Sei sulla pagina 1di 81

FACULDADE DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E POLÍTICAS

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURÍDICO-ECONÓMICAS E EMPRESARIAS

LICENCIATURA EM DIREITO – 3.º ANO

ANO LECTIVO 2020

1.º SEMESTRE

DIREITO FISCAL

Sumários desenvolvidos e textos de apoio

DOCENTE: CARLA MAGALHÃES

E-MAIL: CARLA.MAGALHAES@UGS.ED.AO
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

ÍNDICE

Principais abreviaturas utilizadas 4

Informações dadas na 1.ª aula 5

PARTE I – ASPECTOS GERAIS DO IMPOSTO 6

1. O Direito Fiscal enquanto disciplina jurídica. Direito Financeiro, Direito Tributário e


Direito Fiscal. 6

2. Ordenamento jurídico e ordenamento jurídico-tributário. Os princípios constitucionais


materiais e a lei fiscal. 8

3. Os momentos da vida do imposto. Incidência, verificação do facto gerador pela actuação


do contribuinte, lançamento, liquidação e cobrança/pagamento. 9

4. O imposto como instrumento de satisfação das necessidades financeiras do Estado;


prestação coactiva, unilateral e não-sancionatória. Elementos do conceito jurídico de
imposto. Distinção entre imposto e figuras próximas. 10

5. A classificação dos tributos em impostos, taxas e contribuições especiais. Contribuições


especiais: contribuições de melhoria e contribuições de maior desgaste. Análise de algumas
figuras tributárias em especial: as contribuições para a Segurança Social e a Taxa de
Circulação e Fiscalização de Trânsito. 16

6. As fontes do Direito Fiscal. Em especial, a Constituição. 19

6.1. O princípio da legalidade fiscal: A lei como a base da decisão administrativa; A


Assembleia Nacional e a criação da lei fiscal; O papel do orçamento. As autorizações
legislativas. 20

6.2. O princípio da capacidade contributiva como princípio ordenador das normas fiscais:
a igualdade do sacrifício. A justa distribuição dos encargos tributários. 23

6.3. O princípio da segurança tributária ou da protecção da confiança. Os sub-princípios


da proporcionalidade e da proibição de leis fiscais com efeitos retroactivos. 24

6.4. O princípio da protecção jurisdicional efectiva. 25

7. Algumas classificações dos impostos. 25

8. Relações do Direito Fiscal com os outros ramos de direito. 27

9. Interpretação e integração das normas fiscais. 28

10. Exercícios resolvidos. 28

11. Exercícios a resolver. 35

2
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

PARTE II – RELAÇÃO JURÍDICA TRIBUTÁRIA 41

1. Introdução. 41

2. O conceito de relação jurídica tributária e as suas principais características. 43

3. O nascimento da relação jurídica tributária (o facto tributário). A corrente constitutivista e


a corrente declarativista. 47

4. O objecto da relação jurídica tributária. A obrigação principal e as obrigações acessórias


ou deveres de cooperação. 49

5. Os sujeitos da relação jurídica tributária. 50

5.1. O sujeito activo. A organização administrativa fiscal. 50

5.2. Os conceitos de sujeito passivo, contribuinte e devedor do imposto. 52

5.3. A personalidade e a capacidade tributárias. 55

5.4. O domicílio fiscal. O caso de estabelecimento estável. 57

5.5. O número de identificação fiscal. 58

5.6. A substituição tributária. 58

5.7. A responsabilidade tributária. 59

6. A transmissão da obrigação tributária. 61

7. A extinção da relação jurídica tributária. 61

8. As garantias da relação jurídica tributária. 62

9. Exemplificação prática em sede de Imposto sobre os Rendimentos do Trabalho. 63

10. Exercícios resolvidos. 68

11. Exercícios a resolver. 74

Bibliografia 80

Textos de apoio 81

3
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

PRINCIPAIS ABREVIATURAS UTILIZADAS

ADT – Acordos de Dupla Tributação


AGT – Administração Geral Tributária
AN – Assembleia Nacional
AT – Administração Tributára
CEF – Código das Execuções Fiscais
CGT – Código Geral Tributário
CII – Código do Imposto Industrial
CIRT – Código do Imposto sobre os Rendimentos do Trabalho
CRA – Contituição da República de Angola
EOAGT – Estatuto Orgânico da Administração Geral Tributária
II – Imposto Industrial
IRT – Imposto sobre os Rendimentos do Trabalho
IVA – Imposto sobre o Valor Acrescentado
MINFIN – Ministério das Finanças
NIF – Número de Identificação Fiscal
OGE – Orçamento Geral do Estado
RGT – Regime Geral das Taxas
RJVCPSO – Regime Jurídico de Vinculação e de Contribuição da Protecção Social
Obrigatória

4
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

INFORMAÇÕES DADAS NA PRIMEIRA AULA

PROGRAMA DA DISCIPLINA*:
(*O programa desenvolvido da disciplina está disponível na Reprografia da UGS.)
 Temas a estudar até à 1.ª prova parcelar (PARTE I): Noção, objecto e âmbito do
Direito Fiscal; Direito Financeiro, Direito Tributário e Direito Fiscal; Conceito de
imposto; Distinção entre imposto e figuras próximas; Fontes do Direito Fiscal e
princípios constitucionais do Direito Fiscal; Classificações dos impostos; Relações do
Direito Fiscal com os outros ramos de Direito; Interpretação e integração das normas
fiscais.
 Temas a estudar até à 2.ª prova parcelar (PARTE II): Relação jurídica tributária e
exemplificação prática em sede de Imposto sobre os Rendimentos do Trabalho.

BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA:
 ANTÓNIO BRAZ TEIXEIRA, Princípios de Direito Fiscal, 2.ª ed., Almedina, Coimbra,
1979.
 JÓNATAS E. M. MACHADO/PAULO NOGUEIRA DA COSTA/OSVALDO MACAIA, Direito
Fiscal Angolano Segundo a Reforma de 2014, Coimbra Editora, Coimbra, 2015.
 JOSÉ CASALTA NABAIS, Direito Fiscal, 6.ª ed., Almedina, Coimbra, 2011. [Disponível
na Biblioteca da UGS]
 NUNO DE SÁ GOMES, Manual de Direito Fiscal, vol. I, 11.ª ed., Editora Rei dos Livros,
Lisboa, 2000, e vol. II, 8.ª ed., Editora Rei dos Livros, Lisboa, 1999.
 SALDANHA SANCHES, Manual de Direito Fiscal, 3.ª ed., Coimbra Editora, Coimbra,
2002. [Disponível na Biblioteca da UGS]
 SALDANHA SANCHES/JOÃO TABORDA DA GAMA, Manual de Direito Fiscal Angolano,
Coimbra Editora, Coimbra, 2010. [Disponível na Biblioteca da UGS]
 SOARES MARTÍNEZ, Direito Fiscal, 9.ª ed., Almedina, Coimbra, 1997.

LEGISLAÇÃO BÁSICA:
 Constituição da República de Angola (CRA)
 Código Geral Tributário (CGT) – Lei n.º 21/14, de 22 de Outubro
 Regime Geral das Taxas (RGT) – Lei n.º 7/11, de 16 de Fevereiro
 Código do Imposto sobre os Rendimentos do Trabalho (CIRT) – Lei n.º 18/14, de 22 de
Outubro
 Código do Imposto Industrial (CII) – Lei n.º 19/14, de 22 de Outubro

SITES:
 Ministério das Finanças: www.minfin.gov.ao
 Portal da Administração Geral Tributária (AGT): www.agt.minfin.gov.ao
 Instituto Nacional de Segurança Social (INSS): www.inss.gv.ao

5
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

PARTE I – ASPECTOS GERAIS DO IMPOSTO

1. O Direito Fiscal enquanto disciplina jurídica. Direito Financeiro, Direito Tributário e


Direito Fiscal.

Bibliografia: JOSÉ CASALTA NABAIS, Direito Fiscal, 6.ª ed., Almedina, Coimbra, 2011, pp. 3-10; JÓNATAS
E. M. MACHADO/PAULO NOGUEIRA DA COSTA/OSVALDO MACAIA, Direito Fiscal Angolano Segundo a
Reforma de 2014, Coimbra Editora, Coimbra, 2015, pp.11-15; ELISA RANGEL NUNES, Lições de Finanças
Públicas e de Direito Financeiro, 5.ª ed., Luanda, 2014, pp. 71-74; J. L. SALDANHA SANCHES/JOÃO
TABORDA DA GAMA, Manual de Direito Fiscal Angolano, Coimbra Editora, Coimbra, 2010, pp. 15-21;
SOARES MARTÍNEZ, Direito Fiscal, 9.ª ed., Almedina, Coimbra, 1997, pp. 22-25.

O Direito Fiscal enquanto disciplina jurídica. O conceito de Direito Fiscal como o


conjunto de normas jurídicas que disciplina os impostos. O Direito Fiscal como «Direito
dos Impostos». O imposto como receita pública. O Estado angolano configura-se como um
Estado fiscal ou um Estado patrimonial? A caracterização como Estado fiscal-patrimonial
pela doutrina (cfr. JÓNATAS E. M. MACHADO/PAULO NOGUEIRA DA COSTA/OSVALDO
MACAIA, p. 11) Algumas notas sobre a reforma fiscal angolana. Os três tipos de receitas
públicas: 1) patrimoniais; 2) creditícias; 3) tributárias (impostos, taxas e contribuições
especiais). O imposto como uma receita tributária. As receitas tributárias como receitas
coactivas (quer dizer, estabelecidas por lei) e não como receitas voluntárias. O conceito de
tributo como “prestação coactiva com finalidades financeiras” (cfr. JOAQUIM FREITAS DA
ROCHA, Lições de Procedimento e Processo Tributário, 4.ª ed., Coimbra Editora, Coimbra,
2011, p. 12). Assim, segundo este autor, o que caracteriza o tributo é a sua natureza
coactiva e a sua natureza financeira. Falando da natureza coactiva, exige-se uma
coactividade quanto à origem, ou seja, o tributo é uma receita coactiva porque tem de ser
sempre criado por norma jurídica. E exige-se também uma coactividade quanto à
conformação do conteúdo, significando que o conteúdo do tributo tem de estar
obrigatoriamente previsto na norma. Falando da natureza financeira, destaca-se que o
tributo é uma receita do Estado. Os tributos têm por finalidade satisfazer as necessidades
financeiras do Estado. Há receitas que o Estado tem que não têm finalidade financeira,
como é o caso das multas. O que distingue o tributo de uma multa não é a sua natureza
coactiva. Isto porque ambos, tributo e multa, têm natureza coactiva, ambos são
estabelecidos por lei. Diferem no seguinte: o tributo tem natureza financeira (a finalidade é
obter receita) ao passo que a multa tem natureza sancionatória (a finalidade é repressiva;
por isso as multas não integram o direito tributário, fazem parte do direito criminal). [Cfr.
JOAQUIM FREITAS DA ROCHA, cit., pp. 12-13]. Sublinhe-se na definição de tributo trazida
pelo artigo 2.º, n.º 1, alínea x), do CGT a seguinte passagem: «sem carácter de sanção».

Esquema:

Direito Fiscal => imposto => receita pública => receita tributária / tributo => receita
coactiva ou estabelecida por lei => com finalidade financeira e não sancionatória

6
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

A actividade financeira como actividade instrumental. O imposto como um instrumento


financeiro.
O imposto como uma das espécies de tributo. O Direito Fiscal como um sub-ramo do
Direito Tributário. O conceito de Direito Tributário como o conjunto de normas jurídicas
que disciplina os tributos (sendo três os tipos de tributo: impostos, taxas e contribuições
especiais – vide art. 2.º, n.º 1, alínea x) e art. 3.º, n.º 4, do CGT). O Direito Tributário como
um sub-ramo do Direito Financeiro. O Direito Financeiro (ou Direito Financeiro Público)
como um sector mais abrangente enquanto conjunto de normas jurídicas que regulam a
obtenção, a gestão, o dispêndio e o controlo dos meios financeiros públicos (ELISA
RANGEL NUNES, p. 71). Ou, por outras palavras, o Direito Financeiro é o conjunto de
normas jurídicas que disciplinam a actividade financeira do Estado e demais entes
públicos. Integram o Direito Financeiro três grandes sectores: o Direito das Receitas
Públicas, o Direito das Despesas Públicas e o Direito da Administração Financeira. O
Direito das Receitas Públicas inclui o Direito das Receitas Patrimoniais, o Direito do
Crédito Público e o Direito Tributário. Por sua vez, o Direito Tributário abrange o Direito
Fiscal e o Direito das Taxas e das Contribuições. (Cfr. JOSÉ CASALTA NABAIS, pp. 4-6).
Conclusão: O Direito Fiscal como sub-ramo do Direito Tributário e o Direito Tributário
como sub-ramo do Direito Financeiro.
O Direito Fiscal como disciplina que integra as ciências jurídico-económicas.

Texto para reflexão:


“O Direito dos Impostos, Direito Tributário, ou Direito Fiscal, é o ramo do Direito
Financeiro que corresponde à insuficiência do património e do domínio para suportarem as
despesas crescentes das comunidades políticas. É, assim, logicamente supletório, no
sentido de que visa a preencher aquela insuficiência.
(...)
Parece preferível limitar o Direito Tributário à disciplina dos impostos. A expressão
tributo acompanhou geralmente a ideia de imposto, de exigência que, em concreto, não
tem contraprestação; não se identificou com a ideia de custo da utilização de determinados
serviços. Por vezes, a tendência para incluir no Direito Tributário matérias alheias aos
impostos provém da dificuldade de distingui-los com nitidez de outras figuras, dificuldade
para a qual os legisladores com frequência contribuem. A expressão «taxa», por exemplo, é
empregada, em muitos casos, na legislação, para designar realidades cuja natureza de
impostos não oferece dúvidas. Foi o caso da chamada «taxa militar». Essa falta de
destrinça nítida de conceitos por parte dos legisladores contribuiu para incluir no Direito
Tributário categorias diversas do imposto. (...) A terminologia anglo-saxónica tem tornado,
por vezes, ainda mais confusa a terminologia nesta matéria, porquanto a expressão inglesa
«tax» tem o significado de imposto.
Poder-se-ia, indo ao encontro da doutrina italiana, considerar dentro do Direito das
receitas o Direito Tributário, abrangendo, pelo menos, os impostos, as taxas e as
contribuições especiais, e dentro do Direito Tributário o Direito Fiscal, reservado aos
impostos. Mas não parece que semelhante entendimento ofereça particular interesse, pois
do que se duvida é da utilidade de subordinar a um mesmo tratamento aquelas diversas
categorias financeiras. Preferível será entender que dentro do Direito das receitas

7
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

deparamos com o Direito dos impostos, o Direito das taxas, etc. E tendo o termo tributo
raízes na nossa língua que não o afastam do conceito de imposto, afigura-se legítimo, e até
conveniente, empregar a expressão Direito Tributário com o significado de Direito Fiscal,
ou Direito dos Impostos.
Aliás, a designação Direito Fiscal é menos precisa que a de Direito Tributário ou a de
Direito dos Impostos. Por «fiscus» - do nome de um cesto de vime, onde as moedas
recebidas seriam lançadas, - designou-se em Roma o tesouro do Imperador, por oposição
ao «aerarium», onde se arrecadavam os rendimentos das províncias senatoriais e das
alfândegas. Com o tempo, o «fiscus» acabou por abranger todos os dinheiros públicos; e,
de harmonia com essa tradição, também entre nós as expressões «fisco» e «fiscal» foram
utilizadas com referência a todo o complexo financeiro estadual.
(...)
Destas confusões terminológicas resulta que a expressão Direito Tributário melhor
corresponde à ideia de Direito dos Impostos. Mas esta mesma ideia também se exprime
correntemente entre nós, na legislação como na doutrina, pela expressão Direito Fiscal. E
não se vê inconveniente em que as expressões Direito Tributário, Direito Fiscal e Direito
dos Impostos sejam usadas como sinónimas (...). Observar-se-á, a propósito, que os
vocábulos «imposto» e «tributo» também são sinónimos.” (SOARES MARTÍNEZ, pp. 22-25.)

2. Ordenamento jurídico e ordenamento jurídico-tributário. Os princípios


constitucionais materiais e a lei fiscal.

Bibliografia: JOSÉ CASALTA NABAIS, Direito Fiscal, 6.ª ed., Almedina, Coimbra, 2011, p. 81; SOARES
MARTÍNEZ, Direito Fiscal, 9.ª ed., Almedina, Coimbra, 1997, p. 63.

Ordenamento jurídico e ordenamento jurídico-tributário. O Direito Fiscal como um


sector específico do ordenamento jurídico: o ordenamento jurídico-tributário. O Direito
Fiscal como disciplina jurídico-constitucional dos impostos. A relação entre Direito Fiscal
e Direito Constitucional. SOARES MARTÍNEZ diz que as relações entre o Direito Fiscal e o
Direito Constitucional são tão estreitas que até pode falar-se num Direito Fiscal
Constitucional – “formado por aquelas normas respeitantes à disciplina jurídica dos
impostos que, para garantia de uma relativa imutabilidade e permanência se situam no
plano da legislação constitucional. (...) São normas que estão na base de todo o sistema
jurídico-tributário” (cfr. SOARES MARTÍNEZ, Direito Fiscal, 9.ª ed., Almedina, Coimbra,
1997, p. 63). JOSÉ CASALTA NABAIS explica que as relações entre o Direito Fiscal e o
Direito Constitucional se revelam na chamada “constituição fiscal”. (Cfr. JOSÉ CASALTA
NABAIS, p. 81). O conceito de constituição fiscal como o conjunto de normas e princípios
consagrados na Constituição relativos aos impostos (por exemplo, os artigos 88.º, 101.º,
102.º, 165.º/n.º1/al. o), e 215.º, n.º 2, integram a constituição fiscal). Apresentação dos
princípios constitucionais em matéria de impostos: o princípio da legalidade fiscal (art.
102.º, n.º 1); o princípio da igualdade fiscal (art. 88.º/art. 23.º); o princípio da capacidade
contributiva (art. 88.º/art. 101.º); o princípio da proibição de leis fiscais com efeitos para o
passado (art. 102.º, n.º 2). O princípio da legalidade fiscal e o controlo dos poderes do

8
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

Estado. O princípio da legalidade fiscal como um princípio constitucional formal. O


princípio da capacidade contributiva como um princípio constitucional material. Os
princípios constitucionais materiais e a lei fiscal.
O Direito Fiscal como ramo do direito público.
O sistema fiscal angolano. O conceito de sistema fiscal como o conjunto de impostos
num dado território. O princípio da coerência do sistema tributário.

/////\\\\\/////\\\\\/////\\\\\/////\\\\\/////\\\\\/////\\\\\/////\\\\\
Questões: 1) Qual é o objecto do Direito Fiscal? 2) Quais são os dois elementos
essenciais que estão na base da construção de um conceito jurídico de tributo? 3) O que se
entende por «constituição fiscal»?

3. Os momentos da vida do imposto. Incidência, verificação do facto gerador pela


actuação do contribuinte, lançamento, liquidação e cobrança/pagamento.

Bibliografia: JOSÉ CASALTA NABAIS, Direito Fiscal, 6.ª ed., Almedina, Coimbra, 2011, pp. 38-42; JOAQUIM
FREITAS DA ROCHA, Lições de Procedimento e Processo Tributário, 4.ª ed., Coimbra Editora, Coimbra,
2011, pp. 201-205; AMÉRICO FERNANDO BRÁS CARLOS, Impostos. Teoria Geral, 4.ª ed., Almedina, Coimbra,
2014, pp. 69-70 e 93-94; SOARES MARTÍNEZ, Direito Fiscal, 9.ª ed., Almedina, Coimbra, 1997, pp. 126-128;
CREMILDO FÉLIX PACA, Justiça Administrativa, Fiscal e Aduaneira, Luanda, 2017, p. 307 e ss.

Os momentos da vida do imposto: a criação (momento legislativo), a verificação do


facto gerador pela actuação do contribuinte e a aplicação (momento administrativo) do
imposto. Conceitos de incidência, lançamento, liquidação e cobrança. A incidência a
traduzir o momento de criação do imposto (momento legislativo) e o lançamento,
liquidação e cobrança a traduzirem o momento da aplicação do imposto (momento
administrativo). [Cfr. JOSÉ CASALTA NABAIS, pp. 38 e 41]
Conceitos:
1) Incidência: consiste no conjunto de pressupostos definidos em abstracto por lei que
quando verificados fazem nascer a obrigação de imposto e os elementos dessa mesma
obrigação (vide art. 24.º do CGT). A incidência inclui a incidência real ou objectiva
(conjunto de pressupostos que define a realidade sujeita a imposto) e a incidência pessoal
ou subjectiva (conjunto de pressupostos que define o sujeito passivo da obrigação de
imposto). [Cfr. AMÉRICO FERNANDO BRÁS CARLOS, p. 70]
2) Lançamento: consiste no conjunto de actos e operações pelos quais a Administração
Fiscal determina em concreto os elementos da obrigação do imposto (identificação
concreta do contribuinte, determinação em concreto da matéria colectável e da respectiva
taxa de imposto a ser aplicada no caso). [Cfr. SOARES MARTÍNEZ, p. 127]
3) Liquidação: é a quantificação em concreto do imposto a pagar por determinado
contribuinte através da operação de aplicação da taxa do imposto à matéria colectável (ver
o art. 2.º, n.º 1, alínea o) do CGT). Este é o conceito de liquidação em sentido estrito. Mas
o termo “liquidação” também pode ser usado num sentido amplo (liquidação lato sensu), e
aí o termo abrange quer o lançamento, quer a liquidação em sentido estrito, quer eventuais
deduções à colecta (subtracções ao valor do imposto a pagar apurado, vide art. 2.º, al. g) do

9
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

CGT). Atendendo, agora, a um critério temporal, pode falar-se ainda em: liquidação
provisória (feita a partir dos elementos declarados pelo sujeito passivo e dependente de um
controlo posterior, no caso de retenções na fonte a título de pagamento por conta que
consubstanciam pagamentos provisórios do imposto, como é o caso do disposto no art.
67.º, n.º 3, do CII), liquidação definitiva (acto da Administração Tributária de natureza
definitiva e impugnável, e que precede a cobrança, vide art. 69.º do CII) e liquidação
adicional (acontece nos casos em que há uma revisão da liquidação definitiva, por motivo,
por exemplo, de erro na declaração apresentada pelo contribuinte, ou de apuramento de
imposto superior ao devido/entregue). Atendendo, por fim, aos sujeitos que intervêm na
liquidação, podemos distinguir: autoliquidação (quando o acto de liquidação é feito pelo
próprio sujeito passivo, mediante a apresentação de declaração em modelo normativamente
aprovado, vide art. 122.º do CGT) e heteroliquidação (quando o acto de liquidação é feito
por entidade diversa do sujeito passivo, seja a administração tributária ou um terceiro, vide
art. 119.º do CGT). [Sobre todos estes conceitos, v. JOAQUIM FREITAS DA ROCHA, pp. 201-
203].
4) Cobrança/Pagamento: é a operação através da qual o imposto vai dar entrada nos
cofres do Estado. “A cobrança, enquanto procedimento autónomo, consiste no conjunto de
actos (administrativos) materiais conducentes à arrecadação da receita tributária e que, em
regra, têm como correspectivo, do lado do contribuinte, o acto de pagamento. Pode-se
assim afirmar que cobrança e pagamento do tributo são as duas faces da mesma moeda,
distinguindo-se apenas pelo sujeito que leva a cabo a respectiva actuação material.” (Cfr.
JOAQUIM FREITAS DA ROCHA, p. 205) A cobrança pode ser voluntária ou coerciva. A
cobrança voluntária é assegurada pelos serviços da Administração Tributária, dentro do
prazo legal estabelecido para o efeito (art. 135.º, n.º 2, do CGT). Já a cobrança coerciva
dos tributos é efectuada através do processo de execução fiscal e tem natureza judicial (art.
135.º, n.º 3, e art. 140.º, ambos do CGT). [Vide CREMILDO FÉLIX PACA, p. 307 e ss.]

/////\\\\\/////\\\\\/////\\\\\/////\\\\\/////\\\\\/////\\\\\/////\\\\\
Questões: 1) Distinga liquidação do imposto de pagamento do imposto. 2) O art. 102.º,
n.º 1, da CRA e o art. 24.º do CGT referem-se a algum momento da vida do imposto? 3)
Comente a seguinte afirmação: «A cobrança das dívidas fiscais é sempre uma cobrança
coerciva.»

4. O imposto como instrumento de satisfação das necessidades financeiras do Estado;


prestação coactiva, unilateral e não-sancionatória. Elementos do conceito jurídico de
imposto. Distinção entre imposto e figuras próximas.

Bibliografia: JOSÉ CASALTA NABAIS, Direito Fiscal, 6.ª ed., Almedina, Coimbra, 2011, pp. 11-20; JÓNATAS
E. M. MACHADO/PAULO NOGUEIRA DA COSTA/OSVALDO MACAIA, Direito Fiscal Angolano Segundo a
Reforma de 2014, Coimbra Editora, Coimbra, 2015, pp.15-17; J. L. SALDANHA SANCHES/JOÃO TABORDA DA
GAMA, Manual de Direito Fiscal Angolano, Coimbra Editora, Coimbra, 2010, pp. 16-21; AMÉRICO
FERNANDO BRÁS CARLOS, Impostos. Teoria Geral, 4.ª ed., Almedina, Coimbra, 2014, pp. 35-43; JOAQUIM
FREITAS DA ROCHA/MARCO CARVALHO GONÇALVES, Direito Fiscal: Elementos de Apoio, 2ª ed., AEDUM,

10
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

Braga, 2005, pp. 159-164; ELISA RANGEL NUNES, Lições de Finanças Públicas e de Direito Financeiro, 5.ª
ed., Luanda, 2014, pp. 248-269.

O imposto como instrumento de satisfação das necessidades financeiras do Estado;


prestação coactiva, unilateral e não-sancionatória. Elementos do conceito jurídico de
imposto.
O imposto como a) uma prestação patrimonial, b) definitiva, c) unilateral, d) estabelecida
por lei e) a favor de entidades que exerçam funções públicas f) para satisfação de fins
públicos, g) que não constitui sanção de um acto ilícito. (Cfr. AMÉRICO FERNANDO BRÁS
CARLOS, pp. 35-43.)
O imposto é:
a) Prestação patrimonial: O imposto é uma prestação e geralmente é uma prestação
pecuniária (em dinheiro). Todavia, a legislação permite, em determinadas condições, a
dação em cumprimento de bens (art. 57.º do CGT). Também podem as dívidas tributárias
do contribuinte ser pagas por compensação com os seus créditos, tributários ou não,
resultantes de reembolso ou de anulação de liquidação anterior (arts. 58.º e 59.º do CGT).
Por isso tem-se entendido ser mais rigorosa a definição do imposto como prestação
patrimonial porque é, independentemente da forma que revista, sempre avaliável em
dinheiro. (AMÉRICO FERNANDO BRÁS CARLOS, p. 37).
b) Prestação definitiva. Distinção face ao empréstimo público. O imposto é uma
prestação definitiva porque quanto ao imposto devido (nos termos da lei) o contribuinte
não tem direito a qualquer restituição ou reembolso. Situação diferente é aquela em que o
imposto pago a mais ou anulado é reembolsado, porque não é um imposto devido (ver o
conceito de «restituição do imposto» no art. 2.º, n.º 1, alínea t) do CGT). A característica
da definitividade do imposto permite-nos distingui-lo de outra receita pública: o
empréstimo público. A subscrição de títulos da dívida pública é um exemplo de
empréstimo público. E no empréstimo público há sempre lugar a reembolso. Esta mesma
distinção aplica-se também no caso de empréstimos públicos forçados. (Cfr. AMÉRICO
FERNANDO BRÁS CARLOS, pp. 37 e 38)
c) Prestação unilateral. Distinção em face do preço, empréstimo público e taxa. O
imposto é uma prestação unilateral porque não se verifica qualquer contraprestação
específica a favor do contribuinte. Nestes termos dispõe o art. 3.º, n.º 5, do CGT: «São
impostos os tributos com natureza unilateral, em virtude de a sua obrigação não constituir a
contrapartida de qualquer prestação individualizada do Estado e demais entes públicos.»
Distinção entre imposto e preço. Quando o Estado vende ou arrenda bens do seu
património (ex.: privatiza o capital de empresas, vende lenha das matas nacionais, arrenda
imóveis) age desprovido dos seus poderes de autoridade, recebendo um determinado preço
como contrapartida. É uma receita pública diferente do imposto porque implica uma
contrapartida individualizada para o pagador por parte do Estado (entrega de bens ou de
direitos) e é fixado em função do valor de mercado. (Cfr. AMÉRICO FERNANDO BRÁS
CARLOS, p. 38) Distinção entre imposto e empréstimo público. O imposto é unilateral; no
empréstimo público (e no empréstimo público forçado) há uma contrapartida
individualizada que é o juro. Distinção entre imposto e taxa. Ambas as prestações se
incluem no conceito amplo de tributo, mas nem sempre são de fácil distinção. A doutrina

