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O IMPOSTO, SUA IMPORTÂNCIA NAS FINANÇAS PÚBLICAS

ANGOLANAS

Por: Valdano Afonso Cabenda Pedro (Licenciando em Direito pela Faculdade de Direito da
Universidade Agostinho Neto, FDUAN - Angola, Assistente Estagiário de Direito Económico da
FDUAN, Advogado Estagiário inscrito na OAA e Pós-Graduado em Compliance e Combate ao
Branqueamento de Capitais pelo Centro de Estudos de Ciências Jurídico-Económicas da Universidade
Agostinho Neto CEJES-UAN). 1

Índice

1. Colocação do problema
Introdução
Noções Fundamentais
1. Finanças Públicas
CAPÍTULO I
1. A actividade financeira do Estado
1.2 Necessidades individuais e colectivas
1.2.1As necessidades colectivas e a Administração Pública
1.3 Meios de financiamento do Estado
CAPÍTULO II
2. Direito financeiro, Direito tributário e Direito fiscal
2.1 A questão fiscal
2.1.1. Um problema cultural
2.2 Imposto, figuras afins e sistema fiscal
2.3 O conceito de imposto
2.3.1 Evolução histórica
2.3.2 Traços fundamentais do imposto
2.4 Figuras próximas ou afins do imposto
2.4.1 Imposto e taxa
2.4.2 Imposto e contribuição especial
2.4.3 Imposto e o empréstimo público forçado
2.5 Momentos da vida do imposto. Resumo
2.6 Classificação dos impostos
2.7 O dever de pagar imposto. Configuração constitucional
CAPÍTULO III
3.Os princípios jurídico-constitucionais da tributação
3.1 Princípio da legalidade fiscal
3.2 O princípio da segurança jurídica
3.3 O princípio da igualdade fiscal
3.4 O princípio do Estado social
CAPÍTULO IV
4. Sistema Fiscal. Noção
4.1 O sistema fiscal angolano: Antecedentes
4.2 A Reforma tributária iniciada em 2010
4.3 O Estado Fiscal
4.4. É Angola um Estado fiscal?
Conclusão
Bibliografia

1
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Os impostos, sua importância nas finanças públicas angolanas.

Algumas citações e observações2

Neste mundo, nada está garantido senão a morte e os impostos (Benjamin Franklin).3
Os impostos são o que pagamos por uma sociedade civilizada (Oliver W. Holmes).
A reforma fiscal não é uma estação a que tenhamos de chegar, mas antes um modo de
viajar (Joel Slemrod).
A reclamação de direitos e a sua realização não é suficiente; o cidadão tem também
deveres (Alexis Tocqueville).

2
Estas são algumas citações e observações demonstrativas da inevitabilidade dos impostos,
sobretudo nas sociedades actuais, vide José Casalta Nabais, Direito Fiscal, 4.ª Edição, Almedina,
Reimpressão da Edição de Setembro de 2006.
3
Nós, entretanto, não corroboramos inteiramente tal afirmação, pois, somos de opinião, na
esteira do Professor Teixeira Ribeiro que, não há apenas duas certezas humanas, e que nem sequer os
impostos representam para todos uma certeza. No entanto, o asserto de Franklin, por exagerado que seja,
tem o condão de exprimir impressionantemente esta realidade dos tempos modernos: os impostos são
inevitáveis e tendem a ser gerais, tendem como que a embutir-se na própria vida.
Numa economia socialista, o Estado pode substituir-se a cobrança de impostos pela elevação dos
preços das mercadorias que produz, transformando em monopólios fiscais as suas explorações.
Simplesmente, as receitas dos monopólios fiscais costumam considerar-se tributárias no excesso dos
preços sobre os custos, o que significa serem inevitáveis os impostos na própria economia socialista. Para
os que entendem, que as receitas desses monopólios não são tributárias; é o caso de MEHL e DUVERGER
-, os impostos só não podem ser evitados na economia capitalista. De qualquer modo, o que em nenhuma
economia pode ser evitado e é isso o que verdadeiramente importa - é o ónus que os impostos constituem.
Vide, José Joaquim Teixeira Ribeiro, A Reforma Fiscal, Coimbra Editora-1989.

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Os impostos, sua importância nas finanças públicas angolanas.

O imposto, sua importância nas finanças públicas angolanas

1. Colocação do problema
Hoje por hoje quando questionados sobre quais os principais meios de
financiamento do Estado para a cobertura das despesas realizadas (ou a realizar) com
vista a satisfação das necessidades colectivas, vêm-nos à cabeça instintiva e
necessariamente os impostos4, (obviamente ao lado de outras receitas que resultam da
administração e disposição do património do próprio Estado e não só). Fala-se ademais
que o Estado angolano é um Estado fiscal (para alguns, mono fiscal), ou seja, um
Estado que tem por suporte financeiro dominante os impostos.
A partir daqui conseguimos perceber, ainda que de maneira superficial a
importância deste tipo de receita para o financiamento do Estado.
O que são, e por que devemos pagar impostos? Muitos diriam porque os
impostos são previstos em lei e o Estado tem o poder de exigir o seu pagamento, pois
todos temos a obrigação de contribuir para as despesas públicas, visto que o modelo de
Estado que adoptamos requer o pagamento de impostos para se manter em
funcionamento. Todavia a despeito destas razões ao pagamento de impostos, não
gostamos de pagá-los (não obstante reivindicarmos sempre, uma pronta e eficaz
satisfação das necessidades colectivas, mormente no que respeita a saúde pública), por
quê que não gostamos de pagar os impostos?
O desgosto pelo pagamento dos impostos seria reduzido ou mesmo eliminado se
por exemplo: (a) houvesse percepção da boa e transparente aplicação dos recursos
financeiros; (b) se os serviços públicos fossem eficientes, segurança, saúde, saneamento
básico e educação deveriam ter melhores resultados; (c) se a corrupção não existisse?
Mas, será que reclamar apenas da corrupção, da improbidade administrativa, da
ineficiência dos serviços públicos resolve o problema, uma vez que as pessoas, os
cidadãos não mudam suas condutas? A "sonegação" o "jeitinho" a "gasosa" são uma
aberração e nem de perto nem de longe são motivos de orgulho nacional.
Ora, é sobre a figura dos impostos, conceito, seus traços fundamentais, classificação,
sistematização, dever fundamental de pagá-lo e sua importância no âmbito das Finanças
Públicas angolanas, que nos propusemos tratar no presente trabalho.

Palavras-chave: finanças públicas, imposto, sistema fiscal.

4
Figura típica das receitas tributárias vide, Elisa Rangel Nunes, Lições de Finanças Públicas e de
Direito Financeiro, 3.ª Edição revista e actualizada, Luanda 2011, pág. 244.

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Os impostos, sua importância nas finanças públicas angolanas.

Introdução
Noções Fundamentais

1. Finanças Públicas
Segundo a Professora Doutora Elisa Rangel Nunes5, qualquer que seja a definição
que se dê de finanças públicas, esta ciência incidirá sempre sobre a actividade financeira
pública ou seja sobre a actividade de gestão dos dinheiros e bens públicos e ainda sobre
a actividade de controlo desses dinheiros e bens públicos. Diz a mesma autora que, o
conceito finanças públicas tem uma longa tradição, e nem sempre teve o significado que
hoje apresenta. Contudo, segundo António L. de Sousa Franco6 o «conceito finanças
públicas» pode ser entendido em três sentidos: orgânico, objectivo e subjectivo.
Segundo o sentido orgânico, por finanças públicas devem entender-se os órgãos do
Estado ou de outros entes públicos (e os entes privados com funções públicas e/ou os
entes que giram ou sejam beneficiários de recursos públicos, como entende a Professora
Doutora Elisa Rangel Nunes) que decidem sobre a gestão dos meios económicos. Trata-
se do sentido de finanças públicas que nos indica quem são os decisores financeiros.
Segundo o sentido objectivo, as finanças públicas referem-se à actividade
económica de um ente público, visando afectar determinados bens à satisfação de
necessidades que lhe são confiadas.
E, em sentido subjectivo, finanças públicas é a disciplina científica que estuda a
actividade financeira do Estado ou de outros entes públicos, com vista à satisfação de
necessidades públicas e ainda as regras que regem essa actividade.

Assim sendo, por «Finanças Públicas» podemos entender, tratar-se da actividade


desenvolvida pelo Estado e demais entes públicos (bem como pelos entes privados que
desempenham por força da lei funções públicas), disciplinada pelo Direito financeiro
que se traduz na obtenção, gestão, dispêndio e controlo dos meios financeiros públicos,
com vista a satisfação das necessidades colectivas.

5
Elisa Rangel Nunes, ob. cit. pág. 57
6
António L. Sousa Franco, Finanças Públicas…, citado por Elisa Rangel Nunes, ob. cit. pág. 57

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Os impostos, sua importância nas finanças públicas angolanas.

CAPÍTULO I

1. A actividade financeira do Estado


Tal como os particulares, também os entes públicos e, em particular o Estado, têm
que prover a satisfação de necessidades e, para isso têm de obter receitas para a
realização de despesas geradas pelas necessidades. É, portanto, nesta existência de
despesas e a necessidade de obtenção de receitas para cobrir as despesas que se traduz a
actividade financeira do Estado. Ou seja, a actividade financeira do Estado é uma
actividade que se desenvolve em dois sentidos distintos todavia complementares -
realização de despesas, obtenção de receitas - sentidos estes unificados pelo fim comum
visado - satisfação das necessidades públicas. A actividade financeira vem assim
corresponder à utilização de determinados meios económicos por parte de entidades
públicas, para satisfação de necessidades colectivas através da produção de bens ou de
prestação de serviços.
O Estado não é a única colectividade pública que exerce actividade financeira.
Outras colectividades públicas, isto é, outras pessoas colectivas de Direito público, tais
como as autarquias locais, as ordens profissionais, as empresas públicas, também
desenvolvem tal actividade.7
No entanto, no presente trabalho trataremos tão-somente da actividade financeira do
Estado, actividade essa que integra um conjunto de fenómenos de natureza heterogénea,
que por se situarem todos no domínio da actuação e emprego de meios económicos
adequados à satisfação de necessidades públicas, se identificam como fenómenos
económicos que têm na base da sua determinação uma motivação política pelo facto de
a actividade financeira implicar a existência do Estado e da sua organização política e
administrativa. Mas, a actividade financeira para além dos elementos, económico e
político que comporta, comporta também um elemento jurídico, que se prende com a
organização dos institutos financeiros na base de critérios de justiça, cuja realização se
faz por meio de uma equitativa distribuição dos encargos e benefícios dos serviços
públicos entre os cidadãos.
Nos particulares, as receitas limitam as despesas. Ninguém pode gastar acima das
suas possibilidades e, consequentemente, aquilo que é considerado receita é o factor
limitativo do nível de despesas.
No Estado é diferente, nele é o nível de despesas que vai determinar o nível de
receitas.8 Efectivamente, o Estado define em primeiro lugar, o que é que considera

7
A actividade financeira é uma das várias actividades exercidas pela Administração Pública
(definível como o sistema de órgãos, serviços e agentes do Estado, bem como das demais pessoas
colectivas públicas que asseguram em nome da colectividade a satisfação regular e contínua das
necessidades colectivas de segurança, cultura e bem-estar. Este é um conceito bem mais amplo que a de
Estado pois a Administração Pública não se circunscreve apenas ao nível estatal, mas também ao de
outras pessoas colectivas públicas como seja as autarquias locais e associações públicas). Vide, Carlos
Feijó e Cremildo Paca, Direito Administrativo, Vol I, 1.ª Edição, Outubro de 2005, pág. 61
8
Segundo Elisa Rangel Nunes, em sede da matéria atinente a distinção entre finanças públicas e
finanças privadas, "em consequência de o Estado se financiar, fundamentalmente, através de impostos,
surge outro ponto de divergência entre finanças públicas e finanças privadas. Enquanto a empresa privada
(o particular) para realizar as despesas tem de ter em conta as receitas que visa arrecadar, pois se as
despesas forem superiores às receitas, ao invés de serem inferiores, ou no mínimo iguais às receitas, a
empresa entra em falência e é obrigada a desaparecer do circuito comercial ou industrial. No Estado, as
coisas passam-se de modo diferente, pois este dispõe de um meio de financiamento poderoso que são os
impostos e que ele cobra aos cidadãos sem qualquer contrapartida, daí que as despesas não estejam
subordinadas às suas receitas, estas podem ser cobradas na medida das despesas que o Estado se propõe
realizar, concluindo a autora que "nas finanças privadas são as receitas que determinam as despesas, ao
passo que nas finanças públicas não são as receitas que determinam as despesas nem tão pouco são estas a

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Os impostos, sua importância nas finanças públicas angolanas.

