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Manual de Tronco Comum

Sociologia Geral

Código: A0017
Universidade Católica de Moçambique (UCM)

Centro de Ensino à Distância (CED)


Direitos de autor (copyright)
Este manual é propriedade da Universidade Católica de Moçambique (UCM), Centro de Ensino à
Distância (CED) e contêm reservados todos os direitos. É proibida a duplicação e/ou reprodução deste

manual, no seu todo ou em partes, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónicos,
mecânico, gravação, fotocópia ou outros), sem permissão expressa de entidade editora (Universidade
Católica de Moçambique – Centro de Ensino à Distância). O não cumprimento desta advertência é
passível a processos judiciais.
Elaborado Por: Alamba Feliciano Napulula
Licenciado em Antropologia pela FLCS (Faculdade de Letras e Ciências Sociais) da UEM
(Universidade Eduardo Mondlane) de Moçambique
Bacharel em Ciências Sociais: orientação em Sociologia pela ex-UFICS (Unidade de Formação e

Investigação em Ciências Sociais) da UEM.


Universidade Católica de Moçambique (UCM)
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Beira – Sofala

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Agradecimentos
A Universidade Católica de Moçambique (UCM) – Centro de Ensino à Distância (CED) e o autor do
presente manual, Alamba Feliciano Napulula, agradecem a colaboração de todos que directa ou
indirectamente participaram na elaboração deste manual. À todos sinceros agradecimentos.
Sociologia Geral Código: A0017 i

Índice
Visão geral 1
Benvindo a Sociologia Geral.............................................................................................1
Objectivos do curso...........................................................................................................1
Quem deveria estudar este módulo....................................................................................2
Como está estruturado este módulo...................................................................................2
Habilidades de estudo........................................................................................................3
Precisa de apoio?...............................................................................................................3
Tarefas (avaliação e auto-avaliação).................................................................................4
Avaliação...........................................................................................................................4

Unidade N0 01-A0017 7
Tema: Senso Comum e Conhecimento Científico.............................................................7
Introdução................................................................................................................7
Sumário..............................................................................................................................7
Obstáculos ao Conhecimento Científico…………………………………………………………….......8
Exercícios..........................................................................................................................9

Unidade N0 02-A0017 10
Tema: Surgimento da Sociologia....................................................................................10
Introdução..............................................................................................................10
Sumário............................................................................................................................10
Precursores da Sociologia...............................................................................................11
Nicolau Maquiavel………………………………………………………………………………11
Thomas Hobbes…........................................................................................................................12
John Locke...................................................................................................................................12
Jean Jacques Rosseau...................................................................................................................13
Charles de Montesquieu………………………………………………………………………...14
Exercícios........................................................................................................................15

Unidade N0 03-A0017 17
Tema: Definição da Sociologia e seus Fundadores.........................................................17
Introdução..............................................................................................................17
Sumário............................................................................................................................17
Definição………………………………………………………………………………………...17
Objecto de Estudo……………………………………………………………………………….18
Fundadores da Sociologia.............................................................................................................19
Sociologia Geral Código: A0017 ii

Comte............................................................................................................................................19
Durkheim......................................................................................................................................20
Weber............................................................................................................................................21
Marx..............................................................................................................................................22
Exercícios........................................................................................................................23

Unidade N0 04-A0017 24
Tema: Teorias Sociológicas Contemporâneas.................................................................24
Introdução..............................................................................................................24
Sumário............................................................................................................................24
Teoria Funcionalista…………………………………………………………………………….24
Teoria Voluntarista da Acção…………………………………………………………………...25
Exercícios........................................................................................................................26

Unidade N0 05-A0017 28
Tema: Teorias Sociológicas de Interacção Social...........................................................28
Introdução..............................................................................................................28
Sumário............................................................................................................................28
Teoria de Interaccionismo Simbólico de George
Mead………………………………………….28
Teoria Dramatúrgica do Quotidiano de Erving Goffman.............................................................29
Exercícios........................................................................................................................32

Unidade N0 06-A0017 33
Tema: Desigualdades Sociais..........................................................................................33
Introdução..............................................................................................................34
Sumário............................................................................................................................34
Definição.........................................................................................................................34
Tipos de Desigualdades Sociais......................................................................................34
Exercícios........................................................................................................................35

Unidade N0 07-A0017 36
Tema: Teoria de Classes Sociais e Estratificação............................................................36
Introdução..............................................................................................................36
Sumário............................................................................................................................36
Teoria Marxista………………………………………………………………………………….36
Teoria Neomarxista.......................................................................................................................37
Teoria Funcionalista da Estratificação..........................................................................................38
Sociologia Geral Código: A0017 iii

Exercícios........................................................................................................................38

Unidade N0 08-A0017 39
Tema: Processo de Mobilidade Social.............................................................................39
Introdução..............................................................................................................39
Sumário............................................................................................................................39
Conceito de Mobilidade Social………………………………………………………………….39
Conceitos Auxiliares de Mobilidade Social..................................................................................40
Exercícios........................................................................................................................41

Unidade N0 09-A0017 42
Tema: Teorias Sobre Mobilidade Social.........................................................................42
Introdução..............................................................................................................42
Sumário............................................................................................................................42
Teoria Marxista e da Reprodução Social….…………………………………………………….42
Teoria Funcionalista.....................................................................................................................43
Exercícios........................................................................................................................44

Unidade N0 10-A0017 45
Tema: Desigualdades Sociais nas Sociedades Contemporâneas.....................................45
Introdução..............................................................................................................45
Sumário............................................................................................................................45
Novos Eixos de Diferenciação de Classes……...……………………………………………….45
Exercícios........................................................................................................................47

Unidade N0 11-A0017 48
Tema: Mudança Social....................................................................................................48
Introdução..............................................................................................................48
Sumário............................................................................................................................48
Precursores da Teorias de Mudança Social.…………………………………………………….48
Auguste Comte….........................................................................................................................49
Herbert Spencer……………………............................................................................................50
Karl Marx………………………………………………………………………………………..51
Teorias Mudança Social…………………………………………………………………………52
Evolucionismo de Talcott Parsons……………………………………………………………...52
Grupos de Interesse, Conflitos Sociais e Mudança Social em Ralf Dahrendorf…..…………..53
Teorias Endógenas e Exógenas de Mudança Social……………………………………………54
Sociologia Geral Código: A0017 iv

Exercícios........................................................................................................................55

Unidade N0 12-A0017 56
Tema: Desvio e Controlo Social......................................................................................56
Introdução..............................................................................................................56
Sumário............................................................................................................................56
Desvio e Controlo Social………………………………………………………….…………….56
Émile Durkheim e a Génese da Teoria do Desvio e Controlo Social...........................................57
Desvio e Controlo Social na Escola de Chicago...........................................................................58
Anomia, Desvio e Controlo Social em Robert Merton………………………………………….59
Teoria da Rotulagem…………………………………………………………………………….59
Teoria de Análise Estratégica…………………………………………………………………...60
Exercícios........................................................................................................................61

Unidade N0 13-A0017 62
Tema: Movimentos Sociais.............................................................................................62
Introdução..............................................................................................................62
Sumário............................................................................................................................62
Abordagens sobre Movimentos Sociais…………………………………………………………63
Gustave Le Bon: Comportamento das Multidões.........................................................................63
Robert Park e as Bases Sociais do Comportamento Colectivo....................................................64
Herbert Blumer: Uma Visão Interaccionista do Comportamento Colectivo……………………64
Exercícios........................................................................................................................66

Unidade N0 14-A0017 67
Tema: O Processo de Socialização..................................................................................67
Introdução..............................................................................................................67
Sumário............................................................................................................................67
Socialização..........................................…………………………………………………………67
Tipos e Instituições de Socialização.............................................................................................68
Socialização Primária e Secundária .............................................................................................68
Exercícios......................................................................................................................................69

Unidade N0 15-A0017 70
Tema: O Processo de Globalização e as Desigualdades Sociais.....................................70
Introdução..............................................................................................................70
Sumário............................................................................................................................70
A Globalização.....................................…………………………………………………………70
Sociologia Geral Código: A0017 v

Impacto da Globalização nas Desigualdades Sociais.. ................................................................71


Exercícios......................................................................................................................................72

Unidade N0 16-A0017 73
Tema: Crime Como Facto Social....................................................................................73
Introdução..............................................................................................................73
Sumário............................................................................................................................73
Crime....................................................…………………………………………………………73
Exercícios............................................................................................................................75

Unidade N0 17-A0017 76
Tema: Determinantes da Criminalidade..........................................................................76
Introdução..............................................................................................................76
Sumário............................................................................................................................76
Determinantes da Criminalidade.. .......…………………………………………………………76
Teoria das Patologias Individuais......................,......................................................................... 77
Teoria de Desorganização Social..................................................................................................77
Teoria de Estilos de Vida..............................................................................……………………77
Teoria de Diferenciação Social ou Aprendizado Social...............................................................78
Teoria de Controlo Social.............................................................................................................78
Teoria de Auto Controle...............................................................................................................78
Teoria de Anomia............................................................................................................79
Teoria de Escolha Racional.............................................................................................79
Exercícios........................................................................................................................80

Unidade N0 18-A0017 81
Tema: Pobreza Como Facto Social.................................................................................81
Introdução..............................................................................................................81
Sumário............................................................................................................................81
Fenómeno da Pobreza...........................…………………………………………………………81
Pobreza como Facto Social...........................................................................................................82
Exercícios......................................................................................................................................84

Unidade N0 19-A0017 85
Tema: O Problema da Prostituição..................................................................................85
Introdução..............................................................................................................85
Sumário............................................................................................................................85
A Prostituição.......................................…………………………………………………………85
Exercícios.....................................................................................................................................87
Sociologia Geral Código: A0017 vi

Unidade N0 20-A0017 89
Tema: Abordagem Sociológica á Educação....................................................................89
Introdução..............................................................................................................89
Sumário............................................................................................................................89
A Educação...........................................…………………………………………………………89
Exercícios......................................................................................................................................90
Exercícios a Resolver......................................................................................................73
Referências Bibliográficas...............................................................................................74
Sociologia Geral Código: A0017 1

Visão geral
Benvindo a Sociologia Geral
É um facto que como conhecimento científico, a Sociologia é uma
disciplina que busca analisar os factos sociais, isto é, fenómenos que
ocorrem na nossa sociedade e que sejam dotados de um
sentido/significado para os indivíduos dentro de uma sociedade. Mais do
que simples contemplação dos fenómenos, a Sociologia busca analisar e
explicar cientificamente os mesmos, isto é, o sentido que os indivíduos
atribuem para os seus actos, considerando estes como sendo
significativos em cada época e sociedade. Assim, ela aparece como sendo
o estudo da realidade social.

Ela é uma ciência em construção desde início e meados do século XIX,


buscando sempre explicar as estruturas sociais, os processos sociais,
políticos, económicos e culturais da sociedade moderna. A partir dos
conhecimentos teóricos e científicos da Sociologia, estamos em melhores
condições de compreender os acontecimentos sociais, da organização
social e da vida humana em sociedade.

Objectivos do curso
Ao fim deste módulo, o estudante deverá capaz de:

 Explicar o processo de construção do conhecimento científico em


Objectivos Ciências Sociais, da qual a Sociologia é parte integrante.
 Explicar o advento da Sociologia como ramo de conhecimento
científico.
 Indicar os precursores e fundadores da Sociologia.
 As grandes teorias sociológicas.
 Perceber e explicar alguns dos fenómenos sociais presentes na
sociedade tais como: classes sociais, desigualdades sociais, desvio
social, mobilidade social, entre outros.
Sociologia Geral Código: A0017 2

Quem deveria estudar este módulo


Este módulo foi concebido para todos aqueles que frequentam os cursos à
distância, oferecidos pela Universidade Católica de Moçambique (UCM),
através do seu Centro de Ensino à Distância (CED).

Como está estruturado este módulo


Todos os módulos dos cursos produzidos por UCM - CED encontram-se
estruturados da seguinte maneira:

Páginas introdutórias
 Um índice completo.
 Uma visão geral detalhada do curso / módulo, resumindo os
aspectos-chave que você precisa conhecer para completar o estudo.
Recomendamos vivamente que leia esta secção com atenção antes de
começar o seu estudo.

Conteúdo do curso / módulo


O curso está estruturado em unidades. Cada unidade incluirá uma
introdução, objectivos da unidade, conteúdo da unidade incluindo
actividades de aprendizagem, um resumo da unidade e uma ou mais
actividades para auto-avaliação.

Outros recursos
Para quem esteja interessado em aprender mais, apresentamos uma lista
de recursos adicionais para você explorar. Estes recursos podem incluir
livros, artigos ou sites na internet.

Tarefas de avaliação e/ou Auto-avaliação


Tarefas de avaliação para este módulo encontram-se no final de cada
unidade. Sempre que necessário, dão-se folhas individuais para
desenvolver as tarefas, assim como instruções para as completar. Estes
elementos encontram-se no final do modulo.

Comentários e sugestões
Esta é a sua oportunidade para nos dar sugestões e fazer comentários
sobre a estrutura e o conteúdo do curso / módulo. Os seus comentários
serão úteis para nos ajudar a avaliar e melhorar este curso / módulo.
Sociologia Geral Código: A0017 3

Habilidades de estudo
Caro estudante, procure olhar para você em três dimensões
nomeadamente: o lado social, profissional e estudante, daí ser importante
planificar muito bem o seu tempo.
Procure reservar no mínimo 2 (duas) horas de estudo por dia e use ao
máximo o tempo disponível nos finais de semana. Lembre-se que é
necessário elaborar um plano de estudo individual, que inclui, a data, o
dia, a hora, o que estudar, como estudar e com quem estudar (sozinho,
com colegas, outros).
Evite o estudo baseado em memorização, pois é cansativo e não produz
bons resultados, use métodos mais activos, procure desenvolver suas
competências mediante a resolução de problemas específicos, estudos de
caso, reflexão, etc.
O manual contém muita informação, algumas chaves, outras
complementares, daí ser importante saber filtrar e apresentar a
informação mais relevante. Use estas informações para a resolução dos
exercícios, problemas e desenvolvimento de actividades. A tomada de
notas desempenha um papel muito importante.
Um aspecto importante a ter em conta é a elaboração de um plano de
desenvolvimento pessoal (PDP), onde você reflecte sobre os seus pontos
fracos e fortes e perspectivas o seu desenvolvimento.
Lembre-se que o teu sucesso depende da sua entrega, você é o
responsável pela sua própria aprendizagem e cabe a ti planificar,
organizar, gerir, controlar e avaliar o seu próprio progresso.

Precisa de apoio?
Caro estudante, temos a certeza de que por uma ou por outra situação, o
material impresso, lhe pode suscitar alguma dúvida (falta de clareza,
alguns erros de natureza frásica, prováveis erros ortográficos, falta de
clareza conteudística, etc.). Nestes casos, contacte o tutor, via telefone,
escreva uma carta participando a situação e se estiver próximo do tutor,
contacte-o pessoalmente.
Os tutores têm por obrigação, monitorar a sua aprendizagem, dai o
estudante ter a oportunidade de interagir objectivamente com o tutor,
usando para o efeito os mecanismos apresentados acima.
Todos os tutores têm por obrigação facilitar a interacção, em caso de
problemas específicos ele deve ser o primeiro a ser contactado, numa fase
posterior contacte o coordenador do curso e se o problema for da natureza
geral, contacte a direcção do CED, pelo número 825018440.
Os contactos só se podem efectuar, nos dias úteis e nas horas normais de
expediente.
As sessões presenciais são um momento em que você caro estudante, tem
a oportunidade de interagir com todo o staff do CED, neste período pode
apresentar dúvidas, tratar questões administrativas, entre outras.
Sociologia Geral Código: A0017 4

O estudo em grupo, com os colegas é uma forma a ter em conta, busque


apoio com os colegas, discutam juntos, apoiem-me mutuamente,
reflictam sobre estratégias de superação, mas produza de forma
independente o seu próprio saber e desenvolva suas competências.
Juntos na Educação à Distância, vencendo a distância.

Tarefas (avaliação e auto-avaliação)


O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e auto-
avaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é importante
que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues antes do período
presencial.
Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não
cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do
estudante.
Os trabalhos devem ser entregues ao CED e os mesmos devem ser
dirigidos ao tutor/docentes.

Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa, contudo os


mesmos devem ser devidamente referenciados, respeitando os direitos do
autor.
O plagiarismo deve ser evitado, a transcrição fiel de mais de 8 (oito)
palavras de um autor, sem o citar é considerado plágio. A honestidade,
humildade científica e o respeito pelos direitos autorais devem marcar a
realização dos trabalhos.

Avaliação
Você será avaliado durante o estudo independente (80% do curso) e o
período presencial (20%). A avaliação do estudante é regulamentada com
base no chamado regulamento de avaliação.
Os trabalhos de campo por si desenvolvidos, durante o estudo individual,
concorrem para os 25% do cálculo da média de frequência da cadeira.
Os testes são realizados durante as sessões presenciais e concorrem para
os 75% do cálculo da média de frequência da cadeira.
Os exames são realizados no final da cadeira e durante as sessões
presenciais, eles representam 60%, o que adicionado aos 40% da média
de frequência, determinam a nota final com a qual o estudante conclui a
cadeira.
A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de: (a) admissão ao exame,
(b) nota de exame e, (c) conclusão do módulo.
Nesta cadeira o estudante deverá realizar: 3 (três) trabalhos; 2 (dois)
testes escritos e 1 (um) exame escrito.
Sociologia Geral Código: A0017 5

Não estão previstas quaisquer avaliações orais.


Algumas actividades práticas, relatórios e reflexões serão utilizadas como
ferramentas de avaliação formativa.
Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em
consideração: a apresentação; a coerência textual; o grau de
cientificidade; a forma de conclusão dos assuntos, as recomendações, a
indicação das referências utilizadas, o respeito pelos direitos do autor,
entre outros.
Os objectivos e critérios de avaliação estão indicados no manual.
Consulte-os.
Alguns feedbacks imediatos estão apresentados no manual.
Sociologia Geral Código: A0017 7

Unidade N0 01-A0017
Tema: Senso Comum versus
Conhecimento Científico
Introdução
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Distinguir o senso comum do conhecimento científico.


Objectivos  Perceber quais os obstáculos a construção do conhecimento científico
e a importância desta ruptura.

Sumário
A vida em sociedade está de alguma forma dependente do conhecimento
que os grupos sociais possam produzir no tempo para se perpetuar
entanto que grupo social, ou seja, uma comunidade de pessoas que vivam
juntas e de modo organizado. Existe em toda e qualquer sociedade duas
(2) formas de conhecimento, sendo por um lado o chamado senso comum
e o conhecimento científico por outro lado. Representam formas de
tentativa de explicação da realidade social, mais tendo como base
premissas completamente diferentes; daí que resultado destas análises
será em princípio sempre diferente, apesar de incidir sobre a mesma
realidade social.

Senso Comum, é uma forma de conhecimento popular, que se refere a


um conjunto vasto de opiniões, conselhos, práticas e normas relativas a
vida social, ou seja, ele diz respeito aos princípios populares normativos
que se baseia na tradição e costumes quotidianos. Esta forma de
conhecimento não se justifica nunca pelo discurso coerente e estruturado
que seja possível confirmar a partir de métodos científicos, mais pelo
contrário é a vivência que o fundamenta sempre as suas recomendações.
Nesta forma de conhecimento, a realidade social surge aos olhos da
maioria das pessoas como facilmente explicável e compreensível.

Apesar de não ser um conhecimento metódico, este representa uma forma


válida para explicação da realidade social a um certo nível, pois
representa uma resposta do homem ao seu contexto, além de servir de
ponto de partida para construção do próprio conhecimento científico, que
a partir de métodos científicos busca analisar a regularidade dos factos
observados na sociedade e a partir daqui criar-se um conhecimento
passível de confirmação pela testagem dado que o mesmo é regular.
Sociologia Geral Código: A0017 8

O Conhecimento Científico é uma forma de construção de saberes sobre


a realidade social a partir do processo de investigação, obedecendo a
certos princípios metodológicos. É um processo que se dá através de uma
relação entre teoria, observação e interpretação dos factos observados. É
um conhecimento que resulta duma produção ou construção que o
pesquisador faz a volta realidade social a partir de um conjunto de
preposições articuladas sistematicamente.

Obstáculos ao Conhecimento Científico

O conhecimento científico representa uma leitura da realidade social


numa base não valorativa e desapaixonada, em que prevalece acima de
tudo a busca da verdade científica dos factos observados, ou seja, tentasse
aproximar cada vez mais da realidade em si, uma vez que em ciência o
alcance da verdade é quase que impossível. Assim, o pesquisador deve na
análise da realidade não deixar que as suas opiniões pessoais possam
interferir na sua análise, pois que assim procedendo estaria a interferir no
resultado, isto é, distorção dos factos e falta de objectividade que deve
marcar a ciência.

Os obstáculos mais comuns a construção do conhecimento científico são:


naturalismo, individualismo e etnocentrismo. Naturalismo, é a tendência
de se explicar os factos sociais invocando causas metasociais, ou seja, é a
descrição e interpretação da sociedade a partir de elementos
naturais/físicos e biológicos. A partir do naturalismo, buscasse explicar o
comportamento de certos grupos sociais, considerando que estes
comportamentos são naturais a determinado grupo social, área
geográfica, etc. Assim, tais características acabam sendo inquestionáveis
por si considerar que são “naturais”. Por exemplo: quando se diz que os
homens ou mulheres pensam assim. Não se percebe que o
comportamento de homens e mulheres nada tem de natural, mais que pelo
contrário resulta da socialização.

Individualismo, contrariamente ao naturalismo podemos ver o este como


sendo uma abordagem que considera que a sociedade é a simples soma de
indivíduos e que cada um destes agem apenas tendo em vista a
prossecução dos seus objectivos singulares, e não vendo que o indivíduo
é produto da própria sociedade, inclusive as suas escolhas são
socialmente determinadas. Assim, pensar que as acções individuais
resultam pura e simplesmente das vontades singulares, é não perceber o
funcionamento da própria sociedade em que cada um se encontra, e nem
que estas são realidades inseparáveis.

