Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
Diante desta vasta produção artística desenvolvida nos anos 1960, bem como na
década seguinte, busquei compreender algumas obras que escaparam da condição
panfletária, fadadas, portanto, à condição de discursos datados, pois sabemos que, nas
relações entre Arte e Politica, são raros os casos em que a segunda não tenha se
sobreposto à primeira - vide o fato da fragilização de poéticas potentíssimas da
vanguarda russa em função de uma subserviência ao regime (ARGAN, 1999, p. 284).
Figura 4: capa do LP Milagre dos Peixes, de Milton Nascimento, lançado pela gravadora Odeon (EMI)
em 1973.
Figuras 5: capa do LP Calabar, de Chico Buarque, lançado pela gravadora Philips (Universal) em 1973.
Figuras 6 e 7: capa e contracapa do LP Chico Buarque - Chico Canta, de Chico Buarque, lançado pela
gravadora Philips (Universal) em 1973.
No âmbito da primeira parte deste texto, e visando expandir a compreensão do
caráter essencial da Arte - muitas vezes ignorado por ações que tomam as linguagens
artísticas apenas para ilustrar a exposição de fatos históricos - acredito ser importante
inserir reflexões da semioticista Lucia Santaella sobre a condição geradora - pela Arte -
de cifras, em oposição às decifrações da ciência. Isto é posto por Santaella em A
assinatura das coisas:
Fonte: http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/que-misterio-tem-clarice
Figura 9: da esquerda para a direita: Edu Lobo, Caetano Veloso e Othon Bastos durante a Passeata dos
Cem Mil.
Retorno à figuratividade
É importante dizer que a partir deste momento, poéticas individuais, regidas por
leis próprias, passaram a se estabelecer no cenário nacional e internacional, não mais
norteadas, portanto, por postulados dos movimentos estéticos modernistas.
Junto a Língua apunhalada (PAPE, 2000), a Série Negra (Figura 12), de Ivan
Serpa (1923-1973), artista também advindo das vanguardas abstratas, constitui-se
igualmente como uma representação contundente deste período.
Figura 12: Ivan Serpa, A Grande Cabeça, 1964. Óleo sobre tela,
200 x 180 cm. Fonte: http://www.itaucultural.org.br/Enciclopédia Acesso em 08/09/2014
Dentre os artistas surgidos neste momento de retorno à figuratividade na arte
brasileira (DUARTE, 1998) estão Antônio Dias (1944), Cildo Meireles (1948), Rubens
Gerchman (1942-2008) e Carlos Vergara (1941).
A produção destes artistas figurou na mostra Opinião 65, nome dado também a
outro momento importante deste período: o show Opinião (Figura 13), dirigido por
Augusto Boal (1931-2009) e estrelado por Nara leão (1942-1989), Zé Kéti (1921-1999)
e João do Vale (1934-1996). O grande sucesso deste show, a canção Carcará,
impulsionou a estreia em disco de Maria Bethânia (Figura 14), cantora que veio da
Bahia para substituir Nara Leão.
Fonte: http://rollingstone.uol.com.br/listas/os-100-maiores-discos-da-musica-brasileira
Figura 14: capa do primeiro LP de Maria Bethânia.
Fonte: http://blogdamusicabrasileira.blogspot.com.br
A garrafa de Coca-Cola, signo máximo da cultura pop, foi utilizada por Cildo
Meireles em suas Inserções nos circuitos ideológicos (Figura 15). Cildo gravava
mensagens nessas garrafas e devolvi-as a circulação.
Figura 15: Cildo Meireles. Inserções em Circuitos Ideológicos - 2. Projeto Coca-Cola, 1971, inscrições
em garrafas de vidro, 24,5 x 6,1 cm Ø [cada garrafa], Coleção do Artista, Registro fotográfico Vicente de
Mello. Fonte: www.itaucultural.org.br/Enciclopédia
Figura 16: Antônio Dias. Fumaça do prisioneiro. 1964. Óleo e látex sobre madeira com relevo.
