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Segunda-feira, 22 de Janeiro de 2001 I SÉRIE — Número 2

PREÇO DESTE NÚMERO — 320$00


Toda a correspondência quer oficial, quer relativa a anúncios e à ASSINATURAS
assinatura do Boletim Oficial deve ser enviada à Administração da
Imprensa Nacional, na cidade da Praia.
Para o país: Para países de expressão portuguesa:
Os originais dos vários serviços públicos deverão conter a
assinatura do chefe, autenticada com o respectivo carimbo a óleo ou selo Ano Semestre Ano Semestre
branco.
I Série ............... 2 990$00 2210$00 I Série ............... 3 900$00 3120$00
O preço dos anúncios é de 1500$ a lauda. Quando o anúncio for
exclusivamente de tabelas intercaladas no texto, será o respectivo espaço II Série ............... 1 950$00 1170$00 II Série ............... 2 600$00 2210$00
acrescentado de 50%.
I e II Séries ...... 4030$00 2 600$00
O mínimo de cobrança pela inserção no Boletim Oficial de qualquer I e II Séries ...... 4940$00 3250$00
anúncio ou outro assunto sujeito a pagamento é de 780$. AVULSO por cada página .. 8$00
Para outros países:
Não serão publicados anúncios que não venham acompanhados da Os períodos de assinaturas contam-se
importãncia precisa para garantir o seu custo. por anos civis e seus semestres. Os I Série ............... 4420$00 3640$00
Os demais actos referente à publicação no Boletim Oficial estão números publicados antes de ser tomada
II Série ............... 3250$00 2600$00
regulamentados pelo Decreto nº 74/92, publicado no Suplemento ao a assinatura, são considerados venda
Boletim Oficial nº 26/92, de 30 de Junho avulsa. I e II Séries ...... 5070$00 4125$00
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SUMÁRIO Lei 134/V/2001:

Estabelece o Regime Jurídico de tratamento de dados pessoais no


——— sector de telecomunicações.

ASSEMBLEIA NACIONAL CONSELHO DE MINISTROS:

Lei 125/V/2001: Resolução nº 1/2001:

Autoriza o Governo a legislar sobre o código Aeronáutico. Atribui a Luís da Silva Bastos uma pensão de Estado.

Lei 126/V/2001: Resolução nº 2/2001:

Concede benefícios fiscais às concessionárias do serviço público de Autoriza a Direcção-Geral do Tesouro a prestar um aval ao Banco
transportes aéreos. Comercial do Atlântico de Cabo Verde, visando garantir uma
operação de crédito no valor de 94 162 784,00 ECV, à EMPA.
Lei 127/V/2001:

Eleva a povoação de Espargos à Categoria de Vila.


ASSEMBLEIA NACIONAL
Lei 128/V/2001:

Concede pensão de aposentação dos agentes do Estado e das au- ———


tarquias locais.
Lei nº125/ V / 2001
Lei 129/V/2001:
de 22 de Janeiro
Autoriza o Governo a legislar em matéria do crime de branquea-
mento de capitais. Por mandato do Povo, a Assembleia Nacional de-
creta, nos termos da alínea c) do artigo 174º da Consti-
Lei 130/V/2001: tuição, o seguinte:
Autoriza o Governo a aprovar um Novo Código Penal.
Artigo 1º
Lei 131/V/2001: (Objecto)
Define as bases da protecção social.
Fica o Governo autorizado a legislar sobre o Código
Lei 132/V/2001: Aeronáutico, designadamente em relação às seguintes
matérias:
Cria junto do Banco de Cabo Verde o M.S.F – Macroeconomic Sta-
bility Fund. a) O regime de incentivos fiscais;
Lei 133/V/2001:
b) A definição de crimes, penas e medidas de se-
Estabelece o Regime Jurídico geral de protecção de dados pessoais a gurança e dos respectivos pressupostos, bem
pessoas singulares. como o processo criminal;

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8 I SÉRIE — Nº 2 — «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 22 DE JANEIRO DE 2001

c) O regime dos actos ilícitos de mera ordenação - a prestação de informações falsas ou distorci-
social e os respectivos processos. das através dos terminais SCR;
Artigo 2º - as vendas falsas, incompletas ou discriminató-
(Extensão)
rias de produtos de transporte aéreo através
dos terminais SCR;
A autorização legislativa prevista no artigo anterior
abrange, designadamente: h) O regime de extradição por crimes cometidos
no domínio da aeronáutica civil;
a) A consagração no Código Aeronáutico do prin-
cípio da concessão, no domínio da aeronáu- i) O regime jurídico de prescrição dos crimes e
tica civil comercial, de incentivos fiscais des- das contra-ordenações cometidos no domínio
tinados exclusivamente a transportadores de da aeronáutica civil, bem como das respecti-
nacionalidade cabo-verdiana que preenche- vas sanções e processos;
rem determinados requisitos; j) O regime jurídico aplicável a processos admi-
b) O estabelecimento do regime jurídico aplicável nistrativos e judiciais pendentes após a en-
aos factos e actos que constituem contra- trada em vigor do Código Aeronáutico.
ordenação cometidos no domínio da aeronáu- Artigo 3º
tica civil, designadamente em casos de rein-
cidência; (Integração no Código Aeronáutico)

c) A tipificação de factos e actos constitutivos de Fica, ainda, o Governo autorizado a integrar no Có-
contra-ordenações aeronáuticas e a fixação digo Aeronáutico toda a matéria objecto da presente
das respectivas coimas e sanções acessórias Lei, devendo aquele assumir a forma, mais solene, de
e dos respectivos pressupostos de aplicação, Decreto-Legislativo.
bem como das circunstâncias atenuantes e
Artigo 4º
agravantes;
(Duração)
d) A fixação da competência da autoridade ou en-
tidade administrativa para o conhecimento A presente autorização legislativa tem a duração de
das contra-ordenações aeronáuticas e a apli- 45 dias.
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cação das respectivas coimas e sanções aces-


Artigo 5º
sórias;
(Entrada em Vigor)
e) O processo aplicável para o conhecimento dos
factos e actos que constituem contra- A presente lei entra imediatamente em vigor.
ordenações aeronáuticas;
Aprovada em 23 de Novembro de 2000.
f) O regime de recurso no processo das contra-
ordenações aeronáuticas; O Presidente da Assembleia Nacional, António do
Espírito Santo Fonseca.
g) A tipificação de factos e actos constitutivos de
crimes susceptíveis de serem cometidos no Promulgada em 29 de Dezembro de 2000.
domínio da aeronáutica civil, dos seus pres-
supostos de punição e das respectivas cir- Publique-se
cunstância agravantes e atenuantes, bem
O Presidente da República, ANTÓNIO MANUEL
como das penas aplicáveis, nomeadamente:
MASCARENHAS GOMES MONTEIRO.
- a posse ilícita de aeronaves;
Assinada em 5 de Janeiro de 2001.
- os atentados contra as aeronaves ou a sua se-
O Presidente da Assembleia Nacional, António do
gurança em voo;
Espirito Santo Fonseca.
- o atentado contra a segurança da aviação
civil; ———
- a condução e a operação indevidas ou ilícitas Lei nº126/V/2001
de aeronaves; de 22 de Janeiro
- o sobrevoo clandestino ou malicioso em zonas 1. O transporte aéreo tem hoje, no sistema global dos
de proibição ou restrição do tráfego aéreo; transportes, importância económica e social por de-
mais reconhecida para dispensar qualquer esforço jus-
- o exercício ilícito de funções aeronáuticas;
tificativo da atenção que, na prática da totalidade dos
- o cruzamento ilícito de fronteiras; países, lhe é consagrada.

- o incumprimento do dever de socorro aeronáu- 2. A problemática ligada ao seu desenvolvimento,


tico; como instrumento orientado para a resposta a crescen-
tes necessidades colectivas, insere-se efectivamente
- o funcionamento ilícito dos terminais de Ser- num quadro vasto e complexo de interacções que, no
viços Computadorizados de Reservas - SCR; plano interno como no espaço internacional, impõem

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I SÉRIE — Nº 2 — «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 22 DE JANEIRO DE2001 9

soluções ponderadas no contexto dos interesses legíti- b) Isenção de IUR, pelo período de 7 anos a contar
mos em jogo. da data de assinatura do contrato de conces-
são do serviço público de transporte aéreo ou
3. A tomada de consciência que nos últimos tempos da atribuição do estatuto de transportadora
vem incidindo sobre as questões levantadas pelo uso aérea de serviço público;
das aeronaves, designadamente em relação com a ener-
gia, o ambiente e a ocupação do espaço, o comércio c) Isenção do pagamento de direitos de importa-
mundial, o movimento turístico e a formação dos gran- ção, emolumentos gerais e o imposto de
des espaços económicos, tem representado, no plano consumo a importação dos equipamentos ne-
das suas manifestações externas, sucessivos e acentua- cessários à exploração da concessão, aerona-
dos apelos aos poderes públicos em ordem à adopção de ves e respectivos sobressalentes e rotáveis
medidas susceptíveis de promover o melhor equilíbrio motores, máquinas, ferramentas, utensílios,
entre a satisfação das necessidades de transportes e a peças de reserva e quaisquer outros mate-
utilização rentável, eficaz e segura dos meios mais riais destinados a manutenção das aerona-
apropriados. ves e das oficinas afectas ao serviço público
concedido pelo prazo de concessão;
4. As ligações aéreas satisfazem necessidades e
preenchem funções cuja importância no contexto polí- d) Isenção do pagamento de direitos de importa-
tico-geográfico do nosso país justifica o empenhamento ção, emolumentos gerais e imposto de
do Estado na preparação de medidas institucionais que consumo à importação de veículos motoriza-
permitam a sua acção nas formas mais adequadas à dos que circulem exclusivamente no períme-
satisfação do interesse público. tro dos aeroportos do país, pelo prazo de
concessão;
5. É exactamente neste quadro que se insere o pro-
cesso de privatização estratégica da TACV, SA num e) Isenção de pagamento de direitos de importa-
contexto de busca de parcerias empresariais externas e ção, emolumentos gerais e imposto de
internas consistentes passíveis de mobilização para o consumo à importação de combustíveis, lu-
nosso país de mais valias técnicas, económico- brificantes e provisões de bordo, pelo prazo
financeiras e de gestão indispensáveis a que a empresa de concessão;
possa fazer face à progressiva concorrência no sector
f) Isenção de pagamento de direitos de importa-
dos transportes aéreos.
ção, emolumentos gerais e o imposto de
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6.Visa-se, pois, com o presente diploma atribuir um consumo à importação de equipamentos in-
conjunto de benefícios fiscais às concessionárias do ser- formáticos e programas de computação ne-
viço público de transportes aéreos com o propósito de cessários ao desenvolvimento e a moderniza-
criação de um sector forte, dinâmico e de qualidade, ção de actividade concessionada;
que seja capaz de aproveitar as potencialidades do pre- g) Isenção de pagamento de impostos, os juros da
sente e, sobretudo, as que, no futuro, se abrirão com os obrigações emitidas pelas concessionárias do
fenómenos da globalização potenciando o desenvolvi- serviço público de transporte aéreos, pelo
mento da TACV no plano da sua expansão e moderni- prazo de concessão.
zação através da ocupação de novas rotas, criação de
novos mercados e melhoria da qualidade dos serviços Artigo 3º
oferecidos e a oferecer. Entrada em vigor
Assim, A presente lei entra imediatamente em vigor.
Por mandato do Povo, a Assembleia Nacional de- Aprovada em 23 de Novembro de 2000.
creta nos termos da alínea b) do artigo 174º e da alínea
h) do nº1 do artigo 176º da Constituição o seguinte: O Presidente da Assembleia Nacional, António do
Espírito Santo Fonseca.
Artigo 1º
Promulgado em 29 de Dezembro de 2000.
Objecto
Publique-se.
O presente diploma concede benefícios fiscais às
concessionárias do serviço público de transportes aé- O Presidente da República, ANTÓNIO MANUEL
reos. MASCARENHAS GOMES MONTEIRO.

Artigo 2º Assinada em 5 de Janeiro de 2001.


Benefícios fiscais O Presidente da Assembleia Nacional, António do
Espirito Santo Fonseca.
As concessionárias do serviço público de transportes
aéreos, gozam dos seguintes benefícios fiscais: ———
a) Isenção do imposto do selo por actos ou contra- Lei nº127/V/2001
tos que pratique ou em que outorgue ou in- de 22 de Janeiro
tervenha, pelo período de cinco anos a contar
da data da assinatura do contrato de conces- A ilha do Sal vem conhecendo de uns tempos para cá
são do serviço público de transporte aéreo ou um desenvolvimento tal, que, hoje é sem sombra de dú-
da atribuição do estatuto de transportadora vidas um dos principais pólos de actividade económica/
aérea de serviço público; administrativa e cultural do País.

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10 I SÉRIE — Nº 2 — «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 22 DE JANEIRO DE 2001

Dotado de um Aeroporto Internacional, o maior e Lei nº 128/V/2001


mais importante do País os Espargos e a ilha no seu
de 22 de Janeiro
todo mantêm relações estreitas quer a nível nacional
como internacional, facto esse que constitui um papel 1. Muitos funcionários e agentes provindos da Ad-
crucial na estruturação do desenvolvimento da ilha, co- ministração Colonial Portuguesa em Cabo Verde, obti-
locando-a na vanguarda da inserção dinâmica de Cabo veram, nos termos e ao abrigo de um direito que lhes
Verde na economia mundial. assistia, e legitimamente o exerceram, após a Indepen-
A sede do município do Sal foi transferida para a po- dência Nacional, a aposentação relativamente ao
voação de Espargos, em 1981 sem que os poderes pú- tempo de serviço prestado ao Estado Português. Al-
blicos tivessem tomado a decisão formal de elevar essa guns deles, continuaram a prestar colaboração à nossa
povoação à categoria de vila, apesar de na prática pos- Administração Pública, podendo assim beneficiar-se de
suir esse estatuto, uma vez que constitui sede dos ser- mais uma reforma ao abrigo e nos termos do Decreto
viços municipais e dos serviços desconcentrados do Es- Legislativo nº 1/95, de 29 de Maio, ficando assim com
tado existentes na ilha. uma pensão em Portugal e outra em Cabo verde.

O crescimento da população, a urbanização cres- 2. Outros funcionários, porém, porque estavam a


cente, a construção de equipamentos sociais e o au- exercer funções de direcção na Administração Central
mento da qualidade de vida das populações, tornam e Indirecta, ou de titular de órgão municipal (Delegado
Espargos num importante centro populacional da ilha da Administração Interna/Delegado do Governo) não
do Sal e de Cabo Verde. puderam fazer o mesmo, por razão de coerência, já que
acreditavam na viabilidade do Estado de Cabo Verde.
Se a isso acrescentarmos a especial vocação turística
da lha, procurada por milhares de estrangeiros que vi- 3. Pensa-se ser de elementar justiça recompensar
sitam anualmente a população de Espargos, é fácil os funcionários que, estando em exercício de funções
constatarmos a necessidade urgente de adopção de dirigentes nas direcções-gerais, municípios e empresas
uma medida legislativa clarificadora, que eleve a po- e institutos públicos, e preenchendo o período de ga-
voação de Espargos à categoria de vila, independente- rantia de 10 anos com descontos para a aposentação,
mente do facto de ser a sede do município do Sal. não requereram aposentação ao Governo Português
pelas razões já mencionadas.
É, pois, de elementar justiça o reconhecimento desse
facto por parte dos poderes públicos que não tem pou- A recompensa que se pretende atribuir consistirá
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pado esforços no sentido de ajudar o desenvolvimento em:


da Ilha.
a) Considerar como relevante para efeitos de cál-
O objectivo desta lei é o elevar a povoação dos Espar- culo da pensão de aposentação de tais funcio-
gos à categoria de vila, em reconhecimento do seu de- nários a remuneração auferida à data do
senvolvimento económico, cultural e social, indo assim acto ou facto determinante da aposentação
ao encontro das aspirações da população local. pelo pessoal dirigente;

Assim, b) Facilitar o acesso à aposentação àqueles que


não tenham mais de 30 anos de serviço pres-
Por mandato do Povo, a Assembleia Nacional de- tado; e
creta nos termos da alínea b) do artigo 174º da Consti-
tuição, o seguinte: c) Actualizar a pensão daqueles que se encontrem
na situação de aposentados.
Artigo 1º

(Elevação à categoria de vila) É de se ter em devida conta que os descontos efec-


tuados para a reforma pelos referidos funcionários re-
A Povoação dos Espargos, no Município do Sal, é ele- caíram sobre o montante ilíquido da remuneração per-
vada à categoria de vila. cebida na altura, não podendo o Estado fazer tábua
rasa do esforço feito pelos mesmos para uma reforma
Artigo 2º
condigna.
(Entrada em vigor)
Assim,
Esta lei entra imediatamente em vigor.
Por mandato do Povo, a Assembleia Nacional deli-
Aprovada em 27 de Novembro de 2000. bera nos termos da alínea b) do artigo 174º da Consti-
tuição, o seguinte:
O Presidente da Assembleia Nacional, António do
Espírito Santo Fonseca. Artigo 1º

Promulgado em 29 de Dezembro de 2000. A remuneração relevante para efeitos do cálculo de


pensão de aposentação dos agentes do Estado e das au-
Publique-se. tarquias locais que exerceram cargos de direcção nos
serviços da Administração Central, de gestão nos insti-
O Presidente da República, ANTÓNIO MANUEL tutos e empresas públicas, ou de titular de órgão muni-
MASCARENHAS GOMES MONTEIRO. cipal, durante, pelo menos, cinco anos, consecutivos ou
Assinada em 5 de Janeiro de 2001. interpolados e contem, com pelo menos, 30 anos de ser-
viço à data da entrada em vigor da presente Lei, é a
O Presidente da Assembleia Nacional, António do que respeitar à remuneração do pessoal dirigente de
Espirito Santo Fonseca. nível IV ou, tratando-se de empresas públicas, de nível

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I SÉRIE — Nº 2 — «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 22 DE JANEIRO DE2001 11

V, no momento da verificação do acto ou facto determi- Artigo 1º


nante da aposentação. Objecto
Artigo 2º
Fica o Governo autorizado a legislar em matéria de:
O disposto no artigo anterior aplica-se aos agentes
a) Alargamento do objecto do crime de branquea-
nele referidos que satisfaçam os seguintes requisitos:
mento de capitais, para além do previsto na
a) Terem à data de 5 de Julho de 1975, pelo Lei n.º 78/IV/93, de 12 de Julho, relativa ao
menos, 10 anos de serviço prestado à Admi- tráfico ilícito de estupefacientes e substân-
nistração Pública em Cabo Verde; cias psicotrópicas, aos bens e produtos prove-
nientes de outros crimes graves, referidos ex-
b) Não perceberem aposentação por outros Esta- pressamente no corpo do n.º 1 do artigo 2.º;
dos.
b) Limitação do dever de sigilo das entidades ban-
Artigo 3º cárias e financeiras, seus dirigentes e empre-
gados, afastando este dever sempre que se
1. As pensões dos agentes do Estado, aposentados trate de possibilitar e garantir uma eficaz
pelo Estado antes da entrada em vigor do Decreto-Lei prevenção e punição do branqueamento de
nº86/92, de 16 de Julho, serão recalculadas e actualiza- capitais e das infracções subjacentes, isen-
das com base na remuneração indiciária correspon- tando de responsabilidade de qualquer tipo
dente ao índice para que transitou o pessoal da mesma as informações prestadas pelos bancos e in-
categoria e remuneração nos termos da referida lei e stituições financeiras, seus dirigentes e em-
do artigo 1º da presente lei. pregados, diligentemente e de boa fé, às au-
2. A alteração da pensão por força do número ante- toridades judiciárias legalmente compe-
rior fica dependente do requerimento do interessado tentes;
dirigido ao Primeiro Ministro e produz efeitos a partir c) Estabelecimento de normas de funcionamento
da data de entrada em vigor da presente lei. das entidades bancárias e financeiras, desti-
Artigo 4º nadas a prevenir o branqueamento de capi-
tais, designadamente através da imposição
Os agentes referidos no artigo 1º consideram-se, in- do dever de identificação da clientela, regu-
dependentemente, da respectiva situação nos quadros lar ou ocasional, do registo documental das
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a que pertencem, imediatamente aposentados, caso o operações bancárias e financeiras, da conser-


requeiram no prazo de noventa dias contados da publi- vação dos documentos que lhes respeitem e
cação do presente diploma. permitam reconstituir as operações, e na
obrigação de participar as operações suspei-
Artigo 5º
tas de branqueamento de capitais às autori-
São abrangidos por esta lei todos os agentes do Es- dades judiciárias competentes;
tado aposentados que exerceram funções na Adminis- d) Consagração do dever de diligência das entida-
tração Pública Central e Local bem como nos institutos des bancárias e financeiras na realização das
e empresas públicas. operações, estabelecendo a obrigação de re-
Artigo 6º colha de informação sobre a real e verda-
deira identidade do beneficiário da operação
A presente Lei entra em vigor a 1 de Janeiro de bancária ou financeira e sobre a sua verda-
2001. deira natureza, possibilitando a detecção de
operações fictícias ou fraudulentas, suspei-
Aprovada em 4 de Dezembro de 2000. tas de ligação a práticas de branqueamento;
O Presidente da Assembleia Nacional, António do e) Obrigatoriedade de realizar quaisquer transfe-
Espírito Santo Fonseca. rências internacionais de moeda, divisas ou
Promulgado em 29 de Dezembro de 2000. títulos, de valor superior a um milhão de es-
cudos cabo-verdianos, provenientes do es-
Publique-se. trangeiro ou a ele destinado, através de in-
stituições bancárias ou financeiras
O Presidente da República, ANTÓNIO MANUEL autorizadas a proceder a tais movimentos;
MASCARENHAS GOMES MONTEIRO.
f) Consagração do dever de declaração à entrada
Assinada em 5 de Janeiro de 2001. do território nacional do quantitativo em
moeda nacional ou estrangeira, superior a
O Presidente da Assembleia Nacional, António do um valor equivalente a um milhão de es-
Espirito Santo Fonseca. cudos cabo-verdianos, de que se seja porta-
dor;
———
g) Concessão de poderes às autoridades de super-
Lei nº 129/V/2001 visão e regulação do sistema bancário e fi-
de 22 de Janeiro nanceiro para regular administrativamente
as obrigações das entidades bancárias e fi-
Por mandato do povo, a Assembleia Nacional de- nanceiras e fiscalizar o cumprimento da le-
creta nos termos da alínea c) do artigo 174 º da Consti- gislação e normas regulamentares de pre-
tuição, o seguinte: venção do branqueamento de capitais;

