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Dedicatória

Dedico este E-book, em primeiro lugar, a todos aqueles que labutam em compreender
e expor as Sagradas Escrituras; em segundo lugar, aos adeptos e simpatizantes da
Soteriologia Arminiana, em especialmente, os membros que compõe o Grupo no
Whatssap: ‘Arminianismo Hoje’.

Agradecimentos

Gostaria de Agradecer ao Presbítero e Professor de Teologia: Alessandro Barreto


(IEADPE); ao vê-lo com a obra de Wellington Mariano “O que é Teologia Arminiana”,
tive a audácia de pedi-la para ler – todo Teólogo ou estudante de teologia possuirá
em comum o sentimento de ciúme para com os seus livros. O Pb. Alessandro não
apenas me emprestou, mas, ao devolvê-la, me permitiu ficar com ela definitivamente,
e, desde então, me dedico a ler e a estudar “a mecânica da Salvação” na soteriologia
Arminiana. Não poderia deixar de fazer referência neste momento a Mylenna Navarro,
uma grandessíssima amiga. Se não fosse ela, acredito que a conclusão deste E-book
seria prolongada por mim mais do que fora (é provável que nunca acontecesse). E
por fim, mas não menos importante, gostaria de agradecer ao meu amigo Souza
(Instagram: Vanz Souza II), ele foi o responsável pelo desenvolvimento desta linda
capa.
3

Esclarecimentos
Como todos notaram na capa, todo o conteúdo deste E-book é baseado nas Obras
de Daniel Gouvêa e Carlos A. Vailatti. Ao ler as referidas obras, percebi de imediato
que elas eram leituras obrigatórias a todo adepto da Teologia Soteriológica Arminiana,
e, logo de imediato, nasceu o desejo de fazer uma série de publicações para o meu
blog (https://lucasamaciel.blogspot.com.br/) baseando-se nestas duas maravilhosas
obras. Entretanto, compreendi que teria um maior alcance se caso montasse um E-
book a partir das séries publicadas, pois, desta forma, facilitaria o compartilhamento,
a leitura, como também a compressão do texto, e assim o fiz. Desejo mais uma vez
ressaltar, para evitar futuras confusões e más compreensões, que todo o conteúdo
deste E-book é baseado nas Obras de Daniel Gouvêa e Carlos A. Vailatti. Isso
significa dizer que constantemente estarei me utilizando das referências contidas nas
referidas obras, como também realizando citações diretas e indiretas a elas, e não
que no decorrer de todas as páginas desse E-book inexista impressões e comentários
pessoais ou utilização de outras fontes/referências e materiais (Ex: cap 5). Sendo
bastante honesto com o leitor, eu diria que este E-book é uma resenha do Livro de
Daniel Gouvêa – a partir do momento que ele passar a discorrer e comentar sobre os
versículos que compõem Romanos 9 – com acréscimos dos Comentários de Armínio
a esse mesmo capítulo contido na sua Carta que foi enviada à Gellius Snecanus e
que fora traduzida e publicada por Carlos A. Vailatti. Não obstante, o conteúdo deste
E-book não totaliza, de hipótese alguma, as obras supracitadas. Por isso, recomento
ao leitor que venham a adquiri-las, pois ainda há muitas riquezas contidas nas
respectivas obras e que precisam ser descobertas. Vale salientar que não apenas eu,
como também vários colegas reconhecem e entendem a importância dessas obras.
Logo, não perca a oportunidade de obtê-las!

A Soberania de Deus na Justificação: Uma Abordagem Bíblica Exegética e


Teológica de Romanos 9 – Daniel Gouvêa
https://www.editorareflexao.com.br/a-soberania-de-deus-na-justificacao/p/563

Jacó Armínio; Uma Análise de Romanos 9 – Carlos Augusto Vailatti


https://www.editorareflexao.com.br/uma-analise-de-romanos-9/p/610
4

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 5

Preâmbulo do Capítulo de Romanos 9 ....................................................................... 5

A Objeção dos Judeus ................................................................................................ 5

CAPÍTULO 1 (Comentário dos Versículos 1-6) ...................................................... 7

A explicação dos sentidos do termo Israelita/Israel ................................................... 10

CAPÍTULO 2 (Comentário dos Versículos 7-13) ................................................... 13

Primeiro Tipo Utilizado Por Paulo.............................................................................. 13

Quem São os Verdadeiros Filhos da Promessa? ...................................................... 13

Segundo Tipo Utilizado por Paulo ............................................................................. 16

CAPÍTULO 3 (Comentário dos Versículos 14-18) ................................................. 23

Considerações quanto ao Endurecimento de Faraó ................................................. 30

CAPÍTULO 4 (Comentário dos Versículos (19-24) ................................................ 34

Voz Média ou Passiva? ............................................................................................. 43

CAPÍTULO 5 (Comentário dos Versículos (25-33) ................................................ 49

Conclusão ................................................................................................................ 59
5

INTRODUÇÃO

Preâmbulo do Capítulo de Romanos 9

Antes de apresentarmos uma interpretação Arminiana de Romanos 91, precisamos


entender dois pontos que são cruciais para que possamos interpretar corretamente tal
Capítulo.

Em primeiro lugar: como salienta Armínio, “O escopo principal do Capítulo é o


mesmo de toda a Epístola: Que o evangelho, não a lei, é o poder de Deus para a
salvação, não para aquele que pratica uma boa obra, mas para aquele que crê, uma
vez que no evangelho a Justiça de Deus é manifesta na obtenção da salvação pela fé
em cristo"2.

Em segundo Lugar: Paulo, ao longo do respectivo capítulo, irá refutar uma objeção
que determinados Judeus, contrários a sua Doutrina, haviam realizado, demostrando
que a objeção possuía uma dupla falha; "o princípio inquestionável que os judeus
utilizaram como suporte à sua objeção, não só não era prejudicial à sua causa, mas
era até mesmo bastante favorável a ela"3.

A Objeção dos Judeus

Armínio, em sua carta destinada a Gellius Snecanus, comentando sobre o capítulo 9


de romanos discursa sobre essa objeção levantada pelos Judeus: “Se a maioria dos
judeus é rejeitada, a palavra de Deus tem que falhar; – Mas não é possível que a
palavra de Deus falhe; – Portanto, a maioria dos judeus não foi rejeitada”4.
Discorrendo sobre o que fez levar alguns Judeus a elaborarem essa objeção, Armínio
Escreve: “O Apóstolo Paulo havia proposto uma doutrina que, necessariamente,
incluía a rejeição dos judeus numa medida muito considerável, a saber, a justiça e a
salvação devem ser obtidas pela fé em Cristo, não pelas obras da lei. Foi fácil para os

1
Todo o Conteúdo deste E-book encontra-se disponível no meu Blog. Publiquei em 6 partes
(https://lucasamaciel.blogspot.com.br/)
2
Vailatti, Carlos Augusto; Jacó Armínio-Uma Análise de Romanos 9; Pág,14.
3
Ibid. Pág,17-18.
4
Ibid. Pág,16.
6

judeus deduzirem disso: “Se a justiça e a salvação consistem na fé em Cristo, a quem


Paulo prega, segue-se que os judeus, em sua maior parte, são rejeitados da aliança”5.

5
Ibid. Pág,17.
7

CAPÍTULO 1

Digo a verdade não minto, testemunhando comigo no Espirito Santo, a minha


própria consciência: Tenho grande tristeza e incessante dor no coração,
porque eu mesmo desejaria ser anátema, separado de cristo por amor de meus
irmãos, meus compatriotas, segundo a carne (V: 1-3)

Os versículos iniciais de Romanos 9 são necessários para que possamos entender


todo o capítulo supracitado, “dissociar o teor dos primeiros versículos de Romanos 9
do restante do capítulo pode trazer sérios prejuízos ao intérprete” (Daniel Gouvêa.
Pag, 51)6. Paulo se utiliza de dois termos para expressar e deixar evidenciando ao
leitor o seu sentimento que permearia todo o seu posterior discurso-argumentativo:
grande tristeza (Gr: tristeza, angústia como estado da mente) e incessante dor (Gr:
dor, sofrimento que implica em angústia e opressão do coração). A necessidade de
Paulo em deixar nítido seus sentimentos, antecedendo o seu discurso-argumentativo,
mostra que o mesmo desejava evitar que o seu leitor conjecturasse uma satisfação e
alegria de Paulo na defesa do argumento que “Deus estava rejeitando o seu povo"; o
apóstolo estava deixando bem claro a sua profunda tristeza nesse fato 'a rejeição de
"Israel" por Deus'. Essa profunda tristeza também é expressa no versículo 3, como
Calvino escreve: “Paulo, não hesitou o desejar para si mesmo a condenação que viu
recair eminentemente sobre os judeus, a fim de libertá-los”. O desejo de Paulo de ser
anátema era completamente verdadeiro, pois no versículo 1 ele inicia o seu discurso
ressaltando que o testemunho da sua consciência diante da situação dos judeus era
realmente profundo e consequentemente verdadeiro; contudo, tal desejo – de ser
anátema – era impossível de ser cumprido, e ele sabia muito bem dessa
impossibilidade, tanto é, que a construção gramatical realizada por Paulo apresenta
essa consciência “[...] Desejaria ser, constitui [...] uma construção comum no
grego e denota a expressão de um desejo real, porém impossível de cumprir”7.

São Israelitas. Pertence-lhes a adoção e também a glória, as alianças, a


legislação, o culto e as promessas; deles são os patriarcas, e também deles

6
Gouvêa, Daniel; A Soberania de Deus na Justificação: Uma abordagem Bíblica, Exegética
e Teológica de Romanos 9; 128 Pág.
7
Ibid. Pág, 54.
8

descende o Cristo, segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito para
todo Sempre, amém! (V: 4-5)

O Apóstolo nos versículos 4-5 explica o porquê de sua profunda tristeza quanto a
presente8 rejeição de Israel. “certamente, a intensa e constante tristeza do apóstolo
deve-se ao fato de que os judeus, que no presente estavam sendo rejeitados por
Deus, foram no passado receptores de suas grandes bênçãos”9. Essas bênçãos são
elencadas por Paulo, conhecidas e afirmadas pelos Judeus, sendo elas:

São Israelitas: Paulo evidencia que em apenas ser israelita, isso já constituía uma
benção. Os filhos de Israel são o povo escolhido, aqueles que descendem dos
patriarcas Abraão, Isaque e Jacó. Não apenas isto, o próprio nome Israel já designava
a especial relação de Deus com tal povo.

Pertence-lhes a adoção: Por todas as Sagradas escrituras notamos o


relacionamento paternal de Deus com a nação de Israel.

A gloria: Refere-se as inumeráveis manifestações da presença de Deus entre o povo


da Aliança.

As Alianças: Paulo neste momento faz alusão àquelas que Deus fez com Noé,
Abraão, Isaque, Jacó, Moisés e Davi “O uso do plural provavelmente se refere não à
aliança feita com Moisés no Sinai ou com Abraão, mas todas as alianças feitas com
os antepassados dos Israelitas no A.T"10.

A legislação: A Lei foi entregue ao povo de Israel diretamente por Deus por
intermédio de Moisés.

8
C. Marvin Pate em seu comentário sobre o livro de romanos faz um paralelo entre o passado
e o presente concernente a relação entre Deus–Israel e Deus–Gentios, afirmando que Paulo
pretendia deixar bem claro que no passado Deus demonstrou sua misericórdia para com os
filhos de Israel e ira para com os filhos dos gentios; no entanto, no presente, Deus estava
demonstrando misericórdia para com os filhos dos gentios e ira para com os filhos de Israel.
9
Gouvêa, Daniel; A Soberania de Deus na Justificação: Uma abordagem Bíblica, Exegética
e Teológica de Romanos 9; Pág, 55.
10
Ibid. Pág, 58.
9

O culto: Paulo enfatiza que os serviços nos templos e a liturgia de culto foram
instruídos como uma benção para facilitar a adoração comunitária e o sistema
sacrificial diante do povo de Israel.

As promessas: As citações referentes as promessas realizadas por Deus ao longo


da carta de romanos estão especialmente centradas naquelas feitas a Abraão, por
isso, em virtude do contexto da carta e principalmente dos capítulos 9-11, faz sentido
entender que as promessas aqui mencionadas sejam as promessas Abraâmicas.

De quem são, ou a quem pertencem os patriarcas: A herança da nação veio


através deles, e por meio deles os hebreus se tornaram o povo especial de Deus.

E também deles descende o Cristo, segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus
bendito para todo Sempre, Amém! As esperanças de nação de Israel sempre foram
depositadas sobre a figura do Ungido/Messias prometido. O uso Paulino de (Cristo)
para Jesus visava afirmar seu significado como uma figura divinamente aprovada, que
age como agente escatológico de Deus. A referência a Cristo “[...] segundo a Carne”
constitui uma ligação entre o Messias como sendo descendente dos patriarcas. A
natureza do relacionamento entre Jesus e os Israelitas é definida, isto é, física. Não
obstante, isso não limita a messianidade de Jesus que é divina, e é sobre todos, Deus
bendito para todo Sempre, amém! Conforme salienta Daniel Gouvêa:

“Essa expressão demonstra o senhorio Cósmico de Deus sobre a criação. Ele é o


senhor sobre o universo e sobre a história, e sobre todos os seres bons e maus que
habitam a criação. Paulo queria estabelecer de uma vez que aquele em que os judeus
não estavam crendo era simplesmente o próprio Deus. Dessa forma, pode-se
compreender o tom de profundo amor, solenidade e tristeza de Paulo, pois os
Israelitas que naquele momento negavam a justificação pela fé em Jesus Cristo,
estavam inevitavelmente sendo rejeitados pelo senhor[...] todavia, Paulo vai
demonstrar que, diante de tal situação de incredulidade, Deus é perfeitamente Justo
em Rejeitar os Judeus"11.

11
Ibid. Pág, 62-63.
10

E não pensemos que a palavra de Deus haja falhado, porque nem todos os de
Israel são, de fato, Israelitas (V:6)

A partir do Versículo de número 6, Paulo começa a desconstruir a ideia de alguns


Judeus de que apenas pelo simples fato de possuírem descendência física de Abraão
estariam irrevogavelmente justificados ou salvos no mérito de tal descendência. Como
escreve C. Hodge: “Era a opinião dentre os Judeus, de que, a promessa de Deus,
sendo feita a Abraão e à sua descendência, todos os seus descendentes selados,
pelo rito da Circuncisão, poderiam certamente entrar nas bênçãos do Reino
messiânico[...]”12. E não apenas isso, Paulo também vai de encontro ao pensamento
de que ser povo de Deus era uma prerrogativa exclusivamente herdada por direito de
nascimento. Assim sendo, os Judeus precisavam compreender que NEM TODOS OS
DE ISRAEL SÃO DE FATO ISRAELITAS. Paulo se utilizando dessa expressão
desejava demonstrar um sentido mais restrito do Termo Israelita/Israel.

A explicação dos sentidos do termo Israelita/Israel

No sentido mais amplo e consequentemente mais abrangente do termo


Israelita/Israel, compreende todos aqueles que possuem uma descendência física de
Abraão, Isaac e Jacó. No sentido mais restrito de tal termo, compreende todos
aqueles que possuem uma descendência física de Abraão, Isaac e Jacó e que se
tornam participantes das promessas da aliança por meio da fé em Jesus Cristo, e
estes são, os de fato Israelitas, o verdadeiro Israel! Utilizando-se de uma ilustração de
Leroy Forlines do qual faz uso do diagrama de Venn – Relação de Inclusão13 – sendo
o Conjunto (Israel A): Sentido mais Amplo; e o Conjunto (Israel B): Sentido mais
restrito; Daniel Gouvêa afirma: "Assim todo o “Israel B” faz parte de “Israel A”, mas
nem todo “Israel A” faz parte de “Israel B” Isto é [...] (nem todos os de Israel são de
fato Israelitas)"14. Com isso, Paulo nega a consequência da Objeção levantada pelos
Judeus quando salienta: ‘E não pensemos que a palavra de Deus haja falhado’(V. 6),

12
Charles Hodge, Commentary on the Romans, P. 304.
13
https://brasilescola.uol.com.br/matematica/diagrama-de-venn.htm
14
Gouvêa, Daniel; A Soberania de Deus na Justificação: Uma abordagem Bíblica, Exegética
e Teológica de Romanos 9; Pág, 69.
11

“acrescentando o motivo da negação, e a prova escriturística entrelaçada com a


razão, por meio de alegorias ditadas por Deus, e explicadas pelo Apóstolo”. Armínio
compreendeu muito bem todo o argumento Inicial de Paulo contra a objeção
formulada pelos Judeus, comentando o seguinte:

“A razão consiste na distinção dos judeus e em sua dupla classificação em respeito a


esta divina palavra e propósito, ou a partir da dupla descendência de Abraão, da qual
somente uma foi compreendida naquela palavra e propósito. “Pois”, ele diz, “nem
todos que são de Israel são Israel: nem por serem descendência de Abraão, eles são
todos filhos”: mas há, entre eles, alguns “filhos da carne” e outros “filhos da promessa”;
de onde conclui-se – se a palavra de Deus não abrange a todos os israelitas em uma
característica, ela não falha, mesmo que alguns, dentre si, possam ser rejeitados; e
muito menos, se eles são rejeitados de quem fica evidente, da palavra em si, então
eles nunca foram compreendidos nela”15.

