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CONSTRUTORES(AS) DO MATERIAL DIDÁTICO: Alex Alves de Ameida, Bernard Cardoso, Deise Karoline da Silva, Leon
Dias Bueno, Luísa Caron, Mariana Zocchi, Olívia Tavares, Rafael Rodrigues, Renata Pereira, Roberta Browne, Thuan
Cofani, Tiago Seminatti, Vincícius Bisterço
CONTEXTO HISTÓRICO
Como já vimos nas aulas anteriores, definir um período literário não é uma tarefa simples. No Romantismo, a essa
dificuldade é adicionada a diversidade de obras, temas e tendências implicadas no próprio termo. Quando falamos em
Romantismo não podemos pensar tão somente em um estilo, uma escola ou um período, trata-se, antes, de uma visão de
mundo romântica, que de meados do século XVIII até fins do XIX, dominou a Europa. Uma concepção acerca do mundo
que tem como pano de fundo as Revoluções Industrial e Francesa, suas contradições e inovações, a ascensão da burguesia
e os movimentos de independência nacional.
Eugène Delacroix. A Liberdade guiando o povo. 1830. Óleo sobre tela, 260cm x 325cm. Museu do Louvre, Paris. Fonte:
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Eug%C3%A8ne_Delacroix_-_La_libert%C3%A9_guidant_le_peuple.jpg
Eugène Delacroix (1798-1863), maior expoente do Romantismo francês. No célebre A Liberdade guiando o Povo
(1850) é uma alegoria da independência nacional, tema fundamental para os românticos. Aqui, a Liberdade é
representada pela figura feminina que ergue a bandeira da França sobra as barricadas.
CONTEXTO HISTÓRICO
Com a proclamação da Independência, em 1822, intensificou-se no Brasil o processo de emancipação política que
teve como resultado o surgimento da necessidade de uma identidade nacional. É nesse momento histórico, de busca por
identidade, que o desenvolvimento do Romantismo brasileiro pode ser melhor compreendido, refletindo de modo direto ou
indireto as expectativas, os projetos, as contradições e os conflitos que envolveram as elites brasileiras no processo de
consolidação da Independência e de construção do novo país.
Na literatura, a busca por uma identidade nacional refletiu-se no desejo de liberdade de criação, que tornava as
produções literárias independentes e diferentes das realizadas em Portugal, que passavam a ter seu papel de referência
substituído pela literatura de outros países da Europa como França, Alemanha e Inglaterra. Mas, quais são as diferenças e
semelhanças entre o Romantismo na Europa e o Romantismo no Brasil? De certa maneira, é possível dizer que o
Romantismo brasileiro pegou para si muitas das características do Romantismo europeu. Porém, a adaptação de tais
características à realidade do país possibilitou o surgimento de uma literatura romântica de caráter peculiar.
Pedro Américo. O grito do Ipiranga. 1888. Óleo sobre tela, 415cm x 760cm. Museu Paulista, São Paulo. Fonte:
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Independence_of_Brazil_1888.jpg
Um dos principais traços do nosso Romantismo é o nacionalismo, que, guiando o movimento, abriu-lhe um rico leque
de temas a serem explorados. Entre eles, o indianismo, o regionalismo, a pesquisa histórica, a folclórica e a linguística, além
da crítica aos problemas nacionais.
LEITURA
IDEIAS ÍNTIMAS
A seguir, leia o fragmento de um poema que pode
ser considerado um verdadeiro quadro dos sentimentos
íntimos do poeta. Nele, o eu-lírico (um sonhador)
descreve uma vida monótona, solitária e triste, e vê na arte
uma possibilidade de traduzir seus sentimentos.
XI
Junto do leito meus poetas dormem Casimiro de Abreu. Fonte:
— O Dante, a Bíblia, Shakespeare e Byron https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Casimiro_de_Abreu_(Iconogr%
C3%A1fico).jpg
Na mesa confundidos. Junto deles
Meu velho candeeiro se espreguiça
Casimiro de Abreu é considerado um dos poetas
E parece pedir a formatura.
brasileiros mais populares. Em sua obra, diferentemente
Ó meu amigo, ó velador noturno,
de Álvares de Azevedo, Casimiro associa o amor à vida e
Tu não me abandonaste nas vigílias,
à sensualidade. Seus temas mais recorrentes são a
Quer eu perdesse a noite sobre os livros,
saudade, a infância, a família, o amor platônico e o medo
Quer, sentado no leito, pensativo
do amor. Em 1859, um ano antes de sua morte, publicou
Relesse as minhas cartas de namoro...
