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Definição:
Os direitos fundamentais são direitos subjetivos, que gozam de maior carga valorativa em
relação aos demais, compondo o núcleo da proteção da dignidade da pessoa humana.
Natureza jurídica:
Essas duas dimensões – subjetiva e objetiva – interagem entre si, mantendo uma relação de
remissão e complemento recíproco.
Há também os chamados idealistas, que entendem que os direitos humanos são ideias,
princípios abstratos que a realidade vai acolhendo ao longo do tempo; já os realistas veem os
direitos do homem como o resultado direto de lutas sociais e políticas.
4ª geração? Será que existe alguma 4ª geração? Alguns autores consideram que sim.
Paulo Bonavides considera que são direitos de quarta geração os direitos ligados à
democracia participativa, ao direito à informação e ao pluralismo. Já outros autores,
mencionam como direitos de 4ª geração questões ligadas à bioética, como, por
exemplo, a fertilização in vitro, o descarte de embriões, a clonagem de indivíduos, as
pesquisas com células-tronco, a barriga de aluguel e etc.
Importante saber que os direitos das novas gerações convivem com os direitos das gerações
anteriores, isto é, os direitos mais antigos não se extinguem ou apagam pelo simples
surgimento de novos direitos; no máximo, podem ter seu sentido adaptado aos novos anseios
constitucionais. Pode ocorrer, ainda, de “novos direitos” serem, na realidade, nada mais que
antigos diretos adaptados às novas exigências do momento. Poderia, talvez, ser o caso dos
direitos decorrentes da “engenharia genética”, que Noberto Bobbio entende como de “quarta
geração”; para outros autores são nada mais que novas manifestações do clássico direito à
vida.
Atenção!
A respeito da indisponibilidade, o que é vedado é que um indivíduo abra mão
irrevogavelmente dos direitos fundamentais. No entanto, nada impede que o exercício de
certos direitos fundamentais seja pontualmente restringido em prol de uma finalidade
acolhida ou tolerada pela ordem constitucional. Assim, admite-se a disponibilidade
momentânea para o cumprimento de determinado fim contratual, desde que essa finalidade
seja legítima.
Aproveitaremos o momento para tratar, desde logo, das chamadas “relações especiais de
sujeição”.
São relações jurídicas em que há uma especial sujeição de uma parte em relação ao Poder
Público. É o que ocorre, por exemplo, com os servidores públicos (inserem-se numa estrutura
administrativa que se organiza hierarquicamente e deve observância a diversos princípios
constitucionais, havendo restrição, entre outros, ao direito de greve, por ex.), os militares
(fazem parte de um regime jurídico baseado na hierarquia e na disciplina), os detentos
(diversos direitos fundamentais seus são restringidos por conta dessa especial relação de
sujeição), estudantes de escolas públicas, entre outros.
A existência de relações desse tipo atua como título legitimador para limitar os direitos
fundamentais dessas pessoas. É justamente a específica condição subjetiva desses sujeitos a
fonte de limitação dos seus direitos.
Houve momento na História em que se excluíram, por completo, os direitos fundamentais das
pessoas nessas condições especiais de sujeição, de modo que tais pessoas não poderiam
invocar direitos e garantias em face do Estado. Isso hoje é inaceitável, tendo em vista a
indisponibilidade e a irrenunciabilidade dos direitos fundamentais, o que decorre da própria
dignidade humana.
Assim, hoje, reconhece-se que há pessoas que se comunicam com o Estado através de uma
relação especial de sujeição, o que, na prática, significa dizer que há uma tolerância maior à
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restrição de direitos fundamentais ligados àquele regime jurídico. O indivíduo não abre mão
totalmente de seus direitos, mas a limitação aos direitos torna-se admissível, desde que se
constitua em meio necessário para a obtenção dos fins ínsitos a tais relações especiais de
poder.
Por fim, é importante que tais restrições venham estipuladas na lei que define cada estatuto
especial. Faltando a lei, há de se recorrer ao princípio da concordância prática e à ponderação
entre os direitos afetados, tendo-se sempre em vista o critério da proporcionalidade.
