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2012
Artigo Original
The English ethos and the local identity: the cricket and the golf in Cape Verde
Abstract: In Cape Verde, we can identify early the organization of the sports field: there was a significant
th th
number of associations founded between the end of 19 century and 20 century beginning. Assuming that
the experience of the archipelago is an interesting topic to think about spreading the sport around the world,
this article aims to discuss the conformation of the sports field in Cape Verde, especially cricket and golf,
relating it both to foreign/British influence as the local identity movements.
Keywords: History. Sport. Cape Verde.
do século XIX, em Mindelo se instalam, ligadas à Outro que ressaltou a presença britânica, de
navegação e ao carvão, muitas companhias de forma mais entusiasmada, foi Francisco Xavier da
capital inglês. Além disso, nas décadas de 1870 e Cruz, o B.Léza, um dos grandes nomes da
1880, a Western Telegraph instalou linhas música de Cabo Verde, que celebrou tal
telegráficas entre Cabo Verde, o Brasil e a relacionamento no livro Razão da amizade
Europa: caboverdiana pela Inglaterra. Para além de
Assim, o arquipélago de Cabo Verde demonstrar pontualmente a existência de
transforma-se num importante pólo do sistema elementos culturais dos ingleses no arquipélago,
telegráfico mundial, com evidentes o compositor argumenta que houve influências na
repercussões no desenvolvimento local e no
aumento de empregos para os nacionais, a par
personalidade do caboverdiano, notadamente no
de significativa presença inglesa em S. Vicente que se refere a uma postura cosmopolita.
(BARROS, 2008, p.23).
Na visão de Manuel Lopes, o reflexo desse
Dessa maneira, na segunda metade do século cosmopolitismo “na maneira de ser do povo
XIX: “Quase todos os fluxos de mercadorias e de daquelas ilhas, na sua educação, na sua cultura,
homens, quase todos os circuitos de no seu caráter, na sua sensibilidade”,
comunicação (...), em suma, quase tudo o que transformaram São Vicente na “sala de visitas do
atravessa o imenso Atlântico está condenado a arquipélago crioulo” (1959, p.10). Segundo ele:
utilizar a ilha de S. Vicente e o seu Porto Grande” Por influência do Porto Grande, que lhe deu a
(SILVA, 2000, p.16). possibilidade de um convívio permanente com
outros povos e outras terras, o caboverdiano é
É consenso que, nesse processo, a influência sensível ao que se passa mundo afora (...). A
dos britânicos ultrapassou os aspectos mocidade ama também o desporto, que é
praticado em grande escala (p.11).
comerciais, se transformou em oportunidades de
interrelações e trocas culturais, tendo deixado Discutamos a influência dos ingleses no
como marcas certos costumes que se desenvolvimento dos esportes em Cabo Verde.
estabeleceram como símbolos identitários.
José Augusto Martins, narrando uma viagem O esporte como influência inglesa
que fizera à ilha de São Vicente, na década final Era habitual, nas diversas localidades em que
do século XIX, a bordo de um paquete da os britânicos se instalavam, a criação de clubes
Empresa Nacional Portuguesa, observa que, que ofereciam, para os que se encontravam
desde o navio, de nacional só mesmo a bandeira distantes de Londres, atividades que funcionavam
e uma parte da tripulação; de resto, tudo era como elementos de status e distinção,
inglês. alternativas de encontro e autoidentificação,
Ele observa que Mindelo era uma cidade oportunidades para “combater a monotonia”.
Entre essas, a prática esportiva era muito
bastante diferente das outras localidades
apreciada.