As Primaveras, seu único livro de poesias.
Quero-te muito bem, ó meu comparsa
Nas doudas cenas de meu drama obscuro!
E num dia de spleen, vindo a pachorra, LEITURA
Hei de evocar-te dum poema heróico AMOR E MEDO
Na rima de Camões e de Ariosto, No fragmento a seguir, a temática amorosa,
Como padrão às lâmpadas futuras! marcada pela sensibilidade e pelas pulsões eróticas da
(AZEVEDO, Á. de. Lira dos Vinte Anos. p. 68) visão ingênua do poeta, se desenvolve sem grande
profundidade. Nele, o sentimento que o eu-lírico sente
LEMBRANÇAS DO MORRER pela figura da virgem oscila entre o amor e o medo.
Agora você lerá um fragmento em que Álvares de
Azevedo nos apresenta os presságios da morte, o medo e Quando eu te vejo e me desvio cauto
o desejo de morrer como temas centrais de seu poema. Da luz de fogo que te cerca, ó bela,
Vale notar que já no título somos tomados pelo Contigo dizes, suspirando amores:
CURSO PRÉ-UNIVERSITÁRIO MAFALDA 14
— "Meu Deus! que gelo, que frieza aquela!" quais o discurso predominante era o a favor da libertação
dos escravos, como em O Navio Negreiro. O poeta
Como te enganas! meu amor, é chama faleceu aos 24 anos de idade, vítima de tuberculose.
Que se alimenta no voraz segredo,
E se te fujo é que te adoro louco... LEITURA
És bela — eu moço; tens amor, eu — medo... MOCIDADE E MORTE
Neste poema, Castro Alves nos mostra uma forte
Tenho medo de mim, de ti, de tudo, preocupação com a morte, vista como uma expectativa
Da luz, da sombra, do silêncio ou vozes. amargurada frente a sua juventude e como um
Das folhas secas, do chorar das fontes, impedimento às grandes realizações de que se julga
Das horas longas a correr velozes. capaz. O eu-lírico revela o contraste entre a ambição e a
mesquinhez, e só desfruta de algum acolhimento no amor
O véu da noite me atormenta em dores da família.
A luz da aurora me enternece os seios,
E ao vento fresco do cair das tardes, E eu sei que vou morrer... dentro em meu peito
Eu me estremeço de cruéis receios. Um mal terrível me devora a vida:
Triste Ahasverus, que no fim da estrada,
Oh! não me chames coração de gelo! Só tem por braços uma cruz erguida.
Bem vês: traí-me no fatal segredo. Sou o cipreste, qu’inda mesmo flórido,
E se de ti fujo é que te adoro e muito Sombra de morte no ramal encerra!
És bela — eu moço; tens amor, eu — medo... Vivo — que vaga sobre o chão da morte,
(ABREU, C. de. As Primaveras. p. 54-55) Morto — entre os vivos a vagar na terra.
Do sepulcro escutando triste grito
TERCEIRA GERAÇÃO OU CONDOREIRA Sempre, sempre bradando-me: maldito! —
A última geração romântica brasileira inicia-se no
ano de 1870, quando Castro Alves publica a obra Adeus, pálida amante dos meus sonhos!
Espumas Flutuantes. Nesse momento, nasce um projeto Adeus, vida! Adeus, glória! amor! anelos!
poético engajado em questões de realidade social e Escuta, minha irmã, cuidosa enxuga
política do país. O subjetivismo e o patriotismo, até então Os prantos de meu pai nos teus cabelos.
dominantes, tornam-se incompatíveis com os ideais Fora louco esperar! fria rajada
abolicionistas dos poetas condoreiros. Sinto que do viver me extingue a lampa...
Resta-me agora por futuro — a terra,
CARACTERÍSTICAS: Por glória — nada, por amor — a campa.
→ Temas sociais e políticos Adeus!... arrasta-me uma voz sombria
→ Liberdade (campanha republicana e, sobretudo, a Já me foge a razão na noite fria!...
campanha abolicionista) (ALVES, Antônio de C. Espumas Flutuantes. p.11-12)
→ Tom retórico e exaltado
O NAVIO NEGREIRO
CASTRO ALVES (1847-1871) Um dos poemas mais conhecidos de nossa
literatura, O Navio Negreiro revela que a participação na
campanha abolicionista rendeu a Castro Alves o principal
tema de sua obra. Para denunciar a condição miserável e
desumana com que os escravos eram tratados, o poeta
valeu-se do drama dos negros em sua travessia da África
para o Brasil.
