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emoriais da c a m i
M
Organização
Ary Pimentel
Edinelia Maria Oliveira Souza

Memoriais da em direção
à universidade pública

caminhada Coleção Vozes dos Mudos


© Alex Jefferson Medeiros
© Alex Jefferson Medeiros
Ana Luiza Benevenute
Camila Pinhal
Daniela Negrette
Daniele Oliveira
Fabrício Gonçalves
Guilherme Batista
Guilherme Vieira Aguiar
Higor Afonso
Janaína Ligeiro
Karollyne Lima
Laryssa Victoriano
Lucas Ferreira
Luana Peixoto
Luiza Rodrigues
Marcos Matheus F. Diniz
Raquel Andrade
Rebeca Souza
Sabrina Ferreira
Sharolyn Corrêa Vieira
Zeliq Faul
Copyright © 2020, as autoras, os autores, Desalinho

Editor responsável
Pablo Rodrigues

Preparação de originais
Ary Pimentel

Projeto gráfico e diagramação


Pablo Rodrigues

Revisão
Higor Afonso

Arte de capa
Pablo Rodrigues

Imagem de capa
Marina Sales

Fotos
Alex Jefferson Medeiros, Ana Luiza Benevenute, Cleiton Ferreira, Gabriel
Bustilho, Gabryella Roedel, Ingrid Ciodaro, Mathaus Maciel, Julia Moura,
Letícia Barbosa Ferreira, Marina Sales, Rosangela Dalsenter, Sara Regina F.
da Silva e Thais Costa Severo.

Impresso na periferia do Rio de Janeiro


Primavera de 2020
11 Quando os subalternizados
erguem a voz
Ary Pimentel e Edinelia Maria Oliveira Souza

23 Sobre sonhos e cicatrizes


Raquel Andrade

33 Metamorfose do menino
maluquinho
Zeliq Faul

43 Botafogo, chão de estrelas:


malandros e merdunchos
sambam à sombra
dos Faraós embalsamados
Sumário

Fabrício Gonçalves 

61 Tudo começou com um Não


Janaína Ligeiro Santos

73 A potência do arco-íris
Rebeca Souza da Silva

81 O rolézim de quase todo dia


Guilherme Vieira da Silva Aguiar

93 Memória de Ninguém
Lucas Ferreira Alves

103 Galos, noites


e o despertar feminino
Luiza Rodrigues de Souza Silva

115 Do lado de lá da ponte


Sabrina Ferreira da Silva
131 Do mesmo jeito que um pé de caju
Higor Afonso

147 Entre linhas


Karollyne de Lima Silva

157 Meus foguetes


Ana Luiza Benevenute

167 Altos e baixos (Nóias)


Marcos Matheus Ferreira Diniz

183 Danças e flechas


Sharolyn Corrêa Vieira

193 La otra, la misma, la que viene de lejos


Daniela Negrete

203 Maré de saberes


Guilherme da Silva Batista

217 Cruzando o túnel


Camila Pinhal do Nascimento

231 Memória e reflexão


Daniele de Oliveira Pereira

241 No fluxo dos movimentos sociais


Laryssa Victoriano de Gouvêa

251 Deslocamentos identitários


Luana Stefany Peixoto de Souza
© Ingrid Ciodaro
E o risco que assumimos é o do ato de
falar com todas as implicações. Exata-
mente porque temos sido falados, infan-
tilizados (infans é aquele que não tem
fala própria) que neste trabalho assumi-
Quando os subalternizados erguem a voz

mos nossa própria fala.

Lélia Gonzalez
Ary Pimentel e Edinelia Maria Oliveira Souza

Quando bell hooks estudou na escola que levava


o nome do educador afro-americano Booker T.
Washington (1856-1915), todos os seus professo-
res eram mulheres negras, trabalhadoras da área de
educação que investiam cotidianamente no futuro
daquelas crianças negras de uma escola segregada
por acreditar que pudessem se tornar pensadores,
acadêmicos, trabalhadores da área da cultura. Se-
gundo bell hooks, “aprendemos desde cedo que
nossa devoção ao estudo, à vida do intelecto, era um
ato contra-hegemônico, um modo fundamental de
resistir a todas as estratégias brancas de colonização
racista. Embora não definissem nem formulassem
essas práticas em termos teóricos, minhas profes-
soras praticavam uma pedagogia revolucionária de
resistência, uma pedagogia profundamente antico-
lonial.” (Hooks, 2019a, p. 10-11).
O espaço educacional, embora atue muitas
vezes como lugar da reprodução social, pode ser o
cenário propício para a emergência dessas novas vo-
zes de sujeitos que se rebelam. É justamente aí, em meio às privações
e a condições de trabalho bastante adversas, que pode surgir um mo-
delo libertário para a mudança social. A visão da universidade pública
como um lugar central da educação para a consciência crítica é o que
constituiu o alicerce fundamental deste livro.
Este é um livro sobre dor, pobreza, preconceito, solidão e de-
pressão. Este é também um livro sobre luta, projetos, conquistas e
superação... Tem a pretensão de funcionar como uma caixa de res-
sonância para narrativas do eu que possam visibilizar os percursos de
mulheres e homens infames. O desafio pode parecer grandioso, mas
seu nascimento foi bastante modesto e muito entranhado no quoti-
diano docente e discente.
Alguns meses antes do seu surgimento como projeto de pu-
blicação de duas editoras sediadas na periferia do Rio de Janeiro,
bem distante dali, em um apartamento na cidade de São Salvador
da Bahia, uma professora da UNEB e um professor da UFRJ con-
versavam sobre o próximo semestre letivo e definiam os detalhes fi-
nais de um curso de Mestrado e Doutorado que seria ministrado por
ambos na quase centenária Universidade Federal do Rio de Janeiro.1
Foi nesse momento que se consolidou a ideia de investir mais nos