No Brasil, o art. 5º, §1º, da CRFB, consagrou essa ideia, dispondo que “as normas definidoras
dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata”, ressaltando, assim, o caráter
PRECEPTIVO, e não meramente programático, das normas que definem direitos fundamentais.
Essa norma se refere a todos os direitos fundamentais, e não apenas aos direitos individuais.
O art. 5º, §1º, da CF, autoriza que os operadores do direito, mesmo à falta de comando
legislativo, venham a concretizar direitos fundamentais pela via interpretativa. Aliás, mais do
que isso, os juízes podem, inclusive, dar aplicação a direitos fundamentais mesmo contra a
lei, sempre que ela não se conformar ao sentido constitucional daqueles.
Essa “aplicabilidade imediata”, indicada na própria Constituição, faz com que os direitos
fundamentais gerem sempre direitos subjetivos a seus titulares?
A aplicabilidade imediata dos direitos fundamentais não significa que, sempre, de forma
automática, os direitos fundamentais vão gerar direitos subjetivos, concretos e
definitivos.
Em regra, as normas constitucionais que dispõem sobre direitos de índole social têm sua
plena eficácia condicionada a uma complementação pelo legislador, como o caso do
direito à educação. Isso também acontece com alguns direitos individuais previstos no art.
5º, da CF, como é o caso da garantia do acesso ao Judiciário, que reclama uma legislação
processual.
A razão de ser dessa falta de aplicabilidade imediata de algumas normas reside na sua
baixa densidade normativa.
“Pretender que uma norma incompleta seja aplicada é desejar uma impossibilidade...”
(Manoel Gonçalves Ferreira Filho).
Obs. importante!
Não quer dizer que essas normas não tenham aptidão para produzir nenhum efeito!
Tais normas apenas não geram direitos subjetivos automaticamente.
O reconhecimento da dimensão objetiva dos direitos fundamentais, cuja eficácia irradiante faz
com que seus valores se espraiem por todos os ramos do Direito, despertou a discussão acerca
da aplicabilidade dos direitos fundamentais às relações entre particulares. É o chamado efeito
externo ou eficácia horizontal dos direitos fundamentais.
Os direitos fundamentais, em regra, são direitos subjetivos públicos, o que significa dizer que
nessa relação jurídica típica o titular do direito é o indivíduo e o devedor é o Estado. Isso
porque os direitos fundamentais, tradicionalmente, foram concebidos como limitadores da
atividade estatal, de modo que a concepção clássica dos direitos fundamentais tem o indivíduo
no polo ativo (aquele que pode exigir uma prestação) e o Estado no polo passivo (aquele que
deve prestações, positivas ou negativas, aos indivíduos). Trata-se de uma relação vertical.
Mas, e em relação aos direitos fundamentais que não são, por essência, direcionados aos
particulares? Os direitos fundamentais possuem uma eficácia horizontal? Isto é, aplicam-
se nas relações dos particulares entre si?
A resposta tende a ser indubitavelmente positiva, mas o tema não é tão simples quanto
parece.
Isso porque uma aplicação desmedida dos direitos fundamentais nas relações particulares
pode sufocar a liberdade individual e gerar uma espécie de fundamentalismo dos direitos
fundamentais.
Nos Estados Unidos, onde a ideologia liberalista é forte, prevalece uma visão
extremamente cautelosa sobre a aplicação de direitos fundamentais nas relações entre
particulares. Lá, prevalece a doutrina do state action, que diz que as normas
constitucionais e os direitos fundamentais só se aplicam às ações estatais. Isso significa
que os direitos fundamentais somente se aplicam nas relações dos indivíduos com o Poder
Público ou com aqueles particulares que desempenham atividades equiparadas às ações
estatais, o que ocorre, por exemplo, no desempenho de atividades concedidas ou
autorizadas pelo poder público. Nas demais atividades, prevalece a liberdade individual.
Crítica: o risco de uma aplicação desmedida, aniquilando a liberdade individual, que, por
sua vez, também é um direito fundamental. Aliás, a própria dignidade humana, cerne do
ordenamento jurídico, encontra-se intrinsicamente atrelada ao poder de
autodeterminação do indivíduo.