africanas:
E é aí, na comunidade e ao impulso do exemplo Na verdade, o ethos esportivo já marcava as
inglês, que o seu povo tem adquirido com os lideranças inglesas desde as public schools,
hábitos do trabalho e da dignidade da vida, e como mostra Richard Holt (1989) e enfatiza Kirk-
com o gozo das comodidades experimentadas, Greene (1987):
o estímulo de ambições que o impelem a
progredir. E tudo o quanto é São Vicente hoje, e a qualificação de ser um bom esportista
toda a benéfica influência que ela exerce nos (sempre como um amador, nunca um
destinos de Cabo Verde, é devida direta ou profissional, com todas as nuances de classe
indiretamente aos ingleses, é preciso dizê-lo inerentes a tal status) era de uma só vez um
com justiça (MARTINS, 1891, p.87). produto integral das public schools, bem como
uma abertura social e um cartão de
Martins, todavia, faz ressalvas, lançando um apresentação profissional. Em termos gerais, a
partir de 1850, certamente até 1939, e
olhar crítico para a ferocidade dos ingleses no que
frequentemente até os anos 1950, o sucesso no
se refere aos negócios: esporte escolar e universitário forneceu o
Hoje, esta ilha verdadeiramente não é nossa, denominador comum entre a gentry, as
ou é-o apenas naquilo e pela maneira que os profissões da cidade e a fidalguia colonial
ingleses querem que ela seja. A quase (p.84).
totalidade dos terrenos do litoral, tanto do Porto
Grande como da Bia da Matiota, onde se Se a habilidade esportiva se tratava de uma
podiam estabelecer depósitos de carvão, foram qualidade relevante para os que vislumbrassem
concedidos imprevidente e criminosamente aos ocupar postos de importância no Império
ingleses (1891, p.87). Britânico, Kirk-Greene sugere que era algo ainda
mais considerado para os que iriam trabalhar na
África, em função da compreensão de que eram Outro exemplo. Ingleses, funcionários das
mais rígidas as exigências no que se refere às empresas carvoeiras, estiveram entre os
condições da natureza e estruturais locais. primeiros habitantes da Praia da Matiota. Por lá
fundaram um clube de tênis, instalaram uma
Os ingleses, portanto, levaram alguns de seus
agremiação de cricket e construíram um
hábitos para as localidades em que se
trampolim de saltos. Ainda que os nativos
estabeleceram; mas se eram seletivos, como se
achassem, à época, distante essa parte do litoral,
deu a difusão do esporte? Em alguns casos, a
para lá se dirigiam para acompanhar os britânicos
prática foi utilizada como forma de estabelecer
praticando esportes, oportunidades em que
relações com a elite local. Em outras
tinham contato com as novas atividades. Não
oportunidades, por motivos diversos, não havendo
surpreende saber que durante muitos anos esse
possibilidade de organizar jogos exclusivos,
balneário foi utilizado pelos caboverdianos para a
convidavam-se alguns nativos a participar. Em
prática esportiva.
muitas ocasiões, os locais aproveitavam os
espaços de interrelação para aprender os Enfim, como fruto desses encontros,
fundamentos das “novidades”. paulatinamente os caboverdianos foram
adquirindo novos hábitos. Criavam-se inclusive
Ramos (2003) nos dá alguns indícios de que
estratégias para que as práticas dos ingleses
algo semelhante ocorreu em São Vicente, onde
fossem reproduzidas, a despeito da escassez de
os ingleses também organizaram suas atividades
material:
esportivas:
os meninos da rua entretinham-se a jogar
Devo esclarecer que os ingleses possuíam, cá futebolim com bola de meia, ou então tênis com
no Mindelo, 5 courts de tênis espalhados pela raquetes feitas de tabuinhas de caixote de
cidade e 2 estrados de cimento armado para a petróleo. Outras vezes, jogávamos o cricket
prática do cricket, sendo um na chã de Alecrim com tacos de tona de rama de coqueiro e bola
e outro na antiga Salina, hoje Praça Estrela. dura forrada de linha de fieira (RAMOS, 2003,
Desses 5 courts, o primeiro foi construído no p.165).
século passado no Quintalão da Vascónia,
mesmo junto ao citado Pavilhão da Salina, e, Entre os esportes que se desenvolveram por
além disso, eles construíram também 2 campos
de golfe nos arredores da cidade (p.95). influência dos ingleses, dois merecem destaque
por terem sido apreendidos nas construções
Segundo seu olhar, discorrendo sobre a identitárias das lideranças intelectuais do
influência britânica no desenvolvimento de hábitos arquipélago: o cricket e o golfe.