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12 I SÉRIE — Nº 2 — «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 22 DE JANEIRO DE 2001

h) Estabelecimento de um regime geral sanciona- produtos ou direitos a eles relativos, com


tório das infracções de natureza disciplinar e pena de prisão de 2 a 10 anos;
contra-ordenacional praticadas culposa-
mente pelas entidades bancárias e financei- c) Adquirir ou receber a qualquer título, utilizar,
ras, respectivo processo e regime de impu- deter ou conservar dinheiro, bens ou produ-
gnação; tos ou direitos a ele relativos, com pena de
prisão de 1 a 5 anos;
i) Consagração de normas de natureza processual
penal que permitam às autoridades judiciá- d) Fazer perigar ou tornar mais difícil a desco-
rias nacionais manter uma eficaz cooperação berta, apreensão ou perda desse dinheiro,
judiciária e policial internacional e com as bens ou produtos, com o propósito de ajudar
autoridades estrangeiras competentes para uma pessoa implicada num crime, previsto
investigar e punir as infracções de branquea- no corpo deste número, a escapar às conse-
mento de capitais, com sujeição aos princí- quências jurídicas do seu acto, com a pena
pios da reciprocidade, de especialidade e do de prisão de 2 a 10 anos.
sigilo, ou seja, determinando-se que as infor-
mações facultadas só podem ser usadas para 2. A punição pelos crimes mencionados no número
a investigação e punição das actividades de anterior não deve exceder os limites mínimos e máxi-
branqueamento, ficando a autoridade recep- mos previstos para as correspondentes infracções prin-
tora obrigada a manter a sua confidenciali- cipais.
dade, nos termos da respectiva legislação
processual; 3. A punição pelos crimes previstos no número an-
terior tem lugar ainda que os factos que integram a in-
j) Estabelecimento de medidas cautelares neces- fracção principal tenham sido praticados fora do terri-
sárias e previstas na legislação, destinadas a tório nacional.
garantir a execução de sentenças, designada-
mente estrangeiras, que venham a ordenar a 4. Aplicação do regime previsto nos artigos 32º e
perda ou apreensão dos bens, produtos ou 33º da Lei nº 78/IV/93, de 12 de Julho, ao inquérito, in-
capitais derivados da prática de infracções strução e julgamento das infracções previstas nos nºs 1
de branqueamento de capitais, mesmo e 3 deste artigo.
quando os factos típicos relativos ao bran-
5. Em caso de condenação pela prática de uma in-
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queamento tenham sido cometidos fora do


território de Cabo Verde, mas aqui se encon- fracção de branqueamento de capitais, o Tribunal orde-
trem os bens, produtos ou capitais, derivados nará o confisco e a perda a favor do Estado, de todos os
das infracções subjacentes ao branquea- bens derivados do crime, neles se incluindo os rendi-
mento de capitais. mentos ou vantagens, directa ou indirectamente resul-
tantes da prática do crime, ressalvado o caso em que
Artigo 2º terceiros de boa-fé demonstrem a sua titularidade
sobre os bens e o desconhecimento da sua ligação com o
(Extensão: matéria criminal)
crime.
A autorização conferida ao abrigo do artigo 1.º tem a
seguinte extensão: 6. Agravamento das penas referidas no nº 1 quando
o facto ilícito for cometido no exercício de uma activi-
1. Punir quem, sabendo que o dinheiro, os bens ou dade profissional ou de modo habitual.
produtos são provenientes da prática, sob qualquer
forma de comparticipação, de crimes de tráfico de 7. Estender, com as devidas adaptações, aos crimes
droga e outras actividades ilícitas relacionadas com de branqueamento de dinheiro, bens ou produtos pre-
terrorismo, tráfico de armas, tráfico de menores, extor- vistos no número 1 do artigo 2º a medida prevista no
são de fundos, rapto, lenocínio, corrupção, peculato e artigo 38º da Lei nº 78/IV/93, de 12 de Junho, para os
participação económica em negócio, administração da- crimes provenientes do tráfico de droga e precursores.
nosa em unidade económica do sector público, fraude Artigo 3º
na obtenção ou desvio de subsídio, subvenção ou cré-
dito, infracções económico-financeiras cometidas de (Extensão: Matéria de processo criminal)
forma organizada com recurso à tecnologia informática
e infracções económico-financeiras de dimensão inter- A autorização conferida ao abrigo do artigo 1º tem a
nacional: seguinte extensão:

a) Aplicar, transferir, converter, substituir ou em- 1. Em processos de investigação das infracções sub-
pregar esses dinheiros, bens ou produtos, no jacentes e de branqueamento, consagrar o dever de
todo ou em parte, directa ou indirectamente, participação à autoridade judiciária competente, desde
com o fim de ocultar ou dissimular a sua ori- que o pedido de informações seja ordenado por um juiz,
gem ilícita ou de ajudar uma pessoa impli- das informações relativas às relevantes operações e
cada na prática de qualquer dessas infrac- movimentos bancários e financeiros e à identificação
ções a eximir-se às consequências jurídicas dos clientes, afastando o sigilo bancário, das seguintes
dos seus actos, com pena de prisão de 4 a 12 entidades, bem como seus dirigentes e empregados:
anos;
a) Instituições de crédito, instituições parabancá-
b) Ocultar, dissimular ou encobrir a verdadeira rias, empresas seguradoras e sociedades ges-
natureza, origem, localização, disposição, toras de fundos de pensões com sede em ter-
movimentação, propriedade desses bens ou ritório cabo-verdiano;

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I SÉRIE — Nº 2 — «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 22 DE JANEIRO DE2001 13

b) Instituições financeiras internacionais; c) Identificação obrigatória de todos os clientes,


seus representantes e dos beneficiários de
c) Sucursais e agências em território cabo- seguros ou de operações do ramo "Vida" e de
verdiano, das entidades referidas nas alí- planos de pensões, independentemente do
neas a) e b), que tenham sede no estran- valor das operações, sempre que exista uma
geiro; suspeita de prática dos crimes referidos no
d) Entidades que explorem o serviço público de corpo do nº 1 do artigo 2º;
correios, na medida em que prestem serviços
financeiros; d) Obtenção de informações sobre a identidade da
pessoa por conta de quem o cliente actua,
e) As autoridades de supervisão das entidades re- sempre que as entidades bancárias e finan-
feridas nos números anteriores. ceiras saibam ou suspeitem que o cliente não
actua por conta própria;
2. Conferir à Polícia Judiciária a competência ex-
clusiva para a investigação do branqueamento de capi- e) Exame, com especial atenção pelas entidades
tais ou outros bens, produto e direitos a eles relativos. bancárias e financeiras, das operações que,
Artigo 4º
pela sua natureza, volume ou carácter inabi-
tual relativamente à actividade do cliente,
(Extensão: Obrigações da entidade financeira) sejam susceptíveis de constituir um dos cri-
mes referidos no corpo do nº 1 do artigo 2º;
A autorização conferida ao abrigo do artigo 1º tem a
seguinte extensão: f) Obtenção de informação escrita do cliente sobre
1. Consagrar a obrigação para as entidades bancá- a origem e o destino dos fundos, sobre a iden-
rias e financeiras, referidas no nº 1 do artigo 3º de tidade dos beneficiários e a justificação das
obter a identificação do beneficiário jurídico ou econó- operações, sempre que estas excedam
mico da operação, sempre que saibam ou tenham indí- 1.500.000$00 e, pela sua natureza, volume
cios para supor que o cliente actua no interesse ou por ou carácter inabitual relativamente à activi-
conta de outrem. dade do cliente, sejam susceptíveis de cons-
tituir crimes referidos no corpo do nº 1 do ar-
2. Estabelecer a proibição de realizar as operações tigo 2º;
bancárias ou financeiras se não for previamente ob-
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tida a verdadeira identificação do cliente, nos termos g) Conservação, por um período de cinco anos
legalmente previstos. após o termo das relações com os respectivos
clientes, de cópia ou referência dos documen-
3. Determinar que as entidades bancárias e finan- tos comprovativos da identificação, e, du-
ceiras e mesmo as autoridades de supervisão do sis- rante 10 anos a contar da data de execução
tema financeiro devem participar às autoridades judi- das operações, dos originais ou cópias com
ciárias competentes as operações, que pela sua idêntica força probatória, bem como das in-
natureza, volume, carácter inabitual em relação ao formações referidas na parte final do nú-
perfil do cliente, ou qualquer outro motivo fundado, se
mero anterior;
tornem suspeitas de se encontrarem relacionadas com
a prática de crimes previstos no corpo do nº 1 do artigo h) Não declaração da moeda nacional ou estran-
2º, ainda que os factos típicos constitutivos do crime geira à entrada do território de Cabo Verde;
tenham sido cometidos no estrangeiro.
Artigo 5º
i) Não utilização do sistema financeiro nas trans-
ferências internacionais de moeda, divisas
(Extensão: Contra-ordenações) ou títulos, provenientes do estrangeiro ou a
ele destinado.
A autorização conferida ao abrigo do artigo 1º tem a
seguinte extensão: 2. Tipificar como contra-ordenações, puníveis com
1. Tipificar como contra-ordenações, puníveis com coima de 500.000$00 a 750.000.000$00 ou de
coima de 75.000$00 a 25.000.000$00 ou de 25.000$00 a 250.000$00 a 250.000.000$00, consoante seja aplicada
10.000.000$00, consoante seja aplicada a entidades fi- a entidades financeiras ou a pessoas singulares, as in-
nanceiras ou a pessoas singulares, as infracções às re- fracções às regras de:
gras de :
a) Recusa da realização de operações com quem
a) Identificação obrigatória dos clientes e seus re- não forneça a identificação própria ou da
presentantes com quem as entidades bancá- pessoa por conta de quem actua;
rias ou financeiras estabeleçam relações de
negócios estáveis ou ocasionais, sempre que b) Dever especial de colaboração com a autori-
estas últimas ultrapassem o valor de dade judiciária competente logo que tenha
1.500.000$00; conhecimento de quaisquer factos que pos-
sam ser ou constituir indícios da prática de
b) Identificação obrigatória dos beneficiários de um dos crimes referidos no corpo do nº 1 do
seguros ou de operações do ramo "Vida" e de artigo 2º;
planos de pensões cujos prémios ou contri-
buições sejam superiores a 150.000$00 ou, c) Não revelação ao cliente ou a terceiros de que
em caso de prémio ou contribuição únicos, foram prestadas informações ou que está em
ultrapassem os 300.000$00; curso uma investigação criminal;

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14 I SÉRIE — Nº 2 — «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 22 DE JANEIRO DE 2001

d) Abstenção da execução, por período não super- em matéria de branqueamento, a que estão obrigadas
ior a vinte e quatro horas, de quaisquer ope- as entidades bancárias e financeiras referidas no ar-
rações que suspeitem estar relacionadas com tigo 3º e ao Ministro das Finanças a competência para
a prática de um dos crimes referidos no aplicar as coimas previstas na lei.
corpo do nº 1 do artigo 2º, e, verificadas cir-
Artigo 6º
cunstâncias excepcionais, por período não
superior a quarenta e oito horas, de opera- (Extensão: Obrigações de entidades não financeiras)
ções que ultrapassem um montante definido
por portaria do membro do Governo respon- A autorização conferida ao abrigo do artigo 2º tem a
sável pelas finanças, ouvido, o Banco de seguinte extensão:
Cabo Verde;
1. Sujeitar a princípios equivalentes, designada-
e) Prestação à autoridade judiciária competente mente os de identificação da clientela, registo das ope-
das informações que efectuarem, quando não rações, conservação da documentação que lhes respeita
seja possível suspender as mesmas ou, no e participação de operações suspeitas de ligação a prá-
entender daquela autoridade, essa suspen- ticas de branqueamento, incluindo o que fica disposto
são seja susceptível de frustrar ou iludir a em matéria de contra-ordenações e processo respectivo,
respectiva autoridade probatória ou preven- com as adaptações que se mostrem necessárias para
tiva. garantir a sua eficácia e praticabilidade, as pessoas
singulares e colectivas que:
3. Estabelecer um regime específico de responsabi-
lidade quanto à actuação em nome ou por conta de ou- a) Explorem salas de jogo;
trem, nomeadamente no sentido de:
b) Exerçam actividades de mediação imobiliária
a) A responsabilidade das pessoas colectivas pre- ou de compra de imóveis para revenda;
vista na lei não excluir a dos respectivos
c) Utilizem habitualmente bilhetes ou outros in-
agentes ou comparticipantes;
strumentos ao portador, ou que prestem ser-
b) As pessoas colectivas responderem solidaria- viços ou transaccionem bens de elevado valor
mente pelo pagamento das coimas, taxa de unitário, nomeadamente pedras e metais
justiça, custas e demais encargos quando de- preciosos, antiguidades ou bens culturais.
vidos, aplicados aos agentes e compartici-
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2. Estender às pessoas singulares ou colectivas re-


pantes; feridas no número anterior o regime relativo às obriga-
c) Os titulares dos órgãos de administração das ções de carácter preventivo impostas às entidades ban-
pessoas colectivas responderem subsidiaria- cárias ou financeiras para as operações que envolvam
mente pelo pagamento das coimas e custas ou possam envolver as infracções referidas no número
em que as mesmas sejam condenadas, ainda 1 do corpo do artigo 2º e artigo 5º, incluindo o que em
que à data da condenação hajam sido dissol- matéria de contra-ordenações e processo respectivo for
vidas ou entrado em liquidação. estabelecido.
Artigo 7º
4. Fixar em cinco anos os prazos de prescrição
do procedimento pelas contra-ordenações e pelas (Duração)
coimas e sanções acessórias.
A presente autorização legislativa tem a duração de
5. Elevar a 750.000.000$00 e a 250.000.000$00 o li- 45 dias.
mite máximo das coimas, quando estas sejam aplica-
das, respectivamente, a uma entidade bancária ou fi- Aprovada em 7 de Dezembro 2000.
nanceira ou a outras entidades ou a pessoas
O Presidente da Assembleia Nacional, António do
singulares, e reduzir o montante das coimas a metade
Espírito Santo Fonseca.
desse valor em caso de negligência.
Promulgada em 29 de Dezembro de 2000.
6. Fixar como sanções acessórias a publicidade pelo
Banco de Cabo Verde, enquanto autoridade de super- Publique-se.
visão, a expensas do infractor, da decisão punitiva e a
inibição de funções de administração, direcção, gerên- O Presidente da República, ANTÓNIO MANUEL
cia ou chefia em entidades bancárias ou financeiras, MASCARENHAS GOMES MONTEIRO.
por um período compreendido entre 1 e 10 anos.
Assinada em 5 de Janeiro de 2001.
7. Prever que o valor das coimas reverta a favor do
Estado, as quais ficarão consignadas à acção de pre- O Presidente da Assembleia Nacional, António do
venção e repressão do branqueamento; do Espírito Santo Fonseca.

8. Poder de estabelecer uma norma especial quanto ————


à determinação do tribunal competente para o recurso
Lei nº 130/V/2001
de impugnação, para execução e restante controlo judi-
cial do processo contra-ordenacional. de 22 de Janeiro

9. Atribuir ao Banco de Cabo Verde a competência É hoje indiscutível a afirmação de que o Código
para instruir os processos de contra-ordenação, por in- Penal, mais do que qualquer outro conjunto de normas,
fracção culposa aos deveres de diligência e vigilância representa ou espelha o momento e o grau de civiliza-

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I SÉRIE — Nº 2 — «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 22 DE JANEIRO DE2001 15

ção atingido por uma sociedade, não só pelo tipo e na- o direito penal é a parcela do ordenamento jurídico
tureza das sanções que contém mas igualmente pela que mais atinência tem com a matéria de direitos , li-
selecção dos bens jurídicos que faz, enfim, pelo ideário berdades e garantias individuais , e que um Estado
político - criminal que atravessa e dá consistência a de direito democrático não pode manejar os instrumen-
todo o seu tecido normativo. tos punitivos com os mesmos critérios com que o faz
um sistema de poder autoritário.
Ora , o Código Penal vigente em Cabo Verde é basi-
camente o C. P. português de 1886, com as alterações Se pensarmos que, nos últimos vinte e cinco anos,
constantes de algumas reformas parcelares levadas a sucedeu a independência do país e ocorreu uma mu-
cabo em Portugal, e tornadas extensivas ao Ultramar, dança de regime há cerca de nove anos, que temos
e muito localizadas e pequenas alterações impostas neste momento uma nova Constituição que institui um
pelo legislador cabo-verdiano, após a independência do Estado de direito e que define um conjunto de normas
país. e princípios a observar pelo legislador ordinário, no-
meadamente no domínio penal, ficará clara necessi-
É, assim, no essencial, o Código de 1886, e, em boa dade de uma reforma urgente e global do velho código
parte, o de 1852, o que vigora em Cabo Verde. È ver- que ainda vigora entre nós.
dade que - e é isso que, de certo modo, as experiências
estrangeiras nos demonstram – não é a vetustez dos Ela é exigível ainda porque as normas relativas
códigos que dá um ou outro figurino à administração àquilo que se chama a doutrina geral do crime se mos-
da justiça, mas sim, a forma como se operam as refor- tram completamente desactualizadas face à evolução
mas em legislações antigas. No caso do C. P., porém, da dogmática jurídico-penal, tal como é ensinada nas
abundantes razões apontam para uma reforma global universidades modernas e é praticada pela jurispru-
e urgente do Código Penal. dência de países de cultura jurídica próxima da nossa;
porque as condições sociais, económicas, culturais e
Desde já é de sublinhar que o Código de 1852 nasceu políticas de Cabo Verde nada têm já a ver com o século
... velho e desactualizado, para além de ser considerado XIX; porque o próprio pensamento jurídico- penal, nas
uma cópia fiel e tradução apressada do Código Penal intenções político- criminais fundamentais que
napoleónico, necessitado, pois, de urgente substituição, contendem directamente com as partes especiais dos
segundo os comentaristas de então. Na verdade, aquele códigos penais , se modificou profunda e radicalmente ;
código introduziu em Portugal os “ métodos realistas” porque a Parte Especial, nem de perto, nem de longe
do legislador francês em matéria da política criminal, eleva à categoria de bens jurídico- penais os valores
que, grosseiramente, se traduziam na consagração do
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que a comunidade politicamente organizada hoje exige


pensamento essencial da prevenção geral de intimida- como essenciais à sua afirmação e subsistência. Dito de
ção, concepção que já não correspondia sequer às ideias outra forma, a Parte Especial do velho código não
prevalecentes em Portugal nos meados do século XIX. está, nem poderia estar numa essencial correspondên-
Daí que na Nova Reforma de 1884 a concepção do fun- cia de sentido com a ordem axiológica constitucional
damento do direito de punir radicasse na ideia de retri- que Cabo Verde hoje possui, bem que seja hoje claro
buição do mal do crime, da expiação da culpa do que a relação entre a ilicitude material – baseada na
agente, isto é, num certo e historicamente determi- ordem legal dos bens jurídicos – e aquela ordem axio-
nado pensamento de retribuição. lógica estabelecida na Lei Fundamental não é de iden-
tidade ou sequer de recíproca cobertura, mas, sim, que
Deve ainda ser dito que também o pensamento correc- a ordem de valores plasmada na Constituição constitui
cionalista, por influência das teses de Krause e Roe- o quadro de referência e simultaneamente, o critério
der, não era estranho em Portugal, marcando a dimen- regulativo e delimitativo da ilicitude material.
são das reacções criminais, nomeadamente dando-lhes
o sentido de reeducação, readaptação, ressocialização Assim,
do delinquente. Essa dimensão esteve já presente nos
projectos de Levy Maria Jordão (1861 e 1864), ao pro- Por mandato do Povo, a Assembleia Nacional de-
pugnarem uma alteração radical do sistema peniten- creta , nos termos da alínea c) do artigo 174º, e da alí-
ciário, ao ligarem-lhe uma classificação de delinquen- nea c) do nº 1 do artigo 166º da Constituição da Repú-
tes sob o ponto de vista de sua corrigibilidade, ao blica, o seguinte:
prescreverem estabelecimentos prisionais para meno-
Artigo 1º
res e a criação de institutos como a liberdade condicio-
nal, a detenção suplementar e o patronato. E uma tal (Objecto)
dimensão de prevenção especial entrou pela via da re-
forma de 1954. Fica o Governo autorizado a aprovar um novo Có-
digo Penal e a revogar a legislação vigente que contra-
Vê-se, assim, que o Código vigente representa um rie a matéria regulada pelo novo diploma.
repositório de múltiplas direcções em matéria de polí-
tica criminal, nem sempre coerentemente envolvidos Artigo 2º
num conjunto de soluções harmónicas. (Extensão)

Demais a mais, sempre se considera ser o Código 1. O Código a elaborar ao abrigo da presente lei
Penal um verdadeiro “termómetro “ da evolução polí- deverá observar as normas e princípios constitucio-
tica, para realçar o estreito vínculo entre as mudanças nais e os preceitos constantes de instrumentos interna-
de regime político e o Código Penal. Ora, no nosso cionais a que Cabo Verde se encontra vinculado e rela-
caso, mantém-se, no essencial, um código do século tivos ao direito penal e aos direitos humanos.
XIX, que não é, nem podia ser um código que reflec-
tisse, de algum modo, os valores próprios de um Es- 2. A autorização referida no artigo antecedente
tado de direito moderno, sabendo-se, como se sabe, que terá os seguintes sentido e extensão:

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16 I SÉRIE — Nº 2 — «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 22 DE JANEIRO DE 2001

1) O novo Código Penal, do ponto de vista do 5. O novo Código, de acordo com a Constituição, de-
ideário político-criminal, deverá ser marcado verá estatuir que nenhuma pena ou medida de segu-
pelos valores fundamentais consagrados pela rança tem, como efeito necessário, a perda de direitos
Lei Fundamental de Cabo Verde, os quais, civis, profissionais ou políticos, o que o obrigará a
aliás, traduzem a idiossincrasia nacional uma profunda alteração do que dispõe o actual C. P.
cabo-verdiana: a crença na liberdade do Em matéria de “ efeitos das penas “.
homem e a consequente aposta na responsa-
bilidade pessoal; a dignificação da pessoa hu- O novo Código regulará a matéria das penas acessó-
mana e o afastamento de qualquer ideia de rias e dos efeitos das penas, no respeito desse impera-
sua instrumentalização para a realização de tivo constitucional. Por um lado, deverá definir um ca-
fins outros que não o livre desenvolvimento tálogo de penas acessórias ,e, por outro , submetê-las
da personalidade ética do indivíduo; a re- a um regime próprio de verdadeiras penas, nomeada-
núncia a formas de tratamento que condu- mente ao da limitação da sua medida pela medida
zam ou potenciem atitudes de conformismo da culpa e a da proibição de uma sua aplicação auto-
e a técnicas de segregação incompatíveis com mática. Razão por que as penas acessórias devem ser
o respeito pela dignidade da pessoa hu- sempre temporárias, entre um máximo e um mínimo e
a sua concreta aplicação ser avaliada e fundamentada
mana; a aposta na recuperação do homem; o
em cada caso.
culto do humanismo e a defesa de uma an-
tropologia optimista. Ele deverá prever como penas acessórias a proibição
2) A aplicação das sanções criminais terá sempre temporária do exercício de função, a proibição de
por finalidade a protecção dos bens jurídicos condução de veículos motorizados, a incapacidade para
eleger e ser eleito e a incapacidade para exercer poder
essenciais à subsistência da comunidade so-
paternal, tutela ou curatela.
cial e a reintegração do agente na vida co-
munitária. A solução é clara expressão da A primeira, para além de ser temporária, não
ideia - cara e própria de um Estado de di- abrangerá apenas funcionários públicos mas todos os
reito - de que a intervenção do direito penal que exerçam actividade ou profissão dependente de tí-
deverá ser vista como última ratio da polí- tulo ou de autorização ou homologação de autoridade
tica social e subsidiária dentro do sistema pública. A fim de ficar claro que se trata sempre de
estatal de controlo. O que quererá dizer que, pena, explicitar- se – à que ela não será aplicável
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num Estado de direito material, de cariz de- quando tem lugar a aplicação de medida de segurança
mocrático e social como o cabo-verdiano , o de interdição de actividades , a qual tem como pressu-
direito penal só deve intervir com os seus in- posto, não a culpa, mas, sim, a perigosidade do agente
strumentos próprios de actuação ali onde se revelada na prática do facto.
verifiquem lesões insuportáveis das condi-
ções comunitárias essenciais de livre reali- O mesmo se deverá fazer em relação à pena de proi-
zação e desenvolvimento da personalidade bição de condução, que se distinguirá claramente a me-
de cada homem. dida de segurança de cassação de licença de condução,
esta baseada na perigosidade manifestada no facto
O que deverá envolver ainda a aceitação da pelo agente.
ideia de que só finalidades “ relativas” de
prevenção, geral e especial, podem justificar Idêntico tratamento deverão merecer as medidas de
a aplicação de sanções criminais. A ideia de incapacidade para o sufrágio, activo e passivo. Deverá
que a prevenção geral assume o primeiro ser-se mais exigente no segundo caso do que no pri-
lugar como finalidade da pena, não a preven- meiro, dada a óbvia diferenciação de níveis de respon-
ção geral negativa ou de intimidação, mas a sabilidade. Assim, serão muito mais apertados os
prevenção geral positiva, de integração ou re- pressupostos de aplicação da medida de incapacidade
forço da consciência jurídica comunitária e para eleger e mais curto o período de aplicação da inca-
do seu sentimento de confiança no direito. pacidade.