Etnocentrismo, este obstáculo ao conhecimento científico pode ser visto


como a tendência ou atitude de se sobrevalorizar a cultura de grupo social
a que pertençam os sujeitos, e a consequente desvalorização ou
depreciação dos outros grupos sociais diferentes. Os valores do grupo
sujeito é que são considerados como norma ou universais para análise da
estrutura e práticas sociais de outros povos. Por conseguinte, o
pesquisador de forma implícita acaba reproduzindo esta realidade o que
lhe impede de buscar o conhecimento sobre funcionamento de certa
realidade social, em resultado dos preconceitos que possui.
Sociologia Geral Código: A0017 9

Assim, de forma a nos livrarmos destes obstáculos a produção do


conhecimento científico é importante seguir certos passos que em geral
podem-se resumir a chamada dúvida metódica que consiste em
questionar todo conhecimento e não assumir estes como verdade já dada
e absoluta. Esta permite que as ideias do senso comum não influenciem o
nosso pensamento, daí que deve ser uma atitude constante, ou seja, a
ruptura com senso comum não se dá de uma única vez, mais pelo
contrário constantemente.

A primeira condição é a ruptura com senso comum, em que nos


colocamos de lado as evidências aparentes que nos são dadas pelo
conhecimento do senso comum, pois expressam meras opiniões. A
segunda é construção do objecto de análise, após a ruptura com senso
comum investigador procura construir o seu objecto de análise a partir de
teorias explicativas sobre determinado facto. A terceira tem a ver com a
verificação, em que faz-se o confronto entre as teorias e com o facto
observado de forma a determinar se de facto aquilo que diz a teoria pode
explicar o facto observado e em que medida.

Exercícios

Auto-avaliação 1 – Estabelece a diferença entre senso comum e conhecimento científico?

Resposta: Senso comum, é um conhecimento popular, que se baseia num


conjunto de opiniões, conselhos, práticas e normas relativas a vida social,
baseado na tradição e costumes quotidianos. Enquanto Conhecimento
Científico é uma forma de conhecimento que se baseia na construção de
saberes sobre a realidade social a partir do processo de investigação,
obedecendo a princípios metodológicos.

2- Indique e explique os obstáculos a produção de conhecimento


científico que conhece?

Resposta: os obstáculos são: naturalismo que tem a ver com a tendência


de explicar a realidade social a partir de elementos naturais, físicos e
biológicos. Individualismo considera que indivíduo é uma entidade que se
sobrepõe a sociedade, para além de serem realidades completamente
distintas. Etnocentrismo, a tendência de se sobrevalorizar a cultura de
grupo social, e a consequente desvalorização dos grupos diferentes.

3- Aponte as condições para se livrar dos obstáculos ao conhecimento


científico?

Resposta: as condições são: ruptura com senso comum que é por de lado
as ideias do senso comum e não aceitar como verdades dadas, construção
do conhecimento científico e a verificação dos factos da teoria.
Sociologia Geral Código: A0017 10

Unidade N0 02-A0017
Tema: Surgimento da Sociologia
Introdução
O surgimento da Sociologia entanto que ciência autónoma é processo que
ser buscada no contexto do surgimento de outras ciências sociais. Neste
sentido, como ciência autónoma esta surge por volta de 1839, altura em
que Auguste Comte no IV volume do seu livro Curso de Filosofia
Positiva forjou este termo. É assim que ele é considerado o pai, por ter
sido o primeiro a usar este termo. Contudo, foi com Emilé Durkheim que
esta passou a ser vista como ciência entanto que tal, ao defender que esta
estudava os factos sociais, que é o seu objecto de estudo e possui
características próprias que são diferentes dos estudados pelas ciências
ditas naturais.

Ao completar esta unidade, o estudante deverá ser capaz de:

 Explicar o surgimento da Sociologia até sua constituição como


disciplina académica.
Objectivos
 Identificar os precursores

Sumário
Falar do surgimento da Sociologia, mostra-se como um exercício não só
bastante complexo, mais também interdependente, pois que esta se
encontra directa e indirectamente ligada a outras disciplinas e
acontecimentos sócio-históricos diversos. Assim, é impossível falar do
surgimento da Sociologia sem recorrer ao passado e aos clássicos que em
termos históricos podemos situar fora desta disciplina, mais cujo
pensamento estruturante pode aqui ser enquadrado.

A Sociologia surge por volta de meados do século XIX após revolução


burguesa na Inglaterra no século XVII, e iniciada a revolução francesa no
final do século XVIII. Foram estes 2 movimentos revolucionários que
implantaram o processo liberal que deu sustentação ao desenvolvimento
de modo de produção capitalista e Estado Burguês no ocidente. A
complexidade da sociedade moderna é resultado de um processo histórico
que inclui sujeitos, objectivos e resultados por vezes não esperados, que
produzem fenómenos sociais complexos.
Sociologia Geral Código: A0017 11

Com as revoltas populares na Europa por estas alturas, desenvolve-se


também a Sociologia, pelas “mãos” da modernidade, ou seja, do mundo
moderno na tentativa de analisar e explicar então os factos que ocorrem
por esta altura. Porque os pensadores desta época eram mais orientados
para acção e não uma simples compreensão dos fenómenos sociais que
ocorriam nesta altura, vemos que precursores desta vão ser buscados na
filosofia, política, entre outras áreas. Estes consideravam que os
fenómenos novos deveriam ser percebidos, para se poder analisar o
funcionamento da própria sociedade e introduzir mudanças consideradas
necessárias.

Por conseguinte, entende-se que esta surge como resultado de uma


tentativa de intervenção objectiva e directa sobre a sociedade e não a
simples compreensão de situações sociais radicalmente novas da
sociedade capitalista. Assim, pode-se entender a seu crescimento
suscitado pelo seu aparente papel na correcção da sociedade, quando na
verdade a ela não tem como agir directamente sobre a realidade social e
indivíduos, sim explicar a razão de certos comportamentos manifestados.

Podemos afirmar que a trajectória desta disciplina está directamente


ligada ao diálogo constante que estabelece com a sociedade capitalista.
Ela não se contenta em observar, mais antes questionar a razão da
ocorrência de certos fenómenos sociais e as consequências destes na
estruturação da própria sociedade.

Precursores da Sociologia
Para se afirmar como tal, esta surge a partir da contribuição de vários
autores que são situados quer seja na filosofia, política, economia, etc;
visto que estes fenómenos ocorrem necessariamente dentro da sociedade.
Assim, iremos apresentar alguns destes pensadores, que mesmo estando
ligeiramente fora da Sociologia deram um grande contributo e suas
abordagens fazem deles verdadeiros precursores por estudarem os
fenómenos sociais.

Nicolau Maquiavel
Pensador sobejamente conhecido pelo sua importante obra o príncipe que
representa uma espécie de tratado para os governantes, pois que nele
buscava aconselhar ao príncipe como adquirir e conservar o poder
quando o adquirisse, daí que fim último da política era a conquista e
manutenção do poder. Um dos seus objectivos era o de conseguir criar
regras de acção para os dirigentes/governantes, por considerar que a
natureza humana era algo imutável daí que se poderia prever situações
futuras e estabelecer regras ou leis da política.
Outro aspecto que inquietava este autor e que se ligava a política era
perceber os factores que levam um Estado a ser forte ou fraco, os
elementos que fomentam a liberdade, como se obtêm, mantém e se
exerce o poder. Portanto seu interesse é o homem social e político, ou
seja, em sua palavras o bom cidadão. Para ele, o Estado era uma entidade
política soberana interna e externamente, que se caracterizava por ser um
Estado monárquico onde predominava o poder real, isto é, o principado.
Sociologia Geral Código: A0017 12

Contrariamente aos demais pensadores, ele tem uma visão bipartida dos
regimes políticos em que existia República e a Monarquia/Principado,
sendo que a Monarquia era governada segundo vontades de um único
indivíduo (soberano singular) e enquanto que a República era dirigida
segundo vontade colectiva de muitas ou poucas pessoas (soberano
colectivo). Maquiavel contrariamente aos demais, não considerava a
existência de governos bons ou maus, são ou degenerados, pelo contrário
dizia que não havia governos ilegítimos, mais apenas que uns eram mais
convenientes do que os outros diante de certas circunstâncias sociais.
Um aspecto igualmente importante nele tem a ver com a separação clara
entre a Igreja e Política, por serem incompatíveis, daí defender que actos
considerados imorais pela religião podiam ser usados a bem do próprio
Estado, pois fins justificam os meios.

Thomas Hobbes
O contexto sócio-histórico em que vive que foi marcado por inúmeros
conflitos e guerras religiosas marcaram em grande medida sua forma de
pensar e analisar a sociedade, razão pela qual ele se interessa bastante em
manter a paz. Seu ponto de partida é que o homem antes da formação da
sociedade vivia num estado de luta permanente de todos contra os todos
para aquisição de poder. Assim, a única saída era estabelecimento do
contrato social em que cada indivíduo se abstinha de usar o poder contra
o outro, como forma de garantir a ordem social.
Para Hobbes, para se garantir o cumprimento deste acordo era entregue a
uma entidade superior e soberana fora deste contrato que é o Estado. Este
tinha o poder legítimo de usar a força para cada indivíduo que não
cumprisse ou com o contrato. O Estado tinha por conseguinte como tarefa
fundamental a garantia da defesa nacional e a segurança interna, ou seja,
defender os seus cidadãos contra ataques externos e garantir que nenhum
deles violasse o contrato social internamente. O Leviatã representava uma
autoridade superior, isto é, o Estado e que detém o monopólio da força
física para impor a ordem sempre que necessário.
Na sua visão, o Estado era um órgão de poder que tinha em vista manter
o respeito e dirigir acções no sentido de garantir benefício comum. Era
um poder soberano que resultava dum acordo entre os indivíduos em que
cada um cedia o seu direito de governar-se a si mesmo, autorizando todas
as acções deste em troca da garantia da paz e segurança.
Sua definição de Estado é: uma pessoa cujo os actos uma grande
multidão, mediante pactos recíprocos uns com os outros, foi instituída
por cada um como autora, de modo a poder usar a força e todos os
recursos de maneira que usar conveniente para assegurar a paz e defesa
comum.

John Locke
É considerado como pai fundador da moderna ciência política, ideologias
liberais e bem como filosofia empiricista, apesar de ter escrito sobre
vários assuntos tais como a filosofia da mente e política, metafísica,
epistemologia e educação. Locke, considerava que o homem possuía
Sociologia Geral Código: A0017 13

direitos naturais tais como a vida, a liberdade, a propriedade, e que para


garantir estes os homens criaram então os governos. Por conseguinte,
caso os governos não assegurassem estes direitos as pessoas podiam
obviamente se rebelar, contestar e derrubar o governo que era definido
como “um consentimento dos governados em relação a uma autoridade
constituída e ao direito natural do ser humano”. (Locke, op cit. in:
Ferreira; 1995; pp. 35-36).
Sua teoria política tem como questão central Os Tratados sobre o
Governo Civil, em que refuta de forma clara a ideia de Filmer que
defendia que o poder dos reis era absoluto e divino, por advir de Adão
que é o pai da humanidade. Para ele, o poder paternal que supostamente
advinha de Adão não devia pois ser confundido com o poder político,
visto que o primeiro tem sempre um carácter temporário ou transitório e é
anterior a constituição da sociedade, pelo que não se submete a lei
positiva, mais sim a lei natural.
Para que um governo fosse verdadeiro no sentido por si defendido,
deveria basear-se na legitimidade, consentimento dos próprios cidadãos
que adivinha de um contracto social. Assim, a legitimidade era aspecto
fundamental que justificava o poder e diferenciava um príncipe legítimo e
um usurpador. Por conseguinte o consentimento expresso, a constituição
e suas regras eram aspectos que garantiam a própria legitimidade, e que
por sua vez esta pressupunha limites ao poder político.
O poder de Estado deveria necessariamente estar confiado em 3 mãos:
Legislativo em que a faculdade do poder consiste na capacidade de fazer
leis, Executivo que consiste na capacidade de aplicar as leis aos casos
concretos quer seja através da administração pública e tribunais, e
Federativo que consiste na condução do Estado nas suas relações com
exterior. Neste sentido, o poder absoluto era totalmente incompatível com
a sociedade civil, visto que o soberano acumula todos os poderes e
impede o apelo ou arbitragem independente.

Jean Jacques Rosseau


É um dos defensores do contracto social como elemento fundador da
sociedade, mais que contrariamente a Hobbes, diz que o homem no
estado natureza era virtuoso e a vida em sociedade é que criava estes
vícios tais como: avareza, honra e cupidez; daí que o progresso da
sociedade levava a degeneração e corrupção do homem, uma vez que
realização destes vícios era feita a custa da humilhação e dominação dos
outros. A sociedade resulta de um contracto social em que a partir de um
Estado justo, se busca defender o indivíduo e seus bens, através de
normas e regras sociais bem claras.
Em Rousseau não temos o problema de conflito de poder e muito menos
a sua arbitragem, pois tal seria absurdo na medida em que as partes
contratantes são idênticas. Pelo contrato social, o indivíduo põe a sua
pessoa e poder sob comando da vontade geral (que representa a soma das
vontades individuais e nunca a vontade de todos) e o corpo político é
formado de vários indivíduos tal quanto o número de votantes na
assembleia. Vontade geral tem um sentido duplo, pelo facto de ser
conjunto de decisões tomadas numa assembleia de iguais e em que todos
Sociologia Geral Código: A0017 14

participam activamente, sem quaisquer compromissos e limites por um


lado, e por outro lado pela agregação de opiniões de cada um dos
indivíduos.
Deste modo o indivíduo submete-se não a assembleia e sim a lógica do
próprio modelo de contrato social. Por conseguinte, a Assembleia
representa o soberano e se ela decide de modo errado põe em causa a si
mesma, pelo que cada indivíduo tinha o dever de ter e manifestar a sua
própria opinião. Assim, a soberania não era e nem podia nunca ser
representada, pois que a delegação do poder era incompatível com a
igualdade entre os indivíduos. De modo sucinto, isto representa uma
democracia directa e não representativa.

Charles de Montesquieu
Ele pode ser enquadrado na corrente iluminista, tendo a particularidade
de ser o autor que procurou definir de forma rigorosa a sociedade,
tentando apresentar causas concretas para certos fenómenos particulares,
ou seja, ele buscou estabelecer as leis da coisas, dos factos ou fenómenos
observados. Portanto esta análise representa um pensamento sociológico
puro e só não foi assim classificado pois que nesta altura ainda não
existia tal termo. As leis que Montesquieu analisa são leis científicas e
com clara intenção de estabelecer relações de causalidade entre
fenómenos sociais.
Neste sentido, vemos que ele procura relacionar as leis de uma sociedade
e a estrutura da própria sociedade, como forma para analisar e poder
explicar o seu funcionamento e perspectivar futuro. Sua teoria política
defendia o princípio da divisão de poderes e foi bastante influente na
redacção de grande parte das constituições liberais. Seu ideal de
pensamento resulta da sua oposição e recusa as práticas das instituições
políticas, abusos da Igreja católica e Estado Absolutista da França.
Assim, o poder legislativo, executivo e judicial deveriam estar
necessariamente separados, por forma a que cada um pudesse controlar a
acção dos outros poderes em caso de abuso.
Para Montesquieu, haviam dois aspectos fundamentais a considerar
quando se fala dos governos sendo o princípio que é o que põe os
governos em movimento (o princípio motor em linguagem
filosófica) constituído pelas paixões e necessidades dos homens, e a
natureza que é aquilo que faz um governo ser o que é, determinado
pela quantidade daqueles que detêm a soberania.

Assim, ele distingue formas de governo com base no princípio e natureza


tendo a seguinte tipologia: Monarquia - soberania nas mãos de uma
só pessoa (o monarca) segundo leis positivas e o seu princípio é a
honra; Despotismo - soberania nas mãos de uma só pessoa (o
déspota) segundo a vontade deste e o seu princípio é o medo;
República - a soberania está nas mãos de muitos (de todos =
democracia, ou de alguns = aristocracia) e o seu princípio motor é a
virtude.
Sociologia Geral Código: A0017 15

É igualmente importante notar que existiam formas puras de


governo que eram Monarquia que é governo de um só,
Aristocracia que é governo de vários e a Democracia que é
governo do povo. E em contraposição existiriam formas impuras
tais como a Tirania que representa a degeneração ou corrupção da
Monarquia; Oligarquia que é a degeneração da Aristocracia e a
Demagogia que é a corrupção da Democracia.

Por último, convém assinalar que Montesquieu não defendia a


igualdade entre os indivíduos e sim a eliminação ou redução dos
poderes absolutos do rei, para salvaguardar os interesses da sua
classe que era a nobreza.

Exercícios

1 – Quais os acontecimentos históricos que explicam o surgimento da


Sociologia?
Auto-avaliação
Resposta: foram dois os acontecimentos que levaram surgimento da
Sociologia nomeadamente a Revolução Burguesa na Inglaterra no
século XVII, e a Revolução Francesa no final do século XVIII, em que
dada a complexidade dos fenómenos sociais surgidos, houve necessidade
de perceber e explicar dentro da sociedade moderna, para se fazerem as
mudanças julgadas necessárias.

2- Indique os precursores da Sociologia que conhece?

Resposta: os precursores da Sociologia que conheço são: Maquiavel,


Hobbes, Locke, Rousseau e Montesquieu.
Sociologia Geral Código: A0017 16

ade N0 03-A0017
Definição da Sociologia e seus Fundadores
o
Como já dissemos antes a Sociologia resulta de um processo histórico bastante complexo que
tem a ver com as mudanças profundas na sociedade moderna ligadas a revolução Francesa e a
Burguesa na Inglaterra, pelo que podemos afirmar em certa medida que ela “é uma ciência da
crise”. Mais do que conhecermos o historial desta, é necessário termos conhecimento objectivo
desta em termos de definição e bem como os fundadores entanto que ciência e não mero
conhecimento.
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

ectivos  Definir a Sociologia.


 Identificar de forma clara o objecto de estudo da Sociologia e
suas características.
 Identificar os pensadores considerados fundadores da
Sociologia.

o
Definição

A sociologia propriamente dita é fruto da Revolução Industrial, e nesse sentido é chamada de


“ciência da crise” – crise que essa revolução gerou em toda a sociedade europeia. Ela é fruto de
toda uma forma de conhecer e pensar a natureza e a sociedade, que se desenvolveram a partir do
século XV, quando ocorreram transformações significativas como a expansão marítima,
reformas protestantes, a formação dos Estados nacionais, as grandes navegações e o comércio
ultramarino, bem como o desenvolvimento científico e tecnológico que desagregaram a
sociedade feudal, dando origem à sociedade capitalista.

Conceptualmente, podemos entender a Sociologia como o estudo científico das relações sociais,
das formas de associação, destacando-se os caracteres gerais comuns a todas as classes de
fenómenos sociais, fenómenos que se produzem nas relações de grupos entre seres humanos.
Estuda o homem e o meio ambiente em suas interacções recíprocas.
Sociologia Geral Código: A0017 17

Ela se baseia em estudos objectivos que melhor podem revelar a verdadeira natureza dos
fenómenos sociais. Ela é desta forma, o estudo e o conhecimento objectivo da realidade social.
Como exemplos, podemos citar a formação e desintegração de grupos, a divisão da sociedade em
camadas ou classes sociais, a mobilidade de indivíduos e grupos nas camadas sociais, processos
de competição e cooperação, exclusão social e desigualdades sociais, entre outros aspectos.

Objecto de Estudo

A definição de toda e qualquer disciplina é dependente se não mesmo correlativa da definição do


seu objecto de estudo, ou seja, indicação clara daquele aspecto que ela procura analisar dentro da
sociedade a partir de métodos e técnicas que lhe sejam específicas.

Assim, a Sociologia quando se definiu como ciência indicou como seu objecto de estudo o
chamado facto social que pode ser definido objectivamente como sendo: toda maneira de sentir
ou agir, fixa ou não que seja susceptível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior que
seja geral numa determinada sociedade, tendo uma existência própria independetemente das
manifestações individuais que possa ter.

De forma simples ou elementar facto social refere-se a fenómenos que ocorrem dentro de uma
sociedade e que sejam gerais e com interesse social. Foi um termo introduzido por Émile
Durkheim, considerado um dos fundadores da Sociologia. O facto social para assim poder ser
considerado possui determinadas características tais como: generalidade, exterioridade, e
coerção. Generalidade: quer dizer que o acto é praticado por todos os membros daquela
sociedade em concreto, Exterioridade: o acto existe fora do indivíduo, pois não depende deste,
Coercibilidade: o acto se impõe ao indivíduo de modo que este é obrigado a fazer sem
questionar.

Existem actos que assim podem ser considerados e outros não mesmo que ocorram na sociedade,
tal como dormir, beber água, chorar que apesar de acontecerem na sociedade não podem ser
assim classificados. Um exemplo de facto social que podemos dar é prostar-se sentido e em pé a
quando da entoação do hino nacional dum país, este acto é geral (generalidade) porque todos os
membros de tal sociedade assim o fazem, é exterior (exterioridade) porque está fora do indivíduo
e não depende da sua vontade e por fim é coercivo (coercibilidade) por obrigar ou levar com que
o indivíduo proceda de um modo que do contrário não seria possível e portanto o obriga.

Fundadores da Sociologia

Ao falar-se de fundadores da Sociologia que regra geral aparecem durante o século XIX, temos a
assinalar diferenças fundamentais entre pensadores alemães, franceses e britânicos no que se
refere as suas abordagens, marcados obviamente pelos acontecimentos tanto anteriores e bem
como os da época.
Sociologia Geral Código: A0017 18

Augusto Comte

É um pensador que deixou um legado importante para a Sociologia contemporânea, e que apesar
de tal feito as opiniões a este respeito são relativamente divergentes, havendo quem considere
como pai da Sociologia ao lado de outras figuras sonantes tais como Marx, Durkheim, e Weber;
e outros que lhe conferem um papel secundário neste processo. Ele teve a particularidade de ser
pioneiro na aplicação do método positivo no estudo das ciências sociais, tentando aplicar o
estatuto e idoneidade das ciências naturais as c.sociais.

Assim, foi dele quem passou a chamar a Sociologia de “ciência da sociedade”, exactamente por
usar métodos científicos iguais aos das c.naturais. Ele igualmente traçou modelos de explicação
sociológica e bem como estabelecer a relação da religião com a ciência, que são factos que
vieram a ser aprofundados posteriormente pela mão de outros pensadores. O método positivista
proposto por este autor implicava que se estudasse os factos a partir de uma observação
sistemática e verificação dos postulados/preposições; o que representa uma clara ruptura com a
simples especulação que caracteriza a filosofia e religião por exemplo.