esportivos entre os habitantes da ilha:
apesar dos britânicos viverem isolados do povo, O cricket
havia sempre nacionais que os acompanhavam Segundo informa Barros (1998), o primeiro a
no seu dia-a-dia, por exemplo, como serventes,
organizar uma equipe de cricket no arquipélago
ajudantes, como caddies no golfe, no tênis,
apanha-bolas no futebol, aprendendo, imitando foi o inglês John Miller, da companhia Miller’s &
os costumes e o estilo característico dos Cory’s, no que logo foi seguido por funcionários
ingleses, transmitindo simultaneamente à da Wilson & Sons e da Western Telegraph. Em
geração...Eles deixaram profundas raízes e 1879, os jogos eram disputados em um campo
marcas indeléveis, quer nos grandes da
sociedade e também nos habitantes humildes construído pela Cory Brothers, na antiga Salina.
de São Vicente (...) No desporto, então, é que Esse espaço tornou-se:
nos deixaram profundamente vincados, em todo o campo oficial de futebol e era onde se
desporto praticado em S. Vicente, desde o praticava atletismo e todas as modalidades
futebol, o tênis, o cricket, o golfe, o basebol (o desportivas, desde o futebol, cricket, corridas de
chamado rodeada pau ou corrida pau), o velocidade, saltos à vara e em altura,
footing, a natação, o cross, o uso constante do lançamento do dardo e do disco, enfim, uma
short branco e camisola e meias altas da autêntica escola do desporto mindelense!
mesma cor (RAMOS, 2003, p.92). (RAMOS, 2003, p.16).
Esses espaços de contato, portanto, parecem Com o decorrer do tempo, passaram a ser
ter sido fundamentais para que o esporte, a acompanhados com interesse os tradicionais
princípio uma prática de europeus, fosse se
torneios de cricket, que seguiam o ritual britânico,
espraiando e enraizando na ilha. Um exemplo: no
inclusive com o “five o’clock tea”:
dia de Natal, era comum que os ingleses
promovessem festas populares, oportunidades de Os espectadores lá fora à volta do campo eram
o povo em geral que apreciava bastante esse
encontros com os nativos; o mesmo se passava desporto e ia aprendendo e aperfeiçoando os
nas festividades do dia 22 de janeiro, data seus conhecimentos por essa modalidade
comemorativa do município. Nessas ocasiões era desportiva praticada pelos britânicos em São
comum a organização de atividades esportivas Vicente. Com muita atenção fixavam a técnica
de “bowler”, do “wicket keeper”, da colocação
entre britânicos e os caboverdianos.
características do solo e da escassez de água, e decorrer das primeiras décadas do século XX, foi
logo das consequentes dificuldades para cultivar criado o St. Vicent Golf Cape Verde Island and
grama, os campos nunca foram exatamente Lawn Tennis Club, restrito a ingleses.
“greens”, mas sim “browns”. O Clube de Golfe de
Em 1938, estimulados pelo sucesso de um
São Vicente até hoje segue sendo o único do
campeonato aberto, alguns mindelenses
mundo que disputa suas provas em um campo de
fundaram uma sociedade própria, o Lord Golf
terra.
Club. Na verdade, já existia um clube de futebol
Outro aspecto curioso é que comumente se chamado Lord, que muda de perfil e passa
argumenta que no arquipélago, especificamente exclusivamente a se dedicar ao cricket e ao golfe
em São Vicente, trata-se o golfe de uma prática (Barros, 1981). Nesse momento já havia também
popular, acessível a todos. Vejamos como competições entre os sócios de outras
Baltasar Lopes se refere ao tema no prefácio do agremiações locais (o Clube Sportivo Mindelense
livro de Barros (1981): e o Grêmio Recreativo Castilho, por exemplo) e
Como se sabe, o golfe pertence ao número das disputas festivas que procuravam seguir o ritual
atividades desportivas reservadas ao escol inglês da prática.
social, definido, em regra, pelas suas
disponibilidades financeiras. Ora, em São Segundo Barros, na ocasião, em Mindelo, três
Vicente assiste-se (assistiu-se sempre no que grupos praticavam o golfe: “Os ingleses utilizavam
creio poder afirmar) ao fato curioso de a prática o Campo da Amendoeira (Big Tree) e parte do
do golfe ter sido sempre livre, isto é, aberta a
todas as camadas da população, bastando antigo Campo da Cova Inglesa; os ‘portugueses’
apenas o gosto pela modalidade e o mínimo de (grupo liderado por Virgílio Malheiros) e os
aparelhagem técnica (p.5). jogadores do Lord utilizavam esse ultimo campo”
(1981, p.18).