11
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

apresenta dois critérios distintivos: 1) Critério financeiro (da divisibilidade): os impostos


são um meio de financiamento dos bens e serviços que prestam utilidades indivisíveis, ao
passo que as taxas apresentam-se como um meio de financiamento de bens e serviços que
prestam utilidades divisíveis. 2) Critério jurídico (da sinalagmaticidade): os impostos são
prestações que assentam num vínculo de natureza não sinalagmática enquanto as taxas são
prestações que assentam num vínculo de natureza sinalagmática. (JOAQUIM FREITAS DA
ROCHA/MARCO CARVALHO GONÇALVES, p. 163.)
No imposto não há nenhuma contrapartida individualizada ou contraprestação
específica a favor do contribuinte. Na taxa, sim, existe um nexo causal entre o seu
pagamento e uma actividade do Estado como credor da receita. O cumprimento da taxa
significa, assim, o cumprimento de uma obrigação pecuniária de um dos sujeitos desta
relação bilateral ou sinalagmática. (Cfr. AMÉRICO FERNANDO BRÁS CARLOS, pp. 38-39.)
Tipos de taxas: A obrigação que recai sobre o outro sujeito (o credor da taxa) pode, na
linha da doutrina e como prevê o art. 3.º, n.º 7, do CGT, revestir uma das seguintes formas:
a) A prestação concreta de um serviço público (ex.: taxas devidas pelos serviços de registo
e notariado (emolumento), pelos serviços de justiça (taxa de justiça), pelos serviços de
educação pública (propinas), pelos serviços consulares, etc.); b) A permissão para
utilização de bens do domínio público (ex.: portagens, tarifas aeroportuárias, taxas devidas
pela ocupação do subsolo, do leito das estradas ou da via pública); c) A remoção de um
obstáculo legal a um comportamento dos particulares (ex.: licenças). [Ver JOSÉ CASALTA
NABAIS, pp. 13-15.]
“Cobram-se taxas que resultam da relação que o contribuinte da taxa mantém com um
serviço público. Um exemplo clássico desta relação são as custas judiciais, em que pelo
facto de o contribuinte entrar numa relação com o serviço judicial deve suportar tais
encargos.
É na disciplina de processo civil que, com mais propriedade se fala deste tipo de
encargos, por agora importa que se fique com a noção de que esses encargos são devidos
quando as partes conflituantes recorrem aos serviços dos tribunais.
Porém, há que dizer que a relação concreta entre o contribuinte e o serviço judicial
nem sempre desencadeia para o primeiro uma utilidade subjectiva (benefício ou
vantagem), tal pode não acontecer. Pode suceder, por exemplo, que beneficie da remoção
de um obstáculo jurídico à sua capacidade, como pode acontecer que saia prejudicado,
como é o caso de quem é condenado, que é quem deve pagar as custas. Por isso se disse
que, normalmente, se retira uma utilidade quando se paga uma taxa, mas nada obriga que
seja sempre assim.” (ELISA RANGEL NUNES, p. 256).
A qualificação formal das prestações exigidas nem sempre é coincidente com a sua real
natureza. Poder-se-á dar o caso de termos tributos formalmente designados por taxas que
são verdadeiros impostos e vice-versa. (Cfr. AMÉRICO FERNANDO BRÁS CARLOS, p. 40.)
Por exemplo, a actual “taxa de justiça” foi designada durante anos por “imposto de
justiça”. Sempre teve a natureza jurídica de uma taxa, apesar da sua inicial designação.
(Analisar também o art. 1.º do RGT).
Duas questões:
1. Quando é que há sinalagma/correspectividade/reciprocidade? Há sinalagma, ou
seja, estamos perante uma taxa quando há uma correspondência jurídica, isto é, prestação e

12
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

contraprestação sendo que se uma das partes não cumprir a outra pode invocar excepção do
não cumprimento, e equivalência económica, ou seja, terá que existir uma correspondência
económica materialmente relevante entre o valor pago e a sua contrapartida.
2. Como avaliar/medir a equivalência económica de uma prestação de um ente
público a favor do particular? Há limitações legais ao valor da taxa? A taxa não é um
preço fixado nos termos determinados pelas regras do mercado. O art. 9.º do RGT consagra
o princípio da proporcionalidade e o valor das taxas deverá ser consagrado de acordo com
este princípio e “não deve ultrapassar o custo da actividade pública ou o benefício auferido
pelo particular”. A criação de taxas a favor das entidades públicas está subordinada,
também, aos princípios da proporcionalidade, da justa repartição dos encargos públicos, do
interesse público e da publicidade.
JOSÉ CASALTA NABAIS tem uma visão dicotómica dos tributos. Para efeitos jurídico-
constitucionais interessa uma visão dicotómica ou binária dos tributos: independentemente
do nome que tenham ou são impostos ou taxas. Como poderemos saber se, do ponto de
vista jurídico-constitucional, estamos perante um tributo unilateral ou imposto ou perante
um tributo bilateral ou taxa? JOSÉ CASALTA NABAIS apresenta dois critérios: 1) Critério da
capacidade contributiva; 2) Critério da proporcionalidade prestação/contraprestação. (Cfr.
JOSÉ CASALTA NABAIS, pp. 20-21).
d) Prestação estabelecida por lei ou coactiva. Distinção face ao preço. Consagra o
art. 102.º, n.º 1, da CRA que tanto a criação do imposto como a disciplina dos seus
elementos essenciais (incidência, taxa, benefícios fiscais e garantias dos contribuintes)
serão sempre operadas por lei. É o princípio da legalidade tributária que vai reger a relação
jurídica do imposto e assim nem o contribuinte nem o Estado podem dispor desta relação.
Não é a vontade das partes que define os elementos da obrigação do imposto, é a lei.
Concluindo: o imposto é uma prestação coactiva ou ex lege. O imposto nasce da lei, o
preço de um prévio vínculo contratual/vontade. Vide art. 25.º do CGT.
e) Prestação a favor de entidades que exerçam funções públicas. O imposto é uma
prestação exigida a detentores (pessoas singulares ou colectivas) de capacidade
contributiva a favor de entidades que exerçam funções públicas.
f) Prestação destinada à satisfação de fins públicos. Vide art. 101.º da CRA e art. 10.º
do CGT. O imposto tem como finalidades: satisfazer as necessidades financeiras do
Estado; assegurar a realização da política económica e social do Estado; e proceder à justa
repartição dos rendimentos e da riqueza nacional. As finalidades financeiras e as
finalidades extrafinanceiras.
g) Prestação não sancionatória. Distinção em face da multa. O imposto não constitui
uma sanção de um acto ilícito. Assim o distinguimos da multa, consistindo esta numa
sanção pecuniária, como é sabido.

JOSÉ CASALTA NABAIS apresenta a definição de imposto com base em três elementos: 1)
Elemento objectivo: o imposto é uma prestação pecuniária, unilateral, definitiva e coactiva.
2) Elemento subjectivo: o imposto é uma prestação exigida a (ou devida por) detentores
(individuais ou colectivos) de capacidade contributiva a favor de entidades que exerçam
funções ou tarefas públicas. 3) Elemento teleológico ou finalista: o imposto é exigido pelas

13
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

entidades que exerçam funções públicas para a realização dessas funções conquanto que
não tenham carácter sancionatório. (Cfr. JOSÉ CASALTA NABAIS, pp. 11 e ss).

Em conclusão, quando falamos de imposto, como distinguir estas quatro características


ou elementos do seu conceito: a definitividade, a unilateralidade, a coactividade e o
carácter não-sancionatório?
 Assim, quando falamos da definitividade do imposto é para dizer que a prestação
efectuada (referimo-nos ao imposto pago pelo contribuinte) não será restituída ou
reembolsada. Essa mesma prestação consiste num pagamento definitivo. Nota: A
definitividade de um pagamento não depende da existência ou não de uma contrapartida ou
contraprestação. Há relações bilaterais, de troca, onde se paga um preço ou uma taxa, que
são pagamentos definitivos porque o pagador não receberá de volta o que pagou, e não
deixam de ser prestações bilaterais. Definitividade não é o mesmo que bilateralidade, nem
o mesmo que unilateralidade. Pois há relações bilaterais cujo pagamento é definitivo, e
relações unilaterais cujo pagamento é definitivo como acontece na relação obrigacional de
imposto. Assim, quando dizemos que o imposto é uma prestação definitiva estamos
simplesmente a caracterizar a prestação do imposto como um pagamento definitivo, que
não será restituído ou reembolsado. Só haverá restituição do que se pagou quando houver
um pagamento indevido, quando, por exemplo, o imposto foi pago a mais ou foi anulado.
Por isso, no artigo 2.º, n.º 1, alínea t), do CGT, sugeri que sublinhassem apenas «restituição
do imposto» (...) «indevidamente pago». Porque, por definição, o imposto é uma prestação
definitiva, ou se quiserem, trata-se de um pagamento definitivo, porque não há restituição
do imposto devido, do imposto que foi pago nos termos da lei.
 Agora, quando falamos da unilateralidade do imposto, aí sim, referirmo-nos à
estrutura unilateral da relação, dizendo que só existe prestação de um lado (prestação uni-
lateral) e, portanto, do outro lado não se verifica qualquer contraprestação / contrapartida
directa ou individualizada a favor do lado que efectuou a prestação do imposto (sujeito
passivo / contribuinte / devedor / pagador). Quando definimos o imposto como uma
prestação unilateral foi para dizer que há uma prestação de um lado da relação jurídica e
não há uma contraprestação do outro lado da relação jurídica. É neste elemento da
unilateralidade que distinguimos o imposto da taxa. É que na taxa a relação jurídica é
bilateral ou sinalagmática, é uma relação de troca na medida em que o pagamento da taxa
por parte do lado passivo da relação jurídica há-se corresponder à prestação de um serviço
público, à utilização de um bem do domínio público, ou à remoção de um obstáculo
jurídico a um comportamento do particular, por parte do lado activo (o credor ou recebedor
da taxa). Note-se que aqui o pagamento da taxa também é definitivo, porque o que o
contribuinte pagou de taxa (valor legalmente definido) por um serviço pestrado não vai ser
devolvido. A diferença entre imposto e taxa está na estrutura da relação jurídica: a relação
jurídica de imposto assenta numa estrutura unilateral (só há prestação de um lado – o
pagamento do imposto) ao passo que a relação jurídica de taxa assenta numa estrutura
bilateral (há uma relação de troca de prestações, há reciprocidade ou correspectividade de
prestações porque ao pagamento da taxa por parte do lado passivo da relação há-de
corresponder a prestação de um serviço público (por exemplo) do lado activo da relação).

14
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

Esta bilateralidade vem destacada no conceito legal de taxa: art. 4.º, n.º 7, do CGT e art.
4.º, n.º 1, alínea a), do RGT. Na relação jurídica tributária vemos se há ou se não há uma
relação de troca «prestação – contraprestação».
 Ainda, quando destacamos a coactividade do imposto queremos realçar que o
imposto só pode ser estabelecido por lei, e por uma lei em sentido formal. Aprofundaremos
este elemento apresentado para o conceito de imposto quando estudarmos o princípio da
legalidade fiscal, que tem consagração constitucional (ver: art. 102.º, n.º 1, art. 165.º, n.º 1,
alínea o), e art. 170.º, todos da CRA, e conjugar com o art. 4.º, n.º 4, do CGT). Para a
criação de um imposto ou alteração dos seus elementos essenciais (que são a incidência, a
taxa, os benefícios fiscais e as garantias dos contribuintes), a Constituição exige sempre a
intervenção da Assembleia Nacional que é o legislador originário ou o legislador
autorizante em matéria de impostos. O imposto há-de ser criado por uma Lei ou por um
Decreto Legislativo Presidencial autorizado. Em matéria de taxas, esta exigência de lei em
sentido formal só se aplica quanto ao seu regime geral (art. 165.º, n.º 1, alínea o), da CRA),
e depois cada taxa criada em concreto há-de obedecer a esse regime geral e pode ser criada
pelo Executivo com faculdade de delegação aos seus ógãos auxiliares (ver art. 12.º, n.º 1,
do RGT), sem necessidade de intervenção neste nível da AN como é exigido para os
impostos. O imposto há-de ser criado por uma Lei ou por um Decreto Legislativo
Presidencial autorizado, a taxa pode ser disciplinada por um Decreto Presidencial. Vamos,
pois, mais adiante distinguir o princípio da legalidade dos impostos (mais rígido) em
relação ao princípio da legalidade das taxas (menos rígido).
 Também o imposto se define como uma prestação não-sancionatória. Este
elemento que trouxemos para delimitar o conceito de imposto visa realçar a sua finalidade
que é financeira. A finalidade do imposto reside na satisfação das necessidades financeiras
do Estado; é uma finalidade financeira. Mais tarde veremos que o imposto também pode
ter finalidades extrafinanceiras quando é usado como um instrumento para atingir
finalidades de ordem económica ou social (exemplos: quando se aumenta os impostos
aduaneiros sobre certos produtos importados para incentivar a produção nacional, quando
se baixa os impostos aduaneiros sobre certas matérias-primas, ou quando se concede
isenções de imposto a micro, pequenas e médias empresas). Agora, se num caso concreto
estiver em causa uma quantia a ser exigida a um contribuinte com uma finalidade
sancionatória, aí já não poderá ser classificada como tributo nem analisada à luz dos seus
princípios constitucionais. Essa quantia com uma finalidade sancionatória, repressiva,
deverá ser classificada como uma multa (distinguindo a multa aplicada em resultado da
prática de um crime da “multa” aplicada em resultado de uma mera trangressão
administrativa ou tributária).

Em conclusão, como distinguir, sob os pontos de vista financeiro e jurídico, imposto e


taxa?
 Critérios de distinção entre imposto e taxa apresentados pela doutrina: o critério
financeiro ou da divisibilidade e o critério jurídico ou da sinalagmaticidade. Explicar.
 A relevância do critério jurídico ou da sinalagmaticidade.
 Sinalagmaticidade: correspondência jurídica e correspondência económica.

15
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

 O imposto é um tributo unilateral ou não sinalagmático (art. 3.º, n.º 5, do CGT) e a


taxa é um tributo bilateral ou sinalagmático (art. 3.º, n.º 7, do CGT e art. 4.º, n.º 1, al. a), do
RGT – tipos de taxas).
 O imposto funda-se no princípio da capacidade contributiva (art. 88.º da CRA) e a
taxa funda-se no princípio da proporcionalidade prestação/contraprestação, entendido
como princípio da equivalência, princípio da cobertura de custos ou princípio do benefício
(art. 88.º da CRA e art. 9.º do RGT).
 A qualificação formal dos tributos atribuída pelo legislador nem sempre é
coincidente com a sua real natureza jurídica bilateral ou unilateral (princípio da
prevalência da substância sobre a forma).

/////\\\\\/////\\\\\/////\\\\\/////\\\\\/////\\\\\/////\\\\\/////\\\\\
Questões: 1) Relacione definitividade do imposto e restituição do imposto. 2) Apresente
dois elementos distintivos do imposto em face do preço. 3) Apresente dois elementos
distintivos do imposto em relação ao empréstimo público.

5. A classificação dos tributos em impostos, taxas e contribuições especiais.


Contribuições especiais: contribuições de melhoria e contribuições de maior desgaste.
Análise de algumas figuras tributárias em especial: as contribuições para a
Segurança Social e a Taxa de Circulação e Fiscalização de Trânsito.

Bibliografia: ELISA RANGEL NUNES, Lições de Finanças Públicas e de Direito Financeiro, 5.ª ed., Luanda,
2014, pp. 269-270; JOSÉ CASALTA NABAIS, Direito Fiscal, 6.ª ed., Almedina, Coimbra, 2011, pp. 27-33; JOSÉ
CASALTA NABAIS, O Dever Fundamental de Pagar Impostos, Coimbra, Almedina, 2012, pp. 321 e ss;
AMÉRICO FERNANDO BRÁS CARLOS, Impostos. Teoria Geral, 4.ª ed., Almedina, Coimbra, 2014, pp. 38-41 e
43-45; J. L. SALDANHA SANCHES/JOÃO TABORDA DA GAMA, Manual de Direito Fiscal Angolano, Coimbra
Editora, Coimbra, 2010, pp. 42-52; JÓNATAS E. M. MACHADO/PAULO NOGUEIRA DA COSTA/OSVALDO
MACAIA, Direito Fiscal Angolano Segundo a Reforma de 2014, Coimbra Editora, Coimbra, 2015, pp. 25-28;
HERMENEGILDO FM KOSI, «Direito Fiscal», in Direito de Angola, 2.ª ed., Faculdade de Direito da
Universidade Agostinho Neto, Luanda, 2014, pp. 305-360.

A classificação dos tributos em impostos, taxas e contribuições especiais. Contribuições


especiais: contribuições de melhoria e contribuições de maior desgaste. Classificação
tripartida dos tributos: art. 3.º, n.º 4, do CGT. Contribuições especiais: O art. 3.º, n.º 6, al.
a), do CGT classifica as contribuições especiais em: contribuições de melhoria e
contribuições de maior desgaste. Contribuições de melhoria: Assentam na obtenção, pelo
sujeito passivo, de benefícios ou aumentos de valor dos seus bens em resultado de obras
públicas ou da criação e ampliação de serviços públicos. E porque é que aqui não se trata
de uma taxa? Porque a vantagem para quem paga não é resultado de uma actividade do
ente público a si dirigida, mas de uma obra que indirectamente o beneficiou, por exemplo.
Contribuições de maior desgaste: Assentam no especial desgaste de bens públicos
ocasionado pelo exercício de uma actividade (portanto, assentam na necessidade de
compensar o sujeito público pelo uso anormal de bens ou serviços públicos por parte de
certos particulares, os quais oneram, pelas maiores despesas públicas, mais gravemente as

16
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

finanças do Estado ou deterioram os bens públicos). Em algumas ordens jurídicas, a


circulação de veículos pesados dá origem ao pagamento do imposto de camionagem (Cfr.
ELISA RANGEL NUNES, pp. 269-270).

“As contribuições especiais


(...)
A satisfação individual é ocasional e indirecta, não resulta directamente dos fins da
actividade estadual que lhe dá origem, nem por outro lado, resulta dela, qualquer
contraprestação específica, daí que a contribuição especial não se confunda com a taxa.
Embora conceptualmente, do ponto de vista financeiro, sejam tributos autónomos, num
plano estritamente jurídico, as contribuições especiais são tratadas, pela lei, como
verdadeiros impostos.
Os contribuintes são definidos por forma geral e abstracta, pois as satisfações divisíveis
que auferem não são individualizáveis com referência à actuação de um serviço ou ao
comportamento de um sujeito.
A ausência de autonomia jurídica e a reduzida importância actual da noção financeira
de satisfação divisível reputam as contribuições especiais como verdadeiros impostos.”
(Cfr. ELISA RANGEL NUNES, p. 270).

Análise de algumas figuras tributárias em especial:


1) As contribuições para a segurança social. Lei n.º 7/2004, de 15 de Outubro – Lei
de Bases de Protecção Social. Decreto Presidencial n.º 227/2018, de 27 de Setembro –
estabelece o Regime Jurídico de Vinculação e de Contribuição da Protecção Social
Obrigatória (RJVCPSO). A protecção social obrigatória tem carácter contributivo e
assenta na lógica de seguro (cfr. J. L. SALDANHA SANCHES/JOÃO TABORDA DA GAMA, p.
44). Contribuições obrigatórias que incidem sobre os rendimentos do trabalho: taxa de
11% (dividida em duas parcelas, de 3% paga pelo trabalhador, e de 8% a cargo do
empregador) [cfr. art. 12.º, n.º 1, do RJVCPSO]. Podemos considerar os 3% pagos pelo
trabalhador uma verdadeira taxa (tributo bilateral)? Não. Embora a lógica da contribuição
do trabalhador se aproxime do princípio do benefício e da estrutura sinalagmática /
comutativa (“lógica de troca”) que caracterizam a taxa, o benefício (ex.: pensão de reforma
por velhice) apenas terá lugar apenas no futuro. Por isso se diz que estas contribuições se
afastam da taxa. E perguntamos também: podemos considerar os 8% pagos pelo
empregador um verdadeiro imposto, considerando que a entidade empregadora não recebe
qualquer contraprestação pública individualizada? Não. O destino que é dado ao imposto e
às contribuições para a Segurança Social é diferente: os primeiros visam a cobertura de fins
gerais do Estado, ao passo que as segundas têm por finalidade a cobertura de um risco
social. A contribuição para a Segurança Social tem sido caracterizada como uma
«contribuição parafiscal» ou «tributo parafiscal de natureza social» e não como um
imposto. (Cfr. SALDANHA SANCHES/JOÃO TABORDA DA GAMA, pp. 43-47; JOSÉ CASALTA
NABAIS, p. 32; JÓNATAS E. M. MACHADO/PAULO NOGUEIRA DA COSTA/OSVALDO MACAIA,
p. 24.)
J. L. SALDANHA SANCHES e JOÃO TABORDA DA GAMA rejeitam a classificação da
contribuição para a Segurança Social que incide sobre os rendimentos do trabalho como

17
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

um imposto sobre o rendimento, definindo-a como uma contribuição especial, “um tributo
com uma taxa proporcional suportado, em parte, pela entidade patronal e, noutra parte,
pelos tabalhadores” (p. 48).
Ver o art. 3.º, n.º 6, al. b), e n.º 9 do CGT.
Há, ainda, doutrina que define as contribuições para a Segurança Social como prémios
de seguro público. (Cfr. AMÉRICO FERNANDO BRÁS CARLOS, pp. 40-41.)
Alargamento da discussão: o debate nos países desenvolvidos ocidentais sobre o
problema da sustentabilidade da segurança social, devido às baixas taxas de natalidade,
diminuição da população activa e envelhecimento das populações.

2) Taxa de Circulação e Fiscalização de Trânsito. Decreto n.º 72/05, de 28 de


Setembro – Regulamento de Cobrança da Taxa de Circulação e Fiscalização de Trânsito,
através dos Selos de Circulação. Discussão: Terá a natureza jurídica de uma taxa (tributo
bilateral) ou de um verdadeiro imposto (tributo unilateral)? Será uma contribuição
financeira? Ou uma contribuição especial de maior desgaste?
SALDANHA SANCHES/JOÃO TABORDA DA GAMA, p. 43: “Vejamos um exemplo de
contribuição no ordenamento jurídico angolano: a Taxa de Circulação e Fiscalização de
Trânsito. Esta contribuição é devida pelos proprietários dos veículos automóveis e
motociclos. Existem diversos tipos de selos cujo valor é fixado anualmente pelo Ministro
das Finanças. Este valor tem em conta o tipo de veículos e, consequentemente, o desgaste
que provocam nas vias, razão pela qual existem selos de circulação de veículos ligeiros,
veículos pesados e motociclos”.
Texto de base para debate:
“O caso da taxa de circulação.
No contexto das figuras tributárias que se aproximam do imposto e que com ele
tendencialmente se confundem, merece uma referência de inegável relevância a Taxa de
Circulação e Fiscalização de Trânsito, vulgarmente conhecida por taxa de circulação,
actualmente regulada pelo Decreto n.º 72/05, de 28 de Setembro, conjugado com o
Decreto Executivo do Ministro das Finanças n.º 213/12, de 26 de Julho.
O essencial da problemática que se levanta à sua volta prende-se com a preocupação
de saber se de um imposto ou de uma taxa se trata.
Curiosamente Saldanha Sanches e João Taborda da Gama, sem assumir claramente
uma posição sobre a verdadeira natureza da taxa de circulação e consequentemente sobre
a questão que se suscita, acabam, simplesmente, por qualificá-la, juntamente com a
Contribuição para a Formação de Quadros Angolanos como sendo uma contribuição
baseada no princípio da equivalência, como critério de tributação, e que abrangem em
regra uma categoria ou grupo de contribuintes homogéneos entre si. Segundo o referido
autor, esta homogeneidade justifica a incidência daquele encargo tributário especialmente
sobre o grupo, em razão da conexão do grupo a um fim público que se pretende alcançar,
como é o caso da responsabilidade de grupo, ou em razão do potencial aproveitamento
daquele grupo, face aos demais membros da sociedade.
Não obstante o entendimento daqueles autores, julgamos que para a adopção de um
posicionamento em relação à questão que se levanta, não é dispensável uma aboragem à
volta do regime formal e material da taxa de circulação.

18
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

De acordo com o disposto no n.º 1 do art. 3.º do Decreto 75/05, de 28 de Setembro,


conjugado com o disposto no art. 2.º do Decreto Executivo n.º 213/12, de 26 de Julho, a
taxa de circulação tem a sua incidência objectiva abrangente sobre os veículos ligeiros,
pesados e motociclos. Tal como nos direitos alfandegários e no imposto de consumo
devido nas operações de importação de veículos, o critério de fixação do montante a
pagar são as cilindradas dos veículos, na lógica de que quanto maior a cilindrada maior
será o valor a pagar e vice-versa. No entanto, a incidência do imposto de consumo não se
confunde com a taxa de circulação, isto é, trata-se de um encargo devido pela circulação e
não pela aquisição do veículo ou motociclo.
Pela norma do art. 4.º do Decreto Executivo n.º 213/12, de 26 de Julho, pode inferir-se
que o encargo é devido pelos proprietários dos veículos e motociclos, mas a prática tem
mostrado que o mesmo é igualmente devido pelos meros possuidores de veículos e
motociclos, dada a tamanha burocracia que se tem assistido na obtenção do título de
propriedade automóvel, junto da Conservatória do Registo da Propriedade Automóvel.
Em regra a taxa de circulação é anual, sendo exigível nos meses de Agosto a Novembro
do ano seguinte ao da circulação, abrangendo igualmente as viaturas que entrarem em
circulação nos meses de Janeiro a Novembro desse mesmo ano, al. a) art. 3.º Decreto
213/12, de 26 de Junho. Não obstante esta regra, as viaturas que entrarem em circulação
em Dezembro desse mesmo ano encontram-se igualmente sujeitas, devendo o respectivo
pagamento tornar-se exigível nos 30 dias seguintes ao da sua entrada em circulação.
O não pagamento da taxa de circulação, no prazo legal, implica o pagamento devido
acrescido de 50% do valor, a título de multa.
A liquidação e pagamento da taxa de circulação são efectuados junto das Repartições
Fiscais, ou de agentes autorizados, sendo concretizada por meio de selos de circulação
definidos nos anexos ao Decreto n.º 75/05, de 28 de Setembro.
A fiscaliação da taxa de circulação é efectuada pelos efectivos da polícia de trânsito, de
acordo com as normas do Código de Estrada. E a nós não ofende que haja por parte das
Repartições Fiscais, poderes inspectivos e de fiscalização face a esse encargo tributário.
Face a esta breve exposição sobre o regime jurídico da taxa de circulação não haja
dúvidas de que do ponto de vista material ou substancial estamos em presença de um
verdadeiro imposto sobre circulação automóvel. Este aspecto é claramente visível nas
suas inequívocas unilateralidade (ninguém recebe nenhuma contrapartida directa e
imediata, nem mesmo deferida, pelo pagamento da taxa de circulação) e definitividade, no
essencial do seu critério de tributação que abrangendo a circulação de veículos não deixa
de atender à capacidade contributiva, ainda que indirectamente aferida, bem como na
finalidade que se dá à receita daí resultante, satisfação das necessidades comuns de toda a
colectividade.” (Vide HERMENEGILDO FM KOSI, «Direito Fiscal», in Direito de Angola, 2.ª
ed., Faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto, Luanda, 2014, pp. 324-327.)
Ver: Proposta de Lei – Imposto sobre os Veículos Motorizados.

6. As fontes do Direito Fiscal. Em especial, a Constituição.

Conceito de fontes do direito: No sentido técnico-jurídico, chamam-se fontes do Direito


“os processos de criação das normas jurídicas e o modo como elas se revelam” (cfr.

19
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

INOCÊNCIO GALVÃO TELLES, Introdução ao Estudo do Direito, Vol. I, 11.ª ed., Coimbra
Editora, Coimbra, 2001, p. 63). Dito de outra forma: são modos de formação e revelação
de normas jurídicas. (Cfr. OLIVEIRA ASCENSÃO, O Direito: Introdução e Teoria Geral,
Almedina, Coimbra, 1999, p. 244.)

Fontes do Direito Fiscal. Fontes internas: normas constitucionais, normas legais,


normas regulamentares (sobre os regulamentos internos, vide art. 7.º do CGT). Fontes não
internas: os ADT – Acordos de Dupla Tributação (também chamados de Convenções para
eliminar a Dupla Tributação (CDT), são tratados bilaterais para evitar a dupla tributação
internacional e a fraude e evasão fiscais, tendo Angola assinado o seu primeiro ADT com
os Emirados Árabes Unidos, e o segundo com Portugal).

6.1. O princípio da legalidade fiscal: A lei como a base da decisão administrativa; A


Assembleia Nacional e a criação da lei fiscal; O papel do orçamento. As
autorizações legislativas.

Bibliografia: JOSÉ CASALTA NABAIS, Direito Fiscal, 6.ª ed., Almedina, Coimbra, 2011, pp. 133-143;
AMÉRICO FERNANDO BRÁS CARLOS, Impostos. Teoria Geral, 4.ª ed., Almedina, Coimbra, 2014, pp. 88-118;
J. L. SALDANHA SANCHES/JOÃO TABORDA DA GAMA, Manual de Direito Fiscal Angolano, Coimbra Editora,
Coimbra, 2010, pp. 79-93; JÓNATAS E. M. MACHADO/PAULO NOGUEIRA DA COSTA/OSVALDO MACAIA,
Direito Fiscal Angolano Segundo a Reforma de 2014, Coimbra Editora, Coimbra, 2015, pp. 64-72.

O princípio da legalidade fiscal na sua origem traduzia o seguinte entendimento: os


impostos devem ser consentidos pelos próprios contribuintes, através dos seus
representantes. Uma regra que tem as suas origens históricas na Idade Média, expressa em
diversos documentos, donde se destaca a Magna Carta Libertatum inglesa (1215) que
incluiu o compromisso de João Sem-Terra de não lançar tributos “sem o consentimento do
Conselho Geral do Reino”. Surge, então, aqui, o conhecido princípio da “no taxation
without representation”. O princípio da legalidade fiscal tem na base a ideia de
autoimposição, autotributação ou de autoconsentimento dos impostos. (Cfr. JOSÉ
CASALTA NABAIS, Direito Fiscal, pp. 133-134; JOSÉ CASALTA NABAIS, O Dever
Fundamental de Pagar Impostos, pp. 321 e ss; AMÉRICO FERNANDO BRÁS CARLOS, p. 89.)
Assim: os impostos são cobrados com base no consentimento dos contribuintes
previamente dado através dos seus representantes na Assembleia Nacional no momento da
sua criação e disciplina de todos os seus elementos essenciais (vide art. 141.º, n.º 2, da
CRA: “A Assembleia Nacional é um órgão unicamaral, representativo de todos os
angolanos, que exprime a vontade soberana do povo e exerce o poder legislativo do
Estado.” [sublinhado nosso]).

