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Estudo do

Desenvolvimento Humano

PRIMEIRAS INVESTIGAÇÕES DESENVOLVIMENTO


A ascensão de uma nova disciplina Critérios de descrição científica
Métodos de coleta de dados
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO MODERNA Delineamentos da pesquisa
Delineamentos da pesquisa e técnicas de coleta de dados
QUESTÕES FUNDAMENTAIS DA PSICOLOGIA DO
em perspectiva
DESENVOLVIMENTO
O papel da teoria
Questões sobre continuidade
Questões sobre as fontes de desenvolvimento
Questões sobre as diferenças individuais ESTE LIVRO E O CAMPO DA PSICOLOGIA DO
A DISCIPLINA DA PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO
24 O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

A pessoa madura, é um dos produtos mais notáveis que qualquer sociedade pode produzir. É uma catedral viva, a. obra de
muitos indivíduos durante muitos anos.

DAVID W PLATH, Long Engagements

^
O estudo do desenvolvimento da criança é o estudo das mudanças físicas, cognitivas e
psicossociais que as crianças sofrem a partir do momento da concepção. Cada um de nós
inicia a vida como uma única célula, não maior que a cabeça de um alfinete. Quando
nascemos, nove meses depois, somos organismos inacreditavelmente complexos,
compostos de bilhões de células de muitos tipos diferentes. Respiramos por nós mesmos,
exploramos o mundo com nossos sentidos, comemos, e começamos a assumir o nosso
lugar na família e na comunidade que nos criou. Mas somos totalmente indefesos. Não
conseguimos nos virar na cama, nos alimentar, nos manter limpos e aquecidos, ou nos
comunicar, exceto para demonstrar nosso incômodo através do choro e da inquietação.
Dois anos depois, conseguimos andar, falar, alimentar-nos (com ajuda, certamente) e
brincar de faz-de-conta. Quando atingimos os sete, oito anos de idade, conseguimos
transmitir recados, participar de jogos organizados sem a supervisão de adultos, e
começar a aprender as habilidades especializadas que precisaremos como adultos.
Alguns anos mais tarde, conseguimos raciocinar hipoteticamente, assumir a responsa-
bilidade por nós mesmos e pelos outros, e até gerar nossos próprios filhos.
A tarefa científica básica da psicologia do desenvolvimento é entender como esse
processo notável acontece.