Segundo Lopes, isso se tornou possível
porque quem vivia próximo dos campos de golfe Aproveitando que os ingleses do St. Vicent
aproveitou para aprender o jogo, criando mudaram de sede (da Cova para a Amendoeira),
alternativas para praticá-lo: para se afastarem ainda mais dos nativos e dos
funcionários públicos portugueses, de forma a
Refiro-me ao fato de, então, os garotos terem
manter o sentido de exclusividade, os ligados ao
os seus “campinhos” espalhados por toda a
cidade e adjacências: era cavar um buraco no governo colonial, liderados pelo Capitão Ferreira
chão, para meter a bola num plôche – Pinto, administrador de São Vicente, fundaram,
crioulização de approach, e com o único pau em 1940, uma nova agremiação: o Clube de
para todo serviço (era o lofta) já estava o jogo Golfe de São Vicente.
instalado e implantado (apud Barros, 1981, p.6).
Com isso, os mindelenses, que já
Com o golfe teria ocorrido um processo encontravam restrições para jogar, foram
semelhante ao que se dera com o cricket: se a impedidos de frequentar o antigo campo da Cova
princípio era uma prática exclusiva e restrita, logo Inglesa. Os membros do Lord, então,
os nativos se aproximaram e se apropriaram. conseguiram autorização governamental e
Será que isso pode ser mesmo observado ou construíram, em poucos meses, com seus
trata-se de mais uma construção ideal recursos, um campo de 18 buracos, onde ficaram
relacionada aos sentidos e significados que por quatro anos.
adquiriu a caboverdianidade no decorrer da Ao comentar o que considerou um grande
história? O tema deve ser analisado na interface esforço e exemplo de organização de todos que
das duas alternativas. contribuíram para tal empreitada, Barros afirma
Segundo Barros (1981), já no século XIX um que o fizeram por “amor à terra natal”. Mas amor
grupo de ingleses construiu um campo na Ilha de a uma terra que lhe tirava os terrenos (Portugal)?
São Vicente, onde eram disputados jogos com Ou aqui se refere a Cabo Verde? Ou tratava-se
certa constância. Provavelmente o autor se refere mesmo de uma declaração de amor ao esporte
aos terrenos da Praia da Galé, que solicitaram, que tanto significava para os envolvidos?
em 1853, Thomas e George Miller e George Ao fim, Barros (1981) lembra: “o golpe do
Rendall, onde depois instalaram um clube de Capitão Ferreira Pinto estava condenado a um
golfe e um campo de futebol (Papini, 1982). Maior fracasso, na medida em que o golfe tinha raízes
referência merece a criação, na década de 1920, muito profundas na massa popular do Monte, Dji
do St. Vicent Golf Club, cujo campo de 18 de Sal e Monte Sossego” (p.19). Os
buracos foi instalado próximo à Cova da Inglesa. caboverdianos foram convidados a integrar o
Em 1933, da fusão dessa agremiação com Clube de Golfe de São Vicente, já que os
outros clubes fundados pelos britânicos no
portugueses não davam conta de mantê-lo; com grandes diferenças. As imagens do antigo Lord
isso deixa de existir o Lord. Golf e do Clube de Golfe de São Vicente são
marcadas pela majoritária presença de crioulos,
A construção de narrativas heróicas ao redor
com nomes portugueses; praticamente não há
do golfe é uma ocorrência comum na história do
mulheres. Já os instantâneos do St. Vicent são
arquipélago. Elas se articulam plenamente com a
marcados pela presença quase exclusiva de
mobilização identitária desse esporte: a difusão
brancos, com nomes ingleses; há muitas
da prática por entre vários estratos da população
mulheres e crianças.