O seu pensamento pode ser resumido no princípio da lei de 3 Estados por ele proposto, que diz
que pensamento humano passa necessariamente por 3 fases ligadas a evolução das sociedades
assim ordenadas crescentemente: 1ª fase Pensamento Não-Científico ou Estado Teológico em
que a explicação dos fenómenos é atribuída aos seres sobrenaturais que intervêm de forma
arbitrária sobre o universo. O pensamento baseia-se exactamente na especulação, e estado
teológico é típico de sociedades militares.

2ª Fase Estado Metafísico ou Abstracto, é uma etapa de transição em que são criados entidades
abstractas tais como a natureza para poderem explicar os fenómenos observados (fazia-se culto
da natureza), deixando de lado os seres sobrenaturais do estado teológico. As especulações ainda
persistem, mais que são aproveitadas como ponto de partida para desenvolvimento de teorias. A
3ª fase Estado Positivo ou Real, em que o homem observa os fenómenos e procura estabelecer
entre eles relações regulares, sem contudo buscar as causas primordiais dos acontecimentos. O
objectivo fundamental nesta fase é o de criar leis ou regularidades que regem o comportamento
dos indivíduos.

Émile Durkheim

É considerado pela maioria dos autores e pensadores como sendo o verdadeiro “Pai da
Sociologia”pelo seu contributo na fundação da uma nova ciência que é a chamada ciência dos
factos sociais, através da criação de um método e constituição de um corpo teórico próprio da
Sociologia, distanciando-se da “tutela” a Filosofia. Seu pensamento tenta estabelecer a relação
fundamental entre indivíduo e sociedade e a partir daqui olhar as oposições binárias entre por
exemplo a consciência colectiva e consciência individual, etc. visto que este é simultaneamente
um ser individual e um ser social.

Este seu pensamento teve várias influências dentre as quais de Fustes Coulanges, Boutroux e
obviamente Auguste Comte. Em seu entender os fenómenos da sociedade todos poderiam ser
Sociologia Geral Código: A0017 19

explicados cientificamente, o que permitiria que a Sociologia encontrar neles causalidade e


formular regras de acção futura. Para tal, indicou que o objecto dela seria o facto social, que
possui 3 características (generalidade, exterioridade e coercibilidade) fundamentais que fazem
dele objecto de estudo científico.

Outra questão fundamental em Durkheim é que o facto de considerar que para observação
sociológica eram necessárias algumas regras sendo a 1ª ver os factos como coisas: por estarem
fora dos indivíduos e não dependerem da vontade deste e serem objectivos, 2ª Sistematicamente
de lado as Pré-Noções: implica não se deixar induzir pelos preconceitos ou ideias do senso
comum na análise científica dos fenómenos.

3ª Ter em Conta o Conjunto dos Fenómenos: não olhar apenas o fenómeno em si, mais dentro de
um conjunto de relações com outros fenómenos do mesmo grupo ou classe, pois que na realidade
social os factos não se encontram isolados ou fechados em si; mais pelo contrário em relação
directa ou não com outros da mesma espécie. A 4ª Separar os fenómenos das Manifestações
Individuais: esta regra está de algum modo ligada a primeira, diz que na análise dos factos
sociais, deve-se esforçar em analisá-los sobre um ângulo separado das manifestações dos
próprios indivíduos.

Por último, este autor diz que na sociedade existem factos normais e os patológicos, cada um
destes é definido em cada sociedade e época específica. Normais são os que ocorrem sempre em
qualquer tipo de sociedade ao longo do tempo, sendo então percebidos pelos actores sociais deste
contexto. Contrariamente os patológicos são factos não gerais que também ocorrem na
sociedade, sendo praticadas por uma parte da sociedade e representa um desvio em relação ao
padrão de comportamento social.

Max Weber

A linha de pensamento deste autor representa uma tentativa de conciliação de posições


divergentes no debate de reflexão social. Ele estava interessado essencialmente em perceber o
sentido da acção dos indivíduos em sociedade, ou seja, isto porque a sociedade é para ele “um
conjunto de indivíduos em que cada um pratica a sua acção a partir dos outros, ou seja, a acção
social”. A acção social significa que as escolhas ou atitudes dos indivíduos, são sempre
influenciadas pelos outros, no sentido de que cada indivíduo antes de agir pensa no outro e é este
pensar no outro que acaba definindo a sua decisão.

No seu entender e contrariamente a outros autores do seu tempo considera que era impossível o
estabelecimento de leis ou regras gerais nas ciências sociais, visto que a história da sociedade é
dada pela dinâmica das relações entre indivíduos e a sua compreensão implica analisarmos estes
indivíduos, através de métodos que se mostrem eficazes para tal análise. Assim, nega que a
Sociologia deveria estabelecer leis gerais, mais pelo contrário buscar a compreensão da própria
sociedade. Igualmente diz que ao compreendermos cada sociedade não devemos ter excesso de
particularismo.
Sociologia Geral Código: A0017 20

Seu pensamento é enquadrado na chamada Sociologia Compreensiva, no sentido de buscar a


compreensão interpretativa da acção social e seus sentidos, pois que cada indivíduo atribui
sentido as suas acções. Portanto tal sentido da acção não seria atribuído pelo observador
(sociólogo), mais sim pelo indivíduo que protagoniza esta. Deste modo, a Sociologia faria uma
compreensão interpretativa da acção social e chegar a explicações causais e possíveis efeitos da
mesma.

Ainda segundo o autor, na acção social existe um elemento social importante que é o poder não
como um aspecto de autoridade, mais sim no sentido que o indivíduo pode impor a sua vontade
numa acção. Os indivíduos a partir de métodos próprios vão adquirindo uns mais do que os
outros, o que faz com que surja então o capitalismo e consequente transformação da sociedade.

Ao colocar o trabalho como actividade acima de tudo e todos, os homens assumem


necessariamente que devem servir a alguém e daqui resulta que o trabalho será elemento de
alienação e consequente divisão destes em classes sociais; em que uma será detentora de tudo e
outra de nada, que levará esta última a servir a primeira.

Karl Marx

Destaca-se por ter vivido no século XIX e ser considerado como sendo economista e sociólogo
do regime capitalista, tendo uma teoria sobre este regime, situação em que colocava os
indivíduos e bem como o seu destino/fim último. Em seus textos podemos encontrar abordagens
sociológicas interessantes, sobre questões que caracterizam a sociedade de seu tempo. Em seu
entender, no processo de produção social da própria existência, os homens entram em
determinadas relações necessárias, independentemente da sua vontade.

Estas relações de produção correspondem a determinado desenvolvimento das forças produtivas


materiais. A totalidade das relações produtivas correspondem a estrutura económica da sociedade
e é a base a partir da qual se eleva a superstrutura jurídica e política que representam formas
sociais específicas de consciência. Portanto, no pensamento deste autor o modo de produção
material condiciona o processo de vida social, político e intelectual de uma sociedade. Quer
dizer, não é a consciência dos indivíduos que determina o seu ser, mais pelo contrário é o ser
social que determina a sua consciência.

Assim, a dada altura de desenvolvimento social as forças produtivas da sociedade se contradizem


com as relações de propriedade existentes e onde elas se desenvolveram, surgindo a partir daqui
entraves nestas relações. Ele concebe então que a história de toda e qualquer sociedade é a
história de luta de classes, e que desta luta resulta numa transformação revolucionária de toda
sociedade ou pela destruição de ambas classes.
Sociologia Geral Código: A0017 21

ios

1 – Define a Sociologia?
avaliação Resposta: Sociologia como o estudo científico das relações sociais,
das formas de associação, destacando-se os caracteres gerais
comuns a todas as classes de fenómenos sociais, fenómenos que se
produzem nas relações de grupos entre seres humanos.
2- Define o objecto de estudo da Sociologia e aponte suas
características principais?
Resposta: facto social é toda maneira de sentir ou agir, fixa ou não
que seja susceptível de exercer sobre o indivíduo uma coerção
exterior que seja geral numa determinada sociedade, tendo uma
existência própria independemente das manifestações individuais
que possa ter. As características são: generalidade (acontece com
todos membros da sociedade), exterioridade (está fora do indivíduo
e não depende deste) e coercibilidade (é obrigatório que o
indivíduo o faça independetemente da sua vontade).
3- Indique os fundadores da Sociologia?
Resposta: os fundadores da Sociologia são: Augusto Comte, Émile
Durkheim, Max Weber e Karl Marx.
Sociologia Geral Código: A0017 22

ade N0 04-A0017
Teorias Sociológicas Contemporâneas
o
Existem diferentes teorias que marcam a Sociologia entanto que ciência social, sendo que parte destas
encontram-se directamente ligadas a parte dos pensadores que foram anteriormente estudados por nós tais
como: Marx, Weber, Durkheim, entre outros. Assim, falar das teorias sociológicas contemporâneas
implica contextualizar as linhas ou tendência de debate que marcam esta na actualidade. São abordagens
actuais que nos ajudam a ler os factos sociais das sociedades contemporâneas a luz de novos fenómenos
que vão ocorrendo nestas e que as anteriores teorias teriam de certo modo dificuldades em explicar, pelo
que estas se mostram como uma alternativa ao fenómeno.
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

ectivos  Indicar algumas das abordagens contemporâneas da Sociologia.

o
A Teoria Funcionalista

O que caracteriza as teorias funcionalistas na análise da sociedade, é o facto de considerarem que quer
conscientemente ou não as instituições e fenómenos sociais desempenham uma determinada função na
própria sociedade ou contexto do qual provém, e que só pode m ser devidamente entendidos se tivermos
em conta este contexto de emergência. Para alguns autores, este conceito de função elaborado por esta
teoria é considerado problemático em dois sentidos, visto que por um lado quando se fala de função tem-
se a ideia que todo e qualquer elemento e instituição neste meio é útil, necessário e indispensável a
sobrevivência ou manutenção da sociedade como um todo.

Por outro lado, a noção de função leva em conta o facto de determinado elemento ou instituição pode
aparentar não desempenhar nenhuma função por não servir os interesses de ninguém, pois não serve os
interesses de nenhum agente ou grupo social, mas contudo este elemento ou instituição possui sim uma
utilidade oculta, mais que acaba contribuindo em grande medida para a preservação, harmonia e
funcionamento da própria sociedade.
Neste sentido, o funcionalismo admite por hipótese que os diferentes elementos da sociedade encontram-
se em relação uns com os outros e que cada um destes quer de modo consciente ou não desempenha uma
função para a sobrevivência da própria sociedade, ou seja, cada elemento pode parcialmente ajudar a
explicar os outros e simultaneamente ser explicados por estes.
Sociologia Geral Código: A0017 23

Por conseguinte, seguindo este argumento funcionalista percebemos que qualquer mudança num dos
elementos do sistema social, leva invariavelmente a alteração de toda sociedade, visto que este elemento
desempenha uma função que pode ser manifesta ou oculta e contribui para subsistência da totalidade.

Teoria Voluntarista da Acção


Esta teoria foi exposta por Talcott Parsons em forma de comentários as obras de pensadores economistas
e sociólogos tais como: Marshall, Durkheim, Pareto e Weber. Parsons, analisou criticamente os
pensamentos destes autores e a partir daqui formulou a sua teoria voluntarista da acção, considerando que
toda acção humana não se resume a uma resposta a um determinado estímulo (tal como defendiam os
behavioristas) mais pelo contrário como uma acção dotada de sentido para o próprio indivíduo, e que este
sentido pode ser diferente daquele atribuído por quem observa.

Assim, cada acto está ligado a outros actos em forma de rede, pelo que dá-nos a noção de sistema
concebida como uma rede de relações. Os sistemas teriam duas propriedades nomeadamente por um lado
o facto de criarem relações sociais a partir de expectativas que se impõem aos actores sociais nas relações
mútuas que estabelecem, e por outro o grupo em si, olhando a maneira como é instituída e preservada a
própria coesão do grupo. A sociedade era para este autor um sistema que se estrutura a partir da
diferenciação e interdependência simultaneamente. Como sistema, a sociedade teria uma estrutura que
seria a parte estável, que permanece além das mudanças; e a função seria o aspecto integrador e dinâmico
do próprio sistema.

ios

1 – Dentre as teorias sociológicas contemporâneas diferencie a


Funcionalista da Voluntarista da Acção?
avaliação
Resposta: A teoria Funcionalista está baseada no conceito de função,
considerando que quer conscientemente ou não as instituições e
fenómenos sociais desempenham uma determinada função na própria
sociedade ou contexto do qual provém, e que só pode ser devidamente
entendidos se tivermos em conta este contexto de emergência, pois que
estes se encontram em relação com outros elementos desta sociedade.
Enquanto que a teoria Voluntarista da Acção considera que a sociedade é
um sistema e que toda e qualquer acção humana é dotada de sentido tanto
para o próprio indivíduo e bem como aos demais, pois que a sociedade é
simultaneamente um meio de diferenciação e interdependência entre os
indivíduos.
Sociologia Geral Código: A0017 24

ade N0 05-A0017
Teorias Sociológicas da Interacção Social
o
Falar sobre a interacção social é no fundo definir aquilo que é a vida em sociedade, que se resume a um
processo eminentemente social, na medida para podermos conviver com os nossos semelhantes temos que
estabelecer normas de conduta para cada um dos membros. Isto implica dizer que cada um de nós deve
ser capaz de atribuir sentido tanto as suas acções e bem como as dos demais, por forma que se possa
comunicar.
Ao completar esta unidade, você será capaz de:
Sociologia Geral Código: A0017 25

ectivos
 Perceber o conceito de interacção social e a sua importância no
dia á dia nas relações entre os indivíduos.
(a)

o
As acções humanas sempre guiadas pela necessidade dos indivíduos poderem se relacionar entre
si, por forma a garantir a sua reprodução tanto social e como biológica. Para que tal seja possível,
é necessário que os membros de uma sociedade partilhem os mesmos valores e crenças, por
forma a que possa orientar suas acções tendo em conta as expectativas dos demais. As teorias
interaccionistas, aparecem por volta dos anos 50 nos EUA, e tem a particularidade de colocarem
o indivíduo como referência da problemática da relação sociedade e indivíduo.

TEORIA INTERACIONISMO SIMBÓLICO DE GEORGE MEAD

Este pensador tem a particularidade de começar a sua teoria se opondo ao behaviorismo e para
tal faz uma clara distinção entre formas de comportamento dos infra-humanos (que se refere aos
animais irracionais e crianças) e formas de comportamento humanos. O elemento fundamental e
determinante para esta distinção está na linguagem, que é vista como expressão da capacidade
reflexiva dos indivíduos. Nas palavras do autor “a pessoa tem um carácter distinto do organismo
fisiológico propriamente dito. A pessoa é algo que possui desenvolvimento: não está
inicialmente presente no nascimento, mas surge nos processos da experiência e das actividades
sociais, quer dizer, desenvolve-se na sequência das suas relações…” (Mead; 1934: 135, op cit.
in: Ferreira et al, 1995: 297)

Mead opera a partir de três conceitos fundamentais nomeadamente: Mind, Self e Society. Self
seria o próprio indivíduo, enquanto que mind a consciência reflexiva e society seria o contexto
em que acção se desenvolve, ou seja, society era a actividade social. Sua questão fundamental
era a de perceber como é que se forma e se desenvolve o self, pelo qual os indivíduos adquirem a
consciência reflexiva e de que modo é que actividade social é determinante nesta construção.

A resposta a esta questão seria segundo Mead estaria na singularidade da actividade social, que
radica na existência de símbolos, ou seja, é partir dos símbolos e com os símbolos que os
indivíduos interagem e atribuem sentido a sua própria experiência com os demais. Mais a
aquisição de símbolos não seria uma coisa natural como parece, mais pelo contrário resultaria do
processo de socialização em que pela linguagem as pessoas adquirem as normas, crenças,
valores, etc; o que lhes permite por conseguinte viver na sociedade.

A socialização dava-se na perspectiva de Mead em três fases distintas sendo a primeira fase a
mais primitiva da construção do self e caracteriza pela imitação de papéis sociais, em que a
Sociologia Geral Código: A0017 26

criança busca imitar as pessoas que lhes são próxima e normalmente são os pais. Segunda fase é
a chamada fase de jogo, em que a criança adquire a capacidade interpretativa, em que a partir da
aprendizagem das diferentes expressões da linguagem ele é capaz de diferenciar os objectos a
sua volta rotulando-os, e ao fazer partilha com os demais o significado e sentido destes objectos.

A última fase é a da representação em que se caracteriza pela necessidade de organizar e


assumir dentro da experiência individual a perspectiva dos outros. Quer isto dizer que o
indivíduo deve saber qual é o seu papel social e que este deve ser reconhecido em si pelos
demais membros da sociedade. A sociedade não passaria de um processo comunicacional
desenvolvido pela interacção simbólica dos indivíduos. É aqui onde os indivíduos partilham
significados comuns (pois ela é uma actividade cooperativa).

Teoria Dramatúrgica do Quotidiano de Erving Goffman

Este pensador apresenta uma perspectiva relativamente diferente de Mead, pois que ele busca ver
como é que se organiza a experiência do quotidiano, ou seja, o modo como um actor social pode
colocar na sua mente em termos de experiência e não da organização da sociedade. Isto não
implica dizer de modo algum que Goffman ignore as dimensões macroestruturas da sociedade,
mais pelo contrário, que seu objectivo era pura e simplesmente analisar a estrutura de relação
entre dois ou mais indivíduos numa situação de co-presença física.

Portanto, seu objectivo é tornar analiticamente viável o estudo dos fenómenos de interacção face
a face, por serem questões reais e não abstractas e tal como qualquer fenómeno social merecia
ser estudado cientificamente. Goffman considerava que na interacção social em situações de co-
presença física os aspectos tidos como do domínio meramente íntimo, privado e de natureza
singular do indivíduo, é algo que é regulado socialmente.

Goffman considera que a interacção social não é necessariamente uma simples actividade
cooperativa entre os indivíduos, que garante a adaptação do indivíduo a sociedade, mais pelo
contrário é a representação pela qual o eu (o indivíduo singular) se transforma em vários eu
(outros indivíduos). Segundo ele, a vida em sociedade era equiparada ao teatro em que os
indivíduos quando actuam desempenham determinados papéis de várias personagens; pelo que
estes usariam diferentes estratégias e técnicas de actuação.

Assim, ele diz que existem níveis do palco onde decorre a fachada/encenação, nomeadamente o
front que é conjunto de elementos que permite a quem assiste a peça/cena identificar
concretamente a acção, que dependem dos adereços pessoais (personal front) para identificação
da personagem, a aparência (appearence) que tem a ver com postura, tipo de roupa, etc. que
indica claramente o estatuto social da personagem e os modos (manners) que mostram o tipo de
papel que actor irá desempenhar.
Sociologia Geral Código: A0017 27

Em segundo lugar encontramos settings que são as características físicas do cenário que serve
para sustentar a credibilidade dos adereços pessoais. Quer dizer, se o cenário de encenação
sugere uma igreja, é suposto que pelo modo de estarem vestidos e agir, se possa reconhecer nos
actores um padre, acólito, e crentes. E por último o backstage que é o local em que o público não
tem acesso e personagem pode agir a seu belo prazer, pois já não tem que usar máscara por se
encontrar longe do olhar do público.

Neste sentido, para Goffman, a interacção social para além de ser essencialmente um processo de
acção comunicativa, depende do modo como o indivíduo interpreta o universo simbólico por
forma a preservar a sua própria identidade. Pode-se então resumir a perspectiva deste autor
mostrando que:
a) A sociedade organiza-se segundo o princípio de que todo indivíduo que possui certas
categorias sociais, tem o direito moral de esperar que os outros o valorizem e o tratem
de modo adequado.

b) O indivíduo que implícita ou explicitamente pretende ter certas categorias sociais deverá
comportar-se na realidade de acordo com aquilo que diz ser.

c) O indivíduo tem sempre um conhecimento tácito das normas e das regras que regem uma
determinada situação social.

d) O indivíduo interage consigo e com os outros através de um processo comunicativo


mediatizado pela sua capacidade interpretativa do seu universo simbólico em que se
insere.” (Ferreira et al., idem; 305).

Assim, para este autor a cada situação de co-presença física poderíamos encontrar diferentes
tipos de interacção social que podem ser ocasião social que é um acontecimento que se percebe
como uma unidade que se dá no momento e lugar específico, tal como num espectáculo.
Situação social que é o controlo recíproco que surge no momento em que dois ou mais
indivíduos se encontram em co-presença física tal como durante uma reunião de trabalho ou
aula.

E por último o encontro social que resulta de uma situação em que sem que os indivíduos a
tenham previsto se reparam mutuamente, tal como acontece num autocarro. O que faz a
interacção social para este autor vai ser portanto a necessidade de interagir com os demais em
sociedade por um lado e por outro a de se distinguir e singularizar dos demais, ou seja, é um
processo de gestão da própria identidade social, através da adequação da imagem virtual/ideal á
imagem real/efectiva (que é aquilo que o indivíduo acredita ter de diferente em relação e que o
diferencia dos outros).

Daqui resulta um aspecto importante também abordado por Goffman e também pela Sociologia
em grande medida que é o estigma, que corresponde a um atributo que para além de pessoal é
igualmente uma forma de designação social, na medida em que corresponde a uma relação entre
Sociologia Geral Código: A0017 28

um atributo e um estereótipo social que permite estabelecer diferenças entre indivíduos. Portanto,
o autor considera que a sociedade é que estabelece meios de categorizar as pessoas, a partir de
certos meios considerados comuns e naturais para os membros destas categorias.

É a partir do estigma que algumas pessoas são ou não consideradas normais ou patológicas, quer
seja pelo tipo de comportamentos (ser homossexual, alcoólatra, drogado, maluco etc.), traços
físicos (ser cego, anão, deficiente físico, etc.) e aspectos sociais como a religião, nacionalidade,
etc; que servem de condição para que as pessoas sejam ou não aceites em determinados meios
sociais. Isto acontece não porque o estigma (o traço em si) seja ou tenha algo de errado, mais sim
pelo facto de que a socialmente ele é assim visto em cada sociedade.