Paulo utiliza-se de dois tipos16 procurando provar o seu argumento, como afirma
Armínio: "O apóstolo, então, prova que a palavra da promessa e da aliança
compreende somente os filhos da promessa, à exclusão dos filhos da carne, e isto por
um tipo duplo, um tomado da família de Abraão e o outro da família de
Isaque. Entretanto, duas coisas são pressupostas no argumento em ambos os casos,
apoiados pela autoridade do apóstolo, que deve ser considerada sagrada por nós. A
primeira, que Ismael e Isaque, e Esaú e Jacó, devem ser considerados, não em si
mesmos, mas como tipos naquelas passagens que ele apresenta. A outra, que eles
são tipos dos filhos da carne e da promessa 17 ". Ou seja, os filhos da Carne são
prefigurados na pessoa de Ismael e os Filhos da Aliança são prefigurados na pessoa
de Isaque. Ainda discorrendo sobre a importância da compreensão dos tipos na Figura
de Isaque e Ismael, Armínio ressalta:

15
Vailatti, Carlos Augusto; Jacó Armínio-Uma Análise de Romanos 9; Pág, 23-24.
16
A tipologia é um tipo especial de simbolismo. (Um símbolo é algo que representa outra
coisa.) Podemos definir um tipo como um "símbolo profético" porque todos os tipos são
representações de algo ainda futuro. Mais especificamente, um tipo nas Escrituras é uma
pessoa ou coisa no Antigo Testamento que prenuncia uma pessoa ou coisa no Novo
Testamento. A Tipologia Bíblica busca identificar, reconhecer e interpretar símbolos, tipos e
alegorias das Escrituras Sagradas. https://www.gotquestions.org/Portugues/tipologia-
biblica.html
17
Vailatti, Carlos Augusto; Jacó Armínio-Uma Análise de Romanos 9; Pág, 27.
12

"Dessas coisas que estão sendo pressupostas, a força do argumento do apóstolo


consiste na concordância entre os tipos e antítipos, [...] Mas deve-se observar que
esta concordância consiste, não em sua semelhança exata, mas em sua mútua
conexão e relação, sendo preservada a diferença adequada entre o tipo e o antítipo.
Dou esta advertência para que ninguém possa pensar que seja necessário que aquele
que representa os filhos da carne, deva ser ele mesmo um filho da carne, pelo modo
da mesma definição18".

Analisaremos a seguir, de forma mais detalhada, a continuação do Argumento do


Apóstolo Paulo.

18
Ibid. Pág, 28-29.
13

CAPÍTULO 2

E nem por serem descendentes de Abraão são todos seus filhos. Mas em
Isaque será chamada a sua descendência. Isto é, estes filhos de Deus não são
propriamente os da carne mas devem ser considerados como descendência os
filhos da promessa, Porque a palavra da promessa é esta: por esse tempo virei
e sara terá um filho (V:7-9)

Primeiro Tipo Utilizado Por Paulo

O apóstolo ao afirmar: ‘E nem por serem descendentes de Abraão são todos seus
filhos’, enfatiza que nenhum dos descendentes físicos de Abraão são
necessariamente herdeiros da promessa feita a este. Daniel Gouvêa salienta que o
versículo 7 “introduzido pelo uso da conjunção coordenada negativa (Nem por serem
descendentes[...]) é uma negativa ao pensamento de muitos dos Israelitas dos dias
de Paulo. Enquanto estes pensavam que estavam irrevogavelmente justificados no
mérito da descendência de Abraão (Jo 8:33-39), o apóstolo nega isso como no
versículo 6, porém, agora, com mais especificidade”19. Essa especificidade é notada
no uso do termo σπέρμα Ἀβραάμ (Gr: semente, filhos, descendência, prole) de
Abraão. Todavia, Paulo, na mesma perícope, explicita quem são os verdadeiros Filhos
de Abraão.

Quem São os Verdadeiros Filhos da Promessa?

Quando atentamos para a história que envolve os nascimentos de Isaque e Ismael


percebemos claramente a diferença dos acontecimentos que circundam os
nascimentos dos mesmos. Se por um lado o nascimento de Isaque foi extremamente
miraculoso e antecedido por uma promessa, por outro lado, percebemos a maneira
apressada e extremamente leviana e consequentemente carnal – Envolvendo o
esforço/obra humana – por de trás do nascimento de Ismael. Entretanto, em Gênesis
21:12 Deus deixou claro para Abraão que a sua ‘verdadeira’ descendência estaria em

19
Gouvêa, Daniel; A Soberania de Deus na Justificação: Uma abordagem Bíblica, Exegética
e Teológica de Romanos 9; pag, 70-71
14

Isaque e não em Ismael; ‘Mas em Isaque será chamada a tua descendência’. A


distinção entre os Filhos da Promessa-Filhos da Carne é realizada por Paulo, também
de forma explícita, no versículo de número 8 e é ressaltada já no início de tal perícope
através da expressão "Isto é, estes filhos de Deus"; tal expressão, (filhos de Deus),
"pode, sem dúvidas, indicar posse ou procedência, podendo ser entendido como "os
filhos que são de Deus e procedem de Deus"20. Paulo ao usar o termo ‘os filhos
da promessa’, evidencia o fato que o nascimento de Isaque é antecedido por uma
promessa realizada por Deus e desta ele deriva, “promessa aqui representa a
graciosa obra de Deus, feita para o homem, não porque o homem mereça ou tenha
se esforçado (ou possa herda por descendência física) alguma coisa de Deus, mas
porque Deus Simplesmente disse”21. Isto posto, “as promessas de Deus não têm
falhado, por que elas são baseadas em seu próprio chamado, e não segundo o
chamado, vontade e desejo humano”; Deus chama22 os da verdadeira linhagem de
Isaque e rejeita ou despede os da falsa (Ismael), Ou seja, de forma análoga, como
afirma Bornschein: “A promessa sempre está relacionada a com a “fé”, e nunca com
as obras”. Conclui-se logicamente que “Os filhos da promessa não são os simples
descendentes de Abraão, mas aqueles que creem em Jesus Cristo”23; Portanto, a
estes são direcionadas as bênçãos prometidas a Abraão, pois os tais foram chamados
pelo próprio Deus. O Apostolo com tal alegoria deixa bem claro que na história Deus
já chamou alguns e rejeitou outros descendentes físicos e legítimos de Abraão, e no
presente momento isso também estava ocorrendo, pois Paulo estava se dirigindo a
um coletivo de Judeus que estavam individualmente rejeitando o seu evangelho, e
certamente cada um era responsável por isso (Gouvêa, Daniel; A Soberania de Deus
na Justificação. pág, 73). Por outro lado, aquele coletivo de Judeus que estavam
individualmente atendendo ao chamado divino, estes eram os verdadeiros
Israelitas/Israel, estes eram os filhos da Promessa. Armínio Comentando sobre a
distinção que Paulo realiza concernente aos Filhos da Carne e aos Filhos da
Promessa, escreve:

20
Ibid. Pág, 73.
21
Robert Picirilli, Romanos. Pág, 177.
22
Grant Osborne afirma que a expressão "em Isaque será chamada"(v 7) não reflete apenas
o título pelo qual a prole de tal descendência seria chamada, antes, reflete o chamado do
próprio Deus.
23
Fred. R. Bornschein, A Oliveira Santa. Pág, 35.
15

"os filhos da carne são considerados pelo apóstolo, estranhos a aliança, e os filhos da
promessa são considerados participantes da aliança. [...] dos filhos da carne se diz,
neste lugar, pelo apóstolo, serem aqueles que, pelas obras da lei, resultam depois a
justiça e a salvação. Desta forma, também, o consequente é sustentado, sendo
deduzido de sua doutrina concernente à justificação e salvação pela fé em Cristo. Pois
não se segue, a partir disso, que alguns dos judeus são rejeitados, a não ser por esta
marca distintiva, ou seja, que eles não creem em Cristo, mas seguem após a justiça
da lei. Mas os filhos da promessa são aqueles que buscam a justiça e a salvação pela
fé em Cristo"24.

Através destes tipos, Paulo está procurando estabelecer a justificação pela Fé em


Cristo, procurando ressaltar a ligação entre Fé e promessa em detrimento as
obras/esforço humano já no livro de Gênesis25, e esse contraste é fortemente
declarado e estabelecido por toda a epístola de Romanos, especialmente no capítulo
426. Daniel Gouvêa ao comentar a primeira analogia de Paulo escreve:

"Então, em seu primeiro exemplo, Paulo demonstra que Deus era justo em rejeitar
descendentes de Abraão, como no caso de Isaque e Ismael. Também observamos
que existia um verdadeiro "Israel" dentro do Israel étnico, e o compromisso de Deus
sempre foi com estes verdadeiros Israelitas, ou seja, os da Promessa ou da
Fé (devemos lembrar que a fé está associada a tal promessa), e não com os da carne,
descendentes de Ismael (que fora notoriamente fruto de uma obra humana precipitada
e descrente da promessa feita por Javé no episódio da escrava Hagar)"27.

Por meio de silogismo de refutação, Armínio sintetiza este primeiro argumento do


Apóstolo da seguinte maneira:

"Assim, este argumento, ao refutar a objeção judaica, pode ser construído. – Se a


palavra de Deus compreende apenas os filhos da promessa, à exclusão dos filhos da

24
Vailatti, Carlos Augusto; Jacó Armínio-Uma Análise de Romanos 9; Pág, 24-25.
25
Bem sabemos que devido ao fato de Abraão ter crido na promessa que Deus realizou a
ele (Gênesis 15), isso lhe foi imputado para Justiça.
26
Romanos 4:1-5, 12, 14, 16, 24; 8: 16,17,21
27
Gouvêa, Daniel; A Soberania de Deus na Justificação: Uma abordagem Bíblica, Exegética
e Teológica de Romanos 9; Pág, 76.
16

carne, então segue-se que a palavra de Deus não falhou, mesmo se os filhos da carne
são rejeitados: ela, na verdade, teria falhado se a tivessem recebido aqueles que são
excluídos pela condição da aliança; – Mas a palavra de Deus compreende somente
os filhos da promessa, à exclusão dos filhos da carne; – Portanto, a palavra de Deus
não falhou, mesmo que os filhos da carne sejam rejeitados. Por consequência,
também, – A palavra de Deus não falhou, mesmo que a maioria dos judeus seja
rejeitada, desde que sejam abrangidos no número dos filhos da carne, e que eles são
incluídos deste modo é evidente a partir da descrição dos filhos da carne. Esta
descrição dos filhos da carne e da promessa é tão clara a partir das Escrituras, que
não necessita de mais discussão. Mas os fundamentos das provas podem ser
procurados a partir dos capítulos 4, 9 e 10 desta epístola e nos capítulos 3 e 4 da
Epístola aos Gálatas"28.

Segundo Tipo Utilizado por Paulo

E não ela somente, mas também, Rebecca, ao conceber de um só, Isaque,


nosso Pai. E ainda não eram gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem
ou o mal (para que o propósito de Deus, quanto a eleição, prevalecesse, não
por obras [Humanas], mas por aqueles que chama) (V: 10-11)

O versículo de número 10, é uma continuidade do pensamento do Apóstolo Paulo


originários nos versículos 7-9, “O uso da conjunção continuativa grega [...] (E) na
expressão [...] (e não comente [Ela/Isto]) obviamente sugere continuidade de
pensamento[...]”29. Portanto, de forma inequívoca, o Apóstolo Paulo continua a
desenvolver a mesma linha argumentativa dos versículos anteriores – Deus não é
injusto na presente rejeição de Israel, pois ele nunca prometeu salva todos os
Israelitas na base da descendência física de Abraão – se utilizando, agora, de outro
Tipo; “Os Judeus de fato criam que, por direito de nascimento e como povo de Deus
incontestável e incondicionalmente, seriam salvos. Por isso, há tensão aqui com o

28
Vailatti, Carlos Augusto; Jacó Armínio-Uma Análise de Romanos 9; Pág, 25-26
29
Gouvêa, Daniel; A Soberania de Deus na Justificação: Uma abordagem Bíblica, Exegética
e Teológica de Romanos 9; Pág, 78.
17

evangelho que Paulo pregava, pois a justificação que os judeus pensavam ter por
méritos – cumprimento da lei – e descendência física não era possível, senão pela fé
em Cristo"30. No decorrer da perícope supracitada percebemos a grande capacidade
argumentativa de Paulo, pois o mesmo demonstra conhecimento quanto ao fato que
os Judeus poderiam concordar com ele concernente a rejeição de Ismael, e até
considerá-la como Justa, pois o mesmo não era da descendência da promessa como
Isaque; entretanto, Paulo com o segundo tipo, busca evidenciar que até mesmo Esaú,
sendo filho de Isaque, e da mesma concepção, fora Rejeitado por Deus. O Apóstolo
ao fazer uso da expressão (ao conceber de um só) “refere-se à ideia de uma
concepção única. Isso assinala novamente que Jacó e Esaú são filhos dos mesmos
pais e até da mesma concepção, e, ainda assim, um foi escolhido e outro
rejeitado. Assim sendo, Paulo [...] está asseverando de uma vez, por meio deste
exemplo, que [...] (nem todos os de Israel são de fato Israelitas), ou seja, ser
descendente físico de Abraão não garante a justificação, pois não somente Ismael
(que era filho da escrava) fora rejeitado, mas também Esaú (que era filho de Isaque e
Rebecca) como Jacó o fora"31. Portanto, “[...] Paulo usa o segundo exemplo/Tipo
demonstrando que até mesmo descendentes de Isaque, que eram tipicamente da
aliança abraâmica, foram rejeitados como no caso de Esaú e Jacó, em que ambos
era filhos do mesmo Pai” 32; Armínio reafirma esses pontos no seu comentário
escrevendo o seguinte:

“Os judeus poderiam objetar contra o primeiro tipo, que não é de se admirar que
Ismael, sendo rejeitado, Isaque deveria ser adotado como um filho de Deus, tanto
porque Ismael era o filho de uma mulher escrava e Isaque da mulher livre, como
porque, antes de Deus ter anunciado a palavra da promessa a sara, Ismael havia
nascido e poderia ter cometido aquelas coisas que o tornaram indigno daquela honra
e felicidade. O apóstolo reúne estas objeções, e responde à primeira, que, no caso de
Esaú e Jacó, as circunstâncias eram inteiramente diferentes, visto que ambos tinham
o mesmo pai e a mesma mãe e nasceram do mesmo parto”33.

30
Ibid.
31
Gouvêa, Daniel; A Soberania de Deus na Justificação: Uma abordagem Bíblica, Exegética
e Teológica de Romanos 9; Pág, 77.
32
Ibid.
33
Vailatti, Carlos Augusto; Jacó Armínio-Uma Análise de Romanos 9; Pág, 33.
18

Concernente a essa realidade, Paulo se faz uso da expressão “ainda não


eram gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal” para ressaltar que o
propósito de Deus quanto a eleição é baseado em seu próprio chamado e não em
obras ou mérito próprio, da mesma forma a salvação não é por obras ou mérito
próprio, e sim, pela Fé; Robert Picirilli comenta:

“São unânimes as declarações da Bíblia de que a salvação não é pelas obras. Mas,
segue-se que a Bíblia não diz que a salvação é por nada! O que a Bíblia diz é que a
salvação é pela Fé”34.