PRIMEIRAS INVESTIGAÇÕES
Embora muitos eventos pudessem ser identificados como o ponto de partida do estudo do
desenvolvimento da criança, nossa história começa certa manhã, na França, no inverno
de 1800, quando um menino nu e sujo entrou em uma aldeia na província de Aveyron,
procurando por comida. Há alguns meses, algumas pessoas do local já haviam percebido
o menino enquanto ele escavava procurando raízes, subia em árvores e corria sobre os
quatro membros. Diziam que ele era um animal selvagem. A notícia espalhou-se
o Menino Selvagem de
rapidamente quando o menino apareceu na aldeia e todos foram vê-lo.
Entre os curiosos estava um funcionário do governo, que levou o menino para casa e
o alimentou. A criança, que parecia ter cerca de 12 anos de idade, parecia ignorar os
costumes e os confortos da civilização. Quando lhe puseram roupas, ele as rasgou.
Recusava-se a comer qualquer coisa que não fossem batatas cruas, raízes e nozes.
Urinava e defecava quando e onde surgisse a necessidade. Os únicos sons que produzia
eram gritos sem significado, e ele parecia indiferente às vozes humanas. Em seu
relatório, o oficial responsável por ele concluiu que o menino havia vivido sozinho desde
o início da sua infância: “um estranho às necessidades e práticas sociais ... Há ... algo
extraordinário em seu comportamento, que o faz parecer próximo à condição dos animais
selvagens” (citado em Lane, 1976, p. 8-9).
Quando o relatório do funcionário chegou a Paris causou sensação. As pessoas
ficaram fascinadas pela história bizarra da criança que os jornais aclamavam como o
“Menino Selvagem de Aveyron". Os estudiosos esperavam que, estudando a maneira
como essa criatura não-civilizada mudou quando passou a participar da sociedade,
pudessem resolver questões há muito tempo em busca de respostas sobre a natureza e o
desenvolvimento dos seres humanos - perguntas como, por exemplo: Como nos
diferimos dos outros animais? O que aconteceria se crescéssemos totalmente isolados da Jean-Marc Itard, que tentou transformar o
sociedade humana? Até que ponto somos produtos da nossa criação e experiência, e até Menino Selvagem em um francês
civilizado.
que ponto nosso caráter é uma expressão de traços inatos?
No entanto, os planos para estudar o Menino Selvagem quase malograram. Os
primeiros médicos a examiná-lo diagnosticaram-no como mentalmente deficiente e
especularam que, por isso, seus pais o haviam abandonado para morrer. Recomendaram
que ele fosse colocado num hospício. E, inicialmente, foi lá colocado, até que Jean-Marc
Itard (1744-1838), um jovem médico, discutiu o diagnóstico de retardo. Itard
argumentava que o menino só parecia ser deficiente porque havia sido isolado da
sociedade e, por isso, impedido de se desenvolver normalmente. Na França do final do
século XVIII, pelo menos uma em cada três crianças normais era abandonada por seus
pais, em geral porque a família era pobre demais para sustentar mais uma criança
(Kessen, 1965). Itard acreditava que o menino fosse uma dessas crianças. O fato de ele
ter sido capaz de sobreviver sozinho nas florestas de Aveyron argumentava contra a
suposição de ele ser mentalmente deficiente.
Itard assumiu pessoalmente o encargo de cuidar do menino. Achou que podia
ensiná-lo a se tornar um francês totalmente competente, com o domínio da língua
francesa e o melhor do conhecimento civilizado. A França havia recentemente derrubado
a monarquia e abraçado as idéias políticas de liberdade, igualdade e fraternidade. Itard e
outros defensores da república queriam demonstrar que era possível melhorar o
desenvolvimento dos filhos dos camponeses, educando-os. Para testar sua teoria de que o
ambiente social é o responsável pelo desenvolvimento das crianças, Itard criou um
conjunto elaborado de procedimentos experimentais de treinamento para ensinar o
Menino Selvagem a categorizar objetos, raciocinar e se comunicar (Itard, 1801/1982).
No início, Victor, como Itard chamou o Menino Selvagem, fez um progresso rápido.
Ele aprendeu a comunicar necessidades simples, assim como a reconhecer e a escrever
algumas palavras. Aprendeu a usar um urinol. Também desenvolveu afeição pelas
pessoas que cuidavam dele. Mas Victor jamais aprendeu a falar e a interagir
normalmente com as outras pessoas.
Após cinco anos de trabalho intenso, Itard abandonou sua experiência. Victor não
havia feito progresso suficiente para satisfazer os superiores de Itard, e o próprio Itard
estava em dúvida se o menino poderia fazer mais progressos. Victor foi mantido sob os
cuidados de uma mulher que era paga para cuidar dele. Morreu em 1828, ainda chamado
de o Menino Selvagem de Aveyron. Suas experiências inco- muns na vida deixaram sem
resposta importantes questões sobre a natureza humana, sobre a influência da sociedade
civilizada e sobre o grau em que os indivíduos são moldados por uma ou outra dessas
forças que os estudiosos esperavam que fossem respondidas pela sua descoberta.
A maior parte dos médicos e estudiosos da época finalmente concluíram que Victor,
realmente, havia nascido com uma deficiência mental. Mas até hoje ainda há dúvidas
quanto a isso. Alguns estudiosos modernos acham que Itard podia estar certo em sua
pressuposição de que Victor era normal quando nasceu, mas que foi retardado em seu
desenvolvimento como resultado do seu isolamento social (Lane, 1976). Quando foi
encontrado, Victor já havia passado muitos de seus anos de formação sozinho. Ele já
ultrapassara a idade que atualmente se considera ser o limite máximo para a aquisição
normal da linguagem. Outros acreditam que Victor sofria de autismo, uma condição
mental patológica cujos sintomas incluem um déficit de linguagem e uma incapacidade
para interagir normalmente com as outras pessoas (Frith, 1989). Também é possível que
os métodos de ensino de Itard tenham falhado e que abordagens diferentes pudessem ter
tido sucesso. Não podemos ter certeza.
As tentativas de Itard para educar Victor marcam o ponto de partida da ciência da
psicologia do desenvolvimento porque Itard estava entre os primeiros estudiosos a ir
além da especulação e a conduzir experiências para testar suas idéias.