Deste modo, um estigma pode servir para juntar os indivíduos portadores deste traço por se
considerarem excluídos em relação a uma outra maioria numa certa sociedade.
É assim que o estigma pode então ser manipulado pelo próprio indivíduo em função do contexto
em que se encontra a interagir, pois que ele pode ou não fazer corresponder a imagem real e a
ideal.
Sociologia Geral Código: A0017 29

ios

1 – Mead no seu estudo da interacção social centrou-se na relação entre


indivíduo e sociedade. Como é que se dava a socialização segundo este?
avaliação
Resposta: Para este autor, a socialização dava-se em três fases
distintas sendo a construção do self que se caracteriza pela
imitação de papéis sociais (a criança busca imitar as pessoas que
lhes são próxima e normalmente são os pais), segue-se a fase de
jogo, em que a criança adquire a capacidade interpretativa, isto a
partir da aprendizagem das diferentes expressões da linguagem ele
é capaz de diferenciar os objectos a sua volta rotulando-os, e ao
fazer partilha com os demais o significado e sentido destes
objectos. Por último, a da representação que se caracteriza pela
necessidade de organizar e assumir dentro da experiência
individual a perspectiva dos outros, quer isto dizer que o indivíduo
deve saber qual é o seu papel social e que este deve ser reconhecido
em si pelos demais membros da sociedade.

2- Qual a razão de Goffman apelidar a sua teoria de dramatúrgica?

Resposta: Goffman assim apelidou a sua teoria pelo facto de que a


interacção no seu entender se assemelhar a uma peça de teatro, em
que pelo facto de decorrer num palco os actores apenas
representam um determinado papel, e que este papel deve pelos
seus traços e local em que decorre permitir distinguir o actor a
situação ou seja o papel, e que este personagem quando fora do
palco volta ser ele mesmo.
Sociologia Geral Código: A0017 30

ade N0 06-A0017
As Desigualdades Sociais
o
É absolutamente impossível falarmos da Sociologia sem fazer alusão a questão das desigualdades sociais,
uma vez que este fenómeno para além de ser tratado em profundidade por esta disciplina é algo presente
em toda e qualquer sociedade, para além de constituir preocupação dos governos, havendo medida
políticas próprias para se combater este mal social.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Definir o conceito de desigualdade social.


ectivos
 Identificar os tipos de desigualdades sociais.

o
Falar sobre desigualdades sociais implica antes de mais a sua correcta definição desta entanto que
conceito, uma vez que esta pode ser vista em diferentes dimensões, o que dificulta ainda mais a sua
conceptualização.
Em geral devemos perceber que a desigualdade social não se refere a uma simples diferença entre
indivíduos, uma vez que certas diferenças entre indivíduos de uma sociedade podem se mostrar
irrelevantes em termos sociológicos, visto que elas podem não influenciar de modo algum as posições
sociais que estes ocupam na estrutura da sociedade. Assim, para se falar de desigualdades sociais no
sentido sociológico é necessário que tais diferenças entre indivíduos impliquem de algum modo desigual
acesso aos bens, serviços e oportunidades, e que cuja causa explicativa se encontre nos mecanismos da
própria sociedade.

Na literatura a desigualdade social tem diferentes asserções, dependendo do ponto de vista de


cada autor. Por exemplo, Roger Girod diz que desigualdade social “consiste na repartição não
uniforme, na população de um país ou de uma região, de todos os tipos de vantagens e
desvantagens sobre as quais a sociedade exerce uma qualquer influência.” (Girod, 1984: 3; op
cit. In: Ferreira, idem: 325). Numa perspectiva semelhante, Anthony Giddens olha esta como
“um conjunto de desigualdades estruturadas entre diferentes grupos de indivíduos.” (Giddens,
1993: 212; op cit. In: Ferreira, ibidem).
Sociologia Geral Código: A0017 31

Olhando para estas abordagens destes autores pode-se então perceber que é a sociedade quem
cria e estabelece esta e por conseguinte ela não seria algo natural. Assim, pode-se definir então a
desigualdade social como sendo uma diferença socialmente criada e condicionada aos bens e
serviços, ou seja, aos recursos dentro de uma sociedade. Quer isto dizer que a possibilidade dos
indivíduos dentro de uma sociedade poderem ter mais ou menos riqueza, ocuparem posições de
direcção e chefia, etc., é por vezes já condicionada pela própria sociedade. Ela pode ser
analisada tanto sob ponto de vista individualista (centrada no sujeito) e colectivista (ao nível do
grupo).

Tipos de Desigualdades Sociais


As desigualdades sociais podem ser analisadas olhando para as tipologias que a constituem em
diferentes tipos, podendo estas ser as desigualdades Socioeconómicas em que o aspecto
desigualitário entre indivíduos ou grupos tem a ver com o acesso que estes tem aos bens e
serviços na sociedade, que é condicionado pela riqueza, rendimentos e bem como o nível de
vida.

Também encontramos as desigualdades Socioprofissionais que tem a ver com o tipo de profissão
que os sujeitos desempenham, posição destes perante a propriedade (ser dono ou trabalhador),
poder de decisão na empresa, diferença de nível de escolaridade e qualificação profissional.
Podemos identificar outro tipo de desigualdades que escapa a esta lógica económica e
profissional que é a de Género que está directamente ligada ao facto dos indivíduos pertencerem
a determinado sexo biológico que tanto pode ser masculino ou feminino.

Neste sentido, as vantagens e desvantagens que possam ocorrer na sociedade, resultam


necessariamente do facto de existirem direitos e oportunidades específicas a cada um destes
grupos. Encontramos ainda as desigualdades de Idade em que o factor estruturante são as idades,
ou seja, o facto de ser jovem ou idoso pode conferir determinados privilégios aos sujeitos. Temos
ainda a desigualdade de Raça e Etnia em que como já diz o próprio nome, a raça de cada
indivíduo e bem o grupo étnico a que este pertence é elemento fundamental para ceder ou não
privilégios a estes.
É importante notar que estes tipos de desigualdades aqui apresentados não se encontram
objectivamente separados, mais pelo contrário estes regra geral operam em estreita ligação, ou
seja, é possível num determinado momento para um indivíduos de uma certa idade, raça,
condição económica, profissão e sexo serem restringidos aos bens e serviços na sociedade em
que se encontrem.
Sociologia Geral Código: A0017 32

ios

avaliação 1 – De acordo com seus conhecimentos, define desigualdades sociais ?


Resposta: De acordo com os conhecimentos adquiridos posso
definir a desigualdade social como sendo uma diferença
socialmente criada e condicionada aos bens e serviços, ou seja, aos
recursos dentro de uma sociedade.
2- Indique e explique os tipos de desigualdades sociais que
conhece?
Resposta: existem vários tipos de desigualdades sociais
nomeadamente: a Socioeconómica que tem a ver com diferenças
entre indivíduos ou grupos no acesso aos bens e serviços na
sociedade. Socioprofissionais tem a ver com o tipo de profissão que
os sujeitos desempenham, posição destes perante a propriedade (ser
dono ou trabalhador), poder de decisão na empresa, diferença de
nível de escolaridade e qualificação profissional. De género está
ligada ao facto dos indivíduos serem do sexo masculino ou
feminino. Idade a idade é factor de desigualdades, isto é, ser jovem
ou idoso confere certos privilégios aos sujeitos. E por último a de
Raça e Etnia tem a ver com a raça de cada indivíduo e o grupo
étnico de cada indivíduo.

ade N0 07-A0017
Teoria de Classes Sociais e Estratificação Social
o
A questão das classes sociais e bem como estratificação social não se modo algum novas na
sociologia entanto que abordagens teóricas e muito menos como fenómenos com manifesta
Sociologia Geral Código: A0017 33

presença e visibilidade social ao longo dos tempos. Regra geral, esta questão tem sido de algum
modo incluída na discussão a volta das desigualdades sociais, quando no fundo são questões
distintas apesar de intimamente ligadas entre si.
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

ectivos  Identificar as principais teorias sociológicas sobre classes sociais e


estratificação social.

o
Existem inúmeras teorias sobre as classes sociais e estratificação, sendo que estas vem desde já
há bastante tempo, tendo como traço comum o facto de inspiram-se em Marx, que como
sabemos é uma das referências incontornáveis na Sociologia, que na sua abordagem a volta da
sociedade defendia que esta se encontrava dividida em classes sociais. Assim, em maior ou
menor grau as teorias sobre classes sociais ligam-se a Marx, e outras estão ligadas a outro
influente na Sociologia que é Weber com a sua teoria de estratificação social; e por fim temos as
chamadas teorias mistas por juntarem elementos quer sejam de Marx e de Weber.

A Teoria Marxista

Para Marx, as classes sociais como tendo uma realidade na sociedade que resulta naturalmente
do processo produtivo, em que os indivíduos estabelecem entre si relações sociais de produção,
que se encontram enraizadas na infra-estrutura económica. A definição de classe é relacional na
medida em que estas encontravam-se inter-relacionadas no seu processo produtivo e por
conseguinte a definição de uma classe e bem como a consciência de pertencer a esta por parte
dos indivíduos era feita na relação com a outra.
Estas classes apesar de se relacionar entre si, possuíam uma relação eminentemente conflituosa,
visto que os interesses que cada uma deles defende e almeja eram antagónicos. Nesta processo de
produção em que estas classes se relacionavam havia uma que explorava e domina a outra, e que
esta domínio resultava da posse dos meios de produção. A burguesia era a classe que possuía
meios de produção e por conseguinte explorava o proletariado que apenas detinha a mão-de-
obra. Assim, a burguesia era a classe dominante e o proletariado a dominada.

Teoria Neomarxista
Sociologia Geral Código: A0017 34

Tal como nome já sugere, esta teoria tem seu fundamento em Marx, com a particularidade de
possuir dois grandes objectivos nomeadamente resolver algumas das lacunas contidas na
abordagem de Marx que tem a ver como dificuldades resultantes dos critérios objectivos de
identificação de classes sociais por um lado, e por outro trazer e situar teoricamente alguns dos
aspectos novos trazidos pelo século XX para identificação de classes nas sociedades
contemporâneas.
Segundo esta teoria, relativamente aos pontos difíceis da obra de Marx para indicação de classes,
consideram que os mesmos tem a ver com o inacabamento da obra deste autor, ou seja, Marx não
chegou a concluir esta questão na sua obra o que abre espaço para diferentes interpretações.
Contudo, esta teoria diz que para o autor não era apenas a posse dos meios de produção que
permitiam a identificação de classes, mais também aspectos tais como a ideologia e política
ajudam a identificar as classes sociais. Apesar de existirem outros aspectos que interferem na
determinação de classes sociais, era efectivamente a economia o factor determinante.
Neomarxista consideram que nas sociedades contemporâneas a determinação de classes sociais
tem a ver com factores mistos tais como a economia (processo de produção), os aspectos
políticos e ideológicos que perfazem a chamada super estrutura. Portanto, segundo estes autores
por vezes o aspecto político e ideológico isoladamente permitiam por si só determinar a
existência de classes sociais. Um outro ponto relevante trazido por estes autores e que não estava
previsto pela abordagem marxista tem a ver com a classe média, que para além de ser um
fenómeno novo na época contemporânea, passou a ter visibilidade e importância social.
Igualmente temos segundo os neomarxistas grupos sociais que não são nem burgueses e nem
proletários, tendo em conta as características que apresentam tal como o facto de serem gestores
de empresas, possuírem formações académicas que lhes conferem algumas vantagens na
sociedade, entre outros aspectos.

Teoria Funcionalista da Estratificação


Esta teoria tem como seu pressuposto básico que a desigualdade social é algo que se encontra
enraizado na sociedade, de tal modo que não existe uma sociedade que possa sobreviver em
perfeitas condições de igualdade entre os seus membros. Assim, as desigualdades sociais seriam
úteis e necessárias uma vez que permitiam uma interdependência entre os indivíduos e por
conseguinte esta garantiria o dinamismo e integração dos indivíduos. Portanto, ao invés de ser
um mal a desigualdade social era útil e necessária.
A sociedade comporta profissões com uma importância funcional diferente, sendo que existem
profissões mais e menos importantes, para além de que só determinadas pessoas possuíam
aptidões para desempenhar certas actividades. Assim, é no seu funcionamento normal que a
sociedade vai se estratificando ou criando desigualdades sociais, uma vez que ela confere
importância diferencial aos indivíduos que ocupam determinados cargos e assim criam-se
desigualdades. É exactamente isto que faz a sociedade sobreviver e integrar os seus membros,
pois que passam a existir pessoas para ocupar todas as profissões na sociedade.
Estes autores definem então a estratificação social como sendo um “conjunto de recompensas
diferenciais. São os diferentes recursos, materiais ou simbólicos que as sociedades atribuem aos
Sociologia Geral Código: A0017 35

indivíduos em função da posição que ocupam , que os vai situar na escala de estratificação e
configurar o mecanismo de desigualdades.” (Ferreira, ibidem; 354). Ainda segundo esta teoria, a
estratificação social em diferentes sociedades e épocas não são de modo algum equivalentes, pois
que cada uma delas atribui importância diferente a cada profissão, o que explica o prestígio que
cada uma destas possa ter em cada sociedade ao longo do tempo.

ios

avaliação 1 – Quais as teorias de desigualdade e estratificação que conhece?


Resposta: as teorias de desigualdade e estratificação que conheço são:
Marxista, Neomarxista e a Funcionalista de Estratificação.

ade N0 08-A0017
Processo de Mobilidade Social
o
Mobilidade social é um dos aspectos que igualmente caracteriza o debate sociológico a
semelhança de questões tais como a desigualdades sociais, interacção social, classes sociais,
entre outros aspectos. É indubitavelmente um dos aspectos que pese embora não seja perceptível
a todos no dia-a-dia ou tenha tratamento por parte de todos os teóricos, existe em toda e qualquer
sociedade
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

ectivos  Definir o conceito de mobilidade social.


 Identificar os conceitos a ele relacionados.
Sociologia Geral Código: A0017 36

o
Conceito de Mobilidade Social

A discussão a volta da mobilidade social entanto que fenómeno observável em toda e qualquer
sociedade é antigo e não recebe a mesma conceitualização por parte dos diferentes pensadores
em épocas e contextos diferentes. Existe autores que consideram que este é um processo que
depende apenas do esforço do próprio indivíduo, outros consideram que esta varia de acordo
com o tipo de organização ou grupo social e finalmente os que consideram que esta não ocorre
sendo que a regra é a manutenção nos lugares sociais em que já se encontram, devido a um
mecanismo poderoso de reprodução dos grupos.

Esta diferenciação nas abordagens, é explicada em parte pela percepção sobre o próprio conceito
de mobilidade social. De forma bastante simplista podemos ver este como sendo uma mudança
de posição social, isto quer dizer, como os indivíduos fazem parte de grupos, classes ou estratos
na sociedade eles podem passar de uma posição ascendente para uma descendente ou o inverso.
Tal mudança ocorre durante a vida de um indivíduo ou em várias gerações, podendo representar
um acto biográfico isolado ou organizado a partir da acção de um grupo de indivíduos, tendo
como resultado o melhoramento (ascendência) ou agravamento (descendência) das condições de
vida.

A mobilidade também pode ser realizada de uma zona geográfica (migrações) a outra, ser algo
fortuito ou uma realidade constante, sendo que apesar destas circunstâncias ela invariavelmente
tem a ver com mudança de lugar, posição, estatuto socioeconómico, etc. Se não delinearmos
claramente este conceito, corremos o risco de classificar todo e qualquer processo como sendo de
mobilidade social. Outro aspecto importante aos que os teóricos chamam atenção é que a
mobilidade tem a ver com tipo de sociedade, sendo que existem contextos ditos fechados em que
as possibilidades desta ocorrer já estão a priori limitadas.

São sociedades em que o nascimento do indivíduo num certo grupo, equivale a um destino pré
traçado, os valores culturais dos grupos que constituem esta sociedade são claramente
diferenciados o que dificulta ainda mais a sua assimilação por parte dos outros. Inversamente
temos sociedades ditas abertas em que as chances de mobilidade existem tanto para os grupos e
bem como aos indivíduos dada a estrutura da própria sociedade, os traços culturais se
assemelham, as desigualdades são de facto e não de direito, entre outros aspectos. Isto mostra
que existem sociedades mais móveis do que outras tendo em conta as suas especificidades.

Por tudo quanto foi aqui dito a volta da mobilidade entanto que processo social, convém então
definir este, podendo ser visto como a passagem de um indivíduo ou grupo de uma posição
social para outra, dentro de uma constelação de grupos e estratos sociais, e que tanto pode ser
ascendente ou descendente na sociedade.
Sociologia Geral Código: A0017 37

Conceitos Auxiliares da Mobilidade Social

Fora dos conceitos teóricos sobre mobilidade social, existem vários termos operatórios que
ajudam a explicar e perceber o fenómeno a vários níveis. Assim, temos a mobilidade vertical e a
horizontal, que pressupõem uma escala hierárquica na sociedade. Vertical pressupõe uma
mudança na classe ou estrato que seja vista como subida ou descida/ascendente ou descendente
dentro da escala social. Enquanto que a Horizontal é a mudança de localização que não implica
qualquer tipo de alteração social, tal como uma mudança de profissão ou de região/habitação.
Encontramos a mobilidade Intrageracional e a Intergeracional, que tal como o próprios nomes
dizem apontam para uma mudança que indivíduo ou grupos fazem ao longo do seu ciclo de vida
e bem como transmissão de estatuto entre diferentes gerações. Intrageracional é a mobilidade
que um único indivíduo realiza, enquanto que Intergeracional é a mobilidade que um indivíduo
realiza na relação com outro ou grupo de indivíduos.
Podemos falar de mobilidade Estrutural que é quando há uma evolução geral da sociedade como
um todo (exemplo a mudança do sistema produtivo na sociedade) e mudança não tem a ver com
vontade de um único sujeito e sim com mecanismos estruturais da sociedade. Mobilidade
Líquida representa o oposto da anterior, pelo que existem indivíduos que por vontade própria
mudam de posições devido a sua iniciativa individual. Temos ainda a mobilidade Bruta ou Total
que é no fundo a junção das duas anteriores, sendo que ela ocorre tanto por mudanças ou
mobilidades que acontecem por factores ou razões estruturais e bem como por iniciativa
individual.

ios

avaliação 1 – Define o conceito de mobilidade social?


Resposta: Existem diferentes asserções a volta deste conceito, sendo que
objectivamente este é definido como sendo uma passagem de um
indivíduo ou grupo de uma posição social a outra, dentro de uma
constelação de grupos e estratos sociais, podendo esta ser ascendente ou
descendente na sociedade.
Sociologia Geral Código: A0017 38

ade N0 09-A0017
Teorias sobre Mobilidade Social
o
Apesar de ser uma questão antiga e com presença na sociedade ao longo dos tempos, a
explicação em termos teóricos da mobilidade social entanto que processo não tem sido tão
simples o seu enquadramento nas teorias sociológicas. Isto decorre em parte do facto dela não
estar no centro das atenções dos clássicos debates do século XIX, visto que pensadores tais como
Marx, Durkheim, Weber, Pareto, entre outros terem se debruçado a volta de outros temas tidos
como de maior impacto.
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

ectivos  Identificar as principais teorias de mobilidade social.

o
Dentre as teorias existentes sobre a mobilidade social temos a destacar em primeiro plano a
marxistas e da reprodução e a funcionalistas.

A Teoria Marxista e da Reprodução

Segundo esta teoria que tem fundamento na sociedade classista dividida entre os detentores dos
meios de produção e não detentores vemos que os modos de produção para poderem se
reproduzirem dependem dos mecanismos de dominação de classe, ligados aos interesses das
Sociologia Geral Código: A0017 39

classes dominantes capitalistas ou não. Podem ser instrumentos de dominação económica,


política e ideológica.
Uma vez que a sociedade está estruturada em classes sociais com interesses claramente
contraditórios, as relações entre estas classes são caracterizadas como relações baseados no
poder, e assim para se poder manter na situação de domínio os burgueses devem obviamente
desenvolver estratégias que garantam o seu domínio de forma contínua ao longo do tempo por
forma a perpetuar o sistema.
Ainda segundo Marx, entre as classes haviam um grau de mobilidade social que acabava criando
uma dinâmica na própria sociedade. Na classe dominada os indivíduos tendiam a investir
individualmente na ascensão social criando deste modo uma fragilidade dentro do grupo com
redução da consciência colectiva; pelo que era a classe dominante que aproveitando-se deste
factor acabava por reforçar cada vez mais ainda o seu domínio, pois que indivíduos da classe
dominada passavam a fazer parte da classe dominante reforçando este grupo.
Outro autor que igualmente usa o pensamento de Marx na linha da reprodução de classes é Pierre
Bordieu que considera que para além da reprodução da classe dominante ao nível económico
pela herança dos meios de produção, também temos a reprodução sócio cultural que é garantida
pela escola, entanto que instrumento desta reprodução.
No essencial as teorias de reprodução social põem de lado a questão da mobilidade social, uma
vez que esta é vista como um factor que para além de limitado por se dar numa escala baixa, tem
a ver com indivíduos isoladamente e não acaba com a estrutura de desigualdade social existente
num determinado contexto.