como despesa pública, e em segundo lugar, que despesas devem ser realizadas, de forma
directa e indirecta, através dos vários organismos e instituições que o integram, para em
momento posterior determinar as receitas e a forma como as vai obter (arrecadar) sendo
que tais despesas e receitas devem estar obrigatoriamente inscritas no orçamento (i.é, no
Orçamento Geral do Estado).9
O Estado como forma de organização política necessita de recursos financeiros para
sustentar a sua actividade administrativa. A Constituição10 no seu artigo 21.° define para
o Estado angolano uma série de tarefas fundamentais dentre as quais se destacam, a
garantia da independência e soberania nacional, da integridade territorial, promoção do
bem estar e elevação da qualidade de vida do povo angolano designadamente dos
grupos populacionais mais desfavorecidos, a promoção de políticas que permitam tornar
universais e gratuitos os cuidados primários de saúde, políticas que assegurem o acesso
universal ao ensino obrigatório gratuito, assegurar a paz e a segurança nacional, etc.
Ora, para a realização de tais tarefas o Estado precisa de ter instituições governamentais,
hospitais, escolas, forças armadas, polícias, profissionais diversos, enfim, uma máquina
administrativa funcional; então surge a seguinte questão, quem está disposto a pagar
toda esta máquina administrativa? Os magnatas, os nossos empresários?
O ser humano, tomado individualmente, de forma egoísta, pensando somente em si,
naturalmente diria: "Eu não preciso de exército! "Não tenho nada de pagar o exército!"
Mas, entretanto, colhe benefícios da existência do exército, da polícia. Na ponta da ilha
de Luanda, encontra-se um farol que serve de ajuda para a navegação marítima, esta é a
sua principal função, bom, se perguntássemos a um pescador se aquele farol lhe é útil,
ele, certamente diria que sim, principalmente a noite, todavia, se lhe cobrassem algo por
aquele farol, ele, de certo recusaria, dizendo que não foi ele que mandou colocar lá o
farol! Se não existisse exército, e quem diz exercito, diz polícia, o nosso Estado estaria
totalmente vulnerável a atentados, a ingerências militares de outros Estados, a ordem e
tranquilidade públicas estariam comprometidas, o que fácil e rapidamente conduziria a
desagregação da nossa comunidade.
Ora, chegados até aqui conseguimos depreender que enquanto pessoas, seres
sociáveis e cidadãos de um Estado temos diferentes tipos de necessidades, é sobre isso
que abordaremos já a seguir.

determinar as receitas", ao contrário do que defende FERNANDO DE CASTRO PAIVA, por si citado, que
conclui que nas finanças públicas são as despesas que determinam as receitas. Ob. cit., págs. 58-59.
9
Para a doutrina, o Orçamento Geral do Estado ou simplesmente Orçamento do Estado como
mapa de previsão de receitas e despesas que tem de ser autorizado pelas Assembleias Representativas
(Parlamentos), pode definir-se como, o documento onde se prevêem as receitas e despesas públicas
autorizadas para vigorarem durante o período financeiro, que, em regra, é de um ano. Para definições
legais de orçamento vide Constituição da República (n.°1 do artigo 104.°) e a Lei do Orçamento Geral do
Estado, isto é, a Lei n.° 15/10, de 14 de Julho (artigo 3.°) . Elisa Rangel Nunes, ob. cit. pág. 98
10
Vista e aprovada pela Assembleia Constituinte, aos 21 de Janeiro de 2010 e, na sequência do
Acórdão do Tribunal Constitucional n.° 111/2010, de 30 de Janeiro, aos 3 de Fevereiro de 2010 e
promulgada em 5 de Fevereiro, entrando em vigor no dia da sua publicação em Diário da Republica
(artigo 238.°).

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Os impostos, sua importância nas finanças públicas angolanas.

1.2 Necessidades individuais e colectivas


Há que se entender, em primeiro lugar, que as necessidades que o Estado satisfaz
não são necessidades do próprio Estado, pois as necessidades situam-se no plano de
desejos insatisfeitos, que só as pessoas físicas podem sentir. Ora o Estado não é uma
pessoa física, não é um indivíduo, mas uma colectividade de indivíduos, que como tal,
não tem conteúdo psíquico, e por isso não pode ter desejos. Os desejos são próprios dos
indivíduos e por isso aquelas necessidades, embora satisfeitas pelo Estado, são
necessidades de indivíduos.11
As necessidades satisfeitas pelo Estado são necessidades colectivas (necessidades
essas que são em primeira linha necessidades da colectividade, mas que acabam por ser
também necessidades de cada particular, v.g., necessidade de segurança).
A satisfação de necessidades realiza-se sempre mediante a utilização de bens.12 Para
satisfação de algumas, é necessário procurar por tais bens, para outras, basta que esses
bens existam. Ao tipo de necessidades, que exigem uma actividade, um comportamento
por parte do necessitado, denomina-se necessidades de satisfação activa ou necessidades
individuais, por exemplo, para nos alimentarmos, vestirmos, temos que ter rendimentos
para poder comprar nas lojas onde se vendem os bens, os produtos de que precisamos,
como sejam alimentos e vestuário.
A necessidade de defesa do território, por exemplo, é uma necessidade de tipo
diferente. Determinado espaço territorial ao ser defendido pelo "bem" exército, tem
como resultado para os seus habitantes a satisfação da necessidade de defesa do
território pelo simples facto da sua criação, todos os habitantes sentir-se-ão defendidos
pela simples existência do exército, não se exige aqui qualquer actividade do
necessitado para a satisfação dessa necessidade. A este tipo de necessidades que não
implicam a actuação dos indivíduos para a sua satisfação, denomina-se necessidades de
satisfação passiva ou necessidades colectivas.13

11
Teixeira Ribeiro, Lições de Finanças Públicas, citado por Elisa Rangel Nunes, ob. cit. pág. 37
12
Trata-se de bens que podem ser públicos ou semipúblicos consoante satisfaçam só as
necessidades colectivas ou satisfaçam simultaneamente as duas ordens de necessidades abrangendo
também as necessidades individuais.
Segundo Fernando António Rezende da Silva, Finanças Públicas, São Paulo, Editora Atlas S.A,
1992, pág. 39, «uma listagem de variáveis que devem influenciar o comportamento das despesas com a
produção de bens públicos e semipúblicos parece relativamente simples de estabelecer. Entre elas,
população e renda per capita sobressaem como principais factores a serem considerados».
O crescimento populacional exerce um efeito directo sobre o volume de bens públicos e
semipúblicos. Um maior número de habitantes implica a necessidade de crescimento dos serviços de
segurança, o aumento do número de escolas, a ampliação dos serviços assistenciais e de saúde pública etc.
Se esse crescimento se faz ainda acompanhar por incrementos mais que proporcionais na população
urbana e por um alargamento da base da pirâmide etária - como é provável em países em processo de
desenvolvimento -, os efeitos sobre as necessidades de expansão dos bens públicos e semipúblicos são,
ainda, provavelmente mais acentuados. Incrementos na urbanização aumentam a demanda de serviços
urbanos (ruas, praças, trânsito, saneamento, polícia, bombeiros etc.) e ampliam mais que
proporcionalmente, para um dado crescimento populacional, as necessidades de escolas, hospitais,
creches, ambulatórios etc. Por outro lado, modificações na estrutura etária da população tendem a reforçar
ainda mais a demanda de serviços culturais e assistenciais. Se a modificação se refere ao aumento da
população inactiva por idade elevada, ampliam-se as necessidades de gastos de transferência com
pensões, aposentadorias etc. A medida que o país se desenvolve a elevação do nível de renda per capita e
do padrão de vida da população amplia o tempo disponível para o lazer, o que implica criar demanda de
novos tipos de bens públicos: museus, parques, jardins, praias, etc., o próprio crescimento económico, a
poluição do meio ambiente que acompanha o processo de industrialização vai criar um novo tipo de
obrigação para o Governo: o controlo da poluição e a preservação do meio ambiente.
13
Contudo, há algumas necessidades individuais que também são colectivas. Ou seja, a medida
que as sociedades e os Estados se foram desenvolvendo, houve algumas necessidades individuais que
passaram também a ser colectivas. Não só necessidades de cada um de nós, mas também necessidades da

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Os impostos, sua importância nas finanças públicas angolanas.

1.2.1 As necessidades colectivas e a Administração Pública

A ideia corrente entre os leigos na matéria é de que a Administração Pública


consiste fundamentalmente na organização dos serviços centrais do Estado - o Governo,
os Ministérios, as Direcções-Gerais, as Repartições Públicas, os funcionários civis,
etc.14 Embora o Estado seja a principal entidade dentre as que integram a Administração
Pública, e entre nós, o Executivo o mais importante órgão administrativo do País, os
funcionários civis de certo, o maior corpo de elementos humanos ao serviço da
Administração. Em boa verdade, tudo isso não passa de uma parte muito importante,
sem dúvidas, mas apenas uma parte - da Administração Pública no seu conjunto, pois,
as figuras acima apontadas não esgotam, só por si, o âmbito da própria administração
central do Estado, pertence-lhe igualmente as instituições militares e os seus servidores,
bem como as forças de segurança pública (PNA).
Por outro lado, o Estado não é composto apenas por órgãos e serviços centrais,
situados em Luanda e com competência estendida sobre todo território nacional.
Compreende outrossim órgãos e serviços locais espalhados pelo litoral e pelo interior -
nos municípios, distritos, comunas - onde desenvolvem por forma desconcentrada
funções de interesse geral ajustadas às realidades locais. A Administração Pública não
se limita ao Estado, inclui-o, mas comporta muitas outras entidades e organismos ao
lado do Estado ou sob sua égide. Daí afirmar-se que actividade administrativa não é
uma actividade exclusiva do Estado, na esteira de Diogo Freitas do Amaral (ob. cit.,
pág. 48), podemos dizer que a actividade administrativa é a actividade típica dos
organismos e indivíduos que, sob a direcção ou fiscalização do poder político,
desempenham em nome da colectividade a tarefa de prover à satisfação regular e
contínua das necessidades colectivas de segurança, cultura e bem-estar económico e
social, nos termos estabelecidos pela legislação aplicável e sob o controlo dos tribunais
competentes.
Para termos uma ideia, a necessidade de protecção de pessoas e bens contra
incêndios ou inundações é satisfeita mediante os serviços de bombeiros; a salvação de
navios e embarcações, ou de indivíduos em aflição no mar, é assegurada pelos serviços
de socorro a náufragos; a segurança e protecção dos cidadãos contra os perturbadores da
ordem e da tranquilidade públicas é garantida pelos serviços de polícia.

própria sociedade, v.g, a instrução. Qualquer Estado moderno, hoje em dia, define a educação como uma
necessidade de índole colectiva. Pelo menos, até a um nível mínimo de escolaridade. A instrução
obrigatória é uma necessidade pública. Não é só de uma satisfação individual, é também de uma
satisfação colectiva, de todo nós, para tal, é necessário garantir que toda gente, indiscriminadamente,
tenha acesso a um estado mínimo de escolaridade. Para tal, são necessárias receitas e obviamente,
despesas. Se os órgãos de soberania elaboram lei no intuito de legislar sobre a instrução, afirmando que
ela é obrigatória e gratuita, está-se a dizer que têm de construir escolas, contratar professores,
funcionários e condições para que as aulas possam ser ministradas.
Do mesmo modo, poderíamos falar da saúde. A saúde é uma necessidade colectiva,
nomeadamente os cuidados primários de saúde, quer dizer que o Estado deve participar ou comparticipar
das despesas de saúde. E lá teremos que inscrever no orçamento uma despesa com a saúde pública, com a
educação, etc., etc. Mas reparem que quer saúde, quer a educação, podem ser satisfeitas individualmente,
isto é, as pessoas com poder financeiro poderão prescindir dos serviços públicos de educação e saúde.
Deste modo, recorrem aos privados e o Estado, neste âmbito, não comparticipará em nada. Não obstante,
a maior parte dos cidadãos não tem condições para tal. E é natural, nos Estados modernos que a educação
e a saúde, pelo menos a um nível primário, sejam consideradas despesas públicas, são as chamadas
necessidades de carácter social. A definição do que seja despesa pública é uma definição política, é aos
órgãos de decisão política que compete definir, traçar objectivos. A eles compete definir que tipos de
despesas devem ser considerados públicas às quais deverão corresponder as consideradas necessidades
sociais. Vide Lições de Direito Fiscal, Rui Cruz, Luanda 2007, pág., 5.
14
AMARAL, Diogo Freitas do Curso de Direito Administrativo – Vol I, 3.ª Edição, 8.ª
Reimpressão, págs. 30 e segs.

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Os impostos, sua importância nas finanças públicas angolanas.

