãos frente ao poder. É radicada na Soberania do Estado, torna-se também ponte entre
a sua ordem interna e a ordem internacional (arts. 15.º, 16.º 17.º L. C.). 12
Constituição pode ser entendida como o conjunto de regras que definem os diferentes
órgãos do Estado, fixando as relações entre eles e os cidadãos. Consagra igualmente os
princípios políticos, económicos, sociais e culturais e até religiosos sobre os quais assenta a
sociedade, bem como estabelece o catálogo dos direitos e deveres fundamentais dos
cidadãos.Sentido das constituições
a. O constitucionalismo e os sentidos de constituição em sentidos material e em
sentido formal
Podemos definir a constituição como um conjunto de normas jurídicas fundamentais que
definem e estrutura, os fins e as funções do estado, a organização, a titularidade. O
exercício e controlo de poder político e fiscalização do acatamento das normas
constitucionais.
Mas existem desde logo duas perspectivas por que pode ser considerada a constituição:
uma material, em que se atende u ao seu objecto ou ao seu conteúdo, quando se delimita
com a matéria com dignidade constitucional, uma formal, em que se entende á posição das
normas jurídica e ao modo como se articulam e se recortam no plano sistemático do
ordenamento jurídico, normalmente inseridas num texto escrito elaborado por um órgão com
poderes especiais, mediante um processo próprio e onde contam os princípios fundamentais
de dada ordem jurídica. A estas perspectivas fazem – se corresponder diferentes sentidos.
Assim, a constituição em sentido material abrangerá todas as normas que versem matéria
com dignidade constitucional. E a constituição em sentido formal será o conjunto de normas
qualificadas de constitucionais e revestidas de força jurídica superior a quaisquer outras
normas. Assim os países de constituição em sentido material são também países em
constituição em sentido formal. Quase única, e aliás decisiva excepção, é a Inglaterra que
possui constituição em sentido material e não tem constituição em sentido formal.
b. Os requisitos de existência de uma Constituição formal
As normas formalmente constitucional são decretadas por um poder que se legitima para
esse fim, o que significa que são normas de fontes legal e exigem um processo específico
de formação. Para alem disso, integram – se num processo sistemático, com uma unidade e
coerência próprias, dentro da unidade e da coerência do ordenamento jurídico e gozam de

12
A Constituição tem de ser constantemente confrontada com os princípios e é por eles envolvida em grau
variável; tem de ser sempre pensada em face da realidade politica, económica, social e cultural que lhe está
subjacente e que é uma realidade não apenas de factos como ainda de opiniões, ideologias, de posturas
políticas, de culturas cívica e constitucional; e esta cultura carrega-se, por seu turno, de remissões para
princípios valorativos superiores, o que significa que se dá uma circulação entre valor, Constituição e realidade
constitucional. Cfr. Jorge Miranda, op. Cit. Pág. 68.
13
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um entende – se colocadas no topo de direito positivo do Estado. Por isso gozam de um


regime imposto por tais características, que se manifeste na sua interpretação, integração e
aplicação e ainda na sua garantia. Nesta perspectiva, atende – se á posição das normas
constitucionais em face das demais normas jurídicas e ao modo como se articulam e se
recortam no plano sistemático do ordenamento jurídico. Sendo, portanto, que esta
perspectiva supõe três requisitos:

 Intencionalidade da formação;

 Consideração sistemática;

 A força jurídica própria.

Intencionalidade da formação
As normas formalmente constitucionais sã criadas com intenção de ser constitucionais,
elaboradas por um poder com legitimidade para esse fim e de acordo com um processo
especifico de formação.
Consideração sistemática
As normas formalmente integram – se num conjunto sistemático com uma unidade e
coerência próprias, dentro da unidade e da coerência gerais do ordenamento jurídico e
entendem – se colocadas no tipo desse ordenamento jurídico.
A força jurídica própria
As normas formalmente constitucionais gozam de estatuto ou regime imposto por tais
características e pela função que exercem o que é notório na sua interpretação, integração,
aplicação e garantia.
c. A possibilidade e relativo interesse de uma distinção entre Constituição Formal e
instrumental
A constituição em sentido instrumental é um documento onde inserem ou depositam normas
constitucionais. A reivindicação de existência de uma constituição escrita equivale á
reivindicação de que as normas constitucionais se contenham num texto ou documento
visíveis, com as inerentes vantagens de certeza e de prevenção de violações. Em sentido
amplo, a constituição em sentido instrumental será todo e qualquer texto constitucionais,
seja ou não constituição em sentido formal. Em sentido mais estrito, é o texto chamado
constituição e aqui depende sempre de existência de uma constituição em sentido formal.
A constituição instrumental depende pois da existência de uma constituição formal, mas sem
ela se confundir forçosamente.
As normas formalmente constitucionais podem, em relação á Constituição em sentido formal
surgir de quatro maneiras, relacionando os conceitos:
14
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 Podem constar de um só texto chamado constituição; é hipótese mais vulgar, a


constituição formal aparece identificada com um só documento ou texto
constitucional;

 Podem constar na pluralidade de textos ou documentos elaborados simultaneamente


ou sucessivamente como constitucionais: é a hipótese de se fazerem varia
constituições em vez de uma só;

 Podem constar de um texto chamado constituição e de texto posteriormente


elaborados como constitucionais, normalmente mediante revisão, formando todos
uma unidade: é a hipótese de revisão ser feita não por inserção das suas normas de
textos constitucionais, mas por aditamento de leis constitucionais á constituição
originária por elas completada ou modificada.

 Podem constar de um texto chamado constituição e de texto anteriores mantidos ou


elevados por normas neles consignadas, a categoria de constitucionais: é a hipótese
da existência de uma constituição e de leis que de harmonia com preceitos, nela
expressos assumem a forma de leis constitucionais.
SECÇÃO III. A CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES
A. CRITÉRIOS DA CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES
Trata-se de tema não uniformemente abordado pelos doutrinadores. Há, porém, um certo
consenso quanto aos critérios abaixo apresentados.
a) Quanto à forma;
b) Quanto ao modo de elaboração;
c) Quanto à origem;
d) Quanto à estabilidade;
e) Quanto ao conteúdo;
f) Quanto à extensão.
Para cada um desses critérios analíticos surgem as respectivas espécies de
Constituição.
1.1. Quanto à forma:

 Escrita

 Não-escrita

Denomina-se a constituição escrita aquela que assume uma forma solene, Cerimoniosa,
litúrgica, para expressar o modo de ser jurídico de determinado Estado, apresentando as
regras concernentes à disciplina do poder soberano sob a tutela estatal. Trata-se de um
15
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diploma jurídico no qual são sistematizadas as regras que estruturam os fundamentos do


Estado.
Constituição não – escrita é aquela cuja forma de exteriorização das regras fundamentais
do Estado não se expressam por meio de um códex, de um documento jurídico-positivo. Sua
base de elaboração vem das práticas reiteradas num mesmo sentido, gerando a convicção
de que tais práticas tornam-se obrigatórias na consciência geral da comunidade em que ela
brota e viceja. Trata-se de um modelo de constituição que não revela a essência do aparelho
estatal por intermédio de disposições dogmáticas, mas que resulta da lenta evolução da
experiência histórica de determinada nação, fazendo surgir espontaneamente as instituições
fundamentais do Estado, colocando-as em prática a despeito de qualquer solenidade
sacramental.
1.2. Quanto ao modo de elaboração:

 Dogmáticas;

 Históricas/Costumeiras.

A constituição dogmática é aquela elaborada por um órgão constituinte que confere a


forma escrita ao seu produto final, apresentando as regras fundamentais concernentes às
instituições políticas do Estado de modo sistematizado.
Constituição histórica é aquela elaborada a partir dos usos, costumes e tradições de um
povo, e que não reclamam a solenização de seus preceitos porque. Estes emergem
espontaneamente da lenta evolução histórica e consolidação das instituições de Estado. Dá-
se como exemplo a Constituição do Reino Unido. Conclui-se, então, a relação intrínseca
entre a constituição dogmática e a escrita, e a histórica com a não – escrita.
1.3. Quanto á origem:
Classificando-se as constituições quanto à origem, salientemos que esse critério supõe o
ambiente das constituições escritas. Assim, são espécies de constituição classificadas
quanto à origem:

 Popular/Democrática/Votada/Promulgada;

 Outorgada.

Constituição democrática é aquela que conta em seu processo de formação com a


participação do povo porque instituída a partir de um processo constituinte formal e solene.
Essa espécie de constituição resulta de uma assembleia democraticamente constituída, com
o propósito de consagrar as bases de sustentação do Estado segundo as expectativas e
anseios da sociedade que a legitima.

16
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Constituição outorgada é aquela instituída por acto unilateral do governante, que


excepcionalmente conta com a legitimação popular, e que faz valer suas instituições
políticas por meios eficazes de imposição.
Embora com as devidas ressalvas doutrinárias, é possível falar-se ainda na constituição
cesarista, retratando um modelo de constituição cuja origem peculiar revela a participação
popular por meio de um plebiscito ou de um referendo onde um ditador, um governante, um
expoente político monopoliza o aparelho estatal e busca legitimar o seu poder nesses
expedientes de consulta popular, apresentando ao povo uma constituição unilateralmente
elaborada, o que evidencia um processo especial de outorga política.
1.4. Quanto à estabilidade:
Conforme o critério anteriormente estudado, a classificação quanto à estabilidade também
supõe o ambiente das constituições escritas. São espécies de constituição consideradas em
sua estabilidade ou consistência:

 Rígida;

 Flexível/Plástica;

 Semi-rígida.

a. Constituição rígida
Entende-se por constituição rígida aquela cujo processo de alteração do texto
constitucional vigente imprime toda uma dificuldade para a sua modificação. Assim, o
processo de reforma constitucional passa por um ritual solene e cerimonioso criando
dificuldades para a alteração do texto vigente. Neste modelo de constituição são previstos
procedimentos especiais para a implementação da reforma constitucional, sendo
encontraria, inclusive, o elenco das matérias susceptíveis e não susceptíveis ao alcance do
poder constituinte reformador. Esse processo cerimonioso de reforma constitucional marca o
timbre de distinção entre as leis e a constituição, pois que aquelas têm o seu processo de
alteração submetido a um procedimento ordinário e comum, enquanto nesta a reforma se
processa por meio de um rito especial e cerimonioso.
b. Constituição flexível
Constituição flexível (também conhecida como constituição plástica) é aquela cujo
processo de alteração do texto vigente não se mostra dificultoso, admitindo procedimentos
ordinários de reforma, tais como aqueles implementados para as leis. Neste caso, não
existem marcantes diferenças entre as regras constitucionais e as legais, pois que o
processo de alteração dos respectivos diplomas se mostra semelhante. Há casos, inclusive,
em que a edição de uma lei ordinária chega a ter o poder de alterar o regime constitucional

17
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vigente. Eis que neste modelo de constituição não fica evidenciada a questão da supremacia
constitucional em sentido formal.
c. Constituição semi-rígida
Constituição semi-rígida é a que contém uma parte rígida e uma flexível em sua estrutura,
ou seja, é a constituição que de acordo com o teor matéria nela insculpido e sujeito à
alteração o processo de reforma varia. Assim, tratando-se de tema para o qual o constituinte
originário entenda de maior envergadura e cuidado, a sua eventual alteração processar-se-á
mediante expediente especial e solene; caso entenda o constituinte originário tratar-se de
assunto de cunho não essencialmente constitucional, embora consignado no corpo da
própria constituição, seu processo de reforma dar-se-á por meio de procedimento ordinário.
Logo, nas constituições semi – rígidas existem presentes dois mecanismos de alteração da
constituição, um mais brando e outro mais litúrgico.
1.5. Quanto ao conteúdo:

 Material;

 Formal.

a. Constituição material
Entende-se por constituição material aquela concebida em sua substância, considerando
os elementos de regramento essencialmente constitucionais. Essa concepção prescinde da
forma escrita, pois diz respeito à própria ontologia da ideia de constituição. Esse modelo de
constituição vem plasmado nas formulações conceituais apresentadas para o vocábulo
constituição, de tal sorte que sua noção se alinha à própria formação da ideia de
constituição. Se tomada sob a luz das constituições escritas, o termo constituição material
estará designando o facto de que o diploma jurídico escrito adstringe seu corpo de regras
aos assuntos materialmente constitucionais, ou seja, sua disciplina normativa atém-se aos
temas concernentes à titularidade e ao exercício do poder, aos modos de aquisição,
transmissão e extinção do poder, aos limites do poder em face dos direitos e garantias
fundamentais dos cidadãos, bem como aos órgãos que exercem as prerrogativas da
soberania estatal. Sob a luz das constituições não-escritas o conceito de constituição
material se confunde com a própria noção de constituição, pois esta advém da percepção
colectiva da existência de regras consuetudinárias concernentes à organização política
fundamental do próprio Estado.
Segundo o professor José Afonso da Silva: “a constituição material é concebida em sentido
amplo e em sentido estrito. No primeiro, identifica-se com a organização total do Estado,
com regime político. No segundo, designa as normas constitucionais escritas ou
costumeiras, inseridas ou não num documento escrito, que regulam a estrutura do Estado, a
18
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organização de seus órgãos e os direitos fundamentais. Neste caso, só se refere à matéria


essencialmente constitucional; as demais, mesmo que integrem uma constituição escrita,
não seriam constitucionais”.
b. Constituição formal
Constituição formal é o modelo ou espécie de constituição cuja forma de externação é
escrita e solene, independentemente da sua estabilidade (rígida, flexível ou semi-rígida).
Refere-se ao documento formal pelo qual o poder constituinte consagra dogmaticamente
seus preceitos, princípios e valores.
A categorização de uma constituição como formal não depende de uma avaliação do
conteúdo de suas regras, podendo estas ser substancialmente constitucionais ou não. Quão
mais uma constituição formal limitar as suas regras ao conteúdo materialmente
constitucionais, menor será a extensão de seu conjunto normativo; na medida em que a
constituição formal se permita abranger regras não essencialmente constitucionais,
abraçando temas que não digam respeito directamente às instituições e bases políticas
fundamentais do Estado, bem como à definição de direitos e garantias fundamentais dos
cidadãos, maior será a extensão do corpo de suas regras. Daí a próxima classificação.
1.6. Quanto à extensão:

 Sintéticas/Lacônicas;

 Analíticas/Prolixas.

a. Constituição sintéticas
São consideradas sintéticas as constituições que limitam o seu regramento ao conjunto de
temas essencialmente, materialmente, substancialmente constitucionais, concentrando-se
na disciplina dos direitos e garantias fundamentais, bem como na estrutura do Estado em
face de seus órgãos, agentes e competências funcionais e institucionais.
b. Constituição Analíticas
Analíticas são as constituições que incorporam ao seu conjunto de regras a disciplina de
temas não contemplados classicamente como de essência ou substância constitucional, tais
como reforma urbana e rural, propaganda comercial de tabaco, drogas e álcool, etc.
A doutrina actual critica eventual postura intransigente no que tange aos temas considerados
materialmente constitucionais, quando o posicionamento se mostra inflexível à incorporação
de novos valores que expressem essência constitucional, tais como aqueles ligados
especialmente aos direitos difusos, como o direito do consumidor e ao meio ambiente. Tais
assuntos seriam inimagináveis perante a doutrina clássica.

19
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Entretanto, é irrefutável o reconhecimento do avanço do pensamento constitucional quanto à


incorporação de novos valores gravados com quilate de temas materialmente
constitucionais. Daí falar-se hoje em doutrina nos direitos fundamentais de 1ª, 2ª, 3ª e 4ª
gerações.
Considerada esta perspectiva, o critério quanto à extensão deve ser utilizado com adequada
ponderação.
B. OUTRAS CLASSIFICAÇÕES DAS CONSTITUIÇÕES
Considerada esta perspectiva, o critério quanto à extensão deve ser utilizado com adequada
ponderação.

 Constituição Instrumental13: é o documento onde se inserem ou depositam normas


constitucionais. É todo e qualquer texto constitucional, seja ele definido material ou
formalmente, seja único ou plúrimo. É o texto denominado Constituição ou elaborado
como Constituição, naturalmente carregado da força jurídica específica da
Constituição formal.
 Constituição estatutária, orgânica ou utilitária: são aquelas se ocupam do estatuto
do poder, dos seus órgãos e da participação política dos cidadãos; as que se centram
na forma e no sistema de governo, sem curarem do sistema económico e social.
 Constituição programática, directiva ou doutrinal: são as que, além da organização
política, estabelecem programas, directrizes e metas para a actividade do Estado no
domínio económico, social e cultural.
A distinção tem de ser apreendida mitigadamente, visto que;
Ela não coincide com a distinção entre Constituição política e Constituição social, entre
Constituição Directiva e estatutária;
Se o factor ideológico transparece mais fortemente nas Constituições programáticas do que
aos estatutárias, não deixa de estar nestas presente. A escolha entre uma ou outra forma de
organização e a previsão ou não de certo direito ou de certa intervenção do Estado na
económica indiciam, de per si, uma ideologia;
Tão-pouco existem Constituições neutras. O que existem são Constituições que, por
consagrarem esta ou aquela forma de organização, são ou não pluralistas, enquanto
admitem ou não a coexistência dinâmica de todos os grupos de ideologias, com a
virtualidade de as modificarem pacificamente.

13
Se bem que pudesse ser extensivo a normas de origem consuetudinária quando recolhidas por escrito, o
conceito são coevo das Constituições formas escritas. A reivindicação de que haja uma Constituição escrita
equivale, antes de mais, à reivindicação de que as normas constitucionais se contenham num texto ou
documento visível, com as inerentes vantagens de certeza e de prevenção de violações.
20
Ciência Política e Direito Constitucional
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Na realidade, qualquer Constituição encerra elementos orgânicos e programáticos. Tudo


está no grau em que aparecem, no modo como se conjugam, na efectividade que obtêm, no
sentido que a jurisprudência e a doutrina lhes conferem.
E não sofre dúvidas de que as Constituições liberais são preferentemente estatutárias ou
orgânicas, as Constituições marxistas – leninistas, assim como muitas das Constituições de
regimes autoritários doutra índole e de países asiáticos e africanos, preferentemente
programáticas, directivas ou doutrinarias e as Constituições do Estado social de Direito,
Constituições que procuram um equilíbrio sistemático entre uns e outros elementos.

 Constituição real ou normativa: são aquelas cujas normas dominam o processo


político, aquelas em que o processo do poder se adapta às normas constitucionais e
se lhes submete.
 Constituição fictícia ou nominal: são aquelas que não conseguem adaptar as suas
normas à dinâmica do processo político, pelo que ficam sem realidade existencial.
 Constituição Semântica: são aquelas cuja realidade ontológica 14 não é senão a
formalização da situação do poder político existente em benefício exclusivo dos
detentores de facto desse poder.
Enquanto as Constituições normativas limitam efectivamente o poder político e as
Constituições nominais, embora o não limitem, ainda têm essa finalidade, as Constituições
semânticas apenas servem para estabilizar e eternizar a intervenção dos dominadores de
facto na comunidade.
Constituição Capitalista, liberal, social – democrata, Constituição Socialistas e Constituições
do Terceiro Mundo. Enquanto contraposto à valorização ou sobrevalorização que, assim, se
faz do factor jurídico – político, a presente classificação tem sido proposta e inspiradas num
critério diferente; o factor económico. Os grandes sistemas económicos exibirem em outros
tantos tipos de Constituições.
Segundo uma dessas tipologias, haveria Constituições de Estados Capitalistas, socialistas e
do Terceiro Mundo e as Constituições dos Estados Capitalista, subdividir-se-iam em
Constituições liberais, sociais – democratas (ou Estado social) e, com contornos menos
definidos, autoritário – facistas e compromissórias.
Constituição Simples e complexa ou compromissória 15: é aquela que não tem em vista
tanto a natureza das normas quanto a unidade ou pluralidade dos princípios materiais ou dos
princípios fundamentais enformadores da Constituição material. Estas vão desde as da

14
Do Grego: Onto = ser e Logia = Ciência ou tratado. Ontologia e a ciência que estuda o ser enquanto ser, o
ente e o escente.
15
Permitem a coexistência de ideias e correntes antagónicas, mas só podem subsistir se os protagonistas
institucionais aceitam um determinado fio condutor do processo político.
21
Ciência Política e Direito Constitucional
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monarquia constitucional do século XIX a Weimar, desde a Constituição Angolana de 1975 à


maior parte das Leis Fundamentais do 2.º após – guerra.
E bom rigor, nenhuma Constituição é absolutamente simples; todas contêm dois ou mais
princípios que a priori poderão ou não ser compagináveis. O carácter simples ou
compromissório de uma Constituição depende dos circunstancialismos da sua formação, da
sua aplicação e das suas vicissitudes.
Depende da ausência ou da presença de um conflito de fundamentos de legitimidade ou de
projectos de organização colectiva que as normas constitucionais tenham de ultrapassar,
através de uma plataforma de entendimento; depende do modo como é encarada a
integração política.
A Constituição Económica, na esteira de Cabral Moncada 16, é um conceito que não é
unitário, pois, o objecto das normas que integram a Constituição Económica não é sempre o
mesmo. Ora, a doutrina distingue entre a Constituição Económica programática 17 ou
directiva18 e a Constituição Económica Estatutária19.
Para C. Moncada, Constituição Económica é o conjunto de princípios gerais que conferem
unidade de sentido á economia, fazendo dela uma ordem normativa, e que nos possibilitam
um seu estudo científico, para além do simples casuísmo, pois, o seu conceito transcende
em muito o alcance económico dos princípios que o integram. Mas apenas integra as bases
16
Cfr. CABRAL MONCADA, Luís S., Direito Económico, 3ª ed., Coimbra Editora, Portugal, 2000, pág. 91. Para
este autor, os princípios gerais da constituição económica possuem a generalidade necessária para através
deles surpreendermos a unidade interna e a adequação axiológica da ordem jurídica que a partir deles se
constitui. Não se trata de puros valores nem de normas pois que diferentemente destas não se destinam a uma
aplicação directa mas sim a justificar soluções legislativas que as tomem por modelo, imputando-lhes valia
axiológica. Por sua vez, os princípios gerais da ordem económica não são exclusivos nem unidireccionais,
sendo certo que podem entrar em recíproca contradição, pelo que a dimensão exacta de cada um só pode ser
apreciada à medida da sua aplicação prática pelo legislador, pelos agentes administrativos e pelos tribunais.
17
Idem, cfr. ob. cit. pág. 95. Porém, a legitimidade da Constituição Económica Programática tem colocado
muitas dúvidas à doutrina, pois que a consagração constitucional de um conjunto de objectivos de política
económica tende a transformar numa questão de intervenção e de aplicação do direito tudo aquilo cuja
concretização deveria ficar entregue ao livre jogo das forças político-económicas. Atribui carácter jurídico ao
âmbito da pura luta política, ao mesmo tempo que coloca nas mãos dos tribunais de fiscalização da
constitucionalidade das normas a tarefa espinhosa do controlo de disposições de conteúdo eminentemente
político.
18
Esta constituição encerra o conjunto das normas que visam reagir sobre a ordem económica de modo a
provocar aí certos efeitos, modificando-a e alterando-a em certo sentido preestabelecido. A Constituição
Económica Programática ou directiva visa estabelecer uma determinada ordem económica alterando do
mesmo passo a estrutura económica existente, através da acção política dos órgãos do estado.
A consagração e disposições de alcance programático ou directivo é contudo uma consequência directa da
constitucionalização de uma escala de valores cuja realização se entende ser natural no modelo do estado de
direito social dos nossos dias. Nesta perspectiva, caem por terra os argumentos contra a legitimidade das
normas constitucionais programáticas: o problema não é agora o da sua legitimidade, mas tão-só o dos limites
da sua eficácia jurídica.
19
A Constituição Económica Estatutária é composta pelo conjunto de normas que caracterizam uma certa e
determinada forma económica, que justamente a identificam enquanto tal. É o caso, por ex., nas normas que
definem o conteúdo e limites dos direitos de propriedade e de livre iniciativa privadas, imprescindíveis para a
caracterização da ordem jurídica da economia dos países ocidentais. Sem essas normas que verdadeiramente
nos mostram o «estatuto», a matriz das relações de produção dominantes, nunca a caracterização de uma
dada ordem jurídica da economia seria possível, lançando mão dos elementos para tanto decisivos. Idem, ob.
cit. pág. 96.
22
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

gerais do sistema económico e das respectivas instituições, permitindo introduzir um


princípio de ordem que viabilize um tratamento sistemático, embora consciente das
limitações inerentes a todo o estudo apenas sistemático das realidades jurídico –
económicas.
Certamente, olhando para a nossa Constituição Económica, será isto que se vai depreender
e empreender face ao direito angolano.
No dizer de Gomes Canotilho, em sentido restrito, constituição económica é o conjunto de
disposições constitucionais que dizem respeito à conformação da ordem fundamental da
economia.20 Menos ampla do que a ordem jurídica da economia visto que não inclui todas
as suas normas e princípios mas apenas as normas e princípios básicos, pois, a
Constituição incumbe o Estado de assegurar uma equilibrada concorrência entre as
empresas, mas é a lei que define os tipos de práticas restritivas da concorrência que não são
permitidas ou de concentrações que devem ser controladas. É ela que atribui direitos aos
consumidores, mas é ao legislador ordinário que compete estabelecer as garantias desses
direitos.
A nossa Constituição, em estrita conexão com o princípio democrático consagrou uma
constituição económica que, embora não reproduza uma ordem económica ou um sistema
económico abstracto e puro, é fundamentalmente caracterizada pela ideia de
democratização económica e social. Ela será, no dizer de Morais Guerra 21, o núcleo
sistemático de normas e princípios jurídicos fundamentais, ordenados em função da
organização e direcção da actividade económica.
Portanto, por Constituição Económica pode entender-se como sendo o conjunto de regras e
princípios fundamentais que definem a estrutura de um dado sistema económico e instituem
a respectiva ordem económica. Ela confere coesão à ordem Económico, sendo este o
conjunto de regras jurídicas sobre a economia, independentemente do ramo a que
pertençam, contendo assim no seu seio a Constituição Económica, mas nunca acontecendo
o contrário.
Entretanto, ao Constituição pode ainda ser: Constituição Política, Constituição Financeira e
Fiscal, Constituição Federal e Constituição do Estado Federado.

20
CANOTILHO, Gomes, op. cit. p. 339.
21
Cfr. MORAIS GUERRA, José Armando, Direito da Economia Angolana, 1ª ed. Escher, Lisboa – Portugal.
1994, pág. 72.
23
Ciência Política e Direito Constitucional
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CAPÍTULO II.
O PODER CONSTITUINTE

SECÇÃO I. O CONCEITO E A NOÇÃO DO PODER CONSTITUINTE


O Conceito ‘’ do Poder Constituinte’’
O poder Constituinte é a vontade política cuja força ou autoridade é capaz de adoptar a
concreta decisão de conjunto sobre o modo e a forma da própria existência política,
determinando, assim, a existência da unidade política como um todo: "Uma Constituição não
se apoia numa norma cuja justiça seja fundamento de sua validade. Acha-se apoiada, isto
sim, numa decisão política surgida de um ser político, acerca do modo e da forma do próprio
ser. A expressão vontade revela – em contraste com qualquer dependência referente a uma
justiça normativa ou abstracta – o essencialmente existencial deste fundamento de
validade".
É a manifestação soberana da suprema vontade política de um povo, social e juridicamente
organizado, consistindo na posição do princípio democrático, ocorrida após a Revolução
Francesa – 1789 – tendo natureza de poder de direito.
É a expressão da suprema vontade política do povo, social e juridicamente organizado, da
qual emanam as normas constitucionais.
É o órgão legislativo do Estado, dotado de autoridade política, cuja finalidade é criar ou rever
a Constituição, e do qual derivam todos os outros poderes do Estado, não sendo instituído
por nenhum anterior a ele.
É o poder que institui a todos os outros poderes e não é instituído por qualquer outro.
O reconhecimento de um poder capaz de estabelecer as regras constitucionais, diversas do
de estabelecer regras segundo a Constituição, é, desde que se pretenda serem aquelas
superiores a estas, uma exigência lógica. A superioridade daquelas, que se impõe aos
próprios órgãos do Estado, deriva de terem uma origem distinta, provindo de um poder que é
fonte de todos os demais, pois é o que constitui o Estado, estabelecendo seus poderes,
atribuindo-lhes e limitando-lhes a competência: o poder constituinte.
Deve-se, portanto, reconhecer a existência de um poder constituinte do Estado e dos
poderes deste (os quais são, por esse motivo, ditos constituídos). Esse poder constituinte é
que estabelece a organização jurídica fundamental, é que estabelece o conjunto de regras
jurídicas concernentes à forma do Estado, do governo, ao modo de aquisição e exercício do
governo, ao estabelecimento de seus órgãos e aos limites de sua acção, bem como as
referentes às bases do ordenamento económico e social.