1. A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) foi criada em 7 de se-


tembro de 1920 pelo presidente Epitácio Pessoa. Sua primeira denominação
foi Universidade do Rio de Janeiro. Em 1937, no governo de Getúlio Vargas,
seu nome foi modificado para Universidade do Brasil. Posteriormente, em
1965, o governo Castelo Branco determinou nova mudança na sua deno-
minação e ela passou a se chamar Universidade Federal do Rio de Janeiro.
A UFRJ tem, ao completar 100 anos, 53.482 estudantes de graduação e
11.934 estudantes de pós-graduação stricto sensu; 176 cursos de graduação e
232 cursos de pós-graduação stricto sensu; 4.218 docentes e 9.153 técnicos
administrativos.

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estímulos à primeira pessoa e substituir as tradicionais monografias
exigidas como instrumentos de avaliação nos cursos de pós-graduação
por memoriais onde estivesse presente a teoria, a crítica e a experiên-
cia pessoal. As inquietudes dele diante dos modelos já ultrapassados se
encontraram com a visão e com as práticas docentes dela, que já havia
experimentado o memorial como instrumento de avaliação.
Desse diálogo entre os futuros organizadores surgiria o germe
desta publicação. Com o tempo, acabou por afirmar-se entre os dois
a noção de que precisamos falar mais das coisas do íntimo e do pri-
vado como uma forma de conhecer um pouco mais a nós mesmos,
como uma maneira de nos curarmos das feridas dessa existência. Daí
surgiu a ideia de estimular as alunas e alunos a escreverem sobre suas
caminhadas.
Foi, portanto, da experiência de sala de aula na Faculdade de
Letras da UFRJ que surgiram os 20 memoriais que compõem este
livro, 20 textos que ajudam a entender os deslocamentos de vidas
comuns em tempos sombrios. E é justamente em tempos de acirradas
disputas de narrativas como este que cabe, mais do que nunca, inves-
tir no processo de assunção de voz e na problematização do lugar dos
“predominadores”, para fazer eco às palavras de Carolina Maria de Je-
sus, que com essa expressão se referia aos que desde sempre ocuparam
posições hegemônicas. As vozes que se imprimem nas páginas a seguir
são a expressão de corpos situados, ecos de trajetórias marcadas pela
diferença, fragmentos de vidas de sujeitos alterizados.
Neste volume, estudantes da graduação e da pós-graduação da
FL-UFRJ ousam romper o silêncio, manifestando-se através da pala-
vra escrita e da fotografia para projetar seus balbucios e contar suas
histórias. São sujeitos que saem da condição de subalternidade para

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erguer a voz, como diria bell hooks. Erguem a voz e nos interpelam
com suas narrativas. São sujeitos que se arriscam a falar, depois de
terem sido forçados ao silêncio durante uma eternidade. Erguer a voz
significa falar com autoridade, sendo este ato particularmente exerci-
do por um sujeito subalternizado. E falar, nessas circunstâncias, é, em
si mesmo, um ato de coragem, um ato de ousadia.
Cabe lembrar que desde a primeira década do século XXI,
havia no ar um desejo de falar, havia algo que emergia diante de uma
antiga resistência a essas falas “improváveis”. Eram discursos que tra-
dicionalmente não haviam encontrado condições propícias para se
articular. Tais atos de assunção de voz responderam aos grandes an-
seios de grupos relegados ao silêncio e que não raro estiveram sujeitos
à desqualificação por parte das figuras de autoridade ou das estruturas
de reconhecimento e consagração. Gayatri Spivak, em um texto clás-
sico, já fazia referência a esse silêncio dos sujeitos subalternizados que
não conseguem se representar. Hoje, contudo, muitos deles se apro-
priam de diferentes formas de expressão e erguem a voz. Erguer a voz
é para todos e para cada um deles uma forma de rebelião.
Romper o silêncio, porém, não é algo fácil para os subalterniza-
dos. Foi, muitas vezes, o exemplo ancestral de quem assumiu o papel
de romper o silêncio antes deles e delas que os/as inspirou a escrever
suas histórias. E os exemplos foram poucos mas potentes: uma des-
cendente de escravizados, em 1859, foi a primeira mulher a publicar
um romance no Brasil; um homem negro que teve problemas com o
alcoolismo e passou duas vezes pelo hospício soube representar como
ninguém antes dele os subúrbios e os subalternizados do Rio de Janei-
ro; uma catadora de papelão contou, em diários escritos nos cadernos
que encontrava no lixo, seu cotidiano vivido num barraco da favela