Num plano diferente, a defesa militar contra a ameaça externa é assegurada pelas
Forças Armadas; as relações exteriores do Estado com os outros Estados e com as
organizações internacionais são desenvolvidas pelos serviços diplomáticos.
Por outro lado, a identificação pública dos cidadãos e das sociedades comerciais que
eles eventualmente constituam, bem como o património imobiliário de uns e outros, é
assegurado pelos serviços de registo civil, do registo comercial e do registo predial; a
construção e manutenção das estradas, das pontes e viadutos, dos portos e aeroportos
nacionais, são obtidas pelos serviços de obras públicas; a deslocação dos habitantes das
vilas, musseques e cidades em grandes massas é proporcionada pelos serviços de
transportes colectivos; as telecomunicações, nacionais e internacionais, são asseguradas
pelos serviços de correios e telecomunicações; Nos principais centros urbanos e não só,
a remoção dos lixos e detritos é executada pelos serviços de limpeza, a rede de esgoto e
canalização, pelos serviços de saneamento básico; a distribuição de água e electricidade,
pelos serviços correspondentes.
As grandes necessidades de carácter cultural e social são também, em grande parte,
satisfeitas mediante serviços que a colectividade cria e sustenta para benefício da
população: museus, bibliotecas, escolas e universidades, laboratórios e centros de
investigação, hospitais e centros de saúde, creches e infantários, institutos de
assistência, habitações económicas, etc.
Todas essas necessidades e, outras que poderíamos ter citado, se situam na esfera
privativa da Administração Pública. Trata-se em síntese, de necessidades colectivas que
podemos reconduzir a três espécies fundamentais: a segurança, cultura e o bem-estar.
Fica excluída do âmbito da Administração, na sua maior parte, a necessidade
colectiva da realização da justiça (isto é, a aplicação das normas jurídicas aos casos
concretos por sentenças com força de caso julgado emitidas por tribunais).15 Esta função
desempenhada por este órgãos, satisfaz inegavelmente uma necessidade colectiva, mas
acha-se colocada pela tradição e pela Constituição (CRA, artigo 174.°) fora da esfera
própria da Administração Pública: pertence ao Poder judicial.
A satisfação destas necessidades colectivas exige, enfim, avultados meios humanos
e materiais. Para a sua obtenção oportuna e correcta utilização, serviços públicos tem a
colectividade de organizar e fazer funcionar com regularidade e eficiência: são serviços
de pessoal, serviços de material e serviços financeiros - estes desdobrados em outros
tantos, para elaboração e execução dos orçamentos, lançamento e cobrança dos
impostos, organização das alfândegas, gestão do tesouro e do património público,
administração da dívida pública, pagamento da fazenda, fiscalização das contas e
dinheiros públicos.16

15
Freitas do Amaral, ob. cit., pág. 28.
16
O imposto foi e continua a ser a imprescindível fonte de receita à cobertura das despesas
públicas crescentes (lei de WAGNER), o que denota bem a sua importância nas Finanças públicas de um
qualquer Estado fiscal social que é o que se quer em Angola (formalmente, isto é, no plano constitucional
já o somos). Contudo, isto implica deverem os impostos serem suficientemente produtivos, para que os
contribuintes sem reservas os aceitem e sem resistência os paguem, fazendo-os sentir que o imposto é
algo que lhes dizem respeito e não já alguma coisa destinada a alguém ou a algo a que são estranhos, e
que está bem distribuído, isto é, para além do seu fim primeiro que é a arrecadação (obtenção) de receitas,
com o imposto são prosseguidas a redistribuição do rendimento e da riqueza, e a promoção do
desenvolvimento económico e social.

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Os impostos, sua importância nas finanças públicas angolanas.

1.3 Meios de financiamento do Estado


Financiamento segundo um Dicionário de Língua Portuguesa significa, acto ou
efeito de financiar; importância concedida para financiar. Financiar por sua vez
significa, prover recursos, dinheiro, linha de crédito, estrutura financeira ou física, para
que um determinado objectivo seja alcançado.
Do ponto de vista financeiro, os meios de financiamento aparecem sob a forma
de preços, empréstimos, impostos e outras receitas tributárias, tais como as taxas, as
contribuições especiais e as receitas parafiscais17; os dois primeiros resultam de
operações de troca, concretizados por meio de negócios jurídicos bilaterais, e no caso
dos impostos e das outras receitas tributárias, do exercício do poder de autoridade do
Estado, isto é, do seu poder tributário.18
Quando analisados os meios de financiamento do Estado, do ponto de vista
jurídico, já não se põe em causa a natureza económica da relação que dá origem à
receita, mas a natureza da fonte que lhe está subjacente: consensual ou legal da
obrigação de quem paga. Sob este prisma, haverá receitas que o Estado arrecada, em
virtude de obrigações resultantes de negócios jurídicos, ou seja, de manifestações de
vontade de as criar: receitas voluntárias, e haverá receitas que o Estado arrecada, em
virtude de obrigações impostas, pela lei aos cidadãos, e que resultam da ocorrência de
determinados factos (que revelam uma determinada capacidade contributiva): receitas
coactivas.19
Segundo o critério jurídico, a classificação das receitas ou meios de
financiamento do Estado pode apresentar-se do seguinte modo:
1. Preços negocialmente estabelecidos que o Estado recebe pela venda dos
produtos do seu domínio privado, pela prestação de alguns serviços e
pela venda de bens semi-públicos, estas são receitas que se fundamentam
em obrigações voluntárias assumidas pelos cidadãos.
2. Prestações que o Estado cobra sem dar especificamente nada em troca a
quem as paga (impostos) ou que implicam uma contrapartida a quem as
paga, que pode retirar determinada utilidade relacionada com o
funcionamento de um serviço ou a utilização de um bem (taxa).
3. Somas pecuniárias que o Estado obtém através do recurso ao crédito
(empréstimos).

17
Ao lado destes, existem ainda outros tipos de receitas, de reduzida expressão financeira, como
as multas ou outras sanções pecuniárias, as indemnizações a que tenham direito o Estado ou as outras
pessoas de Direito público.
18
Em sentido estrito ou técnico, o poder tributário consubstancia-se no poder conferido
constitucionalmente ao legislador para a criação, instituição, estabelecimento ou "invenção" dos impostos
(Steuererfindungsrecht) e sua disciplina essencial. Vide, José Casalta Nabais, O dever fundamental de
pagar impostos, contributo para a compreensão do Estado fiscal contemporâneo, Almedina Coimbra -
2004, pág. 682
19
Cfr., Elisa Rangel Nunes, ob. cit. pág. 53-54.

10
Os impostos, sua importância nas finanças públicas angolanas.

CAPÍTULO II
2. Direito financeiro, Direito tributário e Direito fiscal
O tema que nos propusemos abordar é sem sombra de dúvida um tema que não é
estranho a estes três ramos de Direito, sendo assim é dispensável qualquer nota de
esclarecimento sobre abertura em sede do presente trabalho, deste subtema.
Constitui uma evidência que, a satisfação das necessidades colectivas
correspondentes às múltiplas e diversificadas funções que os actuais ordenamentos
jurídicos colocam a seu cargo, tanto o Estado como os demais entes públicos carece,
sobretudo nos tempos que correm, de grandes quantidades de bens materiais e de
recursos humanos. O que, como bem se compreende postula a disponibilidade de
dinheiro para produzir ou adquirir os primeiros e para remunerar os segundos.
Dinheiro que, acrescente-se desde já, num Estado não patrimonial, como é a
regra dos Estados actuais, em que os bens susceptíveis de produção de rendimentos na
titularidade dos entes públicos são muito limitados, e, por conseguinte, muito reduzidas
as chamadas receitas patrimoniais, há-de ser obtido, em larga medida, junto dos agentes
económicos privados. Por isso, a chamada actividade financeira dos entes públicos, isto
é, a actividade de obtenção e gestão das receitas e de realização de despesas públicas,
reconduz-se basicamente à percepção, gestão e dispêndio de dinheiro ou meios
pecuniários obtidos juntos dos agentes económicos privados.
Ora bem, no moderno Estado de direito, ao contrário do que foi prática no
Estado absoluto, a actividade financeira, como toda a actividade pública de que aquela
constitui um sector dos mais relevantes, desenvolve-se inteiramente em execução de
normas jurídicas que os agentes públicos estão adstritos a observar. É, pois, ao conjunto
de normas jurídicas que disciplinam a actividade financeira do Estado e demais entes
públicos que damos o nome de Direito financeiro ou para sermos mais rigorosos,
Direito financeiro público20, um ramo de direito que podemos definir como o complexo
de normas jurídicas que disciplinam a obtenção e distribuição do dinheiro necessário ao
funcionamento dos entes públicos e, bem assim, à gestão dos bens propriedade desses
mesmos entes.
O Direito financeiro apresenta-se assim como um conjunto bastante heterogéneo
de normas jurídicas, uma vez que a actividade financeira dos entes públicos não
constitui uma actividade homogénea desdobrando-se antes por uma série diversificada
de operações relativas seja à aquisição e à gestão das receitas, seja à realização de
despesas. Desde logo, o Direito financeiro estende-se por três sectores bem diversos, a
saber: o direito das receitas, o direito das despesas e o direito da administração ou
gestão financeira, este último corresponde ao sector que rege a organização e
funcionamento da administração financeira e cujo domínio mais unificado é constituído
pelo direito orçamental ou orçamentário ou direito da contabilidade pública em sentido
amplo que, todavia, não deixa de ser fundamentalmente um sector do Direito
administrativo.21 No direito das receitas autonomizou-se o Direito tributário, que para
algum sector da doutrina, é sinónimo de Direito Fiscal. Para outros autores, este ramo
de direito é o complexo de normas relativo aos tributos ou receitas tributárias. Para
aqueles que distinguem entre Direito Tributário e Direito Fiscal, este último integra o

20
Public finance law na terminologia anglo-saxónica, pois não podemos esquecer a importância
crescente que vem assumindo o chamado direito financeiro privado ou direito das finanças privadas
relativo à disciplina dos múltiplos e variados instrumentos do mercado financeiro (que cada vez mais se
distingue menos do mercado monetário). Instrumentos relativamente aos quais, em virtude de o seu
número e variedades não conhecer ao fim e ao cabo, outros limites se não os da imaginação dos
investidores e especuladores financeiros. Cfr. José Casalta Nabais, Direito Fiscal, ob. cit. págs. 3 e segs.
21
José Casalta Nabais, Direito Fiscal, ob. cit. pág., 5

11
Os impostos, sua importância nas finanças públicas angolanas.

conjunto de normas que regula a incidência, o lançamento e a cobrança dos impostos.


(Elisa Rangel Nunes, ob. cit. pág. 70).
Diz Hermenegildo FM Kosi22, que o Direito Fiscal é o ramo autónomo do
Direito público que compreende as regras e princípios jurídicos que têm por objecto a
disciplina jurídica da relação jurídica de imposto.

2.1 A questão fiscal


2.1.1 Um problema cultural.
A questão fiscal em Angola tem em nosso entender, uma dimensão fundamental,
traduz-se num problema de natureza cultural. Diz respeito à pouca profundidade e à
muita ligeireza com que uma questão, como a fiscalidade23, tão importante para a
construção do Estado democrático e social, é geralmente tratada (ou pelo menos foi, até
antes da actual Reforma Tributária iniciada em 2010).
Vários sintomas existem desta "patologia" da nossa democracia. Os impostos
são quase sempre vistos como uma espécie de ataque do Estado à bolsa dos cidadãos, e
não como o contributo destes para o contrato social de cidadania, não como o preço da
solidariedade e da coesão nacional. A evasão fiscal é socialmente vista como grande
tolerância, como se quem defrauda o erário público iludisse o Estado, merecendo perdão
- o velho provérbio "ladrão que rouba ladrão…" - e não os restantes cidadãos e
contribuintes.24

22
Direito de Angola, 1.ª Edição Março 2014, FDUAN, coordenação Elisa Rangel Nunes e Jorge
Bacelar Gouveia, in Direito Fiscal, pág. 308.
23
A fiscalidade traduz-se na aplicação de impostos num determinado espaço territorial com a
finalidade de suportar as despesas públicas, é uma realidade ligada as economias de mercado, saídas da
revolução industrial e do triunfo do capitalismo, enquanto sistema económico e social. Vide, Rui Cruz, in
Fiscalidade e Desenvolvimento Económico e Social de Angola, Ciência e Técnica Fiscal, pág. 76. E
ligada a este conceito está, o nível de fiscalidade, a expressão "nível de fiscalidade" utiliza-se para
designar a relação existente entre as receitas fiscais totais (incluindo as contribuições obrigatórias para a
Segurança Social) arrecadadas por cada país durante um ano, e um indicador macroeconómico,
normalmente o Produto Nacional Bruto (PNB) ou o Produto Interno Bruto (PIB). A comparação entre os
níveis de fiscalidade apresentados por diferentes países tem como principal objectivo conhecer a
magnitude de transferência de recursos que, por via da tributação, se opera do sector privado para o sector
público.
Com efeito, a capacidade tributária dos cidadãos está directamente relacionada com o
rendimento que auferem, do mesmo modo que a formação bruta de capital fixo, será tanto menos afectada
quanto mais rentável for o sector empresarial privado.
O nível de fiscalidade pode ser um indicador da preferência que num determinado país se
concede à oferta de bens e serviços públicos ou semi-públicos relativamente aos bens individuais. Sem
dúvida que também reflectem a política tributária utilizada pelos poderes públicos para distribuir de uma
forma mais racional os recursos económicos para corrigir a distribuição do rendimento, para estabilizar a
economia ou para estimular o seu crescimento. Vide, Colóquio sobre o Sistema Fiscal, Centro de Estudos
Fiscais, comemoração do XX Aniversário. Lisboa - 1984, pág. 109-110.
24
Temos em Angola fruto de uma conjuntura social, política e económica que quase, senão
todos nós conhecemos e até estudamos, um mercado informal bastante sólido e disseminado, constituído
por operadores económicos que produzem bens e prestam serviços de vária ordem, auferindo de tais
actividades mercantis rendimentos que poderiam ser tributados com o imposto industrial, com o imposto
sobre o rendimento do trabalho, imposto sobre o consumo (uma vez que estão previstas nas normas de
incidência fiscal dos códigos que regulam tais impostos), e infelizmente não são, estamos a falar de
"kinguilas", vendedores ambulantes (vulgo zungueiros), marceneiros, lavadores de carros, pequenas lojas
(vulgo cantinas), salões de beleza, oficinas de mecânica, salões de festas, roulottes, os "kupapateiros",
táxis, em suma os pequenos empreendedores, que usufruem dos bens públicos como, estradas, pontes,
etc., para o desenvolvimento de suas actividades, poluem em grande medida o meio ambiente no caso dos
vendedores ambulantes é visível e indiscutível os amontoados de lixo que estes criam pelas bermas,
esquinas, ruas, etc., mercado este que se fosse erradicado ou ao menos comprimido dando lugar a um
gigantesco mercado formal, seria uma importante fonte de receitas fiscais para os cofres do Estado.