24
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

Observe-se, porém, que, embora se possa falar de poder constituinte relativamente a uma
Constituição não – escrita, propriamente a distinção entre poder constituinte e poderes
constituídos só tem interesse relativamente à Constituição rígida. De facto, naquela é o
mesmo poder que gera as regras ordinárias e as regras constitucionais, assim, poder
legislativo e poder constituinte se confundem – donde a flexibilidade da Constituição. Em
relação à Constituição rígida é que se pode mostrar distintamente a existência de um poder
anterior e inicial.
Seria um poder “inicial, autónomo e omnipotente”. É inicial porque não existe, antes dele,
nem de facto nem de direito, qualquer outro poder. É nele que se situa por excelência, a
vontade do soberano (instância jurídico – política dotada de autoridade suprema). É um
poder autónomo: a ele só a ele compete decidir se, como e quando, deve “dar-se” uma
constituição à Nação. É um poder omnipotente, incondicionado: o poder constituinte não
está subordinado a qualquer regra de forma ou de fundo”.
SECÇÃO II. ESPÉCIE DO PODER CONSTITUINTE
A. Poder Constituinte Originário ou próprio ou pré – jurídico ou de 1.º grau
A natureza do poder constituinte Originário
Alguns autores entendem que o poder constituinte originário é o momento de passagem do
poder ao Direito. É inegável que o poder constituinte originário é o momento maior de
ruptura da ordem constitucional, onde o poder de facto que se instala, forte o suficiente para
romper com a ordem estabelecida, é capaz de construir uma nova ordem sem nenhum tipo
de limite jurídico positivo na ordem com a qual está rompendo. Se entendermos o Direito
como sendo sinónimo de lei positiva, posto pelo Estado, o poder constituinte originário será
apenas um poder de facto. E é justamente neste ponto que reside sua força. É claro que não
reduzimos o Direito nesta perspectiva positivista já ultrapassada, que reduz o Direito à regra,
transformando construção do Direito em uma simples aplicação da receita pronta da lei ao
caso concreto.
O que nos interessa no estudo de poder constituinte originário é entender a sua força como
poder de facto, capaz de romper com a ordem vigente, e, portanto, um poder ilegal e
inconstitucional em relação a ordem com a qual rompe, e pela qual não se limita. Esta
afirmativa contém a essência da segurança que busca o constitucionalismo moderno: a
Constituição na sua essência deve ser tão forte e perene que nenhum poder constituinte
pode romper com seus fundamentos e estrutura, mas somente um poder social tão forte,
que nem mesmo a Constituição poderá segurá-lo pois é o poder de transformação social da
própria história.22 Neste recurso do Direito Constitucional ao poder social, ao poder de facto,

22
BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Constitucional. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 1998
25
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

transformador e histórico, reside sua própria segurança, contra maiorias temporárias


parlamentares que queiram transformar toda a Constituição, escrevendo uma nova,
procurando se legitimar no voto que elegeu os representantes.
A protecção contra o autoritarismo da maioria reside na exigência de poder social irresistível,
única justificativa para a ruptura constitucional. Defensores de tese contrária procuram
desenvolver mecanismos meramente representativos e consultivos (plebiscitos e referendos)
para legitimar uma alteração radical do texto constitucional, que afecte seus princípios
fundamentais, criando na verdade uma nova Constituição. Estes mecanismos são
verdadeiros golpes contra a segurança jurídica, que como disse, só pode ser rompido pela
força social irresistível que não se expressa em meras representações, pois quinhentos não
podem o que só milhões poderão. Pode-se afirmar, entretanto que estes milhões podem ser
ouvidos em plebiscitos, mas como proteger estes milhões da força de manipulação da
propaganda na construção de uma falsa vontade popular. Por isto nada pode substituir a
mobilização popular, única justificativa para rupturas constitucionais profundas. 23
Retornando a discussão inicial, podemos dizer, ao contrário, que, se entendermos,
entretanto que o Direito não se resume ao direito positivo, mas que está essencialmente
ligada à ideia do justo, do correcto, do direito, estaremos no campo das várias correntes do
pensamento do Direito natural.
Neste sentido o Direito é sinónimo de justo, e logo a lei positiva pode ou não conter o Direito,
pois só será Direito se conter uma norma justa. O conceito do que é justo muda em cada
corrente do Direito natural, mas o que há em comum nas várias teorias é a compreensão de
que Direito é diferente de lei. Seguindo esta hipótese, o poder constituinte originário será um
poder de Direito se representar o justo, o correcto, o direito, e ao contrário, será um mero
poder facto, ilegítimo, contra o Direito, se não representar a ideia do justo, do correcto, do
direito.
Não nos filiamos ao pensamento do Direito natural por considerarmos elitista, no sentido que
ao se reconhecer que existe um direito justo anterior e superior ao direito produzido pelo
Estado, quem será a pessoa ou pessoas que dirão o justo. Quem terá o discurso legitimado.
Se o justo está na vontade divina, quem será o interprete desta vontade. Se o justo está na
razão do filósofo, qual será o filosofo que nos dirá o justo.
Por este motivo entendemos que só processos democráticos com ampla mobilização
popular pode justificar uma ruptura, que sendo facto irresistível se afirma com força, mas não
de forma ilimitada. O Direito não se encontra apenas no texto positivado, ou na decisão
judicial, mas latente na ideia de justiça compartilhada em processos democráticos de

23
Idem
26
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

transformação social, e será esta compreensão dialecticamente compartilhada, em uma


sociedade, em um determinado momento histórico, que legitimará o Direito, sua
compreensão democrática e sua transformação democrática, inclusive as rupturas
constitucionais. O Poder constituinte originário só será legítimo se sustentado por amplo
processo democrático que ultrapasse os estreitos limites da representação parlamentar e
penetre nos diversos fluxos comunicativos da complexa sociedade nacional. 24
Portanto podemos concluir que este poder de facto será também de Direito, se
efectivamente democrático, entendendo-se democrático, como um processo dialéctico amplo
que envolva o debate dos mais variados interesses e valores da sociedade nacional.
B. Derivado ou impróprio ou jurídico ou de 2.º grau ou instituído.
Está inserido na própria Constituição, fundado e previsto no poder constituinte originário;
decorre de uma regra jurídica de autenticidade constitucional; conhece limitações expressas
e implícitas e é passível de fiscalização de constitucionalidade; apenas pode modificar
parcialmente ou completar a Constituição, mediante emendas.
Ao contrário da limitação ou ilimitação do poder constituinte originário, as limitações do poder
constituinte reformador ou revisor, como a doutrina chama o poder derivado, são
maciçamente aceitas pelos pensadores constitucionais 25.
Este poder seria derivado do poder constituinte originário, sendo usado nas alterações do
texto constitucional ou sua reforma. Suas principais características são a limitação material
de seu exercício e a condicionalidade destes limites impostos; se não houvesse limites, não
haveria diferença entre o poder revisor e o poder constituinte.
O que se quer vedar ao revisor da constituição é a alteração da substância e não a redacção
dos dispositivos referentes aos direitos fundamentais.
Por fim o poder reformador é um poder de Direito. Tem, portanto, naturezas jurídicas,
estando submetido às regras estabelecidas pela Constituição.
C. Decorrente ou exclusivo dos Estados Membros
Outro aspecto referente a amplitude do Poder Constituinte diz respeito ao Poder Constituinte
decorrente, ou seja, o poder constituinte dos entes federados, no nosso caso, Estados
membros e Municípios. Naquele momento, deixamos claro que o que difere o Estado
Federal de outras formas descentralizadas de organização territorial do Estado
contemporâneo é a existência de um poder constituinte decorrente, ou seja, a
descentralização de competências legislativas constitucionais, onde o ente federado elabora
sua própria constituição e a promulga, sem que seja possível ou necessário uma intervenção

24
CRUZ, Paulo Márcio. Fundamentos do Direito Constitucional. Curitiba: Juruá Editora, 2001
25
BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Constitucional. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 1998
27
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

ou a aprovação desta Constituição por outra esfera de poder federal. Isto caracteriza a
essência da Federação, a inexistência de hierarquia entre os entes federados (União, Estado
e Municípios no caso brasileiro), pois cada uma das esferas de poder federal nos três níveis
brasileiros, participa da soberania, ou seja, detém parcelas de soberania, expressa na suas
competências legislativa constitucional, ou seja, no exercício do poder constituinte
derivado26.
Não estamos afirmando que os estados membros, a União e os municípios são soberanos,
pois soberano e o Estado Federal e a expressão unitária da soberania, ou seja, sua
manifestação integral, só ocorrem no Poder Constituinte Originário. O que afirmamos, é que
no Estado Federal, além de uma repartição de competências legislativas ordinárias,
administrativas e jurisdicionais, há também, e isto só ocorre no Estado Federal, uma
repartição de competências legislativas constitucionais. Esta repartição de competências
constitucionais implica na participação dos entes federados na soberania do Estado, que se
fragmenta nas suas manifestações.
Entretanto, este poder constituinte decorrente, embora represente a manifestação de parcela
de soberania, não é soberano, e por este motivo deve ser um poder com limites jurídicos
bem claros, limites estes que podem ser materiais, formais, temporais e circunstanciais. No
caso por exemplo da Constituição de 1988 da república federativa do Brazil, esta estabelece
limites materiais expressos e obviamente implícitos, deixando para o poder constituinte
decorrente, que é temporário (assim como o originário), prever o seu funcionamento, e o
funcionamento do seu próprio poder de reforma e seus limites formais, materiais,
circunstanciais e temporais. O poder constituinte decorrente é segundo grau (se dos Estados
membros) e terceiro grau (se dos municípios), subordinados a vontade do poder constituinte
originário, expressa na Constituição Federal 27.
Quanto aos limites do poder constituinte decorrente encontramos em vários momentos na
constituição Federal e são limites materiais expressos e implícitos. Os limites expressos
ocorrem todo momento que a Constituição distribui competências e normativas condutas dos
entes federados. Quanto aos limites implícitos, estes são os princípios estruturantes e
fundamentais da República, que se impõem a todos os entes federados como por exemplo,
a democracia, a separação de poderes, os direitos humanos, a redução das desigualdades
sociais e regionais, a dignidade humana, entre outros.
Alguns entendem que a Constituição Federal deve ser quase que copiada pelos entes
federados o que no nosso entendimento é anti – federal. Se a Constituição federal
expressamente não mencionou mandamentos aos entes federados, está livre o constituinte
26
BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Constitucional. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 1998
27
BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Constitucional. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 1998
28
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

dos Estados e Municípios para dispor, desde que respeitados os princípios que estruturam e
fundamentam a ordem constitucional federal. Por exemplo: se a Constituição Federal prevê
o quórum de três quintos em dois turno para emenda a Constituição Federal, como norma
regulamentadora do funcionamento do poder constituinte derivado federal, nada impede que
o Estado Membro ou o Município estabeleçam quórum diferente, desde que respeitados o
princípio da rigidez constitucional que caracteriza sua supremacia em relação as leis
ordinárias e complementares e respeitado o princípio da separação de poderes.
SECÇÃO III. A TEORIA DE TITULARIDADE DO PODER CONSTITUINTE 28
a. Generalidade
Acredito que a resposta para a pergunta sobre quem deve ser o titular do poder constituinte
é clara para os cidadãos. Entretanto devemos responder a pergunta sobre quem é o titular
deste poder nas suas várias manifestações históricas.
Retornando a visão (talvez um pouco romântica) dos clássicos da teoria constitucional,
encontramos no revolucionário SIÈYES a afirmação de que ’a nação existe antes de tudo – é
a origem de tudo. Sua vontade é invariavelmente legal – é a própria leis. Uma visão idealista
importante como construção do discurso do Estado constitucional mas que obviamente não
resiste a uma análise histórica. Podemos mesmo perceber que a construção conceptual da
ideia de nação para SIÉYES se constitui numa forma de legitimar a vontade do grupo no
poder que actua em nome da vontade da nação 29.
É SIEYES que surge a ideia de poder constituinte, diferenciando este poder constituído, que
não pode, na sua acção autónoma, atingir as leis fundamentais contidas na Constituição,
criada por um poder constituinte, que, por sua vez, é produto da vontade da nação.
Constitucionalista Brasileiro, PINTO FERREIRA, afirma que somente o povo tem a
competência para exercer os poderes de soberania. Quando analisa os termos Convenção
Constitucional, assembleia Constituinte e convenção Nacional Constituinte afirma que a
assembleia constituinte é o corpo representativo escolhido a fim de criar a Constituição 30.
Existem para o autor dois tipos principais de organização do poder constituinte. Um será o
modelo da convenção constitucional, que é o tipo primitivo onde existe uma assembleia
eleita pelo povo para elaborar a Constituição, e não há necessidade de ratificação popular. O
segundo modelo é o sistema popular direito, onde a Constituição é votada pela convenção
nacional e posteriormente é submetida à aprovação popular através do referendo. Para o
autor, este segundo modelo está mais próximo do espírito democrático.
28
SILVA, Maria Magalhães e ALVES, Dora Resende, Noções de Direito Constitucional E Ciências Política,
Lisboa, Editora Reis dos Livros, 2000
29
SIÈYES citado por BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito constitucional. 11. ed. São Paulo: Malheiros, 2001
30
PINTO FERREIRA citado por, BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito constitucional. 11. ed. São Paulo:
Malheiros, 2001
29
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

Na história do Estado constitucional, o sujeito do poder constituinte, o seu titular, pode ser
individual ou colectivo, capacitado para criar ou revisar a Constituição. Desta forma
encontramos na história distorções graves da teoria democrática, onde o titular é um Rei, um
ditador, uma classe, um grupo (o que obvio está por detrás do titular individual), todos em
nome do povo ou legitimados por poderes outros que o poder que efectivamente os
sustenta. O discurso esconde a real fonte do poder, ou mais, o discurso constitui uma fonte
do poder ao disfarçar, encobrir sua origem. Entretanto encontramos também, exemplos que
poderes constituintes que de forma diferentes, em graus diferentes, expressam a vontade de
parcelas expressivas do povo nacional.
Não há dúvida que a vontade do poder constituinte deve emanar de mecanismos
democráticos, que permitam que o processo de elaboração da constituição assim como de
sua reforma, seja aberto a ampla participação popular, não apenas através de diálogo com
os representantes eleitos, mas através de legitima pressão da sociedade civil organizada.
Este poder será democrático na medida em que o processo constituinte sirva como arena
privilegiada de demonstração dos grandes temas nacionais, para que, a partir daí, seja
possível que as manifestações do jogo de forças sociais sejam legitimamente exercidas. É
fundamental para isto que o poder de manipulação do marketing político, da propaganda, o
poder de pressão económica seja minado ao máximo. Não pode uma minoria nos bastidores
se sobrepor a vontade presente nas ruas e no campo.
Embora seja importante a existência de um processo democrático na elaboração do texto, a
constituição é muito mais do que texto, e são vários os exemplos históricos, como no caso
da Lei Fundamental alemã de 1949, que embora tenha nascido de forma inadequada, passa
a ser incorporada pela sociedade, sendo hoje sentida e vivida pela sociedade como uma
verdadeira Constituição para os alemães.
b. As diferentes teorias da titularidade do Poder Constituinte
Há muitas teorias sobre a titularidade do poder constituinte, nomeadamente:
 A teoria do direito divino
 A teoria de contratualistas
 A teoria monocrática do despotismo iluminado
 A teoria da democracia liberal
 A teoria da soberania de estado
 A teoria marxista
1. A teoria do direito divino
Segundo esta teoria, a fonte de poder reside em Deus. O seu representante na Terra é o
Papa, que delega tal poder no Rei ou no imperador. Daí a necessidade de o Rei seja

30
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

sagrado pelo Papa. Esta teoria justificam a existência de um vigário de Deus no plano
temporal, porque todo poder vem de Deus. Temos assim:
1.1. Teoria do direito divino sobrenatural (ou da legitimidade carismática)
Os governantes são directamente escolhidos por deus, governam pela graça de Deus. O
poder será assim um dom divino concedido a certas pessoas, dado possuírem um certo
carisma. O que revelaria a escolha divino seria por exemplo o seu aparecimento em
circunstâncias difíceis e salvando o povo de dificuldades existentes, outras vezes a
participação em milagres.31
1.2. Teoria do direito divino providencial
Deus ao criar o mundo teria criado leis que haviam de governar o mundo e os homens só
excepcionalmente interviriam para modificar essas leis. O poder vem de Deus para a
sociedade que depois o confia aos governantes. Essa ordem providencial que regula a
harmonia das coisas e atende ás necessidades dos homens regeria também a designação
dos governantes.
2. Teoria contratualista (ou da pactum subjecionis)
Segundo esta teoria a fonte do poder temporal era o povo. O fundamento da autoridade
política resida num contrato de submissão pelo qual o povo voluntariamente instituía um
poder que regesse. A doutrina é dividida neste ponto, há um grupo de autores que pensava
que este pacto era rigorosamente irrevogável, mas, para os outros o pacto é revogável pelo
seu titular. Assim temos.
2.1. Teoria do poder popular alienável
Segundo estas doutrinas o povo detém o poder e transfere – o para o monarca através de
um pacto de sujeição. Essa transferência pode ser definitiva e irrevogável passando o
governante a exercer o poder por direito próprio ficando superior ao povo. O que tornasse
monarquia absoluta.
2.2. Teoria do poder popular inalienável
Para outros autores, o povo limita – se a conceder o uso ou o exercício do poder, mas
reserva para si a raiz da autoridade, permanecendo assim superior ao monarca. Podendo
assim, quando este não observasse as clausulas do pactos, depô – lo. Esta situação foi na
base da revolta contra os Reis32.
3. As teorias monocráticas do despotismo iluminado
Segundo esta teoria as massas populares é incultas e ignorantes, vivendo naquilo que se
chama obscurantismo, daí que não poderia participar no governo já que a sua acção seria

31
SILVA, Maria Magalhães e ALVES, Dora Resende, idem, p.
32
SILVA, Maria Magalhães e ALVES, Dora Resende, Noções de Direito Constitucional E Ciências Política,
Lisboa, Editora Reis dos Livros, 2000
31
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

nefasta aos seus próprios interesses. Assim o poder caberia a minoria esclarecida, detentora
da moderna cultura e capaz de implantar as reformas pelos progressos da ciência.
Esta ideia tem como origem a força do iluminismo, um movimento cultural que, nasce na
Inglaterra e na Holanda que preconizava a destruição de dogmas, a predominância da
razão, começou a fazer – se a apologia de governos minoritários. Assim esta doutrina
favoreceu o poder absoluto dos monarcas uma vez que se pensava que o ideal seria o
despotismo esclarecido, ou seja, o poder ilimitado de um soberano posto ao serviço da razão
e da ciência.33
4. Teoria da democracia liberal
Esta teoria começou a partir das obras de Montesquieu e John Locke com as bases da
democracia liberal que tem como fundamento essencial a liberdade individual à qual é dado
um conteúdo preciso. A liberdade é concebida como a zona da autonomia do indivíduo
perante o Estado. O poder político deve ser organizado de modo a não atentar contra a
autonomia individual. Desta teoria decorrem as seguintes:
4.1. A teoria da soberania nacional
Nesta teoria o titular da soberania é a Nação como uma entidade abstracta distinta do
conjunto dos cidadãos, tendo como consequências deste pensar as seguintes teorias:
a. A teoria do mandato representativo: se a soberania cabe a Nação, e esta é entidade
abstracta, deve exercer o poder através dos representantes, mas que representa toda
Nação e não aqueles que elegeram (mandato não imperativo)
b. A teoria do eleitorado – função: a soberania pertence á Nação, que é entidade
abstracta, como tal é necessário que os eleitores designem representantes, mas o
que seja designado os órgãos e não a forma como se delega. Assim os eleitos não
exercem um direito ma uma função: eles exprimem a vontade nacional.
c. A teoria do mandato representativo: conduz a irresponsabilidade dos representantes.
O mandato é irrevogável34.
4.2. A teoria da soberania popular
Segundo esta teoria o poder cabe ao povo, cabendo a cada elemento uma parcela da
soberania. Como desta teoria consequências destacamos:
a. O povo titular da soberania exercerá, tanto quanto possível, o poder segundo
forma de democracia directa.
b. Como cada cidadão é titular de uma fracção de soberania, deve eleger os seus
representantes. É a teoria do eleitorado directo, que leva ao sufrágio universal, que
todos cidadãos gozam do direito de voto.
33
ibidem
34
SILVA, Maria Magalhães e ALVES, Dora Resende, Noções de Direito Constitucional E Ciências Política,
Lisboa, Editora Reis dos Livros, 2000
32
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

c. O poder político encontrando as suas origens no povo e sendo exercido pelo povo
não há necessidade de limitações porque ele nunca será despótico. 35
5. Teoria da soberania do Estado
O Estado é uma entidade autónoma, não depende da vontade dos homens. Segundo esta
teoria o povo é um simples elemento do estado, este é que o titular do poder soberano, não
fazendo sentido falar do povo como seu titular porque este não tem razão de ser antes do
Estado e da constituição.
6. Teoria da soberania do Marxista
Segundo a teoria da soberania popular marxista, o poder constituinte cabe ao detentor dos
meios da produção, que formam a classe dominante, do ponto de vista económico. Esta
teoria insere – se nas teorias de governo minoritário.
c. Forma de exercício do poder constituinte
As formas de exercício do poder constituinte são condicionados pelas estruturas
económicas, políticas e sociais dominantes em cada sociedade e em cada momento
histórico do momento. Fundamentalmente temos três formas de exercer o poder constituinte
1. Democrática, o povo exerce o poder intervindo directamente ou indirectamente na
feitura da constituição;
2. Ditatorial ou autocrática, o poder é exercido por um indivíduo ou por um grupo de
indivíduos;
3. Mista ou pactuada em que a constituição resulta de acordo ou pacto entre o povo (ou
seus representantes).
A forma democrática pode ser:
a. Representativa, o poder constituinte cabe ao povo que elege os seus representantes
que reunidos em assembleia (assembleia constituinte) vão elaborar a constituição.
b. Directa, o texto constitucional é elaborada por uma assembleia formada por todos os
cidadãos eleitores, pelo povo sem mediação de quaisquer representantes.
c. Semi – directa ou referendária o texto constitucional é elaborado por um órgão eleito e
em seguida submetido á popular. São os governantes (parlamento ou governo) que
tem a iniciativa e depois consultam os cidadãos sobre um projecto que eles
elaboraram. Esta consulta chama – se referendo. Podendo os cidadãos aprovar ou
rejeitar o projecto. A teoria da soberania nacional conduz logicamente á democracia
representativa. A teoria da soberania popular embora não exclua a possibilidade de
governo representativo está mais próxima da democracia directa ou semi – directa.
A forma ditatorial pode ser:
1. Monocratica, quando o poder é exercido por um só indivíduo:

35
Ibidem
33
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

Monárquica, quando é o monarca que dá ou outorga uma constituição á Nação.


Bonaparista, quando esse indivíduo é um ditador ou outorga uma constituição.
2. Autocrática, quando o poder é exercido por um grupo de indivíduo, por um governo
de facto ou revolucionário (aquele que ascende ao poder por meios inconstitucionais)
que pode fazer a titulo próprio ou em nome do povo, invocando o princípio
democrático.
A forma mista, pode ser:
1. Plebiscito, misto de bonapartismo e democracia. A constituição é elaborada por um
indivíduo e submetida a aprovação popular.
2. Constituições pactuadas, misto de democracia e da monarquia. A constituição
resulta de um acordo entre a assembleia representativa e o monarca.
3. As hetero – constituições, são aquelas que são elaborada fora do Estado em que
vão vigorar, caso das constituições elaboradas para vigorar em territórios colónias.
d. Conteúdo do exercício do poder constituinte
As constituições nascidas de uma forma democrática de exercício do poder têm um
conteúdo democrático. As constituições nascidas de uma forma ditatorial (Bonapartista) ou
democrático.

CAPÍTULO III.
A SUBSISTÊNCIA E MODIFICAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO
SECÇÃO I MODIFICAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO
A. Noções de modificação ou revisão da Constituição.
Segundo Duverger, a criação de uma constituição envolve duas realidades distintas no
tempo, mas unidas na sua natureza: a faculdade de gerar ex novo uma constituição e a

34
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

faculdade de rever a constituição existente. O poder derivado tal como o originário é também
omnipresente, incondicionado36.
Para os outros, como Harriou, o poder constituinte derivado está limitado pelo poder
originário, estando sujeito a limite consagrado na constituição. Nesta prisma, o poder
derivado é uma paródia do poder constituinte originário, que só exercido quando há uma
ruptura na ordem constitucional37.
Enquanto para os primeiros autores a revisão total é sempre possível, para os segundos só
é possível quando a própria constituição o preveja, pois de outro modo a revisão total será
uma ruptura na ordem constitucional. A revisão total pode ser formal, quando engloba todos
textos constitucionais, ou material, quando engloba a alteração da principiologia filosófica da
constituição, alterando as normas constitucionais caracterizadoras de Estado.
A revisão pode consistir em:

 Modificação de um preceito constitucional – substituição

 Eliminação de um preceito constitucional – supressão

 Introdução de um preceito constitucional – aditamento

As substituições deixam normalmente intocado o âmbito material da constituição, apenas


alteram o regime. Já outras duas intervenções não, pode acontecer que as supressões
venham a retirar da constituição certa matéria – desconstitucionalização, ou os aditamentos
a introduzir matéria até ai sem relevância constitucional – constitucionalização.
Dois fenómenos podem ainda ocorrer:

 Rupturas constitucionais

 Desconstitucionalização

1. Rupturas constitucionais
Rupturas constitucionais, que são regulamentações constitucionais específicas, contrarias
ao regime genérico consagrado na constituição e que vale para os restantes casos. No
entanto são admitidas pela própria constituição e só se verificam em casos excepcionais.
Exemplo:

 Auto – rupturas, disposições constitucionais de conteúdo contrario a outras normas


constitucionais gerais e abstractas.

 Os actos decorrentes da vigência do regime do estado de sítio ou de Estado de


emergência, pode ser leis, actos políticos ou administrativos. A constituição admite esta
ruptura para sobreviver.
36
DUVERGER. Maurice., Droit Constitutionnel et Institutions Politiques, Paris, 1976
37
HARRIOU, Maurice., Manuel du Droit Constitutionnel, Paris, 1985.
35
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

 Lei – medida constitucional, consiste na possibilidade, respeitados os limites ao poder


de revisão, revestir a forma de uma lei concreta na modalidade de lei – media. Caso que a
revisão criaria certos regimes concretos, diferentes dos regimes genéricos consagrados na
constituição.
2. Desconstitucionalização
Desconstitucionalização consiste transformação de normas constitucionais anteriores em
normas legislativas ordinárias. Pode ser originária, superveniente, expressa e tácita.
Originária, se resulta de poder constituinte originário;
Superveniente, se resulta de poder da revisão;
Expressa, se a transformação é expressamente prevista na constituição;
Tácita, se a transformação resulta do silêncio do legislador 38.
B. As vicissitudes susceptíveis de afectar a subsistência da constituição
As vicissitudes constitucionais são todos os eventos que projectem sobre a subsistência da
constituição ou de algumas das suas normas. Surgem inúmeras vicissitudes com diferentes
natureza e manifestação e que podem classificar – se de acordo com os seguintes critérios:

 Quanto ao modo como se produz, podem ser expressas, em que o evento


constitucional como resultado do acto a ele especificamente dirigido, ou tacitas em
que o evento é resultado indirecto, uma consequência que se extrai de um facto
normativo localizado historicamente39.
 Quanto ao objecto, atendendo ás normas constitucional que é afectado, as
vicissitudes podem ser totais ou parciais. Total quando atingido a constituição como
um todo, todas as suas normas ou somente os seus princípios fundamentais, parcial
quando atingindo apenas parte da constituição e nunca os princípios definidores da
ideai de Direitos que as caracteriza.
 Quanto ao alcance quando as situações da vida e aos destinatários das normas
constitucionais postos em causa pelas vicissitudes, há que distinguir as de alcance
concreto ou excepcional, em que se têm em vista situações concretas, verificadas ou
a verificar – se e alguns dos destinatários possíveis abrangidos pelas normas, ou de
alcance geral e abstracto, em que têm em vista todas e quaisquer situações de
idêntica ou semelhantes contextura e todos e quaisquer que nelas se encontrem.
 Quanto á duração dos seus efeitos, distinguem – se as vicissitudes de efeitos
temporário das efeitos definitivos.