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do Canindé, em São Paulo; uma mulher negra que morava em outra
favela em Belo Horizonte iria se mudar para o Rio de Janeiro onde
acabaria por conquistar um título de doutorado e o reconhecimento
no campo literário. Todas essas vozes ancestrais foram importantes
para que no presente tantos e tantas tenham a coragem de manifestar
a sua fala contundente.
Alguns desses alunos, algumas dessas alunas que agora narram
a sua caminhada até bem pouco tempo atrás não conseguiam nem
mesmo colocar o projeto de estudar em uma universidade pública no
seu horizonte de possibilidades. Um ou outro, uma ou outra, ainda
que visse a Ilha do Fundão a partir da laje da sua própria casa, no
conjunto de favelas da Maré, não concebia o Campus da UFRJ como
um espaço público que tivesse sido pensado também para cidadãos
como ele, como ela.
Para todos os autores, para todas as autoras que reunimos aqui,
essa é a primeira publicação; para muitos, a primeira vez que veiculam
a sua história para um público mais amplo. São jovens que tiveram a
coragem de erguer a voz, ativando elementos de uma discursividade
confessional, que implica algo de testemunho e de autobiografia, es-
pécie de memórias que margeiam a crônica do passado recente. Essa
trama tecida no embate com Cronos é feita com os fios das memó-
rias da pele, com os traumas provocados pela discriminação, com as
marcas deixadas pelo trabalho manual nos corpos da periferia, com as
memórias, enfim, da caminhada de estudantes da Faculdade de Letras
da UFRJ. É nesses corpos que se ancoram todas estas experiências que
transcendem o sujeito que as vive para oferecer um rico panorama do
contemporâneo.

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As vivências de um eu, que são ao mesmo tempo vivências
de um coletivo, surgem como trajetórias duras e inspiradoras. Vários
fatores vão marcando essa caminhada: conflitos familiares, desloca-
mentos territoriais, rupturas de relacionamentos, doenças, problemas
econômicos e distintas formas de enfrentamento e superação dos obs-
táculos que foram machucando e moldando os sujeitos ao longo de
todo o caminho.
Cada um dos textos está ligado a determinada carga de sen-
timentos, cada um deles é o resultado de opções específicas por de-
terminadas estratégias de representação de um eu que se desnuda. É
através da fala que se pode chegar à integridade do ser, permitindo
que este se torne mais completo, ao recuperar partes esquecidas ou
recalcadas de sua história. As narrativas que o leitor encontrará neste
livro não deixam, portanto, de ser um esforço político construído a
partir da necessidade de falar de si para compartilhar uma experiência
silenciada que, depois descobriremos, é também a de muitos.
Fazer um memorial, nesse caso, significa revelar fatos pessoais e
enfrentar incômodos para superar a relutância de se mostrar no texto.
Pessoas que nos conhecem na “vida real”, às vezes, podem se surpre-
ender com o sujeito que aparece no texto. Fazer um memorial pres-
supõe também pensar criticamente na porosidade da relação entre
público e privado. Isso implica refletir sobre tal imbricamento a fim
de ver “o quanto essa divisão está profundamente conectada a práticas
de dominação correntes” (Hooks, 2019b, p. 24), pois fazer a transição
do silêncio à fala através dessas releituras inusitadas do público e do
privado pode ser também uma forma de escapar às estruturas tradi-
cionais de dominação.