CONTEXTO HISTÓRICO
A escola do Realismo tem como marco inicial nas artes a exposição Pavilhão do Realismo, organizada em 1855 pelo
pintor francês Gustave Courbet (1819-1877) para expor 40 de suas obras polêmicas. A mostra foi organizada nas redondezas
da Exposição Universal de Paris, que havia recusado as obras do pintor. O incidente difundiu o nome da nova escola que
surgia.
Gustave Courbet. Homem Desesperado [Auto-retrato]. 1843-1845. Óleo sobre tela, 45cm x 54cm. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Gustave_Courbet.
Enquanto as pinturas da época eram marcadas pela idealização e pelo sentimentalismo, características da escola
romântica, as inovadoras obras de Courbet eram cruas e objetivas, abordando temas do cotidiano, como o trabalho braçal,
mas sem retratá-los como algo heroico ou sublime.
A entrada da literatura no Realismo se deu, segundo os críticos, em 1856, com a publicação parcial de Madame
Bovary, do escritor francês Gustave Flaubert (1821-1880). O livro, que narra os casos amorosos de uma mulher casada,
assume uma postura crítica ao denunciar o sucesso dos gananciosos e dos hipócritas na sociedade da época. Na forma,
distancia-se do ideal romântico, pois se propõe a construir uma representação objetiva da realidade com base em observação
e análise minuciosas. Assim, a escola realista tem a proposta de se aproximar da ciência, adotando, principalmente,
procedimentos associados à anatomia: dissecação do caráter e dos comportamentos das personagens.
A relação entre a ciência e a literatura fica ainda mais forte com outro escritor francês, Émile Zola (1840-1902),
influenciado pelas correntes de pensamento materialistas da segunda metade do século XIX. Sua obra busca atingir um
conhecimento – científico – a respeito do homem e de suas ações e funda, assim, uma corrente do Realismo que ganha o
nome de Naturalismo.
Foi nesse contexto que surgiu o socialismo O positivista Augusto Comte (1798-1857). Fonte:
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Auguste_Comte.jpg
científico de Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels
(1820-1895), que defendia uma revolução social, liderada A ideia de progresso também aparece no
pela classe operária, para extinguir a propriedade privada Positivismo de Augusto Comte (1798-1857), que acredita
dos meios de produção e o Estado burguês que a que o objetivo da ciência é descobrir leis gerais que
sustentava. Essas ideias influenciavam o movimento regulem os fenômenos, para que seja possível dominá-los.
operário que crescia, assim como o anarquismo de Assim, coloca a ciência como a forma de conhecimento
Proudhon (1809-1865) e Bakunin (1814-1876), que humano mais importante, que encaminharia a sociedade
propunha a dissolução imediata do Estado. para o desenvolvimento.
Do ponto de vista econômico, com a expansão do Em oposição a essas ideologias otimistas que se
capitalismo industrial e financeiro, que demandou um apoiavam na ideia do progresso civilizatório,
volumoso contingente de técnicos e administradores da desenvolveu-se também a corrente pessimista do alemão
produção industrial, ganhou corpo também a classe
CURSO PRÉ-UNIVERSITÁRIO MAFALDA 25
Schopenhauer (1788-1860). Para ele, a força maior é a Com o Romantismo, os escritores começaram a se
vontade, que controla homens e fenômenos. Sendo a preocupar em retratar o seu tempo e o seu país, mas não
vontade um estado ininterrupto, a vida equivale à dor, já souberam construir uma linguagem que acompanhasse
que estamos destinados a sempre estar sofrendo pela essa mudança, mantendo-a demasiadamente solene.
ausência de algo que desejamos. Para ele, portanto, viver
é sofrer. Seu pensamento influenciou bastante a literatura
realista, como podemos perceber na prosa de Machado de
Assis. Como exemplo, lembremos da frase final do
protagonista de Memórias Póstumas de Brás Cubas:
“Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o
legado de nossa miséria”.