Ideia, aliás, com autónomo fundamento consti- 6. Ainda no domínio das ideias –limite impostas por
tucional ( artigo 17º nº 5, in fine), aquele ideário político- criminal o novo Código Penal
deverá estabelecer que a medida da pena não poderá
3. Como expressão de um outro princípio, este de- ultrapassar, em caso algum, a medida da culpa e que
corrente da vertente social Estado de direito ( vidé, as medidas de segurança terão de se fundamentar na
entre outros, os artigos 1º , nºs 2,3 e 4 , 7º, 54º, 55º , e perigosidade do agente exteriorizada pela prática de
60º a 81º da Constituição), a pena deverá ter uma fina- um facto previsto como crime e não poderão resultar
lidade de ressocialização, estando afastadas desta ideia mais gravosas do que a pena abstractamente aplicável
quaisquer concepções paternalistas ou instrumentalis- ao facto cometido, nem exceder o limite necessário à
tas que pretendam consagrar um “modelo terapêutico” prevenção da perigosidade do agente.
ou impor alguma “ideologia de tratamento, inaceitá-
veis num Estado de direito. O que exprime, sem quaisquer dúvidas, a outra
ideia de que o princípio da culpa deverá ser visto como
4. O novo Código deverá, pois, subtrair ao regime exigência da inviolabilidade da dignidade da pessoa
do direito penal a disciplina de actividades e condutas humana (artigo 1º da Constituição). O novo Código
axiologicamente neutras, que devem ser consideradas será, pois, tributário de um direito penal da culpa.
como pertencentes ao âmbito de um direito substan- Não haverá pena sem culpa e a medida da pena nunca
cialmente administrativo. poderá exceder a medida da culpa. A culpa como um

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I SÉRIE — Nº 2 — «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 22 DE JANEIRO DE2001 17

pressuposto da aplicação da pena, como forma de limi- pena, a par da indicação exemplificativa de certas cir-
tação do poder do Estado e consequente garantia da li- cunstâncias que poderão agravar ou atenuar a pena,
berdade pessoal. Relativamente às medidas de segu- dentro dos limites legais definidos. O que, segura-
rança, deverá reger o princípio da proporcionalidade, mente, criará as possibilidades de um melhor enqua-
que cumpre assim função materialmente similar à do dramento do caso concreto, e, assim, de uma maior jus-
princípio da culpa: não só a medida não poderá re- tiça do caso concreto, sem deixar de definir regras
sultar mais gravosa do que a pena abstractamente racionalizáveis, e, portanto, susceptíveis de controlo,
aplicável ao facto típico que indicia e fundamenta a nomeadamente em sede de recurso. O Código Penal de-
aplicação da medida de segurança ou exceder o limite
verá ser claro na exigência de que na sentença serão
do necessário à prevenção da perigosidade do agente ,
expressamente referidos os fundamentos da medida
como também deverá valer a ideia de subsidiarie-
dade e intervenção mínima na escolha da medida a concreta da pena.
aplicar.
9. O novo Código, naturalmente, consagrará, em ma-
7. Como outras formas de expressão do princípio téria de garantias e aplicação da lei penal, as soluções
da culpa, com o sentido atrás recortado, muitas outras impostas por outro princípio de política criminal, tam-
soluções deverão ser consagradas pelo novo Código. bém como autónomo assento constitucional (artigo
Entre elas: a exigência de imputação a título de negli- 31º): o da legalidade.
gência do resultado mais grave nos chamados crimes
preterintencionais ou agravados pelo resultado; o tra- Assim, proibirá a aplicação retroactiva da lei penal
tamento a ser dado ao erro sobre a ilicitude, com o desfavorável ao agente, tanto no que se refere a crimes
afastamento da responsabilidade por falta de culpa, e penas como a estados de perigosidade e medidas de
quando a falta de consciência da ilicitude não for cen- segurança, e o recurso à analogia para qualificar um
surável, a consagração da não responsabilização crimi- facto como crime, definir um estado de perigosidade ou
nal em situações de inimputabilidade, definida esta em determinar a pena ou a medida de segurança que lhes
razão da idade e da verificação de anomalia psíquica, corresponde.
sempre no pressuposto de que apenas se pode fazer um
juízo de censura ética quando o agente se pode deter- Entretanto, por exigência constitucional igualmente,
minar pela norma, tendo como base a consciência da deverá consagrar expressamente o princípio da aplica-
ilicitude do facto; a inimputabilidade por anomalia ção da lei penal concretamente mais favorável ao ar-
psíquica partirá de uma perspectiva que não se esgota guido.
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numa fundamentação biopsicológica – também ligada


a uma concepção meramente psicológica de culpa -, 10. No que se prende com aquilo que poderemos
ainda presente, por exemplo, no novo Código Penal. considerar os pressupostos da punição, o novo Código
francês (“ ... trouble psychique ou neuropsychique deverá consagrar uma norma que defina os pressupos-
ayant aboli son discernement ou le contrôle de ses
tos de punição da omissão, de forma a esbater, na me-
actes” – artigo 122º- 1), antes lhe empresta um ele-
mento normativo, traduzido na exigência de uma com- dida do possível, as conhecidas dificuldades e polémica
preensão do sentido desvalioso do comportamento; a quanto à equiparação entre factos cometidos por acção
explicitação da noção de que, sendo sempre individual, e omissão. Trata-se, ao cabo ao resto, de corresponder
cada comparticipante é punido segundo a medida da a uma exigência do nullum crimen sine lege.
sua culpa; a previsão, com tratamento autónomo, por
relação, nomeadamente, às causas de exclusão da ilici- No entanto, ele não deverá tomar partido relativa-
tude, de causas de desculpa em situações tais que, não mente a critérios sobre a causalidade (imputação objec-
se podendo, em rigor, afirmar seja a incapacidade de tiva ou outro qualquer critério) numa sede (a dos cri-
culpa, seja a de conhecer a ilicitude do facto, ao mes omissivos onde esse problema continua a merecer
agente não seria exigível, e dele não seria de esperar a mais viva contravérsia.
um comportamento conforme à ordem jurídica. No
fundo, tratar-se-ia de situações em que não haverá ver- De igual modo, não deverá especificar as fontes do
dadeiramente exclusão de culpa, mas, sim, renúncia da dever de agir nos crimes omissivos, como, por exemplo,
ordem jurídica em formular uma censura ainda possí- fazem os actuais códigos brasileiro e espanhol ou pro-
vel; a consagração da ideia de que as medidas de segu- punham o Projecto Eduardo Correia, o AE alemão e o
rança privativas da liberdade só se aplicarão a inimpu- Projecto cabo-verdiano de Código Penal (Parte Geral)
táveis, não podendo, pois, em caso algum ser aplicadas de 1980, ciente de que será preferível deixar que, dou-
em conjunto com uma pena; o tratamento a dar, num trinária e jurisprudencialmente, a questão ganhe mais
quadro claramente de direito penal da culpa, aos casos aproximação ao consenso.
de imputáveis perigosos, evitando-se, inclusivamente,
uma solução, como a portuguesa e a de Macau, de apli- 11. Deverá ser prevista a possibilidade de responsa-
cação de pena relativamente indeterminada. bilização penal de quem actua em nome de outrem, no-
meadamente de que age em representação de pessoa
8. Na ponderação das circunstâncias a ter em conta
na determinação da medida concreta da pena, o Código colectiva, de forma a que se possa estender a punibili-
deverá a título meramente indicativo definir circuns- dade, contida em tipos legais que supõem determina-
tâncias atinentes à culpa, a par de outras relativas à dos elementos pessoais ou uma actuação no interesse
ilicitude e a outras categorias e exigências , como as re- próprio, àquelas pessoas em que tais elementos típicos
lativas a finalidades de política criminal ou à punibili- se não verificam, mas que todavia actuaram como ór-
dade. Deverá, assim, optar por um modelo diferente do gãos ou representantes de uma pessoa colectiva relati-
actual, limitando-se a fornecer ao aplicador da lei um vamente à qual se verificavam aqueles elementos pes-
conjunto de critérios de determinação da medida da soais.

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18 I SÉRIE — Nº 2 — «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 22 DE JANEIRO DE 2001

12. Mas mais (e diferente) do que isso, o novo Código 17. O novo Código distinguirá claramente as situa-
- e, neste aspecto, em sintonia com o que, por exemplo, ções de exclusão de ilicitude das de exclusão de culpa e
também estatuem os códigos da Guiné- Bissau, da de desculpa, evitando, assim, um preceito do género do
França, dos Países Baixos ou da Noruega - deverá pre- artº 44 do Código em vigor (ou o Projecto de 1980), que
ver a responsabilização das pessoas colectivas e entida- engloba situações completamente distintas, como de
des equiparadas pelas infracções criminais cometidas justificação (3, 4 e 5), de desculpa (2 e 7, in fine) e de
pelos seus órgãos ou representantes, em seu nome e na ausência de acção (1). Em relação às causas de exclu-
prossecução de interesses da respectiva colectividade, são da ilicitude, a descrição deverá ser naturalmente
salvo se o agente tiver actuado contra as ordens ou in-
exemplificativa, no pressuposto hoje irrecusável de que
struções do representado. Uma tal opção – que, aliás,
entre nós, tem recente precedente, qual seja o da Lei a ordem jurídica é uma unidade.
sobre as infracções fiscais aduaneiras – estará de
18. Em matéria de consequências jurídicas do facto
acordo com as necessidades, sobretudo de um ponto de
vista político – criminal, de um tal alargamento, a que punível, o diploma a elaborar deverá proceder à elimi-
não é estranha a pressão resultante da criminologia do nação da classificação das penas de prisão em maior e
white – collar crime cedo se deu conta da ineficácia de correccional, procedendo à sua unificação, de acordo
qualquer política de repressão ou prevenção criminal com as exigências de ressocialização da pena e com o
que não atinja directamente as organizações burocráti- fito de combater todo e qualquer efeito "infamante",
cas e impessoais em que se converteram nos principais para além de uma tal distinção não corresponder, já há
operadores no mundo dos negócios, sem esquecer, em- muito tempo, aos objectivos que, historicamente, a ela
bora, e igualmente, todo o arsenal crítico produzido no estavam associados.
sentido da não responsabilização criminal das pessoas
colectivas, nomeadamente, em sede de dogmática jurí- 19. Deverá ser elevado o limite mínimo da pena de
dico-penal. prisão para 30 dias, que é hoje de três dias, em função
do que hoje se entende ser a melhor solução de um
Solução, aliás, que, depois da revisão constitucional, ponto de vista de política criminal, balizada pela ideia
estará ao abrigo de quaisquer objecções, nomeada-
da recuperação do delinquente. Assim, está-se em sin-
mente de eventual inconstitucionalidade material.
tonia com aqueles que entendem dever ser encetada
13. No que respeita às formas de aparecimento do uma luta contra as penas curtas de prisão - contra
facto punível, o novo Código Penal deverá consagrar aquelas penas cuja duração é demasiado curta para
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um tratamento unitário da tentativa, fazendo, desapa- que se esboce uma tentativa séria de ressocialização,
recer, pois, a figura da frustração, enquanto categoria mas suficientemente longa para que o delinquente
dogmática autónoma, o que apenas razões de estrita e contacte com o ambiente deletério da prisão e veja in-
extrema logicismo fizeram consagrar nos códigos lati- terrompidas, quando não destruídas para sempre, as
nos oitocentistas. suas relações familiares, profissionais e sociais.
Outrossim, estabelecerá uma regra sobre a chamada 20. Deverá ser estabelecido um tecto para o limite
tentativa inidónea ou impossível, no quadro de uma
máximo das penas de prisão - 25 anos, sempre em obe-
construção unitária e objectiva da figura da tentativa,
que claramente deixa fora da punibilidade o caso cha- diência às exigências de prevenção especial já aqui re-
mado de tentativa irreal ou supersticiosa. feridas. Esse limite máximo não deverá, porém, ser re-
duzido drasticamente em função também das
Igualmente deverá estabelecer um regime claro e necessidades de prevenção geral e da realidade social
rigoroso sobre a desistência e o chamado arrependi- do país.
mento activo, incluindo regras sobre a desistência em
caso de comparticipação e nas hipóteses dos chamados Também pesou o facto de se saber hoje que mais
crimes de consumação antecipada. vale reduzir a duração legal das penas e instituir
um sistema de aplicação e execução que, numa me-
14. O Novo Código deverá eliminar o encobrimento dida razoável e sem pôr em causa a utilização de
como forma de comparticipação, seguindo-se o que
mecanismos e institutos exigidos nomeadamente
fazem as legislações modernas: prever uma tal figura
pelo fim de ressocialização do agente, a faça corres-
na parte especial como crime/s autónomo/s.
ponder à sua duração efectiva, do que ameaçar com
15. O Código deverá estabelecer regras as mais claras penas muito elevadas que, na prática, não são cum-
possíveis sobre o complicado problema da comunicabili- pridas em grande medida. Outrossim, sem preten-
dade das circunstâncias entre os comparticipantes num der pôr em causa o significado simbólico e o valor
facto, quando estão em causa os chamados crimes espe- de adequação do limite das penas às expectativas e
cíficos próprios ou impróprios. Nomeadamente, procu- representações comunitárias, também é um dado
rará esclarecer a vexata quaestio que consiste em saber adquirido hoje que, de acordo com Montesquieu, o
se a comunicação se faz de cúmplice para o autor. efeito de prevenção tem menos a ver com a severi-
16. No que se refere à punição do crime continuado, dade das penas do que com uma sua efectiva aplica-
o novo diploma optará por um princípio de exaspera- ção em tempo adequado e num processo expedito,
ção, isto é, a punição será estabelecido a partir da mol- razão por que, sobretudo quando a questão se co-
dura penal mais grave, sendo a determinação da me- loca em optar entre mais um, dois ou três anos a
dida concreta da pena feita de acordo com as regras mais ou a menos no limite máximo da pena aplicá-
gerais. O que não impede, assim, que se valore dentro vel em casos de criminalidade grave, a resposta se
daquela moldura a circunstância de ter havido plurali- torne quase irrelevante de um ponto de vista de po-
dade de factos. lítica criminal.

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I SÉRIE — Nº 2 — «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 22 DE JANEIRO DE2001 19

21. O novo Código, em matéria de medidas sanciona- - o primeiro consiste em que, na esteira do que
tórias não institucionais deverá ir até onde o permitam dispõe a recente legislação espanhola, se
as possibilidades do país, nomeadamente em matéria deve prever um regime particular de liber-
de criação de estruturas de execução e acompanha- dade condicional para idosos(mais de setenta
mento das sanções criminais. Apesar de experiências anos) e doentes graves;
estrangeiras surgirem como muito positivas de um
ponto de vista de obtenção de finalidades de prevenção - o segundo : na definição dos pressupostos da li-
especial, não se deverá avançar na consagração de al- berdade condicional, limitar mais a sua
gumas delas, seja pela tal incapacidade de meios para concessão, por comparação com o regime ac-
as pôr em prática (casos dos regimes de semidetenção e tual, procedendo nomeadamente a um esca-
da prova), seja pura e simplesmente porque pareceram lonamento do tempo mínimo de prisão que
desajustadas para o país (casos das penas de admoes- tem de ser cumprido, em função da gravi-
tação e do trabalho social ou a favor da comunidade). dade da pena a que o agente foi condenado.
No entanto, o novo diploma deverá conter soluções,
também nesta matéria, que apontam nesse exacto sen- - o terceiro: a aplicação do regime de liberdade
tido moderno de aplicação e execução das sanções cri- condicional dependerá sempre do consenti-
minais tendo em vista a reintegração comunitária do mento do condenado, numa opção que, tendo
agente. Assim, por exemplo, a atribuição da qualidade em conta os objectivos de política criminal
de pena principal à multa, com amplitude diferente da subjacentes ao instituto - dirigidos, ao fim e
actual, enquanto peça essencial da política criminal e
ao cabo, à ideia de ressocialização -, sem es-
dos sistemas sancionatórias hodiernos. Sobretudo no
quecer a circunstância de se tratar de um re-
domínio da pequena e média criminalidade, a pena de
multa deverá ser verdadeira alternativa à pena de pri- gime sempre condicionado de liberdade - se
são desde que fiquem, no caso concreto , salvaguarda- funda numa rejeição de qualquer concepção
das as exigências de prevenção. paternalista, terapêutica ou autoritária na
aplicação e execução das sanções criminais e
Outrossim, deverá optar-se pelo sistema dos dias de na ideia de que existe um verdadeiro direito
multa, o que permite, de uma forma mais adequada, a cumprir a totalidade da pena.
adaptá-la à medida da culpa do agente e às suas condi-
ções económicas, esbatendo, assim, as habituais críti- 25. O novo Código consagrará ainda, no propósito
assumido, até onde foi possível e realista, de, sem pre-
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cas quanto a uma eventual discriminação das pessoas


com menos posses, nomeadamente quando se põe o judicar o essencial das preocupações de prevenção, as-
problema do não pagamento e sua conversão em pri- segurar a ressocialização do agente e evitar os efeitos
são. criminógenos da pena de prisão, a regra de que sem-
pre que ao facto punível forem aplicáveis, em alterna-
22. Deverá ser evitada a aplicação da multa como
tiva, pena privativa e pena não privativa da liberdade,
complementar da pena de prisão ( x meses ou anos de
o tribunal dará preferência à segunda.
prisão e multa até y dias), em razão dos objectivos de
política criminal associados à consagração da multa 26. A reincidência será modelada em termos diferen-
como pena autónoma. Bastaria, para além do mais, in- tes dos do actual código, procedendo-se, nomeada-
vocar a circunstância de uma tal pena mista implicar o mente, a um tratamento unitário das chamadas reinci-
pagamento de uma percentagem dos rendimentos do
dência homótropa e polítropa, com o que se ganhará
condenado ao mesmo tempo que, privando-o da liber-
em simplificação. Outrossim, o novo Código tratará no
dade, lhe retiraria a possibilidade de os angariar, para
se intuir que uma tal solução seria desaconselhável de âmbito da reincidência as hipóteses que, noutras legis-
um ponto de vista ressocializador e pouco adequada, lações, consubstanciam a chamada especial tendência
pois, às finalidades prosseguidos por um Estado de di- criminosa, em obediência a uma coerência do pensa-
reito de cariz democrático e social, como o é inegavel- mento que atravessa todo o edifício do diploma em ma-
mente o nosso. téria de culpa e do sistema de sanções criminais, no-
meadamente, o de que não haverá aplicação
23. Deverá ser ponderada a solução de, em casos de cumulativa de pena e medida de segurança privativa
crimes a que, concretamente, se aplique pena de prisão da liberdade pela prática do mesmo facto por imputá-
até cinco meses, que não deva ser substituída por vel.
multa, se poder cumprir a pena em períodos de fim-de-
semana, sempre que se entenda ser tal forma de cum- 27. No que respeita às medidas de segurança, elas
primento adequada e suficiente para realizar as finali- serão submetidas, rigorosa e plenamente, ao princípio
dades da punição. No fundo, esta pena, experimentada da legalidade e seus corolários. A sua aplicação estará
em muitos países e incluída, por exemplo, em Portugal, condicionada à prática de um facto típico e ilícito, como
sob a designação de prisão por dias livres, e em Es- também a Constituição exige. Isto é: a prática de um
panha (arresto de fim de semana), surge como uma so- facto considerado pela lei penal como um facto típico e
lução a meio caminho entre as indesejadas curtas ilícito é não só elemento indiciador da perigosidade
penas de prisão e a multa.
como fundamento e limite da aplicação da medida.
24. O novo Código Penal deverá manter as figuras Assim, será indefensável um preceito como o actual
da suspensão da execução da pena de prisão e da liber- artº 71º, o qual prevê a aplicação de medidas de segu-
dade condicional, com pequenas alterações no que res- rança prédelituais, nomeadamente a vadios, rufiões,
peita à definição dos respectivos pressupostos. De sa- prostitutas "os que se entregam habitualmente à prá-
lientar três aspectos: tica de vícios contra a natureza", etc.

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28. Como consequência da proibição constitucional 34. O novo Código procurará proceder a uma outra
de medidas de carácter perpétuo ou de duração ilimi- sistematização e nortear-se pela preocupação de sim-
tada ou indefinida, o Código modelará todas as medi- plificação no tratamento dos crimes contra a vida e a
das como temporárias, estabelecendo ainda que ces- integridade, evitando, por exemplo, tipos como os pre-
sará a sua aplicação quando cessar o estado de vistos nos actuais artigos 350º (tentativa de homicídio
perigosidade que a fundamentou. Porém, nos casos de e homicídio frustrado), 353º (envenenamento) e 355º
medidas não privativas da liberdade será definido um (parricídio) reformulando completamente os tipos de
tempo mínimo de cumprimento. crimes de ofensas corporais (artigos 359º e segs)-, evi-
29. Deverá ser prevista a possibilidade de, não se tando a sistematização tal qual é feita hoje dos chama-
tratando de objectos de comércio ilegal ou que ponham dos homicídio e ofensas corporais involuntários e supri-
em perigo a segurança das pessoas ou a ordem pública, mindo disposições inúteis, quando não importando
ou ainda que não ofereçam sério risco de ser utilizados soluções pouco claras, como, por exemplo as dos artºs
na prática de novos crimes, directamente, ou através 376º(homicídio e ofensas corporais com justificação do
do produto da sua venda, se cobrir as responsabilida- facto), -377º (legítima defesa face a homicídio ou ofensa
des do agente face ao lesado com os objectos do crime. corporal grave) e 378º (excesso de legítima defesa).
Trata-se de solução imposta pela, hoje, cada vez mais
indiscutível necessidade de consideração dos interesses 35. O Código, na esteira do que, de forma prevale-
da vítima no enquadramento e solução do fenómeno do cente, tem ensinado o direito comparado, deverá pre-
crime. No mesmo sentido, e também na esteira do que, ver o crime de homicídio a pedido da vítima e a instiga-
por exemplo, dispõem as leis espanhola e argentina, o ção ou auxílio ao suicídio. Trata-se de duas
novo Código deverá considerar que o crédito do lesado incriminações que, em conjugação com a das interven-
à indemnização por perdas e danos emergentes do ções e tratamentos médico - cirúrgicos arbitrários, as-
crime goza de preferência relativamente a qualquer seguram o enquadramento normativo capaz de ofere-
outro surgido após o cometimento do facto, incluindo a cer um princípio de resposta à difícil área problemática
multa e as custas processuais. da chamada eutanásia, na diversidade das suas mani-
festações - indirecta, passiva e activa.
30. O novo Código esclarecerá que a indemnização
por danos resultantes do facto punível é regulada pela Sempre numa perspectiva de um direito penal bali-
lei civil, nomeadamente no que respeita à definição dos zado pelo princípio da intervenção mínima e que pos-
seus pressupostos e critérios para proceder ao cálculo tula uma sua função de protecção subsidiária de bens
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do seu montante. jurídicos fundamentais, não se justificará a punição,


como o fizeram os códigos de França, de Macau, da
31. O novo Código Penal regulará a matéria da pres-
crição, seja do procedimento criminal, seja das penas e Guiné- Bissau e de Portugal, da chamada propaganda
medidas de segurança. Procederá, em primeiro lugar, do suicídio . Restam muitas dúvidas que haja bem ju-
a uma maior diversificação dos prazos de prescrição, rídico a tutelar (a intromissão na decisão de vida do
seja os relativos ao procedimento criminal, seja aos re- suicida é muito mediata e não individualizável, ao
lativos às sanções criminais, tendo em atenção a gravi- contrário do que acontece nas hipóteses de incitamento
dade relativa dos crimes e das sanções ou a natureza ou ajuda - estas sempre dirigidos a um determinado in-
destas. Por outro lado, fará uma clara distinção entre a divíduo) e muitas mais quanto à necessidade dessa tu-
suspensão e a interrupção da prescrição, tanto num tela ou a uma sua eventual eficácia, para não referir a
caso como noutro. possibilidade de produção de efeitos perversos de um
ponto de vista político- criminal.
32. O novo diploma deverá estabelecer uma outra
sistematização da Parte Especial, que possa correspon- 36. No que se refere aos crimes contra a integridade
der à ordenação dos valores ínsita na Lei Fundamen- física ou psíquica, para além da já mencionada simpli-
tal. Isso deverá levar, nomeadamente, a que, em vez ficação e re- arrumação das disposições, deverá o Có-
de começar com os crimes "contra a religião do reino e digo introduzir alguns tipos novos, em atenção a fenó-
dos cometidos por abuso de funções religiosas" e os cri- menos que, não sendo novos, são hoje objecto de
mes "contra a segurança do Estado", ordenação com- específica e relevante reprovação da comunidade e ex-
preensível num Código do século XIX, fortemente in- pressão de valores potenciados pela afirmação do Es-
fluenciado pelo pensamento iluminista, comece pela tado de direito e protecção dos direitos humanos, ou,
descrição típica dos crimes contra as pessoas - e, entre então, merecem tratamento jurídico- penal próprio,
estes, pelos crimes contra a vida, contra a integridade
tendo em atenção os problemas que, nomeadamente
física e psíquica, contra a liberdade, contra a dignidade
em sede de comparticipação, levantava a sua aprecia-
das pessoas e contra a reserva da vida privada - e pros-
ção no âmbito das ofensas corporais. No primeiro caso,
siga com os crimes contra o património, acabando com
os crimes contra o Estado de direito democrático. falamos de maus tratos a menor ou incapaz e maus
tratos a cônjuge e, no segundo caso, da "rixa”.
33. Deverão ser eliminados tipos penais onde não
existe bem jurídico merecedor de tutela penal ou, exis- 37. O Código, no que respeita aos crimes contra a li-
tindo bem jurídico, se não mostre necessária a inter- berdade, procurará aprofundar o tratamento jurídico-
venção do direito penal. Deste ponto de vista, tipos penal das ofensas à liberdade das pessoas, entendida
como o duelo, greve, lock-out, adultério, homossexuali- num Estado de direito como bem essencial. Assim, de-
dade, vadiagem e mendicidade, não deverão constar no verá reformular e aperfeiçoar tipos como os de cárcere
Código, e, pelas mesmas ordens de razões, deverá ser privado, coacção e rapto, sendo certo que, hoje em dia,
significativamente reduzido o número de crimes contra sofisticados estão os modos de ataque, muitas vezes
o Estado, o de crimes tentados ou de preparação. violento e organizado, à liberdade.