120,6 x 93,3 x 6,8 cm. Coleção Museu de arte Contemporânea da Universidade de São Paulo.
Fonte: www.itaucultural.org.br/Enciclopédia
Figura 17: Nota sobre a Morte Imprevista. 1965. Óleo, acrílico, vinil, plexiglas sobre tecido e madeira.
Fonte: www.itaucultural.org.br/Enciclopédia
Fonte: www.muvi.advant.com.br/artistas/a/artur_barrio/artur_barrio.htm
Fonte: www.muvi.advant.com.br/artistas/a/artur_barrio/artur_barrio.htm
Figura 20: Do corpo à terra, Belo Horizonte, 1970.
Fonte: www.muvi.advant.com.br/artistas/a/artur_barrio/artur_barrio.htm
Da ironia à dor
Fonte: www.institutocleciopenedo.com
Figura 22: ÉS TUPI DO BRASIL - Guache sobre papel - 47 X 65 cm - reproduzido em serigrafia – 1979
Fonte: www.institutocleciopenedo.com
Figura 23: Marcas de um Março Marcial. Grafite sobre papel - 74,5 x 59 cm – 1980
Fonte: www.institutocleciopenedo.com
Fonte: www.institutocleciopenedo.com
Figura 25: Marcas de um Março Marcial. Grafite e lápis de cor sobre papel - 45,5 x 32 cm – 1980
Fonte: www.institutocleciopenedo.com
Fonte: www.institutocleciopenedo.com
O processo de criação de Clécio Penedo foi influenciado pelo Manifesto
Antropófago (ou Manifesto Antropofágico), elaborado em 1928 pelo poeta e escritor
Oswald de Andrade (1890-1954), influência também norteadora de importantes
movimentos surgidos nos anos 1960, como o Tropicalismo, anteriomente citado neste
texto, e o Teatro Oficina, de José Celso Martinez Correa.
Fonte: http://oberronet.blogspot.com.br/2012/07/algumas-palavras-sobre-terra-em-transe.html
Figura 28: Cena da montagem de O Rei da vela, de Oswald de Andrade pelo Teatro Oficina, em 1968.
Fonte: www.itaucultural.org.br/aplicExternas/enciclopedia_teatro
Nos últimos anos de vida de Clécio Penedo, a figuratividade irônica veiculada a
partir de um vocabulário pop, cedeu lugar à atualização de uma visceralidade e erotismo
presentes em seus desenhos realizados durante o período em que estudou com Ivan
Serpa – início dos anos 1970 - no Centro de Pesquisa de Arte (Figura 29).
Fonte: www.institutocleciopenedo.com
Figura 31: Corpo sem Cabeça. Eletrogravura a partir de desenho em grafite e piche sobre papel.
Considerações Finais
Ao abordar a obra de Clécio Penedo ao final deste texto, venho chamar a atenção
para poéticas que não desistiram de continuar a gerar signos determinados por uma dor
que não ficou fixada a períodos tristes e violentos da nossa história.
Muitos artistas, cujas produções foram citadas ao longo deste texto, mantiveram
e mantém reflexões sobre a presença, ampliação e potencialização contínuas de um
estado de dor, reflexões veiculadas a partir de uma pluralidade de meios – físicos,
digitais, híbridos – que proliferam na contemporaneidade. Carandiru, de Lygia Pape,
representa essa continuidade, como também Abajur, de Cildo Meireles.
Referências Bibliográficas
BENTES, I. (org.). Glauber Rocha - Cartas Ao Mundo. São Paulo: Companhia das
Letras, 1997.
BRITO, Ronaldo. Neoconcretismo: vértice e ruptura do projeto construtivo brasileiro.
São Paulo: Cosac e Naify, 1999.
CAMPOS, Augusto de. Balanço da bossa e outras bossas. São Paulo: Perspectiva,
1974.
DUARTE, Paulo Sergio. Anos 60: transformações da Arte no Brasil. Rio de Janeiro:
Campos Gerais, 1998.
FERREIRA, Glória. Arte como questão: anos 70. São Paulo: Instituto Tomie Ohtake,
2009.