Armínio escreve:

"Ele – Deus – tinha formado em Sua própria mente, desde a eternidade, um propósito
de comunicar justiça e salvação, não alguém que devesse abranger toda a
posteridade de Abraão universalmente, mas que deve estar de acordo com a eleição,
pela qual Ele distinguiria entre estes e aqueles, não considerados simplesmente em
sua própria natureza, como puro e corrupto, mas no que diz respeito à condição, pela
qual a justiça e a salvação fossem aplicadas, como o apóstolo mostra nas seguintes
palavras – que este propósito, de acordo com a eleição, permanecesse firme não
pelas obras, mas por aquele que chama, em cujas palavras está contida uma
descrição dos antítipos, que antes haviam sido dados nas frases “filhos da carne” e
“filhos da promessa [...] a partir dessa ideia, parece-me perceptível a razão pela qual
Deus colocou a condição do pacto da graça, não em uma perfeita obediência à lei,
como previamente visto, mas na fé em Cristo”35.

Armínio Continua:

“Se o propósito, de acordo com a eleição, permanece, não pelas obras, mas por
Aquele que chama, então segue-se que aqueles que buscam a justiça e a salvação a
partir das obras da lei, e pela lei, não são incluídos naquele propósito, mas apenas
aqueles que pela fé obedecem a Deus, são prometidos e chamados; – Mas o

34
Robert Picirrili, Romans, p. 178.
35
Vailatti, Carlos Augusto; Jacó Armínio-Uma Análise de Romanos 9; Pág, 35-36.
19

propósito, de acordo com a eleição, permanece, não pelas obras, mas por Aquele que
chama; – Portanto, nesse propósito, eles não são abrangidos, os que são da lei, mas
apenas aqueles que são da fé em Jesus Cristo”36.

Já fora dito a ela: O mais velho será servo do mais moço (V 12)

Quanto a profecia contida em Gênesis 25:23 e citada pelo apóstolo Paulo no versículo
de número 12, Deus se referia aos descendentes tanto de Esaú como de Jacó e as
respectivas nações que originaria dos filhos destes, sendo elas: Edom (Nação que
surgiu a partir dos descendentes de Esaú) e Israel (Nação que surgiu a partir dos
descendentes de Jacó). Portanto, Jacó representava a nação de Israel e Esaú a nação
de Edom, ao mesmo tempo essa profecia possuía uma segunda referência: ‘Jacó
tipificava os Filhos da promessa e Esaú os filhos da Carne’. Daniel Gouvêa
comentando sobre o versículo 12, afirma:

“Entendemos que Paulo está usando este exemplo de dois indivíduos para
demonstrar sua tese de que não é o direito de nascimento que determina o destino de
todo descendente de Abraão, como pensava os Judeus. Em suma, podemos dizer
que enquanto Judeus acreditavam que a salvação de todo povo judeu estava
irrevogavelmente garantida na base dos méritos e da descendência abraâmica, Paulo
usa o conhecido e aceito exemplo da rejeição de Esaú para tornar irrefutável o fato de
que os Judeus podem ser rejeitados e que a salvação destes não era corporativa
[baseado na descendência física], mas, antes, individual”37.

Dessarte, o versículo 12 reafirma que a escolha de Deus se deu antes de qualquer


obra realizada pelos irmãos. Deus, segundo a sua vontade, desígnios e projeto,
escolheu que as promessas Abraâmicas se cumpririam na descendência de Jacó, por
conseguinte, Esaú fora Rejeitado. É importante frisarmos a latente semelhança e
repetição das ações entre Abraão e Jacó relacionada as suas tentativas e esforços
em fazer cumprir aquilo que Deus havia prometido, como também as consequências
de tais atos levianos e irresponsáveis. Ao observamos todo o desenrolar da vida de

36
Ibid. Pág, 39.
37
Gouvêa, Daniel; A Soberania de Deus na Justificação: Uma abordagem Bíblica, Exegética
e Teológica de Romanos 9; Pág, 81 (acréscimo nosso).
20

Jacó, percebemos que constantemente por meio de suas obras e conforme a sua
vontade tentou fazer cumprir aquilo que Deus tinha prometido à sua mãe: "O mais
velho será servo do mais moço"; tais ações resultaram em resultados
extremamente danosos para a vida de Jacó – principalmente na sua relação com o
seu irmão Esaú. Assim como a promessa realizada por Deus à Abrão não estava
relacionada com algum tipo de esforço humano ou mérito, mas apenas de acordo com
a vontade daquele que prometeu, da mesma forma a promessa feita à Rebecca
concernente ao cumprimento das bênçãos Abraâmicas na vida de Jacó não estava
relacionada a obra alguma que ele – Jacó – realizasse ou a algum mérito que
possuísse, mas sim, apenas, com a vontade de Deus, conforme os seus desígnios e
projetos. Jacó compreendeu tudo isso no vale de Jaboque, após Deus ter o ferido na
coxa; Ao toca-lo, deixara um sinal com fins didáticos para Jacó, e através deste sinal,
que o seguiria para o resto da sua vida, fazia Jacó entender que toda a sua vida de
esforço pessoal e até mesmo a sua resistência a Deus concernente a necessidade de
depositar a sua fé nele quanto ao cumprimento das suas promessas, deveriam cessar.
Jacó, mesmo sendo herdeiro das promessas que fora realizada à Abrão, lutou e
buscou alcança-las através de mérito, força e astúcia própria. Ao ficar incapacitado, a
partir de então, ele deveria recorrer apenas a armas espirituais, a oração, e a vontade
de Deus afim de obter tais bênçãos; "sua força foi quebrada para que nele se
manifestasse o poder de Deus". As promessas de Deus realizadas à Abrão como
também à Jacó, estavam relacionadas a Fé em Deus quanto ao cumprimento, e não
as obras ou méritos. Mais uma vez, mediante esse tipo utilizado por Paulo,
percebemos a Justificação pela Fé sendo evidenciada. Assim como a promessa está
ligada a fé em Deus quanto ao seu cumprimento e não ao mérito humano ou obras,
da mesma forma a Salvação está ligada a Fé em Cristo, e não ao mérito, obras ou
descendência Física, como os Judeus assim pensavam.

Como está escrito: amei a Jacó, porém me aborreci de Esaú (V: 13)

Existe um grande debate concernente aplicação correta da expressão


“me aborreci (Gr: ἐμίσησα) de Esaú” tendo em vista os seus possíveis
significados: Detestar, Odiar, Rejeitar, desprezar, amar/estimar menos. Apesar de
muitos interpretes arminianos aplicarem em seus comentários o último significado
listado, Daniel Gouvêa entende que não se faz necessário qualquer suavização da
21

expressão “μισέω”, pois tal suavização não concorda com o texto de Malaquias – o
Apóstolo Paulo ao se utilizar da expressão: “Como está escrito: amei a Jacó, porém
me aborreci de Esaú”, está fazendo referência ao cumprimento e Julgamento de
Deus aplicado aos Edomitas, conforme Malaquias 1:1-4 – muito menos com o de
Romanos. Ele – Daniel Gouvêa – leva em consideração o fato que “ao contemplarmos
textos como Amós 1:11-12 e Obadias 1-14, que mencionam em que base se deu o
julgamento de Deus sobre Edom, observamos que o ódio de Deus é contra o pecado
de Edom, e isso concorda muito bem com o caráter santo de Deus, que odeia e pune
o pecado, como é citado no próprio texto de Rm 1:18 a 2:1”38. Não obstante, sendo
Esaú e Jacó tipos, como já fora supracitado, Armínio escreve:

"Esaú, o mais velho, é o tipo de todos aqueles que buscam a justificação e a salvação
pelas obras da lei; – Portanto, todos aqueles que buscam a salvação pelas obras da
lei, estão condenados à servidão e são odiados por Deus. Mais uma vez, – Jacó, o
mais jovem, obteve domínio sobre seu irmão, e foi amado por Deus; – Jacó, o mais
jovem, é o tipo de todos aqueles que, de acordo com a graça da vocação, pela fé
buscam a justificação. Portanto, aqueles que, de acordo com a graça da vocação, pela
fé buscam a justificação, obtêm domínio, e são amados por Deus”39.

No que diz respeito a explicação do Tipo e a sua correlação com o Antítipo 40 Armínio
salienta:

“Os judeus que não creriam em Cristo – antítipo – foram representados por Esaú –
tipo – o mais velho, que estavam buscando, em seu zelo pela lei, a justificação e a

38
Ibid. Pág, 82.
39
Vailatti, Carlos Augusto; Jacó Armínio-Uma Análise de Romanos 9; Pág, 41-42.
40
Armínio respondendo quanto ao fato de Isaque, Jacó, Ismael e Esaú serem tipos nas
escrituras como também a explicação e aplicação realizada por Paulo, ele escreve: "se
alguém inquirir, "Por que Deus deseja que Ismael e Esaú sejam tipos dos filhos da carne, mas
Isaque e Jacó, os tipos dos filhos da promessa?”, eu respondo – Porque era adequado por
causa da relevância e da concordância entre o tipo e o antítipo; em relação ao primeiro tipo,
de que aquele que nasceu da mulher escrava e da carne deveria ser o tipo dos filhos da carne,
mas que aquele que nasceu da mulher livre e da promessa, quando a carne, agora, havia se
tornado infrutífera, deveria ser o tipo dos filhos da promessa; mas em relação a este último
tipo, que aquele que nasceu primeiro, deveria prefigurar os filhos da carne e que aquele que
nasceu por último, os filhos da promessa. A razão será manifesta àqueles que consideram o
acordo entre tipos e antítipos". (Vailatti, Carlos Augusto; Jacó Armínio-Uma Análise de
Romanos 9; Pág, 48-49).
22

vida pela lei, e que, por Jacó – Tipo – o mais jovem, foram representados
aqueles Judeus – Antítipo – que buscavam as mesmas coisas pela fé em Cristo”41.

Daniel Gouvêa conclui seu comentário sobre o versículo de número 13 afirmando o


seguinte:

“O que de fato se pode observar aqui é que Deus escolheu um grupo sobre o outro,
ou seja, em Gênesis e Malaquias, ele aceitou Israel (descendentes de Jacó), e rejeitou
Edom (descendentes de Esaú), enquanto aqui em Romanos, Deus escolhe os crentes
e rejeita os incrédulos dentre os Israelitas”42.

Armínio sabendo das inferências calvinistas em suas interpretações concernente a tal


perícope ele escreve:

“Por isso, é evidente que a questão não se refere apenas à rejeição de alguns e a
aceitação de outros, mas à rejeição ou aceitação daqueles que possuem certas
características, isto é, aqueles distinguidos por certas qualidades. Por isso, o apóstolo,
aqui, não trata do decreto ou do divino propósito pelo qual alguns são eleitos e outros
são reprovados, considerados absolutamente em sua própria natureza, seja pura ou
corrompida; mas trata de um propósito tal que inclui aquela descrição de eleger e
reprovar, que é aqui claramente observada naquele propósito pelo apóstolo”43.

41
Ibid. Pág, 41-42 (acréscimo nosso).
42
Gouvêa, Daniel; A Soberania de Deus na Justificação: Uma abordagem Bíblica, Exegética
e Teológica de Romanos 9; Pág, 82.
43
Vailatti, Carlos Augusto; Jacó Armínio-Uma Análise de Romanos 9; Pág, 43-44.
23

CAPÍTULO 3

Que diremos, pois? A Injustiça da parte de Deus? De modo nenhum! (V:14)

Paulo antes mesmo de lançar qualquer argumento mostrando que não havia injustiça
da parte de Deus, “após estabelecer o fato de que Deus escolhe ou rejeita na base do
seu próprio chamado, e não na base de mérito ou descendência Abraâmica, como
firmemente acreditavam os judeus”44, antecipa um afervorado Não! "De modo
nenhum! (Gr: μὴ γένοιτο)". A objeção levantada pelos Judeus se seguiria a partir,
segundo Armínio, dos exatos antecedentes:

“Deus, na palavra da aliança e no propósito, que é de acordo com a eleição, abrangeu


somente aqueles que poderiam ser filhos da promessa, que deveriam crer em Cristo,
à exclusão dos filhos da carne e De onde segue “que aqueles dos judeus foram
rejeitados, os que em seu zelo pela justiça da lei, não creram em Cristo, e, além disso,
que aqueles dos gentios que buscavam uma participação na justificação e salvação
pela fé em Cristo, foram recebidos na aliança. [...] Assim sendo, Se Deus odeia os
filhos da carne e os exclui da aliança, mas ama os filhos da promessa, e os conta na
descendência, abrangendo-os na aliança, e isto, de fato, de Seu mero propósito, sem
consideração às obras, então segue-se que Ele é injusto”45.

Essa ‘aparente’ Injustiça de Deus poderia ser enfatiza pelos Judeus 46 pelo motivo de
que de acordo com o seu decreto e conforme o beneplácito da sua vontade quis que
assim fosse sem qualquer referência ao mérito/obras humano. Entretanto, o Apóstolo
Paulo nega tal inferência de forma imediata procurando enfatizar, segundo Armínio,
que “não devemos de modo algum admitir o pensamento de que há injustiça em Deus,
que é justo em si mesmo, e, realmente, é a justiça essencial, e que não faz e nem

44
Gouvêa, Daniel; A Soberania de Deus na Justificação: Uma abordagem Bíblica, Exegética
e Teológica de Romanos 9; Pág, 85
45
Vailatti, Carlos Augusto; Jacó Armínio-Uma Análise de Romanos 9; Pág, 50-51
46
De acordo com Daniel Gouvêa, Paulo faz uso do futuro deliberativo Τί οὖν ἐροῦμεν (Que
diremos, pois [...]) para esclarecer um potencial mal-entendido (Ibid. pág, 85).
24

pode fazer nada, a menos que a maioria concorde perfeitamente com a Sua
natureza”47. Portanto, o cerne da questão não está estritamente correlacionado ou
ligado ao tema da fidelidade de Deus para com o povo de Israel, mas antes a
fidelidade do próprio carácter e pessoa de Deus48. A razão da negação enfática
realizada por Paulo a conclusão da objeção dos Judeus – Há injustiça da Parte de
Deus – é dupla; “primeira, a partir da liberdade da misericórdia divina; segunda, a
partir da devida demonstração do divino poder e glória” (Vailatti, Carlos Augusto; Jacó
Armínio - Uma Análise de Romanos 9; pag, 52).

Pois ele diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia
e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão. Assim, pois, não
depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua
misericórdia. (V: 15-16).

Ao fazer referência a passagem que consta em Gn 33:19, Paulo se faz uso do


presente perfectivo (Pois ele Diz a Moises) com o intuito de demonstrar que apesar
do contexto temporal da referência – ocorreu no passado – ainda falava plenamente
ao ouvinte de seus dias. Segundo Armínio, “Nestas palavras está expressa, de acordo
com o idioma hebraico, esta ideia: ‘Na escolha e na liberdade da minha vontade está
localizado o poder de ter misericórdia de quem Eu quiser”: como também é indicado
pela dedução”, Portanto, Ele tem misericórdia de quem Ele quiser ter misericórdia”
(versículo 18)”49. Picirrili corrobora com o entendimento de Armínio ao escrever:

“Em outras palavras, ele – Deus – desejava deixar claramente estabelecido que nem
Moisés, nem Israel, tinha alguma reivindicação especial sobre si que tirasse o

47
Vailatti, Carlos Augusto; Jacó Armínio-Uma Análise de Romanos 9; Pág, 53.
48
Armínio ao desenvolver a sua soteriologia sempre se preocupou em preservar o carácter
de Deus acima de tudo. Portanto, o cerne do Arminianismo de hipótese alguma é o livre-
arbítrio como alguns tem afirmado. https://lucasamaciel.blogspot.com/2019/04/o-cerne-do-
arminianismo-e-o-livre.html
49
Ibid. Pág, 53.
25

soberano desejo de Deus de Agir como ele Escolhe. Nem vai Ele mostrar misericórdia
para com todos eles só porque são israelitas na carne"50.