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Assim, para além de unificar num tipo - o sequestro - este tipo poderá funcionar como uma espécie de tipo re-
o que, tradicionalmente, vem tratado como sequestro sidual, nos casos em que o comportamento levado a
ou cárcere privado e rapto, deverá prever um tipo de cabo pelos meios descritos no tipo, e com a finalidade
crime onde se pune a intervenção médica sem consenti- também nele apontada (e que, assim, o demarcam de
mento do paciente. outros comportamentos socialmente adequados ou,
pelo menos, não merecedores de tutela penal, e que,
38. O novo Código Penal de Cabo Verde deverá in- sumariamente, poderiam ser apelidados de mera sedu-
cluir no domínio dos crimes contra as pessoas os, hoje, ção ou simples “piropo"), não consubstancia o crime de
chamados crimes sexuais, entendidos já não como cri- agressão sexual, na forma consumada ou tentada, ou,
mes contra a honestidade, mas, sim, como contra a li- ainda, outros tipos de crime, maxime crimes contra a
berdade e a autodeterminação sexuais. O que levará a honra.
exigir uma cuidadosa ponderação dos valores que me-
recem uma tutela jurídico-penal, de acordo com os cri- 43. O Código também deverá incluir, entre outros,
térios próprios de um Estado de direito, aberto a uma tipos como os de omissão de auxílio e não impedimento
pluralidade de concepções de vida e que não deve aspi- de crime contra a pessoa, que, de uma forma ou outra,
rar a uma qualquer modelação de comportamentos no pretendem ser expressão da violação de um exigível
domínio da moralidade, maxime a sexual. dever de solidariedade, em casos de grave necessidade
39. Desse modo, a previsão de crimes de "lenocínio" e provocado, nomeadamente, por calamidade pública ou
de "exploração de menor ou incapaz para fins porno- situação de perigo comum, ou, ainda, de perigo de vida
gráficos" obedecerá igualmente a um critério, aqui já para outrem, desde que, naturalmente, a conduta que
referido, de ir até onde se possa ainda afirmar a exis- se exige ao omitente não crie grave risco para a sua
tência de bem jurídico merecedor de tutela penal. Daí pessoa ou para a de terceiros.
que não se deva punir a prostituição em si mesma 44. O novo Código Penal de Cabo Verde deverá re-
considerada (ou a actividade de pornografia), mas ape- ponderar o desenho legal dos crimes contra a, honra,
nas a conduta de quem fomente a sua prática junto de desde o critério de distinção entre a difamação e a injú-
menores de certa idade (14 anos, ou, ainda, com pena ria, passando pela ideia, aparentemente exigida pela
mais baixa, 16 anos) ou de pessoas incapazes, ou, nossa realidade social, de um relativo reforço de sua
ainda, no primeiro caso, de pessoa em situação de ne-
punição. Considerando não existirem razões de fundo
cessidade económica extrema e o agente se tiver apro-
que levem à distinção entre injúria e difamação, seja a
veitado dessa situação.
que é fundada na circunstância de a ofensa ser dirigida
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40. O Código a aprovar deverá prever uma forte directamente ao ofendido ou dirigindo-se a terceiros
agravação para as situações em que, da prática do (como fazem o Código Penal português ou o italiano),
crime sexual, resulte, nomeadamente, gravidez, ofensa seja a que, como no código em vigor, no código aus-
grave à integridade física ou psíquica, transmissão de tríaco ou no brasileiro, se baseia na circunstância de se
doença grave e incurável, suicídio ou morte da vítima, imputar ou não facto ofensivo da honra, seja, ainda, a
com o que se pretenderá, nomeadamente quando se re- fundada em critérios intermédios, como na Suíça ou na
fere à gravidez, dar resposta particular, de forma Alemanha (na difamação, há imputação de factos per-
achada satisfatória, às especificidades relevantes da ante terceiros, na injúria, imputa-se um juízo ofensivo,
penetração violenta vaginal. seja directamente, seja perante terceiro), ele deverá
optar por unificar as figuras sob a epígrafe de injúria,
41. Como já se disse, para além dos casos de actos ao jeito do que se faz na Argentina ou em Espanha.
sexuais violentos, o diploma a aprovar dará cobertura
à protecção da autodeterminação sexual, pelo que de- Opção que, naturalmente, não impede que se tenha
verá prever tipos de crime sexual contra menores ou a noção de que, para muitos efeitos, nomeadamente os
pessoas diminuídas na sua capacidade de autodetermi- de tratamento dogmático, por exemplo, em sede de jus-
nação. Assim, deverão ser previstos tipos de crime de tificação ou de exclusão ou isenção da pena, sejam de
"abuso sexual de crianças" e também de "abuso sexual distinguir as situações de imputação de factos e as de
de menores". Neste caso, porém, deverá considerar-se meros juízos de valor.
como agente pessoa maior, já que o que se pretende
salvaguardar não é, por exemplo, a virgindade(como se 45. Outrossim, o Código novo deverá prever um tipo
fazia no código vigente em Cabo Verde com o estupro, que puna a ofensa à memória de pessoa falecida, em
antes da revogação do artº 392º pelo decreto-lei nº 78/ consonância com valores fortemente enraizados no
79, de 25 de Agosto), ou qualquer forma de atentado ao país, e numa preocupação tributária não apenas da
pudor. Com isso, afasta-se a punição em casos como os ideia de que a personalidade jurídica e os direitos a ela
de relações sexuais consentidos entre um jovem de 16 relativos são "empurrados" para depois da morte , mas
anos e outro de 15 ou, ainda, noutros casos, sempre igualmente da asserção de que a memória do falecido
que o acto sexual não tenha sido praticado prevale- ainda se projecta, de algum modo, na honra e conside-
cendo-se de sua superioridade, originada por qualquer ração dos que lhe são mais próximos.
relação ou situação, ou do facto de a vítima lhe estar
confiada para educação ou assistência. 46. Neste domínio, o novo diploma deverá ser adepto
de uma noção ampla de honra (abrangendo as qualida-
42. O Código, também na esteira de reformas recen- des relativas, quer à chamada personalidade moral,
tes e posições assumidas por crescentes sectores sociais quer a sua projecção social, e recusando uma qualquer
e doutrinários, deverá ponderar a consagração de um outra discriminação baseada na diferença entre uma
tipo de "assédio sexual", enquanto comportamento vio- noção fáctica ou normativa da honra), no que preten-
lador da liberdade de disposição sexual, através de or- deu, ao cabo e ao resto, sintonizar-se com a dimensão
dens, ameaças ou coacção com a finalidade de obter fa- da protecção concedida à honra na Constituição do
vores ou beneficies de natureza sexual. Na prática, país.

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47. O novo Código Penal deverá reformular e actuali- Igualmente, na área dos crimes ecológicos, informá-
zar a relevância da exceptio veritatis, fazendo-a abran- ticos, genéticos e outros, se deverá incluir o núcleo es-
ger os crimes de injúria e de ofensa a pessoa colectiva. sencial daquela criminalidade, devendo ser previstos
Concretamente, essa relevância deverá ter lugar tipos que correspondam a um núcleo essencial de valo-
quando a divulgação do facto se refira a pessoa que res no domínio da protecção ambiental, da economia e
tenha relevância pública ou exerça cargo público e do Estado e outros que, pode dizer-se, perderam já o
tenha por fim defender ou garantir um interesse pú- seu carácter pontual e adquiriram a determinação sufi-
blico actual ou dar satisfação à liberdade de informa- ciente para figurarem num corpo de leis com tendência
ção nos termos próprios de uma sociedade pluralista e para a estabilidade, independentemente da evolução
democrática- quando o facto imputado ao ofendido das estruturas económico- políticas.
tenha sido ou possa ser objecto de processo criminal e a
imputação seja feita para realizar interesse legítimo do 52. Deverá optar-se por não consagrar qualquer mo-
agente ou de terceiro ou quando a pessoa ofendida soli- delo que considere o valor da coisa como elemento
cite, por qualquer forma, a prova da imputação contra constitutivo do tipo de crime patrimonial, sendo certo
ela dirigida. que, na qualificação do furto, do roubo e de outros cri-
No entanto, não deverão estar sujeitos à possibili- mes contra o património, se deve entrar com a ponde-
dade de prova os factos protegidos pelo direito à intimi- ração de circunstâncias como as de "ter ficado a pessoa
dade da vida privada e familiar. prejudicada em difícil situação económicas' ou de "o
agente ter causado prejuízos consideráveis à vítima",
48. A moldura penal nos crimes contra a honra de- com o que, nomeadamente, se dá resposta a algumas
verá ser relativamente aumentada, de acordo com o das dificuldades apontadas a outros critérios conheci-
que parece ser uma exigência generalizadamente sen- dos, como o que liga a qualificação ou o privilegiamento
tida em Cabo Verde. a -níveis quantificados e prefixados do valor pecuniário
da coisa. Por um lado, aquelas ligadas à determinação
49. Deve ser garantida a protecção autónoma do di-
reito à privacidade, e, através deste, de direitos à ima- da responsabilidade subjectiva do agente(problemas de
gem e à palavra, mediante a criação de tipos penais dolo e de erro) quando ela se afere em função de um
próprios, como o "atentado à intimidade da vida pri- valor pré- fixado, como no código vigente, para além de
vada", "gravações, fotografias e filmes ilícitos", "de- problemas muito práticos que têm a ver com a necessi-
dade de quase permanente actualização dos valores,
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vassa por meio de informática" ou "atentado contra a


representação de outrem". Trata-se aqui de mais uma em atenção mutações relativas à valorização ou desva-
manifestação do fenómeno de emergência de novos lorização da moeda- por outro lado, esbatem-se grande-
bens jurídicos, correspondentes à descoberta de novas mente as críticas dirigidas contra a utilização de cláu-
dimensões da pessoa, autonomizáveis na sua digni- sulas contendo conceitos indeterminados,
dade e carência de tutela penais. nomeadamente em sede de respeito pelo princípio da
legalidade.
50. No domínio dos crimes contra o património, não
deve ser seguida a ideia de uma qualquer tutela ideoló- 53. A delimitação entre os crimes de furto e de
gica do património, isto é, dele em si considerado, mas, roubo deverá ser feita de forma um pouco diferente da
sim, como conjunto de bens e valores afectados a esfe- que utiliza o actual código. Existirá roubo não só
ras jurídicas concretas. O que, de modo algum, pode quando há violência ou ameaça contra pessoas mas
significar, ao menos num sentido total ou globalizante, igualmente quando há violência sobre coisas, noção
que a protecção jurídico-penal do património deva es- esta que será objecto de definição num dispositivo pró-
gotar-se em bens estritamente individuais. Por um prio. Nomeadamente, existirá tal violência quando, na
lado, há casos de protecção de bens individuais com re- execução do facto, ocorra escalamento, arrombamento
flexos decisivos noutros interesses transpessoais, e,
e utilização de chaves falsas para aceder ao local onde
por outro lado, hoje mostra-se esgotado o modelo indi-
a coisa se encontre, independentemente de se tratar ou
vidualista próprio das concepções liberais que marca-
não de casa habitada.
ram a feitura dos códigos do séc. XIX, vendo-se o patri-
mónio como valor que se situa, por exemplo, em termos 54. O novo Código deverá simplificar o tratamento
de ordenação de bens jurídicos, através da vida, da in- do crime de dano e limitar a sua punibilidade à forma
tegridade física ou da liberdade, e cuja protecção pode
de actuação dolosa.
alargar-se a esferas do domínio societário, comunitário
ou público. 55. Deve ser feita uma reformulação completa dos
chamados crimes contra o Estado, eliminando os tipos
51. No domínio dos crimes contra o património, a
propriedade deverá ser mantida como bem jurídico onde possa estar tutelado um qualquer e vago "bem do
principal, e a opção será a de fazer incluir em legisla- Estado, como um "Nonplusultra" da protecção jurídico-
ção especial um bom número de novos direitos a que penal do Estado, tipos onde não está em causa, de
deram lugar a revolução tecnológica e as transforma- forma intolerável, a realização do Estado de direito de-
ções operadas na vida económica. De todo o modo, o mocrático. Assim, na defesa de uma tal perspectiva,
novo Código, não devendo ir tão longe nessa matéria procurar-se-á dar mais rigor à descrição típica. Por
de previsão de tipos de crime contra o património ou outro lado, o novo Código deverá simplificar as incrimi-
dos crimes contra a economia como, por exemplo, o Có- nações e apenas estabelecê-las lá onde tais valores
digo espanhol, deverá , por exemplo, incluir alguns sejam violados por comportamentos violentos ou for-
chamados crimes societários. mas análogas de actuação.

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I SÉRIE — Nº 2 — «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 22 DE JANEIRO DE2001 23

56. Deverão ser criados tipos de crime (algumas independência ou a integridade territorial do país, ou,
vezes chamados crimes contra a paz e a humanidade), ainda, o de criar um clima de agitação ou perturbação
de acordo com a necessidade de proteger valores e inte- social. E, se tivermos em conta o requisito de utilização
resses a que a comunidade internacional atribui a de certos meios de actuação, cremos, com isto, dar-se
maior importância , dando, aliás, consagração a nível correspondência, no essencial, às formas mais frequen-
do Código Penal ao que, algumas vezes, o Estado de tes e graves de atentado terrorista.
Cabo Verde se comprometeu a realizar, em convenções
assinadas por seus representantes. A par do atentado 60. No que se refere à protecção jurídico-penal do
(à vida, à integridade e à liberdade) contra certas enti- ambiente, o Código, sem pôr de lado ou minimizar o
dades estrangeiras normalmente objecto de especial clamor social que, hoje, entre nós também, soa em de-
protecção segundo o direito internacional, factos como fesa dos valores ambientais, deverá ser muito pru-
o genocídio, o recrutamento de mercenários, a organi- dente.
zação para a discriminação racial e a escravidão deve-
rão ser incriminados. De acordo com a ideia central de se limitar a protec-
ção penal a um núcleo já estabilizado, com significado
57. Na mesma linha de pensamento, e sobretudo comunitário, de valores, mas tendo igualmente em de-
nessa categoria de crimes, o novo diploma deverá limi- vida consideração as hesitações, as críticas, os cuida-
tar ao estritamente imposto pela defesa de bens jurídi- dos e as dificuldades que, tanto de um ponto de vista
cos e necessidade de intervenção penal a utilização de de adequação dos critérios legitimadores da interven-
técnicas de equiparação da tentativa à consumação ção penal, da eficácia das possíveis incriminações,
(seja pela via da mera equiparação quoad poenam seja quanto do modelo de construção típica desses crimes -
pela via de construção de crimes de empreendimento), de dano, de perigo concreto, de perigo abstracto, ou,
e de punição dos actos preparatórios. A punição excep- ainda, como delitos de desobediência vêm sendo ex-
cional de actos preparatórios, enquanto tais e não, por pressos, um pouco por todo o lado, o Código não deverá
exemplo, como incriminações autónomas ou Crimes instituir uma categoria autónoma de crimes contra o
autónomos , deverá ficar reduzida, em termos de actos ambiente. Antes, poderá tipificar, no âmbito de crimes
não tipicizados, a crimes como o genocídio, traição, sa- contra a segurança colectiva, crimes como o de danos
botagem contra a defesa nacional, provocação à guerra, contra o ambiente ou o de poluição.
violação de segredo de Estado(apenas quando estão em
causa a independência ou a integridade territorial do 61. As mesmas razões de fundo - limitação ao núcleo
país, e, não, por exemplo, a mera protecção dos interes- essencial e estabilizado de valores - a que acrescem as
de necessidade de tratamento jurídico particular, no-
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ses do Estado em matéria de política externa), rebelião


e fundação de organização terrorista. Como actos tipi- meadamente em sede de articulação entre normas sub-
cizados punir-se-ão algumas formas de preparação de stantivas e processuais específicas, levarão não incluir
crimes de falsificação de moeda, valores e títulos públi- também no Código Penal (eventualmente, em legisla-
cos, ficando claro que, apesar de tal concretização tí- ção avulsa) incriminações como as do tráfico de estupe-
pica, ainda estamos perante verdadeiros actos prepara- facientes, "branqueamento de capitais", atentados
tórios, o que tem por efeito, nomeadamente, excluir a contra a identidade e integridade genéticas ou relati-
punição de sua tentativa, aliás, conceptualmente inde- vas à informática.
fensável.
62. No domínio dos crimes relativos ao exercício de
58. Proceder-se-á a uma significativa reformulação funções públicas, deverá haver, por um lado, uma rela-
dos tipos de crime contra a ordem e a tranquilidade pú- tiva agravação da medida da pena para os crimes de
blicas, sintonizando-os com os valores e os limites im- corrupção passiva(nomeadamente quando ela é prati-
postos pelo princípio do Estado de direito, nomeada- cada como contrapartida ou recompensa de acto ou
mente pela consagração dos direitos de liberdade de omissão lícitos), e, por outro, a previsão de um tipo de
expressão, de manifestação e de reunião. crime de "tráfico de influência", como resposta a fenó-
menos de muita actualidade e a que os tradicionais
Neste âmbito, dar-se-á guarida a algumas formas tipos de corrupção não dão cobertura, pelo menos em
dos chamados crimes de organização, maxime a de or- certos casos.
ganização criminosa, fazendo-se clara distinção, inclu-
sivamente para efeitos de pena aplicável, entre funda- Deve optar-se por alargar o âmbito de aplicação do
dor, chefe ou dirigente, aderente e colaborador, crime de tráfico de influência, por forma a abranger si-
procurando-se, em particular, resolver, na medida do tuações em que o agente obtém vantagem ilegítima
que é possível, nesta sede, os complicados problemas para, através de influência, conseguir decisão legal (e
de concurso normalmente levantados por este tipo de não apensa decisões ilegais), nomeadamente ao abrigo
crime. de um poder discricionário.
59. Deverá optar-se por não incluir no âmbito dos cri- 63. Será de prever agravação da medida da pena
mes contra a ordem e a tranquilidade públicas os crimes para os crimes de corrupção, quando o agente seja ma-
de terrorismo e de associação terrorista, como faz, a tí- gistrado e oficiais de justiça, melhorando o que actual-
tulo de exemplo, o código Português. Estes deverão ser mente se dispõe na matéria, já que, por um lado, ape-
incluídos entre os crimes contra o Estado de direito de- nas se refere ao caso de corrupção passiva, e, por outro,
mocrático, maxime, contra a soberania e a independên- abrange unicamente os juizes e jurados.
cia nacionais, sendo a sua modelação típica feita nessa
base, isto é: a qualificação como organização terrorista 64. A mesma preocupação de adequação da medida
implica, para além de outros elementos, o propósito de da pena à gravidade das infracções, levará o Código, no
destruir, alterar ou subverter o Estado de direito de- capítulo relativo aos crimes contra a administração e a
mocrático constitucionalmente consagrado ou as realização da justiça, a agravar as penas cominadas
suas instituições, ou o de ofender ou pôr em perigo a aos agentes de prevaricação, quando se trate de magis-

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trados, ao mesmo tempo que procederá à redefinição do A Constituição da República e o Programa do Go-
tipo penal respectivo, de forma, nomeadamente, a com- verno destacam a importância da segurança social, re-
patibilizá-lo com os dispositivos constitucionais atinen- conhecendo-a como sendo um dos direitos fundamen-
tes às garantias do exercício da função judicial e de tais dos cidadãos, cabendo ao Estado, para além da sua
magistratura autónoma(M.P.). função de regulador e facilitador, exercer, também,
uma acção inspectiva, garantindo o cumprimento da lei
Artigo 3º e a defesa dos interesses dos destinatários.
(Prazo)
Nesse sentido, pretende-se, com a aprovação deste
A presente autorização legislativa é concedida por diploma, alargar a rede de segurança social a todos os
um período de 45 dias. cidadãos cabo-verdianos e suas famílias, visando, por
um lado, garantir a igualdade de tratamento e a inte-
Artigo 4º gração social através de protecção a grupos mais vulne-
(Entrada em vigor)
ráveis e, por outro lado, prevenir situações de carên-
cias, disfunção, marginalização, evitando, assim, todas
A presente lei entra imediatamente em vigor. as formas de exclusão, desigualdades sociais e assime-
trias.
Aprovada em 24 de Novembro de 2000.
Para o efeito, a presente Lei traz, na sua essência,
O Presidente da Assembleia Nacional, António do três regimes diferentes, ou seja, a Rede de Segurança,
Espírito Santo Fonseca. a Protecção Social Obrigatória e a Protecção Social
Complementar.
Promulgada em 10 de Janeiro de 2001.
O Programa do Governo estabelece que «O Sistema
Publique-se Nacional de Segurança Social deverá cobrir todos os
grupos sociais e profissionais, incluindo os trabalhado-
O Presidente da República, ANTÓNIO MANUEL
res independentes e as profissões liberais, e que a fun-
MASCARENHAS GOMES MONTEIRO
ção do Estado é de promover, organizar e coordenar o
Assinada em 13 de Janeiro de 2001. sistema com a participação de associações sindicais,
profissionais e patronais».
O Presidente da Assembleia Nacional, António do
É, pois, em cumprimento desse programa que se pre-
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Espírito Santo Fonseca.


tende, de entre outras medidas legislativas, aprovar o
———— presente diploma.

Lei nº 131/V/2001 Assim,


de 22 de Janeiro Por mandato do Povo, a Assembleia Nacional de-
creta, nos termos da alínea b) do artigo 174º da Consti-
Face às mudanças e transformações económicas e so- tuição, o seguinte:
ciais verificadas no País, torna-se urgente e necessário
instituir as Bases sobre o Sistema de Protecção Social, CAPÍTULO I
visando promover, desenvolver e aprofundar um sis-
tema de Segurança Nacional assente numa lógica de Das Disposições Gerais
seguro que abrange todos os cidadãos e, em especial, Artigo 1º
aos trabalhadores por conta de outrem ou conta pró-
pria, e suas famílias, bem como aqueles que se encon- (Objecto)
trem em situação de carência.
A presente lei define as bases da protecção social que
A Segurança Social constitui um dos direitos funda- assenta num dispositivo permanente estruturado em
mentais dos cidadãos e uma das principais responsabi- três níveis: rede de segurança, protecção social obriga-
lidades do Estado, a quem cabe assegurar a gradual tória e protecção social complementar.
realização das condições indispensáveis à efectivação
Artigo 2º
desses direitos, nomeadamente, através da adopção
duma política nacional de protecção social. (Rede de segurança)

A política da segurança social é um dos instrumen- A rede de segurança tem como fundamento a solida-
tos indispensáveis para o desenvolvimento económico, riedade nacional, reflecte um carácter distributivo e
e o garante do equilíbrio, equidade, tranquilidade e abrange toda a população residente que se encontre em
justiça social. situação de falta ou diminuição dos meios de subsistên-
cia e não possa assumir integralmente a sua própria
O Governo está consciente de que se deve preservar protecção.
e promover o desenvolvimento da cultura de solidarie-
dade nacional e de grupo, respeitando os sagrados Artigo 3º
princípios da universalidade, da igualdade, da respon- (Protecção social obrigatória)
sabilidade do Estado, da adequação, da participação e
da concertação social, para que todos os cidadãos se 1.A protecção social obrigatória pressupõe a solida-
sintam integrados, inseridos e membros participativos riedade de grupo, tem um carácter comutativo, assenta
no processo de desenvolvimento económico e social de numa lógica de seguro e abrange os trabalhadores, por
Cabo Verde. conta de outrem ou por conta própria, e suas famílias.

