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“Um relatório para uma academia” é um conto do livro “Um médico rural”, do
escritor praguense Franz Kafka, publicado em 1919. Algumas das características mais gerais
da obra estão presentes no conto, como a oposição entre animal e humano que, em última
instância, reflete a oposição entre civilização e barbárie, como vocês verão; além disso, há
um recurso ao absurdo como forma de representação.
O conto é construído no formato de uma conferência apresentada para um público
acadêmico, algo aparentemente banal, como nos leva a crer o título, ao utilizar o artigo
indefinido: um relatório para uma academia. Fosse apenas isso, seria mesmo uma situação
completamente ordinária. Contudo, o ministrante é um sujeito extraordinário: o ex-macaco
Pedro Vermelho (apelido que ele julga idiota) relata como ele veio a se tornar um humano.
Ele conta como foi capturado em Costa do Ouro - denominação colonial de Gana, sob
domínio britânico desde as primeiras décadas do século XIX até o momento de sua
independência, em 1957 – pela firma Hagenbeck, aludindo a Carl Hagenbeck, um conhecido
comerciante alemão de animais selvagens da época e pai do zoológico moderno. Os homens
da firma dispararam dois tiros contra ele: um na maçã do rosto, de raspão, que lhe rendeu o
apelido, pois na parte do rosto onde levou o tiro ficou uma cicatriz vermelha de pelos
raspados; e outro perto da anca, mais grave.
Então, ele é embarcado no navio da companhia Hagenbeck, onde é posto numa jaula
que lhe violenta a carne. Nesse movimento, vocês podem ver que retornamos do absurdo
para uma situação inteiramente normal: uma expedição de caça que captura um animal
exótico para ser exposto às boas almas europeias. É aqui onde Pedro Vermelho diz que
começam suas lembranças próprias, naturalmente distorcidas, como alerta ele, por serem
representadas por meio de palavras humanas. Para ele, a nova situação na jaula contrastava
fortemente com a antiga, nas florestas tropicais da Costa do Ouro: ele, que até então tivera
tantas saídas, agora não tinha nenhuma!
Se algo era nítido para Pedro Vermelho, porém, esse algo era que lugar de macaco “é
de encontro à parede do caixote” (p. 64), em alusão à jaula. Assim, a única saída era
justamente deixar de ser macaco, fato pouco usual, até onde sei. E, se emprego aqui “saída”
ao invés de “libertação”, ou qualquer outro termo que se refira a esse grandioso sentimento, é
por advertência do próprio Pedro Vermelho: diz ele que liberdade nunca exigiu, nem
naqueles tempos nem no presente. Pois, para ele, esse era um ideal ardiloso, tão sublime
quanto enganador.
E se Pedro Vermelho chegou a identificar uma saída, ele reconhece, foi só porque as
pessoas do navio o tranquilizaram. Fugir seria impossível, apanhariam-no de qualquer forma;
a não ser que mergulhasse, mas nesse caso apenas nadaria a esmo até, talvez, ser atacado por
um tubarão ou algo que o valha.
Não, a saída que Pedro Vermelho visualizou era ridiculamente mais fácil: imitaria as
pessoas! Afinal, ele os via sempre, com os mesmos movimentos ritmados, a mesma
expressão – era como se fossem um só; não seria difícil. E não é como se algo neles o
atraísse; nada disso. É que Pedro Vermelho precisava desesperadamente de uma saída.
Então, ele aprendeu a cuspir como gente, aprendeu a fumar cachimbo; só com a
aguardente é que titubeou. E, segundo Pedro Vermelho, eram essas lutas internas o que mais
levavam a sério nele. Um dos homens o ensinou pacientemente como tomar a aguardente;
mas não dava, ele sentia um grande asco. O homem o reprimia, mas Pedro Vermelho conta
que não chegava a ficar bravo: os dois lutavam do mesmo lado, contra a natureza do macaco.
