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Crítica da HAS:
uma política anti-ABA
para o autismo
 
por Éric Laurent
O adversário mais resoluto contra as técnicas comportamentais ABA não é
uma/um psicanalista. É uma pesquisadora autista que reside no Canadá. Trata-se
de Michelle Dawson, nascida em 1961, que se juntou há pouco menos de dez anos à
equipe de pesquisa de Laurent Mottron em Montreal. Diante do tribunal
canadense dos direitos da pessoa, ela declarou haver sido diagnosticada autista no
início dos anos noventa, portanto bastante tardiamente. Em 2004, ela assinou um
artigo sensacional «A conduta imprópria dos behavioristas ou os problemas éticos
da indústria Aba-autismo. »

 Nesse artigo, ela lê e comenta com precisão as publicações de Ivar Lovaas, fundador
do método ABA, para desenvolver o que ela chamou de objeções « éticas ». Antes do
artigo princeps de 1987, sobre a aplicação do método comportamental ao autismo, o Dr.
Lovaas consagrou-se na década de setenta à mudança de comportamento de outras
crianças cujas condutas eram julgadas deslocadas e nocivas pelos pais e pelo grupo
de pares. Tratava-se do Feminine Boy Project (FBP). Seu objetivo era o de substituir
condutas femininas nos meninos por condutas masculinas, para prevenir o
desenvolvimento, a longo prazo, da homossexualidade. As punições admitidas na
experiência eram palmadas e bofetadas. Para obter fundos do NIMH e da Universidade
da Califórnia, a justificativa do programa era de que seria mais fácil mudar o
comportamento dos meninos, do que a intolerância da sociedade. Na realidade, no
decorrer dos anos setenta, produziu-se o inverso. A partir do deslocamento desta
intolerância verificou-se que o projeto de transformação de ‘‘clientes’’ relutantes
através de uma intervenção comportamental era problemático. Enfatizou-se que seria
preciso buscar o aconselhamento de representantes de associações ou de sujeitos
transexuais, travestis, homossexuais, feministas. Foi criticado o objetivo conformista do
programa e o clichê por ele veiculado do não heterossexual disfuncional e infeliz. O Dr.
Lovaas e seu adjunto, Dr. Rickers, responderam com sua ética própria «Uma vez que os
pais e os profissionais concluem que uma criança apresenta distúrbios de gênero, um
terapeuta não pode eticamente recusar-se a tratar a criança.» Eles acrescentaram que a
homossexualidade era então ilegal na Califórnia e que partilhavam dos mesmos valores
cristãos que os pais. Eles se opuseram também, por isto, à retirada da homossexualidade
do DSM e manifestaram sua indignação diante da introdução de sujeitos homossexuais
nos processos de tomada de decisões.
Os dois meninos tratados com sucesso pelo programa FBP revelaram-se, no
acompanhamento a longo prazo, como bissexuais. Um deles tentou o suicídio aos 18
anos depois de seu primeiro encontro homossexual. O programa FBP foi estabelecido
na universidade da Califórnia UCLA, ao mesmo tempo em que viria o Young
Autist Project, o Projeto Jovem Autista. Os fundos do NIMH para o FBP duraram até
1976. Michelle Dawson, assim, chamou a atenção para o fato da supressão dos
comportamentos do autismo, terem substituído para Lovaas a supressão dos
comportamentos homossexuais. Ora, para ela, o autismo existe para além do
comportamento. Ela é a prova viva disto, pois não foi sendo tratada por ABA que
desenvolveu um modo original de aprender, que chegou a ser pesquisadora na
universidade sem, no entanto, considerar-se Asperger de alto nível. Quando ela
interpela diretamente os comportamentalistas sobre o lado positivo de seus
comportamentos, que não a impediram de se ‘desenvolver’, se lhe responde que seu
caso é excepcional e, portanto, anedótico. Ele não conta: o que não a desencoraja.

Ela observa que o foco colocado por Lovaas sobre a supressão de comportamentos tem
levado a colocar em dúvida o conceito de autismo. Num artigo publicado em 2000
constatou que a unidade de um mecanismo unificando o campo dos autismos, postulado
por Kanner en 1943, quase sessenta anos depois, não foi confirmado. Seria melhor,
portanto, abandonar a hipótese unificadora e centrar-se nos comportamentos a suprimir
em sua diversidade. Lovaas mesmo tentou tratar 3 sujeitos com a síndrome de Rett, cuja
causalidade genética afeta as meninas, com um fracasso total. Para Michelle Dawson, é
a prova de que é preciso respeitar o diagnóstico de autismo e não procurar fazê-los
passar pelo leito de Procusto da aprendizagem. É preciso compreender como
raciocinam, aprendem e se desenvolvem os autistas. A causalidade do estado
autístico reside, sem dúvida, numa série de variações genéticas, mas ela produz um
‘‘variante’’ humano que não tem que ser tratado. É preciso compreender como
funcionam os cérebros dos autistas e não centrar-se sobre seus comportamentos. Os
sucessos do método comportamentalista são analisados com precisão por Michelle
Dawson. O índice de sucessos muitas vezes lembrados nos estudos ABA, de 47%,
repousam sobretudo sobre a admissão de punições no protocolo. Os tratamentos
sem punição têm tido muito menos sucesso. Ela considera, portanto, os pretensos
sucessos como a conjunção de uma «ética miserável e com uma desonestidade
científica.»