A ASCENSÃO DE UMA NOVA DISCIPLINA

Embora na época de Itard ainda não houvesse uma especialidade científica chamada
psicologia do desenvolvimento, o interesse nas crianças e no seu desenvolvimento estava
começando a aumentar entre os reformadores sociais e também entre os cientistas
(Cairns, 1998). Durante o século XIX, a industrialização da Europa e da América do
Norte transformou a organização social das pessoas. A industrialização também
transformou o papel das crianças na sociedade e os ambientes em que elas se
desenvolviam. Em vez de crescer em fazendas, onde contribuíam com sua mão- de-obra
e eram cuidadas por suas mães e pais até atingirem a idade adulta, muitas crianças foram
empregadas em fábricas nas cidades industriais que se expandiam, juntamente - e às
vezes no lugar - de seus pais (Clement, 1997).
Foi nessa época que o ensino foi disseminado. As crianças urbanas que não trabalhavam eram, em geral, encaradas como
uma responsabilidade da comunidade, que as encaravam como desordeiras. As escolas públicas foram criadas tanto para
aumentar o controle social sobre as crianças quanto por qualquer razão acadêmica. Elas consistiam em locais para supervisionar
o desenvolvimento das crianças, quando nem os pais nem os empregadores as estavam supervisionando.
Para aquelas crianças que faziam parte da força de trabalho, o trabalho fre- qüentemente envolvia longas horas em fábricas
ou minas, sob condições perigosas e insalubres. Quando essas condições se tornaram uma preocupação social, provocaram
maior atenção social e aumentaram a atividade científica. O Comitê de Investigação das Fábricas na Inglaterra, por exemplo,
realizou um estudo em 1833 para descobrir se as crianças conseguiam trabalhar 12 horas por dia sem sofrer danos. A maioria
dos membros do comitê decidiu que 12 horas era um período de trabalho aceitável para as crianças. Outros, que achavam que
seria preferível um período de trabalho de 10 horas, estavam menos preocupados com o bem-estar intelectual ou emocional das
crianças pequenas do que com a sua conduta moral. Eles recomendavam que as duas horas remanescentes fossem dedicadas à
educação religiosa e moral das crianças (Lomax et al., 1978).
Essa pesquisa inicial envolveu mais que uma resposta prática às preocupações sociais. Os primeiros psicólogos do
desenvolvimento e os médicos usaram os dados coletados para esclarecer questões básicas sobre o desenvolvimento humano e
sobre como estudá-lo. Os primeiros estudos sobre o crescimento e a capacidade de trabalho

A mão-de-obra infantil proporcionava uma


contribuição vital para a renda familiar em
muitas famílias do século XIX. Estes
meninos e meninas, fotografados em um
apartamento em Nova York em torno de 1
890, faziam flores artificiais. Se
trabalhassem regularmente desde de
manhã até a noite, conseguiam ganhar
US$ 1,20 por dia.

das crianças, por exemplo, chegaram à importante conclusão teórica de que o efeito do
ambiente sobre o desenvolvimento pode ser mensurado. Os pesquisadores descobriram
que devido às suas longas horas de trabalho, e ao repouso e à nutrição inadequados, as
crianças que trabalhavam em moinhos têxteis tinham menor estatura e menos peso do
que as crianças locais da mesma idade, que não eram submetidas a essas condições de
vida. As avaliações de desenvolvimento intelectual mostraram grandes variações nas
aquisições das crianças, que pareciam depender da origem familiar e da experiência
individual. Tais achados estimularam a continuação de um debate científico e social
sobre os fatores primariamente responsáveis pelo desenvolvimento.
Um acontecimento crucial que estimulou um maior interesse no estudo científico
das crianças foi a publicação, em 1859, de A origem das espécies, de Charles Darwin. A
tese de Darwin, de que os seres humanos evoluíram a partir de espécies anteriores
mudou fundamentalmente a maneira de pensar das pessoas a respeito das crianças. Em
vez de adultos imperfeitos - para serem vistos, mas não ouvidos -, as crianças passaram a
ser encaradas como cientificamente interessantes porque seu comportamento
proporcionava indícios sobre as maneiras como os seres humanos estão relacionados a
outras espécies. Tornou-se moda, por exemplo, comparar o comportamento das crianças
com o comportamento de primatas mais evoluídos para ver se as crianças passavam por
um “estágio de chimpanzé” similar àquele através do qual imaginava-se que a espécie
humana havia evoluído (ver Figura 1.1). Embora esses paralelos entre as espécies
tenham se comprovado supersimplificados, a idéia de que o desenvolvimento humano
deve ser estudado como uma parte da evolução humana tem conquistado aceitação geral.
Mais para o final do século XIX, a psicologia do desenvolvimento tornou-se uma
forma legítima de pesquisa e prática. Institutos e departamentos especiais dedicados ao
estudo do desenvolvimento começaram a surgir nas principais universidades norte-
americanas e tanto agências governamentais quanto fundações filan
trópicas começaram a subvencionar
esforços de pesquisa em desenvolvimento
infantil, assim como a apoiar revistas
especializadas no cuidado infantil e no
papel dos pais. Atualmente, há uma
ampla aceitação popular da idéia de que a
condução de pesquisas científicas sobre
crianças seja uma boa maneira de “tornar
este mundo um mundo melhor através do
desenvolvimento de pessoas melhores”
(Young, 1990, p. 17).

PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO MODERNA


A principal preocupação dos psicólogos do desenvolvimento contemporâneos é adquirir
um entendimento sistemático do desenvolvimento da criança, ou seja, da seqüência de
mudanças físicas, cognitivas e psicossociais que as crianças experimentam à medida que
vão crescendo - mudanças que começam com a concepção e que continuam durante a
vida toda. O interesse no desenvolvimento da criança baseia-se na antiga pressuposição
de que, se conseguirmos entender nossas raízes e a história das mudanças que nos
trouxeram até o presente momento, poderemos entender melhor a nós mesmos e, assim,
antecipar o futuro e nos prepararmos para enfrentá-lo.
A disciplina da psicologia do desenvolvimento transforma esses objetivos pessoais
em procedimentos sistemáticos para estudar, prever e dar forma ao processo de
desenvolvimento. Os psicólogos do desenvolvimento também estão reunindo
conhecimento que contribua para - e se beneficie de - os insights das disciplinas afins,
como a biologia, a antropologia, a lingüística e a sociologia.
No século XX, desde que começaram as preocupações com o estudo sistemático do FIGURA 1.1
Os primeiros evolucionistas pesquisaram
desenvolvimento humano, os psicólogos descobriram muito sobre os seres humanos em o desenvolvimento motor das crianças em
todas as faixas etárias, começando mesmo antes do nascimento. Nas duas últimas busca de evidências que recapitulassem
décadas, o progresso desse trabalho, auxiliado por importantes avanços na tecnologia, os estágios evolucionários. Aqui, um bebê
(a) engatinha sobre os quatro membros,
acelerou-se muito. Os psicólogos estão atualmente investigando uma vasta série de como muitos animais, (b) usa seus pés
questões interessantes, como as seguintes: para agarrar os objetos, como fazem os
primatas e (c) dorme enroscado como um
I Mudanças na dieta e na educação podem compensar anormalidades genéticas? animal (segundo Hrdlicka, 1931).
I Como os fetos ainda no útero são influenciados pelos acontecimentos do mundo
exterior, e como essas influências afetam o seu desenvolvimento após o
nascimento?
I O que possibilita aos bebês aprender sua língua natal tão depressa, sem treinamento
especial?
I De que maneira o desenvolvimento cerebral é afetado pela experiência?
I O que provoca diferenças marcantes nos níveis e nas formas de agressão entre
meninos e meninas desde bem pequenos?
I Quando as crianças se tornam conscientes de que outras pessoas também pensam, e
o que possibilita essa consciência?
I Quando as crianças começam a raciocinar sistematicamente, e o que possibilita essa
forma de pensamento?
I O que faz com que algumas crianças sejam agressivas?
I Por que algumas crianças aprendem a ler com pouco esforço, enquanto outras
requerem bastante ajuda?
I O conflito pais-filhos é uma parte necessária da adolescência?