38
BASTOS, Celso Ribeiro. Op.cit.
39
SILVA, Maria Magalhães e ALVES, Dora Resende, op.cit

36
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

Tratando – se do poder de rever a constituição e considerando o carácter supremo do poder


constituinte originário, podemos distinguir duas formas das modificações: modificações
executadas de acordo com as normas constitucionais e as modificações efectuadas a revelia
da constituição. Assim podemos distinguir na reforma da constituição e a ruptura da
constituição.
a. Reforma da constituição
Reforma da constituição, vicissitude que processa com a observância das regras previstas
na própria constituição. Temos duas formas da reforma constitucional: a revisão
constitucional e a transição constitucional.
a. Revisão constitucional é uma reforma da constituição expressa, parcial em princípio
de alcance geral e abstracto que traduz mais imediatamente um princípio de
continuidade institucional. A finalidade é a auto – regeneração e auto – continuidade
institucional. A revisão pode fazer – se por inserção da modificação ou então através
da lei constitucional que permanece autónoma e cujas normas se ajustam as da
constitucional primitiva40.
b. A transição constitucional41 é uma reforma constitucional que se traduz na passagem
de uma constituição material a outra com observância das formas constitucionais.
Muda a constituição material, mas pode permanecer a constituição instrumental e
formal42.
De uma óptica mais de Ciência Política do que de direito Constitucional, assinalam-se
diferentes modos de transição, segundo diversos critérios:

40
GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri. Dicionário técnico jurídico. 2.ed. São Paulo: Rideel, 1999
41
É a passagem de uma Constituição material a outra com observância das formas constitucionais, sem
ruptura, portanto. Muda a Constituição material, mas permanece a instrumental e, eventualmente, a
Constituição formal.
Quanto a nós, em fase de normas constitucionais excepcionais, há que distinguir conforme a derrogação afecta
um princípio fundamental da Constituição ou não e, no primeiro caso, ainda, se se trata de derrogação
originaria ou de derrogação superveniente.
42
Menos estudada do que a revolução vem a ser o fenómeno que apelidamos de transição constitucional.
Menos estudado, não só por até há poucos anos ser muito menos frequente mas também por ser mais difícil de
registar ou de fixar, com todo o rigor.
Na transição ocorre sempre um dualismo. Pelo menos, enquanto se prepara a nova Constituição formal,
subsiste a anterior, a termo resolutivo; e nada impede que o mesmo órgão funcione simultaneamente como
órgão de poder constituído à sombra da Constituição prestes a desaparecer e como órgão de poder constituinte
com vista à Constituição que a vai substituir.
O processo de transição é, na maior parte das vezes, atípico, dependente das circunstâncias históricas. Outras
vezes adopta-se o processo de revisão constitucional; e pode até suceder que a Constituição admita
expressamente formas agravadas de revisão para se alterarem princípios fundamentais da Constituição e,
portanto, para se transitar para uma nova Constituição. Cfr. JORGE MIRANDA, Manual de Direito
Constitucional, ob. Cit. Pág. 86 – 89.
37
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

Transição espontânea e transição provocada 43, transição unilateral44 e transição por


transacção45, transição democrática ou pluralista e transição não pluralista.
A transição pode dar-se a partir de preceitos constitucional expressos. É o que acontece
naquelas constituições que estabelecem um regime de revisão dos seus princípios
fundamentais. Outras vezes poder resultar da utilização do processo geral de revisão
constitucional, desde que se possa remover os princípios fundamentais ou substituir o
regime político.
b. A ruptura constitucional
A ruptura constitucional, a ruptura constitucional pode subdividir – se em revolução,
ruptura revolucionária e ruptura não revolucionária.
A revolução como fenómeno político, social e jurídico. Implica a ruptura global da ordem
constitucional até então em vigência, implica uma nova ordem, uma substituição material por
uma nova constituição.
Ruptura revolucionária é uma ruptura parcial na ordem constitucional, ou seja, uma ruptura
que não afecta o cerne da constituição.
Ruptura não revolucionária não põe em causa a validade da constituição, continua a
reconhecer o princípio de legitimidade no qual ela assenta. É uma ruptura parcial na ordem
constitucional, ou seja, uma ruptura que não afecta o cerne da constituição.
B. Os limites do Poder Constituinte derivado.
1. Conceito
O poder constituinte derivado, ou de reforma, divide-se em dois: o poder de emenda e o
poder de revisão, enquanto o poder originário pertence a uma assembleia eleita com
finalidade de elaborar a Constituição, deixando de existir quando cumprida sua função,
sendo um poder temporário, o poder de reforma é um poder latente, que pode se manifestar
a qualquer momento, desde que cumpridos os requisitos formais e observados os seus
limites materiais46.
1.1. O Poder de emenda
O poder de reforma por meio de emendas pode em geral se manifestar a qualquer tempo,
sofrendo limites materiais, circunstanciais, formais e algumas vezes temporais. Este poder
consiste em alterar pontualmente uma determinada matéria constitucional, adicionando,
suprimindo, modificando alínea (s), inciso (s), artigo (s) da Constituição.
43
Transição decidida pelos detentores do poder por sua livre opção e transição provocada por convulsões
políticas ou por outros eventos, internos ou externos.
44
Levada a cabo no âmbito dos órgãos constitucionais em funções, sem interferência das forças políticas de
oposição.
45
Feita por acordo entre as forças identificadas com o regime até então vigente e as forças da oposição.
46
SILVA, Maria Magalhães e ALVES, Dora Resende, op.cit
38
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

1.2. O Poder de revisão


O poder de revisão em geral tem limites temporais, além dos limites circunstanciais, formais
e materiais, ocorrendo, em algumas Constituições, sua manifestação periódica, como na
Constituição portuguesa de 5 em 5 anos. A revisão é mais ampla que a emenda, pois como
sugere o nome trata – se de uma revisão sistémica do texto, respeitados os limites.
Além do poder de reforma encontraremos nos estados federais (e apenas nos estados
federais) o poder decorrente que pertence aos entes federados sejam dos estados membros
no federalismo de dois níveis, sejam dos estados membros e municípios no federalismo de
três níveis. Este poder também é subordinado e limitado, tendo limites expressos e devendo
respeitar os princípios fundamentais e estruturantes da Constituição Federal.
2. Forma de limite do poder constituinte.
O que caracteriza a rigidez de uma constituição é a posição de limite formais, temporais ou
matérias ao processo de revisão. Parece que actualmente todas as constituições admitem o
poder constituinte derivado. Em geral, regulam – no expressamente em moldes de rigidez ou
flexibilidade.
Quanto aos limites do poder constituinte podemos dizer o seguinte:
2.1. Limites formais
Podem dizer respeito a:
a. O órgão competente para exercer a iniciativa de revisão:

 Iniciativa do Parlamento, nos sistemas de governo com primado do parlamento;

 Iniciativa do Executivo, nos sistemas de governo com primado do governo;

 Iniciativa partilhada entre o Parlamento, governo e outros órgãos de soberania, nos


sistemas, semi – presidenciais;

 Iniciativa popular;

b. O órgão competente para aprovar a lei de revisão:

 Órgão especial, cujo titulares são eleitos apenas para a tarefa de revisão ou podendo
ter por base o órgão legislativo ordinário mas ultrapassando – o.

 Órgão legislativo ordinário, podendo não se esgotar nele sendo necessária a votação
popular através de refendo, ou ainda exigir a renovação do órgão legislativo ordinário
mediante eleições.
As maiorias para aprovar a lei de revisão, que devem demonstrar uma adesão ou
consenso inequívoco dos representantes quanto ás alterações da constituição, exigindo – se
normalmente uma maioria qualificada, diferente da maioria relativa.

39
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

2.2. Limites temporais


Os limites temporais dizem respeito á exigência do decurso de certo lapso de tempos para
que a revisão constitucional seja possível e pretendem assegurar certa estabilidade ás
instituições constitucionais.
2.3. Limites materiais
Limites materiais, os limites materiais dizem respeito as matérias que não podem ser objecto
de emenda expressos ou implícitos; assim temos Limites materiais implícitos e limites
materiais expressos.

 Limites materiais implícitos, os limites materiais implícitos dizem respeito a própria


essência do poder de reforma. Mesmo que não existam limites expressos, a
segurança jurídica exige que o poder de reforma não se transforme, por falta de
limites materiais, em um poder originário. O poder de reforma pode modificar
mantendo a essência da Constituição, ou seja, os princípios fundadores e
estruturantes da Constituição, pois reforma não é construir outro mas modificar
mantendo a estrutura e os fundamentos. São portanto limites materiais implícitos os
respeitos aos princípios fundamentais e estruturais da constituição, que só poderão
ser modificados através de outra assembleia constituinte, ou seja, através de um
outro poder constituinte originário;
Existem limites materiais implícitos que representam a própria essência do poder constituinte
derivado; O poder de reforma, como o nome sugere, diz respeito a alteração de elementos
secundários de uma ordem jurídica, pois não é possível através de emenda ou revisão
alterar os princípios fundamentais ou estruturais de uma ordem constitucional; Os princípios
fundamentais e estruturantes são a essência da Constituição e mesmo que não haja
clausula expressa que proíba emenda ou revisão, a essência não pode ser alterada;

 Limites materiais expressos, A constituição deve trazer os limites materiais expressos,


dispondo que é vedada emenda tendente a abolir a forma unitária, os direitos
individuais e suas garantias, a separação de poderes e a democracia; Segundo a
teoria da indivisibilidade dos direitos fundamentais e podemos afirmar com muita
tranquilidades que não podem existir emendas que venham de alguma forma limitar
os direitos individuais, políticos, sociais e económicos; Podem existir emendas sobre a
separação de poderes, a democracia, os direitos individuais e suas garantias e o
federalismo, desde que sejam para aperfeiçoar, jamais para restringir; A protecção ao
unitarismo, significa a protecção ao processo de descentralização essencial ao nosso
unitarismo centrífugo;

40
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

Em conclusão, os limites materiais são expressos quando resultam expressamente da


constituição, quando ela própria indica um leque de matérias que considera como cerne
material da ordem constitucional e furta – as ao processo de revisão, ou implícitos, quando
decorrem do textos constitucional, embora não estejam indicado expressamente. Esta
distinção é quanto a natureza dos limites materiais, mas quanto ao âmbito do mesmo,
podemos distinguir os limites materiais que se refere – se a princípios gerais e nesse caso
não impedem as alterações de disposições concretas desde que não se altere a essência de
tais princípios; ou a disposições concretas e nesse caso vedam a alteração de disposições
em particular.
2.4. Limites circunstanciais
Além dos limites materiais a constituição deve mencionar os limites circunstanciais, que
proíbem emendas ou revisão durante situações de grave comprometimento da estabilidade
democrática como o estado de sítio, estado de defesa e intervenção do governo central;
A proibição do funcionamento do poder de reforma (emendas ou revisão) durante estado de
defesa, de sítio ou intervenção federal constituem limites circunstanciais como já
mencionado;
C. O poder de Revisão da Constituição em Angola:
O poder de rever ou alterar a Constituição é o poder de revisão. Este poder é designado
poder constituinte derivado 47. É o poder constituinte porque altera a Constituição criando
normas constitucionais novas que aperfeiçoam ou desenvolvem normas constitucionais
anteriores ou que criam novos regimes para matérias já tratadas no texto constitucional ou
ainda que criam normas constitucionais inteiramente novas respeitando os limites materiais
de revisão.
Na nossa Lei Constitucional actual o Capítulo II do Título V é dedicado à mataria da revisão
Constitucional.
Da leitura dos artigos 158.º e seguintes da Lei Constitucional conclui-se que a nossa Lei
Constitucional é do tipo rígida 48 e não flexível49, pois exige para a sua modificação um
47
É um poder derivado porque este poder de alterar a Constituição é criado pelo poder constituinte originário. É
um poder que deriva do poder constituinte originário.
48
Não é a existência de um processo de revisão estabelecedor de exigências especificas para a modificação da
Constituição que caracteriza a rigidez constitucional. Este carácter deve procurar-se em sede do poder
constituinte. As normas de revisão não são o fundamento da rigidez da Constituição mas os meios de
revelação da escolha feita pelo poder constituinte. Esta escolha de um processo agravado de revisão,
impedindo a livre modificação da lei fundamental pelo legislador ordinário, considera-se uma garantia da
Constituição. O processo agravado da revisão é, por sua vez, um instrumento dessa garantia – a rigidez
constitucional é um limite absoluto ao poder de revisão, assegurando, desta forma, a relativa estabilidade da
Constituição. A superioridade da constituição e do poder constituinte não significa uma proibição absoluta de
inalterabilidade, mas tão somente a imposição de uma rigidez relativa. Cfr. GOMES CONOTILHO, ob., cit., pág.
1059.
49
Numa perspectiva de síntese e concentrando a atenção na problemática da revisão constitucional, é chegada
a altura de aludir, mais de espaço, à tão usual classificação das Constituições em rígidas e flexíveis, pois ela se
41
Ciência Política e Direito Constitucional
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processo agravado em relação ao processo de formação das Leis ordinárias. Esta escolha
de um processo agravado de revisão, impedindo a livre modificação da lei fundamental pelo
legislador ordinário, considera-se. O processo é um instrumento dessa garantia – a rigidez
constitucional é um limite absoluto ao poder de revisão, assegurando, desta forma, a relativa
estabilidade da Lei Constituição.
1. Iniciativa, regime e limites (materiais, formais, circunstanciais e temporais.
Os órgãos competentes para exercer a iniciativa de revisão são dos deputados, diferindo do
processo legislativo ordinário em que a iniciativa é mais alargado (art.158.º e 88.º ali. a) da L.
C.) e o Presidente da República.
O órgão competente para aprovar a lei de revisão, é a Assembleia Nacional, ou seja, o
órgão legislativo ordinário (art. 158.º n. º 1 da L. C.). A maioria exigida para aprovação da lei
de revisão é de um terço deputados em efectividade de funções e ao PR.
Na actual L. C., quanto aos limites50 temporais, as revisões constitucionais podem ser feitas
“a todo o tempo” mediante aprovação dos dez deputados em efectividade de funções e
desde que isso justifique tal revisão (art. 158.º, n.º 3) 51.
Os Limites materiais visam garantir os princípios fundamentais, são o núcleo essencial da
Constituição, sendo a sua permanência necessária para a identificação da Constituição e
vêm previstos no art. 159.º da actual L. C.
Estes limites, teoricamente, podem ser interpretados de duas maneiras:
Como garantia de determinados princípios e independentemente da sua concretização na
Constituição, caso em que os limites não impediriam a revisão total das mesmas; ou (art.
159.º)
Como garantia de cada principio referido, de acordo com a sua expressão concreta na
Constituição e implicariam a intocabilidade dos artigos que regulam as matérias indicadas
(art. 158.º n. º5).
Desde logo a revisão deve respeitar o regime constitucional como limite absoluto, que pode
alargar o âmbito dos direitos fundamentais, mas não pode eliminar qualquer dos direitos
fundamentais, e só os pode restringir nos casos previstos da Constituição, sem poder criar
reporta à modificação e à subsistência das normas constitucionais.
A rigidez constitucional revela-se um corolário natural, histórico decorrente da adopção de uma Constituição em
sentido formal. A força jurídica das normas constitucionais liga-se a um modo especial de produção e as
dificuldades postas à aprovação de uma nova norma constitucional impedem que a Constituição possa ser
alterada em quaisquer circunstâncias, sob a pressão de certos acontecimentos, ou que possa ser afectada por
qualquer oscilação ou inversão da situação política.
50
Melhores desenvolvimentos podem ser retirados in GOMES CONOTILHO, ob. Cit, pág. 1060 – 1069 e para
uma visão global dos sistemas de revisão em direito comparado, cfr. JORGE MIRANDA, ob. Cit. Pág. 134.
51
São todos estes limites formais: os processos específicos de modificação da constituição baseiam-se
essencialmente nas várias formas de participação popular, na escolha do órgão a quem é atribuído o poder de
revisão, na exigência de um iter processual mais complexo do que o processo legislativo, e no exercício
temporal do poder de revisão.
42
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

outras restrições. Há outros limites que não devem ser entendidos no sentido da
intocabilidade do regime constitucional, mas no sentido de impedir a sua eliminação. (vide
ante – projecto de Constituição).
A revisão, quanto aos limites circunstanciais, não pode ser efectuada nem continuada na
vigência de estado de sítio ou estado de emergência 52. Durante tais períodos a revisão não
pode ser iniciada, nem continuada, nem concluída e se já foi iniciada ficará suspensa.
Cabe ao presidente da República declarar 53 o estado de sítio54 e o de emergência, mas devia
fazê-lo ouvindo o Governo e obtendo autorização a Assembleia Nacional (arts. 160.º, que
consagra o princípio da vinculação do legislador à Constituição, art. 66.º al. r), que consagra
um princípio da reserva da Constitucional).
D. A problemática dos limites materiais do poder constituinte derivado
Coloca se a questão de saber se os limites materiais são limites absolutos, isto se não pode
ser superado pelo exercício do poder de revisão ou limites relativos, se condicionam o
exercício do processo de revisão, mas não impedem a modificabilidade das normas
constitucionais desde que cumpridas as condições por eles impostas. Muitas teses são
desenvolvidas a partir desta questão nomeadamente:

 A tese da irrelevância jurídica dos limites matérias, segundo qual todo que a
constituição escrita contem podem ser sujeita a modificação. A soberania não pode ser
congelada num dado momento histórico, não pode ser limitada ad eternum pelo legislador
que age num dado momento histórico.

 A tese da relevância relativa dos limites materiais, segundo esta doutrina os


limites materiais só por si impedir alterações que os atinjam a si próprios. Nesta doutrina é
conhecida também como tese do duplo processo de revisão, pois uma primeira revisão é
possível eliminar os limites previsto na lei constitucional, e uma segunda revisão já se pode
alterar directamente a matéria pretendida. Os limites materiais não são absolutos, Não se
pode cristalizar a soberania, entanto, enquanto existem, deverão ser respeitados. Mas a sua
remoção não acarreta fraude á constituição. Esta tese pressupõe a igualdade entre o poder
constituinte originário e poder da revisão.

52
Regulada pela Lei n.º 17/91, de 11 de Maio
53
Esta declaração é feita através de um Decreto que é um acto político, com uma natureza normativa, já que
suspende a ordem jurídica, no que toca aos direitos fundamentais, devendo especificar quais os direitos
suspensos e nos termos do regime legal previsto. Só pode ter lugar, em todo ou parte do território nacional,
nãos casos de: agressão efectiva por parte de forças estrangeiras, grave ameaça ou perturbação da ordem
constitucional democrática, calamidade pública.
54
É mais grave que o Estado de emergência e pode levar à suspensão total de direitos, enquanto o estado de
emergência só pode levar à suspensão parcial dos direitos, liberdades e garantias. Nestas circunstâncias a
Assembleia Nacional também pode ser dissolvida.
43
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

 A tese da relevância jurídica absoluta dos limites materiais, segundo esta tese os
limites materiais são absolutos, se alterados modifica – se a essência da constituição. o
poder de revisão é derivado e portanto subordinado ao poder constituinte originário.
E. A inconstitucionalidade de uma lei da revisão constitucional
O exercício do poder de revisão constitucional está sujeito a limites. A não observância dos
limites estabelecidos na constituição coloca – nos perante o problema de desconformidades
constitucional da lei de revisão, problema que não é substancialmente diferente do problema
da inconstitucionalidade das leis ordinárias, posto que o poder de revisão seja um poder
constituído.
Contudo, é possível uma lei de revisão sofrer de inconstitucionalidade por ter sido aprovado
por um órgão sem poder constituinte ou mesmo durante o estado de emergência ou
aprovada sem a maioria exigida, ou, caso em que se torna inexistente. Uma lei de revisão
que viole os limites formais sofre de inconstitucionalidade e violando os limites materiais
também.
G. A nulidade da lei de revisão constitucional
As leis de revisão que violem os limites formais e materiais são inconstitucionais do ponto de
vista formal ou material, desde que:

 Violem o processo fixado na constituição;


 Violem os limites matérias ou formais;

Nestes casos são nulas, embora só depois de publicada possa o Tribunal supremo na sua
função constitucional.

CAPITULO IV
FINS E FUNÇÕES DE ESTADO

SECÇÃO I. OS FINS DO ESTADO


A. Generalidades
O Estado é uma das possíveis formas de organização política que pode revestir a
sociedade. Da mesma forma se sabe que nem todas as sociedades têm obrigatoriamente de

44
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

estar organizadas do ponto de vista político — a generalidade está – o. Não o tem de estar
necessariamente. Isto é, a organização política não é conditio sine qua non para que uma
sociedade exista como tal55.
A generalidade das sociedades, porém, está organizada do ponto de vista político. Mas
mesmo essa organização política não quer necessariamente dizer que deva revestir — a
existir — a forma de Estado. Também já se referiram outras formas políticas de organização
da sociedade que a História nos foi mostrando. Sabe – se, contudo, que, sobretudo nos
tempos modernos, o Estado constitui a forma por excelência de organização política da
sociedade. Há, portanto, que questionar a sua razão – de – ser.
Na sequência do ensinamento dos autores clássicos, na tradição da própria civilização oci-
dental de cariz profundamente cristão e acentuado espírito humanista e personalista, pode-
remos afirmar, como já o fazia por exemplo S.Tomás (e vieram a fazer os neo – tomistas
como Jacques Maritain ou Emanuel Mounier) que a finalidade do Estado é prover à
realização do bem – comum. O Estado existe fundamentalmente para realizar o bem – co-
mum.
Todavia, se esta é a vocação inata do Estado, temos de concluir também tratar – se de algo
de muito genérico e vago que necessita de uma concretização. A doutrina costuma analisar
esta grande finalidade do Estado desdobrando – a em três vertentes. O bem – comum
sintetizará e englobará três finalidades mais específicas atribuídas ao Estado, aparecendo
como a síntese de todas elas. O bem – estar, a segurança e a justiça
1. As principais finalidades de Estado
A. O bem – estar
Em primeiro lugar aparece – nos o bem – estar. O Estado tem por missão promover o bem
– estar dos seus cidadãos. Por bem – estar não se entende apenas, como o fazem os defen-
sores de concepções puramente materialistas, a melhoria das condições de vida materiais
da população. Seria um entendimento reducionista que, por isso mesmo, é de excluir e de
rejeitar. Sem dúvida que o Estado se deve preocupar com o nível de vida material da po-
pulação.
O bem – estar deve, contudo, ter um entendimento e um alcance diferente. Sobretudo mais
amplo. Além de proporcionar a melhoria do nível de vida material da população, o Estado
deve igualmente prover ao desenvolvimento espiritual e cultural dos cidadãos. Quando se
fala em bem – estar deve ter – se presente, portanto, esta dimensão abrangente e não
reducionista da expressão e do conceito. O bem – estar é, portanto, a primeira finalidade do
Estado, a que este deve prover. Tão importante quanto o bem – estar é a segurança.

55
SILVA, Maria Magalhães e ALVES, Dora Resende, op.cit
45
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

B. A segurança
Uma das razões que levou à organização política das sociedades prendeu – se com a ne-
cessidade de garantir para esta um mínimo de segurança e de estabilidade nas relações
inter subjectivas que têm por palco e por cenário a sociedade humana. Compreende – se,
assim, que, enquanto forma de organização política da sociedade, ao Estado esteja atribuída
a missão de garantir e manter a ordem e a estabilidade da sociedade.
A segurança é, portanto, a segunda grande finalidade que qualquer Estado deve pretender
alcançar para salvaguarda e defesa da sua população. Não, porém, uma segurança a
qualquer preço, a qualquer custo. Não uma segurança em nome da qual poderes erráticos
dêem livre curso ao seu arbítrio e aos seus desmandos. Mas uma segurança que seja pau-
tada por regras objectivadas e pré – estabelecidas, conhecidas dos seus potenciais
destinatários. Uma segurança que se caracterize pela certeza em face do ordenamento
instituído. A justiça
C. A justiça
E com isto estamos já caídos na terceira grande vertente em que se analisa o bem – co mum
enquanto finalidade do Estado — a justiça. A justiça é, de facto, uma das principais fina-
lidades ou atribuições do Estado. Incumbe ao Estado promover a justiça como forma de
alcançar o bem – comum. A ideia de justiça é tão antiga quanto a formação organizada dos
povos. Sinónimo de equidade, poder – se – á tentar definir a justiça como o esforço no
sentido de atribuir a cada um o que é seu, o que lhe pertence.
2. A Interdependência e complementaridade dos fins de estado
Do ponto de vista histórico, pode afirmar – se que foi Aristóteles o filósofo que mais longe le -
vou, até hoje, a análise do conceito de justiça. Para Aristóteles a justiça não é mais do que
igualdade: todavia o clássico grego distingue diversos modos pelos quais esta [a justiça]
pode ser aplicada, o que o levou a subdividiu – a em várias espécies, segundo um critério
formal que ficou clássico. Em harmonia com esse critério, a justiça pode ser distributiva ou
sinalagmática.
A primeira, que é a do Estado nas suas relações com os súbditos, exprime – se na fórmula:
a cada um segundo o seu mérito; é com base nela que se repartem os bens e as honras
públicas.
A segunda, que se aplica nas relações dos cidadãos entre si, exprime – se na fórmula: que
cada um, naquilo que dá ou que recebe, dê ou receba um valor objectivamente igual ao da
prestação da outra parte. Esta segunda espécie de justiça, porém, pode ainda revestir duas
modalidades. Se se trata de relações de pura troca livre entre indivíduos, segundo um
critério de valor exacto objectivamente determinável, chama – se comutativa. Se se trata de
46
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

delitos que geram obrigações já não voluntárias, como a da reparação de um dano injusto,
com intervenção do juiz, chama – se judiciária. Mas em todo o caso — e isto é o importante
— é sempre um critério de igualdade que constitui o princípio da justiça. Como salienta a
melhor doutrina, não é concebível que os três fins do Estado se nos deparem isolados.
A interdependência dos fins do Estado assume particular importância em relação à grande e
última finalidade do Estado: a promoção do bem – comum. Efectivamente a promoção do
bem – comum ficará seriamente comprometida sempre que não seja possível realizar
qualquer uma das vertentes em que se analisa e desdobra.
Se existir segurança mas não existir justiça, campeará certamente o totalitarismo. Em nome
da segurança permitir – se – ao e abrir – se – ao as portas para todos os tipos de injustiças.
Em nome de uma certeza falível e questionável, alimentar – se – ao formas despóticas ou
totalitárias de poder do Estado. A justiça é um elemento fundamental na prossecução da
finalidade do Estado, na assunção deste como um Estado de Direito. Mas não deve ser
considerada isoladamente ou como o fim último a atingir pelo Estado. Desde logo porque é
impossível haver justiça sem a correspondente segurança que lhe subjaz.
A justiça pressupõe a segurança. Justiça sem segurança é a negação da própria ideia de
justiça. Da mesma forma não basta existir justiça e segurança para assim se conseguir
alcançar o bem – comum. Ignorar o bem – estar das populações, não curar do seu nível não
só económico ou material mas também cultural ou espiritual, conduz necessariamente a si-
tuações latentes de revolta ou contestação, de agitação social, de conflitualidade — sendo
certo que tudo isto acabará por questionar a própria segurança.
A interdependência é, portanto, a característica última que relaciona todos os fins do Estado.
A este propósito, conjugado com este entendimento sobre a finalidade última do Estado, não
podemos deixar de relembrar o que foi dito supra sobre a questão da origem do Estado: este
deve ser considerado como fazendo parte da circunstância do Homem, como um
instrumento ao dispor do Homem e feito para o servir. Eis, pois, como esta visão sobre a
origem do Estado acaba por ser complementar e estar em estreita conexão com a questão
tratada no texto acerca da finalidade do próprio Estado. Como instrumento ao dispor do
Homem e feito para o servir deve o mesmo, em primeira linha, prover à realização do bem –
comum.
A finalidade do Estado, a prossecução do bem – comum, deve ser ditada pela consideração
dos valores imanentes à personalidade humana. Não apenas dos indivíduos que compõem
as gerações actuais. Mas, como salienta Cabral Moncada, Filosofia do Direito cit., dos
indivíduos que compõem as gerações futuras e cuja personalidade igualmente deve ser
levada em conta na determinação dos fins do Estado. Este, em síntese, existe para servir o
47
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