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2.A protecção social obrigatória tenderá a proteger g) Princípio da Concertação Social - Conduz à
os trabalhadores referidos no número anterior e res- obrigação do Estado de definir as medidas de
pectivas famílias, de acordo com o desenvolvimento política de protecção social em sintonia com
económico e social, nas situações de falta ou diminui- as organizações representativas da socie-
ção da capacidade de trabalho, de desemprego involun- dade civil.
tário e morte, bem como compensar os encargos fami-
Artigo 7º
liares.
(Relação com sistemas estrangeiros)
3.A protecção social obrigatória é financiada através
de contribuições dos trabalhadores e, quando for o O Estado promove a celebração ou adesão a acordos
caso, pelas entidades empregadoras. internacionais com o objectivo de serem garantidos, em
Artigo 4º
regime de reciprocidade, os direitos dos cidadãos cabo-
verdianos que exerçam a sua actividade noutros paí-
(Protecção social complementar) ses ou a estes se desloquem, bem como a conservação
dos direitos adquiridos e em formação quando regres-
A protecção social complementar assenta numa ló-
sem a Cabo Verde.
gica de seguro é de adesão facultativa e pretende refor-
çar a cobertura fornecida no âmbito dos regimes inte- CAPÍTULO II
grados na protecção social obrigatória.
Da Rede de Segurança
Artigo 5º
Artigo 8º
(Dispositivo permanente de protecção social)
(Objectivo)
1.O dispositivo permanente de protecção social com-
preende as prestações integradas na rede de segurança 1.Constitui objectivo da rede de segurança o bem
e nos regimes obrigatórios e complementares, bem estar das pessoas, das famílias e da comunidade, atra-
como as instituições de protecção social. vés da promoção social, incluindo a acção social, e do
desenvolvimento regional, a fim de reduzir as desigual-
2.Incumbe às instituições de protecção social gerir a
dades sociais e as assimetrias regionais.
rede de segurança e os regimes obrigatórios e comple-
mentares de protecção social. 2.A rede de segurança visa prevenir situações de ca-
Artigo 6º rência, disfunção e marginalização, bem como a inte-
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gração social através de protecção especial a grupos


(Princípios) mais vulneráveis.
A protecção social obedece aos seguintes princípios: Artigo 9º
a) Princípio da Universalidade - Tende a abran- (Âmbito de aplicação pessoal)
ger toda a população através do alargamento
progressivo do campo de aplicação pessoal do A rede de segurança abrange toda a população resi-
dispositivo permanente de protecção social. dente, mas dirige-se predominantemente aos seguintes
grupos - alvo:
b) Princípio da Igualdade - Pressupõe a igual-
dade de tratamento em situações iguais, a) Pessoas em situação grave de pobreza;
através da eliminação de quaisquer discrimi-
nações, designadamente em razão de sexo, b) Mulheres em situação desfavorecida;
religião ou nacionalidade, sem prejuízo da c) Crianças e adolescentes com necessidades es-
condição de residência e do disposto em peciais ou em situação de risco;
convenções que vinculem o Estado de Cabo
Verde. d) Desempregados em risco de marginalização;
c) Princípio da Solidariedade - Traduz-se numa e) Idosos em situação de dependência física ou
conjugação de esforços da comunidade para económica e de isolamento;
a efectiva concretização da rede de segu-
rança e da protecção social obrigatória. f) Pessoas com deficiência, em situação de risco
ou de exclusão social.
d) Princípio da Responsabilidade do Estado - Co-
loca o Estado como garante da efectivação do Artigo 10º
direito de todos à protecção social, nomeada- (Âmbito de aplicação material)
mente através da tutela do dispositivo per-
manente e da comparticipação no seu finan- 1.A rede de segurança concretiza-se através de ac-
ciamento. tuações tendencialmente personalizadas ou dirigidas a
grupos específicos e a comunidades, mediante avalia-
e) Princípio da Adequação - Determina a afecta- ção das necessidades e ponderação dos recursos.
ção selectiva das fontes de financiamento a
cada vertente do dispositivo permanente. 2. Fundamentalmente, recorre às seguintes presta-
ções:
f) Princípio da Participação - Traduz-se na cola-
boração das entidades representativas dos a) Prestações de risco que podem ser pecuniárias
trabalhadores e das entidades empregadoras ou em espécie, ao nível, entre outros, da pro-
na administração das instituições de protec- tecção primária da saúde e da concessão de
ção social. prestações mínimas.

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b) Prestações de apoio social que são atribuídas Artigo 14º


através de serviços, equipamentos, progra-
(Programas sociais e fundo nacional de solidariedade)
mas e projectos integrados de desenvolvi-
mento local ou dirigidos a grupos com necessi- 1.Os programas sociais enquadrados na rede de se-
dades específicas, nomeadamente ao nível da gurança podem ser financiados por um fundo nacional
habitação, do acolhimento e da alimentação. de solidariedade, constituído, nomeadamente, por
transferências do Orçamento do Estado.
c) Prestações de solidariedade que se traduzem,
nomeadamente, na validação de períodos, re- 2. A constituição e o funcionamento do fundo, bem
missão de contribuições ou assunção momen- como as condições de atribuição e o montante máximo
tânea das contribuições dos regimes de pro- das prestações pecuniárias são reguladas por Decreto-
tecção social. Lei.
Artigo 11º
CAPÍTULO III
(Condições de atribuição de prestações)
Da Protecção Social Obrigatória
1.A atribuição das prestações depende do nível de re-
cursos dos interessados e respectivos familiares, po- SECÇÃO I
dendo também obrigar à existência de um período mí- Das Disposições Gerais
nimo de residência legal no país.
Artigo 15º
2.O valor atribuído em cada caso pode ser reduzido
em função dos rendimentos dos interessados e dos res- (Regimes de segurança social)
pectivos agregados familiares. A protecção social obrigatória concretiza-se através
3.As prestações pecuniárias regem-se subsidiaria- dos regimes de segurança social dos trabalhadores por
mente pelo disposto na protecção social obrigatória. conta de outrem e dos trabalhadores por conta própria,
mediante prestações garantidas como direitos.
Artigo 12º
Artigo 16º
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(Financiamento)
(Integração de Regimes especiais)
1.O financiamento é feito através:
1.Os funcionários e demais servidores do Estado, das
a) Do Orçamento do Estado; autarquias locais, dos institutos públicos e de outras
pessoas colectivas públicas cujo estatuto se reja pelas
b) Do Orçamento dos Municípios;
normas da função pública serão abrangidos pelo o re-
c) Do orçamento de projectos específicos, nacio- gime de protecção social por conta de outrem.
nais ou internacionais;
2.Os trabalhadores do Banco de Cabo Verde e de ou-
d) Dde donativos; tras instituições bancárias serão integrados no regime
de protecção social por conta de outrem.
e) De qualquer outra forma legalmente admi-
tida. 3.A integração poderá ser feita de forma faseada.

2.A utilização, por parte dos interessados, dos servi- Artigo 17º
ços e equipamentos sociais pode ficar sujeita ao paga-
(Prestações)
mento de comparticipações, tendo em conta os seus
rendimentos ou dos seus agregados familiares. As prestações podem ser pecuniárias ou em espécie e
Artigo 13º
devem ser adequadas às eventualidades a proteger,
tendo em conta a situação dos beneficiários e suas fa-
(Relação entre o Estado e as Organizações da Sociedade Civil) mílias.
1. O Estado reconhece e valoriza a acção desenvol- Artigo 18º
vida por organizações da sociedade civil na prossecução
dos objectivos da rede de segurança. ( Revisão das prestações)

2. O Estado exerce, em relação às organizações da As prestações pecuniárias dos regimes contributivos


sociedade civil, acção inspectiva com o objectivo de pro- são periodicamente revistas, tendo em conta os meios
mover a compatibilização dos seus fins e actividades, financeiros disponíveis e as variações salariais e do
garantindo o cumprimento da lei e a defesa dos inte- custo de vida.
resses dos destinatários. Artigo 19º
3. A prossecução dos objectivos da protecção social (Prescrição)
pelas organizações da sociedade civil e os apoios a
conceder às mesmas concretizam-se em formas de coo- O direito às prestações vencidas prescreve a favor
peração a estabelecer mediante acordos. das instituições devedoras no prazo de 5 anos.

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Artigo 20º SECÇÃO II

(Concorrência de prestações e rendimentos de trabalho) Do Regime dos Trabalhadores por conta de Outrem

As prestações pecuniárias e as prestações em espécie Artigo 26º


são livremente cumuláveis entre si e com rendimentos
(Âmbito de aplicação pessoal)
do trabalho, salvo as excepções previstas na lei.
São abrangidos obrigatoriamente os trabalhadores
Artigo 21º
por conta de outrem, seja qual for a sua forma de re-
(Exclusão do direito às prestações) muneração, independentemente da natureza jurídica
das entidades a que prestam serviços e da sua finali-
1.É excluído o direito às prestações no caso de as dade lucrativa ou não.
condições da sua atribuição se verificarem em virtude
de acto doloso do segurado ou do beneficiário. Artigo 27º

2.O direito às prestações é também excluído quando (Âmbito de aplicação material)


exista responsabilidade de terceiros que determine o
Integram o âmbito de aplicação do regime as presta-
pagamento de indemnização e esta venha efectiva-
ções atribuídas nas eventualidades doença, materni-
mente a ser paga ou não em virtude de negligência do
dade, acidentes de trabalho e doenças profissionais, in-
beneficiário.
validez, velhice e morte, e outras que sejam legalmente
Artigo 22º previstas, bem como a compensação dos encargos fami-
liares.
(Sub-rogação das instituições de protecção social obrigatória)
Artigo 28º
No caso de concorrência, pelo mesmo facto, do direito
a prestações pecuniárias dos regimes de protecção so- (Natureza do regime)
cial com indemnização a suportar por terceiros, as in-
stituições de protecção social ficam sub-rogadas nos di- 1. É obrigatória a inscrição dos trabalhadores mencio-
reitos dos beneficiários até ao limite do valor das nados no artigo 25º e das respectivas entidades empre-
prestações que lhes cabe conceder. gadoras, cabendo a estas o dever de inscrição.
6 490000 001245

Artigo 23º 2. Poderão ficar dispensados dessa inscrição os tra-


balhadores que se encontrem transitoriamente a exer-
(Conservação dos direitos) cer actividade em Cabo Verde, por período a definir e
1.Os beneficiários mantêm os direitos às prestações que se prove que estão abrangidos por regime de segu-
pecuniárias ainda que transfiram a residência do país, rança social de outro país, sem prejuízo do estabelecido
salvo o disposto na lei e em instrumentos internacio- nos instrumentos internacionais aplicáveis.
nais aplicáveis. Artigo 29º

2.Os efeitos da inscrição não se extinguem pelo de- (Condições de atribuição das prestações)
curso do tempo.
1. A atribuição das prestações ficará dependente de
Artigo 24º inscrição.
(Financiamento)
2. As prestações na doença, maternidade, invalidez,
1.Os trabalhadores e as entidades empregadoras velhice e morte dependem do decurso de um prazo de
quando for caso disso são obrigados a contribuir para o garantia.
financiamento da protecção social obrigatória.
3. O direito às prestações não fica prejudicado
2.As contribuições são determinadas pela incidência quando a falta de pagamento ou declaração das contri-
de percentagens fixadas sobre as remunerações efecti- buições não for imputável aos trabalhadores.
vas ou convencionadas.
4. As condições de atribuição das prestações serão
3.As contribuições dos trabalhadores por conta de desenvolvidas pelo Governo, podendo ser adaptadas às
outrem são descontadas pelas entidades empregadoras características do grupo a abranger.
nas respectivas remunerações e entregues por estas
Artigo 30º
juntamente com as contribuições próprias.
(Montante das prestações e revalorização)
Artigo 25º

(Gestão)
1. O montante das prestações será definido tendo
em atenção os rendimentos, encargos familiares, idade,
A gestão pode ser efectuada pelos órgãos gestores da grau de incapacidade, períodos de actividade profissio-
protecção social obrigatória ou por outras entidades de nal e contributivos.
Direito Privado.
2. Será ainda determinado um montante máximo e
A gestão pode ser efectuada por entidades gestoras mínimo das prestações, bem como as regras a que deve
da protecção social obrigatória ou por outras entidades obedecer a revalorização dos montantes que servem de
de Direito Privado. base ao cálculo das prestações.

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28 I SÉRIE — Nº 2 — «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 22 DE JANEIRO DE 2001

SECÇÃO III 2. A convenção, uma vez assinada e homologada pela


Do regime dos trabalhadores por conta própria tutela, terá força obrigatória para todos os que entra-
rem no seu campo de aplicação.
Artigo 31º
Artigo 38º
(Âmbito de aplicação pessoal)
(Âmbito de aplicação material)
1. São obrigatoriamente abrangidos os trabalhado-
res que exerçam actividade profissional sem sujeição a A protecção social complementar visa reforçar as
contrato de trabalho ou contrato legalmente equipa- prestações dos regimes obrigatórios nas eventualida-
rado e não se encontrem, em função da mesma, inscri- des velhice, invalidez e morte, através de modalidades
tos no regime dos trabalhadores por conta de outrem. sujeitas a homologação da tutela, por proposta das en-
2. O enquadramento no regime terá em conta as ca- tidades gestoras.
racterísticas do grupo a abranger. Artigo 39º
3. A integração será faseada, podendo ser determi- (Financiamento)
nado o alargamento do regime a novos trabalhadores
com capacidade para ao mesmo se vincularem. A protecção social complementar é financiada por
Artigo 32º
quotizações dos trabalhadores ou destes e das entida-
des empregadoras, quando for o caso.
(Âmbito de aplicação material)
Artigo 40º
1. Integram obrigatoriamente o regime aplicável aos
trabalhadores por conta própria as prestações de inva- (Gestão)
lidez, velhice e morte, previstas para os trabalhadores
por conta de outrem. A gestão, baseada em técnicas de capitalização, pode
ser efectuada pelos órgãos gestores da protecção social
2. Pode haver opção por um esquema alargado de obrigatória ou por outras entidades de direito privado.
prestações contemplando as eventualidades doença,
maternidade e encargos familiares. CAPÍTULO V
Artigo 33º Do Financiamento e da Gestão Financeira
6 490000 001245

(Natureza do regime) Artigo 41º


É obrigatória a inscrição dos trabalhadores, não obs- (Orçamento)
tante o carácter facultativo de adesão ao esquema alar-
gado. 1. O orçamento da rede de segurança e o da protec-
Artigo 34º
ção social obrigatória são apresentados pelo Governo e
votados pela Assembleia Nacional em simultâneo com
(Montantes das contribuições e das prestações) o Orçamento do Estado.
Os montantes das contribuições e das prestações são 2. Os organismos gestores submeterão ao Governo
determinados por referência a uma remuneração os respectivos orçamentos.
convencional escolhida pelo interessado entre escalões
indexados definidos legalmente. Artigo 42º

Artigo 35º (Fontes de financiamento)


(Regime subsidiário)
O dispositivo permanente da protecção social é fi-
Desde que não seja incompatível com a sua natu- nanciado por:
reza, é de aplicação subsidiária neste regime o disposto
para os trabalhadores por conta de outrem. a) Contribuições e quotizações dos trabalhadores;

CAPÍTULO IV b) Contribuições das entidades empregadoras;

Da Protecção Social Complementar c) Transferências do Orçamento do Estado;


Artigo 36º d) Receitas próprias das autarquias locais;
(Âmbito de aplicação pessoal)
e) Subsídios, donativos, legados e heranças;
A protecção social complementar abrange, com ca-
rácter facultativo, as pessoas inscritas num dos regi- f) Rendimentos de bens próprios;
mes de protecção social obrigatória.
g) Outras receitas legalmente permitidas.
Artigo 37º
Artigo 43º
(Convenções)
(Autonomia de financiamento)
1. No quadro da profissão, da actividade ou da em-
presa, os parceiros sociais podem negociar livremente Cada nível do dispositivo permanente de protecção
as garantias sociais, o sistema de financiamento e a social e os respectivos regimes têm financiamentos pró-
entidade gestora dos fundos. prios.

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I SÉRIE — Nº 2 — «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 22 DE JANEIRO DE2001 29

Artigo 44º 3. A entidade gestora dos regimes de segurança so-


cial, nos seus créditos de contribuições, goza de privilé-
(Financiamento das despesas de administração) gio creditório idêntico ao atribuído por lei ao Estado
em matéria de impostos.
As despesas de administração são suportadas pelas
fontes de financiamento da rede de segurança e dos re- Artigo 51º
gimes, proporcionalmente aos respectivos encargos.
(Pagamento indevido de prestações)
Artigo 45º
No caso de pagamento indevido de prestações, a res-
(Arrecadação e gestão de receitas) tituição pode ser feita através de compensação com va-
lores a que o beneficiário possa ter direito, até ao li-
A arrecadação e a gestão das receitas cabem às insti- mite de um terço desses valores.
tuições de protecção social nas áreas da respectiva
competência. Artigo 52º

Artigo 46º (Intransmissibilidade e impenhorabilidade das prestações)

(Prazo de prescrição das contribuições) 1. O direito às prestações é intransmissível.

Os créditos resultantes das contribuições devidas 2. O direito às prestações é impenhorável salvo rela-
prescrevem no prazo de 10 anos. tivo àquelas cujo montante ultrapasse cinco vezes a re-
muneração mínima da função pública.
Artigo 47º
CAPÍTULO VII
(Contas sociais)
Disposições Finais e Transitórias
As contas sociais devem reflectir, relativamente ao
dispositivo de protecção social: Artigo 53º

(Regulamentação)
a) As receitas e despesas;
O Governo desenvolverá a presente lei de bases por
b) A origem das despesas sociais; Decreto-Lei.
6 490000 001245

c) Os modos de intervenção dos regimes de pro- Artigo 54º


tecção social;
(Revogação)
d) A análise das transferências sociais efectuadas.
São revogadas todas as disposições que contrariem o
CAPÍTULO VI disposto no presente diploma.
Artigo 55º
Das Garantias, Contencioso e Sanções
(Entrada em vigor)
Artigo 48º
A presente lei entra imediatamente em vigor.
(Reclamação)
Aprovada em 29 de Novembro de 2000.
Podem ser objecto de reclamação os actos praticados
pelas entidades gestoras do dispositivo permanente de O Presidente da Assembleia Nacional, António do
protecção social, sem prejuízo do direito de recurso Espírito Santo Fonseca.
contencioso.
Promulgada em 10 de Janeiro de 2001.
Artigo 49º
Publique-se.
(Sanções)
O Presidente da República, ANTÓNIO MANUEL
A falta de cumprimento das obrigações relativas à MASCARENHAS GOMES MONTEIRO.
inscrição nos regimes de protecção social, bem como a
inscrição ou obtenção fraudulenta de prestações dão Assinada em 13 de Janeiro de 2001.
lugar à aplicação das sanções previstas na lei.
O Presidente da Assembleia Nacional, António do
Artigo 50º Espirito Santo Fonseca.
(Garantias do pagamento de contribuições) ———
1. A cobrança coerciva das contribuições é feita atra- Lei nº 132/V/2001
vés do processo de execução nos tribunais comuns,
tendo força executiva a declaração comprovativa dos de 22 de Janeiro
créditos em divida emitida pela entidade gestora dos PREÂMBULO
regimes de protecção social obrigatória.
Cabo Verde desenvolveu, nos últimos anos, um ex-
2. A não entrega das contribuições deduzidas nas re- tenso programa de reformas económicas, cujo objectivo,
munerações pelas entidades empregadoras é punida entre outros, era o de criar as melhores condições pos-
como crime de abuso de confiança. síveis para assegurar a estabilidade macroeconómica,

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30 I SÉRIE — Nº 2 — «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 22 DE JANEIRO DE 2001

numa perspectiva de curto, médio e de longo prazo. Artigo 2º

Do conjunto de medidas e soluções adoptadas, desta- (Natureza)


cam-se o estabelecimento de limites ao endividamento
1. O M.S.F. – Macroeconomic Stability Fund é um
público, o saneamento da dívida interna, a criação do
fundo de estabilização macroeconómica e de equilíbrio
FEED – Fundo Especial de Estabilização e Desenvolvi-
mento, a criação do CVDTF – International Suport for e apoio à Balança de Pagamentos.
Cabo Verde Stabilization Trust Fund, o Acordo de Coope- 2. Os recursos do M.S.F. – Macroeconomic Stability
ração Cambial, assinado com Portugal, a aprovação de
Fund integram os activos externos de Cabo Verde.
uma nova lei cambial, assegurando, designadamente, a
convertibilidade do Escudo de Cabo Verde, o estabeleci- Artigo 3º
mento da paridade fixa Escudo de Cabo Verde/escudo
Português/Euro e a liberalização das operações cambiais. (Objecto)

Cabo Verde, pequeno país insular, é particularmente 1. O M.S.F. – Macroeconomic Stability Fund tem
exposto aos riscos de choques externos, que aumentam por objecto financiar, operações que tenham por finali-
à medida que a economia do país vai crescendo e se dade assegurar a estabilidade cambial do Escudo de
concretiza a sua inserção no sistema económico mun- Cabo Verde ou/e a liquidez externa de Cabo Verde,
dial. sempre que a estabilidade cambial ou o equilíbrio ex-
terno sejam ameaçados ou, neste último caso, agravado
No conjunto dos riscos referidos, sobressaem os que por choques externos.
derivam de crises económicas de carácter universal ou
regional e susceptíveis de pôr em causa a estabilidade 2. A reposição dos recursos do M.S.F. – Macroeco-
cambial do Escudo de Cabo Verde ou/e de afectarem ou nomic Stability Fund utilizados em conformidade com
agravarem o equilíbrio externo. o nº1 deste artigo será feita nos termos estatutários
O Governo, desde o início, consciente da gravidade Artigo 4º
deste último conjunto de riscos, idealizou uma solução,
constituída por um fundo de suporte à estabilidade (Receitas)
cambial e à balança de pagamentos, propriedade do
1. Constituem receitas do M.S.F. – Macroeconomic
Banco Central.
Stability Fund:
6 490000 001245

Este fundo, uma vez criado e dotado de recursos sufi-


cientes, constituirá uma almofada segura para a econo- a) As que resultarem da aplicação dos resultados
mia cabo-verdiana, dando-lhe uma capacidade extraor- anuais líquidos do Banco Central, atribuídos
dinária de resistência aos choques externos que possam por despacho do Ministro das Finanças, sob
afectar a estabilidade cambial e o equilíbrio externo. proposta do Conselho de Administração do
Banco de Cabo Verde;
Reforçará, assim, em elevado grau, os instrumentos
de regulação macroeconómica e o grau de confiança e b) Cinquenta por cento dos resultados anuais lí-
de previsibilidade da economia cabo-verdiana. quidos do Banco Central, até que o somató-
rio desta receita restitua o equivalente a seis
A sua criação fará com que Cabo Verde, para além meses de importação de mercadorias e servi-
dos instrumentos clássicos de regulação macroeconó- ços do ano anterior;
mica, fique a contar com dois instrumentos inovadores:
o FEED – Fundo Especial de Estabilização e Desenvol- c) Pelo menos três por cento das receitas corren-
vimento, criado para fazer face aos efeitos, sobre equi- tes do Estado, previstas em cada exercício
líbrio interno, resultantes de choques externos (sejam económico-financeiro;
eles externos, propriamente dito, ou de fenómenos in-
ternos, do ponto de vista das fronteiras territoriais, d) As doações que tenham por finalidade contri-
mas externos do ponto de vista económico, como são as buir para a anulação de efeitos, originados
calamidades naturais e as epidemias), e o M.S.F. – Ma- por choques externos sobre a taxa de câmbio
croeconomic Stability Fund, para fazer face aos efeitos do Escudo de Cabo Verde ou/e sobre a Ba-
de choques externos sobre a estabilidade cambial e o lança de Pagamentos;
equilíbrio externo.
e) Os saques sobre linhas de crédito concedidas
Assim, por países ou instituições e que tenham por
Por mandato do povo, a Assembleia Nacional de- finalidade assegurar a estabilidade cambial;
creta, nos termos da alínea b) do artigo 174º da Consti-
f) O produto que resultar da aplicação dos recur-
tuição, o seguinte:
sos do M.S.F. – Macroeconomic Stability
Artigo 1º Fund.
(Criação) 2. O Governo, sob proposta do Ministro das Finan-
ças e por resolução do Conselho de Ministros, pode
1. É criado, junto do Banco de Cabo Verde, o M.S.F.
– Macroeconomic Statibility Fund. transferir, por doação, venda ou outra modalidade en-
tendida por conveniente, Títulos de Participação/
2. O M.S.F. – Macroeconomic Stability Fund tem a Capital, abreviadamente TP/C, criados nos termos do
natureza de fundo autónomo e é propriedade do Banco número 2, do artigo 7º, da Lei nº69/V/98, ao M.S.F. –
de Cabo Verde. Macroeconomic Stability Fund.