desenvolvimento da criança
Além de buscar as respostas para essas questões, os psicólogos do desenvolvimento A seqüência de mudanças físicas,
são ativos na promoção do desenvolvimento saudável das crianças. Eles trabalham em cognitivas, psicológicas e sociais que as
crianças experimentam à medida em que
hospitais, em centros de atenção à criança, em escolas, em locais de recreação e em vão crescendo.
clínicas. Avaliam a situação do desenvolvimento infantil e prescrevem medidas para ajudar as crianças que estão
experimentando dificuldades. Eles auxiliam na criação de ambientes e objetos especiais, como berços que permitem que bebês
prematuros se desenvolvam normalmente fora do útero materno, por exemplo. Criam terapias para crianças que têm dificuldade
para controlar seu temperamento e desenvolvem técnicas mais eficientes para ensinar as crianças a ler.
Os conhecimentos detalhados que os psicólogos do desenvolvimento têm acu-
mulado no decorrer da sua pesquisa através de seus métodos e achados são importantes.
É essencial ter em mente que o objetivo mais geral da investigação do desenvolvimento
é: agregar os fatos acumulados a padrões maiores, chamados teorias ou estruturas, para
aumentar o entendimento da natureza humana e o seu desenvolvimento como um todo.

QUESTÕES FUNDAMENTAIS DA PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO


Apesar da grande variedade de trabalho que realizam e das teorias que orientam sua
pesquisa, os psicólogos do desenvolvimento compartilham interesse em três questões
fundamentais sobre o processo de desenvolvimento:
1. Continuidade. O desenvolvimento é um processo gradual de mudança ou é
pontuado por períodos de rápida mudança e da repentina emergência de novas
formas de pensamento e de comportamento?
2. Fontes de desenvolvimento. Quais são as contribuições da hereditariedade genéti-
ca e do ambiente para o processo da mudança desenvolvimental?
3. Diferenças individuais. Não há dois seres humanos exatamente iguais. Como
uma pessoa vem a possuir características individuais estáveis que a tornam
diferente de todas as outras pessoas?

Os psicólogos estão profundamente divididos sobre muitos aspectos dessas três


questões fundamentais. Suas suposições diferentes sobre continuidade, fontes de
mudança e diferenças individuais deram origem a estruturas teóricas concorrentes.

QUESTÕES SOBRE A CONTINUIDADE


Os psicólogos do desenvolvimento formulam três questões básicas sobre a continuidade:
(1) Qual a semelhança entre os princípios do desenvolvimento dos seres humanos e os
de outras espécies? Em outras palavras, quanta continuidade existe
Embora os chimpanzés e os seres
humanos compartilhem mais de 99% do
seu material genético, as diferenças
entre as duas espécies são enormes.
entre o desenvolvimento dos seres humanos e de outra vida animal? (2) O desen - filogenia A história evolucionária de uma
volvimento individual é contínuo, consistindo na acumulação gradual de pequenas espécie.
mudanças quantitativas, ou é descontínuo, envolvendo uma série de transformações cultura O padrão de vida de uma pessoa
qualitativas à medida que vamos ficando mais velhos? (3) A maneira que o ambiente codificado na sua linguagem e observado
nos produtos físicos, nas crenças, nos
afeta o desenvolvimento é contínua ou há períodos na vida de uma pessoa durante os valores, nos costumes e nas atividades
quais algumas experiências são críticas para dar continuidade ao desenvolvimento que foram transmitidos de geração para
normal? geração.

Os princípios do desenvolvimento humano são distintos?


Durante séculos, as pessoas têm debatido a extensão em que nós humanos nos diferimos das outras criaturas e a extensão em
que estamos sujeitos às mesmas leis naturais que outras formas de vida. O estudo da singularidade humana diz respeito à
filogenia, a história evolucionária de uma espécie.
A questão da continuidade e da descontinuidade entre os humanos e outras espécies é fundamental para a maneira como os
psicólogos pensam sobre as leis que regem o desenvolvimento humano. Considerando similaridade na relação do Homo
sapiens com outras espécies, o estudo de outros animais pode proporcionar evidências úteis sobre o processo do
desenvolvimento humano, quando estão em ação os mesmos princípios. Em aspectos nos quais os seres humanos são distintos,
os achados de pesquisa concernentes ao desenvolvimento de outras espécies podem ser enganosos quando a eles aplicados.
Quando Charles Darwin (1809-1882) publicou A origem das espécies, a idéia de evolução já era um tema de grande
especulação. Darwin acreditava firmemente na continuidade entre as espécies. Ele via a evolução como um processo de
acumulação de mudança. Em sua opinião, a diferença entre Homosapiens e nossos quase vizinhos evolutivos é “uma diferença
de grau, não de tipo” (Darwin, 1859/1958, p. 107).
Para testar a afirmação de Darwin de que a nossa espécie evoluiu continuamente como parte da ordem natural, os cientistas
buscaram evidências de elos evolucionários - formas intermediárias que nos conectam com outras formas de vida - e
compararam nossa composição genética e o nosso comportamento com aqueles de outros organismos. Do lado da continuidade
entre nós mesmos e entre outros animais, foi verificado que compartilhamos 99% do nosso material genético com os
chimpanzés (D'Andrade e Morin, 1996). Não obstante, está claro que há algo distinto no que se refere às características da
nossa espécie. A questão difícil é: Qual é esse algo?
Várias características que distinguem os humanos de outros primatas foram observadas por Michael Tomasello (1999). Em
seus hábitats naturais, os primatas não-humanos:
I não apontam objetos para outros;
I não seguram objetos para mostrá-los a outros;
I não tentam levar outros a lugares onde possam observar eventos;
I não oferecem ativamente objetos a outros indivíduos, entregando-os;
I não ensinam intencionalmente os outros.