Homem e possibilitar, dentro dos limites do possível, que este alcance a perfeição que
permanentemente busca.
B. Fins e funções do Estado na Constituição
A constituição de, possuía três artigos fundamentais para a compreensão dos fins do
Estado:
- Os artigos 1-previa transformação da sociedade “numa sociedade sem classes”
-0 Artigos 9-,alínea c), previa o bem-estar económico e social e qualidade de vida do povo,
especialmente das classes trabalhadoras emediante a realização da justiça pela abolição da
exploração e opressão do homem pelo homem;
-o artigos 9-, alínea a), garantia a independência nacional;
-o artigos 2-, defendia a democracia politica, mediante o respeito da soberania popular,
garantia dos direitos e liberdades fundamentais e pluralismo de expressão.
No entanto, com a revisão constitucional de 1987, os artigos os 1-e 9-foram alterados. Os
objectivos de bem-estar económico e social e justiça estavam inicialmente ligados a
transição para o regime Económico socialistas, segundo uma concepção marxista da
constituição, a abolição de classes levaria a uma justiça material.
Hoje, os objectivos de bem-estar económico e social e justiça estão consubstanciados no
(artigos 9-alinea d), que prevê como tarefa fundamental do estado: “promover o bem-estar e
a qualidade de vida do povo e a igualdade real entre os português, bem como a efectividade
dos direitos económicos, sociais, culturais e ambienteis, mediante a transformação e
moderação das estruturais económicas e sociais.”
Os objectivos da segurança colectiva objectivem n garantia da independência nacional
(artigo 9-,alínea a), e a defesa da democracia politica e dos fundamentais serão condição
para a segurança individual (artigos 9-,alínea b)e c).
No entanto, não existe uma separação absoluta, mas antes uma inter – relação. A defesa
dos direitos fundamentais, por exemplo, releva para efeito da concretização do bem-estar
económico e social e para efeito da justiça social.
No artigo 9-, a expressão democracia surge em sentido formal, ou seja como conjunto de
instituições e modos de organização estadual regras do jogo político e princípios jurídicos.
C. Tipos e caracterização dos fins do Estado.
As funções do Estado serão as actividades levadas a cabo pelos os órgãos do poder
político, com vista a realização dos objectivos consagrados na constituição. Cada órgão
realiza um conjunto de actos dependentes ou independentes de actos de outros órgãos, mas
tendo todos em vista a prossecução de fins comuns.
48
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

1. Procedimento legislativo (suas fases).


A formação dos actos normativos obedece a um iter juridicamente regulado que se costuma
designar por procedimento. A actual relevância do estudo da forma jurídica de
desenvolvimento das actividades públicas e as normativas justifica o tratamento autónomo
das questões de procedimento.
Estudaremos aqui aqueles actos normativos que Lei Constitucional regula e atribui a AN.
Entenda-se o procedimento legislativo 56 como sendo a sucessão de série de actos
necessários para produzir um acto legislativo. A lei é o acto final do procedimento. As fases
procedimentais, disciplinadas com maior ou menor particularização nos vários
ordenamentos, estão pré-ordenadas à produção de um acto final, a que chamamos lei formal
de Assembleia. O procedimento legislativo tem as seguintes fases:
Fase de iniciativa
Englobam-se os actos propulsivos do procedimento legiferante. A função específica desta
fase é, pois, colocar em andamento o poder legislativo, fornecendo-lhe o impulso jurídico
necessário para a sequência procedimental.
O direito de iniciativa57 (cfr. art. 89.º e 90.º) manifesta-se através da apresentação à NA de
um texto articulado de preceitos normativos denominados, conforme os casos, por projectos
de Lei (iniciativa pertencente aos deputados e aos grupos parlamentares, art. 93.º n.º 1) e
por proposta de Lei (iniciativa legislativa governamental, pertencente ao Governo não termos
dos arts. 111.º).
Fase instrutória
Tem por finalidade recolher e elaborar os dados e elementos que permitem analisar a
oportunidade do procedimento legislativo bem como o respectivo conteúdo. A aquisição de
dados efectua-se quer aproveitando os materiais fornecidos pelas entidades que tiveram a
iniciativa da lei, quer através de recolha autónoma efectuada pela comissão da AN
competente para apreciação do texto apresentado.
Este trabalho cabe, fundamentalmente, às comissões permanentes especializadas, a quem
serão enviados os projectos ou propostas de lei, para darem pareceres devidamente
fundamentados, podendo sugerir ao plenário a substituição do texto do projecto ou proposta,
tanto na generalidade como na especialidade (cfr. Regulamento interno da AN). Às

56
Desde logo, procedimento legislativo é um complexo de actos, qualitativo e funcionalmente heterogéneos e
autónomos, praticados por sujeitos diversos e dirigidos à produção de uma lei do Parlamento. É a forma da
função legislativa, isto é, o modo ou iter segundo o qual se opera a exteriorização do poder legislativo. Cfr.
GOMES CANOTILHO, ob. Cit. Pág. 870 – 872.
57
Idem. Ob. Cit. Com maiores desenvolvimentos e adequados ao estudo que se pretende.
49
Ciência Política e Direito Constitucional
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comissões compete, também, o poder de votação na especialidade dos projectos ou


propostas de lei, se assim o plenário o decidir e salvo restrições legais.
Fase constitutiva
Sendo a fase decisiva ou deliberativa, é aquela em que se produz o acto principal e ao qual
se reportam os efeitos jurídicos essenciais. Esta fase constitui também uma espécie de
centro de atracção dos actos enquadrados noutras fases de procedimento.
Não é cronologicamente a última, pois à aprovação da lei segue-se a promulgação do PR e
a publicação no Diário da República, mas é aquela em que se determina o conteúdo do acto.
Inclui vários subprocedimentos, cujo acto final consiste numa deliberação de órgão colegial:
discussão ou debate, votação e redacção.
Fase do Controlo
A edição do acto conclusivo ou decisório do procedimento legislativo não encerra o iter
necessário para a perfeição do acto legislativo. Existe ainda uma fase de controlo destinada
a permitir a avaliação do mérito e da conformidade constitucional do acto legislativo. Os
actos de controlo condicionam a existência jurídica dos próprios actos legislativos dado que
são constitucionalmente recortados como indispensáveis à sua perfeição.
Os projectos e propostas de lei, uma vez aprovados, são enviados com o nome do decreto
da NA ao PR para efeitos de promulgação, que está associada ao direito de veto do PR
através do qual ele controla materialmente o mérito político e a conformidade constitucional
(art. 66.º, al. s)). Por sua vez, o Governo exerce também, através da referenda, um controlo
certificatório, embora de natureza diferente do controlo do PR. (art. 110.º al. a) ).
Fase de integração de eficácia
Esta fase abrange os actos destinados a tornarem eficaz o acto legislativo, através da
publicidade. Os actos de integração de eficácia (actos de comunicação) não são requisitos
de perfeição ou validade do acto legislativo, visam sim, tornar os actos perfeitos em actos
obrigatórios e oponíveis, levando-os ao conhecimento – através da publicação no Diário da
República – dos cidadãos.
9. 6. Forma e competência dos actos legislativos do PR.
O PR é um dos órgãos considerados pelo art. 53.º n.º 1 da LC como órgão de soberania,
cujo estatuto jurídico – constitucional decorre, da LC, ele é igualmente um órgão
constitucional de soberania.
O PR é o Chefe do Estado (art. 56.º). Esta designação significa que o PR representa
juridicamente o Estado no plano internacional, sobretudo nas dimensões de permanência,

50
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

continuidade e direcção do Estado58. A designação PR testemunha sobretudo o papel por ele


desempenhado de representante da comunidade nacional.
O PR tem uma legitimidade democrática directa. Significa isto que ele é eleito por sufrágio
directo e universal (art. 57.º). A exigência de uma legitimidade directa radica não na adesão
à ideia de legitimidade plebiscitária, mas na necessidade de racionalizar a componente semi
- presidencial do regime.
SECÇÃO II. AS FUNÇÕES DE ESTADOS

CAPÍTULO V.
A GARANTIA E CONTROLO DA CONSTITUIÇÃO59

SEÇCAO I. SENTIDO DA GARANTIA E CONTROLO CONSTITUCIONAL:


A. Origem da constitucionalidade.
O controlo da constitucionalidade iniciou no estado Unidos de América com Caso Marbury e
Madison.

58
Cfr. art 7.º da Convenção de Viena sobre direito dos tratados.
59
Ou fiscalização da constitucionalidade na terminologia dalguns autores.
51
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

O Estado constitucional democrático ficaria incompleto e enfraquecido se não assegurasse


um mínimo de garantias e de sanções: garantias da observância, estabilidade e preservação
das normas constitucionais; sanções contra actos dos órgãos de soberania e dos outros
poderes públicos não conforme com a constituição. A ideia de protecção, defesa, tutela ou
garantia da ordem constitucional tem como antecedente a ideia de defesa do Estado, que se
pode definir como o complexo de institutos, garantias e medidas destinadas à defender e
proteger, interna e externamente, a existência jurídica e fáctica do Estado.
B. Meios e Institutos de defesa da Constituição 60:
a. Garantia da constituição e garantias constitucionais.
A defesa da constituição pressupõe a existência de garantia da constituição, isto é, meios e
institutos destinados a assegurar a observância, aplicação, estabilidade e conservação da lei
fundamental. Como se trata de garantias de existência da própria constituição, costuma
dizer-se que elas são a “constituição da própria constituição”.
As garantias da constituição não devem confundir-se com as garantias constitucionais. Estas
têm um alcance substancialmente subjectivo, pois reconduzem-se ao direito e o
reconhecimento e consagração dos meios processuais adequados a essa finalidade.
Noção e tipos de inconstitucionalidade (formal, material e orgânica). Inconstitucionalidade
por acção e por omissão.
A inconstitucionalidade é a desconformidade de uma norma ou de um acto praticado por
órgãos do poder político com o texto da Constituição.
No sistema de fiscalização angolano actual, só a desconformidade de actos normativos,
actos produtores de normas jurídicas com a Constituição revela, e não de actos políticos ou
administrativos. Há vícios qualificados de ilegalidade apreciados pelo tribunal Constitucional.
Se uma norma regulamentar violar directamente a Lei (vicio de ilegalidade) 61 e a Constituição
(vicio de inconstitucionalidade), a parte interessada pode invocar o vicio mais gravoso ou
cuja arguição lhe seja mais favorável (inconstitucionalidade).

60
São, no geral, os seguintes meios e institutos de defesa da Constituição:
 A vinculação constitucional dos poderes públicos;
 Os limites da revisão constitucional;
 A fiscalização judicial da constituição;
 A separação e interdependência dos órgãos de soberania;

Cfr. GOMES CANOTILHO, ob. cit. pág. 888 – 889.


61
Não são susceptíveis de apreciação quanto à sua constitucionalidade os actos de entidades privadas
vinculadas ao cumprimento da Constituição, mas apenas os actos ou omissões dos órgãos do poder político.
A fiscalização da constitucionalidade pode fazer-se tanto quanto a actos normativos anteriores como
posteriores à Constituição em vigor. Pode fazer-se quanto aos aspectos formal e orgânico, pela anterior
Constituição (principio tempus regit actum).
52
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

C. Forma de A inconstitucionalidade
A inconstitucionalidade pode ser:

 Directa: quando uma norma infra – constitucional viola directamente a Constituição


ou os seus princípios.
 Indirecta: quando uma norma viola normas interpostas. Uma norma infra –
constitucional contraria a Constituição pelo facto de contrariar uma norma a que a
Constituição atribui um valor superior ao da primeira. Vicio que também podemos
classificar como de ilegalidade.
 Por acção: acontece quando a desconformidade resulta de uma actuação de um
órgão do poder.
 Por omissão: quando acontece pela não actuação de um órgão legislativo ou pela
sua actuação insuficiente. Verifica-se no caso de não desenvolvimento das normas
constitucionais não exequíveis por si próprias.
1. A inconstitucionalidade por acção
A inconstitucionalidade por acção pode ser ainda:

 Material ou substancial: que ocorre quando a inconstitucionalidade resulta da


contradição entre um acto normativo e o conteúdo de uma norma ou principio
constitucionais;
 Formal: quando o acto normativo adopta uma forma ou um processo diferentes das
constitucionalmente prescritos. A falta de uma formalidade ou a sua prática fora do
tempo certo.
 Orgânica: quando o acto normativo provém de um órgão constitucionalmente
incompetente para o efeito.
 Total: se abranger todo o acto normativo.
 Parcial: se abranger só parte do acto normativo, algum ou alguns artigos. Em regra, a
inconstitucionalidade material é parcial, enquanto a orgânica e formal são totais.
 Originária: surge quando uma norma infra constitucional contraria uma norma de
uma Constituição que lhe é anterior.
 Superveniente: ocorre quando uma norma ordinária, inicialmente constitucional,
passa a inconstitucional por entretanto entrar em vigor uma norma constitucional que
a contraria. Só releva se for material.
2. A inconstitucionalidade por omissão
Em sentido jurídico-constitucional omissão significa não fazer aquilo que se estava
constitucionalmente obrigado. A omissão legislativa deve conexionar – se com uma

53
Ciência Política e Direito Constitucional
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exigência constitucional de acção, não bastando o simples dever geral de legislar para dar
fundamento a uma omissão inconstitucional.
As omissões legislativas inconstitucionais derivam desde logo do não cumprimento de
imposições constitucionais legiferantes em sentido estrito, ou seja, cumprimento de normas
que, de forma permanente e concreta, vinculam o legislador à adopção de medidas
legislativas concretizadoras da constituição.

Desde logo, há omissões legislativas que resultam da violação de preceitos constitucionais


concretamente impositivas, que se diferenciam em muito do não cumprimento da
constituição derivado da não actuação legislativa inconstitucional quando o legislador não
adopta as medidas legislativas necessárias para dar execução aos preceitos constitucionais
que, de forma permanente e concreta impõem a criação de certas condições sócio –
constitucionais.
Existe ainda omissão legislativa quando a constituição consagra normas sem suficiente
densidade para se tornarem normas exequíveis por si mesmas, reenviando implicitamente
para o legislador a tarefa de lhe dar exequibilidade prática. Esta hipótese adquire autonomia
quando as normas constitucionais não se configuram, juridicamente, como ordens concretas
de legislar ou como imposições permanentes e concretas.
Verifica-se também uma omissão legislativa inconstitucional quando o legislador não cumpre
as ordens de legislar constitucionalmente consagradas em certos preceitos constitucionais.
As ordens de legislar, diferentemente das imposições constitucionais, traduzem-se,
comummente, em imposições únicas e concretas de emanação de uma ou várias leis
necessárias à criação de uma nova instituição ou à adaptação das velhas leis a uma nova
ordem constitucional.
Na doutrina mais recente aponta-se a possibilidade de omissão legislativa pelo não
cumprimento da obrigação do legislador em melhorar ou corrigir as normas incorrectas ou
desfasadas perante circunstâncias supervenientes omissão por falta de actualização ou
aperfeiçoamento de normas. A omissão consiste agora não na ausência total ou parcial da
lei, mas na falta da adaptação ou aperfeiçoamento das leis existentes. Esta carência ou
défice das leis assumirá particular relevo jurídico – constitucional quando, da falta de
melhorias ou correcção, resultem consequências gravosas para a efectivação de direitos
fundamentais.
D. Formas de controlo
Sistemas de fiscalidade da constitucionalidade (controlo jurisdicional, politico e misto):
Modelos de controlo jurisdicional (difuso e concentrado).
54
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

1. Controlo difuso ou abstrato


Quanto ao número e natureza dos órgãos de fiscalização da constitucionalidade, podemos
distinguir.
No controlo jurisdicional difuso americano a competência para fiscalizar a constitucionalidade
das leis é reconhecido a qualquer juiz chamado a aplicação de uma determinada lei a um
caso concreto submetido a apreciação judicial 62.
O sistema difuso de controlo é o sistema tradicional angolano, introduzido na Lei
constitucional por influência da Constituição Portuguesa.
2. Controlo Concentrado
Chama-se sistema jurisdicional concentrado 63 porque a competência para julgar
definitivamente acerca da constitucionalidade das leis é reservada a um único órgão, com
exclusão de quaisquer outros. Este tipo comporta uma grande variedade de subtipos: o
órgão competente para a fiscalização tanto pode ser um órgão da jurisdição ordinária
(Tribunal Supremo) ou um órgão especializado criado para o efeito (Tribunal
Constitucional)64.
Sistema francês de fiscalização por órgão político, em que a fiscalização é feita por um
órgão político.
Sistema misto de órgão político e jurisdicional, no qual a fiscalização é feita por um órgão
político quanto a certas matérias e por um órgão jurisdicional quanto a outras matérias.
Formas de controlo da constitucionalidade: A fiscalização preventiva e a sucessiva
(abstracta, directa, por acção e em via principal e concreta, por excepção ou por via
incidental). Efeitos do controlo.
SEÇCAO II. OS MODELOS DE JUSTIÇA CONSTITUCIONAL
A. Quando se controla: o tempo de controlo
Controlo preventivo:
Como critério de classificação elege-se aqui o momento da entrada em vigor do acto
normativo. Se ele é feito quando a lei ou acto equivalente sujeito a controlo é ainda um “acto
imperfeito, carecendo de eficácia jurídica, diz-se que o controlo é preventivo.

62
O sistema norte – americano de fiscalização judicial, em que todo e qualquer juiz, qualquer tribunal se pode
recusar a aplicar uma norma que considere inconstitucional num litigio que tenha de dirimir (difuso, concreto,
incidental e por via de excepção).
63
A ideia de um controlo concentrado está ligada ao nome de Hans Kelsen, que o concebeu para ser
consagrado na constituição austríaca de 1920. a concepção Kelseniana diverge substancialmente da judicial
review americana.
64
È o que caracteriza o sistema austríaco de tribunal constitucional, em que só um tribunal aprecia a
constitucionalidade das normas e decide definitivamente (concentrado, abstracto, por via principal e por via de
acção ou concreto, mediante a subida obrigatória da questão da constitucionalidade para o tribunal a quo).
55
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

O controlo preventivo, encontra-se consagrado na nossa Constituição como uma verdadeira


decisão jurisdicional sobre a constitucionalidade de projectos de actos normativos, porém
confundindo-se com o controlo politico
Controlo sucessivo
Na hipótese de o acto normativo ser um acto perfeito, pleno de eficácia jurídica, o controlo
sobre ele exercido é um controlo sucessivo ou a posteriori. O exame de fiscalização de
constitucionalidade fez-se, assim, num momento sucessivo ao aperfeiçoamento do acto
normativo, isto é, à sua promulgação, referendo, publicação e entrada em vigor.
B. Como se controlo: o modo de Controlo
Controlo por via incidental65:
Neste a inconstitucionalidade do acto normativo só pode ser invocada no decurso de uma
acção submetida à apreciação dos tribunais. A aquisição da inconstitucionalidade é
levantada, por via de incidente, por ocasião e no decurso de um processo comum, e é
discutida na medida em que seria relevante para a solução do caso concreto.
Este controlo chama-se também por via de excepção, porque a inconstitucionalidade não se
deduz como alvo da acção, mas apenas como subsídio da justificação do direito, cuja
reivindicação se discute66.
Controlo por via principal
É o quanto as questões de inconstitucionalidade podem ser levantadas, a título principal,
mediante processo constitucional autónomo, junto de um Tribunal 67 com competência para
julgar da desconformidade dos actos – sobretudo normativos – de autoridades públicas.
Neste tipo é consentido a certas e determinadas entidades a impugnação de uma norma
inconstitucional, independentemente da existência de qualquer controvérsia 68.
Controlo abstracto

65
Este controlo anda geralmente associado ao controlo difuso. O incidente da inconstitucionalidade pode
suscitar-se em qualquer tribunal para efeitos de desaplicação da norma inconstitucional ao caso concreto. Mas
é incorrecto dizer-se hoje que o controlo por via incidental se identifica com o controlo difuso. Em Angola, o
controlo difuso pode conduzir a um controlo concentrado através do Tribunal Supremo da sua veste de Tribunal
Constitucional.
66
Cfr. Rui Barbosa, Os Actos Inconstitucionais do Congresso e do Executivo, pág. 82.
67
Tribunal Constitucional, entre o Supremo.
68
Entre nós, a última experiência resulta da propositura pelo PR ao Tribunal Supremo da Lei Eleitoral, para que
este Tribunal se pronunciasse sobre a constitucionalidade da disposição relativa à eleição do PR. Não é menos
importante também, a pratica pelos deputados da UNITA e da oposição no geral que têm pedido ao Tribunal
Supremo, na veste de Tribunal Constitucional para que se pronuncie sobre várias matérias que lhe sejam
submetidas para aprovação.
No entanto, o controlo por via principal tanto pode reconduzir-se a um controlo abstracto de leis ou actos
normativos como uma garantia concreta de direitos fundamentais. Este último caso é que se observa na
constituição alemã que lhe chama acção constitucional de defesa e no recurso de amparo da constituição
mexicana e espanhol.
56
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

Significa que a impugnação da constitucionalidade de uma norma é feita


independentemente de qualquer litígio concreto. É este um processo que visa sobretudo a
«defesa da constituição» e do princípio da constitucionalidade através da eliminação de
actos normativos contrários à constituição. Sendo um processo objectivo, a legitimidade para
solicitar este controlo é geralmente reservada a um número restrito de entidades.
Controlo concreto:
Ligado ao controlo jurisdicional difuso e incidental, é também chamado «acção judicial».
Trata-se de dar operatividade prática à ideia d judicial review americana; qualquer tribunal
que tem de decidir um caso concreto está obrigado, em virtude de sua vinculação pela
constituição, a fiscalizar se as normas jurídicas aplicáveis ao caso são ou não válidas.
C. Quem pede o controlo: a Legitimidade activa
Legitimidade «quisque de populi» e legitimidade restrita: quanto a legitimidade é reconhecida
a qualquer pessoa (quisque de populo) na forma de «acção popular» diz-se que há uma
legitimidade universal. E quando é reconhecida só a certas e determinadas entidades ou
cidadãos que se encontram em determinada relação com o processo, fala-se em
legitimidade restrita (art. 154.º, n.º 1L.C.)69.
Legitimidade «ex officio», das partes e de órgãos públicos
o princípio fundamental do processo constitucional é o de que a questão da
inconstitucionalidade só pode ser iniciada por determinadas pessoas ou por órgãos públicos
(ou um número mínimo de titulares dos mesmos), mas nunca pelos próprios órgãos de
controlo.
A impugnação da inconstitucionalidade não é iniciada ex officio pelos órgãos de controlo;
estes aguardam a impugnação directa feita pelos órgãos constitucionalmente legitimados
(controlo abstracto) ou pelas pessoas que num caso concreto são partes, ou de qualquer
modo, têm legitimidade processual activa (controlo incidental concreto, acção constitucional
de defesa). Esta regra deve tomar em conta o dever de fiscalização dos juízes no controlo
concreto, o que conduz, na prática, a consagrar uma legitimidade ex officio dos mesmos
para examinar a censurabilidade constitucional da norma ou normas aplicáveis num feito
submetido a decisão judicial.

69
Pela inflação dos processos de controlo que a acção popular universal poderia originar, a regra é a da
restrição da legitimidade, qualquer que seja o tipo de controlo. No controlo abstracto de normas, os titulares de
legitimidade impugnatória são certas e determinadas entidade ( PR, Provedor de Justiça, uma fracção de
deputados); no controlo difuso incidental a legitimidade está naturalmente circunscrita ao juiz, ministério Público
e partes na causa submetida a juízo. Cfr. GOMES CANOTILHO, ob. cit. pág. 895 – 902.
57
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

SEÇCAO III. OS EFEITOS DO CONTROLO DA CONSTITUCIONALIDADE


A. Efeitos gerais e particulares
Os efeitos gerais e particular resulta da distinção dos sistemas que o órgão competente para
fiscalização da constitucionalidade anula o acto com eficácia erga omnes e um de
desaplicação com eficácia inter partes.
Nos primeiros há efeitos gerais, pois o acto normativo, uma vez declarada a sua
inconstitucionalidade, é eliminado do ordenamento jurídico; nos segundos existem quando o
acto normativo reconhecido como inconstitucional é desaplicado no caso concreto submetido
à cognição do juiz, mas continuará em vigor até ser anulado, revogado ou suspenso pelos
órgãos competentes.
a. Efeitos retroactivos e prospectivos
Há efeitos prospectivos quando se atribui à decisão de anulação uma eficácia ex nunc, no
sentido de que o efeito da invalidade só começa a partir do momento em que seja declarada
a inconstitucionalidade; fala-se de efeitos retroactivos ou de eficácia ex tunc, com efeitos
retroactivos, próprios da nulidade em sentido técnico, quando a eficácia invalidante abrange
todos os actos, mesmo os particulares antes da declaração da inconstitucionalidade.
b. Efeitos declarativos e constitutivos:
Há efeitos declarativos quando a entidade controlante se limita a declarar a nulidade pré-
existente do acto normativo. Este é absolutamente nulo e o juiz ou qualquer outro órgão de
controlo limitam-se a reconhecer declarativamente a sua nulidade. É o regime típico do
controlo difuso.
Nos sistemas de controlo concentrado a regra geral consiste em atribuir à decisão de
inconstitucionalidade um efeito constitutivo. O órgão que decide sobre a
inconstitucionalidade anula um acto normativo que até ao momento da decisão é
considerado como válido e eficaz. É o regime geral do controlo concentrado.
SEÇCAO III. A GARANTIA E O CONTROLO CONSTITUCIONALIDADE EM ANGOLA
A. A fiscalização da constitucionalidade e da legalidade;
O sistema angolano é difuso ao nível da fiscalização concreta, porque todos os tribunais a
podem levar a cabo (art. 121.º n.º 1) e acontece ex oficio ou por impugnação das partes,
como se consagra no ante – projecto de Lei Consitucional (art. ).
O mesmo sistema é concentrado, ao nível da fiscalização abstracta (preventiva ou
sucessiva), porque só o Tribunal Constitucional a pode fazer, como órgão Judicial (art. 134.º
e 153.º n.º 2).