A doutrina aponta como corolários do princípio da legalidade fiscal: a) Preeminência da


lei; b) Reserva de lei formal; c) Tipicidade.
a) Preeminência da lei: a actuação da Administração fiscal está subordinada à lei e as
competências dos seus órgãos são definidas por lei. Não há Administração sem lei ou, se
quisermos, na expressão sintética trazida por AMÉRICO FERNANDO BRÁS CARLOS: “não há

20
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

imposto, nem actividade tributária, sem lei”. (AMÉRICO FERNANDO BRÁS CARLOS, p. 90)
Nota: Ver neste contexto o art. 6.º da CRA (sobre o princípio da legalidade geral) e o art.
198.º da CRA (quanto aos princípios constitucionais da actividade administrativa).

b) Reserva de lei formal (reserva de lei parlamentar): em matéria de criação de


impostos e disciplina dos seus elementos essenciais, há uma exigência de reserva de lei
formal. Lei formal é lei da Assembleia Nacional. Nos termos do art. 165.º, n.º 1, al. o), da
CRA, sob a epígrafe “Reserva relativa de competência legislativa”, diz-se: “À Assembleia
Nacional compete legislar com reserva relativa, salvo autorização concedida ao
Executivo, sobre (…) a criação de imposto e sistema fiscal, bem como o regime geral das
taxas e demais contribuições financeiras a favor das entidades públicas.” E, também, sob
a epígrafe “Impostos”, estabelece o art. 102.º, n.º 1, da CRA: “Os impostos só podem ser
criados por lei, que determina a sua incidência, a taxa, os benefícios fiscais e as garantias
dos contribuintes.” A Assembleia Nacional é o legislador originário ou o legislador
autorizante do Executivo no que respeita à criação dos impostos e disciplina dos elementos
essenciais da relação de imposto: incidência, taxa, benefícios fiscais e garantias dos
contribuintes. (AMÉRICO FERNANDO BRÁS CARLOS, pp. 90-91.)
Conceitos:
o Incidência: inclui a incidência real ou objectiva (conjunto de pressupostos que
define a realidade sujeita a imposto) e a incidência pessoal ou subjectiva (conjunto de
pressupostos que define o sujeito passivo da obrigação de imposto). Quando se verifica
cumulativamente o pressuposto de incidência real e o pressuposto de incidência pessoal
temos o facto tributário ou o facto gerador do imposto. Tem-se entendido que fica dentro
da reserva de lei formal a definição do quê (o facto tributável), do quem (o sujeito passivo)
e do quantum da base tributável (base da medida do sacrifício patrimonial exigido).
(AMÉRICO FERNANDO BRÁS CARLOS, pp. 69-70 e 93-94.)
o Taxa: é a percentagem ou o valor que aplicado à matéria colectável dá a colecta/o
valor do imposto a pagar (vide art. 2.º, n.º 1, al. e) do CGT). Atenção! Não confundir a taxa
de imposto a que se refere o art. 102.º, n.º 1, da CRA, com a taxa enquanto tributo bilateral.
O termo “taxa” refere-se a duas realidades bem diferentes, já por nós estudadas.
o Benefícios fiscais: expressão entendida num sentido amplo, que abrange qualquer
tipo de tratamento fiscal mais favorável que o comum, ou seja, reflecte qualquer norma
cujo resultado seja uma diminuição da dívida do imposto (ex.: reporte de prejuízos das
empresas, normas dos ADT que evitam a dupla tributação, isenções, etc.). Vide art. 2.º, n.º
1, al. b), e art. 16.º e ss, do CGT. Identificar as «isenções fiscais» com os benefícios fiscais.
Distinguir as «isenções fiscais» da «não-tributação» ou «não-sujeição». SALDANHA
SANCHES/JOÃO TABORDA DA GAMA, p. 463: “A isenção conterá, pois, a natureza de uma
excepção a uma determinada regra, previamente formulada através de uma expressa
previsão legal. A não tributação, por seu turno, teria a natureza de um espaço perante o
qual se deteria a previsão operada pela norma, um espaço juridicamente vazio. Ora, onde
não há regra, não pode haver excepção.” As isenções fundam-se em razões de ordem
extrafiscal e a não-tributação em razões de ordem fiscal. (Cfr. SALDANHA SANCHES/JOÃO
TABORDA DA GAMA, pp. 463-466.). Trazer a isenção como «despesa fiscal» (dinheiro que

21
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

deixa de entrar nos cofres públicos). O conceito de «férias fiscais». (Vide JÓNATAS E. M.
MACHADO/PAULO NOGUEIRA DA COSTA/OSVALDO MACAIA, p. 25).
o Garantias dos contribuintes: “incluem-se todas as normas que consagram meios de
defesa dos particulares em face da prática, ou da omissão, de actos da Administração fiscal
que lesem direitos ou interesses legítimos, bem como as prerrogativas gerais concedidas
aos particulares em matéria fiscal.” (AMÉRICO FERNANDO BRÁS CARLOS, p. 95.)

Para discussão: O princípio da legalidade fiscal e o art. 4.º, n.º 4, do CGT. A fonte
deste princípio é a CRA ou o CGT?

Leis de autorização legislativa: no caso de autorização legislativa haverá intervenção da


lei parlamentar, mas a concretização legislativa das suas directrizes será deixada para o
Executivo. Como sublinha AMÉRICO FERNANDO BRÁS CARLOS, p. 104, a Lei em que a
Assembleia Nacional autoriza o Executivo a legislar não é um cheque em branco. Nos
termos do n.º 1 do art. 170 da CRA, “as leis de autorização legislativa devem definir o seu
objecto, sentido, extensão e duração”. Quanto à duração das autorizações legislativas
concedidas na lei do OGE, que incidam sobre matéria fiscal, só caducam no termo do ano
fiscal a que respeitam. (art. 170.º, n.º 4, da CRA).

Pergunta-se: Pode haver decretos legislativos presidenciais provisórios (art. 126.º da


CRA) em matéria fiscal que é sujeita à reserva de lei?

c) Tipicidade: O princípio da tipicidade é um corolário do princípio da legalidade


fiscal e que se traduz no brocardo “nullum tributum sine lege”, o que significa que é a lei
que define os impostos e determina os seus elementos essenciais. A proibição da analogia
(vide art. 6.º, n.º 2, do CGT).

Ver art. 102.º, n.º 1, da CRA:


Princípio da tipicidade

“Os impostos só podem ser criados por lei, que determina a sua incidência, a taxa, os
benefícios fiscais e as garantias dos contribuintes.”

Para discutir em sala de aula: Por exemplo, o conceito de lucro tributável é definido
como um conceito “normativo” e, em certa medida, indeterminado. Veja-se o elenco
meramente exemplificativo de “Proveitos ou ganhos” (art. 13.º - “designadamente”) e
“Custos ou gastos” (art. 14.º - “nomeadamente”) do Código do Imposto Industrial (CII).
Estamos perante uma tipicidade aberta que não é inconstitucional; este grau de
indeterminação não colide com o princípio da segurança tributária ou da protecção da
confiança.

22
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

6.2. O princípio da capacidade contributiva como princípio ordenador das normas


fiscais: a igualdade do sacrifício. A justa distribuição dos encargos tributários.

Bibliografia: JOAQUIM FREITAS DA ROCHA/MARCO CARVALHO GONÇALVES, Direito Fiscal: Elementos de


Apoio, 2ª ed., AEDUM, Braga, 2005, p. 168; AMÉRICO FERNANDO BRÁS CARLOS, Impostos. Teoria Geral,
4.ª ed., Almedina, Coimbra, 2014, pp. 118-122; JOSÉ CASALTA NABAIS, Direito Fiscal, 6.ª ed., Almedina,
Coimbra, 2011, pp. 149-153; JÓNATAS E. M. MACHADO/PAULO NOGUEIRA DA COSTA/OSVALDO MACAIA,
Direito Fiscal Angolano Segundo a Reforma de 2014, Coimbra Editora, Coimbra, 2015, pp. 58-61 e 84-90; J.
L. SALDANHA SANCHES/JOÃO TABORDA DA GAMA, Manual de Direito Fiscal Angolano, Coimbra Editora,
Coimbra, 2010, pp. 165-199; JOAQUIM FREITAS DA ROCHA/MARCO CARVALHO GONÇALVES, Direito Fiscal:
Elementos de Apoio, 2ª ed., AEDUM, Braga, 2005, p. 168.

O princípio da capacidade contributiva como critério de igualdade fiscal.


O princípio da igualdade fiscal vem associado à ideia de justa repartição da carga fiscal.
É um conceito relacional, onde teremos, de um lado, o sacrifício patrimonial resultante do
imposto e, do outro, a concreta capacidade contributiva dos particulares. (AMÉRICO
FERNANDO BRÁS CARLOS, p. 118)
O princípio da igualdade fiscal está consagrado no art. 88.º da CRA e decorre do
princípio geral da igualdade (art. 23.º da CRA). A igualdade fiscal vem densificada nas
seguintes exigências: generalidade (os impostos, tendencialmente, devem ser exigidos a
todas as pessoas) e uniformidade (os critérios de repartição dos impostos devem ser iguais
para todos). Os princípios básicos nesta matéria são: o princípio do benefício (exigência
dos impostos junto daqueles que retiram maiores benefícios (utilidades) dos bens públicos.
A aplicação deste princípio pode gerar injustiças na tributação dos sujeitos mais
carenciados) e o princípio da capacidade contributiva (a exigência dos impostos em
função da capacidade contributiva (definida como a aptidão para contribuir para as
despesas públicas). São factores determinantes da capacidade contributiva: o rendimento; a
utilização do rendimento (consumo e despesa); e o património. (JOAQUIM FREITAS DA
ROCHA/MARCO CARVALHO GONÇALVES, p. 168)

“Artigo 101.º
(Sistema fiscal)
O sistema fiscal visa satisfazer as necessidades financeiras do Estado e outras entidades
públicas, assegurar a realização da política económica e social do Estado e proceder a
uma justa repartição dos rendimentos e da riqueza nacional.” (sublinhado nosso)

Norma programática
GOMES CANOTILHO: normas programáticas são normas-fim ou normas-tarefa que
vinculam o legislador ordinário a agir no sentido da sua realização.

23
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

Decorrem daqui duas consequências: 1.º) Os impostos devem operar uma redistribuição
da riqueza e tal não seria possível num sistema onde todos, apesar das diferenças de
riqueza, pagassem o mesmo valor de imposto; 2.º) Uma justa repartição só se consegue
com a regra de que as pessoas devem pagar impostos de acordo com a sua capacidade
contributiva. (Por exemplo, os impostos progressivos funcionam como instrumento de
igualdade tributária.) [AMÉRICO FERNANDO BRÁS CARLOS, p. 119]
A igualdade fiscal tem sido entendida em dois sentidos: igualdade em sentido
horizontal (quando pessoas nas mesmas condições pagam o mesmo imposto) e igualdade
em sentido vertical (quando pessoas em condições diferentes pagam diferentes impostos,
na medida da diferença). [AMÉRICO FERNANDO BRÁS CARLOS, pp. 120-121.] Na clássica
lição de ARISTÓTELES: “igualdade é tratar igualmente os iguais e desigualmente os
desiguais, na medida da sua desigualdade.”

Em conclusão:

Princípio da igualdade tributária


(Vide art. 23.º da CRA)
“Artigo 88.º
(Dever de contribuição)
Todos têm o dever de contribuir para as despesas públicas e da sociedade, em função da
sua capacidade económica e dos benefícios que aufiram, através de impostos e taxas, com
base num sistema tributário justo e nos termos da lei.” (sublinhado nosso)

Princípio da legalidade fiscal


Princípio da capacidade contributiva (Art. 102.º, n.º 1, da CRA)
(Cfr. art. 101.º, in fine, da CRA)

6.3. O princípio da segurança tributária ou da protecção da confiança. Os sub-princípios


da proporcionalidade e da proibição de leis fiscais com efeitos retroactivos.

Bibliografia: AMÉRICO FERNANDO BRÁS CARLOS, Impostos. Teoria Geral, 4.ª ed., Almedina, Coimbra,
2014, pp. 122-132; JÓNATAS E. M. MACHADO/PAULO NOGUEIRA DA COSTA/OSVALDO MACAIA, Direito
Fiscal Angolano Segundo a Reforma de 2014, Coimbra Editora, Coimbra, 2015, pp. 72-83.

O princípio da segurança tributária ou da protecção da confiança decorre do art. 2.º da


CRA (Estado Democrático de Direito). São duas as consequências do princípio da
segurança tributária ou da protecção da confiança: a proibição da retroactividade (vide art.
102.º, n.º 2, da CRA e art. 8.º do CGT) e o princípio da proporcionalidade. [Atenção: uma

24
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

norma pode não ser retroactiva mas pode violar o princípio da proporcionalidade, se a lei
nova, por exemplo, alterar de forma gravosa e inesperada uma taxa imposto (imaginemos
de 15% para 45%.]

6.4. O princípio da protecção jurisdicional efectiva.

Bibliografia: JÓNATAS E. M. MACHADO/PAULO NOGUEIRA DA COSTA/OSVALDO MACAIA, Direito Fiscal


Angolano Segundo a Reforma de 2014, Coimbra Editora, Coimbra, 2015, pp. 83-84.

O princípio da protecção jurisdicional efectiva (art. 29.º da CRA): princípio da


impugnabilidade e recorribilidade de todos os actos em matéria tributária que lesem
direitos ou interesses legalmente protegidos (arts. 4.º e ss do Código do Processo
Tributário); Direito a um processo equitativo (art. 29.º, n.º 4, da CRA). [JÓNATAS E. M.
MACHADO/PAULO NOGUEIRA DA COSTA/OSVALDO MACAIA, pp. 83-84].

7. Algumas classificações dos impostos

Bibliografia: JOAQUIM FREITAS DA ROCHA/MARCO CARVALHO GONÇALVES, Direito Fiscal: Elementos de


Apoio, 2ª ed., AEDUM, Braga, 2005, pp. 164-168; AMÉRICO FERNANDO BRÁS CARLOS, Impostos. Teoria
Geral, 4.ª ed., Almedina, Coimbra, 2014, pp. 45-56; JOSÉ CASALTA NABAIS, Direito Fiscal, 6.ª ed.,
Almedina, Coimbra, 2011, pp. 42-64; JÓNATAS E. M. MACHADO/PAULO NOGUEIRA DA COSTA/OSVALDO
MACAIA, Direito Fiscal Angolano Segundo a Reforma de 2014, Coimbra Editora, Coimbra, 2015, pp. 177-
192; J. L. SALDANHA SANCHES/JOÃO TABORDA DA GAMA, Manual de Direito Fiscal Angolano, Coimbra
Editora, Coimbra, 2010, pp. 385-453.

Algumas classificações dos impostos:


Quanto às finalidades: impostos fiscais e impostos extrafiscais. “Os impostos fiscais
enquanto impostos que têm por finalidade, unicamente, a obtenção de receitas para o
Estado e os impostos extrafiscais enquanto impostos que, para além dessa, têm outra(s)
finalidade(s).” (JOAQUIM FREITAS DA ROCHA/MARCO CARVALHO GONÇALVES, p. 164.)
Exemplo de impostos extrafiscais: os impostos aduaneiros quando visam desincentivar as
importações. Os impostos extrafiscais prosseguem objectivos de ordem económica e
social. (JOSÉ CASALTA NABAIS, p. 64.)
Quanto à natureza do sujeito activo: impostos estaduais e impostos não estaduais. “Os
impostos estaduais enquanto impostos cujo sujeito activo é o Estado (ente público maior) e
os impostos não-estaduais enquanto impostos cujo sujeito activo é um ente público
menor”. (JOAQUIM FREITAS DA ROCHA/MARCO CARVALHO GONÇALVES, p. 165.)
Quanto ao âmbito territorial de aplicação: impostos gerais e impostos locais. “Os
impostos gerais enquanto impostos cujo âmbito territorial de aplicação se estende a todo o
território de um ordenamento tributário e os impostos locais enquanto impostos cujo
âmbito territorial se circunscreve a uma parcela delimitada do território de um
ordenamento.” (JOAQUIM FREITAS DA ROCHA/MARCO CARVALHO GONÇALVES, p. 165.)

25
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

Consultar os artigos 102.º, n.º 3 e 215, n.º 2, ambos da CRA, e o art. 3.º, n.os 1, 2 e 3, do
CGT.
Quanto à consideração de elementos de personalização: impostos pessoais e impostos
reais. “Os impostos pessoais enquanto impostos que atendem à situação económica, social
ou familiar do sujeito passivo e os impostos reais enquanto impostos que desatendem a tal
situação.” Exemplos de factores de personalização dos impistos: a isenção do mínimo de
existência e a existência de taxas progressivas. (JOAQUIM FREITAS DA ROCHA/MARCO
CARVALHO GONÇALVES, p. 165.)
Quanto à incidência sobre a capacidade contributiva: impostos directos e impostos
indirectos. Há vários critérios de distinção entre impostos directos e impostos indirectos: o
critério da manifestação directa ou indirecta da capacidade contributiva; o critério da
permanência ou intermitência das manifestações da capacidade contributiva; o critério do
lançamento administrativo; o critério do rol nominativo; o critério da repercussão. Vamos
desenvolver aqui apenas este último. “Impostos directos serão aqueles que não são
susceptíveis de repercussão e impostos indirectos serão aqueles que são susceptíveis de
repercussão.” (JOAQUIM FREITAS DA ROCHA/MARCO CARVALHO GONÇALVES, p. 166.) A
repercussão consiste na transferência do encargo tributário para outra pessoa. Ex.: No
Imposto de Consumo aquele que deve o imposto (como é o caso do prestador de serviços
de telecomunicações, do prestador de serviços de segurança privada, do prestador de
serviços de consultoria, do prestador de serviços de informática, etc.) vai repercuti-lo no
consumidor final. Isto é, o consumidor final é quem vai suportar economicamente o
imposto devido, uma vez que ao contratar o serviço o imposto está incluído no preço. Ver
o art. 28.º, n.º 5, do CGT: «Não é sujeito passivo (...) quem suporte por mera repercussão o
encargo económico do imposto.» Como veremos, o «contribuinte indirecto» não é sujeito
passivo na relação jurídica tributária. Impostos directos: impostos sobre o rendimento e
sobre o património. Impostos indirectos: impostos sobre o consumo, o IVA.
Quanto à diferente estabilidade das faculdades contributivas (AMÉRICO FERNANDO
BRÁS CARLOS, p. 48): impostos periódicos e impostos de obrigação única. Os impostos
períódicos (ou impostos duradouros) têm uma periodicidade regular, em regra anual, sendo
o facto gerador do imposto é de formação sucessiva no tempo (ex.: Imposto Industrial), ao
passo que os impostos de obrigação única (ou impostos instantâneos) não têm uma
periodicidade regular, uma vez que o facto que faz nascer a obrigação de pagar imposto se
traduz na prática de um acto instantâneo (ex.: Imposto de Consumo; impostos aduaneiros
pagos no acto de desembaraço alfandegário de bens importados). [Cfr. AMÉRICO
FERNANDO BRÁS CARLOS, p. 55.]
Quanto à taxa: impostos proporcionais, progressivos e regressivos. Impostos
proporcionais: são impostos em que a taxa é fixa. O imposto aumenta proporcionalmente
em face do aumento da matéria colectável. Impostos progressivos: são impostos em que a
taxa sobe à medida que aumenta a matéria colectável. Aqui, o imposto aumenta mais do
que proporcionalmente em relação ao aumento da matéria colectável. Nota: A partir do
último escalão, os impostos progressivos funcionam como impostos proporcionais.
Impostos regressivos: são impostos em que a taxa diminui à medida que aumenta a matéria
colectável. (Cfr. AMÉRICO FERNANDO BRÁS CARLOS, pp. 53-54).
Quanto à liquidação: impostos autoliquidáveis e impostos heteroliquidáveis.

26
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

Quanto à cobrança: impostos de cobrança directa e impostos de cobrança indirecta. A


cobrança indirecta como sinónimo de substituição tributária ou retenção na fonte, e as
vantagens geralmente apontadas: maior facilidade na arrecadação da receita de imposto,
faseamento do pagamento do imposto, situações de sigilo; relações ténues com o
ordenamento jurídico tributário angolano. (JOAQUIM FREITAS DA ROCHA/MARCO
CARVALHO GONÇALVES, p. 165.) Ver o art. 2.º, n.º 1, al. u), do CGT (definição de retenção
na fonte) e o art. 45.º do CGT (substituição tributária).
Quanto à natureza da base sobre que incide a tributação (AMÉRICO FERNANDO BRÁS
CARLOS, p. 48): impostos sobre o rendimento, sobre o património e sobre o consumo. A
composição do sistema fiscal angolano.
Impostos sobre o rendimento. O conceito de rendimento segundo a teoria da fonte ou
rendimento-produto e o conceito de rendimento segundo a teoria do acréscimo patrimonial.
Distinguir: Impostos cedulares ou analíticos e Impostos únicos ou sintéticos. Impostos
cedulares ou analíticos: são aqueles que “tributam o rendimento em vários impostos
autónomos, de acordo com a fonte geradora” (AMÉRICO FERNANDO BRÁS CARLOS, p. 49).
Ex.: Imposto Industrial, Imposto sobre os Rendimentos do Trabalho, Imposto sobre
Aplicação de Capitais, Imposto Predial Urbano (rendas), em Angola. Impostos únicos ou
sintéticos: “tributam o rendimento líquido ou global do sujeito passivo ou agregado
familiar” (AMÉRICO FERNANDO BRÁS CARLOS, p. 49). Ex.: Imposto sobre o Rendimento
das Pessoas Singulares (IRS), em Portugal.
Impostos sobre o património: são os impostos que “incidem sobre a utilização, a
propriedade ou a transmissão de bens” (AMÉRICO FERNANDO BRÁS CARLOS, p. 49).
[Imposto Predial Urbano (propriedade); Impostos sobre Transacções Imobiliárias a Título
Oneroso (Sisa); Imposto sobre Sucessões e Doações (aquisições a título gratuito).]
Impostos sobre o consumo ou despesa: são os impostos que “tributam a riqueza
despendida no momento da aquisição de bens ou serviços” (AMÉRICO FERNANDO BRÁS
CARLOS, p. 50). [Imposto de Consumo, Imposto de Selo, IVA].
Ver os artigos 11.º, 12.º e 13.º do CGT.
Notas sobre a tributação aduaneira, sobre a tributação das actividades petrolíferas e do
gás e sobre a tributação da actividade diamantífera e das restantes actividades mineiras.
(Cfr. JÓNATAS E. M. MACHADO/PAULO NOGUEIRA DA COSTA/OSVALDO MACAIA, pp. 177-
180; J. L. SALDANHA SANCHES/JOÃO TABORDA DA GAMA, pp. 385-453).

8. Relações do Direito Fiscal com os outros ramos de direito

Bibliografia: JOSÉ CASALTA NABAIS, Direito Fiscal, 6.ª ed., Almedina, Coimbra, 2011, pp. 81-119.

a) O Direito Fiscal e o Direito Constitucional; b) O Direito Fiscal e o Direito


Administrativo; c) O Direito Fiscal e o Direito Privado; d) O Direito Fiscal e o Direito
Penal; e) O Direito Fiscal e o Direito Processual; f) O Direito Fiscal e o Direito
Internacional. Sugestão de leitura: JOSÉ CASALTA NABAIS, pp. 81 e ss.

27
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

9. Interpretação e integração das normas fiscais.

Bibliografia: JOSÉ CASALTA NABAIS, Direito Fiscal, 6.ª ed., Almedina, Coimbra, 2011, pp. 211-222;
ANTÓNIO BRAZ TEIXEIRA, Princípios de Direito Fiscal, 9.ª ed., Almedina, Coimbra, 1979, pp. 105-121;
NUNO DE SÁ GOMES, Manual de Direito Fiscal, vol. I, 11.ª ed., Editora Rei dos Livros, Lisboa, 2000, pp.
328-390.

Introdução: A relevância prática da matéria da interpretação das normas fiscais: a


“manipulação interpretativa de conceitos”, a prevenção de interpretações abusivas, a
evasão e fraude fiscais, a “interpretação agressiva” pela Administração tributária, e o papel
dos tribunais (Cfr. JÓNATAS E. M. MACHADO/PAULO NOGUEIRA DA COSTA/OSVALDO
MACAIA, pp. 181-183). As várias doutrinas sobre a interpretação das normas fiscais: o
princípio “in dubio pro fiscum”; o princípio “in dubio contra fiscum”; a interpretação
literal; a interpretação económica; a interpretação funcional; a posição defendida: não há
regras hermenêuticas próprias para interpretar as normas fiscais, quer dizer: as normas
fiscais interpretam-se como quaisquer outras normas jurídicas, aplicando-se também às
normas fiscais os princípios gerais da interpretação (JOSÉ CASALTA NABAIS, pp. 211-212;
NUNO DE SÁ GOMES; p. 377 e ss; ANTÓNIO BRAZ TEIXEIRA, pp. 105-121; AMÉRICO
FERNANDO BRÁS CARLOS, p. 193.) Art. 5.º, n.º 1, do CGT – a aplicação das regras e
princípios gerais de interpretação das leis em sede de interpretação das normas fiscais. Art.
5.º, n.º 2, do CGT – “Sempre que, nas normass tributárias, se empreguem termos próprios
de outros ramos de direito, devem os mesmos ser interpretados no sentido que aí têm, salvo
se outro sentido decorrer directa ou indirectamente da Lei Tributária.” Interpretação anti-
fraude das leis fiscais: o art. 27.º do CGT como cláusula geral anti-abuso (Discussão: O
art. 27.º do CGT confere poderes amplos ou restritos à Administração tributária?) “O
princípio da substância (económica) sobre a forma (jurídica).” [Cfr. JÓNATAS E. M.
MACHADO/PAULO NOGUEIRA DA COSTA/OSVALDO MACAIA, p. 188]. Integração de
lacunas e analogia. Art. 6.º do CGT – a proibição da analogia quando estão em causa
elementos essenciais do imposto (incidência, taxa de imposto, benefícios fiscais e garantias
dos contribuintes, elencados no art. 102.º, n.º 1, da CRA), por estarem abrangidos pelo
princípio da reserva lei formal (art. 165.º, n,º 1, alínea o) da CRA) e pelo princípio da
tipicidade fiscal. Art. 7.º do CGT – interpretação de despachos, instruções, circulares ou
actos internos, com realce para o n.º 2 em matéria de garantias dos contribuintes.

/////\\\\\/////\\\\\/////\\\\\/////\\\\\/////\\\\\/////\\\\\/////\\\\\

10. Exercícios resolvidos:

GRUPO I – QUESTÕES DE RESPOSTA SUCINTA

1) Relacione Direito Fiscal e Direito Financeiro.


• Direito Financeiro: É definido como o conjunto de normas jurídicas que disciplina a
actividade financeira pública. Integram o Direito Financeiro três grandes sectores: o
Direito das Receitas Públicas, o Direito das Despesas Públicas e o Direito da

28
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

Administração Financeira. O Direito das Receitas Públicas inclui o Direito das Receitas
Patrimoniais, o Direito do Crédito Público e o Direito Tributário. Por sua vez, o Direito
Tributário abrange o Direito Fiscal e o Direito das Taxas e das Contribuições.
• O Direito Financeiro é mais amplo no seu objecto do que o Direito Fiscal. O Direito
Fiscal é o conjunto de normas jurídicas que disciplina os impostos. É um sub-ramo do
Direito Tributário, ou seja, um ramo do Direito Financeiro. O Direito Fiscal é o ramo do
Direito Financeiro que disciplina as receitas tributárias unilaterais.

2) Distinga liquidação do imposto de cobrança do imposto.


• [Enquadrar a questão nas matérias dadas: Momentos da vida do imposto
(incidência; verificação do facto gerador pela actuação do contribuinte; lançamento;
liquidação; cobrança/pagamento).]
• Distinção de conceitos: A liquidação consiste na quantificação ou apuramento do
imposto a pagar (art. 2.º, n.º 1, al. o), do CGT) ao passo que o pagamento é a operação
material através da qual o imposto vai dar entrada nos cofres do Estado.
• Reforçar a distinção: Não é a liquidação que constitui ou extingue a obrigação de
pagar imposto, apenas a declara. A relação jurídica extingue-se, em regra, pelo
cumprimento, pelo pagamento. O pagamento é, assim, o último momento da vida do
imposto.

3) Relacione definitividade do imposto e restituição do imposto.


• Enquadrar a questão nas matérias estudadas: conceito de imposto (elementos) – o
imposto como prestação definitiva.
• Definitividade do imposto: significa que quanto ao imposto devido (nos termos da
lei) o contribuinte não tem direito a qualquer restituição ou reembolso.
• Restituição do imposto: ocorre quando o imposto é pago a mais ou anulado (art. 2.º,
n.º 1, al. t), do CGT).
• Relação entre conceitos: O imposto é sempre uma prestação definitiva apenas
havendo lugar a restituição do imposto indevidamente pago. A realização da prestação
definitiva (imposto devido) é um dever do contribuinte/sujeito passivo. Por outro lado, a
restituição do imposto indevidamente pago é um direito do contribuinte e um dever do
credor do imposto/sujeito activo.

4) Apresente dois elementos distintivos do imposto em face do preço.


• O imposto assenta num vínculo de natureza unilateral (art. 3.º, n.º 5, do CGT –
tributo unilateral, em virtude de a sua obrigação não constituir a contrapartida de
qualquer prestação individualizada do Estado e demais entes públicos) ao passo que o
preço assenta num vínculo de natureza bilateral (porque implica uma contrapartida
individualizada para o pagador).
• O imposto é uma prestação coactiva ou estabelecida por lei (art. 102.º, n.º 1, da
CRA) enquanto o preço decorre de um prévio vínculo contratual/vontade.

29
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

5) A obrigação de pagar um imposto constitui-se no momento da liquidação?


• Referir-se ao nascimento da obrigação do imposto/momentos da vida do imposto:
incidência; verificação do facto gerador pela actuação do contribuinte; lançamento;
liquidação; cobrança/pagamento.
• A liquidação não tem efeitos constitutivos mas efeitos meramente declarativos: tem
a função de declarar uma obrigação nascida num momento anterior, i.e., com a verificação
dos factos que definem a incidência (art. 24.º do CGT). É o que vem defender a corrente
declarativista sobre o momento do nascimento da obrigação tributária.

GRUPO II – CASOS PRÁTICOS

Caso n.º 1
“Licença de publicidade”
Suponha que o Executivo, mediante um Regulamento de Publicidade, estabelece que
a afixação de publicidade em bens ou espaços afectos ao domínio público fica,
nomeadamente, sujeita a:
a) Licenciamento prévio do respectivo Governador Provincial;
b) Pagamento de uma contrapartida;
c) Pagamento de uma quantia entre UCF 230 e UCF 1.200, relativamente às mensagens
publicitárias que não respeitem as condições previstas na respectiva licença.
Pergunta-se: Poderão as quantias referidas nas alíneas b) e c) constituir impostos?
Fundamente a sua resposta.

PROPOSTA DE RESOLUÇÃO

As questões levantadas centram-se em torno da problemática da definição do imposto e


distinção em relação a figuras afins, com consequente incidência no princípio da legalidade
em matéria fiscal.
A doutrina tem delimitado o conceito de imposto em certos elementos distintivos, e
assim se define o imposto como uma prestação patrimonial, unilateral, definitiva e
coactiva, exigida a detentores (individuais ou colectivos) de capacidade contributiva a
favor de entidades que exerçam funções públicas e para a realização dessas funções,
destacando-se que não tem carácter sancionatório (RUI CRUZ, ELISA RANGEL NUNES,
CASALTA NABAIS, SALDANHA SANCHES).
E os impostos só podem ser criados por lei (art. 102.º, n.º 1, da CRA), mas lei em
sentido formal. Isto porque o art. 165.º, n.º 1, al. o), da CRA concretiza uma exigência de
reserva de lei formal: a Assembleia Nacional é o legislador originário ou o legislador
autorizante do Executivo no que respeita à criação dos impostos e disciplina dos elementos
essenciais da relação de imposto: incidência, taxa, benefícios fiscais e garantias dos
contribuintes. O princípio da legalidade fiscal é, assim, um princípio constitucional
estruturante do Direito Fiscal (vide art. 165.º, n.º 1, al. o) conjugado com o art. 166.º, n.º 2,
al. e), art. 120, al. i) e art. 125.º, todos da CRA).