REALISMO EM PORTUGAL
Na segunda metade do século XIX, Portugal entra
nos anos da chamada Regeneração, quando, depois de
passar por um longo período de graves crises – políticas,
sociais e econômicas –, vive um período de
desenvolvimento e relativa estabilidade.
A produção agrária se expande, o comércio urbano
cresce, como também a rede bancária. Aumenta a
valorização da educação, que se desenvolve no país. No
entanto, se comparado às potências europeias, Portugal
permanece um país atrasado. Eça de Queirós em 1882. Fonte:
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:E%C3%A7a_de_Queir%C3%B
Em 1865, ocorre o incidente conhecido como 3s_c._1882.jpg
‘Questão Coimbrã’ – uma troca de farpas pública entre a
velha e a nova geração de escritores portugueses: Antônio
Feliciano de Castilho, grande nome da literatura "A minha ambição seria pintar a sociedade
romântica e Antero Quental, líder que desencadeou o portuguesa (...) e mostrar-lhe, como num espelho,
movimento realista em Portugal. Com tal episódio, as que triste país eles formam – eles e elas." (QUEIRÓS,
novas ideias que haviam florescido nas potências Eça. O Primo Basílio. Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ph000227.pdf
europeias chegam a Portugal, plantando as sementes do
Realismo no país.
Em 1871, o novo movimento já se encontrava mais
forte, quando foi organizado, por Antero de Quental, uma Eça de Queirós foi capaz de reinventar a prosa em
série de conferências para discutir as transformações da língua portuguesa, criando uma linguagem rápida e
sociedade portuguesa. O primeiro romance realista moderna, em sintonia com o ideal e a temática realistas.
português veio em 1875: O Crime do Padre Amaro, de Suas novidades estão em muitos campos da língua. Em
Eça de Queirós. O romance critica o atraso da vida relação ao léxico, acabou com o abismo que havia entre a
provinciana e denuncia o clero. linguagem falada e a escrita. Diminuiu seu vocabulário
Antero de Quental e Eça de Queirós, somados a para facilitar a compreensão de suas obras, ao mesmo
Guerra Junqueiro e Cesário Verde, são os quatro grandes tempo em que enriqueceu a linguagem com neologismos,
nomes do Realismo português. Neste material, veremos estrangeirismos do francês e do inglês, dando ainda novos
um dos mais importantes escritores do movimento: Eça usos para velhas palavras. Quanto à sintaxe, rompeu com
de Queirós. a tradição portuguesa de frases longas e complexas, por
influência da retórica tradicional. Seu estilo é de frases
EÇA DE QUEIRÓS (1845-1900) naturais, diretas, curtas: imitando as formas da linguagem
O foco do projeto literário de Eça de Queirós era falada.
construir uma obra que traçasse o perfil de Portugal. A crítica divide a obra de Eça de Queirós em três
Dessa forma, seus romances exploram a fundo questões fases. A primeira, da juventude, é composta por escritos
da realidade do país, expondo a burguesia por sua folhetinescos, sob a influência do Romantismo. A
hipocrisia e ociosidade, e fazendo denúncias de suas segunda é a fase do Realismo mais combatente, de
instituições, encarando o casamento como uma encenação denúncia. Contém os romances Crime do Padre Amaro
e atacando a Igreja Católica por seu falso moralismo. (1875) e O Primo Basílio (1878). A última fase já é de um
Uma das grandes contribuições que trouxe a Realismo mais brando, com uma visão menos corrosiva e
literatura de Eça de Queirós, um dos mais importantes mais humanitária dos problemas de Portugal, com uma
escritores da história de Portugal, foi a renovação da maior valorização da fantasia. Os livros A Ilustre Casa de
linguagem. Antes dele, a prosa portuguesa apresentava Ramires (1900) e A Cidade e as Serras (1901) fazem
um linguajar que, embora rico, parecia ultrapassado e parte dessa fase.
estava ainda muito ligado a padrões da Era Clássica (com
forte influência do padre Antônio Vieira, por exemplo).
Esse romance da fase mais branda de Eça de - E acumulaste civilização, Jacinto! Santo Deus...