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I SÉRIE — Nº 2 — «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 22 DE JANEIRO DE2001 31

Artigo 5º ções de acesso aos bancos de dados, de constituição e


(Activos)
de utilização por autoridades públicas e entidades pri-
vadas de tais bancos ou de suportes informáticos dos
Os activos do M.S.F. – Macroeconomic Stability mesmos».
Fund são constituídos pelo conjunto das aplicações das
suas receitas e podem estar referenciados em Escudo É, pois, neste contexto político-constitucional que se
de Cabo Verde ou outra moeda convertível. insere a aprovação da presente lei, a qual regulamenta
o texto constitucional e surge como o regime quadro em
Artigo 6º matéria de protecção de dados pessoais.
(Estatutos) A lei estabelece com clareza o regime dos direitos do
titular dos dados («direito de informação», «direito de
Os Estatutos do M.S.F. – Macroeconomic Stability
acesso», «direito de oposição» e «direito de não sujeição
Fund são aprovados pelo Conselho de Ministros, até 30
a decisões individuais automatizadas»), regime esse de
dias a contar da data da publicação da presente Lei.
capital importância para a salvaguarda dos direitos, li-
Artigo 7º berdades e garantias fundamentais dos cidadãos
consagrados na Constituição da República.
(Entrada em vigor)
A matéria de segurança e confidencialidade dos
A presente Lei entra imediatamente em vigor. dados foi, também, objecto de um cuidadoso regime,
Aprovada em 7 de Dezembro de 2000. salvaguardado pelo sigilo profissional, enquanto ele-
mento de garantia do seu cumprimento rigoroso.
O Presidente da Assembleia Naciona, António do Es-
pírito Santo Fonseca. Estabeleceram-se importantes princípios relativos à
transferência de dados pessoais, atribuindo à Comis-
Promulgada em 10 de Janeiro de 2001. são Parlamentar de Fiscalização um papel de capital
importância, bem como os casos de derrogação.
Publique-se
A fiscalização do cumprimento de toda a legislação
O Presidente da República, ANTÓNIO MANUEL em matéria de protecção de dados pessoais foi atri-
MASCARENHAS GOMES MONTEIRO. buída à Assembleia Nacional, através de uma Comis-
são Parlamentar, a ser criada por lei específica, com
6 490000 001245

Assinada em 13 de Janeiro de 2001. natureza de autoridade administrativa independente e


O Presidente da Assembleia Nacional, António do com amplos poderes de autoridade, quer de fiscalização
Espirito Santo Fonseca. prévia, quer à posteriori. A fiscalização pelo Parla-
mento não dispensa, contudo, a fiscalização jurisdicio-
——— nal, através dos tribunais.

Lei nº 133/V/2001 Para garantir o respeito pelos direitos, liberdades e


garantias fundamentais dos cidadãos, o diploma esta-
de 22 de Janeiro belece um leque importante de infracções e sanções,
distinguindo os casos de contra-ordenação dos de cri-
O Programa do Governo para o sector da justiça mes.
confere especial importância à reforma e modernização
legislativas. Assim,
Com efeito, estabelece aquele Programa que o Go- Tornando-se pois, necessário proceder à regulamen-
verno promoverá a aprovação de «legislação que asse- tação do texto constitucional;
gure ... a tutela jurídica a um grande número de direi-
tos e a punição de inúmeras violações de lei, hoje Por mandato do povo, a Assembleia Nacional de-
praticamente sem garantia ou resposta ...». creta, nos termos da alínea b) do artigo 174º e m) do ar-
tigo 175º da Constituição, o seguinte:
O domínio da protecção dos direitos, liberdades e ga-
rantias fundamentais dos cidadãos, designadamente o CAPÍTULO I
da protecção de dados pessoais, é, seguramente, um
dos que carece de uma profunda regulamentação. Disposições gerais
Artigo 1º
Trata-se de um domínio de capital importância e que
mereceu consagração expressa no texto constitucional. (Objecto)

Efectivamente, a Constituição da República regula A presente lei estabelece o regime jurídico geral de
(artigo 44º), de forma relativamente pormenorizada, a protecção de dados pessoais das pessoas singulares.
matéria de utilização de meios informáticos e protecção
de dados pessoais, estabelecendo (artigo 44º, nº 1) que Artigo 2º
todos «os cidadãos têm direito de acesso aos dados in- (Âmbito de aplicação)
formatizados que lhes digam respeito, podendo exigir a
sua rectificação e actualização, bem como o direito de 1. A presente lei aplica-se ao tratamento de dados
conhecer a finalidade a que se destinam, nos termos da pessoais por meios total ou parcialmente automatiza-
lei». Estabelece, ainda, a Constituição da República dos, bem como ao tratamento por meios não automati-
(artigo 44º, nº 3) que a «lei regula a protecção de dados zados de dados pessoais contidos em ficheiros manuais
pessoais constantes dos registos informáticos, as condi- ou a estes destinados.

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32 I SÉRIE — Nº 2 — «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 22 DE JANEIRO DE 2001

2. A presente lei aplica-se ao tratamento de dados b ) «Tratamento de dados pessoais» ou


pessoais efectuado: «Tratamento»: qualquer operação ou
conjunto de operações sobre dados pessoais,
a) No âmbito das actividades de estabelecimento efectuadas, total ou parcialmente, com ou
do responsável do tratamento situado em sem meios automatizados, tais como a re-
território nacional; colha, o registo, a organização, a conserva-
b) Fora do território nacional, em local onde a le- ção, a adaptação ou alteração, a recuperação,
gislação cabo-verdiana seja aplicável por a consulta, a utilização, a comunicação por
força do direito internacional; transmissão, por difusão ou por qualquer
outra forma de colocação à disposição, com
c) Por responsável que, não estando estabelecido comparação ou interconexão, bem como o
no território nacional, recorra, para trata- bloqueio, o apagamento ou a destruição;
mento de dados pessoais, a meios, automati-
c) «Ficheiro de dados pessoais» ou «Ficheiro»:
zados ou não, situados no território nacional, qualquer conjunto estruturado de dados pes-
salvo se esses meios só forem utilizados para soais, acessível segundo critérios determina-
trânsito. dos, quer seja centralizado, descentralizado
3. A presente lei aplica-se à video-vigilância e outras ou repartido de modo funcional ou geográ-
formas de captação, tratamento e difusão de sons e fico;
imagens que permitam identificar pessoas sempre que d) «Responsável pelo tratamento»: a pessoa singu-
o responsável pelo tratamento esteja domiciliado ou se- lar ou colectiva, a autoridade pública, o ser-
diado em território nacional ou recorra a um fornece- viço ou qualquer outro organismo que, indi-
dor de acesso a redes informáticas e telemáticas aí es- vidualmente ou em conjunto com outrem,
tabelecido. determine as finalidades e os meios de trata-
4. No caso referido na alínea c) do número 2, o res- mento dos dados pessoais;
ponsável pelo tratamento deve designar, mediante co- e) «Subcontratante»: a pessoa singular ou colec-
municação à Comissão Parlamentar de Fiscalização, tiva, a autoridade pública, o serviço ou qual-
um representante estabelecido em território nacional, quer outro organismo que trate os dados pes-
que se lhe substitua em todos os seus direitos e obriga- soais por conta do responsável pelo
ções, sem prejuízo da sua própria responsabilidade. tratamento;
6 490000 001245

5. O disposto no número anterior aplica-se no caso f) «Terceiro»: a pessoa singular ou colectiva, a au-
de o responsável pelo tratamento estar abrangido por toridade pública, o serviço ou qualquer outro
estatuto de extraterritorialidade, de imunidade ou por organismo que, não sendo o titular dos
qualquer outro que impeça o procedimento criminal. dados, o responsável pelo tratamento, o sub-
contratante ou outra pessoa sob autoridade
6. A presente lei aplica-se ao tratamento de dados directa do responsável pelo tratamento ou do
pessoais que tenham por objectivo a segurança pública, subcontratante, esteja habilitado a tratar os
a defesa nacional e a segurança do Estado, sem pre- dados;
juízo do disposto em normas especiais constantes de in-
strumentos de direito internacional a que Cabo Verde g) «Destinatário»: a pessoa singular ou colectiva,
se vincule e de legislação específica atinente aos res- a autoridade pública, o serviço ou qualquer
pectivos sectores. outro organismo a quem sejam comunicados
dados pessoais, independentemente de se
Artigo 3º
tratar ou não de um terceiro, sem prejuízo
(Exclusão do âmbito de aplicação) de não serem consideradas destinatários as
autoridades a quem sejam comunicados
A presente lei não se aplica ao tratamento de dados dados no âmbito de uma disposição legal;
pessoais efectuado por pessoa singular no exercício de
actividades exclusivamente pessoais ou domésticas. h) «Consentimento do titular dos dados»: qual-
quer manifestação de vontade, livre, especí-
Artigo 4º fica e informada, nos termos da qual o titu-
(Princípio geral) lar aceita que os seus dados pessoais sejam
objecto de tratamento;
O tratamento de dados pessoais deve processar-se de
forma transparente e no estrito respeito pela reserva i) «Interconexão de dados»: forma de tratamento
da intimidade da vida privada e familiar, bem como que consiste na possibilidade de relaciona-
pelos direitos, liberdades e garantias fundamentais do mento dos dados de um ficheiro com os
cidadão. dados de um ficheiro ou ficheiros mantidos
por outro ou outros responsáveis, ou manti-
Artigo 5º dos pelo mesmo responsável com outra fina-
(Definições) lidade.

1. Para efeitos da presente lei, entende-se por: 2. Para efeitos do disposto na alínea a) do número
anterior, é considerada identificável a pessoa que
a ) «Dados pessoais»: qualquer informação, de possa ser identificada, directa ou indirectamente, desi-
qualquer natureza e independentemente do gnadamente por referência a um número de identifica-
respectivo suporte, incluindo som e imagem, ção ou a um ou mais elementos específicos da sua iden-
relativa a uma pessoa singular identificada tidade física, fisiológica, psíquica, económica, cultural
ou identificável, «titular dos dados»; ou social.

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I SÉRIE — Nº 2 — «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 22 DE JANEIRO DE2001 33

3. Para efeitos do disposto na alínea d) do número b) Cumprimento de obrigação legal a que o res-
anterior, sempre que as finalidades e os meios do tra- ponsável pelo tratamento esteja sujeito;
tamento sejam determinados por disposições legislati-
vas ou regulamentares, o responsável pelo tratamento c) Protecção de interesses vitais do titular dos
deve ser indicado na lei de organização e funciona- dados, se este estiver física ou legalmente in-
mento ou no estatuto da entidade legal ou estatutaria- capaz de dar o seu consentimento;
mente competente para tratar os dados pessoais em
d) Execução de uma missão de interesse público
causa.
ou no exercício de autoridade pública em que
CAPÍTULO II esteja investido o responsável pelo trata-
mento ou um terceiro a quem os dados sejam
Tratamento de dados pessoais comunicados;
SECÇÃO I e) Prossecução de interesses legítimos do respon-
Qualidade dos dados e legitimidade do seu tratamento sável pelo tratamento ou de terceiro a quem
os dados sejam comunicados, desde que não
Artigo 6º prevalecem os interesses ou os direitos, liber-
(Qualidade dos dados) dades e garantias do titular dos dados.

1. Os dados pessoais devem ser: Artigo 8º

(Tratamento de dados sensíveis)


a) Tratados de forma legal, lícita e com respeito
pelo princípio da boa fé; 1. É proibido o tratamento de dados pessoais relati-
vos às convicções ou opiniões políticas, filosóficas ou
b) Recolhidos para finalidades determinadas, ex-
ideológicas, à fé religiosa, à filiação partidária ou sindi-
plícitas e legítimas, não podendo ser poste-
cal, à origem racial ou étnica, à vida privada, à saúde e
riormente tratados de forma incompatível
à vida sexual, incluindo os dados genéticos, salvo:
com essas finalidades;
c) Adequados, pertinentes e não excessivos relati- a) Mediante consentimento expresso do titular,
vamente às finalidades para que são recolhi- com garantias de não discriminação e com as
medidas de segurança adequadas;
6 490000 001245

dos e posteriormente tratados;


d) Exactos e, se necessário, actualizados, devendo b) Mediante autorização prevista na lei, com ga-
ser tomadas as medidas adequadas para as- rantias de não discriminação e com as medi-
segurar que sejam apagados ou rectificados das de segurança adequadas;
os dados inexactos ou incompletos, tendo em c) Quando se destinem a processamento de dados
conta as finalidades para que foram recolhi- estatísticos não individualmente identificá-
dos ou para que são tratados posteriormente; veis, com as medidas de segurança adequadas.
e) Conservados de forma a permitir a identifica-
2. Na concessão de autorização prevista na alínea b)
ção dos seus titulares apenas durante o pe-
do número anterior a lei deve ater-se, designadamente,
ríodo necessário para a prossecução das fina-
à indispensabilidade do tratamento dos dados pessoais
lidades da recolha ou do tratamento
referidos no número 1 para o exercício das atribuições
posterior.
legais ou estatutárias do seu responsável, por motivos
2. O tratamento posterior dos dados para fins histó- de interesse público importante.
ricos, estatísticos ou científicos, bem como a sua
3. O tratamento dos dados referidos no número 1 é
conservação para os mesmos fins por período superior
ao referido na alínea e) do número anterior, podem ser ainda permitido quando se verificar uma das seguintes
autorizados pela Comissão Parlamentar de Fiscaliza- condições:
ção em caso de interesse legítimo do responsável pelo a) Ser necessário para proteger interesses vitais
tratamento, desde que não prevaleçam os direitos, li- do titular dos dados ou de uma outra pessoa
berdades e garantias do titular de dados. e o titular dos dados estiver física ou legal-
3. Cabe ao responsável pelo tratamento assegurar a mente incapaz de dar o seu consentimento;
observância do disposto nos números anteriores. b) Ser efectuado, com o consentimento do titular,
Artigo 7º por fundação, associação ou organismo sem
fins lucrativos de carácter político, filosófico,
(Condições de legitimidade do tratamento de dados) religioso ou sindical, no âmbito das suas ac-
O tratamento de dados pessoais só pode ser efec- tividades legítimas, sob condição de o trata-
tuado se o seu titular tiver dado de forma inequívoca o mento respeitar apenas aos membros dessa
seu consentimento ou se o tratamento for necessário fundação, associação ou desse organismo ou
para: às pessoas com quem ele mantenha contac-
tos periódicos ligados às suas finalidades le-
a) Execução de contrato em que o titular dos gítimas, e de os dados não serem comunica-
dados seja parte ou de diligências prévias dos a terceiros sem consentimento dos seus
efectuadas a seu pedido; titulares;

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34 I SÉRIE — Nº 2 — «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 22 DE JANEIRO DE 2001

c) Dizer respeito a dados manifestamente torna- 2. A interconexão de dados pessoais deve ser neces-
dos públicos pelo seu titular, desde que se sária e adequada à prossecução das finalidades legais
possa legitimamente deduzir das suas decla- ou estatutárias e de interesses legítimos dos responsá-
rações o consentimento para o tratamento veis dos tratamentos, não implicar discriminação ou di-
dos mesmos; minuição dos direitos, liberdades e garantias funda-
mentais dos titulares dos dados, ter em conta o tipo de
d) Ser necessário à declaração, exercício ou defesa dados objecto de interconexão e ser rodeada de adequa-
de um direito em processo judicial e for efec- das medidas de segurança.
tuado exclusivamente com essa finalidade.
SECÇÃO II
4. O tratamento dos dados pessoais referentes à
saúde e à vida sexual, incluindo os dados genéticos, é Direitos do titular dos dados
permitido quando for necessário para efeitos de medi- Artigo 11º
cina preventiva, de diagnóstico médico, de prestação de
cuidados ou tratamentos médicos ou de gestão de servi- (Direito de informação)
ços de saúde, desde que o tratamento desses dados seja
efectuado por um profissional de saúde obrigado ao se- 1. Quando recolher dados pessoais directamente do
gredo profissional ou por outra pessoa igualmente su- seu titular, o responsável pelo tratamento ou o seu re-
jeita a uma obrigação de segredo equivalente, tenha presentante deve prestar-lhe, salvo se já forem dele
sido notificada a Comissão Parlamentar de Fiscaliza- conhecidas, as seguintes informações:
ção nos termos do artigo 23º, e sejam garantidas medi-
a) Identidade do responsável pelo tratamento e,
das adequadas de segurança da informação.
se for caso disso, do seu representante;
5. O tratamento dos dados referidos no número 1
pode ainda ser efectuado, com medidas adequadas de b) Finalidades do tratamento;
segurança da informação, quando se mostrar indispen- c) Os destinatários ou categorias de destinatários
sável à protecção da segurança do Estado, da defesa da dos dados;
segurança pública e da prevenção, investigação ou re-
pressão de infracções penais. d) O carácter obrigatório ou facultativo da res-
Artigo 9º
posta, bem como as possíveis consequências
se não responder;
(Registos de actividades ilícitas, condenações penais,
6 490000 001245

medidas de segurança, infracções e contra-ordenações) e) A existência e as condições do direito de acesso e


de rectificação, desde que sejam necessárias,
1. A criação e a manutenção de registos centrais re- tendo em conta as circunstâncias específicas
lativos a pessoas suspeitas de actividades ilícitas, da recolha dos dados, para garantir ao seu ti-
condenações penais, decisões que apliquem medidas de tular um tratamento leal dos mesmos;
segurança, coimas e sanções acessórias e infracções e
contra-ordenações só podem ser mantidas por serviços f) A decisão de comunicação dos seus dados pes-
públicos com essa competência legal, observando nor- soais pela primeira vez a terceiros para os
mas procedimentais e de protecção de dados previstas fins previstos na alínea b) do artigo 13º, pre-
em diploma legal. viamente e com a indicação expressa de que
tem direito de se opor a essa comunicação;
2. O tratamento de dados pessoais relativos a suspei-
tas de actividades ilícitas, condenações penais, deci- g) A decisão de os seus dados pessoais serem uti-
sões que apliquem medidas de segurança, coimas e lizados por conta de terceiros, previamente e
sanções acessórias e infracções e contra-ordenações com a indicação expressa de que tem o di-
pode ser autorizado, observadas as normas de protec- reito de se opor a essa utilização.
ção de dados e de segurança da informação, quando tal
tratamento for necessário à execução de finalidades le- 2. Os documentos que sirvam de base à recolha de
gítimas do seu responsável, desde que não prevaleçam dados pessoais devem conter as informações constan-
os direitos, liberdades e garantias do titular dos dados. tes do número anterior.
3. O tratamento de dados pessoais para fins de in- 3. Se os dados não forem recolhidos junto do seu titu-
vestigação policial deve limitar-se ao necessário para a lar e salvo se dele já forem conhecidas, o responsável
prevenção de um perigo concreto ou repressão de uma pelo tratamento, ou o seu representante, deve prestar-
infracção determinada, para o exercício de competên- lhe as informações previstas no número 1 no momento
cias previstas no respectivo estatuto orgânico ou nou- do registo dos dados ou, se estiver prevista a comunica-
tra disposição legal e ainda nos termos de acordo, tra- ção a terceiros, o mais tardar aquando da primeira co-
tado ou convenção internacional de que Cabo Verde municação desses dados.
seja parte.
4. No caso de recolha de dados em redes abertas, o ti-
Artigo 10º
tular dos dados deve ser informado, salvo se disso já
(Interconexão de dados pessoais) tiver conhecimento, de que os seus dados pessoais
podem circular na rede sem condições de segurança,
1. Sem prejuízo de proibição expressa prevista na lei, correndo o risco de serem vistos e utilizados por tercei-
a interconexão de dados pessoais que não esteja esta- ros não autorizados.
belecida em disposição legal está sujeita a autorização
da Comissão Parlamentar de Fiscalização solicitada 5. A obrigação de informação é dispensada por moti-
pelo responsável ou em conjunto pelos correspondentes vos de segurança do Estado, prevenção e investigação
responsáveis dos tratamentos, nos termos do artigo 23º. criminal, e bem assim, quando, nomeadamente no caso

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I SÉRIE — Nº 2 — «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 22 DE JANEIRO DE2001 35

do tratamento de dados com finalidades estatísticas, 5. O direito de acesso à informação relativa a dados
históricas ou de investigação científica, a informação da saúde, incluindo os dados genéticos, é exercido por
do titular dos dados se revelar impossível ou implicar intermédio de médico escolhido pelo titular dos dados.
esforços desproporcionados ou ainda quando a lei de-
terminar expressamente o registo dos dados ou a sua 6. No caso de os dados não serem utilizados para
divulgação. tomar medidas ou decisões em relação a pessoas deter-
minadas, a lei pode restringir o direito de acesso nos
6. A obrigação de informação não se aplica ao trata- casos em que manifestamente não exista qualquer per-
mento de dados efectuado para fins exclusivamente igo de violação dos direitos, liberdades e garantias do
jornalísticos ou de expressão artística ou literária, titular dos dados, designadamente do direito à sua in-
salvo quando estiverem em causa direitos, liberdades e timidade da vida privada, e os referidos dados forem
garantias dos titulares dos dados. exclusivamente utilizados para fins de investigação
científica ou conservados sob forma de dados pessoais
Artigo 12º
durante um período que não exceda o necessário à fina-
(Direito de acesso) lidade exclusiva de elaborar estatísticas.

1. O titular dos dados tem o direito de obter do res- Artigo 13º


ponsável pelo tratamento, livremente e sem restrições, (Direito de oposição)
com periodicidade razoável e sem demoras ou custos
excessivos: O titular dos dados tem o direito de:
a) A confirmação de serem ou não tratados dados a) Salvo disposição legal em contrário, e pelo
que lhe digam respeito, bem como informa- menos nos casos referidos nas alíneas d) e e)
ção sobre as finalidades desse tratamento, as do artigo 7º, se opor em qualquer altura, por
categorias de dados sobre que incide e os razões ponderosas e legítimas relacionadas
destinatários ou as categorias de destinatá- com a sua situação particular, a que os
rios a quem são comunicados os dados; dados que lhe digam respeito sejam objecto
de tratamento, devendo, em caso de oposição
b) A comunicação, sob forma inteligível, dos seus justificada, o tratamento efectuado pelo res-
dados sujeitos a tratamento e de quaisquer ponsável deixar de poder incidir sobre esses
informações disponíveis sobre a origem des- dados;
ses dados;
6 490000 001245

b) Se opor, a seu pedido e gratuitamente, ao tra-


c) O conhecimento da lógica subjacente ao trata- tamento dos dados pessoais que lhe digam
mento automatizado dos dados que lhe respeito previsto pelo responsável pelo trata-
digam respeito, no que se refere às decisões mento para efeitos de «marketing» directo ou
automatizadas referidas no número 1 do ar- qualquer outra forma de prospecção;
tigo 14º;
c) Se opor, sem despesas, a que os seus dados
d) A rectificação, o apagamento ou o bloqueio dos pessoais sejam comunicados pela primeira
dados cujo tratamento não respeitar o dis- vez a terceiros para os fins previstos na alí-
posto na presente lei, nomeadamente devido nea anterior ou utilizados por conta de ter-
ao carácter incompleto ou inexacto desses
ceiros.
dados;
Artigo 14º
e) A notificação aos terceiros a quem os dados ten-
ham sido comunicados de qualquer rectifica- (Não sujeição a decisões individuais automatizadas)
ção, apagamento ou bloqueio efectuado nos
termos da alínea d), salvo se isso for com- 1. Qualquer pessoa tem o direito de não ficar sujeita
provadamente impossível ou implicar um es- a uma decisão que produza efeitos na sua esfera jurí-
forço desproporcionado. dica ou que a afecte de modo significativo, tomada ex-
clusivamente com base num tratamento automatizado
2. Nos casos previstos nos números 4 e 5 do artigo 8º, de dados destinado a avaliar determinados aspectos da
o direito de acesso é exercido através da Comissão Par- sua personalidade, designadamente a sua capacidade
lamentar de Fiscalização. profissional, o seu crédito, a confiança de que é merece-
dora ou o seu comportamento.
3. No caso previsto no número 6 do artigo anterior, o
direito de acesso é exercido através da Comissão Parla- 2. Sem prejuízo do cumprimento das restantes dispo-
mentar de Fiscalização, com a salvaguarda das normas sições da presente lei, uma pessoa pode consentir em
constitucionais aplicáveis, designadamente as que ga- ser sujeita a uma decisão tomada nos termos do nú-
rantem a liberdade de expressão e informação, a liber- mero 1, desde que tal ocorra no âmbito da celebração
dade de imprensa e a independência e sigilo profissio- ou da execução de um contrato, e sob condição de o seu
nais dos jornalistas. pedido de celebração ou execução do contrato ter sido
satisfeito, ou de existirem medidas adequadas que ga-
4. Nos casos previstos nos números 2 e 3 deste ar- rantam a defesa dos seus interesses legítimos e de
tigo, se a comunicação dos dados ao seu titular puder expor o seu ponto de vista, designadamente o seu di-
prejudicar a segurança do Estado, a prevenção ou a in- reito de representação e expressão.
vestigação criminal ou ainda a liberdade de expressão
e informação ou a liberdade de imprensa, a Comissão 3. Pode ainda ser permitida a tomada de uma deci-
Parlamentar de Fiscalização limita-se a informar o ti- são nos termos do número 1, quando autorizadas pela
tular dos dados das diligências efectuadas. Comissão Parlamentar de Fiscalização e desde que