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Parece que alguns de nós podem revelar mais sobre suas vi-
das que outros. Há no caso destes que revelam menos uma espécie
de vergonha da sua própria condição, como se dela tivessem culpa.
Com o exercício dos memoriais, muitas dessas coisas que antes eram
motivo de vergonha são colocadas pra fora. A necessidade de manter
no âmbito do privado as violências sofridas é também um reflexo das
estruturas de dominação. Muitas vezes, guardar algo para si machuca
mais do que ouvir de amigos ou familiares que não se deveria estar
falando sobre isso.
O medo da recriminação gera o receio à exposição e nos leva a
reprimir parcelas significativas do eu, fazendo com que boa parte do
mundo pessoal e íntimo seja desconsiderada nas relações travadas em
espaços públicos. Parece que no âmbito privado podemos conversar
mais abertamente. No papel que circula impresso, por sua vez, fala-
mos da experiência sem nos aprofundarmos tanto nas dimensões que
se convencionou considerar como sendo próprias do privado. Não
que falte sinceridade, mas comumente é menos cabal a disposição do
indivíduo para se abrir sobre acontecimentos e sentimentos pessoais.
Aqui, contudo, vemos que esses sujeitos que erguem a voz
trazem inúmeras questões privadas na escrita, tornando-as públicas,
compartilhando essas experiências e dando uma dimensão política ao
discurso. O receio de dizer algo comprometedor sobre pessoas pró-
ximas é superado pelo compromisso com a partilha da experiência,
que se manifesta como uma forma de rebelião contra as práticas de
dominação presentes nas estruturas da sociedade. Supera-se, assim,
a clivagem entre o que poderia e o que não deveria ser dito, entre o
que se pode publicizar e o que deve permanecer na esfera do priva-
do ou do íntimo. Já não há medo da possível ou provável punição.

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Uma voz respalda a outra nesse ambiente de solidariedade propiciado
pelo rompimento das relações tradicionais com os predominadores,
que é como estamos chamando aqui os sujeitos paradigmáticos da
esfera pública, um grupo tradicionalmente constituído por homens,
brancos, heterossexuais, proprietários e letrados). Conquistar espaços
onde possa projetar a sua voz é uma das formas mais poderosas com
que o indivíduo subalternizado para mudar o curso da sua vida. Este
livro é também uma forma de encorajar muitos outros a erguerem a
sua voz.
Cada memorial envolve um ou vários deslocamentos, todos
eles partindo das margens para o centro, das margens para os diferen-
tes centros, que hoje podem estar em distintos lugares.
Destacamos, por fim, que as ambiências periféricas assumem
uma grande importância na construção discursiva porque têm um
papel vital na estruturação dessas subjetividades. Mais que um deta-
lhe da narração, o mundo da periferia deixa de ser cenário e se trans-
forma em lugar de fala, lugar a partir do qual cada sujeito apreende
o mundo.
Em diálogo com as narrativas dos memoriais, o livro traz tam-
bém registros imagéticos dos espaços arquitetônicos da Faculdade de
Letras e do cotidiano de seu corpo discente. São relatos fotográficos
decompostos em pequenas sequências que permitem trabalhar a fun-
do um tema sem ir pulando de um lugar a outro. As diferentes fo-
tografias giram em torno de um mesmo território que frequentamos
durante anos. Isso articula a coerência do relato global como se cada
registro fosse o fotograma de uma sequência cinematográfica. É pos-
sível olhar para elas e perceber a harmonia entre o que as autoras e os
autores vão vendo e sendo em diálogo com as espacialidades. Trata-se,

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muitas vezes, de olhar para trás através de um filtro e nele ver também
o presente. É o lugar de onde venho que fala do que eu faço com o
lugar ao qual cheguei.
São 20 textos com vozes bastante particulares e representativas
de universos marginalizados ou subalternizados que só recentemente
acessaram as salas de aula da universidade pública brasileira. Narram
com clareza e simplicidade, de modo suave ou desgarrador, a vida
cotidiana de sujeitos infames. As autoras e os autores recorrem a múl-
tiplas estratégias, sem comprometer a coerência que arma a moldura
do relato. Gestados a partir de uma experiência acadêmica que muitos
vivenciam como uma revolução, os textos deste Memoriais da Ca-
minhada: em direção à universidade pública trazem vivências de um
Eu que ilumina momentos de sua trajetória pessoal, mas, ao mesmo
tempo, dialoga também com vivências de um amplo coletivo no qual
se insere esse Eu. É um Eu/Nós feminino, negro, LGBT, periférico...
que se dá conta de como o seu exemplo pode ser importante para
a caminhada de outras e outros que virão depois. Por isso, o valor
imenso de trazer a público essas “escrevivências”, como as chamaria
Conceição Evaristo... 20 textos. São 20 disparos contra a intolerância,
contra o sexismo e a homofobia. 20 escritos contra-hegemônicos nos
quais ecoam a experiência de sujeitos alterizados.

Referência bibliográficas
GONZALEZ, Lélia. Racismo e sexismo na cultura brasileira.
In: Revista Ciências Sociais Hoje, ANPOCS, 1984, p. 223-244.
HOOKS, Bell. Ensinando a transgredir: a educação como prá-
tica da liberdade. Trad. Marcelo Brandão Cipolla. 3ª ed. São Paulo:
WMF Martins Fontes, 2019a.

19
HOOKS, Bell. Erguer a voz: pensar como feminista, pensar
como negra. Trad. Cátia Bocaiuva Maringolo. São Paulo: Elefante,
2019b.
SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Pode o subalterno falar? Trad.
Sandra Regina Goulart Almeida et al. Belo Horizonte: Editora
UFMG, 2010.