Queirós já mostra o escritor reconciliado com Portugal, Está tremendo, o 202!
que foi duramente criticado em algumas de suas obras. Na Ele espalhou em torno um olhar onde já não
história, Jacinto, morador de Paris, rico e apaixonado pela faiscava a antiga vivacidade:
civilização, mas que começa a se entediar com sua vida -Sim, há confortos... Mas falta muito! A
repleta dos mais modernos avanços da ciência, se vê humanidade ainda está mal apetrechada, Zé Fernandes...
levado a passar uma temporada nas serras portuguesas. O E a vida conserva resistências.
campo dá novo sentido à vida da personagem, que se Subitamente, a um canto, repicou a campainha do
estabelece em Tormes e não mais volta a Paris. Eça faz telefone. E enquanto o meu amigo, curvado sobre a placa,
um elogio dos campos portugueses, afastando-se do murmurava impaciente “Está lá? – Está lá?”, examinei
Realismo mais radical e idealizando a vida campestre, curiosamente, sobre a sua imensa mesa de trabalho, uma
tornando o texto sensivelmente mais lírico em seu estranha e miúda legião de instrumentozinhos de níquel,
segundo bloco, com detalhadas descrições da natureza. A de aço, de cobre, de ferro, com gumes, com argolas, com
crítica se volta contra o artificialismo que há na tenazes, com ganchos, com dentes, expressivos todos, de
civilização urbana do final do século XIX. utilidades misteriosas. Tomei um que tentei manejar – e
No entanto, a relação com a natureza é diferente logo uma ponta malévola me picou um dedo. Nesse
daquela encontrada no mais clássico gênero bucólico, já instante rompeu de outro canto um tiquetique açodado,
que, aqui, o conhecimento não vem da contemplação da quase ansioso. Jacinto acudiu, com a face no telefone:
natureza, mas sim do contraste com a civilização – e -Vê aí o telégrafo!... Ao pé do divã. Uma tira de
agora, um homem que adquiriu uma enorme carga papel que deve estar a correr.
teórica, pode aplicá-la a um contexto campestre, -E, com efeito, duma redoma de vidro posta numa
especificamente português. coluna, e contendo um aparelho esperto e diligente,
escorria para o tapete como uma tênia, a longa tira de
II papel com caracteres impressos, que eu, homem das
Eu murmurei, nas profundidades do meu serras, apanhei, maravilhado.
assombrado ser: (QUEIRÓS, Eça de. A cidade e as serras. São Paulo : Ciranda Cultural,
-Eis a Civilização! 2015)
Jacinto empurrou uma porta, penetramos numa
nave cheia de majestade e sombra, onde reconheci a V
Biblioteca pôr tropeçar numa pilha monstruosa de livros Uma noite no meu quarto, descalçando as botas,
novos. O meu amigo roçou de leve o dedo na parede: e consultei o Grilo:
uma coroa de lumes elétricos, refulgindo entre os lavores -Jacinto anda tão murcho, tão corcunda... Que
do teto, alumiou as estantes monumentais, todas de será, Grilo?
ébano. O venerando preto declarou com uma certeza
.......................... imensa:
Ele erguera uma tapeçaria – entramos no seu -S. Exª. sofre de fartura.
gabinete de trabalho, que me inquietou. (...) Um biombo Era fartura! O meu Príncipe sentia abafadamente
de laca verde, fresco de verde de relva, resguardava a a fartura de Paris: - e na Cidade, na simbólica Cidade,
chaminé de mármore verde, verde de mar sombrio, onde fora de cuja vida culta e forte (como ele outrora gritava,
esmoreciam as brasas duma lenha aromática. E entre iluminado) o homem do século XIX nunca poderia
aqueles verdes reluzia, pôr sobre peanhas e pedestais, saborear plenamente a “delícia de viver”, ele não
toda uma Mecânica suntuosa, aparelhos, lâminas, rodas, encontrava agora forma de vida, espiritual ou social, que
tubos, engrenagens, hastes, friezas, rigidezas de metais.... o interessasse, lhe valesse o esforço duma corrida curta
.......................... numa tipóia fácil. Pobre Jacinto!
TAREFA DISSERTATIVA
11. (FUVEST, 2016) No capítulo CXIX das Memórias póstumas de
Brás Cubas, o narrador declara: “Quero deixar aqui, entre parêntesis,
meia dúzia de máximas* das muitas que escrevi por esse tempo.”.
Nos itens a) e b) encontram-se reproduzidas duas dessas máximas.
Considerando-as no contexto da obra a que pertencem, responda ao
que se pede.
*“Máxima”: fórmula breve que enuncia uma observação de valor
geral; provérbio.