12
Os impostos, sua importância nas finanças públicas angolanas.

Uma face deste problema prende-se com o modo como a importância da


Administração tributária é desvalorizada, esta, é entre nós um dos serviços públicos que
pior funciona (ou pelo menos funcionava), apesar da sua vital importância na
arrecadação das receitas. O preconceito social anti-imposto funciona como um elemento
de paralisação da acção administrativa, visível em inúmeros aspectos, tendência para se
considerar o Direito fiscal, não como ramo de Direito público, mas como um Direito
quase privado. Todos estes sintomas são de algum modo, explicáveis, como diz A.
Carlos dos Santos,25 "a cultura fiscal é como a cultura científica e técnica, algo que anda
arredio das preocupações culturais clássicas.26 A atitude dos cidadãos perante o Estado
permanece ambígua: a ele se exige muito (ensino superior gratuito, sistema de saúde
eficiente e acessível a todos, etc. …), mas a ele se recusa o uso de meios sem os quais o
muito que se exige é impossível de realizar. São sintomas explicáveis, mas
preocupantes, uma vez que eles minam os fundamentos da democracia e do moderno
contrato social que lhe subjaz e deste modo, do próprio Estado de direito."
Ora, se a questão fiscal é antes de mais uma questão cultural, importante é que se
diga que o primeiro dos meios terapêuticos diz respeito a tudo que permita, através do
debate e da acção pedagógica, modificar a compreensão do sistema e as atitudes dos
contribuintes. Numa palavra, para utilizar uma expressão de HABERMAS, trata-se de
viabilizar a ética da discussão.27 Deve primar-se por uma consciência social que

25
A. Carlos Santos, Da Questão Fiscal à Reforma da Reforma Fiscal, Editora Rei dos Livros,
1999, pág. 26.
26
Angola já não é uma República Socialista (infelizmente para muitos), isto é, uma República
popular de orientação marxista-leninista, em que o Estado era o proprietário dos principais meios de
produção, e desta feita maior produtor, maior prestador de serviços, maior empregador, com um
património considerável que o tornavam como que auto sustentável, com fortes e inúmeras reservas à
existência de um sector privado, e em que o tema da fiscalidade não era sonante, pois não fazia sentido,
salvo se incongruentemente o Estado se quisesse auto-tributar. Diz Helena F. Prata (in Direito de Angola,
ob. cit., pág. 233 e segs.), a respeito da Constituição Económica Angolana - antecedentes e sentido geral,
que, «Aprovada na sequência da proclamação da Independência a 11 de Novembro de 1975, a
Constituição de 1975, continha um projecto de transição para o socialismo, mediante a apropriação
colectiva dos principais meios de produção. Embora o sector privado estivesse constitucionalmente
protegido, deixava de desempenhar o papel predominante na ordem económica constitucional, atribuindo-
se particular importância ao sector público e ao sector cooperativo. A opção socialista então tomada
consubstanciou-se na edificação de um sistema de direcção de economia centralmente planificada, no
quadro de um sistema político de partido único; a consideração de que só com um sector económico
estatal forte seria possível atingir a construção de uma sociedade socialista teve como corolário o
lançamento da política de nacionalizações e confisco (…), entretanto a revisão constitucional de 1992
veio permitir alterações significativas na ordem económica, a revisão operada em 1992 não só conferiu
maior flexibilidade à Constituição Económica ao alargar as possibilidades de combinação de formas de
apropriação e de regulação, como sobretudo, reforçou a iniciativa privada ao aumentar o seu espaço de
actuação, possibilitando reprivatizações, aumentando o papel do mercado e reduzindo o papel do plano.
Genericamente pode dizer-se que a Constituição consagra um modelo de economia mista, estabelecendo
princípios básicos de uma economia de mercado, impondo ou permitindo a regulação pública de alguns
aspectos do seu funcionamento e salvaguardando os direitos dos trabalhadores e dos consumidores,
enquanto limites ao poder económico público e privado (…). O modelo económico consagrado pela
Constituição de 2010 não difere muito do modelo consagrado pela Lei constitucional de 1992, mas
apresenta em relação àquela, algumas particularidades. Com efeito, a actual Constituição destaca logo no
Título I, sob a epígrafe "Princípios Fundamentais", a propriedade e a iniciativa privadas (artigo 14.°), para
mais à frente enfatizar os mesmos princípios nos artigos 37.° e 38.°, desta feita no capítulo relativo aos
direitos e deveres fundamentais. A consagração dos princípios da propriedade privada e livre iniciativa
económica na parte dedicada aos princípios fundamentais, têm no que a definição do modelo económico
diz respeito, importantes consequências práticas…», e cingindo-nos ao nosso tema diremos, importantes
consequências práticas no que ao Sistema Financeiro e Fiscal, diz respeito.
27
É digna de realce neste particular o spot publicitário que desde 2015 é veiculado pela TPA,
RNA e outros meios de comunicação social, da autoria da Administração Geral Tributaria (AGT) -
Governo de Angola - que começa com notas de agradecimento de cidadãos de diversos estratos sociais,
faixas etárias, profissão e/ou ocupações dizendo, "muito obrigado (a)" frisando que "quando pagamos os

13
Os impostos, sua importância nas finanças públicas angolanas.

implica, na óptica da despesa e na medida dos recursos financeiros disponíveis, a


prossecução de objectivos sociais (acção educativa, emprego, segurança social, saúde
etc.) e na óptica da receita (sem esquecer que a primeira e principal função dos impostos
é a financeira), uma progressiva reorientação da fiscalidade em direcção a uma maior
justiça fiscal, temperada pelo vector, igualmente importante, da eficiência económica, e
uma preocupação especial com a comodidade e confiança dos contribuintes.

2.2 Imposto, figuras afins e sistema fiscal


2.3 O conceito de imposto
Imposto (do latim imposìtu-, particípio passado de imponëre: impor, obrigar), é
como sabemos a figura típica das receitas tributárias. Antes de esclarecermos
(conceituando) o que vem a ser "imposto", importa previamente precisar o que são
receitas tributárias.
Por receitas tributárias, entende-se serem, as receitas que o Estado obtém
mediante recurso ao seu poder de autoridade, impondo aos particulares um sacrifício
patrimonial que não tem por finalidade puni-los, nem resulta de qualquer contrato entre
eles celebrado, porém, tem como fundamento assegurar a comparticipação dos cidadãos
na cobertura dos encargos públicos ou na prossecução de outros fins públicos.28 Sendo
ao lado das receitas patrimoniais e creditícias, um tipo fundamental de receita pública.29

nossos impostos estamos a contribuir activamente para o desenvolvimento do nosso país. Todos temos a
obrigação e a responsabilidade de contribuir pagando a nossa justa parte, pois é com esse dinheiro que o
Estado constrói escolas, hospitais, estradas e financia novos programas de criação de emprego e de
redução da pobreza. Pague os seus impostos e o país agradece. Obrigado!" realçamos também, os
inúmeros programas televisivos (educativos) que de um tempo a esta parte vêm abordando temas
relacionados à questão fiscal, e de campanhas como a que foi implementada pela AGT com o apoio do
Ministério da Educação, lançada no dia 20 de Julho de 2015, na escola Ngola Zinga, estando enquadrada
num amplo projecto de actividades de carácter formativo e informativo, sobre os imposto e sua
importância nas Finanças públicas Angolanas. Vide, www.portalangop.co.ao, 18 de Agosto de 2015-
Economia.
28
Vide, neste sentido Elisa Rangel Nunes, ob. cit. págs. 234-235.
Obs.: O imposto é visto em duas perspectivas (uma financista ou financeira outra jurídico-fiscal);
na perspectiva financeira é visto como uma receita pública, na perspectiva jurídico-fiscal é vista como
uma prestação de Direito público, o que significa que integra uma relação de natureza obrigacional e não
uma relação de carácter real. Ao longo do nosso trabalho trataremos do imposto em ambas perspectivas,
pois nos parece inevitável, sendo certo que do contexto em que utilizarmos tal figura resultará de forma
clara qual das perspectivas tivemos em mente.
Receitas tributárias não são sinónimo de receitas fiscais, pois receitas fiscais são somente os
impostos, ao passo que receitas tributárias são todas as receitas coactivas e por conseguinte, não são só os
impostos, incluindo os direitos aduaneiros, mas também as taxas e as contribuições especiais.
29
A Lei do Orçamento Geral do Estado, isto é, a Lei n.° 15/10, de 14 de Julho na Secção II
referente às receitas orçamentais no n.° 2 do artigo 8.°, diz que "tributo é a receita instituída pelo Estado
ou pela Autarquia, compreendendo os impostos, as taxas e contribuições, nos termos legais em matéria
financeira, destinando o seu custeio de acções gerais ou específicas exercidas pelo Estado ou pela
Autarquia. As receitas tributárias segundo a referida lei, no que a sua classificação económica diz respeito
são receitas correntes, cfr. Artigo 10.° n.° 2.
Sublinhe-se. "Do ponto de vista da importância em termos de hierarquia destes três tipos de
receitas públicas, no orçamento angolano, as receitas patrimoniais representam aproximadamente 5% do
total das receitas do OGE, as receitas creditícias representam aproximadamente 30% do total das receitas
do OGE e as receitas tributárias representam aproximadamente 60% do total das receitas do OGE, devido
ao peso dos impostos que recaem sobre a exploração e produção petrolífera.” (Elisa Rangel Nunes, ob.
cit. pág. 235).
Mas, como foi tornado público pelo Presidente da República Eng. José Eduardo dos Santos a
quando da primeira reunião do Conselho da República (após eleições gerais de 2012) em Fevereiro de
2015, o peso da exportação do petróleo nas receitas fiscais angolanas cifrou-se em 2014 em cerca de 70%,
mas deverá cair este ano (2015) para 36.5% o que levou o Governo a rever o OGE, em Março último,
cortando um terço em todas despesas públicas, devido a quebra na cotação internacional do crude.

14
Os impostos, sua importância nas finanças públicas angolanas.

O imposto é sempre definido com base em três elementos, a saber: um elemento


objectivo, um elemento subjectivo e por último um elemento teleológico ou
finalístico.30 Variando as suas definições de autor para autor.
Para J. L Saldanha Sanches31, imposto é uma prestação pecuniária, singular ou
reiterada, que não apresenta conexão com qualquer contraprestação retributiva
específica, exigida por uma entidade pública a uma outra entidade (sujeito passivo),
utilizada exclusiva ou principalmente para a cobertura de despesas públicas. O imposto
tem como conteúdo um dever de prestar que surge pela simples verificação de um facto
previsto na lei, dando origem a uma relação jurídica tributária.32
Para Manuel Pires33, imposto é uma prestação patrimonial, não reembolsável,
unilateral, exigida por força da lei, devida a uma pessoa colectiva de Direito público e
exigida para a obtenção de receitas (fim fiscal ou financeiro) ou para a prossecução de
política de intervenção económica e/ou social dessa pessoa colectiva (fim extra-fiscal ou
de ordenação).
Para J. Casalta Nabais, 34pode-se definir o imposto como a prestação pecuniária,
unilateral, definitiva e coactiva, exigida de detentores de capacidade contributiva a favor
de entidades que exerçam funções públicas com vista à realização de fins públicos não
sancionatórios.

2.3.1 Evolução histórica


O primeiro sistema de tributação conhecido foi o do Antigo Egipto por volta de
300 anos a.C., durante a primeira dinastia do Antigo Império. Os registos documentais
do período afirmam que o Faraó realizava uma excursão bienal em todo o reino, com a
cobrança de receitas fiscais dos seus súbditos. Outros registos conhecidos são recibos de
celeiros reais pela compra de cereais, de calcários e de papiros. Registo sobre a
existência de imposto é também descrito na Bíblia Sagrada, em Génesis (capítulo 47,
versículos 23-24) lê-se, "José disse ao povo: Eu vos comprei hoje, vós e vossas terras,
para o Faraó. Aqui tendes sementes: semeai vossos campos. No tempo da colheita,
dareis a quinta parte ao Faraó: as outras quatro partes vos servirão para semente do
campo e para vosso alimento com vossos filhos e os que moram convosco."
Noutras civilizações do Próximo e Médio Oriente, também existiu imposto.
Assim, na Babilónia, em Israel ou na Pérsia. Também na China, ao menos na monarquia
feudal dos Tchen (dos séculos I/VIII a.C.), já se verificava a cobrança de tributos e, na
época dos Han (220 a.C. -202 a.C.), o sistema compreendia um imposto predial, tendo

30
Segundo José Casalta Nabais, Direito Fiscal, ob. cit. pág. 11, objectivamente o imposto é uma
prestação pecuniária, unilateral, definitiva e coactiva. Por sua vez subjectivamente o imposto é uma
prestação, com as características objectivas mencionadas, exigida (ou devida) por detentores (individuais
ou colectivos) de capacidade contributiva, a favor de entidades que exerçam funções ou tarefas públicas.
Em termos (finalísticos) teleológicos, o imposto é exigido pelas entidades que exerçam funções públicas
para a realização dessas funções, conquanto que não tenham carácter sancionatório.
31
J. L Saldanha Sanches Manual de Direito Fiscal, 3.ª Edição, Coimbra Editora - 2007, pág. 22.
32
Por ex., a aquisição de uma moradia por Adérito Cabenda, gera no momento da transmissão a
obrigação de pagar o imposto de sisa sobre as transmissões de imobiliários por título oneroso, nos termos
do Regulamento para a liquidação e cobrança do imposto sobre as sucessões e doações e sisa sobre as
transmissões de imobiliários por título oneroso, aprovado pelo Diploma legislativo n.° 230, de 21 de Maio
de 1931 (ainda em vigor em Angola). Ora, num momento prévio, o legislador identifica a aquisição de
um imóvel como manifestação de força económica dos cidadãos diferentes de outras e que justifica a sua
oneração com um imposto. A receita do imposto cobrado será entregue aos cofres do Estado. Em virtude
do pagamento deste imposto, Adérito Cabenda não pode exigir do Estado a melhoria dos arruamentos, a
recolha de lixo ou qualquer outra prestação específica, nem a falta do pagamento deste imposto pode ser
juridicamente utilizada para lhe negar alguma destas ou outras prestações públicas.
33
Manuel Pires, Apontamentos de Direito Fiscal, 3.ª Edição, Almedina, pág. 28.
34
José Casalta Nabais, O dever fundamental de pagar impostos, ob. cit. pág., 681.