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21
© Ingrid Ciodaro
Se rolasse aquele medley
O foda é que eu queria ser DJ. Foram tantas horas
que eu passei ouvindo música e imaginando outras
pessoas curtindo o mesmo som que eu... O que é
que a gente precisa pra ser DJ? Curso de música?
Saber as músicas? Conhecer os cara que produz
evento? Sei lá. Tem gente aí que toca e ninguém
Sobre sonhos e cicatrizes

curte, só aceita. Talvez, pra ser DJ, a gente tenha


que ter os equipamentos em casa, pra treinar, sabe,
e depois correr atrás de fazer evento. Vai testar na
festa? Não vai. Tem que ser em casa. A parada é ser
igual fotógrafo. Hoje em dia todo mundo tira foto
Raquel Andrade

e vira profissional. E os cara são bom.


Era mais jogo se eu baixasse um programa
e lançasse aquele medley. Quinto andar conseguiu
fazer o piratão no maior estilo caseiro. E eu fui, né?
Baixei lá o programa e tal. Mas, pô, quem ganha
dinheiro com isso? Tem um cara aqui na minha rua
que botou uma placa no portão falando que era DJ,
que fazia festa infantil, casamento e tal, mas e aí?
O cara paga as conta? Tem maior cara de filho en-
costado.
Até hoje não comprei minha vitrola. Tem
sempre uma conta de luz que chega pra dar um sus-
to na gente. Não ia nem ter disco. Sem falar que
eu não posso ter nada, né? Aqui em casa é assim.
Isso é herança da minha mãe. O desapego do pobre
é uma parada natural. Se a gente tem um micro-
-ondas bem mais ou menos na cozinha, tu já sabe que na primeira
dificuldade é aquilo ali que vai rodar. Agora, equipamento de som?
Minha mãe ia rir da minha cara. Maior dinheiro jogado no lixo. Tem
nem fogão com todas as bocas funcionando e quer equipamento de
som. Vacilo, né? Não sou nem doida.
Mas, aí, a parada mais maneira de ser DJ deve ser poder tocar
de tudo, misturar tudo. Nem sei se a galera ia curtir. Será? Tem como
saber não. O clima lá é outro. A galera surta com coisa que em casa
nem curte. Eu queria era botar todo mundo pra dançar, aproveitar
que eu não sei nem um passinho, pelo menos eu ia tá curtindo de
alguma forma.
DJ não dá pra mim, não. A parada é que o DJ combina com a
festa. Tu imagina a garota de sapatilha no trem sendo DJ num evento
de hip hop? Não imagina. Por isso aí também é que eu não ia ter
chance nessa área. Sem credibilidade total. Meu negócio é serviço
de segunda a sexta mesmo, pegar engarrafamento na Avenida Brasil,
essas coisa, sabe? Pelo menos, quando vou sentada e os dois lados do
fone tão funcionando, eu curto a viagem.

A cicatriz permanece
Faz pouco tempo, o mundo começou a perceber que o assédio nem
sempre vem na forma como a gente acha que é. No entanto, como se
fosse regra, ele aparece muito cedo e pode demorar para ser entendido
como uma forma de violência. São casos em que a realidade se torna
muito pesada para ser compartilhada, e se expor não é uma opção. A
culpa, muitas vezes somada com a idade prematura, com a vergonha
e com o medo, atua como elemento silenciador. Demorou até eu
entender que o ciclo da violência não termina quando você se cala. A

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gente alimenta a reprodução dos mesmos casos que optamos por não
compartilhar.
Na primeira vez em que minha mãe me contou sobre um caso
de assédio que aconteceu em sua vida, eu já havia passado por uma
violência parecida. Na esperança de me preparar ou proteger de algo
semelhante, ela me descreveu como se sentiu ao trabalhar de faxineira
num lugar em que o patrão quis abusar dela, com apenas 16 anos.
Tragicamente, como uma ironia do destino, a primeira vez em que
me lembro da sensação amarga na garganta, do desconforto de apenas
existir e do medo de esboçar qualquer reação foi quando minha mãe
me levou para o seu trabalho de faxineira. Enquanto ela limpava a
casa daquele homem de meia idade que morava sozinho e colecionava
muito estranhamente relógios por absolutamente todo canto da casa,
eu passava por uma experiência que ela jamais soube.
O meu primeiro assédio marcante ocorreu com a minha mãe
na mesma residência. Sim, o mais marcante. Porque a gente ainda
divide esses casos em escalas, como se alguns comportamentos fossem
aceitáveis. O homem que precisava de serviços domésticos me cha-
mou para a piscina e, enquanto fingia brincar comigo, uma criança
que estava fascinada com toda aquela riqueza, colocou seu pau para
fora e me pediu para segurá-lo e brincar com ele. E essa é a hora que
surge o medo de reagir. Eu não sabia se corria, se fingia que aquilo não
tava acontecendo, se parava e gritava pela minha mãe. Me lembro de
congelar imediatamente, olhando fixamente para a pessoa que estava
diante de mim fazendo aquele pedido. Precisei de um tempo para
acreditar que aquela situação estava de fato acontecendo. Eu tinha
sete anos e sabia que alguma coisa estava errada.