CONTEXTO HISTÓRICO
O Parnasianismo se origina no século XIX, na França (Parnase Contemporain). Seguindo os princípios do Realismo/
Naturalismo, essa escola literária também vai à contramão dos ideais românticos e se baseia nos ideais do positivismo,
cientificismo e na busca pela objetividade. Além disso, seus autores buscam recuperar os valores estéticos clássicos. O nome
Parnasianismo viria do Monte Parnassus (no original Παρνασσός – Parnassus), região grega da Fócida que, segundo a
lenda, era morada dos poetas.
O movimento vai se destacar por pregar o princípio da Arte pela Arte, isto é, uma arte voltada para si própria. Assim,
ideais como a Beleza e a Verdade devem ser procurados nas coisas concretas, palpáveis, e não no sentimento individual do
poeta. A forma, por isso, passa a ser mais valorizada do que o conteúdo em si.
Andrea Mantegna. Parnassus: Marte e Venus. 1497. Tempera e ouro sobre tela, 159cm x 192cm. Louvre, Paris. Fonte:
https://www.flickr.com/photos/59393412@N02/7753897972
PRÉ-MODERNISMO
O pré-modernismo corresponde às primeiras
Pierre Puvis Chavannes. O sonho. 1883. Óleo sobre tela, 82cm x 102cm. décadas do século XX. São considerados autores pré-
Museu de Orsay, Paris. Fonte: modernistas aqueles que ainda mantêm uma tendência
https://www.flickr.com/photos/32357038@N08/5212039774
formal realista/naturalista, mas que de alguma forma,
desafiam os padrões temáticos da época, encarando de
maneira crítica a realidade brasileira.
CURSO PRÉ-UNIVERSITÁRIO MAFALDA 38
Na prosa, se destacam Simões Lopes Neto, discuti-la, de pensá-la, de representá-la. O contraste social
Monteiro Lobato e Valdomiro Silveira com uma visão foi o ponto forte das manifestações artísticas dessa época,
crítica do ambiente rural, além de Lima Barreto e Graça e vários manifestos foram escritos.
Aranha, que revelam o meio urbano. Euclides da Cunha A palavra vanguarda vem do francês, avant-garde
com seu relato de jornalista em Os sertões (1902) (termo militar que designa o pelotão que vai à frente).
denuncia a destruição do Arraial de Canudos e a Designa aqueles que, no campo das artes ou das ideias,
resistência daquele movimento popular. estão à frente de seu tempo. As cinco principais são:
Na poesia destacam-se Augusto dos Anjos e com
menos destaque, Gilka Machado com seu livro Cristais EXPRESSIONISMO
partidos (1915). Augusto, poeta de um só livro, Eu, causa Surgido em 1910, foi manifestação de povos
escândalo nos meios literários devido à linguagem técnica nórdicos, germânicos e eslavos. Essa tendência expressou
utilizada. Seus versos se compõem de uma linguagem a angústia do período anterior à Primeira Guerra Mundial.
científica abastada, provinda de áreas como Física,
Química e Biologia.
PSICOLOGIA DE UM VENCIDO
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
Produndissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
FUTURISMO SURREALISMO
Essa estética celebrava os signos do novo mundo – Bastante influenciado pela psicanálise freudiana, o
a velocidade, a máquina, a eletricidade, a industrialização. Surrealismo caracterizou-se pela busca do homem
Nas artes plásticas procurava-se passar ideia de primitivo através da investigação do mundo do
movimento, não representado a imagem de um carro, mas inconsciente e dos sonhos. Na literatura, o traço
o seu movimento ao andar. Isto faz sentido se pensarmos fundamental foi a escrita automática (o autor deixa-se
no nome desta vanguarda. Visa-se sempre o futuro, o que levar pelo impulso e registra, sem controle racional, tudo
está por vir. A ideia de movimento – sempre no mesmo o que o inconsciente lhe ditar, sem se preocupar com a
sentido, para frente – permeia as obras futuristas. lógica).
Giacomo Balla. Voo das andorinhas. 1913. Têmpera sobre papel, 49,5 cm
x 73,6 cm. Fonte: Salvador Dalí. Oasis. 1946. Óleo sobre tela, 36cm x 59cm. Fundação Gala
https://www.flickr.com/photos/42676028@N02/3977631978/in/album- Salvador Dalá, Girona.