Uma noite, porém, ele conseguiu: bebeu a aguardente diante de um público que o
contemplava em júbilo; e, como se não bastasse, ainda soltou um “alô!”. Contudo, depois do
espetáculo, apenas meses depois a voz tornou a voltar; e a sua repulsa pela bebida veio mais
forte.
Ao chegar em Hamburgo, Pedro Vermelho se esforçou ao máximo para que não fosse
enviado ao zoológico. Ele aprendeu, aprendeu e aprendeu; com o chicote em punho, para que,
à menor resistência, flagelasse a própria carne. E, nesse processo, ele conta que consumiu
muitos professores, “alguns até ao mesmo tempo” (p. 70-1).
E se essa penetração de saberes no cérebro faziam Pedro Vermelho feliz, ele nunca a
superestimou. Assim, ele conta que através de um esforço que até o presente nunca se repetiu
na terra, ele chegou à formação média de um europeu. O que, ele reflete, talvez em si mesmo
não seja nada, mas o tirou da jaula e “propiciou essa saída especial, essa saída humana” (p.
71). Era o único caminho que ele tinha, afinal, “sempre supondo que não era possível
escolher a liberdade” (p. 71).
Sobre a sua situação presente, Pedro Vermelho diz que não tem do que se queixar,
mas de outro lado também não se vê satisfeito. Tem levado sua vida como um humano,
exceto talvez pelas suas noites, que passa com uma pequena chimpanzé, aos modos de
macaco. Durante o dia, contudo, Pedro Vermelho conta que não a suporta, “pois ela tem no
olhar a loucura do perturbado animal amestrado”; e isso só ele o reconhece.
“Não se diga que o esforço não valeu a pena. No mais não quero nenhum julgamento
dos homens, quero apenas difundir conhecimentos; faço tão somente um relatório; também
aos senhores, eminentes membros da Academia, só apresentei um relatório” (p. 72). Assim,
Pedro Vermelho conclui a apresentação do seu relatório. Resumo de “Um relatório para
uma academia”
“Um relatório para uma academia” é um conto do livro “Um médico rural”, do
escritor praguense Franz Kafka, publicado em 1919. Algumas das características mais gerais
da obra estão presentes no conto, como a oposição entre animal e humano que, em última
instância, reflete a oposição entre civilização e barbárie, como vocês verão; além disso, há
um recurso ao absurdo como forma de representação.
O conto é construído no formato de uma conferência apresentada para um público
acadêmico, algo aparentemente banal, como nos leva a crer o título, ao utilizar o artigo
indefinido: um relatório para uma academia. Fosse apenas isso, seria mesmo uma situação
completamente ordinária. Contudo, o ministrante é um sujeito extraordinário: o ex-macaco
Pedro Vermelho (apelido que ele julga idiota) relata como ele veio a se tornar um humano.
Ele conta como foi capturado em Costa do Ouro - denominação colonial de Gana, sob
domínio britânico desde as primeiras décadas do século XIX até o momento de sua
independência, em 1957 – pela firma Hagenbeck, aludindo a Carl Hagenbeck, um conhecido
comerciante alemão de animais selvagens da época e pai do zoológico moderno. Os homens
da firma dispararam dois tiros contra ele: um na maçã do rosto, de raspão, que lhe rendeu o
apelido, pois na parte do rosto onde levou o tiro ficou uma cicatriz vermelha de pelos
raspados; e outro perto da anca, mais grave.
Então, ele é embarcado no navio da companhia Hagenbeck, onde é posto numa jaula
que lhe violenta a carne. Nesse movimento, vocês podem ver que retornamos do absurdo
para uma situação inteiramente normal: uma expedição de caça que captura um animal
exótico para ser exposto às boas almas europeias. É aqui onde Pedro Vermelho diz que
começam suas lembranças próprias, naturalmente distorcidas, como alerta ele, por serem
representadas por meio de palavras humanas. Para ele, a nova situação na jaula contrastava
fortemente com a antiga, nas florestas tropicais da Costa do Ouro: ele, que até então tivera
tantas saídas, agora não tinha nenhuma!