Essas características parecem estar intimamente relacionadas a dois fenômenos gerais que há muito têm sido associados ao
caráter distinto dos humanos.
Em primeiro lugar, o Homo sapiens desenvolve-se em um ambiente singular que foi moldado por inúmeras gerações
anteriores de pessoas em sua luta pela sobrevivência (Bruner, 1996; Cole, 1996). Esse ambiente especial consiste de artefatos
(como instrumentos, roupas, palavras), conhecimento sobre como construir e usar esses artefatos, crenças sobre o mundo e
valores (idéias sobre o que vale a pena), e tudo o que guia as interações dos adultos com o mundo físico, um com o outro e com
seus filhos. Os antropólogos chamam esse acúmulo de artefatos, conhecimento, crenças e valores, de cultura. Cultura é a parte
do ambiente “feita pelo homem” que nos saúda no nascimento (Herskovitz, 1948) e o “padrão de vida” que adquirimos da
nossa comunidade (Kluckhohn e Kelly, 1945).
ontogenia O desenvolvimento de um Em segundo lugar, o Homo sapiens molda e transmite a sua cultura para as gerações
organismo durante seu tempo de vida. que se seguem principalmente através da linguagem. Não surpreende, portanto, que,
estágio de desenvolvimento Um padrão desde a Antigüidade, a linguagem tenha sido proposta como uma característica definidora
de comportamento qualitativamente da nossa espécie. No século XVII, o filósofo René Descartes expressou eloqüentemente a
distinto e coerente em si mesmo que
emerge no decorrer do desenvolvimento. perspectiva tradicional:
A linguagem é, na verdade, o único sinal seguro do pensamento latente no corpo; todos os
homens a usam, mesmo aqueles que são obtusos ou perturbados, que não têm língua ou carecem dos órgãos da voz, mas nenhum
animal consegue usá-la, e, por isso, é permis- sível considerar a linguagem a verdadeira diferença entre o homem e a besta (Citado em
Lane, 1976, p. 23).

Até mesmo Darwin, que acreditava tanto na continuidade da espécie, concordava


que o nosso caráter distinto, na medida em que o Homo sapiens é único, fosse o
resultado da nossa capacidade de nos comunicar através da linguagem. Nos últimos
anos, os cientistas demonstraram que os chimpanzés e outros primatas têm rudimentos
de cultura e de linguagem (Savage-Rumbaugh, Shanker e Taylor, 1998; Tomasello,
1999). Entretanto, como veremos nos últimos capítulos, as habilidades para usar a
cultura e a linguagem, consideradas como um conjunto, são bem maiores nos humanos
que em outras espécies.

O desenvolvimento individual é contínuo?

A segunda questão mais importante diz respeito à ontogenia, o desenvolvimento de um


