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RAUL SEIXAS NA TERRA DA DITADURA: UMA SOCIEDADE
ALTERNATIVA CONTRA A SOCIEDADE OBRIGATÓRIA.
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A classe artística, sobretudo, representou uma vanguarda na crítica e combate ao
regime ditatorial, sendo por isso severamente perseguido, seja em peças de teatro, em
livros e jornais, seja nos radio e televisão, e por fim na música também.
Cabe aqui elencar que não havia exatamente uma união da classe artística no
sentido de combater a ditadura até porque haviam setores que nem o faziam, como por
exemplo a Jovem Guarda, e a Bossa Nova, que tinha músicas muito bem elaboradas,
mas que não diziam nada além de amor, céu azul, praia e barquinho.
Por outro lado havia aqueles que se diziam serem mais legítimos no combate por
representarem um gênero genuinamente nacional: os artista pertencente a Tropicalha.
Estes atacavam a música de Raul Seixas o chamando de “entreguista” por usar um
gênero musical “alienígena”(estrangeiro), o Rock.
Raul fazia questão de dizer que não pertencia a nenhum desses enquadramentos
propostos de música brasileira e ainda que o verdadeiro Rock havia morrido em 1959.
Dizem que se faz rock'n'roll por aí. Pra mim, ele morreu em 59.
Rock'n'roll era um comportamento, James Dean, todo momento histórico. Aí
veio o caos quando as indústrias não podiam mais parar de fabricar discos.
Quando entrou a década de 60, botaram Chubby Checker para cantar "Hava
Naguila", inventaram o hully-gully e o twist, tudo invenção de fábrica. O
movimento já tinha passado. Eu chamaria de rock o que existe agora. Do
Led Zeppelin, por exemplo, eu gosto - é uma abertura para dizer algumas
coisas. O pior é que no Brasil não se está dizendo nada. Acho que voltamos
àquela época de Cely e Tony Campello, em que se fazia rock "papai e
mamãe". Mas tem o Kid Vinil querendo fazer rock mais antigo... Ele entende
muito de rock. (Raul Seixas em entrevista para a Revista Bizz publicada em
Janeiro de 1986) Fonte:
http://www.abril.com.br/noticia/diversao/no_288557.shtml
Raul Seixas dizia que seu gênero não era Rock nem Baião, era o
“Raulseixismo”i.
A partir do entendimento desse seu posicionamento único, passamos a entender
que seu trabalho também era ímpar, restando apenas a análise do que Raul queria dizer
ao propor uma Nova Sociedade.
A obra de Raul Seixas teve grandes influencias dos escritos de Aleister
Crowleyii acerca do Novo Aeon, de uma “Nova Era” de mudanças e transformação
colocando fim a regras, limites, arbitrariedades e falta de liberdade. Justamente por
essas intenções é que Crowley é mundialmente buscado, trazendo uma imagem mítica e
controversa, ele se torna nos anos de 1960 e 1970, objeto de muito interesse pelos
jovens, tornando-se o guru da contraculturaiii e do Rock.
O Rock desde seu princípio representa contestação, ainda mais quando aliado ao
ocultismo, sendo essa junção acusada de incitar a rebeldia e despertar sentimentos
transgressores nos jovens. Sendo assim a obra do escritor “mago” Crowley vem de
encontro a necessidade da juventude rebelde, tendo cultivado seus prenúncios de uma
“Nova Era” e a posterior materialização de comunidades alternativas.
Raul Seixas representou no Brasil a propagação desse pensamento, diante de um
país que vivia uma repressão ditatorial severa ele nunca admitiu publicamente essas
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idéias, mas suas músicas explicitam isso através de seu conteúdo contestador da
estrutura de injustiça e opressão e defensor de uma Sociedade Alternativa de liberdade.
Essa ousadia de Raul Seixas, de ser sarcástico com o regime e especular uma
nova sociedade em plena vigência do AI-5 rendeu-lhe notória atenção por parte dos
aparelhos repressores da ditadura. Em 1974 ele teve seu apartamento invadido e
revirado por agentes da ditadura que estavam a procura de material subversivo e
indícios da falada sociedade alternativaiv.
No mesmo ano ele é expulso do Brasil e vai exilar-se nos Estados Unidos, o que
o fez amadurecer profissionalmente através de contatos importantes, como a sua estada
em Memphis no Tennessee, terra natal de Elvis Presley, e a estadia na casa de John
Lenon em Nova Iorque[6].
A partir do momento em que Raul Seixas entrou na mira dos aparelhos
repressivos da Ditadura Militar, ele nunca mais saiu de foco, como afirma em sua última
entrevista para a televisão, em 1989: “eu sempre tive problemas com a censura. Até hoje
eu tenho 11 músicas censuradas. Eles olham minha obra de cima para baixo. Sacodem
para ver se sai alguma coisav”.