30
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

O Executivo, mediante um Regulamento de Publicidade, estabelece que a afixação de


publicidade em bens ou espaços afectos ao domínio público fica sujeita ao pagamento de
uma “contrapartida”. A quantia aqui a ser exigida nunca poderá ser um imposto uma vez
que este é um tributo com natureza unilateral (art. 3.º, n.º 5, do CGT), em virtude de a sua
obrigação não constituir a contrapartida de qualquer prestação individualizada do Estado e
demais entes públicos, e aqui o que está em causa é uma relação bilateral ou sinalagmática,
pois pela obtenção da licença está a ser exigida uma taxa, nos termos do art. 3.º, n.º 7, do
CGT. O regime geral das taxas e demais contribuições financeiras é da competência
legislativa reservada da Assembleia Nacional, já as taxas clássicas poderão ser criadas por
regulamento (presidencial). Dispõe o art. 12.º, n.º 1, da Lei sobre o Regime Geral das
Taxas que, quanto ao seu regime de aprovação, bem como a definição dos aspectos
substanciais do seu regime jurídico, as taxas estão sujeitas a aprovação pelo Presidente da
República, enquanto titular do Poder Executivo, podendo delegar aos seus órgãos
auxiliares.
No que respeita à quantia entre UCF 230 e UCF 1.200 relativamente às mensagens
publicitárias que não respeitem as condições previstas na respectiva licença, nunca poderá
ser definida como imposto, dado que a finalidade da quantia em causa é sancionatória e
não a obtenção de receitas. Nos termos do art. 165.º, n.º 1, al. t), da CRA, compete à
Assembleia Nacional legislar sobre o regime geral dos actos ilícitos de mera ordenação
social, bem como sobre o respectivo regime processual.
Concluindo: nunca as duas quantias enunciadas poderão constituir impostos.

Caso n.º 2
“Autorização legislativa”
Suponha que o Executivo, ao abrigo de autorização legislativa referente ao ano 2014,
e que, portanto, já havia caducado, procedeu, no presente ano de 2015, à actualização de
um imposto em matéria ambiental e retroagiu os seus efeitos ao ano de 2012, como
forma de compensar o facto de a actualização não ter sido feita durante o ano em que
tinha sido concedida a autorização.
António, jovem agricultor, que se dedica à produção e comercialização de cereais, foi
notificado pela Administração Fiscal, com base no diploma legislativo acima descrito,
para proceder ao pagamento de um imposto relativo à sua actividade profissional que,
nos termos preditos, mereceu, assim, uma actualização. António crê que tal imposto é
inconstitucional, primeiro, porque o Executivo legislou segundo uma autorização
legislativa que já não se encontrava em vigor e, depois, porque o mesmo retroage os seus
efeitos a 2012.
a) Pronuncie-se, desta feita, quanto à inconstitucionalidade da referida
actualização do imposto e à sua aplicação retroactiva.

(Adaptado de Luís Duarte Manso/ Leandro Caldas Esteves, Direito Fiscal. Casos Práticos
Resolvidos, Quid Iuris, Coimbra, 2010, pp. 33-39. [Disponível na Biblioteca da UGS])

31
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

PROPOSTA DE RESOLUÇÃO

(Passo 1: Situar o caso no quadro das matérias estudadas)


O caso prático em epígrafe conduz-nos a uma importante matéria no âmbito do Direito
Fiscal: as fontes do Direito Fiscal, mais concretamente, os princípios constitucionais
demarcados na designada «Constituição Fiscal». A Constituição é fonte do Direito Fiscal
e ocupa o topo na hierarquia das normas.

(Passo 2: Apresentação dos factos e questões a resolver)


Atendendo ao caso em equação, temos a actualização de um imposto em matéria
ambiental: o Executivo legislou sobre o referido imposto com base numa autorização
legislativa que não estava já em vigor e atribuiu eficácia retroactiva ao mesmo. Quid iuris?

(Passo 3: Aplicação do direito / fundamentação doutrinal e legal)


O Direito Fiscal é um ramo do direito público porque tutela interesses públicos (critério
do interesse), os sujeitos activos da obrigação tributária e da relação jurídica do imposto
são entes públicos ou entes que exercem funções públicas (critério da qualidade dos
sujeitos das relações jurídicas) e os entes públicos surgem em posição de supremacia na
relação jurídica de imposto, enquanto titulares de um jus imperii (critério da autoridade).
Não é a vontade das partes que define os elementos da obrigação do imposto, é a lei. É o
princípio da legalidade tributária que vai reger a relação jurídica do imposto. O princípio
da legalidade fiscal é um importante princípio constitucional formal e tem na sua origem o
seguinte entendimento: os impostos devem ser consentidos pelos próprios contribuintes,
através dos seus representantes. Ora, a Assembleia Nacional é o órgão representativo de
todos os angolanos (vide art. 141.º, n.º 2, da CRA). A doutrina aponta como corolários do
princípio da legalidade fiscal: i) a preeminência de lei; ii) a reserva de lei formal; e iii) a
tipicidade. A actividade tributária está subordinada à lei («preeminência de lei»), mas lei
em sentido formal, porque a Assembleia Nacional é o legislador originário ou o legislador
autorizante do Executivo («reserva de lei formal») no que respeita à criação dos impostos e
determinação («tipicidade») dos elementos essenciais do imposto (incidência, taxa,
benefícios fiscais e garantias dos contribuintes). No presente caso, a questão a resolver
centra-se em torno da actualização da taxa de um imposto ambiental. A taxa do imposto
(isto é, a percentagem ou o valor que aplicado à matéria colectável dará a colecta) é um
elemento essencial do imposto e como tal, nos termos do art. 102.º, n.º 1, da CRA, deverá
ser disciplinado por lei ou decreto legislativo presidencial autorizado (vide art. 4.º, n.º 4, do
CGT ex vi art. 165.º, n.º 1, al. o) da CRA). Neste sentido, o Executivo só poderá legislar
sobre esta matéria quando para tal haja sido autorizado, por lei de autorização legislativa
do órgão legiferante primário. Nos termos do art. 170.º, n.º 1 e n.º 3, al. a), da CRA, as leis
de autorização legislativa devem definir o seu objecto, sentido, extensão e duração e
caducam com o termo do prazo. Assim, no caso em análise, o Executivo não poderia fazer
a actualização do imposto nem a respectiva cobrança do valor adicional do mesmo, visto
que o diploma se baseia numa autorização legislativa referente a 2014, que já havia,
portanto, caducado.

32
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

Por outro lado, sairia beliscado ainda o princípio da não retroactividade das leis fiscais,
consagrado no art. 102.º, n.º 2, da CRA, que prescreve especificamente o seguinte: “as leis
fiscais não têm efeito retroactivo, salvo as de carácter sancionatório, quando sejam mais
favoráveis aos contribuintes.”
A razão de ser de um quadro normativo restritivo assenta na protecção dos direitos,
liberdades e garantias dos sujeitos de direito contributivos, porque o Estado quando fixa
um imposto deve fazê-lo com base nos princípios da proporcionalidade, segurança
jurídica, igualdade e capacidade contributiva (cfr. artigos 2.º, 23.º e 88.º da CRA e ver
também o art. 23.º, n.º 1, al. a), do CGT).

(Passo 4: Conclusão/solução do caso)


Portanto, António, uma vez sendo notificado pela Administração fiscal para proceder ao
pagamento do imposto em causa, atenta a violação do disposto na CRA, não deveria fazê-
lo.
Trabalho elaborado com a colaboração de:
Carlos Jorge Rodrigues Soares Ribeiro (N.º: 130240), turma DIR 31T [Ano Lectivo 2015].

Caso n.º 3
Considere que é estabelecida por Decreto Presidencial uma taxa sobre bombas de
combustíveis cujas instalações funcionem na via pública; considere também que o valor
dessa taxa é determinado pelo número de bombas de combustíveis instaladas no espaço
público e é pago anualmente. Imagine então que Adão, estudante de Direito, entende
que a taxa assim estabelecida é um verdadeiro imposto porque, ao tributar a utilização
de uma área do domínio público com base no número de bombas e não com base no
número de metros quadrados ocupados, funda-se no critério da capacidade contributiva
e evidencia a ausência do carácter sinalagmático da taxa. Em sua opinião, esta falta de
correspondência entre a prestação e a contraprestação faz com que o tributo exigido
ofenda o disposto nos artigos 102.º, n.º 1 e 165.º, n.º 1, al. o) da CRA, sendo
inconstitucional.
1. Como distingue, sob os pontos de vista financeiro e jurídico, imposto e taxa?
2. A partir da resposta dada na questão anterior, diga justificadamente se concorda
com a qualificaçao feita por Adão.
3. Refira-se ao princípio da reserva de lei em matéria tributária, evidenciando as
suas especificidades.

TÓPICOS DE RESOLUÇÃO

1. Como distingue, sob os pontos de vista financeiro e jurídico, imposto e taxa?


• Critérios de distinção entre imposto e taxa apresentados pela doutrina: o critério
financeiro ou da divisibilidade e o critério jurídico ou da sinalagmaticidade. Explicar.
• A relevância do critério jurídico ou da sinalagmaticidade.
• Sinalagmaticidade: correspondência jurídica e correspondência económica.

33
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

• O imposto é um tributo unilateral ou não sinalagmático (art. 3.º, n.º 5, do CGT) e a


taxa é um tributo bilateral ou sinalagmático (art. 3.º, n.º 7, do CGT e art. 4.º, n.º 1, al.
a), do RGT – tipos de taxas).
• O imposto funda-se no princípio da capacidade contributiva (art. 88.º da CRA) e a
taxa funda-se no princípio da proporcionalidade prestação/contraprestação, entendido
como princípio da equivalência, princípio da cobertura de custos ou princípio do
benefício (art. 88.º da CRA e art. 9.º do RGT).
• A qualificação formal dos tributos atribuída pelo legislador nem sempre é
coincidente com a sua real natureza jurídica bilateral ou unilateral.

2. A partir da resposta dada na questão anterior, diga justificadamente se concorda


com a qualificaçao feita por Adão.
• Perguntas de reflexão:
 Como é determinada a taxa no caso em apreciação? Pelo critério da área
ocupada de domínio público ou pelo n.º de bombas de combustíveis aí
instaladas?
 Há alguma prestação específica por parte do Estado? Poderemos afirmar que a
prestação específica é o espaço público a ser utilizado? A contraprestação na
relação jurídica corresponde ao n.º de metros quadrados que serão cedidos?
Estaremos perante uma «taxa de ocupação» de um bem do domínio público?
 Será que ao taxar cada bomba se ignora o carácter sinalagmático da taxa, ou
seja, esquece-se que a bilateralidade reside no facto de a taxa ser a
contrapartida pelo fornecimento de um espaço público?
 Como avaliar a proporção entre aquilo que se paga e aquilo que se recebe?
 Como é que se qualifica juridicamente este tributo?
 Este Decreto Presidencial padece de inconstitucionalidade?

Defendendo que se trata de um imposto / concordando com Adão:


• Argumentar dizendo que não há proporção entre aquilo que se paga e aquilo que se
recebe, e assim não existe uma relação sinalagmática no caso em apreço.
• Não há carácter sinalagmático de taxa porque o que se paga de taxa deveria ser a
contraprestação pelo espaço público utilizado, que objectivamente corresponde a um
determinado n.º de metros quadrados.
• Há ausência de sinalagma pois verifica-se falta de correspondência entre a prestação
e a contraprestação (a medida da taxa deveria corresponder à medida do espaço
público fornecido).
• Nunca o montante da taxa deve ser fixado em função do princípio da capacidade
económica / contributiva.
• A taxa assim estabelecida é um verdadeiro imposto.
• O Decreto Presidencial padece de inconstiticionalidade.

Defendendo que se trata de uma taxa / não concordando com Adão:


• Taxa devida pela utilização do espaço público: natureza sinalagmática, já que é
devida em função de uma utilização individualizável de um bem do domínio público.

34
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

• Fundamento para a fixação do montante de tal taxa a partir do n.º de bombas


efectivamente instaladas: defender que não é um critério ilegítimo aquele que
permite fixar o valor da taxa tendo em conta a utilidade económica retirada com a
utilização de um bem público. Se a exploração económica vai ser mais intensa,
também será mais intensa a utilização do espaço/domínio público.
• Quanto maior a utilidade económica ou o benefício maior deverá ser a taxa.
• Há uma correspectividade relevante entre o tributo devido e a autorização concedida.
• Trata-se de uma verdadeira taxa.
• O Decreto Presidencial não padece de inconstitucionalidade.

3. Refira-se ao princípio da reserva de lei em matéria tributária, evidenciando as suas


especificidades.
• Enquadrar a questão levantada nas matérias dadas: o princípio da legalidade
tributária. Distinguir o princípio da legalidade dos impostos face ao princípio da
legalidade das taxas.
• Princípio da legalidade fiscal (ou dos impostos) como princípio constitucional do
Direito Fiscal (art. 102.º, n.º 1, da CRA). Corolários do princípio da legalidade fiscal:
preeminência de lei; reserva de lei formal; tipicidade. Princípio da reserva de lei
formal: art. 165.º, n.º 1, al. o), da CRA; art. 170.º da CRA e art. 4.º, n.º 4, do CGT. A
Assembleia Nacional com legislador originário (Lei) ou legislador autorizante do
Executivo (Decreto Legislativo Presidencial autorizado) em matéria de criação de
impostos ou disciplina dos seus elementos essenciais (incidência, taxa de imposto,
benefícios fiscais e garantias dos contribuintes). Reserva absoluta.
• Princípio da legalidade das taxas: reserva de lei parlamentar apenas quanto à
criação do «regime geral das taxas» (Lei n.º 7/11, de 16 de Fevereiro - RGT).
Criação de taxas: acto normativo do Presidente da República (Decreto Presidencial)
com possibilidade de delegação aos seus órgãos auxiliares (art. 12.º, n.º 1, do RGT).

11. Exercícios a resolver:

GRUPO I – QUESTÕES DE RESPOSTA SUCINTA

1. É o imposto uma prestação com finalidade sancionatória? E a taxa?


2. Diga o que são contribuições de melhoria e porque é que não podem ser
consideradas taxas.
3. Distinga contribuinte directo de contribuinte indirecto.
4. Distinga imposto directo de imposto indirecto.
5. Distinga sujeito passivo de contribuinte.
6. Distinga impostos proporcionais de impostos progressivos. Na sua opinião, tanto os
primeiros como os segundos funcionam como instrumento de igualdade tributária?
7. Os impostos progressivos são impostos pessoais? Justifique a sua resposta.
8. Diga se o definido no artigo 16.º, n.º 2, do CIRT é um exemplo de um imposto
proporcional ou de um imposto progressivo. Justifique a sua resposta.

35
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

GRUPO II – CASOS PRÁTICOS

Caso n.º 1
Analise as medidas a seguir apresentadas e diga se do ponto de vista jurídico-constitucional
poderiam ser tomadas pelo Presidente da República, fundamentando devidamente a sua posição:
a) Extinguir o Imposto de Consumo.
b) Reduzir as taxas do Imposto sobre a Aplicação de Capitais.
c) Alterar o Estatuto Orgânico da Administração Geral Tributária (AGT).

Caso n.º 2
Analise as medidas a seguir apresentadas e diga se do ponto de vista jurídico-constitucional
poderiam ser tomadas pelo Presidente da República, fundamentando devidamente a sua posição:
a) Aumentar as taxas do Imposto sobre a Aplicação de Capitais, a vigorar apenas a partir de 1 de
Janeiro de 2021.
b) Alterar as normas de incidência objectiva do Imposto Industrial, em estrito respeito ao
princípio da tipicidade fiscal.
c) Alterar as taxas notariais e registais para constituição de sociedades comerciais e
desenvolvimento da sua actividade no país.

Caso n.º 3
Imagine agora que, tendo como pano de fundo um projecto de sensibilização para as questões
ambientais e urbanísticas, é criado por Decreto Presidencial um tributo denominado "imposto de
recolha de lixos domésticos". Este tributo seria obrigatório para todos os proprietários de imóveis
situados em Luanda, teria um valor mensal proporcional ao lixo produzido, e estaria destinado a
custear o serviço de recolha de lixos domésticos.
Em face destes elementos, pronuncie-se sobre as seguintes questões:
a) Natureza jurídica do tributo em causa.
b) Legitimidade do procedimento de criação do imposto de recolha de lixos domésticos do
ponto de vista jurídico-constitucional.

Caso n.º 4
Analise as medidas a seguir apresentadas e diga se do ponto de vista jurídico-constitucional
poderiam ser tomadas pelo Presidente da República, fundamentando devidamente a sua posição:
a) Criar um tributo, com a taxa de 25%, a incidir sobre o aumento de valor de prédios rústicos
beneficiados com a realização de obras públicas de construção de infra-estruturas.
b) Eliminar parte das isenções previstas no Imposto sobre os Rendimentos do Trabalho.
c) Alterar a taxa de licenciamento e de emissão de alvará para as sociedades que pretendam
desenvolver uma actividade industrial.

36
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

GRUPO III – ANÁLISE DE TEXTOS

Leia com atenção os excertos que se seguem e responda às questões levantadas:

I
“A percepção de que a fiscalidade tem impacto na economia e que pode ser utilizada
como instrumento económico é muito antiga. Basta, a este propósito, relembrar o episódio
bíblico da governação de José no Egipto. Nesse episódio encontramos, com muita nitidez,
a apresentação de um ciclo económico e os efeitos económicos nas fases alta e baixa do
ciclo. O sonho do faraó, que José soube interpretar, apresentava, primeiro, sete vacas belas
e gordas, que se puseram a pastar na relva, depois saíram do rio sete vacas enfezadas e
magras – que devoraram as sete vacas belas e gordas… (Génesis, 41). As vacas gordas e as
vacas magras eram a prefiguração de sete anos de abundância e de sete anos de penúria.
José aconselhou então o faraó a lançar o imposto de um quinto sobre as colheitas do Egipto
durante os sete anos de abundância. Assim, acumularam-se reservas que permitiram fazer
face à fome que depois veio.”
GUILHERME D’OLIVEIRA MARTINS e ANA SOFIA ASSIS PACHECO, Aspectos Económicos e Sociais da
Extrafiscalidade in «Da Extrafiscalidade», coord. Manuel Pires, Lisboa, Universidade Lusíada Editora, 2011,
pp. 55-56.

Explique em que medida é que os impostos têm, ou podem ter, finalidades


diferentes da mera arrecadação de receitas para fazer face às despesas públicas.

II
“Atendendo à diversidade de estruturação legal, o vínculo jurídico de taxa tem por
causa a prestação por uma entidade pública de utilidades individualizadas. Quer dizer que a
taxa, como, aliás, o preço, também, apresenta origem sinalagmática. É este aspecto que
separa com nitidez a taxa do imposto. Porque a taxa tem por causa a realização de uma
utilidade individualizada, ela depende de outro vínculo jurídico, o que não acontece com o
imposto. O estudante que deve uma taxa escolar, ou propina, já recebeu, ou tem a receber,
uma prestação correspondente: o ensino que lhe foi, ou vai ser, ministrado.
(…) Esta destrinça entre imposto e taxa oferece o maior relevo à face do princípio da
legalidade do imposto que não respeita às taxas. Mas importa naturalmente evitar que
aquele princípio seja infringido através de simples arbitrariedades de terminologia,
nomeadamente usando-se a expressão «taxa» para designar impostos.”
SOARES MARTINEZ, Pedro, Manual de Direito Fiscal, Coimbra, Almedina, 1983, pp. 35-36.
Pergunta-se: Como distinguir os tributos para efeitos jurídico-constitucionais?

III
“Atento quanto vimos de dizer, parece claro que pretender aplicar às taxas o critério da
capacidade contributiva redunda no resultado inaceitável de se querer tratar igualmente o
que é desigual: o imposto, que se concretiza numa “pura” repartição de encargos com
eficácia integralmente oneradora do contribuinte, e a taxa, em que a eficácia oneradora e a
eficácia desoneradora se devem equilibrar. Daí que a generalidade da doutrina, incluindo a

37
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

italiana e a espanhola, rejeitem a aplicação do princípio da capacidade contributiva às taxas


e demais figuras tributárias equiparáveis. Efectivamente estas têm por critério o princípio
da proporcionalidade stricto sensu, segundo o qual a medida da taxa há-de ser proporcional
aos específicos benefícios que proprociona aos que a suportam ou aos específicos custos
que a administração tem de suportar para manter os correspondentes serviços. Aliás,
sempre que uma taxa não seja satisfatoriamente testável por esta proporcionalidade,
estaremos, em princípio e de um ponto de vista jurídico-constitucional, perante um imposto
a aferir pelo critério da capacidade contributiva, a menos que se trate de um tributo de
natureza extrafiscal, caso em que intervirá o princípio da proporcionalidade lato sensu
referido ao fim ou objectivo (extrafiscal) que o tributo visa prosseguir, de modo a
averiguar se é adequado, necessário e proporcional.” [sublinhado nosso]
JOSÉ CASALTA NABAIS, O dever fundamental de pagar impostos: contributo para a compreensão
constitucional do estado fiscal contemporâneo, Coimbra, Almedina, 2012, p. 478.

Partindo da análise da passagem sublinhada, apresente a distinção emtre imposto


e taxa.

IV
“Capacidade Contributiva e progressividade do imposto.
(...) A progressividade do imposto existe, no limite, mesmo com uma taxa única,
quando a lei fiscal garante a não tributação do rendimento correspondente ao mínimo de
existência, mas corresponderá a uma progressividade de grau mínimo ou meramente
residual.
No caso angolano, aquilo que o texto constitucional exige é que todos contribuam para as
despesas públicas “em função da sua capacidade económica” (art. 88.º) e que o sistema
fiscal obtenha “uma repartição justa dos rendimentos e da riqueza nacional” (art. 101.º) –
objectivos a que não pode corresponder uma progressividade mínima.
A Constituição exige, através dos seus princípios, uma maior progressividade, já que
institui um modelo de Estado Social de Direito a que corresponde um sistema fiscal
compatível. A teleologia constitucional é assim a existência de uma tributação do
rendimento pessoal que vise a diminuição das desigualdades, o que em princípio implica
um grau elevado de progressividade (não basta que um qualquer sistema fiscal, sem conter
preocupações redistributivas, se limite a não tributar os rendimentos mínimos).”
J. L. SALDANHA SANCHES / JOÃO TABORDA DA GAMA, Manual de Direito Fiscal Angolano, Coimbra,
Wolters Kluwer Portugal sob a marca Coimbra Editora, 2010, pp. 191-192.
Pergunta-se:
Segundo estes Autores, em que consiste uma «progressividade mínima»? É este o
tipo de progressividade exigido pela CRA?

V
“Poderá pretender-se, no entanto, que, nos casos em que o empréstimo se encontre
sujeito a um regime de coacção para recolha do dinheiro e em que não seja feito
posteriormente o seu reembolso, a distinção entre as duas figuras praticamente não existe,
ocultando-se sob a aparência formal do empréstimo um verdadeiro imposto.

38
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

O que ocorre, porém, efectivamente nestes casos, não é a alteração da natureza e fins do
empréstimo, que, apesar de tudo, permanecem os mesmos, mas sim o eventual não
cumprimento da lei por parte do Estado, que a impotência do indivíduo para exigir as
correspondentes responsabilidades torna impune. Aliás, a impedir a identificação do
empréstimo forçado com o imposto restaria sempre nestes casos o seu carácter bilateral e a
circunstância do vencer juros.”
ANTÓNIO BRAZ TEIXEIRA, Princípios de Direito Fiscal, Coimbra, Almedina, 1979, p. 50.
Como se distingue o imposto em face do empréstimo público forçado? Esses
elementos distintivos encontram-se presentes no texto apresentado? Identifique-os.

VI
“Como vimos, o cerne fundamental, nuclear, do direito fiscal, é composto pelo conjunto
de normas de direito tributário material que, como dissemos, são as que estabelecem e
regulam os impostos. Mas, como lembrámos parte da doutrina distingue os conceitos
jurídicos de imposto e tributo. Ora, não obstante as nossas preocupações teóricas se
dirigirem apenas à análise dos impostos, nada impede que demos também aqui uma noção
de tributo, que, como veremos, é o género de que o imposto é a espécie, pois o primeiro
abrange prestações patrimoniais coactivas entre as quais cabe o segundo. Trata-se pois de
definições materiais e jurídicas e não formais e económicas.
Assim, podemos definir tributo como «a prestação patrimonial definitiva estabelecida
por lei, em sentido lato, a favor de uma entidade que tem a seu cargo o exercício de
funções públicas, para satisfação de fins públicos, que não constituam sanção de actos
ilícitos e não depende de vínculos anteriores».”
NUNO DE SÁ GOMES, Manual de Direito Fiscal, Vol. I, 11.ª Edição, Lisboa, Editora Rei dos Livros, 2000, p.
59.
Distinga imposto e tributo. Traga, na sua resposta, o enquadramento dado pelo
CGT.
VII
“Nas sociedades modernas o imposto é, actualmente, sempre estabelecido por lei.
Porém, segundo parece, já no Antigo Egipto as grandes obras públicas foram realizadas
com o concurso do serviço de vassalagem, constante de regras costumeiras e não de leis
escritas, e que se configurava como um verdadeiro tributo. E a história dá-nos igualmente
exemplos de comunidades não estaduais que estabeleceram impostos por autoridade
própria, como a Igreja e outras comunidades religiosas, algumas cidades e até
universidades. E, ainda na época contemporânea, algumas universidades inglesas têm
mantido, parece, poderes tributários sem que estes estejam reconhecidos por lei e, portanto,
com base apenas no direito consuetudinário.
E note-se: se é certo que nas sociedades modernas o imposto é estabelecido em leis
escritas não devemos esquecer que historicamente existiram impostos tendo por base leis
orais, nas culturas e povos que ainda não conheciam a escrita, o mesmo sucedendo nos
povos primitivos actuais. Nestes casos, o imposto é determinado oralmente pelos chefes,
conselhos e outros órgãos públicos competentes.
A circunstância de os impostos serem estabelecidos por lei heterónoma e não resultarem
de actos voluntários dos contribuintes, designadamente de convenções jurídicas, leva
certos autores a referirem-se à natureza coactiva do imposto. Sucede, porém, que a
sujeição à grande maioria dos impostos depende da prática de actos voluntários do
contribuinte, como veremos, pelo que não me parece sugestiva a sugestão.

39
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

E como esclarece o Prof. A. Xavier, ao dizermos que o imposto tem origem legal «não
queremos referir-nos ao princípio da legalidade que se reporta à natureza e conteúdo da lei
– e que pode não vigorar em certas ordens jurídicas; queremos apenas significar que a
obrigação tributária não decorre, por natureza, da vontade, de um acto voluntário, mas de
um mero facto a que a lei (ainda que entendida no seu mais amplo sentido) atribui o efeito
de o constituir».
Quer dizer: o imposto enquanto conceito universal tem origem legal apenas na medida
em que dá origem a uma obrigação ex lege, independente da vontade do obrigado. Daí que
a expressão lei seja empregada em sentido lato, de ordem jurídica.”
NUNO DE SÁ GOMES, Manual de Direito Fiscal, Vol. I, 11.ª Edição, Lisboa, Editora Rei dos Livros, 2000, pp.
63-65.
Pergunta-se: Qual é a posição do Autor sobre a definição do imposto como
prestação coactiva?

VIII
“Da legalidade no Direito Fiscal resulta também a tipicidade do imposto, que se traduz
no brocardo «nullum tributum sine lege», ou «nullum vectigal sine lege», paralelo àquele
outro segundo o qual «nullum crimen sine lege». Assim como não há crime que não
corresponda a uma definição legal, a um tipo legal, também não haverá imposto que não
corresponda a uma definição legal, a um tipo legal. Nisso consiste a tipicidade do imposto.
A tributação resulta da verificação concreta de todos os pressupostos tributários, como tais
previstos e descritos, abstractamente, na lei de imposto. Se não se verificar um desses
pressupostos já não é possível a tributação, por obediência a este princípio da tipicidade do
imposto.”
SOAREZS MARTÍNEZ, Direito Fiscal, Vol. I, 9.ª Edição, Coimbra, Almedina, 1997, p. 108.
Explique a frase sublinhada no texto. Diga também se o princípio da tipicidade do
imposto está consagrado constitucionalmente e, em caso afirmativo, apresente-o.

XIX
“Natureza pecuniária, origem legal, capacidade contributiva, obrigatoriedade ou
coactividade, são elementos que os autores incluem muitas vezes nas suas definições de
imposto; mas que ou não correspondem a qualquer estruturação jurídica ou constituem
elementos meramente acidentais, alheios à essência do imposto. Se, porém, a relação
jurídica criada não tiver natureza creditícia e, portanto, patrimonial, se não tiver por fim a
realização de uma receita pública, se não resultar de outros vínculos legais ou se
determinar para o respectivo sujeito activo qualquer dever de prestar específico – não
estaremos em presença da figura jurídica do imposto. Porque a natureza obrigacional, ou
creditícia, o fim de criação de ingressos públicos e a autonomia – no sentido de não
depender de qualquer dever do sujeito activo, nem criar para ele novos vínculos legais –
constituem elementos essenciais do imposto.”
SOAREZS MARTÍNEZ, Direito Fiscal, Vol. I, 9.ª Edição, Coimbra, Almedina, 1997, pp. 33-34.
Diga qual é o elemento definidor do imposto em evidência neste excerto.

40
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

PARTE II – RELAÇÃO JURÍDICA TRIBUTÁRIA

Bibliografia: JOAQUIM FREITAS DA ROCHA/HUGO FLORES DA SILVA, Teoria Geral da Relação Jurídica
Tributária, Almedina, Coimbra, 2017; J. L. SALDANHA SANCHES, A quantificação da obrigação tributária:
deveres de cooperação, autoavaliação e avaliação administrativa, 2.ª ed., Lex, Lisboa, 2000; JOSÉ CASALTA
NABAIS, Direito Fiscal, 6.ª ed., Almedina, Coimbra, 2011, pp. 235-297; JÓNATAS E. M. MACHADO/PAULO
NOGUEIRA DA COSTA/OSVALDO MACAIA, Direito Fiscal Angolano Segundo a Reforma de 2014, Coimbra
Editora, Coimbra, 2015, pp.193-217; J. L. SALDANHA SANCHES/JOÃO TABORDA DA GAMA, Manual de
Direito Fiscal Angolano, Coimbra Editora, Coimbra, 2010, pp. 201-234; AMÉRICO FERNANDO BRÁS
CARLOS, Impostos. Teoria Geral, 4.ª ed., Almedina, Coimbra, 2014, pp. 57-85; ANTÓNIO BRAZ TEIXEIRA,
Princípios de Direito Fiscal, 2.ª ed., Almedina, Coimbra, 1979, pp. 147-318; SOARES MARTÍNEZ, Direito
Fiscal, 9.ª ed., Almedina, Coimbra, 1997, pp. 161-287.