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36 I SÉRIE — Nº 2 — «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 22 DE JANEIRO DE 2001

sejam tomadas medidas de garantia da defesa dos in- ou a eliminação não autorizadas de dados
teresses legítimos do titular dos dados. pessoais inseridos (controlo da inserção);
SECÇÃO III d) Impedir que sistemas de tratamento automati-
Segurança e confidencialidade do tratamento zados de dados possam ser utilizados por
pessoas não autorizadas através de instala-
Artigo 15º
ções de transmissão de dados (controlo da
(Segurança do tratamento) utilização);
1. O responsável pelo tratamento deve pôr em prá- e) Garantir que as pessoas autorizadas só possam
tica as medidas técnicas e organizativas adequadas ter acesso aos dados abrangidos pela autori-
para proteger os dados pessoais contra a destruição, zação (controlo de acesso);
acidental ou ilícita, a perda acidental, a alteração, a di-
fusão ou o acesso não autorizados, nomeadamente f) Garantir a verificação das entidades a quem
quando o tratamento implicar a sua transmissão por possam ser transmitidos os dados pessoais
rede, e contra qualquer outra forma de tratamento ilí- através das instalações de transmissão de
cito. dados (controlo da transmissão);
2. As medidas previstas no número anterior devem g) Garantir que possa verificar-se, a posteriori,
assegurar, atendendo aos conhecimentos técnicos dis-
em prazo adequado à natureza do trata-
poníveis e aos custos resultantes da sua aplicação, um
nível de segurança adequado em relação aos riscos mento, a fixar na regulamentação aplicável
que o tratamento apresenta e à natureza dos dados a a cada sector, quais os dados pessoais intro-
proteger. duzidos, quando e por quem (controlo da in-
trodução);
3. O responsável pelo tratamento, em caso de trata-
mento por sua conta, deverá escolher um subcontra- h) Impedir que, na transmissão de dados pes-
tante que ofereça garantias suficientes em relação às soais, bem como no transporte do seu su-
medidas de segurança técnica e de organização do tra- porte, os dados possam ser lidos, copiados,
tamento a efectuar, e deverá zelar pelo cumprimento alterados ou eliminados de forma não autori-
dessas medidas. zada (controlo do transporte).
6 490000 001245

4. A realização de operações de tratamento em sub- 2. Tendo em conta a natureza das entidades respon-
contratação deve ser regida por um contrato ou acto ju- sáveis pelo tratamento e o tipo das instalações em que
rídico que vincule o subcontratante ao responsável pelo
é efectuado, a Comissão Parlamentar de Fiscalização
tratamento e que estipule, designadamente, que o sub-
contratante apenas actua mediante instruções do res- pode dispensar a existência de certas medidas de se-
ponsável pelo tratamento e que lhe incumbe igual- gurança, garantido que se mostre o respeito pelos di-
mente o cumprimento das obrigações referidas nos reitos, liberdades e garantias dos titulares dos dados.
números 1 e 2.
3. Os sistemas devem garantir a separação lógica
5. Para efeitos de conservação de provas, os elemen- entre os dados referentes à saúde e à vida sexual, in-
tos da declaração negocial, do contrato ou do acto jurí- cluindo os genéticos, dos restantes dados pessoais.
dico relativos à protecção dos dados, bem como as exi-
gências relativas às medidas referidas nos números 1 e 4. A Comissão Parlamentar de Fiscalização pode de-
2, são consignados por escrito ou em suporte equiva- terminar que a transmissão seja cifrada, nos casos em
lente, de preferência, com valor probatório legalmente que a circulação em rede de dados pessoais referidos
reconhecido. nos artigos 8º e 9º possa pôr em risco direitos, liberda-
des e garantias dos respectivos titulares.
Artigo 16º

(Medidas especiais de segurança) Artigo 17º

(Confidencialidade do tratamento)
1. Os responsáveis pelo tratamento dos dados referi-
dos nas alíneas do número 1, nos número 2 e 5 do ar- Qualquer pessoa que, agindo sob a autoridade do
tigo 8º e no número 1 do artigo 9º devem tomar as me-
responsável pelo tratamento ou do subcontratante,
didas adequadas e acrescidas de segurança da
informação, designadamente para: bem como o próprio subcontratante, tenha acesso a
dados pessoais, não pode proceder ao seu tratamento
a) Impedir o acesso de pessoa não autorizada às sem instruções do responsável pelo tratamento, salvo
instalações utilizadas para o tratamento des- por força de obrigações legais.
ses dados (controlo da entrada nas instala-
ções); Artigo 18º

(Sigilo profissional)
b) Impedir que suportes de dados possam ser
lidos, copiados, alterados ou retirados por l. Os responsáveis do tratamento de dados pessoais,
pessoa não autorizada (controlo dos suportes
bem como as pessoas que, no exercício das suas fun-
de dados);
ções, tenham conhecimento dos dados pessoais trata-
c) Impedir a introdução não autorizada, bem dos, ficam obrigados a sigilo profissional, mesmo após
como a tomada de conhecimento, a alteração o termo das suas funções.

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I SÉRIE — Nº 2 — «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 22 DE JANEIRO DE2001 37

2. Igual obrigação recai sobre os membros da Comis- c) For necessária ou legalmente exigida para a
são Parlamentar de Fiscalização, mesmo após o termo protecção de um interesse público impor-
do mandato. tante, ou para a declaração, o exercício ou a
defesa de um direito num processo judicial;
3. O disposto nos números anteriores não exclui o
dever do fornecimento das informações obrigatórias, d) For necessária para proteger os interesses vi-
nos termos legais, excepto quando constem de ficheiros tais do titular dos dados;
organizados para fins estatísticos.
e) For realizada a partir de um registo público
4. O pessoal que exerça funções de assessoria à Comis- que, nos termos de disposições legislativas
são Parlamentar de Fiscalização ou aos seus membros ou regulamentares, se destine à informação
está sujeito à mesma obrigação de sigilo profissional. do público e se encontre aberto à consulta
do público em geral ou de qualquer pessoa
CAPÍTULO III que possa provar um interesse legítimo,
Transferência de dados pessoais desde que as condições estabelecidas na lei
para a consulta sejam cumpridas no caso
Artigo 19º concreto.
(Princípios) 2. Sem prejuízo do disposto no número 1, pode ser
1. Sem prejuízo do disposto no artigo seguinte, a autorizada pela Comissão Parlamentar de Fiscalização
transferência de dados pessoais que sejam objecto de uma transferência ou um conjunto de transferências
tratamento ou que se destinam a sê-lo, só pode reali- de dados pessoais para um país que não assegure um
zar-se com respeito das disposições da presente lei e nível de protecção adequado na acepção do número 2
demais legislação aplicável em matéria de protecção de do artigo anterior, desde que o responsável pelo trata-
dados pessoais e, tratando-se de transferência para o mento apresente garantias suficientes de protecção da
estrangeiro, para o país que assegurar um nível de pro- vida privada e dos direitos e liberdades fundamentais
tecção adequado. das pessoas, assim como do seu exercício, designada-
mente, mediante cláusulas contratuais adequadas.
2. A adequação do nível de protecção é apreciada em
função de todas as circunstâncias que rodeiem a trans- 3. A Comissão Parlamentar de Fiscalização comu-
nica ao Primeiro Ministro das autorizações que conce-
6 490000 001245

ferência ou o conjunto de transferências de dados, em


especial, a natureza dos dados, a finalidade e a dura- der nos termos do número anterior.
ção do tratamento ou tratamentos projectados, os paí-
4. A transferência de dados pessoais que constitua
ses de origem e de destino final, as regras de direito,
medida necessária à protecção da segurança do Es-
gerais ou sectoriais, em vigor no país em causa, bem
tado, da defesa, da segurança pública e da prevenção,
como as regras profissionais e as medidas de segu-
investigação e repressão das infracções penais é regida
rança que são respeitadas nesse país.
por disposições legais específicas ou pelas convenções,
3. Cabe à Comissão Parlamentar de Fiscalização de- tratados e acordos internacionais em que Cabo Verde é
cidir se um Estado estrangeiro assegure um nível de parte.
protecção adequado.
CAPÍTULO IV
4. A Comissão Parlamentar de Fiscalização comu-
Autoridade nacional para a fiscalização
nica ao Primeiro Ministro os casos em que tenha consi-
derado que um Estado estrangeiro não assegura um deprotecção de dados pessoais
nível de protecção adequado. Secção I

Artigo 20º Disposições gerais

(Derrogações) Artigo 21º

1. A transferência de dados pessoais para um país (Objectivos da fiscalização)


que não assegure um nível de protecção adequado na
acepção do número 2 do artigo anterior pode ser permi- A fiscalização da protecção de dados pessoais visa
tida pela Comissão Parlamentar de Fiscalização se o ti- acompanhar, avaliar e controlar a actividade dos ór-
tular dos dados tiver dado de forma inequívoca o seu gãos ou serviços legalmente competentes para o seu
consentimento à transferência ou se essa transferên- tratamento, velando pelo cumprimento da Constituição
cia: e da lei, particularmente do regime de direitos, liberda-
des e garantias fundamentais dos cidadãos.
a) For necessária para a execução de um contrato
entre o titular dos dados e o responsável pelo Artigo 22º
tratamento ou de diligências prévias à for- (Natureza da fiscalização)
mação do contrato decididas a pedido do titu-
lar dos dados; 1. A fiscalização da protecção de dados pessoais é as-
segurada pela Assembleia Nacional, através de uma
b) For necessária para a execução ou celebração Comissão Parlamentar de Fiscalização.
de um contrato outorgado ou a outorgar, no
interesse do titular dos dados, entre o res- 2. A Comissão Parlamentar de Fiscalização é regu-
ponsável pelo tratamento e um terceiro; lada por lei própria.

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38 I SÉRIE — Nº 2 — «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 22 DE JANEIRO DE 2001

SECÇÃO II a) O nome e o endereço do responsável pelo trata-


Notificação
mento e, se for o caso, do seu representante;

Artigo 23º b) A ou as finalidades do tratamento;


(Obrigação de notificação) c) A descrição da ou das categorias de titulares
dos dados e dos dados ou das categorias de
1. O responsável pelo tratamento ou, se for caso dados pessoais que lhes respeitem;
disso, o seu representante deve notificar a Comissão
Parlamentar de Fiscalização antes da realização de um d) Os destinatários ou as categorias de destinatá-
tratamento ou conjunto de tratamentos, total ou par- rios a quem os dados podem ser comunica-
cialmente automatizados, destinados à prossecução de dos e em que condições;
uma ou mais finalidades interligadas.
e) A entidade encarregada do processamento da
2. A Comissão Parlamentar de Fiscalização pode au- informação, se não for o próprio responsável
torizar a simplificação ou a isenção da notificação para do tratamento;
determinadas categorias de tratamentos que, aten-
dendo aos dados a tratar, não sejam susceptíveis de f) As eventuais interconexões de tratamentos de
pôr em causa os direitos e liberdades dos titulares dos dados pessoais;
dados e tenham em conta critérios de celeridade, eco-
nomia e eficiência. g) O tempo de conservação dos dados pessoais;

3. A autorização deve especificar as finalidades do h) A forma e as condições como os titulares dos


tratamento, os dados ou categorias de dados a tratar, dados podem ter conhecimento ou fazer cor-
a categoria ou categorias de titulares dos dados, os des- rigir os dados pessoais que lhes respeitem;
tinatários ou categorias de destinatários a quem
podem ser comunicados os dados e o período de conser- i) As transferências de dados previstas para paí-
vação dos dados. ses terceiros;

4. Estão isentos de notificação os tratamentos cuja j) A descrição geral que permita avaliar de forma
única finalidade seja a manutenção de registos que, preliminar a adequação das medidas toma-
nos termos de disposições legislativas ou regulamenta- das para garantir a segurança do trata-
mento em aplicação dos artigos 15º e 16º.
6 490000 001245

res, se destinem a informação do público e possam ser


consultados pelo público em geral ou por qualquer pes- Artigo 26º
soa que provar um interesse legítimo.
(Indicações obrigatórias)
5. Os tratamentos não automatizados dos dados pes-
soais previstos no número 1 do artigo 8º estão sujeitos 1. Os diplomas legais referidos na alínea b) do nú-
a notificação quando tratados ao abrigo da alínea a) do mero 1 do artigo 8º e no número 1 do artigo 9º bem
número 3 do mesmo artigo. como as autorizações da Comissão Parlamentar de Fis-
calização e os registos de tratamentos de dados pes-
Artigo 24º soais, devem, pelo menos, indicar:
(Controlo prévio)
a) O responsável do ficheiro e, se for caso disso, o
1. Salvo se autorizados por diploma legal, carecem seu representante;
de autorização da Comissão Parlamentar de Fiscaliza-
ção: b) As categorias de dados pessoais tratados;

a) O tratamento dos dados pessoais a que se refe- c) A ou as finalidades a que se destinam os dados
rem as alíneas a) e c) do número 1 do artigo e as categorias de entidades a quem podem
8º e o número 2 do artigo 9º; ser transmitidos;

b) O tratamento dos dados pessoais relativos ao d) A forma de exercício do direito de acesso e de


crédito e à solvabilidade dos seus titulares; rectificação;

c) A interconexão de dados pessoais, nos termos e) As eventuais interconexões de tratamentos de


previstos no artigo 10º; dados pessoais;

d) A utilização de dados pessoais para fins não f) As transferências de dados previstas para ou-
determinantes da recolha. tros países.

2. O diploma legal que autorizar os tratamentos a 2. Qualquer alteração das indicações constantes do
que se refere o número anterior carece de prévio pare- número 1 está sujeita aos procedimentos previstos nos
cer da Comissão Parlamentar de Fiscalização. artigos 23º e 24º.

Artigo 25º Artigo 27º

(Conteúdo dos pedidos de parecer ou de autorização e (Publicidade dos tratamentos)


danotificação)
1. O tratamento dos dados pessoais, quando não for
Os pedidos de parecer ou de autorização, bem como objecto de diploma legal e dever ser autorizado ou noti-
as notificações, remetidos à Comissão Parlamentar de ficado, consta de registo na Comissão Parlamentar de
Fiscalização devem conter as seguintes informações: Fiscalização, aberto à consulta por qualquer pessoa.

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I SÉRIE — Nº 2 — «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 22 DE JANEIRO DE2001 39

2. O registo contém as informações enumeradas nas Artigo 31º


alíneas a) a d) e i) do artigo 25º. (Responsabilidade civil)
3. O responsável por tratamento de dados não su- 1. Qualquer pessoa que tiver sofrido um prejuízo de-
jeito a notificação está obrigado a prestar, de forma vido ao tratamento ilícito de dados ou a qualquer outro
adequada, a qualquer pessoa que lho solicite, pelo acto que viole disposições legislativas ou regulamenta-
menos, as informações referidas no número 1 do artigo res em matéria de protecção de dados pessoais tem o
26º. direito de obter do responsável a reparação pelo pre-
juízo sofrido.
4. O disposto no presente artigo não se aplica a tra-
tamentos cuja única finalidade seja a manutenção de 2. O responsável pelo tratamento pode ser parcial ou
registos que, nos termos de disposições legislativas ou totalmente exonerado desta responsabilidade se provar
regulamentares, se destinem à informação do público e que o facto que causou o dano lhe não é imputável.
se encontrem abertos à consulta do público em geral ou
de qualquer pessoa que possa provar um interesse legí- SECÇÃO II
timo. Infracções e sanções

5. A Comissão Parlamentar de Fiscalização deve in- SUBSECÇÃO


dicar no seu relatório anual todos os pareceres e auto-
Contra-ordenações
rizações elaborados ou concedidas ao abrigo da pre-
sente lei, designadamente as autorizações previstas Artigo 32º
nas alíneas do número 1 do artigo 8º e no número 2 do
artigo 10º. (Legislação subsidiária)

CAPÍTULO V Às infracções previstas na presente subsecção é sub-


sidiariamente aplicável o regime geral das contra-
Códigos de conduta ordenações, com as adaptações constantes dos artigos
seguintes.
Artigo 28º
Artigo 33º
(Finalidades)
(Omissão ou defeituoso cumprimento de obrigações)
6 490000 001245

Os códigos de conduta destinam-se a contribuir, em


função das características dos diferentes sectores, para 1. As entidades que, por negligência, não cumpram a
a boa execução das disposições da presente lei. obrigação de notificação à Comissão Parlamentar de
Fiscalização do tratamento de dados pessoais a que se
Artigo 29º referem os números 1 e 5 do artigo 23º, prestem falsas
informações ou cumpram a obrigação de notificação
(Intervenção da Comissão Parlamentar de Fiscalização)
com inobservância dos termos previstos no artigo 25º,
1. A Comissão Parlamentar de Fiscalização apoia a ou ainda quando, depois de notificadas pela referida
elaboração de código de conduta. Comissão, mantiverem o acesso às redes abertas de
transmissão de dados a responsáveis por tratamento
2. As associações profissionais e outras organizações de dados pessoais que não cumpram as disposições da
representativas de categorias de responsáveis pelo tra- presente lei, praticam contra-ordenação punível com
tamento de dados que tenham elaborado projectos de as seguintes coimas:
códigos de conduta podem submetê-los à apreciação da
Comissão Parlamentar de Fiscalização. a) Tratando-se de pessoa singular, no mínimo de
50.000$00 e no máximo de 500.000$00;
3. A Comissão Parlamentar de Fiscalização pode de-
clarar a conformidade dos projectos com as disposições b) Tratando-se de pessoa colectiva ou de entidade
legais e regulamentares vigentes em matéria de pro- sem personalidade jurídica, no mínimo de
tecção de dados pessoais. 300.000$00 e no máximo de 3.000.000$00.

CAPÍTULO VI 2. A coima é agravada para o dobro dos seus limites


quando se trate de dados sujeitos a controlo prévio, nos
Recursos judicias, responsabilidade civil, termos do artigo 24º.
infracções e sanções Artigo 34º
SECÇÃO I (Outras infracções)
Recursos judiciais e responsabilidade civil
1. Praticam contra-ordenação punível com a coima
Artigo 30º mínima de 100.000$00 e máxima de 1.000.000$00, as
entidades que não cumprirem alguma das seguintes
(Recursos judiciais) disposições da presente lei:
Sem prejuízo do direito de apresentação de queixa ou a) Designar representante nos termos previstos
reclamação à Comissão Parlamentar de Fiscalização, no número 4 do artigo 2º;
qualquer pessoa pode, nos termos da lei, recorrer judi-
cialmente da violação dos direitos garantidos pela pre- b) Observar as obrigações estabelecidas nos arti-
sente lei. gos 6º, 11º, 12º, 13º, 14º, 16º, 17º e 27º, nº 3.

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40 I SÉRIE — Nº 2 — «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 22 DE JANEIRO DE 2001

2. A coima é agravada para o dobro dos seus limites c) Desviar ou utilizar dados pessoais, de forma in-
quando não forem cumpridas as obrigações constantes compatível com a finalidade determinante da
dos artigos 7º, 8º, 9º, 10º, 19º e 20º. recolha ou com o instrumento de legalização;
Artigo 35º d) Promover ou efectuar uma interconexão ilegal
de dados pessoais;
(Concurso de infracções)
e) Depois de ultrapassado o prazo que lhes tiver
1. Se o mesmo facto constituir, simultaneamente, sido fixado pela Comissão Parlamentar de
crime e contra-ordenação, o agente é punido sempre a Fiscalização para cumprimento das obriga-
título de crime. ções previstas na presente lei ou em outra le-
gislação de protecção de dados, as não cum-
2. As sanções aplicadas às contra-ordenações em prir;
concurso são sempre cumuladas materialmente.
f) Depois de notificado pela Comissão Parlamen-
Artigo 36º
tar de Fiscalização para o não fazer, manti-
(Punição de negligência e da tentativa) ver o acesso a redes abertas de transmissão
de dados a responsáveis pelo tratamento de
1. A negligência é sempre punida nas contra- dados pessoais que não cumpram as disposi-
ordenações previstas no artigo 34º. ções da presente lei.

2. A tentativa é sempre punível nas contra- 2. A pena é agravada para o dobro dos seus limites
ordenações previstas nos artigos 33º e 34º. quando se tratar de dados pessoais a que se referem os
artigos 8º e 9º.
Artigo 37º
Artigo 41º
(Aplicação das coimas)
(Acesso indevido)
1. A aplicação das coimas previstas na presente lei
compete ao presidente da Comissão Parlamentar de 1. Quem, sem a devida autorização, por qualquer
Fiscalização, sob prévia deliberação desta. modo, aceder a dados pessoais cujo acesso lhe está ve-
dado é punido com prisão até um ano ou multa até
2. A deliberação da Comissão Parlamentar de Fisca- 120 dias.
6 490000 001245

lização, depois de homologada pelo presidente, consti- 2. A pena é agravada para o dobro dos seus limites
tui título executivo, no caso de não ser impugnada no quando o acesso:
prazo legal.
a) For conseguido através de violação de regras
Artigo 38º
técnicas de segurança;
(Cumprimento do dever omitido)
b) Tiver possibilitado ao agente ou a terceiros o
Sempre que a contra-ordenação resulte de omissão conhecimento de dados pessoais;
de um dever, a aplicação da sanção e o pagamento da
c) Tiver proporcionado ao agente ou a terceiros
coima não dispensam o infractor do seu cumprimento, benefício ou vantagens patrimoniais.
se este ainda for possível.
3. No caso previsto no número 1 o procedimento cri-
Artigo 39º
minal depende de queixa.
(Destino das receitas cobradas)
Artigo 42º
O montante das importâncias cobradas, em resul- (Viciação ou destruição de dados pessoais)
tado da aplicação das coimas, reverte para o Estado,
salvo disposição legal que disponha de modo diferente. 1. Quem, sem a devida autorização, apagar, destruir,
danificar, suprimir ou modificar dados pessoais, tor-
SUBSECÇÃO II nando-os inutilizáveis ou afectando a sua capacidade
Crimes
de uso, é punido com prisão até dois anos ou multa até
240 dias.
Artigo 40º
2. A pena é agravada para o dobro nos seus limites
(Não cumprimento de obrigações relativas a protecção de dados) se o dano produzido for particularmente grave.
1. É punido com prisão até um ano ou multa até 120 3. Se o agente actuar com negligência, a pena é, em
dias quem intencionalmente: ambos os casos, de prisão até um ano ou multa até 120
dias.
a) Omitir a notificação ou o pedido de autorização
a que se referem os artigos 23º e 24º; Artigo 43º

(Desobediência qualificada)
b) Fornecer falsas informações na notificação ou
nos pedidos de autorização para o trata- 1. Quem, depois de notificado para o efeito, não in-
mento de dados pessoais ou neste proceder a terromper, cessar ou bloquear o tratamento de dados
modificações não consentidas pelo instru- pessoais é punido com a pena de prisão correspondente
mento de legalização; ao crime de desobediência qualificada.