Portanto, é preciso entender que quando há uma relação entre particulares, todos os
envolvidos são titulares de direitos fundamentais, assim, a hipótese será de conflitos de
direitos fundamentais.
Assim, para saber qual direito fundamental deve prevalecer no caso concreto, deverá
haver um minucioso processo de ponderação, que deverá observar, além do princípio da
proporcionalidade, os seguintes parâmetros:
Se estiver em jogo uma liberdade existencial, ela terá um peso maior que uma liberdade
econômica. Não significa que a liberdade existencial vai sempre prevalecer, mas sim, que
ela tem um “peso maior” e o ônus argumentativo de quem sustenta a liberdade
econômica é mais denso. Sabemos que não há hierarquia entre direitos fundamentais,
mas admite-se uma hierarquia “axiológica” entre tais direitos.
1) Caso Air France (RE 161.243): o STF não aceitou a invocação do princípio da
autonomia como fundamento legitimador da discriminação que a cia aérea vinha
fazendo entre os empregados brasileiros e os franceses no tocante à distribuição
de benefícios. Admitiu, assim, a aplicação direta de direitos fundamentais à
relação entre particulares.
2) Caso do indivíduo expulso de cooperativa (RE 158.215-4): o STF admitiu a
incidência direto dos direitos fundamentais sobre relações particulares, anulando
o ato que expulsou o indivíduo da cooperativa por não ter lhe sido proporcionado
contraditório e ampla defesa (garantias do devido processo legal).
REGRAS PRINCÍPIOS
As regras correspondem às normas que, Os direitos fundamentais, em geral,
diante da ocorrência do seu suposto de consubstanciam-se em normas do tipo
fato, exigem, proíbem ou permitem algo, “princípios”, razão por que a colisão de
em termos categóricos. Havendo conflito direitos fundamentais deve ser considerada
entre regras, ele se resolve pelo critério da como uma colisão de princípios.
validade: duas regras opostas não podem
conviver no ordenamento jurídico. Os princípios são normas que exigem a
realização de algo, da melhor forma possível,
de acordo com as possibilidades fáticas e
jurídicas. Os princípios são determinações
para que certo bem jurídico seja satisfeito e
protegido na maior medida que as
circunstancias permitirem. São “mandados
de otimização”. Por tais razões, é factível
que um princípio seja aplicado em graus
diferenciados, conforme a situação,
devendo, sempre que possível, buscar a
conciliação entre eles, sem que se tenha um
dos princípios excluído do ordenamento
jurídico.
O processo para a solução de colisões de direitos fundamentais, tal como ocorre nas colisões
de princípios, é a ponderação.
I. Parâmetros da Ponderação
Robert Alexy, autor de grande referência no tema, fala nas Leis da Ponderação.
A Primeira Lei da Ponderação é descrita por Alexy da seguinte forma: “quanto mais alto é
o grau do não cumprimento ou prejuízo de um princípio, tanto maior deve ser a
importância do cumprimento do outro”.
Alexy refere-se também a uma Segunda Lei da Ponderação, também chamada de Lei
Epistemológica da Ponderação. Por ela, quanto mais intensa a interferência sobre um
direito ou valor constitucional, maior deve ser o grau de certeza das premissas que a
justificam.
O candidato deve ter atenção a essas leis da ponderação, pois, caso caia em sua prova uma
questão concreta envolvendo conflito entre direitos fundamentais, é de grande valia a menção às
“leis da ponderação”, de Robert Alexy.
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Como se nota, ponderar é nada mais que comprimir no menor grau possível os direitos em
causa, pondo-se em prática o princípio da concordância prática, respeitando-se sempre o
núcleo essencial de cada direito.
O exercício da ponderação passa também pela ideia de que, embora todas as normas
constitucionais tenham o mesmo status hierárquico, os princípios e direitos constitucionais
podem ter “pesos abstratos” diversos. Seria o que alguns chamam de “hierarquia axiológica”.