Teorias Funcionalistas
Esta teoria assenta na ideia de que a sociedade é feita por estratos sociais distintos, sendo que
cada um destes de algum modo desempenha uma função dentro do sistema de forma relacional
com os demais grupos.
Segundo Sorokin um dos defensores desta corrente, diz que em primeiro lugar a estratificação
era algo inevitável, pois que por um lado a sociedade necessitava de um conjunto de ocupações
cuja importância colectiva era diversa conforme fossem tarefas de coordenação ou não, e por
outro lado o desempenho de certa ocupação exigia competências particulares. Por conseguinte,
era aceitável que para certos cargos sociais de destaque houvesse mais privilégios e poder.
Em segundo lugar, a reprodução da sociedade era garantida através dos “mecanismos de
orientação”, em que se avaliam as necessidades da estrutura social e seleccionam-se indivíduos
para ocuparem tais lugares. Este mecanismo era funcional para a estabilidade do sistema.
Daqui resulta uma elevada mobilidade social individual e a consequente composição fluida dos
grupos ocupacionais. Ele considera ainda que se numa determinada sociedade a classe dominante
não canaliza parte dos privilégios e paralise a circulação social/mobilidade social, poderá por em
causa a dinâmica da própria sociedade.
Era necessário que houvesse a mobilidade para permitir que alocação apropriada de talentos para
certas posições sociais.
Sociologia Geral Código: A0017 40

ios

avaliação 1 – Diferencie a teoria marxista ou de reprodução de mobilidade e a


teoria funcionalista?
Resposta: a teoria marxista ou de reprodução considera que a mobilidade
era um fenómeno insignificante, uma vez que era vista como factor
limitado por se dar numa escala baixa, e ter a ver com indivíduos
isoladamente. Ele não acabava com a estrutura de desigualdade
social existente num determinado contexto, pelo contrário
reforçava o domínio e reprodução da classe dominante.
Teoria funcionalista considera que a estratificação era algo
inevitável, e por conseguinte a mobilidade social era útil e
necessária pois que permitia que indivíduos dotados e capacitados
pudessem ocupar posições fundamentais e que equivalem
igualmente aos melhores privilégios. Assim, parar a mobilidade
social era por em causa a dinâmica da própria sociedade e seu
funcionamento normal pois não teria quadros capacitados para
ocupar certas posições.
Sociologia Geral Código: A0017 41

ade N0 10-A0017
Desigualdades Sociais nas Sociedades
mporâneas
o
Em contextos contemporâneos é difícil falar-se de desigualdades sociais tendo em conta apenas os
elementos teóricos trazidos pelas abordagens marxistas e outras que punham a tónica na questão da
diferenciação classista tida como que fundamental. Dada a dinâmica do mundo actual, estes elementos
tornam-se de difícil visualização e classificação de tais classes em si, pois que existem novos valores que
são usados e que definem situações de classe.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

ectivos  Identificar alguns dos eixos explicativos da questão da diferenciação


social de classes nas sociedades contemporâneas.

o
As alterações ocorridas na estrutura da sociedade como um todo no século XX originaram novos
debates a volta da questão da desigualdade social, uma vez que houve mudança do tipo de
actividades económicas predominantes (tal como a passagem duma economia industrial para
uma de serviços), mudança na composição dos grupos sociais (redução de pessoas ligadas a
indústria para uma nova classe média), e aumento da intervenção do Estado como regulador
económico e social, etc.

Novos Eixos de Diferenciação de Classes

A sociedade contemporânea é marcada por um dinamismo peculiar que faz dela uma realidade
diferente sob de vista analítico, pois que novos fenómenos implicam novas estratégias de
abordagem.
1º Nível de Inserção Socioeconómica
Sociologia Geral Código: A0017 42

É importante darmos atenção a questão económica ou a posição dos indivíduos nas relações de
produção. Neste sentido, deve-se ter em conta a profissão que indivíduo desempenha e bem
como o nível salarial por forma a se ter noção da classe em que enquadrar.
2º Nível de Autoridade na Profissão
Deve-se ter em atenção o nível de autoridade incorporado na situação socioprofissional dos
indivíduos, em que o indivíduo dirige, faz o controlo de uma organização ou não. É comum
vermos pessoas que dirigem mesmo não sendo proprietário das empresas.
3º Nível Educacional ou Qualificação dos Indivíduos
Este elemento é fundamental para que os indivíduos possam em certo momento aceder a um
nível de autoridade na profissão e inserções em vários meios e bem como acesso a formas de
propriedade. Os diplomas académicos são elementos importantes nas sociedades contemporâneas
na medida abrem espaço para várias chances aos indivíduos.
4º Nível das Empresas e Organizações
Neste ponto é necessário saber a dimensão da própria instituição, sabendo se tratasse de uma
empresa de pequena, média ou grande dimensão a partir do número de empregados nível de
envolvimento do proprietário, rendimentos.
5º Nível de Protecção ou Vulnerabilidade em Relação ao Mercado
O elemento fundamental neste nível tem a ver com o tipo de vínculo existente entre o
proprietário e trabalhador, ou seja, existência de contracto ou não, durabilidade dos contractos,
categorias salariais.
6º Nível de Género, Raça, e Idade
A desigualdade não é estruturada tal como as demais em aspectos mensuráveis tais como o
económico mais pelo contrário a partir de outros altamente subjectivos tais como a raça, etnia,
região, idade e género (sexo) dos indivíduos, e nacionalidade. Contudo, é importante ter em
conta que apesar de estar fora da esfera económica estes aspectos normalmente acabam por estar
ligado ao meio económico, contribuindo deste modo para que os indivíduos possam ou não
pertencer a certas classes.
Sociologia Geral Código: A0017 43

ios

avaliação 1 – Enuncie os novos eixos de diferenciação de classes sociais?


Resposta: nas sociedades contemporâneas encontramos 6 eixos de
diferenciação de classes nomeadamente: nível de inserção
socioeconómica, autoridade na profissão, qualificação ou educação dos
indivíduos, nível das empresas ou organizações, protecção ou
vulnerabilidade em relação ao mercado, e nível de género e raça.
Sociologia Geral Código: A0017 44

ade N0 11-A0017
A Mudança Social
o
A Sociologia sempre se interessou pelo estudo do fenómeno de mudança social entanto que processo
presente na sociedade, e este interesse resultou em grande medida a revolução industrial e seus efeitos.
Ao longo da história a mudança social vai tendo uma dinâmica peculiar o que faz com que a análise deste
fenómeno não seja a mesma em épocas diferentes dada a complexidade desta.
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

ectivos  Definir conceito de mudança social.


 Indicar os precursores da teoria de mudança social.
 Identificar algumas das teorias de mudança social.

o
Mudança social entanto que fenómeno social sempre esteve presente na sociedade, e só mais
tarde é que passou a ser analisada cientificamente. Regra geral falar de mudança social, é
referir-se a um processo de alteração das estrutura básicas que compõem um grupo social ou a
sociedade como um todo. Dentre os vários pensadores que se interessaram por esta temática,
adoptaram posturas completamente diferentes na análise e explicação deste fenómeno, o que
levou ao surgimento de diferentes perspectivas de análise deste.

Podemos encontrar autores que adoptam uma postura evolucionista (século XIX), em que esta é
concebida em fases ou estados estruturais, saindo da simples a complexa, da inferior a superior.
Igualmente temos autores funcionalistas (século XX) que olham a mudança social como
processo de mudança estruturante e funcional, em que temos substituição de grupos sociais
simples por mais complexos.

Tendo em conta a sociedade contemporânea, vemos que uma análise puramente evolucionista ou
funcionalista estaria condenada ao fracasso, uma vez que dinâmica actual implica ter em conta a
complexidade dos elementos que afectam e ditam a mudança social em cada sociedade e época
concreta.
Sociologia Geral Código: A0017 45

Precursores da Teoria da Mudança Social

O fenómeno da revolução industrial na Inglaterra e da revolução Francesa criaram grandes


transformações nas sociedades europeias dotadas de alto significado, e que levaram ao
surgimento de perspectivas analíticas deste fenómeno. As mudanças culturais económicas,
políticas e sociais ocorridas fizeram das sociedades objecto de análise privilegiado, em que
elementos demográficos, ideológicos, culturais e económicos eram a base de explicação da
mudança social.

Auguste Comte
Foi um dos autores que durante o século XIX se debruçou profundamente a volta da mudança
social. Este considerava que as sociedades evoluíam numa linha unilinear, e que a função social
da dinâmica social era a de estruturar o progresso da sociedade através do desenvolvimento
espiritual dos seres humanos. Para entendermos uma sociedade em diferentes fases da sua
evolução, era necessário olharmos não apenas para um aspecto mais sim a totalidade desta, uma
vez que impossível percebermos esta quando separada das outras partes, visto serem
interdependentes a semelhança dos organismos vivos.
As sociedades passam necessariamente por 3 fases ou estados de desenvolvimento da ordem
social, sendo o teológico-militar, metafísico-crítico e o científico-industrial. No primeiro
momento os conhecimentos que seres humanos possuíam e os acontecimentos eram explicados
por forças sobrenaturais. É a fase do conhecimento que possibilita a constituição da família, da
propriedade privada e do Estado. Os conflitos ou guerras entre Estados era característica
marcante deste período e as sociedades caracterizavam-se por relações sociais do tipo
esclavagista.
Na segunda fase o conhecimento humano recorre as ideias abstractas para explicação de coisas e
acontecimentos da vida diária da sociedade. É o momento da institucionalização da igreja e
tentativa de distinção clara desta com o Estado. O poder político se circunscrevia aos poderes
particulares de reis, príncipes e senhores, sendo que as relações sociais eram do tipo feudal. No
último estágio o conhecimento baseia-se na observação e raciocínio científico, pelo que os
acontecimentos são explicados a partir de leis universais.
É nesta fase em que há uma separação entre igreja e Estado, as indústrias são aperfeiçoadas,
aumenta progresso científico e a civilização do tipo militar é substituída pela do tipo industrial.

Herbert Spencer
A partir do pensamento de Darwin sobre a evolução das sociedades, ele estruturou seu
pensamento admitindo que os processos sociais e consequentemente a mudança social eram
moldados a partir da selecção natural, em que prevalecia a lei do mais forte entanto que factor
estruturante. Assim, ele defende a virtualidade do mercado, do individualismo e do liberalismo
como aspectos definidores da interacção constituinte da realidade social. As diferentes unidades
sociais orgânicas se sujeitavam a determinado tipo de interacção quer seja adaptativo e selectivo,
sendo que só selectivamente é que se poderia construir a ordem social.
Sociologia Geral Código: A0017 46

Embora apologista da evolução das sociedades de estádio militar para industrial, considerava que
as funções de regulação política e económica do Estado se mostrava entrave para criação e
desenvolvimento das sociedades industriais. As sociedades evoluíam a semelhança dos
organismos vivos, indo das formas mais elementares a formas mais complexas. Este autor
identifica as etapas de desenvolvimento social que se articulam com a crescente complexidade de
funções e estruturas do organismo social. A primeira fase era sociedade simples, segunda fase
sociedade compostas, terceira fase sociedade duplamente compostas e quarta fase sociedade
triplamente composta.
A primeira corresponde a formas de autoridade formadas por uma autoridade política
diversificada, tais como as sociedades nómadas, seminómadas ou sedentárias em que algumas
possuem autoridade política permanente e outras não. A segunda possuem um poder político
centrado numa autoridade hierárquica. Aqui o poder de chefes de famílias, clãs, tribos, religiosos
e militares tem como consequência uma desigual e hierárquica distribuição e exercício do poder.
A coesão social é menor relativamente as sociedades simples, tendo em conta a os grupos sociais
distintos existentes.
A terceira, de tipo sedentário é composta por vários grupos sociais e possuem uma função de
integração extremamente importante. Encontramos o Estado, a política está presente em várias
instituições de forma estável, há um relativo desenvolvimento das técnicas e meios de transporte.
A quarta corresponde as nações modernas, em que é notório um alto nível de desenvolvimento
industrial. Para Spencer, havia um modelo de evolução das sociedades que podia ser definida
pela sua natureza contrastante, pelo grau de complexidade, diferenciação e heterogeneidade das
funções e estruturas do organismo social que as permitia distinguir dois tipos de sociedades as
militares e industriais.
Assim, as sociedades militares correspondem ao estádio inicial da evolução social, em que a
estrutura e funções existentes são elementares, e as instituições em si de uma dimensão reduzida
e há divisão elementar do trabalho. A guerra surge como uma necessidade de defesa do território
e conquista de novos, para além de servir como meio de produção, consumo e distribuição de
riqueza. Nas sociedade industriais vemos que estrutura e funções existentes e bem como as
próprias instituições são mais complexas. Nota-se o aparecimento de novas instituições ligadas a
questões económicas, de produção, distribuição e consumo de bens e serviços.
Os grupos e indivíduos tornam-se mais autónomos, e a componente militar se submete aos
domínios económicos e políticos, surgem instituições ligadas a religião, cultura e política.
Portanto seu pressuposto básico é que a sociedade evolui de forma harmoniosa através do
aumento e desenvolvimento de estruturas e funções na sociedade industrial.

Karl Marx
Sendo uma das referências da Sociologia, este autor pode ser enquadrado nas teorias
evolucionista da mudança social. Com sentido unilinear da evolução dos modos de produção por
si defendidos, revela que para ele há um pressuposto histórico de que diferentes estágios de
desenvolvimento das forças produtivas se relacionam a certo tipo de relações sociais de
produção. Sua ideia era que a passagem de um modo de produção a outro implicava
necessariamente um progresso da humanidade.
Sociologia Geral Código: A0017 47

E seu entender mudança social resultava das contradições que existia em cada sistema social,
sempre que houvesse um desajuste enorme entre desenvolvimento das forças produtivas e
relações sociais de produção. Em seu entender as forças produtivas eram compostas pelos meios
de produção e pela força de trabalho, sendo que estas é que produziam a riqueza, que é algo
imprescindível para subsistência de qualquer organização social. Além de que a produção de
riqueza material exige necessariamente que esta seja sustentada pelas relações sociais de
produção.
E porque em cada modo de produção há uma oposição entre classes sociais antagónicas, vemos
que as mudanças sociais surgem sempre que se agudizam as contradições entre as forças
produtivas. A partir daqui pode-se apreender o pensamento estruturante de Marx sobre mudança
social que é: a) as contradições resultam de questões internas aos modos de produção e se
encontram ao nível da estrutura socioeconómica, b) o conflito é algo real estrutural e tem a ver
com os interesses de classe antagónicos e c) é a luta de classes o factor motor da história e por
conseguinte da mudança social.

Teorias de Mudança Social


Entanto que processo social, a mudança social não mereceu apenas a atenção de autores
isoladamente mais pelo contrário de grupo de autores que podem ser enquadrados em
determinadas perspectivas teóricas de abordagem, tendo em conta a conscidência na exposição
de argumentos explicativos sobre este processo.

Evolucionismo de Talcott Parsons


Esta corrente de pensamento buscou perceber este fenómeno numa perspectiva histórica
evolucionista complexa e pluricausal, ou seja, a evolução social nas sociedades dava-se através
de trajectórias diferentes e bem como conteúdos e formas sociais diferentes, e que por sua vez
possuíam uma origem diferenciada. Havia na sociedade uma diferenciação estrutural e funcional
dos órgãos, que explicava a mudança dos seus componentes e consequente passagem dos
sistemas sociais simples para mais complexos.
O sistema social era em seu entender um sistema dinâmico, aberto e interacção constante com
outros sistemas nomeadamente organismo biológico, personalidade e cultura; sendo estes
interdependentes na sua evolução, reagindo, ajustando e adaptando-se sempre as mudanças. A
evolução social dependia de 4 elementos fundamentais nomeadamente: aumento da capacidade
adaptativa, diferenciação, integração e universalização dos padrões valorativos.
Parsons considera que existem 3 estádios de evolução social designadamente o primitivo,
intermediário e moderno. Assim, a passagem de Primitivo ao Intermediário dava-se pela função
de linguagem e bem como as funções de estabilidade normativa exercidas pelo subsistema social
do sistema geral de acção. Passagem da sociedade Intermédia para Moderna deu-se através da
Sociologia Geral Código: A0017 48

institucionalização do direito privado de incidência universal e a consequente redução da


influência da religião sobre os outros domínios sociais.
Encontramos ainda no pensamento deste autor mudanças em equilíbrio e mudanças de estrutura.
A primeira tem a ver com surgimento de alterações pontuais e localizadas nos subsistemas do
próprio sistema social que apesar destas se mantém intacto; enquanto que as mudanças de
estrutura ocorre quando as forças de pressão interna e externa do sistema social dão-se de modo
radical e conflitual levando a ruptura do equilíbrio entre as unidades estruturais. Ela tem como
efeito visível não apenas a mudança da das estruturas mais também e acima de tudo da totalidade
do sistema social.
Neste sentido, a mudança da estrutura resulta da acumulação de tensões enormes entre duas ou
mais estruturas do sistema social, e pode ter várias dimensões.
Grupos de Interesse, Conflitos Sociais e Mudança Social em Ralf Dahrendorf
Este pensador busca o pensamento de Marx para fazer uma leitura crítica da realidade social da
sua época a partir de postulados marxistas. Sua oposição a Marx tem a ver com excessiva
generalização que este fazia sobre sentido linear da história. Para Ralf, os conflitos sociais são
uma realidade presente em toda e qualquer sociedade, ao invés de causarem mudança social
servia como elemento de identidade e integração social. Em seu entender a luta de classes
revelam-se um meio de distribuição hierárquica e estratificada de funções inerentes á autoridade
e não de antagonismos irredutíveis as classes sociais.
Este autor distingue as sociedades industriais e sociedades capitalistas, de modos que em sua
opinião as primeiras correspondiam a uma realidade estrutural global e segundas uma parte deste
todo. As mudanças operadas na sociedade industrial durante o século XIX foram significativas,
sendo que a posse privada dos meios de produção é objecto da transformação na medida em que
seu controlo passa a ser feito pelos capitalistas e quadros dirigentes das empresas. Assim, houve
uma reestruturação tanto da qualificação e estruturação do trabalho, que levou ao surgimento de
uma nova classe média dada a decomposição do trabalho e do capital.
Há maior mobilidade social ao nível económico, social, cultural, e política, na mesma medida os
conflitos de classe se institucionalizam, criam-se e desenvolvem-se instituições com vários
interesses opostos tal como sindicatos, associações profissionais, instituições de arbitragem de
conflitos, etc. De acordo com autor, em toda organização social existem funções e tarefas de
controlo que explicam o exercício da coerção, pelo que estaria-se diante duma distribuição
diferencial de autoridade entre indivíduos e grupos sociais. Por conseguinte, os actores e grupos
sociais que integram as instituições surgem como detentores de autoridade diferencial observável
nas relações sociais, baseadas na relação dominação-sujeição.
Portanto, mesmo nas sociedades industriais temos conflitos dado interesses opostos existentes
entre indivíduos e grupos de interesse, a partir de papéis e posições que os integra em estruturas
determinadas. O conflito de interesse mostram luta entre os que detém autoridade e os que não a
tem, entre quem quer manter seu status quo e quem deseja transformar este. Deste modo, a
mudança social encontra-se polarizada nas estruturas sociais que comportam ou implicam
relações de autoridade em diferentes organizações sociais.
Sociologia Geral Código: A0017 49

Teorias Endógenas e Exógenas de Mudança Social


Os defensores destas abordagens defendem o mesmo processo mais a partir de pontos de vistas
relativamente opostos, sendo que para os defensores da teoria endógenas, a mudança social
resultaria de factores internos ao meio social, enquanto que os da teoria exógena a mudança
resultaria de elementos externos a determinado meio social.
Os defensores de cada uma destas teorias através de argumentos diversos buscam provar as suas
concepções a volta dos elementos que explicam o processo de mudança social ao longo dos
tempos em cada contexto a partir de elementos meramente internos ou externos. A partir de
pensamento marxista e de outros correntes, este grupo de autores busca a partir de elementos
desta teoria enquadrar na linha endógena ou exógena.

Teoria do Individualismo Metodológico sobre Mudança Social


Esta corrente considera que para um entendimento da mudança social temos que deixar de lado a
postura marcadamente macro-sociológica que olham esta a um nível mais amplo do grupo ou da
sociedade, deixando de lado o indivíduo entanto que actor activo neste processo; e considerado
apenas a racionalidade colectiva dos indivíduos.
A perspectiva individualista metodológica desenvolvida por Raymond Boudon considera é
necessário olhar a mudança social, tendo em conta um estudo exaustivo de realidades micro-
sociais. Olhando para aquilo que eram os processos de interacção social que se conjugam
singularmente na construção da realidade social, e deste modo da mudança social em si. Esta
teoria destaca o papel estratégico da racionalidade dos indivíduos em processos de interacção
social micro.
Através desta teoria, vemos que há uma interdependência entre várias realidades micro-sociais,
de tal modo que o processo de adaptação e interacção daqui resultante cria de forma agregada
micro-mudanças que trespassam a própria sociedade como um todo. Assim, para entender a
mudança social é necessário centrar-se na interacção que os indivíduos estabelecem entre si e
não em aspectos tais como a economia, política, etc; visto que acção individual coexiste com a
colectiva interactuando sobre a sociedade toda.
Sociologia Geral Código: A0017 50

ios

avaliação 1 – Define o conceito de mudança social ?