teria ocorrido, na representação mais comum,
porque o caboverdiano, educado o suficiente para Se um dos alegados motivos da união foi a
entender o valor do jogo, teria constantemente redução da presença de britânicos na Ilha,
lutado para garantir algo que lhe parecia um segundo o olhar de Barros (1981) houve ainda
direito, uma postura que construíra no próprio outra razão relevante, que merece ser discutida
processo de forja do seu jeito peculiar de ser. por referir-se a uma construção identitária. Uma
divergência interna no clube de crioulos teria
O golfe, ao contrário do cricket, seguirá bem
levado à presidência José Duarte Fonseca e
estruturado, ainda que tenha enfrentado
Mário Matos, que, de acordo com a visão do
dificuldades na década de 1960. O clube dos
autor, promovendo um elitismo incomum na
ingleses, inclusive, solicitou à administração a
história da agremiação, tramaram com o governo
aprovação de mudanças em seus estatutos, para
central a possibilidade de junção, aproveitando
que fossem aceitos sócios não britânicos, uma
um momento em que, por motivos diversos,
expressão de que tinha na ocasião um número
muitas antigas lideranças esportivas se
menor de membros.
encontravam fora de São Vicente ou mesmo de
Aproximadamente na mesma época, a Cabo Verde. Para o autor, tratou-se de um desvio
Associação Desportiva de Barlavento chamava a da tradição, uma verdadeira traição à trajetória do
atenção das autoridades sobre a necessidade de golfe caboverdiano.
incentivos para manutenção da outra agremiação:
É nessa época que ocorre uma história que
Ao contrario das generalidades dos clubes
entrou para a memória do arquipélago. Quando
locais, cuja fundação partiu de iniciativa
particular, o Club de Golf de São Vicente foi Adriano Moreira, Ministro do Ultramar que tinha
fundado por determinação do governo da simpatia pela ideia de transformar Cabo Verde em
província (...). Esta circunstancia é ilhas adjacentes a Portugal, esteve em Mindelo,
suficientemente eloquente quanto ao teria sido marcado um almoço no Clube de Golfe.
reconhecimento por parte do governo local da
conveniência, não só sob o ponto de vista A PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do
desportivo como também no que ao interesse Estado) informou que faria uma inspeção nas
turístico se refere (...). É verdade que o numero instalações, o que levou a direção a tentar
de estrangeiros em trânsito pelo porto de São cancelar a recepção, ultrajada que se sentira pela
Vicente que tem utilizado o campo de golfe local
não tem sido aquilo que seria para desejar, desconfiança.
circunstância que depende dos vários fatores Ao saber dessa decisão, por intermédio do
que infelizmente até hoje tem contribuído para
que o turismo nesta ilha ainda esteja longe de governador da província, Silvino Silvério, Moreira
atingir o mínimo que as nossas condições determinou que a PIDE não se envolvesse.
poderiam justificar. Estamos certos, contudo, de Segundo Barros (1981), o órgão acabou, como
que uma vez que sejam melhoradas as vingança, os incomodando durante meses. A
condições de atração de turistas a esta ilha, e
que o Club de Golf de São Vicente tenha representação propalada é de dupla ordem: o
conseguido os auxílios de forma condigna, a caboverdiano não pode se tratado como suspeito;
sua existência virá a traduzir-se em um valioso o caboverdiano tem fibra e sempre resistiu.
elemento a colaborar com os restantes fatores
6
de valorização turística de nosso meio . A visita de Moreira a Mindelo foi cercada de
tensão e rejeição. A questão não era mais só a
Em 1969, o St. Vicent Cape Verde Golf and velha reivindicação de que Cabo Verde era
Lawn Tennis (formado majoritariamente por Portugal, o que seria conformado com a adoção
britânicos) e o Clube de Golfe de São Vicente da adjacência, mas sim a necessidade de
(formado por nativos e portugueses) fundiram-se, resolver definitivamente os problemas das ilhas,
dando origem ao Clube Anglo-Português de Golfe especialmente da decadente São Vicente. Além
de São Vicente. disso, o pensamento de uma nova geração de
Curiosa essa união. Quando se observa as intelectuais já estava sendo semeado, apontando
fotos das duas agremiações se percebem as a independência, ou ao menos uma maior
6
Documento disponível no Fundo da Repartição Provincial do
Arquivo Histórico de Cabo Verde.