Esse “peso abstrato” seria apenas um dos fatores a ser ponderado. As normas de maior
hierarquia axiológica gozam de uma preferência prima facie quando entram em conflito com
outras normas de “menor valor axiológico”, mas não quer dizer que sempre irão prevalecer. A
título de exemplo, podemos dizer que as liberdades existenciais, via de regra, tenderão a
prevalecer em face das liberdades econômicas, justamente, por ter um peso abstrato maior,
mas a solução definitiva somente se verificará no caso concreto.
Desse modo, para identificarmos se estamos diante de uma restrição, é necessário que
verifiquemos, antes, qual o âmbito de proteção da norma que contém o direito fundamental.
Outras restrições, contudo, não emanam diretamente da Constituição, como é o caso das
RESTRIÇÕES LEGAIS, assim consideradas aquelas limitações que o legislador impõe a
determinados direitos respaldado em expressa autorização constitucional. Essa autorização,
não raro, vem consubstanciada em expressões como “nos termos da lei”, e outras
semelhantes.
Vale dizer que, embora o legislador tenha discricionariedade para dispor sobre as restrições
legais autorizadas no texto constitucional, essa liberdade não é plena, encontrando seus
limites no princípio da proteção do núcleo essencial e em um adequado juízo de ponderação,
baseado no princípio da proporcionalidade.
Qual a diferença das reservas legais simples para as reservas legais qualificadas?
E no caso de direitos fundamentais sem expressa previsão de reserva legal, será possível a
restrição?
No caso de direitos fundamentais sem expressa previsão de reserva legal, o que ocorre é,
simplesmente, que a Constituição não previu explicitamente a possibilidade de intervenção
legislativa. Não quer dizer, no entanto, que tais direitos não poderão sofrer restrições. A
restrição será possível, considerando que, também nesses casos, vislumbra-se o perigo de
conflito entre direitos.
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Assim, a colisão entre direitos de terceiros e outros valores jurídicos com hierarquia
igualmente constitucional poderá, excepcionalmente, tendo em vista o princípio da unidade
da Constituição e a sua ordem de valores, legitimar o estabelecimento de restrições a
direitos não submetidos a uma expressa reserva legal.
O legislador poderá, então, atuar restringindo direitos sem expressa previsão de reserva legal,
desde que justifique sua intervenção em direitos fundamentais de terceiros ou em outros
princípios e valores de ordem constitucional. Lembrando, sempre, que tal intervenção deve
observar os ditames da proporcionalidade.
Não existe, propriamente, uma tese que seja mais correta, estando a doutrina bem dividida
acerca do tema. Na jurisprudência, também não se extrai com facilidade qual o
posicionamento da Suprema Corte, mas, aparentemente, admite-se a possibilidade de
restrições aos direitos fundamentais.
Se, por um lado, é certo que o legislador pode atuar restringindo direitos, por outro lado, sua
atuação não é livre, estando sujeita a certas limitações, que são “limites dos limites”.
Assim sendo, é pacífico que o núcleo essencial dos princípios constitucionais não pode ser
restringido por lei.
Mas o que é o núcleo essencial? Qual o núcleo essencial de cada direito fundamental?
O que se pretende com esse princípio? O que se proíbe é a supressão de um direito subjetivo
(teoria subjetiva) ou o que se busca assegurar é a intangibilidade objetiva do direito (teoria
objetiva)?
No BRASIL:
Considera-se que o Brasil adotou uma “teoria mista”, pois, se por um lado o art. 60, §4º,
da CF, impede emenda constitucional tendente a abolir direitos e garantias individuais
(veda-se, na verdade, a abolição do núcleo essencial desses direitos), aproximando-se da
teoria objetiva, de outro lado, o direito subjetivo é igualmente protegido, pois há um
certo consenso de que de nada adiantaria proteger o direito objetivo se, na prática, fosse
possível restringi-lo desmesuradamente.
Princípio da proporcionalidade
O princípio da proporcionalidade é citado, pela doutrina, como sendo o segundo “limite dos
limites” a direitos fundamentais.
NO BRASIL:
Atualmente, sobretudo após a Constituição de 1988, o STF vem correlacionando o princípio da
proporcionalidade ao princípio do devido processo legal, na sua acepção SUBSTANTIVA (ou
material). Ao mesmo tempo, se sobreleva dito princípio à categoria de postulado
constitucional autônomo.