Se algo era nítido para Pedro Vermelho, porém, esse algo era que lugar de macaco “é
de encontro à parede do caixote” (p. 64), em alusão à jaula. Assim, a única saída era
justamente deixar de ser macaco, fato pouco usual, até onde sei. E, se emprego aqui “saída”
ao invés de “libertação”, ou qualquer outro termo que se refira a esse grandioso sentimento, é
por advertência do próprio Pedro Vermelho: diz ele que liberdade nunca exigiu, nem
naqueles tempos nem no presente. Pois, para ele, esse era um ideal ardiloso, tão sublime
quanto enganador.
E se Pedro Vermelho chegou a identificar uma saída, ele reconhece, foi só porque as
pessoas do navio o tranquilizaram. Fugir seria impossível, apanhariam-no de qualquer forma;
a não ser que mergulhasse, mas nesse caso apenas nadaria a esmo até, talvez, ser atacado por
um tubarão ou algo que o valha.
Não, a saída que Pedro Vermelho visualizou era ridiculamente mais fácil: imitaria as
pessoas! Afinal, ele os via sempre, com os mesmos movimentos ritmados, a mesma
expressão – era como se fossem um só; não seria difícil. E não é como se algo neles o
atraísse; nada disso. É que Pedro Vermelho precisava desesperadamente de uma saída.
Então, ele aprendeu a cuspir como gente, aprendeu a fumar cachimbo; só com a
aguardente é que titubeou. E, segundo Pedro Vermelho, eram essas lutas internas o que mais
levavam a sério nele. Um dos homens o ensinou pacientemente como tomar a aguardente;
mas não dava, ele sentia um grande asco. O homem o reprimia, mas Pedro Vermelho conta
que não chegava a ficar bravo: os dois lutavam do mesmo lado, contra a natureza do macaco.
Uma noite, porém, ele conseguiu: bebeu a aguardente diante de um público que o
contemplava em júbilo; e, como se não bastasse, ainda soltou um “alô!”. Contudo, depois do
espetáculo, apenas meses depois a voz tornou a voltar; e a sua repulsa pela bebida veio mais
forte.
Ao chegar em Hamburgo, Pedro Vermelho se esforçou ao máximo para que não fosse
enviado ao zoológico. Ele aprendeu, aprendeu e aprendeu; com o chicote em punho, para que,
à menor resistência, flagelasse a própria carne. E, nesse processo, ele conta que consumiu
muitos professores, “alguns até ao mesmo tempo” (p. 70-1).
E se essa penetração de saberes no cérebro faziam Pedro Vermelho feliz, ele nunca a
superestimou. Assim, ele conta que através de um esforço que até o presente nunca se repetiu
na terra, ele chegou à formação média de um europeu. O que, ele reflete, talvez em si mesmo
não seja nada, mas o tirou da jaula e “propiciou essa saída especial, essa saída humana” (p.
71). Era o único caminho que ele tinha, afinal, “sempre supondo que não era possível
escolher a liberdade” (p. 71).
Sobre a sua situação presente, Pedro Vermelho diz que não tem do que se queixar,
mas de outro lado também não se vê satisfeito. Tem levado sua vida como um humano,
exceto talvez pelas suas noites, que passa com uma pequena chimpanzé, aos modos de
macaco. Durante o dia, contudo, Pedro Vermelho conta que não a suporta, “pois ela tem no
olhar a loucura do perturbado animal amestrado”; e isso só ele o reconhece.
“Não se diga que o esforço não valeu a pena. No mais não quero nenhum julgamento
dos homens, quero apenas difundir conhecimentos; faço tão somente um relatório; também
aos senhores, eminentes membros da Academia, só apresentei um relatório” (p. 72). Assim,
Pedro Vermelho conclui a apresentação do seu relatório.