RESUMO: A Linguística Textual tem assumido o pressuposto teórico de que a alteridade e a
argumentação são condições constitutivas dos textos e dos discursos. Nesse sentido, o presente trabalho objetiva investigar como o gerenciamento das vozes exteriores que atravessam textos publicados no Twitter constituem estratégias argumentativas. Para tanto, convocamos a reflexão de Authier-Revuz (2020) sobre a Representação do Discurso Outro (RDO), conceito formulado para atualizar a noção tradicional de “Discurso Reportado”. A RDO é um desenvolvimento recente da Teoria das Heterogeneidades Enunciativas, formulada pela autora na década de 1980. Nessa teoria, Authier-Revuz (1982) articula os fundamentos da psicanálise freudo-lacaniana e do dialogismo bakhtiniano para estruturar uma teoria da enunciação que classifica e analisa formas linguísticas que revelam a presença de vozes exteriores nos discursos. A autora justifica a convocação dessas duas abordagens não linguísticas argumentando que ambas destituem o sujeito do domínio do seu dizer, pois, enquanto o dialogismo situa o sujeito em uma relação fronteiriça com o exterior, dispondo-o sempre em uma relação constitutiva com o outro, a psicanálise assume a descentração do sujeito e sua clivagem ao inconsciente, colocando-o como efeito de linguagem. Assumimos que as escolhas linguísticas que o sujeito realiza na tentativa ilusória de ter domínio de seu dizer podem ser analisadas como estratégias, pois inscrevem a sua subjetividade e os seus modos de negociar linguisticamente com a alteridade. Se olhadas de modo puramente descritivo, as formas de RDO não interessariam a uma análise discursivo-textual, mas, se colocadas a serviço dos interesses da Linguística Textual, em interface com a Teoria da Argumentação nos Discursos, de Amossy (2018), essas formas do heterogêneo se tornam marcas textuais que assinalam modos de administrar as vozes na enunciação na construção argumentativa dos textos. Nosso interesse em analisar essas marcas em textos publicados no Twitter justifica-se pelas particularidades tecnológicas, linguísticas e interacionais que essa mídia digital disponibiliza para a construção dos sentidos dos textos que nela circulam. Por isso, defendemos uma articulação teórica necessária ao estudos de textos que se originam e circula na internet, a saber, a Análise do Discurso Digital, de Paveau (2017). Os resultados mostraram que o gerenciamento textual das vozes exteriores pode desempenhar diversas estratégias argumentativas, como o apelo às emoções do auditório, a desqualificação do outro e a convocação do argumento de autoridade. Além disso, verificou-se a necessidade de considerar o uso de recursos tecnolinguageiros, como as hashtags e retweets, como modos de representar o discurso outro no Twitter.
Palavras-chave: Representação do Discurso Outro. Argumentação. Twitter.