72157622507611280/ https://www.flickr.com/photos/centralasian/6751285205
DADAÍSMO
MODERNISMO EM PORTUGAL
Embrenhado de um sentimento se saturação
Em Portugal, o movimento, costumeiramente, é
cultural, de crise social e política, o considerado mais
dividido da seguinte forma:
radical movimento das vanguardas negava o presente, o
Orfismo (1915 - 1927): iniciado com a publicação da
passado, o futuro e defendia a ideia de que qualquer
revista Orpheu, atrelou a irreverência, com o
combinação inusitada promove um efeito estético.
propósito de escandalizar o “burguês”, às mudanças
sócio-políticas pelo qual passava Portugal. Bastante
influenciado pelo Futurismo, tem em Fernando
Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Almanda Negreiros e
Florbela Espanca como seus principais autores;
Presencismo (1927 - 1940): tem início com a
publicação da revista Presença, que diferentemente do
seu antecessor, traz uma literatura intimista na qual a
forte presença do indivíduo, do eu é uma constante –
é praticamente um retorno ao discurso parnasiano da
arte pela arte. Seus principais autores são: Rodrigues
Miguéis, Branquinho da Fonseca, José Régio e Irene
Marcel Duchamp. Fonte. 1917. Urinol de porcelana invertido, 36 cm x 48 Lisboa;
cm x 61 cm. Fonte: Neo-Realismo (1940 - 1974): voltamos aqui a termos
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Fontaine_Duchamp.jpg
uma literatura mais engajada, comprometida, de
denúncia social. Trazendo as discussões e críticas do
CURSO PRÉ-UNIVERSITÁRIO MAFALDA 40
Orfismo e criticando o escapismo do Grupo Presença, Começa a não saber o que é o sol
acabou por ter uma linguagem quase que panfletária. E a pensar em muitas cousas cheias de calos.
Destacam-se neste período: Alves Redol, Ferreira de Mas abre os olhos e vê o sol,
Castro, Fernando Namora e Vergílio Ferreira; E já não pode pensar em nada,
Surrealismo (1947 - 1974): Buscando uma arte que Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos
expressasse uma outra realidade, substituindo as De todos os filósofos e de todos os poetas.
questões dos neorrelistas pelo universo onírico e pela A luz do sol não sabe o que faz
exploração do inconsciente, fundamentados pelos E por isso não erra e é comum e boa.
manifestos de André Breton e da psicanálise de (...)
Sigmund Freud. Os principais autores foram Cândido (CAEIRO, Alberto. O Guardador de Rebanhos. p. 4-5)
Costa Pinto, Mário Cesariny de Vasconcelos, Antônio
Pedro e Alexandre O’Neill. RICARDO REIS
Diferentemente de Caeiro, Reis é um clássico
FERNANDO PESSOA E SEUS HETERÔNIMOS (1888- racionalista: esforçado, disciplinado, lúcido. Bastante
influenciado pelo carpe diem, o poeta acredita no gozo da
1935)
vida, porém com serenidade e sem excessos, assim como
os neoclássicos.
LEITURA
NÃO SÓ QUEM NOS ODEIA OU NOS INVEJA
Não só quem nos odeia ou nos inveja
Nos limita e oprime; quem nos ama
Não menos nos limita.
Que os deuses me concedam que, despido
De afectos, tenha a fria liberdade
Dos píncaros sem nada.
Quem quer pouco, tem tudo; quem quer nada
É livre; quem não tem, e não deseja,
Fernando Pessoa. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:216_2310- Homem, é igual aos deuses.
Fernando-Pessoa.jpg (REIS, Ricardo. Poemas de Ricardo Reis. p. 26)
Quanta gente que ri, talvez existe, Já o verme — este operário das ruínas —
Cuja ventura única consiste Que o sangue podre das carnificinas
Em parecer aos outros venturosa! Come, e à vida em geral declara guerra,
(CORREIA, R. In: PATRIOTA, M. Para compreender Raimundo Correia. Brasília: Alhambra,
1995.)
CURSO PRÉ-UNIVERSITÁRIO MAFALDA 44
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há-de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
(ANJOS, A. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.)
AULA 7
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03. A
04.B
05. B
06. B
07. D
08. A) E/ B) E
09. B
10. C
AULA 8
01.A
02.D
03.D
04.D
05.B
06.E
07.A
08.E
09.D
10.B
AULA 9
01.C
02.A
03.A
04.A
05.D
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CURSO PRÉ-UNIVERSITÁRIO MAFALDA 50