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Santana Castilho *
Olhando para a nação no rescaldo das eleições, vejo-a partida: de um lado, os que não
acreditam no regime e nos políticos que o representam; do outro os afectados pelo
sindroma de D. Sebastião, aparentemente incapazes de viver sem uma sombra tutelar.
Rei aos três anos, tutelado pela avó até aos 14, vítima de grave disfunção sexual desde
os 11, fundamentalista religioso, pobre de cabeça e de saúde, lunático e inebriado pela
corte incapaz, hipócrita e bajuladora, D. Sebastião finou-se sem glória em Alcácer Quibir
e arrastou para a morte milhares de seguidores. Mas D. Sebastião, em vez de obstinado,
lunático, fundamentalista, irresponsável e impotente, chegou até hoje como um icónico
desejado. Os 37 anos de democracia não apagaram a tendência do povo para se curvar a
líderes paternalistas. Cavaco Silva é deles um ícone. Mas, acabada a festa, é desejável
que se caia no real.
A Providência é uma sabedoria suprema com que Deus dirige tudo. Se ele existe, é dele a
Providência, não dos homens. Nenhum homem providencial resolverá os problemas de
Portugal, cuja solução reclama a participação de todos. O que pode ser providencial é a
missão dos que se sigam no Governo, se tiverem a capacidade de envolver os
portugueses na solução dos problemas do país.
Disse-se que vivemos nos últimos meses constitucionalmente tolhidos por umas eleições
que se sabiam ser de continuidade. Mas tolhidos já vivemos há muito: tolhidos pelos
interesses particulares que se apossaram do Estado; tolhidos pela crescente dependência
financeira do exterior; tolhidos pela incompetência de quem manda; tolhidos pela
corrupção crescente e pela justiça ineficiente; tolhidos por uma administração pública
que não se reforma e por uma economia que não cresce; tolhidos por decretos
maliciosos, por fiscalidade desleal, pela desconfiança generalizada num Estado
saqueador. Nenhuma magistratura activa nos libertará do que nos tolhe, sem que se
remova a desconfiança que hoje separa a sociedade dos responsáveis políticos. Sem isso,
sem a mobilização cívica de novos protagonistas, nenhum velho imaginário pátrio nos
salvará.
É um lugar-comum, mas é falso, dizer que estas eleições nada tiveram com a
governação. Tiveram. Quando o pano caiu sobre elas, encerrou-se definitivamente o ciclo
da governação do PS. A mobilização cívica de que falo tem agora um protagonista: Pedro
Passos Coelho. Sócrates, nas vascas da morte, vai estrebuchar até ao fim. Já anunciou
uma nova oportunidade para as bafientas Velhas Fronteiras. Pedro Passos Coelho, sem
pressa e bem de chegar ao Governo, deve ser lesto a mobilizar o país e a apresentar um
programa. A hora é de iniciativas.