58
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

O sistema de fiscalização é efectuado por órgãos judiciais, embora seja habitualmente


atribuído um carácter político, mas do que jurisdicional, à decisão de controlo preventivo da
constitucionalidade e à fiscalização abstracta.
O sistema de fiscalização preventiva vem previsto no artigo 134.º al. a), 154.º, n.º 1. É uma
fiscalização abstracta feita unicamente pelo Presidente da Republica e por um quinto de
deputados.
Este tipo de fiscalização tem por finalidade ab initio violações grosseiras da Constituição,
sem fazer precludir o direito de posterior apreciação de outras normas do mesmo diploma,
ou das normas com outros fundamentos
Quanto o texto de um diploma é remetido ao PR para promulgação e este tem dúvidas sobre
a sua constitucionalidade, pode remetê-lo ao Tribunal Constitucional para que este aprecie a
sua constitucionalidade. Se o tribunal não se pronuncia pela inconstitucionalidade, o PR
pode promulgá-la ou vetá-la politicamente. Se o tribunal se pronunciar pela
inconstitucionalidade, o PR é obrigado a vetar o diploma, recusando a sua promulgação e
devolvendo-o ao órgão competente, para que este expurgue a inconstitucionalidade. Se este
órgão não expurgar o diploma, o PR poderá promulgar ou vetar definitivamente.
O sistema de fiscalização sucessiva vem previsto no art. 155.º, n.º 1, e verifica-se quer
quanto à inconstitucionalidade quer quanto à ilegalidade. Pode ser abstracta, classificada
como por via principal.
B. O Tribunal Constitucional

SEGUNDA PARTE. CIÊNCIAS POLÍTICAS


TEORIA GERAL DO ESTADO
INTRODUÇÃO
A. Evolução do conceito
a. A Antiguidade clássica ao século XIX
A acção pratica que envolve a luta pelo poder constitui a essência da política. É um
fenómeno em si mesmo. É a política é, em linguagem erudita, o conhecimento do fenómeno
político. O conhecimento sistemático e ordenado do fenómeno político, isto é de factos e
acontecimentos inerentes ao poder político. Teoricamente, a ciência política domina, assim,
59
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

as outras ciências, porque o âmbito do seu objecto dirige as restantes actividades humanas.
A este respeito escreveu Aristóteles: ‘’ é claro, que, em todas as artes, o destino dos que
podem ser chamados ordenadores ou directores é mais desejável ou mais importante do
que o das artes que lhes estão subordinadas’’. Aristóteles via na política ‘’a Ciência Maior’’
da sua época e do seu próprio sistema filosófica. Do resto, a sua política cobria um domínio
mais vasto do que o estudo global de todas as relações morais e sociais do homem. O
estudo empreendido por Aristóteles baseai – se na convicção de que o homem é um animal
político, de que as relações económicas e sociais são condicionadas na política e de que as
relações económicas e sociais são condicionadas pela política e de que o seu valor
significativo se mede essencialmente pela influencia na política. 70 No entanto, Aristóteles
não conseguiu estabelecer, com clareza, a fronteira entre a ética e a ciência política,
considerando que o objecto da ética é uma espécie de política. É como Platão, um bom
moralista. O seu espírito é dominado pelo conceito de valor. Assim desenvolve a teoria do
Estado ideal não a descrição dos Estados reais. Todavia, os seus trabalho baseia – se na
observação dos factos, aos ao quais emprestou o método indutivo.
A influência de Aristóteles sobre os estudiosos dos fenómenos políticos fez – se sentir
através do tempo, desde a Antiguidade latina até á época moderna.
As concepções modernas de ciência Política, porem radicam na admirável obra de
Maquiavel O Príncipe (1513). ‘’O príncipe’’ de Maquiavel é, sem dúvida, uma importante obra
de ciência política.
A obra mais importante na história da ciência política até ao século XIX é, juntamente com a
‘’Política’’ de Aristóteles, o espírito das leis (1748) de Montesquieu, Montesquieu deu um
novo impulso ao desenvolvimento do método de observação relativamente a Aristóteles.
Maquiavel tinha desenvolvido um método de observação numa base histórica. No entanto
Montesquieu descurando a observação histórica, utiliza também o método de observação
numa base geográfica.71
A segunda metade do século XVII e o Século XVII foram, no dominó político, épocas d
mutações particulares profundas. Nesta época que apareceu o numero apreciável de obras
de ciência política nomeadamente ‘’Dois tratados sobre o Governo’’ (1960) de John Locke,
e, o ‘’o Contrato Social ‘’ de Jean Jacques Rousseau.
É só no século XIX que a Ciência política adquire a feição de ciência dos factos políticos. O
termo Ciência político começa a entrar na terminologia corrente na segunda metade do
século XIX

70
FERNANDES, António José. Introdução á ciência política, Porto, Porto editora, 1995, p.22-23
71
FERNANDES, António José. Op.cit, p.24-25
60
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

b. Do século XX a globalização
B. Definição
C. Afirmação Ciência Política como disciplina indispensável nas Universidades
Na Grécia Antiga, para Aristóteles a política deveria estudar a pólis e as suas estruturas e
instituições (a sua constituição e conduta). É considerado o pai da Ciência Política, porque
considerou a política a ciência “maior”, ou mais importante do seu tempo. Criou, ainda, um
método de observação que permitiu uma sistematização e explicação dos fenómenos
sociais. Preocupava-se com um governo capaz de garantir o bem-estar geral (o bom
governo).
No século XVI, Maquiavel e a sua obra dão origem à modernidade política. A sua
preocupação era a criação de um governo eficaz que unificasse e secularizasse a Itália.
Defende um príncipe ou dirigente de governo sem preocupações morais ou éticas, um
dirigente que não olha a sensibilidades para atingir os seus fins. A política, era assim a arte
de governar, ou seja, uma técnica que permitisse ao dirigente ou governante alcançar os fins
independentemente dos meios, não visa a realização geral mas sim pessoal. Introduziu,
ainda, um método comparativo-histórico, fazendo comparação entre dirigentes da sua época
e de épocas anteriores através de exemplos. Introduziu, também, e reforçou a importância
do Estado e da Instituição Estatal.
Na segunda metade do século XVI, Jean Bodin escreve “República”, obra que era também
uma sistematização e explicação dos fenómenos políticos. Dá também grande relevância à
ideia de soberania do Estado, é com base nesta teoria de soberania do Estado que Bodin
cria o conceito de soberania (segundo o qual, o poder não tem igual na ordem interna e nem
superior na ordem externa). Divide, portanto, o Estado em ordem interna e ordem externa e
apenas considera um Estado soberano, se este for superior nestas duas dimensões.
No século XVIII, Montesquieu em pleno iluminismo, difunde ideias políticas que têm por base
a acção humana. Esta surge, assim, como alternativa às ideias de Aristóteles, chamando a
atenção para a “natureza das coisas”. Procurou explicar a natureza das coisas pelas suas
idiossincrasias. Foi com Montesquieau que a geografia dos Estados ou a geopolítica se
tornou um elemento importante na análise política. Introduz o método comparativo de base
geográfica. Faz a distinção entre república, monarquia e despotismo, afirmando que este
último deveria ser irradiado e afastado, na república o poder pertence ao povo ou a uma
parte esclarecida deste, na monarquia o poder pertence ao monarca, no despotismo, o
poder pertence a um indivíduo, o déspota que governa sem honra e que utiliza o terror e a
violência como forma de governação. Para irradiar o despotismo, Montesquieu apresenta a
teoria da separação de poderes, de forma que o poder seja descentralizado das mãos de
61
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

uma só pessoa para que não o use em proveito próprio. Resolvia-se então o perigo do
despotismo com a institucionalização da separação de poderes.
A partir da segunda metade do século XVIII, a investigação dos fenómenos políticos
começaram a perder terreno e a dar lugar a ciências como a sociologia, o direito e a
economia. Embora a ciência política não tenha desaparecido.
A prová-lo está o contributo dado por três autores e pensadores do século XIX. A. Comte
(alertou para a necessidade de analisar com objectividade os fenómenos ou factos políticos);
Alexis de Tocqueville (chama a atenção para o estudo do sistema político norte-americano,
na sua análise introduziu um conjunto de entrevistas, o que lhe permitiu uma comparação
entre estas e irradiar erros ou alguma falha possível. Fazendo um quadro onde apresentava
detalhadamente o sistema político norte-americano como se de uma fotografia se tratasse);
Karl Marx (introduz uma nova perspectiva de abordagem dos fenómenos políticos e de
poder, uma vez que faz uma análise do ponto de vista económico e social, o fenómeno
político é uma consequência das relações de produção, e o regime político era o reflexo da
organização das forças produtivas). É também nesta altura que surgem as ciências políticas
especializadas em determinados fenómenos (economia política, direito político, geografia
política, etc.)
Nos finais do século XIX a Ciência Política é reconhecida nos EUA nas universidades, como
forma de combater o caciquismo no poder local e a corrupção nos partidos políticos.
Só após a Segunda Guerra Mundial, a Ciência Política volta a ganhar relevo e a tornar-se
também uma disciplina autónoma nos quadros das universidades europeias. Além disso
ganha força a análise de sistemas eleitorais, e também do comportamento do eleitorado.
Os fenómenos que contribuíram para o reforço da ciência política foram a proliferação dos
sistemas democráticos, dos partidos políticos, dos mas media, de organizações
internacionais, pelo próprio sistema internacional, etc. Estes factos levaram ao aumento de
estudos sobre estes assuntos, o que suscitou também uma maior proliferação da ciência
política (criação da IPSA, associação onde cientistas políticos discutiam as suas posições e
que deu origem a outras organizações sobre a mesma temática)

62
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

CAPÍTULO I.
TEORIA DE ESTADO
SECÇÃO I. HISTORIA E EVOLUÇÃO DO CONCEITO ESTADO
A. Historia e evolução do conceito Estado.
B. Estado e as primeiras aproximação ‘’ Doutrina sobre o Estado’’
a. Definição o ‘’Estado’’
O estado é de resto uma realidade objecto de interesse por ciências diversas e de acordo
com métodos de análise variados. E assim dele se ocupam, por exemplo, a ciência política,
a sociologia política, ou a ciência jurídica. É sobretudo no âmbito da primeira e da última que
a nossa averiguação se desenvolve. Mas, ainda assim, quando pretendemos estudá – lo do
ponto de vista jurídico devemos restringir a análise a uma perspectiva específica. Por isto, na
63
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

senda do Freitas do Amaral, podemos aludir ao estado como entidade actuante na ordem
internacional, ao estado como pessoa colectiva pública que desempenha a actividade
administrativa ou ainda ao Estado como forma de organização política. Se na primeira
perspectiva o estado é alvo de atenção do direito Internacional e na segunda do direito
administrativo, é na terceira acepção que releva para efeitos de direito Constitucional. 72
Mas que é na realidade um Estado? Para George Burdeau, o Estado é um ser com
existência própria, uma organização política. Por Bobbio Norberto, o Estado é uma realidade
que nasceu algures no século XVII e pode, com o devir histórico, desaparecer. 73 Por
paradoxal que passa parecer, o Estado é um pouco de tudo isso. Ele é, simultaneamente,
uma ideia e um facto, imã abstracção e uma organização. Por um lado, o Estado não deixa
de poder ser encarado como uma ideia, dado que existe na mente de quem o concebeu e
própria noção de Estado diverge de autor.
Há também quem admita, como BELLADORE PALLEIRI, que o Estado é uma realidade
histórica, na justa medida em quem se trata de um produto da idade Moderna, podendo
questionar – se se existiu na Antiguidade. Finalmente e numa posição mais radical, há quem
considere o estado como um mal não necessário e sonhe ‘’com uma sociedade sem Estado,
nem leis, que tenha como base a espontâneo e voluntária cooperação dos indivíduos
associados, respectivamente livres no respeito de uns pelos outros e iguais entre si’’ 74, como
sustentam os teóricos do anarquismos.
Mas afinal de que conceito de Estado deveu partir para, em seguida, proceder á análise dos
seus elementos, das suas vicissitudes, das suas formas, dos seus fins, das suas funções,
dos seus órgãos? Um voo panorâmico, ainda que breve, pela doutrina jus constitucionalista,
é suficiente para constatar a existência de formas variadas de encarar o Estado. Assim, se
para DUGUIT tratar – se – ai de qualquer ‘’sociedade humana em que existe diferenciação
política, diferenciação entre governante e governados, segundos a expressão consagrada –
uma autoridade política’’75
Para MORTATI ele é uma ordem jurídica com objectivos gerais, exercendo o poder
soberano sobre um dado território, ao qual estão subordinados de modo necessário os
sujeitos pertencentes àqueles’’76. Por seu lado, Kelsen define – o como ‘’ uma ordem jurídico
relativamente centralizada, limitada no seu domínio espacial e temporal d vigência, soberana
ou imediatamente subordinada ao direito Internacional, globalmente e em regra eficaz’’
enquanto HARIOU o considera com um agrupamento humano fixado num território
72
AMARAL, Freitas Do. Curso de direito administrativo, Lisboa, 1994, pág. 211.
73
NORBERTO, Bobbio, Estado, op.cit, pág 268.
74
Ibidem
75
PINTO, Ricardo L., CORREIA. José de M., SEARRA. Fernando R., Ciência Político e Direito Constitucional,
Lisboa, Universidade de Lusíada Editora, pág. 50.
76
Ibidem
64
Ciência Política e Direito Constitucional
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determinado e em que existe uma ordem social, política e jurídica, orientada para o bem
comum, estabelecida e mantida por uma autoridade dotada de poderes de coação.
Também no seio da doutrina portuguesa se podem encontrar distintas definições. Com
efeito, se Marques Guedes afirma, sucintamente, que o Estado é ‘’ a colectividade
politicamente organizada e estabelecida em território delimitado’’ 77, José Carlos Moreira
considera que ele é um’’ conjunto de homens, geralmente fixados num território, e que vivem
sujeitos ao domínio de uma autoridade comum, irresistível e suprema’’. Freitas do AMARAL
define o Estado como ‘’ comunidade constituída por um povo que, a fim de realizar os seus
ideias de segurança, justiça e bem – estar, se assenhoreia de um território e nele institui, por
autoridade própria, o poder de dirigir os seus destinos nacional e impor as normas
necessárias á vida colectiva.78
Que conclusões podem retirar – se deste brevíssimo excurso pela doutrina? O Estado que
hoje conhecemos é apenas um dos tipos de Estado possível. Para o explicar, é para nós
pacifica uma definição que arranque da teoria dos três elementos do Estado e que considere
79
que este é constituído pela justaposição de um povo, um território e um poder político.
Daí a nossa preferência por uma definição do tipo daquela avançada por, que entende o
estado como ‘’ um povo fixado num território, de que é senhor, é que dentro das fronteiras
desse território institui, por autoridade própria, os órgãos que elaborem as leis necessárias á
vida colectiva e imponham a respectiva execução 80.
SECÇÃO II. TIPOS HISTÓRICO DO ESTADO
A classificação dos diversos tipos históricos de Estado é tributária de Jellinek e tem sido
acolhida pela globalidade da nossa doutrina jurídico – constitucional, nomeadamente por
Freitas do AMARAL81. Pode assim falar – se, numa perspectiva histórica, em Estado
Oriental, Estado Grego, Estado Romano, Estado Medieval e Estado Contemporâneo
A. Estado Oriental
É o tipo histórico que se desenvolve nas civilizações mediterrânicas da Antiguidade oriental,
nomeadamente as Babilónia, do Egipto e dos Hititas. Trata – se de Estudas que assumiram
a forma de monarquias despóticas, portanto com nulo significado dos directos dos cidadãos,
baseados no poder teocrático (os monarcas eram considerados entidades divinas, mas
apoiavam – se nas castas sacerdotais, as quais influenciavam ou chegavam mesmo a
exercer o poder político).
77
GUEDES, Marques. Introdução ao estudo de direito, Lisboa, 1969, pág.60
78
AMARAL. Freitas do. op. cit. pág.31
79
PINTO, Ricardo L., CORREIA. José de M., SEARRA. Fernando R., Ciência Político e Direito Constitucional,
Lisboa, Universidade de Lusíada Editora, pág. 53.
80
CAETANO Marcello, Manual de ciência política e direito constitucional, Coimbra, Coimbra editora, 1995,
pág.108
81
AMARAL, Freitas Do. op.cit. pág.1156 e ss.
65
Ciência Política e Direito Constitucional
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B. Estado grego
o Estado grego foi desde logo caracterizado pela sua reduzida expressão territorial ( Estado
sob a forma de polis ou cidade Estado)
O termo Cidade – Estado designa regiões controladas exclusivamente por uma cidade.
Cidades – Estados eram comuns na Antiguidade, principalmente na Grécia Antiga, tais como
Tróia, Atenas e Esparta. Mais tarde as cidades – estado e ligas de cidades – estado também
vieram a fazer um papel importantíssimo na Itália. Por exemplo, Gênova, Pisa, Florença,
Amalfi e, a mais famosa de todas, Veneza.
O mesmo ocorreu na Alemanha, como a Liga Hanseática medieval ('Hansa' é um termo do
alemão antigo que significa 'Liga'). Na Alemanha moderna existem três cidades – estado:
Hamburgo, Berlim e Bremen.
Actualmente, o termo cidade – estado também é, às vezes, empregado para designar
cidades que se transformaram em minúsculos países, como: Vaticano e Mónaco.
Politicamente auto-suficientes.
Singapura, na Ásia, conhecida internacionalmente como um dos Quatro Tigres do Oriente,
uma referência a sua robusta economia, também é uma cidade – estado. Ainda na Ásia,
Hong Kong e Macau também são consideradas cidades – estado por possuírem a maioria
de sua população em uma grande e dominante cidade em termos de território total.
É na Grécia que, pela primeira vez, se esboçam as concepções do poder politico e os
quadros classificatórios dos sistemas políticos que inspiraram as grandes correntes do
pensamento ocidental.
C. Estado Romano
As características do Estado Romano variam muito em função do período histórico em que
nos situamos, fruto naturalmente da evolução que o império foi sofrendo. No inicio, por volta
do século V ACN, Roma era uma cidade – estado similar ás gregas, alguns séculos mais
tarde, com expansão e as conquistas assistiu – se á criação de um império, gigantesco em
termo de territoriais e autocrático em termos políticos. com a consolidação do poder de
Imperador desenvolve –se á noção de poder político, como poder supremo e uno, exercido é
certo por aquele, mas brotando da comunidade política dos cidadãos. É curioso como em
Roma, apesar de tudo, se reconheceu normalmente que a autoridade política residia, em
ultima grau, no povo.
Na base da concepção romana de Estado está a ideia da clara separação entre aquele e os
indivíduos, o que, em termo jurídicos, leva a uma linear distinção conceptual entre o poder
público do Estado e o poder privado (pater famílias), bem como á caracterização do
indivíduo como pessoa jurídica com determinados direitos e prerrogativas.
66
Ciência Política e Direito Constitucional
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Mas tarde, verificam – se alteração radicais, com a extensão da cidadania a todo o Império
(século III DCN) é, após o surgimento do cristianismo e, posteriormente, a sua consagração
como religião oficial, a valorização da pessoa humana e a contestação do carácter
absoluto.82
D. Estado Medieval
Para Jorge Miranda, na idade Média não há Estado com as características que geralmente
se lhe apontam, em quase toda e Europa. Isto porque, na sua opinião, feudalismo dissolve a
ideia de Estado, na medida em que o poder se privatiza e passa do ‘’imperium’’ para o
‘’dominium’’: é a concepção patrimonial do poder.
Ao invés, Freitas do Amaral contesta este ponto de vista, falando de um tipo de Estado
Medival e definindo – lhe as características por forte descentralização política, concepção
patrimonial das funções públicas, colocação do principio como centro da vida política
(monarquia de direito divino), elaboração das doutrinas da origem popular do poder (São
Tomas de Aquino) e surgimento dos primeiros documentos esboçando a definição de
garantias individuais facxe ao Estado (Magna Carta).
E. Estado moderno
É tipo histórico característico da idade Contemporâneo (Séc. XVI a XX). Trata – se assim de
um período bastante extenso, ao longo do qual é por isso possível identificar e isolar várias
evoluções, por vezes até em sentidos contraditórios. O Estado Moderno serve de base à
Ciência Política. Esta é uma consequência da própria modernização da sociedade que
começa no séc. XVI e culmina com a Revolução Industrial. Este processo tem um elemento
central, a tecnologia. Esta modernização possibilita igualmente uma maior mobilidade social.
A sociedade moderna é caracterizada pela tecnologia, pelo aumento da produtividade, pela
mobilidade da população e pelo aparecimento de novos grupos sociais. É a época da
ascensão da Burguesia. Outra novidade do Estado Moderno é a nova forma de legitimação
de poder. Antes quem legitimava o poder era um Deus Absoluto, mas quem vai se tornar o
novo elemento legitimador é o Povo. Assim, surgem novas Instituições como os
Parlamentos, onde o povo se faz representar.
Este Estado Moderno não nasceu de uma só vez, mas foi o resultado e um longo processo
de mais e três séculos. A fase mais antiga é a Monarquia. A Monarquia acompanha o
desenvolvimento do Estado Moderno e vai, pelo processo de burocratização, lançar a
primeira forma de Estado Moderno. Por isso se diz que D. João II foi o primeiro monarca
moderno em Portugal.

82
PINTO, Ricardo L., CORREIA. José de M., SEARRA. Fernando R., Ciência Político e Direito Constitucional,
Lisboa, Universidade de Lusíada Editora, pág. 58.

67
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A segunda fase do Estado Moderno é o Estado Liberal, consequência directa das


Revoluções Liberais na França e na Inglaterra. Este Estado é representativo e oligárquico,
mas potenciou, entre outras coisas, ao aparecimento do ideal dos Direitos do Homem e pela
separação de poderes. No séc. XIX o Estado Liberal tornou-se imperial e vai dominar
globalmente o Mundo graças ao processo de globalização.
A terceira fase do Estado Moderno assenta na crise do Estado Liberal, que surge nos finais
do séc. XIX, já que este não tem capacidade para responder às exigências sociais. Surgem
assim as ideologias extremistas de Direita (Fascismo) e de Esquerda (Comunismo).
A quarta fase fica marcada pelo aparecimento do Estado Democrático Liberal,
consequência da grande crise económica e social de 1929. A resposta à crise passou pelo
alargamento da democracia a toda a sociedade, adoptando para a administração do Estado
medidas de cariz social, derivadas do pensamento de Milton Keynes.
SECÇÃO III. ESTADO E FIGURAS AFINS
A. A colónia
a. Definição
Em política, chama-se colónia (ou colónia) a um território ocupado e administrado por um
grupo de indivíduos com poder militar, ou por representantes do governo de um país a que
esse território não pertencia (metrópole), contra a vontade dos seus habitantes que, muitas
vezes são desapossados de parte dos seus bens (como terra arável ou de pastagem) e de
eventuais direitos políticos que detinham. As terras colonizadas podem, no entanto, ser
desabitadas e terem sido povoadas pelo colonizador, como foi o caso de Cabo Verde, de
Barbados e de outras ilhas do Caribe.
b. História da colonização
O termo vem do latim, designando o estabelecimento de comunidades de romanos,
geralmente para fins agrícolas, fora do território de Roma. Ao longo da história, a formação
de colónias foi a forma como a raça humana se espalhou pelo mundo; nesse período da pré-
história, a colonização de territórios não era geralmente acompanhada pelo uso da força - a
não ser para lutar contra eventuais animais que os ocupassem.
As primeiras colónias conhecidas – a Suméria, que deu origem à grande civilização da
Mesopotâmia, começou há cerca de 5000 anos, com base em pequenas colónias ou cidades
- estados – também não foram fundadas com o uso da força, uma vez que se pensa que
esses territórios não eram ainda habitados.
No entanto, à medida que a população foi crescendo, a colonização passou a ter o carácter
de dominação de povos que ocupavam determinado território - foi dessa forma que Roma

68
Ciência Política e Direito Constitucional
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colonizou quase toda a Europa sendo um exemplo a Hispânia região onde hoje fica Portugal
e Espanha. Antes dos romanos, os fenícios tinham também estabelecido colónias a toda a
volta do Mediterrâneo e na Península Ibérica, tendo-se também estabelecido em Goa por
volta de 1775 a.C.; mais tarde, os árabes ocuparam muitas partes dessa região, para além
de regiões a oriente e conquistaram quase toda a Visigotia na Península Ibérica que se
tornou conhecida como Al Andaluz.
No final da Idade Média na Europa, alguns países costeiros – dos quais o primeiro foi
Portugal – começaram a explorar o mundo, como forma de expandir os seus mercados.
Primeiro, estabelecendo acordos com os povos que “descobriam”, mas depois entrando em
conflito com eles – e uns com os outros – no sentido de tentarem obter o monopólio de
determinados produtos e rotas comerciais. Esta foi a primeira forma de imperialismo, em que
vários países europeus, principalmente Portugal, Espanha, França e a Inglaterra (mais tarde
o Reino da Grã-Bretanha), constituíram grandes impérios coloniais abrangendo praticamente
todo o mundo.
c. Colonização recente
A exploração desenfreada dos recursos dos territórios ocupados – incluindo a sua
população, quase totalmente aniquilada, como nas Américas, ou transformada em escravos
que espalharam pelo resto do mundo, neste caso aproveitando-se das sociedades
escravocratas africanas – levou a movimentos de resistência dos povos locais e, finalmente
à sua independência, num processo denominado descolonização, terminando estes impérios
coloniais em meados do século XX.
Em uma situação colonial, os nativos do território colonizado carecem de autonomia —
embora possam estar politicamente representados em corpos governamentais— e estão
sujeitos à soberania do território metropolitano. Grande parte da África e a totalidade da
América foram colônias das potências da Europa durante séculos (especialmente entre o XV
e o XIX), até que as guerras de independência do século XIX e o processo de
descolonização auspiciado pela ONU imediatamente depois da Segunda Guerra Mundial
permitiram aos territórios ganhar sua independência.
d. Situação actual
Actualmente, 16 territórios no mundo são considerados colónias (Anguilla, Bermuda,
Gibraltar, Guam, Ilhas Caimão, Ilhas Malvinas, Turks e Caicos, Ilhas Virgens Britânicas, Ilhas
Virgens Americanas, Montserrat, Nova Caledônia, Pitcairn, Saara Ocidental, Samoa
Americana, Santa Helena e Tokelau), ainda que a denominação possessões ultramarinas
contenha um bom número de entidades sujeitas a um status jurídico similar. Outras

69
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unidades, ainda que não correspondam exactamente a esta definição, são consideradas às
vezes colónias por elementos nacionalistas, como as Ilhas Canárias.
Não existem colónias no sentido político estrito referido acima - a última a ganhar a sua
independência foi provavelmente o Timor-Leste, em 2002 -, mas existem colonatos nos
territórios árabes ocupados por Israel e o Saara Ocidental encontra-se ocupado pelo
Marrocos, o que podem considerar-se formas de colonização.
Por outro lado, a ingerência das potências industrializadas nos assuntos internos de outros
países menos desenvolvidos, tem sido considerado como uma forma de colonização,
referida como neocolonialismo. Como exemplos, podem apontar-se a exportação massiça
de armamento russo para Moçambique e outros países recém-independentes ou a recente
invasão do Iraque pela coligação de países ocidentais.
Alguns territórios decidiram democraticamente manter-se ligados à antiga potência colonial,
como “territórios ultramarinos”, que gozam de autonomia, têm governo próprio e apenas se
subordinam à “mãe-pátria” em termos militares e diplomáticos, não podendo, portanto,
considerar-se colónias, no sentido político do termo. Exemplos destes territórios são várias
ilhas das Caraíbas, como Guadeloupe e Martinica, que são dependências de França, as
Antilhas Holandesas e a Bermuda, dependente do Reino Unido.
SECÇÃO IV ELEMENTOS CONSTITUÍDOS DO ESTADO
A. O Povo
a. Noção ‘’ o conceito Povo’’
O povo é o conjunto de indivíduos que se encontram ligado ao Estado pelo vínculo da
nacionalidade ou cidadania. É portanto, um conceito ilustrativo de uma realidade especial
que é a relação em que individuo se acha para com a sociedade politicamente organizada a
que pertence.83 Mas facilmente se depreende que a noção que a expressão ‘’povo’’ se pode
confundir com outras afins, tais como a nação ou a população. No que toca á primeira vimos
que já que, por vezes são considerados como sinónimos os conceitos de povo de um Estado
e de uma nação. Todavia, como se referiu, o que a é próprio da Nação é sobretudo o
elemento espiritual e cultural, o que afasta, desde logo, qualquer tipo de similitude entre os
dois conceitos. Já que á destrinça entre povo é população as dificuldades são menores.
População é um conceito económico – demográfico de Natureza fática, que designa
conjunto de residentes em dado território, independentemente de serem nacionais,
estrangeiros ou apátridas, enquanto que o povo corresponde a uma noção jurídico – política
de conteúdo preciso, representando o conjunto de cidadão ou nacionais de cada Estado.
b. Cidadania ou nacionalidade
83
SOUSA, Marcelo Rebelo de. Direito constitucional, Lisboa, Universidade Lusíada editora, pág.110.
70
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1. Noção ‘‘Conceito’’ Cidadania e nacionalidade


A qualidade de membro de uma comunidade nacional, a qualidade de nacional, passou a
designar, por exemplo, a qualidade de membro do elemento pessoal do Estado, o povo.
Cidadania. Já se empregou e ainda acima relatada, a linguagem jurídica contemporânea e a
Constituição vigente distinguem o cidadão do nacional. É cidadão, quem goza de direitos
políticos."
O cidadão é sujeito participativo do Estado, vez que detém poder para interferir na actuação
do Estado, através dos poderes políticos a ele conferido. O cidadão interfere, através de tais
poderes, na forma, estrutura, formação e administração do governo, através do voto.
Nem todo nacional é cidadão, como, por exemplo, o menor civilmente incapaz angolano, é
nacional, porém ainda não cidadão por não possuir direitos políticos, exemplificadamente. O
menor incapaz, isto é, menor de 18 anos, é nacional, porém, como a própria nomenclatura
dia, não é considerado capaz de exercer os actos da vida pública, portanto, não é cidadão.
Aos completar 18 anos, considerado, embora ter a necessidade de assistência nos actos
civis, ou seja, considerado relativamente capaz, este pode optar por exercer sua cidadania
através do voto, tornando esta opção obrigatória no cômputo de seus 18 anos.
Para que se possa nomear o nacional de cidadão, é necessário que o regime político de seu
Estado pátrio delibere liberdade. A privação de liberdade é antagónica ao conceito de
cidadania. Assim, num estado autoritário, o povo não detém direitos de interferir de no
Estado.
A cidadania é o poder conferido ao indivíduo de actuar no Estado de forma directa ou
indirecta. Nacional é o direito de protecção do indivíduo face ao Estado.
O conceito de povo liga – se o de cidadania, como qualidade do cidadão. A nacionalidade,
em sentido rigoroso, e como o nome indica, revela a pertença á nação e não ao estado. Só
na medida em que identificamos as duas realidades, faz sentido equiparar os termos. Por
outro lado, a nacionalidade tem sido considerada também um atributo de pessoas colectivas
ou mesmo de coisas. A cidadania é específica das pessoas singulares, dos seres humanos,
dos cidadãos num Estado Democrático. 84 A determinação da cidadania dos indivíduos
corresponde, ao mesmo tempo, á determinação do povo de cada Estado. Assim, analisando
o problema da determinação dos cidadãos é uma questão fundamentalmente de direito
interno de cada Estado, embora, dado o intenso trânsito de indivíduos entre Estados nos
dias de hoje, existam também balizas especificas delineadas pelo direito internacional. 85 E,
desde logo, o direito internacional tenta estabelecer é um compromisso entre a competência
exclusiva de atribuição da nacionalidade e a regra da ligação mínima efectiva do indivíduo a
84
PINTO, Ricardo L., CORREIA. José de M., SEARRA. Fernando R., Op.cit , pág. 76.
85
PINTO, Ricardo L., CORREIA. José de M., SEARRA. Fernando R., op.cit. pág. 78
71
Ciência Política e Direito Constitucional
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esse Estado.86 No domínio do direito internacional importa também de referir a convenção


de Haia de 1930 sobre os conflitos de leis no domínio da nacionalidade e a declaração
universal de Direito do Homens que contém algumas regras importantes em matéria de
nacionalidade:

 Todo individuo tem direito á uma nacionalidade (Art.15 nº1 DUDH);

 Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade nem do direito de


mudar a nacionalidade (Art. 15 nº2 DUDH);

 A definição do regime de aquisição e perda da nacionalidade é da competência da


ordem jurídica estadual (Art 1 da Convenção de 1930);
2. Atribuição e aquisição da nacionalidade
Há fundamentalmente dois critérios para atribuição da cidadania ou nacionalidade: o do jus
sanguinis, segundo qual a cidadania é atribuída pelos laço de sangue ou da filiação em
relação a nacionais de certo Estado. É angolano o filho ou filha de um angolano, ou de uma
angolana; o do jus solis, de acordo com o qual o que determina a nacionalidade é o local de
nascimento. É ainda possível distinguir entre aquisição originária da cidadania, que produz
efeitos desde o nascimento. A aquisição originária concilia o jus solis e o jus sanguinis. E a
aquisição derivada da cidadania que apenas tem efeitos posteriores ao nascimento.
Tal como se adquire, a cidadania pode – se perder e essa perda assume fundamentalmente
dois modos: a renúncia e a privação

 A renúncia: corresponde a uma expressa manifestação de vontade do indivíduo;

 A privação: é o acto pelo qual o Estado retira, por razoes várias, a um seu nacional.
Em matéria de cidadania podemos distinguir: a cidadania plena e semi cidadania, a
cidadania activa e a cidadania passiva.
A cidadania plena é aquela que envolve o reconhecimento do conjunto de direitos e deveres
que certa ordem jurídica atribui aos seus cidadãos. A semi cidadania verificava – se nas
sociedades colonizadas, nas quis os súbditos não foram considerados cidadãos para efeitos
do respectivo estatuto, daí decorrendo a normal não concessão de direitos políticos.
A distinção entre a cidadania activa e não activos nascem nos primórdios do
constitucionalismo e assenta na posse ou não da capacidade eleitoral. A cidadania activa é
pois a que consiste no exercício concreto de direitos que traduzem uma efectiva participação
na escolha e condução do poder político (maxime, o voto) 87 e a cidadania não activa é
aquela em que os direitos políticos sofrem limitações (caso dos menores). A situação de

86
MANIN. Philippe., Droit international public, Paris,1979, pág.201.
87
PINTO, Ricardo L., CORREIA. José de M., SEARRA. Fernando R., op.cit. pág. 79

72
Ciência Política e Direito Constitucional
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cidadania dupla ou plural, que ocorrem quando o mesmo individuo é considerado como seu
nacional por dois ou mais Estados.
B. O Território
O território, como elemento geográfico que é, baliza a actuação do poder político do Estado
e prende – se também, como vimos, com os requisitos para atribuição da cidadania ou
nacionalidade. Existe poder do Estado quando este consegue impor a sua autoridade sobre
certo território. O estado é um elemento imprescritível ao conceito de Estado, na medida em
que delimita o âmbito espacial de validade das normas emanadas dos órgãos do poder
político.88 O território de um Estado pode integrar o território terrestre, o território aéreo e o
território marítimo. Com efeito, se existência do território terrestre e aéreo é obrigatória, já o
território marítimo é eventual, na medida em que só os Estados costeiros dele dispõem e
muitos estados há que o não têm.