Portando, a eleição de Deus está ancorada na sua misericórdia, e diferentemente do


que alguns Calvinistas afirmam, a mesma não está ancorada em alguma vontade
oculta não qualificada. Deus ele não é Injusto, pois ele age conforme a sua livre-
misericórdia, essa é a primeira base utilizada por Paulo e salientada por Armínio.
Paulo faz uso da palavra ‘misericórdia’ para englobar todo o peso de sua refutação
pois a mesma pressupõe o estado de miséria e pecado do homem e a sua completa
inabilidade em guardar a lei “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de
Deus” (Rm 3:24), como também ao fato de que Deus poderia ter punido o homem de
acordo com a sua completa rebeldia e desobediência, contudo como ressalta Armínio:

“Era necessário que a misericórdia devesse intervir, a qual deveria perdoar o pecado
e organizar uma condição que Ele pode, pelo auxílio da própria misericórdia, ser capaz
de executar. O apóstolo afirma que Deus formou dentro de Si mesmo um propósito
deste caráter, e isto de Sua mera misericórdia, que era livre (ainda que sob a
orientação da justiça) para determinar sobre quem Ele poderia querer ter misericórdia
e sobre quem Ele poderia querer não ter misericórdia; a quem Ele poderia querer
tornar participante da justificação e da vida, e a quem excluir das mesmas bênçãos” 51.

Assim sendo, a eleição de Deus deriva de sua misericórdia e compaixão; Não


obstante, a misericórdia de Deus é livre, porém não arbitrária. Por isso no versículo
16 lemos: “Assim, pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de
usar Deus a sua misericórdia”. Ou seja, “Ele determinou receber os filhos da
promessa na aliança, e excluir dela os filhos da carne, e pelo qual Ele propôs que
deve permanecer “não das obras, mas por Aquele que chama” não pode ser acusado
de injustiça; porque Ele foi movido pela misericórdia apenas. Ele estabeleceu esse
decreto em Sua própria mente. Deus poderia, portanto, ser injusto, se Ele privasse

50
Robert Picirilli, Romans, Pág. 183.
51
Vailatti, Carlos Augusto; Jacó Armínio-Uma Análise de Romanos 9; Pág, 55.
26

alguém da justificação e da vida, ou se Ele exigisse uma condição contrária a aliança


firmada na criação.”52. Armínio resume todo este argumento de Paulo da seguinte
maneira:

“Toda esta questão poderia ser tratada silogisticamente: – Se o propósito de Deus


de Acordo com a eleição para rejeitar os filhos da carne, mas considerar como
descendência, os filhos da promessa, tem como sua causa apenas a misericórdia e a
compaixão de Deus; então, segue-se que Deus não pode, de maneira nenhuma, por
esse motivo, ser acusado de injustiça; – Mas a causa desse propósito é a misericórdia
de Deus apenas; – Portanto, Deus não pode, por conta disso, ser acusado de
injustiça”53.

Comentando sobre o versículo 16, Armínio escreve:

“Quando a vontade e o curso dos homens se opõem à misericórdia de Deus, é


certo que a referência seja ao esforço e ao curso de um homem, pelos quais ele
espera que obterá justificação e salvação à parte da misericórdia de Deus. Tal, no
entanto, é o esforço e o curso daqueles que buscam a justificação e a salvação pelas
obras da lei. Quando, também, a misericórdia é, por outro lado, colocada em oposição
à vontade e curso dos homens, é evidente que a condição da justificação e da vida,
que é a que mais se aproxima em relação à misericórdia, a saber, a fé em Cristo, o
Mediador, é ordenada, sendo a outra oposta à misericórdia”54.

Diante da perícope supracitada, vem em mente a seguinte pergunta: De quem Deus


tem misericórdia e compaixão? Daniel Gouvêa de forma extremamente perspicaz
responde:

52
Ibid. pág, 55-56
53
Ibid. pág, 57.
54
Ibid. pág, 58.
27

"Embora a ênfase desse versículo seja na livre misericórdia de Deus, sabe-se que nos
versos 30-33 e no capítulo 10:1-21, e por toda a carta de Romanos, bem como
diversos trechos das Escrituras, Deus dispensa sua misericórdia a todos que têm fé
em Jesus Cristo, ou seja, Deus é soberano para salvar ou condenar quem ele deseja;
e ele desejou salvar o que tinham fé em Jesus e condenar os que não tinham (o que
era o caso dos judeus a quem Paulo tinha em mente ao escrever Rm 9)"55.

Paulo com isso conclui a primeira base da sua refutação concernente a conclusão da
objeção dos Judeus, afirmando a liberdade da misericórdia de Deus.

Porque diz a Escritura a Faraó: Para isto mesmo te levantei; para em ti mostrar
o meu poder, e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra. (V:17)

Nos versículos comentados anteriormente (V:15-16), claramente percebemos a


ênfase positiva na misericórdia de Deus, entretanto, neste segundo exemplo, o de
Faraó, a ênfase é dada ao Juízo de Deus, sendo ela negativa. “De fato, enquanto a
misericórdia é um atributo do carácter de Deus que dispensa a todos que ele deseja,
endurecimento é um Juízo de Deus aos que resistem a sua misericórdia (V:17-18)56.
O exemplo de Faraó utilizado por Paulo, procura demonstrar o divino poder e glória
de Deus sobre quem ele não quer ter misericórdia. Armínio procurando esclarecer os
propósitos argumentativos de Paulo ao utilizar desse exemplo comenta:

“Se Deus é livre, pois a simples declaração de Seu próprio poder e a demonstração
de Seu próprio nome, levanta, endurece e pune ao Faraó, então injustiça não pode
ser atribuída a Deus, porque em Seu propósito de acordo com a eleição, Ele decreta
demonstrar Seu próprio poder e glória no justo endurecimento e punição dos filhos da
carne; – Mas Deus era livre para fazer o primeiro, como é evidente desta passagem;

55
Gouvêa, Daniel; A Soberania de Deus na Justificação: Uma abordagem Bíblica, Exegética
e Teológica de Romanos 9; Pág, 89.
56
Ibid. Pág, 90
28

– Portanto, Ele também é livre para fazer o último, e, assim, Ele não pode, por esse
motivo, ser acusado de injustiça”57.

Ao lermos Êx 9:14-16, perceberemos de forma nítida que devido iniquidade de Faraó


como também do seu povo, Deus falou para Moisés que poderia ter estendido a mão
para ferir /castigar a ambos. Devido aos pecados de Faraó e do seu povo, ele poderia
não apenas os ferir/castigá-los, mas também cortá-los (Hb: apagar, destruir,
eliminar) da Terra. Não obstante, Deus, através de Faraó, conforme o seu propósito
e de acordo com a eleição, decidiu em primeiro lugar, demonstrar o seu poder e em
segundo lugar, fazer conhecido o seu nome em toda a terra “[...] para isso te hei
mantido, a fim de mostrar-te o meu poder, e para que seja o meu nome
anunciado em toda a terra” (Ex 9:16); é importante salientarmos que o poder a qual
Deus procurava mostrar para Faraó possuía uma dupla característica: poder para
salvar e poder para julgar. "[...] no episódio de Êxodo, Deus, com o seu poder, salvou
o seu povo e com o mesmo poder condenou Faraó (Grant Osborne). Paulo faz
referência a esse aspecto duplo do poder de Deus com relação aos crentes e aos
incrédulos nos Capítulos 1 e 2 de Romanos, Grant Osborne escreve “Também em
Romanos, o poder de Deus salva os da fé (Rm 1:16), e o mesmo poder condena os
incrédulos ou resistentes” (Grant Osborne, Commentary of Romans, p. 250). Quanto
ao segundo aspecto do propósito que Deus possuía “para que o meu nome anunciado
em toda a terra”, Daniel Gouvêa afirma:

“Em várias ocasiões no AT, percebe-se a repercussão que o episódio do Êxodo e das
pragas tiveram no mundo de então. Isso pode ser visto, por exemplo, no capítulo nove
do livro de Josué, quando os gibionitas fazem menção aos episódios do Egito perante
Josué: “Teus servos vieram de uma terra mui distante, por causa do nome do Senhor
teu Deus; porquanto ouvimos falar da sua fama e de tudo quanto fez no Egito” (Js
9:9)”58.

57
Vailatti, Carlos Augusto; Jacó Armínio-Uma Análise de Romanos 9; Pág, 59-60.
58
Gouvêa, Daniel; A Soberania de Deus na Justificação: Uma abordagem Bíblica, Exegética
e Teológica de Romanos 9; Pág, 90-91.
29

Portanto, Paulo procurava estabelecer aos seus leitores que se por um lado o poder
salvífico de Deus era demonstrado no presente momento aos que por meio da fé criam
em Cristo, por outro lado, o poder e consequentemente a autoridade de Julgar e
condenar os incrédulos também era evidenciado, e não apenas isso, pelo fato dos
Judeus estarem rejeitando o evangelho, isso levou a proclamação desse mesmo
evangelho através do mundo.

Logo, tem Ele misericórdia de quem quer e também endurece a quem lhe apraz
(V:18)

Armínio deixa bem claro que Deus era livre para demonstrar o seu poder e a glória do
seu nome na justa punição de toda e qualquer pessoa, como também fazer isso de
acordo com qualquer propósito, na condenação daqueles que por cuja justa
condenação ele pode querer declarar o seu próprio poder e a glória do seu nome,
entretanto, conforme Armínio frisa:

“Se Deus pode ter misericórdia de quem Ele quer e endurecer a quem Ele quer, então
Ele também é livre para formar um propósito de acordo com a eleição, pela qual Ele
pode determinar ter misericórdia dos filhos da promessa, mas endurecer e punir os
filhos da carne; – Mas Deus pode ter misericórdia de quem Ele quer e endurecer a
quem Ele quer; – Portanto, Ele é livre para fazer um decreto, de acordo com a eleição,
pelo qual Ele pode determinar ter misericórdia sobre os filhos da promessa, mas
endurecer e punir os filhos da carne. Por consequência, também, se Ele deve fazer
isso que Ele é livre para fazer, Ele não pode, merecidamente, em absoluto, ser
acusado de injustiça”59.

Logo, conforme o seu propósito de acordo com a eleição, Deus tem misericórdia de
quem quer (os Crentes) e endurece a quem lhe apraz (Incrédulos). Essa afirmação

59
Vailatti, Carlos Augusto; Jacó Armínio-Uma Análise de Romanos 9; Pág, 61-62.
30

é baseada de acordo com a revelação das Escrituras: Dt 5:9-10; 7:9-10; 30:15-18;


30:20; 1 Sm 2:30; Sl 18:25; 34:18; 51:17; Pv 8:17; Is 57:15; Rm 1: 20-32; Fl 1:28; 2
Tm 2:11. Ademais, conforme Daniel Gouvêa comenta: "É importante lembrar que
Deus tinha um propósito bem definido do endurecimento do ímpio Faraó, isto é,
demonstrar a singularidade de sua onipotência sobre o Egito; fazer dos seus atos um
memorial para Israel e as posteriores gerações, e trazer glória ao seu nome. Esses
propósitos são semelhantes a mensagem de Romanos 9, pois, observando o contexto
maior de Rm 9-11, percebe-se que Deus tem misericórdia daqueles que retornam a
fé, e endurece os que se recusam a fazer isso" (Gouvêa, Daniel; A Soberania de Deus
na Justificação: Uma abordagem Bíblica, Exegética e Teológica de Romanos 9; Pág,
94).

Considerações quanto ao Endurecimento de Faraó

No protestantismo duas correntes soteriológicas60 são as que mais possuem adeptos,


sendo elas: Arminianismo e Calvinismo. Todo o Capítulo 9 de Romanos ocasionou e
continua causando, ao longo da história, grandes debates entre os Teólogos e
principalmente entre os adeptos das correntes soteriológicas citadas anteriormente, e
em especialmente, a perícope supracitada - versículo 18. Como o nosso foco é apenas
apresentar uma interpretação Arminiana de Romanos 9, não estaremos expondo
quaisquer Interpretação Calvinista de tal perícope – apesar que creio que muitos dos
leitores as conhecem – assim sendo, seguiremos com as nossas considerações.

É de suma importância destacarmos inicialmente que as palavras da


raiz “endurecer”, na teologia Bíblica, dizem respeito a um estado de completa
obstinação espiritual, tipifica alguém insensível a Deus, a sua palavra e sua obra, ou
seja, tudo aquilo que diz respeito a Deus e o que se relaciona com ele. Portanto, Morris

60
As correntes soteriológicas na Teologia não se limita, meramente, ao Arminianismo e
Calvinismo. Podemos destacar algumas outras, como por exemplo: Pelagianismo,
Agostinianismo, Semi-Pelagianismo/Semi-Agostianianismo, Tomismo e Molinismo (Convém
salientar que cada uma dessas correntes – Até mesmo o Arminianismo e Calvinismo – possui
ramificações que lidam com divergências internas).
31

afirma que em nenhum lugar da Bíblia – é possível afirmar que Deus tenha endurecido
alguém que anteriormente já não tenha endurecido a si mesmo. Partido desse
pressuposto é importante notarmos que concernente ao endurecimento do coração
de Faraó, “Cinco vezes é dito dele que ele mesmo endureceu, ou tornou pesado seu
coração (Êx 7.13; 7.22; 8.15; 8.32; 9.7), antes da vez quando é finalmente dito que
Deus o endureceu (Êx 9.12), e mesmo depois disso é dito que ele endureceu a si
mesmo (Êx 9.34). Assim ele inicialmente fechou seu próprio coração aos apelos de
Deus; ficou mais firme pela resistência obstinada sob os julgamentos de Deus, até
que finalmente Deus, como punição por sua rejeição obstinada do direito, entregou-o
à sua louca insensatez e afastou seu julgamento”61. Isso significa dizer que Deus
endurece o coração não de forma inicial, direta, contra o livre-arbítrio da pessoa e
consequentemente como sua causa, mas subsequentemente, indiretamente, por
meio do próprio livre-arbítrio do homem e como seu efeito; portanto, conforme salienta
Murray, “o endurecimento de Faraó, [...], reveste-se de caráter judicial. Pressupõe a
entrega ao mal e, no caso de Faraó, particularmente à entrega ao mal de seu auto-
endurecimento”62. Esta entrega da parte de Deus é afirmada por Paulo quando ele
escreve: “Por isso também Deus os entregou às concupiscências de seus corações,
à imundícia, para desonrarem seus corpos entre si [...] Por isso Deus
os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso
natural, no contrário à natureza” (Rm 1:24,26). O endurecimento realizado por Deus
expressa a divina resposta diante da persistente obstinação humana contra ele, e
assim é o entendimento de Lucas quando ele escreve tratando sobre a estadia de
Paulo em Éfeso na qual ao longo três meses frequentou a sinagoga onde falava
ousadamente dissertando e persuadindo com respeito ao reino de Deus: "Visto que
alguns deles se mostravam endurecidos e descrentes, falando mal do caminho
diante da multidão, Paulo, apartando-se deles, separou os discípulos, passando a
discorrer diariamente na escola de tirano (At 19:9). Em outro momento Lucas
discorrendo sobre a estadia de Paulo em Roma e a sua disputa com alguns Judeus
que ali residia, ele afirmou:

61
B. W. Johnson, The People’s New Testament.
62
John Murray, Romanos, 1ª edição (São José dos Campos: Editora Fiel, 2003), p. 391.
32

“E alguns criam no que se dizia; outros, porém, continuaram incrédulos. E, havendo


discordância entre eles, despediram-se, dizendo Paulo esta palavra: Bem falou o
Espírito Santo a nossos pais pelo profeta Isaías, Dizendo: Vai a este povo, e dize: De
ouvido ouvireis, e de maneira nenhuma entendereis; E, vendo vereis, e de maneira
nenhuma percebereis. Porquanto o coração deste povo está endurecido, e com os
ouvidos ouviram pesadamente, e fecharam os olhos, para que nunca com os olhos
vejam, nem com os ouvidos ouçam, nem do coração entendam, E se convertam, E eu
os cure” (At 28:25-27).