25
Mais uma vez, enquanto minha mãe contava sobre as situações
que destruíram sua autoestima e confiança, eu me lembrava de todas
as vezes que as apalpações indesejadas não foram motivo de discussão
ou questionamento. A gente fala e se cala ao mesmo tempo. Minha
mãe queria me ajudar, mas ela não podia mais ajudar nem a si mesma.
Sua reação era tentar me proteger. Ao mesmo tempo em que ouvia
tudo o que ela tinha para me dizer, me calei para evitar dizer as situa-
ções que havia passado. A fala não cura, mas expõe. De alguma forma,
acredito que isso me ajudou a ter passado por menos casos de assédio
do que minha mãe. Saber o que nos espera é deixar de travar durante
tanto tempo no momento em que a coisa acontece. O medo de reagir
não tem mais tanto efeito sobre nós.
Mais tarde, aos quatorze, minha energia estava concentrada em
amigos, música, leitura e escola. Ou, para ser sincera, essa é a parte
que aparece quando eu coloco uma lupa no que é bom de lembrar,
uma realidade paralela ao drama diário que passava despercebido. O
lado trágico da minha vida aparecia quando eu estava em casa, com
meus irmãos, amontoados num quarto-sala morrendo de calor. Nossa
mãe nunca estava. Seu trabalho era brincar com a filha de um casal
de classe média durante toda a semana, sem ao menos visitar a quiti-
nete que pagava com seu salário mínimo. Para três jovens e uma mãe
sobrecarregada, o ambiente era quase uma forma de tortura em que
nos obrigavam a conviver diante de tanto terror, angústia e sensação
de invalidez.
Talvez por temer a realidade que insistia em aparecer em casa,
talvez porque a coisa dava gosto mesmo, qualquer oportunidade de
permanecer na escola ou na rua depois que as aulas terminavam era
aproveitada. Foi nessa busca pela mudança de ambiente que fiquei

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tanto tempo na biblioteca da escola. Eu estava aproveitando enquan-
to podia. Afinal, todo mundo sabe que ser adolescente num bairro
pobre é um privilégio que dura pouco. A minha alegria teria fim assim
que eu terminasse o ensino médio e entrasse no mundo do trabalho.
Eu era uma boa aluna, entusiasta do mundo literário, numa
pequena escola cujos professores se dedicavam muito. Logo ganhei
a amizade de um professor que aparentemente me incentivava com
livros de presente. Essa relação gerou o questionamento de uma pro-
fessora que já havia notado qualquer coisa de estranho nessa forma de
tratamento, mas que eu não conseguia perceber. Até esse momento da
minha vida, a única relação que eu tive era imaginada e contada como
verdade para os meus amigos. Por isso que, certa vez, quando eu es-
tava organizando a pequena biblioteca da escola, o professor amigo
chegou e se sentiu no direito de me dizer coisas muito íntimas e sem
pudor, fazendo-me sentir pressionada a dizer “tudo bem”, mesmo
quando não havia nada no ambiente que estivesse me fazendo bem.
Pode ser que a consciência de que eu estava tendo a oportunidade
de estudar juntamente com o pensamento de que isso me levaria a
vencer na vida me conformaram de estar nessa situação. As relações
de poder me dominaram de forma tal que eu acreditei quando ele me
disse que eu não teria ninguém melhor do que ele na minha vida. Os
estragos cicatrizam, mas permanecem. A gente reproduz esse tipo de
trauma nas próximas relações. O que a minha mãe conta e o que ela
sabe são as partes que a gente consegue colocar pra fora. O resto a
gente comunica e entende pelo olhar.