Solo

Terrestre

Subsolo

Território Suprajacente ao território terrestre


do Estado
Aéreo

Suprajacente ao território terrestre

Aguas interiores

Marítimo Mar territorial

Plataforma

Fig.1
a. Território terrestre
O território terrestre abrange todo o espaço delimitado pelas fronteiras, que podem ser
definidas por recurso aos elementos naturais ou por via convencional. Jurisdição do Estado
sobre o seu território abrange não apenas o solo, mas também todo o subsolo e ele
subjacente. O Estado exerce aí soberania total, o que fica patente no facto de a entrada no
território, por parte de estrangeiros, estar tradicionalmente sujeita a autorização, a qual
assume a forma de visto89.

88
MIRANDA. Jorge., ‘’o Território’’in Estudo sobre a Constituição, Vol.II, Lisboa, 1978, pág.73
73
Ciência Política e Direito Constitucional
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b. Território Marítimo
O Território Marítimo é o domínio de uma certa extensão de mar a partir das suas costas,
tem também sido sujeito a convenções internacionais que acabam por ser repercutir nos
ordenamentos jurídicos internos.
Na primeira conferência das Nações Unidas sobre o direito do mar, realizada em 1958 90, foi
assinada uma convenção sobre o mar territorial e a zona contígua de acordo com a qual
existe uma zona denominada mar territorial, adjacente ás costas do estado e á qual se
estende a soberania estadual. Se se assentou que a linha de base normal para medir a
largura dessa Zona é a linha da maré baixa, não foi possível chegar a acordo quanto á sua
largura. Só na terceira convenção das Nações Unidas 91 sobre o direito do Mar que teve início
no ano 1973 e terminou em 1982 se obteve um acordo quanto a largura do mar territorial.
Que foi estimado a 12 milhas marítimas (art.3).
A soberania do Estado Costeiro exerce sobre o seu mar territorial é quase plena e respeita
não apenas ás águas, mas ao solo e subsolo correspondente, encontrando – se contudo
limitada por um instituto de natureza consuetudinárias designado direito de passagem
inofensiva, segundo qual os navios de qualquer Estado gozam de direito de passagem no
mar territorial de outro Estado quer para se dirigir para ás águas interiores ou porto, quer
somente para o atravessarem, passagem que não deve ser prejudicial á paz, a boa ordem
ou á segurança do Estado Costeiro92. As águas interiores, referidas no artigo 8 da convenção
de Montego Bay, incluem realidades tão díspares como os portos, as enseadas e molhes, as
baias históricas, os estuários, etc., e nelas o ‘’ius imperii’’ do Estado não sofre quaisquer
limitações, excepto aquelas que o mesmo eventualmente aceite, por via convencional.
Diferente é a Zona Contígua, que é um domínio que poderia atingir uma largura máxima de
12 milhas marítimas93 sobre o qual o estado Costeiro exerceria apenas poderes de
fiscalização em matéria de emigração, sanitária, aduaneira e fiscal. A convenção de
Montego Bay aumentou esta largura a 24 milhas marítimas 94. As Zona Económica Exclusiva,
cuja extensão é fixada em 200 milhas marítimas, não está sujeita á plena jurisdição do
Estado, não integrando o seu território, na medida em que o Estado Costeiro goza de
poderes limitados, ligados sobretudo á prossecução de fins de natureza económica como

89
TOUSCOZ. Jean, Droit international, Paris, 1993, pág. 142
90
A conferência de 1958 proporcionou a assinatura dos seguintes documentos:
a. Convenção sobre o Alto Mar
b. Convenção sobre o Mar territorial e Zona contígua
c. Convenção sobre a plataforma continental
91
Terceira convenção das Nações Unidas sobre o direito do Mar, foi realizado em Montego Bay de 1973 a 1982
92
PINTO, Ricardo L., CORREIA. José de M., SEARRA. Fernando R., op.cit. pág. 98
93
Artigo 24 nº2 Convenção de Genebra de 1958
94
Artigo 33 Convenção de Montego Bay
74
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

por exemplo controlo de pesca, conservação e exploração dos recursos naturais,


investigação cientifica, protecção do meio marinho. 95
c. Território aéreo
O território aéreo engloba o espaço aéreo compreendido pelas verticais traçadas a partir
das fronteiras terrestres, podendo ainda incluir o espaço que recobre o mar territorial,
sempre que este exista96. Os Estado exerce, sobre o seu espaço aéreo, soberania
exclusiva97 o que significa que cada Estado só vê o seu território sobrevoado por um avião
pertence a outro Estado mediante a concessão da necessária autorização. A partir da
convenção de Chicago foi criada a Organização Internacional de Aviação Civil (OACI) que
ficou definido as cinco grandes liberdades em sede de utilização do espaço aéreo:

A liberdade de sobrevoar território estrangeiro sem aí aterrar;

A liberdade de aterragem em território estrangeiro com fins não comerciais (por


exemplo para abastecimento ou em situação de emergência);
A liberdade de desembarcar passageiros, cargas e correio provenientes do país de
origem da aeronave;
A liberdade de embarque com destino ao país de origem da aeronave;
A liberdade de embarque de passageiros e mercadorias no território de um estado
para desembarque no território de outro Estado;
d. Alterações territoriais
O Território de um Estado não é fisicamente imutável e pode passar várias vicissitudes
decorrentes de motivos diversos. As formas de alteração do território são os seguintes:
Anexação, ocupação, rectificação das fronteiras e as sucessões dos Estados.
A ocupação é a aquisição por parte de um Estado de território despovoado e não sujeito a
qualquer soberania. A anexação é integração parcial ou total do território de um estado
noutro Estado, contra a livre vontade daquele e, em geral, por recurso á força. Trata – se de
um modo de aquisição territorial que deve ser hoje classificado como ilegal, face ao que
Direito Internacional Público dispõe98 a matéria. O principio de intangibilidade das fronteiras.
A rectificação é o acordo entre os Estados contíguos para a definição dos limites do
território. É operada por recurso de um tratado internacional entre os Estados.

95
Artigo 58 Convenção de Montego Bay
96
Artigo 2 nº2 convenção das Nações Unidas sobre o direito do Mar
97
Artigo 1 da Convenção de Chicago de 1944
98
A doutrina de STIMSON (Secretário do Estado Norte Americano) consagrou o principio segundo qual não
podem ser objecto de reconhecimento as situações criadas pelo uso da força fora dos casos aceite pelo Direito
Internacional Público, a carta das Nações Unidas Artigo 2 nº3 consagra o principio da resolução pacifica dos
litígios como prevê no mesmo artigo nº4 que não pode ser admitido o recurso á força contra a independência
nacional ou a integridade territorial dos de outro Estados. Definindo assim que a força pode ser usada em
legitima defesa, a ocupação como meio de aquisição do território não é lícita.
75
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

A sucessão dos Estado pode decorrer de quatro tipos de situações, todas elas envolvendo
mutações territórios;
 Cessão – passagem de parte do território de um Estado para a soberania de outro
Estado (a qual pode ocorrer o título gratuito ou oneroso);
 Descolonização – ascensão á independência de um Estado que era anteriormente um
território dependente;
 Unificação – união de dois ou mais Estados num mesmo Estado;
 Separação – criação de dois ou mais Estados a partir do território de um Estado;
independentemente do desaparecimento ou da mutação do anterior Estado.
e. Relevância jurídica – politica do território.
È tripla a relevância jurídico – política do território:
 Constitui condição de independência nacional;
 Circunscreve o âmbito do poder soberano do Estado;
 Representa um meio de actuação jurídico – política do Estado. 99
C. O poder Político
a. O conceito ‘’ Poder Político’’
O poder político é a faculdade de traçar as estruturas e os rumos da vida comum e impor o
acatamento das directivas e das normas para uma e outra coisa estabelecidas 100. Marcelo
Rebelo de Sousa o define como a faculdade de que é titular um povo de, por autoridade
própria, instituir órgãos que exerçam, com relativa autonomia, a jurisdição sobre um
território, nele criando e executando normas jurídicas, usando os necessários meios de
coacção101. Marcelo Caetano define o Poder político como a faculdade exercida por o povo
de, por autoridade própria (não recebida de outro poder) instruir órgão que exerçam o
senhorio de um território e nele criem e imponham normas jurídicas, dispondo dos
necessários meios de coacção102.
Independentemente da opção por uma destas definições ou por qualquer outra, parece
sobretudo útil analisar sob três prismas, os seus elementos caracterizadores:
 Como surge;
 Objectivos que prossegue
 Em que se traduz.
O poder político erigido por um povo em certo território tem natureza originária, porquanto o
acto da sua instituição encontra o seu fundamento numa vontade própria e decorre de uma
manifestação da mesma, não dependendo portanto de qualquer outra. O que significa
99
SOUSA. Marcelo Rebelo de. Op. Cit.pág.123.
100
GUEDES. Marques., Ciência política, Lisboa, pág.43.
101
SOUSA. Marcelo Rebelo de. Op. Cit.pág.129.
102
CAETANO. Marcelo, Ciência política e Direito Constitucional, Coimbra, 1999,Vol. I. pág. 130.
76
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

também que o poder político é um poder funcional, toso o Estado surge necessariamente por
obra de um poder constituinte, independentemente dos modos e formas a sua manifestação.
Ora poder político e órgãos de soberania são, evidentemente, realidades distintas, porquanto
o primeiro é prévio aos segundos e constitui o título legitimador da existência e
funcionamento destes.
A instituição de quaisquer poder político visa, como é evidente, a prossecução de
determinados objectivos, habitualmente designados como fins do Estado mas aos quais,
como já atrás referimos seria mais adequado chamar fins do poder político, uns de carácter

imediato outros de natureza da vida colectiva


Imediato – organização mediata.

Objectivos do poder político


Mediato – garantia da segurança, justiça e bem-estar

Em primeiro lugar, o exercício do poder deve ter por omissão a organização da vida
colectiva. Se um determinado povo se assenhoreou de um território e nele institui uma nova
realidade política, há que garantir a organização e estabilidade dessa comunidade
estruturada. Em que é que se traduz ‘’in concreto’’ O poder político manifesta – se,
primariamente pela definição de opções político – legislativas, ou seja. Através da adopção
de decisões fundamentais para o futuro colectivo. Exercê – lo é, antes de tudo, governar, ou
seja, decidir atentas as diferentes possibilidades que a cada momento se colocam. O uso da
força é uma condição necessária, mas não suficiente, para a existência do poder político. O
que caracteriza o poder político é a exclusividade do uso da força em relação aos outros
grupos que num determinado contexto social. Face á insuficiência do critério da força,
podemos aludir a três pontos essências para a definição do poder político estadual:
exclusividade, universalidade e inclusividade.
Ao aludirmos á exclusividade temos em mente ‘’a tendência que os detentores do poder
político manifestam em não permitir, no sentido de domínio, a formação de grupos armados
independentes, e em subjugar ou desbaratar aquele que se venham a também atentar para
as infiltrações, as ingerências ou as agressões do grupos políticos externos.

77
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

Por universalidade entendemos ‘’ a capacidade que tem os detentores do poder político, e


só eles de tomar decisões apropriadas e efectivas para toda a comunidade no que toca á
distribuição e ao destino dos recursos não apenas económicos.
Por último, inclusividade é a possibilidade de intervir imperativamente em toda a possível
esfera de acção dos membros do grupo, direccionando – os para fins desejados ou
dissuadindo – os de um fim não desejado através do ordenamento jurídico, ou seja através
de um conjunto das normas primarias dirigidas aos membros do grupo e de normas
secundárias dirigidas a funcionário especializados, autorizados a intervir no caso de violação
das primeiras. 103

CAPÍTULO II.
FORMAS DE ESTADO E GOVERNO

SECÇÃO I. FORMAS DE ESTADO

I. CONCEITOS FORMAS DE ESTADO E DISTINÇÃO DE OUTRAS FIGURAS JURÍDICAS


AFINS
Por formas de Estado, entendemos a maneira pela qual o Estado organiza o povo, o
território e estrutura o seu poder relativamente a outros de igual natureza (Poder Político:
Soberania e Autonomia), que a ele ficarão coordenados ou subordinados. A posição
recíproca em que se encontram os elementos do Estado (povo, território e poder político)
caracteriza a forma de Estado (Unitário, Federado ou Confederado).
Não se confundem, assim, as formas de Estado com as Formas de Governo. Esta última
indica a posição recíproca em que se encontram os diversos órgãos do Estado ou "a forma
de uma comunidade política organizar seu governo ou estabelecer a diferenciação entre
governantes e governados", a partir da resposta a alguns problemas básicos - o da
legitimidade, o da participação dos cidadãos, o da liberdade política e o da unidade ou
divisão do poder.
As formas de Estado levam em consideração a composição geral do Estado, a estrutura do
poder, sua unidade, distribuição e competências no território do Estado. Examinando os

103
PINTO, Ricardo L., CORREIA. José de M., SEARRA. Fernando R., op.cit. pág. 98
78
Ciência Política e Direito Constitucional
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vários Estados, verificamos que, independentemente de seus sistemas de governo,


apresentam aspectos diversos concernentes à própria estrutura. Enquanto uns se
apresentam como um todo, isto é, como um poder que age homogeneamente e de igual
modo sobre um território, outros oferecem diferença no que se refere à distribuição e sua
atuação na mesma área.
Trata –se pois de estudar ‘’ o modo pelo qual o Estado estrutura o seu poder em relação a
outros poderes de igual natureza que com ele serão coordenáveis ou ele ficarão
eventualmente subordinado.
Pelo exposto, temos a mais importante divisão das formas de Estado, a saber. Estado
Simples e Estado Composto. É fundamental observar como se exerce e/ou se distribui o
poder político, isto é, a Soberania.

II. CLASSIFICAÇÃO FORMAS DE ESTADOS


1. Classificação Bipolar ‘’ Estado Simples ou unitário e Estado composto ou complexo
A bipolaridade classificatória de que temos de partir é entre o Estado Simples ou Unitário,
onde há unidade de poder político, de ordenamento jurídico e de constituição e Estado
composto ou complexo, onde pluralidade nos referidos três aspectos.
A. Estado Simples ou unitário
O Estado Simples ou Unitário, de que a França é exemplo clássico, constitui a forma típica
do Estado propriamente dito, segundo a sua formulação histórica e doutrinária; O poder
central é exercido sobre todo o território sem as limitações impostas por outra fonte do
poder. Como se pode notar, é a unicidade do poder, seja na estrutura, seja no exercício do
mando, o que bem caracteriza esse tipo de Estado.
  “O tipo puro do Estado Simples é aquele em que somente existe um Poder
Legislativo, um Poder Executivo e um Poder Judiciário, todos centrais, com sede na
Capital. Todas as autoridades executivas ou judiciárias que existem no território são
delegações do Poder Central, tiram dele sua força; é ele que as nomeia e lhes fixa as
atribuições. O Poder Legislativo de um Estado Simples é único, nenhum outro órgão
existindo com atribuições de fazer leis nesta ou naquela parte do território”.
Pelo fato de apresentar a centralização política, o Estado Unitário só tem uma fonte de
Poder, o que não impede a descentralização administrativa. Geralmente o Estado Simples,
divide-se em departamentos e comunas que gozam de relativa autonomia em relação aos
serviços de seus interesses, tudo, porém como uma delegação do Poder Central e não como
poder originário ou de auto – organização.

79
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

 ”O Estado Unitário é o Estado Padrão. A teoria clássica da soberania nacional foi
concebida em referência a essa forma normal de Estado, e as características da
soberania – unidade, indivisibilidade, imprescritibilidade e inalienabilidade – só ao
Estado Unitário se aplicam integralmente.”
O Estado unitário pode compreender vários modelos, que se reconduzem ao menor grau de
descentralização administrativa e política, sem que todavia deixe de existir um único centro
de poder, um só ordenamento jurídico e apenas uma Constituição. Assim o Estado Unitário
pode compreender formas tão distintas como o Estado centralizado (com ou sem
desconcentração), o Estado administrativamente descentralizado e O Estado regional ou
autonómico sendo este último por vezes tratado como categoria á parte um ‘’tertium
genus’’entre o Estado Composto e o Estado Simples104.

Sem desconcentração
Centralizado administrativa

Com desconcentração
administrativa
Estado Unitário
Administrativamente

Descentralizado
Administrativamente e politicamente
(Estado regional ou autonómico

a. Estado unitário centralizado


O que fundamentalmente caracteriza o Estado Unitário centralizado é o facto que de
nenhuma das colectividade que o compõem poderem fazer valer um direito próprio para
regular aquilo que lhes diz respeito.
Mas um Estado centralizado pode compreender um ou vários graus de desconcentração
administrativa. A desconcentração administrativa é um fenómeno que se traduz na
transferência de competências de um órgão superior para um órgão central para um órgão
periférico e envolve uma adaptação da administração á complexidade do Estado moderno
de forma a que as decisões da Administração central sejam mais rápidas e eficazes. Mas
não implica uma mudança da natureza jurídica na estrutura do poder do Estado. A
desconcentração convive com a centralização, e há quem lhe chame mesmo, no limite, uma
porta aberta para hiper – centralismo (a longa mão de administração) porquanto há, na
desconcentração, um exercício do poder por via da delegação de poderes, que em regra é
revogável105.
104
PINTO, Ricardo L., CORREIA. José de M., SEARRA. Fernando R., op.cit. pág. 169
105
AMARAL, Freitas do, op.cit., pág.622.
80
Ciência Política e Direito Constitucional
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b. Estado unitário descentralizado


o estado unitário descentralizado caracteriza – se pela transferência de poderes para
entidades territórios locais, que passam a ter competências e funções próprias, podendo o
povo escolher livremente quem exercerá a descentralização administrativa é sempre uma
descentralização territorial, por isso que implica confiar a função administrativa do Estado a
outras entidades de Base territorial implica pois autonomia, liberdade e democracia a
descentralização, como se disse, é naturalmente uma questão de grau: maior ou menor
Pode reconduzir – se a uma descentralização para as freguesia, para os municípios ou
comunas ou para regiões administrativas, províncias, departamentos ou condados. Em
qualquer caso a descentralização aqui contemplada, é sempre administrativa. Está em
causa a função administrativa do Estado e não se coloca sequer hipótese da existência de
mais do que um centro legislativo 106. Segundo Freitas do Amaral, a diferença essencial entre
desconcentração e descentralização, reside, para o primeira, na repartição de competências
pelos diversos grau da hierarquia no interior da pessoa colectiva pública, para a segunda, na
existência de uma pluralidade de pessoa colectiva pública 107.
A atribuição de faculdades legislativas e de governo a entidades distintas do Estado é
própria do Estado regional ou autonómico. Neste ultima há autonomia legislativa, traduzida
na faculdade de aprovar leis e uma muito ampla autonomia institucional, dando azo a
entidades políticas e administrativas próprias. O Estado regional ou autonómico pressupões,
pois, mais do que a descentralização administrativa. Exige a descentralização política108.
A descentralização administrativa pode, consoante os países, ser apenas municipal, ou
municipal e supra municipal (provincial ou regional). Num Estado com ambas as dimensões
– descentralização administrativa e descentralização política nem sempre é fácil fazer a
distinção. O critério estará na existência do poder legislativos próprios, de estatuto político
também próprio e de auto – governo, como manifestações de descentralização política e de
simples poderes administrativos, auto – administração e ausência de estatuto político –
administrativo especifico, como manifestações da descentralização administrativa.
c. O Estado Regional
O Estado regional também Chamado de geográfico designa para alguns autores os Estados
Membros que têm certa autonomia própria em relação aos poderes que o regem
(Legislativo, Executivo e Judiciário). Esta forma de Estado é Unitária e pouco
descentralizada, pois este não elimina por completo a superioridade Política e Jurídica do

106
PINTO, Ricardo L., CORREIA. José de M., SEARRA. Fernando R., op.cit. pág. 169
107
AMARAL, Freitas do,. Direito Administrativo, Vol I, Coimbra, 1986, pp.657 e ss
108
PINTO, Ricardo L., CORREIA. José de M., SEARRA. Fernando R., op.cit. pág. 171
81
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

Poder Central, mesmo possuindo uma Carta Política própria está submetido
constitucionalmente ao Estado Unitário.
B. Estado Composto ou Complexo
Na forma composta, o Estado é sempre um, ou pelo menos, assim se apresenta na vida
internacional e também é formado por mais de um poder agindo sobre o mesmo território, de
maneira harmoniosa.
São consideradas formas compostas de Estado:
a. as Uniões (pessoal, real e incorporada);
b. as Confederações;
c. as Federações.
Obs.: Alem dessas, há outras formações políticas, como a Comunidade Britânica de Nações.
a. As Uniões
a) As Uniões: estas foram próprias do período monárquico, e, com o enfraquecimento
deste, já não oferecem interesse. As uniões originaram-se das circunstâncias políticas e
sociais então vigentes, e, desapareceram.
- A União Pessoal:apresenta um único monarca.
Estados gozam de autonomia no plano interno e externo Representam uma situação
temporária
Ex: Portugal e Espanha sob Felipe II, Felipe III e Felipe IV
- A União Real: embora cada Estado continue tendo autonomia interna, a vida
internacional é comum, sob o poder de um só monarca. Ex: Suécia e a Noruega, Áustria e a
Hungria durante muitos anos.
- A União Incorporada: Estados desaparecem para constituir um terceiro, o que significa a
criação de um novo Estado. Os antigos reinos da Inglaterra, Escócia e Irlanda, eram
independentes, passando posteriormente a formar a monarquia britânica.
b. As Confederações:
Em ciência política, a confederação é uma associação de Estados soberanos, usualmente
criada por meio de tratados, mas que pode eventualmente adoptar uma constituição comum.
A principal distinção entre uma confederação e uma federação é que, naquela, os Estados
constituintes não abandonam a sua soberania, enquanto que, nesta, a soberania é
transferida para a união federal. As confederações costumam ser instituídas para lidar com
assuntos cruciais como defesa, relações exteriores, comércio internacional e união
monetária.

82
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

Em termos políticos modernos, uma confederação é normalmente limitada a uma união


permanente de Estados soberanos para o propósito de adoptar uma acção comum frente a
outros Estados. A natureza da relação entre os Estados confederados e entre estes e a
união confederativa varia de caso a caso. Algumas confederações mais frouxas
assemelham-se a organizações internacionais (alguns diriam que, hoje em dia,
confederações são organismos internacionais), enquanto que confederações mais estreitas
parecem-se com federações.
Na maioria dos casos, a confederação é governada por uma assembleia dos Estados
confederados, que têm direitos e deveres idênticos. As decisões desta assembleia são, em
princípio, tomadas por unanimidade. A confederação tem em regra personalidade jurídica,
mas a sua capacidade internacional é limitada. Do ponto de vista histórico, a confederação
costuma ser uma fase de um processo que leva à federação, como nos casos dos Estados
Unidos e da Suíça. Por vezes a confederação pode desfazer-se em Estados soberanos, a
exemplo da República Árabe Unida. Os indivíduos súbitos de uma confederação guardam a
nacionalidade dos seus respectivos Estados.
Como a Confederação não possui um aparelho coativo capaz de impor as próprias decisões,
o meio de que se utiliza para coibir os conflitos entre os Estados componentes é a
organização de um sistema de arbitragem, cujos processos variavam imensamente. Em
muitos casos, o membro rebelde da Confederação sofria numerosas represálias, como a
pressão diplomática, o bloqueio militar, o boicote comercial, medidas que podiam chegar a
alterações substanciais na vida interna do país excluído.
A mais importante das confederações foi a. Suíça, que se iniciou com um tratado entre três
Cantões, em 1291, tendo passado por várias mudanças, porém conseguindo subsistir, até
que se estabeleceu a União Federal em 1848.
c. As Federações
a). O conceito
É aquele que se divide em províncias politicamente autónomas, possuindo duas fontes
paralelas de Direito Público, uma Nacional e outra Provincial.
Exemplos: Brasil, EUA, México, Argentina são estados federais.
Caracterização do estado federal
O facto de se exercer harmônica e simultaneamente sobre o mesmo território e sobre as
mesmas pessoas a acção pública de dois governos distintos (federal e estadual) é o que
justamente caracteriza o Estado Federal.

83
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

Podemos definir o Estado Federal como um estado formado pela União de vários estados;
"É um Estado de Estados".
Esta definição se ajusta a um conceito de Direito Público interno, o qual tem por objectivo o
estudo das unidades estatais na sua estrutura intima. Devemos ressaltar que o Estado
Federal se projeta como Unidade não como Pluralidade.
O Prof. Pinto Ferreira formulou a seguinte definição: "O Estado Federal é uma organização
formada sob a base de uma repartição de competências entre o governo nacional e os
governos Estaduais, de sorte que a União tenha supremacia sobre os Estados-Membros e
estes sejam entidades dotadas de autonomia constitucional perante a mesma União".
A forma federativa moderna se estruturou sobre bases de uma experiência bem sucedida
norte-americana e não sobre bases teóricas.
b). Características essenciais
São características fundamentais do sistema federativo, segundo o modelo norte-americano:
- Distribuição do poder do governo em dois planos harmônicos (federal e provincial).
O governo federal exerce todos os poderes que expressamente lhe foram reservados na
Constituição Federal, poderes esses que dizem respeito às relações internacionais da União
ou aos interesses comuns das Unidades Federadas. Os Estados-Membros exercem todos
os poderes que não foram expressa ou implicitamente reservados à União, e que não lhes
foram vedados na Constituição Federal. Somente nos casos definidos de poderes
concorrentes, prevalece o principio da. superioridade hierárquica do Governo Federal;
- Sistema Judiciarista, consistente na maior amplitude e competência do poder judiciário,
tendo esse, na sua cúpula, um Supremo Tribunal Federal, que é órgão de equilíbrio
federativo e de segurança da Ordem Constitucional;
- Composição bicameral do Poder Legislativo, realizando-se a representação nacional na
câmara dos deputados e a representação dos Estados-Membros do Senado Federal sendo
esta última representação rigorosamente igualitária;
- Constância dos princípios fundamentais da Federação e da Republica, sob as
garantias da imutabilidade desses princípios, da rigidez Constitucional e do instituto da
Intervenção Federal.
O sistema político pelo qual vários estados se reúnem para formar um Estado federal,
cada um conservando sua autonomia, chama-se federalismo.
São exemplos de Estados federais a Alemanha, Austrália, o Brasil, o Canadá, a Índia, a
Malásia, o México, a Nigéria, a Rússia, a Suíça e os Estados Unidos.
c. Problema da soberania
84
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

A Soberania é Nacional e a Nação é uma só. Logo o exercício do poder de soberania


compete ao governo federal e não aos governos regionais.
A federação não resulta de uma simples relação contratual, a exemplo da Confederação. As
Federações são unidades de divisões históricas, geográficas e político-administrativas de
uma só Nação. Une-se pelo pacto federativo que expressa a vontade nacional que é
permanente e indissolúvel. Nos E.U.A, a autonomia estadual é ampla, variam nos Estados-
Membros Norte- Americanos quanto à forma unicameral ou bicameral.
b). Estrutura jurídica do Estado Federal
O ponto central na estrutura jurídica do Estado federal, que permite destrinçar a sua
constituição da de um Estado Unitário, reside na separação de poderes. Aqui, uma única de
tipo horizontal. Ali uma dupla divisão de poderes: horizontal no âmbito da federação e
vertical para as relações entre a federação e os estados federados.
O estudo diacrónico do Estado federal obriga a supeender vários momentos:

 O momento da unificação do poder, corresponde á génese do Estado federal e ao


exercício do seu poder constituinte originário, que pode resultar da união de vários
Estados independentes (como EUA); o da distribuição do poder, que se reporta á
repartição de competências entre a Federação e os Estados federados, nela se incluindo
a delicada questão da distribuição do poder tributário ou fiscal; e, finalmente, o da
coordenação dos poderes entre a federação e os estados Membros.