15
Os impostos, sua importância nas finanças públicas angolanas.

em conta a superfície das terras, uma capitação relativa a pessoas entre os 14 e 55 anos,
uma taxa dupla de capitação exigida aos comerciantes e aos patrões pelos seus escravos,
impostos sobre o monopólio do sal, ferro e bebidas fermentadas assim como imposto
sobre os carros e barcos. Reza a nossa história que os nossos ancestrais (chefes de
alguns reinos), sob o jugo colonial eram obrigados a pagar tributos em escravos aos
capitães portugueses.
Muitos séculos passaram, passando-se de uma concepção autoritária do imposto,
a contestação surgiu a partir do século XVIII, depois de se ter posto em relevo que ele
seria o preço dos serviços prestados - concepção que vai prevalecer na segunda metade
do século XVIII e no século XIX -, olha-se o imposto como o preço da segurança e
prémio de seguro, sendo objecto do consentimento do povo (teoria do imposto-troca ou
imposto-preço).
Destas ideias passou-se para o princípio da solidariedade social, do cumprimento
de um dever, conduzindo à ideia do mínimo não tributável e à progressividade das taxas
na tributação directa, bem como à isenção dos bens de primeira necessidade, no
domínio da tributação indirecta.35

2.3.2 Traços fundamentais do imposto


Os traços fundamentais do imposto são os seguintes:
a) é uma obrigação coactiva, i.é, estabelecida por lei, é uma prestação ex lege, a
favor de uma pessoa colectiva de Direito público, cujo objecto é normalmente
uma prestação patrimonial;
b) é uma receita definitiva, ou seja, não dá lugar a qualquer reembolso, restituição
ou indemnização;
c) é uma receita com função não sancionatória (como é a multa);
d) é uma receita unilateral, não lhe correspondendo assim qualquer contraprestação
específica a favor do contribuinte, o que o distingue dos tributos bilaterais
(taxa);36

35
Vide para maior desenvolvimento, Manuel Pires, ob. cit. págs. 37 e segs.
36
O imposto é uma prestação patrimonial, isto é, uma prestação susceptível de avaliação
pecuniária e não necessariamente pecuniária como entendem alguns autores, pois basta atentar que para
além dos exemplos do passado (em Portugal, por exemplo o imposto do pescado), actualmente o imposto
sobre a produção do petróleo pode ser cumprido em espécie (Cfr. artigo 15.° da da Lei n.° 13/04, de 24 de
Dezembro - Sobre a Tributação das Actividades Petrolíferas), o que não significa entretanto que noutros
sistemas fiscais, o imposto não tenha de ter carácter estritamente pecuniário (Cfr. art. 3.° 1 da Abga
benordnung -Lei Geral Tributária Alemã -segundo a qual «Steuern send Geldleistungen» - «os impostos
são prestações em dinheiro».
Para José Casalta Nabais, "o imposto é uma prestação pecuniária, ou seja, uma prestação de dare
pecunia ou concretizada em dinheiro", rejeitando assim a concepção daqueles autores que segundo ele,
continuam a contestar a natureza pecuniária dos impostos, vendo neles também prestações em espécie ou
mesmo prestações de facere ou de non facere - nesse sentido, Alberto Xavier e A. Braz Teixeira. Segundo
este autor, "…Para além de as situações recenseadas nesse sentido serem muito excepcionais, casos há em
que é discutível que se trate de verdadeiros impostos, como as royalties; impostos sobre a produção de
petróleo e outros mineiros traduzidos na entrega ao Estado duma percentagem da respectiva extracção, já
que nos parece estar-se aí perante taxas, não constituindo assim tais "impostos" mais do que as
contrapartidas pelos concessionários pela exploração do referido domínio público económico esgotável.
Não sendo portando, uma prestação em espécie, ou mesmo prestações de facere ou de non facere, entende
o mesmo autor que, é através desta característica ou nota típica do seu conteúdo que o imposto se
distingue claramente quer das prestações de carácter pessoal ou prestações de facere como o serviço
militar ou serviço cívico (que é exigido aos inaptos para o serviço militar e aos objectores de
consciência); quer das prestações de bens ou serviços exigidas aos particulares, em certas circunstâncias
excepcionais, através de requisição administrativa, quer ainda por expropriação por utilidade pública
(estas duas distinguem dos impostos ainda por não constituírem prestações definitivas, pois dão lugar a
indemnização). Vide, Direito Fiscal, ob. cit. págs. 11 e 12.

16
Os impostos, sua importância nas finanças públicas angolanas.

e) é uma receita arrecadada com vista a realização de fins públicos.

Na esteira da Professora Doutora Elisa Rangel Nunes37, com relevância jurídica,


mas não financeiramente essencial, pode referir-se ainda o seguinte elemento
caracterizador do imposto: a qualidade do seu sujeito activo ser uma pessoa colectiva
pública ou exercer funções públicas.38 É importante que se precise que estes elementos
caracterizadores se referem ao elemento objectivo e subjectivo da noção de imposto e
que reflectem a sua finalidade financeira ou fiscal (elemento teleológico). Recordemos
que para os liberais esta era a única função do imposto, isto é, obtenção de receitas
mínimas ou a satisfação das necessidades financeiras do Estado (e não da sociedade)
indo de encontro às tarefas que este executava (defesa, justiça, diplomacia e outros
serviços que não interessavam à sociedade civil executar).
Diz a mesma autora que há, porém, que chamar a atenção para este elemento
teleológico do imposto que com o advento do intervencionismo do Estado apresentou
alterações que consistiram no papel ou função instrumental do imposto (que nunca
deixou de ter, tendo em conta que o imposto não é um fim em sim mesmo, mas um
meio de realização das tarefas do Estado), voltada para fins extrafiscais
(designadamente de política económica e de conformação social) e já não ou apenas fins
fiscais.
A doutrina tem vindo a reconhecer, em face da finalidade mais financeira de
certos impostos e da finalidade mais voltada para fins de outra natureza que apontam
para um sentido mais instrumental (ao serviço das tarefas económicas e sociais do
Estado), a existência de impostos fiscais e impostos extra fiscais.39

Prestação patrimonial estabelecida por lei. Ora, diz-se fonte da obrigação o facto jurídico de
onde nasce o vínculo obrigacional, as obrigações de Direito privado e algumas de Direito Publico têm, em
regra, como fonte um facto voluntário: um contrato ou um negócio jurídico unilateral, moldando-se a
obrigação de acordo a vontade das partes. A obrigação fiscal ou se quisermos a obrigação de imposto
diferentemente, é exigida por lei, é a lei que define os seus pressupostos de facto (a incidência subjectiva,
objectiva), que fixa o conteúdo da obrigação e os termos do respectivo cumprimento, independentemente
da vontade ou do concurso do sujeito passivo no âmbito da relação jurídica fiscal, sendo por isso a lei a
única fonte da obrigação fiscal.
37
ob. cit. pág., 245 e segs.
38
É sujeito activo da relação fiscal uma pessoa colectiva de Direito público, podendo ser o
Estado, uma autarquia local, Instituto público, etc., que a lei designa como titular do respectivo crédito de
imposto. Por sua vez, sujeito passivo são as pessoas singulares ou colectivas, as sociedades irregulares, os
sócios das sociedades civis não constituídas sob a forma comercial e os membros dos patrimónios
autónomos, incluindo a herança indivisa e a herança jacente, ou das organizações de facto, etc. Cfr.
Artigo 28.° do Código Geral Tributário, aprovado pela Lei n.° 21/14, de 22 de Outubro.

39
A extrafiscalidade traduz-se no conjunto de normas que embora formalmente integrem o
Direito fiscal, tem por finalidade principal ou dominante a consecução de determinados resultados
económicos ou sociais através da utilização do instrumento fiscal e não a obtenção de receitas para fazer
face às despesas públicas. Tais normas estão dominadas pelo desiderato de actuar directamente sobre os
comportamentos económicos e sociais dos seus destinatários, desincentivando-os, neutralizando-os nos
seus efeitos económicos e sociais ou fomentando-os, ao prever-se neste ultimo caso uma tributação menor
à requerida pelo critério da capacidade contributiva.
Casalta Nabais realçando que esta distinção se prende com o elemento teleológico ou finalístico
do conceito de imposto, diz que, «os impostos extrafiscais são os que prosseguem predominantemente
objectivos de natureza económica e social…» Cfr. Direito Fiscal, ob. cit. pág. 66

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Os impostos, sua importância nas finanças públicas angolanas.

2.4 Figuras próximas ou afins do imposto


Os impostos constituem o mais importante sector dos tributos, todavia, como já
tivemos oportunidade de ver, estes integram outras figuras tributárias a que é importante
aludir até para as não confundir com os impostos a única figura tributária que constitui
objecto do nosso trabalho, para isso impõe-se naturalmente que procedamos a uma
separação das águas distinguindo o imposto das figuras tributárias que lhe são próximas.
Entre nós tal como em Portugal por exemplo, a figura dos tributos tem sido
objecto de uma divisão dicotómica, bipartida ou binária, que os distribui por tributos
unilaterais ou impostos e tributos bilaterais ou taxas, ou ainda de uma divisão tripartida
ou ternária, que distingue entre impostos, taxas e contribuições especiais ou tributos
especiais.

2.4.1 Imposto e taxa


A taxa é definida normalmente do seguinte modo: é uma prestação tributária
estabelecida por lei a favor de uma entidade que exerce funções públicas, e que dá
origem a uma contraprestação específica, resultante de uma relação concreta entre o
contribuinte e tal entidade pela utilização de um bem ou pela prestação de um serviço
público, bem como pela remoção de um limite jurídico à actividade dos particulares.40
O que nos permite distinguir o tributo taxa, do imposto, é o seu carácter bilateral
ou sinalagmático, uma vez que o imposto é um tributo de carácter unilateral.
Assentando a taxa num pressuposto diferente do que preside ao imposto, na medida em
que esta aparece ligada, normalmente, a um benefício que o contribuinte retira da
utilização de um bem público ou da prestação de um serviço público.
A nível dos princípios gerais da tributação, como havemos de ver, o princípio da
legalidade, no nosso ordenamento jurídico, aparece com uma diferente amplitude,
quando aplicado ao imposto e à taxa, pois no que se refere ao imposto, à lei cabe definir
os seus elementos essenciais (i.é, a incidência, a taxa, os benefícios fiscais e as garantias
dos contribuintes), ao passo que em relação a taxa, a lei estabelece o seu regime geral. À
taxa aplica-se o princípio da equivalência ou do benefício, isto é, da proporcionalidade
stricto sensu, o que não acontece com o imposto, pois a este não corresponde qualquer
contraprestação específica. Este rege-se fundamentalmente (e não exclusivamente) pelo
princípio da capacidade contributiva ou da capacidade económica.
2.4.2 Imposto e contribuição especial
As contribuições ou tributos especiais (tributi ou contributi speciali em Itália,
contribuciones especiales em Espanha, Beiträge na Alemanha), que encontramos na
tradicional divisão tripartida dos tributos é habitual, seguindo uma distinção há muito
consolidada sobretudo na doutrina italiana e espanhola, referenciar duas modalidades: a
das "contribuições de melhoria", que se verifica naqueles casos em que é devida uma
prestação, em virtude de uma vantagem económica particular resultante do exercício de
uma actividade administrativa, por parte de todos aqueles que tal actividade

40
Na nossa legislação. «Consideram-se taxas, os tributos que constituam contraprestações
pecuniárias ou avaliáveis em dinheiro, exigidas por entidades públicas, em regime de direito público, em
virtude da prestação individualizada, concreta e efectiva de um serviço público, da utilização de um bem
do domínio público ou da remoção de um limite ou obstáculo jurídico ao exercício de uma actividade.»
Cfr., Artigo 3.° n.° 7.° do Código Geral Tributário. Para efeitos da Lei sobre o Regime Geral das Taxas,
Lei n.° 7/11, de 16 de Fevereiro-, consideram-se taxas: as prestações avaliáveis em dinheiro, exigidas por
uma entidade pública como contrapartida individualizada pela prestação concreta de um serviço público,
pela utilização de um bem do domínio público ou pela remoção de um obstáculo jurídico à actividade dos
particulares. Cfr., artigo, 4.°, n.°1, a).