organismo durante seu tempo de vida. Via de regra, os psicólogos que acreditam que a
ontogenia é, antes de tudo, um processo de acumulação contínua e gradual de pequenas
mudanças, enfatizam que a mudança quantitativa ocorre pelo aumento do vocabulário
ou da capacidade de memória. Aqueles que encaram a ontogenia como um processo
pontuado por mudanças abruptas e descontínuas enfatizam a emergência de padrões
qualitativamente novos em pontos específicos do desenvolvimento, como na mudança
do balbucio para a fala. Os padrões qualitativamente novos que emergem durante o
desenvolvimento são chamados de estágios de desenvolvimento. O contraste entre as
perspectivas da continuidade e da desconti- nuidade está ilustrado na Figura 1.2.
O psicólogo John Flavell (1971) sugere quatro critérios que são fundamentais para o
conceito de um estágio de desenvolvimento:
1. Os estágios de desenvolvimen to são distinguidos por mudanças qualitativas. A
mudança na atividade motora associada com a transição do engatinhar para o
andar ereto ilustra o que significa uma mudança qualitativa para um novo estágio
de desenvolvimento. O andar não se origina do aperfeiçoamento dos movimentos
usados para engatinhar. Para andar, a criança passa por uma total reorganização
do movimento, usando diferentes músculos em diferentes combinações.
2. A transição de um estágio para o seguinte é marcada por mudanças simultâneas
em muitos aspectos - se não em todos - do comportamento de uma criança. A
transição do engatinhar para o andar é acompanhada por uma nova qualidade de
ligação emocional entre as crianças e seus cuidadores, assim como por novas
formas de relação entre a criança e o cuidador, requerida pelo aumento da
mobilidade da criança.
3. Quando acontece a mudança de um estágio para o seguinte, ela é rápida. A
transição do engatinhar para o andar ocorre, caracteristicamente, no espaço de
cerca de 90 dias.
4. As muitas mudanças comportamentais e físicas que marcam o surgimento de um
estágio constituem um padrão coerente. O andar ocorre quase ao mesmo tempo
que o apontar, que o acompanhar ao olhar de outra pessoa, que o expressar das
primeiras palavras e que o estabelecimento de um novo relacionamento entre as
crianças e seus pais.
Estrela-do-mar: continuidade desenvolvimental Libélula: descontinuidade desenvolvimental

Larva
(a) Idade Idade

FIGURA 1.2
(a) Os cursos contrastantes do desenvolvimento da estrela-do-mar e dos insetos proporcionam exemplos
idealizados de desenvolvimento contínuo e descontínuo. Na perspectiva da continuidade, o
desenvolvimento é um processo de crescimento gradual (estrela-do-mar pequena, estrela-do-mar média,
estrela-do-mar grande). Na perspectiva da descontinuidade, o desenvolvimento é uma série de
transformações que se processam por meio de estágios (larva, pupa, adulto).
(b) O desenvolvimento humano inclui elementos de continuidade e de descontinuidade.

(b)
0 1 23456789 10 11 12

Idade (anos)

O
s proponentes do conceito de estágio declaram que uma perspectiva de estágio é
fundamental para se entender o desenvolvimento, pois, na medida em que o desen-
volvimento é caracterizado por mudanças qualitativas descontínuas, a maneira como a
criança experimenta o mundo e a maneira como o mundo influencia a criança vai diferir
de um estágio para o seguinte. Por exemplo, os bebês são especialmente sensíveis a
diferenças nos sons da linguagem (Aslin, Jusczyk e Pisoni, 1998), mas não entendem o
que está sendo dito. Quando começam a entender e a produzir linguagem própria, a
maneira como percebem o mundo parece mudar fundamentalmente e assim também a
natureza da sua interação com os outros. A descontinuidade representada pela
emergência da participação ativa da criança na conversa é tão notável que determina o
final da etapa de bebê no desenvolvimento em um grande número de sociedades.
Alguns psicólogos negam que o conceito de estágio seja crucial para entender o
desenvolvimento. Albert Bandura (1986), por exemplo, declara que a mudança de-
senvolvimental é basicamente contínua, porque os processos pelos quais as pessoas
aprendem novos comportamentos permanecem os mesmos em todas as idades. Na sua
opinião, as descontinuidades no desenvolvimento são ocorrências relativamente raras
produzidas por mudanças abruptas no ambiente (por exemplo, as mudanças que ocorrem
quando as crianças começam a freqüentar a escola) ou na composição biológica das
crianças (por exemplo, as mudanças associadas com a maturação sexual). Robert Siegler,
psicólogo especializado no estudo do desenvolvimento do pensamento das crianças, faz
uma declaração similar: “O pensamento das crianças”, escreve ele, “está continuamente
mudando, e a maior parte das mudanças parece ser mais gradual do que repentina”
(1991, p. 8).
Durante a maior parte do século XX, as teorias dos estágios do desenvolvimento
foram mais numerosas e mais influentes que as teorias da continuidade, mas as

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