 O momento da distribuição de competências, é, classicamente, o mais complexo e sujeita


a uma mais pormenorizada previsão constitucional. A constituição Federal consagra em
regra quais as são as competências do Estado Federal (política externa, defesa,
comercio exterior, sistema monetário, pesos e medidas, sistema postal, comunicações,
desenvolvimento directo da Constituição Federal, conflitos federais, etc.) deixando as
matérias não reservadas aos Estados membros. Na articulação dessas competências é
usual utilizarem – se dois critérios: o das matérias ou competências exclusivas e o das
matérias e competências concorrentes.
I. Critério das matérias exclusivas:
- matérias da competências exclusivas da federação
- matérias da competências exclusivas dos Estados Membro
- matérias cujo a legislação corresponde á Federação e a execução aos Estados
Membro;
- e, muito raramente, matérias cuja aprovação sob a forma de lei corresponde aos
estados membros e a execução á Federação.

85
Ciência Política e Direito Constitucional
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II. Critério das matérias concorrentes:


- autorização da Federação aos Estados membros para que estes últimos regulem
certa matéria;
- matérias cuja regulação está confiada aos Estados membros, mas em que a
Federação pode intervir se entender dever regulá – las de forma unitária.
A distribuição do poder tributário (uma das questões mais complexas) afecta o
funcionamento da Federação, actualmente existe uma concorrência de fontes fiscais entre
Federação e Estados Federados, o que levou a uma tendencial equiparação nas fontes de
rendimento. Finalmente o momento de coordenação entre a federação e os Estados
Membros, envolve relações de supremacia e subordinação por um lado e de
participação por outro:
I. Relação de supremacia e subordinação
- supremacia da constituição Federal
- prevalência do direito Federal (presunção que pode ser invalidada pelo poder judicial se
a Federação invadiu a esfera de autonomia dos Estados membros.
- fiscalização Federal sobre os Estados membros, quando estes têm confiada a execução da
legislação federal;
- justiça federal com poderes de resolução das questões atinentes a eventuais normas
federais ou estatais desconformes com a Constituição mas também resolvendo os conflitos
entre a Federação e os Estados federados o os conflitos entres estes.
II. Relação de participação
- na vontade da federação por parte dos estados federados, por intermédio da criação de
uma 2ªcamara legislativa de natureza territorial (Senado nos EUA, Conselho Federal na
Suiça);
- dos estados membros no procedimento de reforma constitucional, de tal modo que, para a
sua concretização se torna necessária a aprovação/rectificação por maioria qualificada dos
Estados.
C. Distinção entre o Estado Unitário regional e o Estado Federal quanto aos poderes e
natureza das entidades territórios.
Sem prejuízo de outras diferenças, atenta a multiplicidade quer dos modelos federais quer
regionais, são salientar as seguintes:
- as regiões ou comunidades regionais, não gozam de poder constituinte, enquanto que os
Estados federados o têm, elaborando e revendo as suas próprias Constituições ( se bem
que no quando da constituição Federal)
86
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

- os Estados federados participam enquanto tal na revisão da constituição federal (em


regra sendo chamados a pronunciarem – se sob a forma de ratificação), o mesmo não
acontecendo com as regiões;
- o estatuto da autonomia regional deve ser aprovado pelo parlamento deve ser aprovado
pelo parlamento central (como maior ou menor autonomia quanto á iniciativa e
alterações) enquanto que a constituição do Estado federado é aprovada por este tendo
como único e natural limite o respeito pela Constituição Federal.
Os dois exemplos de federalismos
1. O Federalismo nos Estados Unidos da América
A Constituição Norte-Americana de 1787 é o marco inicial do Moderno Federalismo.
As treze colônias que rejeitaram a dominação Britânica, em 1776, constituíram-se em outros
tantos Estados livres.
Verificou-se que o governo resultante dessa união confederal, instável e precário não
solucionava os problemas internos, notadamente os de ordem económica e militar. As
legislações conflitantes, as desconfianças internas, as rivalidades regionais, ocasionavam o
enfraquecimento dos ideais nacionalistas e dificultavam sobremaneira o êxito da guerra de
libertação.
2. Federalismo Brasileiro
O Federalismo Brasileiro é diferente; e muito rígido, em um sistema de federalismo orgânico.
O Brasil Império era um Estado juridicamente unitário, mas na realidade era dividido em
províncias. Os primeiros sistemas administrativos adoptados por Portugal, foram as
Governadorias Gerais, as Feitorias, as Capitanias, rumos pelos quais a nação brasileira
caminharia fatalmente para a forma federativa, e quando o centralismo artificial do primeiro
Império procurou violentar essa realidade a nação forçou a abdicação de D. Pedro I,
impondo a reforma da Carta Imperial de 1824. Contrariamente ao exemplo norte-americano,
o federalismo brasileiro surgiu como resultado fatal de um movimento de origem natural -
histórica e não artificial. Deve-se a queda do Império, mais ao ideal federativo do que ao
ideal republicano. A Constituição de 1891 estruturou o federalismo brasileiro segundo o
modelo norte-americano. Ajustou um sistema jurídico-constitucional estrangeiro uma
realidade completamente diversa.
O Brasil pelas suas próprias condições geográficas, tem vocação histórica para o
federalismo. País de uma verdadeira imensidão territorial e a diversidade de suas condições
naturais obriga naturalmente a uma descentralização que é à base do federalismo. Tratando-
se de um dos maiores Estados do mundo, com território rico em recursos naturais e quase
todos aproveitáveis, sem desertos nem geleiras. Há, assim uma vocação histórica do Brasil
87
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

para o Estado Federal. O grande papel dos estadistas portugueses e da colónia foi manter a
unidade territorial do país. As causas sociais da origem do federalismo brasileiro são,
portanto visíveis. É a própria imensidão territorial obrigando a uma descentralização do
governo, a fim de manter a pluralidade das condições regionais, tudo integrado na unidade
nacional.
D. Estado composto e associações de Estados.
A federação americana nasceu da confederação e da constatação das insuficiências.
Contudo a matriz confederal não é a única a evoluir para o federalismo, pois como já foi dito,
estados unitários, como Brasil e Áustria deram lugar a Estados federais.
Ou seja, é possível falar de um federalismo centrípeto, resultante da associação livre de
Estados originariamente independente e soberanos e de um federalismo centrífugo, em que
Estados Unitários dão origem a Estados Federais. Como formas de Estado composto o
Estado Federal ou a União Real compartilham de aspectos das associações de Estados,
como as organizações supra nacional ou as confederações, podendo mesmo dizer – se que
são formas mais intensas de Associação de Estados, dando origem a um novo Estado 109.
E. Distinção entre a federação e confederação
Parece clara a distinção entre confederação e federação, atento até o exemplo norte
americana. Na primeira, cada Estado membro conserva a sua soberania e independência,
excepção feitas ás competências que são vazadas na confederação por força do pacto
confederal no fundo uma aliança entre Estados – que em regra respeitam a assuntos
internacionais. Os órgãos confederais têm poderes delegados pelos Estados e não poderes
próprios, sendo que a execução das decisões da confederação há – de fazer – se através
dos órgão internos dos Estados e não mediante acção directa da confederação. A
confederação como aliança de Estados não retira ou reduz a soberania dos Estados
membros. Trata – se de um acordo entre Estados que pode ser desfeito em qualquer
momento, podendo verificar – se mesmo a secessão de um ou mais Estados,
permanecendo os restantes na confederação. Os Artigos da confederação Norte Americana
enfatizavam justamente esse ponto: ‘‘cada Estado manterá a sua soberania, liberdade e
independência e o poder, jurisdição e direitos que não sejam expressamente delegados por
esta confederação para os Estados Unidos reunidos em Congresso’’ (Artigo 2) 110.
Mais delicada é a destrinça entre a confederação e as organizações supra nacionais, como a
união Europeia. Trata – se de uma temática sujeita hoje a um profundo debate – saber quais
as fronteiras entre os Estados compostos e as organizações de Estados, como as
organizações supranacionais e nestas qual o lugar, por exemplo de união Europeia, como
109
MIRANDA. Jorge, Op.cit, Vol. III, pág. 221.
110
DALLARI. Dalmo de Abreu, O Estado Federal, São Paulo, 1986,pp.12 e ss.
88
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

caso de escola mas que, em vigor, extrava o âmbito da teoria Geral do estado. A sede do
seu estudo pertence claramente, ao Direito Internacional Público.
SECÇÃO II. FORMAS DE GOVERNO
A. Noção de formas de governo e figuras afins
O professor Marcelo Caetano designava por forma política de Estado, a maneira que as
sociedades encontram – se organizada de acordo com um determinado modelo de
Estruturação do poder política 111. Este doutrinário distinguia no conceito de ‘’forma política do
Estado’’ duas áreas fundamentais: o Regime Político e o sistema de governo. O regime
político defina – se ‘’ considerando as concepções fundamentais das relações entre individuo
e a sociedade política cuja ideologia e poder político tem por missão verter na ordem
jurídica’’ e o sistema de governo era determinado atendendo á ‘’ titularidade e estruturação
do poder político, de molde a determinar quem é considerado o titular dele e quais os órgão
estabelecidos para o seu exercício’’.
Aquilo que Caetano designa de forma política do Estado, é estudado por outros autores
como forma de governo, sistema político ou mesmo forma de Estado. Giafranco Pasquino
alude ás formas de governo identificando as presidenciais, parlamentares e semi –
presidenciais112. Olivier Duhamel, como alias grande parte da doutrina francesa, considera o
sistema político o significado de sistema de governo na concepção marcelista 113.
Na doutrina portuguesa, Gomes Canotilho estuda o parlamentarismo e o presidencialismo
sob etiqueta combinada de forma de governo e sistema político 114. Jorge Miranda, por seu
lado, dá à expressão forma de governo um significado mais amplo que a aproxima do
conceito de regime político de Marcelo Caetano 115. Marquês Guedes atribui à
expressão’’sistema político’’ um sentido mais amplo que parece consumir as ideias de
regime e sistema de Governo116.
Do que se trata é de estudar o exercício do poder político, ou seja a forma como se exerce á
autoridade suprema nem data comunidade política. E, sendo necessário que não
esquecemos o contexto histórico de tal matéria, sobre tudo na óptica das tipologias –
classificas umas, contemporâneas outras – daremos prioridade ao estudo do Estado
Moderno. Saber quem governa e como se governa, são questões que dizem respeito á
forma de governo, designação que preferimos pelas razoes que adiante se explicitarão.

111
CAETANO, Marcelo., op. cit. 6ª Edição, 1983,pp. 201 e ss.
112
PASQUINO., Gianfraco, Curso de Ciências Política, Lisboa, 2002, 2002, pp.238 e ss
113
DUHAMEL.Olivier,. Les Démocraties, Regimes, Histoires, Exigences, Paris, 1993
114
CANOTILHO., Gomes, Direito constitucional e Teoria da constituição, Coimbra, 7ª edição, 2003, pp. 573 e
ss.
115
MIRANDA. Jorge, Governo (forma e sistema de), in Polis, Enciclopédia Verbo da
Sociedade e do Estado, Lisboa, 1985, vol. III, clos.76 ess.
116
GUEDES Marquês., Sistema Políticos, Coimbra, 1990
89
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

Trata – se de um conceito amplo, que pretende designar as relações existentes entre o


poder político e o povo e o modo como são organizados e como actuam os órgãos desse
mesmo poder político.
A forma de governo de dado Estado, em certo momento histórico, é o resultado, pelo menos,
do cruzamento dessas duas realidades. O regime político entendido como as relações entre
governantes e governados, o que pressupõe a ultrapassagem da analise puramente
normativa da realidade estatal. O sistema do governo que estuda as instituições e estatuto
dos governantes, à luz da Constituição, mas que não prescinde da análise dos sistemas
eleitorais e dos sistemas partidários.
B. Tipologia sobre Formas de Governo
1. Algumas tipologias Clássicas
As tipologias de forma de governo, embora nem todas procurem identificar a realidade
existente e antes se proponham apresentar modelos teóricos do que deve ser uma
sociedade política bem organizada. Os conceitos que utilizamos actualmente na Ciência
Política e no Direito Constitucional nasceram na Grécia e na Roma antigas, acabando por
receber reorientações de sentido e significado ao longo da historia da ideias ou da filosofia
política. Muitos autores classificarão as formas de governo, o mais célebre é Aristóteles, São
Tomas de Aquino, Maquiavel e Montesquieu.
- Aristóteles
Para Aristóteles existe duas formas de governo: forma pura e forma degenerada do
exercício do poder
I. Forma puras
As formas puras seriam aqueles em que o poder seria exercido para o bem comum,
podendo esse poder residir num homem só (monarquia), em vários (aristocracia) ou
em todos (politeia)
II. Forma impura ou degenerada
Na forma degenerada teríamos: a tirania, oligarquia e democracia (como sinónimo
de anarquia)
São Tomas de Aquino
Para São tomas de Aquino, a classificação das formas de governo arranca da tipologia
tripartida de Aristóteles, mas com as seguintes particularidades:
I. as formas de governo variam consoante o ideal e os fins que as inspiram, sendo
que esses fins se reconduzem essencialmente a três: virtude, riqueza e liberdade:

90
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

II. as formas de governo que pressupõe são quatros: monarquia, aristocracia,


oligarquia, democracia, sendo que tanto a monarquia como aristocracia
comungam do fim virtude; fala ainda da tirania, forma de tal modo violenta e
perversa que não merece ser catalogada como forma de governo
- Maquiavel
Maquiavel acentua a distinção entre República e Monarquia (principados), não com base no
critério aristotélico do número, mas no da prevalência da virtude por referência à defesa da
‘’coisa publica’’ e em oposição ao interesse privado. As monarquias podem ser herdadas ou
conquistadas e as Repúblicas podem ser aristocráticas, democráticas ou mistas. Se bem
que a República não seja sinónimo de democracia, ele é para Maquiavel, a única forma de
governo onde prevalece o bem comum é a única que permite garantir a liberdade (o vivere
libero) e afastar a tirania117.
- Montesquieu.
Para Montesquieu a três formas de Governo: República, Monarquia e despotismo. O
governo republicano é aquele em que o povo em conjunto ou só uma parte dele tem o poder
soberano; o monárquico é aquele em que governa um só mas com lei e fixas e
estabelecidas; enquanto que o despótico governa só um mas sem lei e sem regra tudo
arrastando por sua vontade e capricho118.
2. Tipologias Contemporânea
São inúmeras as propostas de classificação de Formas de Governo de autores
contemporâneo. Vamos assim analisar alguns Autores cujo contributo na matéria se revela
mais importante.
a. Tipologia francês
- Georges Burdeau, no seu Manual ‘’Le traité de Science Politique’’ refere – se aos
regimes democrático e autoritários, devindo neste últimos entre o cesarismo empírico, a
ditadura ideológica e o poder individualizado. No cesarismo empírico não há ideologia
concreta, mas apenas decisões pragmáticas de coloração esquerdista ou direitista,
segundo a situação. A ditadura ideológica está imbuída de uma filosofia que pretende
justificar as faculdades excepcionais do chefe. Finalmente, o regime do poder
individualizado é a teocracia moderna, que se realizou historicamente na Alemanha do III
Reich. O mesmo autor fez uma outra proposta de classificação importante para a
delimitação das formas de governo que assente num critério histórico, é entre
democracia governada e democracia governante. A primeira corresponderia ao

117
MAQUIAVEL., Nicolas,Oeuvres, Paris, 1996
118
MONTESQUIEU., Esprit dês Lois (vol. II), Paris, 1979
91
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

pensamento do início do constitucionalismo, quando se aspirava a controlar o poder e


segunda á democracia dos nossos dias em que o povo passaria do controlo á acção. 119
- George Vedel e Maurice Duverger
Esses politólogos Francês no ano 50 desenvolveram uma tipologia essencialmente
aplicável ás democracias, segundo a qual as diferenças entre o sistemas político norte-
americano e inglês eram mais aparentes que reais. Em ambos o povo intervêm para
designar directamente o chefe do Governo. O que releva pois é a distinção entre
democracia de acção directa e democracia de acção mediatizada, consoante sejam os
eleitores a designarem directamente ou indirectamente o chefe de governo.
b. Tipologia Espanhola
- Luís Bouza Brey120
Desenvolve varias tipologias de formas de governo (designando – as por sistemas
políticos) identifica os seguintes:

 Sistema político democrático

 Sistema político autocrático, este sistema pode ser:

Comunista

Nacionalista
a. Totalitário: Autoritário
Fundamentali Con
s
sta ado erv
r

nd Fu
A forma democrática caracteriza – se por assentar num valor fundamental
en amde natureza talis
t
secular, que se traduz na realização da vontade popular. Por isso, oa funcionamento do
sistema democrático exige a conciliação das divergências no quadro de um mínimo
denominador comum estrutural, que são normas constitucionais que garantem o acesso ao
poder político e a possibilidade da alternância no seu desempenho. O sistema autocrático
engloba o totalitarismo, o autoritarismo e a monarquia tradicional. O totalitarismo caracteriza
– se pela existência de valores últimos de carácter sagrado, que definem uma religião
política. Os comunistas através da realização da revolução social que estabeleça a
igualdade social sem classe e sem Estado, os nazis e fascistas, unificando os interesses das
classes na suprema unidade do Estado como representante dos interesses superiores da
nação. O sistema fundamentalistas corresponde à reacção integrista religiosa do século XX
119
BURDEAU., Georges, Traité de Sciencie Politique, Paris, Tomo IV, 1952
120
BREY., Luís Bouza -., El Poder y los sistemas políticos, In Manual de Ciencias Política(miquel Caminal
Badia, ed.), Madrid, 1999, pp. 73 e ss.
92
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

face á modernização e à pós industrialização, adoptando a estrutura organizativa religiosa


tradicional, por forma a combater o individualismo e o materialismo modernos 121. O sistema
autoritário difere do totalitarismo por não ter uma religião política, por se limitar a controlar o
poder sem pretender dominar todas as esferas da vida social. A ideologia que legitima o
sistema autoritário é o nacionalismo, que pode ser conservador ou populista consoante
pretenda a manutenção da ordem social ou a sua modernização.
c. Tipologia dos autores Português

 Tipologia de Marcelo Caetano

Marcelo desenvolveu o conceito de forma política do Estado, no qual integrava o regime


político e o sistema de Governo. Quanto aos regimes políticos, o autor identifica – os com as
concepções básicas relativas ao indivíduo e ao Estado: a personalista e a transpersonalista.
A primeira vê as relações entre o indivíduo e o Estado como forma de facilitar a realização
dos fins da pessoa humana,
Daí que o poder tenha como limites direitos dos indivíduos. È um regime liberal. A
concepção transpersonalista parte do princípio de que pessoa humana não é um valor em si,
mas um mero elemento do todo, e o indivíduo só conta como elemento desse todo. É a
concepção que reporta ao regime totalitário. 122
Tipologia de Jorge Miranda
Jorge Miranda distingue entre tipos de Estado, forma de Estado. Forma de governo e
sistema de governo. Deixando de lado os dois primeiros, cuja dilucidaçao se fez já em
momento anterior, e que são centrais na teoria do Estado, temos que a forma de governo,
tem que ver com a relação política fundamental, a relação entre governantes e governados e
o modo como se estabelece essa relação, por resposta a várias questões: legitimidade,
liberdade política e pluralismo, participação, representação política, divisão ou unidade do
poder. O sistema do governo centra – se na estrutura interno do poder, nas instituições e no
estatuto dos governantes123. Com base nesta análise, a autor propões nove formas de
governo: Monarquia Absoluta, governo representativo clássico ou liberal, democracia
Jacobina ou radical, governo cesarista, monarquia limitada, democracia representativa,
governo Leninista, governo fascista e fascizante, governo islâmico fundamentalista 124.

121
PINTO, Ricardo L., CORREIA. José de M., SEARRA. Fernando R., Op.cit , pág. 211.
122
CAETANO. Marcelo. op. cit. Pp.372 e ss.
123
MIRANDA. Jorge, Ciências Políticas, Formas de Governo, Lisboa, 1992, pp.30 e ss.
124
MIRANDA. Jorge, Direito Constitucional, vol, Tomo III, 5ª ed., 2004, pp. 322 e ss
93
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

SECÇÃO III. REGIMES POLÍTICO E O SISTEMA DO GOVERNO


A. REGIME POLÍTICO
a. Regime Político: Critério identificador
Trata – se de um conceito que procura identificar cada uma das diferentes formas de
exercício do poder político, tendo em conta a relação entre governantes e governados e o
grau de participação dos cidadãos no exercício do poder, no Estado Moderno 125. O regime
político pode também ser definido como a relação existente entre os cidadãos e o poder
político. Essa relação deve ser encerada de diversos pontos de vistas, a saber:

 a participação dos cidadão ou de grupos de cidadão nas tomadas de decisão políticas


e na actividade política geral;

 o maior ou menor numero de restrições ao exercício de direitos fundamentais e a


amplitude da sua protecção;

 o grau do controlo por parte dos cidadãos do poder politico e a efectiva possibilidade
de alternância de cidadãos ou grupos no exercício do poder 126;
b. Tipologia clássica dos regimes políticos
1. Monarquia
Do grego monos, um, e arche, governo, ou seja, governo de um.
Forma de governo caracterizada por ser exercida por apenas uma pessoa e também por ser
vitalícia. Excepção a esta regra é a dos é foros, dois reis que governavam Esparta, dividindo
o poder, e assessorados por um Senado. A monarquia, considerada a primeira forma de
governo existente na História, pode ser absoluta ou constitucional.

 A monarquia absoluta

A monarquia absoluta caracteriza-se pela concentração do poder e pelo arbítrio do rei, que
governa desvinculado de qualquer limitação jurídica (solutus legibus).

 A monarquia constitucional

A monarquia constitucional mostra-se limitada pela lei: rex sub legem quia lex faciat regem.
A monarquia constitucional subdivide-se em monarquia constitucional pura e monarquia
constitucional parlamentar.

125
DUVERGER. Maurice., Os grandes sistemas Políticos. Coimbra, Almedina, 1985, p. 12.
126
PINTO, Ricardo L., CORREIA. José de M., SEARRA. Fernando R., op.cit. pág. 217

94
Ciência Política e Direito Constitucional
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 Monarquia constitucional pura, o rei exerce plenamente a função governamental, na


condição de Chefe de Estado e Chefe de Governo, consagrado, porém, o princípio da
separação e independência das funções.
 Monarquia constitucional parlamentar, entretanto, o rei é mero Chefe
de Estado, sendo a Chefia de Governo, ou função governamental propriamente dita,
exercida pelo Primeiro-Ministro, assessorado por um Gabinete. Quanto à forma de
sucessão, há três: a hereditária, a electiva e a cooptação.
 Monarquia electiva encontra na História de Roma, durante o período da realeza (753-509
a.C.), até o rei Túlio Hostílio.
Exemplo contemporâneo de monarquia electiva temos na eleição do Papa, efectuada por um
Colégio Cardinalício. Quanto à cooptação, é uma forma de investidura em que o sucedido
escolhe, a seu talante, o sucessor.
2. Aristocracia
Do grego aristoi = melhores e kratos = poder.
Forma de governo caracterizada por ser exercida pelos melhores, pelos mais capazes. Foi
preconizada por Sócrates, que condenava o sistema de escolha dos governantes mediante
sorteio: "Acaso o melhor arquitecto deve ser escolhido por sorteio?", admoestava este
filósofo. Aristóteles era adepto da politéia, forma de governo temperada pela aristocracia e
pela democracia. O governo, dizia, deve ser aristocrático a ponto de somente admitir os mais
capazes para o seu exercício, e suficientemente democrático para permitir que todos
possam concorrer aos cargos públicos.
3. República
Do latim republica, rem publica, de res publica, a coisa pública, os negócios públicos, a
administração do Estado, o complexo dos interesses públicos.
Forma de governo caracterizada pela temporariedade dos mandatos políticos. Contrapõe se
à monarquia, que se caracteriza pela vitaliciedade no exercício do poder. Havendo
temporariedade dos mandatos políticos na república, esta se caracteriza, evidentemente,
pelo regime representativo, por eleições periódicas e pela rotatividade do poder.
A fonte da soberania na república é a nação ou o povo, mas a titularidade do seu exercício
pertence aos representantes deste, pois a nação, sendo uma entidade abstracta, não
poderia se auto governar, ocorrendo o mesmo com o povo, que, embora entidade real,
concreta, não poderia, por razões óbvias, se auto – administrar, em face da grande extensão
territorial do Estado moderno, da densidade demográfica e da complexidade dos problemas
socio-políticos.

95
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

4. Tirania - Despotismo
A tirania é uma forma autocrática de exercício do poder político que tem origem asiática,
passando para a Grécia a partir do século Vl a.C. O vocábulo tirania tanto pode ser originário
da Lídia, sendo o rei Giges o primeiro a ser chamado tirano, como de Canaã, de serens,
nome bíblico atribuído aos filisteus de origem nobre.
Pode, até, ser originário dos etruscos, da expressão turan, que significa poder ou senhoria,
ou de nomes próprios da Etrúria (o rei Turuns ou deusa Juturna). Aliás, já se disse que os
etruscos, que desenvolveram a mais adiantada cultura da antiga Itália, antes dos romanos,
eram descendentes dos lídios, sendo sua origem asiática, portanto.
O tirano não altera, geralmente, a Constituição. As magistraturas são mantidas, devidamente
encarnadas em homens de sua inteira confiança. O conselho e a assembleia determinam a
nova política, embora severamente fiscalizada pelo tirano, que se faz acompanhar,
prudentemente, de robusta guarda pessoal. A aristocracia é perseguida 127.
Liberdade, para o proletariado, quer dizer governo dos ricos; tirania significava o governo de
um líder anti aristocrático e, indirectamente, popular. Segundo o próprio Aristóteles, o tirano
não tinha por missão mais do que proteger o povo contra os ricos, sendo da essência da
tirania a guerra à aristocracia. A tirania é oriunda, em última análise, dos anseios de uma
burguesia florescente e, paradoxalmente, da miséria das massas e, claro, da audácia de
indivíduos sequiosos de poder e decididos a tudo para triunfar.
A tirania decadente tornar-se-ia hereditária; então, as qualidades de energia, audácia e
talento político, peculiares ao bom tirano, já se faziam escassas. A tirania arcaica continha
em si mesmos os germes de seu desaparecimento, ou seja, a composição das crises sociais
que a originaram. Com o desaparecimento destas, mediante as próprias reformas tirânicas,
os cidadãos desejariam o retorno a uma forma de governo regular, em que o exercício do
poder não se limitasse a um só homem. A tirania foi, na verdade, uma etapa necessária no
caminho da democracia, pois à tirania se sucede uma aristocracia moderada.
5. Nepotismo
Expressão derivada de nepos, espécie de escorpião, cujas crias, assentando-se sobre o
dorso materno, devoram-no pouco a pouco.  Assim, conforme San Isidoro, em suas
etimologias, tem-se por nepos aqueles que dilapidam os bens de seus parentes, também
denominados nepotes. Nepotatio, então, vem a ser o acto de gastar, abusivamente, o
dinheiro dos pais.
Forma impura de governo na qual os governantes visam tão-somente o bem particular
próprio e o dos parentes. Pode também ser definido como o prática pela qual uma
127
CLÁUDE, Mossé, , La Tyrannie dans la Grece Antique, Paris, Presses Universitaires de France, 1969
96
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

autoridade pública nomeia um ou mais parentes próximos para o serviço público ou lhes
confere outros favores, a fim de promover o prestígio da família, aumentar a sua renda ou
ajudar a montar uma máquina política, em lugar de cuidar da promoção do bem-estar
público. O aspecto familiar distingue nepotismo dos termos mais amplos, porém intimamente
relacionados, "pistolão" e empreguismo128.
c. Tipologia contemporâneo dos regimes Político
Podemos reduzir os regimes políticos em dois tipos: regimes políticos democráticos e regime
políticos ditatoriais.
1. Regimes políticos democráticos
No regime democrático entende – se que o poder político pertence originariamente a toda a
colectividade, ao povo, e a sua tipologia é mais complexa. Pode ser, quanto ao exercício do
poder político e aos respectivos órgão, direito e representativo. Estes podem ainda
comportar subtipos.