18
Os impostos, sua importância nas finanças públicas angolanas.

indistintamente beneficia e das "contribuições por maiores despesas", que ocorre


naquelas situações em que é devida uma prestação em virtude de as coisas possuídas ou
de a actividade exercida pelos particulares darem origem a uma maior despesa das
autoridades públicas.41 Alguns autores indicam como integrando também as
contribuições especiais, embora na modalidade de contribuições por maiores despesas,
os impostos de circulação e de camionagem, por um lado, e as taxas de esgotos e de
saneamento básico, por outro. Todavia, a nosso ver, na esteira de Casalta Nabais os
impostos de circulação e de camionagem são efectivamente impostos também do ponto
de vista do Direito financeiro, e as taxas de esgotos e de saneamento básico constituem,
em princípio, verdadeiras taxas.42
Ora, como se pode ver pelas definições acabadas de dar, tais contribuições ou
tributos especiais não passam de impostos, embora impostos que apresentam a
particularidade de terem por base manifestações de capacidade contributiva de
determinados grupos resultantes do exercício de uma actividade administrativa pública
e/ou não exclusivamente.43 Todavia, embora juridicamente reconduzível à figura do
imposto, a contribuição especial, no plano económico-financeiro, distingue-se deste
uma vez que apresenta uma vantagem individual atribuída, de modo reflexo e indirecto,
aos contribuintes.
2.4.3 Imposto e o empréstimo público forçado
O imposto distingue-se ainda com relativa segurança e nitidez do empréstimo
público forçado, primeiro, pelo seu carácter de prestação definitiva, a que se contrapõe,
no empréstimo, a necessária existência de um reembolso ou de uma amortização da
importância emprestada; segundo, pela natureza de prestação unilateral, que não dá ao
sujeito passivo qualquer direito a contrapartida, contrariamente ao que sucede com o
empréstimo, o qual vence sempre juros.
Poderá pretender-se, no entanto, que, nos casos em que o empréstimo se
encontre sujeito a um regime de coação para recolha de dinheiro e em que não seja feito
posteriormente o seu reembolso, a distinção entre as duas figuras praticamente não
existe ou irreleva-se ocultando-se sob a aparência formal de empréstimo, um verdadeiro
imposto.
O que ocorre, porém, efectivamente nestes casos, não é alteração da natureza e
fins do empréstimo, que apesar de tudo permanecem os mesmos, mas sim o eventual
não cumprimento da lei por parte do Estado, que a impotência do indivíduo para exigir
as consequentes responsabilidades torna impune. Aliás, a impedir a identificação do
empréstimo forçado com o imposto restaria sempre nestes casos o seu carácter bilateral
e a circunstância de vencer juros.

41
Entre nós a lei (Código Geral Tributário, artigo 3.° n.° 6) dispõe que, são contribuições
especiais: a) As contribuições de melhoria e de maior desgaste que assentem respectivamente, na
obtenção pelo sujeito passivo de benefícios ou aumentos de valor dos seus bens em resultado de obras
públicas ou da criação e ampliação de serviços públicos, ou no especial desgaste de bens públicos
ocasionado pelo exercício de uma actividade; b) As contribuições financeiras constituídas por prestações
pecuniárias e coactivas de natureza parafiscal exigidas por uma entidade pública, para compensação de
prestações provocadas ou aproveitadas por determinado grupo e presumivelmente provocadas ou
aproveitadas por um sujeito passivo que nele se integre.
42
Vê-se claramente aqui que as contribuições especiais, mais do que constituírem um meio de
financiamento de bens públicos, funcionam como um mecanismo de compensação de externalidades
mormente as negativas. Em Economia, externalidades são os efeitos colaterais de uma actividade sobre
aqueles que não participaram dela, isto é, são efeitos resultantes de um acto ou actos de produção ou
consumo de bens e serviços que originam benefícios (externalidade positiva, por exemplo investimento
em infra-estruturas e tecnologia ou investigação), ou prejuízos ou custos (externalidade negativa, por
exemplo a poluição atmosférica, a poluição de recursos hídricos, sinistralidade rodoviária), para outrem
que não, o destinatário, produtor ou consumidor dos mesmos.
43
José Casalta Nabais, Direito Fiscal, ob. cit. pág., 27 e segs.

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Os impostos, sua importância nas finanças públicas angolanas.

2.5 Momentos da vida do imposto. Resumo


Numa perspectiva dinâmica, isto é, tendo em conta os momentos em que se
desdobra a sua vida, encontramos dois momentos essenciais do ponto de vista da sua
disciplina jurídica, mormente em sede jurídico-constitucional. Por um lado, temos o
momento do estabelecimento, criação, instituição ou incidência do imposto e por outro,
o momento da sua aplicação, efectivação, administração ou gestão.44

2.6 Classificação dos impostos


Várias são as classificações a que tradicionalmente se procede relativamente aos
impostos, distinguindo-se os impostos em directos e indirectos. Diversos são os critérios
económicos e jurídicos que têm servido de base a esta distinção clássica dos impostos,
citaremos aqui três destes critérios. 45

1) O critério financeiro. É um critério que atende ao objecto do imposto, segundo o


qual são impostos directos aqueles que, atingindo manifestações imediatas da
capacidade contributiva, têm por pressuposto a própria existência de uma
pessoa, de um património, ou de um rendimento, impostos indirectos aqueles
que, atingindo manifestações mediatas da capacidade contributiva, tributam a
despesa, a transferência de bens ou outras manifestações indirectas da
capacidade contributiva. Constitui um critério a que tradicionalmente se dá
muita importância em sede da ciência das finanças públicas e do Direito
financeiro.
2) O critério do tipo de relação jurídica base do imposto. Em conformidade com
este critério a distinção entre impostos directos e impostos indirectos reside no
tipo de ralação jurídica fonte da obrigação de imposto, ou seja, na configuração
instantânea ou duradoura do elemento temporal do facto tributário. Assim, se se
tratar de uma relação desencadeada por um facto ou acto isolado ou por factos
ou actos sem continuidade entre si, isto é, de uma relação de carácter
instantâneo, que dá origem a uma obrigação de imposto, o imposto que sobre ela
recai é um imposto indirecto (por exemplo o imposto de consumo), se pelo
contrário tal obrigação tiver por base situações estáveis, situações que se
prolongam no tempo, mantendo-se ano após ano, dando origem, por
conseguinte, a obrigações periódicas, a obrigações que se renovam todos os
anos, estaremos perante um imposto directo (por exemplo o Imposto sobre os
Rendimentos do Trabalho -, o IRT). Com este sentido a distinção entre impostos
directos e indirectos coincide com a distinção entre impostos periódicos e
impostos instantâneos ou de obrigação única.
3) Critério do rol nominativo. De acordo com este critério, que teve adeptos
sobretudo na Itália, seriam directos os impostos, cujo lançamento se baseasse na
existência junto da administração fiscal duma lista ou rol nominativo de
contribuintes e indirectos os impostos cujo lançamento não tivessem por base
essa lista ou rol.46 Hoje em dia, porém, com um sistema fiscal extremamente
complexo, em que a matéria colectável de parte significativa dos impostos é
levada ao conhecimento da administração fiscal ou determinada pelos
contribuintes ou por terceiros, e não conhecida antecipadamente por aquela, e

44
Para maior desenvolvimento, vide José Casalta Nabais, Direito Fiscal, ob. cit. pág., 38 e segs.
45
Seguimos de perto, José Casalta Nabais, ob. cit., pág., 42 e segs
46
Cá entre nós podemos citar, a Lista dos Grandes Contribuintes, publicada pelo Despacho (do
Ministro das Finanças) n.° 472/14, de 28 de Fevereiro e actualizada pelo Despacho n.° 599/14, de 24 de
Março.

20
Os impostos, sua importância nas finanças públicas angolanas.

em que é cada vez mais frequente o recurso a técnicas de autoliquidação,


retenção na fonte e pagamentos por conta, o papel da administração fiscal tende
a ser limitado mesmo naqueles casos em que há lugar a lançamento e liquidação
administrativos com base numa lista nominativa de contribuintes agora
suportada por via de regra, em meios informáticos, este critério começa a perder
importância para a taxionomia dos impostos e portanto, para a distinção entre
impostos directos e impostos indirectos.
A distinção entre impostos directos e indirectos é utilizada ou está subjacente
nalgumas disposições legais vigentes do nosso ordenamento jurídico, a saber: (1) no
artigo 736.°, n.°1, do Código Civil, (2), nos artigos 11.°, e 12.°, do actual Código Geral
Tributário (onde se contrapõe a tributação directa à tributação indirecta).

2.7 O dever de pagar imposto. Configuração constitucional


Preceitua o artigo 88.° da CRA, sob a epígrafe «Dever de contribuição» que,
"todos têm o dever de contribuir para as despesas públicas e da sociedade, em função da
sua capacidade económica e dos benefícios que aufiram, através de impostos e taxas,
com base num sistema tributário justo e nos termos da lei."47
Como dever fundamental, o imposto não pode ser encarado nem como um mero
poder para o Estado, nem como um mero sacrifício para os cidadãos, constituindo antes
o contributo indispensável a uma vida em comunidade organizada em Estado fiscal. Um
tipo de Estado que tem na subsidiariedade da sua própria acção (económico-social) e no
primado da auto-responsabilidade dos cidadãos pelo seu sustento o seu verdadeiro
suporte. Daí que se não possa falar num (pretenso) direito fundamental a não pagar
impostos.
O dever de pagar impostos constitui um dever fundamental como qualquer
48
outro , com todas as consequências que uma tal qualificação implica. Um dever

47
«O dever de contribuição impõe-se a todos, sejam cidadãos angolanos, sejam estrangeiros,
apátridas, pessoas colectivas, desde que todos esses sujeitos jurídicos residam ou se encontrem ou
mantenham com o território nacional um qualquer elemento de conexão (rendimentos por exemplo),
porque as despesas públicas que são realizadas com vista satisfazer as necessidades públicas, a todos
aproveitam. Este artigo consagra, assim, o dever fundamental de pagar tributos: impostos, taxas e
outras receitas tributárias que lhes sigam os regimes jurídicos. O dever de contribuição dos cidadãos não
dispensa, segundo este artigo, que ele se enquadre de acordo com padrões de justiça tributária. Quer isto
dizer que subjacente a esse dever de contribuição deve prevalecer tanto ideais de justiça distributiva como
de justiça comutativa, para que o sistema tributário se denomine por justo. A justiça distributiva afere-se,
em princípio, pela amputação dos rendimentos numa base de progressividade, com vista a que os que são
mais elevados sejam tributados de forma mais gravosa, de modo a serem redistribuídos para o custeio dos
encargos públicos, criando-se, assim, uma ideia de igualdade material na tributação. A justiça comutativa
porque pressupõe a existência de um vínculo sinalagmático entre o cidadão e a Administração,
materializa-se quando o dever de contribuir se traduza na realização de uma contraprestação, numa base
proporcional ao custo ou ao benefício.» Vide, Constituição da República de Angola Anotada Tomo I,
Luanda 2004, Raul Carlos Vasques Araújo, Elisa Rangel Nunes, anotações ao artigo 88.°, pág. 436-440
48
Deveres estes que podemos distinguir em dois grupos. Por um lado, temos os deveres
fundamentais clássicos que, por constituírem verdadeiros pressupostos da existência e do funcionamento
da comunidade organizada politicamente num Estado democrático de direito, não podem por isso deixar
de ser reconhecidos e exigidos no Estado contemporâneo, assim acontece com os deveres de respeitar os
direitos, as liberdades e a propriedade de outrem, a moral, os bons costumes e o bem comum; com os
deveres de defesa da pátria, que incluem o dever de defesa da pátria, o dever de serviço militar, e com os
deveres políticos, em que se inclui o dever de votar; deveres portanto com um carácter ou conteúdo
cívico-político, que acabam integrando as duas primeiras gerações de deveres fundamentais e são a outra
face do conjunto dos direitos fundamentais e de participação política. Ao lado destes temos os deveres de
conteúdo económico, social ou cultural que sendo fundamentalmente fruto do Estado social, se destinam
a tutelar determinados valores sociais que, pela sua importância para a colectividade, a Constituição
entendeu privilegiar, citam-se o dever de trabalhar, o dever de defender e preservar o ambiente, o próprio
dever de pagar impostos etc.

21
Os impostos, sua importância nas finanças públicas angolanas.

fundamental, porém, que tem por destinatários, não todos os cidadãos de um Estado,
mas apenas os fiscalmente capazes, incluindo-se neles, de um lado, as pessoas
singulares, as pessoas (ou organizações) colectivas e, de outro, incluindo mesmo os
estrangeiros e apátridas. Isto é, não há lugar a um qualquer (pretenso) direito
fundamental de não pagar imposto, como o radicalismo das reivindicações de algumas
organizações de contribuintes ou a postura teórica de alguns jusfiscalistas mais
inebriados pelo liberalismo económico e empenhados na luta contra a "opressão fiscal",
que vem atingindo a carga fiscal nos países mais desenvolvidos, parecem dar a
entender.
Embora este, como qualquer outro dever fundamental, constitua directamente
uma posição passiva do contribuinte face ao Estado, reflexamente ele configura-se
como uma posição activa do contribuinte traduzida no direito de exigir do Estado que
todos os membros da comunidade sejam constituídos destinatários desse dever em
conformidade com a respectiva capacidade contributiva e, bem assim que todos eles
sejam efectivamente obrigados ao cumprimento do mesmo.49O dever fundamental de
pagar imposto pela sua importância no âmbito daquilo a que podemos chamar
"cidadania fiscal", sua inobservância (violação) nalguns casos chega mesmo a constituir
uma infracção tributária assumindo ora, a modalidade de crime tributário com destaque
para a fraude fiscal, ora, a modalidade de transgressão ou contravenção tributária nos
termos dos artigos 144.°, e segs. do Código Geral tributário.