Como ressalta Douglas J. Moo, “endurecimento de Deus não faz, então, causar
insensibilidade espiritual para as coisas de Deus, mas mantém as pessoas no estado
de pecado que as caracteriza”63, assim sendo, conforme Daniel Gouvêa, a palavra
“”Endurecer” no corpus Paulinus [...] denota inflexibilidade e insensibilidade para com
o evangelho, que impedem as pessoas de serem salvas (Rm 2:5; 11:7; 2Co 3:14; Ef
4:18)”. Sabendo disso, o endurecimento de faraó foi um ato completamente Justo da
punição de Deus “Faraó não tinha um bom coração disposto a deixar livremente que
os israelitas fugissem. Deus respeitou o livre-arbítrio do Faraó e o entregou a esta
condição. Faraó já era orgulhoso, soberbo e ímpio muito antes de Moisés e Arão
começarem toda a história. Foram as suas escolhas que o levaram a isso, e não “o
conselho secreto de Deus”. Deus não faz o homem ímpio; o próprio homem que se
faz ímpio (Ec.7:29) Deus nunca agiu contrário ao livre-arbítrio do
Faraó”64. Pretendemos com isso deixar estabelecido que Deus de fato endureceu a
cerviz de Faraó, não obstante, Faraó era o único responsável pelo seu próprio
endurecimento; Essa mesma ideia percebemos ao ler Rm 1:24, pois Deus não
determinou que os tais cometessem quaisquer atos de impureza sexual, mas sim que,
por tanto resistirem à graça, esta graça se afastou deles, de modo que agora eles
estão “entregues” a este fim. Em uma conversa bastante informal com Sitri Silas, um
grande mestre para mim, ele frisou: "O endurecimento de Deus é sempre reativo, e
não ativo. É algo que faz com que ele não aja; assim, Deus, mais não agiria para
esclarecer do que ele agiria para esclarecer" (Rm 1:18-24). Todavia, conforme
Douglas J. Moo e até mesmo Piper, está condição não significa um estado

63
Douglas J. Moo, The Epistle to The Romans, p. 599
64
http://www.cacp.org.br/quem-endurece-os-coracoes-dos-homens-pra-fazer-o-mal/
33

irreversível – inicialmente – pois pode ser alterada pela misericórdia e graça


revivificante de Deus. Concluindo os seus comentários sobre a perícope que estamos
discorrendo, Daniel Gouvêa destaca:

“[...] é possível afirmar as seguintes questões acerca do endurecimento de Faraó em


Rm 9: primeiro, o endurecimento e o juízo mencionados aqui são de cunho
soteriológico. Se não fosse este caso, por que Paulo estava tão triste com a situação
dos seus patrícios? Segundo, Paulo esperava que nem todos os Judeus endurecidos
naquele momento permanecessem para sempre em tal estado de endurecimento (9:1-
3; 10:1; 11:11-14, 28-32). Terceiro, assim como Faraó fora resistente até a morte
experimentando o justo juízo de Deus, judeus resistentes experimentariam o mesmo.
Contudo, não há injustiça da parte de Deus em agir assim (v14), pois, mesmo judeus
sendo da linhagem física de Abrão, eram igualmente pecadores, estavam debaixo da
ira de Deus (1:18, 2:1) e precisavam de justificação pela fé. Portanto, Deus tem
misericórdia de quem quer (crentes) e endurece a quem lhe apraz (incrédulos)“65.

65
Gouvêa, Daniel; A Soberania de Deus na Justificação: Uma abordagem Bíblica, Exegética
e Teológica de Romanos 9; Pág, 95-96.
34

CAPÍTULO 4

Tu, porém, me dirás: De que se queixa ele ainda? Pois quem jamais resistiu à
sua vontade? (V. 19)

Uma outra objeção, que poderia ser lançada ao seu argumento anterior, é antecipada
por Paulo “De que se queixa ele ainda? Pois quem jamais resistiu à sua vontade”
(V: 19). Essa objeção procuraria enfatizar que se Deus endurece a quem quer, não
há culpa naqueles que são endurecidos, pois isso faz parte da sua vontade; ou seja,
Deus não pode justamente encontrar culpa naqueles que são endurecidos por Sua
própria vontade onipotente”66. Conforme ressalta Armínio: “Assim, existe uma
contínua proposição dessa espécie – Se ninguém pode resistir à vontade de Deus,
então Ele não pode justamente encontrar culpa naqueles a quem Ele endurece de
acordo com aquela vontade”67. Procurando estabelecer uma base prévia para a
resposta de Paulo a essa objeção, Armínio discorre sobre a elucidação de duas
questões extremamente importantes; em primeiro lugar, quem são aqueles que Deus
pode encontrar culpa com Justiça? Em segundo lugar, Se, e de que maneira, quem
são endurecidos pela vontade onipotente de Deus podem ser considerados isentos
daqueles que se encontram culpa?

Respondendo a primeira questão, Armínio deixa claro que apenas e exclusivamente


devido ao pecado Deus poderá encontrar culpa com Justiça, assim ele escreve: “A
causa adequada da ira divina, e que, por conta da qual Deus pode censurar com
justiça a qualquer um, é o pecado”68. Entretanto, o pecado precisa se correlacionar
com alguma Lei vigente, e não apenas isso, a Lei precisa ser justa. Se uma lei não é
justa de hipótese alguma poderá ser imputado algum pecado a sua
violação/transgressão. Segundo Armínio, para uma lei ser justa necessariamente
requer dela duas condições: ela precisa ser promulgada por alguém que possua
autoridade e, que seja possível a realização e o cumprimento da mesma – incluindo
nesse segundo aspecto a inexistência de qualquer decreto impeditivo/interveniente

66
Vailatti, Carlos Augusto; Jacó Armínio-Uma Análise de Romanos 9; Pág, 64.
67
Ibid. Pág, 64.
68
Ibid. Pág, 65-66.
35

que impossibilite de realizá-la. Isto posto, Armínio deixa estabelecido que o pecado é
algo necessariamente voluntário:

“O pecado é uma transgressão voluntária da lei”, que o pecador, uma vez que poderia
evitá-lo (eu falo agora do ato), o comete, de sua própria culpa. Por conta de um pecado
deste tipo, e a um pecador deste tipo, Deus pode repreender com justiça. Se esta
condição for removida, Deus não poderá repreender com justiça um homem por causa
do pecado, e, na verdade, o homem [nesta condição] não pode cometer pecado” 69.

Portanto, segundo Armínio, estes são aqueles que nos quais Deus pode encontrar
culpa com Justiça. Concernente a segunda questão: “Se, e de que maneira, quem
são endurecidos pela vontade onipotente de Deus podem ser considerados
isentos daqueles que se encontram culpa?”, Armínio entende que a onipotência –
divina – “não acompanha a vontade, considerada em todos os aspectos, pois Deus
quer que Sua lei seja obedecida por todos, o que nem sempre é feito; como também,
em Deus não há duas vontades mutualmente contraditórias 70 uma das quais deseja
que a sua lei deve ser obedecida por todos, e a outra, que não deve ser obedecida”
(Vailatti, Carlos Augusto; Pág, 68). Levando em consideração tais pontos ele afirma
que segundo as Escrituras e conforme já salientado anteriormente:

“Nada é mais comum na Escritura, do que [o fato de que] os pecadores, ao


perseverarem em seus pecados contra a longanimidade de Deus, que os convida ao
arrependimento, são aqueles a quem Deus quer endurecer”71.

Sendo assim, se Deus move a vontade do homem ao endurecimento e o impulsiona


a tal estado isso é suficiente para isentá-lo da Justa ira de Deus, ou seja, “se ali existir
qualquer força de impulso divino, que seja seguida pela inevitável necessidade de
fazer aquilo para o qual ele [o homem] é movido” ao homem não poderá ser atribuída
a culpa pela transgressão da Lei. Por outro lado, se ele comente o que conforme a
vontade e desígnios de Deus merece o Endurecimento do livre-arbítrio, ele está sujeito
a culpa e é digno da ira “mesmo se puder ser endurecido por aquela vontade que não

69
Ibid. Pág, 66-67.
70
(Lat. duae in Deo [...] voluntates sibi invicem contrariae)
71
Ibid. Pág, 72.
36

pode ser resistida. Pois, resistindo, e isso livremente, a vontade divina, revelada na
palavra, que pode ser resistida, ele é trazido para aquela necessidade do decreto
divino, também revelado na palavra, que não pode ser resistido e, assim, a vontade
de Deus é feita com relação a ele, por quem a vontade de Deus não é feita”72.

Para refutar a objeção dos Judeus, Paulo se utiliza de um outro exemplo, para mais
uma vez, e de forma inequívoca, estabelecer a Justiça de Deus no que diz respeito a
sua rejeição aos descendentes físicos de Abraão. Comentando sobre a refutação de
Paulo a essa objeção, Armínio enaltece o fato que Paulo não procurou em nenhum
momento respostas evasivas, “de modo que ele não pudesse refutar a própria
objeção”, muito menos, envolveu o assunto com tamanhas dificuldades “para que ele
pudesse coagir e restringir o objetor, aterrorizado pela dificuldade do assunto”, pelo
contrário, “mas ele mais apropriadamente e efetivamente refutou toda objeção. Eu me
atreveria a afirmar que em toda a Escritura nenhuma objeção é mais suficientemente
Refutada”73.

Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?! Porventura, pode o objeto
perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim? (V: 20)

Neste momento o Apóstolo começar de fato a responder a possível objeção que


poderia ser levantada pelos Judeus. Paulo, aparentemente, no versículo de número
20, faz referência a dois trechos de Isaías, sendo eles: Isaias 29:16 “Que
perversidade a vossa! Como se o oleiro fosse igual ao barro, e a obra dissesse do seu
artífice: Ele não me fez; e a coisa feita dissesse do seu oleiro: Ele nada sabe” e Isaias
45:9 “Ai daquele que contende com o seu Criador! E não passa de um caco de barro
entre outros cacos. Acaso, dirá o barro ao que lhe dá forma: Que fazes? Ou: A tua
obra não tem alça”. Segundo Daniel Gouvêa: “Na passagem de Isaías 45:9, o profeta
está demonstrando como tema central do capítulo a “futilidade de qualquer oposição
ao plano de Deus” (e isso estava sendo feito pelo “oponente” de Paulo em Rm 9).
Isaías 29:16, que é de fato a âncora de Paulo para o versículo 21, fala acerca do Juízo
de Deus contra o povo de Israel por não ter confiado em Deus, mas, antes, ter

72
Ibid. Pág, 74.
73
Ibid. Pág, 75.
37

confiado nos recursos políticos e nas riquezas provindas das nações pagãs. Por isso
é que o Senhor diz a Isaías 29:16 “Que perversidade a vossa! Como se o oleiro fosse
igual ao barro, e a obra dissesse do seu artífice: Ele não me fez; e a coisa feita
dissesse do seu oleiro: Ele nada sabe”74.

Sobre o motivo e aplicação que fez Paulo fazer menção ao A.T Daniel Gouvêa
comenta:

“É pertinente Paulo usar essas menções do Antigo Testamento aqui, pois assim como
em Isaías os Israelitas estavam dependendo de seus próprios esforços e não dos
meios de Deus para salvação, em Romanos 9 o mesmo acontece, pois, os Israelitas
estavam dependendo de seus próprios méritos de descendência abraâmica para
salvação e não do único meio que Deus escolheu para salvar, isto é: a justificação
pela fé em Cristo. Portanto, nessas condições seria fútil aos judeus dos tempos de
Paulo, assim como foi aos do tempo de Isaías, se opor ao Juízo de Deus” 75.

Portanto, segundo Armínio, “A resposta do apóstolo é dupla. Por um lado, reprovando


o objetor em razão de sua própria indignidade e aquela da objeção; por outro lado,
refutando a objeção”. Armínio esboça que a natureza da reprovação da objeção
levantada pelos Judeus é tríplice “a reprovação, sua razão e a prova de sua razão”.

A Reprovação: Na forma de pergunta, a reprovação é apresentada com as seguintes


palavras: “Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?!”

Conforme Daniel Gouvêa, muitos estudiosos entendem que Paulo ao fazer uso da
expressão (ó homem), “procurava demonstrar um deliberado contraste entre o
homem e Deus. Demonstrando, desta forma, que esse tipo de objeção é baseado na
perspectiva humana”76. Armínio também compreende assim ao resumir da seguinte
maneira a intenção das palavras de Paulo:

74
Gouvêa, Daniel; A Soberania de Deus na Justificação: Uma abordagem Bíblica, Exegética
e Teológica de Romanos 9; Pág, 99-100.
75
Ibid. Pág, 100.
76
Ibid. Pág, 99.
38

“Isto é, considere, ó homem, quem és tu e quem é Deus, e compreenderás que tu és


indigno de responder a Deus desta maneira. Difamar tão excelente doutrina de modo
tal a acusar a ira de Deus de ser injusta e desculpar inteiramente o homem, foi resistir
a Deus em Sua própria face e se opor mais diretamente a Ele”77.

Notamos claramente a indignação do Apostolo Paulo ao “homem” que levantou tal


objeção, ao ponto de severamente repreendê-lo.

A Razão: Da seguinte maneira a razão é emitida pelo Apóstolo Paulo: “Porventura,


pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim?”

Paulo faz questão de comparar Deus e o homem. Se por um lado o homem é o objeto
formado, Deus é quem formou tal objeto. Devido a essa razão, é leviano, afrontoso e
completamente reprovável ao homem responder Deus assim.

“Nesta comparação, o apóstolo dá a razão pela qual não é adequado para o homem,
como “a coisa formada”, responder assim a Deus, como para “Aquele que o formou”,
como se ele dissesse, “pois não é permitido à coisa formada dizer Àquele que a
formou, ‘Por que me fizeste assim?”. Assim também, não é permitido a ti, ó homem,
responder a Deus desta forma. Pois tu nada mais és do que um barro e um verme
da terra, uma coisa feita por Deus, mas Deus é Aquele que te fez e te formou”78.

Prova de sua razão:

Portanto, assim como oleiro tem direito e poder sobre o vaso, Deus possui todo direito
e poder sobre o que ele formou, nesse caso, sobre aquilo de que ele formou. Não
apenas isso, a comparação realizada por Paulo procura estabelecer que Deus tem o
direito sobre a sua própria criatura, assim como tem o oleiro. Armínio Resume estes
pontos escrevendo assim:

“Se o oleiro tem poder para, da mesma massa, fazer um vaso para honra e outro para
desonra, não é para ti, a coisa formada, dizer para Aquele que te formou: Por que me

77
Vailatti, Carlos Augusto; Jacó Armínio-Uma Análise de Romanos 9; Pág, 76-77.
78
Ibid. pág, 77-78.
39

fizeste assim? – Mas o oleiro tem esse poder; – Portanto, etc”. Em segundo lugar: “Se
o oleiro tem esse poder sobre o barro, então Deus também tem o mesmo poder sobre
os homens, ou melhor, sobre aquilo do qual Ele estava prestes a formar ou fazer os
homens; – Mas o primeiro é verdadeiro; – Portanto, o último também é verdadeiro”.
Por isso, também “não é para o homem replicar contra Deus: por que me fizeste
assim?”, ou fazer esta objeção em razão da qual o apóstolo reprova e repreende o
objetor”79.

Ou não tem o oleiro direito sobre a massa, para do mesmo barro fazer um vaso
para honra e outro, para desonra? (V. 21)

O versículo de número 20 é uma explicação para a comparação que Paulo usa no seu
argumento contrário a objeção dos Judeus. Em primeiro lugar é importante
destacarmos que era muito comum entre os Judeus a figura de vasos para honra –
para fins nobres – e vasos para desonra – fim desprezíveis. Em segundo lugar, sem
dúvidas o barro representa Israel. Portanto, Paulo ao se utilizar deste exemplo
pretendia fazer com que os Judeus compreendessem que ao longo da História Deus
sempre possuiu vaso de honra (Crentes) e vasos de desonra (Incrédulos) dentre o
povo de Israel, ou seja, entre os Judeus não haviam somente utensílios de honra, mas
também os de desonra. A expressão honra (τιμὴν) e desonra (ἀτιμίαν) aplicada a
utensílios, fora utilizada por Paulo em 2Tm 2:20: “Ora, numa grande casa não há
somente utensílios (Gr: vasos, ferramentas, domésticas, utensílios caseiros) de ouro
e de prata; há também de madeira e de barro. Alguns, para honra; outros, porém para
desonra”. Entretanto, de acordo com o contexto posterior (V.21): “Assim, pois, se
alguém a si mesmo se purificar destes erros, será utensílio para honra,
santificado e útil ao seu possuidor, estando preparado para toda boa obra”. Isso
significa dizer que os utensílios de desonra que consta no (V.20) poderiam chegar a
ser utilizados para fins de honra. Paulo fazendo referência aos vasos para honra e
para desonra em Rm 9 tinha em mente a mesma ideia expressada nos versículos 20-
21 de 2Tm. Além do mais, como destaca muito bem Daniel Gouvêa:

79
Ibid. pág, 79.
40

“Vale lembrar ainda que tanto Paulo como os Judeus certamente estavam
familiarizados com o texto de Jeremias 18, em que a figura do oleiro com os vasos é
também usada em referência a Israel. Nesta passagem, observamos que na visita de
Jeremias a casa do oleiro, o vaso estraga-se em suas mãos (v.4), e o problema
obviamente não está no oleiro, mas no barro. O oleiro reutilizou o barro como bem lhe
apareceu, não jogando fora e pegando outro (v.4). Assim, o senhor pode remodelar
seu povo de acordo com o seu comportamento (vs 7-10). Contudo, seu povo
espantosamente rejeitou ser “remodelado” por Deus mantendo uma atitude rebelde
(11-16). Consequentemente o povo seria punido por tal rebeldia (v.17)”80.