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Ensino noturno
Os anos pares sempre foram os melhores para mim. Deve haver al-
guma explicação astral para isso e, com certeza, encontrarei outras
mil explicações sobre como a astralidade não tem a capacidade de
influenciar uma quantidade determinada de dias na minha vida. Não
importa. Eu aceito o fato de ter vivido anos horríveis e acredito que
outros melhores virão.
Em 2010, por exemplo, minha mãe conseguiu um emprego de
faxineira que pagava seu salário de forma digna. Foi assim que conse-
guimos nos mudar de um bairro muito pobre na Baixada Fluminense
para o subúrbio do Rio. Aquele foi um ano de sorte para a família
toda. A diferença entre esses dois lugares é o saneamento básico e a
proximidade que havia da Zona Norte para o Centro da cidade. Isso
foi suficiente para transformar nossa perspectiva. Saímos da extrema
pobreza, deixamos de vender latinha para comprar pão e começamos,
então, a sonhar com dias melhores.
Infelizmente, nesse ano, apesar de toda felicidade e gratidão
pela nova vida que eu estava levando, não consegui ser uma boa alu-
na. Reprovei. E, no ano seguinte, eu deveria trabalhar e estudar para
aprender a dar valor à oportunidade que eu havia tido de só estudar e
honrar a minha única obrigação, como disse minha mãe.
O ano ímpar começou e o meu trabalho era tomar conta do
meu sobrinho durante o dia e estudar durante a noite. A escolha da
escola foi feita devido à proximidade de casa. No meu primeiro dia
de aula não teve aula. Esperei mais de duas horas pelo professor que
nunca apareceu. Saí de lá chorando e tendo a certeza de que jamais
conseguiria qualquer coisa devido à falta de interesse que a escola
tinha pelos seus alunos. Nunca lamentei tanto por ter reprovado. Ao

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longo do ano, os professores não apareciam, os gestores não estavam
presentes, as matérias e provas pareciam elaboradas para crianças e
toda minha esperança de um dia estudar numa universidade foi dei-
xada de lado.
Naquela nova escola, tudo que eu achei que poderia ser dife-
rente foi vinte vezes pior do que eu jamais tinha imaginado. Por mais
que tivesse passado minha vida em um bairro pobre, eu não conhecia
a violência de perto. Aquela atmosfera completamente diferente me
causou, primeiramente, um grande estranhamento. Não conseguia
entender a dinâmica do local em que eu estava. De início, julguei ne-
gativamente todos os meus colegas de classe por eles estarem cansados
demais para encarar as aulas com interesse.
Depois de todas as nossas incompatibilidades, as que existiam
entre os outros alunos e eu, fui me adaptando ao lugar. Ninguém vive
sozinho. Recentemente, li em algum lugar que a nossa personalidade
é formada basicamente pela força que as influências exteriores exer-
cem sobre nós. Quase 70% do que somos não vem da nossa família,
mas de amigos e outros contatos externos. Isso me lembrou daquele
ano, daquela escola em que eu não tinha nem amigos nem professo-
res. Conforme os meses passavam, eu sentia um misto de aceitação
e rechaço. Havia quase sempre uma vontade imensa de fazer aquela
situação mudar.
Para a minha sorte, o ano par estava próximo. Eu teria minha
realidade transformada com certeza. Senti que poderia fazer as coisas
mudarem. E fiz. Entrei num curso de francês que paguei com o di-
nheiro do trabalho como babá do meu sobrinho e das vendas de pico-
lé. Fiz algumas amizades na escola. Fui assaltada por dois dos amigos

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que fiz, com arma e capacete, como se eu não fosse reconhecer. Mais
uma vez, fiz outras amizades na escola.
Tudo estava ali diante dos meus olhos e eu não conseguia en-
xergar. O contato com os outros alunos foi essencial para que eu pu-
desse ver o que estava acontecendo naquele lugar. Sair, conversar, ou-
vir as histórias, falar sobre o dia a dia, tudo isso me fez perceber que eu
estava numa realidade completamente diferente da minha. Era como
se eu tivesse tomado uma surra sem ao menos me mexer.
No meu grupo de amigos tinha prostituta, ex-mulher de presi-
diário ameaçada de morte por estar vivendo um novo relacionamen-
to, pai de família que trabalhava todas as horas que conseguia, idosa
que voltou a estudar depois de muitos anos e eu, que estava preocu-
pada em ter acesso à educação formal para me sair bem no vestibular.
Apesar de tudo isso, ou talvez por causa de tudo isso, ganhei uma ex-
periência educacional muito maior, que me permitiu mobilizar toda
a minha vida e moldar minhas escolhas baseada naquele ano que era
par, mas que, ainda assim, foi ímpar.