CAPÍTULO III
3. Os princípios jurídico-constitucionais da tributação
Os princípios constituem as ideias centrais de um determinado sistema jurídico.
São eles que dão ao sistema jurídico um sentido lógico, racional, harmónico e coerente.
Ou seja, eles influenciam a interpretação e aplicação das normas jurídicas e também têm
a capacidade de integrar as lacunas da lei. Neste capítulo vamos abordar os princípios
jurídico-constitucionais por que se rege a tributação50, princípios que fixam limites de
natureza formal, limites relativos portanto a quem pode tributar, ao como tributar e ao
quando tributar, em que temos os princípios da legalidade fiscal e da segurança jurídica;
e os limites que estabelecem limites de natureza material relativos portanto ao que e ao
quanto tributar, em que se destacam os princípios da igualdade fiscal a aferir através da
capacidade contributiva e o princípio do Estado social.

3.1 Princípio da legalidade fiscal


Tradicionalmente a tutela dos contribuintes face ao poder tributário limitava-se,
fundamentalmente, ao princípio da legalidade fiscal, entendido como um qualificado
princípio da legalidade da Administração.
O princípio da legalidade fiscal tem na base a ideia de auto-consentimento, auto-
tributação ou auto-imposição dos impostos, segundo a qual os impostos devem ser
consentidos pelos próprios contribuintes, uma ideia que remonta à Idade Média e que
tem expressão em numerosos documentos medievais entre os quais é de destacar a
célebre Magna Carta Libertatum inglesa, em que muito claramente se (re) afirmou
aquela ideia que veio a ter uma das suas mais significativas expressões no conhecido

49
«Um dever-direito que deve ter como consequência prática, de iure condendo, o
reconhecimento de legitimidade aos contribuintes, que cumpram o seu dever, para accionar os que o não
cumpram.» Cfr. José Casalta Nabais, Direito Fiscal, ob. cit.Pág., 454.
50
Sobre os princípios jurídico-constitucionais por que se rege a tributação, vide José Casalta
Nabais, Direito Fiscal, ob. cit. pág., 136 e segs.

22
Os impostos, sua importância nas finanças públicas angolanas.

princípio da no taxation without representation ou da democracia representativa


concretizada no Parlamento. Uma ideia que se reconduz hodiernamente a dois institutos
diferentes, a saber: a votação anual da cobrança dos impostos através da aprovação
anual do orçamento pela Assembleia Nacional, e a exigência de os impostos serem
criados e disciplinados nos seus elementos essenciais através de lei (do Parlamento). E
aqui temos nesse segundo instituto, o princípio da legalidade fiscal.
Um princípio que por seu turno, se desdobra em dois segmentos ou aspectos: no
princípio da reserva de lei (formal) e no princípio da reserva material (de lei). O
princípio da reserva de lei (formal) implica que haja uma intervenção de lei parlamentar,
seja esta uma intervenção material a fixar a própria disciplina dos impostos, ou
intervenção de carácter meramente formal, autorizando o Executivo, dentro de certas
coordenadas que hão-de constar da respectiva lei de autorização.
Por seu turno, o principio da reserva material (substancial ou conteudística) de
lei (formal), geralmente referido com base na dogmática alemã por princípio da
tipicidade (Tatbestandsmässigkeit), exige que a lei (lei da Assembleia Nacional, decreto
legislativo presidencial autorizado) contenha a disciplina tão completa quanto possível
da matéria reservada, matéria que, nos termos do n.°1 do artigo 102.° da CRA, integra
relativamente a cada tipo de imposto, a incidência, a taxa, os benefícios fiscais e as
garantias dos contribuintes, sendo certo que como defende J. Casalta Nabais, quanto às
garantias dos contribuintes, a reserva apenas é exigida se e na medida em que estas
sejam objecto de restrição ou condicionamento e já não quando forem objecto de
ampliação ou alargamento.51 E aqui temos a intensidade (ou aspecto vertical) da reserva
de lei fiscal a implicar que a lei contenha os elementos essenciais de cada imposto, ou
seja, defina a incidência (sentido lato) de cada imposto, e em termos determinados ou
determináveis. O que significa que a lei deve abranger todas as normas relativas à
incidência real ou objectiva (material, temporal, quantitativa e espacial), à incidência
pessoal ou subjectiva (sujeitos activos e passivos, incluindo nestes o contribuinte, os
responsáveis, os substitutos, etc.), à taxa, e aos benefícios fiscais.
O legislador constituinte de 2010, no que à criação de impostos e sistema fiscal
diz respeito, atribuiu à Assembleia Nacional uma reserva relativa de competência
legislativa, possibilitando-se assim ao titular do Poder executivo (uma vez que até é o
órgão que dirige a política geral de governação do país e da Administração Pública, cfr.
alínea b), do artigo 120.° da CRA), legislar sobre a matéria, desde que lhe seja
concedida uma autorização para o efeito por aquele órgão, nos termos da alínea o), do
artigo 165.°, articulado com o artigo 170.°, que no seu n.°1, reza que, as leis de
autorização legislativa devem definir o seu objecto, sentido, extensão e duração.
Limitando-se assim do ponto de vista substancial, os poderes legislativos concedidos ao
Executivo, relativamente a matéria em apreço.
Em contrapartida, a reserva de lei decorrente do princípio da legalidade fiscal
não abrange qualquer outra matéria fiscal. Designadamente, não abrange a liquidação e
cobrança dos impostos, momentos cuja disciplina não esta assim sujeita ao princípio da
legalidade fiscal, mas apenas ao princípio geral da legalidade da Administração pública.

3.2 O princípio da segurança jurídica


O princípio da segurança jurídica, ínsito na ideia do Estado de direito
democrático constante do art. 2.° da CRA, não é mais é do que um princípio que visa
proteger a confiança legítima, fundada e solidificada (neste particular dos contribuintes),

51
Diz esse mesmo autor, «tal é uma reserva que, como é fácil de ver, só tem autonomia na
medida em que se refira a garantias não fundamentais dos contribuintes, pois se se tratar de garantias
fundamentais já estão sob a alçada da reserva de lei…» Vide, José Casalta Nabais, Direito Fiscal, ob. cit.
pág., 141.

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Os impostos, sua importância nas finanças públicas angolanas.

impõe-se fundamentalmente ao legislador, limitando-o em dois sentidos: primeiro, no


que respeita a edição de normas jurídico-fiscais retroactivas (desfavoráveis), segundo,
no que respeita a livre revogabilidade e alterabilidade das leis fiscais (favoráveis).
Todavia, um tal princípio aplica-se directamente também aos operadores jurídicos
concretos, mormente à administração fiscal, se e na medida em que disponham de uma
margem legal de livre decisão cujo parâmetro seja a Constituição. Podemos em síntese
dizer que o referido princípio vem expressamente consagrado no n.° 2 do art. 102.° da
CRA, que prescreve que, «as normas fiscais não têm efeito retroactivo, salvo as de
carácter sancionatório, quando sejam mais favoráveis aos contribuintes.» E densificado
no Código Geral Tributário em vigor, onde no seu artigo 8.°, respeitante a aplicação da
lei no tempo, no seu n.°1 se prescreve que, «não podem ser retroactivamente criados
impostos, ampliadas as normas de incidência tributária, agravadas as taxas ou revogados
os benefícios fiscais concedidos, salvo com fundamento em ilegalidade.»

3.3 O princípio da igualdade fiscal


O princípio da igualdade fiscal sempre se reconduziu a uma específica expressão
do princípio geral da igualdade (consagrado no artigo 23.° da CRA). Ao princípio da
igualdade entendido não no seu sentido formal (ou igualdade perante a lei), como foi o
que prevaleceu a partir de meados do século XIX, mas sim no seu sentido material (ou
igualdade na lei).
Mesmo nas Constituições liberais, a previsão específica do princípio da
igualdade fiscal, como uma igualdade material enquanto pautada pela capacidade
contributiva, contraposta ao entendimento que prevaleceu do princípio geral da
igualdade, como uma igualdade formal, não teve consequências de maior, em virtude do
carácter programático que, por via de regra, foi atribuído aos preceitos constitucionais
concernentes ao princípio da capacidade contributiva.
Efectivamente, afirmado contra os privilégios próprios do Estado pré-liberal, o
princípio da igualdade fiscal teve sempre ínsita sobretudo a ideia de generalidade ou
universalidade, nos termos da qual todos os cidadãos se encontram adstritos ao
cumprimento do dever de pagar impostos, e da uniformidade, a exigir que semelhante
dever seja aferido por um mesmo critério - o critério da capacidade contributiva. Este
implica assim igual imposto para os que dispõem de igual capacidade contributiva
(igualdade horizontal) e diferente imposto (em termos qualitativos ou quantitativos)
para os que dispõem de diferente capacidade contributiva na proporção dessa diferença
(igualdade vertical).
Configurando-se o princípio geral da igualdade como uma igualdade material, o
princípio da capacidade contributiva enquanto tertium comparationis da igualdade no
domínio dos impostos, não carece dum específico e directo preceito constitucional. O
seu fundamento constitucional é, pois o princípio da igualdade articulado com os
demais princípios e preceitos da respectiva "constituição fiscal" e não qualquer outro.
Nomeadamente, o seu fundamento não pode ser o princípio do Estado social, como
pretendem alguns autores.
Ora bem, a capacidade contributiva constitui o pressuposto e critério da
tributação. Como pressuposto, exige que todos os impostos tenham por objecto "bens
fiscais", excluindo da tributação, por conseguinte, o chamado mínimo existencial. 52

52
Mínimo existencial ou mínimo de existência é segundo a doutrina, aquela quota de rendimento
necessária à satisfação das necessidades essenciais à salvaguarda da dignidade humana do contribuinte e
sua família. Prescreve o n.° 3 do artigo 11.° do Código Geral Tributário sob a epigrafe "tributação
directa", que « a tributação do rendimento das pessoas singulares deve observar o princípio do mínimo de
existência». Nós defendemos, entretanto, a elevação deste princípio ao nível constitucional (Constituição
formal), uma vez que sendo apenas expressamente consagrado ao nível infraconstitucional e sem grande

24
Os impostos, sua importância nas finanças públicas angolanas.

Enquanto critério da tributação, a capacidade contributiva rejeita que o conjunto dos


impostos (o sistema fiscal) e cada um dos impostos de per si tenham por base qualquer
outro critério, seja ao nível das respectivas normas, seja ao nível dos correspondentes
resultados. Relativamente ao quantum ou intensidade da tributação, a capacidade
contributiva não constitui qualquer suporte da progressividade do sistema fiscal ou dos
impostos, indiciando-nos antes a opção por impostos proporcionais.53

3.4 O princípio do Estado social


Entendido como constituindo tarefa fundamental do Estado a realização da
democracia económica, social e cultural, no quadro de um no produtive state, o
princípio do Estado social tem implicações importantes no domínio do direito dos
impostos. O que tem expressa concretização na própria Constituição, em que; de um
lado e em sede da "constituição económica" estabelece dentre outras coisas como
incumbência do Estado, no âmbito económico e social, a promoção da justiça social,
remoção dos obstáculos de natureza económica, social e cultural que impeçam a real
igualdade de oportunidades entre os cidadãos, promover o desenvolvimento social
através do fomento, apoio e regulação da intervenção do sector privado na realização
dos direitos sociais, etc. (artigo 90.°); e de outro, já em sede da "constituição fiscal",
prescreve que os sistema fiscal visa também assegurar a realização da política
económica e social do Estado e proceder a uma justa repartição dos rendimentos e da
riqueza nacional (artigo 101.°).54
Sublinha-se que este princípio (e suas concretizações) vai tanto no sentido da
tributação ou de uma maior tributação, como no sentido da não tributação ou da
limitação da tributação. Orienta-se para a tributação ou para uma maior tributação na
medida em que suporta a progressividade dos impostos, a tributação do capital, e a
extrafiscalidade.55
Por sua vez, vai no sentido da não tributação ou da limitação da tributação, na
medida em que nos fornece a concreta medida dos mínimos existenciais, a ter em conta
no direito dos impostos, exigindo, por conseguinte, a não tributação das prestações
sociais e dos rendimentos monetários afectos ou imputados pelos contribuintes à
satisfação das suas necessidades existenciais, ou seja, as despesas com a habitação, a
alimentação, a saúde, a educação, a segurança social, etc.

precisão, não é observado nem pelo legislador nem pelo Fisco, basta atentarmos ao facto de o rendimento
em kwanzas acima de 34 450,00, que hoje por hoje não serve se quer para cobrir as despesas com a
alimentação do contribuinte e sua família é tributado com o IRT.
53
Impostos proporcionais (ou de taxa fixa), são aqueles cuja taxa é constante, isto é, mantém-
se a mesma independentemente do valor da matéria colectável. Contrariamente temos os impostos
progressivos que são aqueles cuja taxa aumenta à medida que aumenta a matéria colectável.
54
Entende Elisa Rangel Nunes que "ao instituir um modelo de Estado social de direito, a CRA
exige que o sistema fiscal apresente um elevado grau de progressividade na tributação do rendimento
pessoal com o objectivo de atenuar as desigualdades sociais (assim, a exigência da contribuição de todos
para as despesas públicas - art.º 88- e a repartição justa dos rendimentos e da riqueza nacional - art.º
101.°)." Ob. cit., pág. 281.
55
Note-se que como diz Elisa Rangel Nunes, "Nas economias, onde o imposto tem um papel
fundamental nas receitas do Estado e onde o seu aumento sistemático para custear despesas públicas tem
constituindo uma das causas da queda dos governos, pelas repercussões que esses aumentos provocam
nos rendimentos dos contribuintes, diminuindo quer a sua capacidade de consumo, quer de promover o
investimento.” A cobrança de impostos aos cidadãos não se efectiva sem limites, significando então, que
os impostos não têm uma elasticidade ilimitada ou infinita. A medida que o Estado aumenta os impostos,
tende a aumentar também a resistência dos contribuintes, o que leva o Estado a elevar as despesas que
realiza, apenas dentro dos limites permitidos pela resistência que lhe opõem os contribuintes. Ob. cit.,
pág., 59.