Portanto, Paulo usa a metáfora do oleiro e dos vasos para deixar claro que ninguém
pode se queixar de Deus, retirar a sua culpa e subsequentemente atribui-la a Ele pelo
destino que lhes reserva. “Quando essa metáfora é usada em Jeremias 18, ela se
refere à habilidade do oleiro de mudar sua ideia inicial sobre a massa de barro
especifica, dependendo de como o barro se comporta. Não se afirma que o modo do
barro se comportar depende de Deus, de fazê-lo comporta-se assim (I. Howard
Marshall, Teologia do Novo Testamento, p. 292). Armínio entende que na passagem
supracitada, três coisas são consideras. Sendo duas delas, de forma explícita, e uma
de forma implícita que se encontra entre as duas explícitas. Ele escreve:

“Primeiro, é necessário que um homem deva existir e seja um vaso. Segundo, é


necessário que antes que ele possa ser um vaso de ira ou de misericórdia, ele deva
ser um vaso de pecado, isto é, um pecador. Terceiro, que ele deve ser um vaso de ira
ou de misericórdia”81.

Paulo ao utilizar a expressão vaso, segundo Armínio, se refere a ideia de que Deus
não apenas criou o homem, mas ele o criou para um determinado fim; este fim seria
a glória de Deus, algo que é expressado nas Escrituras; isso significa dizer que “Deus
fez o homem para a Sua própria glória, isto é, não que Ele devesse receber glória do
homem, mas para que Ele pudesse demonstrar Sua própria glória de uma forma muito

80
Gouvêa, Daniel; A Soberania de Deus na Justificação: Uma abordagem Bíblica, Exegética
e Teológica de Romanos 9; Pág, 101.
81
Vailatti, Carlos Augusto; Jacó Armínio-Uma Análise de Romanos 9; pag, 86.
41

mais distinta, pelo homem, do que por Suas outras criaturas”82. A demonstração da
glória de Deus manifestaria não apenas a bondade de Deus, mas também a sua
justiça, sabedoria e poderio. Devido a sua bondade ele comunicaria a si mesmo; a
justiça prescreveria a regra para essa comunicação; a sabedoria, como ela poderia e
adequadamente possivelmente ser feita; e seu poder, que Ele devesse ser capaz, de
fato, de comunicar a si mesmo. Portanto, o homem – e nele o resto da humanidade –
seria um vaso – instrumentos adequados – para demonstrar a justa bondade de Deus,
ao abençoa-lo se ele vivesse em justiça, como também a sua ira, ao puni-lo se caso
transgredisse os seus mandamentos. Armínio resume seu entendimento quando
escreve:

“A partir disso, torna-se evidente qual é o verdadeiro sentido daquelas coisas que são
aqui propostas pelo apóstolo, a saber, que Deus tem o poder de fazer os homens da
matéria não formada e de estabelecer um decreto que lhes diz respeito, de pura
escolha e prazer de Sua vontade, sancionada por certas condições, de acordo com
as quais Ele faz alguns vasos para desonra e outros vasos para honra; e, portanto, o
homem não tem nenhuma razão justa para replicar contra Deus porque Ele tem, por
Sua vontade irresistível, feito a ele para ser endurecido, uma vez que a persistência
no pecado intervém entre aquela determinação da vontade e o real endurecimento;
por conta da qual obstinação, Deus deseja de acordo com o mesmo prazer de Sua
vontade, endurecer o homem por sua vontade irresistível. Se alguém disser que Deus
tem poder absolutamente ou incondicionalmente para tornar um homem um vaso para
desonra e ira, ele fará a maior injustiça à Divindade, e irá contradizer a clara
declaração da Escritura”83.

Armínio faz questão de frisar por diversas vezes que o homem pecou, e fez-se um
vaso mau, isto é, um pecador, ademais “com nenhuma concordância da cooperação
divina para esse resultado[...]”. Outra coisa que é importante frisarmos, trata-se sobre
a execução do decreto, conforme a vontade-livre e irresistível de Deus, que
corresponde aos vasos da Ira e endurecidos. Segundo Armínio, a execução deste

82
Ibid. pág, 87.
83
Ibid. pág, 95-97.
42

decreto não toma lugar até depois, que o homem, o tendo-se tornado pecador, tornou
a si mesmo digno da ira.

Que diremos, pois, se Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu
poder, suportou com muita longanimidade os vasos de ira, preparados para a
perdição, a fim de que também desse a conhecer as riquezas da sua glória em
vasos de misericórdia, que para glória preparou de antemão, os quais somos
nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os
gentios? (V: 22-24)

Nenhuma outra explicação poderá ser dada a comparação/exemplo que o apóstolo


se utilizou, a não ser a que ele declara nos versículos 22-24. Paulo procura enfatizar
que os endurecidos são objeto da ira divina – a expressão “esses vasos de ira [...]”
encontra-se no genitivo de destino – ou seja, Deus direciona a sua ira aqueles que já
são, de fato, vasos de ira. Não é o endurecimento do homem a causa da ira de Deus,
mas a ira de Deus é a causa desse endurecimento. Por isso, os judeus não poderiam
encontrar injustiça em Deus, nem tão pouco poderiam cogitar a ideia de que nos
endurecidos não havia culpa, pois, conforme Armínio salienta: “Ele não pode
endurecê-los, a menos que eles já tenham, por sua própria culpa, se tornado vasos
da mais justa ira de Deus. A Escritura toda ensina que o endurecimento é o efeito e o
sinal da ira divina. Por isso, a pergunta “Deus pode ficar irado com os endurecidos?”
– é tola. Deveria ser perguntado: “Deus pode endurecer aqueles com que Ele está
irado?””84; A expressão “preparados para destruição” – se interpretada corretamente
– ressalta justamente isso85.

84
Ibid. Pág, 104.
85
Para Daniel Gouvêa não há problema em aceitar o verbo na voz passiva (Foram
preparados por Deus). Ele escreve: “Encarar o verbo como voz passiva parece ser o mais
natural”. Apesar das implicações que alguns calvinistas entendem do versículo 22 em favor
da dupla predestinação – sendo ela simétrica ou assimétrica – Daniel Gouvêa salienta “[...]
outros, como, Harrison, Hodge, Sheed, Morris e Murray, são mais reticentes. Ao referir-se aos
vasos preparados Murray, por exemplo, diz: “Não é necessário nem apropriado pensarmos
que toda a preparação mencionada no versículo 23 antecedeu a chamada propriamente dita.
A chamada divina seria antes o início do processo preparatório”. Ainda Morris menciona:
“Paulo está dizendo que Deus criou pessoas, e que essas pessoas se tornaram pecadoras, e
que Deus então lida com esses pecadores” (Gouvêa, Daniel; A Soberania de Deus na
Justificação: Uma abordagem Bíblica, Exegética e Teológica de Romanos 9; Pág, 105).
43

Voz Média ou Passiva?

O verbo ’Preparados’ (Gr: κατηρτισμένα) se interpretado na voz média, expressa a


ideia de que os vasos que são objetos da Ira de Deus prepararam-se a si mesmo para
destruição (tendo preparados a si mesmo para destruição), em detrimento na voz
passiva, que expressaria a ideia de que Deus os prepara para destruição (tendo sidos
preparados por Deus para destruição). Primeiro, é importante ressaltarmos que vários
sínodos condenaram como heréticos algumas interpretações “contemporâneas”
baseadas na perícope 22 de Romanos 9. Carlos A. Vailatti comenta:

(1) “A noção de que os perdidos se perdem pela vontade de Deus e de que Deus
destina uns à morte e predestina outros à vida foi condenada pelo Sínodo de
Arles (473 d.C.);

(2) A crença de que algumas pessoas tenham sido predestinadas ao mal foi
anatematizada pelo II Sínodo de Orange (529 d.C.);

(3) A doutrina da dupla predestinação, defendida por Gottschalk de Orbais (808-


867 d.C.), foi repudiada pelos Sínodos de Mainz (848 d.C.) e de Quiercy (849
d.C.);

(4) Finalmente, a ideia de que Deus predestinou a malícia (o mal) nos seres
humanos foi rechaçada pelo Sínodo de Valença (855 d.C.).

Os ensinamentos alistados nos itens 1 a 3, em especial, talvez com algumas ligeiras


variações, são muito semelhantes a determinadas doutrinas ensinadas em nossos
dias”.

Em segundo lugar, no período dos pais da igreja, a interpretação comum era o verbo
κατηρτισμένα (katertismena) na voz média, Vailatti comenta: “No período dos pais da
igreja, os “vasos de ira” de Romanos 9:22 foram identificados com “os não crentes”
que “não quiseram arrepender-se” (Ambrosiastro – 366-384 d.C.?); aqueles que se
tornaram tais vasos “por sua própria vontade” (Crisóstomo – 347-407 d.C.); aqueles
44

que receberam “os merecimentos da impiedade anterior e oculta” (Agostinho – 354-


430 d.C.); “os que têm a vontade pessoal de viver como vasos de ira” (Constâncio –
405 d.C.?) e, finalmente, aqueles que “abundando em seus próprios pecados, se
converteram em vasos dignos de ira, preparados por si mesmos para a sua perdição”
(Pelágio – 354-420 d.C.)”. Aparentemente, esse era o mesmo tipo de entendimento
de Irineu de Lião (135-202 d.C.) e Basílio de Cesareia (330-379) ao escreverem,
respectivamente:

“Ofereça a Ele o seu coração em um estado suave e tratável, e preserve a forma pela
qual o Criador te modelou” e “se você, sendo obstinadamente endurecido, rejeitar a
operação de Sua habilidade, [...] perdeste, ao mesmo tempo, sua obra e vida”.

“Quando o apóstolo fala de ‘vasos de ira preparados para a destruição’ (Rm 9:22), não
imaginemos que exista uma espécie de preparação perversa do faraó, pois então
seria mais justo transferir a causalidade para aquele que o preparou. Em vez disso,
quando você ouve ‘vaso’, entenda que cada um de nós foi criado para algo útil. É
como em uma grande casa, onde alguns vasos são de ouro, alguns de prata, alguns
de barro e alguns de madeira (2 Tm 2:20). A livre escolha de cada um fornece a
semelhança no material”.

E por fim, mas não menos importante, há um grande número de Autores que
defendem o verbo ‘preparados’ na voz média. Vailatti faz referência a alguns, sendo
eles:

“Os autores Arndt e Gingrich, em sua famosa obra A Greek-English Lexicon of the
New Testament and Other Early Christian Literature (uma obra de referência
internacional no estudo do grego do NT) dizem que o verbo katertismena de Romanos
9:22 pode estar na voz média, significando, portanto, “tendo preparado a si mesmos
para a destruição”. O Dicionário Vine, de modo semelhante, ao comentar a respeito
do significado do verbo grego katartizo, em Romanos 9:22, declara que “aqui a voz
média significa que eles mesmos ‘se prepararam’ para a destruição”. Wiersbe, em seu
comentário sobre o sentido de katertismena, assevera, de modo análogo, que “o verbo
está naquilo que os gramáticos chamam de voz média, tornando-o um verbo de ação
reflexiva. Então, deve-se ler: ‘prepararam a si mesmos para a destruição’”. Kaiser,
45

após ponderar sobre qual seria a tradução mais adequada de katertismena em


Romanos 9:22 (se na voz passiva, se na voz média), conclui que “a ideia reflexiva da
voz média é a escolha correta aqui”. Hobbs, entendendo o referido verbo na voz
média, comenta que “Deus mostrou muita paciência para com aqueles que, através
do pecado e de corações endurecidos, fizeram-se vasos de ira preparados para a
destruição”. Ironside, ao aludir aos vasos de ira, de Romanos 9:22, explica que “eles
deliberadamente se prepararam para a perdição”. Dunn lembra-nos que “o ‘ser
preparado’ para a destruição não foi inteiramente ou unicamente a ação do divino
oleiro. Como ele [Paulo] argumentou tão claramente em [Romanos] 1:18-32, a ira de
Deus vem sobre a rebelião do homem, sua rebelião precisamente contra o seu papel
de criatura”. De acordo com Franzmann, “Paulo [...] não disse que Deus cria os
homens para serem vasos de Sua ira, que Ele condena os homens à ira desde a
eternidade. [...] A ira de Deus não é um movimento primordial de Sua vontade, em
eterno equilíbrio com Seu amor; a ira é a reação de Deus à culpa dos homens”.
Hendriksen, admitindo a possibilidade de que katertismena esteja na voz média,
declara que “aqui, no versículo 22, as próprias pessoas – em cooperação com Satanás
– foram os agentes ativos” de sua preparação para a destruição. Por fim, Stott,
ponderando sobre o significado de Romanos 9:22, diz que “ele [Paulo] descreve os
objetos ou vasos da ira de Deus simplesmente como preparados para destruição,
prontos e maduros para isso, sem indicar, contudo, o agente responsável por tal
preparação. Deus certamente nunca ‘preparou’ ninguém para destruição; não seria o
caso que estes, em sua própria opção por praticar o mal, tenham preparado a si
mesmos para tal?”. Estas obras, entre outras que poderiam ser mencionadas,
apontam claramente para a plausibilidade da tradução de katertismena na voz média,
perspectiva esta que parece ser condizente com o contexto imediato e amplo de
Romanos 9”86.

86
Todas as citações realizadas dos comentários de Vailatti foram retiradas do
link: https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=1568972153259596&id=89108371438178
0, (Um Estudo Sobre o Significado de Romanos 9:22; Em Defesa da Voz Média). A leitura
desse estudo e imprescindível, pois, além dos argumentos supracitados, ele também discorre
sobre os motivos gramaticais e contextuais que favorecem a interpretação na voz média, além
de comentar as objeções de Daniel B. Wallace realizadas em sua obra: “Gramática Grega:
Uma Sintaxe Exegética do Novo Testamento” a essa visão. Não inserir esse conteúdo neste
E-book para evitar alongar-me sobre o tema.
46

Assim sendo, e conforme Armínio ressalta, o modo de endurecimento é a “paciência


e brandura” (Lat. patientiam et mansuetudinem, “paciência e delicadeza”), e não a
ação onipotente de Deus que não pode ser resistida. Isso é expressado nas palavras
“[...] suportou com longanimidade os vasos de ira”. E Isso corrobora com o que já
mencionamos anteriormente no capítulo 3 – especificadamente na parte que tratamos
sobre algumas “considerações quanto ao endurecimento de faraó” (Pág 30); pois,
Deus suportou com grande paciência não apenas Faraó, mas toda a nação do Egito,
e da mesma forma Deus suportou pacientemente a nação de Israel se arrepender dos
seus pecados ao longo de toda a sua História, mas isso não aconteceu (Lucas 13:34),
discorrendo assim vários juízos da parte de Deus e o derramamento de sua ira à
nação de Israel, ou seja, Deus o entregou à destruição e ao exílio. Portanto, Paulo,
além de se utilizar do termo suportou (Gr: Aturou, tolerou) acrescentou os termos,
com muita (Gr: πολλῇ) longanimidade (Gr: μακροθυμίᾳ), desejando enfatizar a
incrível e inacreditável paciência de Deus para com os tais – os vasos de ira. Não
obstante, Armínio escreve:

“Não é o decreto, pelo qual Deus determinou endurecer os vasos de ira, pertencente
à vontade que não pode ser resistida?”. Isso é realmente verdade. Mas uma coisa é
Deus usar o ato onipotente de Sua própria vontade para efetuar o endurecimento, e
outra coisa para Ele é determinar por essa vontade que Ele endurecerá os vasos de
ira. Pois, nesse caso, o exercício da vontade é atribuído ao decreto de endurecer e
não ao ato; entre os quais a diferença é tão grande que é possível que Deus deva,
por Sua vontade irresistível, fazer um decreto com relação ao endurecimento dos
vasos de ira por Sua paciência e longanimidade”87.