1. Introdução.
O Direito Fiscal é um ramo do direito público. Vimos ao longo das nossas aulas vários
traços desta natureza publicista do Direito Fiscal:
 O Direito Fiscal é um sub-ramo de um outro ramo do direito público que é o Direito
Financeiro (Público), sendo aquele que trata as receitas públicas unilaterais / receitas
tributárias unilaterais / impostos. Por isso usamos a expressão Direito Fiscal como
equivalente a «Direito dos Impostos».
 Os impostos resultam de uma intromissão juridicamente regulada da Administração
na esfera patrimonial do cidadão (o direito de propriedade é também um direito
fundamental – art. 37.º da CRA, e as leis restritivas desses direitos têm de obedecer à
Constituição – art. 57.º da CRA), sendo-lhe exigido por lei um determinado sacrifício
patrimonial na medida da sua capacidade contributiva (como vimos, à luz do art. 88.º da
CRA). [J. L. SALDANHA SANCHES/JOÃO TABORDA DA GAMA, p. 165 e ss.]
 No exercício da sua actividade, a Administração fiscal tem um conjunto de poderes
vinculados à lei quando se fala nos elementos essenciais do imposto (preeminência de lei,
prevalência de lei, precedência de lei, reserva absoluta de lei).
 Como vimos, o imposto é uma prestação coactiva, quer dizer: ex lege ou
estabelecida por lei.
 Enquanto prestação, a obrigação de imposto surge integrada na «relação jurídica
fiscal» ou «relação jurídica de imposto».
 A obrigação de pagar o imposto nasce assim de uma relação jurídica determinada
anteriormente numa previsão legal de um tipo de imposto (e é esta previsão legal (=lei em
sentido formal) que vai tipificar o que vai ser tributado em sede daquele imposto (ou seja,
nas normas de incidência objectiva temos o conjunto de pressupostos que definem a
realidade sujeita a imposto/o facto tributável), “quem” paga o imposto (isto é, nas normas
de incidência subjectiva encontramos o conjunto de pressupostos que definem o sujeito
passivo) e o quantum da base tributável (base da medida do sacrifício patrimonial exigido).

41
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

Concluindo, é a lei que define os elementos essenciais do imposto (art. 102.º, n.º 1, da
CRA – princípio da legalidade fiscal/ princípio da tipicidade).
 O Estado e demais entes públicos surgem numa posição de supremacia na relação
jurídica de imposto, enquanto titulares de um jus imperii (poder de autoridade).
 E a finalidade do imposto é financeira, ou até pode ser instrumento para alcançar
finalidades extrafinanceiras ou extrafiscais, sendo que o interesse é público, porque a
actividade financeira do Estado tem como propósito a satisfação das necessidades
colectivas.

O Direito Fiscal tem natureza publicista. Na summa divisio clássica “Direito Público” e
“Direito Privado”, enquadramos, portanto, o Direito Fiscal no Direito Público. E o
princípio da legalidade é um princípio estruturante no Direito Público. Pensemos noutros
ramos do Direito Público, como o Direito Penal e o Direito Administrativo, e recordemos o
papel central da lei. Facilmente contrapomos o princípio da legalidade do Direito Público
ao princípio da autonomia privada ou autonomia da vontade das partes no Direito Privado.
Veremos que o Direito Fiscal, que é um ramo do Direito Público, adoptou algumas
técnicas criadas pelo Direito Privado, como a relação jurídica (=> relação jurídica fiscal) e
a obrigação (=> obrigação fiscal).

Vamos assistir, no Direito Fiscal, à criação de um Direito das Obrigações de natureza


pública; o imposto é uma obrigação, mas uma obrigação ex lege, quer dizer estabelecida
por lei (nos termos já estudados).
No estudo do Direito Fiscal, o imposto pode ser encarado como “relação jurídica”, por
um lado, e visto como “instituto jurídico”, por outro. Perguntemos agora: O que é uma
relação jurídica? O que se quer dizer com a expressão instituto jurídico?
O Direito Fiscal foi buscar a técnica da relação jurídica ao Direito Privado. Como
aprenderam em Teoria Geral do Direito Civil:
“Relação jurídica em sentido restrito ou técnico é a relação da vida social disciplinada
pelo Direito mediante atribuição a uma pessoa de um direito subjectivo e a imposição a
outra de um dever jurídico ou de uma sujeição.
(…) Fala-se do instituto da compra e venda, do poder paternal, da sucessão legitimária,
da representação, da usucapião, etc.
Por instituto jurídico entende-se o conjunto de normas legais que estabelecem a
disciplina de uma série de relações jurídicas em sentido abstracto, ligadas por uma
afinidade, normalmente a de estarem integradas no mesmo mecanismo jurídico ou ao
serviço da mesma função.
A relação jurídica é pois a matéria sobre que incide a regulamentação. O instituto
jurídico é a disciplina normativa dessa matéria, o conjunto de normas que a
regulamentam.” (Vide CARLOS ALBERTO DA MOTA PINTO, Teoria Geral do Direito Civil,
4.ª ed., Coimbra Editora, Coimbra, 2005, pp. 177-178.)
E como distinguir «relação jurídica abstracta» e «relação jurídica concreta»? CARLOS
ALBERTO DA MOTA PINTO (p. 177) apresenta-nos o seguinte exemplo: “Podemos
considerar a expressão relação jurídica com referência a um modelo, paradigma ou
esquema contido na lei. É o que sucede quando falamos da relação pela qual o inquilino

42
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

deve pagar a renda ao senhorio. Estamos então perante uma relação jurídica abstracta.
[P]odemos, ao invés, considerar a expressão com referência a uma relação jurídica
existente na realidade, entre pessoas determinadas, sobre um objecto determinado, e
procedendo de um facto jurídico determinado: o senhorio A pode exigir do inquilino B a
renda de € 500 pelo arrendamento do prédio X. estamos então perante uma relação
jurídica concreta”.

A previsão normativa dos factos tributáveis: a previsão normativa enquanto decisão


política e instrumento de segurança jurídica. Os factos tributáveis estão previstos em lei,
são decisão do legislador. Vimos que é a Assembleia Nacional que legisla ou autoriza o
Executivo a legislar em matéria de impostos, a criar impostos ou a disciplinar os seus
elementos essenciais. Estes elementos essenciais – como «o que vai ser tributado», «quem
paga o imposto», o quantum, os benefícios fiscais e as garantias dos contribuintes – estão,
digamos assim, nas mãos de órgão de política, realçando o papel da Assembleia Nacional a
conferir legitimidade ao imposto. Como legislador originário ou como legislador
autorizante, nas expressões de AMÉRICO FERNANDO BRÁS CARLOS, pp. 90-91, a
Assembleia Nacional, enquanto órgão político representativo de todos os angolanos,
intervém sempre na criação de impostos ou na disciplina dos seus elementos essenciais.
Assim, só podem ser exigidos aos contribuintes os impostos que tenham sido criados ou
alterados por lei, segundo um processo plasmado na própria CRA, que exige a intervenção
da Assembleia Nacional, tornando-se a previsão normativa um mecanismo de certeza e um
instrumento de segurança jurídica. Nullum tributum sine lege – foi o que vimos quando
estudámos o princípio da tipicidade. O princípio da segurança tributária ou da protecção da
confiança decorre do art. 2.º da CRA (Estado Democrático de Direito). A lei não pode pôr
em causa as bases da confiança dos administrados no Estado. Para GONZÁLEZ e
LEJEUNE, a lei é: i) um aspecto positivo do princípio da segurança tributária: a lei como
veículo de certeza; ii) um aspecto negativo do princípio da segurança tributária: a lei como
um mecanismo de defesa frente a possíveis arbitrariedades dos órgãos do Estado
(Administração fiscal). [Vide EUSEBIO GONZÁLEZ/ERNESTO LEJEUNE, Derecho Tributario,
vol. I, Plaza Universitária, Salamanca, 2003, p. 35 apud AMÉRICO FERNANDO BRÁS
CARLOS, p. 122.]

2. O conceito de relação jurídica tributária e as suas principais características

No seu art. 2.º, n.º 1, al. r), o CGT define relação jurídica tributária como «o vínculo
jurídico estabelecido entre o Estado ou entes públicos equiparados, enquanto
Administração Tributária, e as pessoas singulares ou colectivas e os entes fiscalmente
equiparados a estas, nos termos da lei». Esta definição legal ajuda-nos a perceber melhor o
conteúdo do art. 1.º do CGT que delimita o âmbito de aplicação do Código às relações
tibutárias e às relações de direito público que não tenham natureza tributária, quando assim
o determine a própria lei.

43
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

Vamos agora trazer alguns conceitos doutrinais e apresentar as principais características


da relação jurídica tributária (ou relação jurídica fiscal, se quisermos particularizar o
imposto).
Por exemplo, para SOARES MARTÍNEZ (pp. 27-28): «A relação jurídica de imposto tem
carácter obrigacional, ou creditício, tem por fim a realização de uma receita pública e não
depende de outros vínculos jurídicos, nem determina para o sujeito activo respectivo
qualquer dever de prestar específico. Ficam, assim, definidos os elementos essenciais do
conceito de relação jurídica de imposto.»
ANTÓNIO BRAZ TEIXEIRA (pp. 148-149) esquematiza da seguinte forma o conceito de
relação jurídica fiscal: «(...) [R]efere uma relação jurídica complexa e mais vasta, na qual
se incluem, além da obrigação fiscal, todas aquelas obrigações de diferente objecto e
conteúdo, a que aquela obrigação central, directa ou indirectamente, dá origem –
obrigações de prestar declarações, de permitir exames e avaliações, de não praticar certos
actos – de que são sujeitos passivos, não só o próprio contribuinte, mas também outras
pessoas estranhas à obrigação de imposto. A relação jurídica fiscal compor-se-ia, assim, de
um núcleo, constituído pelo fundamental vínculo tributário de que é sujeito passivo a
pessoa em relação à qual se verificam as condições de que a lei tributária faz nascer a
obrigação do imposto, e de um feixe mais ou menos diverso de outras relações, também de
natureza obrigacional e que podem incidir não só sobre o sujeito passivo daquela
obrigação, mas também sobre terceiros de algum modo directa ou indirectamente ligados
aos pressupostos de facto da tributação, relações estas que a doutrina costuma designar por
obrigações ou deveres tributários acessórios.»
Nesta lógica, SALDANHA SANCHES e JOÃO TABORDA DA GAMA (pp. 203-206)
identificam na relação jurídica tributária duas situações, distinguindo, por um lado, o dever
de pagar uma quantia em dinheiro (dever de prestação pecuniária) que recai sobre o
contribuinte e que é a relação jurídica material ou «relação obrigacional fiscal» e, por
outro lado, os deveres acessórios ou de cooperação que a lei pode determinar para o sujeito
passivo (como, por exemplo, a entrega de declarações) e que consubstanciam uma relação
jurídica procedimental ou «relação jurídica fiscal». JOSÉ CASALTA NABAIS (p. 247)
também desdobra a relação jurídica fiscal em duas partes, separando a relação de imposto
(relação fiscal material) e das outras relações jurídicas acessórias (relações fiscais
formais).

A doutrina destaca as seguintes características da relação jurídica fiscal: 1) a natureza


obrigacional, 2) a complexidade, 3) o carácter legal (ex lege), 4) a irrenunciabilidade dos
direitos, e 5) a especialidade das garantias.
1) A natureza obrigacional da relação jurídica fiscal. A relação jurídica fiscal é uma
relação obrigacional, mas de direito público. (SOARES MARTÍNEZ, p. 162.) É uma relação
com eficácia inter partes e não erga omnes. O objecto desta relação tem natureza
patrimonial, e, como vimos, o imposto tem geralmente natureza pecuniária. A relação
jurídica fiscal tem natureza unilateral porque «não depende de outros vínculos jurídicos
nem determina para o sujeito activo respectivo qualquer dever de prestar específico.» (Vide
SOARES MARTÍNEZ, pp. 29-30).

44
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

2) A complexidade da relação jurídica fiscal. Diz-se que a relação jurídica fiscal é


complexa tanto de um ponto de vista subjectivo como de um ponto de vista objectivo. (Cfr.
JOAQUIM FREITAS DA ROCHA/HUGO FLORES DA SILVA, pp. 38-39.) Quando se fala da
complexidade da relação jurídica fiscal de um ponto de vista subjectivo, quer-se destacar as
situações de pluralidade de sujeitos passivos. Aqui a palavra-chave é o “vínculo”: se há um
vínculo entre duas pessoas, a relação jurídica diz-se simples, mas se há outros vínculos
entre a Administração Tributária e entidades obrigadas à retenção na fonte, a relação
jurídica diz-se já complexa. A relação jurídica tributária nem sempre é uma relação típica
entre dois intervenientes, 1 (um) sujeito activo e 1 (um) sujeito passivo. Em certos casos, a
relação jurídica tributária envolve três intervenientes, com 1 (um) sujeito do lado activo e 2
(dois) sujeitos do lado passivo. Fala-se, neste caso, em relações jurídicas triangulares ou
trilaterais.
Um exemplo, que estudaremos mais adiante e com maior profundidade, é o da
tributação do trabalhador por conta de outrem, em regime de contrato de trabalho, que vê o
seu salário a ser tributado mensalmente. Este trabalhador será tributado em sede de
Imposto sobre os Rendimentos do Trabalho (IRT), ocupando o lugar de
contribuinte/sujeito passivo na relação jurídica tributária, aquele que deve pagar o imposto
ou, se quisermos, aquele que sofre na sua esfera patrimonial (salário) o sacrifício do
imposto. Do outro lado (do lado activo) temos a Administração Tributária a exigir o
imposto. Acontece que a lei “acrescenta” do lado passivo um outro interveniente: a
entidade empregadora. É assim que este é um exemplo de uma relação jurídica tributária
triangular ou trilateral. A entidade empregadora é um sujeito passivo ao lado do
contribuinte efectivo (que será sempre o trabalhador). A lei (cfr. art. 10.º, n.º 1, e art. 11.º,
n.º 1, ambos do CIRT) estabelece para a entidade empregadora a obrigação de calcular,
reter (através do desconto que faz no salário) e entregar o imposto retido nos cofres do
Estado. Assim, do ponto de vista subjectivo (dos sujeitos), dizemos que esta é uma relação
jurídica complexa: é uma relação jurídica tributária triangular que além do vínculo entre a
Administração Tributária e o contribuinte incorpora também um vínculo entre a
Administração Tributária e um terceiro (entidade empregadora) obrigado à retenção. Sobre
a obrigação de realização de retenções na fonte como um dever de cooperação, vide J. L.
SALDANHA SANCHES, A quantificação da obrigação tributária: deveres de cooperação,
autoavaliação e avaliação administrativa, p. 64 e ss.
Mas a complexidade da relação jurídica tributária também pode ser analisada de um
ponto de vista objectivo. A relação jurídica será simples quando houver um único vínculo e
será complexa quando houver uma pluralidade de vinculos. Vamos dizer que a relação
jurídica tributária é complexa quando além vínculo/obrigação principal houver também
vínculos/obrigações acessórias. E qual é a obrigação principal na relação jurídica
tributária? A obrigação principal é sempre a obrigação de pagar o tributo. A obrigação
principal também pode ser designada por obrigação tributária fundamental ou
simplesmente por obrigação fiscal (vide ANTÓNIO BRAZ TEIXEIRA, p. 222). E em que
consistem as obrigações acessórias? O CGT dá-nos um conceito de obrigações acessórias,
no seu art. 50.º, n.º 2: «São acessórias as obrigações que visam possibilitar e facilitar o
apuramento e o pagamento do imposto, nomeadamente a apresentação de declarações, a
apresentação de documentos fiscalmente relevantes, incluindo a contabilidade e escrita, e a

45
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

prestação de informações.» As obrigações acessórias são designadas também por deveres


de cooperação ou deveres de colaboração, embora JOSÉ CASALTA NABAIS prefira esta
última designação, trazendo o argumento de que «a relação entre o contribuinte e a
Administração Tributária não é uma relação de natureza paritária», p. 239. O princípio da
colaboração ou cooperação é um dos princípios do procedimento tributário, previsto no
artigo 84.º do CGT. Nomeadamente, prescreve o artigo 84.º, n.º 3, do CGT: «O dever de
colaboração dos contribuintes com a Administração Tributária abrange o cumprimento dos
deveres fiscais acessórios a que estes legalmente estão obrigados e a prestação autónoma
dos esclarecimentos que lhes forem legalmente solicitados no âmbito de qualquer
procedimento inspectivo, interno ou externo, independentemente da fase em que se
encontrem.» As obrigações ou deveres acessórios podem ser de natureza não pecuniária
(obrigações declarativas, por exemplo: declaração de início, de alterações e de cessação de
actividade; declaração periódica de rendimentos; etc.) ou de natureza pecuniária (ex.:
dedução, reembolso e restituição de tributos – art. 2.º, n.º 1, al. t) do CGT; juros
compensatórios – art. 2.º, n.º 1, al. k) e art. 51.º do CGT; juros de mora – art. 2.º, n.º 1, al.
m) e art. 52.º do CGT; juros indemnizatórios – art. 2.º, n.º 1, al. l) e art. 53.º do CGT).
[Cfr. JOAQUIM FREITAS DA ROCHA/HUGO FLORES DA SILVA, p. 113 e ss.] O art. 50.º, n.º 1,
do CGT refere-se à obrigação principal na alínea a) e elenca as obrigações acessórias de
natureza pecuniária nas alíneas b) a e). Já no art. 50.º, n.º 2 (parte final) temos exemplos
de obrigações acessórias de natureza não pecuniária.
3) O carácter ex lege (legal) da relação jurídica fiscal. Os elementos essenciais da
relação jurídica do imposto são estabelecidos por lei; é a lei que determina a incidência
objectiva e subjectiva do imposto e as respectivas isenções, e a mesma define as regras de
determinação da matéria colectável, a(s) taxa(s) do imposto, a colecta/deduções à colecta/o
imposto a pagar; olhando para o lado passivo da relação jurídica fiscal, seguindo os
ensinamentos de JOSÉ CASALTA NABAIS, temos a obrigação fiscal como uma obrigação
legal ou ex lege e pública – legal, porque se trata de uma obrigação que tem por fonte a lei,
isto é, nasce do encontro entre o facto gerador com a hipótese legal, e pública porque a sua
disciplina jurídica integra o direito público, havendo presunção de legalidade do acto de
liquidação [JOSÉ CASALTA NABAIS, p. 238: «A obrigação fiscal caracteriza-se por ser uma
obrigação: 1) legal, 2) pública, 3) exequível e executiva, 4) semi-executória, 5)
indisponível e irrenunciável, 6) autotitulada e 7) especialmente garantida»]. Uma obrigação
ex lege é «aquela cujo conteúdo, cujo regime, é o definido pela lei, pela norma, não tendo
papel a desempenhar em tal definição a vontade das partes. As relações jurídicas de
imposto não são acordadas entre as partes.» (Cfr. SOARES MARTÍNEZ, p. 173.)

Texto para reflexão:


«Mas, quanto à generalidade das situações, pelo menos, parece indiscutível que as
relações jurídicas de imposto não são definidas por acordo. Logo, nesse sentido, a
obrigação tributária há-de ser legal, «ex lege». Mas, por vezes, tem-se dado sentido
diverso a esse qualificativo, querendo-se por eles significar que as obrigações tributárias
têm a sua origem na lei, são constituídas pela lei, ao contrário das obrigações civis, que
teriam a sua origem na vontade das partes. Ora não é assim. A lei está, em certo plano,
tanto na origem das obrigações ditas legais como na origem das ditas voluntárias. E,

46
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

abaixo desse plano legal comum, já a lei não é a origem, não é o facto constitutivo, nem de
umas, nem de outras. Essa origem, esse facto constitutivo, será, em todos os casos, um
evento previsto pela lei: um negócio jurídico, um acto delituoso, um facto tributário. (…)
As obrigações ou são sempre legais, só a norma jurídica tendo vigor suficiente para as
constituir, e cabendo ao facto legalmente previsto o papel de simples condição, ou são
criadas por esse facto. Esta segunda solução parece preferível. As obrigações, mesmo as
ditas legais, não encontram na lei a sua origem directa, imediata, até porque a norma, pela
sua generalidade e abstracção, não cria directamente situações individuais, concretas,
subjectivas. A origem de uma obrigação jurídica há-de estar sempre num facto pela lei
previsto e que da lei recebe o vigor bastante para constituir a obrigação. (…) Realmente, a
origem de uma relação jurídica está sempre num facto pela lei previsto. É essa previsão
legal, e não a circunstância de tal facto ser ou não voluntário, que lhe confere o vigor para
desencadear certos efeitos jurídicos. (…) Pode justificar-se a distinção frequentemente
estabelecida entre obrigações legais, ou «ex lege», e obrigações voluntárias, negociais ou
contratuais; mas não assentando o critério de destrinça na diversidade de origem das
obrigações. O que distingue umas das outras é a intervenção maior ou menor da lei na
definição do respectivo conteúdo. No caso das obrigações legais o seu conteúdo é fixado
pela lei; no caso das obrigações voluntárias a lei permite que esse conteúdo seja
preenchido, em termos mais ou menos amplos, conforme os casos, pela vontade das
partes.» (SOARES MARTÍNEZ, pp. 173-174.)

4) A irrenunciabilidade dos direitos que integram a relação jurídica fiscal. A


Administração Tributária não pode renunciar a direitos tributários, conceder perdões da
dívida, reduções da dívida do imposto, ou moratórias, simplesmente pela via
administrativa, por parte do Estado-administrador, sem que a lei (o Estado-legislador)
assim o permita. (SOARES MARTÍNEZ, p. 175.) Este é o princípio plasmado no art. 61.º do
CGT.

5) A especialidade das garantias da relação jurídica fiscal. O Estado tem ao seu


dispor um meio processual para garantir os seus créditos tributários, o processo de
execução fiscal. Fala-se do cumprimento coercivo da obrigação fiscal. (SOARES MARTÍNEZ,
pp. 176-177.) A cobrança coerciva é efectuada através do processo de execução fiscal, que
tem natureza judicial (art. 135.º, n.º 3, e art. 140.º do CGT). Da Reforma de 2014 resultou
o Código das Execuções Fiscais (Lei n.º 20/14, de 22 de Outubro). [Sobre o processo de
execução fiscal, v. CREMILDO FÉLIX PACA, Justiça Administrativa, Fiscal e Aduaneira,
Luanda, 2017, p. 307 e ss.]

3. O nascimento da relação jurídica tributária (o facto tributário)

Como nasce a relação jurídica tributária? Como se constitui? A relação jurídica


tributária – e, assim, a obrigação tributária –, constitui-se com a verificação do facto
tributário (art. 24.º do CGT). O facto tributário é o facto gerador do tributo. O facto
tributário é o facto constitutivo da relação jurídica tributária. SOARES MARTÍNEZ (p. 184)

47
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

define-o como «aquele facto que conjuga os pressupostos previstos na lei tributária.» O
facto tributário combina os pressupostos tributários e desta conjugação nasce a relação
jurídica tributária. O autor define os pressupostos tributários como «aquelas situações,
pessoais e reais, previstas, expressa ou tacitamente, pelas normas de incidência tributária.»
(SOARES MARTÍNEZ, p. 184.)

«Artigo 24.º
(Constituição)
A obrigação tributária constitui-se com a verificação dos factos que definem a
incidência do respectivo tributo, salvo nos casos previstos na lei.»

Quando se verifica cumulativamente o pressuposto de incidência objectiva e o


pressuposto de incidência subjectiva temos o facto tributário ou o facto gerador do tributo.
Sem facto tributário não existe relação de imposto, não existe, portanto, dever de pagar o
tributo.

Num dos pontos do programa da disciplina, fala-se em duas correntes – a corrente


constitutivista e a corrente declarativista – no contexto do nascimento da obrigação
tributária. O que está em causa é saber se a liquidação faz nascer a obrigação tributária.
Revejam a matéria sobre os momentos da vida do imposto. A corrente constitutivista
defende que a liquidação constitui a obrigação tributária. Já a corrente declarativista
entende que a liquidação não faz nascer a obrigação tributária, apenas declara uma
obrigação nascida num momento anterior. Sobre esta questão, consulte o texto de apoio
com a seguinte referência: ANTÓNIO BRAZ TEIXEIRA, Princípios de Direito Fiscal,
Almedina, Coimbra, 1979, pp. 148-149.

E o que decorre do CGT? A obrigação de pagar um imposto constitui-se no momento da


liquidação, como defende a corrente constitutivista?
• Não. A liquidação não tem efeitos constitutivos mas efeitos meramente
declarativos: tem a função de declarar uma obrigação nascida num momento anterior, i.e.,
com a verificação dos factos que definem a incidência (art. 24.º do CGT). É o que vem
defender a corrente declarativista sobre o momento do nascimento da obrigação tributária.
A liquidação apenas declara uma obrigação constituída num momento anterior.
• Podem estabelecer a relação entre o nascimento da obrigação do imposto e os
momentos da vida do imposto (incidência > facto tributário > lançamento > liquidação >
cobrança/pagamento). => É com a verificação dos factos que definem a incidência que
nasce a obrigação fiscal, e não com a liquidação.

JÓNATAS E. M. MACHADO/PAULO NOGUEIRA DA COSTA/OSVALDO MACAIA, pp. 194-


195, apontam quatro dimensões do facto tributário, a saber:
1) Dimensão material (ou qualitativa): diz respeito ao facto, acto ou negócio que,
traduzindo rendimento, património ou consumo, manifesta a capacidade contributiva do
contribuinte.

48
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

2) Dimensão formal (ou quantitativa): diz respeito à matéria colectável (que é a base
de rendimentos à qual se aplica a taxa do imposto). A “intensidade” do facto tributário irá
depender do nível de capacidade contributiva, isto é, do nível de rendimento, do valor do
património ou da natureza dos bens consumidos.
3) Dimensão espacial: diz respeito ao lugar da ocorrência do facto tributário, com
base nos princípios da territorialidade e da fonte. Chama-se aqui a temática da
nacionalidade e da residência do contribuinte. Ver, a propósito da aplicação da lei fiscal no
espaço, o art. 9.º do CGT.
4) Dimensão temporal: diz respeito ao momento da realização do facto tributário e à
aplicação das leis fiscais no tempo. É importante ver a data em que se considera ocorrido o
facto tributário, se é de formação imediata (ex.: emissão de factura, aquisição de um
imóvel), ou de formação sucessiva (ex.: obtenção de lucros, obtenção de rendimentos do
trabalho). Vimos nas nossas aulas também a problemática da aplicação das leis fiscais no
tempo (art. 102.º, n.º 2, da CRA e art. 8.º do CGT).

4. O objecto da relação jurídica tributária

Já abordámos sucintamente este tema na aula em que caracterizámos a relação jurídica


tributária como complexa de um ponto de vista objectivo, ou seja, do ponto de vista do seu
objecto. Dissemos que na relação jurídica tributária temos não só a obrigação principal (de
pagamento do tributo) como as obrigações acessórias (declarativas, de dedução,
reembolso e restituição de tributos, ou de pagamento de juros tributários).
Vamos apresentar agora exemplos de obrigações acessórias em alguns Códigos de
imposto. No Código do Imposto sobre os Rendimentos do Trabalho (CIRT), temos
exemplos de obrigações acessórias nos capítulos IV/V (deveres de retenção na fonte e
entrega de IRT retido), VI (apresentação de declarações), VIII (elaboração de mapas
mensais, declaração de cessação de actividade, organização de processo) e X (conservação
de documentação por cinco anos, inscrição dos titulares dos rendimentos do Grupo B,
actualização de cadastro), e ainda no art. 35.º (recibo de remunerações), e temos também
previstas penalidades (art. 27.º e ss) para os casos de não cumprimento das referidas
obrigações declarativas e dos deveres de retenção e entrega do imposto retido. Também
encontramos diversos exemplos de obrigações acessórias no Código de Imposto Industrial
(CII). Uma empresa que pertença ao Grupo A de tributação é obrigada à entrega de uma
declaração anual de rendimentos (como vimos, trata-se de uma obrigação acessória de
natureza declarativa), que sustenta o cálculo do imposto (art. 51.º e art. 12.º, n.º 1, do CII),
e se a empresa não cumprir esta obrigação declarativa, além de se sujeitar à multa prevista
no art. 75.º do CII, verá a sua matéria colectável (isto é, a base de rendimentos a que se
aplica a taxa de imposto) determinada de forma indirecta, ou seja, em vez de ser tributada
pelos rendimentos declarados, uma vez que não os declarou, vai a empresa ser tributada
pelos rendimentos presumidos. Se olharmos com atenção para o art. 12.º, n.º 2, e para o
57.º, ambos do CII, vemos que a Administração Tributária pode utilizar métodos indirectos
de apuramento da matéria colectável, ou seja, pode determiná-la por presunção quando
falte a declaração, tendo por base todos os elementos de que disponha, tais como:

49
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

elementos da contabilidade da empresa, outros impostos pagos pela empresa, rendimentos


declarados em anos anteriores, cruzamento de informações a partir, por exemplo, de
elementos declarados ao fisco por outras entidades ou empresas que tenham estabelecido
relações com o contribuinte, etc.). Um outro exemplo de uma importante obrigação
acessória é a prevista no art. 11.º do CII, respeitante ao cadastramento do contribuinte e
declaração de início de actividade (com a respectiva penalidade no art. 75.º do CII). Por
fim, de realçar que o CII também estabelece obrigação de realização de retenções na fonte
(art. 67.º e art. 73.º do CII).
A doutrina ainda distingue o objecto imediato do objecto mediato da relação jurídica
tributária. O objecto imediato é o conteúdo da relação jurídica, é constituído pelo conjunto
de direitos e deveres que fazem parte da relação jurídica (por exemplo, do lado do sujeito
passivo temos a obrigação principal de pagar o tributo e o conjunto de obrigações ou
deveres acessórios que a lei preveja). O objecto mediato é a prestação (a prestação
principal e prestações acessórias). Vide SOARES MARTÍNEZ, pp. 264-268.
Finalmente, é importante não confundir o objecto da relação jurídica tributária com o
objecto do imposto. Como vimos, o objecto da relação jurídica fiscal abarca o objecto
imediato (os direitos e deveres dos sujeitos) e o objecto mediato (as prestações em que se
concretizam esses direitos e deveres). [Vide ANTÓNIO BRAZ TEIXEIRA, p. 221.] O objecto
do imposto é “o bem, a situação, o facto ou a actividade sobre que incide a tributação”
(ANTÓNIO BRAZ TEIXEIRA, p. 221), é a coisa sobre a qual o imposto incide (SOARES
MARTÍNEZ, p. 262).
Exemplo: Imposto sobre os Rendimentos do Trabalho – IRT (Grupo A). Objecto do
imposto: rendimentos do trabalho dependente (salário). Objecto imediato da relação
jurídica fiscal: direitos e deveres que com a verificação dos factos que definem a
incidência a lei define para o sujeito activo e para o sujeito passivo. Objecto mediato da
relação jurídica fiscal: as concretas prestações em que se concretizam esses direitos e
deveres.