25
Os impostos, sua importância nas finanças públicas angolanas.

CAPÍTULO IV
4. Sistema Fiscal. Noção
O sistema fiscal é o sistema dos impostos (ou dos tributos que sejam de
considerar imposto de um ponto de vista constitucional), ou seja, os impostos vistos
como um conjunto dotado duma dada articulação ou estrutura interna. Pelo que não se
confunde com o que podemos designar por sistema tributário, que integra o conjunto
dos tributos.56

4.1 O sistema fiscal angolano: Antecedentes


A correcta compreensão do sistema fiscal angolano obriga necessariamente a
uma incursão histórica tendente a analisar tanto as suas origens, como a justificação das
sucessivas alterações que entretanto se foram verificando.57 Nestes termos, a influência
jurídica portuguesa é um aspecto marcante da estrutura jurídico-fiscal angolana e isto
quer nos reportemos ao período anterior à independência, quer posterior.
Naquele primeiro período, o sistema fiscal vigente correspondeu básica e
sucessivamente à transposição para o território angolano daquele que vigorava na
metrópole, se bem que com algum tempo de atraso. Tanto assim é que a reforma fiscal
angolana de 1967/72 teve a sua fonte na reforma fiscal portuguesa de 1959, tal como já
a de 1948/50 tinha sido influenciada pela reforma portuguesa de 1929.58
As transformações verificadas naquela altura consistiram, essencialmente, na
criação do Imposto de Produção e Consumo em 1967, publicando-se no ano seguinte o
Código Geral Tributário, diploma onde se codificaram as regras de direito tributário
geral, coisa que não chegou a ser feita na metrópole apesar da realização de estudos
nesse sentido.
Em 1970 era criado o Imposto Predial Urbano e ligeiramente reformulados os
impostos sobre a produção e rendimentos petrolíferos, dando estes últimos, origem a
confusões legislativas quanto à sua efectiva vigência. O ciclo fechava-se em 1972 com
os impostos profissional, industrial e de aplicação de capitais.
Com a independência de Angola, as alterações verificadas na estrutura fiscal
foram alterações de pormenor caracterizadas ora, por objectivos políticos, ora, por
objectivos financeiros. Os primeiros caracterizaram-se, v.g., na extinção dos impostos
geral mínimo, extraordinário de defesa de Angola, de selo de povoamento e do imposto
complementar, assim como na revogação da pauta preferencial para produtos de origem
portuguesa. Quantos aos segundos consistiram eles na criação do imposto de resistência
popular, do imposto de selo de reconstrução nacional e no aumento das taxas dos
impostos predial e industrial.
Importante ainda, foi a aprovação do novo Estatuto Orgânico do Ministério das
Finanças que teve pelo menos, algum mérito clarificador ao reestruturar os vários níveis

56
José Casalta Nabais, Direito Fiscal, ob. cit. pág., 33.
57
Sobre este subtema, faremos apenas uma breve exposição, pelo que remetemos o estudo para
maior desenvolvimento às lições de Finanças Públicas, de Elisa Rangel Nunes, ob. cit. págs. 278 e segs.
58
As Reformas Fiscais Africanas, tradução Teresa Curvelo. Fim de século edições Lda., Lisboa
1998, pág., 13.

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Os impostos, sua importância nas finanças públicas angolanas.

institucionais com competência em matéria fiscal, hierarquicamente dependentes das


Direcções Nacionais de Impostos, das Alfândegas e de Empresas com Regimes
Especiais de Tributação. Mais tarde, já em 1981, com o objectivo do alargamento da
base tributária, é criado o Imposto sobre o Rendimento do Trabalho em substituição do
Imposto Profissional.
As dificuldades financeiras são facilmente explicáveis face à opção política pós-
independência. O modelo de Estado socialista levou não só a um acréscimo das
despesas públicas, como a uma diminuição das receitas, resultado para que contribuiu
também o aumento do património público, objecto de isenção fiscal, por outro lado, a
fuga de Angola da classe empresarial aliado ao modelo de "tributação" das empresas
públicas obrigou também a uma diminuição não só dos rendimentos dos impostos
indirectos como também do próprio imposto industrial.59
4.2 A Reforma tributária iniciada em 2010
O Presidente da República aprovou, por Decreto Presidencial n.° 155/10, de 28
de Julho, o Projecto Executivo para a Reforma Tributária (PERT), constituindo na
altura o PERT um organismo público especializado e temporário que funcionava sob
dependência directa do presidente da Republica, enquanto titular do Poder Executivo.60
Considerando que aquele sistema tributário angolano se encontrava muito
desfasado em relação à realidade sócio-económica e aos princípios constitucionais em
vigor. Apesar de existirem algumas alterações legislativas positivas e algumas
melhorias no aparelho administrativo, o sistema tributário era ainda, em muitos
aspectos, obsoleto, ineficiente, excessivamente complexo e por vezes baseado em leis
do período colonial não compatíveis com os ditames da justiça distributiva.
Considerando que num tempo de globalização, de integração económica e de
progressiva abertura ao exterior, a Reforma Tributária, tanto no domínio do sistema
fiscal e aduaneiro, como da Administração e da Justiça Tributária, não podia ser adiada
por mais tempo, sob pena da Republica de Angola não consolidar as vantagens
decorrentes das mudanças políticas, económicas e sociais em curso; foram aprovadas as
linhas gerais do Executivo para a Reforma Tributária, anexas ao Decreto Presidencial
n.° 50/11, de 15 de Março, diploma do qual é parte integrante.
As Linhas Gerais do Executivo para a Reforma Tributária dizem respeito a razão
de ser, princípios, objectivos e estratégias da reforma tributária.
Segundos os responsáveis desta Reforma «Estudos mostram que aquele sistema
tributário, em particular a área dos impostos internos, era ineficaz, pois não permitia
atingir os objectivos constitucionais ou de política tributária que lhe eram atribuídos,
nomeadamente não dava resposta aos planos nacionais de desenvolvimento nem
estimulava a desejada diversificação das fontes de financiamento do Estado. Os
impostos petrolíferos representaram nos últimos dois anos (em atenção o ano de 2011),
em média cerca de 80% do total da receita fiscal e 45% do PIB. Seguiam-se, por ordem
de importância, os impostos sobre o rendimento, os direitos sobre as importações e os
impostos sobre a produção e as actividades comerciais cuja receita total não
ultrapassava os 4% da receita fiscal total não ultrapassando os 7.5% do PIB,
percentagem das mais baixas do mundo.»61
Até ao momento fruto dessa Reforma Tributária em curso no nosso país, foi
criada por Decreto Presidencial n.° 324/ 14, de 15 de Dezembro, a Administração Geral
Tributária, abreviadamente designada AGT e o seu respectivo estatuto orgânico, que

59
As Reformas Fiscais Africanas, ob. cit., pág., 14.
60
Vide, Revista da Faculdade de Direito - UAN, número 13, Agosto de 2013. Edição FDUAN,
pág., 223, argumento de Gilberto Luther.
61
Vide, Decreto Presidencial n.° 50/11 de 15 de Março, 1. Linhas Gerais do Executivo para a
Reforma Tributária, 1.1. Razão de ser.

27
Os impostos, sua importância nas finanças públicas angolanas.

resultou da fusão entre a Direcção Nacional de Impostos (DNI), Serviço Nacional das
Alfândegas (SNA) e do Projecto Executivo para a Reforma Tributária (PERT), a AGT é
um organismo do Estado sujeito à superintendência do titular do Departamento
ministerial responsável pelas Finanças Públicas, isto é, o Ministério das Finanças; que
tem por missão fundamental propor e executar a política tributária do Estado e assegurar
o seu integral cumprimento, administrar os impostos, direitos aduaneiros e demais
tributos que lhe sejam atribuídos, bem como estudar, promover, coordenar, executar e
avaliar os programas, medidas e acções de política tributária relativas à organização,
gestão e aperfeiçoamento do sistema tributário.
Na mesma senda, e no âmbito das alterações legislativas, entraram em vigor em
Janeiro de 2015 distintos diplomas legais de vulto dando corpo à uma nova legislação
fiscal, destacando-se dentre eles: O Código Geral Tributário (Lei n.° 21/14, de 22 de
Outubro); Código do Imposto Industrial (Lei n.° 19/14, de 22 de Outubro); Código do
Processo Tributário (Lei n.° 22/14, de 5 de Dezembro); Código das Execuções
Fiscais(Lei n.° 20/14, de 22 de Outubro) e o Código do Imposto sobre os Rendimentos
do Trabalho (Lei n. 18/14, de 22 de Outubro), etc.62

4.3 O Estado Fiscal


4.4 É Angola um Estado fiscal?
Tirando situações verdadeiramente excepcionais, o actual Estado, mormente dos
países desenvolvidos, apresenta-se como um Estado fiscal. Constituindo este um Estado
cujas necessidades financeiras são essencialmente satisfeitas por impostos, o que parece
regra nos Estados modernos.
O Estado fiscal conheceu, naturalmente, a evolução correspondente à passagem
do Estado liberal para o Estado social. Todavia, a instauração deste não significou
qualquer alteração substancial do Estado fiscal. O Estado fiscal na sua versão social
continua a repousar no seu pressuposto constituído pela separação essencial e irredutível
entre Estado e sociedade e domínios de acção correspondentes (política e económica).
Tal como a generalidade das Constituições dos Estados fiscais, também a nossa
Constituição63 não contém qualquer referência ou afirmação expressa da natureza fiscal
do Estado angolano. Esta resulta, porém, muito clara e evidentemente, de diversas
disposições constitucionais que, por um lado, rejeitam um Estado patrimonial sobretudo
através do reconhecimento como princípios fundamentais do Estado, a propriedade e a
iniciativa privadas, da garantia dos direitos fundamentais dos indivíduos, mormente das
suas liberdades económicas e da consagração do princípio do Estado social e, por outro,
apresentam os impostos como principal suporte das necessidades financeiras da
colectividade, isto é, do Estado. Pelo que podemos em face da questão supra, responder
que sim, Angola é um Estado fiscal.

62
Entre parênteses estão as leis que aprovaram os respectivos códigos.
63
Constituição da República de Angola (Vista e aprovada pela Assembleia Constituinte, aos 21 de
Janeiro de 2010 e, na sequência do Acórdão do Tribunal Constitucional n.° 111/2010, de 30 de Janeiro, aos
3 de Fevereiro de 2010 e promulgada em 5 de Fevereiro de 2010).

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Os impostos, sua importância nas finanças públicas angolanas.

Conclusão

De tudo quanto dissemos ao longo deste trabalho, resulta óbvio que o imposto se
nos apresenta como um dever fundamental, isto é, um instituto jurídico que tem a sua
disciplina traçada ao mais alto nível - ao nível constitucional. O imposto não pode ser
encarado, nem como um mero poder para o Estado, nem simplesmente como um mero
sacrifício para os cidadãos, mas antes como o contributo indispensável a uma vida em
comum e próspera de todos os membros da comunidade organizada em Estado.
Ficou visível que o Estado, para cumprir a suas tarefas, tem de socorrer-se dentre
outros recursos de meios de financiamento a exigir dos cidadãos, constituindo
justamente os impostos os meios de financiamento ou instrumentos privilegiados de
realização das tarefas estaduais. Por isso a tributação não constitui, em si mesma, um
objectivo (isto é, um objectivo originário ou primário) do Estado, mas sim o meio que
possibilita a este cumprir os seus objectivos (originários ou primários), actualmente
consubstanciados em tarefas de Estado de direito e tarefas de Estado social, ou seja, em
tarefas do estado de direito social. Um meio que, por um lado, pressupõe um certo tipo
de Estado do ponto de vista do seu suporte financeiro um Estado fiscal - e, de outro, se
traduz, atento o seu actual carácter social, na exigência de uma parte considerável do
rendimento ou património, enquanto tais ou enquanto gastos ou consumidos na
aquisição de bens e serviços, dos seus cidadãos. Pelo que podemos concluir que, pese
embora o Estado angolano, através das suas finanças públicas, também arrecade receitas
resultantes de outros meios de financiamento, tais meios representam receitas de
pequena importância, em face da grandiosidade de despesas que o mesmo tem de
realizar sendo o seu meio de financiamento privilegiado "os impostos", meio este de que
só o Estado dispõe. O mesmo é dizer que, embora também o financiamento do Estado
conte em parte com receitas obtidas por outros meios, a maior parte dos recursos que
este aplica para suportar as despesas públicas, provêm da cobrança dos impostos, daí a
sua incontestável importância nas finanças públicas angolanas, não fosse o Estado
angolano um Estado fiscal que se pretende Estado fiscal social.

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Os impostos, sua importância nas finanças públicas angolanas.

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