Portanto, Paulo deixa estabelecido que Deus, de fato, decidiu manifestar não apenas
a sua ira, mas também o seu poder naqueles que são considerados vasos de ira
preparados para a destruição. A expressão “Deus querendo mostrar a sua ira e dar
a conhecer o seu poder[...]” diz respeito a clara vontade de Deus em demonstrar a
sua ira. Esse desejo diz respeito à espontaneidade da santidade divina e a ferocidade
do todo poderoso contra o pecado (Rm 2:5; Ap 19:15) e “isso faz sentido com o
carácter de Deus, o desejo de executar seu juízo santo. Deus deseja justamente

87
Vailatti, Carlos Augusto; Jacó Armínio-Uma Análise de Romanos 9; Pág, 105-106.
47

manifestar a sua ira santa contra o pecado e isso pode ser visto em toda a Bíblia, bem
como ao longo da carta aos Romanos”88. Armínio comenta:

“e, assim, eles são descritos [como aqueles] em quem Deus iria mostrar a Sua ira e
poder, de modo que todos eles pudessem abranger juntos, em si mesmos, as justas
causas da ira divina. Pois Ele não está irado com eles, a menos que eles já tenham
se tornado vasos de ira; nem Ele, quando, por seus próprios méritos, eles foram
preparados para a destruição, imediatamente, de acordo com o Seu próprio direito,
leva a cabo a Sua ira na sua destruição, mas Ele os suporta, com muita longanimidade
e paciência, convidando-os à penitência e esperando por seu arrependimento; mas,
quando, com um coração endurecido e não sabendo como se arrepender, eles
desprezam a longanimidade e a paciência de Deus, não é de se admirar que mesmo
a bondade mais misericordiosa de Deus não fosse capaz de contê-lo no exercício da
Sua ira, para que, quando a ira exigisse que a justiça devesse prestar a ela seu próprio
e mais alto direito, Ele não parecesse ignorá-la”89[24].

É importante frisarmos que a paciência de Deus possui uma finalidade de levar as


pessoas ao arrependimento (Rm 2:4; 2Pe 3:9), e levando em consideração o contexto
do capítulo 990[25], “os presentes objetos da ira de Deus em Romanos 9 são os
mesmos objetos de sua paciência em Romanos 10:1-15; 11:25-32. Dessa forma, a

88
Gouvêa, Daniel; A Soberania de Deus na Justificação: Uma abordagem Bíblica, Exegética
e Teológica de Romanos 9; Pág, 103.
89
Vailatti, Carlos Augusto; Jacó Armínio-Uma Análise de Romanos 9; Pág, 108-109.
90
Paulo no capítulo 8 de Romanos, após, no capítulo 7, ressaltar o quanto é frustrante a
tentativa de observar e viver pela lei, revela o poder da santificação que permite aos crentes
em cristo, desfrutarem do ministério do Espírito Santo, que dá segurança de vitória na vida
prática cristã. Paulo, de forma introdutória, apresenta isso no capitulo 6. “Diante de tamanho
benefício declarado ao cristão no capítulo 8, os capítulos 9-11 tornam-se urgentes, pois como
fica o povo judeu nessa questão, uma vez que em sua maioria estavam rejeitando a
mensagem do evangelho proclamado por Paulo e se estribando no seus próprios méritos e
descendência abrâamica? E se o povo Judeu, que era o povo de Javé, estava sendo rejeitado,
por que os cristãos não haveriam de ser também? ” (A Soberania de Deus na Justificação:
Uma abordagem Bíblica, Exegética e Teológica de Romanos 9; pág, 49-50). O fato é, que,
para uma melhor compreensão do capítulo 9 de Romanos, é necessário a leitura dos capítulos
10-11, pois estes três capítulos estão unidos e a partir deles, o apostolo Paulo se utiliza para
defender que Deus é justo na presente rejeição de Israel. Por isso Daniel Gouvêa escreve: “é
de suma importância relacionar o capítulo à luz de toda a epístola, bem como à luz dos
capítulos 10 e 11, pois do contrário será obtida uma compreensão inteiramente não paulina
do texto” (Gouvêa, Daniel; A Soberania de Deus na Justificação: Uma abordagem Bíblica,
Exegética e Teológica de Romanos 9; Pág, 13).
48

destruição final mencionada em Romanos 9 é resultado da não crença na justiça de


Deus revelada em Cristo”91[26]. Entretanto, para aqueles que não despreza a
paciência como também a longanimidade de Deus, a estes Deus demonstra as
riquezas de sua glória (Rm 2:4 e 11:12), tornando-se assim, vasos de misericórdia, e
esses vasos não são apenas Judeus crentes em Cristo, mas também os gentios. Após
resumir toda a explicação da comparação de Paulo através de um outro Silogismo de
refutação92, Armínio, encerra a sua carta escrevendo: “Se alguém me mostrar que
essas coisas não estão em conformidade com o sentimento de Paulo, eu estarei
pronto para dar a questão por vencida; e, se alguém provar que elas são incompatíveis
com a analogia da fé, eu estarei pronto para reconhecer a falha e abandonar o erro”93.
Segundo Vailatti, este último parágrafo com o qual Armínio encerra a sua carta
endereçada a Gellius Snecanus é redigido na forma de um poema, que, segundo
Nichols, ficaria assim:

“Se algum homem me mostrar Que eu com Paulo estou a discordar Com
prontidão me absterei De meu próprio sentido, e o seu reterei: Mas se, ainda,
alguém mostrar Que na fé um golpe mortal desferi Com profundo pesar meu
pecado irei assumir / E buscar meu erro reparar”94.

91
Gouvêa, Daniel; A Soberania de Deus na Justificação: Uma abordagem Bíblica, Exegética
e Teológica de Romanos 9; Pág, 106.
92
Armínio, por duas vezes, afirma a beleza da retórica argumentativa de Paulo à objeção dos
Judeus. E essa beleza poderá ser vista e lida quando Armínio expõe por meio de silogismo
todo o argumento de Paulo em sua carta à Gellius Snecanus nas páginas 109-111.
93
Vailatti, Carlos Augusto; Jacó Armínio-Uma Análise de Romanos 9; Pág, 112.
94
(Cf. NICHOLS, William. The Writings of James Arminius. Apud: BANGS, Carl O. Armínio:
Um Estudo da Reforma Holandesa. [Trad. Wellington Carvalho Mariano]. São Paulo, Editora
Reflexão, 2015, p.231).
49

CAPÍTULO 5

Assim como também diz em Oseias: Chamarei povo meu ao que não era povo;
e amada, à que não era amada; e no lugar em que se lhes disse: vós não sois
meu povo, ali mesmo serão chamados filhos do Deus vivo (V. 25-26).

Após deixar estabelecido no verso 24 que Deus demonstrou sua misericórdia não
apenas aos Judeus, como também aos gentios, o Apóstolo Paulo cita Oseias (2.23;
1.10) e Isaías (10.22-23; 1.9) para demonstrar que esse propósito estava claro nos
textos proféticos, como também o fato que os gentios seriam recebidos como povo de
Deus, por outro lado, a grande massa dos Israelitas seriam rejeitados por não ter fé
em Deus95. Matthew Henry ressalta que “Os judeus sem dúvida atribuíam de boa
vontade ao Antigo Testamento, as Escrituras que lhes tinham sido confiadas. Então,
ele mostra como isso, que era tão incômodo para eles, foi tratado ali”96. Comentado
sobre a utilização das respectivas passagens por Paulo, Daniel Gouvêa escreve:

Enquanto os versículos 26-27 falam da inclusão dos gentios, os versículos 27-29


falam da inclusão do remanescente fiel de Israel. Isso é feito através da citação de
Isaías 10:22-23. O texto de Isaías 10:23 está no contexto iminente de derrota que
Israel estava para experimentar diante dos exércitos assírios, especialmente em
virtude da incredulidade do povo em confiar em Deus para prover o livramento da
invasão assíria. Assim como no passado, onde a grande maioria de Israel não teve fé
somente na providência de Javé para serem salvos, o mesmo estava acontecendo no
presente com os leitores de Paulo”97.

95
Paulo se utiliza de um argumento progressivo para refutar a objeção primária e principal
quanto a rejeição dos descendentes físicos de Abraão à salvação. Ele começa pela narrativa
dos patriarcas, passa pelo êxodo, e finalmente chega nos profetas, “onde a rejeição de
rebeldes israelitas e a inclusão dos gentios são mencionadas e ampliadas pelo apóstolo”.
(Gouvêa, Daniel; A Soberania de Deus na Justificação: Uma abordagem Bíblica, Exegética e
Teológica de Romanos 9; Pág, 110).
96
Matthew Henry; Comentário Bíblico - Novo Testamento; Atos a Apocalipse; Pág, 374.
97
Gouvêa, Daniel; A Soberania de Deus na Justificação: Uma abordagem Bíblica, Exegética
e Teológica de Romanos 9; Pág, 110.
50

Não houve surpresa da parte de Deus com a rejeição de Israel. A maioria dos Israelitas
acreditavam ser o único povo de Deus devido a sua linhagem, contudo o plano de
Deus nunca foi salvar apenas os Judeus, mas também convocar todas as nações a
esta graciosa salvação. As passagens que o Apóstolo cita contida em Oseías ressalta
que aqueles que não eram conhecidos como povo de Deus, pela sua misericórdia e
graça, por meio de Cristo, estavam se tornando seus filhos (Jo 1:13). Mathey Henry
comenta justamente isso ao afirmar:

“Os gentios não eram o povo de Deus, não o reconheciam, nem eram reconhecidos
por Ele nessa relação: “Mas”, diz Ele, “chamarei meu povo ao que não era meu povo,
o farei e o reconhecerei como tal, apesar de toda a sua indignidade”. Uma bendita
mudança! A maldade anterior não é nenhum obstáculo a presente graça e
misericórdia de Deus. “...e amada, a que não era amada”. Aqueles que Deus chama
de seu povo, chama também de “amada”: Ele ama aqueles que são dele”98.

Portanto, como F.F Bruce escreve: “o A.T revela o plano de Deus segundo o qual os
gentios se tornariam o seu povo, a sua amada, e seus filhos” (F. F Bruce (Org);
Comentário Bíblico NVI; Pag, 1850). Russell N. Champlin, após explicar algumas
particularidades sobre “as operações da graça divina” que Paulo queria ensinar ao
citar a passagem de Oséias 2.3 e comentar sobre algumas interpretações de Oseias
10.22-23 e sua relação com o motivo que levou Paulo a fazer referência a tal
passagem no contexto de Rm 9, ele conclui:

“Não há que duvidar que, seja como for, Paulo queria enfatizar que todos os homens,
judeus ou gentios, na realidade são “estranhos”, até que intervenha a graça de Deus,
embora muitos não se considerem como tais. A graça divina, que nos é propiciada
através de Cristo, reduz todos os homens ao mesmo nível de degradação e
desespero, a fim de que possa eleva-los, juntamente, e sem qualquer distinção, aos
lugares celestiais, em Cristo Jesus. O apóstolo mostra que essa chamada dos gentios
não foi nenhuma questão fortuita, mas antes, um firme propósito da mente divina, que
ele havia revelado amplamente por intermédio dos seus profetas; e assim, opondo-se
a chamada dos gentios, os judeus na realidade renunciavam aos seus profetas e

98
Matthew Henry; Comentário Bíblico - Novo Testamento; Atos a Apocalipse; Pág, 374.
51

combatiam contra o próprio Deus [...] Assim sendo, se por um lado a profecia de
Oséias originalmente se referia a restauração das dez tribos dispersas de Israel a
Palestina, Paulo lhe empresta um significado muito mais profundo. Ele vê nela uma
restauração ou redenção humana geral, incluindo, todos os representantes da
humanidade”99.

Mas, relativamente a Israel, dele clama Isaías: Ainda que o número dos filhos
de Israel seja como a areia do mar, o remanescente é que será salvo. Porque o
Senhor cumprirá a sua palavra sobre a terra, cabalmente em breve; como
Isaías já disse: Se o Senhor dos Exércitos não nos tivesse deixando
descendência, ter-nos-íamos tornado como Sodoma e semelhantes a Gomorra
(V. 27-29).

Ao citar Isaías, segundo D.A Carson, Paulo levanta três pontos que servem como um
resumo do Cap 9 e uma preparação para cap 11, sendo eles:

1: Não é de estranhar que muitos judeus "irmãos" de Paulo são incrédulos, e a própria
Escritura tinha previsto que apenas o remanescente será salvo ( Is 10:22.)

2: Alguns judeus são salvos e estão se tornando parte do novo povo de Deus: um
remanescente será salvo ( cf. 11: 3-7 );

3: Deus é quem efetua a salvação de seu povo: Se o Senhor dos Exércitos não nos
tivesse deixado descendência ... ( Is 1 :. 9 )100.

É importante salientarmos que da mesma maneira que o Apóstolo Paulo se


encontrava aflito com a situação da nação Israelitas em seus dias (v. 1-3), assim
também o profeta Isaías se encontrava; “O profeta se mostrou intensamente
angustiado, e, como num grito de dor, clamou por causa de Israel”. O ensino de Isaías
acerca de um remanescente sinalizava para época de Paulo, quando uma minoria
judaica faria parte da Igreja. Portanto, não era algo que tinha dado errado nos planos

99
Norman, Russell Champlin; O Novo Testamente Interpretado versículo por versículo – Vol.
III: Atos-Romanos; Pág, 762-763.
100
D.A Carson; Comentário Bíblico Vida Nova; Pág, 1391.
52

de Deus, pelo contrário, o A.T já assegurava isso. Isto posto, como comenta F. F
Bruce, “Os gentios estão na igreja simplesmente porque aceitaram o evangelho. A
maioria dos judeus está fora da igreja simplesmente porque o rejeitou 101, não
obstante, Craig Kenner salienta: “Muitas vezes no AT, Israel como um todo, estava
em apostasia e com apenas um remanescente salvo. Para Paulo, fazia sentido que
Israel como um todo não fosse salvo em sua geração (embora uma geração futura de
Israel o fosse, 11.26-27)102. Tendo o mesmo entendimento, Russell N. Champlin
escreve o seguinte sobre o versículo de número 27:

“A alusão original da profecia, ou seja, a alusão imediata, mui provavelmente dizia


respeito ao retorno de um pequeno remanescente, vindo da Babilônia, após o
cativeiro; porém, em seu escopo mais distante, a profecia se prolonga até os dias
finais da presente dispensação, antes da volta de Cristo. O original hebraico diz
aqui retornará, o que subentende um retorno após o cativeiro, mas, por igual modo,
um retorno espiritual para Deus. Paulo, desse modo, apresenta-nos as palavras em
seu sentido profético, isto é, “será salvo”, aludindo a salvação eterna, e não
meramente a redenção nacional por causa de algum inimigo terreno” 103.