5. Os sujeitos da relação jurídica tributária

5.1. O sujeito activo. A organização administrativa fiscal.

O sujeito activo. É sujeito activo da relação tributária a entidade que, ao abrigo de


normas de direito público, seja titular do direito de exigir o cumprimento da obrigação
tributária (cfr. art. 28.º, n.º 2, do CGT). E o direito de exigir o cumprimento da obrigação
tributária pode ser exercido directamente pelo sujeito activo ou, indirectamente, em sua
representação, pela Administração Tributária (cfr. art. 28.º, n.º 3, do CGT). O Estado
dispõe de órgãos e serviços com competências específicas em matéria tributária – a
Administração Tributária ou Administração Fiscal. Na relação jurídica tributária falamos já
não do Estado no papel de legislador (Estado-legislador) mas do Estado-administrador.
(SOARES MARTÍNEZ, pp. 206-207).

50
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

A organização administrativa fiscal. O conceito de Administração Tributária. A


Administração Tributária como a parcela da Administração Pública com competência
específica em matéria tributária. Na medida em que a Administração Tributária seja uma
“parcela” da Administração Pública, também a Administração Tributária está subordinada
aos princípios da actividade administrativa do art. 198.º da CRA. A Administração
Tributária como realidade mais ampla do que a «Administração Geral Tributária» (AGT).
Por exemplo, o Ministério das Finanças superintende a AGT, e, ambos, Ministério das
Finanças e AGT fazem parte da Administração Tributária. Ver, neste contexto, o âmbito de
aplicação do CGT e o conceito de Administração Tributária trazido no seu art. 1.º, n.º 2.
Portanto, quando falamos em “Administração Tributária” podemos não estar a referirmo-
nos somente à AGT. Há que ter em atenção as normas sobre a organização administrativa,
para entender as diferentes atribuições e competências em matéria tributária. Para o
Ministério das Finanças (MINFIN), temos o Estatuto Orgânico do Ministério das Finanças
– Decreto Presidencial n.º 31/18, de 7 de Fevereiro. Para a AGT temos o Estatuto
Orgânico da Administração Geral Tributária (EOAGT) – Decreto Presidencial n.º 324/14,
de 15 de Dezembro. A AGT resulta da fusão da Direcção Nacional dos Impostos (DNI), do
Serviço Nacional das Alfândegas (SNA) e do Projecto Executivo para a Reforma
Tributária (PERT) num ente único, conforme o que se dispõe no preâmbulo e no art. 1.º,
n.º 1, da lei que cria a AGT e aprova seu Estatuto Orgânico. A AGT integra a
Administração Indirecta do Estado e é superintendida pelo Ministério das Finanças (cfr.
art. 1.º, n.º 1, e art. 6.º do EOAGT). São atribuições gerais da AGT, por exemplo, "Garantir
a aplicação da legislação tributária” (art. 1.º, n.º 1, al. a), do EOAGT); “Liquidar e proceder
à cobrança de impostos, direitos aduaneiros e demais tributos” (art. 1.º, n.º 1, al. b), do
EOAGT); “Supervisionar a actividade tributária” (art. 1.º, n.º 1, al. d), do EOAGT). No
domínio dos actos de liquidação de impostos, são atribuições da AGT, designadamente:
“Tomar conhecimento de todos os factos ou situações previstos na lei como fontes de
obrigação tributárias” (art. 1.º, n.º 3, al. a), do EOAGT); “Organizar os registos ou
inscrições de factos tributários, instaurar os processos necessários à liquidação e cobrança
dos impostos e assegurar a sua execução” (art. 1.º, n.º 3, al. b), do EOAGT); “Organizar e
gerir o Cadastro Geral do Contribuintes” (art. 1.º, n.º 3, al. c), do EOAGT); “Supervisionar,
orientar e controlar a actividade das Repartições Fiscais e das estâncias aduaneiras” (art.
1.º, n.º 3, al. f), do EOAGT). No domínio da arrecadação de receitas, são atribuições da
AGT, nomeadamente: “Autorizar, acompanhar e controlar a actividade dos agentes
arrecadadores das receitas do Estado” (art. 1.º, n.º 4, al. c), do EOAGT); “Avaliar o
impacto dos benefícios tributários a atribuir aos operadores económicos, bem como
controlar a observância dos termos da sua concessão” (art. 1.º, n.º 3, al. d), do EOAGT). A
nível regional, a AGT estrutura-se em Serviços Regionais Tributários, cujo número não
podem ser superior a sete. E estes Serviços Regionais Tributários estruturam-se, a nível
local, em Repartições Fiscais, Delegações Aduaneiras, Postos Fiscais e Postos Aduaneiros.
Dentro da AGT situamos as Repartições Fiscais. Os Serviços Regionais Tributários
dependem hierarquicamente do Presidente da AGT. (Cfr. art. 36.º do EOAGT). Nos termos
do disposto no art. 38.º do EOAGT, a Repartição Fiscal “é o serviço local responsável pela
execução das atribuições, em matéria fiscal, do respectivo Serviço Regional da AGT a
nível da localidade em que esteja implantada” (n.º 1), e, entre as suas competências,

51
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

destacamos aqui as seguintes: “Proceder à identificação, registo e cadastro dos


contribuintes dentro da respectiva área de jurisdição” (n.º 2, alínea a); “Assegurar os
procedimentos relativos à liquidação e arrecadação ou colaborar na arrecadação das
receitas” (n.º 2, alínea b); “Organizar e instruir processos de natureza contenciosa que
sejam da sua competência” (n.º 2, alínea c); “Dirigir e gerir processos de execução fiscal,
dentro da sua respectiva área de jurisdição (n.º 2, alínea e); “Exercer as acções de
prevenção e fiscalização tributária, dentro da respectiva área de jurisdição” (n.º 2, alínea f).
Dispõe ainda o art. 40.º, n.º 1, do EOAGT: “Os postos Fiscais e os Postos Aduaneiros são
extensões das Repartições Fiscais e das Delegações Aduaneiras, responsáveis pela
execução das tarefas que sejam superiormente definidas.” Por fim, vamos destacar o art.
41.º do EOAGT: “As Repartições Fiscais e as Delegações Aduaneiras são
hierarquicamente equiparadas e dependem directamente do Director Regional da
Respectiva Região Tributária.” (n.º 1) “Os Postos Fiscais e os Postos Aduaneiros são
hierarquicamente equiparados e dependem directamente do Chefe da Repartição Fiscal ou
do Chefe da Delegação Aduaneira, respectivamente, da circunscrição administrativa em
que estiverem localizados.” (n.º 2)

5.2. Os conceitos de sujeito passivo, contribuinte e devedor do imposto.


A relação jurídica fiscal é um vínculo que une um lado activo a um lado passivo. No
pólo passivo, a doutrina costuma distinguir três conceitos: 1) contribuinte, 2) devedor do
imposto e 3) sujeito passivo. [Seguimos, agora (e de perto) os ensinamentos do Professor
JOSÉ CASALTA NABAIS, pp. 254-258.]

1) Contribuinte: é a pessoa relativamente à qual se verifica o facto gerador do


imposto, isto é, corresponde ao titular da manifestação de capacidade contributiva que a lei
do respectivo imposto visa atingir e que deve suportar o desfalque patrimonial que o o
imposto implica (JOSÉ CASALTA NABAIS, p. 254). Por exemplo, o Sr. António auferindo
rendimentos do trabalho por conta de outrem, preenchendo os pressupostos de incidência
objectiva e subjectiva previstos no Código do Imposto sobre os Rendimentos do Trabalho
(CIRT), é tido como o contribuinte na relação jurídica do IRT. É o Sr. António que sofre o
sacrifício patrimonial. SALDANHA SANCHES e JOÃO TABORDA DA GAMA (p. 249)
apresentam um conceito de contribuinte como «aquele que paga o imposto», um conceito
assente na essência fáctica da relação fiscal, que na língua inglesa se traduz como
“taxpayer”.
Há que distinguir, ainda, dois tipos de contribuinte: a) Contribuinte directo: quando o
sacrifício patrimonial ocorre directamente na sua esfera; b) Contribuinte indirecto: quando
o sacrifício patrimonial ocorre na sua esfera através do fenómeno económico da
repercussão do imposto. O contribuinte indirecto é também designado por alguns autores
como “contribuinte de facto”. (JOSÉ CASALTA NABAIS, p. 255.) [Obs.: Já definimos
repercussão do imposto quando estudámos a classificação “impostos directos / impostos
indirectos”.] O contribuinte indirecto não é sujeito passivo (porque não se verifica um
vínculo jurídico do contribuinte indirecto com o sujeito activo, como sublinham
SALDANHA SANCHES e JOÃO TABORDA DA GAMA, p. 209). Tal decorre também do art. 28.º,

52
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

n.º 5, do CGT: «Não é sujeito passivo (...) quem suporte por mera repercussão o encargo
económico do imposto.» Exemplificando num esquema, temos:

Imposto de Consumo

Sujeito activo Sujeito passivo

Hotel A Cliente B

Contribuinte
Estado
indirecto
(Não é sujeito
passivo)

2) Devedor do imposto em sentido amplo: é o sujeito passivo que deve satisfazer


perante o credor fiscal (Estado ou outro ente público) a obrigação do imposto. Dentro desta
acepção de «devedor do imposto em sentido amplo” JOSÉ CASALTA NABAIS (pp. 256 e
258) traz a distinção entre: devedor do imposto em sentido estrito (corresponde ao
contribuinte) e outros devedores do imposto, como os devedores indirectos (são os
substitutos tributários, cfr. art. 45.º e ss do CGT); os devedores derivados (são os
sucessores legais, cfr. art. 42.º e ss do CGT); e os devedores acessórios (são os
responsáveis fiscais, cfr. art. 47.º e ss do CGT).
Ainda podemos trazer a distinção entre devedores originários e devedores não-
originários. São devedores originários quer os contribuintes, quer os seus substitutos no
pagamento do imposto (substitutos tributários). São devedores não-originários quer os
sucessores (que ocupam o lugar do anterior sujeito passivo na relação jurídica tributária),
quer os responsáveis (que são chamados ao pagamento da dívida depois de excutidos os
bens do devedor originário, cfr. art. 48.º, n.os 3, 4 e 5, do CGT). Vide ANTÓNIO BRAZ
TEIXEIRA, p. 176.

3) Sujeito passivo: é toda e qualquer pessoa, singular ou colectiva, a quem a lei


imponha o dever de efectuar uma prestação tributária, seja o pagamento do imposto
(obrigação principal), seja o cumprimento de uma qualquer obrigação acessória (JOSÉ
CASALTA NABAIS, p. 256). O Professor JOSÉ CASALTA NABAIS apresenta uma concepção
ampla de sujeito passivo.
Atenção! Qaundo a relação jurídica fiscal é complexa, podemos encontrar do lado
passivo mais do que um sujeito. Ou seja, numa relação jurídica fiscal podemos ter um ou
mais do que um sujeito passivo. Foi por isso que a caracterizámos como complexa. Leia o
seguinte excerto:

53
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

«[N]o lado passivo da relação podem encontrar-se uma pluralidade de sujeitos


singulares ou colectivos, pois, como vimos já, na maioria dos casos, devido à sua natureza
complexa, a relação jurídica fiscal compõe-se de uma relação fundamental – obrigação
fiscal ou obrigação do imposto – e de um número, maior ou menos, de obrigações
acessórias daquela ou dela real ou virtualmente dependentes, obrigações que podem incidir
sobre o obrigado ao imposto ou sobre terceiros directa ou indirectamente ligados aos
pressupostos de facto de cuja verificação depende o nascimento do central vínculo
tributário.
Sujeitos passivos da relação fiscal serão, pois, as pessoas, singulares ou colectivas, a
quem a lei fiscal impõe o dever de efectuar a prestação de imposto ou outros deveres
acessórios.» (ANTÓNIO BRAZ TEIXEIRA, pp. 173-174)

Agora: Será que o CGT tem uma concepção ampla de sujeito passivo? Analisemos os
números 4 e 5 do art. 28.º do CGT. [Debate deste ponto.]

«Artigo 28.º
(Sujeito activo e passivo da relação tributária)
(…)
4. Sujeito passivo da relação tributária são as pessoas singulares ou colectivas, as sociedades
irregulares, os sócios das sociedades civis não constituídas sob a forma comercial e os
membros dos patrimónios autónomos, incluindo a herança indivisa e a herança jacente, ou
das organizações de facto, bem como outras entidades que, nos termos legais e ainda como
substitutos ou responsáveis, devam cumprir a obrigação tributária principal.
5. Não é sujeito passivo quem procede à retenção na fonte ou quem suporte por mera
repercussão o encargo económico do imposto.» (sublinhado nosso)

Texto para reflexão:


«Tendo em conta a profunda diferença existente entre as duas situações que, embora
frequentemente coincidentes na mesma pessoa, claramente se distinguem, apresentando
diversa relevância jurídica, salientou recentemente Galhardo Simões a conveniência de
reservar o termo sujeito passivo para o efectivo devedor do imposto, a pessoa a quem a lei
impõe a respectiva prestação, designando por contribuinte aquele que a mesma lei tem em
vista como devendo sofrer o correspondente desfalque patrimonial. Assim, enquanto o
primeiro termo designará uma noção de natureza jurídica, o devedor ou o sujeito passivo
da obrigação fiscal, o segundo refere uma realidade eminentemente económica, ou seja, a
pessoa cujo património vem a suportar o encargo tributário.
Se atentarmos em que sujeito passivo deverá ser sempre e só o que deve, aquele que
está em relação com o sujeito activo e a quem este pode exigir a prestação, veremos o bem
fundado do primeiro conceito proposto.
Quanto ao segundo, a dúvida poderá estar apenas na aceitação do termo por que se
exprime, pois a lei usa indistintamente a palavra contribuinte para designar tanto o sujeito
passivo como a pessoa que, em última instância, vem a suportar o encargo tributário.»
(ANTÓNIO BRAZ TEIXEIRA, p. 175)

54
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

5.3. A personalidade e capacidade tributárias.

Vamos analisar estes dois conceitos jurídicos que se referem tanto ao lado activo como
ao lado passivo da relação jurídica fiscal. Assim dispõe o art. 28.º, n.º 1, do CGT: «A
personalidade tributária consiste na aptidão de ser sujeito activo ou passivo da relação
tributária.» No art. 30.º do CGT, diz-se que «[t]em capacidade tributária quem possui
personalidade tributária e capacidade de exercício de direitos nos termos da Lei Civil, a
qual é também aplicável ao suprimento da incapacidade.»

ANTÓNIO BRAZ TEIXEIRA, pp. 164-165:


«A capacidade jurídica pode entender-se com referência aos direitos e deveres de que se
é susceptível de ser titular ou relativamente à possibilidade de os exercitar por si.
No primeiro caso, denomina-se capacidade de gozo ou de direito; no segundo,
capacidade de exercício ou de agir.
Precisadas estas noções, comuns a todos os ramos de Direito, podemos definir a
capacidade tributária de direito como a medida dos direitos e deveres tributários de que
um sujeito pode ser titular e a capacidade tributária de agir como a medida dos direitos e
deveres tributários que pode exercer e cumprir por si.»

Nas situações de incapacidade de exercício (menores, interditos ou inabilitados) essa


incapacidade é suprida pelos representantes legais (pais, tutores ou curadores). [JOSÉ
CASALTA NABAIS, p. 262.] Art. 32.º do CGT (Representação dos incapazes): Os
representantes fiscais dos incapazes são pessoalmente responsáveis pelo cumprimento dos
deveres fiscais dos representados.

E também os não residentes e os residentes ausentes do país têm de ter representante


legal, conforme o art. 33.º do CGT que dispõe nestes termos: «1. Os não residentes que
desenvolvam uma actividade económica no País estão obrigados à nomeação de um
representante fiscal, excepto nos casos em que sejam tributados exclusivamente por
retenção na fonte. 2. A obrigação a que se refere o número anterior, abrange ainda os
sócios não residentes de sociedades com sede ou direcção efectiva em território nacional
que aqui obtenham rendimentos ou possuam bens. 3. É sempre obrigatória a nomeação de
representante fiscal quando os sujeitos passivos não residentes pretendam intervir, a
qualquer título, no procedimento tributário ou quando os sujeitos passivos residentes se
ausentem do País por período superior a 180 (cento e oitenta) dias corridos.»

Além da representação legal, o CGT também prevê a representação voluntária ou por


mandato (o contrato de mandato tribuário). Nos termos do art. 31.º do CGT: «Os
contribuintes ou seus representantes legais podem conferir mandato, sob a forma prevista
na Lei, para a prática de actos em matéria tributária.» Ver, por exemplo, o art. 85.º do CGT
(Direito de audição): «1. O contribuinte ou seu representante legal ou voluntário devem
estes ser ouvidos previamente à conclusão do procedimento, sempre que houver instrução
e o sentido do acto que encerre o procedimento, incluindo o de liquidação, declaração dos

55
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

pressupostos da responsabilidade solidária ou subsidiária ou concessão ou revogação de


benefícios fiscais, lhes for previsivelmente desfavorável.» [sublinhado nosso]

Ver também o art. 34.º do CGT (Representação dos patrimónios autónomos e


organizações de facto) e o art. 35.º do CGT (Gestão de negócios).

Em princípio, quem tem personalidade jurídica (no direito civil) terá personalidade
tributária. Contudo, quando a lei fiscal disponha em contrário, poderemos ter i) situações
em que a lei fiscal considera sujeitos tributários entidades desprovidas de personalidade
jurídica e ii) situações em que a lei fiscal não considera sujeitos tributários entidades
detentoras de personalidade jurídica. (Vide JOSÉ CASALTA NABAIS, pp. 259-261.)

i) Situações em que a lei fiscal considera sujeitos tributários entidades desprovidas


de personalidade jurídica (vide art. 29.º, n.os 2 e 3, do CGT): heranças jacentes, pessoas
colectivas em relação às quais seja declarada a invalidade, estabelecimento estável.
ii) Situações em que a lei fiscal não considera sujeitos tributários entidades
detentoras de personalidade jurídica: sociedades sujeitas à transparência fiscal. No art.
29.º, n.º 1, do CGT temos uma situação de transparência fiscal: «Nas sociedades civis não
constituídas sob a forma comercial, a obrigação do imposto recai directamente sobre cada
sócio, na medida da sua participação nos lucros.»

Sociedade de advogados
(imaginem uma sociedade civil que não foi constituída sob a forma comercial)

Sociedade de advogados
(sociedade de profissionais) Imposto Industrial sobre os lucros da
Obs.: ver art. 109.º dos Estatutos da
sociedade
Ordem dos Advogados de Angola

Sócio A Sócio B Sócio C

Cada advogado é tributado


directamente em sede de IRT
por conta própria.

Em vez de as sociedades civis constituídas sob a forma comercial serem tributadas em


sede de Imposto Industrial, são tributados os sócios em IRT.
Com efeito, o Código do Imposto Industrial (CII) não inclui as sociedades civis não
constituídas sob a forma comercial nas suas normas de incidência subjectiva, ao definir

56
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

que são sujeitos passivos de imposto industrial «[a]s sociedades comerciais ou civis sob
forma comercial (...).» (Cfr. art. 5.º, n.º 1, al. a), do CII.)
Como vimos, o regime da transparência fiscal está previsto no CGT (art. 29.º, n.º 1).
Contudo, já em 2010, SALDANHA SANCHES e JOÃO TABORDA DA GAMA (p. 249) defendiam
que, por razões de ordem prática, o regime da transparência fiscal deveria ter sido inserido
no Código do Imposto sobre os Rendimentos do Trabalho (CIRT), que tributa os
rendimentos derivados do trabalho por conta própria (da actividade de profissões liberais),
salientando que os advogados estão expressamente previstos na lista de profissões anexa ao
CIRT. Os autores criticaram a opção do legislador quando inseriu o regime da
transparência fiscal no CGT (Diploma Legislativo n.º 3.868, de 30 de Dezembro de 1968),
opção que se manteve no CGT aprovado pela Lei n.º 21/14, de 22 de Outubro, actualmente
em vigor. [Discussão: Artigo 5.º, n.º 1, alínea a), do Código do Imposto Industrial (com a
redacção dada pela Lei n.º 4/19, de 18 de Abril).]

5.4. O domicílio fiscal. O caso de estabelecimento estável.


O domicílio fiscal como “critério especial de determinação da jurisdição tributária do
Estado” e como “pressuposto da operacionalização do princípio da residência” (cfr.
JÓNATAS E. M. MACHADO/PAULO NOGUEIRA DA COSTA/OSVALDO MACAIA, p. 201).
Segundo o art. 36.º do CGT, todo o contribuinte é obrigado a indicar o seu domicílio fiscal,
que consta do seu cartão de identificação fiscal. Se o contribuinte alterar a sua residência
ou domicílio é também obrigado a comunicar à Repartição Fiscal ou serviço local
equivalente da área da nova residência ou domicílio essa alteração, no prazo de 30 dias,
sob pena de multa (art. 41.º, n.º 1, do CGT). Além disso, a mudança não comunicada “é
ineficaz para efeitos da invocação da caducidade do direito de liquidação com fundamento
na falta de notificação do contribuinte no prazo legal” (art. 41.º, n.º 2, do CGT). A
Administração Tributária pode rectificar oficiosamente o domicílio do contribuinte quando
tenha conhecimento da alteração de domicílio em virtude de elementos ao seu dispor,
devendo notificar essa rectificação ao contribuinte (art. 41.º, n.º 3 (salientando a parte
final), do CGT).
O CGT estabelece critérios para a determinação do domicílio fiscal das pessoas
singulares (art. 37.º) e das pessoas colectivas (arts. 38.º e 39.º). Para uma análise mais
completa destes critérios, vejam JÓNATAS E. M. MACHADO/PAULO NOGUEIRA DA
COSTA/OSVALDO MACAIA, pp. 201-205. Vamos registar aqui apenas alguns aspectos, o que
não dispensa a leitura integral dos respectivos artigos do CGT.
O domicílio fiscal das pessoas singulares corresponde ao lugar da sua residência
habitual (art. 37.º, n.º 1, do CGT). Para efeitos legais, considera-se residente fiscal em
Angola «quem aí dispuser, a 31 de Dezembro de cada ano, de uma habitação em condições
que façam supor a intenção de a manter e ocupar como residência habitual ou quem, em
cada ano, aí permanecer mais de 183 (cento e oitenta e três) dias seguidos ou interpolados»
(art. 37.º, n.º 2, do CGT).
O domicílio fiscal das pessoas colectivas é o lugar da sua sede (fixado nos estatutos da
sociedade), o lugar da sua direcção efectiva (definido como “o lugar em que funciona
normalmente a sua administração principal”), o lugar do estabelecimento estável, ou o
lugar da residência habitual do representante fiscal, conforme o disposto no art. 38.º do

57
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

CGT. Chama-se a atenção para a importância em termos práticos do n.º 2, do art. 38.º do
CGT: «Sempre que a direcção efectiva seja exercida no território nacional, mas a sede
estatutária se situe no exterior, considera-se domicílio o local dessa direcção efectiva.»
Sobre o conceito de estabelecimento estável, ver o art. 39.º, n.º 1: «compreende uma
instalação fixa, através da qual a empresa exerça toda ou parte da sua actividade».
Identificar o art. 39.º, n.os 1 e 2, do CGT como um caso de tipicidade aberta. JOSÉ CASALTA
NABAIS (p. 266) traz a distinção entre estabelecimentos reais (“instalação fixa”) e
estabelecimentos pessoais (“uma pessoa”). O CGT refere-se a estabelecimentos pessoais
no art. 39.º, n.º 3, ao estabelecer que «quando uma pessoa singular ou colectiva que não
seja um agente independente a que é aplicável o n.º 6 actue, no País, para uma empresa e
tenha ou habitualmente exerça, em território nacional, poderes para concluir contratos em
nome desta empresa, é considerado que a mesma tem aqui um estabelecimento estável
relativamente a qualquer actividade que essa pessoa exerça ou possa exercer para a
empresa, se a referida pessoa: dispuser de poderes para concluir habitualmente contratos
no País em nome da empresa ou não dispondo de tais poderes, conserve habitualmente no
País um «stock» de mercadorias para entrega por conta da empresa.» [Sublinhado nosso]

5.5. O número de identificação fiscal.


O Regime Jurídico do Número de Identificação Fiscal (Decreto Executivo n.º 366/17,
de 27 de Julho).

5.6. A substituição tributária


A substituição tributária. Noção e espécies. Nos termos do art. 45.º do CGT a
substituição fiscal dá-se “quando o imposto é exigido a pessoa diversa do contribuinte
efectivo” (n.º 1), e efectiva-se, em regra, mediante o mecanismo da retenção na fonte do
imposto devido” (n.º 2), considerando que a retenção na fonte “abrange as entregas
pecuniárias efectuadas pelo substituto tributário, deduzidas aos rendimentos pagos ou
postos à disposição do titular” (n.º 3). A técnica financeira mediante a qual a substituição
tributária se efectiva é a retenção na fonte. A retenção na fonte vem definida no art. 2.º, n.º
1, al. u) do CGT, como a “dedução de um montante correspondente ao valor de um
determinado imposto, a favor da Administração Tributária, efectuada pela entidade, por
qualquer título, pagadora de um rendimento, por conta do beneficiário deste”. (sublinhado
nosso) O art. 45.º, n.º 4, do CGT, fala-nos em dois tipos de retenção na fonte: 1) Retenção
na fonte liberatória ou a título definitivo e 2) Retenção na fonte não liberatória ou a título
de pagamento por conta de imposto de terceiro.
1) Retenção na fonte liberatória ou a título definitivo. A retenção na fonte liberatória
ou definitiva é designada pela doutrina como “retenção na fonte em sentido próprio”
porque o imposto é retido de forma total e definitiva, mediante taxas liberatórias (“taxas
finais”). Aqui a substituição tributária é uma substituição total já que abrange tanto a
obrigação de imposto como a generalidade das obrigações acessórias. Ou seja, o
substituído além de não ter de, ele próprio, liquidar e entregar o seu imposto nos cofres do
Estado (uma vez que esta é uma obrigação que a lei atribui ao substituto, por via do
mecanismo da retenção da fonte) também não terá ele, o substituído, obrigações
declarativas, de entrega de declarações, nem terá ele a generalidade das obrigações

58
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

acessórias, pois estas pertencerão, por força da lei, ao substituto. Por isso se diz que nos
casos em que a retenção na fonte é caracterizada como uma retenção liberatória ou
definitiva estamos perante uma substituição total: cobrindo tanto a obrigação de
imposto/obrigação principal, como a generalidade das obrigações acessórias. Exemplos:
retenção na fonte em sede de tributação dos rendimentos do trabalho dependente (CIRT –
Grupo A); tributação em sede do regime de tributação dos serviços acidentais (CII – art.
4.º, n.º 2, e art. 71 e ss).
2) Retenção na fonte não liberatória ou a título de pagamento por conta de imposto
de terceiro. A retenção na fonte não liberatória ou a título de pagamento por conta de
imposto de terceiro devido a final visa uma mera antecipação do pagamento do imposto, de
forma provisória, entendendo-se que o imposto não é retido de forma total e definitiva.
Atenda-se, por exemplo, aos impostos que são devidos apenas no final do ano. Assim, o
imposto que for sendo retido na fonte ao longo do ano, no final, com a apresentação da
declaração e liquidação definitiva do imposto, será levado em conta e deduzido à colecta,
ao valor do imposto a pagar no final do ano. Para o substituído fica então o cumprimento
de algumas obrigações acessórias, como a apresentação da declaração anual de
rendimentos para liquidação e pagamento definitivo do imposto. A substituição tributária
aqui não é total, é uma substituição parcial. Exemplos: retenção na fonte em sede de
tributação dos rendimentos do trabalho por conta própria (CIRT – Grupo B); liquidação e
pagamento provisório sobre prestação de serviços (CII – art. 67.º).
Sobre estes conceitos, v. JOSÉ CASALTA NABAIS, pp. 268-270.
Regime jurídico. O regime jurídico da substituição fiscal concretiza-se numa relação
triangular ou trilateral. Estamos perante uma relação jurídica de tipo triangular entre o
substituto, a Administração Fiscal e o contribuinte/substituído. Nessa relação «credor 
devedor» temos, do lado passivo/do devedor, um devedor originário (a quem vai ser
exigido em primeira linha o pagamento do imposto) que é o substituto, e um devedor não
originário (a quem vai ser exigido em segunda linha o pagamento do imposto) que é o
substituído ou o contribuinte (V. José Casalta Nabais, p. 271). Tomemos a seguinte
hipótese como ponto de partida para analisar a substituição fiscal: António, jovem de 25
anos, trabalha na empresa “ABC, Lda”, auferindo um salário mensal de AKZ 45 000,00.
Pergunta-se: Quem é o devedor do imposto? Este é um caso típico de substituição fiscal
em que o imposto vai ser exigido a pessoa diversa (ABC, Lda) do contribuinte efectivo (Sr.
António), nos termos do art. 45.º, n.º 1, do CGT. Porque, em concreto, nesta relação
jurídica de IRT (por conta de outrem) é à ABC, Lda que a lei atribui a obrigação de fazer a
liquidação, a retenção na fonte e a entrega do imposto devido nos cofres do Estado (art.
10.º, n.º 1 e 11.º, n.º 1 do CIRT). Em IRT por conta de outrem a retenção na fonte é
definitiva ou a taxas liberatórias/taxas finais. A ABC, Lda é o devedor originário ou em
primeira linha enquanto substituto nesta concreta relação jurídica de imposto e o Sr.
António será o devedor não originário ou em segunda linha (substituído/contribuinte
efectivo) do imposto.