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I SÉRIE — Nº 2 — «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 22 DE JANEIRO DE2001 41

2. Na mesma pena incorre quem, depois de notifi- 2. A publicidade da decisão condenatória faz-se a ex-
cado: pensas do condenado, em publicação periódica de
maior expansão editada na área da comarca da prática
a) Recusar, sem justa causa, a colaboração que da infracção, ou na sua falta, em publicação periódica
concretamente lhe for exigida pela Comissão de maior expansão da comarca mais próxima, bem
Parlamentar de Fiscalização, nos termos da como através da afixação de edital em suporte ade-
lei; quado, por período não inferior a 30 dias.
b) Não proceder ao apagamento, destruição total 3. A publicação é feita por extracto de que constem
ou parcial de dados pessoais; os elementos da infracção e as sanções aplicadas, bem
como a identificação do agente.
c) Não proceder à destruição de dados pessoais,
findo o prazo de conservação previsto no ar- CAPÍTULO VII
tigo 6º.
Disposições transitórias e finais
Artigo 44º
Artigo 47º
(Violação do dever de sigilo)
(Ficheiros manuais existentes)
1. Quem, obrigado a sigilo profissional, nos termos
da lei, sem justa causa e sem o devido consentimento, 1. Os tratamentos de dados existentes em ficheiros
revelar ou divulgar no todo ou em parte dados pessoais manuais à data da entrada em vigor da presente lei
é punido com pena de prisão de seis meses até três devem cumprir o disposto nos artigos 8º, 9º, 11º e 12º
anos ou multa de oitenta a duzentos dias, se pena mais no prazo de cinco anos.
grave não lhe for aplicável, independentemente da me-
dida disciplinar correspondente à gravidade da sua 2. Em qualquer caso, o titular dos dados pode obter,
falta, a qual poderá ir até à cessação do vínculo que o a seu pedido e, nomeadamente, aquando do exercício
liga ao cargo ou função. do direito de acesso, a rectificação, o apagamento ou o
bloqueio dos dados incompletos, inexactos ou conserva-
2. A pena é agravada de metade dos seus limites se o dos de modo incompatível com os fins legítimos prosse-
agente: guidos pelo responsável pelo tratamento.
6 490000 001245

a) For pessoal da função pública ou equiparado, 3. A Comissão Parlamentar de Fiscalização pode au-
nos termos da lei penal; torizar que os dados existentes em ficheiros manuais e
conservados unicamente com finalidades de investiga-
b) For determinado pela intenção de obter qual- ção histórica não tenham que cumprir o disposto nos
quer vantagem patrimonial ou outro benefí- artigos 8º, 9º e 10º, desde que não sejam, em nenhum
cio ilegítimo; caso, reutilizados para finalidade diferente.
c) Puser em perigo a reputação, a honra e consi- Artigo 48º
deração ou a intimidade da vida privada de
outrem. (Ficheiros automatizados existentes)

3. A negligência é punível com prisão até seis meses Os titulares de ficheiros automatizados existentes à
ou multa até 120 dias. data da entrada em vigor da presente lei devem cum-
prir rigorosamente o que nela se contém, designada-
4. Fora dos casos previstos no número 2, o procedi- mente adaptar tais ficheiros no prazo de um ano
mento criminal depende de queixa.
Artigo 49º
Artigo 45º
(Entrada em vigor)
(Punição da tentativa)
A presente lei entra em vigor trinta dias após a sua
Nos crimes previstos nas disposições anteriores, a publicação.
tentativa é sempre punível.
Aprovada em 20 de Dezembro de 2000.
Artigo 46º
O Presidente da Assembleia Nacional, António do
(Sanções acessórias) Espírito Santo Fonseca.
1. Conjuntamente com as coimas ou penas aplicadas Promulgado em 10 de Janeiro de 2001.
pode, acessoriamente, ser ordenada:
Publique-se
a) A proibição temporária ou definitiva do trata-
mento, o bloqueio, o apagamento ou a des- O Presidente da República, ANTÓNIO MANUEL
truição total ou parcial dos dados; MASCARENHAS GOMES MONTEIRO

b) A publicidade da sentença condenatória; Assinada em 13 de Janeiro de 2001.

c) A advertência ou censura públicas do responsá- O Presidente da Assembleia Nacional, António do


vel pelo tratamento; Espirito Santo Fonseca.

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42 I SÉRIE — Nº 2 — «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 22 DE JANEIRO DE 2001

Lei nº 132/V/2001 centrais digitais e, sempre que tal seja tecnicamente


possível e não exija esforço económico desproporcio-
de 22 de Janeiro
nado, às linhas de assinante ligadas a centrais analógi-
Actualmente ainda persiste no ordenamento jurídico cas.
cabo-verdiano um grande número de direitos pratica-
Foram estabelecidas regras claras e rígidas, quer do
mente sem garantia ou resposta.
ponto de vista organizacional, quer do ponto de vista
O domínio da protecção dos direitos, liberdades e ga- técnico, em matéria de segurança dos serviços de tele-
rantias fundamentais dos cidadãos, designadamente o comunicações acessíveis ao público prestados e,
da protecção de dados pessoais, muito em especial no quando necessário, no que respeita à segurança da
sector das telecomunicações é, seguramente, um dos rede, bem como em matéria de confidencialidade das
que carece de profunda regulamentação. comunicações.

Trata-se de um domínio de capital importância e que De igual modo, a presente lei prevê de forma tipifi-
mereceu consagração no texto constitucional (artigo cada o regime de tratamento dos dados de tráfego para
44º). Efectivamente, a Constituição da República esta- efeitos de facturação, bem como um regime sancionató-
belece no seu artigo 44º, nº 3 que a «lei regula a protec- rio para os caso de cometimento de infracções.
ção de dados pessoais constantes dos registos informá-
ticos, as condições de acesso aos bancos de dados, de Prevê-se, ainda, o diploma a designação pelo
constituição e de utilização por autoridades públicas e Conselho de Ministros de uma autoridade indepen-
entidades privadas de tais bancos ou de suportes infor- dente que intervém com entidade reguladora e fiscali-
máticos dos mesmos». zadora, com poderes de autoridade, designadamente
em matéria de aplicação de coimas em certos casos.
Estabelece, ainda, a Constituição da República que a
«todos é garantido acesso às redes informáticas de uso Uma vez que se está no domínio da protecção de
público, definido na lei, e o regime aplicável aos fluxos dados pessoais, o diploma prevê a intervenção da Co-
de dados transfronteiras e as formas de protecção de missão Parlamentar de Fiscalização, organismo a ser
dados pessoais e de outros cuja salvaguarda se justifi- criado por diploma especial e a quem compete o
que por razões de interesse nacional, bem como o re- controlo e a fiscalização, em geral, de tratamento de
gime de limitação do acesso, para a defesa dos valores dados pessoais por parte de entidades públicas ou pri-
jurídicos tutelados pelo disposto no nº 4 do artigo 47º» vadas.
6 490000 001245

É, pois, neste contexto político-constitucional que se Assim;


insere a aprovação da presente lei.
Por mandato do Povo, a Assembleia Nacional de-
Com efeito, a matéria de protecção de dados pessoais creta, nos termos da alínea m) do artigo 175º da Cons-
no sector das telecomunicações carece de regulamenta- tituição, o seguinte:
ção, por forma a se estabelecer um quadro normativo
claro e moderno, que tenha em conta a salvaguarda Artigo 1º
dos direitos, liberdades e garantias fundamentais dos (Objecto)
cidadãos e a liberdade de acesso à informação, de co-
municação e circulação de dados, numa perspectiva de A presente lei estabelece o regime jurídico de trata-
harmonia e equilíbrio. mento de dados pessoais no sector das telecomunica-
ções.
Tratando-se de matéria de reconhecida sensibili-
dade, expressamente reconhecida, aliás, pela Consti- Artigo 2º
tuição da República, importa definir com clareza a
forma como esses dados devem ser tratados no sector (Âmbito)
das telecomunicações, de acordo com as exigências do 1. A presente lei aplica-se ao tratamento de dados
regime jurídico geral da protecção de dados pessoais
pessoais no sector das telecomunicações.
das pessoas singulares.
2. As disposições da presente lei asseguram a protec-
A presente lei estabelece um quadro claro de defini-
ção dos direitos e interesses legítimos dos assinantes
ções fundamentais («assinante», «utilizador», «rede pú-
blica de telecomunicações» e serviço de telecomunica- que sejam pessoas colectivas compatíveis com a natu-
ções»), que se revelam de grande importância para a reza destas.
interpretação e aplicação do presente diploma. 3. As excepções à aplicação da presente lei que se
O regime que ora se consagra abrange o tratamento mostrem estritamente necessárias para protecção da
de dados pessoais em ligação com a oferta de serviços segurança do Estado, da defesa, da segurança pública
de telecomunicações acessíveis ao público nas redes e da prevenção, investigação ou repressão de infracções
públicas de telecomunicações, nomeadamente através penais são definidas em legislação especial.
da rede digital com integração de serviços (RDIS) e das Artigo 3º
redes públicas móveis digitais.
(Definições)
Alguns dos aspectos do regime jurídico estabelecido,
nomeadamente no que se refere à apresentação e res- Para efeitos da presente lei e sem prejuízo das defi-
trição da identificação da linha chamadora e da linha nições constantes do regime jurídico geral da protecção
conectada e ao reencaminhamento automático de cha- de dados pessoais das pessoas singulares, entende-se
madas, são aplicáveis às linhas de assinante ligadas a por:

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I SÉRIE — Nº 2 — «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 22 DE JANEIRO DE2001 43

a) «Assinante»: qualquer pessoa singular ou colec- Artigo 6º


tiva que seja parte num contrato com o pres-
(Confidencialidade das comunicações)
tador de serviços de telecomunicações acessí-
veis ao público para a prestação de tais 1. Os prestadores de serviços e os operadores de rede
serviços; devem garantir a confidencialidade e o sigilo das comu-
nicações através dos serviços de telecomunicações aces-
b) «Utilizador»: qualquer pessoa singular que uti- síveis ao público e das redes públicas de telecomunica-
lize um serviço de telecomunicações acessí- ções.
vel ao público para fins privados ou comer-
ciais, sem ser necessariamente assinante 2. É proibida a escuta, a colocação de dispositivos de
desse serviço; escuta, o armazenamento ou outros meios de intercep-
ção ou vigilância de comunicações por terceiros sem o
c) «Rede pública de telecomunicações»: o conjunto
consentimento expresso dos utilizadores, com excepção
de meios físicos, denominados «infra-
dos casos especificamente previstos na lei.
estruturas», ou electromagnéticos que supor-
tam a transmissão, recepção ou emissão de 3. O disposto na presente lei não obsta à gravação de
sinais e utilizado, total ou parcialmente, comunicações, no âmbito de práticas comerciais lícitas,
para o fornecimento de serviços de telecomu- para o efeito de prova de uma transacção comercial ou
nicações acessíveis ao público; de qualquer outra comunicação de negócios, desde que
o titular dos dados tenha sido disso informado e dado o
d) «Serviço de telecomunicações»: a forma e o
seu consentimento expresso.
modo de exploração do encaminhamento ou
distribuição de informação através de redes Artigo 7º
de telecomunicações, com excepção da radio-
difusão sonora e da televisão. (Dados de tráfego e de facturação)

Artigo 4º 1. Os dados do tráfego relativos aos utilizadores e as-


sinantes tratados para estabelecer chamadas e arma-
(Serviços abrangidos) zenados pelo operador de uma rede pública de teleco-
1. A presente lei é aplicável ao tratamento de dados municações ou pelo prestador de um serviço de
pessoais em ligação com a oferta de serviços de teleco- telecomunicações acessível ao público devem ser apa-
municações acessíveis ao público nas redes públicas de gados ou tornados anónimos após a conclusão da cha-
6 490000 001245

telecomunicações, nomeadamente através da rede digi- mada.


tal com integração de serviços (RDIS) e das redes pú- 2. Para finalidade de facturação dos assinantes e dos
blicas móveis digitais. pagamentos das interligações, podem ser tratados os
2. Os artigos 9º a 11º são aplicáveis às linhas de assi- seguintes dados:
nante ligadas a centrais digitais e, sempre que tal seja a) Número ou identificação, endereço e tipo de
tecnicamente possível e não exija esforço económico posto do assinante;
desproporcionado, às linhas de assinante ligadas a cen-
trais analógicas. b) Número total de unidades a cobrar para o pe-
ríodo de contagem, bem como o tipo, hora de
3. Compete a uma autoridade independente desi-
início e duração das chamadas efectuadas ou
gnada por Resolução do Conselho de Ministros confir-
o volume de dados transmitidos;
mar os casos em que seja tecnicamente impossível ou
que exijam um investimento desproporcionado para c) Data da chamada ou serviço e número cha-
preencher os requisitos dos artigos 9º a 11º e comuni- mado;
car esse facto à Comissão Parlamentar de Fiscalização.
d) Outras informações relativas a pagamentos,
Artigo 5º
tais como pagamentos adiantados, pagamen-
(Segurança) tos a prestações, cortes de ligação e avisos.

1. O prestador de um serviço deve adoptar todas as 3. O tratamento referido no número anterior apenas
medidas técnicas e organizacionais necessárias para é lícito até final do período durante o qual a factura
garantir a segurança dos serviços de telecomunicações pode ser legalmente contestada ou o pagamento recla-
acessíveis ao público que presta e, se necessário, no mado.
que respeita à segurança da rede, deve fazê-lo conjun-
tamente com o operador da rede pública que suporta o 4. Para efeitos de comercialização dos seus próprios
serviço. serviços de telecomunicações, o prestador de um ser-
viço de telecomunicações acessível ao público pode tra-
2. As medidas referidas no número anterior devem tar os dados referidos no número 2 se o assinante tiver
ser adequadas à prevenção dos riscos existentes, tendo dado o seu consentimento.
em conta a proporcionalidade dos custos da sua aplica-
ção e o estado de evolução tecnológica. 5. O tratamento dos dados referentes ao tráfego e à
facturação deve ser limitado ao pessoal das operações
3. Em caso de risco especial de violação da segurança das redes públicas de telecomunicações ou dos presta-
da rede, o prestador de um serviço de telecomunicações dores de serviços de telecomunicações acessíveis ao pú-
acessível ao público deve informar os assinantes da blico encarregados da facturação ou da gestão do trá-
existência desse risco, bem como das soluções possíveis fego, da informação e assistência a clientes, da
para o evitar e respectivos custos. detecção de fraudes e da comercialização dos próprios

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44 I SÉRIE — Nº 2 — «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 22 DE JANEIRO DE 2001

serviços de telecomunicações do prestador e deve ser li- Artigo 10º


mitado ao que for estritamente necessário para efeitos (Excepções)
das referidas actividades.
1. Os operadores de uma rede pública de telecomuni-
6. O disposto nos números anteriores não prejudica o cações e os prestadores de um serviço de telecomunica-
direito de as autoridades competentes serem informa- ções acessível ao público podem anular a eliminação da
das dos dados relativos à facturação ou ao tráfego nos apresentação da identificação da linha chamadora,
termos da legislação aplicável, para efeitos da resolu- quando compatível com os princípios da necessidade,
ção de litígios, em especial os litígios relativos às inter- da adequação e da proporcionalidade:
ligações ou à facturação.
a) Por um período de tempo não superior a 30
Artigo 8º dias, a pedido, feito por escrito, de um assi-
nante que pretenda determinar a origem de
(Facturação detalhada)
chamadas mal intencionadas ou incomodati-
1. O assinante tem o direito de receber facturas de- vas, caso em que os números de telefone dos
talhadas ou não detalhadas. assinantes chamadores que tenham elimi-
nado a identificação da linha chamadora são
2. No caso de ter optado pela facturação detalhada, o registados e comunicados ao assinante cha-
assinante tem o direito de exigir do operador a supres- mado pelo operador da rede pública de tele-
são dos últimos quatro dígitos. comunicações ou pelo prestador do serviço de
telecomunicações acessível ao público;
3. As chamadas facultadas ao assinante a título gra-
tuito, incluindo chamadas para serviços de emergência b) Numa base linha a linha, para as organizações
ou de assistência, não devem constar da facturação de- com competência legal para receber chama-
talhada. das de emergência, designadamente as for-
ças policiais, os serviços de ambulância e os
Artigo 9º bombeiros.
(Apresentação e restrição da identificação da linha 2. A existência do registo e da comunicação a que se
chamadora e da linha conectada) refere a alínea a) do número anterior deve ser objecto
de informação ao público e a sua utilização deve ser
6 490000 001245

1. Quando for oferecida a apresentação da identifica-


restringida ao fim para que foi concedida.
ção da linha chamadora, o utilizador chamador deve
ter a possibilidade de, através de um meio simples e Artigo 11º
gratuito, e por chamada, eliminar a apresentação da
(Reencaminhamento automático de chamadas)
identificação da linha chamadora.
Os operadores de uma rede pública de telecomunica-
2. O assinante chamador deve ter, linha a linha, a
ções e os prestadores de um serviço de telecomunica-
possibilidade referida no número anterior. ções acessível ao público devem assegurar aos assinan-
3. Quando for oferecida a apresentação da identifica- tes, gratuitamente e através de um meio simples, a
ção da linha chamadora, o assinante chamado deve ter possibilidade de interromper o reencaminhamento au-
tomático de chamadas efectuado por terceiros para o
a possibilidade de, através de um meio simples e gra-
seu equipamento terminal.
tuito, dentro dos limites da utilização razoável desta
função, impedir a apresentação da identificação da Artigo 12º
linha chamadora das chamadas de entrada.
(Listas de assinantes)
4. Quando a apresentação da identificação da linha
1. Os dados pessoais inseridos em listas impressas
chamadora for oferecida e a identificação dessa linha
ou electrónicas de assinantes acessíveis ao público ou
for apresentada antes do estabelecimento da chamada, que se possam obter através de serviços de informações
o assinante chamado deve ter a possibilidade de, atra- telefónicas devem limitar-se ao estritamente necessá-
vés de um meio simples, rejeitar chamadas de entrada rio para identificar um determinado assinante, a
sempre que a apresentação da identificação da linha menos que este tenha consentido inequivocamente na
chamadora tiver sido eliminada pelo utilizador ou pelo publicação de dados pessoais suplementares.
assinante autor da chamada.
2. O assinante tem o direito de, a seu pedido e gra-
5. Quando for oferecida a apresentação da identifica- tuitamente:
ção da linha conectada, o assinante chamado deve ter a
possibilidade de, através de um meio simples e gra- a) Não figurar em determinada lista, impressa ou
tuito, eliminar a apresentação da identificação da electrónica;
linha conectada ao utilizador autor da chamada.
b) Opor-se a que os seus dados pessoais sejam uti-
6. Se for oferecida a apresentação da identificação da lizados para fins de marketing directo;
linha chamadora ou da linha conectada, os prestadores c) Solicitar que o seu endereço seja omitido total
de serviços de telecomunicações acessíveis ao público ou parcialmente;
devem informar o público do facto e das possibilidades
referidas nos números 1 a 5, designadamente nos d) Não constar nenhuma referência reveladora do
contratos de adesão. seu sexo.

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I SÉRIE — Nº 2 — «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 22 DE JANEIRO DE2001 45

3. Os direitos a que se refere o número 2 são conferi- das coimas por violação dos artigos 6º, nº 3, 7º, 12º e 13º
dos aos assinantes que sejam pessoas singulares ou do presente diploma.
pessoas colectivas sem fim lucrativo.
2. O processamento das restantes contra-ordenações
Artigo 13º
compete à autoridade independente referida no nú-
(Chamadas não solicitadas) mero 3 do artigo 4º.
1. As acções de marketing directo com utilização de 3. As receitas proveniente das coimas aplicadas pela
aparelhos de chamada automáticos ou de aparelhos de Comissão Parlamentar de Fiscalização revertem-se a
fax carecem do consentimento prévio do assinante cha- favor do Estado.
mado.
4. As receitas provenientes das coimas aplicadas
2. O assinante tem o direito de se opor, gratuita- pela autoridade independente referida no número an-
mente, a receber chamadas não solicitadas para fins de
terior revertem-se em 60% para essa autoridade e em
marketing directo realizadas por meios diferentes dos
40% para o Estado.
referidos no número anterior.
Artigo 18º
3. Os direitos a que se referem os números anterio-
res são conferidos aos assinantes quer sejam pessoas (Disposições transitórias)
singulares quer colectivas.
1. É dispensado o consentimento previsto no número
4. As obrigações decorrentes do presente artigo re- 4 do artigo 7º relativamente ao tratamento de dados
caem sobre as entidades que promovam as acções de pessoais já em curso à data da entrada em vigor da
marketing directo. presente lei, desde que os assinantes sejam informados
Artigo 14º deste tratamento e não manifestem o seu desacordo no
prazo de 60 dias.
(Características técnicas e normalização)
2. O artigo 12º não é aplicável às edições de listas pu-
O cumprimento da presente lei não pode determinar
a imposição de requisitos técnicos específicos dos equi- blicadas antes da entrada em vigor da presente lei ou
pamentos terminais ou de outros equipamentos de te- que o sejam no prazo de um ano, sem prejuízo do cum-
lecomunicações que impeçam a colocação no mercado e primento das obrigações previstas pela legislação ante-
6 490000 001245

a livre circulação desses equipamentos. rior.


Artigo 15º Artigo 19º

(Preterição de regras de segurança e violação do dever de (Legislação subsidiária)


confidencialidade)
Em tudo o que não esteja previsto na presente lei,
1. Constituem contra-ordenação, punível com a designadamente em matéria de tutela administrativa
coima nos termos do respectivo regime geral:
e jurisdicional, contra-ordenações e sanções e responsa-
a) A preterição de regras de segurança previstas bilidade civil, são aplicáveis, consoante o caso, as dis-
no artigo 5º; posições do regime jurídico geral da protecção de dados
pessoais das pessoas singulares, as normas sancionató-
b) A violação do dever de confidencialidade pre- rias previstas na legislação sobre as telecomunicações,
visto no artigo 6º. o regime jurídico geral das contra-ordenações e de res-
2. São sempre puníveis a tentativa e a negligência. ponsabilidade civil.

Artigo 16º Artigo 20º

(Outras contra-ordenações) (Entrada em vigor )

1. Praticam contra-ordenação, punível com coima de A presente lei entra em vigor trinta dias após a sua
100.000$00 a 1.000.000$00, as entidades que: publicação.
a) Não assegurarem o direito de informação ou de Aprovada em 20 de Dezembro de 2000.
obtenção do consentimento, nos termos pre-
vistos no artigo 6º, nº 3; O Presidente da Assembleia Nacional, António do
Espírito Santo Fonseca.
b) Não observarem as obrigações estabelecidas
nos artigos 7º a 13º. Promulgado em 10 de Janeiro de 2001.
2. A coima é agravada para o dobro dos seus limites Publique-se.
mínimo e máximo se a contra-ordenação for praticada
por pessoa colectiva. O Presidente da República, ANTÓNIO MANUEL
MASCARENHAS GOMES MONTEIRO.
Artigo 17º

(Processamento, aplicação e destino de coimas) Assinada em 13 de Janeiro de 2001.

1. Compete à Comissão Parlamentar de Fiscalização O Presidente da Assembleia Nacional, António do


o processamento das contra-ordenações e a aplicação Espirito Santo Fonseca.

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46 I SÉRIE — Nº 2 — «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 22 DE JANEIRO DE 2001

CONSELHO DE MINISTROS Resolução nº2/2001


de 22 de Janeiro
————
Sendo a EMPA, Empresa de Abastecimento, S.A. de
Resolução nº1/2001 reconhecido interesse nacional, quer pela relevância no
de 22 de Janeiro
plano alimentar, no equilíbrio dos espaços nacionais,
nas relaações intersectoriais e, quer ainda, a importân-
Considerando os relevantes serviços prestados ao cia da mesma para a balança de pagamentos;
país pelo Senhor Luís da Silva Bastos; Estando prevista a chegada no próximo mês de Feve-
reiro do corrente ano, de 500 toneladas de milho de 2ª,
Considerando a difícil situação sócio-económica em
no âmbito do Programa P.L. 480, é necessário uma
que se encontra;
operaçãode empréstimo no valor de 94 162 784,00 ECV
Ao abrigo dos artigos 1º, 2º, 3º, 4º e 5º da Lei nº 34/V/97, (noventa e quatro milhões, cento e sessenta e dois mil,
de 30 de Junho e os artigos 2º, 3º e 4º do Decreto-Lei setecentos e oitenta e quatro escudos);
nº10/99, de 8 de Março; Assim:
No uso da faculdade conferida pelo nº 2 do artigo 260º No uso da faculdade conferida pelo nº 2 do artigo 260º
da Constituição, o Governo aprova a seguinte resolução: da Constituição, conjugado com o disposto dos artigos
1/2, 3º última parte e 7º/1 do Decreto nº 45/96, de 25 de
Artigo 1º Novembro, que regula o regime de concessão dos avales
(Objecto)
do Estado, o Governo aprova a seguinte resolução:
Artigo 1º
É atribuído ao Senhor Luís da Silva Bastos, uma
pensão de Estado no montante de vinte e cinco mil es- (Concessão de avale)
cudos. É autorizada à Direcção-Geral do Tesouro a prestar,
Artigo 2º
nos termos do artigo 8º do supracitado Decreto, um
aval ao Banco Comercial do Atlântico (BCA), de Cabo
(Pensão) Verde, visando garantir uma operação de crédito no
valor de 94 162 784,00 ECV (noventa e quatro milhões,
6 490000 001245

A pensão é paga mensalmente, pelo Orçamento do Es- cento e sessenta e dois mil, setecentos e oitenta e qua-
tado, na mesma data dos demais pensionistas, a partir tro escudos), à EMPA, Empresa de Abastecimento, SA,
do mês seguinte ao da publicação desta Resolução. para efeito de garantia de fundos de contrapartida de
ajuda alimentar fornecida pela cooperação americana.
Artigo 3º
Artigo 2º
(Entrda em vigor)
(Entrda em vigor)
A presente Resolução entra imediatamente em vigor.
A presente Resolução entra imediatamente em vigor.
Visto e aprovado em Conselho de Ministros. Visto e aprovado em Conselho de Ministros.
António Gualberto do Rosário. António Gualberto do Rosário.
Publique-se. Publique-se.
O Primeiro-Ministro, António Gualberto do Rosário. O Primeiro-Ministro, António Gualberto do Rosário.

IMPRENSA NACIONAL DE CABO VERDE

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