Resposta: podemos definir a mudança social como sendo um processo de
alteração das estrutura básicas que compõem um grupo social ou a
sociedade como um todo.
2- Indique os precursores da mudança social que estudou?
Resposta: os precursores da mudança social que estudamos são: Auguste
Comte, Herbert Spencer e Karl Marx.
3- Quais as teorias sobre mudança social que conhece?
Resposta: as teorias sobre mudança social que conheço são:
evolucionismo de Talcott Parsons, teoria de Grupos de Interesse,
Conflitos Sociais e Mudança Social, teoria Endogenistas e Exogenistas; e
a teoria de Individualismo Metodológico sobre mudança social.
Sociologia Geral Código: A0017 51

ade N0 12-A0017
Desvio e Controlo Social
o
Falar de desvio social, é essencialmente fazer referência a determinadas práticas sociais que se
manifestam em toda e qualquer sociedade, representando comportamento contrário as normas sociais.
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Perceber o conceito de Desvio Social e Controlo Social.


ectivos  Identificar algumas teorias sobre o Desvio Social e Controlo Social

Desvio Social e Controlo Social

O estudo sobre o fenómeno do desvio social, historicamente tem o seu início no século XIX na
Europa e América, sobretudo em grandes centros urbanos em que se manifestavam problemas
tais como o da marginalidade e pobreza urbana. Foram estas questões que despertaram o
interesse súbito de vários investigadores por forma a melhor entender e explicar esta
problemática e acima de tudo tentar sugerir formas de atenuação, eliminação e controle do
mesmo.
Em geral é impossível falar-se de desvio sem fazer referência ao controlo social, visto serem
estes termos indissociáveis. Desvio social refere-se a condutas individuais ou colectivas que vão
contra/transgridem as normas de determinada sociedade ou grupo social. Portanto, tem a ver
com não cumprimento ou falha na conformidade com as normas sociais, que obviamente
representam obrigações sociais, que tem por fim último regrar a sociedade e garantir o controlo
social; por forma a que cada um dos indivíduos actue dentro de um quadro previamente
delineado.
Neste sentido, um comportamento só pode ser tido como desviante em relação a uma sociedade,
pois que é esta que dita as normas de comportamento aceitáveis e bem como os comportamentos
não aceitáveis para indivíduos e grupos sociais. O desvio social que é correlativo do controlo
social, é um fenómeno que resulta de uma situação de definição e classificação social, visto ser a
Sociologia Geral Código: A0017 52

sociedade que em cada momento vai ditar os comportamentos aceites ou não, cabendo aos
indivíduos e grupos portarem-se segundo a norma social em cada contexto.
Um aspecto interessante a ter em conta no desvio social é que ele é paradoxalmente uma questão
de conformidade, pois que os comportamentos são adquiridos em sociedade numa base
interactiva, pelo que um comportamento desviante na sociedade pode equivaler a um
comportamento normal num grupo social em que o indivíduo queira fazer parte ou pertença. Por
exemplo o consumo de drogas é um comportamento desviante na sociedade moçambicana, mais
entre os drogados este acto corresponde a normalidade dentro do próprio grupo.
Por sua vez o controlo social pode ser definido em duas perspectivas diferentes, sendo no sentido
restrito e alargado. No Restrito podemos ver como sendo um conjunto de mecanismos de
monitoria da acção do indivíduo e as sanções boas e más que servem para reforçar o
comportamento individual; ou seja, é conjunto de mecanismos normativos que asseguram a
conformidade de comportamento as normas sociais. O sentido Alargado é completar do anterior
e se mostra como um meio de socialização e internalização das normas e valores socioculturais.
Portanto, o controlo tem a dimensão interna e antecipadora, visto ser junção de meios de
socialização, monitoria e sanção de comportamento.
Assim, o desvio e controlo social são práticas universais no sentido de estarem existir em toda e
qualquer sociedade. Contudo, o comportamento desviante não o mesmo em todas sociedades e
nem mesmo dentro da mesma sociedade em tempos diferentes, visto que este resulta de um
processo de classificação social. Ele varia de conteúdo e de forma de acordo com cada
sociedade.

Teorias sobre Desvio e Controlo Social

Émile Durkheim e a Génese da Teoria do Desvio e Controlo Social


Foi um dos pioneiros no estudo desta problemática social, isto pode-se depreender a partir dos
seus inúmeros estudos sociológicos. Um dos pensamentos trazidos por Durkheim era que o
crime era algo universal, sendo que estava presente em toda e qualquer sociedade, para além de
que era algo útil e necessário. A partir do seu pensamento vemos que o crime representa uma
forma de desvio social, cuja sua classificação como tal varia segundo tipo de sociedade e época.
De igual modo é uma forma de controlo social, pois que quando atingisse certa taxa o mesmo era
sancionado e este acto sancionatório representa a forma como a consciência colectiva exerce
uma pressão no sentido de ditar as regras de conduta a consciência individual e por esta via
controlar indivíduo e a sociedade.
Na sua obra a Divisão do Trabalho Social, o autor realça o facto do desvio social ser classificado
de acordo com tipo de solidariedade existente em cada sociedade. Nas de solidariedade
mecânica, a consciência colectiva exerce um controlo directo e total sobre a consciência
individual, pelo que todo desvio era automaticamente sancionado por uma força constrangedora,
sendo o direito repreensivo a forma concreta de controlo social. A solidariedade orgânica por sua
vez através do direito restitutivo persuadia os indivíduos a reparem os seus desvios, por forma a
Sociologia Geral Código: A0017 53

não colocar em causa a funcionamento e estabilidade da sociedade através da divisão do


trabalho.

Desvio e Controlo Social na perspectiva da Escola de Chicago


Esta escola buscou analisar fenómeno da marginalidade, criminalidade, exclusão social, entre
outros que surgiram nos principais centros urbanos em resultado das migrações dado nível de
desenvolvimento industrial nessas cidades. Um dos maiores preponentes desta teoria Robert Park
defendia que era útil investigar formas de erradicação da delinquência, pobreza, alcoolismo,
segregação social e crime que afectavam Chicago.
Seu pressuposto era que o desvio social resultava fundamentalmente da socialização, que nas
cidades assentava numa base secundária e não primária (que de facto são mais eficientes no
controlo social, garantem boa socialização e a coesão social). Assim, era necessário que esta
socialização secundária evoluísse para uma acção organizada e acima de tudo comunicacional
que garantisse integração dos indivíduos.
Ernest Burgess, igualmente influente nesta escola considerava que desenvolvimento industrial
criava uma distribuição social e espacial que por sua vez degenerava em profundos problemas
sociais. As cidades criavam áreas urbanas ecologicamente diferentes, e era na zona reservada aos
operários em que surgiam os fenómenos sociais mais negativos. Era a segregação social que
gerava o desvio, pois que este grupo social não podia se constituir num nicho de identidade
comunicacional com outros grupos vizinhos. Os efeitos perversos da mobilidade social
originavam necessariamente comportamentos desviantes. Assim, o desvio resultava da expansão
e diferenciação do processo de socialização entre indivíduos e grupos nas cidades.

Anomia, Desvio e Controlo Social em Robert Merton


Pode-se enquadrar seu pensamento numa perspectiva funcionalista. Busca o conceito de anomia
de Durkheim e reformula o mesmo na sua análise da sociedade, considerando que anomia gerava
um problema interminável nas aspirações individuais, e que esta resultava das contradições
existentes entre aspirações individuais inscritas na matriz cultural e as desigualdades na própria
estrutura social. Portanto, Merton diz que são as aspirações individuais que criam a desregulação
social e nunca o contrário, sendo que tais aspirações eram dadas pela matriz cultural.
Analisando a sociedade americana, Merton diz que o desvio social resulta duma contradição
básica entre o ideal de vida que esta dita para todos indivíduos e as possibilidades de realização
destes legalmente só existia para alguns, daí que os indivíduos acabam tendo condutas
desviantes, como forma de alcançar o ideal de vida defendido pela sociedade sem se preocupar
com os meios usados para tal.
A transgressão dos meios institucionais de controlo social dos comportamentos, teria a ver com a
necessidade de se alcançar as metas de vida para cada indivíduo defendida pela sociedade como
Sociologia Geral Código: A0017 54

sendo a melhor. Quer isto dizer que o indivíduo escapava ao controlo social para poder cumprir
com a norma criada pela própria sociedade.

Teoria da Rotulagem
Esta abordagem apresenta uma perspectiva diferente, em que inverte claramente a relação de
causa e efeito do desvio e controlo social, considerando que era o controlo social a causa
fundamental do comportamento desviante e não o contrário. O desvio nesta perspectiva resulta
de um processo de interacção social entre indivíduos considerados desviantes e não desviantes,
em que cada um destes atribui sentido a sua acção a dos demais participando juntamente na
construção do mundo social desviante. Diante de uma situação de controlo social que os
estigmatiza e rotula negativamente, os ditos desviantes acabam criando espaços sociais de
identidade tanto pessoal como colectiva.
São os meios de controlo social que tem a capacidade fazer com que os indivíduos mudem,
levando-os a assumirem uma identidade tida como desviante. Um dos maiores preponentes desta
teoria é certamente Erving Goffman que considera que é o controlo social é causa do desvio
social, a partir do estudo que fez em instituições sociais totais tais como prisões, asilos, etc, onde
o autor observa que dado o controlo existente num asilo gera-se necessariamente um
comportamento desviante estereotipado. A separação que estes estabelecimentos fazem dos
desviantes aos retirar da sociedade global, acaba reprimindo e degradando os indivíduos, ao
invés de os reabilitar.
Assim, o desvio acaba resultando das regras de controlo social então impostas e resultantes da
interacção entre controladores e controlados em que os últimos são obrigados a ajustarem-se a
uma diversidade de circunstâncias negativas criadas nesta interacção. A mesma percepção este
autor usou para falar do estigma como um dos aspectos que cria o desvio, tendo em conta o
rótulo que se cria a volta de pessoas tais como deficientes na relação com os ditos normais.

Teoria de Análise Estratégica


Tal como nome sugere, o desvio social é visto como um fenómeno que resulta de um processo de
ponderação relativamente aos vantagens e desvantagens deste acto. Neste sentido, o desvio
resulta de uma avaliação que os indivíduos fazem sobre a lógica custos de oportunidade. Por
exemplo, para poder praticar o furto, o ladrão avalia as vantagens do que irá furtar e meios
necessários para tal, sendo que no fim do acto os fins deverão superar os meios usados. Quer isto
dizer que o desvio é puramente um acto racional, em que se equacionam os meios e fins.
Um aspecto importante a ter em conta segundo os preponentes desta teoria, é o facto de que esta
racionalidade do desviante não pode ser vista como sendo absoluta, uma vez que nem todo
indivíduo ou grupo tem inteligência suficiente para fazer esta equação nos moldes ideais, sendo
que é possível um desviante incorrer em actos em que cujos meios sejam maiores em relação aos
benefícios; além do elemento incerteza que está presente em toda e qualquer situação e que
desviante não tem sobre ela qualquer controle.
Sociologia Geral Código: A0017 55

Portanto, esta teoria mostra que essencialmente o desviante detém a capacidade de pensar de
modo racional por forma a avaliar, adaptar-se a situações em que sua acção tem lugar,
seleccionando os meios que lhe permitam alcançar os seus objectivos sem grandes riscos.

ios

avaliação 1 – De forma clara define o conceito de desvio social?


Resposta: pode-se definir o Desvio social como sendo condutas
individuais ou colectivas que vão contra/transgridem as normas de
determinada sociedade ou grupo social.
2- Indique as teorias sobre desvio e controlo social que estudou?
Resposta: as teorias sobre desvio e controlo social são: teoria de
rotulagem, análise estratégica, anomia, desvio e controlo de Merton,
desvio e controlo social da Escola de Chicago, e a de Émile Durkheim
sobre a génese do Desvio e Controlo Social.
Sociologia Geral Código: A0017 56

ade N0 13-A0017
Movimentos Sociais
o
Apesar de ser uma realidade com uma existência secular na sociedade, só nos últimos tempos é que esta
questão passou a fazer parte dos estudos sociológicos e não só. Regra geral, os estudos sobre esta
problemática limitavam-se a questão dos movimentos operários que historicamente tiveram uma grande
visibilidade relativamente aos demais movimentos com um impacto social enorme que despertasse este
interesse.
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Definir o conceito de movimento social


ectivos  Perceber posições de alguns autores sobre esta problemática.

Movimentos Sociais

Após a segunda Guerra Mundial, agudizaram-se os conflitos sociais, criando deste modo espaço
para o advento de grupos sociais e bem como a reestruturação dos já existentes a partir de novos
valores e ideologias dos mesmos, pelo que houve uma necessidade de se alargar o campo de
análise destes movimentos para outros campos que não fossem somente o dos operários.

As dinâmicas ou factores que explicam a constituição e funcionamento dos movimentos sociais,


tende obviamente a ser diferente ao longo dos tempos e sociedades, pelo que a sua compreensão
implica uma incursão no interior destes e da sociedade em geral (tendo em conta que eles se
estruturam em função da dinâmica social) para a partir daqui podermos caracterizá-lo
objectivamente. As mudanças socioestruturais e socioculturais e sociopolíticas igualmente
afectam a composição destes grupos, formas de actuação, objectivos perseguidos ao longo dos
tempos; entre outras questões.

De forma geral, podemos ver o movimento social como sendo a expressão conjugada de esforços
individuais que visam o usufruto de bens colectivos, pelo que normalmente existe uma suposta
racionalização na sua utilização. Podemos então definir objectivamente estes como sendo uma
Sociologia Geral Código: A0017 57

“acção ou agitação concentrada, com algum grau de continuidade de um grupo, que plena ou
vagamente organizado, está unido por aspirações mais ou menos concretas, segue um plano
traçado, orienta-se para uma mudança das formas ou instituições da sociedade existentes (ou
um contra ataque em defesas dessas instituições”. (Neuman, op cit In: Osborne, pp. 34)

Abordagens Sobre Movimentos Sociais

Tal como vimos anteriormente os movimentos sociais representam um grupo que age de forma
organizada ou não visando a busca de satisfação de certos objectivos colectivos. As suas acções
podem ser dirigidas a determinadas instituições e bem como a própria sociedade como um todo,
o que pode levar a alteração da estrutura social em si. Sendo assim, estes vão ter motivações,
formas de composição e actuações diferentes ao longo dos tempos, tendo em conta a própria
dinâmica social; daí que mostra pertinente buscar algumas das abordagens dos vários autores a
volta desta questão.

Gustave Le Bon: O Comportamento das Multidões

Segundo este autor, a análise dos movimentos sociais durante a evolução da sociedade industrial
teve como conceito explicativo chave o de comportamento colectivo, e só mais tarde é que se
percebeu que estes representavam a expressão de uma acção puramente social. Este autor
receava que as acções dos movimentos sociais que surgiam repentinamente e de forma violenta,
criando instabilidade das estruturas e instituições punham em causa a própria civilização.

No seu entender as multidões movem-se por uma moral destrutiva e ânsia de poder, sendo que
seu modo de pensar resultava de um contágio de uma força psicológica irracional. Assim, o
comportamento colectivo tinha características específicas, diferindo das acções das instituições e
indivíduos que seguem padrões da civilização. Os movimentos sociais faziam com que os
indivíduos deixassem de lado a razão e a personalidade nas suas acções, pelo que via-se homens
e mulheres, adultos e jovens, ricos e pobres agindo de mesmo modo.

Sua forma de pensar revela uma oposição a mudança e ascensão social por parte dos operários a
favor de uma aristocracia tradicional.

Robert Park e As Bases Sociais do Comportamento Colectivo

Sempre buscou entender os fenómenos sociais resultantes da industrialização e urbanização nas


cidades, daí considerar que os conflitos eram então como normais (dado estilo de vida nas
cidades que se baseiam em laços impessoais e racionais), e originavam formas comportamentais
peculiares. Os comportamentos colectivos resultavam infalivelmente na criação de sínteses
sociais integradores, resumindo-se a um processo social que se dá em 3 fases interdependentes:
agitação social, estruturação do movimento e adaptação e transformação das instituições.
Sociologia Geral Código: A0017 58

Park diz que acção colectiva começa sempre por agitação social em que os processos de
mudança social são caracterizados pelo conflito, sendo que o papel das instituições sociais é o de
regular estes; e na incapacidade de o fazerem surgem formas alternativas de comportamento
social. Posteriormente temos a estruturação, em que o comportamento alternativo passa a ser um
movimentos de massa, que tanto pode circunscrever-se a um grupo ou quase totalidade da
sociedade; cuja contestação pode ser violenta ou pacífica.

Segue-se a fase de adaptação e transformação em que os movimentos estão sujeitos a duas


situações, sendo uma em que o conflito se institucionaliza e a segunda em que integra-se e
controla-se o comportamento colectivo por forma a estar em consonância com as razões que
ditaram o conflito; pelo que o comportamento colectivo passa a estar de acordo com parâmetros
do grupo. Portanto, o comportamento colectivo seria algo com motivações racionais e naturais,
por ser criado dentro de um contexto por autores sociais que se organizam e estruturam sua acção
de modo consequente e tendo em conta certos objectivos.

Herbert Blumer: Uma Visão Interaccionista do Comportamento Colectivo

Este autor considera que a acção colectiva tem em vista o estabelecimento de uma nova ordem
de vida e da realidade social, que tem a ver com formas de pensar e sentir dos indivíduos, dando
sentido as condutas colectivas. Ele diz que as sociedades industriais eram marcadas por lutas de
interesses que geravam conflitos pelo poder. Que a indústria deveria ser vista a partir destas lutas
e as manifestações industriais assemelhavam-se a uma estrutura neutral a partir da qual os grupos
atribuíam sentido as relações industriais.

Um ponto trazido pelo autor tem a ver com facto de localizar o conflito de interesses na
industrialização como circunscrito a nove áreas concretas nomeadamente: estrutura de ocupações
e posições, preenchimento de ocupações, emprego e posições, novo arranjo ecológico, regime de
trabalho industrial, nova estrutura de relações sociais, novos interesses e os novos grupos de
interesse, relações monetárias e contratuais, produção de mercadorias e modelo de rendimento do
pessoal industrial.

A partir da estrutura de ocupações e posições surgiam novas modalidades de acção pelo que
empresários, quadros técnicos, empregados de escritórios e operários enquadravam-se em
estruturas profissionais diferentes e hierárquicas. Por conseguinte cada uma das classes originava
rendimentos, autoridade, poder e prestígio desiguais; o que tinha como resultado óbvio a
estratificação social.

Embora haja uma estrutura de ocupações e posições, seu preenchimento como tal depende de
requisitos impostos pela sociedade. Assim, nem todos podem obter o trabalho e posição que
desejam, visto que os níveis de autoridade e prestígio hierárquico são obviamente desiguais,
existindo factores que levam os indivíduos a competirem e defenderem os seus interesses
próprios. De acordo com o autor, a estrutura industrial faz com que os actores sociais detenham
uma grande mobilidade social.
Sociologia Geral Código: A0017 59

A mobilidade social dos indivíduos fazia com que os actores sociais pudessem deter uma
mobilidade social que levasse a uma distribuição espacial da população nas cidades e
obviamente novos arranjos ecológicos. O novo regime de trabalho e a nova estrutura de relações
sociais surgem intimamente ligados aos novos grupos de interesse que criam imagens e atitudes
específicas, dando origem a uma rede de relações sociais. Para o autor, é a multiplicidade de
elementos estruturais resultantes do processo de industrialização que surgem diferentes formas
de comportamento colectivo, pois que estando diante de múltiplas situações de interacção e
interpretação os indivíduos criam formas de acção colectiva.
Sociologia Geral Código: A0017 60

ios

avaliação 1 – Define conceito de movimento sociais?


Resposta: pode-se definir movimento social como sendo a acção ou
agitação concentrada, com algum grau de continuidade de um grupo, que
plena ou vagamente organizado, está unido por aspirações mais ou menos
concretas, segue um plano traçado, orienta-se para uma mudança das
formas ou instituições da sociedade existentes (ou um contra ataque em
defesas dessas instituições.
2- Indique as teorias principais sobre movimentos sociais.
Resposta: as principais teorias sobre movimentos sociais são: visão
interaccionista do comportamento colectivo, Bases sociais do
comportamento colectivo e Comportamento das multidões.
Sociologia Geral Código: A0017 61

ade N0 14-A0017
O Processo de Socialização
o
Falar da socialização, significa ter em conta uma das práticas sociais presentes em toda e qualquer
sociedade e dotada de uma importância peculiar, por quanto ela representa o processo através do qual os
membros de uma sociedade se constituem como tal. Simboliza um mecanismo de divisão de papéis
sociais e formas de comportamento específicas entre os seus membros.
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Definir o conceito de Socialização,


ectivos  Identificar as principais formas ou tipos de Socialização e as
instituições responsáveis por estas.

o
Socialização

Existem diferentes definições a volta deste conceito, quer seja nas ciências sociais e outras ciências, pelo
que quando o abordamos devemos ter o cuidado de olhar o contexto em causa. Assim, na Sociologia e
outras ciências sociais o termo encontra-se bastante interligado a relação entre individuo e sociedade, uma
vez ser este um processo considerado fundamental e determinante em qualquer sociedade, por esta
considerar que os seus devem necessariamente passar por este processo por forma a adquirirem uma
identidade social e bem como pessoal do individuo.
Por ser um processo social de extrema importância para a sociedade, ao qual todo e qualquer indivíduo
deve necessariamente passar por ele ao longo da sua vida, a mesma ocorrem em diferentes instituições
sociais, possuindo formas diferentes. Este termo tem sido definido como sinonimo de educação por
alguns autores, tendo em conta os seus objectivos, tais como Durkheim entre outros que dizem que
através deste processo a sociedade exerce uma acção sobre os seus membros mais novos, que consideram
ainda não terem desenvolvido um conjunto de estágios físicos, intelectuais e morais considerados
necessários pela sociedade.
Rocher, diz que a socialização pode ser vista como sendo “um processo pelo qual ao longo da
vida a pessoa humana aprende e interioriza os elementos sócio-culturais do seu meio,
integrando-os na estrutura da sua personalidade sob a influência de experiências de agentes
sociais significativos, adaptando-se assim ao ambiente social em que deve viver.”(Rocher; op cit
In: Osborne; 2006; pp-44). a partir desta definicao de abordagens de outros autores vemos que
Sociologia Geral Código: A0017 62

este processo implica assimilacao de habitos caracteristicos do seu grupo social, em que o
individuo passa a membro funcional de sua comunidade, adoptando conduta da sua cultura.

Assim, podemos definir a socializacao como sendo um processo atraves do qual o individuo se
intergra no seu grupo de pertenca, adoptando habitos e costumes proprios deste, por forma a
desenvolver a sua personalidade e ser aceite como membro de facto do grupo. Ele inicia com
nascimento e termina com a morte, posto que durante a vida como actores sociais estamos
constantemente a aprendendo. Inicialmente ele depende da imitação de papéis junto de pessoas
significativas e próximas, para mais tarde implicar uma assimilação voluntaria.

Tipos e Instituições de Socialização


A socialização por ser um processo que se da em fazes ou etapas, tendo em vista a integração dos sujeitos
nos grupos de pertença, esta realiza-se em instituições especificas, que a sociedade reconhece como tendo
um papel efectivo ao longo deste processo. Assim, encontramos dois grandes tipos de socialização, sendo
a primaria e a secundaria. Socialização Primaria aquela em que a criança aprende e interioriza as regras
básicas e modelos comportamentais do seu grupo social. É a partir desta que o sujeito faz a construção
primeira do mundo a sua volta. Esta forma surge como bastante significativa para o indivíduo e realiza-se
normalmente na família e outras instituições próximas desta.

Socialização Secundaria, como nome diz, esta surge como um processo subsequente ao primário, em
que o indivíduo já socializado é integrado em outros espaços na sua sociedade ou não. Ela ocorre na
escola, igreja, grupo de amigos, local de trabalho, entre outros do qual o indivíduo não seja parte
integrante objectivamente, pois que o grupo tem determinadas expectativas sobre os seus membros em
cada um destes espaços, em função do papel social que ele desempenha nestes.