Direito

de concentração de
Semi – direito poderes
Regime político democrático
Parlamentar
Representativo
de separação do poderes Presidencial

Semi - presidencial

- Democracia directa
A democracia directa pressupõe o exercício permanente do poder político pela totalidade
dos cidadãos activos reunidos em assembleia plenária da colectividade 129. Consiste no
exercício integral das funções próprias do poder político pela assembleia geral dos cidadãos
– activos do Estado. É a forma perfeita do exercício da soberania popular. Actualmente a
democracia directa manifesta – se no referendo e o direito de iniciativa popular.
- Democracia Semi – directo
A democracia Semi – direito combina o exercício do poder pelos cidadãos eleitores com o
exercício do poder pelos seus representantes. Coexistem mecanismos próprios da
democracia representativa e os mecanismos da democracia directa. A constituição prevê a
existência de órgão com titulares eleitos, mas condiciona a validade de certas deliberações à
vontade do próprio povo, constituído pela totalidade dos cidadãos eleitores 130.
- Democracia representativa
128
Dicionário de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, FGV, 1986
129
SOUSA. Marcelo Ribelo de,. Direito constitucional, Lisboa, Faculdade de Direito, 1979, p. 324.
130
CAETANO. Marcelo., Ciência Política e Direito Constitucional. Tomo I. 6ª Coimbra, Almedina, 1992, p.371.
97
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

Existe democracia representativa quando o poder político pertence colectividade mas


exercido por órgão que actuam por autoridade e em nome dela e tendo por titulares
indivíduos escolhidos com intervenção dos cidadãos que a compõem 131. O conceito da
representação pode ter dois significados, pode ser de concentração de poderes ou de
divisão de poderes.
 Democracia representativa de concentração de poderes, seria aquele em que os
cidadãos elegeriam um chefe de Estado singular (sistema simplesmente
representativo) ou os titulares de uma Assembleia Política (sistema convencional),
exercendo qualquer deles a plenitude dos poderes do Estado, daí a designação de
concentração de poderes constituídos.
 Democracia representativa de divisão do poderes, abrange subtipos: parlamentar,
o presidencial e o semi – presidencial todos com a consagração de uma relativa
divisão do poderes, limitando – se os órgãos de poder político mutuamente, de
forma a evitar excessos de poder ou desvios inconstitucional.
As características do regime democrático.
O regime democráticos caracteriza – se por:
- O regime o que cidadãos se governam em si mesmos (directamente ou por meio de
representante) e possuem todos os recursos, direitos e instituições para o fazerem;
- O regime político que pressupões a existência de eleições nas quais estes últimos
controlam os primeiros;
- O regime definido pelo pluralismo, a concorrências livre de elites e a responsabilidade;
- O regime que talvez não sirva para eleger os melhores governantes, mas para expulsar os
piores com custos sociais e humanos mínimos.
2. Regime político não democrático ou ditatorial
Regime político ditatorial é aquele em que o poder político é exercido e em nome próprio por
uma pessoa ou por um grupo social. O regime ditatorial define – se por oposição à
democracia. A ditadura perfeita ou ideal será aquele regime onde nenhuma das
características da democracia existe ou funciona. A ditadura pode ser monocrática,
diferenciando – se entre o sistema Cesarista, quando o poder político é exercido, a titulo
exclusivos, por um homem, com a base numa legitimidade alheia a qualquer forma
democrática de expressão de vontade popular, tal como uma legitimidade carismática. Os
sistemas monárquicos, que correspondem às monarquias absolutas. Pode também ser
autocrático, quando o poder político é exercido por um sector político, económico ou social

131
Ibidem.
98
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

fechado, correspondendo aos regimes políticos ditatoriais com exemplos histórico nos
Estados da Europa de Leste132.

Cesarista

Monocrático

Sistema de governo não democrático Monárquico

Autocrático

Características fundamentais dos regimes não democráticos

Características fundamentais dos regimes não democráticos


Regimes não democrático
Autoritários Totalitários Pos – totalitários Sultânicos
Pluralismo Limitado Inexistente Emergente Disperso
Ideologia Mentalidades Rígida, forte Desgastada Arbitrariedade
Mobilização Mínima Capilar Ritual Manipulada
Liderança Fundadora Carismático – Burocrática/colegia Personalista
partidária l
GIANFRANCO Pasquino, curso de Ciência Política, 2002, p. 297
O pluralismo limitado dos regimes autoritários serve para distinguir das democracias onde o
pluralismo é ilimitado, concorrencial e responsável e totalitarismo onde não há qualquer
vestígio de pluralismo. Do ponto de vista ideológico, os autores falam de mentalidades, mais
do que um sistema de pensamento codificado e coerente. Os regimes totalitários
apresentam ideologias rígidas, mais marcadas nos regimes comunistas e menos nítidas no
regime nazi. Do ponto de vista da mobilização, ou seja da participação espontânea ou
forcada das massas para apoiar o regime, os autoritarismos têm relutância ou incapacidade
para uma permanente e alargada mobilização de massas, enquanto que o totalitarismo vive
da permanência da revolução permanente ou da luta constante contra o inimigo interno.
No exercício do poder, quer autoritário, quer totalitário, há uma componente personalista,
com a existência de um líder, que muitas vezes é fundador do regime (Salazar, Franco,
132
SOUSA. Marcelo Ribero de., op.cit. p.324.
99
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

Hitler, Mussolini). Mas o líder autoritário actua arbitrariamente no quadro de limites mal
definidos, enquanto que o líder totalitário não tem limites à actuação. O líder totalitário age
não só de forma arbitrária, mas também com recurso ao terror, com violência imprevisível,
de modo a manter vivo o medo nos cidadãos sujeitos ao regime.
Na análise do regime totalitário há todavia mais dois pontos complementares que são
importantes:
a. O monopólio estatal dos ‘’Mass Media’’, essencial para manter o poder
totalitário, a capacidade de mobilização e a presença de um partido único
organizado, de modo a aplicar o terror em extensão e profundidade.
b. A ideia de ‘’universo concentracionário’’ com permanente recurso ao terror,
cremos que traça bem a característica básica do totalitarismo 133.
Em resumo, o totalitarismo é uma forma de domínio radicalmente nova, porque não se limita
a destruir as capacidades polípticas do homem, isolando – o em relação á vida pública,
como faziam as velhas tiranias e os velhos despotismos, mas procura destruir os grupos e
instituições que formam o tecido das relações privadas do homem, tornando – o estranho ao
mundo e privando – o do próprio eu.134
O regime designado de pós – totalitarismo introduz – nos na problemática das transacções e
mudanças políticas que constitui um dos temas ultimamente mais tratados nas ciências
políticas. O pós – totalitarismo significaria a evolução sofridas pelos antigos regimes
totalitários no que respeita ao pluralismo, a ideologia, á mobilização e à que nuns casos
poderá ocorrer, em outros não. Casos como a China, Coreia do Norte.
B. SISTEMAS DO GOVERNO
a. Definição
O sistema de governo stritu sensu define – se em termos meramente técnicos como a forma
como entre si se relacionam os diversos órgãos do poder político soberano; quer do ponto
de vista do seu modelo e estruturação normativas, quer no ponto de vista das situações
fácticas concretamente desenvolvidos (da pratica constitucional)135. Perante a variedade de
regimes, é possível configurar uma grande diversidade de sistemas de governo, como atrás
já se verificou nas tipologias globais de governo proposta por Jorge Miranda. Todavia, não
vamos exaurir todas as diversas tipologias de sistemas de governo, mas concentrar o nosso
estudo na análise sintética dos tipos fundamentais de sistemas de governo democráticos e
de maior relevo contemporâneo: em primeiro lugar os sistemas parlamentar, presidencial e

133
PINTO, Ricardo L., CORREIA. José de M., SEARRA. Fernando R., op.cit. p. 236
134
Ibidem
135
SOUSA., Marcelo Ribelo de., op.cit.p.12
100
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

directorial, em seguida, o sistema semipresidencial, enquanto sistema híbrido, que busca as


suas raízes no dois primeiros sistemas de Governo. e que antes, no capítulo das
1. O SISTEMA DE GOVERNO PARLAMENTAR
1.1. Definição, historia e evolução
O sistema de governo parlamentar é o mais antigo e teve a sua origem na Inglaterra. Ele
significa, numa perspectiva jurídica, que a vontade do Estado resulta de uma cooperação
entre o parlamento e o governo, que está dependente da confiança do parlamento. 136
A magna carta foi de importância fundamental para o surgimento do sistema representativo
inglês. Nela o rei Sem terra foi obrigado de conceder aos barões o direito de verem
respeitados os seus direitos consagrados no documento e de participarem nas decisões de
importantes questões pública. Era a consagração do princípio’’ Quod omnes tangit, ab
omnibus apprebatur’’ (o que a todos interessa, por todos deve ser aprovado). No séc. XVI a
monarquia inglesa tentou restaurar seu poder, sobrepondo-se ao Parlamento, mas Jaine II
foi deposto e, além disso, com a promulgação da Declaração de Direitos (Bill of Rights), a
monarquia torna-se, em definitivo, limitada, cobrando o Parlamento autonomia sempre
maior. A partir do Bill of Rights, o rei não poderia mais governar sem o apoio parlamentar,
pois do próprio Parlamento dependeria a administração das Forças Armadas e a cobrança
de impostos.
Ora, havendo duas facções bem determinadas no Parlamento, não haveria outra alternativa
para o rei, a não ser buscar apoio do grupo maioritário para criar tributos e controlar o
Exército, de tal sorte que ele passa a formar um Conselho (Gabinete) junto aos membros
mais eminentes do partido maioritário. O surgimento do Gabinete antecederia,
imediatamente, o surgimento da figura do Primeiro-Ministro, acelerada por circunstâncias
históricas. Com efeito, com Jorge I, alemão de origem, e ligado à Dinastia de Hannover,
criou-se um impasse: o novo rei não falava o inglês e, por isso, desinteressou-se de
participar das reuniões do Gabinete, passando este órgão a governar. Este curioso
fenómeno prosseguiu com Jorge II, que se entendia o inglês não o falava, continuando o
Gabinete a assumir a responsabilidade pela actividade governamental. O rei, entretanto,
desejando conhecer as deliberações do Gabinete, passa a escolher, dentre seus membros
mais activos, um que actuasse como intérprete. Surge, então, a figura do Primeiro-Ministro.
Com o Acto do Estabelecimento, no dealbar do séc. XVIII, já se nota que se ao Gabinete
compete a função governamental, ao monarca resta apenas a função representativa ou
Chefia de Estado. Daí a sugestiva expressão de Bertrand Russell: "O Primeiro-Ministro tem
mais poder do que glória, e o rei mais glória do que poder".
136
Koja, F, existe – il une crise du parlementarisme? Boletim da faculdade de Direito de Coimbra, Vol. LIX,
1983, p. 49 – 64, 1983
101
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

O sistema parlamentar é fruto de uma longa evolução, que se delineou historicamente muito
antes do sistema de governo presidencial, o qual foi buscar àquele o seu modelo de
instituições. Prima facie distingue – se do sistema de Governo presidencial pela colaboração
de podres que o caracteriza, expressão de uma separação flexível de poderes.
1.1.Características fundamentais do sistema de governo parlamentar
Um dos princípios fundmentais do sistema parlamentar reside no controlo do governo pelo
Parlamento e, a partir de certo momento histórico, na colaboração mútua. Daí que uma das
características essenciais do sistema parlamentar consista na responsabilidade política
exclusiva do Governo perante o Parlamento. Para além desta, importa salientar:
a. O chefe do Estado é só a mais alta autoridade do país mais não é o chefe do governo.
Ele dispõe, apenas, de poderes formais de representação, caracterizando – se pela sua
neutralidade institucional e partidária. Pode ser um monarca (monarquia constitucional9
ou um presidente da República eleito indirectamente pelo Parlamento ou por um colégio
eleitoral). Apesar de nomear e exonerar os ministros, está porem condicionado a fazê –
lo de acordo com as indicações do Parlamento e o Gabinete não responde perante si,
embora chefe do Estado e o governo sejam as partes componentes do Executivo –
Diarquia do executivo. O chefe de Estado é politicamente irresponsável, pelos os
conflitos entre o Governo e Parlamento;
b. O Governo é politicamente responsável perante o parlamento. Este, por intermédio da
última rácio do controlo parlamentar pode aprovar uma moção de censura ao Governo
ou, em sentido negativo, não aprovar uma moção de
confiança pedido pelo executivo, levando à sua demissão 137, (como resultante da
responsabilidade política, o Governo não pode iniciar ou continuar em funções sem a
confiança do Parlamento. Em principio, os ministros saem do próprio órgão
representativo, onde o Governo tem de estar permanentemente presente para justificar
as suas opções políticas, bem como sujeitar – se às interpretações e à censura
parlamentar);
c. O Governo é formado no quadro parlamentar e constituído pelos chefes dos partidos
maioritários ou coligações de partidos que tenha a maioria parlamentar. Os membros
do governo em integram o no Parlamento. 138
O PAINEL ILUSTRATIVO DO SISTEMA DE GOVERNO PARLAMENTAR

137
ARAÚJO, Raul C. Os Sistemas de Governo de transição democrática nos PALOP, Boletim da faculdade de
direito Universidade de Coimbra, Coimbra Editora, p.33.
138
Ibidem
102
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

Chefe de
Estado

Pres Rei


Ministro

Governo Dissoluçã
Confianç o
a
Parlamento

Eleiçã
o
Povo

1.2. Desenvolvimento do sistema de governo Parlamentar


No sistema parlamentar, o Governo não pode existir sem a confiança do parlamento, se o
parlamento é bicameral, sem a confiança a da câmara baixa. Os meios clássicos para
verificar se o governo mantém a confiança do parlamento são a moção de confiança e a
moção de censura. Numa vertente oposta, e como contrapartida à responsabilidade política
do Governo, este pode exercer sobre o Parlamento uma determinada pressão, que lhe
possibilita ultrapassar eventuais situações de ausência do necessário apoio parlamentar.
Esta pressão é importante elemento de equilibro do sistema, traduz – se no direito de
dissolução do parlamento, utilizando pelo chefe de Estado mas, em boa verdade, da
iniciativa do Governo.
O sistema do governo parlamentar pode ser: puro ou de assembleia, mitigado ou de
racionalizado e ou de gabinete.

Puro ou assembleia

Sistema do governo parlamentar Mitigado ou Racionalizado

Gabinete

a. SISTEMA DO GOVERNO PARLAMENTAR PURO OU DE ASSEMBLEIA


 Conceito ou Nação

103
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

No sistema do governo parlamentar puro ou de Assembleia revela a prevalência absoluta do


parlamento sobre o Governo, pela ausência de uma maioria sólida de uma força política no
parlamento, onde reside a hegemonia política 139. O centro da vida política é o parlamento. O
Governo ou é formado por um partido único partido e é minoritário, o partido não tem uma
maioria absoluta no parlamento ou é formado por uma coligação inter – partidária. Em
qualquer momento o governo precisa de apoio parlamentar sólido, o que faz dele um
governo inseguro, podendo ser destituído facilmente pelo parlamento; fraco, as suas
propostas correm permanentemente o risco de serem reprovadas no parlamento; instável,
quando com base em coligação, depende da fidelidade dos partidos integrantes.
 Características do sistema do governo
parlamentar puro ou de Assembleia
- Uma prevalência do parlamento sobre o Chefe de Estado, sendo ele a elegê – lo e a
destituí – lo (regime Republicano) faculdade de designação do primeiro ministro e seu
governo.
- O chefe de Estado não tem poder de dissolução do parlamento ou só o pode exercer em
condições estritas, estabelecidas na Constituição e normalmente com a anuência de um
órgão consultivo em que tem assento no parlamento.
- O parlamento, em funcionamento quase permanente, tem a possibilidade de escalonar a
actividade do Governo, não dispondo este de poderes de efectiva intervenção no
funcionamento daquele. Ou tem uma intervenção mínima na fixação da ordem do dia, inicio,
interrupção, e aditamento ou prorrogação das sessões legislativas 140.
b. SISTEMA DO GOVERNO PARLAMENTAR MITIGADO OU RACIONALIZADO
 Conceito ou noção
Como consequência da instabilidade governativa que esta estrutura gerava, foi a mesma
progressivamente posta em causa, dando lugar ao parlamentarismo mitigado ou
racionalizado. Nesta ultima figura, pode o governo dominar o parlamento. O controlo da
actividade de governo é limitado por diversas circunstâncias, algumas das quais se referirão
adiante, a propósito da abordagem da noção de responsabilidade política.
O parlamentarismo racionalizado ou mitigado é o fruto dos excessos do parlamentarismo
puro, nomeadamente da sua tendencial natureza para a instabilidade governativa. Os
reajustamentos ou correctivos àquele sistema introduziram – se em especial no poder do

139
SILVA. Maria Manuela Magalhães e ALVES, Dora Resende, Noções de Direito Constitucional e Ciência
Política, Editora Rei dos Livro, 2000, p.279.
140
SILVA. Maria Manuela Magalhães e ALVES, Dora Resende, Noções de Direito Constitucional e Ciência
Política, Editora Rei dos Livro, 2000, p.279.
104
Ciência Política e Direito Constitucional
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chefe de Estado dissolver a Assembleia, desta forma controlando ou refreando os excessos


daquela relativamente ao Executivo
 Características do sistema do governo
parlamentar puro ou de Assembleia
As características do parlamentarismo mitigado ou racionalizado são:
- a atenuação da dependência do chefe do Estado em relação ao Parlamento, dispondo do
poder de dissolução daquele, o que refreia os excessos de controlo parlamentar do Governo.
- o Governo tem a faculdade de definir as suas prioridades políticas no Parlamento, assim
garantindo que a sua actividades não é prejudicada pelos trabalhos parlamentares 141.
c. SISTEMA DO GOVERNO PARLAMENTAR DE GABINETE
 Conceito
O sistema parlamentar de gabinete é a designação dada ao núcleo político relevante do
Governo Britânico. Neste variante, imbuída de particulares tradições histórico – políticas
inglesas, a decisão política de dissolver o Parlamento é tomada pelo Primeiro-ministro, que
acciona o Chefe de Estado a exercer esse direito, nele se concentrando importantes
prerrogativas que, no limite da evolução do sistema, acabam por conduzir a existência de
semelhança com os poderes do Chefe de Estado num sistema presidencial.
A RESPONSABILIDADE POLÍTICA DO GOVERNO
Considerada como aspecto mais característico do sistema parlamentar, a responsabilidade
política do governo perante o Parlamento é também, do ponto de vista histórico, um produto
da evolução do sistema britânico. A responsabilidade política, primeiro dos ministros
individualmente, depois solidariamente do Governo, funda as suas origens no chamado
processo penal de impeachement142.
A concepção de responsabilidade política pode tomar – se em dois sentidos:
- Sentido amplo, a ideia de responsabilidade política traduz – se num acervo de
mecanismos em que se traduzem as relações de confiança ou desconfiança do governo
face ao parlamento. Por exemplo, são manifestações de responsabilidade política, neste
sentido, não só a votação de moções de censura ou de confiança, mas outrossim as
interpelações parlamentares143 ao Governo.

141
PINTO, Ricardo L., CORREIA. José de M., SEARRA. Fernando R., op.cit. p. 256
142
A partir do século XIV, o processo utilizado assumia a forma de lei votada pelos comuns. O Bill of attainder,
que atingia um determinado governante e que servia para pressionar a câmara dos Lordes no sentido da sua
condenação, tratava – se de um acto legislativo que carecia de sanção real, tendo sido rapidamente abandono
(ou entrado em desuso) em benefício do referido impeachent. Durante algum tempo o rei deteve a faculdade de
conceder o perdão aos condenados. Mas este poder foi – lhe retirado com o Act of settement, em 1701, para
evitar os conflitos entre o Parlamento e o Rei. O impeachement consistia a uma acusação contra um ou vários
ministros pela câmara dos Lordes.
143
PINTO, Ricardo L., CORREIA. José de M., SEARRA. Fernando R., op.cit. p. 258
105
Ciência Política e Direito Constitucional
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- Sentido estrito, a responsabilidade política conexiona – se com a continuação ou


demissão do Governo. Nesta persepectiva, os meios adequados para a efectivar serão,
principalmente, a moção de censura e a monção de confiança – mas não, por exemplo, ma
simples interpelação144. A sanção da responsabilidade política não assume qualquer feição
penal; pelo contrario caracteriza – se pela perda do Poder.
2. O SISTEMA DE GOVERNO PRESIDENCIAL
a. Génese do sistema
O sistema Presidencial nasceu há mais de duzentos anos nos Estados Unidos de América
no século XVIII, num momento em que a própria teoria do parlamentarismo não se
encontrava ainda perfeitamente delineada. Este regime funda – se, em primeiro lugar numa
separação estrita de poderes.

b. Traços do sistema de Governo Presidencial


O sistema presidencial o poder legislativo e o poder presidencial mostram – se em absoluto
separados:
- ao Poder legislativo cabe o encargo de elaborar e votar as leis e ao Presidente de as
executar e de orientar a política do País, no âmbito do quadro jurídico delineado pelo Poder
legislativo. O chefe de Estado dispõe de Veto suspensivo em relação ás leis do Parlamento,
por razões políticas, recusar promulgar,
- o poder executivo é composto pelo próprio Presidente (órgão singular) que escolhe
livremente os seus Secretários de Estados, não respondendo nem um nem os outros
perante o Parlamento, logo não dependendo de qualquer dos partidos com assento no
parlamento. O chefe de Estado é simultaneamente chefe do Governo,
- o Presidente é eleito por sufrágio universal, indirecto em duas fases, podendo a sua
escolha resultar de uma maioria político – partidária não coincidente com a do Congresso;
- o presidente e os seus Secretário não carecem da confiança do Parlamento, pelo que este
não pode forçar nem uns nem outros a demitirem – se. O Presidente também não tem poder
de dissolver o Parlamento.
Muitos dos Países tentam a aplicar este sistema, imitando as instituições de Estado Unidos
de América, principalmente os países de América Latinas e África. Sempre porem com maus
resultados, não se alcançando de modo algum o nível de funcionamento e a estabilidade das
instituições americanas145. Nesses países não existe efectivamente qualquer divisão do
144
HARIOU, André, Droit Constitutionnel et Institutions Politiques, Paris, 1984 p. 212
145
PINTO, Ricardo L., CORREIA. José de M., SEARRA. Fernando R., op.cit. p. 267
106
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poderes, mas antes sobressaem os primados jurídicos e político decorrentes da


omnipotência presidencial. É a degeneração do sistema dando lugar a Governos ditatoriais,
traduzindo – se naquilo a que constitucionalistas e politólogos designam de presidencialismo
num sentido degenerado da expressão sistema presidencial146.

Veto
Presidente Parlamen
Suspensi to
vo
Governo

Eleição
Eleição

Povo

Fig. Funcionamento do sistema Presidencial


3. O SISTEMA DE GOVERNO DIRECTORIAL
a. O conceito
O sistema de governo directorial, que deve o seu nome à efémera constituição francesa de
1795, realiza – se com sucesso na confederação Helvética, através da sua Constituição de
1874 e 1999.
b. Traços do sistema de Governo DIRECTORIAL
- Existência de um executivo composto por sete membros, designado Conselho Federal,
eleito pela Assembleia Federal (Bicameral)) por um período de quatro anos, sendo que esse
órgão – autentico directório – é verdadeiro Governo do Pais; cada um de membro do
Directório chefia um departamento federal com amplas atribuições, dado que cada
departamento constitui, em rigor, um verdadeiro super ministério;
- A chefia de Estado – Presidente da confederação é exercida rotativamente através de um
mandato anual, por um dos membros do directório, que preside às reuniões e é eleito pela
Assembleia Federal;
- O directório não pode ser demitido através de votos ou moções de censura por parte de
Assembleia Federal;
- A Assembleia não pode ser dissolvida pelo Directório, é composta por duas câmaras. O
conselho Nacional, eleito pelo sistema proporcional por quatro anos e o Conselho dos
Estados órgão representativo dos Estados.

146
Hariou, André. op. cit. p.207.
107
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

Direct
ório

Eleição
Parla
ment
o

Eleição

Povo

4. O SISTEMA DE GOVERNO SEMI – PRESIDENCIAL OU O SISTEMA DE GOVERNO HÍBRIDO


a. Definição
O sistema semi presidencial é um sistema em que, da conjugação do mesmo grau de
legitimidade do chefe do Estado e do Parlamento, porque ambos eleitos por sufrágio
universal, neles se consubstancia a faculdade de exercitarem os poderes jurídicos que a
constituição lhes atribui, no sentido de, em maior ou menor grau controlarem a acção do
Governo, de molde a qualquer deles, mesmos que indirectamente, possa fazer cessar as
funções daquele147.
b. Funcionamento do sistema Semi Presidencial
O sistema semi presidencial encontramos os elementos próprios do sistema parlamentar e
do sistema Presidencial. No entanto diferentemente do sistema de Governo Presidencial, ali,
o executivo responde perante o Parlamento e perante o Chefe de Estado. Ao contrário do
sistema parlamentar, este último é eleito por sufrágio universal, ao mesmo tempo que o
Governo é também responsável perante ele.
Em suma, para alem do Parlamento e do Governo, existe um Chefe de Estado eleito por
sufrágio universal, logo, com prerrogativas que ultrapassam o mero carácter representativo,
concomitantemente com um governo não directamente dependente do Chefe do Estado,
mas perante quem também responde, a par do Parlamento e dispondo aquele de diversos
poderes exercitáveis por si só, nomeadamente o direito de dissolução do Parlamento.
b. Características do sistema Semi Presidencial
- a eleição do chefe do Estado através de sufrágio universal, à semelhança do Parlamento;
- a dupla responsabilidade política do Governo ou do Primeiro – ministro perante o Chefe do
Estado e perante o Parlamento, diarquia do Executivo com distinção de funções entre o
Chefe de Estado e o Governo;

147
PINTO, Ricardo L., CORREIA. José de M., SEARRA. Fernando R., op.cit. p. 277
108
Ciência Política e Direito Constitucional
Mestre Jaime Yamba

- a atribuição de uma amplitude de poderes reais ou dominantes ao Presidente, decorrentes


da legitimidade adveniente do método de eleição, especialmente o direito de dissolução do
Parlamento;
- a formação do governo em função dos resultados eleitorais, dependendo a sua constituição
e sobrevivência da confiança parlamentar;
- a possibilidade, por parte do Chefe de Estado, d controlar a actividade do Governo.
c. Os traços do Parlamentarismo e do Presidencialismo
 Componente parlamentar
1. Governo é formado de acordo com os resultados das eleições parlamentares e
subsequente composição da Assembleia;
2. a constituição e sobrevivência do Governo dependem da confiança parlamentar,
traduzida na aprovação do programa do Governo e na aprovação de moções de
confiança e rejeição de moços de censura nos termos da Constituição;
3. existe distinção de funções entre o Chefe de Estado e o Chefe do Governo.
 Componente Presidencial
1. a eleição do Chefe de Estado processa – se por sufrágio universal e directo,
legitimando os seus amplos poderes;
2. o Governo é politicamente responsáveis perante o Chefe de Estado,
cumulativamente com a sua responsabilidade perante o Parlamento;
3. o Chefe de estado tem importantes poderes efectivos, entre os quais o poder de
dissolução do parlamento e direito de veto da função legislativa, suspensivo em
relação a diplomas do Parlamento, e normalmente definitivo em relação a diplomas
emanados do Governo
4. toma grandes decisões politicas, sem ser responsável perante o parlamento. E pode
assumir poderes extraordinários em casos de emergências.

Dissolução

Presidente Parlamento
da Republica

Suspensivo
Eleição

Governo
Eleição

Povo

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Ciência Política e Direito Constitucional
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OS GRANDES SISTEMAS DE GOVERNO CONTEMPORÂNEO

Chanceler Pesidente

Eleito por 5 ano por 100 pessoas bundestang e


delegados de Landtang

Bundestang (496 Bundesrat (45 membros)


membros)

Leis

Governadores de Landers
Tribunal Constitucional
de Karlsruhe 16 juízes

Landtang

Sufrágio universal

110

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