A música sociedade alternativa foi a expressão do sentimento de Raul Seixas e
de Paulo Coelho, parceiro intelectual e espiritual em relação ao contexto vivido no
Brasil, (porém sua maior crítica era contra qualquer sistema repressor) tendo como base
as idéias de Aleister Crowley.
Tomando como resistência a postura repressiva da ditadura militar, Seixas
desabafa seus ideais, com intuito libertário ele vai propor a sua sociedade cantando:
Quando Seixas canta, “Faz o que tu queres, pois é tudo Da Lei! Da Lei! Viva!
Viva! Viva A Sociedade Alternativa... "-Faz o que tu queres Há de ser tudo da Lei"
Viva! Viva! Viva A Sociedade Alternativa”, ele estará referindo-se como será sua
sociedade. E dizendo será tudo dá lei, e que viver em liberdade era um dos lemas de sua
sociedade.
Então viva essa nova proposta que se deve largar o sistema que nos limita e
também resistir à imposição de leis. Viver neste “Novo Aeon” o que prevalecia era a lei
do forte, do amor da humanidade e não da concorrência da disputa para ser o melhor,
por que nesta sociedade todos poderiam fazer o que quisessem o que sentissem vontade
e quando sentissem vontade, sem a imposição de regras e cerceamento de liberdades.
Para complementar, Costa nos afirma que:
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(...)os artistas também se dividem, tomando posições diferenciadas.
Especificamente na música vemos bem clara essa divisão. De um
lado, tem-se aqueles que buscam um afrontamento direto ao regime,
questionando e criticando a realidade da sociedade. De outro,
encontram-se os que usam os recursos da linguagem para esconder
suas mensagens de modo subliminar nas canções. Os primeiros sendo
ovacionados pelo público e duramente reprimidos pela censura, os
segundos, muitas vezes, sendo reprimidos por ambas as partes. (
costa, 2007).
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A música popular urbana é deixada de lado. Logo este gênero que permitirá que
a pesquisa traga em pauta para a historiografia importantes questões que não são
possíveis de serem retomadas sem que haja a consideração de todos os aspectos (e ai a
música), como as relações sociais das diversas classes que se embatem na sociedade.
Permitindo uma outra visão da realidade, trazendo a tona a história de setores pouco
lembrados pela historiografia que e até então ficam difícil de se desvendar .
Pelo que se tem observado no Brasil, como evidencia Morais (2000), há, uma
disparidade em relação a pesquisa sobre música em geral quando contraposto com
outros objetos mais tradicionais.
De uma lado a bibliografia simplista, a qual segue a linha da análise da letra
pela letra. Por outro temos a mesma biografia mais com trabalhos sérios e riquíssimos
que levam em consideração o contexto do artista. Mas apoiada no folclore, não dá a
devida atenção para a música urbana em construção.
Como afirma Morais na década de 1970, inicia-se um transformação
significativa neste meios bibliográficos:
Este período permitiu romper com as correntes tradicionais. Dando mais atenção
a questão da música popular como fonte histórica. E assim, temos vários trabalhos
universitários se curvando a este tema, tomando apoio de varias áreas do conhecimento
como a sociologia, antropologia, semiótica, língua e literatura brasileira.
Para o historiador que está relativamente distante dos debates acalorados, das
angústias científicas e discussões estritas da musicologia e da música propriamente dita,
naturalmente se coloca como primeiro problema às investigações lidar com os códigos e
a linguagem musical. Certamente esse é um problema sério, não o único, mas que deve
ser superado. Essa dificuldade não pode ser impeditiva para o historiador interessado
nos assuntos relacionados à cultura popular, como não foram, por exemplo, as línguas
desconhecidas, as representações religiosas, mitos e histórias e os códigos pictóricos.
Na realidade, essas linguagens não fazem parte de fato do universo direto e imediato do
historiador, mas nenhuma delas impediu que esses materiais fossem utilizados como
fonte histórica para desvendar e mapear zonas obscuras da história. Deste modo, mesmo
não sendo músico ou musicólogo com formação apropriada e específica, o historiador
pode compreender aspectos gerais da linguagem musical e criar seus próprios critérios,
balizas e limites na manipulação da documentação (como ocorrem, por exemplo, com a
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linguagem cinematográfica, iconográfica e até no tratamento da documentação mais
comum).
Em síntese, creio que as questões aqui realçadas alcançaram pelo menos três
aspectos relevantes para a reflexão do historiador que pretende trabalhar com a canção
popular: a linguagem da canção, a visão de mundo que ela incorpora e traduz, e,
finalmente, a perspectiva social e histórica que ela revela e constrói.
Da parceria que durou cinco anos, surgiu a idéia de Raul Seixas corroborada por
Paulo Coelho em fundar uma Sociedade Alternativa, cuja difusão se daria através da
música. A Sociedade Alternativa seria o resultado dos conhecimentos metafísicos
adquiridos por ambos na obra de Aleister Crowley – o livro da Lei – e da experiência
adquirida do movimento hippie e de outros movimentos.