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© Thais Costa Severo
Desalinho Publicações é uma editora independente criada em São João
de Meriti, Região Metropolitana do Rio de Janeiro. O Dicionário Eletrônico
Houaiss define a palavra desalinho como “n. substantivo masculino. 1. falta
de alinho ou alinhamento”. Visto a partir dessa perspectiva, é um vocábulo
negativo, usado para referir-se a algo que está fora de uma determinada nor-
ma ou padrão, algo que não corresponde àquilo que se espera dele. Seria uma
espécie de linha sinuosa, descumprindo a obrigatoriedade de alinhamento.
Na poética de Laura Liuzzi, contudo, a palavra desalinho encontra outras
acepções e camadas significativas. Segunda a autora, devemos ler um livro
até que cada linha nos surpreenda e a “língua desalinhe”. Por acreditar que
os livros devem ser produtos culturais acessíveis a todes, embora, ao longo
dos tempos, tenham sido destinados e produzidos por aqueles que com-
partilham as características dos predominadores — são homens, brancos,
heterossexuais, proprietários e letrados, conforme assinalou Rita Segato —,
os criadores da Desalinho resolveram intervir no campo da edição. Ir “desa-
linhando” o poder branco, masculino e hétero é o objetivo maior da editora.
Queremos, com isso, desordenar um sistema que tem no acesso desigual ao
campo editorial uma das principais formas de reduplicar a dominação nas
tramas da cultura letrada. O desejo de quem faz a Desalinho é viabilizar
projetos editorais que possam colocar em circulação as expressões artísticas
da diferença, fazendo ecoar vozes relevantes da cena cultural de todas as pe-
riferias do Grande Rio. A construção do nosso catálogo tem como princípio
o diálogo com a multiplicidade de expressões em um mundo cada vez mais
híbrido e plural, criando possibilidades de publicação para novos sujeitos do
contemporâneo.
Ganesha Cartonera é um selo editorial independente baseado no alto de
uma favela na cidade do Rio de Janeiro. Com inspiração na experiência da
pioneira Eloísa Cartonera, as publicações da editora são idealizadas e confec-
cionadas no Morro da Babilônia (ao lado do bairro do Leme, na Zona Sul da
cidade). Em um barraco desta que é uma das favelas mais antigas do Rio de
Janeiro, são preparados os textos e confeccionadas as encadernações com ca-
pas feitas a partir de caixas reutilizadas de papelão. Do cartón (“papelão” em
espanhol) recolhido nas ruas surgem as capas artesanais, que são cortadas,
dobradas, pintadas e costuradas à mão. Os livros que compõem o catálogo
da Ganesha Cartonera derivam dessa confecção de peças únicas, não apre-
sentando, portanto, a uniformidade de uma produção industrial em série.
Cada exemplar é um produto irrepetível. Cada capa é única, não existindo
duas iguais. Essa é a marca da editora cartonera. Criada em 2018, a Ganesha
Cartonera tem a intenção de colocar em circulação vozes silenciadas, dic-
ções de sujeitos subalternizados e representações de territórios periféricos
que agora se fazem ouvir através da edição de livros artesanais encadernados
com o papelão reciclado proveniente de caixas de embalagem compradas
de catadores de rua. O papelão recuperado do lixo dá início a um novo
ciclo, servindo agora para proteger as páginas nas quais as obras de autores
iniciantes encontram seu suporte, sua materialização e sua possibilidade de
circulação. Foi papelão descartado, agora faz parte do circuito editorial e do
mundo da cultura literária. (Cartón era. Hoy es libro-arte.)
Copyright © 2020, as autoras, os autores, Desalinho
Primeira edição, primavera de 2020
Morro da Babilônia, Rio de Janeiro, Brasil

Coleção “Vozes dos Mudos”

Nesta edição, respeitou-se o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

Fotos do mural na área interna da capa e da contracapa


Alex Jefferson Medeiros, André Salviano, Cleiton Ferreira, Débora Alves
Santos, Gabriel Bustilho, José Augusto Gonçalves, Laís Neo, Letícia Barbosa
Ferreira, Natalia de Souza Lima, Rodrigo Magno e Thais Costa Severo.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Memoriais da caminhada em direção à universidade pública / Ary


Pimentel, Edinelia Maria Oliveira Souza (organizadores). – 1. ed.
– São João de Meriti, RJ: Desalinho, 2020. – (Coleção Vozes dos
Mudos)

Vários autores.
ISBN 978-65-990064-7-0

1. Coletâneas 2. Escrita 3. Faculdade de Letras (UFRJ) 4. Literatura


brasileira 5. Memórias. 6. Trajetória pessoal de vida I. Pimentel,
Ary. II. Souza, Edinelia Maria Oliveira. III. Série.

20-40322 CDD-869.803

Índices para catálogo sistemático


1. Memórias: Literatura brasileira 869.803
Maria Alice Ferreira - Bibliotecária - CRB-8/7964

Desalinho Ganesha Cartonera


@desalinhopublicacoes @ganesha.carto
desalinhopublicacoes@gmail.com ganesha.carto@gmail.com
(21) 99442-8064 (21) 99316-0302
A primeira edição deste livro foi publicada em se-
tembro de 2020, mês em que se comemoram os
100 anos da Universidade do Brasil, hoje conhecida
como Universidade Federal do Rio de Janeiro. Esta
obra poderia ter sido editada em qualquer parte do
Brasil, mas foi, de fato, concebida e teve o seu con-
teúdo preparado no Morro da Babilônia (Leme), na
cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Posterior-
mente, uma parte da edição foi encadernada artesa-
nalmente com capas de papelão reciclado pintadas
à mão. Foi impresso na gráfica Book7, com capa
em papel Cartão 250 g/m2 e miolo em papel Offset
80 g/m2, usando as fontes tipográficas Adobe Gara-
mond Pro e Nocturne Serif.

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