Portanto, a partir dos tipos ou formas de socialização encontramos igualmente diferentes instituições
responsáveis por esta tais como a família, a escola, igreja, grupos de amigos, local de trabalho, entre
outros.
Sociologia Geral Código: A0017 63

ios

avaliação 1 – Define conceito de socialização?


Resposta: definimos a socialização como um processo atraves do qual
o individuo se intergra no seu grupo de pertenca, adoptando habitos
e costumes proprios deste, por forma a desenvolver a sua
personalidade e ser aceite como membro de facto do grupo.
2- Define os tipos de socialização e respectivas instituições responsáveis?
Resposta: S. Primaria em que a criança aprende e interioriza as regras
básicas e modelos comportamentais do seu grupo social, e a partir desta
faz a construção primeira do mundo a sua volta. Ela ocorre na família. S.
Secundaria, processo em que o indivíduo já socializado é integrado em
outros espaços na sua sociedade ou não. Ela ocorre na escola, igreja,
grupo de amigos, local de trabalho, entre outros.
Sociologia Geral Código: A0017 64

ade N0 15-A0017
O Processo de Globalização e Desigualdades

o
Um dos fenómenos característicos das sociedades contemporâneas é sem dúvidas a globalização, que
como sabemos tem suscitado diferentes debates a sua volta, tendo em conta o entendimento que os
indivíduos e sociedades possuem. Neste sentido, encontramos abordagens que defendem que este
processo representa uma mais-valia dado o facto de ligar indivíduos de países diferentes, integrar as
economias e mercados nacionais num único mercado e daqui as vantagens no processo de trocas, etc.
Igualmente, temos autores que consideram que como algo nefasto pelos enormes impactos negativos que
trás, sobretudo para as pequenas nações, acelerando ainda mais o hiato entre países e grupos sociais e
indivíduos.
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Definir o conceito de Globalização,


ectivos  Articular este processo ao fenómeno de desigualdade social.

Globalização

No actualidade não encontramos uma sociedade que seja fechada em si sob ponto de vista social,
cultural, politico, economico, etc. Portanto, esta nova realidade serviu e serve para aproximar as
nacoes nos mais diferentes aspectos contrariamente ao que era pratica num passado recente. Por
ser um processo aparentemente novo e bastante dinamico, tem criado alteracoes rapidas em
determinadas estruturas, que por sua vez se fazem sentir em diferentes campos e com amplitudes
diferentes, apesar da origem poder ser exterior a este.

Em termos historicos este iniciou-se há já algum tempo, sendo que so por volta dos anos 90 é
que se impos como algo de dimensao mundial, devido ao impacto dos meios tecnologicos de
informatica e de telecomunicacoes em paises como Inglaterra e EUA.
Sociologia Geral Código: A0017 65

Não existe uma definição única deste processo, podendo variar em função da abordagem de cada autor,
havendo quem enfatiza a componente monetária/financeira que em grande medida marca este, enquanto
que outros olham para a questão da quase uniformização dos padrões culturais que vem ocorrendo um
pouco por toda a parte, e bem como rápida difusão de um volume enorme de informação pelos meios de
comunicação.

Portanto, grande parte dos autores prefere ver a globalização não como um conceito em si, mais sim
olhando para aquilo que são os traços característicos deste processo. Assim, esta surge como “um
processo de aprofundamento da integração económica, social, cultural, política e espacial que
transforma o mundo numa aldeia global com ganhos para as nações. Caracteriza-se por:
homogeneização dos centros urbanos, revolução tecnológica nas comunicações, reorganização
geopolítica do mundo em blocos comerciais e não ideológicos, hibridação entre culturas populares
locais e uma cultura de massas supostamente universal”. (Negri; sem data; pp. 2)

Tendo em conta a abordagem sociológica que marca este trabalho, optamos em adoptar a abordagem de
Giddens que olha a globalização como sendo “intensificação das relações sociais em escala mundial, que
ligam localidades distantes de tal maneira que acontecimentos locais são modelados por eventos
ocorrendo muitas milhas de distância e vice-versa.” (Giddens, 1990; 60)

Impacto da Globalização nas Desigualdades Sociais

É facto que o processo de globalização tem um grande impacto em vários domínios da vida quer seja
político, económico, religioso, cultural e social tanto sobre os países e bem como indivíduos. Tais
impacto tanto podem ser positivos e negativos dependendo da situação concreta, pois trata-se de um
fenómeno complexo e multifacetado. As várias abordagens a volta deste processo tem se centrado na
vertente económica, ou seja, olhando apenas o mesmo sobre ponto de vista das trocas comerciais entre
nações e indivíduos se esquecendo do facto de que a economia está directamente ligada a outros campos
da vida e que por conseguinte acaba tendo impacto forte sobre tais campos.

Este representa interesses específicos de grupos sociais ou indivíduos, que obviamente são opostos e
criam conflitos de vária natureza, estruturando os grupos em dominantes e dominados. Assim, uma das
consequências negativas deste processo e que tem sido discutido por vários pensadores tem a ver com
desigualdades sociais que tendem a agudizar-se cada vez mais, sobretudo em países subdesenvolvidos
que não possuem capacidades de disputar em pé de igualdade com países economicamente mais fortes.

O desenvolvimento económico de determinadas empresas sobretudo as multinacionais, tem servido para


formar grupos ou classes sociais ou mesmo diferenciações sociais entre indivíduos e estratificar cada vez
as sociedades. A heterogeneização social torna-se uma característica social marcante das sociedades,
sobretudo em países subdesenvolvidos. Grosso dos países subdesenvolvidos são constituídos
maioritariamente por uma população de muito pobres e poucos ricos, o que de algum modo explica o
surgimento de convulsões sociais, pois as expectativas de um bem-estar social são restringidas a maioria.

A expansão dos mercados globais tem servido para que um grupo restrito possa aceder a mais mercados e
por conseguinte adquirir mais riqueza. A liberalização da economia por parte dos governos em países
subdesenvolvidos contribui para aumento das desigualdades sociais, visto que nem todos tem poder de
compra. A redução de postos de emprego em alguns países tem servido para criar cada vez mais pobres e
por esta via a diferenciação social entre ricos e pobres.
Sociologia Geral Código: A0017 66

A par deste processo observamos também a exclusão social e a segmentação social e cultural, tendo em
conta que existe tendência de assimilar-se hábitos e costumes de outros contextos, que só podem ser
adquiridos por uma parte da população dado seu poder de conta.
Portanto, as possibilidades reais de consumo dos indivíduos e grupos contribui para aumento da
desigualdade social. A disparidade entre os países desenvolvidos e subdesenvolvidos é tal que nos dias
actuais notamos um maior fosso entre ricos e pobres, agudizando cada vez mais as desigualdades sociais.

ios

avaliação 1 – Define conceito de globalização?


Resposta: definimos a globalização como a intensificação das relações
sociais em escala mundial, ligando localidades distantes de modo que
acontecimentos locais são modelados por eventos ocorrendo muitas
milhas de distância e vice-versa.
2- Aponte algumas dos impactos da globalização sobre as desigualdades
sociais?
Resposta: podemos apontar como alguns dos impactos da globalização
sobre as desigualdades sociais tem a ver com aumento da diferenciação
social entre ricos e pobres, a exclusão de indivíduos e grupos no acesso a
bens e serviços, surgimento de focos de tensão social entre os pobres pelo
acesso limitado as vantagens sociais.

ade N0 16-A0017
Crime como Facto Social
o
Não existe sociedade no mundo em que a questão do crime não seja tema de debate pelos mais variados
motivos ao longo do tempo. Entanto que facto o crime tem um historial de surgimento que transcende as
mais variadas abordagens, e dado seu impacto o crime tem merecido atenções de governos e população
em geral.
Ao completar esta unidade, você será capaz de:
Sociologia Geral Código: A0017 67

ectivos  Definir o conceito de crime,

o
Crime

O crime é algo que podemos encontrar em toda e qualquer sociedade no mundo, sendo que a diferença
está no facto de que o mesmo apresenta uma morfologia que varia segundo a sociedade e tempo concreto.
Vários são os pensadores que se tem debruçado a volta desta questão tanto dentro e fora da Sociologia.
Efectivamente, as abordagens sobre o crime iniciaram a já bastante tempo o que deu origem a
criminologia que é vista como sendo a ciência que se ocupa do estudo científico do crime, buscando
perceber aspectos tais como suas causas, as vítimas, controle social sobre o acto considerado criminoso, a
personalidade criminosa e bem como as formas de ressocializar o criminoso.

Entanto que área de conhecimento a criminologia é uma disciplina interdisciplinar, visto que se apoia em
outras disciplinas tais como Biologia, Sociologia, Antropologia, Política, Direito, entre outras que lhe
sejam úteis. A criminologia pode então ser dividida em escolas tais como a Clássica que figurou durante o
século XVIII tendo como um dos expoentes máximos Beccaria, escola Positiva no séc. XIX tendo
Lombroso como expoente máximo e escola Sociológica já no final do séc. XIX. Portanto, estas escolas
tem sido divididas em dois grandes grupos sendo a criminologia Tradicional que abarca as duas primeiras
escolas, e criminologia Nova ou Crítica.

A Tradicional nas suas abordagens sobre o crime apenas se interessava sobre as suas eventuais causas,
sendo que regra geral essas eram identificadas como estando apenas ligadas ao próprio indivíduo, tal
como considerava Lombroso que criminoso era um ser delinquente por natureza e a partir de certos traços
físicos tais como: formato da testa, tamanho das mãos, ombros, orelhas, etc. podia-se identificar o
criminoso. Assim, a pena era algo ineficaz, porque crime era congénito aos criminosos que eram pessoas
doentes/delinquentes que necessitavam de tratamento. Deste modo, crime era visto como um problema
biológico e individual.

A Crítica ou Nova, olha que crime numa perspectiva relativamente diferente, considerando que este não é
algo intrínseco ao indivíduo, mais pelo contrário como ligado a vários elementos tais como o meio social
em que ele se encontra inserido e por outro lado o próprio indivíduo. “...por sua vez, busca as causas do
crime na sociedade. O crime é analisado como um fenómeno colectivo, sujeito às leis do determinismo
sociológico e, por isso, previsível. A sociedade contém em si os germes de todos os crimes. O criminoso é
mero instrumento no comportamento criminoso. A solução para o problema do crime está na reforma
das estruturas sociais.”(Filho; 2000, pp. 2).

Etimologicamente a palavra crime deriva do latim crimino que significa crime, que por sua vez seria uma
transgressão de algo prescrito pela lei ou na moral de uma sociedade ou grupo social; ou seja, seria não
cumprimento de um dever. Durkheim, um dos sociólogos mais proeminente considerava o crime como
um facto social e algo universal, pois existia em toda e qualquer sociedade independentemente da sua
dimensão (pequena ou grande). Para o autor, existem sociedades de solidariedade mecânica e de
solidariedade orgânica, perfazendo tipos distintos. Numa os indivíduos tendem a ser semelhantes e quase
não há divisão social do trabalho, enquanto que na outra é exactamente o oposto.
Sociologia Geral Código: A0017 68

Nas sociedades de solidariedade mecânica a coesão social tende a ser maior pois que os indivíduos se
identificam a partir da família, vizinhança, religião, etc.; pois perfazem sociedades pré capitalistas. Aqui a
consciência colectiva é bastante forte e extremamente coerciva, havendo por conseguinte maior controlo
sobre o indivíduo directamente. Em contraposição nas sociedades de solidariedade orgânica há divisão e
especialização do trabalho e independência dos indivíduos. A coesão social é mantida exactamente pela
divisão do trabalho e não pela imposição ou coesão da consciência colectiva que já não bastante forte.

O autor faz uma analogia com organismos vivos em que cada órgão desempenha uma função específica e
deste modo contribui para o pleno funcionamento do todo.
Crime, é para o autor todo e qualquer acto que ofende os estados fortes e definidos da consciência
colectiva. É algo útil e necessário pois que mostra que consciência colectiva se sobreponha a consciência
individual e que mesmo assim, a individual consegue escapar a este controle e praticar o crime.

Quando assim acontece, a sociedade penaliza o infractor como forma de mostrar que ninguém deve se
opor a consciência colectiva por esta representar a vontade de toda sociedade que não deve ser violada. É
necessário para alterar os valores morais e sociais existentes na sociedade. “...Podemos resumindo a
análise que precede dizer que um acto é criminoso quando ofende os estados fortes e definidos da
consciência colectiva.,...ou seja, uma acção é considerada criminosa porque ofende a consciência
colectiva e não que a consciência colectiva se sinta ofendida pelo acto ser criminoso,...o crime é portanto
necessário, está ligado as condições fundamentais de qualquer vida social e precisamente por isso, é útil
porque estas condições a que está ligado são indispensáveis para evolução normal da moral e do
direito.” (Durkheim, op.Cit. IN: Fabreti; 2002 pp- 17-20)

Este ponto de Durkheim é importante por nos mostrar que não existe crime em si, e muito menos que
crime seja mesmo em toda e qualquer sociedade e tempo, porque todo acto é assim considerado quando a
própria sociedade assim categorizar. Portanto, tendo em conta os pontos apresentados acima podemos
então definir o crime como sendo todo e qualquer acto que implica violação normas ou deveres
existentes numa sociedade, ou seja, é toda e qualquer acção contrária ao valores definidos por um
grupo social como prática a seguir pelos seus membros. O crime não é definido como tal tendo em conta
cada sociedade concreta, daí que embora exista em toda e qualquer sociedade não é categorizado da
mesma forma para os mesmos actos.
Sociologia Geral Código: A0017 69

ios

avaliação 1 – Define conceito de crime?


Resposta: podemos então definir o crime como sendo todo e qualquer
acto que implica violação normas ou deveres existentes numa sociedade,
ou seja, é toda e qualquer acção contrária ao valores definidos por um
grupo social como prática a seguir pelos seus membros.
2- Identifica e explique as abordagens sobre criminologia?
Resposta: encontramos duas abordagens fundamentais sendo a
criminologia Tradicional que nas suas abordagens ao crime apenas se
interessava sobre as suas eventuais causas, sendo que regra geral tais
causas eram identificadas como estando apenas ligadas ao próprio
indivíduo. Criminologia Nova ou Crítica olha crime numa perspectiva
relativamente diferente, considerando que este não é algo intrínseco ao
indivíduo, mais pelo contrário está ligado a vários elementos tais como o
meio social em que ele se encontra inserido e por outro lado o próprio
indivíduo.

ade N0 17-A0017
Determinantes da Criminalidade
o
Já vimos em Durkheim e outros pensadores que o crime é um fenómeno em toda e qualquer sociedade,
embora os actos considerados como tal variem de uma sociedade a outra, pois que um acto considerado
crime num contexto pode não o ser num outro. Deste modo, na análise do crime em cada contexto as
causas do mesmo não podem de modo algum serem as mesmas, visto que a sociedade é dinâmica.
Portanto, dentro de uma mesma sociedade um acto hoje considerado crime poderá não o ser transcorrido
um certo período.
Sociologia Geral Código: A0017 70

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Identificar as determinantes da criminalidade e algumas das teorias


explicativas sobre estas.
ectivos

o
Determinantes da Criminalidade

Desde advento científico da criminologia entanto que uma disciplina científica e mesmo antes desta a
sociedade sempre se preocupou em perceber e explicar o crime destacando as suas causas explicativas ao
longo dos tempos. É deste modo que surgem a mais variadas teorias sobre o crime, que essencialmente
tentam explicar este fenómeno a partir de elementos que consideram ser causas do mesmo. Estes estudos
tiveram e tem uma grande importância quer seja sob de vista sociológico e bem como de intervenção
social no que se refere ao delineamento de políticas públicas para combate a este fenómeno social.

Neste ponto importa referir que as teorias ou abordagens sobre causas do crime não devem ser tomadas
em si mesmas como acabadas e muito menos fonte de verdades absolutas, visto que elas representam
essencialmente uma tentativa ou forma de explicação de um facto social. Assim, estas devem ser tomadas
de forma recorrente ou interligada, pois que na análise do crime não se deve adoptar uma perspectiva
mono causal, pois que este normalmente tem por detrás várias causas associadas entre si, embora que
dentre estas uma se destaque mais relativamente as outras em dado momento.

Segundo alguns autores, podemos distinguir as teorias sobre as causas da criminalidade em: a) teorias de
explicação do crime como patologia individual, b) teorias centradas no homem económico segundo a
qual o crime resulta de acção tendo em vista a maximização do lucro, c) teorias de crime como
subproduto de um sistema social perverso ou deficiente, d) teorias de crime como resultado de perda de
controlo e desorganização social na sociedade moderna, e e) teoria de crime como resultado de factores
situacionais ou oportunidades.

Teoria de Patologias Individuais

Estas subdividem-se em 3 grupos distintos nomeadamente as psicológicas, biológicas e psiquiátricas.


Estas tem a particularidade de associarem a criminalidade a determinados aspectos tais como a fisiologia
dos indivíduos (forma óssea, formato das orelhas, etc.), psique dos indivíduos em que os criminosos
devido aos problemas de neuroses, distúrbios mentais, etc. eram vistos como inferiores aos não
criminosos. Portanto, os aspectos considerados patológicos do indivíduo eram apontadas como causas
explicativas do crime, ou seja, o comportamento criminoso não dependia da vontade deste e sim de
distúrbios mentais ou traços psicológicos específicos de um demente ou ser inferior.

Teoria de Desorganização Social

Representa uma abordagem sistémica tendo como enfoque as comunidades que constituem uma rede de
relações várias entre indivíduos e que contribuem para o processo de socialização dos seus membros.
Assim, a organização e desorganização social contribuíam para inibir ou facilitar o controlo social. Nesta
Sociologia Geral Código: A0017 71

perspectiva, o crime resultaria da ocorrência de situações indesejáveis na organização das relações


sociais, que podiam ser por exemplo: baixa supervisão dos adultos aos adolescentes e jovens, relações de
vizinhanças fracas e dispersas, a desagregação familiar entre outros aspectos.

Teoria de Estilo de Vida

Esta tem como pressuposto base a ideia de que existem 3 elementos essenciais que explicam o crime
designadamente: um agressor potencial, vítima potencial e um mecanismo de defesa ditado pelo estilo de
vida da potencial vítima. Assim, nesta perspectiva o estilo de vida do indivíduo era fundamental para
explicar a ocorrência do crime, de tal modo que pouco importava criminoso, ou seja, a racionalidade do
criminoso em si que decide quando, onde e quem atacar.

Um indivíduo que passa maior parte do seu tempo fora do seu local de residência, que trabalha durante
período nocturno, reside num ponto distante e sozinho, teria maiores chances de ser atacado por um outro
que não estivesse nessas condições. De igual modo consideram que um indivíduo abastado que vivesse
num bairro periférico, não tivesse um sistema de segurança, ostentasse bens luxuosos, saí-se nas noites,
fosse de idade avançada ou mulher, estava exposta ao crime dado seu estilo de vida. Portanto, era tarefa
sua dada sua condição ou situação concreta criar todas as condições de segurança para escapar ao crime.
Vão mais longe ao afirmarem que a causa do crime era culpa da vítima, que tendo conhecimento do seu
estilo de vida deveria criar condições de evitar a ocorrência deste.

Teoria de Diferenciação Social ou Aprendizado Social

A corrente considera que o crime tem a ver com o processo de aprendizagem por parte dos adolescente
de comportamos que sejam ou não favoráveis ao crime, mediante um processo de interacção social com
os demais. Neste sentido, a família, grupo de amigos e bem como a comunidade desempenhariam um
papel importante neste processo, no sentido de poder facilitar ou inibir a participação no crime.

São apontadas como variáveis que influenciam envolvimento crime as seguintes: nível de supervisão
familiar, grau de coesão no grupo de amigos, ter amigos ex-presidiários e a representação sobre outros
que já foram presos, viver ou não com os pais, para além de contacto e aprendizado de práticas e técnicas
criminais.

Teoria de Controlo Social

Contrariamente as demais teorias, esta centra sua análise não nas causas do crime e sim nas razões que
levam os indivíduos a se absterem de cometer crime. Seu pressuposto é que os indivíduos não praticam o
crime devido a sua ligação e integração social no seu meio, o que faz com que ele age de acordo com as
normas e valores existentes.
Portanto, a decisão de não praticar crime não tem a ver com a escolha racional do indivíduo e sim pelo
contrário com o sentido de ligação e concordância que ele tem com a sua comunidade.

Teoria de Auto Controle Social

Essa abordagem olha o crime como sendo resultante do facto de que o indivíduo não deter um
autocontrole e muito menos capacidade de analisar e censurar seus actos. Isto acontece pelo facto
deste não ter desenvolvido mecanismos psicológicos de autocontrolo durante a infância e a de
Sociologia Geral Código: A0017 72

adolescência, em resultado de deficiências e anormalidades no processo de socialização


decorrente da ineficácia na educação dos filhos pelos pais, que não foram capazes de impor
limites a criança, negligenciaram possível mau comportamento do filho e sequer chegaram a
sancionar este por qualquer falha, daí que alimentaram comportamento egoísta deste.

Deste modo, o indivíduo vai crescendo considerando que os seus desejos se sobrepõem aos dos
outros e age apenas para satisfação desses sem respeitar as regras sociais.

Teoria da Anomia

Representa uma das mais propaladas na Sociologia e foi da autoria de Merton, para quem crime
ou delinquência era resultado de uma situação de desajuste entre as expectativas individuais e os
valores ideais impostos pela sociedade. Quer isto dizer que cada sociedade dava aos seus
membros um ideal de vida tal como o sucesso económico por exemplo, mais as chances reais de
alcance deste objecto não eram possíveis a todos os seus membros pela via correcta, daí que o
indivíduo enveredava por vias não legais tais como crime, apenas para alcançar o ideal da sua
sociedade.

Outro aspecto que explica crime nesta teoria são as chances bloqueadas em que o indivíduo
considera que o seu insucesso no alcance do ideal social resulta de factores externos a sua
vontade tal como o facto de não pertencer a uma certa rede social ou mesmo ser impedido de tal.
De mesmo modo temos a questão da privação relativa em que o indivíduo considera que só
alguns é que vivem o ideal social, enquanto que ele nem sequer tem o suficiente para si.