5.7. A responsabilidade tributária


A responsabilidade tributária. (Vide artigos 47.º a 49.º do CGT.) Quando se fala em
responsabilidade costuma-se separar a responsabilidade por dívidas próprias e a

59
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

responsabilidade por dívidas de outrem (ou dívidas alheias). A responsabilidade tributária


é uma responsabilidade por dívidas de outrem. Nos termos do disposto no n.º 1, do art.
47.º, do CGT, “a responsabilidade tributária por dívidas de outrem é excepcional, apenas
existindo nos casos e termos previstos na lei.” Em regra, a responsabilidade tributária
abrange a totalidade da dívida, incluindo os juros e outros encargos legais (art. 47.º, n.º 2,
do CGT). E, em regra, a responsabilidade tributária por dívidas de outrem é subsidiária
(art. 47.º, n.º 3, do CGT). Art. 48.º, n.os 1 e 2, momento constitutivo e momento declarativo
da responsabilidade tributária. JOSÉ CASALTA NABAIS (p. 275), distingue “dentro” da
responsabilidade (subsidiária) face ao devedor originário, a reponsabilidade “solidária” e a
responsabilidade “subsidiária”, quando a lei preveja uma pluralidade de responsáveis. A
responsabilidade subsidiária “depende da inexistência ou insuficiência dos bens do devedor
originário, seus sucessores e responsáveis solidários para pagamento da dívida exequenda e
acrescido” (art. 48.º, n.º 3) [ver também os n.os 4 e 5]. A responsabilidade subsidiária
efectiva-se mediante “a reversão do processo de execução fiscal contra o responsável
subsidiário” (art 48.º, n.º 2, 2.ª parte, do CGT; ver também art. 57.º e ss do Código das
Execuções Fiscais), contra todos os responsáveis tributários quando há uma pluralidade de
responsáveis. Se a lei prever a responsabilidade solidária, a responsabilidade tributária
efectiva-se com a reversão do processo de execução fiscal apenas contra um desses
responsáveis solidários.
A solidariedade tributária verifica-se quando o credor do imposto pode exigir o
cumprimento da totalidade da dívida tributária tanto ao devedor como ao responsável ou
responsáveis (JOSÉ CASALTA NABAIS, p. 274).
Algumas situações de responsabilidade tributária: responsabilidade dos
administradores, gerentes e mandatários (art. 72.º do CGT) e responsabilidade em caso de
substituição tributária (art. 74.º do CGT).
Notas sobre a responsabilidade dos administradores, gerentes e mandatários. “Pelo
pagamento dos tributos e multas devidas por pessoas colectivas de direito público ou
privado, são pessoal e subsidiariamente responsáveis em relação à sociedade ou empresa e
solidariamente entre si, pelo período da sua administração ou gerência, os respectivos
administradores e gerentes, ainda que meramente de facto, se as dívidas não puderem ser
cobradas dos originários devedores, sendo nula qualquer cláusula estatutária em sentido
contrário.” [sublinhado nosso] (art. 72.º, n.º 1, do CGT.) “A responsabilidade prevista no
número anterior, depende da culpa dos responsáveis subsidiários na falta de pagamento das
dívidas, devendo a culpa ser demonstrada pela Administração Tributária.” [sublinhado
nosso] (art. 72.º, n.º 2, do CGT.) “A responsabilidade subsidiária prevista no presente
artigo é extensiva aos administradores e gerentes que tiverem terminado o exercício de
funções antes do início do prazo de pagamento voluntário das dívidas quando, em acção
declarativa deduzida pelo Ministério Público nos termos do Código de Processo Civil, se
demonstrar a culpa na insuficiência do património ou empresa de sociedade limitada para o
pagamento dessas dívidas.” [sublinhado nosso] (art. 72.º, n.º 3, do CGT.) => Algumas
questões para reflexão crítica: Como está distribuído o ónus da prova? Em algum momento
recai o ónus da prova sobre os administradores ou gerentes? Esta situação estava prevista
no CGT angolano que vigorou até 2014? E como é tratada a questão no direito fiscal
português?

60
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

Notas sobre a responsabilidade do substituto tributário. De acordo com o art. 74.º do


CGT, há na substituição tributária três situações de responsabilidade tributária, a saber:
‒ No caso de o imposto ter sido retido e não entregue nos cofres do Estado: o
substituto tributário fica exclusivamente responsável pelo pagamento da dívida tributária,
salvo quando se demonstre que o substituído tributário colaborou dolosamente na prática
da infracção, caso em que é responsável solidário com o substituto tributário (art. 74.º, n.º
3, do CGT). Nota: Em sede de Imposto sobre os Rendimentos do Trabalho (IRT), a falta de
entrega do imposto, ou a entrega de quantia inferior à descontada é punida com pena de
multa, igual ao dobro do quantitativo do imposto em falta, sem prejuízo de procedimento
criminal se se presumir a existência de crime (art. 32.º do CIRT). E nos termos do art.
179.º, n.º 2, al. a) do CGT, o substituto comete, se tiverem ocorrido mais de 90 dias sobre
o termo do prazo legal para a entrega da prestação, o crime de abuso de confiança fiscal.
‒ No caso de o imposto não ter sido retido:
o E a retenção seja por conta do imposto devido a final: o substituto é responsável
subsidiário pelo imposto não retido e pelos acréscimos legais (art. 74.º, n.º 1, do CGT);
o E a retenção seja definitiva: o substituto é solidariamente responsável com o
substituído pelo imposto não retido e pelos acréscimos legais (art. 74.º, n.º 2, do CGT).
Nota: Nos termos do art. 31.º do Código do (CIRT), sob a epígrafe “falta de retenção”,
as entidades obrigadas à retenção de imposto na fonte que não cumpram com essa
obrigação são punidas com pena de multa nos termos do Código Geral Tributário (n.º 1),
e essa multa não pode ter um valor inferior a kz: 50.000,00 (n.º 2).

6. A transmissão da obrigação tributária


A transmissão da obrigação fiscal. O princípio da intransmissibilidade dos créditos e
das dívidas tributárias (artigos 42.º e 44.º do CGT). Excepções ao princípio da
intransmissibilidade dos créditos e das dívidas tributárias: art. 43.º do CGT (transmissão
por morte das dívidas tributárias) => transmissão da obrigação fiscal pelo lado passivo ou
sucessão legal; art. 56.º do CGT (pagamento por terceiro) => transmissão da obrigação
fiscal pelo lado activo ou sub-rogação nos direitos da Fazenda Pública. Garantias do
credor sub-rogado (art. 65.º do CGT). JOSÉ CASALTA NABAIS defende que deve estender-
se o instituto da sub-rogação ao direito de regresso dos responsáveis fiscais contra o
devedor originário ou contra os demais responsáveis solidários, contra alguma doutrina.
(JOSÉ CASALTA NABAIS, pp. 281-283.)

7. A extinção da relação jurídica tributária


(JOSÉ CASALTA NABAIS, pp. 285-290.)
Pagamento (art. 55.º do CGT). O pagamento é a forma normal de extinção da relação
jurídica tributária. O cumprimento extingue a obrigação fiscal. Como vimos, o
pagamento/cumprimento pode ser voluntário ou coercivo (art. 135.º do CGT). Pagamento
voluntário => possibilidade de pagamento em prestações (art. 136.º, n.os 3 e ss, do CGT).
O pagamento de juros de mora decorrido o prazo para pagamento voluntário. A distinção
entre juros de mora (art. 52.º do CGT) e juros compensatórios (art. 51.º do CGT). Limite
legal ao montante dos juros de mora => cinco anos (art. 52.º, n.º 4, do CGT). Findo o
prazo de pagamento voluntário a Repartição Fiscal procede à extracção de certidão de

61
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

dívida, que serve de base ao processo de execução fiscal (art. 139.º do CGT). Natureza
judicial do processo de execução fiscal (art. 140 do CGT). Dação em cumprimento (art.
57.º do CGT).
Compensação de créditos (arts. 58.º e 59.º do CGT).
Confusão [na mesma entidade das qualidades de sujeito activo e passivo da obrigação
tributária] (art. 60.º do CGT). Exemplo de confusão: quando o terceiro sub-rogado nos
direitos da Administração Tributária ocupa o lugar de herdeiro de contribuinte, passando a
estar “ao mesmo tempo” nos lugares de sujeito activo e sujeito passivo, operando-se, então,
extinção da relação jurídica fiscal por confusão.
Caducidade do direito à liquidação e prescrição da dívida tributária. Conceitos:
caducidade da obrigação de liquidação (na redacção do art. 2.º, n.º 1, alínea c), do CGT -
«caducidade do direito à liquidação»): extinção do direito e dos poderes de liquidação que
a Administração Tributária dispõe em relação às declarações fiscais dos contribuintes por
força do decurso do prazo para o efeito fixado na lei; prescrição da dívida tributária (art.
2.º, n.º 1, alínea p), do CGT): a extinção do direito de cobrança da dívida tributária por
parte da Administração Tributária pelo decurso do período de tempo estabelecido por lei.
Regime jurídico: caducidade da obrigação de liquidação – art. 62.º do CGT; prescrição da
dívida tributária – art. 63.º do CGT. Distinção pelos momentos da vida do imposto:
caducidade – liquidação; prescrição – cobrança.

8. As garantias da relação jurídica tributária


(JOSÉ CASALTA NABAIS, pp. 291-294.)
Garantia geral dos créditos tributários. O património do devedor como garantia como
garantia geral dos créditos tributários (art. 64.º, n.º 1, do CGT). “O juiz ordena a citação do
Chefe da Repartição Fiscal competente ou serviço local equiparado da área do domicílio
ou sede do executado, dos seus estabelecimentos comerciais e industriais e da localização
dos bens penhorados para apresentar, no prazo de 10 (dez) dias, certidão das dívidas que
nesse processo puderem ser reclamadas, sob pena de nulidade dos actos posteriores à data
em que a citação devesse ter sido efectuada, sempre que em processo de execução que não
tenha natureza fiscal, o valor ultrapasse Kz: 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil
Kwanzas) e em processo de falência ou insolvência.” [sublinhado nosso] (Art. 64.º, n.º 3,
do CGT.) Garantias do credor sub-rogado (art. 65.º do CGT).
Garantias especiais. Prestação de caução (art. 66.º do CGT). Garantias reais.
Privilégios creditórios (art. 64.º, n.º 2, al. a), e art. 67.º, ambos do CGT). Penhor ou
hipoteca legal (art. 64.º, n.º 2, al. b), e art. 68.º, ambos do CGT). Concurso de garantias
(art. 69.º do CGT). Garantias pessoais (art. 64.º, n.º 2, al. c), do CGT e artigos 70.º a 75.º
do CGT).
SOARES MARTÍNEZ apresenta ainda os juros de mora e compensatórios como uma forma
de garantia tributária. Consultar o texto de apoio em anexo: SOARES MARTÍNEZ, Direito
Fiscal, 9.ª ed., Almedina, Coimbra, 1997, pp. 286-287.

62
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

9. Exemplificação prática em sede de Imposto sobre os Rendimentos do Trabalho.

Hipótese prática:

O Sr. Adriano é o trabalhador mais antigo da "MegaTec, Lda", sociedade comercial


do ramo informático que tem a sua sede e direcção efectiva em Luanda. Suponha que o
Sr. Adriano aufere uma remuneração mensal de kz.: 165.000,00 (cento e sessenta e
cinco mil kwanzas), um subsídio de chefia de kz.: 80.000,00 (oitenta mil kwanzas)
mensais e um subsídio de renda da casa de kz.: 60.000,00 (sessenta mil kwanzas)
mensais. Admita que após analisar atentamente os recibos de vencimento, constatou
que, desde Janeiro de 2020, a sua entidade patronal não lhe fez quaisquer retenções na
fonte para efeitos de Imposto sobre os Rendimentos do Trabalho e ficou apreensivo.
Assim sendo, pretende saber:
a) Se o seu vencimento e subsídios estão ou não sujeitos a retenção na fonte e, em caso
afirmativo, se tal retenção é feita a título definitivo ou não;

1.ª ideia: Perguntar se estão ou não sujeitos a retenção na fonte o vencimento e os


subsídios atribuídos ao Sr. Adriano equivale a perguntar se este é sujeito passivo de
imposto. O Sr. Adriano é sujeito passivo de Imposto sobre os Rendimentos do Trabalho
(IRT); nascimento da obrigação fiscal (art. 24.º do CGT – a obrigação tributária constitui-
se com a verificação dos factos que definem a incidência); normas de incidência no Código
do Imposto sobre os Rendimentos do Trabalho (CIRT) – artigos 1.º a 4.º do CIRT;
incidência objectiva (art. 1.º do CIRT/rendimentos do trabalho por conta de outrem);
salário e subsídios (art. 1.º, n.º 1 e 2, do CIRT); não-sujeição: subsídio de renda de casa
(art. 2.º, n.º 1, al. f), do CIRT – “até ao limite de 50% do valor do contrato de
arrendamento”); tributação de rendimentos do «Grupo A» (art. 3.º, n.º 2, do CIRT);
incidência subjectiva (art. 4.º, n.º 1, do CIRT – irrelevância da nacionalidade ou da
residência por aplicação do critério da fonte). O Sr. Adriano é uma pessoa singular que
trabalha para uma pessoa colectiva (MegaTec, Lda) com sede e direcção efectiva em
Angola; assim, a circunstância de um trabalhador manifestar capacidade económica
obtendo um salário (verificação de um facto) faz nascer a obrigação legal (previsão desse
facto nas normas de incidência) de pagar IRT.

A relação jurídica de IRT (Grupo A) caracteriza-se como uma relação jurídica tributária
triangular ou trilateral; caso de substituição tributária/retenção na fonte; noção de
substituição tributária (art. 45.º do CGT); substituição tributária na relação jurídica de IRT
(artigos 10.º, n.º 1, e 11.º, n.º 1, do CIRT); substituto tributário (MegaTec, Lda) e
substituído tributário (Sr. Adriano), sujeitos passivos de IRT; conceito amplo de sujeito
passivo (art. 28.º, n.º 4, do CGT).

63
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

LINHAS ORIENTADORAS DE ORGANIZAÇÃO DO PENSAMENTO

Dados:
 Identificamos no caso uma relação jurídica laboral (trabalhador/Sr. Adriano –– entidade
empregadora/MegaTec, Lda);
 Estamos perante rendimento do trabalho dependente;
 Sabemos que o rendimento é uma das formas de manifestação de capacidade económica.
 No caso: a capacidade económica manifesta-se através do salário e dos subsídios.
 No caso: quem manifesta esta capacidade económica é o trabalhador/Sr. Adriano.

Perguntas:
Há obrigação de pagar imposto?
Ou, melhor:
Há obrigação de pagar imposto por via de retenção na fonte sobre os rendimentos pagos?
Os salários e os subsídios pagos são objecto de tributação?
O trabalhador é contribuinte/sujeito passivo numa relação jurídica de imposto?
Qual é o tipo de imposto?

Nascimento da obrigação de pagar o imposto:


Artigo 24.º do CGT
A obrigação fiscal nasce com a verificação dos factos que definem a incidência.

O facto constitutivo da relação jurídica de imposto é complexo, sendo possível identificar dois
elementos: primeiro, um facto real e concreto (o facto tributário) e, segundo, uma norma que o
preveja como sendo um facto apto a desencadear efeitos tributários (Joaquim Freitas da Rocha).
Assim, a circunstância de um trabalhador manifestar capacidade económica obtendo um salário
(verificação de um facto) faz nascer a obrigação legal (previsão normativa) de pagar IRT.
[Esquema: 1.º verificação de um facto → 2.º previsão desse facto numa norma tributária de
incidência]. A incidência inclui a incidência real ou objectiva e a incidência pessoal ou
subjectiva. Podemos definir a incidência real como o conjunto de pressupostos que define a
realidade sujeita a imposto. E definimos a incidência pessoal como o conjunto de pressupostos
que define o sujeito passivo da obrigação de imposto. (AMÉRICO FERNANDO BRÁS CARLOS)

Normas de incidência no Código do Imposto sobre os Rendimentos do Trabalho (CIRT):


Arts. 1.º a 4.º

Incidência objectiva:
Incidência subjectiva:
Art. 1.º (Base do imposto)
Art. 4.º (Incidência subjectiva e
Art. 3.º (Grupos de tributação)
âmbito de sujeição)
Art. 2.º (Não sujeição)

RELAÇÃO JURÍDICA DE IRT (GRUPO A)


64
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

2.ª ideia: Perguntar se estão ou não sujeitos a retenção na fonte tanto o vencimento
como os dois subsídios atribuídos ao Sr. Adriano equivale a perguntar se estes
rendimentos constituirão matéria colectável na sua totalidade. Em sede de tributação dos
rendimentos do trabalho dependente (rendimentos do Grupo A), a matéria colectável
corresponde ao salário base (no caso, a remuneração mensal de kz.: 165.000,00), somando
a este outras componentes remuneratórias sujeitas a tributação e que a lei não isente de
tributação, e deduzindo o valor das contribuições obrigatórias para a Segurança Social
(vide o art. 7.º, em especial, o n.º 2, alíneas a) e b), do CIRT). No caso em análise, temos
duas componentes remuneratórias além do salário base: um subsídio de chefia e um
subsídio de renda da casa. Constituirão ambos os subsídios (na sua totalidade) matéria
colectável? Os subsídios integram o elenco dos rendimentos que são base de tributação
para efeitos do cálculo do IRT, isto é, constituem em regra remunerações acessórias
sujeitas a IRT (art. 1, n.º 2, do CIRT – tipicidade aberta). Todavia, para efeitos de
determinação da matéria colectável há que ver se há alguma componente remuneratória
não sujeita a tributação ou dela isenta nos termos do CIRT. O art. 2.º do CIRT, sob a
epígrafe “não-sujeição” determina que não constituem matéria colectável os subsídios de
renda de casa até ao limite de 50% do valor do contrato de arrendamento, desde que
cumpridas certas obrigações acessórias (art. 2.º, n.º 1, alínea f), e n.os 2 e 3, do CIRT). Para
que o subsídio de renda de casa, quando atribuído “até ao limite de 50% do valor do
contrato de arrendamento”, não constitua matéria colectável na sua totalidade é necessário
que os interessados façam a entrega da cópia do contrato de arrendamento na Repartição
fiscal competente, no prazo de 15 dias contados a partir da data da assinatura do contrato,
pois na falta de entrega o legislador determina que os montantes atribuídos ao trabalhador a
título de subsídio de renda de casa constituam matéria colectável na sua totalidade. O
subsídio de chefia não é contemplado por nenhuma das alíneas do art. 2.º do CIRT, pelo
que, sendo definido como base de tributação, constituirá matéria colectável na sua
totalidade.

Poderíamos perguntar também: E como se determinaria, perante os dados fornecidos


na hipótese em apreciação, a colecta?

Hipótese 1 – Se considerarmos que o subsídio da renda de casa não constitui matéria


colectável na sua totalidade:
IRT(A) = [(sb + n - SS) - LT] x Txi + PF
 IRT(A) = [(165 000 + 80 000 - SS) - LT] x Txi + PF
 IRT(A) = [(245 000 - SS) - LT] x Txi + PF
 IRT(A) = [(245 000 - 9 150) - LT] x Txi + PF
 IRT(A) = (235 850 - LT) x Txi + PF
 IRT(A) = (240 050 - 230 000) x Txi + PF
 IRT(A) = 5 850 x Txi + PF
 IRT(A) = 5 850 x 17% + PF
 IRT(A) = 994,5 + PF
 IRT(A) = 994,5 + 25 750
 IRT(A) = 26 744,5 kz a reter/a pagar

65
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

Hipótese 2 – Se considerarmos que o subsídio da renda de casa constitui matéria


colectável na sua totalidade:
IRT(A) = [(sb + n - SS) - LT] x Txi + PF
 IRT(A) = [(165 000 + 80 000 + 60 000 - SS) - LT] x Txi + PF
 IRT(A) = [(305 000 - SS) - LT] x Txi + PF
 IRT(A) = [(305 000 - 9 150) - LT] x Txi + PF
 IRT(A) = (295 850 - LT) x Txi + PF
 IRT(A) = (295 850 - 230 000) x Txi + PF
 IRT(A) = 65 850 x Txi + PF
 IRT(A) = 65 850 x 17% + PF
 IRT(A) = 11 194,5 + PF
 IRT(A) = 11 194,5 + 25 750
 IRT(A) = 36 944,5 kz a reter/a pagar

A retenção na fonte de IRT a efectuar sobre a atribuição de rendimentos do Grupo A é


sempre uma retenção na fonte liberatória ou a título definitivo.

NOTA

Passos gerais para o cálculo de um imposto:


1.º passo → enquadrar os factos nos pressupostos que definem a incidência
(objectiva e subjectiva) → 2.º passo → verificar se há isenções → 3.º passo →
analisar as normas de determinação da matéria colectável → 4.º passo → aplicar
a taxa de imposto sobre a matéria colectável apurada → 5.º passo → colecta
(resulta dos dois passos anteriores: é o valor que resulta da aplicação da taxa
sobre a matéria colectável) → 6.º passo → deduções à colecta: ver se a lei do
imposto permite deduzir algum valor à colecta apurada (por exemplo, imposto
que foi retido na fonte) → 7.º passo → valor do imposto a pagar.
Observações:
Para os conceitos de colecta e de deduções à colecta, podemos consultar o
artigo 2.º, alíneas e) e g), do CGT.
A matéria colectável pode ser definida como a base de rendimentos à qual
vamos aplicar a taxa de imposto. Não podemos esquecer que a operação de
aplicação da taxa à matéria colectável tem o nome de liquidação (ou, melhor
dizendo, corresponde à “liquidação em sentido estrito”). Com a liquidação dá-se
o apuramento ou a quantificação do imposto a pagar; já o efectivo pagamento do
imposto dá-se na última fase da vida do imposto, que é a cobrança. Assim, não
podemos confundir liquidação ( = quantificação do imposto a pagar) com
cobrança ( = pagamento do imposto).

66
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

b) Se a Administração Tributária lhe pode pedir a ele o pagamento de eventuais


quantias que estejam em dívida pelo facto de a retenção não ter sido efectuada;

Art. 20.º do CIRT – “Nos casos em que se verificar falta de liquidação do imposto ou
em que este tenha sido liquidado por importância inferior à devida, a entidade responsável
pela entrega pode, espontaneamente, proceder às liquidações adicionais que se mostrem
necessárias, salvo se antes houver sido iniciado procedimento de fiscalização”; regime da
responsabilidade do substituto tributário; art. 21.º, n.º 1, do CIRT («liquidação adicional»)
– “Havendo lugar à liquidação adicional, a responsabilidade pelo pagamento do imposto
pertence às entidades obrigadas à retenção na fonte, sem prejuízo do direito de regresso
que possa caber-lhes, e, subsidiariamente, às pessoas sujeitas a imposto”.

c) Se a sua situação tributária seria diferente caso não fosse de nacionalidade angolana
e/ou tivesse idade superior a sessenta anos.

Levantar duas questões:


1.ª questão: Pressupostos que definem a incidência subjectiva (art. 4.º, n.º 1, do CIRT)
Dizer que o art. 4.º do CIRT não acolhe o critério da nacionalidade, nem o critério da
residência, que são elementos de conexão de natureza pessoal ou subjectiva, mas
estabelece o critério da fonte dos rendimentos, que é um elemento de conexão de natureza
real ou objectiva. Assim, nos termos do art. 4.º do CIRT (incidência subjectiva e âmbito de
sujeição), o IRT é devido pelas pessoas singulares – no caso em análise, o Sr. Adriano –,
quer residam, quer não em território angolano – e independentemente da sua nacionalidade
– cujos rendimentos sejam obtidos por serviços prestados, directa ou indirectamente, a
pessoas singulares ou colectivas com domicílio, sede, direcção efectiva ou estabelecimento
estável no país – onde se enquadra a “MegaTec, Lda” com sede em Angola.

2.ª questão: Pressupostos que definem a isenção subjectiva (art. 5.º, n.º 1, alínea e), do
CIRT)
Questionar a possibilidade de haver uma isenção subjectiva caso se verifiquem todos os
pressupostos definidos no art. 5.º, n.º 1, alínea e), do CIRT: «1. Estão isentos de Imposto
sobre os Rendimentos do Trabalho: e) Os rendimentos auferidos pelos cidadãos nacionais
com idade superior a 60 (sessenta) anos derivados do trabalho por conta de outrem.»
No caso em análise, o Sr. Adriano trabalha por conta de outrem. Mas para estar
abrangido pela isenção definida no art. 5.º, n.º 1, alínea e), do CIRT – e desta forma não
sofrer retenção na fonte de IRT (Grupo A) – o Sr. Adriano teria de ter também
nacionalidade angolana e ainda idade superior a sessenta anos. Basta que não se verifique
qualquer um destes pressupostos e já não há lugar a isenção.
Uma isenção é uma excepção à regra. A “regra”, neste contexto, é a tributação em IRT
(Grupo A). A lei que estabelece a regra pode prever uma excepção, como a estabelecida no
art. 5.º, n.º 1, alínea e), do CIRT. Se não se verificarem todos os pressupostos da isenção,
dizemos que não há excepção e aplica-se a regra, isto é, a tributação dos rendimentos desse
sujeito passivo em IRT (Grupo A).

67
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

10. Exercícios resolvidos

GRUPO I – QUESTÕES DE RESPOSTA SUCINTA

1. Diga em que medida se distinguem os conceitos de relação jurídica fiscal e


obrigação fiscal. Para elaborar a sua resposta, consulte o texto de apoio com a
seguinte referência: ANTÓNIO BRAZ TEIXEIRA, Princípios de Direito Fiscal, Almedina,
Coimbra, 1979, pp. 148-149.
• O conceito de obrigação fiscal refere-se ao vínculo que nasce entre o particular
obrigado a pagar o imposto e o Estado pela verificação dos factos que definem a
incidência. A obrigação fiscal traduz-se na obrigação principal que é a obrigação de pagar
o imposto.
• Por seu lado, o conceito de relação jurídica fiscal refere-se a uma realidade mais
ampla pois reflecte o carácter complexo da relação jurídica. A relação jurídica fiscal é
complexa do ponto de vista do seu objecto ao incluir não só a obrigação principal, que é a
obrigação de pagar o imposto, mas também obrigações acessórias, como a obrigação de
entrega de declarações, de prestação de informações, etc. (v. art. 50.º do CGT). Como os
sujeitos passivos destas obrigações podem ser outras pessoas diferentes do contribuinte
efectivo, podemos dizer que quando se verifica uma pluralidade de sujeitos passivos a
relação jurídica fiscal se caracteriza como uma relação jurídica complexa (também) do
ponto de vista dos sujeitos. (Vide ANTÓNIO BRAZ TEIXEIRA, pp. 148-149.)

2. Estabeleça a ligação entre juros compensatórios e obrigações acessórias de


natureza não pecuniária.
• As obrigações acessórias de natureza não pecuniária visam possibilitar e facilitar o
apuramento/liquidação e o pagamento do imposto (ex.: apresentação de declarações,
apresentação de documentos fiscalmente relevantes, como a contabilidade e a escrita, etc.).
V. art. 50.º, n.º 2, do CGT.
• Os juros compensatórios são os juros que visam compensar o Estado pelos atrasos
na liquidação de impostos por factos imputáveis ao contribuinte (art. 2.º, n.º 1, al. k), e art.
51.º, ambos do CGT). Os juros compensatórios contam-se dia-a-dia desde o termo do
prazo da entrega da declaração ou do termo do prazo da entrega da prestação tributária a
pagar ou a reter, até ao suprimento, correcção ou detecção da falta que motivou o
retardamento da liquidação (art. 51.º, n.º 2, do CGT).
• Ligação: os juros compensatórios resultam do não cumprimento de uma
obrigação acessória de natureza não pecuniária (ex.: atraso na entrega da declaração
de rendimentos).

68
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

GRUPO II – CASOS PRÁTICOS

Caso n.º 1
Aristóteles é trabalhador na "ABC, Lda.", sociedade comercial do ramo informático que
tem a sua sede e direcção efectiva em Luanda, auferindo um vencimento mensal de kz.:
75 000,00 (setenta e cinco mil kwanzas) e um subsídio de deslocação de kz.: 7 500,00
(sete mil e quinhentos kwanzas) mensais.
Após analisar atentamente os recibos de vencimento, constatou que, em 2019, a sua
entidade patronal não lhe fez quaisquer retenções na fonte para efeitos de IRT e ficou
apreensivo. Assim sendo, pretende saber:
a) Se o seu vencimento e subsídio estão ou não sujeitos a retenção na fonte e, em caso
afirmativo, se tal retenção é feita a título definitivo ou não;

Contributos para a interpretação da questão


 Há obrigação de pagar imposto?
 Que tipo de imposto?
 Há substituição tributária (= retenção na fonte)? Que lugar ocupam Aristóteles e a
empresa no contexto da relação jurídica de IRT (Grupo A)? No fundo, o que se pergunta
é: se há substituição tributária, quem é o substituito e quem é o substituído?

(Nascimento da obrigação de pagar IRT pela verificação dos factos que definem a incidência no
CIRT. O trabalhador como sujeito passivo de IRT (A))
Aristóteles é sujeito passivo de IRT; nascimento da obrigação fiscal (art. 24.º do CGT) – a
obrigação tributária constitui-se com a verificação dos factos que definem a incidência;
normas de incidência no CIRT – artigos 1.º a 4.º do CIRT; incidência objectiva (art. 1.º do
CIRT/rendimentos do trabalho por conta de outrem); salário e subsídio (art. 1.º, n.º 1, 2 e 3,
alínea a), do CIRT); não-sujeição: apenas os subsídios de deslocação atribuídos aos
funcionários do Estado (art. 2.º, n.º 1, al. j), do CIRT); tributação de rendimentos do
«Grupo A» (art. 3.º, n.º 2, do CIRT); incidência subjectiva (art. 4.º, n.º 1, do CIRT) –
irrelevância da nacionalidade ou da residência por aplicação do critério da fonte.