Dawson reivindica, portanto, a retomada de todos os estudos considerando apenas os


grupos dos quais as punições foram suprimidas. De modo provocante, ela nota que a
única  qualidade da aprendizagem repetitiva é a de forçar o adulto educador a
comportar-se de modo constante e não emotivo ou autoritário, o que ajuda os autistas a
aprender. Ao contrário, ela coloca radicalmente em dúvida a utilidade de suprimir «as
condutas bizarras como balançar-se, bater as mãos e os jogos analíticos mais do que os
imaginativos, quando as condutas esperadas podem ser estressantes, dolorosas ou
inúteis para os autistas (como apontar, prestar atenção no outro, cruzar o olhar) são
impostas.» É porque a modificação do comportamento é tão eficaz que é preciso saber o
que se vai suprimir. E também porque não  se sabe verdadeiramente o que é o autismo,
nós não temos nenhum meio científico para saber o que é central para um autista. 
Dawson pede, portanto, estudos para estabelecer precisamente a diferença de
funcionamento de um autista tratado e de um autista não tratado por ABA e que, se bem
que seja perfeitamente identificável por suas condutas, tenha sucesso em desenvolver-se
de modo autônomo. Para defender os interesses dos autistas é indispensável para
Dawson que eles participem, em todos os níveis, das decisões que dizem respeito a eles.

Não basta que os programas sejam controlados pelos pais dos autistas, mas pelos
próprios autistas. Dawson considera que há “conflitos de interesses’’ entre pais e
crianças autistas. Ela os compara ao que ocorre quando os pais escolhem o sexo de
uma criança marcada pela ambiguidade do sexo em seu nascimento. Em muitos casos
eles recusam, na idade adulta, a via da normalização.

Se a indústria da reeducação quer tornar-se coerente com a ciência dos direitos do


homem, é preciso substituir o objetivo da «criança em conformidade com» por um
exame objetivo de todas as condutas. Aquelas que são compatíveis com a
aprendizagem, a inteligência e a realização, independentes de suas diferenças com
as normais, deveriam ser valorizadas. Nós nada sabemos no momento, sobre o
funcionamento da inteligência autista como tal, a não ser que ela certamente não
funciona como um «condicionamento operante». Quando um autista é forçado a
aprender segundo esse condicionamento explícito, cada comportamento deve ser
explicitado de acordo com seu contexto. «Nossas inclinações para os extremos, a
dissidência, a erudição, nos traem enquanto partidários de um saber implícito, não
é surpreendente que tenhamos que ser comprados – ou mais eficazmente batidos –
para fazer o que fazemos menos bem. Os terríveis sofrimentos das primeiras
semanas de ABA não se devem à extração de um suposto mundo privado. Os
choros, os gritos, as fugas, são os sons da revolta de uma criança que deve
abandonar à repetição, seus pontos fortes.»

Os comportamentalistas percebem que os autistas diagnosticados entre dois e três anos


chegam, sem serem tratados, a aprender a linguagem e têm, às vezes, uma inteligência
superior à média como ‘‘recuperações espontâneas’’. Esta hipótese é desmentida pelos
«autistas de alto nível». De fato, antes de quatro anos, diz Dawson, «nós não somos
diferentes dos autistas cujo desenvolvimento não conduz a uma linguagem típica e uma
inteligência normal … nós aprendemos coisas diferentes, de um modo diferente,
com resultados diferentes e isso é complementar de modo notável com as
aprendizagens e os resultados dos não autistas.» Ela conclui daí que, em nome dos
direitos do homem e da ética, os autistas têm algo a perder quando são submetidos ao
programa ABA. Ela reivindica com veemência, portanto, as possibilidades e os direitos
do autista à uma ‘‘ética efetiva’’ e denuncia a falsa ciência dos comportamentalistas.

 Laurent Mottron não é autista, é psiquiatra, psicolinguista, professor titular da


cátedra de pesquisas Marcel e Rolande Gosselin em neurociências cognitivas do
autismo no departamento de psiquiatria da universidade de Montreal. Ele resume
os argumentos Anti-ABA de Michelle Dawson, que é membro de seu laboratório de
pesquisas, assim : desproporção considerável entre o nível de validade científica e a
reputação de cientificidade, ausência de estudos que permitam uma validação
efetiva desses métodos, ausência completa de dados demonstrando melhora da
qualidade de vida a curto prazo e performances cognitivas a longo prazo, ausência
completa de dados que permitam demonstrar o princípio, no entanto
universalmente aceito, de que «quanto mais cedo, melhor.» e «quanto mais,
melhor». Ele apresenta assim, os argumentos contra os fundamentos racionais dos
métodos comportamentais: o reforço não parece melhorar a aprendizagem, o
fracionamento do material a ser apreendido impede a emergência de categorias, a
aprendizagem espontânea da linguagem pode chegar tardiamente sem a aplicação
de uma «técnica» particular.

Ele reivindica, portanto, uma


política para o autismo, que seja
uma política de integração dos
autistas, o exame da cientificidade e,
portanto, de novos estudos, de equipes
pluridisciplinares e a associação de
pessoas autistas adultas em todas as
decisões que digam respeito aos
autistas. É um programa muito
coerente de luta contra todo o
comportamentalismo. E também
um programa que conta apenas com
a ciência das meta-análises para
justificar sua política. É um programa de uma política para o autismo, que não
está inspirada pela psicanálise. O que prova, simplesmente, que as relações políticas
não são transitivas. Os inimigos de nossos inimigos não são, forçosamente, nossos
amigos. Condorcet já havia se apercebido disto na estrutura do voto.₪

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