Teoria da Escolha Racional

Tal como o próprio nome sugere, o crime tem a sua explicação num processo de escolha
racional em que o criminoso avalia as vantagens e desvantagens de praticar crime em
comparação com o facto de não o praticar e se envolver num trabalho formal e legal.
Portanto, a decisão de crime é essencialmente individual em que o sujeito compara as vantagens
e desvantagens de cometer crime tais como prisão, reputação, produto a furtar, etc.,
comparativamente ao salário que recebe enquanto trabalha ou se pudesse trabalhar.

Neste sentido, a teoria de escolhas racionais tem como pressuposto uma ponderação por parte do
indivíduo que avalia os ganhos que poderá obter com o crime por um lado, e por outro as
consequências do mesmo que tem a ver com detenção e outros riscos associados que podem
fazer com que este não se envolva no crime.
Podemos então afirmar que dentre estas teorias nenhuma delas é melhor que a outra, mais pelo
contrário representam pontos de vista diferentes sobre um mesmo assunto e por conseguinte
interdependentes e complementares, visto que cada um deles da importância a único aspecto,
quando na verdade o crime é algo complexo e pluricausal.
Sociologia Geral Código: A0017 73

ios

avaliação 1 – O que entende por determinantes da criminalidade?


Resposta: podemos entender por determinantes da criminalidade, um
conjunto de elementos ou causas que podem explicar a razão da
ocorrência ou prática do crime, quer seja por parte do praticante ou da
vítima.
2- Explique a teoria de anomia do crime?
Resposta: a teoria de anomia, considera que crime é resultado de um
desajuste ou desencontro entre o ideal de vida imposto pela sociedade e
as possibilidades reais dos seus membros em alcançar este, o que leva a
prática do crime como forma de alcançar este ideal mesmo que seja por
vias ilícitas uma vez que é fundamental alcançar o ideal da sociedade.
Sociologia Geral Código: A0017 74

ade N0 18-A0017
Pobreza como Facto Social
o
A pobreza é um facto existente desde a muitos anos, podendo se encontrar em quase todas as sociedades
humanas, com características distintas ao longo do tempo. Se olharmos para a organização do mundo em
blocos, vemos que por detrás desta distinção está a noção de países pobres e não pobres, ou dito de outro
modo “suave” sub desenvolvidos/em vias de desenvolvimento e desenvolvidos/industrializados. Portanto,
é elemento distintivo de grupos humanos e da humanidade em geral.
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Identificar alguns dos conceitos de pobreza,


ectivos  Perceber a razão do estudo da pobreza sociologicamente.

Fenómeno da Pobreza

È facto que grande parte das pessoas não tem a definição exacta daquilo que seja a pobreza, e
contrariamente são capazes de identificar e exemplificar situações concretas que consideram de pobreza,
chegando mesmo a avanças as causas, consequência e bem como estratégias de combate a este fenómeno
social. A pobreza, é por excelência um facto social, não apenas por ser um fenómeno que ocorre em
sociedade, mais tendo em conta as suas características que vão de encontro as do facto social; tal como
sejam a generalidade, exterioridade coercibilidade.

Em termos históricos e etimológicos a palavra a semelhanças das demais advém do latim pauper, sendo
pau = pequeno, e pario = dou á luz, querendo isso significar terrenos agrícolas ou gado que reproduziam
abaixo do esperado.

Existem diferentes acepções do termo pobreza, sendo que no essencial quase todas elas olham este como
sendo algo meramente económico, ou seja, é a posse de determinados meios económicos tais como renda
específica, poder de aquisição, etc.

Ela pode ser vista como “Carência Material: tipicamente envolvendo as necessidades da vida quotidiana
como alimentação, vestuário, alojamento e cuidados de saúde. Pobreza neste sentido pode ser entendida
como carência de bens e serviços essenciais.
Sociologia Geral Código: A0017 75

Falta de Recursos Económicos: nomeadamente a carência de rendimento ou riqueza (não


necessariamente apenas em termos monetários). As medições do nível económico são baseadas em níveis
de suficiência de recursos ou em rendimento relativo.

Carência Social: como a exclusão social, a dependência e a incapacidade de participar na sociedade.


Isto inclui a educação e a informação. As relações sociais são elementos chaves para compreender a
pobreza pelas organizações internacionais, as quais consideram o problema da pobreza para lá da
economia.”1

Olhando para as mais diferentes visões a volta deste termo podemos entender a pobreza como sendo um
processo complexo de carências várias que os indivíduos sentem de satisfação das suas necessidades
para sua sobrevivência e dos seus dependentes, e que como tal ela abarca obviamente os níveis
avançados acima que são interligados para ocorrência desta.

Pobreza como Facto Social

A pobreza é um fenómeno que existe há já séculos em quase todas as sociedades possuindo marcas
distintas ao longo dos tempos e causas igualmente diferentes. Existem vários debates a volta desta sendo
que a partir daqui se faz uma distinção entre países desenvolvidos e os subdesenvolvidos ou em vias de
desenvolvidos, ou ainda primeiro mundo e segundo mundo. Igualmente esta tem sido visto como factor
distintivo do meio urbano e o rural, ou seja, cidade e campo.

Nesta perspectiva de distinção dicotómica entre espaços físicos, notamos que esta é considera como algo
específico a países considerados sub desenvolvidos ou vias de desenvolvidos, e quando a sua ocorrência
se faz sentir nos ditos desenvolvidos então é um traço ou marca dos meios suburbanos, ou seja, as
periferias e quando ocorre em cidades é resultado da migração da população do meio rural para as
cidades.

Apesar destas distinções, a pobreza é um fenómeno que ocorre em toda e qualquer sociedade em maior ou
menor amplitude, afectando negativamente cada indivíduo tomado isoladamente e a sociedade como um
todo. Ela pode ter as mais variadas causas (e nunca uma única) tais como “ Factores Políticos Legais:
corrupção e inexistência ou mau funcionamento de um sistema democrático, fraca igualdade de
oportunidades, Factores Económicos: sistema fiscal inadequado, representando um peso excessivo sobre
a economia o sendo socialmente injusto, a própria pobreza que prejudica o investimento e
desenvolvimento, Factores Naturais: desastres naturais, climas ou relevos extremos, doenças.
Problemas de Saúde: adição de drogas ou alcoolismo, doenças mentais, doenças da pobreza como a
SIDA e a malária, deficiências físicas. Factores Históricos: colonialismo, passado de autoritarismo
político. Insegurança: guerra, genocídio e crime.”2

Estes e outros factores aqui destacados são responsáveis por outros factores que podemos designar por
consequências lógicas da própria pobreza que geralmente tem efeitos não só ao nível da sua sociedade de
origem mais também e acima de tudo em outros espaços ou contextos, interferindo ou afectando a própria
estrutura social por um lado a interacção social entre os indivíduos.

1
www.wikipédia.com. Acedido em 22 de Outubro de 2011.
2
www.wikipédia.com. Idem.
Sociologia Geral Código: A0017 76

É assim que já num passado a Escola de Chicago que é precursora da Sociologia Urbana se interessou
pelo estudo deste fenómeno na cidade de Chicago, exactamente por perceber que este fenómeno por
entender que a vida na cidade implicava uma complexa rede de relações sociais, pelo que aspectos
aparentemente fúteis deveriam ser investigado pois que de algum modo interferiam na vida da sociedade
como um todo.

Daí seu interesse pelo estudo dos guetos a volta de Chicago, por ser onde se concentravam o grosso dos
emigrantes que trabalhavam nas fábricas e desenvolviam uma forma de organização própria que permitia-
lhes integrarem-se na vida urbana, apesar das suas péssimas condições de vida.

Olhando para o contexto actual, vemos que esta faz-se sentir com maior impacto em países sub-
desenvolvidos como Moçambique, quer seja no meio rural ou urbano. Estudos recentes mostram que de
facto no país, ela tende a aumentar cada vez mais nos centros urbanos em decorrência da migração de
parte da população, que como sabemos está em maior número no meio rural e com a guerra, calamidades
e atractivo das próprias cidades aqui se concentrou resultando não só no aumento da pobreza, mais acima
de tudo alterações profundo na estrutura social e morfologia das próprias cidades.

O alargamento de bairros suburbanos com condições deploráveis é exemplo disso, além do aumento dos
casos de mendicidade, criminalidade, prostituição, desemprego, entre outros. Existem determinados
elementos tais como esperança de vida, mortalidade infantil, PIB, etc. que servem como indicadores da
pobreza.
Portanto, embora aparentemente isolado a pobreza é um fenómeno que afecta a sociedade como um todo,
exactamente por ocorrer dentro de um espaço determinado e poder se alastrar a outros espaços por
diversas formas e razões.

Daí a preocupação enorme por parte dos governos com esta questão visto que a partir desta podemos ter
como consequência fenómenos como revoltas populares, aumento da exclusão e discriminação social,
emigrações, violência e instabilidade política, sem abrigos, redução da esperança de vida, desemprego,
etc. uma vez que a pobreza representa uma situação de luta entre indivíduos ou grupos sociais no acesso
aos recursos que regra geral são escassos para satisfação das necessidades individuais e colectivas.
Sociologia Geral Código: A0017 77

ios

avaliação 1 – O que entende por pobreza?


Resposta: existem várias asserções do termo pobreza, mas podemos ver
esta como sendo um processo complexo de carências várias que os
indivíduos sentem de satisfação das suas necessidades para sua
sobrevivência e dos seus dependentes, e que como tal ela abarca
obviamente os níveis avançados acima que são interligados para
ocorrência desta.

2- Aponte algumas das causas da pobreza?


Resposta: dentre várias podemos citar como consequências da pobreza as
revoltas populares, aumento da exclusão e discriminação social,
emigrações, violência e instabilidade política, sem abrigos, redução da
esperança de vida, desemprego, etc.
Sociologia Geral Código: A0017 78

ade N0 19-A0017
O Problema da Prostituição
o
A questão da prostituição tem sido bastante abordada quer sob ponto de vista teórico, quer sobre ponto de
vista de problema social, entanto que algo que afecta negativamente toda e qualquer sociedade, havendo
diferentes interpretações e representações desta ao longo dos tempos.
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Perceber a questão da prostituição e as representações sociais a volta


deste fenómeno.
ectivos
 Identificar algumas das possíveis causas deste.

Prostituição

Tem sido denominada como sendo a “profissão mais antiga do mundo”, exactamente por ser uma prática
secular, visto que formalmente esta não é reconhecida como sendo uma actividade formal ou profissão.
Embora prática antiga e que ocorra em quase todos os países sob diferentes perspectivas, esta tem sido
reprovada social e moralmente, pelo facto de representar a degradação que representa para os indivíduos
que a praticam e outros próximos a estes.

Conceptualmente, é uma actividade que consiste em oferecer satisfação sexual em troca de


remuneração, de forma habitual e promíscua. É uma conceptualização que baseia-se em valores sociais
e culturais de cada sociedade e época concreta. Regra geral, esta é vista como sendo uma prática
eminentemente feminina, visto que historicamente as mulheres foram concebidas como “objectos” de
prazer dos homens, ou seja, era função da mulher garantir a satisfação sexual dos homens. Isto não quer
dizer que esta não seja também masculina, em que os homens satisfazem sexualmente as mulheres em
troca de valores monetários, mais sim que é mais praticada pelas mulheres e percebida como tal.

Existem contextos em que a prática desta por homens acaba recebendo uma designação diferente de
prostituição pese embora, a mesma prática quando feita pelas mulheres receba este nome. A prostituição
além de mudar de intensidade de uma sociedade á outra, muda dentro de uma mesma sociedade,
envolvendo diferentes autores sociais tais como adolescentes ou menores de idade (a chamada
prostituição infantil), tendo por detrás várias motivações e podendo ou não ser permitida segundo os
valores de cada sociedade.
Sociologia Geral Código: A0017 79

Embora não exista um marco histórico sobre seu início, podemos entender que já no passado em algumas
comunidades havia prática dos homens incitarem as mulheres a relações sexuais em troca de bens
materiais por elas apreciados tais como jóias, ouro, etc. Em outras sociedades no passado a prostituição de
meninas era uma espécie de rito de iniciação da puberdade. De igual modo que durante algum período
esta estava ligada a cultos religiosos.

“Em sociedades como Roma e Grécia, a prostituição propriamente dita, era controlada pelo Estado, que
cobrava elevados impostos das prostitutas e as obrigava a usar roupas que identificassem a profissão. As
heretas ou hetairas gregas, cortesãs cultas e refinadas que frequentavam reuniões e festas de intelectuais
e políticos, exerciam um tipo de prostituição respeitada... durante a idade média, a igreja cristã tentou
sem sucesso eliminar a prostituição.”3

A partir do exposto acima, ve-se que de facto esta actividade está presente na história da humanidade há
muito tempo, com formas diferentes, podendo conferir ou não para além de benefícios materiais, prestígio
ou não aos seus praticantes; daí que se fale da alta e baixa prostituição. Fazendo um percursso histórico,
percebemos que esta prática tem sido moralmente sancionada ou reprimida, devido aos valores sociais,
fazendo com que este grupo represente uma classe a margem da própria sociedade.

Existem diferentes motivações ou factores explicativos desta, com maior incidência a questão da pobreza,
que leva a que estes (sobretudo mulheres) como forma de garantir a sua sobreviência se envolvam na
prostituição. Há abordagens que discordam desta teoria alegando que a pobreza em si não constitui de
modo algum o móbil explicativo da prostituição, pelo contrário existem outros elementos que interferem
em grande medida nesta decisão. Outro aspecto que tem sido apontado como causa explicativa também
consta o tráfico ou exploração sexual em que as mulheres são raptadas e comercializadas, e obrigadas a
prostituirem-se.

Encontramos as motivações individuais também como explicação em que o indivíduo avalia as vantagens
e desvantagens do seu envolvimento nesta prática, sendo que regra geral a sua adesão é justificada pela
facilidade na obtenção de bens materiais e consequente alcance de bem estar, pese embora por uma via
rejeitada socialmente.

Pode-se avançar como uma das possíveis consequências a degradação do tecido social, rápida
disseminação de doenças sexualmente transmissíveis, impacto negativo na estrutura familiar,
envolvimento de menores de idade e bem como tráfico de seres humanos para este fim, entre outros
aspectos. Estes e outros factores é que levam a interdição por parte de alguns organismos internacionais.

3
www.wikipédia.com. Acedido em 23 de Outubro de 2011.
Sociologia Geral Código: A0017 80

ios

avaliação 1 – Define prostituição?


Resposta: prostituição, é uma actividade que consiste em oferecer
satisfação sexual em troca de remuneração, de forma habitual e
promíscua.

2- Aponte algumas das causas da prostituição?


Resposta: dentre várias podemos citar como causas a pobreza, desejo de
bem estar individual, obrigação através do tráfico e exploração sexual,
entre outras.
Sociologia Geral Código: A0017 81

ade N0 20-A0017
Abordagem Sociológica a Educação
o
Entanto que disciplina que se dedica ao estudo da sociedade, a Sociologia é elemento importante que nos
ajuda perceber os processos sociais, ou seja, as nossas práticas diárias enquanto membros de facto de uma
determinada sociedade. É assim, que ela se interessa pela educação por ser algo de fundamental
importância para toda e qualquer sociedade, tendo conteúdos específicos em épocas e espaços.
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Definir a educação como processo social,


ectivos  Identificar as perspectivas sobre educação

A Educação

Entanto que ciência social, a Sociologia sempre se preocupou não só em definir o conceito de educação,
mais acima de tudo perceber a luz de cada sociedade e de seus membros, o que esta efectivamente
representava, olhando para os seus aspectos objectivos e subjectivos. Portanto, é uma abordagem que olha
a educação como sendo um processo, e neste sentido dotado de um significado tanto para o indivíduo e
grupo em si. Fazendo uma abordagem aos estudos sociológicos da educação, destacam-se 3 linhas de
debate nomeadamente: “1- Filosófica Sociológica: é uma reflexão sobre o carácter social do processo
educativo, seu significado como sistema de valores sociais, sua relação com as concepções e teorias do
homem.

2- Pedagógica Sociológica: desenvolveu-se nos Estados Unidos onde se procurou efectuar o estudo dos
aspectos sociais da educação a fim de obter bom funcionamento da escola.
3- Sociológica:...beneficiada pelo desenvolvimento das duas linhas anteriores, delas herdou a tendência
filosófica e a tendência prática, ou seja, a preocupação com a função social da educação e com a
solução dos problemas educacionais.” (Cândido, 1955, pp- 117-125)

Olhando para estas abordagens expostas acima, percebemos que elas consideram a educação entanto que
algo meramente formal, daí que suas análises consideram como espaço de realização desta a escola.
Embora represente uma abordagem muito válida e interessante, esta acaba de certo modo limitando que
Sociologia Geral Código: A0017 82

esta é entanto que processo social, que se dá tanto dentro como fora da escola, daí a distinção educação
formal e informal.

A educação pode ser definida como sendo “a acção exercida pelas gerações adultas sobre as que ainda
não estão maduras para a vida social, tendo por objecto suscitar e desenvolver na criança um certo
número de estados físicos, intelectuais e morais dela exigidos pela sociedade política no seu conjunto e o
meio especial a que se destina particularmente.” (Durkheim; op cit. In: Cândido, idem). Esta citação
mostra que efectivamente a educação é um processo e que os conteúdos e actores nele envolvidos e
pressupostos são dados pela sociedade.

A educação pressupõe que haja um indivíduo que se considera ainda não possuir determinados
conhecimentos julgados úteis e necessários pela sociedade para cada um dos seus membros efectivos, e
que para tal existem outros indivíduos a quem a sociedade considera possuir tais conhecimentos e detém
autoridade para garantir a sua transmissão aos demais.

É a partir deste processo que o “imaturo” adquire as normas, valores e crenças do seu grupo de pertença,
o “maturo” deverá reconhecer nesta a aquisição destes conhecimentos julgados necessários.
A educação, é no fundo um processo de socialização e que serve para homogeneizar os comportamentos e
conhecimentos dos indivíduos dentro da sociedade e bem como diferenciar estes entre si, no que se refere
aos transmissores e receptores, marcando deste modo relações de poder específicas.

Sobre ponto de vista formal, a educação também pode ser vista como um processo social, na medida em
que alunos e professores representam personagens com papéis sociais distintos, sendo que um é
transmissor de conhecimentos específicos úteis e necessários para o desempenho de determinada
profissão no futuro, e outro receptor dos mesmos. A sociedade reconhece o papel que cada um destes
deve desempenhar para que possa considerar como educação. Além de que estas figuras, mesmo que em
sala de aula interagem entre si e representam 2 grupos distintos.

A escola é no fundo um subsistema, dentro de um sistema amplo que é a sociedade no seu todo. De certo
modo, esta acaba sendo responsável pela diferenciação social na medida em que os indivíduos são
selecionados pelas suas capacidades para desempenho de certas actividades e deste modo vão se
diferenciando socialmente.

Como processo social, a educação formal e informal é um processo interactivo de transmissão da


memória do grupo, isto é, a história da sociedade. Ela visa a integração e conservação da sociedade,
fazendo com que a sociedade renove as condições de sua existência. Pode-se concluir assim, que a
educação é um processo de regulação social.
Sociologia Geral Código: A0017 83

ios

avaliação 1 – Define educação?


Resposta: pode-se definir a educação como sendo uma acção exercida
pelas gerações adultas sobre as que ainda não estão maduras para a vida
social, tendo por objecto suscitar e desenvolver na criança um certo
número de estados físicos, intelectuais e morais dela exigidos pela
sociedade política no seu conjunto e o meio especial a que se destina
particularmente.
Sociologia Geral Código: A0017 84

EXERCÍCIOS A RESOLVER

Desenvolva os seguintes temas em cinco (5) linhas no máximo:

 Trabalho1 para primeira sessão presencial – Código: T-S.G-01


Importância do Senso Comum sobre o Conhecimento Científico no dia-a-dia, tendo em conta a natureza
de cada forma de conhecimento.

 Trabalho2 para segunda sessão presencial – Código: T-S.G-02

Considerando que a Sociologia tem como objecto de estudo o facto social, indique na sociedade
Moçambicana um fenómeno objectivo que porte em si as três características do mesmo.

 Trabalho3 para terceira sessão presencial – Código: T-S.G-03

Considerando que as teorias têm uma importância na leitura da realidade social envolvente, objective
casos em que o funcionalismo e marxismo servem na leitura da sociedade.

 Trabalho4 para terceira sessão presencial – Código: T-S.G-04

Discorra a volta da possibilidade da sociedade moçambicana ser classificada como estratificada em


classes sociais.
Sociologia Geral Código: A0017 85

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

 Almeida, João Ferreira (1998) “Introdução a Sociologia”; Universidade Aberta.


 ARON, Raymond. “As Etapas do pensamento sociológico”. Publicações Dom Quixote.

 Azevedo, Fernando de; “Princípios de Sociologia”, 9ª edição, edições Melhoramento;


São Paulo.

 Cruz, Manuel Braga da (1995) “Teorias Sociológicas: Os fundadores e clássicos.


Antologia de Textos”; 2ª edição, fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa.

 Cândido, António, (1950) “O Papel do Estudo Sociológico da Escola na Sociologia” ;


edições Sociedade Brasileira de Sociologia; São Paulo

 Fabreti, Humberto B., (2002) “A Teoria de Crime e da Pena em Durkheim: Uma


Concepção Peculiar do Delito”; Universidade Presbiteriana Mackenzie.

 Ferreira, J.M. Carvalho et al (1995) “Sociologia”; McGraw-Hill Portugal

 Filho, José Barroso (2000) “Teorias Científicas Sobre o Problema de Crime” ;


Universidade Federal de Brasília.

 GIDDENS, Anthony (1994) “Capitalismo e a Moderna Teoria Social: Uma Analise


das obras de Marx, Durkheim e Weber”; Editorial Presença.

 Giddens, Anthony (1990) “As Consequências da Modernidade”, Editora Unesp; 5ª


edição; São Paulo-Brasil

 Negri, António, “Teorias da Globalização”; sem data; texto extraído da Internet.

 Osborne, Richard (2006) “Dicionário de Sociologia”; Rio de Janeiro.


Sociologia Geral Código: A0017 86

 Pinto, José Madureira et Augusto Santos Silva (1999) “Metodologia das Ciências
Sociais”; edições Afrontamento

 Xiberras, Martine (1996) “As Teorias da Exclusão Social”; Instituto Piaget, Lisboa.

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