Para que uma lei ou ato administrativo passe pelo exame da proporcionalidade, deve passar
cumulativamente pelos três testes. Para um ato do Poder Público ser proporcional, ele tem
que ser adequado, necessário e proporcional em sentido estrito. Ou seja, são requisitos
cumulativos, e o ato que não passar em qualquer um dos testes, será contrário à
proporcionalidade e, portanto, inconstitucional.
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Por fim, vale dizer que o princípio da proporcionalidade se manifesta em duas vertentes: uma
negativa e uma positiva.
É certo, porém, que podemos citar outras espécies de limitações, como, por exemplo, a
vedação a restrições casuísticas, citada pelo Ministro Gilmar Mendes, e a “reserva de lei
formal” para a restrição de direitos fundamentais, mencionada pela professora e magistrada
Jane Reis, do Rio de Janeiro, que possui reconhecida obra sobre o tema.
O princípio do não retrocesso social ou princípio da proibição da evolução reacionária vem das
clássicas lições de J. Gomes Canotilho, não figurando como um princípio constitucional
expresso no Brasil, mas tendo sido reconhecido pela doutrina constitucionalista pátria.
De acordo com essa doutrina, as normas constitucionais definidoras de direitos sociais seriam
normas de eficácia limitada que, inobstante tenham caráter vinculativo e imperativo, exigem a
intervenção legislativa infraconstitucional para a sua concretização. Nesse sentido, tais normas
vinculam os órgãos estatais e demandam uma proibição de retroceder na concretização desses
direitos.
(...) o núcleo essencial dos direitos sociais já realizado e efetivado através de medidas legislativas
deve considerar-se constitucionalmente garantido, sendo inconstitucionais quaisquer medidas
estaduais que, sem a criação de outros esquemas alternativos ou compensatórios, se traduzam
na prática numa 'anulação', 'revogação' ou 'aniquilação' pura e simples desse núcleo essencial. A
liberdade do legislador tem como limite o núcleo essencial já realizado.
(...) ‘a ideia da proibição de retrocesso social também tem sido designada como proibição de
contrarrevolução social ou da evolução reacionária; com isto quer-se dizer que os direitos sociais
econômicos (ex: direitos dos trabalhadores, direito à assistência, direito à educação), uma vez
obtido um determinado grau de realização, passam a constituir, simultaneamente, uma garantia
institucional e um direito subjetivo.’ (Direito Constitucional: teoria da constituição. Coimbra, 3.
ed., p. 326)
É o que alguns autores chamam de “efeito cliquet” dos direitos humanos, segundo o qual tais
direitos não podem retroagir, só podendo avançar na proteção dos indivíduos. A expressão
"cliquet" vem da França e é utilizada pelos alpinistas para definir um movimento que só
permite aos mesmos subir, não se admitindo retrocesso no percurso.
Tal efeito, de acordo com a doutrina majoritária, seria aplicável tanto ao legislador
constitucional quanto ao poder constituinte reformador, não devendo também ser admitidas,
em tese, emendas constitucionais visando ao retrocesso na concretização de determinados
direitos fundamentais.
“Ainda, dentro desse contexto, deve ser observado o princípio da vedação ao retrocesso, isso
quer dizer, uma vez concretizado o direito, ele não poderia ser diminuído ou esvaziado,
consagrando aquilo que a doutrina francesa chamou de effet cliquet. Entendemos que nem a lei
poderá retroceder, como, em igual medida, o poder de reforma, já que a emenda à Constituição
deve resguardar os direitos sociais já consagrados.” (LENZA, Pedro. Direito constitucional
esquematizado / Pedro Lenza. – 16. ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo : Saraiva, 2012, p. 1089)
Esta interpretação deriva da própria previsão do art. 60, §4º, IV da CRFB, que não admite a
tramitação de emendas constitucionais tendentes a abolir direitos fundamentais.
Por óbvio, essa ideia de vedação ao retrocesso, como qualquer outro princípio, não deve ser
entendida em termos absolutos, admitindo-se a utilização da técnica da ponderação.