Tal qual procedia outras comunidades alternativas, Raul Seixas também cogitava
uma a aplicação prática da sua ideologia, como forma de conscientizar e transformar as
pessoas. A atuação política (se é que podemos chamar de política) é tida como forma de
fortalecer o movimento alternativo, uma vez que se os membros destas comunidades se
articulam e passam a participar e interferir no modo de vida através da provocação e do
questionamento, buscando mudanças na própria estrutura da sociedade vigente. Quanto
à difusão de suas idéias, desempenhou bem esta função.
Além das canções o roqueiro também divulgava em seus shows todas as suas
idéias libertárias e sua Sociedade Alternativa, através de um gibimanifesto, intitulado a
‘A Fundação de Krig Ha’, escrito por ele, Paulo Coelho e outros. Em setembro de 1973,
num show em São Paulo, no Teatro das Nações, divulgou pela primeira vez a Sociedade
Alternativa através do gibi.
No inicio de 1974, a polícia apreendeu os seus gibis-manifesto que foram
classificados como “material subversivo”, Raul Seixas é preso pelas forças de repressão
e forçado a dizer os nomes das pessoas que faziam parte da Sociedade Alternativa.
Como o exílio estava em moda, juntamente com Paulo Coelho foi exilado para
os Estados Unidos. Alguns meses após a sua expulsão do país, um disco recém lançado
no Brasil intitulado Gita, teve grande sucesso de vendas, o que abriu caminhos para o
seu retorno ao Brasil. Este disco vendeu 600 mil cópias e deu ao cantor seu primeiro
disco de ouro.
Apesar dos problemas enfrentados com a ditadura militar em 1974, o sonho de
criação da Cidade das Estrelas ou Cidade da Luz – (cidade que seria construída dentro
dos princípios da Sociedade Alternativa, em um terreno em Minas Gerais) – nunca saiu
do pensamento de Raul, que se manteve fiel a seus ideais até a morte. Ele continuou
dando seqüência às divulgações de suas idéias.
A temática a ser elencada no projeto e na elaboração da monografia é a relação
que se pode desenvolver entre a música e o ensino de história, considerando a música
como o reflexo social do cantor e poeta, que podem dar subsídios para o professor no
ensino de história, tornando a aula mais dinâmica e atrativa para o educando de forma
que o ensino de história possa ser dinamizado levando o aluno sentir-se participante da
história. As músicas compostas pelo Raul Seixas podem ser utilizadas como meio de
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mediação no ensino de história dado o quanto elas podem refletir acerca do momento
crítico vivido no Brasil.
REFERÊNCIAS
DEVIDES, Dílson César. Raul Seixas e o Brasil pós -64: cultura, repressão, censura. >
http://www.dacex.ct.utfpr.edu.br/8dilson.htm
MORAES, José Geraldo Vici de. “História e música: canção popular e conhecimento
histórico. In: Revista Brasileira de História. vol. 20 n.39 São Paulo, 2000.
NAPOLITANO, Marcos. A música popular brasileira (MPB) dos anos 70: resistência
política e consumo. Cidade do México. Abril de 2002. IV congresso de la Rama
latinoamericana del IASPM.
PRADO, Berenice Schelbauer do; Schmidt, Maria Auxiliadora. Material Didático para
o professor: Elementos para uma metodologia para trabalhar com música no ensino de
História em EJA na perspectiva da Educação Histórica. Programa de Desenvolvimento
educacional – PDE- SEED; IES: Universidade Federal do Paraná.
NERY, Emília Saraiva. Sons da contracultura: Raul Seixas entre cidades e sociedades
alternativas. In: Revista de História e Estudos Culturais. vol.6 ano VI n°2, 2009.
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SOARES, Igor José. A sociedade alternativa de Raul Seixas. Universidade Vale do Rio
Doce. Governador Valadares. 2009.
TEIXEIRA, Rosana da Câmara. Krig-ha, bandolo! Cuidado, aí vem Raul Seixas. Rio
de Janeiro: 7Letras/FAPERJ, 2008.
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Afirmação refeita em sua última entrevista no programa Jô Soares em 1989.
ii
Escritor inglês do final do século XX, considerado um dos mais importantes ocultistas do mundo tem na
sua obra “O Novo Aeon”, que fala da nova era de Horus (mitologia egípcia) maior expressão.
iii
Entendemos que contracultura seja por definição toda a ação que questione a ordem posta.
iv
Passagem mencionada no livro “Raul Seixas – O Sonho da sociedade Alternativa”, de Luciane Alves.
Página 43, 1993.
v
Afirmação feita em entrevista a Jô Soares em 1989.
vi
José Geraldo Vici de Moraes. “História e música: canção popular e conhecimento histórico”. In: Revista
Brasileira de História. vol. 20 n.39 São Paulo, 2000.