O versículo 28 ressalta justamente todas essas implicações Escatológicas e como


afirma Russell N. Champlin: “A ideia dessas palavras, pois, se torna obvia: Haverá
grande tribulação e angustia, que agirá, como agente purificador e salvador, não
servindo meramente para punir; pelo contrário, será esse o meio que Deus usará para
corrigir e redimir, porquanto, mediante a tribulação, surgirá um remanescente
purificado, embora os demais provem um amargo castigo e tremenda destruição. Isso
envolverá a terra inteira, e não apenas Israel; e os resultados por toda a parte serão
idênticos”104. Paulo, ao fazer uso das cidades de Sodoma e Gomorra (v.29), sabia
muito bem que a destruição dessas tais cidades era entendida pelos Judeus como um
juízo de Deus contra o mal e consequentemente o pecado. E, Deus, poderia tratar de
igual modo com a nação incrédula de Israel. “Portanto, não seria nenhuma novidade,

101
F.F Bruce (Org); Comentário Bíblico NVI – Antigo e Novo Testamento; Pág, 1851.
102
Craig S. Keener; Comentário de Romanos; Pág, 211.
103
Norman, Russell Champlin; O Novo Testamente Interpretado versículo por versículo – Vol.
III: Atos-Romanos; Pág, 763.
104
Ibid. Pág, 763. Para um maior aprofundamento recomendo a obra de J. Dwight Pentecost
– Manual de Escatologia.
53

na maneira de Deus tratar com os homens, se apenas um remanescente do povo de


Israel viesse a encontrar favor da parte de Deus, ao passo que a esmagadora maioria
desse povo, por causa de sua obstinação, incredulidade e total desconsideração para
com as leis morais e espirituais de Deus, viesse a ser julgada, de conformidade com
o estilo do juízo que sobreveio a Sodoma e Gomorra”105. Apesar do pecado,
incredulidade e uma contínua rebeldia do povo Israelita, Deus por meio da sua
misericórdia e graça salvaria um remanescente. Como muito bem escreve Russell N.
Champlin:

“Os judeus bem poderiam levantar objeções contra a doutrina paulina da eleição, a
qual asseverava que somente o remanescente de Israel seria salvo. Mas aqui o
apostolo mostra que a rebelião da nação de Israel é tão grande que, a menos que
houvesse a intervenção benigna de Deus, na eleição, ninguém de Israel seria salvo.
Foi somente a bondade soberana do Senhor que salvou a qualquer dos israelitas,
como também só essa bondade pode salvar a qualquer outro indivíduo. Israel se torna
neste versículo, um exemplo de toda a raça humana. Podemos entender que, sem o
concurso da graça de Deus, sem o proposito divino da eleição, todos os homens, em
sua rebelião e pecado inerente, jamais chegariam a atingir o proposito divino da
redenção. Isso estabelece a eleição em seu colorido autêntico, ou seja, como um meio
beneficente usado por Deus, e não como um agente destruidor e injusto das massas
que são deixadas de lado, conforme tantos tem imaginado”106.

Que diremos pois? Que os gentios, que não buscavam a justiça, alcançaram a
justiça? Sim, mas a justiça que é pela fé. Mas Israel, que buscava a lei da
justiça, não chegou à lei da justiça. Por quê? Porque não foi pela fé, mas como
que pelas obras da lei; pois tropeçaram na pedra de tropeço; Como está
escrito: Eis que eu ponho em Sião uma pedra de tropeço, e uma rocha de
escândalo; E todo aquele que crer nela não será confundido (V.30-33)

Ao longo dos versículos iniciais e subsequentes de Romanos 9, a Justificação pela fé


encontra-se implícita em todo o texto, já que este tema fora tratado em capítulos

105
Ibid. Pág, 764.
106
Ibid. Pág, 765.
54

anteriores, mas nos versículos 30-33, de forma explícita, Paulo ele deixa claro que o
motivo dos Judeus estarem sendo rejeitados era devido a busca da justificação pelos
méritos e descendência, e não pela fé em Cristo – este é tema principal do capítulo
seguinte. Fazendo um paralelo entre os Judeus e os Gentios, Paulo escreve nos
versículos 30-31, que diferentemente dos Judeus que perseguiram e buscavam com
ardor as obras da lei como o caminho para a justiça ou forma de produzi-la, os gentios
que não buscaram ou se empenharam por um justo relacionamento com Deus, pelo
contrário, estiveram completamente entregues a suas paixões e desejos (1:18-32),
ainda assim o encontrou; “como eles tinham estado alienados da justiça: eles não a
seguiram; eles não conheciam a sua própria culpa e miséria e, portanto, não eram de
forma alguma solícitos a procurar um remédio. Na conversão deles, a graça
preveniente foi altamente exaltada: Deus foi “...achado por aqueles que não o
buscavam” (Is 65.1)”107. Logo, “os gentios que criam, os quais nunca tinham mostrado
interesse em serem justos diante de Deus, agora estavam sendo perdoados e
recebidos ela graça de Deus”108. O versículo 32 é nítido quanto ao fato que os gentios
alcançaram a justiça por meio de fé em Cristo. “Paulo está finalmente demonstrando
para os judeus que o único meio de entrar em justo relacionamento com Deus é
através da fé. A questão não era ser da linhagem física de Abraão, permanecer na lei
ou viver na justiça, a questão era voltar para Deus em fé na base do sacrifício de Jesus
Cristo”109. Moody ressalta que não por acaso Paulo faz tanto uso da palavra “Justiça”;
“Os gentios crentes descobriram a chave do relacionamento do homem com Deus –
a Justiça. Eles encontraram a justiça que Deus concede por causa da fé em Cristo”110.
Sendo assim, há um contraste entre dois tipos de Justiça, sendo elas: A Justiça de
Deus, que é disponível exclusivamente pela Fé; e a Justiça própria. Convém salientar
que a exigência justa da lei jamais poderá ser satisfeita por aqueles que seguem o
caminho da justiça legal (Rm 7), mas somente por aqueles que não andam segundo
a carne, mas segundo o Espírito. Russell N. Champlin resume esses pontos ao
afirmar:

107
Matthew Henry; Comentário Bíblico - Novo Testamento; Atos a Apocalipse; Pág, 369.
108
Comentário Bíblico Beacon; Romanos a 1 e 2 Coríntios; Pág, 143.
109
Gouvêa, Daniel; A Soberania de Deus na Justificação: Uma abordagem Bíblica,
Exegética e Teológica de Romanos 9; Pág, 113.
110
Pfeiffer, Charles F.; Comentário Bíblico Moody; Gênesis à Apocalipse; Pág, 83.
55

“Os judeus procuravam a justiça como se tudo estivesse fundamentado sobre as


obras da lei, e falharam miseravelmente nessa louca tentativa, conforme também a
extensa exposição de Rom. 2:25-3:20 nos descreve. Percebe-se, por conseguinte,
que Israel ficou aquém até mesmo da “justiça legal”, quanto mais da verdadeira justiça
de Deus, que só é conferida ao homem mediante a fé em Jesus Cristo. (Ver Rom.
3:22). Isso sucedeu porque os judeus não puderam perceber duas impossibilidades,
a saber:

1. Ninguém pode guardar a lei em sua inteireza, sobretudo quando a lei é


interpretada espiritualmente, incluindo até mesmo os motivos que partem do
coração, conforme o Senhor Jesus a interpretava.

2. A justiça de Deus é perfeita, e precisa ser perfeitamente formada no crente; e


isso é uma realização que só pode concretizar-se através da comunhão mística
com o Espirito Santo, devido ao processo interior da regeneração, e não devido
a meras observâncias externas e legalistas, a ritos, cerimonias, etc., sobre o
que os judeus tinham depositado uma confiança exagerada (Norman, Russell
Champlin; O Novo Testamente Interpretado versículo por versículo – Vol. III:
Atos-Romanos; Pág, 766).

Ao fazer uso da expressão “pois tropeçaram na pedra de tropeço” e fazer citação


de duas passagens do profeta Isaias “Como está escrito: Eis que eu ponho em
Sião uma pedra de tropeço, e uma rocha de escândalo; E todo aquele que crer
nela não será confundido (Is 28:16;8:14)”, o Apóstolo alude as passagens do N.T
que o termo “pedra” é aplicado a Cristo (ex: Mc 12:10-11; At 4:11, 1Pe 2:6-8), e faz os
Judeus lembrarem do contexto por de trás das palavras de Isaías. “A primeira parte
do versículo 33 refere-se a Is 8:14. Nessa ocasião Israel estava sob o perigo do Juízo
de Deus. Por isso Deus diz que a Pedra será “rocha de tropeço e de ofensa, laço de
armadilha para as duas casas de Israel”. A segunda parte do versículo se refere a Is
28:16. Este Texto é uma promessa de que Deus e colocaria em Sião “uma pedra já
aprovada, preciosa, angular, e aquele que crer nela não foge”, trazendo assim
56

esperança para Israel”111. Jesus Cristo em Mc 12:10-11 declarou ser essa Pedra
angular ao afirmar: “[...]A pedra, que os edificadores rejeitaram, esta foi posta por
cabeça de esquina”. É importante frisarmos que os Judeus entendiam a passagem
de Isaías como sendo uma forte imagem messiânica, e ao rejeitarem Jesus Cristo112,
tornavam-se justamente os construtores/edificadores que rejeitariam aquele que é a
Pedra angula; “A combinação das duas passagens como uma profecia de Cristo e
Sua salvação é lugar comum na apologética cristã primitiva, e é de fato pré-paulina.
Vemo-las combinadas de modo semelhante em 1 Pedro 2:6-8, onde são vinculadas a
uma terceira "pedra" testimonium — a pedra rejeitada do Salmo 118:22. (Em Lc
20:17s., a pedra rejeitada do salmo e a pedra de tropeço de Is 8:14 são associadas a
outra "pedra" testimonium ainda — a pedra "cortada sem auxílio de mãos" que feriu a
imagem do sonho de Nabucodonosor em Dn 2:34s.)”113. Portanto, “para aqueles
judeus que rejeitaram a justificação pela em fé em detrimento de obras e
descendência física, Jesus é uma Pedra de tropeço, escândalo e Juízo 114. Porém,
aqueles Judeus e gentios que crêem em Jesus como o Messias/Cristo não serão
envergonhados. Para os da fé, Jesus é a Pedra Angular. Para os descrentes, Jesus é
a pedra de Juízo, e Deus é Justo em agir assim”115. Comentando as citações de Isaías
que Paulo realizou, N.T Wright ressalta:

111
Gouvêa, Daniel; A Soberania de Deus na Justificação: Uma abordagem Bíblica, Exegética
e Teológica de Romanos 9; Pág, 113-114.
112
Comentando sobre a rejeição de Jesus Cristo por parte da nação Judaica, Russell N.
Champlin escreve: “A pedra de tropeço foi colocada em Sião, o próprio lugar onde ninguém
deveria tropeçar por causa de Cristo, porquanto o Messias transparecia na liturgia judaica, em
suas orações, e era considerado pelos judeus como a esperança central de Israel. Não
obstante, ele apareceu de uma maneira que não agradou aos israelitas, exigindo deles a
transformação espiritual, e não defendendo qualquer reforma política, que era a única reforma
que anelavam. Por esse motivo e que “se escandalizaram” com ele, rejeitando e crucificando-
o, desde então tendo ficado escandalizados ante a cruz (Norman, Russell Champlin; O Novo
Testamente Interpretado versículo por versículo – Vol. III: Atos-Romanos; Pág, 768).
113
F.F Bruce; Romanos; Introdução e Comentário; Pág, 96.
114
Tropeçaram não significa “tropeçar por descuido”, mas sim “ficar aborrecido com”, “mostrar
irritação com”. Para os judeus, a Cruz do Messias era um escândalo, que os irritava e os
aborrecia com indignação. “Assim como nós nos zangamos com algum obstáculo no nosso
caminho, em que tropeçamos e machucamos os nossos pés... também se diz que os judeus...
proskopsai to litho touproskommatos, ou seja, rejeitaram a Jesus como aquele que deixou de
satisfazer os ideais que tinham em relação ao Messias (Comentário Bíblico Beacon; Romanos
a 1e 2 Coríntios; Pág, 143).
115
Gouvêa, Daniel; A Soberania de Deus na Justificação: Uma abordagem Bíblica, Exegética
e Teológica de Romanos 9; Pág, 116.
57

“Ao trazer essas duas passagens juntas, Paulo inteligentemente usou um texto bíblico
combinados para dizer que agora, mais uma vez em cumprimento da escritura, e não
como uma mudança de planos por parte de Deus, a fundação da nova "construção"
de Deus foi descontraído, mas que aqueles que não acreditam nele, no Messias, que
é a fundação, vai tropeçar nesta "pedra" e cair de cara no chão. Ele ainda explica
como é que a falha substancial de Israel a crer em Jesus como Messias, seja durante
a carreira pública de Jesus ou durante o tempo presente do trabalho missionário, não
representa uma frustração do plano de Deus ou uma mudança da mente de Deus,
mas sim uma satisfação inesperada, embora compreensível apenas em retrospectiva,
do que Deus havia planejado o tempo todo”116.

Não obstante, o versículo 33 nos dá plena certeza que aqueles que confiam em Deus
de hipótese alguma precisarão temer ou ficar aflito que a sua confiança nele venha a
mostrar-se infundada. “O homem que se firma no alicerce de Deus "mantém a cabeça
fria quando todos à sua volta estão perdendo a cabeça e estão pondo a culpa nele";
não fica girando e rondando para cá e para lá, mas confia em Deus, certo de que o
Seu propósito se cumprirá no tempo de Deus”117. O texto no hebraico passa a ideia,
dentro de contexto militar, de não fugir aterrorizado, quando por exemplo, soldados
após serem cercados e dominado pelo exército inimigo apressadamente foge do
campo de batalha. Logo, nenhum mal ou desgraça sofrerá aquele que deposita a sua
confiança em Cristo, o nosso capitão, 'durante todo o decurso da experiência da vida
terrena e celestial'. Convém destacarmos que o Termo “[...] não
será confundido/envergonhado” corrobora com o texto no hebraico, que consta o
seguinte, “não se apressará/fugirá”, visto que, “aquele que é posto em fuga, e
abandona o seu tesouro ou a sua fortaleza, é envergonhado ou confundido” 118.
Quanto a isso, Russell N. Champlin acrescenta:

1: Do que o crente sincero jamais se envergonhará?

a: Nunca se envergonhara de sua escolha;

116
N.T Wright; Comentário do Novo Testamento; Pág, 1052-1053.
117
F.F Bruce; Romanos; Introdução e Comentário; Pág, 96.
118
Norman, Russell Champlin; O Novo Testamente Interpretado versículo por versículo –
Vol. III: Atos-Romanos; Pág, 768
58

b: nem de sua profissão crista;


c: nem da causa e interesse de Cristo, que ele tomou como seus e defendeu no
mundo;
d. nem de qualquer tempo sinceramente dispendido no trabalho e serviço de Cristo;
e. nem do opróbrio e sofrimento, tribulações e perseguições, sofridos por causa de
Cristo;
f: nem, na eternidade, ele jamais se envergonhara de ter-se envergonhado aqui de
Cristo e seu evangelho, de sua obra e serviço, de sua causa e interesse.

2: Quando o crente não se envergonhará?

a: Quando é chamado a dar testemunho sobre Cristo perante o mundo, na hora da


morte, ou no dia do juízo;
b: não importando o espanto daquele dia, nem a majestade do Juiz, a separação que
então será feita;

3: Por que o crente nunca se envergonhará?

a: O pecado, a causa dessa vergonha, terá sido removido;


b: Aquele de quem ele poderia razoavelmente temer a vergonha, jamais se
envergonhara dele;
c: o crente poderá olhar para Deus e Cristo, em sua consciência e no mundo inteiro,
face a face, sem qualquer pejo ou sofrimento (Norman, Russell Champlin; O Novo
Testamente Interpretado versículo por versículo – Vol. III: Atos-Romanos; Pág, 768-
769)

Mediante todos esses fatos é algo irônico constatar o que Wiersbe escreveu: “Eis o
paradoxo da história: os judeus tentaram ser justos e foram rejeitados, e os gentios
foram recebidos, apesar de não terem os privilégios dos judeus!”119.

119
Comentário Bíblico Wiersbe Novo Testamento 426.
59

Conclusão

Acredito que ao ler este último capítulo foi percebido por parte do leitor que em
nenhum momento cheguei a citar Armínio. Isso é devido a razão de que em sua carta
enviada à Gellius Snecanus ele a encerra sem comentar os versículos que são
abordados neste último capítulo, por entender que não há debate/disputa sobre tais
trechos – Entendo que as maiores disputas existentes se dão na área da escatologia
(Ver nota 104). Especificadamente sobre todo o capítulo 9 de Romanos fica claro que
em suma, este capitulo diz que a justificação de Deus não está baseada em méritos
próprios (de obras ou descendência física), antes é única e exclusivamente pela fé
(que é oposto a obras) em Jesus Cristo. E Deus é perfeitamente Justo e soberano em
agir dessa maneira”120; Conforme Daniel Gouvêa escreve: “O capítulo todo exalta a
graça soberana de Deus, mas não minimiza a responsabilidade de homens e de
mulheres de tomarem a decisão certa. A palavra do Senhor prevalecerá, apesar da
desobediência humana, mas os pecadores desobedientes perderão as bênçãos.
Nenhuma mente humana consegue sondar ou explicar a sabedoria de Deus (veja
11:33-36), mas sabemos que não há salvação sem a graça soberana do Senhor”121.

120
Ibid. Pág, 426.
121
Gouvêa, Daniel; A Soberania de Deus na Justificação: Uma abordagem Bíblica,
Exegética e Teológica de Romanos 9; Pág, 116.

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