Em outras palavras, seria admissível que, em determinadas situações fáticas, outros princípios
venham a prevalecer sobre o princípio da proibição do retrocesso social, desde que observado
o núcleo essencial do direito fundamental em questão. Assim, veda-se ao legislador a
supressão pura e simples da concretização de norma constitucional que permita a fruição, pelo
indivíduo, de um direito fundamental social, mas não se exclui a possibilidade de alteração do
grau dessa concretização, através, por exemplo, da substituição da disciplina legal por outra,
mantido, sempre, o núcleo essencial da norma.
“(...) não se pode encarar a proibição de retrocesso como tendo a natureza de uma regra geral
de cunho absoluto, já que não apenas a redução da atividade legislativa à execução pura e
simples da Constituição se revela insustentável, mas também pelo fato de que esta solução
radical, caso tida como aceitável, acabaria por conduzir a uma espécie de transmutação das
normas infraconstitucionais em direito constitucional, além de inviabilizar o próprio
desenvolvimento deste.
(...) o núcleo essencial dos direitos sociais já realizado e efetivado pelo legislador encontra-se
constitucionalmente garantido contra medidas estatais que, na prática, resultem na anulação,
revogação ou aniquilação pura e simples desse núcleo essencial, de tal sorte que a liberdade de
conformação do legislador e a inerente autoreversibilidade encontram limitação no núcleo
essencial já realizado (SARLET, Ingo Wolfgang. PROIBIÇÃO DE RETROCESSO, DIGNIDADE DA
PESSOA HUMANA E DIREITOS SOCIAIS: MANIFESTAÇÃO DE UM CONSTITUCIONALISMO
DIRIGENTE POSSÍVEL. Revista Eletrônica sobre a Reforma do Estado (RERE),Salvador, Instituto
Brasileiro de Direito Público, nº. 15, setembro/outubro/novembro, 2008.)
Desse modo, conclui-se que o princípio da proibição do retrocesso não pode ser interpretado
em termos absolutos, admitindo-se a sua ponderação no caso concreto, desde que respeitado
o núcleo essencial do direito fundamental protegido.
relações contratuais, a lógica é semelhante: a restrição será admitida, desde que seja no
interesse do “disponente” e vise a fim contratual legítimo, estimulado ou, ao menos, tolerado
pela ordem jurídica. Em hipótese alguma, admite-se que a parte efetivamente disponha ou
renuncie ao direito de forma definitiva; tolera-se apenas uma maior restrição, por um tempo
determinado.
Lembrar aqui da possibilidade de conflito entre direitos fundamentais, dada a sua estrutura
principiológica. Tais conflitos resolvem-se por meio da ponderação, visando sempre à
concordância prática e à máxima efetividade dos direitos fundamentais. Lembrar também
das Leis da Ponderação, de Robert Alexy, e dos dois principais limites às restrições de direitos
fundamentais, quais sejam: o princípio da proteção ao núcleo essencial (lembrando das teorias
absoluta e relativa; objetiva e subjetiva) e o princípio da proporcionalidade.
Por restrições legais simples, entende-se aquelas em que o constituinte se limitou a autorizar a
interferência do legislador; por restrições legais qualificadas, entende-se aquelas em que a
Constituição, não apenas autoriza a restrição, mas também dispõe sobre a finalidade a ser
perseguida ou sobre requisitos que devem ser observados.
Segundo a jurisprudência do STF, tem seu fundamento constitucional no devido processo legal,
em sua vertente substantiva, constituindo-se em Princípio Geral Do Direito. Apresenta duas
dimensões, uma positiva (vedação à proteção insuficiente) e uma negativa (proibição do
excesso), e divide-se em três subprincípios: necessidade, adequação e proporcionalidade em
sentido estrito.
Princípio que objetiva impedir que conquistas já alcançadas em matéria de direitos sociais
sejam suprimidas pelo legislador. Tal princípio não pode ser interpretado em termos absolutos,
admitindo-se a sua ponderação no caso concreto, desde que respeitado o núcleo essencial do
direito fundamental protegido.