(A substituição tributária ou retenção na fonte em IRT (A) e a relação jurídica tributária trilateral)
A relação jurídica de IRT (Grupo A) caracteriza-se como uma relação jurídica tributária
triangular; caso de substituição tributária/retenção na fonte; noção de substituição tributária
(art. 45.º do CGT); substituição tributária na relação jurídica de IRT (artigos 10.º, n.º 1, e
11.º, n.º 1, do CIRT); substituto tributário (ABC, Lda) e substituído tributário (Aristóteles),
sujeitos passivos de IRT; conceito amplo de sujeito passivo (art. 28.º, n.º 4, do CGT).
A retenção na fonte de IRT a efectuar sobre a atribuição de rendimentos do Grupo A é
sempre uma retenção na fonte liberatória ou a título definitivo.

b) Se a Administração Tributária lhe pode pedir a ele o pagamento de eventuais


quantias que estejam em dívida pelo facto de a retenção não ter sido efectuada.
(Responsabilidade do substituto tributário)

69
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

 Art. 20.º do CIRT – “Nos casos em que se verificar falta de liquidação do imposto ou
em que este tenha sido liquidado por importância inferior à devida, a entidade
responsável pela entrega pode, espontaneamente, proceder às liquidações adicionais que
se mostrem necessárias, salvo se antes houver sido iniciado procedimento de
fiscalização”; regime da responsabilidade do substituto tributário; art. 21.º, n.º 1, do
CIRT («liquidação adicional») – “Havendo lugar à liquidação adicional, a
responsabilidade pelo pagamento do imposto pertence às entidades obrigadas à retenção
na fonte, sem prejuízo do direito de regresso que possa caber-lhes, e, subsidiariamente,
às pessoas sujeitas a imposto”.
 Artigo 51.º do CGT: «1. São devidos juros compensatórios sempre que, por facto
imputável ao contribuinte, for retardada a liquidação de parte ou da totalidade do tributo
devido ou a entrega do tributo retido ou a reter no âmbito da substituição tributária, sem
prejuízo da multa cominada ao infractor. 2. Os juros compensatórios contam-se dia a dia
desde o termo do prazo da entrega da declaração ou do termo do prazo da entrega da
prestação tributária a pagar ou a reter, até ao suprimento, correcção ou detecção da falta
que motivou o retardamento da liquidação.»
 Art. 21.º do CIRT (Falta de retenção): «1. As entidades obrigadas à retenção de
imposto na fonte que não cumpram essa obrigação são punidas com pena de multa nos
termos do Código Geral Tributário. 2. A multa a apurar nos termos do número anterior
não pode ter um valor inferior a kz: 50.000,00 (cinquenta mil Kwanzas).»

Caso n.º 2
Ana Júlia trabalha, desde Novembro de 2017, numa fábrica de conservas, no Lobito,
onde desempenha funções administrativas. Apesar de estar convencida que as retenções
na fonte estão a ser feitas mensalmente, aquando do pagamento dos respectivos salários,
Ana Júlia tem andado bastante preocupada, pois corre um boato na empresa de que face
às dificuldades económicas o patrão não tem feito a entrega dos montantes retidos aos
trabalhadores nos cofres do Estado.
1. Apreensiva, Ana Júlia consulta-a(o), questionando-a(o):
a) Se lhe poderão ser exigidos esses montantes;

(Nascimento da obrigação de pagar IRT pela verificação dos factos que definem a incidência no
CIRT. O trabalhador como sujeito passivo de IRT (A))
Ana Júlia é sujeito passivo de IRT; nascimento da obrigação fiscal (art. 24.º do CGT) – a
obrigação tributária constitui-se com a verificação dos factos que definem a incidência;
normas de incidência no CIRT – artigos 1.º a 4.º do CIRT; incidência objectiva (art. 1.º do
CIRT/rendimentos do trabalho por conta de outrem); tributação de rendimentos do «Grupo
A» (art. 3.º, n.º 2, do CIRT); incidência subjectiva (art. 4.º, n.º 1, do CIRT) – irrelevância
da nacionalidade ou da residência por aplicação do critério da fonte.

(A substituição tributária ou retenção na fonte em IRT (A) e a relação jurídica tributária trilateral)
A relação jurídica de IRT (Grupo A) caracteriza-se como uma relação jurídica tributária
triangular; caso de substituição tributária/retenção na fonte; noção de substituição tributária

70
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

(art. 45.º do CGT); substituição tributária na relação jurídica de IRT (artigos 10.º, n.º 1, e
11.º, n.º 1, do CIRT); substituto tributário (empresa) e substituído tributário (Ana Júlia),
sujeitos passivos de IRT; conceito amplo de sujeito passivo (art. 28.º, n.º 4, do CGT).

(Responsabilidade do substituto tributário: falta de entrega do imposto retido na fonte)


 Se o imposto for retido mas não for entregue nos cofres do Estado: Art. 74.º, n.º 3, do
CGT – o substituto tributário «fica exclusivamente responsável pelo pagamento da
dívida tributária, salvo quando se demonstre que o substituído tributário colaborou
dolosamente na prática da infracção, caso em que é responsável solidário com o
substituto tributário.»
 Obrigações acessórias: art. 35.º do CIRT.
 Penalidades: multa (art. 32.º do CIRT); crime de abuso de confiança fiscal (art. 179.º do
CGT).

b) Se, pressupondo que o patrão não fez a retenção, poderá ser chamada a pagar os
montantes que deveriam ter sido retidos.
Art. 20.º do CIRT – “Nos casos em que se verificar falta de liquidação do imposto ou em
que este tenha sido liquidado por importância inferior à devida, a entidade responsável pela
entrega pode, espontaneamente, proceder às liquidações adicionais que se mostrem
necessárias, salvo se antes houver sido iniciado procedimento de fiscalização”; regime da
responsabilidade do substituto tributário; art. 21.º, n.º 1, do CIRT («liquidação
adicional») – “Havendo lugar à liquidação adicional, a responsabilidade pelo pagamento
do imposto pertence às entidades obrigadas à retenção na fonte, sem prejuízo do direito de
regresso que possa caber-lhes, e, subsidiariamente, às pessoas sujeitas a imposto”.

Caso n.º 3
Adalberto é proprietário de um estabelecimento comercial situado em Viana, onde
emprega Bernardo, Carlos e Dinis. Com todos eles celebrou contratos de trabalho,
mediante os quais ficou acordado pagamento de kz.: 75 000,00 (setenta e cinco mil
kwanzas) mensais a título de salário e de kz.: 7 500,00 (sete mil e quinhentos kwanzas)
mensais a título de subsídio de deslocação.
Nos últimos seis meses, em face de enormes dificuldades financeiras, Adalberto:
 Não reteve IRT relativamente ao salário e subsídio de Bernardo;
 Não reteve IRT relativamente ao subsídio de Carlos;
 Reteve IRT relativamente ao salário e subsídio de Dinis não tendo, todavia,
entregue as referidas quantias nos cofres do Estado.
Quid iuris?
Contributos para a interpretação da questão
 Há obrigação de pagar imposto?
 Que tipo de imposto?
 Há substituição tributária (= retenção na fonte)?
 Quantas relações jurídicas tributárias podem ser identificadas na hipótese apresentada?

71
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

 1.ª relação jurídica tributária (sujeito passivo: Bernardo)

(Nascimento da obrigação de pagar IRT pela verificação dos factos que definem a incidência no
CIRT. O trabalhador como sujeito passivo de IRT (A))
Bernardo é sujeito passivo de IRT; nascimento da obrigação fiscal (art. 24.º do CGT) – a
obrigação tributária constitui-se com a verificação dos factos que definem a incidência;
normas de incidência no CIRT – artigos 1.º a 4.º do CIRT; incidência objectiva (art. 1.º do
CIRT/rendimentos do trabalho por conta de outrem); salário e subsídio (art. 1.º, n.º 1, 2 e 3,
alínea a), do CIRT); não-sujeição: apenas os subsídios de deslocação atribuídos aos
funcionários do Estado (art. 2.º, n.º 1, al. j), do CIRT); tributação de rendimentos do
«Grupo A» (art. 3.º, n.º 2, do CIRT); incidência subjectiva (art. 4.º, n.º 1, do CIRT) –
irrelevância da nacionalidade ou da residência por aplicação do critério da fonte.

(A substituição tributária ou retenção na fonte em IRT (A) e a relação jurídica tributária trilateral)
A relação jurídica de IRT (Grupo A) caracteriza-se como uma relação jurídica tributária
triangular; caso de substituição tributária/retenção na fonte; noção de substituição tributária
(art. 45.º do CGT); substituição tributária na relação jurídica de IRT (artigos 10.º, n.º 1, e
11.º, n.º 1, do CIRT); substituto tributário (empresa) e substituído tributário (Bernardo),
sujeitos passivos de IRT; conceito amplo de sujeito passivo (art. 28.º, n.º 4, do CGT).

(Responsabilidade do substituto tributário: falta de retenção na fonte)


 Art. 20.º do CIRT – “Nos casos em que se verificar falta de liquidação do imposto ou
em que este tenha sido liquidado por importância inferior à devida, a entidade
responsável pela entrega pode, espontaneamente, proceder às liquidações adicionais que
se mostrem necessárias, salvo se antes houver sido iniciado procedimento de
fiscalização”; regime da responsabilidade do substituto tributário; art. 21.º, n.º 1, do
CIRT («liquidação adicional») – “Havendo lugar à liquidação adicional, a
responsabilidade pelo pagamento do imposto pertence às entidades obrigadas à retenção
na fonte, sem prejuízo do direito de regresso que possa caber-lhes, e, subsidiariamente,
às pessoas sujeitas a imposto”.
 Artigo 51.º do CGT: «1. São devidos juros compensatórios sempre que, por facto
imputável ao contribuinte, for retardada a liquidação de parte ou da totalidade do tributo
devido ou a entrega do tributo retido ou a reter no âmbito da substituição tributária, sem
prejuízo da multa cominada ao infractor. 2. Os juros compensatórios contam-se dia a dia
desde o termo do prazo da entrega da declaração ou do termo do prazo da entrega da
prestação tributária a pagar ou a reter, até ao suprimento, correcção ou detecção da falta
que motivou o retardamento da liquidação.»
 Art. 31.º do CIRT (Falta de retenção): «1. As entidades obrigadas à retenção de
imposto na fonte que não cumpram essa obrigação são punidas com pena de multa nos
termos do Código Geral Tributário. 2. A multa a apurar nos termos do número anterior
não pode ter um valor inferior a kz: 50.000,00 (cinquenta mil Kwanzas).»

72
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

 2.ª relação jurídica tributária (sujeito passivo: Carlos)

(Nascimento da obrigação de pagar IRT pela verificação dos factos que definem a incidência no
CIRT. O trabalhador como sujeito passivo de IRT (A))
O enquadramento legal é o mesmo, com as devidas adaptações respeitantes aos factos
concretos.

(A substituição tributária ou retenção na fonte em IRT (A) e a relação jurídica tributária trilateral)
O enquadramento legal é o mesmo, com as devidas adaptações respeitantes aos factos
concretos.

(Responsabilidade do substituto tributário: falta de retenção na fonte)


 Art. 20.º do CIRT – “Nos casos em que se verificar falta de liquidação do imposto ou
em que este tenha sido liquidado por importância inferior à devida, a entidade
responsável pela entrega pode, espontaneamente, proceder às liquidações adicionais que
se mostrem necessárias, salvo se antes houver sido iniciado procedimento de
fiscalização”; regime da responsabilidade do substituto tributário; art. 21.º, n.º 1, do
CIRT («liquidação adicional») – “Havendo lugar à liquidação adicional, a
responsabilidade pelo pagamento do imposto pertence às entidades obrigadas à retenção
na fonte, sem prejuízo do direito de regresso que possa caber-lhes, e, subsidiariamente,
às pessoas sujeitas a imposto”.
 Artigo 51.º do CGT: «1. São devidos juros compensatórios sempre que, por facto
imputável ao contribuinte, for retardada a liquidação de parte ou da totalidade do tributo
devido ou a entrega do tributo retido ou a reter no âmbito da substituição tributária, sem
prejuízo da multa cominada ao infractor. 2. Os juros compensatórios contam-se dia a dia
desde o termo do prazo da entrega da declaração ou do termo do prazo da entrega da
prestação tributária a pagar ou a reter, até ao suprimento, correcção ou detecção da falta
que motivou o retardamento da liquidação.»

 3.ª relação jurídica tributária (sujeito passivo: Dinis)

(Nascimento da obrigação de pagar IRT pela verificação dos factos que definem a incidência no
CIRT. O trabalhador como sujeito passivo de IRT (A))
O enquadramento legal é o mesmo, com as devidas adaptações respeitantes aos factos
concretos.

(A substituição tributária ou retenção na fonte em IRT (A) e a relação jurídica tributária trilateral)
O enquadramento legal é o mesmo, com as devidas adaptações respeitantes aos factos
concretos.

(Responsabilidade do substituto tributário: falta de entrega do imposto retido na fonte)


 Se o imposto for retido mas não for entregue nos cofres do Estado: Art. 74.º, n.º 3, do
CGT – o substituto tributário «fica exclusivamente responsável pelo pagamento da
dívida tributária, salvo quando se demonstre que o substituído tributário colaborou

73
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

dolosamente na prática da infracção, caso em que é responsável solidário com o


substituto tributário.»
 Obrigações acessórias: art. 35.º do CIRT.
 Penalidades: multa (art. 32.º do CIRT); crime de abuso de confiança fiscal (art. 179.º do
CGT).

11. Exercícios a resolver

GRUPO I – QUESTÕES DE RESPOSTA SUCINTA

1. Enumere os quatro elementos da relação jurídica tributária.


2. Defina contribuinte indirecto. Encontramos um conceito no CGT?
3. Podemos considerar o n.º 2 do art. 27.º do CGT como uma norma anti-abuso?
4. Os créditos e as dívidas tributárias são susceptíveis de transmissão?
5. Identifique no CGT o princípio da intransmissibilidade dos créditos e das dívidas
tributárias.
6. Ter personalidade jurídica implica ter automaticamente personalidade tributária?
7. Fale sobre o domicílio fiscal das pessoas singulares e das pessoas colectivas.
8. A mudança de domicílio deve ser comunicada à Administração Tributária? E se não
for?
9. Os sujeitos passivos não residentes estão obrigados a nomear um representante fiscal?
10. Da noção de estabelecimento estável no CGT, dá para distinguir os estabelecimentos
reais dos estabelecimentos pessoais?
11. Distinga impostos de cobrança directa de impostos de cobrança indirecta.
12. Apresente duas vantagens da cobrança indirecta.
13. Em que consiste a repercussão do imposto?
14. Como define substituto tributário?
15. A responsabilidade tributária por dívidas de outrem é, em regra, solidária ou
subsidiária?
16. Comente o artigo 46.º do CGT à luz do princípio da capacidade contributiva.
17. O que são normas de incidência?
18. Atendendo às normas sobre a organização da Administração Tributária angolana,
enquadre/relacione: o Ministério das Finanças, a Administração Geral Tributária
(AGT) e as Repartições Fisccais.
19. Refira-se à distinção entre eficácia tributária e eficiência tributária.
20. Diga o que se entende por impostos extrafiscais.
21. O agregado familiar é sujeito passivo de IRT? Ou pode dizer-se que é uma unidade
fiscal relevante para efeitos de IRT?
22. Caracterize a relação jurídica de imposto sobre os rendimentos do trabalho
dependente.

74
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

23. No estudo da relação jurídica tributária, é importante distinguir «obrigação principal»


e «obrigações acessórias»?
24. Apresente um conceito de obrigações acessórias.
25. Defina obrigações declarativas.
26. Apresente duas obrigações acessórias em sede de IRT.
27. Identifique um caso de restituição de imposto em IRT.
28. Distinga «juros compensatórios» de «juros indemnizatórios».
29. Distinga «juros compensatórios» de «juros de mora», atendendo aos momentos da
vida do imposto.
30. Estabeleça a ligação entre juros compensatórios e obrigações acessórias de natureza não
pecuniária.
31. Olhando para o IRT (A), podemos afirmar que «contribuinte» e «substituído
tributário» são expressões sinónimas?
32. Identifique no CIRT deveres de cooperação das empresas.
33. Analisando o artigo 1.º, n.º 2, do CIRT, diga se estamos perante uma tipicidade aberta
ou uma tipicidade fechada.
34. O artigo 1.º do CIRT é uma norma de incidência objectiva ou subjectiva? Porquê?
35. Apresente a estrutura geral do CIRT.
36. Distinga «isenção» de «não-sujeição».
37. Diga em que consiste a transparência fiscal.
38. As sociedades transparentes, a que se refere o art. 29.º, n.º 1, do CGT, são
contribuintes, devedoras de imposto e/ou sujeitos passivos? Explique a sua resposta.
39. Na sua opinião, o artigo 29.º, n.º 1, do CGT deveria estar inserido no CIRT?
40. As contribuições obrigatórias para a Segurança Social são verdadeiros impostos?
41. Apresente os passos gerais para o cálculo de um imposto.
42. Defina matéria colectável.
43. Defina colecta.
44. Defina liquidação do imposto.
45. Estabeleça a relação entre liquidação do imposto e retenção na fonte.
46. A retenção na fonte presssupõe as obrigações legais de liquidação e entrega do
imposto devido. Identifique esta ligação «liquidação/retenção/entrega» no art. 45.º do
CGT.
47. O princípio da proibição da retroactividade da lei fiscal é um princípio constitucional?
48. Os princípios constitucionais da actividade administrativa (do art. 198.º da CRA)
também se aplicam à Administração Tributária?
49. Será que podemos trazer a distinção entre retenção na fonte liberatória e retenção na
fonte não liberatória (art. 45.º, n.º 4, do CGT) atendendo (in)existência de obrigações
acessórias para o substituído?
50. Estabeleça a relação entre as seguintes matérias estudadas: «retenção na fonte» e
«momentos da vida do imposto».
51. Quais são as formas de extinção da relação jurídica tributária que conhece?
52. Que modos de extinção da obrigação fiscal conhece além do cumprimento?
53. Distinga «cumprimento voluntário» de «cumprimento coercivo».
54. Distinga caducidade e prescrição tributárias.

75
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

55. Qual é o prazo de prescrição das dívidas tributárias?


56. A obrigação fiscal extingue-se também através de confusão?
57. Quando o contribuinte sucede ao terceiro sub-rogado nos direitos da Administração
Tributária (art. 56.º do CGT) diz-se que estamos perante uma extinção da obrigação
por confusão. Explique.
58. No Imposto sobre Sucessões e Doações, quando o Estado é chamado à sucessão do
contribuinte, podemos dizer que a obrigação se extingue por confusão?
59. Analisando o art. 26.º do CIRT poderemos dizer que estamos perante uma forma de
extinção da relação fiscal diferente do cumprimento?
60. Em que circunstâncias é admitida a dação em cumprimento de bens como forma de
extinção da obrigação fiscal?
61. De que prazo máximo dispõe a Administração Tributária para liquidar um tributo?
62. Como se designa a cobrança das dívidas de imposto através da apreensão e venda dos
bens do devedor?
63. Identifique no art. 23.º do CGT as garantias impugnatórias dos contribuintes.
64. Em caso de divergência entre o preço real e o preço declarado no contrato, o tributo
incide sempre sobre o preço declarado?
65. Fale sobre as garantias da obrigação fiscal.
66. O substituto tributário é um sujeito passivo? O que decorre do CGT?
67. Suponha que «A» trabalha na empresa «X», auferindo um salário mensal de 65 mil
kwanzas. Identifique: O sujeito activo e o sujeito passivo na relação jurídica tributária.
68. Suponha que «A» trabalha na empresa «X», auferindo um salário mensal de 65 mil
kwanzas. Identifique: O sujeito activo e o contribuinte na relação jurídica tributária.
69. Suponha que «A» trabalha na empresa «X», auferindo um salário mensal de 65 mil
kwanzas. Identifique: O substituto e o substituído na relação jurídica tributária.
70. Suponha que «A» trabalha na empresa «X», auferindo um salário mensal de 65 mil
kwanzas. Caracterize as posições de «A» e «X» no contexto da relação jurídica
tributária.
71. Suponha que «A» trabalha na empresa «X», auferindo um salário mensal de 65 mil
kwanzas. Identifique: O sujeito activo e o sujeito passivo na relação jurídica tributária.
A sua resposta seria diferente se fosse dito que «A» é brasileiro?
72. Suponha que «A» trabalha na empresa «X», auferindo um salário mensal de 65 mil
kwanzas. Identifique: O sujeito activo e o sujeito passivo na relação jurídica tributária.
A sua resposta seria diferente se fosse dito que «A» tem 65 anos de idade?
73. Dos momentos da vida do imposto que estudou, qual é na sua opinião o mais
importante?

76
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

GRUPO II – CASOS PRÁTICOS

Caso n.º 1
Suponha que a jovem Alana, de nacionalidade espanhola, celebrou um contrato de trabalho
com a empresa «Magna-Tour, Lda.», uma agência de viagens angolana. Alana trabalha no
departamento de vendas, em Luanda. Imagine que, no mês de Junho, são atribuídas a
Alana as seguintes componentes remuneratórias que se somam ao salário base de 250 mil
kwanzas: o subsídio de férias no valor de 125 mil kwanzas, um prémio no valor de 70 mil
kwanzas e um subsídio de comunicações no valor de 50 mil kwanzas.
Perante a situação descrita na hipótese, responda fundamentadamente às seguintes
questões:
1. Estarão todos os rendimentos atribuídos a Alana sujeitos a retenção na fonte? Qual
é a posição de Alana no contexto da relação jurídica tributária? Desta relação jurídica
resultam obrigações acessórias para Alana?
2. Suponha que, desde o início do ano, o imposto tem sido pago em montante inferior
ao legalmente devido. Quid iuris?

Caso n.º 2
Suponha que a jovem Alana, de nacionalidade espanhola, celebrou um contrato de trabalho
com a empresa «Magna-Tour, Lda.», uma agência de viagens angolana. Alana trabalha no
departamento de vendas, em Luanda. Imagine que, no mês de Junho, são atribuídas a
Alana as seguintes componentes remuneratórias que se somam ao salário base de 250 mil
kwanzas: o subsídio de férias no valor de 250 mil kwanzas, um subsídio de viagem no
valor de 250 mil kwanzas e um subsídio de renda da casa no valor de 250 mil kwanzas.
Perante a situação descrita na hipótese, responda fundamentadamente às seguintes
questões:
1. Estarão todos os rendimentos atribuídos a Alana sujeitos a retenção na fonte? Qual
é a posição de Alana no contexto da relação jurídica tributária? Desta relação jurídica
resultam obrigações acessórias para Alana?
2. Suponha que, desde o início do ano, o imposto tem sido pago em montante superior
ao legalmente devido. Quid iuris?
3. As respostas dadas nas alíneas anteriores seriam as mesmas se Alana tivesse
sessenta e dois anos de idade?

Caso n.º 3
Suponha que a jovem Alana, de nacionalidade espanhola, celebrou um contrato de trabalho
com a empresa «Magna-Tour, Lda.», uma agência de viagens angolana. Alana trabalha no
departamento de vendas, em Luanda. Imagine que, no mês de Junho, são atribuídas a
Alana as seguintes componentes remuneratórias que se somam ao salário base de 250 mil
kwanzas: o subsídio de férias no valor de 300 mil kwanzas, um subsídio de chefia no valor
de 100 mil kwanzas e um prémio no valor de 25 mil kwanzas.

77
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

Perante a situação descrita na hipótese, responda fundamentadamente às seguintes


questões:
1. Estarão todos os rendimentos atribuídos a Alana sujeitos a retenção na fonte? Caso
a sua resposta seja afirmativa, diga se se trata de uma retenção na fonte liberatória ou não
liberatória. Caracterize a posição da «Magna-Tour, Lda.» no contexto da relação jurídica
tributária, trazendo sempre o enquadramento legal.
2. Suponha que, desde o início do ano, o imposto tem sido pago em montante inferior
ao legalmente devido. Quid iuris?

Caso n.º 4
Abel é técnico de informática na “ABC – Recursos Humanos, Lda”, empresa com sede e
direcção efectiva em Luanda, que desenvolve a sua actividade em diversas vertentes dos
recursos humanos, nomeadamente nas áreas de recrutamento e selecção, formação e
consultoria em recursos humanos. Abel celebrou o contrato de trabalho por tempo
indeterminado com a “ABC – Recursos Humanos, Lda” no dia em que completou 26 anos
de idade, em 1 de Junho de 2016.
Considere agora o mês de Maio de 2020, e imagine que a “ABC – Recursos Humanos,
Lda” atribui o seguinte pacote mensal de remuneração a Abel:
 Salário base: 115.000,00 kz (cento e quinze mil kwanzas);
 Subsídio de refeição: 33.000,00 kz (trinta e três mil kwanzas);
 Subsídio de deslocação: 25.000,00 kz (vinte e cinco mil kwanzas).
Perante a situação descrita na hipótese, responda às seguintes questões, não deixando de
fundamentar a sua resposta e de invocar os preceitos legais relevantes para as soluções
dadas:
1. Diga se o salário e os subsídios elencados na hipótese, referentes ao mês de Maio
de 2020, estão sujeitos a retenção na fonte. Caracteriza a posição de Abel e da “ABC –
Recursos Humanos, Lda” no contexto da relação jurídica tributária.
2. A lei estabelece obrigações acessórias de natureza não pecuniária para Abel?
3. Diga também quem pode ser, e em que termos, responsável pelo imposto não pago.

Caso n.º 5
Kate, de nacionalidade britânica, é professora de inglês num colégio privado, em Luanda.
Suponha que a empresa que contratou Kate, enquanto entidade promotora deste colégio,
tem a sua sede e direcção efectiva em Angola e paga a Kate um salário mensal de kz.:
350.000,00 (trezentos e cinquenta mil kwanzas), atribuindo-lhe também uma viatura para
sua utilização pessoal. Admita ainda que Kate recebe o subsídio de férias neste mês.
Imagine que só agora detecta que, por um erro na liquidação, tem sido retido imposto em
quantia superior à devida, tal sucedendo desde Julho de 2019, altura em que Kate celebrou
o seu contrato de trabalho com a empresa angolana. Perante esta situação, que garantias
tem Kate? E o que diria se o imposto tivesse sido liquidado por quantia inferior à devida?

78
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

Na sua resposta, não deixe de caracterizar a posição de Kate e da empresa no contexto da


relação jurídica tributária.

Caso n.º 6
Amadeu é técnico de informática na “ABC – Recursos Humanos, Lda.”, empresa com sede
e direcção efectiva em Luanda, que desenvolve a sua actividade em diversas vertentes dos
recursos humanos, nomeadamente nas áreas de recrutamento e selecção, formação e
consultoria em recursos humanos. Amadeu celebrou o contrato de trabalho por tempo
indeterminado com a “ABC – Recursos Humanos, Lda” no dia em que completou 30 anos
de idade, em 1 de Junho de 2016.
Considere agora o mês de Junho de 2020, e imagine que a “ABC – Recursos Humanos,
Lda” atribui o seguinte pacote mensal de remuneração a Amadeu:
 Salário base: 115.000,00 kz (cento e quinze mil kwanzas);
 Subsídio de renda de casa: 33.000,00 kz (trinta e três mil kwanzas);
 Subsídio de comunicações: 25.000,00 kz (vinte e cinco mil kwanzas);
 Subsídio de férias: 115.000,00 kz (cento e quinze mil kwanzas).
Perante a situação descrita na hipótese, responda às seguintes questões, não deixando de
fundamentar a sua resposta e de invocar os preceitos legais relevantes para as soluções
dadas:
1. Diga se o salário e os subsídios elencados na hipótese, referentes ao mês de Junho
de 2020, estão sujeitos a retenção na fonte. Caracteriza a posição de Amadeu e da “ABC –
Recursos Humanos, Lda.” no contexto da relação jurídica tributária.
2. A resposta dada na alínea anterior seria a mesma se Amadeu fosse de nacionalidade
portuguesa e tivesse começado a trabalhar na “ABC – Recursos Humanos, Lda.” apenas
em Abril de 2020?
3. Amadeu tem andado bastante preocupado, pois corre um boato na empresa de que
face às dificuldades económicas a entidade empregadora não tem feito a entrega dos
montantes retidos aos trabalhadores nos cofres do Estado. Poderão ser esses montantes
exigidos a Amadeu?
4. Suponha agora que em Julho de 2020 é aprovado um aumento das taxas a incidir
sobre os rendimentos do trabalho dependente auferidos desde Janeiro de 2020. Quid iuris?

79
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

BIBLIOGRAFIA

 CARLOS, Américo Fernando Brás, Impostos. Teoria Geral, 4.ª ed., Almedina,
Coimbra, 2014.
 GOMES, Nuno de Sá, Manual de Direito Fiscal, vol. I, 11.ª ed., Editora Rei dos Livros,
Lisboa, 2000, e vol. II, 8.ª ed., Editora Rei dos Livros, Lisboa, 1999.
 KOSI, Hermenegildo FM, «Direito Fiscal», in Direito de Angola, 2.ª ed., Faculdade de
Direito da Universidade Agostinho Neto, Luanda, 2014.
 MACHADO, Jónatas E. M./COSTA, Paulo Nogueira da/MACAIA, Osvaldo, Direito
Fiscal Angolano Segundo a Reforma de 2014, Coimbra Editora, Coimbra, 2015.
 MARTÍNEZ, Soares, Direito Fiscal, 9.ª ed., Almedina, Coimbra, 1997.
 NABAIS, José Casalta, Direito Fiscal, 6.ª ed., Almedina, Coimbra, 2011.
 NABAIS, José Casalta, O Dever Fundamental de Pagar Impostos, Coimbra, Almedina,
2012.
 NUNES, Elisa Rangel, Lições de Finanças Públicas e de Direito Financeiro, 5.ª ed.,
Luanda, 2014.
 PACA, Cremildo Félix, Justiça Administrativa, Fiscal e Aduaneira, Luanda, 2017.
 ROCHA, Joaquim Freitas da, Lições de Procedimento e Processo Tributário, 4.ª ed.,
Coimbra Editora, Coimbra, 2011.
 ROCHA, Joaquim Freitas da/ GONÇALVES, Marco Carvalho, Direito Fiscal:
Elementos de Apoio, 2ª ed., AEDUM, Braga, 2005.
 ROCHA, Joaquim Freitas da/SILVA, Hugo Flores da, Teoria Geral da Relação
Jurídica Tributária, Almedina, Coimbra, 2017.
 SANCHES, J. L. Saldanha, A quantificação da obrigação tributária: deveres de
cooperação, autoavaliação e avaliação administrativa, 2.ª ed., Lex, Lisboa, 2000.
 SANCHES, J. L. Saldanha, Manual de Direito Fiscal, 3.ª ed., Coimbra Editora,
Coimbra, 2002.
 SANCHES, J. L. Saldanha/GAMA, João Taborda da, Manual de Direito Fiscal
Angolano, Coimbra Editora, Coimbra, 2010.
 TEIXEIRA, António Braz, Princípios de Direito Fiscal, 2.ª ed., Almedina, Coimbra,
1979.

80
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020

TEXTOS DE APOIO

(Ver documentos em anexo)

 ANTÓNIO BRAZ TEIXEIRA, Princípios de Direito Fiscal, Almedina, Coimbra, 1979,


pp. 148-151.

 SOARES MARTÍNEZ, Direito Fiscal, 9.ª ed., Almedina, Coimbra, 1997, pp. 286-287.

 JUAN ENRIQUE VARONA ALABERN, «¿Es el principio de capacidad economica


inherente al concepto de tributo?», Boletim da Faculdade de Direito, Coimbra, Vol.
83, 2007, pp. 305-345.

81

Potrebbero piacerti anche